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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

NÚCLEO DE ALTOS ESTUDOS AMAZÔNICOS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO
SUSTENTAVEL DO TROPICO ÚMIDO

LUCINALDO DA SILVA BLANDTT

DA RESILIÊNCIA À SUSTENTABILIDADE: análise do


sistema ecológico–social em comunidades rurais da
Amazônia brasileira.

Belém
2009
LUCINALDO DA SILVA BLANDTT

DA RESILIÊNCIA À SUSTENTABILIDADE: análise do sistema


ecológico–social em comunidades rurais da Amazônia brasileira.

Tese apresentada para obtenção do título de


doutor em Ciência Sócio-ambiental, Núcleo de
Altos Estudos Amazônicos, Universidade
Federal do Pará, Orientador: Prof. Dr. Armin
Mathis.

Belém
2009

1
____________________________________________________________
BLANDTT, Lucinaldo da Silva
Da resiliência à sustentabilidade: análise do sistema ecológico-social em
comunidades rurais da Amazônia brasileira / Lucinaldo da Silva Blandtt;
Orientador Armin Mathis. – 2009.

319 f. ; il. ; 29 cm
Inclui bibliografias

Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Pará, Núcleo de Altos


Estudos Amazônicos, Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento
Sustentável do Trópico Úmido, Belém, 2009.

1. Ecologia social – Amazônia. 2. Desenvolvimento Sustentável -


Amazônia. 3. Comunidades agrícolas – Aspectos sociais - Amazônia. 4.
Homem – Influência sobre a natureza – Amazônia. 5. Sistemas sociais. 6.
Sistemas ecológicos. I. Mathis, Armin, orientador. II. Título.

CDD 21. ed. 301.31077


_______________________________________________________________

2
LUCINALDO DA SILVA BLANDTT

DA RESILIÊNCIA À SUSTENTABILIDADE: análise do sistema


ecológico–social em comunidades rurais da Amazônia brasileira.

Tese apresentada para obtenção do título de


doutor em Ciência Sócio-ambiental, Núcleo de
Altos Estudos Amazônicos, Universidade
Federal do Pará. Orientador: Prof. Dr. Armin
Mathis.

Banca Examinadora:

_______________________________
Prof. Dr. . Armin Mathis – Orientador
Universidade Federal do Pará – Núcleo de Altos Estudos Amazônicos – NAEA
Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido – PDTU

________________________________
Prof. Dra. Heliana Baia Evelin Soria – Examinador Externo
Universidade Federal do Pará – Instituto de Ciências Sociais Aplicadas – ICSA
Programa de Pós-Graduação em Serviço Social - PPSS

________________________________
Prof. Dr. Thomas Peter Hurtienne - Examinador Interno
Universidade Federal do Pará – Núcleo de Altos Estudos Amazônicos – NAEA
Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido – PDTU

________________________________
Prof. Dr. Orlando Nobre Bezerra de Souza – Examinador Externo
Universidade Federal do Pará – Instituto de Ciências da Educação – ICED
Programa de Pós-Graduação em Educação - PPGED

________________________________
Prof. Dr. Nírvia Ravena de Souza – Examinador Interno
Universidade Federal do Pará – Núcleo de Altos Estudos Amazônicos – NAEA
Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido – PDTU

Resultado: APROVADO.

Belém, PA, 22 de Dezembro de 2009.

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Às comunidades amazônicas, em especial a
Livramento, Tamatateua e São Miguel do Pacajá.

Aos meus filhos Mateus, Sofia, Pedro e Luisa.

À memória de NORMA SUELI RIBEIRO COSTA,


uma mulher adiante do seu tempo, uma amiga inesquecível.

4
AGRADECIMENTOS

Ao doutor Armin Mathis, por possibilitar a realização desse trabalho através


de fundamentais orientações, que definiram os rumos da pesquisa.

À doutora Marion Glaser, por acreditar no meu potencial e investir no meu


trabalho, sendo influenciadora direta na construção dessa tese, enquanto minha
co-orientadora.

A minha esposa, Maria Silva, uma mulher extraordinária que no dia-a-dia


me incentivou e fortaleceu diante de todos os desafios para construir essa tese.

Aos amigos Daniel Estumano (Engenheiro Florestal, mestre em Ciências


Florestais), Josinaldo dos Reis (Biólogo, mestre em Biologia Ambiental), a Rosete
Oliveira (Antropóloga, mestre em Ecossistemas Costeiros e Estuarinos), que junto
com o Pedagogo, mestre em Agricultura Familiar e Desenvolvimento Sustentável
(Lucinaldo Blandtt), discutimos minuciosamente a interdisciplinaridade e a
transdisciplinaridade na versão sistêmica ênfase da tese, sem seus
conhecimentos seria muito mais difícil alcançar esse resultado.

À minha amiga Patrícia Sobrinho, uma jovem que eu vi crescer e hoje é


graduada em Letras com Habilitação em Língua Portuguesa, o conteúdo dessa
tese se fortaleceu ainda mais com a sua revisão ortográfica e gramatical.

Ao meu amigo Fábio Marques, técnico em computação, e todas as suas


contribuições para cartografar e georeferenciar os locais de estudo, isso
engrandece o trabalho.

A minha mãe Francisca Blandtt, um exemplo de mulher, que mais me


encorajou junto com os meus irmãos Lúcia, Lucidio, Lucivânia, Luciclaúdio,
Antônio Carlos, Luis Filho e Leila, para não desfavorecer diante dos desafios de

5
iniciar, continuar e concluir essa tese, um sonho idealizado pelo meu pai Luis
Blandtt (in memória).

CNPq, instituição financiadora desse trabalho com bolsa de doutorado.

A toda a equipe NAEA, professores, coordenadores, servidores e alunos,


que muito se dedicaram e incentivaram para a construção dessa tese.

A todos os membros do RESILIO - Grupo de Estudos e Pesquisas de


Resiliência na Amazônia, que juntos dialogamos de cunho interdisciplinar a teoria-
metodológica resiliência e suas vertentes nas ciências e no cotidiano humano.

Às empresas Mil Madeireira, Precious Woods Belém e Ecoflorestal e à


Universidade Federal do Pará, Campus de Bragança (e o programa MADAM em
seu encerramento), que possibilitaram meu deslocamento (Belém-Tucuruí,
Tucuruí-comunidade, Belém-Bragança-comunidade, Belém-Manaus e Manaus-
Itacoatiara-Silves-comunidade), hospedagem (Tucuruí, Manaus e Itacoatiara),
alimentação (comunidades, Itacoatiara, Silves, Manaus, Tucuruí), apoio logístico
de computador portátil com impressão, GPS e tratamento médico, diante dos
casos de malária que eu mesmo fui acometido no período de pesquisa de campo;
não dava para realizar essas observações de convivência tão distante entre as
comunidades de Livramento (Amazônia Central), Tamatateua (Amazônia
Litorânea) e São Miguel (Amazônia Centro-Estuarina), sem esse apoio, pois a
Amazônia é um gigante continental.

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Amazônia dos povos teus [...]

[...] Amazônia… Amazônia… sem lei, sem testemunhas…


e essa oficial imprevidência…
Nada que te ampare…
nada...

Talvez um vento reverso


uma chuva perene que apague essa queimada.
Talvez um decreto impossível
uma lei implacável
a mão de Deus, quem sabe…
a espada da justiça pra sangrar os que te sangram…
algo que feche essa ferida
algo que estanque essa agonia.

Quem sabe, o refluxo imperdoável do teu próprio martírio…


uma malária cruel…
algo que empeste essa ganância…
antes… bem antes
que essa segunda geração de abutres choque também os seus filhotes.

[...] Deixaste ali teu heróico testemunho


teu seringal sagrado
teu rosto solidário.
Contigo… caiu o tronco ensangüentado…
Tua alma…teu nome…Chico Mendes,
sobrevivem em deslumbrante hiléia,
na invisível bandeira das espécies
e na memória da pátria agradecida

(poema do livro CANTARES, Manoel de Andrade).

7
RESUMO

Esta tese utiliza a autopoiese, enquanto método de observação social, para


descrever a comunicação a partir da observação de determinado objeto pela
interação de seus elementos, por intermédio da análise transdisciplinaria, a fim de
construir um arcabouço científico embasado nas relações entre os elementos e as
funções exercidas na comunicação dos sistemas ecológico-social. Isso possibilita
descrever a relação comunicativa dos sistemas e seus direitos fundamentais, bem
como os ciclos adaptativos do sistema aberto, o qual representa o panarchy (ou
panarquia traduzido para a língua portuguesa), uma forma de interpretar a relação
e interdependência da sociedade com o meio ambiente entre os diversos ciclos
em diferentes escalas, que fornecem a integração da dinâmica das
transformações por meio do espaço, do local para o regional e global, ao longo do
tempo e também favorece a integração das ciências para a melhor compreensão
dos sistemas de processos ecológicos, econômicos e institucionais conectados. O
panarchy pode ser identificado em três variáveis, que moldam os ciclos
adaptativos e o estado futuro do sistema: potencial, a capacidade disponível de
um sistema para a mudança, a qual está relacionada com o número de opções de
desenvolvimento disponíveis; conectividade, o grau de ligação entre as variáveis e
os processos que controlam o sistema, propriedade relacionada à capacidade do
sistema controlar o seu próprio destino aliada a sua sensibilidade às perturbações;
a resiliência, um processo de desenvolvimento dinâmico, que reflete evidência
de adaptação positiva, apesar de significativas condições de vida adversas. A
resiliência pode ser um caminho para a sustentabilidade, enquanto resultado de
um sistema ecológico-social auto-organizado diante das adversidades,
choques, criação e surpresa, que favorece positivo o desenvolvimento local.
Essa teoria foi aplicada na comparação com a realidade das comunidades
rurais e ecossistemas da Amazônia brasileira: comunidade de Tamatateua e
ecossistema de manguezal, município de Bragança, Pará, costa litorânea da
Amazônia, comunidade de Livramento e ecossistema da várzea, município de
Silves, Amazonas, Amazônia Central, e na comunidade de São Miguel Arcanjo
das Cachoeiras do Pacajá, município de Portel, Pará, Amazônia Oriental-
estuarina.

Palavras chave: Resiliência. Sistema ecológico-social. Desenvolvimento


sustentável.

8
ABSTRACT

This thesis uses the autopoiesis as a method of social observation, to


describe the communication from the observation of a given object by the
interaction of its elements, throug analysis transdisciplinary, allowing thus the
construction of a scientific framework based on relationships between elements
and the functions performed in the communication of social-ecological systems,
thus enabling to describe the relationship of communication systems and their
fundamental rights, and the cycles of adaptive open system, which represents the
panarchy, a way of interpreting the relationship and interdependence of society
with the environment among the different cycles at different scales, providing the
integration of the dynamics of change through space, from local to regional and to
global, and over time and also for integration across the sciences to better
understand the processes of ecological systems, economic institutions and
connected. The panarchy can be identified in three variables that shape the
adaptive cycle and the future state of the system: potential, the capacity of a
system for change, which is related to the number of options available for
development, connectivity, degree of connection between variables and processes
that control the system, property related to the ability of the system control your
own destiny and their sensitivity to disturbance, and resilience as a process of
dynamic development that reflects evidence of positive adaptation despite
significant adverse living conditions. The resilience can be a path to sustainability,
as a result of a social-ecological system self-organized in the face of adversity,
shock, surprise and creation, promoting a positive local development. This theory
was applied in comparison with the reality of rural communities and ecosystems of
the Brazilian Amazon: community of Tamatateua and mangrove ecosystem
(Bragança, Pará), the Amazon coastal coast, Livramento and community of the
floodplain ecosystem (Silves, Amazonas), Central Amazon, and the community of
San Miguel Arcajo das Cachoeiras do Pacajá (Portel, Pará), Amazon eastern
estuary.

Keywords: Resilience. Social-ecological system. Sustainable development.

9
RESUMEN

Esta tesis utiliza la autopoiesis como un método de observación social, para


describir la comunicación de la observación de un objeto dado por la interacción
de sus elementos, a través de análisis transdisciplinario, permitiendo así la
construcción de un marco científico basado en las relaciones entre elementos y
las funciones desempeñadas en la comunicación de los sistemas socio-
ecológicos, permitiendo así que para describir la relación de los sistemas de
comunicación y sus derechos fundamentales, y los ciclos de la adaptación de
sistema abierto, lo que representa el panarchy, una forma de interpretación de la
relación y la interdependencia de la sociedad con el medio ambiente entre los
diferentes ciclos en diferentes escalas, proporcionando la integración de la
dinámica del cambio a través del espacio, desde el local hasta el regional y
mundial, en el tiempo y también para la integración de la ciencia a través de una
mejor comprensión de los sistemas de los procesos ecológicos, económicos e
institucionales relacionados. El panarchy se pueden identificar en tres variables
que conforman el ciclo de adaptación y el estado futuro del sistema: el potencial,
la capacidad de un sistema de cambio, que se relaciona con el número de
opciones disponibles para el desarrollo, la conectividad, el grado de relación entre
las variables y procesos que controlan el sistema, los bienes relacionados con la
capacidad del sistema de control de su propio destino y su sensibilidad a las
perturbaciones, y la resiliencia como un proceso de desarrollo dinámico que refleja
la prueba de adaptación positiva a pesar de adversos significativos las
condiciones de vida. La resiliencia puede ser un camino hacia la sostenibilidad,
como resultado de un sistema social ecologico libre organizado en la cara de la
adversidad, los choques, sorpresa y la creación, la promoción de un desarrollo
local. Esta teoría se aplicó en comparación con la realidad de las comunidades
rurales y en los ecosistemas de la Amazon brasileña: Tamatateua de la
comunidad y los ecosistemas de manglar (Bragança, Pará), Amazon costa,
Livramento y la comunidad de la planicie de inundación del ecosistema (Silves,
Amazonas), Central Amazon, y la comunidad de São Miguel Arcanjo das
Cachoeiras do Pacajá (Portel, Pará), al este de la Amazon estuarios.

Palabras clave: Resiliencia. Sistema social ecológico. El desarrollo sostenible.

10
LISTA DE MAPAS

Mapa 1 - Área de pesquisa, 2005 33


Mapa 2 - Sistema ecológico de manguezal e sistema social de 35
Tamatateua
Mapa 3 - Sistema ecológico da várzea e sistema social de Livramento 37
Mapa 4 - Sistema ecológico floresta de terra firme e sistema social S. 39
Miguel
Mapa 5 - Costa Atlântica do Pará, município de Bragança 104
Mapa 6 - Mapa de Tamatateua, produzido na UAS/MPEG 116
Mapa 7 - Município de Silves, Amazonas 159
Mapa 8 - Área de manejo florestal e a localização das comunidades 178
Mapa 9 - Acordos de Pesca do lago Anebá, Silves, Amazonas 201
Mapa 10 - Município de Portel 210
Mapa 11 - Área de manejo florestal da PWB e a comunidade de São 229
Miguel
Mapa 12 - Área de manejo florestal, as sobreposições com os PDS’s 252
Liberdade I e II e a área de ocupação da comunidade de São
Miguel

11
LISTA DE ORGANOGRAMAS

Organograma 1 - Etapas da resiliência no sistema ecológico-social 29


Organograma 2 - Mesclagem das teorias dessa tese 43
Organograma 3 - Ciclo adaptativo desenhado por Gunderson e Holling 58
Organograma 4 - Circuito de Comercialização do caranguejo 126
Organograma 5 - Escalas no SES manguezal-Tamatateua 137
Organograma 6 - SES manguezal-Tamatateua 155
Organograma 7 - Circuito de Comercialização do Tucumã 172
Organograma 8 - Circuito de Comercialização Farinha de Mandioca 175
Organograma 9 - Escalas no SES várzea-Livramento 184
Organograma 10 - SES várzea-Livramento 206
Organograma 11 - Circuito de Comercialização do Açaí 224
Organograma 12 - Circuito de Comercialização da Farinha de Mandioca 227
Organograma 13 - Escalas no SES terra firme-São Miguel 237
Organograma 14 - SES terra firme-São Miguel 257

12
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Crescimento Demográfico de Tamatateua, 1997 a 2008 111


Gráfico 2 - Representação do Ciclo Adaptativo do SES manguezal- 142
Tamatateua, 2004
Gráfico 3 - Representação do Ciclo Adaptativo do SES manguezal- 145
Tamatateua, 2006
Gráfico 4 - Representação do Ciclo Adaptativo do SES manguezal- 147
Tamatateua, 2008
Gráfico 5 - Demografia da comunidade de Livramento, 2008 166
Gráfico 6 - Representação do Ciclo Adaptativo SES várzea-Livramento, 190
2004
Gráfico 7 - Representação do Ciclo Adaptativo SES várzea-Livramento, 193
2006
Gráfico 8 - Representação do Ciclo Adaptativo SES várzea-Livramento, 197
2008
Gráfico 9 - Atendimento dos ribeirinhos com malária comparando 218
2005/2006
Gráfico 10 - Representação do Ciclo Adaptativo do SES terra firme-São 244
Miguel, 2005
Gráfico 11 - Representação do Ciclo Adaptativo do SES terra firme-São 248
Miguel, 2007
Gráfico 12 - Representação do Ciclo Adaptativo do SES terra firme-São 250
Miguel, 2009

13
LISTA DE FOTOGRAFIA

Fotografia 1 - Manguezal de Bragança 34


Fotografia 2 - Lago Anebá e área da várzea 36
Fotografia 3 - Área florestal e o rio Pacajá 38
Fotografia 4 - Furo Manitiua e a ocupação da comunidade de 114
Tamatateua, porto da Atalaia
Fotografia 5 - Reunião de pesquisa participativa em Tamatateua 140
Fotografia 6 - Caranguejo de Tamatateua 144
Fotografia 7 - Chuva em Livramento 161
Fotografia 8 - Encontro dos igarapés Mirituba e Gaita e a ocupação de 169
Livramento
Fotografia 9 - Lago Anebá, Silves – AM 200
Fotografia 10 - Vista da comunidade de São Miguel 212
Fotografia 11 - Encontro dos rios Pacajá e Cururuí e ocupação da 221
comunidade de São Miguel
Fotografia 12 - Casa Familiar Rural construída no PDC em São Miguel 230
Fotografia 13 - Polícia Ambiental se organizando para a desapropriação 234
da área florestal invadida por Sem-terra
Fotografia 14 - Reunião de pesquisa na comunidade de São Miguel 242

14
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Vantagens e desvantagens de uma mudança no sistema de 119


cultivo
Quadro 2 - Conjunto de objetivos, critérios e indicadores (construção 141
coletiva) do sistema ecológico-social manguezal-Tamatateua,
2004.
Quadro 3 - Disposição das Atividades produtivas em Livramento, 2003 176
Quadro 4 - Conjunto de objetivos, critérios e indicadores (construção 188
coletiva) do sistema ecológico-social várzea-Livramento, 2004
Quadro 5 - Conjunto de objetivos, critérios e indicadores (construção 240
coletiva) do sistema ecológico-social terra firme-São Miguel,
2005

15
LISTA DE SIGLAS

AM Amazonas
AMF Área de Manejo Florestal
AR Aliança da Resiliência
ARCAFAR Associação Regional das Casas Familiares Rurais
ART Associação Rural de Tamatateua
ASPAC Associação de Silves para Proteção Ambiental e Cultural
ASSUREMACATU Associação dos Usuários da Reserva Extrativista Marinha Caeté-
Taperaçú
AVIVE Associação Vida Verde da Amazônia
CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CEAM Companhia Energética do Amazonas
CEFET Centro Federal de Educação Tecnológica
CFR Casa Familiar Rural
CH4 Metano
CO2 Gás Carbônico
CNBB Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil
CNPT Centro Nacional de Populações Tradicionais
CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico
CNS Conselho Nacional dos Seringueiros
CPP Centro Pastoral Popular
CPRM Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais
CPT Comissão Pastoral da Terra
CUT Central Única dos Trabalhadores
DDA Doenças Diarréicas Agudas
DFID Department For International Development
DVE Departamento de Vigilância Epidemiológica
EJA Educação de Jovens e Adultos
EMATER Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural
EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
FANEP Fundação Sócio-ambiental do Nordeste Paraense
FETAGRI Federação dos Trabalhadores da Agricultura
FGV Fundação Getulio Vargas
FETRAF Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar
FIOCRUZ Fundação Osvaldo Cruz
FNDF Fundo Nacional de Desenvolvimento Florestal
FNMA Fundo Nacional de Meio Ambiente
FNO Fundo Constitucional do Norte
FORSAC Projeto de Fortalecimento Sócio-ambiental das Comunidades
FSC Forest Stewardship Council
FUNAI Fundação Nacional do Índio
FUNASA Fundação Nacional da Saúde
GCP Global Canopy Programme
GPS Global Positioning System
GTZ Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit

16
H2O Hidrogênio e Oxigênio (Água)
IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais
Renováveis
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ICCO International Cocoa Organization
ICM Instituto Chico Mendes
ICMS Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias
e sobre Prestações de Serviços
IDS Índice de Desenvolvimento Social
IEC Instituto Evandro Chagas
IECLB Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil
IMAFLORA Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola
IMAZON Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia
INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
INPA Instituto Nacional de Pesquisas na Amazônia
INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
ITEAM Instituto de Terras do Amazonas
KfW Kreditanstalt für Wiederaufbau
Km Quilômetros
KW Kilowatt
MADAM Programa Manejo e Dinâmica de Manguezal
MERCOSUL Mercado Comum do Sul
MMA Ministério do Meio Ambiente
MOVMARË Movimento das Mulheres da Maré
MPEG Museu Paraense Emilio Goeldi
MPF Ministério Público Federal
MST Movimento Sem Terra
NAEA Núcleo de Altos Estudos Amazônicos
NEAF Núcleo de Estudos Integrado de Agricultura Familiar
O2 Oxigênio (Ar)
ONG Organização Não Governamental
ONU Organização das Nações Unidas
PA Pará
PA Projeto de Assentamento
PA Posto Ambulatorial
PAC Programa de Aceleração do Crescimento
PAF Plano de Assentamento Florestal
PD/A Projeto Demonstrativo Amazônia
PDC Plano de Desenvolvimento Comunitário do Pacajá
PDS Plano de Assentamento para Desenvolvimento Sustentável
PFNM 2 MIL Projeto Florestal Não-Madeireiro na Fazenda 2 Mil
PIP Produto Interno Bruto
PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
PPG7 Programa Piloto para Proteção de Florestas Tropicais
PRDA Plano Regional de Desenvolvimento da Amazônia
PRORENDA Desenvolvimento da Pequena Produção Rural e Implantação do
Centro de Capacitação
PROVARZEA Projeto de Manejo dos Recursos Naturais da Várzea
PWB Precious Woods Belém

17
RA Resilience Alliance
RADAM Projeto de Rastreamento por Imagem Digitais da Amazônia
REDEMA Restauração dos Manguezais Degradados
RESEX Reserva Extrativista
SEINF Secretaria do Estado do Amazonas de Infra-estrutura
SEMTA Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a
Amazônia
SEPLAN Secretaria Executiva de Planejamento do Estado do Pará
SES Sistema Ecológico-Social
SESPA Secretaria Executiva de Saúde do Estado do Pará
SFB Serviço Florestal Brasileiro
SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservação
SPI Serviço de Proteção do Índio
SUDAM Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia
SUFRAMA Superintendência da Zona Franca de Manaus
STTAF Sindicado dos Trabalhadores e Trabalhadores da Agricultura
Familiar
STR Sindicato dos Trabalhadores Rurais
STTR Sindicado dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais
TAC Termo de Ajuste de Conduta
TGS Teoria Geral dos Sistemas
UAS Unidade de Análises Espaciais
UCs Unidades de Conservação
UEA Universidade do Estado do Amazonas
UFAM Universidade Federal do Amazonas
UFPA Universidade Federal do Pará
UHE Usinas Hidroelétricas
USA United States of America
UTH Unidade Trabalho Homem
WWF World Wildlife Fund
ZFM Zona Franca de Manaus
ZFV programa Zona Franca Verde

18
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 21

2 A CONSISTÊNCIA DO REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO 41

2.1. INTRODUÇÃO A MESCLAGEM TEÓRICA DESSA TESE 41

2.2. A TEORIA GERAL DE SISTEMAS E OS PARADIGMAS 44


CIENTÍFICOS

2.3. A AUTOPOIESE: UMA INTERAÇÃO BIOLÓGICA E SOCIAL 49

2.4. OS CICLOS ADAPTATIVOS DO SISTEMA ECOLÓGICO-SOCIAL E


A GESTÃO DA RESILIÊNCIA 55

2.5. AS CIÊNCIAS E SUAS CONCEPÇÕES DA RESILIÊNCIA: ORIGEM


E EVOLUÇÃO HISTÓRICA 69

3 A SUSTENTABILIDADE E A AMAZÔNIA 85

3.1. CONSTRUÇÃO DA SUSTENTABILIDADE NA AMAZÔNIA


BRASILEIRA 85

3.2. COMUNIDADE AMAZÔNICA: UMA CONSTRUÇÃO HISTÓRICO-


SOCIAL 92

4 DA RESILIÊNCIA À SUSTENTABILIDADE: ANALISE DO SISTEMA


ECOLÓGICO–SOCIAL EM COMUNIDADES RURAIS DA AMAZÔNIA
BRASILEIRA 103

4.1. O SISTEMA ECOLÓGICO-SOCIAL: ECOSSISTEMA DE


MANGUEZAL E A COMUNIDADE DE TAMATATEUA E A GESTÃO DA 104
RESILIÊNCIA

4.2. O SISTEMA ECOLÓGICO-SOCIAL: ECOSSISTEMA DA VÁRZEA E


A COMUNIDADE DE LIVRAMENTO E A GESTÃO DA RESILIÊNCIA 159

4.3. O SISTEMA ECOLÓGICO-SOCIAL: ECOSSISTEMA DE


FLORESTA DE TERRA FIRME E A COMUNIDADE DE SÃO MIGUEL
ARCANJO DO PACAJÁ E A GESTÃO DA RESILIÊNCIA 209

19
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 263

REFERENCIAIS 270

GLOSSÁRIO 297

ANEXO 304

20
1 INTRODUÇÃO

A presente investigação de doutorado com a temática: "Da resiliência à


sustentabilidade: análise do sistema ecológico–social em comunidades rurais
da Amazônia brasileira", tem a intenção de investigar os conhecimentos
científicos do campo sócio-ambiental para fortalecer discussões relacionadas à
organização social de comunidades rurais na Amazônia brasileira.
A finalidade dessa tese de doutorado é estudar a sustentabilidade,
relacionando-a a ciência social e a ciência ambiental. Um dos caminhos
propostos para esse estudo é a resiliência, um condicionante de adequação ao
ambiente, considerando que o ser humano é parte ambiental, evidenciando um
sistema ambiental e seus talhos entre meios naturais e representatividade da
vida (racional, irracional e vegetativa). A partir disso, a teoria sistêmica é um dos
fundamentos científicos dessa investigação.
A relevância social dessa tese de doutorado, que tem ênfase na
Amazônia, especialmente em comunidades rurais e suas dinâmicas
socioeconômicas e culturais, estar em investigar a resiliência como um caminho
possível para a sustentabilidade na praxe de fatores sócio-ambientais que a
envolve. Atualmente, o discurso da sustentabilidade é comum e, teoricamente,
complexo no mundo político e no mundo das ciências, o que o reprime
inúmeras vezes as discussões e/ou as idéias, que são fundamentais, dessa
forma se obscurece os caminhos que antecedem à sustentabilidade, portanto
essa tese de doutorado tem uma busca fundamental para a sociedade:
investigar aos caminhos da resiliência à sustentabilidade, como um fundamento
de importância social voltado para estudos de implicações e elaboração de
políticas públicas e proatividades dos movimentos sócio-ambiental e
empresarial.
A relevância científica dessa investigação de doutorado está relacionada
diretamente a discussão teórico-metodológica de resiliência na história
interdisciplinária das ciências: da física e engenharias, às ciências da saúde e
biológicas e recentemente às ciências humanas e sociais. A pauta de interesse
nessa tese doutorado é a concepção da resiliência nas ciências humanas e
sociais, como um possível caminho metodológico para a investigação da

21
sustentabilidade. A metodologia dessa tese tem como base a propriedade dos
sistemas dinâmicos complexos, como o sistema ecológico-social, donde a
proposta será uma análise referencial do sistema, baseada no pressuposto que
as partes e o todo de um sistema se conectam e interagem continuamente.
Com base na literatura pesquisada, a análise do sistema ecológico-social
partirá da identificação do nível de complexidade do sistema, localiza-o numa
escala espaço-temporal, construindo uma arquitetura para o sistema, e
finalmente, definindo a dinâmica de seu funcionamento. Ainda, a relevância
científica dessa tese, se refere à inovação de capital de inteligência desta teoria
aplicada na Amazônia, pois com essa explicação ainda não foi investido
analisar a Amazônia, buscando a compreensão sistêmica ecologia-social e
suas adaptações diante de choques sócio-ambientais, sociais ou ambientais,
em especial em suas populações tradicionais: comunidades amazônicas.
A resiliência tem variadas definições científicas, inicialmente, nessa
investigação de doutorado, será adotada a definição de Cicchetti (2003), "como
um processo de desenvolvimento dinâmico que reflete evidência de adaptação
positiva, apesar de significativas condições de vida adversas". A discussão
sobre resiliência nessa tese remete diretamente a outros conceitos a ela
associados e relacionados ao desenvolvimento, para tanto categorias
conceituais como sustentabilidade, teoria sistêmica, pobreza e vulnerabilidade,
serão mencionados na complexidade da abrangência que o conceito requer.
Há muitos desafios para essa tarefa e por essa razão é necessário mencionar
que esta tese não tem a pretensão de esgotar a discussão da resiliência nos
caminhos da sustentabilidade, que pode ser desdobrada a partir deste
complexo e fascinante fenômeno.
O conceito de resiliência é extensamente usado em ecologia, mas é
incumbente seu significado e medida em várias outras áreas científicas. Esta
tese se propõe a discutir a importância deste debate e aprender a explorar
várias outras concepções de resiliência, em especial a resiliência na ciência
social, numa visão sistêmica entre variação e relação direta do sistema social e
do sistema ecológico, ambos como uma analogia de como sociedades
trabalham e utilizam o conceito ecológico e os meios de explorar a relação
direta entre os fenômenos no sistema ecológico e social. E também como um

22
componente importante nas circunstâncias que os indivíduos e grupos sociais
se adaptam às mudanças ambientais. A resiliência do sistema ecológico-social
pode ser um conexo pela dependência em ecossistemas das comunidades e
vice-versa, e as suas atividades econômicas. Essa tese ilustra a discussão por
uma revisão das idéias emergindo a interface de ecologia, economia ecológica
e sociologia rural.
Além dessa análise, buscamos também considerar se instituições estão
relacionadas às mudanças no sistema ecológico-social como interfaces
positivas e ou negativas da resiliência. São reconhecidas instituições, neste
caso, no envolvimento endógeno e exógeno no sistema, por representações da
sociedade civil organizada e governamental. Esta definição é importante para a
análise das estruturas institucionais que criam incentivos para sustentabilidade
ou a insustentabilidade no sistema ecológico e social. Conseqüentemente as
instituições são um componente central dessa análise.
A possível perda de resiliência no sistema ecológico-social é associada
com os impactos negativos na sustentabilidade e no contexto das instituições
de relações com o sistema ecológico-social. Há uma história longa para
examinar a resiliência nos sistemas ecológicos e a persistência em face de
intervenção humana. A evidência na história de uso humano de ecossistemas
sugestiona um declínio inevitável de resiliência do ecossistema com o avanço
de tecnologias e assim, as reduções da diversidade dos sistemas ecológicos
(HOLLING; SANDERSON, 1996). Contudo o conceito de resiliência não foi
trazido efetivamente pela ciência social para examinar o significado do poder de
recuperação de uma comunidade ou uma sociedade como um todo. Daqui,
surgem várias interrogações que essa tese a busca esclarecer: a resiliência é
uma teoria-metodológica pertinente para descrever comunidades? Há um
vínculo entre resiliência social e resiliência ecológica? E, instituições exibem
resiliência? Além destes assuntos, o conceito de resiliência é relacionado
claramente a outras configurações de relações de sociedade e ambiente como
vulnerabilidade, alguns dos quais têm uma dimensão de espaço explícita a
estes processos sociais.
Análise de vulnerabilidade como um fenômeno social também tem uma
tradição longa dentro da geografia cultural e aos questionamentos críticos de

23
segurança, de alimentação e escassez de comida (WATTS; BOHLE, 1993),
que é relacionado ao estudo de criticidade, um conceito aplicado em diferentes
espaços geográficos, (KASPERSON et al., 1996). Vulnerabilidade social é a
exposição de grupos de pessoas ou indivíduos para acentuado resultado dos
impactos de mudança ambiental. Acentuado, na percepção social, a cerca de
rescisão de grupos ou indivíduos por adaptação forçada (endógena e exógena)
do ambiente físico variável.
Para os ecossistemas naturais, pode acontecer vulnerabilidade quando
são acentuadas indivíduos ou comunidades de espécie, e onde fatos
ecológicos de catástrofes são potencialmente de mudanças irreversíveis no
ambiente. A resiliência aumenta a capacidade para contender a tensão e é
conseqüentemente uma oposição lançada para vulnerabilidade.
Há casos em que os impactos sócio-ambientais ultrapassam a
vulnerabilidade, atingindo uma crise ambiental, onde o sistema ecológico social
é impedido de possíveis capacidades de adaptações e transformações, assim,
interferindo direto na funcionalidade do sistema, impedindo o poder de
recuperação (KASPERSON et al., 1995). Casos de crise ambiental são
verificados em catástrofes ambientais que desequilibram o sistema ecológico-
social. A presente tese se propõe a estudar o campo do sistema ecológico-
social das comunidades rurais na Amazônia brasileira, uma área com intensa
vulnerabilidade social, contudo onde não ocorrem crises ambientais
desestruturadoras do sistema ecológico social.
Há uma necessidade crítica que tal conceito de resiliência social seja
compassivo no contexto institucional, contudo pode ser observado em uma
maneira significante. A resiliência social tem dimensões econômicas,
geográficas e sociais e conseqüentemente sua observação e avaliação requer
compreensão interdisciplinária e análise em vários níveis. Mas, é importante a
nota que, por causa de seu institucional contexto, a resiliência social é definida
ao nível de comunidade, sendo um fenômeno que pertence aos indivíduos.
Conseqüentemente é relacionada ao capital social de sociedades e
comunidades.
A relevância pessoal dessa proposta de tese de doutorado está ligada à
experiência de pesquisadores, com os quais tenho contato desde o ano de

24
1996, quando participei por 10 anos de um programa de cooperação científica
entre o Brasil e a Alemanha, conhecido como Mangrove Dynamics and
Management (MADAM), donde experiências de investigação semelhantes
foram abordadas e tive participação direta em toda a minha vida acadêmica
investigadora.
Diante disso, questionamos a realidade de contextos amazônicos em
áreas comunitárias rurais, onde se percebe a descrição dos desafios do
sistema ecológico-social para entender o norte dessa pesquisa: Como a
resistência se manifesta em sistemas ecológico-social do contexto de
comunidades amazônicas? Quais são as propriedades dos sistemas que os
tornam mais ou menos resistentes? Quais são os atributos do sistema
ecológico-social que podem lhes causar ganho ou perda da resiliência e sua
capacidade adaptativa? Como podemos medir resiliência nos contextos das
comunidades amazônicas? Como vamos recuperar resiliência e capacidade de
adaptação em sistemas que estão sendo erodidos, e aumentar a resiliência em
sistemas submetidos à mudança?
Essas interrogações são os pontos de partida para a lacuna
epistemológica levantada nesse estudo, e dará ênfase especial à tendência
qualitativa aplicada às ciências sociais e ambientais como pressuposto da
construção científica aqui discutida.
Esta tese de doutorado tem como objetivos: avaliar o conceito de
resiliência no sistema ecológico-social para explicar as mudanças não-lineares
na relação e co-existência do nível de sustentabilidade em comunidades
amazônicas; compreender a resiliência como um processo de aprendizagem
em comunidades com o sistema sem controlá-lo e/ou interferir mudanças de
forma indesejáveis; contribuir para uma melhor compreensão do referencial
teórico-metodológico da resiliência e da teoria sistêmica ecológico-social
aplicada às ciências sociais, ambientais e humanas; e analisar a existência da
resiliência em institutos envolvidos no sistema ecológico-social.
As hipóteses que seguem são um exercício de soluções resumidas para
as interrogações do problema dessa tese de doutorado. São três afirmações
categóricas, suposições que precisam ser investigadas para a confirmação
dessa solução provisória:

25
1. Considerando que a análise da resiliência no sistema ecologia-social é uma
metodologia interdisciplinar que facilita e capacita as mudanças na relação e
co-existência no sistema ecológico-social, explicando assim, o nível fragilizado
de sustentabilidade nas comunidades rurais amazônicas.
2. Revelando que a resiliência é um processo de aprendizagem da
comunidade, focado na pedagogia social como um sistema, não tem a ênfase
de controlar e/ou interferir mudanças de forma indesejáveis nas comunidades,
é uma tarefa de aprendizagem no sistema social de forma cognitiva.
3. Identificando a existência da resiliência em institutos envolvidos no sistema
ecológico-social, tem a função desbravadora negativa para o poder de
recuperação no sistema.
O procedimento metodológico dessa tese, se propõe na dimensão quali-
quantitativa baseada na observação participante para produzir a analise dos
sistemas ecológico-social, veja:
A técnica de pesquisa de coleta de dados (diários de campos, análise
quali-quantitivos, cronologia histórica, mapas de campo), desta tese foi a
observação participante do sistema ecológico-social, associando-se
diretamente aos objetivos de conhecimento e à intervenção em populações de
vulnerabilidade, já que o observador participou em interação constante em
todas as situações, espontâneas ou formais, acompanhando ações cotidianas
e habituais, as circunstâncias e o sentido destas ações, o que lhe possibilitou
as interrogações sobre as razões e significados de seus atos.
A coleta de dados da observação participante, foi realizada desde a
consulta a documentos, até as convivências nas comunidades, onde se efetuou
as moradas em famílias, com a aplicação de entrevistas semi-estruturadas e a
construção de diários de campo seguindo da compreensão do sistema
ecologia-social. Como a maioria dos métodos qualitativos o próprio pesquisador
foi um instrumento de pesquisa, constituindo-se um elo entre a realidade
observada face a face e a interpretação dos dados.
A análise dos dados foi de maneira indutiva, num primeiro momento
seguindo as etapas descritas por Minayo (1998), “buscar a partir do próprio
material coletado a descoberta da pesquisa, administrando provas,
comprovando-as, refutando-as, ou levantando novas provas; ampliando os

26
contextos culturais e ultrapassando o nível de mensagens”. As categorias pré-
estabelecidas no quadro teórico do sistema ecologia-social e, após sucessivas
leituras de descrição da técnica de observação participativa e suas fases, foram
relacionados os dados na descrição do sistema, assim, gerando o produto
dessa tese.
A metodologia dessa tese foi de referência na análise para representar o
sistema ecológico-social, que teve a intenção de compreender o funcionamento
e representá-lo a partir das observações da sua dinâmica. Além de ser
empregada como instrumento de intervenção no comportamento exibido por
estes sistemas, por meio de desenvolvimento de métricas para a mensuração
de algumas etapas na análise. Destaca-se, também, que a análise do sistema
ecológico-social foi desenvolvida a partir da percepção de que a otimização das
partes emergiu da qualidade das interações entre elas (STERMAN, 1989).
Dessa forma, o propósito foi evidenciar o comportamento das interações no
sistema, considerando as partes diferentes e as conexões entre elas, usando
para tal o paradigma sistêmico. Inicialmente, foi apresentada a análise do
sistema ecológico-social, em seguida foram feitas discussões sobre sua
implementação, ao final das quais, foram mostradas as conclusões com a
intenção de mediar a resiliência do sistema ecológico-social.
Uma associação de institutos científicos referência aos estudos da
resiliência no sistema ecológico-social é a Aliança da Resiliência - AR
(Resilience Alliance - RA), um grupo de pesquisa multidisciplinar que explora a
complexa dinâmica de sistemas sócio-ecológicos (SES), a fim de descobrir
alicerces para a sustentabilidade (anexo).
A Aliança da Resiliência define a resiliência como a capacidade de um
sistema para absorver perturbações e reorganizarem-nas enquanto sujeitas a
alterações, a fim de ainda manter basicamente a mesma função, estrutura,
identidade, e feedbacks. Consideram o sistema ecológico-social como sistemas
complexos, sistemas integrados, em que os seres humanos fazem parte da
natureza (BERKES, F.; C. FOLKE, 1998).
A gestão da resiliência, segundo estudo da Aliança da Resiliência
(WALKER, B. et al., 2002), tem dois objetivos: evitar que o sistema passe por
configurações indesejáveis em face da política externa (stress e perturbação).

27
Isto pode incluir melhor resistência (reduzindo o montante de mudança no
sistema em resposta a um determinado montante de stress). Contudo, apesar
de aumentar a resistência e a quantidade de força externa necessária para
alterar o sistema no curto prazo, as políticas que tornam sistema ecológico-
social mais rígido têm freqüentemente redução na resiliência (Gunderson et al.,
1995, citado por WALKER, B. et al., 2002).
O resultado desejado da análise da resiliência é a ação que irá
compreender a sua redução, ou a sua intensificação para permitir uma maior
variedade de opções para a segurança dos recursos do sistema ecológico-
social; cultivar e preservar os elementos que permitam ao sistema se renovar e
reorganizar sua própria seqüência de mudança. Está capacidade de adaptação
reside nos aspectos da memória, da criatividade, inovação, flexibilidade e
diversidade ecológica concomitante as capacidades humanas no sistema
ecológico-social.
A presente tese utilizou o modelo apresentado por Walker (et al., 2002),
de gerenciamento do sistema ecológico-social através da resiliência, o qual
apresenta quatro etapas para análise, semelhante às metodologias e pesquisa
da Aliança da Resiliência em vários locais do mundo, e, em especial, em
sistema ecológico-social em áreas marinhas e sua co-evolução.
1ª Etapa: Resiliência de quê? (marco conceitual)
Desenvolvimento de um marco conceitual do sistema ecológico-social,
fortemente baseado nos interessados em insumos. Informações sobre as
questões de limites e principais intervenientes do sistema ecológico social. O
processo funcionou como um veículo para definir o sistema e usar o que é
conhecido para identificar as áreas de incerteza sobre a dinâmica do sistema.
Buscando, também, aquilo que não é possível afirmar - uma previsão de futuro
da gestão atual do sistema ecológico-social e suas incertezas.
O produto da etapa 1 é um modelo conceitual que foi o conhecimento do
sistema em termos de questões consideradas importantes para o sistema
ecológico-social. Esse produto forneceu uma compreensão heurística base
para o passo 2 (muito importante), e que definiu a "do que e para quê" parte a
análise da resiliência (CARPENTER et al., 2001), sendo claro e explícito sobre

28
os serviços ecossistêmicos e ou sociais (FILAS apud CARPENTER et al.,
2001).

2ª Etapa:
1ª Etapa:
Resiliência para
Resiliência de
quê? quê? (visões e
cenários)

Sistema Ecológico-Social

4ª Etapa: Gestão
3ª Etapa. Analise
com Resiliência
da Resiliência
(avaliações e
implicações)

Organograma 01. Etapas da resiliência no sistema ecológico-social


Fonte: Blandtt, 2007.

2ª Etapa: Resiliência para quê? (visões e cenários)


Examinar as perturbações externas e os processos de desenvolvimento
(políticas civil organizada, pública e privada interessados em proatividades)
para que as configurações desejáveis sejam resilientes. O objetivo foi
desenvolver um conjunto de possíveis cenário futuros que incluiu o resultado
das incontroláveis ambigüidades externas.
O termo cenário tem mais de um significado. Nessa tese, definimos um
cenário como uma plausível prospecção do futuro, a ser utilizado em
combinação com outros cenários para explorar a robustez de diversos modelos
e opções (WACK 1985a, VAN DER HEIJDEN, 1996, CARPENTER, 2002).

29
Estamos especialmente interessados na função de cenários na formulação de
respostas a eventos inesperados (WACK 1985a, b), e este é o modo de usá-los
aqui: como um meio de enfrentar as partes interessadas em possíveis
surpresas.
Com ou sem planejamento deliberado, os intervenientes no sistema
tentaram conduzir-lo junto a uma ou mais trajetórias. As visões sobre direções
preferenciais foram diferentes entre as partes interessadas e, a partir da própria
trajetória do sistema seguiu o resultado dessas interações. A primeira
prioridade na etapa 2, portanto, foi estabelecer um intervalo de possíveis
trajetórias; ou pelo menos um ajustamento das trajetórias: um mais
conservador e um voltado para o desenvolvimento ou crescimento de partes do
sistema. Estas visões foram construídas para cenários utilizados a fim de
analisar a resiliência do sistema ecológico-social. Os cenários devem
atravessar uma vasta gama de possíveis resultados (VAN DER HEIJDEN,
1996).
Os cenários foram desenvolvidos por considerar três tipos diferentes de
condutores do sistema ecológico-social: os choques externos e distúrbios
(físicos, sociais e econômicos), os sonhos, esperanças e receios que as
pessoas têm para o futuro, e um possível conjunto de políticas. Os cenários
criaram um quadro para descobrir caminhos e ações para conexão dos tipos
diversos que as pessoas preferem os mundos. As políticas são as regras que
orientam as trajetórias do sistema ecológico-social. Nota-se que as políticas
surgem em diversas formas e em muitos níveis. Referindo novamente para o
debate sobre ciclos adaptativos, algumas políticas irão influenciar a capacidade
adaptativa geral do sistema e outros irão controlar a dinâmica do sistema no
que diz respeito a determinado estado variável. O objetivo do próximo passo na
a abordagem é, portanto, desenvolver formas de analisar a dinâmica do
sistema ecológico-social no âmbito da gama das condições englobadas pelos
cenários, concentrando-se na resistência.

