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22 0 discurso dos sons Certos compro resposta, tanto: no se acham alto grau de aut ‘quezas insuspeita: tempo nova ¢ antiga ¢ vérios problemas que Thes so correspon sentido profundo, — Wi. Haagvon cove u E). Metmuy “tones DO Yewsse we Gone” inevitveis: h& tantas perguntas ainda sem Yo mais encontrados, ou para os quais, . Contudo, onde é possivel atingir um as espirituais que fizeram o pasado fecundo. A prética da ica antiga adquire, entéo, para nés, além do prazer estético, um Compreensio da miisica e formagio musical Hé virios indicios de que estamos caminhando para um colapso total da cultura, do qual a misica naturalmente nao cstaria excluida, Ela & apenas uma parte da nossa vida espiritual ¢ intelectual, e como tal s6 pode expressar ¢ refletir 0 que se passa no todo. St € realmente to séria quanto eu a vejo, nao € correto que de bragos cruzados, esperando que tudo se acabe de vez. ‘A formagéo dos misicos desempenhi sentido um papel importante — por mésicos entendo qualq. fissio ligada & ati- vidade musical, ineluindo 0 ouvintes prof no fundo, até © piblico. Consideremos, nes © valor €.0 lugar que a mésica ocupa na hi ressamte saber que em “Ou seja, a partir do momento em que a linguagem tcanscende a sua _fungio de_informagdo prética ¢ adquire profundidade, ela esté asso- ciada a6 canto, pois com a sua ajuda, a mensagem, que ultrapassa concspeio musical. A palavra falada pode, lodias, harmonias, ter 0 seu sentido verbal intensificado, permitin¢o- nos atingir uma compreensio que extrapola a simples 16zica © aprofundamento da expressiio da linguagem; a misica encontrou rapidamente sua estética propria (cuja relagio com a linguagem con- abulério que deu a mésica um enorme poder sobre © corpo ¢ © espitito do homem. Basta observarmos pessoas owvindo imisica, para peresber 0 sentado imével exige realmente ‘movimento pode. intensificar-se até chegar ao éxtase, simples encadeamento de dissondncia 24 0 discurso dos sons resolugéo produz sentimentos de tensio e descontragio, Na melo- dia também encontra-se 0 mesmo fendmeno: cada sucessio me. l6diea obedece a certas regras, e quando a melodia corresponds exatamente a estas regras, sabe-se, apés quatro ou cinco notas, quais serio a sétima € a oitava; este ouvir antes produz entéo um certo Felaxamento interior, Caso 0 compositor queira provocar © estado de tenso no ouvinte, ele o fard, frustrando a sua expectativa, levan- do a melodia alhures, para s6 em outro momento satisiazé-lo com & seqiiéncia melédica esperada. Este € um processo extremamente complicado, 20 qual recorreram os compositores durante os varios séculos da hist6ria da misica ocidental. Quando estamos num con- certo que de fato estamos escutando © concentradamente — admi- tindo-se, € claro, que esta seja uma boa execugdo — sentimos os estados de tensio © descontragio, bem como as mudangas que se Processam em nossa cixculagdo, em nossa “audigio corporal”. O mesmo vale para a representacio dos sentimentos, desde os de na- turezacalma, leve, positives, ou dolorosos, até aqueles de alegria ‘mais intensa, de firia ou de c6lera; todos eles so de tal forma expressos na misica que sacodem o ouvinte € provocam sensagdes corporais. A. todas estas transformagGes do homem através da mii- sica acrescentam-se, naturalmente, as de ordem espiritual, Neste sen. tido, a misica tem também uma ‘moral, © csteve durante séeulos na posigfo de influenciar espititualmente ¢ transformar o homem, Obviamentela misica no ¢ intemporal) ao contrétio, esté ligada 0 seu tempo, e, como toda expressio 1 do homem, & de importincia primordial para sua vida, Durante um milénio, misica ¢ vida caminbaram juntas no panorama musical do Ocidente, o que quer dizer que fi’ mésica era parte essencial ‘da vidal— a miisica do momento presente, Em nossos dias, jé que esta unidade no mais