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COLECÇÃO DE TEXTOS

Júlio Garganta
1996-2009

1. GARGANTA, J., MAIA, J. & MARQUES, A. (1996). Acerca da investigação dos fatores do rendimento em futebol.
Revista Paulista de Eduação Física, 10 (2), 146-158.

2. GARGANTA, J. & GRÉHAIGNE, J. F. (1999). Abordagem sistémica do jogo de Futebol: moda ou necessidade?
Revista Movimento, 5 (10), 40-50.

3. GARGANTA, J., & CUNHA E SILVA, P. (2000). O jogo de futebol: entre o caos e a regra. Revista Horizonte, 91, 5-8.

4. GARGANTA, J. (2001). Futebol e ciência. Ciência e Futebol. Revista Digital Educación Fisica e Deportes (Buenos
Aires), 7 (40), Setembro. [On line: www.efdeportes.com].

5. GARGANTA, J. (2001). A análise da performance nos jogos desportivos. Revisão acerca da análise do jogo. Revista
Portuguesa de Ciências do Desporto 1 (1): 57-64.

6. GARGANTA, J. (2002). O treino da táctica e da técnica nos jogos desportivos à luz do compromisso cognição-
acção. In V. Barbanti, A. Amadio, J. Bento & A. Marques (Eds.), Esporte e Actividade Física. Interacção entre
rendimento e saúde (pp. 281-306). S. Paulo: Editora Manole.

7. GARGANTA, J. (2004). A formação estratégico-táctica nos jogos desportivos de oposição e cooperação. In A.


Gaya, A. Marques & Go Tani (Orgs.), Desporto para Crianças e Jovens. Razões e finalidades (pp. 217-233).
Universidade Federal do Rio Grande do Sul: UFRGS Editora.

8. GARGANTA, J. (2004). Atrás do palco, nas oficinas do Futebol. In J. Garganta, J. Oliveira & M. Murad (Orgs.),
Futebol de muitas cores e sabores. Reflexões em torno do desporto mais popular do mundo (pp. 227-234). Porto:
Campo das Letras.

9. GARGANTA, J. (2005). Connaissance et action dans les sports collectifs. Les savoirs sur le savoir. In Marc Derycke
(Ed.), Culture(s) & Réflexivité (pp. 167-174). Saint-Étienne: Publications de l´Université de Saint-Étienne, Jean Monet.

10. GARGANTA, J. (2005). Dos constrangimentos da acção à liberdade de (inter)acção, para um Futebol com pés …
e cabeça. In Duarte Araújo (Ed.), O contexto da decisão. A acção táctica no desporto (pp. 179-190). Lisboa: Visão e
Contextos.

11. GARGANTA, J. (2001). Tactical modelling in Soccer: a critical view. In M. Hughes & F. Tavares (Eds.),
Proceedings of IV World Congress of Notational Analysis of Sport (pp. 33-40). Universidade do Porto: Faculdade de
Ciências do Desporto e de Educação Física.

12. GARGANTA, J. (2000). O treino da táctica e da estratégia nos jogos desportivos. In J. Garganta (Ed.), Horizontes
e órbitas no treino dos jogos desportivos (pp. 51-61). Universidade do Porto: Centro de Estudos dos Jogos
Desportivos. Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física.
Texto 1

GARGANTA, J., MAIA, J. & MARQUES, A. (1996). Acerca da


investigação dos fatores do rendimento em futebol. Revista
Pauista de Eduação Física, 10 (2), 146-158.

2
ACERCA DA INVESTIGAÇÃO DOS FACTORES DO RENDIMENTO EM
FUTEBOL

J. Garganta * ; J. Maia** ; A. Marques***

RESUMO

O teor de vários estudos e reflexões, bem como o relato da experiência de diferentes especialistas,
vêm conferindo cada vez maior consistência à ideia de que na hierarquia da estrutura do
rendimento do Futebol os factores tácticos assumem um papel primordial. Todavia, no domínio da
investigação e da produção bibliográfica, a performance no jogo tem sido largamente referenciada a
partir de factores energéticos e biomecânicos e das características fisiológicas dos jogadores,
constatando-se uma reduzida expressão dos trabalhos de âmbito científico que focalizam a sua
atenção na dimensão táctica. No sentido de indagar esta antinomia, procurámos: i) apurar a forma
como os especialistas perspectivam e hierarquizam os factores do rendimento em Futebol e como
se posicionam face à sua investigação nesta modalidade; ii) indagar se treinadores e
investigadores, quando considerados em grupos distintos de acordo com as suas atribuições,
manifestam posições idênticas ou dissemelhantes. De acordo com os resultados do presente
estudo, no plano da investigação em Futebol, as dimensões táctica, assim como a psicológica,
parecem apresentar uma expressão diminuta e desproporcionada, face à importância que
investigadores e treinadores lhes atribuem, no âmbito do rendimento desportivo. Embora os
especialistas considerem que a dimensão táctica tem um peso importante no rendimento em
Futebol, os mesmos reconhecem nela a dimensão menos investigada e referem que tal se deve à
dificuldade que isso envolve.

UNITERMOS: Investigação; Futebol; Factores do rendimento; Táctica.

INTRODUÇÃO
Há já muitos anos que treinadores e investigadores vêm tentando perceber a
hierarquia e interacção dos diversos factores que concorrem para o sucesso
competitivo.
No âmbito do Futebol, os factores de natureza técnica, física, táctica e psicológica
têm sido apontados como os que mais directamente contribuem para a expressão
do comportamento dos jogadores e das equipas (Kunze, 1981; Bangsbo, 1993;
Miller, 1995).
O teor de vários estudos e reflexões sobre esta matéria, acrescido ao relato da
experiência de diferentes especialistas do terreno, confere cada vez maior
consistência à ideia de que na hierarquia da estrutura do rendimento do Futebol os
aspectos tácticos assumem um papel nuclear (Zerhouni, 1980; Wrzos, 1981;
Queiroz, 1986; Olsen, 1988; Gréhaigne, 1989; Dufour, 1993; Castelo, 1994;
Hughes, 1994; Miller, 1995; Garganta, 1997).

*Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física da Universidade do Porto (FCDEF-UP). Gabinete de Futebol.
**FCDEF-UP. Gabinete de Estatística.
***FCDEF-UP. Gabinete de Treino Desportivo.

3
Tem-se tornado evidente que, tanto no processo de preparação como na
competição, a dimensão táctica funciona como pólo de atracção e território de
sentido do comportamento dos jogadores, nomeadamente nas facetas
relacionadas com o desenvolvimento e aplicação dos designados modelos e
concepções de jogo das equipas.
Paradoxalmente, no domínio da investigação e da produção bibliográfica, a
performance no jogo de Futebol foi, e continua a ser, largamente referenciada a
partir de factores energéticos e biomecânicos e das características fisiológicas dos
jogadores (Talaga, 1984; Faina et al., 1988; Reilly, 1990; Bangsbo, 1993). Nestes
casos, os comportamentos dos jogadores são perspectivados enquanto produto
duma maior ou menor adequação do organismo às exigências energéticas e
funcionais do jogo, em termos de unidade entre o estímulo e a resposta, sem
considerar as configurações tácticas que os induzem.
Contudo, alguns autores de tais tipos de estudos têm alertado para a debilidade
dos resultados deles decorrentes e para a inconsistência das conclusões,
porquanto não são valorizadas as peculiaridades tácticas do jogo, nomeadamente
o estilo e os métodos de jogo (ofensivos e defensivos) utilizados, bem como as
funções desempenhadas pelos jogadores no quadro dos respectivos sistemas
tácticos utilizados.
Investigadores, como o britânico Reilly (1994, 1996) e os alemães Liesen &
Muecke (1994), notabilizados através dos seus estudos no âmbito da fisiologia do
Futebol, alertam para o facto das exigências colocadas ao nível da actividade do
jogador de Futebol decorrerem em larga medida do nível da competição e das
imposições tácticas (estilo de jogo, posição/função do jogador).
O dinamarquês Bangsbo (1993), reconhecidamente um dos investigadores que,
nos últimos anos, mais e melhor tem estudado a fisiologia do futebolista, afirma
que, mesmo ao mais elevado nível internacional, é possível compensar uma
inadequada expressão do desenvolvimento no tocante às exigências físicas do
jogo de Futebol, através da astúcia táctica e de um elevado grau de motivação
(1993). Sustenta ainda, tal como Reilly (1990, 1994, 1996), que o padrão de
actividade que os jogadores desenvolvem durante um jogo de Futebol é
influenciado pelo estilo de jogo - the way of playing - e pelo sistema táctico
aplicado. Conclui que as atribuições tácticas e as habilidades motoras dos
jogadores devem ser tomadas em consideração, porquanto têm implicações
importantes ao nível das exigências fisiológicas do Futebol.
Santos (1995) reafirma estas asserções, ao referir que o compromisso entre as
variáveis que concorrem para a performance num jogo de Futebol leva à

4
relativização de cada uma delas, em função do modelo de jogo, das condições do
envolvimento e do estatuto posicional de cada jogador.
A antinomia entre a importância reconhecida ao factor táctico e a sua reduzida
expressão no domínio da investigação pode radicar no facto de que, quando se
recorre à dimensão táctica, no sentido de que esta se constitua como "saber de
acesso" ou "corredor de abertura" para entender o jogo de Futebol, deparam-se
inúmeras dificuldades. Estas prendem-se com a inviabilidade de lidar com as
expressões quantitativa e qualitativa do fenómeno, face ao estado actual do
conhecimento, ou melhor, face aos modelos de conhecimento vigentes.
Emergem limitações e motivações decorrentes da dificuldade de controlar
objectivamente algumas variáveis, e até de as identificar, face à sua relativa
subjectividade. Acresce o facto de, por forte influência dos quadros de investigação
decalcados de outras áreas, bem como das características da estrutura tradicional
dos trabalhos científicos, se secundarizar o tratamento de problemas desta
natureza, atribuindo-lhes, explicita ou implicitamente, um estatuto de menoridade
científica.
A produção deste tipo de conhecimentos, porque não se coaduna com os
preceituários científicos dominantes, apresenta uma diminuta ressonância
internacional, quer no que concerne às publicações efectuadas nos diversos
periódicos científicos internacionais, quer no que respeita ao seu tratamento
temático em congressos.
O ano de 1987 constitui uma data importante para a evolução do conhecimento em
Futebol, porquanto marca o início da realização de um conjunto de reuniões
técnico-científicas periódicas, globalmente designadas por Congressos Mundiais
de Ciência e Futebol.
Estes eventos, que congregam vários especialistas, entre treinadores,
investigadores, médicos e dirigentes desportivos, visam disponibilizar informação
corrente sobre o Futebol, enquanto objecto de conhecimento científico,
constituindo-se assim como um espaço de divulgação, debate de ideias e
apresentação de trabalhos com actualidade.
Na primeira destas reuniões, o World Congress of Science and Football, realizado
em Liverpool (1987), dos oitenta e oito trabalhos apresentados, apenas oito (9.1%)
se focalizam nos aspectos tácticos. Em 1991, no Second World Congress of
Science and Football, realizado em Eindhoven, foram apresentados oitenta e
quatro trabalhos. Desses, somente dez (11.9%) se dedicam ao estudo da
dimensão táctica do jogo. Em 1995, no Third World Congress of Science and
Football, ocorrido em Cardiff, foram apresentados setenta e um estudos, dos quais
doze (16.9%) se centram na análise da dimensão táctica do jogo.

5
Não obstante o percentual tenha vindo a aumentar, duma leitura linear poder-se-á
deduzir que o escasso número de estudos, apresentados aos sucessivos
congressos, pode evidenciar uma diminuta importância atribuída aos aspectos
tácticos no Futebol.
Contudo, entendemos que a reduzida expressão dos trabalhos de âmbito científico
que focalizam a sua atenção na dimensão táctica, antes traduz significativas
limitações ao nível do estado do conhecimento e da metodologia da investigação
aplicada ao Futebol.

Objectivos
No sentido de testar a pertinência desta ideia-força, foram definidos os seguintes
objectivos para o presente estudo:
- apurar a forma como os especialistas perspectivam e hierarquizam os factores
do rendimento em Futebol e como se posicionam face à sua investigação nesta
modalidade;
- indagar se treinadores e investigadores, quando considerados em grupos
distintos de acordo com as suas atribuições, manifestam posições idênticas ou
dissemelhantes.

METODOLOGIA
Amostra
O estudo foi aplicado a uma amostra composta por cinquenta especialistas, vinte e
quatro portugueses e vinte e seis estrangeiros1, profissionalmente ligados ao
Futebol, pela via do treino e/ou pela via académica, e cujas características
constam do quadro 1.

Quadro 1 - Número, percentagem e média±DP das idades dos


especialistas inquiridos (n=50), de acordo com a respectiva atribuição
profissional.

Atribuição nº % Idade

Treinador 27 54 % 35 ± 10
Investigador (*) 23 46 % 41 ± 10

(*) Do efectivo de investigadores fazem parte dois indivíduos licenciados, sete com o grau
de mestre e quatorze com o grau de doutor.

6
Instrumento e validação
A avaliação foi feita a partir de um questionário através do qual se procurou apurar
a forma como investigadores e treinadores perspectivam e hierarquizam os
factores do rendimento em Futebol e como se posicionam face à investigação
nesta modalidade.
O questionário incluía questões abertas e fechadas.
As categorias e subcategorias que integram o questionário2 são as seguintes:
• Estrutura do rendimento em Futebol.
• Factores integrantes.
• Hierarquia dos factores.
• Investigação em Futebol.
• Dimensões da investigação.
• Importância relativa das dimensões.

A validação do questionário foi efectuada por peritagem e envolveu as seguintes


fases:
1º foram seleccionados os conteúdos relativos às questões que o autor, de acordo
com os objectivos delineados, pretendia ver respondidas;
2º elaborou-se a primeira versão do questionário em língua portuguesa e
submeteu-se a mesma a um painel de peritos;
3º em função das dúvidas suscitadas, foram reformulados alguns pormenores;
4º após reformulação, o questionário foi novamente apresentado ao mesmo painel
de peritos;
5º elaborou-se a versão final do questionário em língua portuguesa;
6º uma especialista procedeu à tradução do questionário para língua inglesa3;
7º o questionário foi apresentado a dois reconhecidos especialistas estrangeiros
(um inglês e um francês), que reunem uma dupla condição: i) são investigadores,
no âmbito do Futebol; ii) já foram treinadores de Futebol;
8º após algumas alterações de pormenor, foi elaborada a versão final do
questionário em língua inglesa;
9º na aplicação do questionário, procurou-se que o preenchimento fosse efectuado
de forma presencial4, para que o autor pudesse, sempre que necessário,
esclarecer eventuais dúvidas5.

Procedimentos estatísticos
Foi utilizada a média para as cotações atribuídas pelos especialistas nas respostas
de escala ordinal, de 1 a 5. Relativamente às respostas de escala nominal
recorreu-se à percentagem.

7
No sentido de comparar as cotações atribuídas aos factores da performance, em
escala ordinal, por treinadores vs investigadores, foi usado o teste não paramétrico
de Mann-Whitney. Para analisar as respostas às questões que envolviam escalas
nominais, recorreu-se a tabelas de contingência e ao teste de Qui-quadrado (χ2).
Utilizou-se o package estatístico Statview 4.0 e o nível de significância foi mantido
em 5%.

RESULTADOS
Análise dos especialistas em geral
Pediu-se aos inquiridos para, numa escala ordinal de 1 a 5, do menos para o mais
relevante, atribuirem um valor aos factores que tradicionalmente se aceita
contribuirem para o rendimento no Futebol (físicos, psicológicos, tácticos e
técnicos)6.
As respostas evidenciam um equilíbrio nos valores das cotações atribuídas. Não
obstante, o factor táctico surge como o mais cotado (27.1%), logo seguido do
factor físico (25.6%), enquanto que os factores técnico e psicológico registam
valores mais baixos (24.8% e 22.5%, respectivamente), como se pode observar na
figura 1.

210
27.1%
200
25.6%
190
24.8%
180

170 22.5%

160

150
Físico Psicológ. Táctico Técnico
Factores do rendimento

Figura 1 - Cotações, numa escala de 1 a 5, atribuídas pelos inquiridos aos


factores que tradicionalmente se aceita contribuirem para o rendimento em
Futebol, em função da sua relevância.

Quando se pede aos inquiridos para hierarquizarem os factores de rendimento em


relação aos quais, segundo a sua opinião, mais se justifica investir, no âmbito da
investigação em Futebol, o equilíbrio continua a registar-se, e o factor táctico surge
novamente como o mais cotado (26.0%), logo seguido dos factores psicológico
(25.7%), físico (25.4%) e técnico (22.9), como se pode constatar na figura 2.

8
210

200

190
25.7% 26.0%
25.4%
180

170
22.9%
160

150
Físico Psicológ. Táctico Técnico
Factores do rendimento

Figura 2 - Cotações, numa escala de 1 a 5, atribuídas pelos inquiridos


aos factores do rendimento em relação aos quais, segundo a sua
opinião, mais se justifica investir na investigação em Futebol.

Foi ainda solicitado que, considerando as dimensões física, psicológica, táctica e


técnica, se pronunciassem a propósito do estado actual da investigação no Futebol,
tanto no plano quantitativo como no qualitativo.
As respostas constam do quadro 2.

Quadro 2 - Distribuição das percentagens relativas às respostas dos especialistas, segundo a


respectiva opinião face ao estado actual da investigação em Futebol, nos planos quantitativo e
qualitativo, para cada um dos factores (F) considerados.

F. Físico F. Psicol. F. Táctico F. Técnico


• Quantidade
Reduzida/ Insuficiente 48 % 88% 56% 54%
Suficiente 52% 12% 44% 46%
• Qualidade
Baixa 20% 44% 40% 34%
Média 54% 50% 40% 38%
Alta 26% 6% 20% 28%

Da análise do quadro é possível verificar que 88% dos especialistas consideram


que a investigação no plano da dimensão psicológica é reduzida/insuficiente; e
44% consideram que a qualidade da que existe é baixa.
Embora com valores inferiores, esta tendência manifesta-se também ao nível da
dimensão táctica. No plano da quantidade, 56% dos especialistas consideram que
é reduzida/insuficiente, enquanto que 40% consideram que a qualidade da
investigação que se produz é baixa.
Curiosamente, quando foi pedido aos especialistas para nomearem a dimensão do
rendimento que consideravam menos investigada, verifica-se uma inversão desta
relação. Deste modo, a dimensão táctica surge como aquela que a maior parcela

9
dos inquiridos (44%) considera menos investigada, logo seguida da dimensão
psicológica (36%). As dimensões física e técnica figuram a grande distância,
repartindo equitativamente, entre si, os restantes 20% (Figura 3).

25
44%

20
36%

15

10

10% 10%
5

0
Física Psicol. Táctica Técnica

Figura 3- Frequência de respostas relativas à dimensão


do rendimento considerada menos investigada.

As principais razões apontadas para essa menor expressão das dimensões táctica
e psicológica foram, respectivamente: i) serem factores cuja investigação se afigura
difícil (65% e 64.3%); ii) não permitirem tratamento científico (5% e 7.1%); iii)
ambas as razões (30% e 28.6%).
Nenhum dos indivíduos considerou qualquer uma das outras possibilidades
apresentadas no questionário, i.e.: (1) não se tratar de uma dimensão tão
importante como as outras; (2) outras razões.

Análise treinadores vs investigadores


Em face dos resultados apresentados, em relação à globalidade das respostas,
procurámos apurar se treinadores (n=23) e investigadores (n=27), quando
considerados em grupos distintos, de acordo com as suas atribuições,
manifestavam posições idênticas ou dissemelhantes.
Relativamente aos factores que tradicionalmente se aceita contribuirem para o
rendimento no Futebol (físicos, psicológicos, tácticos e técnicos), treinadores e
investigadores apresentam posições semelhantes, salvo no que se refere ao factor
táctico, em relação ao qual as diferenças são estatisticamente significativas. Neste
caso, os treinadores atribuem ao factor táctico uma importância claramente
superior (30.4 vs. 19.7), como se pode constatar na figura 4.

10
40
- treinadores
35 - investigadores
30.4
30 28.1
27.2 27.4

25
*
23.5 23.3
20 22.5
19.7
15

Factores do rendimento
10
Físico Psicológico Táctico Técnico

Figura 4 - Comparação dos valores médios das cotações atribuídas, numa escala ordinal de 1 a
5, pelos treinadores vs investigadores, relativamente aos factores que tradicionalmente se aceita
contribuirem para o rendimento em Futebol (* p= 0.0051).

Todavia, quando se pede a investigadores e treinadores para hierarquizarem os


factores de rendimento em relação aos quais mais se justifica investir, no âmbito
da investigação em Futebol, observam-se diferenças estatisticamente significativas
somente em relação ao factor psicológico.
Como se pode observar na figura 5, os treinadores, quando comparados com os
investigadores, atribuem ao factor psicológico uma importância significativamente
superior (31.2 vs. 18.8).
40
- Treinadores
- Investigadores
35
31.2
30 28.1 28.9
26.4
25 *
24.4
20 22.4 21.5
18.8
15

Factores do rendimento
10
Físico Psicológico Táctico Técnico
Figura 5 - Comparação dos valores médios das cotações atribuídas, numa escala ordinal de 1 a
5, pelos treinadores vs investigadores, em relação aos factores de rendimento em que, segundo
a sua opinião, mais se justifica investir no âmbito da investigação em Futebol (*p= 0.0018).

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Observando as figuras 4 e 5, é possível constatar, que treinadores e
investigadores revelam posições significativamente distintas, para as dimensões
táctica e psicológica, no que se refere aos factores que tradicionalmente se aceita
contribuirem para o rendimento e aos factores em relação aos quais mais se
justifica investir no âmbito da investigação em Futebol.
Os treinadores consideram que o factor táctico contribui com um maior peso para o
rendimento em Futebol, e que é em relação ao factor psicológico que mais se
justifica investir no âmbito da investigação.
Talvez estas posições distintas se prendam, por um lado, com as necessidades
que o treinador sente de gerir quotidianamente um conjunto de problemas do foro
táctico, como sejam a construção e a gestão da equipa com base num
modelo/concepção de jogo.
Por outro lado, as questões relacionadas com a motivação, a auto-confiança e o
equilíbrio emocional, fazem parte de um conjunto mais vasto de problemas
prementes de pendor psicológico, com os quais o treinador se confronta
diariamente na gestão dos jogadores e da equipa.
Foi também solicitado a investigadores e treinadores que se pronunciassem a
propósito do estado actual da investigação em Futebol, em relação às dimensões
consideradas, tanto no plano quantitativo como no qualitativo.
Os resultados podem ser observados no quadro 3.

Quadro 3 - Distribuição das percentagens relativas às respostas dos treinadores (T) e investigadores (I),
segundo a respectiva opinião face ao estado actual da investigação em Futebol, nos planos quantitativo e
qualitativo, para cada um dos factores (F.) considerados.

F. Físico F. Psicológico F. Táctico F. Técnico


Quantidade T I T I T I T I
Red.- Insufic. 48 % 48 % 93 % 83 % 52 % 61 % 52 % 61 %
Suficiente 52 % 52 % 7% 17 % 48 % 39 % 48 % 39 %
Qualidade
Baixa 19 % 22 % 52 % 35 % 26 % 56 % 22 % 48 %
Média 52 % 57 % 48 % 52 % 52 % 26 % 44 % 30 %
Alta 30 % 22 % 0% 13 % 22 % 17 % 33 % 22 %

Relativamente à faceta quantitativa da investigação em Futebol, no que se refere


aos factores físicos, verifica-se que as posições dos especialistas coincidem
(χ2(1)=0.001; p=0.98). Em ambos os grupos, 48% dos indivíduos classificam de
reduzida/insuficiente a investigação produzida e 52% consideram-na suficiente.
A posição de treinadores e investigadores é relativamente próxima no que se
refere aos factores psicológicos (χ2(1)=2.06; p=0.57), embora neste caso uma
elevada percentagem de elementos de ambos os grupos (93% e 83%,
respectivamente) considerem que a quantidade produzida é reduzida/insuficiente.

12
Identicamente, no que diz respeito aos factores de natureza táctica, as posições
dos especialistas não são significativamente distintas, considerando as respectivas
atribuições (χ2(1)=1.11; p=0.57). Enquanto que 52% dos treinadores e 61% dos
investigadores consideram que a investigação produzida é reduzida/insuficiente,
48% dos primeiros e 39% dos segundos, consideram-na suficiente.
No que diz respeito aos factores de natureza técnica, (χ2(1)=0.97; p=0.61), as
posições dos especialistas são coincidentes com as observadas em relação à
dimensão táctica: 52% dos treinadores e 61% dos investigadores consideram que
a investigação produzida é reduzida/insuficiente; 48% e 39%, respectivamente,
consideram-na suficiente.
No que concerne à faceta qualitativa da investigação em Futebol, e relativamente
aos factores físicos, verifica-se a independência de respostas de treinadores vs
investigadores (χ2(1)=0.41; p=0.81).
Constata-se idêntica tendência em relação aos factores psicológico (χ2(1)=4.38;
p=0.11), táctico (χ2(1)=5.11; p=0.77) e técnico (χ2(1)=3.63; p=0.16)
Contudo, como se verifica no quadro 3, é relativamente aos factores técnico e
táctico que as posições manifestadas nas respostas mais se distinguem, de acordo
com as atribuições pessoais dos especialistas.
Quando solicitados a nomear a dimensão do rendimento que consideravam menos
investigada, treinadores e investigadores destacam a táctica (48% e 39%,
respectivamente). Em segundo lugar surge a dimensão psicológica (37% e 35%).
As dimensões física (11% e 9%) e técnica (4% e 17%), figuram a uma distância
considerável destas, como se pode observar na figura 6.

% 60 Investigadores
Treinadores 48%
50
39%
35% 37%
35%
40

30
17%
20 11%
9%
10 4%

0
Física Psicológica Táctica Técnica
Dimensões do rendimento

Figura 6 - Percentagem de nomeações registadas para os grupos de


investigadores e treinadores, relativas à dimensão do rendimento considerada
menos investigada.

13
Os percentuais relativos às principais razões apontadas para a menor expressão
das dimensões táctica e psicológica estão representados no quadro 4.

Quadro 4 - Percentagens relativas às principais razões apontadas, por investigadores e


treinadores, para a menor expressão das dimensões psicológica e táctica.

Difícil Não científico Difíc. e n/científ.

Investigadores 42% 21% 37%

Treinadores 78% 4% 17%

Nenhum dos indivíduos, de qualquer dos grupos, considerou qualquer das outras
possibilidades apresentadas no questionário: i) não se tratar de uma dimensão tão
importante como as demais; ii) outras razões.
O valor de χ2(2)=6.14, p=0.046 expressa uma associação estatisticamente
significativa entre as características consideradas (difícil; não científico; difícil e não
científico) e o atributo pessoal (investigador, treinador). A análise post-hoc
destacou a característica "ser difícil de investigar" como aquela que mais contribui
para a proximidade das posições dos indivíduos segundo o seu atributo.

Conclusões
Os resultados deste estudo apontam no sentido de corroborar a conjectura inicial:
embora os especialistas considerem que a dimensão táctica tem um peso
importante no rendimento em Futebol, os mesmos reconhecem nela a dimensão
menos investigada e referem que tal se deve à dificuldade que isso envolve.
Dificuldade que, do nosso ponto de vista, decorre da incompatibilidade entre os
preceitos tradicionais de objectividade e mensurabilidade científicas e a natureza
subjectiva e qualitativa da táctica.
No plano da investigação em Futebol, as dimensões táctica e psicológica, parecem
apresentar uma expressão diminuta e desproporcionada, face à importância que
investigadores e treinadores lhes atribuem, no âmbito do rendimento desportivo.

Considerações a propósito
A necessidade de uma revisão dos modelos de
pensamento não é apenas uma necessidade cultural
básica, mas também a necessidade de produzir, em
sentido mais estrito, instrumentos de trabalho mais
adequados.
E. Manzini (1986)

O Futebol tem oferecido, na labilidade dos seus princípios explicativos e na


ambiguidade das suas interpretações, um terreno propício a infiltrações
conceptuais e metodológicas, provenientes de distintos universos.

14
Por vezes formula-se a questão se o Futebol pode ou não ser alvo de tratamento
científico. No entanto, o problema colocado deste modo parece destituído de
qualquer sentido, na medida em que, reconhecendo-se a ciência, não nos
resultados obtidos, mas nos métodos adoptados para os conseguir, é o tipo de
procedimento utilizado que configura uma abordagem científica ou não científica
(Accame, 1995).
No âmbito científico, os discursos e métodos utilizados para interpretar e explicar o
jogo parecem revelar uma frágil congruência com o fenómeno visado, o que pode
dever-se ao facto do escopo dos analistas não raras vezes descurar os aspectos
tácticos que configuram a matriz do Futebol, o que impede uma tomada de
consciência molar dos problemas.
O Futebol apresenta uma especificidade, uma essencialidade táctica (Gréhaigne,
1989; Garganta, 1995), decorrentes de um universo cujas fronteiras configuram a
sua identidade, distinguindo-o das demais actividades.
O seu entendimento implica a adopção dum pensamento adequado e reclama a
adopção de estratégias de compreensão edificadas a partir dessa especificidade.
O Futebol é um fenómeno multidimensional, e portanto, irredutível a qualquer das
dimensões ou factores do rendimento que concorrem para a sua expressão.
Todavia, o jogo, do ponto de vista fenomenológico, tem um núcleo director e uma
essencialidade táctica que confere, ou retira, sentido aos comportamentos
assumidos pelos jogadores e pelas equipas no decorrer duma partida.
Na impossibilidade de abordar esta modalidade na sua total expressão, torna-se
conveniente perceber de que forma a entrada por uma "porta principal” de acesso
ao conhecimento do fenómeno jogo, pode contribuir para clarificar o seu
entendimento e viabilizar uma intervenção mais eficaz.
Na nossa perspectiva, a construção do conhecimento ao nível do ensino, do treino e
da competição em Futebol, deve ser feita a partir de perspectivas e matrizes
organizacionais que, sem descurar as demais facetas, considerem como núcleo
director a dimensão táctica do jogo.
A aleatoriedade e imprevisibilidade das acções que constituem um jogo de Futebol
fazem dele uma trama de contornos complexos. São acções que se afigura
pertencerem a uma tipologia que Moles (1995) designa por fenómenos vagos ou
imprecisos, no sentido em que se torna difícil dispor de técnicas de medida que
permitam objectivá-los e que se ajustem aos preceitos científicos vigentes.
Neste caso impõe-se um esforço conceptual para delimitar e identificar os
fenómenos que pretendemos estudar. Contudo, tudo se complica quando os
próprios conceitos que os enunciam são, em si mesmos, vagos, talvez até pouco
adequados.

15
Quando se trata de fenómenos vagos ou imprecisos é importante conceder maior
lugar à modelação. No entanto, como refere Moles (1995), o investigador deve não
somente atentar naquilo que aparece a seus olhos como "fenómeno", mas ser
também capaz de o descrever, de o explicitar.
Neste plano, afigura-se importante distinguir os estudos do Futebol, dos estudos
efectuados no âmbito de outras áreas do conhecimento, em que esta modalidade é
apenas um campo de aplicação. Em tais áreas, não obstante a existência de alguns
pontos de contacto, a problematização radica em terrenos alheios ao Futebol, facto
que se traduz, não raras vezes, num culto de áreas científicas em detrimento do
tratamento de problemas específicos dum objecto de estudo específico.
A abordagem do Futebol, na sua complexa textura, reclama quadros de referência
congruentes. Neste sentido, os estudos que se reclamam do Futebol enquanto jogo
desportivo, devem necessariamente veicular informação que, no seu conjunto,
possa contribuir para a edificação dum corpo de conhecimentos que permita
aumentar a eficácia do ensino e do treino desta modalidade, bem como da
avaliação da prestação dos jogadores e das equipas na competição.
Não sendo nossa pretensão esgotar o jogo de Futebol na sua dimensão táctica,
entendemos que a abordagem do ensino, treino e competição, se afigura
claramente mais fecunda e ajustada se perspectivada a partir de contextos nos
quais a componente táctica funcione como guia de reflexão e acção, como elemento
vertebrador, e não como resíduo ou subproduto do rendimento.

Notas
1. Os vinte e seis indivíduos de nacionalidade estrangeira são oriundos de quadrantes geográficos diversos: Austrália (1), Bélgica (1), Canadá
(1), Coreia (2), Dinamarca (1), Finlândia (1), França (3), Inglaterra (7), Irlanda (1), Itália (1), Japão (2), Noruega (1), País de Gales (1), Suécia
(1) e Turquia (2).
2. Tal questionário, em aplicação num contexto de estudo mais vasto, pela sua extensão, é omitido no presente artigo.
3. Dado que foi nossa intenção aplicar o questionário também à escala internacional, o mesmo foi traduzido para a língua inglesa.
4. Apesar de terem respondido ao questionário 26 indivíduos estrangeiros, repartidos por um total de quinze países, foi possível respeitar esta
condição, na medida em que aproveitámos a presença destes no Third World Congress of Science and Football, realizado em Cardiff, em
1995.
5. No conjunto dos cinquenta questionários não se verificou a existência de quaisquer dúvidas dignas de registo.
6. Foi também concedida a possibilidade de optarem por um outro tipo de classificação dos factores do rendimento. Todavia, tal não
aconteceu porque os mesmos consideraram a classificação tradicional pertinente e ajustada.

ABSTRACT
The content of several studies as well as the reports of the experience of different experts confirm the idea that in the
hierarchy of the structure of soccer performance tactical factors assume a major role.
Notwithstanding, in research and in the literature, the performance in ball games has been widely referenced to the
energetical and biomechanical factors as well as to the physiological traits of the players. Only a few scientific papers
center their emphasis on the tactical dimension of the performance.
In order to understand this antinomy we tried: (i) to know the way experts in sports training define and hierarchize the
factors of performance in soccer, and how did they evaluate the status of the research in this sport; (ii) to know if
coaches and researchers, when considered in different groups according to their attributions, have different or common
positions towards this problem.
Our study evidences that the tactical and psychological dimensions of the performance seem to have a reduced and
disproportioned expression towards the importance in sport performance that both researchers and coaches are given
to them.
Though the experts considered that the tactical dimension has a main importance in soccer performance they recognise
that this dimension is the less investigated and refer as causes the difficulties of doing research in the tactical aspects.

UNITERMS: Research; Soccer; Structure of performance; Tactics.

16
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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17
Texto 2
GARGANTA, J. & GRÉHAIGNE, J. F. (1999). Abordagem
sistémica do jogo de Futebol: moda ou necessidade? Revista
Movimento, 5 (10), 40-50.

18
ABORDAGEM SISTÉMICA DO JOGO DE FUTEBOL: MODA OU NECESSIDADE?

J. GARGANTA*; J.F. GRÉHAIGNE **

Resumo
Várias tentativas têm sido feitas para descrever a estrutura do rendimento no Futebol. No entanto, apesar de alguns
factores poderem já ser reunidos, os catálogos de prioridades e as estruturas hierárquicas estabelecidas pouco mais têm
conseguido do que reproduzir pequenas e desarticuladas fracções do jogo. Todavia, a realidade tem demonstrado que a
pertinência do estudo dos problemas inerentes ao jogo e ao jogador deverá situar-se mais ao nível da interacção dos
factores do que em cada um deles per se. Diversas conclusões decorrentes de vários estudos realizados, fazem emergir a
necessidade de encontrar métodos que permitam reunir e organizar os conhecimentos, a partir do reconhecimento da
complexidade do jogo de Futebol e das propriedades de interacção dinâmica das equipas implicadas, enquanto conjuntos
ou totalidades. No presente artigo pretendemos evidenciar que a abordagem sistémica do jogo de Futebol constitui uma
importante referência a considerar nos processos de ensino e treino do Futebol, na medida em que oferece a possibilidade
de identificar e avaliar acções/sequências de jogo que, pela sua frequente ocorrência, ou por induzirem desequilíbrios
(ofensivos e defensivos) importantes, se afiguram representativas da dinâmica das partidas.

Abstract
Systemic approach of soccer game: a case of fashion or need?

Within studies, research in soccer had made several attempts to describe the performance structure of this sport.
Although some factors are already recognised, they picture only small and desegregated game slices. Meanwhile, the
reality of the game has been claming the pertinence of studding the game and players related problems. So, we must
place the focus on factors interaction. The main conclusions of current studies make it necessary to find out methods that
allow us to assemble and organise knowledge about the complexity of soccer game and dynamically interaction
properties of soccer teams. The purpose of this paper is to show that systemic approach of soccer game is an important
reference to teaching and coaching process because it provides the possibility of identify and evaluate game features,
according their regularity or critical importance.

Introdução
O Futebol é uma modalidade desportiva integrada no quadro dos designados jogos
desportivos colectivos (JDC).
Os JDC caracterizam-se, entre outros factores, pela aciclicidade técnica, por solicitações e
efeitos cumulativos morfológico-funcionais e motores e por uma intensa participação
psíquica (Teodorescu, 1977).
As acções de jogo realizam-se num contexto diversificado, configurado a partir de uma
intrincada trama de relações de oposição e de cooperação. Os jogadores e as equipas
procuram resolver em situação, várias vezes e simultaneamente, cascatas de problemas
que encerram uma elevada imprevisibilidade (Metzler, 1987). A questão fundamental pode
ser enunciada da seguinte forma (Gréhaigne & Guillon, 1992): face a situações de

* Júlio Garganta é Doutor em Ciências do Desporto e Professor da Faculdade de Ciências do Desporto e de


Educação Física, da Universidade do Porto, Portugal.

** Jean Francis Gréhaigne é Doutor em Ciências e Técnicas das Actividades Físicas e Desportivas e Mestre
de Conferências no Institut Universitaire de Formation des Maîtres de Franche-Comté, Besançon, França.

19
oposição dos adversários, os jogadores devem coordenar as acções com a finalidade de
recuperar, conservar e fazer progredir o móbil do jogo (bola), tendo como objectivo criar
situações de finalização e marcar golo ou ponto.
Tratando-se de uma actividade fértil em acontecimentos cuja frequência, ordem
cronológica e complexidade não podem ser determinados antecipadamente (Metzler,
1987), o factor estratégico-táctico assume uma importância capital (Gréhaigne, 1989;
Deleplace, 1994; Mombaerts, 1996; Garganta, 1997). Deste modo, orientando-se para um
objectivo de produção - ganhar o jogo - a identidade dos diferentes JDC é indissociável de
um quadro de actividades particular, dado por:
• uma relação de forças materializada no confronto entre dois grupos de jogadores de
equipas diferentes que disputam ou trocam um objecto, ou móbil do jogo (na maior parte
dos casos uma bola);
• uma escolha de habilidades motoras realizada a partir do repertório motor do praticante;
• estratégias individuais e colectivas que condicionam as decisões implícitas e explícitas,
tomadas com o intuito de levar de vencida o adversário.

De acordo com Gréhaigne & Guillon (1992), este modo de perspectivar os JDC coloca
três grandes categorias de problemas:
• No plano espacial e temporal: na fase ofensiva - problemas de utilização da bola,
individual e colectivamente, na tentativa de ultrapassar obstáculos moveis não uniformes
(adversários); na fase defensiva - problemas na produção de obstáculos, com a finalidade
de dificultar ou parar o movimento da bola e dos jogadores adversários, no intuito de
conseguir a posse da bola;
• no plano informacional: problemas ligados à produção de incerteza para os adversários e
de certeza para os companheiros;
• no plano organizacional: problemas relacionados com a integração do projecto colectivo
na acção individual e vice-versa.