3ª Etapa. Análise da Resiliência.


Nas etapas 1ª e 2ª foram gerados dois conjuntos de informações:
questões importantes sobre o futuro do sistema ecológico-social que são

30
motivos de preocupação para os interessados, e as grandes incertezas sobre a
forma como o sistema irá responder a fatores de mudança. A 3ª etapa consistiu
em explorar as internações entre estes dois conjuntos através de uma
combinação de modelagem e não modelagem dos métodos. O objetivo foi
identificar as possíveis variáveis de condução e os processos no sistema que
regem a dinâmica dessas variáveis intervenientes (ecossistema e os bens e
serviços), procurando especialmente os efeitos limiares e outros não lineares.
O processo de descoberta foi necessariamente iterativo e começou com
discussões entre as partes interessadas, a política decisória, outros peritos
locais e os cientistas que visam examinar o modo como o sistema responde a
mudança no âmbito dos diversos cenários, a fim de identificar possíveis grupos
de interação das variáveis não lineares. De fato, estas discussões em si tiveram
um longo caminho para construir uma estratégia comum de compreensão das
vias resilientes. O entendimento foi avançado através do desenvolvimento de
uma série de modelos simples de dinâmica do sistema ecológico-social,
destacando a importância de variável que operam em diferentes escalas
temporais e incidem especialmente sobre a condução de variáveis não
linearizáveis. Os exercícios de análises com os modelos, usando os cenários
para definir valores do parâmetro (ou para introduzir ou redefinir parâmetros),
foram utilizados para explorar vias alternativas para o futuro e para identificar
atributos do sistema ecológico-social que afetam a resiliência. Protótipos
desses modelos são encontrados em Carpenter et al., (1999) e Janssen et al.,
(2000). Nessa tese não restringimos o processo a qualquer tipo particular de
modelos, neste contexto, é um modelo de qualquer representação (arte, escrita,
música, ou matemática, por exemplo) que permite os sistemas sociais
(comunidades), manipular ou compreender abstrações do sistema ecológico-
social (ROOT-BERNSTEIN, R.; ROOT-BERNSTEIN, M.,1999).
Uma característica importante incluída nesta modelagem e outros
exercícios foi o reflexivo comportamento das pessoas no que diz respeito à
utilização de ecossistemas. Estas discussões necessitaram incluir um enfoque
sobre os aspectos sociais da resiliência.
A definição da dinâmica para a arquitetura do sistema e o monitoramento
do funcionamento do sistema ecológico-social, foi possível a modelagem

31
identificar os ciclos adaptativos, que em resumo, significou identificar a possível
disponibilidade da resiliência do sistema, donde para tanto, foi necessário medi-
la diante dos eventos que a compõem.
4ª Etapa: Gestão com Resiliência (avaliações e implicações)
A etapa final envolveu uma avaliação das partes interessadas com todo
o processo e as implicações emergentes para a compreensão política e
gestacional. Um sucesso da análise da resiliência identificou os processos que
determinam os níveis críticos do sistema e a importância de controlar as
variáveis. Esse conjunto de processos conduziu a um correspondente conjunto
de ações que podem aumentar ou reduzir a resistência e, portanto, constituíram
a base para a gestão e a ação política, mostrando os caminhos da resiliência.
Nas expressões de controle, não houve tentativa de manter o sistema
em caminhos ótimos previsíveis. Pelo contrário, as políticas foram dirigidas a
um conjunto das regras (incentivos e desincentivos), que realçaram o sistema e
tem capacidade para reorganizar e se deslocar no interior da configuração de
alguns estados aceitáveis. Só através de uma compreensão entre os diferentes
grupos interessados nos processos e das suas implicações para o sistema,
teriam mudanças na política e na gestão. Não houve garantia de que,
obviamente, levando à compreensão sustentável, resultados serão alcançados,
quer devido às intratáveis questões ecológicas ou intratáveis questões sociais.
A análise da resiliência no sistema ecológico-social, assim, pode ser um
denominador dos caminhos da sustentabilidade, no sentido de como esses
caminhos atingem ou se distanciam da compreensão de um sistema ecológico-
social sustentável.

- Área de Estudo:
A área de estudo (mapa 1), foi definida a partir dos seguintes critérios:
a. Conhecimento secundário da denominação sociológica de comunidade
tradicional do local escolhido.
b. Comunidade tradicional, onde já tive contato e convivência por médio tempo,
e já ter realizado outros estudos acadêmicos, facilitando o contato para a
realização do campo de pesquisa.

32
c. Comunidade tradicional onde recebo apoio financeiro para a realização do
campo de pesquisa através de organismos interessados nessa tese em
discussão.
d. A escolha dessas áreas de estudos corresponde as comunidades e
ecossistemas dessemelhantes mais ambos representativos do sistema
ecológico-social da Amazônia, e em especial aos estudos de resiliência
diferentes dos estudos de casos da Aliança da Resiliência, donde não apenas
os choques e pressões da natureza em áreas marinhas (como terremotos,
inundações, tsunamis etc.), instigam a resiliência do sistema ecológico-social,
mais também as ações humanas (como incompetência do Estado, invasões
humanas em áreas florestais etc.), em outros ecossistemas.

Sistema Ecológico Várzea Sistema Ecológico Manguezal


Sistema Social Livramento Sistema Social Tamatateua

Sistema Ecológico Terra Firme


Sistema Social São Miguel
Mapa 1. Área de pesquisa.
Fonte: Embrapa, monitoramento por satélite e geocites, (2005).

As comunidades tradicionais são localizadas no Brasil, regiões Amazônicas


são: Nossa Senhora de Livramento no ecossistema de várzea, Tamatateua no
ecossistema manguezal e São Miguel no ecossistema de floresta de terra firme
(mapa 1), onde já tive convivência, facilitando os estudos de campo dessa tese e
onde recebi o financiamento de apoio logístico no transporte, alimentação e
hospedagem no período de campo de pesquisa.

33
- Comunidade Tamatateua, ecossistema manguezal, município de Bragança,
Estado do Pará.
O sistema ecológico dessa
área é descrito pelo ecossistema
de manguezal (fotografia 01),
considerado um ecossistema
costeiro de transição entre os
ambientes terrestres e marinhos.
Característico de regiões tropicais
e subtropicais, está sujeito ao
regime das marés, dominado por
Fotografia 1. Manguezal de Bragança. espécies vegetais típicas, as quais
Fonte: Blandtt, (2006).
se associam a outros componentes
vegetais e animais (SCHAEFFER-NOVELLI, 1991). O ecossistema manguezal
está associado às margens de baías, enseadas, barras, desembocaduras de rios,
lagunas e reentrâncias costeiras, onde haja encontro de águas de rios com a do
mar, ou diretamente expostos à linha da costa. A cobertura vegetal, ao contrário
do que acontece nas praias arenosas e nas dunas, instala-se em substratos de
vasa de formação recente, de pequena declividade, sob a ação diária das marés
de água salgada ou, pelo menos, salobra (SCHAEFFER-NOVELLI, 1995). A
riqueza biológica dos ecossistemas costeiros faz com que essas áreas sejam os
grandes "berçários" naturais, tanto para as espécies características desses
ambientes, como para peixes e outros animais que migram para as áreas
costeiras durante, pelo menos, uma fase do ciclo de sua vida (SCHAEFFER-
NOVELLI, 1991).
O sistema ecológico de manguezal específica para essa tese se localiza no
município de Bragança, Pará, na área ecotóma entre a desembocadura dos rios
Caeté e Taperaçú (COSTA, 2001). O manguezal de Bragança, compreende uma
área aproximada de 120 km², formado pelas bacias do rio Caeté e rio Taperaçú
localizado no centro do litoral do Salgado, na Micro-região Bragantina, que
abrange a ponta do Maiaú até o Caeté (40 km de extensão), e desde o planalto
costeiro da floresta Amazônica no município de Bragança até a faixa oceânica da
costa Norte do Brasil (COSTA, 2001).

34
O sistema social de interesse nessa área é representado pela comunidade
de Tamatateua, município de Bragança, Pará (mapa 2). A comunidade de
Tamatateua dista 17 km da cidade de Bragança e 227 km da capital Belém.
Localiza-se nos campos inundáveis na desembocadura no oceano Atlântico dos
rios Taperaçú e Caeté, constituída por 19 ilhas de terra firme com fluências da
floresta de ecossistema manguezal. Essa região de campos de água doce, tem
influência marinha, daí a presença de manguezais, em 1996 foi registrada uma
população de aproximadamente 1.500 habitantes, distribuídos em 225
residências.

Mapa 2. Sistema ecológico de manguezal e sistema social de Tamatateua.


Fonte: Ecoflorestal, (2009).

Os comunitários de Tamatateua dependem da agricultura familiar com base


na monocultura de mandioca (farinha de mandioca), e o plantio de tabaco,
produtos gerador de renda contínuo; e também, praticam o extrativismo de
caranguejo e a pesca do camarão para inserir também na geração de renda.
Segundo Oliveira (1998), os dados sócio-econômicos levantados apontam que
35% das famílias dependem do pescado para sobreviver e 40% vivem da captura
e comercialização do caranguejo; para a subsistência, o pescado, nos períodos de

35
verão, a propriedade de gado no lote e o plantio de feijão são a base econômica
do sistema social da comunidade de Tamatateua.
Nessa comunidade recebi o apoio de pesquisa de campo do projeto Mãe
D’água do Caeté, onde realizei os estudos acadêmicos da minha monografia,
aperfeiçoamento e dissertação de mestrado na época como bolsista do programa
MADAM – Manejo e Dinâmica de Manguezal, uma cooperação científica entre o
Brasil e a Alemanha e do Núcleo Integrado de Estudos da Agricultura Familiar,
NEAF.
- Comunidade Nossa Senhora de Livramento, ecossistema de várzea, município
de Silves, Estado do Amazonas.
O sistema ecológico dessa área é descrito pelo ecossistema da várzea
(fotografia 2), que é um dos ecossistemas mais ricos da bacia Amazônica em
termos de produtividade biológica, biodiversidade e recursos naturais. Várzea é
uma vegetação alagada durante o período das enchentes, devido a sua
localização nas bordas dos
principais rios da Amazônia
(AYRES et al., 1994). Embora o
porte das plantas seja menor
que o da mata de terra firme, a
presença de arbustos e cipó
torna difícil, esse tipo de
vegetação é muito encontrada
na floresta Amazônica.
O sistema ecológico de
Fotografia 2. Lago Anebá e área da várzea.
várzea específica para essa
Fonte: Blandtt, (2006).
tese, se localiza no município
de Silves, Estado do Amazonas, nas margens do rio Urubu e do seu afluente
Anebá, componentes da bacia do rio Amazonas. Algumas elevações de restingas,
alocam espaços físicos para as comunidades, quais não são muito densos e
possuem um número reduzido de moradias. Em especial, nos interessa nessa
tese a comunidade de Nossa Senhora de Livramento (mapa 3), e seu sistema
social, que se localizam as margens do lago Anebá, que compreende um grande
complexo aquático de águas brancas, que se estende por aproximadamente 2,5

36
km², apresenta margens rebaixadas e em alguns locais bastantes degradadas.
Nos pontos que se observa a cobertura vegetal predominam árvores de porte
médio e gramíneas nas margens expostas, árvores altas não são muito comuns.
O substrato no fundo do lago é lodoso ou lodoso arenoso, com a disposição de
praias nos períodos de seca.
A comunidade Livramento dista 98 km da cidade de Silves e 219 km da
capital Manaus. Localiza-se no lago Anebá, da rede hidrográfica
Urubu/Amazonas, sem acesso de estrada ou rodovia. Localiza-se em área de
floresta de várzea e tem influências de isolamento direto do lago Anebá na
dimensão oriental e também isolado por floresta de terra firme de propriedade
privada com manejo florestal certificado na dimensão ocidental.

Mapa 3. Sistema ecológico da várzea e sistema social de Livramento:


Fonte: Ecoflorestal, (2009).

Nessa comunidade recebi o apoio de pesquisa de campo proponente do


Departamento Sócio-ambiental da empresa Mil Madeireira que trabalha com
manejo e certificação florestal.

- Comunidade São Miguel Arcanjo do Pacajá, ecossistema floresta de terra firme,


município de Portel, Estado do Pará.

37
O sistema ecológico dessa área é descrito pelo ecossistema de terra firme
(fotografia 3). As florestas de
terra firme ocupam terras não
inundáveis, caracterizam-se
pelo grande porte das árvores
e formação de dossel, isto é,
uma compacta e permanente
cobertura formada pelas
copas das árvores (SIOLI,
1991). No geral possuem de
140 a 280 espécies arbóreas
Fotografia 3. Área Florestal e o rio Pacajá por hectare, número
Fonte: Blandtt, (2006)
impressionante se
compararmos com a diversidade das florestas temperadas e boreais. As florestas
de terra firme dividem-se em florestas densas, as mais diversas e com maior
quantidade de madeira, e floresta abertas, mais próximas dos escudos e
depressões e que sustentam maior biomassa animal (BELTRÃO; BELTRÃO,
1990). A floresta de terra firme, está localizada em planaltos pouco elevados (30-
200m) e apresenta um solo extremamente pobre em nutrientes. Isto forçou uma
adaptação das raízes das plantas que, através de uma associação simbiótica com
alguns tipos de fungos, passaram a decompor rapidamente a matéria orgânica
depositada no solo, a fim de absorver os nutrientes antes deles serem lixiviados.
O sistema ecológico de floresta de terra firme específico dessa tese se
localiza no município de Portel, Pará, nas proximais dos rios Pacajá e Cururuí
(mapa 4). Essa área de terra Firme literalmente significa "terra firme" e refere-se à
floresta tropical que não são inundadas pelos rios Pacajá e Cururuí, e são
primarias.
O sistema social de interesse nessa área é representado pela comunidade
de São Miguel, município de Portel, Pará. A comunidade de São Miguel Arcanjo
do Pacajá, dista 98 km da cidade de Portel (em linha reta, pois não tem acesso
por estrada ou rodovia), e 537 km da capital Belém (via a cidade de Tucuruí,
Pará). Localiza-se em ecossistema de floresta de terra firme na margem da rede
hidrográfica dos rios Cururuí/Pacajá, localizada entre três cachoeiras.

38
Mapa 4. Sistema ecológico de floresta de terra firme e sistema social São Miguel.
Fonte: Ecoflorestal, (2009).
O sistema social de interesse nessa área é representado pela comunidade
de São Miguel, município de Portel, Pará (mapa 4). A comunidade de São Miguel
Arcanjo do Pacajá, dista 98 km da cidade de Portel (em linha reta, pois não tem
acesso por estrada ou rodovia), e 537 km da capital Belém (via a cidade de
Tucuruí, Pará). Localiza-se em ecossistema de floresta de terra firme na margem
da rede hidrográfica dos rios Cururuí/Pacajá, localizada entre três cachoeiras.
A ocupação humana nessa área é ocorre desde a década de 60, contudo a
organização da comunidade São Miguel é recente desde 2001. No ano de 2005 a
comunidade de São Miguel é formada pelo grupo de 23 famílias, de diversas
estruturas familiares e, ligados apenas a uma religião.
Nessa comunidade recebi o apoio de pesquisa de campo da Fundação
Precious Woods, proponente da empresa Precious Woods Pará que trabalha com
manejo e certificação florestal.
A presente tese, além deste documento de introdução, contém mais três
capítulos, as considerações finais, o referencial bibliográfico, o glossário e o
anexo: estudos de casos da Aliança da Resiliência, assim descritos: no capítulo
II discutimos o referencial cientifico dessa tese, A Consistência do Referencial
Teórico-Metodológico, tratamos com padrões científicos dessa discussão, A

39
Teoria Geral dos Sistemas e os Sistemas Ecológico-Sociais, um exercício de
uma introdução ao pensamento sistêmico e os paradigmas científicos que se
vinculam, em especial, a autopoiese e concepção integracionista entre o
biológico e o social, identificando as descrições do sistema ecológico-social e
os ciclos adaptativos, além da compreensão de conceitual cientifica de
resiliência, de forma disciplinaria, sua origem e evolução histórica, assim como
o ciclo adaptativo do sistema ecológico-social se relaciona com a gestão da
resiliência.
No capítulo III, A sustentabilidade e a Amazônia, donde se dialoga
acerca da construção da sustentabilidade na Amazônia e seu contexto histórico
de ocupação, bem como os fatos sociais que influenciam diretamente na
organização e institucionalização das comunidades rurais amazônicas.
No capítulo IV, apresentamos os resultados e discussão específica
dessa tese, Da Resiliência à Sustentabilidade: Análise do Sistema Ecológico–
Social em Comunidades Rurais da Amazônia Brasileira, onde se descreve o
estudo do sistema ecológico-social na comunidade de Livramento (Silves,
Amazonas), e o ecossistema de várzea; e na comunidade de São Miguel
(Portel, Pará), e o ecossistema de terra firme; e o estudo na comunidade de
Tamatateua (Bragança, Pará), e o ecossistema de manguezal.
Nas Considerações Finais, buscamos analisar a gestão da resiliência nas
comunidades rurais amazônicas, teorizando os caminhos da sustentabilidade,
de forma a comparar a diversidade dos sistemas sociais das comunidades com
a diversidade dos ecossistemas de dentro e do entorno dessas comunidades,
enquanto provento inovador, nessa mesma discussão a nível internacional e
introdutório no Brasil, esclarecendo que estas discussões não se esgotam
nessa tese.
No Anexo Estudos de Casos da Aliança da Resiliência, uma identificação
desse instituto de pesquisa e, ademais, referências a diversos estudos
semelhantes que estão sendo ou já foram realizados pelo mundo.

40
2 A CONSISTÊNCIA DO REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO

2.1 INTRODUÇÃO A MESCLAGEM TEÓRICA DESSA TESE.

Essa tese discute uma mesclagem de teorias, a preocupação aqui é


analisar a relação entre sociedade e ambiente, donde ambos se relacionam e são
dependentes um do outro, sendo importante destacar que cada um possui suas
estruturas de sistema próprio, afim de averiguar a sustentabilidade (organograma
2).
Para a compreensão de sociedade usamos a teoria de Niklas Luhmann,
que descreve a sociedade moderna em toda sua complexidade, a partir de uma
abordagem cognitiva e reflexiva que identifica seus processos sociais como
processos de comunicação que a diferenciam de maneira auto-referencial.
Nesse sentido, os sistemas sociais usam a comunicação como seu modo
particular de reprodução autopoiética. Seus elementos são comunicações que
são produzidas e reproduzidas por uma rede de comunicações que fora dela
não podem existir. A autopoiese Luhmaniana tem ênfase no caráter não
somente auto-organizador, mas principalmente auto-reprodutivo e auto-
referente, isto é, na capacidade do sistema social de produzir seus elementos,
bem como as suas próprias condições originárias de produção, tornando-se
desse modo independente do respectivo meio envolvente.
Para a compreensão do ambiente usamos a teoria de Gaia, também
conhecida como Hipótese de Gaia, é uma teoria que afirma que o planeta Terra é
um ser vivo. De acordo com esta teoria, nosso planeta possui a capacidade de
auto-sustentação, ou seja é capaz de gerar, manter e alterar suas condições
ambientais. Os sistemas complexos que forma um todo orgânico, vivo, possui
características próprias, homeostáticas e dinâmicas enquanto conjunto,
apresentando características próprias que escapam às qualidades e atributos de
cada uma de suas partes constituintes, linearmente conectadas, ou seja, um
organismo, como um todo é algo mais diferenciado e com atributos próprios bem
acima da soma de suas partes componentes fundamentais.
Com essa análise teórica de sociedade e ambiente, precisamos também
da teoria de co-evoluçao desses sistemas para descrever a sua relação. A
teoria da co-evolução é um sistema que se caracteriza pelo elevado número de

41
elementos que o constituem, pela natureza das interações entre os mesmos, e
pelo número e variedade de ligações que os unem entre si formando conjuntos
de sistemas biológicos, técnicos ou sociais, associados entre si e influenciando-
se mutuamente.
A partir do uso dessas teorias para descrever sociedade e ambiente,
precisamos também nessa tese partir para a questão central e inovadora:
compreender como o sistema social e o sistema ambiental se adaptam,
capacitam ou resistes a fatores sociais (corrupção, incompetência do Estado,
etc.) e/ou ambientais (enchentes, secas, devastação florestal, etc.) que afetam
a relação co-evolutiva da sociedade e ambiente. Essa compreensão é
importante para se analisar a sustentabilidade do sistema social e ambiental.
Partindo dessa descrição, utilizamos o conceito de resiliência sistêmica
como a teoria central dessa tese, compreendida como a capacidade que um
sistema tem para poder absorver processos de auto-desenvolvimento, tendo
condições não só de resistir à adversidade, mas de utilizá-la em seu processo
de desenvolvimento social inter-relacionado ao ecossistema. Descrito como
“aprendendo a viver com o sistema em lugar de controlá-lo” ou “mantendo a
capacidade do sistema para lidar com tudo o que o futuro traz sem o sistema
mudar de forma indesejável”.
Para descrever a resiliência no sistema co-evolutivo utilizamos as
interpretações de sistema ecológico-social, onde compreendemos a relação
sistêmica da sociedade e do ambiente, donde o sistema social tem a
capacidade para poder absorver processos de auto-desenvolvimento, tendo
condições não só de resistir à adversidade, mas de utilizá-la em seu processo
de desenvolvimento social inter-relacionado ao ecossistema. Para isso,
também precisamos das teorias de ciclos adaptativos do sistema ecológico-
social para descrever as fases da resiliência nesse sistema, que descremos
como a fonte e função de mudanças sistêmicas, particularmente mudanças
transformativas em sistemas adaptáveis. Esses ciclos adaptativos passam
para uma repetição de fases distintas de um sistema ecológico-social:
primeira fase com crescimento rápido e exploratório (r) (exploração); a
segunda fase é a mais prolongada de acumulação, monopolização e
conservação de estrutura (k), (conservação); terceira fase, define-se como a

42
desestruturação rápida (Ω), (liberação); e a quarta fase de reorganização,
eventualmente renovação (a), (realimentação). Para compreender as
relações e influências sociais do sistema ecológico-social, também
utilizamos a teoria panarchy sistêmico, que descreve a organização não-
hierárquica das teorias cientifica, é um termo antítese à palavra hierarquia;
contudo eleva esse termo a compreensão da evolução adaptativa e/ou co-
evolução dos ciclos adaptativos.

Sociedade
Ambiente

Sociedade
Teoria Moderna
de Gaia Luhmanian
a Autopoiética

CO-EVOLUÇAO

RESILIÊNCIA SISTÊMICA

Panarchy Ciclos Adaptativos

SUSTENTABILIDADE?

Organograma 2. Mesclagem das teorias dessa tese.


Fonte: Pesquisa bibliográfica, (2009).

A partir dessa análise, partimos para o pressuposto teórico dessa tesa, a


resiliência, na visão sistêmica, pode ser um caminho para a sustentabilidade?
Onde compreendemos sustentabilidade como um conceito sistêmico, relacionado
com a continuidade dos aspectos econômicos, sociais, culturais e ambientais da
sociedade humana. Propõe-se a ser um meio de configurar a civilização e

43
atividade humanas, de tal forma que a sociedade, os seus membros e as suas
economias possam preencher as suas necessidades e expressar o seu maior
potencial no presente, e ao mesmo tempo preservar a biodiversidade e os
ecossistemas naturais, planejando e agindo de forma a atingir pró-eficiência na
manutenção indefinida desses ideais.

1.2. A TEORIA GERAL DE SISTEMAS E OS PARADIGMAS CIENTÍFICOS


O pensamento "sistêmico" é uma forma de abordagem da realidade que
surgiu no século XX, em contraposição ao pensamento "reducionista-
mecanicista" herdado dos filósofos da Revolução Científica do século XVII,
como Descartes, Bacon e Newton. O pensamento sistêmico não nega a
racionalidade científica, mas acredita que ela não oferece parâmetros
suficientes para o desenvolvimento humano, e por isso deve ser desenvolvida
conjuntamente com a subjetividade das artes e das diversas tradições
espirituais. É visto como componente do paradigma emergente, que tem como
representantes cientistas, pesquisadores, filósofos e intelectuais de vários
campos. Por definição, aliás, o pensamento sistêmico inclui a
interdisciplinaridade.
Há anos, intelectuais perceberam que há coisas comuns nas diferentes
áreas do conhecimento. Existem problemas similares que podem ser resolvidos
com soluções similares. Estas mesmas pessoas perceberam que algumas
características e regras aconteciam em todas as áreas. Assim, surgiu a
definição de sistema, que é um conjunto de elementos inter-relacionados com
um objetivo comum. Isto quer dizer que todas as áreas do conhecimento
possuem sistemas. E que os sistemas possuem características e leis
independentemente da área onde se encontram.
O aparecimento da teoria geral dos sistemas forneceu uma base para a
unificação dos conhecimentos científicos nas últimas décadas. Ludwig von
Bertalanffy (1901-1972) concebeu esse nome no início da década de 1920,
criando em 1954 a Society for General Systems Research. Bertalanffy
introduziu esse nome para descrever as características principais das
organizações como sistemas, pouco antes da Segunda Guerra Mundial. A
teoria geral dos sistemas, segundo o próprio Bertalanffy, tem por finalidade

44
identificar as propriedades, princípios e leis característicos dos sistemas em
geral, independentemente do tipo de cada um, da natureza de seus elementos
componentes e das relações entre eles. De acordo com o cientista (apud,
CHIAVENATO, 2007), existem certos modelos ou sistemas que,
independentemente de sua especificidade, são aplicáveis a qualquer área de
conhecimento. Tais modelos impulsionariam uma tendência em direção a
teorias generalizadas. Assim, como princípios gerais que na verdade, são
idéias vinculadas ao desenvolvimento e ao surgimento da automação e da
cibernética, Bertalanffy propõe uma nova teoria cientifica, a teoria geral de
sistemas, que tem leis semelhantes às que governam sistemas biológicos.
Nessa formulação teórica, o autor incorpora os conceitos fundamentais dos
postulados anteriores do sistema biológico e das matemáticas correlatas
(BERTALANFFY, 1975).
Um sistema se define como um complexo de elementos em interação de
natureza ordenada e não fortuita. A teoria geral dos sistemas é interdisciplinar,
isto é, pode ser utilizada para fenômenos investigados nos diversos ramos
tradicionais da pesquisa científica. Ela não se limita aos sistemas materiais,
mas se aplica a todo e qualquer sistema constituído por componentes em
interação. Além disso, a teoria geral dos sistemas pode ser desenvolvida em
várias linguagens matemáticas, em linguagem escrita ou ainda
computadorizada.
Todo sistema deve possuir quatro características básicas: elementos,
relações entre elementos, objetivo comum e meio-ambiente. O meio-ambiente
é o que está fora do sistema, ou seja, não pode ser controlado pelo sistema.
Entretanto, o sistema pode trocar “coisas” com o meio-ambiente (energia,
produtos, materiais, informações) e por isto, dizemos que o sistema pode
influenciar o meio-ambiente e vice-versa.
A pesquisa Bertalanffy foi baseada numa visão diferente do reducionismo
científico até então aplicada pela ciência convencional (MEDINA, 2006). Dizem
alguns que foi uma reação contra o reducionismo e uma tentativa para criar a
unificação científica.
A teoria geral do sistema não busca solucionar problemas ou tentar
soluções práticas, mas sim produzir teorias e formulações conceituais que

45
possam criar condições de aplicação na realidade empírica (BERTALANFFY,
1975). Os pressupostos básicos da Teoria Geral do Sistema são:
a. Existe uma nítida tendência para a integração nas várias ciências
naturais e sociais;
b. Essa integração parece orientar-se rumo a uma teoria dos sistemas;
c. Essa teoria de sistemas pode ser uma maneira mais abrangente de
estudar os campos não físicos do conhecimento científico, especialmente
as ciências sociais;
d. Essa teoria de sistemas, ao desenvolver princípios unificadores que
atravessam verticalmente os universos particulares das diversas ciências
envolvidas, aproxima-nos do objetivo da unidade da ciência;
e. Isso pode levar a uma integração muito necessária da educação
científica.
A importância da teoria geral do sistema é significativa tendo em vista a
necessidade de se avaliar a organização como um todo e não somente em
departamentos ou setores. O mais importante ou tanto quanto é a identificação
do maior número de variáveis possíveis, externas e internas que, de alguma
forma, influenciam em todo o processo existente na organização. Outro fator
também de significativa importância é o feed-back que deve ser realizado ao
planejamento de todo o processo (BERTALANFFY, 1975).
A teoria dos sistemas começou a ser aplicada à administração,
principalmente, em função da necessidade de uma síntese e uma maior
integração das teorias anteriores (Científicas, Relações Humanas, Estruturalista
e Comportamental) e da intensificação do uso da cibernética e da tecnologia da
informação nas empresas.
Na Biologia, a teoria dos sistemas é compreendida como sistemas vivos,
sejam indivíduos ou organizações, são analisados como “sistemas abertos”,
mantendo um contínuo intercâmbio de matéria/energia/informação com o
ambiente. A teoria de sistema permite reconceituar os fenômenos em uma
abordagem global, permitindo a inter-relação e integração de assuntos que são,
na maioria das vezes, de natureza completamente diferentes.
A teoria de sistemas estuda a organização abstrata de fenômenos,
independente de sua formação e configuração presente. Investiga todos os

46
princípios comuns a todas as entidades complexas, e modelos que podem ser
utilizados para a sua descrição
Há uma grande variedade de sistemas e uma ampla gama de tipologias
para classificá-los, de acordo com certas características básicas.
Quanto a sua constituição:
a. Físicos ou concretos: quando compostos de equipamento, de maquinaria e
de objetos e coisas reais (equipamento, objetos, hardware);
b. Abstratos ou conceituais: quando compostos por conceitos, planos,
hipóteses e idéias que muitas vezes só existem no pensamento das pessoas
(conceitos, planos, idéias, software).
Na realidade, há uma complementaridade entre sistemas físicos e
abstratos: os sistemas físicos precisam de um sistema abstrato para funcionar,
e os sistemas abstratos somente se realizam quando aplicados a algum
sistema físico.
Quanto a sua natureza:
a. Fechados: não apresentam intercâmbio com o meio ambiente que os
circunda, sendo assim não recebem nenhuma influencia do ambiente e por
outro lado não influenciam. Não recebem nenhum recurso externo e nada
produzem que seja enviado para fora.
b. Abertos: são os sistemas que apresentam relações de intercâmbio com o
ambiente, por meio de entradas e saídas.
Os sistemas abertos trocam matéria e energia regularmente com o meio
ambiente. São eminentemente adaptativos, isto é, para sobreviver devem
reajustar-se constantemente as condições do meio. As organizações são por
definição sistemas abertos, pois não podem ser adequadamente
compreendidas de forma isolada, mas sim pelo inter-relacionamento entre
diversas variáveis internas e externas, que afetam seu comportamento
A aplicação do pensamento sistêmico, segundo Kast; Rosenzweig (apud
CHIAVENATO, 2007), tem uma particular importância para as ciências sociais,
além de apresentar um estreito relacionamento entre a teoria e sua aplicação a
diversas áreas do conhecimento humano. A teoria de sistemas possibilitou, por
exemplo, a unificação de diversas áreas do conhecimento, pois “sistema é um
conjunto de elementos em interação e intercâmbio com o meio ambiente”. Ou

47
ainda, conforme define Littlejohn, (apud CHIAVENATO, 2007), um sistema
pode ser definido como um conjunto de objetos ou entidades que se inter-
relacionam mutuamente para formar um todo único.
A teoria dos sistemas desenvolvida no campo das ciências sociais como
sistemas auto-referenciais de comunicação por Luhmann (1998) e, adaptada
por diversos autores como Teubner (1989b), Campilongo (2000b, 2002),
apresenta-se como uma extensão, mutatis mutandis, do pensamento
sistêmico originado em outras áreas científicas, mais especificamente no
domínio da biologia a partir do estudo dos processos de cognição e da ênfase
na concepção dos organismos vivos como totalidades integradas, tendo por
expoentes os estudos neurofisiológicos de Humberto Maturana e Francisco
Varela (1980, 1997, 2005).
Segundo Capra (1996), a ascensão do pensamento sistêmico introduzido
no campo da Biologia e posteriormente enriquecido pela psicologia da Gestalt e
pela nova ciência da ecologia, com grandes repercussões até mesmo na física
quântica — situa-se na mudança do paradigma mecanicista para o ecológico,
originada no século XX, a partir da década de 20, ocorrida de forma não
uniforme em diversos campos científicos, tendo por tensão básica a dicotomia
entre as partes e o todo.
A ênfase nas partes tem sido chamada de mecanicista, reducionista ou
atomística, ao passo em que a ênfase no todo, de holística, organísmica ou
ecológica, sendo que esta perspectiva holística, na ciência do século XX,
tornou-se conhecida tecnicamente como sistêmica. (CAPRA, 1996, p. 33). A
importância dessa mudança de paradigma não se resume às ciências
biológicas ou naturais, sendo destacada no presente estudo por suas
repercussões em toda a base filosófica e analítica que sustenta o pensamento
científico ocidental e, por conseguinte, as ciências sociais e jurídicas
Segundo Capra (1996, p.41), a emergência do pensamento sistêmico
representou uma profunda revolução na história do pensamento científico
ocidental. A crença segundo a qual em todo sistema complexo o
comportamento do todo pode ser entendido inteiramente a partir das
propriedades de suas partes é fundamental no paradigma cartesiano. Foi este

48
o célebre método de Descartes do pensamento analítico, que tem sido uma
característica essencial do moderno pensamento científico. Na abordagem
analítica, ou reducionista, as próprias partes não podem ser analisadas
ulteriormente, a não ser reduzindo-as a partes menores. De fato, a ciência
ocidental tem progredido dessa maneira, e em cada passo tem surgido um
nível de constituintes fundamentais que não podia ser analisado
posteriormente.
O grande impacto que adveio com a ciência do século XX foi à
percepção de que os sistemas não podem ser entendidos pela sua análise. As
propriedades das partes não são propriedades intrínsecas, mas só podem ser
entendidas dentro do contexto do todo mais amplo. Desse modo, a relação
entre as partes e o todo foi revertida. Na abordagem sistêmica, as propriedades
das partes podem ser entendidas apenas a partir da organização do todo. Em
conseqüência disso, o pensamento sistêmico concentra-se não em blocos de
construção básicos, mas em princípios de organização básicos. O pensamento
sistêmico é ‘contextual’, o que é o oposto do pensamento analítico. A análise
significa isolar alguma coisa a fim de entendê-la; o pensamento sistêmico
significa colocá-la no contexto de um todo mais amplo.

2.3. A AUTOPOIESE: UMA INTERAÇÃO BIOLÓGICA E SOCIAL


As principais idéias relacionadas à teoria dos sistemas e à consideração
dos limites e das implicações de sua abordagem autopoiética para a
compreensão do funcionamento e estruturação dos sistemas sociais são as
revisões que se pretende destacar, representam a base desse trabalho
acadêmico, em razão de suas potencialidades explicativas relacionadas à
sustentabilidade na Amazônia, em especial em comunidades rurais.
A abordagem da teoria sistêmica nessa tese, tem como base a
inspiração teórica de Niklas Luhmann, com raiz européia, que segundo Mathis
(2008), a teoria dos sistemas sociais tem como objeto de estudo sistemas
autopoiéticos sociais. Isso faz necessário definir, a operação básica através da
qual o processo autopoiético separa esse sistema dentro do seu meio.
Segundo Luhmann (apud MATHIS, 2008), além da sociedade, organizações e
interações fazem parte dos sistemas sociais e assim têm características

49
comuns e são comparáveis entre si. O principal fator em comum entre os
sistemas sociais é o fato de que a sua operação básica é a comunicação. A
comunicação é a (única) operação genuinamente social, e ela é autopoiética
porque pode "ser criada somente no contexto recursivo das outras
comunicações, dentro de uma rede, cuja reprodução precisa da colaboração
de cada comunicação isolada.
Sistema, para Luhmann (1998), quer dizer uma série de eventos
relacionados um ao outro, ou de operações. No caso de seres vivos, por
exemplo, esses são processos fisiológicos; no caso de sistemas psíquicos, os
processos são idéias; e em termos de relações sociais, são comunicações. Os
sistemas se formam ao se distinguirem do ambiente, no qual esses eventos e
operações ocorrem, e que não podem ser integradas as suas estruturas
internas.
Contrastando com seu mentor anterior Talcott Parsons, que definia
sistemas por meio da presença de normas e padrões de valores partilhados
coletivamente, Luhmann (1958), parte de um conceito de sistema formado de
maneira estritamente relacional. Sua noção assenta–se na idéia de uma
fronteira constitutiva que permite a distinção entre dentro e fora. Cada operação
de um sistema (no caso de sistemas sociais: cada comunicação) (re)produz
essa fronteira encaixando–se numa rede de futuras operações, na qual,
simultaneamente, ele ganha sua própria unidade/identidade.
A diferença entre social e ambiente é intermediada exclusivamente por
limites do sentido das áreas cognitivas e imaginarias do sistema, que tem
origem na teoria da co-evolução, onde as partes do sistema têm a capacidade
de se associarem e desenvolverem estreitos laços de colaboração, às vezes
uma dentro das outras. Segundo Gallino (1998), a teoria dos sistemas cria
mudança radical pelo fato de não mais falar-se de objetos, mas sim de
diferenças, de distinções, estas não podem ser tratadas como coisas, quer
dizer, como algo que já existe e que precisa apenas ser observado, ser
percebido, ser analisado. Distinções são objetos virtuais, devem ser feitas e
analisadas, do contrario não existem. O sistema não continuaria, terminaria e

50
entraria em colapso, com isso, a estabilidade e a duração do sistema depende
de novas diferenças a serem criadas constantemente.
A Teoria dos Sistemas Sociais de Luhmann (1998) tem como ponto
central a compreensão da sociedade moderna em toda sua complexidade, a
partir de uma abordagem cognitiva e reflexiva que identifica seus processos
sociais como processos de comunicação que a diferenciam de maneira auto-
referencial.
Nesse sentido, para o referido autor os sistemas sociais usam a
comunicação como seu modo particular de reprodução autopoiética. Seus
elementos são comunicações que são produzidas e reproduzidas por uma rede
de comunicações que fora dela não podem existir. (LUHMANN, 1992, p. 1423-
1424).
Há que se destacar que, na Teoria dos Sistemas Sociais de Luhmann
(1998), as referências à história e ao desenvolvimento dos sistemas
autopoiéticos partem de um conceito próprio de evolução que não se relaciona,
de forma alguma, às idéias de progresso, desenvolvimento linear, avanço em
sentido valorativo nem mesmo à existência de etapas hierarquizadas de
evolução, mas sim ao aumento da complexidade dos sistemas e ao modo de
organização que suas estruturas assumem, ou seja, a forma de
diferenciação com que a sociedade lida com seu entorno, sendo a evolução da
sociedade como sistema geral composta de “eventos improváveis e
imprevisíveis, que geram ao final do processo um ganho evolutivo
indeterminável a priori. A esse respeito Neves (2005, p. 44), considera as
condições para que alguns elementos se encontrem e tornem possível
determinada evolução são incertas e improváveis. A evolução, no entanto,
restringe alguns caminhos, tornando o sistema mais previsível em alguns
aspectos, ao mesmo tempo em que torna outros caminhos possíveis,
reafirmando a imprevisibilidade do funcionamento do sistema. Esse processo
de formação de premissas e abertura de novas possibilidades pode
desencadear diferenciações internas mais constantes, dando início, assim, à
formação de outros sistemas.
É possível situar a distinção entre sistema e ambiente na referida teoria
sistêmica da sociedade moderna como o resultado desse peculiar modelo de

51
evolução e, com isso, entender porque Luhmann descreve acentricamente a
sociedade moderna como policontextual e estruturada de maneira
funcionalmente diferenciada em subsistemas comunicacionais, autopoiéticos e
auto-referenciais. (LUHMANN, 1998, p. 11).
Com base no conceito de diferença utilizado por Spencer-Brown (1979)
na formulação de sua teoria da forma e da função da diferenciação nos
processos de auto-referenciais estudada por Heinz von Foerster em 1973,
Luhmann (1998, p. 40), destaca a diferença entre sistema e entorno
(ambiente), como o “ponto de partida para qualquer análise teórico-
sistêmica”. Sobre esse ponto, afirma o referido sociólogo alemão: [...] Os
sistemas estão estruturalmente orientados ao entorno [ambiente], e sem ele,
não poderiam existir; portanto, não se trata de um contato ocasional nem
tampouco de uma mera adaptação. Os sistemas se constituem e se mantém
mediante a criação e a conservação da diferença com o entorno, e utilizam
seus limites para regular esta diferença. Sem diferença referente ao entorno
não haveria auto-referência já que a diferença é a premissa para a
função de todas as operações auto-referenciais. Nesse sentido, a
conservação dos limites (boundary maintenance) é a conservação do sistema.
(LUHMANN, 1998, p. 40).
Poderíamos interpretar, nessa visão luhmanniana, o sistema ecológico-
social, tendo que levar em conta, a partir dessa diferenciação entre sistema e
ambiente, que não se deve afirmar de forma alguma a ocorrência de uma
“diferenciação de uma parte do todo”, nem mesmo dizer acerca de qualquer
“divisão do todo em fragmentos organizados” como equivocadamente já se
interpretou essas sutis distinções luhmannianas. (NEVES, 2005, p. 13).
Luhmann (1998, p. 42), adverte: “A diferença entre sistema e entorno
[ambiente] obriga, como paradigma da teoria dos sistemas, a substituição da
diferença entre o todo e as partes por uma teoria da diferenciação dos
sistemas”. Assim, ressalta que tal diferenciação seria simplesmente a
“repetição da formação de sistemas dentro de outros sistemas”, o que não é
uma característica de um sistema ecológico-social, no interior dos quais se
poderia ainda encontrar “diferenciações adicionais da distinção
sistema/entorno”, ou melhor interpretando a distinção e a relação entre

52
sociedade e meio ambiente como sistema ecológico-social.
Por essa mesma razão, os limites que demarcam a fronteira entre
ambiente e sistema não representam em si uma “ruptura de contexto”, não
sendo possível se afirmar que as interdependências internas sejam, de maneira
geral, maiores que as existentes entre sistema e ambiente. Sobre essas
nuances, esclarece Luhmann (1998, p. 41): porém, o que designa o conceito de
limite é que os processos, ao ultrapassarem os limites previamente fixados (por
exemplo, no intercâmbio de energia ou de informação), se colocam sob
situações distintas de continuidade (por exemplo, sob outras situações de
aplicabilidade ou de consenso). Isso significa, por sua vez, que a contingência
do curso do processo, a abertura a outras possibilidades, varia para o sistema
segundo se realize dentro do sistema ou no entorno. Precisamente porque
assim se sucede, existem limites, existem sistemas ecológicos-sociais, e numa
interpretação não poderia ser considerado um sistema “ecologicosocial” e sim
sistemas “ecológico-social”.
Dessa forma, a diferenciação sistêmica e a própria organização dos
processos comunicacionais em seu interior dependem de um mecanismo de
seleção capaz de distinguir os elementos que o integrarão daqueles presentes
em seu ambiente, que é um também um sistema e, assim, superar a
contingência do mundo, cuja complexidade se consubstancia na dificuldade de
se estabelecer processos comunicacionais sem a estruturação de um sistema
social no espaço desorganizado. Segundo Neves (2005), essa contingência
dos processos comunicacionais do espaço desorganizado seria, em si, um
estímulo para a formação dos sistemas, sendo que “quanto mais um sistema se
fecha e evolui, mais ele pode organizar, direcionar e limitar as possibilidades de
caminhos de seu próprio funcionamento, em um processo de diminuição,
dentro do sistema, da extrema contingência e complexidade do mundo
desorganizado” (NEVES, 2005, p. 32).
Luhmann (1998, p. 201), rompe com as premissas do humanismo
clássico e procura reposicionar o ser humano em sua teoria não como
integrante do sistema social, mas sim de seu ambiente, o que, por sua vez,
“não quer dizer que o homem deva ser considerado [neste novo paradigma
sistêmico] como menos importante em comparação com a tradição”.

