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ESTADO E INOVAÇÃO
1 INTRODUÇÃO
* Mario Sergio Salerno é professor titular da Universidade de São Paulo, e Luis Claudio Kubota é pesquisador do
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
tro setor, por mais importantes que sejam, e por mais encadeamentos que gerem,
não levam à mudança de qualidade da estrutura industrial, não levam à mudança
da estrutura industrial brasileira. É preciso apoio à inovação e à diferenciação de
produto. É preciso qualificar o investimento, ainda que todo ele possa ser bem-
vindo. A indústria brasileira se ressente de uma baixa taxa de inovação.
Todo esse arcabouço, que modernizou o panorama institucional, deriva das Dire-
trizes de Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (Brasil, 2003), anunciadas
pelo governo federal em novembro de 2003, e deve ser aprofundado com o lan-
çamento do Plano de Desenvolvimento da Produção lançado em maio de 2008.
O objetivo de longo prazo é a transformação da base produtiva brasileira para
elevá-la a um patamar de maior valor agregado, via inovação e diferenciação de
produtos.
15
Parte substancial deste capítulo se dedicará a analisar a relação inovação/desen-
volvimento, discutir a construção do Sistema Nacional de Inovação, com refe-
rência ao movimento de outros países. Nele se avaliará, também, alguns instru-
mentos-chave da política de inovação, particularmente de incentivos fiscais e de
financiamento privilegiado (que se mostraram importantes para elevar o gasto
privado em P&D). No final, o capítulo trará uma avaliação dos desafios a en-
frentar, particularmente o de transformar, e/ou de criar, instituições que deixem
o Estado mais ágil e flexível para atuar no estímulo à inovação na sociedade, em
geral, e nas empresas em particular.
do Conhecimento
1
Já existia produto similar ao iPod, criado por outra empresa, em outro país, o qual não havia obtido, porém, muito
sucesso comercial. A Apple redesenhou o produto, melhorando sua interface com o usuário, e obteve o sucesso de
mercado hoje conhecido.
Ainda que a descrição anterior seja altamente simplificadora e linear, o fato é que
inovação é um conceito que coaduna o novo com o mercado. Só existe associada
ao fato econômico. Não é um conceito tecnológico, e muito menos científico.
Vejamos alguns exemplos. Oito anos antes de ser incorporado a um computador
de grande porte, que até então era construído com válvula, o transistor já exis-
tia. Os princípios científicos da microeletrônica, dos semicondutores, já estavam
formulados; a tecnologia de produção de transistores (avôs dos atuais chips) já era
conhecida, mas não havia produto, não havia geração de renda, não se configu-
rava uma inovação.
2
Dados coletados empresa por empresa, e processados de forma que o sigilo das informações de cada empresa. fosse
mantido.
3
Pesquisa Industrial Anual (PIA) do IBGE, com dados de 72 mil empresas industriais; Relação Anual de Informações
Sociais (Rais), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), com dados de cerca de 6 milhões de trabalhadores na
indústria (salários, qualificação, etc.); banco de dados de comércio exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria
e Comércio Exterior (MDIC); censo de capital estrangeiro e registro administrativo de Capitais Brasileiros no Exterior
do Banco Central (CEB/Bacen); entre outros. Trata-se do maior conjunto de informações sobre a indústria brasileira
até hoje reunido, e envolve mais de 95% do valor adicionado na indústria. O período máximo de abrangência é de
1996 a 2002.
TABELA 1
Características das firmas industriais brasileiras segundo suas estratégias
competitivas efetivamente praticadas – 2000
Estratégias Especializadas em Não os diferenciam e
Inovam e diferenciam
têm produtividade Total
competitivas produtos produtos padronizados
menor
Faturamento médio
em R$ milhões 135,5 25,7 1,3
(% do faturamento) (25,9%) (62,6%) (11,5%) (100%)
Produtividade
Valor adicionado por
trabalhador
(R$ 1.000,00) 74,1 44,3 10,0
Remuneração média do
pessoal ocupado
(R$/mês) 1.254,64 749,02 431,15
4
Para detalhes da metodologia empregada, e da classificação das empresas segundo as estratégias
competitivas, ver Salerno e De Negri (2005).
1.199
Inovam e diferenciam produto 545,9 135,5 0,77
(1,7%)
15.311
Especializadas em produtos padronizados 158,1 25,7 0,70
(21,3%)
55.486
Não os diferenciam e têm produtividade menor 34,2 1,3 0,48
(77,1%)
71.996
Total
(100%)
indústria (setor); ou seja, em relação ao ponto em que a elasticidade de escala é igual à unidade. A estimativa de
eficiência de escala foi realizada por De Negri (2003), para trinta setores da indústria de transformação brasileira,
com técnicas de envelopamento de dados (Data Envelopment Analysis – DEA).
