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Era uma noite fria.

Sentia isso nos ossos quebrados, na pele ferida, no sangue que não parava de jorrar.
Mas sentia isso especialmente na alma e na certeza infecua que tudo terminaria ali.
Tentou lembrar-se da sua vida, dos momentos bons, do primeiro beijo, das festas de aniversário, dos
passeios a baia dos golfinhos, da saia vermelha que comprara...mas tudo isso se desvanecia.
Onde estava ela?
Que lugar era aquele onde acabaria por morrer? Vislumbrou á sua frente o seu velho carro, estava partido,
os vidros tinham dado lugar ao vazio.
Um vazio que ela sentia na alma.
Um cheiro a terra e a plantas enjoava-a, especialmente porque se combinava com o cheiro a sangue podre
que deitava das feridas, do pus infectado, e daquele liquido nojento que a inundava desde que se
lembrava.
Sentia que sangrava por todos os lados e pior nao conseguia sequer gritar. Por um motivo desconhecido a
natureza tinha-lhe negado até o grito de socorro, a chance de redençao, a possibilidade de fugir do homem
que a matava.
Uma coruja piou e esvoaçou-se no ar, deixando surgir uma vesga da luz da lua. Estava cheia.
Ao longe...não muito longe ouvia o som da agua.
O que daria para beber apenas um ultimo gole.
Parecia-lhe que uma eternidadade tinha passado...onde estava ele? Onde estava o homem que a ia matar?
Encontrava-se dividida, como uma condenada á espera no corredor da morte. A certeza e o desespero, e
ao mesmo tempo o desejo que fosse rapido.
Como seria morrer?
Seria pior que ter um braço e uma perna partida? Seria mais doloroso que ver um osso quase trespassar a
pele? Teria o mesmo sabor nojento dos murros que tinha levado?
Ou seria a morte a maneira de se lavar da semente nojenta daquele ser? Seria a morte a possibilidade de se
livrar para sempre da voz dele, do cheiro dele, do toque dele, do penis dele, de tudo o que viesse dele?
Por momentos ficou horrorizada.....E se a morte fosse aquilo.
Lembrou-se, sem saber porque, como se a vida precisasse motivos, do mito de Prometeu, amarrado, a ser
ferido dolorosamente todos os dias, e todos os dias se curava e voltava a ser ferido.
Se ela ao menos pudesse gritar!
Mas haveria alguem a ouvir?
Ha quanto tempo ninguem a ouvia? Ha quanto tempo se tinha tornado invisivel, uma peça incomoda do
dia a dia, um elemento que conhecemos de vista sem nunca desejarmos aprofundar esse conhecimento?
Quem a ouviria? Talvez nem Deus.
E se ela tivesse pecado tanto e tanto que nem Deus a quereria e poria a ser torturada infinitamente por
aquele ser asqueroso e nojento que algum dia alguem tinha chamado de homem.
Uma nausea percorreu todo o seu corpo, e mesmo sem forças vomitou mais um jato de sangue vivo.
Se a morte tinha que vir que viesse antes que aquele que a tinha chamado voltasse para a levar. Tremeu de
frio.
Dobrou-se sobre si mesma, tentando enrolar a sua cabeleira loira como se de um manto se tratasse. Foi
quando percebeu que estava amarrada.
Ouviu de novo as corujas a piar. Era um piar diferente, como se de um lamento profundo se tratasse.
Sentiu entao lagrimas quentes a sairem dos seus olhos verdes. O mundo parecia cada vez mais cinzento, e
em breve tudo estaria negro.
Tudo terminaria.
O que fariam ao seu corpo?
Lança-lo-iam ao rio? Ou ficaria ali eternamente no ventre da mae terra onde aquele mal ainda vivia?
Ficaria ela ali como se de um trofeu se tratasse ?
Ou teria um enterro digno, rodeada pela familia e amigos?
Mas que amigos tinha ela? Perguntou-se.
