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CATÓLICA DE
BRASÍLIA
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
STRICTO SENSU EM EDUCAÇÃO
Mestrado
JUVENTUDE E CIBERESPAÇO:
IMPLICAÇÕES DO USO DA INTERNET NA CONSTITUIÇÃO
DA SOCIABILIDADE JUVENIL
BRASÍLIA 2012
JOSÉ REINALDO OLIVEIRA
JUVENTUDE E CIBERESPAÇO:
IMPLICAÇÕES DO USO DA INTERNET NA CONSTITUIÇÃO
DA SOCIABILIDADE JUVENIL
Brasília
2012
TERMO DE APROVAÇÃO
______________________________________________________________
Prof. Dr. Carlos Ângelo de Meneses Sousa
Orientador
____________________________________________________________________
Prof. Dr. Candido Alberto Gomes
Coorientador
____________________________________________________________________
Prof. Dr. Carlos Alberto Lopes de Sousa
Universidade de Brasília – Programa de Pós-graduação em Educação - UnB
____________________________________________________________________
Prof. Dr. Ricardo Spindola Mariz
Programa em Gestão do Conhecimento e da Tecnologia da Informação - UCB
Brasília
2012
Dedico este trabalho à minha mãe, Maria Glória
de Oliveira, pelo seu amor incondicional e
provedor. Sua Vida é um dom que me abençoa
em todas as circunstâncias. És poesia em mim:
A Deus, por tamanho cuidado para comigo, mesmo em vista dos meus
constantes descuidos para com Ele. Conhecimento e Sabedoria pertencem àqueles
que o amam.
Amid the dynamics created by the network society, in the words of Castells, there is a
youth who found new meaning and ways of relating with others in cyberspace. The
present study investigated the formation of youth sociability in virtual environments,
such as social networking, interactive spaces where the youth tend to feel free to
express ideas, feelings and world views. The population studied was comprised of
ten young people who attend the private school and private higher education in the
Federal District. This is an exploratory qualitative research, developed as part of a
larger project on the theme, in progress, led by the Chair of the UNESCO Youth,
Education and Society at the Catholic University of Brasilia. The techniques of data
collection were semi-structured interviews, analysis of virtual profiles of the
participants, the discussion group installed on the Facebook social network, whose
data were submitted to content analysis. The theoretical relied mainly on the works of
Castells, Levy, Simmel, Baudrillard, among others. The results were surprising
because they revealed specific modes of sociability virtual environment, such as
juvenile routes in the network and interaction. From this, one can understand the
motivations that lead young people to access social networks and other sites, in a
ceaseless quest for the Other and the desired exposure risk. The Youth seek to
strengthen the social circles presence through virtual interaction and testing of
multimedia activities on the Internet, revealing fashions and other ways to play the
society and its rules. The process of grouping and cooperation in the network does
not happen out of the contradictions and tensions, the constituent elements of social
dynamics, gaining particular contours in cyberspace, such as the establishment of
relationships in social networks and acquired privileged status because of the high
amount of contacts or "friends”. Another important discovery regards the permanent
importance that new technologies, especially the Internet, have taken in the lives of
youth because of their studies. This fact leads to new possibilities, such as interactive
and landless learning. The role of the youth in the context of cyberspace is a new
phenomenon, but it has revealed its changing and challenging character, especially
given the emergence of the expansion of the field of contemporary youth, eager to
find meaning in new territories.
INTRODUÇÃO .......................................................................................................9
CAPÍTULO I – ELEMENTOS DA PESQUISA ........................................................12
1.1 – O PROBLEMA ...............................................................................................12
1.2 – OBJETIVOS ..................................................................................................14
1.2.1 – Objetivo Geral ............................................................................................14
1.2.2 – Objetivos Específicos .................................................................................14
1.3 – JUSTIFICATIVA................................................................................................14
1.4 – METODOLOGIA ............................................................................................15
1.4.1 – Tipo de pesquisa e Instrumentos ................................................................15
1.4.2 – Participantes da pesquisa....................................... .....................................18
1.4.3 – Procedimentos de coleta e análise de dados .............................................21
CAPÍTULO II – REVISÃO DA LITERATURA .........................................................25
2.1 – “ADMIRÁVEL MUNDO NOVO”: AS NOVAS TECNOLOGIAS DA
COMUNICAÇÃO E A RECONFIGURAÇÃO DAS RELAÇÕES SOCIAIS ...............25
2.2 – JUVENTUDE NO CIBERESPAÇO: SOCIABILIDADES A PARTIR DAS REDES
SOCIAIS DA INTERNET .........................................................................................30
2.3 – JUVENTUDE E COOPERAÇÃO NA REDE ...................................................38
2.4 – JUVENTUDE E FORMAÇÃO NO CIBERESPAÇO: CONCEPÇÕES DE UMA
NOVA EDUCAÇÃO .................................................................................................41
2.4.1 – Crítica a Educação Tradicional......................................................................42
2.4.2 – Possibilidades da Educação Dialógica ........................................................44
2.4.3 – Educação, Juventude e Ciberespaço............................................................45
CAPÍTULO III – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS........................................48
3.1 – ITINERÁRIOS VIRTUAIS E INTERAÇÃO JUVENIL NA INTERNET...............49
3.2 – PROCESSOS DE AGRUPAMENTO E COOPERAÇÃO..................................66
3.3 – PROCESSOS EDUCATIVOS NA REDE..........................................................74
CAPÍTULO IV – CONSIDERAÇÕES FINAIS E APONTAMENTOS.........................82
REFERÊNCIAS ........................................................................................................88
APÊNDICES...............................................................................................................92
ANEXOS ..................................................................................................................97
INTRODUÇÃO
9
é, antes de tudo, uma maneira de existir no e com o ciberespaço como sujeito de
criação e transformação (DEMO, 2004; COELHO; ASSUNÇÃO, 2010), realidade
ainda não levada em consideração por muitos pesquisadores.
Essa sociabilidade virtual pode ser observada em todos os cantos da rede
e de maneiras diversas conforme a cultura circundante. Isso porque a juventude
dominou aquilo que Demo (2004) chama de “outra forma de presença”, que se
revela em forma de decodificações escritas em blogs, em posicionamentos de toda
ordem em sites de relacionamentos, em imagens (fotos do cotidiano) postadas em
álbuns virtuais etc. O que fica patente diante dessas e de outras expressões é a
complexidade dessa nova relação, ainda envolta em tabus e mitos (ALMEIDA,
2006).
Assim como a presença consciente, física e transformadora do sujeito no
mundo revela ações, reflexões e tensões (FREIRE, 1997, 2010), a presença virtual
também tem as suas implicações práticas, com algumas singularidades, é verdade,
mas profundamente reais, uma vez que parte de seres humanos reais. Dessa forma,
a complexidade da vida cotidiana é reproduzida no ciberespaço, mostrando que
todas as expressões ou sociabilidades vivenciadas nesse contexto podem ser
analisadas e investigadas a fim de se desvelar tal problemática. Em muitos casos,
novas complexidades são produzidas em tal contexto, o que vale o esforço para
compreender essas dimensões da existência humana.
É preciso partir do pressuposto de que a formação da juventude atual está
intimamente ligada ao desenvolvimento das novas tecnologias da informação, em
especial da internet (COELHO, 2010). Ao mesmo tempo em que essas ferramentas
servem de meios de comunicação e expressão das singularidades juvenis,
contribuem também para a formação de referenciais relacionados ao trato com o
Outro (MALDONADO, 2000) e envolvem relações de poder, em seu exercício,
democráticos ou não (SOUSA, 2011).
A “Geração @” (SETTON, 2009), é caracterizada pela pressa exagerada,
pela impaciência sempre presente e pela forma diferenciada de tratar as
informações que fluem livremente na rede. Essa juventude presa pela interatividade,
pelo movimento, tanto no cotidiano de suas vidas quanto no ambiente virtual. Eles
são o resultado de um mundo organizado em redes, conectado, onde a informação
percorre longas distâncias em segundos (CASTELLS, 2009, 2010). Esse perfil
juvenil, potencializado pelas novas tecnologias da informação, geram expressões e
10
tensões específicas, por isso, se faz necessário refletir e compreender os
significados de tal problemática.
Este trabalho discorre sobre as implicações do uso da internet e das redes
sociais na constituição da sociabilidade juvenil, sobre as dimensões práticas da
interação da juventude no ambiente virtual, identificando suas peculiaridades na
internet e nas redes sociais interativas, espaços onde essa geração se sente a
vontade para expressar sentimentos e reconstruir percepções subjetivas acerca de
si mesma e do mundo a sua volta. Serão apresentadas algumas temáticas, como:
significados das expressões juvenis nas redes sociais da internet, processos de
agrupamento e cooperação e como acontecem os processos educativos na rede.
Discorre também sobre os itinerários seguidos, a partir de referenciais
metodológicos, como a exploração/análise das redes sociais interativas, aplicação
de entrevistas semiestruturadas e debate dos temas em um grupo de discussão
instalado na rede social Facebook. Na seção que versa sobre a revisão de literatura,
cotejou-se a obra relacionada ao ambiente virtual e suas implicações nas relações
humanas. Para isso, teorias de alguns autores como, Lévy (2010, 2009), Castells
(2010, 2009, 2004) e Baudrillard (1991) foram visitadas. Outras pesquisas e obras
sobre a relação entre juventude e internet foram analisadas, com o intuito de
encontrar uma lacuna para que a partir dela fosse descortinada a problemática e o
resultado da pesquisa que agora se apresentam.
11
CAPÍTULO I – ELEMENTOS DA PESQUISA
1.1 – O PROBLEMA
12
expressar seu protagonismo. A mediação se dá por meio da internet, encarada como
um imenso oceano por onde a juventude pode fluir em direção aos encontros
virtuais, a ressignificação de normas e condutas sociais e a reinvenção da própria
identidade. As chamadas redes sociais da internet também ajudam nesse processo,
como uma plataforma virtual de encontros. O fato é que a juventude tem reinventado
suas sociabilidades e a constituição de seus laços sociais no ciberespaço.
Simmel (2006) recorre ao conceito de sociabilidade para apresentar a
problemática das interações sociais, um terreno onde os indivíduos de uma
determinada sociedade abrem mão de seus condicionamentos objetivos, no caso do
status social, posses e outros bens materiais, e também de características
puramente pessoais, para, a partir desse despojamento, “jogarem a sociedade”.
Esse jogo de “faz de conta” não pode ser encarado como uma mentira, pois
representa um impulso sociável legítimo dos indivíduos que participam de tal
interação. Tanto conversas, olhares e expressões descomprometidas são formas
onde pode ser encontrado o impulso sociável e, consequentemente, a sociabilidade
em sua forma pura (SIMMEL, 2006).
Com o advento das novas tecnologias da comunicação, em especial da
internet, representada como uma imensa rede (CASTELLS, 2009, 2010), onde é
possível potencializar as interações sociais em vários níveis, sociabilidades
específicas surgiram, conferindo complexidade ao terreno das relações humanas.
Dentro desse novo universo, a juventude vem se destacando como um segmento
social que aprendeu a usar os mecanismos da rede e se sente a vontade para
expressar sentimentos, visões de mundo e interações diversas, encarnando, assim,
uma nova maneira de “jogar a sociedade”. A juventude percebeu que é possível
existir com outros para além da rigidez do cotidiano, no ciberespaço (LÉVY, 2009). E
esse novo terreno se apresenta como problemática a ser investigada.
Todo esse contexto ora apresentado gera a seguinte questão primordial:
Quais as implicações do uso da internet e das redes sociais interativas na
constituição da sociabilidade juvenil? Assim, pretende-se investigar as complexas
relações entre a juventude e o ciberespaço, desdobrando-se em temáticas como:
constituição dos laços sociais, grupos de cooperação na rede e formação educativa
no ambiente virtual.
13
1.2 – OBJETIVOS
1.3 – JUSTIFICATIVA
1.4 – METODOLOGIA
15
A – Exploração/Análise da Rede Social Interativa
B – Entrevista Semiestruturada
16
relação aos comportamentos das pessoas em contextos sociais específicos
(GASKELL, 2000).
É importante esclarecer para os entrevistados o objetivo dos dados
coletadas, o direito ao sigilo profissional e a interrupção da entrevista. Somente ao
término dessas orientações e após o livre consentimento e autorização expressa
(FALCÃO; TÉNIES, 2000) é que as entrevistas são iniciadas.
Nessa pesquisa foi utilizada a entrevista semiestruturada, que se
caracteriza pela elaboração e pelo uso de um roteiro prévio para o bom andamento
da mesma. A partir desse roteiro o entrevistador pôde conduzir a dinâmica de
maneira tranquila. A entrevista foi gravada e transcrita posteriormente.
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O grupo de discussão funcionou por uma semana e ajudou na clarificação
de posicionamentos expressos nas entrevistas. Ajudou também a problematizar
posicionamentos sobre a atuação juvenil em questões sociopolíticas e educativas na
rede, compreendendo assim os itinerários virtuais que levam à constituição da
sociabilidade desse segmento social em um território particular. O pouco tempo de
funcionamento do grupo se deve aos prazos apertados para a entrega dos
resultados do presente trabalho. Além disso, o período de uma semana foi o
suficiente para coletar os dados necessários.