20 TABELA 3
Características da mão-de-obra empregada nas firmas industriais
por categoria – 2000
Remuneração Escolaridade Tempo médio Prêmio
Categoria de firma média média de emprego salarial
(R$/mês) (anos) (meses) (%)
Dessa forma, foram “controladas” quase duzentas variáveis, tais como fatura-
mento, número de trabalhadores, setor de atividade, tipo de produto, escolarida-
de e tempo de casa dos empregados, coeficientes de exportação e de importação,
município (para controlar diferenças de acordos sindicais), etc. Assim, chegou-se
ao seguinte resultado: se duas empresas forem parecidas, e uma delas inovar e
diferenciar produtos e a outra não diferenciá-los e tampouco obter produtividade
menor, a primeira tenderá a pagar salários 23% maiores do que os pagos pela 21
segunda. Em outras palavras: o efeito líquido da inovação e da diferenciação
de produtos sobre os salários é de 23% se comparado ao das empresas que
não diferenciam produtos e têm produtividade menor, e de 11% se comparado
àquele das empresas especializadas em produtos padronizados (Bahia e Anbache,
2005).
Outros dados arrolados na pesquisa do Ipea foram: as empresas que inovam têm
16% de chance a mais de serem exportadoras, e há fortíssima correlação entre
inovação tecnológica e diferenciação de produto (ou seja, a inovação tecnológica
é uma fonte fundamental de diferenciação, de obtenção de renda diferencial pelas
empresas). As empresas que inovam e diferenciam produtos crescem mais; as
empresas brasileiras internacionalizadas que utilizam suas unidades no exterior
como fonte de informação para a inovação também apresentam desempenho
superior, crescendo mais no Brasil. Esse resultado afasta a idéia de que interna-
cionalizar empresas brasileiras significa gerar empregos no exterior em vez de
no Brasil; ao contrário, a internacionalização de empresas brasileiras é um fator
fundamental para aumentos de seus ganhos de escala, para ampliação de mer-
cados, bem como para contornar barreiras tarifárias e não tarifárias de muitos
mercados.
5
Para o ano-base de 2000, média de R$ 161.347,00 para as empresas nacionais em seu todo, contra R$ 4.997.478,00
para as estrangeiras. Levando em conta apenas as que declararam ter realizado algum tipo de inovação, temos
R$ 527.963,61 para as inovadoras nacionais, versus R$ 8.079.478,00 para as inovadoras estrangeiras.
6
Os resultados não mudam caso seja considerada a receita líquida de vendas no lugar do faturamento. As estatísticas
de P&D da Pintec abarcam uma série de outras categorias: compras externas de P&D, treinamento, etc. O indicador
proposto procura dar conta do efetivo engajamento da empresa em P&D, da mobilização de seus recursos internos
para P&D. Além do mais, ele é extremamente condizente com a “visão baseada em recursos” (VBR), que será discutida
mais a diante. Sinteticamente dizendo, a VBR considera que uma força competitiva fundamental está na capacidade
interna de uma empresa de desenvolver, organizar e gerenciar seus recursos internos para a inovação.
Isso comprova que, no panorama até 2000, os gastos com P&D, feitos pelas fi-
liais das empresas transnacionais no Brasil, voltavam-se mais para a adaptação de
produtos e de processos provenientes da matriz ou de outras filiais localizadas em
países desenvolvidos, ou com sistemas nacionais de inovação mais evoluídos.
e Inovação no Brasil
TABELA 4
Exportações por intensidade tecnológica dos produtos – R$ bilhões
Valor das Valor das Taxa crescimento
exportações Participação exportações Participação exportações
Categoria (%) (%)
2003 2006 2006/2003 (%)
primárias 29,43 40,3 53,57 39,0 82,0
Trabalho intensivo e recursos naturais 9,41 12,9 13,83 10,1 46,9
Baixa intensidade 6,10 8,3 11,54 8,4 89,2
Média intensidade 13,54 18,5 26,82 19,5 98,2
Alta intensidade 8,81 12,0 17,06 12,4 93,7
Não classificada 5,81 7,9 14,66 10,7 152,5
Total 73,08 100,0 137,47 100,0 88,1
Fonte: Ipea.
7
A patente é um dos indicadores de produção tecnológica e de inovação, mas não pode ser tomado de forma absoluta.
