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13/02/2018 Acesso ao Insight - Budismo Theravada - realidade_condicionada

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A Realidade Condicionada
Por

Ajaan Brahmavamso
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Os temas que com freqüência surgem no Budismo são o condicionado e o incondicionado,


especialmente se alguém está em busca da verdade, em busca da realidade, em busca da
liberdade. Pessoas que tenham estudado os princípios de psicologia, ou que tenham algum
conhecimento da natureza das coisas, sabem o quanto somos condicionados por kamma, pelas
nossas experiências e por tantas coisas diferentes. Essas condições na verdade afetam o modo
como vemos o mundo e como experimentamos a realidade. Elas também afetam as nossas
escolhas e o modo como usamos a nossa vida. Quando olhamos bem no fundo, podemos ver que
as nossas escolhas condicionam as nossas vidas, mas as nossas escolhas não são livres. Há
muitas influências que fazem com que façamos as coisas que fazemos. A maneira que vemos as
coisas não é "como elas na verdade são". Muitas pessoas já observaram que vemos, ouvimos e
experimentamos aquilo que queremos experimentar e que queremos ver. Essa é a razão porque
a nossa realidade difere da realidade da pessoa que está sentada ao nosso lado.

O Ciclo da Delusão

Nós criamos e fazemos a nossa própria realidade, o nosso próprio mundo. Vivemos nesse mundo.
Condicionamos esse mundo. Falei brevemente antes sobre a idéia Budista de Deus,
especialmente sobre a criação e se os Budistas acreditam no "Big Bang", ou no começo das
coisas. A pessoa que me fez essa pergunta mencionou corretamente que uma das coisas que
podemos saber é que existe um criador dentro de nós. Nós criamos o nosso mundo. O modo pelo
qual condicionamos o nosso mundo depende em grande parte de influências externas. As
pessoas querem ser livres e falamos muito no ocidente sobre a liberdade, mas se olharmos mais
fundo, veremos que aquilo que tomamos como liberdade está preso pelos grilhões do
condicionamento. No Budismo, o objetivo é ver esse condicionamento, reconhecê-lo e destruir
esses grilhões.

Temos, no Budismo, um ensinamento chamado os dez grilhões. Grilhão é uma boa tradução da
palavra, em pali, samyojana. Empregando as idéias da sociedade agrária na Índia 2.500 atrás,
yojana significa o colar de madeira usado para unir um par de bois para tração. Assim é como se
uniam os bois para puxar uma carroça. Isso é um grilhão, uma atadura. A idéia no Budismo é
reconhecer que estamos atados e depois desatar essa atadura para alcançar um tipo de liberdade
que não é reconhecida neste mundo, a liberdade de uma pessoa iluminada.

As pessoas, algumas vezes, pensam que os monges estão unicamente apegados a regras:
apegados ao celibato, apegados ao fato de terem poucas coisas e apegados à idéia de serem
felizes. Elas não se dão conta de que se trata da liberdade dos grilhões e da liberdade do
condicionamento. As pessoas não se dão conta do que na verdade são esses condicionamentos.
Temos as nossas manchas cegas, aquilo que definitivamente não enxergamos, mas no entanto
pensamos que somos livres-pensadores. Pensamos que somos racionais e científicos. Tendo
trabalhado com a ciência como físico teórico na Universidade de Cambridge, eu percebi que
mesmo ali muitos cientistas não são livres-pensadores. Eles são condicionados. Muito daquilo
que eles fazem está completamente carregado do sistema de valores que eles trazem consigo, e
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com freqüência eles encontram aquilo que estão querendo encontrar ao invés daquilo que ali
está.

Li um artigo num jornal, acerca de um debate, sobre o fato da ciência ou o "método científico"
estar ou não livre de valores, em outras palavras, se é subjetivo. O debate dizia respeito à
engenharia genética nos alimentos. Os cientistas diziam serem racionais, que não há nada de
errado com a engenharia genética. Outras pessoas diziam que há muitas coisas erradas nisso.
Quem está certo e quem está errado? Os cientistas diziam que as outras pessoas eram
completamente irracionais e só enxergavam o assunto através do seu sistema de valores. Como
os cientistas não possuem um sistema de valores, eles vêm as coisas como elas realmente são! A
discussão estava encerrada para muitos cientistas e filósofos. Mas quem diz que a ciência está
livre de valores? Existem tantos condicionamentos na ciência que fazem com que somente aquilo
que quer ser visto seja visto. Tanto assim que existe um velho ditado na ciência:

‘A eminência de um grande cientista é medida


pelo tempo que ele impede o progresso no seu campo de ação.'

Quanto mais famoso o cientista e mais proeminente ele for, tanto mais as suas idéias serão
tomadas como verdades sagradas. Isso significa que um grande cientista é tão eminente que ele
ou ela não podem estar errados. Assim eles na verdade obstruem o progresso durante muitos
anos porque eles devem estar certos e todos os demais enxergam sob essa perspectiva.