acontece, precisamos encontrar uma nova compreensio sica. Quando pensamos na miisica atual, observamos, de que cla esté dividida “‘autsicg séria” (esta Gitima expressio, para mi destes grupos, encontram-se ainda parcelas da unidade — mas a unidade mésica ¢ vida, ¢ a mtisica como um todo se perderam, Na mésica folelérica, pode-se ainda descobrir uma certa unida- de, dela com 0 povo que a produziu, mas 10 logo seja reduzida uma forma de enclave, passard a fazer parte dos costumes, 0 que no deixa de repigsentar ‘um declinio cultural, j4 que os costumes 8 pa alewe Uf of wleae salt 2 fundamentais da misica e da Interpistagéo 2 rine niio deveriam ser algo “cultivado", mas sim algo pertencer' do momento que a designamos “costume”, ela se torna de museu. Na miisica popular encontramos, todavia, ainds vestigios da antiga fungio da misica. Neste caso, a influéncia cor- poral do ouvinte é claramente perceptivel. Considezo importante re- Aetir sobre a scguinte questo: por que hé atualmente, de um Indo, luma misica popular que desempenha na vida cultural um papel tio importante, mas nenhuma “misica séria" contemporiinea, de outro, desempenhando algum papel? ‘Na miisica popular ercontram-se vérios aspectos da antiga com- Preensiio musical: a funidade pocsia-canidy| que nos primérdios da misica foi to importante, a Tani ii i dade misica-tempo\ 2 miisica pop ou dez anos, portanto, & parte integrante do presente, Talver com 4 ajuda da mésica popular possamos ter uma idéia do que a mésica ‘antigamente representava na vida das pessoas; de qualquer forma, em seu dominio, apesar de restrito, a musica popular é atualmente uma parte essencial da vida, Chegamos agora at 16s dividimos em “mode tivada” por importantes ¢ il apenas para um diminuto efreulo de interessados que Pre © mesmo em toda parte. Nao 0 digo de mancira € que sinto realmente isso como o sintoma de um colapso que nao & j,Simples de ser entendido ¢ explicado.|Pois, quando a mésica se se- | para de seu pablico, isto néo é culpa nem da misica nem do pablico. |)De qualquer maneira, o problema néo reside nem na arte em geral Jnem na misica, mas na situagio espiritual e intelectual do tempé-) E ai que seria necessério que algo mudasse, pois a miisica é neces sarjamente um espetho do presente. Caso quiséssemos mudar_a mi- sica, haveria necessidade inicialmente de mudar o presente, {Nao ha uma crise da misica, mas a miisica reflete uma crise do nosso tempo) Tentar, pois, transformar a misica seria tio absurdo como scria ara um médico tentar tratar dos sintomas do paciente © no da oenga propriamente ‘curar” @ miisica contempo- rénea através de “ cul como, por exemplo, encorajando certas tendéncias que “agradam” — quem acredita ser isso possivel no compreende fungdo da misica na vida huma- na, Um verdadeiro compositor esereve, querendo ou no, aquilo que a situago espititusl de seu tempo the exige — do contraétio, 26 0 dlscureo dos sons principios fundamentals da misica © da interpretarto 21 cle ndo passard de um simples parodista produzindo imitagoes sob de miisica, mas sabia tocé-la, Sua compreensio musical era instin~ ‘encomenda, tiva; mesmo que ele nada pudesse explicar teoricamente, mesmo que E nés, 0 que fizemos? Nés “fugimos", isto 6, t no conhecesse as relagoes hist6ricas, estava preparado para fazer a giar-nos no passado desde que a unidade formada pel imiisica que fosse necesséria, Como ilustrago, tomemos um exemplo tural ¢ a vida deixou de Entdo, 0 chamado lingista conhecee compreende a construgéo © 8 tenta salvar e trazer ao presente a parcela da heranga cult musical dos tittimos mil anos, que, pela primeira vez, tem a opor ao cai ¢ mmo que é strumentistas © cantores durante mil anos de his- cles no sabem, mas podem e compreendem sem tunidade de observar de forma abrangente, Nesta tentativa ele toma, contudo, apenas um ou dois aspectos do todo, que julga pensa compreender. Esta