A proteção de propriedade intelectual via patente é mais aplicável a certos setores do que a outros – farmacêutica e
eletrônica, por exemplo, são setores nos quais a patente é importante. De qualquer maneira, o nível de patenteamento
no Brasil é inexpressivo.
TABELA 6
25
Perfil da pesquisa e desenvolvimento nas empresas, no Brasil – 2003
Todas as Firmas com Firmas com acordos de
Variáveis firmas atividades cooperação de P&D
(n=27.634) de P&D com universidades
(n=3.136) (n=240)
Média DP(1) Média DP(1) Média DP(1)
(2)
RLV (R$ 106) 31,75 969,05 177,26 2.081,33 1.089,08 5.714,96
P&D interno (R$ 106) 0,18 11,24 1,58 24,33 11,28 65,84
P&D externo (R$ 106) 0,02 2,02 0,22 4,38 1,89 11,43
TABELA 7
Taxa de inovação das empresas industriais brasileiras,
segundo faixas de pessoal ocupado (PO) – Brasil, períodos
26 1998-2000, 2001-2003 e 2005-2005
Taxa de
inovação
Pessoal
ocupado
1998-2000 2001-2003 2003-2005
Fonte: Pintec 2003 (IBGE, 2005, p. 34); Pintec 2005 (IBGE, 2007).
Produto novo, ou
significativamente 1998-2000 17,6 14,1 24,5 30,0 34,4 59,4
aperfeiçoado para
a empresa, mas já
existente no mercado 2001- 2003 20,3 19,3 19,1 25,3 28,4 54,3
nacional
Produto novo, ou
Significativamente 1998-2000 4,1 2,5 6,3 9,0 10,6 35,1
aperfeiçoado para
o mercado nacional
2001- 2003 2,7 2,1 2,3 3,9 5,8 26,7
Processo novo, ou
Significativamente 1998-2000 2,8 1,3 4,4 7,2 9,7 30,7
Aperfeiçoado para o
setor, no Brasil
2001- 2003 1,2 0,7 0,8 1,7 3,4 24,1
Pode-se observar que o Estado pode participar de maneira significativa para criar
ambiente mais favorável ao desenvolvimento de inovações no setor empresarial.
A inovação se dá na empresa, mas o Estado pode induzir, fortemente, o com-
portamento, as estratégias e as decisões empresariais relativas à inovação. Os três
principais fatores apontados nas diversas versões da Pintec como obstáculos à
inovação – riscos econômicos excessivos, elevados custos e escassez de fontes
apropriadas de financiamento – têm a ver com custos e riscos; mas há vários ins-
trumentos de política para auxiliar na redução de custos e de riscos. Em primeiro
lugar, a manutenção de um ambiente macroeconômico mais estável, com taxas
mais robustas de crescimento, pode contribuir para reduzir os riscos econômicos
e alavancar financeiramente as empresas. Em segundo lugar, linhas especiais de
financiamento, que reconheçam as necessidades especiais da atividade inovadora,
podem ser criadas – ou aperfeiçoadas – para estimular as empresas: uma prática
muito difundida nas economias mais desenvolvidas.
Nessa obra, Bush defende que a pesquisa básica deveria ser desenvolvida sem o
pensamento em benefícios práticos; o desenvolvimento científico se transforma-
ria, então, em desenvolvimento tecnológico e em produtos (inovação) – daí a al-
cunha de modelo linear. Tal modelo tornou-se um paradigma aceito por décadas,
com forte presença nas políticas públicas brasileiras, haja vista nossa capacidade
científica versus nossa capacidade inovadora.
De qualquer forma, a teoria sobre o assunto avançou, e, a partir dos anos 1980 e
1990, foi substituída pela abordagem sistêmica da inovação. Muitos países aplica-
Conforme Price e Behrens (2003), uma crítica ao modelo linear de inovação, de-
senvolvido por Stokes em 1997, é conhecida como Quadrante de Pasteur. Nesse
modelo, Stokes (1997) defende que a dicotomia entre pesquisa básica e aplicada,
e o pensamento linear sobre pesquisa e ação, está fundamentalmente equivocada.
Segundo argumenta o autor, o motivo para uma compreensão fundamental e a
motivação para aplicação são coisas que não se separam e tampouco devem estar
em oposição. Ao contrário, podem ser combinadas de várias maneiras.
A pós-graduação só ganhou impulso a partir dos anos 1970, quando então hou-
ve política de bolsas para mestrados e doutorados, no exterior, para formação
de pesquisadores. Assim, o Brasil investiu, tardiamente, seguindo os preceitos
do modelo linear: primeiro na ciência – criação da pós-graduação com apoio 31
do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq),
da Finep e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(Capes); e em mecanismos de financiamento competitivo para a pesquisa cientí-
fica nas universidades e nos institutos de pesquisa (CNPq, Finep, Fundações de
Amparo à Pesquisa); mas não criou, simultaneamente, um sistema robusto de
financiamento e de indução do desenvolvimento tecnológico e da inovação na
empresa.