O Buda delineou de modo muito claro todo o processo condicional. Ele explicou que nós vemos o
mundo através de lentes coloridas. Ele explicou que aquilo que tomamos como verdade, como
real, está muito distante da realidade. Ele chamou esse processo de condicionamento e lavagem
cerebral, que provêm principalmente do nosso interior, de vipallasas. Elas são o aspecto
distorcido de todo o processo condicional. Elas são a razão porque aquilo que pensamos saber
acaba se revelando incorreto. Alguma vez você tinha absoluta certeza de que estava certo e
depois descobriu que estava errado? Isso acontece o tempo todo. As vipallasas, essas distorções
do processo condicional, operam num ciclo, um ciclo de delusão. As nossas idéias - que
compreendemos como verdades, como realidade - influenciam as nossas percepções.
Basicamente, as nossas idéias influenciam aquilo que escolhemos ver, ouvir e experimentar. De
todas as distintas impressões que a vida nos oferece há muitas coisas das quais você poderia ter
consciência neste momento. Você poderia estar consciente daquilo que estou dizendo. Você
poderia estar consciente somente da minha aparência. Você poderia estar consciente de algumas
fantasias dando voltas na sua mente. Como você decide ter consciência de uma coisa ao invés de
outra? É porque as suas idéias guiam a sua escolha.

Se você sentir raiva de alguém, ou tiver má vontade, você irá encontrar algo neles para justificar
aquela má vontade. A pessoa diz, "Tenha um dia maravilhoso hoje", e você pensa "O que diabos
ela quer dizer com isso?" É o mesmo processo que a paranóia. Se alguém estiver realmente
paranóico, ele poderá pensar que um monge é capaz de ler a mente. O monge diz, "Não, eu não
sou," e ele diz "Eu sabia que você ia dizer isso." Um psiquiatra me disse, faz alguns dias, que
você pode apenas aumentar a paranóia, não é possível diminuí-la. Qualquer coisa que se diga,
aquela pessoa irá tomar como confirmação da sua idéia. Se você estiver apaixonado por alguém
não importa o que ele ou ela faça ou diga. Se ele ou ela enfiarem o dedo no nariz, assim o fazem
com tamanho charme. Você pensa, "Eu amo o modo como você faz isso."

A percepção é completamente controlada pelas nossas idéias. Vou ler uma história apenas para
ilustrar isso. A história é chamada de "A Perda de Harvard". O presidente da universidade de
Harvard cometeu um erro ao prejulgar pessoas e isso lhe custou muito. Uma senhora num
vestido de algodão puído, junto com o seu marido vestindo um terno caseiro surrado, chegaram
num trem em Boston, Massachusetts, e com timidez foram para o escritório do presidente da
universidade sem ter entrevista marcada. A secretária franziu a testa. Num instante ela foi capaz
de estabelecer que aqueles caipiras não tinham nada a tratar na universidade de Harvard e
provavelmente nem mereciam estar em Cambridge. "Nós queremos ver o presidente" o homem
disse com suavidade. "Ele estará ocupado o dia todo" a resposta brusca da secretária. "Nós
esperaremos", a senhora respondeu.

A secretária os ignorou por horas na esperança de que o casal finalmente desanimasse e fosse
embora, mas eles não foram. A secretária começou a se sentir frustrada e finalmente decidiu
perturbar o presidente, muito embora essa fosse uma tarefa que ela sempre lamentava ter de
fazer. "Talvez se eles o virem por alguns minutos decidam ir embora", ela disse para o presidente
da universidade de Harvard. Exasperado ele suspirou e concordou com a cabeça. Alguém tão
importante como ele é óbvio que não teria tempo para gastar com essa gente, mas ele odiava
que vestidos de algodão barato e ternos caseiros poluíssem a recepção do seu escritório. O
presidente, com austera dignidade expressa no rosto, pavoneou em direção ao casal. A senhora
lhe disse, "Nós tivemos um filho que estudou na Harvard durante um ano. Ele amava a Harvard e
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se sentia muito feliz aqui, mas faz um ano ele morreu num acidente. Então, meu marido e eu
gostaríamos de erigir para ele um memorial em algum lugar no campus." O presidente não foi
sensibilizado, ele estava chocado. "Madame", disse ele com irritação, "não podemos colocar uma
estátua para cada pessoa que estudou na Harvard e que tenha morrido, se fizéssemos isso o
lugar pareceria um cemitério." "Ah, não", a senhora rapidamente explicou. "Não queremos erigir
uma estátua. Pensamos em doar um prédio para a Harvard." O presidente mexeu os olhos
enfadado. Ele olhou para o vestido de algodão e o terno caseiro e exclamou, "Um prédio! Vocês
têm alguma idéia de quanto custa um prédio? (Isso aconteceu faz muitos anos). Nós temos mais
de sete milhões e meio de dólares em investimentos na Harvard." Por um momento a senhora
ficou em silêncio. O presidente ficou satisfeito, ele poderia se livrar deles agora. A senhora se
voltou para o marido e disse calmamente, "Se esse é o custo para começar uma universidade,
porque não começamos a nossa," e o marido concordou com a cabeça. O rosto do presidente
murchou com confusão e surpresa. O Sr. e Sra. Leyland Stanford foram embora, viajaram até
Palo Alto na Califórnia, onde estabeleceram uma universidade conhecida como Stanford
University que leva o nome deles. Foi um memorial para um filho em relação ao qual a Harvard
já não mais se importava.

