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Kultur Dokumente
1ª Edição
2016
Florianópolis/SC
Bookess Editora
Bookess Editora
Florianópolis – Brasil
Rua Lauro Linhares, 1281.
88036-003 – Trindade, Florianópolis – SC
Contato
Angela Fagna Gomes de Souza
Curso de Geografia Licenciatura
Universidade Federal de Alagoas
angelafagna@hotmail.com
SOUZA, Angela Fagna Gomes de; GOMES, Rosenae Cristina Santos. (Org.).
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território, territorialidades,
sociedade e natureza no Brasil e na América Latina. Florianópolis: Bookess Editora, 2016.
390 p.
ISBN: 9788544803066
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ....................................................................................................... 18
Luciane Cristina Ribeiro dos Santos; Carlos Alberto Cioce Sampaio ....................... 94
César Augusto França Ribeiro; Heberty Ruan da Conceição Silva ........................ 147
Rodrigo Herles dos Santos; Angela Fagna Gomes de Souza ................................... 255
Eliéte Furtado Cecílio e Silva; Maria Augusta Mundim Vargas ............................. 366
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
APRESENTAÇÃO
Quando se relaciona Geografia, Turismo e Cultura, três questões se colocam: a primeira
refere-se à produção dos espaços turísticos no que se refere às dinâmicas econômicas,
sociais e culturais; a segunda refere-se ao território vivido das populações locais e sua
apropriação para o turismo; e em terceiro lugar vem a questão da natureza apropriada
pela atividade turística e tomada como uma exclusividade.
Neste sentido, este e-book tem como objetivo agregar as experiências socializadas
durante o Simpósio 64 - Geografia, Turismo e Cultura: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina como parte da
programação do IV Congreso Internacional del Conocimiento. Ciencias, Tecnologías y
Culturas, realizado de 09 a 12 de outubro de 2015 na Universidad de Santiago de Chile,
cujo tema foi ―Diálogo entre las disciplinas del conocimiento. Mirando al futuro de
América Latina y el Caribe‖.
Buscamos uma integração das reflexões sobre as questões que perpassam as seguintes
temáticas: Patrimônio Cultural, Turismo de Base Comunitária, Sociodiversidade,
Comunidades Tradicionais, Paisagem, Território, Identidade, Cultura, Sustentabilidade,
Movimentos Sociais.
Nesta perspectiva, o leitor encontrará conecções que nos faz refletir sobre os
paradigmas da atualidade, bem como, proposições e caminhos teóricos-metodológicos
relevantes a comunidade acadêmica.
Esperamos que esta contribuição fortaleça ainda mais os debates e discussões que
integram a Geografia, o Turismo e a Cultura, além de aproximar pesquisadores e
instituições do Brasil e da América Latina.
Simonne Teixeira
Professora da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro
E-mail: simonnetex@gmail.com
RESUMO: A discussão sobre patrimônio cultural adquiriu, nos últimos anos, novos
olhares sob a ótica de sua valorização e priorização de políticas públicas voltadas para
sua salvaguarda. Neste trabalho pretende-se analisar algumas das políticas culturais
vinculadas ao Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (INEPAC), no Rio de Janeiro, e
seus processos de tombamento, com o enfoque de análise nos patrimônios naturais da
Mesorregião do Norte Fluminense. Para isto, serão realizadas consultas a fontes
bibliográficas, eletrônicas e documentais, analisando alguns autores que embasam a
proposta do estudo, bem como os processos de tombamento realizados pelo órgão
estadual de preservação referentes ao Litoral Fluminense e à Serra do Mar/Mata
Atlântica e a relação desse patrimônio natural com o turismo na região delimitada,
como forma de incremento às medidas de preservação. Observa-se que há poucos
estudos sobre as políticas culturais relacionadas aos órgãos estaduais, e menos ainda
aqueles relacionados ao patrimônio natural, valorizando-se, prioritariamente, os
elementos estéticos e artísticos de um legado cultural. Com este trabalho, pretende-se
ampliar o conhecimento sobre as políticas culturais referentes ao órgão de preservação
do estado do Rio de Janeiro e suas motivações para o tombamento do patrimônio natural
na região do Norte Fluminense.
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de que modo ocurre la apropiación de este património natural por el turismo. La
investigación se base en el análisis de fuentes bibliográficas, electrónicas y
documentales con los procesos de registro sobre el litoral fluminense y la Serra do
Mar/Mata Atlântica. Con este trabajo, pretendemos ampliar el conocimiento sobre las
políticas culturales referentes al INEPAC y sus motivaciones para el desarrollo de
políticas de protección para el património natural del Norte Fluminense.
INTRODUÇÃO
A
valorização do patrimônio, em seus aspectos históricos, naturais ou
culturais, vem adquirindo relevância nos últimos anos em diversos países do
ocidente. A intensificação das ações, voltadas para a valorização do
patrimônio cultural como um todo, podem ser atribuídas, em parte, à superação da
perspectiva cartesiana, que refutou as relações entre homem e natureza, tornando-a
objetificada, assumindo nos dias de hoje uma visão mais holística e integrada. Assim, o
patrimônio visto em suas múltiplas formas adquire novos olhares, seja pelo aspecto
subjetivo do homem, na sua imaterialidade, sejam nas relações de sua produção com o
seu meio.
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http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Recomendacao%20de%20Paris%201962.pdf
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GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
A partir desse novo viés de preservação é que surgem os órgãos estaduais, como o
Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (INEPAC), no estado do Rio de Janeiro 2, o
Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico
(CONDEPHAAT), no estado de São Paulo, e outros em diferentes estados como, por
exemplo, Bahia, Ceará e Paraíba, que fazem uso como instrumento legal para a
conservação desses bens, a exemplo do órgão nacional, o tombamento. Estes órgãos são
criados sob a forte influência destes documentos internacionais onde a linha divisória
entre natureza e cultura já se apresenta mais tênue.
2
Primeiramente vinculado ao estado da Guanabara, foi criado a Divisão do Patrimônio Histórico e
Artístico (DPHA), em 1965. Com a fusão do estado da Guanabara com o do Rio de Janeiro em 1975, o
órgão passou a ser Instituto Estadual do Patrimônio Cultural, como é chamado até os dias de hoje.
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PATRIMÔNIO: ABORDAGEM CONCEITUAL E POLÍTICAS DE
PRESERVAÇÃO NO BRASIL
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GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
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idealização e reforça a assertiva de um país de avanços e retrocessos ao longo dos anos
no cenário político.
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GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
O INEPAC, a partir de então, desloca sua atenção, antes concentrada na cidade do Rio
de Janeiro e na necessidade de estabelecer os novos parâmetros na constituição do
patrimônio cultural do estado. Seu olhar volta-se, sobretudo, para o interior,
reconhecendo que a cidade do Rio de janeiro já se encontra plenamente assistida pelos
órgãos municipal e federal.
Seguindo esta inspiração, as práticas deste novo Instituto se revelam, como já foi dito,
não apenas no diferencial dos bens tombados, mas principalmente nas propostas de
tombamento de grandes áreas naturais, como são os relativos às Dunas 3 (processo E-
07/201.717/1984), Litoral Fluminense 4 (processo E-18/300.459/1985) e Serra do
Mar/Mata Atlântica5 (processo E-18/000.172/1991). A consolidação destas ações se dão
3 As formações de dunas se estendem pela orla oceânica desde a praia do Forte em Cabo Frio até a praia
do Pontal, junto do morro do Forno, em Arraial do Cabo.
Fonte: http://www.inepac.rj.gov.br/index.php/bens_tombados/detalhar/54.
4
Refere-se aos trechos Paraty (1), Canto sul da praia de Itaipu (2), Foz do Paraíba do Sul (3 e 4). Com
relação a este último correspondem aos trechos de divisa dos município de São Joao da Barra (3) e São
Francisco de Itabapoana (4). Fonte:
http://www.inepac.rj.gov.br/index.php/bens_tombados/realizabusca?municipios=&BemCultural=litoral+f
luminense&PalavraChave=.
5
A área tombada se estende por 36 municípios fluminenses, sendo que 04 deles estão situados na
mesorregião do Norte Fluminense: Campos dos Goytacazes, São Fidelis, Conceição de Macabu e Macaé
Fonte:
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já na década de 80, período em que Darcy Ribeiro acumulava os cargos de vice-
governador e Secretário de Ciência e Cultura do estado do Rio de Janeiro. Para ele,
além do orgulho de desenvolver no estado um conceito de cultura onde a política
cultural não deve ser mais do que um estímulo generoso para a criatividade popular e
erudita, o gozo mais importante advém da promoção no estado do ―tombamento de cem
quilômetros de praias ou de encostas, do Estado do Rio, tão-só porque são belas‖
(RIBEIRO, 1984: 3).
Estes tombamentos realizados pelo INEPAC, visam à interação entre o órgão de cultura
e a Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente/FEEMA (CAMPOFIORITO,
1984: 08), expressando uma visão mais orgânica na articulação de ações
governamentais.
http://www.inepac.rj.gov.br/index.php/bens_tombados/realizabusca?municipios=&BemCultural=serra+d
o+mar&PalavraChave=.
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GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Em âmbito internacional, a relação entre cultura e natureza ganha uma perspectiva mais
holística, a partir da década de 50, quando a UNESCO estimula a realização de diversos
eventos para discussão sobre o tema. Dentre eles, pode-se citar, a Conferência de
Washington, a criação da Fundação do Patrimônio Mundial e da União Internacional
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para a Conservação da Natureza e de seus Recursos e a Conferência das Nações Unidas
sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, em 1972.
Nessa mesma década, em sua décima sétima edição, ocorre também a Convenção sobre
a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, em Paris, que apregoa novas
preocupações sobre a proteção desses patrimônios e elenca diversas ações que devem
ser realizadas pelos Estados. Esta convenção consistia em uma continuidade das
proposições e ensejos do último evento na Suécia. As considerações para a realização
desta Convenção pautavam-se nas assertivas de que o patrimônio como legado seja
natural ou cultural, se degradado ou em risco de desaparecer, ocasionará o
empobrecimento do patrimônio dos povos.
Essa Convenção (1972, p.2) define algumas características sobre o patrimônio natural e
cultural, e no seu artigo 1º reforça que o elemento cultural é subdivido em monumentos,
conjuntos e lugares notáveis, sendo este constituído por "obras do homem ou obras
conjugadas do homem e da natureza, bem como as zonas, inclusive os lugares
arqueológicos, que tenham valor universal excepcional do ponto de vista histórico,
estético, etnológico ou antropológico".
Interessante ressaltar que nesta última categoria do patrimônio natural, além do ponto de
vista estético e científico, insere-se também o caráter mais subjetivo verificado pela
expressão "beleza natural", e que, segundo Ortega Cantero (2008), não devemos
negligenciar o aspecto subjetivo na construção do paisagismo moderno, que se move em
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territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Por fim, a Convenção sobre a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural ainda
incentiva que os Estados difundam os ideais de preservação do patrimônio por meio de
medidas educativas de forma a fortalecer a apreciação, bem como o respeito por esse
legado.
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O TURISMO COMO ALTERNATIVA DE DESENVOLVIMENTO
SOCIOCULTURAL E DE VALORIZAÇÃO DO PATRIMÔNIO
O turismo consiste em uma das atividades econômicas mais promissoras e com grandes
possibilidades de crescimento, transformando-se nas últimas décadas em estratégia de
desenvolvimento para diversos países.
Após a Segunda Guerra Mundial, essa atividade ganhou um novo impulso, pela maior
disponibilidade de tempo livre para o lazer e melhor distribuição de renda da população,
ou seja, mudanças decorrentes da melhoria das condições trabalhistas e dos avanços
tecnológicos que contribuíram para a redução da jornada de trabalho.
Nas últimas décadas diversos municípios vêm investindo no turismo, como alternativa
de desenvolvimento econômico, sendo considerado um gerador de divisas, contribuindo
para a melhoria no nível de emprego e para a distribuição regional de renda a diversas
camadas da população.
Além dos impactos econômicos do turismo, vale ressaltar que esse fenômeno abarca
também outras relações ambientais referentes ao social, cultural e ecológico. Dessa
forma, para se começar a investir nessa atividade, deve-se levar em conta todos esses
fatores, seus impactos no meio ambiente, na cultura e nos modos de vida das
comunidades, na melhoria da qualidade de vida dos moradores, nas relações entre
visitante e morador, dentre outros aspectos.
Pensar em turismo é planejar possíveis resultados em longo prazo, lucro a longo prazo
(no que concerne às empresas), ações contínuas do setor público em viabilizar e
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GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
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O TOMBAMENTO DO PATRIMÔNIO NATURAL REALIZADO PELO
INEPAC E AS ALTERNATIVAS DE PRESERVAÇÃO PELO USO TURÍSTICO
NA MESORREGIÃO DO NORTE FLUMINENSE
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GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Este tombamento de praias, ilhas e pontões do litoral fluminense, buscou ir muito além
da simples preservação da paisagem litorânea, como bem ressalta o texto acima, que
desde uma perspectiva da cultura (tomando os pescadores e suas práticas pesqueiras) se
propôs a entender o ecossistema como um documento essencial à construção da
identidade fluminense. O tombamento realizado nos anos 1980, possuía ainda um
caráter limitador à grande expansão imobiliária que ocorria então em nosso Estado.
6
Disponível em: http://www.inepac.rj.gov.br/index.php/bens_tombados/detalhar/417.
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- salga
- mercado para comercializar
- local para beneficiamento
- oficina de reparo de barcos
Este levantamento que serviu para estabelecer as bases culturais e socioeconômicas dos
pescadores, ainda hoje se constitui em um importante referencial para o conhecimento
das comunidades pesqueiras, e evidencia como os aspectos culturais estavam, ao fim,
por sobre os aspectos estéticos relacionados à paisagem. Além do mais, verifica-se que
o aspecto ambiental (a natureza) não se justifica por si mesma, o importante é o
significado cultural que ela assume nas práticas dos pescadores e de sua reprodução
social.
Embora o conjunto do litoral tombado neste processo diga respeito a uma das mais
importantes áreas de exploração turística nacional e internacional no estado, o local que
nos diz respeito, a Foz do rio Paraíba do Sul, na divisa dos municípios de São João da
Barra e de São Francisco de Itabapoana, onde também se encontra a Ilha da
Convivência, no encontro do rio com o mar, o turismo é mais regional e de menor
impacto. Além da mencionada ilha da Convivência, inclui-se uma outra ilha pertencente
à faixa de tombamento - Ilha da Menina– e os manguezais da região.
Existem alguns roteiros turísticos pelo rio Paraíba do Sul informados no site da
Prefeitura Municipal de São João da Barra. De acordo com o representante da empresa
Pousada Rio Sol, os passeios são realizados todos os dias, se agendados, com saída no
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GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Cais do Imperador com duração aproximada de 40 min. Nesse período, o passeio é feito
às 10h, já que o leito do rio Paraíba do Sul encontra-se assoreado, dificultando a sua
realização. O visitante paga uma taxa de R$ 10,00 e a embarcação tem capacidade para
40 pessoas. O passeio abrange algumas ilhas da região como a do Pessanha e a da
Convivência.
O governo federal, por meio da Secretaria Especial do Meio Ambiente, com o IBAMA
e os Estados do Espírito Santo, Santa Catarina e Rio de Janeiro juntaram-se aos estados
do Paraná e São Paulo para formarem o Consórcio Mata Atlântica, a fim de promover
estudos e projetos de cunho preservacionista do patrimônio natural.
O Estado do Espírito Santo, em 1990, tomba a área de Mata Atlântica pertencente aos
limites do estado, induzindo assim, o tombamento pelo Rio de Janeiro, em 1991, e
formando um "continuum" que abrange o estado do Paraná ao do Espírito Santo.
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O relatório final do processo de tombamento ainda ressalta que a preservação da
cobertura vegetal é de extrema relevância para as interações bióticas, sistemas
hidrológicos e manutenção dos solos no entorno das principais cidades do Rio de
Janeiro.
O tombamento Serra do Mar/Mata Atlântica abrange trinta e seis municípios, sendo que
os estudados neste trabalho compreendem Macaé (Baixadas Litorâneas), São Fidélis
(Noroeste), Campos e Conceição de Macabu (Norte).
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GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
A sucinta descrição dos patrimônios elencados nas áreas de tombamento pelo órgão de
preservação do estado do Rio de Janeiro denotam a relevância do patrimônio natural da
região fluminense e as suas possibilidades de uso turístico de forma sustentável.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A atividade turística, nesse viés de apropriação, surge como alternativa para viabilizar o
contato do visitante com o patrimônio, de forma a promover o conhecimento e, ao
mesmo tempo, incentivar sua preservação, se gerido de forma responsável.
Sendo assim, esta análise propôs algumas reflexões e discussões sobre o patrimônio
natural tombado pelo INEPAC na Mesorregião do Norte Fluminense, bem como
analisar as práticas de preservação às indicações das cartas patrimoniais ao longo das
últimas décadas.
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REFERÊNCIAS
BENI, Mário Carlos. Análise Estrutural do Turismo. 4ª Ed. São Paulo: Editora Senac,
2001.
CAMPOFIORITO, Ítalo. Patrimônio cultural: onde a cultura existe, dar voz a ela.
Revista do Brasil. Rio de Janeiro: Governo do Estado do Rio de Janeiro/Secretaria de
Ciência e Cultura, 1986, p. 6-17.
CHUVA, Márcia. Patrimônio material e memória da nação. Jornal UNESP. Ano XIX.
n. 204, Set. 2005.
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GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
RIBEIRO, Darcy. Política Cultural Rio [editorial]. Revista do Brasil. Rio de Janeiro:
Governo do Estado do Rio de Janeiro/Secretaria de Ciência e Cultura, 1986, p. 2-5.
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LA TEMATIZACIÓN DEL PATRIMONIO CULTURAL DEL CENTRO
HISTÓRICO DE LA CIUDAD DE MÉXICO: UN FACTOR DE ATRACCIÓN
PARA EL TURISMO CULTURAL
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territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
INTRODUCCIÓN
E
l espacio, de acuerdo con Lefebvre (1978), es una construcción social. La
edificación de monumentos, la construcción de inmuebles o la traza urbana,
son morfologías con una presencia tangible en el territorio, son el espacio
mismo, producido por la sociedad y que a su vez, es resultado de las relaciones sociales
y de las actividades que ella desarrolla, por lo tanto la sociedad se materializa en
estructuras o formas espaciales. De este modo, como se pueden producir objetos o
mercancías, también se pueden producir espacios.
De este modo, el patrimonio cultural ha sido revalorado por parte de los gobiernos y las
empresas, y se ha transformado en un recurso proclive a ser capitalizado. Como
respuesta, se han desarrollado proyectos de restauración y rehabilitación de
edificaciones que se enmarcan dentro de alguna categoría patrimonial de la UNESCO.
Asimismo, se han refuncionalizado estos espacios hacia una economía terciarizada, en
la que se han insertado cadenas nacionales y transnacionales orientadas principalmente
a los servicios y al hospedaje. Esto ha dado lugar a una relativa estandarización y
tematización de los destinos, amén de una supuesta exaltación de su originalidad.
Paralelamente, se han rehabilitado determinados inmuebles para el uso habitacional,
orientados a sectores de nivel medio, lo que puede interpretarse como un tendiente
proceso de gentrificación en estos espacios.
En este sentido, la Ciudad de México, destino turístico preferencial del país, y dentro de
ella, el Centro Histórico como sitio emblemático de la ciudad, se ha presentado como un
escenario proclive para una creciente gentrificación, que ha creado territorios
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diferenciados y reconocibles por su estética y tematización, en el marco de una sociedad
globalizada de consumo, que demanda determinados servicios y satisfactores.
El espacio, como toda entidad que posee materialidad y que puede ser transformado a
partir de la planificación, la arquitectura, o de las actividades que lo modelan para
conseguir determinados fines, es susceptible de entrar en el circuito de intercambios
como una mercancía (LEFEBVRE, 1978). Es así, como el espacio pasa de un carácter
pasivo, de contenedor o paisaje a su condición de factor en el proceso productivo; sin
embargo, posee una característica que lo diferencia de las demás mercancías: su
posición absoluta e inamovible, pues el espacio posee cierto anclaje en su posición
física (HARVEY, 2007). De este modo, si un objeto puede transportarse de un espacio a
otro, el espacio posee la característica de ser fijo y relativamente ―único‖. Sin embargo,
esta característica que a simple vista le otorgaría al espacio una condición pasiva, le
convierte en un objeto dinámico, transformable y transformante.
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GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
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espacios para el consumo entre los que destacan los centros históricos y los sitios
patrimoniales, en este sentido, se puede considerar la arquitectura o el patrimonio
material como contenedor de actividades comerciales y al mismo tiempo como
contenido para ser incorporado en las dinámicas de consumo.
De este modo, los espacios se vuelven marco del consumo a la vez que son, per se,
considerados como una mercancía. Este proceso tiene que ver con la construcción de
imágenes, promovida en el seno de una cultura que enaltece la apariencia y la forma,
fenómeno que Debord (1965) denomina como cultura visual contemporánea. Es así
como la producción de un espacio atractivo para el turismo, para el ocio o para el
consumo, no solo consta de su construcción física, sino de una serie de representaciones
e imágenes bajo determinadas cualidades estéticas que en determinados contextos
resulten rentables en la lógica de consumo (GASTAL, 2005).
Estos procesos, para el caso de los centros históricos, vistos espacialmente como un
concepto relativo en la medida en que un conjunto de relaciones lo configuran como eje
dentro de la ciudad y de su historia, definido en torno a dos ámbitos: lo urbano y lo
histórico, esto ultimo entendido como el lugar de encuentro o eslabón que, a través de
su presencia, integra el pasado con el futuro, como un proceso social que contiene las
distintas fases históricas por las que atraviesa una parte especial de la ciudad
(CARRIÓN, 2000), se ha configurado como un escenario proclive para actividades de
consumo, por lo que se ha incentivado la tendencia hacia la gentrificación, tematización
y consecuentemente una fragmentación espacial.
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GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
El origen de los primeros habitantes de la cuenca es incierto. Martínez del Río (1952,
citado por GUTIÉRREZ, 2005) señala que su antigüedad se remonta a la época
prehistórica y que se trata de cazadores y recolectores que migraron del norte.
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Audiencia de México y ocho años más tarde, capital del Virreinato de la Nueva España,
y se edificó la ciudad española sobre los restos de la ciudad indígena (GUTIÉRREZ,
op. cit.).
En ese contexto, durante los tres siglos de gobierno virreinal, la Ciudad de México fue
un punto político de primer nivel que a pesar del control por parte del imperio, logró
conservar una relativa autonomía respecto de éste, sobre todo en los aspectos de
administración virreinal y comercio, así como en un centro cultural que fue sede de la
primera imprenta y universidad de las Américas. Como sede del arzobispado de
México, la ciudad atestiguó la construcción de una inmensa cantidad de conventos y
templos, la mayoría de ellos realizados en estilo barroco. De este modo, durante la
última etapa de la época virreinal, la Ciudad de México era considerada una de las
ciudades más impresionantes construidas por los europeos, una ―Ciudad de Palacios‖
como la definiera Humboldt a finales del siglo XVIII. De esta época datan la mayor
parte de las construcciones del Centro Histórico, y un sinnúmero de construcciones
religiosas dispersas por toda la zona metropolitana.
Para fines del siglo XIX y principios del XX, el Porfiriato continuó con tradición
arquitectónica francesa, lo cual se imprimió en la imagen urbana de este espacio.
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desalojo de los inquilinos que ocupaban inmuebles, sin embargo, el movimiento de los
damnificados se presentó como una oportunidad para el descongelamiento de las rentas
y el ingreso del mercado inmobiliario (COULMB, 1991; MORENO, 1988;
GONZALEZ y KUNZ, 2005; citados por GONZALEz, op. cit.).
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territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
alteridad, del encuentro con lo otro, buscan destinos que ofrezcan escenarios suigeneris
dentro del mercado turistico global. De este modo, para el estado y determinados
actores del sector privado, el casco historico de la Ciudad de México representa un
espacio con un potencial de gran importancia para la implantación de las actividades
turisticas y recreativas, por lo que las estratetegias y acciones han sido encaminadas a la
habilitación de este lugar para cumplir dicho objetivo.
La PAOT menciona que entre los principales problemas en términos de imagen urbana
destacan la apropiación de espacios públicos por parte de corporaciones, que
reorganizan los espacios de la ciudad, lo cual da como resultado una forma diferente de
vivirla, de relacionarse y de pensarla; el deterioro social producto de la invasión del
espacio público por el comercio informal así como la falta de limpieza en las calles.
Asimismo, la inseguridad, la inestabilidad política, las marchas y plantones, el tráfico y
la polución han dañado la imagen de la ciudad tanto a nivel nacional como internacional
(PAOT, 2003).
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De ahí, que desde finales de la decada de los noventa, diversos programas y proyectos
han puntualizado en la necesidad de promover una nueva imagen, contraria a aquella en
la que el CHCM se veía como espacio con altos niveles de delincuencia, comercio
informal, contaminación y degradación urbana. Por tal motivo, las campañas mediaticas
han actudo en la construcción de la imagen urbana del centro, en la cual la cultura y la
historia desempeñan un papel trascendental. De esto, se ha derivado una creciente
tematización de los espacios que han recibido mayor atención y presupuesto para su
rehabilitación, pues el proceso de remodelación ha ido acompañado de una campaña en
los medios de comunicación que realza los valores historicos y culturales y promueve la
proliferación de este tipo de actividades en la zona. Algunas guías turisticas destacan
este hecho como un factor de atracción de visitantes, se menciona que la rehabilitación
del CHCM ha actuado con el fin de embellecer y mostrar un escenario para las
actividades recreativas y para el turismo: ―Desde el 2000 se han invertido grandes
sumas de dinero para renovar la imagen y la infraestructura del Centro Historico, […]
Las estructuras renovadas acogen ahora nuevos museos, restaurantes y clubes, y en sus
plazas se celebran festivales y acontecimientos culturales, todo un verdadero
renacimiento.‖ (LONELY PLANET, Mexico, 2011). De esto, se ha derivado que dichos
espacios experimenten continuamente el crecimiento de negocios orientados hacia las
actividades de consumo recreativo y turistico.
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GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
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Negocios, promovía la incorporación del sector privado e incluyó la reubicación del
comercio ambulante en 28 plazas comerciales (DELGADILLO, 2005).
Dentro de los proyectos para mejorar la imagen turística del CHCM, se han llevado a
cabo acciones para mejorar la calidad del aire, combatir y disminuir el crimen,
remodelar y embellecer los edificios históricos con el objetivo de atraer la inversión
privada y dar valor a la ciudad. Este embellecimiento de fachadas, aunado a la
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territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Se han desarrollado programas turísticos con el fin de fomentar los recursos culturales
como ―Vive tu ciudad‖, ―Vive Cuauhtemoc‖, ―Vive el Centro Histórico‖ y ―DFiesta en
el Distrito Federal‖ el cual surgió para darle un nombre comercial, al programa ―La
Ciudad de México: Capital de los espectáculos, la cultura y el deporte‖ y asi
promocionarla como un destino diferente y reconocible de los demás. (SECTUR GDF,
2004).
La fisonomía de algunas calles, sobre todo aquellas que han sido peatonalizadas, ha
reorientado el uso del suelo de calles como Madero, Regina y Gante principalmente,
hacia los negocios relacionados con el consumo recreativo y turístico, como bares,
restaurantes, cafes y galerías por mencionar algunos. Antiguamente en esas calles los
negocios consistían en talleres y tiendas especializadas al mayoreo, los cuales, al subir
el precio del suelo abandonaron el lugar para dar paso a negocios más rentables, o
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dentro del giro de servicios y turismo, actividades contempladas dentro de los
programas gubernamentales para estos lugares.
Lo anterior está directamente ligado a las políticas públicas, que influyen directamente
en las actividades económicas de estas zonas y en la población (Delgadillo, 2005;
2009). La incorporación de la población que labora en estas zonas a actividades como el
turismo, de ser propietaria o asociada, artesano o practicante de un oficio, pasa a formar
parte de la fuerza de trabajo asalariada, que laborara en diferentes condiciones y
realizando labores de limpieza, atendiendo un mostrador, haciendo comida rápida etc.,
Sin embargo, de permanecer este espacio en sus actividades tradicionales también
representa un dilema, pues se dan relaciones de explotación laboral y al margen de la
seguridad social; problemas de prostitución de menores, entre otros fenómenos
relacionados con la marginación social.
Así, el CHCM en los últimos años se ha consolidado como un centro de primer orden
para ciertas actividades económicas, culturales, de ocio y turismo, además que se
presenta como un potencial espacio de importancia para el negocio inmobiliario y
comercial en México. Esto, entre otros factores, derivado de la historia y significación
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GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
CONSIDERACIONES FINALES
46
mercado. Es así, como en su seno surgen determinadas valoraciones y apreciaciones, lo
que da lugar a la capitalización de determinados recursos, mediados por ciertas
circunstancias espacio-temporales. En este sentido, la construcción del espacio, y dentro
de él el urbano, obedecen a una lógica basada en el mantenimiento de las relaciones de
producción en la que influye la ideología, las valoraciones de uso del espacio y los
recursos así como la utilización diaria del espacio como reproducción de la vida dentro
este sistema. De este modo, la sociedad capitalista en su lógica de acumulación,
presenta morfologías espaciales relativas al uso funcional y económico del territorio
bajo un contexto histórico determinado.
47
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
REFERENCIAS
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ECLAC. Chile.
Cortes, T. (2002) Recuperación del patrimonio cultural urbano como recurso turístico.
Tesis doctoral. Universidad Complutense de Madrid. España.
Cruz Martínez, Ángel Bernardo (2004), ―Proyecto de sustentabilidad integral del centro
histórico de la ciudad de México‖, Grupo Ciudad y Patrimonio, a.c.
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tinez.pdf
48
Débord, G. (2002), La Sociedad del Espectáculo, Pre-Textos, 2ª. ed. [original francés
(1967), La Société du spectacle, Gallimard, Paris], Valencia.
Smith, N (1996). The new urban frontier: gentrification and the revanchist city.
Routledge. Nueva York, USA.
49
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_____. (1999). ―The Lost Geography of the American Century‖. Scottish Geographical
Journal. UK.
Valdés, E (2001): ―Los guetos urbanos residenciales. El caso del Country Las Delicias‖.
Anuario de la Escuela de Historia. Año 1 Nº 1. Ed. Ferreira. Córdoba.
Sitios en internet:
http://www.ciudadmexico.com.mx/historia.htm
50
O TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO LITORAL SUL SERGIPANO E O
ORDENAMENTO TERRITORIAL SOBRE O VIÉS DA COMPLEXIDADE
Palabras clave: Costa Sur de Sergipe, turismo basado en la comunidad, gestión del suelo
y dinámica ambiental.
51
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
INTRODUÇÃO
O
turismo deve ter o seu desenvolvimento racionalmente pré-determinado,
para que as necessidades e potencialidades sejam gerenciadas e se
transformem em estratégias que conduzam à inserção do patrimônio natural,
histórico e cultural no circuito econômico, evidentemente através do uso não predatório
dos mesmos.
Diante disso, é que o estudo se propôs identificar o potencial do Litoral Sul Sergipano
para o Turismo de Base Comunitária, pontualmente nos municípios de Itaporanga
D‘Ajuda, Estância, Santa Luzia do Itanhy e Indiaroba, sendo utilizado como base de
pesquisa a descritiva, partindo da análise de documentos de fonte primária e secundária
e pesquisa de campo (utilizou-se do roteiro de observação direta para a coleta de dados
52
e do registro fotográfico), utilizando-se do método fenomenológico para análise da
realidade local encontrada.
Por esta razão, destacamos algumas abordagens conceituais próprias do turismo, como o
Turismo de Base Comunitária – TBC (CORIOLANO, 2005; BARTHOLO, 2009) ou
utilizadas na Geografia, como Lugar (MORIN, 2001; CASTRO, 2012), Espaço
(BOURDIEU, 1998; LEFEBRE, 1991) e Território de Poder (RAFFESTIN, 1993)
embasando e corroborando com as leituras e análises, ainda, as Políticas Públicas
(CRUZ, 2000) e Planejamento Territorial (SANTOS e VILAR, 2012), passando por
estes conceitos à construção teórica necessária para embasar a pesquisa aqui proposta.
53
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Neste processo apresentado por Beni (2001, p. 45), o turismo ―interage com uma série
de elementos que o envolvem, como num processo industrial, onde há um início, que
seria a extração da matéria-prima, ou seja, a localidade com seu potencial‖.
E por último, a distribuição desse produto, com o consumo deste turista. O processo
passa a ser o da comercialização do destino, promovendo a distribuição e circulação da
renda e a geração de empregos para a comunidade local (que se insere diretamente
agora no processo). Surge também os reflexos desta atividade nas localidades em
questão, pois no momento em que essas partes não são compreendidas como um todo,
os impactos são inevitáveis e, muitas vezes, irrevogáveis.
54
Assim, essas relações acabam ocorrendo dentro do território, onde a concepção mais
tradicional está vinculada à noção de Estado que, pelo fato de ser regulador das
relações, acaba por nortear as políticas voltadas ao turismo e isso representa a
concepção de poder, em que o território está relacionado, segundo Raffestin (1993, p.