De forma geral, a experiência do grupo de discussão serviu para apontar
algumas possibilidades com relação ao engajamento da juventude nas redes sociais
e também atribuir sentido prático às suas intervenções nas entrevistas. Por meio do
grupo foi possível observar também como funcionam as interações juvenis na rede.
D – Análise de Conteúdo
18
destacado pela força do comércio e fluxo constante de pessoas que vêm de outras
regiões para nela trabalhar. Os jovens que participaram da pesquisa faziam parte de
famílias emergentes economicamente, pessoas que desde cedo compreenderam a
importância da mobilidade social a partir de uma escolarização reforçada pelo uso
de computadores e afins. Vale lembrar que, apesar desses jovens terem crescido
perto de tais tecnologias, não abandonaram os círculos de amigos constituídos em
espaços físicos de encontro social, como escolas, igrejas, clubes sociais, bairros etc.
O grupo de jovens que participou da pesquisa é heterogêneo em três
aspectos: idade, sexo e escolarização. Segue a caracterização dos mesmos na
tabela abaixo:
Jovens
caracterizados
pelos Idade Sexo Escolarização
símbolos J1 a
J10.
J6 19 Feminino 2º semestre da
faculdade
J7 19 Feminino 2º semestre da
faculdade
19
J8 18 Feminino 2º semestre da
faculdade
J9 19 Masculino 3º semestre da
faculdade
Por ser uma geração que nasceu e cresceu cercada pelas novas
tecnologias da comunicação, no caso particular da internet, e por apresentar um
maior domínio das mesmas, justifica-se a escolha desse grupo. Além disso, o uso
dessas tecnologias criou uma “cibercultura” (LÉVY, 2010) entre esses jovens, que
expressa padrões de conduta e processos associativos que são particulares a esse
segmento social. A presente amostra é seletiva e intencional.
O grupo investigado, pelo menos os estudantes de ensino médio,
participava de uma instituição religiosa protestante (Igreja Presbiteriana do Brasil)
localizada em Taguatinga-DF, espaço que reúne vários jovens que cursavam o
Ensino médio em algumas escolas particulares dos seus arredores. Esses jovens
reúnem-se semanalmente para participarem de reuniões religiosas, atividades
esportivas e sociais. A escolha dessa instituição justifica-se pela sua dupla
dimensão, agregadora num primeiro momento, pois reúne dentro de si jovens que
apresentam posicionamentos e culturas diversificadas, vindos de vários contextos
educativos (famílias e escolas), mas que convivem de maneira aparentemente
harmônica. Esse lugar constitui-se num núcleo de encontros sociais, para onde aflui
a dinâmica juvenil.
Mas esse contexto é permeado também de constantes tensões, uma vez
que suprime certos desejos individuais que costumam entrar em conflito com as
doutrinas institucionais. Com essa diversidade e complexidade de relações entre os
atores sociais, pôde-se extrair opiniões também diversas e até conflituosas entre os
jovens sobre a relação juventude e internet, características que ajudaram na coleta
de dados tanto nas entrevistas quanto no grupo de discussão, que prima pelo
elemento divergente em seu processo. Da mesma forma, a entrevista individual
semiestruturada pôde revelar aspectos particulares da vida desses sujeitos,
relacionando-os ao ambiente virtual.
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É importante salientar que o interesse do presente trabalho reside na
constituição da sociabilidade juvenil, tendo a internet como palco de interação entre
os participantes desse segmento. Não foi do interesse desta pesquisa tratar de
questões relacionadas às dimensões religiosas da referida instituição protestante.
Sua citação neste trabalho se deve ao seu aspecto agregador, ou, como sendo um
ponto de encontro para os diversos jovens que nela se reúnem semanalmente. Essa
confluência de pessoas para o mesmo ponto foi o aspecto primordial para a escolha
da instituição e das pessoas que a frequentam.
A outra parte dos jovens, universitários que cursam até o 3º semestre, foi
escolhida a partir de uma experiência de monitoria na disciplina Educação e
Problemas Contemporâneos (CCI2), do curso de Pedagogia da Universidade
Católica de Brasília. A escolha dos mesmos justifica-se pelo uso constante do
computador e da internet em atividades da própria disciplina, tendo a plataforma
Moodle como uma das ferramentas pedagógicas. Os estudantes realizavam várias
atividades de leitura e avaliação por meio dessa plataforma, o que se constitui em
subsídio relevante na elaboração das respostas por parte dos jovens investigados.
21
Ilustração 1
Ilustração 2
22
A página possui também ferramentas onde é possível postar fotos em um
formato de álbum virtual. Esses álbuns foram visitados e suas fotos analisadas.
Segue a ilustração 3, representando o layout da página.
Ilustração 3
23
acréscimos de outros elementos, a partir de um roteiro específico de perguntas,
constituído por seis questões problematizadoras. Nesse formato, a intenção foi que
todos os participantes contribuíssem com a conversa/debate, propiciando um
confronto entre o que é expresso no ambiente virtual, individual e coletivamente.
Esse instrumento pôde ajudar a apreender aspectos que não foram revelados nas
entrevistas individuais.
Depois de transcritas e analisadas as falas das entrevistas individuais,
houve a comparação entre todas as opiniões expressas, tomando como referencial
os dados coletados no ambiente virtual e depois as intervenções no grupo de
discussão. Essa articulação propiciou a apreensão de significados e visões de
mundo de maneira mais profunda.
24
CAPÍTULO II – REVISÃO DE LITERATURA
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se resumia às cidades ou às grandes metrópoles. Era nesse pedaço de chão que a
vida acontecia em toda a sua plenitude.
Em sua análise da metrópole moderna, Simmel (2006) chama a atenção
para a heterogeneidade da convivência social, onde as diferenças são acolhidas e
relativizadas devido a uma maior autonomia que esse centro urbano gera nos
indivíduos, se comparado aos vilarejos pré-modernos. Esse é um espaço de
movimentação humana caracterizado pelo individualismo do dinheiro, pela liberdade
física (SIMMEL, 2006) e pelo charme da geografia e da arquitetura antiga
(CASTELLS, 2010). O que predominava, e por que não dizer que ainda predomina
em certas populações do globo, é a lógica do “espaço de lugares” (CASTELLS,
2010), cujos referenciais se associam às dimensões tangíveis do território.
A internet e seus desdobramentos tecnológicos trouxeram o surgimento de
outro espaço social, não mais caracterizado pelos limites dos grandes centros
urbanos, das metrópoles, mas identificado pela interconexão da rede mundial de
computadores, fato esse que reconfigura a própria vida social, tanto em sua
dimensão física quanto virtual. Esse ciberespaço, que existe para além do espaço
físico, também influenciou e influencia a vida dinâmica das novas cidades do século
XXI, ou seja, a galáxia da internet (CASTELLS, 2004), além de criar seu mundo
particular, também reconfigura as dimensões e as relações das megacidades atuais,
gerando uma lógica do “espaço de fluxos” (CASTELLS, 2010).
Sobre a urbanização do terceiro milênio, característica de uma sociedade
organizada em redes, Castells (2010) afirma o seguinte:
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articulação entre as cidades e as cibercidades, entre a realidade territorial e a virtual,
entre a atuação dos sujeitos na rede e a construção de uma rede de colaboração e
participação dentro da sociedade (LÉVY, 2010). Por isso é que Lévy (2010, p.194)
explicita claramente: “O ciberespaço é um potente fator de desconcentração e
deslocalização, mas nem por isso elimina os ‘centros’”. Assim, tanto as megacidades
quanto a vida urbana atual são estruturadas pelos referenciais de mobilidade e
virtualidade, pela comunicação instantânea, pelo fluxo de todos os tipos na rede,
inclusive do dinheiro, fator de autonomia em uma sociedade capitalista.
Diante dessas transformações sociais, há aqueles que enxergam nesse
fato um sinal do fim da história e da própria realidade como dimensão incontestável.
Será que a realidade que hoje conhecemos não seria uma criação fantasiosa,
reforçada pelas novas mídias e pela nova lógica por elas reforçada? Esse é um dos
muitos questionamentos que Baudrillard (1991) sugere a respeito das novas mídias.
Para Baudrillard (1991), tanto a cultura como os símbolos que norteiam a vida social
seriam simulacros criados para confundir a todos. Em sua obra mais famosa,
Simulacros e Simulação, ele analisa de forma crítica a sociedade contemporânea e a
situa no terreno dos simulacros, uma realidade construída por meio de símbolos e
significados que se distanciou do real. Esse é o paradoxo que ele apresenta, pois,
apesar de ser uma realidade artificial, o simulacro é ao mesmo tempo real e
imaginário.
Para explicar esse antagonismo, o autor faz uma releitura da fábula de
Borges, dizendo que um mapa (simulacro) foi produzido tendo as mesmas
dimensões de um reino (realidade). Com o passar do tempo, o mapa foi se
deteriorando, sendo possível encontrar somente pedaços dele nos desertos. Nessa
história, a realidade continuou intacta, as terras do reino não sofreram nenhum tipo
de mudança, ao contrário do mapa, uma representação dessa realidade, que se
esfacelou. No entanto, na época atual, a leitura dessa fábula deve ser feita às
avessas, pois a realidade objetiva são os fragmentos do mapa, ou seja, segundo
Baudrillard (1991), vive-se em uma época em que os simulacros e as simulações
tomaram o lugar da realidade e todos estão imersos nessa representação, sendo
incapazes de perceber as insinuações de uma “realidade” resumida e repartida. Para
ele, os fragmentos do mapa podem ser encontrados nos desertos da realidade.
Baudrillard (1991) mostra que a diferença entre o falso e o verdadeiro
pode ser muito sutil diante do fenômeno das novas tecnologias da informação e da
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comunicação e os efeitos produzidos por elas. Para alguns, esse posicionamento
pode ser pessimista em demasia, entretanto, é preciso reconhecer que esse
admirável mundo novo possui limites e dimensões obscuras. Mas a principal
contribuição de tal pensamento está no fato de discutir os conceitos de realidade,
virtualidade e falsidade. Hoje, o que acontece na internet, por exemplo, não pode ser
classificado como algo falso, distante e sem nexo com a vida cotidiana das pessoas.
Nesse sentido, o advento das novas tecnologias informacionais trouxe a
ressignificação da própria vida em sociedade e da ideia de presença nesse contexto.
Uma das mudanças mais características dessa época pode ser aplicada à
noção de presença. Mas o que seria estar presente? O que significa estar presente?
Com as novas tecnologias, até a concepção clássica foi modificada, uma vez que o
indivíduo não precisa fixar seu corpo físico, material, em um determinado ambiente
para ser reconhecido como presente. A TV, a internet, por meio dos chats e sites de
relacionamento, o telefone clássico, os aparelhos móveis, podem ajudar na
ressignificação dessa presença.
Para Baudrillard (1991), isso revela o desejo de captar a realidade ao vivo,
mas tem as suas consequências. Quando fala do holograma, que seria um desses
meios de captar a presença em qualquer parte sem estar fixado fisicamente ali, ele
expressa que esse holograma, bem como os seus desdobramentos, são o resultado
do desenvolvimento das ferramentas tecnológicas, consideradas como uma
extensão do corpo humano, e expressa a idéia de passar através da imagem, de
perpassar o corpo espectral.
As relações sociais atuais são afetadas diretamente por essas tecnologias,
não há como negar. Até mesmo as relações afetivas, os vínculos emocionais, são
reconstruídas pelas novas ferramentas da internet. Duas características de tais
vínculos seriam a descartabilidade e a efemeridade, presentes no imaginário coletivo
da população e reforçadas pelas ferramentas interativas, no caso particular do
Mensseger e das salas de bate papo on-line. Para tal fenômeno, Bauman (2004) cria
o termo “relacionamentos de bolso”, que representaria o desejo de deixar todas as
portas abertas para outro parceiro, evitando compromissos a longo prazo.
Diante disso, a seguinte pergunta foi lançada: “Será que o prazer da atual
geração de jovens não está no fato de expelir, ou, descartar as pessoas com quem
se relacionam?” (BAUMAN, 2004). Essa problemática pode ser representada pela
dualidade relacionamento versus conexões. Enquanto os relacionamentos
28
representam as relações antiquadas para os jovens, as conexões seriam a
possibilidade de conhecer parceiros e redes por meio de relações virtuais (BAUMAN,
2004). Eis um retrato não só da juventude atual, mas também de uma coletividade
que aprendeu a fluir pela rede e trazer para a vida cotidiana as implicações de tal
ato.
Esta anseia em devorar e descartar o Outro, referencial reforçado pelas
conexões, representa não só uma concepção restrita a um segmento social, antes
revela uma marca da sociedade atual, em permanente fluxo, tanto nas palavras
representadas no ciberespaço, quanto nos relacionamentos fora dele. Isso por que
“nós pertencemos ao fluxo constante de palavras e sentenças inconclusas.
Pertencemos à conversa, não aquilo sobre o que se conversa” (BAUMAN, 2004, p.
52). As relações sociais acontecem tanto dentro quanto fora do ciberespaço, mas a
diferença de “dentro” e “fora” vai se tornando mais complexa de definir a cada dia.