Não é uma bela história? Só porque aquelas duas pessoas estavam vestidas com roupas simples
ninguém percebeu que elas eram milionárias e desse modo elas deram início à sua própria
universidade. Não é isso que ocorre com tanta freqüência na vida?

Aquilo que estamos procurando é o que vemos. Essa é a razão porque o Buda ensinou que até
mesmo a percepção neutra, já está condicionada. Mesmo aquilo que ouvimos - ou melhor aquilo
que escolhemos ouvir - aquilo que escolhemos ver, escolhemos sentir, já foi filtrado pelo nosso
condicionamento, pelos nossos apegos, pelos nossos desejos e cobiças. Essa é a razão porque
mesmo o ensinamento de Krishnamurti, um tipo de atenção silenciosa, ou não-agir, não seria
suficiente para descobrir a verdade genuína. Aquilo que vemos e ouvimos nunca é confiável. Essa
é a razão porque algumas vezes quando dou palestras, digo uma mensagem, mas aquilo que
vocês ouvem pode ser diferente. Alguma coisa acontece com as palavras que digo antes que elas
cheguem na consciência de vocês. Algumas coisas são filtradas! Isso já aconteceu alguma vez
com vocês? Vocês alguma vez já disseram uma coisa e foi completamente desentendida? Vocês
dizem, "Eu não disse isso", e a outra pessoa diz, "Sim, você disse”. Você disse muitas coisas,
mas elas foram filtradas ou retiradas do contexto original. Assim é como surgem os mal-
entendidos. Quando começamos a entender o modo como esse processo cognitivo funciona,
podemos entender como condicionamos até mesmo as nossas percepções genuínas.

Com essas percepções fabricamos os nossos pensamentos. Esse conhecimento básico que chega
na mente quando sentimos, quando vemos, constrói os nossos pensamentos. E esses
pensamentos por seu lado confirmam as nossas idéias. Temos esse ciclo de idéias flexionando as
nossas percepções para satisfazer os seus propósitos, e essas percepções, novamente
flexionando os pensamentos para confirmar as idéias. Essa é a razão porque temos diferentes
idéias, filosofias e religiões no mundo. Uma dessas religiões é a ciência. Outra pode ser a
psicologia, e outras podem ser o humanismo, o irracionalismo, o agnosticismo ou mesmo o
Budismo. Todas essas são diferentes idéias e opiniões presentes no mundo. Aquilo que realmente
me interessava quando eu era jovem era a origem dessas idéias e opiniões. Porque pessoas
racionais acreditam num Deus que criou este mundo e que ao mesmo tempo criou o Diabo
apenas para importunar as pessoas? Isso era muito difícil de entender. Outros pontos de vista,
por exemplo, a idéia de condicionamento moldado pelas nossas idéias, pensamentos e
percepções, esclarecia como isso estava acontecendo. Aquilo que recebemos do mundo está
basicamente condicionado por aquilo que esperamos receber.

Negação (ou Não Aceitação)

Agora vou ler um poema. Ouçam este poema. É sobre o amor por uma mãe e todos sabem que
isso é um sentimento maravilhoso.

‘Quando a sua mãe estiver envelhecendo e você estiver envelhecendo,


quando aquilo que antes era fácil e não requeria esforço se tornar um fardo,
quando os olhos, amados e leais, não mais encararem a vida como antes,
quando as pernas se tornarem cansadas e não mais quiserem carregá-la,
então ofereça o seu braço como apoio, acompanhe-a com alegria e felicidade,
porque chegará a hora, em lágrimas, em que você a acompanhará na sua última jornada;

E se ela lhe perguntar algo responda sempre, e se ela novamente perguntar fale assim mesmo,
e se ela mais uma vez perguntar, não responda num tom brusco mas com gentileza, em paz,
e se ela não compreendê-lo bem, explique tudo com bom humor,
porque chegará a hora, amarga hora, em que a boca da sua mãe não mais perguntará.’

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Esse é um poema que foi traduzido do alemão, escrito em 1923 por um alemão muito conhecido
chamado Adolf Hitler. Você sabia que Adolf Hitler era um poeta e que ele amava muito a sua mãe
e que pensava muito no amor que ele sentia por ela? Não! Pois bem, não será porque as nossas
idéias são que um homem como esse foi tão ruim e perverso que nunca poderíamos contemplar
a idéia de que ele tivesse um lado emocional tão suave?

Quantos de vocês podem imaginar os seus ex-maridos ou ex-esposas como um "Adolf Hitler"?
Vocês percebem o que estou dizendo? O processo de condicionamento significa que se pensamos
que alguém é um inimigo, então pensamos que eles não prestam. Pensamos que eles são ruins e
isso é tudo que vemos. Podemos pensar, "eu não presto", "eu sou ruim", "eu sou horrível", e isso
é tudo que vemos. O processo de condicionamento é tão forte que as pessoas algumas vezes
ficam tão deprimidas que são capazes de se suicidarem. Ou elas ficam tão convencidas que se
tornam egocêntricas e não ouvem ninguém. Tudo isso é apenas o condicionamento operando de
três formas. Não pense que você está livre disso. Mesmo agora você não está ouvindo aquilo que
estou dizendo mas aquilo que você quer ouvir, aquilo que você espera ouvir. Essa é a dificuldade
para os seres humanos, ser capaz de saber a verdade das coisas.

