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XVII ENCONTRO 1
DIVERSIDADE MUSICAL E COMPROMISSO SOCIAL
NACIONAL SÃO PAULO, 08 A 11 DE OUTUBRO DE 2008
O PAPEL DA EDUCAÇÃO MUSICAL
DA ABEM FECHAR

A rítmica musical: uma estratégia na prática do estágio


supervisionado em Educação Especial

Maria Luiza Feres do Amaral


liza.amaral@hotmail.com
Ian Ricardo Carvalho Keil
ianguitarras@gmail.com
Ricardo Rocha Passos
kadorrp@hotmail.com
Mônica Zewe Uriarte
uriarte@univali.br
Universidade do Vale do Itajaí

Resumo. Este artigo configurou-se a partir da disciplina de Estágio Supervisionado - Pesquisa


da Prática Pedagógica, do quinto período do curso de licenciatura em Música da Universidade
do Vale do Itajaí – UNIVALI, realizado com alunos portadores de necessidades especiais da
OFARTE em Itajaí, SC, cuja faixa etária abrange alunos de 10 a 50 anos de idade. A temática
sobre a relação educação musical e educação inclusiva, surgiu devido à carência de materiais
didáticos e bibliográficos sobre o tema. Sendo assim, decidiu-se realizar uma pesquisa–ação
com a utilização do ritmo folclórico do boi- de - mamão como proposta metodológica, partindo
do principio que a educação musical deve ser iniciada pela conscientização rítmica através da
percussão corporal. A escolha deste tema folclórico buscou difundir essa tradição bastante
peculiar no litoral catarinense, acreditando que a busca por elementos do cotidiano dos alunos
favorece a interação professor/aluno, assim como, a identificação e familiaridade, muito
necessárias para trabalhos em escolas de educação especial. Essa pesquisa teve como
fundamentação teórica os educadores musicais Dalcroze e Orff, envolvidos com o ensino da
música a partir do desenvolvimento rítmico. Durante as intervenções, os alunos puderam
vivenciar as potencialidades do corpo como o movimento, a concentração, e de certa forma a
independência motora, pois acreditamos que o ritmo é o elemento musical que favorece a
sensibilidade, bem como a percepção do coletivo.

Palavras-chave: educação, rítmica corporal; boi- de- mamão.

Primeiros passos

Muito se comenta que há diferentes princípios, formas e processos de


observação que poderiam ajudar no ensino de crianças especiais. Quanto mais
conhecimento o professor tem acerca do estudante, maior é a adequação de suas
propostas de ensino e a sua segurança para promover o desenvolvimento de seus alunos.
(BIRKENSHAW-FLEMING apud JOLY, 1993, p. 80).
O objetivo central desta pesquisa foi investigar a utilização de determinados
procedimentos e estratégias em educação musical no universo da educação inclusiva,
através de uma metodologia envolvendo jogos e brincadeiras, os quais proporcionam de
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maneira prazerosa, o desenvolvimento cognitivo musical e corporal dos sujeitos


inseridos no processo. Desta forma, algumas questões foram levantadas: há diferença
significativa no processo ensino-aprendizagem de música para alunos com necessidades
especiais? Temos princípios, olhares e propostas específicas para esse grupo
educacional? De que maneira deve ser concebida a aula de música?
Existe uma estreita relação entre música, educação e as pessoas com
necessidades especiais. Assim, as atividades musicais têm papel importante na formação
e no desenvolvimento do individuo como um todo, justificando sua inclusão no
contexto educacional e social. Muitas manifestações artísticas, especialmente a música,
aparecem com predominância em relatos de experiências e de pesquisas, como
propulsora de aspectos relacionados com a qualidade de vida e na mudança de
comportamento de pessoas portadoras de necessidades especiais.
Para entendermos essa relação, o conceito de saúde nos serviu de suporte, a
saber: segundo o dicionário médico:

Saúde é o estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e seu ambiente, o que


mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites
normais, o estado relativamente persistente, em que o individuo consegue integrar as
suas tendências instintivas, de maneira razoavelmente satisfatória.” (BLAKISTON,
1979, p. 254).

