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Ministério do Meio Ambiente

PROGRAMA DE REVITALIZAÇÃO
DA BACIA HIDROGRÁFICA DO
RIO SÃO FRANCISCO

1
Equipe Técnica

Maurício Cortines Laxe (Coordenador do Programa)

Márcia Gonçalves Rodrigues

Cláudia Magalhães

José Alencar Simões

Juliana Gomes

Gabriel Schiavon de Oliveira

Renata Nitta

2
Lista de figuras

1. Rio São Francisco


2. Regiões hidrográficas do brasil
3. Bacia Hidrográfica do São Francisco: regiões fisiográficas – novos limites
4. Alto São Francisco
5. Médio São Francisco
6. Sub-médio São Francisco
7. Baixo São Francisco
8. Sub-bacias do rio São Francisco
9. Rede hidrográfica do São Francisco
10. Distribuição da ocorrência de inundação na bacia
11. Partes do médio e baixo e todo o sub-médio estão no semi-árido
12. Concentração de sedimentos em suspensão na bacia
13 Unidades de conservação
14. Distribuição espacial da ocupação demográfica
15. Sub-bacia do rio verde grande
16. Distribuição da coleta de esgoto na bacia, por micro-bacia
17. Distribuição da cobertura de água das micro-bacias
18. Distribuição da cobertura da coleta de lixo, por microbacia
19. Trechos navegáveis no rio São Francisco
20. Tronco de transporte intermodal nos eixos do nordeste, com destaque para a
bacia do São Francisco.
21. Esquema dos principais reservatórios situados no rio São Francisco, formados
pelas usinas hidrelétricas de três marias, queimados, sobradinho, itaparica,
complexo paulo afonso e xingo
22. Hidrelétricas em operação na bacia do São Francisco
23. Áreas de maior prática da irrigação pública e privada na bacia hidrográfica do
São Francisco
24. Articulação institucional
25. Prioridades de uso conforme preceitua a lei 9.433/97
26. Geração de energia elétrica e a irrigação
27. Demanda de uso da água por região fisiográfica
28. Navegação
29. Distribuição da disponibilidade hídrica (m³/habitante/ano) na bacia
30. Poços
31. Implementação do programa de revitalização da bacia hidrográfica do rio São
Francisco
32 Articulação institucional

3
Lista de quadros

1. Panorama histórico da bacia hidrográfica do São Francisco


2. Área, população e número de municípios da bacia por Estado
3. População urbana, por região fisiográfica da bacia hidrográfica do São
Francisco
4. Características físicas e naturais da bacia do São Francisco, por região
fisiográfica.
5. Afluentes do rio São Francisco
6. Vazões médias mensais dos principais afluentes do rio São Francisco.
7. Vazões médias mensais nas principais estações fluviométricas no rio São
Francisco
8. Características de alguns dos principais afluentes
9. Províncias hidrogeológicas da bacia do São Francisco
10 Formações vegetais na bacia do São Francisco, por estado.
.
11 Principais características hidroclimáticas da bacia do rio São Francisco
.
12 Principais espécies da ictiofauna na região do médio São Francisco
.
13 Espécies localizadas na região do Baixo São Francisco
.
14 Características socioeconômicas da bacia do rio São Francisco, por região
. fisiográfica
15 Índices de cobertura dos serviços de saneamento na bacia hidrográfica do São
. Francisco
16 Distribuição dos solos, por Estado, com relação à aptidão para culturas de
. sequeiro.
17 Aumento da Produção e Produtividade do Sistema CBL.
.
18 Terras Indígenas da Bacia Hidrográfica do São Francisco
.
19 Comunidades remanescentes de quilombos tituladas
.
20 Municípios da bacia do São Francisco com processo de implantação de
Agenda 21 Local.
21 Municípios da Região do Médio São Francisco com plano de Reforma Agrária
.
22 Ministérios, programas e ações com interface para a consolidação da
. economia de PFNMs
23
.
24
.

4
3. DIAGÓSTICO DA BACIA

5
3. Diagnóstico da Bacia

A bacia do rio São Francisco tem uma localização estratégica, pois constitui um espaço
territorial que faz a ligação natural entre o Sudeste, região mais desenvolvida do Brasil e
o Nordeste, em estágio menos adiantado de desenvolvimento. É também de grande
importância socioeconômica por seu multiuso, dotada de imenso potencial energético,
hidroviário, agropecuário, agroindustrial, pesqueiro, turístico, social, cultural, histórico e
ecológico.

Apresenta áreas densamente povoadas e de acentuada riqueza, como também áreas de


pobreza crítica e baixa densidade demográfica, demonstrando assim vários paradoxos
socioeconômicos e uma grande vulnerabilidade ambiental.

Desde meados do século XIX, a bacia vem sofrendo forte agressão ambiental tendo os
maiores impactos ocorridos principalmente a partir da segunda metade do século
passado. Uma das sub-bacias mais atingidas é a do Rio das Velhas, fortemente
industrializada, onde se localizam o quadrilátero ferrífero e também a região
metropolitana de Belo Horizonte, que gera os mais diversos produtos, sendo a grande
Belo Horizonte a região com maior concentração populacional da bacia, ao mesmo tempo
em que tem no alto índice de poluição um dos seus subprodutos danosos.

Antes da concepção do Programa de Revitalização e da implementação do GEF São


Francisco todos os diagnósticos, estudos e projetos realizados no seu território jamais
refletiram integralmente uma abordagem que considerasse a bacia como um todo,
incluindo a sua zona costeira, ao mesmo tempo em que nunca se adotou uma
perspectiva de gerenciamento integrado da bacia.

Ressalta-se que parte das informações apresentadas neste diagnóstico sócio-ambiental


tem como base os dados contidos em diversos documentos técnicos existentes sobre o
rio São Francisco, muitos deles elaborados pelo MMA ou por suas instituições vinculadas:
Agência Nacional de Águas - ANA e IBAMA. Destacam-se ainda os produtos técnicos do
Projeto GEF São Francisco, como o DAB, o PAE e o Plano de Bacia, assim como, no
âmbito do Ministério da Integração Nacional, os dados contidos no PLANVASF e os
elaborados pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba
- CODEVASF. Há ainda as informações e contribuições obtidas junto a SUDENE,

6
CHESF, IBGE, EMBRAPA, INCRA, FUNASA e FUNAI.

7
3.1. Caracterização geral

A bacia hidrográfica do São Francisco está entre as doze regiões hidrográficas instituídas
pela Resolução no 32, de 15 de outubro de 2003, do Conselho Nacional de Recursos
Hídricos, que definiu a Divisão Hidrográfica Nacional, com a finalidade de orientar,
fundamentar e implementar o Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH).

Figura 2. Regiões hidrográficas do Brasil

Complexa e extensa, é a maior entre as bacias hidrográficas essencialmente brasileiras e


a terceira do Brasil. Abrange um número significativo de unidades federadas as quais,
pela organização político-administrativa do país, compreendem a União, seus estados, o
Distrito Federal e os municípios, o que vem a conferir a necessidade de um modelo de
gestão ambiental que exige muita interação, integração e negociação para a criação de
sinergias interinstitucionais, capazes de contribuir para o desenvolvimento sustentável
8
desta importante região do Brasil.

Com área de drenagem de 639.219 km2, ou seja, quase 64.000.000 ha, correspondendo
à cerca de 8% do território nacional, ela se relaciona diretamente com sete unidades da
federação: Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Goiás e Distrito Federal,
e está compreendida entre as latitudes 7º 00´ e 21º 00´ S e longitudes 35º 00´ e 47º 40’
W. De toda a sua área, cerca de 83% está localizada nos estados de Minas Gerais e
Bahia, 16% nos estados de Pernambuco, Alagoas e Sergipe e o 1% restante no estado
de Goiás e no Distrito Federal.

Abrange ainda 505 municípios, ou aproximadamente 9% do total de municípios do país.


Desse total, 48,2% estão na Bahia, 36,8% em Minas Gerais, 10,9% em Pernambuco,
2,2% em Alagoas, 1,2% em Sergipe, 0,5% em Goiás e 0,2% no Distrito Federal. Junto ao
leito principal do rio ficam situados 101 (20%) dos municípios da bacia.

Apresentando uma população de 13.297.955 habitantes (Censo, 2000), correspondendo


a pouco mais de 8% da população brasileira, a bacia ainda tem enormes espaços que
são vazios econômicos, possuindo também importantes centros urbanos, com destaque
para a Região Metropolitana de Belo Horizonte – RMBH, situada na alta bacia, polarizada
pela capital do estado de Minas Gerais, além de parte do Distrito Federal.

Outros municípios que se destacam são Montes Claros, Ouro Preto, Barreiras, Juazeiro,
Petrolina, Salgueiro, Serra Talhada, Floresta, Arcoverde, Arapiraca, Própria, Paulo
Afonso e Penedo. A grande importância da Região Metropolitana de Belo Horizonte para
a bacia se destaca e evidencia pelo fato de que seus 26 municípios, apesar de ocuparem
uma área de 6.255 km2, e representar menos de 1% de toda a bacia do rio São
Francisco, concentram mais de 3.900.000 habitantes, o que corresponde a 29,3% da
população de toda a bacia.

O rio São Francisco, também chamado de “Velho Chico” pelos ribeirinhos, foi descoberto
no ano de 1501. Considerado o rio da integração nacional, recebeu esse título por ser
tradicionalmente um dos principais caminhos de ligação do Sudeste com o Nordeste.

As unidades federadas, com suas áreas, população e número de municípios que


integram a bacia do rio São Francisco estão indicadas no quadro 2.

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Quadro 2 - Área, população e número de municípios da bacia por Estado.
ÁREA POPULAÇÃO MUNICÍPIOS
UF
km² % Habitantes % No. %
MG 235417 36,8 7595274 .57,2 240 47,7
GO 3142 0,5 107 858 0,8 3 0,6
DF 1.336 0,2 2 000 - 1 0,2
BA 307.941 48,2 2 663 527 20,1 115 22,7
PE 69518 10,8 1614 565 12,2 69 13,7
AL 14338 2,2 1 002 900 7,5 49 9,7
SE 7473 1,3 291 831 2,2 28 5,4
Total 639 219 100 13 297 955 100 505 100
Fonte: IBGE-Censo 2000

Desde a sua nascente histórica na Serra da Canastra, no município de São Roque de


Minas, à foz, na divisa de Sergipe e Alagoas, entre os municípios de Brejo Grande (SE) e
Piaçabuçu (AL), o rio São Francisco totaliza 2.814 km de extensão. Mais recentemente
determinou-se que a sua nascente geográfica seria no rio Samburá, no município de
Medeiros, em Minas Gerais, estendendo assim o seu percurso total para 2.863 km.
(Fonte: CODEVASF, 2002).

Ao longo do seu curso, o São Francisco recebe água de 168 afluentes, dos quais 99 são
perenes, sendo que 90 estão na sua margem direita e 78 na esquerda. A produção de
água de sua bacia concentra-se principalmente na região dos cerrados dos estados de
Minas Gerais e da Bahia, e a grande variação do porte dos seus afluentes é
conseqüência das grandes diferenças climáticas que ocorrem entre as regiões drenadas.

Embora o maior volume de águas seja ofertado pelos cerrados, são as represas de Três
Marias (21 bilhões de m3) e Sobradinho (34 bilhões de m3) que atualmente garantem a
regularidade de vazão do São Francisco, mesmo durante a estação seca, de maio a
outubro.

A barragem de Sobradinho, citada como um novo pulmão do rio, foi planejada para
garantir o fluxo de água regular e contínuo para geração de energia elétrica em forma de
cascatas, nas demais usinas operadas pela Companhia Hidrelétrica do São Francisco
(CHESF), Itaparica, Moxotó, Paulo Afonso, e Xingó. Após movimentarem os gigantescos
geradores das cinco hidrelétricas, as águas do São Francisco correm para o mar.
10
Normalmente, 95% do volume médio liberado pela barragem de Sobradinho, que atinge
um mínimo de 1.850 m3/s, são despejados na foz e apenas 5% são consumidos na bacia.
Nos anos chuvosos, a vazão de Sobradinho chega a ultrapassar em certos momentos 15
mil m3/s.

As várias intervenções a que têm sido submetido, o rio e seus afluentes mais importantes
nos últimos anos resultaram em complexas mudanças no seu regime de vazão, com
repercussões em sua zona costeira. Quanto às vazões, segundo os dados do Projeto
GEF São Francisco e do Plano Decenal da Bacia, as máximas mensais na estação de
Traipu, na foz do rio, têm sido da ordem de 13.743 m3/s, e ocorrem em março e as
mínimas mensais, da ordem de 644 m3/s, ocorrem em outubro, observando-se uma vazão
média anual de 2.980 m3/s, o que corresponderia a uma descarga média anual da ordem
de 94 bilhões de m3. Porém, já ocorreram médias anuais, máxima de 5.244 m 3/s e mínima
de 1.768 m3/s, respectivamente.

Além disso, o Plano da bacia apontou que o consumo atual de água da bacia do rio São
Francisco seria de 91 m³/s, devendo ser garantida para o rio a manutenção para o
próximo decênio de uma vazão firme na foz de 1.850 m³/s, e uma vazão média na foz de
2.700 m³/s, permitindo assim com que haja uma vazão disponibilizada para consumos
variados na bacia na ordem de 360 m³/s, com uma vazão mínima fixada após
Sobradinho, de 1.300 m³/s.

Acompanhando o seu percurso, apresenta quatro trechos denominados de regiões


fisiográficas da bacia hidrográfica: o Alto São Francisco, que vai de suas cabeceiras até
pouco abaixo de Pirapora, em Minas Gerais; o Médio, de Pirapora, onde começa o
trecho navegável, até Remanso, na Bahia; o Sub-médio, de Remanso até Paulo Afonso,
Bahia; e o Baixo, de Paulo Afonso até a foz, entre Sergipe e Alagoas. Estas regiões estão
detalhadas no quadro 3.

Uma nova divisão regional da bacia vem sendo estudada pela Codevasf, quanto a uma
possível revisão de seus limites regionais, em face de recomendações do Senado
Federal, em seu Relatório Final da Comissão de Acompanhamento do Projeto de
Revitalização do Rio São Francisco e dos resultados de alguns dos estudos realizados
pelo Projeto GEF São Francisco, da ANA/GEF/PNUMA/OEA, mas ainda não há qualquer
alteração oficial definitiva.

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A proposta de uma nova divisão sugere manter a existência de quatro subdivisões, Alto,
Médio, Sub-médio e Baixo, mas redefine os limites entre o Sub-médio e o Baixo São
Francisco, com uma nova linha divisória passando próxima à cidade de Belo Monte-AL.
Tem como base critérios geológicos, geomorfológicos, hidrográficos e climáticos, os quais
configurariam uma homogeneidade fisiográfica, podendo ainda vir a ser no futuro
considerada.

Quadro 3 – População urbana, por região fisiográfica da bacia hidrográfica do São


Francisco
População (hab)
Sub-bacia Urbanização (%)
Urbana Rural Total
Alto 6.461.510 269.230 6.730.740 96
Médio 2.814.511 2.302.782 5.117.293 55
Sub-médio 1.375.230 1.080.538 2.455.768 56
Baixo 901.713 938.518 1.840.231 49
Total 11.552.964 4.591.068 16.144.032 77

Fonte: http://www.cbhsaofrancisco.org.br/pgBacia.htm

Alto São Francisco

O Alto São Francisco estende-se desde as cabeceiras na Serra da Canastra, município


de São Roque de Minas, até a foz do rio das Velhas, abaixo da cidade de Pirapora, com
cerca de 100.076 km2, ou 16% da área da bacia, tendo 702 km de extensão e com uma
população, segundo o censo de 2000, de cerca de 6,247 milhões de habitantes. Abrange
as sub-bacias dos rios Pará, Paraopeba e das Velhas na margem direita, e as sub-bacias
do Indaiá, Borrachudo e Abaeté na margem esquerda, que conformam seus limites,
incluindo a usina hidrelétrica de Três Marias.

Figuratodo
Situa-se 3. Bacia Hidrográfica
em Minas Gerais,doapresentando
São Francisco: regiões fisiográficas
topografia –
acidentada, com serras e
novos limites, 2003.
terrenos ondulados e altitudes de 1.600 a 600 m. O divisor leste é formado pela Serra do
Espinhaço, estreita e alongada na direção N-S, e com altitudes de 1.300 a 1.000 m. Do
lado oeste, destaca-se a Serra da Mata da Corda, divisor com o rio Paranaíba, com cotas
em torno de 1.200 m de altitude. Sobressaem-se, ainda, os escalonamentos de
superfícies de erosão que vai até a depressão São Franciscana em direção à calha do rio
e seus principais afluentes, cuja cota, em Pirapora, é de cerca de 450 m.

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Com vegetação constituída de florestas, cerrados e vegetação rupestre, é uma região de
muitas chuvas (de 1.600 a 1.100 mm anuais) no verão, que caem de outubro a abril,
respondendo por quase 3/4 do escoamento total do rio. A temperatura média anual é de
22ºC, havendo áreas onde se registra mínimas inferiores a 0ºC. A evaporação é de 1.000
mm anuais e as diversas características climáticas classificam a região como tropical
úmida, sendo que em algumas partes é subtropical.

As principais cidades são as integrantes da Região Metropolitana de Belo Horizonte, além


de Divinópolis, Ouro preto e Sete Lagoas.

Figura 4. Alto São Francisco

Médio São Francisco

O Médio São Francisco compreende o trecho desde as imediações de Pirapora (MG) até
a cidade de Remanso (BA), com 402.531 km2, ou 63% da área da bacia, tendo 1.230 km
de extensão, com uma população de cerca de 3,23 milhões de habitantes (Censo, 2000).
Inclui as sub-bacias dos rios Paracatu, Urucuia, Carinhanha, Corrente, Grande e Pilão
Arcado a oeste, e as sub-bacias do Jequitaí, Verde Grande, Paramirim, Jacaré e Verde a
leste, situando-se nos estados de Minas Gerais e Bahia.

A região admite a subdivisão em Médio Superior e Inferior, sendo que o primeiro abrange
o trecho entre Pirapora e a fronteira com a Bahia, limitada pelos rios Carinhanha a oeste
e Verde Grande a leste. O Médio Superior tem características que mais se assemelham
às do Alto que às do Médio propriamente dito.

O divisor leste é constituído pela Serra do Espinhaço e Chapada Diamantina, com


altitudes entre 2.000 e 1.000 m, recortado por profundos vales. Observam-se abruptas
diferenças de nível devido à sucessão de camadas de diferenciadas resistências à
erosão. Os vales são encaixados em fraturas com desenvolvimento de profundas
gargantas e canyons. O contexto orográfico da Chapada Diamantina tem direção SSE-
NNO e penetra no domínio da bacia, formando as Serras de Açuruá, Mangabeira e Azul,
até praticamente as margens do lago de Sobradinho.

A metade sul do lado oeste corresponde ao prolongamento da Serra Geral de Goiás.

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Na metade norte, o coroamento laterizado de topografia ondulada formador da Serra da
Tabatinga é divisor de águas entre os rios São Francisco e Parnaíba e suas cotas oscilam
entre 1.000 e 800 m. Destacam-se, no domínio da Depressão São Franciscana, as serras
do Boqueirão e Estreito, com altitude de 800 m e formas alongadas de direção SSE-NNO
e N-S, respectivamente.
A temperatura média anual é de 24 ºC e a evaporação é de 1.500 mm anuais. As chuvas
caem de novembro a abril, com precipitação média anual de 1.400 a 600 mm.

A vegetação é dos tipos cerrado e caatinga, com exceção de algumas pequenas matas
serranas. Característica digna de nota é a margem esquerda do São Francisco, bem mais
úmida, com rios permanentes e vegetação perenifólia. Na margem direita a precipitação é
menor, os rios são intermitentes e a vegetação é típica de caatinga, embasada no
Cristalino.

Suas condições climáticas vão se tornando mais características de uma região tropical
semi-árida. Sua altitude varia de 2.000 a 500 m e é onde se localizam as planícies eluvio-
coluvio-aluviais da Depressão São Franciscana.

As principais cidades são: Montes Claros, Pirapora, Janaúba, Januária, Paracatu e Unaí,
em Minas Gerais; Formosa, em Goiás; Barreiras, Guanambi, Irecê, Bom Jesus da Lapa e
Xique-Xique, na Bahia, além de Brasília – DF, capital federal.

Figura 5. Médio São Francisco

Sub-médio São Francisco

O Sub-médio São Francisco abrange áreas dos estados da Bahia e Pernambuco,


estendendo-se de Remanso (BA) até a cidade de Paulo Afonso (BA), com 110.446 km2,
ou 17% da área da bacia, tendo 440 km de extensão e com uma população de cerca de
1,94 milhões de habitantes (Censo, 2000). Inclui as sub-bacias dos rios Pontal, Garças,
Brígida Pajeú, e Moxotó a margem esquerda e Salitre, Tourão e Vargem Grande a
margem direita.

Nessa região, a altitude varia de 800 a 200 m e se caracteriza por uma topografia
ondulada, com vales bem abertos devido a menor resistência à erosão dos xistos e outras
rochas de baixo grau de metamorfismo, onde sobressaem formas abauladas esculpidas

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em rochas graníticas, gnáissicas e outros tipos de alto metamorfismo. Destacam-se ainda
nesse trecho as represas de Sobradinho, Itaparica e Paulo Afonso.

Na extremidade oeste da fronteira norte tem-se a Chapada Cretácea do Araripe com


altitude de 800 m, que se prolonga para leste através da Serra dos Cariris esculpida em
rochas graníticas e gnáissicas de idade pré-cambriana. Do lado sul ressalta-se as formas
tabulares do Raso da Catarina, esculpidas em sedimentos da bacia do Tucano, com
altitude de 300-200 m.

A caatinga predomina em quase toda a área e a precipitação média anual chega a 450
mm na região de Juazeiro/Petrolina e a máxima é de 800 mm, nas serras divisórias com o
Ceará. A temperatura média anual é de 27 ºC; a evaporação é da ordem de 2.000 mm
anuais e o clima é tipicamente semi-árido.

As principais cidades são: Juazeiro e Paulo Afonso, na Bahia; e Petrolina, Ouricuri,


Salgueiro, Serra Talhada e Arcoverde em Pernambuco.

Figura 6. Sub-médio São Francisco

Baixo São Francisco

O Baixo São Francisco estende-se de Paulo Afonso (BA) até a sua foz, entre Sergipe e
Alagoas, no Oceano Atlântico, com 25.523 km2, ou 4% da área da bacia, tendo 214 km
de extensão e com uma população de cerca de 1,37 milhões de habitantes (Censo,
2000). Compreende as sub-bacias dos rios Ipanema e Traipu na margem esquerda e
Curituba e Capivara na margem direita. Situa-se em áreas dos estados da Bahia,
Pernambuco, Sergipe e Alagoas.

A altitude varia de 200 m até o nível do mar, embora, nos divisores algumas serras
atinjam 500 m. Na região entre Paulo Afonso e Canindé do São Francisco ressalta-se um
grande trecho do rio encaixado em fraturas e profundas gargantas denominadas de
Canyons do São Francisco, onde se localiza a represa de Xingó.

Figura 7. Baixo São Francisco

Destaca-se a planície costeira com altitude inferior a 100 m e os tabuleiros do Grupo

15
Barreiras com altitude entre 200 e 100 m.

A temperatura média anual é de 25 ºC; a evaporação é de 1500 mm anuais; e a


precipitação média anual varia de 1.300 a 500 mm. Nessa região acontece, também, uma
nítida mudança na distribuição anual das chuvas, que nas proximidades do oceano se
distribuem por todo o ano, embora mais concentradas no outono e inverno, enquanto
que, no interior, os meses chuvosos são os de verão. As principais chuvas nesta região
ocorrem de março a setembro, ou seja, no inverno, enquanto no restante da bacia as
chuvas ocorrem no verão.

A vegetação é de caatinga no trecho mais alto, e mata atlântica, manguezais e restingas


na região costeira. O clima é considerado tropical semi-úmido.

As principais cidades são: Jeremoabo, na Bahia; Pesqueira e Bom Conselho, em


Pernambuco; Propriá, Canindé do São Francisco e Nossa Senhora da Glória, em
Sergipe; e Arapiraca, Piranhas, Delmiro Gouvêia e Penedo, em Alagoas.

As sub-bacias

Destaca-se ainda que, conforme consta no Plano da bacia e nos produtos do GEF São
Francisco, as quatro regiões fisiográficas da bacia Hidrográfica (Alto, Médio, Sub-médio e
Baixo) passaram também a ser subdivididas, para fins de planejamento, em trinta e
quatro sub-bacias, as quais servirão de parâmetro estratégico para as ações do Programa
de Revitalização. Portanto, estas subdivisões já estavam estabelecidas e configuradas,
como mostra a Figura 8.

Essas subdivisões visaram adequar-se às unidades de gerenciamento de recursos


hídricos dos estados presentes na bacia. Adicionalmente, a bacia do rio São Francisco
passou ainda a ser re-dividida em 12.821 micro-bacias, com a finalidade de caracterizar,
por trechos, os principais rios de cada região, servindo também para o Programa como
uma escala territorial de planejamento.

Figura 8. Sub-bacias do rio São Francisco.

16
3.2. Características físicas e naturais

A caracterização geral da bacia hidrográfica do rio São Francisco foi revista e atualizada
por ocasião da elaboração do Diagnóstico Analítico da Bacia – DAB, oportunidade essa
em que muitos dos seus números puderam ser reavaliados e redefinidos, tornando-se
capazes de espelhar com maior fidelidade a realidade atual, sempre em estreita
articulação com instituições como a Codevasf, a Chesf, Ibama, ANA e a Embrapa.

O Quadro 4 apresenta uma síntese das principais características físicas e naturais da


bacia, por região fisiográfica.

Quadro 4 - Características físicas e naturais da bacia do São Francisco, por região


fisiográfica.

BAIXO E ZONA
REGIÕES / COSTEIRA
CARACTERÍSTICAS
ALTO MÉDIO SUB MÉDIO
ADJACENTE

De 500 m até o
Altitude (m) 1600-600 2000-250 800-200
nível do mar

Serras da Serra do Espinhaço, Chapada do


Principais Canastra, Chapada Diamantina, Araripe e
Serras Redonda
acidentes Mata da Corda Serra Geral de Goiás, Serras dos
e Negra
topográficos e Espinhaço Chapada das Cariris Velho e
Mangabeiras e Serra Cágados
da Tabatinga

Declividade do rio
0,70 a 0,20 0,1 0,10 a 3,10 0,1
principal (m/km)

Clima Tropical úmido Tropical semi-árido e Semi-árido Sub-úmido


predominante e sub-tropical sub-úmido seco

Precipitação média
1600 a 1100 1400 a 600 800 - 450 500-1300
anual (mm)
Trimestre mais
nov-dez-jan jan-fev-mar jan-fev-mar mai-jun-jul
chuvoso
Trimestre menos
jun-jul-ago jun-jul-ago jul-ago-set set-out-nov
chuvoso
Temperatura média
23 24 27 25
(oC)
Insolação média
2400 2600 a 3300 2800 2800
anual (h)

17
BAIXO E ZONA
REGIÕES / COSTEIRA
ALTO MÉDIO SUB MÉDIO
CARACTERÍSTICAS ADJACENTE

Evapotranspiração
1000 1500 2000 1500
média anual (mm)
ME: Pontal,
ME: Paracatu, Garças,
ME: Indaiá, Urucuia, Pardo, Brígida, Terra
Borrachudo e Pandeiros, Nova, Pajeu e
ME: Ipanema,
Abaeté Carinhanha, Corrente Moxotó
Principais Traipu e Marituba
MD: Pará, e Grande MD: Salitre,
afluentes
Paraopeba, MD: Pacui, Verde Poço, Curaçá,
MD: Capivara,
Velhas e Grande, Caraíba, Vargem e
Gararu e Betume
Jequitaí Paramirim e Verde Macururé
Jacaré

Número de
25 perenes e 8 19 7 perenes a
afluentes de 1a 48 perenes
intermitentes intermitentes partir de Traipu
ordem
Paracatu, 444
Pará, 124 (45.600);
(12.220); Urucuia, 255
Paraopeba, (26.000);
Vazões médias dos 115 (13.160); Pandeiros, 29
Abaeté, 68 (4.170);
principais
(5.790); Verde Grande, 32 - -
afluentes
Das Velhas, (30.000);
(m3/s) e área (km2) 283 (29.000) Carinhanha, 156
Jequitaí, 46 (18.000);
(8.700) Corrente 238,
(35.000);
Verde, 272 (76.000)
Pirapora
Pão de
(61.880) + Rio
Vazão média Juazeiro, 2.630 Açúcar, 2.790 Foz, 2.810
das Velhas e
contribuinte (510.800) (608.900) (639.219)
Jequitaí
(m3/s) e área (km2) contribuição = 1.446 contribuição = contribuição = 20
(36.520) =
160
1.184
Contribuição da
42,2 51,4 5,7 0,7
vazão (%)
Pão de
Pirapora,
Vazão média Juazeiro, 4.393 em Açúcar, 4.660
1.303 em Foz, 4.680 em
mensal máxima fevereiro em fevereiro
fevereiro março
(m3/s)
Vazão média Pão de
Pirapora, 637 Juazeiro, 1.419 em Foz 1.536, em
mensal mínima Açúcar, 1.507
em agosto setembro setembro
(m3/s) em setembro
Trimestre de maior
dez-jan-fev jan-fev-março jan-fev-março jan-fev-março
vazão
Trimestre de
jul-ago-set ago-set-out ago-set-out ago-set-out
menor vazão

18
BAIXO E ZONA
REGIÕES / COSTEIRA
ALTO MÉDIO SUB MÉDIO
CARACTERÍSTICAS ADJACENTE

Sedimentos
Pirapora,8,3 Morpará, 21,5 Juazeiro, 12,9 Propriá, 0,41
(106T/ano) e área
(61.880) (344.800) (510.800) (620.170)
(km2)
Araripe,
Principais bacias São Francisco e Costeira Sergipe
São Francisco Tucano e
sedimentares Jacaré e Alagoas
Jatobá
Caatinga, Mata
Cerrados e Cerrado, Caatinga e
Cobertura vegetal Atlântica,
fragmentos de pequenas matas de Caatinga
predominante mangues e
florestas serra
restingas
Fonte:

19
3.2.1. Recursos Hídricos

A bacia do rio São Francisco tem como uma de suas principais marcas, devido a
sua grande diversidade, a presença de muitas formas de uso dos seus recursos
naturais, o que representa um grande desafio e exige uma análise do conjunto para
que se possa planejar adequadamente a gestão ambiental da bacia. As intensas
atividades antrópicas estão exercendo uma grande pressão sobre a base dos seus
recursos naturais, particularmente os hídricos, especialmente pela irrigação e
contínuo processo de desmatamento.

