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E TRABALHO
SUMÁRIO DA DISCIPLINA
UNIDADE I
UNIDADE II
Relevância da Disciplina
A disciplina se propõe a apresentar os fundamentos da Ética e da Cidadania, suas implicações no contexto das
relações sociais e profissionais, estabelecendo reflexões sobre sua influência e expressões na vida cotidiana e
no mundo do trabalho na contemporaneidade.
Objetivos da Disciplina
Oferecer ao aluno elementos básicos para que possa analisar, compreender e discutir os acontecimentos so-
ciais, culturais e políticos no contexto contemporâneo, de maneira ética, consciente e comprometida.
Quadro-resumo da unidade
Sites Indicados
http://mecsrv04.mec.gov.br/seif/eticaeci-
dadania/index.html
Texto 3: O que são juízos de valor? Página 156
http://www.webartigos.com/articles
http://pt.wikipedia.org
Leituras Complementares
Texto 4: A ética nas relações profissionais: ARANHA, M. L. & MARTINS, H. Temas
Página 157
a ética profissional de Filosofía. São Paulo: Moderna, 1992.
GOMES, A. M. de A. (et. al). Um olhar
sobre ética e cidadania. São Paulo: Macken-
zie, 2000.
VALLS, Álvaro. O que é ética?. São Paulo:
Texto 5: Código de Ética Profissional Página 158 Brasiliense, 1992.
VAZQUEZ, A. S. Ética. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2004.
Músicas
Índios, da Legião Urbana (álbum “Dois”);
Texto 6: Texto de apoio – A existência hu- Somos quem podemos ser, do Engenhei-
Página 159 ros do Havaí (álbum “Faça o que eu digo,
mana
não ouça ninguém”).
UNIDADE II: Questões Contemporâneas: Cidadania – Concepções e Contradições na
Realidade Social Brasileira 153
Objetivos: Oportunizar o debate sobre as relações e contradições que se estabelecem na realidade brasileira
entre a ética e a cidadania; discutir com o aluno a necessidade da formação de profissionais compromissados
ética e politicamente com a construção de uma nova ordem societária, que permita o pleno exercício da cida-
dania a todos.
Quadro-resumo da unidade
Assuntos Onde encontrar Atividades Complementares
Filmes Indicados
A cor púrpura, de Steven Spielberg, 1985,
Texto 7: A construção do conceito EUA.
de “Cidadania” O homem que virou suco, de João Batista de
Página 161 Andrade, 1981, Brasil.
O que é isso, companheiro?, de Bruno Barreto,
1997, Brasil.
Sites Indicados
http://www.dhnet.org.br
http://www.direitoshumanos.usp.br http://pagi-
Texto 8: Ética e Cidadania: dilemas nas.terra.com.br/educacao/clementino/deveresdo-
e desafios ético-morais expressos cidadao.htm
Página 163
no contexto da vida cotidiana e no http://www.suapesquisa.com/temas/etica_cidada-
exercício da prática profissional nia.htm
Leituras Complementares
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São
Paulo: Ática, 1995.
COVRE, M. L. M. O que é cidadania?. São
Paulo: Ed. Brasiliense, 1995.
Texto 9: Ética e Cidadania: a busca DIMENSTEIN, Gilberto. O cidadão de papel.
de novos valores humanos – a ação Página 164 A infância, a adolescência e os Direitos Humanos
cidadã no Brasil. São Paulo: Ática, 2003.
GOMES, A. M. de A. (et. Al). Um olhar sobre
ética e cidadania. São Paulo: Mackenzie, 2000.
Músicas
Capitão de indústrias, dos Paralamas do Suces-
so (álbum “Nove luas”);
Perfeição, da Legião Urbana (álbum “O desco-
brimento do Brasil”).