A base produtiva brasileira é, por decisões tomadas nos anos 1950, fortemente
“multinacionalizada”. Empresas estrangeiras foram atraídas para explorar o mer-
cado interno brasileiro, e não para que se tornassem bases de exportação, ou para
que desenvolvessem, aqui, novos produtos. A pesquisa, o desenvolvimento e par-
te substancial da engenharia localizavam-se (e localizam-se) no exterior. Estimu-
lar inovação não era política pública no arranque da industrialização posterior à
Segunda Guerra Mundial. As políticas dos anos 1960/1970 reforçaram o quadro
com mercados fechados, altas taxas de importação, financiamento facilitado para
construção de fábricas, e Lei do Similar Nacional para induzir a fabricação local,
mas não necessariamente incentivavam o projeto local do produto.
A estrutura produtiva atual, que se busca transformar, ainda está baseada nessas
condições iniciais. Até o fim dos anos 1980, a economia muito fechada inibiu
400 828,1
639,5
565,6
200 333 358,4
90 139 52,6 33,5 60,1 30
0
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Funttel(¹) não reembolsável FNDCT + Funttel(¹) não reembolsável
Fonte: Secretaria Executiva do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT).
1 Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações (Funttel).
8
O PDTI e o PDTA estão hoje revogados pela Lei do Bem, a qual ampliou e simplificou os procedimentos, tornando os
benefícios automáticos, como veremos mais adiante.
9
Antes, o artifício utilizado era o de projetos conjuntos entre universidades e empresas: o Estado (via Finep ou
assemelhados) financiava (não reembolsável) a universidade, e a empresa financiava sua própria parte.
Em primeiro lugar, uma avaliação sobre programas de incentivo fiscal para P&D
nas empresas. A idéia desses programas é simples: possibilitar um abatimento
adicional do Imposto de Renda (IR) das empresas que realizam dispêndios in-
ternos em atividades de P&D. Avellar (ver capítulo 8 deste livro) realizou larga
revisão de pesquisas sobre os efeitos de incentivos fiscais, analisou programas de
outros países – Canadá tem incentivos para P&D desde 1944; EUA desde 1954,
e Austrália desde 1986 – e efetuou avaliação do PDTI, estabelecido pela Lei nº
8.661/1993 e revogado pela Lei do Bem (Lei nº 11.196, de 21/11/2005)10. Ela
mostra que havia uma resistência à utilização do instrumento dada a burocracia
34 que o envolvia. De fato, Salerno e Daher (2006) consideram que o PDTI exigia
a submissão, ao MCT, de projeto formal sobre os planos de desenvolvimento da
empresa; o qual era analisado pela equipe técnica do MCT que, se o aprovava,
informava à Receita Federal que tal empresa fazia jus ao incentivo previsto na
lei. Havia, assim, controle da entrada (que pode ser apenas uma declaração de
intenções), e quase nenhum controle da execução ou do resultado. Além disso,
entre 1996 e 2005, período de vigência da lei, houve 196 projetos aprovados, os
quais envolveram R$ 5 bilhões, com incentivo médio de 5,75% – o que é muito
pouco para tanto tempo.
10
O PDTI possibilitava dedução de até 8% do IR relativo a dispêndios em atividades de P&D tecnológico, industrial
e agropecuário; isenção de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre equipamentos e assemelhados para
P&D; depreciação acelerada para equipamentos novos destinados a P&D; amortização acelerada, mediante dedução
como custo ou despesa operacional dos dispêndios, na aquisição de intangíveis para P&D; dedução, como despesa
operacional, dos pagamentos de royalties para empresas de tecnologia de ponta ou de bens de capital não seriados.
Na prática, esses benefícios sofreram obstáculos por parte do chamado “Pacote 51”, editado no Governo Fernando
Henrique, em 1997, o qual limitou as isenções de IR de Pessoa Jurídica (IRPJ) dada a forte crise fiscal e cambial.
Ainda é cedo para uma avaliação geral e sistemática da Lei do Bem; contudo,
há evidências de que algumas empresas estão aumentando seus dispêndios, em
P&D, estimuladas por essa lei. Têm-se notícias de que grandes empresas fize-
ram cálculos da economia relativa gerada pelos incentivos, e, com base neles,
aumentaram suas equipes de engenharia; empresas transnacionais aumentaram
as equipes de P&D13.