De acordo com o Programa de Ações Estratégicas - PAE, na bacia as

disponibilidades hídricas médias são da ordem de 2.850 m3/s, representando cerca


de 2/3 das disponibilidades de água doce do Nordeste Brasileiro. Portanto, para a
bacia, fica evidente a importância dos vários tipos de usos dos seus recursos
ambientais, principalmente dos seus recursos hídricos, destacando-se os referentes
a geração de energia, navegação, pesca, turismo, lazer, abastecimento doméstico, o
uso industrial e a própria irrigação.

A esses usos inclui-se a necessidade de manutenção de vazões ecológicas, visando


a sustentabilidade da região. Nesse contexto, a avaliação das disponibilidades
hídricas, tanto das águas superficiais como subterrâneas, em seus aspectos
quantitativo e qualitativo, ganha importância, servindo de base para o balanço
relacionado às demandas e dentro dos cenários traçados no horizonte do Plano de
Recursos Hídricos da bacia e do Programa de Revitalização.

Recursos Hídricos Superficiais

Quanto aos recursos hídricos superficiais, as águas do rio seguem na direção geral
sul-norte até a confluência com o Urucuia, onde inicia um grande arco com direção
norte-nordeste até a cidade de Cabrobó (PE), girando, então, para leste e logo
depois, para sudeste, até a foz. Há uma diferença de aproximadamente 1.600 m
entre as cabeceiras e a foz.

O Quadro 5 e a Figura 9 apresentam, respectivamente, os afluentes e a rede

20
hidrográfica do São Francisco.
Quadro 5 - Afluentes do rio São Francisco.
NOME R NOME R NOME R
MARGEM ESQUERDA
Ribeirão da Usina P Rio Pandeiros P Riacho do Jacaré I
Rio Samburá P Riacho da Quinta P Riacho Terra Nova I
Rio Ajudas P Riacho da Cruz P Riacho Jequi I
Rio Mombaça P Riacho Mocambo P Riacho de Baixo I
Rio Bambuí P Rio Peruaçu P Rio Pajeú I
Ribeirão Noruega P Rio Itacarambi P Riacho dos Defuntos I
Ribeirão da Estiva P Rio Japoré P Riacho dos I
Mandantes
Ribeirão Jorge Pequeno P Rio Calindó I Rio Moxotó I
Ribeirão Jorge Grande P Riacho da Escura I Riacho Seco I
Ribeirão das Antas P Rio Carinhanha P Rio Boa Vista I
Ribeirão dos Porcos P Riacho das Pitubas I Rio Capiá I
Ribeirão dos Veados P Riacho Mariape I Riacho do Bobó I
Rio Parizinho P Rio Corrente P Riacho Grande P
Rio Marmelada P Riacho dos Porcos I Rio Farias I
Ribeirão São Vicente P Riacho Brejo Velho I Rio Jacaré I
Ribeirão da Estrema P Riacho Largo I Rio Ipanema I
Rio Sucuri P Riacho da Areia P Rio Traipu P
Rio Indaiá P Rio Grande P Rio Boacica P
Rio Borrachudo P Rio Icatu I Rio Perucaba P
Rio Abaeté P Vereda Sação I Rio Piauí P
MARGEM DIREITA
Ribeirão Alto da Cruz P Ribeirão Manjaí P Riacho Tourão I
Ribeirão das Capivaras P Ribeirão São Pedro P Riacho do Poção I
Ribeirão da Prata P Riacho da Tapera P Rio Curaçá I
Ribeirão Sujo P Rio Verde Grande P Riacho Monte Alegre I
Ribeirão das Araras P Rio Casa Velha ou I Riacho do Icó I
Curralinho
Ribeirão dos Patos P Riacho das Rãs I Riacho da Vargem I
Grande
Rio São Miguel P Riacho de Santana I Riacho Macururé I
Rio Preto P Rio Pajeú I Riacho do Gato I
Rio Santana P Riacho Santa Rita I Riacho do Tonã I
Ribeirão Jacaré P Rio Santo Onofre I Riacho do Sal I
Ribeirão Santa Luzia P Rio Paramirim I Rio Curituba I
Ribeirão Santo Antonio P Rio Verde P Riacho da Onça I
Rio Pará P Rio Jacaré I Rio Jacaré I
Rio Paraopeba P Riacho dos Pais I Rio Marroquinho P

21
Córrego do Barão P Riacho do Manguá I Córrego da Onça P
NOME R NOME R NOME R
MARGEM DIREITA
Rio do Boi P Riacho da Barra I Rio das Velhas P
Rio de Janeiro P Riacho do Mulungu I Rio Jequitaí P
Ribeirão Atoleiro P Riacho da Mangueira I Riacho do Barro P
Ribeirão da Tapera P Riacho do Tatu I Córrego das Pedras P
Córrego Jatobá P Riacho das Garapas I Córrego do Medo P
Riacho do Sítio ou I Rio Salitre I Rio Pacuí P
Xingazinho
Riacho da Extrema P Riacho Tabocas P Riacho da Fome P
Riacho Canabrava P Riacho do Boi Morto P Córrego Jataí P
Ribeirão Tiririca P Riacho do Almoço P Riacho Grande P
Fonte: MME - DNAEE.
Nota: R = Regime : P = Perene; I = Intermitente.

As maiores declividades são encontradas nas cabeceiras de suas principais


nascentes e nas proximidades da foz. Nos primeiros 120 km, há um desnível de 250
m; nos seguintes 360 km, até Três Marias, outros 180 m. Daí até Sobradinho, em
1.416 km, desce 176 m. No trecho entre Paulo Afonso (284 km da foz) e Pão de
Açúcar (171 km da foz), o rio cai mais de 300 m: é o trecho das grandes quedas. Daí
em diante, segue em direção ao Atlântico.

O São Francisco tem entre veredas, córregos, ribeirões, riachos e rios, 168
destacados afluentes, sendo 90 pela margem esquerda e 78 pela margem direita.
Quanto ao regime, 99 são perenes e 69 intermitentes. São 36 os tributários de porte
significativo, dos quais somente 19 são perenes; os mais importantes formadores,
de regime perene são os rios: Paracatu, Urucuia, Carinhanha, Corrente e Grande,
pela margem esquerda, e Pará, Paraopeba, das Velhas, Jequitaí e Verde Grande,
pela margem direita.

Registre-se que os afluentes mais importantes situam-se na margem esquerda do


Alto e do Médio São Francisco, nos estados de Minas Gerais e Bahia. Essa
característica se deve à existência de grandes áreas de formação sedimentar
naquelas regiões, permitindo maior infiltração das chuvas, ali mais abundantes e
regulares do que nas demais regiões da bacia.

22
Figura 9 - Rede hidrográfica do São Francisco

As vazões médias mensais observadas nos principais afluentes do São Francisco


são apresentadas no Quadro 6. As vazões médias mensais observadas em algumas
das principais estações fluviométricas do São Francisco são apresentadas no
quadro 7. E no Quadro 8 apresenta-se além de alguns dos principais afluentes,
dados das sub-bacias e a distância da foz do afluente à nascente e à foz do São
Francisco.

Depreende-se do Quadro 7, com base nas observações da estação de Traipu, os


seguintes valores para as vazões médias do São Francisco na foz:

· média anual máxima: 5.244 m 3/s;


· média anual: 2.980 m3/s, equivalente a uma descarga anual de 94 bilhões de m 3;
· média anual mínima: 1.768 m3/s;
· máxima mensal: 13.743 m3/s, ocorrente em março; e
· mínima mensal: 644 m3/s, ocorrente em outubro.

23
Quadro 6 - Vazões Médias Mensais dos principais afluentes do rio São Francisco.
VAZÕES MÉDIAS MENSAIS DOS PRINCIPAIS AFLUENTES

Área de Período Meses Vazão


Afluente Estação Drenagem de sem Média Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Ano
registro dados (m3/s)
Km2)
Várzea Máx 1.7 973 1.118 646 394 262 215 181 157 301 664 1.411 544
56
Das Velhas da 25.940 38-75 13 Méd 631 486 437 265 172 133 112 93 89 146 318 600 292
Palma
(direita) (MG) Mín 159 115 131 101 61 71 52 43 51 57 89 122 142
Máx 181 153 169 46 23 18 16 14 14 61 201 255 57
Jequitaí Jequitaí 6.811 67-75 01 Méd 89 71 69 32 14 10 9 8 7 31 91 119 46
(direita) (MG) Mín 29 13 21 12 5 4 5 5 4 11 30 42 37
Porto Máx 2.0 1.856 2.070 1.408 623 433 342 269 233 309 801 1.727 857
50
Paracatu Alegre 41.709 52-75 30 Méd 921 849 774 485 284 231 167 134 109 178 406 691 436
(esquerda) (MG) Mín 186 167 220 147 83 81 62 55 61 68 127 160 267
Barra do Máx 927 969 849 559 278 157 122 109 99 277 554 826 325
Urucuia Escuro 24.658 55-75 19 Méd 460 439 448 306 150 99 80 63 53 128 315 490 251
(esquerda) (MG) Mín 137 125 129 122 64 51 43 35 37 31 96 185 169

Verde Boca da Máx 77 36 37 52 10 7 5 5 4 8 31 63 25


Grande Caatinga 30.174 72-75 00 Méd 57 24 19 30 9 5 4 3 3 7 24 43 19
(direita) (MG) Mín 40 14 6 17 7 4 3 3 2 4 18 16 14
Máx 278 284 293 214 159 151 136 130 127 155 239 286 181
Carinhanha Juvenília 15.832 64-78 03 Méd 178 181 181 163 134 123 118 112 109 128 172 205 150

(esquerda) (MG) Mín 122 128 112 109 109 102 100 88 97 109 126 151 125

Porto Máx 375 549 344 356 256 250 230 220 208 242 321 340 291
Corrente Novo 31.120 77-84 00 Méd 312 342 295 291 233 218 206 198 193 213 245 277 251
(esquerda) (BA) Mín 228 225 169 190 184 166 157 152 150 176 183 207 187

Máx 571 671 604 572 376 305 281 267 262 266 341 464 368
Grande Boqueirã 65.900 33-69 08 Méd 325 339 336 310 254 220 209 200 193 208 251 307 262
o
(esquerda) (BA) Mín 235 242 224 214 188 168 165 160 165 171 181 229 218

Fonte: PLANVASF

24
Quadro 7 - Vazões Médias Mensais nas principais estações fluviométricas no rio São Francisco .

VAZÕES MÉDIAS MENSAIS NAS PRINCIPAIS ESTAÇÕES FLUVIOMÉTRICAS

Área de Período Meses Vazão


Estação Drenagem de sem Média Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Ano
(Km2) Registro Dados (m 3/s)
Máx 3.245 3.857 2.952 1.499 818 581 455 353 369 587 1.518 2.291 1.147
Três Marias (MG) 49.750 38-62 01 Méd 1.508 1.417 1.194 776 463 350 287 231 216 296 616 1.153 707
Mín 258 200 331 202 130 158 116 93 93 108 234 137 320
Máx 4.006 3134 3.096 2.068 1.745 1.515 857 920 786 971 1.782 2.062 1.647
Pirapora (MG) 61.880 38-81 38 Méd 1.423 1.318 1.168 886 594 512 440 389 382 464 736 1.165 768
Mín 430 545 440 321 202 154 151 142 141 142 208 467 415
Máx 3.919 2.842 3.584 1.578 1.017 928 869 920 857 1.133 2.261 2.017 1.483
Barra do Jequitaí 90.990 63-78 04 Méd 1.909 1.580 1.250 945 655 630 626 611 631 844 1.241 1.414 1.015
(MG) Mín 687 830 494 394 373 296 288 292 255 470 534 557 683
Máx 4.419 3.384 3.928 1.949 1.256 1.301 984 946 996 1.181 2.854 4.211 1.574
Cachoeira da 107.070 59-81 16 Méd 2.225 1.849 1.647 1.130 773 705 645 603 598 792 1.310 1.419 1.132
Manteiga (MG) Mín 871 919 607 462 380 306 264 223 198 282 406 576 755
Máx 6.024 6.887 4.873 4.049 1.846 1.642 1.396 1.250 1.170 1.572 4.015 4.842 2.614
São Romão(MG) 153.702 53-81 38 Méd 3.022 2.618 2.307 1.642 1.022 882 812 712 680 980 1.638 2.385 1.520
Mín 1.017 1.127 896 613 459 380 295 233 186 301 501 699 944
Máx 9.689 8.446 7.484 7.814 2.706 1.935 1.510 1.314 1.373 1.586 4.794 7.870 3.492
São Francisco (MG) 182.537 43-81 71 Méd 3.995 3.417 3.366 2.442 1.409 1.139 960 812 750 954 1.976 3.208 2.082
Mín 1.104 1.269 1.098 882 701 557 438 359 300 331 603 972 1.344
Máx 6.924 7.814 5.524 3.413 2.154 2.077 1.560 1.403 1.442 1.794 4.454 3.573 2.937
Pedras de Maria 191.063 72-81 11 Méd 3.723 3.306 2.810 2.531 1.523 1.366 1.179 1.053 1.000 1.377 2.423 2.791 1.981
da Cruz (MG) Mín 1.222 1.434 1.202 1.013 1.083 903 879 733 707 1.088 1.320 1.541 1.454
Máx 8.002 8.817 7.912 7.070 3.522 2.349 1.903 1.520 1.273 2.006 3.492 5.954 3.781
Januária (MG) 191.700 34-70 03 Méd 4.321 3.985 3.574 2.614 1.553 1.164 981 797 703 955 1.921 3.459 2.168
Mín 1.791 1.463 1.420 1.101 614 498 417 324 260 262 493 880 1.230
Máx 8.820 10.024 6.913 7.781 3.471 2.048 1.586 1.230 1.128 1.659 4.262 6.226 3.737
Manga (MG) 200.789 32-81 84 Méd 4.087 3.678 3.283 2.554 1.428 1.073 880 722 674 902 1.837 3.259 2.050
Mín 1.180 1.335 1.210 844 712 573 425 346 332 303 481 1.037 1.188
Máx 8.883 10.207 7.532 8.163 4.347 2.312 1.807 559 1.544 1.754 3.786 6.827 4.079
Carinhanha (MG) 251.209 27-81 22 Méd 4.286 4.179 3.630 2.803 1.640 1.228 1.040 683 797 904 1.900 3.421 2.207
Mín 1.241 1.405 1.274 910 691 598 508 413 379 385 607 1.120 1.246
Máx 6.351 10.045 8.196 5.421 3.679 2.331 1.996 1.659 1.544 1.943 4.019 6.205 4.035
Bom Jesus da 273.750 77-84 00 Méd 4.888 5.814 4.549 3.742 2.149 1.794 1.521 1.342 1.285 1.552 2.293 3.611 2.878
Lapa (BA) Mín 2.947 2.130 1.382 1.540 1.265 1.104 957 789 777 1.290 1.480 1.431 1.688

VAZÕES MÉDIAS MENSAIS NAS PRINCIPAIS ESTAÇÕES FLUVIOMÉTRICAS

25
Área de Período Meses Vazão
Estação Drenagem de sem Média Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Ano
(Km2) Registro Dados (m 3/s)
Máx 5.613 11.914 11.589 4.965 2.673 2.369 1.803 1.587 1.618 1.778 2.889 4.073 4.230
Ibotirama (BA) 322.600 77-80 03 Méd 4.557 7.568 6.004 3.347 2.157 1.898 1.598 1.388 1.319 1.619 2.116 3.200 2.951
Mín 3.070 3.763 1.600 1.652 1.487 1.271 1.125 936 942 1.462 1.635 2.563 1.674
Máx 9.068 11.207 12.327 7.578 3.675 2.454 1.929 1.722 1.741 1.875 3.486 5.476 4.328
Morpará (BA) 344.800 45-79 10 Méd 4.252 4.510 4.198 3.206 1.826 1.422 1.229 1.082 1.007 1.161 1.917 3.324 2.421
Mín 1.710 1.609 1.536 1.131 904 783 702 617 555 532 749 1.249 1.513
Máx 8.698 8.949 10.747 12.717 8.425 4.156 3.079 2.556 2.165 1.926 3.669 6.128 4.665
Barra (BA) 421.400 25-77 19 Méd 4.737 4.781 4.423 3.709 2.286 1.641 1.404 1.243 1.137 1.271 2.052 3.630 2.652
Mín 1.694 1.811 1.825 1.366 1.152 975 817 740 680 696 865 1.477 1.726
Máx 7.843 9.981 12.950 8.840 8.744 3.937 2.589 2.129 2.436 2.393 3.518 5.590 4.798
Juazeiro (BA) 510.800 29-79 09 Méd 4.462 4.874 4.708 3.937 2.510 1.720 1.461 1.292 1.165 1.265 1.971 3.413 2.731
Mín 1.527 1.505 1.356 1.534 1.235 1.018 895 793 671 639 877 1.349 1.694
Máx 4.329 6.939 12.364 9.549 2.701 2.207 1.809 1.803 2.071 2.059 3.043 2.608 4.290
Petrolândia (PE) 586.700 77-79 00 Méd 3.133 4.009 5.262 4.397 2.315 1.816 1.581 1.595 1.727 1.869 2.341 2.269 2.692
Mín 1.480 1.599 1.650 1.761 1.860 1.526 1.447 1.441 1.522 1.752 1.647 1.599 1.835
Máx 8.060 11.502 12.967 9.371 9.865 5.039 3.023 2.442 2.457 2.667 3.320 5.723 5.303
Pão de Açúcar 608.900 26-79 11 Méd 4.714 5.290 5.371 4.632 3.038 2.018 1.680 1.475 1.347 1.377 1.944 3.407 3.001
(AL)
Mín 1.422 1.638 1.772 1.764 1.419 1.073 924 842 760 725 899 1.461 1.721
Máx 7.825 12.152 13.743 9.384 10.205 5.101 2.901 2.308 1.927 1.964 3.382 5.529 5.244
Traipu (AL) 622.600 38-79 07 Méd 4.534 5.224 5.400 4.646 2.941 1.990 1.662 1.461 1.313 1.339 1.882 3.311 2.980
Mín 1.487 1.705 1.705 1.750 1.501 1.108 941 804 690 644 795 1.333 1.768
Fonte: PLANVASF.

26
Quadro 8 - Características de alguns dos principais afluentes
DISTÂNCIA (KM) DA FOZ DO
COEFICIENTE DE AFLUENTE À:
VAZÃO ESPECÍFICA
AFLUENTE ESCOAMENTO
MÉDIA(L/S/KM2) NASCENTE DO FOZ DO SÃO
(%)
SÃO FRANCISCO FRANCISCO

Margem Esquerda
Paracatu 10,45 32 774 1.926
Urucuia 10,18 30 834 1.866
Carinhanha 9,47 29 1.114 1.586
Corrente 8,07 25 1.253 1.447
Grande 3,98 11 1.522 1.178

Margem Direita
das Velhas 11,26 29 675 2.025
Jequitaí 6,75 17 699 2.001
Verde Grande 0,62 - 1.075 1.625
Fonte: PLANVASF

Com relação às vazões dos afluentes (Quadro 8), registra-se que:

· há uma grande diferença, nos meses de cheias, entre a média das máximas e a
das mínimas, cuja razão atinge 11 - mês de janeiro nos rios Jequitaí e Paracatu;

· há uma relativa estabilidade nos caudais médios mensais, quando comparado o


mês de cheias com o de maior estiagem nos afluentes da margem esquerda; os
afluentes da margem direita apresentam menor estabilidade;
· o rio Grande, cuja desembocadura no São Francisco situa-se a 1.178 km da foz
deste no Atlântico, é, na prática, o último afluente permanente de vazão
significativa;

· as contribuições ao São Francisco concentram-se na metade inicial do seu curso;

· os afluentes do São Francisco, a jusante do rio Verde Grande na margem direita


e rio Grande na margem esquerda são praticamente intermitentes e situados no
Polígono das Secas. Produzem grandes torrentes e secam, condicionados pela
pluviosidade.

27
As enchentes do São Francisco são formadas pela área a montante de Pirapora,
que aporta 29%; pelo rio das Velhas, com 18%; pelo Paracatu, com 19%; e pelo
Urucuia, com 11%, totalizando 77% da bacia. Os restantes 23% correspondem aos
rios Jequitaí, Corrente, Carinhanha, Grande, Verde Grande e as demais áreas de
drenagem.

Com a finalidade de controlar parcialmente essas cheias, é mantido um volume de


espera nos reservatórios de Três Marias e de Sobradinho. A construção de
barragens nos afluentes de maior porte, notadamente nos rios das Velhas, Paracatu
e Urucuia, poderá também contribuir significativamente para a regularização do
curso principal.

Segundo o Projeto Áridas, a disponibilidade hídrica total da região Nordeste é de


97,3 bilhões de m3/ano, sendo 92,9 bilhões oriundos de águas superficiais e,
desses, 87,4 bilhões devidos a rios perenes. O São Francisco, com uma
disponibilidade de 64,4 bilhões de m3/ano, responderia por 69% da disponibilidade
de águas superficiais e por 73% da disponibilidade superficial garantida do
Nordeste, face à sua perenidade.

Ainda segundo o Áridas, a capacidade total de acumulação de água superficial do


Nordeste é de 85,1 bilhões de m3. Desses, 50,9 bilhões, ou seja, 59,8%, se
localizam no São Francisco: Sobradinho (34,1 bilhões), Itaparica (11,8 bilhões),
Xingó (3,8 bilhões) e Moxotó (1,2 bilhões). Cabe informar que Três Marias acumula
outros 21 bilhões de m 3.

As águas do São Francisco e seus principais afluentes apresentam em média, boa


potabilidade, demandando apenas tratamento convencional para abastecimento
humano, embora venham sofrendo descargas pontuais de detritos poluentes,
principalmente no rio das Velhas, que se apresenta como uma das exceções neste
aspecto, pois apresenta problemas em relação à qualidade de suas águas em boa
parte de seu leito principal.

Para irrigação, a água do curso principal é considerada ótima, tendo sido


classificada como C1S1, segundo o método do Departamento de Agricultura dos

28
Estados Unidos. Esta classificação indica baixa condutividade elétrica (sem perigo
de provocar salinização do solo) e baixa relação de absorção de sódio (sem perigo
de provocar sodificação do solo).

Os rios do estado de Minas Gerais contribuem com cerca de 2.042 m3/s,


correspondendo a 72% dos recursos hídricos. Os rios da Bahia, com
aproximadamente 610 m3/s, equivalente a 22%. Os restantes 158 m3/s ou 6%, se
distribuem entre Pernambuco, Sergipe e Alagoas.

As contribuições dos rios que nascem no Distrito Federal e em Goiás são reduzidas,
estando incorporadas às de Minas, onde esses rios encontram o São Francisco. A
vazão regularizada a partir de Sobradinho é de 2.060 m3/s. A vazão média de longo
termo1 na foz é de aproximadamente 2.810 m3/s, de acordo com a ANA e de 2.850
m3/s segundo a CHESF.

Recursos Hídricos Subterrâneos

As águas subterrâneas da bacia ocupam diferentes tipos de reservatórios, desde


zonas fraturadas do substrato geológico pré-cambriano até depósitos quaternários
recentes. Foram identificadas 9 províncias, das quais 4, com reserva aqüífera
explotável da ordem de 8,7 bilhões de m3/ano, são importantes para o
abastecimento humano e animal e para o aproveitamento hidroagrícola. Essas
reservas são apresentadas no Quadro 8 a seguir.

1
Descarga média de longo termo, ou vazão média de longo termo para um determinado local ou
posto fluviométrico, é a média aritmética da série histórica de descargas médias diárias para um
período de observação de no mínimo 30 anos. Já a vazão ou descarga firme é uma descarga com
magnitude tal que ocorre em 95% do tempo de uma série de descargas médias diárias, com um
período de observação de no mínimo 30 anos. (Jonair Mongin, SRH/MMA).

29
Quadro 9 - Províncias Hidrogeológicas da bacia do São Francisco .
Principais Províncias Hidrogeológicas
Reserva
Explotável
Província hidrogeológica Localização
(milhões de
m3/ano)
Serra da Tabatinga, entre a Serra
Coberturas Detríticas da do Estreito e o rio São Francisco,
477
Depressão São Franciscana do rio Grande até Pilão Arcado,
entre Bom Jesus da Lapa e Barra
Platô de Irecê, Alto e Médio São
Zonas Aqüíferas Cársticas 780
Francisco
Ao longo dos principais cursos
Aluviões e Dunas Litorâneas 1.630 d’água e nas proximidades da foz
do São Francisco
Sertões sergipano e alagoano,
entre o São Francisco e o Vaza
Chapadas Areníticas 5.868 Barris, nordeste da Bahia, bacias
dos rios Preto, Paracatu e Prata,
Chapada do Araripe
Fonte: CODEVASF - 20 Anos de Sucesso

As características dessas principais províncias são:

Coberturas Detríticas da Depressão São Franciscana são aqüíferos livres,


contínuos, com porosidade e condutividade hidráulica dominante intersticial,
compreendendo diferentes unidades geológicas. As espessuras são estimadas
entre 100 e 200 metros, com seção saturada média da ordem de 50 m. A recarga é
garantida pela abundante pluviometria média anual que varia entre 700 e 900 mm,
estimando-se sua taxa entre 10 e 15%. Numa caracterização geral, as águas destes
aqüíferos apresentam um caráter químico muito variável. Os valores de pH variam
de 5 a 8 e a dureza é inferior a 30 mg/l de CaCO 3. Em 75% das análises disponíveis,
são inferiores a 100 mg/l.

Zonas Aqüíferas Cársticas - este tipo de condição hidrogeológica é característico do


domínio de ocorrência da seqüência de rochas carbonatadas do Grupo Bambuí,
cuja extensão aflorante é estimada em 400.000 km2, na Bahia, Minas Gerais e
Goiás.

Aluviões são aqüíferos livres, isto é, não confinados, contínuos, com porosidade e

30
condutividade hidráulica dominante intersticial. As espessuras também variam muito,
podendo atingir 50 a 60 m. Porém, mais freqüentes com alguma importância como
aqüíferos, apresentam larguras entre 100 a 300 m, espessuras saturadas entre 5 e
10 m e níveis estáticos variando desde subaflorantes até 4-5 m de profundidade.

É importante enfatizar que a exploração do aqüífero aluvial depende, em grande


parte, das condições de operação dos mananciais de superfície, uma vez que o
fator principal de regularização e/ou ampliação é proporcionado pelo fluxo do rio ao
qual acha-se intimamente ligado.

Dunas Litorâneas são as dunas de areias litorâneas. Ocorrem de forma mais


expressiva nas proximidades da foz do rio, recobrindo sedimentos do Grupo
Barreiras sobre uma extensão aproximada de 1.350 km2. As espessuras são
desconhecidas, estimando-se a média da ordem de 15 m. A principal fonte de
recarga deste sistema aqüífero é, naturalmente, as abundantes pluviometrias cujas
médias anuais variam entre 1.200 e 1.400 mm. As taxas estimadas variam entre 0,3
e 0,5 x 106 m3/km2, ou seja, 30% da precipitação pluviométrica.

Chapadas Areníticas constituem aqüíferos livres, contínuos, de porosidade e


condutividade hidráulica dominante intersticial média e baixa. São sedimentos
arenosos médios e finos, com siltitos, argilas e conglomerados intercalados ou
misturados em proporções variadas pertencentes ao Grupo Barreiras, coberturas
aluvionares quartzosas, arenitos finos siltosos com intercalações de folhelhos,
argilitos, calcários e conglomerados, constituintes das formações Exu, Marizal,
Urucuia e Areado. Ocorrem formando chapadões delimitados por cuestas vivas e/ou
obliterados, relativamente proeminentes no relevo atual, a seguir relacionados:
Tabuleiros do Grupo Barreiras, Altiplanos das bacias Tucano-Jatobá, Planaltos do
São Francisco.

31
3.2.2. Os Biomas

A Bacia do São Francisco contempla fragmentos dos biomas: floresta Atlântica,


cerrado, caatinga, costeiros e insulares.

O cerrado cobre, praticamente, metade da área da bacia - de Minas Gerais ao oeste


e sul da Bahia, enquanto a caatinga predomina no nordeste da Bahia, onde as
condições climáticas são mais severas. Um exemplar da floresta Atlântica,
devastada pelo uso agrícola e pastagens, ocorre no Alto São Francisco,
principalmente nas cabeceiras. Margeando os rios, onde a umidade é mais elevada,
observam-se regiões de Mata Seca.

Em termos quantitativos genéricos, pode-se estimar que a ação antrópica já atingia,


em 1985, 24,8% da área da região. Deste total, as pastagens ocupavam 16,6%,
agricultura 7%; o reflorestamento, 0,9%; e usos diversos, 0,3%.

Localizado em parte da região, o polígono das secas é um território reconhecido


pela legislação como sujeito a períodos críticos de prolongadas estiagens, com
várias zonas geográficas e diferentes índices de aridez. Situa-se majoritariamente
na região Nordeste, porém estende-se até o norte de Minas Gerais. A Bacia do São
Francisco possui 58% da área do polígono além de 270 de seus municípios ali
inscritos.

O clima apresenta uma variabilidade associada à transição do úmido para o árido,


com temperatura média anual variando de 18 a 27o C , baixo índice de
nebulosidade e grande incidência de radiação solar. A pluviosidade apresenta média
anual de 1.036 mm, sendo que os mais altos valores de precipitação, da ordem de
1.400 mm ocorrem nas nascentes do Rio e os mais baixos, cerca de 350 mm, entre
Sento Sé e Paulo Afonso, na Bahia. O trimestre mais chuvoso é de novembro a
janeiro, contribuindo com 55 a 60% da precipitação anual, enquanto o mais seco é
de junho a agosto.

A evapotranspiração média é de 896 mm/ano, apresentando valores elevados entre


1.400 mm (sul) a 840 mm (norte), em função das elevadas temperaturas, da
localização geográfica intertropical e da reduzida nebulosidade na maior parte do

32
ano.