53
Pretende demonstrar o equívoco das interpretações contrárias à
consideração do humano como parte do ambiente da sociedade, sustentando a
importância do ambiente para os sistemas sociais e as potencialidades
cognitivas que esse reenquadramento oferece para a compreensão do próprio
ser humano e de suas liberdades. A esse respeito afirma Luhmann (1998, p.
201): a teoria dos sistemas parte da unidade da diferença entre sistema e
ambiente. O ambiente é um momento constitutivo desta diferença e, portanto,
não é menos importante que o sistema em si. Nesse nível de abstração, a
disposição da teoria permanece completamente aberta para valorizações
distintas. O ambiente pode conservar aspectos que para o sistema podem ser
mais importantes (seja qual for o ponto de vista) que os componentes do
próprio sistema, mas a alternativa contrária é também teoricamente
compreensível. Graças à distinção entre sistema social e sistema de ambiente
se ganha à possibilidade de conceber o homem como parte do ambiente social
de maneira mais complexa e, por sua vez, mais livre do que se lhe concebesse
como parte da sociedade, posto que o entorno (sistema ecológico), em
comparação com o sistema social (sociedade), é o campo de distinções de
maior complexidade e menor ordem. Assim, se concede ao ser humano mais
liberdade em relação ao seu ambiente, particularmente certas liberdades de
comportamento irracional e imoral. O ser humano não é já a medida da
sociedade; é necessário descartar esta velha idéia do humanismo. Quem
poderia sustentar, séria e ponderadamente, que a sociedade pode ainda
configurar-se à imagem e semelhança do ser humano?
Nesse mesmo sentido, Campilongo (2002, p. 68), ao tratar desse
deslocamento dos seres humanos para o ambiente da sociedade, destaca: “Ao
contrário do que imaginam os críticos mais apressados dessa tese, isso não
comporta, de modo algum, desvalorização do homem perante a sociedade”.
Para justificar tal advertência, o referido autor reitera, em primeiro lugar, que a
diferenciação entre social e ambiente, própria da teoria luhmanniana, por si,
tem por conseqüência a atribuição de uma importância tão grande ao ambiente
(sistema ecológico), quanto aquela do sistema social.
Além dessa observação pelo sistema do meio ambiente e dos demais
sistemas que compõe seu entorno, os sistemas sociais em seu processo auto-

54
referencial e autopoiético requerem uma constante auto-observação de seu
funcionamento, que se relaciona inclusive à sua capacidade de controle e ao
grau de programação de algumas de suas funções. Nesse sentido: deve-se
mencionar, com particular ênfase, uma conseqüência estrutural importante
que resulta, forçosamente, da construção dos sistemas auto-referenciais: a
renúncia à possibilidade de controle unilateral. Pode haver diferenças na
capacidade de influência, hierarquias, assimetrizações, mas nenhuma parte
do sistema pode controlar a outra sem sucumbir ao mesmo tempo ante o
controle. Sob tais circunstâncias é possível, e ainda muito provável, nos
sistemas que têm orientação de sentido, realizar um controle mediante a
antecipação de um contra-controle.
A teoria luhmanniana dos sistemas sociais autopoiéticos, tem-se que a
diferenciação dos sistemas não se restringe ao ambiente, mas pode também
ocorrer, ainda que de forma um pouco diversa, no interior do próprio
sistema social. Sob o ponto de vista das diferenciações funcionais internas, em
sua Teoria da Sociedade, Luhmann (1998) sustenta que, a partir desse
processo comunicacional geral, novos e específicos circuitos comunicativos vão
sendo gerados e desenvolvidos até que estes, enquanto processos
comunicacionais emergentes, atinjam um determinado grau de complexidade e
proficiência na sua própria organização auto-reprodutiva que os levam a se
autonomizarem do sistema social geral, originando subsistemas sociais
autopoiéticos.

1.4. OS CICLOS ADAPTATIVOS DO SISTEMA ECOLÓGICO-SOCIAL E A


GESTÃO DA RESILIÊNCIA.

O conceito de interesse nessa tese sobre sistema é a teoria sistêmica


social-ecologia, tem concepção ligada a co-evolução e a teoria cibernética.
Segundo Hijwegen (1998), o termo de co-evolução foi utilizado pela primeira
vez por Ehrlich e Raven em 1964, na Biologia para a descrição sobre
influências que plantas e insetos herbívoros têm sobre a evolução um do outro.
No contexto histórico na biologia, a co-evolução tem diversas compreensões:
para Roughgarden em 1976 (apud HIJWEGEN, 1988), a evolução é uma
adaptabilidade de cada genótipo que depende das densidades populacionais e

55
da composição genética da própria espécie e da espécie com a qual interage;
para Jansen em 1980 (apud HIJWEGEN, 1988), a evolução é uma
característica de uma espécie em função de uma característica de outra
espécie; e para Ricklefs em 1986 (apud HIJWEGEN, 1988), são respostas
evolutivas recíprocas entre as populações. A co-evolução pode ser definida
como a evolução simultânea de duas ou mais sistemas que têm um
relacionamento ecológico-social próximo. Através de pressões seletivas, a
evolução de um sistema torna-se parcialmente dependente da evolução de
outro
De acordo com Hijwegen (1988), a co-evolução é sistema que se
caracteriza pelo elevado número de elementos que o constituem, pela natureza
das interações entre os mesmos e pelo número e variedade de ligações que os
unem entre si formando conjuntos de sistemas biológicos, técnicos ou sociais,
associados entre si e influenciando-se mutuamente.
Segundo Gerovitch (2003), a cibernética (do grego Κυβερνήτης
significando condutor, governador, piloto) é uma tentativa de compreender a
comunicação e o controle de máquinas, seres vivos e grupos sociais através de
analogias com as máquinas cibernéticas (homeostatos, servomecanismos,
etc.). Estas analogias tornam-se possíveis, na cibernética, por esta estudar o
tratamento da informação no interior destes processos como codificação e
descodificação, retroação ou realimentação (feedback), aprendizagem, etc.
Segundo Wiener (1968), do ponto de vista da transmissão da informação, a
distinção entre máquinas e seres vivos, humanos ou não, é mera questão de
semântica.
O estudo destes autômatos trouxe inferências para diversos campos da
ciência. A introdução da idéia de retroação por Wiener (1968), rompe com a
causalidade linear e aponta para a idéia de círculo causal onde A age sobre B
que em retorno age sobre A. Tal mecanismo é denominado regulação e
permite a autonomia de um sistema (seja um organismo, uma máquina, um
grupo social). Será sobre essa base que Wiener discutirá a noção de
aprendizagem.
Os organismos (ou sistemas orgânicos) em que as alterações benéficas
são absorvidas e aproveitadas sobrevivem, e os sistemas onde as qualidades

56
maléficas ao todo resultam em dificuldade de sobrevivência, tendem a
desaparecer caso não haja outra alteração de contrabalanço que neutralize
aquela primeira mutação. Assim, de acordo com Bertalanffy (1975), a evolução
permanece ininterrupta enquanto os sistemas se autoregulam.
Um sistema realimentado é necessariamente um sistema dinâmico, já
que deve haver uma causalidade implícita. Em um ciclo de retroação uma
saída é capaz de alterar a entrada que a gerou, e, conseqüentemente, a si
própria. Se o sistema fosse instantâneo, essa alteração implicaria uma
desigualdade. Portanto em uma malha de realimentação deve haver um certo
retardo na resposta dinâmica. Esse retardo ocorre devido à uma tendência do
sistema de manter o estado atual mesmo com variações bruscas na entrada.
Isto é, ele deve possuir uma tendência de resistência às mudanças.
Apesar de semelhantes idéias apresentadas por outros, por exemplo,
BRAUDEL (1980), BUTZER (1982), HOLLING (1973), é creditado explicitamente o
delineando de uma nova perspectiva conhecida como teoria sistêmica de
resistência. Para defensores de Holling's a versão sistêmica, refere-se à
capacidade de um sistema adaptativo para sofrer mudanças e reorganização,
mantendo a sua função fundamental, processos e estruturas (HOLLING, 1973;
GUNDERSON, 2000; WALKER, et al., 2004). Isto contrasta a engenharia com o
conceito de resiliência, que é a capacidade de um sistema retorne rapidamente a
equilíbrio após uma perturbação. A teoria sistêmica da resiliência visa caracterizar
os processos através dos quais sistemas de mudança e os tipos de alterações
podem transformar radicalmente sistemas adaptativos (HOLLING et al., 2002).
Nas ciências, o termo teoria geralmente sugere um conjunto de princípios
explicativos para alguns fenômenos do mundo real. Contudo, a teoria sistêmica da
resistência, como comumente retratado, é mais um orientador de perspectivas
para a compreensão de complexos sistemas adaptativos, e não é uma teoria
explicativa.
Usando o conceito ecológico de resiliência, a teoria sistêmica da resiliência
postula que não há geralmente nenhum equilíbrio para sistemas sociais
complexos, mas sim múltiplos estados potencialmente estáveis. Esta perspectiva
explicitamente reconhece que nem a mudança nem estabilidade em sistemas
social são uma norma. Os sistemas são vistos como se deslocam através de

57
várias fases de ciclos adaptativos, o que implica necessariamente em mudança e
estabilidade em diferentes escalas temporal e espacial (HOLLING, et al., 2002,
REDMAN, 2005).

RENOVAÇÃO CONSERVAÇÃO

a k
Fatores
externos

r Linha do
tempo Ω
CRESCIMENTO LIBERAÇÃO

Organograma 3. Ciclo adaptativo desenhado por Gunderson; Holling (2002).


Fonte: Pesquisa bibliográfica, (2009).

A ilustração acima, é uma ilustrativa geral de um sistema ecológico-


social, com a motivação de facilitar a compreensão do sistema ecológico-
social, baseadas nas teorias da cibernética e da co-evolução, na intenção
de explanar sobre os sistemas envolvidos no sistema, identificando o
funcionamento integrado do sistema ecológico-social. Buscando entender a
fonte e a função de mudanças sistêmicas, particularmente as mudanças
transformativas em sistemas adaptáveis, formatando ciclos adaptativos.
(HOLLING, et al., 2002). Esses ciclos adaptativos passam para uma
repetição de fases distintas de um sistema ecológico-social, que pode ser
representado num diagrama no formato de um oito em linha horizontal
(organograma 03), com as seguintes fases: primeira fase com crescimento
rápido e exploratório (r) (exploração); a segunda fase é a mais prolongada de
acumulação, monopolização e conservação de estrutura (k), (conservação);
terceira fase, define-se como a desestruturação rápida (), (liberação); e a
quarta fase de reorganização, eventualmente renovação (a), (realimentação).
Para ser feito um estudo de caso, é necessário aplicar a modelagem
matemática do sistema ecológico-social na busca de compreender os ciclos

58
adaptativos, e assim medir a capacidade da resiliência desse sistema
ecológico-social em estudo, exemplos de aplicação desse modelo do ciclo
adaptativo existem no sistema de idéias de mudança evolutiva (HOLLING;
SANDERSON,1996).
Os ciclos do sistema ecológico-social segundo Glaser, et al., (2005) são
conceituados em ninhos (nested cicles), um afetando o outro e desenvolvendo-
se em diferentes velocidades e com interferências cruzadas em escalas (cross
scale interferences). As variáveis lentas que, por não sofrerem interferências
humanas a curto e médio prazo, dirigem a dinâmica do sistema ecológico
social.
As quatro fases do ciclo adaptativo podem ser exploradas através de uma
comparação com o tradicional, trifásico modelo de sucessão de ecossistema
(HOLLING, et al., 2002, REDMAN; KINZIG, 2003). O tradicional modelo de
sucessão começa com a fase Ω (liberação), que representa a libertação de
biomassa acumulada devido às perturbações externas, ou seja, incêndios,
inundações, etc. Isto é seguido pela fase I, representando a exploração e
colonização recente das áreas perturbadas e pelo rápido crescimento e
reprodução de plantas e animais, ou seja, R como estratégias de crescimento. A
fase K representa a conservação, o acúmulo lento de biomassa infere no
crescimento e reprodução mais cadenciado de plantas e animais, ou seja, a fase
K é estrategistas para substituir os primeiros colonizadores. O modelo tradicional
de sucessão termina aqui com o desenvolvimento de uma "comunidade clímax",
que eventualmente podem ser sujeitos a perturbações e libertação para iniciar o
processo sucessório novamente. O ciclo adaptativo adiciona uma chave, a quarta
etapa. A fase da reorganização, que enfatiza onde a sucessão não conduz
necessariamente a uma predestinada comunidade clímax. Nesta quarta fase, os
recursos são reorganizados ou transformados, potencialmente, em capítulos
formas, criando um novo sistema que pode ou não diferir fundamentalmente dos
seus predecessores (HOLLING et al., 2002). Assim, teoria sistêmica da resiliência
explicitamente reconhece que pode haver múltiplos, potencialmente, estados de
equilíbrio estável ou equilíbrio dinâmico, em que um ecossistema pode reorganizar
as seguintes perturbações (GUNDERSON, 2000; GUNDERSON; HOLLING, 2002,
WALKER et al., 2004). E importante ressaltar que a teoria sistêmica da resiliência

59
reconhece também que eventos ou processos desencadeiam uma libertação (Ω),
de fatores que podem incluir perturbações internas para o sistema em vez de
perturbações externas (REDMAN; KINZIG, 2003).
Juntamente com as quatro fases do ciclo adaptativo, existem duas
características adicionais dos sistemas adaptativos que muitos teóricos tentam
caracterizar a resiliência sistêmica. A primeira é o potencial variável de recursos
para a utilização ou transformação, representada pelo eixo vertical de diagrama
dos ciclos adaptativos. Este eixo enfatiza a noção de que a distribuição e
disponibilidade de recursos potenciais, ou seja, biomassa, capital social, etc., é
diferente em diferentes fases dentro de um ciclo adaptativo. A segunda
característica é a ligação de um sistema, representada pelo eixo horizontal no
diagrama dos ciclos adaptativos. Ligação remete para a força das relações entre
diferentes elementos dentro de um ciclo adaptativo. Em outras palavras, quanto às
alterações em um aspecto de um sistema adaptativo afeta outros aspectos do
sistema, a teoria sistêmica da resiliência sugere, quando e como os sistemas
aumentam as conexões se tornam menos resilientes. De acordo com alguns
teóricos da resiliência sistêmica, mudanças em uma parte de um "super-ligado"
sistema pode iniciar uma cascata de outras mudanças que alteram
fundamentalmente as propriedades de todo o sistema. Um sistema com menor
conexão, sobre o outro lado, pode ser capaz de absorver mudanças em um
componente sem alterar fundamentalmente a sistema como um todo (HOLLING;
GUNDERSON, 2002)
A teoria sistêmica da resiliência incentiva o exame de mudança e
adaptação a uma variedade de escalas espaciais e temporais; dos processos
envolvidos na adaptação a uma escala de ciclo, que têm o potencial para propagar
em outras escalas. Os teóricos da resiliência sistêmica têm ainda sugerido que a
interação entre as variações em diferentes escalas, ou seja, grande, pequena,
lenta ou rápida, pode ser fundamentalmente controlada em apenas alguns níveis
(HOLLING et al., 2002b). A reorganização de escala adaptativa de processo
menor também pode propagar e amplificar ascendentes, com as melhores
conseqüências da escala do sistema. A teoria sistêmica de resiliência caracteriza
tais efeitos como escala cruzadas de ciclos adaptativos que são encaixados em
uma série de escalas de espaço, em vez de mera organização hierárquica. A

60
interação entre as variações em diferentes escalas é referida coletivamente como
"panarchy" (HOLLING et al., 2002b, BUTZER, 1982).
Segundo Gunderson; Holling (2002), panarchy é um termo usado em
primeira mão pelo botânico e economista Paul Emile de Puydt em 1860, referindo-
se a uma forma específica de governança, archy, que abrangeriam todos os
outros, pan. No século XX, o termo foi re-introduzido por estudiosos das relações
internacionais para descrever o conceito de governança global e, em seguida, por
intelectuais da teoria geral de sistemas para descrever a organização não-
hierárquica das teorias científicas. Gunderson; Holling, (2002), descrevem a
origem da panarchy, enquanto um termo antítese à palavra hierarquia; contudo
eleva esse termo a compreensão da evolução adaptativa e/ou co-evolução dos
ciclos adaptativos. Na tradução para a língua portuguesa, panarchy pode ser
compreendido como a panarquia, onde um sistema é capaz de criar e de
experimentar novas soluções, beneficiando àquelas que criam oportunidades e
evitando as que representam uma ameaça, o qual molda variáveis dos ciclos
adaptativos e o estado futuro do sistema em potencial: a capacidade disponível de
um sistema para a mudança, a qual está relacionada com o número de opções de
desenvolvimento disponíveis; conectividade: o grau de ligação entre as variáveis e
os processos que controlam o sistema, propriedade relacionada com a
capacidade de o sistema controlar o seu próprio destino e com a sua sensibilidade
a perturbações; resiliência: a medida da vulnerabilidade do sistema a choques,
embates, surpresas ou criação indeterminada.
Panarchy, é uma teoria compreendida para descrever a evolução
hierárquica dos sistemas com múltiplos elementos interligados, oferecendo um
novo quadro importante para a compreensão e resolução do dilema da teoria de
sistemas enquanto campo interdisciplinar das ciências, que estudam a natureza e
os processos dos sistemas complexos da física, biologia e as ciências sociais,
bem como da tecnologia da informação.
Também, panarchy é compreendido como a estrutura em que sistemas,
incluindo os de natureza (por exemplo, as florestas) e do homem (por exemplo, o
capitalismo), bem como a inter-relação humana e os sistemas naturais (por
exemplo, as instituições que regulam a utilização dos recursos naturais, como o

61
Serviço Florestal Brasileiro), estão interligados em permanentes ciclos de
adaptação de crescimento, acumulação, reestruturação e renovação.
Gunderson; Holling (2002), afirmam que a emergente complexidade da
nossa estrutura social e política é compostas por muitos sistemas interagindo,
combinado com a crescente importância da rede de formas de organização, isso
permitiu através de tecnologias o aumento da conectividade, que impulsiona o
mundo rumo a um sistema de transformação que culmina na elaboração de uma
política global, em que o ambiente é composto por uma diversidade de esferas de
governação, na totalidade do que é chamado panarchy.
A utilização dos conceitos teóricos da resistência sistêmica como um guia
de um pensamento de mudanças no complexo sistema social tem uma série de
vantagens: encoraja-nos a pensar explicitamente sobre a dinâmica dos sistemas
ao invés de seus estados descritivos, em diferentes intervalos de tempos, e
proporciona um vocabulário concebido para este; promove também a uma análise
explícita das interações entre componentes de sistema e com vários outros
sistemas espaciais e escalas temporais.
O conceito do ciclo adaptativo é benéfico, porque enfatiza as múltiplas
possíveis trajetórias de crescimento e desenvolvimento. Além disso, sugere que o
sistema ecológico-social são sistemas resilientes adaptáveis, mas a adaptação
pode mudar a dinâmica do sistema e exigir novas adaptações; mudança e
estabilidade são, pois, inevitáveis. A adição de uma reorganização ou em fase das
considerações de sistemas adaptativos é útil a descrição dos processos através
dos quais os sistemas fundamentalmente mudam ou resistem às mudanças. A
teoria sistêmica da resiliência tem perspectivas no foco de análise sobre a
reorganização dos sistemas sociais. Para muitos sociólogos e ecólogos, a
investigação científica sempre incidiram sobre o "colapso", com pouco
reconhecimento ou consideração de reorganizações e subseqüente como foram
reestruturadas. A teoria sistêmica de resiliência é uma perspectiva útil porque se
dirige especificamente para esta investigação, freqüentemente negligenciada o
aspecto e registros científicos sociológicos e ecológicos, tem se preocupado
apenas em descrever os “colapsos” socioecológicos, sociais ou ecológicos, mais
com pouca preocupação cientifica acerca das adversidades e adaptações que o

62
sistema ecológico-social se estrutura ou reestrutura (REDMAN; KINZIG, 2003;
REDMAN, 2005).
É comum a confusão entre cibernética e robótica, em parte devido ao
termo ciborgue (termo que pretendia significar CYBernetic ORGanism =
Cyborg). A cibernética foi estudada em diversos países tanto para o
planejamento de suas economias como para o desenvolvimentos de
maquinarias bélicas e industriais, como foram os casos da antiga União das
Repulicas Socialistas Soviéticas (onde se preocuparam com a gestão e
controle da economia soviética propondo as perguntas: Quem produz? Quanto
produz? Para quem produz?), da França, dos EUA e do Chile (GEROVITCH,
2003; MEDINA, 2006).
A teoria sistêmica ecologia-social é um produto da teoria da co-evolução
(GEROVITCH, 2003), que em si, é um acordo da teoria de Gaia, que
compreende a evolução como algo que não pode ser vista como uma simples
adaptação de organismos ao seu ambiente, pois o próprio ambiente é
modificado pela vida; os organismos vivos se adaptam e modificam o meio
ambiente; podemos dizer que eles co-evoluem, numa visão sistêmica é uma
evolução ecológica-social. De acordo com James Lovelock (apud CAPRA,
1996), a evolução dos organismos vivos está tão estritamente acoplada com a
evolução do seu meio ambiente que, juntas, elas constituem um único processo
evolutivo, uma co-evolução do sistema ecológico-social.
Outra forma de co-evolução é a simbiose, ou a capacidade de
organismos se associarem e desenvolverem estreitos laços de colaboração, às
vezes uns dentro dos outros. Os darwinistas do século XIX viam somente a
competição da natureza; hoje, sabemos que a cooperação pode ser uma forma
mais eficaz de evolução. Nas palavras de Margulis e Sagan (citado por
CAPRA, FRITFOF, 2004), “a vida não se apossa do globo pelo combate, mas
sim, pela formação de redes, de um sistema ecológico-social”.
Essa linguagem comum promove a colaboração de cientistas com
experiências decorrentes a partir de diferentes disciplinas tradicionais, o que é
necessário à compreensão de sistema ecológico-social. Além disso, fornece um
quadro no qual expressa modelos explicativos que podem ser desenvolvidos para

63
esse sistema, utilizando conceitos integrados a partir desses múltiplos domínios
do conhecimento.
Destinam-se sistemas ecológico-social, particularmente indivíduos e
comunidades rurais pobres com elevado grau de dependência dos recursos
naturais, em circunstâncias especialmente difíceis ou não, que estejam
dispostos a promover entre seus destinatários a capacidade de lidar com a
adversidade sem deixar-se afetar negativamente por ela e de utilizá-la para
crescer, capitalizando as forças negativas de forma positiva e construtiva.
O critério de resiliência sistêmica ecológico-social serve para avaliar a
repercussão nas decisões de manejo de ecossistema na estabilidade
institucional a nível comunitário e das sociedades. Baseado em Glaser et al
(2005), a resiliência sistêmica ecológico-social é compreendida como a
capacidade dos sistemas sociais para a auto-organização, adaptando-se e
desenvolvendo-se diante dos choques ou com à integração à mudanças no seu
cotidiano mantendo as funções do sistema da sociedade e do meio ambiente. A
resiliência sistêmica ecológico-social têm limites da aprendizagem social
definidos por variáveis encontrados nos sistemas sociais como a identidade
cultural e a diversidade, a equidade de distribuição de renda, a paz de ordem
institucional, e os conflitos sociais internos e externos.
A resiliência sistêmica ecológico-social é, entretanto, altamente
dependente das características econômicas, sociais e culturais da sociedade
em questão. Isto implica que o conhecimento que os usuários do sistema
possuem de sistemas de valores, da cultura e das estruturas econômicas é
crucial para a definição e capacitação da resiliência sistêmica ecológico-social
e, em conseqüência, também para o planejamento de formas de organização
do manejo participativo no meio ambiente.
Dessa forma, um enfrentamento possível para a pobreza em
comunidades pode ser a resiliência sistêmica ecológico-social, que diante de
quadros de exclusão\marginalização, pode utilizar elementos potencializadores
de participação, e então, desencadear um processo capaz de atingir a
sustentabilidade. A resiliência sistêmica social-ecologia, enquanto proposta
efetivadora da sustentabilidade é capaz de introduzir mecanismos de difusão,
através da prática da transdisciplinaridade entre os atores envolvidos em

64
processos democráticos, caracterizando-se por uma pedagogia social, ou seja,
a possibilidade da aprendizagem ser coletiva, como uma possível
proatividadade do sistema social voltado para o sistema ecológico, dessa
forma, caracterizando-se por resiliência no sistema ecológico-social que defina
ações de mudanças e/ou adaptações para atingir sustentabilidade.
A descrição do sistema ecológico-social é uma busca para definir os
objetos configuráveis do sistema, definindo assim, os fatores que são as
estruturas práticas que podem ser descritas e medidas qualitativamente e
quantitativamente. No sistema ecológico-social da Amazônia brasileira,
importantes fatores de origem ecológica são o clima, a produtividade dos
ecossistemas, o transporte de sedimentos e materiais orgânicos, entre outros,
descritos nos ecossistemas de florestas de terra firme, ecossistemas de várzea
e florestas de manguezal, interesses dessa tese; os fatores de origem social
são os mecanismos sociais da resiliência sistêmica, donde, as variações do
sistema são definidas. No lado social, a globalização e mudanças técnicas
incidem sobre o uso humano do ecossistema, a dinâmica demográfica e a
produtividade agrícola, a questão fundiária, o trabalho infantil e o ambiente
institucional, entre outros, esses fatores precisam ser medidos para termos,
assim, uma análise do sistema e suas capacitações diante da adversidade, ou
seja, do potencial da resiliência do sistema, definindo os valores sociais
construídos pela capacidade de mudanças ou adaptações.
Os valores sociais representam uma força motriz de origem especial por
sua qualidade reflexiva. As forças motrizes sociais respondem não só à
mudanças políticas, mas também à mudanças em valores sociais, então, aqui,
a importância das medidas de resiliência sobre esses fatores sociais e
ecológicos, para poder se compreender os limites e possíveis mudanças das
estruturas do sistema, donde pode ser analisado, inclusive, que caminhos estão
sendo conduzidos, em especial, se esses caminhos são sustentáveis.
Essa proposta de tese tem claro como objetos os fatores ecológicos e
fatores sociais da estrutura do sistema, donde os fatores sociais têm a função
de variar o sistema ecológico-social e a busca desse estudo é medir essas
variações, que tem como produto a resiliência do sistema.

65
O desafio de investigação nessa tese relaciona-se com a analise da
resiliência no sistema ecológico-social, como uma proposta de um conceito
interdisciplinar e dinâmico para explicar as mudanças não-lineares e
descontínuas (incluindo choques e surpresas) observáveis na interação
homem-natureza, integrando tanto a dinâmica ecológica quanto o
comportamento humano na esfera individual e social.
Em sistemas ecológico-sociais, existem mecanismos que se auto-
reforçam e que, ao mesmo tempo, inibem a transição para outras
configurações de sistema (BERKES; FOLKE, 2002; ADGER, 2000;
GUNDERSON; HOLLING, 2002). Tal tipo de mecanismo é denominado
resiliência. A abordagem de sistemas ecológico-sociais procura configurações
sistêmicas que produzem estados sistêmicos desejáveis e sustentáveis.
Alcançada a configuração sistêmica desejada, surge a questão de como
mantê-la, e, com essa preocupação, a abordagem do gerenciamento da
resiliência, atualmente o ponto principal do manejo de sistemas ecológico-
sociais. O gerenciamento da resiliência foi descrito como “aprendendo a viver
com o sistema em lugar de controlá-lo” ou “mantendo a capacidade do sistema
para lidar com tudo o que o futuro traz sem o sistema mudar de forma
indesejável” (WALKER et al., 2002).
Ecossistemas são sistemas adaptativos complexos, bem como a sua
governação exige flexibilidade e capacidade para responder a um feedback do
ambiente (LEVIN 1998; BERKES et al., 2000; DIETZ et al., 2003). Carpenter e
Gunderson (2001), salientam a necessidade de testar continuamente (circundo de
aprendizagem), e desenvolver o conhecimento e compreensão, a fim de lidar com
a mudança e a incerteza em sistemas adaptativos complexos. Conhecimento e
aquisição de sistemas complexos são um contínuo e dinâmico processo de
aprendizagem, e esse conhecimento surge freqüentemente com as pessoas das
instituições e organizações. Afigura-se para exigir aos quadros institucionais e
redes sociais em toda a escala aninhada para ser eficaz (GUNDERSON;
HOLLING, 2002; BERKES, et al., 2003). Os sistemas complexos caminham sem
nenhuma surpresa que o conhecimento dos recursos e dos ecossistemas
associados e das práticas de gestão, que existem entre as pessoas das
comunidades que, numa base diária e durante longos períodos de tempo,

66
interagem de seu benefício e de sua subsistência com os ecossistemas (BERKES
et al., 2000; FABRICIUS; KOCH, 2004). A forma como esse conhecimento está
sendo organizada e culturalmente embutida, a sua relação com a instituição, os
profissionais das ciências e seu papel no sentido de catalisar novas formas de
gestão dos recursos ambientais tornam-se importante para todos os indivíduos
(KELLERT et al., 2000; GADGIL, et al., 2000; GADGIL, et al., 2003; ARMITAGE,
2003; BROWN, 2003, DAVIS; WAGNER, 2003). Tem sido sugerido que a gestão e
governança de sistemas adaptativos complexos podem beneficiar a combinação
de diferentes sistemas de conhecimento (MCLAIN; LEE, 1996; JOHANNES, 1998;
LUDWIG, et al., 2001). Há aqueles que tentam importar esses conhecimentos para
a área do conhecimento científico (MACKINSON; NOTTESTAD, 1998), outros
argumentam que estes sistemas de conhecimento são culturalmente evoluídos e
existem como conhecimento, crenças, práticas complexas que não são facilmente
separadas do seu enquadramento institucional e contexto cultural (BERKES,
1999). Há aqueles que questionam o papel dos sistemas de conhecimento
tradicionais e locais, na situação atuam das alterações ambientais e pervasivo das
sociedades globalizadas (KRUPNIK; JOLLY, 2002; DU TOIT, et al., 2004), outros
argumentam que há lições a partir desses sistemas de sistemas de gestão
complexos, lições que também precisam para ter em conta as interações entre
escalas temporais e espaciais e níveis organizacionais e institucionais (BARRETT,
et al., 2001; PRETTY; WARD, 2001), e em especial durante os períodos de rápida
mudança, de incerteza e sistema de reorganização (BERKES; FOLKE, 2002).
A discussão sobre resiliência no sistema ecológico-social não é exatamente
uma novidade exclusiva dessa tese, muitos trabalhos semelhantes são
desenvolvidos em vários centros científicos do mundo, onde se baseiam na
investigação sobre o efeito direto no ecossistema, de forma natural ou sobre
intervenção humana, desestruturam os fatores do sistema ecológico-social,
como terremotos, impactos vulcânicos ou guerras civis etc. Uma característica
inovadora dessa tese refere-se aos estudos específicos da desestruturação dos
fatores do sistema ecológico-social que ocorrerem na Amazônia brasileira com
os eventos da pobreza da população rural e da devastação dos ecossistemas
e, com isso, os estudos de investigação acerca da capacidade do sistema se
adaptar diante da adversidade desses fatores.

67
Outra categoria conceitual fundamental para esta tese de doutorado é a
discussão sobre vulnerabilidade social e suas performances de sobrevivência.
Segundo Tavares (2001), a vulnerabilidade social é um tipo de susceptibilidade
psicológica do indivíduo que potencializa os efeitos dos estressores e impedem
que o indivíduo responda de forma satisfatória ao estresse. São predisposições
ao desenvolvimento de várias formas de psicopatologias. A vulnerabilidade está
relacionada com a precariedade de trabalho, tendo como conseqüência a
contemplação maior do contingente de fragilizados pelo sistema econômico, o
que reproduz um risco de retrocesso histórico, caso a vulnerabilidade não
receba nenhuma regulamentação socioeconômica.
É dentro dessa indefinição de sobrevivência que Castel (1998), introduz
o conceito de vulnerabilidade social para se referir às atuais dinâmicas de
exclusão\marginalização, diferenciada da exclusão tradicional determinadas por
discriminações oficiais. Na atualidade, as dinâmicas de exclusão seriam
fortemente marcadas por processos de desestabilização socioeconômica,
como a degradação das relações e condições de sobrevivência.
Nesse contexto, o sistema ecológico-social parece-nos de alta
relevância. Nessa abordagem, para um gerenciamento sistêmico sustentável,
temos de entender não somente o sistema ecológico, mas também o
funcionamento integrado do sistema ecológico-social (BERKES; FOLKE, 2002).
As mais recentes raízes intelectuais dessa abordagem estão no conceito da co-
evolução, que trata como a simbiose ou a capacidade de organismos se
associarem e desenvolverem estreitos vínculos de colaboração e adaptação
(NORGAARD, 1994). A intenção da teoria de sistema ecológico-social é
“entender a fonte e a função de mudanças sistêmicas, particularmente de
mudanças transformativas em sistemas adaptáveis. Mudanças econômicas,
ecológicas e sociais que acontecem em diferentes velocidades e escalas
espaciais são o alvo da análise de mudanças adaptativas” (HOLLING, et al.,
2002, p. 5).
A teoria de sistemas ecológico-social propõe um conceito interdisciplinar
e dinâmico para explicar as mudanças não-lineares e descontínuas (incluindo
choques e surpresas) observáveis na interação homem-natureza, integrando
tanto a dinâmica ecológica, quanto o comportamento humano na esfera

68
individual e social. O sistema ecológico-social pode ser compreendido como um
modelo de ciclo adaptativo, a partir da dinâmica biológica de ecossistemas.
Esse modelo também é aplicado, para entender dinâmicas organizacionais,
políticas e sociais no sistema.
Em sistemas ecológico-social, existem mecanismos que se auto-
reforçam e que, ao mesmo tempo, inibem a transição para outras
configurações de sistema (BERKES; FOLKE, 2002; ADGER, 2000;
GUNDERSON; HOLLING, 2002). Tal tipo de mecanismo é denominado
resiliência. A abordagem de sistemas ecológico-social procura configurações
sistêmicas que produzem estados sistêmicos desejáveis (definido pelo próprio
sistema social), e sustentáveis (medido pelo padrão-teórico de
sustentabilidade). Alcançada à configuração sistêmica desejada, surge a
questão de como mantê-la e, com essa preocupação, a abordagem do
gerenciamento da resiliência, atualmente ponto principal do manejo de
sistemas ecológico-social. O gerenciamento da resiliência no sistema
ecológico-social foi descrito como “o homem aprendendo a viver com o sistema
ecológico-social em lugar de controlá-lo” ou “mantendo a capacidade do
sistema para lidar com tudo o que o futuro traz, sem o sistema mudar de forma
indesejável” (WALKER et al., 2002).

2.5. AS CIÊNCIAS E SUAS CONCEPÇÕES DA RESILIÊNCIA: ORIGEM E


EVOLUÇÃO HISTÓRICA.

A etimologia da palavra resiliência vem do latim, resílio ou resilié, que


significa “saltar novamente”, "voltar ao estado natural", “retornar ao estado
anterior”. A resiliência não é um conceito novo para as ciências, tem uma
abordagem teórico-prática a um conceito, com interpretação em diversas
disciplinas, e vem atuando na Física e nas Engenharias, na Matemática, na
Medicina, na Psicologia, Administração, na Sociologia e na Geografia, na
Biologia, na Sociologia e na Biologia entre outras.
Nessa revisão bibliográfica, de forma resumida, pretende-se apresentar
modelos de metodologia de estudos científicos da resiliência e discutir as
locações da resiliência em concepções disciplinares e interdisciplinares nas

69
ciências, especialmente na Física e Engenharias, na Psicologia, na Sociologia,
Administração, Medicina e Odontologia e na Biologia.
Historicamente falando, a noção de resiliência vem sendo utilizada há
muito tempo pela Física e Engenharias, sendo um de seus precursores o
cientista inglês Young (1807), considerando tensão e compressão, introduz
pela primeira vez a noção de módulo de elasticidade. Young (1807), descrevia
experimentos sobre tensão e compressão de barras, buscando a relação entre
a força que era aplicada num corpo e a deformação que essa força produzia.
Esse cientista foi também o pioneiro na análise dos estresses causados pelo
impacto, tendo elaborado um método para o cálculo dessas forças.
Silva Jr. (apud TAVARES, 2001) denomina resiliência de um material,
correspondente à determinada solicitação, a energia de deformação máxima
que ele é capaz de armazenar sem sofrer deformações permanentes. Dito de
outra maneira, a resiliência na Física refere-se à capacidade de um material
absorver energia sem sofrer deformação plástica ou permanente (EASLEY,
EASLEY, ROLFE, 1983, apud TAVARES, 2001). Nos materiais, portanto, o
módulo de resiliência pode ser obtido em laboratório através de medições
sucessivas ou utilização de uma fórmula matemática que relaciona tensão e
deformação e fornece com precisão a resiliência dos materiais. É importante
ressaltar que diferentes materiais apresentam diferentes módulos de resiliência
De acordo com Alvarenga e Maximo (1986), a resiliência na Física e na
Engenharia Elétrica é determinada pela quantidade de energia devolvida após
a deformação, por aplicação de uma tensão. É medida normalmente em
percentual da energia recuperada e fornece informações sobre o caráter
elástico do material. A histerese é um fenômeno observado em alguns
materiais pelo quais certas propriedades, em determinado estado, dependem
de estados anteriores. No caso de propriedades mecânicas a histerese pode
ser medida pela perda de energia durante um ciclo de deformação e
recuperação do material. Nas espumas flexíveis e elastômeros celulares, a
resiliência é determinada pela quantidade de energia devolvida após o impacto
do material com uma massa conhecida, sendo medida pelo ricochete
resultante. Um material perfeitamente elástico tem uma resiliência de 100% e
um perfeito absorvedor de 0%. Para espumas flexíveis de baixa densidade é

70
preferido um método simples, segundo a ABNT/NBR 8619 (2003), no qual uma
bola de tamanho e peso padrões cai sobre a amostra da espuma, de uma
altura padrão. A quantidade de energia devolvida é determinada então pelo
ricochete resultante.
Para Yunes e Szymanski (apud TAVARES, 2001), na Psicologia, o
estudo do fenômeno positivo da resiliência é relativamente recente, e vem
sendo pesquisado de 1980. Mas, apenas após 1995, os encontros
internacionais têm trazido esse construto para discussão. Sua definição não é
clara nem tampouco precisa quanto na Física, na Medicina, na Biologia ou na
Engenharia (e nem poderia ser), consideradas a complexidade e a
multiplicidade de fatores e variáveis que devem ser levados em conta no estudo
dos fenômenos humanos. Pode-se apenas tentar fazer algumas referências e
apontamentos conceituais sobre as definições encontradas, sem esquecer os
objetos e métodos próprios desses campos da ciência tão distintos. Vale dizer
que a Psicologia apropriou-se de um conceito construído dentro de um modelo
matemático, e devemos ter muita cautela para não incorrer em comparações
indevidas. Para apenas usar uma metáfora, poder-se-ia dizer que a relação
tensão/pressão com deformação-não-permanente do material corresponderia à
relação situação de risco/estresse/experiências adversas com respostas finais
de adaptação/ajustamento no indivíduo, o que ainda nos parece bastante
problemático, haja vista as dificuldades em esclarecer o que é considerado
risco e adversidades, bem como adaptação e ajustamento (YUNES;
SZYMANSKI, apud TAVARES, 2001).
Na linha da Psicologia, Junqueira e Deslandes (2003), definem a
resiliência como “[...] a superação (ou adaptação)” diante de uma dificuldade
considerada como um risco, e a possibilidade de construção de novos
caminhos de vida e de um processo de subjetivação a partir do enfrentamento
de situações estressantes e/ou traumáticas. Onde o resiliente é capaz de
elaborar suas dificuldades alcançando maior inserção na vida social e mais
satisfação com a vida, e que esse processo pode ser desenvolvido através do
apoio da família, da comunidade, de instituições ou até mesmo de projetos
sociais que trabalhem em busca desse objetivo.

71
O estudo mais citado pelos pesquisadores psicólogos é o de Werner;
Smith (1982, 1992) e colaboradores, que durou cerca de quarenta anos, tendo
iniciado em 1955 e que, de início, não objetivava estudar resiliência, mas
investigar os efeitos cumulativos de fatores de risco no desenvolvimento físico,
social e emocional das crianças. Essa pesquisa acompanhou 698 crianças de
uma ilha denominada Kauai localizada no Havaí. As crianças foram avaliadas
com idades de 1, 2 , 10, 18 e 32 anos, sendo que, quando tinham 1 ano seus
pais foram entrevistados. A pesquisa foi sistematizada com o foco em 72
crianças (42 meninas e 30 meninos) que tinham histórias de quatro ou mais
fatores de risco, entre eles: pobreza; baixa escolaridade dos pais; estresse
perinatal; baixo peso no nascimento; presença de deficiências físicas; famílias
com pais alcoólatras ou doentes mentais. Como resultado, Werner; Smith
(1982, 1992), descobriram que nenhuma das 72 crianças desenvolveu
problema de aprendizagem ou comportamento e consideraram este resultado
como “sinal de adaptação ou ajustamento” designando assim as crianças como
resilientes pelo fato de que, apesar das circunstâncias adversas, elas não foram
atingidas por essas circunstâncias. O resultado da pesquisa foi sistematizado e
publicado no livro “Vulnerável, porém invencível” (no original: Vulnerable but
invincible).
As Ciências Sociais Aplicadas, em especial o Serviço Social, tratam o
conceito de resiliência geralmente aos fatores desencadeantes de maior
desequilíbrio e instabilidade emocional são os problemas relacionados à saúde, à
família, à situação profissional ou econômica. Entretanto, o Serviço Social,
considera que, imediatamente diante das dificuldades é preciso ponderar,
perceber o que é real, reorganizar o próprio mundo e agir. É fundamental absorver
o impacto, controlar a situação e dar as respostas exigidas, evitando que as
contingências e conjunturas sobrepujem o momento.
A capacidade de reagir, responder de forma mais consciente aos desafios,
se adaptar às dificuldades e ser flexível, é denominada resiliência para as
Ciências Sociais Aplicadas. Recuperar-se após um impacto, refletir e diante dos
desafios ou circunstâncias desfavoráveis, perseverar e transformar,
compreendendo um pouco melhor o sentido e o significado da vida, é uma
potencialidade que todos têm e podem desenvolver. Resiliência é, para o Serviço

72
Social, a capacidade de uma pessoa ou de um grupo de se desenvolver
adequadamente, de continuar a se projetar no futuro na presença de
acontecimentos desestabilizadores, de condições de vida difíceis;…a capacidade
de resistir aos choques e de reagir na adversidade. Ela depende da imagem de si
mesmo e da percepção da capacidade de exercer um determinado controle sobre
o ambiente e sobre aquilo que acontece com o indivíduo; ser resiliente não
significa reagir no sentido estrito do termo, mas crescer em direção a algo novo.
Reagir de volta a um estado inicial é impossível, trata-se na verdade de saltar para
frente, de abrir portas sem negar o passado doloroso, mas o superando.
As Ciências Sociais Aplicadas discute estudos de casos onde um individuo
diante das dificuldades e vulnerabilidades, de acordo com o possível de cada um,
propicia a melhor ação, transformação de comportamentos e que se impetrem as
trocas necessárias. Para o Serviço Social, somos todos resilientes e sempre
podemos encontrar condições ou fatores que transformem a pressão, a
hostilidade e a adversidade em aspectos que nos façam crescer e seguir adiante.
Há pessoas mais resilientes que outras, pois é resultado do conhecimento, da
experiência , da história de vida e das qualidades comuns das pessoas possui.
Pessoas resilientes atravessam as crises sem desestruturação, como uma árvore
forte, cujos galhos se dobram em um vendaval, mas não se quebram.
Na Universidade Federal do Pará, existe o grupo de Estudos e Pesquisas
da Resiliência na Amazônia (RESILIO), que atua no Instituto de Ciências Sociais
Aplicadas e desenvolvem diversos estudos de casos entre idosos, crianças de e
na rua, trabalho infantil, indivíduos portadores do HIV e religiosidade, na intenção
de medir a resiliência desses indivíduos mediante a vivência com choques e
perturbações sociais, econômicas
Na educação, a resiliência também se apropria de amplas discussões e
focalizam um dos fundamentos do processo de aprendizagem diante de
adversidades e riscos, exógenos e endógenos, da eficiência da educação. Para
Antunes (2003), a resiliência em ciências sociais e, particularmente, em
educação, explicar o singular universo de pessoas extremamente pobres e que
até bem pouco tempo viam-se marginalizadas de qualquer processo educativo.
Nos últimos anos essa situação se altera e crianças resilientes são
recebidas numa escola que, entretanto, não está plenamente preparada para

73
acolhê-las, pois apresentam currículos, estratégias de aula, meios de avaliação
e sistemas de ensino edificados para outra realidade. Na visão de Antunes
(2003), este fascículo parte da certeza de que o professor brasileiro não está
preparado para ensinar pobres e que é imperiosa a construção de uma nova
pedagogia para alunos resilientes.
A introdução de diversos estudos que investigam resiliência 'traz
questões relativas a essas "habilidades individuais" ilustradas com pequenas
histórias de pessoas com trajetórias semelhantes; dentre elas, entretanto,
algumas conseguem superar os momentos de crise e outras não. Dessa forma,
a perspectiva no indivíduo busca identificar resiliência a partir de características
pessoais, tais como sexo, temperamento e formação genética, apesar de todos
os autores acentuarem em algum momento o aspecto relevante da interação
entre bases constitucionais e ambientais da questão da resiliência. Várias
críticas podem ser aplicadas a resiliência relativas a essas habilidades
individuais não previstas na Psicologia Positiva, pois não fica clara a
responsabilidade do resultado do sucesso, se parte do próprio indivíduo, da
sorte ou mesmo dos fatores exógenos que facilitam a resiliência específica
desse indivíduo singular.
Uma teoria-metodológica muito discutida no Brasil na Psicologia Positiva
é a teoria de ecologia do desenvolvimento humano de Urie Bronfenbrenner
conhecida como inserção bioecológica (BRONFENBRENNER, 1996, 1999),
atribuída como um desempenho da resiliência sistêmica ecológico-social. A
inserção bioecológica, representa um modelo de fenômenos, que são
acessíveis pela simplificação de elementos e relações e de interações. A
metodologia de pesquisa sistêmica pode ser na abordagem da resiliência em
aspecto qualitativo, especificamente na inserção ecológica o fundamento na
teoria dos sistemas para o desenvolvimento humano e social, denominado de
bioecológico.
Segundo os estudos na Psicologia Positiva de Bronfenbrenner (1996), o
desenvolvimento humano e social ocorre através da interação de quatro
núcleos: o processo, a pessoa, o contexto e o tempo, compondo o modelo
bioecológico. Neste modelo, o processo é destacado como o principal
mecanismo responsável pelo desenvolvimento, que é visto através de

74
processos de interação recíproca progressivamente mais complexa de um ser
humano ativo, biopsicologicamente em evolução, com as pessoas, objetos e
símbolos presentes no seu ambiente imediato (BRONFENBRENNER; CECI,
1994). Estas formas de interação no ambiente imediato são denominadas, no
modelo bioecológico, como processos proximais. Esse modelo representa um
referencial teórico-metodológico para a realização de pesquisas qualitativas na
resiliência sistêmica ecologia-social através de observações participantes
(CECCONELLO; KOLLER, 2003).
Segundo Bronfenbrenner (1996), a pesquisa ecológica na Psicologia
Positiva contém dados relativos ao maior número de sistemas dos quais a
pessoa focalizada participa. Desta forma, a abordagem ecológica do
desenvolvimento privilegia estudos longitudinais, com destaque para
instrumentos que viabilizem a descrição e compreensão dos sistemas da
maneira mais contextualizada possível. Contudo, nada impede o pesquisador
de se interessar somente por aspectos de um único microssistema da pessoa
focalizada. Seu estudo terá características ecológicas na medida em que a
realização da pesquisa e a discussão dos resultados não ignorem aspectos
relativos aos demais sistemas e suas possíveis influências dentro do processo
estudado.
Na ciência Administrativa a resiliência é, atualmente, uma das competências
mais valorizadas no ambiente corporativo, além de ser imprescindível para
estudos complexos sobre pessoas e empresas que têm habilidades
extraordinárias em administrar um conjunto de características para lidar
adequadamente com as mudanças e adversidades.
Vergara (2008) aponta que os primeiros estudos em administração acabaram
voltando a resiliência para aspectos pragmáticos. As prescrições são inúmeras.
Para exemplificar esse fato, os itens a seguir mostram os destaques que Carmello
(2004) dá, ao definir o comportamento de indivíduos resilientes:
a. São autoconfiantes: acreditam em si e naquilo de que são capazes de fazer;
b. Gostam e aceitam mudanças: encaram as situações de estresse e
adversidade como um desafio a ser superado;
c. Têm baixa ansiedade e alta extroversão: são abertas às novas experiências
e formas de se fazer as coisas;

75
d. Têm autoconceito e auto-estima positivo: conseguem administrar seus
sentimentos e suas emoções em ambientes imprevisíveis e emergenciais;
e. São emocionalmente inteligentes: conhecem suas emoções, sabem
administrá-las, sabem automotivar-se, reconhecem emoções em outras
pessoas e sabem manejar relacionamentos;
f. São altamente criativos: procuram constantemente por inovações;
g. Dispõem de uma eficaz capacidade de resposta: mantém altos níveis de
clareza, concentração, calma e orientação frente a uma situação adversa.
A Harvard Business Review publicou o artigo How Resilience Works, de Coutu
(2003), em que são apontadas características da pessoa ou organização
resiliente, com destaque para a habilidade de improvisar, ter valores arraigados e
firme aceitação da realidade. Essa última característica, aceitação da realidade,
relaciona-se com a capacidade de atribuir significado a ela, transcendendo a
condição de vítima para aprender com suas lições e crises.
Na mesma linha prescritiva, Dualib; Simonsen (2000) asseveram que é o
encarar da realidade, confrontando a adversidade e a dinâmica do problema, que
faz com que o pensador chegue a uma solução criativa para ele. E destacam que
a atividade criadora é precedida pela angústia. Desse modo, para que a criação
ocorra, a pessoa criativa deve ser inicialmente perturbada e frustrada por um
problema ou uma situação que não pode manobrar. Então, há o confronto com
alguma forma de adversidade. Para autores como Coutu (2003) e Dualib;
Simonsen (2000), essas soluções criativas resultam da liberação de energia
necessária para a eliminação daquela angústia.
Gallende (2004), no mesmo sentido dos autores citados acima, afirma que a
adversidade produz resiliência quando provoca, no sujeito comum, condições
subjetivas criativas que enriquecem suas possibilidades de atuar sobre a própria
realidade. Em relação à criatividade, Barlach (2005) também já havia investigado
sobre como ela pode se constituir num componente do comportamento resiliente.
Essa autora afirma que a resiliência pode ser entendida como uma resposta
criativa no confronto com a crise: [...] na aplicação do pensamento lateral na
geração de soluções inovadoras diante de situações traumáticas ou adversas. [...]
O desenvolvimento da criatividade pode ser proposto como medida preventiva, de
forma a gerar um potencial sempre atualizado de recursos para o enfrentamento.

