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Teatro
Verbetes
Belo Horizonte
2017
Sumário
1. Escritura Dramática ......................................................................................................................... 3
2. Escritura Cênica .............................................................................................................................. 3
3. Tragédia Grega ................................................................................................................................ 4
4. Aristóteles ....................................................................................................................................... 6
5. Dioniso ............................................................................................................................................ 7
6. Ésquilo............................................................................................................................................. 8
7. Sófocles ........................................................................................................................................... 9
8. Eurípedes ....................................................................................................................................... 10
9. Mimeses ........................................................................................................................................ 11
10. Hamartia .................................................................................................................................... 12
11. Verossimilhança ........................................................................................................................ 12
12. Shakespeare ............................................................................................................................... 13
13. Marlowe .................................................................................................................................... 15
14. Commedia Dell’arte .................................................................................................................. 15
15. Lope de Vega ............................................................................................................................ 17
16. Calderón de la Barca ................................................................................................................. 18
17. Molière ...................................................................................................................................... 18
18. Racine ........................................................................................................................................ 19
19. Antoine ...................................................................................................................................... 20
20. Ibsen .......................................................................................................................................... 21
21. Stanislavski ............................................................................................................................... 22
22. Artaud........................................................................................................................................ 23
23. Brecht ........................................................................................................................................ 26
24. Boal ........................................................................................................................................... 28
25. Grotowski .................................................................................................................................. 29
26. Beckett....................................................................................................................................... 30
27. Ionesco ...................................................................................................................................... 31
28. Genet ......................................................................................................................................... 32
29. Pós-dramático ............................................................................................................................ 32
30. Performing Arts ......................................................................................................................... 33
31. Performance .............................................................................................................................. 34
32. Mulheres Dramaturgas .............................................................................................................. 35
33. Dramaturgia............................................................................................................................... 38
2
1. Escritura Dramática
É o texto dramático, concebido como “literatura dramática”, a dramaturgia escrita,
podendo ser assinada por um grupo ou autor individual. Há distribuição do texto em
papéis, há lacunas e ambiguidades, abundância de indicações espaço-temporais, o que
pode facilitar sua passagem para a escritura cênica. Sustenta-se como o universo teatral
construído literariamente pelo autor e tal como é recebido pelo leitor (PAVIS, 1999).
Bibliografia
2. Escritura Cênica
Segundo Pavis, 1999, “a escritura cênica designa, por metáfora, a prática da encenação”.
Ela não pode ser confundida com a escritura dramática, pois não compreende o texto
escrito, mas sim o texto colocado em cena. Há uma série de recursos para a transformação
da escritura dramática em escritura cênica: a disposição espacial, a iluminação,
cenografia, figurino, tempo, trilha sonora, entre outros, que possibilitam transmitir ao
espectador o que se deseja (PAVIS, 1999).
Bibliografia
3
3. Tragédia Grega
A tragédia grega, presente no Séc.V a.C., seguia os moldes da formulação do que é
tragédia feita pro Aristóteles em sua Poética. Segundo ele, 1992,
Assim, é possível entender que a tragédia provoca uma empatia no público (traz a
identificação – a experimentação das emoções mesmo sem estar em si na ação ocorrida),
tendo por consequência a catarse (que é a “purificação das emoções”). [1]
O Teatro Grego nasce do ritual para Dioniso, apesar de não se saber o ponto exato em que
este deixa de ser apenas religioso e se torna teatro de fato, com a representação das
tragédias conhecidas. É o rito que instrui a performance, mas as palavras, o enredo,
personagens, entre outros, ou seja, a narrativa, vem da mitologia. [1]
A tragédia nos traz um patamar da ordem sublime e é amoral (ou seja, não faz julgamento
algum sobre a moral dos acontecimentos). As ações dramáticas da tragédia são pensadas
em três unidades: tempo, lugar e ação. O tempo se subdivide em três: o da representação e
si (da encenação), do representado e o do narrado, que podia ser estendido. As peças
aconteciam em um único local, os outros eram apenas narrados. Há uma ação geral na
qual a tragédia girava em torno, tudo se desenvolve a partir dela. [1]
4
Elocução (lexis): a expressão verbal, expressão por meio de palavras;
Pensamento (dianoia): o pensamento das personagens, que é demonstrado por
suas ações (em alguns casos) ou pela expressão verbal;
Melopeia: o canto e a música, compreendendo a dança em alguns casos;
Espetáculo (opsis): o figurino, a dança, as máscaras, o cenário (composição
imagética da cena).
Os três autores mais conhecidos, atualmente, por suas tragédias, são Ésquilo, Eurípedes e
Sófocles.
Bibliografia
5
Texto “Tragédia”. In Artigos de apoio Infopédia. Porto: Porto Editora, 2003-2017.
Disponível em: https://www.infopedia.pt/apoio/artigos/$tragedia. Acesso em: 02 de julho de
2017.
[1]
Conceituação feita a partir das Notas de aula:
4. Aristóteles
Aristóteles foi um dos principais pensadores, filósofos e poetas (entre outros) da Grécia
Antiga. Viveu entre 384 a.C e 322 a.C. Ele influenciou o modo de pensar em diversas
áreas da ciência e da educação, tendo publicado obras sobre Lógica, Física e metafísica,
Teologia, Filosofia, Psicologia Biologia, Política e Linguagens (SERGIO, ___).
Sendo assim, foi ele quem escreveu a primeira obra a falar de arte dramática, definindo
importantes conceitos da tragédia e comédia gregas. [1]
Bibliografia
[1]
Conceituação feita a partir das Notas de aula:
6
5. Dioniso
É considerado o deus da metamorfose (da sua própria e do outro). A sua história de
concepção possui diversos elementos ritualísticos, que remetem à transformação,
transmutação, assim como a presença do mascaramento. É considerado como o deus que
nasceu 2 vezes, sendo a primeira como Zagreu e a segunda como Dioniso. Sua versão
romana é Baco. [1]
Ele pode se transformar em bode, tendo vivido parte de sua vida com os sátiros, com os
quais aprendeu a arte de cultivar a videira, extraindo dela seu suco, para futuramente
conceber o vinho, bebido nas danças feitas com os sátiros e as ninfas, as quais eram
permeadas por cantos, gritos e orgias. É considerado um estrangeiro (é um deus marginal,
da periferia). [1]
Haviam também as Dionisíacas Urbanas, um grande festival que durava 6 dias, nos quais
eram feitos os concursos das peças teatrais. Nestes, cada poeta devia apresentar 3
tragédias e um drama-satírico (“comédia”) numa única manhã. Nestes concursos que os
poetas Eurípedes, Ésquilo e Sófocles apresentaram suas peças, ganhando-os diversas
vezes.