Tendo como referência estes conceitos, podemos dizer que saúde não significa
apenas a ausência de doenças, mas uma sensação de bem estar geral, envolvendo
condições físicas, mentais, emocionais e espirituais do ser humano e do seu meio
ambiente.
A música pode provocar ou expressar diversos estados de espírito como a
angústia, felicidade, relaxamento e agitação, por isso ela possibilita ao individuo
momentos de reflexão exercendo uma força dinâmica capaz de organizar e impulsionar
o movimento. Unido ao ritmo, o som pode induzir e/ou auxiliar na ação. Segundo
Correia:

O som e, conseqüentemente a música, tem um impacto direto sobre as funções motoras


e o sistema vegetativo passando a construir um valioso instrumento auxiliar no
diagnóstico médico e na promoção do desenvolvimento de potencialidades físicas,
mentais, emocionais e sociais do homem. (CORREIA, 2001, p.38).
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Partindo dessa realidade, buscou-se problematizar o ensino de música para


alunos especiais e analisar condições que garantissem o acesso dos mesmos a uma
formação qualificada.

A rítmica musical: uma experiência a partir de Dalcroze e Orff

O aprendizado da rítmica corporal e instrumental são elementos imprescindíveis


em atividades musicais, do mesmo modo que a criação é importante para que os alunos
possam vivenciar de forma integral as informações e o conhecimento em música,
realizada mediante avaliação continua e formativa. O ensino de música deve ser
construído a partir do fazer musical e da realidade dos alunos, contemplando seus
interesses, preferências e saberes, desenvolvendo habilidades, atitudes e valores
considerados necessários para a formação do individuo como cidadão. (DEL BEN;
HENTSCHKE, 2002, p. 50).
Para Dalcroze e Orff, o ensino da música parte do desenvolvimento rítmico.
Dalcroze coloca a rítmica, como uma linguagem corporal através da qual são
relacionados os ritmos musicais, com papel de destaque na Educação Musical. Em sua
experiência enquanto educador, percebeu que os alunos realizavam a música de forma
mecânica, desprovida de sensibilidade, realizando os ritmos de forma artificial, levando
o autor a criar em 1903 a Eurritmia. Esse método propõe a percepção rítmica através da
sensibilidade, para que se distingam os componentes musicais como dinâmica,
compasso, frase, entre outros. É desenvolvido pela repetição de exercícios e pelos
ritmos naturais do corpo, além de que, aperfeiçoa a memória e enriquece o cérebro. O
registro através do corpo propicia uma fixação profunda e racional da aprendizagem,
por isso é muito importante o aluno vivenciar todas as potencialidades do corpo com
acuidade e concentração, para conseguir compreender e dominar com precisão os
movimentos. (GOULART, 2004, p. 3).
Para Orff, a base de seu método é o ritmo da linguagem, a palavra representa a
célula geradora. O método Orff nos legou três importantes caminhos, a saber: o
primeiro refere-se à descoberta do ritmo da palavra em todo o seu potencial, o segundo
diz respeito ao ritmo no corpo transformando-o num instrumento de percussão, e por
ultimo, o uso do instrumental especifico. Somamos as estes três pilares, a valorização e
o resgate do folclore, presente em todos os momentos, além da ênfase nos exercícios de
criação e improvisação.
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Partindo deste pensamento, uma das preocupações dos professores/estagiários,


foi a de atrelar os conteúdos e atividades da aula de música com as atividades
específicas, como os movimentos corporais e os instrumentos de percussão. Buscou-se
dinâmicas de iniciação rítmica com uma abordagem adequada para familiarizar os
alunos com esses conteúdos. Atividades que trabalharam a coordenação motora a partir
do som e do silêncio em música, mencionando que a memória ocupou lugar de destaque
neste trabalho, no qual vai se reduzindo o tempo de repetição e, conseqüentemente,
enfatizando a reação.
O trabalho iniciou com atividades que envolviam o pulso em andamentos lento,
moderado e rápido, com subdivisões binárias e ternárias. Buscando suporte nas idéias
de Villa-Lobos, para quem a música era um indispensável alimento da alma humana e
fator imprescindível à educação da juventude, toda a organização do processo de
desenvolvimento musical dos alunos, a preparação das atividades, bem como o processo
de avaliação, esteve centrada em procedimentos e estratégias criativas, inovadoras,
visando o bem estar, a evolução e principalmente nas condições, habilidades e
dificuldades dos alunos portadores de necessidades especiais.