Perceber a lógica do jogo de Futebol


As situações que ocorrem no contexto dos JDC devem ser entendidas como unidades de
acção que possuem uma natureza complexa, decorrente não apenas do número de
variáveis em jogo, mas também da imprevisibilidade e aleatoriedade1 das situações que se
colocam aos jogadores e às equipas (Konzag, 1991; Riera, 1995; Reilly, 1996).
Vários autores têm sustentado que a construção do conhecimento em Futebol se deve
edificar a partir de perspectivas que se focalizem na lógica interna2 ou natureza do jogo
(Dufour, 1983; Queiroz, 1986; Dugrand, 1989; Gréhaigne, 1989; Castelo, 1994; Baconi &
Marella, 1995; Garganta, 1997).

20
Teodorescu (1985) vem chamando à atenção para o facto da representação do conteúdo do
jogo e do sistema de relações dos elementos que o compõem se revestir de grande
importância, na medida em que ao permitir evidenciar os aspectos relativos à sua lógica
interior, possibilita o aperfeiçoamento contínuo, quer do treino quer do próprio jogo.
Tal entendimento vem na linha do já expresso por Ferreira & Queiroz (1982), segundo
os quais a identificação, a definição e a caracterização das fases, componentes e factores
da competição são aspectos que viabilizam a conceptualização do "modelo de treino".
Castelo (1994) refere que da reflexão conceptual do jogo de Futebol emerge a necessidade
da construção e unificação de um modelo técnico-táctico do jogo, de forma a definir a sua
lógica interna, a partir da observação e análise das equipas mais representativas de um
nível superior de rendimento.

Do treino ao jogo e do jogo ao treino


No Futebol diz-se, frequentemente, que conforme se quer jogar assim se deve treinar, o
que sugere uma relação de interdependência e reciprocidade entre a preparação e a
competição.
Esta relação é consubstanciada por um dos princípios do treino, o princípio da
especificidade, que preconiza que sejam treinados os aspectos que se prendem
directamente com o jogo (estrutura do movimento, estrutura da carga, natureza das tarefas,
etc.), no sentido de viabilizar a maior transferência possível das aquisições operadas no
treino para o contexto específico das partidas.
Deste modo, pretende-se que a preparação seja adequada, isto é, induza adaptações
específicas que viabilizem uma maior eficácia de processos na competição (Figura 1).

Competição Preparação

Adequada Inadequada

Adaptações Adaptações
específicas Inespecíficas

Resultados eficazes

Resultados ineficazes

Figura 1 - Interdependência entre a preparação e a competição (redesenhado de Pinto, 1991).

21
Thiess (1994), num artigo publicado no periódico Leistungssport, e tendo como base o
princípio da unidade e do condicionamento mútuo entre treino e competição, invoca a
necessidade de, paralelamente a uma teoria do treino, se desenvolver uma teoria da
competição, indispensável, não apenas para o desenvolvimento da prática desportiva, mas
também para a evolução das ciências do desporto.
Este entendimento, que é corroborado por Tschiene (1994), tem implicações importantes
no domínio particular dos jogos desportivos colectivos.
Reconhecendo-se que o jogo configura o perfil das exigências específicas impostas aos
jogadores (Gréhaigne, 1989; Garganta, 1997), e que o treino viabiliza ou limita a
expressão de tais exigências no jogo, quanto mais a relação entre estas realidades
interdependentes for privada do esforço de compreensão, menos ajustada e eficaz se torna
a intervenção dos treinadores e dos investigadores (Castelo, 1994).
A natureza e diversidade dos factores que concorrem para o rendimento em Futebol
deixam perceber uma estrutura de grande complexidade, devido: i) à extensão das relações
de envolvimento dos jogadores (Worthington, 1974): ii) ao facto das acções de jogo não
corresponderem a uma sequência previsível de codificações (Garganta, 1994), revelando
um elevado grau de indeterminismo (Dufour, 1993); (iii) à presença de sistemas sujeitos a
rápidas alterações (Schubert, 1990), com componentes numerosas e variadas.
Assim, na aparência simples de um jogo de Futebol esconde-se um fenómeno que assenta
numa lógica complexa, a qual é responsável pela opacidade de que o jogo se reveste
quando perspectivado como objecto de conhecimento científico, nomeadamente no que
diz respeito à sua expressão táctica.
Neste contexto, a elevação do jogo a objecto de estudo constitui um imperativo, porquanto
o conhecimento da sua lógica e dos seus princípios tem implicações importantes nos
planos do ensino, treino e controlo da prestação dos jogadores e das equipas.

Carácter heurístico e polifacetado do jogo


Várias tentativas têm sido feitas para descrever a estrutura do rendimento no Futebol. No
entanto, apesar de alguns factores poderem já ser reunidos com alguma extensão, os
catálogos de prioridades e as estruturas hierárquicas estabelecidas pouco mais têm
conseguido do que reproduzir pequenas e desarticuladas fracções do jogo. Ora a realidade
tem demonstrado que a pertinência do estudo dos problemas inerentes ao jogo e ao jogador
deverá situar-se mais ao nível da inter-relação dos factores do que em cada um deles per se
(Bauer & Ueberle, 1988).
As conclusões decorrentes de grande parte dos estudos realizados, fazem emergir a
necessidade de encontrar métodos que permitam reunir e organizar os conhecimentos, a
partir do reconhecimento da complexidade do jogo de Futebol e das propriedades de
interacção3 dinâmica das equipas implicadas, enquanto conjuntos ou totalidades.

22
No concurso das equipas para um objectivo comum e no permanente antagonismo destas,
de acordo com as diferentes fases que atravessa, o jogo de Futebol apresenta-se como um
fenómeno de contornos variáveis no qual as ocorrências se intricam umas nas outras. As
competências dos jogadores e das equipas não se confinam, portanto, a aspectos pontuais
mas reportam-se a grandes categorias de problemas, pelo que se torna necessário perceber
o jogo na sua complexidade.
O desenvolvimento do jogo decorre duma interacção entre uma dimensão mais previsível,
induzida pelas leis e princípios do jogo, e uma dimensão mais imprevisível, materializada
a partir da autonomia dos jogadores, que introduzem a diversidade e singularidade
espácio-temporal dos acontecimentos. As equipas em confronto operam como colectivos,
organizados de acordo com uma lógica particular, em função de regras, princípios e
prescrições. As acções dos jogadores da mesma equipa tendem a ser convergentes, na
medida em que as estratégias e acções individuais são direccionadas no sentido de
satisfazer finalidades e objectivos comuns.
Face a uma situação de jogo, cada jogador privilegia determinadas acções em detrimento
de outras, estabelecendo uma hierarquia de relações de exclusão e de preferência, com
implicações no comportamento da equipa enquanto sistema. Assim, a equipa constitui uma
totalidade em permanente construção, na qual as acções pontuais, mesmo que
aparentemente isoladas, influem no comportamento colectivo. Trata-se de uma actividade
colectiva, que consiste numa rede de interacções complexas de cooperação e oposição,
integrando distintos níveis de organização (Gréhaigne, 1992).
Numa partida, o quadro do jogo é organizado e conhecido, mas o seu conteúdo é sempre
surpreendente, imprevisível, incerto, aleatório. Não é possível estandardizar as sequências
de acções. Pode mesmo dizer-se que não existem duas situações absolutamente idênticas e
que as possibilidades de combinação são inúmeras, o que torna impossível recriá-las no
treino.
Todavia, não obstante essas características, as situações podem ser “categorizáveis”, isto é,
reconvertíveis num número restrito de categorias ou tipos de situações. Se assim não
acontecesse, ou seja, se não houvesse algo que ligasse o jogo a um território de possíveis
previsíveis, no qual pontificam os designados modelos ou representações, a preparação
dos jogadores e das equipas tornar-se-ia obsoleta.
Contudo, para Teodorescu (1985) os JDC, na medida em que não constituem uma
sequência de acções rigorosamente predeterminadas, não podem ser reduzidos a um
modelo puramente algorítmico. Referindo-se particularmente ao Futebol, Gréhaigne
(1989) apela para um tipo de raciocínio heurístico e reforça esta ideia referindo que se a
cascata de decisões for restringida a uma escolha binária do tipo algorítmico, ocorre
necessariamente um empobrecimento e uma estereotipia dos comportamentos.

23
A lógica sistémica do jogo de Futebol

A equipa é um sistema, uma vez que as acções dos


jogadores são integradas numa determinada
estrutura, segundo um determinado modelo, de acordo
com certos princípios e regras.

L.Teodorescu (1977)

Na medida em que a acção de um jogador desemboca obrigatoriamente na interacção entre


os demais elementos em jogo, cada uma das equipas que se defrontam comporta-se como
uma unidade cujas interacções dos seus elementos se sobrepõem às mais-valias
individuais.
Dado que actuam num contexto em que se estabelecem relações de dependência e
interdependência, as equipas de Futebol podem ser consideradas sistemas hierarquizados4,
especializados e fortemente dominados pelas competências estratégias e heurísticas.
Assim, cada equipa constitui um sistema adaptativo complexo5.
A relação entre as equipas configura os contornos do jogo que pode ser considerado um
sistema constituído por outros sistemas que procuram alcançar determinadas finalidades
(Gréhaigne, 1989).
Conforme sustenta Castelo (1994), trata-se de um sistema aberto6, dinâmico, complexo e
não-linear, no qual coexistem subsistemas hierarquizados que interagem através de
conexões múltiplas. De acordo com o mesmo autor, sua condição de sistema aberto faz
emergir o consenso que a estrutura do jogo7 deve ser observada e analisada na
identificação, conceptualização e inter-relação dos factores que a constituem.
Identificam-se dois grandes sistemas em confronto, as equipas, que exibem a capacidade
de se auto-organizar e de se auto-transformar, comportando-se como unidades organizadas
com uma rede de processos de auto-produção e auto-transformação de comportamentos
dos seus componentes.
Durante uma partida, dado que os acontecimentos que ocorrem no terreno podem ser
entendidos como os momentos de passagem de um estado para outro do sistema, o jogo
pode ser considerado, recorrendo a uma expressão de Morin (1982), um sistema
acontecimental.
Adoptando a classificação dos sistemas preconizada por Beer (1966) e Lesourne (1976),
podemos considerar o jogo de Futebol:
• um macrosistema complexo, na medida em que os elementos que o constituem, pelas
suas profusas inter-relações, o tornam altamente elaborado e portanto com elevado grau de
inteligibilidade;
• um macrosistema probabilista de escolha múltipla, porque as suas unidades
constituintes interagem de um modo não previsível e as respostas, nas acções de jogo, são
condicionadas pela configuração de diferentes sequências de codificações.

24
A optimização dum sistema num dado momento, resulta da confluência de distintos níveis
de organização dos demais sistemas que o compõem. É a concordância dessas
confluências que mediatiza o caminho da optimização (Seirul-lo, 1993). Nesta linha de
raciocínio, no jogo de Futebol importa identificar sub-sistemas que, relacionados entre si,
operem a optimização de todo o sistema.
Partindo do princípio de que qualquer sistema pode ser decomposto num certo número de
sistemas (Durand, 1992), num jogo de Futebol é possível discriminar (Gréhaigne, 1989):
• o macrosistema jogo, identificado a partir do nível de confronto global entre duas
equipas, consideradas as zonas de acção dos jogadores e o espectro da equipa;
• o sub-sistema equipa, primeiro subsistema fundamental do macrosistema, cujos
elementos, baseando-se num código de comunicação comum, definem um determinado
nível de cooperação e confronto;
• o sub-sistema (microsistema) confrontos parciais que contribui para a transformação
do jogo, materializado na oposição entre uma parte das duas equipas numa dada zona do
terreno;
• o sub-sistema (infra-sistema) confrontos elementares cuja expressão se confina às
situações de 1 contra 1 e aos duelos (1x1 com contacto físico). Estes infra-sistemas
modificam de forma pontual o sistema dos confrontos parciais (Benedek, 1984).

Interesse da abordagem sistémica

Toda a interacção dotada de alguma estabilidade ou


regularidade assume um carácter organizacional e
produz um sistema.

E. Morin (1990)

A noção de sistema exprime a unidade complexa e o carácter fenomenal do todo, assim


como o complexo das relações entre o todo e as partes (Durand, 1992; Morin, 1982). Um
sistema apresenta-se como um todo homogéneo, se o perspectivarmos a partir do conjunto,
mas ele é também simultaneamente, pelas características dos seus constituintes, diverso e
heterogéneo.
Contudo, a discriminação de um sistema tem uma carga subjectiva, não tendo
necessariamente que haver consenso sobre a sua existência ou os seus limites (Epstein,
1986). Esta ubiquidade dos sistemas faz com que a sua classificação possa ser feita a partir
de uma diversidade de critérios: natureza dos objectos ou dos atributos, inter-relações das
partes constitutivas, níveis de complexidade, etc.

25
O desenvolvimento mais importante da noção de totalidade tem sido realizado a partir da
conceptualização do termo sistema. E de tal forma isto tem acontecido, que no discurso
sistémico a noção de totalidade é sinónima da noção de sistema (Durand, 1982).
O conhecimento, a identificação e a definição do jogo de Futebol, passa pela utilização de
modelos capazes de o explicar e interpretar (Gréhaigne, 1989). Trata-se de representar o
conteúdo e a lógica do jogo a partir da integração das dimensões percebidas como
essenciais do fenómeno.
Ora, como refere Le Moigne (1986), se pretendemos construir a inteligibilidade de um
sistema complexo, devemos modela-lo. Modelar um sistema complexo é elaborar e
conceber modelos, i.e., construções simbólicas, com a ajuda das quais podemos definir
projectos de acção, avaliar os seus processos e a sua eficácia.
Para Gréhaigne (1989), não é possível compreender e explicar a complexidade dos JDC,
enquanto sistema de transformação, senão apeando a modelos que integrem as noções de
ordem, desordem, interacção e organização.
O conceito de sistema, porque a complexidade, o paradoxal, o dia lógico, e por isso
mesmo o incerto (Jantsch, 1980), afigura-se nuclear porque permite focalizar a análise
nos aspectos da organização do jogo, consubstanciados num conjunto de regras de gestão e
acção (Catlin, 1994) que derivam de um conceito ou ideia central, vulgarmente designada
por modelo ou concepção de jogo (Trapp, 1975).
Todo este quadro de referências aponta para a necessidade de realizar uma incursão nas
designadas abordagens do tipo sistémico.
A sistémica constitui uma abordagem, um método de compreensão e de resolução de
problemas que visa aumentar a eficácia da acção face a problemas relacionados com o
modo de observação, de representação, de modelação ou de simulação de totalidades
complexas.
É uma disciplina que emergiu, pouco a pouco, a partir do estruturalismo, da cibernética e
da teoria da informação, nos anos 50, e que, gravitando em torno do conceito de sistema,
recebeu diversas designações: análise de sistemas, análise sistémica, análise estrutural,
análise funcional, abordagem sistémica, dinâmica dos sistemas, etc.
Vários autores (Rosnay, 1975; Atlan, 1979; Andreewsky, 1991; Bertrand & Guillemet,
1988) recorreram à expressão abordagem sistémica para designarem as perspectivas e
metodologias empregues na descrição e estudo dos sistemas, no sentido de tornar a acção
mais eficaz. A abordagem sistémica consiste portanto numa estratégia de modelação da
realidade que comporta a utilização de certos instrumentos conceptuais bem definidos,
conduzindo à modelação sistémica 8 (Bertrand & Guillemet, 1988).
A modelação sistémica assenta em quatro categorias fundamentais (Durand, 1979):
interacção, globalidade, complexidade e organização. Neste sentido parece revelar-se
profícua para defrontar fenómenos complexos como o jogo de Futebol, porquanto estamos

26
em presença de um processo: (1) interactivo, porque os jogadores que o constituem
actuam numa relação de reciprocidade; (2) global ou total, porque o valor das equipas
pode ser maior ou menor do que a soma dos valores individuais dos jogadores que as
constituem; (3) complexo (porque existe uma profusão de relações entre os elementos em
jogo); (4) organizado, porque a sua estrutura e funcionalidade se configuram a partir das
relações de cooperação e de oposição, estabelecidas no respeito por princípios e regras e
em função de finalidades e objectivos.
De acordo com Wilkinson (1982), o jogo de Futebol pode ser considerado um sistema, na
medida em que manifesta as seguintes propriedades:
• possui componentes que integram, eles próprios, outros sistemas;
• comporta decisores e processos de decisão;
• possui possibilidades de modificação, de variação;
• existe um objectivo e unidades de avaliação para o sucesso da prestação.

Teodorescu (1977) foi um dos primeiros autores a utilizar, no âmbito dos JDC, os
conceitos de sistema e de modelo e a alertar para a pertinência da modelação no
desenvolvimento da teoria e da prática deste grupo de desportos. Cerca de vinte anos mais
tarde, Gréhaigne (1989) retomou, e aprofundou, a problemática da modelação sistémica,
na sua tese de doutoramento: Football de mouvement. Vers une approche systémique du
jeu.

Dos sistemas de jogo à organização das equipas


Como foi já referido, no contexto do Futebol, o conceito de sistema revela-se profícuo
para inteligir a lógica do jogo. O recurso à abordagem sistémica parece justificar-se
porquanto esta, ao salientar pontos sensíveis, pode contribuir para a emergência de novas
representações da realidade, e oferecer vias de investigação e de reflexão profícuas nos
planos do treino, ensino e competição (Gréhaigne, 1992).
Não se trata, todavia, de reduzir o jogo a uma noção abstracta de sistema, mas de procurar
inteligir princípios teleológicos que orientem o comportamento e definam a organização
dos sistemas implicados, através da identificação de regras de gestão e de funcionamento
dos jogadores e das equipas, e da descrição acontecimental das regularidades e variações
que ocorrem nas acções de jogo.
Isto significa que, neste âmbito, o conceito de sistema deve exprimir sobretudo a dinâmica
do jogo, a qual permite configurar as opções tácticas dos jogadores e das equipas. Um
sistema é uma forma concreta de manifestação da táctica, que se organiza de acordo com
princípios e métodos escolhidos de entre uma grande variedade (Godik & Popov, 1993).
Neste sentido, o sistema de jogo constitui o denominador comum a todos os jogadores da
equipa no sentido em que, em situação real de jogo, toda a actividade de um jogador se

27
inscreve no interior de um referencial simultaneamente estável e adaptável aos imperativos
do momento (Ripoll, 1979).
Contudo, no Futebol o conceito de “sistema” tem sido utilizado com um significado
diverso. O que frequentemente se designa por sistema de jogo ou sistema táctico, e se
descreve através de siglas como 4:2:4, 4:3:3, 4:4:2, WM, etc. (Batty, 1981; Wilkinson,
1984; Serrano, 1993), restringe-se a um dispositivo, a uma distribuição topológica dos
jogadores pelo terreno de jogo (Teissie, 1969; Godik & Popov, 1993; Catlin, 1994;
Hughes, 1994), de acordo com o respectivo estatuto posicional9.
Segundo Kacani (1982), pode constatar-se que a concepção de jogo no Futebol actual é
caracterizada pelo equilíbrio entre a participação dos jogadores na defesa e no ataque, com
a particularidade de existir, por parte das equipas, uma vontade de impôr a sua concepção
de jogo ao adversário. Tal equilíbrio requer a intervenção de jogadores universais no jogo.
Navarra (1983) sublinha a necessidade de potenciar cada vez mais a universalidade dos
jogadores numa relação óptima entre a universalidade e o nível de especialização.
Segundo este autor, o futebolista deve ser capaz de resolver com eficácia as tarefas
adstritas à sua função específica dentro da formação de base e, quando a situação o impõe,
funcionar no âmbito da superstrutura que a universalidade representa.
No Futebol moderno mantém-se a denominação dos jogadores segundo o seu
posicionamento no terreno de jogo (defesa, médio, atacante). No entanto, esta
nomenclatura, baseada na posição ocupada pelo jogador no terreno, designa apenas o seu
papel dominante (Kacani, 1982), pois que, dadas as exigências actuais do Futebol, a
actividade dos jogadores, ao longo do jogo, transcende largamente o limite imposto por
aquela denominação.
Deste modo, cada vez mais se esbatem as fronteiras entre os papéis de defensor, médio e
avançado. A diferenciação de papéis e funções não se realiza tanto a partir da participação,
ou não, de determinados jogadores nas fases do ataque e da defesa, mas sobretudo a partir
das características dessa participação, face às configurações particulares do jogo em
determinados momentos e zonas do terreno.
O Futebol actual exige, cada vez mais, que o jogador seja capaz de cumprir todas as
funções, para além do espaço que predominantemente ocupa no terreno de jogo, pelo que à
noção de posição se tem sobreposto a de função.
Todavia, a identificação da táctica com os “sistemas tácticos” tem feito com que a
importância atribuída aos designados sistemas de jogo seja sobrevalorizada. De facto, duas
equipas podem utilizar o mesmo “sistema táctico”, e.g. 4-3-3, e jogarem de modo
completamente diferente (Hughes, 1994), o que quer dizer que conhecer o dispositivo não
implica conhecer o modo como ele funciona (Gréhaigne, 1989).
Os jogadores de Futebol procuram desenvolver acções durante o jogo que, no seu
conjunto, contribuam para dois aspectos importantes: (1) a coerência lógica que resulta do

28
carácter unitário dos comportamentos técnico-tácticos, reconhecidos na estabilidade e na
organização da própria equipa; (2) a procura de criar desequilíbrio ou ruptura na
organização da equipa opositora, com o intuito de contrariar a lógica interna do adversário
(Bacconi & Marella, 1995).
Neste contexto, a organização das acções dos jogadores decorre de sistemas que não que
não se restringem a uma estrutura de base, ou seja, a uma repartição fixa das forças no
terreno de jogo, mas, pelo contrário, são configurados sobretudo a partir da evolução das
funções (Mombaerts, 1991; Godik & Popov, 1993).
Importa, sobretudo, valorizar o carácter organizacional do jogo, na medida em que é a
organização que produz a unidade global do sistema; é ela que transforma, produz,
relaciona e mantém o sistema, concedendo características distintas e próprias à totalidade
sistémica (Morin, 1982).
Pode dizer-se que as equipas de Futebol operam como sistemas cujos constituintes se
organizam de acordo com uma lógica particular, em função de princípios e prescrições,
num contexto de oposição e cooperação. Este tipo de sistemas só se mantém pela acção,
pela mudança. A sua identidade, ou a sua invariância, não provém da inalterabilidade dos
seus componentes, mas da estabilidade da sua forma e organização face aos fluxos
acontecimentais que os atravessam.

A evolução do jogo
Em jogos de sorte, em jogos de estratégia e em jogos que combinam a sorte com a
estratégia, o decurso de cada jogo é “historicamente” único em virtude do grande número
de escolhas possíveis (Eigen & Winkler, 1989). Todavia, existe uma lógica interna do
jogo que decorre da relação de oposição que, em cada sequência de jogo, gera uma
dinâmica de movimento global de um alvo ao outro, e cujo sentido pode a cada momento
inverter-se. Isto impõe uma organização a cada uma das equipas que se defrontam, que
surge como resposta a esta reversibilidade de comportamentos (Deleplace, 1994).
A evolução do jogo, ao longo dos tempos, pode ser resumida em torno em torno de três
grandes fases: (1) o ataque como elemento dominante. Neste caso, a disposição geométrica
dos jogadores caracteriza-se por um triângulo cujo cume se orienta para a retaguarda do
espaço de jogo; (2) a defesa é o elemento dominante. A disposição geométrica dos
jogadores caracteriza-se por um triângulo cujo cume se orienta para a frente do espaço de
jogo; (3) o reforço do meio campo é o elemento dominante dos sistemas de jogo
modernos. A disposição geométrica dos jogadores pode ser caracterizada por um losango.
Pode pensar-se, em relação a este último tipo de dispositivo, que se passou da noção de
"sistema" à noção de "trama de jogo", que pode ser definida como o conjunto de princípios
tácticos que materializam a organização táctica de uma equipa. No Futebol moderno de
alto nív,el não existem sistemas estritos e rígidos. A partir de uma trama de jogo comum,

29
em função da importância do encontro, da evolução do marcador, do tempo de jogo
decorrido, os jogadores podem alterar ou fazer evoluir o seu modo de jogar adoptando
diferentes comportamentos.
Assiste-se hoje a uma complexificação crescente do jogo, com repercussões claras sobre a
formação e a preparação/treino dos jogadores e das equipas. Ao longo da história do
Futebol, as defesas foram-se reforçando progressivamente com o intuito de resistirem a
ataques cada vez mais fortes e organizados. Neste sentido, as tarefas de defensor são cada
vez mais extensivas a outros jogadores o que acarreta uma diminuição do número de
potenciais atacantes.
Neste contexto, os designados sistemas de jogo orientam-se para formas cada vez mais
defensivas. Contudo, a necessidade de marcar golos fez emergir formas de jogo cada vez
menos estereotipadas, com o intuito de provocar maior surpresa nos adversários e bem
assim ultrapassar os "muros" defensivos.

Para uma nova abordagem do jogo


Do ponto de vista da didáctica dos JDC, uma característica importante pode ser retirada da
abordagem sistémica. Com efeito, na aprendizagem clássica dos jogos desportivos
procura-se, antes de mais, ensinar os gestos técnicos e a impôr a ordem no terreno de jogo,
através duma repartição formal e estática (esquemas).
Somos tentados a dizer que para os jogadores é igualmente, ou mais, importante saber
gerir a desordem10. Num encontro, a oposição do adversário gera imprevisibilidade e
necessidade de constante adaptação aos constrangimentos que decorrem da natureza do
confronto.
Deste modo, a qualidade do jogo não pode vingar com base na aplicação mecânica de
combinações tácticas aprendidas e repetidas no treino. Assim, no jogo os jogadores
devem, sobretudo, confrontar-se com a evolução das configurações do ataque e da defesa,
o que faz com que o recurso ao raciocínio heurístico pareça o caminho mais adequado para
tratar eficazmente os problemas postos pela interacção específica das duas equipas. Este
tipo de análise, que privilegia a oposição e a gestão da desordem como fonte de todo o
progresso, contribui com novos conceitos e perspectivas para a edificação de uma
metodologia renovada do ensino e treino do Futebol. Para além disso, ela permite
reabilitar o jogo como elemento fundamental de aprendizagem e, parafraseando um slogan
célebre, "devolver o jogo aos futebolistas".

Que consequências para a compreensão do jogo?


O Futebol é um jogo organizado o que, desde logo, pressupõe uma organização das
equipas (Hainaut & Benoit, 1979). A noção central de oposição conduz-nos a considerar
as duas equipas como sistemas organizados em interacção. As características estruturais

30
destes sistemas consistem num programa modificável em função da experiência adquirida,
sendo a aprendizagem a sua propriedade fundamental. As condições de funcionamento
destes sistemas fazem com que procurem gerar desordem preservando uma certa ordem
que permite tomar decisões num contexto não completamente previsível a priori.
À luz das características sistémicas do jogo, acrescentaríamos outros elementos para
promover a análise das relações de força entre as equipas, com o intuito de melhor
compreendermos a evolução do jogo. Em particular, porque as equipas se encontram, ora
na fase defensiva ora na fase ofensiva, a noção de reversibilidade das situações representa
um aspecto fundamental.
O comportamento inteligente de uma equipa resulta da actividade cognitiva e motora dos
jogadores. Esta visa a resolução dos problemas colocados pela relação entre as
perturbações relativas ao funcionamento dos diferentes sub-sistemas e das escolhas
efectuadas pelos jogadores para compensar ou acentuar os desequilíbrios.
A abordagem sistémica tem interesse, sobretudo, quando desagua no concreto e permite
aumentar a eficácia da acção. Ela deve possibilitar o despiste de regras essenciais para agir
no confronto desportivo, a partir do conhecimento das propriedades do jogo e do
comportamento das equipas.
O enfoque sistémico do jogo de Futebol oferece a possibilidade de identificar, avaliar e
regular acções/sequências de jogo que se afiguram representativas da dinâmica das
partidas, pelo que constitui uma referência a considerar na construção e controlo dos
exercícios dirigidos ao ensino e treino do Futebol.
Tal quadro de referência pode proporcionar a detecção e interpretação de invariantes, isto
é, de princípios gerais, estáveis e mais facilmente comunicáveis, bem como de variações
significativas que, por induzirem desequilíbrios (ofensivos e defensivos) importantes, se
constituem como fases críticas do jogo. A sua utilidade repousa na possibilidade de, ao
detectar as eventuais "variáveis de comando", permitir melhor organizar e sintetizar os
conhecimentos e induzir uma maior eficácia na acção.

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Notas
1. Entenda-se como imprevisível um fenómeno inesperado, inopinado; e como aleatório um fenómeno dependente das
circunstâncias do acaso, que pode tomar um certo número de valores a cada um dos quais está ligada uma possibilidade
subjectiva (Godet, 1991).
2. A lógica interna do jogo é o produto da interacção contínua entre as principais convenções do regulamento e a
evolução das soluções práticas encontradas pelos jogadores, decorrentes das suas habilidades tácticas, técnicas e físicas
(Deleplace, 1979).
3. A interacção exprime o conjunto das relações, acções e rectroacções que se efectuam e se tecem num sistema (Morin,
1982).
4. Um sistema hierárquico é uma categoria segundo a qual os objectos estão repartidos em diferentes níveis de
complexidade (Ehresmann & Vanbremeersch, 1991). A abordagem hierárquica permite construir uma representação

33
funcional dos sistemas, baseada nas noções de função, componente, elemento (Braunschweig, 1991). As hierarquias
funcionais e a representação dos conhecimentos sob a forma de esquemas ou de objectos deram origem ao raciocínio
baseado em modelos, model-based reasoning (Davis & Hamscher, 1988), o qual tem permitido a várias gerações de
investigadores aumentar significativamente o conhecimento em domínios tão diversos como a Física, a Química, a
Economia, a Informática, a Medicina, a Gestão e o Desporto, entre outros.
5. De acordo com Stacey (1996), os sistemas adaptativos complexos consistem num elevado número de agentes
interrelacionados de modo não-linear, em que a acção de um agente pode provocar mais do que uma resposta por parte
dos outros agentes. Para além disso, caracterizam-se pelo facto dos seus elementos identificarem regularidades na
informação que obtêm, condensando-a posteriormente sob a forma de modelos.
6. O sistema considera-se aberto, na medida em que os agentes que actuam no seu âmbito, pelas acções desencadeadas,
mudam a relação entre os diferentes sub-sistemas e, porque aprendem com isso, actuam sobre o sistema, alterando-o
(Santos, 1989).
7. O conteúdo do jogo corresponde à totalidade das acções individuais e colectivas expressas em oposição ao adversário,
através dum determinado nível de rendimento. Quando observado e inserido no seu contexto global, o conteúdo do jogo
permite definir a estrutura do jogo (Teodorescu, 1977; Queiroz, 1986), entendida como um conjunto organizado de
relações (Crevoisier & Roche, 1981).
8. Os métodos de modelação sistémica desenvolveram-se a partir de 1945, nomeadamente nas ciências da engenharia
(teoria cibernética, Norbert Wiener) e nas ciências da vida (teoria dos sistemas abertos, Ludwig Von Bertalanffy), com o
objectivo entender os fenómenos complexos. A modelação sistémica assenta na noção de semelhança ou isomorfia
(Bertrand & Guillemet, 1988), e consiste em reunir conjuntos de informações num quadro de referência, em determinar o
objectivo do sistema, em definir os limites e em identificar os elementos importantes e as suas interacções (Ouellet,
1987).
9. No século XIX começou a atribuir-se designações aos jogadores de Futebol, de acordo com as suas tarefas e posições.
Desde 1930 que os papéis desempenhados pelos diferentes jogadores estão tradicionalmente conectados com a
numeração do equipamento (Bolling, 1994), cumprindo estes tarefas de jogo, de acordo com o espaço que ocupavam
(fundamentalmente defensores ou atacantes). No entanto, no Futebol contemporâneo, a organização das acções faz-se
considerando a intervenção dos jogadores em todo o terreno de jogo (Wrzos, 1984).
10. A este propósito consultar Villepreux (1987), Gréhaigne (1989) e Garganta (1997).

UNITERMOS: Futebol; Organização; Sistemas; Táctica.


UNITERMS: Soccer; Systems; Tactics; Organisation.

34
Texto 3
GARGANTA, J., & CUNHA E SILVA, P. (2000). O jogo de
futebol: entre o caos e a regra. Horizonte, 91, 5-8.

35
O JOGO DE FUTEBOL: ENTRE O CAOS E A REGRA

Júlio Garganta (Gabinete de Futebol, FCDEF-UP)


Paulo Cunha e Silva (Gabinete de Estética do Desporto, FCDEF-UP)

“ ... não existe treinador que no seu íntimo não pretenda ser o
“deus de Laplace” - conseguir prever com uma certeza
infinitesimal a evolução do jogo, controlar esse sistema
multivariável. Por isso, talvez ele preferisse substituir a
variabilidade pela estereotipia na expectativa de que as
atitudes dos seus jogadores fossem previstas e articuladas
com a máxima certeza, de que as propriedades topológicas do
movimento que eles manifestam fossem as menos variáveis.
Ele deve, no entanto, aperceber-se que a máxima estereotipia,
correspondendo à mínima variabilidade, corresponde, também,
à mínima adaptabilidade...”.

P. Cunha e Silva (1995)

Da aparência simples à lógica complexa


Na aparência simples de um jogo de Futebol esconde-se um fenómeno que
assenta numa lógica complexa, decorrente da elevada imprevisibilidade e
aleatoriedade dos factos do jogo, o que conduz a dificuldades acrescidas na
previsão dos desfechos das partidas (Garganta, 1997).
Sabe-se que em jogos de sorte, em jogos de estratégia e em jogos que
combinam a sorte com a estratégia, o decurso de cada jogo é “historicamente”
único em virtude do grande número de escolhas possíveis (Eigen & Winkler,
1989).
O acaso e as regras são os elementos do jogo. Cada jogo tem as suas próprias
regras, que o separam do mundo real exterior e estabelecem uma escala
interna de valores. No entanto, um acontecimento casual pode mudar o curso
do jogo, lançando-o numa nova direcção.
Deste modo, o jogador participa num jogo cujo resultado está para ele em
aberto, devendo fazer uso de todas as suas capacidades, para se afirmar como
jogador e não se tornar apenas um joguete do acaso1. Acaso que designamos
por “sorte” quando nos é favorável e por “azar” quando nos é desfavorável
(Eigen & Winkler, 1989).
O que faz o jogo é a transformação da causalidade em casualidade, ou seja
aproveitar o momento; e quem ensina a aproveitar o momento são a estratégia
e a táctica.

1O acaso é uma sequência de acontecimentos em que nenhum deles ocupa a posição que já ocupara anteriormente (Stacey, 1995). O
problema está em saber se o acaso é um conceito que diz respeito ao estado do nosso conhecimento ou ao estado ontológico dos
eventos e dos processos em si (Amsterdamski, 1996).

36
Cada sujeito percebe o jogo, as suas configurações, em função das aquisições
anteriores e do estado presente. Perante o fenómeno jogo, o observador
constrói uma paisagem de observação, entendida como um conjunto de
estímulos organizados face ao “ponto de vista” que ele possui sobre o
fenómeno. Ou seja, retém o que se lhe afigura pertinente, interpreta os dados
dispersos e organiza-os conferindo-lhes um sentido próprio, o que quer dizer
que o sentido do jogo é construído e depende de um modelo de referência
(Garganta, 1997).
A compreensão do desenvolvimento do jogo e da relação de forças produzida
passa, invariavelmente, pela identificação de comportamentos que
testemunham a eficiência e eficácia dos jogadores e das equipas nas
diferentes fases do jogo.
Existe uma lógica interna que decorre da relação de oposição que, em cada
sequência de jogo, gera uma dinâmica de movimento global de um alvo ao
outro, e cujo sentido pode a cada momento inverter-se.
No concurso das equipas para um objectivo comum e no permanente
antagonismo destas, de acordo com as diferentes fases que atravessa, o jogo
apresenta-se como um fenómeno de contornos variáveis no qual as
ocorrências se intricam umas nas outras. As competências dos jogadores e
das equipas não se confinam, portanto, a aspectos pontuais mas reportam-se a
grandes categorias de problemas, pelo que se torna necessário perceber o
jogo na sua complexidade.
O problema essencial é, de facto, a complexidade, isto é, um princípio
transaccional que faz com que não nos possamos deter apenas num nível do
sistema sem ter em conta as articulações que ligam os diversos níveis.
As equipas de Futebol de alto nível parecem operar em estados de não-
equilíbrio, interagindo com o meio de forma a criar os ambientes ou condições
que lhes são mais vantajosas, i.e., impondo a sua forma de jogar,
nomeadamente através da variação do tipo de passe, dos espaços de
circulação da bola e do controlo do ritmo de jogo.
As equipas funcionam num registo de uma termodinâmica do não-equilíbrio,
pois só assim é possível desenvolver mecanismos de auto-organização que
criem estrutura e sentido a partir da aleatoriedade. O jogo desenvolve, então,
uma "ordem pelo ruído".
Os comportamentos dos jogadores são condicionados por um conjunto de
regras e por relações com uma forma de feedback não-linear. Contudo, regras
simples podem gerar comportamentos complexos e ampliados.

37
Esta é uma a característica fundamental do caos2. Os sistemas caóticos são
extremamente sensíveis a pequenas perturbações (Tarnowski, 1993). Vários
autores (Gleick, 1989; Tarnowski, 1993; Dunning, 1994; Cunha e Silva, 1995;
Stacey, 1995) têm destacado a existência de certos sistemas que encerram
uma dinâmica caótica, no sentido em que, não obstante a aparente desordem
traduzida nas variabilidade e instabilidade de formas que podem assumir,
exibem uma ordem que decorre de processos sistemáticos de auto-
organização (Potter & Hughes, 1996).
Aliás, como refere Dunning (1994), o jogo é um acontecimento caótico,
particularmente sensível às condições iniciais. É um dos exemplos mais
eloquentes do “caos determinista”, na medida em que se joga na fronteira
entre o caos e a ordem. É aí que se encontra o desequilíbrio permanente
capaz de criar estrutura a partir dos mecanismos de auto-organização dos
sistemas complexos (Cunha e Silva, 1995).
No jogo de Futebol, em muitos casos, a ordem parece nascer do caos.
Consoante o tipo de perturbação aleatória que o sistema sofre, no momento
em que se torna instável, surge um outro tipo de organização, como resultado
das reacções que se processam em condições de não equilíbrio e que
provocam o aparecimento espontâneo de estruturas que apresentam uma
certa ordem.
O jogo de Futebol é um fenómeno que se projecta numa cadeia de estados de
desequilíbrio-equilíbrio. As equipas são “estruturas dissipativas”, na medida em
que desenvolvem o estado longe-do-equilíbrio3; uma nova e mais complexa
forma de comportamento cuja principal propriedade é, como referem Prigogine
& Stengers (1984), requerer inputs contínuos de energia e informação para se
manterem.
A interacção dos jogadores em condições longe-do-equilíbrio prende-se com o
fenómeno de auto-organização, i.e., um processo em que (cf. Stacey, 1995) os
componentes comunicam espontaneamente entre si e cooperam subitamente
num comportamento comum, coordenado, concertado. Mesmo quando
parecem comportar-se de acordo com uma lógica determinista, os
sistemas/equipas mais evoluídos manifestam tendência para manipularem
essa lógica, transformando-a.