Outro exemplo é o renascimento ou reencarnação. É um assunto fascinante: não se é falso ou


verdadeiro, mas porque as pessoas acreditam que seja falso ou verdadeiro. Isso é algo que me
fascinou durante anos. Porque é que quando alguém possui alguma recordação de um
renascimento e elas se lembram daquilo com clareza, as outras pessoas com freqüência dizem,
"Não, não pode ser isso, tem de haver alguma outra explicação"? Ou, porque é que quando algo
lhe acontece, você acredita que aquilo se deve a algum acontecimento numa vida passada?
Porque as opiniões em cada lado são tão fortes? Eu tenho um interesse especial na razão porque
as pessoas se recusam a acreditar no renascimento. Como um cientista ou uma pessoa racional,
no mínimo as pessoas deveriam ter a mente aberta. Para mim era algo bastante óbvio, algo com
o que eu convivi desde criança. Meus pais não eram Budistas mas o renascimento sempre me
pareceu algo tão óbvio. Não sei como adquiri essa idéia, mas ela estava presente. Descobri que
nos países do Ocidente, como a Austrália, ou quando vou visitar meus familiares na Inglaterra,
existe uma grande resistência contra a idéia do renascimento. Não é que as pessoas tenham
mentes abertas; na verdade elas têm as mentes bem fechadas, uma porta trancada contra essa
idéia. Quando olhei em profundidade, vi com clareza que as pessoas sentem um forte
antagonismo contra a idéia do renascimento. A principal razão pela qual as pessoas temem o
renascimento é porque elas não querem renascer. Elas querem apenas viver esta vida e fim. Essa
é uma das razões porque as pessoas se recusam até mesmo a considerar evidências claras de
que elas tiveram uma outra vida antes e de que irão viver novamente.

Quer seja Budismo, Cristianismo ou Hinduísmo, ou qualquer outra, o renascimento conduz a uma
nova vida. Não importa a religião ou a sua crença, a próxima vida sempre depende do que você
tenha feito nesta vida. Basicamente, a maioria das pessoas se comporta tão mal que elas têm
medo do que lhes possa acontecer na próxima vida. Elas preferem acreditar que não haverá uma
nova vida. Elas se recusam a reconhecer uma verdade desagradável! De onde vem essa
negação? Novamente, é o condicionamento e a lavagem cerebral, "Eu não quero acreditar que
isso seja verdade. Eu não quero ver isso e portanto não vejo."

Outro exemplo vem de uma aluna. Muitos anos atrás, ela estava com um grande problema
porque o seu marido estava abusando sexualmente dos filhos. Ele foi para a cadeia. Durante
muitos meses ela não foi capaz de ver o que estava acontecendo. Ela era uma mãe carinhosa e
esposa dedicada. Como acontece algumas vezes nesses casos terríveis, tudo foi descoberto na
escola. Os professores perceberam alguns indícios e ao investigarem descobriram que a situação
tinha sido avaliada corretamente e que as crianças estavam sendo vítimas de abuso sexual. A
mãe se sentiu muito culpada, mas como pode ter acontecido dela não ter sido capaz de enxergar
os indícios? Como monge Budista - que conhece a mente, conhece o condicionamento, conhece a
psicologia disso tudo - eu tive que lhe explicar a razão porque ela não conseguia ver aquilo que
os outros viam. A situação era tão horrível que no subconsciente ela não queria ver aquilo. Se
você não quiser ver algo, simplesmente não será capaz de ver. Não é uma questão de supressão,
que é feita às claras. O bloqueio ocorre no nível subconsciente. Ocorre antes que o processo
entre na consciência. Já foi filtrado antes disso.

Há um experimento muito interessante que foi feito faz alguns anos na universidade de Harvard.
Os psicólogos projetaram imagens instantâneas numa tela e pediram aos estudantes voluntários
que escrevessem o que eles pensavam que as imagens representavam. A projeção foi tão rápida
que no início eles não eram capazes de perceber do que se tratava. Pouco a pouco o tempo de
exposição foi aumentado até que eles pudessem registrar alguma idéia do que se tratava. Então
o tempo de exposição foi aumentado ainda mais de modo que os estudantes pudessem registrar
se a imagem era aquilo que eles pensavam, até que o tempo de exposição foi longo o suficiente
para que eles pudessem dizer com certeza do que se tratava.