Bibliografia
[1]
Conceituação feita a partir das Notas de aula:
7
MARTINS, Leda. Notas de aula da disciplina “Teorias do Texto dramatúrgico e texto
espetacular”, do curso de graduação em Teatro, da UFMG. Aula do dia 20 de março de
2017.
6. Ésquilo
Ésquilo foi um dos 3 grandes poetas trágicos da Grécia Antiga, dos quais se tem
conhecimento atualmente. Nascido em 525 a.C., viveu até 456 a.C.
Em sua vida, se viu sempre em encruzilhadas, entre dois mundos ou dois princípios
diferentes, o que passou para suas peças. Ele possuía adoração grande à deusa grega da
agricultura, Deméter, e era considerado pelos gregos como um homem que fazia suas
obras por bênçãos divinas, intoxicado pelos deuses. Nas dionísicas urbanas, ganhou por
13 vezes o concurso de peças. Acredita-se que ele tenha escrito por volta de 90 peças, das
quais apenas 7 são conhecidas atualmente: “Os Persas”, “Prometeu Acorrentado”, a
trilogia “Oréstia” (composta por “Agamêmnon”, “As Coéforas” e “As Eumênides”), “Os
Sete contra Tebas” e “As Suplicantes” (TOLENTTINO, ___).
Suas tragédias vinculam fortemente a fé e a arte. O coro possui uma grande importância
nelas, dialogando muito com o herói, atuando até mesmo como um personagem
(MENEZES & RIBEIRO, 20__). Segundo Menezes e Ribeiro, “o coro esquiliano é a
principal “válvula de escape” da fé deste poeta. Porém o que realmente chama nossa
atenção, dentro desta estrutura e dentro deste poeta, é sem dúvida esta supervalorização”.
Ésquilo introduziu o segundo ator na representação das tragédias, além de ter adotado a
máscara, a indumentária trágica (os coturnos) e inovado os mecanismos da cena. O coro, à
sua época, continha 51 pessoas. [1]
Bibliografia
8
REIS, Glória. Notas de aula da disciplina “História do Teatro”, do Curso
Profissionalizante em Teatro da PUC Minas. Aula do dia 04 de fevereiro de 2015.
7. Sófocles
O segundo dos três poetas trágicos mais conhecidos da Grécia Antiga , viveu entre 496
a.C. e 406 a.C., tendo falecido no mesmo ano que Eurípedes, o terceiro grande poeta
trágico. Entres os três poetas, é o que mais venceu os concursos de tragédias, tendo
ganhado por 24 vezes, sendo eu acredita-se que ele tenha escrito 123 peças. Apesar disso,
só se conhecem 7 tragédias atualmente, sendo elas: “Ajax”, “Filoctetes”, “As
traquinianas” ou “As mulheres de Traquis”, “Electra” e a trilogia de Édipo (composta por
“Édipo Rei”, “Antígona” e “Édipo em Colono”) (TOLENTTINO, ___).
Um fato importante nas obras de Sófocles é que pode-se perceber uma maior atenção à
vontade humana: o homem, aqui, tenta desafiar seu destino, mas este acaba por acontecer
da mesma forma. [1]
Bibliografia
9
TOLENTTINO, Cristina. Texto “Teatro Grego – Ésquilo”. Disponível em:
http://www.caleidoscopio.art.br/cultural/teatro/historia-do-teatro/teatro-grego-parte2-
esquilo.html. Acesso em: 02 de julho de 2017.
[1]
Conceituação feita a partir das Notas de aula:
8. Eurípedes
O terceiro poeta trágico da Grécia Antiga nasceu em 486 a.C. e viveu até 406 a.C. em
Salamina, na Grécia. É Eurípedes que utiliza a figura do “Deus Ex Machina” em suas
peças, que resolvia os problemas que a princípio eram insolúveis. Ele venceu 5 vezes os
concursos de tragédias, sendo que a quinta vitória ocorreu após a sua morte. Tem-se
conhecimento hoje de 17 das suas 90 tragédias, que são: “Alceste”, “Medeia”, “Os
Heráclidas”, “Andrômaca”, “Hipólito”, “Hécuba”, “Hércules Furioso”, “As Suplicantes”,
“Íon”, “Electra”, “Helena”, “As Fenícias”, “Orestes”, “As Bacantes”, “Ifigênia em
Áulida”, “As Troianas” e “Ifigênia em Táurida” (TOLENTTINO, ___).
Segundo Menezes e Ribeiro, “Eurípedes é um poeta trágico das rupturas”, “é ele, o fator
histórico, que oferece ao artista um modelo a ser ‘seguido’ ou a ser rompido”. O coro, em
suas peças, varia em sua forma de utilização: em “As Bacantes” possui atitudes e
influências de personagem, mas em “Medeia” se apresenta como distanciado da ação
dramática (como ocorre em Sófocles). Se Sófocles começou a analisar a complexidade
humana, Eurípedes quer explorar o humano ainda mais, colocando o indivíduo como o
mais importante, sendo que há uma reflexão do herói sobre si em suas peças (sem dividir
seus questionamentos com outro personagem ou com o coro). (MENEZES & RIBEIRO,
20__).
Bibliografia
9. Mimeses
Aristóteles conceitua a “Mimesis” em sua “Poética”, algo que Platão fez em sua obra
“República”, mas rejeitando a arte compreendida nela.
Platão condena a imitação daquilo que não é perfeito, visto que tudo o que não é perfeito
já se constitui como imitação. Logo, uma mimese de algo não perfeito seria uma cópia da
cópia de algo, e estaria afastado da natureza por três pontos (PEREIRA, 2008).
Aristóteles, com sua definição, refuta essa ideia. Ele vê que a mimese pode estar em dois
âmbitos, sendo a “imitação da ação”: na epopeia, como a arte narrativa, e na tragédia e
comédia, como artes dramáticas. Ele vê a mimese como uma “imitação das essências
humanas” (ALVES, 2010).
A mimese, segundo Aristóteles, seria o que levaria à catarse (a “purificação” do ser ao ver
uma realidade recriada, mimetizada, que vai de encontro à sua própria).
Mais recentemente, com Kant, Hegel, Heidegger e Hölderlin, a mimese de Aristóteles foi
mais uma vez interpretada e considerada como a manifestação da plenitude da realidade.
Segundo Knoll, 1996,
“as proposições que definem a obra de arte tanto para Hegel quanto para Heidegger
podem receber esta roupagem aristotélica: a obra, por força da arte, é recuperação do
11
mundo segundo os mesmos procedimentos que produzem o mundo: mimesis”. (...) “A
arte imita a natureza”.
Bibliografia
KNOLL, Victor. Sobre a Questão da Mimesis. In: Revista Discursos. São Paulo, USP, v.27,
1996, p.61 a 81.