O clima da bacia é influenciado por diferentes massas de ar e condições


topográficas, apresentando baixo índice de nebulosidade e, por conseqüência, uma
grande incidência da radiação solar. Em função das elevadas temperaturas médias
anuais, da localização geográfica intertropical e da limpidez atmosférica na maior
parte do ano, a evapotranspiração potencial é muito alta, sobretudo na parte norte
da bacia.

Estes índices acompanham geograficamente a variação da temperatura, com os


maiores valores anuais no Sub-médio São Francisco, onde algumas estações
atingem 2.140 mm, descendo para 1.300 mm na zona do limite norte da bacia e um
pouco menos no extremo sul. Por sua vez, os índices relativos à evaporação mudam
inversamente e crescem de acordo com a distância das nascentes: vão de 800
milímetros anuais, na cabeceira, a 2.200 milímetros anuais em Petrolina (PE).

O elemento que mais caracteriza o clima da bacia é a pluviosidade. A conformação


das isoietas segue de perto a da topografia: de um modo geral, os seus valores
diminuem em direção ao leito do rio e, ao longo deste, de montante para jusante até
Pão de Açúcar onde começam a aumentar até a foz. Em toda a bacia há um
período seco bem marcado. Os mais altos valores de precipitação anual, da ordem
de 1.600 mm, ocorrem nas nascentes do rio e os mais baixos, cerca de 450 mm,
entre Sento Sé e Paulo Afonso.

Os índices pluviais da bacia do São Francisco variam desta maneira, entre sua
nascente e sua foz. A pluviometria média vai de 1.900 milímetros na área da Serra
da Canastra a 450 milímetros na região do semi-árido nordestino.

As principais características hidroclimáticas da bacia do rio São Francisco estão


sumarizadas no Quadro 10 para cada uma de suas regiões fisiográficas. Enquanto a
precipitação média anual na bacia é de 1.036 mm, espacialmente, a chuva anual
pode variar desde menos de 600 mm, no Semi-árido nordestino, entre Sobradinho
(BA) e Xingó (BA), até mais de 1.600 mm, nas nascentes localizadas no Alto São
Francisco, em Minas Gerais. A figura 4 mostra as isoietas baseadas nos valores
médios de precipitação anual na bacia entre 1961 e 1990.

33
A montante de Xingó (no Alto, Médio e Sub-médio), o trimestre mais chuvoso é de
novembro a janeiro, contribuindo com 53% da precipitação anual, enquanto o
período mais seco é de junho a agosto (figura 5). Porém, existe uma diferença
marcante na ocorrência do período chuvoso no Baixo São Francisco, que se
estende de maio/junho a agosto/setembro.

Quadro 10 - principais características hidroclimáticas da bacia do rio São


Francisco

Ainda relacionada ao clima, cabe destacar uma área relevante, a qual extrapola o
âmbito da bacia, que é o Semi-árido. Este é um território vulnerável e sujeito a
períodos críticos de prolongadas estiagens, que apresenta várias zonas geográficas
e diferentes índices de aridez. As freqüentes e prolongadas estiagens da região têm
sido responsáveis por êxodo de parte de sua população.

A região semi-árida ocupa cerca de 57% da área da bacia, abrange 218 municípios
na região e, apesar de situar-se majoritariamente na região Nordeste do país,
alcança um trecho importante do norte de Minas Gerais, conforme pode ser
observado na figura ???.

A cobertura vegetal da bacia contempla fragmentos de diversos biomas salientando-


se a Floresta Atlântica em suas cabeceiras, o Cerrado (Alto e Médio São Francisco),
a Caatinga (Médio e Sub-médio São Francisco) e o bioma Costeiro representado por
restingas e manguezais (Baixo São Francisco). Ocorrem, ainda, áreas de transição
entre o Cerrado e a Caatinga, as florestas estacionais decídua e semi-decídua, e os
campos de altitude.

Os estudos realizados pelo PLANVASF sobre a vegetação da bacia englobaram


uma área total de 691,0 mil km2 (69,1 milhões de ha), correspondendo à totalidade
do território dos municípios, mesmo daqueles parcialmente inseridos na bacia, e não
incluem áreas do Distrito Federal e de Goiás. Para a área assim definida, tem-se
que as terras ocupam 68,5 milhões de ha (99,1%) e que as águas internas ocupam
0,6 milhões de ha (0,9%).

34
No que se refere à vegetação natural, constatou-se um elevado grau de
dependência em relação ao clima, sendo que a topografia e a natureza do solo
também afetam a distribuição da vegetação natural, na medida em que condicionam
o volume de água retido pela terra.

Os ecótonos são as áreas de contato ou transição entre os tipos de vegetação


dominantes e perfazem 11,1% da bacia. Nas áreas antrópicas, que totalizam 24,8%,
a agricultura ocupa 7%; as pastagens, 16,6%; o reflorestamento, 0,9%; e usos
diversos, 0,3%. Os refúgios ecológicos e as áreas de conservação/preservação
perfazem 1,0%. A distribuição das terras da bacia, por Estado, com relação à
vegetação/uso atual, é apresentada no quadro 9.

Floresta Atlântica

Predominante na região úmida, apresentando-se, também, nas regiões subúmidas


secas e úmidas, ao longo dos rios e riachos, onde ocorre maior umidade do solo,
formando floresta de galerias ou mata ciliar. Ocorre, ainda, nas regiões de clima
subúmido seco e transicional para semi-árido, onde há presença de solos de alta
fertilidade. Espacialmente, cobre 8,0% da superfície da bacia, localizando-se em
Minas Gerais (Alto São Francisco) e nas faixas costeiras de Sergipe e Alagoas
(Baixo São Francisco).

Quadro 11. Formações Vegetais na bacia do São Francisco, por estado.


Vegetação/Usos da Terra (mil ha)
Vegetação/Usos MG BA PE SE AL Total %
1 – Floresta 2.983,0 2.425,6 31,0 32,0 33,0 5.504,6 8,0
2 – Cerrado 14.421,1 8.800,9 - - - 23.222,0 33,9
3 – Caatinga 589,0 8.355,7 4.875,6 368,7 335,5 14.524,5 21,2
4 - Áreas de contato 220,0 7.174,9 114,0 40,0 62,7 7.611,6 11,1
5 - Áreas antrópicas 7.413,0 5.929,0 2.096,7 374,0 1.209,8 17.022,5 24,8
5.1 – Agricultura 360,7 2.181,7 1.565,7 156,0 552,5 4.816,6 7,0
5.2 – Pastagens 6.347,7 3.638,3 523,0 218,0 657,3 11.384,3 16,6
5.3 -Reflorestamento 529,6 95,0 - - - 624,6 0,9
5.4 - Usos diversos 175,0 14,0 8,0 - - 197,0 0,3
6 - Áreas ecológicas 214,5 375,4 49,9 1,0 21,8 662,6 1,0

35
6.1 –Refúgios - 275,6 - - - 275,6 0,4
6.2 - Preservação 214,5 99,8 49,9 1,0 21,8 387,0 0,6
Total 25.840,6 33.061,5 7.167,2 815,7 1.662,8 68.547,8 100,0
Fonte: PLANVASF

Mesmo reduzida e muito fragmentada, possui uma importância social e ambiental


enorme, pois regula o fluxo dos mananciais hídricos, assegura a fertilidade do solo,
controla o clima e protege escarpas e encostas das serras. A Floresta Atlântica
possui cerca de 20.000 espécies de plantas - das quais 8.000 são endêmicas.
Abriga a maior diversidade de árvores do mundo, superando todos os valores
conhecidos da Amazônia e demais florestas tropicais no mundo.

A Floresta Atlântica possui uma grande biodiversidade de animais, além de muitos


ameaçados de extinção, como a onça-pintada, a jaguatirica, o mono-carvoeiro, o
macaco-prego, o guariba, o mico-leão-dourado, vários sagüis, a preguiça-de-coleira,
o caxinguelê, o tamanduá. Entre as aves destacam-se o jacu, o macuco, a jacutinga,
o tiê-sangue, a araponga, o sanhaço, beija-flores, tucanos, saíras e gaturamos. Os
principais répteis desse ecossistema são o teiú, jibóias, jararacas e corais
verdadeiras.

Este bioma abriga 250 espécies de mamíferos (55 deles endêmicos), 340 de
anfíbios (87 endêmicos), 197 de répteis (60 endêmicos), 1.023 de aves (188
endêmicas), além de 350 espécies de peixes (133 endêmicas). Existem mais de 20
espécies de primatas, 2/3 das quais são endêmicas. Em conjunto, os mamíferos,
aves, répteis e anfíbios que ocorrem na Floresta Atlântica somam 1.810 espécies,
sendo 389 endêmicas. Este bioma compreende, aproximadamente, 7% de todas as
espécies do planeta.

Em virtude da riqueza biológica e dos níveis de ameaça a que está submetida, a


Floresta Atlântica foi indicada por especialistas, em um estudo coordenado pela
Conservation International, como um dos hotspots mundiais, ou seja, uma das
prioridades para a conservação de biodiversidade em todo o mundo, ao lado de
outras 24 regiões localizadas em diferentes partes do planeta.

36
Cerrado

O Cerrado é a segunda maior formação vegetal brasileira, superado apenas pela


Floresta Amazônica. É uma savana tropical na qual a vegetação herbácea coexiste
com mais de 420 espécies de árvores e arbustos esparsos.

O solo, antigo e profundo, ácido e de baixa fertilidade, tem altos níveis de ferro e
alumínio. Este bioma também se caracteriza por suas diferentes paisagens, que vão
desde o cerradão (com árvores altas, em densidade maior e composição distinta),
passando pelo cerrado mais comum no Brasil central (com árvores baixas e
esparsas), até o campo cerrado, campo sujo e campo limpo (com progressiva
redução da densidade arbórea). Espécies vegetais comuns do cerrado são
barbatimão, pau-santo, gabiroba, pequizeiro, pau-terra, indaiá e buriti.

Na bacia do São Francisco a vegetação natural do Cerrado foi substituída por


pastagens e espaços agrícolas, bem como por reflorestamentos e espaços
destinados à ocupação urbana e às atividades industriais. O grande domínio original
deste tipo de vegetação, que cobre cerca de 33,9% da bacia, está localizado em
Minas Gerais e no oeste da Bahia (Alto e Médio São Francisco).

No cerrado, em área de nascentes, as matas de galeria, protetoras dos marimbus e


das “bolhas” que formam as nascentes dos afluentes, estão sendo dizimadas, assim
como o ecossistema das veredas. Os buritizais que as caracterizam estão
drasticamente diminuindo. Assim sendo, o desmatamento continua também
aumentando, agravando inclusive o assoreamento dos leitos fluviais.

Até a década de 70, cerca de 300 mil ha foram desmatados anualmente nos
cerrados de Minas, para suprir principalmente de carvão o parque siderúrgico do
Estado. Essa devastação chegou a atingir 1 milhão de ha, até que, a região já quase
totalmente desnuda, foi socorrida parcialmente com uma lei promulgada no Estado,
impondo gradativa substituição do carvão proveniente das florestas nativas por
aquele de florestas cultivadas.

A fauna do Cerrado é muito rica, destacando-se o grupo dos Insetos. Entre os


vertebrados de maior porte, citamos a jibóia, a cascavel, várias espécies de

37
jararaca, o lagarto teiú, a ema, a seriema, a curicaca, urubus, araras, tucanos,
papagaios, gaviões, o tatu-peba, o tatu-galinha, o tatu-canastra, o tatu-de-rabo-mole,
o tamanduá-bandeira e o tamanduá-mirim, o veado campeiro, o cateto, a anta, o
cachorro-do-mato, o cachorro-vinagre, o lobo-guará, a jaritataca, o gato mourisco, e
muito raramente a onça-parda e a onça-pintada.

Segundo diversos zoólogos, parece não haver uma fauna de vertebrados endêmica,
restrita ao bioma do Cerrado. De um modo geral estas espécies ocorrem também
em outros tipos de biomas.

Entre os Invertebrados, os cupins, insetos da Ordem Isoptera, são de grande


importância pela sua riqueza em gêneros e espécies, e pelo seu papel no fluxo de
energia do ecossistema, como herbívoros vorazes que são e servindo de alimento
para grande número de predadores. Os gafanhotos (Ordem Orthoptera) também
apresentam grande riqueza de espécies e significativa importância como herbívoros.

Animais característicos da região são o sapo-cururu, a asa-branca, a cotia, a gambá,


o preá, o veado-catingueiro, o tatu-peba e o sagui-do-nordeste, entre outros. São 20
as espécies ameaçadas de extinção, estando incluídas nesse conjunto duas das
espécies de aves mais ameaçadas do mundo: a ararinha-azul (Cyanopsitta spixii) e
a arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari).

Em função disso, duas áreas no estado da Bahia pertencentes à bacia do São


Francisco foram consideradas de importância biológica extrema: o Raso da
Catarina, principal área de alimentação e reprodução da arara-azul-de-lear, e
Curaçá, única área de ocorrência da ararinha azul, constituindo o local apropriado
para programas de recuperação populacional da espécie e de seu hábitat
(caraibeiras na mata ciliar).
Caatinga

A Caatinga é uma das maiores e mais distintas regiões fitogeográficas brasileiras,


compreendendo uma área aproximada de 734.478 Km2, o que representa 70% da
região Nordeste e 11% do território nacional.

38
Dentre os biomas brasileiros, a Caatinga é o menos conhecido botanicamente. Em
levantamento de 2002, foram listados para o bioma 18 gêneros e 183 espécies
endêmicas, pertencentes a 42 famílias, incluindo tanto plantas de áreas arenosas
como rochosas. As famílias com maior número de espécies endêmicas são
Leguminosae (80) e Cactaceae (41). Dessas, várias estão em perigo de extinção.

A maior diversidade da flora da Caatinga está associada às maiores altitudes,


principalmente em áreas rochosas. Entretanto, as lagoas ou áreas úmidas
temporárias, nas terras mais baixas, representam um conjunto de habitats frágeis e
ricos em espécies de plantas raras e endêmicas, extremamente ameaçados pelas
atividades da agropecuária local, constituindo-se em refúgios onde os animais de
criação são reunidos durante os períodos de seca.

Na bacia do São Francisco, a Caatinga é a vegetação das áreas de clima árido e


semi-árido, predominante nos estados da Bahia, Pernambuco e oeste de Alagoas e
Sergipe, cobrindo 21,2% do território da bacia. Fisiograficamente situa-se no Médio,
Submédio e Baixo São Francisco.

A Caatinga é um tipo de formação vegetal com características bem definidas:


árvores baixas e arbustos que, em geral, perdem as folhas na estação das secas
(espécies caducifólias), além de muitas cactáceas, que têm sistema de
armazenamento de água. Sua paisagem é formada por árvores de troncos
tortuosos, recobertos por cortiça e espinhos. As raízes cobrem a superfície do solo,
para capturar o máximo de água durante as chuvas leves. Algumas das espécies
mais comuns são a amburana, aroeira, umbu, baraúna (braúna), maniçoba,
macambira, mandacaru e juazeiro.

Especialistas apontaram 53 áreas prioritárias para conservação da flora da


Caatinga. Destas, 17 são de extrema importância, sendo recomendada proteção
integral. Oito áreas, ou 47%, se encontram relacionadas à bacia do São Francisco:
na Bahia - Serra do Curral Feio, Dunas do São Francisco em Barra e Pilão Arcado, e
Serra do Açuruá; em Pernambuco - Petrolina, Buíque e Reserva Biológica de Serra
Negra; e duas envolvendo mais de um estado - Chapada do Araripe (PE, CE e PI) e
Xingó (BA, PE, AL e SE).

39
A fauna da Caatinga é também constituída por diversos outros tipos de aves,
algumas endêmicas do Nordeste, como o patinho, chupa-dente, o fígado, além de
outras espécies de vertebrados, como o tatu-peba, o gato-do-mato, o macaco-
prego, o bicho-preguiça, o gato-maracajá, a jararaca e a sucuri-bico-de-jaca.

Existem 148 espécies de mamíferos registradas para o bioma Caatinga, com baixa
incidência de endemismos (19 espécies).

Com relação às espécies de anfíbios e répteis, os campos de dunas de Barra e


Xique-Xique e de Santo Inácio, no Médio São Francisco, foram considerados de
extrema importância biológica, pois neles concentram-se conjuntos únicos de
espécies e até gêneros endêmicos.

A Caatinga é o bioma menos conhecido do Brasil para todos os grupos de


invertebrados. Entretanto, sua heterogeneidade espacial e a singularidade de certos
ambientes permitem supor a possibilidade de a fauna de invertebrados desse bioma
ser riquíssima, com várias espécies endêmicas. É preciso, pois, aprimorar
significativamente, e o mais rápido possível, o conhecimento sobre os invertebrados
da Caatinga (Brandão e Yamamoto, in Silva et al., 2004).

Bioma Costeiro – Manguezais

O Bioma Costeiro é extenso e muito variado. O Brasil possui uma linha contínua de
costa com mais de 8 mil quilômetros de extensão, uma das maiores do mundo. Ao
longo dessa faixa litorânea é possível identificar uma grande diversidade de
ecossistemas como dunas; praias lodosas e arenosas; inúmeros estuários e
sistemas lagunares margeados por manguezais e marismas; lagoas salinas,
restingas e cordões arenosos; ilhas costeiras e oceânicas; recifes de coral; costões
e fundos rochosos, bancos de algas calcáreas, arrecifes de arenito paralelos à linha
de praias; baías e brejos; falésias.

Na foz do rio São Francisco esse bioma é representado por praias, restingas,
lagunas e, principalmente, manguezais.

O manguezal é um ecossistema particular, que se estabelece nas regiões tropicais

40
de todo o globo. Origina-se a partir do encontro das águas doce e salgada,
formando a água salobra. Nos manguezais, as condições físicas e químicas são
muito variáveis, limitando os seres vivos que ali habitam e freqüentam. Os solos são
formados a partir do depósito de siltes, areia e material coloidal trazidos pelos rios.

São muito moles e ricos em matéria orgânica em decomposição. Em decorrência,


são pobres em oxigênio. As plantas se reproduzem a partir de propágulos, que se
desenvolvem ligados à planta mãe. Esses propágulos soltam-se e dispersam pela
água, até atingirem um local favorável ao seu desenvolvimento.

Essa vegetação típica apresenta uma série de outras adaptações às condições


existentes nos manguezais. É tão especializada que se pode verificar a ocorrência
de determinadas espécies de plantas nos manguezais de todo o mundo, como é o
caso da Rizhophora mangle, conhecida vulgarmente no Brasil como mangue
vermelho. Associadas ao mangue vermelho, destacam-se a presença da
Laguncularia racemosa e Avicennia schaueriana.

Devido à grande importância econômica dos manguezais, estes ambientes são


degradados diariamente pela ação e ocupação do homem.

A região já foi considerada um grande parque de essências florestais. Durante


décadas, o Nordeste foi abastecido pelo cedro, que recobria grandes áreas de mata
seca no médio São Francisco. Enormes balsas, feitas com lastros dos próprios
toros, eram lançadas n'água. Tudo isso para abastecer as madeireiras
principalmente de Petrolina e Juazeiro e daí espalhá-lo para todo o Nordeste.

Essa espécie foi quase praticamente extinta nessa região. A aroeira, também
abundante em outras épocas, foi altamente perseguida, até que, por portaria, o
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente-IBAMA e Estados proibiram a sua
comercialização, o que ainda não impediu, de todo, a sua utilização.

Os manguezais são conhecidos como berçários, porque existe uma série de animais
que se reproduzem nestes locais. Ali, os filhotes também são criados. Os camarões
se reproduzem no mar, na região da plataforma continental. Suas larvas migram
para as regiões dos manguezais, onde se alimentam e crescem antes de retornarem

41
ao mar. Uma grande variedade de peixes costuma entrar no mangue para se
reproduzir e se alimentar, como os robalos e as tainhas. Muitas aves utilizam esse
ambiente para procriar. Podem ser espécies que habitam os mangues ou aves
migratórias, que usam os manguezais para se alimentar e descansar. São guarás,
colhereiros, garças, socós e martins-pescadores.

Ao contrário de outras florestas, os manguezais não são muito ricos em espécies,


porém se destacam pela grande abundância das populações que neles vivem. Por
isso, podem ser considerados um dos mais produtivos ambientes naturais do Brasil.

Devido à riqueza de matéria orgânica disponível, o fitoplâncton retira os sais


nutrientes da água e, através da fotossíntese, cresce e se multiplica. O zooplâncton,
alimenta-se das microalgas do fitoplâncton e de matéria orgânica em suspensão.
Larvas de camarões, caranguejos e siris filtram a água e retiram microalgas e
matéria orgânica. Pequenos peixes filtradores, como a manjuba, também se
alimentam desse rico caldo orgânico. A partir das microalgas, se estabelece uma
complexa teia alimentar.

Destacam-se ainda as várias espécies de caranguejos, formando enormes


populações nos fundos lodosos e árvores dos manguezais. Nos troncos submersos,
vários animais filtradores, tais como as ostras, alimentam-se de partículas
suspensas na água. Uma grande variedade de peixes penetra nos manguezais na
maré alta. Muitos dos peixes que constituem o estoque pesqueiro das águas
costeiras dependem das fontes alimentares do manguezal, pelo menos na fase
jovem. Diversas espécies de aves comedoras de peixes e de invertebrados
marinhos nidificam nas árvores do manguezal. Alimentam-se especialmente na
maré baixa, quando os fundos lodosos estão expostos.

Pântanos e lagoas

As regiões dos pântanos e lagoas franciscanas aonde as antas predominavam


estão sendo reduzidas. Com elas as emas, os veados, os tamanduás-bandeira, os
tatus-canastras, todos já raros e não mais encontrados, quando há bem pouco
tempo era comum serem vistos andando livres na natureza virgem. A natureza foi

42
obrigada a ceder espaço, aos trancos de grandes tratores, para que aí se
instalassem novas grandes áreas de lavoura, sem qualquer preocupação
preservadora (José Theodomiro de Araújo; A Questão Ambiental do São Francisco;
Bibliografia: “O Velho Chico, uma Paixão: Uma Coletânea de trabalhos sobre o rio
São Francisco”)

Fauna aquática

Espécies zooplânctonicas

O componente animal do plâncton de água doce constitui um conjunto diverso de


organismos com representantes de quase todos os grupos taxonômicos,distribuídos
por três grupos principais dominantes: os Rotifera, os Cladocera e os Copepoda
(Wetzel,1981).Eles são o alimento das larvas de peixes.

Especificamente no reservatório de Três Marias a porcentagem dos grupos variou


entre a época de chuva e a de seca durante o ano no estudo de Cristiane Machado
López & Edson Vieira Sampaio (2003). Copepoda foi o grupo dominante com
espécies dos gêneros: Notodiaptomus,Thermocyclops,Paracyclops e Mesocyclops.

Em seguida vem a população de Rotifera,cujos gêneros principais foram:


Brachionus, Collotheca, Conochilus, Filinia, Hexarthra, Keratella, Lecane,
Macrochaetus, Polyarthra, Ptygura, Sinantherina e Trichocerca. Entre os Cladocera
os principais gêneros observados foram: Alona, Bosmina, Bosminopsis,
Ceriodaphnia, Daphnia, Diaphanosoma, Ilyocryptus e Moina. Os gêneros de
protozoários mais observados foram: Arcella e Difflugia.

Ictiofauna da bacia do São Francisco

Excluídas as espécies diádromas (aquelas que migram entre o mar e a água doce)
são registradas cerca de 158 espécies de peixes de água doce para a bacia (Britski
et al., 1988; Sato & Godinho, 1999; Alves & Pompeu, 2001), mas novas espécies
têm sido descritas com freqüência.

43
Quadro 12. Principais espécies da ictiofauna na região do médio São
Francisco

Dourado (Salminus hilarii e Salminus brasiliensis) Peixe-cachorro (Acestrorhynchus britskii,


Acestrorhynchus lacustris)
Trairão, espécie proveniente da bacia Amazônica Jeju (Hoplerythrinus unitaeniatus)
(Hoplias cf.lacerdae)
Traíra (Hoplias malabaricus), (Steindacherina Tamoatá (Hoplosternum littoralae)
elegans)
Bagre (Rhamdia quelen), e (Cichasoma facetum) Cascudo (Pterygoplichthys etentaculatus)
Pilombeta (Anchoviella vaillanti) Mandizinho (Pimelodella cf.vittata)
Manjuba (Curimatella lepidura) Mandi-branco (Pimelodus fur)
Curimatá-pacu (Prochilodus marggravii) Mandi-amarelo (Pimelodus maculatus)
Curimatá-pioa (Prochilodus costatus) Mandi-branco( Pimelodus sp.)
Piau-verdadeiro(Leporinus obtusidens) Surubim (Pseudoplatyatoma coruscans)
Piau-gordura (Leporinus piau) Cangati (Trachelyopterus galeatus)
Piau-Três- Pintas ( Leporinus reihardti) Sarapó (Gymnotus carapo, Eigenmannia virescens)
Timburé ( Leporinus taeniatus) Mussum (Synbranchus marmoratus)
Piau-branco (Schizodon knerii) Cará (Cichlasoma sanctifranciscense)
Canivete (Characidium lagosantensis) João-Bobo (Crenicichla lepidota)
Lambari-do-rabo-amarelo (Astyanax bimaculatus) Barrigudinho (Pamphorichthys hollandi).
Lambari( Astyanax eigenmanniorum) Piaba-rapadura (Tetragonopterus chalceus)
Lambari-do-rabo-vermelho (Astyanax fasciatus) Matrinchã (Brycon orthotaenia)
Piaba (Bryconamericus stramineus, Moenkhausia Pacu (Myleus micans)
costae, Psellogrammus kennedyi, Hemigrammus
marginatus, Phenacogaster franciscoensis,
Roeboides xenodon, Orthopinus franciscensis)
Piabinha (Hyphessobrycon microtopterus e Piranha (Pygocentrus piraya)
Hyphessobrycon santae, Serrapinus heterodon,
Serrapinus piaba)
Piaba-facão (Triporteus guentheri) Pirambeba (Pygocentrus piraya)

Sete espécies, todas importantes para a pesca, foram consideradas por Sato et al.
(2003) como provavelmente migradoras de longa distância: curimatá-pacu
(Prochilodus argenteus), curimatá-pioa (Prochilodus costatus), dourado (Salminus
brasiliensis), matrinchã (Brycon orthotaenia), piau-verdadeiro (Leporinus
obtusidens), pirá (Conorhynchos conirostris) e surubim (Pseudoplatystoma
corruscans).

44
Pompeu e Godinho (2003), fizeram um levantamento sobre a ictiofauna de três
lagoas marginais localizadas no médio São Francisco (trecho entre Pirapora (MG) e
a represa de Sobradinho) indicando a ocorrência de 50 espécies de peixes,
conforme quadro 12.

A ictiofauna registrada para a bacia do São Francisco, na área de abrangência da


Caatinga, totalizou 116 espécies em 70 gêneros, merecendo destaque a
extraordinária diversidade de peixes anuais da família Rivulidae, sem paralelo em
outras regiões, e que atinge 24 espécies.

Em relação à fauna de peixes da Caatinga, as 4 áreas consideradas por


especialistas como de importância extrema para preservação estão localizadas na
bacia do São Francisco: Itacarambi em Minas Gerais e Guanambi, Bom Jesus da
Lapa e Ibotirama na Bahia. A importância dessas áreas se relaciona ao elevado
número de espécies, à presença de ambientes especiais como cavernas ou poças
temporárias, ou ao alto número de espécies de interesse econômico.

Várias espécies de peixes foram introduzidas na bacia e hoje apresentam


populações estabelecidas. A grande maioria dessas ocorreu ao longo da última
década no rastro do desenvolvimento aquícola. A presença de tucunaré (Cichla
spp.), corvina (Plagioscion squamosissimus), carpa (Cyprinus carpio), bagre-africano
(Clarias gariepinnus), tambaqui (Colossoma macropomum), tilápia (Oreochromis sp.
e Tilapia sp.), entre outras, é mencionada por Sato & Godinho (1999).

Segundo dados de Sato et alli.(2004), foram identificadas 126 espécies de peixes no


alto São Francisco, 61 espécies dentro do reservatório de Três Marias e 13
espécies exóticas. O tucunaré Cichla temensis (Humboldt,1840) originário da bacia
Amazônica, foi introduzido em 1979 e começou a aparecer na pesca a partir de
1985. Fazem a reprodução artificial em cativeiro do pacamã (Lophiosilurus
alexandri), do dourado (Salminus spp), do surubim (Pseudoplatystoma coruscans),
do Curimbatá-pacu (Prochilodus marggravii) e Curimatá-pioa (Prochilodus costatus)
e do matrinchã (Brycon lundii).

Na região do Baixo São Francisco, em estudos realizados por Costa et al., foram
encontradas 47 espécies, sendo 33 de água doce e 14 marinhas/estuarinas,

45
conforme quadro 13.

Quadro 13. Espécies localizadas na região do Baixo São Francisco

Dulcícolas
Apaiari Astronouts ocellatus Aragu Steindacherina elegans
Cará Cichlasoma sp. Carí Hypostomus commersonii
Carpa Cyprinus carpio Cumbá Parauchenipterus gaeatus
Curimatá Prochilodus costatus, Prochilodus Curvina-branca Pachyurus franccisci
sp.
Curvina Pachyurus squamipinnis Lambiá Acestrorhyncus lacustris
Mandi-amarelo Pimelodus maculatus Ninquim Lophiosilurus alexandri
Pacamão Psieudopimelodus zungaro Pacu Myleus micans
Pescada-do-piauí Plagioscion Piau-três-pintas Leporinus sp
squamosissimus
Piau-preto Leporinus piau Piau-branco Schinzodou knerii
Pirambeba Serrasalmus brandii Piranha-preta Serrasalmus rhombeus
Piranha-vermelha Serrasalmus piraya Robalo Centropomus pectinatus
Sarapó Sternopygus macrurus Surubim Pseudoplatystoma coruscans
Tambaqui Colossoma macropomum Tilápia Oreochromis niloticus
Traíra Hoplias malabaricus Tubarana-branca Salminus hilarii
Tucunaré Cichla ocellaris, Cichla sp. Xira Prochilodus argenteus
Marinhas/estuarinas
Agulha Hyporhamphus sp. Bagre Selenaspis herzbergii
Bagre Bagre sp. Cabeça-de-coco Stellifer sp.
Camurim Centropomus paralellus Camurupim Tarpon atlanticus
Caranha Lutjanus sp. Carapeba Eurreges brasiliensis
Carapicu Geres sp. Curimã Mugil brasiliensis
Pilombeto Anchoviella lepidentostole Robalo Centropomus pectinatus
Tainha Mugil sp. Xareú Caranx sp.