Aqueles que um dia a tinham apoiado, mas por serem monotonos ou infantis tinha abandonado? Ou
aqueles que com ela bebiam, dormiam e pervericavam?
Estaria Leonard no rol desses amigos?
Estaria la sequer a sua familia, para o qual era apenas uma nodoa, uma sombra que dormia e comia sem
nada adiantar áquela trama mais que teatral?
Se ao menos tivesse tido chances.
Se ao menos tivesse mudado de vida.
Se ao menos tivesse amado o que a vida lhe dera.
E se ela O tivesse amado?
E se o seu assassino fosse o unico que a amara?
E se tudo aquilo fosse amor?
Entao teria asco do amor, e preferia mil infernos de dor em vez de suportar aquele ser.
Ainda sentia as maos dele, negras e grandes a abrirem-lhe as pernas. A sua lingua directamente no seu
clitoris, a provocar-lhe prazer e dor quando tudo o que ela queria era apenas dor.
Sentia ainda aquela lingua num movimento monocordico, para cima e para baixo, para cima e para baixo,
para cima e para baixo.
E aqueles dentes amarelos e negros a morderem-lhe os labios, o clitoris, as pernas...
Sentir os dedos dele, sujos, negros, grandes e asperos a perfurarem a sua vagina, para momentos depois
ser de novo penetrada.
E o pior era quando ele a olhava nos olhos. Ela podia ver o seu sorriso. Aquele mal olhava-a.........ela
nunca vira um homem nele, apenas um monstro.
Apenas contemplava dor e destruiçao naquele olhar. E ele entao sufocava-a com as duas maos enquanto a
penetrava com mais e mais avidez, e como um soco profundo a rebentava por baixo, e ela era obrigada a
gemer de tanta dor e prazer. E ela oscilava entre um grito que queria deitar para fora e as maos dele que a
sufocavam ate ela desmaiar.
Sera que as maos dele teriam feito tanta pressao que agora, ali no meio da mata, naquele local esquecido
por Deus, ela nao conseguia sequer gritar?
Qualquer que fosse a resposta, ela continuava nas maos dele.
Naquela noite quantas vezes fora violada? Quantas vezes fora obrigada a beber o esperma daquele
monstro, um semente de fel pior que vinagre?
Fora ferida, cortaram-lhe em locais que nunca ninguem vira, que nunca ninguem concebera que
existissem.....Fora beijada pela propria morte, e as suas entranhas foram esfaqueadas sem profundidade no
corpo mas bem fundo na alma.
Quanto fugira dele, e o quanto o buscava por vezes.
Ela odiava-o mas ele era o unico que a destroçava e a possuia como mais nenhum o fizera.
Chorou entao. Chorou nao pela dor fisica, mas porque fisicamente ninguem a possuira como ele. Mesmo
quando se entregara a Leonard, ele nao parecia mais que um cordeiro, um lapis a preencher um buraco
gigantesco . A culpa era daquele monstro.
Daquele ser asqueroso que vivia no submundo.
Ela amava Leonard de todo o coraçao e nunca tivera a oportunidade de ser feliz.
Ali, enquanto esperava a morte certa, ela lembrava-se dos milhares de planos para matar o homem que a
matava agora.
As corujas voavam e piavam.
Voltou á realidade – estava a morrer.
A morrer ali, longe de tudo....talvez como sempre estivera, longe de tudo e de todos.
Viu entao uma sombra aproximar-se.
Pensava que nunca mais tremeria daquele modo, afinal ele era uma presença horrifica na vida dela há
muitos anos.
Mas ao contempla-lo, mais e mais perto, ela sabia que ele era o seu medo e que isso nunca mudaria.
E quem buscaria ele depois de a matar?
Tremeu a pensar em Daniele, a sua melhor amiga, ou a pequena Margot, sua aluna de explicaçao. Como
desejou ter escrito algures ou contado sobre o mal que vivia na floresta, o mal que se alimentava do seu
corpo e da sua alma.