2O vocábulo caos, significa, de modo geral, “abertura”. Contudo, pode distinguir-se no conceito de caos um duplo aspecto, já presente
nas versões mais antigas: o negativo - vacuidade, trevas; e o positivo - totalidade absoluta indiferenciada (cf. Enciclopédia Luso-
Brasileira). O caos é uma ciência mais de processos que de estados. É não apenas uma teoria mas também um método, um modo de
fazer ciência (Gleick, 1989). É uma explicação para os fenómenos de características de ordem e estabilidade, por um lado,
acompanhadas por desordem e irregularidade, por outro. Remete para a origem e a natureza de padrões combinados de uniformidade
e variedade no comportamento dos sistemas (Stacey, 1995).

3O comportamento longe do equilíbrio caracteriza-se pelo individual e pelo exclusivo. Os sistemas que operam longe-do-equilíbrio
estão aptos a criar e a inovar, enquanto que os que operam próximo-do-equilíbrio não têm essa capacidade (Stacey, 1995).

38
Quando a dinâmica é caótica, as soluções resultantes do raciocínio inspirado
na relação directa entre causa/efeito podem ser pistas perigosas para uma
escolha. Procurando ultrapassar um pouco a abordagem analítica, centrada na
causa/efeito, devemos centrar-nos, como refere Stacey (1995), na descrição
qualitativa dos padrões de comportamento.

O jogo de Futebol: uma sequência de sequências


Uma distinção que se afigura oportuna no contexto da causalidade é aquela
que caracteriza jogo e jogada. E se é aceitável admitir-se que a jogada se
organiza de uma forma determinista, a passagem de uma jogada a outra é a
evidência de que o jogo se organiza de uma forma catastrófica. O conceito de
ilhotas de determinismo (as jogadas) no indeterminismo global do jogo,
funciona aqui com particular pertinência.
Um sistema caótico pode ser isoladamente imprevisível mas globalmente
estável, se o seu estilo particular de irregularidade persistir face a pequenas
perturbações. Nesta situação irrompem padrões que denunciam o
comportamento caótico, à pequena escala, mas que denunciam, à grande
escala, uma certa regularidade. Existe, portanto, uma organização fractal do
jogo que identifica as invariantes no contexto de variabilidade (Cunha e Silva,
1995).
Há uma forma geral, ou ritmo, de comportamento de um sistema num
macronível, mesmo se, em certos momentos, o comportamento é totalmente
fruto do acaso. É esta propriedade, juntamente com a dependência sensível
das condições iniciais, que nos permite identificar uma categoria de fenómenos
(Stacey, 1995).
Torna-se cada vez mais importante despistar categorias reconhecíveis no
comportamento de um sistema caótico recorrendo a descrições qualitativas
que possibilitem detectar a regularidade na variedade, face ao comportamento
do sistema.
Sendo o jogo uma sequência de sequências, é de admitir, como refere
Bateson (1987), que cada sequência só possa ser jogada enquanto retiver
alguns elementos criativos e inesperados.
Isso implica que os jogadores estejam em condições de inventar novos jogos
durante o jogo, sendo nas zonas de incerteza que se jogam as fases críticas
do jogo. Há um jogo que é partilhado e jogadores que elaboram as suas
estratégias pessoais, sem as quais não haverá jogo. Se retirarmos ao jogo as
suas regras, ou se privarmos os jogadores duma estratégia pessoal, o jogo
não pode mais existir, desaparecerá (Parlebas, 1976; Caillé, 1990).

39
A imprevisibilidade do jogo: inimiga e aliada
As equipas de Futebol operam como sistemas dinâmicos que se confrontam
simultaneamente com o previsível e o imprevisível, com o estabelecido e a
inovação. O decorrer do jogo dá-se na interacção, e através da interacção, das
regras constitutivas do jogo, o acaso e a contingência de acontecimentos
específicos com as escolhas específicas e as estratégias dos jogadores,
viradas para a utilização das regras e do acaso para criarem novos cenários e
novas possibilidades.
Na medida em que, grande parte da tarefa das equipas consiste numa hábil
gestão das restrições, a incerteza e a surpresa consubstanciam-se nas acções
e reacções dos jogadores que, tentando resolver eficazmente as situações de
jogo, criam uma margem de imprevisibilidade correspondente às atitudes, às
dificuldades e às decisões tomadas em cada momento (Bacconi & Marella,
1995).
A criatividade e o inesperado estão relacionados com a capacidade de, a partir
de acções ambíguas e simulações, criar surpresa no adversário. Os jogadores
tendem a agir no sentido de produzir configurações de jogo inesperadas e
assim abalar a organização do adversário. Todavia, os comportamentos
assumidos pelo jogador em jogo têm, para ele e para os seus companheiros
de equipa, um sentido que se insere numa determinada lógica, pelo que, como
refere Bourdieu (1980), o sentido do jogo é simultaneamente a realização da
teoria do jogo e da sua negação enquanto tal. É a dissolução da regra seguida
da sua reconfiguração.
Apesar de determinadas variações momentâneas serem imprevisíveis, por
vezes evidenciam o mesmo padrão quando as comparamos com variações
para grandes lapsos de tempo (quantidades de sequências). A este fenómeno,
típico dos fractais, Mandelbrot (1982) chamou invariância de escala4.
É provável que no jogo a possibilidade de estratégias e escolhas tácticas
esteja limitada a uma organização multifractal e a uma atracção caótica que
restringe as opções evolutivas. Há uma interacção permanente entre a jogada
e a sua eficácia; entre cada jogada, a jogada anterior e a subsequente, o que
permite definir a natureza fractal5 da alteração evolutiva (Cunha e Silva, 1995).

4 A noção de invariância de escala pode ser considerada um princípio organizador geral. A resposta a uma dada questão depende da
escala na qual o observador se coloca (Durand, 1992). Demasiado perto podemos não detectar aspectos que emergem quando nos
afastamos; e o contrário também é verdadeiro.

5O conceito de fractal foi introduzido pelo matemático polaco Mandelbrot (Dubois, 1994). Os fractais são formas geométricas
igualmente complexas nos seus detalhes e na sua forma geral. Se ampliarmos um pedaço de fractal, para o tornarmos do mesmo
tamanho do todo, obteremos um motivo semelhante ao todo, ainda que, para isso, tenha que sofrer pequenas variações (Mandelbrot,
1982).
No modelo fractal (Mandelbrot, 1982) cada nível tem as suas próprias características informacionais e está em interacção com os
outros. A fractalidade é um modelo interpretativo, um registo organizador, uma linguagem que permite entender o funcional (Cunha e
Silva, 1995), podendo garantir uma maior visibilidade aos fenómenos complexos, como por exemplo o jogo de Futebol.

40
Um exemplo aproximativo da noção de fractalidade em Futebol: as sequências
de jogo, desde que a equipa adquire a posse da bola até à finalização. As
formas perceptivas e as leis que as regem, o seu engendramento e as suas
implicações parecem idênticas, qualquer que seja a escala a que se observa o
jogo. Cada uma delas, mesmo que caracterizada por um número de
ocorrências diferente, reproduz os princípios e as regras de gestão
relativamente ao jogo na sua versão formal.

Conclusão
Neste sentido, entendemos que a explicitação de um entendimento sobre o
jogo de Futebol, tanto no plano do jogador como do treinador, deve realizar-se
a partir da emergência duma constelação conceptual, construída a partir do
compromisso entre o estabelecido (as regras, os princípios) e a inovação. O
estabelecido não é apenas limite, mas também oportunidade (Prigogine &
Stengers, 1981).
Por outro lado, o jogador participa num jogo cujo resultado está para ele em
aberto. Tem de fazer uso de todas as suas capacidades, para se afirmar como
jogador e não se tornar apenas um joguete do acaso (Eigen & Winkler, 1989).
O que tem vindo a ser referido, e tal como alguns autores já vêm chamando à
atenção, e.g. Potter & Hughes (1996), aponta para a necessidade de uma
incursão nas designadas ciências do caos (Gleick, 1989).
São essas as novas regras do jogo!

Referências

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Imprensa Nacional Casa da Moeda. Lisboa.
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Preparazione atletica, analisi e riabilitazione nel calcio: 17-28. 1º Convegno Nazionale A.I.P.A.C.
Ediz. Nuova Prhomos. Città di Castelo.
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BOURDIEU, P. (1980): Le sens pratique. Ed. Minuit. Paris.
CAILLÉ, P. (1990): L´ individu dans le système. Revue Internationale de Systemique, 4 (2): 171-
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DURAND, D. (1992): La Systémique (5éme edition, rev.). Que sais-je? P.U.F. Paris.

41
EIGEN, M. & WINKLER, R. (1989): O Jogo. As leis naturais que regulam o acaso. Ed. Gradiva.
Lisboa.
GARGANTA, J. (1997): Modelação táctica do jogo de Futebol. Estudo da organização da fase
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GLEICK, J. (1989): Caos - a construção de uma nova ciência. Gradiva. Lisboa.
MANDELBROT, B. (1982): The fractal geometry of nature. W.H. Freeman and Co. New York.
PARLEBAS, P. (1976): Les universaux du jeu sportif collectif: la modélisation du jeu sportif.E.P.S.,
141: 33-37.
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II Jornadas do Centro de Estudos dos Jogos Desportivos. FCDEF-UP. Porto.
PRIGOGINE, I. & STENGERS, I. (1981): Vincolo. In Enciclopedia Einaudi: 1064-1080. Vol. 14.
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PRIGOGINE, I. & STENGERS, I. (1984): Order out of Chaos. Bantam Books.
STACEY, R. (1995): As fronteiras do caos. Biblioteca de Economia e Ciências Empresariais.
Bertrand Editora. Lisboa.
TARNOWSKI, D. (1993): Le chaos, monstre. In Dossier: Le chaos gouverne la pensée. Science &
Vie, 914: 37-45.

42
Texto 4
GARGANTA, J. (2001). Futebol e ciência. Ciência e Futebol.
Revista Digital Educación Fisica e Deportes (Buenos Aires),
Ano 7, n.º 40, Setembro. [On line: www.efdeportes.com].

43
FUTEBOL E CIÊNCIA. CIÊNCIA E FUTEBOL

JÚLIO GARGANTA
Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física
Universidade Do Porto, Portugal

Resumo
No artigo aqui apresentado, o autor pretende dar corpo a duas interrogações: será o
Futebol uma ciência? Poderá a ciência contribuir para a evolução do Futebol? Procura-
se ainda sustentar que não sendo o Futebol uma ciência, sem o recurso aos seus
contributos ele estará condenado a não evoluir. Contudo, chama-se à atenção para a
necessidade de questionar: (1) o conceito de objectividade na ciência e a sua
pertinência quando aplicado ao conhecimento em Futebol; (2) o processo de
observação, enquanto instrumento fundamental na aquisição de conhecimentos e na
relação, do treinador e do investigador, com o meio envolvente. Conclui-se que, não
obstante a sofisticação dos meios e métodos utilizados para conhecer o jogo de Futebol,
uma regra de ouro se impõe: respeitar a natureza da especificidade desta modalidade
desportiva.

Introdução
O Futebol, nas suas diferentes facetas, continua a estar na
ordem do dia de programas televisivos e radiofónicos, nos
canais do ciberespaço, nos escritos de articulistas, ou até
em simples conversas de café e de rua.
Com o advento das novas tecnologias e a transfiguração
galopante dos métodos de avaliação e treino, não raramente
paira no ar uma questão intrigante: mas, afinal, o Futebol
é, ou não, científico? O Futebol é, ou não é, ciência?
Deve ser, argumentam uns; na Universidade já se realizam
teses de licenciatura, de mestrado e de doutoramento, que
versam o Futebol enquanto tema de estudo.
Não é, contra-argumentam outros; trata-se apenas de um
jogo, simples de jogar e agradável à vista, que alguns
teimam em complicar, contrariando assim os "grandes
mestres", que sempre apregoaram que no Futebol já tudo está
inventado.
Estará tudo inventado? Parece-nos óbvio que não. Só o
passado está inventado. Se pretendermos afirmar o presente
e conjugar o Futebol no futuro, quase tudo está por
inventar.

44
Está por inventar cada jogo que se joga, com a sua história
única e resultado imprevisível. Está por inventar o jogo
que se jogue mais dentro do campo do que nos bastidores.
Está por inventar o jogo em que os espectadores saibam
aplaudir o sentido estético de uma bela jogada, ainda que
realizada pelo adversário. Está por inventar o jogo no qual
a rivalidade seja um catalisador do espectáculo e não um
instrumento para o ferir de morte.

Do Futebol à ciência. Da ciência ao Futebol


Sobretudo a partir dos anos oitenta, foram desenvolvidas
iniciativas importantes com o intuito de sistematizar o
conhecimento em Futebol, que se traduziram na realização de
congressos, às escalas europeia e mundial, e no aumento da
produção bibliográfica.
Não obstante, este jogo desportivo é frequentemente
abordado, quer sob as vestes dum teoricismo pouco profícuo,
quer dum modo superficial e simplista, no qual a
experiência funciona como argumento de autoridade.
No primeiro caso, deparamos com um cientificismo que
penaliza a subjectividade e desencoraja a abordagem
qualitativa, em nome duma objectividade e de um pseudo-
rigor que, do nosso ponto de vista, frequentemente se
enredam numa teia de erros de paralaxe. No segundo caso,
confrontamo-nos com um praticismo militante que, não
raramente, cai num efeito de "marmota de rabo-na-boca",
pois tenta explicar e justificar os seus sucessos e
desaires à luz de um discurso fechado, que se auto-consome
e se auto-descredibiliza e cujos slogans preferenciais são:
"sou um homem do Futebol", "já nasci a jogar à bola", "o
mais importante é sentir o cheiro do balneário", ou "o
Futebol é isto mesmo".
Mas a pergunta atrás formulada, teima em sondar a nossa
esfera pensante: então o Futebol é, ou não, científico?
O Futebol não é, de facto, científico, responderíamos. Não
há nada na vida que, em si mesmo, o seja. O que confere
cientificidade a um objecto de estudo é a forma como é
realizada a sua abordagem. Se, num qualquer estudo

45
recorrermos a meios e métodos que obedeçam a preceitos de
natureza científica, poderemos produzir conhecimentos que
contribuam para a evolução, seja no Futebol, na produção de
cortiça ou na fabricação de um champô capilar.
A ciência lida com problemas e, ao procurar respostas para
eles, não raramente faz emergir novas, ou renovadas,
questões sobre esse problema ou mesmo novos problemas. Por
isso, os resultados científicos são aproximações
provisórias para serem saboreadas por um tempo e
abandonadas logo que surjam melhores explicações (Damásio,
1994).
Por tal razão, a ciência é incomodativa para os que gostam
de respostas definitivas ou para os que lidam mal com a
evolução das ideias. A marcha evolutiva faz com que o
argumento da experiência seja uma roupa que não serve aos
que repetem, durante anos a fio, aquilo que fizeram no
primeiro ano de exercício da sua função. Todavia, encaixa
que nem uma luva nos que estão atentos e abertos a novos
contributos, usufruindo deles para reformularem a sua
prática quotidiana, enriquecendo-a.
Se atentarmos na história da humanidade, o conhecimento
surge com a finalidade genérica de assegurar o sucesso das
interacções do indivíduo com o meio que o rodeia (Caraça,
1997), o que faz com que as ideias e as explicações acerca
das coisas e do mundo não sejam um feudo da ciência nem uma
propriedade privada dos cientistas. Sempre as houve desde
que o Homem existe enquanto tal, e sempre as haverá, não só
para guiarem a acção, mas também para alimentarem essa
faceta mágica a que damos o nome de capacidade criativa ou
inventiva.
A ciência, sendo uma das formas possíveis de aceder ao
conhecimento, apresenta-se como um dispositivo cognitivo de
produção de estratégias de sobrevivência (Caraça, 1997) e
de afirmação do Homem na sua relação com o envolvimento.
Do saber ao fazer vai um longo caminho, talvez tão longo
como do fazer ao saber (Caraça, 1997). Assim, parece claro
que todo o progresso da acção beneficia o conhecimento, tal

46
como todo o progresso do conhecimento beneficia a acção
(Morin, 1990).
Actualmente, o Futebol reclama a especialização de
diferentes funções e tarefas - do jogador ao treinador, do
médico ao fisioterapeuta, do chefe de departamento ao
presidente do clube - pelo que exige, cada vez mais, dos
seus intervenientes, competências e conhecimentos em
quantidade e qualidade adequadas.

Da aparência simples do jogo à lógica complexa


O jogo de Futebol decorre da natureza do confronto entre
dois sistemas complexos, as equipas, e caracteriza-se pela
sucessiva alternância de estados de ordem e desordem,
estabilidade e instabilidade, uniformidade e variedade.
Neste contexto, dado que se trata de situações de mudança
de final aberto, torna-se inglória a busca de laços
directos causa/efeito quando pretendemos inteligir a lógica
da actividade. O raciocínio eficaz está sobretudo
relacionado com a descoberta de novos significados e o
desenvolvimento de novas perspectivas (Stacey, 1995).
Todavia, o ser humano não está mentalmente apetrechado para
lidar com situações de confusão total ou uma situação de
acontecimentos aleatórios a todos os níveis.
Quando nos confrontamos com situações novas, impossíveis de
prever, procuramos detectar alguma semelhança com
acontecimentos que já ocorreram. Procuramos reconhecer
padrões qualitativamente semelhantes, que usamos para
desenvolver novos modelos mentais, no sentido de lidarmos
com novas situações. A similitude específica do desenrolar
de acontecimentos inesperados cria modelos gerais de
percepção reconhecíveis, que constituem a experiência
(Stacey, 1995).
Neste caso, torna-se decisivo reunir material com potencial
informativo, o que se consegue através da classificação de
símbolos e das suas ligações numa relação que exprime a
organização dum sistema.
A informação não está apenas ligada à quantidade, mas
também à qualidade, não sendo, portanto plausível procurar

47
obtê-la à custa da tortura dos dados, que consiste em
dobrá-los até que nos forneçam os resultados pretendidos.
Habitualmente a atenção do analista é dirigida para as
regularidades dos comportamentos dos jogadores e das
equipas, no mesmo, ou em vários jogos. As regularidades
constituem, portanto, informação condensada que faz
sentido.
Contudo, os comportamentos dos jogadores e das equipas no
jogo de Futebol, embora repousando sobre uma organização
subjacente, movem-se entre dois pólos do sistema (Cerutti,
1995): o vínculo, i.e., o estabelecido, as regras, e a
possibilidade, i.e., a inovação, o novo.
Neste sentido, torna-se conveniente analisar outras acções
que, embora não representem regularidades ou invariâncias,
possam assumir, pelo seu carácter não redundante e
imprevisto, uma importância particular na história do jogo,
condicionando claramente o rumo dos acontecimentos.
É precisamente o carácter complexo das relações que ocorrem
no seio dos sistemas, que conferem opacidade ao Futebol,
quando perspectivado enquanto objecto de estudo científico.
O termo complexidade vem de plexus, que significa manter
juntos (Gell-Mann, 1998). Trata-se de um princípio
transaccional que faz com que não nos possamos deter apenas
num nível do sistema sem ter em conta as articulações que
ligam os diversos níveis.
Isto quer dizer que ao tentar simplificar um sistema
complexo estamos, a destruir, à priori, aquilo que
intentávamos perceber, isto é, a sua inteligibilidade.
Não deve, no entanto, confundir-se complexidade com
complicação. O que é complicado pode reduzir-se a um
princípio simples, o mesmo não acontecendo com o que é
complexo. A complicação vem da incomensurabilidade, da
multidependência, da confusão de interacções inúmeras entre
uma variedade muito grande de componentes (Morin, 1990).
Enquanto que nos sistemas lineares (causa/efeito) é o
passado que condiciona o processo, nos não-lineares (jogo
de Futebol, p. ex.) é a antecipação do futuro que o
condiciona.

48
A complexidade das interacções pode mesmo provocar o
aparecimento de efeitos perversos (Boudon, 1977),
entendidos como aqueles que não são explicitamente
procurados pelos agentes de um sistema e que resultam da
sua situação de interdependência (Boudon, 1979).
No jogo de Futebol, não raramente, situações aparentemente
lógicas e correctas geram resultados negativos; e acções
aparentemente ilógicas ou incorrectas produzem resultados
satisfatórios.
Isto significa que, não obstante a vontade unânime de todos
os jogadores envolvidos numa partida, os comportamentos dos
jogadores que procuram a todo o custo ganhar, ou não
perder, podem acarretar consequências incontroláveis para a
equipa.

A observação: um "olhar" do pensamento


Sendo considerada a forma mais primitiva para aquisição de
conhecimentos (D´Antola, 1976; Anguera, 1985), pese embora
a sua maior ou menor subjectividade, a observação foi, e
continua a ser, um meio privilegiado a que o ser humano
tem recorrido para aceder ao conhecimento, bem como um
importante guia para a acção.
Os propósitos da observação, estando relacionados com a
teoria, convicções e/ou experiências passadas do
observador, influenciam o que é observado, como é
observado, quem é observado, quando se faz observação,
quantas observações se fazem, que observações se fazem,
quantos dados devem ser analisados, e como devem eles ser
utilizados (Evertson & Green, 1986).
Contudo, a observação não se esgota no olhar, enquanto
representante por excelência de todo o conhecimento
sensitivo (Marina, 1995). Através dele colhemos,
percebemos, os dados da realidade. Mas o nosso olhar não é
um olhar inocente ou distraído, antes está orientado, na
sua mirada, pelos nossos desejos e projectos (Moles,
1995).
Calvino (1985), ao longo dos três capítulos que constituem
a sua narrativa "Palomar", ilustra magistralmente que a

49
observação, longe de se esgotar no olhar, é, sobretudo,
uma experiência do conhecimento.
A tarefa ou o objecto de observação seleccionado, os
planos de referência do observador, e o propósito da
observação, entre outros factores, influenciarão
necessariamente aquilo que for percebido, registado,
analisado e descrito pelo observador (Evertson & Green,
1986), impondo-se assim que o observador explicite o seu
modelo de entendimento do objecto de observação.
É o "saber ver" que suscita um problema profundo, porque
não só qualquer teoria depende de uma observação, mas
também porque qualquer observação depende de uma teoria
(Morin, 1981). Deste modo, a mera observação, sem uma
teoria, não tem validade científica. Não deixa de ser
verdadeira, mas padece de miopia crónica.
Como nos diz Popper (1991), para que os nossos sentidos nos
digam alguma coisa, temos que possuir conhecimento prévio:
para podermos ver uma "coisa", temos de saber o que são
"coisas".
Aprender a discriminar significa aprender a reconhecer
partes do estímulo. O fragmento da realidade captado pela
percepção completa-se com a memória, na qual guardamos uma
colecção pessoal de mapas cognitivos.
Todavia, o estudo das particularidades de cada árvore não
nos capacita para entender a floresta. Se queremos conhecê-
la há que mudar de escala, o que implica alterar o nível de
evidência!
Ora, o nível de evidência modela os critérios e é modelado
por eles.
A palavra critério provém do termo grego - krino - que
significa separar. Os critérios funcionam como padrões que
nos permitem identificar, seleccionar e avaliar as coisas
(Marina, 1997).
Em ciência os critérios funcionam, a um tempo, como
peneira ou separadores e como aglutinadores de sentido, o
que faz com que se apresentem como algo paradoxal.

50
A observação: do pensamento ao acto
Desde há longos anos que a ciência tem vindo a
institucionalizar, implícita e explicitamente, duas noções
que constituem o travejamento conceptual da atitude
científica moderna: (1) existimos num mundo objectivo,
susceptível de ser objectivamente conhecido e sobre o qual
podemos enunciar asserções cognitivas que o fazem surgir
como uma realidade independente do sujeito que o pretende
conhecer; (2) acedemos ao conhecimento através dos nossos
órgãos sensoriais por um processo de projecção - mapping -
da realidade exterior objectiva sobre o nosso sistema
nervoso (Maturana, 1974).
Acontece que várias personalidades, oriundas de diferentes
quadrantes do conhecimento, têm chamado à atenção para o
facto da ciência, ao impor a neutralização e o isolamento
do sujeito como critério de cientificidade, se neutralizar
e isolar, por extensão, a ela própria, aprisionando-se
naquela que tem constituído a sua mais incómoda e
irresolúvel armadilha tautológica. Concomitantemente, têm
alertado para o facto de, na procura quase obsessiva de
objectivar o objecto de estudo, a ciência correr o risco
de o implicar numa condição de tal distância e
exterioridade que conflitue com a representação objectiva
da prática.
Cada vez é maior o número de cientistas que questionam não
apenas o conceito de ciência mas, sobretudo, o modo de
“fazer ciência".
A contestação à forma de entender a realidade e de com ela
operar, com base numa pretensa "objectividade", tem surgido
com veemência no seio da própria ciência. Vários
cientistas, oriundos de diferenciados quadrantes do
conhecimento, vêm reconhecendo que o conceito tradicional
de "objectividade", ao implicar o deslocamento do sujeito
para fora do processo de conhecimento, pode revestir-se de
uma esterilidade manifesta.
Neste contexto, a ciência depara com o problema da
reintegração do observador nas suas descrições (Atlan,
1997), quando a tendência da epistemologia "científica"

51
parecia ser a de uma eliminação radical deste (Ceruti,
1995).
Sabe-se, desde 1927 com Werner Heisenberg, que a
observação científica, que aspira à máxima objectividade,
não é uma contemplação inocente (Popper, 1991) e que o
acto de observar é uma intervenção que altera o sistema
observado em modos que não podem ser inferidos dos
resultados da observação (Von Foerster, 1992; Moles,
1995).
Aquilo que observamos não é a própria natureza, mas antes
a natureza determinada pela índole das nossas perguntas.
Estas perguntas que colocamos à realidade, isto é, as
nossas hipóteses, não são mais do que suposições cuja
natureza desejamos comprovar e que dirigem a nossa busca
na exploração do objecto.
A situação do sujeito, enquanto observador, representa um
ponto de vista bifronte, porquanto viabiliza e limita,
simultaneamente, as suas possibilidades de conhecimento.
Franz Kafka conta a história de um animal que constrói uma
toca para se refugiar. Uma vez lá dentro, a coberto, começa
a preocupar-se com a ideia de a entrada estar ou não bem
dissimulada. Sai para o verificar, mas ao fazê-lo desmancha
a camuflagem. Entra, recompõe-na e volta a preocupar-se,
sai, entra, sai, entra. Não pode estar dentro porque quer
ver de fora. Não pode estar fora porque precisa de estar
dentro. Para se estar seguro dentro da toca tem de se estar
de fora vigiando.
É este o dilema do cientista na sua relação com a ciência
moderna.

Lógica do jogo: o Santo Graal dos analistas


Os investigadores têm procurado perfilar o quadro
específico de constrangimentos impostos pelo jogo de
Futebol, a partir da observação sistemática e da análise
dos eventos do jogo, com base na caracterização dos
comportamentos dos jogadores e das equipas.
Mas, já em 1977 Teodorescu chamava à atenção para o facto
das interpretações acerca do jogo e do jogador, nos jogos

52
desportivos, privilegiarem mais a faceta homo do que a
vertente sapiens, porquanto formuladas, sobretudo, a partir
de proposições biológicas ou biologizantes. De acordo com
este autor romeno, a opção pela análise dos comportamentos
atléticos ou técnicos dos jogadores relega para um plano
secundário o jogo enquanto resultante do cruzamento da
organização de vários sistemas.
Para estudarmos uma equipa, por exemplo, convém ter a noção
de que esta é um corpo complexo em qualquer dos níveis de
organização que a abordemos: do subcelular, passando pela
actividade motora, até à intersubjectividade em campo
(Cunha e Silva, 1995).
Ao partirmos para uma viagem à lógica do Futebol, para lá
do nível de evidência em que procurarmos situar-nos, convém
que tenhamos consciência dos instrumentos de navegação que
constituem a nossa bagagem e da adequação do veículo que
vamos utilizar, nomeadamente no que se refere à sua
potência e robustez. Convém ainda que tenhamos uma ideia do
trajecto a seguir. E quanto menos bem o conhecermos, mais
se justifica que disponhamos de um mapa pormenorizado pelo
qual possamos orientar as nossas trajectórias e aferir a
respectiva justeza.
Quer isto dizer que, mais do que necessário, é inevitável a
existência de um conhecimento conjectural prévio, de uma
ideia daquilo que intentamos conhecer.
Como refere Béjin (1974), uma das teses sustentadas por
Heinz Von Foerster é a de que os "objectos" e os
"acontecimentos" não possuem qualquer realidade objectiva,
isto é, devem a sua existência às propriedades de
representação do sujeito.
Embora a incerteza ao nível do comportamento das variáveis
e das suas relações coloquem constrangimentos severos ao
observador, a circunscrição do domínio do objecto em estudo
e a definição das categorias e indicadores, são passos
indispensáveis para que se realizem observações
consistentes e coerentes (Evertson & Green, 1986).
Assim, a configuração das categorias e dos indicadores, no
âmbito da análise do jogo, constitui o processo fundamental

53
a partir do qual se edifica uma matriz de referência
(Garganta, 1997).
É o conteúdo desta matriz que vai viabilizar ou
inviabilizar a interpretação dos dados obtidos, pois na
ausência de um modelo teórico que garanta o enquadramento e
a interpretação dos dados obtidos, encontramo-nos face a
uma massa de números com fraco poder informativo
(Gréhaigne, 1992).
Assim, à sofisticação tecnológica dos sistemas de
observação, deve corresponder o progressivo refinamento e
extensão das categorias que os integram, no sentido de
aumentar o seu potencial descritivo relativamente às acções
de jogo consideradas mais representativas.
Para treinadores e investigadores, as análises que
salientam o comportamento da equipa e dos jogadores,
através da identificação das regularidades e variações das
acções de jogo, bem como da eficácia e eficiência ofensiva
e defensiva, absoluta e relativa, afiguram-se claramente
mais profícuas do que a exaustividade de dados
quantitativos, relativos a acções terminais e não
contextualizadas.

Futebol: em busca da ciência com consciência


O jogo é um acontecimento que decorre na convergência de
várias polaridades: a polaridade global entre duas equipas;
a polaridade entre ataque e defesa; a polaridade entre
cooperação e tensão (Elias & Dunning, 1992; Dunning, 1994).
Num jogo de Futebol, não é possível saber, a partir de um
estado inicial, qual o estado final duma acção ou
sequência, o que quer dizer que estamos em presença de
situações de final aberto.
Ténues diferenças nas condições iniciais poderão, em certas
circunstâncias, levar a mudanças maiores no comportamento
do sistema, ou seja, um microfacto pode ter
macroconsequências ao nível do decurso do jogo e do seu
resultado.
Nos sistemas de alta complexidade que operam em contextos
aleatórios, como aqueles que coexistem num jogo de Futebol,

54
a separação artificial dos factores que concorrem para o
rendimento desportivo parece revelar-se inoperante.
O que parece nefando não é o facto de se restringir o
âmbito dos estudos ou das análises efectuadas, mas a
tentativa de reduzir o fenómeno jogo a uma qualquer
dimensão, conjecturada à revelia dos princípios directores
da actividade ou fenómeno que procuramos conhecer.
De facto, entendemos que grande parte dos modelos de
investigação científica vigentes se afiguram pouco
compatíveis com a especificidade do Futebol, razão pela
qual muitos dos estudos se esgotam nos próprios dados que
veiculam, não proporcionando um aporte de informação
estruturante para o treino e para a competição.
Quer isto dizer que, não obstante o recurso a meios
sofisticados, a proliferação de estudos não garante, por si
só, o acesso a informação útil e pertinente.
Ou seja, os dados que retiramos do jogo devem ser-lhe
devolvidos, com informação adicional, depois de tratados.
Se assim não for, a investigação permanece destituída de
sentido, consagrando-se apenas como um exercício formal.
Não sendo o Futebol uma ciência, muito poderá beneficiar
dos seus contributos, desde que os investigadores cumpram
uma regra de ouro: respeitar a sua ESPECIFICIDADE, o que
significa que devem ter cuidado redobrado para não
desvirtuarem a matriz que lhe confere identidade.

10. Referências

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57
Texto 5

GARGANTA, J. (2001). A análise da performance nos jogos


desportivos. Revisão acerca da análise do jogo. Revista
Portuguesa de Ciências do Desporto 1 (1), 57-64.

58
A ANÁLISE DA PERFORMANCE NOS JOGOS DESPORTIVOS. REVISÃO
ACERCA DA ANÁLISE DO JOGO

JÚLIO GARGANTA
Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física – Universidade do Porto

Resumo
A análise da performance é um requisito importante para a procura da eficácia no treino e na competição, e,
reconhecidamente, uma área com aplicações fecundas na investigação em Ciências do Desporto. O crescente
reconhecimento que lhe é atribuído resulta do aporte de informação que pode disponibilizar para melhorar o treino e das
potenciais vantagens que encerra para viabilizar a regulação da prestação competitiva. No contexto mais restrito dos
jogos desportivos, através do recurso à designada análise do jogo, treinadores e investigadores têm vindo a obter dados
relevantes acerca dos factores que concorrem para a excelência desportiva. No presente artigo, é apresentada uma breve
revisão a propósito do estado da arte no domínio da análise do jogo naquele grupo de desportos, tendo em conta a
evolução dos conceitos, o aperfeiçoamento dos métodos e a transformação dos instrumentos de pesquisa.

Summary
The analysis of performance is an important requirement for seek of the effectiveness in training and competition, and it
is an area with fruitful application in sport science research. Big importance is devoted to information about players and
teams behaviour in orther to improve the training process and to make possible the regulation of competitive
performance. In the most restricted context of sport games, through game analysis, trainers and investigators have been
coming to obtain important data concerning factors that compete for sport expertise. In the present article, we present a
brief walk through concerning the state of the art about game analysis in sport games, having in account the evolution of
the concepts, the improvement of the methods and the hashing of the research instruments.

1. INTRODUÇÃO
O estudo do jogo a partir da observação do comportamento dos jogadores e das equipas não é
recente, tendo emergido a par com os imperativos da especialização, no âmbito da prestação
desportiva.
Na literatura, as áreas de produção de estudos realizados neste âmbito são referenciadas a
partir de diferentes denominações, de entre as quais se destacam: observação do jogo (game
observation), análise do jogo (match analysis) e análise notacional (notational analysis).
Todavia, a expressão mais utilizada na literatura é análise do jogo (Garganta, 1997)
considerando-se que engloba diferentes fases do processo, nomeadamente a observação dos
acontecimentos, a notação dos dados e a sua interpretação (Franks & Goodman, 1986;
Hughes, 1996).
Dispondo hoje em dia de uma vasta gama de meios e métodos, aperfeiçoados ao longo dos
anos, treinadores e investigadores procuram aceder à informação veiculada através da análise
do jogo e nela procuram benefícios para aumentarem os conhecimentos acerca do jogo e
melhorarem a qualidade da prestação desportiva dos jogadores e das equipas.
A informação recolhida a partir da análise do comportamento dos atletas em contextos
naturais (treino e competição) é actualmente considerada uma das variáveis que mais afectam
a aprendizagem e a eficácia da acção desportiva (Hughes & Franks, 1997). Por isso, o

59
conhecimento acerca da proficiência com que os jogadores e as equipas realizam as
diferentes tarefas tem-se revelado fundamental para aferir a congruência da sua prestação em
relação aos modelos de jogo e de treino preconizados.
Neste quadro de problemas, os investigadores têm procurado esclarecimentos acerca da
performance diferencial dos jogadores e das equipas (Janeira, 1998), na tentativa de
identificarem os factores que condicionam significativamente o rendimento desportivo e,
sobretudo a forma como eles se entrecruzam para induzirem eficácia.
Em síntese, pode dizer-se que a análise da performance nos jogos desportivos tem
possibilitado: (1) configurar modelos da actividade dos jogadores e das equipas; (2)
identificar os traços da actividade cuja presença/ausência se correlaciona com a eficácia de
processos e a obtenção de resultados positivos; (3) promover o desenvolvimento de métodos
de treino que garantam uma maior especificidade e, portanto, superior transferibilidade; (4)
indiciar tendências evolutivas das diferentes modalidades desportivas.

2. ESTADO DA ARTE
Dos anos trinta até aos nossos dias, aumentou consideravelmente o volume de estudos de
âmbito científico realizados através do recurso à observação e análise do jogo. No Quadro 1
pode observar-se a referência a cerca de centena e meia de trabalhos realizados com recurso à
análise do jogo, provenientes de diferentes quadrantes geográficos e contemplando diversos
jogos desportivos. Diga-se que nele apenas estão inventariados alguns estudos e que, numa
busca mais exaustiva, seria possível duplicarmos, em número, os aqui receberam menção,
facto que nos permite perceber a enorme expressão que a análise do jogo tem vindo a assumir
no quadro da investigação aplicada aos jogos desportivos.
Esta constatação é extensiva para o âmbito das actividades académicas, e pode ser atestada
pelo número considerável de teses de mestrado e de doutoramento, surgidas sobretudo a
partir de 1993, nas quais os respectivos autores recorreram à análise do jogo, enquanto
instrumento fundamental.
O interesse verificado neste domínio tem-se ainda ampliado para outros territórios, dos quais
o exemplo mais flagrante é a comunicação social, cujos órgãos vêm difundindo, com
insistência, alguns indicadores quantitativos, disponibilizando cifras sobre os eventos do jogo
e dando forma ao que alguém, curiosamente, já chamou de “estatística popular”.

60
Quadro 1 - Alguns estudos de análise do jogo, realizados no âmbito do treino e da competição nos
JD, nos últimos setenta anos (1930 a 2000).