46
3.2.3. Áreas Protegidas

São espaços territoriais destinados à proteção e manutenção da diversidade


biológica, e de seus recursos naturais e culturais associados, criadas ou
reconhecidas por meio de instrumentos legais.

O Ministério do Meio Ambiente reconhece como Áreas Protegidas as Unidades de


Conservação, as Terras Indígenas, as Reservas Legais e as Áreas de Preservação
Permanente, uma vez que todas desempenham um importante papel na
conservação da biodiversidade.

Unidades de Conservação

Dentre as áreas protegidas reconhecidas pelo MMA, as unidades de conservação,


em virtude de suas características especiais, estão sendo tratadas estrategicamente
dentro do Programa de Revitalização da bacia do Rio São Francisco, tendo em vista
que as mesmas têm demonstrado ao longo dos tempos, serem uma importante
ferramenta na proteção, conservação e manejo dos recursos naturais, além de
proporcionar oportunidades de negócios sustentáveis, aliados ao crescimento
econômico, a geração de emprego e renda e a proteção de nossos recursos
naturais.

No Brasil as unidades de conservação são divididas em dois grandes grupos:

USO SUSTENTÁVEL, formada pelas Áreas de Proteção Ambiental, Áreas de


Relevante Interesse Ecológico, Florestas Nacionais, Reservas Extrativistas,
Reservas de Desenvolvimento Sustentáveis, Reservas de Fauna e Reservas
Particulares do Patrimônio Natural; e

PROTEÇÃO INTEGRAL, formadas pelos Parques Nacionais, Reservas Biológicas,


Estações Ecológicas, Refúgios de Vida Silvestre e Monumentos Naturais.

As Unidades de Conservação de Uso Sustentável têm por objetivos compatibilizar a


conservação da natureza com a utilização sustentável dos recursos naturais; e as de
Proteção Integral têm por objetivo básico a preservação da natureza, permitindo

47
apenas o uso indireto (caminhadas, banhos, lazer e educação ambiental) dos
recursos naturais.

Quatro dos sete principais biomas nacionais ocupam áreas significativas da bacia:
Floresta Atlântica, Cerrado, Caatinga e Costeiro. Por essa razão o rio São Francisco
também é considerado como o Rio dos Biomas Nacionais, com destaque para a
Caatinga, por ser um bioma essencialmente brasileiro.

Apesar dessa diversidade, de um modo geral, a bacia do rio São Francisco


apresenta um reduzido número de Unidades de Conservação, tanto de proteção
integral, quanto de uso sustentável, conforme apresentado na Figura 13.

Figura 13 - Unidades de Conservação

Preocupado com o pequeno percentual de áreas protegidas, localizadas nos Biomas


inseridas dentro da bacia do rio São Francisco, o Governo Brasileiro pretende ao
longo da execução desse Programa de Revitalização, ampliar o número de unidades
de conservação nessa área, visando proteger no mínimo 10% de cada um dos
biomas (Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga e Costeiro).

Atualmente o MMA e o IBAMA em articulação com OEMAS, ONGs, Comitês de


bacias, Instituições Públicas e Privadas, no âmbito do Programa de Revitalização da
bacia do Rio São Francisco, vêm identificando as áreas com potencial de serem
transformadas em Unidades de Conservação. O resultado desse trabalho definirá as
áreas dentro de cada bioma que poderão se tornar unidades de conservação.

Em relação ao bioma Caatinga a área alterada por atividades antrópicas é superior


aos 28% estimados através de mapa produzido pelo IBGE em 1993. Esse
percentual faz da Caatinga o terceiro bioma brasileiro mais alterado pelo homem.
Apesar das ameaças à sua integridade, apenas 1,6% da Caatinga está protegida
em Unidades de Conservação de proteção integral.

A fragmentação de habitats é o maior problema, levando às seguintes


recomendações para preservar o bioma:

48
 criação de novas Unidades de Conservação no centro de grandes áreas
nucleares de vegetação original, ainda existentes entre as áreas alteradas; e

 criação de pelo menos uma grande UC, de tamanho apropriado (com área
mínima de 250.00 ha), em cada “ilha” de vegetação nativa pouco alterada.

Especialistas identificaram 27 áreas de caatinga de extrema importância biológica.


Destas, 7 se localizam na bacia do São Francisco, com destaque para a área do
médio São Francisco. Essa área abrange duas unidades de conservação: a APA
das Dunas e Veredas do Médio São Francisco e a APA da Lagoa de Itaparica.

A biota dessa região é extremamente rica em endemismos de diferentes grupos


taxonômicos: plantas, lagartos mamíferos e vários grupos de artrópodes como
aranhas, pseudoescorpiões, besouros, formigas e abelhas. Essa área é, portanto,
prioritária para a criação de uma extensa unidade de conservação de proteção
integral.

Quanto ao Bioma Costeiro, na bacia do São Francisco, no estado de Sergipe,


merece destaque o Pantanal Nordestino. Com 40 km2 (4.000 ha), o pantanal é a
maior área alagada do Nordeste. Localizado no município de Pacatuba, reúne uma
biodiversidade elevada, conjugando na mesma região manguezais, dunas, mar,
Mata Atlântica de restinga e uma fauna muito rica, formada por lontras, capivaras,
jacarés de papo amarelo e mais de 100 espécies de aves. Um verdadeiro berçário
da vida marinha, banhado pelas águas límpidas do rio Poxim ou Betume, último
afluente da margem direita do São Francisco. É também um santuário ecológico de
aves migratórias.

Além do mangue, a restinga é abundante em cajueiros, mangabeiras, mandacarus e


bromélias. O município vizinho de Pirambu abriga uma das bases do Projeto Tamar
e a Reserva Ecológica de Santa Isabel, que ocupa uma área de 2.776 hectares.

49
3.2.4. Eventos Críticos

Na bacia do São Francisco, os principais eventos hidrológicos críticos são as


enchentes e as secas. As enchentes ocorrem no Alto São Francisco, principalmente
nas sub-bacias do Pará e das Velhas, e no Médio, nas sub-bacias do Verde Grande
e Paracatu. Atingem a Região Metropolitana de Belo Horizonte e as cidades de
Divinópolis, Itaúna, Montes Claros, Pirapora, Januária e Manga.

As secas ocorrem principalmente no Médio e Sub-médio São Francisco, provocando


perdas na produção agrícola, aumentando o êxodo rural e agravando o crescimento
urbano.

Enchentes

O período de dezembro a março é o mais crítico em relação à ocorrência de


enchentes na bacia do São Francisco. É nesta época que se intensificam os
procedimentos para controle de cheias, em particular a operação dos reservatórios e
os sistemas de alerta. Dentre as principais cheias ocorridas na bacia do rio São
Francisco, estão as de 1919, 1925, 1943, 1946, 1949, 1979, 1983, 1992 e 2004.

A Figura 10 mostra a distribuição da ocorrência de inundação na bacia, para o


biênio 1998-1999. A ocorrência de inundações ou enchentes na bacia do rio São
Francisco revela uma maior incidência no estado de Minas Gerais, seguido pelos da
Bahia e Pernambuco e os da região do baixo São Francisco.

Segundo o IBGE (2000), os principais agravantes das enchentes nos municípios são
principalmente o desmatamento, a degradação da cobertura vegetal ou, nas áreas
urbanas, a obstrução de dispositivos de micro-drenagem, o dimensionamento
inadequado de obras e projetos, o adensamento populacional e outros fatores
agravantes como a ocupação irregular das áreas de proteção ambiental.

Figura 10 - distribuição da ocorrência de inundação na bacia

50
Os principais problemas de enchentes na bacia estão ligados aos seguintes
componentes:

· contínuos processos de desmatamentos, degradação da cobertura vegetal e


ocupação irregular de áreas de proteção ambiental;

· urbanização. Este é o tipo comum de enchentes que ocorre na região do Alto São
Francisco;

· ocupação do leito maior dos rios. O problema é agravado porque muitas das sub-
bacias do rio São Francisco são compostas por rios intermitentes, que têm seus
vales utilizados por pequenos agricultores. Grandes períodos sem ocorrência de
enchentes são suficientes para encorajar a ocupação das várzeas de inundação
com cultivos e habitações, o que ocasiona prejuízos e impactos aos moradores
por ocasião das chuvas.

Das barragens presentes na bacia, apenas Três Marias, Queimados e Sobradinho


têm função de controle de cheias, por possuírem volume útil capaz de amortecer
grandes afluências. O controle de cheias, em Itaparica, se dá apenas por sua
restrição de nível máximo a montante, devido a possíveis inundações na cidade de
Belém do São Francisco. No período de risco de cheias é realizado um
deplecionamento prévio do lago, de forma a evitar que o remanso criado cause
transtornos à população.

Na prática, na bacia do São Francisco, o controle das enchentes é feito através de


medidas não estruturantes, aproveitando as grandes barragens de usos múltiplos,
operadas pelo setor elétrico, para amortecimento das cheias, aliado à construção de
diques longitudinais para proteção das comunidades ribeirinhas. No Médio, parte do
Sub-médio e Baixo São Francisco, as enchentes são controladas pelos reservatórios
das usinas de Três Marias e Sobradinho.

Em geral, esses reservatórios conseguem reter volumes de água afluentes, de


acordo com a programação de seus respectivos volumes de espera.

As principais medidas estruturantes para a prevenção de inundações das áreas

51
urbanas, ao longo da calha principal do rio São Francisco, foram executadas logo
após a cheia de 1979, abrangendo cidades localizadas ao longo do leito do rio, a
saber: Pirapora, São Francisco, Januária, Bom Jesus da Lapa, Xique-Xique,
Juazeiro, Petrolina, Propriá e Penedo. As obras consistiram na construção de diques
de terra e/ou muros de alvenaria de pedra ou de concreto armado para defender as
zonas urbanas contra os transbordamentos do rio São Francisco até o nível atingido
pelas águas em 1979.

Essas obras foram complementadas por um sistema de drenagem interior,


constituído de canais, galerias e lagoas de acumulação. O Operador Nacional do
Sistema (ONS) publica regularmente três relatórios importantes para a operação dos
reservatórios visando o controle de cheias, que são: o Inventário das Restrições
Operativas Hidráulicas dos Aproveitamentos Hidrelétricos; o Plano Anual de
Prevenção de Cheias, e Diretrizes para as Regras de Operação de Controle de
Cheias.

Desta forma, ficam impostas restrições de vazão máxima efluente dos reservatórios,
é realizada a alocação de volume de espera nos reservatórios para amortecimento
de cheias, e são definidas as regras de operação em situação de cheias. No
controle de cheias, têm papel fundamental os órgãos integrantes do Sistema
Nacional de Defesa Civil – SINDEC. - Fonte: ANA/SPR, 2004

Secas

O primeiro registro de seca no Nordeste remonta a 1559, segundo narra o livro


História da Companhia de Jesus no Brasil, do Padre Serafim Leite, citado por
Guerra (1951).

No século XX, segundo o Projeto ÁRIDAS (1995), os anos de seca mais expressivas
no Nordeste foram: 1915, 1919, 1930-1932, 1942, 1970, 1976, 1979-1983, 1987-
1988. A análise da ocorrência de secas feita pelo Projeto Áridas, excluindo-se os
séculos XVI e XVII, observa-se que no total de 294 anos ocorreram 71 secas, entre
totais e parciais. Isso significa que pelo menos uma área do Nordeste é atingida por
uma seca a cada 4 anos e que na parte menos vulnerável da região, acontece uma
seca a cada 5 anos.

52
Quanto à secas com abrangência no semi-árido da bacia a freqüência é de uma em
cada 16 anos.

O fenômeno seca ocorre em toda a bacia em épocas e regiões diferentes, devido ao


atraso do início da estação chuvosa ou aos longos períodos de estiagens, muitas
vezes superiores a 15 dias, denominados veranicos. Esta última ocorrência é mais
comum no Alto e Médio São Francisco, no domínio do bioma cerrado.

No Semi-árido, a seca provoca sérios danos, por conta da vulnerabilidade da região.


A seca no Semi-árido é um fato normal e cíclico e para o qual se deve
principalmente buscar meios adequados para convivência com este fenômeno
natural, pela utilização racional de seus recursos naturais ou pelo desenvolvimento e
aplicação de tecnologias próprias.

Semi-Árido

O Semi-Árido corresponde a uma das seis grandes zonas climáticas do Brasil, e


caracteriza-se basicamente pelo regime de chuvas, definido pela escassez,
irregularidade e concentração das precipitações pluviométricas num curto período
de cerca de três meses, durante o qual ocorrem sob a forma de fortes aguaceiros,
de pequena duração; tem a Caatinga como vegetação predominante e apresenta
temperaturas elevadas.

Abrange as terras interiores à isoieta anual de 800 mm e situa-se, majoritariamente,


na região Nordeste, estendendo-se até o norte de Minas Gerais, ou seja, até o que
foi legalmente definido como pertencente ao Polígono das Secas.

De acordo com informações levantadas no Programa de Ação Nacional de Combate


à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca – PAN BRASIL, a partir de 1989,
por força das orientações estabelecidas na Constituição Federal de 1988, a Região
Semi-Árida do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste – FNE passou a
corresponder à área oficial de ocorrência de secas no Nordeste. Sua delimitação
esta definida pela Lei nº 7.827, de 27/09/1989, que instituiu o FNE.

53
Atualmente, a superfície da Região Semi-Árida do FNE é de 895.254,40 km2, e
compreende espaços com precipitação pluviométrica média anual igual ou inferior a
800 mm.

Já o Polígono das Secas é um território reconhecido pela legislação como sujeito a


períodos críticos de prolongadas estiagens. Trata-se de uma divisão regional
efetuada em termos politico-administrativos e não corresponde à zona semi-árida,
pois apresenta diferentes zonas geográficas com distintos índices de aridez, indo
desde áreas com características estritamente de seca, com paisagem típica de
semi-deserto a áreas com balanço hídrico positivo.

Situa-se, majoritariamente, na região Nordeste, porém estende-se até o norte de


Minas Gerais. Cerca de 58% da bacia está incluída no Polígono das Secas: áreas
estaduais de Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Bahia (exceto a parte ocidental da
Área-programa oeste Baiano) e a Área de Montes Claros e Janaúba em Minas
Gerais.

De acordo com informações do Plano Decenal da bacia, parte da bacia está inserida
no Semi-árido Brasileiro, território vulnerável e sujeito a períodos críticos de
prolongadas estiagens, que apresenta várias zonas geográficas e diferentes índices
de aridez. A região do semi-árido abrange 57% da área total da bacia,
compreendendo 218 municípios.

Portanto, na bacia do São Francisco, partes do Médio e Baixo e todo o Sub-médio


estão no semi-árido, que é uma área de limitada disponibilidade hídrica, com rios
intermitentes (Figura 11), e suscetível às secas.

Figura 11 - partes do Médio e Baixo e todo o Sub-médio estão no semi-árido

A principal característica da região semi-árida da bacia é o baixo volume precipitado


médio (<800 mm/ano). Ocorre também uma grande variabilidade espacial e
temporal das chuvas, onde no quadrimestre chuvoso, acontece a maior parte da
precipitação, ficando o restante do ano praticamente sem chuva.

Além da variabilidade dentro do ano, também há grandes diferenças de

54
precipitações de um ano para outro, ocorrendo chuvas, acima da média, em uma
grande seqüência de anos, seguidos de anos com pouco volume precipitado,

ocasionando as secas prolongadas. Assim, o problema comum de secas na bacia


do São Francisco está mais relacionado com a distribuição irregular das chuvas do
que propriamente com a falta das mesmas.

Outro fator climático característico da região semi-árida é a alta taxa de evaporação,


cuja média na região fica em torno dos 2.000 mm anuais. Com isso, a perda de
água potencial para atmosfera será sempre maior que a precipitação. Esse
fenômeno é o principal responsável pelo esvaziamento dos açudes de pequeno
porte na região.

Um terceiro componente responsável pela aridez da região é a baixa capacidade de


retenção de água nos interstícios do solo. Praticamente toda a bacia no Semi-Árido
está situada sobre a base cristalina, com uma formação de solos rasa e submetida a
uma elevada taxa de evaporação, o que faz com que não exista praticamente
nenhum armazenamento de água no solo. A exceção ocorre em algumas manchas
sedimentares que dão origem a alguns aqüíferos.

A água subterrânea no Semi-Árido se dá nas fissuras, onde boa parte dos poços da
região está instalada, ou nas formações sedimentares dos leitos dos rios (aluviões).

É justamente nas regiões do Médio e Sub-médio que estão localizadas a maior


demanda de água, para a aplicação na agricultura irrigada e para a produção de
energia. Excetuando-se uma faixa de aproximadamente 3 km em torno da calha
principal do rio São Francisco, todo o restante da bacia inserido na região Semi-
Árida apresenta os mesmos problemas de água do restante do Nordeste Brasileiro.
Esse fato reflete uma característica própria do rio São Francisco que é a presença
de um expressivo volume de água, atravessando uma região semi-árida, onde a
maioria dos rios é intermitente.

O desenvolvimento socioeconômico da região semi-árida é negativamente


influenciado pelas adversidades climáticas, que têm gerado, com freqüência,
episódios de seca de média e longa duração. Aliada às adversidades climáticas,

55
ressalta-se a inexistência de uma política eficiente e continuada de gestão dos
recursos naturais da região. Esses aspectos têm contribuído sensivelmente para
aumentar a vulnerabilidade do Semi-árido brasileiro, com graves conseqüências
para a população, trazendo prejuízos econômicos e sociais.

Com o objetivo de diminuir o efeito da variação da precipitação, procurou-se, ao


longo dos anos, construir reservatórios de acumulação superficial, fazendo com que
o semi-árido nordestino seja uma das regiões com a maior quantidade de
barramentos do mundo.

No entanto, a maioria dos açudes construídos é de pequeno porte, não sendo capaz
de suportar grandes períodos de estiagem. Com isso, nos períodos críticos, em que
as precipitações ocorrem abaixo da média por mais de um ano, os únicos locais em
que se tem água superficial na região são nos grandes reservatórios (ou
reservatórios plurianuais) e no próprio curso do rio São Francisco.

Um aspecto que difere as bacias do Nordeste, incluindo-se as pertencentes à bacia


do São Francisco, das outras zonas semi-áridas do mundo é o seu alto grau de
povoamento (sendo considerada a “região semi-árida mais povoada do mundo”), e a
distribuição espacial da população que se espalha por toda bacia de modo mais ou
menos homogêneo, excetuando-se os grandes aglomerados urbanos. Esta
dispersão dos habitantes dentro da bacia dificulta o atendimento de água para
satisfazer as necessidades mínimas da população.

É necessário também melhorar os sistemas de água, esgoto e coleta de lixo das


localidades no semi-árido. A situação é mais crítica na zona rural e nos pequenos
municípios, em que o abastecimento de água, nas épocas de estiagem mais severa,
só é garantido através de carros-pipa. Tendo em vista o contexto da região, é
preciso criar alternativas de melhoria das condições de vida dos cidadãos levando
em consideração as suas peculiaridades. Alternativas tradicionais de abastecimento
de água não são viáveis, para a população difusa na bacia, devido aos elevados
custos.

Portanto, deve-se recorrer a tecnologias alternativas, com participação social,


adaptadas à realidade local de modo a garantir um suprimento de água confiável à

56
população rural local, como por exemplo, sistemas simplificados de abastecimento
de água, dispositivos para coleta de água da chuva, cisternas rurais, poços
tubulares e cacimbas.
3.2.5. Solos

No Alto, Médio e Sub-médio São Francisco predominam solos com aptidão para a
agricultura irrigada: latossolos e podzólicos. Esses tipos de solo requerem o uso
intensivo de adubação e, em muitos casos, a correção de sua acidez.

Entre o Sub-médio e o Baixo São Francisco, os solos potencialmente irrigáveis são


proporcionalmente pouco extensos, predominando solos de menor aptidão para a
agricultura: (1) os brunos cálcicos são rasos e suscetíveis à erosão; (2) as areias
quartzosas e os regossolos apresentam textura grosseira com taxas de infiltração
muito altas e fertilidade baixa; e (3) os planossolos e os solonetz solodizados
contêm elevados teores de sódio.

No Baixo São Francisco predominam os solos podzólicos, latossolos, hidromórficos,


litossolos, areias quartzosas e podzóis, dos quais apenas os três primeiros são
agricultáveis, porém existem adversidades relacionadas às condições topográficas e
de drenagem.

Pode-se, genericamente, dividir a ocorrência dos solos da bacia em três zonas


básicas, que estão intimamente relacionadas com o clima, rocha matriz, vegetação e
relevo.

A área de predominância absoluta de latossolos e podzólicos fica na zona


compreendida entre as cabeceiras do São Francisco até Santa Maria da Boa Vista,
pela margem esquerda, e Juazeiro, pela margem direita. Verifica-se, ainda, a
ocorrência de areias quartzosas, cambissolos e litossolos, sendo estes dois últimos
mais expressivos ao sul desta zona e nas áreas montanhosas do trecho mineiro. Os
solos que apresentam boa aptidão agrícola são os latossolos, os podzólicos e os
cambissolos, estes quando profundos.

A partir daqueles limites até Porto Real do Colégio, verifica-se uma mudança brusca
não só dos solos, como também do clima, vegetação e material geológico. Na

57
margem esquerda, as manchas de solos são mais uniformes e apresentam menor
número de grandes grupos, predominando os brunos não cálcicos, regossolos,
litossolos, areias quartzosas e, somente após Paulo Afonso, grandes manchas de
planossolos.

Na margem direita, as manchas são entrecortadas entre si e menores, ocorrendo,


principalmente, planossolos, areias quartzosas, brunos cálcicos, litossolos,
podzólicos, vertissolos, cambissolos e solonetz solodizados. É nesse trecho onde os
recursos de solos são mais escassos. Os solos irrigáveis são pouco extensos,
sendo os vertissolos, podzólicos, latossolos e alguns cambissolos, os principais.

No curso inferior do rio, tem-se nova fisiografia e diferentes potenciais em recursos


de solos. Portanto, neste trecho predominam os podzólicos, latossolos, litossolos,
areias quartzosas, podzólicos e os hidromórficos. Os latossolos e os podzólicos se
situam em tabuleiros elevados, limitando a implantação da agricultura irrigada. Os
hidromórficos, situados em várzeas inundáveis, se constituem no maior potencial
agrícola do Baixo São Francisco, excetuando-se as unidades que apresentam
problemas químicos.

Margeando todo o rio e seus afluentes encontra-se a faixa de solos aluviais, cuja
utilização agrícola requer estudos detalhados, pela possibilidade de inundação. A
porção semi-árida da bacia, localizada nas regiões do Médio, Sub-médio e parte do
Baixo São Francisco apresenta risco de salinização, em graus variando de muito
alto a médio. No Alto, o risco de salinização vai de nulo a baixo, em razão dos solos
serem mais profundos, bem drenados e a precipitação pluviométrica ser mais
elevada.

Sedimentos na coluna d’água

A ocorrência de concentração de sedimentos em suspensão na bacia é mostrada na


Figura 12. De acordo com as medições feitas em 2001 pelo Projeto, a descarga de
sedimentos na foz foi de apenas 0,41 milhão de toneladas/ano, ocorrendo uma
redução de 97% quando comparada com as medições realizadas pela Codevasf no
período de 1966/1968, que foram de 12,5 milhões de t/ano. A maioria das áreas da
bacia apresenta declividade inferior a 6%, havendo uma predominância de

58
declividades inferiores a 2%. Esta situação reduz os riscos de erosão e é bastante
favorável à irrigação.

Figura 12 - concentração de sedimentos em suspensão na bacia

Os afluentes que mais contribuem no fluxo de sedimentos em suspensão são: rio


das Velhas (17%), Paracatu (17%) e Urucuia (18%). O rio Paraopeba, apesar de
contribuir com 4% da vazão, é responsável por 11% do fluxo médio total de
sedimentos em suspensão do São Francisco no reservatório de Sobradinho. O rio
Grande, Corrente e Carinhanha (localizados no estado da Bahia), apesar de serem
importantes para a vazão, contribuem pouco em relação ao fluxo total de
sedimentos com 1%, 2% e 2% respectivamente (Embrapa Cerrado, 2001).

Um fenômeno vem ocorrendo na foz do rio desde que este perdeu parte dos
materiais em suspensão, pela contenção sofrida após vários barramentos
sucessivos de sua calha. Antes, no período de baixa vazão, o oceano acumulava
areia junto à foz, e o rio, num ato de autodrenagem, empurrava para o oceano os
sólidos acumulados, quando do período de cheias. Deixando essas de existirem, a
acumulação se tornou regressiva, fazendo com que o oceano rebata no continente,
já havendo destruído o povoado de Cabeço, vários manguezais e invadido o farol ali
existente, que se inclina como a torre de Pisa.

Por outro lado, devido ao desmatamento os rios da bacia estão entulhados de novas
áreas de acúmulo de sedimentos. Em todo os percursos das águas na bacia, os
bancos de areia são vistos, aumentando as áreas de risco no leito, dificultando a
navegação. São cerca de 18 milhões de toneladas de material sólido depositados
anualmente na planície do médio São Francisco (José Theodomiro de Araújo; A
Questão Ambiental do São Francisco; Bibliografia: “O Velho Chico, uma Paixão:
Uma Coletânea de trabalhos sobre o rio São Francisco.”).

59
3.3. Caracterização socioeconômica

A bacia hidrográfica do rio São Francisco possui acentuados contrastes


socioeconômicos, abrangendo áreas de acentuada riqueza e alta densidade
demográfica e áreas de pobreza crítica e população bastante dispersa. A população
urbana representa 74,4%. A densidade demográfica média na bacia é de 20,0
hab/km2. Do total de 505 municípios, 451 têm sede na bacia.

O quadro 14 resume algumas características socioeconômicas da bacia.


Com base em dados do IBGE (Censo Demográfico, 2000), os seguintes aspectos
socioeconômicos podem ser evidenciados:

· população total da bacia (13.297.955 habitantes) encontra-se distribuída de forma


heterogênea nas regiões fisiográficas: Alto São Francisco (48,8%). Médio São
Francisco (25,3%), Submédio São Francisco (15,2%) e Baixo São Francisco
(10,7%);

· população predominantemente urbana: 50% da população da bacia vivem em 14


municípios com população urbana maior que 100.000 habitantes, localizados nos
seguintes Estados: Minas Gerais (Belo Horizonte, Contagem, Betim, Montes
Claros, Ribeirão das Neves, Santa Luzia, Sete Lagoas, Divinópolis, Ibirité e
Sabará); Bahia (Juazeiro e Barreiras), Alagoas (Arapiraca) e Pernambuco
(Petrolina);

· 90% do total dos municípios é de pequeno porte, com população urbana inferior a
30.000 habitantes;

· Região Metropolitana de Belo Horizonte – RMBH está localizada no Alto São


Francisco, polarizada pela capital do Estado de Minas Gerais. Com 26
municípios, área de 6.255 km2 e representando menos de 1% de toda a bacia,
concentra mais de 3.900.000 habitantes, correspondendo à cerca de 29,3% da
população de toda bacia (IBGE,2000);

· população rural corresponde a 25,6% do total;

60
Quadro 14. Características socioeconômicas da bacia do rio São Francisco,
por região fisiográfica
BAIXO E ZONA
CARACTERÍSTICAS ALTO MÉDIO SUB MÉDIO COSTEIRA
ADJACENTE

Saneamento básico,
% de domicílios 84 68 61 54
Abastecimento

Rede de esgoto % 52 12 26 19

Tratamento de
6 1 17 1
esgoto %

1.243 entre
Pirapora e
Petrolina/Jua
zeiro
104 no 60 entre
148 de Belo
Vias navegáveis - Paracatu Piranhas e Belo
Monte à foz
(Km) Monte
155 no
Corrente
351 no
Grande

100% de
algamatolito e
cádmio
Reservas minerais, 60% de chumbo
% das reservas 75% de enxofre e 60% de cobre - -
nacionais zinco 30% de
30% de dolomito, cromita
ouro, ferro, calcário,
mármore e urânio

Sobradinho
Principais (1.050)
Três Marias (396) Paulo Afonso I,
barragens Panderos
Rio das Pedras (9,3) II, III e IV (3.986)
hidrelétricas (4,2)
Cajuru (7,2) Moxotó (440) -
(potencial de Correntina
Queimados (10,5) Itaparica (1.500)
produção de (9,0) Rio das
Parauna (4,1) Xingó (3.000)
energia, MW) Fêmeas
(10,0)

Área irrigada, ha. - 162 407 156 504 14 399

Área irrigada, % - 48,9 46,9 4,2

Agricultura, Agricultura,
pecuária, Agricultura,
Principais Indústria, pecuária,
indústria e pecuária e
atividades mineração e agroindústria,ge
aqüicultura pesca/aqüicultur
econômicas pecuária ração de energia
a
e mineração

IDH 0,549 a 0,802 0,343 a 0,724 0,438 a 0,664 0,364 a 0,534

Fonte:

61
· região do semi-árido abrange 57% da área total da bacia, com cerca de 361.825
km2, compreendendo 218 municípios e mais de 4.737.294 habitantes, sendo
52,4% população urbana e 47,6% rural;

· no semi-árido, apenas 3 municípios possuem população urbana com mais de


100.000 habitantes: Juazeiro (BA), Petrolina (PE) e Arapiraca (AL).

62
3.3.1. Uso e ocupação do solo

A bacia do rio São Francisco é estratégica para o desenvolvimento de vasta região


do Brasil e tem merecido constante atenção governamental, sendo alvo de
crescentes demandas da sociedade local. Desde sua descoberta em 1501, o rio São
Francisco é submetido a uma ocupação desenfreada, impulsionada principalmente
pelos aspectos econômicos, começando pelo ouro, pedras preciosas e a pecuária
que prevaleceram por muitos anos.

