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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS

COORDENAÇÃO DE HISTÓRIA

DANIELE MONTEIRO MOTA

O TRABALHO FEMININO E A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE PROFISSIONAL


NA ATIVIDADE DE PESCA EM BOA VISTA (2003 – 2014)

Boa Vista-RR
2015
DANIELE MONTEIRO MOTA

O TRABALHO FEMININO E A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE PROFISSIONAL


NA ATIVIDADE DE PESCA EM BOA VISTA (2003 – 2014)

Monografia apresentada ao
Departamento de História da
Universidade Federal de Roraima como
pré-requisito para obtenção de título de
Licenciatura em História.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Francilene dos Santos
Rodrigues.

Boa Vista-RR
2015
O TRABALHO FEMININO E A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE PROFISSIONAL
NA ATIVIDADE DE PESCA EM BOA VISTA (2003 – 2014)

Monografia apresentada como pré-


requisito para conclusão do Curso de
Licenciatura em História da
Universidade Federal de Roraima.

____________________________________________
Draª Francilene dos Santos Rodrigues- (Orientadora)
Curso de Ciências Sociais – UFRR
Presidente

_______________________________________
Draª Maria Luiza Fernandes
Curso de História – UFRR
Membro

_______________________________________
Msc. Shirlei Martins dos Santos
Curso de História- UFRR
Membro
Á minha mãe querida,
Ao meu pai querido,
Aos meus irmãos,
Ao meu noivo,
Aos meus amigos
que tanto amo e que sempre
me apoiaram nessa caminhada.

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus pela minha vida e por mais essa vitória
concedida. A minha família em especial ao meu pai e minha mãe, que não só me
ajudaram neste momento, mas em toda minha vida estiveram comigo, me
incentivando com palavras de amor e de conforto e me proporcionando tudo para
que a realização de todos os meus sonhos pudessem ser realizados.
Muito obrigada ao meu noivo e colega de curso, Jeyel Maia, que
compartilhou comigo esse momento importante da minha vida, sendo paciente em
minhas ausências, me ajudando bastante, me dando ideias e me acompanhando na
universidade para o desenvolvimento deste trabalho.
Agradeço aos meus queridos amigos e colegas de curso, Arisson
Magalhães, Ananias Lima, Iris Daiane, sempre foram companheiros de trabalhos e
amigos de confidencias nas horas vagas, e em especial minha adorável amiga
Adriana Mendes que tanto me ajudou no início do curso com sua amizade e
companheirismo. A todos os colegas da turma de História 2011.1
Agradeço todos os professores da UFRR, em especial os do curso de
História que compartilharam seus conhecimentos e proporcionaram a aprendizagem.
Agradeço em especial minha orientadora Francilene dos Santos Rodrigues por seu
apoio e colaboração.
A maior recompensa para o trabalho do
homem não é o que ele ganha com isso,
mas o que ele se torna com isso. (JOHN
RUSKIN)

RESUMO

Este estudo tem como objetivo analisar o trabalho feminino na atividade de pesca na
cidade de Boa Vista/ RR e a construção da identidade profissional destas
trabalhadoras. Pretende-se ainda, analisar os papéis sociais desenvolvidos pelas
pescadoras em seu cotidiano e como esta atividade impacta a sua visão de mundo
e, consequentemente, a construção de uma identidade profissional. Dessa forma, o
ponto de partida consistiu em mostrar o trabalho como atividade essencial para o ser
humano, identificando as condições sócio históricas que determinaram o papel da
mulher na sociedade e como esses condicionamentos estão relacionados a vida da
mulher e a sua realização enquanto ser social. A realização desta pesquisa teve
como procedimento metodológico a pesquisa qualitativa que fez uso dos
instrumentos de coleta de dados, a observação e a realização de entrevistas
semiestruturada, ademais da pesquisa documental e de obras internacionais,
nacionais e locais.
Palavras-chave: Pescadoras; trabalho; identidade profissional.

ABSTRACT

This study aims to analyze women's work in fishing activity in the city of Boa Vista /
RR and the construction of the professional identity of these workers. Another
objective is to analyze the social roles developed by fishers during their daily lives
and how this activity influences their worldview and consequently building a
professional identity. Thus, the starting point was to show the work as an essential
activity for humans, identifying the historical social conditions that determined the role
of women in society and how these constraints are related to the woman's life and its
realization as a social being. This research had as methodological procedure
qualitative research that made use of the instruments for collecting observation data
and carrying out semi-structured interviews, in addition to the documentary research
and international projects, national and local.
Keywords: in Fisheries; work; professional identity.

LISTA DE SIGLAS

DPA - Departamento de Pesca e Aquicultura


IBAMA- Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis
IBDF- Instituto Brasileiro de desenvolvimento Florestal
MAPA- Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA
RGP- Registro Geral de Pescadores
SEMA- Secretária Especial de Meio Ambiente
SFPA- Superintendência da Pesca e Aquicultura
SPVEA- Superintendência do Plano de Valorização da Amazônia
SUDAM- Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia
SUDEPE- Superintendência do Desenvolvimento da Pesca
SUDHEVEA- Superintendência do Desenvolvimento da Borracha
UFRR - Universidade Federal de Roraima

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO............................................................................................................10
1. História e divisão sexual do trabalho feminino4
1.1. História e o trabalho da mulher
2. Pesca na Amazônia e políticas públicas
2.1. A pesca na Amazônia
2.2. O trabalho das pescadoras na Amazônia9
2.3. As pescadoras e as políticas públicas
3. Trabalho e identidade das pescadoras
3.1. O trabalho como influência na construção de identidade das mulheres
3.2. O cotidiano das pescadoras de Boa Vista/Roraima e a construção da identidade
profissional4
CONSIDERAÇÕES FINAIS7
REFERÊNCIAS59
APÊNDICES.............................................................................................................68
APÊNDICE A: FONTES ORAIS...............................................................................68
APÊNDICE B: ROTEIRO DE ENTREVISTAS..........................................................69
APÊNDICE C: CESSÃO GRATUITA DE DIREITOS DE ENTREVISTA GRAVADA EM
ÁUDIO...............................................................................................................70
APÊNDICE D: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO............71
9

INTRODUÇÃO

A pesca artesanal é uma das atividades mais tradicionais existentes na


sociedade, responsável pela subsistência de várias populações, desde o surgimento
do homem até os dias de hoje. Assim, a atividade de pesca faz parte das atividades
humanas, portanto importante no processo histórico, social e econômico das
sociedades.
Os rios e mares surgem como espaço de trabalho e subsistência, constituindo
um meio de produzir renda, “são a fonte perene do progresso (...) uma espécie de
fiador dos destinos humanos” (TOCANTINS, 2000, p. 278). A pesca, de uma maneira
geral, surgiu com o objetivo de alimentar a espécie humana e com o passar dos
séculos foi aperfeiçoada, novos métodos de pesca foram criados, saberes
repassados através das gerações e incentivos foram instituídos para estimular a
atividade pesqueira.
Se antes, a pesca era uma atividade totalmente artesanal e era atividade
complementar a outras de subsistência, com o aperfeiçoamento das técnicas e
tecnologia surge a profissionalização e, consequentemente uma nova categoria de
trabalhador: o pescador especializado, o qual tem a pesca como principal fonte de
renda. Os primeiros atuantes da pesca profissional foram homens, portanto, a
atividade é vista como propriamente masculina. Entretanto, percebe-se que as
mulheres sempre estiveram presentes nestas atividades, porém esquecidas ou em
papéis secundários. Fato esse, evidenciado no início do processo de criação da
legislação relacionada à pesca, que privilegiou o homem, uma vez que o
reconhecimento profissional era apenas para o sexo masculino.
Desta forma, temas emergem como questionamentos: Por que a pesca é
considerada uma atividade tipicamente masculina? Por que as mulheres que atuam na
pesca não são reconhecidas como profissionais da pesca? Em que medida está
atividade reordena ou não os papéis femininos e como contribui para a formação de
uma identidade profissional?
Sendo assim, esta monografia tem como objeto o trabalho feminino na
atividade de pesca na cidade de Boa Vista/ RR e a construção da identidade
profissional destas trabalhadoras. Pretende-se, desta forma, compreender os vários
10

papéis sociais desenvolvidos pelas pescadoras durante seu cotidiano e como a


atividade de pesca impacta a sua visão de mundo e, consequentemente, a construção
de uma identidade profissional.
É imprescindível entender como as mulheres atuam nesse campo que era
visto como espaço de trabalho tipicamente masculino e como elas se percebem
atuando nesse cenário pesqueiro. A escolha do tema deve-se ao fato de haver
poucos estudos em Roraima, embora seja tema muito pesquisado nas regiões
litorâneas, uma vez que a quantidade de pescadores atuantes na profissão é
significativa, portanto, tem papel fundamental no abastecimento do mercado e da
mesa das famílias brasileiras. A região amazônica é rica em pescado e como já dito
há poucas pesquisas voltadas para essa região, sendo assim, percebo a importância
em pesquisar as profissionais da pesca do Estado de Roraima e dar a elas um lugar
na pesquisa historiográfica para que, de certa forma, ganhem reconhecimento pela
sua luta diária.
Outro fator que motivou a pesquisa foi a curiosidade em saber como é a vida
das pescadoras que atuam nessa atividade e que requer atributos específicos, como
o conhecimento da natureza. A tarefa de pescar não é algo fácil uma vez que, as
mulheres se deslocam de suas residências para rios, lagos e passam dias nos locais
de pesca. Essa inquietação sobre as mulheres que trabalham na atividade
pesqueira surgiu durante o período de estágio realizado na Superintendência
Federal de Pesca e Aquicultura em Roraima – SFPA/RR, onde muitas mulheres
contavam suas vidas e as suas vivências na pesca profissional artesanal.
A escolha da delimitação temporal é de 2003 até 2014. O período inicial da
pesquisa, o ano de 2003 se justifica por ser um marco institucional na história da
atividade pesqueira no Brasil, quando ocorreu a criação da SEAP - Secretaria
Especial de Pesca e Aquicultura pelo governo federal. Posteriormente, em 2009 foi
transformada no Ministério da Pesca e Aquicultura – MPA, tendo como missão
principal desenvolver o setor pesqueiro e aquícola. O marco final, 2014 para
compreender a trajetória de trabalho das pescadoras na década em questão.
O presente trabalho teve como procedimento metodológico a pesquisa
qualitativa que fez uso dos instrumentos de coleta de dados, a observação e a
realização de entrevistas semiestruturada, com as pescadoras Maria Izabel da Silva
Reis e Maria Helena da Conceição Franca que foram escolhidas pelo tempo de
11

experiência na atividade de pesca artesanal. Ademais da pesquisa documental e de


consulta a obras de autores internacionais, nacionais e locais, pesquisa de
graduação e mestrado relacionados ao trabalho das pescadoras de diversas
regiões, sítios acadêmicos, revistas institucionais, folhetos de reuniões disponíveis
em site do Ministério de Pesca e Aquicultura e entrevista oral com as pescadoras do
município de Boa Vista/RR.
Esta monografia está estruturada em três capítulos. No Capítulo 1 intitulado
“História e divisão sexual do trabalho feminino”, buscou-se conceituar e abordar
a categoria trabalho para entender o que se compreende como tal e quão importante
é a pratica para a sociedade, tendo em vista que esse foi o meio, pelo qual, as
várias gerações encontraram as condições para perpetuar a espécie humana.
Depois, um breve relato de como ocorreu, inicialmente, a divisão social do trabalho
entre os sexos e o lugar da mulher na esfera privada. Posteriormente, apresentarei o
processo de participação da mulher no espaço público. Ainda no primeiro capítulo,
demonstrarei o processo histórico da participação da mulher no mundo do trabalho e
as condições objetivas que possibilitaram sua inserção nesse processo, bem como
sua aceitação no mercado de trabalho.
No Capítulo 2, intitulado “A pesca na Amazônia e políticas públicas”, farei
uma exposição do contexto da atividade de pesca na Amazônia, tratando do
surgimento da atividade de pesca e seus estágios de evoluções e métodos, os
aspectos relacionados às políticas de incentivo e o salto qualitativo referente tanto
ao modo de produção, quanto aos instrumentos utilizados, resultando na criação de
políticas direcionadas à proteção dos recursos pesqueiros. Depois, abordarei a
importância da atuação da mulher na pesca, focando no trabalho das pescadoras na
Amazônia que estiveram presentes e atuantes como categoria profissional, como
também os vários papéis sociais exercidos por elas e a dupla jornada. Abordarei
ainda, as legislações sobre a pesca que por muitos anos não reconheceu o sexo
feminino na atividade.
No Capítulo 3, intitulado “Trabalho e identidade das pescadoras”, tratarei
especificamente das pescadoras que atuam na atividade de pesca artesanal em Boa
Vista/RR. Ainda neste capitulo, discutirei o trabalho como elemento essencial na
construção de identidade dos indivíduos, iniciando com o conceito de identidade e
entendendo a construção da mesma como um processo contínuo, onde os meios de
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vivências dos indivíduos agregam valores para a construção da identidade


profissional. Trazendo essa reflexão para a formação da identidade das mulheres,
tomando em consideração os séculos passados, concluindo que suas identidades
foram transformadas ao longo do tempo. Nesse sentindo, abordarei a história de
vida das pescadoras de Boa Vista/ RR, mostrando como é a atuação das
pescadoras no espaço de trabalho, as relações sociais, como se veem diante da
atividade de pesca e finalizo o capítulo com a análise da construção da identidade
profissional das pescadoras, por meio dos seus relatos, como se sentem e se
percebem diante do trabalho e dos outros.
Por fim, as considerações finais, como o próprio título diz, considerações
que geram mais questionamentos que respostas.