Texto 10: Texto de apoio – Diante
Página 164
da Lei
154 UNIDADE I
Um juízo de valor é um juízo sobre a correção ou Juízo de valor também pode referir-se a uma tenta-
incorreção de algo, ou da utilidade de algo, baseado tiva de julgamento baseada numa avaliação estudada
num ponto de vista pessoal. Como generalização, um das informações disponíveis, tomadas como sendo
juízo de valor pode referir-se a um julgamento basea- incompletas e em evolução; por exemplo, um juízo
do num conjunto particular de valores ou num sistema de valor sobre lançar ou não um ataque militar ou
de valores determinado. Um significado conexo de ju- como proceder numa emergência médica. Neste caso,
ízo de valor é o de um recurso de avaliação baseado a qualidade do julgamento sofre porque a informação
nas informações limitadas disponíveis, uma avaliação disponível é incompleta como resultado da urgência,
é efetuada porque uma decisão deve ser tomada. em vez de ser resultante de limitações culturais ou
pessoais.
A expressão juízo de valor pode ser usada num sen-
tido positivo, significando que um julgamento deve Mais comumente, a expressão juízo de valor refere-
ser feito levando em conta um sistema de valores, ou, se a uma opinião individual. De fato, a opinião de um
num sentido depreciativo, significando um julgamen- indivíduo é formada até certo ponto por seu sistema
to feito de um ponto de vista pessoal, em vez de um de crenças e a cultura à qual ele pertença. Assim, uma
pensamento racional, objetivo. extensão natural da expressão juízo de valor é incluir
declarações que parecem ser de mão única num deter- brotam do contexto cultural). No sentido pejorativo,
minado sistema de valores, mas que podem ser vistas um juízo de valor formado dentro de um sistema de 157
de forma diferente em outro. Conceitualmente, essa valores específico pode ser paroquial e estar sujeito a
extensão da definição relaciona-se tanto ao axioma questionamentos junto a audiências mais amplas.
antropológico de “relativismo cultural” (isto é, que o
sentido cultural deriva do contexto) quanto à expres- Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/
são “relativismo moral” (isto é, que as proposições Ju%C3%ADzo_de_valor#cite_note-Shrader-Fre-
de moral e ética não são verdades universais, mas chette-1#cite_note-Shrader-Frechette-1. Acesso em
31 de jan. de 2008.
Sempre que falarmos sobre virtudes e relações pro- É da máxima importância que seu conteúdo seja re-
fissionais, é necessário ressaltarmos a existência e im- fletido nas atitudes dos profissionais, pois um Códi-
portância dos Códigos de Ética Profissional. go de Ética imprimi o compromisso ético-político de
uma categoria para com a sociedade. O interesse no
Um Código de Ética é um instrumento que busca cumprimento de um código passa, então, a ser de to-
organizar os princípios, visão e missão de uma deter- dos. O exercício de uma virtude obrigatória torna-se
minada categoria profissional, bem como determinar exigível de cada profissional, como se uma lei fosse.
que estes sejam respeitados e cumpridos pelo conjun-
to desses profissionais. Serve para orientar as ações e Cria-se a necessidade de uma mentalidade ética e de
explicitar a postura social esperada daquele profissio- uma educação pertinente que conduza à vontade de
nal em face às diferentes situações que enfrentará no agir, de acordo com o estabelecido. Essa disciplina da
exercício de sua profissão. atividade é antiga, já encontrada nas provas históricas
mais remotas, e é uma tendência natural na vida das
As relações de valor que existem entre o ideal moral comunidades.
traçado e os diversos campos da conduta humana po-
dem ser reunidas em um instrumento regulador. É uma O código de ética se materializa por meio de um
espécie de contrato de classe, uma vez que estabelece conjunto de atitudes, de deveres, de estados de cons-
os direitos e os deveres do profissional, resguardando ciência, estabelecendo a disciplina necessária para
a sua intervenção. Caberá aos órgãos de fiscalização que os diferentes sujeitos possam exercer, de modo
do exercício da profissão passar a controlar a execu- coerente, a profissão. Esse instrumento é a solução
ção de tal instrumento com usuários, outros profissio- mais indicada para normatizar a prática de uma cate-
nais, as instituições empregadoras e a sociedade. goria profissional.