ALVES, Nathaly. Texto “Mímese: a revelação do real na linguagem da arte”. Gaia cultural,
2010. Disponível em: https://movimentoculturalgaia.wordpress.com/2010/10/25/mimese-a-
revelacao-do-real-na-linguagem-da-arte/. Acesso em: 02 de julho de 2017.
10. Hamartia
A hamartia é um elemento importante das tragédias gregas. Seu conceito é um pouco
complicado, por não haver uma tradução literal. Não se trata de pecado ou karma, mas de
uma “falha trágica”. Ela é um infortúnio decorrente de um erro involuntário (ou não), que
o herói carrega como fardo (e que passa por hereditariedade, muitas das vezes). Há
catástrofes e consequências que ocorrem pela existência dela. Édipo, por exemplo, em
“Édipo Rei”, carrega consigo a hamartia pelos erros de Laio, seu pai, que por sua vez
carregava de Cadmo, pai dele. [1]
Bibliografia
[1]
Conceituação feita a partir das Notas de aula:
11. Verossimilhança
Este termo está muito ligado à mimese e à catarse. A realidade retratada em uma peça
deve ser verossímil, ou seja, algo possível de se entender , por mais infortúnio que seja. [1]
12
“Vero” significa “Verdadeiro”, enquanto “simil” significa ‘semelhante”. Uma obra
verossímil não precisa ser realista, mas apresentar algo que seja crível, tido como possível
realidade, mesmo no mundo imaginário. No caso das ytragédias gregas, por exemplo, os
heróis são verossímeis por não serem nem tão bons, nem tão ruins: eles eram semelhantes
às pessoas comuns. Caso fossem só bons ou só maus, seria difícil crer na existência de
alguém como eles. [1]
Bibliografia
[1]
Conceituação feita a partir das Notas de aula:
12. Shakespeare
William Shakespeare foi poeta, dramaturgo e ator inglês. Nasceu em 1564 e faleceu em
1616. Ele escreveu ao todo 38 peças, estre dramas e comédias, 154 sonetos e vários outros
poemas. Shakespeare lida com o drama individual.
Ele utiliza uma estrutura paralelítica e especular na sua linguagem frasal, nas situações e
nas personagens, utilizando muito do mise-em-abyme para criar um espelhamento de
ações, algo que repete outro que já ocorreu. Há a presença comum de “duplos” na
dramaturgia de Shakespeare, que mostram o “parecer ser” (um personagem espelha as
ações do outro, parece o outro). [1]
Nas tragédias de Shakespeare, o herói é bem diferente das tragédias gregas: todas as
consequências do herói shakespeariano vem de um ato subjetivo, da vontade do sujeito.
Não há mais a interferência de deuses como determinantes.[1]
Shakespeare não possui uma estrutura certa nas comédias, ele as fazia de acordo com o
que o público gostava. Sempre colocava personagens em situações de poder, mostrando o
contexto sociopolítico. Há elementos que sempre estão presentes: os enganos, as
revelações de identidade, a ironia, a paródia, a manipulação cênica, os quiprocós (estopins
para as ações dramáticas maiores da peça), inversão dos papeis do início para o final, entre
outros. Suas comédias, atualmente, são separadas em Comédias de aprendizado (como a
“Comédia dos Erros”), Comédias líricas e românticas (como “A Megera Domada”) e as
Comédias Sombrias (como “A Tempestade). [1]
Segundo Heliodora, 1998, Shakespeare tinha uma “curiosidade infinita, amor, compaixão,
fascínio por todos os aspectos das atividades humanas”.
Bibliografia
14
13. Marlowe
Nascido no mesmo ano de Shakespeare, 1564, faleceu com apenas 29 anos, em 1593.
Apesar disso, lançou sua primeira peça em 1587 (uma década antes da primeira de
Shakespeare): Tamburlaine. Marlowe caiu em esquecimento ao longo dos anos; acredita-
se que isso se deva às acusações de assassinato, ateísmo e homossexualidade que sofrera
ainda em vida (CACHEADO, 2013).
Tamburlaine, sua primeira peça, trata da história do grande conquistador do tártaro que,
no Século XIV, construiu, assolando regiões da Ásia Central e da Índia, um Império de
dimensões que remontavam à antiguidade. O herói é tratado por diversas facetas, sendo
mostrado como um todo.
O dramaturgo dá um grande destaque aos personagens principais, o que faz com que se
tenha um bom panorama de cada um deles. Sua peça “A Trágica história do Dr. Fausto”,
diz-se, teria inspirado Johann Von Goethe a escrever o seu “Fausto”.
Bibliografia
As máscaras eram divididas em duas categorias: a dos servos e a dos patrões. Entre os
servos, estavam o Zanni, o Arlequim, o Briguella, o Polichinello, o Trufaldino, a
Colombina e o Pedrolino. Entre os patrões, estavam o Pantaleão e o Capitão.
As duas máscaras que podem ser consideradas como base de todas as outras, são a do
Zanni e a do Pantaleão. Todas as máscaras tem origem animal, além de suas outras
questões, sendo a do Zanni em macacos ou gatos, e a do pantaleão no galo e peru.
A máscara do Zanni tem origem nos bufões, que eram muitas vezes os leprosos,
deficientes, isolados da sociedade, que se apresentavam com sua arte para conseguir
sustento. Previamente a isso, a máscara tem base nos sátiros. Os Zannis eram bastante
empobrecidos, sem muita intelectualidade, extremamente braçais e com uma fome que
teria origem em algo mais profundo, maior que a fome comum. Assim, é comum que
Zannis tenham as bochechas para dentro. Na representação, braços e colunas ficam mais
arqueados, para mostrar tanto a força pelo trabalho pesado, quanto a fome extrema, com
passos maiores, base das pernas mais aberta, mãos que não fecham e caricatura grotesca.
Bibliografia
Lope de Vega escreveu, em 1609, o livro “Arte nuevo de hacer comedias en este tempo”,
que dá certas diretrizes para a escrita de comédias na época, que influenciam em muito
Tirso de Molina, outro dramaturgo do Século de Ouro, muito influenciado por Lope de
Vega. Quando se trata das cenas, o teatro tenta ser um retrato da vida, de forma
espontânea e colorida.
Lope de Vega não teve grandes inovações estilísticas, apesar de ter negado 2 das três
unidades aristotélicas: o tempo e o lugar, ficando apenas com a ação. Suas obras eram
marcadas pelo nacionalismo, com a presença de canções folclóricas.
17
Bibliografia
Calderón, em sua vida, manteve sua honra à Igreja, ao rei e à sua nação como questões
primordiais (BERTHOLD, 2001). Segundo Freitas, 2013,
“as peças de Calderón somam-se ao arcabouço de combate à Reforma Religiosa proposta pela
Contra-Reforma promovida pela Igreja Católica, ao adotarem procedimentos peculiares à
temática barroca, como o exagero, o abuso de ornamentação que delimitam a sua construção e,
principalmente, que esta vida é ilusão e o que importa é a “verdadeira” vida”.