Ele aproximava-se.
Podia ver de novo a sua face.
Ali estava ele, magro, alto, com as maos calejadas e grandes, negras como o negrume da noite, sujas
como tudo. Ali estava a cara dele adornada de uma barba, um bigode e um cabelo espesso e negro....negro
como ele.
Nele tudo era escuro.
Ate os olhos, pequenos e profundos, conturbados por um nariz fino...O seu olhar nao tinha nada, apenas
mal.
Ele sorriu e avançou sobre ela.
Nesse momento temeu. Temeu ao lembrar-se que um dia, num dos seus raptos aquele monstro sonhara
em ter um filho. E se ela era a noiva do diabo?
Desejou então que a morte viesse certa, que lhe estragasse os planos. Sonhou em poder arranha-lo, tanto e
de tal forma que o seu adn ficasse impresso no seu corpo e que nenhuma agua lavasse, e que a policia o
prendesse para o fim dos seus dias. Ai ela mesmo morta poderia descansar.
Ele dobrou-se sobre ela e sorriu.
Ela sentia-se como esterco. Enojada de ter sido abusada, violada, tocada por aquele ser.
Mas de repente algo nela mudou.
Sentiu que a esperança estava perto.
Olhou-o e pela primeira vez sorriu. Ele podia viola-la, podia bater-lhe, partir-lhe a outra perna, podia
fazer-lhe tudo mas agora ela já nao podia ser tocada. Já nao deixaria que o seu medo, porta de entrada
dele, levasse a melhor.
Se a morte viesse, e ela tinha esperança que ela vinha, leva-la-ia para longe daquele sufoco...
Mesmo que a morte fosse o fim de tudo, fosse a eterna escuridão, ela teria por fim paz.
Ele agarrou-a de novo e com um movimento seco lançou-a metros á frente.
A dor voltava de novo, lancinante e aguda como se os seus ossos se partissem uma vez mais.
Ali naquele buraco nojento, nutrido pelas arvores, pelo ventre da natureza aquele mal vivia protegido.
Talvez a morte fosse mais justa.
Sentiu que o ombro estava deslocado.
Ele deslizou sobre ela e mais uma vez a tomou como posse, como sua pertença.
Fez dela o que quis...mas ela nao gemeu uma unica vez.
Ele sempre a desejou, e ela sempre o negou.
Ele sempre fora parte dela, e ela era parte dele, por mais que ela o negasse.
Mas agora, ela tinha mudado.
Ela não resistia, era como cordeiro a caminho do matadouro. Talvez isso a fizesse triunfar, mesmo que o
seu destino estivesse selado. Mesmo que a morte viesse ela tinha triunfado sobre ele.
Ele gritou, e voltou a possui-la, penetrou-a com toda a lassidão, bateu-lhe, beijou-a, ameaçou-a...e mesmo
assim ela resistiu.
Entao por fim ele perdeu a cabeça.
Ela parecia um corpo morto....
Era como se de repente ela ja tivesse morta.
Ela já nao lhe resistia, mas tambem nao lhe dava nem dor nem prazer. O medo tinha desaparecido, e ele
podia quase vislumbrar entre aquela cara perfeita, mascarada de sangue, partida e amachucada, um sorriso
de vitoria.
Saiu de novo.
Tinha que se controlar, não a podia matar simplesmente...era fácil demais.
Deixaria que a mãe natureza a curasse em algumas horas, que as feridas recentes cicatrizassem, que ela se
recompusesse e a visão do fim se desvanecesse.
Quanto tempo passou Madeleine?
As corujas voaram e voltaram a pousar nos ramos dum velho choupo...
Ele partira. E durante muito tempo não ouviu nada
...teriam sido dias?
Teria a noite dado lugar ao dia e o dia lugar a noite sem que qualquer presença o notasse?
Teria aquele ser poder sobre as trevas ?