1 HISTÓRIA E DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO FEMININO

Desde os primórdios da vida humana, o trabalho foi essencial na trajetória


do ser humano, como questão da sobrevivência e satisfação de suas necessidades
pessoais e coletivas. O trabalho, inicialmente, teve como finalidade principal a
sobrevivência, e posteriormente a satisfação pessoal. Sendo assim, a satisfação é o
fio condutor do alargamento da continuidade do trabalho, pois, ao longo do tempo
ampliaram-se as necessidades humanas e a busca em satisfazê-las acarreta
continuidade a toda uma trajetória e evolução do trabalho guiado pela inteligência,
que foi concedida ao ser humano em potencial para que fosse desenvolvida
livremente, conforme as vontades e necessidades do homem (OLIVEIRA, 1995).
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Dessa forma, o trabalho e as formas as quais assume ao longo da história é


resultado da luta histórica do ser humano com a natureza no desenvolvimento de
sua vida, que realiza o trabalho para sua evolução e transformação no decorrer da
vida, pois, o ser humano foi evoluindo físico e mentalmente para realizar atividades
que vão além das primitivas (SAFFIOTI, 1976).
O trabalho materializou e moldou a vida do ser humano, modificou situações
precárias e estruturas estabelecidas durante a vida, porque o trabalho está atrelado
a realizações de necessidades e a riqueza material relacionado à acumulação de
bens e capitais, o que proporciona aos homens melhores condições de vida
envolvendo tanto as relações sociais, como a natureza, o que não seria possível
sem a atividade trabalho. Conforme Oliveira (1995, p. 5), “O trabalho é a atividade
desenvolvida pelo homem, sob determinadas formas, para produzir a riqueza. São
as condições históricas que lhe dão validade e estabelecem o seu limite.”.
O trabalho é a forma que a sociedade encontrou para conseguir sobreviver e
perpetuar sua espécie. Dessa forma, a maneira como o trabalho é organizado, os
instrumentos utilizados, a forma de produção, retrata muito bem as características
de determinada sociedade na qual o trabalho foi desenvolvido. As primeiras
formações sociais realizavam o trabalho de forma coletiva em busca da produção
necessária, operada em nível de economia natural. O produto deste trabalho era
propriedade da coletividade e todos exerciam papéis importantes, não existindo
meritocracia ou vantagem sobre qualquer indivíduo (OLIVEIRA, 1995). Nessas
primeiras formações, o trabalho foi organizado de forma natural, de acordo com as
necessidades sociais.
A divisão social do trabalho sempre existiu, desde as primeiras sociedades
primitivas nas diferentes organizações sociais. Essa divisão ocorreu
espontaneamente entre homens e mulheres, cada um tinha suas tarefas dentro de
suas tribos; aos homens competiam a caça, a pesca e a proteção do lar.
Procuravam matérias primas necessárias na produção de instrumentos utilizados
para os devidos fins, enquanto as mulheres tinham o papel de cuidar de todos os
detalhes relacionados ao lar: preparo de comida, confecção de roupas, cuidar dos
filhos (ENGELS, 2002, p. 164).
Em outras partes do mundo o avanço do trabalho já se fazia presente. Na
Ásia foram encontrados animais domesticados, como búfalos, que procriavam
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durante os anos, permitindo a continuação desse processo de criação e


domesticação que proporcionava à comunidade várias vantagens: leite, carne peles,
lãs, tecidos. Outras tribos tinham como principal ocupação a criação de gados. A
tarefa de cuidar dos rebanhos era exclusivamente dos homens, assim como a
propriedade sobre todo produto proveniente da criação. A mulher usufruía das
vantagens oferecidas pela criação de animais, não tendo participação na
propriedade. Dessa forma, a primeira grande divisão social do trabalho, configura-se
dentro do seio da familiar onde o trabalho foi dividido entre homens e mulheres
(ENGELS, 2002).
Partindo dessa evolução do trabalho e da criação de animais, as relações
entre o trabalho da mulher e do homem foram se modificando, o trabalho produtivo
do homem superava o trabalho doméstico, deixando o homem como o provedor do
lar. (ENGELS, 2002). A divisão sexual do trabalho não só diferenciou o trabalho
entre o homem e a mulher como também refletiu na posição de cada um na
sociedade. É em virtude desse processo que a mulher ficou realizando trabalho no
espaço privado e no âmbito da família, considerado como não-trabalho, em relação
ao trabalho do produtivo do homem no espaço público (OLINTO; OLIVEIRA, 2004).
Dessa forma, é de suma importância estudar a divisão sexual do trabalho
para que se compreenda melhor a trajetória da mulher na divisão do trabalho, pois
essa divisão “perpassa os diversos estágios da humanidade, sendo que as mulheres
de todas as camadas sociais, livres ou escravas, estiveram no decorrer da história,
restritas à esfera doméstica, pois respondiam pela subsistência de seus grupos”
(GUIRALDELLI, 2012, p. 717).
Nesse sentindo, as características do trabalho doméstico dedicado às
mulheres junto posteriormente com a consolidação do capitalismo auxiliaram a
inserção da mulher no trabalho. Pois, com a introdução das máquinas a força
muscular acabou tornando-se supérflua, requerendo nesse momento mão de obra
de menor força física, capaz de desempenhar o trabalho e ao mesmo tempo reduzir
o valor dos custos, pagos com mão de obra. Já que, a troca da força de trabalho
masculino pelo da família, incluindo crianças, rebaixava o valor do trabalho,
deixando para o dono do capital, benefícios econômicos.

1.1 HISTÓRIA E O TRABALHO DA MULHER


15

A mulher na sociedade exerceu papéis essenciais ao longo de sua


existência, prova disto, é que desde o período pré-capitalista, em que a produção
estava centrada no núcleo familiar, a mulher exercia diversas atividades: no campo,
no lar, nos comércios, em minas (SAFFIOTI, 1976). É importante salientar que “a
atuação da mulher no campo social é marcada pelo silêncio e pela discriminação
que se concretizou em diferentes formas: nas atividades profissionais, na educação,
pela família, nas responsabilidades sociais e na sexualidade” (PELEGRINI;
MARTINS, 2010, p. 58).
Na Idade Média, período marcado pela religiosidade e pelo modelo de
família patriarcal, a imagem da mulher foi construída sobre um mundo doméstico, ao
qual suas responsabilidades estavam voltadas para o lar e cuidado da estrutura
familiar. As mulheres desde crianças recebiam toda uma gama de costumes e
comportamentos morais para se tornarem boas esposas e futuras mães. (LEAL,
2012). Nesse período, segundo Nogueira (2004) havia divisão de tarefas entre as
mulheres de acordo com idade e condição social: as solteiras tinham como função
lavar e tecer, as mães cuidavam de seus filhos, as mulheres de meia idade
cozinhavam e se entretinham com as adolescentes e as mulheres dos camponeses
conciliavam as atividades de agricultura e doméstica.
Com o futuro delineado, restava à mulher apenas desenvolver as atividades
do âmbito doméstico, já que estavam excluídas da vida política e religiosa, sem ter
direitos a exercer nenhuma função pública, ou qualquer representatividade, portanto,
subordinada totalmente ao homem.
No século XVIII o trabalho das mulheres começou a se expandir. Mulheres
casadas e principalmente as solteiras foram em busca de novas formas de sustento,
trabalhavam em comércios com venda de produtos, amas de leite e lavadeiras.
Muitas mulheres também se encontravam nas fábricas em setores produtivos no
ramo têxtil. Em meio aos seus diversos empregos, quando as atividades não
conciliavam com o cuidar dos seus filhos, muitas preferiam entregar seus filhos a
amas ao largar seus empregos, pois eram suas fontes de sustento (SCOTT apud
NOGUEIRA, 2004)
Na transição do período feudal para a economia baseada na indústria,
ocorreu grandes mudanças em todos os campos: político, social, religioso e cultural.
Acentuaram-se as diferenças entre as classes e houve mudança na relação entre
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homem e mulher. As mulheres continuaram sendo vistas como inferiores e


submissas aos homens, porém, elas reivindicavam o seu reconhecimento enquanto
participante do ambiente social. (NOGUEIRA, 2004).
Com o advento da Revolução Industrial inglesa no século XVIII, formou-se a
classe operária que não foi gerada naturalmente pela indústria e nem por força
alheia ao sistema, mas nasceu com as condições mutáveis das relações de
produção e condições de trabalho colocadas para os ingleses livres. Portanto, a
classe operária fora formada tanto pelas condições existente quanto por si própria
(THOMPSON, 1987). Em vista disso, a introdução das máquinas, foi visto pelas
mulheres como concorrentes tanto de seus maridos como delas próprias, pois a
máquina traria a reclusão, já que as tarefas manuais seriam substituídas e os seus
orçamentos diminuídos (PERROT, 1988).
Nessa fase de consolidação do capitalismo, mulheres e crianças foram
introduzidas na produção sob condições desumanas seguindo o nível de produção
das máquinas. A entrada em massa da mulher nas fábricas e sem esquecer a mão
de obra infantil, veio juntamente com o surgimento do motor, pois o momento não só
necessitava de homens com força bruta, mas precisava também de flexibilidade,
porque as máquinas inseridas nas fábricas faziam todo o serviço pesado, restando
trabalhos mais leves e pormenorizados. Segundo Marx (1971, p.451):
Tornando-se supérflua a força muscular, a maquinaria, permite o emprego
de trabalhadores sem força muscular ou com desenvolvimento físico
incompleto, mas com membros mais flexíveis. Por isso, a primeira
preocupação do capitalista ao empregar a maquinaria foi a de utilizar o
trabalho das mulheres e das crianças. Assim, de poderoso meio de
substituir trabalho e trabalhadores, transformou-se imediatamente em meio
de aumentar o número de assalariados, colocando todos os membros da
família do trabalhador, sem distinção de idade ou sexo, sob o domínio direto
do capital. O trabalho obrigatório para o capital tomou o lugar dos folguedos
infantis e do trabalho livre realizado em casa, para a própria família, dentro
de limites estabelecidos pelos costumes.
Assim, segundo Marx (1971, p. 451) o que modifica e dá ponto de partida à
indústria moderna e insere novos personagens no trabalho é a modificação do
instrumento de trabalho que molda a produção capitalista. “Lançando à máquina
todos os membros da família do trabalhador no mercado de trabalho, repartindo o
valor da força de trabalho do homem adulto pela a família inteira.” Dessa forma, a
mão de obra para o capitalista relativamente seria barata, considerando a
quantidade de produção dividida pelos membros da família (MARX, 1971).
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Posteriormente, na segunda metade do século XIX, a mulher também foi


inserida na indústria francesa. A ideia predominante entre os homens era que a
entrada das mulheres estava causando o desemprego e cada nova mulher na
indústria aumentaria o número de desempregados. Dessa forma, os trabalhadores
faziam greves para reverter tal situação, usando argumentos que a mulher estava
ligada ao lar, ao cuidado dos filhos e que tinham inúmeras tarefas a cumprir ao invés
de estar trabalhando fora de casa. Porém, o motivo real do desemprego não estava
na entrada da mulher e sim no modo de produção capitalista que trocou a mão de
obra masculina pela feminina, tendo em vista que a produção seria igual ou maior e
os salários menores (SAFIOTTI, 1976).
A introdução das mulheres no mundo laboral em nenhum momento
significou a igualdade no trabalho, mas significou o agravo na inferiorização das
mulheres e a exploração feminina na indústria, comprovada por situações no qual a
mulher estava inferiorizada, como por exemplo, a diferenças de salários entre os
sexos.
Nesse aspecto, a partir da Revolução Industrial as mulheres adentraram no
trabalho e consequentemente à cena política. As ideias socialistas do período
influenciaram o comportamento da classe trabalhadora, que reivindicava, uma vez
que a produção capitalista gerava riqueza para a burguesia e miséria aos
trabalhadores. Conforme Marx, a riqueza gerada pelo trabalho não pertence ao
trabalhador, tampouco o resultado do trabalho:

O trabalhador põe a sua vida no objeto, e sua vida, então, não mais lhe
pertence, porém, ao objeto. Quanto maior for sua atividade, portanto, tanto
menos ele possuirá. O que está incorporado ao produto de seu trabalho não
mais é dele mesmo. Quanto maior for o produto de seu trabalho, por
conseguinte, tanto mais ele minguará. A alienação do trabalhador em seu
produto não significa apenas que o trabalho dele se converte em objeto,
assumindo uma existência externa, mas ainda que existe
independentemente, fora dele mesmo, e a ele estranho, e que com ele se
defronta como uma força autônoma. A vida que ele deu ao objeto volta-se
contra ele como uma força estranha e hostil. (MARX, 1844, p. 81)
Os fatos ocorridos no cenário europeu nos séculos XVIII e XIX,
transformaram as mulheres em força de trabalho. Modificando a situação do sexo
feminino em todas as classes e a estrutura dos lares, trouxe liberdade de expressão
para lutar contra as injustiças vividas no período (TOLEDO, 2008). É a partir desse
cenário de inclusão social no trabalho que as mulheres ganharam novas
perspectivas no ambiente social e principalmente no trabalho.
18