A partir de suas obras, ele vai disseminar os dogmas cristãos, demonstrando muito o livre-
arbítrio.
Bibliografia
FREITAS, Jorge de. Observações acerca da peça de Pedro Calderón de La Barca, A vida é
sonho. In Revista “Crítica Literária, Outras Artes e Mídia”. Belo Horizonte, v.19, N. 1,
Jan-Abr. 2013, p.247 a 261.
17. Molière
Poeta, ator e dramaturgo francês, viveu entre 1622 e 1673. É tido como um dos únicos a
ter toda a sua vida devotada ao teatro, por completo. Na sua época, o gênero dominante
eram as tragédias, mas ele se fez importante pelas comédias (suas tragédias não fizeram
sucesso). Molière e sua Companhia de teatro viraram a Companhia oficial da família Real
na época do Rei Luís XIV.
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Em suas obras, Molière sempre critica a Igreja, o que foi algo que levou-o a ser
perseguido e até excomungado. Apesar disso, havia sempre menções e cenas com o intuito
de glorificar o rei. Molière se propôs a “fazer rir as pessoas honestas”, sem se preocupar
com a moral, escrevendo comédias de costumes (tratam de costumes de determinado
local, buscando criticar a moral, utilizando muitas vezes da farsa).
Ele é muito influenciado pela Commedia Dell’arte, tendo personagens-tipo em suas peças
(estes representam classes sociais). Da mesma forma, as apresentações de sua Companhia
aconteciam muito nas ruas. Em sua peça “O ciúme do lambuzado” é possível ver muito da
influência da Commedia Dell’arte.
O teatro de Molière leva a uma reflexão sobre a relação entre arte e poder.
Bibliografia
18. Racine
Jean Baptiste Racine, poeta trágico francês (considerado o maior entre eles), viveu entre
1639 e 1699. Suas peças se tornaram clássicos, como “Andrômaca” (1667), “Britânico”
(1669) e “Fedra” (1677) (TEIXEIRA, 2005). Segundo Teixeira, 2005, “sua grandiosidade
está não só na beleza de seus versos, que exprimem perfeitamente emoções fortes e sutis,
como na criação do suspense trágico, de feição classicamente contida”.
Racine foi muito influenciado pelo Jansenismo em suas obras, que debateu sobre a
questão de pecado original ser extensivo à toda humanidade, sendo que a salvação só
poderia ser obtida pela misericórdia de Deus (CARMO, 2014).
Fedra será a peça com a qual Racine alcançará seu maior sucesso, e é precisamente nessa
composição que se pode melhor observar a estrutura da obra como reveladora da importância
que Port-Royal teve em sua vida: se, por um lado, não se pode falar em tragédia jansenista,
pois a personagem central tenta viver no mundo e realizar a união de opostos − o que é
absolutamente contrário à doutrina jansenista −, por outro, também não é possível afirmar que
não tenha nenhuma relação com o jansenismo, já que Fedra transpõe a experiência do
19
movimento jansenista ou, antes, a do próprio Racine, pela ilusão de poder encontrar um lugar
no mundo e pela malsucedida tentativa de estabelecer um vínculo com este.
Bibliografia
CARMO, Maria S. M. “Fedra”, de Jean Racine: moral do século XVII e criação literária. In:
Revista do Programa de Pós-Graduação em Letras, Universidade Federal de Santa Maria.
Santa Maria, n.49, “Narrativas, retóricas, drama e história nos séculos XVI e XVII”, Dez.
2014.
19. Antoine
Encenador francês, que viveu de 1858 a 1943. É conhecido pela defesa grande do
naturalismo no palco, tendo defendido também a eliminação das falas enormes que se
tinha até então. Seus palcos eram grandes fotografias, com cenários muito bem
trabalhados e pensados na busca de retratar fielmente uma fatia da vida com realidade. Ele
exigia dos atores que vivenciassem os papeis, não apenas representassem, sendo dele o
conceito da “quarta parede”, a partir da qual os atores estariam realmente isolados do
público, algo primordial a Antoine. A quarta parede estaria no limite da boca de cena, e só
dentro dos limites dela, para Antoine, que o ator poderia alcançar a verdadeira face de sua
personagem e capacidade plena de interpretá-la. Criou, em 1887, o Teatro Livre de Paris e
em 1896 o Teatro Antoine, a partir do qual viria a surgir o Teatro de Arte de Moscou
(TEIXEIRA, 2005).
Bibliografia
20
20. Ibsen
Dramaturgo norueguês, Henrik Ibsen viveu entre 1828 e 1906. É considerado, por alguns
autores, como o maior dramaturgo do Século XIX.
Segundo Bradburry,
numa época em que não havia uma dramaturgia nacional na Noruega e a tradição teatral
européia estava agonizante; em que as únicas peças importantes eram dramas românticos feitos
para serem lidos e não montados. [...] Ibsen dominou e transformou toda a concepção de teatro
moderno, além de liderar uma revolta de idéias modernas. Quando morreu, o teatro era uma
arte importante, à altura da poesia e do romance. Nenhuma outra figura do movimento
moderno modificara não apenas o espírito das artes mas todo um gênero artístico.
Em suas obras finais, ele colocou como centro a subjetividade, as ilusões pessoais e os
sonhos do ser humano. Não é possível pensar em teatro social na Europa sem relembrar de
Ibsen (VOLOBUEF, 2008).
Ibsen é extremamente detalhista nas didascalhas de suas peças, sendo possível retirar toda
a imagética proposta para a cena, assim como saber a relação e situação sócio-econômica
das personagens, além do estabelecimento do “efeito do real”. O dramaturgo cria uma
agradabilidade pela cena, jogando o leitor dentro da cena, praticamente, para que se tenha
uma identificação e adesão da encenação. Desse modo, o leitor ou espectador quebra com
a ficção e se adere ao real. Ibsen, como artista realista, é objetivo, direto e detalhado,
buscando a compreensão da totalidade da obra, criando algo tão realista, que sobrepõe a
ficção que ali existe. [1]
Bibliografia
VOLOBUEF, Karin. Ibsen: Clássico e Moderno, In: Cadernos de Letras da UFF – Dossiê:
Literatura, língua e identidade, n. 34, p. 139-148, 2008.