Filmes Indicados
Homens de Honra, de George Tillman Jr, 2000, EUA.
A história do primeiro negro a tornar-se mergulhador-chefe da marinha americana. A afirmação e a superação
de si mesmo, momento dos atos dos homens.
a) Comportamento social;
b) Reflexão sobre as ações sociais;
c) A ética é igual à moral;
d) Ação reguladora da vida.
2. O que é a moral?
5. Enquanto trabalha para a sua empresa, você inventa um instrumento que tem potencial para torná-lo rico.
Você usou o laboratório da empresa e instalações de testes, e realizou o trabalho no seu próprio horário. O que
você faz com o invento?
a) Leva-o para o departamento responsável para determinar a obtenção e posse de direitos e disposições
apropriadas;
b) Vê com um procurador e apresenta por procuração uma patente no seu nome;
c) Submete a sua ideia à consideração do programa de prêmio de melhores ideias da empresa;
d) Entra em contato com companhias que possam ter interesse na sua invenção e vende por uma alta quantia.
6. Dois de seus subordinados rotineiramente abastecem suas crianças com material escolar do escritório.
Como você enfrentaria a situação?
a) Bloquearia o material, que somente seria liberado em caso de necessidade e com a assinatura do responsá-
vel pela solicitação;
b) Diria aos dois funcionários que o material é para uso restrito do escritório;
c) Notifica o desvio para o responsável pela segurança do escritório;
d) Envia um aviso a todos os empregados dizendo que o material do escritório é para uso restrito do escritório
e que o descumprimento da ordem vai resultar em ação disciplinar.
a) É algo que impede os profissionais de agirem da maneira que consideram mais conveniente;
b) A ética profissional é um conjunto de normas de conduta que deverão ser postas em prática no exercício
de uma profissão;
c) A ética profissional representa um conjunto de normas morais que deverão ser exercidas no dia-a-dia dos
indivíduos;
d) A ética profissional regula as relações pessoais.
Gabarito:
1- A; 2- A; 3- B; 4- B; 5- A; 6- D; 7- B.
Autoavaliação
1. Pesquise diferentes Códigos de Ética Profissional e, principalmente, o código de ética de seu ramo de ati-
vidade. Converse com os profissionais sobre a aplicabilidade e a importância das normas estabelecidas nesses
códigos. Reflita sobre os pressupostos e regras estabelecidas nesses documentos, discuta com seus colegas
sobre cada um deles e coloque no papel suas ideias a respeito do assunto.
2. Assista ao filme Mar Adentro (Espanha, 2004). Com base na obra do cineasta Alejandro Amenábar, reflita
sobre a questão da eutanásia. Por que devemos, ou não, lutar pelo direito a vida? Reflita sobre a dimensão ética
envolvida nessa questão.
UNIDADE II 161
QUESTÕES CONTEMPORÂNEAS:
CIDADANIA – CONCEPÇÕES E CONTRADIÇÕES
NA REALIDADE SOCIAL BRASILEIRA
Nunca, em nossa sociedade, se falou tanto sobre O que significa “ser pessoa”? Significa ter sua digni-
cidadania como nos últimos anos. Mas afinal, você dade humana respeitada.
sabe o que é cidadania?
A dimensão existencial da cidadania nos remete a
compreender que para “ser cidadão” é preciso ser
Segundo o Dicionário Aurélio da Língua Portugue- respeitado como “pessoa humana”. A cidadania é
sa (2007), “cidadania é a qualidade ou estado do ci- um acréscimo à dimensão do “ser pessoa”. Ninguém
dadão”, este mesmo dicionário define cidadão como pode ser cidadão se não é pessoa, se não lhe reconhe-
“o indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos de cem os atributos próprios da dignidade humana.
um estado, ou no desempenho de seus deveres para No sentido etimológico da palavra, cidadão deriva
com este”. da palavra civita, que em latim significa cidade, e que
tem seu correlato grego na palavra politikos – aquele
Mas a cidadania tem uma dimensão existencial. Isso que habita na cidade. A cidadania era para os gregos
quer dizer que a cidadania é condição para que al- um bem inestimável. Para eles, a plena realização do
homem se fazia na sua participação integral na vida
guém possa, realmente, “ser pessoa”. social e política da Cidade-Estado.