A caverna era muito pequena. Estava protegida sobre as raizes de uma sequoia, de uma figueira e de
varios sicomoros. Musgo crescia nas paredes, paredes naturais que nenhum homem algum dia viu....
Ele voltou.
As corujas piavam com avidez.
Olhou-a. Parecia outra.
Foi então que ele gritou.
Talvez o primeiro grito genuino....
Pela primeira vez ela tinha triunfado e ele tinha sido derrotado. As garras da morte talvez fossem
inflexiveis demais, demais até para ele. Nesse dominio até mesmo o mal é vencido.
Contemplou o corpo morto daquela que amava. Daquela que ele queria matar.
Teria vencido?
Que vitoria amarga era aquela ? Choraria por ele ou por ela ?
Beijou-a uma ultima vez.
E de novo a tomou como se pudesse dar vida através da sua semente, como se pudesse vencer até mesmo
a propria morte.
Amou-a até perceber que no fundo, se ela pudesse sorrir, estaria a dar gargalhadas de vitória.
Bateu nela ferozmente.
Algo naquilo tudo parecia inocente demais, como se ela não fosse ela, como se tivesse cicatrizado
perfeitamente o que ele lhe tinha feito, como se ela mesmo na morte apagasse os registros da presença
animalesca dele.
Tirou o corpo morto dela daquele lago de sangue. Contemplou a suas vestes rasgadas, o vestido de cetim
branco, quase transparente, agora cheio de sangue podre já seco.
Arranjou o carro, e deitou o corpo dela sobre o tecido de camurça do banco traseiro.
Conduziu por algum tempo, entre árvores e caminhos perdidos.
Teria o seu olhar perdido a maldade?
Pos o carro ligado, mesmo na ponta de um velho precipicio sobre o rio. Olhou-a de novo.
Ele tinha triunfado. Ele sabia-o.
Empurrou o carro com toda a força ate que este caiu com toda a avidez sobre uma rocha lá em baixo e ia
sendo lentamente engolido pelas aguas do rio.
Ficou ali a olhar, enquanto a lua desaparecia para um pequeno raio de sol surgir.
Então voltou ao ventre da mae terra, satisfeito e corroido por dentro.
Começava um novo dia.
Iria ser um dia quente.

II

Se Edward Lanich não tivesse partido um pé nessa manhã, Daniel Wise nunca teria ficado com o caso de
Madeleine Crest.

Era uma manhã outonal.


Vestido com uma camisa cinzenta, cinto de cabedal, calças grossas com dupla protecção contra chuva,
gabardine beje e empunhando a arma no coldre ele saiu em direcção ao escritorio.
O seu velho Datsun branco tinha as janelas cobertas de gelo fino, da neve e frio que caira durante a noite.
Entrou no carro ao mesmo tempo que deitava fora um velho cigarro acabado de fumar. Ultimamente tinha
a mania lancinante de dar algumas passas no cigarro e apos deter o fumo pouco mais que um par de
vezes, deita-lo fora. Sentia que assim fumava menos vezes, e em menor quantidade, mas tendo o mesmo
efeito estimulante.
Sentou-se no banco frio do carro. Estava gelado.
Mesmo com a gabardine conseguia sentir o frio do carro a penetrar-lhe os ossos da coluna.
Olhou o relogio do carro. O visor digital marcava as 09h25.
Puxou a manga da gabardine e da camisa e deitou um olhar ao relogio omega que trazia.
- 9h15! Absolutamente precisos. – disse para si mesmo, deitando um sorriso.
Se havia coisa que Daniel gostava era de precisão.
Talvez por isso mesmo escolhera a profissão de detective de homicidios. E talvez por ser tão meticuloso e
interessado nos casos obtera tantas promoções. No departamento até brincavam com o seu nome
....Wise....absolutamente wise.
Apesar de estar de férias, a queda abrupta de Edward na noite anterior quando caira do telhado ao tirar as
velhas decorações do Natal, não lhe fizera mossa.