76
Ou poder-se-ia pensar na criação de uma espécie de “estoque” de recursos
criativos a ser gerenciado de forma permanente? Essa proposição pode ser
entendida como base para a promoção da resiliência (BARLACH, 2005, p.102).
Não há como negar que houve, na literatura sobre o tema, uma transposição
do conceito de resiliência individual para o organizacional. Há um processo de
reificação, de coisificação do mundo. A reificação é a apreensão dos fenômenos
humanos como se fossem coisas. É a apreensão dos produtos da atividade
humana como se fossem algo diferente de produtos humanos, como se fossem
fatos da natureza, resultados de leis ou manifestações da vontade divina, ao tratar
também as organizações como “criativas” e também “resilientes” (BERGER;
LUCKMANN, 1985, p. 122-123), ou seja, nessa transposição, as organizações
resilientes são aquelas que têm maior produtividade, são mais fortes e
invulneráveis aos impactos do seu ambiente.
Nesse sentido, Tavares (2001) desenvolveu a tese de que a resiliência não
deve ser apenas um atributo individual, mas pode também estar presente nas
instituições/organizações, gerando uma sociedade mais resiliente. Para esse
autor, uma organização resiliente é uma organização inteligente, reflexiva, onde
as pessoas são livres, responsáveis, competentes, que funcionam numa relação
de confiança, empatia, solidariedade. “Trata-se de organizações vivas, dialéticas e
dinâmicas cujo funcionamento tende a imitar o do próprio cérebro que é altamente
democrático e resiliente” (TAVARES, 2001, p.60).
Consoante com esta afirmação, Cunha; Rego (2005) afirmam que resiliência
organizacional é a capacidade da empresa para responder apropriadamente a
mudanças abruptas: [...] A organização resiliente é capaz de absorver os choques
e as surpresas, explora criativamente alternativas de ação, mobiliza recursos e
talentos dentro e fora da organização, e executa a mudança transformacional, que
é o repensar da sua identidade e do seu propósito, redesenhando-se em
conformidade [...] (CUNHA; REGO, 2005, p.1).
D’auria (2003) diz que para que uma organização se torne resiliente, ela deve
se preocupar com a resiliência de seus profissionais, pois o indivíduo que não
possui ou não desenvolve a resiliência pode sofrer severas conseqüências, que
vão da queda de produtividade ao desenvolvimento das mais diferentes doenças
psicossomáticas. O autor também afirma que o indivíduo resiliente desenvolve a

77
capacidade de se recuperar e se moldar a cada obstáculo ou desafio que
enfrenta. Portanto, por esse ponto de vista, quanto mais resiliente for o indivíduo,
haverá menos doenças e perdas, e mais desenvolvimento (pessoal e
organizacional) será alcançado. Acordando com esta proposição, Flach (1991)
revela que toda empresa deveria se preocupar com a resiliência de seus
profissionais, pois o indivíduo que não possui, ou não desenvolve a resiliência,
pode sofrer severas conseqüências, como o desenvolvimento das mais diferentes
doenças psicossomáticas, que vão provocar queda de produtividade. Esse autor
prescreve o ambiente facilitador do desenvolvimento da resiliência, o qual deve
apresentar as seguintes características: estruturas coerentes e flexíveis; respeito;
reconhecimento; garantia de privacidade; tolerância às mudanças; limites de
comportamento definidos e realistas; comunicação aberta; tolerância aos conflitos;
busca de reconciliação; sentido de comunidade; e empatia.
Para a literatura prescritiva organizacional sobre resiliência, as atividades
desenvolvidas pelos indivíduos resilientes são baseadas em um ajuste contínuo,
visando manter um sincronismo com as mudanças no ambiente, a avaliação e a
seleção das alternativas. Por essa vertente, esse processo se torna possível por
meio da auto-reformulação exigida por situações impactantes, das quais os
indivíduos e as organizações podem extrair valiosas lições e seguir adiante.
A abordagem de resiliência na Biologia, é conhecida como resiliência
ecológica, ligada a interpretações de resistências dos ecossistemas, como uma
definição usual, ou melhor disciplinar, na Biologia, na Engenharia Florestal e na
Agronomia, entre outras áreas de ciências da vida. Os estudos e pesquisas
referentes às mudanças ambientais e à dinâmica evolutiva tratam das
transformações que os sistemas ambientais têm sofrido ao longo dos últimos
séculos. As atividades econômicas e sociais empreendidas pelas sociedades
ocasionaram repercussões nos sistemas geomorfológicos e hidrológicos e
mudanças significativas nos sistemas ambientais. Os efeitos mencionados são as
chamadas mudanças dos impactos antropogênicos associadas às mudanças nos
componentes ou variáveis climáticas.
A estrutura dos sistemas ambientais normalmente respeita uma
organização cujo funcionamento depende das forças externas que afetam o
equilíbrio ou a estabilidade a que os ecossistemas estão normalmente ajustados

78
(BATABYAL, 1998). Diante desse contexto, resiliência poderia ser definida como a
capacidade do ecossistema em manter ou retornar às suas condições originais
após um distúrbio provocado por forças naturais ou pela ação humana, ou seja, os
impactos antropogênicos. A resiliência refletiria a persistência das relações
internas do sistema, a capacidade de o sistema voltar às condições originais após
ser impactado por forças externas a ele. O conceito de resiliência é muito
importante para os cientistas, formadores de políticas e tomadores de decisão em
razão do manejo dos sistemas ambientais e em relação à reversibilidade do
impacto ambiental ou antropogênico.
Segundo a Convention of Biological Diversity Secretariat (apud
CORNFORTH,1999), a resiliência ecológica pode ser definida de duas maneiras:
primeira é uma medida da magnitude da perturbação que pode ser absorvido
antes do (eco) sistema mudar a sua estrutura, alterando as variáveis e os
processos que controlam o comportamento; a segunda, um sentido mais
tradicional, é como uma medida da resistência à perturbação e à velocidade de
retorno ao estado de equilíbrio de um ecossistema.
Segundo Austin (1990), observar e administrar a resiliência ecológica de
ecossistemas específicos, como a Floresta Amazônica, mais que otimizar
recursos envolve a compreensão das vulnerabilidades e incertezas que podem
ocorrer e que devem informar políticas de desenvolvimento e proporcionar
evidências mais seguras para a tomada de decisão. O conhecimento da resiliência
dos ecossistemas é extremamente importante por focalizar os limiares além dos
quais os sistemas ecológicos não podem mais se recuperar ou voltar ao estado
original, além de que a readequação dos fatores será em relação a um novo
equilíbrio, que significa a estabilidade rompida, e a impossibilidade de
recuperação dos sistemas naturais.
Quando se evoca a necessidade de conservar a biodiversidade pensa-se
em geral nas espécies ameaçadas de extinção e nas conseqüentes perdas de
informação genética. Mas esse, além de não ser o único prejuízo econômico
imposto pela redução da biodiversidade, pode nem sequer ser o principal. Bem
pior pode ser um tipo de enfraquecimento dos ecossistemas que os torna mais
vulneráveis aos choques. Isto é, uma diminuição de sua capacidade de enfrentar
calamidades naturais ou súbitas destruições provocadas pela sociedade sem que

79
desapareça seu potencial de auto-organização. É o que em linguagem científica
chama-se de resiliência: a capacidade de superar o distúrbio imposto por um
fenômeno externo.
As implicações desses dois aspectos da biodiversidade são bem diferentes.
Se o principal problema da redução da biodiversidade for a perda de informação
genética, suas conseqüências serão mais globais do que locais. Contudo, se a
queda da resiliência se revelar mais importante, as conseqüências estarão mais
diretamente relacionadas à debilidade de um determinado ecossistema, sendo,
portanto, mais locais do que globais.
A necessidade dessa mudança de ênfase - da perda de informação
genética para a perda de resiliência - é o principal alerta de uma grande pesquisa
promovida pelo “Beijer International Institute of Ecological Economics”, um instituto
dedicado ao estudo da interdependência dos sistemas econômicos e ecológicos,
criado em 1991 pela Academia Real de Ciências da Suécia, esse instituto tem
como principal objetivo a promoção de pesquisas interdisciplinares entre cientistas
naturais e sociais, principalmente, entre ecólogos e economistas. E os primeiros
resultados dessa iniciativa estão no livro Biodiversity Loss: Economic and
Ecological Issues, editado por Charles Perrings, professor de economia ambiental
da Universidade de York (CAMBRIDGE UNIVERSITY PRESS, 1997 apud
CRESPI, 1999).
Mas isso não quer dizer que os resultados dessa primeira pesquisa
interdisciplinar do Instituto Beijer se situem apenas nesse alto nível de abstração,
carecendo de aplicações práticas. Segundo Crespi et al. (2001a), ao contrário,
vários trabalhos mostram o quanto podem ser prejudiciais os modelos de gestão
de recursos naturais baseados na velha visão de equilíbrio contida tanto na
economia (desde a revolução marginalista dos anos 1870), quanto na ecologia
(desde F.E. Clements 1916). Uma das contribuições mais surprendentes é a que
mostra a racionalidade de certos sistemas tradicionais de pastoreio em zonas
semi-áridas que costumam ser condenados pelos economistas. Focalizando
principalmente o caso da África Sub-Sahariana, mas considerando também
amplas áreas do Sul da Ásia e da América Latina, o trabalho conjunto do
economista britânico Charles Perrings com o ecólogo australiano Brian W.Walker
mostra que estes sistemas tradicionais são mais eficientes e têm muito menor

80
impacto ambiental negativo do que afirmam os estudos baseados nas teorias
econômica e ecológica dominantes. Principalmente porque seu manejo da
diversidade das espécies vegetais não reduz a resiliência dos pastos naturais.
Outra contribuição é o reforço da idéia de que os diversos métodos de
valoração econômica que procuram atribuir preços a elementos do meio ambiente
são inconsistentes do ponto de vista científico, por mais cômodos e oportunos que
possam ser (CRESPÍ et al., 2001a). Se já era difícil engolir a idéia de que a
extinção do mico-leão-dourado pode ter um preço monetário razoavelmente
calculado, o que dizer, por exemplo, da redução da resiliência dos fragmentos
florestais onde ele ainda não foi extinto? Seria seu preço comparável ao da
redução da resiliência da caatinga nordestina?
Basta enunciar essas perguntas para perceber como podem ser ilusórias
as tentativas de recauchutagem da teoria econômica dominante (neoclássica)
para responder aos novos problemas colocados pelo avanço da consciência
ambiental. Quando se faz um esforço sério para integrar economistas e ecólogos
em pesquisas científicas - como foi a referida iniciativa da Academia Real de
Ciências da Suécia - os resultados vão numa direção completamente diferente.
As interpretações da Medicina e da Odontologia em resiliência, inicialmente
no ramo da osteologia é a capacidade dos ossos crescerem corretamente após
sofrerem grave fratura, atualmente também tratam da capacidade genética ou
orgânica de impactos e congênitos nas células e a re-estabilização dessas
capacidades, pelo novo dicionário Aurélio, resiliência é a “propriedade que alguns
corpos apresentam de retornar à forma original após terem sido submetidos a uma
deformação elástica” (HOLANDA, 1988), esse conceito é usado na ciência
médica, e têm duas abordagens, uma na medicina social, com a compreensão
que os indivíduos resilientes são aqueles considerados capazes de superar as
dificuldades rapidamente por mais fortes e traumáticas que elas sejam, com
grande facilidade de adaptação às mudanças; e uma na medicina técnica-
científica com a interpretação da relação existente entre a força utilizada para
quebrar um material de restauração dentária e o tamanho da superfície quebrada,
e também, enquanto a capacidade de um material absorver energia quando ele é
deformado elasticamente e então, no descarregamento, ter recuperada esta
energia. A propriedade associada é o módulo de resiliência, Ur , que é a energia

81
de deformação por unidade de volume necessária para tensionar o material a
partir do estado não-carregado até o ponto de escoamento (BOZZO, et al., 1994).
Na ciência odontológica, a resiliência é um termo usado para compreender
as matérias do tecido bucal, os materiais resilientes ou macios para base de
próteses totais são utilizados na clínica odontológica com a finalidade de
proporcionar maior conforto e eficiência mastigatória aos pacientes que se utilizam
destas próteses (PALMER; FLOYD, 2000). Contudo, a maioria das próteses totais
reembasadas com materiais resilientes, não possui longevidade satisfatória por
sofrerem diversos tipos de avarias, dentre elas, a microinfiltração, impossibilitando
muitas vezes, a continuidade de seu uso devido ao descolamento do material
macio forrador. Segundo Neville (2004), também na odontologia, a resiliência é
usada para compreender os tecidos do sistema bucal, em especial a gengiva
inserida, que é resiliente e firmimente ligada ao periósteo do osso alveolar
subjacente. A porção vestibular da gengiva inserida se estende à mucosa alveolar
móvel e relativamente frouxa e é demarcada pela junção mucogengival.
Segundo Bengt (2004), a resiliência na Sociologia tem uma abordagem
mais recente ainda que na Psicologia, com discussões afundas nas últimas
duas décadas na Europa e Estado Unidos. Na América Latina, especialmente
no Brasil a resiliência na Sociologia trata particularmente no conceito de
salutogênese, uma relação de unidades sociais superar adversidades que
estejam atribuídas à pressão na saúde, especificamente o caso de epidemias
de doenças tropicais.
Salutogênese é o conceito, criado pelo pesquisador Antonovsky (1979),
para designar as forças que geram saúde, e se opõem à patogênese, ou seja,
às influências que causam a doença. Segundo Antonovsky (1979), caso
fossem potencializadas as forças que se opõem ao estímulo causador de
doença, seria possível evitar que as pessoas adoecessem. Portanto, ele
propunha formas de estimular e preservar esta força, através da ciência, pela
chamada salutogênese.
Antonovsky (1987), chamou de 'senso de coerência' o fundamento da
salutogênese. Senso de coerência significa um estado de harmonia e bem-
estar com o meio social, familiar e consigo mesmo. O autor descreveu isso
como 'uma sensação de orientação global, sentimento dinâmico de

82
autoconfiança, gerado no meio interno e externo, que forma um ambiente
saudável, de alta probabilidade de êxito na vida'. Trabalhos posteriores sobre o
mesmo assunto (ERIKSSON; LINDSTOM, 2005), basearam o senso de
coerência num tripé: significado, flexibilidade e estímulo. Significado é os
valores sociais e pessoais que alicerçam a sociedade, associados à
potencialidade de troca de informações e a reconstrução desses valores que
surgem nas relações. Flexibilidade é o potencial de adaptação, quer seja do
indivíduo ou da sociedade, para haver uma harmonia entre ambos. Estímulo
representa tudo aquilo que funciona como força motriz para os indivíduos e a
sociedade, e, dessa forma, aproxima as pessoas da vida, do trabalho, da
família e da sociedade como um todo.
O trabalho de Antonovsky (1987), assim como o conceito de
salutogênese, tem sido utilizado pelos pesquisadores que trabalham com
qualidade de vida, para definir quais são as áreas críticas que impedem o
indivíduo de se sentir bem e saudável. A Organização Mundial da Saúde, ao
redefinir saúde como sensação de bem-estar físico, psíquico e social, tem
trabalhado no mesmo sentido. Os pesquisadores que desenvolvem esses
conceitos, dividiram o bem-estar em vários domínios, que incluem trabalho, vida
pessoal e familiar, hábitos de vida e espiritualidade. Esses cientistas, assim
como outros das áreas de medicina psicossomática e neurociências do
comportamento, têm aplicado a teoria da salutogênese. Atualmente no Brasil a
Fundação Osvaldo Cruz, Rio de Janeiro (na linha de pesquisa da Produção de
Conhecimentos da Biociência da Saúde), e o Instituto Evandro Chagas, Belém
do Pará (na linha de pesquisa: Vulnerabilidade cultural, socioeconômica e
política e suas repercussões na saúde individual e coletiva), utilizam a
resiliência para analisar onde ocorrem situações de pressão coletiva e como se
racionaliza essas situações na visão da salutogênese, como senso coerência
social.
O conceito de resiliência na Sociologia, de acordo com Bengt (2004),
também tem a abordagem da teoria sistêmica (que é a atenção especial dessa
tese), de forma resumida compreendida como um conjunto de partes
interagentes que, conjuntamente forma um todo unitário com determinado
objetivo e efetuam determinada função, definindo um sistema, cujo resultado é

83
maior que os resultados que as partes alcançariam se funcionassem
interdependente, assim, qualquer conjunto de partes em si pode ser
considerado um sistema, desde que as relações entre as partes e o
comportamento de todos seja o foco da atenção.
A trajetória do conceito de resiliência passando por várias áreas do
conhecimento indica, a partir da visão de Julie (1990), sua multidisciplinaridade
ligado ao desenvolvimento colaborativo entre disciplinas, favorecendo as
informações comuns, porém não tem abordagens de problemas complexos,
desfavorecendo a abordagem interdisciplinar.
A resiliência na visão sistêmica é interpretada como um processo em
construção que, ainda, necessitará de esforços acadêmicos para se atingir uma
definição teórica mais complexa, é também definida como uma abordagem
interdisciplinar entre a Sociologia e a Biologia, denominada de resiliência
sistêmica. Definiremos resiliência sistêmica como uma capacidade que um
sistema social tem para poder absorver processos de auto-desenvolvimento,
tendo condições não só de resistir à adversidade, mas de utilizá-la em seu
processo de desenvolvimento social inter-relacionado ao ecossistema.

84
3 A SUSTENTABILIDADE E A AMAZÔNIA

3.1 CONSTRUÇÃO DA SUSTENTABILIDADE NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

O discurso encontrado em textos sobre a Amazônia ressalta o


tamanho, a grandeza, o imensurável, com os quais se obscurece e se mistifica
sua impenetrabilidade, a dificuldade de conhecê-la e compreendê-la, essa
ênfase, favorece a proliferação de equívocos, tanto aqueles que subestimam
estas características e a importância da especificidade e da diversidade
regional, quanto aqueles que as transformam em obstáculos intransponíveis.
Ambos os extremos devem ser eliminados da explicação com o qual se aborda
a região, quando se procede a uma explicação que visa subsidiar as ações
para seu desenvolvimento social.
Tentar homogeneizar as características das nove Unidades da
Federação, que hoje compõem a chamada Amazônia Legal, para abrangê-las
com medidas idênticas de estímulo desenvolvimentista é uma ingenuidade
óbvia. Não apenas pelas características físico-geográficas, culturais e
demográficas que apresentam ampla diversidade no interior de um mesmo
Estado, criando micro-regiões virtuais que ignoram as fronteiras políticas e
tributárias; como também pelo processo histórico que forjou características
sociais, reforçadoras da ampla gama de heterogeneidades encontrada no
cenário atual.
A idéia de região sem miséria tem sido revista (TOLOSA, 1991), com a
constatação das deficiências de infra-estrutura na satisfação das necessidades
básicas; como saneamento, educação, saúde e habitação que acompanharam
a urbanização acelerada dos últimos anos, quando a Amazônia Legal - com
mais da metade do território brasileiro - deixou de ser, exclusivamente, a última
fronteira para a colonização rural e passou a expandir-se também em cidades
com dimensões suficientes para compartilharem os problemas sociais típicos
dos grandes centros urbanos, exemplos da área metropolitana de Belém e da
cidade de Manaus, entre outras cidades.
A reformulação de critérios de valoração social, associada à adoção do
referencial ambientalista, faz parte de um cenário mundial onde é conferida uma
importância tanto científica quanto simbólica à Amazônia. O fato de ser a maior

85
floresta tropical remanescente no planeta preenche o imaginário de toda a
comunidade ecologizada do mundo, ao lado de outras questões globais como a
perda da diversidade biológica, o efeito estufa e o buraco da camada de ozônio. A
construção do paradigma ambientalista é resultado de uma longa reflexão sobre
as raízes éticas e ideológicas da crise ambiental, que põe em cheque diretamente
o modelo de desenvolvimento capitalista, questiona o lugar da espécie humana na
natureza e sua responsabilidade pelo futuro da biosfera. Esta autocrítica era, até
recentemente, impensável.
Em termos de debates acadêmicos, o novo referencial permitiu avanços
consideráveis nos estudos sobre a relação entre populações humanas e o meio
ambiente na Amazônia. As primeiras tentativas de aplicar conceitos desenvolvidos
pela Ecologia ao estudo das sociedades humanas mostraram-se frustrantes, pois
a limitou-se a estudar sociedades indígenas, as únicas consideradas adequadas à
aplicação dos modelos de ecologia humana inspirados em modelos desenvolvidos
para o crescimento de populações animais. Foram produzidas ao longo dos anos
de 1960 e 1970, quando a relação entre ecossistemas e populações da Amazônia
foi pensada a partir do conceito de adaptação. Rejeitadas por causa de seu
caráter reducionista, viam as formações socioculturais dos povos indígenas e das
populações tradicionais da Amazônia como adaptações ao ambiente, resultantes
da ação da seleção natural – em particular de fatores ambientais limitantes como
pobreza dos solos ou carência de proteínas – que teriam impedido o
desenvolvimento de formas sociais mais complexas (MEGGERS, 1977; GROSS,
1991; NETO, MIRANDA, 1993).
Por falta de classificação mais adequada estamos utilizando a noção de
“populações tradicionais” para nos referirmos a grupos humanos culturalmente
diferenciados que historicamente reproduzem seu modo de vida, de forma mais ou
menos isolada, com base em modos de cooperação social e formas específicas
de relações com a natureza, caracterizadas tradicionalmente pelo manejo
sustentado do meio ambiente. Esta noção se refere tanto aos povos indígenas
quanto aos segmentos da população nacional que desenvolveram modos
particulares de existência, adaptados a nichos ecológicos específicos. Exemplos
empíricos de populações tradicionais são as comunidades caiçaras, os sitiantes e
roceiros tradicionais, comunidades quilombolas, comunidades ribeirinhas, os

86
pescadores artesanais, os grupos extrativistas e indígenas. Exemplos empíricos
de populações não-tradicionais são os fazendeiros, veranistas, comerciantes,
empresários, empregados, donos de empresas de beneficiamento de recursos
madeireiros, minerais, etc.
As populações tradicionais são aquelas que apresentam um modelo de
ocupação do espaço e uso dos recursos naturais voltado principalmente para a
subsistência, com fraca articulação com o mercado, baseado em uso intensivo de
mão de obra familiar, tecnologias de baixo impacto derivado de conhecimentos
patrimoniais e, normalmente, de base sustentável. Estas populações - caiçaras,
ribeirinhos, seringueiros, quilombolas e outras variantes - em geral ocupam a
região há muito tempo e não tem registro legal de propriedade privada individual
da terra, definindo apenas o local de moradia como parcela individual, sendo o
restante do território encarado como área de utilização comunitária, com seu uso
regulamentado pelo costume e por normas compartilhadas internamente.
Tornou-se, portanto, mais evidente que as populações tradicionais,
principalmente, as sociedades indígenas, desenvolveram através da observação e
experimentação um extenso e minucioso conhecimento dos processos naturais e,
até hoje, as únicas práticas de manejo adaptadas às florestas tropicais
(MEGGERS, 1977; DESCOLA, 1990; ANDERSON; POSEY, 1990). Embora estas
populações corporifiquem um modo de vida tradicionalmente mais harmonioso
com o ambiente, vêm sendo persistentemente desprezadas e afastadas de
qualquer contribuição que possam oferecer à elaboração das políticas públicas
regionais, sendo as primeiras a serem atingidas pela destruição do ambiente e as
últimas a se beneficiarem das políticas de conservação ambiental.
Esse quadro analítico não comportava nossa sociedade "civilizada" porque
sua eficiência tecnológica a desvinculava das pressões naturais. Como o
desenvolvimento e a história da civilização ocidental teriam se dado
independentemente de limitações ambientais, a sociedade ocidental não teria
sofrido a mesma pressão dos processos evolutivos que moldaram o
desenvolvimento das sociedades indígenas e a ela se reservava o direito a uma
"história" (MEGGERS, 1977). A noção de adaptação era entendida mais como
uma forma de sujeição das sociedades indígenas ao domínio da natureza do que

87
como um ajuste que certamente ocorre em sociedades de tecnologia mais
simples.
Os povos indígenas aproximaram-se da sociedade nacional, seja porque as
premissas que o determinismo ecológico adotou perderam seu aval científico, seja
porque índios "ingressaram na história" com sua inserção na economia de
mercado e no movimento indigenista de luta por direitos de cidadania. Quanto a
nossa sociedade, a década de 1990 pode ser considerada o marco de nosso
ingresso no time das sociedades com direito a uma análise ecológica: o conceito
de desenvolvimento sustentável, embora ambíguo e dotado de polissemia, coloca-
nos à frente de um ideal de "adaptação consciente". Aproximamo-nos assim uns
aos outros. Envolvimento com o mercado e história ecológica são atributos
comuns a sociedades para os quais, antes, eram reservados critérios analíticos
distintos.
O emprego do critério de sustentabilidade – que substitui o de "adaptação"
da abordagem teórica evolucionária – permite enumerar as diferentes formas de
uso que as populações fazem do meio ambiente, segundo Gross (1991),
considerando suas diferenças genéricas em termos de inserção na economia de
mercado e posse de uma tradição ou história ecológica.
Segundo Maldonado (1996), sustentabilidade é um conceito sistêmico,
relacionado com a continuidade dos aspectos econômicos, sociais, culturais e
ambientais da sociedade humana. Propõe-se a ser um meio de configurar a
civilização e atividade humanas, de tal forma que a sociedade, os seus membros
e as suas economias possam preencher as suas necessidades e expressar o seu
maior potencial no presente, e ao mesmo tempo preservar a biodiversidade e os
ecossistemas naturais, planejando e agindo de forma a atingir pró-eficiência na
manutenção indefinida desses ideais.
A sustentabilidade abrange vários níveis de organização, desde a
vizinhança local até o planeta inteiro. Para um empreendimento humano ser
sustentável, tem de ter em vista quatro requisitos básicos. Esse empreendimento
tem de ser: ecologicamente correto; economicamente viável; socialmente justo; e
culturalmente aceito (BRÜSEKE, 1993).
Sempre houve uma distância entre o discurso da sustentabilidade e a
prática (UNSED, 1998, p. 67). O discurso nasceu atrelado à sustentabilidade

88
ecológica, econômica e social, porém, na prática a preocupação foi quase
exclusivamente, pela sustentabilidade ecológica durante os anos setenta e
meados dos oitenta. Depois isso mudou, mas a sustentabilidade social ficou
restringida à questão da pobreza e do crescimento populacional. Todavia, essa
preocupação com a pobreza e crescimento populacional era utilizada como
meio para atingir a sustentabilidade ecológica. Assim, para o Banco Mundial e a
ONU inclusive, o problema era se os pobres degradavam o ambiente e/ou se
suas maiores taxas de reprodução implicava em crescimento populacional e,
conseqüentemente, maior consumo de recursos. De fato, uma forma de se
interessar pela sustentabilidade social, de acordo com Sachs (2000), como uma
ponte para uma melhoria da sustentabilidade ecológica e não como um fim em
sim próprio. As críticas de dentro e de fora destas instituições mudaram o
panorama e, desde final da década de noventa, questões como a qualidade de
vida e o aumento das capacidades da população são consideradas objetivos
próprios da sustentabilidade social. Para a segunda metade da década de
noventa do século XX, as palavras chaves da sustentabilidade social, pelo
menos para estas instituições internacionais eram as de participação social,
governança, empoderamento, etc. A participação social (com maiúsculas),
passou a ser a grande preocupação da sustentabilidade social, em momentos
quando, no contexto internacional, as críticas às políticas neoliberais cobravam
força.
Para Sachs (2000), ao planejar o desenvolvimento, a sociedade deve
considerar simultaneamente cinco dimensões: a sustentabilidade social
(baseada no processo de desenvolvimento amparado em outro tipo de
crescimento), a sustentabilidade econômica (alocação e gestão mais eficientes
dos recursos e fluxo regular do investimento público e privado), a
sustentabilidade ecológica (intensificação do uso dos recursos potenciais dos
ecossistemas para propósitos socialmente válidos; limitação do consumo de
recursos facilmente esgotáveis ou ambientalmente prejudiciais; redução do
volume de poluição; autolimitação do consumo pelos países ricos;
intensificação da pesquisa de tecnologias limpas e definição de regras para
uma adequada proteção ambiental), a sustentabilidade especial (configuração
urbana e rural mais equilibrada) e a sustentabilidade cultural (fazer do

89
ecodesenvolvimento uma pluralidade de soluções particulares, que respeitem
as especificidades de cada ecossistema).
Sustentabilidade é o modo de sustentação, ou seja, da qualidade de
manutenção da forma de vida do humano, enquanto espécie biológica,
individualidade psíquica e ser social. De modo óbvio, também, se inclui no
princípio da sustentabilidade, o meio ambiente em sentido lato sensu, assim
como as demais formas de vida do planeta, afinal, o ser humano possui
autonomia para existir, mas não possui independência da natureza.
(MELLO,1999).
Brüseke (1993), afirma que, em relação à Amazônia, mesmo em atividades
humanas altamente impactantes como a mineração, extração vegetal e
agricultura, é possível promover desenvolvimento com sustentabilidade, gerando
renda para os habitantes, sem que seja necessário o desmatamento. Desta
forma, projetos empresariais que atendam aos parâmetros de sustentabilidade,
começaram a multiplicar-se por vários lugares antes degradados, numa
preocupação ecológica cada vez maior de salvar a Amazônia, acreditando
que, desta forma, também se estaria ajudando no combate ao aquecimento
global, que tem nas queimadas, uma de suas causas.
Uma das opções que tem sido apresentada é a comercialização de créditos
de carbono, em que, países ricos compram créditos gerados pela manutenção da
floresta em pé, levando em consideração a quantidade de carbono que uma
determinada área de floresta produziria. A renda obtida com a venda desses
créditos é empregado em atividades que promovam o desenvolvimento
sustentável da região.
A influência da Amazônia sobre o clima global ainda é um tema
controverso. As dificuldades de se avaliar os parâmetros relevantes são muitas e
complexas, e as estimativas podem variar em mais de 100% (PRENTICE; LLOYD,
1998). A Floresta Amazônica influi no clima principalmente através da emissão ou
retenção de gases e da evapotranspiração - isto é, transpiração das plantas e
evaporação da água retida nas folhas, caules e na serrapilheira (material vegetal
descartado). A evapotranspiração na Amazônia é tão grande que é responsável
por cerca de 50% das chuvas que a floresta recebe. O restante é originário de
águas trazidas do Oceano Atlântico através dos ventos, como parte do ciclo

90
hidrológico da região. Esta é uma cifra imensa: estima-se que a contribuição
média da evapotranspiração das florestas em geral para as chuvas locais, nas
latitudes temperadas, seja de apenas 10% (PHILLIPS, et ali., 1998).
A influência maior e mais discutida, entretanto, refere-se à produção e
retenção de gases, em especial o oxigênio (O2) e os chamados gases estufa,
como o gás carbônico (CO2), o vapor de água (H2O) e o metano (CH4). Quanto à
emissão de oxigênio, ao contrário do que muitas vezes é dito, a Amazônia não
pode ser considerada o "pulmão do mundo" por causa de sua produção deste gás.
Durante o dia, a vegetação verde produz oxigênio e absorve gás carbônico
através da fotossíntese; porém, durante a noite, ocorre o processo inverso
(respiração), com a absorção de oxigênio e a liberação de gás carbônico. O
equilíbrio, porém, não é perfeito, e o saldo final - se haverá mais produção do que
absorção de CO2 e O2 - dependerá de outros processos, como as queimadas e o
reflorestamento. O reflorestamento resulta na absorção de gás carbônico, pois a
floresta em crescimento precisa do carbono presente na molécula de CO2 para a
constituição da matéria orgânica de que as plantas são feitas. Já as queimadas
liberam gás carbônico. Outras partes do globo, como as regiões do oceano ricas
em plânctons, têm saldo final de produção de oxigênio (MALHI, et al., 1998).
A riqueza da biodiversidade da Amazônia e o seu delicado equilíbrio
ecológico, aliados ao grande valor econômico de seus recursos naturais, exigem
da sociedade, tanto nacional como mundial, uma nova consciência em direção ao
desenvolvimento sustentável. Este é o grande desafio da Amazônia que, apesar
das várias experiências desenvolvidas nesse sentido, continua uma incógnita para
a ciência no horizonte futuro. “A transição entre um padrão de desenvolvimento
que se esgota - a economia de fronteira, para outro que emerge – o
desenvolvimento sustentável, envolve todo o território brasileiro” (LLOYD, 1999).
Assim, o desenvolvimento da Amazônia tornou-se uma questão complexa que
abrange um conflito de valores acerca do meio ambiente. Ao mesmo tempo em
que a conservação da biodiversidade da Amazônia tem enorme valor como
garantia de qualidade de vida para as futuras gerações, os seus recursos naturais
tornam-se fonte e meio de sobrevivência para as populações nativas e, ainda,
base essencial de recursos para outros segmentos produtivos (LLOYD, 1999). Por
um lado, os conflitos de valores se materializam em fortes disputas pelas terras e

91
recursos. Por outro, a busca de solução para eles acaba por definir uma série de
projetos conservacionistas e busca de tecnologias sustentáveis e de apoio ao
extrativismo tradicional das comunidades locais.

2.2. COMUNIDADE AMAZÔNICA: UMA CONSTRUÇÃO HISTÓRICO-SOCIAL

A categoria conceitual comunidade precisa ser entendida além da idéia


de comunidade local, como é defendida por muitos pensadores dos séculos
XIX e XX, o termo abrange todas as formas de relacionamentos caracterizados
por um grau elevado de intimidade pessoal, profundeza emocional,
engajamento moral, coerção social e continuidade no tempo (CNBB, 1986). A
comunidade encontra-se fundamentada no homem visto em sua totalidade e
não neste ou naquele papel que possa desempenhar na ordem social,
encarada separadamente. A comunidade é a fusão do sentimento e do
pensamento, da tradição, da ligação intencional e da participação. Seu
protótipo, tanto simbólico como histórico é a família, cuja nomenclatura ocupa
lugar predominante em quase todos os tipos autênticos de comunidade. Do
ponto de vista da sociologia, uma comunidade é um conjunto de pessoas que se
organizam sob o mesmo conjunto de normas, geralmente vivem no mesmo local,
sob o mesmo governo ou compartilham do mesmo legado cultural e histórico
(CORREA, 1987).
Esta tese procura mobilizador à idéia de que a comunidade é uma entidade
sócio-cultural para além do mero conjunto de indivíduos, e esta compreensão é
necessária para guiar a intervenção de mobilização, enquanto fator de mudança
social. Marx, por exemplo, pensava que as duas dimensões culturais subjacentes,
tecnológica e econômica, mudam de acordo com determinado tipo de dialética
(exemplo de agrícola a industrial), e as restantes dimensões mudam ao adaptar-
se a essas mudanças materialistas. Weber, pelo contrário, pensava que as duas
dimensões superiores, valores (ideologia) e percepções (crenças) eram os
primeiros a mudar (tal como na Reforma Protestante), e que as restantes quatro
dimensões mudavam como resultado (exemplo a Revolução Industrial).
Hodiernamente, não concebemos as interligações entre as dimensões de modo
tão simplista (e existe um debate considerável em torno à interpretação), mas
ainda assim se reconhece que elas estão relacionadas entre si (CORREA, 1987).

92
Tal como a maioria dos aspectos abordados nas ciências sociais, a
comunidade não pode ser rotulada. Usamos freqüentemente a palavra
comunidade, mas nesta formação é importante nos perguntarmos seriamente pela
sua definição. Primeiro, é essencial referir que uma "comunidade" é uma
construção mental, um modelo. Não podemos observar uma comunidade inteira,
não a podemos tocar, e não podemos experimentá-la diretamente. Tal como as
palavras "monte" ou "floco de neve", uma comunidade pode adquirir várias
formas, tamanhos, cores e localizações distintas, não existem duas iguais. E por
último, e mais importante, uma comunidade não se resume às pessoas que a
constituem. Uma comunidade, de um modo geral, já existia antes dos seus atuais
membros terem sequer nascido, e, provavelmente, continuará a existir mesmo
depois dos seus atuais membros terem desaparecido. É algo que transcende cada
um dos seus componentes, os residentes atuais ou os próprios membros da
comunidade. Uma comunidade pode incluir membros que se mudaram
temporariamente para outros locais. Eles podem planear um eventual regresso,
mas nem todos o fazem.
Em determinados casos, uma "comunidade" pode nem sequer possuir um
lugar físico, mas ser simplesmente demarcada por um grupo de pessoas que
partilham um interesse comum. No entanto, neste material de formação, uma
"comunidade" a qual um mobilizador dedica a sua atenção, geralmente, pertence
à categoria de comunidades com um lugar físico definido.
Um povoado ou comunidade, não é apenas uma mera aglomeração de
casas. É uma organização humana (social e cultural). As casas, que são produtos
culturais da humanidade, pertencem a uma das dimensões da sociedade ou
cultura: a dimensão tecnológica (MENDRAS, 1978). Por outro lado, não se trata
apenas de um conjunto de indivíduos; é um sistema sócio-cultural; é organizada
socialmente, ou seja, enquanto mobilizador é necessário conhecer alguns
aspectos da sociedade - aspectos esses que são estudados pela sociologia.
Para Comerford (1999), uma comunidade pode ser considerada como
sendo um organismo (exemplo tem a sua própria organização, possui órgãos). Tal
como uma célula viva, planta ou animal, transcende os seus átomos, também uma
instituição, padrão de comportamentos ou comunidade transcende os seus
indivíduos. O comportamento de um átomo ou o ciclo de vida de uma molécula

93
decorre de acordo com um conjunto de forças distintas daquelas que existem
numa planta ou animal onde se encontra esse átomo ou molécula.
Por isso, também um ser humano está sujeito a um conjunto de forças
distinto daquele que afeta uma organização social (tal como uma comunidade) na
qual está inserido. Uma crença, por exemplo, é respeitada por pessoas, mas essa
crença pode continuar a existir muito tempo depois das primeiras pessoas terem
desaparecido.
Uma sociedade é conseqüentemente um sistema - não um sistema
inorgânico como um motor, nem um sistema orgânico como uma árvore, mas, sim,
um sistema super-orgânico constituído por idéias apreendidas, expectativas e
comportamento de seres humanos. Pense em três níveis de organização:
inorgânico, orgânico e super-orgânico (COMERFORD, 1999).
Segundo Copans (1970), apesar de uma comunidade ser um sistema
cultural (no sentido em que transcende os indivíduos) não se pode assumir que
uma comunidade é uma unidade harmoniosa. Está recheada de facções, lutas e
conflitos, baseados em diferenças tais como a de gênero, religião, acesso à
riqueza, etnia, classe, nível de educação, rendimento, propriedade, língua e
muitos outros fatores.
De modo a promover a participação e desenvolvimento da comunidade, o
animador ou liderança tem a tarefa de juntar essas facções, motivar o espírito de
tolerância e de equipe, e obter decisões consensuais (COPANS, 1974). Para que
possa promover a mudança social numa comunidade, é necessário saber como
esse sistema funciona, e só assim saberá como reage às mudanças e às suas
intervenções. Tal como um engenheiro (um cientista de física aplicada) deve
saber o modo de funcionamento de um motor, também o facilitador de uma
comunidade (um cientista social aplicado) deve conhecer o modo de
funcionamento de uma comunidade.
De acordo com Copans (1974), para saber o modo como funciona uma
comunidade, não se deve antropomorfisar uma comunidade. "Antropomorfisar"
significa assumir e atribuir características humanas a um ser não humano (pensar
que os patos e os ursos têm "famílias" quando o conceito de "família" é uma
instituição humana). Uma comunidade não fala, nem pensa, não tem sentimentos
e não se comporta como um ser humano. É uma entidade super-orgânica, e que

94
se move, reage, cresce e se comportam com princípios, forças e mecanismos
diferentes dos de um ser humano.
Essa tese se preocupa em discutir a construção histórica das populações
tradicionais da Amazônia, buscando compreender os motivos e limites dos
modos de produção sustentáveis que esses povos praticam na Amazônia, não
apenas como um fato social do contexto, mas sim enquanto um fato histórico.
Assim, distribuímos a história social das comunidades na Amazônia
relacionadas em três momentos históricos:
a. Da invasão européia (1530), ao genocídio da Cabanagem (1840);
b. Período da borracha na Amazônia (1879 a 1945);
c. Do período da ditadura militar (1964 a 1988), aos dias atuais.
De acordo com Cruz (1973), dada a povoação inicial do continente
americano por povos e nações indígenas, seguida da colonização invasora
européia e acompanhada pelas imigrações forçadas de cativos africanos, a
história da Amazônia posterior a 1530 é dependente de uma tríplice herança
étnica. A presença destas três frentes forja a cultura e a história regional como
receptoras destas experiências históricas passadas destes povos. No entanto os
processos coloniais e imperialistas europeus criaram sistemas de dominações e
as visões sobre cultura e educações amazônicas foram submetidas às regras
ideológicas do eurocentrismo.
São eliminadas do conhecimento considerado civilizado, ou seja, como
parte da cultura civilizada, as informações africanas e indígenas, reduzindo o
africano e o índio a estereótipos de selvagens e primitivos. Fabricam-se as origens
da população afro-descendente, conhecida como negra e mestiça, referidas aos
navios denominados de negreiros e nas supostas tribos de homens nus. Esse
processo de exclusão da história africana e indígena da cultura amazônica faz
parte das políticas de desigualdades de classes produzidas pelo escravismo e
pelo capitalismo racista.
Uma representação das desigualdades de classes são as comunidades
quilombolas que surgiram na Amazônia como agrupamentos de negros que
haviam fugido das fazendas e ou centros urbanos onde eram obrigados ao
trabalho em regime de escravidão. Como era grande a perseguição a esses
insurgentes, muitos dos quais eram novamente aprisionados e punidos pela fuga,