A despeito das concepções negativas quanto ao impacto da internet na
vida social, existem autores que enxergam nesse advento um momento propício de
reflexão. Essa diferenciação entre aquilo que é real e virtual pode ser melhor
compreendida nas palavras de Lévy (2009), em sua obra O que é o Virtual.
Discordando do senso comum, o autor afirma que o virtual tem uma pequena
afinidade com o falso, o ilusório ou imaginário, porém não se constitui nesses
termos. Ou seja, o virtual não é o oposto do real, pelo contrário, o virtual significa
potência, problematização, possibilidade de uma realidade a ser construída. O real é
da ordem do “tenho”, enquanto o virtual é da ordem do “terás” (LÉVY, 2009). Assim,
as relações que acontecem no ambiente virtual não podem ser encaradas em uma
perspectiva de falsidade e deslegitimação, pelo contrário, o que acontece na rede,
em fluxos constantes, muito representa uma realidade particular, com características
particulares. E é nesse terreno que as relações sociais se encontram no momento.
Outro autor que discute as possibilidades da internet para a reconfiguração
e desenvolvimento das relações e habilidades sociais é Don Tapscott (2010), que
propõe uma análise para além das desconfianças e limites da rede. Em sua análise
das implicações do uso da internet sobre a juventude, ele afirma que a chamada
“Geração Internet” nasceu e cresceu envolta por uma cultura digital, fato inédito
historicamente, e por esse motivo compreende a sociedade por outra perspectiva.
Segundo ele, esses jovens estão provocando mudanças estruturais incríveis, que
passam pelas organizações até os governos. Essa conjuntura digital ou
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“cibercultural” (LÉVY, 2010) tem sido um eixo fundamental para que as pessoas
dessa época compreendam e vivenciem a realidade de maneira diferente.
O desenvolvimento das novas tecnologias informacionais, no caso
particular da internet, afetou as relações sociais de tal maneira que provocou uma
reestruturação nos modos de relacionar-se com o Outro e de enxergar a realidade. A
sociedade, pela primeira vez na história, pode estender-se para além de si mesma e
dos limites territoriais circundantes, nos domínios do ciberespaço, criando e
recriando cultura. E nessa nova conjuntura há um segmento social que merece ser
analisado de maneira mais profunda, pela sua afinidade com as novas tecnologias
da comunicação: a juventude.
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do autor). “Essas interações revelam e desvelam um jogo social em que os
indivíduos, em sociabilidade, jogam a sociedade.” (SIMMEL, 2006, p.72).
Essa eclosão de mecanismos que possibilitam falas e encontros de
maneira instantânea gera sociabilidades até então desconhecidas. Se fora da rede
precisa-se marcar encontros físicos, em lugares específicos, tangíveis, para haver
uma interação social legítima, com o advento desses mecanismos o mesmo
encontro pode ser feito em qualquer lugar, a qualquer hora, basta estar conectado.
Isso representa bem a ideia de hologramas ou duplicação da presença
sobre a qual discorre Baudrillard (1991). Nas palavras de Lévy (2009), isso se
chama “desterritorialização” da própria presença, e a atual geração de jovens
apresenta essas mesmas características de não pertencimento geográfico. Tanto a
configuração espaço-temporal quanto as concepções de mundo são afetadas pelo
ciberespaço.
Entretanto, é preciso certa cautela ao analisar o fenômeno da virtualização
ou desterritorialização. Além de afirmar a limitação do termo, Eisenberg (2003, p.
495) explicita que os mesmos “não devem ser tomados como vetores de uma
transformação radical perpetrada pela rede, nem como produtores de um novo
espaço desterritorializado”. É arriscado afirmar que a internet e suas implicações
para a vida social são os agentes de transformação da condição humana. Assim,
apesar dos “novos experimentos sobre o uso da nova mídia para fins políticos –
votação via internet, propaganda política na rede, redes virtuais de movimentos
sociais organizados etc. –, o quadro geral ainda permanece obscuro e indefinido”
(EISENBERG, 2003, p. 492).
Mas a novidade e a obscuridade do fenômeno exigem também
reconfigurações de concepções tradicionais com relação ao espaço e ao tempo,
principalmente nos ambientes virtuais. E, por mais que haja afirmações de que “o
ciberespaço não existe”, ou que “a internet não constitui um espaço” (EISENBERG,
2003), não há como negar o fato de que a complexidade das relações humanas se
estende para além da presença física, assim, superando as histórias de ficção
científica e mitos sobre o abandono do corpo.
Sobre essas transformações nas concepções tradicionais de espaço e
tempo, André Lemos (2003) afirma o seguinte:
31
Vivemos uma nova conjuntura espaço-temporal marcada pelas novas
tecnologias digitais-telemáticas, onde o tempo real parece aniquilar, no
sentido inverso à modernidade, o espaço de lugar, criando espaços de
fluxos, redes planetárias pulsando no tempo real, em caminho para a
desmaterialização do espaço [...] (LEMOS, 2003, p. 3).
32
Nesse ambiente podem ser postadas fotos, vídeos, expressões escritas, sem falar
em um sem número de mecanismos dentro da própria plataforma que possibilita
conexões a muitos jogos e a um “perfil” detalhado do usuário, que vai de gostos
musicais a posicionamentos religiosos e filosóficos. São mais de 550 milhões de
usuários em todo o mundo e algumas pesquisas apontam a tendência de
crescimento em países considerados emergentes (GALILEU, 2011).
O Facebook é a nova onda do momento, principalmente entre os jovens,
segmento que descobriu a possibilidade de conexão e também de superexposição
de sua vida privada. As possibilidades de entretenimento geradas por mais de 550
mil aplicativos fazem com que o número de adeptos aumente progressivamente.
Todo mês, são 30 novos bilhões de links, fotos, mensagens e vídeos. Mais de 225
milhões de usuários entram nele todos os dias e 150 milhões acessam-no por meio
de um smartphone. A quantidade de informações é tanta que se tornou possível
escrever uma reportagem sobre a vida, os hábitos e os gostos de uma pessoa
mesmo sem nunca tê-la encontrado pessoalmente (GALILEU, 2011). A ilustração 1
revela o layout da página principal do Facebook.
Ilustração 1 – O Facebook
33
Entretanto, a despeito dessa expansão do Facebook, já existem estudos
que mostram certa retração, principalmente nos Estados Unidos, país onde a
plataforma foi criada pelo jovem Mark Zuckerberg, entre polêmicas e rompantes de
genialidade (MEZRICH, 2010). Esse declínio ou abandono em massa de usuários foi
de cerca de 5,8 milhões somente no mês de maio deste ano, devido à saturação e
expectativa exageradas sobre a plataforma, ou seja, alguns usuários estão
constatando que o site não é tão espetacular e possui limites (INSIDE, 2011).
Mesmo com percalços desse tipo, não há como negar o fato de que o
Facebook é um fenômeno em constante expansão que tem atraído para seus
serviços milhões de usuários que buscam conexão e entretenimento. Também há
estudiosos que afirmam que a plataforma está caminhando para um período de
maturidade, preparando-se para o crescimento sustentado e lucrativo por meio da
abertura para os negócios (INSIDE, 2011). A tabela um revela esse crescimento em
muitos países.
Boa parte dos jovens que utilizam o Facebook apresenta o termo “estar
perto” para justificar sua atuação cotidiana no site. É uma fixação por parte de tal
segmento desbravar todos os dias o que acontece em sua página, quais foram os
recados deixados, quais as publicações no “mural” de mensagens e se há algum
34
novo “amigo” tentando estabelecer um vínculo virtual. Apesar do desejo pelo
desmantelamento de estruturas rígidas de pertencimento, foi percebido em boa parte
dos jovens que utilizam o Facebook o interesse pela manutenção dos vínculos
sociais estabelecidos anteriormente, no mundo tangível, para configurar a sua conta
em tal ambiente.
A mesma lógica serve para o Orkut, outra rede social interativa de boa
aceitação entre os jovens no Brasil, mas que tem enfrentado problemas de
abandono em massa por parte dos usuários. Isso se deve à expansão de outras
redes sociais e também à maior exigência dos usuários, que desejam maior
interatividade (MARTINS, 2011). Na ilustração 2 é possível perceber a organização
dos amigos e das informações do perfil virtual na página do Orkut.
Ilustração 2 – O Orkut
35
problemática, o “espaço estriado”, revelador da ordem, do controle (DELEUZE,
1980), que pode ser entendido numa perspectiva de limitação da realidade tangível,
não é o suficiente para trazer prazer e significado ao jovem desterritorializado. Ele
precisa de um “espaço liso”, que se abre ao caos e ao nomadismo (DELEUZE,
1980), uma realidade virtual, possibilitadora e potencializadora de sua criatividade e
insurgência.
Essas diversas manifestações acabam criando uma cibercultura, que seria
a implicação prática do desenvolvimento do ciberespaço (LÉVY, 2010). Navegar ou
fluir pelo ciberespaço traz consequências tanto para quem se arrisca nessa viagem
como para o contexto virtual que recebe o aventureiro. Isso pode ser percebido na
produção intelectual que acontece dentro da rede, de diversos tipos, diga-se de
passagem. Um exemplo bem claro é o site Wikipédia (uma enciclopédia virtual,
atualizada diariamente por usuários de todo o mundo). Diante disso, a própria
cognição é modificada com os processos interativos, da mesma maneira que a
interatividade se transforma para atender melhor ou desafiar o indíviduo. Essa
produção de cultura ou cibercultura pode ser encontrada nas redes sociais
interativas também.
Outra rede social que merece atenção especial para certas singularidades
de seu funcionamento é o alardeado Twitter, um site configurado com o objetivo de
produzir micro textos de 140 caracteres (microblog). Tem dupla finalidade, funciona
tanto como rede social quanto mídia, onde é possível conversar on-line, como no
caso do MSN. Um aspecto que o diferencia do Facebook é a organização dos laços
sociais por parte dos usuários. A organização ou configuração desses laços no
Twitter altera a concepção de outras redes por algumas características:
36
humano e as novas tecnologias, antes é na interação que acontece dentro do
ciberespaço, que revela sociabilidades específicas a essa realidade. Na ilustração 3
é possível perceber como as ideias e os textos são organizados no Twitter.
Ilustração 3 – O Twitter
37
2.3 – JUVENTUDE E COOPERAÇÃO NA REDE
38
nunca vistos, pessoas de várias partes do mundo e até idiomas diferentes. Nesse
processo é possível ter uma formação desterritorializada, para além das salas de
aula ou qualquer lugar que tenha a pretensão de represar a força criativa e impulsiva
juvenil. Mas, a despeito dessa transformação, é preciso reconhecer que tanto a
cooperação quanto a alienação (ou o isolamento) representam a dupla face de um
mesmo processo.
Antes do advento da internet as revoluções aconteciam de maneira
vertical, ou seja, era preciso um líder, um símbolo da revolução (talvez um partido
político, detentor dos ideais revolucionários), para concretizar o desejo de mudança
social. Exemplo disso pode ser a Revolução Russa, com Lênin, ou a Revolução
Cubana, com Che Guevara, entre outros. A partir da internet, nas palavras de
Tapscott (2011), foi possível fazer wiki-revoluções, onde todos os agentes
envolvidos, de vários lugares, podem dar a sua contribuição por meio da rede. O
autor afirma que essas revoluções só aconteceram de modo repentino e horizontal
em decorrência das mídias sociais, principalmente do Facebook. Assim, as mídias
sociais não servem somente para encontrar a namorada ou fazer comunidade de
jardinagem, elas mudam a forma como os movimentos de contestação e revolução
acontecem (TAPSCOTT, 2011).
Em seu livro Comunicación y Poder, Castells (2009) trata da mobilização
da resistência por meio de práticas de comunicação na rede. O autor fala da
importância de um dos sentimentos mais antigos da humanidade para a mobilização
coletiva, a ira, e diz que a internet pode fazer com que esse sentimento seja
compartilhado entre aqueles que contestam o sistema. Assim, para que haja um
legítimo movimento de resistência é preciso que sentimentos individuais, no caso da
ira, sejam comunicados aos demais, transformando as noites solitárias de desespero
em dias de cólera compartilhada (CASTELLS, 2009). Dessa forma, escritos, vídeos
e até fotos podem revelar o descontentamento de uma geração que vê na internet
uma porta para um mundo idealizado, contraposto ao modelo social vigente.
Segundo Lévy (2010, p.198 – grifos do autor), “O nervo do ciberespaço
não é o consumo de informações ou de serviços interativos, mas a participação em
um processo social de inteligência coletiva”. Por isso, atualmente se percebe um
movimento cada vez maior de acessos à internet com o objetivo de proporcionar
encontros, falas, criações intelectuais coletivas e não simplesmente para consumir
conteúdos ou para se comprar produtos, apesar dessa prática acontecer
39
cotidianamente por parte de muitos usuários (e essa é uma dimensão que constitui a
rede). Mas o fato é que jovens de diversos lugares, de culturas e realidades
comunitárias diferentes vêm utilizando o ciberespaço em uma perspectiva de
interação social constante, desenvolvimento assim uma inteligência coletiva em prol
das questões mais urgentes da sociedade.