97). Para ele, o território é uma ―reordenação do espaço no qual a ordem está em busca
dos sistemas informacionais dos quais dispõe o homem, enquanto pertencente a uma
cultura‖. Raffestin (1993, p. 97). Atentar para as reflexões de Raffestin sobre Estado
aonde este é fundamentado na relação de poder, território era entendido como expressão
legal e moral do Estado, refletido na conjunção do solo e do povo. Suas territorialidades
estariam associadas a identidades (nacionais) específicas. Essa posição do conceito
remete a uma concepção de poder unidimensional, o Estado é o único detentor do
poder; sendo assim, presume-se que não haveria conflitos ou tensões dentro do
território, pois não existiriam outras relações de poder possíveis. (GALVÃO, et al,
2009, p. 87)
Abordar T.C. em vistas a transformação espacial vertical que vem ocorrendo no litoral
nordestino, em prol do turismo de praia e sol é a base da discussão para este trabalho,
uma vez que os modelos propostos de desenvolvimento nos territórios de poder gerados
chocam-se com o discurso da sustentabilidade prevista no modelo do Turismo de Base
Comunitária, por exemplo.
55
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
O litoral sul de Sergipe (Figura 01) tem no turismo uma alternativa econômica cuja
prática se viabiliza há mais de trinta anos, com influências na organização do espaço a
partir da instalação de equipamentos de usos turísticos e com a geração de novos fluxos
de pessoas com finalidade turística, embora permaneça viciado na exploração do
segmento de sol e praia, com um público que busca o diferente, o novo, não apenas em
termos de paisagens, mas essencialmente em busca de novas experiências.
7
Texto Complexidade e Liberdade, texto de José JÚLIO Martins TÔRRES, disponível em Web
Site:www.juliotorres.ws – Blog: blogjuliotorres.blogspot.com – E-mail: juliotorres@juliotorres.ws
56
Figura 01 - Litoral sul sergipano e municípios de análise
57
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territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
De maneira geral, ordenar o território significa conjugar a ocupação do solo e o uso dos
recursos ambientais de acordo com a capacidade que a base territorial pode suportar,
sendo necessário analisar o ambiente em suas potencialidades, vulnerabilidades e
limites. (VILAR e ARAÚJO, 2010, p. 56).
58
No litoral sul belezas como o estuário dos Rios Vaza Barris, Piauí e Real são pontos de
destaque. No município de Estância destacam-se a Lagoa dos Tambaquis (Figura 03),
um clube privativo onde os peixes costumam se alimentar na beira da lagoa, servindo de
atrativo para os frequentadores do lugar que disponibiliza estrutura de bar e restaurante
para os visitantes. A Praia do Saco (Figura 04) foi considerada pela Revista Forbs, em
2009, entre as 100 praias mais belas do mundo, recebe grande fluxo de pessoas, mas a
frequência tem caído nos últimos anos pela incipiente oferta de serviços e infraestrutura
de apoio ao visitante, associado ao avanço do mar que causou destruição da maioria das
casas que beiram a praia, especialmente no trecho conhecido como ponta do Saco.
(SILVA e ALEXANDRE, 2013, p. 06).
59
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territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
O município de Santa Luzia do Itanhy (Figura 05) é pouco explorado pelo turismo,
embora tenha elaborado seu Plano de Gestão Local do Turismo com apoio do Instituto
de Pesquisa Tecnologia e Inovação (IPTI) que também incentiva a produção associada
ao turismo como pesca e artesanato por meio de vários projetos. Ao município de
Indiaroba (Figura 06) cabe a função de principal portão de entrada do fluxo rodoviário
do litoral sul, notadamente turistas baianos, maior polo emissivo de turistas para
Sergipe. (SILVA e ALEXANDRE, 2013, p.09).
60
Figura 06 – Orla do Povoado Crasto, Santa Luzia Do Itanhy
61
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territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
62
Figura 08 - Ponte Jornalista Joel Silveira
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territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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REFERÊNCIAS
BENI, Mário Carlos. Análise estrutural do turismo. São Paulo: SENAC, 2001.
CASTRO, Iná Elias de; GOMES, Paulo Cesar da Costa e CORRÊA, Roberto
Lobato.(org) Geografia: conceitos e temas. 15ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
2012.
RAFFESTIN, Claude. Por uma Geografia do Poder. São Paulo: Ática, 1993.
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GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
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TURISMO DE BASE COMUNITARIA COMO FACTOR EN LA RE-
SIGNIFICACIÓN Y APROPIACIÓN DEL TERRITORIO: ESTUDIO DE
CASOS SOBRE EXPERIENCIAS DE MUJERES MAPUCHE EN LA FERIA
GASTRONÓMICA Y ARTESANAL DE LA LOCALIDAD DE POCURA,
COMUNA DE PANGUIPULLI – REGIÓN DE LOS RÍOS, CHILE
8
Lengua mapuche, mapu: tierra / zungun: forma de decirse o hablar.
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GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
INTRODUCCIÓN
E
s una realidad reconocida por muchas/os investigadoras/es, que el turismo ha
incidido y sigue incidiendo en la manera en que los territorios son vividos,
sentidos y significados. En cómo sus habitantes se posicionan en un espacio
geográfico, de la mano de los mismo procesos histórico sociales que van transformando
las representaciones que construyen en el habitar, entendiendo el territorio como el
espacio apropiado transubjetivamente. En donde, las experiencias colectivas e
individuales se entrelazan a un contexto social más amplio, que va determinando el
acontecer de un espacio social.
68
Es por eso, que esta ponencia presentada al simposio Geografía, Turismo y Cultura:
Diálogos entre territorios, territorialidades, sociedad y naturaleza en Brasil y América
Latina, tiene como propuesta visibilizar experiencias de mujeres mapuche y campesinas
en una iniciativa potencial al turismo de base comunitaria, considerando por un lado las
implicancias en temas de género de la actividad turística y por otro, su incidencia en la
apropiación y re-significación de territorios. En base a la presentación de los resultados
de una investigación de tesis para la obtención del grado de licenciatura en
antropología9. Cuya metodología fue de tipo cualitativa, basada en el método de estudio
de casos, que a través de la perspectiva etnográfica en el trabajo de campo tuvo como
objetivo principal analizar las significaciones – a nivel individual, organizacional y
territorial – de un grupo de mujeres mapuche y campesinas sobre su experiencia en la
Feria Gastronómica y Artesanal de Pocura, organizada por la Asociación de Pequeños
Agricultores y Artesanos de la misma localidad, ubicada a orillas del lago Calafquén, en
la Comuna de Panguipulli – Región de Los Ríos. Realizando para ello entrevistas semi-
estructuradas a informantes claves y dinámicas grupales, participando también de las
actividades que la iniciativa realizaba, para así conocer de primera fuente sus
experiencias y significaciones.
9
La investigación se enmarca en el proyecto INNOVA CORFO 13 PDTR-23946. Programa de
Transferencia Tecnológica, Turismo de Intereses Especiales y Desarrollo de Base Local en el Destino
Siete Lagos.
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GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
10
Término en mapuzungun que hace alusión a los espacios – lugares de encuentro.
70
realidades locales muchas veces ignoradas, develando también actores invisibilizados
que cumplen roles de suma importancia para el desarrollo local y territorial.
ANTECEDENTES
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GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Punto del cual nacen los ríos y esteros que alimentan las tierras de Pocura, llegando su
mayoría al Lago Calafquén. También se observan los límites políticos de la localidad,
colindando por el sur con la localidad de Traitraico y por el norte con la región de la
Araucanía.
Pocura tiene una población de 1.134 habitantes según el censo del 2002, contando con
una alta población mapuche (cuadro 1.), existiendo en el territorio dos comunidades
ancestrales y cinco comunidades indígenas de carácter funcional11.
La localidad de Pocura, cuyo nombre original es Epu Huanlen Kurra o Epukura: dos
piedras, se compone por dos comunidades ancestrales, la comunidad Juan Chañapi y la
comunidad Ramón Chincolef. Ambas comunidades han logrado establecer y respetar
sus límites territoriales, mediante la localización de hitos naturales, como por ejemplo
los esteros Ñilfe y Komenahue. Además, colindando con el Volcán Villarrica y el
Parque Nacional del mismo nombre por el Noreste y con el Lago Calafquén por el
Suroeste, tal como se aprecia en la figura 2. Por su parte, la comunidad Juan Chañapi
colinda por el Este con la localidad de Traitraico y el cerro Milimili, mientras que la
comunidad Ramón Chincolef colinda por el norte con el flujo lávico o muro de lava del
sector Challupen, siendo este un límite político administrativo entre la región de Los
Ríos y la Araucanía.
A lo largo de los años, se han ido conformando una serie de comunidades jurídicas y/o
funcionales: Manuel Marifilo, Lluncura, Nepu, Emilio Epuñanco y Clemente
Cheuquepan.
11
Catastro CONADI de Comunidades Comuna de Panguipulli.
72
El territorio que abarca la localidad de Pocura se compone por una serie de espacios e
hitos naturales de gran significación cultural; cursos de agua como ríos, lagos y esteros,
cerros como el Rucañanco, Malancura y el Mili Mili, asociados a la mitología de Kai
Kai y Treng Treng, que cuenta la historia del momento en que la serpiente Kai Kai
provocó enormes lluvias y tormentas, diluvio que inundaría toda la tierra, momento en
el cual los mapuche abrían subido a la cima de los grandes cerros auxiliados por la
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serpiente Treng Treng, comenzando una feroz batalla entre ambos seres, tal como nos
relata la presidenta de la Asociación de Pequeños Agricultores y Artesanos de Pocura.
La ceremonia de Nguillatún se realiza todos los años, siendo organizado cada año por
una familia distinta, con un significado asociado a las necesidades del momento, como
por ejemplo, pedir por un ser querido fallecido, pedir por las siembras, por la salud, etc.
La ceremonia dura entre dos y tres días, procediendo a sacrificar a un vacuno,
generalmente donado por la familia convocante de cada año, el cual es quemado y
entregado como ofrenda.
“Todos los años acá en Pucura, todavía se hacen nguillatun y se
sacrifica un animal. Un vacuno, animales colorados siempre, no
puede ser cualquier animal, porque es una tradición contra todos los
males, entonces se supone que se quema todo lo malo, rojo que
representa el fuego” (P.L, 4/4/14).
12
El Palín o chueca (nombre que le designaron los españoles) es un juego ritual, realizado en contexto de
festividades o guerra como entrenamiento.
13
El Nguillatún es una ceremonia de rogación realizada en la pampa o campo de nguillatún de una
comunidad o lof, donde se instala el rehue, realizando rituales, rogativas y purrun (danza) a su alrededor.
74
procesos de trasculturación, tal como la celebración del wetripantu o año nuevo
mapuche, que marca el solsticio de invierno y el inicio de los tiempos de siembra,
celebrando los ciclos de la tierra que permiten las nuevas cosechas en primavera y por
ende su auto-subsistencia. Tradición mapuche que se ha comenzado a potenciar dentro
de las mismas actividades desarrolladas por la Feria Gastronómica y Artesanal de
Pocura.
Desde el año 2011 en un acuerdo con el Ministerios de Bienes Nacionales se les entrega
en comodato una superficie de terreno a orillas de la playa, en donde el año 2008 por
decisión de las comunidades ancestrales y funcionales de la localidad se construyen
puestos para comenzar a dar forma a un espacio dirigido a la comercialización de
productos locales. Inicios que estuvieron marcados por las precarias condiciones en las
que trabajaban, careciendo de luz y agua por aproximadamente tres años. Así con
mucho trabajo y esfuerzo han dado vida a la Feria de Pocura, que año a año ha logrado
una mayor valoración por parte de los visitantes y habitantes de la zona, principalmente
por las comunidades mapuches y sus autoridades políticas ancestrales.
75
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
14
El digüeñe (nombre científico: Cyttaria espinosae), un hongo ascomicete naranja
blancuzco comestible endémico del centro-sur de Chile.
76
Juan Chañapi. En donde se generaron una serie de conflictos con el club deportivo La
Joya, la municipalidad de Panguipulli y Bienes Nacionales. Situación que en definitiva
generó el reconocimiento de la Feria como un espacio de las propias comunidades
mapuche.
MARCO TEÓRICO
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territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
78
habitantes de los territorios rurales. Desde una visión crítica del modelo actual de
desarrollo, que actúa bajo una racionalidad instrumental y paternalista, de-construyendo
la verticalidad de las relaciones de poder (SALAZAR, 2006) para así promover una real
inclusión, participación y acción de las sociedades locales (TALLERA y SANZ, 2010).
Por otro lado, como propone Nelson Vergara (2012) el territorio es entendido como
espacio apropiado, hecho propio, un espacio de identidad y de historia, cuya
consistencia fundamental es ser un sistema de significaciones y como tal un sistema de
interpretación. Para Álvaro Bello (2010) el territorio no es una realidad ajena a la
historia y a las prácticas de los sujetos, sino que se trata de una realidad creada
transubjetivamente a partir de la apropiación y representación que las personas hacen
del espacio. Otros autores como Castoriadis (2005), citado por Vergara (2012) plantea
que el territorio es una realidad histórico-social, que emerge creativamente desde la
subjetividad de la experiencia colectiva, experiencia en que sociedades y comunidades
se reconocen en una relación que podemos llamar condición de territorialidad, que les
permite representarse unos respecto de otros y de sí mismos, es decir identificarse y
diferenciarse a la vez. A lo que es importante agregar que el territorio está lejos de ser
un espacio ―virgen‖ indiferenciado, armónico y "neutral" que solo sirve de escenario
para la acción social o de "contenedor" de la vida social y cultural, sino que se trata de
un espacio valorizado sea instrumentalmente o culturalmente, dinámico y conflictivo
(GIMÉNEZ, 1996).
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GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
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PRESENTACIÓN DE RESULTADOS
80
los ingresos que adquieren, ampliando las posibilidades de acción que antes habían sido
limitadas.
15
Termino coloquial relacionado al trabajo en la huerta.
81
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posibilidad de encontrar una fuente laborar, al llegar al espacio rural del que se han
mantenido distanciadas por bastante tiempo, permitiéndoles reincorporarse a la vida en
el campo, restablecer su vinculo con sus familias y comunidades a las que pertenecen,
reencontrándose con su propia historial. Generando un sentido de pertenecía al
territorio, construyendo su identidad en base a la posicionalidad (Alcoff en Riquer,
1992) y a su experiencia (Lauretis, 1984), que determinan la manera en que cada
vivencia es sentida e interpretada por ellas.
82
SIGNIFICACIONES A NIVEL TERRITORIAL
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Todo esto influye en que la Feria sea significada como un espacio de re-encuentro para
todo el territorio, potenciando los sentimientos de pertenencia a la localidad habitada y
facilitando que vecinos/as puedan re-encontrarse, conocerse y compartir, en un
ambiente familiar y comunitario.
84
Es en este contexto de conflicto en el que las comunidades de la localidad empiezan a
tomar un rol protagónico en la defensa de la Feria de Pocura, acordándose la restitución
del comodato a la Asociación y el futuro traspaso del terreno a la comunidad Juan
Chañapi, a quienes pertenece por titulo de merced. Acompañado del proceso de
restablecimiento de las buenas relaciones, que se comienza a desencadenar desde
inicios del 2012, realzando el histórico vinculo que la organización ha tenido con las
comunidades, recordando que en sus orígenes parte como una iniciativa propuesta y
organizada por las mismas.
Es así, como la Feria de Pocura comienza a ser reconocida como un espacio físico,
social político-territorial de las propias comunidades, siendo estas las que comienzan a
guiar el desarrollo y gestión de la organización, dando luces y direccionando sus
objetivos y aspiraciones hacia una visión de desarrollo local y territorial rural.
Comenzando así un proceso de re-articulación y revitalización territorial de las
comunidades ancestrales y funcionales de la localidad.
“Todo lo malo que nos sucedió repercutió en algo bueno para las
comunidades, porque las comunidades tomaron fuerza, se levantaron,
se organizaron y se unieron. Porque las comunidades nos dejaron
estar ahí” (M.E.P, 28/7/14).
Estas características que se destacan hoy en día, están relacionadas a los orígenes
mismos de la Feria, ya que como se ha mencionado, esta iniciativa surge de una
decisión tomada por las propias comunidades, considerando también a las autoridades
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políticas y ancestrales, quienes vieron en la feria una posibilidad para mejorar la calidad
de vida de sus habitantes. Aspecto que incentiva un proceso de pertenencia y arraigo de
las mujeres mapuche y campesinas participantes de la organización, como
representantes legítimas de las comunidades, siendo para ellas un factor de
empoderamiento personal y organizacional.
Así, la Feria de Pocura al ser una iniciativa potencial de turismo de base comunitaria, ha
pasado a ser una fuente de empleo para que las/os habitantes de la localidad, en especial
las generaciones más jóvenes, no se vean obligados a dejar la localidad, impulsando y
fortaleciendo la economía local y promoviendo el resguardo de prácticas organizativas
tradicionales, así como realzando identidades colectivas e individuales, donde las socias
construyen su identidad en base a experiencias organizacionales que las hacen re-
significar lo que para ellas es ser mujeres mapuche y campesina, pasando a ser
representantes legitimas de las comunidades, visibilizando su voz, acción y
participación.
86
Además, se ha convertido en un espacio asociativo y de trawün articulador del proceso
de revitalización de las comunidades mapuches ancestrales/funcionales, incidiendo
políticamente en el territorio. Promoviendo y colaborando en actividades que congregan
a toda la localidad en temáticas como, la salud intercultural, defensa del agua y prácticas
tradicionales en áreas silvestres protegidas (SNASPE). Pasando a ser un espacio
dinámico de relaciones humanas donde se re-encuentran personas que se involucran en
el quehacer de las comunidades y actúan colectivamente en la discusión y reflexión de
problemáticas locales.
16
En lengua mapuche lonko significa ―cabeza‖ o ―jefe‖ de los lof o comunidades.
17
La/el machi es la persona elegida dentro del orden social, espiritual y familiar del pueblo mapuche,
quien interviene entre lo mapuche y lo espiritual, por lo tanto, es capaz de generar la energía vital, salud y
bienestar (BACIGALUPO, 2001).
18
El o la lawentuchefe es un o una especialista parecido al médico de atención primaria, quien ha recibido
un püllü, o espíritu, con conocimiento etno-botánico o lawen; medicamentos o remedios mapuche.
Trabaja con las hierbas e infusiones para el tratamiento de ciertas enfermedades (DOUGLASS, 2010)
87
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territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Así se evita que se abandonen las localidades rurales, que son altamente codiciadas por
personas ajenas al territorio, que buscan por ejemplo hacer negocios e instalar sus casas
de veraneo, principalmente a orillas de lago. A lo que se suma, los intereses de
empresas forestales e hidroeléctricas por usufructuar con los recursos naturales de los
territorios, ejemplificándose con los que ocurre en otras localidades como Lago
Neltume, en donde la amenaza de proyectos hidroeléctricos sobre sitios de significación
cultural, canchas de nguillatún, cementerios y humedales, ha conducido a integrantes
de las comunidades aledañas a resistir a esa amenaza utilizando diversas estrategias,
como es la actividad de bajada de kayak por el río Cua-cua, instancia en la que se busca
difundir su problemática social, política y ambiental, realzando el valor cultural de
88
determinados lugares, además otorgándoles importancia turística como valor intrínseco,
destacando su belleza natural y promoviéndolos como atractivos turísticos.
Tal como en Pocura, la Feria de Gastronómica y Artesanal a orillas del Lago Calafquén
se ha convertido en uno de los pocos accesos que los lugareños tienen a la playas,
estando gran parte de la orilla de lago privatizadas producto de la venta de terrenos para
la construcción de segundas residencias, despojando a los habitantes de las localidades
a sitios cada vez más reducidos de esparcimiento. Además, en relación a la celebración
del Wetripantu, año nuevo mapuche, podemos decir, a pesar de que no cuenta con las
prácticas rituales que caracterizan dicha instancia 19 , permite que los habitantes de
Pocura se reconozcan como mapuches, dignifiquen su identidad y resguarden su
patrimonio, ya sea tanto a un nivel de significaciones individuales como también, parte
de su lucha por la defensa del territorio y la cultura ancestral.
Por último, es importante dar énfasis en lo que ya hemos mencionado sobre el proceso
de fortalecimiento de las organizaciones territoriales y prácticas organizativas
tradiciones, pasando de una relación de comunidades aisladas, a la noción de territorio
mucho más amplios que las comunidades en sí mismas. Incentivando el
empoderamiento territorial y organizacional, haciendo participes a las autoridades
19
Por ejemplo, ir al río antes de aclarar o amanecer, la ceremonia y rogativa que se
realiza en la espera de la salida del nuevo sol y el purrun alrededor de rehüe, entre otras.
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CONCLUSIONES
Este trabajo titulado, ―Turismo de base comunitaria como factor para la re-significación
y apropiación del territorio: Estudio de casos sobre experiencias de mujeres mapuche en
la Feria Gastronómica y Artesanal de la localidad de Pocura, Comuna de Panguipulli –
Región de Los Ríos‖, fue escrito en un intento de plantear la relación entre el turismo,
específicamente de base comunitaria y los significados, sentidos que las/os habitantes-
actores le otorgan al territorio. Basándonos en esta ocasión, en un estudio de casos que
debeló precisamente los aspectos de aquella relación, en base a la experiencias de
mujeres que se reconocen hoy en día como mapuche y campesinas, hacedoras de
turismo. Quienes comienzan a entablar fuertes lazos con las comunidades mapuches
ancestrales y el territorio en su conjunto.
Es por eso, que se ha considerado al turismo de base comunitaria como una herramienta
para el desarrollo local y territorial rural, porque hace visibles y participes a todas/os
las/los actores de las comunidades locales, incorporando el respeto, la pertinencia y las
dinámicas de las identidades territoriales en su discusión y acción. Siempre en la medida
90
que se haga de él una actividad social, ambiental y culturalmente responsable.
Permitiendo además, el ampliar y re-significar los roles de género atribuidos a las
mujeres, especialmente en contextos rurales, desnaturalizando nociones estereotipadas
de los que deber hacer y ser una mujer. Siendo la Feria de Pocura una iniciativa en
donde se presentan el triple rol de género, como un espacio de crianza comunitaria, en
la que las/los hijas/os de las socias pueden crecer y desarrollarse en un ambiente
familiar y seguro, facilitando así el trabajo en la feria, posibilitando también su accionar
en labores productivas y de gestión. Este último vinculado a sus quehaceres como
dirigentas de una organización que ha ido adquiriendo un fuerte rol político para las
comunidades y el territorio.
91
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territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
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GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
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surveys and interviews with the use of tooling called qualitative form of data collection.
Partial results show that the Cabula presents a governance space, which promotes social
entrepeneur initiatives which generated lessons that can serve as a parameter for other
communities undertake their own development model, designed by the community
organization.
INTRODUÇÃO
N
o Brasil, as crises socioeconômicas, socioambientais e sociopolíticas,
somadas aos impactos negativos da globalização, podem ser consideradas
fatores que contribuem para a exclusão social, segmentação e degradação
ambiental, elementos esses que, somados ao sistema de produção, consumo e
distribuição, promovem também a degradação da natureza em diversos aspectos que se
mostram cada vez mais explícitos, gerando riscos à vida humana, tais como: pressão do
aumento populacional sobre os recursos naturais; aquecimento global; ameaças
nucleares; erosão dos solos; desertificação; conflitos políticos e étnicos; mudanças
climáticas; falta de planejamento e gestão no processo de urbanização; ausência de
políticas públicas que contemplem problemas sociais, ambientais e econômicos; entre
outros.
Dessa forma, o conceito de território, sob uma perspectiva regional e local, refere-se a
um modo de tratar fenômenos, processos e situações que ocorrem em determinados
contextos e espaços onde se produz e se transforma. Cabe ressaltar que este trabalho
concebe espaço sob o prisma do território, em que o espaço econômico é construído em
sociedade, dotado não apenas de recursos naturais da geografia física, mas também da
história construída pelos homens que nele habitam, por meio de valores e regras, bem
95
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Assim, sendo a cidade um espaço coletivo da vida humana com necessidade de gestão, é
constituída de espaços com relações políticas, produtivas, sociais, econômicas,
ambientais, entre outras, e necessitam de certa governança.
96
configurado na dimensão social - a cidade é caracterizada, devido aos aspectos
materiais, que são frutos e produtos das relações sociais.
97
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Por sua vez, Rezende (2012) discute gestão urbana como aplicação da ciência da
administração ampliando-se como a gestão do município, prefeitura e de seus órgãos,
institutos, autarquias e secretarias, e está relacionada com o conjunto de recursos e
instrumentos da administração aplicada na gestão local por meio de seus servidores
municipais. Contudo, enquanto a gestão urbana trata apenas do urbano, a gestão
municipal engloba o urbano e o rural.
A diferença entre gestão municipal e gestão urbana, portanto, é que a última gere a
cidade com a aplicação de um conjunto de recursos e ferramentas como instrumentos da
administração objetivando aplicá-las à dinâmica urbana, no intuito de promover
serviços que priorizem a qualidade da infraestrutura e dos serviços urbanos, incluindo a
participação popular nas decisões e ações da governança pública municipal
(REZENDE; CASTOR, 2006).
De acordo com Maricato (2001), o Estatuto da Cidade é uma lei conquistada pela
sociedade, cuja luta se estendeu por décadas, sendo, portanto, um exemplo de forças
setoriais de diversos extratos sociais a exemplo de movimentos populares, entidades
profissionais, sindicais e acadêmicas, pesquisadores, ONGs, parlamentares e prefeitos
progressistas. Essa lei reúne, por meio de um aspecto holístico, em um mesmo texto,
98
diversas expressões relativas ao governo democrático da cidade, à justiça urbana e ao
equilíbrio ambiental. A autora complementa que o Estatuto da Cidade tem seu foco na
questão urbana e a insere na agenda política nacional em um país, até pouco tempo,
marcado pela cultura rural.
Em síntese, para os autores Rezende, Klaus e Betini (2006, p. 2), a gestão urbana é um
somatório de elementos e atores diversificados, que experimentam ―transformações
fundamentais que exigem um debate controvertido em torno dos possíveis caminhos da
gestão pública das cidades na sociedade da informação que crescentemente vem se
consolidando‖.
99
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Sobre a natureza das redes de políticas, Börzel (1998) afirma que essas envolvem vários
atores e os resultados do processo político parecem confirmar o juízo de que redes de
políticas podem ser consideradas como uma caixa de ferramentas úteis para analisar as
políticas públicas. Por outro lado, existe um número crescente de trabalhos empíricos,
especialmente no campo de políticas europeias, que demonstram a proliferação de redes
de políticas, em que os diferentes atores envolvidos na formulação e implementação de
políticas coordenam os seus interesses — são exemplos os estudos de Peterson, (1992);
Marcas, (1992, 1993); Mcaleavey, (1993); Grande, (1994); Heritier, Knill e Mingers,
(1996); Bressers, O'toole e Richardson (Eds.), (1994); Schneider, Dang-Nguyen e
Werle, (1994); Rhodes, (1997); Smyrl, (1995).
Börzel (1998) complementa que tais redes, além de fornecerem uma ferramenta
analítica que permita identificar e descrever mudanças para uma governança não
hierárquica, podem oferecer explicação para a proliferação de coordenação não
hierárquica em redes de políticas. Assim como apontado por Max-Planck e outros,
coordenação hierárquica e desregulamentação do mercado sofrem com problemas de
eficiência e legitimidade em um contexto complexo e dinâmico de formulação de
políticas públicas. Contudo, a abordagem de rede de política, teoricamente, enfrenta
dois grandes desafios: primeiro, as redes de políticas estão presentes e são relevantes
para o processo de política e seus resultados, por exemplo, no aumento ou na redução da
eficiência e da legitimidade das decisões políticas; segundo, empiricamente, as redes de
políticas fazem a diferença, porém as suas incertezas precisam ser enfrentadas, pois são
condições especificas em redes que podem reforçar a eficiência e a legitimidade das
decisões políticas (BÖRZEL, 1998).
100
A ECOSSOCIOECONOMIA COM ALTERNATIVA INCLUSIVA PARA A
GOVERNANÇA POR MEIO DO TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA
A temática ―governança‖ (governance) tem sido abordada com ênfase nas novas
tendências de administração pública e de gestão de políticas públicas, especialmente
com a ―necessidade de mobilizar todo o conhecimento disponível na sociedade em
benefício da melhoria da performance administrativa e da democratização dos processos
decisórios locais‖ (FREY, 2007, p.138).
101
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
102
chance de ocorrer no nível comunitário. Parte-se do pressuposto que a
comunidade é um tema transversal à própria questão da
territorialidade, entretanto, evidencia-se a importância da ação
territorial.
103
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
A economia solidária é uma alternativa apontada por Boaventura Sousa Santos (2011),
cujos postulados baseiam-se no humanismo, solidariedade e cooperação materializadas
na propriedade coletiva dos meios de produção e autogestão, preservando ainda o
direito à liberdade individual (SINGER, 2002).
A economia solidária em formato de redes tem o objetivo de gerar trabalho e renda para
os envolvidos, além de formar outras relações de produção e aperfeiçoar o modelo de
consumo de todos que dela participam, preservando o meio ambiente e desenvolvendo
outro modelo social sem a exploração dos indivíduos ou a degradação do equilíbrio
ecológico (MANCE, 2003).
104
A economia solidária se organiza de duas formas: a primeira é as atividades econômicas
— produção de bens, prestação de serviços, finanças solidárias, comércio justo,
consumo solidário, a segunda é as organizações solidárias — cooperativas, associações,
empresas autogestoras, grupos solidários, redes solidárias, clubes de troca etc.
(MARINHO, 2007).
105
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Essas formas organizacionais abrangidas por pesquisas empíricas têm sido recorrentes
em estudos que contemplam redes de governança, com intermédio de políticas públicas
conectando o Estado e a sociedade; estruturas e organizações de atores-chave da
economia, a compreender os papéis que exercem e como se ajustam frente a políticas
socioeconômicas; e a formação, funcionamento e comportamento de grupo de interesse
e sua relação com instituições públicas (PROCOPIUCK, 2013).
METODOLOGIA
Adota-se o estudo de caso que, segundo Severino (2007, p.121), é uma ―pesquisa que se
encontra em um caso particular, considerado representativo de um conjunto de casos
análogos, por ele significativamente representativo‖.
106
foram realizadas entrevistas com 10 (dez) atores sociais vinculados ao projeto, bem
como com alguns que não participam, para a construção de conhecimento conforme
proposto no objetivo deste trabalho de pesquisa.
Neste cenário surge o Projeto Turismo de Base Comunitário (TBC), Cabula e entorno.
Segundo Castro (2008), a palavra Cabula tem sua origem na língua quicongo de
Angola. Cabula é conhecido pela comunidade como um antigo quilombo que, por sua
vez, é definido por alguns autores como espaços de acolhimento de escravos e negros
107
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
De acordo com o Plano de Ocupação para a área do miolo de Salvador, do ano de 1985,
foram definidos quatro polos de ocupação: Região do Cabula, Região de Pau da Lima
/EVA, Área de Cajazeira e Área de Mussurunga/São Cristóvão (NUNES; SOUZA,
2007). Mais tarde, no ano de 1987, em virtude de estudos do Plano de Desenvolvimento
Urbano para Salvador (PLANDURB), a cidade passa a ser divida em 17 Regiões
Administrativas, de acordo com a retificação da Lei Municipal nº 6.586/2004
(PDDU/2004), que vigora desde então.
Nesse contexto, nos anos 70, de forma mais intensa, ocorre uma série de ocupações
desordenadas e autoconstruções, quando a população carente migra de outras áreas de
Salvador ou provenientes do meio rural como forma de resolver o problema da moradia
(NUNES; SOUZA, 2007). Da mesma forma, alguns dos bairros associados já se
apresentavam entre os assentamentos mais significativos.
108
a dinâmica de ocupação da área, conferindo ao bairro uma posição estratégica do ponto
de vista habitacional e da expansão de serviços no seu entorno, a saber: em 1965/1966,
a criação da Avenida Silveira Martins e, em 1970, da Avenida Luíz Viana Filho —
conhecida como Avenida Paralela (FERNANDES, 1992).
Ao longo de sua história, o Cabula, que já foi espaço de acolhida de escravos fugidos,
foi dividido em fazendas, algumas produtoras de laranjas. Neste período, devido a
presença de chácaras, as áreas verdes ainda era o aspecto marcante no local
(FERNANDES, 2003).
109
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
O Território conta com a Bacia Hidrográfica dos rios das Pedras e Pituaçu e a Represa
do Prata, antigo manancial d‘água que abastecia a cidade do Salvador. Há algum tempo,
este manancial encontra-se poluído, devido à sua escassez e a poluição provocada pelo
lançamento de esgoto sanitário e resíduos sólidos. Tal dano ao meio ambiente vem
gerando transtornos à população, a exemplo dos cortes constantes no abastecimento de
água. De acordo com Maricato (2001, p. 9), os rios, riachos, lagos, mangues e praias
tornaram-se canais ou destino dos esgotos domésticos:
110
sempre foi uma periferia social, vem sendo visada como espaço de especulação
imobiliária. Dessa forma, Cabula e entorno compreende uma área urbana heterogênea e
desigual, marcada pela presença de inúmeros conjuntos habitacionais, condomínios de
luxo, comércio local, grandes redes de hipermercados e shoppings centers, causando o
contraste de hábitos, costumes e paisagem. Esse panorama faz com que Cabula, uma
comunidade rica em cultura indígena local e grupos culturais formais e informais, não
seja valorizada.