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O resultado pode ser ilustrado com um exemplo. A imagem projetada era de um lugar bastante
conhecido no campus, um lance de escadas que levava a um dos prédios administrativos. Havia
uma bicicleta ao lado dos degraus. Um estudante viu aquilo como um navio no oceano, mas
como a imagem foi projetada por tão pouco tempo, foi apenas um palpite. No entanto, uma vez
que aquela idéia entrou na sua mente, quando o tempo de exposição foi sendo aumentado
gradualmente, ele ainda assim, a cada vez, viu um navio no oceano. Ele viu um navio mesmo
quando todos os demais foram capazes de enxergar que se tratava daquele lugar no campus. Ele
insistiu que era um navio no oceano até que o tempo de exposição foi tão longo que ele por fim
acabou vendo e corrigindo o seu erro. A lição foi que uma vez que uma idéia tenha sido formada,
ela interfere tanto com as nossas percepções que mesmo estando a imagem na frente do nariz,
não somos capazes de vê-la. Vemos de um modo diferente daquilo que na verdade é.

Uma das imagens no experimento custou muito trabalho para que os estudantes identificassem;
era uma fotografia de dois cães copulando. Era uma imagem tão obscena ou desagradável de ser
vista que os estudantes simplesmente negaram a sua existência, uma vez, outra vez, outra vez,
até que por fim estava tão óbvio que tiveram de enxergar o que era na verdade. Essa é uma
sólida evidência daquilo que o Buda chamava de distorções do nosso processo cognitivo. Muito
embora pensemos que sabemos aquilo que o nosso parceiro está dizendo, muito embora
pensemos que sabemos quem ele/ela é, com muita freqüência estamos errados. Isso ocorre não
somente no relacionamento com os outros, mas também no relacionamento conosco mesmo.

Vendo a Verdade e a Realidade

Particularmente, quero mencionar a relação com a verdade. Será o Budismo apenas mais uma
crença condicionada como todo o resto, sem qualquer maior legitimidade do que a ciência ou
qualquer outra religião? Não existe uma verdade? Será tudo relativo de acordo com o nosso
condicionamento? Em outras palavras, como podemos romper esse modo condicionado de ver e
perceber? Lembremos que o motivo porque flexionamos as nossas percepções, pensamentos e
idéias é devido ao desejo. Nós vemos e ouvimos aquilo que desejamos ver e ouvir, e negamos
aquilo que não desejamos ver, ouvir ou sentir. É o desejo que é o problema. É o desejo que
condiciona o nosso afastamento da verdade.

O Buda se tornou um Iluminado abrindo mão de todo desejo. Ao invés de desejar ver o universo
de um modo particular, ou desejar ver a si mesmo de algum modo particular, ele superou todo
esse desejo ou cobiça. Isso não é algo fácil de ser feito. É chamado de "abrir mão", aquietar. O
sinal do desejo é o movimento. O sinal do apego é não ser capaz de abrir mão. O sinal do ego é
o controle. É por isso que encontramos tudo isso na meditação: desejos, apegos e controle,
repetidamente. Essas coisas nos impedem de ver a verdade e a realidade. Temos que abrir mão
por completo de todo desejo e cobiça, temporariamente, na nossa meditação.

A maioria de vocês meditou por apenas meia hora. No final da meditação eu lhes disse para
verem como se sentem, para analisarem aquilo que funciona e o que não funciona na meditação.
Esse é um exercício de superação do condicionamento. É verdadeiramente uma limpeza da
mente de todos os seus condicionamentos, todos os seus desejos, todos os anseios de ver as
coisas de um modo ou de outro. É abrir mão de tudo isso, abrir mão de todas as idéias, porque
estas são os tijolos e a argamassa do condicionamento. Vocês já perceberam que quando nos
deparamos com alguma coisa, nós a interpretamos com os pensamentos? De onde vêm todos
esses pensamentos? Porque vemos aquilo deste modo e não de um outro modo? A razão é o
nosso condicionamento.

Alguns dias atrás alguém deu para os monges um refresco no que parecia ser uma garrafa de
vinho. Parecia vinho, mas não era vinho; não continha álcool; era apenas um refresco. Esse
incidente fez com que os monges conversassem sobre álcool e ingestão de bebidas alcoólicas. Os
outros monges contaram sobre experiências que eu também tive na minha juventude, quando
pela primeira vez fui a um bar na Inglaterra para tomar o meu primeiro copo de cerveja. Minha
primeira reação foi, "Esse negócio é horrível; como pode alguém bebê-lo? Porque as pessoas
gastam tanto dinheiro bebendo esse tipo de coisa?" Essa primeira percepção provavelmente foi
verdadeira; a cerveja amarga era nojenta. Mas, passado algum tempo, eu comecei a gostar. Eu
fiquei me perguntando o que teria acontecido. Porque foi que quando provei a cerveja pela
primeira vez foi horrível e depois quando eu tinha dezoito ou dezenove anos, eu estava bebendo
muito daquilo? Eu vi que o motivo foi porque beber cerveja era aceito socialmente e todos diziam
que era delicioso. Eu recondicionei os meus sentidos para gostar daquilo. Como a sociedade dizia
que era delicioso, aquilo se tornou delicioso. Eu gostava porque queria gostar. Isso é tudo.

