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Sociedade e Cultura

ISSN: 1415-8566
brmpechincha@hotmail.com
Universidade Federal de Goiás
Brasil

Soares Veras, Eliane; Braga Santana, Maria Lúcia de; Costa Valença de A., Diogo
O dilema racial brasileiro: de Roger Bastide a Florestan Fernandes ou da explicação teórica à
proposição política
Sociedade e Cultura, vol. 5, núm. 1, janeiro-junho, 2002, pp. 35-52
Universidade Federal de Goiás
Goiania, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=70350103

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O dilema racial brasileiro: de Roger Bastide a
Florestan Fernandes ou da explicação
teórica à proposição política
ELIANE VERAS SOARES, MARIA LÚCIA DE SANTANA BRAGA
E DIOGO VALENÇA DE A. COSTA*

Resumo: Neste artigo, discutimos uma das vertentes de interpretação sobre as relações
raciais no Brasil que emerge na década de 1950, a partir da pesquisa sobre relações raciais
em São Paulo, realizada por Roger Bastide e Florestan Fernandes, sob os auspícios da
Unesco. Aqui são destacados alguns pontos de aproximação e diferenças entre os
pensadores, a fim de apresentar os contornos gerais de suas respectivas explicações
teóricas relativas aos problemas do preconceito e discriminação raciais. Não supondo uma
perfeita concordância e unidade de pensamento entre os dois cientistas sociais, mas também
não percebendo suas abordagens como diametralmente opostas ou antagônicas e, sim,
complementares, criticamos visões reducionistas que associam Roger Bastide a um
paradigma tradicional-culturalista de explicação das relações raciais, aproximando-o da
interpetação de Gilberto Freyre, e atribuem a Florestan Fernandes uma confusão entre as
categorias de classe e raça, explicando a desigualdade racial como resultante da pobreza e
não do preconceito e da discriminação. Por fim, a partir do resgate do significado das
posições teóricas de Roger Bastide e Florestan Fernandes, procurou-se verificar como a
explicação sociológica esboçada a partir dos anos 1950 se traduziu em proposições políticas
de superação do dilema racial brasileiro, na atuação de Florestan Fernandes como deputado
federal (1987-1994).
Palavras-chave: Roger Bastide; Florestan Fernandes; dilema racial brasileiro; proposição
política.

Introdução Roger Bastide, que já havia estudado e publicado


sobre as religiões afro-brasileiras, convidou
Este artigo tem por objetivo apresentar uma Florestan Fernandes a integrar o grupo de
das linhagens de interpretação do dilema racial pesquisa, resultando dessa parceria uma nova
brasileiro, proposta com base no projeto de visão das relações raciais – em São Paulo, em
pesquisa patrocinado pela Unesco no início dos particular, e no Brasil, de modo geral –
anos 1950 a respeito das relações raciais no concorrente à interpretação então dominante de
Brasil e suas conseqüências no plano político. Gilberto Freyre, transfigurada no plano da
* Eliane Veras Soares é professora do Departamento de
ideologia nacional na noção de democracia
Ciências Sociais e do Programa de Pós Graduação em Soci- racial. Quarenta anos depois, nos anos 1990, a
ologia da Universidade Federal de Pernambuco. E.mail: atuação de Florestan Fernandes no Congresso
eliane.veras@terra.com.br
Nacional, caracterizada pelo combate aos
* Maria Lúcia de Santana Braga é socióloga, doutora em
Sociologia pela Universidade de Brasília (UnB), professora
do Instituto de Ensino Superior de Brasília (Iesb) e assessora * Diogo Valença de Azevedo Costa é mestrando do Programa
parlamentar do Departamento Intersindical de Assessoria de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de
Parlamentar (Diap). E-mail: lucia@diap.org.br Pernambuco (UFPE). E-mail: valencadiogo@hotmail.com
SOARES, E. V.; BRAGA, M. L. S.; COSTA, D. V. A. O dilema racial brasileiro:...

dilemas analisados em sua trajetória acadêmica, relações raciais no Brasil encontram-se no


resultou, entre outras proposições, na sugestão contexto mundial resultante da Segunda Guerra.
de inclusão na Constituição de um capítulo A crise de civilização legada pelo terrorismo
denominado “Dos Negros”, integrando a nazista impunha aos intelectuais, à comunidade
“Ordem Social”. científica e aos dirigentes políticos a necessidade
A exposição a seguir procura reconstituir de compreender o holocausto patrocinado em
os principais elementos das explicações teóricas nome da raça. A escolha do Brasil como
elaboradas pelos autores em diferentes laboratório de civilização foi motivada principal-
momentos (Projeto Unesco sobre relações mente pela crença difundida aqui e alhures de
raciais nos anos 1950, fases diversas da ditadura que nesta terra, em comparação com o contexto
militar nos anos 1960 e 1970) e estabelecer segregacionista norte-americano e o sul-
pontes entre tais interpretações e a proposição africano, a democracia racial era um fato,
política de Florestan Fernandes em face do fundamentado na miscigenação e na ausência
dilema racial brasileiro, como deputado federal de preconceito racial. A harmonia racial vivida
de 1991 a 1994. nestes trópicos poderia servir como inspiração
A atualidade do debate sobre a temática para a localização e criação de “soluções
racial no Brasil pode ser constatada nas (a) universalistas que cancelassem os efeitos
iniciativas diversas do poder público (local, perversos do racialismo, do nacionalismo
estadual, federal), seja no plano legal (proposição xenofóbico e das disparidades socioeco-
de leis), seja no âmbito do estabelecimento de nômicas” (Maio, 1998b, p. 17).
políticas públicas, hoje caracterizadas como É interessante notar que a proposta da
políticas de ação afirmativa;1 (b) no crescimento Unesco de “organizar no Brasil uma investigação
e na representatividade do movimento social sobre os contatos entre raças ou grupos étnicos,
negro, e (c) na produção acadêmica contem- com o objetivo de determinar os fatores
porânea a esse respeito. econômicos, sociais, políticos, culturais e
A hipótese que norteia a presente reflexão psicológicos favoráveis ou desfavoráveis à
parte, por um lado, da constatação da atualidade existência de relações harmoniosas entre raças
da análise sociológica e do pensamento político e grupos étnicos”,2 possibilitou o conhecimento
de Bastide e Fernandes – sem desconsiderar das limitações da explicação do Brasil como
suas nuances e divergências – e, de outro, da democracia racial e de suas conseqüências para
crítica à rigidez de alguns esquemas interpre- os negros no plano político e social. Sérgio
tativos vigentes ao classificar as análises desses Buarque de Holanda e Caio Prado Júnior
sociólogos sob o rótulo da visão tradicionalista/ apresentavam uma concepção bem diferenciada
culturalista, para Roger Bastide, e da limitação daquela elaborada por Gilberto Freyre a respeito
da compreensão do fenômeno das relações da miscigenação e das relações sociais
raciais às relações de classe, na obra de originadas do tipo de vínculo muito específico
Florestan Fernandes. Para nós, tais etiquetas são existente entre senhor e escravo no Brasil
simplificadoras e mistificadoras do pensamento colonial. Sérgio Buarque de Holanda, por
desses sociólogos originais. É o que procuramos exemplo, criticou a Escola Nina Rodrigues,
demonstrar a seguir. representada nos anos 1930-1940 por Artur
Ramos, por colocar em evidência o “aspecto
O Projeto Unesco: Roger Bastide exótico do africanismo” em detrimento da
e Florestan Fernandes análise dos problemas concretos enfrentados
pelos negros no Brasil, vítimas de preconceito
Segundo Marcos Chor Maio (1997, 1998a,
1998b), as origens do Projeto Unesco sobre
2. The programme of Unesco proposed by the Executive
board. Part II – Draft Resolutions for 1951. Paris, 150, p.
1. Para um balanço atualizado sobre o tema, ver Luciana 40. Unesco Archives. Apud Marcos Chor Maio. Costa Pin-
Jaccoud e Nathalie Beghin. Desigualdades raciais no Bra- to e a crítica do negro como espetáculo. In L. A. Costa
sil: um balanço da intervenção governamental. Brasília: Pinto. O negro no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Editora
Ipea, 2002. UFRJ, 1998.
SOCIEDADE E CULTURA, V. 5, N. 1, JAN./JUN. 2002, P. 35-52