Segundo Dalmo Dallari: inclinação natural dos homens à vida comunitária e à
162 organização social.
A cidadania expressa um conjunto de direitos que
dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente Nesse sentido, cidadania é um processo. Processo
da vida e do governo de seu povo. Quem não tem que começou nos primórdios da humanidade e que
cidadania está marginalizado ou excluído da vida so- se efetiva por meio do desenvolvimento do próprio
cial e da tomada de decisões, ficando numa posição homem, do conhecimento e da conquista de direitos
de inferioridade dentro do grupo social (DALLARI, civis, políticos e sociais, pela conquista de dignidade,
1998: 21). pela conquista de espaços de participação e transfor-
mação. Cidadania não é algo pronto e acabado; mas é
aquilo que se constrói contínua e coletivamente.
A construção histórica do conceito de cidadania de-
nota um processo evolutivo. A cidadania, como era A cidadania esteve e está em permanente constru-
concebida na Antiguidade, não é a mesma para a so- ção; é um referencial de conquista da humanidade por
ciedade moderna, até porque as demandas sociais são meio das lutas pela ampliação e efetivação de direitos
outras. civis, políticos e sociais, por maior liberdade, por me-
lhores garantias individuais e coletivas. Ser cidadão é
A organização de nossa sociedade, cada vez mais ter consciência de que se é sujeito de direitos. Direito
científica, tecnológica e desigual, limita a cidadania à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade, enfim,
dos indivíduos. A contradição que se estabelece entre direitos que garantem a reprodução da existência hu-
os pressupostos legais, morais e sociais e a realida- mana com dignidade.
de é a expressão mais latente da sociedade capitalista
madura. Legalmente, todos nascem cidadãos, pois vi- Assim como a ética, a cidadania é hoje questão
vemos em um país democrático, no entanto essa não é fundamental, quer na educação, na família, quer nas
uma condição natural do homem. Tornamo-nos cida- instituições financeiras, ela está relacionada ao aper-
dãos pela educação, porque a educação potencializa a feiçoamento de um modo de vida.
Fonte: http://chargesdobenett.zip.net/
Texto 8: Ética e Cidadania: Dilemas e Desafios Ético-
163
morais Expressos no Contexto da Vida Cotidiana e
no Exercício da Prática Profissional
Segundo Covre (1995), a prática da cidadania pode tério Público, importante instrumento na defesa da
ser a estratégia, por excelência, para a construção de ordem jurídica, do regime democrático e dos inte-
uma sociedade melhor. Não basta o desenvolvimen- resses sociais e individuais.
to tecnológico e científico para que a sociedade fique
melhor, é preciso haver igualdade e justiça social, é Embora grandes avanços tenham sido registrados
preciso haver respeito à condição humana dos indi- da década de 1980 em diante, com a conquista e
víduos. efetivação de direitos políticos e sociais e da rede-
mocratização do país, nossa cidadania ainda precisa
Mas esse é apenas um dos lados da moeda. Cida- crescer muito. E esses avanços dependem de nós,
dania pressupõe também deveres. O cidadão tem de como membros de uma sociedade livre e democráti-
ser cônscio das suas responsabilidades como parte ca. Temos uma Constituição cidadã e uma legislação
integrante de um grande e complexo organismo que que privilegia a emancipação humana, garantindo os
é a coletividade, a nação, o Estado que, para bom direitos básicos para existência humana.
funcionamento, todos têm de dar sua parcela de con-
tribuição. Já está na hora de pensarmos a cidadania Para que tenhamos uma sociedade verdadeiramente
também como um dever. Dever para com o próximo, cidadã, precisamos deixar de lado preocupações in-
dever com a minha comunidade, dever com o meu dividuais e materiais e desenvolver uma consciência
país. Exercer a cidadania significa ser possuidor de crítica e um comportamento ético, que demonstrem
direitos, mas também assumir deveres, significa parti- um comprometimento com o desenvolvimento civil,
cipar da vida comunitária e política da sua cidade, do político, econômico e social da coletividade.
seu estado e do seu país.