21
[1]
Conceituação feita a partir das Notas de aula:
21. Stanislavski
Nascido em 1863, Constantin Serguêievitch Alexcêiev, conhecido por Constantin
Stanislavski, viveu até 1938, e foi um dos maiores teatrólogos, diretores e encenadores da
história do teatro. Segundo Elena Vássina, “a partir de Stanislavski, o palco deixou de ser
tablado e passou a ser o mundo que vivemos”. [1]
Ele começa a desenvolver a iluminação ainda mais, pois deseja recriar a vida no palco
(utiliza tudo o que pode em sua pesquisa). Seu Sistema (conhecido como “Método das
Ações Físicas”, ao final de sua vida) é um descobrimento das leis orgânicas da atuação do
ator, que é também um pesquisador. [1]
Apesar de já existirem algumas técnicas teatrais na época, faltava algo que buscaria
analisá-las para uma compilação das mesmas. Assim, seu sistema se preocupou em
selecionar, avaliar e organizar as técnicas teatrais. [2]
Para Stanislavski, apesar da linguagem dos personagens refletir o cotidiano, o ator deve
transpô-lo. Ele investigou métodos de preparo para que o ator pudesse, a partir de sua vida
pessoal, encontrar métodos práticos de articulação e criar uma segunda imagem, uma
segunda natureza. Ou seja, no próprio cotidiano, o ator deve se colocar observando novas
formas de agir. É importante, então, ter sempre uma observação ativa para entender as
circunstâncias dadas às pessoas no ambiente. O artista sempre se faz enriquecido com o
que vê. É preciso também buscar sutilezas, detalhes, para que se crie hábitos para
personagens que se faça, chegando ao ponto da criação fazer parte de si mesmo. [3]
Além de tudo isso, uma das frases famosas dele diz “discussão não, ação sim”. Com isso,
ele quer dizer que não se pode abordar a personagem de modo discursivo apenas, pois isso
traz um distanciamento dele. É necessário agir, sofrer o que ele sofre, para que se
aproxime. Segundo Paulo César Bicalho, “a ação intérmina sai do inconsciente.” [3]
22
Stanislavski passou toda a vida estudando a arte teatral e as técnicas da atuação, sendo que
desde os 17 anos de idade observava as pessoas perguntando-se como seria, sendo um
personagem, realizar as ações do dia-a-dia. Seu método atualmente é muito utilizado,
especialmente no cinema, e serviu de base para praticamente todos os teatrólogos que
vieram após ele. [3]
Bibliografia
22. Artaud
Poeta, ator, escritor, dramaturgo, roteirista e diretor de teatro, Antoine Marie Joseph
Artaud, mais conhecido como Antonin Artaud, viveu entre 1896 e 1948, tendo passado
mais da metade de sua vida em instituições psiquiátricas.
Artaud acreditava, assim como Stanislavski, que o preparo do corpo físico era mais
importante que o texto propriamente dito. Ele chega a comparar o ator a um atleta,
dizendo que “é preciso admitir, no ator, uma espécie de musculatura afetiva que
corresponde a localizações físicas dos sentimentos” (RIBEIRO, 20--). Assim, o ator
deveria ser um atleta que reconhece em seus movimentos cada sentimento e os aperfeiçoa
todos os dias em seus “treinos”. E é a partir desse conhecimento físico que se atinge a
organicidade em cena.
23
Segundo AZEVEDO, 2008, “O ator desejado para Artaud não pode se deixar governar por
suas emoções; pretende-o com tal domínio técnico do corpo e da voz, que se torne capaz
de emitir o signo exato, no momento oportuno”.
Para Artaud, a encenação está extremamente conectada à metafísica, sendo então um ato
de transformar. Para explicar essa relação Artaud faz a análise de uma pintura que não
possui um pintor tão renomado como autor, mas que representa o caos e ao mesmo tempo
o equilíbrio. Analisar algo assim, carregado de mensagens subliminares e possibilidades
infinitas de interpretações, requer uma transformação, quase uma “alquimia” para que se
torne o compreendido. É isto que deve acontecer na encenação.
Segundo ele, “Enquanto a alquimia, através de seus símbolos, é como um Duplo espiritual
de uma operação que só tem eficácia no plano da matéria real, também o teatro deve ser
considerado como o Duplo não dessa realidade cotidiana e direta da qual ele aos poucos se
reduziu a ser apenas uma cópia inerte, tão inútil quanto edulcorada, mas de uma outra
realidade perigosa e típica, em que os princípios, como golfinhos, assim que mostram a
cabeça, apressam-se a voltar à escuridão das águas.”
“Podemos, portanto repreender o teatro, tal como é praticado por uma terrível falta de
imaginação. O teatro deve igualar-se à vida, não à vida individual, ao aspecto individual da
vida em que triunfam as personalidades, mas uma espécie de vida liberada, que varre a
individualidade humana e em que o homem nada mais é que um reflexo. Criar Mitos, esse é o
verdadeiro objetivo do teatro, traduzir a vida sob seu aspecto universal, imenso e extrair dessa
vida imagens em que gostaríamos de nos reencontrar”.
24
Pode-se dizer que há duas definições de teatro para Artaud, devido à sua história de vida.
Antes de sofrer com a internação, o teatro era o “lugar onde se refaz a vida”. Partindo
deste ponto e de leituras tanto de biografias como de trechos de sua maior obra, “O Teatro
e seu Duplo” (Le Théâtre et son Double), é possível perceber que o “refazer a vida”
significa até mesmo “refazer o todo”.
Após a sua internação, o seu “conceito” de teatro torna-se mais refinado, talvez, pois
devido a tudo que passou, pode-se dizer que passa a ser “o lugar onde se refaz o corpo”.
Analisando de forma crua, o teatro de Artaud provavelmente não se preocupava tanto com
o texto em si, como nas teorias de Stanislavski, mas sim com o corpo e a manifestação do
texto neste corpo (previamente às palavras, mediante estas e após).
Artaud também crê que o teatro é a única, de todas as linguagens e artes, que ainda possui
“sombras”, sendo que estas romperam com suas limitações. Ele define como sombra a
criação de um alguém que “atormenta seu repouso”. Pode-se dizer então que a sombra é
tudo aquilo que surge do processo de criação para o produto final, e que o ator sempre
tenta superar, pois se sente atormentado e nunca consegue (nunca deve) simplesmente
estagnar em um ponto da sua criação, pois não existe criação perfeita por completo e não
passível de mudanças. Ao mesmo tempo, mesmo se ficasse estagnado, no “verdadeiro
teatro” de Artaud as sombras sempre sofrem mudanças pelo próprio curso do teatro (o ator
nunca repete qualquer movimento ou ação exatamente como antes) (ARTAUD, 1999).
Concluindo, quando se volta na questão das linguagens, o teatro é o local onde todas as
linguagens devem ser trabalhadas (pois nunca deve ser limitado a uma única, se perdendo)
e ao mesmo tempo quebradas.
25
Por Artaud, “quebrar a linguagem para tocar a vida é fazer ou refazer o teatro; e o
importante é não achar que esse ato deve permanecer sagrado, ou seja, reservado. O
importante é acreditar que todos podem fazê-lo, e que para tanto é necessária uma
preparação”.