é a mancira pela qual a musica ta nos dias de hoje: nés isolamos, do conjunto da misica dos filtimos milénios, os componentes 6 e, nesses, encontramos © Havia ainda 0 Fitsico completo, o que era tanto teérico quan- nosso prazer. Utilizamo-nos apenas dos trechos que agradam aos to pritico. Este conhecia e entendia a teoria, mas no a considerava rnossos ouvidos, do que é “belo”; com isto, mio percebemos que como uma coisa isolada e dissociada de uma prética auto-suficiente; dogradamos completamente misica, Néo nos interessa sbsoluta- ‘le podia compor e executar misica, no sentido de que conhecia ¢ | mente se estamos deixando de ouvir o contesido essencial desta mi- compreendia todas as relagdes. Era mais conceituado do que o tebrico | sica: procuramos apenas a beleza que talvez no complexo geral da € 0 pritico, pois ominava todss as forms do conhecimento e sagt, obra ocupe um espaco bem pequeno. ‘Mas, quem seria essa figura, atualmente? O FOmpositor de hojel | B, aqui, chego & seguinie questo: que posigio deveria ocupar 6 certamente um misico nesse sitimo sentido que descrevemos. Ele | a miisica nos dias de hoje? Seria possivel uma mudanea? E se for, possui o saber te6rico, conhece as possibilidades préticas; mas falta- essa fard algum sentido? Seria absolutamente falso o papel que a Ihe 0 contato vivo com ouvinte, com as pessoas que tém uma tmisica desempenha na vida atual? Na minha o; imperiosa necessidade de sua m(sica, Sem dtivida alguma, cle carcee , 6 ee nfo conseguirmos criar uma unidade entte daquele dese nova, daquela que & precisa- , entre nossa necessidade de misica e nossa vida musical — ita para satisfazer esse reclamo, J4 o prético, o instrumen- através de um equilibrio entre a oferta e procura da miisica sm principio tio ignorante como o era hi varios séculos. contemporinea, seja através de uma nova compreensio da interessa principalmente a execuglo, a perftigéo téenica, a classica, antiga —, vejo 0 fim préximo. Neste caso, somos ainda qais fvagio num concerto, ou o sucesso. Nao ctia misica, simplesmente .V|\gue conservadores de museus, ¢ no fazemos nada além de mostrar a toca, Como nao hé mais uma unidade entre sua época e a misica “pvHif© que j4 houve um dia; eu me pergunto se hé muitos mésicos inte- {que toca, falta-The 0 conhecimento natural sobre esta mtsica, a0 con~ pe "Tressados nisto. trério dos misicos das épocas anteriores que 86 tocavam obras de seus contempordneos. Nossa vida musical, portanto, encontra-se num: por todo lado hA éperas, orquestras sinfénicas, sa fim, uma rica e variada oferta para o piblico, Mas nés tocamos, fugares, uma mésica que nfo compreendemos, uma mésica Tratemos agora do papel do mrisico, Na Idade Média, havia uma separago definida entre teéricos, préticos e mtisicos “comple- tos". O tedrico era aquele que compreendia a construgio da mi: mas ndo a executava. Ele ndo tocava, nem compunha, mas ent @ montagem e a construgao teérica da miisica e gozava de alta por parte de seus contemporineos, pois a teoria da feita para pessoas de outras épocas; ¢ o mais curioso desta situagtio, como uma ciéncia autdnoma, para a qual’ a misica ue ignoramos tudo'sobre este problema, pois acreditamos que nada dade nao possuia importincia alguma, (Ocasionalmente, encontramos ha para ser compreendido, jé que a mésica fala diretamente a0 co- certos reflexos desta concepsao nos musicélogos atuais.) O prdtico, ago, Todo misico aspira & beleza e & emogio, o que Ihe parece a0 contrétio, néo possufa qualquer conhecimento teérico a respeito perfeitamente natural, e constitui a base de suas possibilidades de 28 0 discurro dor sons expresso. O saber, que seria indispensével pelo fato mesmo de te) @eixado do existir uma unidade entre a musica e a épcea, no The interessa, aliés nem poderia interessar, pois ele néo avalia ‘a impor- tincia deste conhecimento. Resultado: fexpressa somente