No período da Primeira e Segunda Guerra Mundial, as mulheres


participaram de uma nova etapa na evolução do trabalho feminino. Nesse período
de conflitos, as perdas humanas foram catastróficas, o que ocasionou a perda da
maior parte da população economicamente ativa dos países. A morte de milhares de
homens decorreu, inicialmente, da obrigatoriedade do serviço militar que levou
muitos soldados à guerra, e consequentemente foram acometidos de infinitas
doenças, situações no qual fragilizava sua saúde física e metal. Outro fator relevante
que afetou a saúde dos soldados na guerra era a impossibilidade da remoção de
cadáveres e a pressão psicológica que sofriam diante os ataques inimigos. Nesse
contexto, as mulheres exerceram um papel fundamental em suas economias locais;
começaram a tomar à frente dos negócios da família e de outras atribuições, antes
somente realizados pelos homens (MOTTA, 2003).
No Brasil não ocorreu diferente, com o advento da Primeira República o
papel da mulher se tornou cada vez mais importante. Conforme afirma Vieira (2007),
a participação de novos trabalhadores, inclusive do sexo feminino, deveu-se à
crescente urbanização e a expansão da industrialização.
A industrialização no Brasil ocorreu tardiamente, historicamente a primeira
experiência de industrialização impulsionada pelo Estado no Brasil ocorreu na
década de 1950. Antes dos anos 1950, o papel do Estado na promoção do
desenvolvimento industrial foi praticamente insignificante até fins de 1920 e bastante
limitado no ano de 1930 (SUZIGAN, 1988).
Devido a vários fatores, deficiências das fontes de energia, falta de
mercados consumidores, problemas financeiros das indústrias em decorrência do
desequilíbrio das contas externas do país, e a mão de obra que apesar de seu baixo
preço era deficiente e incerta devido às novas condições de trabalho do novo
regime. (PRADO JÚNIOR, 2008). Na transição da cultura cafeeira para a atividade
industrial a elite nacional encontrou dificuldades em assimilar toda uma nova
estrutura de economia. Essa dificuldade em parte traz a questão de que o
trabalhador nacional seria incapaz de praticar atividades regulares e outra seria a
adaptação dos poucos direitos que a elite fazia jus. Dificuldades como estas foram
superadas e a incipiente classe operária existente surge no século XX com mais
vigor frente ao novo modo de produção capitalista (CARMO, 2005).
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A imagem da composição da classe operária na Primeira República era de


que esta foi branca, fabril e masculina. Porém, desconsidera fatos e personagens
existentes, como os trabalhadores negros e mulatos que predominavam em outras
partes do país e as mulheres que atuaram de forma significativa no ramo têxtil e de
vestuário, chegando a ser maioria em alguns lugares. O ramo da costura no Brasil
era exclusivamente feminino e, em 1919, surgiu à organização das costureiras
(BATALHA, 2011).
A mulher na República exerceu diversas funções, principalmente aquelas
atividades que tinham certa proximidade com o espaço doméstico; participando da
tecelagem, fiação, produção de fumo, chocolates e redes. Porém, esse não foi o
único espaço de trabalho das mulheres, apesar da indústria ter um quantitativo
visível de trabalhadoras. Como as mulheres estavam cada vez mais se distanciando
dos seus lares devido a sua ocupação profissional que serviria para o sustento de
suas famílias, tendo em vista que muitas mulheres eram chefes de suas casas e
tinham que trabalhar para mantê-las e outras trabalham para complementar a renda
de seus maridos. Novos espaços de trabalho surgiram, como o de lavadeiras,
passadeiras, engomadeiras (SANTOS, 2013).
As mulheres foram conquistando seu espaço cada vez mais. Pelo decreto-lei
nº 21.076, de 24 de fevereiro de 1932, previsto no Código Eleitoral Provisório
aprovado durante o governo de Getúlio Vargas, ocorre um grande marco na história
das mulheres brasileiras, o direito ao voto. Conquistado depois de tantas
reivindicações e discussões sobre quem teria o direito de votar antes mesmo do
período Republicano. O decreto permitia o voto das mulheres, mas contendo
algumas restrições como o fato de só poderem votar as mulheres casadas e com
autorização dos maridos. Restrições como essa, foram cessadas em 1934, embora
a mulher ainda não tivesse obrigatoriedade de votar, tornando o voto obrigatório em
1946 (CAMPOS, 2010).
No mesmo ano do decreto foi também regulamentando o trabalho feminino,
igual salário para ambos os sexos, sem distinção (CARVALHO, 2011). Mas ainda
assim ocorriam desigualdades, pois o homem era visto como mantedor do lar,
portanto, recebia um salário maior.
No século XX, ocorreram transformações e mudanças econômicas na
sociedade que afetaram a participação das mulheres no mercado de trabalho,
20

contribuindo para a autonomia e independência financeira das mulheres frente aos


homens.
A mulher no século XXI encontra-se em outra realidade, exercendo inúmeras
atividades profissionais em todos os âmbitos como: em cargos de chefia, direção,
advogadas, médicas, construtoras, enfermeiras, competindo em igualdade com os
homens. E nessa busca de ingressar no mercado de trabalho a mulher acumula
papéis sociais: por um lado o de trabalhadora e, por outro o de cuidadora do lar
(GONÇALVES; MIRANDA, 2012).
Todavia muitas mulheres adiam a maternidade em busca do sucesso
profissional, acarretando a diminuição dos filhos, como afirma Simões e Hashimoto
(2012, p. 13): “Hoje a identidade da mulher não está mais diretamente associada à
maternidade, ao casamento e à procriação”. A mulher vem conquistando novos
espaços, assumindo novos papéis e funções, sendo visível a ascensão da mulher no
mercado de trabalho e na vida intelectual.
Com o ingresso ao mercado de trabalho as mulheres ganharam inúmeros
benefícios ao longo do tempo e por meio de conquistas ratificadas nas diversas
Constituições Federais. A Constituição Federal de 1988 apresenta em seu texto
diversos artigos que protegem a igualdade entre o homem e a mulher em direitos e
deveres perante sociedade. Entre esses diretos podemos mencionar licença à
gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de 120 (cento e
vinte dias), inclusive em caso de natimorto, não criminoso (GONÇALVES;
MIRANDA, 2012).
Benefícios como o salário-maternidade, e licença maternidade, devem-se
em grande parte a participação das mulheres no espaço público e, principalmente,
na política, em que as mulheres cada vez mais têm procurado melhorar suas
condições de vida. É necessário ressaltar, que muitas mulheres enfrentam a dupla
jornada de trabalho e deixam seus filhos em creches. Mecanismos como as creches
auxiliaram muito a vida das trabalhadoras.
As mulheres enfrentaram inúmeras dificuldades em se firmar no mercado de
trabalho, tendo que lidar com o pensamento cultural da sociedade que as colocavam
como um ser secundário, seu papel seria exclusivamente doméstico e a procriação.
Com o passar dos séculos as mulheres em grandes lutas conquistaram seu espaço
na sociedade e o mais importante, adentraram o espaço público e político.
21

Atualmente, as mulheres operam diversas atividades profissionais importantes,


alcançando os mais altos cargos políticos, contribuindo para o sustento e renda de
suas famílias.

2 PESCA NA AMAZÔNIA E POLÍTICAS PÚBLICAS


Este capítulo tratará sobre a atividade de pesca no contexto amazônico,
mostrando seus estágios de evoluções e métodos, as políticas públicas de incentivo
que proporcionaram a atividade um grande salto qualitativo. E abordará sobre o
trabalho das pescadoras na Amazônia e os seus vários papéis sociais exercidos por
elas, trazendo a questão das legislações sobre a pesca que durante muitos anos
não reconheceu o sexo feminino na atividade de pesca profissional.

2.1 A PESCA NA AMAZÔNIA


22

Desde a conquista e a ocupação do Brasil, a economia brasileira e,


principalmente, o espaço amazônico é caracterizado por uma economia de ciclos,
como por exemplo, o das drogas do sertão, do ouro, da borracha. Nesse cenário de
diversidades ecológicas, florestais, águas, savanas, identifica-se a pesca como uma
das atividades extrativista mais tradicional e importante do contexto amazônico,
tendo em vista que a pesca para subsistência faz parte da cultura de muitos povos.
A atividade pesqueira é desenvolvida pelos povos habitantes da Amazônia
desde o período pré-colombiano, onde os índios pescavam para o seu próprio
sustento e de suas famílias (VERISSIMO, 1970).
O processo de colonização na Amazônia desencadeado a partir do século
XVII e XVIII, se deu ao longo dos seus principais rios e afluentes. As várzeas foram
ocupadas por “caboclos”, o que possibilitou a prática da pesca na região, pois os
lagos e as áreas alagadas existentes aos redores das moradias constituíam-se
como o lugar de trabalho dos pescadores (VERISSIMO, 1970).
Conforme Santos e Santos (2005) no período pré-colonial e durantes três
séculos de colonização portuguesa, a pesca estava voltada para a captura do peixe-
boi, tartaruga e pirarucu, o que ocasionou uma diminuição visível das duas primeiras
espécies, e que veio a resultar posteriormente na proibição da pesca das espécies.
Os instrumentos utilizados na atividade de pesca pelos ocupantes das
várzeas eram arcos e flechas, anzóis, curral, arpão, sem muito uso de redes ou
tarrafas (VERISSIMO, 1970)
Tradicionalmente, a pesca amazônica funcionava apenas como uma
atividade complementar. Para os ameríndios servia de complemento da alimentação,
pois as necessidades proteicas em parte eram provenientes de quelônios e do
peixe-boi, para os caboclos era uma atividade integrada a outras de subsistência
familiar, pois os habitantes das várzeas exerciam outras tarefas, como o plantio de
roças, como mandioca, arroz, feijão ou frutas (VERÍSSIMO,1970). A prática da pesca
ainda hoje serve como atividade complementar. Entretanto há pescadores que vivem
única e exclusivamente da pesca, os denominados pescadores profissionais.
Dentro dessas sociedades tradicionais que viveram e vivem na Amazônia, a
cultura japonesa introduziu a junta e a borracha como atividade econômica no fim da
década de 1930 (DIEGUES, 1992). Entretanto, a partir da metade do século XX
ocorre a crise dessas duas culturas, o que faz com que a água recoloque-se como
23

espaço de trabalho na Amazônia. A pesca, agora, não só serviria para subsistência,


mas em uma atividade profissional e uma alternativa econômica permanente, por
vezes, prioritária, pois a atividade trouxe um meio de auferir renda paras as famílias.
A partir dessa nova finalidade, a atividade assume um caráter profissional e
comercial, abastecendo e alimentando os ribeirinhos, e os novos centros urbanos
que foram surgindo. Dessa forma, a pesca, deu origem ao pescador profissional, ou
seja, aquele que desenvolve a atividade para comercialização e obtêm lucro sobre
seu pescado, superando o rendimento de outras atividades desempenhadas, como
agricultura e caça.
Com o decorrer dos anos a pesca profissional tornou-se constante. O
aumento da exploração pesqueira cresceu e assim aumentou à preocupação em
preservar e evitar a extinção de espécies e o esgotamento dos estoques, já que a
pesca é essencial na alimentação. De acordo com Torres (1995) da época colonial
até 1910, verificou-se à preocupação das autoridades em preservar os recursos
naturais e evitar a pesca predatória, colocando em questão a proibição de
instrumentos causadores de danos às espécies e ao meio ambiente, como uso de
venenos, tapagens e currais, já que os usuários dos recursos naturais não percebem
o risco do colapso da exploração descontrolada. Entretanto é importante saber que,
antes da criação de leis que regulamentam a preservação, já havia por parte de
algumas comunidades ribeirinhas a tradição do controle da exploração aquática.
A preocupação em preservar as espécies e regulamentar atividade de
pesca, resultou na criação da Inspetoria Federal de Pesca pelo Governo Federal que
passou a centralizar essa atividade. Anterior à criação da Inspetoria, até 1912 as leis
eram feitas pelas municipalidades (MELLO, 1985). Em 1933 e 1961 caracterizado
pelo início da tecnificação da pesca a responsabilidade de controle passou a ser da
Inspetoria de Caça e Pesca, do Ministério da Agricultura, que posteriormente foi
denominada de Departamento de Produção Animal. Em 1953 o governo Federal
com intuito de transformar o sistema tradicional de pesca praticado pelos ribeirinhos
em uma atividade altamente produtiva e de caráter nacional, criou a
Superintendência do Plano de Valorização da Amazônia- SPVEA, em que firmou
convênios com organizações que possibilitaria esse objetivo, como a organizações
das Nações Unidas (MESCHKAT, 1959)
24

A região amazônica até 1960 era inacessível por via terrestre. A abertura de
estradas, como a BR Belém- Brasília e os esforços feitos pelo governo militar como
o programa “Operação Amazônica”, trouxeram vários estímulos e uma nova
colonização (KITAMURA, 1994). Ruffino (2005) destaca que esse processo de
políticas e estratégias desenvolvimentistas na região, acarretou o aprofundamento
das desigualdades referente tanto ao acesso quanto ao uso dos recursos naturais,
pois houve transferência de grandes recursos financeiros para grupos privados o
que possibilitava maior acesso daqueles com maior poder aquisitivo.
É nesse mesmo período, exatamente em 1962 que ocorre a criação da
principal autarquia do setor, a Superintendência do Desenvolvimento da Pesca –
SUDEPE, que institucionaliza a atividade pesqueira em todo país, com inúmeros
objetivos, dentre os quais, o de regulamentar as águas do mar territorial e as águas
continentais do Brasil e prestar assistência técnica e financeira à empreendimentos
relacionados a pesca. O que possibilitou e permitiu a consolidação da base da
indústria pesqueira (BORGES, 2007)
Nesse período de expansão da Amazônia, compreendido entre 1960 e 1988,
ocorreram significativas transformações na atividade pesqueira. Em outubro 1966 é
criada a Lei Federal nº 5.174 que concedia incentivos fiscais à empreendimentos na
jurisdição da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia-Sudam e o
decreto-lei Federal nº 221,28 de fevereiro de 1967, que tratou do estímulo à pesca e
outras providências. Este estímulo visava à estruturação da indústria pesqueira que
no momento encontrava-se atrasada em relação a outros setores. (RUFFINO, 2005)
Um dos benefícios referente ao estímulo, era a isenção de impostos sobre
importações de materiais usados na captura e processamento do pescado. Esse e
outros tipos de incentivos, foram responsáveis pelos muitos empresários nacionais e
estrangeiros que se instalaram na Amazônia, dando início a criação das primeiras
indústrias pesqueiras na região (RUFFINO, 2005). É importante salientar que nesse
contexto, a ocupação da Amazônia estava voltada para a expansão de uma política
extrativista e não para a preservação dos recursos naturais (OLIVEIRA, 1988).
Assim, outros elementos começaram a ser introduzidos na pesca, como o
motor a diesel, as fibras de náilon, redes, tarrafas, frigoríficos para conservação do
pescado, o que beneficiou o pescador quanto aos novos materiais de pesca,
facilitando o trabalho e a qualidade do pescado. Com esses novos itens disponíveis
25

aos pescadores, surge a figura do pescador profissional itinerante, ou seja, aquele


que busca e captura o peixe em outras localidades, distante de seus lares e
comercializa seus peixes em mercados, centros urbanos e lugares propícios a
obtenção de lucros.
Dentro dessa política adotada pelo governo militar, a atividade de pesca
evoluiu e trouxe a distinção do pescador artesanal e pescador industrial causando
conflitos entre os grupos. Tendo como motivo principal a capacidade de exploração
pesqueira. Pois, a pesca artesanal considerada umas das atividades mais tradicional
do Brasil é caracterizada pela utilização de pequenas embarcações realizada por
pescadores autônomos em regime de economia familiar ou individual, ou seja, o
pescado serve para alimentar a família e para fins comerciais; a pesca industrial é a
modalidade de pesca em grande escala, onde são utilizadas embarcações de médio
e grande porte e o pescado é destinado exclusivamente para fins comerciais.
Em 1980 os incentivos à pesca não foram validados, tanto pelo ponto de
vista ambiental quanto pelo ponto de vista financeiro, os recursos naturais estavam
em acelerado processo de esgotamento, o país estava arcando com grandes custos
e estava impossibilitado financeiramente de continuar essa política. (RUFFINO,
2005). Assim ao final desse período surgiram regulamentos para a atividade,
retratando o tamanho mínimo de captura, cota de captura para algumas espécies e
o mais importante, a proibição de pesca em época do defeso, época em que as
espécies estão se reproduzindo.
O ano de 1989 foi um marco no setor pesqueiro. Com a extinção da
SUDEPE e a criação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis – IBAMA, o governo entendeu que unificar a proteção ao meio
ambiente é a melhor forma para evitar o colapso dos recursos naturais.
Nesse panorama, passa a existir outra modalidade de pesca, a esportiva, ou
amadora, que é a praticada por brasileiros ou estrangeiros, com a exclusiva
finalidade de lazer, não destinada à comercialização.
A partir de 1993 houve a criação de vários mecanismos para preservação da
pesca, discussão, leis, instituições e a participação da sociedade civil nesse
processo de sustentabilidade para região amazônica que se destaca pelas suas
riquezas naturais.
26