O rio desempenhou importante papel na ocupação de nosso território e foi utilizado


como caminho preferencial para as bandeiras, razão pela qual também é conhecido
como "Rio da Unidade Nacional". Esse papel de integração, como meio de
comunicação entre o Nordeste e o Sudeste, que era feito por meio de embarcação
movida a vapor, contribuiu muito para a devastação das matas ao longo do rio.

A ocupação populacional na bacia se deu de duas formas: (1) no nordeste da bacia,


da foz em direção ao interior, em função da navegabilidade do rio e de condições
propícias ao desenvolvimento da pecuária e dos primeiros povoados; (2) no sul da
bacia, a ocupação se deu principalmente pelos bandeirantes em busca das riquezas
minerais, e onde estas foram encontradas, os vilarejos foram criados. Um
importante indicador associado ao tema é a distribuição espacial da ocupação
demográfica, a qual pode ser vista na Figura 14.

Figura 14. Distribuição espacial da ocupação demográfica

Várias das sub-bacias foram intensamente exploradas pela mineração, como ouro e
diamantes, passando por período de expansão, apogeu e declínio. Outras
explorações minerais têm ocupado papel importante e de suporte econômico para o
País, como o Quadrilátero Ferrífero, situado no alto São Francisco. É a única região
do País que produz zinco, além da quase totalidade de cromo, diamante, prata e
agalmatolito.

63
Historicamente a ocupação das áreas extensivas se deu pela pecuária bovina,
caprina e ovina, estando, hoje, os biomas caatinga e cerrado alterados por causa
dessas atividades.
A ocupação agrícola se deu intensamente a partir da década de 70, com a quebra
do mito de que o cerrado não tinha potencial para agricultura. Estima-se que hoje
estejam ocupados 8 milhões com lavouras temporárias e permanentes. Outros
cerca de 10 milhões de hectares estão ocupados por pastagem.

Merece destaque a demanda da indústria siderúrgica de ferro-gusa sobre o carvão


vegetal, o que tem expandido muito a área de plantações de eucalipto e a
exploração impactante do cerrado e da caatinga para sua produção, além da
demanda sobre matéria prima para papel e celulose que na bacia é ainda incipiente.
Os levantamentos realizados apontaram a existência de valores acima de 5,6
milhões de hectares de florestas plantadas, até o ano de 1994.

A ocupação urbana na maioria dos municipios da bacia, ocorreu de forma


desordenada, sem considerar os aspectos ecológicos e de planejamento urbano e
ambiental. Poucos minicípios possuem Plano Diretor ou legislação própria de Uso e
Ocupação do Solo, assim como instrumetos de gestão e ordenamento territorial
como zoneamento ecologico-econômico ou zoneamento agroecológico.

Na bacia, a população urbana já representa 74,4%, e a densidade demográfica

média é cerca de 20,0 hab/km2. Ademais, cabe destacar a expressiva diversidade


dos varios aspectos socioculturais das regiões pelas quais o rio São Francisco
atravessa.

Quanto à infra-estrutura, todas a sedes municipais são servidas por telefonia e


energia elétrica.

No que se refere ao transporte por ferrovias, apenas parte do norte de Minas Gerais
é atendida, que liga o Sudeste à Salvador, passando por Montes Claros e Janaúba,
sendo que Belo Horizonte é ligada ao Triângulo Mineiro e Brasília, cruzando a parte
sul da bacia. Quanto às rodovias, a bacia é servida por algumas estradas federais
asfaltadas que cortam o Médio São Francisco, outras que ligam a região Sudeste na

64
parte do Alto e Médio São Francisco. Algumas estradas estaduais, principalmente
no médio São Francisco, são parte da política de integração econômica dessa
região ao processo de desenvolvimento do Estado. O Baixo São Francisco tem suas
cidades ligadas por rodovias estaduais às estradas troncos que ligam o Brasil de
norte a sul. Muitas dessas estradas se encontram em estados precários devido à
deficiência de manutenção.

O desmatamento e as queimadas, com vistas à expansão das atividades


agrossilvopastoris, podem ser consideradas práticas históricas na ocupação regional
da bacia, tornando-se acentuadas a partir do final da década de 1960, quando a
ocupação dos cerrados no Noroeste e Norte de Minas e no Oeste Baiano tornou-se
mais intensa.

As atividades mineradoras e de garimpo, no Alto São Francisco, provocam grandes


impactos pelo desmatamento e geração de sedimentos, comprometendo os
recursos hídricos tanto de forma qualitativa como quantitativa. Mais recentemente, a
expansão das atividades do setor siderúrgico, vem intensificando de forma
insustentável as áreas de desmatamentos e o número de carvoarias, a maioria
atuando de maneira irregular, principalmente nas regiões do alto e do médio São
Francisco.

O extrativismo vegetal é praticado também de forma difusa para atendimento às


necessidades domésticas (lenha, madeira, fibras) e para o atendimento das
necessidades energéticas de atividades industriais, com especial destaque para o
carvão vegetal. Produz efeitos sobre a geração de sedimentos e o conseqüente
assoreamento dos cursos d’água, na redução da qualidade da água e na alteração
de importantes áreas de recarga de aqüíferos.

Os prejuízos à conservação da biodiversidade são também sérios, levando o IBAMA


e as Unidades da Federação a definirem áreas estratégicas para instalação de
unidades de conservação. A remoção da cobertura vegetal e o uso do solo para
agricultura, sem práticas de conservação de água e do solo têm contribuído para o
aumento dos processos erosivos, carreando sedimentos para a calha dos rios da
bacia, alterando significativamente sua capacidade de retenção, com efeitos
inevitáveis nas planícies de inundação.

65
A intensa ocupação das chapadas tem provocado a compactação subsuperficial de
extensas áreas, seja pela utilização intensiva de moto-mecanização, seja pelo
pastoreio Tem-se levantado questões quanto à redução da capacidade de recarga
dos aqüíferos, o que precisa ser melhor estudado.

Já a ocupação das margens dos rios, assim como das demais áreas de proteção
ambiental, como as nascentes, encostas e as áreas de recarga de aqüíferos, para
diversos fins, são consideradas como algumas das principais causas propulsoras da
degradação da bacia, principalmente no que se refere à erosão e ao aumento de
sedimentos no leito dos rios. Em função dos tipos de sedimentos gerados pelos
processos erosivos, os efeitos têm sido diferenciados:

· os sedimentos arenosos têm formado grandes bancos de areia ao longo das


calhas dos rios que, em alguns casos, transformando-se em ilhas permanentes
em todo o Médio e Submédio São Francisco. Ao longo do Médio São Francisco,
são responsáveis pela formação de vazante, que corresponde entre 1 a 3 km da
margem do rio, de faixa de solos arenosos, que dificultam seu aproveitamento
sem grandes investimentos;

· os sedimentos siltosos têm sido os que efetivamente provocam o maior volume


de assoreamento, visto que são facilmente carreados pelo escoamento
superficial, porém não ficam em suspensão. Esse material é totalmente
depositado nos leitos dos rios, reduzindo a capacidade de escoamento e
provocando inundações freqüentes nas planícies aluviais, característica marcante
do Médio São Francisco;

· os sedimentos argilosos são facilmente carreados e geralmente ficam em


suspensão, promovendo a turbidez na água. Esse tipo de sedimento é depositado
quando encontra ambiente propício, como nos remansos dos reservatórios.

Por outro lado, os reservatórios da bacia provocam impactos no fluxo


hidrossedimentométrico, sendo constatada a concentração de sedimentos em
suspensão, a montante do reservatório de Três Marias, de 253 mg/L, enquanto que
em Pirapora, abaixo do reservatório de Três Marias, é de 103 mg/L, Bom Jesus da

66
Lapa - 250 mg/L, e em Juazeiro, após Sobradinho, 47 mg/L. Até o reservatório de
Sobradinho, o rio São Francisco apresenta altas concentrações de sedimentos.

Entretanto, a jusante, o rio apresenta redução considerável de carga sólida, e,


conseqüentemente, da concentração de sedimentos, o que por outro lado acarreta o
fenômeno da intrusão marinha, com o aumento da degradação nas áreas costeiras
junto à foz do rio São Francisco.

Ao longo do processo de degradação da bacia ocorreram significativas mudanças


sociais, tecnológicas e dos padrões de uso da terra. Entre estas podem ser
salientados os intensos processos migratórios, a urbanização acelerada, a
ampliação dos investimentos públicos em infra-estrutura física e social e a
intensificação dos padrões de consumo dos recursos naturais, principalmente da
vegetação e da água.

67
3.3.2. Saneamento ambiental

Um preliminar Diagnóstico do Saneamento Ambiental na bacia Hidrográfica do rio


São Francisco foi realizado para a elaboração do Plano da bacia, com dados
secundários relativos à população residente em domicílios particulares permanentes
urbanos e ao acesso desses domicílios aos seguintes serviços de saneamento: (a)
abastecimento de água; (b) coleta e tratamento de esgoto sanitário e (c) coleta e
disposição final de resíduos sólidos. Essas informações foram produzidas
basicamente a partir dos dados do Censo Demográfico de 2000 do IBGE.

Foram considerados somente os municípios cujas sedes municipais encontram-se


dentro da área da bacia, ou possuem alguma forma de dependência de seus
recursos hídricos. A partir desse critério, foram analisados os 451 municípios com
sede na bacia, além de mais cinco municípios, cujas sedes estão fora e que seus
sistemas de saneamento dependem da bacia, que totalizavam, em 2000, uma
população urbana de 9.513.567 habitantes.

A população rural nesta região apresenta-se geograficamente dispersa, requerendo


uma abordagem diferenciada, notadamente na região semi-árida.

De forma geral, a situação dos serviços de saneamento ambiental na bacia pode ser
sinteticamente descrita a partir dos seguintes indicadores:

 94,8% da população urbana é atendida por abastecimento de água;


 62,0% da população urbana é atendida por rede coletora e 3,9% por fossa
séptica;
 33 municípios possuem algum tipo de tratamento de esgotos, correspondendo
somente ao tratamento de menos de 5% dos esgotos coletados;
 88,6% da população urbana é atendida por serviços de coleta de resíduos
sólidos;
 93% dos municípios possuem disposição final de resíduos sólidos inadequada.

No Quadro 15 mostra-se a cobertura dos serviços de saneamento, por região


fisiográfica, comparada com a situação brasileira.
Quadro 15 - Índices de cobertura dos serviços de saneamento, por região

68
fisiográfica da Bacia.

Para a bacia do São Francisco como um todo se constatou a evidente limitação


atual de capacidade dos órgãos ambientais e de saneamento de atuarem efetiva e
eficazmente no controle adequado dos impactos ambientais identificados e
avaliados, principalmente no tocante às modificações degradatórias do ecossistema
advindas da poluição, da erosão e dos avanços de ervas daninhas aquáticas, com
destaque para o “cabelo”, no Baixo São Francisco, impondo mais limitações no
campo dos recursos, desde os humanos aos financeiros e social, sendo este o mais
grave.

Esgotamento sanitário

A bacia possui um índice de cobertura médio por rede coletora de 62,0%. Esse dado
não reflete a real situação das redes de esgotos, pois além de não retratar as
condições operacionais, considera os domicílios conectados à rede geral de esgotos
e a galerias de águas pluviais. Apesar da média de cobertura na bacia de cerca de
62,0%, ser superior à média nacional que está em 53,8%, existem cerca de 213
municípios na bacia com cobertura abaixo de 10%. Estes municípios localizam-se
na região do Médio e do Baixo São Francisco.

Segundo o PNSB/2000, somente 33 municípios da bacia tratam seus esgotos,


representando 7% do total de municípios investigados na bacia. Como o dado do
PNSB/2000 (volume de esgoto tratado/dia) não permite estimar, de forma
consistente, o índice de cobertura por tratamento de esgotos no município,
considerou-se a ausência de tratamento dos esgotos coletados na bacia no ano
2000 para efeito de cálculo da carga orgânica lançada nos corpos receptores.

Estima-se que a população não atendida por rede ou fossa séptica na bacia no ano
de 2000 seja cerca de 3,2 milhões de habitantes. Quando se retira a região
metropolitana de Belo Horizonte a média de cobertura cai para 49,5%, portanto,
representando 92 % da média nacional.

Ressalta-se, entretanto, que essa consideração não reflete exatamente a situação

69
atual, pois a Companhia de Saneamento de Minas Gerais – COPASA/MG vem
realizando investimentos significativos na bacia, principalmente na Região
Metropolitana de Belo Horizonte. Belo Horizonte e Contagem, as duas cidades mais
populosas da bacia estão tratando seus esgotos domésticos e não domésticos,
através das ETEs Arrudas e Onça.

Os municípios da bacia no estado de Minas Gerais possuem índice de cobertura


médio de 73,6%, sendo esse o único Estado em que se verifica cobertura por rede
coletora superior à média da bacia em função, principalmente, da Região
Metropolitana de Belo Horizonte. Desta forma, cerca de 85% da população atendida
por rede coletora de esgotos na bacia está situada em Minas Gerais.

Mesmo assim, pode-se observar, que as maiores concentrações de carga orgânica


encontram-se na região do Alto São Francisco, particularmente na Região
Metropolitana de Belo Horizonte (sub-bacias do rio das Velhas e rio Paraopeba), e
na sub-bacia do rio Verde Grande, em cuja cabeceira está localizada a cidade de
Montes Claros, como mostrado na Figura 14.

Figura 15 - sub-bacia do rio Verde Grande

70
Por outro lado, todos os estados da região Nordeste apresentam índices inferiores à
média da bacia, por micro-bacia. O destaque esta na região do Sub-Médio São
Francisco em que se encontra Petrolina (PE) e Juazeiro (BA), em função do porte
populacional dessas duas cidades.

Na Figura 16 mostramos a distribuição da coleta de esgoto na bacia, por micro-


bacia.

Figura 16 - Distribuição da coleta de esgoto na bacia, por micro-bacia

Abastecimento de água

A cobertura média atual de rede de água na bacia é de 94,8%. Valor superior à


média do Brasil, que é de 89,1%. Esta situação aparentemente confortável tem a
influência determinante dos altos índices de cobertura dos municípios de médio e
grande porte, como por exemplo, Belo Horizonte (2,2 milhões de habitantes) e
Contagem (cerca de 500 mil habitantes) com coberturas de 99,3% e 99,1%,
respectivamente, que elevam a média da bacia.

Em contraposição, coexistem na bacia 17 municípios com baixíssima cobertura de


rede de água (<60%), notadamente nos estados de Pernambuco e de Alagoas. O
déficit total de atendimento com rede de água, considerando-se como alvo a
universalização dos serviços, corresponde a 494.016 habitantes. Analisando-se os
dados elaborados por estrato populacional, observa-se que a faixa entre 5.000 e
30.000 habitantes é a que apresenta o maior déficit de cobertura (2,26% da
população urbana da bacia).

Na Figura 17 mostramos a distribuição da cobertura de água das micro-bacias nas


quais estão contidas as sedes municipais. Dois pontos importantes devem ser
salientados:

· a cobertura com rede de água não significa que a produção de água atende,
quantitativa e qualitativamente a demanda de água, da mesma forma que a baixa
cobertura não significa falta de água; e

71
· os índices de perdas de água das prestadoras de serviços nos Estados ainda são
altos e bem variados entre si, como exemplo dos índices, podemos relacionar os
dados das principais empresas estaduais: - AL/CASAL - 55,5%; BA/EMBASA -
41,7%; GO/SANEAGO - 35,2%; MG/COPASA – 34,3%; PE/COMPESA - 60,0% e
SE/DESO - 54,2% (Dados: SNIS/2000).

Figura 17 - Distribuição da cobertura de água das micro-bacias

Resíduos Sólidos

A bacia possui ainda um índice de cobertura médio por serviços de coleta de lixo de
88,6%. O valor é inferior à média brasileira (91,1%), sendo que apenas o estado de
Minas Gerais apresenta também um índice superior ao brasileiro. O déficit na bacia
é de 11,4%, que equivale a 1.085.775 pessoas não atendidas com serviços de
coleta. Foi verificado que os piores índices médios correspondem aos estados da
Bahia (76,9%) e de Pernambuco (78,3%). Por outro lado, os melhores resultados
estão localizados no Alto São Francisco, onde está situada a Região Metropolitana
de Belo Horizonte.

Apesar da cobertura média dos serviços de coleta de lixo ser de 88,6%, existem na
bacia, municípios com baixos índices de cobertura. Verifica-se que abaixo de 50%
de cobertura, existem 46 municípios. O maior percentual de pessoas não atendidas
é encontrado na faixa dos municípios entre 5.000 a 30.000 habitantes, o que
corresponde a 4,7% da população urbana da bacia. Já os municípios com mais de
250.000 habitantes têm o menor déficit dos serviços de coleta, com apenas 0,8% da
população urbana não atendida na bacia situando-se nessa faixa.

Portanto, o problema da disposição final de resíduos sólidos na bacia é crítico.


Quando se analisam os resultados do PNSB (2000), verifica-se que dos 456
municípios considerados neste diagnóstico, 93% têm disposição inadequada de
resíduos; 5% têm alguma destinação adequada e somente 2% destinam seus
resíduos para unidades totalmente adequadas.

Quando os resultados são analisados em termos de população, o panorama é

72
menos alarmante. Aproximadamente 49,6% da população da bacia têm disposição
inadequada, 29,3% destinam seus resíduos para unidades totalmente adequadas e
9,7% têm alguma destinação adequada. Esta situação mais favorável se explica
porque as unidades de tratamento e os aterros sanitários encontram-se
principalmente nas grandes cidades. A figura 18 mostra a distribuição da cobertura
da coleta de lixo, por microbacia, onde estão os municípios avaliados com influência
na bacia.

Figura 18 - Distribuição da cobertura da coleta de lixo, por microbacia

Saneamento Ambiental no Semi-árido

Cerca de 57% da área da bacia do rio São Francisco está situada na região semi-
árida. Portanto faz-se necessária uma análise diferenciada dos municípios que se
encontram nessa região. Dos municípios que possuem sede na bacia, 218 estão no
semi-árido, e destes somente 3 municípios com população superior a 100.000
habitantes: Petrolina (PE), Arapiraca (AL) e Juazeiro (BA).

Observa-se que dos 4,7 milhões de habitantes do semi-árido, 47,6% residem em


áreas rurais, para os quais não se dispõe de dados secundários que permitam uma
análise confiável da situação de saneamento. No entanto, apesar de não se possuir
um diagnóstico específico para a área rural, o Plano da bacia aborda, no módulo IV,
as soluções para o atendimento desses 2,25 milhões de habitantes.

O índice médio de cobertura de rede de água nos municípios do semi-árido (88,7%)


é inferior ao da bacia (94,8%). Nos municípios dos estados de Alagoas (79,8%) e
Pernambuco (86,2%), as coberturas de rede de água são inferiores à média na
região semi-árida (88,7%).

Quanto aos serviços de coleta de lixo, a cobertura média no semi-árido é de 79,1%,


sendo, portanto, inferior à média da bacia. Quanto à destinação/tratamento do lixo,
verificou-se que 97% dos municípios têm disposição inadequada de seus resíduos e
apenas 1 município (Arapiraca) tem disposição totalmente adequada.

73
3.3.3. Controle da poluição e diluição de efluentes

Além do gravíssimo quadro de carência de saneamento básico, apresentado


anteriormente, observa-se o lançamento indiscriminado de efluentes domésticos e
industriais, principalmente os processos de poluição oriundos das atividades de
mineração e siderurgia, além ainda da disposição inadequada de resíduos sólidos,
comprometendo a qualidade de rios como Paraopeba, Pará, Verde Grande,
Paracatu, Jequitaí, Abaeté, Urucuia, das Velhas.

Uma das maiores áreas críticas é a Região Metropolitana de Belo Horizonte –


RMBH, que, além da grande contaminação das águas pelo lançamento de esgotos
domésticos e de efluentes industriais, apresenta elevada carga inorgânica poluidora
proveniente da extração e beneficiamento de minerais, embora esteja em operação
a Estação de Tratamento de Esgotos (ETE) da sub-bacia do Arrudas em nível
secundário, e esteja sendo prevista a ETE da sub-bacia do Onça. A carga orgânica
doméstica remanescente na Região Hidrográfica do São Francisco é de 499
toneladas DBO5/dia, correspondente a 7,8% do País. Essa carga orgânica é mais
concentrada no Alto São Francisco. Outras regiões problemáticas estão situadas
nos municípios de Sete Lagoas, Divinópolis e Itaúna, com seus pólos siderúrgicos.

Em síntese, referente ao tema saneamento ambiental apresenta-se o seguinte


balanço:

· do total de municípios avaliados, verifica-se que cerca de 90% possuíam


população urbana menor que 30.000 habitantes em 2000. Foi observado um
significativo aumento dos índices de atendimento por saneamento na medida em
que o porte populacional do município aumentava. Os grandes conglomerados
urbanos têm conseguido melhores resultados no setor de saneamento;
· os altos índices de atendimento na bacia estão concentrados no Alto São
Francisco, fato este explicado pela presença da Região Metropolitana de Belo
Horizonte. Os menores índices estão concentrados em localidades menores que
30.000 habitantes;
· em termos de coleta de esgotos, que repercute diretamente na saúde da
população, verifica-se o maior déficit entre os serviços de saneamento na bacia.
Em termos de tratamento dos esgotos e disposição final dos resíduos sólidos

74
urbanos, que têm conseqüência imediata sobre o meio ambiente, o déficit é
grande;

· pela grande deficiência nos serviços de saneamento na região do semi-árido,


tanto a população urbana quanto a rural requerem atenção especial. No que se
refere ao tratamento de esgotos sanitários, a presença de rios intermitentes
dificulta a diluição dos efluentes, e no que se refere ao abastecimento de água, a
ausência de fontes hídricas, com garantia de qualidade e quantidade, dificulta o
atendimento à população.

75
3.3.4. Infraestrutura de transporte

O sistema de transporte conta com a participação das modalidades rodoviária,


ferroviária, hidroviária, aeroviária e intermodal.

Rodoviária

É a modalidade predominante na bacia e contava, em 1985, com uma rede de


20.812 km, sendo 10.498 km de rodovias pavimentadas e 10.314 km em
revestimento primário e leito natural. As principais rodovias pavimentadas que
cruzam a bacia e fazem conexão com as demais regiões do País são:

· BR-020/242: a BR-20 tem início em Brasília, atravessa o Oeste Baiano em


direção ao Piauí; em Barreiras, conecta-se com a BR-242 que completa a ligação
com Salvador;

· BR-040: tem seu marco zero em Brasília e passa por Paracatu, João Pinheiro,
Três Marias e Belo Horizonte;

· BR–354: faz a ligação entre o Sul de Minas Gerais e o Triângulo Mineiro,


cruzando o alto curso do rio;

· BR-316/232/122/407: faz a ligação das localidades da margem esquerda do São


Francisco, entre Petrolina e Penedo, com Recife e todas as demais capitais dos
Estados do Nordeste;
· BR-365: ligando Montes Claros à Uberlândia - Triângulo Mineiro, passando por
Pirapora e Patos de Minas;

· BR-251: ligando Montes Claros à BR-116 (Rio-Bahia), permitindo fluxo tanto para
o Nordeste quanto para o Sul; e

· BR-101: apesar de desenvolver-se quase que totalmente fora da bacia, é a


principal conexão com o litoral.

Além destes eixos troncais, existe um conjunto de rodovias coletoras e vicinais,

76
muito heterogeneamente distribuído no espaço regional. As áreas de maior
densidade rodoviária se localizam na vizinhança da Região Metropolitana de Belo
Horizonte, no extremo sul da bacia, e na sua parte nordeste, pertencente aos
Estados de Pernambuco, Alagoas e Sergipe. As áreas mais carentes correspondem
ao território da Bahia e àquelas localizadas no noroeste de Minas Gerais.

Ferroviária

A bacia possui cerca de 1.900 km de ferrovias, quase todos em bitola métrica.


Diversos trechos dessa rede foram construídos a partir das últimas décadas do
século passado e a maioria deles entrou em operação após 1910. Belo Horizonte é
um importante terminal ferroviário, conectando-se com São Paulo, Rio de Janeiro,
Brasília, Salvador e Vitória.

A ferrovia Belo Horizonte-Salvador, incluído o ramal Corinto-Pirapora, percorre


quase 1.000 km dentro da bacia, ligando a capital mineira com Sete Lagoas, Montes
Claros, Janaúba e Monte Azul. Outro ramal liga Belo Horizonte-Divinópolis-Garças
de Minas-Triângulo Mineiro-Brasília.

Seguem em importância a ferrovia Salvador-Senhor do Bonfim-Petrolina e a ferrovia


Salvador-Recife, que corta a bacia próximo à foz do São Francisco, ligando ambas
capitais com Aracaju, Propriá, Arapiraca, Palmeira dos Índios e Maceió. De Recife
sai uma outra linha em direção oeste que percorre 400 km dentro da bacia, até as
cidades de Arcoverde, Serra Talhada e Salgueiro, no próprio estado de
Pernambuco.

A implantação da Transnordestina (Petrolina-Salgueiro-Missão Velha) e a ligação


Brasília-Unaí-Pirapora permanecem constantes nos planos federais de
desenvolvimento ferroviário.

Hidroviária

Existem 2.189 km de vias navegáveis, a saber:


· São Francisco: trecho de 1.371 km entre Pirapora e Juazeiro/Petrolina,

77
alcançando a barragem de Sobradinho, a qual é servida por uma eclusa,
vencendo um desnível de 32,5 m, e trecho de 208 km entre Piranhas e a foz;

· Paracatu: trecho de 104 km entre Porto Cavalo e a foz;

· Corrente: trecho de 155 km entre Santa Maria da Vitória e a foz; e

· Grande: trecho de 351 km entre Barreiras e a foz.

A Companhia de Navegação do São Francisco - FRANAVE - foi criada para operar o


transporte fluvial em escala comercial. A frota da FRANAVE compreendia 89
embarcações, incluindo empurradores e chatas, tendo transportado, em 1987, 120
mil toneladas de carga. Com o desenvolvimento da indústria automobilística e da
malha rodoviária, o transporte fluvial foi, paulatinamente, sendo menos demandado.

Com a extinção da PORTOBRÁS, surgiu a FRANAVE. Mais recentemente, devido


aos poucos recursos para manutenção e modernização da frota e para
investimentos na via navegável, além da inexistência de política de captação de
cargas, os equipamentos passaram por um crescente sucateamento com expressiva
redução de cargas. Assim, num curto espaço de tempo, o volume caiu de 120 mil
toneladas em 1987 para 26 mil toneladas em 1994. Até 1985, a gipsita era o produto
com volume mais expressivo.

Todavia, a soja produzida no oeste da Bahia tende a predominar em termos de


toneladas transportadas pela hidrovia. Com efeito, em 1988, os principais produtos
movimentados foram: soja (61.900 t), gipsita (53.400 t), carvão vegetal (3.400 t) e
arroz (12.500 t). Atualmente, o Governo Federal criou em 2004, um Grupo de
Trabalho Interministerial com a finalidade de redimensionar e impulsionar a
navegação do rio São Francisco, cujas atividades apontam a previsão de ser
efetivado inclusive o derrocamento do trecho do rio próximo a Juazeiro e Petrolina.

São ainda precárias as condições atuais de navegabilidade do rio São Francisco. O


rio, que sempre foi navegado sem maiores restrições justamente entre Pirapora e
Petrolina/Juazeiro (1.371 km), no médio curso, e entre Piranhas e a foz (208 km), no
baixo curso, sendo que hoje só apresenta navegação comercial no trecho

78
compreendido entre os portos de Muquém do São Francisco (Ibotirama) e
Petrolina/Juazeiro. Mesmo neste trecho, a navegação vem sofrendo revezes por
deficiência de calado.

Isso ocorre tanto na entrada do lago de Sobradinho, onde um intenso assoreamento


multiplica os bancos de areia e altera as rotas demarcadas pelo balizamento e
sinalização, e no trecho imediatamente a jusante da eclusa de Sobradinho, onde a
instabilidade de operação da usina hidroelétrica altera freqüentemente as
profundidades disponíveis. A Figura 19 mostra os trechos navegáveis no rio São
Francisco.

A navegação também é praticada em alguns afluentes, com destaque para os rios


Grande e Corrente. Os baixos cursos dos rios Paracatu (numa extensão de 104 km
até Porto Cavalo), Carinhanha (em 80 km, até a corredeira do Maruá) e Velhas (em
cerca de 90 km, até Várzea da Palma) também podem ser navegados em grande
parte do ano, nos períodos de águas médias e altas (entre novembro e maio). No
Rio das Velhas a ponte da rodovia BR-385, que liga Pirapora a Montes Claros e
atravessa este rio na localidade de Guaicuí, logo a montante da foz, impede, em
águas altas, o prosseguimento da navegação.

As instalações portuárias são poucas, mas relativamente bem aparelhadas. Os


principais portos são os de Pirapora e Ibotirama, operados pela AHSFRA, o de
Petrolina, operado pelo Governo do Estado de Pernambuco, e o de Juazeiro,
administrado pelo Governo do Estado da Bahia.

O porto de Muquém do São Francisco, situado próximo e a montante do de


Ibotirama, é de propriedade particular e se destina ao embarque de cereais
(predominância de soja) com destino às indústrias de Petrolina.

Outros pequenos embarcadouros, com instalações simples, existem disseminados


ao longo do rio principal ou de afluentes. São inexpressivos em termos de
movimentação de cargas, mas de importância capital para a maioria dos municípios
lindeiros ao rio São Francisco e que se comunicam entre si através do rio.

A perda das condições de navegabilidade no trecho médio se deve ao intenso

79
assoreamento do rio São Francisco, que é decorrente do mau uso das terras da
bacia e vem gerando e promovendo o transporte de volumes cada vez maiores de
sedimentos para o rio, que acabam por entulhar a calha, provocando a instabilidade
das margens e a formação de novos bancos de areia.

Figura 19. Trechos navegáveis no rio São Francisco.

A transformação da via navegável em uma verdadeira hidrovia - a hidrovia do São


Francisco - conectando o Nordeste ao Sudeste (Pirapora-Petrolina/Juazeiro), é
presença constante nos planos federais de desenvolvimento hidroviário. Os
investimentos, da ordem de R$ 10 milhões, podem gerar substancial economia no
transporte de grãos do oeste baiano e do noroeste mineiro para abastecimento da
Região Nordeste e mesmo para exportação pelos portos de Suape e Aratu.