Neste contexto encontra-se imerso projeto TBC Cabula e entorno. De acordo com
entrevista realizada em agosto do ano de 2015 com a coordenadora do projeto, o mesmo
surge devido às angustias provocadas por constatações da ausência de diálogo entre
universidade, comunidade e professores de diversas áreas do conhecimento, somados a
questionamentos feitos pela coordenadora, pertinentes ao modelo do turismo tradicional
que possui seu foco na questão econômica com atividades que não levam em conta as
questões do meio ambiente e a sustentabilidade tanto em âmbito rural quanto urbano, a
falta de articulação e envolvimento da comunidade nas questões do planejamento do
turismo, além da identificação das mazelas ocasionadas pela atividade turística, entre
outros. Esse contexto fez com que se elaborasse um projeto denominado Turismo de
Base Comunitária (TBC) na região do Cabula e entorno, aprovado pelo edital 021/2010
da fundação de Amparo à pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB) e vinculado à
Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP) da Universidade do Estado
da Bahia (UNEB), sob o título: ―Turismo de base comunitária na região do Cabula e
111
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Por se tratar de um projeto demonstrativo ativo por quase cinco anos, outros
financiamentos foram aprovados, entre eles: edital 028/2012 FAPESB, exercício 204-
2016, sendo executado sem a liberação da verba, cujo título é ―Turismo de base
comunitária no antigo quilombo Cabula: construindo conhecimento com as escolas‖;
Edital: 43/2013, exercício: 2013-2014 (em execução) da MCTI/CNPq/MEC/CAPES;
Edital: 037/2012, exercício: 2013 (em execução) - Programa de Estudos do Trabalho
(PROET)-SUPROF-SEC/BA – Título: ―Museu virtual do quilombo Cabula: uma
contribuição para a mobilização do turismo de base comunitária no bairro‖; e Edital:
029/2012, exercício: 2012 – FAPESB, sendo executado sem a liberação do recurso, cujo
título é ―Meio ambiente, saúde e turismo de base comunitária: configuração de uma rede
de articulações pela qualidade de vida no distrito sanitário do Cabula/Beiru, Salvador-
Bahia‖.
O projeto Cabula e entorno tem por objetivo a mobilização das comunidades para a
criação de Roteiros Turísticos Urbanos Alternativos Responsáveis e Solidários
(RTUARSS), resultando na criação de uma cooperativa de Receptivos Populares, com
especialização neste tipo de roteiro turístico (SILVA, 2015; SILVA, SÁ, 2012).
A composição da equipe para a realização das ações nas comunidades destes bairros é
multidisciplinar da área de educação, saúde, meio ambiente, história, cultura, lazer,
urbanismo, turismo, comunicação, economia solidária, tecnologia social, tecnologia da
informação e outras (SILVA; SÁ, 2012).
112
foco favorece a diversificação da oferta turística de Salvador e o desenvolvimento social
e econômico das localidades em questão. O favorecimento se dá por meio do turismo,
da produção associada, cooperativismo e outras ações que fortalecem as relações entre
as pessoas e as comunidades.
As autoras complementam que a contribuição para as comunidades pode ser por meio
do fortalecimento das comunidades, unificando seus potenciais por meio de atividades
em rede ou em cooperativa, representando o que existe em seu bairro e o que possui de
potencial turístico em seu entorno.
113
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
114
do dia 3, com a apresentação da temática de Turismo de base comunitária na América
Latina, nas palavras do professor da Universidade de Buenos Aires (UBA), Ernesto
Barrera. O evento contou com apresentação de grupos culturais e de visitações aos
bairros da Mata Escura, Uruguai, Plataforma e Retiro, I Mostra de Cultura e Produção
Associada ao Turismo e à Economia Solidária e da IV Mostra Cultural Arte no
Cotidiano, além das mesas-redondas e oficinas, pertinentes aos temas: economia
solidária, incubação e cooperativismo, turismo comunitário, turismo rural e produção
associada. O encerramento contou com a participação de pesquisador chileno que tratou
sobre o tema Turismo de base comunitária e economia solidária (SILVA, 2012b).
O V ETBCES foi sediado pelo Colégio Estadual Zumbi dos Palmares, organizado
totalmente pela comunidade com o apoio dos técnicos do projeto TBC Cabula e
entorno. Contou também com a IV Mostra de Cultura e Produção Associada ao Turismo
e à Economia Solidária; III Feira de Meio Ambiente e Saúde, bem como o I Circuito
Gastronômico. A temática do evento foi: Sociedade em transição, cultura de paz e
sustentabilidade. O evento contou com mesas-redondas sobre as temáticas: cultura da
paz e sustentabilidade; oficinas: compostagem; arte e reciclagem; produção de pão e
vivência de terapia comunitária; rodas de conversas sobre sustentabilidade e
comunicação não-violenta; e cursos de respiração, água e som (RAS), além de roteiros
turísticos no Beiru. Participaram do evento representantes da associações de bairros e
culturais, cooperativas de produção, lideranças comunitárias, gestores, pesquisadores e
artistas.
115
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Contudo, o grupo de pesquisa do projeto TBC, encontram alguns desafios, entre eles:
fragmentação das comunidades; falta de articulação; conflitos entre os moradores da
comunidade e; problemas com líderes comunitários que, em alguns casos, defendem
interesses próprios e não do coletivo. Porém, a partir da conscientização e da
mobilização social em redes de governança, por meio de um modelo conforme proposto
pelo TBC poderá ser superada.
116
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O TBC no Cabula surge como alternativa não só de geração de trabalho e renda, mas,
sobretudo, para valorizar os modos de vida, produção e conhecimento comunitário.
Diante da desarticulação da ordem social, característica de aglomerado populacional
espacialmente estabelecido em área que possui infra-estrutura precária, o que
caracteriza ausência histórica do Estado, cria-se um projeto coordenado pela
Universidade Estadual da Bahia para enaltecer o dinamismo social existente,
alavancado por uma proposta de economia inclusiva, pensada pela e para comunidade.
Assim, diante das atividades desenvolvidas pela equipe do projeto TBC Cabula e
entorno, por meio da metodologia de trabalho ―com‖ o envolvimento efetivo da
comunidade, foi observado, portanto, por meio de diversas práticas, maior engajamento
da comunidade, pelo fato da mesma não se sentir instrumentalizada, mas pelo contrário,
ter protagonismo quando se pensa o seu desenvolvimento. O qual inverte a relação da
universidade com a comunidade, na qual esta deixe de ser o objeto de estudo e passe a
ser o sujeito colaborativo, assim sendo realizadas parcerias entre atores da comunidade
com atores acadêmicos.
117
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
REFERÊNCIAS
CASTRO, Yeda Pessoa. Falares africanos na Bahia. Rio de Janeiro: Topbooks, 2008.
118
MANCE, E. A.. Como organizar redes solidárias. Rio de Janeiro: DP&A, Fase, IFIiL,
2003.
MARICATO, Ermínia. As idéias fora do lugar e o lugar fora das idéias: planejamento
urbano no Brasil. In: ARANTES, Otília; VAINER, Carlos; MARICATO, Ermínia. A
cidade do pensamento único: desmanchando consensos. 3 ed. Petrópolis: Vozes, 2001.
p. 121-191.
119
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho científico. 23. ed., rev. e atual. São Paulo:
Cortez, 2007. 304 p.
120
SOUZA, M. L. de. A prisão e a ágora: reflexões em torno da democratização do
planejamento e da gestão das cidades. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006. 632 p.
SILVA, F.P. S. SÁ, N.S.C. (Org.). Cartilha (in)formativa sobre Turismo de Base
Comunitária ―O Abc do TBC‖. Salvador: EDUNEB, 2012. 32p.
SINGER, Paul. Introdução à economia solidária. São Paulo: Editora Fundação Perseu
Abramo, 2002.
121
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
122
TERRITÓRIOS TURÍSTICOS E RESILIÊNCIA CULTURAL: ESTRATÉGIAS
LOCAIS PARA O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO EM ÁREAS
PROTEGIDAS
123
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
INTRODUÇÃO
O
turismo é uma das atividades econômicas que mais se expande no mundo.
Nas últimas décadas o turismo foi um dos setores da economia que
movimentou e gerou mais recursos. Esse fato pode ser ilustrado por alguns
países que, nos últimos anos, viram seu Produto Interno Bruto (PIB) aumentar como
consequência do desenvolvimento turístico interno (ARCHER; COOPER, 2001).
Alguns desses países são considerados subdesenvolvidos e apresentam uma economia
predominantemente baseada no setor primário, onde a maioria da população vive em
áreas rurais. Apesar dos baixos índices sociais e de uma economia deprimida, são países
que apresentam áreas naturais com grande biodiversidade, ou seja, ricas em recursos
naturais e paisagísticos que são muito atrativos para o turismo. A procura por lugares
turísticos paradisíacos se mostra intensa na contemporaneidade devido a um ritmo de
vida estressante nas grandes cidades. A ideia do mito da natureza intocada de Diegues
está posta na sociedade ocidental quando mostra o desejo humano de uma volta ao seu
estado natural. Segundo Diegues,
20
Espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características
naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites
definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção.
124
internacionais, principalmente aqueles do segmento de sol e praia. São povoados, vilas,
aldeias, que, embora localmente isolados se tornam conhecidos numa dimensão global
devido aos meios de comunicação e a facilidade de mobilidade e acesso.
125
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Dessa forma, o presente trabalho parte do pressuposto que a inter-relação entre os povos
ditos tradicionais e o ambiente em que habitam ocorre de uma maneira particular, pois
está fundamentada em uma relação de dependência direta com os recursos naturais que
garantem sua subsistência. Nesse sentido, o artigo trata da relação entre território e
construção da identidade. O território é entendido através de uma perspectiva
interdisciplinar, com ênfase em uma lógica culturalista que reforça sua dimensão
enquanto representação e valor simbólico. O território como lugar vivido e significado
nos remete a um dos aspectos que nos permite compreender o conceito de resiliência
cultural. Este conceito será apresentado no decorrer do texto.
O presente estudo encontra-se em sua fase inicial. Trata-se de um estudo de caso sobre o
município de Bombinhas, localizado no litoral centro-norte do estado de Santa Catarina,
Brasil. A escolha desse local deve-se ao fato de que Bombinhas, nas últimas duas
décadas, vêm passando por um processo de modificações socioespaciais ocasionada por
uma crescente demanda turística. Outro fator que motivou a escolha desse município foi
a presença de áreas naturais protegidas de uso turístico que ainda não possuem plano de
manejo21 definido.
21
A Lei Nº 9.985/2000 que estabelece o Sistema Nacional de Unidades de Conservação define o Plano de
Manejo como um documento técnico mediante o qual, com fundamento nos objetivos gerais de uma
Unidade de Conservação, se estabelece o seu zoneamento e as normas que devem presidir o uso da área e
o manejo dos recursos naturais.
126
processo de turistificação 22 do espaço. Além disso, a pesquisa busca identificar as
estratégias desenvolvidas localmente pra lidar com situações adversas geradas pelo
turismo.
127
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
O fato da dimensão sociocultural ser relegada ao plano econômico é descrita por Pádua
(2004) ao analisar o modelo histórico de ocupação do território brasileiro e suas
implicações ecológicas. Segundo o autor,
128
Assim, juntamente com a capacidade de gerar crescimento econômico, de aumentar a
renda nas destinações turísticas e de contribuir para a balança de pagamentos, o turismo
tem também a capacidade de causar profundos impactos negativos nas áreas que se
tornam objeto dos fluxos turísticos, quando o modelo empregado para a turistificação do
espaço obedece a uma lógica de planejamento que diz mais respeito a interesses
exógenos do que aos interesses de desenvolvimento das comunidades em questão.
Nesse sentido, o turismo, além de ter como uma de suas características mais marcantes a
capacidade de transformação e de consumo do espaço, traz também consequências em
relação à dimensão sociocultural de comunidades tradicionais que habitam essas áreas.
Ou seja, ameaçam a própria organização dos sistemas políticos de posse da terra e da
distribuição dos recursos naturais. Portanto, a constatação de como esses aspectos,
advindos do turismo, interferem tanto na vida social como no ambiente físico de
determinada comunidade tradicional, é a premissa para se desenvolver meios, junto à
população local, de decidir a melhor forma de se estabelecer o turismo nessa área.
Um dos aspectos que mais sofrem com a influência do turismo, são os traços culturais
característicos de determinada comunidade. Ao entrar em contato com o ―Outro‖, com
costumes, valores e comportamento diferentes do seu, o nativo consciente ou
inconscientemente passa a incorporar essas influências com menos ou mais intensidade.
129
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Se por um lado, o encontro entre culturas diferentes através do turismo tem causado
diversos tipos de impactos negativos, existe, por outro lado, a ideia de que essa
atividade seja capaz de contribuir para a valorização social das comunidades e de seus
hábitos culturais, trazendo para os autóctones efeitos e impactos positivos. Adotando-se
uma perspectiva histórico-cultural, o turismo ―pode ser um meio de afirmação da
identidade local, conscientizando os nativos do valor da cultura autóctone e do
significado do patrimônio (material ou imaterial, natural ou cultural) e do empenho por
sua preservação‖ (SAVIOLO; DELAMARO; BARTHOLO, 2005, p. 19).
Acredita-se, nesse trabalho, que lugares onde existe uma valorização cultural por parte
dos próprios moradores, em relação ao seu estilo de vida, suas tradições, seus costumes,
130
suas identidades, são lugares onde os moradores apresentam uma maior resiliência
frente às mudanças sociais provocadas pelo turismo.
O reconhecimento e valorização, por boa parte dos moradores dos lugares turísticos, de
seu patrimônio histórico-cultural se constituem em fatores positivos para estimular a
participação desses atores nos processos decisórios de planejamento e gestão da
atividade. Essa participação seria uma forma de minimizar os possíveis impactos
negativos gerados pelo turismo.
As orientações expostas acima procuram dar ênfase à participação dos diversos atores
que fazem parte das comunidades submetidas às atividades turísticas e são impactados
por essa atividade. No entanto, essa ―equidade‖ de oportunidades não existe na prática.
Porque na realidade, a infraestrutura turística, na maioria das vezes, tem sido construída,
no caso da zona costeira, seja pela iniciativa pública ou privada, sem qualquer forma
significativa de participação nem consulta à população local, que sofrerá em última
instância as consequências do crescimento do turismo no seu lugar.
A análise dos impactos socioculturais gerados pelo turismo se apresenta como algo
complexo, pois se trata de uma questão qualitativa e relativa. Por isso, torna-se difícil
131
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
estabelecer critérios muito precisos sobre o que viria a ser positivo ou negativo para
determinada comunidade. Dentro da própria comunidade existe certo relativismo, uma
vez que o que é bom para determinada pessoa não é necessariamente bom para outra.
Porém existem casos que afetam toda a comunidade, problemas que atingem todos os
moradores, tais como a degradação ambiental, o desrespeito à cultura local, o aumento
da violência, a elevação do custo de vida local, entre outros problemas.
132
O território turístico consegue abranger os diferentes enfoques das diversas áreas de
conhecimento, ou seja, ele pode ser visto e entendido a partir das várias perspectivas
citadas acima. Isto se deve ao fato de o turismo ser uma atividade cuja constituição
envolve aspectos da realidade que são objeto de estudo de várias ciências ao mesmo
tempo.
A atividade turística, por ter um caráter interdisciplinar, tem o poder de interferir, como
já foi dito anteriormente, em diversos setores como o físico-espacial, com a mudança da
paisagem, a partir da interferência humana, por exemplo; nas relações de poder, de
caráter assimétrico, com casos de expropriação de moradores devido à valorização de
determinado espaço; de ordem econômica, ao gerar lucros e dividendos, muitas vezes de
forma desigual; de ordem subjetiva, impactando nas relações sociais nos lugares que se
tornam destinações turísticas e alterando mais ou menos traços culturais presentes em
comunidades turísticas ou pelo contrário reforçando esses mesmos traços.
133
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Como se pode ver, o território pode ser entendido a partir de diferentes perspectivas. Por
exemplo, pode-se partir da ideia de uma área geográfica, até a ideia de relação de
pertencimento ou compartilhamento de certos códigos e valores por grupos de pessoas
que habitam determinada porção do espaço.
Para Milton Santos a concepção de território está associada ao seu ―uso‖ (econômico,
sobretudo). O ―uso‖ é o definidor por excelência do território. O território usado
constitui-se como um todo complexo onde se tece uma trama de relações
complementares e conflitantes (SANTOS, 2000, p. 12). O que faz ele objeto de análise
social é seu uso e não o território em si mesmo.
Santos faz uma distinção entre território como recurso e território como abrigo
afirmando que enquanto ―para os atores hegemônicos o território usado é um recurso,
garantia de seus interesses particulares‖, para os ―atores hegemonizados‖ trata-se de
―um abrigo, buscando constantemente se adaptar ao meio geográfico local, ao mesmo
tempo que recriam estratégias que garantam sua sobrevivência nos lugares‖ (SANTOS,
idem, p. 12-13).
Essa diferenciação entre território como recurso e território como abrigo, pode ser
encontrado nas perspectivas diferentes que o turista e o morador desenvolvem sobre
uma mesma localidade turística. O morador entende o lugar e o território a ele associado
a partir da sua experiência vivida do lugar, ao passo que o turista o percebe com base
em uma perspectiva diferente, como um ―outsider‖ que simplesmente passa pelo lugar.
134
Esse sentimento de pertencer ao espaço em que se vive, de conceber o espaço como
lócus das práticas, onde se tem o enraizamento de uma complexa trama de sociabilidade
é que dá a esse espaço o caráter de território (SOUZA; PEDON, 2007).
Para Knafou, o que ocorre na verdade são conflitos de territorialidades entre os turistas
(nômades) e os anfitriões (sedentários), como fica evidente na transcrição a seguir:
135
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Em muitos casos, o processo de apropriação dos lugares pelo turismo obedece a uma
lógica de mercado como bem observa Haesbaert (2012), ao afirmar que parcelas cada
vez mais expressivas do espaço têm sido moldadas visando um padrão ótimo de
funcionalidade econômica. Processos de globalização e desterritorialização estão
intimamente associados. A desterritorialização extrema é denominada pelo autor como
―aglomerados de exclusão‖. Os aglomerados de exclusão são marcados por certa
fluidez, instabilidade e insegurança constantes, principalmente em termos de condições
materiais de sobrevivência, pela violência frequente e pela mobilidade destruidora de
identidades. São ―espaços sobre os quais os grupos sociais dispõem de menor controle e
segurança, material e simbólica‖ (HAESBAERT, 2012, p. 185).
136
Além da descaracterização da paisagem natural, as segundas residências construídas a
beira-mar formam verdadeiros ‗paredões‘ que impedem a chegada do visitante e
dificultam o acesso dos próprios moradores à praia. Há ainda casos nos quais essas
construções são erguidas em áreas inadequadas, o que acabam por comprometer a
estabilidade da linha de costa, ecossistemas importantes e a qualidade ambiental em
geral (ABREU; VASCONCELOS, 2007, p. 343).
As mudanças territoriais geradas pela atividade turística, como é o caso das mudanças
levadas a efeito pelas segundas residências, não só afetam o cotidiano dos moradores
locais, como são também responsáveis pela apropriação de espaços antes vivenciados e
usufruídos de forma coletiva pelos habitantes das comunidades envolvidas.
Por outro lado, o desenvolvimento turístico seria compensado pelo aumento de uma
consciência ambiental de seus habitantes, de acordo com uma filosofia protecionista, e
137
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Lugares onde existe uma valorização cultural por parte dos próprios moradores, em
relação ao seu estilo de vida, suas tradições, seus costumes, suas identidades, são
lugares onde os moradores apresentam uma maior resiliência frente às mudanças sociais
provocadas pelo turismo.
Nessa perspectiva, a resiliência se apresenta como uma capacidade para lidar com os
fatores negativos intrínsecos as mudanças culturais. Usamos como fundamento teórico
neste artigo o conceito sociológico de resiliência, adaptando-o ao conceito de resiliência
cultural, tendo como contexto a inserção turística em um determinado lugar e suas
implicações no âmbito da cultura local (PAIVA, 2010). Entendemos, de maneira geral,
que a resiliência cultural faz parte de um processo dinâmico que tem como resultado a
adaptação positiva de comunidades locais em contextos adversos.
A resiliência cultural, no que diz respeito ao fenômeno do turismo, pode ser entendida
como uma forma ao mesmo tempo de resistência e adaptação das comunidades
turísticas receptoras às mudanças trazidas pelos turistas e demais tipos de visitantes, que
apresentam outras visões de mundo e, por isso mesmo, outros signos, valores e atitudes.
A resiliência cultural está relacionada a um modo de vida peculiar, por parte dos
moradores da localidade turística, por uma identidade cultural associada ao lugar, à
coesão social e à transmissão de certas tradições passadas de geração para geração.
Assim, a resiliência cultural é definida como a capacidade que um determinado grupo
138
social tem em resistir a mudanças provocadas pelo contato com culturas diferentes,
preservando seu patrimônio cultural (op.cit. 2010).
METODOLOGIA
Este estudo encontra-se em sua fase inicial, por isso as etapas do processo de pesquisa
foram descritas no tempo futuro. Em relação à abordagem teórica, apenas uma parte dos
referenciais conceituais foram apresentados neste artigo.
139
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Além disso, Bombinhas possui três Unidades de Conservação (UC‘s), o Parque Natural
Municipal Morro do Macaco, o Parque Natural Municipal da Galheta e a Área da
Costeira de Zimbros de relevante interesse ecológico. Essas áreas têm sido afetadas pela
ação antrópica e invasão de espécies exóticas e, apesar de serem grandes atrativos
turísticos, ainda não possuem plano de manejo e fiscalização adequada.
Para o exame do conceito de resiliência cultural este estudo adotará uma combinação de
três variáveis, a saber: a construção da identidade cultural através do território; as
atividades produtivas transmitidas pelas gerações passadas e exercidas até os dias atuais
pelos moradores do lugar; e a memória, como um dos elementos principais dos
processos de transmissão de conhecimentos práticos e simbólicos que constituem a
cultura local.
140
A composição do grupo focal consistirá de pessoas integrantes da comunidade
tradicional e que tenham uma atuação relevante junto à unidade de conservação que será
o objeto do estudo de caso. A reunião de grupo focal consistirá na projeção de fotos do
local de estudo, onde o grupo participante será orientado a falar sobre as fotos a medida
que elas vão sendo projetadas, comentando suas impressões de forma livre.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O turismo é uma atividade que transforma, de maneira sutil ou intensa, os lugares aonde
ele se desenvolve. Muitas vezes, à medida que o lugar se transforma ele se reorganiza e
recebe influências externas, podendo perder suas características de comunidade. Daí a
preocupação de vários grupos sociais que vivem em comunidades litorâneas com a
ocupação turística do lugar. Tal preocupação reflete ao mesmo tempo uma consciência
do potencial que o turismo tem de alterar os lugares nos quais se desenvolve e um receio
de que venham a perder as características que definem a sua marca identitária seus
valores comunitários.
141
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
As identidades, assim como a cultura, são dinâmicas, pois estão em constante processo
de reconstrução, recebendo influências externas e internas. Mas segundo Teixeira,
Michelin & Dall‘Agnol (2008, p. 4), um dos grandes desafios contemporâneos ―é
atingir uma estabilidade prudente entre a manutenção das identidades locais e o
desenvolvimento necessário para sua inserção nos processos econômicos‖. Em outras
palavras, a questão que se coloca atualmente é a de como desenvolver o turismo de
forma que este não cause impactos socioculturais negativos em uma comunidade, a
ponto de esta perder parte de sua identidade cultural.
142
processos da globalização. Essa forma de resistência está respaldada pelo
reconhecimento e valorização da cultura local pelos moradores do lugar turístico.
Portanto, este trabalho apresenta uma proposta de investigação que propõem a relação
entre resiliência e turismo com o intuito de propiciar ferramentas de análise para
compreensão dos meios e estratégias de manejo e gestão utilizados e utilizáveis pelos
moradores locais que habitam áreas protegidas de uso turístico. Segundo Adams (1988),
a diversidade ecológica, em muitos casos, foi mantida por causa da diversidade cultural
e das técnicas existentes nas comunidades de jangadeiros, caiçaras, povos indígenas,
etc. Nesse sentido, é importante ressaltar que as comunidades tradicionais têm direitos
inalienáveis à sua terra e ao controle dos recursos naturais, por isso, é relevante
reconhecer o acesso e o manejo tradicional como uma das formas de preservar a
biodiversidade.
A adoção de uma perspectiva sócio ecológica para conservação de espaços naturais nos
remete a relação intrínseca entre a biodiversidade23 e a sociodiversidade24 (BERKES;
FOLKES, 1998). Essa relação mútua pode ser entendida a partir da visão de Diegues
(1999), que mostra que,
No entanto, pelo fato da biodiversidade contemplar os recursos naturais em si, e por isso
mesmo, serem mercadorias nas sociedades modernas, acaba representando uma
valoração superior em relação à sociodiversidade, no que diz respeito à intervenção
ambiental que ainda se baseia fundamentalmente num enfoque biofísico relegando o
social ao segundo plano (ESCALERA, 2008; BALLESTEROS, 2011). Acontece que,
como foi dito anteriormente, geralmente, as áreas com maior biodiversidade são aquelas
onde há a presença da ação manejadora ligada ao modo de vida das comunidades
23
A variabilidade entre os seres vivos de todas as origens, inter alia, a terrestre, a marinha e outros
ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos dos quais fazem parte: isso inclui a diversidade no
interior das espécies, entre as espécies e entre espécies e ecossistemas‖ (Convenção sobre a Diversidade
Biológica/Artigo 2).
24
A relação entre bens e serviços gerados a partir de recursos naturais, voltados à formação de cadeias
produtivas de interesse de povos e comunidades tradicionais e de agricultores familiares.
143
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
tradicionais, que ali vivem há gerações, e que são responsáveis pela qualidade dos
hábitats transformados em áreas protegidas.
REFERÊNCIAS
BERKES, F. & FOLKE, C. Linking social and ecological systemns for resilience and
sustainability. In: BERKES, F; FOLKE, C. Linking social and ecological systems.
Management practices and social mechanisms for building resilience. Cambridge:
Cambridge University Press, UK, p. 1-25, 1998.
144
COLCHESTER, M. Resgatando a natureza: comunidades tradicionais e áreas
protegidas. In: DIEGUES, A.C.D. (Org.) Etnoconservação: novos rumos para a
conservação da natureza. São Paulo: Hucitec, 2000, p. 225-257.
145
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
ROBSON, C. Real world research: a research for social scientists and practitioner-
researchers. Oxford: Blackwell, 1993.
146
25
SENTIDOS DA PAISAGEM DO POVOADO CRASTO/SE
NA PERSPECTIVA DOS SUJEITOS DO LUGAR
RESUMEN: Este artículo está destinado a una reflexión sobre el sentidos del paisaje de
la comunidad del pueblo Crasto / Santa Luzia do Itanhy, umbicado em el estado de
Sergipe/Brasil atribuídos por los sujetos locales. Para la concretude de la investigación,
fueran elegidas las categorías geográficas lugar y paisaje, anclado por el método
fenomenológico. Mientras que la investigación, hemos utilizado las técnicas de
observación y entrevista semiestructurada, documentación fotográfica y la construcción
de los mapas mentales. Basado en lo anterior, se concluye que el paisaje que conforma
el lugar, está estrechamente relacionado con la vida cotidiana de los sujetos locales, y el
río és un de sus principales símbolos, ya que es por medio de él que los sujetos
construyen su forma de vida, que se caracteriza por la pesca y por topofílicos lazos que
involucran no sólo el río, como también Restinga, el Bosque Atlántico y el Mangle.
Tales componentes del paisaje se entrelazan con el acto de compartir, trabajo,
interacción, por lo general con el acto de ser de los sujetos de la comunidad.
25
Este artigo é fruto do projeto de pesquisa PIBIC/PICVOL, intitulado ―turismo comunitário no povoado
Crasto/ Santa Luzia do Itanhy-SE, sob a perspectiva dos sujeitos locais‖, coordenado pela profa. Dra.
Roseane Cristina Santos Gomes, desenvolvido no período de agosto de 2014 a julho de 2015.
147
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
INTRODUÇÃO
A
construção do presente artigo tem por objetivo uma reflexão acerca dos
significados da paisagem do povoado Crasto/Santa Luzia do Itanhy/SE,
atribuídos pelos sujeitos locais, considerando a relação destes sujeitos com o
lugar em que vivem, a partir de suas percepções. Em meio a referida reflexão, foram
enfatizados, preponderantemente, três aspectos: a estrada; a Mata do Crasto, e por fim,
mas não menos importante, o Rio Piauí.
Para tanto, entre outros autores, considera-se Berque (1998) ao que concerne a paisagem
enquanto Marca e enquanto Matriz; Kozel (2001) em relação aos mapas mentais e Tuan
(1979) para enfatizar a topofilia dos sujeitos em relação ao lugar, além de Holzer (1997)
para abordar epistemologicamente a Fenomenologia enquanto ciência das essências.
Deste modo o presente artigo está estruturado em cinco momentos onde o primeiro é o
presente com a introdução. O segundo faz referência ao elo entre a Geografia e a
Fenomenologia e seu ponto comum enquanto ciências. No terceiro momento há uma
descrição metodológica da pesquisa com ênfase à Pesquisa Qualitativa. O quarto
momento é voltado para a apresentação dos resultados, no qual é evidenciado, por meio
148
das observações, das entrevistas e os mapas mentais a relação topofílica entre os sujeitos
locais com a paisagem do povoado Crasto. Por fim, mas não menos importante, a
Conclusão com o desfecho final da temática abordada.
De maneira sucinta, a Geografia passou por dois grandes ciclos. Suas bases teórico-
metodológicas encontravam-se fundamentadas sob o viés teorético quantitativo de
embasamento positivista; posteriormente, fundamentou seu caráter metodológico,
preponderantemente e que prevalece até os dias atuais, na ciência de cunho marxista sob
a face do prisma do materialismo-histórico e dialético.
26
sm (vital+ismo) 1 Filos Doutrina segundo a qual os seres vivos possuem uma força particular, distinta
da alma e da físico-química, que dá origem aos fenômenos vitais; opõe-se ao mecanicismo. 2. Conjunto
das funções orgânicas; vitalidade.
149
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
150
uma história, de um conhecimento, de lembranças, que não se encontram em um livro
ou em alguma mídia, isto por ser algo único, por ser uma fonte diferente e inigualável a
qualquer outra, ou seja, a sua percepção de mundo.
A percepção está relacionada com os efeitos dos fatores sociais e culturais sobre a
estruturação cognitiva do indivíduo no seu ambiente material e imaterial, no seu
território. Para Smyth (1995), nossas percepções sobre o ambiente externo (the
151
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
landscape) são sempre transformadas pelos nossos ambientes internos (the inscape), isto
é, fazemos a leitura da natureza (mindscape) de acordo com os nossos anseios,
vontades, necessidades, memórias, experiências e vivências. As duas percepções e as
nossas respostas para elas são selecionadas e interpretadas sob as suas influências.
De acordo com Kozel (2001), é através dos processos perceptivos, a partir dos
interesses e necessidades que estruturamos e organizamos a interface entre realidade e
mundo, selecionando-as, armazenando-as, e conferindo-lhes significados. Neste sentido,
e por meio da percepção, o presente trabalho propõe compreender as tessituras que
regem as relações estabelecidas entre os sujeitos que habitam o povoado Crasto em
Santa Luzia do Itanhy – SE, dentro de um contexto histórico e a partir das
transformações socioespaciais que neste lugar e nesta paisagem ocorreram.
O primeiro autor a fazer uma ponte entre a fenomenologia e a geografia foi Relph com o
livro Place and placelessness (1980), no qual o mesmo enfatizava, dentro desta
concepção metodológica, a importância do lugar, pois: "o lugar onde alguém está é,
152
talvez, os lugares e paisagens de que ele se lembra", ou seja, "uma profunda e imediata
experiência do mundo que é ocupado com significados e, como tal, é a própria base da
existência humana" (RELPH, 1980, p. 5).
[...] o lugar é uma unidade entre outras unidades ligadas pela rede de
circulação; [...] o lugar, no entanto, tem mais substância do que nos
sugere a palavra localização: ele é uma entidade única, um conjunto
'especial', que tem história e significado. O lugar encarna as
experiências e aspirações das pessoas. O lugar não é só um fato a ser
explicado na ampla estrutura do espaço, ele é a realidade a ser
esclarecida e compreendida sob a perspectiva das pessoas que lhe dão
significado. (TUAN, 1979, p. 387)
De acordo com Tuan (2012), topofilia é o elo afetivo entre a pessoa e o lugar ou ao
ambiente físico. Difuso como conceito, vivo e concreto como experiência pessoal e
assume muitas formas e varia muito em amplitude emocional e intensidade.
153
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
O elo supracitado pode ser evidenciado quando associado ao lugar no qual as pessoas
estão, residem, vivem e percebem o seu redor, baseado no seu estar. Deste modo, ao
perceber o estar de uma determinada localidade, o sujeito adentra na descrição e
percepção sobre a paisagem intrínseca ao lugar do qual está inserido.
Sendo assim, compreende-se por paisagem (somente) uma faixa do espaço que une
dialógica e dialeticamente fatores humanos, consequentemente culturais, pois não há
homem sem cultura, e físicos como solo, vegetação, relevo, hidrografia. De acordo com
Sauer a paisagem é
Sob este viés, a paisagem é constituída pela marca e pela matriz. No primeiro caso a
paisagem expressa o visível no espaço, ou seja, a sua base material; já no segundo caso,
154
a paisagem matriz faz referência ao sentido, a essência, ao perceber, viver, as relações
subjetivas que se fazem intrínsecas entre os sujeitos e a própria paisagem matriz.