Data Autor/País Modalidade

1931 Messersmith & Corey (EUA) Basquetebol


1932 Messersmith & Fay (EUA) Futebol Americano
1938 Fay & Messersmith (EUA) Basquetebol
1939 Messersmith & Bucher (EUA) Basquetebol
1940 Messersmith et al. (EUA) Basquetebol
1942 Messersmith (EUA) Basquetebol
1944 Messersmith (EUA) Basquetebol (PhD)
1952 Winterbottom (Inglaterra) Futebol
1968 Reep & Benjamin (Inglaterra) Futebol
1976 Reilly & Thomas (Inglaterra) Futebol
1977 Sanderson & Way (Inglaterra) Squash
Schutz & Kinsey (Inglaterra) Squash
1980 Gayoso (Espanha) Futebol
Hughes (País de Gales) Squash
1981 Wrzos (Polónia) Futebol
1982 Withers et al. (Austrália) Futebol
1983 Franks et al. (Canadá) Futebol
1984 Espeçado & Cruz (Espanha) Andebol
Hart (Canadá) Polo Aquático
1985 Mayhew & Wenger (Canadá) Futebol
Penner (Alemanha) Voleibol Talaga
(Hungria) Futebol
Van Gool & Tilborgh (Bélgica) Futebol
1986 Church & Hughes (Inglaterra) Futebol
Hughes & Billingham (País de Gales) Hóquei em Campo
Hughes & Feery (País de Gales) Basquetebol
1987 Hernandez Moreno (Espanha) Basquetebol (PhD)
Martins (Portugal) Hóquei em Patins
Sledziewski (Polónia) Futebol
1988 Ali (Inglaterra) Futebol
Bangsbo & Mizuno (Dinamarca) Futebol
Chervenjakov et al. (Bulgária) Futebol
Docherty et al. (Canadá) Raguebi
Hughes & Charlish (País de Gales) Futebol Americano
Luhtanen (Finlândia) Futebol
McKenna et al. (Austrália) Futebol Australiano
Ohashi et al. (Japão) Futebol
Olsen (Noruega) Futebol
Pollard et al. (Inglaterra) Futebol
Rhode & Espersen (Dinamarca) Futebol
Van Gool et al. (Bélgica) Futebol
1989 Aguado & Riera (Espanha) Polo Aquático
Alexander & Boreskie (EUA) Andebol
Dufour (Bélgica) Futebol
Gréhaigne (França) Futebol (PhD)
1990 Ali & Farrally (Inglaterra) Futebol
Greco e Vieira (Brasil) Andebol
Marques (Portugal) Basquetebol (MSci)
1991 Grosgeorge et al. (França) Basquetebol
Mombaerts (França) Futebol
Partridge & Franks (Canadá) Futebol
Reilly et al. (Inglaterra) Futebol
1992 Castelo (Portugal) Futebol (PhD)
D´ Ottavio & Tranquilli (Itália) Futebol
Doggart et al. (País de Gales) Futebol Gaélico
Eom & Schutz (Canadá) Voleibol
Erdman & Dargiewicz (Polónia) Andebol
Handford & Smith (Voleibol) Voleibol
Loy (Alemanha) Futebol
Smith & Hughes (País de Gales) Polo Aquático
Stanhope & Hughes (País de Gales) Raguebi
Wilkins et al. (Canadá) Hóquei sobre o gelo
Winkler (Alemanha) Futebol
1993 Anton & Romance (França) Andebol
Bishovets et al. (Rússia) Futebol
Claudino (Portugal) Futebol (MSci)
Gerish & Reichelt (Alemanha) Futebol
Jinshan et al. (Japão) Futebol
Luhtanen (Finlândia) Futebol
Moutinho (Portugal) Voleibol (MSci)
Rebelo (Portugal) Futebol (MSci)
Yamanaka et al. (Japão) Futebol

MSci – Dissertações de Mestrado; PhD – Dissertações de Doutoramento

61
Quadro 1 – (Continuação).

Data Autor/País Modalidade

1994 Czerwinski (Polónia) Andebol


Janeira (Portugal) Basquetebol
Lloret (Espanha) Polo Aquático (PhD)
Lothian & Farraly (Inglaterra) Hóquei em Campo
McGarry & Franks (Canadá) Squash
Sarmento (Portugal) Polo Aquático (PhD)
1995 Bacconi & Marella (Itália) Futebol
Barreto (Portugal) Basquetebol (PhD)
Bezerra (Portugal) Futebol (MSci)
Fröner (Alemanha) Voleibol
Luhtanen et al. (Finlândia) Futebol
Melli (Itália) Futebol
Richers (Inglaterra) Ténis
Silva (Portugal) Futebol
1996 Borges (Portugal) Andebol (MSci)
Garbarino (França) Futebol (PhD)
Garganta & Gonçalves (Portugal) Futebol
Hernandez Mendo (Espanha) Vários (PhD)
Larson et al. (Noruega) Futebol
Liddle et al. (Inglaterra) Badminton
Loy (Alemanha) Futebol
Mendes (Portugal) Basquetebol (MSci)
Oliveira (Portugal) Andebol (MSci)
Safon-Tria (Espanha) Futebol
Sampedro (Espanha) Futsal (PhD)
1997 Garganta (Portugal) Futebol (PhD)
Garganta et al. (Portugal) Futebol
Kingman & Dyson (Inglaterra) Hóquei em Patins
Maçãs (Portugal) Futebol (MSci)
Olsen & Larsen (Noruega) Futebol
Sampaio (Portugal) Basquetebol (MSci)
Vaslin et al. (França) Voleibol
Verlinden (Bélgica) Futebol
Xie (China) Basquetebol
1998 Araújo (Portugal) Futebol (MSci)
Ardá (Espanha) Futebol (PhD)
Ferreira da Silva (Portugal) Futebol (MSci)
Leitão (Portugal) Andebol (MSci)
Silva (Portugal) Futebol (MSci)
Vales (Espanha) Futebol (PhD)
1999 Barbosa (Portugal) Andebol (MSci)
D´Ottavio & Castagna (Itália) Futebol
Fonseca (Portugal) Andebol (MSci)
Gorospe (Espanha) Ténis (PhD)
McGarry et al. (Canadá) Squash
Mortágua (Portugal) Andebol (MSci)
Neves da Silva (Portugal) Futebol (MSci)
Santos (Portugal) Andebol (MSci)
2000 Argudo (Espanha) Polo Aquático (PhD)
Castellano (Espanha) Basquetebol (PhD)
Hernandez Mendo & Anguera (Espanha) Hóquei em Patins
Lago (Espanha) Vários (PhD)
McErlean et al. (Irlanda) Futebol Gaélico
Moutinho (Portugal) Voleibol (PhD)
Ortega (Espanha) Futebol
Silva (Portugal) Andebol (MSci)
Sousa (Portugal) Voleibol (MSci)

MSci – Dissertações de Mestrado; PhD – Dissertações de Doutoramento

Partindo do princípio que as incidências do jogo obedecem a uma lógica interna particular
(Teodorescu, 1985; Hernandez-Pérez, 1994; Garganta, 1997), vários autores têm procurado
perceber os constrangimentos que caracterizam os diferentes JD, no sentido de modelar um
quadro de exigências que se constitua como referência fundamental para o treino (Reep &
Benjamin, 1968; Gréhaigne, 1989; Dufour & Verlinden, 1994; Garganta, 1997; McGarry et
al., 1999; Castellano, 2000; Moutinho, 2000).

62
Do conteúdo da literatura, ressalta que os investigadores têm recorrido a diversas categorias
de observação e a distintos níveis de análise. Com o intuito de proceder à caracterização da
actividade desenvolvida pelos jogadores e as equipas durante as partidas, os especialistas
focalizaram, inicialmente, os seus estudos na actividade física imposta aos jogadores,
nomeadamente no que respeita às distâncias percorridas.
Um dos primeiros, senão o primeiro, dos estudos que se conhecem no âmbito da análise do
jogo nos JD, foi realizado pelo norte-americano Lloyd Lowell Messersmith, com a
colaboração de S. Corey, em 1931 (Messersmiyh & Corey, 1931), no qual os autores dão a
conhecer um método para determinar as distâncias percorridas por um jogador de
Basquetebol. No ano seguinte surge um outro estudo, também liderado por Messersmith, com
a colaboração de Fay (Messersmith & Fay, 1932), no qual os autores aplicam o método já
desenvolvido para o Basquetebol, para determinar a distância percorrida por jogadores de
Futebol Americano.
Refira-se, a título de exemplo, que entre 1930 e 1944 podemos encontrar mais de uma dezena
de estudos, realizados nos Estados Unidos da América, orientados para a determinação das
distâncias percorridas por jogadores de Basquetebol (Lyons, 1998).
O direccionamento das linhas de investigação foi ampliando o seu campo de análise,
evoluindo para a denominada análise do tempo-movimento, através da qual se procura
identificar, detalhadamente, o número, tipo e frequência das tarefas motoras realizadas pelos
jogadores ao longo do jogo.
Para além do paradigmático trabalho de Reilly & Thomas (1976), levado a cabo no âmbito do
Futebol, outros estudos têm sido realizados nesta modalidade, e.g. Withers et al. (1982),
Mayhew & Wenger (1985), Ohashi et al. (1988), D´Ottavio &Tranquilli, 1992) e Rebelo
(1993).
Na mesma linha, várias pesquisas vêm sendo realizadas no Andebol (Alexander & Boreskie,
1989; Borges, 1996), no Badminton (Liddle et al., 1996), no Basquetebol (Janeira, 1994;
Sampaio, 1997), no Hóquei em Campo (Lothian & Farraly, 1994), no Hóquei no Gelo
(Wilkins et al., 1992), no Raguebi (Docherty et al., 1988) e no Ténis (Richers, 1995), entre
outras.
A análise das habilidades técnicas tem sido outro dos campos explorados na análise do jogo
(Dufour, 1989; Partridge, & Franks, 1991; Mesquita, 1998; Hoff & Haaland, 1999).

63
Contudo, a inépcia das conclusões decorrentes dos resultados provenientes de estudos
quantitativos, centrados nas acções técnicas individuais, levaram os analistas a questionar a
pouca relevância contextual dos dados recolhidos e a duvidar da sua pertinência e utilidade.
Esta questão fez sobressair a necessidade de se considerar a dimensão técnica em relação com
os condicionalismos tácticos, já que aquela não pode perfilar per se os traços dominantes do
jogo (Gréhaigne, 1989; Dufour, 1993; Garganta, 1997).
A consciência de que a expressão táctica assume uma importância capital nos JD, fez com
que a partir da segunda metade da década de oitenta, a identificação de regularidades
reveladas pelos jogadores e pelas equipas, no quadro das acções colectivas, tivesse
despontado enquanto nova tendência de investigação (Gréhaigne, 1989; Lloret, 1994;
Hernandez Mendo, 1996; Garganta, 1997)
Neste âmbito, os analistas têm procurado coligir e confrontar dados relativos aos
comportamentos expressos no jogo, no sentido de tipificarem as acções que se associam à
eficácia dos jogadores e das equipas. Esta procura aponta três vias preferenciais: (1) uma que
consiste em reunir e caracterizar blocos quantitativos de dados; (2) outra mais centrada na
dimensão qualitativa dos comportamentos, e na qual o aspecto quantitativo funciona como
suporte à caracterização das acções, de acordo com a efectividade destas no jogo; (3) uma
terceira, voltada para a modelação do jogo, a partir da observação de variáveis técnicas e
tácticas e da análise da sua covariação.
Sabe-se que as equipas podem variar os seu padrões de jogo de acordo com as características
da oposição oferecida pelo adversário (Hughes, 1996). Todavia, poucos investigadores têm
tomado em conta este aspecto (Gréhaigne, 1989; Garganta, 1997).
A necessidade de interpretar os dados recolhidos em função das características específicas
das partidas, tem levado os analistas a focalizarem cada vez mais a sua atenção na relevância
contextual dos comportamentos dos participantes, o que justifica o estudo da organização do
jogo das equipas em confronto (Hughes et al., 1988; Gréhaigne, 1989; Gréhaigne & Bouthier,
1994; Garganta, 1997).
Uma das tendências que se perfilam prende-se com a detecção de padrões de jogo, a partir
das acções de jogo mais representativas, ou críticas, com o intuito de perceber os factores que
induzem perturbação ou desequilíbrio no balanço ataque/defesa. Neste sentido, os analistas
procuram detectar e interpretar a permanência e/ou ausência de traços comportamentais na
variabilidade de acções de jogo (McGarry & Franks, 1996).

64
3. EVOLUÇÃO METODOLÓGICA E INSTRUMENTAL DA ANÁLISE DO JOGO
O processo de recolha, colecção, tratamento e análise dos dados obtidos a partir da
observação do jogo, assume-se como um aspecto cada vez mais importante na procura da
optimização do rendimento dos jogadores e das equipas. Neste sentido, através dos
denominados sistemas de observação, os especialistas procuram desenvolver instrumentos e
métodos que lhes permitam reunir informação substantiva sobre as partidas.
O processo de observação e análise do jogo tem experimentado uma evolução evidente ao
nível dos sistemas utilizados, a qual se tem processado por etapas, em cada uma das quais o
sistema desenvolvido surge no sentido de aperfeiçoar os precedentes.
Nos primórdios as observações realizavam-se ao vivo, eram assistemáticas e subjectivas,
impressionistas. Os registos dos comportamentos dos atletas e das equipas eram realizados a
partir da técnica denominada "papel e lápis", com recurso à notação manual.
Embora esta fase inicial se tivesse pautado por um forte pendor acumulacionista, à vontade
de coligir uma enorme quantidade de dados parciais, sucedeu a de elaborar instrumentos de
observação. Mais recentemente, a profissionalização das práticas de alta competição, os
meios financeiros disponíveis e a utilização do desporto como terreno de aplicação da
tecnologia suscitaram novas investigações, o que conduziu a que a informática, ao substituir
as técnicas manuais, tenha permitido uma maior e mais rápida recolha de informação, bem
como um acesso mais rápido aos dados disponíveis (Grosgeorge, 1990).
Na medida em que as técnicas e os sistemas de observação diferem segundo as disciplinas
desportivas (Franks & Goodman, 1986; Dufour, 1989; Grosgeorge et al., 1991), para analisar
os comportamentos nos JD torna-se necessário desenvolver métodos de recolha e de análise
específicos.
Com o advento dos meios informáticos, os analistas do jogo têm assistido ao alargamento
progressivo do espectro de possibilidades instrumentais colocadas à sua disposição. Nos anos
mais recentes tem-se verificado uma aposta clara na utilização de metodologias com recurso
a instrumentos cada vez mais sofisticados, e.g. a análise do jogo apoiada por computador, os
quais pelas suas elevadas capacidades de registo e memorização tendem a constituir-se como
um equipamento importante para o treinador e para o investigador (Franks, 1987;
Grosgeorge, 1990; Dufour, 1993).
Duma forma sintética é possível estabelecer uma cronologia relativa ao desenvolvimento de
tais meios:

65
1. Sistemas de notação manual com recurso à designada técnica de papel e lápis (Reep & Benjamin,
1968).
2. Combinação de notação manual com relato oral para ditafone (Reilly & Thomas, 1976).
3. Utilização do computador a posteriori da observação, para registo, armazenamento e tratamento
dos dados (Ali, 1988).
4. Utilização do computador para registo dos dados em simultâneo com a observação, em directo ou
em diferido (Dufour, 1989).
5. A introdução de dados no computador através do reconhecimento de categorias veiculadas pela
voz (voice-over) é um sistema que tem vindo a ser desenvolvido (Taylor & Hughes, 1988) e que,
segundo Hughes (1993), no futuro poderá facilitar a recolha de dados, mesmo a não especialistas.
A utilização do CD-Rom, para aumentar a capacidade de memória para armazenamento dos
dados, é outra das possibilidades a explorar (Hughes, 1996).
6. O sistema mais evoluído que se conhece dá pelo nome de AMISCO e permite digitalizar semi-
automaticamente as acções realizadas pelos jogadores e pelas equipas, seguindo o jogo em tempo
real e visualizando todo o terreno de jogo. Com base na utilização de 8, 10 ou 12 cameras fixas é
possível monitorizar e registar toda a actividade dos jogadores.

Quando se utilizam computadores, as categorias e os indicadores seleccionados para a


entrada de informação, ou input, procuram responder a quatro questões: (i) quem executa a
acção? (ii) qual - como e de que tipo - é a acção realizada? (iii) onde se realiza a acção? (iv)
quando é realizada a acção?
O teclado convencional do computador (QWERTY) raramente preenche os requisitos
necessários a um rápido e eficaz input dos dados. Por isso, em alternativa, tem sido
substituído por teclados especialmente concebidos, onde figuram as categorias - concept
keyboard (Church & Hughes, 1986) e por uma mesa de digitalização - digital panel, na qual
se assinala a espacialização das acções (Dufour, 1991). Nalguns sistemas, mesa de
digitalização e teclado constituem uma única peça informática denominada touchpad
(Hughes et al., 1988; Partridge et al., 1993). Noutros, as células com as categorias a digitar
figuram directamente sobre a representação gráfica do terreno de jogo. Este tipo de aparelho
designa-se por playpad (Partridge & Franks, 1989).

4. TENDÊNCIAS DA ANÁLISE DO JOGO


Nos últimos anos tem-se assistido a uma proliferação de alternativas para analisar a prestação
dos desportistas e das equipas, consubstanciada na disparidade de indicadores e de
procedimentos adoptados para tal efeito.
Nos estudos produzidos no âmbito da análise dos JD, constata-se que os autores vêm
recorrendo a metodologias diversas, como a análise sequencial (Hernandéz Mendo, 1996;
Ardá, 1998), a análise de unidades tácticas e de clusters (Garganta, 1997; Sousa, 2000), a

66
análise de coordenadas polares (Gorospe, 1999) e o estudo das unidades de competição
(Alvaro et al., 1995).
Cada vez mais se procura, a partir da análise de bases de dados, configurar modelos de jogo
(Bishovets et al., 1993; McGarry & Franks, 1995a) que permitam definir asserções preditivas
acerca da táctica eficaz -winning tactic (McGarry & Franks, 1995b).
Todavia, este entendimento tem gerado alguma controvérsia, questionando-se os métodos
estatísticos utilizados (Hughes, 1996) e a sua aplicabilidade face à aleatoriedade e
imprevisibilidade dos comportamentos que caracterizam os JD. Deste modo, alguns
investigadores têm vindo a abandonar os modelos estocásticos, em que se utiliza o qui-
quadrado enquanto teste estatístico (Kenyon & Schutz, 1970), em favor dos modelos log-
lineares (Eom & Schutz, 1992).
Diga-se, contudo, que os problemas relacionados com a modelação do jogo transcendem
largamente a questão dos métodos estatísticos. Como evidencia Dufour (1991), as
dificuldades encontradas na definição de categorias de observação, bem como na construção
de um algoritmo adequado, têm entravado um melhor entendimento do jogo, dificultando
uma célere evolução dos JD.
Ao nível do entendimento da organização do jogo, gerou-se, durante alguns anos, um impasse
metodológico importante, devido ao recurso a métodos exclusivamente algorítmicos, em
detrimento de métodos heurísticos (Gréhaigne, 1989).
Nos JD, o algoritmo, para ser exaustivo, deveria ter em conta todas as alternativas possíveis,
o que colide com a natureza das numerosas e diversas situações que ocorrem num jogo. Neste
sentido, os procedimentos heurísticos, porque não preconizam uma tal exaustividade,
parecem revelar-se mais apropriados ao carácter não totalmente previsível do jogo
(Gréhaigne, 1992).
No entanto, ambos os procedimentos, algorítmicos e heurísticos, são importantes na
codificação e interpretação das acções realizadas pelos jogadores e pelas equipas (Garganta,
1997). O problema coloca-se, sobretudo, ao nível da sua complementaridade e
compatibilização.
Os procedimentos algorítmicos, porque comportam a identificação dos estados cruciais para a
selecção das operações, são úteis na sistematização e ordenamento dos descritores, desde que
não provoquem um “fechamento” do sistema de observação. Os procedimentos heurísticos,
porque relacionados com os atributos do pensamento criador e da descoberta, revelam-se

67
importantes nas fases de selecção dos descritores das acções de jogo (categorias e
indicadores) e da sua reformulação.
Nesta medida, os sistemas devem ter a abertura suficiente para permitirem, sempre que
necessário, uma reformulação de categorias e indicadores, no sentido de garantir o seu
permanente aperfeiçoamento e adequação.

4.1. DADOS OU INFORMAÇÃO?


Na sua essência, o processo de treino visa induzir modificações observáveis no
comportamento dos praticantes (Hughes & Franks, 1997), no sentido em que as mesmas
adquiram o máximo de transfere positivo para os contextos de competição.
O jogo, enquanto confronto de duas entidades, com objectivos antagónicos, emerge do
entrelaçamento das acções desenvolvidas pelos jogadores/equipas. A maior ou menor
adequação de uma determinada acção face ao contexto que a suscita, decorre de lógicas
intimamente ligadas à forma como os actores (jogadores) apreendem as linhas de força do
jogo e ao nível de conhecimento táctico (declarativo e processual) que os mesmos denotam.
Não é de admirar, portanto, que a solução encontrada por um jogador, para resolver uma
situação de jogo, comporte quase sempre uma margem considerável de subjectividade. Esta é
extensiva a todos os observadores e aumenta com o número e a variabilidade dos eventos de
jogo, pelo que a análise sistemática do jogo apenas é fiável se os seus propósitos estiverem
claramente definidos.
Não obstante a análise do jogo possa disponibilizar informação importante, permanece ainda
uma certa resistência à sua utilização, baseada na visão tradicional de que os treinadores
experientes podem observar um jogo sem qualquer sistema de apoio à observação, e que
retêm com precisão os elementos críticos do jogo (Franks & McGarry 1996).
Estudos realizados pelos canadianos Franks & Miller, em 1986, demonstraram que
treinadores de Futebol, quando instados a descrever os acontecimentos ocorridos em 45
minutos de uma partida de Futebol obtiveram valores inferiores a 45% de respostas certas.
Em 1993, Franks realizou um estudo em que comparou a apreciação de treinadores
experientes com treinadores principiantes, face à performance realizada por atletas. Os
treinadores experientes produziram mais falsas respostas do que os novatos e detectaram
diferenças onde elas não existiam. Para além disso, mostraram-se mais confiantes, mesmo
quando errados nas suas apreciações.

68
Estes estudos atestam que a observação é tão necessária quanto falível, tornando-se
imprescindível conhecer o seu alcance e os seus limites. Comprovam também que a memória
humana é limitada, sendo praticamente impossível relembrar todos os acontecimentos que
ocorrem durante uma partida (Hughes & Franks, 1997) e menos ainda as ocorrências de
vários jogos, ao longo de um ou vários campeonatos.
Sabendo-se que o processamento da informação visual é extremamente complexo e que os
treinadores estão submetidos à forte pressão das emoções e à parcialidade, como alternativa à
observação casual e subjectiva, tem-se sugerido e utilizado a observação sistemática e
objectiva, a qual tem permitido recolher um número significativo de dados sobre o jogo,
nomeadamente através de sistemas computorizados.
Mas, há que estar atento ao objectivo paradoxal que aqui se perfila, pois trata-se de objectivar
a subjectividade. A intenção última é identificar os elementos críticos do sucesso na prestação
desportiva, traduzindo “dados” em informação fiável e útil.
Percorrendo vários estudos que se debruçam sobre a observação e análise do jogo nos JD,
verifica-se que os sistemas de observação utilizados têm privilegiado, na sua maioria, a
análise descontextualizada das acções do jogador, o produto das acções ou comportamentos,
a dimensão quantitativa das acções e as situações que originam golo ou ponto.
Para treinadores e investigadores, as análises que salientam o comportamento da equipa e dos
jogadores, através da identificação das regularidades e variações das acções de jogo,
afiguram-se claramente mais profícuas do que a exaustividade de elementos quantitativos,
relativos a acções individuais e não contextualizadas.
Face às necessidades e particularidades dos JD, justifica-se a construção de sistemas
elaborados a partir de categorias integrativas, configuradas para caracterizar (Garganta,
1997): (1) a organização do jogo a partir das características das sequências de acções
(unidades tácticas) das equipas em confronto; (2) os tipos de sequências que geram acções
positivas; (3) as situações que induzam ruptura ou perturbação no balanço ofensivo e
defensivo das equipas que se defrontam; (4) as quantidades da qualidade das acções de jogo.

4.2. ENCONTRAR PRIMEIRO; PROCURAR DEPOIS!


No domínio particular da análise do jogo, tem-se verificado que, não raramente, os sistemas
de observação e registo perdem eficácia pelo facto do caudal de dados obtido se afigurar
confuso (Gerish & Reichelt, 1993), porquanto constitui material disperso e retalhado. Quer
isto dizer que, não obstante o recurso a meios sofisticados, a proliferação de bases de dados

69
não garante, por si só, o acesso a informação pertinente para treinadores e investigadores.
Para contornar este problema torna-se imprescindível dar um sentido ao dados recolhidos,
explorando-os de forma a garantirem o acesso à informação considerada importante
(Garganta, 1997).
Assim, a viabilização duma observação e análise do jogo ajustadas impõe, para além dos
instrumentos tecnológicos, a definição clara de instrumentos conceptuais (modelos) que
balizem a elaboração e aplicação de metodologias congruentes com a natureza do jogo (Pinto
& Garganta, 1989).
Habitualmente diz-se que para encontrar algo, há que procurá-lo. No contexto da observação
e análise do jogo, a lógica é inversa, ou seja, primeiro encontra-se (configura-se) as
categorias e os indicadores e só depois se procura e se afere as suas formas de expressão no
jogo. Apenas deste modo os sistemas computadorizados podem constituir-se como aliados na
resolução eficaz de problemas.
As condições instáveis e aleatórias em que ocorrem os JD, embora confiram originalidade e
interesse às situações, tornam mais delicada a tarefa do observador e do experimentador.
Nos desportos individuais, desde há muito que a observação incide preferencialmente nos
aspectos técnicos da execução. Nestas modalidades, as análises biomecânicas podem bastar
para informar com exactidão sobre o comportamento do atleta e, assim, fornecer dados
suficientes que permitam estabelecer um plano de treino ou detectar talentos. Pelo contrário,
nos JD as capacidades dos atletas são condicionadas fundamentalmente pelas imposições do
meio, isto é, pelas sucessivas configurações que o jogo vai experimentando e, por tal motivo,
a observação de todos os jogadores em movimento torna-se extremamente complexa. Para
além disso, a interdependência dos comportamentos constitui um obstáculo difícil de
ultrapassar.
A metodologia observacional (Anguera, 1999) e a análise de dados abrem territórios
fecundos de investigação no domínio das Ciências do Desporto, nomeadamente no que
respeita ao entendimento das condições que concorrem para o sucesso nos jogos desportivos.
Todavia, para que tal se concretize, importa passar de uma observação passiva, portanto sem
problema definido, com baixo controlo externo e carente de sistematização, para uma
observação activa, i.e., sistematizada, balizada por um problema e obedecendo a um controlo
externo (Anguera et al., 2000).

70
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A parafernália tecnológica não aumenta, necessariamente, a eficácia da observação nem os
conhecimentos sobre uma determinada realidade. Mas a tecnologia pode aumentar
significativamente a qualidade e a celeridade do processo de observação e análise desde de
que dela se faça o uso adequado.
Não desdenhando do progresso, entendemos que o frenesim da sofisticação tecnológica, não
raramente com objectivos de marketing científico, pode conduzir a que os analistas sejam
cada vez mais especialistas de informática e cada vez menos especialistas do jogo. A suceder,
este facto representa a desvirtuação do objecto de estudo (o jogo e o treino) e a alienação do
móbil da investigação, i.e., o conhecimento da lógica que governa a actividade desportiva
nestes contextos particulares.
Na ausência de um modelo teórico que garanta o enquadramento e a interpretação dos dados
obtidos, deparamos com uma massa de números com fraco poder informativo (Gréhaigne,
1992). Impõe-se, assim, que à sofisticação tecnológica dos sistemas de observação,
corresponda o progressivo refinamento e extensão das categorias que os integram, no sentido
de aumentar o seu potencial descritivo relativamente às acções de jogo consideradas mais
representativas (Garganta, 1997).
Pelo que foi referido, parece curial manter no horizonte a máxima de Poincaré: a ciência é
feita de dados, como uma casa é feita de pedras. Mas um conjunto de dados não é ciência,
tal como um conjunto de pedras não é uma casa.

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Texto 6
GARGANTA, J. (2002). O treino da táctica e da técnica nos
jogos desportivos à luz do compromisso cognição-acção. In V.
Barbanti, A. Amadio, J. Bento & A. Marques (Eds.), Esporte e
Actividade Física. Interacção entre rendimento e saúde (pp. 281-
306). S. Paulo: Editora Manole.

77
O TREINO DA TÁCTICA E DA TÉCNICA NOS JOGOS DESPORTIVOS À LUZ
DO COMPROMISSO COGNIÇÃO-ACÇÃO.

JÚLIO GARGANTA
Universidade do Porto - Portugal
Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física

Resumo
Na sua essência, o processo de treino visa induzir alterações positivas observáveis, no comportamento dos
jogadores e das equipas. O treinador procura, em cada momento, perceber quais os condimentos, e em que
doses se combinam, para que a sua equipa seja bem sucedida. Através de exercícios, procura induzir, nos
jogadores, modelos de comportamento, no sentido em que estes permitam operacionalizar uma determinada
concepção de jogo. Os comportamentos exteriorizados pelos jogadores durante o jogo traduzem, em grande
parte, o resultado das adaptações provocadas pelo processo de treino. Por outro lado, a orientação do processo
de treino decorre da informação extraída do jogo. Assim, torna-se importante perceber o tipo de acções que se
associam à eficácia dos jogadores e das equipas, com o intuito de aumentar os conhecimentos acerca do
conteúdo do jogo e da sua lógica e, bem assim, modelar as situações de treino na procura da eficácia
competitiva. Dado que a actividade empreendida pelos jogadores nos jogos desportivos deve estar sempre em
estreita consonância com as exigências do envolvimento, a selecção e a execução das diversas acções a
desenvolver são essencialmente ditadas por imperativos de ordem estratégica e táctica. Assim sendo, o critério
mais importante para perspectivar e avaliar os quesitos técnicos decorre da sua efectividade no jogo, portanto, da
sua conformidade às tarefas tácticas que os reclamam. Nesta exposição procuraremos explicitar a importância e
pertinência da ligação imprescindível entre a técnica e a táctica nos jogos desportivos, fazendo referência aos
caminhos da pesquisa e realçando a importância das capacidades cognitivas na modelação do treino e na
regulação da competição.

INTRODUÇÃO

No plano do senso comum, não raramente os jogos desportivos (JD) são tidos
como actividades nas quais a sorte e o azar parecem desempenhar um papel
considerável. Todavia, a expressão destas facetas do acaso parece não ser
relevante quando comparada com factores como o talento e o estado de prontidão
desportiva dos jogadores e das equipas. Aliás, se assim não fosse, o processo de
preparação e a procura e acompanhamento de talentos desportivos deixaria de
fazer sentido.
Na sua essência, o processo de treino visa induzir alterações positivas
observáveis, no comportamento dos jogadores e das equipas. Todavia,
precisamos de saber do que falamos quando nos referimos a alterações positivas.
Diz-se, frequentemente, que conforme se quer jogar assim se deve treinar, o que
sugere uma relação de interdependência e reciprocidade entre o treino e a
competição.

78
Deste modo, o processo de preparação desportiva, a construção e a
operacionalização do processo treino devem fundar-se em princípios directores
que encaminhem os respectivos efeitos na direcção pretendida.
Na esfera das suas competências, o treinador procura, em cada momento,
perceber quais os condimentos necessários para que a sua equipa seja bem
sucedida e em que doses estes se combinam. Posteriormente, através de
exercícios, procura induzir, nos praticantes, os modelos de comportamento
desejados, no sentido em que estes permitam materializar a concepção de jogo
preconizada.
A evolução experimentada pelas diferentes modalidades desportivas, com
referência aos processos de treino e competição, tem demonstrado que os
distintos factores do rendimento, sendo embora comuns a diferentes modalidades
desportivas, adquirem um impacte variável em função da especificidade de cada
uma delas.
No contexto dos JD, a identificação dos factores que estão associados à eficiência
e à eficácia dos jogadores e das equipas, quer nas situações de treino quer na
competição, tem constituído uma das tarefas prioritárias da investigação.
Uma das grandes ambições dos investigadores que gravitam neste universo é, de
há longos anos a esta parte, perceber qual a influência relativa dos diferentes
factores no rendimento dos jogadores e detectar as características das equipas
bem sucedidas.
Sabe-se que são múltiplos e interactuantes os aspectos que condicionam a
prestação desportiva nos JD. No que concerne ao quadro teórico de
fundamentação e de explicação dos factores que concorrem para o rendimento
desportivo neste grupo de desportos, a literatura consagra habitualmente quatro
dimensões: a técnica, a física, a táctica e a psicológica.
No texto que se segue procuraremos explicitar a importância e pertinência da
ligação imprescindível entre duas dimensões fundamentais da performance nos
JD, a técnica e a táctica, fazendo referência aos caminhos trilhados na pesquisa e
realçando o protagonismo crescente das capacidades cognitivas na modelação do
treino e na regulação da competição neste grupo de actividades desportivas.

DA NATUREZA DOS JOGOS DESPORTIVOS

79
O que em primeira instância caracteriza os JD é o confronto entre dois oponentes
(individuais ou colectivos), cujo comportamento é condicionado pelo cumprimento
de um regulamento. Trata-se de actividades desportivas que ocorrem em
contextos nos quais os elementos que se defrontam disputam objectivos comuns,
lutando para gerir em proveito próprio, o tempo e o espaço, e realizando acções
reversíveis de sinal contrário (ataque versus defesa) alicerçadas em relações de
oposição versus cooperação.
Falamos, pois, de actividades férteis em acontecimentos que ocorrem num
contexto permanentemente variável de oposição e cooperação, e cuja frequência,
ordem cronológica e complexidade não podem, portanto, ser determinadas
antecipadamente.
Por esta razão, as situações que surgem no contexto dos JD devem ser
entendidas como encadeamentos de unidades de acção que possuem uma
natureza complexa, decorrente não apenas do número de variáveis em jogo, mas
também da imprevisibilidade e aleatoriedade das situações que se apresentam ao
jogadores (Konzag, 1991; Riera, 1995).
Repare-se que a ocorrência de determinados comportamentos, mesmo os mais
elementares como uma corrida ou um salto, num dado momento, é mais ou
menos pertinente em função das configurações que o jogo apresenta. Como tal, a
dimensão estratégico-táctica assume uma importância capital (Gréhaigne, 1989;
Deleplace, 1994; Garganta & Pinto, 1994), emergindo, simultaneamente, como
pólo de atracção, campo de configuração e território de sentido das tarefas dos
jogadores no decurso do jogo (Figura 1).

Estratégia -Táctica

Situação

O quê Quando Onde Como


(objectivo) (momento) (espaço) (forma)

- +
Resultado

Figura 1 - A dimensão estratégico-táctica enquanto pólo de atracção, campo de


configuração e território de sentido das tarefas dos jogadores no decurso do jogo
(Garganta, 1997).

80
Pode, portanto, dizer-se que a essencialidade estratégico-táctica dos JD decorre
de um quadro de referências que contempla: (1) o tipo e relação de forças
(conflitualidade) entre os efectivos que se defrontam; (2) a variabilidade, a
imprevisibilidade e a aleatoriedade do contexto em que as acções de jogo
decorrem; (3) as características das habilidades motoras para agir num contexto
específico.

A FACETA TÉCNICA DA PERFORMANCE NOS JD


Comummente utilizado em várias actividades humanas, o vocábulo técnica é
entendido, no seu sentido mais abrangente, como o conjunto de processos bem
definidos e transmissíveis a que a espécie humana, ou suas extensões, recorre
para produzir certos resultados.
No âmbito mais restrito dos JD, através da denominada técnica, o jogador procura
optimizar as condições de realização de determinada tarefa de modo a conseguir
o máximo rendimento desportivo.
Autores anglófonos, como Hughes (1994), Bate (1996) e Werner et al. (1996),
mencionam o termo técnica - technique - em referência à execução normativa do
gesto, isto é, à sua realização de acordo com os critérios mecânicos. Neste caso,
a componente decisional é mínima. Quando pretendem referir-se à aplicação da
técnica em função do contexto, isto é, à sua dimensão adaptação (Rink, 1985),
aqueles autores falam de skill, que definem como a habilidade para seleccionar e
executar uma técnica de acordo com as exigências situacionais.
Embora as primeiras reflexões sobre este tema remontem a Poulton (1957), a
abrangência com que se utiliza o termo skill, patenteada numa das mais
representativas obras consagradas aos aspectos da aprendizagem motora, Skill in
Sport da autoria de Barbara Knapp (1972), gera acrescidas dificuldades na sua
tradução. Segundo a autora, a designação skill emprega-se, na língua inglesa,
com acepções diferentes: destreza, técnica, actividade específica, experiência,
talento, ou competência, o que faz com que o seu uso seja controverso, mesmo
no contexto linguístico de origem.
Sabendo-se que nos JD, qualquer acção de jogo reclama a realização de uma
“dupla tarefa”, implicando o plano motor e o plano cognitivo (Vankersschaver,

81
1983, Temprado, 1997), impõe-se uma reformulação do conceito de técnica
(Mesquita, 2000).

TECNICISMO OU TÉCNICA RELACIONAL?


Embora se possa dizer que preocupação relativa à questão de como relacionar os
factores técnicos e tácticos no treino dos JD não é recente, a aproximação
científica a esta problemática é ainda embrionária, denotando por isso uma
evidente fragilidade.
Na literatura da especialidade, as posições não são consensuais, sendo possível
encontrar autores que conferem à técnica um sentido ideal e abstracto, enquanto
outros nos remetem para a importância da sua faceta dinâmica, adaptativa e
relacional.
Na primeira perspectiva considera-se que a técnica é genérica, ideal e impessoal
e que consiste na execução dos elementos fundamentais do jogo: passe,
recepção, drible, e outros, através da aplicação dos princípios da mecânica
humana, no sentido de tornar eficazes os gestos desportivos próprios da
modalidade a que respeita.
Como sustenta Bayer (1979), a ideia central é partir do simples para chegar ao
complexo, sendo o simples um elemento extraído da totalidade. O todo é o jogo e
a equipa, o simples é o elemento técnico e o jogador. A equipa é considerada uma
espécie de super-indivíduo (Menaut, 1982), que corresponde ao somatório das
competências técnicas dos indivíduos que constituem o conjunto (Bouthier, 1988).
De acordo com este ponto de vista é privilegiada a dimensão eficiência da
habilidade (forma de realização), independentemente das dimensões eficácia
(finalidade) e adaptação, isto é, do ajustamento das soluções e respostas ao
contexto (Rink, 1985; Graça, 1994).
Esta concepção denota uma dicotomia entre a técnica e táctica e os seus traços
estão bem patentes no exemplo típico do modelo utilizado nas sessões de ensino
e treino dos jogos desportivos, referido por Bunker & Thorpe (1986): 1º actividade
introdutória; 2º fase das técnicas; 3º jogo. Neste modelo enfatiza-se a dimensão
gestual-técnica em detrimento da dimensão jogo (Bailey & Almond, 1983; Bunker
& Thorpe, 1986; Oslin, 1996), dado que a abordagem do jogo é retardada até que

82
os requisitos técnicos sejam perfeitamente executados e os aspectos tácticos são
ignorados até que a mestria das habilidades aconteça (Thorpe & Bunker, 1985).
Numa outra perspectiva, a técnica é entendida como um meio da táctica (Tavares,
1993), pois implica uma execução coordenada de todos os sistemas de percepção
e resposta do jogador, em relação com as peculiaridades do envolvimento (Riera,
1995). Deste modo, parte-se do entendimento que técnica e táctica se
condicionam reciprocamente, formando uma unidade (Knapp, 1972; Teodorescu,
1977; Tavares, 1993; Graça, 1994; Garganta, 1997).
Como referem Greco (1988, 1999) e Aguilà (1990) a opção por um modelo
centrado nos aspectos tácticos, induz nos praticantes uma apropriação inteligente
dos elementos técnicos na sua relação com as situações de jogo, o que
condiciona positivamente o desenvolvimento das capacidades cognitivas
(percepção, antecipação e tomada de decisão). Aliás, Greco (1999) destaca a
importância da interacção da capacidade técnica com a capacidade táctica (e os
processos cognitivos implícitos nesta), enquanto factor determinante dos
mecanismos necessários à tomada de decisão.
Na mesma linha de entendimento, Aguilà (1990) e Gréhaigne & Guillon (1992)
questionam a validade dos modelos analíticos centrados nos aspectos técnicos,
na medida em que os mesmos se traduzem por uma abordagem desmembrada
das acções, em desportos nos quais se exige dos jogadores uma contínua
integração e adaptação comportamental às sucessivas modificações impostas
pelo meio.
Estas posições justificam que, no âmbito do estudo dos JD, aos trabalhos
centrados nos modelos de execução tenham sucedido outros mais orientados
para os modelos de decisão táctica (Bouthier, 1993).
Bunker & Thorpe (1982) constataram que, no âmbito do ensino e do treino nos JD,
quando a técnica é abordada através do designado modelo técnico, isto é,
recorrendo a situações que se afastam dos requisitos tácticos, ela adquire um
transfere diminuto para o jogo. Neste caso, os praticantes revelam um restrito
poder de iniciativa, capacidades decisionais muito limitadas e um fraco
conhecimento do jogo.