sutil (Maio, 1998b, p. 32). Entretanto, foi a partir negro para se proteger de suas próprias
dos resultados do Projeto Unesco, em especial deficiências. Outras vezes, ele pensava que os
em São Paulo com a equipe coordenada por brancos de fato camuflavam a realidade, sem
Roger Bastide e Florestan Fernandes e, no Rio que, com isso, tivessem intenção de excluir o
negro de participação de certas esferas da vida.
de Janeiro, com L. A. Costa Pinto, que um novo
Ele interpretava o Brasil de maneira mais
cenário sobre as relações raciais no Brasil civilizada possível. E aceitava os estereótipos,
começou a ser desenhado na tela das ciências as auto-avaliações correntes. Eu já vinha
sociais.3 disposto a trabalhar contra ela. Para haver um
Sociólogo maduro e mestre de Florestan ajustamento entre nós, sugeri a idéia de um
Fernandes, Roger Bastide, há 13 anos, debru- continuum, em que a intensidade de discri-
çava-se sobre a análise das religiões, das mani- minação poderia variar de zero até o máximo
festações culturais e do modo de ser e viver “x”. Indivíduos brancos e negros podem se
dos negros brasileiros. Florestan Fernandes colocar nesse continuum. É o que acontece.
Não há padronização. Encontra-se gente mais
também já era um iniciado no tema, tanto por
aberta ao convívio inter-racial, gente mais
vias intelectuais quanto existenciais. No primeiro fechada. Gente que discrimina, gente que não
ano de universidade, 1941, Florestan Fernandes discrimina. Era preciso uma hipótese como esta
havia escrito uma monografia sobre o folclore para nós podermos trabalhar sem conflito.
em São Paulo.4 Como resultado do material (Fernandes, apud Maio, 1997, p. 176-177)
colhido na pesquisa, publicou, no Estado de São
Paulo, três artigos sobre o negro na tradição Esse depoimento revela a tensão existente
oral. Nesse mesmo período, havia produzido entre os dois pesquisadores antes da realização
algumas biografias de pais de santo negros em da pesquisa. É preciso lembrar que Bastide era
São Paulo, trabalho encomendado por Bastide.5 leitor voraz, admirador e tradutor da obra de
É importante destacar que havia divergências Freyre. Florestan Fernandes, em 1986, ao
entre Bastide e Florestan com relação à temá- lembrar da colaboração com Bastide no estudo
tica. Vejamos o que diz Florestan Fernandes: sobre as relações raciais, define sua posição
como uma espécie de “dialética proudhoniana”,
Vivi em cortiços, em vários bairros de São Paulo, em contraposição à sua posição pessoal
e sabia muita coisa sobre as condições reais de construída com base em elementos existenciais
vida do negro entre nós. [...] Por isso, logo de determinantes:
cara, tive um grande problema com o professor
Bastide. Ele não tinha uma posição firme com
Os negros eram companheiros de privações e
relação a se havia ou não preconceito, se havia
misérias; eu podia manejar a “perspectiva do
ou não democracia racial. Ele dominava
oprimido” e, por aí, desmascarar a hipocrisia
igualmente o campo da antropologia, da
reinante sobre o assunto. O professor Bastide,
sociologia, da psicologia. Com hipóteses
por suas investigações, compartilhava de
psicológicas, por exemplo, ele muitas vezes
muitas das minhas convicções; mas rejeitava
tendia a pensar que certos comportamentos e
outras, em particular porque preferia os meios-
alegações eram produtos da autodefesa do
tons, aquilo que se poderia chamar de “verdade
redentora”, aparente no perdão mútuo, no
3. Segundo Roberto Motta (1998), é possível assinalar três esquecimento, a superação pelo negro das
grandes orientações a respeito das relações raciais no pen- “injustiças” (ele evitava converter a descrição
samento social brasileiro associadas a Gilberto Freyre,
Florestan Fernandes e Carlos Hasenbalg. Para maior em julgamento; os dois capítulos que escreveu
detalhamento sobre a história do Projeto Unesco, confira para Negros e brancos em São Paulo demons-
Marcos Chor Maio, A história do Projeto Unesco: estudos tram que o apego estrito à objetividade científica
raciais e ciências sociais no Brasil. Rio de Janeiro, 1997. ia a par com o nuançamento dos elementos
Tese (Doutorado) – Iuperj.
chocantes, com uma dialética proudhoniana,
4. Os trabalhos resultantes dessa pesquisa foram coligidos
no livro Folclore e mudança social na cidade de São Pau-
que exibia o mal sem ignorar o bem, ou o mau
lo. São Paulo: Anhembi, 1961. sem desdenhar o bom). (Fernandes, 1989, p.
5. Confira Maria Lúcia de Santana Braga. A recepção do 103)
pensamento de Roger Bastide no Brasil. Revista Sociedade
e Estado, vol. XV, n°. 2 jul-dez, 2000, 331-360. (nota 17)
SOARES, E. V.; BRAGA, M. L. S.; COSTA, D. V. A. O dilema racial brasileiro:...

Um aspecto importante a ser considerado movimentos negros de São Paulo, em três níveis:
aqui, de caráter metodológico, diz respeito ao um grande grupo que se reunia uma vez por
elemento distintivo na disposição para a mês, um grupo constituído de mulheres negras
compreensão do fenômeno social advindo da que se encontrava a cada 15 dias e um grupo
história de vida:6 Bastide e Florestan, por vias de intelectuais com encontros semanais. “O alvo
distintas, apoiados em experiências concretas cognitivo maior não era reproduzir as situações
particulares, tendiam a compreender de modo grupais como ‘situações de laboratório’. Ele
diferenciado a questão do preconceito racial. consistia em reproduzir o concreto a partir das
A visão de Bastide era, a princípio, a de experiências humanas observadas” (Fernandes,
um estrangeiro que se encanta e se questiona 1989, p. 100). Para conseguir explicar a realidade
em face do que vê. Suas categorias de análise, histórica era necessária, diz Florestan,
herdadas da formação acadêmica francesa, não
lhe pareciam satisfatórias e apropriadas para a uma abordagem interdisciplinar que tinha como
explicação do Novo Mundo. O período brasileiro premissa a fusão de micro e macro, economia,
de Bastide equivale a um grande questionamento personalidade, cultura e sociedade, compreen-
didas em suas relações recíprocas (o que exigia
e redirecionamento de caráter medotológico e
que explicações econômicas, históricas, socio-
também teórico.7 lógicas, psicológicas e antropológicas fossem
A solução encontrada por Florestan para exploradas simultaneamente, embora conver-
dar prosseguimento ao trabalho foi a elaboração tendo-se o ponto de vista sociológico em foco
do projeto de estudo Raça e Sociedade: o de unificação conceitual e de definição dos
Preconceito Racial em São Paulo. 8 Nele, problemas básicos). (Fernandes, 1989, p. 100-
Florestan Fernandes tratou de ressaltar “as 101)
ambigüidades e inconsistências” que deveriam
ser evitadas “em uma investigação comprome- A utilização desse enfoque teórico-
tida com o próprio negro” (Fernandes, 1989, metodológico possibilitou a análise da desagre-
p.103). gação da sociedade escravagista e da formação
Na divisão do trabalho, Roger Bastide e da sociedade de classes, tendo em vista as
Lucila Hermann realizaram uma sondagem contradições presentes na organização social e
quantitativa sobre incongruências de atitudes e cultural e evidenciando-se de que maneira a
valores na esfera das relações raciais, enquanto assimetria presente nas relações raciais do
Florestan Fernandes e Renato Jardim Moreira passado foi “reabsorvida e redefinida “sob a
cuidavam da reconstrução histórica. Mas o égide do trabalho livre e das novas condições
aspecto mais importante desse estudo diz histórico-sociais” (Fernandes, 1989, p.101).
respeito à inovação metodológica na utilização Métodos e técnicas variados foram
de debates com líderes e representantes dos utilizados para ter acesso às manifestações
raciais da população: a aplicação de questio-
nários, a técnica das entrevistas ocasionais, a
6. A respeito da história de vida de Florestan Fernandes e técnica das entrevistas formais, a técnica das
sua construção como acadêmico e socialista, consultar biografias ou histórias de vida e o método
Eliane Veras Soares, Florestan Fernandes, o militante soli-
tário. São Paulo: Cortez, 1997 e Reflexões sobre a utiliza- ecológico. A pesquisa não se restringiu somente
ção da história de vida como método nas ciências sociais. aos negros; abarcou os brancos, tanto as famílias
Trabalho apresentado no XI Encontro de Ciências Sociais
do Norte e do Nordeste, Aracaju, 2003.
tradicionais, quanto os imigrantes. Vários setores
7. Confira a introdução de Maria Isaura Pereira de Queiroz foram também pesquisados: industrial, de
à coletânea Roger Bastide, publicada na coleção Grandes serviços e comercial. A primeira edição do
cientistas sociais da Editora Ática, e Roger Bastide, A poe- relatório da pesquisa contém, ainda, um estudo
sia como método sociológico, e também Maria Lúcia de
Santana Braga, Entre o esquecimento e a consagração: o sociológico realizado por Oracy Nogueira em
estilo Roger Bastide nas ciências sociais. Brasília, 2002. uma comunidade rural localizada em Itapetininga,
Tese (Doutorado) – Departamento de Sociologia da UnB.
interior de São Paulo, e um estudo psicológico
8. Ver Florestan Fernandes. A sociologia numa era de revo-
lução social. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1976. Capí-
sobre as atitudes raciais realizado por Aniela
tulo 9. Ginsberg e Virginia Bicudo.
SOCIEDADE E CULTURA, V. 5, N. 1, JAN./JUN. 2002, P. 35-52

