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Anais do V Congresso da ANPTECRE

“Religião, Direitos Humanos e Laicidade”


ISSN:2175-9685

Licenciado sob uma Licença


Creative Commons

A Escola de Kyoto: Pensar a partir do Nada

Moacir Ribeiro da Silva


Mestrando
PPGCIR/UFS
moacirufs@gmail.com
Capes
ST 06 – BUDISMOS E CONTEMPORANEIDADE: INTERFACES E PERSPECTIVAS

Resumo: A Escola de Kyoto é um movimento filosófico-religioso no contexto da Universidade


Imperial de Kyoto a partir da era Meiji, desenvolveram reflexões tendo como base a
problemática do Nada. Mas o que é pensar a partir do Nada? De acordo com seus principais
expoente é a confluência resultante de fatores como: um alargamento fruto da compreensão
trans-conceitual da realidade, aliado a um repensar da condição religiosa do homem e
consequentemente de sua espiritualidade. Pois, como bem frisa Nishida Kitaro, fundador desta
escola "a autêntica experiência religiosa pertence ao homem religioso". O caminho
metodológico deste trabalho coaduna com o desenvolvimento do nosso projeto de Dissertação
em Ciência da Religião no âmbito do PPGCIR/UFS, tendo como linha investigativa
"Fundamentos e críticas das idéias religiosas" a pesquisa versa sobre "Abordagem filosófica da
mística" sendo referenciada de acordo com a proposta da Fenomenologia da Mística de Juan
Martín Velasco e de outros autores que trabalham a questão do Nada com ênfase no estudo
comparado da mística. No sentido de sua exposição este trabalho terá um primeiro momento de
considerações gerais e abertura para um segundo momento sobre a problemática estabelecida
na Escola de Kyoto.

Palavras-chave: Escola de Kyoto, Religião, Espiritualidade, Nada.

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1 Considerações iniciais

Partindo dessa agradável possibilidade de construção sobre a esteira da


interdisciplinaridade, é que justamente esta pesquisa que tem como linha teórica
Críticas e fundamento da Religião, no entorno da Filosofia da Religião, buscar trazer
contribuições que visa entender um pouco mais, uma relação de encontro entre o
pensamento filosófica oriental e mística, mas precisamente Mestre Eckhart e o tipo de
reflexão promovida pela chamada "Escola de Kyoto", no contexto da Universidade
Imperial de Kyoto e que trouxe sobre temas perenes da filosofia e religião, reflexões a
partir da problemática do Nada.
Quando se pensou no aspecto teórico desta dissertação para o trabalho de
compreensão sobre a mística justamente inspirada na interpretação dos filósofos da
Escola de Kyoto e como o pensamento da mística especulativa medieval,
especificamente como a mística eckhartiana entra no contexto intelectual japonês. Em
termos de método compreensivo para mística e sua relação com o Nada como um
caminho interpretativo e para sua inserção no contexto das Ciências das Religiões, um
dos desafios foi à busca de uma metodologia de trabalho que se evita reducionismo e
que fizessem parte do arcabouço metodológico que amplifique a interpretação que Keiji
Nishitani faz sobre a mística de Eckhart, entendendo-se que nesse diálogo há uma
confluência de pensamento no que tange a importância da mística no contexto da
subjetividade de humana e o aspecto religioso pensado a partir deste encontro. Neste
sentido, sintonizamos com o que afirma Velasco:

Mas essa descrição de variedades de experiência mística segue uma tentativa


de descrever a estrutura do fenômeno místico que se baseia principalmente
sobre as atuais formas de experiência mística no cristianismo. Isso não significa
que essas formas são mantidas pela única válida, mesmo pelas formas
eminentes da experiência mística. Na verdade, cada vez que eu me sinto
menos inclinado a distribuir diplomas validade e perfeição entre o estudo
fenômenos religiosos. Acontece que essas formas são aqueles que conhecem
mais de perto e, assim, permitindo-me um maior conhecimento sobre seus
aspectos internos. Eu não, porque a descrição da estrutura do fenômeno
místico propõe que isso seja feito de forma inequívoca e nos místicos de todas
as tradições. Mas, sim, a descrição é feita com atenção para as formas de
misticismo não desperta cristãos e não religioso, frutífero, espera que, para
eles, e deixou em aberto a ser enriquecido com as contribuições que os estudos

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de diferentes tradições podem contribuir, contribuíram de fato e eles podem
continuar a contribuir.