95
os locais escolhidos para a formação de tais comunidades eram regiões de difícil
acesso, escondidas em meio à floresta (ARRUTI, 2005).
Os núcleos populacionais que assim se formavam, aos poucos,
transformaram-se em aldeias que se dedicavam à economia de subsistência e,
até mesmo, ao comércio. De acordo com O'dwyer (2002), os quilombos eram não
só locais de resistência à escravidão e abrigo para escravos fugitivos, mas
também núcleos habitacionais e comerciais. Como a maior parte das populações
remanescentes de antigos quilombos ainda hoje permanece isolada, há
dificuldade para se obterem informações sobre tais comunidades. O isolamento,
por outro lado, permitiu que esses grupos sobrevivessem e mantivessem tradições
e relações territoriais, bem como a luta para que se respeite e preserve sua
identidade étnica e cultural.
De acordo com Chiavinato (1984), a Cabanagem (1835-1840), é a revolta
na qual negros, índios e mestiços se insurgiram contra a elite política e tomaram o
poder na provincia do Gráo-Pará, é uma representação de luta de classes oriunda
das desigualdades. Entre as causas da revolta encontram-se a extrema pobreza
das populações ribeirinhas e a irrelevância política, à qual a província foi relegada
após a independência do Brasil.
Segundo Raiol (1970), em 1835, um motim organizado pelo fazendeiro
Félix Clemente Malcher e Francisco Vinagre prendeu e executou o governador
Bernardo Lobo de Sousa. Os rebelados, também chamados de cabanos,
instalaram um novo governo controlado por Malcher. Francisco Vinagre, líder das
tropas do novo governo, desentendeu-se com o novo governador. Aproveitando
de seu controle sobre as forças militares, tentou tomar o governo, mas foi preso
pelo governador. Em resposta, Antônio Vinagre, irmão de Francisco, assassinou
Félix Clemente Malcher e colocou Francisco Vinagre na liderança do novo
governo.
Nessa nova etapa, Eduardo Angelim, líder popular, ascendia entre os
revoltosos. A saída das elites do movimento causou o enfraquecimento da revolta.
Tentando aproveitar desta situação, as autoridades imperiais enviaram o almirante
britânico John Taylor, que retomou o controle sobre Belém, capital da província.
No entanto, a ampla adesão popular do movimento não se submeteu à vitória
imperial. Um exército de 3 mil homens liderados por Angelim retomou a capital e

96
proclamou um governo republicano independente. O governo, agora controlado
por Angelim, abria possibilidades para a resolução dos problemas sociais e
econômicos, que afligiam as camadas populares. No entanto, a falta de apoio
político de outras províncias e a carestia de recursos prejudicou a estabilidade da
República Popular (RAIOL, 1970).
Em 1839, o governo do Rio de Janeiro, diante da insistência dos cabanos
em continuar a luta, resolveu anistiar os líderes revolucionários, exceto os que
cometeram homicídio e os dois chefes, Antônio Vinagre e Eduardo Angelim, foram
deportados.
De acordo com Salles (1985), em 1833 o Grão-Pará tinha 119.877
habitantes; 32.751 eram índios e 29.977, negros escravos. A maioria mestiça
("cruzamento" de índios, negros e brancos) chegava a 42 mil. A minoria totalizava
15 mil brancos, onde mais da metade eram portugueses.
O Ciclo da Borracha constituiu uma parte importante da história econômica
e social do Brasil, estando relacionado com a extração e comercialização da
borracha (DEAN, 1989). Este ciclo teve o seu centro na região amazônica,
proporcionando grande expansão da colonização, atraindo riqueza e causando
transformações culturais e sociais. É conhecido por dois ciclos, o primeiro de 1879
a 1912 e o segundo de 1942 a 1945, e tiveram forte influência nas comunidades
amazônicas, pois a produção do latex da borracha era responsabilidade dos
serigueiros, uma das identificações dos trabalhadores rurais da Amazônia.
Segundo Drummond (1996), no primeiro ciclo da borracha, entre 1879 a
1912, foi o auge da economia na Amazônia, que apesar de centralizada nas
riquezas de Belém e Manaus, também influenciou no crescimento e
organização social de comunidades, que inclusive ultrapassaram os limites do
território amazônico brasileiro, adentrando no território da Bolívia, na busca por
mais seringueiras, produtora do látex da borracha, criando o Estado do Acre,
através de negociação com a Bolívia, mediada pela Inglaterra no Tratado de
Petrópolis, cuja área foi adquirida por meio de uma compra por 2 milhões de libras
esterlinas em 1903.
O segundo ciclo da borracha na Amazônia ocorreu de 1942 a 1945, era
de interesse do eixo dos Aliados da Segunda Guerra Mundial, onde a borracha
era necessária para o material bélico, o governo brasileiro fez um acordo com o

97
governo dos Estados Unidos (Acordo de Washington), que desencadeou uma
operação em larga escala de extração de látex na Amazônia - operação que ficou
conhecida como a Batalha da Borracha (DRUMMOND, 1996).
Segundo Prost (1998b), soldados da borracha, era um nome dado aos
brasileiros que entre 1943/1945 foram alistados na Batalha da Boracha, foram
transportados para a Amazônia pelo Serviço Especial de Mobilização de
Trabalhadores para a Amazônia (SEMTA), com o objetivo de extrair borracha para
os Estados Unidos da América, um contrato firmado no Acordo de Washington,
que tinha como finalidade principal o alistamento compulsório, treinamento e
transporte de nordestinos para a extração da borracha na Amazônia, como intuito
de fornecer matéria-prima para os aliados da II Guerra Mundial. Estes foram os
peões do Segundo Ciclo da Borracha e da expansão demográfica da Amazônia. O
contigente de Soldados da Borracha é calculado em mais de 130 mil, sendo na
grande maioria nordestinos, e por vez cearenses.
Entretanto, para muitos trabalhadores, este foi um caminho sem volta.
Cerca de 30 mil seringueiros morreram abandonados na Amazônia, depois de
terem exaurido suas forças extraindo o ouro branco (PROST, 1998a). Morriam de
malária, febre amarela, hepatite e atacados por animais como onças, serpentes e
escorpiões. O governo brasileiro também não cumpriu a promessa de reconduzir
os Soldados da Borracha de volta à sua terra no final da guerra, reconhecidos
como heróis e com aposentadoria equiparada à dos militares. De acordo com
Dean (1989), calcula-se que conseguiram voltar ao seu local de origem (a duras
penas e por seus próprios meios) cerca de seis mil homens. Mas quando
chegavam tornavam-se escravos por dívida dos coronéis seringueiros e morriam
em consequência das doenças, da fome ou assassinados quando resistiam
lembrando as regras do contrato com o governo. Por isso, boa parte dos
nordestinos se organizaram na Amazônia, fixando a sua residência no local e se
adaptando aos modos de vida, constituindo e organizando comunidades rurais.
O período Militar trouxe novas e profundas modificações para a Amazônia.
Os militares, amparados por um suposto perigo eminente de internacionalização,
iniciaram um período marcado pela implantação de grandes projetos que,
segundo se dizia, visavam desenvolver economicamente o Norte do país. Com o
discurso oficial do governo militar, INTEGRAR PARA NÃO ENTREGAR,

98
estimulando um novo movimento de ocupação da Amazônia a partir de grandes
projetos mineradores, madeireiros e agropecuários. Para tanto, em 1965, o
presidente Castelo Branco anunciou a Operação Amazônia e, em 1968, criou a
SUDAM (Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia) com amplos
poderes para distribuir incentivos fiscais e autorizar créditos para investimentos na
indústria e na agricultura. O objetivo principal era criar pólos de desenvolvimento
espalhados por toda a bacia amazônica, expandindo a fronteira pioneira
(MARTINEZ, 1980).
Segundo Martinez (1980), o resultado destas frentes de expansão
simultâneas foi à formação da maior fronteira pioneira da história da humanidade,
com área total superior a 200 milhões de hectares (2 milhões de km2), em apenas
40 anos. Esta é a região hoje conhecida como “Arco do Desmatamento”,
envolvendo mais de cem municípios. Nesta área, encontram-se mais de 90% da
área desmatada da Amazônia. A fronteira pioneira é a região de maiores conflitos
fundiários e de maior impacto sobre o meio ambiente.
No período do Milagre Econômico Brasileiro, nos anos 1970, o governo
federal implementou seu Projeto de Integração Nacional (PIN), badalando o
mesmo como uma oportunidade de oferecer "TERRAS SEM HOMENS PARA
HOMENS SEM TERRA". Criou-se, então, uma malha rodoviária e novos
projetos agrícolas para assentar povos de lugares distantes. Segundo o qual
deveriam ser reservados 100 km de cada lado da estrada para o assentamento
prioritário de nordestinos (MARTINEZ, 1980). Ao mesmo tempo, a SUDAM
começou a aprovar grandes projetos agropecuários e o INCRA (Instituto Nacional
de Colonização e Reforma Agrária) aumentou o índice de distribuição de terras
para os fazendeiros. Isso fez com que a taxa de desmatamento subisse
assustadoramente.
Segundo Skidmore (1989), na ocasião, o governo militar objetivava
ocupar a Amazônia, com o intuíto de solidificar sua soberania e escoar pessoas
de outras regiões potencialmente conflituosas. Vieram pessoas do sul, sudeste,
centro-oeste, e mais uma leva de nordestinos.
Os grandes projetos expuseram a Amazônia a fluxos migratórios,
paralelamente, a ação madeireira serviu, e ainda serve, como ponta de lança
para outros projetos, como agropecuários, em torno dos quais se criou uma

99
arena de conflitos rurais. A violência em si não ocorre exclusivamente entre
pequenos agricultores sem terra e grandes latifundiários; os membros dessa
última categoria também se envolvem em agressões mútuas. Na consolidação
dos Grandes Projetos e dos latifúndios, cria-se um êxodo rural, assim pequenos
agricultores e outros migram para diferentes locais, particularmente às cidades
amazônicas.
O setor florestal enfrenta atualmente o debate sobre como reconciliar
objetivos aparentemente conflitantes como conservar os ecossistemas
florestais, suprir a demanda crescente de produtos florestais e, ao mesmo
tempo, promover o desenvolvimento sustentável de forma a reduzir a
pobreza no meio rural. As florestas estão estreitamente relacionadas a
questões sociais e desempenham um papel importante na subsistência das
pessoas pobres que vivem no meio rural (SCHERR, et al., 2004).
E ainda, a questão das queimadas na Amazônia, colocando o Brasil
no ranque do aquecimento global como o quarto responsável, donde 74%
são de responsabilidade das queimadas na Amazônia. Segundo dados do
INPE (INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS ESPACIAIS apud
FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS, 2002), durante o período de junho a
novembro, grande parte do país é acometido por queimadas, que se
estendem praticamente por todas as regiões, com maior ou menor
intensidade. O fogo é normalmente empregado para fins diversos na
agropecuária, na renovação de áreas de pastagem, na remoção de material
acumulado, no preparo do corte manual em plantações de cana-de-açúcar
etc. Trata-se de uma alternativa geralmente eficiente, rápida e de custo
relativamente baixo, quando comparada a outras técnicas que podem ser
utilizadas para o mesmo fim. Os Estados que, tradicionalmente, apresentam
maior número de focos de calor são Mato Grosso e Pará, na região
amazônica (FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS, 2002).
A partir de 1975, as populações tradicionais da floresta começaram a se
organizar e a desenvolver diferentes estratégias de resistência. Foram fundados
os primeiros Sindicatos de Trabalhadores Rurais nos estados da Amazônia
(JEREMY, 1992). Segundo Iokoi (apud JEREMY,1992), em muitos lugares, os
segmentos mais progressistas da Igreja Católica reforçaram a luta popular a partir

100
das Comunidades Eclesiais de Base. Intelectuais, artistas, estudantes e
trabalhadores em geral criaram organizações civis e um intenso movimento social
se verificou nas cidades de várias regiões fortemente impactadas pela política
oficial. Não foi uma luta fácil, nem rápida. Apesar de os trabalhadores rurais
possuírem formas pacíficas de luta, como a realização de embates com a
participação de mulheres e crianças para impedir as derrubadas da floresta, os
conflitos foram se tornando cada vez mais explosivos e perigosos.
Para responder a isso, em 1985 foi criado o Conselho Nacional dos
Seringueiros (CNS). Surge então uma forte consciência de que a devastação da
floresta amazônica não era somente uma questão ambiental, mas social. O
discurso de líderes como Chico Mendes começou a apontar na direção da
formação de uma aliança dos povos da floresta, que reunisse todas as populações
tradicionais da Amazônia em defesa de seu bem comum: a grande floresta. Se
índios e seringueiros haviam sido inimigos durante o primeiro ciclo da borracha,
agora precisavam se unir para lutar contra o inimigo comum. Porém, nem toda a
notoriedade e legitimidade obtidas pelo movimento dos povos da floresta
impediram que seus líderes continuassem a ser mortos. Em 1988, Chico Mendes
foi assassinado dentro de sua própria casa, apesar da proteção de dois policiais
que o acompanhavam 24 horas por dia (CONSELHO NACIONAL DOS
SERINGUEIROS, 1992).
Nesse momento, o movimento ambientalista mundial já havia tornado Chico
Mendes uma figura pública conhecida e reconhecida internacionalmente por sua
luta em defesa da floresta e de suas populações tradicionais. Sua morte
desencadeou enorme pressão sobre os organismos financeiros internacionais,
que foram obrigados a rever seus critérios de investimento na Amazônia, levando
o governo brasileiro a mudar a política de desenvolvimento da região (DUARTE,
1987). A Amazônia passou a ser respeitada por sua importância, não só para o
Brasil, mas para o mundo.
O resultado deste complexo processo de ocupação da Amazônia é um dos
traços marcantes da região: a diversidade social. Alcançou-se a consciência de
que a Amazônia não é somente um lugar privilegiado da biodiversidade, mas
também o lugar da sociodiversidade. Porém, ainda são poucos os que percebem
que dentro dessa floresta, ao mesmo tempo indomável e frágil, moram populações

101
tradicionais que desenvolveram modos de vida compatíveis com as características
especiais desse ecossistema. A história da Amazônia nos revela, também, que
esse processo faz parte da construção de uma consciência ambiental e social
mais equilibrada.
Segundo Anderson (1989), apesar do imenso potencial, alguns fatores se
colocam como desafios para o alcance dos objetivos de um desenvolvimento
sustentável da Amazônia, e dentre eles destacamos: a. baixos níveis
educacionais, com parcela significativa de populações analfabetas e de crianças
sem acesso à escola; b. grave quadro de desorganização fundiária, do qual
derivam sérios conflitos pela posse da terra, determinando a expulsão de
populações tradicionais que passam a engrossar frentes migratórias para a
periferia das cidades. Diante desta situação, programas de inclusão social no meio
urbano e rural, na Amazônia, devem estar diretamente associados à geração de
emprego e renda e à questão da sustentabilidade.
A criação e consolidação de Reservas Extrativistas, Reservas de
Desenvolvimento Sustentável e a Demarcação das Terras Indígenas são
iniciativas que asseguram o bem-estar social e cultural das populações
tradicionais e a manutenção dos estoques florestais e de biodiversidade por elas
geridos (ANDERSON, 1989). No entanto, devido às proporções territoriais da
região, o controle e manutenção desses programas requerem uma cooperação
que passa pelo sistema de parcerias entre todas as organizações e instituições
envolvidas com a Amazônia.

102
4 DA RESILIÊNCIA À SUSTENTABILIDADE: ANALISE DO SISTEMA
ECOLÓGICO–SOCIAL EM COMUNIDADES RURAIS DA AMAZÔNIA
BRASILEIRA.

Para se perceber a complexidade dos sistemas, é necessário que estes


apresentem um misto de ordem e desordem (PRIGOGINE; STENGERS,
1984). Na desordem completa não existe formação de estrutura ou
diferenciação de funções, o que impossibilita a responsabilidade do sistema e,
portanto, inviabiliza o estudo. Nos sistemas totalmente ordenados, a
complexidade é desconsiderada, as relações são previsíveis, determinadas e
de total certeza, o que descaracteriza um sistema complexo e o torna irreal
(STERMAN, 1989). A implementação da modelagem no sistema ecológico-
social, inicia-se com a existência da estrutura, considerando que a ordem e a
desordem são aspectos que fazem parte deste sistema, e não podem ser
eliminados, já que é a própria essência da realidade.
A mensuração do sistema ecológico-social se dará a partir da
mensuração das partes desse sistema, de forma que as motrizes do sistema
sejam quantificados, divididos e somados, resultando num valor que identifique
o nível do ciclo adaptativo, percorrendo a definição positiva, com resultados
médio-alto, ou definição negativa, com resultados médio-baixo, assim
abordando o gerenciamento da resiliência do sistema ecológico-social, que
pode ser representativo em diagramas, cronogramas, tabelas etc., e suas
limitações de tamanho, como uma figura de resultado da modelagem sistêmica
da resiliência.
A presente tese irá utilizar o modelo apresentado por Walker et al (2002),
de gerenciamento do sistema ecológico-social através da resiliência, no qual
apresenta quatro etapas para analise: 1. Marco conceitual; 2. Visões e
cenários; 3. Analise da Resiliência e; 4. Gestão do Sistema. Esse modelo de
gerenciamento da resiliência no sistema ecológico-social é semelhante a
metodologia de estudo de casos da Aliança da Resiliência, contudo inova em
dois aspectos: a. as áreas de ecossistemas amazônicos são de áreas
marinhas, mas também representativas de outros ecossistemas, como a várzea
e terra firme; b. Além de choques e surpresas naturais, a resiliência nesses
estudos de casos consideram as ações humanas, como a incompetência do

103
Estado e ações perturbadoras do homem no meio ambiente, para buscar
identificar a capacidade de resistir e se adaptar para o sistema ecológico-social.

4.1. O SISTEMA ECOLÓGICO-SOCIAL: ECOSSISTEMA DE MANGUEZAL E


A COMUNIDADE DE TAMATATEUA E A GESTÃO DA RESILIÊNCIA

a. Marco conceitual do sistema ecológico-social manguezal-Tamatateua:


Para a busca do marco conceitual do sistema ecológico-social em estudo
foi realizado um diagnóstico participativo em 2001, seguido de observações
participativas até abril de 2009, donde podemos destacar:
- Localização do sistema ecológico-social:
O ecossistema de manguezal e a comunidade de Tamatateua são
localizados no Pará, município de Bragança (mapa 5), que faz limite com os
municípios de Tracuateua, Augusto Correa, Viseu, Santa Luzia do Pará e oceano
Atlântico, na localização da Mesorregião do Nordeste Paraense e Microrregião
Bragantina. A comunidade de Tamatateua se localiza próximo a cidade de
Bragança (17 km), onde exercem relação socioeconômica direta.

Comunidade
Tamatateua

. Tamatateua

● comunidade  cidades ramal de acesso a comunidade rios e oceano Atlântico

Mapa 5. Costa Atlântica do Pará, município de Bragança.


Fonte: Registro de mapas do INCRA, (2008).

104
O sistema ecológico de manguezal, ênfase deste estudo, se localiza ao
norte do município de Bragança entre as áreas de foz dos rios Caeté e Taperaçú,
formando por uma superfície ecótono de transição entre a floresta de manguezal,
floresta secundaria de terra firme, áreas agrícolas e campos inundáveis sazonais,
donde ao centro se localiza a comunidade de Tamatateua e as suas áreas de
produção familiar, numa extensão de 13km.

- Historia do Sistema Social:


A área em que se localiza hoje o município de Bragança era habitada pelos
índios apotiangas da nação Tupinambás, onde existiam várias tribos que
povoavam as margens do rio Caeté, por isso também eram conhecidos como
índios Caeteuras (ARQUIVO, 1880). Segundo Enciclopédia (1957), foram os
franceses da expedição de Lavardière os primeiros europeus a conhecerem a
terra dos índios Caeteuras em oito de julho de 1613. Segundo Saraiva (et ali,
1998), a recepção dos índios aos franceses, foi favorável ao visitante, tanto é que
franceses procuraram homenageá-los, dando o nome de Benquerença, a nova
terra, que significa: índios Caetés “bem quiseram” os franceses (ARQUIVO, 1880).
Porém, em 1616, a expedição portuguesa comandada por Pedro Teixeira, a qual
levava a notícia a Jerônimo de Albuquerque, no Maranhão, da fundação de
Belém, passou pelas terras onde hoje se situa o município de Bragança,
reconhecendo um forte guardado por franceses numa aldeia indígena (ARQUIVO,
1898). Em Bragança, a Lei Municipal de sete de julho de 1978, reconhece a data
de 08 de julho de 1613, como a homenagem à chegada dos primeiros brancos
nobres em Bragança, sendo a datação do Feriado Municipal da Fundação de
Bragança, e com isso gerando muita controvérsia sobre o primeiro povoado
europeu da Amazônia não ser Belém e sim Benquerença, onde se situa
atualmente a cidade de Bragança.
Segundo dados de Arquivo (1701), o espanhol Álvaro de Sousa recebeu da
corte de Madri, as terras doadas por Felipe III da Espanha, por carta em 09 de
fevereiro de 1622, entre os rios Tury-açu e Caeté, com 20 léguas ao fundo para o
continente, onde procurou desenvolver sua capitania, fundando ao lado direito do
rio Caeté, o povoado com o nome de Sousa do Caeté, em homenagem ao seu
sobrenome, expulsando os franceses da região, o qual constituiu a origem do

105
município. Após sete anos de sua fundação, a área foi abandonada (e hoje é
conhecida como vila Que Era, em prestigio a vila que era Sousa do Caeté), e
transferida para a situação atual da cidade de Bragança, localizada a três km
acima de Sousa do Caeté e à margem esquerda daquele mesmo rio, ao lado de
uma aldeia indígena. A vila de Sousa do Caeté cresceu para a área alta, onde
vários prédios colônias foram construídos, enquanto a aldeia indígena dos
caeteuaras desapareceu, surgindo o bairro da Aldeia, sem prédios imponentes do
período colonial, e mais tarde servindo de refugio para os negros.
Em 1745 chegaram 30 casais de portugueses açorianos para colonização
da vila Bragança (ARQUIVO, 1701). Os colonos açorianos se engajaram na
produção de alimentos constituindo um campesinato incipiente concentrado em
alguns pontos entorno da vila Bragança (ARQUIVO, 1701). Para facilitar as
comunicações com Belém, foi melhorado um caminho terrestre já existente entre o
rio Caeté e o rio Guamá, interligando as vilas de Bragança e Ourém, de onde
poderia se chegar a Belém de barco. Além da produção agrícola, o porto de
Bragança era importante ponto de comércio entre o Pará e o Maranhão Nesse
contexto, a região bragantina tornou-se o principal produtor e fornecedor de
gêneros alimentícios, principalmente a farinha de mandioca, provendo a maior
parte do abastecimento de Belém. (ARQUIVO, 1935).
Os negros foram trazidos para Bragança inicialmente por Álvaro de Sousa
donatário de parte da Capitania do Gurupi e Caeté. Poucas são evidencias
concretas que retrate exclusivamente a questão do negro em Bragança, a ser nos
costumes culturais. Saraiva et al., (1998), pesquisou nas comunidades
remanescentes de Quilombo, mas pouco se encontrou, apenas as reconstituições
a partir da história oral e do estudo de memória dos anciões nas comunidades de
Sereno e Itamoari, legítimas remascentes de quilombos e na vila de Caratateua,
onde se fundou uma fazenda de engenho de açúcar.
Os negros residiam em barracos construídos nos quintais de seus senhores
e tinham como responsáveis um feitor. Eram devotos de São Benedito, uma
miscigenação entre a divindade africana e a européia, e todos os anos no mês de
dezembro, no período de 10 a 27, ficavam de folga, esperando o dia para o plantio
nas fazendas dos senhores, o que acontecia longo nas primeiras chuvas. Nesse
período construíram um barracão e a igreja de São Benedito para suas

106
homenagens ao Santo Preto, ao lado da igreja era tudo enfeitado onde
apresentavam a ladainha e muitas diversões com danças, tendo tal
comportamento, em 1798, com consentimento de seus senhores, fundaram a
Irmandade do Glorioso São Benedito, os negros em agradecimento dançavam em
frente às casas dos seus senhores, surgia a Marujada de Bragança.
Bragança não teve participação marcante no movimento da Cabanagem, os
primeiros conflitos foram duramente reprimidos e poucos eram os focos de
resistência na vila, haja vista a pequena quantidade de negros e o
desaparecimento dos índios caeteuaras (BLANDTT, 1999). Os bragantinos
formavam, segundo Saraiva et ali., (1998), a resistência do Império Brasileiro, com
contingentes para lutarem, em especial na vila de Ourém, onde 1836 foram
tomadas pelos bragantinos em favor das tropas da Regência.
A formação do povoado Tamatateua, de acordo com os anciões se dá por
volta do 1864, quando o Império forma a Tríplice Aliança (Brasil, Uruguai e
Argentina), a favor do maior conflito armado da América do Sul, Guerra do
Paraguai, onde o Brasil envia a media de 150 mil homens para invadir o Paraguai
e recrutam também na vila Bragança parte dessa demanda. De acordo com a
memória da comunidade, os bragantinos José Felício da Silva e seu amigo
Francisco Malaquias já cansados do massacre da Cabanagem, fugiram da
embarcação a Vapor que os levaria para o sul do Brasil, adentrando a floresta de
manguezal, se refugiando nas áreas de campos naturais, onde hoje se localiza a
comunidade de Tamatateua. Ainda segundo os anciões, o bragantino José Felício
da Silva, retornou a vila de Bragança, avisando os familiares que tinha encontrado
um novo lugar que iria viver, retornando acompanhado de sua irmã mais nova,
Luisa Silva, está se juntou com Francisco Malaquias e formaram a primeira
linhagem de família da comunidade de Tamatateua, depois outras famílias
também migraram para o mesmo local.
De acordo com Oliveira (1998), o nome Tamatateua se refere à presença
intensa de um peixe conhecido popularmente como tamatá, atualmente esse
peixe quase não mais existe na comunidade e a influência dos índios caeteuras
que denominavam teua a palavra terra, por isso Tamatateua tem sem nome ligada
à expressão terra do tamatá.

107
Na primeira metade de do século XIX, a Vila de Bragança era um dos
maiores núcleos populacionais do Estado do Pará. Na segunda metade desse
mesmo século, o avanço da industrialização européia fez crescer a importância de
uma matéria-prima tipicamente amazônica: a borracha. Para abastecer a
população que se dedicava aos seringais, a roça da mandioca de Bragança foi
muito importante nesse contexto, pois em Bragança não tinham seringueiras
(FILHO, 1999).
A expansão da demanda no período foi de tal monta que a produção
agrícola em torno de Bragança era insuficiente para respondê-la, conjugadas com
as dificuldades de comunicação e transporte entre Belém e Bragança, que era
bastante difícil, pois o percurso entre as duas localidades levava de seis a oito
dias. Nos relatórios do Arquivo (1910), entre 1875 e 1908, o governo provincial e
federal financiaram a construção da Estrada de Ferro de Bragança. Entretanto a
instabilidade e a fragilidade da economia regional, dependente dos fluxos de
exportação da borracha refletiram-se na própria construção da estrada que durou
25 anos (1883 a 1908) para cobrir pouco mais de 200 km. Em 1885, A estrada de
ferro em sua construção atingia o povoado do Apeú, hoje Distrito de Castanhal.
Logo após, a obra foi suspensa pelo governo da Província, devido à mesma não
produzir rendimento econômico suficiente. No ano seguinte, 1886, em 13 de
dezembro pela lei n.º 1.292 (ARQUIVO, 1910, p. 229), o governo da Província
resolveu encampar a Estrada de Ferro de Bragança. Quando a estrada foi
concluída o ciclo da borracha começava a declinar. Com o declínio da borracha,
na segunda década do século XX, o governo estadual tinha crescentes
dificuldades em manter os núcleos agrícolas. Aliado aos ciclos periódicos da seca
e às condições precárias da colônia, os migrantes abandonavam a região
(CONCEIÇÃO, 1996).
Em 1928 foi criada a Prelazia Católica do Gurupi, com sede em Bragança,
desmembrada da Arquidiocese de Belém, que desenvolverá papel central na
história da formação da cidade e nas comunidades. Em 1935, foi desmembrada
novamente formando a Prelazia do Guamá e somente em 1981 foi criada a
Diocese de Bragança (BLANDTT, 1997).
A igreja Católica local sentia-se desconfortável com a situação eclesiástica
e suas ligações com a Irmandade de São Benedito de Bragança, que em 1947 já

108
era bastante popular, regido por padrão étnico e escravo desde 1798, e para fugir
do domínio da igreja constitui-se como sociedade civil organizada, passando a ser
independente e mantendo-se com os seus próprios recursos adquiridos pelo
serviço de esmolação do Santo e do pagamento da anuidade dos associados uma
escola e a igreja de São Benedito, a mais visitada de Bragança (PORRO, 1992).
Nesse ano de 1947, Dom Elizeu, bispo de Bragança, entrou com
representação de mandato judicial contra a Irmandade do Glorioso São Benedito,
onde a igreja católica reivindicava todos os atos religiosos da igreja de São
Benedito e os bens da Irmandade. Foram mais de quarenta anos de processo
judicial, que só terminou em 1988, tendo ganho de causa a igreja Católica, a
Irmandade do Glorioso São Benedito de Bragança, perdeu todos os bens e foi
considerada ilegal pela Justiça local. Nesse mesmo ano, foi fundada a Irmandade
da Marujada de São Benedito de Bragança, que continuou com as antigas
tradições, mas dependente da igreja Católica para a realização da Festa da
Marujada (PORRO, 1992).
Segundo Saraiva et al., (1998), o território original de Bragança, passou por
vários desmembramentos, primeiro perdeu espaço instituído pelo Decreto Imperial
nº 639, de 12 de junho de 1852, que desanexou da província do Grão-Pará e
incorporou ao Maranhão, o território compreendido entre os rios Turiaçú e Gurupi;
segundo com a criação do município de Viseu, pela Lei nº 301, de 22 de
dezembro de 1856, perdendo a faixa de terra entre os rios Gurupi e
Emboranunga; terceiro com a criação do município de Quatipuru, pela Lei nº 934,
de 31 de julho de 1879, somente instalado em 01 de julho de 1883. Dispondo de
uma área de 4.172 km², foi desmembrado de novo para a criação do município do
Urumajó através da Lei nº 1.127, de 1955, que foi anulado pelo Supremo Tribunal
Federal em 04 de outubro de 1995; seis anos depois, 1961, sofre
desmembramento para criação do município de Augusto Correa. Com a criação
do recente município de Tracuateua, a traves da Lei nº 5.858, de 29 de setembro
de 1994 e só instalado em janeiro de 1997, o município de Bragança ganhou a
sua atual configuração ficando 2.344 km².
Para Prost (1998), a região bragantina passou por uma estagnação
populacional por várias décadas após a extinção da estrada de ferro, sendo a
população ainda composta por pequenos produtores de monoculturas alimentícias

109
como a mandioca, o milho e o arroz para o auto-consumo e para abastecer a
capital.
Mesmo com essa situação a cidade de Bragança ainda guardou certo
dinamismo, pois se manteve, até então, como um centro abastecedor da baixada
maranhense. No entanto a construção das rodovias federais (BR 316 Norte-
Nordeste e a BR 010 Belém-Brasília), a partir da década de 50 marginalizou
Bragança das principais vias e essa perdeu também seu papel de abastecedora
da baixada maranhense. A década seguinte, 1970, reflete a mais profunda crise
econômica, um tempo em que Bragança ficou conhecida como a cidade que já
teve.
Esse processo começa a ser superado com a implementação do programa
municipal de abertura de estradas e vicinais que ligam Bragança às várias
comunidades inclusive da área manguezal, que há séculos dependiam apenas
dos rios e furos como único meio de integração sócio-econômica (BLANDTT,
2002). A partir da década de 80, o manguezal, destacando as atividades
extrativistas, passa a ter significativo valor econômico para a sobrevivência das
populações residentes nas suas proximidades.
Segundo Blandtt (1999), o programa municipal de expansão da rede
rodoviária no manguezal: estradas Tamatateua-Bragança, Treme-Bragança e
Caratateua-Bragança e a construção da Rodovia Estadual 458 Bragança-
Ajuruteua, inicio da expansão turística na praia de Ajuruteua, foram fundamentais
para a retomada de um novo ciclo econômico, que vai estar ligado à produção de
pescado do manguezal, principalmente, o caranguejo e a pesca industrial
marítima e o turismo comercial. Um novo fluxo migratório interno no município é
sentido no eixo terra-firme manguezal. Para ilustrar isso, as vilas de Caratateua,
Tamatateua, Treme, Ajuruteua e Bacuriteua são os principais pontos de chegada,
além da periferia da cidade de Bragança.
A pressão sobre os recursos do manguezal a partir de meados da década
de 80 reflete um momento intenso de discussões sobre o uso racional dos
recursos naturais, que se fortalece com a instalação do Campus da Universidade
Federal do Pará na cidade e ocorre um intenso trabalho de pesquisa e atuação de
extensão com as comunidades costeiras se desenvolve, fortalecendo o
movimento social, resultando na criação da Reserva Extrativistas Marinha Caeté-

110
Taperaçu, no ano de 2005, o que vislumbra um novo momento para a sociedade
bragantina, não apenas de desenvolvimento econômico, mas de sensibilidade
ambiental e respeito ao meio ambiente.
- A população do sistema social:
Segundo o IBGE (2007), a população do município de Bragança é de
101.728 habitantes, dos quais 51.864 são homens e 49.864 são mulheres.
43,56% da população vive em área rural. A densidade demográfica conta com
49,6 hab/km².

Crescimento demográfico da comunidade de


Tamatateua, 1997 a 2008.

3.000

2.500

2.000

1.500

1.000

500

0
ano 1997 ano 2001 ano 2008
Série1 1.674 1.866 2.432

Gráfico 1. Crescimento demográfico da comunidade de Tamatateua, 1997 a 2008


Fonte: Trabalho de campo, 1997 a 2008.
A comunidade de Tamatateua era constituída de 279 famílias em 1997,
formando 1674 moradores locais (GLASER et al., 1996); em 2001 a comunidade
era formada de 311 famílias, desde o diagnostico inicial desta pesquisa, formada
por 1.866 moradores fixos do local, os jovens (de 11 a 25 anos) se comportam
constantemente no fluxo de migração entre a comunidade e a cidade de
Bragança, as crianças e os adolescentes deixam a região em buscar de continuar
os seus estudos, contudo retornam a sua moradia natal (BLANDTT, 2002). Em
2008, a população da comunidade atingiu o numero de 323 famílias,
correspondendo a 2.432 moradores locais (gráfico 1).

111
- A estrutura do sistema social
A religião predominante em Tamatateua é a católica, é também a base da
organização político-administrativa da comunidade. Antigamente não havia
prédios da igreja, o padre rezava a missa na casa das pessoas. Segundo relatos
dos anciões, o prédio da igreja foi construído por volta de 1965, com estacas e
barro, cavaco de madeira, funcionando até hoje, como um prédio centro
comunitário, local das reuniões após as missas ou celebrações aos domingos.
A história da educação da comunidade de Tamatateua foi registrada nos
estudos de memória viva, pois são poucos os registros documentais; segundo os
anciões, antigamente não havia prédio de escola, os professores ensinavam em
suas residências, por conta própria e sem reconhecimento legal. A primeira sala
de aula a funcionar foi na casa do professor Estevam Paca, que se localizava na
ilha do Pantoja, de acordo com o estudo de memória, por volta 1900. Na casa do
senhor Brasiliano Felício na ilha da Enseada Funda, foi apresentando um registro
do diário de classe dos alunos de Tamatateua de uma turma regida pelo professor
Estevão Felício, com a data de novembro de 1917. Outra escola funcionava na
casa do senhor João Batista, na ilha dos Veados, de acordo com os anciões por
volta da década de 40, onde o aluno pra estudar pagava uma taxa de 10 “tão”
(tostão), como era conhecida popularmente a moeda brasileira na época em
Tamatateua.
O sistema de educação em Tamatateua funciona em creches e três escolas
do ensino fundamental, para continuar os estudos no ensino médio os alunos
precisam se deslocar para Bragança. A primeira escola fundada em Tamatateua
foi a Escola Municipal de Ensino Fundamental Catarino de Souza, localizada na
Ilha da Fazenda, fundada em 1982, possui um quadro técnico formado por 2
professores e 1 servente e em dois turnos diurnos. A segunda escola fundada foi
a Escola Municipal de Ensino Fundamental Brasiliano Felício da Silva, localizada
nas Quatro Bocas, fundada em 1987, possui 2 salas de aula, um quadro técnico
formados por 1 diretor, 5 professores, 3 serventes e 1 vigia e nos três turnos
diurnos. A terceira escola fundada foi a Escola Municipal de Ensino Fundamental
André Valino, na Ilha do Trapreval, fundada em 1998, possui um quadro técnico
formado por 1 diretor, 2 professores e 2 serventes, e em dois turnos (manhã e
noite).

112
Em Tamatateua não existe posto de saúde, a comunidade conta com o
programa de três agentes de saúde, esses tem a função de prestar assistência às
famílias, levando informações de campanhas de vacinação e prevenção de
doenças, controle de natalidade e mortalidade infantil, os casos mais graves de
doenças são encaminhados para o posto de saúde na comunidade de Bacuriteua
ou direto para a cidade de Bragança. Tamatateua também lida com a epidemia de
malária, em especial pelo posicionamento geográfico formar campos naturais, o
que facilita a proliferação dos mosquitos e contaminação intensa nos períodos de
junho a outubro por ano, mais esse é um caso comum durante todo o ano na
comunidade.
A organização e o capital social em Tamatateua são fortalecidos,
inicialmente pela influência da igreja católica local e, posteriormente pela defesa
do sistema ecológico a partir das interconexões com outras áreas sociais e a
introdução de novas forças produtivas, em especial agrícolas e pecuaristas.
A Associação Rural de Tamatateua é organizada desde a década de 80, e
têm como base as associações religiosas, entre elas a Centro Pastoral Popular –
CPP, a Caritas e o Clube de Mulheres. Mais recentemente foi criada a Associação
dos Apicultores (conhecidos como Associação dos Abelhudos), gestores da Casa
de Mel de Tamatateua (um subprojeto do PD/A Água e Mangue) e, em especial, o
Conselho de Manejo da Associação dos Usuários da Reserva Extrativista Marinha
Caeté-Taperaçú – ASSUREMACATU, mantém uma vaga ordinária a comunidade
de Tamatateua, devido a sua importância ecológica e sócio-histórico na luta de
defesa da floresta de manguezal na Amazônia.
O lazer em Tamatateua é referendado por atividades esportivas, religiosas
e festas profanas. Na comunidade existem seis times de futebol (ABC de
Tamatateua, Guarani, Canarinho, Marrocos, Manguerinho e Castelão).
Geralmente os jogos são realizados no domingo.
No mês de novembro é realizado o Festival do Murucí, sendo organizado
por oito associados mais antigos do time do Guarani. O objetivo é a divulgação do
murucí, que vem aumentando pelo fato de ser importante do ponto de vista
extrativista ou de cultivo, e geração de recursos financeiros para o time. Em
setembro é realizado o Festival do Caranguejo, com comidas típicas e a escolha
da Miss Condurua (fêmea do caranguejo). Também é comemorado em

113
Tamatateua, a Festa de Nossa Senhora da Conceição, no dia 8 de dezembro na
paróquia da comunidade.

- A infra-estrutura de conexão do sistema ecológico-social


Antes de 1973, não existia conexão terrestre entre as ilhas de Tamatateua
e a cidade de Bragança, o percurso era feito em embarcações pelos furos dos rios
diante da floresta de manguezal até a altura da cidade de Bragança, contudo, a
partir desse ano, foi criada a Rodovia Estadual PA 458 Bragança-Ajuruteua, um
meio de comunicação que reforçou o desejo dos moradores da comunidade, onde
foi construída uma estrada municipal, interligando Tamatateua a cidade de
Bragança em 1980. Atualmente, um dos meios de transporte de Tamatateua até a
sede de Bragança é feito por uma linha de ônibus, essa linha funciona as terças e
quintas pelo período da manhã. Diariamente à tarde esse ônibus faz o
deslocamento dos estudantes para as escolas de Bragança.
O sistema de energia elétrica foi implantado em agosto de 2000, mas nem
todas as ilhas mantêm acesso a esse serviço.

Fotografia 4. Localização do encontro do furo Manitiua e a ocupação da


comunidade de Tamatateua, porto da Atalaia (antes da reforma).
Fonte: Google Maps, Navteq North America LLC, (2009).

Em 2005, foi criada a Reserva Extrativista Marinha Caeté-Taperaçú, onde


Tamatateua é uma das 33 comunidades que integram essa associação, indicando

114
um novo momento político para o sistema ecológico-social em questão, por se
tratar de um modelo para conciliar a gestão participativa do ecossistema
manguezal, a partir do uso racional dos recursos naturais e do fortalecimento do
capital social nas comunidades. Em 2007, o Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária, por atendimento a criação da RESEX Caeté-Taperaçu, praticou
o serviço de manutenção das estradas e ramais da comunidade de Tamatateua e
construiu a infra-estrutura do cais do porto da Atalaia no furo Manitiua (fotografia
4), por sua importância de interligar as comunidades da RESEX Caeté-Taperaçu
ao rio Taperaçu; além desse porto, em Tamatateua existe serviço de outros dois
portos de ligação, porto Velho, sobre o furo Velho também de conexão com o rio
Taperaçu e, porto das Ostras, sobre o furo da Ostra de ligação com o rio Caeté,
considerado o mais antigo da comunidade.

- Condições ambientais e potencialidades do sistema ecológico social:


A valoração do patrimônio ambiental precede uma série de levantamentos,
de forma a modelar os recursos existentes em um território, para viabilizar um
planejamento de sua utilização, visando assim o desenvolvimento e a melhoria
das condições de vida da população local. Para realizar a modelagem do
patrimônio é necessário inventariar os bens existentes, ressaltando sua
importância para a exploração pela população na garantia de seu suprimento à
sobrevida.
No SES manguezal-Tamatateua a formação ecótono entre os rios Caeté e
Taperaçú, que são independentes entre si e dispõem de foz direta no oceano
Atlântico, mais intensa ligação através de furos que sofrem influência dos fluxos
da maré, formando assim uma composição florestal de manguezal e áreas abertas
de campos naturais, que ao sofrer as intervenções no período de inverno alagam
os campos formando áreas de ilhas naturais, representativo da beleza natural
amazônica.
O sistema manguezal nesta tese é compreendido como uma faixa
litorânea (mapa 6), entre os espaços ecótono da floresta de manguezal e áreas
adjacentes, formado ora por regiões de campos naturais ora por faixas de terra
firme, onde se localizam a floresta secundária e áreas de produção da agricultura
familiar, bem como o trânsito de furos de águas salinas que interligam os rios

115
Caeté e Taperaçu e vazam para as áreas de campos formando, em determinados
períodos do ano, lagos e ilhas naturais.

Mapa 6. Mapa de Tamatateua.


Fonte: Mapa produzido na Unidade de Análise Espaciais do Museu Emílio Goeldi, (2008).

Em 2005, foi criada a Reserva Extrativista Marinha Caeté-Taperaçú, onde


Tamatateua é uma das 33 comunidades que integram essa associação, indicando
um novo momento político para o sistema ecológico-social em questão, por se
tratar de um modelo para conciliar a gestão participativa do ecossistema
manguezal, a partir do uso racional dos recursos naturais e do fortalecimento do
capital social nas comunidades. Em 2007, o Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária, por atendimento a criação da RESEX Caeté-Taperaçu, praticou
o serviço de manutenção das estradas e ramais da comunidade de Tamatateua e
construiu a infra-estrutura do cais do porto da Atalaia no furo Manitiua (fotografia

116
4), por sua importância de interligar as comunidades da RESEX Caeté-Taperaçu
ao rio Taperaçu; além desse porto, em Tamatateua existe serviço de outros dois
portos de ligação, porto Velho, sobre o furo Velho também de conexão com o rio
Taperaçu e, porto das Ostras, sobre o furo da Ostra de ligação com o rio Caeté,
considerado o mais antigo da comunidade.
A cobertura vegetal da planície costeira de abrangência do SES
manguezal-Tamatateua é constituída em sua maioria por florestas de manguezal
(SOUZA FILHO, 2001), 95% com a dominância dos gêneros Rhyzophora sp.,
Avicennia sp. e Laguncularia sp. As florestas de manguezal, de diferentes fases
de desenvolvimento, estão em bom estado de conservação, ao contrário de outras
ao longo da estrada vizinha que liga Bragança a Ajuruteua. Sua extensão
geográfica é importante em todas as baías e estuários da região, beneficiando-se
do regime macrotidal e das características climáticas.
Os campos inundáveis e inundados (zonas úmidas) de abrangência do
SES manguezal-Tamatateua são cobertos principalmente por juncos (Aleucharis
sp) e por macrófitas aquáticas. Além dos manguezais e pântanos ocorrem, nas
terras altas (“ilhas”), formações secundárias representadas por capoeiras em
diferentes estados de maturação, que se desenvolvem sobre latossolos ou
sedimentos oriundos da Formação Barreiras (ROSSETTI et al., 2001, apud SILVA,
2005). Este tipo de vegetação foi monitorado através de caminhamentos
baseados em quilometragem e posicionamento GPS nas estradas da área de
trabalho.
A vegetação encontra fatores climáticos favoráveis para seu
desenvolvimento. O clima da área é tropical chuvoso (SILVA, 2005), do tipo
climático Am (classificação de KÖPPEN), apresentando uma estação chuvosa de
dezembro a maio, com uma alta umidade relativa do ar variando de 80 e 91%
(SOUZA FILHO, 2001). O calor (temperatura média anual de cerca de 28º C) e a
umidade são constantes, destacando-se os altos índices pluviométricos (cerca de
3000 mm/média anual) com fortes pancadas de chuvas. Uma sazonalidade
marcante caracteriza as chuvas da região, podendo-se distinguir claramente duas
estações nesta parte da costa, uma mais longa e chuvosa, e uma mais curta, de
estiagem. Estas características, além do regime de inundação pelas macromarés,
explicam a abundância das zonas úmidas no SES manguezal-Tamatateua. Mas a

117
estação seca, apesar de ser relativamente curta, pode ser intensa (SILVA, 2005)
tendo influência no desenvolvimento dos solos e dos manguezais.