Pelo contrario, ele gostava do que fazia.
Se bem que mesmo em casa e de férias iria passar o dia de volta de 2 casos misteriosos que o assomavam
há algum tempo, e passar a tarde no café a jogar bilhar e a conversar com alguns amigos.
Mas voltar ao activo fazia-lhe bem.
- E quem sabe, se me dão estes ultimos dias para o Verão, assim poderei ir ate Stonehenge.
Retirou um pequeno pano dum compartimento do carro e limpou os vidros embaciados.
Depois retirou a pistola do coldre, embrulhou-a cuidadosamente no mesmo pano e pos ambos no porta-
luvas.
Esfregou as mãos e com um sorriso deu a volta a chave, iniciando a manobra de marcha atrás.
O carro rapidamente se pos na estrada e em menos de 35 minutos estava á porta do Departamento da
Policia Criminal.
Ao chegar ao 3º andar, da Avenida Trudue, Daniel encontrou o seu amigo Harry pasmado, enquanto
segurava numa mão uma chávena de café acabada de fazer e noutra um donut absolutamente coberto de
açucar.
- Um dia hás de me explicar como raio é que fazes isso ?- disse-lhe Harry enquanto olhava o relogio de
parede por cima do elevador, que marcava as 10h02 min.
- E um dia explicas-me como és capaz de comer isso assim – replicou Daniel olhando com ar repugnado
para o donut. – Mas agradeço pelo café.
Tirou o café da mão de Harry, que se limitou a grunhir algo e dirigiu-se para o seu gabinete conjunto.
- Liguei-te eram 8h40, tecnicamente da tua casa aqui são 40 minutos pelo menos, e ainda estavas a
levantar-te.
- Duche rapido, vestir, beber uma caneca de leite morno, por leite ao Ray, pegar no carro e vir – disse
prontamente Peter antes de beber um grande sorvo de café . – Ah, delicioso...deve ser a melhor coisa que
se bebe aqui!
- Sim, e era meu...
- Harry se queres mesmo saber e encerrando esta conversa porque vais ter que me por a parte do caso, vou
ter que ir falar com o David e depois partir com a equipe forense eu apanho da minha casa a rua paralela
ao comboio, não me meto logo na autoestrada, corto na High, entro na autoestrada já na curva com a
Jack’s avenue e sem soslaios não saio na Truman...saio na anterior, na dove’s.
- Porreiro – foi a resposta que Harry deverá ter dado enquanto falava com a boca cheia.
Daniel bebeu o resto do café num só trago e pos a caneca, em cima da secretaria do colega, que comia o
donut faustosamente.
Olhou de novo Harry e disse : - Santo Deus, tu limpa-me essa boca cheia de açucar, enquanto vou ao
gabinete do chefe.
Harry tirou um espelho do gaveta e olhou-se. No entanto antes que tivesse oportunidade, Daniel surgiu.
- Harry vê se acertas o relogio, está adiantado 2 minutos.
- E então! – berrou Harry.
Mas Daniel já tinha desaparecido.

Era um escritorio quase todo forrado a mogno.


No tecto 3 lampadas florescentes, tendo uma geralmente fundida, iluminavam o escritorio de David
Sinclaire, chefe do departamento dos homicidios e um dos mais prestigiados detectives dos anos 80.
Uma estante enorme á direita estava atafulhada em livros e pastas, dossieres de todos os tamanhos e
feitios, varias caixas e maços de folhas com processos antigos.
No cimo da secretaria, tambem ela de mogno, dispunha-se um velho computador, que alguns poderiam
dizer que era um mamarracho pre-historico, algumas fotos de familia, bem como de eventos da policia,
varios processos e dois dossiers, e ao lado da chapa com o nome e o titulo um bobblehead doll do
Sherlock Holmes, bem como um velho cachimbo.
Daniel Wise bateu a porta. Do lado de dentro, David Sinclaire escrevia algo no computador.