Meios e paisagens são formados desses objetos que todo mundo pode
ver, que alguns estudam, e que todos utilizam de diversas maneiras: as
árvores e as terras, as rochas e as colinas... Pensar os meios e as
paisagens, é empreender a reunificação ou de colocar todas as atitudes
que se pode adotar, em face destes objetos, para perceber,
compreender, sentir e se exprimir (CHATELlN, 1986, p.1).
Para não encontrar-se em ―autocrítica‖, a paisagem neste artigo será enfatizada dentro
do contexto geográfico cultural e a partir desta vertente, será embasada a sua
fundamentação teórica. Entretanto, em nenhum momento será adjetivada. Cabe salientar
que o uso deste prisma, no presente artigo, não exclui outros prismas geográficos e suas
respectivas bases, portanto a importância do tripé apresentado por Smyth (1995)
referente a the landscape, the inscape e midscape e a Berque (1998) quando referencia a
paisagem enquanto marca e matriz.
155
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Para o desenvolvimento da pesquisa, um plano de metas foi traçado e para tanto, tornou-
se pertinente o levantamento bibliográfico, pesquisa documental direta e intrínseca a
esta, as observações, as entrevistas, a construção de um acervo fotográfico e a técnica de
construção de mapas mentais pelos sujeitos do Crasto. Tais procedimentos foram
realizados a fim de aproximar e relacionar teoria e práxis.
No que se refere à pesquisa documental direta, está foi realizada durante os meses de
dezembro de 2014, maio e julho de 2015. O intuito foi apreender os sentidos da
paisagem na perspectiva dos sujeitos locais.
Desta maneira foram coletados dados visíveis para desenvolver parte do diagnóstico
socioambiental. Porém, além da observação, foi realizada a coleta de relatos informais
junto aos sujeitos, o que promoveu uma interação entre os pesquisadores - sujeitos da
comunidade. Essa técnica permitiu captar a realidade imediata do cotidiano dos sujeitos.
Foi feito também nessa primeira visita vários registros fotográficos da área de estudo.
Salienta-se que tais procedimentos foram feitos durante todas as visitas à comunidade.
156
No levantamento fotográfico, foi dada ênfase as leituras relacionadas às categorias
paisagem e lugar, ao método fenomenológico, topofilia, entre outras temáticas que a
geografia cultural abarca e que foram coerentes para a apreensão do objeto estudado.
Os mapas mentais têm ímpar relevância, pois atribuem uma representação artística do
povoado Crasto com base na percepção dos sujeitos locais que o vivenciam, pois:
157
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
RESULTADOS E DISCUSSÃO
158
A respeito da estrada de acesso será feito, inicialmente uma análise das transformações
da paisagem, enfatizando-se as questões perceptivas dos sujeitos locais e as questões
físicas; a marca e a matriz da Rua Floriano Peixoto, pois, conforme roteiro de
entrevista, quando questionados sobre transformações ocorridas na paisagem nos
últimos cinco anos, a estrada em questão é a referência que mais se destaca.
159
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
A estrada, todo dia atolava, a gente tinha que descer do carro pra ir,
e era aquela dificuldade. E às vezes tinha gente de Santa Luzia que
queria nem vim aqui por causa da rodagem e hoje todo mundo quer
vim, porque tem a rodagem [...] e eu achei muito bom né!Nós sofria
muito até pra muié [mulher] pari. Pra pari, era a maior dificuldade!
O carro chegava num alotero desse e hoje não. (Sujeito local F).
160
Aí, teve gente aqui da comunidade que disse que ia prejudicar, porque
ia trazer muita gente, ia trazer muitas drogas. Essas coisas têm em
qualquer lugar. Agora, quem vai ter que excluir isso, esse povo? É a
comunidade, porque você pode se dar muito bem com quem usa
droga, com quem não usa e você vai ter que saber, você vai ter que
trabalhar esse pessoal. Aí, quiseram fazer uma caveirazinha
(atrapalhar) pra essa estrada não vim, mas eu dou um ponto muito
grande a quem torceu pra essa estrada chegar (Sujeito local I).
O Crasto em sua estrutura sócio espacial, podem ser identificados alguns tipos de
serviços, comércios além de monumentos que simbolizam a religião dos Sujeitos locais.
Levando em consideração os serviços públicos, a comunidade possui duas escolas que
são administradas pela esfera municipal, um posto médico com atendimentos de duas a
três vezes por semana, o transporte é realizado por duas cooperativas de transportes
identificadas como COOPETALSE (cooperativa de transporte alternativo de Sergipe) e
COOPASE (cooperativa transporte alternativo Sergipe), ambas com itinerários
diferenciados, sendo um ligando o povoado a capital estadual e outro ligando ao
município de Estância respectivamente, além dos serviços de Taxi-lotação.
Comercialmente, alguns instrumentos são bem marcantes na paisagem construída como:
bares, restaurantes, minimercados, lanchonetes dentre outros. Os templos religiosos são
diretamente relacionados ao cristianismo, onde pudemos identificar três, dois em
referência ao catolicismo e um ao protestantismo.
27
Conforme aplicativo GPS Essentials versão 4.2.25:
161
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Tais variações de altimetria são percebidas pelos sujeitos locais na sua interação
cotidiana com o lugar. Tal fato pode ser ratificado por meio do mapa mental construído
por um sujeito local (Figura 5). Entretanto, diferentemente do referencial adotado na
pesquisa, o sujeito local não considerou a estrada neste contexto, apenas as ruinas da
igreja enquanto patamar. Neste contexto, fazendo uso do mapa mental em questão, foi
fotografada a paisagem do povoado, conforme a (Figura 6).
O mapa mental apresentou uma questão reflexiva sobre os limites do povoado, na qual
poderá ser abordada na continuação da pesquisa: a estrada faz parte ou não do povoado
Crasto?
Fonte: Trabalho de campo, Jun/2015 Fonte: Trabalho de Campo
Dez/2014.
Para além, há intensa relação com o Rio PiauíAutor:
devido a proximidade
SILVA, H.R.C. do mar na
constituição litológica da localidade em questão, pois os solos datam do período
Quaternário e são decorrentes de intenso trabalho. Desta maneira, os solos do povoado
apresentam características argilosas, na estrada de acesso ao povoado e na Mata do
Crasto ao seu redor, além do solo arenoso na costa do povoado.
162
Figura 7 – Solo arenoso as margens do Rio Piauí Figura 8 – Solo Argiloso na Entrada
O Rio Piauí, em termos afetivos e simbólicos, apresenta grande relevância aos sujeitos
do Crasto, preponderantemente os sujeitos pescadores, pois além da questão econômica,
e de auto sustentação da família, o rio é simultâneo e paradoxalmente o trabalho e o
lazer, conforme relato a seguir:
Aqui é nosso lar toda vida! [...] Aqui, chamo dois, três menino e vai
tudo numa canoa. Não leva nada, só mau uma rede. Chega lá, Deus
163
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
ajuda e trás, porque coisa melhor do que isso aqui, nós não temo. Isso
aqui é o paraíso! Se não tem nada, nós temos esse rio, hoje tá ruim
como a poxa, mas se não fosse ele, era pior ainda, né!? (Sujeito local
G).
Os sujeitos locais têm o Rio Piauí como um dos símbolos principais do povoado Crasto,
pois além de representar sustento, representa, inclusive, algo bem mais íntimo. Há um
elo peculiar unindo o natural ao social. Ao que concerne, pode-se citar como exemplo o
sujeito local G, ao representar seu povoado por meio da técnica de construção de mapas
mentais (figura 7), deixou evidente tais elementos supracitados.
164
Os elementos relacionados à pesca e ao rio são tão enfáticos nos sujeitos locais que
comumente há adereços nas paredes das casas enfatizando simbolicamente suas
acepções profissionais, cotidianas e inclusive de gratidão, conforme figuras 8 e 9.
Outro exemplo que ratifica este pertencer e perceber o rio enquanto elemento na
paisagem e no cotidiano do povoado Crasto, pode ser demonstrado através do Mapa
Mental, (Figura 10), neste fica notório a representação da pesca tanto com a rede quanto
com o anzol, além da realização de uma festa destinada aos pescadores que ocorre uma
vez por ano. Não obstante, é uma comunidade intimamente ligada ao rio, considerando
as atividades sociais, trabalhistas, festivas que se encontram intersubjetivamente nos
sujeitos locais e no seu modo de vida.
165
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
166
O sujeito deixa claro que ninguém é dono da natureza, ela é de todos; ele deixa claro
que tudo o que possui foi extraído da natureza (mata, rio). O sujeito local revela uma
consciência ambiental, quando o mesmo afirma que, sem a natureza a comunidade não
teria nada, e por este motivo há a necessidade de preservá-la.
167
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Neste sentido, os principais fatores que geram tal problemática, constatados na pesquisa
in loco, nas entrevistas e nos mapas mentais construídos pelos sujeitos locais é a falta de
consciência de alguns residentes que despejam seus lixos domésticos, além do despejo
do esgoto sanitário que vai diretamente para o Rio Piauí. Tais fatores (mas não somente
estes) geram, obviamente, um contraponto no ecossistema, que já é percebido pelos
sujeitos, conforme relato abaixo:
168
caranguejo! Teve uma vez que teve uma mortalidade de caranguejo
aqui que deu urubu no mangue. Todo o mangue que a gente ia de lá
de cima até cá em baixo, onde a gente entrava, só encontrava
caranguejo morto (Sujeito Local A).
Tal problemática de poluição é uma constante no povoado, por tal motivo os sujeitos
foram enfáticos e críticos ao representarem quando abordado o tema. Um destes
exemplos exposto na figura 13, diz respeito ao de uma moradora, mulher de pescador e
mãe de 3 filhos que reside as margens do rio.
169
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
CONCLUSÃO
28
Pedaços de madeira.
170
transformações espaciais, percebidas e representadas neste artigo através da estrutura e
sistematização da Pesquisa Qualitativa, ao estar em uníssono com a Geografia.
Em suma, a paisagem do povoado Crasto, tanto como Marca quanto enquanto Matriz, é
valorizada e tem significado em decorrência das particularidades imateriais dos sujeitos
locais. O (con)viver, perceber e experienciar dos moradores retratam e revelam o
pertencer das pessoas para com a localidade. Nesta perspectiva relacional, os mapas
mentais representaram não apenas um desenho da paisagem, mas um espelho que
reflete o modo de vida, permeado de topofilia considerando o elo sociedade-natureza,
paisagem-lugar.
REFERÊNCIAS
CORRÊA, Roberto Lobato. Região e organização espacial. 6. ed. São Paulo: Ática,
1998.
171
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
172
RELPH, Edward (1980). Place and placelessness. London:Pion.
SOUSA NETO, Manoel Fernandes de. Aula de geografia e algumas crônicas. 2. ed.
Campina Grande: Bagagem, 2008.
173
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
174
proposed, since it will make possible clarification and proper discussion with intention
of contributing in geographic studies about public politics and the role of the State in the
spatial configuration/conformation in northeast of Brazil.
INTRODUÇÃO
A
o longo dos tempos o homem aproveitou-se dos recursos naturais para
garantir sua existência no planeta e muitas vezes, acabou utilizando-os de
maneira inadequada e predatória, colaborando para a destruição e extinção
dos mesmos.
175
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
176
Só nos últimos cinco anos, o hiperconsumo quadruplicou o preço do
petróleo. A globalização tornou-se insustentável do ponto de vista
econômico e ambiental. Com os recursos naturais de que dispõe, o
planeta é capaz de abrigar apenas 200 milhões de pessoas com estilo
de vida de um cidadão americano. (RIFKIN, 2008, p. 20).
Desse modo, a preocupação com o meio ambiente fez com que o homem se voltasse
para a natureza buscando nos seus elementos as alternativas energéticas capazes de
fornecer energia para sustentar o seu desenvolvimento social e tecnológico. Fez-se
assim, uma retomada das alternativas energéticas que provêm dos recursos naturais
renováveis. Segundo Reis:
29
Adalbo (2002); Fadigas (2009) e Setas (2008).
177
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
A região Nordeste do Brasil, por sua vez, apresenta indicadores de velocidade e direção
dos ventos muito satisfatórios em comparação às demais regiões do país. Porém, os
projetos caminham em passos lentos, sendo que foram implantados poucos parques
eólicos nos estados da Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e
Sergipe.
O presente estudo tem como objetivo analisar o potencial eólico da região Nordeste do
Brasil, decorrente de fatores naturais e técnicos positivos, face à complementariedade à
energia hidráulica. Além de elucidar a maneira como o governo brasileiro conduz a
implantação de parques eólicos em nosso país. A fundamentação teórica deste estudo
sustenta-se nas acepções de espaço, território e redes, sob as diferentes abordagens.
30
Setas (2008).
178
CATEGORIAS E CONCEITO
Para Milton Santos, a compreensão do espaço vai além de suas formas. O espaço é um
produto social construído. Interpretar a sociedade a partir do território remete ao
reconhecimento do conflito existente entre aqueles que reproduzem e controlam o uso
do espaço através das técnicas que garantam as condições de sua reprodução, e aqueles
que buscam, através de usos variados, superar as condições dominantes impostas,
também através do espaço.
179
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Milton Santos elege as categorias forma, função, estrutura, processo e totalidade como
as principais que devem ser consideradas na análise geográfica do espaço; este constitui
a categoria principal e auxilia na compreensão do território. O espaço, dessa maneira, é
construído processualmente e contém uma estrutura organizada por formas e funções
que podem mudar historicamente em consonância com cada sociedade.
Ser um povo mais civilizado, quanto mais intenso era o uso do meio,
pois mais sofisticadas eram suas técnicas de produção. Os povos
considerados civilizados eram aqueles que conseguiam organizar um
Estado-Nação como expressão do grau máximo de coesão social e de
180
acúmulo de patrimônio cultural. Ao Estado cabia defender o território
e lutar por mais espaço (vital). (RATZEL, 1998, p. 15).
Neste sentido, Ratzel considera o território como um espaço concreto, apropriado por
um grupo social ou por um Estado-Nação que o administra por meio de leis, e onde
todos serão unidos por laços comuns, tais como a linguagem, a cultura, os costumes,
entre outros.
Raffestin avança pontuando que o espaço é anterior ao território, ele considera o espaço
uma matéria-prima onde se desenvolverá um trabalho que caracterizará o território, por
desencadear uma relação de poder. Para este autor:
Esta definição está diretamente ligada à ideia de poder, o que é confirmado quando
Raffestin (1993, p. 144) acrescenta que ―o território, nessa perspectiva, é um espaço
onde se projetou um trabalho, seja energia e informação, e que, por consequência,
revela relações marcadas pelo poder‖.
Assim, é produzido o território que historicamente foi definido e delimitado a partir das
relações de poder, concebido através da receptividade dos sujeitos. Por isso, torna-se um
espaço de conflitos.
Já Haesbaert (2004), afirma que o termo território nasce de uma dupla conotação,
material e simbólica, pois etimologicamente aparece tão próximo de terra-territorium
quanto de terreo-territor (terror, aterrorizar), ou seja, tem a ver com dominação
(jurídico-política) da terra e com a inspiração do terror, do medo – especialmente para
aqueles que, com esta dominação, ficam alijados da terra, ou no ―territorium‖ são
impedidos de entrar. Nas palavras de Sposito, o território:
181
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Assim, território não está separado de sua origem epistemológica - a posse de terra –
mas também traz uma bagagem cultural, ou seja, relaciona-se tanto ao poder
(dominação), quanto no sentido mais simbólico, de apropriação. Ao se apropriar do
território o grupo social passa a não poder ser mais compreendido sem o seu território,
base de sua história, cultura e sustentação.
Para Milton Santos (1994), o território é composto por variáveis, tais como a produção,
as firmas, as instituições, os fluxos, os fixos, relações de trabalho etc., interdependentes
umas das outras. Essas variáveis constituem a configuração territorial. Santos define o
território como sendo:
Raffestin (1993, p.151) afirma que ―esses sistemas de tessituras, de nós e de redes [...]
permitem realizar a integração e a coesão dos territórios‖. Este autor concebe o
território, em seu sentido absoluto, não explorando o seu sentido relacional. Souza
(2001, p.97) aborda que o território imprescinde de um espaço social: ―[...] o território
não é substrato, o espaço social em si, mas sim um campo de forças, as relações de
poder espacialmente delimitadas e operando, destarte, sobre um substrato referencial‖.
182
Saquet afirma que, a territorialidade se efetiva:
183
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Segundo Dias (2007), na medida em que surge uma inovação técnica parece
corresponder um revigoramento do interesse pelas redes e, a partir daí, um
rejuvenescimento teórico-conceitual.
Assim, as ligações se dão através dos nós que acabam se integrando e formando uma
rede. E o que seria afinal uma rede geográfica? Segundo Corrêa (1997), rede geográfica
é um conjunto de localizações geográficas interconectadas em si por um certo número
de ligações. Estas ligações podem se referir a:
184
Neste sentido, o estudo das redes será relevante na compreensão da reconfiguração
territorial impulsionada pela introdução de torres geradoras de energia eólica que
certamente provocam rearranjos nas relações sociais do espaço.
Denomina-se energia eólica aquela que tem como força motriz o vento, movimento do
ar na atmosfera terrestre. Segundo Adalbó:
185
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Tendo em vista que o eixo da Terra está inclinado de 23,5° em relação ao plano de sua
órbita em torno do Sol, variações sazonais na distribuição de radiação recebida na
superfície da Terra resultam em variações sazonais na intensidade e duração dos ventos,
em qualquer local da superfície terrestre. Como resultados surgem os ventos
continentais ou periódicos e compreendem as monções e as brisas. As monções são
ventos periódicos que mudam de direção a cada seis meses aproximadamente. Em geral,
as monções sopram em determinada direção em uma estação do ano e em sentido
contrário em outra estação. Fatores como variação da velocidade com a altura; a
rugosidade do terreno, que é caracterizada pela vegetação, utilização da terra e
construções; presença de obstáculos nas redondezas; relevo que pode causar efeito de
aceleração ou escoamento do ar influenciam na direção do vento e na escolha para o
local que serão instaladas torres eólicas. (CRESESB, 2013).
Os egípcios foram os pioneiros a usar a energia eólica para mover os barcos à vela. Os
primeiros moinhos utilizados para moer grãos surgiram no século VII, na Pérsia, e
devido à roda das pás (hélices) está inserida na horizontal e sustentada por um eixo
vertical, não era eficaz. Na Europa, os primeiros cata-ventos apareceram no século XII
na França e Inglaterra. (ADALBÓ, 2002).
Com o surgimento da revolução industrial no século XIX, a qual a fonte de energia era
direcionada para o vapor, a eletricidade e os combustíveis fósseis, estagnou-se o
desenvolvimento de moinhos de vento. Contudo, na segunda metade deste século
apareceu o moinho de pás múltiplas americano, um dos mais importantes avanços nesse
tipo de tecnologia. A partir daí, outras aplicações se desenvolveram e melhoramentos
foram introduzidos na aerodinâmica das pás e freios hidráulicos utilizados para deter o
movimento das hélices. No final do século passado, a Dinamarca passa a ser pioneira no
uso de turbinas eólicas para a geração de eletricidade.
186
Desde então, diversas pesquisas vem sendo realizadas nessa área e os resultados tem
sido satisfatórios. O nível tecnológico cada vez mais está sendo aperfeiçoado, o que faz
decrescer o custo da turbina. Porém, ainda continua muito caro manter essa tecnologia e
isso acaba não despertando o interesse de muitos países em adquirí-la. A figura 1
representa um moinho de vento da Holanda, bastante utilizado no século XIX.
187
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
China e Estados Unidos juntos produzem 43% da capacidade instalada global, sendo
que o primeiro foi responsável por 50% do crescimento em 2010, além de tornar-se o
maior produtor mundial de equipamentos e componentes eólicos, passando a atender
não apenas ao mercado doméstico, mas também a competir no mercado internacional.
O Brasil ocupa a 22ª posição no ranking mundial e é líder na Iberoamérica. Sua potência
eólica instalada alcançou 926,5 MW, com 326,6MW instalados em 2010 (Gráfico 1).
188
Esse destaque deve-se ao Programa de Incentivo às Fontes Alternativas-PROINFA
(1.429MW) e já se instala cerca de 60% da potência atualmente existente. Apesar de ter
excelentes ventos para essa atividade, esse tipo de energia é bastante limitado, pois
considerando seu potencial eólico, há poucas torres instaladas gerando eletricidade no
país.
189
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Como vimos o uso das energias renováveis, em especial a eólica traz vários benefícios
para o meio ambiente e para sociedade, pois são inesgotáveis à escala humana;
permitem reduzir a dependência energética da nossa sociedade face aos combustíveis
fósseis; conduzem à investigação em novas tecnologias que permitam melhor eficiência
energética; promove a inclusão social e gera emprego. Pode-se destacar como
desvantagem em sua utilização fatores como: algumas têm custos elevados na sua
implantação, devido ao fraco investimento nesse tipo de energia; podem causar
impactos visuais negativos no meio ambiente e pode gerar algum ruído, no caso da
exploração de alguns recursos energéticos renováveis.
Nosso país apresenta dois fatores técnicos importantes para a implantação desse tipo de
energia. O primeiro é o alto fator de capacidade dos empreendimentos eólicos, que
podem chegar a 50%, como ficou comprovado nos últimos leilões de 2011. E, o
segundo, é a complementaridade entre a energia hidrelétrica e a energia produzida pelo
vento (Figura 4).
190
Figura 4 - Mapa temático da Velocidade Média Anual do Vento a 50 m de
Altura em m/s
191
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
POTENCIAL ENERGIA
EÓLICO ANUALEQUIVALENTE
REGIÃO
MW % (TWh/ano) %
Assim, a proposta de uso da energia eólica conta com a grande vantagem de ser uma
fonte alternativa à energia hidráulica produzida no Rio São Francisco, pois conta com
uma compensação entre as fontes hidráulica e eólica.
Segundo Souza, Dutra e Melo (2008) estudos do potencial eólico nacional foram
elaborados a 100 m e estima-se que a potência eólica poderá se aproximar a 500 GW.
Esse índice mostra um aumento da velocidade média das regiões acima citadas, bem
como o surgimento de novas fronteiras eólicas, como o Estado do Piauí, o oeste dos
Estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina, e até algum potencial no Mato Grosso
do Sul, além do nordeste de Roraima.
192
Diversidade das características dos projetos quanto à localização, aspectos
topográficos e características da rede;
Possibilidade de garantias de financiamento;
Desenvolvimento da indústria nacional de sistemas eólicos;
Estabelecimento de uma legislação favorável à disseminação da tecnologia
eólica para geração de eletricidade em grande escala.
Esses parques eólicos tiveram a parceria de empresas locais e estrangeiras. Estas últimas
viram no Brasil a possibilidade de aumentar seus lucros através desse tipo de energia,
uma vez que esse recurso é abundante em nosso país. Também houve o apoio do
governo federal, no tocante aos incentivos fiscais para a instalação dessas usinas.
Para desenvolver mais rápido a consolidação desses e de novos projetos foi criado em
26 de abril de 2002 pela Lei nº 10.438 e revisado pela Lei 10.762 Alternativas de
Energia Elétrica, o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica
193
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
194
expansão do mercado do gás natural e do pré-sal. Some-se a isso a crise
internacional, que sinaliza repercussões no mercado dos países emergentes,
fazendo reduzir o ritmo de crescimento e, por conseguinte, o mercado de energia
elétrica;
Entretanto, mesmo com tantas dificuldades a energia eólica, ainda que a passos lentos
vem ganhando espaço no cenário brasileiro e contribuindo para o aumento e
diversificação da matriz energética.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A geração de energia elétrica por meio de turbinas eólicas constitui uma alternativa para
diversos níveis de demanda. As pequenas centrais podem suprir pequenas localidades
distantes da rede, contribuindo para o processo de universalização do atendimento.
Quanto às centrais de grande porte, estas têm potencial para atender uma significativa
parcela do Sistema Interligado Nacional (SIN) com importantes ganhos: contribuindo
para a redução da emissão, pelas usinas térmicas, de poluentes atmosféricos;
diminuindo a necessidade da construção de grandes reservatórios; e reduzindo o risco
gerado pela sazonalidade hidrológica, à luz da complementaridade.
Ao longo desse estudo pudemos perceber que a instalação de um parque eólico gera
impactos positivos e negativos no meio ambiente. Entre os principais impactos
socioambientais negativos das usinas eólicas destacam-se os sonoros e os visuais. Os
impactos sonoros resultam dos ruídos dos rotores e variam de acordo com as
especificações dos equipamentos (ADALBÓ, 2002). Segundo o autor, as turbinas de
múltiplas pás são menos eficientes e mais barulhentas que os aerogeradores de hélices
de alta velocidade. A fim de evitar transtornos à população vizinha, o nível de ruído das
195
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Com esse estudo pode-se observar a maneira que o governo brasileiro trata essa
temática, uma vez que os incentivos para a implantação de torres eólicas e estudos nessa
área ainda são considerados escassos, tendo apenas um órgão vinculado a esse tipo de
projeto ―O PROINFA‖ que traz propostas ainda pouco estruturadas para a temática em
questão.
Sabemos que temos um caminho longo e desafiador a percorrer. Neste sentido, espera-
se realizar uma pesquisa que possa contribuir para a reflexão acerca da temática, bem
como para a Geografia e áreas afins.
196
REFERÊNCIAS
DIAS, L.C. Os sentidos da rede: Notas para discussão. In: DIAS, L. C; SILVEIRA, R.
L. L da (Orgs): Redes, Sociedade e Territórios. Santa Cruz do Sul, UNISC, 2007.
FADIGAS, Eliane Aparecida Faria Amaral. A energia dos ventos. Revista Alternativa.
Editora Publicidade: ROMA4, ano I. n 3, p. 10-15, abril 2009.
RAFFESTIN, Claude. Por Uma Geografia do Poder. São Paulo: Editora Ática, 1993.
RIFKIN, Jeremy. Somos viciados em petróleo. Veja, São Paulo: Abril, ano 41, nº 51,
p.17- 21, dez.2008.
REIS, Lineu Bélico dos. Geração de energia elétrica. São Paulo: Manole, 2000.
197
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
SAQUET, M. A. Por uma abordagem territorial. In: SAQUET, Marcos A.; SPOSITO,
Eliseu S. (Orgs.) Territórios e territorialidades: teorias, processos e conflitos São
Paulo: Expressão Popular. UNESP. Programa de Pós-graduação em Geografia, 2009, p.
47 – 60.
198
LA POLÍTICA DE LA TRADICIÓN: EL MUSEO GAUCHESCO “RICARDO
GÜIRALDES” Y EL ESCENARIO RURAL COMO RESERVORIO DE LA
NACIONALIDAD ARGENTINA (1936-1938)
199
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
INTRODUCCIÓN
E
l proceso que concluiría con el reconocimiento oficial del gaucho como
símbolo nacional incluía la creación de un espacio físico concreto para su
continua evocación. La gestación del museo gauchesco ―Ricardo Güiraldes‖
respondía a esa necesidad que implicaba la fundación de un ―templo‖ para que fuese
exaltado, de manera permanente, el gaucho que se erigía como personificación misma
de la tradición nacional. El lugar de emplazamiento fue San Antonio de Areco –
municipio ubicado en la zona norte de la provincia- que, además de ser el escenario
campero de la obra literaria Don Segundo Sombra (GÜIRALDES, 1926), era gobernada
por autoridades municipales afines a ese propósito que contaban con un marcado
respaldo a nivel provincial. Este artículo se empeña en abordar el proceso de gestación
de ese espacio cultural haciendo foco en la participación política de la obra.
200
(CATTARUZZA y EUJANIAN, 2003). Las funciones del gaucho en ese período no se
remitieron sólo al ámbito de interacción entre diversos sectores, como hemos analizado
en otros trabajos, la narrativa campera -encarnizada en la figura del gaucho- se utilizaba
con diferentes propósitos como promocionar nuevos productos de consumo o motorizar
las novedades de la industria cultural (CASAS, 2015).
201
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
se proclamó gobernador de Buenos Aires. Fresco fue uno de los máximos exponentes
del conservadorismo bonaerense, y manifestó su lema de gobierno con la tríada ―Dios,
Patria y Hogar‖.
Desde los primeros meses de su función al mando del ejecutivo provincial, Fresco
manifestó en diversas oportunidades su propósito de ―regular‖ la democracia liberal:
―La mera agregación numérica de votos, el cómputo mecánico de sufragios, emitidos en
el sigilo y la oscuridad, no confieren por si mismos ni autoridad ni estabilidad […] con
el sufragio secreto estamos creando una raza débil y poco viril‖ (cf. FLORIA 2010, p.
143). Así, desde los discursos del gobernador se pretendió cuestionar la pertinencia de
la Ley Sáenz Peña que había establecido el voto secreto, universal –para los argentinos
varones, nativos o naturalizados- y obligatorio. Como explica María Dolores Béjar: ―La
atención a las necesidades básicas por parte del Estado iba unida a la exigencia de que la
sociedad adhiriese a una serie de valores e instituciones que el gobierno definía como
núcleos de toda sociedad equilibrada: la religión, el nacionalismo, y la familia.‖
(BÉJAR, 1997, p. 96) El tópico del patriotismo fue impulsado por Manuel Fresco, no
sólo desde lo discursivo sino con medidas concretas. En la lógica anticomunista de su
gobierno, el cumplimiento de obras de corte social se direccionaba a reforzar ese
objetivo. Por ejemplo, en un acto celebratorio del Instituto de la Vivienda Obrera,
instalado en La Plata a mediados de 1937, el ministro de Gobierno de la provincia, Dr.
Roberto Noble, ante la presencia del gobernador, capitalizaba la manifestación para
expresar: ―El gobierno de Buenos Aires puso fuera de la ley al comunismo […] Las
inquietudes del mundo entero se reflejan en nuestro país y saturan nuestras
preocupaciones políticas y sociales de conceptos extranjeros. Por eso el gobierno de
Buenos Aires trata de cumplir un programa de reformas netamente nacionalista.‖ (El
Día, 25.3.1938, p. 5). En ese contexto, la atmósfera que cubrió los festejos a la
―tradición‖ se insertó como un espacio para reafirmar los sentimientos por la patria y
consolidar la identidad nacional argentina.
Otra característica del gobierno de Manuel Fresco –que se ligaba en cierto punto a los
elementos exaltados en la gestación del Museo Ricardo Güiraldes- refería a su política
agraria para la campaña bonaerense. En efecto, durante su mandato se desarrolló un
novedoso proyecto de colonización: el Estado provincial creó un instituto encargado de
comprar grandes propiedades de tierras que –previo diseño de colonias agrícolas- eran
202
entregadas a los campesinos –antes condenados al arriendo- para que las trabajaran
personalmente. Según plantea Javier Balsa, ese impulso a la colonización se insertaba
en una nueva estrategia del conservadorismo argentino que pretendía legitimarse, ante la
consolidación del yrigoyenismo, interpelando el apoyo de los chacareros del campo. El
gobernador articuló esa política agraria con su discurso nacionalista, garantizando que
sus proyectos agrícolas sanearían el desequilibrio demográfico de la provincia –en
referencia a la concentración de población en las ciudades-. En la concepción de Fresco,
allí radicarían ―los hijos de la Patria‖ que habrían de servirla con ―orgullo y dignidad‖
en tanto serían ―libres de las asechanzas y de las inquietudes que provoca la vida en las
grandes ciudades.‖ (BALSA, 2010). La distinción que realizaba Fresco, sería
recuperada por los tradicionalistas a finales de la década. El posicionamiento que le
otorgó el Gobierno al campo como fuente de la riqueza nacional contribuía a la atención
que imantaba la vida rural en las construcciones sobre la figura del gaucho.
La concreción del parque gauchesco en San Antonio de Areco y sus primeros años de
funcionamiento estuvieron enmarcados en los comienzos de la Segunda Guerra
Mundial. Ese conflicto internacional fue aludido, de modo sutil y tangencial, en las
celebraciones a la tradición nacional de las que fue sede el Museo. Los discursos
circulantes allí se afanaban en ―cerrar filas‖ y cristalizar una ―identidad argentina‖ en
detrimento del cosmopolitismo y las influencias extranjeras. La dicotomía no se
fundamentaba tanto, hacia 1939, en la vitalidad de las corrientes inmigratorias. De
hecho, la inmigración a la Argentina había disminuido un 75 por ciento –en un
promedio aproximado- respecto de la década anterior. Como plantea Fernando Devoto,
desde la segunda mitad de los años treinta el ―problema migratorio‖ se planteaba desde
otras perspectivas. La cuestión de los refugiados generaba álgidos cuestionamientos en
la política internacional e interna. Las elites conservadoras que gobernaban el país
rechazaban su llegada alegando que –en tanto no eran desplazamientos voluntarios- los
refugiados mostraban serias limitaciones en sus capacidades productivas y escasa
motivación para integrarse (DEVOTO, 2005). La preocupación por las inmigraciones
no deseadas emergió con intensidad, tanto al comienzo de la guerra civil española en
1936 como en los inicios de la contienda bélica mundial. De ese modo, las prédicas
tradicionalistas se articulaban con un contexto político funcional para la exaltación de lo
―nacional‖ y la animadversión hacia lo ―foráneo‖.
