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A escola de Frankfurt foi o embrião que gestou muitos dos grandes filósofos europeus do
século XX, Horkheimer, Adorno, Pollock dentre vários outros neste texto
apresentaremos a gênese do processo que se deu desde sua formação após a Primeira
Semana do Trabalho Marxista, como Instituto de Pesquisa Social, sua permanência como
um “clube marxista” durante o período de Grünberg, até o período em que teve que se
mudar para Genebra após a perseguição nazista, passaremos após a discussão da teoria
critica proposta por Horkheimer e sua nova proposta de fazer pesquisa, tendo ao final
deste trabalho uma compilação das biografias dos mais destacados membros da Escola
de Frankfurt.
Antes de falarmos sobre a escola de Frankfurt temos que ter em mente que mais que
qualquer outra coisa ela deve ser vista como “uma trajetória histórica, filosófica, política
e por vezes, psicológica da contribuição de cada um de seus principais membros”
(WIGGERSHAUS 2002). Não só um movimento de homens e não só um movimento de
ideias, mas uma amalgama que junta buscou dar conta das questões de nosso tempo, nos
delineando um horizonte teórico, mas sem deixar de nos lembrar sempre, porém, que não
existe um lugar em que esse horizonte acabe.
Como descrito pelo texto de Wiggershaus a escola de Frankfurt é ainda hoje mais que um
simples memoria de um espaço físico ou acadêmico falamos de uma corrente teórica que
diferente de suas contemporâneas não propunham um fim a discussão mas na intermitente
procura por um novo início, fazendo-a assim diferente de tudo que já se havia proposto,
porem a escola a qual nos referimos Frankfurt corresponde a data posterior à nomeação
de Horkheimer como diretor do Instituto de Pesquisas Sociais de Frankfurt, em 1930
porem seu início cronológico remonta a um tempo anterior pois o instituto já existia desde
1924 remontando, em princípio, à reunião de Illmenau, em 1923, mesmo que durante o
tempo em que esta permaneceu sobre a direção de Carl Grünberg, ela mais se assemelhava
a uma reunião de eruditos entusiastas do marxismo do que um colégio de questionamentos
sociais e filosóficos.
Porem para o período de Horkheimer viesse a existir o instituto de teoria crítica, teria de
nascer, e sua vinda foi forjada por toda a conturbação existente na Alemanha do momento
pos revolução e da necessidade de uma verdadeira teorização do socialismo, pois após
1918-1919 a palavra socialização adquiria varias cores dependendo do espaço onde era
utilizada;
Weil por ser de família rica filho de um homem de negócios, Hermann Weil, tinha em
suas ideias de voltar ao livre mercado ou avançar para o socialismo um sentido muito
particular, pois seu pai durante sua vida lhe mostrou como se é possível alcançar
prosperidade mesmo vindo de um baixo estrato, começando como comerciante, e
posteriormente fundando sua própria empresa comercial, então na visão de Weil o êxito
da livre empresa era um exemplo a ser visto em sua própria casa, porem o distanciamento
existente entre ele e seu pai fizeram com que este não tomasse o caminho dos negócios,
e passasse a fazer parte “daqueles jovens que, politizados pelo fim da guerra e a revolução
de novembro, estavam convencidos da factibilidade e da superioridade do socialismo
como forma mais elevada da economia” (WIGGERSHAUS 2002).