Neste aspecto, e diante das questões acima elencada encontramos alguns


autores que gostaríamos de dialogar na construção teórica dessa pesquisa. Estamos
desenvolvendo no âmbito desta pesquisa encontro com autores como: Juan Martín
Velasco e sua utilização do método fenomenológico e o desdobramento deste na
"fenomenologia da mística", e as obras deste autor que utilizaremos são: O fenômeno
místico e outra intitulada, Introducción a la fenomenología de la religíon. Um autor que
consideramos importante é o Bernard MacGinn com seu livro "As fundações da mística:
das origens ao século V", onde debruçaremos principalmente em sua seção 2 -
"Abordagem filosófica da mística". Pesquisadores brasileiros como Cícero Cunha
Bezerra e Henrique C. de Lima Vaz também nos auxiliarão na composição deste aporte
teórico de estudo. Sendo o primeiro o seu livro – Dionísio Pseudo – Areopagita: Mística
e Neoplatonismo, encontra-se justamente neste livro aspectos importantes sobre a
problemática do Nada justamente na tradição do neoplatônico cristão que é gestado a
partir das influência da influência de Plotino e Proclo e o ápice desta no contexto cristão
a partir do Pseudo- Aeropagita. Também utilizaremos outros artigos deste autor. Do
segundo pesquisador utilizaremos a obra: Experiência Mística e Filosofia na Tradição
Ocidental.
Porém, a presente comunicação que trazemos para este Simpósio Temático é
fruto de algumas observações que compõe nosso projeto de dissertação - Na fronteira
do nada: A interpretação do nada absoluto de Mestre Eckhart no livro a Religião e o
Nada de Keiji Nishitani.
Na fronteira do nada, é uma proposta de identificação de um tipo de trabalho
versado na tradição mística medieval, especificamente em nosso caso Mestre Eckhart,
a partir de sua concepção do Nada Absoluto e a interpretação de Keiji Nishitani desta
concepção eckhartiana.
Em relação à Escola de Kyoto, estes filósofos abriram um diálogo muito
produtivo com a tradição cristã, com a noção de realidade no ocidente, como também a
questão do niilismo. Entretanto, nossa proposta aqui é tratar de algumas observações
sobre o que é o "Pensar a partir do Nada" no contexto de nossa referida escola.

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2 A ESCOLA DE KYOTO: Pensar a partir do Nada

Na Universidade de Kyoto, nasceu um grande trabalho intelectual, que veio


estabelecer um diálogo muito produtivo entre o pensamento oriental e ocidental no
âmbito da Filosofia e da Ciência da Religião. A começar por Nishida Kitaro (1870 –
145), Tanabe Hajime (1885 -1962) e Keiji Nishitani (1900 -1990). Por conta da
notoriedade das reflexões produzida por estes pensadores foram chamado de a “Escola
de Kyoto”, tornando-se referência, sobre um tipo de trabalho que tem o Nada, como
caminho interpretativo, buscando esboçar uma ontologia inspirado em conceitos
religiosos.
Mas o que é pensar a partir do Nada? De acordo com os principais expoentes é
a confluência resultante de fatores como: um alargamento, fruto da compreensão trans-
conceitual de realidade; abrindo a um repensar da condição religiosa do homem e
consequentemente da sua espiritualidade. Pois como bem frisa Nishida Kitaro, fundador
desta escola "a autêntica experiência religiosa pertence ao homem religioso".
Nishida em seu livro, Pensar desde la Nada: Ensaios de Filosofia Oriental, que
compõe um conjunto de artigos e dentre eles destacamos o intitulado "A lógica do lugar
do nada e a cosmovisão religiosa", afirma:
A religião é um fato do espírito. Os filósofos não necessitam fabricá-la desde
seus sistemas de pensamento. Unicamente o que deve fazer é explicá-la. E
para realizar tal coisa é necessário que ao menos certo ponto compreenda de
que se trata. A autêntica experiência religiosa pertence ao homem religioso.
(NISHIDA, 2006, p. 33)

Um pouco adiante ainda nos diz: Eu creio que a religião não cabe apenas na
esfera da razão (blosse Vernunft). Aquele que pretende falar de religião deverá, ao
menos, considerar a consciência religiosa como um fato do seu próprio espírito.
(NISHIDA, 2006, p. 25)
As citações anteriores vão dialogar com a questão religiosa a partir da dimensão
da subjetividade tendo o nada como uma perspectiva de um encontro de uma
transcendência na imanência que o mesmo denomina como autodeterminação do
presente absoluto.