203
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
204
En notoria comunión con lo que acontecía a nivel provincial, la problemática del
nacionalismo tuvo su correlato en la realidad municipal. Desde 1935 la crítica
ideológica y pragmática al Gobernador provincial Manuel fresco se hizo constante
desde los sectores radicales locales. El periódico La Idea dejó bien en claro su postura
calificando de ―Mentira Criolla‖ el augurio que el Gobernador expresaba luego de las
polémicas elecciones en Buenos Aires: ―los conservadores haremos un gobierno
democrático y legal‖ (La Idea, 16.6.1935, p.3). Pero las críticas y reacciones fueron
continuamente direccionadas más al gobierno municipal que al provincial. Las posturas
adoptadas por la intendencia en lo que concierne al desarrollo cultural y al estímulo para
la evocación de una tradición nacional, que se representaba no solo en la figura del
gaucho sino también en los símbolos y fiestas patrias, despertaron una sistemática
tensión con el partido opositor. Por ese entonces la acusación al radicalismo de
internacionalista formaba parte del discurso conservador. A nivel local, esta puja se
representó claramente en las proclamas-defensas que la Unión Cívica Radical expresaba
desde su periódico. A mediados de 1936 los dirigentes radicales respondían
abiertamente: ―La U.C.R. es un partido nacionalista‖ y se mostraban indignados por la
falta de patriotismo de los comerciantes locales que habían utilizado el 25 de Mayo para
aumentar sus cuentas, desatendiendo que ese ―no era un día para la usura‖ (La Idea,
31.5.1936).
205
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
cree un deber conservar los usos y costumbres de nuestros antepasados como guías para
las presentes generaciones y como ejemplos vivientes para las venideras.‖ Con esta
introducción, el decreto aspiraba a recolectar objetos característicos de una época para
su evocación. En búsqueda de integrar a la sociedad en el desarrollo de ese proyecto, se
apelaba a la reunión de todos los recuerdos dignos que se hallasen en los ―templos
hogareños‖. La consigna de Güiraldes representaba un llamado dirigido notoriamente a
las familias que conformaban la élite arequense, en su mayoría compuesta por
estancieros de alto poder adquisitivo y presencia tradicional en el lugar, para la
preparación de la muestra. La comisión organizadora del evento estuvo integrada por
apellidos significativos en la historia política y social del pueblo como: Colombo;
Güiraldes y Jordán (BURGUEÑO, 1936). El documento concluía especificando que la
cobertura de todos los gastos quedaba a cargo de la Municipalidad, incluyéndose al
presupuesto de ese año. Este ímpetu por el desarrollo de la exposición permite
reconocer el carácter central que tenía para la Intendencia la recuperación de una
tradición conformada por elementos vinculados al gaucho y su escenario. Como idea
subyacente de este afán municipal, se percibe una sensación de amenaza a esas
costumbres que debían revalorizarse como guía y ejemplo para las generaciones
contemporáneas. Sensación estrechamente vinculada al proceso de modernización que
se producía asociado al desarrollo de la vida en la ciudad (BALLENT y GORELIK,
2001).
206
PREPARATIVOS Y REPERCUSIONES
Las gestiones realizadas por el Ministro de Obras Públicas del Gobernador Manuel
Fresco para la creación del parque criollo y museo gauchesco ―Ricardo Güiraldes‖
comenzaron a desarrollarse a principios de 1937. José María Bustillo vio cristalizadas
sus intenciones de construir ―un sagrario más de evocación de nuestro heroico pasado‖
en el impulso recibido por parte del Gobernador (La Nación, 1.1.1938). El 12 de mayo
de ese año se sancionó el decreto provincial que indicaba la adquisición de treinta y
ocho hectáreas para destinarlas a la creación del parque criollo y museo gauchesco. En
el mismo se manifestaba el Poder Ejecutivo de la provincia como ―deseoso de fomentar
y estimular la educación popular, la afición al turismo, el amor a las bellezas naturales y
los actos tendientes a rememorar el honroso pasado de nuestra evolución social.‖ Se
percibe así la presencia de dos estímulos principales para su concreción: uno de índole
cultural anteriormente analizado y otro de carácter económico que se explicita en la
referencia al turismo. Cabe destacar que desde fines del siglo XIX la difusión del
automóvil había desarrollado un turismo interno que se movilizaba de la ciudad al
campo en los fines de semana. Esto generó una intensiva explotación turística de
amplias zonas rurales que ya en la década del treinta veían surgir los primeros country-
clubs (BALLENT y GORELIK, 2001). El Ing. Bustillo refirió a este proceso explicando
que el turismo había experimentado una expansión solo en los últimos años en
Argentina. Mientras que en otros países se encontraba totalmente disciplinado y se
consideraba una fuente importante de riqueza, en la República Argentina, según su
apreciación, no se había obtenido todo el provecho que la naturaleza ofrecía. Veía
entonces, en este proyecto, la posibilidad de atraer al turista y de modo simultáneo
educarlo en la tradición nacional para evocar ―costumbres desaparecidas‖ (La Gaceta,
3.1.1938).
El decreto provincial que dio origen al museo presentó dos elementos que deben ser
mencionados en tanto confirman la continua identificación entre el gaucho y la tradición
y el protagonismo de la familia Güiraldes en la evocación de los mismos. La familia,
representada en este proyecto en la figura del Intendente José Antonio, desarrolló un rol
directivo en todo el proceso de conformación que fue posible, no solo gracias a los
207
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
cargos políticos que ejercían, sino también a una serie de relaciones sociales con la élite
bonaerense que databan de largo tiempo. Corresponde mencionar que Manuel José
Güiraldes, padre de Ricardo y José Antonio, había sido Intendente de Buenos Aires en
la época del Centenario. Se confirmó entonces que en memoria del escritor Ricardo
Güiraldes ―maestro de las letras argentinas‖ el museo llevaría su nombre. Por otro lado,
quedó conformada la comisión ejecutora integrada por José Güiraldes, los ingenieros
José Burgueño y Juan R. de la Llosa, y presidida por Enrique Udaondo. La elección de
este último para presidir la comisión se encontró fundamentada en su desempeño en la
fundación del ―Museo Colonial e Histórico de la Provincia de Buenos Aires‖ en la
ciudad de Luján, el cual ya contaba, desde 1925, con una sala dedicada al gaucho en su
interior (BLASCO, 2004; CATTARUZZA, 2007). En Areco, la tarea de Udaondo
estuvo abocada a la creación de un casco de estancia criolla ambientado con flora
autóctona; la casa de estancia con figuras de cera en su interior y animales
embalsamados, junto con una sala que guardaba los recuerdos del escritor y su
voluminosa biblioteca; el rancho de peonada, que se encontraba al final de la quinta; y
la pulpería, bautizada como ―La Blanqueada‖ ambientada con elementos de época y
figuras de cera. ―La vocación y el patriotismo‖ del director fueron reiteradamente
marcados por la prensa local y por los funcionarios provinciales.
208
inauguración que llevaba al periódico y junto con éste a un sector considerado de la
sociedad arequense a relegar la filiación al gobierno municipal y privilegiar el cuidado
de la imagen que brindará el pueblo en el esperado evento. Ese estado de expectativa
frente al acontecimiento fue haciendo mella progresivamente en amplios sectores de la
sociedad. Un intento más por ampliar la difusión de la futura inauguración buscó
involucrar directamente al lector y movilizarlo frente a lo que estaba aconteciendo. Se
propuso así, durante fines de agosto hasta los últimos días de septiembre, un concurso
de relatos criollos en referencia a la pronta apertura del museo. Los escritores debían
respetar la única condición que se les exigía aparte de la originalidad, los relatos debían
estar ambientados en Areco para ser tenidos en cuenta. Se debe señalar que este impulso
difusor que presentaba La Gaceta no era correspondido por el otro periódico local
autoproclamado radical. El contraste de ambos permite identificar una serie de
cuestiones vinculadas al desarrollo político del lugar que serán analizadas más adelante.
Uno de los elementos que suscitó mayor polémica en los políticos opositores al
Intendente fue un decreto sancionado en septiembre. El punto saliente que provocó el
descontento en el escenario político radical fue el pedido de autorización al Consejo
Deliberante, posteriormente aceptado, para destinar hasta $ 2.500 a una comisión local
que colaboraría con la comisión ejecutora. Además se le otorgaba la facultad de destinar
ese dinero a lo que sus miembros considerasen pertinente. El documento, celebrando la
iniciativa del Gobierno Provincial de homenajear al poeta, declaró al pueblo de Areco
adherido a los festejos y le dio carácter de ―acontecimiento‖ a lo que ocurriría el 16 de
octubre. Por otro lado anticipaba que en el mismo se desarrollarían festejos y
actividades vinculadas a ―nuestra tradición‖. La detención sobre este manifiesto
municipal favorece el reconocimiento de dos aspectos. En primer lugar se caracteriza
como la complementación oficial a la tarea desarrollada por la prensa escrita en cuanto a
fomentar la participación del pueblo en el evento y en lo referido a la difusión y
jerarquización del mismo. En segundo lugar, es importante destacar que en la referencia
a los festejos se evidencia una intención por parte del Ejecutivo Provincial, en total
consonancia con el Gobierno Municipal, que va más allá del mero homenaje a la figura
de Ricardo Güiraldes. En cuanto se mencionan actividades referidas a la tradición, en
cuanto se fomenta la participación amplia de la sociedad, en cuanto se evoca en cada
artículo, discurso o decreto ―nuestro heroico pasado‖, ―la tradición nacional‖, ―el más
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GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
puro nacionalismo‖, se evidencia un intento claro por consolidar una identidad nacional
conformada en base al mundo rural, las costumbres campestres y personificada en la
figura del gaucho.
210
entregó una imagen de San Antonio de Areco que había pertenecido a su fundador, José
Ruiz Arellano (LECOT, 1998).
211
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
LA CEREMONIA DE INAUGURACIÓN
El rol desarrollado por la prensa, no solo en los días previos, sino en los posteriores a la
inauguración permite realizar un muestreo claro del clima tenso que a nivel político se
respiraba en Areco. Desde el periódico La Idea con omisiones recurrentes al futuro
museo, el partido radical daba la pauta de considerarlo como un proyecto
exclusivamente conservador y por lo tanto no se hacia eco de lo que iba generando
expectativa en el pueblo. Durante los meses previos al evento, el vocero radical solo
realizó pequeñas menciones en la sección de publicidad, sobre los preparativos y actos a
realizarse. La jerarquía que se le otorgaba a la noticia es fácilmente percibible al
212
observar los anuncios sobre cumpleaños, farmacias, y otros avisos que la rodean. No
obstante, un apartado que se publicó a pedido de la comisión local, permite reconocer
otro factor que motivó la participación de la sociedad en la ceremonia inaugural. Se
realizó una invitación al ―desfile de jinetes gauchos, de los que quedan todavía en
nuestro pueblo un número suficiente como para hacer un homenaje digno del sentido
del parque y de su nombre‖ expresaba el artículo (La Idea, 6.10.1938). La tensión
explicitada en la prensa gráfica se hizo evidente una vez más el día de la inauguración.
En un mensaje con destinatarios bien claros, desde el periódico La Gaceta se invitaba,
frente a la envergadura del acontecimiento, a colocarse por encima de las opiniones
políticas antagónicas y hasta de los errores, atropellos y los agravios comunes.
Paralelamente, frente a la casi total omisión del diario radical, se anunciaba la edición
de un número especial en honor a la inauguración (La Idea, 16.10.1938). Para su
publicación se preparó un ejemplar de treinta páginas con estudios sobre la obra y
personalidad de Ricardo Güiraldes. Se realizó un tiraje extraordinario de diez mil
ejemplares, un número bastante importante si se tiene en cuenta las tiradas habituales de
distintos diarios provinciales (LVOVICH, 2003).
213
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
La ceremonia comenzó por la mañana con un oficio religioso a cargo de los sacerdotes
Leonardo Castellani y Juan Duque. La misa contó con la presencia de tres mil personas
lo que revela un panorama de la gran concurrencia que tuvo la jornada, hay que tener en
cuenta que la delegación que arribó en tren lo hizo en horas de la tarde, incrementando
el número de participantes. Mucho se ha trabajado y escrito sobre la estrecha
identificación de los nacionalistas con la Iglesia, solo se remarcará aquí el carácter
católico de la tradición evocada (DEVOTO, 2006; LVOVICH, 2003; ZANATTA, 1996;
ROCK, 1993). La fuerte identificación entre la institución eclesial y los Gobiernos,
tanto el provincial como el municipal, expresan un elemento más en la lista de atributos
que debería portar el ―buen patriota‖. La presencia entre el conjunto de dirigentes
invitados, del Obispo de la Ciudad de La Plata, Mons. Serafini, y la bendición que
realizó a la totalidad de la obra, remarca esta filiación. La Iglesia local formaba parte del
impulso por recuperar las tradiciones evocadas en el festejo y se manifestó abiertamente
con su participación en el evento. Luego de un ―almuerzo criollo‖ se preparó la
recepción de la comitiva capitalina que se produjo en las primeras horas de la tarde.
La participación del pueblo en las diferentes competencias estuvo antecedida por los
discursos de dos de los principales gestores de la obra, el Ing. Bustillo y el director
Udaondo. La referencia a algunas de sus palabras corrobora algunos de los puntos aquí
tratados. En primera instancia el comienzo del Ministro de Obras Públicas refiere a que
el Gobierno provincial estaba rindiendo culto a tradiciones nacionalistas que siempre
eran evocadas con simpatía. Se advierte rápidamente un interés que excede la intención
de homenajear la figura de Ricardo Güiraldes y se cristaliza en una prédica que busca
evocar una tradición nacional. Si bien de modo seguido se hace mención al recordado
escritor se lo vincula a su descripción de costumbres del medio rústico y rural ―que
desaparece y se esfuma en el vértigo del progreso‖. La mención apocalíptica sobre las
costumbres exaltadas deja ver el carácter de urgencia que presentó está misión para sus
214
gestores. Radica allí un elemento más que jerarquizó este proyecto y motivó la
participación de los máximos funcionarios a nivel provincial. Como lo expresó el
Ministro la materialización de esas tradiciones para su difusión constituían ―el fondo
mismo del alma nacional‖. Luego de referirse al municipio, al turismo y realizar los
agradecimientos correspondientes, concluyó su discurso buscando movilizar a los
oyentes en pos de la defensa y recuperación de las tradiciones evocadas: ―se verían
satisfechos los propósitos del Gobierno de Buenos Aires si todos los amantes de
nuestras tradiciones se transformaran en guardianes‖. El discurso de Enrique Udaondo
se desarrolló en términos similares, luego de realizar una minuciosa descripción del
parque afirmó que se inauguraba un parque-museo ―único en su género en Sud
América‖ y finalizó luego agradeciendo a la familia Güiraldes por la colaboración
recibida (La Gaceta, 23.10.1938).
A MODO DE CONCLUSIÓN
El desfile de jinetes gauchos, la corrida de sortijas, los bailes y las canciones típicas
dieron fin a una ceremonia que representó un evento mucho más complejo que una mera
apertura e inauguración. La confluencia de diferentes elementos que marcaron el ritmo
de la preparación y del desarrollo de este proyecto hace inevitable la reconsideración de
su análisis. La presentación sintética de una serie de conclusiones, desarrolladas todas
anteriormente, da cuenta de la envergadura del acontecimiento estudiado. En primer
lugar, la fundación del parque criollo y museo gauchesco ―Ricardo Güiraldes‖ estuvo
signada por una intención mucho más amplia que homenajear su memoria y su obra
literaria. La comisión ejecutora y los funcionarios que la rodearon planificaron un
evento para la evocación de tradiciones ―nacionales‖ que excedían la figura del escritor.
En segundo lugar, su desarrollo presentó un carácter de reacción frente al avance de la
modernización. La jerarquía que los contemporáneos le otorgaron al evento se
encontraba estrechamente vinculada a la sensación de pérdida que tenían en torno a las
costumbres y tradiciones rurales. En tercer lugar, el desarrollo y concreción del proyecto
fue respaldado de manera explícita por las máximas autoridades provinciales. Pese a la
abstinencia de algunos sectores radicales, la amplia participación oficial anticipaba lo
que un año más tarde se convertiría en una unánime reivindicación del gaucho y la
215
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
216
BIBLIOGRAFÍA
BLASCO, Elida. Los museos históricos en la argentina entre 1889 y 1943. En: XI
Jornadas Interescuelas, Tucumán: Departamentos de Historia, 2007.
BLASCO, E. El peregrinar del gaucho: del Museo de Luján al Parque Criollo y Museo
Gauchesco Ricardo Güiraldes. En: Quinto Sol, Vol. 17, Nº 1, enero-junio 2013.
217
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
PODGORNY, Irina. El sendero del tiempo y de las causas accidentales. Los espacios de
la antigüedad del hombre en el Plata, 1850-1910. Rosario: Prohistoria, 2010.
ZANATTA, Loris. Del estado liberal a la nación católica. Buenos Aires: Universidad
Nacional de Quilmes, 1996.
218
REVITALIZACIÓN Y AUTO SUSTENTABILIDAD TERRITORIAL:
CARTOGRAFÍAS SOCIO-TERRITORIALES Y TURISMO COMUNITARIO
COMO HERRAMIENTAS DE EMPODERAMIENTO, GESTIÓN Y MANEJO
LOCAL. UNA APROXIMACIÓN DESDE LA PLANIFICACIÓN-ACCIÓN
COLECTIVA
31
Este diagnóstico fue parte del proyecto ―Economía Solidaria y Turismo en Foz do Iguaçu – Etur.‖
Financiado por el Ministerio do Turismo Brasilero a través de FINEP y ejecutado por las Incubadora
Tecnológicas de Cooperativas Populares de la Universidad Federal do Paraná, ITCP- UFPR y la
Incubadora de Derechos Institucionales y Organizaciones Solidarias, de la Universidad Estadual do Oeste
do Paraná – INDIOS- UNIOESTE. Cabe mencionar y agradecer la colaboración en la ejecución este
trabajo a Paula Beruski. Ingeniera forestal, pos-graduada en Economía y medio ambiente UFPR.
219
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
INTRODUCCIÓN
L
a historia de los movimientos sociales rurales latinoamericanos es en buena
medida sino totalmente, la historia de la lucha por la tierra (BENGOA 2006,
citado por BOWEN, S. FABREGA, F. MEDEL, R. 2012. p 206). Las crisis
económicas, las políticas represivas y la adopción de ideas neoliberales ejecutadas por
los países latinoamericanos durante largo tiempo provocaron una fragmentación de la
sociedad, debilitaron el papel del Estado en relación al campo de intervención
económica, gatillaron una reducción del gasto público (educación, salud y protección
social) y acrecentaron los niveles de desigualdad en la distribución de las riquezas e
inequidad en el acceso de bienes públicos de calidad (MYORGA, A. DEL VALLE, C.
NITRIHUAL, L. 2009). Así, Latinoamerica se va configurando como un escenario
tremendamente desigual. En respuesta surgen diversos movimientos sociales, que a lo
largo de Latinoamérica se materializan en una alternativa político-social que desde la
organización y acción colectiva, buscan hacer frente a las patologías sociales, tales
como conflictos socio-ambientales, socio-espaciales, socio-políticos, socio-económicos
y socio-culturales (MAX-NEEF, 1993; SEN, 2000; SACHS, 2003, 2004; SAMPAIO,
220
MANTOVANELI Y FERNANDEZ, 2011) que han heredado producto de las malas
prácticas neoliberales.
32
Manifiesto del Foro Nacional de Educación de Campo, Agosto 2012.
221
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
La comprensión de los modos de vida locales, las dinámicas de uso de espacio y el uso
de tecnologías; nos dan como resultado una base sólida de datos, como herramienta que
es apropiada por la comunidad, para el desarrollo de propuestas de acción, la búsqueda
de auto-sustentabilidad social, ambiental, cultural, espacial y económica como ejes
fundamentales en el habitar territorial.
El MST como movimiento social campesino tiene en su historia una serie de formas
organizativas que desde sus inicios, se han adaptado y adaptan, a diferentes procesos
tanto internos como externos. De este modo, los procesos históricos los han llevado a
pasar desde ―la ocupación del latifundio, al asentamiento, producción de la tierra, y hoy
en día, trabajar por un fortalecimiento de los principios, valores y modos de vida‖
(Información verbal). Una búsqueda de la identidad cultural que puede ser entendida
con la definición del ―ciudadano sin tierra‖ de Pires:
Nos hacemos parte como equipo, a poder aportar y contribuir en la lucha por romper
con la idea otorgada por los medios, que como hace notar Ademar Bogo, ―la elite busca
conservar el símbolo cultural peyorativo y prejuicioso, que es el ―Jeca Tatu‖ 33 para
hacer la lucha ideológica, omitiendo así el lado saludable de la cultura campesina, la
33
[Brasil] Designación dada a habitantes del interior do Brasil. = CABOCLO, CAIPIRA, JECA.
"jeca tatu", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-
2013, http://www.priberam.pt/dlpo/ [consultado em 30-07-2015].
222
convivencia pacífica con los vecinos, la práctica de los mutirões 34 , compartir las
herramientas, las fiestas folklóricas, la sabiduría popular sobre los movimientos de la
tierra, la música y el verdadero arte popular. Sombreros rotos, dientes podridos y botas
agujereadas – eso es basura cultural que no nos identifica.‖ (BOGO, A. 2009. p.14). En
respuesta a ello, El turismo de base comunitaria (TBC) viene siendo incorporado por
comunidades y organizaciones sociales como una estrategia de comunicación social que
muestra la riqueza de la ―comunidad‖, la conviencialidad y la cotidianeidad
(HENRÍQUEZ et al., 2010) asociadas a sus prácticas productivas, culturales que
encuentra en la defensa de territorios la continuidad de su existencia. Según Sampaio et
al., (2005)
Así entonces, la incorporación del TBC surge como herramienta propicia en este
fortalecimiento, ya que es abordado como: ―un enfoque de desarrollo territorial, donde
el protagonismo es de las comunidades receptoras y no de los turistas‖ (información
verbal)35. Considerando una de las principales características del turismo comunitario,
que según Coriolano (2003 apud ZAMIGNAN, 2011, p. 34) es: ―la creación de
comunicación entre visitantes y visitados, habiendo interacción y respeto mutuo entre
turista y morador‖. Vamos al encuentro de los objetivos de la implantación del turismo
en el asentamiento, reforzado por uno de los representantes de ITEPA quien señala:
34
[Brasil] Iniciativa colectiva para auxiliar a alguien, para ayuda mutua o para un servicio comunitario.
In "mutirão", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-
2013, http://www.priberam.pt/dlpo/ [consultado em 30-07-2015].
35
Relato de Adriana, representante del ITEPA, durante el II Colóquio Turismo e Comunidades, em 12 de
Abril de 2012.
223
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
36
Relato de Jairo, representante de ITEPA, durante el II Colóquio Turismo e Comunidades, em 12 de
Abril de 2012.
224
El proceso de ocupación del área denominada Hacienda Mitakoré, con 1.098 hectáreas,
ocurrió en la segunda mitad de la década de 1990 por centenares de trabajadores rurales.
En el año 2012, 82 familias vivían en el asentamiento, teniendo la agricultura
tradicional, la pecuaria y la agroecología como actividad económica familiar de
subsistencia y renta, con un área promedio de 10 hectáreas por familia. El área de
ITEPA se encuentra en el borde de la carretera que une Foz de Iguazu con la capital del
estado Curitiba, en el extremo inferior derecho de la figura 2 muestra lo que
antiguamente era la sede de la hacienda. En el mismo espacio físico, coexiste la Escuela
José Gomes da Silva y la Cooperativa de Industrialización y comercialización
campesina (COOPERCAM). El área de estudio fue delimitado en 7,3 hectárea, tomando
como parámetro de definición y caracterización geográfica, las actividades que son
llevadas a cabo para mantener a ITEPA como núcleo autónomo en la generación de
renta y espacio de educación (fig.3)
225
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
METODOLOGÍA DE TRABAJO
226
medio de un abordaje participativo, buscando reforzar la responsabilidad y el
compromiso de los actores envueltos en las problemáticas del espacio.
Las actividades son realizadas por etapas, las cuales envuelven a todos los moradores en
sus respectivas funciones, vale decir: coordinación pedagógica, estudiantes, educadores
y trabajadores. Considerando que se trata de un trabajo dinámico y flexible, las mismas
fueron realizadas en función de los tiempos de los moradores, es decir, el equipo de
trabajo no intervino las dinámicas sociales para poder realizar actividades, sino por el
contrario, estas fueron realizadas en los marcos por ellos propuestos para dichas
funciones. El desarrollo del trabajo se llevó a cabo en tres etapas, siendo la primera el
resultado de un diagnóstico previo y general de la situación actual de ITEPA, dando pie
para la segunda etapa, la cual fue el proceso de tomada de decisiones, como demandas
prioritarias a ser abordadas y finalmente, teniendo acotadas las líneas generales de
trabajo, la tercera etapa corresponde a la validación y complementación de las
informaciones ya colectadas, teniendo así un diagnostico confiable.
ACTIVIDADES REALIZADAS
227
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
228
Talleres de cartografía social
El equipo de trabajo apuesta por entender el territorio desde una reflexión crítica que
nos pueda dar un panorama general dentro del imaginario colectivo de los moradores, es
así como la cartografía social surge como herramienta metodológica en los
procedimientos de obtención de datos sobre el trazado del territorio, para su posterior
representación técnica y artística, y los mapas, como uno de los sistemas predominantes
de comunicación de ésta (HABEGGER, S. MANCILA, I.2006), la elaboración de
mapas tiene por objetivo un reconocimiento de los objetos materiales y observables,
considerados necesarios por las poblaciones en las decisiones sobre su territorio
(JOLIVEAU, T. 2008), es entonces en la elaboración participativa de los mapas, que se
legitiman gráficamente los discursos subjetivos, buscando una pertinencia local en el
producto final.
229
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Tuvo por objetivo, la identificación de los elementos naturales que dan identidad local,
el grado de biodiversidad, conservación y la importancia social, los tipos de uso
asociados dichos espacios, aparecen gráficamente también los asentamientos humanos y
la relación con su contexto natural, áreas verdes, espacios contaminados, infraestructura
que es utilizada e infraestructura abandonada.
Tuvo por objetivo poder visualizar el espacio habitado, diferenciando las actividades,
sociales, y económicas, aparece la infraestructura asociada a los mismos, diversidad y
distribución programática de lo construido, equipamiento, servicios, habitación,
administración etc. áreas de producción, recursos humanos, naturales y materiales, así
como aparecen también el nivel de uso de los lugares y espacios, si es frecuente, medio
o nulo, estado de conservación, puntos fuertes y débiles.
230
- Mapa Social, Histórico-Cultural
En este mapa buscó identificar los elementos que construyen identidad local, elementos
con carga social, histórica, que en definitiva, son los espacios que particularizan, por
medio de su uso, (de los moradores y para los moradores) el territorio, pudiendo así
definir a ITEPA como un territorio particular, en este sentido se trabaja con preguntas
que apuntan a descubrir si los relatos, historias y acontecimientos tienen espacio físico,
sea natural, construido o intuitivo, surgen espacios de encuentro, convivencialidad, ocio,
alimentación, educación, juegos; espacios de uso colectivo e individual, espacios
dinámicos, jóvenes y más viejos.
Observación participante
231
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
SEGUNDA ETAPA
232
Figura 8 - Reunión equipo de ITEPA, ITCP, INDIOS
- Levantamiento planimétrico
233
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territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
TERCERA ETAPA
234
historia del lugar, MST.
Figura 10 - Resultado de los talleres de planificación
235
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territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
- Taller de Residuos
Fue realizado en dos partes, la primera comprendió un abordaje teórico sobre el manejo
de los residuos y sus impactos, se realizó un recorrido por los lugares donde se
encuentra acumulada la basura y se generó un debate sobre la posibilidad de
reaprovechamiento de materiales sólidos y de un taller de reciclaje, así mismo, la
sensibilización de los estudiantes en relación a los hábitos de consumo y cambios de
actitud frente a la basura producida por ellos mismos. La segunda parte, se realizó una
actividad práctica de reaprovechamiento de los residuos en artesanía y otros artefactos
útiles, involucrando también algunos moradores que tuvieron disponibilidad de
participar.
RESULTADOS OBTENIDOS
236
Figura 11 - Mapa de uso social. Identificación de espacios de uso común, semi-común,
individual y se mi-individual
Figura 12 - Mapa de áreas verdes. Describe los espacios verdes que cumplen funciones
tanto ecológicas, de producción y ocio, a modo de tener un entendimiento de los
elementos que componen el paisaje. Fueron identificadas en el mapa de áreas verdes el
Bosque nativo, Bosque plantado, áreas de recuperación y bosque de producción.
237
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territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
238
Figura 14 - Mapa áreas destinadas a producción. Corresponde a las superficies
consideradas en la producción de alimentos. Se divide en Uso total, uso parcial y áreas
no utilizadas. Cabe señalar que la gran cantidad de territorio no utilizado se debe a la
falta de mano de obra
239
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territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Encontramos una primera gran área que se constituye como el soporte Económico-
Social, es decir, en este espacio es la fuente de producción y reproducción del trabajo, la
que genera recursos para la venta y manutención del territorio y las familias que
sustentan la escuela. Se encuentra en esta área el Pomar y producción de frutas cítricas
para consumo y venta; agrofloresta con producción también de diversas variedades de
frutas; pecuaria y producción de carne y leche; lacticinio, que si bien no estaba en
funcionamiento al momento del estudio, contaba con equipamiento e infraestructura
para la producción de derivados de la leche; huerta comunitaria, abastece de alimento a
la cocina comunitaria; gallinero; y el bosque, este último tiene un valor de área verde de
conservación.
240
Como mencionamos anteriormente, el asentamiento campesino ACCT y la escuela
ITEPA, se sitúan en lo que antiguamente era una hacienda de producción de soya, y es
en su parte central donde antiguamente funcionaban las oficinas, galpones y viviendas
de la hacienda; que hoy, han sido re apropiadas y re significadas por los campesinos.
En esta área de carácter industrial, se encuentran la mayor parte de los programas que
dan visibilidad, o donde se vuelca la orgánica del territorio. Se encuentra el área de
educación, salas de clases e internado de los estudiantes, coordinación pedagógica, la
sede de la Cooperativa de comercialización, la administración del asentamiento; Así
mismo, suceden dentro de esta sub área, los principales espacios de sociabilización y
ocio. Es por lo tanto, el soporte Físico-Social del asentamiento.
241
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Conceptualmente, la propuesta toma forma de red, un tejido que está compuesto por
cada uno de los lugares que tiene sentido particular, y que definen la identidad propia
del habitar campesino en ITEPA. Así, proponemos por medio de acciones que serán
llevadas a cabo en áreas específicas, provocar una sinergia que vincule y envuelva su
totalidad.
242
Figura 17 - Mapa final, propuesta de revitalización territorial
243
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
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FORTALECIMIENTO DE LA EDUCACIÓN
37
Proyecto que fue desarrollado en Chile durante el año 2013. Presentado para la obtención del título de
Arquitecto por la Universidad Austral de Chile.
244
por factores ideológicos socialmente, como por la apropiación y modificación de los
espacios ocupados en términos espaciales, así, la construcción social - educativa de
movimiento, el sentido de pertenencia, la adecuación al contexto inmediato y clima,
fueron las directrices que nos llevan a pensar en una proyecto que sea propio.
No se tiene por objetivo en el presente artículo detallar el trabajo, sino más bien dar a
conocer la estrategia utilizada y los resultados obtenidos, como muestra de la riqueza de
información que otorga la investigación-acción participante como metodología.
245
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
- Análisis programático
Se identifican todos los recintos que hacen parte de la orgánica del establecimiento, y se
da cuenta que no existe una relación entre los mismos. De esta forma tanto los
estudiantes como los profesores, niños, jóvenes y adultos, no se consiguen convocar y
poder encontrar en un espacio que los pueda reconocer en un conjunto con identidad
propia; esto se debe en gran medida a que ITEPA, por ser un lugar con infraestructura
industrial que fue apropiado por los campesinos, no cuenta con recintos que cumplan
estándares para poder desarrollar adecuadamente actividades educativas, tanto en
iluminación, ventilación, circulación, recreación, etc.
246
Figura 20 - Problemáticas espaciales
Al buscar una forma que pueda otorgar sentido de identidad, así como la intensión que
el proyecto de arquitectura vaya más allá de cubrir la demanda de infraestructura, se
debe pensar esta última como un objeto que tenga un habitar dinámico y sea un lugar en
donde se refleje la cultura campesina.
247
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Desde la perspectiva de educación emancipadora, los niños más pequeños son la base de
toda la educación, es en ellos que se reflejan y se vuelcan las prácticas y modos de vida.
Se ve a los niños y niñas, como nos señala Edna Rosseto (2010, p 106): sujeto de
derechos con valores, imaginación, fantasía, vinculada a las vivencias de lo cotidiano,
las relaciones de género, la cooperación, la crítica y la autonomía (…)‖, así entonces, las
cirandas como concepto educativo, son definidos como ―espacios educativos
intencionalmente planificado, en los cuales los niños/as aprenden en movimiento, a
ocupar su lugar en la organización de la que son parte, y mucho más que espacios
físicos, son espacios de intercambios, aprendizajes y vivencias colectivas (Rosseto, E.
2010, p 106).
PROPUESTA DE ARQUITECTURA
248
Su interior abre a los programas y genera un dialogo entre los diversos niveles
educativos, representados por diferentes volúmenes que guardan un programa
específico, a saber: Sala de clases, jardín infantil (Ciranda), sala cuna, coordinación
pedagógica, biblioteca y baños. El centro de la ronda como el espacio de formación
social que está en permanente movimiento y es lo contenido en la ronda, lo que le da el
valor y sentido de pertenencia.