11
“Por fim, pode-se concluir, através dos resultados da regressão que o fato da firma participar do programa PDTI
determinou um aumento de 90% nos gastos com atividades inovativas, demonstrando, segundo os resultados obtidos
após a aplicação dessa metodologia, que o programa PDTI conseguiu atingir o objetivo de aumentar os gastos em
atividades inovativas das firmas beneficiárias. Mais que isso, os resultados obtidos com o segundo procedimento de
modelo de seleção em dois estágios apontam para a inexistência de viés de seleção que faz com que os resultados
obtidos com a metodologia propensity score matching seja a mais adequada para esse estudo” (ver capítulo 8
deste livro).
12
Para isso, a lei tem muitos outros mecanismos, tais como: depreciação e amortização aceleradas; redução de
impostos para aquisição de equipamentos de pesquisa; e crédito do IR na fonte sobre royalties, assistência técnica e
serviços especializados contratados no exterior.
13
Informações verbais obtidas em conversas informais com dirigentes empresariais.
GRÁFICO 2
Orçamento do programa espacial brasileiro – R$ milhões
250
220
200
172
150
107,7
100
77 71 74
56
50
37
0
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
No bojo da PITCE, o BNDES revisou, com sucesso, uma linha especial finan-
ciamento de software, o Programa para o desenvolvimento da Indústria de Sof-
tware e Serviços de Tecnologia da Informação (Prosoft), e criou o Programa de
38 Apoio ao Desenvolvimento do Complexo Industrial da Saúde (Profarma), linha
especial de financiamento para a indústria farmacêutica e de equipamentos médi-
cos. Em 2006, revisou as diretrizes operacionais ampliando o conceito de inova-
ção, que, a partir de então, deixou de restringir-se a segmentos tecnologicamente
sofisticados da indústria. O banco aumentou a previsão de recursos (para R$ 153
milhões) do Fundo Tecnológico (Funtec) – fundo de apoio direto na modalidade
não reembolsável –, cujos recursos são oriundos do seu lucro. Ademais, criou
duas linhas de apoio à inovação: “Inovação PD&I” e “Inovação Produção”.
A primeira linha foca em projetos que exigem grandes esforços em PD&I e con-
ta com taxa de juros de 6% a.a. acrescida de taxa de risco de crédito; e, a segunda,
essa apóia projetos que resultam em inovações incrementais e em expansão de
capacidade de produção da inovação. Nesse caso, o banco cobra taxa de juros de
longo prazo (TJLP) acrescida de taxa de risco de crédito. Há, em ambos os casos,
dispensa de garantias reais em operações abaixo de R$ 10 milhões, e os prazos
são de 12 e de 10 anos, respectivamente. Além desses mecanismos, existem ainda
os de renda variável, como o Criatec, que é um fundo de investimento com a
“finalidade de capitalizar as micros e pequenas empresas inovadoras de capital
semente e de provê-las de um adequado apoio gerencial” (Luna, Moreira e Gon-
çalves, capítulo 5 deste livro).
15
Agências locais/regionais de desenvolvimento são algo padrão na Europa e nos EUA. Entre os casos brasileiros,
destaca-se o do sistema de Minas Gerais (o Instituto de Desenvolvimento Integrado de Minas Gerais – Indi, e o Banco
de Desenvolvimento de Minas Gerais – BDMG), bem como a Agência de Desenvolvimento do Grande ABC paulista.
39
QUADRO 1
Linhas Finep de apoio à inovação nas empresas
Financiamento às empresas
t1SØ*OPWBÎÍPo1SPHSBNBEF*ODFOUJWPË*OPWBÎÍPOBT&NQSFTBT#SBTJMFJSBTDPOTUJUVJTFEFmOBODJB
NFOUP
DPNFODBSHPTSFEV[JEPT
QBSBBSFBMJ[BÎÍPEFQSPKFUPTEF1%*OBTFNQSFTBTCSBTJMFJSBT/FTTB
NPEBMJEBEF
BT PQFSBÎÜFT EF DSÏEJUP TÍP QSBUJDBEBT DPN FODBSHPT mOBODFJSPT RVF EFQFOEFN EBT
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t+VSP;FSPo'JOBODJBNFOUPÈHJM
TFNFYJHÐODJBEFHBSBOUJBTSFBJTFDPNCVSPDSBDJBSFEV[JEBQBSB
BUJWJEBEFT JOPWBEPSBT EF QSPEVÎÍP F DPNFSDJBMJ[BÎÍP FN QFRVFOBT FNQSFTBT BUVBOUFT FN TFUPSFT
QSJPSJ[BEPTQFMB1*5$&
(continua)
16
Conversamos com vários dirigentes de empresas de porte, os quais confessaram confundir-se com as linhas Finep; e
há mesmo acadêmicos que se confundem com elas, o que leva a muitas idas e vindas. Logo, simplificar procedimentos
seria muito importante.
