Sie sind auf Seite 1von 4

A LIBERDADE DE ENSINAR NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA1

LIBERDADE DE ENSINAR:
ALCANCE E LIMITES DA AUTONOMIA DOCENTE
Horácio Wanderlei Rodrigues

É muito comum ouvir falar sobre a liberdade de cátedra, em especial entre os professores dos Cursos
de Direito. Muitos entendem, equivocadamente, que ela atribui a plena liberdade do professor no
direcionamento das disciplinas e matérias pelas quais é responsável. É necessário superar essa errônea
visão.
A Constituição brasileira traz, em seu bojo, a liberdade de ensinar no título VIII, capítulo III, seção I,
que trata especificamente da educação:[1]
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios

[...];

II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber;


III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, [...];
[...].

No que diz respeito à liberdade de ensinar, o dispositivo constitucional possui a finalidade de garantir o
pluralismo de ideias e concepções no âmbito do processo de ensino-aprendizagem, em especial o
universitário; também busca garantir a autonomia didático-científica dos professores. Permite, nesse
sentido, que os professores manifestem, com relação ao conteúdo sob sua responsabilidade, suas próprias
convicções e pontos de vista, quando haja vários reconhecidos pela ciência – na situação específica dos
professores de Direito, pelas teorias jurídicas e pelo Poder Judiciário.
Mas é importante notar que ao lado da liberdade de ensinar está, em patamar de igualdade, a igualdade
de aprender, liberdade que pertence, na relação pedagógica, ao outro polo do processo de ensino-
aprendizagem. Portanto, se de uma lado a liberdade de ensinar autoriza o professor a expor suas próprias
convicções e pontos de vista, a liberdade de aprender dos alunos impõe ao professor que também exponha
as demais posições e teorias sobre o conteúdo específico, bem como seus fundamentos.[2] Impõe também
que, sendo teórica e cientificamente aceitas, as demais teorias e posições possam ser adotadas pelos
alunos em detrimento da por ele esposada – do mesmo artigo da Constituição consta expressamente,
como princípio para que o ensino seja ministrado, o pluralismo de ideias.
É fundamental também destacar que a liberdade de ensinar não protege as manifestações valorativas,
ideológicas e religiosas que desrespeitem a liberdade de consciência dos alunos e que não possuam

1 http://aprenderdireito8.blogspot.com.br/2012/03/liberdade-de-ensinar-na-constituicao-da.html
correlação com a matéria ensinada, bem como aquelas que professem preconceitos e discriminações
vedadas pela nossa ordem constitucional e legal.
De outro lado, a liberdade de ensinar autoriza o professor a utilizar métodos, metodologias, estratégias e
instrumentos a sua escolha, dentre aqueles legalmente e pedagogicamente autorizados e reconhecidos (é o
pluralismo de concepções pedagógicas presente no bojo do artigo 206 da Constituição, anteriormente
transcrito). Nesse contexto, além das escolhas mais propriamente ligadas à didática – tipo de aula e de
atividades, recursos tecnológicos, etc. –, está também incluída a liberdade de escolha de textos e obras,
desde que contenham o conteúdo a ser ministrado e, no seu conjunto, permitam o acesso ao pluralismo de
ideias presente no campo específico do conhecimento, e que não contenham material que endosse
preconceitos e discriminações.
Nessa matéria é ainda fundamental destacar o conteúdo do artigo 205 da Constituição Federal, que
estabelece:
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com
a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício
da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Esse é o primeiro artigo da seção que trata da educação: e sendo assim ela dá sentido aos demais. Os
princípios do artigo 206, entre eles o da liberdade de ensinar, devem ser contextualizados no âmbito do
direito maior, que é o direito à educação. Uma educação, que de acordo com o texto constitucional,
garanta o “pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação
para o trabalho”. A exercício da liberdade de ensinar que não garanta esse direito do aluno extrapola a
autonomia docente.
Outro dispositivo que deve ser lembrado é o artigo 209, que estabelece limites à liberdade de ensinar:
Art. 209. O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as seguintes condições:

I - cumprimento das normas gerais da educação nacional;

II - autorização e avaliação de qualidade pelo Poder Público.