O Programa de Revitalização do São Francisco, cujas ações já se iniciaram,


contempla, no curto prazo, uma ampliação da relação interinstitucional, visando a
melhoria da navegação no rio, providência que permitirá a otimização do transporte
do Oeste da Bahia para o porto de Juazeiro (BA) e daí, por ferrovia, para os
principais portos nordestinos.

Aeroviária

Com respeito à infra-estrutura aeroviária merecem destaque os aeroportos da


Pampulha e Confins (Belo Horizonte), Divinópolis e Montes Claros (MG); Guanambi,
Bom Jesus da Lapa, Barreiras, Juazeiro e Paulo Afonso (BA); e Petrolina (PE),
recentemente reformado, pois todos atuam comercialmente. Alguns aeroportos,
como o de Januária (MG), já operaram também com linhas regionais.

Existem outras 83 pistas de pouso distribuídas em diferentes municípios da bacia,


utilizadas por pequenas aeronaves. Desse total, 16 possuem pista asfaltada. Cabe
informar que alguns perímetros irrigados da Codevasf dispõem de pista: Mirorós
(pista em terra), Jaíba, Gorutuba/Lagoa Grande e Formoso A (pista asfaltada), e
Senador Nilo Coelho (aeroporto comercial em operação).

80
Intermodal

O transporte intermodal não é aproveitado em todo o seu potencial. Hoje, se


destacam neste aspecto a movimentação da soja e da gipsita (rodo-hidroviário), e
do álcool e derivados de petróleo (rodo-ferroviário). Executados os planos federais
de transportes, com adensamento e recuperação da malha rodoviária, construção
de novos ramais ferroviários e implantação da hidrovia, a bacia será transformada
em um excepcional mercado de transporte intermodal.

A figura 20 apresenta o tronco de transporte intermodal nos eixos do Nordeste, com


destaque para a bacia do São Francisco.

Figura 20. Tronco de transporte intermodal nos eixos do Nordeste, com


destaque para a bacia do São Francisco.

81
3.3.5. Comunicações

A bacia também usufruiu o formidável avanço das comunicações verificado em


nosso País nas últimas décadas. Obviamente, como ocorre nas metrópoles
brasileiras, as maiores cidades são franciscanas também dispõem dos mais
modernos meios de comunicação. Da mesma forma, as cidades de menor porte,
vilas e povoados da bacia são servidas por inúmeras facilidades de comunicações.
Praticamente todas possuem agência da ECT e, no mínimo, posto telefônico.

82
3.3.6. Recursos Minerais

A maior parte do vale do São Francisco ocupa uma depressão geologicamente


antiga, onde o embasamento cristalino é constituído por uma grande variedade de
rochas, que contêm depósitos minerais bastante valiosos e de grande suporte
econômico para o País, como a área denominada de Quadrilátero Ferrífero, situada
na parte sul, em Minas Gerais.

Em termos de indústria extrativista, é a única região do País que produz zinco, além
da quase totalidade de cromo, diamante, prata e agalmatolito. Responde, também,
por mais de 60% da produção nacional de chumbo, cobre, ouro, gipsita e pirofilita.
Entretanto, essas atividades carecem de políticas adequadas para serem
devidamente exploradas.

Do ponto de vista dos recursos minerais, a região é um riquíssimo depósito. As


reservas minerais da bacia são de: 100% das reservas nacionais medidas de
agalmatolito e cádmio; cerca de 95% das reservas nacionais medidas de ardósia e
serpentinito industrial; cerca de 75% das reservas nacionais medidas de enxofre e
zinco; cerca de 65% das reservas nacionais medidas de chumbo; cerca de 60% das
reservas nacionais medidas de cristal e diamante; cerca de 50% das reservas
nacionais medidas de gemas; entre 40 e 20% das reservas nacionais medidas de
dolomito, quartzo, ouro, granito, cromita, ferro, ardósia, gnaisse, calcário, mármore,
gipsita, ocre e urânio, assim como; 10 a 20% das reservas nacionais de cobre,
manganês, fertilizantes fosfatados e argila e 5 a 10% das reservas nacionais de
titânio, amianto, cianita, magnésio, dolomita e sílex.

83
3.3.7. Geração de energia

O potencial hidrelétrico da bacia do rio São Francisco é de 25.795 MW, dos quais
10.395 MW estão distribuídos em usinas em operação na bacia: Três Marias,
Queimados, Sobradinho, Itaparica, Complexo Paulo Afonso e Xingó. Os principais
reservatórios situados no rio São Francisco, formados por estas usinas hidrelétricas,
são mostrados de forma esquemática na Figura 21. Destes, Três Marias e
Sobradinho têm papel fundamental na regularização das vazões do rio São
Francisco.

Figura 21. Esquema dos principais reservatórios, formados pelas usinas


hidrelétricas de Três Marias, Queimados, Sobradinho, Itaparica, Complexo
Paulo Afonso e Xingo.

As hidrelétricas em operação na bacia do São Francisco (Figura 22) são


fundamentais para o atendimento do subsistema Nordeste, representando a base
de suprimento de energia da região, cujo potencial já está exaurido. Apesar da
maioria desses aproveitamentos destinar-se ao suprimento de energia dos estados
da região, algumas usinas são supridoras das regiões Sudeste/Centro-Oeste, sendo
a principal usina, neste contexto, a de Três Marias.

O Sistema Interligado Nacional – SIN é um sistema hidrotérmico de produção e


transmissão de energia elétrica com forte predominância de usinas hidrelétricas,
sendo responsável por 96,6% da capacidade de produção de eletricidade no Brasil.
O SIN está dividido nos seguintes subsistemas: Sul, Sudeste/Centro-Oeste,
Nordeste e Norte. O subsistema Nordeste é atendido basicamente:

· pelas usinas hidrelétricas situadas no rio São Francisco e em outras bacias da


região Nordeste;
· por usinas térmicas distribuídas em toda região Nordeste; e
· por energia importada de outros subsistemas através de linhas de transmissão.

Comparando-se os valores de energia firme resultante dos empreendimentos em


operação no sistema (6.304 MWmed) e os valores obtidos com a soma de todos os

84
empreendimentos planejados (10.085 MWmed), observa-se um acréscimo de
energia de apenas 3.781 Mwmed. Isto se dá em função de que aproveitamentos em
estudo que possuem grande potência instalada, como é o caso das expansões
previstas nas usinas de Itaparica, Paulo Afonso e Xingó, que totalizam 8.640 MW,
são destinados a operação somente em horários de pico de demanda de energia do
Sistema Interligado Nacional, mais especificamente o subsistema Nordeste, não
representando acréscimo de energia firme ao sistema.

Figura 22 - hidrelétricas em operação na bacia do São Francisco

Os principais estudos para aproveitamento do potencial hidrelétrico ainda não


explorado na bacia são: no Alto, a usina de Pompeu, para atendimento do
subsistema Sudeste/Centro-Oeste; no Submédio São Francisco, os
aproveitamentos do Riacho Seco de 240 MW e Pedra Branca de 320 MW; e no
Baixo São Francisco, a usina de Pão de Açúcar, projetada a 40 km abaixo da
hidrelétrica de Xingó e distante aproximadamente 170 km da foz do rio São
Francisco. Pão de Açúcar é tida como o último empreendimento hidrelétrico na
cascata hidro-energética do rio e possibilitará um acréscimo de potência de 330
MW.

O Plano Decenal de Expansão (2003-2012) do CCPE contempla quatro usinas


localizadas no rio São Francisco: (1) Gatos e Sacos, no rio Formoso, para
atendimento ao subsistema Nordeste e (2) Quartel, no rio Paraúna, e Retiro, no rio
Paraopeba, para atendimento ao subsistema Sudeste/Centro-Oeste.

As estimativas da demanda futura de energia elétrica para a região Nordeste


indicam que são necessários cerca de 4.000 MWmed para o período de 2003 a
2012. Mesmo considerando os projetos para construção de possíveis novas três
usinas (Riacho Seco, Pedra Branca e Pão de Açúcar), o acréscimo em termos de
energia firme é de cerca de 800 MW, insuficiente para atender às necessidades da
região.

Como o potencial não explorado na bacia não traz acréscimos significativos em


termos de energia, os planos de expansão e operação do setor elétrico incluem a

85
diversificação da matriz energética para atendimento do subsistema, através da
utilização de fontes térmicas (gás natural e combustíveis alternativos) e do aumento
da capacidade de importação de energia de outros subsistemas do Sistema
Interligado Nacional, com a construção de linhas de transmissão. Ressalte-se que
com o crescimento dos usos múltiplos na bacia, a tendência atual é que haja uma
diminuição da disponibilidade de energia nas usinas localizadas na bacia do rio São
Francisco, como já vem sendo considerado no planejamento da operação e da
expansão do setor elétrico.

Com relação aos impactos da operação dos reservatórios sobre os outros usos da
água, a Curva de Aversão a Risco (CAR) do setor elétrico considera a vazão mínima
efluente em Sobradinho de 1.100 m3/s. Portanto, o planejamento do setor deve
providenciar as ações para que não haja conflitos com outros setores usuários dos
recursos hídricos da bacia, como navegação e derivações para sistemas de
abastecimento de água, entre outros.

86
3.3.8. Agropecuária

A exploração das terras em sequeiro é determinante para o crescimento das


atividades agropecuárias na bacia, sobretudo considerando-se a relativa limitação
dos recursos hídricos. Os levantamentos indicam a existência de 35,5 milhões de ha
aptos à agricultura de sequeiro e 30,3 milhões de ha irrigáveis.

Considerando uma distância máxima de 60 km da fonte de água e uma elevação de


até 120 m, o potencial irrigável cai para 8,1 milhões de ha; para distâncias e
elevações menores, o potencial se reduz a 3,0 milhões de ha e, aliando-se os
fatores restritivos (distância e elevação de água) aos usos múltiplos dos recursos
hídricos do São Francisco as possibilidades não ultrapassam 1,5 milhões de ha
irrigáveis.

Esse montante representa 4,2% das terras aptas à produção agrícola de sequeiro e
4,9% das terras aptas à irrigação. Verifica-se, assim, que as possibilidades de
expansão das áreas aptas à agricultura de sequeiro, não computando aquelas aptas
à pecuária e silvicultura, superaram bastante as possibilidades de expansão das
áreas irrigáveis. Nesse sentido, a análise do potencial agro-silvo-pastoril em
sequeiro da bacia recomenda o manejo integrado das terras e do sistema
hidrográfico.

Por outro lado, os grandes problemas financeiros que os investimentos em irrigação


implicam e as dificuldades de recursos humanos para esta atividade, levam - sem
menosprezar a evidente necessidade de irrigação, principalmente no centro e no
norte da bacia - a reconhecer a prioridade no aproveitamento das potencialidades
de crescimento em sequeiro, sobretudo nas áreas Alto São Francisco, Chapadões
do Paracatu e Montes Claros-Januária, em Minas Gerais, e Guanambi-Paramirim,
Oeste Baiano e Sobradinho, na Bahia.

Os estudos realizados pelo PLANVASF englobam uma área total de 691,0 mil km2
(69,1 milhões de ha). Tal área refere-se à totalidade do território dos municípios,
mesmo daqueles parcialmente inseridos na bacia e não inclui áreas do Distrito
Federal e de Goiás. Para aquela área assim definida, têm-se os seguintes usos:
área de proteção ambiental de Piaçabuçu; reserva ecológica do Raso da Catarina;

87
região metropolitana de Belo Horizonte; águas internas e terras.

As áreas de preservação atingem 0,1 milhões de ha (0,1% da área estudada); a


área metropolitana de Belo Horizonte ocupa 0,4 milhões de ha (0,6%); as águas
internas ocupam 0,6 milhões de ha (0,9%) e as terras propriamente ditas ocupam
68,0 milhões de ha (98,4%).

Esses estudos, no que se refere à aptidão das terras para agricultura de sequeiro,
concluem que 52% (35,5 milhões de ha) têm aptidão - ocorrem 0,1 milhões de ha do
grupo 1 (aptidão boa), 25,5 milhões de ha do grupo 2 (aptidão regular) e 9,9 milhões
de ha do grupo 3, (de aptidão restrita para as lavouras); cerca de 0,7% (0,4 milhões
de ha do grupo 4) indicam utilização como pastagens plantadas, e os restantes
47,3% (32,1 milhões de ha) são inaptos, podendo ser utilizados como pastagem
natural, florestamento ou manutenção de vegetação natural - terras do grupo 5, com
um total de 20,8 milhões de ha podem ser utilizadas das seguintes formas: 13,3
milhões de ha com pastagem natural; 4,7 milhões de ha com silvicultura ou
pastagem natural e 2,8 milhões de ha somente com silvicultura, e terras do grupo 6,
com total de 11,3 milhões de ha, devem ser destinadas para a preservação da flora
e fauna.

A distribuição dos solos, por Estado, com relação à aptidão para culturas de
sequeiro é apresentada no Quadro 16, a seguir.

A bacia do São Francisco, com seus 64 milhões de ha, possui cerca de 35,5 milhões
de ha agricultáveis e 456 mil ha indicados para pastagens. Da área agricultável, 19
milhões são mais favoráveis, sendo que apenas 8 milhões de ha têm fácil acesso à
água.

Em 1985, estavam sendo utilizadas 4,5 milhões de ha com lavouras temporárias e


permanentes (31,4% do Nordeste e 8,6% do Brasil); o rebanho bovino, ali existente,
era de 11,2 milhões de cabeças (50,3% do Nordeste e 8,8% do Brasil). Ao nível
tecnológico vigente, o rebanho da bacia pode crescer em mais 4,6 milhões de
cabeças.

88
Quadro 16. Distribuição dos solos, por Estado, com relação à aptidão para
culturas de sequeiro.

Aptidão dos Solos para a Agricultura de Sequeiro (mil ha)

Estado Aptos Pastagem Inaptos Total

Minas Gerais 12.540 259 12.675 25.474

Bahia 20.459 164 12.338 32.961

Pernambuco 1.831 - 5.336 7.167

Sergipe 223 17 574 814

Alagoas 423 16 1.217 1.656

Total 35.476 456 32.140 68.072


Fonte: PLANVASF. - OBS: excluiu Goiás e Distrito Federal.

Em função do uso potencial das terras e da lotação unitária foi quantificada a


lotação potencial das pastagens da bacia. A estimativa é de uma lotação total de
aproximadamente 20,8 milhões de bovinos. A área com maior potencial é o Oeste
Baiano, com 31,5% do potencial total regional. Em segundo lugar está Montes
Claros-Januária, em Minas Gerais, com 17,3%.

Já no Semi-Árido, a pecuária poderá ser incrementada mediante a execução de um


programa de pastagens nativas combinado com cultivos adaptados e adequado
manejo dos rebanhos.

A EMBRAPA realizou um trabalho demonstrando a viabilidade da criação de gado


através da utilização de um sistema denominado CBL, que consiste em utilizar uma
área de Caatinga (C), associada a uma área de capim Buffel (B) e de Leucena (L).
Os resultados experimentais, conforme mostrado no quadro 16, a seguir, apontaram
alto incremento de produção e produtividade.

A pecuária, tradicionalmente conhecida como atividade produtora de carne e leite,


desempenha importante papel no apoio à agricultura irrigada, pela produção de
esterco. Esse adubo orgânico constitui um dos elementos nutritivos mais
importantes em relação ao processo de produção conduzida nas áreas irrigada.
Como a agricultura irrigada vem sendo conduzida em reduzida articulação com

89
explorações pastoris, a demanda de esterco, especialmente na bacia, é suprida de
outras áreas, a custos elevados.

Quadro 17. Aumento da Produção e Produtividade do Sistema CBL.

SISTEMA CBL - INCREMENTO DE PRODUÇÃO E PRODUTIVIDADE


Sistema
Indicadores Sistema CBL Incremento (%)
Tradicional
Capacidade de suporte
0,10 0,47 370
(UA/ha/ano)
Peso vivo (kg/ha/ano) 6,65 80,21 1.106
Peso vivo (kg/cabeça/ano) 55,00 130,00 136
Fonte: EMBRAPA - OBS: U.A. - Unidade Animal

Quanto aos problemas, deve-se enfatizar que as queimadas anuais ainda


constituem uma prática agrícola devastadora e generalizada na bacia,
especialmente nas áreas dotadas de recursos de solo mais escassos, como aquelas
que durante muito tempo foram ocupadas com o cultivo de variedades arbóreas de
algodão. Essa prática foi intensificada para a expansão da pecuária, sendo utilizada
como instrumento para a formação rápida de pastagens.

Ainda associada às atividades agrícolas destaca-se a super-explotação das águas


subterrâneas. Dados do Departamento Nacional de Pesquisa Mineral-DNPM
revelaram, na década de 90, um rebaixamento do nível dos aqüíferos, a uma taxa
anual de decréscimo da ordem de 3,6%, relativo a poços perfurados na região.

As atividades agropecuárias na bacia tendem a apresentar maior dinamismo,


mormente por conta da expansão da agricultura irrigada e pela crescente integração
entre as atividades agrícolas e agroindustriais. Essa integração, aliás, faz parte da
estratégia de desenvolvimento posta em prática na bacia. A maioria dos próprios
produtores estão convencidos de que não podem comercializar toda sua produção
utilizando esquemas exclusivos de venda direta dos produtos.

Quando a escala de produção aumenta, a agroindústria constitui um instrumento de


decisiva importância no tocante à garantia de uma adequada comercialização dos
produtos colhidos. É isso o que está ocorrendo em pólos como Petrolina/Juazeiro e

90
Norte de Minas, onde estão localizados cerca de 125.000 ha irrigados, ou seja,
quase a metade da área atualmente irrigada na bacia.

A respeito das transformações na região Nordeste, em especial na bacia do rio São


Francisco, a Comissão Especial Mista do Congresso Nacional que estudou o
Desequilíbrio Econômico Inter-regional Brasileiro concluiu que as transformações
pontuais e localizadas decorreram do incremento de algumas culturas não
tradicionais do Nordeste, que, pelo valor de mercado relativamente alto, passaram a
ter participação crescente no valor da produção agrícola do Nordeste.

O aumento da produção de frutas (mamão, manga, melancia e uva) deveu-se à


expansão da agricultura irrigada na área do Submédio São Francisco; o aumento da
produção de cacau e abacaxi respondeu à expansão do cultivo em manchas
climáticas favoráveis do sertão e do agreste. O aumento da participação relativa
destas culturas deveu-se, igualmente, às condições ecológicas favoráveis de
determinadas áreas e zonas fisiográficas do Submédio São Francisco.

Esses produtos que, conjuntamente, representavam, nos anos 70, cerca de 3,1% do
valor da produção agrícola do Nordeste, elevaram consideravelmente sua
participação na economia regional.

91
3.3.9. Irrigação

Na bacia do São Francisco, a agricultura irrigada é importante indutora do processo


de desenvolvimento regional. A irrigação na bacia do São Francisco, especialmente
no semi-árido, é uma atividade social e econômica dinâmica, geradora de emprego
e renda na região e de divisas para o País – suas frutas são exportadas para os
EUA e Europa. A área irrigada da bacia atualmente está aproximadamente em
342.712 hectares irrigados, representando cerca de 11% da área irrigada no Brasil.
Nessa área irrigada, cerca de 30% são referentes a projetos públicos, podendo ser
expandida para até 800 mil hectares, nos próximos anos, o que será possível pela
participação crescente da iniciativa privada. A distribuição da área irrigada entre as
regiões fisiográficas é a seguinte: 13% no Alto São Francisco, 50% no Médio, 27%
no Submédio, e 10% no Baixo.

Nos perímetros irrigados têm-se adotado, em sua maioria, culturas com maior valor
econômico e maior resposta ao insumo água, representadas pelos grãos, frutas,
olerícolas, e, mais recentemente, a cultura do café. Em relação aos métodos de
irrigação, os sistemas que utilizam pivô central estão distribuídos por toda a bacia,
com uma maior concentração no norte (Jaíba, Janaúba, Januária e Manga) e no
noroeste (Unaí, Bonfinópolis de Minas e Paracatu) de Minas de Gerais, e no oeste
da Bahia (Barreiras, São Desidério e Luís Eduardo Magalhães).

Os sistemas de irrigação por aspersão convencional concentram-se nas cidades de


Jaíba, Itacarambi e Manga, em Minas Gerais, e na sub-bacia do rio Corrente, nas
cidades de Bom Jesus da Lapa e São Félix do Coribe, no Estado da Bahia.

A irrigação por micro-aspersão está dispersa ao longo de toda a bacia,


principalmente nas áreas de fruticultura irrigada. No Baixo São Francisco, embora se
verifique a tendência de aumento da fruticultura irrigada, o sistema de irrigação por
superfície é ainda muito utilizado.

Considera-se que existam cerca de 30 milhões de hectares agricultáveis e o


potencial de áreas irrigadas na bacia é de 8,1 milhões de hectares (81.000 km²)
(PLANVASF, 1989), sendo que o fator limitante para se estabelecer o limite a ser

92
atingido é o balanço dos usos dos recursos hídricos. De acordo com a CODEVASF,
o limite de aproveitamento de terras para irrigação seria de 800.000 hectares (8.000
km²), sem a instalação de conflito dos usos múltiplos.

As áreas de maior prática da irrigação pública e privada na bacia são: norte de


Minas – com destaque para os perímetros Gorutuba, Pirapora, Jaíba e Janaúba;
região de Belo Horizonte; noroeste de Minas; Distrito Federal; Formoso/Correntina,
Barreiras, Guanambi e Irecê, na Bahia; e Baixo São Francisco, nos estados de
Alagoas e Sergipe (Figura 22). Juntamente com estas regiões, merece especial
destaque a região de Juazeiro-BA/Petrolina-PE, com sua produção de frutas para
exportação. O incremento da participação do Brasil no mercado internacional de
frutas deve-se à expansão da fruticultura na bacia, principalmente no Semi-árido.

Figura 22 - áreas de maior prática da irrigação pública e privada na bacia


hidrográfica do São Francisco

Destaca-se, ainda, que apesar da irrigação se constituir em prática que tem


agregado grandes benefícios à agricultura da bacia do rio São Francisco, se
realizada de forma inadequada, produz impactos indesejáveis, especialmente na
área semi-árida. Um deles se refere à salinização dos solos, que afeta a germinação
e a densidade das culturas bem como o seu desenvolvimento vegetativo, tendo
como conseqüência a redução da produtividade das lavouras.

93
3.3.10. Turismo

Comparado a outros produtos de exportação brasileira, o crescimento da receita


gerada com o turismo é importante. Apenas entre 97 e 98, esse aumento foi de
41%, superando o crescimento da receita de exportação do minério de ferro e do
açúcar. Em volume de divisas, só perde para a soja. O ecoturismo, na indústria de
turismo e viagens, é o segmento que apresenta o maior crescimento, resultando
num incremento contínuo de ofertas e demandas por destinos ecoturísticos.

A bacia do rio São Francisco é uma região rica em recursos naturais, abrigando uma
diversidade de culturas, de locais históricos, de sítios arqueológicos e de
importantes centros urbanos. Estas características associadas ao longo curso do rio
e às belezas naturais da região oferecem um grande potencial para o
desenvolvimento do setor turístico.

O Programa Nacional de Municipalização do Turismo (PNMT), que tem como


objetivo geral a promoção do desenvolvimento turístico sustentável nos municípios,
juntamente com a orientação da Organização Mundial de Turismo, foi responsável
nos últimos quatro anos, por uma revolução silenciosa que mudou a consciência da
comunidade local ao mostrar a importância política do turismo para o
desenvolvimento sustentado dos municípios.

No Nordeste, sete novos aeroportos foram construídos, 22 mil metros quadrados de


patrimônio histórico foram restaurados, 17 projetos de saneamento básico foram
executados e 280 quilômetros de estradas foram construídos. A partir dos
investimentos públicos, ocorreu a motivação para investimentos da iniciativa privada
em novos empreendimentos turísticos. Alguns municípios já possuem iniciativas
próprias para incentivo dessa atividade em sua região.

A implantação de uma Política Nacional de Ecoturismo poderá ser um forte aliado


no desenvolvimento da economia local, com objetivos básicos de compatibilizar as
atividades de ecoturismo com a conservação de áreas naturais; fortalecer a
cooperação interinstitucional; possibilitar a participação efetiva de todos os
segmentos atuantes no setor; promover e estimular a capacitação de recursos
humanos para o ecoturismo; promover, incentivar e estimular a criação e melhoria

94
da infra-estrutura para a atividade de ecoturismo.

Outras iniciativas setoriais também contribuem para o processo, como o Programa


Nacional de Desenvolvimento da Pesca Amadora pela Embratur e Ibama.

As atividades de turismo e lazer ainda são incipientes na bacia hidrográfica do São


Francisco e zona costeira, a despeito de alguns programas e das possibilidades
oferecidas pelos reservatórios, do turismo ecológico, dos Parques Nacionais e da
pesca no curso principal e afluentes. Verifica-se, nesse caso, que o setor carece de
definição de política e estratégia de uso racional dos lagos dos reservatórios como
possibilidade de oferta de lazer e fonte de recursos.

Motivados pela revitalização, o barco-gaiola Benjamim Guimarães foi restaurado


pela Prefeitura Municipal de Pirapora, e o Governo de Minas Gerais.

A CODEVASF apresentou recentemente uma proposta de turismo hidroviário das


nascentes à foz, nos vários estirões navegáveis, desde Iguatama-MG até
Piaçabuçu-AL e Pontal do Cabeço-SE.

Merece destaque ainda a implantação do Pólo de Ecoturismo do Canyon do Rio São


Francisco, que cobre num primeiro momento, um universo de 48 municípios dos
Estados da Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe, com população total da ordem
de 1.200.000 pessoas. A proposta do Pólo evoluiu, mantendo-se o título original que
apresenta o ecoturismo como carro-chefe da estratégia, para transformá-lo em uma
área de geração de produtos sustentáveis de toda ordem, a serem consumidos na
região e fora dela.

95
3.3.11. Povos indígenas

O Brasil completou 500 anos em 2.000 e ainda ignora a imensa diversidade de


povos indígenas que vivem no país. Estima-se que, na época da chegada dos
europeus, fossem mais de 1.000 povos, somando entre 2 e 4 milhões de pessoas.
Hoje, são cerca de 220 povos que falam mais de 180 línguas diferentes e totalizam
aproximadamente 370 mil indivíduos, correspondendo à cerca de 0,2% da
população brasileira.

A maior parte dessa população distribui-se por milhares de aldeias, situadas no


interior de 614 Terras Indígenas, de norte a sul do território nacional. Na bacia do
São Francisco vivem cerca de 5% destes indígenas, totalizando cerca de 18.000
indivíduos, habitando 22 Terras Indígenas e representando 16 etnias (Quadro 18).

No Estado de Pernambuco estão 53% dos índios da bacia (9561 indivíduos). A


Bahia vem em segundo lugar, com 22% (3998 indivíduos), Alagoas tem 3759
indivíduos totalizando 21%, e Minas Gerais abriga os 4% restantes, com uma
população de cerca de 600 indivíduos apenas.

Dos povos indígenas da bacia merecem destaque os Fulni-ô por serem o único
grupo do Nordeste que conseguiu manter viva e ativa sua própria língua - o Ia-tê. Na
parte central das terra indígena (TI) se encontra assentada a cidade de Águas Belas
rodeada totalmente pelo território Fulniô. São 2.800 índios que vivem nessa TI em
Pernambuco.

Comunidades Quilombolas

Segundo a Associação Brasileira de Antropologia (ABA). o termo remanescente de


quilombo pode ser definido como “grupos que desenvolveram práticas de resistência
na manutenção e reprodução de seus modos de vida característicos num
determinado lugar” ou seja, está além do senso comum de movimentos
insurrecionais ou rebelados contra o sistema de trabalho escravista.

96
Quadro 18. Terras Indígenas da Bacia Hidrográfica do São Francisco
ESTADO Município Terra Indígena Grupo Indígena População
Alagoas Água Branca Geripancó Xucuru-Kariri 1.000
São Sebastião Karapotó Karapotó 1.050
Porto Real do Colégio Kariri-Xocó Kariri-Xocó 1.500
Feira Grande Tingui-Botó Tingui-Botó 209
Bahia Muquém de S. Francisco Barra Atikum e Kiriri 32
Glória Brejo do Burgo Pankarare 793
(abrange
municípios de
Paulo Afonso e
Rodelas)

Kantaruré Kantaruré 260


Quixabá Xukuru-Kariri 126
Paulo Afonso Tumbalala Tucumanduba indefinida
Pankararé Pankararé 1400
(abrange
município de
Rodelas)
Rodelas Tuxá Tuxá 750
Bom Jesus da Lapa Vargem Alegre Pankararu 87
Ibotirama Ibotirama Tuxá 550
Minas Gerais Rio Pardo de Minas Luisa do Vale Tembé 3
Itacarambi Xacriabá Xacriabá 600
Pernambuco Belém de São Francisco Atikum Atikum 2799
Carnaubeira da Penha
Mirandiba
Salgueiro
Inajá Fazenda Funil Tuxá indefinida
Kambiwá Kambiwá 1255
Águas Belas Foklassa Fulni-ô 43
Itaíba Fulni-ô (abrange o
município de
Águas Belas)
Floresta Kambiwá Kambiwá 1255
Ibimirim
Buíque Kapinawá Kambiwá 500
Cabrobó Truká Truká 909
Pesqueira Xukuru
Sergipe Porto da Folha Caiçara/Ilha de
Pedro
TOTAL 23 municípios 22 terras 16 etnias 17921 hab
Fonte:

97
A legislação brasileira já adota conceito acima de comunidade quilombola e para o
reconhecimento destas é necessário somente a auto-identificação, uma vez que a
classificação de comunidade como quilombola não se baseia em provas de um
passado de rebelião e isolamento, mas depende antes de tudo de como aquele
grupo se compreende, se define.

Atualmente no Brasil existem 61 terras tituladas, contemplando 119 comunidades


com um total de 7635 famílias numa extensão de 904,489 hectares titulados
(Comissão Pro-índio, 2004). Os quilombolas do século 21 se esforçam para
preservar - ou mesmo recriar - a cultura de seus antepassados e desenvolver a
economia de suas comunidades, em especial a agricultura, para ganharem a
dignidade de uma vida acima da pura subsistência.