17
Conforme a Lei do Bem. Edital publicado em 2006, e com resultados já disponíveis no Portal da Finep: <http://www.
finep.gov.br/>.
18
Conforme a Lei de Inovação. Edital publicado pela Finep em 2006, e com resultados já divulgados.
significativos nas demais; + = impacto positivo e significativo do programa sobre a variável analisada; e n.a. = não
se aplica. 41
2 Propensity score matching (PSM).
20
Fazendo um paralelo: para decidir uma compra a crédito, é fundamental para o interessado conhecer as condições
e os prazos de análise, a decisão sobre o financiamento pelo ente financiador, e os prazos para liberação dos recursos.
Imagine uma pessoa envolvida na compra de uma casa, e, para tal, com necessidade de vender um carro – sem
previsão, ela pode vender o carro e não comprar a casa, ou não conseguir comprar a casa por não ter vendido o carro
a tempo, etc.
21
É só imaginarmos que os sistemas informáticos introduzem uma mediação entre o trabalhador e o objeto de
trabalho; mediação essa feita por códigos e signos expostos numa tela de computador. Interpretar códigos e signos,
interpretar tendências do sistema, requer raciocínio abstrato e raciocínio sobre eventos, desenvolvidos na escola básica
e na secundária, respectivamente, nos cursos de matemática e de física. Além do mais, com sistemas formais de
qualidade e de rastreabilidade de produtos há toda uma parte do trabalho concernente a preenchimento de relatórios,
a leitura e a interpretação de manuais, etc.; e, para isso, além do estudo de ciências exatas faz-se necessária uma boa
formação em línguas – o estudo de português e de inglês é fundamental – seja para a compreensão e interpretação
dos textos, seja para a construção de raciocínio lógico passível de ser traduzido em linguagem escrita e/ou oral.
Muitos países têm política explícita de brain circulation, como a China, a Índia e
os países europeus (dentro da União Européia), que organizam a ida e o retorno
de seus pesquisadores. Na Finlândia, projetos de pesquisa têm pareceres de es-
trangeiros, assim como há pesquisadores estrangeiros em bancas de doutorado,
prática que começa a espalhar-se pelos países mais dinâmicos da Europa. Os
Estados Unidos são um imã por si só: há, nesse país, muitos brasileiros traba-
lhando em universidades ou em empresas. O Brasil, porém, ainda não conseguiu
articular uma rede com essas pessoas, como o fazem os indianos e os chineses:
parte importante dos negócios indianos de software se deve à comunidade indiana
radicada nos Estados Unidos, por exemplo.
22
Informação obtida, pelos autores, junto a dirigentes de multinacionais e junto à Agência Brasileira de Desenvolvimento
Industrial (ABDI), que desenvolve, com a Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia das
Empresas Inovadoras (Anpei), projeto para atração de centros de P&D de multinacionais.
GRÁFICO 3
Quantidade de depósitos e de concessões de marcas no Inpi – 1971-2004
Marcas
110.000
100.000
90.000
80.000
70.000
60.000
50.000
40.000
30.000
20.000
10.000
0
1971 1973 1975 1977 1979 1981 1983 1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003
Depósitos Concessões
Fonte: Extraído de Luna e Baessa (ver capítulo 12 desta publicação).
45
TABELA 12
Comparação internacional de exame de patentes em 2005
Nº de Prazo médio de Demanda média por
examinadores concessão (meses) examinador
EPO (Europa)(1) – 45,3 –
(2)
USPTO (EUA) 4.400 29,1 68
Kipo (Coréia do Sul)(4) 900 30 56
Inpi (Brasil)(3) 120 102 167
Fonte: Extraído de Luna e Baessa (ver capítulo 12 deste livro).
1 European Patent Office (EPO).
br>).
23
O Inpi informou que, além dos concursos já ocorridos, outros serão realizados para ampliar, substantivamente, o
atual contingente de examinadores de marcas e de patentes: de 40 para 100 examinadores de marcas, e de 120 para
360 examinadores de patentes. Destaca-se, nesse processo de ampliação, a criação do Centro Brasileiro de Materiais
Biológicos, bem como do Centro de Educação em Propriedade Intelectual/Academia do Inpi. Isso só foi possível pelo
aumento orçamentário ocorrido a partir de 2004 (de R$ 82 milhões, em 2003, para R$ 108 milhões, em 2004; R$ 117
milhões, em 2005, e R$ 121 milhões em 2006), que totalizou 47,5% entre 2003 e 2006.