O grande desafio que se estabelece é gerar uma sín-
A história da cidadania no Brasil é praticamente tese entre ética e cidadania, em que possa prevalecer
inseparável da história das lutas pelos direitos fun- muito mais uma ética de princípios, do que uma ética
damentais da pessoa: lutas marcadas por massacres, do dever, uma ética que prime pelo desenvolvimento
violência, exclusão e outras variáveis que caracteri- igualitário e universal. A responsabilidade individual
zam o Brasil desde os tempos da colonização. Muito deverá ser portadora de princípios que privilegiam o
já avançamos, mas ainda temos um longo caminho bem comum.
a percorrer: a questão indígena, a questão agrária, a
posse e uso da terra, concentração da renda nacional, Somente assim poderemos construir um novo modo
desigualdades e exclusão social, desemprego, misé- de viver e um novo sentido para a ética, levando a
ria, analfabetismo são questões que urgem pela inter- efetivação dos princípios estabelecidos na Carta
ferência do Estado e da sociedade civil. Constitucional.
Quando os indivíduos se recusam a participar das uma ação que não se acaba. O cidadão é sobretudo
decisões sociais, estão se recusando a decidir sobre participante.
suas próprias vidas. Estão aceitando que os proble-
mas que dizem respeito a suas vidas sejam pensados Para ter participação política efetiva, os cidadãos
e resolvidos por outras pessoas. Estamos, então, cara devem se organizar para a defesa de interesses co-
a cara com uma sociedade servil. muns, adquirindo vez e voz. Estamos nos referindo à
passagem do servilismo para o exercício da autêntica
Atestado o problema, é imperativo que se encontre destinação da vida.
a solução. Essa solução é a participação dos cidadãos
nas questões públicas. Entenda-se aqui cidadão como Pela associação de todos os cidadãos, manter-se-á
uma categoria de mobilização e não de localização. viva a noção de que o ser humano convive e far-se-á a
defesa da democracia como a forma de governo per-
O cidadão não espera que outro lhe dê as condições mite essa efetiva participação. E, com ela, os mem-
necessárias para participar, pois essas condições bro- bros da sociedade não esperarão o chamamento, pois
tam de si mesmo. É a autodeterminação. O cidadão estarão participando por livre e espontânea vontade
sabe que é preciso buscar; é preciso conquistar. É (GALLO, 2003: 32).
– É possível – disse o porteiro – mas, não agora. Durante esses longos anos, o homem observa qua-
A porta que dá para a Lei está aberta, como de costu- se continuamente o guarda: esquece-se dos outros, e
me; quando o guarda se põe de lado, o homem se põe parece-lhe que este é o único obstáculo que o sepa-
a espiar. O guarda vê isso, ri-se e lhe diz: ra da Lei. Maldiz sua má sorte, durante os primeiros
anos temerariamente e em voz alta; mais tarde, à me-
– Se tão grande é o teu desejo, experimente entrar dida que envelhece, apenas murmura para si. Retorna
apesar de minha proibição. Mas lembra-te que sou à infância, e, como em sua longa contemplação do
poderoso. E sou somente o último dos guardas. En- guarda, chegou a conhecer até as pulgas de seu abrigo
tre salão e salão também existem guardas, cada qual de pele, também suplica a estas que o ajudem a con-
mais poderoso do que o outro. Já o terceiro guarda é vencer o guarda. Finalmente, sua vista enfraquece-se,
tão terrível que não posso suportar seu aspecto. e já não sabe se realmente há menos luz, ou se apenas
o enganam seus olhos. Mas em meio à obscuridade
O camponês não havia previsto essas dificuldades; distingue um resplendor, que surge inextinguível da
a Lei deveria ser sempre acessível para todos, pensa porta da Lei. Já lhe resta pouco tempo de vida. Antes
ele, mas ao observar o guarda, com seu abrigo de pe- de morrer, todas as experiências desses longos anos
les, seu nariz grande e como de águia, sua barba longa se confundem em sua mente em uma só pergunta,
de tártaro, rala e negra, resolve que mais lhe convém que até agora não formou. Faz sinais ao guarda para
esperar. O guarda dá-lhe um banquinho e permite- que se aproxime, já que o rigor da morte endurece
lhe sentar-se a um lado da porta. Ali espera dias e seu corpo. O guarda vê-se obrigado a baixar-se muito
anos. Tenta infinitas vezes entrar, e cansa o guarda para falar com ele, porque a disparidade de estruturas
com suas súplicas. Com frequência o guarda mantém entre ambos aumentou bastante com o tempo, para
com ele breves palestras, faz-lhes perguntas sobre o detrimento do camponês.