os compo- nentes estéticos © emocionais da miisiea e ignota o resta contedido,| Esta situago é ainda reforgada pela imagem do que se forjou no século XIX; 0 romantismo fez do artista, tivamente, uma espécie de “super-hom I", Ele se tornou gava como tal e como tal se fazia de~ a fimbria do roupio de Wagner, is para o seu tempo. Mas a imagem do arti nesta época decadente, ficou petrficada, como tantas desse século, ‘Agora a perguata: o que deveria ser o artista, na ‘maneira como deveria ser compreendida a miisica hoje em dia nos oderia dar a resposta, Se 0 misico tem realmente a missio de transmitir toda a heranga musical — em toda a extensio daquilo que nos interessa — © nfo 86 nos seus aspectos estéticos e técnicos, isso ele precisa adquirir os conhecimentos nevessérios, Néo hé solugto possivel. Devido ao seu!distanciament arago de sua época, a misica do passado da hist6ria © em seu contexto geral, uma Ifngua ‘aspectos particulares podem até possuir valor universal e intemporal, mas sua mensagem particular é | ‘mais amplo e profundo, — ou pelo menos parte ‘como acontece hoje em dia, na maioria dos casos — & neces que @ compreensio desta mésica seja reaprendida a partir de suas ‘roprias leis e regras. Precisamos saber o que a musica quer dizer, Para compreender 0 que nés queremos di 1. O saber deve agora precedet 0 puro sentimento Sem este co- nhecimento histérico, € impossivel transm mada “mésica séria”, de maneira adequada. rincipios fundamentals da mitsca e da interprstasto, 29 4 interpretar a mésica, Nestas circu no havia problemas, a evolugdo dos estos se processava gradativamente, pasando de uma geragdo A outra, de maneira que qualquer mudanga nos conceitos, nas idéias, néo era uma mudanga propriamente dita, mas sim um crescimento ¢ uma transformagio orginicos. Hé em todo este desenvolvimento algumas interessantes ruptu- as que passaram a questionar e modificar a relacio mestre-aprendiz Uma destas rupturas € afRevolugiio Francesa) Dentre as transfor- magdes que a Revoluca talmente nova que que esta nfo trabatha com palavras, mas sim com “venenos” de efeito seereto —, se poderia influenciar as pessoas. Naturalmente que o aproveitamento politico da arte para clara ou imperceptivelmente doutrinar 0 “cidadio” ou o sidito j6 vem de longa data; apenas isto ainda no tinha sido aplicado & mésica de forma tao sistem No método francés, tratava-se de integrar a misica ao processo politico geral, através de uma minuciosa uniformizagio dos estilos musicais. © principio te6rico era o seguinte: a miisica deve ficientemente simples, para que possa ser por todos compreendida (contudo, a palavra “compreender” perde aqui 0 seu sentido pré- prio); ela deve tocar, excitar, adormecer.,. soja a pessoa culta ou 30 e discurto dos sons no; ela deve set uma “lingua” que todos entendam, sem precisar aprendé-la, Estas exigéncias s6 foram necessérias © possiveis porque a md- sica da época precedente dirigia-se primeiramente aos “cultos”, as pessoas que aprenderam a lingua musical, A educagdo musical no Ocidente sempre foi parte integrante e essencial da educagdo. Quando se renunciou & educago musical tradicional, a comunidade elitista de musicos e ouvintes cultos deixou de existir. A partir do momento fem que a misica deve ser dirigida a todos, que 0 ouvinte ndo precisa lade do piblico, (Os fil6sofos dizem respeito: Yguando a arte nada mais faz do que agradar, ela serve apenas para ignorantes. ‘estas condigbes,"Cherubi i colocou um termo na antiga relagdo ‘mestre-aprendiz no conservatério, Ele encomendou s grandes ridades da época obras didéticas, que deveriam realizar, na m © novo ideal de égalité (igualdade). Foi nesse contexto que Bi escreveu sua Arte do violino e Kreutzer seus Estudos. O8 mais im- portantes professores de mtisica da Franca precisavam consignar as novas idéias num sistema rigido. Tecnicamente, tratava-se de