Corroborando estas constatações, outros autores (Werner & Almond, 1990; Oslin,
1996 e Werner et al., 1996) advogam a utilização de um modelo táctico de
abordagem dos jogos desportivos, centrado nos princípios do jogo, no qual o

83
domínio da técnica não constitua condição sine qua non do conhecimento
estratégico-táctico.
Esta perspectiva é veiculada por uma concepção que emerge, sobretudo nos
anos noventa, sob a designação de ensino do jogo baseado na sua compreensão
(teaching games for understanding), a qual tem suscitado a atenção dos
investigadores (Chandler & Mitchel, 1990; Oslin, 1996; Rink et al., 1996; Werner et
al., 1996).
Riera (1995) confirma esta ideia quando refere que nos desportos de oposição, a
estratégia, a táctica e a técnica não implicam três acções distintas mas três
formas diferentes de contemplar a mesma acção (Figura 2).

E st ra té g ia T á c tic a T é c n ic a

P a la v ra -c ha v e planificação confronto execução

O jo g a do r re la -
c io na -s e c o m globalidade oponente meio/objecto

F ina lida de conseguir o objec- vencer ser eficaz


tivo principal

Figura 2 - Particularidades da estratégia, da táctica e da técnica


desportivas nas modalidades de oposição (adap. Riera, 1995).

Se atentarmos nas concepções apresentadas, sem dificuldade concluiremos que


uma das facetas mais reveladoras da competência de um jogador, se prende com
a aptidão para o mesmo seleccionar os recursos motores mais adequados para
responder à configuração do jogo num dado instante, e com a capacidade de os
utilizar no momento de materializar a acção.
No sentido de seleccionar e executar a resposta motora mais adequada ao
contexto que a suscitou, o jogador deve, prioritariamente, saber o que fazer e
quando fazer (Bunker & Thorpe, 1982; Helsen & Powels, 1988; Gréhaigne, 1992;
Garganta & Pinto, 1994). Deste modo, a proficiência técnica nos JD, i.e., o como
fazer, é superditada pelos cenários de oposição-cooperação que configuram os
eventos do jogo, colocando-se a tónica na adaptabilidade do jogador ao contexto.

A importância relativa da técnica desportiva nos JD


É possível identificar várias concepções que atribuem a primazia à técnica,
enquanto factor determinante no ensino e treino dos JD, nas quais se consagra a

84
aquisição e aperfeiçoamento do "gesto perfeito". Considera-se que a técnica
corresponde a um tipo motor (Weineck, 1983), a um modelo ideal de movimento,
que pode ser descrito de uma forma biomecânica ou anatómico-funcional.
Diga-se, todavia, que a técnica não assume idêntica importância em todas as
modalidades desportivas, recebendo, em cada uma delas, uma afectação
vectorial diferente. Enquanto que nas modalidades desportivas de expressão, e.g.
ginástica desportiva, o refinamento técnico é uma finalidade, porquanto a técnica
intervém autonomamente na cotação da performance, nos JD a selecção e
utilização da técnica decorrem da solução pretendida para as diversas situações
complexas de jogo, pelo que neste caso, a atenção deve dirigir-se mais para a
componente informacional do jogo do que para os detalhes gestuais.
Conforme refere Deleplace (1994), no caso duma habilidade como o salto em
altura ou o lançamento do disco, as informações são captadas pelo sujeito no
âmbito das determinantes mecânicas do movimento. Nas habilidades utilizadas
nos JD, há um primeiro nível de informações captadas conscientemente,
concernentes à avaliação da evolução provável da relação de oposição. A decisão
é executada através dum gesto complexo que mobiliza um segundo nível de
informações, similar ao do tipo de habilidade precedente (salto em altura ou
lançamento do disco), mas tratando-as em subordinação à tomada de decisão
táctica.
Por isso, Roth (1989) evidencia a importância da estreita relação entre formação
estratégico-táctica e formação técnico-coordenativa nos jogos desportivos
colectivos.
Nesta linha de pensamento, Schubert (1990), alerta para a conveniência de, nos
desportos situacionais, os principais objectivos formativos se centrarem, não nos
aspectos técnicos nem nos condicionais, mas na capacidade complexa de acção.
No quadro dos JD, Brettschneider (1990) utiliza a expressão capacidade de jogo,
para designar a capacidade de comunicar com os outros e de interagir com eles
no espaço e no tempo configurados através do jogo. A capacidade de jogo é uma
capacidade complexa que combina uma diversidade de capacidades psicológicas
e físicas, assim como um grande número de habilidades técnicas, com acções de
jogo complexas (Schellenberger, 1990).
Nesta interligação de factores, e partindo do pressuposto de que a eficácia da
acção do jogador depende da estreita adequação do seu comportamento às

85
sucessivas alterações produzidas no envolvimento, a dimensão táctica emerge
como matriz configuradora dos diferentes cenários situacionais de opção táctica
que, no seu conjunto, constituem o jogo propriamente dito.

A FACETA TÁCTICA DA PERFORMANCE NOS JD


Embora durante muito tempo a técnica fosse considerada o elemento fundamental
e básico na configuração e desenvolvimento da acção de jogo nos desportos de
equipa (Hernandez-Moreno, 1994), uma das fases evolutivas mais importantes
nos JD, e nos consequentes procedimentos de análise, passou pelo facto de se
considerar a comunicação entre os jogadores como um factor chave do
comportamento táctico-estratégico. Grande parte dos trabalhos realizados neste
âmbito tem como base os modelos linguísticos.
Em 1954, Teissie chamava à atenção para o facto da organização estratégico-
táctica não se confinar à gestão do espaço por parte dos jogadores, dependendo,
em larga medida, da definição de princípios visando a adopção duma linguagem
comum e uma melhor compreensão entre os elementos da mesma equipa.
Também Frantz (1964), salienta a importância de fornecer aos jogadores bases
comuns para que estes se exprimam através duma linguagem comum, mesmo
que adoptando estilos de jogo distintos.
Esta analogia com o modelo linguístico, originou as expressões linguagem do jogo
(Teissie, 1969; Caron & Pelchat, 1975; Ripoll, 1979) e, por extensão, a de leitura
do jogo, frequentemente utilizadas no âmbito dos JD (Ward & Williams, 2000).
Segundo Fages (1968), a linguagem de um jogo decorre do conjunto de regras
que o regem, e que o tornam diferente de qualquer outro, bem como das relações
que os jogadores (companheiros e adversários) estabelecem, no sentido de
comunicarem entre si, sob a dependência dessas regras.
Esta perspectiva é corroborada por Pierre Parlebas (1968; 1976a), um dos
especialistas que mais têm realçado a importância da comunicação e da contra-
comunicação motora nos desportos de equipa.

OS CAMINHOS DA PESQUISA
A perspectiva comunicacional-informacional tem conduzido ao levantamento de
problemas importantes, quer no exercício da prática, quer no que diz respeito à
teorização, contribuindo para uma melhor compreensão da dimensão estratégico-

86
táctica nos JD. Para além do valioso aporte de informação que conferiu aos
processos de aprendizagem e de treino, abriu novas pistas para a investigação.
Posteriormente, a equipa passou a ser entendida como um sistema organizado
(Gréhaigne, 1989), que opera com base em iniciativas individuais coordenadas
com a acção colectiva, e no qual os aspectos técnicos, físicos, estratégicos e
tácticos se articulam em função das relações de oposição que se estabelecem, na
procura de uma actuação eficaz (Bouthier, 1988). Este pressuposto constitui,
ainda, uma ideia-força na sistematização dos conteúdos de ensino e treino nos JD
(Garganta & Gréhaigne, 1999).
Foi com base nas perspectivas delineadas por Léon Teodorescu, num colóquio
realizado em Vichy em 1965, e retomadas por Claude Bayer, em 1979, que esta
nova fase tomou forma, partindo das noções de sistema e de interactividade.
Nesta linha de entendimento, as acções de jogo são perspectivadas como
unidades de acção (Parlebas, 1976b; Konzag, 1991; Tavares, 1993) subordinadas
à dimensão estratégico-táctica (Teodorescu, 1977; Schellenberger, 1990; Sisto &
Greco, 1995; Garganta, 1997).
Não obstante, grande parte dos discursos teóricos sobre a estratégia e a táctica
baseiam-se no modelo de acto táctico proposto pelo alemão Friedrich Mahlo
(1969), cuja pertinência tem sido realçada por vários autores (Schock, 1985;
Ripoll, 1987; Dufour, 1989; Tavares, 1993).
Mahlo, partindo do princípio que toda a acção de jogo é necessariamente táctica e
que os comportamentos dos jogadores são actos conscientes e orientados,
elaborou um modelo através do qual pretende evidenciar a natureza complexa e
sequencial do acto táctico no jogo (Figura 3).

R ec eptor
M emória
do efeito

Perc epç ão Soluç ão


e análise da mental do R ESU LT AD O
situaç ão problema + -
R esoluç ão
motora do
problema

Figura 3 - Modelo das fases do acto táctico no jogo (Mahlo, 1969).

87
A partir da concepção de Choutka e fundando-se nos dados decorrentes da
prática dos jogos desportivos e nos conhecimentos acumulados pela Psicologia,
Mahlo procurou, no seu livro O acto táctico no jogo (1969), lançar as bases
científicas e teóricas duma formação táctica nos jogos desportivos, reconhecendo
o jogador mais como um ser pensante do que como mero executor mecânico
(Tavares, 1993).
Paralelamente, ao mencionar que dum ponto de vista qualitativo as acções
tácticas se distinguem de todas as outras acções desportivas porque o seu
desenvolvimento faz um apelo superior aos processos intelectuais, Mahlo (1969)
dava já a entender que a forma como o jogador apreende as informações
veiculadas pelo jogo, o modo como conhece ou reconhece determinadas
configurações, como decide e como age, no decurso de uma partida, eram
aspectos cuja compreensão se impunha.
Neste sentido pode dizer-se que Mahlo abriu caminhos importantes para a
investigação, nomeadamente no que se refere aos modelos de decisão e de
processamento de informação nos jogos desportivos.
Não obstante, no modelo de Mahlo (1969) o jogador surge essencialmente como
receptor de informação (Ripoll, 1987). Ora nos jogos desportivos as acções
tácticas realizadas pelos jogadores revestem a forma de processamento de
informação, sendo o jogador, fundamentalmente, um servomecanismo
(Hernandez-Moreno, 1994).
A este propósito, e como sustentam Del Rey et al. (1987), os indivíduos diferem
na sua habilidade para processar informação em função da sua perícia. Vários
estudos realizados a propósito da proficiência em desporto, música, física, xadrez
e programação de computadores, demonstram que a memória e o transfere
variam em função do nível de perícia revelado. Uma das explicações comuns é a
de que os experts não se centram em itens individuais, mas em blocos de
informação, evidenciando uma memória superior no que toca aos processos de
codificação e memorização.
Barth (1994), alicerçado na teoria da acção (Cei & Buonamano, 1991), apresenta
um modelo baseado nos diversos planos da elaboração da informação, através do
qual elege a captação, a elaboração e o armazenamento da informação, como
processos fundamentais da competência estratégico-táctica (Figura 4).

88
Competência estratégico-táctica
Captação de informação Elaboração da informação

capacidade para capacidade para


sentir, escolher, discriminar, antecipar, planificar, decidir,
perceber, reconhecer discriminar; representação
mental
Armazenamento da informação

capacidade para
aprender, memorizar, conhecer,
adquirir experiências

Figura 4 - Processos e componentes da prestação estratégico-táctica (adap. Barth, 1994).

A crescente tomada de consciência da implicação do jogador no jogo, enquanto


ser pensante e decisor, conduziu a que nos últimos anos se tenha assistido a uma
evolução expressa no recurso aos designados modelos de decisão (McMorris &
MacGillivary, 1988), reconhecendo-se ao jogador capacidade para intervir sobre a
informação que ele próprio processa (Ripoll, 1987;Tavares, 1993).
Neste âmbito, vem ganhando particular acuidade a discussão em torno da
importância da relação entre as expressões cognitiva e motora do
comportamento.

A COGNIÇÃO: CONDIÇÃO SINE QUA NON DA EFICÁCIA DA ACÇÃO MOTORA NOS


JD
O estudo do comportamento humano tem sido influenciado, na última geração,
pelo rápido desenvolvimento das ciências cognitivas, das ciências da
computação e da inteligência artificial (Tenenbaum & Bar-Eli, 1993).
Assim, à luz das características actuais dos JD, o velho ideal olímpico (Citius,
Altius, Fortius) revela-se cada vez mais incompleto, pois no quadro destas
actividades desportivas, para ser eficaz não basta chegar mais longe, nem
saltar mais alto, nem ser mais forte. É imprescindível ser mais rápido e melhor
a pensar, a encontrar soluções, a perceber o erro, a descodificar os sinais do
envolvimento. Em síntese, mais rápido e melhor, a perceber, a pensar e a agir,
o que quer dizer ser mais eficiente e eficaz no plano cognitivo-motor (Garganta,
1999).

89
No quadro da prática desportiva, está claramente demonstrado que a
proficiência motora depende da inteligência, a qual decorre da capacidade para
perceber e memorizar os eventos (Tenenbaum & Bar-Eli, 1993). Considerando
as implicações cognitivas da prática dos JD, nomeadamente nas suas
expressões perceptiva e decisional, justifica-se que sejamos claros quanto ao
conceito de inteligência.
De acordo com Fisher (1984), a inteligência é um constructo interactivo que
está relacionado com a capacidade para lidar com as exigências do
envolvimento.
Se atentarmos nos JD, podemos constatar que as situações de jogo exigem do
jogador o desenvolvimento de uma inteligência específica que passa pela
implicação semântica do actor nos vários cenários do jogo, numa procura
continuada de interpretação do significado das situações com que depara. Na
resposta aos problemas do jogo, os processos cognitivos permitem ao jogador
o reconhecimento, a orientação e a regulação das suas acções motoras
(Greco, 1989; Greco & Chagas, 1992).
Como sustentam diversos autores, os JD implicam uma solicitação importante
das capacidades cognitivas (Sisto & Greco, 1995; Gréhaigne & Godbout, 1995;
Santesmases, 1998), enquanto subestruturas da táctica (Konzag, 1991,
Garganta, 1997), na medida em que a proficiência dos jogadores é reflectida
pela sua habilidade de perceber as alterações do envolvimento e de a elas se
adaptarem rapidamente (Poulton, 1957; Whiting, 1969; Knapp, 1972; Tavares,
1993; Lerda et al., 1996).
No domínio do desporto, vários investigadores têm feito incidir as suas
preocupações no estudo dos tipos de conhecimento que suportam as acções
dos jogadores na resolução de problemas do jogo, nomeadamente no que
concerne às estratégias cognitivas que guiam as tomadas de decisão (Allard,
1993; McPherson, 1993; Tavares, 1994; French & Housner, 1994; Williams &
Davis, 1995; Williams et al., 1999).
A cognição, enquanto processo de aquisição de conhecimento que engloba a
percepção, a motricidade, a memória e a conceptualização das relações do
indivíduo com o envolvimento (Morato, 1995), vem sendo reconhecida como
uma das facetas mais importantes para a expressão de qualidade da prestação
nos jogos desportivos. Contudo, como nos diz Morato (1995), no âmbito de

90
áreas como a Psicologia Cognitiva, a motricidade tem sido erroneamente
considerada um indicador pouco pertinente do funcionamento cognitivo, o que
se deve ao facto desta ser habitualmente associada essencialmente ao
funcionamento biológico.

TRAÇOS, COGNITIVOS E MOTORES, DA EXCELÊNCIA NOS JD

Dado que a dimensão cognitiva é cada vez mais apontada como marcador da
diferença entre os atletas de elevado nível nos JD, verifica-se que a literatura
sugere, insistentemente, que ao nível dos processos de ensino e treino, grande
destaque deve ser dado ao desenvolvimento dos processos cognitivos dos
jogadores (Sisto & Greco, 1995) e, sobretudo, à sua relação com a faceta
motora do comportamento (Williams et al., 1999).
Como consequência, nos últimos anos tem-se assistido a um aumento do
número de estudos que contemplam os factores cognitivos enquanto indutores
da proficiência motora, e.g., Starkes & Deakin (1984), Helsen & Pauwels
(1988), Abernethy et al. (1993), McPherson (1994), Santesmases (1998).
De acordo com Rink et al. (1996), a investigação permite identificar um
conjunto de traços cognitivos e motores que caracterizam a excelência nos
jogos desportivos, constatando-se que os atletas de elite se destacam por
possuírem:

(1) ao nível cognitivo


• conhecimento declarativo e processual mais organizado e estruturado
• processo de captação da informação mais eficiente
• processo decisional mais rápido e preciso
• mais rápido e preciso reconhecimento dos padrões de jogo (sinais pertinentes)
• superior conhecimento táctico
• maior capacidade de antecipação dos eventos do jogo e das respostas do oponente
• superior conhecimento das probabilidades situacionais (evolução do jogo)

(2) ao nível da execução motora


• elevada taxa de sucesso na execução das técnicas durante o jogo
• maior consistência e adaptabilidade nos padrões de movimento
• movimentos automatizados, executados com superior economia de esforço
• superior capacidade de detecção dos erros e de correcção da execução

91
Estas características, tanto no plano cognitivo como no âmbito da execução
motora propriamente dita, deixam perceber a significativa importância do
conhecimento específico nos JD, como, aliás, bem o demonstram os estudos de
Allard et al. (1980), Starkes & Deakin (1984), Borgeaud & Abernethy (1987) e
Lerda et al. (1996).
Sabe-se, desde Choutka (cit. Mahlo, 1969), que o resultado da acção decorre da
eficiente conjugação de mecanismos perceptivos, decisionais e efectores.
A compreensão do jogo passa pela captação dos elementos que o configuram, na
sua complexidade. Contudo, para compreender o jogo, o sujeito deve ser capaz
de organizar os seus comportamentos, a sua acção, em função de um projecto
(Menaut, 1974).
Pode assim dizer-se que o comportamento dos jogadores num jogo se situa numa
tensão permanente entre conhecimento e acção. Como dizem Gréhaigne &
Godbout (1995), o conhecimento táctico é fundamental para o conhecimento na
acção. Para um jogador, o saber táctico e a performance estão fortemente
ligados.
Tal significa que a capacidade para jogar implica um desenvolvimento de saberes.
Saber o que fazer, o que se prende com um conhecimento factual, que pode ser
exprimido através de enunciados linguísticos; saber como fazer, isto é, possuir um
conhecimento que permite realizar a acção propriamente dita (Anderson, 1976; Chi
& Glasser, 1980).
Nesta linha, são vários os autores que sustentam que a proficiência desportiva
decorre de dois tipos fundamentais de conhecimento: o conhecimento declarativo e
o conhecimento processual (Chi, 1981; McPherson & Thomas, 1989; French &
Thomas, 1987; Thomas & Thomas, 1994). Estes tipos de conhecimento constituem
importantes factores da performance desportiva, sabendo-se que os atletas de alto
nível evidenciam uma expressiva quantidade de conhecimento declarativo e
processual acerca de como e quando executar determinadas acções (Starks &
Lindley, 1994; Williams & Davids, 1995; Williams et al., 1999).
Reforçando este entendimento, alguns dos estudos realizados têm demonstrado
que os melhores executantes se distinguem dos menos bons, por disporem de um
conhecimento mais refinado e elaborado das tarefas específicas (Helsen &
Pauwels, 1993; McPherson, 1993; Williams et al., 1993, Mcpherson, 1994), e pela

92
forma como utilizam esse conhecimento durante o desempenho desportivo
(Williams et al., 1994; Williams & Davis, 1995; Williams et al., 1999).
Como sustentam Thomas & Thomas (1994), é necessária uma determinada
quantidade de conhecimento declarativo para que o conhecimento processual se
verifique. Nos atletas confirmados, os níveis de conhecimento declarativo e
processual apresentam uma maior proximidade, enquanto que nos praticantes de
nível inferior se verifica um desfasamento entre estes dois factores da prestação.
Myers & Davids (1993) e Williams & Davids (1995), referem ainda que, na
prática desportiva, a transição do conhecimento declarativo para o processual é
facilitada através do treino e da exercitação e que, por sua vez, o conhecimento
processual promove a aquisição e a retenção de um conhecimento declarativo
específico.

O COMPLEXO COGNIÇÃO-ACÇÃO ENQUANTO FACTOR FUNDAMENTAL DA


PERFORMANCE

O domínio dos pressupostos cognitivos para realizar as acções de jogo, não


implica automaticamente o domínio dos pressupostos e das condições motoras
para as realizar. Isto é, saber quando e como executar não significa saber
executar as acções em jogo, porquanto a capacidade de execução não se esgota
na dimensão cognitiva, mas tem que ser viabilizada por outras dimensões,
nomeadamente a energética e a coordenativa.
As capacidades dos intervenientes desenvolvem-se a partir de blocos de
informação integrados, conhecimentos tácitos que o jogador percebe como
conjuntos de possibilidades. Quando dizemos que os jogadores têm "sentido da
jogada", "cheiram o golo", têm "capacidade de antecipação", estamos a referir um
conjunto de “dons” que mais não são do que modos eficazes de manejar grandes
blocos de informação (Marina, 1995).
Os conhecimentos que estão na base do pensamento táctico organizam-se sob a
forma de cenários (Temprado, 1991), de acordo com um conjunto de objectivos a
alcançar e de efeitos a produzir. Neste contexto, os conhecimentos de que o
atleta dispõe permitem-lhe orientar-se, com prioridade, para certas sequências de
acções, em detrimento de outras (Tavares, 1996).

93
Como nos diz Chater (1999), sabe-se que o sistema cognitivo opera num mundo
imensamente complexo, mas, não obstante, altamente padronizado. Num
envolvimento randómico, a predição, a explanação e a compreensão seriam
impossíveis se não existissem padrões nos quais a predição pudesse basear-se e
em relação aos quais as explicações pudessem referenciar-se. Segundo o mesmo
autor, o sistema cognitivo utiliza padrões de acordo com o princípio da
simplicidade, isto é, escolhendo traços que facultam a mais breve representação
da informação disponível.
Aliás, Glasser & Chi (1988) referem que uma das características dos atletas
mais dotados é, precisamente, a sua capacidade para se aperceberem de
padrões significativos e para utilizarem a sua memória de curto e longo prazo
duma forma ajustada.
De facto, face a diversas situações com que depara no jogo, o jogador dirige a
sua atenção para os sinais que se afiguram mais pertinentes para organizar a
suas acções. Tais pressupostos têm conduzido a que, no treino dos JD, se
recorra, cada vez mais, a exercícios que provoquem uma mobilização
importante da atenção e um aumento da carga perceptiva. Esta estratégia de
intervenção, ao induzir nos jogadores a construção de memórias mais
versáteis, materializadas num aumento da significação e da capacidade de
discriminação das informações percebidas como mais úteis ou pertinentes,
permite-lhes alargar o seu espectro de respostas e prepara-os para enfrentar
situações imprevistas (Grosgeorge, 1996).
Como refere Sonnenschein (1989), a percepção das situações implica dois
subprocessos que se influenciam reciprocamente: a selecção (processo de
escolha) e a codificação (atribuição de uma significação). Por isso a
investigação tem sustentado que a capacidade cognitiva, nomeadamente no
que diz respeito à selecção da resposta e à tomada de decisão, é condição
imprescindível para se alcançar a optimização do rendimento (Konzag, 1990;
Rink et al., 1996).
Em consonância com o atrás exposto, importa referir que vários autores vêm
chamando à atenção para o facto dos jogos desportivos envolverem não
apenas skills motores, mas também skills perceptivos e cognitivos (Anderson,
1990; Bate, 1996; Williams et al., 1999), o que faz com que estas modalidades
sejam consideradas desportos de situação. Helsen & Pauwels (1988)

94
destacam, também, a importância dos designados skills tácticos (individuais e
colectivos), entendidos como a capacidade para realizar decisões,
rapidamente, duma forma apropriada e no momento certo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dado que a actividade empreendida pelos jogadores nos JD deve estar em


consonância com as características das situações às quais pretendem dar
resposta, a selecção e a execução das diversas acções a desenvolver são
essencialmente ditadas por imperativos de ordem estratégica e táctica. Assim
sendo, o critério mais importante para perspectivar e avaliar os quesitos técnicos
decorre da sua efectividade no jogo, portanto, da sua conformidade às tarefas
tácticas que os reclamam.
A técnica e a táctica devem, portanto, ser entendidas como expressões vitais
duma mesma realidade, o jogo e a acção do jogador, tornando-se conveniente
perceber que conexões devem estabelecer-se entre estes factores do rendimento,
no intuito de maximizar a prestação desportiva.
Neste sentido, a observação da expressão táctica e técnica dos comportamentos
dos jogadores e das equipas tem constituído uma via importante na investigação.
A partir das regularidades e das variações ocorridas nas fases de ataque e
defesa, os investigadores têm procurado detectar os comportamentos que mais
se associam à eficácia dos jogadores e das equipas, de acordo com as
peculiaridades situacionais e com as respectivas respostas realizadas.
Este caminho tem vindo a revelar-se profícuo, quer no aporte de informação para
o ensino e treino, quer na regulação da prestação competitiva.
Os estudos relativos à performance dos praticantes nos JD têm deixado perceber
que existem claras diferenças entre os atletas experimentados e os debutantes.
Todavia, tais diferenças não estão ainda suficientemente esclarecidas.
Durante vários anos as principais razões apontadas para justificar este facto
foram atribuídas ao estadio de maturação e/ou às limitações inerentes às
capacidades de cada atleta, i.e, ao que Starkes & Deakin (1984) designam de
hardware da performance (Kioumourtzoglou et al., 1998). Na actualidade, os
investigadores procuram debruçar-se sobre a dimensão cognitiva do
comportamento, na tentativa de identificar os traços perceptivos e decisionais que
distinguem os atletas em função da sua proficiência motora, podendo dizer-se que

95
deslocaram a sua atenção para o software da performance (Kioumourtzoglou et
al., 1998).
No limiar do século XXI, assistimos ao emergir de novas valências conceptuais e
metodológicas decorrentes de áreas como a teoria dos jogos, as ciências do caos,
a teoria das organizações, as ciências da cognição e a teoria da acção, que
oferecem a possibilidade duma utilização ampla e fecunda, apresentando-se
como importantes contributos para a construção do conhecimento no domínio dos
JD, considerando os novos desafios que se avizinham.

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Grande do Sul: UFRGS Editora.

101
A FORMAÇÃO ESTRATÉGICO-TÁCTICA NOS JOGOS DESPORTIVOS DE
OPOSIÇÃO E COOPERAÇÃO

JÚLIO GARGANTA
Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física
Universidade do Porto, Portugal

1. Introdução

Os primeiros contactos que proporcionamos aos jovens, numa dada actividade desportiva,
podem revelar-se decisivos para o sucesso e continuidade no desporto que elegeram, bem
como para a respectiva formação pessoal.
Longe vão os tempos em que crianças e jovens dispunham de tempo e de espaços
suficientes para a prática de actividades lúdicas espontâneas. Hoje, a quantidade torrencial
de matérias e de horas lectivas que a escola crescentemente lhes impõe, associada ao
crescimento urbano desenfreado, sonegam, cada vez mais, o direito à fruição dessas
actividades e anunciam o seu desaparecimento.
Recordo-me de alguns jogos que integravam o rol de brincadeiras nos meus tempos de
infância e princípio da adolescência. Muitos aconteciam com carácter sazonal: o pião e as
corridas de arcos, no início do ano escolar; o berlinde, a malha e as corridas de carros de
rolamentos, a meio do ano; o jogo de hóquei em campo com stiques improvisados e tendo
as sarjetas como balizas, no final do ano; e, já com o “cheiro” a férias grandes, as corridas
de caricas nos passeios das ruas ou em circuitos de areia religiosamente construídos para o
efeito. Mas nenhum destes jogos dispensava os outros, os grandes jogos, fiéis
companheiros de todo o ano, que nos impeliam a organizar equipas para “jogar à bola”, no
Inverno como Verão, debaixo de chuva ou sob o brilho insistente do Sol. Refiro-me,
sobretudo, ao Futebol e ao Basquetebol, que apesar de praticados ao ar livre, de forma
espontânea e em terrenos improvisados, não dispensavam o respeito pelas regras nem o
máximo empenhamento que emprestávamos a cada jogada. Na nossa ideia, estes eram
ingredientes que nos aproximavam do “jogo à séria” praticado pelos jogadores e equipas
que mais admirávamos e cujos estilos intentávamos reproduzir.
Os espaços de prática estão agora, em grande parte, confinados às instalações de clubes
desportivos, onde monitores e treinadores supervisionam e orientam pedagogicamente as

102
actividades dos praticantes. Mas também nestes contextos os jogos mantêm o seu potencial
de motivação, mobilizando a adesão e concitando o entusiasmo de crianças e jovens.

2. Características dos jogos desportivos de oposição e cooperação

Na prática desportiva de crianças e jovens, os denominados jogos desportivos de


oposição e cooperação (JDOC), e.g. Andebol, Basquetebol, Futebol e Voleibol, têm
ocupado um lugar de destaque, não apenas por proporcionarem um clima motivacional
positivo, mas sobretudo porque fazerem apelo a múltiplas competências de percepção,
decisão e execução. Pelas suas características multiformes, têm sido alvo de diferentes
classificações. Contudo, as relações de oposição, entre os elementos das duas equipas
em confronto, e de cooperação entre os elementos da mesma equipa, ocorridas num
contexto aleatório, parecem configurar a matriz deste grupo de desportos (Garganta,
2001).
Nos JDOC, oposição e cooperação são tarefas básicas reversíveis, tanto no ataque como
na defesa, e as sucessivas configurações que os jogos vão experimentando resultam da
forma como ambas as equipas gerem as relações, de vantagem e desvantagem, em
função dos objectivos. A alteração do dispositivo defensivo ou ofensivo de uma equipa,
num dado instante, é susceptível de induzir alterações na configuração momentânea do
dispositivo ofensivo ou defensivo, respectivamente, da equipa contrária e vice-versa.
Sendo as capacidades dos jogadores condicionadas pelas imposições do meio, a sua
intervenção vai muito para além do domínio das habilidades técnicas, orientando-se em
função de princípios de acção, regras de gestão de jogo e habilidades perceptivas e
decisionais (Gréhaigne & Guillon, 1992). Contudo, na tentativa de conduzir o ensino e o
treino nos JDOC, não raramente os treinadores têm enfatizado a dimensão técnica, ou
reprodutiva, em detrimento da dimensão estratégico-táctica, ou compreensiva. Esta
“tecnificação” do ensino e treino tem constituído um entrave à evolução dos praticantes,
nomeadamente no que concerne à construção de um “jogar inteligente”.
Alguns autores sustentam que a formação nos jogos desportivos deverá contemplar os
pressupostos cognitivos indispensáveis à regulação das acções e que tal se obtém
estruturando, aperfeiçoando e estabilizando a percepção da situação, a sua antecipação, a
fase de tomada de decisão e a aprendizagem da execução motora (Greco, 1989; Konzag,
1990; Greco & Souza, 1999; Garganta, 2002). Nesta perspectiva, trata-se de formar
“jogadores inteligentes” (Greco, 1999), com capacidade de decisão, dotados de recursos,

103
experiências e conhecimentos para solucionar diferentes situações do jogo, sendo que “O
importante é formar jogadores, não repetidores” (Greco, 1988: 30).
Na medida em que a actividade dos jogadores se desenvolve em contextos cujas
condições se alteram com elevada frequência, aos mesmos é requerida uma permanente
atitude estratégico-táctica (Gréhaigne, 1992; Deleplace, 1994; Garganta, 1994). Na
construção de tal atitude, a selecção do número e qualidade das acções depende
obviamente do conhecimento que o jogador tem do jogo, o que quer dizer que a forma
de actuação de um jogador está fortemente condicionada pelos seus modelos de
explicação, ou seja, pelo modo como ele concebe e percebe o jogo. São esses modelos
que orientam as respectivas decisões, condicionando a organização da percepção, a
compreensão das informações e a resposta motora (Garganta, 1997).
Como tal, nos JDOC assume importância capital o que Barth (1994) designa por saber
estratégico-táctico, e que consiste, não apenas no conhecimento das regras da
competição e das regras de gestão e organização do jogo, mas também no conhecimento
das condições de regulação situacional. O problema fundamental que se coloca a quem
joga pode ser enunciado da seguinte forma (Gréhaigne & Guillon, 1992): numa situação
de oposição, os jogadores devem coordenar as acções com a finalidade de recuperar,
conservar e fazer progredir o móbil do jogo (bola), tendo como objectivo criar situações
de finalização e marcar golo ou ponto.
Se observarmos um jogo minimamente organizado, mesmo que ambas as equipas em
confronto não se distingam pela cor ou padrão do equipamento, é possível, passado
algum tempo, identificar os elementos constituintes de cada uma delas. Esta
possibilidade resulta do facto da referida relação de oposição/cooperação, para ser
sustentável e eficaz, reclamar dos jogadores comportamentos congruentes com as
sucessivas situações do jogo, de acordo com os respectivos objectivos de sinal contrário
de cada uma das equipas.
O problema primeiro que se coloca aos praticantes é de natureza estratégico-táctica, isto
é, o praticante deve saber o que fazer, para poder resolver o problema subsequente, o
como fazer, seleccionando e utilizando a resposta motora mais adequada (Garganta &
Pinto, 1994).
Alguns autores (ver p. ex. Gréhaigne & Godbout, 1995), sustentam que o sistema de
conhecimento, nos JDOC, decorre do modo como se entrelaçam regras de acção, regras
de organização e capacidades motoras (Figura 1).

104
Regras de gestão
Regras de acção e organização do
jogo

Organização colectiva
e individual

Capacidades
motoras

Figura 1 - Conteúdos do conhecimento em desportos colectivos


(adap. Gréhaigne & Godbout, 1995).

As regras de acção são orientações básicas acerca do conhecimento táctico do jogo, que
definem as condições a respeitar e os elementos a ter em conta para que a acção seja
eficaz. As regras de organização do jogo, estão relacionadas com a lógica da actividade,
nomeadamente com a dimensão da área de jogo, com a repartição dos jogadores no
terreno, com a distribuição de papéis e alguns preceitos simples de organização que
podem permitir a elaboração de estratégias. As capacidades motoras, englobam a
actividade perceptiva e decisional do jogador, bem como os aspectos da execução
motora propriamente dita.
O desenvolvimento da capacidade para jogar implica, deste modo, um desenvolvimento
de saberes. Saber o que fazer, o que se prende com um conhecimento factual ou
declarativo, e que pode até ser exprimido através de enunciados linguísticos; e saber
executar, isto é, possuir um conhecimento processual que decorre da acção propriamente
dita (Anderson, 1976; Chi & Glasser, 1980).

2.1. A essencialidade estratégico-táctica dos JDCO

Nos JDOC é cada vez mais evidente a tendência para se atribuir o primado à dimensão
estratégico-táctica (Roth, 1989; Gréhaigne, 1992; Barth, 1994; Garganta, 2001a, 2002),
considerando-se que é neste grupo de desportos que ela assume o seu nível de expressão
mais alto, mais complexo e flutuante (Matveiev, 1986; Greco & Chagas, 1992).
Todavia, esta perspectiva não anula a importância das demais dimensões do rendimento.
Antes impõe um enquadramento das mesmas, face à especificidade dos JDOC, num
duplo sentido. Por um lado, a mestria estratégico-táctica permite a um atleta utilizar com

105
maior eficácia os pressupostos e condições de prestação (Platonov, 1988; Barth, 1994);
por outro, a acção táctica, ao ser dirigida para a optimização do rendimento, implica o
recurso, para além dos conhecimentos tácticos, às habilidades técnicas, às capacidades
condicionais, às características da vontade e a outros componentes (Harre, 1982).
A essencialidade estratégico-táctica dos JDOC decorre, assim, de um quadro de
referências que contempla: (1) o tipo e relação de forças (conflitualidade) entre os
efectivos que se confrontam; (2) a variabilidade, a imprevisibilidade e a aleatoriedade do
contexto em que as acções de jogo decorrem; (3) as características das habilidades
motoras para agir em contextos específicos.
Nos JDOC o quadro do jogo é organizado e conhecido, mas o seu conteúdo é sempre
imprevisível e aleatório. Pode dizer-se que, num jogo ou num conjunto de vários jogos,
não ocorrem duas situações iguais e que as possibilidades de combinação são inúmeras,
o que torna impossível antecipá-las. Todavia, se não houvesse algo que ligasse o jogo a
um território de possíveis previsíveis, o ensino e o treino dos jogadores e das equipas
deixariam de ter sentido (Garganta, 1997), o que deixa entender que as acções de jogo
são “categorizáveis”, isto é, reconvertíveis em categorias ou tipos de ocorrências, que
constituem unidades de acção e que servem de referência para o ensino e o treino.
Percebe-se, pois, que nos JDOC seja importante desenvolver nos praticantes,
competências que transcendam a execução propriamente dita e se centrem na
assimilação de regras de acção e princípios de gestão do jogo, tendo em vista a
comunicação entre os jogadores da mesma equipa e a contra-comunicação com os
jogadores da equipa contrária (Garganta & Gréhaigne, 1999). A concepção e a
materialização dessas competências são veiculadas pela estratégia e pela táctica.