2.2 O TRABALHO DAS PESCADORAS NA AMAZÔNIA

As mulheres estão presentes em todos os cenários, e a Amazônia não seria


a exceção. A descoberta da floresta amazônica continuamente foi apontada e
descrita como o lugar de belezas naturais e riquezas locais, dentro das quais
encontram-se um grupo de índias que foram comparadas pelos expedidores, com as
antigas guerreiras da mitologia grega, sobre as quais há muitas fantasias, mitos e
folclores.
É nesse contexto amazônico habitado a milhares de anos que as mulheres
se fazem presente, realizando inúmeras atividades, dentre as quais, a pesca
artesanal, exercida em todas as águas, rios, lagos e lagoas, sempre compartilhando
coletivamente dos espaços e dos recursos naturais, compreendido dentro do
trabalho.
A atividade de pesca é responsável pelo sustento de muitas famílias e
comunidades das várzeas amazônicas. E, embora a atividade seja apresentada
como masculina, haja vista que os primeiros atuantes da atividade foram homens e
a literatura construída evidencia a diferença de gênero, a mulher também faz parte
desse cenário, participando dos diversos processos na cadeia produtiva, realizando
atividades no pré e pós captura do peixe mostrando que se faz presente na atividade
e que de fato sua função é importante para o desenvolvimento da economia local.
A participação da mulher no panorama atual da pesca é de grande
relevância social, pelo desempenho de suas inúmeras atividades, relacionadas tanto
aos processos de organização quanto na manutenção da vida cotidiana das
comunidades, gerando renda para as famílias, já que muitas mulheres são chefes de
família e o produto final do seu trabalho é destinado ao consumo familiar e ao
mercado local para comercialização, fato comum em todas as comunidades
pesqueira do Brasil (DIEGUES, 1983).
É válido salientar que as pescadoras no geral enfrentam um problema, a
invisibilidade. Soares (2013) afirma que através do contato com pescadoras e
literaturas a respeito da pesca, percebe que o trabalho das pescadoras é ignorado
ou muitas vezes fica na categoria de ajuda, porém, o autor destaca que a mulher
exerce a atividade há muito tempo e essa invisibilidade é resultado do discurso da
27

divisão sexual, onde o homem é o provedor do lar, e a atividade de pesca como toda
forma de trabalho não poderia fugir à regra, já que essa divisão é algo que está
ligada ao processo de constituição de uma sociedade patriarcal.
Como menciona Alencar (1993, p.65) “a forma de organização social do
trabalho na pesca apresentada nos textos, enfatiza um modelo bipolar de divisão do
trabalho, que se caracteriza pela ênfase que é dada à distinção das atividades e dos
espaços de acordo com o gênero.” Essa distinção acaba que por invisibilizar o
trabalho da mulher no espaço aquático, ainda que o seu papel seja essencial à
subsistência (NIEUWENHUYS, 1989 apud MANESCHY, 2000; p. 175) confirma que
“o ato de pescar dos homens está inserido e apoiado em relações sociais das quais
a divisão de tarefas é responsabilidade no seio da família e, sem dúvida, a mais
crucial”.
Essa invisibilidade da mulher na pesca é atribuída em parte, ao fato de que o
trabalho de algumas mulheres apresenta-se como inconstante e variado e por vezes
está voltado para o consumo familiar e não a comercialização. (MANESCHY, 1997).
No entanto, muitas mulheres atuam na prática diária para a comercialização,
principalmente as profissionais que têm a pesca como fonte exclusiva de
sobrevivência.
A família, e principalmente, a mulher tem seu espaço nas águas,
independente da invisibilidade ou sua condição de ajudante exposta na literatura,
seu papel está ganhando novas configurações em meio ao mercado de trabalho.
Dessa forma, o trabalho das pescadoras aos poucos tem se tornado visível. A ideia
de que a mulher é apenas “ajudadeira dos seus maridos”, realizando tarefas
secundárias, como limpar o peixe, não é exata, pois como já foi mencionado as
mulheres desenvolvem a atividade diretamente e são responsáveis pelo sustento de
seus lares como profissionais da pesca artesanal (SOARES, 2013)
É importante saber que o trabalho das mulheres na Amazônia,
especificamente na Comunidade Cristo Rei no município do Careiro da Várzea –
Amazonas, é desenvolvido de forma distinta do masculino em diversos aspectos,
tais como: a mulher segue todo um cronograma para ir ao trabalho, usa
equipamentos de proteção, blusas de mangas longas, chapéus, luvas, tudo para se
proteger das condições físicas e naturais do ambiente de seu trabalho. Outro
aspecto de diferenciação do trabalho é que as mulheres costumam ir à pesca o mais
28

próximo de seus lares e sempre acompanhadas, de vizinhas ou de seus maridos. Os


objetos utilizados são basicamente os caniços, as malhadeiras, algumas utilizam
tarrafas e zagaias. Em relação ao tempo de duração de seus trabalhos, é variável,
conforme condições do ambiente e intensidade da pesca, ou seja, se tiver rendendo
o trabalho prolonga-se, senão termina (SOARES, 2013).
Percebe-se nesses pontos diferenciadores, que o trabalho da mulher varia
conforme as diversas condições no tempo e no espaço sejam do ambiente, da
produção, dos seus lares, e pelos sistemas das águas, pois o sistema das águas na
várzea amazônica marcado por cheia e enchente, vazante e seca, influencia na vida
das pescadoras as quais realizam suas atividades de acordo com o ritmo das águas
(COSTA; SANTOS, 2008). A ilustração dessas diferenças é algo que mostra um
pouco do cotidiano das pescadoras da Amazônia, primeiro, referente ao fato do
modo de cuidado e proteção usados no trabalho; segundo, as suas relações
socialmente construídas e desenvolvidas na atividade e, terceiro, sua preocupação
ou necessidade construída socialmente em estarem sempre perto de seus lares.
O lucro do trabalho das pescadoras na Amazônia é destinado à compra de
bens materiais para melhorar sua qualidade de vida, aumentar a renda familiar e o
seu poder de escolha e consumo. Além do lucro financeiro a pesca apresenta
importantes aspectos sociais, culturais e ecológicos, pois promove a sociabilidade
entre a coletividade envolvida na atividade pesqueira. (MORAES, 2010).
Nessa conjuntura, o maior ponto diferenciador e que dá destaque ao
trabalho das mulheres, é a dupla jornada. Falar no trabalho das pescadoras é
considerar de imediato a sua atuação no espaço do lar, pois o fato de sua atuação
ser praticada em ambientes aquáticos com a proximidade de seus lares sinaliza o
seu papel de dona de casa. E esse tópico merece destaque pelo fato de que a
mulher além de sua atividade profissional acumula o papel de cuidadora do lar,
desenvolvendo as duas atividades de acordo com todo um planejamento, tanto
doméstico quanto profissional, já que as atividades tendem a ser desenvolvidas sem
se chocarem, requerendo estratégias eficazes.
É dentro dessa conciliação que Amaral (2007) traz a questão de que muitas
mulheres sofrem com essa dupla jornada, causando muitas vezes transtornos
psíquicos, pois além de ocorrer à sobrecarga de tarefas ainda há certa preocupação
por parte das mulheres em relação aos filhos e a casa. Já que algumas pensam que
29

ao se dedicarem a profissão estão abandonando seus filhos e lares. Essa


preocupação por vezes define o caminho da mulher, muitas escolhem ser somente
cuidadora do lar, outras profissionais, e há aquelas que exercem a dupla jornada.
De acordo com Maneschy (1995) são as mulheres que cotidianamente mais
enfrentam dificuldades, referindo-se a essa conciliação de atividades: cuidar e
educar os filhos, manter a casa, plantar, pescar, tudo em prol da manutenção da
família. Alencar (1991, p. 66) afirma que “As atividades femininas tendem, pois, a ser
multidirecionadas, ao contrário das masculinas, geralmente centrada em uma ou
duas atividades principais, como por exemplo, a pesca e lavoura.”.
Essa conciliação de atividades deve-se as necessidades do trabalho. As
alterações comportamentais contemporâneas e, principalmente, as novas
possibilidades e estratégias de conciliação entre as atividades domésticas e
profissionais, são responsáveis pela maior participação das mulheres no mercado de
trabalho, inclusive em relação à ocupação da mulher em cargos antes somente
ocupados por homens. Esse fato é indiscutivelmente diferenciador do trabalho das
pescadoras.
Nesse sentido, o trabalho dentro do espaço doméstico mesmo que seja
dividido entre o homem e a mulher em comum acordo, definindo o dever de cada um
na casa, cuidar dos filhos, limpar a casa, preparo de comidas (...), a
responsabilidade ainda que dividida sempre recaíra sobre a mulher, mesmo que seu
papel na esfera privada esteja consolidado.
Essa responsabilidade, recaída sobre as mulheres no âmbito doméstico e
privado é uma questão atrelada ao trabalho. Engels (2002) afirma que nem sempre
a mulher foi subalternizada ao homem, o que trouxe a divisão dos papéis sociais foi
essa diferença de trabalho feminino e masculino, e principalmente a propriedade
privada. A mulher desempenhava as atividades do lar, no espaço privado, e o
homem no espaço público, considerado o trabalho produtivo. Portanto, para Engels
foi a origem da propriedade privada como forma de organização familiar que trouxe
a divisão sexual do trabalho. A partir de então, o trabalho masculino passa ter maior
valor comparado ao da mulher, o que historicamente dá espaço para continuidade
de uma sociedade patriarcal no qual há subordinação da mulher nas diversas
esferas, principalmente na esfera pública.
30

Dessa forma, os papéis destinados ao sexo feminino e masculino, antes


fortemente demarcados, atualmente se inserem em um novo processo de
flexibilização, em que algumas mulheres dividem as tarefas do lar com os membros
da família gerando certa desconcentração dessas funções do núcleo familiar, por
outro lado, outras mulheres enfrentam a dupla jornada para sustentar suas famílias.
As pescadoras da Amazônia encontram-se inseridas nessa conciliação da
dupla jornada. Pois, as mulheres atuam na pesca em todos os processos:
comercialização, manufatura, produção de equipamentos, conserto de apetrechos,
auxílio à pesca, organizações das colônias, produção de complemento alimentar
como produtora rural. Atuando indiretamente na conscientização da preservação dos
recursos naturais (MANESCHY, 1995). Somando tudo isso as tarefas domésticas,
cuidar do lar e educar os filhos.
Por todo o exposto, as pescadoras na Amazônia exercem diversos papéis,
no pré e pós captura do pescado, desenvolvendo atividades auxiliares como
confecção de seus materiais de trabalho. Atuando também no espaço doméstico,
que é um dos pontos de definição do seu ambiente de trabalho.

2.3 AS PESCADORAS E AS POLÍTICAS PÚBLICAS

As políticas públicas são um conjunto de ações, metas e planos criados


pelos governos (nacionais, estaduais ou municipais) para alcançar o bem-estar da
sociedade e o interesse público, de forma a regulamentar os diversos assuntos
relacionados ao Estado (CALDAS, 2008).
Dessa forma, para que se possa entender as políticas públicas criadas para
a regulamentação da atividade pesqueira no Brasil, é importante entender que
durante muito tempo a política de regulamentação se deteve na criação de órgãos
institucionais reguladores da pesca. Conforme sustenta Lopes (2009), entre o início
do século XX até finais da década de 1970, o controle da pesca era revezado entre
o Serviço de Patrulha Costeira, o Serviço de Caça e Pesca e a Superintendência do
Desenvolvimento da Pesca. Na criação desta última ocorreu à edição do Decreto-Lei
nº 221, de fevereiro de 1967, que trata da proteção e do estímulo do setor pesqueiro.
31

Convém destacar que com pouco tempo da edição do referido decreto, foi
criada a Superintendência do Desenvolvimento da Pesca-SUDEPE que tornou a
pesca um setor autônomo do âmbito da agricultura, adotando uma política
assistencialista e organizando o uso de espaços de pesca da União (LOPES, 2009).
As políticas adotadas e o grande subsídio destinado ao setor pesqueiro
transformou a pesca artesanal em pesca comercial modernizada, ou seja, pesca
industrializada. De certo, que poucos critérios foram estabelecidos, como o ato de
conservar os recursos naturais, diminuindo os problemas ambientais. Por isso, foi
criado pela Lei nº 7.735 de fevereiro de 1989, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
- IBAMA com o intuito de gestão e conservação dos recursos naturais e trata outras
providências.
O IBAMA surgiu em contraponto à política desenvolvimentista anteriormente
vigente. Assim, o IBAMA é a incorporação da SUDEPE, da Superintendência do
desenvolvimento da Borracha – SUDHEVEA, da Secretária Especial de Meio
Ambiente – SEMA e do Instituto Brasileiro de desenvolvimento Florestal – IBDF. A
esse novo órgão foi dado poderes para desenvolver todas as atividades antes
praticadas pelos setores incorporados, de forma a compatibilizar o desenvolvimento
com a conservação dos recursos naturais.
Na década de 1990, ocorre um novo marco na história do setor pesqueiro
que é a criação do Departamento de Pesca e Aquicultura – DPA do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA. Essa nova estrutura organizacional
objetivou dividir as competências dentro do Ministério, para que as atividades
fossem melhores executadas, atribuindo a cada departamento à responsabilidade de
gerir os recursos. Isso beneficiou o setor, pois o DPA mantinha todos os focos
centrais na pesca, desenvolvendo meios para fomento, conservação e organização.
No que se tange a criação de políticas, o governo Federal sob o regime
militar, foi responsável pela criação de algumas políticas públicas para o setor
pesqueiro. No entanto, às políticas criadas não atenderam as necessidades do setor.
Essas políticas foram criadas de acordo com as características nacionais, não sendo
levadas em consideração as diversificações de cada região, o que por sua vez
causou transtornos em comunidades mais avançadas na pesca, inclusive com
relação à participação feminina na atividade de pesca.
32