Embora esse dispositivo faça referencia expressa às instituições privadas, as condições que contém são
também obrigatórias para as instituições públicas; essa última é implícita, pois é necessário considerar
que o que Estado exige da iniciativa privada no âmbito educacional é equivalente ao que ele exige dele
mesmo, tendo em vista que a educação possui natureza pública.
O que é preciso destacar, frente a ele, é que sendo as instituições de ensino obrigadas a cumprir as
normas gerais da educação nacional, e impondo essas normas a elaboração dos PDIs, PPIs e PPCs, bem
como o cumprimento de diretrizes curriculares editadas pelo CNE, seus professores também tem sua
liberdade de ensinar limitada por essas normas, planos e diretrizes.
Da mesma forma, estando as instituições de ensino submetidas a processos avaliativos, os critérios
adotados para aferir a qualidade vinculam tanto as instituições como seus docentes.
Ou seja, a liberdade de ensinar é uma liberdade limitada, pois divide espaço com a liberdade de
aprender dos alunos e com as garantia mais amplas de pluralismo de ideias e de abordagens pedagógicas,
integrando todas o direito maior, que é o direito à educação. É também contextual, visto se manifestar no
âmbito de um conjunto amplo de normas, diretrizes e planejamentos, recebendo dele suas limitações.
Mas mesmo limitada e contextual, é ela uma garantia constitucional, de duplo direcionamento:
a) garante a liberdade de ensinar às instituições de ensino, que cumpridas as normas gerais da educação e as
diretrizes curriculares, podem livremente construir seus projetos pedagógicos;
b) garante a liberdade de ensinar do professor, que:
 no âmbito do conteúdo da disciplina que está sob sua responsabilidade, mesmo no contexto de um
projeto pedagógico específico, mantém o espaço de manifestação das suas posições e convicções,
devendo entretanto, em respeito ao direito à educação, à liberdade de aprender do aluno e ao pluralismo
de ideias, também propiciar aos discentes o acesso às demais posições e teorias aceitas pela respectiva
área do conhecimento (e pelo Poder Judiciário, no caso dos professores de Direito);
 no âmbito didático-pedagógica, mantém autonomia de escolha, respeitada a necessária adequação entre
meio e fim.[3]
Em conclusão pode-se afirmar que a liberdade de ensinar aparece no texto constitucional como
liberdade institucional e como liberdade docente. Em ambos os casos ela é limitada e contextual, ou seja,
condicionada por um conjunto de outros princípios e garantias constitucionais e pela estrutura do sistema
educacional brasileiro. Mas em ambos os casos ela é suficiente para garantir o pluralismo de ideias e
abordagens pedagógicas e de expressão de posições e de convicções, mantendo assim a sua finalidade. Ao
mesmo tempo, os limites que lhe são impostos impedem que de liberdade ela se transforme em
arbitrariedade.

[1] A Lei nº 9.394/1996 (LDB), em seu artigo 3º, reafirma essas liberdades garantidas pela Constituição, e
mesmo as amplia:
Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
[...];
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber;
III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas;
IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância;
[...].
[2] Se as liberdades de ensinar e de aprender fossem absolutas, uma anularia a outra. Como princípios
constitucionais é necessário buscar a sua harmonização, atribuindo-lhes interpretações que mantenham
ambos e que permitam que o princípio central e originário, o direito à educação, ocorra de forma efetiva,
plural e atingindo seus objetivos no campo da formação do aluno.
[3] Essa, entretanto pode ser bastante limitada em situações em que o projeto pedagógico do curso
contenha em si mesmo uma modelo metodológico, como acontece na Aprendizagem Baseada em
Problemas (ABP). Sobre a ABP em versão adaptada para os Cursos de Direito ver: RODRIGUES,
Horácio Wanderlei. Popper e o processo de ensino-aprendizagem pela resolução de problemas. Revista
Direito GV, São Paulo, FGV, v. 6, n.1, jan.-jun. 2010, p.39-57. Disponível
em:http://dx.doi.org/10.1590/S1808-24322010000100003

Das könnte Ihnen auch gefallen