- Sistemas de Produção (Comercialização e Sobrevivência)


A população de Tamatateua exerce atividades de pesca e de agricultura
(plantio do feijão, do tabaco, da mandioca, em sistema de leirões). Pratica-se
também a coleta do caranguejo, para a alimentação e venda, e para a
subsistência a coleta do siri, turu, mexilhão e ostras.
A exploração agrícola por meio de corte-e-queima da floresta primária e
capoeiras predomina na região. Também é observado que as mesmas culturas e
os consórcios continuam sendo praticados até hoje, ou seja: a mandioca
consorciada com o milho e o feijão caupi (Vigna unguiculata) e o plantio solteiro do
arroz (Oriza sativa). De acordo com Penteado (1968), já no censo de 1950
constatava-se a redução drástica dos recursos florestais da região bragantina, fato
agravado ainda mais pela grande demanda de carvão de lenha e madeira. O
mesmo autor salientou ainda que a falta de alternativas de exploração mais
duradouras do meio (como o cultivo de perenes em sistemas agroflorestais)
impediria que as matas locais fossem mantidas a longo prazo.
No caso da comunidade de Tamatateua, nos últimos 50 anos observou-se
que a cultura do arroz deixou de predominar nas roças anuais. Este fato, segundo
os agricultores deve-se a algumas mudanças no meio como: a) a redução das
áreas de floresta primária nos lotes versus a alta exigência nutricional do cultivo;
b) a facilidade da compra do arroz graças à proximidade da cidade de Bragança e
aos preços baixos e c) pela pouca tradição de se consumir o arroz.
Segundo famílias locais, não se nota muita diferença em termos de
trabalho entre a roça e o manival. Existem algumas vantagens de um sistema e
limitações do outro (Quadro 1). Grosso modo, o manival ou tabacal, é área de
atividade agrícola que tem como processo de preparo o sistema de estrumação
com esterco bovino, aproveitando as áreas de cultivo como curral para o pernoite
do rebanho por períodos que variam de 15 dias a alguns meses, com o objetivo de
manter uma alta fertilidade das parcelas, propiciando assim a exploração contínua
de cultivos anuais e bianuais

118
Sistema Vantagens Desvantagens
_ Não sofre dependência na época _ Não é possível plantar todo o
do preparo (não precisa do ano (pousio de 10 anos)
Roça empréstimo do gado)
(Queima) _ A Produção de milho é boa _ São poucas as áreas de
capoeiras altas.
_ O Mandiocal não apodrece na _ A cultura do feijão não vai bem
roça (áreas de difícil (baixa fertilidade e pouca água no
encharcamento) solo)

_ Pode-se plantar todos os anos. _ São áreas que alagam com


Manival facilidade.
(estrumação) _ A cultura do feijão responde bem
(fertilidade e água)
_ A comunidade trabalha unida em
várias tarefas.
Limitação de todos os Sistemas de cultivo: a necessidade de construção de cercas
que onera o cultivo.

Quadro 1. Vantagens e desvantagens de uma mudança no sistema de cultivo.


Fonte: Trabalho de campo (2003).

A grande limitação deste sistema de cultivo é a escassez de áreas de


capoeiras, visto que a maioria das famílias possui lotes relativamente pequeno (10
a 50 hectares) e com ausência de capoeiras ditas maduras. Fora isto, a distância
das capoeiras das áreas de moradia trazia impedimentos tanto para o
deslocamento de cercas para as áreas abertas, quanto para o envolvimento das
mulheres e crianças nas atividades agrícolas.
Com a melhoria do acesso terrestre (rodovias e vicinais), a partir da
década de 70 e a chegada de comerciantes da sede do município, algumas
culturas começaram a ganhar importância comercial na região como a malva
(Urena lobata L.), a pimenta-do-reino (Piper nigrum) e, especificamente em
Tamatateua, o fumo (Nicotiana tabacum). Devido à maior pressão sobre os
recursos naturais, as áreas de capoeiras e matas reduziram-se drasticamente na
região, impondo assim um sério limite no sistema de cultivo tradicionalmente
praticado, ou seja, o preparo com corte-e-queima não garantia a exploração
agrícola por muito tempo devido a fatores como: seu caráter itinerante que
obrigava a derrubada de grandes áreas de capoeira todos os anos; a grande
exigência de fertilidade das culturas e a deficiência desta disponibilidade via
cinzas vegetais; os tamanhos reduzidos dos lotes disponíveis pelas famílias locais
(áreas tradicionalmente de campos naturais), entre outros.

119
Segundo Penteado (1968), a alternativa encontrada para a consolidação
da cultura do fumo, por exemplo, foi uma adaptação de uma prática de adubação
de maior integração entre os recursos presentes no sistema de reprodução já
praticado: o gado e a agricultura.
A fertilização com o esterco bovino já era praticada em outras regiões
brasileiras como na Bahia, na região do Recôncavo baiano. De acordo com os
estudos de memória, em 1895, o senhor Domiciliano do Nascimento Farias, é o
primeiro introdutor de gado nos campos de Tamatateua, especificamente na Ilha
do Veado. Esta prática era realizada na época em que os campos estavam
alagados (primeiros meses do ano), quando a maior parte das áreas estavam
encharcadas, e, na vazante plantava-se o fumo. Apontava-se como limite deste
sistema a necessidade de mão-de-obra que era contornado através das relações
de parentesco e compadrio via mutirões nos pontos mais críticos do calendário, ou
seja, capina, colheita e beneficiamento do fumo.
Porém os próprios agricultores salientam que mesmo com a redução das
roças de corte-e-queima, a necessidade de construção de cercas para a roça
(proteção contra o gado), vinha causando considerável redução das capoeiras
pois as mesmas eram construídas com madeira proveniente do lote. Com a
introdução do arame farpado, a procura de madeira diminuiu consideravelmente,
além de amenizar o trabalho na construção dos cercados, mesmo tendo gastos
com a compra do arame.
O fumo tornou-se assim uma das principais fontes de renda para as
famílias de Tamatateua. Até 1985 muitos agricultores ainda trabalhavam com o
cultivo do fumo. Com o tempo aumentava o trabalho devido os grandes riscos de
competição com invasoras, pragas e doenças. A cultura também era muito
exigente quanto à fertilidade, daí a necessidade de manter o teor de matéria
orgânica na parcela cultivada. Como o volume de folhas extraídas da roça era
elevado, grande era a necessidade de reposição nutricional do solo para a
garantia de manutenção do rendimento da cultura. A partir da metade da década
de 80, com a queda no seu preço, o fumo deixou de ser viável economicamente,
cedendo lugar para o extrativismo do caranguejo.
Até hoje as famílias mantêm atividades mínimas com esta espécie,
principalmente para auto-consumo (elas utilizam também o fumo como repelente

120
de mosquitos na coleta do caranguejo). O certo é que a agricultura familiar
mantêm sua memória cultural através de algumas atividades que foram
importantes na história da comunidade e talvez possam vir a ser revitalizadas no
futuro - uma espécie de patrimônio vivo do conhecimento local.
No caso do sistema de cultivo do tabaco, Penteado (1968) afirmava que
este sistema não se mantinha por muito tempo pois se tratava de uma inovação
alheia à cultura local (origem portuguesa) e por isto acreditava no futuro dos
cultivos perenes como a pimenta-do-reino e a seringueira. Porém, contrariando
esta tese, nota-se que a introdução do fumo em Tamatateua, teve um papel
fundamental na manutenção das atividades agrícolas locais. A integração da
criação animal e da agricultura foi o grande elemento técnico de mudança do
sistema de produção, pois possibilitou a viabilidade dos sistemas de produção
diversificados, mesmo com a forte pressão nas áreas de capoeiras
remanescentes. E a previsão do referido autor confirmou-se mais no aspecto
econômico do que no agro-ecológico e cultural.
O sistema de cultivo integrado à pecuária trouxe elementos fundamentais
para a reorganização dos sistemas de cultivo que são praticados até hoje. E
mesmo na ausência do gado o sistema não é inviabilizado (o empréstimo de gado
resolvendo o problema). Porém, nota-se que nem todas as famílias têm acesso ao
gado em tempo hábil para o preparo da área.
Mesmo com a afirmação dos agricultores de que o sistema tabacal não é
mais trabalhoso do que a roça de corte-e-queima, fica claro que o grande
problema deste sistema, além de ter o gado em tempo hábil para a adubação, é a
grande necessidade de mão-de-obra durante praticamente todas as atividades.
Para isto, as relações de parentesco e compadrio regulam os entraves do
calendário, mas não evitam a deficiência de mão-de-obra para todas as famílias,
pois atualmente as famílias afirmam que é tão grande a demanda por trabalho na
roça que a prioridade acaba sendo para quem paga o serviço.
Com a decadência econômica da cultura do fumo a comunidade de
Tamatateua passou a intensificar a coleta de caranguejo como principal fonte de
renda. O calendário de trabalho foi alterado, ficando a roça com menor
intensidade de trabalho e destinada quase exclusivamente para o consumo
familiar. O sistema de cultivo passou a ser concentrado na mandioca como cultura

121
principal, entrando a cultura do feijão, esporadicamente, como alternativa
complementar na renda familiar. O interesse é que o plantio do milho é realizado
preferencialmente nas roças de corte-e-queima devido à “força da terra” com
cinza, ficando o cultivo do feijão destinado às roças de leiras (manival). Desse
modo, as famílias que optam pelas pequenas criações acabam tendo que comprar
o milho devido à não predominância de roças de queima.
A reduzida participação econômica da roça sem fumo impossibilitou a
manutenção de investimentos nas atividades agrícolas. Assim, as famílias com
pouco ou nenhum gado foram obrigados a definir áreas menores, pois o custo
para cercar e manter a roça não resultaria em resultados econômicos. A redução
das áreas de roça parece não ter relação com a pressão da pecuária pois a
quantidade de pasto plantado é muito baixa, devido às grandes áreas de campos
nativos. Porém, a prática de adubação das áreas de roça continua tendo a mesma
importância quando na época do plantio do fumo.
Observa-se que a prática de corte-e-queima, vem deixando de ser uma
prática predominante e passou a ser uma alternativa para as famílias que não
conseguem o empréstimo de gado para a adubação de suas roças. É válido
ressaltar que as famílias que efetuam empréstimo de rebanhos vizinhos
geralmente já possuem algumas cabeças de gado. Também se notou que em
muitos casos, estes criadores concentram em seus rebanhos animais de vários
proprietários menores ou mesmo executam atividades de vaqueiros para
fazendeiros da região.
A grande limitação deste sistema de cultivo é o risco de não obter o
empréstimo do gado em tempo hábil para o plantio. Do ponto de vista do sistema
de produção como um todo, a importância da coleta de caranguejo é muito maior
hoje, pois a responsabilidade de gerar renda fica concentrada nas atividades
extrativistas, ficando a roça com o papel essencialmente de auto-consumo. Em
resumo, as famílias acabam não desenvolvendo atividades com criação animal,
exceto um mínimo plantel de aves.
Embora pareça uma atividade sem muita importância, a roça de
mandioca, milho e feijão tem uma função primordial para a família, tratando-se de
um elemento de regulação do sistema. Graças a ela a atividade de coleta no

122
manguezal consegue manter-se como fonte única de renda, representando a
tesouraria da casa. Já no caso de grandes despesas, recorre-se ao gado.
Os agricultores apontam como os maiores entraves enfrentados nestes
sistemas de produção: a) a concorrência de mão-de-obra entre as atividades da
coleta de caranguejo e as atividades da roça e, b) a ausência do gado para a
estrumação da área da roça.
Em Tamatateua, a troca-de-dia ainda é muito praticada, mas se percebe
uma mudança de preferência pela empreita devido o alto custo com alimentação
decorrente da troca de dia (e/ou mutirão) e a demanda por trabalho. Com isto, a
grande necessidade de recursos financeiros (fazer dinheiro ou caixa) vem
reduzindo a tradição de mutirões a uma racionalidade econômica, prevalecendo
assim o menos oneroso.
Finalmente, as práticas realizadas pelas famílias sem gado suficiente para
a estrumação da roça não diferem muito das famílias detentoras de rebanho no
lote. Porém essa ausência influencia diretamente no calendário de trabalho pois a
definição do calendário agrícola depende diretamente do preparo das áreas de
roça. E, sem o poder de decidir a época do preparo, estas famílias recorrem às
roças de corte-e-queima como alternativa mais segura para garantir a alimentação
do próximo ano.
Geralmente as famílias incluídas neste sistema encontram-se em uma
situação econômica bem mais privilegiada que as anteriores. A maior parte possui
gado por meio de heranças e mantém uma relação de interdependência do
sistema de criação com o sistema de cultivo agrícola. Em Tamatateua, o reduzido
rebanho bovino e a abundância de campos naturais facilitam a manutenção
destas atividades. A alternativa de empréstimo do rebanho para os vizinhos, com
o objetivo de adubarem suas áreas, também reforça a possibilidade de ter mão-
de-obra disponível para o manejo do rebanho sem gastos com tal atividade.
Dessa forma, o manejo do gado é garantido pelo compromisso informal que cada
família assume de se responsabilizar pelo gado, enquanto o mesmo está no seu
lote.
As associações entre as atividades integradas entre a agricultura e
pecuária vem minimizando os impactos dos recursos vegetais, pois as áreas de
roça são permanentes e, portanto, não são transformadas em pastagens.

123
Também contribui para este cenário a reduzida capacidade de investimento
familiar, que inviabiliza qualquer projeto de aquisição de gado.
Como a atividade pecuária possibilita outros ganhos com seus
subprodutos, a atividade de coleta de caranguejo é bem menor que no sistema de
produção anterior.
As atividades do extrativismo animal são destaques enquanto recursos
básicos para a comercialização em área manguezal. Entre os recursos podemos
indicar como o mais importante do extrativismo comercial o caranguejo, onde 82%
das residências da área manguezal mantêm algum tipo de relação com aquele
recurso (GLASER, 2000). Outros recursos como, o mexilhão ou sururu, o turu,
também assumem importância na comercialização em períodos e locais
específicos na área manguezal.
Existem dois sistemas de produção para o caranguejo na área litoral de
Bragança: um para consumo e a venda do caranguejo vivo e outro para produzir
massa do caranguejo para comercialização (organograma 4). O impacto ambiental
do sistema para venda viva, que é praticado na comunidade de Tamatateua, é
menos danoso que o do sistema massa, com menores taxas de produção por
coletor e maiores tamanhos individuais dos caranguejos coletados, e também com
uma época de “defeso natural” quando muitos coletores desistem da coleta por
causa da queda na procura no mercado. Em contraste, a taxa de coleta, no
sistema para produzir a massa, é bem mais elevada, os caranguejos são menores
e esta prática ocorre durante o ano todo.
No sistema de produção do caranguejo temos dois importantes agentes,
categorizados na divisão social do trabalho e do sexo, o tirador e a catadora, o
tirador de caranguejo é o agente produtor que mantém relação direta com o
ecossistema manguezal extraído o recurso do seu habitat; a catadora é a agente
produtora que beneficia a carne do caranguejo em massa, em Tamatateua existe
uma casa de catação de caranguejo. No sistema de produção para a venda viva
do caranguejo a agente produtora catadora não existe, pois é claro, o caranguejo
é vendido vivo. Excepcionalmente, há casos de produtores extratores que
comercialização a sua produção diretamente com o consumidor final, porém, isso
não significa acréscimos significativos na margem de lucro para o produtor, pois a

124
comercialização é feita com base na relação do preço do produto estabelecido
pelos agentes mercantis.
No sistema comercial do caranguejo (organograma 4), existem agentes
mercantis, localmente denominados de marreteiros e\ou atravessadores. Os
agentes mercantis são responsáveis pela comercialização do recurso (seja o
animal vivo ou a carne beneficiada), até o consumidor final. Os agentes mercantis
podem estar no local da produção, sendo considerados os primeiros agentes
(donos de barcos e caminhões), tendo como uma das funções específicas o
deslocamento do produto até os consumidores finais em Bragança, ou até as
outras agentes mercantis em locais diferentes, representados por feirantes, bares,
lanchonetes, supermercados etc., que vendem o produto para os consumidores
finais desses locais.
A relação entre aqueles produtores extratores e agentes mercantis do
recurso caranguejo nos leva a acepções do estabelecimento comercial na área
manguezal. Para Barros (1997), o estabelecimento comercial pode ser entendido
como um complexo de bens, materiais e imateriais, que constituem o instrumento
utilizado pelo comerciante para a exploração de determinada atividade mercantil.
Nesse sentido, no circuíto da comercialização do caranguejo se verifica a
presença do aviamento, instituição muito comum na Amazônia desde a
comercialização da borracha.
O termo "aviar", no contexto amazônico, constitui-se em um conceito
regional que equivale a fornecer aos agentes produtores de caranguejo o que eles
precisassem para incrementar a produção e para a manutenção familiar, produtos
alimentícios, de vestuário, escolar, medicamentos etc. Normalmente, tais
mercadorias eram superfaturadas e movimentadas em forma de escambo,
caranguejo vivo ou carne beneficiada por mercadorias, gerando maior lucro ao
aviador e maior dependência e exploração do produtor.
Na instituição aviamento a presença do dinheiro é muito pequena,
permitindo que a extração do sobre-trabalho assumisse a forma de relações de
compra e venda de mercadorias. Sem explicitar as relações de trabalho, de
assalariamento entre os comerciantes e os produtores. As condições de vida da
família produtora do caranguejo parecem depender da capacidade individual de

125
trabalho de cada um. Na melhor das avaliações, eram compreendidas como uma
decorrência da produtividade e dos estoques de caranguejo na área manguezal
A dependência entre os produtores extratores e os comerciantes permite a
esses últimos determinar os preços para os produtos, resultando que os lucros do
caranguejo são pouco realizados para os produtores mas, especialmente para os
comerciantes. Não tendo muita chance de obter bom preço, o aumento da
produção é a única opção do produtor extrator para incrementar a sua renda.

Coletor de Caranguejo
- Produtor -

Patrão
Sistema de Aviamento

Marreteiro Local

Consumidor Final Consumidor Final Consumidor Final


Bragança Outras cidades Belém

Organograma 4. Circuito de Comercialização do caranguejo


Fonte: Pesquisa de campo, (2003).

Os produtores dependentes dos comerciantes aceitam baixos preços para o


produto, afim de proporcionar uma renda básica, recebendo ajuda em períodos
difíceis como tempos de doença ou emergências súbitas. A ausência de políticas
públicas estatais para os trabalhadores de manguezal como auxílio-doença,
benefício de desemprego e linhas de crédito resulta em baixos preços para o
produtor e margens elevadas de lucro para os comerciantes. O preço baixo para o
produtor, em contrapartida, resulta em produção mais alta de caranguejo porque
os coletores precisam gerar uma renda mínima para poder sobreviver
economicamente em área manguezal.

126
Quanto à espécie caranguejo, para Diele (1999) os caranguejos criam refúgios
suficientes no manguezal onde os esforços do coletor para a captura não o
alcançam, e também que o tamanho reprodutivo do caranguejo é bem mais baixo
que o tamanho mínimo para o consumo e a venda dele. Isto simplesmente
significa que o caranguejo já se reproduziu muitas vezes até que o macho ou a
fêmea cheguem no tamanho suficiente para ser de qualquer interesse comercial.
Então, a coleta nunca exterminará os caranguejos. A autora acrescenta que o
esgotamento do caranguejo por causa de sua coleta excessiva não é um perigo
(claro que o caranguejo seria exterminado por desmatamento das áreas
manguezal). Porém, o que é um perigo na coleta é o esgotamento dos
caranguejos do tamanho suficiente para venda, catação ou consumo em casa.
Isto já aconteceu em vários locais desta região especialmente em áreas onde a
coleta de caranguejo para produção de massa predomina (como no Distrito de
Caratateua). O resultado foi que aqueles coletores de caranguejo passaram para
outras áreas manguezal e freqüentemente terminaram em disputa com os
usuários anteriores de suas áreas novas (CUNHA: 2000).
O outro recurso que apresenta significativa importância para a composição
da renda, o mexilhão, não tem processos complexos para comercialização. Diante
das condições biológicas do recurso de curtos ciclos de vida, e das condições de
vivência em colônias, somadas a condição de capturas, que não exigem
mecanismos sofisticados, o recurso mexilhão, no ápice de sua produção,
representa uma alternativa comercial significativa para os moradores da
comunidade de Tamatateua. A produção, é semelhante a do sistema caranguejo,
com dois subsistemas básicos, entre o mexilhão catado e o mexilhão não catado,
aquele primeiro com maiores potencialidades comerciais. Porém, os processos de
comercialização são bem mais simplificados, se comparados com o sistema
comercial caranguejo, não exigindo do estabelecimento empresarial a criação de
instituições favorecedoras dos agentes comerciais, até porque o fluxo de produção
e comercialização anual não chega a durar 4 meses.
O sistema ecológico manguezal é um elemento importante, não encontrado
em outras regiões da Amazônia, pois sua biodiversidade de recursos animais e
vegetais propicia uma variedade na alimentação dos povos do mangue. Para
Glaser e Grasso (1999), o caranguejo é o recurso do extrativismo animal mais

127
importante para a sobrevivência familiar, seguido pelo siri, turu e mexilhão, amoré
etc., árvores do manguezal, também são importantes recursos do extrativismo
vegetal para a manutenção de moradias e o uso de armadilhas para a o próprio
extrativismo animal, a agricultura e a pesca.
Os recursos do extrativismo como elementos da reprodução familiar, estão
relacionados às funções que cada membro familiar exerce no núcleo interno da
comunidade de Tamatateua. Por exemplo, é comum o pai e o filho mais novo de
uma família saírem para a extração do caranguejo, o pai sai em busca de
comercializar o caranguejo, o filho de alimentar a família naquele dia.
O extrativismo no seio familiar não está sujeito a regras exógenas
condicionantes da produção, já que os recursos utilizados pelo núcleo familiar são
para o autoconsumo, se quer obedecem a padrões de higienização. A produção
para o consumo familiar é pequena, não tem impactos ambientais significativos.
Para a compreensão da dinâmica do uso familiar dos recursos extrativistas
é importante destacarmos os sistemas de trocas como um dos elemento
motivador da reprodução familiar e correlação entre parentesco e compadrio.
Existem intercâmbios entre os produtores, tanto do ponto de vista sociocultural
quanto econômico. Alguns núcleos familiares dedicam maior parte do tempo em
uma determinada atividade como é o caso dos produtores extratores do
caranguejo e os pescadores voltados para a comercialização, cujas atividades
podem ser vistas de forma separada, mas não excludente (ALVES, 1998). Outros
núcleos familiares no sistema social Tamatateua desenvolvem atividades
diversificadas, pesca, extrativismo do caranguejo e do mexilhão e agricultura,
conforme alguns fatores exógenos como períodos e safra dos recursos e
produtos.
Nessa segunda opção, os núcleos familiares trocam as forças de trabalho e
os gêneros alimentícios, constituindo redes de trocas, num processo de interação
de circuitos de reciprocidade, importante suporte para a sobrevivência e a
reprodução em áreas manguezal. A relação social de moldes não capitalistas
indica o sistema troca como um aspecto econômico presente nos núcleos
familiares, a partir da rotatividade nas diversas atividades de trabalho entendidas
dentro da dinâmica de sazonalidade da área manguezal, especialmente dos
recursos extrativistas.

128
As atividades pesqueiras, ao contrário das atividades extrativistas e
agrícolas, que não precisam de recursos sofisticados para o desenvolvimento das
atividades de trabalho, exigem, dependendo do tipo de pesca instrumentos,
técnicas e experiências, destacando-se as categorias de frota pesqueira
(embarcações), e as artes de pesca (modalidades de pesca, combinação entre
apetrechos e métodos de pesca).
No município de Bragança predomina três tipos de pescaria: flúvio-lacustre
e estuarina, costeira e de alta mar, existindo dois grandes sistemas de produção
interdependentes do pescado: artesanal (pesca de auto-consumo e mercantil
ampliada) e industrial. A comunidade de Tamatateua ressaltar-se a pesca
artesanal que está relacionada aos excedentes de produção da pesca do sistema
ecológico.
A pesca artesanal no SES manguezal-Tamatateua representa um setor de
pescaria costeira, flúvio-lacustro e estuarina (1 a 10 dias de pesca em locais
específicos dos rios, furos, lagos, estuário e costa), tem mercado de consumo
local, regional, e principalmente para a subsistência alimentar da comunidade.
Caracterizada pelas relações de compadrio e parentesco para a produção
destinada para o auto-consumo e mínimo de excedente, havendo ausência de
tecnologias avançadas e dependência nos processos de comercialização entre os
produtores e agentes mercantis ou com os donos de embarcações do sistema de
produção industrial. Utiliza a tecnologia de pequenos barcos (destacando as
embarcações montaria, movidas a remo, casco de pequeno porte; canoa,
embarcação movida a vela ou a remo e vela, sem convés ou com convés semi-
fechado, com ou sem casaria, com quilha; canoa motorizada, embarcação movida
a motor ou a motor e vela, com ou sem convés, com ou sem sacaria, comprimento
menor que oito metros; e barco de pequeno porte movidos a motor ou a motor e
vela, com casco de madeira, convés fechado ou semifechado, com ou sem
sacaria, comprimento entre 8 e 11,99 metros. Destacando o pescado da Gó
(Macrodon aneyelodon), Bagre (Arius hertzbergii), Uricica (Canthorops sp.),
Amoré (Eleotiedae guavina), Caica Pratiqueira (Mugil sp2.), camarão (Panaeus
brasiliensis sp).
Especificamente, o pescado de camarão rosa (Farfantepenaeus subtilis),
representa um setor comercial importante na comunidade de Tamatateua, devido

129
à disposição ambiente e à aproximação dos habitats desse recurso, áreas de
lagos e formações lacustres no entorno da foz do rio Caeté e foz do rio Taperaçu.
Contudo, a recente introdução de um novo recurso na área de manguezal, o
camarão-da-malásia (Macrobrachium rosenbergii), por influência econômica
desordenada do homem, possivelmente um fugitivo da área lacustre da ilha do
Mosqueiro, município de Belém, onde existem carcinicultores (criadouros de
crustáceos) dessa espécie de origem africana, vem diretamente ocasionando uma
intensa discussão ambiental e econômica em Tamatateua, devido à proliferação
do camarão-da-malásia ocorrer naturalmente em rios, lagos e reservatórios que se
comunica com águas salobras, onde o desenvolvimento larval se completa. Na
natureza, a sua dieta é bem diversificada, consumindo vermes, moluscos, larvas e
insetos aquáticos e vegetais, como algas, plantas aquáticas, folhas tenras,
sementes e frutas. No SES manguezal-Tamatateua foi verificado camarão-da-
malásia com 42cm de comprimento e 800 gramas de peso (comercialmente o
camarão rosa é disponível entre 15 e 50 gramas), interferindo no circuito
comercial do camarão local, e indiretamente, gerando um impacto na sua
sobrevivência no sistema de manguezal sobre os outros recursos, ficando claro
que se esse crustaceo se proliferar poderá alterar toda a cadeia trófica do SES
manguezal-Tamatateua.
A pesca de artesanal para subsistência, caracterizada como sendo
exclusiva para o consumo familiar e pela ausência de mediação da moeda, além
de reforçar as relações de compadrio e parentesco nos sistemas trocas, está
combinada a outras atividades de subsistência ou comercial. Em Tamatateua, as
atividades de pesca para a subsistência estão alocadas no estuário, furos, lagos e
rios.
Em Tamatateua o pescador para subsistência concilia suas atividades com
a produção do caranguejo e agricultura. Em geral a atividade de subsistência está
destinada a outros membros da família, excluindo o chefe. Sendo comum ser uma
atividade de mulheres, idosos e crianças, na concepção dessa pesquisa, este
último representa uma categoria de aprendiz. O tempo de trabalho não ultrapassa
o tempo de uma maré, ou seja a media de 8 horas de atividade\dia. Os
instrumentos de trabalhos não são sofisticados, indicados pelo mínimo necessário
para o desenvolvimento das atividades, além de representar uma baixa

130
produtividade. Os peixes dos rios e furos são os mais pescados. A pescaria
artesanal, também destina parte de sua produção para o consumo familiar,
caracterizando um papel de subsistência, não-capitalista.
A intensificação da pesca e a forma predatória como é conduzida por
muitos, os conflitos existentes com outros usos do ambiente e os impactos
antrópicos decorrentes desses usos, particularmente aqueles que degradam o
manguezal e poluem as águas (CABRAL, 1999), seguramente agravam a situação
no SES manguezal-Tamatateua.

- A história e contexto das instituições exógenas que interagem no sistema


ecológico-social manguezal-Tamatateua:

a. Igreja Católica, Diocese de Bragança.


A igreja católica, através da diocese de Bragança, é representativa da base
de organização do sistema social Tamatateua, onde até a década de 70,
influenciava unicamente a comunidade. A partir de abertura da Estrada Bragança-
Ajuruteua e os ramais de acesso a outras comunidades, inclusive a Tamatateua, a
igreja católica passou a mediar suas interferências com outras instituições, como a
Caritas, uma rede internacional da igreja católica, representativo em Tamatateua
pelo Escritório Caritas Norte II (que engloba os Estados do Pará e Amapá),
atuando na defesa dos direitos humanos e desenvolvimento sustentável do meio
ambiente e Centro Pastoral Popular - CPP, um dos movimentos de organização
política da igreja católica, influenciando diretamente as articulações da
comunidade de Tamatateua com o Partido dos Trabalhadores.

b. Universidade Federal do Pará – UFPa.


A Universidade Federal do Pará foi criada em Bragança através de um
Campus Universitário em 1987, através de um projeto de interiorização da
universidade. A relação da UFPa com o desenvolvimento local se inicia a partir da
implementação dos programas de pesquisa e desenvolvimento, que se refere à
atividade de longo prazo e/ou orientadas ao futuro relacionando as ciências
interdisciplinares ou tecnológicas, usando as técnicas similares ao método

131
científico, sem que hajam resultados pré-determinados mas com previsões gerais
para se alcançar o desenvolvimento local sustentável.
A primeira oportunidade de pesquisa interdisciplinária a se envolver com o
sistema ecológico social em Bragança foi o programa Manejo e Dinâmica de Área
Manguezal – MADAM, uma cooperação científica entre o Brasil e a Alemanha,
representado pela Universidade Federal do Pará e Universidade de Bremen,
funcionando entre 1995 e 2005. Os contatos iniciais com a comunidade de
Tamatateua levantaram várias especulações, das quais perguntas os próprios
comunitários si faziam: o que os alemães “procuram” no interior da floresta de
manguezal? Eles (os alemães), já destruíram o seu manguezal e agora querem
levar o nosso? Etc. Com o tempo, as lideranças das comunidades foram
compreendendo o papel da pesquisa e do desenvolvimento e sua importância
para a organização social e a luta pelos direitos das populações tradicionais e a
defesa do meio ambiente em que vivem.
Outros programas importantes de pesquisa e desenvolvimento medidos e
influenciados pelo MADAM passaram a ser implementados no sistema ecológico
social, entre os quais destacamos o PD/A Mangue e Água, dos projetos pilotos de
Casa de filetagem de peixe, casa de beneficiamento do caranguejo e casa do mel,
esse último, funcionando na comunidade de Tamatateua; o projeto Restauração
dos Manguezais Degradados – REDEMA, ocorrido na área de interferência da
Rodovia Estadual Bragança-Ajuruteua, funcionando como um projeto-piloto com a
adaptação de metodologias para a recuperação das áreas degradadas de
manguezal na península de Ajuruteua e trabalhar a educação ambiental, ambos
com a participação ativa das comunidades ribeirinhas de entorno, destacando-se
a comunidade de Tamatateua; projeto Mãe d’água do Caeté (proponência da
Associação Rural de Tamatateua), voltado para a elaboração de um Plano de
Gestão Participativa para o Uso dos Recursos Pesqueiros, visando desenvolver
projetos que estão iniciando este tipo de gestão, tendo como objetivo consolidar
os mecanismos de participação, bem como elaborar um plano de ação para o uso
dos recursos pesqueiros, fazendo-se necessário a elaboração de um diagnóstico
sobre o uso desses recursos. E, claramente, a Universidade participando e
conciliando as discussões para a criação da Reserva Extrativista Marinha Caeté-
Taperaçu.

132
c. Sindicato dos Trabalhadores Rurais – STR.
O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Bragança foi fundado em 22 de
julho de 1972. Nessa época, a estratégia do trabalho social junto aos agricultores
refletia uma forte filosofia assistencialista, desenvolvendo atividades tais como
distribuição de ferramentas, encaminhamento de aposentadorias, contratação de
odontólogos e assistência médica. Não existia um trabalho de fortalecimento da
organização da base produtiva o que resultava na desarticulação da categoria,
contribuindo indiretamente para o êxodo rural, a degradação dos ecossistemas e a
diminuição da qualidade de vida das unidades familiares.
A partir de 1985, algumas mudanças foram introduzidas nas estratégias de
organização da categoria. A luta pela terra, mobilizou centenas de famílias, a
promoção das Cantinas Comunitárias (07 cantinas organizadas), incentivou a
organização da produção e sua comercialização. Este processo contribuiu para
mobilizar a categoria. Como conseqüência desse fato destaca-se: i) o
fortalecimento das ações da Federação dos Trabalhadores da Agricultura -
FETAGRI Regional; ii) a participação dos produtores, a partir de 1991, no
movimento Gritos do Campo e Gritos da Terra Brasil e iii) a implementação do
crédito agrícola em 1992. Um dos objetivos deste financiamento, foi o de modificar
o sistema convencional de corte e queima com monocultura de mandioca,
utilizado pelos agricultores, buscando um sistema mais diversificado e equilibrado
desde o ponto de vista ecológico, que incluiu culturas permanentes, o rodízio de
áreas, diminuindo os impactos ambientais da agricultura.
No ano de 1999, o STR de Bragança organizou uma oficina de
planejamento denominada "Pesquisa, Sociedade e Manejo Sustentável", junto
com representantes das comunidades locais, governo municipal, IBAMA-PA,
técnicos do projeto PRORENDA (SEPLAN/GTZ), pesquisadores e estudantes do
Programa MADAM da UFPA, EMATER, e algumas organizações não
governamentais, tais como a Fundação Sócio-Ambiental do Nordeste Paraense -
FANEP, Movimento da Maré – MovMaré e Icomarã (organização não-
governamental de universitários), cujo objetivo mais importante foi o de levantar
quais os maiores problemas das comunidades do estuário do rio Caeté, na região
Bragantina do Estado do Pará, em relação à sustentabilidade da exploração dos
recursos naturais estuarinos e do manguezal. Como principal resultado deste

133
evento surgiu à formulação preliminar de um projeto que viesse resolver os
problemas levantados e que se transformou na proposta de Projeto Demonstrativo
da Amazônia - PD/A, Água e Mangue: Manejo e Desenvolvimento Agro-Pesqueiro
do Estuário do Rio Caeté, um subprograma financiado pelo Programa Piloto para
Proteção das Florestas Tropicais - PPG7.
PD/A Água e Mangue, foi desenvolvido de 2001 a 2003 nas comunidades:
Caratateua, onde foi implementado o sub-projeto em Caratateua de
beneficiamento de caranguejos e mariscos (Casa de Catação de Caranguejo); em
Ajuruteua, onde implementado o sub-projeto de beneficiamento de pescado
(filetagem, produção de piracui e defumação do pescado); e na comunidade de
Tamatateua, onde foi implementado o subprojeto de beneficiamento do mel (Casa
do Mel), contudo foi incentivada também a organização na comunidade criando a
Associação dos Abelhudos de Tamatateua, em favor do sucesso da experiência
piloto.

d. Instituto Chico Mendes, Centro Nacional de Desenvolvimento Sustentado das


Populações Tradicionais – CNPT.
Inicialmente, o Instituto Brasileiro de Recursos Renováveis e Meio
Ambiente - IBAMA, através do Centro Nacional de Desenvolvimento Sustentável e
Populações Tradicionais – CNPT, criado em 1992, se fez presente desde 1994
nos conflitos do uso inadequado dos recursos do manguezal do litoral paraense,
constando de invasões nessas áreas gerando procedência de impactos
ambientais, tais como desenvolvimento de casas de catação do caranguejo em
várias comunidades, extração ilegal de madeira da floresta de manguezal por
olarias, padarias e curtumes, bem como incentivando a organização social das
populações tradicionais da área de manguezal.
Atualmente, o litoral paraense encontra-se dividido em Reservas
Extrativistas Marinhas - RESEX, que são entidades do Sistema Nacional de
Unidades de Conservação - SNUC. Cada RESEX tem a sua associação de
usuários, que congrega pescadores atuantes na região e subsidia a gestão do
SNUC pelo órgão federal competente, que é o Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade. Nos municípios de Bragança e Tracuateua foi
criada a RESEX do Caeté – Taperaçu em janeiro de 2005, após luta de defesa do

134
meio ambiente e da sobrevivência humana, a partir daí foi criada a Associação
dos Usuários da Reserva Extrativista Marinha do Caeté e Taperaçu –
ASSUREMACATA.

e. Conselho Nacional dos Seringueiros - CNS.


O Conselho Nacional dos Seringueiros nasceu em outubro de 1985,
durante o 1º Encontro Nacional dos Seringueiros, realizado na Universidade de
Brasília. Resultou do incansável trabalho de Chico Mendes à frente dos empates
às derrubadas da floresta amazônica no Acre e da soma de iniciativas e esforços
em defesa da floresta e da reforma agrária que estavam ocorrendo em diferentes
cantos da Amazônia. CNS cresceu e passou a articular e representar todos os
trabalhadores agroextrativistas, reivindicando seus direitos como legítimos
defensores da floresta, pois conhecem seu valor e significado, o que os une é a
luta pela melhoria da qualidade de vida, uso sustentável dos recursos naturais da
Floresta Amazônica e pelo direito a terra.
No litoral paraense, o CNS passou a intervir e mediar conflitos a partir de
1994, acompanhado do IBAMA/CNPT, em especial na busca da organização
social dos trabalhadores extrativistas das áreas marinhas da Amazônia e na luta
em defesa do ecossistema manguezal, o que resultou entre 2004 e 2005 na
criação de reservas extrativistas marinhas na ilha do Marajó e na área entre os
municípios de Vigia a Viseu, centrando suas ações em Bragança devido às
intervenções de outras instituições em defesa do meio ambiente.

f. Associação dos Usuários da Reserva Extrativista Marinha Caeté e Taperaçu -


ASSUREMACATA.
A Associação dos Usuários da Reserva Extrativista Marinha Caeté e
Taperaçu - ASSUREMACATA, foi criada em 20 de maio de 2005 e congrega
pescadores de 33 comunidades pesqueiras, agrupadas em sete pólos:
Caratateua, Treme, Bacuriteua, Ajuruteua, Acarajó, Castelo e Tamatateua. O pólo
Tamatateua compreende as comunidades: Taperaçu–Campo, Serraria, São
Bento, Lago do Povo, Maçarico, Ponta da Areia, Cajueiro, Retiro, Porto da
Mangueira e Tamatateua. A ASSUREMACATA é a responsável pela gestão do

135
Plano de Gestão da RESEX Caeté-Taperaçu e desenvolve um zoneamento
econômico-ecológico para cada área de pólo.

- Escalas de Mudanças Exógenas no SES manguezal-Tamatateua.


As principais mudanças que interagem com o SES manguezal-Tamatateua
são ações exógenas diretamente no local, especificamente, no caso da abertura
da rodovia Estadual Bragança-Ajuruteua e o ramal municipal de ligação
Tamatateua-Bragança, donde a partir da década de 80, a comunidade passa a ser
um importante entreposto de ligação com os ecossistemas dos rios Caeté e
Taperaçu para uso comercial da produção dos recursos do manguezal, em
especial o caranguejo e o camarão. O que também, influencia diretamente nas
atenções de devastação da floresta de manguezal pelo uso desordenado de
empresas que precisam da lenha para produzir fogo, como as padarias e olarias e
as empresas de curtumes que precisam especificamente da árvore de mangue
(Rhyzophora mangle), para produção de tinta de conservação dos couros bovinos.
Resultando, inicialmente nas intervenções de pesquisa e desenvolvimento da
Universidade Federal do Pará, no fortalecimento da organização social da
comunidade com ênfase na defesa do meio ambiente, que interage com o PD/A
Água e Mangue, proponência do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de
Bragança, e o projeto Mãe D’água do Caeté, proponência da Associação Rural de
Tamatateua, bem como na criação da Reserva Extrativista Marinha Caeté-
Taperaçu. Uma ação externa, que nitidamente inicia uma influência direta no SES
manguezal-Tamatateua atualmente é a presença do camarão-da-malásia, que
afeta a presença do camarão rosa e dos peixes de subsistência comum nos
campos naturais de Tamatateua, representando ainda incógnitas quanto ao
equilíbrio ecológico e a sobrevivência humana nessa área.

a. Escala Local:
As influências da pesquisa e desenvolvimento da UFPA com o Sindicato
dos Trabalhadores Rurais e outras instituições favoreceram a criação do PD/A
Água e Mangue, que diretamente na comunidade de Tamatateua fortaleceu a
criação da Casa do Mel e a Associação dos Abelhudos de Tamatateua entre 2001
e 2003, contudo, após a finalização do projeto, a própria Associação apresenta

136
inconsistência para continuar com sucesso, devido várias intrigas internas pela
liderança do projeto; também, as influencias da pesquisa e desenvolvimento da
UFPA diretamente com a Associação Rural de Tamatateua, fortaleceram a criação
do projeto Mãe d’água do Caeté, financiado pelo Ministério do Meio Ambiente –
MMA, no programa de Fundo Nacional do Meio Ambiente – FNMA, que tem
planejamento em duas faces, o diagnóstico socioeconômico da comunidade, já
concluído, e a elaboração participativa de um plano de gestão e desenvolvimento
local, em estudo, contudo, também acompanhado de várias intrigas as lideranças
locais; além do o projeto Restauração dos Manguezais Degradados – REDEMA,
ocorrido na área de interferência da Rodovia Estadual Bragança-Ajuruteua,
funcionando como um projeto-piloto com a adaptação de metodologias para a
recuperação das áreas degradadas de manguezal na península de Ajuruteua e
trabalhar a educação ambiental, ambos com a participação ativa das comunidades
ribeirinhas de entorno, destacando se a comunidade de Tamatateua.
Escalas:

Multi-regional
Instituto Chico Mendes
Lei 11.516/07

Criação da RESEX
Marinha Caeté-Taperaçu Regional

Invasão camarão-da-malásia

Devastação da floresta

PD/A Água e
Mangue: Casa da Local
Abelha

Projeto Mãe d’água


do Caeté

Organograma 5. Escalas no SES manguezal-Tamatateua


Fonte: Pesquisa de campo, (2008).

b. Escala Regional
Os principais fatores que têm influência em escala regional no SES
manguezal-Tamatateua foram às pressões sobre a floresta de manguezal para
produção de lenha e tintas, a partir da década de 80, culminando com a abertura

137
do ramal Tamatateua-Bragança e também a mudança na economia local, voltada
para a extração e produção e pesca excedente dos naturais do manguezal para a
comercialização, fortalecendo a uso indevido do sistema ecológico. E
concomitante, a introdução de uma espécie invasora no sistema ecológico, o
camarão-da-malásia (Macrobrachium rosenbergii), vem gradativamente
modificando a estrutura de recursos pesqueiros disponíveis no SES manguezal-
Tamatateua, ainda necessitando de estudos aprofundados sobre essa demanda e
seus possíveis impactos socioeconômicos e ambientais. Com todas essas
influências, os moradores da comunidade de Tamatateua ainda precisam
enfrentar os conflitos internos, onde os coletores de caranguejo das comunidades
de Treme e Caratateua, respectivamente os maiores núcleos populacionais do
município de Bragança que aplicam o sistema de coleta e produção de massa de
caranguejo, através da catação nos núcleos familiares, atingiram uma
superprodução desse recurso, indisponibilizando nas áreas dos seus entorno
recursos comercializável significativo para atender a demanda dessas
comunidades, o que levou os coletores de caranguejo adentrar áreas diversas no
manguezal das bacias dos rios Caeté e Taperaçu, inclusive no SES manguezal-
Tamatateua, gerando um conflito entre os trabalhadores rurais coletores de
caranguejo; que veio a fortalecer a organização social local dos coletores de
caranguejo em Tamatateua, que junto com instituições governamentais, não
governamentais e a Universidade conciliaram a discussão para a criação da
Reserva Extrativista Marinha Caeté-Taperaçu.

c. Escala Multi-regional
Com a criação do Instituto Chico Mendes, sobre a Lei 11.516 de 2007
(BRASIL, 2007), a sua principal missão institucional é administrar as unidades de
conservação – UCs federais, que são áreas de importante valor ecológico,
cabendo ao instituto executar as ações da política nacional de unidades de
conservação, podendo propor, implantar, gerir, proteger, fiscalizar e monitorar as
UCs, instituídas pela União. Inicialmente criou fortes expectativas na melhoria do
funcionamento da RESEX Marinha Caeté-Taperaçu, mas na prática foi mais um
empecilho devido à demanda de recursos humanos e a disposição de recursos
matérias serem insuficientes do Instituto Chico Mendes para atender tal desafio.