2.2. Acerca da estratégia e da táctica

Como refere Weineck (1983), embora o comportamento eficaz de um atleta em


competição pressuponha uma atitude táctica optimal, é conveniente acautelar eventuais
generalizações, na medida em que o factor táctico joga nas diversas modalidades
desportivas um papel de importância variável. Este entendimento completa o de um
reconhecido especialista do treino desportivo, o russo Lev Pavlovic Matveiev, para
quem as especificidades da táctica diferem de acordo com a modalidade a que respeitam
(1986). Enquanto que nos desportos individuais, com excepção daqueles que integram o
factor oposição (e.g., esgrima e boxe), um conhecimento táctico de base, geral, é

106
suficiente (Weineck, 1983), nos JDOC, porque a competição se desenrola em condições
de grande variabilidade e aleatoriedade, a formação táctica específica é imprescindível
para o êxito desportivo.
A mestria táctica decorre da excelência do pensamento operativo do atleta, isto é, do
pensamento estritamente ligado à actividade específica do jogo. Os melhores jogadores
distinguem-se dos outros, não apenas pela velocidade mas também pela justeza com que
as decisões são tomadas (Wrzos, 1984; Tavares, 1994).
Na hierarquia que se pode estabelecer, a estratégia constitui um a priori da táctica, na
medida em que a actuação táctica é superditada pelo objectivo estratégico. Face a
alterações do envolvimento, a decisão estratégica pode ser descrita a partir de sequências
de comportamentos do tipo: "se" ... "então" (Thomas & Thomas, 1994). A decisão
táctica refere-se sobretudo ao "o quê" e ao "como" dos comportamentos. Isto é, enquanto
que a decisão estratégica está mais relacionada com os fins da mudança, a decisão
táctica reporta-se aos meios a utilizar.
Somos assim conduzidos à ideia de que a estratégia e a táctica estão intimamente ligadas
e que concorrem para o mesmo fim, o que implica a necessidade de estender o alcance
da estratégia ao desembocar da acção propriamente dita, até ser materializada pelo seu
intérprete, isto é, pelo jogador (Garganta & Oliveira, 1996).
Considerando que a estratégia inclui os recursos tácticos disponíveis, a táctica é
superditada pelos objectivos estratégicos e os resultados da sua acção podem levar a uma
reformulação da estratégia (Riera, 1995). Neste sentido, a estratégia não deve ser
entendida como um programa, isto é, uma sequência de acções pré-determinadas. Pelo
contrário, ela permite, a partir de uma decisão inicial, encarar um certo número de
cenários para a acção, isto é, de possibilidades futuras e caminhos a elas associados
(Godet, 1991).
Como sustenta Temprado (1991), os conhecimentos constituintes do pensamento
estratégico-táctico estão organizados sob a forma de cenários, ou seja, de acordo com
um conjunto de indicadores, de objectivos a alcançar e de efeitos a produzir. Nesta
perspectiva, distinguem-se, classicamente, os cenários possíveis, isto é, tudo o que se
pode imaginar; os cenários realizáveis, isto é, tudo o que é possível, tendo em conta os
condicionalismos; e os cenários desejáveis que se encontram em qualquer parte do
possível, mas não todos necessariamente realizáveis (Godet, 1991).
Táctica e estratégia não dependem, portanto, do livre arbítrio. Sendo a táctica a aplicação
da estratégia às condições específicas do confronto, no decurso do jogo aquela dimensão

107
exprime-se através de comportamentos observáveis, que decorrem de um processo
estratégico que pressupõe conhecimento e informação (Garganta & Oliveira, 1996).

2.2.1. O treino da estratégia e da táctica

Os JDOC são realidades complexas porque os jogadores têm que, a um tempo,


relacionar-se com a bola e referenciar a sua situação no terreno de jogo, a posição dos
colegas, dos adversários e dos alvos. Devido a esta complexidade, impõe-se que a sua
abordagem seja gradual: do conhecido para o desconhecido, do fácil para o difícil, do
menos para o mais complexo (Garganta, 1994).
As capacidades desenvolvem-se a partir de blocos de informação integrados,
conhecimentos tácitos que o jogador percebe como conjuntos de possibilidades. Por isso
se diz que os jogadores têm "sentido da jogada", "cheiram o golo", têm "capacidade de
antecipação", ou seja, um conjunto de dons que mais não são do que modos eficazes de
manejar grandes blocos de informação (Marina, 1995).
Deste modo, a componente estratégico-táctica emerge como função vertebradora,
permitindo conferir maior ou menor pertinência às tarefas realizadas pelos jogadores no
decurso do jogo (Figura 2).

Estratégia -Táctica

Situação

O quê Quando Onde Como


(objectivo) (momento) (espaço) (forma)

- +
Resultado

Figura 2 - A dimensão estratégico-táctica enquanto território de


sentido das tarefas dos jogadores no decurso do jogo (Garganta,
1997).

Pelo que foi afirmado, parece justificar-se a definição de alguns preceitos que devem
orientar o treino da estratégia e da táctica nos JDOC:

• Assumir como imprescindível a definição de um quadro prévio de princípios de


acção e regras de gestão do jogo (modelo de jogo) que balizem o
direccionamento do treino e permitam regular a competição. Tal impõe a
necessidade de analisar a estrutura e dinâmica internas de cada jogo desportivo,
no sentido de configurar a sua especificidade e, bem assim, determinar as linhas

108
de força que permitem valorizar as variáveis que devem integrar os modelos de
treino e de competição.

• Valorizar a faceta perceptivo-cognitiva da performance.

• Conferir elevada relevância aos erros cometidos pelos praticantes aquando da


execução das tarefas motoras. Os erros funcionam como ocorrências-contraste
em relação aos comportamentos alvo e devem ser usados para corrigir e ajustar o
processo de formação, momento a momento.

3.1. Capacitação estratégico-táctica de crianças e jovens nos JDOC

Vários planos, no seu conjunto, conformam um conjunto de características que permitem


tipificar os diferentes JDOC e influem, de forma substancial, nas diferentes lógicas de
ensino e treino. Tais características podem figurar naquilo que designamos de “bilhete
de identidade” de cada jogo e devem ser procuradas com base:

• na natureza das habilidades técnicas realizadas com e sem móbil do jogo


(abertas ou fechadas);
• na relação entre a dimensão do terreno de jogo e o efectivo de jogadores
(densidade alta ou baixa);
• no tipo e colocação do alvo a atacar/defender (vertical; horizontal);
• na natureza da oposição e da cooperação (espaço comum ou separado;
participação simultânea ou alternada dos jogadores);
• na natureza de evolução dos eventos de jogo (dependente do factor tempo ou
resultado).

É a partir da definição dessas particularidades identitárias, e do tratamento didáctico do


conteúdo dos JDOC (Graça, 1994) que o ensino e o treino tomam rumo.
O processo de treino visa induzir alterações positivas no comportamento dos praticantes,
pelo que, na sua actividade quotidiana, o treinador, através dos exercícios de treino,
procura desenvolver e aperfeiçoar modelos de execução.
Neste contexto, o erro tem sido entendido como elemento a banir, quando as novas
perspectivas sustentam que o mesmo seja considerado parte integrante destes processos
e um precioso aliado, enquanto indicador importante na detecção de factores
perturbadores da execução individual e colectiva.
Quem se inicia numa dada actividade tem tendência para cometer mais erros do que os
praticantes confirmados e para revelar uma menor consciência dos factores que
estiveram na sua origem. Como tal, torna-se fundamental que no treino estratégico-

109
táctico de debutantes, o treinador esteja capacitado para identificar os erros, bem como
os mecanismos (perceptivos, decisionais, cognitivos, motores) que estão na base da sua
ocorrência durante a prática, fazendo deste um potente aliado para perseguir os
objectivos pretendidos.
Refira-se, no entanto, que os erros, para serem considerados como tal, devem ser
observados à luz de um conjunto de princípios e ideias que, no seu conjunto, poderão
constituir uma espécie de teoria da acção, se nos centrarmos especialmente sobre a
forma como são detectados e corrigidos nos diferentes jogos desportivos. Importa
salientar que nos JDOC, a detecção e correcção de erros, no âmbito do treino
estratégico-táctico, deve centrar-se nos skills colectivos e de grupo. Todavia, tal não
significa que se relegue para um plano secundário a correcção no plano individual, mas
tão só que mesmo essa deve acontecer em referência às necessidades do jogo e às
exigências da pessoa colectiva que é a equipa.
Para além disso, e não obstante as boas intenções e os conhecimentos disponíveis,
também no plano da intervenção dos treinadores é necessário estar atento aos erros cuja
ocorrência sistemática pode comprometer o processo de formação. Actualmente, é
possível reunir um rol de erros que, com frequência pouco recomendável, têm vindo a
ser cometidos no processo de treino com crianças e jovens atletas:

• Programação do treino inadequada, realizada em função das competições, sem


ter em consideração o calendário escolar dos jovens (férias, paragens, períodos
de testes, …).
• Quadros competitivos desajustados, colocando em confronto adversários de nível
muito diferente, e com muitas paragens sem competição para os que são
eliminados (o que os vai tornar cada vez mais fracos e desmotivados).
• Repetição de exercícios e rotinas utilizadas, tornando o treino monótono e
desmotivante.
• Inexistência de correcções atempadas e substantivas, relativas à execução dos
exercícios. A forma como a instrução é realizada interfere na interpretação que os
atletas fazem dos exercícios e, consequentemente, na sua execução. Só faz bem
quem compreende bem!
• Os exercícios são como os medicamentos. Uma vez tomados (executados) têm
repercussões sobre o organismo e alguns apresentam até efeitos secundários.
Conhecerão os treinadores as repercussões dos exercícios que aplicam? Estarão
em poder de informação suficiente sobre esta matéria?
• Especialização precoce de funções, habitualmente realizada em função das
características morfo-funcionais dos jovens e não dos imperativos multilaterais
da formação.

110
• Repressão do erro, o que desencoraja a tentativa. Quem não tenta, com receio de
falhar, não pode evoluir.
• Definição de objectivos demasiado ambiciosos ou demasiado fáceis de alcançar.

4. Tendências no treino da estratégia e da táctica nos JDOC

Nos JDOC é importante que o jogador evidencie inteligência estratégico-táctica, i.e., que
seja capaz de detectar, em pleno jogo, as evoluções nascentes na complexidade das
relações de oposição, e deduzir as escolhas sucessivamente mais apropriadas às
situações que se materializam, instante a instante, sobre o terreno (Deleplace, 1994).
Nesta linha, assiste-se a uma evolução expressa no recurso aos designados modelos de
decisão, reconhecendo-se ao jogador capacidade para intervir sobre a informação que ele
próprio processa (Ripoll, 1987; Tavares, 1993).
No limiar do século XXI, assistimos ao emergir de novas valências conceptuais e
metodológicas decorrentes de áreas como a teoria dos jogos, as ciências do caos, a teoria
das organizações, as ciências da cognição e a teoria da acção, que oferecem a
possibilidade duma utilização ampla e fecunda, apresentando-se como importantes
contributos para a construção do conhecimento no domínio dos JDOC (Garganta, 2002).
Alicerçados em alguns desses contributos, e na nossa experiência, entendemos que a
evolução do treino da estratégia e da táctica nos JDOC deverá passar:

Ao nível da concepção
• Pelo aumento da importância atribuída aos designados modelos de jogo,
enquanto mapas para o treino específico dos jogadores e das equipas.
• Pelo treino da táctica individual dirigindo-o para o apuro de skills colectivos
(defensivos e ofensivos).
• Pela indissociabilidade dos complexos percepção-acção e estratégia-táctica.
• Por conceder maior espaço ao desenvolvimento da criatividade alicerçada na
cultura de regras de acção e princípios de gestão do jogo (não há criatividade
no vazio).
• Pela noção de que, nos JDOC, a criatividade individual só tem sentido se
concorrer para o projecto colectivo.

Ao nível das metodologias


• Pelo treino das habilidades cognitivas orientado-o, sobretudo, para a resolução
de tarefas colectivas.
• Pela crescente importância atribuída ao treino perceptivo (nomeadamente
visual) e ao treino decisional.

111
• Pela intenção de “inocular” nos jogadores/equipas traços comportamentais
que induzam as formas de jogar pretendidas (comportamentos alvo/modelos
de jogo).
• Pela construção de tipologias de exercícios a partir dos problemas revelados
pelos jogadores e pela equipa, considerando a necessidade de desempenho
efectivo dos princípios preconizados no modelo de jogo.
• Pela construção e aplicação de exercícios dirigidos a situações de interferência
contextual específica, em função das tarefas de jogo.
• Pelo crescente controlo estratégico-táctico do treino, a partir da observação e
análise do jogo e do treino, considerando a presença e/ou ausência dos traços
que configuram os comportamentos alvo.

5. Considerações finais

Para lá de todas as metodologias e princípios adoptados, a busca do prazer pelo treino e


pelo jogo deve ser uma preocupação da qual não devemos abdicar, sob pena de
comprometermos a afirmação e a continuidade da prática desportiva de crianças e
jovens.
Nos JDOC, a iniciação desportiva parece ter mais futuro e mais presente quando os
praticantes aderem a ela através do gosto pelo jogo. Nas primeiras etapas é
imprescindível que brinquem, que joguem e que desfrutem. O treino pode esperar!
Tal não significa, contudo, que a prática desportiva deva acontecer à margem de
princípios orientadores e se veja alheada da construção de atitudes que conduzam ao
gosto pelo esforço, superação e aperfeiçoamento. De facto, é função do treinador de
jovens semear o gosto pelo jogo, mas, paralelamente, este deve também contagiar os
praticantes no gosto pelo aperfeiçoamento e pela superação. E é no treino que tais
atitudes se moldam.
É precisamente neste domínio que a abordagem estratégico-táctica assume importância
capital, pois a partir dela é possível, e desejável, construir situações que façam apelo às
capacidades de percepção, decisão, compreensão e execução, sem que o capital de
motivação do jogo e sem que a importância do ensino e treino sejam beliscados.
O comportamento dos jogadores nos JDOC situa-se numa tensão permanente entre
conhecimento e acção. Para compreender o jogo, eles devem ser capazes de, para além
da esfera da percepção, organizar os seus comportamentos, a sua acção, em função de
um projecto. As capacidades de leitura do jogo e de execução das habilidades técnicas
dependem do entendimento que se tem do jogo, não se tratando, portanto, de um
problema sensorial ou meramente técnico, mas de uma questão, antes de tudo,

112
conceptual. Vemos e entendemos o jogo, sobretudo, a partir dos conceitos, o que quer
dizer que os problemas se colocam, não apenas no plano oftalmológico, mas em larga
medida, ao nível da organização da informação e, sobretudo, da capacidade para
discriminar o significado dessa informação.
É ao nível da natureza dos constrangimentos contextuais colocados nas tarefas
(dificuldade, obstáculo ou problema) e dos tipos de empenhamento do praticante
(atenção, esforço físico, compreensão/raciocínio) que as várias pedagogias diferem
(Courtay et al., 1990). As pedagogias tradicionais têm privilegiado: (1) a execução
técnica em detrimento da compreensão; (2) o condicionamento analítico do meio em que
o praticante é colocado, em detrimento das situações-problema; (3) a explicação
associada à demonstração, em que o treinador prescreve, a todo o momento, os
procedimentos a respeitar para a realização da tarefa.
Temos vindo a assistir a uma transição dos modelos centrados na execução das
habilidades técnicas para modelos estratégico-tácticos baseados na compreensão
(Bunker & Thorpe, 1986), nos quais os pressupostos cognitivos do praticante e a noção
de equipa são elementos preponderantes.
Neste sentido, nos JDOC a estratégia e a táctica assumem, cada vez mais, um papel
capital na formação de crianças e jovens, pelo que se justifica uma reflexão acurada
sobre o seu potencial formativo, o seu alcance e limites. Foi isso que procurámos fazer
no texto aqui apresentado.

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115
Texto 8
GARGANTA, J. (2004). Atrás do palco, nas oficinas do Futebol.
In J. Garganta, J. Oliveira & M. Murad (Orgs.), Futebol de
muitas cores e sabores. Reflexões em torno do desporto mais
popular do mundo (pp. 227-234). Porto: Campo das Letras.

116
ATRÁS DO PALCO, NAS OFICINAS DO FUTEBOL

JÚLIO GARGANTA
Universidade do Porto, Portugal
Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física

Um pedaço na superfície do globo terrestre, sobre o qual traçaram um


rectângulo de linhas brancas e plantaram postes verticais encimados por uma
barra, não é um lugar qualquer. É um campo de Futebol.
Um campo de Futebol é, em si próprio, um universo. Ele guarda a memória de
todas as partidas que aí se jogaram, dos fantasmas dos jogadores que caíram,
que se magoaram e que choraram. Mas ele encerra também todos os jogos que
virão ainda a disputar-se, de golos insanos que hão-de ser marcados.
Pisar a relva de um estádio é habitar um tempo em suspenso. Um terreno de
Futebol vibra mesmo quando vazio. Ele nunca está em repouso. Um terreno
vazio é como um ecrã branco de cinema: a partir desse momento, todas as
histórias são possíveis.

Didier Tronchet (2004)

Como outras actividades em que o desempenho humano adquire um sentido de


transcendência, o Futebol desperta paixões, suscita críticas e inspira artistas. Neste
sentido, pode dizer-se que o melhor dele está nos muitos mundos que contém e que dá
ao Mundo.
Um jogo inscreve-se num instante. Tudo acontece, tudo se inventa, diante dos nossos
olhos. O espectáculo é vivo e irrepetível. No microclima emocional de cada estádio
emergem paixões capazes de fazer estalar o mais espesso dos vernizes sociais. Por isso,
o Futebol é capaz de nos resgatar a muitas tristes horas de cinzentismo e de frustração;
o pé que chuta é um prolongamento da vontade de vencer a estupidez do mundo e a
incompreensão dos homens.
Curiosamente, este fenómeno de mundialização tem escapado à hegemonia norte
americana, pois os Estados Unidos da América, para além de não serem uma grande
potência futebolística, não conseguiram impor ao resto do mundo as suas preferências
desportivas (Boniface, 2002).
A magnitude do protagonismo social da “frivolidade mais séria do mundo”, como lhe
chama Christian Bromberger (1998), justifica plenamente que o Futebol se constitua
como um exemplo de modelo desportivo evoluído, enquanto actividade organizada e
humanizante. Sabendo-se que é, indubitavelmente, o fenómeno mais marcante do final
do século XX e princípio do século XXI, trata-se não apenas de uma exigência
funcional, mas também de um imperativo ético e moral.

117
Todavia, nos últimos anos este jogo desportivo tem-se visto mergulhado num
emaranhado de “negócios” que estão a pôr em perigo a sua identidade (Cruyff, 2002),
pelo que faz sentido perguntar se a vaga economicista que parece estar a promovê-lo
enquanto espectáculo, não virá a ser, num futuro muito próximo, a principal responsável
por fazer definhar o verdadeiro espírito do jogo (Garganta, 2002).
Os carentes de mediatização têm usado e abusado do Futebol, bem mais motivados pela
vontade de angariação de proventos de ordem económica, do que pela promoção da
actividade desportiva e dos seus intervenientes (Garganta, 2002). Os discursos
atropelam-se, dizem-se, desdizem-se e contradizem-se; joga-se mais fora do que dentro.
Como escreveu Manuel Alegre (2002), há mais jogo falado do que jogo jogado.
Concordamos com Bourdieu (1998), quando afirma que todas as teologias religiosas e
teodiceias políticas tiraram partido do facto de as capacidades generativas da língua
poderem exceder os limites da verificação empírica, para produzirem discursos
formalmente correctos mas semanticamente vazios.
Para evoluir e poder ser maior do que ele próprio, o Futebol precisa de tomar em mãos o
próprio destino, o que implica uma não rendição às suspeitas incursões dos que o
pretender canibalizar.
Àqueles que gostam de Futebol, aos que o jogam e treinam, aos que o pensam e sobre
ele escrevem, é legítimo exigir-se que se afirmem como bastiões contra a erosão e o
descrédito desta modalidade. A formação e a investigação podem e devem ser antídotos
importantes, quiçá imprescindíveis, para cumprir este desiderato (Garganta, 2002).

TREINADOR: O ARTÍFICE DA PERFORMANCE DESPORTIVA

A gestão do treino visa a condução de um grupo com objectivos comuns, bem como a
organização e a coordenação de interesses e motivações. Neste sentido, aparentemente,
aproxima-se mais do acto político do que da ética. Talvez por isso, há muito quem
pretenda fazer crer que a ética no Futebol é coisa para visionários. Albert Camus dizia
que em política, são os meios que devem justificar os fins; e assim nos parece também
no Desporto, onde o treino e o talento devem justificar os resultados.
No treino, como na competição, o Futebol só tem a ganhar se assumir frontalmente a
sua humanidade, em resposta a uma questão estruturante: como preparar os jogadores e
as equipas de modo a que o jogo seja cada vez mais competitivo e aliciante, ao mesmo
tempo que se enaltece e promove a natureza humana?

118
Como adverte Rei (2002), o mundo está repleto de triunfadores que não souberam
colocar um limite às suas ambições. As vitórias, incluindo as desportivas, só o são de
facto se delas ficar algo que as transcenda. Diríamos, com Vergílio Ferreira, que: ”... o
importante não é o que acontece, mas o que fica em nós desse acontecer.”.
Note-se que não há apenas uma forma de jogar e de treinar Futebol. Treinar implica
transformar comportamentos, e sobretudo atitudes, optando por um modelo, entre outros
possíveis. E o que faz um método afigurar-se mais pertinente pode ser a sua adequação
à personalidade do treinador e dos jogadores, bem como à cultura específica do clube
onde o trabalho se desenvolve. Neste sentido, o treino será sempre, por definição, a
recusa do destino, da sorte e do azar, não podendo, nunca, ser neutral. O treinador deve
tomar partido, elegendo a sua visão, o seu método, o seu caminho, tomando consciência
de que os métodos são bons quando os seus utilizadores reconhecem o respectivo
alcance e limites; não a sua omnipotência. Todos os métodos encerram prós e contras e,
portanto, a opção por uns ou por outros deve obedecer a razões pensadas e ponderadas.
Neste contexto, o treinador assume-se como figura nuclear, pois a ele compete gerar e
gerir todo o processo de preparação desportiva.
Sem subalternizar o resultado desportivo, ao treinador de uma equipa compete-lhe,
também, ser um cultor do sentido estético do Futebol, afirmando-se como um indutor de
modos de jogar edificantes, não só para quem joga mas também para quem assiste ao
jogo. De entre o conjunto de responsabilidades e exigências que se devem colocar aos
treinadores, uma das mais significativas passa por eles próprios gostarem de Futebol,
gostarem do jogo e participarem activamente na sua construção, enquanto arquitectos de
um espectáculo que emocione os aficionados, e que, simultaneamente, valorize o
significado do Desporto, enquanto património cultural da humanidade.
O papel do treinador de Futebol não deve, assim, ser entendido nos limites restritos do
“técnico”, do instrutor ou do adestrador, pois dele se espera que seja capaz de liderar o
processo global de evolução dos atletas a seu cargo, induzindo a transformação e o
refinamento dos comportamentos e atitudes, na procura do rendimento desportivo.
Acresce que a sua filosofia de actuação não pode dispensar a intenção de criar uma
dinâmica positiva na colectividade onde trabalha, de forma a favorecer o
desenvolvimento de uma cultura desportiva e a melhoria das respectivas condições
materiais e humanas.
Deste modo, o treinador de Futebol deverá conhecer a modalidade em todas as suas
facetas, sabendo que será chamado, a cada momento, a tomar decisões sobre questões

119
técnicas, tácticas, logísticas,..., e a assumir as respectivas consequências. Tal
multiplicidade de requisitos torna imprescindível a existência de um sólido capital de
competência técnica, de personalidade e de inteligência estratégica.
Resulta claro que a actuação do treinador, enquanto líder de uma equipa e de um
projecto, não se confina à direcção in situ da actuação dos jogadores, no treino e na
competição, embora seja nestes contextos que a sua intervenção assume maior
preponderância.
Rei (2002) considera que o líder de uma organização deve abraçar três funções básicas:
(1) marcar o rumo, desenvolvendo uma visão de futuro; (2) alinhar as pessoas nessa
direcção, comunicando eficazmente; e (3) motivar e inspirar, transmitindo energia.
A função do treinador é, pois, ampla e muito susceptível, porquanto sujeita a flutuações
de humor, quebras psicológicas, depressões, fadiga, acompanhados de uma sensação de
isolamento, embora, em contrapartida, temperada com uma sensação de exaltação, de
heroicidade.
Não obstante, o treinador só pode ser um optimista, porque o treino e a competição
necessitam de optimismo do mesmo modo que os jogadores necessitam da bola para
aprimorarem a sua performance. Os pessimistas poderão ser bons adestradores, mas não
serão nunca bons treinadores.
A experiência demonstra que o êxito na condução de pequenos grupos, como as
equipas, sempre dependeu de indivíduos que, para além das competências técnicas num
determinado domínio, se revelaram grandes comunicadores. Ora o comunicador não é
apenas alguém que preenche um vazio ou que transmite informação, e que cumpre ou
faz cumprir programas. Antes procura deixar um traço ou marca pessoal no que diz e
faz; procura influenciar, criando valores e ideias (Rei, 2002).

DA CONSTRUÇÃO DA EQUIPA À PREPARAÇÃO DOS JOGADORES

As sucessivas transformações operadas no âmbito do Futebol deram origem ao


surgimento de uma hemiplegia desportiva, consubstanciada na divisão dos clubes em
duas figuras: a do clube empresa e a do clube desportivo. Neste quadro, ao discurso do
treinador tem-se sobreposto uma espécie de pedantismo empresarial que tudo procura
explicar e solucionar.
Apesar de muito se especular a propósito dos múltiplos factores que concorrem para o
êxito em Futebol, continua a ser verdade que o TREINO constitui a forma mais

120
importante e mais influente de preparação dos actores para a competição. Por tal
motivo, o processo de construção das equipas e de preparação dos jogadores de Futebol
mobiliza uma significativa concentração de esforços, por parte de todos quantos
procuram, insistentemente, apurar meios e métodos de treino, de modo a induzir o êxito
desportivo e a torná-lo cada vez mais consistente.
Na tentativa de perceber como os atletas alcançam os mais altos patamares do sucesso
desportivo e, sobretudo, como aí se mantêm, os pesquisadores vão chegando à
conclusão de que a excelência desportiva requer, cada vez mais, uma perspectiva
“inteira” dos processos de treino e competição. Por isso, o entendimento mais ajustado
parece ser o que amplia mais o raio de acção destes processos e não tanto o que os
miniaturiza.
O Desporto não convive bem com simplificações abusivas, venhas elas do senso
comum ou da ciência. Particularmente, o treino, à medida que vai recorrendo aos
contributos da ciência, vai-se também configurando cada vez mais como uma arte, pois
só se consegue dominar através do exercício quotidiano, e nos casos em que “faz a
diferença”, muito deve à intuição. Diríamos que é uma arte que depende cada vez mais
da ciência para evoluir e se autonomizar.
Embora raramente figurem em textos de divulgação, os processos que levam à
construção das equipas e à preparação dos jogadores, não são menos fascinantes do que
as grandes partidas de Futebol. Sabendo-se que a antecâmara do confronto desportivo
formal encerra facetas que despertam uma evidente curiosidade, é pelo menos estranho
que tais assuntos estejam como que envoltos numa neblina de contornos esotéricos.
Existem várias formas de jogar Futebol e de conseguir resultados, do mesmo modo que
existem várias maneiras de treinar. Não obstante, no treino do Futebol trata-se de gerar
uma harmonia ou sintonia entre todos, uma equipa, e um projecto.
Uma equipa é um concerto de cumplicidades, expressas na vinculação a uma visão, a
um modelo, a um ideal. Desta feita, o treino não é algo para consumir, mas para
assumir, o que implica cultivar comportamentos e, sobretudo, atitudes. Contudo, a
edificação de um grupo, portanto de uma estrutura com identidade própria, envolve
mecanismos que se deterioram com facilidade, porque revelam extrema sensibilidade às
pequenas variações.
As equipas de Futebol de alto rendimento são grupos de elevado potencial que
procuram afirmar uma identidade e preservar a sua integridade. Na busca das melhores
formas para rentabilizarem a acção, a eficácia decorre duma cumplicidade operacional,

121
sustentada nas inteligências individuais que devem servir uma inteligência colectiva.
Tal cumplicidade fundamenta-se numa compatibilização de conhecimentos, os quais, no
caso do Futebol, consistem num conjunto de regras de acção e de princípios de gestão
do jogo.
Como refere Richard (1990), o nosso conhecimento sobre os seres e as coisas é
constituído por aquilo a que chamamos os conceitos. O conceito é, portanto, uma
entidade cognitiva de base, que permite associar um sentido às acções que realizamos.
Todo o processo de treino consiste na implementação de uma cultura de jogo, em
referência a conceitos e princípios. Trata-se de desenvolver rotinas para jogar,
configurando memórias adaptáveis, versáteis, para que individualidade e unicidade
sejam não só compatíveis como complementares.
Construir uma equipa é combinar talento individual com consciência aumentada de
grupo. Jackson & Delehanty (2002) dizem que a maneira mais efectiva de forjar uma
equipa é apelando às necessidades dos jogadores se conectarem com algo maior do que
eles próprios.
Do que foi mencionado, pode inferir-se que para se ser jogador de alto nível não basta
nascer com talento; torna-se imprescindível treinar. A genética predispõe para algo, mas
só por meio da modificação das atitudes e comportamentos se consegue, efectivamente,
sê-lo. Neste sentido, o talento possibilita e potencia a aprendizagem, mas não pode
substitui-la, o que significa que o capital biológico do jogador necessita de validação
posterior.
Exprimir o talento é algo que leva tempo e exige treino. A rotina tem que potenciar esse
treino, em vez de o suprimir ou substituir. Diríamos que antes de se entregar a um
processo de treino, pode existir um talento, mas o jogador só existe depois disso.
A este propósito retomamos uma questão recorrente: Quanto do que se adquire através
do processo de preparação desportiva está relacionado com o treino e quanto está
dependente dos factores genéticos?
Convém ter presente que o treino é um processo que visa libertar o jogador da limitação
da mera experiência pessoal, mas que simultaneamente a aproveita para ver
maximizados os seus efeitos. Treinar não é, portanto, clonar jogadores, mas dar espaço
para que cada um exprima a sua individualidade no respeito pelo projecto colectivo.
Por outro lado, através do treino procura-se resgatar o praticante ao seu determinismo
genético, naquilo que ele pode comportar de negativo para a realização desportiva, e, ao

122
mesmo que tempo, visa-se tirar partido das suas mais-valias no sentido de potenciar o
efeito da exercitação sistemática.
Tal entendimento conduz-nos à ideia de que, entre as centenas de formas possíveis de se
jogar e treinar Futebol, o importante é considerar a relação custo-benefício, em função
do modelo de jogo e dos jogadores que o irão interpretar.
Por analogia, diríamos que o facto de um maestro dispor de músicos excepcionais lhe
pode proporcionar boas perspectivas de formar uma orquestra de alta expressão musical,
mas que esse pressuposto apenas pode ser validado através do trabalho diário de
coordenação e de construção do grupo.

A REFLEXÃO SOBRE O SABER FAZER


Num mundo em constante ebulição, como é o do Futebol, só a inteligência pode ajudar
verdadeiramente, pelo que se torna fundamental pensar sobre o que fazemos para se
poder perceber se fazemos como pensamos, ou a que distância nos encontramos disso e
porquê. Por isso, o verdadeiro treino não consiste apenas em criar um saber-fazer, mas
também em desenvolver um conhecimento sobre o saber-fazer.
Deste modo, a denominada análise da performance em Futebol, sobretudo no que
concerne à análise do jogo e do treino, assume como que uma centralidade estratégica
no processo de preparação desportiva, porque, para além de permitir perfilar e comparar
a especificidade dos comportamentos em relação aos modelos de jogo de referência,
possibilita o refinamento do processo de treino, no sentido de direccionar
adequadamente o comportamento agonístico dos atletas.
Trata-se, de facto de uma das formas de realizar o denominado controlo do treino,
através do qual o treinador procura conhecer a que distância se encontra do caminho
idealizado e quais as razões que isso justificam. Tal procedimento, ao permitir a
identificação dos factores de sucesso e insucesso, abre pistas valiosas para a correcção
de trajectórias.
No Futebol, a eficácia deste processo não deve confinar-se, portanto, ao controlo das
dimensões física e biológica do atleta, justificando-se a colecta de elementos mais
abrangentes e estruturantes que permitam perceber as regularidades e oscilações do
comportamento dos jogadores. A adopção de uma “monitorização ecológica” do atleta e
da equipa enquadra-se no denominado controlo pedagógico e permite cultivar um
entendimento holístico do treino e das relações entre os fenómenos que concorrem para
a maximização dos seus efeitos na competição.

123
Veja-se que, por vezes, o recurso às tecnologias cada vez mais sofisticadas e complexas,
nem sempre é sinal de progresso e cientificação, dado que, não raramente, as mesmas
funcionam como material de camuflagem de insuficiências pedagógicas e organizativas.
Acresce que a “forma” de treinar é tão importante quanto o próprio conteúdo, dado que
as incompetências comunicativas e motivacionais do treinador podem anular os
objectivos e desmobilizar os jogadores, distanciando-os do percurso idealizado. Como o
treino e o jogo não são equações, mas eventos com história, feitos com gente, a gestão
criteriosa de recursos para se alcançar um ou vários alvos, depende da capacidade para
resolver conflitos. Neste caso, impõe-se uma escolha, de entre várias alternativas de
intervenção possíveis, o que significa que entra em jogo a denominada competência
estratégica, nomeadamente no que concerne aos aspectos da comunicação.
Baquer (in Pérez Gonzalez, 2001) refere que o objectivo da estratégia (ciência da
distância) é dizer um fazer, ao contrário da táctica (ciência do contacto) cujo objectivo é
um fazer mesmo. Como sustenta Rei (2002), a comunicação estratégica não se esgota na
sua execução: o comunicador deve monitorizar a acção comunicativa e submetê-la a
avaliação, medir os resultados reais, confrontá-los com os objectivos, identificar os
desvios e erros cometidos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O enfraquecimento da percepção global dos problemas que afectam o Futebol conduz à
fragilização do sentido de responsabilidade de todos e de cada um. Acreditamos que não
é possível ter um bom Futebol, feito com pessoas mal formadas, nem nos parece viável
um Futebol positivo e moderno, pensado e realizado por mentes destorcidas ou caducas.
Como adverte Morin (1999), “vale mais uma cabeça bem feita do que uma cabeça
cheia”.
Porquê o Futebol está cada vez mais definitivo e globalizado? Como poderemos
transformá-lo, sem desvirtuar a sua riqueza? Como evitar que seja um “Futebol a meia
haste”?
Contrariamente ao que se possa pensar, o Futebol necessita ainda de mais adeptos. Mas
de verdadeiros adeptos; não de profanos. O futuro poderá passar por um casamento não-
convencional, entre Futebol, ética e estética. Parece-nos que é na harmonia desta tríade
que reside a chave para resistir à desmercantilização do Futebol, de forma a realçar a
importância que JOGO e TREINO devem ter, enquanto categorias centrais da sua
afirmação.

124
Se o Futebol é arte, então ele é também o culto do relativo, da diferença; e se é, como
pensamos, uma prodigiosa invenção do ser humano, compete-nos ser culturalmente
dignos da sua importância, em prol da celebração do Desporto e da vida.
Por isso, o Futebol carece mais de leituras atentas da realidade e de ideias novas, do que
de elogios e de comemorações exemplarmente estéreis.

Referências

ALEGRE, M. (2002). Jogo falado e jogo jogado. Jornal Expresso (6 de Abril).


BROMBERGER, C. (1998). Football, la bagatelle la plus sérieuse du monde. Paris. Bayard.
BONIFACE, P. (2002). A terra é redonda como uma bola. Geopolítica do Futebol. Mem Martins.
Editorial Inquérito.
BOURDIEU, P. (1998). O que falar quer dizer. Economia das trocas linguísticas. Linda-a-Velha. Difel.
CRUYFF. J. (2002). Me gusta el fútbol. Barcelona. Johan Cruyff Welfare Foundation.
GARGANTA, J. (2002). O percurso do Gabinete de Futebol da FCDEF-UP: entre o conhecimento e a
acção. Actas das I Jornadas Técnicas de Futebol, 76-89. Vila Real. Universidade de Trás-os-Montes e
Alto Douro.
JACKSON, P. & DELEHANTY, H. (2002). Canastas sagradas. Lecciones espirituales de un guerrero
de los tableros. Barcelona. Paidotribo.
MORIN, E. (1999). La tête bien faite. Repenser la reforme, réformer la pensée. Paris. Seuil.
PÉREZ GONZALEZ, R.A. (2001). Estratégias de comunicación. Barcelona. Ariel Comunicación.
REI, J.E. (2002). A comunicação estratégica. V. N. Gaia. DICO, Estratégias Criativas.
RICHARD, J.-F. (1990): Les activités mentales. Comprendre, raisonner, trouver des solutions. Paris.
Armand Colin.
TRONCHET, D. (2004). Petit traité de Footballistique. Paris : Albin Michel. Paris. Armand Colin.

125
Texto 9

GARGANTA, J. (2005). Connaissance et action dans les sports


collectifs. Les savoirs sur le savoir. In Marc Derycke (Ed.),
Culture(s) & Réflexivité (pp. 167-174). Saint-Étienne:
Publications de l´Université de Saint-Étienne, Jean Monet.

126
CONNAISSANCE ET ACTION DANS LES SPORTS COLLECTIFS. LES
SAVOIRS SUR LE SAVOIR

JÚLIO GARGANTA
Université de Porto, Portugal
Faculté de Sciences du Sport et d´ Education Physique

INTRODUCTION

Si tu veux, aie confiance en la patte de lapin.


Mais n’oublie pas qu’elle n’a pas porté
chance au lapin.
R. E. Shay

Dans le contexte du sport, l´acteur sportif utilise son corps, qui est simultanément sujet
et objet de l´action (Panafieu, 1984), pour jouer sur le temps et sur l'espace, dans le sens
de modifier ses actions pour mieux s´adapter à l´environnement (Jalabert, 1998) et
exécuter plus efficacement les tâches spécifiques.
Les sports collectifs (SPORTCO), tels que le Basket-ball, le Volley-ball et le Football,
impliquent des cadres particuliers de pratique sportive, dans la mesure où ils sont
tributaires de règles et de principes de jeu, mais offrent néanmoins la possibilité de créer
de nouveaux scénarios, dans un environnement de coopération et d’opposition.
L´enjeu fondamental des SPORTCO pourrait être ainsi énoncé: dans un rapport
d´opposition avec les adversaires et de coopération avec les coéquipiers, les joueurs
doivent coordonner leurs actions afin de récupérer, conserver et faire progresser le
ballon, en ayant pour but de l’amener dans la surface de réparation puis de marquer
(Gréhaigne, 1992). Il s´agit, d´après Metzler (1987), de résoudre en actes, à plusieurs et
simultanément, des cascades de problèmes non prévus a priori dans leur ordre
d´apparition, leur fréquence et leur complexité.
Le sportif veut améliorer ses performances, ceci bien que le perfectionnement ne passe
pas par la conscience de tous les facteurs. Par quels relais cette réflexivité s’effectue-t-
elle ? Il faut surtout prendre en compte le langage du corps (communication motrice) et
les signes proportionnés par l´environnement. Ainsi, l´entraînement décisionnel
d´explicitation aide les joueurs et l´entraîneur à réfléchir et à mieux comprendre la
logique des situations et permet d´établir un compromis entre l´activité cognitive et le
succès obtenu dans les tâches. Considérant que l´explicitation aide à valider le résultat

127
de la tâche ou à le corriger, l´auto- et l´hétéroscopie jouent un rôle de miroir à travers
lequel les acteurs sont à même de prendre conscience des actions réalisées et de leur
adéquation respective.