Após a publicação dos primeiros resultados p. 8)10. Bastide, coordenador do projeto em São
da pesquisa, em 1955, com o título Relações Paulo, na introdução do ensaio publicado em 1955
raciais entre negros e brancos em São Paulo, considera que, apesar de o estudo tratar do
Bastide e Florestan foram acusados de introduzir problema da cor, é preciso relativizá-la e
o problema racial no Brasil. compreender que esses problemas raciais
constituem momentos na vida dos negros e “que,
Bastide e Florestan: dilemas raciais, no seu conjunto, a vida dos pretos nada oferece
teóricos e políticos nos anos 1950 de uma perpétua tragédia”, avaliação essa que
o diferenciará da feita por Florestan Fernandes
Nesse tópico, trataremos em especial da (Bastide, in: Bastide e Fernandes 1955, p. 15).
interpretação de Roger Bastide a respeito das Destacaremos de forma sintética os dois
relações raciais no Brasil, focalizando primeiro ensaios elaborados por Bastide no âmbito da
a contribuição do pensador francês ao livro pesquisa (“Manifestações do preconceito de
Negros e brancos em São Paulo.9 Em seguida, cor” e “Efeitos do preconceito de cor”). O
será feita a análise do estilo bastidiano, dos primeiro ensaio trata das manifestações do
procedimentos e da maneira diferenciada pela preconceito de cor. Na análise das inumeráveis
qual Bastide enxergou, apresentou e introduziu respostas coletadas pela pesquisa, Bastide
determinadas noções e conceitos no estudo percebe várias contradições acerca da exis-
sobre as relações raciais e as religiões africanas, tência do preconceito, tanto entre os negros,
para, a partir daí, discutir em que medida os dois quanto entre os brancos. No entanto, Bastide
autores, Roger Bastide e Florestan Fernandes, distingue também a presença de uma visão
se encontram e se afastam em relação à idealizada da democracia racial no Brasil. Isso
interpretação do dilema racial e qual a efetiva significa que o preconceito não aparece de
contribuição para as ciências sociais nas forma aberta, mas de modo encoberto:
décadas recentes em contraponto com as
demais presentes no campo acadêmico e político Os estereótipos recalcados agem nas fronteiras
nacional. indecisas do inconsciente, menos por cons-
Conforme já salientamos, a pesquisa truções sociais, um ritual institucionalizado, do
coordenada por Bastide e Florestan tem o mérito que por repulsões instintivas, tabus pessoais.
O negro, aliás, é eleitor, e os partidos políticos
de ter abordado de modo inovador, em uma
disputam os seus votos como os dos brancos.
investigação sociológica, “modalidades de A opinião pública é sensível ao bom nome do
manifestação do preconceito racial e da Brasil, a tudo o que poderia prejudicar a sua
discriminação racial que ainda não haviam sido tradição de democracia. (Bastide, in: Bastide e
consideradas, sistematicamente, pelos soció- Fernandes, 1955, p. 124)
logos” (Bastide e Fernandes, 1959, p. X).
Entre 1951 e 1954, foi realizado um Segundo Antônio Sérgio Guimarães, foi
inquérito, inicialmente previsto apenas para a Bastide, influenciado pelas leituras de Gilberto
Bahia e depois estendido para São Paulo, Rio Freyre e também por uma visita feita a Apipucos
de Janeiro e Pernambuco. Em São Paulo, em 1944, o primeiro a usar a expressão
conforme ressaltou Paulo Duarte – diretor da democracia racial em artigo publicado no
Revista Anhembi, uma das colaboradoras do Diário de São Paulo. De acordo com esse
projeto –, a preocupação central deteve-se na autor, Bastide concebe a democracia brasileira
realização de um “ensaio sociológico sobre as como social e racial, que “não pode ser reduzida
origens, as manifestações e os efeitos sociais
do preconceito de cor no município de São 10. Segundo Marcos Chor Maio (1997), há duas versões
Paulo” (Duarte, in: Bastide e Fernandes, 1955, para a efetivação do Projeto Unesco em São Paulo: “A
primeira, como vimos anteriormente, que se traduz pela
ação de diversos atores que conseguem finalmente inserir o
9. Os capítulos escritos por Bastide e por Florestan Fernandes Estado na investigação promovida pela agência internacio-
são os mesmos nas edições de 1955 (Relações raciais entre nal; e a segunda, que concebe a pesquisa da Unesco como um
negros e brancos em São Paulo) e 1959 (Negros e brancos ‘desdobramento natural’ de uma idéia que já estava em an-
em São Paulo). damento no interior da elite intelectual paulista” (p. 108).
SOARES, E. V.; BRAGA, M. L. S.; COSTA, D. V. A. O dilema racial brasileiro:...

a direitos e liberdades civis , mas alcançaria uma metodológica do pensador francês diante do
região mais sublime: a liberdade estética e preconceito racial. Trata-se da edificação de
cultural, de criação e convívio miscigenado” uma barreira quase intransponível entre os dois
(Guimarães, 2002, p. 144). Entretanto, a nosso mundos opostos que o negro habitava, permitindo
ver, a ótica de Bastide, mesmo que derivada das dupla fidelidade a valores religiosos freqüen-
leituras e contatos com Freyre nesse período, temente contraditórios. Destaca-se o fato de que
não se resume em defender a existência de uma esse processo não foi patológico e doloroso nem
democracia racial conforme as críticas feitas a acabou em mutilação, mas tornou-se a solução
essa tradição de cunho culturalista. Nesse mais adequada ao problema da coexistência
período, Bastide já faz uma leitura crítica, que pacífica de dois mundos em uma única
só se ampliaria nos estudos realizados no âmbito personalidade. Esses princípios contraditórios e
do Projeto Unesco nos anos 1950. diversos puderam conviver justamente porque
Dessa forma, para o desvendamento dos o negro estruturou uma personalidade em que
comportamentos sociais que não aparecem em se passava de um sistema a outro como se
primeira instância em uma suposta democracia mudasse de aposento, simplesmente fechando
racial, Bastide especifica que é necessário a porta, mas tal passagem só pode ser feita
recorrer à análise da ausência de compor- mediante determinadas precauções, na forma
tamentos para compreender as manifestações de ritual.
do preconceito racial. Com o intuito de traçar o Podemos assim entender a análise cheia
mais amplo painel dessa situação, é feita a análise de nuanças realizada por Bastide do tipo de
das manifestações de diferentes grupos étnicos, preconceito que nem sempre se mostra com
das famílias tradicionais paulistanas, dos violência, mas que assume muitas vezes uma
portugueses, dos sírios e dos italianos e dos face doce e afetuosa, dependendo da situação
grupos profissionais, abarcando assim todas as social e racial. Isto não significa a filiação de
classes sociais. Bastide à visão de Gilberto Freyre, pois, para o
Em todos os níveis, o preconceito racial não pensador francês, a complexidade social
se apresenta explicitamente, mas “na ausência brasileira exigia noções sociológicas, como a do
de um sistema de reciprocidade nas relações princípio de corte, que enxergassem, além da
entre brancos e negros. O negro é tratado aparente cordialidade e convivência democrática,
afetuosamente, mas basta que um estranho o papel exercido pelas estratégias de sobrevi-
chegue na casa para que logo surja outro tom vência dos negros nesse contexto.
entre o patrão e o visitante” (Bastide, in: Bastide Bastide mostra assim as inúmeras barreiras
e Fernandes, 1955, p. 126). Bastide detalha essa encontradas pelos negros. Mas quais são os
convivência, ora afetuosa e sentimental, ora efeitos desse preconceito sobre eles? No
repulsiva, quando os negros são considerados segundo ensaio, “Efeitos do preconceito de cor”,
preguiçosos, bêbados, insubordinados e desor- Bastide fornece algumas respostas a esse
ganizados. O preconceito de cor muitas vezes questionamento. Tendo em vista as diferenças
aproxima-se do preconceito de classe, conforme existentes entre os próprios negros, duas atitudes
argumenta em seu ensaio. O clima afetivo entre são comumente assumidas, principalmente entre
as raças, criado pela tradição, geralmente os segmentos mais pobres. A primeira consiste
disfarça o preconceito racial. No mundo do no conformismo, na atitude passiva, na aceitação
trabalho, isto fica claro na rejeição de negros de sua situação de inferioridade racial e social.
para ocupar determinadas funções. As expres- A segunda também aceita essa situação de
sões utilizadas nesse momento são polidas como inferioridade, mas assume uma atitude ativa em
“falta lugar” ou “o lugar acaba de ser preen- relação a suas possibilidades de ascensão social
chido”. na sociedade de classes.
Um princípio significativo, usado por Entre os negros pertencentes à classe
Bastide nos seus estudos sobre as religiões média, a aceitação também ocorre com a
africanas, o de corte, pode ser aqui destacado utilização de outras formas de tratamento, como
para compreender melhor a postura teórica e a ironia e a paciência e não o confronto aberto
SOCIEDADE E CULTURA, V. 5, N. 1, JAN./JUN. 2002, P. 35-52