Outra frase marcante e que demonstra essa visão de teatro de Artaud é quando ele diz
sobre ter encontrado o título para sua obra principal:
“Eu creio ter achado o título conveniente para o meu livro. O Teatro e seu Duplo. Pois se o
teatro duplica a vida, a vida duplica o verdadeiro teatro (...). Esse título corresponderá a todos
os duplos do teatro que penso ter encontrado há tantos anos: a metafísica, a peste, a crueldade,
o reservatório de energias que constituem os mitos que não são mais encarnados pelos homens,
são encarnados pelo teatro. Considero esse duplo o grande agente mágico, do qual o teatro, por
suas formas, é apenas a figuração, esperando se tornar a transfiguração. É no palco que se
reconstitui a união do pensamento, do gesto, do ato. O Duplo do teatro é o real não utilizado
pelos homens de hoje.” (Artaud A. 1995: 127).
Bibliografia
23. Brecht
Bertolt Brecht viveu entre 1898 e 1856. Ele é um dos teatrólogos que faz pensar que há
um problema na classe artística e que é preciso repensar o modo de construção do público,
para que este não fosse mais passivo como era até então, sendo possível quebrar com a
identificação, colocando em cena grandes problemas da atualidade, diante dos quais pode-
se ter soluções ou ao menos intervir crítica e politicamente nele. [1]
26
Sendo muito influenciado por Erwin Psicator, que fundamentou o teatro político, Brecht
buscou um teatro que despertasse a consciência, utilizando também do Agitprop (teatro de
agitação). Além disso, utilizou em muito os recursos do audiovisual, das projeções, do
comentador e das cenas simultâneas, que extraíam seus assuntos da vida do proletariado,
da luta de classes e da política.[1]
Para ele, a representação tinha um âmbito político que não podia ser ignorado, fazê-lo
seria sinal de hipocrisia, criando algo irrelevante. Brecht mostra que a corrupção é parte
do DNA do capitalismo. Segundo ele, a subjetividade se encontrava no gênero lírico,
enquanto a vida privada estava no gênero dramático e cabia ao gênero épico tratar dos
assuntos políticos e sociais. [2]
As razões para o teatro épico são duas, principalmente: as relações interpessoais, sociais e
de classe, e a busca de um teatro científico (observador, crítico, investigativo) e didático
(para educar, despertar e atacar a consciência política). [1]
Apesar da dissociação entre Brecht e Stanislavski, Brecht dizia que ter a capacidade de
fazer a cena crível que foi proposta por Stanislavski era essencial para o teatro épico. O
que Brecht critica é o culto à Stanislavski como detentor do único método válido para
atuação, quando tantos outros existiam. [3]
Bibliografia
27
Tecnológica do palácio das Artes), da FCS (Fundação Clovis Salgado). Aula do dia 26 de
junho de 2017.
[3]
HILDEBRANDO, Antônio. Notas do Seminário “Stanislavski, Brecht e Boal”,
realizado no Espaço aberto Pierrot Lunar. Data: 29 de setembro de 2016. Professores
convidados: Papoula Bicalho, Rita Gusmão e Antônio Hildebrando.
24. Boal
Diretor de teatro, dramaturgo e teatrólogo brasileiro, Augusto Pinto Boal viveu entre 1931
e 2009. Ele é responsável pela criação da “Estética do Oprimido”, hoje estudada em todo
o mundo. Além disso, foi um dos líderes de um dos grupos de teatro de resistência na
época da ditadura militar, o Arena de São Paulo. [1]
A estética do oprimido não tem relação apenas com a encenação e atuação, mas também
com a formação, sendo importante que o ator, diretor ou pessoa do teatro que esteja
envolvido com ela, estude diversas áreas do conhecimento, como a história, filosofia,
política e economia. O teatro do oprimido possui um organograma: a árvore do Teatro do
Oprimido. [1]
28
para ler cultura. O teatro legislativo busca, a a partir do teatro-fórum, discutir e aprovar
leis na câmara legislativa. O teatro invisível tem uma proximidade com a performance, em
que havia uma cena em local público que , para o público, não era apresentada como
teatro. O arco-íris do desejo é o método (de Cecília e Augusto Boal) de teatro e terapia:
trabalha o fato de que o opressor está na mente, busca transformar o pensamento em
corpo, para externalizar questões que não se consegue tratar verbalmente. [2]
Bibliografia
25. Grotowski
Teórico, crítico e diretor teatral, Jerzy Grotowski foi um dos maiores nomes do teatro
experimental. Nascido em 1933, viveu até 1990.
Em 1968, ele lança seu livro “Em busca de um teatro pobre”, no qual discorre sobre
diversas questões, incluindo o palco nu, a função do público, a função do teatro, entre
29
outros. Possui o teatro como missão, rompendo com o convencional e estereotipado,
revelando o inconsciente coletivo, com seus mitos e símbolos.
Fala do ator como um performer, que é o artista que existe dentro de si a partir do
momento que se derruba tudo o que a sociedade construiu no indivíduo. Ele limitou suas
peças a públicos selecionados e pequenos, pois acreditava que assim haveria uma
transformação (com o espectador extremamente próximo e íntimo ao ator). Não acreditava
que a transformação deveria ser em todos, mas nas “pessoas certas”, as que sabiam ser
espectadores.
Pensou também no Palco nu, livre do maior número possível de elementos que levassem à
ilusão. O ator, com seu corpo, conseguiria fazer tudo o que fosse necessário.
Bibliografia
26. Beckett
Samuel Beckett, dramaturgo irlandês, viveu entre 1906 e 1989. Foi um dos precursores do
Teatro do Absurdo. Em sua obra, retrata o tédio e sofrimento do cotidiano humano a partir
de uma situação surrealista. Em “Esperando Godot” há uma forte contestação quanto à
realidade das pessoas que vivem à espera de um deus que nunca aparece, imaginário. A
encenação da peça atingiu um patamar de misticismo e mistério que revolucionou o teatro
(TEIXEIRA, 2005).
30
Segundo Teixeira, 2005,
O pessimismo desesperado de Beckett ainda é mais pungente na peça Fim de partida (1957),
seguida da pantomima Ato sem palavras, também de 1957. Agindo em profundidade, a obra de
Beckett renuncia à superficialidade realista, mostrando mais eficazmente a realidade do que as
outras correntes e escolas dramáticas que a isto têm-se proposto. Beckett “não acreditava em
nenhum sentido da vida, que lhe parecia absurda e desesperada, nem na possibilidade de
qualquer comunicação entre os indivíduos, nem na capacidade da linguagem de manifestar esse
estado de coisas, cujo efeito é uma angústia irremediável.” (Grande enciclopédia Larousse). É
o mais importante representante da Literatura da Angústia, do século. Ganhou o Prêmio Nobel
de Literatura de 1969.