138
b. Visões e cenários do sistema ecológico-social manguezal-Tamatateua:

A construção das visões e cenários no SES manguezal-Tamatateua se deu


a partir dos exercícios da metodologia participativa de oficinas de futuro realizadas
na comunidade de Tamatateua em 2004, com a intenção de analisar, de forma
participativa, a gestão da resiliência, distribuído em três fases: a primeira
caracterizou-se pelos contatos preliminares com as lideranças de Tamatateua,
entre os quais destacamos: presidente de associações, professores, anciões e
representantes religiosos; a segunda fase envolveu a identificação dos problemas
prioritários e a definição participativa dos indicadores da gestão dos recursos do
sistema ecológico-social, desenvolvido durante trabalhos de grupos com atores
sociais centrais de Tamatateua, entre os quais destacamos os pescadores,
jovens, donas de casa, professores, agricultores e agentes de saúde; e na
terceira, houve uma oficina geral para a apresentação dos resultados de cada
grupo (FONTALVO-HERAZO, 2004).
No período de 2004 a 2008, foi aplicado o planejamento de uma
abordagem de monitoramento participativo baseado em critérios norteadores, com
a intenção de definir as visões e cenários do sistema ecológico-social e,
representar uma ferramenta potencializadora do sucesso das ações planejadas a
partir da participação transdisciplinar, o que pode definir a ciclo adaptativo do
sistema ecológico-social e, assim, a possibilidade de analisar a resiliência, ou seja
a capacidade de adaptação ou superação a partir dos ciclos.
A metodologia utilizada teve um cunho participativo, donde no coletivo após
a discussão dos resultados da análise social e ecológica, foi sistematizado um
conjunto de objetivos, critérios e indicadores das condições de desenvolvimento,
sendo definida uma planilha simples para operacionalizar um sistema de
monitoramento em duas etapas: processo (continuidade) e impacto (avaliação de
mudanças), com duração de cinco anos, donde através de outra metodologia
participativa (fotografia 5), diagrama gráfico radar, que acompanha as atividades
em escalas, visualizar as ações e propostas no contexto operacional.
A metodologia do monitoramento participativo compreende a dimensão do
monitoramento de impacto e do monitoramento de processo:

139
- Monitoramento de Impacto:
compreende a avaliação de
mudanças ocorridas ao longo de
períodos semestrais desde a
aplicação da análise e do
monitoramento participativo,
identificando os efeitos causados
pela implementação, total ou

parcial, das metas definidas no


Fotografia 5. Reunião de pesquisa participativa
em Tamatateua planejamento.
Fonte: Blandtt, (2006).

- Monitoramento de Processo: diz respeito ao acompanhamento avaliativo da


implementação dos objetivos do planejamento de ação, a partir de indicadores de
sucesso de cada ação. É sistematizado de forma contínua, acompanhando todo o
processo potencializador da participação transdisciplinar dos atores envolvidos.
A analise do sistema para medir os indicadores descritos, foi uma variação
de 0 a 10, onde 10 significa um estado de aceitação ou uma subjeção de
felicidade, de acordo com os envolvidos nessa modelagem para definir de forma
participativa a capacidade de resiliência e sua aproximação com equilíbrio entre
sociedade e meio ambiente, e suas frações, onde a própria comunidade e demais
atores sociais envolvidos no sistema ecológico-social manguezal-Tamatateua
avaliaram participativamente essa medida dos indicadores no monitoramento de
processo. O monitoramento de impacto foi estabelecido em três tempos: 2004,
marco zero, 2006 apresentação do ciclo adaptativo e 2008 reapresentação do
ciclo adaptativo.
Por fim, a construção de cenários para o sistema ecológico social
manguezal-Tamatateua, foi realizada numa análise de conjuntura das situações
vistas e discutidas nesse instrumento. A intenção é fazer um exercício de
cruzamento de informações acerca da conjuntura social e ecológica a nível
nacional, regional e local no percurso de 2004 a 2013, visualizando para dez anos,

140
de 2004 a 2008 foram monitorados nesta tese as visões e para o próximo
intervalo, 2009 a 2013, foram criados os cenários.

- Visões participativas do sistema ecológico-social manguezal-Tamatateua:


A partir da análise participativa do SES manguezal-Tamatateua foi
identificado os critérios: ambiental (diminuição do tamanho e quantidade dos
recursos pesqueiros, poluição de lixo no ambiente e desmatamento da floresta de
manguezal), social (baixo nível de educação, falta de posto de saúde e falta de
infra-estrutura sanitária), econômico (ausência de alternativas de renda), e
institucional (conflitos organizacionais dos moradores), (Quadro 2).

Critérios Objetivos Indicadores


Diminuição do tamanho
e quantidade dos
Diminuir a pressão externa sobre o recursos pesqueiros
Ambiental sistema ecológico e qualificando o Poluição de lixo no
respeito e uso ambiental pelos usuários ambiente
do sistema social. Desmatamento da
floresta de manguezal
Baixo nível de
escolaridade
Social Fortalecer a educação e a saúde local, Falta de posto de saúde
bem como a infra-estrutura sanitária no Falta de infra-estrutura
sistema social, sanitária
Gerar alternativas de renda sócio- Ausência de
Econômico economicamente possível e ambiental alternativas de renda
correta.
Desenvolver capital social e fomento da Conflitos
Institucional organização dos moradores do sistema organizacionais dos
social. moradores
Quadro 2. Conjunto de objetivos, critérios e indicadores (construção coletiva) do
sistema ecológico-social manguezal-Tamatateua.
Fonte: pesquisa de campo, (2004).

a. A representação marco zero em 2004:


A análise do SES manguezal-Tamatateua do ciclo adaptativo na
procedência marco zero, aplicado em 2004, reflete que a comunidade de
Tamatateua tem uma representação importante para a economia local de
produção dos recursos de manguezal, em especial, por ser um sistema social com

141
uma organização institucional, embora fragilizada, o que oportuniza as
interferências das instituições comerciais. Ela é a única comunidade do estuário
da península de Bragança que mantém relação direta com as áreas de manguezal
tanto do estuário do rio Caeté como do estuário do rio Taperaçu, bem como a
representação diversificada do sistema ecológico, coleta de caranguejo, siri,
mexilhão e outros na floresta de manguezal, práticas orgânicas conciliadas com
pecuária e manejo de quintal em floresta de terra firme secundária, pesca de
peixes e camarões em campos inundáveis, rios e estuários, favorecendo a relação
de dependência da economia do sistema social Tamatateua com o ecossistema
de manguezal.
Nas discussões participativas na comunidade de Tamatateua, o critério
ambiental foi representando na percepção local como a medição marco zero 5,0
(na avaliação de 0 a 10, gráfico 2), especificamente pela abundância dos recursos
do manguezal, em especial o caranguejo e o camarão, e a presença dos agentes
mercantis para aquisição local dessa produção (com a realização de trocas no
sistema de aviamento), bem como a prática orgânica da agricultura conciliada
entre tabaco, milho, feijão e mandioca e o manejo de gado no sistema de
adubação natural, fruto da subsistência das famílias em Tamatateua.

Ciclo adaptativo 2004


Gráfico 2. Representação do ciclo adaptativo do SES manguezal-Tamatateua
Fonte: Pesquisa de campo, (2004).

142
O critério social, definido pela comunidade de Tamatateua nas oficinas de
futuro, na medição marco zero é identificado no ponto 04 (na percepção entre o
mínimo de 0 e o máximo de 10), devido a ausência de políticas públicas da
educação do Estado para efetuar a disposição do ensino Médio na comunidade,
dependendo apenas das ações públicas do município com o ensino infantil e
ensino fundamental em três escolas funcionando no local, mesmo assim, não
atendendo toda a demanda disponível de alunos, favorecendo a migração destes
para a cidade de Bragança, causando o êxodo rural, na luta pela continuação dos
estudos para os moradores da comunidade de Tamatateua.
Com a implementação da Casa do Mel pelo PD/A Água e Mangue, de
proponência do Sindicado dos Trabalhadores Rurais de Bragança, a expectativa
inicial da comunidade de Tamatateua era o fortalecimento de uma alternativa de
renda, representando o critério economia no ponto 03, na medição do marco zero,
reconhecido pela comunidade. E, ocasionalmente, pela organização da
Associação dos Abelhudos de Tamatateua para gerenciar a Casa do Mel, o
critério instituição foi medido no ponto 03 do marco zero, devido às intrigas diretas
com outras instituições do SES manguezal-Tamatateua, em especial a
Associação Rural de Tamatateua, no sentido da representatividade da instituição
gestora da Casa do Mel, o que ainda se refutou com o falecimento do líder
comunitário Elias da Silva, ocorrido devido à contaminação com o vetor da
malária, o qual era o principal articulador dos projetos de desenvolvimento para
Tamatateua, entre eles a Casa do Mel, desestruturando a organização local, na
luta de assumir os planos de desenvolvimento em ocorrência, e os em articulação:
criação da Reserva Extrativista e o projeto Mãe d’água do Caeté.

b. Apresentação do ciclo adaptativo 2006:


O monitoramento de impacto medido em 2006 do ciclo adaptativo no SES
manguezal-Tamatateua representou importantes mudanças nos critérios
ambiental, econômico e institucional. O fator de relevância foi à inclusão do
município de Bragança na discussão do IBAMA/CNPT e CNS em gestão costeira
da Amazônia pelas populações tradicionais, na intenção de proteção do homem
tradicional e do meio ambiente, através da criação das Reservas Extrativistas
Marinhas, o que levou ao envolvimento de outras instituições, em destaque a

143
Universidade Federal do Pará, através do Campus de Bragança, o Sindicato dos
Trabalhadores Rurais e outras instituições.
O critério ambiental permaneceu no ponto 5,0 (gráfico 3) na análise
participativa do monitoramento de processo em 2006, de acordo com os
resultados da oficina social em Tamatateua, contudo, não podemos deixar de
suscitar que os avanços dos madeireiros do manguezal, em especial os
microempresários do setor de curtume da cidade de Capanema, e das padarias e
olarias do município de Bragança continuaram a devastação da floresta de
manguezal para produção de lenha e carvão, usando a interligação de portos dos
rios Caeté e Taperaçu como a principal passagem para essas ações de
depredação, bem como a presença constante de coletores de caranguejo de
outras comunidades (fotografia 6), em especial Caratateua e Treme, que lidam
com a produção da massa do caranguejo, se intensificava nesse momento, pois
esse grupo de trabalhadores
está ligado a Colônia dos
Pescadores de Bragança,
que diretamente se relaciona
com o Sindicato dos
Trabalhadores Rurais de
Bragança (que tem maior
representação em
Tamatateua), de forma
desarmoniosa, o qual
Fotografia 6. Caranguejo de Tamatateua. defende os direitos dos
Fonte: Blandtt, (2008).
trabalhadores rurais do
manguezal com visões diferenciadas, principalmente, na visão ambiental.
Segundo Cunha (2000), a categoria dos coletores de caranguejo enfrenta várias
dificuldades, que fragilizam a sua organização social e sua representatividade
política.
Ainda cabe ressaltar que, um novo integrante no sistema ecológico de
Tamatateua é identificado, o camarão-da-malásia (Macrobrachium rosenbergii),
possivelmente, um fugitivo da área lacustre da ilha do Mosqueiro, município de
Belém, onde existem carcinicultores (criadouros de crustáceos), inicialmente, foi

144
rejeitado pelos moradores de Tamatateua para uso de subsistência, devido a sua
quantidade insignificante nos períodos de cheias dos campos naturais.
O critério econômico evoluiu de 3,0 para 3,5, de acordo com os
comunitários de Tamatateua, em especial pela presença maior de agentes
mercantis, atravessadores e marreteiros para a comercialização e aviamento da
produção de camarão e principalmente caranguejo, levando ao ponto da criação
de uma casa de catação de caranguejo em Tamatateua, o que era prática de
produção comum apenas ao lado oriental do manguezal de Bragança (liderados
pelos moradores de Caratateua e Treme), bem como o funcionamento da Casa do
Mel e da Associação dos Abelhudos de Tamatateua, que inicialmente foi um
provento de alternativa de renda para 20 famílias da comunidade.

Ciclo adaptativo 2004 Ciclo adaptativo 2006

Gráfico 3. Representação do ciclo adaptativo do SES manguezal-Tamatateua,


Fonte: Pesquisa de campo, (2006).

O grande avanço no ciclo adaptativo do SES manguezal-Tamatateua estar


ligado à criação da Reserva Extrativista Marinha Caeté-Taperaçu, em 2005,
através do Decreto do Processo 02018/004600/1999-51 da Presidência da
República do Brasil, bem como da criação da Associação dos Usuários da
Reserva Extrativista Marinha Caeté-Taperaçu – ASSUREMACATA, mediada pelo

145
Conselho Nacional dos Seringueiros, o IBAMA/CNPT e instituições locais, entre os
quais o destaque para o Sindicato dos Trabalhadores Rurais, a Colônia dos
Pescadores e a UFPA, Campus Universitário de Bragança.
Não é a criação da RESEX Marinha Caeté-Taperaçu em si, na sua forma
jurídica e administrativa ou como política ambiental, que nos interessa aqui, mas o
fato de que a sua criação se insere num esforço de instituições externas (UFPA,
IBAMA, CNS, Sindicato e Colônia de Bragança), para o estabelecimento de um
projeto de reordenação de modos de exploração e de gestão dos recursos
naturais que pressupõe rupturas com os modos de pensar e de agir dos diversos
agentes participantes dessa trama social. O que reflete que a organização social
em Tamatateua não evolui localmente, pois a ASSEREMACATA é uma
representatividade do sistema complexo da RESEX, e não especificamente do
SES manguezal-Tamatateua, contudo, a comunidade passa a ter importância
sociopolítica na visão ambiental do local, pois as lideranças atuam nos acordos de
manejo na defesa do meio ambiente como um todo, junto com o Sindicato dos
Trabalhadores Rurais, se opondo às visões e propostas das lideranças
Caratateua-Treme e da Colônia dos Pescadores, o que resulta na definição dos
setes pólos da RESEX Marinha Caeté-Taperaçu, um é em Tamatateua,
compreendendo também as comunidades Taperaçu–Campo, Serraria, São Bento,
Lago do Povo, Maçarico, Ponta da Areia, Cajueiro, Retiro, Porto da Mangueira e
Tamatateua, o que leva os comunitários de Tamatateua a definir o critério
institucional do ciclo adaptativo do SES manguezal Tamatateua de 3,0 para 8,0
em 2006, pois há ainda várias intrigas locais para o reconhecimento e persuasão
das lideranças da Associação Rural de Tamatateua.
O critério social, na visão dos comunitários de Tamatateua, não teve
mudanças na modelagem representativa do ciclo de adaptações do SES
manguezal-Tamatateua, permaneceu no ponto 4,0 (gráfico 3).

c. Representação do ciclo adaptativo 2008.


O monitoramento de impacto medido em 2008 do ciclo adaptativo no SES
manguezal-Tamatateua apresentou mudanças regressivas no critério ambiental,
de 5,0 para 3,5 (gráfico 4), especificamente, pela intensificação da presença do
camarão-da-malásia, de acordo com o resultado da oficina de futuro de 2008, pois

146
naturalmente outros recursos pesqueiros, entre os quais o camarão-rosa e os
peixes dos campos inundáveis diminuíram a sua presença, isso deve estar ligado
a prática de alimentação do camarão-da-malásia, que é diversificada, consumindo
vermes, moluscos, larvas, peixes e insetos aquáticos e vegetais, como algas,
plantas aquáticas, folhas tenras, sementes e frutas, interferindo na subsistência e
comercialização no sistema social de Tamatateua, onde 54% das famílias
dependem desses recursos (GLASER, 2000). No SES manguezal-Tamatateua foi
verificado camarão-da-malásia com 42cm de comprimento e 800 gramas de peso
(comercialmente o camarão rosa é disponivel entre 15 e 50 gramas), interferindo
no circuito comercial do camarão local, e indiretamente, gerando um impacto na
sua sobrevivência no sistema de manguezal sobre os outros recursos, ficando
claro que se esse crustaceo se proliferar poderá alterar toda a cadeia trófica do
SES manguezal-Tamatateua.

Ciclo adaptativo 2004 Ciclo adaptativo 2006 Ciclo adaptativo 2008


Gráfico 4. Representação do ciclo adaptativo do SES manguezal-Tamatateua
Fonte: Trabalho de campo, (2008).
O critério econômico tem uma evolução de 3,5 para 5,0 (gráfico 04),
especialmente pela entrada no mercado do camarão-da-malásia, que passou a ter
importância semelhante à comercialização do camarão-rosa, à curto prazo, e sua

147
apreciação pelos agentes mercantis locais e consumidores externos desse
recurso e, principalmente, pela visão dos moradores de Tamatateua, que são os
principais produtores desse recurso devido a sua criação nos campos naturais,
bem como a organização da entrada dos coletores de caranguejo dos pólos
Caratateua-Treme, que atuam com a catação de massa, na área do pólo
Tamatateua, freando a pressão sobre a extração desordenada do recurso
caranguejo, e ainda a partir de 2007, o IBAMA junto com a ASSUREMACATA
passaram a atuar juntos na fiscalização do período de defeso do caranguejo,
conforme assegura o artigo 2º da Portaria nº 34/03 do IBAMA, conforme determina
a legislação, ficando proibida a captura, o transporte, o beneficiamento, a
industrialização, o armazenamento e a comercialização de quaisquer indivíduos
de Caranguejo vivo (Ucides cordatus), que não tenham sido previamente
declarados e, bem como as partes isoladas (quelas, pinças, patas ou garras), no
litoral do Estado do Pará.
O critério institucional ainda evolui de 8,0 para a 9,0 (gráfico 4), no ciclo
adaptativo do SES manguezal-Tamatateua, de acordo com a visão dos moradores
locais, devido o fortalecimento das ações da ASSUREMACATA em defesa do pólo
Tamatateua da RESEX Marinha Caeté-Taperaçu, bem como a transferência
jurídica da responsabilidade do IBAMA sobre o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação – SNUC, que inclui a RESEX Marinha Caeté-Taperaçu, para o
recém criado Instituto Chico Mendes da Conservação da Biodiversidade.
O critério social, na visão dos comunitários de Tamatateua, não teve
mudanças na modelagem representativa do ciclo de adaptações do SES
manguezal-Tamatateua, permaneceu no ponto 4,0 (gráfico 4).

- Cenários participativos do sistema ecológico-social manguezal-Tamatateua.


Os cenários participativos do SES manguezal-Tamatateua foi elaborado
com discussões e opiniões de diversos atores sociais que regulamentam o
sistema social e dependem do sistema ecológico para suas adaptações internas,
bem como opiniões e pareceres de institutos que tem ligação direta com o SES
manguezal-Tamatateua, como a UFPA, Instituto Chico Mendes, o Sindicato dos
Trabalhadores Rurais, a Colônia dos Pescadores e a ASSUREMACATA. Onde,
assim, foram criados, a partir das visões monitoradas de 2004 a 2008, cenários de

148
2009 a 2018, com interseções diretas com os cenários mundiais, nacional e
regional.
Os cenários definidos de forma participativa são importantes para a
definição com êxito da capacidade da resiliência do sistema ecológico-social
Tamatateua, pois vislumbra aonde se quer chegar e/ou aonde se pode chegar.

Cenário 01. ‘deixa como está para ver como é que fica’

Este cenário configura um círculo vicioso decorrente da combinação do


desenvolvimento com uma dinâmica de planejamento gerado por políticas
públicas implantadas a partir da lógica do progresso sem a mensuração social e a
preocupação com as questões ambientais, onde Bragança poderá conhecer o
desenvolvimento, sem respeito aos recursos naturais e a equidade humana.
A ausência de estudos sobre o impacto da Rodovia Federal Transoceânica,
não possibilitará a prevalência de políticas públicas, podendo elevar as pressões
do turismo sobre os ecossistemas naturais bragantinos, como a praia de Ajuruteua
e os campos naturais em Tamatateua, colocando-os em risco ambiental
(problemas de infra-estrutura serão comum em Ajuruteua, tipo manejo do lixo,
estacionamento de carros, invasões de áreas proibidas e crescimento urbano
desordenado, degradação do meio ambiente etc.); o serviço de turismo terá
grande crescimento econômico, sendo mais diversificado e criativo com a
presença do ecoturismo, multiplicando seus hotéis, motéis, restaurantes, bares
etc., bem como o funcionamento do Aeroporto de Bragança. Dessa forma, o
município utilizará seu potencial turístico ainda mais, possibilitando empregos
formais e informais.
O setor pesqueiro deverá ser aquecido com as possibilidades de
escoamento da produção direto para São Luiz e Belém, bem como para outros
pontos do país e do mundo, através dos Portos de São Luiz e Barcarena (mais
profundos da Amazônia), empresários da pesca de localizações que estão
sofrendo sobrepesca de espécies exigidas pelo mercado (como os do Estado do
Ceará), implantarão em Bragança filiais de casa de gelo, aumentando a frota
pesqueira, criando novos empregos no setor pesca, dinamizando tecnologias para
aprimorar a produção; todas essas mudanças poderão afetar as estruturas da
pesca artesanal, relegando-a a produção para o mercado local e regional, bem

149
como poderá surgir a sobrepesca das espécies mais procuradas. Ao longo da
Rodovia Transoceânica, haverá a concentração de terras por médios e grandes
fazendeiros da região e em outras localizações, a pecuária, enfim, se
desenvolverá e a safra do feijão caupi e farinha de mandioca serão os principais
produtos agrícolas exportados em Bragança, destacando-a como maior produtora
no Pará. Os agricultores familiares que venderem suas terras buscarão na
indústria da pesca a alternativa de emprego, porém o saturamento do setor
poderá os tornar sem terra, ou os indicará a produção do caranguejo como única
saída. Com isso, as pressões sobre os estoques do recurso caranguejo farão
diminuir o tamanho comercializado atualmente. No primeiro momento, o mercado
irá aceitar a diminuição do tamanho, com o aumento da pressão e a contínua
diminuição do tamanho do caranguejo comercializado. O sistema de produção
para venda viva deixará de existir na linha da comercialização em Tamatateua,
que tradicionalmente de usuários do sistema venda viva, adotarão, como única
alternativa o sistema de produção para o beneficiamento da massa do caranguejo,
aumentando ainda mais as pressões sobre o estoque do caranguejo, sinalizando
a sobrepesca econômica do recurso.
A invasão do camarão-da-malásia nos estuários, furos e campos
inundáveis de Tamatateua reestruturaram o papel diversificado dos recursos
pesqueiros no manguezal, para um único recurso pesqueiro, fortalecendo a
dependência dos moradores de Tamatateua ainda mais dos agentes mercantis
que interferem na economia local.
A descentralização do poder público não terá uma participação significativa
da população, está ficará marginalizada e os mecanismos de participação
(Conselhos, Diretórios etc.), serão controlados por políticos e entidades,
interessados em continuar a centralização a qualquer custo, e, assim, a deferir o
que compreendem como importante para o bem-estar social, ou mesmo, abrindo
possibilidades de corrupção no poder público. A vila Caratateua em Bragança será
emancipada, a partir do desejo de grupos políticos, manipulando o poder de voto
dos cidadãos, seguindo a mesma lógica, o povoado do Treme, e criando uma
nova geografia na região, sem ao menos um planejamento de estratégias e bases
para o futuro.

150
A burocracia, as intrigas entre grupos políticos e o desinteresse da
população, retardará a criação da Universidade de Bragança. Quando criada, a
Universidade de Bragança, dará prioridade as Ciências Biológicas, relegando a
importância das Ciências Sociais. Núcleos de Universidades particulares serão
instalados, contribuindo com o descaso do poder público para com o ensino
superior gratuito. As Reservas Extrativistas não funcionarão, devido à população
não ter recebido instruções para o convívio dinâmico a partir dos acordos
ambientais, fortalecidos pelos conflitos gerados entre os grupos autóctones e os
migrantes pós Transoceânicos. Com a RESEX Marinha Caeté-Taperaçu,
Bragança passará a sediar postos de agências estatais de fiscalização e proteção
da natureza, porém, com pouco poder de ação, devido aos posicionamentos
políticos dos empresários da pesca e de fazendeiros da região.
Todos esses processos reforçarão as desigualdades sociais em Bragança,
contribuindo para o fortalecimento do ciclo da pobreza na área manguezal. A
distribuição da renda será acentuada pela desigualdade. O trabalho infantil
continuará a existir, agora mais diversificado, mais urbanizado e, com isso,
remunerado. Novas categorias absorverão o trabalho de crianças e adolescentes,
destacando o turismo, e o comércio informal, incluindo prostituição e venda de
drogas. A instituição aviamento, ainda existirá, tanto na produção do pescado
como na produção do caranguejo.

Cenário 02. ‘e se alguém pensasse na cidadania sustentável’

Este cenário desencadeia outra perspectiva econômica, alinhado com o


novo paradigma de desenvolvimento mundial e nacional, melhoria da qualidade de
vida e conservação dos recursos naturais, consolidando a base política de suporte
e viabilização de condicionantes. A participação da população é o elemento
definidor da cidadania e a sustentabilidade social concerne à ampliação
permanente da inclusão social e à diminuição nos índices da pobreza, o
reconhecimento da universalização dos direitos sociais e humanos, baseados nos
princípios de equidade e solidariedade dos laços sociais.
Estudos desenvolvidos pelas Universidades sobre os impactos ambientais
e sócio-econômicos da pavimentação da Rodovia Federal Transoceânica,
permitirão o planejamento de ações para fins de políticas públicas voltadas para

151
pressões do turismo a qual a praia de Ajuruteua irá sofrer com o aumento dos
visitantes. A participação da população local será muito importante, ao se engajar
em campanhas de sensibilização ambiental para esclarecer os turistas quanto à
estadia sustentável na praia, a formação de associações de moradores de
Ajuruteua e associações de bragantinos amigos de Ajuruteua, poderão viabilizar
campanhas junto ao poder público municipal e estadual, bem como junto aos
empresários locais. O incentivo de bancos de investimento para a construção de
hotéis comunitários na área dos campos naturais diversificará o trabalho. Esses
fatores combinados podem diminuir a pressão do mercado do pescado sobre
recursos pesqueiros e mariscos.
A criação de cooperativas de pescas poderá aquecer a economia local,
será respeitada a época de reprodução do pescado, e nesse período, os
pescadores associados e cooperados receberão ajuda de custo do governo do
Estado, provenientes de reservas retidas do ICMS - Imposto sobre Operações
Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços do pescado.
Os pescadores serão os ‘guardas vidas do pescado’, denunciando aos órgãos
competentes (IBAMA, Polícia Ambiental), àqueles que insistirem na pesca no
período do defeso.
Os produtores de caranguejo serão reconhecidos como pescadores,
podendo participar da Colônia dos Pescadores, porém terão suas associações por
categorias, visando a organização social e da produção, que permitirá a
independência dos agentes mercantis, quebrando o legado do aviamento, pela
possibilidade da comercialização direta com supermercados, lanchonetes, bares e
até mesmo nas feiras livres. Será respeitada a época do defeso do caranguejo.
Como são apenas de quatro a cinco dias em três meses, e nesse período poderão
participar de campanhas de esclarecimento ambiental junto a sociedade quanto a
coleta do caranguejo no período da reprodução. As casas de catação, receberão
informações sobre higienização e serão incluídas nas associações de produtores
de caranguejo, sendo as catadoras controladoras do tamanho e do gênero do
caranguejo capturado, podendo denunciar irregularidade junto aos órgãos
competentes. A instituição aviamento será enfraquecida quando os trabalhadores
se organizarem em cooperativas de produção e comercialização, após

152
participarem de cursos e encontros com o fito de aprimorar o trabalho em equipe e
o associativismo.
O camarão-da-malásia passará a ter importância socioeconômica no SES
manguezal-Tamatateua, onde será organizado sua captura das áreas naturais e
levados para a criação em cativeiro, através da criação de cooperativas de
carcinicultores, gerando uma alternativa de renda local e diminuindo a pressão
humana sobre a diversidade dos recursos pesqueiros.
A descentralização do poder público implicará em maior participação da
população na ‘coisa pública’, podendo dar a opinião, fiscalizar e atuar como
participante na construção da cidadania sustentável, entendendo que a questão
da descentralização não se dá pela autonomia pura e simples, mas pela forma de
gestão que se pretende empreender no contexto, ampliando cada vez mais o nível
de responsabilidades dos participantes diretos do processo.
Os movimentos sociais serão fortalecidos a partir do contexto de
participação incentivado pela Reserva Extrativista Marinha Caeté-Taperaçu, onde
a co-gestão será a linha de frente das ações. Serão criados 21 núcleos de base
(um em cada povoado da área manguezal), para atuar como embriões da
organização comunitária, gerenciando os problemas do dia-a-dia e agindo como
postos avançados na educação ambiental dos moradores. Os acordos ambientais
e os planos de utilização serão elaborados e implementados com ampla
participação popular, servindo como base para a fiscalização, pelos próprios
moradores da área.
Os pacotes da social democracia serão reavaliados surgindo novas
políticas públicas voltadas para o atendimento das efetivas necessidades de cada
contexto regional, como, por exemplo, o programa bolsa família receberá nova
estrutura e acompanhará ofícios destinados aos pais de alunos, diversificando as
possibilidades de trabalho, bem como o bônus recebido poderá será
complementado, no mínimo com a mesma quantia, pela prefeitura municipal
Todos esses processos poderão diminuir as desigualdades sociais em
Bragança, contribuindo para o enfraquecimento do ciclo da pobreza na SES
manguezal-Tamatateua. A distribuição de renda tornar-se-á mais eqüitativa, a
partir da ampla participação política e comercial da população no mercado local,
regional, nacional e internacional. O trabalho infantil diminuirá, mas continuará a

153
existir, agora mais diversificado, mais urbanizado, e com isso, remunerado.
Porém, a evasão e a repetência serão reduzidas a pequenos índices, não
causados pelo trabalho infantil.

c. Análise da resiliência no sistema ecológico-social manguezal-Tamatateua:


Quando se evoca a necessidade de conservar a biodiversidade pensa-se
em geral nas espécies ameaçadas de extinção e nas conseqüentes perdas de
informação genética. Mas esse, além de não ser o único prejuízo econômico
imposto pela redução da biodiversidade, pode nem sequer ser o principal. Bem
pior pode ser um tipo de enfraquecimento dos ecossistemas que os torna mais
vulneráveis aos choques. Isto é, uma diminuição de sua capacidade de enfrentar
calamidades naturais ou súbitas destruições provocadas pela sociedade sem que
desapareça seu potencial de auto-organização. É o que em linguagem científica
chama-se de resiliência: a capacidade de superar o distúrbio imposto por um
fenômeno externo.
As implicações desses dois aspectos da biodiversidade são bem diferentes.
Se o principal problema da redução da biodiversidade for a perda de informação
genética, suas conseqüências serão mais globais do que locais. Contudo, se a
queda da resiliência se revelar mais importante, as conseqüências estarão mais
diretamente relacionadas à debilidade de um determinado ecossistema, sendo,
portanto, mais locais do que globais.
O desenvolvimento é um processo contínuo de adaptação (assimilação e
acomodação) entre comunidades (sistemas sociais) e seus ambientes (sistemas
ecológicos), condição que impõe ao estudo desse fenômeno uma abordagem
histórica e contextualizada, considerando sempre o ecossistema constituído pela
díade composta pelo ser humano e seu meio. Esta visão é oposta aos estudos
que entenderam a resiliência como um resultado decorrente de apenas uma
célula, de um indivíduo ou de uma comunidade, pois este enfoque nega sua a
história e enfraquece a participação do contexto na produção da resiliência. O
equilíbrio - alcançado pelo sistema social assim denominado resiliente - só pode
ser explicado por uma perspectiva que incorpore, em suas análises, a interação
dinâmica entre sistemas ecológico-social. A aplicação do ciclo adaptativo abaixo
representa o desenvolvimento co-evolutivo das dinâmicas socioeconômicas e

154
biológicas do sistema ecológico-social manguezal-Tamatateua, na região Costeira
do Nordeste Paraense, Amazônia brasileira.
Identificamos em diferentes escalas temporais o ciclo socioeconômico e
biológico do SES manguezal-Tamatateua, ambos impulsionados pelo evento de
“criação” de ramais de estradas municipais de ligação da comunidade Tamatateua
a cidade de Bragança, em 1980, gerando a intermediação de novas famílias para
a área de ocupação da comunidade e uma mudança na economia local, a partir
do uso comercial dos recursos do manguezal, com a chegada de agentes
mercantis e incentivos a organização social da comunidade pela instituição da
igreja católica local, formando o panarchy e a hierarquia institucional de sistemas
de regras e de normas revelando relações entre escalas de espaço ou pessoas e
tempo. O panarchy no SES manguezal-Tamatateua é um conjunto hierárquico de
vários ciclos adaptativos, cuja ligação e funcionamento determinam a possível
sustentabilidade do sistema. Para a representação de modelagem do sistema e do
ciclo adaptativo e suas intervenções endógenas e exógenas caracterizamos o
numero “8” deitado, para apresentar os fatos socioecológicos, biológicos e
econômicos nos ciclos adaptativos para solidificar o panarchy do SES manguezal-
Tamatateua (organograma 6).
REORGANIZAÇÃO CONSERVAÇÃO

Reestruturação social Subsistência complexa

α қ
Invasão do
camarão-da-malásia Uso comercial Construção
do mangue do ramal,
1980

Manguezal Pressão agrícola


intocado no mangue

r Ω
Crescimento demográfico
Subsistência simples
Especialização ocupacional

CRESCIMENTO LIBERAÇÃO

Organograma 6. SES manguezal-Tamatateua


Fonte: Pesquisa de campo, (2008).

155
Na fase da exploração e crescimento (r), o sistema social encontra-se em
desenvolvimento, com usos simples e exploradores do ecossistema. Dadas as
dificuldades suscitadas pelo conceito de natureza intocada, que segundo Diegues
(1995) o mito moderno da natureza intocada trata das relações entre o ser
humano e o mundo natural neste final de século, marcado por processos globais
que têm levado a uma crescente degradação ambiental, nesse contexto, as
sociedades ocidentais, e sobretudo parte dos movimentos ambientalistas, têm
criado mitos e representações simbólicas que têm por objetivo estabelecer ilhas
intocadas de florestas, os parques e reservas naturais onde a natureza pudesse
ser admirada e reverenciada. Nessa fase do SES, o ecossistema sofre impactos
da ação humana bem menor do que os causados por dinâmicas puramente
biogeoquímicas.
Na seguinte fase do ciclo adaptativo, a conservação (k), os produtores do
manguezal sobrevivem de uma grande variedade de produtos ecossistêmicos,
utilizando um número crescente de nichos ecológicos para gerar uma economia
de subsistência cada vez mais complexa e frágil e em pequena escala o uso
comercial dos recursos do manguezal, provocando, no final dessa fase, um
equilíbrio socioecológico no qual o ecossistema manguezal ainda tem níveis de
reprodução biológica suficientes para manter a produtividade.
A “nova” estrada que bifurca o manguezal da península bragantina
integrando o sistema ecológico dos rios Caeté e Taperaçu, ligando a cidade de
Bragança à comunidade de Tamatateua construída em 1980, é um evento típico
de choque ou surpresa das fases de acumulação, monopolização e conservação.
Esta estrada iniciou a fase de liberação (Ω) do SES manguezal-Tamatateua com
um período de especialização ocupacional, onde as práticas agrícolas se adaptam
à dinâmica de curtas áreas produtivas, conciliadas num sistema de integração
com o manejo de quintais e da criação de gado, e crescimento demográfico,
facilitado pelo deslocamento da população local para o entorno do manguezal,
onde os recém chegantes em Tamatateua dispõem de comportamentos humanos
sem relação harmoniosa com o ecossistema, resultando em indesejáveis
tendências biofísicas de desmatamento do manguezal e da erosão.
Isso leva a configuração sistêmica a seus limiares de resiliência, assim
começando a fase de reorganização (a), que, inicialmente, a interferência

156
exógena, em especial da sociedade civil organizada local, representadas pelos
movimentos sociais Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Colônia dos
Pescadores, movimento ambiental representado pelo Conselho Nacional dos
Seringueiros e as representações do poder público representativo pela
Universidade Federal do Pará e Instituto Brasileiro de Recursos Renováveis e
Meio Ambiente, depois substituído pelo Instituto Chico Mendes, favorecem a
reestruturação do sistema social, enquanto capacidade de defender o meio
ambiente baseados no uso racional dos recursos através de uma gestão
participativa, criando assim a Reserva Extrativista Marinha Caeté-Taperaçu, bem
como diante do fenômeno de presença do camarão-da-malásia, levantando
dúvidas sobre o equilíbrio do ecossistema manguezal em Tamatateua,
representando uma nova fase necessária aos ciclos adaptativos para o SES
manguezal-Tamatateua.
Nessa compreensão, do lado esquerdo do organograma 6, são indicadas
três possíveis trajetórias futuras para novos ciclos e estados do SES manguezal-
Tamatateua, organizados em dois cenários desenvolvidos de forma participativa
como ferramenta transdisciplinar, e mais uma trajetória não descrita, relacionada a
eventos inesperados pelo sistema ecológico-social: cenário 1. deixa estar pra ver
como fica, descrevendo o SES manguezal-Tamatateua de uma forma negativa,
onde a adaptação local é limitada e dependente de fatores e instituições exógenas
do sistema; 2. e se alguém pensasse na cidadania sustentável, descrevendo o
SES manguezal-Tamatateua de forma adaptativa, buscando se fortalecer diante
das adversidades da dinâmica panarchy do sistema.

d. Gestão do sistema ecológico-social manguezal-Tamatateua:


Os ciclos do SES manguezal-Tamatateua são conceptualizados em ninhos,
um afetando o outro e desenvolvendo-se em diferentes velocidades e com
interferências cruzadas entre escalas. As variáveis “lentas” (slow variables) que,
por não sofrerem interferências humanas a curto e médio prazo, dirigem a
dinâmica do sistema, são essenciais aqui no SES manguezal-Tamatateua.
No sistema ecológico-social manguezal-Tamatateua, importantes fatores de
origem ecológica são o clima, a produtividade dos manguezais e o transporte de
sedimentos e materiais orgânicos. Nesta tese focalizamos particularmente os

157
mecanismos sociais do manejo da resiliência sistêmica. No lado social, a
globalização e mudanças técnicas incidem sobre o uso humano do ecossistema, a
dinâmica demográfica e a produtividade agrícola, o trabalho infantil e o ambiente
institucional. Os valores sociais representam uma força motriz de origem especial
por sua qualidade reflexiva. As forças motrizes sociais respondem não só a
mudanças em políticas, mas também a mudanças em valores sociais.
O SES manguezal-Tamatateua a partir do evento social e ecológico de
abertura de ramal de conexão com a cidade de Bragança, seguindo das
intervenções exógenas de instituições privadas, públicas e da sociedade civil
organizada solidificou o panarchy, estruturando a co-evolução do sistema, em
especial pela função inovadora de importância dos recursos naturais do
manguezal para a subsidência local, se adaptando a capacidade de se manter
no contexto local diante das adversidades socioeconômicas, políticas e
ambientais, fortalecendo sua organização social, favorecendo a solidificação de
capital social.
A observação social da comunicação do sistema ecológico-social
manguezal-Tamatateua, fundamentada pela teoria autopoiética, é uma
representação básica de um sistema organizado auto-suficiente e exibe uma
circularidade configuracional na constituição de seus componentes, que são
rigorosamente interconectados e mutuamente interdependentes.
O gerenciamento da resiliência no SES manguezal-Tamatateua,
configurou caminhos para esse sistema atingir a sustentabilidade, contudo,
essa dinâmica precisa ser compreendida como um processo de aprendizagem
coletiva no sistema social, ao qual precisará se adaptar ainda a sensibilização
ambiental, enquanto processo de interação recíproca influenciando-se
mutuamente, onde a distinção entre aprendizagem social (aquisição do
conhecimento) e comportamento social da comunidade (execução observável
desse conhecimento), interage para o sistema social lidar e se aplicar, sem
romper ou mesmo negar as adversidades do sistema ecológico-social,
gerenciando, assim, a resiliência.

158
4.2. O SISTEMA ECOLÓGICO-SOCIAL: ECOSSISTEMA DA VÁRZEA E A
COMUNIDADE DE LIVRAMENTO E A GESTÃO DA RESILIÊNCIA

a. Marco conceitual do sistema ecológico-social várzea-Livramento:


Para a busca do marco conceitual do sistema ecológico-social em estudo
foi realizado um diagnóstico participativo em 2004, seguido de observações e
participativas até abril de 2009, donde podemos destacar:
- Localização do sistema ecológico-social:
O ecossistema da várzea e a comunidade de Livramento são localizados
no Estado do Amazonas, município de Silves, que faz limite com os municípios
de Itapiranga, de Urucurituba e de Itacoatiara, na localização da 8º Sub-Região,
Região do Médio Amazonas. A comunidade de Livramento se localiza mais
próximo à cidade de Itacoatiara (66 km) do que da sede do seu município Silves
(121 km), portanto recebe influências socioeconômicas diretas também do
município de Itacoatiara (mapa 7)

Silves ●

Livramento ●

Mapa 7. Município de Silves, Amazonas


Fonte: Registro de mapas do Instituto de Terras do Amazonas

O sistema ecológico da várzea, ênfase deste estudo, se localiza ao sul do


município de Silves e percorre das cabeceiras do rio Anebá, passando pela
formação do lago, até sua entrada no rio Urubu, onde ao lado direito se localiza a
comunidade de Livramento e as suas áreas de produção familiar, numa extensão
de 9km. O nome dado a várzea do Anebá era antes conhecido como Anibá, em

159
especial pela presença continua da árvore pau rosa (Aniba rosaeodora), que a
empresa JCM proprietaria da terra desde a década de setenta identificou o rio e o
lago com nome Anibá e depois os comunitarios passaram a chamá-lo de rio e lago
Anebá.
- História do Sistema Social:
De acordo com Santos (1979), a história de Silves está intimamente
associada à de Itapiranga, por já terem formado uma mesma unidade
administrativa, com as atuais respectivas sedes se alternando no decurso do
tempo como sede do município que então englobava a ambos. Silves, primeira
sede do município de Itapiranga, foi o primeiro núcleo Europeu, criado em território
do atual Estado do Amazonas. O povoamento da região tem seu marco inicial na
fundação da Missão do Saracá, por Frei Raimundo, da Ordem das Mercês em
1660. A denominação de Saracá dada à missão, pelo seu fundador, originou-se
no lago em cujo centro se encontra a ilha de Silves ou ilha de Saracá, que é um
termo informal usado no Brasil para denominar indivíduos mestiços entre negros e
brancos de cabelos arruivados; Saracá também é uma formiga de cupim, muito
comum na ilha de Silves onde se instalara a missão (SOUBLIN, 2003).
De acordo com Reis (1948), habitavam a região onde se localiza hoje a
cidade de Silves os índios Caboquenas, Buruburus e Guanavenas, em 1663,
sangrentas lutas são travadas entre os colonizadores portugueses e os índios,
próximos ao Rio Urubu até a chegada, no final desse ano, de Pedro da Costa
Favela, que ai desembarca parte de sua tropa para a manutenção da ordem, de
acordo com os estudos de memória o nome rio Urubu foi dado nesse período de
confronto entre os índios da região e os colonizadores portugueses, devido a
concentração da ave Urubu (Coragyps atratus), nas margens desse rio se
alimentando dos índios mortos. Em 1759 a já aldeia de Saracá é elevada a vila,
com a denominação de Silves, homenagem a cidade de Silves localizada no sul
de Portugal, e como sede do município de igual nome. O município é extinto em
1833 e restabelecido em 1852. Em 1922, a sede do município é transferida, para
Itapiranga, sendo este povoado elevado à vila. Em 1925, pelo Decreto Estadual nº
23, a sede do município retorna a Silves. Em 1930, o município é anexado ao de
Itacoatiara, mas é restabelecido em 1935. Em 1938, o município passa a
denominar-se Itapiranga, com sede na Vila do mesmo nome, então elevada a

160
cidade (RESENDE, 2006). Nesse mesmo ano o município tem sua estrutura
administrativa definida com dois distritos: Itapiranga e Silves. Em 1956, pela Lei
Estadual nº 117, separa-se em municípios autônomos, Itapiranga e Silves. Em
1981, pela Emenda Constitucional nº 12, Silves perde partes de seu território, em
favor dos novos municípios de Rio Preto da Eva e Presidente Figueiredo.
A comunidade de Livramento, é a mais recente formação de povoado na
região das cabeceiras do
rio e lago Anebá, ocupada
desde 1981, mas os
comunitários consideram a
data de 26 de abril de 1985
o marco de fundação do
povoado, devido a sua
organização social. A
região da várzea do rio e
lago Anebá é inicialmente
Foto 7: Chuva na comunidade de Livramento ocupada pelos nordestinos
Fonte: Blandtt, (2008)
após a Segunda Guerra
Mundial, 1945, em especial os recrutados Soldados da Borracha, que não
conseguiram retornar a sua terra natal, fundaram a primeira comunidade da
região, Cristo Rei, distantes a 25 km de onde se localiza a comunidade de
Livramento. Três famílias de nordestinos resistentes na Amazônia migraram de
Cristo Rei e fundaram a comunidade com o nome inicial de Nossa Senhora do
Livramento, em especial por formarem três famílias cristãs católicas, donde
ocuparam e dividiram entre os familiares a área a margem direita do lago Anebá,
numa extensão de 9 km.
O processo migratório para a formação do povoado de Livramento se deu
através de convites de famílias para ocupar uma área onde a empresa JCM
desenvolvia atividades de extração de madeira no entorno do lago Anebá, em
especial da madeira pau rosa (Aniba rosaeodora), muito presente naquela área.
Esses convites foram incentivados por uma antiga e respeitada moradora da área,
conhecida como Mercês Oliveira dos Santos, uma viúva nordestina, a qual

161
dispunha de terras sem titulação e as oferecia para famílias trabalharem na
agricultura de base familiar.
Um dos convocados para se assentarem na área foi o senhor Luiz Marques
Valente e sua esposa senhora Antonia Pereira Magalhães, em 1981, o qual
escolheram a área onde hoje se situa o povoado de Livramento para a construção
de sua casa, sendo considerados os primeiros moradores do povoado. Ainda em
1981, outra família se assentou próximo a sua casa, o senhor e senhora Luiz e
Dionilza Valente, irmã do senhor Luiz Valente, está por ser católica e devota de
Nossa Senhora do Livramento, funda um centro de orações, a qual mais tarde vai
se conhecido como o nome do povoado. Em 1983, outra família, chefiada pelo
senhor Manoel Ferreira Castro, se assenta no local, formando a trilogia
genealógica da formação do povoado de Livramento.
O povoado tem ainda dois outros apelidos, ocasionalmente por conflitos
entre as igrejas católica e evangélicas, haja vista que o nome inicial é de origem
católica, alguns chamam de Mirituba, em homenagem a um igarapé que banha o
povoado e outros de Aldeia, se referindo a agrovila. Mais o nome mais comum
realmente é Livramento.
No ano de 2.000, a Prefeitura Municipal de Silves, inicia um levantamento
da quantidade de famílias que vivem próximo a área do patrimônio do povoado de
Livramento, e através de um programa de habitação popular, constrói vinte e oito
casas de madeira e um prédio para a igreja Assembléia de Deus, formando uma
agrovila. A partir do ano de 2001, a comunidade é agraciada pelo pacote do
Governo Federal Avança Brasil com um centro de abastecimento de água com
poço artesiano e um motor gerador de combustível a diesel de energia elétrica. No
ano de 2002, a Igreja Pentecostal em parceria com a Prefeitura Municipal de
Silves, com o Projeto Emendando Pontes, consegue a doação de madeira para a
construção do prédio da igreja e a construção de uma casa de farinha comunitária
com dois fornos e duas bancadas de serrar mandioca. Ainda em 2002, a
Prefeitura Municipal de Silves doa seis motores rabetas para a comunidade.
O povoado de Nossa Senhora do Livramento, gradativamente evolui quanto
a sua estrutura de organização social. Em 1985, é marcada a organização da
comunidade, sem registros legais. Em 22 de fevereiro de 1995, por iniciativa de
dez comunitários é criada a Associação de Desenvolvimento Comunitário dos Mini

162
e Pequenos Produtores de Livramento, que não têm significantes atuações,
apenas no tocante do recebimento de créditos agrícolas do Banco da Amazônia.
Em 14 de dezembro de 2003, finalmente é criada a Associação Comunitária de
Livramento, com certidão de nascimento e registro de CNPJ. Atualmente, os dois
organismos têm atuação em parceria na comunidade, fortalecendo o nível de
organização local.
No ano de 1994, a empresa JCM vende o território florestal onde se situa a
comunidade de Livramento para um grupo empresarial Suíço, Precious Woods,
que adquiriu 3.870 km² conhecido como fazenda 2000, no qual foi criada a
empresa Mil Madeireira Itacoatiara Ltda e, em 1997, tornou-se a primeira empresa
de manejo florestal, em operação na Amazônia, a ser certificada de acordo com
os princípios e critérios do Forest Stewardship Council - FSC. O projeto contribuiu
significativamente para definir os padrões regionais de certificação para manejo
florestal em terra firme na Amazônia brasileira. A partir de então a empresa Mil
Madeireira passa a ser um fator de mudança na história socioeconômica da
comunidade de Livramento. Contudo, somente no ano de 2004, o FSC na
cobrança do cumprimento dos princípios e critérios sociais levou a empresa Mil
Madeireira a criar o Departamento Sócio-ambiental, voltado exclusivamente para
estabelecer um relacionamento positivo com todas as comunidades de dentro e
do entorno da área de manejo florestal certificado. Em 2005, por solicitação da
comunidade de Livramento a Mil Madeireira construiu um ramal interligando a
comunidade à estrada da Várzea, num trajeto de 19 km dentro da primeira área de
manejo florestal certificado da Amazônia, conhecido como Estrada Linha Verde.
Em 2006, uma organização não governamental ambientalista, Associação
de Silves para Proteção Ambiental e Cultural - ASPAC, iniciou o projeto
denominado Fortalecimento Sócio-ambiental de Comunidades - ForsaC, donde
proponha ações voltadas para a educação ambiental em comunidades, discussão
de Acordos de Pesca no lagos dos municípios de Silves, Itacoatiara e Itapiranga,
que incluiu a discussão de Acordos de Pesca no lago do Anebá, onde em 2008 o
IBAMA reconheceu esse acordo para uso sustentável dos lagos; e o incentivo ao
ecoturismo comunitário. Na prática, o projeto ForsaC cumpriu apenas a meta de
Acordos de Pescas nos lagos, incluindo nessa dinâmica a comunidade de
Livramento.