No início dos anos 20 com a introdução do (NEP) Nova Política Econômica pela união
soviética e uma certa paz existente entre ela e os países capitalistas evidenciado pela falta
de revoluções no Oeste, pareceu haver espaço para muitas discussões e debates teóricos
dentro do partido, nessa fase houveram, inúmeras tentativas para tomar “consciência do
caráter e da função da teoria e da práxis marxista”, nestes debates pode-se incluir uma
“semana de trabalho marxista” (Marxistische Arbeitswochè);
A discussão inicialmente girou em torno das apresentações de Korsch e Lukacs dos temas
que eles publicariam em livros naquele mesmo ano, mas uma das ideias centrais da
reunião pairou em torno da citação de Marx feita por Korsch no final de sua obra
Marxismo e Filosofia, “Não se pode ultrapassar a filosofia sem realiza-la” trazendo em si
para eles uma visão mais plena de seu papel que devia ser não a renuncia de seus papeis
enquanto intelectuais mas sim fazer uma aliança com o proletariado comunicando os
trabalhadores. Assim após este período efervescente nasce em 1923 fruto das ideias de
Weil e Gerlash um instituto de pesquisas sociais em Frankfurt de vertente marxista;
Este projeto foi alimentado financeiramente pelo pai de Weil em seu desejo de fazer algo
que deixasse seu nome na história da cidade, e teórica e politicamente pelo professor
Robert Wilbrandt, tendo como seu primeiro diretor Grünberg que mesmo não se atando
a uma concepção política partidária, afirmava fidelidade ao marxismo enquanto teoria
cientifica porem separando o materialismo histórico do materialismo metafísico como
pode ser visto em seu discurso;
Ao julgar como certa a natureza cientifica de seu marxismo, Grünberg, a considerava uma
teoria não apenas válida, mas amplamente respeitada, desejando conquistar a mesma
atenção aos temas dos proletários e dos socialistas temas típicos que eram considerados
parias nas pesquisas, dos centros de ensino superior alemães por serem considerados
como discussão das classes menos abastadas. Grünberg nasceu em 1861 na Romênia, em
Foscani, filho de judeus austríacos partiu aos 20 anos para Viena tendo como mestres
principalmente, Lorenz von Stein e Anton Menger, convertido ao catolicismo em 1892,
teve sua carreira universitária iniciada em 1894, como mestre de conferências sobre
economia política na Universidade de Viena. tendo chegado a Frankfurt já com a saúde
debilitada, e empenhado todas as suas forças para o estabelecimento do Instituto,
Grünberg permanecendo como seu diretor apenas até 1928. A luta de Weil para encontrar
um sucessor marxista a altura, mas que ainda assim pudesse se evadir do cerco aos
comunistas que cada vez mais se fechava, acabou por desembocar em Marx Horkheimer,
esse que diferia das ideias de Grünberg em relação ao marxismo ortodoxo, mas ainda
assim mantinha em si a herança do marxismo pois segundo ele, produz teoria critica todo
aquele que quer continuar a obra de Marx, ele continuou diretor até a perseguição Nazista
que fez com que em 1933 ele e outros membros se refugiassem em diversos cantos do
mundo.
A saída dos membros da escola de Frankfurt foi crescente após esse período, apenas
Adorno visto como apenas um semi judeu e não rotulado como um membro da "Marxburg
(cidadela Marx), não foi informado da ocorrência da transferência em caráter definitivo
do Instituto para Genebra, “nem recebeu qualquer instrução do instituto do que fazer ou
para onde ir” (carta de Adorno a Horkheimer, Oxford, 2 de novembro de 1934) como ele
se queixa a Horkheimer, em 13 de março a policia fechou o instituto e em maio as salas
foram reabertas e colocadas a disposição da liga estudantil nacional-socialista. Dos
colaboradores importantes do instituto apenas Wittfogel, caiu nas mãos dos nacionais
socialistas, passando por vários campos de concentração até ser libertado em setembro de
1933 quando pode ir aos Estados Unidos. Após o recolhimento do material do instituto
Horkheimer ainda tentou através de cartas ao governo explicar a vasta coleção de obras
referentes ao comunismo presentes como uma biblioteca formada pelo gestor anterior,
Grünberg, mas necessária e especializada na história do movimento operário de todo o
mundo além de deixar bem clara sua não afiliação a nenhum partido nem antes nem
depois de sua investidura no cargo de diretor do instituto, pois segundo o próprio a
“história anterior do Instituto exigia que sua direção cuidasse para que não se pudesse ter
dúvidas sobre sua neutralidade política” (WIGGERSHAUS, 2002). Após sua chegada em
Nova York, em 3 de maio de 1934, por motivos de saúde Horkheimer passou a habitar
um hotel na orla do Central Park pela tranquilidade do bairro em relação as outras áreas