Bibliografia
27. Ionesco
Eugène Ionesco foi um dramaturgo francês que viveu entre 1912 e 1994, tendo sido um
dos principais autores do Teatro do Absurdo. Em 1950 lançou sua primeira obra, em um
ato, “A Cantora Careca”, cheia de elementos dadaístas e surrealistas. Após isso, lançou
obras relativamente curtas, como “A lição”, em 1951, “As Cadeiras”, em 1952 e “ A
vítima do dever”, em 1953 (TEIXEIRA, 2005).
Em 1959 há o início de uma segunda fase dramatúrgica, ainda surrealista e absurda, mas
que agora se preocuparia em retratar questões existenciais e as relações sociais, assim
como os absurdos políticos, tendo uma grande imersão no simbolismo. É no mesmo ano
que lança um dos maiores clássicos da dramaturgia moderna, “O Rinoceronte”
(TEIXEIRA, 2005).
“Sua obra densa e de estética peculiar é bem recebida em todo o Ocidente. “Pedestre do ar”
(1963) e “A sede e a fome” (1965) são exemplos disso. Seus temas prediletos giram em torno
do caráter incompreensível das relações humanas, o medo da morte, o aspecto tragicômico e
absurdo da existência, a pressão das convenções sociais”.
Bibliografia
31
28. Genet
Jean Genet, nascido em 1910, foi um dramaturgo frânces, conhecido por tratar de temas
polêmicos para a sua época, utilizando fortemente do simbolismo em suas obras, que
também eram anti-realistas. Segundo Teixeira, 2005,
“Seu teatro é um teatro de falsa aparência, da ilusão e dos fantasmas irrefutáveis, retratando a
violência, a marginalidade e a injustiça social: antinaturalista, tem uma dimensão mítica e
poética, que o coloca entre os principais dramaturgos do século XX.”
Jean Genet abomina o teatro ocidental, a representação das suas peças deveria se dar como
uma espécie de ritual, cerimônia, missa. Segundo Teixeira, 2005,
“Apesar de seus textos teatrais denunciarem as infâmias de uma sociedade abjeta, o que no
fundo eles promovem é o elogio ao mal e pregam o refúgio no isolamento, numa existência
marginal que permita apreender a horrível beleza deste mundo, considerado espetáculo por ele.
Assediado pelos grandes encenadores europeus, ansiosos por um teatro menos formal e mais
participante, escreve em 1947, a pedido de Louis Jouvet, Les bonnes, que provoca um
tremendo escândalo quando mostrado ao público parisiense. O mesmo ocorrendo com Le
balcon, ensaiado por Peter Brook* em 1957, em Londres, mas só mostrado em 1969 em Paris.
A consagração acontece com Les nègres, encenado por Roger Blim em 1959. Les paravents,
sobre a guerra da Argélia, criada em Berlim em 1961, só é vista em Paris em 1965, na
montagem de Roger Blim”.
O teatro de Jean Genet é um teatro que retrata a marginalidade, violência, teatro da ilusão,
das falsas aparências, dentro de uma dimensão mítica e poética (TEIXEIRA, 2005).
Bibliografia
29. Pós-dramático
Para o Pós-dramático, o teatro se configura como acontecimento, ou seja, entende-se
teatro pela sua matriz filosófica. Para se fazer acontecimento, depende da relação ator-
espectador. Assim, diferentemente do drama burguês, por exemplo, não se deseja criar
ilusão, mas sim fazer com que a situação teatral se dê a partir do encontro do ator com
seus espectadores, tendo arte e vida as suas fronteiras borradas (SILVA &
BAUMGARTEL,____).
“O teatro de agora, consciente de sua própria característica ficcional, começa a jogar com
elementos hiper-realistas que visam confundir o espectador e por vezes os próprios artistas: até
que ponto determinado acontecimento fez parte do espetáculo ensaiado e até que ponto ele se
deu de modo espontâneo e com um grau de realidade pragmática mais alto? Isso ocorre, entre
outros motivos, em função do fato de que agora o espectador passa a ser co-autor da cena, do
conjunto dramático, um participante que entretanto não interpreta, não faz de conta, apenas
age, como ele mesmo agiria no seu dia-a-dia. Através de tais circunstancias a delimitação
32
precisa entre o que é teatro (momento ensaiado que faz parte de uma ficção) e o que constitui o
presente pragmático parece não ser mais tão facilmente detectável.”
“A questão, portanto, não é que o teatro tenha suplantado o modernismo, mas que tenha
superado o drama. O autor, já de saída, se distancia da leitura despolitizadora do teatro que
acompanha a visão de superação do moderno, intrínseca ao termo pós-moderno”.
Bibliografia
Bibliografia
31. Performance
Segundo Mostaço, 2012,
“O termo performance traz embutida uma série de significações, sendo por isso tomado como
um “termo chave”, ou seja, dá acesso a um sem número de acepções – até mesmo
contraditórias entre si -, marcando-se pelo seu caráter lábil e escorregadio. Diante desse
quadro os Estudos da Performance apontam alguns rumos e criam contextos onde o termo
possa circular e ser referido, evitando seu transbordamento e alcance. Procurarei aqui
circunscrever tais sentidos e usos, seguindo em grandes linhas alguns de seus mais férteis
teóricos” (BIAL: 2008).
Assim, o campos dos Estudos da Performance engloba diversas áreas, integradas pelas
Ciências Sociais, Antropologia, Drama, Linguística, Filosofia, Estudos Culturais,
Literatura Comparada, Dança, Música e Arte, envolvendo tanto formas mais estruturadas
de arte, como aspectos da vida cotidiana, além das manifestações ritualísticas, as
celebrações litúrgicas das religiões, as procissões, entre outros.
“Assim, a performance é também produtiva e propositiva, uma vez que causa, produz, cria
tanto ela mesma quanto o outro. Tal produtividade emprega frequentemente a linguagem como
função, uso ou intenção, visando certos objetivos, tais como: investigar intelectualmente um
fenômeno; jogar afetivamente com algo; recuperar alguma memória cultural; introduzir um
comentário social; propor uma ação prática ou aferir uma dimensão psicológica. Destacar os
efeitos provocados por algo, portanto, (uma história, uma identidade, um artifício artístico, a
etnografia de um comportamento etc.) igualmente são performances, perceptíveis também
quando se estrutura algo ou se constitui um sentido.”
Bibliografia
MOSTAÇO, Edelcio. Conceitos operativos nos estudos da performance. In: Revista “Sala
Preta”. São Paulo, PPGAC/USP, v.12, n.2, Artigo 5, 2012.
34
32. Mulheres Dramaturgas
Ao longo da história do teatro, há várias mulheres dramaturgas que não são tão
mencionadas, mas que fizeram grande diferença na evolução da dramaturgia. Abaixo
seguem algumas:
A primeira pessoa a traduzir peças de Eurípedes após a Idade Média foi Jane Lumley.