contra a rejeição e a zombaria, características que estaria presente tanto entre os brancos como
sempre presentes no preconceito. A resistência entre os negros. Isto é, a sua visão dessa
e a revolta contra o preconceito racial ocorrem situação racial baseava-se em uma pluralidade
geralmente entre os intelectuais e líderes, que de oposições sociais e processos diferenciados,
se preocupam com a organização dos negros nos quais muitas vezes o preconceito racial
para superar a discriminação, movimento confundia-se com preconceito de classe,
organizado a partir da década de 1920 que se conforme apontado também por Maria Isaura
pôs a lutar por uma segunda abolição. Bastide Pereira de Queiroz (1983).
mostra ainda o papel dos órgãos de fiscalização Paradoxo de fato aparente porque o olhar
social, como a Igreja e a polícia, que incentivam nuançado de Bastide acaba por complementar
a manutenção do preconceito. e influenciar seguramente a visão de Fernandes,
Bastide e Florestan Fernandes, entre outros o que torna possível a análise do fato social na
colaboradores que participaram do Projeto sua totalidade. A situação dos estudos basti-
Unesco, propiciaram o conhecimento de uma dianos, no âmbito do Projeto Unesco, não é
paisagem brasileira que persiste em boa medida assim secundária, pois a produção de Bastide
até o momento. O inquérito coordenado na sobre as relações raciais assumiu diferentes
década de 1950 por Bastide, no qual se tornou facetas, desde os seus primeiros momentos no
claro “um preconceito que nem sempre ousa Brasil, por meio da análise da produção poética
dizer seu nome” (Bastide, in: Bastide e e literária dos negros, passando pelas represen-
Fernandes, 1955, p. 159), permanece ainda tações religiosas e pela pesquisa nos anos 1950,
extremamente atual. Prova disso é a existência até os últimos artigos e livros produzidos na sua
de enquetes nas quais os entrevistados, quando última década de vida.12 Vejamos o que diz a
submetidos à questão “Há preconceito racial no esse respeito Florestan Fernandes:
Brasil?”, tendem a responder de modo afir-
mativo, mas negam quando perguntados se são O mundo mental do negro e do mulato, esfera
preconceituosos. Temos aí a constatação da para cuja análise R. Bastide estava tão prepa-
existência do racismo, pelo menos de sua rado, graças aos seus estudos anteriores sobre
a poesia negra, o candomblé e a macumba, a
percepção pela população, numa sociedade sem
psicanálise dos sonhos e o estudo dialético
racistas.11 das linhas de cor na competição religiosa, sexual
Marcos Chor Maio aponta um aparente e amorosa, não é “descoberto” como um
paradoxo na presença de Bastide no Projeto produto da síntese empírica. Ele surge como
Unesco. Seu prestígio acadêmico e sua rede de uma totalidade apreendida preliminarmente,
relações com as principais lideranças negras que lança uma nova luz sobre as relações
foram de fato decisivos para a realização da raciais cooperativas, competitivas e de conflito
pesquisa em São Paulo, mas “sua produção na sociedade brasileira.
intelectual no interior do projeto assumiu posição Na verdade, os que hoje nos fazem a crítica de
secundária não apenas em comparação com o que ignoramos a “dimensão cultural” não levam
trabalho elaborado por Florestan Fernandes, mas em conta a amplitude, as implicações e o
também na avaliação das obras mais signifi- significado dessa abordagem, possível em
cativas realizadas pelo sociólogo francês” (Maio, grande parte graças à experiência de Bastide –
1997, p. 138). O autor defende que o enfoque suas pesquisas sobre a transplantação, reelabo-
ração e transculturação das religiões africanas.
mais adequado para entender esse aparente
A “dimensão cultural” não aparece como um
paradoxo é que Bastide, diferentemente de dado externo, uma “coisa palpável” empiri-
Florestan Fernandes, tinha uma visão mais
matizada do preconceito racial em São Paulo,
12. Conferir Roger Bastide, Psicanálise do cafuné e ensai-
os de sociologia estética brasileira. Curitiba: Editora Guaira,
11. Confira pesquisa Datafolha (1995) e DataUFF (2000), 1941; A poesia afro-brasileira. São Paulo: Livraria Martins,
citadas em Mônica Grin. Esse ainda obscuro objeto de dese- 1943; As religiões africanas no Brasil. São Paulo: Pioneira,
jo: políticas de ação afirmativa e ajustes normativos: o 2 volumes, 1971; As Américas negras: as civilizações afri-
seminário de Brasília. Novos Estudos, n° 59, mar. 2001, canas no Novo Mundo. São Paulo: Difusão Européia do
p.177. Livro; Editora da Universidade de São Paulo, 1974.
SOARES, E. V.; BRAGA, M. L. S.; COSTA, D. V. A. O dilema racial brasileiro:...

camente contingente. Porém, como um “modo fator de desvantagem dos negros e mestiços em
de ser”: o negro como pessoa, sujeito de si sua classificação no mercado de trabalho. Ora,
mesmo e de uma história que foi negada, mas se a motivação para a implantação da instituição
que, não obstante, transcorreu como ação dos
do trabalho livre na nova Pátria livre não foi
oprimidos (daí a passagem da condição de
vítima passiva, para a de agente do movimento determinada pelo projeto de emancipação do
negro, da frustração subjetiva para a rebelião e antigo agente do trabalho escravo, o véu
a “Segunda Abolição”). (Fernandes, 1989, ideológico da incapacidade do negro ou do
p.101-102) mestiço em se classificarem socialmente no
regime de classes seria a prova cabal da
Nos dois artigos principais elaborados por inferioridade racial. É por isso que, para
Florestan Fernandes para o livro Negros e Florestan Fernandes, a desigualdade entre
brancos em São Paulo (“Do escravo ao brancos e negros não provém do determinante
cidadão” e “Cor e estrutura social em mudan- de classe, mas, propriamente, de uma estratifi-
ça”), percebe-se que, apesar das divergências cação de raça. Como se depreende da citação
de enfoque, os dois pensadores conseguiram a seguir:
trabalhar em um patamar mínimo de concor-
dância, conforme Fernandes lembra em seu Assim, cria-se um círculo vicioso: a modificação
depoimento citado no primeiro tópico deste das atitudes dos brancos sobre os negros e os
artigo. Mesmo assim, Fernandes ressalta nesses mestiços depende da alteração da posição
dois artigos sua ênfase nos fatores de classe social destes; de outro lado, porém, a perpe-
tuação de atitudes desfavoráveis aos negros e
para tratar da posição do negro na sociedade
aos mestiços tende a limitar o acesso deles,
nacional, pois,
pelo menos em condições de igualdades com
os brancos, às probabilidades de atuação social
1º) na seleção da mão-de-obra sempre prevale- asseguradas pelo regime de classes, em cada
ceram motivos que nada têm a ver com a raça um de seus níveis sociais. (Fernandes, in:
ou com a cor dos trabalhadores; 2º) a raça ou a Bastide e Fernandes, 1959, p. 157)
cor não exerceram por si mesmas, aparente-
mente, nenhuma influência na constituição ou
na transformação da ordem de ajustamento
Desse modo, não há a redução da questão
inter-racial; 3º) as condições sociais de racial à situação de classe. O problema é
exploração econômica da mão-de-obra escrava complexo, e o autor investiga tendo em vista
favoreceram a formação de símbolos sociais e sua especificidade, dentro de uma análise
de padrões de comportamento polarizados em estrutural que considera as posições e as
torno da raça ou da cor, os quais se ligaram, dinâmicas das relações sociais em sentido amplo.
como causa ou como condição operante, à O estudo realizado em São Paulo também
determinação da dinâmica dos ajustamentos
mostra, com bastantes detalhes, os traços do
dos negros e brancos em São Paulo. (Fernan-
des, in: Bastide e Fernandes, 1959, p. 69) estilo bastidiano e o modo como se efetivou a
parceria acadêmica e intelectual entre ele e
Para Fernandes, isso quer dizer que, na Florestan Fernandes. A forma de introduzir a
passagem do regime escravocrata de produção noção de preconceito racial, conectada à situação
ao trabalho livre, não houve qualquer preocu- de classe, leva Bastide e Florestan a descor-
pação com a situação do ex-agente do trabalho tinarem uma paisagem social e racial complexa
escravo; que, portanto, a Abolição foi uma do Brasil. Portanto, os dois pensadores
revolução social visando, não à sua redenção caracterizam-se como exímios paisagistas, já que
e libertação, mas à substituição de um modo de sua capacidade de traduzir e interpretar um
produção por outro, daí o fato de estereótipos, fenômeno decorreu muitas vezes do fato de não
símbolos sociais e padrões de comportamento se ter restringido a uma só perspectiva teórica,
negativos polarizados em torno da raça, forjados mas de ter lançado mão de diferentes instru-
no período escravocrata, se perpetuarem na mentos, noções e conceitos que permitiram uma
nova ordem social competitiva, atuando como visão totalizadora da realidade social, que
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possibilitasse a conexão entre micro e macroele- puros” em uma classificação aparentemente


