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Quatro anos antes da Batalha do Salado, em 1336, há outra guerra entre Portugueses e
Castelhanos devido ao facto do rei de Castela se ter recusado a deixar partir para Portugal D.
Constança, noiva do amante D. Pedro, príncipe herdeiro de Portugal e filho de D. Afonso IV.
Tudo termina em bem e os dois fidalgos unem-se em matrimónio, no ano de 1338.
Quando O. Constança viaja para Portugal, entre as damas que a acompanham, vem D. Inês de
Castro, que se distingue pela sua formosura.
O então infante D. Pedro apaixona-se por essa bela dama e, quando a princesa D. Constança
morre, pretende casar-se com D. Inês. Ao contrário do que espera, seu pai, o rei D. Afonso IV, não
Iho consente. D. Pedro passa a viver em Coimbra com D. Inês e são seus propósitos casar-se com ela,
logo que suba ao trono.
Após uma invocação do Poeta a Calíope, Vasco da Gama inicia a narrativa da História de
Portugal. Começa por referir a situação de Portugal na Europa e a lendária história de Luso a Viriato.
Segue-se a formação da nacionalidade e depois a enumeração dos feitos guerreiros dos Reis da 1.ª
Dinastia, de D. Afonso Henriques a D. Fernando. Destacam-se os episódios de Egas Moniz e da
Batalha de Ourique, no reinado de D. Afonso Henriques e o da Formosíssima Maria, da Batalha do
Salado e de Inês de Castro, no reinado de D. Afonso IV.
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OS LUSÍADAS DE LUÍS DE CAMÕES
Episódio de Inês de Castro
118 Passada esta tão próspera vitória1, 118 - Depois da batalha do Salado, D.
Tornado Afonso2 à Lusitana Terra,
Afonso IV regressa a Portugal para gozar da
A se lograr3 da paz com tanta glória
Quanta soube ganhar na dura guerra, paz conquistada com tanta glória.
O caso4 triste e dino da memória,
Aconteceu então o acontecimento da
Que do sepulcro os homens desenterra,
Aconteceu da mísera e mesquinha5 morte da inocente Inês de Castro, caso tão
Que despois de ser morta foi Rainha.
comovente que até os mortos desenterra.
120 Estavas, linda Inês, posta em sossego, 120 - Estava em Coimbra a linda Inês
De teus anos colhendo doce fruito, sossegada, alegre e cega de amor, colhendo
Naquele engano da alma, ledo12 e cego,
Que a Fortuna não deixa durar muito, as alegrias da sua juventude, mas que a sorte
Nos saudosos campos do Mondego, não deixa durar muito, confidenciando à
De teus fermosos olhos nunca enxuito,
Aos montes insinando e às ervinhas Natureza o nome de D. Pedro que tinha
O nome13 que no peito escrito tinhas. escrito no peito.
121 Do teu Príncipe ali te respondiam 121 - Na ausência do seu amado socorre-se
As lembranças que na alma lhe moravam,
Que sempre ante seus olhos te traziam, das lembranças: de noite em sonhos; de dia
Quando dos teus fermosos se apartavam; em pensamentos.
De noite, em doces sonhos que mentiam,
De dia, em pensamentos que voavam; Para ele isto eram memórias de alegria.
E quanto, enfim, cuidava e quanto via
Eram tudo memórias de alegria.
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OS LUSÍADAS DE LUÍS DE CAMÕES
Episódio de Inês de Castro
122 De outras belas senhoras e Princesas 122 - Pedro recusa-se a casar com outras
Os desejados tálamos14 enjeita,
belas senhoras e princesas porque o seu amor
Que tudo, enfim, tu, puro amor, desprezas,
Quando um gesto suave te sujeita. por Inês fá-lo desprezar os outros.
Vendo estas namoradas estranheza15,
Vendo esta conduta apaixonada e estranha,
O velho pai sesudo16, que respeita
O murmurar do povo e a fantasia17 o pai, D. Afonso IV, considerando o
Do filho, que casar-se não queria,
murmurar do povo e a atitude do filho que
não se queria casar...
123 Tirar Inês ao mundo determina, 123 - … manda matar Inês, porque só assim
Por18 lhe tirar o filho que tem preso,
podia acabar com aquele firme amor que
Crendo co sangue só da morte indina
Matar do firme amor o fogo aceso. trazia o filho preso.
Que furor19 consentiu que a espada fina,
Que loucura foi essa, que permitiu que a
Que pôde sustentar o grande peso20
Do furor21 Mauro, fosse alevantada mesma espada que combateu os Mouros se
Contra hua fraca dama delicada?
levantasse contra uma dama delicada?
126 «Se já nas brutas feras, cuja mente25 126 – “Se até os animais ferozes, que a
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OS LUSÍADAS DE LUÍS DE CAMÕES
Episódio de Inês de Castro
Natura26 fez cruel de nascimento, natureza fez cruéis, e nas aves selvagens que
E nas aves agrestes27, que somente
só pensam em caçar, vimos haver piedade
Nas rapinas aéreas tem o intento,
Com pequenas crianças viu a gente para com crianças pequenas, como aconteceu
Terem tão piadoso sentimento
com a mãe de Nino e com Rómulo:
Como co a mãe de Nino28 já mostraram,
E cos irmãos29 que Roma edificaram:
130 Queria perdoar-lhe o Rei benino39, 130. O rei benigno queria perdoar-lhe, já
Movido40 das palavras que o magoam; comovido com aquelas palavras, mas o povo
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OS LUSÍADAS DE LUÍS DE CAMÕES
Episódio de Inês de Castro
131 Qual contra a linda moça Polycena43, 131. Tal como Pirro levantou a espada contra
Consolação extrema da mãe velha44,
Porque a sombra45 de Aquiles a condena, Policena, uma mansa ovelha, que coloca os
Co ferro o duro Pirro46 se aparelha; olhos na mãe, e se oferece ao duro sacrifício
Mas ela, os olhos, com que o ar serena
(Bem como paciente e mansa ovelha), (morte):
Na mísera mãe postos, que endoudece,
Ao duro sacrifício se oferece:
132 Tais contra Inês os brutos matadores, 132 – … tais os brutos matadores, férvidos e
No colo de alabastro47, que sustinha irosos, contra Inês se enraiveciam, banhando
As obras48 com que Amor matou de amores as espadas de sangue no colo de alabastro,
Aquele que despois a fez Rainha,
que sustinha as obras que fizeram Pedro
As espadas banhando e as brancas flores49,
Que ela dos olhos seus regadas tinha, apaixonar-se por ela, sem se preocuparem
Se encarniçavam50, férvidos e irosos, com a vingança futura (de D. Pedro).
No futuro castigo não cuidosos51.
Da minina que a trouxe na capela57, cândida e bela, foi cortada antes do tempo e
O cheiro traz perdido e a cor murchada:
maltratada na grinalda, já sem cheiro nem
Tal está, morta, a pálida donzela,
Secas do rosto as rosas e perdida cor, tal está morta a donzela com a face sem
A branca e viva cor, co a doce vida.
cor e sem vida.
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OS LUSÍADAS DE LUÍS DE CAMÕES
Episódio de Inês de Castro
1. O Canto III apresenta-nos um dos episódios mais comoventes da obra camoniana — o relato da
morte de Inês de Castro.
1.1 Em que plano narrativo o inseres? Justifica a tua resposta.
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2. Na estância 119, Camões identifica o responsável pela morte daquela «Que despois de ser morta
foi Rainha.»
2.1 A quem atribui tal responsabilidade?
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2.2 Como é caracterizada essa entidade?
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3. Centra a tua atenção nas estâncias 120-121.
3.1 Como é apresentada Inês?
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3.2 Qual é o seu estado de espírito?
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3.3 Onde se encontra?
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4. A estância 122 é constituída por dois momentos.
4.1 Indica o conteúdo do primeiro.
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4.2 Refere as causas da morte de Inês apresentadas no segundo momento.
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5. «O velho pai sesudo [...J Tirar Inês ao mundo determina» (estâncias 122-123)
5.1 Explica por que motivo resolve o rei mandar matar Inês.
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5.2 Transcreve os versos que demonstram a opinião do Poeta relativamente a esta decisão.
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6. Na estância 124, Inês é apresentada ao rei.
6.1 Como reage o monarca?
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OS LUSÍADAS DE LUÍS DE CAMÕES
Episódio de Inês de Castro
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7.3 Refere as alternativas à morte propostas pela mãe desesperada. «Queria perdoar-lhe o Rei
benino,» (estância 130)
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9. A estância 133 manifesta claramente a reprovação do Poeta face ao sucedido.
9.1 Fundamenta esta afirmação com dados textuais.
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10. A Natureza exprime os seus sentimentos face ao trágico desfecho deste episódio.
10.1 Prova a veracidade desta afirmação.
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11. D. Pedro ficou conhecido como «O Cru» ou «O Justiceiro».
A estância 136 diz respeito à reação do Infante D. Pedro.
11.1 Como procede o futuro rei?
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Episódio de Inês de Castro
12. Lê os poemas sobre Inês de Castro e sintetiza a mensagem que os poetas pretendem transmitir.
Soneto de Inês
Dos olhos corre a água do Mondego
os cabelos parecem os choupais
Inês! Inês! Rainha sem sossego
dum rei que por amor não pode mais.