A pesca artesanal foi reconhecida como atividade comercial em 1967 pelo


Código de Pesca. Desde então, o governo brasileiro promoveu, ações
regulamentadoras da pesca artesanal no território nacional, organizando a categoria
para a criação de colônias ao longo da costa brasileira por meio da então
responsável pelo setor, Marinha de Guerra. As colônias foram concebidas com base
na doutrina de Segurança Nacional em que se pretendia ocupar a costa com
objetivo de guardar e proteger de possíveis invasores. Posteriormente, o próprio
órgão criador fez investidas para emancipar as colônias e liberá-las do papel de
proteção do litoral e dos rios (LOPES, 2009)
A partir desse momento, as colônias foram se fortalecendo e se organizando
em todo o território como entidade representativa dos pescadores. Nesse panorama
de revitalização e expansão das colônias. A Marinha que tutelava as colônias,
suprimia-se o reconhecimento das mulheres como pescadoras profissionais e
negava-lhes o direito de se cadastrarem como pescadoras (LOURENÇO et al;
2003). Nesse caso, o trabalho da mulher era considerado apenas como mera
extensão doméstica, não cabendo o alistamento das mulheres nas atividades das
Forças Armadas, no caso à atividade de pesca.
Algumas mulheres conseguiram com a Lei nº 6.807, de 7 de julho de 1980
que trata da criação do corpo auxiliar feminino da reserva da marinha (CAFRM), o
reconhecimento jurídico da profissão de pesca artesanal. Direito concedido somente
àquelas que atuavam de forma embarcada, proprietárias de pequenas
embarcações. Fato esse que foi repassado para todas as colônias, sendo a
condição aceitável para o então registro das pescadoras. Nesse contexto, é
imprescindível ressaltar que não houve uma política pública direcionada às
pescadoras artesanais profissionais, o que ocorreu foi a entrada de poucas mulheres
que atuavam na pesca e que eram donas de seus instrumentos de trabalho, porém
não reconheciam outras pescadoras que exerciam a atividade de forma distinta
(LEITÃO; SILVA, 2012).
A inserção das pescadoras no processo de regulamentação ocorreu em
2003, com a política de economia familiar, onde o registro profissional da mulher é
adquirido com o condicionamento do núcleo familiar, servindo para fins de
comprovação do desenvolvimento da atividade de pescadora. Dessa forma, se a
família atua na pesca, entende-se que a mulher também atua, não tomando em
33

consideração o fato da pesca autônoma. Cabe aqui relatar que a legislação não
reconhece a autonomia da mulher e que para ser pescadora precisa estar atuando
com a família. Como afirma Leitão e Silva, (2012. p. 15.):
Em 2003, com a legislação previdenciária sobre economia familiar, muitas
pescadoras conquistaram o Registro de Pesca. Foram reconhecidas como
profissionais em virtude do exercício de atividades equiparadas à pesca,
exclusivamente em regime de economia familiar. Portanto, sem
assalariamento e dependendo do vínculo familiar com a pesca artesanal.
Percebe-se então, que essa legislação reproduz o papel discriminatório da
mulher, referindo ao papel social no âmbito do lar e esse condicionamento está em
conflito com a situação das pescadoras, pois a atividade não é somente exercida
dentro do núcleo familiar, mais de outras formas, com parcerias em comunidade,
amizades. Notoriamente a inserção das mulheres não ocorreu de forma autônoma,
pois além de não reconhecer as diversas formas da prática social do trabalho,
desvaloriza o trabalho das pescadoras, colocando importância menor no seu
trabalho. É esse papel da mulher nas comunidades pesqueiras que Alencar (1993)
destaca, ao afirmar que nos últimos anos, o papel da mulher como protagonista tem
sido alvo de inúmeras pesquisas, demonstrando que o papel da mulher é sem
dúvida essencial ao setor da pesca.
A falta de reconhecimento da profissão das pescadoras trouxe problemas
para muitas mulheres. Uma vez que aquele que exerce qualquer tipo de profissão,
tem direito a benefícios, aos quais usufrui quando se faz necessário. Sendo assim, a
pescadora é privada de direito básicos, como a aposentadoria, licença maternidade,
seguro-desemprego. Todos esses benefícios, principalmente a aposentadoria
necessita de certo tempo de exercício de profissão que possa ser comprovado, o
que não é o caso de muitas pescadoras. Como o exemplo dado por Leitão e Silva
(2012) que aquelas reconhecidas pela Marinha atualmente gozam de benefícios
adquiridos tendo o seu registro de pesca como comprovação de seu trabalho.
Sem dúvida, é possível afirmar que a legislação de economia familiar,
aumentou consideravelmente o número de pescadoras registradas, que atualmente,
podem usufruir de benefícios previdenciários como o salário maternidade. É
importante ressaltar, que o não reconhecimento do trabalho da pescadora leva-as a
ignorarem seus direitos e não compreendem como proceder para o ato de
regularização de suas carteiras de pescadoras e o procedimento para requerimento
de benefícios previdenciários.
34

As colônias ainda hoje exercem o seu papel de responsáveis pelo


cadastramento dos pescadores e pescadoras, pois é através desses órgãos
representativos que se efetuam o cadastramento no Registro Geral de Pescadores-
RGP, pelo Ministério de Aquicultura e Pesca.
Por todo o exposto, percebe-se que os órgãos públicos por seu longo
histórico, frente ao setor pesqueiro, exerceram inúmeras políticas descontinuadas e
não participativas. Além disso, a condição da mulher pescadora não foi tratada
especificamente, sendo esquecida, o que causa a falta de reconhecimento das
mulheres na atividade. Apesar do direito ao registro de pesca, a participação da
mulher está restrita ao regime de economia familiar, no qual sua participação deve
ser comprovada mediante vínculo familiar. Compreende-se que é necessário à
criação de políticas públicas direcionadas às pescadoras artesanais, com intuito de
reconhecer e valorizar seu trabalho no setor pesqueiro prevendo o trabalho
autônomo da mulher e a exclusão da condição familiar para o seu reconhecimento
como profissional da pesca. Assim reconhecendo que independente do gênero há
efetivação do trabalho e a equivalência.

3. TRABALHO E IDENTIDADE DAS PESCADORAS


Este capítulo tratará especificamente das pescadoras que atuam na
atividade de pesca em Boa Vista/RR. Inicialmente trazendo o conceito de identidade
para compreender como as identidades dos indivíduos são formadas, e logo após, a
discursão sobre o trabalho como elemento essencial na construção de identidade
dos indivíduos. Trazendo essa reflexão para entender o processo de construção de
identidade das interlocutoras desta pesquisa por meio da história de vida.

3.1 O TRABALHO COMO INFLUÊNCIA NA CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE DAS


MULHERES
35

As transformações ocorridas nas sociedades foram inúmeras. No que se


refere à categoria trabalho as transformações foram ainda mais visíveis. Primeiro, a
sociedade passou de uma economia manufatureira para industrial, logo em seguida
para a pós-industrial, que por sua vez, têm exigido dos trabalhadores novas
competências e novos formatos de execução profissional. Essas exigências
requeridas pelo trabalho mostra a importância da reflexão sobre a organização do
trabalho e seus impactos nas relações sociais e, principalmente, na formação
identitária do sujeito.
Para compreender a influência do trabalho na construção da identidade do
sujeito, é preciso compreender o que é identidade? Como é construída? Para
responder essas reflexões, busco apoio em Hall (2005) para quem a identidade não
é algo natural, ou seja, aquela na qual a identificação é construída a partir do
reconhecimento de alguma origem comum, ou de características partilhadas entre
grupos ou pessoas que compartilham um mesmo ideal ou objetivo, ocorrendo nesse
contexto à base da solidariedade e fidelidade do grupo envolvido. Para o autor a
identidade é uma discursividade, ou seja, a identidade nunca complementada,
sempre em processo no qual a identidade pode ganhar ou perder elementos.
Sobre as diversas conceituações de identidade Hall (2005) destaca que há
três concepções: a primeira denominada identidade do sujeito do Iluminismo, que
expressa uma visão individualista de sujeito, em que prevalece a capacidade de
razão e de consciência, onde o seu interior não muda durante sua existência
permanecendo idêntica; a segunda, a identidade do sujeito sociológico, reflete a
complexidade do mundo moderno e reconhece que esse núcleo interior do sujeito é
composto na relação com outras pessoas, cujo papel é de mediação da cultura.
Nessa visão, o sujeito se constitui na interação com a sociedade, em um diálogo
contínuo com os mundos interno e externo. Ainda permanece o núcleo interior, mas
este é constituído pelo social, ao mesmo tempo em que o constitui. Assim, o sujeito
é a um só tempo individual e social; é parte e é todo; a terceira concepção é a do
sujeito pós-moderno, sendo aquela que está sempre se modificando, pois, não é fixa
ou permanente, e sim, algo que se desloca, deixando de ser estável para ser
variável e móvel. Nessa última, o sujeito pode assumir várias identidades.
Percebe-se que a identidade do sujeito é construída de acordo com os
processos e práticas do sujeito, dentro dos mais variados cenários históricos e
36

institucionais. O trabalho encontra-se na camada importante para a construção de


identidade, visto que as práticas desenvolvidas na atividade profissional impacta a
identidade do indivíduo. Entretanto, Lopes (2009), destaca que no período anterior à
industrialização, o trabalho não era o eixo principal da formação de identidade, fato
que foi modificado no século XVIII com o processo de industrialização em que o
trabalho tornou-se uma questão importante na vida social.
A mudança no mundo do trabalho também acarretou mudanças na forma da
existência social. Assim, o trabalho tornou-se um elemento construtor de identidade
pelos vários atributos que estão envolvidos no desempenho dos papéis na estrutura
produtiva. Conforme Moraes (2011), o sujeito é resultado da atividade produtiva que
realiza, tendo em vista que, no desempenho do trabalho o indivíduo se depara com
inúmeros fatores para o cumprimento do trabalho dentro os quais estão: a realização
pessoal, o cumprimento de horário, o reconhecimento, a periculosidade, a
competitividade, a organização social e a socialização entre os indivíduos.
É importante enfatizar a questão da socialização, pois os indivíduos
envolvidos no desenvolvimento de qualquer atividade estão em continuo processo
de socialização uns com os outros e na sociedade. Postic (1995) considera que a
socialização é um processo de aprendizagem de condutas pelo conhecimento que
se tem das características das situações, das pessoas, das formas de ação que
parecem apropriadas, além do uso nas relações com os outros; essas condutas são
fruto da experiência de cada indivíduo.
Para Dubar (1997), o processo de socialização permite compreender a
noção de identidade numa perspectiva sociológica restituída numa relação de
identidade para si e identidade para o outro. É nessa socialização que ocorre o
processo de transmissão de valores e crenças para a vida de cada indivíduo. Ou
seja, aquilo que o indivíduo vive no trabalho, traz para sua vida particular.
Dessa forma, as características exigidas no desempenho de cada função,
impacta de forma significativa a vida do indivíduo. Baugnet (1998) salienta que,
pelos papéis desempenhados na estrutura produtiva, os indivíduos constroem
ativamente sua vida social e consequentemente uma identidade coletiva. Na mesma
direção, os papéis ligados ao mundo do trabalho compõem uma face da estrutura
identidária dos indivíduos. Conforme Sainsanlieu (1995, p. 217), a socialização dos
indivíduos no mundo do trabalho é fruto da experiência das relações de poder,
37

vivenciadas no universo produtivo, as quais geram normas coletivas de


comportamento e fornecem a possibilidade de construir uma identidade relacionada
ao trabalho. Sendo assim, identidade é compreendida na perspectiva de Sainsanlieu
(1995, p.217) como “a maneira de elaborar um sentido para si na multiplicidade de
papéis sociais, e de fazê-la ser reconhecida por seus companheiros de trabalho”.
Dubar (1997) discute que a identidade profissional é um fenômeno abstruso,
resultado da socialização secundária do sujeito e que representa continuidades e
descontinuidades com o que designa por identidade legada do sujeito e com a
identidade atribuída pelos outros indivíduos. Dessa forma, a identidade profissional é
construída com as interações sociais e com a identidade individual, levando em
consideração o espaço organizacional da realização da atividade profissional que
tem um papel fundamental para a consolidação da identidade profissional do
indivíduo.
Nesse contexto, passemos a analisar a importância do trabalho para a
mulher e de que forma o trabalho na atividade pesqueira impacta na construção de
identidade. Como já visto no capítulo anterior, a mulher percorreu um longo caminho
para ser inserida no mundo do trabalho, e sua inclusão acabou ocorrendo por
inúmeros fatores e condições sociais e econômicas. É evidente que a trajetória não
foi fácil, tampouco ocorreu de forma igualitária. Entretanto, as mulheres lutaram
pelos seus espaços dentro da sociedade e conquistaram o seu lugar no mercado de
trabalho.
A árdua luta das mulheres para serem inclusas no trabalho, mostra o quão
significativo é o trabalho para suas vidas e evidencia a sua importância para a
construção humana. Por isso, a mulher em todos os contextos tem sido alvo de
questionamentos, principalmente quando se trata do mercado de trabalho, pois:

A expansão das mulheres no mercado de trabalho tem sido alvo de muitos


estudos, pelo fato de ser um fenômeno recente e estar carregado de
relações sociais. Estudos a respeito da crescente participação da mulher no
mercado de trabalho concluem este estar relacionado a fatores culturais,
demográficos e econômicos (BORGES; PEREIRA; SANTOS, 2005. P.02).