CONNAISSANCE ET ACTION EN SPORTCO

Doly (1999) pose que le langage est l´outil privilégié du transfert de compétences
métacognitives, parce qu'il a la fonction simultanée de représentation et de
communication. Toutefois, dans le cadre des SPORTCO, la verbalisation joue un rôle
secondaire. On parle de savoir lire et interpréter le jeu, pour savoir communiquer avec
les partenaires et brouiller les pistes avec les adversaires, et pouvoir ainsi jouer avec
intelligence. Mais il s´agit d´un type de communication non verbale, supportée par un
système spécifique de codes moteurs.
Pour répondre efficacement aux défis du jeu, les joueurs doivent adopter des stratégies
cognitives, lesquelles sont utilisées pour les aider à atteindre un objectif particulier. Sur
base de telles stratégies, on peut vérifier si un objectif a été atteint et comment.
Borkowski et al. (1987) ont démontré que la métacognition est à mettre en rapport avec
l´intelligence. Selon Sterneberg (1986) les métacomposants sont responsables de la
résolution d´une tâche et de la garantie que cette tâche a été correctement accomplie.
L´habileté à mobiliser des ressources cognitives (comme par exemple pour décider
“quand” et “où” une tache doit être accomplie) est essentiel pour l´intelligence.
Mais le thème de l’intelligence est peut-être l’un des plus controversés. Depuis Galton
et Cattel, fin XIXe siècle, en passant par Binet, début du XXe, Piaget et Gardner, dans la
seconde moitié du XXe siècle, les débats entre l’unicité et la pluralité de l’intelligence
ont occupé une place importante dans le calendrier des chercheurs.
Il nous semble aujourd’hui que, malgré les progrès de la connaissance, la controverse
subsiste. Mugny et Crugati (1985) affirment que l’Intelligence avec un grand “I” est une
construction culturelle qui varie suivant le moment historique, les latitudes et les
circonstances sociales. S’il en est ainsi, l’Intelligence doit être perçue comme une
fonction adaptative, conditionnée par un ensemble complexe de contextes et d’objectifs.
L’intelligence et la créativité continuent cependant d’être proposées comme indicateurs
de talent en SPORTCO (Morris, 2000), bien que la façon dont l’intelligence de jeu peut
être mise en relation avec la dite “intelligence académique” (Williams et Reilly, 2000)
ne soit pas bien établie.

128
Quelques-unes des études menées en SPORTCO cherchent à élucider la relation entre la
dénommée “intelligence générale”, aussi connue comme “facteur G”, et l’intelligence
spécifique de jeu.
Par exemple, Costa et al. (2001) ont observé l'intelligence générale et la connaissance
spécifique du jeu sur de jeunes footballeurs (16 ans), selon leur niveau compétitif. Ils
ont utilisé le test d´attention de Toulouse-Piéron, le test des Figures Identiques de
Thurstone et les Matrices Progressives de Raven pour évaluer l´intelligence générale des
joueurs, de même qu’un protocole de connaissance spécifique du jeu, développé par
Mangas (1999). Le groupe de joueurs de niveau compétitif inférieur a obtenu de
meilleurs résultats dans les tests d´intelligence générale. Au contraire, pour la
connaissance spécifique du jeu les résultats étaient significativement supérieurs en
faveur des joueurs du groupe de niveau supérieur.
Les SPORTCO étant une série de séquences basées sur un flux de comportements, il
faut admettre que chaque séquence peut uniquement être jouée dès lors qu'elle cache des
éléments créatifs et inattendus. Cela implique que les joueurs doivent être capables
d'inventer de nouvelles combinaisons pendant les rencontres, et que les phases critiques
se jouent dans les zones d’incertitude. Le jeu a lieu dans et à travers l'interaction des
règles, de la chance et de la contingence d'événements spécifiques, avec les choix
particuliers et les stratégies des joueurs (Garganta et Cunha e Silva, 1996).
Le processus d´enseignement et d´entraînement en SPORTCO cherche à provoquer des
modifications positives observables dans la performance des joueurs et des équipes. Les
éléments d'une équipe opèrent dans une perspective téléologique, dans la mesure où les
activités qui contribuent au succès du processus sont organisées en fonction d´un but qui
peut être atteint à travers des différentes conditions de travail.
Par conséquent, le comportement des joueurs est sujet à une tension permanente entre
connaissance et action, ce qui signifie que les SPORTCO n'impliquent pas seulement
des aptitudes motrices, mais aussi des aptitudes cognitives. C’est pour cette raison qu’ils
sont dénommés «sports de situation».
Cela veut donc dire que la qualité des apprentissages ne peut pas être basée sur la
répétition mécanique de techniques ou de combinaisons tactiques.
La compréhension du jeu et la construction des exercices pour apprendre et pour
entraîner se révèlent donc plus efficaces à mesure que l’on rend disponibles des modèles
explicatifs et interprétatifs des situations. On peut ainsi dire que, dans les SPORTCO, il
n'est pas suffisant d´aller plus loin, ni de sauter plus haut, ni d´être plus fort, comme le

129
suggérait le vieil idéal olympique « Citius, Altius, Fortius ». De plus en plus, il devient
indispensable d'être mieux préparé à percevoir, à observer l'erreur, à capter les signes de
l´environnement, à trouver des solutions.
De cette façon, l´activité cognitive joue un rôle central, parce que le joueur est
conditionné à décider et à élaborer des réponses appropriées en fonction des
configurations du jeu, toujours sous pression au niveau du temps et de l´espace. La
capacité de prendre des décisions appropriées et de les rendre opérationnelles
efficacement est donc une compétence essentielle de la performance, particulièrement
dans la perspective des SPORTCO.
Chaque sujet perçoit les configurations du jeu en fonction de ses acquisitions
antérieures et de l’état présent des choses. Face aux diverses situations, le joueur se
construit un paysage d’observation, soit un ensemble de stimuli organisés selon le
“point de vue” qu’il possède sur le phénomène. Autrement dit, le joueur retient ce qui
lui semble pertinent, interprète les indications dispersées et les organise en leur
conférant un sens propre, ce qui veut dire que le sens du jeu est bel et bien construit et
dépend d’un modèle de référence.
En situations de haut enchaînement stratégique, les capacités se développent à partir de
blocs d’information intégrés, de connaissances tacites que le joueur perçoit comme
autant d ‘ensembles de possibilités. Quand nous disons que les joueurs ont le “sens du
jeu”, la “capacité d’anticipation”, nous nous référons à un ensemble de “dons” qui,
selon Marina (1995), ne sont rien d’autre que des façons efficaces de gérer de grands
blocs d’information.
D’après Temprado (1991), la connaissance qui est à la base de la pensée tactique est
organisée sous la forme de scénarios, c´est à dire de buts à atteindre et d'effets à
produire, en accord avec une série d’indicateurs. Dans ce contexte, la connaissance dont
l'athlète dispose l´autorise à opter prioritairement pour certaines séquences d'actions au
détriment d'autres (Tavares, 1996).

LES SAVOIRS POUR JOUER

Le développement de la capacité à jouer demande un développement des «savoirs». On


peut dire que la construction des connaissances assure l´évolution du système cognitif
en lui permettant de s´enrichir par l´expérience. Les connaissances peuvent se construire
à partir d´informations symboliques véhiculées par des images ou se construire par

130
l´action à partir de la résolution de problèmes. Le premier mode produit principalement
des connaissances déclaratives, le second produit plutôt des connaissances
procédurales.
Ces deux types de connaissances sont des facteurs très importants de la performance
sportive (Chi, 1981; French et Thomas, 1987; McPherson, 1993). Dernièrement, les
athlètes de haut niveau mettent en évidence et expriment une connaissance déclarative
et procédurale à propos des «comment» et «quand» ils doivent exécuter certaines
actions (Starks et Lindley, 1994).
Williams et Davis (1995) rapportent que dans la pratique sportive, la transition de la
connaissance déclarative vers la connaissance procédurale est facilitée à travers
l´entraînement. À son tour, la connaissance procédurale encourage l'acquisition et la
rétention d'une connaissance déclarative spécifique.
Comment les joueurs catégorisent-ils les scénarios de jeu et qu´est-ce qui distingue les
experts des débutants ? Les études de Helsen et Pauwels, (1993) et de Williams et al.
(1993) démontrent que c’est une connaissance plus raffinée et plus élaborée des tâches
spécifiques et la façon dont les joueurs utilisent cette connaissance pendant l´activité
sportive (Williams et. al., 1994) qui font la différence entre les experts et les débutants.
D´après Rink et al. (1996), il est possible d´identifier les trais cognitifs qui caractérisent
l´excellence sportive en SPORTCO:

• connaissance déclarative et procédurale plus organisée et structurée


• reconnaissance plus rapide et plus précise des modèles de jeu
• connaissance supérieure des probabilités situationnelles d´évolution du jeu
• haute capacité de détection des erreurs et de correction de l´exécution

Le passage de la connaissance à l´action n´est pas direct. Pour passer des connaissances
en mémoire aux décisions d´action et à leur organisation temporelle, des inférences sont
nécessaires (Richard, 1990).
Si c'est vrai que l´action a un double aspect: le déroulement et le résultat, on doit aussi
distinguer les actions mettant uniquement en jeu des situations d’exécution de celles qui
requièrent des activités de résolution de problèmes, comme c’est le cas pour les
SPORTCO. Les premières supposent exclusivement des connaissances sur l´action,
stockées sous forme de schèmes d´action en mémoire. Les secondes n’ont lieu que si les
connaissances nécessaires à l´élaboration d´une procédure acceptable existent en

131
mémoire, qu’il s’agisse des connaissances des pré-requis de l´action ou des
connaissances qui permettent de réaliser les inférences nécessaires.

SPORTCO: LES JEUX ANALOGIQUES

Les difficultés que les joueurs rencontrent fréquemment dans les tâches en SPORTCO
découlent néanmoins d´un déficit du répertoire cognitif plus que des limitations
musculaires ou des structures de la coordination motrice.
Les dernières années, la littérature à ce sujet a suggéré de façon insistante qu’au niveau
des processus d’enseignement-apprentissage et d’entraînement des SPORTCO, une
grande attention soit accordée au développement des processus cognitifs, comme
inducteurs d’efficacité du rendement sportif.
Deux théories émergent au centre du débat: (1) la cognitiviste, connotée par la théorie
du schème et du programme moteur générique (Schmidt, 1975); (2) l´écologique,
engagée dans la théorie des systèmes dynamiques (Davids et al., 2001).
La perspective écologique a pointé du doigt la nécessité de mettre en relief le rôle des
propriétés d’engagement personnel, du fait qu’elles constituent un système de
limitations et de possibilités d’action (les affordances de Gibson, 1966), avec des
implications significatives dans le conditionnement des réponses de
l’observateur/acteur. Dans cette perspective, le comportement se justifie plus par les
compétences perceptives de l’individu que par sa capacité d’emmagasiner des solutions-
types en mémoire.
Cette problématique devient encore plus complexe quand on cherche à traiter
simultanément les principales exigences de l’action sportive – « que faire ? » et « quand
et comment ? » - dans la mesure où l’on sait par exemple que la capacité à réaliser une
prouesse technique influence la tendance à la choisir comme option tactique dans une
situation de jeu (French et al., 1996).
Malgré tout, l’information disponible et l’expérience nous conduisent à l’idée que nous
pourrons difficilement concevoir l’existence de l’effet de l’entraînement, ou de transfert,
sans représentations emmagasinées dans les mémoires des exécutants. Sans
mémorisation, il ne semble pas possible de réaliser un apprentissage.
Les travaux du neurobiologiste António Damásio apportent une contribution importante
dans la clarification des relations entre connaissance, mémoire, perception et
apprentissage, notamment en ce qui concerne les images mentales, concept exposé dans

132
quelques-uns de ses livres. Selon cet auteur, la perception nous aide à construire des
modèles qui établissent l’interaction de l’organisme avec le milieu, lesquels sont bâtis
en accord avec les conventions du cerveau. Dans ce sens, Damásio (2002) soutient que
les images qui se créent dans nos esprits ne sont des fac-similés d’aucun autre objet ou
événement spécifique mais sont avant tout des images des interactions de chacun de
nous avec ces « réalités ». De fait, ce qui existe n’est pas une image transférée de l’objet
à la rétine et de la rétine au cerveau, mais un ensemble de correspondances entre les
caractéristiques physiques de l’objet et les moyens de réponse de l’organisme.
Cette compréhension des choses nous amène à l’idée que, en prétendant expliquer le
comportement comme un produit de la relation directe entre la perception et l’action, on
subordonne le rôle des représentations et de la mémoire, et on ignore la pertinence du
raisonnement par analogie, si important pour agir en milieux ouverts, comme c’est le
cas pour les SPORTCO.
On observe que les joueurs sont des êtres essentiellement visioconceptuels. Ils voient les
choses avec les concepts. Selon Richard (1990), notre connaissance des êtres et des
objets se fonde sur les concepts, qui ont une fonction de catégorisation. Les différents
exemplaires d´un concept ne sont pas équivalents: certains sont plus représentatifs de la
catégorie que d´autres. Les exemplaires de la classe qui sont les plus typiques peuvent
servir de prototypes de cette classe. En fait, les prototypes maximisent la ressemblance
intraclasse et minimisent la ressemblance interclasse.
En SPORTCO, on parle de modèles et de conceptions de jeu en tant que références ou
cartes pour orienter les processus d’enseignement et d’entraînement sportif.

EN CONCLUSION: PLUS DE QUESTIONS QUE DE RÉPONSES

Comme on peut le constater dans ce qui vient d’être exposé, la recherche actuelle met
en évidence l'importance des processus cognitifs dans l'action du joueur en SPORTCO.
Parmi les compétences considérées fondamentales, la connaissance spécifique de la
modalité semble prépondérante dans la performance sportive.
Comme Williams et Davids (1995) en défendent l’hypothèse, la connaissance spécifique
du jeu repose sur des pré-requis cognitifs, quoique la maîtrise des pré-requis cognitifs
pour réaliser les actions de jeu n’implique pas automatiquement la maîtrise des
conditions motrices pour les rendre opérationnelles. Autrement dit, savoir quand et
comment mener une action ne signifie pas être capable de le faire en conditions de jeu

133
réel. La capacité d’exécution ne s’épuise pas dans la dimension cognitive, mais elle doit
être rendue possible dans d’autres dimensions, notamment l’énergétique et la
coordinative.
Apprendre veut dire expérimenter des changements positifs et durables (chroniques)
dans les comportements et attitudes, ce qui implique des modifications structurelles qui
se répercutent dans une altération du comportement en tant que résultat de la pratique.
La transformation des comportements opérée dans le cadre de l’enseignement et de
l’entraînement en SPORTCO est surtout à mettre en relation avec un apprentissage
organisationnel, en accord avec les différentes consignes et les différents rôles à
développer. Cela passe par la compréhension de la notion d’organisation collective et
par la perception de la manière dont agit le joueur, non seulement sur le plan individuel
mais surtout comme membre impliqué à divers niveaux d’organisation à l’échelle du
groupe.
Mais le débat sur cette question est loin de recueillir un large consensus auprès des
défenseurs des diverses théories d’apprentissage, depuis le conditionnement opérant de
Skinner et le connexionisme de Thorndike, en passant par le cognitivisme, la
psychologie écologique et la théorie des systèmes dynamiques.
Malgré que les SPORTCO soient des jeux qui suscitent des comportements intelligents,
ils peuvent être pratiqués presque exclusivement aux dépens de la mémoire. Mais dans
ce cas, les joueurs ont des rôles automatiques.
La recherche de l’excellence dans les SPORTCO réclame donc un compromis entre la
contrainte liée aux principes d’organisation et aux règles d’action et la possibilité de
création de nouvelles réponses, c’est-à-dire la possibilité d’inventer progressivement le
jeu à mesure qu’il se déroule.
Pour profiter d’une formation intelligente et autonome, les joueurs et les équipes
doivent apprendre à apprendre le jeu,
Une telle vision des choses nous amène à penser que, dans l’enseignement et
l’entraînement des SPORTCO, le recours à des exercices qui provoquent une
mobilisation importante des capacités de perception et de décision (dans des contextes
variés faits de diverses limitations et possibilités) prend toujours plus de sens. Cette
stratégie d’intervention induit le développement de comportements plus changeants et
permet d’étendre l’éventail des réponses possibles, en rendant aussi les joueurs plus
autonomes.

134
Le renouvellement des pratiques dans les SPORTCO demande l’éclaircissement de
quelques malentendus, comme par exemple:
« Dans la performance, l'erreur est une chose à ignorer ».
« La stratégie appartient à l´entraîneur; la tactique appartient au joueur ».
« L´entraîneur pense; le jouer exécute ».
« On ne peut pas jouer sans bases techniques ».

Au seuil du XXIè siècle, on assiste à l´émergence de nouvelles valences conceptuelles


et méthodologiques, comme la théorie des jeux, les sciences du chaos, la théorie des
organisations et les sciences cognitives, qui offrent la possibilité d’un usage fertile dans
le domaine de la compréhension de la logique d´enseignement et d´entraînement en
Sciences du Sport.
Les contributions de ces disciplines du savoir auront, certainement, des implications
importantes dans la réflexion sur la logique interne des SPORTCO, aussi bien que dans
les configurations de l'enseignement et de l´entraînement.

RÉFÉRENCES BIBLIOGRAPHIQUES

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136
Texto 10
GARGANTA, J. (2005). Dos constrangimentos da acção à
liberdade de (inter)acção, para um Futebol com pés … e cabeça.
In Duarte Araújo (Ed.), O contexto da decisão. A acção táctica
no desporto (pp. 179-190). Lisboa: Visão e Contextos.

137
DOS CONSTRANGIMENTOS DA ACÇÃO À LIBERDADE DE
(INTER)ACÇÃO, PARA UM FUTEBOL COM PÉS... E CABEÇA

JÚLIO GARGANTA

INTRODUÇÃO
Nas partidas de Futebol, as equipas disputam objectivos comuns, lutando para gerir em
proveito próprio, o tempo e o espaço, através da realização de acções de sinal contrário
(ataque versus defesa) alicerçadas em relações de oposição e de cooperação. Cada
equipa comporta-se como um sistema dinâmico que vive da organização, o que quer
dizer que depende do compromisso entre a sua identidade e a sua integridade, detenha
ou não a posse da bola num dado momento do jogo.
Tais cenários, porque se desenvolvem em situações de participação simultânea e espaço
comum, propiciam actividades férteis em acontecimentos cuja frequência, ordem
cronológica e complexidade não podem ser determinadas antecipadamente. Como
consequência, torna-se importante desenvolver competências que transcendam a
execução propriamente dita e valorizem as capacidades relacionadas com as estratégias
cognitivas que guiam a captação de informação e a tomada de decisão. Parece assim
justificar-se que jogo e treino sejam perspectivados como sistemas acontecimentais
dinâmicos, a partir do reconhecimento da importância das interacções dos
jogadores/equipas para agirem eficazmente em situações de elevada instabilidade e
variabilidade.

OS JOGOS DO JOGO DE FUTEBOL


O processo de treino em Futebol visa induzir alterações positivas observáveis na
performance dos jogadores e das equipas, pelo que a exteriorização dos comportamentos
durante o jogo, deve traduzir o resultado das respectivas adaptações. Por outro lado,
sabe-se que a orientação do treino deve ter em conta a informação extraída do jogo,
mormente no que se reporta ao tipo de exigências e à actividade exibida pelos
jogadores, para lhe dar resposta.
No concurso das equipas para um objectivo comum e no seu permanente antagonismo, o
jogo de Futebol apresenta-se como uma sequência de situações-problema de cooperação
e oposição, a qual gera um fluxo de comportamentos de contornos variáveis. Os
colectivos em confronto organizam-se em torno de lógicas particulares, em função de

138
regras, princípios e prescrições, operando em contextos de elevada imprevisibilidade e
aleatoriedade. Tal sugere que na aparência simples de uma partida de Futebol se
esconde um fenómeno que assenta numa lógica complexa. O jogo existe, portanto, na
confluência de uma dimensão mais previsível, induzida pelas leis e princípios do jogo,
com outra menos previsível, materializada a partir da autonomia dos jogadores, que
introduzem a diversidade e singularidade dos acontecimentos.
Como tal, numa partida de Futebol o quadro do jogo é organizado e conhecido, mas o
seu conteúdo é sempre surpreendente. De facto, não é possível prever e estandardizar as
sequências de acções, podendo dizer-se que não existem duas situações absolutamente
idênticas e que as possibilidades de combinação são inúmeras, o que torna inviável
recriá-las no treino. Todavia, parece-nos que para fazerem sentido, as situações devem
ser categorizáveis, isto é, reconvertíveis em categorias ou tipos de situações. Aliás, se
assim não acontecesse, se não houvesse algo que ligasse o jogo a um território de
possíveis previsíveis onde pontificam os designados modelos ou representações, a
preparação dos jogadores e das equipas tornar-se-ia obsoleta (Garganta & Cunha e
Silva, 2000). Deste modo, o mapeamento do jogo e a construção dos exercícios para o
aprender e treinar, passam pela configuração de modelos explicativos e interpretativos,
que disponibilizem a representação dos respectivos conteúdo e lógica, a partir das
dimensões percebidas como essenciais do fenómeno.
Diríamos que o treino de jogadores e, sobretudo, a construção de equipas, reclamam um
conjunto de competências, de entre as quais se salientam as que se encontram
directamente relacionadas com: a) as capacidades de leitura e interpretação do jogo, e
com b) a produção e vivência de situações de exercitação que permitam um elevado
efeito de transferência, associado a c) consideráveis níveis de autonomia e criatividade.
Esta problemática conduz-nos a um conjunto vasto de questões, com claras implicações
no quotidiano da preparação desportiva:
 Em que bases sustentam os treinadores, os respectivos modelos de jogo? Como
os comunicam aos jogadores/equipa e a que metodologias/estratégias recorrem
para fazer com que sejam treinados e assimilados?
 De que modo se processa a transformação de comportamentos e atitudes dos
jogadores/equipa, em função do(s) modelo(s) de jogo(s) e das exigências da
modalidade?
 Como aferir, controlar e corrigir a performance dos jogadores/equipa
relativamente ao mapeamento do jogo, preconizado no(s) modelo(s)?

139
No artigo que motivou este texto, Luís Júlio e Duarte Araújo oferecem-nos pistas para
lidarmos com algumas destas questões. Partindo do pressuposto de que o jogo de
Futebol é um sistema dinâmico que opera segundo distintos padrões de acção e de que
tais padrões evidenciam uma variabilidade interindividual, os autores procuram reflectir
acerca da natureza da acção táctica no jogo e colocam-nos perante um desafio: face às
crescentes exigências que se colocam no jogo e no treino do Futebol, que preocupações
devem sustentar uma prática que garanta maior eficácia?

FUTEBOL É INTERACÇÃO
Considerando que a acção de um jogador desemboca obrigatoriamente na interacção
dos demais elementos em jogo, cada uma das equipas que se defrontam comporta-se
como uma unidade cujas relações entre os seus elementos se sobrepõem às mais-valias
individuais. Porque se trata de uma modalidade situacional, as competências dos
jogadores e das equipas de Futebol reportam-se a grandes categorias de problemas,
atravessando diferentes níveis de organização, em resposta aos sinais do envolvimento.
Por exemplo, o que permite a uma equipa estar equilibrada quando defende tem a ver,
não só com a disposição dos jogadores no terreno, mas sobretudo com as possibilidades
que existem de ligação entre esses jogadores no sentido de encurtarem distâncias entre
si, de diminuírem as distâncias entre linhas (transversais e longitudinais) e, com isso,
criarem e transferirem zonas de pressão junto da bola.
Mais do que centrar a atenção nas acções de jogo, importa então deslocar o olhar para as
interacções dos actores, na sua relação com o envolvimento. É nas articulações do
sistema que este tece a sua identidade e é também nelas, e através delas, que cria
condições para a manter ou alterar, em função das circunstâncias e das respectivas
debilidades e mais valias dos intervenientes.
Advogando uma abordagem predominantemente qualitativa do jogo, os referidos
autores não rejeitam, contudo, a análise quantitativa, referindo que a mesma pode ver
acrescida a sua relevância se estiver associada a metodologias que abordem a dinâmica
inerente à coordenação das acções dos jogadores ao longo do jogo.
Nesta linha de raciocínio, acrescentaríamos que na busca da identificação e
interpretação dos comportamentos críticos do jogo, se destaca a utilidade do registo e
interpretação, não tanto das quantidades per se, mas sobretudo das quantidades da
qualidade. Por isso, temos vindo a chamar à atenção para a relevância do estudo do

140
“enredo” do jogo, i.e., do respectivo fluxo histórico, mais do que do comportamento
pontual e avulso dos seus actores. O enredo, estando mais voltado para o processo do
que para o produto, vive das interacções dos comportamentos, condensadas na dinâmica
auto-organizacional das equipas.
Sem menosprezar o objectivo que guia as equipas quando jogam Futebol – obter golo
(s) e impedir que o adversário o faça – destacamos a importância de se centrar a
atenção, não apenas nas fases terminais das sequências de jogo, mas também, e
principalmente, nos processos que geram determinados efeitos ou produtos.
O Futebol, enquanto disciplina desportiva dependente do factor tempo (time-dependent,
cf. Franks & McGarry, 1996), é interactivo e tende a integrar cadeias de acontecimentos
descontínuos, implicitamente relacionados, não apenas com os acontecimentos
antecedentes, mas também com as probabilidades de ocorrência de acontecimentos
subsequentes, considerada a respectiva aleatoriedade (Garganta, 1997). Neste domínio,
a denominada Análise Sequencial (Anguera, 1999) constitui um instrumento precioso,
dado que permite perceber o que induz ou inibe determinados comportamentos-critério,
considerando a cadeia acontecimental do jogo. Nesta metodologia as probabilidades de
ocorrência dos diferentes comportamentos resultam das avaliações retrospectiva e
prospectiva das sequências de eventos do jogo.
O conceito de sistema exprime o fluxo do jogo, permitindo enquadrar as opções tácticas
dos jogadores e das equipas. Para além disso, valoriza o carácter organizacional e
sequencial do jogo, dado que é a organização que produz a unidade global do sistema,
sendo ela que transforma, produz, relaciona e mantém o sistema, concedendo
características distintas e próprias ao colectivo.

MEMÓRIA, CONHECIMENTO E ACÇÃO


Cada sujeito percebe o jogo, as suas configurações, em função das aquisições anteriores
e do estado presente. Perante o fenómeno jogo, o observador constrói uma paisagem de
observação, entendida como um conjunto de estímulos organizados face ao “ponto de
vista” que ele possui sobre o fenómeno. Ou seja, retém o que se lhe afigura pertinente,
interpreta os dados dispersos e organiza-os conferindo-lhes um sentido próprio, o que
quer dizer que o sentido do jogo é construído e depende de um modelo de referência
(Garganta, 1997).
Em contextos de elevada incidência estratégico-táctica as capacidades desenvolvem-se a
partir de blocos de informação integrados, conhecimentos tácitos que o jogador percebe

141
como conjuntos de possibilidades. Quando dizemos que os jogadores têm "sentido da
jogada", "cheiram o golo", têm "capacidade de antecipação", estamos a referir um
conjunto de “dons” que, como refere Marina (1995), mais não são do que modos
eficazes de lidar com grandes blocos de informação.
Para Temprado (1991) os conhecimentos que estão na base do pensamento táctico estão
organizados sob a forma de cenários, de acordo com um conjunto de indicadores, de
objectivos a alcançar e de efeitos a produzir. Deste modo, os conhecimentos de que um
jogador dispõe permitem-lhe orientar-se, prioritariamente, para certas sequências de
acção, em detrimento de outras. Mas a discussão em torno desta ideia está longe de
gerar consenso, assistindo-se a um debate entre os partidários de um entendimento
cognitivista, conotado com os programas motores e as representações mentais, e os
cultores da Psicologia Ecológica e da Teoria dos Sistemas Dinâmicos, estes mais
comprometidos com as variáveis que governam a percepção e a produção de padrões.
O artigo de Júlio e Araújo inscreve-se nesta segunda perspectiva. Nele, os autores
referem que ao assumir-se que o conhecimento dos jogadores de maior perícia está
sempre disponível na sua memória, se experimenta dificuldade em explicar, por
exemplo, as variações do rendimento desportivo quando os jogadores defrontam
diferentes adversários em distintos enquadramentos competitivos. Acrescentam que
talvez esta seja uma das muitas questões que levam cada vez mais autores a apontar para
a necessidade de se considerar a dinâmica da interacção jogador-envolvimento para
compreender a tomada de decisão no desporto.
De facto, porque actuam num contexto de oposição e cooperação de alta variabilidade
contextual, as equipas de Futebol podem ser consideradas sistemas especializados e
fortemente dominados pelas competências estratégias e heurísticas. Contudo, neste
domínio está por esclarecer a importância da memória e das relações que esta assume
com a aprendizagem e o conhecimento. Estes aspectos são determinantes para a
orientação e direccionamento do processo de treino e para a condução e controlo das
interacções produzidas durante o jogo.

A SUSTENTÁVEL JUSTEZA DO COLECTIVO


Escorados na tese de que as acções desportivas são reguladas por indução perceptiva e
viabilizadas através das denominadas estruturas coordenativas, Júlio e Araújo, referem e
adoptam a estruturação em três categorias preconizada por Karl Newell, para os
constrangimentos que determinam as acções e que interagem para a produção de um

142
padrão de coordenação, a saber: 1) os específicos do jogador; 2) os da tarefa; e 3) os do
envolvimento, para além do jogo propriamente dito.
Diga-se, todavia, que esta tipologia não enfatiza a importância da dimensão essencial do
sistema, isto é, da faceta colectiva enquanto totalidade organizada que procura afirmar a
sua identidade e preservar a respectiva integridade funcional. O jogo de Futebol, porque
decorre da natureza do confronto entre dois sistemas dinâmicos complexos – as equipas
– caracteriza-se pela sucessiva alternância de estados de ordem e desordem, estabilidade
e instabilidade, uniformidade e variedade. Dado que se trata de situações de mudança de
final aberto, o raciocínio eficaz parece estar mais relacionado com a descoberta de
novos significados e o desenvolvimento de novas perspectivas. Sobretudo a partir dos
anos noventa, vários autores têm salientado a necessidade de abrir novas vias de
reflexão e de deixar pistas para a renovação das práticas de ensino e treino do Futebol
(e.g., Gréhaigne, 1992; Garganta, 1997; Mateus, 1997; 2003; Garganta & Gréhaigne,
1999; Garganta & Cunha e Silva, 2000; Araújo, 2003; Davids et al., 2004).
O enfoque do jogo de Futebol, segundo a perspectiva de abordagem dos sistemas
dinâmicos, afigura-se como uma estratégia a privilegiar. Porque se centra no estudo de
múltiplas variáveis interdependentes, parece revelar-se mais consentâneo com a
natureza do fenómeno em causa. Deste modo, oferece a possibilidade de identificar e
regular interacções nas sequências de jogo que se afiguram representativas da dinâmica
das partidas, bem como organizar e sintetizar os conhecimentos para induzir uma
superior eficácia na acção.

DA MANIPULAÇÃO DE CONSTRANGIMENTOS À LIBERDADE DE


(INTER)ACÇÃO
Concordamos com Júlio e Araújo, quando referem que se torna necessário identificar e
manipular os constrangimentos mais relevantes para que as acções e decisões tenham
maior eficácia. Os sistemas complexos e dinâmicos, como as equipas de Futebol, só se
mantêm auto-organizados pela (inter)acção, pela mudança. A sua identidade, ou a sua
invariância, não provém da inalterabilidade dos seus componentes, mas da estabilidade
da sua forma e (auto)organização face aos fluxos acontecimentais que os atravessam.
Através do treino em Futebol procura-se transmitir/assimilar, activamente, uma cultura
de jogo, materializada num conjunto de regras de acção e princípios de gestão em
relação com os diferentes cenários acontecimentais e, sobretudo, com as respectivas
probabilidades de evolução. Do nosso ponto de vista, o processo de treino em Futebol

143
consiste, por um lado, em criar respostas adaptativas a constrangimentos, e, por outro,
em desenvolver condições para que os jogadores e a equipa possam constranger o
adversário.
Pode dizer-se que o comportamento dos jogadores, num jogo, se situa numa tensão
permanente entre conhecimento e acção. Considerando que o confronto desportivo
ocorre em contextos de participação simultânea e de espaço comum, qualquer
comportamento é fortemente condicionado do ponto de vista estratégico-táctico,
portanto com claras implicações no domínio cognitivo.

CONHECER PARA (INTER) AGIR; (INTER) AGIR PARA CONHECER


Nos últimos anos, a literatura tem sugerido insistentemente que ao nível dos processos
de ensino-aprendizagem e treino do Futebol, grande destaque deve ser dado ao
desenvolvimento dos processos cognitivos, enquanto indutores de eficácia do
rendimento desportivo.
Como sugerem Williams e Davids (1995), o conhecimento específico do jogo repousa
em pressupostos cognitivos. Por outro lado, o domínio dos pressupostos cognitivos para
realizar as acções de jogo, não implica automaticamente o domínio das condições
motoras para as operacionalizar. Ou seja, saber quando e como executar não significa
saber executar as acções em jogo, porquanto a capacidade de execução não se esgota na
dimensão cognitiva, mas tem que ser viabilizada por outras dimensões, nomeadamente a
energética e a coordenativa.
Acresce que a perspectiva ecológica tem alertado para a necessidade de se enfatizar o
papel das propriedades do envolvimento, pelo facto destas constituírem um sistema de
constrangimentos e de possibilidades de acção (as affordances de J.J. Gibson, 1966),
com significativas implicações no condicionamento das respostas do observador/actor.
Nesta perspectiva, o comportamento justifica-se mais pelas competências perceptivas do
indivíduo, do que pela sua capacidade de armazenar soluções padronizadas na memória.
Esta problemática torna-se ainda mais complexa quando se procura tratar
simultaneamente as principais exigências da acção desportiva – “o que fazer” e “como e
quando fazer” – na medida em que se sabe, por exemplo, que a capacidade para
executar uma habilidade técnica influencia a tendência para a eleger como opção táctica
na situação de jogo (French et al., 1996).
Contudo, a informação disponível e a experiência conduzem-nos à ideia de que
dificilmente poderemos conceber a existência de efeito de treino, ou de transfer, sem

144
representações armazenadas na memória dos executantes. Os trabalhos do
neurobiologista António Damásio constituem um importante contributo para a
clarificação das relações entre conhecimento, memória, percepção e aprendizagem,
nomeadamente no que se reporta às denominadas imagens mentais, conceito explanado
em alguns dos seus livros, entre os quais O sentimento de si (2002). Segundo este autor,
a percepção ajuda-nos a construir padrões que cartografam a interacção do organismo
com o meio, os quais são edificados de acordo com as convenções do cérebro. Neste
sentido, Damásio sustenta que as imagens que se criam nas nossas mentes não são fac-
similes de nenhum objecto ou evento específico, mas antes imagens das interacções de
cada um de nós com essas “realidades”. O que existe, de facto, não é nenhuma imagem
a ser transferida do objecto para a retina e da retina para o cérebro, mas um conjunto de
correspondências entre as características físicas do objecto e os modos de resposta do
organismo.
Este entendimento conduz-nos à ideia de que, ao pretender explicar-se o comportamento
como produto da relação directa entre percepção e a acção, se subalterniza, o papel das
representações e da memória, e se descura a pertinência do raciocínio por analogia, tão
importante para agir em ambientes abertos de oposição directa e participação
simultânea, como é o caso do jogo de Futebol.
Cabe aqui uma referência especial à relação entre o comportamento criativo e os
denominados automatismos. Sabe-se que estes consistem em hábitos construídos a
partir da repetição de determinadas respostas e que esta forma de funcionamento, cujo
objectivo principal é economizar tempo e energia, só funciona quando o organismo já
experimentou uma exposição a contextos idênticos e os registou na memória. Neste
âmbito, a abordagem dinâmica da acção táctica, pode fornecer referências importantes
para o esclarecimento do modo como se conjugam o vínculo às regras e princípios, e a
possibilidade de se criar novas acções e interacções, isto é, de se criar e inventar novos
cenários no seio do jogo.

O QUE TEM DE NOVO, E DE ÚTIL, A ABORDAGEM DINÂMICA DA ACÇÃO


TÁCTICA NO JOGO DE FUTEBOL?
O jogo de Futebol é uma construção activa, na medida em que o seu desenvolvimento
decorre da afirmação e actualização das escolhas e decisões dos jogadores, realizadas
num ambiente de diversos constrangimentos e possibilidades. Face a uma situação de
jogo, cada jogador privilegia determinadas acções em detrimento de outras,

145
estabelecendo uma hierarquia de relações de exclusão e de preferência, com implicações
no comportamento da equipa enquanto sistema.
Os elementos duma equipa funcionam numa perspectiva teleológica, na medida em que
as actividades que contribuem para o êxito do processo, são organizadas em função dum
fim, que pode ser alcançado a partir de diferentes condições de trabalho. Não obstante,
impõe-se a necessidade de detecção e interpretação de invariantes, bem como de
variações significativas. Estas variações, por induzirem desequilíbrios importantes,
constituem-se como transições de fase ou fases críticas do jogo, cuja importância é
fundamental para a eficácia da dinâmica do jogo, nomeadamente no que se refere às
transições defesa/ataque e ataque/defesa.
Não se trata, todavia, de reduzir o jogo a uma noção abstracta de sistema, mas de
procurar inteligir princípios que orientem o comportamento e definam a organização dos
sistemas implicados. Tal pode ser feito através da identificação de regras de gestão e de
funcionamento dos jogadores e das equipas, e da descrição acontecimental das
regularidades e variações que ocorrem nas acções de jogo. As equipas, enquanto
sistemas complexos, revelam propriedades cujo conhecimento nos permite desenvolver
um processo de treino mais específico, e, portanto, mais ajustado às exigências da
modalidade e às características do(s) modelo(s) de jogo e dos jogadores que o(s)
procuram interpretar.
De tais propriedades sobressaem determinados traços, com claras implicações no
mapeamento do(s) jogo(s) e, portanto, na construção de exercícios para lhe
corresponder. Referimo-nos a três princípios que consideramos vertebradores da
dinâmica organizacional: (1) a não-linearidade, relacionada com o facto da identidade
dos sistemas em jogo não resultar de uma sobreposição de efeitos ou de
comportamentos elementares; (2) a interdependência, isto é, a característica que faz
com que qualquer comportamento de um dos elementos dos sistemas tenha repercussões
no comportamento dos demais; (3) e a emergência, que decorre da criação de
propriedades colectivas qualitativamente diferentes das competências e atribuições de
cada jogador.
Os exemplos que a seguir apresentamos visam ilustrar a manifestação destes princípios
no âmbito específico do Futebol:

146
(1) NÃO-LINEARIDADE
Por vezes paira a ideia de que, no Futebol, para se conseguir eficácia do ponto de
vista ofensivo é aconselhável jogar rápida e directamente a bola para a baliza
adversária, tentando lá chegar o mais depressa possível. Contudo, pode
constatar-se que grande parte das vezes se consegue mais êxito quando se opta
por caminhos que, embora mais longos metricamente, se tornam mais acessíveis
porque não apresentam tantos, nem tão difíceis, constrangimentos. O mais
importante não é, portanto, a distância métrica, mas sim a dificuldade que se
experimenta para vencê-la, até se chegar à baliza adversária.