Na bacia do São Francisco estão formalmente localizadas 5 comunidades


remanescentes de quilombos tituladas, correspondendo a 17% do total de
comunidades tituladas do Brasil (Quadro 19).

Existem ainda comunidades quilombolas atendidas pelo Programa Fome Zero em


12 municípios da bacia: São João da Ponte em Minas Gerais; Bom Jesus da Lapa,
Malhada, Rio de Contas, Muquém do São Francisco e Wanderley na Bahia;
Itacuruba e Salgueiro em Pernambuco; Batalha e Poço das Trincheiras em Alagoas;
e Amparo do São Francisco e Porto da Folha em Sergipe.

Comunidade dos Crioulos

A comunidade remanescente Brejo dos Crioulos fica próxima a Montes Claros, no


município de São João da Ponte, Minas Gerais, e é formada pelos grupos locais
Araruba, Arapuim, Cabaceiros, Caxambu, Conrado e Furado Seco.

Os primeiros registros da existência da comunidade datam de meados do século


XVIII. Hoje vivem no local 1.400 pessoas, reunidas em 270 famílias. Os moradores
desenvolveram um sistema peculiar de organização social, cultural e produtiva,
baseada em heranças africanas, indígenas e portuguesas. Eles vivem da atividade
agrícola de subsistência cultivando milho, soja, feijão, mandioca e algumas

98
hortaliças.

Quadro 19. Comunidades remanescentes de quilombos tituladas


Terra Título/ órgão
Comunidade Município UF Famílias Área/ha
Quilombola expedidor
Bananal e 22/12/99
Rio das
Barro do Rio de Contas BA 148 1339,28 Gov. Estado da Bahia
Contas
Brumado e FCP
Mangal/ Barro 14/07/00
Mangal Sítio do Mato BA 295 7615,16
Vermelho ITERBA e FCP
Bom Jesus da 14/07/00
Rio das Rãs Rio das Rãs BA 300 27200
Lapa FCP
Conceição da Conceição da 14/07/00
Salgueiro PE 356 16865,07
Crioulas Crioulas FCP
14/07/00
Mocambo Mocambo Porto da Folha SE 130 2100,54
FCP
Fonte: Comissão Pró-Indío São Paulo, 2004

A Comunidade de Brejo dos Crioulos está em processo de reconhecimento pelo


Ministério Público Federal e pela Fundação Palmares de sua condição de
comunidade remanescente de quilombo.

Comunidade negra rural quilombola Rio das Rãs

A comunidade negra rural quilombola Rio das Rãs é formada por nove
comunidades: Brasileira, Enxu, Bom Retiro, Barreiro do Jacaré, Central, Aribá,
Mucambo, Vila Mariana e Rio das Rãs. Com aproximadamente 590 famílias, em
uma área de 39.000 ha, localiza-se a oeste do estado da Bahia, no município de
Bom Jesus da Lapa, a 970 km de Salvador, Região Econômica do Médio São
Francisco.

Na Comunidade, observa-se a presença de descendentes de índios, que se


associaram com os negros do mucambo Rio das Rãs, denominação regional
empregada pelos negros para definir sua Comunidade, mucambo ao invés de
quilombo.

A principal especificidade do mucambo é localizar-se à margem do rio das Rãs e do

99
rio São Francisco, pois o recurso hídrico é necessário ao ciclo de crescimento dos
vegetais e animais, o que possibilita a manutenção da Comunidade.

A região em que se localiza a Comunidade Negra Rural Rio das Rãs é uma área de
fronteira agrícola da Bahia que passou a ser valorizada a partir da década de
setenta, com os financiamentos da Superintendência de Desenvolvimento do
Nordeste (SUDENE), ocorrendo a implantação de empresas agrícolas, fazendas de
gado, projetos de irrigação e outros.

100
3.3.12. Agenda 21

Agenda 21 é um instrumento de planejamento para a construção de sociedades


sustentáveis que concilia métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência
econômica.

Como resultado de movimentos sociais e ambientalistas articulados com governos


de Estado através da ONU, propõe um novo modelo de desenvolvimento, para o
qual governo e sociedade assumem conjuntamente o compromisso de melhorar a
qualidade de vida do planeta. Assim, o termo “Agenda 21” empregado no sentido de
intenções, desejo de mudança para um novo modelo de civilização para o século
XXI, propõe planos de ação para o desenvolvimento sustentável, com
desdobramentos em diferentes níveis: global, nacional e local.

A ONU propôs o acordo da Agenda 21 global durante a Conferência Mundial sobre


Desenvolvimento e Meio Ambiente realizada no Rio de Janeiro, em 1992. Desde
então, o Brasil está entre os 179 países que assinaram o acordo, com o
compromisso de construir e implementar Agenda 21 Nacional.

Em 1997, foi criada no Conselho de Recursos Naturais do Governo Federal a


Comissão de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável e Agenda 21 Nacional –
CPDS, constituída de forma paritária entre governo e sociedade, para conduzir o
processo de construção da Agenda 21 Brasileira. A CPDS promoveu consultas
públicas, sistematizou os resultados, e em 2002, apresentou a Agenda 21 Brasileira,
em 5 linhas estratégicas e 21 ações prioritárias.

Em 2003, o atual governo dá início à implementação do Programa Agenda 21, que


tem sua coordenação na Secretaria de Políticas para o Desenvolvimento
Sustentável do Ministério do Meio Ambiente.

A Agenda 21 Brasileira está sendo implementada por meio de três linhas de ação,
com metas para concretizar o conceito da sustentabilidade em todos os programas
e níveis de governo, tendo o componente ambiental como tema transversal. A
primeira linha de ação tem como meta implementar as ações prioritárias da Agenda
21 Brasileira; a segunda a promoção para construção e implementação de Agendas

101
21 Locais; e a terceira visa a formação continuada em Agenda 21 Local.

Nesse contexto, a compreensão dos papéis do governo e da sociedade na


construção de um modelo de desenvolvimento sustentável para o país tem
estimulado iniciativas para maior participação da sociedade na formulação e
acompanhamento das políticas públicas.

No nível federal a CPDS foi ampliada para aumentar a representatividade dos


diferentes segmentos sociais e efetivar a transversalidade, reunindo grupos de
trabalho em torno de temas estruturantes, como o da territorialidade. Assim é que as
ações do governo poderão incidir em áreas prioritárias, com a convergência de
programas, como é o caso do Programa de Revitalização da bacia do Rio São
Francisco - PRBHRSF.

No nível local, a cada dia têm crescido as iniciativas de construção de Agendas 21


Locais. O governo tem empregado esforços para estimular, orientar e apoiar as
iniciativas, seja através do acompanhamento realizado pelo Programa Agenda 21,
como pelo fomento que é oferecido pelo Fundo Nacional do Meio ambiente – FNMA.

No território de abrangência do PRBHRSF já existem alguns Fóruns de Agenda 21,


com local constituído, articulados com o Programa Agenda 21 para o alcance das
metas definidas no Componente Sócio-ambiental.

Dessa forma, o comitê de bacia fortalece a parceria articulada por meio de Fóruns
de Agenda 21 Locais, contribuindo para a construção das bases de sociedades
sustentáveis e implementação do Plano Local de Desenvolvimento Sustentável,
ressaltando a importância do ordenamento territorial, em que a unidade de
planejamento é a bacia hidrográfica.

A proposta da transversalidade torna a parceria fundamental. Agenda 21,


Zoneamento Ecológico - Econômico, Planos Diretores Urbanos, Orçamento
Participativo, e outros, podem e devem caminhar juntos. O conjunto de ações
representa muito mais do que um plano de intervenção local, quando cria as
condições para consolidar cenários futuros construídos coletivamente. Daí a
necessidade do governo de efetivar parcerias e certificar os processos.

102
A representatividade atual da CPDS lhe confere legitimidade para definir um
programa de certificação dos processos, o qual está sendo discutido para
implementação, de forma a contemplar diferentes bases geográficas e etapas em
que se encontram as Agendas 21 Locais, desde a sensibilização, criação do fórum
até a implementação do Plano Local de Desenvolvimento Sustentável aprovado pela
população envolvida.

Com esforço coletivo, o Programa de Revitalização pode tornar-se uma referência


da construção do modelo de desenvolvimento sustentável que queremos. O
estímulo à gestão participativa tem sido mantido por esta rede de cooperandos, para
a execução de planos de ação em parceria, construção de bases de conhecimento
das potencialidades e vulnerabilidades locais, aproximação da sociedade local com
gestores públicos e entre entes federativos para compatibilizar ações na gestão
ambiental, tanto do governo executivo e legislativo, quanto do ministério público e
ações de controle social, enfim, todos os envolvidos em processos de Agenda 21
nos níveis global, nacional e local.

A Agenda 21 Local é um instrumento de planejamento de políticas públicas que


envolvem a sociedade civil e o governo em um processo amplo e participativo de
consulta sobre os problemas ambientais, sociais e econômicos locais e o debate
sobre soluções para esses problemas através da identificação e implementação de
ações concretas que visem o desenvolvimento sustentável local. É um dos principais
instrumentos para se conduzir processos de mobilização, troca de informações,
geração de consensos em torno dos problemas e soluções locais e estabelecimento
de prioridades para a gestão de desde um estado, município, bacia hidrográfica,
unidade de conservação, até um bairro, uma escola.

O processo deve ser articulado com outros projetos, programas e atividades do


governo e sociedade, sendo consolidado, dentre outros, a partir do envolvimento
dos agentes regionais e locais; análise, identificação e promoção de instrumentos
financeiros; difusão e intercâmbio de experiências e definição de indicadores de
desempenho.

103
Quadro 20 - Municípios da bacia do São Francisco em processo de
implantação de Agenda 21 Local..
Município UF
Arapiraca * AL
Penedo AL
América Dourada BA
Barreiras BA
Boquira BA
Caturama BA
Chorrochó BA
Curaçá * BA
Delmiro Gouveia BA
Guanambi BA
Ibotirama BA
Jacaraci BA
Jacobina BA
Macaúbas BA
Paramirim * BA
Riacho de Santana BA
São Félix do Coribe BA
Belo Horizonte MG
Betim * MG
Capitólio MG
Conceição do Mato Dentro * MG
Congonhas MG
Conselheiro Lafaiete MG
Contagem * MG
Ilicínia MG
João Pinheiro MG
Nova Lima MG
Ouro Branco MG
Ouro Preto MG
Paracatu MG
Pimenta MG
Sete Lagoas MG
Araripina * PE
Petrolina * PE
Araripe PE
Agenda 21 do Estado de Pernambuco * PE
Fonte:
· = financiados pelo FNMA

Na bacia do São Francisco atualmente estão sendo implantadas Agendas 21 Locais


em 15 municípios de Minas Gerais, 15 municípios da Bahia, 3 municípios de
Pernambuco e mais a Agenda 21 deste Estado, e 2 municípios de Alagoas,
conforme representado no Quadro 20.

Para 9 dessas agendas houve financiamento do FNMA. O Estado de Pernambuco

104
é a primeira unidade da Federação a consolidar a Agenda 21 Estadual. Foi lançada
no dia 06 de agosto deste ano, contendo planos estratégicos em seis temas
centrais: cidades sustentáveis, gestão dos recursos naturais, combate à
desertificação e convivência com a seca, redução das desigualdades sociais, infra-
estrutura e economia sustentável.

105
3.3.13. Reforma Agrária

Na bacia do São Francisco existe um plano de reforma agrária para a região do


Médio São Francisco - MSF, sob jurisdição da Superintendência do INCRA - SR-29.
Essa região compreende 28 municípios, sendo 22 no estado de Pernambuco e 6 no
estado da Bahia, conforme apresentado no Quadro 21.

Quadro 21. Municípios da Região do Médio São Francisco com plano de


Reforma Agrária.
Município UF
Afrânio PE
Belém de São Francisco PE
Betânia PE
Cabrobó PE
Carnaubeira da Penha PE
Dormentes PE
Floresta PE
Ibimirim PE
Inajá PE
Itacuruba PE
Jatobá PE
Lagoa Grande PE
Mirandiba PE
Orocó PE
Parnamirim PE
Petrolândia PE
Petrolina PE
Salgueiro PE
Santa Maria da Boa Vista PE
Serra Talhada PE
Tacaratu PE
Terra Nova PE
Abaré BA
Chorrochó BA
Curaçá BA
Glória BA
Macururé BA
Rodelas BA
Fonte:

Essa área faz parte da meso-região do Xingó, criada pelo Ministério da Integração
(MI) para articular ações regionais de desenvolvimento, e alguns dos municípios
estão incluídos na Região Integrada de Desenvolvimento (RIDE) Petrolina –

106
Juazeiro, também criada pelo MI, e do Território de Desenvolvimento do São
Francisco, criado pelo Ministério de Desenvolvimento Agrário em conjunto com o
Governo do Estado de Pernambuco.

De acordo com a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco


(CODEVASF), essa região estende-se de Remanso até Paulo Afonso, incluindo as
sub-bacias dos rios Pajeú, Tourão e Vargem, além da sub-bacia do rio Moxotó,
último afluente da margem esquerda do rio São Francisco. As principais cidades
dessa região são Juazeiro e Paulo Afonso, na Bahia, e Petrolina, Ouricuri, Salgueiro
e Serra Talhada, em Pernambuco.

As intervenções federais com reflexo na estrutura fundiária têm sido feitas por três
grandes instituições: CHESF, CODEVASF e INCRA. Embora realizadas por
diferentes motivos, essas intervenções federais proporcionaram uma reestruturação
fundiária na região, beneficiando pequenas famílias produtoras e introduzindo novos
sistemas produtivos.

A criação do “Sistema Itaparica”, composto por 9 perímetros irrigados pela CHESF,


os perímetros irrigados da CODEVASF e sua intervenção no sistemas de produção
das ilhas e a intervenção do INCRA, resultaram na transformação de grandes e
médias propriedades em mais 10.000 novos imóveis rurais, até o ano de 2003.

Nos territórios dos municípios da região do MSF a densidade demográfica é


relativamente baixa. As secas periódicas levaram as famílias a abandonarem o
campo, se deslocando para as sedes dos municípios ou para outras regiões,
prioritariamente, aquelas que empregavam mão-de-obra sem qualificação. Muitas
foram para o pólo de Petrolina/Juazeiro, outras para o Norte, algumas para as
capitais, mas a maioria migrou para o sul do país, especialmente para São Paulo.

Atualmente muitas famílias de agricultores encontram-se morando nas periferias das


sedes dos municípios, mas trabalhando na área rural ou em atividades relacionadas
com a agricultura.

Na região da SR-29 constata-se a existência de apenas um Quilombo reconhecido


pela Fundação Palmares, situado no município de Salgueiro, denominado

107
Conceição das Crioulas. Esta área já tem seu polígono definido, e possui decreto de
outorga da Presidência da República. A comunidade é composta por
aproximadamente 630 famílias, sendo 150 na sede e as demais distribuídas no
restante da área, onde se constata a presença de “posseiros”.

A ação imediata do INCRA será a formulação do Projeto de Desenvolvimento do


Quilombo, que será efetivado em parceria com a Fundação Joaquim Nabuco de
Pesquisas Sociais-FUNDAJ.

Dada a existência de grupos de índios em Cabrobó, Floresta e Mirandiba, o INCRA


pretende desenvolver ações conjuntas com a FUNAI para resolver os problemas de
delimitação de área, assim como trabalhar em ações afirmativas para elevar o papel
social das tribos, começando por atividades produtivas.

Em seu Plano Regional de Reforma Agrária do Médio São Francisco o INCRA


identificou vários problemas, deficiências e carências, indicando como razão
principal para os mesmos as intervenções públicas. Isso porque as instituições
públicas que trabalham na região o fazem sem qualquer articulação. Isto vale para
os três níveis de Governo. Sem esta articulação, a sobreposição e o desperdício de
projetos e recursos é enorme, o que o Governo Federal tem definido como uma
situação a superar para poder assegurar o Desenvolvimento Sustentável.

O Plano, com base na análise dos problemas da região indicou 7 Programas


Básicos visando apoiar a solução destes problemas, a saber:

· Programa de avaliação e reestruturação das intervenções públicas;


· Programa de Assistência Técnica, Extensão Rural e Capacitação;
· Programa de Fomento à Agro-industrialização;
· Programa de Fortalecimento das Cadeias Produtivas;
· Programa de Profissionalização de Jovens e adultos;
· Programa de Manejo Florestal Sustentável, e
· Programa de melhoria da qualidade de vida.

Estes programas serão desenvolvidos e articulados através da Câmara de


Desenvolvimento Sustentável do Médio São Francisco que se constituirá por meio

108
dos aportes e participação das entidades vinculadas ao desenvolvimento da região,
levando à frente os 7 programas, e os demais que vierem a ser sugeridos no
decorrer da revisão das intervenções públicas.

109
3.4. Caracterização dos problemas

A bacia do Rio São Francisco apresenta, evidentemente, diversos problemas sócio-


ambientais, que envolvem várias questões sociais, ecológicas e econômicas. Muitos
desses problemas estão relacionados principalmente aos sérios conflitos entre os
usuários da água, ao uso irracional e indevido dos recursos natuais e a ausência de
integração e efetivadade na implantação de políticas públicas voltadas ao
desenvolvimento e a sustentabilidade do Velho Chico.

São problemas que apresentam repercussões socioambientais impactantes que


degradam continuamente todo o meio ambiente da região. Do ponto de vista
técnico, foram realizados e concebidos nos últimos anos diversos estudos, planos e
relatórios no âmbito da bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, os quais
relacionavam os vários problemas identificados na bacia diretamente associados
com o processo de degradação que vem ocorrendo nesta região.

Dentre os problemas identificados na bacia, alguns são específicos ou


predominantes de determinadas regiões e outros ocorrem em toda a extensão da
bacia do Rio do São Francisco. De todo modo, contribuem para o agravamento das
condições sócio-ambientais da bacia, principalmente devido a uma falta de
coordenação nas ações institucionais e uma permanente desarticulação nas ações
governamentais tanto a nível federal, como estadual e municipal.

Entre estes vários documentos existentes sobre a bacia do Rio São Francisco, que
servem de base para o Programa de Revitalização, devemos destacar o Planvasf, o
DAB, o PAE e principalmente o Plano Diretor da bacia, este ultimo aprovado em
2004 pelo CBH-SF, e cujas informações se somaram aos problemas identificados
também pela população e pelas próprias instituições que já atuam na bacia.

Neste contexto, foram analisados e tomados em conta na preparação do Programa


de Revitalização, entre 2003 e 2004, os vários problemas identificados nos
principais documentos e relatórios sobre a bacia, além dos apresentados pela

110
sociedade civil, oriundos dos diversos encontros, audiências e plenárias realizadas
nas quatro regiões fisiográficas da bacia.

Essas várias informações e dados foram também compilados e analisados pelo


Grupo de Trabalho do São Francisco, inclusive com as contribuições oriundas do
Comitê da bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. Os problemas foram
relacionados por região e posteriormente sistematizados em dez principais
problemáticas sócio-ambientais. Eles serão permanentemente considerados pelas
autoridades governamentais, no processo de implementação do Programa e na
busca de soluções para eliminação ou minimização dos seus respectivos efeitos
negativos, com vista ao desenvolvimento sustentável da bacia.

As informações relacionadas aos principais problemas da bacia foram consolidadas


de duas formas diferentes: uma primeira, mais simplificada e setorial, apresentando
os problemas específicos predominantes, divididos por região fisiográfica, conforme
destacado a seguir; e uma segunda, apresentando no âmbito geral da bacia, os
seus dez principais problemas sócio-ambientais, que poderão ser denominados
também como sendo os dez pecados da bacia.

111
3.4.1. Problemas sócio-ambientais predominantes, por região fisiográfica da
bacia hidrográfica

Alto São Francisco

(i) A erosão e assoreamento, oriunda de desmatamentos e mau uso do solo, com


aumento da carga de sedimentos que atingem os corpos de água acarretando
problemas de qualidade e assoreamento da calha fluvial; (ii) A concentração urbana,
industrial e de atividades mineradoras, principalmente siderúrgicas; (iii) A poluição
ambiental, pela geração de resíduos e lançamento de esgotos; (iv) A destruição das
áreas de proteção permanente e das florestas naturais, comprometendo o meio
ambiente.

Médio São Francisco

((i) A poluição difusa em razão da agricultura e de esgotos, comprometendo a


qualidade ambiental e das águas superficiais e subterrâneas; (ii) O desmatamento
das áreas de cerrado e caatinga; (iii) A destruição das lagoas marginais; (iv)) O uso
intensivo de água superficial e subterrânea na agricultura irrigada.

Sub-médio São Francisco

(i) A poluição difusa em razão da agricultura e de esgotos lançados inclusive em


corpos d’água intermitentes; (ii) Os resíduos sólidos sem controle e com
destinação final inadequada; (iii) A destruição das matas e escassez de água em
razão da intermitência dos tributários; (iv) A alteração do regime hídrico devido às
barragens.

(ii)

112
Baixo São Francisco

(i) Os impactos dos reservatórios a montante na ictiofauna, com a perda de


biodiversidade em razão da redução de nutrientes e ausência de cheias que
permitam a ocorrência da piracema; (ii) O desmatamento e erosão das margens e
do leito do rio São Francisco; (iii) A quebra do equilíbrio sedimentológico e de cheias
na foz; (iv) A poluição ambiental urbana, pela geração de resíduos e lançamento de
esgotos;

113
3.4.2. Principais problemas sócio-ambientais

Os principais problemas existentes em toda a bacia, resultado das compilações e


análises mediante a elaboração do Programa de Revitalização, foram identificados e
sistematizados em dez principais problemas críticos e prioritários da bacia,
detalhados a seguir.

I. Faltam de articulação interinstitucional e intergovernamental


II. Conflitos pelo uso da água

III. Poluição Ambiental

IV. Desmatamento

V. Uso e ocupação inadequada do solo

VI. Redução da Biodiversidade

VII. Erosão e Assoreamento

VIII. Escassez da Água

IX. Ausência de Gestão Ambiental e Planejamento Estratégico

X. Desigualdade e Estagnação socioeconômica

Para cada um dos problemas gerais prioritários relacionados acima, apresentam-se


a seguir comentários, abordando aspectos específicos e ponderações sobre as
possíveis inter-relações identificadas.

I. Falta de articulação interinstitucional e intergovernamental

Falta de integração entre os órgãos governamentais e ausência de coordenação dos


diversos estudos e projetos realizados. Descrédito da população nas ações
governamentais e a frágil educação ambiental e conscientização dos ribeirinhos.

114
A articulação institucional reconhecida como principal elemento do Programa e
essencial para a implementação de leis, regulamentos e procedimentos, além de
projetos de desenvolvimento integrado, foi identificada como ausente na bacia. Essa
falta de articulação inclui a frágil capacidade institucional, notadamente no que se
refere a definição dos objetivos e estabelecimento das atribuições dos diferentes
organismos atuantes na bacia e identificação de habilidade das instituições em
exercer suas funções de forma coordenada, articulada e integrada (Figura 23).

Figura 23 - Articulação interinstitucional

II. Conflito pelo uso da água

Conflitos de uso da água e insuficiência para uso múltiplo - Conflitos entre usuários
de água. A bacia do Rio São Francisco, por sua área e os diferentes estágios de
desenvolvimento, é uma bacia de usos múltiplos, o que representa um grande
desafio e exige uma análise do conjunto para que se possa planejar
adequadamente sua gestão e atender a todas as demandas de usos da água.

Portanto, a possibilidade de aumento dos conflitos pelo uso da água na bacia do


São Francisco é cada vez maior, dada a crescente demanda por este recurso,
impondo, assim, a necessidade de se operar o sistema hídrico da bacia de forma a
atender eficientemente os usos múltiplos, estabelecendo as prioridades de uso
conforme preceitua a Lei 9.433/97 (Figura 24).

Figura 24 - Prioridades de uso conforme preceitua a Lei 9.433/97

Nas últimas décadas o governo tem promovido numerosas ações para fomentar o
desenvolvimento da bacia do São Francisco. A maioria delas tem sido do tipo
setorial, de modo que até o presente tem como principais usos a geração de energia
elétrica e a irrigação (Figura 25).

115
Figura 25 - Geração de energia elétrica e a irrigação

As principais áreas onde ocorrem conflitos de grande relevância são as sub-bacias


dos rios: das Velhas, Paraopeba, Alto Preto, Alto Grande, Verde Grande, Salitre e o
Baixo São Francisco. De forma geral, esses conflitos envolvem a agricultura irrigada,
a geração de energia (instalação das barragens e operação de reservatórios), o uso
da água para o abastecimento humano, a diluição de efluentes urbanos, industriais
e da mineração e a manutenção dos ecossistemas.

Na região do Alto São Francisco, nas sub-bacias do rio das Velhas e Paraopeba, os
problemas identificados têm origem na mineração e na alta concentração
populacional, que exercem forte pressão sobre os recursos hídricos. Nesse caso, a
diluição de efluentes concorre com outros usos mais nobres, tais como
abastecimento de água, piscicultura e recreação de contato primário.

A utilização da energia hidrelétrica tem procurado ser otimizada em conjunto com


outros usos tais como irrigação, navegação, controle de cheias, lazer e turismo,
qualidade de água e preservação da flora e faunas aquáticas. A discutida
insuficiência deve ainda ser analisada mais profundamente através de um balanço
detalhado de disponibilidades e demandas

Ainda existe, entretanto uma falta de conhecimento sistemático das demandas


setoriais e regionais, presentes e futuras e da disponibilidade do potencial
hidrogeológico e potencial hídrico, principalmente dos cursos de água efêmeros,
para definir com exatidão a dimensão desses vários conflitos.

A geração hidrelétrica na bacia é notável, com aproveitamentos de grande, médio e


pequeno portes e potencial instalado superior a 10.500 MW. Da mesma maneira, a
irrigação exerce uma demanda importante, o abastecimento urbano é significativo,
assim como o uso industrial da água e o potencial desta para o transporte
hidroviário, havendo na bacia mais de 1900 km de vias navegáveis, com destaque
os 1243 km entre Pirapora e Sobradinho.

116
No que diz respeito aos usos consultivos há um nítido predomínio da irrigação, com
68% do total da área utilizada na bacia. A Figura 26 permite uma visualização
gráfica da participação de cada setor usuário da água por região da bacia.

. Fonte: Agência Nacional de Águas – ANA. Brasília. 2002.


Figura 26. Demanda de uso da água por região fisiográfica

Em resumo, a Figura 26 indica, por região, que o Alto São Francisco reflete uma
vocação urbana industrial em uma parte, e uma vocação rural, em outra. É a típica
situação de usos múltiplos da água. O Médio, o Sub-Médio e o Baixo têm uma
vocação nitidamente rural, com predomínio do uso da água para a agricultura
irrigada.

No que concerne às utilizações não consuntivas, o uso da água para a diluição de


efluentes, ainda que elevado e de padrão fora do admissível, não comparece nas
estatísticas com exatidão, pois estas somente alcançam os usuários que estiverem
outorgados em razão da existência de estações de tratamento.

A estimativa da disponibilidade de recursos hídricos superficiais na bacia é baseada


principalmente nos resultados do projeto “Revisão das séries de vazões naturais nas
principais bacias do Sistema Interligado Nacional – SIN” (ONS 2003), do DAB, do
PAE e do Plano Diretor da bacia. Tais estudos foram complementados, com a base
de dados das Regiões Hidrográficas Brasileiras (SPR/ANA 2003).

A demanda de recursos hídricos na bacia estimada atualmente é de 203 m³/s,

117
representando 9% da demanda do Brasil. A maior relação entre demanda e
disponibilidade está no Alto São Francisco, onde o valor chega a 19,8%, seguida do
Médio São Francisco (8,5%), do Sub-médio (6,8%) e do Baixo São Francisco
(2,1%).

As maiores vazões de retirada estão nas bacias dos rio das Velhas (13 %), Curaçá
(12 %), Paraopeba (6 %), Pontal (6 %), na bacia do Alto rio Grande (6 %), do rio
Paracatu (6 %), do rio Ipanema e Baixo São Francisco (5 %) e do rio Verde Grande
(5 %). Em relação à vazão consumida, as unidades hidrográficas com maior
consumo são: Curaçá (15 %), Alto rio Grande (7 %), rio Pontal (7 %), rio Paracatu (7
%), rio das Velhas (6 %), Baixo Ipanema e Baixo São Francisco (6 %), Corrente (5
%) e Verde Grande (5 %).

Na bacia do São Francisco, a vazão de retirada (166 m3/s) é distribuída nos


diferentes usos da seguinte forma: 69 % para irrigação, 16 % para abastecimento
urbano, 4 % para uso animal, 9 % para abastecimento industrial e 2 % para
abastecimento rural. Por outro lado, a vazão consumida (105 m3/s) é assim
distribuída: 86 % para irrigação, 5 % para abastecimento urbano, 5 % para uso
animal, 3 % para abastecimento industrial e 1 % para abastecimento rural.

As taxas de retorno na bacia são, em média, de 80 % da vazão para abastecimento


urbano, 50 % da vazão para abastecimento rural, 20 % da vazão destinada à
irrigação, 20 % da vazão para uso animal e 80 % da vazão para abastecimento
industrial. Na sub-bacia do rio Verde Grande, a pressão deve-se à forte expansão da
irrigação, sem planejamento e ordenamento mais adequados do uso do solo e da
água. Atualmente, a área instalada com infra-estrutura de irrigação é maior do que a
bacia pode suportar.

A irrigação como uma das maiores usuárias de água da bacia, tem e terá um papel
preponderante no seu desenvolvimento socioeconômico em bases sustentáveis,
uma vez que não são muitas as alternativas para o semi-árido. Verifica-se,
entretanto que o uso eficiente da água na irrigação necessita ser urgentemente
melhorado, assim como implementadas iniciativas de conservação de água e solo.

A expansão da prática de irrigação tem sido um fator de pressão sobre o uso do

118
solo, da água e de substituição da cobertura vegetal; além dos aspectos
relacionados ao uso de agro-químicos (inseticidas, fungicidas, herbicidas e adubos
inorgânicos), que, se utilizados de maneira inadequada, contaminam o solo e as
águas.

Já, a navegação foi fator de desenvolvimento da bacia do rio São Francisco, quando
os cerca de 1900 km de suas hidrovias estimularam o processo de ocupação e a
criação de pólos comerciais.