mentos da análise. “científica”. No esforço de escapar de um
Em 1986, Florestan Fernandes, ao reexa- etnocentrismo “europeu”, o autor, ao se tornar
minar a pesquisa feita por ele e Bastide no africano, adota um outro etnocentrismo, desta
vez “africano”. (Fry, 1986, p. 38)
âmbito do Projeto Unesco, também faz uma
análise positiva da contribuição do sociólogo
Assim como outros estudiosos, Fry consi-
francês a essa área de estudo e dos desdobra-
dera que Bastide deu continuidade aos estudos
mentos ocorridos nos anos seguintes. Apesar
anteriores representados por Artur Ramos, Nina
das divergências entre Bastide e Florestan
Rodrigues e outros. Fernanda Peixoto, que
quanto à situação do negro, este destaca que
foi possível realizar o amplo levantamento, com realizou um balanço sobre as críticas usualmente
o apoio e a colaboração de várias lideranças feitas à abordagem bastidiana das religiões afro-
negras, graças, sobretudo, ao prestígio de brasileiras, afirma que estas concentrar-se-iam
Bastide.13 Todos os estudos resultantes, em sua nos seguintes pontos: na etnografia realizada,
opinião, levaram à reflexão que “está na raiz de na adoção de uma perspectiva marxista, na
uma nova visão da formação e transformação noção de princípio de corte e na imprecisão das
da sociedade brasileira moderna; e, de outro informações utilizadas por Bastide. Para
lado, serve de prova da veracidade da visão do Peixoto, seria mais preciso afirmar que Bastide
negro sobre a sua condição humana e da estabeleceu um diálogo com a tradição
realidade racial brasileira” (Fernandes, 1986, p. africanista nacional e não uma relação de
17). Por fim, Florestan lembra que vários críticos continuidade (Peixoto, 1998, p. 119-127).
argumentaram que os estudos tiveram um viés Diálogo que, em nossa visão, teve desdobra-
tendencioso ou, então, paternalista, o que não mentos nas reflexões sobre as relações raciais
era correto, pois tanto ele quanto Bastide e que repercutiu sob diferentes formas nas análi-
propuseram-se a explicar e interpretar o que o ses produzidas posteriormente por Fernandes.
movimento negro pensava, e contribuíram para
a visibilidade do dilema racial na sociedade Florestan Fernandes e a dialética do
brasileira. dilema racial brasileiro
Peter Fry, por exemplo, lembra que a
interpretação bastidiana sobre o candomblé e a Este tópico trata da politização e da
umbanda seria ainda muito caudatária das radicalização progressivas da sociologia de
análises feitas anteriormente, como as de Nina Florestan Fernandes, contidas em sua aborda-
Rodrigues, Artur Ramos, João do Rio, Edison gem da temática racial. Após mais de uma
Carneiro e Ruth Landes, que se apropriaram do década de início da pesquisa com Bastide,
discurso subjetivo dos terreiros e transformaram- realizada sob os auspícios da Unesco, o autor
no em discurso objetivo e científico, com o fim redige a tese que será defendida no concurso
de preservar a autenticidade, as características de cátedra da cadeira de Sociologia I da
religiosas e as qualidades positivas da cultura Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da
africana. Para Fry, Bastide apenas reafirmou Universidade de São Paulo, A integração do
esse esquema interpretativo, ao propor uma negro na sociedade de classes. Nessa obra,
adesão completa ao objeto de estudo, e acabou que pode ser tomada como um verdadeiro
por emitir julgamentos de valor, pois, clássico das ciências sociais brasileiras,
Florestan Fernandes não só faz uma descrição
Bastide transforma a visão subjetiva dos pais e uma interpretação objetivas da situação da
e mães-de-santo dos candomblés que reivindi- existência do negro e do mulato na emergência
cam o status de “mais tradicionais” e “mais da sociedade de classes e da ordem social
competitiva, como também revela as potencia-
13. Já lembramos que, enquanto Bastide partia de uma visão lidades do despertar da consciência de luta por
menos enfática do preconceito racial, Florestan Fernandes
entendia que havia uma situação de extrema discriminação parte das vítimas do preconceito de cor e da
racial no Brasil. estratificação social subordinada ao critério da
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raça e de superação das desigualdades raciais os ensaios, é importante remeter a três que
e da ausência de uma autêntica democracia abordaram diretamente a temática da questão
racial. De fato, uma das grandes especificidades racial: “A imagem do negro brasileiro”, de
da análise desenvolvida por Florestan Fernandes Claude Lépine; “A questão racial e a revolução
é a de não desvincular a pesquisa direcionada burguesa”, de Élide Rugai Bastos; “Raça e
ao presente concreto, histórico, de suas classe social no Brasil”, de João Baptista Borges
conexões com o passado e com as possibilidades Pereira. Será, entretanto, o depoimento de
de transformações futuras, isto é, com o tempo Antonio Candido que vai apontar um dado de
in flux dos processos sociais, e das convicções, forte relevância para um entendimento mais
aspirações e alternativas políticas mais acurado do lugar ocupado pelos estudos raciais
profundas que subjazem a essa realidade – o no conjunto da produção sociológica de
que, nada mais, nada menos, representa um dos Florestan. Aludindo ao projeto da Unesco, que
requisitos fundamentais da abordagem dialética representa uma fase particular do desenvol-
dos processos sociais em seu dinamismo interno vimento intelectual deste último, Candido
de concretização dos elementos e categorias afirmará:
históricos deles constitutivos.
A utilização vigorosa da abordagem [...] a tarefa decisiva dos anos 50 se ordenou
dialética em sociologia é, portanto, aqui erigida em torno do negro, pois naquela altura ele
numa das mais importantes contribuições aceitou participar com Roger Bastide na direção
de uma pesquisa da Unesco sobre as relações
específicas de Florestan Fernandes ao exame
raciais entre brancos e negros em São Paulo.
do dilema racial brasileiro, explicando tanto a Aí começou o cruzamento das duas linhas: o
politização e a radicalização mais intensas de sociólogo de grande formação teórica e o
suas posições científicas na sociologia, quanto intelectual de grande consciência política
a crescente participação que a problemática do encontraram pela frente um problema que
negro passará a desempenhar, politicamente, em solicitou a sua combinação. Com efeito, o negro
seu conhecimento da realidade social brasileira. não era algo remoto como o Tupinambá,14 mas
Neste tópico, buscamos perceber as formas de um cidadão vivendo ao nosso lado, espoliado,
vítima do preconceito, participando da mesma
articulação das características acima descritas,
dinâmica social que nós. Daí talvez a pesquisa
sua presença, em A integração do negro na da Unesco ter sido uma oportunidade para
sociedade de classes. Cumpre salientar, Florestan desenvolver formas extremamente
contudo, que a base para o desenvolvimento da participantes de Sociologia. Basta lembrar
linha de argumentação a ser apresentada foi alguns aspectos do método que usou, como
sugerida, em grande medida, pela leitura de as reuniões promovidas entre líderes e
alguns dos comentadores da obra de Florestan militantes negros, junto com os seus colabo-
Fernandes e de estudiosos de aspectos de seu radores e outros interessados. Com isso estava
dando simultaneamente aos negros certa forma
pensamento e de sua trajetória intelectual e
de consciência política e de organização. E
política. De um modo sintético, serão destacadas ainda mais: a partir da compreensão dos proble-
algumas das sugestões fornecidas por autores mas deles, estava amadurecendo a maneira do
adiante citados, a fim de se proceder, em seguida, intelectual intervir na sociedade que gerava tais
à discussão propriamente dita da principal obra problemas. (Candido, 1987, p. 34-35)
de Florestan referente à temática das relações
raciais e do negro.
14. Florestan produziu dois grandes estudos sobre os
Em 1986, foi promovida uma jornada de tupinambás, uma civilização exterminada, graças a uma
estudos de aspectos da obra de Florestan pesquisa de reconstituição histórica cujos dados foram
Fernandes, realizada no campus de Marília da coletados por meio dos relatos de cronistas da época. Os
estudos foram produzidos numa abordagem estrutural-
Universidade Estadual de São Paulo (Unesp). funcionalista em sociologia, dando origem aos trabalhos
Os textos apresentados durante a jornada foram Organização social dos Tupinambá (sua dissertação de
mestrado, defendida na Escola de Sociologia e Política de
reunidos num livro intitulado O saber militante: São Paulo) e A função social da guerra na sociedade
ensaios sobre Florestan Fernandes. Dentre Tupinambá (a tese de doutorado defendida na USP).
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Em Florestan Fernandes: o militante Procuramos evitar, cuidadosamente, que esse


solitário, Eliane Veras Soares (1997) destaca estado de espírito interferisse nas interpre-
as auto-avaliações de Florestan sobre a tações: se aqui ou ali exageramos na conta,
importância do estudo sobre o negro no conjunto paciência! Tantos já erraram por motivos
diferentes, deformando e detratando o “negro”,
de sua própria produção e de sua orientação
que não haveria mal maior em tal compensação
política. Valeria a pena transcrever um longo [...]. (Fernandes, 1978, p. 13)
trecho dessa auto-avaliação:
É interessante observar outros dois
A pesquisa [das relações raciais] [...] foi algo depoimentos mencionados por Eliane Veras
de fascinante porque, apesar de tudo o que se
Soares. O primeiro, de Fernando Henrique
sabe sobre a vida das pessoas pobres no Brasil
e da identificação que o intelectual pode ter Cardoso, sua intervenção na “Jornada de
com a vida dessas populações, eu me senti tão Marília”, quando ressalta a mudança de postura
compensado com o fato de estar fazendo aquela teórica na sociologia de Florestan Fernandes a
pesquisa, que aquilo tudo deu novo sentido à partir da investigação das relações raciais,
sociologia para mim (e deu sentido ao meu ponderando que
trabalho e ao que eu pretendia fazer com a
pesquisa sociológica). foi com a paixão de descobrir o negro na
De um ângulo teórico esse foi o trabalho que realidade brasileira, de situá-lo, que de repente
teve maiores conseqüências para mim, seja para se passou a outro nível, mais abstrato, e
conhecer o Brasil como sociedade nacional, seja Florestan Fernandes recompôs uma série de
para chegar à temática da sociologia do modelos teóricos de explicação da realidade [...]
subdesenvolvimento e da dependência. Além esforço permanente que permite misturar o
disso, me senti como ser humano em comunhão histórico e o estrutural [...] juntar aquilo que é
com outros seres humanos. Nenhum outro momentâneo com o que é estrutura, o que é
trabalho meu anterior me permitiu essa configuração com o processo que o forma. Não
comunicação endopática em profundidade. se pode fazer isso sem introduzir a dialética.15
(Cardoso, apud Soares, 1997, p. 45-46)
O impacto que eu recebi no estudo do negro
não foi brincadeira. Estabeleceu-se uma base
O segundo depoimento foi fornecido à
de identificação psicológica profunda, em parte
por causa do meu passado, em parte por causa
autora em julho de 1991 por Ruth Cardoso e
da minha experiência socialista prévia, em parte revela, simultaneamente, a “inovação da
graças à origem que tenho – descendo de uma temática e o aspecto político da pesquisa sobre
família de imigrantes portugueses que se o negro” (Soares, 1997, p. 46): “Naquele
destroçou em São Paulo –, condições sem as momento ninguém falava de preconceito no
quais provavelmente tudo isso não apareceria país. É um tema que tem uma implicação política
e eu seria o típico sociólogo profissional ao qual a ciência podia dar uma contribuição”
“neutro”, “seco” e “impecável”. (Fernandes, (Cardoso, apud Soares, 1997, p. 47). Antes, a
apud Soares, 1997, p. 46-47)
autora refere-se ao tipo de técnica de coleta de
dados empregado por Florestan Fernandes e
Esses depoimentos de Florestan Fernandes
como isso refletia na própria politização dos
coincidem, em alguma medida, com o que ele
negros e da própria pesquisa:
mesmo escreveu na nota explicativa de A
integração do negro na sociedade de classes, A sociologia passou a ser vivida como uma
com um certo tom irônico: paixão partilhada não apenas com os seus pares

