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Seu hálito formava, ao se exalar, uma espécie de vapor branco. Arvore circundada de
folhas…….
Diante dos pronunciamentos da família Sitoe, parentes da soninha, Quimberlito calha com
estupefação. Meneia a cabeça como se sofrendo de solavancos.
Antes de ser expulso pelo burgues de tanto se apresentar embriagado acima da media na hora
laboral, Quimberlito era um shopkeeper numa pequena mercearia. Trabalhava com zelo, apenas
o alcoolismo tomava conta de si a cada dia que nascia.
Por mais que tentava esforçar-se a esquecer a melancolia que o fundia a maquina forte entalada
no peito adentrava em delírios.
- Meu Deus! Que mal eu fiz para tirar-me a Soninha dos meus braços!! - reprimiu-se.
Diabos levam tudo quando vencem a batalha – reprimiu-se. Homens só são fortes com cuidados
de mulheres – não se vive solteiro – homens necessitam de sono. - Isto de levantar cedo, - aqui
pátio – varrer; aqui panelas – cozinhar – deixa a pessoa estupida – pensou Quimberlito, vendo os
dias a claro. Tentou se aguentar por algumas semanas, e nada. Admirou-se a tamanha grandeza
da mulher, aqui filhos- cuidar, aqui lar- cuidar, aqui marido- servir-lhe, aqui tudo com ela,
panelas, machamba, levar agua – é uma escrava de nascença.
Uma semana depois do despedimento, voltou ao seu patrão tentar pedir desculpas e lhe falar
exatamente do sucedido. Foi em vão. Já contratara a dona Celeste. Um flanco de desespero
cortou-lhe a espinha dorsal sorrateiramente. – Pai do céu, guia-me – implorou soerguendo as
mãos para os céus em plena praça a liberdade. Cabisbaixo rastejou seu corpo pela alameda e a
sorte bateu na janela da sua vida, achou cem meticais, provavelmente perdido por uma transeunte
que também passara por aí.
- Que eu faço contigo! – indagou-se segurando a nota pelas mãos – não chegas para nada com o
custo de vida que esta cada vez mais crescente; a distancia aguçou a inflação que tomou o mercado
nacional – continuou Quimberlito indagando-se novamente – que faço contigo- hein!
Sumiu a vista da distancia com um turbilhão de pensamentos alagando seus pensamentos.
Enquanto descia a caminha do seu tugúrio para melhor raciocinar o que fazer com os meticais. O
ambiente do bar – alto nível exibia-se convidativo, estugou os passos e se extraviou do caminho
de casa, apalpando a nota no intimo escuro do bolso das calcas.
– De ti consigo 3/100, minha amada laurentina – disse com um sorriso no rosto.
Os dias se pareciam iguais a todos outros idos desde a rejeição da Soninha. Perambulava vestido
de andrajos pelo calvário do transito, um autentico formigueiro, perdendo horas e horas a ver
crescer as manhãs de lês a lês nos trabalhos de carregadores da cidade.
GMH – Prefere escrever na solidão da sua intimidade ou a vida que a rodeia é também a sua
inspiração?
MHG – Acho que estou sempre a escrever, ainda que seja mentalmente. A escrita permite-me
olhar o mundo criando a minha própria solidão e abrindo-me para o mundo.
GMH – Para si, escrever poesia é falar de amores utópicos e fantasias ou a realidade, por mais
dura que seja, também lhe serve de musa?
MHG – Escrever, seja poesia ou prosa, é sempre sobre a realidade, a fantasia, a utopia e
incondicionalmente sobre experiências que vivi.
Tudo o que escrevo tem pinceladas de mim.
GMH – A poesia é cultura de elites ou um “bem” essencial à vida?
MHG – Acho que na minha juventude a poesia era para elites, ainda que elites culturais. Mas,
não podemos esquecer-nos dos poetas populares que nunca escreveram poesia, mas criavam
poesia oral. Hoje, creio que a poesia é de e para todos.
GMH – Prefere sentir o cheiro dos livros ou é adepta dos livros digitais?
MHG – Confesso que prefiro os livros em papel. Quando olhos para os meus livros, vejo quais
foram os que mais me fizeram vibrar. Estão “usados” porque os li várias vezes e eu estou lá, em
cada folha. No entanto, reconheço que mais vale ler um livro em digital do que não ler nenhum e
é uma boa maneira de o fazer nestes tempos tão apressados.
GMH – Quando começa a escrever, já sabe como vai terminar ou a inspiração vai surgindo a
cada verso terminado?
MHG – Nunca sei como vai acabar… Nem mesmo como vai começar, geralmente surge-me no
pensamento uma frase e o resto vai surgindo do nada.
GMH – Qual é a sua opinião sobre antologias e colectâneas? É maneira possível de um novo
autor se dar a conhecer?
MHG – Com as colectâneas e antologias descobri um mundo novo que envolve partilha,
opiniões, divulgação e teoricamente união.
Sem elas e sem a minha primeira publicação em Ocultos Buracos da Studios Editora, talvez não
estivesse por aqui nem teria aprendido tanto nem conhecido tanta gente por esse mundo
lusófono.
GMH – Para si, a internet e o FaceBook são ferramentas essenciais para um escritor divulgar o
seu trabalho?
MHG – Tenho que agradecer ao FB por ter ganho a coragem para mostrar o que escrevia, mas
confesso que por vezes me assusta tanta maldade e hipocrisia que venho por aqui. Mas o saldo é
positivo.