249
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
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250
Figura 26 - Plantas de Arquitectura
251
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
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REFLEXIONES FINALES
El MST como movimiento social (al igual que muchos otros) ha transitado y ha
madurado en el tiempo. La lucha por la recuperación de la tierra, que es su base
medular, con el paso del tiempo ha ido cobrando mayor densidad en términos de abarcar
diversas dimensiones de lo humano, en una constante construcción de identidad
campesina, ideológica y militante; que se sustenta en la relación que construyen con un
determinado territorio y su habitar. Así, se pasa desde una recuperación de tierra, a una
disputa por el territorio, es decir, en el caso de estudio, la cultura Sin Tierra.
252
dimensiones que construyen su identidad, fortaleciendo al mismo tiempo el sentido de
pertenencia al lugar y dando pie a una mejor estrategia para el uso del mismo.
Desde esta perspectiva, se busca posicionar el Turismo de Base Comunitario como una
estrategia de mejora en la calidad de vida de los habitantes de un determinado territorio,
que ven al mismo tiempo en ella una estrategia de resistencia y comunicación social,
cuyo objetivo tiene por un lado mostrar a la sociedad lo que realmente comprende el
movimiento campesino y romper con la idea otorgada por los medios hegemónicos,
ampliando, fortaleciendo y reafirmando la identidad, el territorio y los modos de vida
locales; y por otro lado, ser incorporada como una nueva fuente de ingreso
complementaria (no única) para las familias y habitantes de ITEPA.
253
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
REFERENCIAS
PIRES, J.H.S.; Beruski, P. Descobrindo a Base, Hosptalidade e Cultura Sem Terra. In:
Congresso latino americano de investigação turística, 5.,2012, São Paulo. USP, 2012. 1
CD-ROOM.
ROSSETO, Edna. A educacao das criancas pequenhas nas cirandas infantis do MST.
Revista Múltiplas Leituras, v. 3, n. 1, p. 103-118, jan. jun. 2010.
254
DA CASA AO MANGUE: O USO E APROPRIAÇÃO DO ESPAÇO EM
COMUNIDADES TRADICIONAIS NO LITORAL DE SERGIPE, BRASIL
255
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
INTRODUÇÃO
H
á uma ideia mais ou menos predominante de que o significado e a
importância de se morar ou de se habitar o espaço de uma comunidade
tradicional estaria desaparecendo ou em vias de desaparecer. Certamente,
nesses tempos da vida que pulsa no ritmo acelerado das grandes cidades e da exposição
cotidiana das redes sociais, parece ingênuo ou inapropriado falar de reprodução
socioespacial em pequenas comunidades tradicionais. Mesmo com todas as mudanças
recentes do modo de vida da população na modernidade, de fato, o processo social da
dinâmica de ocupação dos espaços de uma comunidade ainda é pouco conhecido.
Perguntas como: qual o significado de habitar um lugar em uma comunidade tradicional
na atualidade? Quais fatores atuam na formação de relações entre os sujeitos e o
território que habitam? Como os sujeitos percebem os lugares e as paisagens de suas
comunidades? Ainda estão carentes de análise e de entendimento.
256
expressassem. O material foi analisado procurando identificar os elementos de
apropriação do espaço referenciado pelos sujeitos sociais.
Para além destes aspectos, o próprio conceito de lugar ainda se apresenta significativo
para compreender os processos de valorização, fixação e o sentimento de pertencimento
aos espaços de vida. A visibilidade do espaço é possível porque o lugar se expressa por
propriedades concretas e é um componente da própria noção de espaço sobre o qual
cada sociedade, cada grupo, desenvolve e articula as suas relações.
Devemos lembrar que ao representar um território somos também representados por ele:
quem somos, de onde falamos, como falamos, em que círculo falamos, são algumas das
formas de representação do espaço na vida cotidiana. A partir das experiências de vida
os sujeitos estabelecem ―objetivações‖ do real, enquanto território no qual podemos
repartir os ―momentos da vida em comum‖.
Pontuamos que o cotidiano é organizado segundo uma relação móvel, mas permanente,
do aqui e agora. Cada um dos momentos da vida é uma encruzilhada entre um aqui
(espaço ocupado pelo meu corpo em meu mundo) e um agora (momento que eu vivo em
um determinado espaço do mundo), (BRANDÃO, 2008).
257
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Parece trivial para um geógrafo afirmar que o mundo consiste de espaços e que esses
espaços são apropriados de formas diferentes. Tal assertiva é a base epistêmica de nossa
ciência. Menos trivial é a constatação de que as relações entre a sociedade e o espaço
contêm marcas de usos, símbolos, signos, sentidos e sentimentos que suturam e
substantivam as dimensões material e simbólica do espaço social.
A disposição e o sentido dos elementos espaciais variam não só entre espaços de regiões
diferentes, diferenças regionais, mas também mudam de valor e de uso conforme varia o
sistema cultural, o modo de vida e até mesmo o tempo histórico em que se processam as
258
relações sociais. De fato, como pontuado por Sahr (2007), no fundo existem tantas
geografias como existem múltiplos sistemas culturais.
Assim, afirmamos que existem tantos processos e formas de se relacionar com o espaço,
como existem variadas formas e expressões culturais, cada qual comportando um
sistema de códigos, de valores, de representação e de significação próprios. Façamos,
portanto, o seguinte questionamento: como apreender os sentidos, linguagens, funções,
valores e relações com o espaço?
259
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Legenda:
Predominante no desenho Compõem o desenho
260
Uma vez decodificado (identificado) cada elemento representado, os mesmos foram
organizados e analisados segundo o tipo de referencial que expressavam: paisagem de
entorno; cotidiano e; referências mais amplas, de forma a permitir uma análise do
processo de uso, significado e sentido que cada elemento desempenha na representação
do espaço e da vida do sujeito na sua fase de infância na comunidade. Os elementos
foram analisados conforme a importância atribuída pelo sujeito, partindo dos aspectos
predominantes até chegar a uma mera composição que acompanha e embeleza a
representação.
Quase sempre são pessoas adultas, geralmente homens, os reais ―sujeitos‖ representados
nas pesquisas. Contudo, acrescenta a autora, sabemos que das mais simples às mais
complexas, todas as sociedades criam, em sua geografia do cotidiano, espaços e lugares
destinados à multiplicidade de sujeitos, atentando-se para o fato que um sujeito no
decorrer da vida se posiciona de maneiras diferentes frente a um mesmo espaço. Por
essa razão procuramos retratar o sujeito em sua trajetória do nascer, crescer, viver,
conviver e envelhecer.
261
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
sociais, como a igreja e a escola se relacionam nos espaços do ―eu com o outro‖, o
sentido de convivência e participação no futuro. Já na paisagem e nos ambientes de
entorno, temos os ―nossos espaços‖, que situa-se entre a porção do ―meu espaço‖ e o
espaço ―do outro‖, espaço este onde se estabelecem relações de reconhecimento dos
direitos do ―nosso território coletivo‖.
Não é de se estranhar que a casa apareça então como o elemento mais representado
pelas crianças. Mas não é simples a representação de um objeto técnico e suas várias
formas e possíveis arquiteturas, a casa é o mundo de vivências, significados e sentidos.
262
Desenho 2 - Representação elaborada por um aluno do 3º ano
do Ensino Fundamental, Terra Caída
No desenho 02 a criança exibe a casa com predomínio no espaço, mas acrescenta outros
elementos como as nuvens, a chuva. O detalhe mais marcante são os enfeites juninos
que decoram o desenho. Para muitos sujeitos, mesmo depois de ter trilhado outros
tempos de vida, a casa continua sendo uma espécie de seu ―reino‖, um espaço seu por
natureza, dos seus e para os seus. É onde se busca o abrigo, onde se vive em segurança,
na companhia de pessoas com as quais se compartilha vínculos familiares.
263
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
A primeira forma de conhecer o espaço e dele se apropriar é por meio das atividades
lúdicas, das brincadeiras infantis. Brincar é uma relação social estabelecida com outras
crianças, geralmente vizinhos, no qual em conjunto ou sozinho se brinca. A brincadeira
além do conteúdo psicológico da interação com o outro, a socialização, é também o
meio pelo qual os espaços vão sendo descortinados e reconhecidos.
264
Quando perguntamos para uma criança do povoado porque você ―desenhou‖ uma
árvore? Ela respondeu: ―(...) essa é arvore que subo para brincar, para me esconder‖.
Sendo assim, não é uma simples árvore que está sendo retratada, é a ―minha árvore‖,
aquela que tem significado e um sentido para aquela criança. Existe um sentido na
função brincadeira, mas existe ainda um significado do prazer e da emoção. Contudo,
não é só a árvore que importa, é a representação do espaço da árvore e o conjunto de
usos que a criança faz dela como um espaço.
A criança não só conhece, mas reconhece o espaço que passa a fazer parte da sua
referência cotidiana. Dele gosta e dele se lembra. Função espacial e sentimento se
fundem no reconhecimento do território, tal como apontado por Leal (2012) com base
em Tuan (2013, p. 43):
A natureza é aos poucos incorporada aos elementos do cotidiano. O rio é aquele que se
banha ou a lagoa que se vai escondido da mãe e do pai. O tipo de uso que se faz ainda é
o da brincadeira, tal como as representações expostas a seguir nos desenho 04 e 05 que
retratam, respectivamente o complexo de dunas e lagos em Tigre/Junça e a praia de
banho em Terra Caída:
265
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Paisagens como o rio, a lagoa ou a duna, são apresentadas como locais onde se vai para
se divertir, para mudar a rotina, alterar o ritmo e a intensidade dos acontecimentos. A
diversão de um banho na maré com os colegas é a possibilidade de transgressão do
tempo da família e da escola. Por isso, o cenário é retratado com detalhes e carinho,
―(...) lá é bom para tomar banho, pular do porto, mergulhar na maré”.
266
Esse ―lá é bom‖ coloca-se em oposição à obrigação de ficar em casa, de participar do
cotidiano da casa ou da escola. É a maneira de ser criança na comunidade sem
shoppings ou playgrounds. Muito embora esses espaços seduzam e povoem a
imaginação das crianças, essas referências que chamamos do imaginário como
piscinas, shoppings, parques também chegam aos jovens das comunidades do Litoral
pelas antenas de TVs, geralmente parabólicas, as mesmas que afastam e rareiam os
mitos culturais como o lobisomem.
Segundo Tuan (2013) o horizonte geográfico da criança expande à medida que ela
cresce, mas não necessariamente em direção a uma apropriação escalar mais ampla. O
interesse imediato é pela sua comunidade local, representada pelos parentes e colegas. A
criança pode saltar inclusive localidades próximas e conhecidas e se fixar em
referências mais amplas, incluindo elementos que ele apenas imagina, como as diversas
representações de pés de maçãs, que não compõe a flora das comunidades estudadas ou
até mesmo elaboradas campos de futebol, conforme o desenho 06, que são o oposto dos
modestos campinhos de futebol que existem nas comunidades.
267
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
268
Desenho 7 - Representação elaborada por aluno do 5º ano,
Ensino Fundamental, Terra Caída
Porém, para a criança, o sentido contido nessas primeiras experiências de pesca não é de
trabalho, mas sim, de participar de um tempo-espaço de deleite, de aprendizado, de
novidades. A pesca, em especial, exerce um fascínio sobre os jovens pescadores. Poucos
vão obrigados, por força da coerção da família, ao contrário, em muitos casos, os pais
não querem que os filhos sigam esses caminhos da pesca, ―(...) porque isso não dá
futuro‖.
O que se impõe ao jovem pescador é a força da tradição que move a criança rumo a um
modo de vida, como singelamente a criança retrata no desenho 08: a cena é de um
barquinho contendo, provavelmente, os membros de sua família, deixando o porto para
voltar horas depois.
269
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Visto pela criança, como sujeito, este barquinho leva e traz nos ciclos da água um modo
de vida tradicional. A tradição não se constitui desta forma, uma opção, a qual se adere
ou não. Na tradição se nasce e se vive, ela é um meridiano que atravessa a vida. Mesmo
em algum momento dela (vida) se possa afastar por situações sociais, como no processo
de migrações ou como em mudanças nas relações de trabalhos.
Reafirmamos que, para a compreensão das relações entre o sujeito e seus espaços de
referência, é central o entendimento do tempo-espaço da brincadeira como um fato
cultural que atua primordialmente no processo de apropriação territorial realizada pelo
sujeito social na fase da infância. O adulto, por sua vez, representa os espaços, mas o
270
conteúdo significante não é mais a brincadeira e o deleite. Esses valores de lazer
praticamente desparecem nas representações do território e quase não são referenciados
pelos sujeitos sociais em sua fase ―ativa‖. Nessa altura o trabalho passa a ser o vetor
predominante da apropriação cultural.
Legenda:
Muito importante Importante
271
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
A exposição dos elementos de referências para os adultos indica que, na medida em que
ele exerce novas funções sociais na sua comunidade, os elementos do espaço vão sendo
mais fortemente apropriados. O entorno da comunidade é incorporado como o espaço
de referência cultural. Isso significa que o mangue, o rio, a duna, a lagoa tornam-se
centrais para as práticas de trabalho e para o modo de vida da comunidade.
Se alguns sujeitos conhecem um território tradicional desde a sua fase de infância por
práticas cotidianas próprias dessa idade, o reconhecimento e o envolvimento com o
território se consolida na fase adulta, sobretudo por meio do exercício do trabalho
cotidiano. As práticas de trabalho diárias envolvem o conhecimento tradicional do
espaço, dos seus ambientes, a ecologia e o manejo social desses espaços.
272
pode e quem pode e, de reconhecer direitos, envolve um código socialmente
compartilhado e reconhecido pela comunidade.
Os espaços possuídos são de fato, verdadeiros territórios, tendo a pesca como elemento
espacial, o que indica a territorialidade tradicional contida nas práticas cotidianas de uso
desses espaços e no reconhecimento do respeito ao espaço do outro. Esse processo é
também observado nas regulações espaciais das lagoas para extração do junco e taboa e,
com menor nitidez, nos territórios da mangaba.
Antecipemos aqui que o ―entorno‖ das comunidades é composto por espaços e lugares
sociais comunais, ou seja, não se constituem ao menos em princípio, como propriedades
individuais no sentido mercadológico. Como são espaços comuns, sem a imposição de
títulos legais, o uso também é comunitário, contudo regulado. Essa regulação é
realizada por meio de normas e princípios socialmente reconhecidos e respeitados.
273
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Os ciclos dos tempos da vida em comunidade como constata Brandão (1995), envolve
um tempo da participação social. São momentos de interação e participação em
comunidade, geralmente associados ao mundo do trabalho ou a participação em ciclos
sociais de organização do trabalho, como membro de associação de moradores, de
pescadores, de marisqueira, de artesanato.
274
Foto 01 - Sede da associação na comunidade Tigre/Junça
Outro elemento referenciado que merece destaque é o espaço da igreja ou das igrejas. A
maioria da população das comunidades estudadas apresenta-se como praticantes da
religião católica, muitas têm um santo padroeiro ou até mesmo tem seus nomes
derivados de alguma influência religiosa.
275
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Na foto 02 o morador intentou mostrar além de sua referência como templo da prática
da fé católica a sua referência arquitetônica do passado, sendo uma igreja que foi
construída no início do século XX. Para esse morador trata-se de uma referência de
patrimônio histórico de Pedreiras, como uma forma espacial herdada.
276
Foto 02 - A igreja como referência espacial para moradores de Pedreiras
Por isso, sedes de associações, igrejas e outros espaços que se prestam para os fins das
atividades de interação social são lembrados com frequência para expressar os espaços
da comunidade. A participação reforça o compromisso e o reconhecimento do território,
mas resulta em maior envolvimento dos sujeitos com o espaço de referência. As
associações cumprem uma função institucional importante na organização e regulação
do território. É para estas instituições que muitos conflitos territoriais são direcionados.
TERRITÓRIO NA MEMÓRIA
277
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
O antigo pescador, a marisqueira, a artesã, o artesão mantém atividades diárias com seu
território ou com seus territórios, de muitas pescarias, de outras tantas pescarias ruins,
de sair cedo para catar marisco, de entrar num barco às vezes sozinho e atravessar um
rio ou, de catar frutos da estação na mata próxima.
A imaginação que povoa as representações das crianças e dos jovens é substituída pelas
lembranças, pelas experiências e vivências. Esse processo de lembrar também reforça os
vínculos com o território. Segundo Brandão (1998, p. 12) nós pensamos os nossos
pensamentos, mas a memória revela quem somos nós, as nossas identidades. ―Lembrar
38
No campo da memória devemos referenciar os trabalhos de Ecléa Bosi, especialmente seu texto basilar
Memória e Sociedade de 2004.
278
refere-se ao de onde se veio. Antes com os outros, os meus, minha gente; depois
sozinho, minha alma, sua vida, minhas vidas: a de agora e as passadas, o meu eu‖.
279
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
sei o quê que é faxiar?] pois ali na ilha pequena enxia a cano de
mussinha, não era minha comadre? “era”** aí ia a gente, ia aquela
turma faxiar(...)da palha do coqueiro faz aquele faxo: pega duas
partes da palha vai marrando aqueles trechinhos assim ói, uma
pindoba e aí pra li fazer aqueles fexes enormes pra faxiar. Pegava
siri, pegava moreia, não sei se vocês conhecem por nome
demoreia?[conheço] naquela época era muito bom pegava muita
coisa, muita coisa...e me criei aqui comendo aratu, comendo siri,
comendo ostra, camarão, tudo, tudo tudo. Tudo fruto daqui. Aí minha
avó criava porco, a gente criava muita cabra, tá vendo? Últimamente
eu criava muita ovelha é porque acabamos. O terreno era pequeno.
Naquela época a gente criava muita cabra mais minha mãe, a gente
vinha marrar até por aqui. Tudo era aberto né? Era tudo na corda...
10 12 cabeças de cabra daí amarrava de manhã e cedo a gente vinha
cinco horas da manhã quando dava 10 horas a gente vinha tudo pra
cá e ficava lá no sítio. Eu nasci e me criei trabalhando, graças a
Deus. (Entrevista concedida pela pescadora Maria do Socorro 68 anos,
comunidade Pedreiras).
Outro aspecto a se destacar na relação entre o sujeito e seu território na fase da velhice
se estabelece na contemplação da paisagem, como prática entre a memória e o território
atual. Frequentemente, as práticas cotidianas do trabalho e da vivência cedem lugar à
contemplação, o sujeito se põe a mirar as paisagens, espaços religiosos, com os quais se
relacionou por toda uma vida. Concordamos com Oliveira (2009), ao escrever que o
tempo é a essência da memória, mas o espaço é a sua referência. O tempo age sobre os
corpos, o corpo, segundo a autora, é a memória que fala por meio da imagem.
280
vida cotidiana – podem entregar-se, diante dela e para eles mesmos,
como moradores de si, como evocadores (BRANDÃO, 1998, p. 62).
A análise das entrevistas, das representações e das imagens expressas pelos sujeitos
pesquisados indica uma constante referência à paisagem como portadora de uma beleza
que se presta à admiração e que não são retratadas em outras fases da vida. Vejamos a
fotografia 03 registrada pela pescadora Darcilene em Pedreiras:
Análogo ao que ocorre na fase da infância, o território e suas paisagens não são
representados apenas como espaços de trabalho, no qual se conhece em face das
atividades que lá se pratica, mas como portador de um sentido e de um significado
completamente novo, o da beleza e o da memória. Questionada sobre razão de ter
registrado essa cena, a pescadora afirma ter pretendido mostrar o rio das Pedreiras que
ela gosta de admirar no final da tarde e pela manhã. Ele carrega o valor da
contemplação do prazer dado ao olhar, volta a ser uma paisagem, agora permeada de um
conteúdo cultural.
Devemos lembrar como asseverou Oliveira (2009) que as nossas vivências, as nossas
experiências vividas e guardadas como lembranças estão em nós como um constante
281
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Assim, ocorre também com outros espaços, como é o caso das paisagens culturais
transformadas em patrimônios, como componentes arquitetônicos de uma igreja em
determinadas comunidades ou de um prédio da infância, como a antiga sede de uma
escolinha em que se aprendeu as primeiras letras e que não existe mais.
Um homem não sabe o que ele é se não for capaz de sair das
determinações atuais. Uma lembrança é diamante bruto que precisa
ser lapidado pelo Espirito. Sem o trabalho da reflexão e da
localização, seria uma imagem fugidia (BOSI, 2004, p. 81).
Concordamos com Kozel (2007, p. 117), que o espaço não é apreendido somente
através de um sentido, visual ou tátil. ―Ele se coloca como referência da relação ou das
relações estabelecidas pelo ser humano, emocionalmente, simbolicamente e
economicamente, de acordo com suas experiências‖. Assim, o espaço é percebido,
sentido, representado e vivenciado. As imagens que os sujeitos construíram estão
impregnadas de significados, experiências e lembranças que ativam a memória afetiva e
suas recordações mais significantes.
282
seu território ou sobre um território coletivo, comunitariamente partilhado e socialmente
apropriado.
Essas formas de apropriação são separadas apenas como recurso analítico, pois, no que
concerne a vivência cotidiana elas estão absolutamente indissociáveis, estão imbricadas
uma na outra, sendo desta maneira, o território a base material e também fonte de
símbolos, ritos e mitos.
39
Objetivações entendidas a partir das ideias de Moscovici (1978) sobre a formação das representações
sociais, envolvendo a formulação e assimilação de um novo conteúdo e sua objetivação e cristalização em
determinado contexto cultural.
283
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
desde a casa, a escola e o entorno mais imediato com uso para fins de lazer e
brincadeiras.
A ocupação e o controle social da paisagem indica seu uso como a função de território.
O espaço social da comunidade se alarga: dunas, praias, rios, marés, restingas e
mangues são apropriados segundo suas qualidades naturais e sua capacidade de receber
as práticas de trabalho tradicionais para obtenção de meio de vida.
284
O sentido e o significado de cada espaço pode variar, segundo a fase de vida e o alcance
da experiência do sujeito. O rio do ―mergulho‖ com os amigos se transforma em
território de pesca quando o que está em jogo é o sustento da família. A possibilidade de
existir diferenças territoriais envolvendo gênero e grupos diferentes, o valor trabalho,
divertimento ou memória permanecem.
O trabalho por sua centralidade desempenha a função social de qualificar de forma mais
marcante o espaço, por meio do uso funcional dos ambientes nessas comunidades
tradicionais, caracterizando a situação de forte ligação e constituição de vínculos
territoriais apontados por Souza (2013).
285
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
A comunidade não é somente um lugar de morada com seus quintais percorridos dia-a-
dia, do ―meu espaço‖ por excelência, mas engloba também, todo o sistema ecológico de
entorno, que é vivenciado e apropriado como um complexo territorial ecológico, sujeito
a um ajustamento funcional e simbólico bastante coerente em relação à comunidade que
o explora.
286
REFERÊNCIAS
ARIÉS, Philippe. Historia social da criança e da família. Rio de Janeiro: LTC, 1981.
BOSI, Ecléa. Memória e sociedade. 11 ed. São Paulo: Companhia das letras, 2004.
LEAL, Alessandra Fonseca. Viver no lugar: os ciclos da vida, os ciclos da infância In:
COSTA, João Batista de Almeida; OLIVEIRA, Cláudia Luz de. (Org.). Cerrado,
Gerais, Sertão - comunidades tradicionais nos sertões roseanos. São Paulo: Intermeios,
2012, p. 114-128.
OLIVEIRA, Joycelaine Aparecida de. Ciclos de águas e vidas: o caminho do rio nas
vozes de antigos vapozeiros e remeiros do São Francisco. 2009, 144 fls. Dissertação
(Mestrado em Geografia) Instituto de Geografia, UFU, Uberlândia, 2009.
287
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
SOUZA, Angela Fagna Gomes de. Ser, Estar, Permanecer: vínculos territoriais das
gentes que povoam as margens e ilhas do rio São Francisco. 2013, Uberlândia, 270 fls.
Tese (Doutorado em Geografia) Instituto de Geografia, UFU, Uberlândia, 2013.
TUAN, Yi-Fu. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. São Paulo: Difel, 2013.
288
TEMPOS E OS TERRITÓRIOS DA PESCA NO POVOADO PEDREIRAS - SÃO
CRISTÓVÃO/SE
289
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
INTRODUÇÃO
Nessa perspectiva surge este artigo, no sentido de lançar um olhar sob os pescadores
artesanais do povoado Pedreiras no município de São Cristóvão, seu modo de vida, sua
identidade com a atividade pesqueira e com o seu território.
Assim:
O território, imerso em relações de dominação e/ou de apropriação
sociedade-espaço, ―desdobra-se ao longo de um continuum que vai da
dominação político-econômica mais ‗concreta‘ e ‗funcional‘ à
apropriação mais subjetiva e/ou ‗cultural-simbólica‘‖ (HAESBAERT,
2004, p. 95-96).
O território é apreendido não unicamente enquanto área controlada para obtenção dos
recursos naturais, mas também como o conjunto de referentes espaciais, indissociáveis
na criação e recriação de mitos e símbolos de um grupo.
290
espaço tanto para realizar ―funções‖ quanto para produzir
―significados‖. O território é funcional a começar pelo território como
recurso, seja como proteção ou abrigo (―lar‖ para o nosso repouso),
seja como fonte de ―recursos naturais‖ – ―matérias-primas‖ que
variam em importância de acordo com o(s) modelo(s) de sociedade(s)
vigente(s) (como é o caso do petróleo no atual modelo energético
capitalista). (HAESBAERT, 2005, p.3).
Ainda segundo Haesbaert (2005, p. 22): ―Os objetivos do controle social através de sua
territorialização variam conforme a sociedade ou cultura, o grupo e, muitas vezes, com
o próprio indivíduo‖.
Ousamos afirmar que a territorialidade está para além da dimensão do poder, pois
compreende o conjunto de relações que se desencadeiam na complexidade do território.
Aí estão inseridas todas as manifestações humanas que incluem o saber, o fazer, as
disputas, os equilíbrios, os símbolos, as representações coletivas, políticas e sociais.
291
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Para teórico cultural e sociólogo jamaicano Stuart Hall a identidade não tem tanto a ver
com as questões de ―quem nós somos‖ ou ―de onde nós viemos‖, mas ―quem podemos
nos tornar‖, ―como nós temos sido representados‖ e ―como essa representação afeta a
forma como nós podemos representar a nós próprios‖. [...] As identidades são
construídas dentro e não fora do discurso que nós precisamos compreendê-las como
produzidas em locais históricos e institucionais específicos, no interior de formações e
práticas discursivas específicas, por estratégias e iniciativas especificas (HALL, 2011).
292
Seguindo este raciocínio, Bauman (2005) afirma que o ―pertencimento‖ e a ―identidade‖
não têm a solidez de uma rocha, não são garantidos para toda a vida, são bastante
negociáveis. Os caminhos que percorrem, a maneira como agem, são cruciais tanto para
o ―pertencimento‖ quanto para a ―identidade‖, ou seja, não são definitivos nem tão
sólidos assim, mas negociáveis e revogáveis, dependendo das decisões que o indivíduo
toma, do caminho que percorre e da maneira como age.
Destarte, esse sentimento acontece em função dos conteúdos que são próprios,
específicos do grupo social, ou seja, que aparecem em um modo de vida particular.
Partindo desse pressuposto os estudos sobre a pesca no Brasil40, de uma forma geral
buscam compreender o modo de vida de comunidades que vivem em áreas litorâneas e
ribeirinhas, buscando sempre compreender como os pescadores vêm produzindo seus
espaços e sua relação com a natureza.
40
Ver Cardoso (2001); Diegues (1983, 1983; 1995; 1999; 2002; 2004a e 2004b); Maldonado (1993);
Marques (1995); Silva (2009).
293
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Historicamente a pesca artesanal está ligada à influência de três correntes étnicas que
contribuíram para a formação da cultura das comunidades litorâneas e ribeirinhas no
Brasil: a indígena, a portuguesa e a negra (SILVA, et. al, 1990). Dos índios veio os
conhecimentos culinários como o preparo do peixe para a alimentação, a confecção das
canoas e jangadas, as flechas, os arpões e as tapagens; dos portugueses os métodos e
instrumentos mais comuns como anzóis, pesos de metal, redes de arremessar e de
arrastar; e da cultura negra, herdaram a variedade de cestos e outros utensílios utilizados
para a captura dos peixes (DIEGUES, 1983).
Desta forma, pode-se afirmar que a pesca se desenvolveu de forma significativa com a
chegada de diferentes povos no território com atividades importantes no que diz respeito
ao aspecto socioeconômico do país, visto que várias cidades litorâneas se formaram a
partir de núcleo de pescadores no decorrer da nossa história.
As obras de Antônio Carlos Diegues (1983; 1995; 1999; 2002; 2004a e 2004b)
apresentam-se fundamental para a compreensão do universo da pesca artesanal no
povoado Pedreiras. À luz de suas obras apreendemos que as comunidades tradicionais
possuem uma reduzida divisão técnica e social do trabalho, sobressaindo o trabalho
artesanal, onde o produtor e sua família dominam o processo de trabalho, como é o caso
da comunidade estudada.
294
geralmente possuem uma forma específica de apropriação e relação entre grupos sociais
e ambientes naturais. Seus conhecimentos baseiam-se na transmissão oral, quer das
formas produtivas quanto organizativas e culturais, como garantia da manutenção dos
grupos sociais distintos. Eles fazem uso de tecnologia simples, reduzida acumulação de
capital, relações de produção definidas no âmbito da unidade familiar nuclear ou
extensa, com reduzida divisão de trabalho.
MÉTODO E METODOLOGIA
295
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
ÁREA DE ESTUDO
O povoado Pedreiras (figura 01) surgiu como ponto de referência, possivelmente com
essa denominação, desde o início da colonização do município de São Cristóvão. Conta-
se que o primeiro porto atracadouro de Sergipe surgiu no povoado Pedreiras e que se
chamava ―Porto das Pedras‖. Navios com enormes cargas de carne, sabão, alcatrão, breu
e louças finas, entre outros produtos atravancavam neste porto; em seguida eram
levados até a sede do município, na época capital de Sergipe, por pequenas embarcações
(BANCO DO BRASIL, 1993). Tal informação parece consistente, pois as pedras do
leito do rio neste local realmente constituem obstáculo à passagem de embarcações de
porte. Ainda sobre essas pedras os moradores relataram que ―muitas pedras foram
tiradas daqui para a construção de casas de São Cristóvão‖.
296
De acordo com relatos de moradores mais antigos e do documento Diagnóstico do
Povoado Pedreiras (BANCO DO BRASIL, 1993) o povoado surgiu em meados do
século XIX, a partir do povoamento de duas propriedades: Tinharé e Pedreiras, esta
última de propriedade de Dona Iaiá que foi a primeira a ser loteada e posta à venda.
Posteriormente, a propriedade Tinharé também foi loteada e vendida. Estes lotes foram
adquiridos por famílias que construíram as primeiras casas na localidade, que mais tarde
se transformou em povoado.
Nesta época a comunicação com a sede de São Cristóvão se dava pelo rio. Há relatos
que a estrada só foi construída em meados de 1940, bastante precária, carroçável, ―a
mando de um ‗poderoso‘ da região‖, descendente de um dos fundadores do povoado,
aberta ―pelas mãos dos próprios moradores‖.
O que prende a atenção de quem visita o povoado pela primeira vez é a simplicidade do
arranjo espacial em conformidade com sua beleza cênica, beleza esta, que encanta a
primeira vista. Observam-se jardins floridos, muitas cores, texturas, cheiros; cenas que
denotam um cotidiano carregado de significados e singularidades como: pescadores
tecendo suas redes em suas varandas; crianças aqui e acolá brincando na rua, subindo
em árvores, barcos ancorados nos portos, ou saindo para a pescaria. A paisagem do rio
vista de cima do barranco, de onde se observa as ilhas: Grande e Pequena, os apicuns e
41
Petróleo Brasileiro S.A. é uma empresa de capital aberto, cujo acionista majoritário é o Governo do
Brasil. É considerada uma empresa estatal de economia mista. Atua no ramo de exploração e produção de
petróleo, bem como as demais atividades ligadas ao setor de petróleo, gás natural e derivados. Disponível
em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Petrobras. Acesso – em: 26 de agosto de 2015.
297
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Org. TORRES, R. P. de A.
Fonte: Trabalho de campo, 2013.
É muito comum encontrarmos famílias grandes, compostas por duas ou mais gerações
vivendo no mesmo terreno. São famílias que vão estabelecendo laços sociais entre si
através dos casamentos. Constroem suas casas e estabelecem seus territórios através da
sua produção.
298
O VIVER DA PESCA
Falar do cotidiano é falar das relações que se constroem nas tramas do dia a dia e se
materializa enquanto elemento identitário de um determinado grupo social. É o espaço
vivido, dotado de sentimentos, comportamentos, atitudes e significados, onde os atos
diários produzem a continuidade da vida de cada um. Nesse sentido, Agnes Heller
(2008, p. 31) salienta que:
Com base nas leituras de autores como Diegues (1983, 2004b) pode-se traçar uma
tipologia da pesca artesanal de pequenas comunidades situadas em ambientes costeiros
e estuarinos no Brasil, distinguindo: i) aquelas com atividade da pesca
predominantemente artesanal, mas que situada como alternativa de trabalho, sobretudo
quando não existe outra ocupação formal no mercado; ii) aquelas que estruturam suas
299
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Consideramos que o povoado Pedreiras é uma comunidade tradicional, mas que esta já
não se encontra em seu estado puro, intocado (DIEGUES, 1983), mas que busca obter
meios de sobrevivência desenvolvendo seus próprios conhecimentos em relação à
natureza e o seu próprio modo de viver. Daí afirmarmos que os moradores vivenciam de
fato a comunidade, vivendo da pesca, considerando que esta é a principal fonte de renda
da comunidade. No entanto, há membros da comunidade que não vivem exclusivamente
dessa atividade. Existem aqueles que procuram atividades paralelas à pesca para
complementar a renda da família, como a agricultura e o comércio.