seu país, e sobre muitas outras coisas; mas são per-
guntas indiferentes, como as dos grandes senhores, e – Que queres saber agora? – pergunta o guarda. – És
para terminar, sempre lhe repete que ainda não pode insaciável.
– Todos se esforçam para chegar à Lei – diz o ho- bam suas palavras, diz-lhe junto ao ouvido com voz
mem – como é possível então que durante tantos anos atroadora: 165
ninguém mais do que eu pretendesse entrar?
– Ninguém podia pretender isso, porque esta entra-
O guarda compreende que o homem já está para da era somente para ti. Agora vou fechá-la (KAFKA,
morrer, e, para que seus desfalecentes sentidos perce- 1965: 65-66).
Filmes Indicados
A cor púrpura, de Steven Spielberg, 1985, EUA.
Mostra a luta da mulher negra após o fim da escravidão no sul dos Estados Unidos.
O homem que virou suco, de João Batista de Andrade, 1981, Brasil.
A sociedade brasileira e o processo de exclusão são retratados nesse filme.
4. O que quer dizer a afirmação: “O cidadão tem de ser cônscio das suas responsabilidades enquanto parte
integrante de um grande e complexo organismo que é a coletividade”.
Gabarito:
1- C; 2- A; 3- D; 4- C; 5- D.
Autoavaliação
166
Podemos dizer que atitudes simples, como não jogar papel nas ruas e/ou respeitar o sinal de trânsito e a faixa
de pedestres, são demonstrações de cidadania. Cite outros exemplos que, em sua opinião, devem fazer parte do
dia-a-dia de um cidadão consciente:
Com base no conteúdo estudado, faça o seguinte exercício: Converse com pessoas que participam de movi-
mentos sociais, partidos políticos, sindicatos, associações, ou qualquer outra organização popular, e relacione
seus depoimentos com o conceito de cidadania estudado nesta unidade.
***
Leia a Constituição de 1988 e descubra por que foi batizada como a Constituição Cidadã. Pense no que está
estabelecido no papel e nas condições reais da vida cotidiana. Avalie se os direitos assegurados pela Carta
Magna estão sendo respeitados e se questione por quê.
O mundo fala sobre a eleição do primeiro presidente negro da maior potência político-econômica do planeta.
Esse fato histórico nos leva a refletir sobre os impactos que serão causados nos cenários econômico, social e
político mundiais e desperta um sentimento de esperança, de que estamos vivendo realmente um novo século.
Leia a seguir um trecho do discurso do então candidato Barack Obama, sobre a questão racial. Em seguida,
elabore um texto sobre os significados dessa vitória para a cidadania.
Fonte: http://chargesdobenett.zip.net/
Há 221 anos, em uma edificação que continua a existir, do outro lado da rua, um grupo de homens se reuniu
e, com essas simples palavras, lançou a improvável experiência da democracia na América. Fazendeiros e
estudiosos, estadistas e patriotas que atravessaram um oceano para escapar à perseguição e à tirania por fim
concretizaram sua declaração de independência em uma convenção que durou toda a primavera de 1787.