[...] os leitores irão notar (e alguns, prova- 15. Antes dessa citação, Eliane Veras Soares escrevera: “Para
velmente, estranhar) um constante esforço de Fernando Henrique Cardoso, o estudo sobre o negro revelou
projeção endopática na situação humana do não só a solidariedade de Florestan Fernandes para com ‘os
negro e do mulato. Devemos salientar que essa de baixo’ – demonstrada pela existência de um forte con-
teúdo afetivo e ‘uma certa bronca com a sociedade senhori-
projeção nasce de uma simpatia profunda e de al’ – como também significou a introdução da problemática
um desejo ardente de compreender os dilemas das classes sociais nos estudos do autor, até então orienta-
com que o “negro” se defronta socialmente. dos pela teoria funcionalista” (Soares, 1997, p. 45).
SOARES, E. V.; BRAGA, M. L. S.; COSTA, D. V. A. O dilema racial brasileiro:...

mas também com os excluídos e os margina- homens, dos sujeitos da história. A utilização da
lizados, em parte, graças à metodologia de abordagem dialética por Florestan na sociologia
trabalho utilizada para a coleta de dados. também apresenta essa mesma conexão de
Representantes das comunidades negras eram sentido, ou seja, a vinculação orgânica entre a
reunidos em um anfiteatro para colocar os seus
investigação das condições concretas, reais,
problemas e discuti-los. Como ainda não havia
o recurso ao gravador, as anotações eram objetivas, de existência e a visualização e
taquigrafadas. No olhar de Antonio Candido, percepção das formas de elaboração dessas
essa experiência representou um marco na condições na consciência dos sujeitos históricos
trajetória de Florestan Fernandes, uma vez que e seu redimensionamento ideológico, utópico e
propiciou o surgimento de sua faceta de líder. político. Por isso, Florestan preocupa-se não
(Soares, 1997, p. 47) apenas com a situação real de existência do
negro e do mulato, que descreve em termos
Aproveitando todas as sugestões anterior- pungentes no capítulo sobre pauperização e
mente levantadas pelos autores citados, passa- anomia social, indo mais além, apontando e
se agora a destacar, a partir da leitura de A caracterizando sociologicamente as tendências
integração do negro na sociedade de classes, de transformação da própria realidade, da sua
a estreita vinculação entre as posições situação objetiva, por meio do importante papel
metodológicas de Florestan Fernandes e a desempenhado nessa superação pelos movi-
militância política que assume em defesa da mentos sociais no meio negro, daí porque grande
autonomia e afirmação do movimento negro. É parte do segundo volume de A integração do
preciso, entretanto, que se tenha em mente o negro na sociedade de classes ter sido
caráter eminentemente sociológico do livro, que dedicada ao estudo das manifestações contra o
se evidencia ao longo de todos os capítulos dos preconceito racial.
dois pesados volumes que o compõem. Atente- Não seria o lugar aqui para resumir
se para o fato de que não somente os conceitos detalhadamente o conteúdo de todo o livro, de
provêm da sociologia – estamentos, castas, todos os seus capítulos, partes etc., mas caberia
classes, ordem social competitiva etc. –, mas o uma rápida descrição da estrutura da obra.16
próprio modo de raciocínio, inserindo todos os Ela, como já foi dito, constitui-se de dois pesados
elementos da argumentação em estruturas mais volumes, não só enormes na quantidade de
gerais, institucionalizadas ou não, do meio social páginas, mas muito densos na forma da escrita
inclusivo, simultaneamente em seus aspectos e na utilização de uma rigorosa linguagem
sincrônicos e diacrônicos, é tipicamente sociológica. O primeiro desses volumes dedica-
sociológico. Por isso, não se pode confundir a se a estabelecer, como afirma seu próprio
análise desenvolvida por Florestan com uma subtítulo, qual o “legado da raça branca”, com
sorte qualquer de materialismo rasteiro ou seus capítulos retratando a situação do negro e
grosseiro que reduza o homem à dimensão do mulato na desagregação da antiga ordem
limitada de um ser produtor ou simplesmente senhorial e escravocrata e na transição para o
imerso em relações de produção ou de classe. regime contratual e do trabalho livre, ou seja,
O aspecto da análise empreendida por para a nova ordem legal-jurídica. Os capítulos
Florestan Fernandes que se procurará enfatizar que compõem esse primeiro volume abrangem,
aqui será justamente o diacrônico, vinculado a mais ou menos, os anos que vão do último quartel
uma abordagem dialética dos fenômenos e do século XIX até o ano de 1930 e apresentam-
processos sociais. O método dialético, tal como se na seguinte seqüência: Capítulo 1 – “O negro
fora concebido em sua versão materialista na emergência da sociedade de classes”,
clássica, por Marx e Engels, revela num único
movimento do conhecimento – quando aplicado 16. Para uma visão geral do conteúdo de A integração do
aos fatos históricos – as condições objetivas negro na sociedade de classes, ver Maria Arminda do Nas-
destes e as suas potencialidades de transfor- cimento Arruda, Dilemas do Brasil moderno: a questão raci-
al na obra de Florestan Fernandes, publicado na revista Idéi-
mação por intermédio de seus fatores subjetivos, as, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp,
que são dados pela consciência social dos números 1/2, jan./dez. 1997, p. 43-58.
SOCIEDADE E CULTURA, V. 5, N. 1, JAN./JUN. 2002, P. 35-52

subdividido em três partes: “Trabalho livre e “A ascensão social do negro e do mulato” e