(2) INTERDEPENDÊNCIA
O tipo de organização defensiva adoptado por uma equipa pode ser determinante
para a forma como esta ataca a baliza adversária e para o resultado final. Dado
que o jogo é continuidade, é fluidez, não parece viável que uma equipa possa
estar muito ligada a atacar, se não estiver também ligada na procura da bola.
Tome-se como exemplo a noção de «encaixe», tão propalada para garantir
eficácia defensiva em Futebol. De acordo com um entendimento sistémico e
dinâmico do jogo, tal estratégia afigura-se negativa, pelo facto de a equipa, ao
«encaixar», estar a submeter-se à vontade do adversário. Em vez de agir, apenas
reage.
Uma das grandes vantagens das equipas eficazes, quando não têm a posse da
bola, é a permanência duma estrutura dinâmica, em equilíbrio, aspecto que
garante a coordenação dos jogadores e o funcionamento em bloco. As
referências defensivas são áreas, superfícies, zonas e não tanto os adversários,
perspectivados pontualmente.
Conseguir uma defesa mais equilibrada, mais eficaz, que permita tirar melhor
partido das mais valias do conjunto, tem a ver com o facto dos jogadores não
estarem centrados em fazer a marcação a pontos físicos, mas com a marcação de
espaços e da bola, partindo do pressuposto de que se valoriza mais uns espaços
do que outros. Marcação é jogador, espaço, bola, tempo e, portanto, leitura da
situação. Mais do que uma marcação física, ela está relacionada com um sentido
que se atribui à situação em função das linhas de força e das probabilidades de
evolução do jogo, considerando a respectiva interdependência, de acordo com os
diferentes momentos.

147
(3) EMERGÊNCIA
A indução de convulsões no fluxo do jogo do oponente, afigura-se fundamental
para se conseguir maior fluidez no próprio jogo e para com isso estar mais perto
de concretizar do que o adversário.
De acordo com os princípios específicos de jogo, quando uma equipa perde a
posse da bola, deve procurar tornar o campo mais pequeno e retirar fluidez ao
jogo, exactamente o contrário daquilo que a equipa adversária pretende, que é
ampliar o espaço de jogo efectivo e de garantir fluidez, continuidade, no sentido
de trocar a bola e criar espaços favoráveis.
Do denominado jogo “escuro” para o jogo “claro” há como que uma alteração
brusca no fluxo da corrente. Quem melhor se adaptar, melhor conseguirá impor
o seu jogo, o que é facilmente verificável em algumas equipas de topo.
Um dos pressupostos para se jogar eficazmente tem muito a ver com a questão
do primeiro tempo defensivo, i.e., logo após a perda da posse da bola. Esse
tempo é fundamental, sabendo-se que não é aconselhável que os jogadores saiam
ao adversário directo individualmente e por ondas. Neste caso, torna-se
conveniente dispor de um ou dois jogadores, que estando mais próximos do local
onde se perdeu a posse da bola, imediatamente sustenham o ataque do adversário
e permitam um reagrupamento dos colegas.
Quer isto dizer que um comportamento aparentemente individual pode induzir as
consequentes coberturas defensivas e o fechamento das linhas de passe mais
importantes, o equilíbrio e a concentração espacial, criando-se uma dinâmica
emergente que sirva os propósitos da organização colectiva.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A grande vantagem das melhores equipas e dos melhores treinadores passa pela
capacidade de gerir o detalhe sem perder de vista o Jogo como sistema dinâmico. Por
vezes, quando se procura atender ao detalhe descura-se os nexos do sistema, o que
origina que na maior parte das vezes o efeito de treino não vá desaguar no “mar” que
pretendemos, ou seja, não tem transfere positivo para os comportamentos e atitudes na
competição.
A experiência tem demonstrado que a qualidade do jogo não pode vingar com base na
aplicação mecânica de combinações tácticas aprendidas e repetidas no treino. Os

148
jogadores devem, sobretudo, confrontar-se com a evolução das configurações do ataque,
da defesa e das transições, considerando os distintos níveis de organização, do 1x0 ao
11x11. Consequentemente, o recurso ao raciocínio baseado na perspectiva dos sistemas
dinâmicos parece constituir o caminho mais ajustado para tratar eficazmente os
problemas postos pela interacção específica das duas equipas.
Ao afinar pelo diapasão da abordagem dinâmica da acção táctica é possível enfatizar a
importância do treino específico, a partir da oposição e da imprevisibilidade, enquanto
factores de evolução. Tal entendimento vem conduzindo a que no treino do Futebol faça
cada vez mais sentido o recurso a exercícios que provoquem uma mobilização
importante das capacidades perceptiva e decisional, em contextos de diversificados
constrangimentos e possibilidades.
Esta estratégia de intervenção induz o desenvolvimento de comportamentos mais
versáteis, permite alargar o espectro de respostas e prepara os jogadores para lidarem
com situações não convencionais. É um tipo de enfoque que, ao privilegiar a oposição e
a gestão da imprevisibilidade como fonte de evolução, reabilita o jogo como elemento
fundamental de aprendizagem e possibilita perspectivar o treino enquanto espaço de
autonomia. Em síntese, permite "devolver o jogo aos jogadores".

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150
Texto 11
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view. In M. Hughes & F. Tavares (Eds.), Proceedings of IV
World Congress of Notational Analysis of Sport (pp. 33-40).
Universidade do Porto: Faculdade de Ciências do Desporto e de
Educação Física.

151
TACTICAL MODELLING IN SOCCER: A CRITICAL VIEW

JÚLIO GARGANTA
Centre for Team Sports Studies
Faculty of Sports Sciences and Physical Education, University of Porto, Portugal

Abstract
Several studies, as well as reports of different experts, confirm the idea that, in the hierarchy of the
structure of Soccer performance, tactical factors assume a major role. Notwithstanding, there is a lack of
comprehensive research into the tactical domain. Performance in Soccer has been widely referenced to the
biomechanical factors and physiological traits of the players, but only a few scientific papers deal explicity
with the approach on the tactical dimension. Tactical modelling consists of identifying and describing the
effectiveness of game events. In Soccer this can be approached from a double level analysis methodology:
(i) the definition of a language code, i.e., a system of relevant indicators, concerning tactical aspects of the
game; (ii) the observation of game sequences and exploitation of data coming from the qualitative and
quantitative analysis of game content. In this paper we emphasize a new view on the problem based on the
central core of the game - its tactical dimension. To do so, our departure point focuses on three major game
variables - time, space and task. The interaction and covariation of those dimensions allow us to identify
regularities and random features of the game, which is important to construct an idea about team
organisation.

Introduction

Team sports are a creation of human intelligence.


Deleplace (1994)

In team sports (TS), model's demand concerning the activity of the players (Menaut, 1983)
and coaches´ intervention (Grosgeorge, 1990), are a central subject that has opened research
roads and positive reflection in layouts of teaching and training (Gréhaigne, 1992).
Several authors tried to configure a logic of team sports (Parlebas, 1976; Deleplace, 1979;
Dugrand, 1989) based on the organisation of game actions (Gréhaigne, 1989; Godik &
Popov, 1993; McGarry & Franks, 1995; Hughes, 1996; Smith, et al., 1996). In this scope,
modelling has been used to provide detection of relationships among match play events,
considering the factors that compete for team's success.

Soccer: a tactical event


It is a commonplace to state that performance in Soccer is a multidimensional phenomenon
because there are several factors that compete for its fulfilment. Traditionally, those factors
are setting into four dimensions: tactical, technical, physical and psychological (Kunze, 1981;
Bangsbo, 1993; Miller, 1995).
Soccer is characterised by a complex of opposition and cooperation relationships. The
activity of the players is developed in contexts whose conditions change permanently, and
that's why Soccer is called a situational sport (Pittera & Riva, 1982; Morino, 1985) of tactical
prevalence (Castelo, 1992; Gréhaigne, 1992; Dufour, 1993; Garganta, 1997).

152
This predominance of tactical features in Soccer results from: (1) the type and relationship of
forces among the teams; (2) the great variability of the context; (3) the characteristics of
technical skills to act in that specific context.
Taking as an example the basic motion of the players in its different forms (standing,
walking, jogging, moderate speed running, sprinting), we can state that the real reasons for its
expression are founded on a tactical purpose. The player stands, or moves to some place, with
greater or smaller intensity, at this or that moment, according to the players' movement,
colleagues and opponents, and the position of the ball, i.e., according to game configurations.
That is to say, although it doesn´t release the supply of physical demands for its
accomplishment, even running also has a tactical aim.
The analysis of indicators as the distance covered during the game, maximum oxygen uptake,
or blood lactate concentration, can acquire a larger pertinence, particularly if we relate them
to tactical requirements of the game, namely the style of play, offensive and defensive game
methods, and the positional and functional status of the players.
In Soccer, team organisation gives coherence to players' behaviour. So, the tactical dimension
is a “territory of sense” of the players' behaviour, namely in the facets related to the
development and application of game conceptions (Gréhaigne, 1992; Castelo, 1994;
Garganta, 1997).
Regarding Soccer as a tactical sport, it seems paradoxical that research and bibliographical
production keep on emphasising physiological and biomechanical traits of the players
(Talaga, 1984; Faina et al., 1988; Reilly, 1990; Bangsbo, 1993), paying little attention to the
tactical configurations that induced them (Garganta, 1997).
In order to understand the effectiveness of match play events, we must identify the problems
of the game and its quality indicators. So, we need to analyse players' and teams´ behaviour
in different phases of the game (defense and attack).
Such an intention implies the choice of theoretical and methodological procedures that allow
us to design the model that guides the observation and interpretation of the game.
However, the materialisation of such an intention is quite difficult because the nature and
diversity of the factors that compete for the success in Soccer shows a structure of great
complexity, due to: i) the extension of the relationships of the players' involvement
(Worthington, 1974): ii) the fact that game actions do not correspond to a predictable
sequence of codes (Garganta, 1994), revealing an indeterministic nature (Dufour, 1993); (iii)
the presence of with extreme sensitivity to the initial conditions, with numerous and varied
components.

Soccer: at the threshold of the unexpected

153
Soccer game is an active construction and its development is brought about by the statement
of choices and players' decisions, accomplished in an atmosphere of several constraints and
possibilities.
Since a player's action leads to the interaction among several actions of the other players,
each team behaves as a system whose interactions are put upon to the individual surplus
value. In this sense, Soccer teams act as specialised systems strongly dominated by strategy
and heuristic competences.
According to Teodorescu (1985), it is not advisable to reduce team sports to any algorithm
model, because team action does not constitute predictable sequences. Gréhaigne (1992)
appeals for a type of heuristic reasoning in Soccer and he reinforces this idea referring that if
the cascade of decisions will be restricted to an algorithm binary choice, an impoverishment
necessarily takes place, bringing about a limitation in game analysis. The Soccer game must
be faced according to its double character, because it is processed starting from: on the one
hand, the stable and conservative level, the balance, the principles, the rules; and, on the other
hand, the creative and innovative feature, the unbalance.
Thus, the development of players' behaviour in a game is generated from the tension among
regularities (Reep & Benjamin, 1968; Latishkevitch & Dudin, 1992; McGarry & Franks,
1996) and the production of novelty (Gréhaigne, 1989).
In game analysis we can use the organisation patterns revealed by a team along several games
to come to conclusions about the effectiveness of players' behaviour in other games. Starting
from an analysis of this type it seems pertinent to design models that formalise team’s
organisation according to a group of variations and regularities that configure match play
events.

Organisation: the core of tactical modelling


If we intend to understand game events we must be able to distinguish their pertinence levels.
Soccer is an organised event and this presupposes an organisation of the teams facing each
other (Hainaut & Benoit, 1979).
The teams operate as systems whose elements are organised in accordance with a particular
logic, according to principles and prescriptions, in a context of opposition and cooperation.
The study of Soccer game organisation, accomplished through the observation of the team
and player´s behaviour, gives us the possibility to identify and to mark game events,
according to their frequent occurrence, or because they induce some unbalances (offensive
and defensive). Therefore they constitute some aspects to retain for teaching and training
Soccer. Thus, we can understand Soccer team organisation starting from: (1) the
identification of some traits expressing preferential ways or forms of action; (2) distinctive
characters showing the variability of behaviours and events.

154
Team actions performed along a Soccer match play tend to assure advantage conditions over
the contender, which means that the confrontation determines, usually, a winner and a loser.
However, when compared with other team sports (e.g. Basketball and Handball), Soccer
shows a supremacy of the defense above the attack (Bauer & Ueberle, 1984; Dufour, 1989).
Therefore, one of the great difficulties in Soccer consists in geting shooting chances (Castelo,
1992; Garganta, 1997). In Soccer, the goals are reached only a few times during the 90
minutes of regular time, because they are fitted into the edge of a great field and there are
twenty-two players involved. Whereas, for instance, in Basketball a great percentage of the
attacks (on average of 80%) are scored, in Soccer teams can score only on average of 1% of
the attacks lead to the goal (Sleziewski, 1987; Dufour, 1993).
Since team efficacy depends on the creation of score chances (Teodorescu, 1977), the need to
make the attack more objective, leading to the creation of a larger number of score
opportunities, has been an obvious preocuppation of all that intend to increase the quality and
spectacularity of Soccer match play (Luhtanen, 1993; Safont-Tria et al., 1996). This fact
explains the reason why most analyses and tactics used in Soccer are related to the offensive
phase of the game (Luhtanen, 1993). The behaviour of variables concerning the offensive
process in Soccer has been explored by several authors (Reep & Benjamin, 1968; Sleziewski,
1987; Hughes et al., 1988; Olsen, 1988; Jinshan et al., 1993; Luhtanen, 1993; Garganta et al.,
1997).
In this domain, analysts have been attempting to collect data about offensive game sequences,
in order to denote the actions that revealed a strong relationship with team´s efficacy and
players' effectiveness.
In a large part of the accomplished works, the authors gather and characterise amounts of data
and describe the behaviour of the variables, restricting their analysis to the situations that lead
to score. However, the description of the offensive process and the evaluation of its
effectiveness based only on the score oportunities, only allow a very restricted understanding
of the game dynamics and of the team performance (Van Meerbeek et al., 1983; Harris &
Reilly, 1988; Garganta et al., 1997).
For researchers and coaches, it seems important to focus not only on the actions that lead to
score, but also on all the ones that allow them to notice the level of players´ and teams´
production, in agreement with the cascade of aims concerning the attack, i.e., according to
Dietrich (1978): to build, to create score oportunities and to score. According to this
perception, the number of times that a team can reach the opponent goal (Van Meerbeek et
al., 1983) constitutes an important indicator concerning the team offensive production in
match play (Godik & Popov, 1993).
Therefore, it seems convenient to consider all the actions that although they do not
immediatly induce a score chance, may disrupt the balance defense/attack, creating risky
situations for the opponent (Riera, 1995). In such an analysis it becomes more important to

155
observe team actions than to dissect the performance of each game player (Gréhaigne, 1989;
Riera, 1995).
Soccer teams, as auto-organized systems, show, in a macroscopic plan, order and form that
are brought about by the interactions that are processed among the players. During the game
each team tries to disturb or to break the state of the opponent's balance, with the intention of
generating disorder in its organisation.
The players try to develop several actions that contribute for two important aspects: (1) the
logical coherence of tactical and technical behaviours, recognised in the team stability and
organisation; (2) the demand for the creation of unbalance or disrupture in the organisation of
the opponent team, with the aim of thwarting the opponent's organisation and balance
(Bacconi & Marella, 1995).
In Soccer, the information about the competitive activity is very important because it
constitutes a basic criterion for players' and teams´ preparation (Godik & Popov, 1993) and
for the organisation of the teaching and training process (Gréhaigne, 1992).
Although many of the events that occur in a Soccer match are random, the interaction that
exists among the teams does not depend exclusively on factors such as luck or bad luck. If it
were like this, preparation and training would not make sense.
Gréhaigne (1992) considers that in the study of soccer game we must, not only think about
the structural dimension, that is the space organisation of team elements, but also about the
functional dimension, that is to say, the course of the actions.
Besides the wins, the teams must have effective ways to recover the ball, to create successful
attacks, create effectively scoring chances ant to complete them by scoring goals with a high
efficiency (Luhtanen et al., 1997). So, although shots to score are a key point of attractive
matches, to the coach and the researcher it may be fruitful to attempt the study of the
antecedents of goal-scoring (Garganta et al., 1997).
The analysis and interpretation of team behavior are fertile starting from the analysis of chain
actions that lead to certain actions outcome (cf. McGarry & Franks, 1996). The game is a
global event make up of several partial related events. In this sense it seems advantageous to
approach game actions in reference to tactical sequences, in order to understand team
organisation.
Tactical sequences must be understood as "functional units" of the game containing the
essencial information about match play features. As such, the main subject of analysis should
not be the player's actions, taken separately, but the game sequences resulting from the
actions that occur during the different phases of the game. The behaviours are significant if
they provoke disrupture on the balance attack/defence of the opponent, or because they
exhibit a certain permanence in the variability.
Thus, the relevance of game analysis indicators should not be sought starting from its
individual expression, but according to its interaction.

156
Based on game sequences, the design and analysis of tactical variables can be made with
reference to the categories and respective indicators. The illustration of this proposal can be
consulted in the study of Garganta (1997) in which team organisation is the main category,
make up starting from the interaction of space, time and task (Figure 1).

Space Time
Categories Space Time /Task ORGANISATION
Task

Indicators · Place of action · Action time · Type and result of game


sequences
· Effective play space · Number and type of
actions · Methods and styles of play
· Paths of players´and
ball circulation · Number of actions · Disrupture actions
variations
· Tempo
· Speed of ball trans-
mission · Effectivness

Figure 1 - Exemple of categories and indicators concerning game analysis in soccer (Garganta, 1997).

Game modelling: what it the future brings?


A model, because it is an interpretation and a synthesis (Walliser, 1977), can be considered as
a mediator between a theoretical and an empirical field (Le Moigne, 1990). Modelling
became efective through a cycle that is developed based on a permanent swing from a field to
another.
Game modelling, understood as the design of systematic knowledge according to particular
characteristics of the team’s performance, has been acquiring great importance, not only to
itemise performance trends but also to priorise problems of the training process. In this
context, the notation and the collection about the most significant match play events, as well
as the treatment of the current data, play a major role.
Some specialists (Hughes & Franks, 1997) have pointed out the strategies with respect to a
larger development in this domain:
• the development of high quality computers and videotechnology;
• the enlargement of data bases to increase knowledge about a specific subject;
• the improvement of mathematical methods for treatment of the data.

From our point of view, although we do not denying the importance of these aspects,, the
actual strategy must focus on an effort to build categories packages that would be able to

157
describe main facts of the game, considering the opposition and cooperation relationships
among the players and teams. Much more than figures, information is intended. Information
elapses from the notation and interpretation of the amount and the quality of game actions. It
is, therefore, necessary to identify the quality of game actions, wich implies to understand the
game beyond the notation system. The analyst must be able to check the relevance and the
descriptive power of the selected categories.
Therefore it seems important that coaches participate on the definition and selection of
categories to observe, trying to understand the main actions of the game.
For coaches and researchers, the holistic analyses that point out team organisation, through
the identification of regularities and random features of game actions, considering offensive
and defensive effectiveness, could be advantageous. In this sense we must search for
representative information about game events. To do that we must suggest some fluctuations
on the analysis level (Figure 2).

Game analysis

Player Team

Score Organisazion

Detached Sequences
Data Analysis
Technical Tactical
actions units

Figure 2 - Evolution of game analysis in Soccer (Garganta, 1997).

From our point of view, such a change implies the construction of notation systems build
starting from categories that take into consideration:
• match organisation, starting from the features of sequencial actions linkage (tactical units),
performed by the teams;
• the characteristics of the sequences that lead to different outcomes;
• the situations in the ones which, whether a score occurs or not, ruptures or disturbances are
verified in the balance attack/defence.

Concluding remarks
We do not dare to doubt the importance of technological development. However, we support
that the technological sophistication of the systems is not enough to observe and understand
the game. Observation becomes useful whenever it corresponds to the progressive refinement

158
and extension of the categories, in the sense of increasing its descriptive and explanatory
potential according to the more representative game actions. Game modelling in soccer is,
before all, the expression of a thought about the game, i.e. an interpretation, among many
others.

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160
Texto 12
12
GARGANTA, J. (2000). O treino da táctica e da estratégia nos
jogos desportivos. In J. Garganta (Ed.), Horizontes e órbitas no
treino dos jogos desportivos (pp. 51-61). Universidade do Porto:
Centro de Estudos dos Jogos Desportivos. Faculdade de Ciências
do Desporto e de Educação Física.

161
O TREINO DA TÁCTICA E DA ESTRATÉGIA NOS JOGOS DESPORTIVOS
Júlio Garganta

1. Em torno dos conceitos de táctica e estratégia


Certamente não suscitaremos qualquer polémica se dissermos que no quadro dos jogos
desportivos (JD), a estratégia e a táctica são dimensões que desempenham um papel
relevante. Todavia, se atendermos ao tratamento que tem sido dado a estes dois
conceitos, no contexto desportivo, facilmente daremos conta duma enorme disparidade
de significados. Este facto, que poderia não ter implicações substantivas se ficasse
confinado ao plano teórico, tem gerado alguns equívocos importantes no plano das
metodologias de ensino e treino dos JD.
Frequentemente, identifica-se estratégia com algo que está adstrito ao que se passa
colateralmente ao jogo propriamente dito, e aos aspectos que dependem, sobretudo, da
intervenção do treinador. Pelo contrário, a táctica é entendida como algo que se refere à
forma como o jogadores e as equipas gerem os momentos do jogo, no seu decurso.
Todavia, esta perspectiva hemiplégica não parece corresponder à realidade, pois nos JD
estratégia e táctica estão intimamente ligadas, concorrendo para o mesmo fim e
fundindo-se na prestação desportiva. A estratégia corresponde a um plano de acção; a
táctica é a aplicação da estratégia às condições específicas do confronto.
A decisão estratégica está relacionada com os fins da mudança; a táctica reporta-se aos
meios a utilizar para tal. Quer isto dizer que a estratégia, longe de se restringir às
situações colaterais ao jogo, e de dizer respeito quase exclusivamente ao treinador, vai
com o jogador para o terreno de jogo, devendo este ser capaz de desenvolver diferentes
estratégias que se inscrevam num quadro estratégico global da equipa (Modelo de jogo).
De acordo com esta perspectiva, convém deixar claro que todos os jogadores agem
tacticamente, mas só os mais capacitados o fazem estrategicamente. Da mesma forma,
os treinadores tendem a agir estrategicamente, mas nem todos conseguem induzir efeitos
positivos na prestação táctica dos jogadores e das equipas que orientam.

2. O treino da táctica e da estratégia


A nossa intervenção será desenvolvida a partir de cinco pontos que, do nosso ponto de
vista, devem orientar os contornos actuais do treino da táctica e da estratégia:
 Necessidade de analisar a estrutura e dinâmica internas de cada jogo desportivo,
no sentido de configurar a sua especificidade e, bem assim, determinar as linhas de
força que permitem modelar o treino e regular a competição.

162
 Relevância, cada vez maior, atribuída à definição de um quadro prévio de
princípios de acção e regras de gestão do jogo (modelo de jogo) que balizem o
direccionamento do treino e permitam regular a competição.
 Crescente importância atribuída à dimensão cognitiva do rendimento desportivo.
 Crescente relevância atribuída ao erro, enquanto ocorrência contrastante em
relação aos comportamentos desejados.
 Preocupação crescente em verificar e controlar a sintonia do discurso do treinador
com o percurso da equipa (no treino e na competição).

2.1. Analisar a estrutura e a dinâmica de cada jogo desportivo: a ponte para a


especificidade
A necessidade de indagar e explicitar a especificidade de cada jogo desportivo, tem
constituído uma intenção quase obsessiva dos estudiosos, nos mais diferentes planos de
análise (técnico, físico e estratégico-táctico).
Dado que os jogos desportivos, pelas suas características, são alvo fácil para tipologias
multitudinárias, raramente os seus autores estão de acordo em relação aos aspectos que
importa salientar no despiste das características que influem na lógica de aprendizagem
e treino dos diferentes jogos.
No contexto dos JD os jogadores e as equipas, face a determinadas formas de oposição e
baseados na coesão colectiva procuram, na maior economia possível de meios e
processos, a partir do efeito surpresa, criar oportunidade para fazerem com que o móbil
do jogo atinja, com êxito, o alvo adversário e evitarem que atinja o seu.
No contexto dos jogos desportivos coexistem três planos (Gréhaigne & Guillon, 1992):
(1) O plano espacial e temporal do qual, na fase ofensiva, decorrem problemas
relacionados com a utilização do móbil do jogo, individual e colectivamente, na
tentativa de ultrapassar obstáculos fixos uniformes (p. ex. Rede no Voleibol) ou
obstáculos móveis não uniformes (p. ex. adversários, nos desportos de invasão); na fase
defensiva – ocorrem problemas relativos à produção de obstáculos, com a finalidade de
dificultar ou parar o movimento do móbil de jogo e dos jogadores adversários. (2) o
plano informacional: do qual decorrem problemas ligados à produção de incerteza para
os adversários e de certeza para os companheiros. (3) o plano organizacional: do qual
decorrem problemas relacionados com a integração do projecto colectivo na acção
individual e vice-versa.

Estes planos, no seu conjunto conformam um conjunto de características que permitem

163
tipificar os diferentes JD e influem, de forma substancial, nas diferentes lógicas de
abordagem. Assim, tais características podem figurar no “bilhete de identidade” de cada
jogo:

 Natureza das habilidades técnicas realizadas com e sem móbil de jogo (abertas
ou fechadas).
 Relação dimensão do terreno/efectivo de jogadores.
 Tipo e colocação do alvo a atacar/defender (vertical; horizontal).
 Natureza da oposição e da cooperação (invasão; não invasão).
 Natureza de evolução dos eventos de jogo (dependente do factor tempo ou
resultado).

Trata-se, de facto, de avaliar e descrever o tipo de interferência contextual (IC) a que


cada jogo se encontra sujeito (alto ou baixo nível IC; random order ou block order).
Dado que estamos a falar de modalidades de elevada incidência estratégico-táctica, este
passo revela-se indispensável para que se torne possível edificar um processo lógico e
intencional de treino.

2.2. Da modelação do jogo à modelação do treino e vice-versa


Nos jogos desportivos o quadro do jogo é organizado e conhecido mas o seu conteúdo é
sempre imprevisível e aleatório. Pode dizer-se que, num jogo ou no conjunto de vários
jogos, não ocorrem duas situações iguais e que as possibilidades de combinação são
inúmeras, o que torna impossível antecipá-las no treino.
Todavia, se não houvesse algo que ligasse o jogo a um território de possíveis
previsíveis, no qual pontificam os designados modelos, a preparação dos jogadores e das
equipas deixaria de ter sentido (Garganta, 1997).
Quer isto dizer que, não obstante o peso do factor áleas, as acções de jogo são
“categorizáveis”, isto é, reconvertíveis em categorias ou tipos de ocorrências, que
constituem unidades de acção.
Assim, os designados modelos de jogo, entendidos como conjuntos de ideias e
princípios sobre o modo de jogar das equipas, funcionam como referenciais importantes
na construção do processo de treino da táctica e da estratégia (Garganta, 1997).
Nos JD, a procura de modelos que funcionem, quer como reguladores da actividade dos
jogadores (Menaut, 1982), quer como referenciais importantes na intervenção dos
treinadores, é uma questão central que tem aberto vias de investigação e de reflexão
profícuas nos planos do ensino, treino e competição (Gréhaigne, 1992).

164
A compreensão do desenvolvimento do jogo e do treino passa, invariavelmente, pela
identificação de comportamentos que testemunham a eficiência e eficácia dos jogadores
e das equipas (Garganta, 1997). Neste contexto, a modelação do jogo permite fazer
emergir problemas, determinar os objectivos de aprendizagem e de treino e constatar os
progressos dos praticantes, em relação aos modelos de referência (Gréhaigne, 1989).
Na abordagem do jogo podemos recorrer ao que em ciências empresariais se designa
por auto-semelhança (Stacey, 1995), isto é, utilizar os padrões de organização das
equipas ao longo de um ou vários jogos para tirar conclusões sobre comportamentos de
jogadores e equipas noutros jogos.
Segundo Stacey (1995), o raciocínio por analogia é o modo preferencial de raciocinar
em condições de mudança de final aberto. O raciocínio eficaz está sobretudo
relacionado com a descoberta das acções mais representativas da actividade do sistema
(Stacey, 1995).
Por isso, no treino da estratégia e da táctica um dos grandes desafios do treinador passa
por construir situações de elevada analogia com aquilo que pretende que os jogadores
sejam capazes de interpretar, global, sectorial e individualmente.
Contudo, a preocupação de criar analogias deve decorrer da análise conjugada do que se
pretende (modelo) e daquilo que a equipa realiza, considerando os comportamentos de
sinal positivo e negativo.
Deste modo, a definição do conteúdo, exigências e características específicas da
competição, porquanto contribui para perfilar a especificidade da disciplina desportiva a
que respeita, orienta o refinamento do processo de treino no sentido de potenciar o
desenvolvimento do comportamento agonístico dos atletas lançando-o na direcção
pretendida.

2.3. Relevância dos factores cognitivos


Mediadas pelo treino e pelo jogo as acções dos jogadores organizam-se em hábitos que
são sistemas de produção de conhecimentos (Marina, 1995). Dado que raciocinamos
sobre imagens, a modelação é útil na medida em que permite aumentar a eficácia da
acção (Damásio, 1994).
Cada sujeito-observador percebe o jogo, as suas configurações, em função das
aquisições anteriores e do estado presente. Podemos mesmo dizer que perante o
fenómeno jogo, o observador constrói uma paisagem de observação, ou seja, retém o
que se lhe afigura pertinente, interpreta os dados dispersos e organiza-os conferindo-lhes

165
um sentido próprio, o que quer dizer que o sentido do jogo é construído e depende de
um modelo de referência.
Nos jogos desportivos importa desenvolver, nos praticantes, competências que
transcendam a execução propriamente dita e se centrem na assimilação de regras de
acção e princípios de gestão do jogo, tendo em vista a comunicação entre os jogadores
da mesma equipa e a contra-comunicação entre os jogadores de equipas adversárias.
Para compreender o jogo, o sujeito deve ser capaz de, para além da esfera da percepção,
organizar os seus comportamentos, a sua acção, em função de um projecto (Menaut,
1974). A capacidade de leitura do jogo e de execução das habilidades técnicas depende
do entendimento que se tem do jogo, não se tratando, portanto, de um problema
sensorial ou meramente técnico, mas de uma questão que é, antes de tudo, conceptual.
Quer isto dizer que os problemas se colocam, em larga medida, ao nível da organização
da informação e, sobretudo, da capacidade para discriminar o significado dessa
informação.
O comportamento dos jogadores num jogo situa-se numa tensão permanente entre
conhecimento e acção. Deste modo, a actividade do jogador não se restringe a
comportamentos, entendidos na acepção conductivista do termo. Por isso, a dimensão
cognitiva é cada vez mais apontada como marcador da diferença entre os atletas nos JD,
considerando o seu nível de prestação.

De acordo com Rink et al. (1996), a investigação permite identificar um conjunto de


traços cognitivos e motores que caracterizam a excelência nos jogos desportivos.
Constata-se que os atletas de elite se caracterizam por possuírem, ao nível cognitivo:
 conhecimento declarativo e processual mais organizado e estruturado
 processo de captação da informação mais eficiente
 processo decisional mais rápido e preciso
 mais rápido e preciso reconhecimento dos padrões de jogo
 superior conhecimento táctico
 maior capacidade de antecipação dos eventos do jogo
 superior conhecimento das probabilidades situacionais

2.4. Fazer do erro um aliado


Nos JD, o jogo não oferece automaticamente as soluções aos jogadores. Eles podem
jogar ignorando as desmarcações, o contra-ataque e a recuperação defensiva, mas,
inversamente, podem procurar explorar de forma optimal os campos de intervenção
propiciados pelo jogo (Garganta & Oliveira, 1995).
Através da observação dos comportamentos motores dos praticantes é possível e

166
desejável perceber a maior ou menor adequação e correcção das tarefas.
Todavia, importa salientar que nos JD, particularmente nos JD colectivos, a detecção e
correcção dos erros, no âmbito do treino estratégico-táctico, deve centrar-se
essencialmente nos skills colectivos e grupais. Tal não significa que releguemos para um
plano secundário a correcção no plano individual, mas tão só que mesmo essa deve
acontecer em referência às necessidades do jogo e às exigências da pessoa colectiva que
é a equipa.
De acordo com este entendimento, o treino deve orientar-se para o desenvolvimento de
um pensamento táctico. Os conhecimentos que estão na base do pensamento táctico
estão organizados sob a forma de cenários, i.e., de acordo com um conjunto de
indicadores, de objectivos a alcançar e de efeitos a produzir (Temprado, 1991).
As capacidades desenvolvem-se a partir de blocos de informação integrados,
conhecimentos tácitos que o jogador percebe como conjuntos de possibilidades. Por isso
se diz que os jogadores têm "sentido da jogada", "cheiram o golo", têm "capacidade de
antecipação", ou seja, um conjunto de dons que mais não são do que modos eficazes de
manejar grandes blocos de informação (Marina, 1995).
Quer isto dizer que os JD envolvem não apenas skills motores, mas também skills
perceptivos e cognitivos (Anderson, 1990; Glencross, 1992), o que faz com que estas
modalidades sejam consideradas desportos situacionais.
No plano da execução motora, segundo Rink et al. (1996), os jogadores de excelência
caracterizam-se por apresentarem:
 elevada taxa de sucesso na execução das tarefas durante o jogo
 maior consistência e adaptabilidade nos padrões de movimento
 movimentos automatizados, executados com superior economia
 superior capacidade de detecção dos erros e de correcção da execução

Ora é precisamente este último ponto que nos merece uma atenção especial: detecção
dos erros e correcção da execução.
No treino estratégico-táctico, o treinador deve estar capacitado para identificar os erros,
bem como os mecanismos (perceptivos, decisionais, cognitivos, motores) que estão na
base da sua ocorrência durante a prática, fazendo deste um potente aliado para perseguir
os objectivos pretendidos.
Contudo, os erros, para serem considerados como tal, devem ser observados à luz de um
conjunto de princípios e ideias que, no seu conjunto, poderão constituir uma espécie de
teoria da acção, se nos centrarmos especialmente sobre a forma como são detectados e

167
corrigidos nos diferentes jogos desportivos.
Este problema revela-se com maior acuidade no treino de principiantes, aliás assim
designados pelo facto destes cometerem mais erros do que os jogadores mais
experimentados. Todavia, no caso de praticantes confirmados subsiste a necessidade
apontada, dado que os mesmos cometem os chamados erros ocasionais, que apesar de
apresentarem menor frequência de ocorrência do que os erros dos principiantes e
diferente tipologia, são muitas vezes decisivos para o desenvolvimento dos eventos do
jogo de qualidade superior.
O que tem acontecido é que o erro tem sido entendido como elemento a banir, no ensino
e no treino, quando as novas perspectivas propõem que o mesmo seja considerado parte
integrante destes processos e um precioso aliado, enquanto indicador importante na
detecção de factores perturbadores da execução individual e colectiva.

2.5. Do discurso do treinador ao percurso da equipa


Aos JD estão adstritas propriedades materiais, susceptíveis de mensuração e
quantificação e propriedades simbólicas que constituem propriedades materiais
percebidas e apreciadas nas suas relações mútuas. Diz Marina (1995) que treinar é
modelar através de um projecto. Ora, se assim é, para o treino ser treino, e não apenas
exercitação, impõe-se uma carta de intenções, um caderno de compromissos que
funcione como representação dos aspectos que, no seu conjunto e, sobretudo, nas suas
relações, conferem sentido ao processo, fazendo-o rumar na direcção pretendida.
Actualmente é crescente a preocupação de realizar um controlo acurado, e cada vez
mais cientificado, sobre a relação entre o discurso e a prática dos treinadores e a
trajectória desportiva das respectivas equipas, na tentativa de perceber a maior ou menor
congruência entre estas duas realidades. A partir deste tipo de preocupação, procura-se
perceber que tipos de factores influem na eficácia dos processos de treino e competição,
numa perspectiva de comunicação entre o treinador e os atletas.

3. Tendências no treino da táctica e da estratégia nos JD


Nos JD é importante que o jogador evidencie inteligência estratégico-táctica, i.e., seja
capaz de detectar, em pleno jogo, as evoluções nascentes na complexidade das relações
de oposição, e deduzir as escolhas sucessivamente mais apropriadas às situações que se
materializam, instante a instante, sobre o terreno (Deleplace, 1994).
Nesta linha, assiste-se a uma evolução expressa no recurso aos designados modelos de

168
decisão, reconhecendo-se ao jogador capacidade para intervir sobre a informação que
ele próprio processa (Ripoll, 1987; Tavares, 1993).
No limiar do século XXI, assistimos ao emergir de novas valências conceptuais e
metodológicas decorrentes de áreas como a teoria dos jogos, as ciências do caos, a teoria
das organizações, as ciências da cognição e a teoria da acção, que oferecem a
possibilidade duma utilização ampla e fecunda, apresentando-se como importantes
contributos para a construção do conhecimento no domínio dos JD.

Do nosso ponto de vista a evolução do treino da táctica e da estratégia nos JD deverá


passar por:

AO NÍVEL DA CONCEPÇÃO
 Aumento da importância atribuída aos designados modelos de jogo, enquanto
mapas para o treino específico das equipas.
 Treino da táctica individual e de grupo dirigido para o apuro de skills colectivos
(defensivos e ofensivos).
 Unidade percepção-acção; estratégia-táctica.
 Maior autonomia do jogador, enquanto processador de informação (maior
autonomia igual a maior responsabilidade).
 Maior espaço para o desenvolvimento da criatividade alicerçada na cultura de
regras de acção e princípios de gestão do jogo (não há criatividade no vazio).
 Noção de que a criatividade individual só interessa se servir o projecto colectivo
(há boa e má criatividade).

AO NÍVEL DAS METODOLOGIAS


 Treino das habilidades cognitivas orientado para a resolução de tarefas
colectivas.
 Treino dos skills relativos aos fragmentos constantes do jogo, e.g., penalti (treino
de situações para os concretizar e para os induzir).
 Crescente importância atribuída ao treino perceptivo (nomeadamente visual) e
ao treino decisional.
 Intenção de impregnar nos jogadores/equipas traços comportamentais que
induzam a forma de jogar pretendida (modelo de jogo).
 Construção de uma tipologia de exercícios a partir dos problemas revelados pela
equipa, considerando a necessidade de desempenho efectivo dos princípios
preconizados no modelo de jogo do treinador.
 Construção de exercícios com recurso a blocos temáticos, considerando
situações de interferência contextual específica.
 Controlo estratégico-táctico do treino, realizado a partir da observação e análise
do jogo e do treino da presença ou ausência desses traços.

169
A partir do que foi dito, afigura-se fundamental que a prescrição dos exercícios para o
treino da táctica e da estratégia nos JD, se faça recorrendo, sistemática e criteriosamente,
à análise do jogo e do treino. Por isso esta valência se tem revelado um potente meio de
controlo e de regulação das acções dos jogadores e das equipas no treino e na
competição.

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