Nas últimas décadas o uso da hidrovia foi sendo gradualmente desativado, em


função de políticas de transporte que privilegiaram o modal rodoviário e, em
segundo plano, o ferroviário. Estes de certa forma contribuíram para negligenciar a
manutenção da hidrovia.

É conhecido que o transporte hidroviário apresenta vantagens comparativas em


relação aos outros modais. Diante disto deve se analisar a problemática da
navegação integrada com os demais modais, visando aumentar a competitividade
da agricultura irrigada da bacia, especialmente nas regiões Oeste e Sudoeste.

Existem aspectos importantes a serem analisados e que incluem a ausência de


políticas públicas e calado adequado dos canais de navegação. O processo de
assoreamento que causa restrições à navegação é originado pelo inadequado
manejo do solo e deve ser considerado no planejamento da bacia (Figura 27).

Figura 27 - Navegação

São precárias as condições atuais de navegabilidade do rio São Francisco. O rio,


que sempre foi navegado sem maiores restrições entre Pirapora e Petrolina/Juazeiro
(1.312 km), no médio curso, e entre Piranhas e a foz (208 km), no baixo curso, hoje
só apresenta navegação comercial no trecho compreendido entre os portos de
Muquém do São Francisco (Ibotirama) e Petrolina/Juazeiro.

Mesmo neste trecho, a navegação vem sofrendo revezes por deficiência de calado.
Isso ocorre tanto na entrada do lago de Sobradinho, onde um intenso assoreamento
multiplica os bancos de areia e altera as rotas demarcadas pelo balizamento e

119
sinalização, e no trecho imediatamente a jusante da eclusa de Sobradinho, onde a
instabilidade de operação da usina hidroelétrica altera freqüentemente as
profundidades disponíveis.

Com relação à barragem de Sobradinho, os seguintes conflitos com a navegação


são evidenciados: (1)no trecho superior do lago de Sobradinho, vem ocorrendo
intenso processo de assoreamento formando o efeito delta, o que torna a rota
imprecisa, desacreditando a sinalização indicativa do canal de navegação e
promovendo freqüentes encalhes; (2) a irregularidade da liberação de descargas
pela barragem de Sobradinho vem provocando contratempos para a navegação no
trecho entre a barragem e as cidades de Petrolina e Juazeiro (às vezes, as
descargas atingem 1.100 m³/s, incompatíveis com os calados praticados pelas
embarcações); (3) os aproveitamentos para geração de energia, desencadeados
com a construção da barragem, também modificaram as condições de escoamento
no Baixo São Francisco, onde a navegação comercial praticamente desapareceu.

A operação da barragem de Três Marias é determinante para a manutenção das


condições de navegabilidade no trecho entre Pirapora e São Francisco. A oscilação
brusca das vazões provoca a instabilidade dos bancos de areia e impede que as
rotas delineadas pela sinalização apresentem a confiabilidade desejada.

Entre Pirapora e Ibotirama, a navegação sofre contínuos reveses, devido ao intenso


e continuado processo de assoreamento que o rio vem apresentando. Além disso,
há a necessidade urgente de se desenvolver e implantar modelos de planejamento
e operação do sistema de reservatórios e aumentar a capacidade de regularização
dos principais afluentes do Médio São Francisco .

Outro conflito potencial devido as alteração do regime hídrico pela operação das
barragens de regularização, já vem ocorrendo com o setor Hidroelétrico, pois os
reservatórios acarretam impactos na ictiofauna e perda de biodiversidade em razão
da redução de nutrientes e do controle de cheias que permitam a ocorrência da
piracema.

Outra questão importante esta nos conflitos advindos de varias atividades

120
industriais, principalmente as relacionadas com o setor de mineração, pois o Rio
São Francisco, desde a sua descoberta em 1502, é submetido à exploração
econômica começando pela exploração do ouro, prata, pedras preciosas pelos
bandeirantes e continuando com o ferro, bauxita, calcário e muitos outros minerais
no Quadrilátero Ferrífero, atividades que existem até hoje.

É a única região do país que produz zinco, além de quase a totalidade do cromo,
diamante e agalmatolito que têm ocupado papel importante como suporte
econômico para o país. Entretanto a exploração deste recurso não renovável deixa
um passivo ambiental de valor monetário quase incalculável.

Principalmente as atividades mineradoras e de garimpo, vêm provocando grandes


impactos ambientais através do demastamento, extrativismo vegetal e conseqüente
geração de sedimentos, comprometendo os recursos hídricos com assoreamento e
elevada turbidez das águas, além de carrear os metais pesados (mercúrio) para os
rios, piorando a qualidade de suas águas e alterando importantes áreas de recarga
de aqüíferos. Particularmente no rio Abaeté ocorre ainda intensa atividade de
garimpos. (Sato,Y, 2004).

Outro conflito com as atividades industriais na bacia se dá principalmente com o


setor siderúrgico, que pelo seu processo de produção influencia na destruição das
áreas de proteção naturais e florestas naturais, o que compromete o meio ambiente
e a qualidade da água. Finalmente, a excessiva expansão urbana que vem
acontecendo na bacia, acarreta a geração de resíduos, o lançamento de esgotos e
outros tipos de poluição ao longo do Rio São Francisco e seus afluentes.

III. Poluição ambiental

Um dos principais problemas sócio-ambientais existentes na bacia Hidrográfica, é


justamente o grande índice de poluição ambiental registrada em toda a sua região,
principalmente pela ausência de saneamento ambiental na maioria dos municípios.
Portanto, o combate a poluição representa um dos maiores desafios para a
revitalização do Rio São Francisco.

121
Na bacia, em diversos pontos de sua extensão, predominam essencialmente uma
poluição difusa, em razão do lançamento de esgotos sem tratamento, além dos
provenientes de atividades agrícolas e industriais, como também pela disposição
inadequada dos diversos tipos de resíduos sólidos por quase toda a bacia, que
acabam comprometendo intensamente a qualidade ambiental, tanto do solo como
das águas superficiais e subterrâneas.

Cada região fisiográfica da bacia do São Francisco problemas específicos, mas


atualmente por toda a bacia o maior problema se refere à poluição ambiental,
principalmente devido o baixo índice de saneamento ambiental registrado em todas
as regiões. Em vista disso, o Programa de Revitalização apresenta com destaque
uma linha de ação especifica para tratar questões relativas à poluição hídrica e por
resíduos sólidos. Esse enfoque permitiu agregar ainda a problemática da região do
semi-árido, que requer um tratamento especial e qualificado devido às suas
fragilidades e peculiaridades em relação aos recursos hídricos.

Uma das áreas críticas é a sub-bacia do Rio das Velhas, onde esta situada a Região
Metropolitana de Belo Horizonte, onde além da grande contaminação das águas
pelo lançamento de esgotos domésticos e de efluentes industriais, existe elevada
carga inorgânica poluidora, proveniente da extração e beneficiamento de minerais,
embora esteja em operação parcial a Estação de Tratamento de Esgotos (ETE) da
sub-bacia do Arrudas, e esteja sendo prevista a ETE da sub-bacia do Onça.

O que ocorre é que nessas sub-bacias mais desenvolvidas, apesar de existir um


certo grau de precisão nos dados de descarga e um elevado nível de urbanização,
ainda é enorme a quantidade de efluentes lançados in natura nos corpos d’água.

Além do quadro de carência de saneamento básico, ocorre em quase toda a bacia,


a disposição inadequada de resíduos sólidos, tanto de origem urbana como também
decorrentes do rejeito de mineradoras e indústrias, que são lançados inclusive em
corpos d’água intermitentes. Infelizmente, decorre que a maioria dos rios das várias
sub-bacias, já vem apresentando a qualidade de suas águas comprometida, como
se observa em rios como Paraopeba, Pará, Verde Grande, Paracatu, Jequitaí,
Abaeté, Urucuia, das Velhas, Corrente e Grande.

122
Registra-se ainda o uso indiscriminado de produtos agroquímicos na agricultura. Na
própria área de Sobradinho, por exemplo, a poluição por agrotóxicos e fertilizantes é
intensa. Desta maneira, há uma grande contaminação dos rios que amplifica
intensamente os impactos sobre a fauna aquática da bacia e sobre o
aproveitamento dos recursos hídricos para diversos fins.

IV. Desmatamento

Outro grande problema que vem sendo recorrente na bacia do Rio São Francisco ao
longo desses anos é o grande índice de desmatamento das áreas de cerrado,
caatinga e mata atlântica. Inclusive, este último bioma está praticamente exaurido
na bacia. O desmatamento esta provocando uma destruição intensa das florestas
nativas e a degradação das matas ciliares, nascentes e lagoas marginais na região.

O alto índice de desmatamento decorre do avanço da agricultura e da pecuária


extensiva, associada a queimadas e desmatamentos em grandes escalas para a
extração de lenha para o consumo doméstico e industrial, principalmente para uso
da madeira como carvão pelas indústrias em geral, incluindo as de mineração e
siderurgia.

Relacionado ao desmatamento da bacia, merece destaque justamente a demanda


da indústria siderúrgica de ferro gusa sobre o carvão vegetal. Atualmente, só no
município de Sete Lagoas, Estado de Minas Gerais, existem aproximadamente 30
Indústrias de Ferro Gusa, que há mais de quarenta anos influenciam na devastação
do Cerrado, transformando-o em carvão usado como combustível nos fornos dessas
fábricas.

123
Segundo o Sindicato dos Promotores e Procuradores de Justiça do Estado de Minas
Gerais, existe uma relação de troca extorsiva entre os proprietários das indústrias e
a população rural que desmata, e que a partir da lenha, faz o carvão. Este é feito de
forma precária e altamente prejudicial à saúde destas populações, inclusive muitas
vezes em condições trabalhistas desfavoráveis. Problemas semelhantes ocorrem
também na Caatinga, principalmente com o uso da lenha na produção do gesso.

Por outro lado, a monocultura do eucalipto foi incentivada na tentativa de minimizar


o efeito impactante em cascata do desmatamento no cerrado e na caatinga, tendo
se expandido muito no século passado a área de plantações de eucalipto. Em 1994,
já existiam 5,6 milhões de hectares de florestas de eucalipto plantadas, as quais por
si só não representam uma solução efetiva para o problema (Faria-
ABRACAVE,1997).

Já as queimadas, principalmente com vistas à expansão das atividades


agrossilvopastoris, infelizmente foram práticas históricas na ocupação regional da
bacia, tornando-se acentuadas a partir do final da década de 1960, quando a
ocupação dos cerrados no Noroeste e Norte de Minas e no Oeste Baiano tornou-se
mais intensa. Esta ocupação agrícola se deu intensamente com a quebra do mito de
que este bioma não tinha potencial para a agricultura. Estima-se que hoje estejam
ocupados 8 milhões de hectares com lavouras temporárias e permanentes.

Outros cerca de 10 milhões de hectares estão ocupados por pastagens. Inicialmente


a pecuária bovina no médio São Francisco começou com o gado leiteiro holandês,
que foi visto tardiamente como impróprio para a região. Além do clima não ser
favorável, esta raça pasta o capim muito rente ao solo, cortando-o quase na raiz,
expondo dessa forma o solo às intempéries, ampliando os efeitos de degradação, já
que o clima regional é bastante árido, causando áreas de solo expostas ao
intemperismo e erosão.

A remoção da cobertura vegetal e o uso do solo para agricultura, sem práticas de


conservação de água e do solo têm contribuído diretamente para o aumento dos
processos erosivos, incluindo a erosão das margens e assoreamento do leito do rio
São Francisco. Estes processos provocam o carreamento de sedimentos para a

124
calha dos rios da bacia, alterando significativamente sua capacidade e o seu próprio
leito, com efeitos inevitáveis nas planícies de inundação. Por toda a bacia os
projetos agrícolas e as pastagens não respeitam as áreas das matas ciliares.

V. Uso e ocupação inadequada do solo

A intensa ocupação antrópica da bacia, principalmente nas margens dos rios, para
os mais diversos fins, e o uso inadequado do solo, tanto urbano, quanto rural,
associado às contínuas práticas não-conservacionistas, tem sido uma das principais
causas propulsoras da degradação ambiental da bacia.

No âmbito urbano, a grande maioria das cidades se expandiu sem planejamento,


desrespeitando as leis ambientais e até mesmo as normas de parcelamento urbano.
Grande parte dos municípios da bacia ainda não elaborou seus Planos Diretores ou
Leis de Uso e Ocupação do Solo. Os instrumentos de ordenamento territorial
também são pouco difundidos e a ocupação inadequada do solo favorece uma
grande concentração urbana e industrial, que transcorre na maioria das vezes de
maneira altamente impactante.

Já no âmbito rural, os problemas ambientais mais graves decorrem também do uso


e ocupação inadequada do solo, que contribuem para o aumento da erosão do solo
e o conseqüente assoreamento dos cursos d’água. Até mesmo a má conservação
das estradas rurais contribuem para estes tipos de problemas. A própria degradação
da vegetação natural é uma conseqüência de uma ocupação territorial irracional,
cuja intensidade é variável nas diversas áreas, em função da dinâmica das
respectivas atividades econômicas predominantes em cada região.

Esses aspectos sócio-ambientais extremamente problemáticos foram inclusive


registrados no Plano de Recursos Hídricos da bacia Hidrográfica do Rio São
Francisco (2004), pois apresenta conseqüências graves no aumento do
desmatamento, na degradação das nascentes e na erosão das barrancas do rio,
além do acúmulo de todos os tipos de rejeitos na bacia.

125
Portanto, por todo o Vale do Rio São Francisco, se observa que em decorrência do
mau uso e ocupação das terras da bacia, vem aumentando a geração e o transporte
de volumes cada vez maiores de sedimentos para o rio, que acabam por entulhar a
calha, provocando a instabilidade das margens e a formação de novos bancos de
areia, assim como contribuem para a perda da fertilidade e uma nefasta
compactação do solo. Outro exemplo da má ocupação do solo se constata o
desrespeito generalizado, à manutenção das áreas de Reserva Legal e de
Preservação Permanente, as APPs, na maioria das propriedades rurais da bacia.

VI. Redução da Biodiversidade

Um outro grande problema sócio-ambiental constatado na bacia se refere à redução


da biodiversidade na região, devido à degradação dos seus vários ecossistemas,
principalmente os aquáticos, incluindo a destruição de várias das suas lagoas
marginais e o aumento da pesca predatória com conseqüente declínio dos recursos
pesqueiros da bacia.

Esta degradação ambiental na bacia leva muitas das espécies da fauna e da flora à
sua quase extinção. As obras das hidroelétricas fizeram com que grandes trechos
do rio fossem regularizados, acarretando alterações na vazão natural do rio. As
intervenções ambientais na bacia impactaram negativamente nos períodos de
desova dos peixes. Além disso, afetaram a deposição de sedimentos e outros
elementos dos ecossistemas da bacia. As represas também iniciaram a alteração
dos padrões de erosão e a descarga de nutrientes principalmente nos trechos
inferiores da bacia e sua zona costeira.

O desmatamento também influi na redução das matas ciliares, da flora e da fauna


das bacias e sub-bacias, diminuindo a biodiversidade e principalmente, a quantidade
e qualidade dos recursos pesqueiros que são umas das principais alternativas de
geração de renda para populações ribeirinhas, através da pesca. O desmatamento
reduziu ainda consideravelmente diversas espécies de animais, como primatas,
quelônios, felinos e diversos outros tipos de mamíferos e aves, como a ararinha-
azul.

Adicionalmente, as matas ciliares, que são ambientes propícios à reprodução das

126
comunidades, com destaque para as aquáticas, são degradadas ou desaparecem.
Ocorreram, por exemplo, a redução dos estoques pesqueiros, produzindo uma
deseconomia indesejável para a bacia e dificultando mais ainda a luta diária dos que
vivem da atividade da pesca.

Os prejuízos à conservação da biodiversidade são tão sérios, que estão levando o


MMA/IBAMA, através do GT-SF a definir no âmbito do Programa de Revitalização,
áreas estratégicas para a criação e instalação de novas unidades de conservação
na bacia.

A biodiversidade é uma das propriedades fundamental da natureza, responsável


pelo equilíbrio e pela estabilidade dos ecossistemas e fonte também de imenso
potencial de uso econômico. Ela é básica para as atividades agrícolas, pecuárias,
pesqueiras e florestais e também a base para a estratégica indústria da
biotecnologia. É também responsável pelos processos naturais e pelos produtos
fornecidos pelos ecossistemas e pelas espécies que sustentam outras formas de
vida e modificam a biosfera, tornando-a apropriada e segura para a vida.

A diversidade biológica possui além de seu valor intrínseco, valor ecológico,


genético, social e econômico, científico, educacional, cultural, recreativo e estético.
Dada a sua importância fica patente a necessidade de se evitar sua perda, o que é
decorrência dos seguintes processos: a) perda e fragmentação dos habitats; b)
introdução de espécies e doenças exóticas; c) exploração excessiva de espécies de
plantas e animais; d) uso de híbridos e monoculturas na agroindústria e nos
programas de reflorestamento; e) contaminação do solo, água e atmosfera por
poluentes; e f) mudanças climáticas.

A bacia do rio São Francisco já foi bastante piscosa, tanto na região do alto como na
do baixo curso, assegurando alimentos aos seus habitantes e atraindo muitos
pescadores. Porém à medida que as alterações induzidas pela ocupação humana
avançaram, os estoques de recursos pesqueiros e da biodiversidade foram
reduzindo, praticamente extinguindo a pesca artesanal. Atualmente, as estimativas
indicam uma captura total de peixes em torno de 2.500 t/ano, valor considerado
extremamente baixo.

127
A construção da barragem de Sobradinho também provocou mudanças em
atividades econômicas no Baixo São Francisco, devido a redução da ictiofauna, pois
era em função das oscilações do nível do rio, entre o período de cheias e vazantes,
e da coincidência com a estação chuvosa, que decorria a exploração da rizicultura e
dependia a procriação natural dos peixes.

Mesmo com a adoção de medidas artificiais para tentar restabelecer as condições


anteriores à construção do reservatório, por meio de proteção das grandes várzeas
com diques e bombeamento, ora para levar água do rio para elas, ora para drená-
las, a base econômica não foi restabelecida. Posteriormente, com a construção da
barragem de Xingó, pela falta de carreamento de sedimentos, a situação da
ictiofauna se agravou, e praticamente extinguiu a pesca como uma atividade
econômica sustentável nessa região da bacia.

VII. Erosão e Assoreamento

Também foi constatado como um importante problema da bacia, o contínuo


processo de erosão que ocorre em diversas regiões e que tem como principal
conseqüência o assoreamento dos recursos hídricos no Vale do Rio São Francisco.
Há uma grande susceptibilidade dos solos a processos erosivos, principalmente nas
regiões do Alto e Médio São Francisco.

Nessas regiões, os processos de erosão são oriundos principalmente dos


desmatamentos, da má conservação das estradas rurais e do manejo inadequado
do solo pelas práticas agropecuárias e atividades urbanas, resultando pela carga de
sedimentos que são carreados e atingem os corpos de água, acarretando
problemas na qualidade dos recursos hídricos e um grande assoreamento da calha
fluvial, com conseqüências negativas, inclusive para a própria navegabilidade na
bacia.

Nos principais processos de erosão e assoreamento que ocorrem no Vale do São


Francisco, são três os tipos de sedimentos constatados na bacia. Os sedimentos
arenosos são responsáveis pelos grandes bancos de areia ao longo das calhas dos
rios que, em alguns casos, transformam-se em ilhas permanentes em todo o Médio
e Submédio do São Francisco. Ao longo do Médio São Francisco, são responsáveis

128
inclusive pela formação de vazante, que corresponde às áreas entre 1 a 3 km da
margem do rio, de faixa de solos arenosos, que dificultam seu aproveitamento sem
grandes investimentos.

Mas, são os sedimentos siltosos que efetivamente provocam o maior volume de


assoreamento, visto que são facilmente carreados pelo escoamento superficial,
porém não ficam em suspensão. Esse material é totalmente depositado nos leitos
dos rios, reduzindo a capacidade de escoamento e provocando inundações
freqüentes nas planícies aluviais, característica marcante do Médio São Francisco;
Já os sedimentos argilosos, são facilmente carreados e geralmente ficam em
suspensão, promovendo a turbidez na água. Esse tipo de sedimento é depositado
quando encontra ambiente propício, como nos remansos dos reservatórios.

Em relação aos reservatórios da bacia, estes provocam impactos no fluxo


hidrossedimentométrico, sendo constatada a concentração de sedimentos em
suspensão, à montante do reservatório de Três Marias de 253 mg/L, enquanto que
em Pirapora, abaixo do reservatório de Três Marias, é de 103 mg/L. Em Bom Jesus
da Lapa, é de 250 mg/L, e em Juazeiro, após Sobradinho, 47 mg/L.

Portanto, até o reservatório de Sobradinho, o rio São Francisco apresenta altas


concentrações de sedimentos, enquanto que à jusante, o rio apresenta redução
considerável de carga sólida, e, conseqüentemente da concentração de sedimentos.

VIII. Escassez da água

No âmbito da bacia, apesar de parecer contraditório, vem sendo constatado um


fenômeno crescente da escassez da água devido a vários motivos relacionados ao
uso irracional dos recursos hídricos, que tem levado à escassez das suas águas em
várias de suas sub-bacias e os constantes desperdícios no uso das águas
disponíveis na bacia.

Outras importantes razões são: o uso intensivo de água superficial e subterrânea na


agricultura irrigada e a perfuração indiscriminada de poços resultando numa
exploração desordenada da água subterrânea, dissociada da superficial, assim
como a falta de água para abastecimento de comunidades mais pobres do semi-

129
árido e a escassez de água em razão da intermitência dos tributários.

Para uma melhor compreensão sobre a escassez da água na bacia, devemos


observar que atualmente toda a disponibilidade hídrica na bacia hidrográfica do rio
São Francisco é de 7.024m³/habitante/ano. Se considerarmos o aporte de água por
área fisiográfica e sua população, a maior disponibilidade hídrica encontra-se no
Médio São Francisco, com 15.167m³/habitante/ano, apesar de estarem aí
localizadas as sub-bacias com as menores contribuições hídricas de toda a bacia.

Em seguida vem o Alto São Francisco com 6.003m³/habitante/ano, acompanhado do


Baixo com 1.172 m³/habitante/ano e do Sub-médio com 899 m³/habitante./ano. A
Figura 28 mostra a distribuição da disponibilidade hídrica (m³/habitante/ano) na
bacia.

Figura 28 - Distribuição da disponibilidade hídrica (m³/habitante/ano) na bacia.

Já a rede fluvial do São Francisco, embora não muito densa quando considerada a
área total da bacia, conta com cursos d’água de segunda ordem de grande vazão.
Pelo menos sete desses afluentes têm vazão média acima de 100 m3/s, cuja
contribuição é em média de 1.506m 3/s, equivalente a aproximadamente 73% da
vazão regularizada a jusante de Sobradinho.

Deve-se ressaltar que o uso dos recursos hídricos superficiais, principalmente para
a atividade de irrigação, intensificou o número de pedidos de outorga de água em
alguns Estados inseridos na bacia. Já existem rios na bacia que atingiram o limite
máximo de vazão de captação, não permitindo mais haver liberação de outorga,
sendo este quadro a tradução mais direta do grande problema que vem a ser a
escassez da água na bacia. A partir deste quadro, vários produtores rurais têm
procurado utilizar as águas subterrâneas através da perfuração de poços profundos,
o que agrava ainda mais a situação ambiental na bacia.

Vários destes poços registram vazões significativas, estimulando assim a abertura


desordenada e sem controle de novos poços. Atualmente não existem estudos que
definam os parâmetros hidrodinâmicos da maioria dos aqüíferos, bem como as

130
áreas e o volume de descarga, a sua potencialidade, e a relação entre as águas
subterrâneas e as águas superficiais. Com isto faz-se necessário o levantamento
quantitativo de utilização das águas subterrâneas, cadastrando os poços já
perfurados e controlando a perfuração de outros, complementando com o
conhecimento da disponibilidade dos recursos superficiais (Figura 29).

Figura 29. Poços

Apesar da bacia do São Francisco ser vasta e complexa, cerca de 343.784 km2 da
bacia do São Francisco, ou seja, 53,8% estão incluídas no Polígono das Secas,
compreendendo 251 municípios e mais de 5.680.000 habitantes. Uma das
particularidades do semi-árido da bacia consiste na presença de rios intermitentes,
significando que a disponibilidade natural de vazão para diluição dos esgotos é
muito baixa ou nula.

Em consulta à base de dados geográficos da bacia, pode-se verificar que 125


municípios encontram-se nas margens desses rios, não dispondo, portanto, de
cursos d’água perenes ou regularizados para o lançamento dos efluentes. A falta de
água pode ser um risco potencial elevado à saúde pública devido falta de opção de
manancial alternativo. Assim, o lançamento de efluentes nessa circunstância deve
ser visto com cautela.

Portanto, é necessário melhorar as coberturas de água e esgoto, assim como a de


coleta de lixo das localidades da bacia, com destaque para o semi-árido. A situação
é mais crítica na zona rural e nos pequenos municípios, em que o abastecimento de
água, nas épocas de estiagem mais severa, só é garantido através de carros-pipa.

Tendo em vista o contexto da região, é preciso criar alternativas de melhoria das


condições de vida dos cidadãos levando em consideração as suas peculiaridades.
Alternativas tradicionais de abastecimento de água não são viáveis, para a
população difusa na bacia, devido aos elevados custos.

Portanto, deve-se recorrer a tecnologias alternativas, com participação social,


adaptadas à realidade local, de modo a garantir suprimento de água confiável à

131
população rural local, como por exemplo, sistemas simplificados de abastecimento
de água e dispositivos alternativos para coleta de água da chuva.

IX. Ausência de planejamento estratégico e gestão ambiental

Um outro grande problema sócio-ambiental da bacia se evidencia na ausência de


planejamento estratégico e de gestão ambiental na implementação das ações
governamentais e das diversas políticas publicas que são efetivadas na região. A
superação desta problemática representa uma importante iniciativa, altamente
estruturante para a revitalização do rio São Francisco e para o Programa Federal de
Revitalização de Bacias Hidrográficas com Vulnerabilidade Ambiental.

Para a solução destas deficiências será necessária a implantação de um


planejamento integrado e participativo, associado à efetivação de um gerenciamento
ambiental permanente, principalmente dos recursos hídricos da bacia
potencializados por uma maior eficiência no controle e fiscalização ambiental na
região por parte dos órgãos públicos.

A bacia do rio São Francisco é uma área muito complexa, cujo desenvolvimento
histórico infelizmente ocorreu de maneira tumultuada e segmentada, com pouco ou
nenhum planejamento estratégico ou integrado e sem a efetivação de políticas
publicas que considerassem a variável ambiental e visassem um desenvolvimento
sustentável para a bacia. Além disso, as ações governamentais sempre foram
efetuadas dentro de uma estrutura institucional relativamente frágil e desarticulada.
Isto resultou numa grande degradação ambiental da bacia. Portanto, procurar
superar essas debilidades será ponto fundamental para a implementação do
Programa de Revitalização da bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (Figura 30).

Figura 30. Implementação do Programa de Revitalização da bacia


Hidrográfica do Rio São Francisco

X. Desigualdade e estagnação socioeconômica

132
Finalizando os principais problemas sócio-ambientais constatados na bacia, se
destaca a situação socioeconômica da bacia, onde predomina uma grande e
evidente desigualdade e estagnação sócio-ambiental nas suas diversas regiões,
com ocorrência de bolsões de pobreza e miséria agudas, principalmente no meio
rural do semi-árido.

O próprio Diagnóstico Analítico da bacia – DAB apontou esses paradoxos, uma vez
que na bacia se convive com áreas contraditórias de riqueza e pobreza, densidades
demográficas altas em contraste com vazios demográficos, áreas altamente
industrializadas e áreas de predominância de agricultura de subsistência, entre
outras.

Colaboram essencialmente para isso as diversas ações implementadas pelos vários


órgãos públicos voltados para o desenvolvimento da bacia, em todos os níveis de
governo, que sempre atuaram de maneira excessivamente setorizada, com pouca
preocupação de conceber um modelo de desenvolvimento integrado, planejado e
sustentável. Isto devido, em grande parte, ao estilo de desenvolvimento adotado até
então para a área da bacia, dissociado de compromissos com a inclusão social e a
preservação e sustentabilidade ambiental.

Os problemas socioeconômicos ainda continuam, ao mesmo tempo em que têm


surgido problemas ambientais significativos, os quais deverão ser enfrentados de
maneira articulada no âmbito do Programa de Revitalização, tanto pela União, como
pelos Estados e Município da bacia (Figura 31).

Figura 31. Articulação

Este problemático panorama socioeconômico da bacia pode ser claramente


observado a partir de três indicadores: o primeiro, é a taxa de mortalidade infantil
(por 1.000 nascidos vivos), que apresenta variações entre 25,66 (MG) e 64,38 (AL),
em sua maior parte, com valores superiores à média nacional, que é de 33,55
(IBGE, 2000).

133
O segundo é o Índice de Desenvolvimento Humano – IDH, que varia entre 0,633
(AL) e 0,844(DF). Em nível municipal, existem municípios com índice 0,343, e a
média brasileira é de 0,769.

O terceiro é o Produto Interno Bruto – PIB per capita que contempla variações entre
R$ 2.275 (US$ 758 em AL) e R$ 5.239 (US$ 1.746 em MG), enquanto a média
nacional é R$ 5.740 (US$ 1.913/IBGE, 1999).

Os principais problemas que ameaçam os ecossistemas da região do Vale do Rio


São Francisco, demonstram a estreita relação entre degradação ambiental e
degradação social. Um dos exemplos é o problema com a qualidade das águas dos
rios, o tratamento do lixo urbano e o déficit de saneamento básico.

Convém ressaltar que o desenvolvimento socioeconômico da bacia, principalmente


na região semi-árida é ainda negativamente influenciado pelas adversidades
climáticas, que têm gerado, com freqüência, episódios de seca de média e longa
duração além das enchentes no Alto São Francisco que acarretam mortalidade e
prejuízos econômicos. Aliada às adversidades climáticas, ressalta-se a inexistência
de uma política eficiente e continuada de gestão dos recursos ambientais da região.

Esses aspectos têm contribuído sensivelmente para aumentar a desigualdade social


e a vulnerabilidade do Semi-árido brasileiro, com graves conseqüências para a
população, trazendo prejuízos econômicos e sociais para a bacia.

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