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ENQUADRAMENTO TEÓRICO l Género e Currículo

2.5.

Conclusão

F
alar do currículo do ensino secundário cada disciplina em si, mas também do significado
na perspetiva da sua necessária que esta etapa da escolaridade tem para a vida
sensibilidade para as implicações de alunos e de alunas, confrontados/as com
que a ordem social de género tem a necessidade de uma tomada de decisão
trazido à vida de mulheres e homens, ao longo – prosseguimento de estudos ou passagem
dos tempos e em diferentes áreas e sociedades, para o mundo do trabalho – que nem sempre
não é uma tarefa simples. E a dificuldade de tal estão preparados/as para fazer numa fase
desafio deriva não apenas da complexidade de tão precoce das suas vidas (ver caixa).

“ De facto, no caso dos/as adolescentes que prosseguem os estudos e que, por isso, são obri-
gados institucionalmente a escolher uma opção vocacional à entrada do secundário, as deci-
sões tomadas podem confrontar-se com dúvidas, incertezas e questionamentos. A temporali-
dade biográfica, mais densa e potencialmente complexa, assente num processo subjetivo de
exploração visando a busca (normativamente obrigatória) da plena realização de si pode colidir
com a temporalidade institucional imposta no momento preciso da escolha. Adicionalmente
há que contabilizar a volatilidade dos contextos sociais, económicos e políticos que, mesmo
marginalmente, não deixam de interferir na avaliação pelos sujeitos daquilo que é uma esco-
lha boa e/ou uma escolha certa, uma vez que não estão ausentes, como verificámos, preocupa-
ções com os aspetos mais instrumentais da escolha. A partir do reconhecimento das potenciais
tensões associadas às duas temporalidades, explorámos então um modelo de percurso escolar
no secundário que permite dar conta das formas de acomodação, mas também de eventuais
“disritmias” de tempos e modalidades (institucionais e subjetivas) de sucesso, plasmadas em
quatro itinerários-tipo, entendidos numa perspetiva dinâmica — as “carreiras focadas”, as “carrei-
ras atrasadas”, os “itinerários exploratórios” e os “itinerários erráticos”. (…).
Para lá dos percursos, fomos ainda perscrutar os sentidos que os/as protagonistas lhes confe-
rem — para entender, assim, a avaliação subjetiva dos mesmos. À afirmação da livre escolha
dos seus (per)cursos, que celebra os valores da autonomia individual e da realização de si a que
estes/as alunos/as tão fortemente aderem, pelo menos narrativamente, contrapõem-se refe-
rências a alguns constrangimentos institucionais presentes (opções e cursos não disponíveis na
escola frequentada) ou futuros (antecipação das diferentes oportunidades profissionais que cada
opção oferece) que afetam a plena realização de sonhos e justificam, pelo menos em parte, o
sentido dos percursos trilhados. Mais do que uma narrativa unívoca, é de uma composição de
referências normativas (mais expressivas, umas, mais instrumentais, outras) que as escolhas e os
percursos escolares tendem a ser fabricados. ”
Adaptado de Maria Manuel Vieira, Lia Pappámikail, Cátia Nunes, 2012: 66-67.

por: Cristina C. Vieira (coord.), Maria Helena Loureiro e Lina Coelho 087
GUIÃO DE EDUCAÇÃO conhecimento, Género e cidadania no Ensino Secundário

Partindo-se da premissa de que o currículo Pelo seu caráter estruturante e decisivo na


deve abranger conteúdos que sejam úteis construção identitária de alunas e alunos, bem
para a formação de cidadãos e de cidadãs como no desenvolvimento de conhecimentos
informados/as, críticos/as, conscienciosos/as, e competências, a Escola é, por ventura, o
abertos/as à diversidade e à pluralidade, exemplo mais paradigmático de como não
capazes de ver o/a outro/a como igual em basta garantir a igualdade de oportunidades
termos de direitos e de responsabilidades, e para construir a igualdade de género, de como
da certeza de que a escola tem funções não a igualdade só poderá ser alcançada mediante
apenas educativas, mas também sociais, a integração da dimensão da igualdade de
importa trazer as desigualdades de género género a todos os níveis do sistema educativo
para a escola e debatê-las sempre que as (Comissão para a Cidadania e Igualdade de
temáticas envolvam a vida real de mulheres e Género, 2007:7).
de homens de diferentes épocas, contextos
e pertenças identitárias. E isto porque está em Ao longo deste capítulo a nossa atenção
causa a formação de pessoas que esperam concentrou-se sobretudo no currículo, nas suas
viver num mundo com menos desigualdade possíveis tipologias e no papel das mesmas,
e discriminação do que as gerações que as ao trazer para o cerne das aprendizagens
antecederam, sendo que eles e elas serão efetuadas por discentes assuntos ligados às
indiscutivelmente os/as catalisadores e os/as problemáticas de género, legitimados por
protagonistas por excelência dessas mudanças. conteúdos presentes, velados e ausentes dos
programas das diferentes disciplinas. O capítulo
Aos mais variados níveis, a Escola transmite e seguinte deste Guião é dedicado à relação
reproduz os modelos de relações de género entre género e conhecimento, pretendendo-se
veiculados nas sociedade onde se insere e, refletir em torno de como alunas e alunos se
sendo estes continuamente marcados por apropriam, ou não, do que ouvem e veem, dos
relações de discriminação e de dominação das modos como interpretam as narrativas a que
mulheres, não basta abolir as discriminações estão sujeitos/as e as mensagens resultantes
formais, garantindo uma igualdade de das experiências por si vividas. Importa, neste
oportunidades, para que o sistema educativo enquadramento, ensinar a usar, de forma
seja portador de uma igualdade de resultados, problematizadora, as lentes de género para
ou de uma igualdade “de facto” para raparigas e observarem de modo crítico a realidade de
rapazes e, mais tarde, para mulheres e homens. mulheres e de homens, que é também a sua.

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088 CIG
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