europeização”, “O negro e a revolução “Natureza e função das impulsões igualitárias”;
burguesa” e “Expansão urbana e desajustamento o Capítulo 3, intitulado “O problema do negro
estrutural do negro”; Capítulo 2 – “Pauperização na sociedade de classes”, é composto de duas
e anomia social”, subdividido também em três partes: “A reação societária às tensões raciais”
partes: “O ‘déficit negro’”, “Os diferentes níveis e “O dilema racial brasileiro”. É nesse último
da desorganização social” e “Efeitos sociopá- capítulo, que conclui toda a obra, que Florestan
ticos da desorganização social”; Capítulo 3 – Fernandes vai definir o completo significado
“Heteronomia racial na sociedade de classes”, desse dilema, como a impossibilidade de as
subdividido em duas partes: “O mito da relações de classe suplantarem, absorvendo-as,
‘democracia racial’” (não se podendo deixar de as desigualdades raciais:
mencionar aqui a oposição das idéias de
Florestan às de Gilberto Freyre) e “Os padrões Delineia-se claramente, assim, o dilema racial
tradicionalistas de relações raciais”. brasileiro. Visto em termos de uma das
comunidades industriais em que o regime de
A tese principal defendida nesse primeiro
classes sociais se desenvolveu de modo mais
volume é a permanência de padrões estamentais
intenso e homogêneo no Brasil, ele se carac-
de conduta, arcaicos e conservadores, nas teriza pela forma fragmentária, unilateral e
relações entre negros e brancos, encobertos pelo incompleta com que esse regime consegue
mito da democracia racial, em plena vigência abranger, coordenar e regulamentar as relações
da sociedade de classes e da ordem social raciais. Estas não são totalmente absorvidas e
competitiva, mas não como “sobrevivências” do neutralizadas, desaparecendo atrás das
passado e, sim, como elementos que se relações de classes. Mas sobrepõe-se a elas,
articulam estrutural, dinâmica e funcionalmente mesmo onde e quando as contrariam, como se
às realidades presentes. o sistema de ajustamentos e de controles
sociais da sociedade de classes não contivesse
O segundo volume, por sua vez, estrutura-
recursos para absorvê-las e regulá-las social-
se em torno das potencialidades de transfor-
mente. Caracterizando-se o dilema racial
mação da situação do negro, daí ser intitulado brasileiro deste ângulo, ele aparece como um
em tom esperançoso “No limiar de uma nova fenômeno estrutural de natureza dinâmica. Ele
era”. Seus capítulos focalizam as manifestações se objetiva nos diferentes níveis das relações
dos próprios negros contra as formas de raciais. Por isso, seria fácil reconhecê-lo nos
objetivação social do preconceito de cor, como lapsos das ações dos indivíduos que acreditam
se pode ver com base na leitura de seus próprios “não ter preconceito de cor”; nas inconsis-
títulos: Capítulo 1 – “Os movimentos sociais no tências das atitudes, normas e padrões de
‘Meio Negro’”, subdividido em duas partes: comportamento inter-racial; nos contrastes
entre a estereotipação negativa, as normas
“Manifestação e objetivos dos movimentos
ideais de comportamento e os comportamentos
sociais” e “Uma ideologia de desmascaramento
efetivos nos ajustamentos raciais; nos con-
racial”; já o Capítulo 2 aponta algumas flitos entre os padrões ideais da cultura, que
tendências de reintegração do negro à sociedade fazem parte do sistema axiológico da civilização
de classes a partir da “segunda revolução brasileira; nas contradições entre os tipos ideais
industrial” e do expurgo da ordem social de personalidade básica modelados através
competitiva no Brasil em direção mais propria- desta civilização, etc. Mas, ele se originou de
mente capitalista, configurando uma situação uma causa geral e comum: os requisitos
objetiva que permitiria uma maior ascensão estruturais e funcionais da sociedade de classes
social por parte do negro enquanto categoria só se aplicam fragmentária, unilateral e
incompletamente às situações de convivência
social, apesar da permanência do status quo
social em que os socii se apresentam, se
anterior, mas reerguido em novas bases, e das consideram e se tratam como brancos e negros.
mesmas realidades iníquas do passado. Esse Em outras palavras, as estruturas da sociedade
capítulo intitula-se “Impulsões igualitárias de de classes não conseguiram, até o presente,
integração social” e está subdividido em três eliminar, normalmente, as estruturas preexis-
partes: “Cor e estratificação socioeconômica”, tentes na esfera das relações raciais, fazendo
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com que a ordem social competitiva não dade de classes valeria a pena ser dita, pois
alcance plena vigência na motivação, na esse estudo não exibe apenas uma relevância
coordenação e no controle de tais relações. acadêmica para o conhecimento da sociedade
(Fernandes, 1978, p. 459-60) nacional – ele tem um valor crucial, decisivo e
fundamental para a luta pela própria democracia
Retornando a alguns dos temas mencio-
no país. De acordo com as palavras de
nados anteriormente, seria oportuno relembrar Florestan;
a relevância política que o estudo sobre os
negros teve na radicalização da sociologia de [...] a análise converte-se em um estudo da
Florestan Fernandes e no seu redimensio- formação, consolidação e expansão do regime
namento para posições científicas mais de classes sociais no Brasil do ângulo das
vinculadas à luta pela superação da ordem social relações raciais e, em particular, da absorção
existente e pelo socialismo. Isso negaria a tese do negro e do mulato. Dadas as dificuldades
com que estes se depararam, para compartilhar
de Barbara Freitag, que estabelece um corte
do destino comum no plano nacional, os
epistemológico na sociologia de Florestan, após resultados da investigação são extremamente
a aposentadoria compulsória deste pelo AI-5 em úteis para se entender os dilemas materiais e
1968, entre uma fase acadêmico-reformista e morais não só da democratização das relações
outra fase político-revolucionária. Essa tese foi raciais mas da própria sorte da democracia no
exposta pela primeira vez na já referida Jornada Brasil. (Fernandes, 1978, p. 10)
de Marília e foi publicada na coletânea de
ensaios O saber militante, tendo sido con- Mais ainda:
testada por Eliane Veras Soares; a tese afirma,
Em sentido literal, a análise desenvolvida é um
em traços gerais, que o Florestan de antes do
estudo de como o Povo emerge na história.
AI-5, da sua aposentadoria compulsória, pautava Trata-se de assunto inexplorado ou mal
seus anseios de transformação social por meio explorado pelos cientistas sociais brasileiros.
da universidade, produzindo num paradigma E nos aventuramos a ele, através do negro e do
positivista de separação entre saber e ação, com mulato, porque foi esse contingente da
a condução das mudanças, das reformas, população nacional que teve o pior ponto de
estando nas mãos dos cientistas e dos espe- partida para a integração ao regime social que
se formou ao longo da desagregação da ordem
cialistas qualificados, enquanto, após a ruptura
social escravocrata e senhorial e do desenvol-
e a radicalização, a transformação passaria a vimento posterior do capitalismo no Brasil.
ser visualizada como se produzindo da sociedade (Fernandes, 1978, p. 9)
para a universidade, num processo revolucionário
das lutas políticas das camadas subalternas que
acabariam por revolucionar a própria instituição Dilema racial e democracia radical: a
universitária. Ora, tudo o que foi dito até agora contribuição de Florestan Fernandes
demonstra que houve uma crescente politização Tanto Bastide como Florestan continuaram
e radicalização das posições sociológicas de publicando tendo como referência o material
Florestan Fernandes bem antes da ruptura coletado na Pesquisa Unesco. Em 1964,
suposta por Barbara Freitag, no estudo sobre Florestan Fernandes apresentou para o concurso
as relações raciais. Deve-se, por isso, pensar de cátedra a tese A integração do negro na
não numa ruptura e sim num processo de sociedade de classe. Em 1972, publicou O
amadurecimento da sociologia de Florestan negro no mundo dos brancos, no qual compilou
Fernandes, sendo suas pesquisas sobre os artigos escritos entre 1942-43, 1951-1958 e
negros um elemento-chave para tal compre- 1965-1969. Na introdução dessa obra, Florestan
ensão e para a relativização da existência das Fernandes retornou aos fundamentos teóricos
duas fases acima mencionadas. utilizados na Pesquisa Unesco. A citação a
Uma última palavra sobre o significado seguir sintetiza o que foi exposto nos tópicos
político de A integração do negro na socie- precedentes:
SOCIEDADE E CULTURA, V. 5, N. 1, JAN./JUN. 2002, P. 35-52

[...] não tentamos explicar o presente pelo do mulato. Florestan conclui afirmando que a
passado, o que seria irreal numa sociedade de perpetuação do status quo racial brasileiro
classes em formação e em rápida expansão. estaria assentada em duas atitudes: de um lado,
Porém combinamos análise sincrônica à análise
o comportamento do branco (efeitos estáticos)
diacrônica, num modelo quase dialético de
fusão da perspectiva histórica com a perspec- e, de outro, a acomodação racial por parte dos
tiva estrutural-funcional. Em conseqüência, o negros (capitulação passiva). Uma terceira
passado e o presente foram reconstruídos questão tratada no livro diz respeito ao
conjuntamente e interligados nos pontos de branqueamento psicossocial e moral a que o
junção, em que a sociedade de classes negro se submeteu para participar do mundo do
emergente lançava suas raízes no anterior branco: “tiveram que sair de sua pele, simulando
sistema de castas e estamentos ou nos quais a a condição humana-padrão do “mundo do
modernização não possuía bastante força pra
branco” (Fernandes, 1972, p. 15).
expurgar-se de hábitos, padrões de compor-
tamento e funções sociais institucionalizadas, Em 1976, o tema da desintegração do
mais ou menos arcaicos. Assim, tornou-se sistema escravocrata e do surgimento da
possível compreender como o preconceito e a consciência crítica é retomado em Circuito
discriminação raciais, no modo segundo o qual fechado. Finalmente, em 1989, Florestan
se manifestam no Brasil, se explicam diferen- publica O significado do protesto negro. Aqui
temente, segundo se considere a organização o deputado federal, o sociólogo, o socialista
da sociedade senhorial e escravocrata; os apresenta com clareza completa a síntese de
efeitos da lentidão com que negros e mulatos
sua compreensão do dilema racial brasileiro,
foram incorporados ao sistema de classes; ou
os complexos de valores, atitudes e orientações resultado de uma trajetória de vida que forjou,
de comportamentos vinculados aos estilos de simultaneamente, o cientista social, o pesquisador
vida dos diversos segmentos sociais ou dos infatigável e o militante socialista.
vários grupos étnicos e raciais, mais ou menos Eleito deputado constituinte em 1986 pelo
determinados por situações de classes, PT, após a cassação do cargo de professor em
consolidadas ou não. A intenção foi ligar a 1969 e o longo processo de isolamento e
desintegração do sistema de castas e estamen- produção intelectual voltada para a compreensão
tos à formação e à expansão do sistema de
dos processos de resistência à mudança
classes para descobrir como variáveis indepen-
dentes, construídas por fatores psicossociais presentes na sociedade brasileira, Florestan
ou socioculturais baseados na elaboração Fernandes desempenhou, como constituinte
histórica da “raça” ou da “cor”, poderiam ser e (1987-1988) e como deputado federal (1989-
foram realmente recalibrados estrutural e 1994), uma atividade política comprometida com
dinamicamente. Há, por trás dessa posição a superação dos dilemas que foram objeto de
interpretativa, uma arrojada atitude científica, sua análise sociológica, notadamente, o dilema
que impunha aos autores que o complexo racial e o educacional. Ao realizar a pesquisa
“cadinho de relações raciais” […] fosse
em São Paulo sobre as relações raciais,
considerado como um fato total, ou seja, sob
todos os aspectos que pudessem ser relevantes Florestan Fernandes percebeu o caminho que
para a descrição sociológica e uma interpre- poderia levar ao encontro efetivo de suas duas
tação causal focalizadas sobre certos problemas vocações: a ciência e o socialismo. Em suas
fundamentais. (Fernandes, 1972, p. 7-8) análises sociológicas, sempre afirmou que a
superação do dilema racial dependeria da
Entre os trabalhos que constituem O negro mobilização e da luta promovidas pela cons-
no mundo dos brancos, dois novos elementos ciência negra crítica. Ao mesmo tempo, o negro
são focalizados: (a) a resistência ao reconhe- representa o que Florestan denomina o
cimento das “barreiras de cor” e a conseqüente experimento crucial da democracia brasileira.
negligência constituinte do “impasse racial”; (b) Não haverá democracia enquanto houver
a constatação de que a desigualdade racial desigualdade racial e discriminação dos negros.
independe, nas diversas regiões do país, do grau Tomamos de empréstimo a idéia sugerida
de miscigenação ou de visibilidade do negro e por Gabriel Cohn (1987), em seu texto referente
SOARES, E. V.; BRAGA, M. L. S.; COSTA, D. V. A. O dilema racial brasileiro:...