- Sim.
- Senhor, bom dia, ja cheguei. – disse Daniel respeitosamente abrindo a porta de soslaio.
- Entra logo Daniel, e obrigado – disse David tirando os olhos do computador – por interromperes as
ferias para substituir o Lanich! Logo aquele tinha que partir um pé.
Daniel entrou e avançou para a cadeira mas não se sentou.
David Sinclaire tinha cerca de 48 anos, era muito moreno, quase mulato. Tinha um porte alto, quase 1,90,
era magro apesar de acumular alguma gordura abdominal. Tinha um bigode e uma pera fininhos, bem
aparados, tal como o cabelo, cortado a maquina.
Envergava uma camisa azul escura, que contrastava com umas calças brancas. Como nos ultimos anos
tinha passado para o trabalho de escritorio fazia questão de vir simples, sem demasiados apetrechos ou
grandes ideologias na imagem. Era rude, cioso e respeitador. Um pouco abusador a pedir horas
extraordinarias, mas muito leal aos seus subordinados.
- Sente-se Wise! – disse bruscamente Sinclaire enquanto imprimia algo na impressora. – Ia po-lo no caso
de Winnesborought, mas infelizmente surgiu isto...
Sinclaire levou com a mão á impressora de onde retirou uma foto e um pequeno apontamento.
Era uma praia, e boiando sobre as águas um corpo.
Wise abriu muito os olhos.
- Um corpo....a flutuar?
- Sim, já mandamos retirar para a margem do rio. Não temos dúvidas que foi assassinato. Acabei agora
mesmo de destacar uma das nossas equipes para ir consigo até New Mountain, a cerca de 100 km daqui.
Daniel Wise continuava a contemplar a fotografia.
- Diz aqui que foi encontrada por uma jovem que passeava e que chamou a policia. Já identificaram o
corpo?
- A policia local, liderada por um Gregory Lynch já está a nossa espera. Vou mandar o Harry e a equipe
do Farendall pa Winnesborought, e a si vou mandar-lhe um dos nossos jovens infantes, Rafael Pinewood.
- Com todo o respeito senhor – interrompeu Daniel – acho que para um caso destes deviamos levar
alguem com mais experiencia.
- Daniel voce nao precisa de mais ninguem! Eu conheco-o.
David levantou-se, tirou algumas folhas que carimbou e assinou e entregou a Daniel.
- E este Rafael é muito competente, é um miudo, mas inteligente. Têm um helicoptero á espera em
Ferrinstad, dei autorização para depositarem na sua conta bancaria cerca de 10 000 euros. Deve dar para o
hotel, e para as despesas gerais, pelo menos para os primeiros dias.
Daniel levantou-se.
David entregou-lhe os papeis assinados e apertou-lhe a mão cordialmente.
- Boa sorte Wise!
- Obrigado pela confiança.
Daniel dirigiu-se á porta, pos a mão na maçaneta, mas antes da abrir voltou-se.
- Desculpe senhor, mas porque eu ?
David olhou a imagem do corpo a flutuar e disse :
- É simples Wise...não me agrada nada isto. E creio que é o homem indicado, porque mais que numeros e
contas bancarias como no caso de Winnesborought este é preciso instinto. Algo que me diz que a sua
memoria fotografica e os seus dons serão necessários.
Daniel acenou com um sorriso timido e saiu.
A primeira coisa que fascinou Daniel Wise ao contemplar New Mountain do helicoptero foi a imensidão
da paisagem. Eram florestas que se perdiam de vista, de pinheiros a elmos, de sicomoros a carvalhos,
coroadas por uma altissima montanha cujo topo parecia pintado de branco, um rio de agua cristalina que
trespassava toda a mata até ao mar. O Mar....imenso, brilhante de um azul pardo.
O Helicoptero parou num pequeno campo de futebol.
Antes que as helices parassem Daniel abriu a porta e desceu.

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