Também vi isso com a arte moderna. O que há de belo na arte moderna? Alguém me contou que
houve um artista na França que convenceu uma galeria de arte a montar uma exposição sua.
Eram apenas molduras vazias numa parede vazia. Aquilo foi uma afirmação; ele vendeu os
quadros por milhares de dólares. Você alguma vez já viu isso acontecer no mundo? O que foi isso
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que acabamos de ouvir? Foi um belíssimo som ou o ruído incomodativo de um telefone celular?
Não é o nosso condicionamento que faz com que vejamos de um modo particular? Se sabemos
que a mente é condicionada, porque não condicioná-la de um modo sábio que gere felicidade? Se
for um telefone celular você terá duas opções. Você poderá dizer, "Esse é um som muito
agradável, muito musical, não como os telefones antigos, 'ring, ring, ring, ring'. Pelo menos
nestes dias temos um pouco mais de charme." Ou você poderá dizer, "Não se deveriam permitir
telefones celulares aqui. Quem fez isso? Vou falar com eles mais tarde. Deveríamos expulsá-los
da Sociedade Budista. Não vamos mais permitir a entrada deles aqui." Então, qual resposta você
prefere? Vocês podem ver como nos condicionamos?

Uma vez que saibamos como o condicionamento funciona podemos nos condicionar com a
compaixão e a felicidade. Uma das primeiras coisas que podemos fazer é dizer, "Bem, eu tenho
escolha. Posso desenvolver o condicionamento positivo ou o condicionamento negativo. Posso
olhar para uma pessoa e ver as suas qualidades positivas ou posso olhar para a mesma pessoa e
ver as suas qualidades negativas. Ambas estão ali." Desde que me tornei monge, eu me
condicionei ao longo dos muitos anos a ver nas pessoas as suas boas qualidades, tanto assim
que sou advertido pelas pessoas para ser um pouco mais crítico. Mas agora não posso fazer isso.
O condicionamento é demasiado forte. As pessoas no monastério, ou os monges com os quais
convivo, algumas vezes fazem coisas erradas. Outro dia, enquanto eu estava fora, houve uma
discussão com algum rancor sobre uma decisão a respeito dos livros no nosso monastério.
Conversei com uma das pessoas - que estava se sentindo muito ofendida - e disse, "Veja bem,
eu não posso me sentir ofendido por nenhum dos monges neste monastério. Eles são pessoas
tão amáveis e boas. Nós sabemos que nem todos são iluminados e que todos nós também temos
qualidades ruins." Eu estava sendo absolutamente honesto. Eu não consigo ficar irritado com
nenhum dos monges no monastério, não importa o que eles façam, porque eu vejo neles muitas
coisas boas. Mesmo as pessoas que vêm ao Centro Budista, não importa o que vocês façam,
vocês possuem tantas boas qualidades. Assim é como o meu condicionamento funciona agora.
Quando você percebe as qualidades boas numa pessoa é impossível ficar irritado ou aborrecido
com ela. Vocês todos são meus amigos e se eu os vejo dessa forma é muito difícil enxergar outra
coisa. Se você tentar fazer alguma coisa para me ferir, eu diria, "Não, não, eu me lembro de
todas as coisas boas que você fez."

Porque é que quando alguém diz alguma coisa para irritá-lo, só isso é lembrado? Nunca nos
lembramos de todas as gentilezas que nos foram feitas, todas as palavras gentis que nos foram
ditas. Eu sou o oposto. Esqueço todas as coisas desagradáveis que as pessoas disseram a meu
respeito e só me lembro das coisas boas. Qual dos dois é mais verdadeiro? Ambos são
igualmente errados. Mas eu escolho aquele que é errado, porém feliz. É interessante que esse
tipo de condicionamento - ver o lado positivo, ver a felicidade, o positivo em você mesmo, a
felicidade na vida, a felicidade nas outras pessoas - também é o caminho que conduz ao
descondicionamento e ao incondicionado, a ver as coisas com clareza.

Quando você cultiva a felicidade na sua vida - livrando-se da negatividade e da má vontade em


relação a si mesmo e aos outros - isso proporciona espaço suficiente para estar em paz. Estar em
paz significa abrir mão dos desejos. Uma vez que você se sinta satisfeito no momento presente,
então existe a oportunidade para abrir mão do desejo e estar em paz. Esse é o caminho ensinado
pelo Buda. Tendo uma atitude positiva em relação à vida, cultivando a felicidade na mente, a
mente se torna pacífica e tranqüila. Com essa tranqüilidade, quando os desejos e cobiças são
subjugados temporariamente, você começa a ter clareza mental – a não ver as coisas como você
quer vê-las, mas como elas na verdade são. Você só será capaz de fazer isso a partir de um
estado de tranqüilidade e felicidade.