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A partir de um confronto do pensamento budista do nada e do esvaziamento,
fortemente influenciado de sua prática meditativa, aliado a temas da mística cristã,
proporciona uma composição de uma ontologia negativa alinhada de "lugar do nada
absoluto", pavimentando assim sua compreensão da experiência religiosa como algo
inerente ao homem. (NISHIDA, 2008, p. 49)
Em seu comentário sobre a obra de Nishida, Juan Masiá Clavel (2006, p. 119),
nos chama atenção que: "Nishida é um filósofo da religião, mas exatamente, da
religiosidade, fato este que tem um interesse pessoal". Aqui encontramos no contexto
do pensamento de Nishida sobre a religiosidade um novo direcionamento que
compreendendo como um saída diante sobre o aspecto reducionista e secularizante
que se estabelece a partir da modernidade. Pois,

Nishida foi um bom conhecedor da tradição oriental, como também estudou a


filosofia ocidental e estava familiarizado com obra de autores como Kant, Hegel,
Bergson e Willian James. Não renuncia a lógica ocidental por completo, nem se
resigna a pensar unicamente com ela. luta consigo mesmo, buscando uma
outra lógica, a que chama paradoxalmente de em seu segundo ensaio, a lógica
de contradições. Se lhe perguntam como entende o Absoluto, imanente ou
transcendente, pensa que a pergunta está mal formulada. Afirma assim: " Creio
que a religião do futuro irá em direção do imanente transcendente" (CLAVEL,
2006, p. 121).

Na obra “A Religião e o Nada”, de Keiji Nishitani, é instituída uma reflexão a partir


do conceito de Vacuidade, como saída da crise niilista estabelecida pela visão
reducionista da religião na modernidade.
Nishitani observa na mística cristã, especificamente no pensamento de Eckhart
no ocidente, uma forma radical de pensamento, um dos primeiro a idealizar o nihil como
"fundamento – sem – fundo" e que em alguns aspectos aproxima-se de muitos
preceitos zen-budista. Como afirma Bezerra:

Para a tradição mística medieval e consequentemente para Eckhart, Deus é o


Nada de tudo o que é. Este nexo indissolúvel entre ser e não ser é algo que não
só funda a teologia mística como mostra a influência platônica via
neoplatonismo. Em sua compreensão, Nishitani irá perceber que geralmente o
nada vem pensado na tradição ocidental como oposto ao ser, como a negação
daquilo que é (ser) e o mesmo posicionará contra essa interpretação,
afirmando, que o nada absoluto, em que tudo o que é negado não é possível
como um nada pensado, mas somente como um nada vivo, " como forma sem
forma". (BEZERRA, 2009, p. 101).

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Este aspecto da mística especulativa no contexto cristã do medievo que tem o
Nada como um caminho interpretativo, em seu conteúdo experiencial e vivencial deve-
se compreender para evitar confusões que o domínio de conhecimento envolvido não é
alógico ou irracional, mas translógico, Geralmente, o nada é pensado em oposição ao
ser, num sentido de movimento horizontal. O nada na mística especulativa situa-se na
vertente noética da consciência. (VAZ, 2000, p. 30).
Qual é a matriz teórica da mística especulativa? Vejamos o que nos diz Vaz:

O Neoplatonismo é, na verdade, a matriz teórica e linguística da mística


especulativa. Ela tem nos textos de Plotino como que suas escrituras canônicas
[...] Seus traços fundamentais, cuja presença se prolongará de modo muito
profundo na teologia mística posterior e nas modernas versões filosóficas da
mística, de um lado dizem respeito à estrutura da alma e da inteligência e aos
degraus correspondentes para a subida contemplativa; de outro, refere-se à
natureza da união final no ápice da theoria entre a inteligência e o Uno 1. (VAZ,
2000, p. 34)

Nishitani em sua exposição irá entender que o pensamento de Eckhart possui


uma originalidade no sentido ao pensar o nada e as características são:
1) Situar a essência de Deus em um lugar mais além do Deus pessoal que
esta em suspenso para os seres criados;
2) A essência de Deus, ou deidade, é considerada um nada absoluto, e mais,
se converte em um âmbito da nossa morte-na-vida absoluta;
3) O homem tão somente pode ser si mesmo verdadeiramente na deidade e a
consumação da liberdade e a independência do homem esta na
subjetividade e tão somente pode ser efetivada na manifestação do nada
absoluto.

