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Marcelo Leite
Mestrando em História da Arte pela
Universidade Federal de São Paulo
marceloafleite@hotmail.com.br
RESUMO
Esta comunicação tem por objetivo mostrar como um filme brasileiro, Floradas na
Serra (1954), tem sido uma valiosa fonte de estudo para uma pesquisa que aborda
obras pouco conhecidas do renomado arquiteto paulista Oswaldo Arthur Bratke
(1907-1997) na cidade de Campos do Jordão-SP.
INTRODUÇÃO
Entre as fontes utilizadas por essa pesquisa se encontra o filme brasileiro Floradas
na Serra, lançado em 1954, última produção da Companhia Cinematográfica Vera
Cruz. Sabemos que desde os primórdios da sétima arte a arquitetura complementa o
cinema e vice-versa. Na visão de Fábio Allon dos Santos (2004: s/p), a arquitetura
na produção cinematográfica “ajuda a delinear a natureza dos filmes” e auxilia no
processo de construção “de estruturas capazes de resgatar o espírito de uma época
ou lançar o de outras”. Em contrapartida, o cinema no estudo da arquitetura, “pelo
acréscimo da dimensão temporal, torna a experiência espacial única, diferente de
qualquer outra representação mais antiga, permitindo uma apropriação mental mais
interativa”. Atua, desse modo, como um complemento ímpar à fotografia e ao
desenho, ferramentas mais cotidianas aos arquitetos.
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Fundada no último quartil do século XIX, Campos do Jordão foi, em seus primeiros
anos, uma conhecida estação para tratamento de tuberculose. Por esse motivo, nos
anos 1950, quando a película foi gravada, as pensões e os sanatórios ainda
estavam em plena atividade, sendo o Sanatório Sírio – uma das locações externas
usadas no filme – um marco do período histórico conhecido como Ciclo da Cura,
expressão cunhada pelo historiador local Pedro Paulo Filho (1937-2014) para
descrever a cidade em suas primeiras décadas de crescimento urbano. O turismo
despontou como principal atividade econômica a partir da década de 1940.
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o empreendimento em 160 lotes com áreas entre 750 e 8000 m². No meio do
loteamento, Bratke instalou um restaurante que, além de centro geográfico do bairro,
era também o centro social dos primeiros moradores das casas de campo vizinhas.
Hoje em dia, setenta anos depois das experimentações de Oswaldo Bratke, algumas
das residências por ele construídas já desapareceram. Mesmo entre as que ainda
sobrevivem ao tempo e à pressão imobiliária pela demolição, boa parte foi
modificada por reformas. Nessas condições, uma das formas possíveis para se
acessar o interior de uma dessas edificações, num contexto mais próximo dos anos
1940, é por meio de Floradas na Serra. Na segunda metade do enredo, o casal
protagonista da história passa a habitar uma pequena cabana de madeira, parecida
com as moradas criadas pelo arquiteto no Jardim do Embaixador.
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O fato de ser uma casa para aluguel remete ao uso desse tipo de espaço de forma
efêmera – em fins de semana, feriados ou férias – algo cada vez mais comum ao
longo da primeira metade do século XX. No contexto local, durante o período muitos
paulistanos – sobretudo os abastados, como a personagem Lucília – adquiriram o
costume de habitar temporariamente um segundo lar em meio à natureza e longe da
rotina e do stress metropolitano. Alguns autores, como Richard Morse, apontam
inclusive o cinema norte-americano como um difusor dessa prática em São Paulo:
moderno: é Lucília quem decide morar com seu companheiro, mesmo não sendo
casada com Bruno. É ela também que aluga a moradia, com dinheiro próprio.
Esse setor social da casa também é amplo e contínuo: não há separações entre a
área em que Bruno escreve o seu romance, o entorno da lareira e a mesa de
refeições. Essa informalidade do ambiente de estar e as pequenas cozinhas, que se
prometiam altamente funcionais, eram inovações que vinham sendo incorporadas
em diversos lares de todo o Brasil, incialmente nos grandes centros urbanos, desde
os anos 1930. Ao final da cena, vemos que além dos móveis rústicos, há também
uma vitrola na sala, e o casal dança ao som da música emanada por ela.
Num outro momento, vemos armários embutidos no quarto, algo comum nas obras
de Bratke e que em alguns casos funcionavam como divisórias entre ambientes. Tal
solução gerava economia no preço e no tempo de execução da obra, bem como
tornava o espaço mais flexível, já que os cômodos poderiam ter seus tamanhos ou
usos alterados de forma relativamente simples. Há também um telefone no quarto –
mais um objeto moderno incorporado ao cenário da casa de campo.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS