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Bioquímica
Maria Risoleta Freire Marques
1ª edição e 1ª reimpressão.
Florianópolis, 2010.
Governo Federal Comissão Editorial Viviane Mara Woehl, Alexandre
Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva Verzani Nogueira, Milton Muniz
Ministro de Educação Fernando Haddad
Secretário de Ensino a Distância Carlos Eduardo Projeto Gráfico Material impresso e on-line
Bielschowky Coordenação Prof. Haenz Gutierrez Quintana
Coordenador Nacional da Universidade Aberta do Equipe Henrique Eduardo Carneiro da Cunha, Juliana
Brasil Celso Costa Chuan Lu, Laís Barbosa, Ricardo Goulart Tredezini
Straioto
Universidade Federal de Santa Catarina
Reitor Alvaro Toubes Prata Equipe de Desenvolvimento de Materiais
Vice-Reitor Carlos Alberto Justo da Silva
Laboratório de Novas Tecnologias - LANTEC/CED
Secretário de Educação à Distância Cícero Barbosa
Coordenação Geral Andrea Lapa
Pró-Reitora de Ensino de Graduação Yara Maria
Coordenação Pedagógica Roseli Zen Cerny
Rauh Müller
Departamento de Educação à Distância Araci Material Impresso e Hipermídia
Hack Catapan Coordenação Laura Martins Rodrigues,
Pró-Reitora de Pesquisa e Extensão Débora Peres Thiago Rocha Oliveira
Menezes Adaptação do Projeto Gráfico Laura Martins Rodrigues,
Pró-Reitor de Pós-Graduação José Roberto O’Shea Thiago Rocha Oliveira
Pró-Reitor de Desenvolvimento Humano e Social Luiz Diagramação Jessé A. Torres, Laura Martins Rodrigues
Henrique Vieira da Silva Ilustrações Laura Martins Rodrigues, Thiago Rocha Oliveira,
Pró-Reitor de Infra-Estrutura João Batista Furtuoso Lissa Capeleto, Thiago Felipe Victorino, Robson Felipe
Pró-Reitor de Assuntos Estudantis Cláudio José Amante P. dos Santos, Bruno Nucci, Karina Silveira, Ana Flávia
Centro de Ciências da Educação Carlos Alberto Marques Maestri, Lara Vanessa G. Soares
Tratamento de Imagem Thiago Rocha Oliveira
Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas
Revisão gramatical Gustavo Andrade Nunes Freire
na Modalidade a Distância
Diretora Unidade de Ensino Sonia Gonçalves Carobrez Design Instrucional
Coordenador de Curso Maria Márcia Imenes Ishida Coordenação Vanessa Gonzaga Nunes
Coordenador de Tutoria Zenilda Laurita Bouzon Design Instrucional Ana Paula Müller de Andrade,
Coordenação Pedagógica LANTEC/CED Juliana Machado
Coordenação de Ambiente Virtual Alice Cybis Pereira
Colaboração Carla Inês Tasca
Apresentação....................................................................................... 7
3. Proteínas ........................................................................................ 35
3.1 Características Gerais ............................................................................................... 37
3.2 Aminoácidos.............................................................................................................. 40
3.3 Como os Aminoácidos se Ligam para Formar as Proteínas? .......................... 45
3.4 Níveis de Organização Estrutural em Proteínas ................................................ 46
3.4.1 Estrutura Primária ....................................................................................... 46
3.4.2 Estrutura Secundária ...................................................................................47
3.4.3 Estrutura Terciária ........................................................................................50
3.4.4 Estrutura Quaternária .................................................................................51
3.5 Forças Moleculares que Atuam na Manutenção
da Estrutura de Proteínas ..................................................................................... 54
3.6 O que é Desnaturação de Proteínas? ................................................................... 56
3.7 A Importância da Estrutura Primária ................................................................... 58
Resumo.............................................................................................................................. 60
Bibliografia ....................................................................................................................... 60
Bibliografia Comentada................................................................................................. 61
4. Lipídeos .......................................................................................... 63
4.1 Lipídeos: Propriedades Gerais ............................................................................... 65
4.2 Ácidos Graxos ............................................................................................................ 66
4.3 Principais Classes de Lipídeos ............................................................................... 69
4.3.1 Triacilgliceróis ................................................................................................69
4.3.2 Ceras ...............................................................................................................72
4.3.3 Fosfoacilgliceróis (ou Glicerofosfolipídeos) ............................................73
4.3.4 Esgingolipídeos ............................................................................................74
4.3.5 Esteróides .......................................................................................................75
4.4 Lipídeos e prostaglandinas .................................................................................... 77
4.5 Membranas biológicas............................................................................................ 77
Resumo.............................................................................................................................. 82
Bibliografia ....................................................................................................................... 83
5. Carboidratos .................................................................................. 85
5.1 Características Estruturais dos Carboidratos ...................................................... 87
5.2 Visão Geral das Funções Biológicas dos Carboidratos .................................... 88
5.3 Classificação dos Carboidratos .............................................................................. 89
5.3.1 Monossacarídeos .........................................................................................89
5.3.2 Oligossacarídeos ..........................................................................................93
5.3.3 Polissacarídeos ............................................................................................ 96
5.3.4 Amido .............................................................................................................97
5.3.5 Glicogênio......................................................................................................97
5.3.6 Celulose ......................................................................................................... 99
5.3.7 Quitina......................................................................................................... 100
5.4 Derivados de Carboidratos................................................................................... 101
5.5 Peptideoglicana ...................................................................................................... 103
Resumo............................................................................................................................104
Bibliografia .....................................................................................................................104
7. Catálise .........................................................................................127
7.1 Breve Histórico ......................................................................................................... 130
7.2 Catálise Enzimática ................................................................................................. 132
7.3 Nomenclatura e Classificação das Enzimas ...................................................... 136
7.4 Cinética Enzimática ................................................................................................ 138
7.5 Enzimas Alostéricas ................................................................................................ 143
7.6 Inibição da Atividade Enzimática ........................................................................ 146
7.7 Regulação Enzimática por Modificação Covalente ......................................... 153
7.8 Enzimas na Indústria .............................................................................................. 153
Resumo............................................................................................................................ 156
Bibliografia ..................................................................................................................... 156
Bibliografia Comentada............................................................................................... 157
Bem-vindo à Bioquímica!
Além disso, você, mesmo não tendo possivelmente se dado conta, tem con-
tato freqüente com a Bioquímica no seu dia a dia.
Mesmo assim, não é muito fácil apresentar uma definição simples da Bio-
química. Uma delas, a qual lhe pode soar bastante familiar, é que a Bioquímica
é a química da vida. Isto porque o estudo da Bioquímica nos leva a investigar a
base molecular da vida, procurando entender vários processos intracelulares e
varias relações entre os organismos e o meio que os circunda.
Introdução à
Bioquímica
c A p í t U lo 1
A Importância Biológica da Água
Neste capítulo estudaremos a organização da H2O e a
formação das pontes de hidrogênio, bem como as suas pro-
priedades importantes para os organismos vivos. Estes con-
teúdos requerem que você retome os conhecimentos de Quí-
mica, especialmente os relacionados à ionização da água e
a escala de pH.
A Importância Biológica da Água 17
1.1 Introdução
A água foi fundamental para o inicio da vida. E hoje, três quar-
tos da superfície do nosso planeta são cobertos por água. Além
de a água ser abundante na Terra, na maior parte dos organismos
vivos a água perfaz aproximadamente 70% da sua massa. Em al-
guns organismos aquáticos, como por exemplo, na água viva, 95%
da massa corporal são compostos por água. No corpo humano,
excluído o tecido ósseo, a água perfaz aproximadamente 85% da
massa corporal.
Tabela 1.1 – Percentual de água por peso em alguns órgãos do corpo humano
18 Bioquímica
C 2.5
I 2.5
Se 2.4
P 2.1
H 2.1
Cu 1.9
Fe 1.8
Co 1.8
Ni 1.8
Mo 1.8
Zn 1.6
Mn 1.5
Mg 1.2
Ca 1.0
Li 1.0
Na 0.9
K 0.8
*Quanto maior o número, maior a eletronegatividade (maior a
afinidade por eletrons) do elemento químico.
δ+ 104.5°
Ponte de Hidrogênio
0.177 nm
O
δ–
Ligação covalente
δ– H
0.0965 nm
δ+
Hidrogênio
Natureza dipolar da água
(dipolo) Carbono
Molécula polar
polar
Molécula
anfipática
apolar
Figura 1.4
Resumo
A água, uma molécula polar, tem, pelo menos, três papéis im-
portantes na célula: é um solvente eficiente, participa de diversas
reações e contribui para a estabilidade da temperatura. Como sol-
vente, a água interage com biomoléculas iônicas e polares. Assim,
as propriedades da água têm efeito direto no comportamento das
biomoléculas.
Uma ponte de hidrogênio (ou ligação de hidrogênio) é um caso
especial de interação dipolo-dipolo. Tanto no estado líquido, como
no sólido, as moléculas de água são amplamente ligadas entre si por
hidrogênio. As pontes de hidrogênio entre a água e solutos polares
ocorrem em soluções aquosas. As pontes de hidrogênio também
são importantes para estabilizar as estruturas tridimensionais de
diversas biomoléculas, como, por exemplo, os ácidos nucléicos.
A Importância Biológica da Água 23
Bibliografia
CAMPBELL, M. K. & FARRELL, S.O. Bioquímica: Vol 1 – Bio-
química básica. 5. ed. São Paulo: Thomson Learning, 2007.
THORTON, R. M. The chemistry of life [CD-ROM]. New York:
Benjamim Cummings, 1999.
Bibliografia Comentada
Resumo
A Bioquímica é um campo multidisciplinar que investiga e es-
tuda a natureza molecular de processos vitais. Há semelhanças
bioquímicas fundamentais entre os organismos vivos, as quais
fornecem subsídios para uma conexão comum com a origem da
vida. Tanto a Química Orgânica como a Bioquímica estudam mo-
léculas que contêm carbono, bem como a relação entre elas. Além
do carbono, as biomoléculas apresentam hidrogênio (H), oxigênio
(O), além de nitrogênio (N), enxofre (S) e fósforo (P). Para ambas
as disciplinas, o comportamento de grupos funcionais presentes
nas moléculas são um ponto importante, mas a ênfase é distinta
em cada uma delas, isso porque alguns grupos funcionais ou mo-
léculas importantes para a Química Orgânica não têm a mesma
relevância para a Bioquímica e vice-versa.
Outros elementos são ainda importantes para os organismos vi-
vos, sendo necessários em quantidades reduzidas (microelemen-
tos essenciais). Entre eles estão o ferro (Fe), cobre (Cu), zinco (Zn)
e vanádio (Vn), os quais estão presentes na estrutura de biomolé-
culas, como as proteínas, por exemplo.
Bibliografia
CAMPBELL, M. K. & FARRELL, S.O. Bioquímica: Vol 1 – Bio-
química básica. 5. ed. São Paulo: Thomson Learning, 2007.
THORTON, R. M. The chemistry of life [CD-ROM]. New York:
Benjamim Cummings, 1999.
U nidade B
Unidade B
Biomoléculas
33
Transporte e Armazenamento
Contração Muscular
Defesa
Enzimas
Estrutura
3.2 Aminoácidos
Apesar de algumas diferenças entre as proteínas, conforme des-
tacado anteriormente, como por exemplo, o seu tamanho ou sua
forma, podemos afirmar que estas biomoléculas têm uma caracte-
rística fundamental em comum que as identifica. As proteínas são
macromoléculas ou polímeros formados a partir de unidades mais
simples, ou seja, unidades fundamentais.
Então, afinal, do que são constituídas as proteínas?
Quando analisamos a composição dos milhares de tipos dife-
rentes de proteínas presentes nos organismos vivos, observamos
que elas são formadas a partir da seleção de um conjunto determi-
nado de blocos constitutivos, os aminoácidos.
Aminoácidos essenciais
Os aminoácidos têm também importância nutri- composição e em uma boa quantidade. Estas ca-
cional, uma vez que são a matéria-prima para a for- racterísticas definem o valor nutricional de uma
mação das proteínas celulares. No entanto, os or- proteína (VNP). As proteínas do leite, por exemplo,
ganismos vivos não sintetizam todos os 20 amino- são ricas em triptofano. Por outro lado, os grãos de
ácidos padrão. arroz e milho normalmente são pobres em lisina,
enquanto as leguminosas, como o feijão, são po-
Alguns destes aminoácidos (em torno de dez) de- bres em aminoácidos sulfurados, como a metioni-
vem vir da dieta ou do turnover (reaproveitamen- na. Assim, os vegetarianos devem consumir cere-
to) dos aminoácidos presentes na célula, oriundos, ais e feijão juntos em uma refeição. Deste modo,
por exemplo, da degradação de proteínas celula- as proteínas complementares representam uma
res. Estes aminoácidos são chamados de aminoá- mistura que fornece todos os aminoácidos essen-
cidos essenciais. ciais. No entanto, não basta que uma proteína te-
No conjunto, os aminoácidos essenciais podem nha somente um bom conteúdo de aminoácidos
variar de espécie para espécie, ou mesmo, com a essenciais. A proteína deve ter também uma boa
fase de desenvolvimento. Uma boa alimentação digestibilidade. Estas duas características são am-
deve incluir proteínas de boa qualidade, ou seja, bas desejáveis e definem o valor biológico de uma
que apresentem aminoácidos essenciais em sua proteína (VBP).
Proteínas 41
COOH
H�N C H
R
Figura 3.1
ε δ γ β α
6 5 4 3 2 1
CH� CH� CH� CH� CH COOH
Figura 3.2
COO¯
+
H3N C H
R
Figura 3.3
COO-
COO- +
H�N C H COO-
+ COO-
H�N C H COO-
+
CH� H�N C H +
+ H�N C H
CH� CH� CH� H�N C H
CH�
CH� C NH CH�
CH�
CH�
CH� NH CH COO-
CH� + C N COO-
C NH� H
+
NH� NH� Aspartato Glutamato
Figura 3.4
Proteínas 45
R� H R�
+
H�N CH C OH + H N CH COO¯
O
H�O H�O
R� H R�
+
H�N CH C N CH COO¯
O
Figura 3.5
O
O
C
R
C
O
N
N
C
H
Ponte de R C O
R
Hidrogênio N
C
R C
O
N
Uma volta C
C
da hélice O
N
R
C
R
C O
3,6 resíduos N
por volta C
C
O
R
N
C
C
O
N
C
R
Cadeia O
C
N
lateral C
C R O
N
C
R C
N C
R
N
Carbono α C
Figura 3.6
Proteínas 49
3.5 Å
5.7 Å
Conformação em β
(folha pregueada)
Figura 3.7
Figura 3.8
Figura 3.9
-OOC COO- - -
OOC COO
His E7
Sítio de
ligação do
oxigênio
Grupo Heme
Fe
His F8
His = Histidina
Figura 3.10
54 Bioquímica
COO¯
+
COO¯
H�N CH +
H�N CH
Cisteína CH� Oxidação
CH�
2H + 2e-
+
SH
S
Cistina
S
SH 2H + 2e-
+
Redução CH�
CH� +
Cisteína + CH NH�
CH NH�
COO¯
COO¯
Figura 3.11
Ponte de
Interações Hidrogênio
Íon Metálico Hidrofóbicas (cadeia lateral) Interação
(coordenado)
N Eletroestática
O-
M 2-
C NH 3
O COO-
C
H
Ponte de O
Leu
Hidrogênio
Val CH 2
Ile S S
CH2
Figura 3.12
Agora você pode entender como as subunidades da hemoglo-
bina, por exemplo, podem permanecer firmemente juntas, apenas
através de interações fracas (não covalentes) intercadeias. As su-
56 Bioquímica
Figura 3.14
Resumo
As proteínas representam um grupo de biomoléculas extrema-
mente versátil, considerando a gama das funções biológicas que
desempenham. Proteínas são biopolímeros de tamanho variado,
formados a partir de um conjunto de 20 α-L-aminoácidos, deno-
minados, genericamente, de aminoácidos primários ou aminoáci-
dos padrão.
Estes aminoácidos apresentam uma estrutura geral comum,
composta de um carbono, ao qual estão ligados um átomo de hi-
drogênio, um grupo carboxílico, um grupo amino e uma cadeia
lateral ou grupo R. O grupo R é diferente para cada um os ami-
noácidos primários. No ambiente aquoso intracelular, pH 7,0, os
aminoácidos existem como íons dipolares, denominados zwitte-
rions. O comportamento da cadeia lateral, em termos de polari-
dade e ionização no meio intracelular, define a classificação dos
aminoácidos.
A ligação entre os aminoácidos é denominada de ligação peptí-
dica e é a base para a formação de peptídeos e proteínas.
A arquitetura das proteínas pode ser definida com base em dife-
rentes níveis de organização estrutural: primária, secundária, ter-
ciária e quaternária.
As proteínas globulares podem ser desestabilizadas por diferen-
tes fatores, o que causa o seu desenovelamento. Este processo é de-
nominado de desnaturação e tem conseqüências importantes para
a atividade biológica de uma proteína.
Bibliografia
BERG, J. M.; TYMOCZKO, J. L.; STRYER, L. Bioquímica. 5. ed.
Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2004.
CAMPBELL, M. K. & FARRELL, S.O. Bioquímica: Vol 1 – Bio-
química básica. 5. ed. São Paulo: Thomson Learning, 2007.
NELSON, D. L.; COX, M. M. L. Princípios de Bioquímica. São
Paulo: Savier, 2005.
Proteínas 61
Bibliografia Comentada
Estes três livros são referências fundamentais para o estudo de
Bioquímica, enfocando tanto as biomoléculas como o metabolis-
mo. São livros fartamente ilustrados, que oferecem figuras e exer-
cícios com respostas que poderão ser utilizados como um comple-
mento importante para fixar os conceitos discutidos.
O livro de Campbell & Farrell traz um capítulo específico sobre
técnicas de purificação de proteínas com uma abordagem concisa,
mas apresentando de forma clara e bem fundamentada um pa-
norama das várias estratégias utilizadas na caracterização destas
biomoléculas.
Para saber (e ver) mais sobre estrutura de proteínas consulte os
sites:
• <www.whfreeman.com/biochem5>.
Selecione o capítulo Structural Insights.
• <www.rscb.org/pdb>.
Selecione determinadas proteínas e procure as informações dis-
poníveis sobre sua estrutura e sua função biológica.
• Para saber mais sobre hemoglobinopatias, consulte o site:
<www.hemoglobinopatias.com.br>.
c A p í t U lo 4
Lipídeos
Neste capítulo estudaremos a estrutura das principais clas-
ses de lipídeos, bem como suas propriedades e funções bio-
lógicas. Além disso, através dos conteúdos, procuraremos
entender a importância e a organização dos lipídeos consti-
tuintes das membranas celulares.
Lipídeos 65
Cadeia Hidrocarbonada
4.2 Ácidos Graxos
Os ácidos graxos estão presentes na
maioria das classes de lipídeos e con-
tribuem para o comportamento apolar
destas biomoléculas.
Ácido graxo (saturado)
Como pode ser observado na Figura [pH 7,0]
4.1, os ácidos graxos são constituídos
por uma cadeia de hidrocarboneto (fre- Figura 4.1
qüentemente alifática), a qual apresenta
um grupo carboxila terminal (-COOH).
Conseqüentemente, os ácidos graxos
Grupo Carboxílico −O O
apresentam ao mesmo tempo um cará-
C
ter apolar (devido à natureza da cadeia
de hidrocarboneto) e uma “cabeça” po-
lar, ionizada no pH 7,0 (devido à ioniza-
Cadeia Hidrocarbonada
ção do grupo carboxila, daí a denomina-
ção “ácido”). Desta forma, ácidos graxos
livres são considerados como moléculas
anfipáticas, ou seja, moléculas que apre-
sentam tanto caráter polar como apolar.
Os ácidos graxos se distinguem entre
si por duas características. A primeira Ácido graxo (insaturado)
[pH 7,0]
está relacionada ao número de carbo-
nos na cadeia (comprimento da cadeia),
Figura 4.2
Lipídeos 67
Insaturados
Ácido
16 (16:1*) CH3(CH2)5CH=CH(CH2)7COOH
Palmitoléico
18 (18:1*) Ácido Oléico CH3(CH2)7CH=CH(CH2)7COOH
Ácido
18 (18:2*) CH3(CH2)4(CH=CHCH2)2(CH2)6COOH
Linoléico
Ácido
18 (18:3*) CH3CH2(CH=CHCH2)3(CH2)6COOH
Linolênico
Ácido
20 (20:4*) CH3(CH2)4(CH=CHCH2)4(CH2)2COOH
Araquidônico
Em parênteses, o primeiro número refere-se ao numero de carbonos
na cadeia e o segundo (*) ao número de duplas ligações.
Tabela 4.1
Ácidos Graxos - AG
ácidos graxos poliinsaturados que não podem ser
Essenciais
completamente sintetizados
Classes:
Ômega-6 (ω-6)
Ômega-3 (ω-3)
CH3-CH2-……….- CH2-COOH
Sistema ∆ 2 1
Sistema ω 1 2
Tabela 4.2
Ácidos graxos
Mistura de ácidos graxos
saturados
saturados e insaturados
4.3.1 Triacilgliceróis
Os triacilgliceróis (TAGs) são formados a partir da esterifica-
ção de três ácidos graxos ao álcool glicerol, conforme mostrado
na Figura 4.5, daí a sua denominação. Os ácidos graxos ligados ao
70 Bioquímica
3
1
O CH� CH� O
C O 2 CH O C
O
O
C
Triacilglicerol
(não-polar, neutro)
Figura 4.6
Figura 4.5
Triagliceróis 15 141.000*
166.000
4.3.2 Ceras
As ceras, uma outra classe de lipídeos, são ésteres de ácidos
graxos de cadeia longa (C-14-36), saturados ou insaturados, com
alcoóis de cadeia longa (C-16-30). Seu ponto de fusão está na fai-
xa de 60-100ºC, geralmente mais alto que os registrados para os
triacilgliceróis.
O papel biológico desta classe de lipídeos está relacionado ao
armazenamento de energia nos organismos do plâncton, além de
servir como uma camada protetora e impermeabilizante nas pe-
nas das aves, na lã do carneiro e na superfície de folhas e frutos.
Entre os exemplos mais conhecidos, estão a cera das abelhas, a
cera da carnaúba, a cera da jojoba e a cera presente no óleo da ca-
chalote (Figura 4.7).
ER
Ácido Graxo
R
�CH� O P O�
O�
OO Fosfato Álcool
Figura 4.9
4.3.4 Esgingolipídeos
Os AGs podem ainda ocorrer
esterificados a um outro álcool, O-
CH�
diferente do glicerol. Neste caso, O P O CH OH
eles formam um éster com um CH� CH� O NH C
CH� N+ H
aminoálcool, a esfingosina. Esta CH� O C
classe de lipídeos é denominada CH�
de esfingolipídeos.
Além de um AG, os esfingoli-
pídeos podem ou não apresentar
um grupo fosfato em sua estru-
tura. Quando presente, o grupo
fosfato apresenta-se ligado a um
aminoálcool, como por exemplo, Esfingomielina
a colina. Neste caso, este tipo de
esfingolipídeo é muitas vezes de-
nominado esfingofosfolipídeo.
Um exemplo deste tipo de lipídeo
é a esfingomielina (Figura 4.10).
Outros esfingolipídeos, além Figura 4.10
de um AG, apresentam um carboidrato na sua estrutura, seja um
carboidrato simples (um monossacarídeo) ou uma pequena cadeia
de monossacarídeos (um oligossacarídeo) (estudaremos os carboi-
Lipídeos 75
4.3.5 Esteróides
Muitos compostos com funções diferentes são classificados
como esteróides. O que eles têm em comum é a presença de um
anel esteróide, ou seja, um sistema de anéis fundidos, constituído
por três anéis com seis átomos de carbono (anéis A, B e C) e um
anel com cinco átomos de carbono (anel D). Um importante repre-
sentante deste grupo, o colesterol, está mostrado na Figura 4.11.
Colesterol
26
CH�
25 27
CH CH�
24
CH�
23
CH� Cadeia lateral
22
CH�
20 21
18 CH CH�
CH�
12 17
11 13 16
19
CH� 9 C 14
D 15
1
2 10 8
3
A 5
B 7
4 6
Grupo polar HO Núcleo esteróide
Figura 4.11
OH OH
H�C H�C
H�C
Hormônios sexuais
O HO
Testosterona Estradiol
CH�OH CH�OH
H
C O O C O
Hormônios do córtex H�C OH C
HO HO
da adrenal
H�C H�C
(metabolismo de glicose
e excreção de sais)
O O
Cortisol Aldosterona
CH�OH CH�OH
C O C O
H�C OH H�C OH
OH O
Agentes anti-inflamatórios
H�C H�C
O O
Prednisolona Prednisona
Figura 4.12
Lipídeos 77
Alguns Fosfoacilgliceróis
Carga líquida
Nome Álcool
pH 7,0
Fosfatidiletanolamina Fosfatidiletanolamina -CH2-CH3-NH3 0
Fosfatidilcolina ou Lecitina Colina -CH2-CH2-N(CH3)3 0
Fosfatidilserina Serina -CH2-CH-NH3 -1
Tabela 4.5
Lipídeos 79
Face Externa
Bioquímica
Oligossacarídeos
(de glicoproteína)
Glicolipídeo
Apolar Bicamada
(ácidos graxos) Lipídica
Fosfolipídeos {
Cabeça polar
Proteína periférica
{ Colesterol (ligada covalentemente
com lipídeo)
Proteína Proteína
periférica integral Proteína
integral
Face Interna
Figura 4.14
Lipídeos 81
Resumo
Os lipídeos são biomoléculas que são extraídas das células, utili-
zando-se solventes apolares, como hexano e metanol.
Os constituintes mais abundantes dos lipídeos são os ácidos
graxos. A maior parte dos ácidos graxos contém entre 12 e 24 car-
bonos, podendo ser saturados ou insaturados.
Os ácidos graxos que ocorrem como ésteres ligados ao glicerol
são apolares e são aqueles utilizados primariamente como reserva
e, conseqüentemente, como combustível metabólico.
Os lipídeos polares, incluindo os fosfoacilgliceróis e os esfingo-
fosfolipideos, podem combinar-se com proteínas na constituição
das membranas biológicas.
Todas as células são delimitadas por uma membrana. A mem-
brana celular é constituída de uma bicamada de lipídeos polares, na
qual estão embebidas proteínas, as quais estão associadas com as
atividades dinâmicas, como os processos de transporte. O modelo
do mosaico fluido descreve este arranjo da membrana celular.
Lipídeos 83
Bibliografia
CAMPBELL, M. K. & FARRELL, S.O. Bioquímica: Vol 1 – Bio-
química básica. 5. ed. São Paulo: Thomson Learning, 2007.
WOOD, E. J.; SMITH, C. A.; PICKERING, W. R. Life chemistry
and molecular biology. London: Portland Press, 1997.
c A p í t U lo 5
Carboidratos
Neste capítulo estudaremos a estrutura básica das prin-
cipais classes de carboidratos, suas propriedades e funções
biológicas.
Carboidratos 87
POLISSACARÍDEOS
Dissacarídeos
OLIGOSSACARÍDEOS
Cadeias de 6 a 12
MONOSSACARÍDEOS
monossacarídeos
Figura 5.2
5.3.1 Monossacarídeos
Os açúcares simples são chamados de monossacarídeos ou
oses. Eles se diferenciam entre si pelo número de carbonos na ca-
deia e pela presença ou de um grupo aldeído ou de um grupo ce-
tona. Assim, conforme mencionamos acima, os monossacarídeos
podem ser polihidroxialdeídos ou polihidroxicetonas. Uma for-
ma mais simples de os designarmos é como aldoses ou cetoses,
respectivamente.
Os monossacarídeos mais simples encontrados na natureza
apresentam três átomos de carbono e são, conseqüentemente, de-
90 Bioquímica
D-Aldoses Cetose
Seis carbonos Seis carbonos
H O H O H O CH2OH
C C C C O
H C OH HO C H H C OH HO C H
HO C H HO C H HO C H H C OH
H C OH H C OH HO C H H C OH
H C OH H C OH H C OH CH2OH
CH2OH CH2OH CH2OH
D-Frutose
D-Glicose D-Manose D-Galactose
D-Cetose
1 1 1
CHO CHO CHO
2 2 2
HO C H H C OH H C OH
3 3 3
HO C H HO C H HO C H
4 4 4
H C OH H C OH HO C H
5 5 5
H C OH H C OH H C OH
6 6 6
CH2OH CH2OH CH2OH
Figura 5.5
Carbono anomérico
A maior parte dos monossacarídeos existe na forma cíclica, ou seja, como
anéis de cinco ou seis elementos. A reação intramolecular que leva à cicli-
zação da molécula envolve o grupo carbonila e dá origem a um outro cen-
tro quiral, além daqueles já presentes na molécula. Os dois isômeros cíclicos
possíveis, denominados de anômeros, são designados α ou ß, de acordo com
as duas configurações possíveis no átomo de carbono que era o carbono car-
bonílico na forma de cadeia aberta (como o carbono 1 de uma aldohexose).
92 Bioquímica
H O
1C
2
H C OH
HO 3C H
D-Glicose
4
H C OH
H 5C OH
6
CH2OH
6
CH2OH
5
C OH
H H
4 H
C OH C1
H
HO C O
3 2C
H OH
6 6
CH2OH CH2OH
5 5
C O C O
H H H OH
4H 1C
4 H 1C
C OH C OH
H H
HO C O HO C H
3 2C 3 2C
H OH H OH
α-D-Glicopiranose β-D-Glicopiranose
Figura 5.6
5.3.2 Oligossacarídeos
Os monossacarídeos podem ligar-se entre si para formar mo-
léculas contendo algumas unidades de monossacarídeos unidas
covalentemente, os oligossacarídeos (oligo = alguns).
Este tipo de ligação covalente entre monossacarídeos ocorre
quando o grupo hidroxila (ROH) ligado ao carbono anomérico de
um deles reage com outra hidroxila (R’-OH) do outro monossaca-
rídeo. Esta ligação é denominada de ligação glicosídica (Figura
5.7). Este tipo de ligação glicosídica é chamada de O-glicosídicas,
uma vez que um açúcar está ligado a um átomo de oxigênio da
outra molécula de açúcar.
CH�OH CH�OH
O hemiacetal O
H H H OH
H H
OH H + OH H
HO OH HO H
H OH álcool H OH
α-D-Glicose β-D-Glicose
hidrólise condensação
H2O H2O
6 6
CH�OH CH�OH
5 5
O acetal O hemiacetal
H H H OH
H H
4 1 4 1
OH H OH H
HO H
O
3 2 3 2
H OH H OH
Maltose
α-D-Glicopiranosil-(1 �� 4)-D-glicopiranose
Figura 5.7
94 Bioquímica
Dissacarídeos
TREALOSE LACTOSE
(Glicose + Glicose) (Galactose + Glicose)
Presente no leite
CH�OH OH
O
1α 1α OH 6 6
HO-CH� CH�OH CH�OH
OH 5 O 5 O
HO H
O O HO OH
4 1 β O 4 1 β
OH OH OH
3 2 3 2
OH OH
Presente na hemolinfa de
insetos e crustáceos
Carboidratos 95
Intolerância à lactose
A lactose é geralmente conhecida como o “açúcar do leite’’, por ocorrer
nele. Os seres humanos podem ser intolerantes ao leite ou seus deriva-
dos por várias razões. Em alguns adultos, a deficiência da enzima lacta-
se (que degrada a lactose em galactose e glicose) causa um aumento
no nível deste dissacarídeo quando da ingestão de leite ou seu deriva-
dos. Sem a enzima, a lactose não é degradada nos seus monossacarídeos
componentes, de modo a permitir sua absorção nas vilosidades intesti-
nais. A lactose acumulada pode ser degradada pela lactase de bactérias
intestinais, produzindo gás hidrogênio, dióxido de carbono e ácidos or-
gânicos. Esses produtos da ação da lactase bacteriana causam problemas
digestivos como inchaço e diarréia, assim como a presença da lactose
não-degradada. Essa doença afeta um décimo da população branca dos
EUA, mas é mais comum em asiáticos, africano-americanos, latino-ame-
ricanos e hispânicos. Os indivíduos com intolerância à lactose devem evi-
tar sua ingestão. Alguns aditivos à base de lactase estão disponíveis co-
mercialmente nos EUA, podendo, por exemplo, ser adicionados ao leite.
Em alguns casos, mesmo que a lactose possa ser degradada, outros pro-
blemas podem ocorrer. Um deles envolve o metabolismo da galactose.
Se a enzima que catalisa uma reação subseqüente da via de metaboliza-
ção não estiver presente, a galactose pode ser acumulada. Se houver um
aumento no nível de galactose, a condição conhecida como galactose-
mia pode acontecer. Esse problema é especialmente sério em crianças e
pode causar retardamento mental.
96 Bioquímica
5.3.3 Polissacarídeos
Quando vários monossacarídeos são ligados entre si, o polí-
mero resultante é denominado polissacarídeo. Os polissacarídeos
podem ser formados a partir de unidades repetitivas de um único
tipo de monossacarídeo (ou monômero) e, neste caso, este tipo de
polissacarídeo é denominado de homoplissacarídeo. Se o polí-
mero é formado a partir de mais de um tipo de monossacarídeo,
ele é denominado de heteropolissacarídeo.
Quando há mais de um tipo de monômero, freqüentemente so-
mente dois tipos de monossacarídeos ocorrem em uma seqüência
repetitiva. Assim, a caracterização completa de um dado polissa-
carídeo inclui a especificação dos monômeros constituintes e, se
necessário, a seqüência dos mesmos, além do tipo da ligação gli-
cosídica presente. Veremos que o tipo da ligação glicosídica é uma
característica fundamental para a função biológica dos polissaca-
rídeos, os quais podem ter um papel estrutural ou como reserva
energética.
Ainda quanto à sua estrutura, os polissacarídeos podem ser li-
neares ou ramificados (Figura 5.9).
Homopolissacarídeos Heteropolissacarídeos
Figura 5.9
Carboidratos 97
5.3.4 Amido
O amido é um homopolissacarídeo formado de α-D-glicose,
presente em células vegetais, armazenado geralmente como
grânulos.
O amido possui uma porção linear, onde os resíduos de glicose
estão unidos através de ligações α (1 → 4). Esta porção do polí-
mero, denominada amilose, é bastante hidrofílica e pode formar
hélices com seis resíduos de glicose por volta. Esta é a base de um
teste simples utilizado para a detecção de amido em alimentos,
por exemplo, o qual está baseado na reação com lugol. O iodo (I2)
do reagente forma um complexo amido-iodo, alojando-se entre
essas espirais, produzindo a cor azul-escuro intensa característica
do complexo.
Os tipos de amido podem ser distinguidos um do outro com
base em uma outra porção do polímero, a amilopectina. A amilo-
pectina é a porção ramificada do polímero, com ramificações for-
madas por ligações α (1 → 6) ao longo da cadeia não-ramificada
de ligações α (1 → 4) (Figura 5.10). O grau de ramificação é o que
distingue os tipos de amido.
Digestão do amido
Sendo o amido uma forma de armazenamento de glicose, a glicose deve
ser liberada quando houver necessidade. Esta liberação depende de en-
zimas que hidrolisam o amido (quebram as ligações glicosídicas entre as
unidades de glicose). Estas enzimas são as α-amilases e as ß-amilases que
hidrolisam as ligações α (1 → 4). A digestão da amilopectina, por sua vez,
requer mais uma enzima, a enzima desramificadora, que hidrolisa as liga-
ções α (1 → 6) das ramificações. Esta ação combinada de enzimas leva à
digestão completa do amido.
5.3.5 Glicogênio
Assim como o amido nos vegetais, existe um polissacarídeo de
armazenamento ou reserva nos animais. O glicogênio é um polí-
mero de cadeia ramificada, formado de unidades de α-D-glicose,
sendo, sob este aspecto, semelhante à porção ramificada do amido,
98 Bioquímica
AMILOSE
Porção linear do Amido: α (1 �� 4)
6
CH�OH CH�OH CH�OH CH�OH
Extremidade 5 Extremidade
O O O O
não-redutora H H H H H H H H redutora
H H H H
4 1 α 4 1 α 4 1 α 4 1 α
OH H OH H OH H OH H
O O O O O
3 2
H OH H OH H OH H OH
AMILOPECTINA
6
CH�OH
O
H H
H
4 1
OH H
Cadeia ramificada (α1 �� 6)
O Ponto de
H OH ramificação
O
6
CH�
O
H H
H
4 1
OH H
Cadeia principal
O O
H OH
Figura 5.10
5.3.6 Celulose
A celulose é o principal componente estrutural dos vegetais. É
um homopolissacarídeo linear formado de glicoses unidas atra-
vés de ligações glicosídicas ß (1 → 4). As cadeias lineares assim
formadas são ligadas entre si através de pontes ou ligações de hi-
drogênio, o que contribui ainda mais para a força mecânica dessas
fibras vegetais.
As ligações nesta configuração ß são comuns também em outros
polímeros com papel estrutural. No caso da celulose, as enzimas
chamadas de celulases hidrolisam as ligações ß entre as glicoses.
Os animais são incapazes de utilizar a glicose contida na celulose
por não possuírem estas enzimas. Assim, a celulose para os ani-
mais não tem valor energético, mas somente como fibra alimentar,
contribuindo, por exemplo, para estimular o movimento peristál-
tico no intestino.
As celulases são alvo de estudo em bactéria e fungos, devido ao
seu potencial de aplicação biotecnológica. Microorganismos (bac-
térias e fungos) que habitam o trato digestivo de insetos, como os
cupins, e de ruminantes, como o boi, sintetizam celulases e podem,
conseqüentemente, hidrolisar a celulose. Isto explica os danos cau-
sados à madeira pelos cupins e a alimentação quase que exclusiva
de pasto, no caso do gado.
Apesar das paredes celulares serem constituídas basicamente
por celulose, um outro importante componente polissacarídeo
também é encontrado, a pectina. A pectina é um polímero for-
mado basicamente de ácido D-galacturônico, um derivado ácido
da galactose, no qual o grupo hidroxila no carbono 6 (C-6) foi
100 Bioquímica
5.3.7 Quitina
A quitina é um outro exemplo de polissacarídeo com função
estrutural, com considerável força mecânica. A quitina forma o
exoesqueleto de invertebrados, como insetos e crustáceos, estando
ainda presente na parede celular de fungos.
A quitina é um homoplissacarídeo linear formado da união de
moléculas de N-acetil-D-glicosamina (Figura 5.11), através de liga-
ções glicosídicas ß (1 → 4). A quitina apresenta ainda uma quan-
tidade considerável de pontes de hidrogênio, unindo os seus fila-
mentos lineares, o que contribui para a sua resistência.
QUITINA
CH3 CH3
C O C O
6
CH2OH H NH CH2OH H NH
3 2
O O
5 O O
H
H OH H H H
H OH H H
4 1 4 1
OH H H OH H H
H H H H
O O O O
3 2 5
H NH CH2OH H NH CH2OH
6
C O C O
CH3 CH3
Figura 5.11
Carboidratos 101
Vitamina C
Quando na forma cíclica, a oxidação de um aldose leva à produção de uma
lactona (um éster cíclico, ligando o grupo carboxila e um dos grupos alco-
ólicos do açúcar). Uma lactona importante é a vitamina C, ou ácido ascór-
bico. A maioria dos animais pode sintetizar a vitamina C, com exceção de
cobaias e primatas, incluindo os seres humanos. Para estes, o ácido ascór-
bico é uma vitamina e deve ser adquirida da dieta. Sua carência pode levar
a uma doença conhecida como escorbuto. Ela está relacionada a defeitos
na estrutura do colágeno, o que traz fragilidade nos capilares e lesões na
pele. O ácido ascórbico é essencial para a atividade da enzima que hidroxi-
la a prolina (enzima prolina hidroxilase). Esta doença era comumente rela-
tada no século XVIII pela marinha inglesa como decorrência da ausência de
alimentos frescos durante as longas viagens marítimas, antes da introdu-
ção de frutas cítricas na dieta doa marinheiros. Uma boa fonte de vitamina
C é a acerola. A vitamina C é lábil, ela pode ser facilmente oxidada pelo ar,
o que é seguido pela hidrólise ou quebra da ligação éster e pela perda da
atividade como vitamina.
GlcA GlcNAc
CH2OH
O
-O3SO O
GLICOSAMINOGLICANAS H
COO-
H H
Condroitina O H (β1–›4)
4-sulfato H O ~25
H
H NH
heteropolissacarídeos OH H
H (β1–›3) C O
unidades dissacarídicas H OH CH3
(uma delas: N-acetilGlicN
ou N-acetilGalN) GlcA GalNAc4SO3
viscosidade; gel
CH2OSO3--
carga negativa CH2OH O O
H
O H
HO
H OH H (β1–›3)
Queratana
sulfato O H 20-60
H H
H
H NH
(β1–›4)
H OH C O
CH3
Gal GlcNAc6SO3
Figura 5.12
Carboidratos 103
5.5 Peptideoglicana
Uma característica da parede celular bacteriana é que seu prin-
cipal componente são os heteropolissacarídeos. O polissacarídeo
presente é formado por uma unidade repetitiva, constituída de
dois resíduos de monossacarídeos unidos por ligações glicosídi-
cas ß (1 → 4). Um dos monômeros é a N-acetil-D-glicosamina
e o outro é o ácido N-acetilmurâmico. A estrutura deste último
difere da N-acetil-D-glicosamina pela substituição do grupo hi-
droxila (-OH) no carbono 3 pela cadeia lateral de acido láctico
[-O-CH(CH3)-COOH]. O ácido N-acetilmurâmico é encontrado
somente em paredes celulares de procariotos.
Cadeias deste heteropolissacarídeo são mantidas unidas através
de ligações cruzadas, formadas por pequenos peptídeos. Esta estru-
tura, resultante das ligações cruzadas do polissacarídeo por peptí-
deos, é a peptideoglicana, nome dado porque contém componen-
tes tanto de natureza peptídica, como também de carboidratos.
Um esquema do arranjo estrutural de uma peptideoglicana está
ilustrado na Figura 5.13. Note que nos peptídeos envolvidos nas
ligações cruzadas da peptideoglicana ocorrem D-aminoácidos.
Figura 5.13
104 Bioquímica
Resumo
Os carboidratos são compostos que ocorrem naturalmente,
cujos grupos funcionais são aldeídos ou cetonas, além de múlti-
plas hidroxilas.
Os carboidratos têm diferentes funções biológicas, entre elas,
papel estrutural, reserva energética, reconhecimento e comunica-
ção celular.
Em solução aquosa, os carboidratos, a partir de reações intra-
moleculares de um grupo aldeído ou cetona com um grupo hidro-
xila, formam uma estrutura cíclica de cinco ou seis elementos.
A ligação entre monossacarídeos para formar oligo ou polissa-
carídeos é a ligação O-glicosídica.
Os carboidratos mais abundantes na natureza são os polissaca-
rídeos amido, glicogênio e celulose.
Nas glicoproteínas, os carboidratos aparecem ligados covalen-
temente às proteínas, através de resíduos de serina, treonina ou
asparagina. As glicoproteínas estão envolvidas em muitas funções
biológicas, incluindo proteção imunológica, reconhecimento célu-
la-célula e interação hospedeiro-patógeno.
Bibliografia
CAMPBELL, M. K. & FARRELL, S.O. Bioquímica: Vol 1 – Bio-
química básica. 5. ed. São Paulo: Thomson Learning, 2007.
NELSON, D. L.; COX, M. M. L. Princípios de Bioquímica. São
Paulo: Savier, 2005.
c A p í t U lo 6
Ácidos Nucléicos – Estrutura e
Função
Neste capítulo estudaremos a estrutura do DNA e do RNA,
destacando suas semelhanças e suas diferenças, bem como as
características e funções biológicas deste último. Além disso,
vamos estudar os níveis de organização estrutural dos ácidos
nucléicos.
Ácidos Nucléicos - Estrutura e Função 107
H O H O H OH
C C 1
C O 5
CH2 O OH
H C OH CH2 2
H C OH
4 1
H C OH H C OH H 3C OH
H H H
H
H C OH H C OH 4
H C OH
3 2
CH2OH CH2OH 5
CH2OH OH OH
D-Ribose, 2-Desoxi-D-ribose,
Aldopentose β-Furanose
uma aldopentose uma aldopentose
Figura 6.1
Ácidos Nucléicos - Estrutura e Função 109
NH2 O O
H
C C C CH2 C
4 4 4 4
N3 5 CH N3 5 CH HN 3 5C HN 3 5 CH
HC 2 6
CH C2 6
CH C2 6
CH C2 6
CH
1 1 1 1
N O N O N O N
H H H
NH2 O
H
C C C
6 N 6 N 6 N
N1 5C
7 N1 5C
7 HN 1 5C
7
8 CH 8 CH 8 CH
2 4 2 4 2 4
HC C 9 HC C 9 C C 9
3 N 3 N H2N
3 N
N H N H N H
Figura 6.2
110 Bioquímica
NH�
Extremidade 5’-P
N
N
Adenina
O-
N N
5’
O P OCH� O Ligação β-Glicosídica
entre a ribose e cada
O- uma das bases
NH�
3’
O OH N
Citosina
N O
5’
O P OCH� O
O-
O
3’ H
N
O OH N
N N NH�
5’
O P OCH� O
Guanina
O-
O
3’ H
O OH N
A C G U
N O
3’ 5’
3’ OH O P OCH� O
Uracila
P P P
O-
5’
P 5’ 3’
O- OH
Estrutura abreviada
Extremidade 3’-OH
Figura 6.4
Ácidos Nucléicos - Estrutura e Função 113
a) 110100100110110101010 b) GAGTAGCTAAATCCCAGAT
00101010010101011010110 GCGTTAATCACCGGGGAAAT
01011001010100010111111 TCGGCGCAATTACAGC
010001
Figura 6.5
Rosalind Franklin
Linus Pauling
116 Bioquímica
~20 Å diâmetro
3’ 5’
A T
C G
T AA
Sulco maior na
fita dupla (~22 Å)
AA T
G C
T A 34 Å
G C Comprimento de
uma volta completa
Sulco menor na
fita dupla (~12 Å)
A T
A T
T A
T A
C G
G C
5’ 3´
Eixo central
Figura 6.7
Ácidos Nucléicos - Estrutura e Função 117
J. D. Watson e F. H. Crick
Nature, 1953.
Figura 6.8
3´ CH3 N 5´
o N 7 8 5´ CH2
o P 5 4 6 5 9
o o 6 T 3 N N 1 A 4 N 1´ 4´ DNA
1 2 2 3
2´ 3´
3´ 2´ N o o P o
4´ 1´
CH2
5´ o o Detalhe da estrutura
N
o P o o 4 56 secundária
8 7 3 C 1
CH2
o o 9 5 6 N 2
3´ 2´
4 G 1 N 1´ 4´
4´ 1´
3 2 o 2´ 3´ Pareamento = complementar
CH2 N
o P o
o P o o o o
7 N 4 56
o o 8
5 6
T
N3 2 1 CH2 Ponte de Hidrogênio
9 N
4 A 1
3´ 2´ 3 2
1´ 4´
4´ 1´ o 2´ 3´
CH2 o P o
N
o P o 5
o o o
7 5’ 3’
o 6 C4 6
o 1 2 N
3
N 1 G5
4 9
8
CH2
3´ 2´ 2 3
4´ 1´ o N 1´ 4´
C
CH2 2´ 3´ G
o P o
o
5´ 3’ A T
Figura 6.9
A T
Assim, o número de pares A-T e C-G presentes em uma
dada molécula de DNA está diretamente relacionado a uma T A
maior ou menor susceptibilidade da molécula à desnatu-
ração. Este comportamento distinto de moléculas de DNA C G
frente à desnaturação tem várias aplicações práticas na sua
manipulação em laboratório, como por exemplo, na ampli-
G C
ficação de seqüências gênicas específicas através da Reação
em Cadeia da Polimerase (PCR).
T A
Note, ainda, que as pontes ou ligações de hidrogênio for-
madas na estrutura da dupla hélice são intercadeias. C G
Outros aspectos ainda devem ser destacados em relação
a dupla hélice. Um deles é que as cadeias estendem-se em
A T
direções antiparalelas, ou seja, uma de 3’ para 5’ e a outra de
5’ para 3’. Outro aspecto está relacionado ao fato de que os
3’ 5’
átomos que compõem as duas cadeias da dupla hélice não
preenchem totalmente o cilindro que podemos imaginar ao
Ácidos Nucléicos - Estrutura e Função 119
Estrutura da Cromatina
Nucleossomo
Oito moléculas
de Histonas
DNA
Figura 6.11
122 Bioquímica
Tabela 6.1
Ácidos Nucléicos - Estrutura e Função 123
5’
O CH�
Adenina
O
H H
H H
3’
O P O OH
O¯
Adenosina 3’ , 5’ - monofosfato cíclico
(AMP cíclico; cAMP)
5’
O CH�
Guanina
O
H H
H H
3’
O P O OH
O¯
Figura 6.12
124 Bioquímica
Resumo
Os ácidos nucléicos, DNA e RNA, são importantes por seus pa-
péis no armazenamento e no fluxo da informação genética, sen-
do ambos polímeros de nucleotídeos ligados covalentemente, os
desoxirribonucleotídeos ou os ribonucleotídeos, respectivamente.
Os nucleotídeos são constituídos de uma base nitrogenada, uma
pentose e um grupo fosfato (nucleotídeos monofosfato).
Em 1953, Watson e Crick propuseram o modelo de estrutura
secundária para o DNA, a dupla hélice. As duas cadeias da dupla
hélice são mantidas unidas através de pontes de hidrogênio entre
os pares de base complementares: A-T e C-G.
A quantidade de pontes de hidrogênio influencia diretamen-
te a susceptibilidade à desnaturação, o que tem várias aplicações
práticas.
Existem diferentes tipos de RNA, os quais realizam papéis bio-
lógicos distintos.
A arquitetura molecular dos ácidos nucléicos apresenta dife-
rentes níveis de organização, os quais apresentam particularidades
distintas entre o DNA e o RNA.
Bibliografia Comentada
Aspectos Gerais do
Metabolismo
c A p í t U lo 7
Catálise
Neste capítulo estudaremos as bases da catálise realizada
pelas enzimas, bem como os principais parâmetros cinéticos
de uma reação catalisada por uma enzima. Estudaremos
também as principais classes de enzimas, os fundamentos da
inibição enzimática e o comportamento cinético de enzimas
alostéricas.
Catálise 129
Tabela 7.1
130 Bioquímica
Figura 7.2a
134 Bioquímica
13 Cadeia A
16
42
S
S S
His��
S 58
Cadeia B
Asp���
122
136
146
149
S
168
S S
S
182
191
Ser���
S Cadeia C
201
S
220
245
Quimotripsina:
esquema da estrutura primária
Figura 7.2b
Catálise 135
Urease
Uréia + H2O 2NH3 + CO2
(S) (E) (P)
estado de transição
energia
de ativação
Energia reagentes
Livre
produtos
Progresso da Reação
Figura 7.3
Tabela 7.2a
138 Bioquímica
Nomenclatura-2
• IUBMB – União Internacional de Bioquímica e Biologia
Molecular
Classificação funcional sistemática
• Exemplo:
Carboxipeptidase A
Peptidil-L-Aminoácido Hidrolase (nome sistemático)
Tabela 7.2b
Vmáx
KM
Concentração de substrato, [S] (mM)
Figura 7.5
V0 = Vmáx[S] V0 = Vmáx
KM
V0 (μM/mín)
1/2 Vmáx
KM
[S] (mM)
Figura 7.6
KM
Inclinação =
Vmáx
)
(μM/Min
1
V0
1
1
Vmáx
(Lineweaver-Burk)
1 = KM (1) + 1
V Vmáx [S] Vmáx
- 1
KM
1
[S] (1 )
mM
Figura 7.7
Vmáx
V0 (μM/mín)
1/2 Vmáx
K0.5
[S] (mM)
Figura 7.8
S Substrato
M Modulador positivo
C R
Enzima menos ativa
-M +M
S C R M
Enzima mais ativa
S C R M
Complexo enzima-substrato ativo
Figura 7.9
Vmáx
V0 (μM/mín)
- 1/2 Vmáx
K0.5 +
K0.5 K0.5
-
[S] (mM)
Figura 7.10
Substrato
Enzima
Figura 7.11a
148 Bioquímica
Inibidor
competitivo
Enzima
Figura 7.11b
E+S ES E+P
+
I S S
K1
EI
I I
Figura 7.12
Catálise 149
1 +2[I]
V +[I] Ks
E ES
Sem
inibidor
-1
(-1)
KM (1 + [I]
KI )
-1 K�
KM E EI
1
Vmáx
0 1
[S]
Figura 7.13
Substrato
Inibidor
não-competitivo
Enzima
Figura 7.14
E+S ES E+P
+
I
S
K´I S
ESI
I
I
S
Figura 7.15
Catálise 151
13
12
11
10 Intersecção = V
1
máx
[1+ K
[I]
] Inclinação =
V [
KM
máx
1+
[I]
KI ]
9 I
8 (Inibidor
1
7 não-competitivo)
Vi
V
1
6
5 KM
4 Inclinação =
VMAX
3 1
V (Sem inibidor
2 1
1 Intersecção = presente)
Vmáx
0 5 10 15 20 25 30 35
Intersecção = -1
KM 1/[S](M��)
Figura 7.16
Inibição Irreversível
O CH�
Quimotripsina CH� OH + F P O CH
(Ser���) O CH�
C
H�C H CH� Diisopropilfluorofosfato
(DIFP)
F� + H
+
O CH�
Quimotripsina CH� O P O CH
O CH�
C
H�C H CH�
Figura 7.17
Figura 7.18
156 Bioquímica
Resumo
Enzimas são biomoléculas que catalisam e regulam as milhares
de reações químicas que ocorrem nos organismos. As enzimas são
majoritariamente proteínas, mas algumas formas de RNA apre-
sentam atividade catalítica. A base da atividade catalítica das en-
zimas envolve a diminuição da energia de ativação da reação e a
formação de um complexo enzima-substrato.
Algumas enzimas requerem um cofator, o qual pode ser um íon
metálico ou uma molécula orgânica. Neste último caso, esta molé-
cula é denominada de coenzima.
A cinética de uma reação catalisada por uma enzima é explicada
pela equação de Michaelis-Menten, a partir da qual são definidos
dois importantes parâmetros cinéticos: a constante de Michaelis-
Menten, KM, e a velocidade máxima, Vmáx.
A catálise enzimática envolve a ligação do substrato ao sítio ati-
vo da enzima. As enzimas apresentam uma cinética de saturação
porque existe um número limitado de sítios ativos.
As enzimas alostéricas são influenciadas pela ligação reversível,
não covalente, de moléculas denominadas de efetores positivos ou
negativos, o que modula a atividade das mesmas.
A ação ou atividade de uma dada enzima pode ser inibida pela
presença de compostos que podem se ligar à enzima. Estes com-
postos, denominados inibidores, podem causar uma inibição re-
versível ou irreversível. A inibição reversível pode ser de dois ti-
pos: competitiva ou não-competitiva.
Bibliografia
CAMPBELL, M. K. & FARRELL, S.O. Bioquímica: Vol 1 – Bio-
química básica. 5. ed. São Paulo: Thomson Learning, 2007.
Catálise 157
Bibliografia Comentada
Bioquímica
E. Galembeck, B. B. Torres
Neste CD, o material sobre cinética enzimática é interativo e
permite trabalhar os conceitos dentro de uma simulação de um
experimento de laboratório. Além disso, há a possibilidade de re-
alizar algumas das atividades de modo a se avaliar a fixação e o
entendimento correto dos conceitos sobre o assunto.
GALEMBECK, E.; TORRES, B. B. Bioquímica – Softwares educacionais. Ci-
nética Enzimática. FUNCAMP, 2003.
c A p í t U lo 8
Vias Metabólicas e Energia Celular
Neste capítulo estudaremos a classificação e os principais
tipos de metabolismo celular, bem como entenderemos o pa-
pel do ATP e do NADPH no metabolismo celular. Descre-
veremos também em linhas gerais a obtenção de energia a
partir de biomoléculas.
Vias Metabólicas e Energia Celular 161
Pro
as células das raízes, que não contêm clorofila, são
os
Autótrofos
heterotróficas. Ainda mais, as células verdes das fotossintéticos Heterotrófos
folhas são autotróficas apenas durante o período
luminoso do dia. No escuro elas funcionam como CO�
heterotróficas e obtêm energia pela oxidação dos
carboidratos sintetizados à luz do dia.
Figura 8.1
ATP
ADP+HPO��� NADH
NAD+ Energia
NADP+ NADPH química
FAD FADH�
Macromoléculas Moléculas
celulares precursoras
Proteinas Aminoácidos
Polissacarídeos Anabolismo
Monossacarídeos
Lipídeos Ácidos graxos
Ácidos Nucléicos Bases nitrogenadas
Figura 8.2
164 Bioquímica
8.1.1 Catabolismo
A degradação enzimática de cada um dos principais tipos de
biomoléculas (carboidratos, lipídios e proteínas) ocorre passo a
passo, através de reações enzimáticas consecutivas, e libera ener-
gia. Existem três estágios principais no catabolismo aeróbico. No
estágio I, as macromoléculas celulares são degradadas em suas
unidades fundamentais. Assim, por exemplo, os polissacarídeos
são degradados a hexoses e pentoses, enquanto os lipídeos são de-
gradados em ácidos graxos e glicerol e as proteínas são hidrolisa-
das em seus 20 aminoácidos primários.
No estágio II do catabolismo, os vários produtos formados no
estágio I são reunidos e convertidos em um número menor de mo-
léculas ainda mais simples. Assim, as hexoses, pentoses e o glicerol
do estágio I são degradados a um intermediário mais simples, com
três carbonos, o piruvato. O piruvato, por sua vez, é então conver-
tido em uma unidade de 2 carbonos (C2), o grupo acetil, o qual é
transportado dentro da célula, ligado a uma coenzima, a coenzima
A, ou seja, na forma de acetil-coenzima A (acetil-CoA).
De forma similar, os ácidos graxos e o esqueleto carbônico dos
aminoácidos são quebrados em grupos acetil para formar o acetil-
CoA. Desta forma, o acetil-CoA é o produto final comum do está-
gio II do catabolismo.
No estágio III, o grupo acetil do acetil-CoA
é introduzido no Ciclo dos Ácidos Tricarboxíli-
cos (TCA) ou Ciclo de Krebs (CK). O TCA pode Hans Krebs
ser considerado como uma via final comum de Hans Krebs, trabalhando na Universidade de She-
degradação de biomoléculas, através da qual a field em 1937, propôs a série de reações em um
maioria das moléculas fornecedoras de energia mecanismo cíclico para a oxidação completa do
piruvato, proveniente da quebra de carboidratos.
são finalmente oxidadas a dióxido de carbono.
Inicialmente, ele chamou esta via cíclica de Ciclo
É importante notar que as vias catabólicas do Ácido Cítrico, o primeiro intermediário forma-
do. Mais tarde, esta via ficou conhecida como Ci-
convergem em direção ao TCA, o qual constitui
clo dos Ácidos Tricarboxílicos (TCA), em função
o estágio III do catabolismo. Por isso, as vias ca- da natureza de vários dos seus intermediários.
tabólicas são chamadas de vias convergentes. Muitas vezes, no entanto, esta via é denominada
de Ciclo de Krebs, em homenagem ao pesquisa-
Durante o estágio I do catabolismo, cente- dor que a descreveu.
nas de proteínas diferentes são degradadas a
Vias Metabólicas e Energia Celular 165
CO2
Glicolise
Ciclo de Krebs
Fosforilação Oxidativa
Figura 8.3
166 Bioquímica
8.1.2 Anabolismo
O anabolismo (biossíntese) também ocorre em três estágios
e começa com moléculas precursoras pequenas. Por exemplo, a
biossíntese de proteínas inicia-se com a formação de α-cetoácidos.
No estágio seguinte, os α-cetoácidos são aminados. No estágio fi-
nal do anabolismo, estes aminoácidos são reunidos de forma or-
denada em cadeias polipeptídicas, formando-se, assim, um grande
número de proteínas diferentes.
De maneira semelhante, grupos acetil são reunidos em moléculas
de ácidos graxos e estes, por sua vez, ordenadamente reunidos em
moléculas para a produção de lipídeos variados. O anabolismo é um
processo divergente, ou seja, tem início com poucas moléculas pre-
cursoras pequenas e a partir delas constrói-se uma grande variedade
de macromoléculas. As vias anabólicas centrais têm muitas ramifi-
cações que levam à formação de centenas de componentes celulares
diferentes, ou seja, as vias anabólicas são ditas vias divergentes.
Cada um dos estágios principais tanto no catabolismo como no
anabolismo de uma dada biomolécula é catalisado por um sistema
multienzimático. As transformações químicas consecutivas que
ocorrem em cada uma das rotas metabólicas centrais do metabo-
lismo são virtualmente idênticas em todas as formas de vida.
GERAÇÃO DE ATP
Contração muscular
CLOROPLASTO
Figura 8.4
Vias Metabólicas e Energia Celular 171
H O H H O H H O
C 2e� C C
NH� NH� ou NH� + H+
+
+ 2H N N
:
O CH� O N
R lado A R lado B
H H NADH
O P O� H H (reduzido)
O OH OH NH�
O P O� N N Adenina
O CH� O N N
NAD+ H H
H H
(oxidado)
OH OH
No NADP+, esse grupo hidroxila
está esterificado com fosfato.
172 Bioquímica
Resumo
Os organismos vivos podem ser divididos em dois grandes gru-
pos, de acordo com a forma química do carbono que eles reque-
rem do meio ambiente.
O carbono e o oxigênio são constantemente reciclados entres os
reinos animal e vegetal, um processo que envolve enormes quantida-
des de matéria e cuja força condutora é provida pela energia solar.
O metabolismo intermediário envolve uma série de reações
bioquímicas que ocorrem de forma coordenada. Este metabolis-
mo tem duas fases: catabolismo e anabolismo.
A maior parte de energia livre é conservada na forma de molé-
cula transportadora de energia adenosina trifosfato (ATP). Isto é
conseguido através do acoplamento de reações enzimáticas.
O ATP pode ser produzido a partir de diferentes estratégias
metabólicas.
Alguma energia também pode ser conservada na forma de áto-
mos de hidrogênio ricos em energia, transportados pela coenzima
nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato, sua forma reduzida
NADPH.
178 Bioquímica
Bibliografia
CAMPBELL, M. K. & FARRELL, S.O. Bioquímica: Vol. 3 – Bio-
química metabólica. 5. ed. São Paulo: Thomson Learning, 2008.
GARRET, R. H.; GRISHAM, C. M. Biochemistry. 2. ed. Saunders
College Publishing. Harcourt Brace College Publishers. Fort Wor-
th, 1999.
NELSON, D. L.; COX, M. M. L. Princípios de Bioquímica. São
Paulo: Savier, 2005.
Bibliografia Comentada
A mitocôndria em 3 atos
L. Meis
Neste CD, você encontrará uma animação interessante sobre
uma via fundamental do metabolismo celular: o Ciclo de Krebs.
Este trabalho é pioneiro no Brasil em termos de animação em Bio-
química e inclui abordagens distintas sobre a estrutura e o funcio-
namento da mitocôndria.
MEIS, L. Mitocôndria em 3 atos. Departamento de Bioquímica Médica,
UFRJ.