Assim, um dos enfoques estudados no que tange as mulheres no mundo do


trabalho, traz a reflexão da construção da identidade profissional e dos papéis
sociais. Pois, quando inseridas nesse novo panorama ganharam o direito de
38

reconstruir os papéis sociais entre homens e mulheres, uma vez que ao


desenvolverem atividades remuneradas, isso se reflete na sua independência
financeira e autonomia. Dessa forma, analisar o trabalho na atividade pesqueira das
pescadoras em Boa Vista, implica em percebê-las como sujeitos sociais. Segundo
Enriquez (1994) a partir do momento em que o indivíduo toma consciência de sua
condição e assume a responsabilidade sobre seus atos, passa a ser considerado
sujeito. O sujeito é aquele que tenta sair tanto da clausura social quanto da clausura
psíquica para se abrir ao mundo e para tentar transformá-lo. Tenta introduzir a
mudança em si mesmo e nos outros.
Assim, a partir do momento em que a mulher participa da atividade
profissional ela torna-se sujeito participativo, ou seja, quando realiza o trabalho toma
consciência da sua condição e responsabilidades adquiridas, o que causa a
mudança tanto em si, contribuindo para a construção da identidade social, quanto
para os outros. Então quando se fala da mulher trabalhadora, pensa-se logo em
identidades construídas com elementos advindos da atividade realizada, em que a
mulher modifica-se cotidianamente enquanto ser, ao mesmo tempo em que leva em
consideração seu trabalho dentro e fora do lar.
É importante salientar, que anteriormente a mulher era obrigada a
desempenhar papéis sociais restritos ao espaço e esfera privada. Para Enriquez
(1994), todo indivíduo nasce em uma sociedade onde a cultura está instaurada.
Assim sendo, ele só pode funcionar no interior de um social dado, o qual lhe dita, em
parte, sua conduta. Ao invés de possuir autonomia, esse indivíduo é heterônomo: é
conformado, só sabe repetir e reproduzir e, para existir, precisa idealizar a sociedade
e assumir os pressupostos que ela propõe.
É diante dessa cultura socialmente construída que as mulheres
consolidaram o espaço doméstico em sua existência. Muitas desempenham
atividades na esfera privada, no qual estão encarregadas de cuidar dos filhos e da
casa, outras enfrentam a dupla jornada, outras somente o lado profissional. E estas
mulheres que optam em desenvolver somente suas habilidades profissionais
deixando de lado as tarefas domésticas, podem fazer estas escolhas, pois as
mudanças na estrutura produtiva juntamente com a inquietação das mulheres e as
mudanças no paradigma familiar e cultural permitiu a mulher, o ato de optar pelos
seus próprios papéis sociais.
39

Segundo explica Capelle e Mello (2010) ao ingressarem no mundo do


trabalho as mulheres transformaram suas identidades, mudaram suas vidas e
comportamentos, pois inseridas nesse novo mundo tornaram-se aptas a
reconstruírem suas identidades e todos os pressupostos aos quais os membros da
sociedade são socializados. Essa mudança na vida da mulher afetou de forma
significativa a vida em sociedade, ganharam força para combater qualquer tipo de
preconceito, segregação horizontal e vertical e o assédio moral e sexual. Além de
trazer novas políticas públicas para garantir a consolidação e adaptação do seu
espaço no ambiente de trabalho.
Diante disso, não há dúvidas que o trabalho é um elemento que transforma
os indivíduos. Os elementos da atividade profissional como já dito, estão associado
à construção do ser (do indivíduo), ou como afirma Marx (1844) as condições
objetivas, de certa forma, determinam as condições subjetivas, a maneira de pensar,
de perceber o mundo. Como afirma Dubar (1997) a identidade humana ou a
condição de humano, de sujeito é fruto da socialização e não do indivíduo
autônomo. Ela é construída, primeiramente, em sua infância, e reconstrói-se
sempre, ao longo da vida. Trata-se, portanto, do resultado, ao mesmo tempo estável
e provisório, dos diversos e sucessivos processos de socialização que, em conjunto,
constroem os indivíduos e definem as instituições. É válido ressaltar que a
construção da identidade depende do julgamento e da orientação do próprio
indivíduo envolvido e de outros que estão fora desse processo.
Essa dualidade de julgamento de identidade, Dubar (1997) explica que não
basta somente o indivíduo reconhecer sua identidade, mais depende dos outros
para se tornarem legítimas. Pois o que adianta o sujeito considerar algo que a vista
dos outros não é. Assim, a identidade para ser legítima necessita ser reconhecida
pelo “eu” indivíduo e pelos outros.
Desse modo, a construção da identidade toma o trabalho como uma das
bases para sua formação. Por diversos fatores, primeiramente pela questão de que
o trabalho é um meio de sobrevivência, e na realização deste a dedicação do
individuo e tempo são imprescindíveis à atividade. Entre outras, é importante não
esquecer das experiências envolvidas e articulações de papéis no trabalho. E
principalmente a realização pessoal. Pois trabalhar não é algo avulso, onde as
pessoas estão ali somente para desempenhar seus papéis, mas tem a questão da
40

realização pessoal, o que diz muito sobre os trabalhadores, no qual se reconhecem


e identificam-se pela atividade.
Então a dinâmica identidade é formada pelos diferentes contextos e espaços
no qual os seres humanos estão envolvidos. De tal modo, que a mulher que exerce
qualquer tipo de atividade profissional tem sua identidade social composta por
elementos advindos do desempenho social das atividades envolvidas no processo
de socialização com outros e convivência em diferentes cenários, que variam de
acordo com a profissão da mulher.
Erikson (1972), entende que a identidade é uma concepção de si mesmo,
composta de valores, crenças e metas com os quais o indivíduo está solidamente
comprometido. Assim, “trabalho é uma condição específica do homem e, desde suas
formas mais elementares (...)”. Portando, o trabalho sendo uma das condições
necessárias à vida, é um importante elemento para a construção da identidade das
mulheres. Segundo Sandroni (1999), o trabalho o que seria, senão o
comprometimento em desempenhar certas atividades.

3.2 O COTIDIANO DAS PESCADORAS DE BOA VISTA/RORAIMA E A


CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE PROFISSIONAL

A região Norte e Nordeste do Brasil apresenta em sua extensa faixa


territorial uma maior participação das mulheres na atividade de pesca artesanal,
quando comparadas a outras regiões do país. Como explica Alencar e Maia (2011,
p. 16):
Aparentemente esses números relativamente altos de mulheres na pesca,
principalmente nas regiões Norte e Nordeste, podem estar relacionados ao
tipo de atividade pesqueira dessas regiões, onde predomina fortemente a
pesca artesanal e especificamente a atividade de mariscagem, muito
exercida pelas pescadoras.
Assim trataremos das mulheres na atividade de pesca artesanal no Estado
de Roraima, especificamente na cidade de Boa vista, em que a pesca é uma das
atividades que faz parte da cultura local. A área estudada, município de Boa Vista,
está localizada à centro leste do Estado de Roraima, na mesorregião Norte e
microrregião Boa Vista, situado nas coordenadas geográficas 60º40'24" de longitude
Oeste e 02º49'11" de latitude Norte, com uma altitude de 85 metros em relação ao
nível do mar, limitando-se ao norte com o município de Amajarí; ao sul com o
41

município de Mucajaí e Cantá; a leste com Normandia e Bonfim e a oeste com Alto
Alegre (FARIAS; VERA; PAIXÃO, 2010).
Com relação ao regime hidrográfico, a bacia do Rio Branco é divida por um
período de cheia, nos meses de março a setembro, sendo a maior enchente em
junho e de um período seco, onde as águas baixam consideravelmente,
impossibilitando, inclusive, a navegação no baixo Rio Branco.
A bacia do Rio Branco domina praticamente toda a área do Estado e é o
principal componente do sistema hidrográfico de Boa Vista, com o rio Cauamé, seu
principal afluente, pela margem direita. Compreendido ainda, pelo Rio Mucajaí na
parte sudoeste da região. O noroeste apresenta a Cachoeira Preto. O Rio Branco é
o afluente mais importante da margem esquerda do Rio Negro, no Amazonas. Seu
curso segue a direção geral Nordeste-Sudeste (NE/SE), desde sua foz até a
confluência dos rios Uraricoera e Tacutu, podendo ser dividido em três partes: baixo
Rio Branco, da foz até Caracaraí (338 Km); médio Rio Branco, trecho das
cachoeiras (24 Km) e, alto Rio Branco, a partir das corredeiras (172 Km) (FARIAS;
VERA; PAIXÃO, 2010).
O município de Boa vista foi escolhido, por ter um considerável número de
pescadoras registradas na Superintendência Federal de Pesca e Aquicultura –
SFPA/RR, que moram no município e exercem atividades tanto dentro da área
estudada como também em outras localidades do estado de Roraima. As
pescadoras interlocutoras desta pesquisa foram escolhidas considerando o tempo
de experiência na atividade de pesca artesanal.
A pesca no estado de Roraima é uma atividade desempenhada por muitas
pessoas que dependem da mesma economicamente. O setor pesqueiro foi
secundário na economia local, uma vez que somente a pesca artesanal em pequena
escala tem sido desenvolvida. No entanto várias famílias, e em especial algumas
mulheres exercem a atividade e fazem dela sua principal fonte de sustento. Maria
Izabel, de 45 anos, moradora da cidade de Boa vista é um exemplo de pescadora,
que tem destaque na atividade e experiência adquirida ao longo da vida. Com muito
orgulho ela diz “Eu me sinto feliz porque gosto de pescar demais” 1. Ela guarda em
seu acervo pessoal registros fotográficos que demonstra a importância da pesca em
sua vida.

1 Entrevista concedida a autora em Boa Vista/RR, no dia 6 de junho 2015.


42

Maria Izabel relata que a pesca entrou na sua vida desde muito cedo, ainda
com sete anos de idade, no estado do Amazonas. Ressalta que o grande
influenciador dessa atividade em sua vida, foi seu pai que, ainda hoje, é pescador no
Amazonas, ela relata que ele a levava para as pescarias e a ensinava como
proceder no manejo da atividade. A partir de então, a pesca foi se tornando presente
em sua vida. E aqui no estado de Roraima está com treze anos praticando a pesca
artesanal profissional. Esta narrativa demostra o caráter cultural da atividade de
pesca, uma vez que a tradição de pai para filho é um desses elementos.
No dia-a-dia da pesca, Maria Izabel desce o rio de barco, durante 8 meses,
porque o restante dos meses compreende a piracema, onde acontece a reprodução
dos peixes, portanto, ocorre a proibição da pesca. A pescadora relata que no
mínimo passa de 9 a 10 dias, durante o dia e a noite nos rios, pois o malhador deve
ser visto nos dois horários. Relatou que na maioria das vezes prefere ir sozinha para
o rio, ao invés de ir com pescadores inexperientes. Ela diz: “Eu gosto de andar mais
só, porque não tenho paciência não. Têm pescador que às vezes só vai pra
estressar a gente, não sabe nem remar!”. Explica ainda, que às vezes leva dois
parceiros, sendo casal ou pessoas da família.
Isto demonstra também que a atividade é coletiva, em grupo, principalmente
porque se divide as tarefas. Como ela diz: “quando eu vou só, eu faço tudo. Quando
vou acompanhada nos dividimos o rancho, a despesa e o serviço, enquanto um tá
escamando o outro tá tirando o bucho, é assim.” Percebe-se no relato da pescadora
que a atividade de pesca tem divisão de tarefas e, por isso, o número de pessoas
que forma uma equipe contribui para a eficiência da atividade. O contrário, quando a
atividade é individual a pescadora realiza todo o trabalho, consumindo mais tempo e
os custos para os dias de acampamento na beira dos rios são maiores. Assim a
formação de parcerias com outros pescadores é benéfica para a realização da
pesca.
A pescadora relata que se sente realizada em ser pescadora e que se fosse
possível moraria no rio. Afirma: “adoro pescar demais. Por mim, se eu pudesse
morar, fazer uma prancha em cima do rio, eu morava”. Percebe-se em suas
palavras, o quanto ela se identifica com a profissão, chegando ao ponto de querer
estabelecer sua moradia dentro dos rios, viver como ribeirinha. Porém, a pescadora
43

alerta que a tarefa de ser mulher e pescadora não é fácil, há muitos perigos tanto
nas águas como em terra.
A senhora Maria Izabel explica que quando se é mulher e pescadora, as
dificuldades são extremas, pelos perigos existentes na profissão. Primeiro se tem o
perigo dos rios, encontra-se muitos jacarés que se camuflam ao longo dos rios,
cobras e animais diversos. Em terra, os próprios pescadores e os falsos pescadores
que se encontram na jornada de trabalho são apontados por ela como ameaças às
pescadoras, principalmente para aquelas que pescam sozinhas. Por isso, ela relata:
“Eu durmo não! Eu cochilo na beira da canoa com o facão do lado”. Ressalta que
essa é sua maior dificuldade, de não ter sempre um parceiro de pesca; e que às
vezes se sente como uma criança indefesa diante dos perigos enfrentados. Afirma
ainda, que no trabalho sofre preconceitos, e ouve piadas de todo tipo, mas não dá
atenção e segue em frente com seu trabalho, sendo às vezes ríspida e dura para
ganhar o respeito de outros.
Nessa conjuntura de perigos, mostra o quanto a mulher em sua essência,
tende a encarar os problemas da vida, confirmando a prerrogativa de que a mulher
não é um sexo frágil. Pois como afirma Enriquez, (1994, p.06):
Se os homens são o sexo forte, não tenho dúvidas de que as mulheres são
do sexo resistentes. Falar do sexo frágil é talvez lisonjeador para os
homens, mas não corresponde à realidade. As mulheres em média, são
mais determinadas, perseverantes e sobretudo, realistas.
Sobre o início da atividade a senhora Maria Izabel relatou que só passou a
ser pescadora profissional no final de 2004, quando os seus filhos já estavam todos
criados, pois não tinha como deixá-los para ir para o rio. Por isso criou seus filhos
ainda quando era funcionária do estado. E acrescenta que:
Quando deixei eles, já estavam grandes já arrumaram mulher, saíram de
casa e eu fiquei só, ai foi quando comecei na pesca sozinha, mais ai depois
que eles cresceram se ajuntaram a mim, e nós se divide, eles têm as coisas
deles tudinho também.
Dessa forma, depois que passou a ser pescadora, seus dois filhos e suas
noras também a acompanharam na profissão e tiraram seus registros profissionais
de pesca, possuindo todos os materiais requeridos para desempenhar a função de
pescadora, portanto, a atividade de pesca é familiar.
Outra entrevistada, a senhora Maria Helena, de 49 anos 2, passou a ser
pescadora por influência do seu marido que é pescador há muito tempo, e afirma:
“Foi através do meu esposo que eu comecei a ser pescadora, eu vi... por