da cidade, em 27 de maio ele envia uma carta a Pollock onde diz de sua esperança de que
este novo território seja mais fortuito para uma pesquisa tranquila já que a Europa não era
mais um espaço onde isso poderia ocorrer, pois segundo ele “As notícias que a imprensa
tem dado daí me assustam todos os dias” (WIGGERSHAUS, 2002)
Mas o que viria a ser a teoria crítica, antes de falarmos sobre a teoria propriamente dita
temos de voltar um pouco ao que era conhecido como materialismo histórico e as diversas
transformações sofridas por este depois da morte de Karl Marx principalmente a partir
das interpretações de Friedrich Engels, nas obras, Anti-Dühring e em Ludwig Feuerbach
e o fim da filosofia clássica alemã expõe de modo “positivo” o método dialético porem
acabam “por abrir um caminho para a separação entre metodologia e objeto na ciência
socialista que buscava;” Antunes (2012), pois Engels prima pelo encadeamento
enciclopédico, em detrimento a crítica de Marx, Musse (1997), fazendo assim do caminho
de Engels de alguma forma linear porem díspar do que antes existia ao trilhar esse
caminho mais “positivista” ligado as ciências naturais e do encadeamento de informações
e pesquisa. Havia também no pensamento deste uma tentativa de falar tanto ao operário
de produção quanto ao meio acadêmico o qual é traduzido por Antunes;
Não existe uma, mas diferentes teorias críticas. Dois, de acordo com
Horkheimer: na década de 30, marxista revolucionário, e nos anos
setenta, em ao mesmo tempo que faz uma crítica do "mundo
gerenciado", abandona o projeto revolucionário e tende a conquistar
posições estritamente defensiva. O mesmo vale para Marcuse, que
reconhece a dualidade da teoria crítica, mas tirar conclusões disso
oposto: a saber, a exigência de reconsiderar a revolução. (ABENSOUR,
1995, p.8)
Abensour nos mostra que não existe uma forma única de se fazer teoria critica o que por
si só a coloca como algo não cientifico segundo a lógica positivista, mas como a crítica
marxista nasceu para contrastar inicialmente o positivismo em ascensão, podemos
abstrair a partir disto que sua forma é mais que logica por assumir esse contorno. Mas
essa característica nos induz a um questionamento, não existe nenhum critério a produção
de teoria critica segundo Horkheimer em 1930 existe sim “Produz teoria critica todo
aquele que quer continuar a obra de Marx”, Nobre (1965).
Como deveriam ser então feitas essas novas pesquisas centradas em um terreno tão pouco
explorado e vagamente desconhecido, o idealismo pós-kantiano começou a destravar as
amarras do conhecimento ao desenvolver o tema da conexão entre a razão autónoma e o
individuo empirico porem sendo as respostas centradas no “Eu” espontaneo esse metodo
não conseguiria se apronfudar nas respostas sociais ficando quase sempre presas a um
individuo unico o hegelianismo por sua vez conseguiu romper essas amarras da
introspecção, ao afirmar que a vontade humana não pode ser dissociada do fato historico,
sendo o sujeito uma parte inerente do estado porem sendo suas ações fruto de seus
interesses individuais, dos impulsos e das suas paixões porem ainda assim fruto de um
coletivo maior pois;
Esse é o grande ponto da Teoria critica quando ela quebra com todos os paradigmas
anteriores ao não buscar apenas o fim de um questionamento em simples respostas de sim
e não, o não procurar uma verdade universal permitiu que seus trabalhos se concentrassem
em não produzir respostas prematuras e indutivas, mas sim permitir que estes
estimulassem a pesquisa mantendo-a em constante contato com a vida real, Antunes
(2012).
Existe um ponto que nos chama a atenção ao lermos todas estas biografias, sendo este o
fato de a maioria dos membros mais importantes da chamada Escola de Frankfurt
possuírem além uma origem judia-alemã uma família abastada, nos mostrando um pouco
desta época em que estes homens viveram sendo que “O homem não é nada além daquilo
que a educação faz dele.”, Kant, e como mesmo forçados a deixar sua pátria pelos terrores
do nazismo muitos ainda decidiram retornar após o período de êxodo, outro dos pontos
que é digno de atenção destes é o local para onde a maioria decidiu emigrar, os Estados
Unidos, talvez devido ao entusiasmo e esperança mostrados por Horkeheimer em suas
cartas a Pollock ou algum outro fator mas o certo e que cada um desenvolveu de forma
diferente sua relação com este continente durante o tempo que permaneceu. O que fica
claro ao final da leitura de suas histórias são além das similaridades a importância
histórica de cada um destes indivíduos.
Referencias
FREITAG, Bárbara. A teoria crítica ontem e hoje. São Paulo: Brasiliense, 1990