Mary Herbert, Condessa de Pembroke, viveu entre 1561 e 1621, tendo sido listada aos 39
anos ao lado de William Shakespeare, como uma das mais notáveis autoras de seu tempo.
Escreveu a peça “The tragedy of Antony”, que conta a história de Cleópatra e Marco
Antônio.
Aphra Behn, foi poetisa, tradutora de ficção inglesa e dramaturga. Viveu entre 1640 e
1689. Ela escreveu com o pseudônimo de Astrea. Entre suas peças mais populares, estão
“The Rover” e “Love-Letters Between a Nobleman and His Sister” (1684-1687). Ela foi
considerada a primeira mulher a ser uma profissional do ramo da dramaturgia.
Loves Adventures
Wits Cabal
The Religious
Bell in Campo
35
The Female Academy
Plays, Never Before Printed (1668) publicada por Anne Maxwell (Londres), contendo as
peças:
The Presence
The Bridals
A Piece of a Play
Entre 1748 e 1793 viveu Olympe de Gouges, dramaturga francesa que lutou pelos direitos
das mulheres, sendo presa por sua peça Les trois urnes, ou le salut de la Patrie, par un
voyageur aérien, que exigia um plebiscito para se discutir a forma de governo pós
Revolução Francesa.
Elizabeth Robins, que viveu entre 1862 e 1952 foi uma dramaturga sufragista da época.
Ela tem em seu repertório uma peça que retrata a luta das mulheres, que foi encenada no
Royal Court Theatre, em Londres, chamada “Votes for Women!”.
Susan Glaspell viveu entre 1876 e 1948, e foi uma dramaturga estadunidense. Ela foi co-
fundadora da “American Theater company” e ganhou o prêmio Pulitzer por suas obras.
Katherine Githa Sowerby, dramaturga inglesa, que escreveu com o nome K. G. Sowerby,
viveu entre 1876 e 1970. Ela era muito conhecida no início do século XX pelo sucesso de
sua peça “Rutherford and Son”, mas caiu no esquecimento por décadas, até quando, em
1980, sua peça foi reencenada no Royal National Theatre de Londres. Ela escreveu 7
peças, sendo elas: “Rutherford and Son” (1912, drama realista), “Before Breakfast”
(1912), “Jinny” (1914), “A Man and Some Women” (1914), “Sheila” (1917), “The
Stepmother” (1924) e “Direct Action” (1937–78) (sua última peça).
Mae West (1893 – 1980) foi uma atriz, dramaturga, cantora, comediante e escritora
estadunidense. É relembrada como um “sex symbol” (símbolo sexual) dos anos 1930 em
Hollywood, quando foi conhecida como “menina má”.
Lillian Hellman foi uma escritora estadunidense que viveu entre 1905 e 1984. Escreveu as
peças: “The Children's Hour”, “The Little Foxes”, “The Autumn Garden”, “Toys in the
Attic”, “Another Part of the Forest”, “Watch on the Rhine”.
36
No Brasil, no Séc. XIX, segundo Andrade,
Ainda no Século XIX, houve no Brasil uma dramaturga sufragista chamada Josefina
Álvares de Azevedo. Segundo Andrade,
“A data de seu nascimento, 5 de março de 1851, é, por ora, o único dado inconteste de que se
dispõe. Os demais são obscuros e/ou divergentes. Não se sabe, por exemplo, onde Josefina
Álvares de Azevedo fez seus estudos, como foi sua infância e juventude, ou se foi casada. Há
alusões sobre o fato de ter sido mãe, embora sem qualquer menção direta a sua prole. Registra-
se, igualmente, sua morte em 1905, sem referência, contudo, a local, circunstâncias e data
completa.”
Sua obra mais eloquente foi a peça “O voto feminino” que gerou muita polêmica à sua
época. Segundo Andrade,
No Século XIX, outras dramaturgas brasileiras importantes foram Julia Lopes de Almeida
(Peças: “A Herança”, “Quem não perdoa”, “Nos Jardins de Saul” e “Doidos de amor”) e
Consuelo de Castro.
No Século XX, há três nomes, entre muitos provavelmente esquecidos, que devem ser
mencionados:
Denise Stoklos (nascida em 1950, até hoje atua com seu “Teatro Essencial”), autora das
peças Círculo na Lua, Lama na Rua (1968), A Semana (1969), Vejo o Sol (1970), Mar
Doce Prisão (1971), Cadillac de Lata (1973), One Woman Show (1980), Elis Regina
(1982), Habeas Corpus (1986), Denise Stoklos in Mary Stuart (1987), Hamlet em Irati
(1988), Casa (1990), 500 Anos - Um Fax de Denise Stoklos para Cristóvão Colombo
(1992), Amanhã Será Tarde e Depois de Amanhã nem Existe (1993), Des-Medéia (1994),
Elogio (1995), Mais Pesado Que o Ar/Santos Dumont (1996), Desobediência Civil
(1997), Vozes Dissonantes (1999), Louise Bourgeois - I do, I undo, I redo (2000),
Calendário da Pedra (2001), Olhos Recém-Nascidos (2004), Cantadas (2007), Denise
Stoklos em Teatro para Crianças (2007) e Preferiria Não? (2011).
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Hilda Hilst (1930-2004), produziu 8 peças para o teatro: “A Possessa” (1967), “O Rato no
Muro” (1967), “O Visitante” (1968), “Auto da Barca de Camiri” (1968), “O Novo
Sistema” (1968), “Aves da Noite” (1968), “O Verdugo” (1969) e “A Morte de patriarca
(1969).
Leilah Assumpção (nascida em 1943), escreveu 16 peças teatrais: Fala baixo senão eu
grito, Roda cor de roda, Kuka de Kamaiorá, Seda pura e alfinetadas, Boca molhada de
paixão calada, Lua nua, Cinco vezes comédia, Uiva e Vocifera, Vejo um vulto na janela
me acudam que eu sou Donzela, O grande momento de Mariana Martins, “Jorginho, o
Machão”, Amanhã, Amélia, De manhã, Intimidade indecente e Adorável Desgraçada.
No mundo, há outros dois nomes muito importantes: Caryl Churchill e Sarah Kane.
Bibliografia
33. Dramaturgia
“A dramaturgia, no seu sentido mais genérico, é a técnica (ou a poética) da arte dramática, que
procura estabelecer os princípios de construção da obra , seja indutivamente a partir de
exemplos concretos. seja dedutivamente a partir de um sistema de princípios abstratos . Esta
noção pressupõe um conjunto de regras especificamente teatrais cujo conhecimento é
indispensável para escrever uma peça e analisá-la corretamente.”
Bibliografia
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