As interações multimodais no presente contínuo, reforçadas pelo Twitter
(SANTAELLA; LEMOS, 2010), por exemplo, facilitam o fluxo de ideias insurgentes
ou de contestação a um determinado tema em discussão. Os chamados trending
topics revelam os temas mais discutidos no Twitter e mostram tanto
posicionamentos positivos quanto negativos, dependendo do que se está discutindo.
Os temas são diversos, podendo ser fúteis ou não, pois são levantados desde
aspectos da vida de celebridades até acontecimentos de relevância social.
As interações multimodais acontecem no ciberespaço, porém afetam
diretamente as práticas sociais e as maneiras de perceber o real. O massacre em
Realengo, Rio de Janeiro, em abril de 2011, suscitou mais do que perplexidade e
desespero entre aqueles que acompanhavam o ocorrido pela rede, despertou
também mobilização em torno dos pedidos coletivos via Twitter para que as pessoas
doassem sangue para ajudar as vítimas do massacre. Outro exemplo emblemático
do engajamento juvenil na rede foi o que aconteceu no Egito, com a derrubada de
Hosni Mubarak do poder em 2011, quando os jovens se organizaram pelas redes
sociais para posicionarem-se de forma estratégica nas ruas da cidade do Cairo.
Sobre a importância do Twitter para mobilizar as massas, Santaela e
Lemos (2010, p. 121) analisam a força de alguns experimentos virtuais, como o
QOTD, uma hashtag “utilizada no Twitter, de forma geral, para se referir à já clássica
“Quote of the Day”, citação diária de alguém famoso na internet e/ou como tag de
indexação em fluxos de perguntas e respostas”. As autoras mostram que
experimentos desse tipo podem converter-se em núcleos de discussão global sobre
algum tema, colocando as ideias expressas em pé de igualdade, sendo
selecionadas e reconhecidas apenas pela sua relevância na discussão. Dessa
forma, pessoas de qualquer lugar podem contribuir com um tópico de discussão e se
destacarem no meio de muitos. É possível perceber também que a própria
compreensão a respeito da problemática social vai sofrendo transformações na
medida em que os tweets vão sendo remodelados para atender melhor aos objetivos
do fórum de discussão.
40
Esse engajamento via Twitter, ou por qualquer rede social digital, pode
suscitar lideranças jovens dispostas a discutir a sociedade com o objetivo de
transformá-la. O fenômeno da desterritorialização, potencializado pelo uso da
internet, atinge também a própria formação de lideranças comunitárias e/ou globais,
provocando um desmantelamento de estruturas rígidas de poder. A lógica piramidal
de organização social (e, por que não dizer, do conhecimento) nas instituições
tradicionais vem sendo substituída gradativamente pela lógica da rede, que permite
aos jovens de vários lugares transitarem em fluxos e participarem de uma
experiência pluridirecional na produção de conhecimento.
Acompanhando essa proposição, Santaela e Lemos (2010) afirmam o
seguinte:
41
às complexas relações entre as novas tecnologias da comunicação e seus usuários,
fato que vem alterando progressivamente a cognição humana e as relações sociais
(LÉVY, 2010), questões delicadas estão surgindo acerca da validade e relevância do
atual modelo de educação para a sociedade. A juventude, como segmento social em
processo de formação constante, influenciado diretamente pelo modelo educacional
adotado, vem se relacionando de forma diferente com o saber por meio das novas
tecnologias, o que tem suscitado profundas reflexões acerca da relação juventude-
educação-sociedade.
A seguir, serão apresentados três itinerários de educação, visando
estabelecer o tipo de relação entre o sujeito cognoscente e o conhecimento em cada
uma delas, fato que mostrará as transformações pelas quais a educação vem
passando no seio da sociedade e sua relevância para determinado contexto. O
primeiro itinerário diz respeito à educação tradicional ou clássica, reforçada pelo
paradigma do consenso em Sociologia da Educação; o segundo apresentará um
modelo dialógico ou progressista de educação, reforçado pelo paradigma do conflito,
e o terceiro discorrerá do modelo emergente, que vem ocupando seu lugar depois do
advento das novas tecnologias da comunicação e popularização do ciberespaço por
parte da juventude, uma educação multidialógica que supera as relações duais entre
sujeito e objeto.
42
Nesse sentido, a grande contribuição do modelo tradicional ou consensual
de educação foi a preocupação em formar o sujeito para a vida social e, mais,
entendeu que o sujeito em formação precisa passar por um processo de apropriação
dos significados culturais e normativos da comunidade da qual faz parte, com vistas
a se tornar um ser social, um cidadão pleno (DURKHEIM, 1978). Esse processo de
socialização deve acontecer em todo ato educativo, independente da cultura e da
época, pois, para Durkheim (1978, p. 41), “a educação é a ação exercida, pelas
gerações adultas sobre as gerações que ainda não se encontram ainda preparadas
para a vida social [...]”.
Contudo, a despeito dessa sinalização positiva, há alguns limites que
precisam ser colocados em questão, como a centralização da ação educativa na
pessoa do adulto, ou seja, do professor. Segundo essa visão, o processo de ensino-
aprendizagem é diretivo e impulsionado pela pessoa do professor, sendo assim, não
são levadas em consideração as contribuições que o educando traz para o
processo. Uma educação desse tipo pode ser encarada numa perspectiva
monomodal, ou seja, onde uma moda ou norma é rigorosamente seguida,
desprezando, assim, outras dimensões da relação entre o sujeito e o conhecimento.
Para Paulo Freire (1997, 2010), esse tipo de itinerário educativo pode ser
chamado de “educação bancária”, pois consiste na prática de depositar um sem
número de conteúdos no educando, exigindo do mesmo, em um momento posterior,
a prova de que aprendeu, por meio de testes. Nesse modelo não é levada em
consideração a autonomia do educando, que se torna objeto na interação com o seu
professor. E essa visão pode ser estendida para a vida em sociedade, pois, se esse
educando é um mero receptor de conteúdos na escola, certamente será um cidadão
que apenas sofre as pressões sociais, sem atuar sobre as mesmas.
Por mais que essa educação seriada, monológica, tradicional ou
consensual apresente seus ideais de formação do cidadão pleno, ela não coloca em
cheque as disparidades da sociedade e entende que a ação política passa longe da
escola e da sua prática. Essa concepção está presente na sociedade, principalmente
quando se observam, por exemplo, os objetivos das escolas de ensino médio desse
país, que focam sua ação no ensino conteudista, para a aprovação nos vestibulares
apenas. Da mesma forma, percebe-se tal mentalidade enraizada nos discursos
elitistas de formação integral, que desprezam as condições precárias das escolas
públicas e as desigualdades reforçadas pela má distribuição de renda e falta de
43
oportunidades para o segmento jovem, “a geração despreparada para a vida social”,
segundo Durkheim (1978).
Como exercer a cidadania quando direitos básicos são retirados de tais
sujeitos? Esta é uma resposta complexa que uma educação comprometida com as
transformações sociais deveria ajudar a responder. Mas o que fica patente para
todos é que deixar o jovem sentado em uma carteira de sala de aula, ouvindo
passivamente um sem número de conteúdos desconexos do seu cotidiano,
desprezando seus saberes e experiências, não formará integralmente esse sujeito e
o deixará à margem do processo de apreensão dos significados culturais e sociais.
44
O conhecimento não está preso em um lugar, não está contido em algo ou
alguém, mas flui livremente na relação histórica dos seres sociais. Esse princípio
libertador do conhecimento pode ser muito bem utilizado pela juventude que deseja
engajar-se em movimentos de luta pelos direitos de seu segmento social. Da mesma
forma, esse fato gera outros precedentes: se o conhecimento está na relação, seria
possível aprender para além das dimensões físicas do território? Seria possível
aprender e desenvolver uma inteligência coletiva?
O ciberespaço e todos os desdobramentos que acontecem em seu interior
podem ser a chave de um novo momento para o conhecimento. Uma nova
concepção de educação pode estar surgindo, afetando mais uma vez a maneira
como entendemos a ação educativa e suas implicações para a vida social. E a
juventude está no cerne desse processo.
45
pode ser acessado, mas antes que o Todo está definitivamente fora de alcance”.
Isso porque é impossível assimilar o oceano de informações que a rede abriga.
Assim, é melhor fluir por entre suas ondas digitais do que perder-se na pretensão de
apreendê-lo.
O ciberespaço deslocaliza e subverte todo esquema humano de retenção
do saber e o consequente desejo de domínio sobre outros. Nesse itinerário digital de
educação, a construção do conhecimento acontece em um processo multidialógico,
que supera a simples relação homem-máquina. No ciberespaço, em processo
constante de captura e ressignificação de informações, o “ator/actante” (SANTAELA;
LEMOS 2010) vai formando a si mesmo. É importante saber que, nessa relação,
tanto humanos como outros elementos, sejam eles animados ou inanimados, fazem
parte do mesmo processo de formação hibrida (SANTAELA; LEMOS, 2010). O tipo
de sujeito formado nesse ambiente é um ser heterogêneo, híbrido, complexo, que
entende a articulação entre o território físico e o mundo virtual.
Uma nova “comunidade viva” (LÉVY, 2010) tem sido gerada no interior do
ciberespaço, que entende a força do “saber-fluxo” para a manutenção da sociedade
e da sua cultura. Diante dessa perspectiva novas possibilidades se abrem para
aqueles que estão à margem do processo social, entre eles pode-se destacar a
presença dos jovens, grupo que tem lutado por maior reconhecimento na sociedade
contemporânea, isso com relação ao acesso à educação, oportunidades de emprego
e lazer.
Segundo Tapscott (2010), essa geração de jovens, que ele chama de
“geração internet”, ou “geração Y”, cresceu envolta em uma cultura digital, fato
inédito historicamente. Essa realidade leva esses sujeitos a ter maior facilidade para
lidar com a internet e suas tecnologias. Entretanto, a afinidade da juventude com a
internet não diz respeito somente ao domínio técnico, tem profunda relação também
com as novas sociabilidades geradas na rede. O uso das ferramentas tecnológicas e
as sociabilidades geradas pelas relações interativas em rede resultam em processos
cognitivos diferentes, que Lévy (2010) chama de “inteligência coletiva”.
O caos informacional da rede se organiza pelo processo de aprendizagem
coletiva, pela compreensão dos funcionamentos e da lógica do ciberespaço.
Conversações, trocas de experiências, construções intelectuais compartilhadas e um
sem número de recursos podem contribuir para que qualquer jovem, em qualquer
lugar, crie seus nós de conexão e faça parte da imensa teia de relações do
46
ciberespaço, consumindo e produzindo cultura. Daí vem a afinidade da juventude
por esse aspecto descentralizador e subversivo da rede, pois nesse contexto não há
centros ou periferias, mas fluxo constante dos atores/actantes.
Nesse terreno, novos mecanismos são produzidos para que a
aprendizagem aconteça, gerando um desenvolvimento interessante sobre o
aparelho cognitivo humano. Um desses mecanismos é a simulação, que pode
expandir a memória e a cognição humanas para além dos resultados já conhecidos.
A questão aqui não diz respeito à substituição do humano pela “máquina” ou pelo
recurso virtual, mas tem a ver com experimentar novas possibilidades intelectuais e
formativas, utilizando-se dos recursos tecnológicos suscitados pelo ciberespaço
(LÉVY, 2010). Apesar de sua visão pessimista sobre o impacto das mídias sobre a
cultura, Baudrillard (1991) já apontava para as potencialidades do uso de
hologramas e afins, no intuito de duplicar o real.
47
CAPÍTULO III – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS
48
As falas dos participantes serão citadas em muitos momentos da
discussão dos dados. Para que essa apresentação seja feita de maneira organizada,
facilitando a compreensão do leitor, os participantes da pesquisa serão
apresentados por meio dos caracteres “J1” ao “J10” (J = Jovem. Os números se
relacionam a quantidade de participantes da pesquisa) quando forem citados ao
longo do texto.
A análise e discussão dos dados foi dividida em três sessões que estão
relacionadas aos objetivos específicos da pesquisa. Dessa forma, o primeiro tópico
apresentará os itinerários e a interação juvenil na internet e nas redes sociais. Num
segundo momento, a discussão será direcionada aos processos de agrupamento e
cooperação no ambiente virtual. O terceiro e último tópico discorrerá sobre a
presença dos processos educativos na rede.
49
possibilidades da internet e das redes sociais no encontro com o Outro, ou, no
simples fato de aproveitar o tempo ocioso:
Acredito que seja porque facilita a ampliação das amizades, conhecer novas
pessoas e seja também um meio mais fácil de expressar suas ideias (J8).
Pra manter maior contato com as pessoas... (pausa) ah, não sei por que,
acho que eu não tenho o que fazer em casa e uso meu tempo livre na
internet. (J2).
Acho que eles buscam essa interação com os amigos e com pessoas
desconhecidas. É um meio rápido, prático e basta um ‘clique’ e você pode
conversar com o mundo inteiro, sem contar que é divertido e prazeroso.
(J6).