2 Entrevista concedida a autora em Boa Vista/RR, no dia 10 de junho de 2015.


44

necessidade uma oportunidade porque eu gosto de pescar, sempre gostei de


pescar. Me identifico”. Então, todas as vezes que seu esposo se deslocava para o
local de pesca, a senhora Maria Helena o acompanhava e foi aprendendo as
técnicas da pesca. Isto mostra, que o conhecimento da pesca é sempre repassado
adiante, para as pessoas que estão ao redor daqueles que estão desempenhando a
atividade pesqueira.
Observa-se em suas palavras que a necessidade e a oportunidade foram
aliadas no início da sua atividade como pescadora, e que além dessas duas
premissas, afirmou gostar da arte de pesca e se identifica com a profissão. É
importante ver que ao lado da necessidade há a identificação com o trabalho e o
orgulho em exercer tal profissão. É imprescindível destacar, que essa idealização e
exaltação da atividade contrasta com o duro trabalho, as condições extremamente
penosas, noites mal dormidas, lugares insalubres que afetam de certa forma sua
condição física e psíquica, dentre outros.
Como diz Maria Helena, ela e os outros pescadores passam de cinco até
oito dias nos locais de pescaria, o malhador é colocado no período da tarde, e a
noite é feita a vistoria para ver se tem peixe, senão o malhador é devolvido à água
ou recolhido. A pescadora relata que em todas as pescarias nunca vai sozinha,
sempre vai acompanhada do seu esposo e o ajuda quando necessário. Ela diz:
“meu trabalho é ajudando ele, eu vou com ele pra dentro do rio “né”, ele fica
comandando o motor e eu com ele pra ajudar “num” tem, ele tirando o peixe e eu
ajudando ele”. Desse modo, durante a noite o malhador permanece na água e a
pescadora vai dormir no “barraco”, uma espécie de alojamento improvisado, de lona,
que é montado no momento em que se chega ao local escolhido para a pesca.
Analisando o caso das duas pescadoras aqui entrevistadas, constata-se que
quando a pescadora se desloca sozinha para o trabalho há insegurança nos
acampamentos montados, por isso, as pescadoras preferem ficar à beira do rio nas
próprias canoas, para evitar os perigos em terra, como o caso dos falsos pescadores
encontrados nos locais de pesca. Em contrapartida, percebe-se que a pesca é uma
atividade de dependência, pois, quando a pescadora está acompanhada de seus
maridos ou outros companheiros de pesca, há certo conforto e segurança para
descansarem nos abrigos.
45

No geral o trabalho das pescadoras compreende várias etapas. Primeiro o


planejamento, deslocamento para os rios, montagem de acampamentos, pois o
trabalho da pesca envolve dias, captura do peixe, conservação, e ao final a
comercialização do produto. No entanto, parte da produção da pesca artesanal é
destinada ao consumo e a outra parte é mercadoria, que é comercializada. A forma
de comercialização depende de cada pescadora que transforma conforme suas
condições. A interlocutora Maria Izabel relata que vende seu pescado na periferia da
cidade, e acrescentou: “eu saio de bicicleta, ponho as caixas e vou embora atrás” já
a senhora Maria Helena disse vender na própria casa, “A gente vende aqui em casa,
é a gente vende aqui mesmo”.
As pescadoras afirmam vender por conta própria por não ter ajuda das
colônias. Assim, as pescadoras, falam da falta de um mercado local próprio para a
venda de seus produtos. Devido a isso, ocorrem certos prejuízos, perda de
mercadoria e comercialização abaixo do preço de mercado. Deste modo, cada
pescadora vende seu produto como pode dentro de suas condições, sendo na
própria casa ou na periferia da cidade de Boa Vista, ao invés de vender seus
produtos para os mercados locais que compram abaixo do valor de mercado para
revender os produtos.
Os instrumentos de trabalho utilizados pelas pescadoras são o malhador,
rede, espinhel, anzol, linha, barcos, motor. E os locais de pesca variam conforme a
pescadora, tendo como principais locais o Rio Branco, Rio Barauna, Rio Mucajaí,
entre outros. Como enfatiza Ramalho (2006) o pescador tem que descobrir as
melhores rotas de navegação, os caminhos mais promissores para tirar o que as
águas têm de bom para oferecer. Assim cada pescador procura o melhor lugar para
tirar melhor proveito. Isso envolve conhecimento técnico, um saber que é adquirido
através da prática, da experiência do cotidiano e também de geração a geração.
É imprescindível notar que nos relatos das pescadoras, a profissão entrou
em suas vidas por meio de familiares. Primeiro, a interlocutora Maria Helena foi
influenciada pelo pai, logo após seus filhos que viram em sua profissão uma
oportunidade de dar continuidade a essa linhagem de pescadores, pois como
afirmou a pescadora, seu pai e todos os seus familiares que moram no Estado do
Amazonas são pescadores. E a interlocutora Maria Helena iniciou a atividade por
46

influência de seu marido. Observa-se nesse contexto, que as relações sociais


condicionam os indivíduos e influenciam a vida e os caminhos profissionais.
Assim o indivíduo que convive com pescadores, presencia a atividade,
percebe o meio vivido e toma para sua vida valores transmitidos pelas relações
sociais e, principalmente, familiares. Alencar (1993, p. 74) também explica que:
A família, enquanto uma unidade de produção e de consumo, enquanto uma
totalidade está centrada em fortes valores como a cooperação e a
solidariedade entre seus membros. Tais valores são necessários para a sua
continuidade enquanto grupo e para a realização de um projeto de vida.
Dessa forma, o desenvolvimento da atividade de pesca artesanal, liga a
família a determinadas profissões. Embora a profissão de pescador não seja algo
imposto individualmente, no entanto, é condicionada pelo meio e pelas relações
sociais e terminam por se tornar um modo de vida em que as pessoas buscam a
sobrevivência, mas também a realização pessoal. Enquanto modo de vida, a
atividade de pesca tem outros elementos que a constituem como tal. Para Silva
(2010, p. 08):
A atividade laboral é mais do que vender sua força em troca de
remuneração. Há uma remuneração social embutida neste processo. O
trabalho não significa apenas meio de sobrevivência, mas também
possibilidade de manter contato com outras pessoas, de ter uma ocupação,
de se reconhecer como parte integrante de um grupo ou da sociedade.
Representa, ainda, uma significativa oportunidade de desenvolvimento das
potencialidades humanas, atuando como uma importante fonte de auto
realização, de experiências psicossociais e de sentido de vida, ou seja, o
indivíduo toma para si, o que se identifica e exerce aquilo que deseja.
Assim, compreende-se que as interlocutoras desta pesquisa têm seu papel
bem definido dentro da atividade de pesca e exercem suas atividades de forma
plena que está além do meio de sobrevivência, pois desenvolvem suas
potencialidades humanas e compartilham de objetivos comuns, que o fazem
pertencer à determinada categoria profissional.
A vida cotidiana das duas pescadoras está em volta da sua longa jornada de
trabalho nos rios, e os intervalos entre as pescarias permanecem em casa cuidando
de seus lares com a presença dos seus filhos e netos, ou seja, não rompem com a
divisão sexual do trabalho e reproduzem as relações de gênero que definem os
papéis dos homens e das mulheres em que estão em posição de subordinação e
subalternidade. São auxiliares, ajudantes e dependentes da presença masculina
para se livrarem dos perigos do ambiente. Ao mesmo tempo em que acumulam as
atividades do espaço público: o trabalho na pesca, com as atividades do espaço
47

privado: a manutenção, a criação dos filhos, entre outros. Como afirma Silva (2010,
p.13):
O trabalho feminino, no âmbito doméstico, não é socialmente reconhecido
como trabalho, mas como um destino próprio das mulheres, atribuindo ao
papel da maternidade, historicamente compreendido como constituinte
natural de sua identidade de mulher.
Nesse sentido, o desenvolvimento dos papéis de gênero e a construção de
identidades, são socialmente construídos e aprendidos desde o nascimento,
tomando como base as relações sociais e culturais. No entanto, Butler (2010, p. 25)
destaca que “o gênero não deve ser meramente concebido como a inscrição cultural
de significado num sexo previamente dado”, ou seja, o gênero não é algo definido
biologicamente pelo sexo, mas sim algo construído culturalmente, envolvendo o livre
arbítrio de cada sujeito. Alves e Pitanguy (1985) entendem o gênero como:
Uma “construção sociocultural que confere a homem e mulher, papéis
distintos dentro da sociedade e depende da cultura e dos costumes de cada
lugar, da experiência cotidiana das pessoas, bem como da maneira como se
organiza a vida familiar e o modo de política de cada povo.
Deste modo, compreender o gênero como um dado construído é entender
que gênero expressa a essência de cada sujeito. A partir do conceito de gênero,
entende-se que ideias, crenças e valores construíram a hierarquização de papéis
entre os sexos, por isso, as mulheres foram inferiorizadas na sociedade durante
muitos anos. Dessa maneira a mulher carrega em sua trajetória a subordinação,
principalmente no que se refere ao trabalho, pois os espaços foram definidos de
acordo com os gêneros. As profissões foram determinadas levando em
consideração as culturas construídas solidamente. (ALVES; PITANGUY, 1985).
Assim, a divisão de papeis hierárquicos, acarretou na invisibilidade das pescadoras
e gerou certas dificuldades. Como destaca Furtado, Leitão e Lima (2009):
Em se tratando do trabalho das pescadoras artesanais é bastante
desvalorizado no Brasil, tanto pelas questões relacionadas às questões de
gênero como pelas de ordem estrutural de proteção ao trabalho feminino,
como as políticas de financiamento, geração de emprego e renda.
Para Blin (1997 apud SANTOS, 2011) “o contexto social onde se
desempenha determinada profissão é fundamental para a consolidação da sua
identidade profissional”. Essa invisibilidade, e as dificuldades enfrentadas no
ambiente de trabalho e as relações são elementos que estão interligados a
construção da identidade profissional das pescadoras.
A identidade profissional das duas pescadoras é resultado das suas
vivências do cotidiano e as relações sociais envolvidas. É válido relacionar esse
enfoque com a memória das pescadoras profissionais na pesca artesanal, para
48

compreender de que forma suas identidades foram e são construídas, de forma a


compreender como elas se sentem e se percebem no trabalho, e veem os outros
que estão a sua volta.
As pescadoras ao relatarem sobre seu cotidiano evidenciam que
reproduzem os papéis sociais, havendo a acumulação da atividade do lar e
profissional. Como a interlocutora Maria Izabel que quando seus filhos eram
menores de idade trabalhava como funcionária do estado, e entrou na profissão de
pescadora quando seus filhos tornaram-se adultos. Isso mostra que houve uma
certa libertação da sua obrigação de mãe e cuidadora do lar, pois sendo funcionária
pública havia a conciliação dos seus papéis já que a profissão não necessitava seu
afastamento do lar. De outro lado a interlocutora Maria Helena sempre exerceu os
dois papeis sociais na profissão de pescadora, deixando seus filhos com familiares
próximos.
Esse fato mostra que mesmo as pescadoras realizando uma atividade
anteriormente masculinizada não significa romper com os paradigmas, mas
evidencia que reproduzem os papeis sociais construídos ao longo do tempo, e que
acumulam as atividades do âmbito doméstico e profissional.
Por meio dos relatos das pescadoras constatou-se que ao desenvolver a
atividade de pesca, as mulheres sentem-se felizes e realizadas, mas por outro lado
ao desenvolverem a atividade sentem medo, discriminações dificuldades que estão
além do seu alcance de resolução. As pescadoras sentem necessidade da presença
de homens para se sentirem seguras, como Maria Izabel afirma uma das suas
maiores dificuldades ao desenvolver seu trabalho é a ausência de um companheiro,
pois ela diz “porque às vezes com um homem sendo de coragem a gente tem
coragem ‘né’?”. Percebe-se em suas palavras que a presença de um homem, traz a
segurança em todos os sentidos, principalmente para se sentirem respeitadas pelo
outros pescadores, que muitas vezes a discriminam pelo fato de ser mulher.
Essa necessidade da pescadora poderia ser explicada pela construção
cultural em cima do sexo masculino, como bem explicita Fuchina e Luz (2010, p. 2)
“As relações históricas que envolveram as mulheres, sempre foram pautadas em
condições que traduziam costumes patriarcal, e consequentemente, a submissão do
sexo feminino perante o masculino”. É tendo a concepção dessa ideia, que as
mulheres veem a necessidade de estarem acompanhadas de homens para
49

tornarem-se seguras, por mais que essa presença não seja garantia de segurança,
mas para elas a companhia de homens por vezes acaba por ser necessária.
Entretanto, analisando especificamente a vida da senhora Maria Izabel que
atualmente é vice-presidente de uma das colônias de pescadores de Boa Vista,
afirmou que iniciou a atividade desde muito cedo, com sete anos de idade, onde seu
pai a ensinou a arte de pescar. Percebe-se que a atividade foi ensinada desde muito
cedo, isso mostra que o ensinamento é algo interligado a profissão da pesca. Nessa
lógica, a pescadora sente em alguns momentos a necessidade de um homem para
acompanhá-la no trabalho, talvez pelo fato de ter iniciado a atividade com a
companhia do seu pai que a ensinou e ao mesmo tempo lhe passava segurança e
conforto para que exercesse seu trabalho.
Apesar de o sexo masculino tendo o “poder cultural” no sentido de sua
construção ter sido enaltecida diante da figura feminina (GOMES, 2008), essa falta
sentida pela pescadora, em nenhum momento se torna dificuldade para o não
desenvolver da atividade de pesca, mas, analisando seu relato, percebe-se que
ocorre um sentimento de falta na sua concepção, algo que liga a figura do homem a
segurança, pois veja que sua percepção demonstra que o homem é forte, valente e
que irá protegê-la de qualquer perigo ou até mesmo encorajá-la a ser forte, para
encarar os perigos do trabalho.
Por outro lado, essa necessidade traz à tona outra discussão. Pois ao sentir
falta da figura de um homem, percebe-se que nas relações de trabalho, a mulher
ainda é tratada de forma discriminatória e desigual em relação ao homem/pescador
pelos próprios profissionais da área. É válido ressaltar que essa dificuldade é sentida
quando a pescadora trabalha de forma individual, onde permanece no local de
trabalho sozinha. Pois, para confirmar essa premissa, a pescadora Maria Helena
relata que ao ir pescar com seu esposo não vê essa discriminação e sente-se muito
feliz, pois quando chega ao local de trabalho é bem recebida pelos pescadores.
Nesse sentido, a autoridade só é outorgada àquelas que têm a presença
masculina ao seu lado. A pescadora vista sozinha no local de trabalho é tida pelos
pescadores como vulnerável aos perigos e a oportunidade para cometer tais
discriminações. Nos relatos, a senhora Maria Helena afirma que ao trabalhar o seu
marido é quem comanda e ela o ajuda, ela diz: “ele fica comandando o motor e eu
com ele pra ajudar ‘num tem’, ele tirando o peixe e eu ajudando ele”. A pescadora ao
50