Se, por um lado, as firmas que depositam marcas e patentes obtêm ganhos de
produtividade, por outro lado os dados mostram que poucas firmas utilizam o
sistema de propriedade intelectual brasileiro. Em 1998, 94% das firmas de servi-
ços, e 86% das indústrias, não depositaram qualquer marca ou patente no Inpi.
Em 2002, esses percentuais sofreram alterações pouco significativas.
4.1 Japão
Como todos os países que querem entrar firme na disputa do conhecimento “por
cima”, o Japão criou uma institucionalidade. Nesse País, a P&D é fundamental-
mente realizada por um pequeno grupo (cerca de dez) de empresas de grande
porte; o setor privado responde por cerca de 77% dos dispêndios de P&D. Mas
isso é considerado uma fraqueza. O sistema universitário foi desenvolvido no
Pós-Guerra apartado do setor empresarial, que acabou arcando com boa parte
da pesquisa básica. Uma mudança na lei que rege as universidades, conferindo-
lhes grande flexibilidade para a realização de contratos, tende a levar as empresas
a desmobilizarem, ao menos parcialmente, suas equipes de pesquisa básica, em
troca de contratos com universidades26. A mudança institucional envolve:
25
Plano Inovação 25.
26
Informação colhida em entrevistas realizadas, no Japão, em julho de 2007, no âmbito do projeto Mobilização
Brasileira pela Inovação Tecnológica (Mobit), financiado pela ABDI.
27
As Organizações Sociais (OS) têm pouca autonomia no Brasil, pois o Tribunal de Contas da União (TCU) vem
regulamentando que elas devem seguir os preceitos da administração direta.
Os anos 1980 foram caracterizados tanto por um ajuste estrutural como por
um desenvolvimento industrial tecnologicamente intensivo. Um rápido cresci-
mento dos salários reais forçou as firmas a enfatizarem a inovação tecnológica. 49
A abertura gradual dos mercados domésticos forçou as firmas sul-coreanas a me-
lhorarem suas capacidades tecnológicas por meio de transferências externas e de
desenvolvimento próprio. As políticas da época priorizavam a internalização28 de
tecnologias-chave, o desenvolvimento de mão-de-obra qualificada em tecnolo-
gias avançadas, assim como a promoção de P&D privado. O Programa Nacional
de P&D (NRPD) data de 1982, e tinha entre seus objetivos estimular os GRIs a
complementarem pesquisa em áreas não pesquisadas pelo setor privado. O go-
verno procurou, entre outros objetivos, induzir investimento direto estrangeiro
(IDE), por meio da liberalização das políticas de IDE.
28
Localization, no original; a adaptação de tecnologias estrangeiras para a realidade local. No Brasil, seria
tropicalização.
Entretanto, o novo SNI não está completo, e algumas dificuldades devem ser su-
peradas. Em primeiro lugar, a reforma de 2004 referiu-se, na verdade, aos aspec-
tos governamentais do SNI, e esforços tiveram de ser feitos para uma reforma
que envolvesse também os agentes privados, o que ganhou relevo em razão de
80% dos investimentos de P&D serem privados na Coréia do Sul. Em segundo
lugar, o sistema ainda está desbalanceado, visto que as universidades e os peque-
nos e médios empreendimentos, por exemplo, não contribuem ainda, de modo
efetivo, para o sistema, e são vistos como gargalos. Um terceiro aspecto diz res-
peito ao caráter ainda incipiente da integração coerente das políticas de inovação
com outras políticas de governo.
4.3 França29
29
Elaborado no âmbito do projeto Mobit, patrocinado pela ABDI.
30
São espécies de OS, embora possuam muito mais autonomia. Em francês, são chamadas de Empresas Públicas de
Interesse Comercial (Epics).
31
A ANR é uma agência da administração direta, tradicional, não se trata, portanto de uma Epic. A tradição francesa
era de financiamento de pesquisa por dentro do orçamento dos entes estatais, para os corpos de pesquisadores
desses entes, como o Conselho Nacional de Pesquisas Científicas (CNRS), o Centro de Energia Atômica (CEA) e outros.
A exemplo do Japão, o financiamento “cativo” continua, mas tende a ser decadente, principalmente para pesquisa
científica.