ao tipo de abordagem metodológica na obra de Com base na definição do caput, cada um


Florestan Fernandes presente em A revolução dos oito parágrafos trata de aspectos específicos
burguesa no Brasil, que tem por título “O e propõe medidas corretivas a ser adotadas pelo
ecletismo bem temperado”, ao ressaltar o Estado. Assim, são defendidos: (a) o direito dos
significado da militância na sociologia do mestre negros e o dever do Estado em proteger a
da USP: herança cultural das comunidades negras; (b) a
garantia da posse dos territórios e exploração
O Florestan militante não é apenas aquele que de suas riquezas às referidas comunidades; (c)
está tomando explicitamente posição diante dos planos ostensivos para conferir às populações
problemas do dia, mas a sua postura militante, negras meios de corrigir a exclusão do mercado
que talvez tenha um componente voluntarista,
e garantir a cidadania ativa; (d) políticas públicas
essa concepção militante está no cerne mesmo
da sua obra, no interior das suas construções
de apoio às famílias negras que enfrentam
metodológicas, no interior da sua incorporação dificuldades econômicas e culturais, bem como
das aquisições teóricas e, portanto, está no proteção aos homens, mulheres e menores
interior de seus próprios esquemas analíticos. vítimas de efeitos desintegradores determinados
(Cohn, 1987, p. 52-3) pelo racismo; (e) superação do dilema racial “o
negro é excluído porque não estaria preparado
Isso quer dizer, em suma, que a posição como ‘trabalhador livre’, e não se converte em
militante de Florestan Fernandes é resultado do ‘trabalhador livre’ porque lhe são negadas as
conhecimento “objetivo” da realidade social, condições de aprendizagem e de socialização.
integrando organicamente teoria e prática social. O Poder Público intervirá crescentemente nessa
Essa posição vai ser uma constante no estudo esfera, para acabar com o paradoxo”; (f) política
da temática racial, pois as propostas concretas de manutenção das crianças, jovens e adultos
de resolução efetiva do problema deveriam negros na escola com bolsas escolares
emergir da atividade de investigação. É sob esse destinadas à escolarização plena; (g) caracte-
prisma que se deve compreender o sentido dos rização legal urgente de “preconceito racial”,
projetos de lei encaminhados por Florestan de estigmatização e discriminação raciais para
Fernandes para a real solução do problema da que possam ser punidas como crime inafian-
desvantagem do negro na competição por çável, bem como incremento de uma educação
melhores posições na estrutura social de efetivamente democrática do ponto de vista
distribuição da riqueza, do prestígio e do poder racial; (h) enaltecimento de personalidades
e no seu exercício do papel de cidadão. negras que colheram êxitos especiais nas artes
Em 1994, no final do segundo e último e nas atividades cívicas, “para alcançar um efeito
mandato parlamentar, Florestan Fernandes de educação multiplicativo: a consciência da
praticou o ato político de maior significado em igualdade dos cidadãos e do êxito do negro
sua atuação no Congresso Nacional. Esse ato quando conta com a liberdade de usar o seu
foi a desobediência partidária, definido por ele talento”.
como um “objetor de consciência”. Florestan
propõe uma emenda constitucional, incluindo, no À guisa de conclusão
Título VIII – Da Ordem Social, o Capítulo IX –
Dos Negros. O capítulo é constituído por um Roger Bastide e Florestan Fernandes foram
único artigo, que contém oito parágrafos. profundamente afetados pelo estudo das
relações raciais. Bastide mudou o seu modo de
Transcrevemos a seguir apenas o caput do
conceber sociologia, procurando, no desafio da
artigo:
poesia sociológica, uma alternativa às limitações
Art. … São compreendidos como negros os dos quadros de referência transpostos da
indivíduos e cidadãos que se considerem como Europa. Mudou também como pessoa, passando
tal e os que, por estigmatização, são tratados pela transformação do homem ocidental
“como negros” e “pessoas de cor”. protestante em homem ocidental “africanizado”.
SOCIEDADE E CULTURA, V. 5, N. 1, JAN./JUN. 2002, P. 35-52

Florestan Fernandes encontrou nesse


Abstract: In this paper we discuss one branch of the
estudo a possibilidade efetiva de utilização do interpretations of the racial relations in Brazil that arises
método dialético para a compreensão da in the 1950’s from the research of Roger Bastide and
sociedade brasileira, tomando com referência – Florestan Fernandes under the auspices of Unesco. W e
fato social total – as relações raciais. Além de point out some similarities and differences between both
authors so that we can present a general framework of
sua radicalização acadêmica, não podemos their theoretical explanation for the racial prejudice and
compreender a elaboração da obra A revolução racial discrimination. W e do not assume a perfect
burguesa no Brasil sem a realização anterior agreement and/or unity of thought between these two
social scientists, but we also do not perceive their analysis
dos estudos sobre relações raciais, ocorrendo
as being completely antagonistic. On the contrary, we see
também nesse trabalho, como no caso das them as complementary.Thus, we criticize the reducionist
pesquisas sobre a discriminação racial, o approaches that associates Roger Bastide with the
encontro entre sociologia e ação política. Talvez traditional paradigm of the racial relation theories, in
particular, the association of his theory with Gilberto
tenha sido este o principal espaço de atuação Freyre’s view.This reductionist approaches also accuses
política do sociólogo paulista, que sempre se Florestan Fernandes of mixing up the categories of race
bateu por uma “sociologia dos explorados”. and class, so that he would explain racial inequality as the
Para Florestan Fernandes, as pressões para result of povery and not as a result of prejudice and
discrimination. Finally, we discuss how the sociological
a efetiva transformação do estado de discri- explanation of the 1950’s was translated into political
minação dos negros no Brasil (e efetiva propositons to overcome the racial dilema in Brazil during
concretização de uma sociedade democrática) Florestan Fernandes term as a congressman (1987-1994).
dependem de sua capacidade de mobilização Keywords: Roger Bastide; Florestan Fernandes;
política. Diante dos avanços e conquistas dos brazilian racial dilema; political proposition.
movimentos negros na sociedade brasileira e da
persistência das desigualdades raciais, somos
levados a colocar em questão os limites das Referências
mudanças propostas. Um amplo debate tem
ocupado o espaço acadêmico, político, militante ARRUDA, Maria Arminda do Nascimento. Dilemas
do Brasil moderno: a questão racial na obra de
e midiático nos últimos anos. A perspectiva de
Florestan Fernandes. Idéias, Campinas, 4(1/2), p. 43-
racialização da sociedade brasileira, apontada 58, jan./dez., 1997.
criticamente pelos defensores de políticas
BASTIDE, Roger e FERNANDES, Florestan.
universalistas e consideradas inevitáveis pelos Relações raciais entre negros e brancos em São
diferencialistas, parece repetir em novos tons Paulo. São Paulo: Anhembi, 1955.
as acusações feitas aos sociólogos uspianos nos _____. Negros e brancos em São Paulo. São Paulo:
anos 1950 e 1960 de inserir o preconceito racial Companhia Editora Nacional, 1959.
no seio da nossa democracia sociorracial. BASTIDE, Roger. As Américas negras: as civili-
Florestan Fernandes sempre advogou uma zações africanas no Novo Mundo. São Paulo:
posição universalista, todavia não a utilizou como Difusão Européia do Livro; Editora da Universidade
um manto que pudesse encobrir desigualdades de São Paulo, 1974.
que, no caso brasileiro, não são apenas decor- BRAGA, Maria Lúcia de Santana. A recepção do
rentes das classes ou da estratificação social, pensamento de Roger Bastide no Brasil. Revista
mas são também complexificadas por esse Sociedade e Estado, vol. XV, n°. 2 jul-dez. 2000, p.
331-360.
deplorável sentimento de seres humanos que se
julgam superiores ou inferiores a outros baseados _____. Entre o esquecimento e a consagração: o
estilo Roger Bastide nas ciências sociais. Brasília,
em características físicas herdadas e, desse
2002. Tese (Doutorado) – Departamento de
modo, perpetuam formas de dominação, modos Sociologia da UnB.
de ser, agir e sentir que tornam o Brasil não CANDIDO, Antonio. Amizade com Florestan. In:
apenas recordista mundial da desigualdade D’INCAO, Maria Angela (Org.). O saber militante:
social, mas também um país de duas nações ensaios sobre Florestan Fernandes. Rio de Janeiro/
divididas pelo fosso da desigualdade racial. São Paulo: Paz e Terra/Unesp, 1987.
SOARES, E. V.; BRAGA, M. L. S.; COSTA, D. V. A. O dilema racial brasileiro:...

CARDOSO, Fernando Henrique. A paixão pelo Humanas e Centro de Estudos Rurais e Urbanos, p.
saber. In: D’INCAO, Maria Angela (Org.). O saber 31-45.
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de Janeiro/São Paulo: Paz e Terra/ Unesp, 1987. políticas de ação afirmativa e ajuste normativos: o
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