Frente a tal contexto, também encontramos famílias que exercem a pesca combinada a
outras atividades como o cultivo de roçados e a coleta de produtos tirados da natureza.
São roças de: mandioca, milho, feijão, batata e algumas hortaliças e fruteiras; uma
minoria comercializa seus produtos, pois suas plantações são de pequeno porte e os
produtos são basicamente usados na alimentação diária. Apesar de ser a pesca a maior
provedora da economia de Pedreiras, nem só da pesca vivemos moradores do povoado,
também encontramos pessoas que trabalham em São Cristóvão e Aracaju em diversos
segmentos da economia.
Ainda sobre outras práticas paralelas à pesca, durante os períodos do defeso 42 são
praticadas outras atividades econômicas como os serviços temporários sem carteira de
trabalho assinada, para não se perder o auxílio financeiro, a exemplo de caseiros em
chácaras e sítios das redondezas, serventes de pedreiro, dentre outras.
Comunidades como Pedreiras possuem uma relação muito próxima com a natureza, pois
ela representa a subsistência dos moradores. A vivência no povoado parte desta relação
entre homem e natureza. A pesca artesanal e consequentemente o conhecimento do
ambiente em que se pesca é fator primordial para a reprodução social do grupo.
42
Constitui-se uma política estratégica, de caráter ambiental, visando proteger as espécies durante o
período de reprodução, garantir a manutenção de forma sustentável dos estoques pesqueiros e,
consequentemente, manter a atividade e a renda dos pescadores. Disponível em:
http://www.mpa.gov.br/pesca/seguro-defeso. Acesso – em: 26 de agosto de 2015.
300
TEMPORALIDADES NOS TERRITÓRIOS PESQUEIROS DO “RIO DAS
PEDREIRAS”
O pescador artesanal imprime o seu próprio ritmo de trabalho. Como o dono dos meios
de produção ele tem a liberdade para fazer seus dias e horas de trabalho. Assim, escolhe
quando e onde quer pescar. O tempo dedicado à pesca é apreendido desde o contexto
mais amplo do ritmo da natureza (marés, estações) até o contexto de um cotidiano muito
particular.
São muitas as horas dedicadas à pesca, também muitos os anos. A vida na pesca começa
cedo para os moradores do povoado Pedreiras, já na infância são introduzidos na pesca,
seja por necessidade ou por curiosidade, mas principalmente inseridos no ―fazer‖
tradicional. De acordo com relatos de alguns moradores do povoado o início da pesca
acontece na infância, por influência dos pais, também pescadores, parentes próximos e
de outras pessoas da vizinhança que praticam a atividade.
Destarte, Marques (1995 p. 62) coloca que a aquisição de informações sobre o meio
ambiente e seus recursos, assim como o modo de lidar com eles é estabelecido através
de uma transmissão cultural que se processa em dois sentidos: verticalmente (tradição) e
horizontalmente (meio), processa-se também pelo aprendizado individual, experenciado
pela vivência.
301
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Assim,
(...) quanto mais ajustado o pescador com seu ambiente, mais
condições cognitivas tem ele para desvendar e se apropriar da
natureza. É por aí que ele tem acesso objetivo ao conhecimento das
relações existentes entre sua atividade e as faunas aquáticas e
terrestres; a flora; os ventos e os mares; as nuvens e a chuva e assim
por diante, cujos sinais são decodificados com sabedoria.
(FURTADO, 1993, p. 206).
302
pescadores do povoado Pedreiras que distinguem o rio e a maré (áreas de mangue).
Para Marques (1995, p.158), isto é o indício de territorialidades na pesca que se
expressa sob vários aspectos: “inclusive, na forma de espaços possuídos que, sendo
consuetudinariamente aceitos, explicitam-se em locuções do tipo “lugá certo de”
(“o Zezinho tem um lugá certo de pescá”)”.
Os locais de pesca citados, referente aos diferentes ―pontos/partes‖ desse ambiente são
apresentados no quadro 01.
43
Onde ocorrem as espécies Rhizophora mangle, Laguncularia racemosa e Avicennia schaueriana,
respectivamente mangue vermelho sapateiro, mangue branco e mangue preto.
303
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Para Marques (1995, p. 161) ―Há todo um rol de topônimos relacionados a águas ou
portos que são altamente sugestivos quanto a codificação de relações sociais de posse‖.
Assim, afora os locais de pesca, encontramos também denominações para os portos e
atracadouros, complementando a ―rica‖ toponímia apresentada no quadro 01. Os
―portos‖ ficam às margens do rio Vaza Barris, em terrenos particulares, porém são de
uso comum entre os pescadores do povoado. (Figura 03).
a) b)
1 1
Organização: TORRES, R. P. de A.
Fonte: Trabalho de campo, 2013.
304
Figura 04 – Depósitos de barcos e apetrechos de pesca
Le Goff (2003, p. 419) nos traz a ideia de que a memória é vista como ―[...] propriedade
de conservar certas informações, remete-nos em primeiro lugar a um conjunto de
funções psíquicas, graças às quais o homem pode atualizar impressões ou informações
passadas, ou que ele representa como passadas‖. Dessa forma, para uma melhor
compreensão sobre suas memórias e como elas podem revelar histórias de vida de um
indivíduo e de seu mesmo grupo, buscamos traçar um paralelo entre o passado e o
305
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Contudo suas lembranças também remetem a tempos difíceis, no que diz respeito à
sobrevivência. A maioria dos depoimentos expõem as dificuldades enfrentadas pela
família, o trabalho na pesca e na roça.
306
canoa, a pé ou a cavalo o que tornava a comercialização do pescado penosa. Aqueles
com idade inferior a 40 anos vivenciaram na infância a interligação pela estrada, linha
de ônibus, escola, posto de saúde e Associação de Moradores.
O passado mais distante e o mais próximo são postos como marcos da vida. É evidente
que o cotidiano foi alterado com a instalação energia elétrica e/ou possibilidades de
congelar o pescado e com a linha de ônibus regular que facilita a comercialização no
principal mercado, em São Cristóvão. No entanto, as benfeitorias que facilitaram a vida
há quarenta anos atrás já não mais satisfazem as exigências dos dias atuais. Por ser um
povoado antigo há a percepção da centralidade de Pedreiras com relação aos arredores
e, consequentemente, a preocupação da pressão no uso dos serviços aí existentes o que
confere maior legitimidade nas reivindicações por melhores serviços oferecidos à
população do povoado.
Para Tuan (1983), o lugar é marcado pela percepção, pela experiência e pelos valores.
Os lugares são núcleos de valor, por isso eles podem ser totalmente apreendidos por
meio das relações de quem ali vive (insider) e relações externas (outsider).
Para Del Rio (1996, p. 4), embora as percepções sejam ―subjetivas para cada indivíduo,
admite-se que existam recorrências comuns, seja em relação às percepções e imagens,
seja em relação às condutas possíveis‖.
307
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
não somente os nascidos e criados em Pedreiras carregam esse sentimento, mas também
os que optaram por viver no povoado. Pessoas que conheceram o lugar e se
―apaixonaram‖ pela paisagem natural, pela tranquilidade, ou mesmo por algum nativo
acabaram se casando e, o que antes para eles era apenas espaço de trabalho ou de lazer,
foi se tornando um lugar, no sentido de pertencer a algo, a alguém ou a algum lugar, ao
seu lugar.
Yi-fu Tuan (1983, p. 6) coloca ―o que começa como espaço indiferenciado transforma-
se em lugar à medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor, ou seja, o lugar é
carregado de experiências e desejos pessoais, é uma realidade que deve ser
compreendida da perspectiva dos que lhe dão significado‖.
Diante disto, lançamos a pergunta: Se o(a) senhor(a) fosse pintar um quadro do povoado
Pedreiras, o que desenharia e quais as marcas não poderiam faltar na descrição do
quadro? Neste sentido construímos o quadro 02 expondo os referenciais de Pedreiras.
308
Econômicos nas colocações citaram um ou dois elementos e concluíram: ―é só isso; é
isso‖!
Quadro 02 – Signos e marcas do Povoado Pedreiras
Paisagem Religioso Atividade Equipamentos Pessoas Outros
Escola
Posto de Saúde
Rio Igreja de Casas
Maré Santa Cruz Estrada Símbolo do
Pesca Esposa
Pôr do sol Igreja Mercearias Flamengo
Paisagem Evangélica Petrobrás
Quadra de
Esportes
12 8 1 11 1 1
Fonte: Pesquisa de campo, 2013.
Os signos são uma construção social, eles só existem dentro de um contexto que lhe dão
sentido e seus significados dependem do contexto social, histórico e cultural em que o
indivíduo está inserido. Cada elemento ajuda a compreender também a cultura do lugar.
Assim, a igreja católica, o rio, a escola e a paisagem enquanto natureza são os elementos
mais significativos. Embora a pesca tenha sido citada apenas uma vez, entendemos que
isso justifica-se porque ―a pesca não se pinta‖, ela se traduz pela importância dada ao rio
e à maré.
Dessa forma, a igreja católica (Figura 05) de Santa Cruz é um símbolo do povoado, foi
construída há mais de 100 anos. Seu nome é uma alusão à Padroeira do lugar, a Santa
Cruz, comemorada todo mês de maio. É uma construção singela, mas tida como ―um
patrimônio do povoado".
309
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Organização. TORRES, R. P. de A.
Fonte: Trabalho de campo, 2013.
A igreja evangélica (Figura 06) é representada pela Assembleia de Deus e constitui uma
referência importante, pois, tem grande significado para seus seguidores. O número de
evangélicos no povoado cresceu significativamente nos últimos anos e a adesão se dá
por vários motivos, dentre eles, o de oferecer consolo e proteção nos momentos de
dificuldades enfrentadas por algumas pessoas. De acordo com relatos de evangélicos,
essa adesão é próxima a 60% da população do povoado.
310
Figura 06 – Igreja evangélica Assembleia de Deus,
povoado Pedreiras - São Cristóvão/SE
Organização. TORRES, R. P. de A.
Fonte: Trabalho de campo, 2013.
O rio (Figura 07) possui uma simbologia que representa o sustento e a tradição, ―é a
sobrevivência do povoado‖, mas também traz um conteúdo afetivo, que reforça a
identidade territorial do morador. Tal como expresso por Bonnemaison (2002) o rio e a
maré, o ―rio da Pedreiras‖ contempla os elementos materiais e imateriais. Ele traduz a
organização e a produção da base material e, também, a significação e a relação
simbólica que dá sentido à vida.
311
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Organização. TORRES, R. P. de A.
Fonte: Trabalho de campo, 2013.
312
Figura 08 – Paisagem do rio Vaza Barris - povoado Pedreiras - São Cristóvão/SE
Organização. TORRES, R. P. de A.
Fonte: Trabalho de campo, 2013.
Todavia, o sentido de patrimônio colocado tanto para a paisagem como para a igreja se
aproxima mais do sentido de pertencimento quando se avalia os depoimentos sobre
Pedreiras: ―eu amo isso aqui!‖.
313
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
A sincronia do presente com a tradição, tal como exposta por Claval (2002, p. 172),
―(...) o que garante ao indivíduo a autenticidade de suas escolhas é o sentimento que ele
tem de estar de acordo com uma tradição que interiorizou‖.
Assim:
Pais, avós, tios, cunhados, irmãos, colegas. A iniciação na pesca
perpassa vários níveis de parentesco e as teias de relações que se
estabelecem nas comunidades pesqueiras, fundamentais na
socialização da criança no mundo da pesca. (CARDOSO, 2005, p. 5).
No povoado Pedreiras, geralmente essa inserção tem início ainda na infância entre os 8
a 13 anos de idade. As crianças começam acompanhando os pais, ficam à beira do rio
brincando ou apenas observando o labor dos seus pais, ou mesmo ajudando na pescaria
e na mariscagem.
Os ensinamentos não partem somente de pais para filhos homens, muitas mulheres
também aprendem a pescar através da figura do pai, assim como os homens aprendem a
314
pescar com suas mães. Visto que aprenderam em outra época com os pais e outras
pessoas mais velhas e que estes tinham seu próprio modo de pescar, conforme vão
ocorrendo as mudanças nos apetrechos e na dinâmica do rio e das marés os mais jovens
vão moldando seu jeito próprio de pescar, ainda que ―a pescaria seja uma só‖.
O conhecimento adquirido atrelado à percepção faz com que o pescador crie habilidades
que o leva a identificar espécies de peixes pelo simples barulho que fazem; a relacionar
a dinâmica das marés à lua e a criar métodos de captura que vão desde a confecção dos
apetrechos de pesca até a construção e manutenção de pequenas embarcações.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
315
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
316
REFERÊNCIAS
DEL RIO, Vicente; OLIVEIRA, Lívia de. (Orgs.). Percepção ambiental a experiência
brasileira. 2. ed. São Paulo: Studio Nobel, 1999.
317
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
GIL FILHO, Sylvio Fausto. Geografia Cultural: estrutura e primado das representações.
Espaço e Cultura, UERJ, RJ, n. 19-20, p. 51-59, Jan./Dez. de 2003.
318
PIMENTA, E. G. Análise estatística de acidentes com barcos de pesca. Grupo de
Estudos e Projetos Especiais, GEPE. Rio de Janeiro: UFRJ, 2001.
SILVA, Anelino Francisco da. Pesca artesanal: seu significado cultural. Ateliê
Geográfico. Goiânia, v. 1, n. 6, abril/2009, p. 119-136.
319
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
RESUMO: A costa litorânea dos municípios de São Miguel dos Milagres e Porto de
Pedras, em Alagoas, apresentam um apanágio paisagístico singular e é locus de
populações tradicionalmente pesqueiras. Esses lugares, isolados preteritamente, em um
espaço temporal de quinze anos tornaram-se favoráveis a espacialização de Pousadas
denominadas ‗do charme‘ que visam um turismo seleto e exclusivo. No entanto, esse
encontro de territorialidades – tradicionais e turísticas – tem se delineado por meio de
conflitos e de interesses divergentes. O discurso de ambas territorialidades não se
mostra contrário ao desenvolvimento do turismo e a necessidade de conservação da
biodiversidade, no entanto, a apropriação do espaço pelo turismo está coibindo antigas
horizontalidades e impondo uma nova ordem apoiada por ditames de gestores locais.
Como consequência, processos de resistência e de luta pela garantia do território
pesqueiro estão irrompendo. Utiliza-se uma metodologia qualitativa através da
observação direta em reuniões e baseadas em pesquisas documentais e bibliográficas
com o objetivo de análise da tessitura do capital social operante para o alicerçamento de
processos participativos e associativos no interior dessas comunidades pesqueiras.
RESUMEN: La costa marítima de las localidades de São Miguel dos Milagres y Porto
de Pedras, en Alagoas, presenta características paisajísticas singulares y es un lugar en
el que habitan poblaciones tradicionalmente pesqueras. Este lugar, aislado en el pasado,
en un lapso de quince años se volvió favorable para la ocupación de posadas nominadas
‗do charme‘, dirigidas a un público selecto. Sin embargo, ese encuentro de
territorialidades –tradicionales y turísticas- viene caracterizándose por conflictos e
intereses divergentes. Los discursos de ambos grupos que ejercen esas territorialidades
diferentes no van contra el desarrollo del turismo ni contra la necesidad de conservación
de la biodiversidad, pero la apropiación del espacio por parte del turismo está afectando
antiguas horizontalidades e imponiendo un nuevo orden apoyado por las reglas de las
autoridades locales. Como consecuencia, están surgiendo procesos de resistencia y de
lucha por la garantía del territorio pesquero. Se utiliza una metodología cualitativa, a
través de la observación directa reuniones y basada en investigaciones documentales y
320
bibliográficas, con el objetivo de analizar la estructura del capital social operante para la
consolidación de procesos participativos en el interior de esas comunidades pesqueras.
INTRODUÇÃO
O
presente ensaio tem como proposta refletir sobre a territorialização turística
em comunidades tradicionais e suas repercussões no território. As
populações tradicionais observadas neste estudo estão situadas nas cidades
de Porto Pedras e São Miguel dos Milagres, ambas no litoral norte de Alagoas, no
Nordeste brasileiro. Nestes dois municípios, as características socioespaciais são
similares, nelas ocorre um turismo seleto e exclusivista que prioriza a espacialização do
pousadas voltadas a um número limitado de turistas, mas que no entanto requerem
onerosos serviços com a promessa do usufruto de um local repleto de signos do paraíso.
Neste estudo faremos um breve resgate histórico das duas localidades até a
compreensão da sua realidade presente, traremos as características do turismo no atual
estágio da modernidade, suas características e desdobramentos. Refletiremos sobre os
conceitos de capital social, território – processos de territorialização, desterritorialização
e reterritorialização – e os consequentes movimentos de luta e resistência
desempanhados por determinadas sociedades, para que sirvam de arcabouço teórico
para a compreensão da realidade e dos processos presentes nestes dois municípios.
Intentamos trazer as múltiplas relações oriundas das duas territorialidades, tradicional e
turística, observadas neste estudo. Seja ela na relação turista-morador, na relação
empreendedor-pescador ou na relação empreendedor-turista. E a partir desta observação
examinar como tais relações podem acarretar mudanças nos modos de vida da
sociedade, principalmente nas ditas tradicionais.
321
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Esse povoado - banhado por um mar que por tanto tempo se manteve assedado, alisado,
agora é repartido, estriado44, para atender novas demandas - representa o cotidiano das
duas localidades refletidas neste estudo, Porto de Pedras e São Miguel dos Milagres,
ambos pertencentes ao estado de Alagoas, no nordeste brasileiro. Em tais lugares, para o
exercício de pescar, somente necessitava-se ir ao encontro da concentração do pescado,
agora, esses mesmos lugares, fragmenta-se para o atendimento de novas demandas e
obedecer a determinados fins, como um patchwork (DELEUZE & GUATTARI, 1997c)
de funcionalidades, que ora se transpõem - de forma harmônica - e ora se apartam -
cumprindo ordens extra-locais45. O singrar – não mais exclusivo de jangadas – feito por
numerosos tipos de embarcações competem para o exercício da pesca, o deleite do
viajante e o emprego de prestadores turísticos, além do desbravamento cientifico.
Porto de Pedras e São Miguel dos Milagres, esta segunda pertencente a primeira até
1960, foram localidades que carregam na sua história a relação estreita com o processo
de Plantation46 da cana de açúcar no final do século XVI. Desse período até meados do
século XX, as transformações socioespaciais acompanharam o processo de expansão47,
44
Conceito de Liso e Estriado, ver a obra DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs - capitalismo
e esquizofrenia. vol. 5. São Paulo: Ed. 34, 1997c.
45
A localidade está localizada na Apa Costa dos Corais, que em seu plano de manejo delimita áreas
exclusivas para pesca, exclusiva para o turismo e fechadas, as quais são exclusivas para reprodução da
vidade marinha, além disso é necessário obedecer regras como defeso.
46
Plantation é nome adotado para especificar um tipo de sistema agrícola baseado em uma monocultura
para exportação, e tem como características ser realizado em latifúndios e a utilização de mão de obra
escrava. Este modelo foi utilizado no período da colonização das Américas, África e Ásia. Atualmente
ainda ocorre em países subdesenvolvidos, porém sem o uso da mão de obra escrava.
47
O plantio da cana de açúcar foi à alternativa encontrada pela coroa portuguesa de obter a dupla
vantagem: recursos econômicos e soberania territorial, diante da anulada expectativa inicial de encontrar
ouro e prata. O açúcar foi o mais importante produto agrícola comercializado na Europa, e até ser
plantando nas Américas era um produto valioso e produzido em baixas escalas. O reino português, após
ter detectado que o clima e o solo do nordeste brasileiro apresentavam um cenário favorável, estabeleceu
para as capitanias, localizadas neste território, a missão do cultivo da cana de açúcar. Famílias europeias
322
as crises e até o declínio dos engenhos de açúcar, acompanhado dos processos de luta do
território entre holandeses e lusitanos e da abolição da escravatura. Todos esses
processos históricos refletiram no povoamento e nas migrações de ambas as localidades.
Suas terras, no século XVI, foram concedidas pelo terceiro donatário da Capitania de
Pernambuco, Jorge de Albuquerque Coelho, uma sesmaria, que compreendia desde a
foz do rio Manguaba até o cabo de Santo Agostinho, ao alemão Christopher Linz, entre
os anos de 1575 e 1585 (DIEGUES JR, 2006).
Segundo Diegues (2006), Christopher Linz, ou Cristovão Lins Buarque, recebeu essa
sesmaria como reconhecimento pelos serviços prestados à coroa portuguesa: a
habilidade de caçar e degolar índios, e destruir tribos potiguares. E foi através da
violência que se iniciou o processo de colonização do litoral norte alagoano. No início
do século XVII, em 1608, o alcaider- mor de Porto Calvo, Cristovão Buarque, repartiu
sua sesmaria e doou parte do sul ao seu sobrinho Rodrigo Barros Pimentel, conforme
carta de doação:
―[...] dou e faço doação deste dia para todo o sempre em nome do dito
senhor Rodrigo de Barros Pimentel meu sobrinho de hua sorte de
terras que está vago em Tatuamunha que pelo norte no riaxo das
lages48 no cítio goitizeiro e holhos d´agua com hua legoa de terra [...] (
DIÉGUES JR, 2006, p. 34).
Todo o território de Porto de Pedras e São Miguel dos Milagres possui reminiscências
da antiga Sesmaria de Santo Antônio dos Quatro Rios, cujo centro político-
administrativo ficava em Porto Calvo, município alagoano. O núcleo de povoamento de
Porto Calvo se dilatou em pequenos povoados, que deram origem às cidades que são
conhecidas atualmente, a maioria transformada em municípios a partir do século XIX
(LINDOSO, 2000). Porto de Pedras também foi palco, primeiro da ocupação holandesa
e depois da fuga dos holandeses após os conflitos travados com os portugueses em
meados do século XVII, tal processo deixou impressões materiais e imateriais no
território. A formação societal de Porto de Pedras e São Miguel baseou-se em uma
vieram então para esta parte do novo mundo com a missão de plantar, colher e exportar o açúcar
mascavo. Como este sistema demandava grande quantidade de mão de obra, a primeira tentativa foi
utilizar a mão de obra índia deste território, mas como estes não atenderam a exigência estabelecida,
então, a solução foi dizimá-los e trazer a mão de obra negra escrava (GALEANO, 1982).
48
Segundo Diegues Jr (2006, p. 36-37), possivelmente o riaxo das lajes refere-se ao Riacho das Lages
que banha povoado de Lages em Porto de Pedras.
323
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
A planície litorânea, pela característica do seu solo, não era favorável ao plantio da cana
de açúcar, no entanto, grande parte sua extensão estava dentro dos limites dos
latifundiários. Nesse sentido, foi lá que permitia-se a ocupação da população livre e
pobre. A ocupação da margem do sistema canavieira era um processo interessante para
a economia canavieira da época, e para os séculos posteriores, primeiro pela condição
de reserva de mão de obra para atender a demanda braçal requisitada na atividade
econômica canavieira e também para criar processos complementares a economia -
pequena agricultura, a pesca de frutos do mar, a criação de animais e o incipiente
comércio – os denominados ―setores inorgânicos da economia‖49 para atender o própria
necessidade desse sistema, em proporções limitadas.
Segundo Rocha (2002, p. 63), ―[...] mandioqueiros e pescadores ocupavam uma posição
marginal reservada aos pobres pela matriz de produção, mas desempenhavam uma
função essencial para o funcionamento da economia açucareira‖. Além disso, muitos
dos sítios cedidos na condição de meeiro serviu para a o plantio de coqueiros, que
embora exógenos, rapidamente se introduziram ao bioma da região, e se tornaram nos
séculos posteriores uma fonte econômica apreciável. Fora os espaços cedidos pelos
senhores de engenho o processo de ocupação ocorreu, predominantemente, nas vias de
49
A denominação ―setores inorgânicos da economia‖ foi dada por Caio Prado Junior, na Formação do
Brasil Contemporâneo (PRADO JR, 1983 apud ROCHA, 2002, p. 64) para o trabalhador rural que tem
espaço cedidos em uma espécie de vassalagem e de prestação de serviços, em geral seu processo de
plantio é rudimentar e em escalas de produção limitada.
324
acesso aos povoados e municípios, fora dos domínios das propriedades latifundiárias.
Sobre a formação urbana destas localidades Andrade (1973, p. 158) nos relata que no
início da década de 1970 eram:
50
Os dados apontados referem-se ao número de domicílios e não ao número da população como nas
demais células;
325
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
51
Em 1920 São Miguel dos Milagres era povoado de Porto de Pedras, essa contagem refere-se a
população presente no povoado;
52
Os dados apontados referem-se ao número de domicílios e não ao número da população como nas
demais células.
326
reconstituídos e iniciados dia a dia. Tal estrutura arbórea-rizomática (DELEUZE &
GUATTARI, 1997a) vem modificando seu caráter para outras relações e forças que
paulatinamente impregnam no território, seja ela pela inserção de outros modelos
econômicos; seja pela crescente mudança na constituição de famílias; seja pela inserção
de outras formas de expressão religiosa; seja pelo ampliação do assistencialismo do
Estado e ainda pela heterogeneidade maior de atores no cotidiano, entre outros fatores,
mas principalmente pelas influências extra-locais em macroescala. Essa nova
configuração se apresenta rizomática pela sua multiplicidade e pela sua
heterogeneidade, no entanto cada uma delas, em maior e menor grau, ainda estão
arraigadas de modelos arbóreos na sua constituição. Essas novas relações, novos nós,
novas linhas - agenciamentos que possibilitam expansão, empoderamentos e, também,
perdas. Os contatos existentes ora se rizomatizam, ora se arborizam, em suas diferentes
formas de se arraigar, e transpassam o cotidiano em correlações arbóreas, rizomáticas,
arbóreas-rizomáticas, rizomáticos-arbóreas (DELEUZE & GUATTARI, 1997a).
A TERRITORIALIZAÇÃO TURÍSTICA
327
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
53
Tulik (1995, p.21) o define como ―um alojamento turístico particular, utilizado temporariamente, nos
momentos de lazer, por pessoas que têm seu domicílio permanente em outro lugar‖. No Brasil, segundo
Becker (1995, p.10), o fenômeno da segunda residência teve sua expansão na década de 1950, em
decorrência dos efeitos do período ―nacional-desenvolvimentismo‖, que gerou as seguintes
consequências: a expansão da classe média, o advento do automóvel particular, construção de rodovias e
forte urbanização.
328
No entanto, nesta dialética ambivalente, onde causas e consequências ora permutam na
hodierna conjuntura, o tenro modo ressurgi. Em uma sociedade de capitalismo tardio,
onde as lutas de classes, paulatinamente, perdem forças para os quem tem maior poder
de consumo (FEATHERSTONE, 1995), o subterfúgio é: encontrar outras formas de
fazer turismo que fuja do modelo massivo. Neste recente contexto, conhecer o exótico,
o tradicional, ter contato com novas culturas são a marca registrada do turista
cosmopolita (HANNERZ, 1999). Um turista que a principio busca o devir e fluir na
cultura do outro, mas essa fruição não ultrapassa o status de voyer. Porque embora
empenha-se em experimentar alteridade cultural, ela não é passível de ser vivida na
integra, visto que a cultura resulta de um processo de valores e modos vivenciados e
solidificados por certa coletividade (SANTOS, 1983). No entanto, as práticas, os
costumes, as aptidões não são congelados, pelo contrário, estão em contínuo processo
de derretimento e de fusão, na qual o constante contato com outras culturas
resignificam a todo instante os modus vivendi e operandi dos povos ditos tradicionais.
Possivelmente, poderíamos dizer que, o encontro de culturas - do cotidiano tradicional e
do efêmero turístico – tenha um efeito maior nos que pertencem ao lugar do que para
aqueles que estão de passagem, mas não desconsiderando que, em maior e menor grau,
esse contato também toque os que estão de passagem efêmera.
329
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
No entanto esse fluir não ocorre somente sobre a matéria inerte, ele ocorre,
majoritariamente, no locus da vida, na sociedade. Embora em algumas localidades o
turismo já tenha se tornado parte daquela realidade, daquele cotidiano e demandado um
novo contexto. Mas ainda assim, eles estão em constante processo de troca com a vida
das pessoas que ali vivem. E é nesse contexto que buscamos pensar o nosso objeto de
estudo, Porto de Pedras e São Miguel dos Milagres. Embora não sejam mais cidades
ilhadas, ainda assim apresentam uma temporalidade e uma rotina nos seus modos de
330
vida que carregam impressões de uma sociedade tradicional54. As pessoas que ali vivem
exercem uma relação espaço e tempo diferente de uma cidade de cosmopolita. Apesar
de estarmos todos conectados por dimensões virtuais, a vida naquelas sociedades
exprimem uma estreita simbiose com o meio ambiente e entre os indivíduos presentes
nele.
O turismo em São Miguel dos Milagres e Porto de Pedras vem demandando novas
práticas e usos no território, embora a atividade turística praticada ali, não seja de
massa, pelo contrário, seja um turismo exclusivista e dotado de pousadas denominadas
do ‗charme‘, o qual prioriza um grupo seleto e com alto poder aquisitivo. E é
justamente em nome da preservação deste público, da exclusividade prometida em um
local paradisíaco que os conflitos estão ocorrendo.
54
Neste estudo, compreende-se como povos ou sociedades tradicionais aquelas apontada por DIEGUES
(et al.,1999) como aqueles indivíduos que têm cultura própria e se reconhecem como tal; possuem
organização social própria; ocupam e utilizam recursos naturais como parte de sua identidade; seu modo
de vida são fundamentados em conhecimentos, inovações e práticas tradicionais; o sistema de exploração
dos recursos naturais é adaptado às condições ecológicas locais e desempenham papel fundamental na
proteção da natureza e na manutenção da diversidade biológica.
331
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
55
Nomenclatura dada aos proprietários de pousadas pelos pescadores locais.
56
Palhoças são edificações, contruidas pelos pescadores para a guarda das embarcações e dos apetrechos
usados na pesca, como rede e outros utensilios, em algumas localidades são denominadas de caiçaras.
57
Foi criada pelo decreto de 23/10/1997 a Área de Proteção Ambiental da Costa dos Corais, localizada
nos Municípios de Maceió, Barra de Santo Antônio, São Luís do Quitunde, Passo de Camarajibe, São
Miguel dos Milagres, Porto de Pedras, Japaratinga e Maragoji no Estado de Alagoas e São José da Coroa
Grande, Barreiros, Tamandaré e Rio Formoso no Estado de Pernambuco, e nas águas jurisdicionais, com
o objetivo de: garantir a conservação dos recifes coralígenos e de arenito, com sua fauna e flora; manter a
integridade do habitat e preservar a população do Peixe-boi marinho (Trichechus manatus); proteger os
manguezais em toda a sua extensão, situados ao longo das desembocaduras dos rios, com sua fauna e
flora; ordenar o turismo ecológico, científico e cultural, e demais atividades econômicas compatíveis com
a conservação ambiental; incentivar as manifestações culturais e contribuir para o resgate da diversidade
cultural regional.
332
discurso do desenvolvimento econômico. Tal contexto corrobora com Milton Santos
(2006) sobre a existência de uma força vertical sobre os territórios e que liquefazem as
forças horizontais, todavia, não há como negar a existência da força horizontal. Essa
força que busca mecanismos para evitar o total derretimento, através da resistência para
garantir o seu território e seus próprios interesses.
Talvez não tão coesa e, sim, repleta de elementos divergentes presentes no coletivo
interno, não tão claramente opondo-se a existência das verticalidades, mas intensa de
pontos de articulações que os una e que os conecte na luta pela sua própria existência.
Essas comunidades de pescadores artesanais que vem resistindo demonstram a
existência de elevado capital social. O conceito de capital social que nos referimos
corrobora com o pensamento de Bourdieau (1985) ―rede durável de relações‖ de
―reconhecimento mútuo‖ que asseguram a seus membros um conjunto de recursos
atuais ou potenciais na construção e no fortalecimento de poder no seio e no entorno da
sociedade e, também, pela perspectiva de Fukuyama (1995) que dilata pelas
perspectivas de confiança e cooperação por parte dos sujeitos dentro da sociedade,
referindo-se aos recursos morais e mecanismos culturais que reforçam os grupos sociais.
333
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
cultura? É o espaço que determina essa coesão ou são as relações neles construídas que
geram esse movimento de coesão, de luta e resistência?
Émile Durkheim (1990) faz distinção, embora com relações limiares e intrínsecas, dos
modos de ser – fisiologia social – dos modos de agir, pensar, sentir, reagir – fato social.
Segundo Durkheim, são os elementos em sua vida comum, coletivizados por bens,
simbólicos e materiais, e gerados em uma amplitude dinâmica, que possuem a aptidão
de fator determinante da evolução da vida coletiva, no entanto na sua concepção de
determinismo social, não alcança a captação da totalidade composta por estrutura social,
espaço, história e modos de produção.
334
material e social da existência dos indivíduos, em que envolve a dimensão operacional e
a complexidade de seus usos.
Segundo Haesbaert (2004), o território, desde a sua origem, tem uma conotação dupla: a
material, representada pela dominação do poder jurídico, político e administrativo; e a
simbólica, demonstrada pelo sentido identitário, vivido e apropriado. Em uma
perspectiva muitas vezes contraditória, o território serve de palco de relações e conflitos
de poder, no qual essas relações são realizadas através de apropriação, dominação,
demarcação, identidade, pertencimento e separação. Por meio do estabelecimento de
vínculos, criações, invenções humanas e práticas sociais é que se produz território ou,
ao menos, as condições para as territorialidades envolvidas.