descrever o seu trabalho na atividade de pesca, sempre coloca o seu marido como a
pessoa que comanda todo o trabalho, colocando-o implicitamente como sendo ele o
provedor da família, e o seu papel na atividade seria apenas o de auxiliar. Isso
mostra a construção patriarcal em que o homem é o provedor do lar e a mulher fica
na esfera reprodutiva.
É importante ir além dos relatos, pois a pescadora ao descrever a sua
função na pesca, de certa forma acaba que trazendo seu papel de esposa e
cuidadora do lar para o trabalho. Pois sendo seu esposo o companheiro de pesca, é
certo que as relações do lar sejam refletidas também dentro do ambiente de
trabalho, não havendo uma separação do lar e do profissionalismo, ou seja, quando
a pescadora afirma que “ele” comanda o trabalho significa dizer que dentro de casa,
ele exerce a função de provedor do lar.
Nessa conjuntura, observa-se que na formação da identidade profissional
das pescadoras o papel masculino é bem demarcado. Ambas as pescadoras tem em
suas identidades ideias, formas de pensar que foram captadas e são transformadas
no seu modo de agir e pensar, que a figura do homem é superior e muitas vezes
importante, ao seu modo. Assim pressupõe que as pescadoras no processo de
construção do seu “eu”, de suas identidades, acabam que trazendo as construções
culturais determinadas de cada sexo, para suas vidas. De acordo com Saffiote
(1992), a mulher como dominada-explorada, vai ter a marca da naturalização, do
inquestionável, já que dado pela natureza. Todos os espaços de aprendizado, os
processos de socialização irão reforçar os preconceitos e estereótipos dos gêneros
como próprios de uma suposta natureza feminina e masculina, apoiando-se,
sobretudo na determinação biológica.
Essa explanação da autora confirma o que ocorre na vida das pescadoras.
Essa necessidade da presença do homem para garantir a segurança em
determinados ambientes e até mesmo essa hierarquia do lar retratada no ambiente
de trabalho, ganha aspectos naturais, ou seja, esse modo de pensar, sentir é natural
para as pescadoras, que veem nos homens atributos que a fazem se sentir segura e
até colocar como o provedor do lar.
As pescadoras sentem medo e muitas vezes se percebem como auxiliares.
Entretanto analisando seus modos de vida, compreendendo o ambiente o trabalho,
as relações sociais e familiares, percebe-se que as pescadoras possuem as
51

mesmas capacidades dos homens e porque não destacar que possuem melhores,
pois enquanto o homem está envolvido em uma só tarefa, a mulher além de exercer
a atividade materna está desempenhando outras atividades. Nesse sentindo, as
mulheres estudadas aqui são exemplo de pescadoras que enfrentam seus medos e
exercem o poder sobre suas vidas, e constituem-se como sujeitos, fazem o que
desejam, da forma como querem através da realização do seu trabalho.
É o trabalho na pesca que transforma suas vidas, primeiro pelo fato de ser o
meio de subsistência; segundo, a realização em estar trabalhando no que se
identifica; terceiro, pelo que o trabalho pode proporcionar a sua vida, como a
realização dos desejos materiais. E quando se colocam como ajudantes, estão
sendo modestas, por que “ajudar” significar fazer todos os trabalhos só que com a
divisão de funções, então realizam todo o processo de pesca.
Dessa forma, conclui-se que as pescadoras constroem suas identidades
profissionais de acordo com o ambiente de trabalho, as práticas especificas e os
saberes específicos, através das vivencias e aprendizados adquiridos durante a
trajetória de vida. Sendo um processo longo e continuo processo, como explica Hall,
(2005, p.38):
A identidade é algo formado, ao longo do tempo, através de processos
inconscientes, e não algo inato, existente na consciência no momento do
nascimento. Existe sempre algo “imaginário” ou fantasiado sobre sua
unidade. Ela permanece sempre incompleta, está sempre “em processo”,
sempre “sendo formada”.
Portando, é dessa forma que a construção da identidade profissional das
pescadoras são formadas. Onde os elementos da sua construção estão envolvidos
no seu cotidiano e são perceptíveis através no seu modo de ver, de sentir e de falar,
e de ver o outro.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como dito na introdução, algumas questões foram motivadoras desta


monografia, cujo objeto é o trabalho feminino na atividade de pesca na cidade de
Boa Vista/ RR e a construção da identidade profissional destas trabalhadoras, bem
como os papéis sociais destas mulheres e como a atividade impacta uma certa visão
de mundo e vice-versa.
Desta forma, o desenvolvimento da pesquisa foi fundamental para
desmistificar uma certa visão romântica sobre a reconstrução dos papéis sociais
destas mulheres, uma vez que desempenham uma atividade considerada
estritamente masculina, mas que, no entanto, continuam a exercer os papeis
tipicamente femininos e subordinados aos homens. Ao analisar o relato das
pescadoras identificou-se que o trabalho no âmbito do lar, é considerado como não-
trabalho. As perguntas sobre o desenvolvimento das atividades profissionais (âmbito
público) e as atividades do lar (âmbito privado) encontrou como resposta
predominante a conciliação dos papéis no âmbito privado e público, uma jornada de
trabalho extremamente penosa, a responsabilização pelos cuidados dos filhos e da
casa. As pescadoras naturalizam a dupla jornada, uma vez que não veem problema
algum em acumular as funções do trabalho doméstico com a profissão de pescadora
e o sustento de suas famílias.
No âmbito do desenvolvimento da atividade de pesca em si, uma das
interlocutoras assume a posição de “ajudante”, realiza o trabalho de tratamento e
limpeza dos peixes e da comercialização e que repassava a responsabilidade de
cuidados dos filhos a terceiros. Outra, relatou que iniciou a atividade profissional
somente quando seus filhos já estavam adultos
53

Observou-se que a atividade de pesca desenvolvido pelas mulheres é


realizado de forma individual ou em grupo, e os locais de pesca são distantes de
seus lares o que leva as profissionais a uma longa jornada nos rios. É valido notar,
que o trabalho na pesca, compreende uma cadeia produtiva em que são realizadas
atividades no pré e pós captura do pescado, além do trabalho no âmbito do lar, pois
as pescadoras fazem parte das mulheres que realizam a dupla jornada.
Deste modo, a identidade é entendida nesse trabalho como múltipla e
heterogênea construída a partir do dinamismo das experiências do mundo social e
dos condicionantes sócio históricos. Assim, o trabalho das pescadoras torna possível
identificar como suas identidades são construídas mesmo que provisoriamente,
tendo em vista que a identidade está sempre em continua construção. As
pescadoras constroem uma identidade profissional que domina um saber e um fazer
especifico, fortalecendo-se como grupo profissional em que se veem como
pescadoras.
Por todo exposto, percebe-se que o trabalho de pesca desenvolvido pelas
mulheres é uma atividade de alta periculosidade, uma vez que os perigos
enfrentados são inúmeros, seja em terra para combater e escapar ao preconceito
advindos dos próprios pescadores, ao assédio sexual, seja nos rios criando
estratégias de sobrevivência perante os diversos animais predadores.
Outro ponto a ser observado é que apesar dos medos, das condições
insalubres da profissão que prejudica a saúde, as noites mal dormidas, o
deslocamento de seus lares, as pescadoras sentem-se realizadas em pertencer à
uma categoria profissional de relevância social e econômica.
Observou-se em algumas narrativas que o homem tem papel bem definidos
em suas vidas e seus modos de se perceberem e de sentir, em alguns momentos
estão relacionados aos papéis sociais que desempenham. Contudo, apesar de
considerar o âmbito do lar como não-trabalho as pescadoras são profissionais que
atuam na esfera profissional e privada e de certa forma, se empoderam o que
melhora a sua autoestima.

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68

APÊNDICE
APÊNDICE A: FONTES ORAIS

MARIA IZABEL DA SILVA REIS, brasileira, 45 anos. Entrevista realizada em Boa


Vista/RR, dia 06 de junho de 2015, em sua residência, no Bairro Equatorial.

MARIA HELENA DA CONCEIÇÃO FRANCA, brasileira, 49 anos. Entrevista


realizada em Boa Vista/RR, dia 10 de junho, em sua residência, Bairro: Equatorial.
69

APÊNDICE B: ROTEIRO DE ENTREVISTAS

1. Que influencias levaram você a ser pescadora? Família? Necessidade? Falta


de oportunidade?
2. Como iniciou a atividade?
3. Locais de pesca/ trabalho? Quantos dias pescando? Com que vai?
4. Dificuldades?
5. Instrumentos de pesca?
6. Quanto tempo de registro profissional? Conhece as leis de pescadoras?
7. Destinação da produção? Venda? Consumo?
8. Exerce outras atividades?
9. Casa e trabalho/como você consegue conciliar as duas atividades, pelo fato?
10. Como se veem e se sentem na pesca? Preconceito no meio do trabalho?
Divisão do trabalho?
70

APÊNDICE C: CESSÃO GRATUITA DE DIREITOS DE ENTREVISTA GRAVADA EM


ÁUDIO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA


CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS - CCH
CURSO DE HISTÓRIA

CESSÃO GRATUITA DE DIREITOS DE ENTREVISTA GRAVADA EM ÁUDIO


Eu,___________________________________nacionalidade__________, estado
civil_____________, profissão _________________, portado(a) do RG nº
___________________ e do CPF nº ___________________, residente e domiciliado (a)
______________________, pelo presente termo partícula de autorização de uso de voz,
AUTORIZO Daniele Monteiro Mota (pesquisadora e aluna regular do curso de História da
Universidade Federal de Roraima – UFRR, orientada pela professora Doutora Francilene
Rodrigues, O USO DE VOZ em decorrência da minha participação na pesquisa intitulada
O trabalho feminino na atividade de pesca profissional artesanal na cidade de Boa
Vista e a construção da identidade de gênero (2003-2014). O presente instrumento de
Autorização é celebrado a título de gratuito, podendo ser utilizada, divulgada e publicada,
para fins culturais e científicos, a mencionada entrevista e imagens poderão ser utilizadas
no todo ou em parte, editada ou não, bem como permitir a terceiros o acesso a mesma
para fins acadêmicos com ressalva de preservar a integridade física e moral do sujeito
participante da pesquisa.
Boa Vista, _____ de _________________ de 2015.

______________________________________
Assinatura do pesquisado (a)
71

APÊNDICE D: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA


CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS
CURSO DE HISTÓRIA

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO


(Em duas vias, firmado por cada participante da pesquisa e pelo pesquisador)

“O respeito devido à dignidade humana exige que toda pesquisa se


processe após consentimento livre e esclarecido dos sujeitos, indivíduos ou
grupos que por si e/ou por seus representantes legais manifestem a sua anuência à
participação na pesquisa” (Resolução nº 196/96-IV, do Conselho Nacional de Saúde)
Eu, Daniele Monteiro Mota, aluna regularmente matriculada no Curso de
História-CHIS/UFRR, venho por meio deste convidá-lo (a), como voluntário, a participar
da Pesquisa intitulada O Trabalho feminino na atividade de pesca profissional
artesanal na cidade de Boa Vista e a construção da identidade de gênero (2003-
2014), orientada pela Professora Doutora Francelene Rodrigues (UFRR), a qual tem por
objetivo discutir o trabalho das mulheres na pesca visando a construção de gênero.
Sobre a pesquisa segue algumas informações:
1. As entrevistas serão realizadas por meio de gravador digital;
2. Considera-se que a pesquisa não terá riscos e/ou prejuízos, entretanto, na
condução da pesquisa buscar-se-á minimizá-lo, em caso de ocorrência, visto que o
interesse nas narrativas, por meio da metodologia da História oral, das mulheres
pescadoras é estritamente científico sem intenção de promover ou denegrir a imagem de
quem quer que seja;
3. Trata-se de uma pesquisa sem fins lucrativos, cuja pretensão maior é analisar e
compreender por meio das narrativas o trabalho das pescadoras na cidade de Boa
Vista/RR;
Por se tratar de uma pesquisa sem fins lucrativos, a mesma não solicita nenhum
gasto decorrente da sua participação e os tratamentos deverão ser
72

totalmente gratuitos, não recebendo nenhuma cobrança com o que será realizado
por meio do resultado final da pesquisa, tais como: utilização em dissertação, tese,
apresentação em seminário e/ou divulgação através de publicação;
5. A pesquisa tem o caráter cientifico, desse modo, será mantido total sigilo
sobre os dados pessoais fornecidos pelos sujeitos da pesquisa, entretanto, com a
anuência do sujeito da pesquisa poderá ser utilizado o nome a fim de identifica-lo
por ocasião publicação ou produções acadêmicas-cientificas;
6. Após ler esse Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, e aceitar
participar da pesquisa, solicito a assinatura do mesmo em duas vias, ficando uma
em seu poder. Qualquer informação adicional ou esclarecimento acerca dessa
pesquisa poderão ser obtidas junto a mim, pelo telefone (95)99157-8589, pelo
endereço Rua Laura Pinheiro Maia; Bairro: Senador Hélio Campos e pelo endereço
eletrônico dannymonteiro17@hotmail.com.
Eu, __________________________________________________ discuti
com a pesquisadora Daniele Monteiro Mota sobre a minha decisão em participar
dessa pesquisa. Ficaram claros quais são os propósitos do estudo, os
procedimentos a serem realizados, seus desconfortos e riscos, as garantias de
confidencialidades sobre questões suscitadas que não fazem parte a priori da
pesquisa e de possíveis esclarecimentos permanentes a posteri do trabalho
finalizado. Ficou claro também que a minha participação é isenta de quaisquer
despesas e que tenho garantia do acesso aos resultados, bem como de poder tirar
dúvidas a qualquer tempo. Desse modo, concordo voluntariamente em participar da
pesquisa cedendo minha narrativa, nome e imagem. Resguardando que poderei
retirar meu consentimento a qualquer momento, antes ou durante a mesma, sem
penalidade ou prejuízo. Declaro, ainda, que recebi uma cópia desse Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE.

Boa Vista, ____ de __________________ de 2015.


72

___________________________
_______________________ Assinatura do(a) Participante
Assinatura da Pesquisadora

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