50
todos os dados pessoais disponíveis oferecem o material adequado para o jogo
social virtual, caracterizado por insinuações, performatividades e, em alguns casos,
pelo escancaramento do ser reprimido no “mundo real”. É necessário entender
também que as relações desenvolvidas na rede, por mais que tenham raízes fora do
ambiente virtual, estão fadadas a se dissolverem por qualquer desentendimento
virtual, desde mal entendidos com materiais postados, até expressões ofensivas
para o Outro que não respeitou o espaço do seu par:
51
O grupo de discussão instalado no Facebook revelou alguns
posicionamentos positivos em relação à internet e às redes sociais. Vale ressaltar
que esse público tem uma visão positiva da ferramenta em sua maioria. Sobre a
importância das ferramentas interativas na vida cotidiana dos jovens, J9 respondeu o
seguinte:
Participam, tenho primos, tenho tios, tenho um tio meu que está entrando
em contato sempre pelo Facebook, (risos), tá sempre usando. (J1)
52
social. Mesmo não sendo do interesse dos mesmos manter um discurso afinado com
aquilo que os adultos chamam de pauta interessante e elaborada, não há como
negar o fato de que a internet e a sua cibercultura são conceitos e práticas que
fazem parte do cotidiano juvenil. Todos se estendem, ou transcendem, aos conceitos
mais clássicos de presença e de tempo e encaram esse novo cenário interativo
como algo “normal”, parte integrante de suas vidas, que não se assemelha às
concepções mirabolantes de ficção científica, que mistificam o uso das novas
tecnologias da comunicação.
Não há nenhum mistério no fato de que a juventude, de forma geral, se
senta à vontade para usar as novas tecnologias da comunicação. Não são seres
especiais por conseguirem navegar na internet com prazer, curiosidade e
competência técnica. O fato é que essa geração vive em uma conjuntura histórica
que alcançou níveis de desenvolvimento tecnológicos interessantíssimos, por isso, a
mesma vem articulando seu desenvolvimento biológico e cognitivo a essa nova
realidade digital (TAPSCOTT, 2010). Quando a geração digital nasceu, a internet já
era um dado histórico, uma realidade (DEMI, 2011).
Entregue à geração digital uma fita K7 e uma caneta (são familiares a você
esses instrumentos?) e eles terão certa dificuldade em entender a finalidade de tais
objetos, tão comuns aos que passaram da casa dos trinta anos de idade. Entretanto,
se você, um adulto que talvez não domine bem o terreno virtual, pedir para algum
desses jovens uma aula bem rápida de navegação pela internet, ficará surpreso com
a competência técnica e lógica bem apurada desse indivíduo. É provável que essa
aula venha acompanhada de muitas gírias e impaciência, mas essa é a maneira
particular de sua expressão e sociabilidade, e isso de maneira costumeira.
Na ilustração 1 é possível perceber a diferença entre a lógica da geração
digital e a dos adultos, uma representação das muitas postagens feitas na rede
social Facebook.
53
Ilustração 1
Bem, eu uso mais assim pra trabalho de escola, pra pesquisar, pra se
interagir com o meio, é... intelectual da internet, então, acessar as redes
sociais, pesquisar, essas coisas. Ah, Google, o Youtube, Orkut, Facebook,
Hotmail. Ah, geralmente fico no Youtube e no Facebook. E, é, entra nas
redes sociais. Utilizo, utilizo, Geralmente eu faço mais pesquisa sobre o que
não sei, se eu tiver alguma dúvida sobre algum assunto que a professora
passou, vou lá e procuro entender ele, ou então fazer resumo do que eu não
sei.
54
eles mais visitam são redes sociais, onde possuem em média quatrocentos amigos
virtuais por rede social. As ferramentas interativas também os ajudam na elaboração
de trabalhos escolares e pesquisas diversas. Segundo J2, “ninguém hoje em dia
utiliza mais a Barsa quando se tem o Google”.
Aqui é preciso identificar a particularidade das leituras virtuais que a
juventude empreende. De forma geral, o que o senso comum tende a afirmar sobre
a ajuda da internet no desenvolvimento de pesquisas e leituras virtuais é que, se, por
um lado, a ajuda de um site contribui para a elaboração de um trabalho escolar num
curto espaço de tempo, por exemplo, por outro, pode-se perceber a pouca
importância que a juventude dispensa aos livros impressos. É importante perceber
também que as pesquisas na internet têm um caráter de leituras resumidas e
apressadas por parte da juventude. Mas, a despeito dessa visão pessimista, existe o
fato de que a internet e seus hipertextos possibilitam conexões diversas a muitas
referências. Assim, as características de leitura dependem dos objetivos traçados
previamente pelo leitor virtual, o que não tira a efetividade e o valor da ação juvenil.
Na pesquisa de Sousa (2011), desenvolvida com jovens universitários, ele
discorre sobre as visões desse público sobre as novas tecnologias da informação,
no caso especial da internet, e as implicações das mesmas no cotidiano juvenil. Uma
das críticas feitas diz respeito à visão pessimista sobre as leituras juvenis na rede, o
que acaba gerando uma interpretação simplista sobre o ato das leituras juvenis. E
essa é a contradição instalada na fala daqueles que negativam o ato de leitura
enciclopédica que a internet possibilita. As leituras apressadas, que passam por
vários textos e páginas interativas, revelam hábitos e sociabilidades particulares da
juventude no contexto do ciberespaço.
Outro fato importante do acesso às muitas redes sociais é a busca pela
confluência multimídia na elaboração de itinerários virtuais de entretenimento e
interação. Se precisarem pesquisar qualquer tipo de conteúdo, eles utilizam o site de
busca Google, inclusive nos trabalhos escolares de “copiar e colar”, conhecidos
também como Ctrl + C e Ctrl + V. Quando a necessidade é de ouvir músicas ou
assistir a vídeos, recorrem ao Youtube. J3 afirmou que esse é um dos melhores sites
para quem gosta de trabalhar com músicas e instrumentos musicais: “Como eu sou
músico, recorro sempre ao Youtube para me atualizar e me divertir. Gosto de ouvir
músicas e de aprender a partir das músicas”. Quando querem conversar de maneira
instantânea utilizam o Messenger e os chats disponíveis nas redes sociais Facebook
55
e Orkut, que a cada dia criam novos mecanismos para facilitar e tornar a interação
entre os usuários mais interessante, como fotos do perfil do usuário e avisos de que
a pessoa com a qual se deseja falar está on line.
O Twitter também foi citado, e isso na maioria das intervenções dos jovens
pesquisados. Essa rede social possui características particulares que têm atraído a
atenção do público juvenil pela interatividade e rapidez com que as informações
circulam em seu interior, sendo possível acompanhar expressões diversas. Como a
maioria das celebridades ou personalidades políticas possui um perfil no Twitter, o
acesso a essa plataforma tem batido todos os recordes, inclusive no Brasil. A
afinidade dos jovens pesquisados vem da facilidade em ficar sabendo do que
acontece na sociedade antes que essas notícias cheguem aos noticiários televisivos.
J2, J3 e J6 falaram que ficaram sabendo da morte de Bin Laden, da renúncia de
Hosni Mubarak no Egito, do Massacre de Realengo no Rio de Janeiro e de outros
acontecimentos marcantes dos últimos tempos em primeira mão pelo Twitter.
Essa possibilidade de interação multimodal que o Twitter concede ao
usuário (SANTELA; LEMOS, 2010) pode ser percebida na resposta de J3 sobre as
redes sociais que ele mais utiliza:
56
a expressar seus posicionamentos a respeito de vários assuntos, sejam eles
relevantes ou não à pauta da sociedade adulta. A comunicação em fluxo, que
obedece à hierarquia da relevância da opinião expressa (SANTAELA; LEMOS,
2010), tem encorajado a juventude a expor uma dimensão que tem sido deixada de
lado na atual conjuntura social: a consciência do papel da sua opinião e do
envolvimento com as questões globais mais urgentes. Os jovens sabem que algo
está acontecendo no mundo e tentam expressar opiniões, a partir dos
condicionamentos de sua realidade e é exatamente ai que podemos perceber a
importância da internet e das redes sociais no caminho que oportuniza a consciência
sociopolítica.
A expressão “quero mudar o mundo” vem carregada de anseios de uma
juventude que, mesmo limitada e condicionada pela faixa etária, ainda percebe que
pode fazer algo de impactante na sociedade onde está inserida, e isso da maneira
mais youth possível, sem um roteiro ou planos estratégicos previamente definidos.
Por mais que essa juventude tenha dificuldade em refletir sobre as ferramentas
tecnológicas e suas possibilidades, a mesma entende que pode fazer algo pelo
simples acesso a uma rede social, que a conecta a milhares de pessoas que podem
gostar ou não de suas opiniões.
Entretanto, essa atuação juvenil na rede revela limites conceituais. A
dificuldade em refletir e discutir temáticas atuais, como a política e a cultura, por
exemplo, revelam que a boa vontade juvenil esbarra na falta de embasamento para
conceber e discutir o real. O desejo de “mudar o mundo” se torna incipiente quando
esse mesmo sujeito idealizador não consegue fazer uma análise de sua conjuntura
social, nem consegue explicar a atuação de grupos sociais em sua comunidade. A
consciência política dos entrevistados se resumiu à informação de uma “marcha
contra a corrupção”, que aconteceu em 7 de setembro de 2011, e alguns
acontecimentos pontuais.
As informações sobre o que acontece na sociedade são tiradas da própria
internet e não há uma análise ou depuração dessas informações. O grupo de
discussão revelou que a juventude enxerga as possibilidades das ferramentas
interativas, até mesmo para mobilizar pessoas, entretanto, essas opiniões fazem
parte do senso comum sobre o assunto. Eles sabem que é possível mobilizar, mas
não sabem discutir temáticas mais sérias, ou, simplesmente, dar uma opinião mais
consistente sobre elas.
57
Houve uma diferença significativa entre as opiniões expressas nas
entrevistas e as intervenções do grupo de discussão. Nas primeiras foi possível
perceber certo distanciamento e falta de domínio em discutir assuntos de
mobilização social. Já no segundo momento, as elaborações escritas no fórum de
discussão mostraram certo domínio das ideias expressas. Essa aparente
contradição é um dado importante para entender as particularidades de uma
juventude que vem dominando os símbolos virtuais e suas decodificações em
detrimento de outras habilidades sociais.
Sobre a atuação sociopolítica por meio das redes sociais e da própria
internet, J1 expressou sua dificuldade com a temática e disse que não está
habituado a discutir questões dessa natureza. De forma geral, os jovens
entrevistados tiveram grande dificuldade para conceituar a ação política,
confundindo-a com ações partidaristas e eleitorais:
Eu uso mais como social, porque política interfere muito na questão se...
se... como é que se diz... postando, vamo supor: vote no Lula, não vote no
Lula. Isso fica meio, pô, o cara fica fazendo propaganda no meio da internet
pra ganhar votos.
Entrevistador: O que você entende como política de forma geral?
Bem, meu modo assim, eu não entendo muito por não estar habituada a
estudar política, por isso não sei muita coisa sobre o que, como anda a
democracia no do... ,no meio da política. Mas eu sei que, para mim, a
política ela é... um órgão assim... nos ajuda, né, porque com a política vai
gerar lucros e com isso vai gerar dinheiro, vai gerar outros modos de
trabalho, né, como telemarketing, tá envolvida no meio da internet. É, até a
própria internet mesmo é um modo de trabalho que muita gente usa como
um meio de trabalho.
Encaixa, né, porque muitas vezes a política ela deixa de querer atender,
acaba indo, pra outros caminhos, né... eu não vou me interessar porque é
errado, aí acaba só desinteressando por meio do assunto, nunca querendo
procurar evoluir, porque ele acha que já tá errado, vou deixar por isso
mesmo... se ele não quis melhorar porque vou fazer a diferença?
58
Apesar de J1 ter citado que acessa o Hotmail, um site de correio eletrônico
muito utilizado por pessoas que ingressaram na Educação Superior e no mercado de
trabalho, a sua fala permaneceu solitária entre os jovens entrevistados, pois a
maioria tem deixado os e-mails de lado, optando pela instantaneidade e
interatividade das redes sociais na comunicação com seus pares ou com pessoas
que conhecem. Isso vem de encontro àquilo que Santaela e Lemos (2010) chamam
de interações multimodais, uma realidade interativa reforçada pelas redes sociais,
onde a velocidade das conexões e interações prevalece. Os e-mails seguem o
formato monomodal de interação, priorizando textos mais longos e com maior tempo
de espera para obter uma resposta, realidade que não é bem vista entre a geração
digital de forma geral, principalmente entre aqueles que ainda não ingressaram na
Educação Superior e no mundo do trabalho.
Todos os jovens pesquisados utilizam as redes sociais e possuem perfis
virtuais que contêm informações pessoais variadas, de fotos que revelam desde
vivências diárias a posicionamentos ideológicos. Na verdade, eles utilizam mais de
uma rede social, as mais acessadas são o Facebook, o Twitter e o Orkut. Essas
plataformas são recentes, apesar de Santaela e Lemos (2010) afirmarem que o
conceito de redes sociais é mais antigo. Todas foram criadas há menos de oito anos,
sofrendo ao longo do tempo transformações em seus mecanismos de
entretenimento. O exemplo mais claro dessas transformações em busca de evolução
é o Facebook, que, desde a sua concepção em 2004, vem desenvolvendo
mecanismos que conduzem a uma comunicação instantânea, capaz de fluir
rapidamente através de sua linha do tempo, mais conhecida como “mural” de
informações dos usuários (MEZRICH, 2010; VICENTIM, 2011).