É parecido com um truque para fazer com que você se sinta muito feliz e em paz. Lendo os
suttas eu percebi que assim é como o Buda ensinava. Ele despertava o interesse nas pessoas
falando sobre coisas do dia a dia e depois, quando ele percebia que a audiência estava realmente
ouvindo e que estavam se sentindo felizes, então ele comunicava o ensinamento. Ou como disse
um monge Tibetano, quando todos estavam rindo com as bocas abertas, então ele colocava o
remédio. O remédio é a quietude e a paz, porque descobrimos que aqui não há ninguém, anatta,
não-eu. Descobrimos que aquilo que considerávamos livre escolha é completamente
condicionado. Você pensa que está controlando tudo. Você pensa que escolheu vir aqui. Você
pensa que decidiu tossir ou mover o seu braço deste modo ou daquele modo. Eu analisei as
minhas escolhas, a minha vontade, durante muitos anos, estudando aquilo que era condicionado
e o que tinha origem no meu eu, e descobri que tudo era condicionado. É por isso que repito
sempre as mesmas piadas, não posso fazer nada. Não sou eu, é o condicionamento.

Onde a Vontade Cessa

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Já faz muitos anos que venho dando palestras em Perth. Alguns anos atrás, sucedeu algo
comigo; eu tive uma experiência que me deixou profundamente chocado. Foi uma dessas
experiências fortes. Isso aconteceu antes deste Salão do Dhamma ter sido construído.
Costumávamos dar as palestras do Dhamma no centro comunitário vizinho e a nossa biblioteca
estava no que é hoje a recepção. Um sábado pela manhã, eu estava dando uma olhada nas fitas
de áudio e vi uma fita K7 de uma palestra que havia sido dada fazia sete anos. Era o mesmo
tema da palestra dada na noite anterior. O que havia sido dito na noite anterior ainda estava
fresco na minha memória e pensei em comparar as duas palestras para ver o quanto tinha
mudado em sete anos. Queria ver se a palestra dada na noite anterior tinha diferenças
marcantes daquela dada há sete anos. Quando ouvi aquela fita, senti calafrios na espinha.
Percebi que eu estava repetindo parágrafos inteiros quase que palavra por palavra depois de sete
anos de intervalo entre as duas palestras. Na noite anterior eu realmente pensei que estava
escolhendo cada palavra com completa liberdade de escolha e que a minha interpretação e
percepção eram novas, mas a coincidência foi demasiada. Se eu realmente tive livre escolha
porque o resultado foi o mesmo, parágrafo por parágrafo? Isso me mostrou que aquilo que eu
pensava ser livre, não era livre de jeito nenhum, mas completamente condicionado.

Isso realmente me afetou porque abalou o meu sentido de eu, meu sentido de vontade, meu
sentido de direção no mundo. Quem na verdade estava mexendo os pauzinhos? Quem decidia e
fazia as escolhas? Isso me assustou muito, mas também me deu uma intuição que fui capaz de
seguir e que me conduziu a uma meditação profunda. Quando não resta ninguém, quando não
há mais volição, quando as escolhas cessam e têm fim, aí é que podemos na verdade entender
algo sobre o incondicionado.

Muitas pessoas têm dificuldades em aceitar a idéia do não-eu porque o nosso condicionamento
não nos permite ver isso. As pessoas têm muita dificuldade com o ensinamento do Buda sobre o
sofrimento, dukkha. Porque? Porque elas não querem admitir que a vida é sofrimento. A idéia de
monges celibatários é muito difícil. Nós ainda queremos ter os nossos relacionamentos sexuais.
Os artigos nas revistas, escritos por pessoas que estão tentando ter sexo e realizar a iluminação
ao mesmo tempo, parecem não ter fim. Isso é o que as pessoas querem. Como diz o velho
ditado, "elas querem comer o bolo e guardar o bolo ao mesmo tempo." Não é possível guardar o
bolo e comê-lo ao mesmo tempo. O que o velho ditado quer dizer é que se você comer o bolo
não haverá mais bolo. Você não pode guardar o bolo e consumi-lo também. Você pode ter uma
coisa ou outra. Com freqüência quando digo isso as pessoas ficam chocadas. "O que você quer
dizer, o celibato é necessário para a iluminação?" Eu digo, "Sim, isso é verdade", e elas dizem,
"Com certeza não é assim," dando voltas e contorcendo-se, inconformadas.

Isso que eu disse provavelmente é algo com que vocês não irão concordar. Porque essa idéia vai
completamente contra as suas percepções. Tomando conhecimento dessa idéia, os pensamentos
a rejeitam. Vocês estão presos a esse ciclo. Mas e o Ajaan Brahm, ele não está aprisionado ao
seu ciclo de idéias e percepções e pensamentos? Esse não seria também um condicionamento de
monge? A única maneira de descobrir essas coisas é abrindo mão de todas as idéias e noções
pré- concebidas - fazer com que a mente fique tão vazia e quieta que você possa na verdade ver
as coisas como elas são realmente e não através dos olhos de um monge. Ver as coisas não
através dos olhos de um homem ou mulher envolvidos na sexualidade, não através dos olhos de
um Oriental ou Ocidental. Mas ver as coisas vazias de todos esses rótulos e pontos de vista, abrir
mão um tanto que todas essas idéias, pontos de vista, pensamentos e sentimentos desapareçam
por completo. Você quer saber como isso se chama? É chamado jhana, meditação profunda.