Boi-de-mamão: uma prática metodológica

O folguedo popular surgiu em Santa Catarina por volta de 1871 (FONTES,


1959, p. 154), e se caracterizou pela presença de um enredo dramático, utilizando
personagens como o vaqueiro Mateus, o doutor, a cabra, o urso e o próprio boi, que se
tornaram representativos na tradição folclórica. Esta brincadeira acontece em vários
estados brasileiros, e o Boi é um personagem que aguça o imaginário em diversas
culturas, utilizando nomes distintos como Bumba meu Boi, Boi do Maranhão, entre
outros. Sua música apresenta um compasso binário, dançante e alegre, tendo como
instrumentos o pandeiro, sanfona, tambor, violão, entre outros. Desta forma, a nossa
proposta foi desenvolver uma percepção musical através do corpo, utilizando palmas
para marcação rítmica. As letras apresentam um a um os personagens da brincadeira e
falam do cotidiano de maneira simples, possibilitando momentos para criação e
improvisação.

Relato de experiência 1: a Onça


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O professor/estagiário solicitou que os alunos realizassem individualmente um


som utilizando o corpo como referência, e em seguida, a execução partindo do exemplo
dado pelo professor. Durante essa atividade rítmica, se pode observar que as meninas
apresentaram uma habilidade motora maior, provavelmente por participarem de aulas de
dança. Depois de executar algumas células rítmicas buscando uma independência
motora, foi ensaiada uma peça folclórica “a onça”, momento em que algumas
dificuldades ficaram evidenciadas, especialmente no que se refere ao decorar a letra e a
melodia da música. Nesta atividade, optou-se em trabalhar o ritmo com uma aluna com
grande dificuldade de locomoção, de uma forma mais simples, com pequenos
movimentos sentados, onde batia seus pés no chão nos tempos 1 e 3 da célula rítmica
dada. Ao final da aula foi realizada uma atividade de percepção na qual foi utilizado o
CD trazido por uma das alunas, ocasionando a participação de uma das alunas que
sempre ficou à margem das aulas de música, mas neste momento ela levantou e
começou a dançar.

Relato de experiência 2: caminhando no andamento e siga o mestre

A aula começou uma atividade sobre o andamento, na qual os alunos puderam


vivenciar num compasso quaternário os elementos pulso, sons e silêncio. Nesta
atividade, eles deveriam permanecer executando algum tipo de som durante um
compasso e representar fisicamente a pausa durante outro compasso. Neste momento a
forma escolhida por eles para representar a pausa foi ficar em posição de estátua. Após
essa etapa, o professor/estagiário sugeriu que os alunos desenhassem em papel A4 as
figuras rítmicas (semínima e colcheia), previamente explicadas. Depois, conforme o
professor executava uma célula rítmica com essas figuras, os aunos deveriam levantar a
folha correspondente à figura correta. Para facilitar o entendimento das figuras, foi
utilizado um compasso quaternário, onde as semínimas eram cantadas como números
(1, 2, 3, 4) e as colcheias como (e), bem como as pausas correspondentes . Foi
observado que houve dificuldade por parte dos alunos em entender a diferença do tempo
entre as figuras, assim o professor solicitou que eles criassem uma nova célula rítmica e
executassem com o grupo para melhor assimilação. O professor usou sinais faciais para
indicar entradas e cortes na atividade simulando uma regência.
Em outro momento, o professor trabalhou a memorização, a partir da repetição
de movimentos rítmicos, que começavam com batidas no peito, depois estalo com os
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dedos da mão, palmas e por ultimo os pés. Em seguida, foi feita uma ciranda em que os
alunos cantavam, dançavam e batiam palmas, a partir da canção folclórica Escravos de
Jô. Uma aluna cantou a musica sentada, sem se movimentar no espaço, em virtude de
problemas de locomoção. Os alunos cantavam e quando a letra chegava no “zigue zigue
za” eles deveriam passar uns entre os outros (cada um na sua vez), e na aluna que estava
sentada os alunos passaram por ela em forma de caracol.