O documento que produziram terminou por ser assinado, mas em última análise era uma obra inacabada,
porque continha a mácula da escravidão, o pecado original da nação e uma questão que dividiu as colônias e
causou impasse na convenção até que os fundadores optaram por permitir que o tráfico de escravos continuasse
por pelo menos mais 20 anos, deixando qualquer solução definitiva às futuras gerações.
É evidente que a resposta à questão da escravidão já estava contida em nossa constituição, uma constituição
que tinha por cerne a igualdade dos cidadãos perante a lei, uma constituição que prometia a seu povo liberdade 167
e justiça, e uma união que poderia e deveria ser ainda mais aperfeiçoada ao longo do tempo.
No entanto, palavras em um pergaminho não seriam suficientes para libertar os escravos de seus grilhões, ou
oferecer a homens e mulheres de todas as cores e credos seus plenos direitos e obrigações como cidadãos dos
Estados Unidos. Foram necessários norte-americanos de futuras gerações que se dispuseram a fazer sua parte
por meio de protestos e luta, nas ruas e nos tribunais, por meio de uma guerra civil e da desobediência civil, e
sempre sob grande risco – a fim de reduzir a distância entre aquilo que nossos ideais prometiam e a realidade
de nossa era.
Sou filho de um homem negro do Quênia e de uma mulher branca do Kansas. Fui criado com a ajuda de um
avô negro que sobreviveu à Depressão e combateu no exército de Patton durante a Segunda Guerra Mundial, e
de uma avó branca que trabalhou em uma linha de montagem de bombardeiros, em Fort Leavenworth, enquan-
to seu marido servia no exterior. Frequentei algumas das melhores escolas dos Estados Unidos e vivi em uma
das mais pobres nações do mundo. Sou casado com uma negra norte-americana que porta o sangue de escravos
e de proprietários de escravos, um legado que transmitimos a nossas duas amadas filhas. Tenho irmãos, irmãs,
sobrinhas, sobrinhos, primos e tios de todas as raças e matizes, espalhados por três continentes e, por mais que
eu viva, jamais me esquecerei de que em nenhum outro país do planeta minha história seria possível.
Trata-se de uma história que não fez de mim o mais convencional dos candidatos. Mas ela tornou parte de
minha composição genética a ideia de que este país é mais que a soma de suas partes – a ideia de que, múltiplos,
sejamos um só. (...)
Mas é assim que devemos começar. É assim que nossa união tornar-se-á mais forte. E como tantas gerações
vieram a perceber ao longo dos 221 anos desde que aquele grupo de patriotas assinou aquele documento em
Filadélfia, é assim que começa a perfeição.
(Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u383130.shtml,
acesso em 31 de jan. de 2009.)
Glossário
168
Aludido: Referido;
Centelha: Partícula ígnea ou luminosa, que sai de um corpo incandescente, fagulha. Inspiração;
Etimológico (adj.): Estudo da origem das palavras; história da origem das palavras;
Eutanásia: Prática, sem amparo legal, pela qual se busca abreviar sem dor ou sofrimento a vida dum enfermo
incurável e terminal; morte serena, sem sofrimento.
Inclinação: Ato ou efeito de inclinar-se; tendência; simpatia afeição por algo ou alguém;
Referências Eletrônicas
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ju%C3%ADzo_de_valor#cite_note-Shrader-Frechette-1#cite_note-Shrader-Fre-
chette-1. Acesso em 31 de jan. de 2008.
hhttp://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u383130.shtml. Acesso em 31 de jan. de 2008.
ttp://www.notapositiva.com/resumos/filosofia/moraletica.htm. Acesso em 31 de jan. de 2008.
Imagens
http://chargedobenett.zip.net/
http://ivancabral.blogspot.com/2007/06/moral.html
http://ivancabral.blogspot.com/2007/06/tica.html