O que você tem de fazer para ser capaz de ver a verdade é chegar sorrateiramente,
silenciosamente, invisível. Essa é a única forma de superar o condicionamento. No Budismo
dizemos que os cinco obstáculos - desejo sensual, má vontade, inquietação e ansiedade,
preguiça e torpor, dúvida - são aquilo que nos impedem de ver com clareza. Basicamente, o
desejo sensual e a má vontade são os dois principais obstáculos. Eles só são superados naqueles
estados meditativos profundos chamados jhanas. Os místicos, as pessoas que meditam e
penetram estados profundos da mente, superam todos os seus condicionamentos
temporariamente. Eles abrem mão de tudo que foram ensinados, tudo que eles alguma vez
pensaram, tudo que possa ser verdade ou não, e aí, eles podem ver a realidade independente da
condicionalidade. Aquilo que eles vêm não é o que eles esperam encontrar. Todos os insights
profundos e a sabedoria iluminadora irão sempre causar um choque profundo, e eu realmente
quero dizer um choque profundo. O que você não espera, aquilo que você não consegue imaginar
é que é a verdade.

É por essa razão que toda intelectualização imaginável e cogitação não podem nunca chegar na
verdade. Todo movimento da mente não chega ao objetivo. Só quando a mente estiver em
silêncio, em profunda quietude, você poderá entender a verdade. Você compreenderá,
particularmente, a natureza da mente, a natureza da felicidade, e só então você será capaz de

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13/02/2018 Acesso ao Insight - Budismo Theravada - realidade_condicionada

ter um lampejo daquilo que no Budismo chamamos de "incondicionado." Somente quando se


abre mão de tudo - tudo que foi aprendido, tudo que se esperava, tudo que foi descoberto ou
que não se quer descobrir – é que a verdade é vista. Esse é o caminho para a iluminação. Essa é
a razão porque todos os seres iluminados que conheci na minha vida, pessoas como Ajaan Chah,
eram totalmente imprevisíveis. O condicionamento simplesmente não estava mais presente. Por
essa razão, mesmo observando essas pessoas durante muitos anos, elas ainda assim nos
surpreendem. Esse foi sempre o indicador de uma pessoa muito sábia. Ao invés de sempre agir
com base no condicionamento elas são inovadoras incríveis, fazendo as coisas de um modo
inesperado. Essa era uma das coisas surpreendentes em Ajaan Chah; você sempre tinha que
estar de sobreaviso porque nunca poderia imaginar o que ele iria fazer. Ele sempre causava um
choque, num instante rasgando-o em pedaços por fazer algo que você pensou ser irrelevante e
em seguida oferecendo-lhe uma xícara de chá ou mandando uma xícara de chá especialmente
para você. Com esse grau de "estar além das condições," não se sabia o que ele faria ou porque.
Isso é o que queremos dizer com superar as condições.

Portanto, a moral da história é que, o quer que seja que você pense ser a verdade, você está
enganado. Aquilo que você pensa ser correto não captou o essencial. Você pensa que tem
controle dessas coisas, mas não tem. Mas você nunca será capaz de aceitar isso. É horrível
demais. Veja por exemplo nibbana. As pessoas possuem idéias estranhas com relação a nibbana.
Mas essas idéias na verdade não são nibbana, elas são apenas aquilo que as pessoas querem
que nibbana seja. O que você quer que nibbana seja? É isso que você acreditará que nibbana é.
Por essa razão, algumas vezes ensino aos monges que nibbana é a completa cessação, tanto
assim que os monges chamam isso o buraco negro de Ajaan Brahm. Tudo é "chupado para
dentro" e não sobra nada.

Os monges perguntam, "Porque você faz isso? É esse o objetivo, o objetivo disso tudo é alcançar
o completo suicídio espiritual, mental e físico, com tudo cessando?" As pessoas querem desfrutar
de nibbana quando este ocorrer. A cessação é muito difícil de ser compreendida e aceita pelas
pessoas. Mas eu digo que essa é a verdade. Como você interpreta isso? Você vai ter que
descobrir por si mesmo! O Buda disse que os Budas só indicam o caminho. Eles indicam o
caminho mas é cada um de nós que tem de caminhar por si mesmo.

Se você quiser descobrir o quanto você é condicionado, o quanto você foi completamente
submetido à lavagem cerebral, então desenvolva meditações profundas e tenha a coragem de
ficar chocado. Tenha a coragem de abrir mão de tudo incluindo o seu ego e o eu. Tenha esse grau
de força pois somente os fortes alcançam a Iluminação. Não estou falando de força no corpo;
estou falando sobre os corajosos dispostos a abrir mão de tudo em nome da verdade. Assim é
como o condicionamento e a lavagem cerebral são superados, e finalmente a liberdade é
conquistada. As pessoas neste mundo pensam que a liberdade é ser capaz de fazer o que elas
quiserem, mas a cobiça, a raiva e a delusão as estão controlando. Elas não estão livres. Se vocês
realmente quiserem a liberdade, superem esses condicionantes e vejam a realidade. Ela os
surpreenderá, mas a verdade da Iluminação é muito agradável.

Fonte: Palestra no Dhammaloka Buddhist Centre no dia 7 de Julho de 2000. Publicada no livro
"Simply this Moment".

Revisado: 28 Novembro 2009


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