No caso das sociedades em estudo observa-se que apesar da existência das divergências
internas exercida pelos diferentes sujeitos pertencentes a ela, percebe-se que há uma
solidariedade que atinge o coletivo, não somente ao individuo, a garantia do uso e do
acesso ao território pesqueiro. No entanto, o território tradicional e a espacialidade
turística não se apresentam somente como lados oponentes, de um pescadores
pertencentes a comunidades tradicionais; e do outro empreendedores turísticos apoiados
por gestores públicos e com eles os turistas e visitantes - como se esses dois lados
realmente assim fossem.
Na prática a realidade apresenta uma complexidade que só pode ser compreendida com
uma visão dialética e analítica. Embora cada coletivo, comunidades tradicionais e novos
335
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
336
códigos, os movimentos de resistência - fluxo de quanta (DELEUZE & GUATTARI,
1997b) – que tendem a escapar da codificação imputada, e serve de eixo para
reterritorialização das práticas desterritorializadas. Embora sutis, os movimentos de
resistência são impulsionados por certas coerções, no entanto, essas relações, nem
sempre antagônicas, se revezam, ora em processo de mutação, ora de adaptação, ora em
conflito, ora em negociação, mas, provocado pelo movimento, pelo fluxo
caracteristicamente molecular.
PROCESSOS CONCLUSIVOS
Este trabalho está em processo de investigação. Tais fenômenos descritos neste ensaio
são resultados da vivência e da proximidade com as diferentes atores presentes neste
território. Os contatos ocorreram por meio de diversos momentos, alguns deles pela
participação em reuniões provocadas pelos interesses das associações e colônias de
pescadores dos municípios de Porto de Pedras, São Miguel dos Milagres e Passo de
Camaragibe, em parte para a discussão dos caminhos a serem percorridos para a
garantia do uso do território pesqueiro. Outras observações ocorreram na participação
em reuniões de maior dimensão que contou com a presença dos municipios pertencentes
a Apa dos Corais 58 e através de conversas e entrevistas abertas com a população
58
A Apa Costa dos Corais abrange a costa litorânea dos municípios de Maceió, Barra de Santo Antônio,
São Luís do Quitunde, Passo de Camarajibe, São Miguel dos Milagres, Porto de Pedras, Japaratinga e
337
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
tradicional. Além disso foi buscada uma aproximação para identificar o perfil de turista
e dos novos empreendedores turísticos que compõem o trade turístico local.
Todas essas impressões estão buscando ser analisadas e dialogadas com diversas áreas
do conhecimento para compreender mecanismos que geram os movimentos de luta e
resistência nestas sociedades. Para entender, observou-se que, de maneira geral, o
processo de turistificação da costa litorânea de Alagoas ocorreu sem a existência de
conflitos. No entanto, em algumas porções da costa litorânea existem movimentos de
luta para garantia do território pesqueiro. Este estudo supõe que esses mecanismos são
movidos pela existência de capital social entre as populações atingidas. A partir desta
suposição busca-se neste trabalho compreender o conceito de capital social, como ele se
forma e a explicação das diferentes respostas de determinadas sociedades ao mesmo
fenômeno. Para isso buscamos neste ensaio entender o conceito de território,
territorialização, desterritorialização, reterritorialização, além das tessituras para
formação do capital social. Tais conceitos nos levam a questionar quais os
determinismos que suscitam certas respostas e ações dados no seio de certas
coletividade: são territoriais, espaciais, ou são construídas preteritamente no meio social
interno? Tais determinismos – espacial, social ou mesmo psicológico - nos parece, a
principio, complementar para o desencadeamento de tais processos, mas ainda é objeto
de investigação a ser aprofundado e analisado neste estudo.
Maragoji no Estado de Alagoas e São José da Coroa Grande, Barreiros, Tamandaré e Rio Formoso no
Estado de Pernambuco. Estes dois estados estão localizados no Nordeste Brasileiro.
338
resistência emergem, vozes ecoam e antigas materialidades de cooperação, por
momentos perdida, se reúnem para um novo objetivo - a garantia e uso do território
pesqueiro.
339
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
REFERÊNCIAS
BOURDIEU, Pierre. Razões Práticas: sobre a teoria da ação. Campinas: Papirus, 1996.
BOURDIEU, Pierre. Las formas del capital. Lima: Editora Piedra Azul, 1998.
340
DIEGUES, A. C.; et al. Os Saberes Tradicionais e a Biodiversidade no Brasil. In:
DIEGUES, A. C.(org.); et al. Biodiversidade e comunidades tradicionais no Brasil.
São Paulo: NUPAUB-USP, PROBIO-MMA, CNPQ. 1999. Disponível em:
http://livroaberto.ibict.br/bitstream/1/750/2/Biodiversidade%20e%20comunidades%20tr
adicionais%20no%20Brasil.pdf. Acesso em 25 dez. 2013.
FUKUYAMA F. Trust: The Social Virtues and the Creation of Prosperity. Nueva
York: Free Press, 1995.
GALEANO, E. As veias abertas da América Latina. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1982.
341
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
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ROCHA, Maria Eduarda da Mota. Pobreza e cultura de consumo em São Miguel dos
Milagres. Maceió: Edufal, 2002.
SANTOS, José Luiz dos. O que é cultura. São Paulo: Editora brasiliense, 1987.
342
VÍNCULOS TERRITORIAIS E IDENTIDADE(S) NO ASSENTAMENTO
CRUIRI, MUNICÍPIO DE PACATUBA, ESTADO DE SERGIPE59
59
Artigo elaborado com base na tese de doutorado intitulada ―Viver e pertencer: identidades e territórios
nos assentamentos rurais de Sergipe‖, orientada pela Profª Drª Maria Augusta Mundim Vargas do
Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal de Sergipe.
343
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
INTRODUÇÃO
A
perspectiva de estabelecer uma mediação entre o conceito de identidade e os
vínculos territoriais no estudo dos assentamentos rurais, sobreveio em
função das especificidades do objeto de estudo, pois os assentamentos,
instituídos nas dimensões da luta pela terra, são concebidos nesse trabalho como
territórios. A formação dos assentamentos rurais no Brasil abrange uma diversidade de
processos sociais e sujeitos envolvidos na trajetória desses territórios construídos pela
apropriação simbólica e funcional do espaço geográfico e permeados por disputas e
conflitos, sendo resultado da heterogeneidade de situações presentes na questão agrária
brasileira.
344
Nessa perspectiva trilhar o caminho da construção identitária nos assentamentos rurais,
especialmente a identidade territorial, significa compreender que a posse de um
território estabelecerá laços de pertencimento e de identificação com esse espaço,
expressos pelas territorialidades construídas, resultado das ações do sujeito sobre o
território. Somados as estratégias de vivência no novo território, os significados vão se
multiplicar em um conjunto de ações, expressas como territorialidades, ou seja, um ―[...]
conjunto de práticas e suas expressões materiais e simbólicas capazes de garantirem a
apropriação e permanência de um dado território por um determinado agente social,
Estado e os diferentes grupos sociais [...]‖ (CORRÊA, 1996, p. 251).
Nesse sentido, buscando estreitar os laços sobre a construção dos processos identitários
e a realidade dos assentamentos, toma-se como referência o Assentamento Cruiri
localizado no município de Pacatuba, Sergipe, lançando mão de elementos empíricos,
essenciais para a compreensão dos assentamentos rurais expressos como territórios, dos
vínculos territoriais e das identidades construídas.
345
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
aquela que ancora-se fundamentalmente nas relações com o espaço, tanto do ponto de
vista material quanto simbólico, anunciando formas de apropriação específicas,
expressões de uma dada dimensão cultural. Essa identidade abarca um processo de
valorização da dimensão espacial, pressuposto para a construção identitária.
Deste modo concorda-se com as proposições de Cruz (2006) e Haesbaert (1999), para
inserir a identidade construída nos assentamentos como uma identidade territorial, que
envolve relações concretas e simbólicas, materiais e imateriais com o território,
resultado de um processo de vivência entre os assentados e o espaço construído, entre o
que é vivido e experienciado. Uma identidade construída pelo processo de
territorialização ―[...] em que um dos aspectos fundamentais para sua estruturação está
na alusão ou referência a um território, tanto no sentido simbólico quanto concreto.‖
346
(HAESBAERT, 1999, p. 172). Um processo guiado por objetivos e fins específicos:
abrigo, fronteira, meio de sobrevivência, espaço de referência simbólica e cultural.
60
As lealdades primordiais são um conjunto de práticas que determinam a organização social e produtiva
do território. Definem a dinâmica e a trajetória dos grupos, fortalecendo os princípios de agregação social
e influência sobre outros princípios tais como os políticos e econômicos (ROMANO, 1994).
347
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
348
comportamento, ou seja, ações de indivíduos e grupos sociais.
(CANDIOTTO; SANTOS, 2009, p. 323).
Souza (2013) destaca que os vínculos territoriais são componentes essenciais de uma
prática no território que tanto pode ser a afirmação de uma territorialidade quanto de
uma identidade, como também pode ser uma forma de representação. Uma relação
social e cultural, que o grupo mantém com a trama dos lugares (BONNEMAISON,
2002).
349
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Muito mais do que definir ―quem somos nós‖, essa identidade se funda em ―quem nós
podemos nos tornar" (SOUZA, 2013). A preservação e ao mesmo tempo a mudança são
inerentes aos processos identitários que se fundam na resistência (CASTELLS, 2008).
Preserva-se aquilo que é importante para grupo enquanto elemento de reconhecimento,
de identificação, aquilo que lhes dá garantia de existência. Muda-se aquilo que o exclui,
aquilo que pode legitimar uma ordem desigual.
350
práticas vão incorporando outras formas de agir, acrescentado novos elementos à
existência cultural. Os elementos do cotidiano, as formas de inserção social e produtiva,
a formação de redes, as práticas sociais ressignificadas vão sendo incorporados à sua
herança cultural.
351
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Essas traduções postas como desejos ou mesmo como projetos, denotam a importância
da identidade como elemento mobilizador do território, como elemento capaz de
dinamizar as relações produtivas e institucionais, mas também as relações entre os
assentados. Representam as experiências que os homens vivenciam ao participar de um
grupo, construindo outras ―rotas‖, novos ―rumos‖. São ações que refletem os processos
de territorialização, tanto do ponto de vista coletivo quanto individual. Ao cuidar do seu
lote, zelar pelo espaço do assentamento, conservar os valores que são importantes,
valorizar a cultura própria do assentamento, reafirma-se uma identidade territorial e
social, fortalece-se os vínculos territoriais, em um processo dotado de movimento, de
sentido de mudança, de devir...
352
SUJEITOS E PROCESSOS: VÍNCULOS TERRITORIAIS E IDENTIDADE(S)
NO ASSENTAMENTO CRUIRI, PACATUBA, SERGIPE
Os assentamentos rurais podem ser definidos como unidades de produção, criados por
meio de políticas públicas governamentais, principalmente federais, envolvendo a
distribuição de terras a trabalhadores rurais, terras estas obtidas por diferentes
mecanismos: desapropriação por interesse social; compra e doação ou mesmo utilização
de terras públicas.
Para Medeiros (2003), as intervenções que deram origem aos atuais assentamentos em
todo país localizaram-se em áreas de conflito e tensão social, e também recobriram
situações bastante diversificadas: regularização de áreas ocupadas por posseiros,
rendeiros e agregados; destinação de terras a populações que organizadas pelo MST,
sindicatos e outras entidades, acamparam e/ou ocuparam áreas como forma de pressão
sobre o estado; preservação de populações e suas tradicionais formas de uso dos
recursos naturais e realocação de populações atingidas pela construção de grandes
projetos hidrelétricos, dentre outras.
61
Os assentamentos criados nesse período foram resultado, sobretudo de projetos de colonização
implantados.
353
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
rurais; populações de periferia urbana (com origem rural), além de aposentados que
viam no assentamento uma forma de complemento de renda.
Para a esfera local do poder público a ―[...] criação dos assentamentos também tem
colocado desafios [...] na medida em que a ela cada vez mais se dirigem reivindicações
ligadas à infraestrutura básica [...] saúde e educação, condições para escoamento da
produção, etc.‖ (LEITE, et al., 2009, p. 10).
Os territórios dos assentamentos foram criados pela intervenção política que ocorreu
institucionalmente por meio do estado e também pelas ações dos movimentos sociais,
como um comportamento coletivo, organizados territorialmente, através das lutas pela
conquista e posse da terra, resultando numa outra forma de produção do espaço
geográfico. Em Sergipe verifica-se essa dupla especificidade em relação à criação dos
territórios dos assentamentos: a intervenção do estado e a ação dos movimentos sociais.
354
enraizamento. Esse espaço, pelas suas características (apropriação, relações de poder,
espaço de referência e de pertencimento) é um território, uma construção social,
marcado pelo simbolismo e que exprime a organização estabelecida por um
determinado grupo, (VARGAS, 1999, p. 469).
Essas dimensões ampliaram o sentido da luta pela terra que passou a ser entendida para
além das questões econômicas, ou seja, como um projeto sociocultural de transformação
de suas realidades, de construção de uma nova identidade, fruto dos conflitos e também
das ações desses sujeitos, com o objetivo de promover transformações específicas e
62
A Igreja Católica, sob a influência de Dom José Brandão de Castro, teve um papel fundamental na luta
pela terra principalmente no Alto Sertão e no Baixo São Francisco.
355
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
É nesse contexto de lutas pelo acesso a terra e sob a pressão dos movimentos sociais que
foi criado em 1989, o Assentamento Cruiri. Localizado no município de Pacatuba, o
assentamento possui uma área de 585 hectares, onde foram assentadas 35 famílias
(Figura 01).
A ocupação da fazenda Cruiri foi a maior operação realizada pelo MST em Sergipe, até
então não superada, seguindo um planejamento na qual a conceito da luta pela reforma
agrária, como fundamento político era parte do ideário. Embora fosse consciência do
MST que todas as famílias não poderiam ser assentadas na área da fazenda Cruiri, pois a
ocupação mobilizou cerca de 4.500 pessoas, o ato de ocupar consolidava a dimensão
política do movimento: pressionar as autoridades para efetivação do plano de reforma
agrária criado em 1985; fortalecer as lutas dos trabalhadores demostrando as
356
possibilidades de ação do movimento de forma efetiva e imediata; buscar autonomia
frente a outras instituições que até então tinham a força mediadora e mesmo tutelar da
luta no estado, a exemplo da Diocese de Propriá e, se consolidar como um movimento
de massa.
357
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Quando nós entramos aqui o INCRA doou umas lonas, depois tiramos
as lonas e ele deu umas telhas, nóis fez uma casinha. Depois veio
novamente e diz “agora o governo vai liberar um dinheiro ai pra
vocês crescer a casa”, ai doou a cada um 18 salários, então não dava
pra nóis fazer como está, mas caminhamos um pedaço bom. Ficamos,
ajeitamos depois veio uma reforma. Ai com essa reforma o que o
INCRA doou pra reforma deu e o que não deu a gente foi ajeitando e
complementando (Assentado 01 – 70 anos - PA Cruiri).
358
no lote, com 24 tarefas (7,33 hectares), absorve todos os membros da família, tendo a
força animal como complemento (ZAMBERLAM, 1994).
359
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Os vínculos territoriais se estabeleceram como resultado das ações e das práticas sociais
que os assentados construíram ao longo do tempo: ―Gosto muito de morar aqui‖
(Assentada 05 – 49 anos – PA Cruiri). ―[...] dizem uma parte de gente que mora em
assentamento por ai, dizem que o local mais bem organizado, com a igreja mais bonita
é esse assentamento aqui‖ (Assentado 06 – 94 anos - PA Cruiri).
Assim, denota-se que os vínculos foram construídos como resultado da mediação entre
os aspectos materiais, simbólicos e culturais. A religiosidade que tanto marcou os
períodos de enfretamento, a fé em torno da posse da terra prometida, é reafirmada,
sobretudo nos festejos dedicados à padroeira, Nossa Senhora da Paz, a cada dia 1 de
janeiro.
63
Próximo ao assentamento há uma lagoa que se forma por ocasião das chuvas, um lugar onde se reuniam
para rezar e discutir os planos de ação do grupo.
360
sirva para manter o território, para dar continuidade a uma trajetória que iniciou-se
primeiro como um desejo, para depois firmar-se como realidade: ―[...] eu sempre falo
que o que a gente conquistou quando não quiserem usar deixe pra o filho de vocês,
ande por onde andar quando chegar tem um local pra ficar‖ (Assentado 02 – 54 anos -
PA Cruiri).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As histórias e memórias sobre as lutas dos assentados do Cruiri, passados 26 anos desde
sua criação, nos permite afirmar que esse território não é apenas chão, terra, mas
principalmente um espaço de identidade, de identificação, onde foram construídas
64
A concepção de construção nessa assertiva refere-se à definição de fronteiras, quando da
desapropriação da área com a demarcação dos lotes e das áreas de uso coletivo.
361
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
362
REFRÊNCIAS
COSTA, Davi Silva da; SOUZA, Heron Ferreira. Jovens no rural baiano: perspectivas
de análise a partir de múltiplas referências. ANAIS DO XXI ENCONTRO NACIONAL
DE GEOGRAFIA AGRÁRIA. ―Territórios em disputa: os desafios da Geografia Agrária
nas contradições do desenvolvimento brasileiro.‖ Universidade Federal de Uberlândia.
ISSN: 1983487X. 2012. Disponível em:
http://www.lagea.ig.ufu.br/xx1enga/caderno_enga_2012_divulgacao.pdf. Acesso
em: 19. Nov. 2013.
363
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
HALL, Stuart. Quem precisa de identidade. In: SILVA, Tomaz Tadeu (Org.).
Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes, 2011, p.
102-133.
LEITE, Sérgio; et al. Impactos dos assentamentos: um estudo sobre o meio rural
brasileiro. Brasília: Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura; Núcleo
de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural. São Paulo: Editora UNESP, 2004.
MEDEIROS, Rosa Maria Vieira. Território, espaço de identidade. In: SAQUET, Marco
Aurélio; SPOSITO, Eliseu Savério. Territórios e territorialidades: teorias, processos e
conflitos. São Paulo: Expressão Popular, 2009, p. 217-227.
364
v. 20, p. 609 - 623, 2010. Disponível em: <
http://www.scielo.br/pdf/physis/v20n2/a15v20n2.pdf. Acesso em: 10. Dez. 2013.
SOUZA, Angela Fagna Gomes de. Ser, estar, permanecer: vínculos territoriais das
gentes que povoam as margens e as ilhas do Rio São Francisco. 2013. 292f. Tese
(Doutorado em Geografia). Programa de Pós-Graduação em Geografia, Universidade
Federal de Uberlândia, UFU, Uberlândia, 2013.
365
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
366
INTRODUÇÃO
A
Jornada Mundial da Juventude (JMJ) é um mega evento itinerante da Igreja
Católica, que no ano de 2013, ocorreu na cidade do Rio de Janeiro, entre os
dias 23 a 28 de julho. A JMJ foi criada em 1986 pelo Papa João Paulo II,
que sentiu a necessidade de aproximar mais os jovens da Igreja para renovar a fé e a
esperança bem como construir pontes de amizades entre todos os povos. A Jornada
acontece a cada dois ou três anos e a do Rio de Janeiro, foi a XIII edição internacional e
a XVIII edição das Dioceses.
A Feira Vocacional ocorreu na Quinta da Boa Vista, local marcado pela história da
colonização portuguesa no Brasil, tendo sido a primeira morada do rei D. João VI. Foi
neste cenário que a Igreja se instalou durante a JMJ para demostrar aos
peregrinos/turistas o vastíssimo número de congregações, comunidades, ordens
masculinas e femininas, pastorais e movimentos. Para participar da feira foi
estabelecido como critério a atuação internacional do expositor e a produção de material
em dois idiomas, mas destacamos a criatividade dos stands que proporcionaram aos
visitantes o conhecimento das suas respectivas áreas de atuação.
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GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
REFLETINDO O TERRITÓRIO
Durante muito tempo essa definição foi válida para a Geografia, sendo o território como
área e como elemento político para acoplar suas porções de terra. Gottmann (2012) em
seu artigo ―Evolução do Conceito de Território‖ aborda os conceitos trazidos por Platão
em sua obra ―Leis‖, em que o controle da população em uma determinada área isolada
os atributos para uma polis ideal. A população estaria agrupada no centro do território e
as relações exteriores e as relações de trocas seriam responsabilidade de funcionários
públicos e, assim, percebe-se que sua teoria alegava um alto grau de isolamento e
intentava promover uma política para aliviar as pressões do crescimento populacional,
(MORAES, 1990, p. 74). Tais afirmações traduzem a doutrina do isolamento e
constituem uma das teorias que envolvem o território enquanto área política e de
dominação de um grupo. Já Aristóteles, aluno de Platão, postulou que um território
deveria ser ―de difícil acesso para o inimigo e de fácil egresso para os habitantes‖.
Gottmann (2012) afirma que a repartição política que definia os territórios permaneceu
por muito tempo baseada em sistema de lealdade, seja relacionada à fé religiosa, como
368
nas divisões entre o mundo Cristão e Islâmico, seja ligada as relações entre indivíduos,
numa escala local, especialmente aquela do sistema feudal. Assim, o termo território foi
usado para definir a jurisdição ou a economia das unidades governamentais como as
cidades livres, os feudos e os reinos.
Essas definições foram se adaptando ao longo dos séculos e, Saquet, (2007) em seu
artigo intitulado ―As diferentes abordagens do território e a apreensão do movimento e
da (i)materialidade‖, fez um resgate da reelaboração do conceito de território. Por meio
de Corrêa (1995), ele salienta que no período de 1870 e 1950, a geografia denominada
tradicional, privilegiou os conceitos de paisagem e região com destaque para os
aspectos descritivos da dinâmica socioespacial. Neste período estava centrado o ideário
do positivismo (empírico e lógico) e, do historicismo.
Neste contexto em que dominavam as produções sobre paisagem e região, Ratzel trás
para a Geografia e para as Ciências Humanas o debate territorial até então presente
somente nas Ciências ditas naturais. Ratzel (1990) dividiu a Geografia em três grandes
campos de pesquisa: a Geografia Física, a Biogeografia e a Antropogeografia. Mas foi
na Geografia do Homem, na Antropogeografia, que ele dedicou a maior parcela de seu
trabalho e nela o estudo da formação dos territórios. No texto ―O povo e seu território‖,
editado por Moraes e Fernandes (1990), Ratzel evidencia que não é possível conceber
um Estado sem território e que é certo que a consideração sobre o solo se impõe mais na
história do Estado do que na da sociedade.
Um dos fundamentos de indagação dos geógrafos nesse momento foi a influência que as
condições naturais exerciam sobre a humanidade e a evolução das sociedades seria o
objeto primordial da pesquisa antropogeográfica.
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GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Haesbaert (2012, p. 122) cita Deleuze e Guattari (1997, p. 218) que afirmam que o
território cria o agenciamento. O território excede ao mesmo tempo o organismo e o
meio, e a relação entre ambos, por isso o agenciamento ultrapassa também o simples
―comportamento‖.
Saquet (2010, p.111) discute o território como um conjunto de relações realizadas pelo
homem na natureza compreendendo os ambientes naturais construídos em sistemas a
partir dos pressupostos filosóficos da Fenomenologia que estuda grupos, comunidades,
percepções/ sentimentos do território, sua organização e seus signos.
Rosendahl (1996, p. 11) afirma que a Geografia e a religião se encontram por meio do
espaço. Esta porque analisa o espaço, aquela porque, como fenômeno cultural, ocorre
espacialmente.
370
são elementos integrantes do espaço geográfico (SANTOS, 2002, p.
5).
A Jornada Mundial da Juventude oferece oportunidade para a Igreja ir além dos templos
e aproximar-se ainda mais de seus fiéis, reunindo-os e proporcionando congraçamento
num determinado momento e lugar com participantes de várias partes do mundo. O
evento é um exemplo de formação de território e territorialidades, conforme explica Gil
Filho (2008, p. 20), quando afirma que ―a territorialidade do sagrado seria, então, a ideia
371
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
O ato de territorializar o espaço da Quinta da Boa Vista deu-se com a apropriação pela
Feira Vocacional, constituída pelos movimentos leigos aceitos da Igreja Católica.
Salienta-se que foi a comissão organizadora da Igreja que definiu o período de
exposição, à distribuição dos stands no local e as atividades que poderiam ser
realizadas.
Gil Filho (2008, p. 145), marcou o espaço sagrado como conjunto de significações
atribuídas pelo homem religioso apontando para uma radicalidade da fixação espacial
de suas experiências religiosas. Neste caso o espaço confere a base da formulação das
categorias do discurso antropológico tanto sob seu aspecto sensível como seu aspecto
inteligível. São três as categorias trabalhadas:
372
As espacialidades concretas de expressões religiosas Gil Filho, (2008, p. 146)
constituem ―a dimensão onde o espaço sagrado se apresenta na sua dinâmica imediata é
o contexto das práticas religiosas no cotidiano‖. E é nessas práticas cotidianas que
pretendemos evidenciar as espacialidades que se conformaram no território sagrado
construído na Feira Vocacional da JMJ.
65
No sentido religioso, carisma é o dom divino e extraordinário que um religioso ou um grupo de crentes
recebe para o bem da comunidade religiosa. Dom que capacita o crente a partilhar as obras de Deus com
outras pessoas.
66
Laicato conjunto de membros leigos que participa dos serviços da igreja doando parte de seu tempo.
67
Dedica integralmente sua vida ao serviço religioso como Padres, Freiras e alguns missionários.
373
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territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
A Feira Vocacional abarcou esse lugar específico no qual refere o autor, trazendo uma
experiência religiosa para os visitantes, conforme observamos na fala de um dos
entrevistados. Os peregrinos/turistas tiveram a oportunidade de conhecer a pluralidade
de ações da Igreja e muitos desconheciam tais segmentos:
374
Figura - 01 Participantes e expositores
Movimento: é uma ação dos leigos que pode envolver várias pastorais ao mesmo
tempo. Na Feira Vocacional identificamos movimentos como a Divina Misericórdia,
Comunhão e Libertação, Vida Cristã Focolares, etc.
375
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territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
376
pessoas disponíveis para tal e, também, missas foram celebradas em uma tenda. (Figura
02)
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territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
somos pedras vivas que formam um edifício espiritual. (cf. 1Pe 2,5)
(Homilia de papa Francisco durante a celebração da vigília, no dia
27/07/2013).
Entretanto para Blázquez, (2000) a representação deve ser entendida pelos quatros eixos
de sentido apontados nos dicionários da língua portuguesa, quais sejam
378
Imagem ou desenhos dos objetos: observamos nos instrumentos divulgadores
como folders, banner, bandeiras, músicas e os próprios stands.
A coisa ausente que se apresenta como presente: foram identificadas nas ações e
serviços dos expositores e a equiparação de suas ações nos diversos países que atendem.
A maturidade e a pertença religiosa dos expositores para com a doutrina católica foram
crescendo de acordo com a participação, a identificação e o envolvimento de cada um.
Independentemente da participação em uma representação, a maturidade e a pertença
religiosa são importantes para o crescimento de cada ser humano na descoberta
religiosa, social e cultural, de seus dons e para a própria permanência no grupo.
Espacialidade das representações simbólicas para Gil Filho (2008, p. 145) ―é onde o
espaço sagrado é expresso pelas formas simbólica da linguagem, na medida em que as
percepções religiosas são modeladas através da sensibilidade no tempo e no espaço‖.
Ele afirma tratar-se de um espaço de representação das religiões, pois ―o espaço sagrado
é reconhecido como representação do mundo fenomenal que, através da linguagem,
adquire noção universal.‖ (p. 145).
68
No sentido figurado baluarte significa lugar seguro, sustentáculo e é usada para descrever os elementos
essenciais que servem de fundamento e que sustentam alguém ou alguma coisa. Assim o baluarte
funciona como algo a mais para seguir exemplo. Disponível em:
http://www.significados.com.br/baluarte/consultado. Acesso em: 30/06/2015.
379
GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
Isso confirma o que Gil Filho (2008, p.145) escreve sobre a espacialidade das
representações simbólicas ―(...) A palavra não muda a natureza das coisas, mas ela
mantém o sentido de poder, o meio pelo qual se dá o conhecimento‖. E esse
conhecimento serve para direcionar e formar as pessoas. Como essa linguagem é
transmitida pelo seu líder maior podemos refletir que a abrangência será também
universal como salienta uma entrevistada, valorizando as formas simbólicas.
380
A entrevistada evidencia a importância da visualização das representações e da forma
com que se relacionam. Na Feira Vocacional percebemos que as representações foram
importantes, pois ficaram retidas nas lembranças dos. Como nos explica Zilles, (1996,
p. 01) ―A religião como toda a cultura não pode existir sem símbolos‖.
Correa (2007) nos lembra ainda que Saussure discorda das duas últimas correntes,
prevalecendo para ele a construcionista. O autor procura destacar as formas simbólicas
de acordo com as espacialidades que são constituídas por fixos e fluxos, ou seja, por
localização e itinerários. Ele cita exemplos como palácios, templos, cemitérios,
procissões, dentre outras.
Outro ponto importante sobre as formas simbólicas que o autor supracitado destaca é
que elas não são apenas singulares, mas adquirem um sentido universal no que se refere
à forte conotação política. Ele argumenta expondo as transformações profundas
ocorridas nos séculos XIX e XX que ―geraram novos valores e práticas, para os quais
novas formas simbólicas foram suscitadas‖ (p. 10).
381
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territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
iii) Transmitir valores de um grupo como se fossem de todos: envolve fortes relações de
poder. A Feira Vocacional mostrou este forte apelo de transmissão de valores, pelos
objetivos dos laicatos e das vidas consagradas. Esses valores foram disponibilizados
para que todos pudessem compreendê-los. Porém, a simbologia exposta remete a
relação de poder e domínio da Instituição Igreja Católica no contexto das
territorialidades.
382
que, em tantas partes do mundo, saíram pelas ruas para expressar o
desejo de uma civilização mais justa e fraterna. Os jovens nas ruas
querem ser protagonistas da mudança. Por favor, não deixam que
outros sejam protagonistas, sejam vocês. Vocês têm o futuro nas
mãos. Por vocês, é que o futuro chegará. (...). Por favor, jovens, não
sejam covardes, metam-se, saiam para a vida. Jesus não ficou preso
dentro de um casulo. Saiam do casulo. Saiam às ruas como fez Jesus
(Papa Francisco homilia da missa de envio do dia 27/07/2013). Grifos
nossos
A igreja ainda mantém certos ritos e muitos símbolos do passado como, por exemplo, a
Igreja do Carmo que organizou rituais tanto em português (moderno), quanto em latim
(tradicionais).
O Papa Francisco alertou, pois, para a valorização dos cristãos que bravamente lutaram
para uma Igreja melhor. Outra forma de resguardar a memória foram os diferentes tipos
de linguagem, como os signos.
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GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
O signo é considerado pela Semiótica 69 uma das representações que abrange vários
termos. Peirce (2010, p. 46) define signo como:
O signo não traz definições fechadas, mas é aberto e constituído de vários componentes
e, para ser compreendido, necessita ser traduzido. É composto por significado que traz o
plano das ideias e o significante que é o signo em sua materialidade. O signo traduzido
por Peirce (2010) se classifica em três diferentes tipos:
Símbolo de Lei, sendo o portador de uma lei que por convenção ou pacto coletivo
determina que aquele signo represente seu objeto. Observamos os padroeiros que
representam a espiritualidade de uma determinada comunidade ou o fundador que tem
no coletivo a legitimação de representar todos os outros.
69
Semiótica[...] ―é a ciência dos signos e dos processos significativos (semiose) na natureza e na cultura‖.
Noth (1998, p.117).
384
A comunicação que o símbolo transmite para os fiéis da Igreja Católica tem uma
representação de grande peso, pois é a forma de manifestar publicamente a sua
identidade religiosa. A fé dos católicos tem na simbologia um complemento de
linguagem que materializa sua fé.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Destacamos neste artigo a Feira Vocacional por proporcionar uma análise do território e
das territorialidades que se conformaram nas vivências coletivas e individuais e na
apropriação simbólica que propiciou a apreensão de geossímbolos. Na Feira Vocacional
foi possível apreender a diversidade da representação da Igreja Católica, bem como suas
espacializações. Se constitui território itinerante do poder histórico e simbólico dos
laicatos e das vidas consagradas.
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GEOGRAFIA, TURISMO E CULTURA: diálogos sobre território,
territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
A Feira Vocacional, na sua XIII edição, constituiu para a Igreja Católica um dos
―veículos‖ de inovação da evangelização, que se dá pela concentração espacial de
diversos laicatos e vidas consagradas, e pela participação de peregrinos/turistas
culturalmente diversos. Mas, também pela gastronomia, artes cênicas e músicas dentre
outros. A Feira vocacional demostrou enfim, a capacidade de tecer redes seja por meio
daqueles que se preocupam com o espiritual, seja dos que se dedicam as estruturas
funcionais como escolas, saúde, necessidades básicas ou ainda, por aqueles que
controlam o sistema religioso.
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REFERÊNCIAS
DIDI-HUBERMAN, Georges. O que vemos, o que nos olha. São Paulo: Ed. 34, 1998.
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territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
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SAUSSURE, F. Curso de linguística geral. 30. Ed. São Paulo: Cultrix. 2001.
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territorialidades, sociedade e natureza no Brasil e na América Latina
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