A primeira metade dos jovens entrevistados, quando questionados sobre
as redes sociais que mais utilizam e as motivações que os levam ao acesso das
mesmas, afirmaram o seguinte:
Do Facebook porque foi outro meio de comunicação que teve, né, porque
antigamente era só o Orkut, então ai veio um criador mais esperto e
inventou o Facebook... então eu uso pra ensinar a amigos, pra falar com a
família, pra entrar, tá no meio novo, do mundo virtual, mundo virtual, pra tá
interagindo mesmo. (J1).
59
mesma coisa, mas o Facebook possui umas facilidades a mais. Utilizo
essas redes pra manter maior contato com as pessoas... ah, não sei por
quê, acho que eu não tenho o que fazer em casa e uso meu tempo livre na
internet (J2).
[...] eu já vejo amigos casados que falam: ah, compre tal coisa no mercado,
algo do tipo. Comprar alimento mesmo, eles falam no Twitter, tipo no freezer
estava sem sorvete e o pessoal falou compre tal sorvete, entendeu? (J2)
60
para além do seu, num processo de apreensão de significados culturais diferentes
dos já conhecidos e da assimilação e criação de novas condutas sociais, incluindo a
criação de novas regras que fazem parte do jogo social. Assim, a interação, a busca
pelo contato, a exposição de ideias, o desejo por “descolar umas meninas” e, se
possível, ficar sabendo das festinhas, são expressões que revelam sociabilidades
específicas da juventude, e que se desenvolvem com certas particulares pelo reforço
da internet e das redes sociais.
Sobre as postagens de materiais nas redes sociais, os jovens disseram
que essa é uma prática constante e varia de acordo com aquilo que se deseja
alcançar. Os materiais postados em sua maioria são fotos, vídeos e textos. Alguns
postam fotos porque querem mostrar o que tem acontecido com eles em festas,
desejam mostrar lugares que diferem da realidade cotidiana, como paisagens
naturais, e também querem partilhar um pouco daquilo que são, dos gostos, das
atividades que realizam etc.
61
Eu posto coisas que eu vou fazer ou que eu fiz e que gostei muito.
Pensamentos de filósofos que acho que fazem a pessoa refletir, mesmo que
seja só no momento em que ela leu. Eu e minhas amigas postamos muitos
vídeos e fotos das nossas aulas, a gente acha interessante mostrar a nossa
interação mesmo que em alguns momentos nos mostramos dispersas e
sem nenhum interesse na aula. (J6).
62
sabem nada a respeito de um determinado tema conheçam pelo menos a linha
introdutória do mesmo.
Ilustração 2
[...] Há perigos, né, hoje você pode pegar a foto de uma pessoa e modificá-
la todinha... “ah, eu sou essa pessoa”, sendo que você não é. Então há os
meios errados, há os meios que são perigosos, basta você saber realmente
se conhece essa pessoa, claro que ela vai saber que você é essa pessoa
que está na foto. Então existe muito fake, que é popularmente dito fake, que
é que se usa mais na internet.
Eu antes conhecia pessoas pelo Orkut, hoje não faço mais isso. Quando era
mais novo fazia. Acho que conheci umas quatro pessoas assim. Hoje não
faço mais. Praticamente todos os meus amigos no Facebook são pessoas
que eu mantenho um certo contato.
63
possível de materiais em suas redes sociais, por outro, é possível ver também
discursos que revelam a preocupação em ser vítima de violência virtual ou até
mesmo uma violência física resultada de uma exposição exagerada na rede.
A juventude reconhece a potencialidade da internet, mas também
expressa a preocupação que esse contexto em expansão traz no bojo de suas
relações. J10 expressou no grupo de discussão a dualidade que há entre os limites e
as possibilidades da interação via internet:
Então, a busca “pra encontrar pessoas que gostam do mesmo estilo que
ela, do mesmo aspecto” (J3), por meio da exposição de materiais nas redes sociais
pode desembocar em perigos diversos, até mesmo em um ciberbullyng e ações de
criminosos especializados no ambiente virtual. Assim, por mais que o discurso do
cuidado com a imagem esteja afinado, o que se percebe com a prática das
postagens é o desejo pela autoexposição descomedida, mesmo que o discurso
revele boas intenções.
Quando indagados sobre em que aspectos a internet facilita ou dificulta a
vidas das pessoas, os entrevistados responderam da seguinte forma:
Facilita né, eles facilita, porque você tá mais viável, você consegue conectar
com outras pessoas, não só do Brasil, mas do exterior, muitas pessoas
estão conectadas a uma rede só, então fica bem mais fácil da comunicação
chegar a outro. (J1)
Facilita muito porque une as pessoas pra poder falar com elas, só que
também pode atrapalhar muito a vida de algumas pessoas que não
possuem um autocontrole pra saber se às vezes tem que parar de usar pra
se dedicar, por exemplo, aos estudos e ao trabalho. (J3).
64
Facilita. Porque às vezes, por exemplo, eu moro aqui em Brasília e tenho
parentes em outras cidades, no Maranhão, no Piauí, então algumas vezes
fica mais fácil pra me comunicar com elas, pra saber o que está
acontecendo lá. (J4).
Por um lado, elas facilitam, como pesquisas e tudo mais. Só que, por outro,
elas dificultam porque as pessoas passam muito tempo na internet e com
isso acabam perdendo tempo que poderia ser utilizado para um monte de
coisas. (J5).
65
ação de seus usuários. Mas, independente disso, é possível desde já perceber que a
ferramenta possui múltiplos aspectos que devem ser discutidos, para além das
visões de tecnopatia e/ou tecnofobia (RIBEIRO, 2000). É preciso compreender que
há limites, mas também há possibilidades. Assim, tanto a alienação quanto a
sociabilidade em seu estado genuíno podem ser duas de tantas outras faces do
mesmo processo interativo.
66
Os jovens, quando questionados se houve mudanças nas relações sociais
por causa do uso da internet e das redes sociais, responderam da seguinte forma,
com as suas justificativas:
Hoje ficou mais fácil, né, de você ter a proximidade, hoje você quer pagar
uma conta, quer mandar uma mensagem, você fica bem mais próximo do
que você ligar, do que você ir até a pessoa, você tem as redes pra entrar
em contato com outra pessoa.
Oh, no meu ponto de vista aí é onde é que entra o caráter do usuário, você
pode usar a internet pra se comunicar, você usar a internet pra se amostrar,
você pode estar usando a internet pra se distanciar. Ah, eu não tenho
amigo, vou ficar usando o computador dentro de casa. Ah, eu tenho amigos,
eu tenho internet dentro de casa, eu vou usar só pra ficar falando com meus
amigos dentro de casa. Então assim, esse é meu modo de ver, tem pessoas
que usa pra se distanciar e tem pessoas que usar pra se aproximar. (J1)
Sim. Acho que o povo tá muito carente por atenção e são poucas pessoas
que conversam olhando nos olhos, saca, sem querer ser filosófico, acho que
não consegue conversar mais como era antigamente.
Creio eu que sim, porque antes a gente se comunicava por telefone
antecipadamente, agora não, você marca alguma coisa no Facebook, como
foi a entrevista, sem a gente se comunicar, sem a gente se falar um com o
outro, escutar a voz do outro, então acho que isso prejudica, sim. (J2)
Acho, sim, o uso da internet tem isolado algumas pessoas com dificuldade
de interação social. Outra mudança ocorreu no comportamento de pessoas
que antes não costumavam falar as coisas na cara e agora usa o mundo
virtual para expressar o que pensa indiscriminadamente. (J8).
Acho q a internet é uma ferramenta a favor de tudo. Porem o uso diário com
ferramentas que nao sao produtivas acabam provocando a inutilidade de
algumas açoes!
Eu acho assim, que existe aquela popularidade, tem assim aqueles que
você conhece, tem aqueles que você faz questão de conhecer só pra dizer
que é popular. Então não adianta eu ter mil amigos e falar: pô, o cara tem
amigos pra caramba e ele é o quê, o popularzão. E ter quintentos e pouco e
conhecendo ele e, ah, esse aqui, eu não conheço e não posso adicionar,
entendeu?
Alguns que criaram e mandaram convites, outros que conheci fora da rede e
me pediram me adiciona lá, entendeu... foi assim.
Sim, né, tem uns que tão ali só pra... pra... pra te desvalorizar, outros pra...
é... te... querer se aproximar de você, tem uns que vão só pra te sacanear, é
sempre assim, sempre vai ter um que não vai gostar do seu Orkut, tem um
que vai gostar do seu Orkut ou do seu Facebook
68
Muitos vão colocar outras qualidades, vão colocar outras qualidades do
meio, muitos vão mentir e vão dizer: ah, eu sou moreno, sendo branco. Uns
vão dizer: ah, eu sou bonzinho. Outros: ah, eu sou mal. É sempre assim,
entendeu? Muitos não vão ter a conscientização de dizer eu sou assim e
vou me colocar assim. (J1).
Todos disseram que a qualidade dos amigos é bem mais importante que a
quantidade, apesar do número dos mesmos ser bem elevado. Na fala de J1 é
possível identificar a importância que a quantidade de amigos tem para certos
indivíduos, fato que gera um status diferenciado para esse sujeito, inflacionado de
admiradores virtuais. É revelada certa preocupação com quem se adiciona, já que
não é possível ter certeza sobre a veracidade das informações do sujeito que manda
um convite de amizade, daí a preocupação de ter em seu contato, pelo menos em
sua maioria, pessoas que já fazem parte do seu círculo de amigos presenciais.
Aceitar os amigos em seu perfil virtual já virou rotina diária para muitos
usuários, o que começa a despertar preocupação com relação às pessoas que
querem estabelecer um vínculo virtual, que em muitos momentos pode implicar em
encontros presenciais. A “importância que as pessoas têm” para o usuário talvez
revele o sentimento de seleção para os futuros amigos.
A internet trouxe novos elementos para a dinâmica das relações sociais,
possibilitando tanto encontros e cooperação quanto receios por parte daqueles que
utilizam essa tecnologia. A constituição dos laços sociais na rede obedece a lógicas
mais efêmeras e instáveis, as amizades costumam ser fortalecidas pela
conversação, mas o contrário também é verdade, falta de contato e dinâmica na
rede com o “amigo” gera a exclusão simbólica de tal indivíduo da lista de contatos,
resultando muitas vezes em uma limpeza que consiste em excluir “amigos inativos”
do perfil pessoal.
Como dito anteriormente, há uma preocupação constante dos
entrevistados em preservar a qualidade dos amigos virtuais e isso implica em ter
uma lista de amigos ou parceiros que de alguma forma estabeleceram um contato,
mesmo que ligeiro, no mundo presencial. A maior parte das pessoas que os jovens
entrevistados têm em suas contas nas redes sociais faz parte do círculo social
69
presencial. Isso se deve à preocupação da exposição dos dados e dos materiais que
revelam muito acerca do usuário a pessoas que ele não conhece, cujas intenções
podem ser duvidosas e escusas:
Sim, porque, se você não pode estar com a pessoa todo dia, você pode
conversar com ela todo dia na rede social. (J5).
Eu não adiciono ninguém que não conheço, se eu já tiver conhecido
pessoalmente, eu até posso adicionar, mas, do contrário, não. Então, meus
amigos virtuais são, sim, do meu círculo social, posso não encontrar com
eles todos os dias, mas sei que, quando encontrar, será a mesma festa de
sempre. (J6).
A maior parte sim, alguns fazem anos que não vejo mais, mantenho esse
contato através da internet com eles. (J7).
70
mundo físico. As relações precisam transcender certos conceitos cristalizados para
que significativos processos de cooperação aconteçam e isso para além do círculo
seguro de amigos presenciais.
É preciso que seja levado em consideração que as opiniões expressas
pelos usuários, opiniões que muitas vezes revelam o desejo de mudar algo na
sociedade, sempre vão alcançar um indivíduo desconhecido na rede, o que pode
gerar dois sentimentos, o da desconfiança e o da possibilidade. A juventude atual
precisa transcender aos grupos fechados e “seguros”, até mesmo os virtuais, e
começar a explorar o desconhecido como possibilidade que pode levá-los a outro
nível de interação social, com vistas a estabelecer grupos cada vez mais
organizados na rede. O desejo de “mudar o mundo” (J3) só pode converter-se em
projeto quando compartilhado com uma ampla rede de comunicação e atuação.
Outro dado relevante se refere à dificuldade dos jovens em enxergar as
redes sociais como um espaço de atuação sociopolítica. Apesar de reconhecerem
experiências sociais relevantes na atualidade, tendo as redes sociais como suportes,
os jovens entrevistados tiverem dificuldades na compreensão de conceitos como os
de política, sociedade e cultura:
Fiquei sabendo que houve a marcha das vadias esses dias. Das “vadias”,
mulheres que resolveram protestar contra o estupro e a violência sexual.
Não é porque estão com roupas curtas que elas estão pedindo para serem
estupradas. (J5).
71
apressadas da realidade e de falta de um conhecimento mais elaborado das causas
sociais:
[...] Cara, no sentido de responsabilidade social? Ah, eu, por exemplo, quero
cursar psicologia, aí eu falo às vezes não algo de psicólogo, porque eu não
sou um psicólogo, mas busco tentar fazer as pessoas refletirem sobre suas
vidas, ou simplesmente... posto besteiras, mas às vezes posto coisas. (J2).