substi- tuir a retérica pela pintura, Foi assim que se desenvolveram 0 soste- ‘uto, a grande linha, o legato moderno. Evidentemente a grande linha melédica j4 existia antes, mas constituida perceptivelmente de pe- quenas células reunidas num bloco, Esta revolugio na educago mu- sical foi de tal forma radicalmente levada adiante que, em algumas décadas por toda a Buropa, os mésicos passaram a ser formados pelo sistema de conservat6rio. Porém,,o que me parece majs groteseo & que, ainda hoje, tenha~ mos esse sistema como a base de nossa educagio musical! Tudo 0 que era anteriormente importante foi dissolvido. # interessante realgar que 0 primeiro grande admirador da nova ‘maneica de se fazer m@sica foi Richard Wagner. Ele regia a orquestra do conservatério, ¢ ficou entusiasmado ao ver como as arcadas dos violinos se fundiam umas nas outras, como suas melodias eram amplas, € 0 que, a partir daf, se poderia pintar com o auxilio da misica. Em seguida, repetiu constantemente que jamais havia alcan- cado tal legato com orquestras alemis. Estou convencido de que este método é perfeito para a misica de Wagner, contudo é absolutamente principios fundamentate da miisice ¢ da interpretagdo 3. fatal para a mésica anterior a Mozart, Estritamente falando, 0 mi sico atual recebe uma formagao, cujo método & muito pouco com- preendido, tanto pelo seu professor, quanto por ele mesmo. Ele aprende 0s sistemas de Ballot e de Kreutzer, que foram concebidos para seus contemporinegs, ¢ 0s aplica a misica de épocas ¢ estilos ciramente diversos) Aparentemente, sem qualquer reflexo, so uti- atual prinojpios te6ricos que hé eento k citenta anos faziam sentido, mas que, hoje em dia, nfo se com- yreendem mais. ) y Nos digs de hoje, onde a misica atual € a mésica historica Row (quer queiramos ou néo), a formagio do mtsico deveria ser com- pletamente diferente e repousar sobre outros principios. Esta for Imagio nfo se deveria restringir apenas ao ensino de onde colocar © dedo no instrumento parg_pgoduzir um determinado som, ou de como sai vitwosdeds Uma formagio demasiado ‘nic no produz misicos, mas ecroba ites) Brahms dizia que para tormar-se um bom mtsico era preciso empregar tanto tempo Iendo quanto estudando piano, cutamos a misica deaproximadamente quatro séculos, precisamos, ideais para a exccugdo de cada género de miisica. Um vi a mais perfeita técnica de Paganini e de Kreutzer nao deveria acre- ditar-se “dono” das ferramentas necessérias para executar Bach ou Mozart, Para tal, ele precisaria conhecer as condigdes téenicas € 0 sentido da misica “elogtiente” do séewlo XVIII. Tratamos aqui de apenas um lado da questo, pois 0 ouvinte precisaria também aumentar e abranger seus conhecimentos. Sem 0 saber, ele ainda € vitima da infantilizagio que se seguiu a Revo lugdo Francesa, Beleza ¢ sentimento so para cle — assim como para a maior parte dos misicos — os tinicos componentes aos quais, se reduzem a percepcio e compreenstio musicais. Em que cot ‘a formagio do ouvinte? Na educagéo musical adquirida na esc € nos concertos aos quais ele assiste. E mesmo aquele que nfo possui educagio musical ¢ que nunca vai a concertos recebe, apesar uma formagéo musical, j& que, atualmente, no mundo ocidental, néio 4 ninguém que no ouga radio, {Os sons que, catidianamente, che- gam ao ouvinte, formam-no musicalments, ¢, sem que ele 0 perecba, imprimem 0 valofe 0 significado — positivo ou negativo — da milsica, 320 discurs0 dos sons Ainda um aspecio do ponto de vista do piblico: a que concer: tos vamos? Somente aqueles onde serio executadas miisicas que co thecemos, Este € um fato que pode ser comprovado por qualquer ‘organizador de concertos. Por mais que o programa desempenhe uma fungGo, 0 ouvinte 56 quer ouvir aquilo que jé conhece, Isto 08 efeitos so concebidos para qu ‘ouvinte seja conduzido e até mesmo literalmente dilacerado por essa ‘obra, nesse