A reflexão com base em Eckhart apontado para um pensamento que precisa ser
revisitado por conta da forma como é tratada a relação entre homem e Deus no sentido
da consciência e da experiência de um desprendimento e liberdade. Aqui podemos ver
refletida a diferença entre a niilidade que proclama que "Deus está morto" e o "nada

1
Um bom estudo introdutório desta temática. Cf. BEZERRA, BEZERRA, Cícero Cunha. Compreender Plotino e
Proclo. Vozes. 2006.

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absoluto" que chega a um lugar além, incluindo Deus, ou entre a vida que irromper na
niilidade e brota como borboleta significando renovação e a vida com a morte-na-vida
absoluta. (NISHITANI, 1999, p. 116)
Expõe que já no ocidente temos um pensamento dentro da tradição cristã, ou
seja, na mística um tipo de pensamento que na base de sua proposta, apresenta uma
conversão do pensamento, um tipo de saída da desesperação da base niilista
desenvolvida no âmbito da modernidade.
Em suma, se o nihilum do creation ex-nihilum (como negação em relação à
existência dos seres criados) podemos chamar de "nada relativo", e o nada da
deidade de Eckhart (como o lugar em que a existência, incluindo o subjetivo, se
estabelece no que realmente é) pode chamar-se "nada absoluto", então quiçá
poderíamos dizer que a niilidade do niilismo de Nietzsche seria um ponto de
vista do "nada relativamente absoluto" (NISHITANI, 1999, p. 117)

Nishitani entende que deveríamos vislumbrar a transcendência do pensamento


de Eckhart e que não há dúvida que a fé cristã ortodoxa de seu próprio tempo, não o
compreendeu e foi visto como um herege apesar de sua considerável influência e
afirma que mestre dominicano ao converteu a subjetividade humana e seu
enfrentamento com Deus nos problemas importantes de sua época, o pensamento de
mestre Eckhart merece uma reconsideração séria.
Por fim, no presente trabalho buscamos trazer algumas considerações de
algumas impressões que vem sendo desenvolvidas no âmbito desta pesquisa que
encontra-se em andamento. Buscamos esboçar considerações sobre a
representatividade do Nada como caminho no contexto de Nishida Kitaro e Keiji
Nishitani e a questão da "a autêntica experiência religiosa pertence ao homem
religioso", como assinala Nishida.

Referenciais

BEZERRA, Cícero Cunha. Niilismo Oriental e Cristianismo: Reflexões a partir do


Pensamento de Keiji Nishitani, Revista da Fapese, v.4, n. 1, p. 33-40, jan./jun, 2008.

_______. (2009). Díonisio Pseudo- Areopagita: Mística e Neoplatonismo. São


Paulo:Paulus.

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CLAVEL, J. M. Por el vaciarse a la fe. In: NISHIDA, K. Pensar desde la nada: Ensayos
de filosofia oriental. Salamanca: [s.n.], 2006. Cap. 121 -141, p. 145.

HEISIG, James W. Filósofos de la Nada: Un Ensayo Sobre la Escuela de Kioto.


Barcelona: Herder, 2002.

NISHITANI, Keiji. La Religión y la Nada. Trad. Raquel Bouso García. Madrid: Siruela,
1999

MULLER, M. L. A Experiência religiosa e a lógica tópica da autodeterminação do


presente absoluto (Kitaro Nishida). Analytica, Riode Janeiro, v. 12, 2008.

NISHIDA, K. Pensar desde la nada: Ensayos de filosofia oriental. Salamanca: Ediciones


Sígueme, 2006.

SUZUKI, D.T. Mística Cristã e Budista, trad. David Jardim. Belo Horizonte – Minas
gerais 1974.

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