Ah, com certeza, tanto que esses dias mesmo no Facebook criaram um
grupo e me adicionaram, que é a Galera Gospel, então sempre tem gente
postando coisas novas e “taus”. E, de certa forma, é uma forma onde as
pessoas conversarem e conhecerem mais sobre tal aspecto. (J3).
Não utilizo pra isso, porque não gosto de discutir sobre política. Além de ser
um assunto polêmico gera muitos pontos de vista que podem levar a uma
confusão. (J6).
Não, passageiro não, é evolutivo. Antes você tinha só o Orkut, hoje você
tem o Facebook, tem o Twitter, então tá evoluindo. Veja, antes era só um
meio de comunicação, hoje você tem vários, então tá evoluindo. (J1).
72
Não é passageiro, mas algum dia vai acabar. Assim como tinha... não é
rápido, mas algum dia vai acabar, vai ficar ultrapassado tecnologicamente.
Acho que a tecnologia vai evoluir muito, até as pessoas ficarem de saco
cheio do computador e buscarem relações entre, fisicamente... eu creio que
um dia isso vai acontecer. (J2).
Não, vai evoluir muito ainda. Não vai cair, não. Isso aí vai ser aumentado
cada vez mais. (J3).
Eu acho que por enquanto tá legal e tudo mais, mas uma hora vai ficar
monótono, igual aconteceu com o Orkut, ele ficou naquela mesmice e
chegou o Facebook, inovando tudo, e, se não chegar algo que consiga
prender a atenção do público, vai, sim, ser passageiro. (J6)
Acho que não é passageiro, não. Porque vêm aí as novas gerações com
tudo, né, e que a cada dia deixa o futebol, a boneca de lado pra entrar
nesse mundo tão interessante. (J7).
Sim, você pode tá postando lá, né, palestras, algum anúncio diferente,
coisas do tipo... Cooperação? Ah, existe, você pode botar um anúncio,
estou precisando de tanto, alguém pode me ajudar? (J1).
Sim. Quando a gente vai fazer um trabalho, a gente manda o site um pro
outro e modifica as palavras pra ficar um pouco diferente. (J2).
Com certeza. É, por exemplo, os próprios vídeos, (...) foram feitos por
jovens que fazem outros jovens pensarem a respeito disso e estudarem
mais, não só em termos de estudo mesmo, mas em termos de religião, em
termos de ideologia ou em qualquer outra coisa do tipo. (J3).
73
Sim! Duas semanas antes do Dia das Crianças, houve uma mobilização que
dizia o seguinte: ‘trocar a imagem do avatar (perfil) por algum personagem
de desenho animado ou quadrinhos e a graça do desafio esta em manter
até o dia 12 de outubro (popularmente conhecido por Dia das Crianças). A
campanha tem como objetivo protestar contra a violência infantil. E foi muito
bom, porque a maioria das pessoas aderiu ao desenho como forma de
protesto! (J6).
Por incrível que pareça, existe sim, não sei explicar o porquê da existência
desta cooperação, mais ela é mutua entre os frequentadores das redes
sociais. (J8).
74
conhecimento” (LEVY, 2010). A interatividade é um desses modelos que pode ser
encontrado na internet e, mais recentemente, nas redes sociais, tecnologias que
possibilitam interação instantânea tanto com outras pessoas quanto com
mecanismos híbridos de aprendizagem e lazer.
Todavia, é preciso entender que este é um território novo, ainda envolto
pela neblina da desconfiança e dos tabus. Mas as perguntas centrais que podem
nortear essa discussão são as seguintes: é possível aprender na rede? Em caso
afirmativo, quais os mecanismos que possibilitam esse processo? A juventude tem
aproveitado todo o potencial da rede? O consenso é que o ser humano pode
aprender em qualquer contexto, inclusive no ambiente virtual. Não é preciso estar
fincado em uma sala de aula para aprender. Esta lógica de descentralização do
conhecimento e da aprendizagem é o que norteia a dinâmica da internet e das redes
sociais.
Nesta última seção da análise dos dados será discutida a presença ou a
ausência de processos educativos na rede, a partir de dois enfoques, o dos limites e
o das possibilidades deste novo território em expansão. Por mais que a juventude
seja um publico “antenado”, que demonstra em muitos momentos competência
técnica e certo engajamento com a internet, o fato é que esse segmento apresenta
limites em face da sua atuação no ciberespaço. Porém, a partir das intervenções dos
jovens pesquisados, é discutido o que realmente eles pensam sobre as relações
entre educação e internet.
Quando questionados sobre as possibilidades de aprendizagem, tendo
como mediadora a internet, os jovens entrevistados responderam o seguinte:
Bem, ela pode, sim. Como eu tinha falado no outro caso, ela melhorou, né,
ela tá deixando a educação mais próxima. (J1).
Sim, mas com os seus riscos. Hoje na aula o professor falou isso, pra nunca
pesquisarmos nada na internet. Eu acho um pouco de exagero, mas você
corre risco, sim, se for uma coisa que você não tem a mínima ideia pode
colocar uma coisa que acha que está certa, como a Wikipédia, que tem
muitas informações que o usuário pode modificar e aí vai enganar os outros
usuários. Então, você pode tá vendo uma coisa que não é verdade. Eu acho
que a internet é uma boa ferramenta quando você sabe utilizar. (J2).
75
É possível, sim, porque a internet tem muitas notícias e conteúdos
interessantes e que podem ser aplicados no dia-a-dia, mas deve-se tomar
cuidando com as fontes, pois muitas delas não são seguras. (J6).
76
Eu tenho uma antiga professora em uma das redes que participo, ela
costuma postar coisas sobre ortografia e, sempre quando tenho uma
dúvida, eu confiro as postagens dela e isso me ajuda muita, fora o site do
Dicionário Aurélio, que já virou principal acesso do meu computador. (J8).
Sim, pois tudo hoje em dia gira em torno da internet, da tecnologia e quem
não adere às redes sociais ou não interage com a internet acaba sendo
taxado de anti-social e pode até ser excluído do grupo. (J6).
Acho que sim. Porque ninguém mais pára pra ler a Barsa, todo mundo vai
no Google, todo mundo copia e cola. Eu já via muita gente se dando mal
copiando e colocando, porque só simplesmente copia e cola sem analisar,
sem dar pelo menos uma lida antes. (J2).
77
mecanismos interativos para auxiliar as aulas. Isto revela certo otimismo por parte da
juventude com relação à escola. Por mais que os espaços de aprendizagem estejam
sendo ampliados com a internet, ainda há o reconhecimento de que a escola é uma
instituição social que transmite credibilidade. Não há entre os jovens pesquisados
posicionamentos favoráveis à substituição da escola pelas tecnologias.
Principalmente no meu colégio que, pô, agora a gente tem lousas digitais,
aulas on line, que professores que vieram de São Paulo, pessoas muito
nerds, dando aula pra gente, sabe. Outra coisa, outro nível. (J3).
Acho que o professor é o educador, ele que vai mandar o que você deve
fazer e você vai atrás, né, é uma espécie de instrutor. A função continua a
mesma, ele vai ter o conhecimento e vai te passar esse conhecimento. (J2).
78
Os jovens entrevistados demonstram um posicionamento conservador se
comparado ao que as pesquisas apontam sobre o protagonismo juvenil nas escolas,
principalmente com relação à sua mentalidade digital (ABREU, 2006). Eles ainda
não conseguem perceber que podem ser mais autônomos no que concerne aos
assuntos educacionais: esperam a última palavra do professor, até mesmo no
norteamento das pesquisas on line (J2).
A potencialidade educativa do ciberespaço ainda é pouco explorada pelos
jovens, que resumem sua apreensão de conhecimento a informações corriqueiras,
em sites de notícias ou acontecimentos de grande porte, pelas redes sociais. Até
mesmo as pesquisas escolares não são aprofundadas na rede. A tendência é
sempre “copiar” e “colar” as informações encontradas no primeiro site que o Google
disponibiliza. Por isso, os grupos de estudos, as redes de cooperação, o
engajamento coletivo e protagonista, são dimensões que ainda precisam ser
trabalhadas pela juventude atual, mesmo que haja o discurso reducionista de que
esse segmento social não precisa aprender mais nada sobre a internet e seus usos.
Apesar dos apontamentos positivos com relação à escola e ao
professorado, ainda fica a incerteza sobre o adequado preparo das instituições de
ensino. Isto foi revelado por alguns jovens quando questionados se a escola está
preparada para responder às novas demandas interativas da aprendizagem.
Não preparada, mas aí é onde entra o meio político, né? Essas escolas não
têm uma tecnologia que está favorecendo a aprendizagem. Você vê escolas
hoje com precariedades, né, escolas só com três computadores e sem
internet. Então, você acaba não deixando que o aluno se evolua com a
evolução do meio tecnológico. (J1).
Sim, se ela não tiver limites. Tipo um exemplo, como eu estudava na escola
X, eles utilizavam a internet só pra fazer trabalhos e pesquisas, muitas
vezes as redes sociais ficavam trancadas por certas imoralidades, porque
os alunos ficavam matando aula pra passar o tempo ali e não entrar em
79
sala. Muitas vezes a escola ficava com medo de liberar as redes sociais
para os alunos.Ter um horário maior, ter conscientização e horário, né?
“Vou liberar, sim, as redes sociais, mas não vai ser admitido fotos
indecentes”; [é preciso] saber manipular essa nova rede. (J1).
É possível, sim, sem dúvida existe esta possibilidade, mas isto demanda
tempo e muitas mudanças, primeiro no próprio espaço escolar e, depois, na
formação de docentes capacitados para atenderem esta necessidade de
interatividade. (J8).
80
especialistas das ferramentas interativas, pelo contrário, o que se deseja de tais
profissionais é que cumpram seu papel de mediação entre o educando e o
conhecimento, até mesmo em territórios virtuais de aprendizagem.
81
CAPÍTULO IV – CONSIDERAÇÕES FINAIS E APONTAMENTOS
82
Nesse ambiente, profundamente relacional e ao mesmo tempo privado e solitário, o
indivíduo encontra a satisfação pelo jogo social e o sentido no encontro com aqueles
que partilham das suas necessidades e desejos. A identificação e o sentido criado e
recriado a partir dos conteúdos sociais são os alvos, mesmo que inconscientes, da
juventude que interage por meio da internet. Daí a preocupação sempre presente em
adicionar novos “amigos” que possuam um mínimo de pré-requisitos adequados as
normas de certos grupos formados nas redes sociais.
A emergência desse contexto virtual de atuação vem confirmar o anseio
da juventude pelo encontro com o usuário ou com o “amigo” que está do lado de lá,
mas que se pode fazer presente em um click. Esta nova lógica, imperante na
juventude, desloca o significado da palavra presença e também subverte as noções
mais clássicas de tempo e espaço. Hoje em dia não é preciso fixar o corpo físico em
um determinado ponto para ser prontamente reconhecido como presente. Esta nova
realidade, fortalecida pela internet e pelas redes sociais, faz suscitar problemáticas
distintas nas relações humanas, desafios que afetam diretamente adolescentes e
jovens.
Os laços sociais constituídos nos ambientes virtuais têm sido encarados
de forma positiva, apesar de haver certa preocupação entre a juventude sobre a
expansão do círculo de contatos na rede, que chamam de “amigos”. A tendência é
que a juventude estabeleça uma rede de comunicação mais extensa e superficial,
mesmo que atualmente a maioria dos adolescentes tenha cadastrado em seus
contatos pessoas que conhecem ou que mantêm um contato razoável fora do
ambiente virtual. Assim, a movimentação e a dinâmica dos perfis nas redes sociais
podem ser o núcleo a partir do qual a vida social na internet é impulsionada. Todos
os que estão conectados à rede, em qualquer parte do mundo, podem transitar por
essa freeway e aproveitar as benesses do encontro e das experiências interativas.
Apesar da simpatia juvenil pela conversação e encontros virtuais, o que foi
percebido num primeiro momento diz respeito à dificuldade desse público em refletir
a respeito das ferramentas interativas que utilizam cotidianamente, falta-lhes
criticidade e embasamento para discutirem o objeto para onde afluem seus esforços
diários. Os encontros com o Outro acontecem por meio de caminhos virtuais que a
juventude tomou para si por meio da construção de um itinerário composto por sites
que revelam suas preferências. Dos sítios de games às alardeadas redes sociais, o
que foi constatado entre a juventude é a preferência pelo entretenimento, pela
83
conversação e encontro com o Outro e pelo fortalecimento de laços sociais formados
fora do ambiente virtual. Essa opção pelo fluxo de informações e experiências
acontece, na maioria das vezes, fora do ato de refletir e discutir a rede, o que revela
um traço alienador nas sociabilidades juvenis que acontecem na internet.
Há uma tendência de perceber as possibilidades da internet em detrimento
dos seus limites, uma visão reforçada principalmente entre os jovens que dominam
as ferramentas interativas do ciberespaço. Mesmo com receios em face da
autoexposição exagerada e da aceitação de “amigos” ou o estabelecimento de
contatos com pessoas desconhecidas, identifica-se neste segmento social um
discurso que reconhece as potencialidades da internet. Diante deste quadro, é
possível afirmar que os usos da internet com a finalidade de interação social é um
caminho que tende a ser seguido e melhorado por um número crescente de jovens.