caso, supde-se que nés ndo a conhesamos, « obra esteja sendo ouvida pela primeira vez, Desia forma, 0 compositor pode, contrariando nossas expectativas, dar-nos um choque, como por exem- plo ao escrever a preparagao de uma cadéncia perfcita, que conduza a uma cadéneia interrompida;* s6 que uma cadéncia interromp'da id conhecida nao interrompe coisa alguma, ela deixa de ser uma cadéncia interrompida, Existem infinitas possibilidades dessa espécie © mossa misica € justamente constituida destes efeitos: conduzir 0 ouvinte @ idéia da obra, ao seu conteddo, através de surpresas € choques. Porém, estas surpresas e choques no mais ocorrem nos dias atuais: quando ouvimos uma sinfonia na qual 0 compositor inseriu centenas de sustos desse tipo, nés jé agugamos os. ouvidos uns dois compassos antes da passagem em questio, para ouvir “como Rigorosamente falando, se ndo fosse, talvez, pelo como da execugio, nfo haveria mais porque executar tal pera, pois afinal ela jé 6 tao conhecida, que é incapaz de suscitar qualquer susto, surpresa ou encantamento, Ora, o encantamento, j néo 0 sentimos tanto, pois néo queremos mais ser cativados, nem surpreen- didos; nos interessa bem mais extrair da misica um certo prazer ¢ mo set que esse Ou aqucle msico iré tocar tal pega? Seré “bela” passagem néo poderia ficar ainda mais bela tocada 10? Aquele ralentando no poderia ser ainda mais ralen- tado, ou quem sabe, um pouco menos? E assim, nessas pequenas comparagies de diversas lidades se esgota toda nossa audigao musical ¢, com elz, chegamos a um estégio ridicularmente primitive —D de percepslo. | desejo que possuimes — totalmente estranho uo completo para a fungio da referida cadéncia, (N. do T) rincipios fundamentals da misica © da interyretasto 38 | homem de outras épocas — defouivir sucessivas vezes uma: obzalqle | amamos, € suficiente para mostrar a diferenga essencial dos habitos ) auditives de ontem e de hoje, Estou certo de que néo hé ninguém { que queira deixar de repetir as obras que freqiientemente ouve, em favor de coisas novas. Somos como criasigas que sempre querem | ouvir de novo a mesma fabula, pois se lembram de cates necioe eee que guardaram na meméria quando os descobritam pela pri- oo ndo consigamos despertar nosso[Interesse por aquilo que ainda no conhecemos }— seja antigo ou novo —, caso no consi. gamos também recuperar a significagao do cfcite da musica — to que atua sobre nosso espitito ¢ nosso corpo — & porque, entio, [® prética musical teré p todo e qualquer sentido. |Terd sido inGtil 0 esforgo dos grandes compositores, quando preencheram suas obras com uma expressio musical que, hoje, j nfo nos toca e sequer compreendemos, Se eles houvessem desejado colocar nelas somente a beleza — a tinica que tem, para nés, alguma significagio, teriam poupado tempo, trabalho e esforgo. da mésica por si s6 néo é su 105 que os misicos aprendam a melhor, as vérias linguagens dos varios estilos musicais e que, na ‘mesma medida, os ouvintes possam ser levados, por sua formasdo, 8 compreender esta linguagem, esta prética musical embrutecedora cstetizante no serd mais accita, bem como a monotonia dos progra- mas de concertos. (Seré que estas mesmas obras — tocadas igual- loscou e Paris — representam de fato a esséncia ‘Como conseqiiéncis I6gica, a separagéo entre i assim como entre a misica seu tempo, desapareceré, e a vida cultural ird encontrar novamente sua unidade, Frobjetivo da educagio musical em nosso tem | Po.J4 que ha instituigdes destinadas a este fim, deveria ser facil mudar ¢ influenciar seus objetivos, dando-lhes um contetido novo. Do mesmo modo que a Revolugdo Francesa conseguiu, com o seus Programa do conservatério, uma mudanga radical na vida musical, a €oca atual também poderia consegui-lo desde, 6 claro, que esteja- ‘mos convencidos da necessidade destas mudancas,

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