52
Nos anos 1980, a orientação aos mercados externos aumentou, e ênfase foi dada
a gastos governamentais em P&D em áreas de interesse comercial e tecnológico,
com concentração em tecnologias da informação e comunicação (TICs). Hou-
ve um forte comprometimento político governamental em relação à ciência e à
tecnologia, com princípios de política tecnológica estabelecidos e apresentados
ao Parlamento. Em 1983, foi criada a Agência Nacional de Tecnologia da Finlân-
dia (Tekes), sob a administração do Ministério da Indústria e Comércio, com o
intuito de racionalizar a administração de P&D. O Conselho de Política de Ciên-
cia e Tecnologia foi criado com o objetivo de propiciar sinergias entre questões
científicas e tecnológicas, o que também reforçou a importância do Ministério
da Indústria.
O colapso da União Soviética foi um dos fatores que contribuíram para uma
crescente orientação do País em direção aos programas da União Européia e da
OECD. No início da década de 1990, a ideologia do bem-estar social foi pro-
gressivamente abandonada pelo Estado, e houve uma ascensão do ideário liberal,
como privatizações e competição de mercado, com preocupação crescente na
competitividade em mercados internacionais.
5 DESAFIOS, OPORTUNIDADES
E SUGESTÕES DE MELHORIAS
Como vimos até agora, a participação do Estado no apoio à inovação não é ape-
nas desejável, é condição sine qua non para o desenvolvimento rumo à sociedade
do conhecimento. Há muitas maneiras de esse apoio se realizar, e cada país deve
escolher aquelas que melhor lhe convém, de acordo com sua situação presente e
suas ambições.
Tomemos o caso levantado por um dos autores deste capítulo quando de sua
visita a um pólo de biotecnologia na Itália – que não é exatamente um exemplo
de Estado ágil e desburocratizado. Para constituição do pólo, que é articulado por
governos locais, e não pelo governo central, foi contratado um gestor profissio-
Assim, devemos considerar que instituições são algo além de agências e de ór-
gãos, pois envolvem regulação, legislação, procedimentos e até costumes. Exem-
plificando: tão importante quanto modernizar e aumentar a vazão dos processos
no Inpi é garantir o respeito ao direito de propriedade intelectual que uma pes-
soa, ou uma firma, possui segundo as leis vigentes. E isso passa pelo Judiciário,
pelo prazo de resposta que ele possa dar a processos dessa natureza – foi esse
ponto que levou o Japão, por exemplo, a criar um Judiciário especializado em
questões de propriedade intelectual.
calcado em intangíveis
Exemplos como esses são muitos. Seria necessário remover as barreiras para a
atuação do Estado no apoio a atividades intangíveis.
34 O BNDES dispensa garantias reais para financiamento do Prosoft até R$ 10 milhoes,substituídas por finanças de
controladores de empresa.
O Brasil é uma sociedade complexa, e seu Estado também. Mas isso não é
exclusividade nossa e, antes de ser um problema, é sinônimo de pujança do País.
O que é um problema é o comportamento pouco empreendedor de governos,
empresariado e de parte importante da sociedade civil quando se faz necessário
um pouco de ousadia institucional.
Um pouco de ousadia faz bem. Se o Brasil tem uma enorme vantagem em pes-
quisa e em exploração de biocombustíveis – principalmente álcool –, e precisa
propagar isso para o mundo, talvez fosse muito útil trocar os carros oficiais de
embaixadas-chave, normalmente carros não fabricados no Brasil, por carros mul-
ticombustíveis (flex) produzidos no Brasil, pintados especialmente para divulgar
o carro flex e o etanol brasileiro. Não parece ser difícil negociar um acordo com
montadoras para prestação de assistência técnica, mesmo porque vários carros
produzidos aqui são exportados. Não parece ser difícil fazer um acordo com a
Petróleo Brasileiro S.A (Petrobras) para garantir o suprimento, à Embaixada, de
álcool combustível. O que parece ser mais difícil é o Itamaraty assumir que um
embaixador pode – ou melhor, deve – andar num veículo produzido no Brasil,
rodando a álcool e, ao mesmo tempo, divulgando a indústria radicada no Brasil
e a liderança mundial em biocombustíveis. Liderança, aliás, que pode não ser
eterna.
TABELA 13
Participação orçamentária em C&T dos diversos ministérios,
conforme PPA 2004 e PPA 2005
Órgão responsável Nº de programas %
Ministério da Ciência e Tecnologia 10 30,30
Ministério das Minas e Energia 5 15,15
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento 5 15,15
Ministério da Defesa 5 15,15
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior 5 15,15
Ministério das Comunicações 1 3,03
Ministério da Saúde 1 3,03
Ministério das Relações Exteriores 1 3,03
Total 33 100,00 59
Fonte: Extraído de Ferreira e Freitas (ver capítulo 3 deste livro).
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