É possível afirmar que a interação na rede é uma experiência irreversível.
Essa interação vem acompanhada de alguns limites, principalmente em
relação ao desenvolvimento de grupos, nas próprias redes sociais, que estejam
dispostos a discutir a sociedade de forma mais embasada, em termos críticos e
emancipatórios. A internet converteu-se, para a maioria dos jovens, numa imensa
janela por onde é possível enxergar o mundo e suas relações tanto de forma
superficial e apressada, quanto de forma aprofundada. Olhar pela janela representa
o primeiro passo na formação de jovens comprometidos com sua sociedade, é
somente o início e não o fim do processo. A ausência de grupos, formados por
pessoas desconhecidas, heterogêneos, multiculturais, empobrece a atuação juvenil
no ciberespaço, criando “bolhas cibernéticas”, “desconectadas” da rede.
Outro ponto importante a ser discutido é a contradição entre o discurso
positivo sobre as potencialidades da internet e a falta de uma visão crítica e reflexiva
de parte da juventude sobre esse mesmo “universo” que domina. Quase tudo está
ao alcance de um click, as temáticas mais diversas estão dispostas como num self-
service multimídia, entretanto, falta aos jovens da atualidade, pelo menos na boa
parte daqueles que utilizam a internet e as redes sociais cotidianamente, uma visão
mais engajada da relação entre sociedade e internet. Essa mentalidade reduzida
sobre o alcance sociopolítico da rede e da própria atuação desses sujeitos na
sociedade tem sido um entrave na experiência formativa integral do cidadão jovem.
Eles reconhecem o poder transformador e até revolucionário das novas
ferramentas comunicacionais, mas tendem a resumir sua atuação sociopolítica a
84
frases de efeito e fotos que revelam os lugares onde têm passado as férias. Foi
percebido um aspecto de descomprometimento da parte dos jovens em relação a
temáticas mais amplas da sociedade e do uso da internet como plataforma de
discussão. Alguns passam parte do tempo em um ócio digital, apartados de
experiências mais profundas de reflexão. Mesmo que o espírito de cooperação e de
ajuda mútua, com finalidades sociais, seja historicamente uma realidade entre a
juventude, o fato é que as atuações utilizando a internet como suporte são bem
pontuais e resumidas atualmente, mesmo que os noticiários e alguns autores falem
dos movimentos de contestação que utilizaram as redes sociais no Oriente Médio,
por exemplo.
Mas a despeito desses limites, essa juventude “desterritorializada” vem
mostrando que é possível ressignificar conceitos clássicos, como os de presença,
tempo, espaço e até de aprendizagem. É possível lançar-se no fluxo constante do
ciberespaço e aprender novas maneiras de compreender a realidade e também os
conteúdos escolares, isso em outra perspectiva, potencializada pela interatividade.
Esse desmantelamento da presença física faz suscitar alguns questionamentos
acerca da relevância da escola atual, fruto da modernidade, idealizada a partir de
conceitos fabris. Cabe aos educadores se apossarem do potencial educativo da rede
para transcenderem a limitação da sala de aula e darem um novo aspecto ao espaço
escolar, que pode ir para além das concepções geográficas ortodoxas, convertendo
o ciberespaço em uma “hiperescola”, a partir de um enfoque multimodal.
Mesmo constatando os limites da atuação juvenil na rede em face de uma
consciência crítica, não se pode negar que essas sociabilidades revelam também
uma maneira peculiar de expressão desse segmento. O desejo de mudar a
sociedade, expresso nas redes sociais, revela um modo de pensar a realidade, por
vezes ingênuo, mas profundamente legítimo. As postagens na internet mostram
esse olhar particular da juventude, incompreendido muitas vezes pelo mundo adulto.
Um exemplo dessa tensão revela-se nas relações que a juventude da atualidade
estabelece com o sistema formal de ensino. A escola segue um itinerário antiquado
se comparado a maneira como a juventude pensa e concebe a realidade. Uma
escola interativa, preocupada com as novas demandas do conhecimento, poderia
ajudar a juventude em sua busca por sentido e criticidade.
Os posicionamentos dos jovens revelaram um discurso em favor da escola
e de seu esforço para adaptar-se às novas demandas da interatividade, inclusive
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situando o professor como um mediador importante nesse processo. Mas a despeito
disso, a juventude está desejosa de transcender ao tratamento resumido que a
própria escola concede a relação entre os educandos e a internet. Ter laboratórios
de informática ou mecanismos interativos em sala de aula não são o suficiente para
atender as novas necessidades cognitivas da juventude, isso porque a presença das
ferramentas tecnológicas não elimina o modelo pedagógico retrógrado que a maioria
das escola possui, que focaliza seus esforços na aprovação dos vestibulares
apenas.
A tendência em se fazer pesquisas utilizando a internet, a maneira
particular das leituras desenvolvidas nas redes sociais e o modo inquieto e veloz
com que a juventude trata as informações, revelam traços cognitivos diferenciados
se comparados aos da juventude de quinze ou vinte anos atrás. A juventude que
chega às escolas e faculdades apresenta um novo perfil, que está em sintonia com
as dinâmicas interativas da atualidade. Esse quadro deve desafiar as instituições
formais de ensino à reflexão e reinvenção de seus métodos e técnicas, caso queiram
contribuir eficazmente na formação desse segmento social.
Assumir uma nova postura frente ao fluxo constante da rede pode trazer
tanto novas possibilidades criativas quanto riscos para a juventude. Nessa balança,
é necessário compreender que protagonismo e alienação representam a dupla face
do mesmo processo informacional. Essa dualidade pode ser percebida nos
movimentos de insurgência pela rede, que vão de manifestações de curto alcance
até grandes mobilizações juvenis pelas redes sociais. Entretanto, a despeito de
movimentos de luta pela autonomia juvenil, é possível detectar também modismos
que esvaziam o significado das expressões.
Este é o antagonismo das sociabilidades reveladas no ciberespaço: em
meio a um sem número de pessoas conectadas é possível isolar-se e construir uma
“bolha cibernética”. Nesta conjuntura, até o conceito de solidão é reconfigurado,
fazendo com o que o jovem usuário da rede abdique da relevância de sua conexão.
Apesar de conectado, esse indivíduo perde a riqueza dos fluxos e se auto-exclui da
rede, tornando-se um nó solitário, solto e sem interatividade com outros.
Apesar de esses aspectos negativos apresentarem-se como barreiras à
interação juvenil, as redes sociais vêm destacando-se pelo seu potencial interativo,
fazendo com que grupos e mais grupos se organizem em torno das mesmas. Esse
desejo de ter um perfil virtual, de ser percebido pelo Outro, com face e “nickname”
86
ou sem face e sem nome, revela a necessidade de reproduzir no ciberespaço os
laços sociais do cotidiano estabelecidos fora da rede. Nesse processo é possível
perceber outro tipo de socialização, que merece a atenção dos pesquisadores
quanto aos seus mecanismos de estruturação. Não haveria novos elementos no
processo de socialização? A sociedade em rede traz novos processos e demanda
novos olhares sobre as tradicionais formas de interação e sociabilidade. Aqui fica o
questionamento para futuras pesquisas.
É preciso compreender o potencial de interação social da juventude, que
tenta construir no ciberespaço outro mundo possível, espectro de seus sonhos e
anseios. Este talvez seja o grande desafio do pesquisador dos fenômenos interativos
da juventude, compreender as reais motivações das diversas expressões juvenis
nas redes sociais da internet e o que este outro mundo significa para esse sujeito.
Por hora, é possível afirmar que os fluxos na rede representam o desejo
juvenil de existir para além do cotidiano rígido, o que torna os “ciberjovens” seres
híbridos, com atuação tanto no mundo “real” quanto em seu mundo espectral,
podendo ser compartilhado ou não com os pares. Essa sociabilidade híbrida, por
vezes confusa para os padrões mais ortodoxos de interação, revela a face de uma
juventude que busca sentido e novos territórios de atuação. No ciberespaço, o
desejo pela juventude eterna, a filosofia Forever Young (TUCHERMAN, 2004), vem
reconfigurando as relações sociais e apontando novas problemáticas a serem
investigadas no campo de estudos que envolvem as juventudes.
87
REFERÊNCIAS
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jovem. In: ALMEIDA, M. I. M.; EUGENIO, Fernanda (Orgs.). Culturas Jovens:
novos mapas do afeto. Rio de Janeiro: Zahar, 2006.
BAUMAN, Zygmunt. Amor Líquido: sobre as fragilidades dos laços humanos. Rio
de Janeiro: Zahar, 2004.
COELHO, Maria das Graças Pinto; ASSUNÇÃO, Zoraia da Silva. A Internet como
Tecnointeração na Aprendizagem Remodela Cultura e Identidades Juvenis.
Natal: Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2010.
88
COSTA, Patrícia M. D. Os Jovens e o Mundo Virtu@l: as artimanhas dos valores
nos ch@ts da internet. 2003. Dissertação (Mestrado em Educação), Universidade do
Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2003.
DEMO, Pedro. Desafios Modernos da Educação. 13ª ed. Petrópolis: Vozes, 2004.
HOBSBAWN, Eric. Revolução Cultural. In: HOBSBAWN, Eric (Org.). Era dos
Extremos: o breve século XX – 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras,
2009.
HUXLEY, Aldous. Admirável Mundo Novo. 5ª ed. Porto Alegre: Globo, 1979.
89
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facebook-nos-eua>. Acesso em: 29 set. 2011.
LEMOS, André. Cibercultura: alguns pontos para compreender a nossa época. In:
LEMOS, André; CUNHA, Paulo (Orgs.). Olhares sobre a Cibercultura. Porto
Alegre: Sulina, 2003, p. 22.
90
SETTON, Maria da Graça J. Juventude, Mídias e TIC. In: SPÓSITO, Marília Pontes.
O Estado da Arte sobre Juventude na Pós-Graduação Brasileira: educação,
ciências sociais e serviço social (1999-2006). Belo Horizonte: Argumentum, 2009.
TAPSCOTT, Don. A Inteligência está na Rede. In: PETRY, André. Revista Veja. São
Paulo, 13 abr. 2011.
91
APÊNDICES
92
Propicia um ambiente Identificar os processos
para conversa/debate associativos de agrupamento
em grupo, fazendo com e cooperação no ambiente
que as intervenções virtual;
Grupo de Discussão individuais sejam Verificar como ocorrem os
(Facebook) relacionadas ao processos formativos na
Roteiro do grupo de posicionamento do rede.
discussão grupo. As possíveis
divergências de ideias
entre os participantes
podem gerar
informações importantes
para a pesquisa. Esse
grupo de discussão foi
instalado na rede social
Facebook.
Norteia e organiza a
discussão no fórum da
rede social.
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APÊNDICE 2
ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA
Aspectos pessoais
Qual é o seu nome?
Qual a sua idade?
Qual seu sexo (masculino / feminino)?
Participa de algum grupo social (igreja, seita, clube etc.)?
Possui computador em casa?
Possui internet em casa?
Você utiliza algum aparelho móvel para acessar a internet?
Uso da internet e das redes sociais e suas motivações
11. Você acha que houve mudanças nas relações sociais por causa do uso
da internet e das redes sociais? Por quê?
12. Quantos amigos você possui na rede social que mais utiliza?
13. Você considera importante a quantidade ou qualidade dos amigos na
rede? Por quê?
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14. A maior parte dos seus amigos virtuais são pessoas do seu círculo
social? Fale a respeito.
15. Você costuma utilizar as redes sociais para marcar encontros
presenciais? Fale a respeito.
16. Você utiliza as redes sociais com finalidades sociopolíticas? Em caso
afirmativo, fale um pouco desta experiência.
17. Você utiliza as redes sociais com finalidades educativas? Em caso
afirmativo, fale um pouco desta experiência.
18. Você conhece alguma experiência com as redes sociais na atualidade
que achou interessante? Quais e por quê?
19. Você acha que o fenômeno das redes sociais da internet é passageiro
ou o contrário? Por quê?
20. Você acha que é possível organizar movimentos sociais pela rede
(passeatas, marchas, organização de grupos insurgentes etc)? Por quê?
21. Existe cooperação entre os jovens na rede? Fale a respeito disso.
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APÊNDICE 3
ROTEIRO DO GRUPO DE DISCUSSÃO INSTALADO
NA REDE SOCIAL FACEBOOK
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ANEXOS
Juventude e Ciberespaço:
Implicações do uso da internet na
Constituição da sociabilidade juvenil
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estudo se não cumprir os procedimentos previstos ou atender as exigências
estipuladas. Você receberá uma via assinada deste termo de consentimento.
Declaro que li e entendi o formulário de consentimento, sendo minhas
dúvidas esclarecidas e que sou voluntário a tomar parte neste estudo.
_________________________________
Assinatura do aluno
_________________________________
Assinatura do responsável
_________________________________
Assinatura do pesquisador
Tipo de participação:
Entrevista ( ) Grupo de Discussão – Facebook ( )
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