Relato de experiência 3: Boi de mamão

Foram apresentados alguns personagens do folguedo para os alunos, os quais


escolheram o Boi, a Bernúncia, a Maricota e o Cavalinho, iniciando o ensaio das toadas.
A partir desta etapa, o professor contou aos alunos que: “a bernúncia, um bicho que não
é nem jacaré, nem dragão, nem hipopótamo, sendo todos os três ao mesmo tempo,
surgiu em Itajaí e ficou definitivamente incorporada à brincadeira do Boi-de-Mamão”
(FONTES, 1959, p. 156). Após esta explicação os alunos ficaram eufóricos e
entusiasmados a participar da atividade.
A apresentação foi realizada da seguinte forma: dividimos todos os participantes
em dois grupos (canto e ritmo), sendo que a escolha foi realizada por eles de forma livre
e espontânea. Havia também o “chamador” que era interpretado por um dos
professores/estagiário. Em seguida passamos a cantar e bater o ritmo do Boi-de-mamão,
com uma participação bastante efetiva e entusiasmada dos alunos, contando ainda, com
a participação de um dos alunos que naturalmente se candidatou para imitar o boi, a
Bernúncia e o cavalinho. Esse aluno possui Síndrome de Down e dificilmente participa
de todas as atividades, mas tem se mostrado interessado nas práticas rítmicas,
especialmente quando um dos estagiários dá uma atenção exclusiva a ele. Desta forma,
as atividades têm contemplado todos os alunos.

Considerações Finais:

A partir das intervenções e resultados observados, foi possível estabelecer um


panorama das condições de ensino de música para pessoas com deficiência, sobretudo
no que se refere ao contato com os processos da rítmica e do movimento corporal.
Verificou-se que existe uma grande dificuldade de concentração, algumas vezes muita
euforia e em outros momentos uma grande apatia em algumas atividades. A escolha das
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estratégias utilizadas tinham como objetivos promover a criação e o contato dos alunos
com os elementos básicos da música; utilização do ritmo no processo de construção do
conhecimento musical, e experiências diversas em educação musical, tornando possível
a inclusão de alunos com deficiência e para a melhora na qualidade de vida. Em nosso
olhar, o que parece ser mais coerente e efetivo é o conhecimento gerado pela
observação através da qual foi possível perceber a participação dos alunos a partir de
um relacionamento estabelecido sobre as bases do afeto e respeito, considerando sempre
as possibilidades de cada um, bem como a compreensão do outro.

Referências

BLAKISTON, A. Dicionário Médico. 2 ed. São Paulo: Organização Andrel Editora


Ltda, 1979.

CORREIA, C. Música e saúde. Anais do I Fórum Catarinense de Musicoterapia.


Florianópolis, UFSC, 2001.

DEL BEM, L.;HENTSCHKE L. Educação Musical escolar: uma investigação a partir


das concepções de três professoras de música. Revista da ABEM. Porto Alegre, n. 7,
2002, p. 49-57

FONTES, A. A. N. Olha a Bernúncia. In: Anuário de Itajaí. Itajaí: PMI, 1959, p. 155-
156.

GOULART, D. Quatro educadores. Disponível em:


http://www.dianagoulart.pro.br/bibliot/dkos.htm. Acesso em: nov. 2007.

JOLY, I. Z. L. Musica e Educação Especial: uma possibilidade concreta para promover


o desenvolvimento de indivíduos. Revista Educação. V. 28, N. 2, São Paulo: UFSCar,
2003.

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