163
Ainda, no ano de 2006, outra organização não governamental ambientalista
de Silves, Associação Vida Verde da Amazônia – AVIVE, inicia um projeto
denominado Projeto Florestal Não-Madeireiro na Fazenda 2 Mil - PFNM 2 Mil, em
parceria com a empresa Mil Madeireira e ainda apoiados na execução pela World
Wide Fund for Nature – WWF no Brasil, Governo do Estado do Amazonas,
International Communications Consultancy Organisation – ICCO, CARE Brasil e
apoiados na pesquisa pela Universidade Federal do Amazonas – UFAM, e o
Instituto Nacional de Pesquisa na Amazônia - INPA. O projeto PFNM 2 Mil é
orientado para atuar nas comunidades do lago/rio Anebá, mediante a capacitação,
conscientização e a difusão e certificação de técnicas alternativas de extração de
óleos, resinas, cipó e outros, em plantios e através de coletas silvestres racionais,
visando contribuir com iniciativas de preservação e de exploração sustentada dos
valiosos recursos que as espécies florestais em estudo podem oferecer. Deverá
também garantir uma produção anual contínua dos produtos da flora da Amazônia
central no mercado nacional e internacional, sempre resguardando e promovendo
a proteção dos direitos de propriedade sobre o conhecimento tradicional e o
acesso aos benefícios decorrentes da utilização sustentável de espécies
aromáticas e medicinais para as populações ribeirinhas envolvidas, e, ainda, o
projeto PFNM 2 Mil surge como uma alternativa para as comunidades do lago/rio
Anebá que trabalham com a agricultura não-sustentável, entre as comunidades
envolvidas nesse projeto destacamos Livramento.
Em 2008, o Governo do Estado do Amazonas através do Instituto de Terras
do Amazonas – ITEAM, e a empresa Mil Madeireira, por solicitação da
comunidade de Livramento iniciaram um programa de organização fundiária na
área da várzea do rio e lago Anebá. Historicamente, essa relação entre empresa e
comunidades já se estabelecia com essa intenção de regularização fundiária, da
qual, duas comunidades que se localizam totalmente dentro da área de manejo
florestal (Jesus É A Única Esperança e São Sebastião), estão em execução à
regularização fundiária para fim de titulação definitiva. No entanto, quatro
comunidades (Livramento, Santana, São Jose do Carú e São Geraldo), têm uma
realidade mais ampla quanto à questão de terras. Aonde as ocupações das terras
vão além da área da empresa, em que dividem sua ocupação com áreas do

164
Estado. A comunidade de Livramento, foi a primeira a receber o titulo de terras do
Estado e da empresa Mil Madeireira.
O Governo do Estado do Amazonas ainda tem dois fatores contextuais que
interage com sistema ecológico-social várzea-Livramento. Um refere-se à
iniciativa da comunidade de Livramento receber o programa Luz Para Todos,
donde em 2005 a comunidade oficializou a solicitação, onde o projeto foi
estruturado pela Companhia Energética do Amazonas – CEAM, mas até abril de
2009 não foi realizada nenhuma iniciativa, gerando alta expectativa frustrante na
comunidade de Livramento. Também, o Governo do Estado do Amazonas,
através da Secretaria de Estado de Infra-estrutura – SEINF, iniciaram em 2007 a
pavimentação da Estrada da Várzea, AM 363, que diretamente facilitava o tráfego
de acesso à comunidade de Livramento, contudo, gerou grande discussão de
movimentos ambientais contrários, liderados pela AVIVE e ASPAC e também com
apoio da empresa Mil Madeireira.

- A população do sistema social:


Segundo o IBGE (2007), a população do município de Silves é de apenas
8.211 habitantes, sendo 41% na zona urbana e 59% na zona rural, com uma área
territorial de 3.749 km². A comunidade de Livramento, em 2008 passou a ser
maior comunidade do município, com 74 famílias moradoras, dessas 84% são de
cor parda e 16% de cor negra. Foi realizado um estudo demográfico da
comunidade, através de estudo de memória (1981,1990 e 2000) e censo (2004 e
2008), desde a sua fundação ao dias atuais, (Gráfico 05).
Desde a sua fundação em 1981 até 2005, a comunidade de Livramento vivia na
condição de isolada geograficamente, o único acesso até a Estrada da Várzea
(Rodovia AM 363), que interliga a cidade de Silves e Itacoatiara era de canoa a
remo ou motorizada com rabeta, no percurso do rio Anebá até sua
desembocadura no rio Urubu, com sete horas de navegação.
Pelos estudos de memória foi verificado que no ano de 2000, os moradores
das comunidades eram formados apenas por anciões e crianças de zero a 10
anos, compondo-se cerca de 2/3 (dois terço) de menores de idade da população
total de Livramento, os adolescentes e adultos migravam para Silves e Manaus,
mais especial mesmo para Itacoatiara com a intenção de estudar, pois não existia

165
escola na comunidade. Contudo, a partir de 2005, com a abertura da estrada
Linha Verde, a comunidade de Livramento passou a receber migrantes de várias
outras comunidades e também os natalícios retornando à sua origem,
aumentando 220% sua população em três anos.

Demografia da comunidade de
Livramento, 2008

400
350
300

200

100 97 95
52
21
0
Ano Ano Ano Ano Ano
1981 1990 2000 2004 2008
Série1 21 52 97 95 350

Gráfico 5. Demografia da comunidade de Livramento.


Fonte: Pesquisa de campo, (2004-2008).

A taxa de natalidade anual (dados dos últimos três anos), é de 09% na


comunidade de Livramento, quando a taxa de mortalidade, no mesmo intervalo de
tempo, chegou a 0,0%. A curva de crescimento potencial, atinge 17% ao ano,
identificando uma população em crescimento.
Atualmente a população do colégio eleitoral da comunidade de Livramento
é formada por 68% votantes em Itacoatiara; 22% votantes de Silves e 10% de
votantes de outros municípios do Amazonas.

- A estrutura do sistema social


As religiões predominantes em Livramento são representadas pelas igrejas:
Pentecostal, Assembléia de Deus, Batista e a Católica, está última é a única que
não tem prédio, ou seja, não existe prática do catolicismo na comunidade. A igreja
Pentecostal desempenha importante papel na organização social local através do
projeto Emendando Pontes, onde os religiosos têm uma casa de farinha
comunitária para o beneficiamento da mandioca. Além da realização de um retiro,
Missões Evangélicas, o maior evento cultural da comunidade, onde durante o

166
primeiro sábado do mês de setembro, Livramento recebe vários cantores
evangélicos de Silves, Itacoatiara e Manaus entre outros, para um louvor, seguido
de banquetes. Este evento tem ampla divulgação regional e recebe visita de
políticos e empresários locais. A atuação da igreja Pentecostal ativa, deixa
enciumados os católicos que são presentes na comunidade mais não tem base de
organização, pois, apesar da comunidade ter um nome de uma santa da igreja
católica, não existe a festividade de Nossa Senhora de Livramento, o que deveria
ser comum, porém, não existem também festas com bebidas alcoólicas, ou seja,
festas profanas. Em 2007 houve um conflito oficial entre as igrejas evangélicas e a
católica, donde os comunitários católicos não reconheceram mais a presidente da
comunidade como líder principal da localidade e formaram uma nova associação,
e criaram um novo presidente, donde a comunidade a partir desse ano, passou a
ter dois líderes, um representando os católicos, a minoria em Livramento e a outro
presidente líder formada por evangélicos representando a maioria da comunidade.
Os evangélicos reconhecem que a palavra Livramento significa um termo religioso
de libertação das maldades humanas, ‘o livramento’, por isso, não consideram que
o nome da comunidade seja Nossa Senhora do Livramento.
A educação na comunidade de Nossa Senhora do Livramento é
representada pela Escola Municipal com o mesmo nome, funcionado da
alfabetização a 6º série do ensino fundamental em regime multi-seriado uni
docente. A assistência da Prefeitura Municipal de Silves, através da Secretaria de
Educação, é deficiente, em alguns períodos falta merenda escolar e material
didático, inclusive carteiras, além de uma indefinição orgânica quanto ao servente
da escola, que é exercido pelo agente comunitário. Além da inexistência da
educação infantil, responsabilidade legal do Município.
Na comunidade, a maioria da população é analfabeta funcional, não
existem programas do governo relacionados à alfabetização de jovens e adultos, a
população marginal da educação formal sabe apenas 'desenhar o seu nome' e
tem a compreensão mínima das operações matemáticas.
O futebol aos domingos é a prática comum de lazer em Livramento, o
Cruzeiro, time de futebol adulto masculino e o Livramento, time de futebol adulto
feminino são as atrações quando recebem visitantes de outras comunidades,
quando saem para jogar fora do povoado ou mesmo quando tudo não passa de

167
treino dos atletas. Em segundo plano, a prática do dominó à noite é uma atração
para um grupo restrito, quando se conversa e se aproximam os vizinhos no
horário do descanso, antes de dormir.
A assistência à saúde na comunidade de Livramento é deficiente, existe um
prédio de posto de saúde, na mesma estrutura da escola, que não funciona. Um
agente comunitário do povoado de Cristo Rei, vem uma vez no mês mais não faz
orientações e nem distribui remédios. Quando precisam de assistência deslocam-
se até a cidade de Itacoatiara. Quando morre alguém, se adulto é levado para
Itacoatiara ou para um cemitério no rio Carú, se criança é enterrado nos quintais
das casas, na comunidade mesmo. As doenças mais comuns são gripes tropicais,
tipo virose, malária e outras. Não existe programas de controle de natalidade, o
que justifica os altos índices de crescimento demográfico e nem programas
sociais, mesmo os programas guarda chuvas do Fome Zero do Governo Federal
tipo: Bolsa Família, Vale Gás, Auxílio Família etc., não são organizados na
comunidade, não havendo seleção das famílias localmente no que se refere ao
beneficiamento familiar destes.

- A infra-estrutura de conexão do sistema ecológico-social


Não existia acesso de estrada até a comunidade de Livramento, onde a
população se localizava isolada geograficamente, de um lado uma área de manejo
florestal certificado e de outro lado o lago Anebá. Por solicitação da própria
comunidade para a empresa Mil Madeireira foi aberta em plena área de manejo
florestal certificada uma estrada conhecida como Linha Verde, o que modificou a
importância local da comunidade de Livramento, donde vários moradores
retornaram a sua origem, e mesmo as ONG de Silves, ASPAC e AVIVE
possibilitaram incluir projetos ambientais na comunidade de Livramento.
Até 2005, o transporte fluvial era o único acesso da comunidade de
Livramento, servindo dos igarapés Gaita e Mirituba para os acessos até os lotes
agrícolas e o rio/lago Anebá para as outras comunidades e as cidades de Silves e
Itacoatiara.

- Condições ambientais e potencialidades do sistema ecológico social:

168
A intensa relação do ser humano com a natureza dá-se através de um
contínuo e dinâmico processo de construção. Neste processo, o homem apropria-
se indiscriminadamente dos recursos naturais, pouco se preocupando com a
renovação da fonte ou com as conseqüências que a sua ocupação pode trazer ao
espaço geográfico em volta. Na comunidade de Nossa Senhora do Livramento é
possível identificar um conjunto ambiental propício para a relevância do
desenvolvimento socioeconômico local: florestas e rios representam para os
ribeirinhos um bem natural donde se pesca, planta e extrai recursos para a
sobrevivência humana. O estado de preservação ambiental desses ecossistemas
contribui para a significativa abundância dos recursos neles disponíveis.
Em Livramento o cenário formado pelo encontro dos igarapés Mirituba e
Gaita com o lago Anebá, em concomitância com a floresta forma um cenário
ambiental encantador, representativo da beleza natural amazônica (fotografia 8).
Os tipos de solos encontrados em Livramento tem o predomínio do barro amarelo,
seguidos do barro vermelho e em menor proporção as áreas arenosas, próximas
de rios, igarapés e nascentes, o que limita o potencial agrícola local por condições
do solo.

Fotografia 8. Localização do encontro dos igarapés Mirituba e Gaita e ocupação da


comunidade de Nossa Senhora do Livramento.
Fonte: Google Maps, Navteq North America LLC, (2009).

169
O sistema pousio é comum em Livramento, que remota desde a ocupação
na década de 80, uma herança descendente de nordestinos. Consiste num
sistema de produção associado à roças e cultivo pela enxada, ateando-se fogo à
vegetação: florestas (fase inicial); após a utilização produtiva são abandonadas
para adquirir fertilidade por certo período de tempo, ou seja, regeneração natural.
Então, outras áreas são preparadas para o cultivo, utilizando-se do mesmo
processo. Esse período de pousio não ultrapassa dois anos, sendo reocupada
posteriormente, devido às reduzidas parcelas de terra dos agricultores.
O rendimento do solo nos primeiros anos de pousio é satisfatório, cresce
sobre essas áreas uma vegetação de aspecto florestal (capoeira), com função
semelhante da mata original, que novamente é cortada e ateada fogo, sobre suas
cinzas emergiram roças durante uma seqüência de dois anos. Porém o aumento
populacional em Livramento e da pressão da demanda de mercado acelerou o
ritmo das rotações de terra, os pousios não mais exercem a função de
regeneradores do solo, pela redução dos intervalos de regeneração das áreas,
enfraquecendo a qualidade da produção agrícola, porém, não é comum o uso de
substâncias químicas para incrementar a produção.
Existe o cultivo de culturas perenes, destacando o coco e o cupuaçu. Além
da prática comum de produtividade de quintais, que representam importantes
suportes a sobrevivência familiar, através do cultivo de árvores frutíferas,
horticultura. A criação de animais, como porcos, em especial de aves (galinhas e
patos) nos quintais, representa um importante mecanismo para a alimentação
familiar.Todas essas práticas de agricultura familiar voltadas para a subsistência
da comunidade.
Livramento está localizada em área de planície amazônica de topografia
suave. Com acidentes especificamente na confluência dos rios e igarapés, no
percurso e encontro dos igarapés Mirituba, Botinho e Gaita bem como do lago\rio
Anebá, que deságua no rio Urubu que por sua vez é integrante da rede
hidrográfica do rio Amazonas.
Em períodos de intensas chuvas e o conseqüente aumento do nível das
águas, por ocasião da planície suave, as águas do lago Anebá e dos igarapés
Mirituba e Gaita chegam a metros das casas na comunidade, em 2009, a cheia do
lago Anebá, por registro dos próprios comunitários, alagou as casas em

170
Livramento pela primeira vez na história conhecida pelos moradores locais. O
igarapé Mirituba é a principal fonte de abastecimento de água para se beber, além
de servir para o banho e lavar roupas. Em períodos de intensa estiagem, como o
fato ecológico ocorrido em 2005, os igarapés Mirituba e Gaita secaram, como
nenhum morador nunca tenha registrado esse fato, parte do lago Anebá se tornou
um poço de lama, dificultando a passagem pelo seu leito, isolando mais ainda a
comunidade, a partir dessa calamidade ecológica, que a empresa Mil Madeireira
abriu a estrada Linha Verde.
Cruzando as informações da 5º classificação do Projeto RADAM
(MEGGERS, 1977), com a percepção dos agricultores locais, a comunidade de
Livramento está situada numa região ecológica de floresta ombrófila densa, com a
presença predominante de floresta densa ou mata de terra firme, é uma mata
perenifólia, ou seja, sempre verde com dossel de até 15 m, com árvores
emergentes de até 40 m de altura. Possui densa vegetação arbustiva, e
ocasionalmente, principalmente no período das chuvas e cheias do lago Anebá e
igarapés da rede hidrográfica, com a presença de floresta ciliar ou mata de igapó,
caracterizando Várzea, áreas úmidas que são periodicamente inundadas pelo
transbordamento lateral dos igarapés, rio e lago Anebá, promovendo interações
entre os ecossistemas aquáticos e terrestres, e em reduzida escala a presença de
vegetal capoeira. A comunidade de Livramento estar localizada exatamente numa
área de várzea.
Em Livramento, a floresta representa mecanismo pouco apreciável para
sobrevivência comunitária, no que se refere ao extrativismo de plantas medicinais
e extração de recursos alimentícios e comercializáveis. Devido à origem sócio-
antropológica de Livramento estar ligada aos migrantes nordestinos, a floresta
representa nas percepções dos comunitários barreiras naturais para a expansão
da agricultura. Especificamente da floresta ombrófila no entorno de Livramento o
único recurso natural extraído são as palheiras, servindo como forragem de casas
de moradias.

- Sistemas de Produção (Comercialização e Sobrevivência)


O extrativismo representa para a comunidade de Livramento um importante
subsídio para a sobrevivência familiar e a formação do excedente para a

171
comercialização. Pode se encontrado de duas formas específicas: o extrativismo
animal, todo voltado para geração de alimentos junto a unidade familiar, ou seja
sobrevivência, destacando-se a caça de cutias e veados, na maioria dos casos
única fonte de proteínas de carne vermelha dos comunitários de Livramento. O
consumo intermediário no subsistema extrativismo animal é representado pelas
despesas com pólvora, chumbo, espoleta como bens de uso secundário e a
espingarda como bem de consumo permanente, para um tempo de vida de cinco
anos, o que totaliza 100 reais consumo/anual, sendo uma atividade regular
durante todo o ano.
Manaus 01
Marreteiro

Livramento Consumidor
Produtor Inicial Final

Manaus 02
Lanchonete

Organograma 7. Circuito de Comercialização do Tucumã


Fonte: Pesquisa de campo, (2006).
A outra forma, o extrativismo vegetal, é mais diversificada quanto da
utilidade pelos comunitários de Livramento, destacando a sua importância tanto
para formação do excedente para uso comercial, como para unidade básica
familiar, a sobrevivência. Produtos como a castanha-do-Brasil (Bertholletia
excelsa), a bacaba e principalmente o tucumã (Astrocaryum aculeatum), são
importantes tanto para a comercialização como para a alimentação doméstica.
No que se refere à comercialização também se inclui a produção do breu,
e, para o uso doméstico, destaca-se também a madeira, na produção de esteios,
as plantas medicinais, donde se emprega o consumo intermediário de facão,
machado e sacos como bens de consumo permanentes, para um tempo de vida
de cinco anos, resultando em 41 reais consumo/anual.
A comercialização do tucumã (organograma 7) representa o segundo
produto mais importante para a formação da renda familiar em Livramento, ficando
atrás apenas da farinha da mandioca, pelo fato da demanda gastronômica do
amazonense pelo sanduíche natural de tucumã, muito apreciado, principalmente,
em Manaus, donde o circuito simples de comercialização apresenta dois
potenciais compradores, um primeiro, o marreteiro local, que negocia a lata a oito

172
reais (R$ 8) do produtor inicial em Livramento e vende para as lanchonetes em
Manaus entre quinze e trinta reais a mesma lata (R$ 15-30), uma segunda
alternativa é a venda direta do produtor inicial para as lanchonetes em Manaus,
isso explica a variação de preço oscilar entre doze e vinte reais (R$ 12-20).
Enquanto o consumidor final em Manaus, compra um sanduíche de tucumã na
variação de um a dois reais (R$ 1-2), donde de uma lata de tucumã produz-se até
40 sanduíches naturais.
Os quintais representam a maior diversidade produtiva para os
comunitários de Livramento, sendo toda a produção voltada para o consumo
familiar. Frutas, legumes e aves são os destaques. A produção da fruticultura de
quintal em Livramento engloba a produção de manga, graviola, banana, mamão,
tucumã, cupuaçu, abacate, ingá, caju, abacaxi, coco, jambo, limão, goiaba, mari
mari, buriti, pupunha e café, em determinadas épocas do ano as frutas são os
alimentos básicos da sobrevivência familiar, principalmente a manga e o tucumã.
A produtividade de legumes em quintais é pequena, não sendo uma prática
comum para os ribeirinhos de Livramento, destaca-se a produção do tomate,
macaxeira, cebola palha, cuminho e batata doce, há casos de uso comum dos
sítios de plantação dos legumes, onde as mulheres administram em regime
comum as etapas de preparo do local, plantio, irrigação diária e colheita
compartilhada nos quintais. Merece destaque também as criações de aves no
espaço do quintal, principalmente, de galinhas e patos, que são criadas em
espaço comum na comunidade. A importância dos quintais para a sobrevivência
familiar em Livramento é inegável, porém, um diagnóstico quantitativo da
produtividade dos quintais requer uma maior atenção para as por menoridades da
dinâmica de uso de pequenos mais significativamente importantes espaços de
terras em Livramento.
Em Livramento, o peixe é o alimento mais comum na mesa dos ribeirinhos,
acompanhado quase sempre da farinha de mandioca. A pesca está voltada para a
subsistência, caracteriza-se como exclusivamente para o consumo familiar e pela
ausência de mediação da moeda, caracterizando um papel de produção não-
capitalista, o que reforça as relações de compadrio e parentesco inerentes aos
sistemas de trocas. Em geral, a atividade de subsistência está atribuída a outros
membros da família, além do chefe, sendo comum ser uma atividade de mulheres,

173
idosos e crianças. Os instrumentos de trabalhos não são sofisticados, destacando
os apetrechos anzol, isca, linha, flecha, canoas a remo ou movidos pelo motor
rabeta e malhadeira, necessários para o desenvolvimento das atividades, por isso,
alcançam uma baixa produtividade. Alguns desses apetrechos de pesca são
produzidos artesanalmente, como a flecha e a canoa a remo, e outros são
extraídos da própria ambiência, como é o caso das iscas de minhoca, o que faz
com que o consumo intermediário do subsistema pesca seja pequeno,
equivalendo, na soma geral um resultado de quinze reais (R$ 15) consumo/anual.
Em Livramento, as atividades de pesca para a subsistência estão alocadas
no lago/rio Anebá, igarapés Mirituba, Gaita e Botinho. Na percepção dos
comunitários, as espécies de peixes mais pescadas são o cubiu, o tucunaré, o
cará, a traíra, a pescada, o jaraqui, o aruanã, o jatoarana, pirarucu, a branquinha,
a piranha, o pacu, o jaraqui, distribuídos numa sazonalidade anual, ou seja, nunca
falta peixe. É importante também destacar que o lago Anebá, principal
ecossistema de pesca em Livramento, faz parte de um acordo de pesca entre os
ribeirinhos da área, o IBAMA e a ASPAC – Associação de Silves para Proteção
Ambiental e Cultural, que proíbe a pesca esportiva e a pesca para a
comercialização.
Em Livramento pratica-se a agricultura itinerante ou migratória, que tem
como fundamento a reciclagem de nutrientes. De acordo com a Embrapa
Amazônia Oriental (2004), as queimadas de floresta liberam para o solo, cerca da
metade do nitrogênio e do fósforo da biomassa incinerada e, praticamente todos
os demais nutrientes sob a forma de cinzas. As altas temperaturas, predominantes
nos trópicos e a alta umidade, aceleram todos os processos de decomposição da
biomassa florestal. Os nutrientes removidos através da colheita, além das perdas
decorrentes da lixiviação e dos processos erosivos do solo, resultam na
diminuição da fertilidade inicial do solo. Neste caso, as deficiências de nutrientes e
o aumento significativo das plantas invasoras inviabilizam novos cultivos, sendo as
áreas abandonadas ou deixadas em pousio para o surgimento da vegetação
secundária – as capoeiras.
Após todo esse processo, aplica-se o cultivo da monocultura de mandioca
como a base produtiva da agricultura em Livramento. O destino final é o
beneficiamento da farinha, através das casas de farinha, em Livramento existem

174
oito instituições dessa natureza, sendo uma delas comunitária, administrada pela
igreja Pentecostal local. A farinha de mandioca é o único e principal produto
comercial da agricultura itinerante em Livramento. A produção é destinada para o
auto-consumo e o excedente, representado por uma parcela pequena, é utilizado
para o escambo ou é vendido para agentes mercantis locais (marreteiros).
Marreteiro Local
Itacoatiara

Consumidor
Produtor Inicial Itacoatiara
Livramento
Marreteiro Externo
Manaus

Consumidor
Consumidor Local Manaus
Livramento

Organograma 8. Circuito de Comercialização da Farinha de Mandioca


Fonte: Pesquisa de campo, (2006)

O consumo intermediário da produção da farinha de mandioca não é


relevante, utilizando de recursos comuns a outras atividades como a enxada, a
prensa, os sacos (de 60 kg), o tesado e o machado, usado para a derrubada das
áreas de floresta que será utilizada para a queima a posterior, resultando na soma
de trinta e cinco reais (R$ 35) consumo/anual.
A comercialização da farinha de mandioca (organograma 08), representa o
produto mais importante para formação e acumulo de recurso financeiro em
Livramento. O circuito compreende três destinos finais, um diretamente na
comunidade, outro para o consumidor de Manaus e outro para o consumidor de
Itacoatiara. Existem dois agentes intermediários, um local em Itacoatiara, que
compra do produtor em Livramento a lata da farinha ao preço de 10 reais (R$ 10),
e revende para o consumidor em Itacoatiara, ou revende para o agente mercantil
externo em Manaus, pelo preço de variação a lata entre quinze a vinte reais (R$
15-20), este leva o produto para venda diretamente para o consumidor em
Manaus. A comunidade de Livramento produz dois tipos de farinha: A e B, esta
última com qualidade inferior a primeira, o que vai diferenciar diretamente no
preço e no destino diante do circuito da comercialização, a ilustração apresentada
é representativa da farinha tipo A.

175
- Sazonalidade das Atividades dos Subsistemas de Produção em Livramento
Da disposição das principais atividades durante o ano, diante dos
subsistemas de produção, podemos verificar no Quadro 3, a dinâmica de uso dos
recursos disponíveis em Livramento.
O itinerário de consumo de bens não produzidos na comunidade destaca os
itens básicos: açúcar, café, sabão em barra e sal como indispensáveis, e os itens
secundários: arroz, leite em pó, água sanitária, colorau, cebola, alho, feijão, pasta
de dente, óleo, carne, botija de gás, macarrão, trigo etc., como bens dispensáveis.
A cesta básica em Livramento é composta dos itens: farinha de mandioca,
tucumã, peixe, café, açúcar, sabão em pedra e sal, o valor médio mensal é de R$
65,80.
Subsistema Atividades Produtivas Meses
J F M A M J J A S O N D
Derruba
Queima
Agricultura Plantio Mandioca
Colheita Mandioca
Beneficiamento Farinha
Pesca Pesca
Caju
Quitais Ingá
Legumes
Cupuaçu
Açaí
Extrativismo Bacaba
Castanha
Tucumã
Caça
Quadro 3. Disposição das Atividades produtivas em Livramento.
Fonte: pesquisa de campo, (2003).

O trabalho infanto-juvenil representa importante mecanismo para


manutenção da reprodução familiar em Livramento, crianças e adolescentes
participam do trabalho familiar, mesmo contrariando as normas legais do Estatuto
da Criança e do Adolescente, contribuindo junto ao trabalho na roça (agricultura
itinerante), principalmente no plantio e colheita da mandioca, no beneficiamento
da farinha (com atividades específicas, tipo no poço de mandioca ou na presa,

176
etc.), na pesca (em muitos casos sendo responsável pela alimentação do núcleo
familiar), e em atividades domésticas, entre outras.
Outro mecanismo de trabalho e geração de renda em Livramento é o
funcionalismo público, donde se destaca a presença de professores, servente,
agente comunitário e condutor de barco empregados da Prefeitura Municipal de
Silves, além é claro dos aposentados e pensionistas locais.

- A história e contexto das instituições exógenas que interagem no sistema


ecológico-social várzea-Livramento:
a. Mil Madeireira:
A Mil Madeireira é uma empresa brasileira de capital aberto do grupo suíço
Precious Woods. No Brasil as atividades foram iniciadas em 1994, quando foi
adquirida a empresa Mil Madeireira Itacoatiara Ltda., com a sede administrativa
localizada no município de Itacoatiara, contudo 75% da área florestal se localiza
no município de Silves e 12% no município de Itapiranga (mapa 8). Com a
aquisição da Mil Madeireira, foi dado início ao projeto de manejo florestal. De
acordo com as entrevistas com Tim van Eldik, engenheiro florestal holandês,
Diretor de Sustentabilidade da Mil Madeireira “todos os fundamentos do projeto
foram direcionados para interagir em amplos aspectos sociais, ambientais e
econômicos desta região, além de dar pleno apoio à pesquisa no setor florestal”,
onde a base teórica de sistema de manejo florestal é conhecida como Celos, foi
desenvolvida pela Universidade de Vagenigen, Holanda e avaliados em floresta
tropical na Amazônia pela Embrapa – Amazônia Oriental, com sede em Belém. De
fato, a Mil Madeireira sempre esteve aberta para realizações de pesquisas no
setor florestal, por órgãos brasileiros, em especial o Instituto Nacional de Pesquisa
na Amazônia – INPA, e a Universidade Federal do Amazonas – UFAM, no vínculo
da Faculdade de Ciências Agrárias, a onde já foram realizadas 19 pesquisas nas
áreas de iniciação científica, mestrado e doutorado, mais especificamente todos
na área das ciências biológicas com ênfase em floresta tropical de terra firme,
onde todas essas pesquisas, de uma forma geral, indicam críticas e
reconhecimentos sobre as praticas empresarias do manejo florestal certificado.
Inclusive as determinações do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos
Naturais Renováveis sobre verificadores e indicadores de manejo florestal foram

177
avaliados junto ao sistema de manejo florestal Celos da Mil Madeireira servindo de
padrão para as portarias de definição dos modelos de plano de manejo florestal
sustentável aplicado em terra firme em toda a Amazônia. No ano de 1997, a Mil
Madeireira tornou-se a primeira empresa de manejo florestal, em operação na
Amazônia, a ser certificada de acordo com os critérios do Conselho de Manejo
Florestal – FSC. Em 1999, o sistema Celos de manejo florestal certificado da Mil
Madeireira foi reconhecido pela entidade ambientalista Greenpeace como modelo
de manejo florestal para áreas de florestas nativas primárias.

Mapa 8. Área de manejo florestal e a localização das comunidades.


Fonte: Mil Madeireira, (2008).

Contudo, não é possível confirmar que a certificação florestal da Mil


Madeireira é um sucesso de empreendimento empresarial voltado para o discurso
de sustentabilidade aplicável na Amazônia, em especial quando se reconhece que
nem apenas de critérios e princípios ecológicos se fundamenta a certificação
florestal, incluem-se também critérios e princípios sociais e econômicos. Os
princípios sociais específicos para as populações tradicionais de dentro ou do
entorno da área de manejo florestal reconhecido pelo FSC são: 2. Direito e
responsabilidades de posse e uso: As posses de longo prazo e os direitos de uso

178
da terra e dos recursos florestais a longo prazo devem ser claramente definidos,
documentados e legalmente estabelecidos; 3. Direito dos povos indígenas e
populações tradicionais: Os direitos legais e costumários dos povos indígenas e
tradicionais de possuir, usar e manejar suas terras, territórios e recursos devem
ser reconhecidos e respeitados; 4. Relações comunitárias e direito dos
trabalhadores: As atividades de manejo florestal devem manter ou ampliar, a
longo prazo, o bem estar econômico e social dos trabalhadores florestais e das
comunidades locais. Mas a história da certificação da Mil Madeireira demonstra
que os princípios 2, 3 e 4 não foram dados com a mesma ênfase nos princípios
voltado para as questões ecológicas. Em especial, a empresa até o ano de 2005,
não tinha um departamento para lidar com esses respeitos sustentáveis, eram
sempre conduzidos por outras áreas sem sucesso, e também, o órgão
credenciado pelo FSC, o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola –
Imaflora, que monitora a certificação da Mil Madeireira não tinha departamentos
internos voltados para o cumprimento dos princípios sociais, com isso de 1997 a
2005, oito anos de certificação, os princípios 2, 3 e 4 não eram levados em foco
pela Mil Madeireira e também pelo Imaflora. Isso deslustra que até 2005, não
existia relacionamento entre a Mil Madeireira e a comunidade de Livramento e
demais comunidades da área do rio e lago Anebá, apenas nos períodos de
avaliação de certificação pelo Imaflora, eram conduzidas visitas onde se
aplicavam promessas de proatividades nas comunidades, com visões
assistencialistas, mesmo assim, se prorrogando de 1997 a 2005 como promessas
não cumpridas pela empresa, dentre elas a que mais se destaque é promessa de
doação dos títulos de terra para os comunitários que ocupam a área de manejo
florestal da Mil Madeireira.

b. Associação de Silves para a Proteção Ambiental e Cultural -ASPAC:


É uma organização da sociedade civil organizada, constituída em 1993
inicialmente por moradores de Silves das comunidades ribeirinhas, principalmente
em relação à defesa do meio ambiente pela preservação das áreas aquáticas que
banham as terras firmes e de várzea contra a invasão dos grandes barcos
pesqueiros no município de Silves. Desde 1994 depois de sua legalização, a
ASPAC fortaleceu o trabalho de conservação, conseguindo através de

179
mobilizações de uma Lei Municipal que regulamenta as atividades pesqueiras e
define áreas de conservação ambiental permanente, trabalhando com a
organização de comunidades voltada para a sustentabilidade no município de
Silves.
A partir de 2001, as ações da ASPAC integraram também os municípios de
Itacoatiara e Itapiranga e receberam apoio dos governos da Áustria e Suécia
através do Word Wild Ford - WWF, que financiou a construção de uma pousada e
a capacitação do pessoal local para o trabalho com eco-turismo comunitário, bem
como do projeto do Ministério do Meio Ambiente, através de um Plano de
Demonstrativo, Amazônia - PD/A, componente do Programa Piloto para a
Proteção das Florestas Tropicais do Brasil - PPG7, que apóia as atividades de
manejo de lagos na região para a preservação dos recursos pesqueiros e
ecossistema. A partir desse último, a organização conseguiu meios flutuantes
(bases operacionais e lanchas), para apoiar as atividades de controle e
fiscalização dos locais preservados, bem como para se locomover até as
comunidades para realização de atividades de conscientização.
Uma atividade em destaque, iniciada desde os projetos anteriores, foi uma
serie de visitas às comunidades, conhecida como “Caravanas do Mergulhão”,
repetidas várias vezes nos últimos anos. No percurso, pelas comunidades são
desenvolvidas atividades de educação ambiental, com a participação de
comunitários e seus reportes comunitários, especialmente treinados para acolher,
comunicar e dispor de diversos meios de comunicação local.
Em 2002 a ASPAC recebeu novo apoio do PPG7 através da componente
iniciativa promissoras do projeto Pro-Várzea, no qual foi implementado a
conservação e manejo dos recursos naturais da várzea através da consolidação
de programas de preservação de lagos, do turismo ecológico junto às
comunidades e da implementação de um sistema integrado agro-ecológico para a
produção de comunitários em Silves, usando a técnica de permacultura.
Em 2006, foi firmado um acordo entre a ASPAC e a empresa Mil Madeireira
onde criaram o projeto de Fortalecimento Sócio-ambiental Comunitário –
FORSAC, com o objetivo de consolidar as bases do manejo e a proteção dos
lagos de reserva da região de Silves, através do zoneamento das áreas
protegidas e da educação ambiental, dando ênfase nessas proatividades para as

180
comunidades do lago Anebá, que até então não continham trabalhos da ASPAC.
O principal resultado do projeto Forsac foi à discussão participativa e aprovação
do Acordo de Pesca pelo IBAMA através da Portaria 02-2008 baseado no decreto
Decreto nº 6.099, dividindo as áreas hídricas do rio Urubu e seus afluentes em
quatro categorias: lagos santuários, lagos de manejo, área de manutenção da
comunidade e áreas livres para pesca de até 220 Kg de peixe por semana por
pescador. O projeto ForsaC foi finalizado em 2008 com conflitos entre a Mil
Madeireira e a ASPAC devido a prestação de contas não cumpridas pela ASPAC.

c. Associação Vida Verde da Amazônia – AVIVE:


A Associação Vida Verde da Amazônia - AVIVE, fundada em 1999 por
mulheres na cidade de Silves, Amazonas, é uma entidade não governamental,
sem fins lucrativos. Tem como missão: a defesa, preservação e recuperação do
meio ambiente, dos bens e valores culturais, em busca da melhoria da qualidade
de vida humana, com especial atenção para as mulheres, no âmbito do bioma
floresta amazônica.
O trabalho das mulheres da AVIVE ganhou real propulsão com a realização
de uma parceria com o WWF Brasil em 1999 para a implantação do “Projeto
Comunitário de Produção Sustentável de Óleos Essenciais e Produtos afins no
município de Silves”. Desde dezembro de 2002, a parceria com o Pro-
Várzea/IBAMA no âmbito do sub-projeto de produção sustentável de óleos
vegetais aromáticos da região de Várzea em Silves, com apoio técnico-financeiros
do WWF Brasil, Ministério do Meio Ambiente, Department For International
Development - DFID, Kreditanstalt für Wiederaufbau - KfW, Gesellschaft für
Technische Zusammenarbeit - GTZ, Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento - PNUD e o Banco Mundial, está viabilizando as atividades e
fortalecendo a iniciativa das mulheres da AVIVE.
Atualmente, a AVIVE e a Mil Madeireira desenvolvem um projeto iniciado
em 2006, “Uso múltiplo e sustentável dos recursos naturais não-madeireiros da
fazenda Dois Mil” - PFNM 2000, que se estende na busca de parcerias co-
financiadoras, apoiados na execução pelo World Wide Fund for Nature – WWF no
Brasil, Governo do Estado do Amazonas, International Communications
Consultancy Organisation – ICCO e CARE Brasil e apoiados na pesquisa pela

181
Universidade Federal do Amazonas –UFAM e o Instituto Nacional de Pesquisa na
Amazônia, INPA, e com participação direta dos comunitários que vivem dentro e
no entorno da área da fazenda em questão.
O projeto PFNM 2000 é orientado para atuar nas comunidades do lago/rio
Anebá, especificamente em Aparecida e Livramento, mediante a capacitação,
conscientização e a difusão e certificação de técnicas alternativas de extração de
óleos, resinas, cipó e outros, em plantios e através de coletas silvestres racionais,
visando contribuir com iniciativas de preservação e de exploração sustentada dos
valiosos recursos que as espécies florestais em estudo podem oferecer, onde a
Mil Madeireira torna disponível para as comunidades de Aparecida e Livramento,
mas administrado pela AVIVE, 66.000 hectares que foram inventariados e
manejados com fins de produção florestal madeireira. O projeto PFNM 2000 surge
como uma alternativa para as comunidades do lago/rio Anebá que trabalham com
a agricultura não-sustentável.

d. Instituto de Terras do Estado do Amazonas – ITEAM:


O Instituto de Terras do Amazonas – ITEAM, que antes se chamava
Instituto Terras do Amazonas, uma autarquia do Governo do Estado do
Amazonas, foi criado em 31 de janeiro de 2003 pela Lei 2.783, como parte da
administração indireta do Poder Executivo. É vinculado à Secretaria de Estado de
Política Fundiária – SPF e possui autonomia administrativa e financeira com
jurisdição em todo o território do Amazonas.
Tem forte influência na comunidade de Livramento, pois foi o órgão que
junto com a Mil Madeireira organizaram a regularização fundiária, o ITEAM doou
título provisório e a Mil Madeireira título definitivo em agosto de 2008.

e. Companhia Energética do Amazonas – CEAM.


O Governo Federal lançou em novembro de 2003 o desafio de acabar com
a exclusão elétrica no país. É o programa Luz Para Todos, que tem a meta de
levar energia elétrica para mais de 10 milhões de pessoas do meio rural até o ano
de 2010. O programa é coordenado pelo Ministério de Minas e Energia,
operacionalizado pela Eletrobrás e executada pelas concessionárias de energia

182
elétrica e cooperativas de eletrificação rural. No Estado do Amazonas é
coordenado pela Companhia Energética do Amazonas – CEAM.
A comunidade de Livramento se organizou e fez a solicitação em 2007 para
que o programa Luz Para Todos fosse implantado na comunidade, onde um
projeto foi estruturado pela CEAM, mas, até abril de 2009, nenhuma ação tinha
sido efetuada.

f. Secretaria do Estado do Amazonas de Infra-estrutura – SEINF:


O Governo do Estado do Amazonas, através da Secretaria de Estado de
Infra-estrutura – SEINF, iniciou em 2007 a pavimentação com asfalto da Estrada
da Várzea AM 363, a obra iniciou da cidade de Silves e Itapiranga, e até abril de
2009, tinha atingido 85% do trabalho, até o início da área de manejo florestal
certificado da Mil Madeireira, que é partilhado por essa via pública. Essa obra
beneficia diretamente as comunidades do Anebá e facilita o deslocamento dos
comunitários, contudo, é acompanhada de ampla discussão, liderada pela ASPAC
e AVIVE e apoiada também pela Mil Madeireira sobre os impactos ambientais que
cederão aos municípios de Silves, Itapiranga e Itacoatiara, pericialmente, devido
aos cenários de extração de madeira ilegal ao lago da Estrada da Várzea, que
com a pavimentação com asfalto facilitará essa prática irregular.

g. Prefeitura Municipal de Silves


A Prefeitura Municipal sempre foi ociosa em sua responsabilidade
administrativa nos serviços em Livramento, onde a escola municipal por várias
vezes deixava de funcionar devido à falta de apoio básico: merenda escolar,
transporte dos alunos e pagamento dos professores.

h. Sindicato dos Trabalhadores Rurais do município de Silves – STR Silves


O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Silves não exerce função político-
administrativa em Livramento, apenas executa os serviços de assistência aos
trabalhadores rurais sindicalizados.

183
- Escalas de Mudanças Exógenas no sistema ecológico-social várzea-Livramento.
Em todas as escalas, multi-regional, regional e local, a interferência direta
no sistema ecológico-social está relacionado com a estiagem de chuvas no Médio
Amazonas, que gerou a baixa das águas no rio Urubu e a seca do rio afluente
Anebá, formando apenas porções de água no lago Anebá.

Escalas:
Programa Zona Franca Verde
Multi-regional
Estiagem de chuva no Médio Amazonas

Acordos de Pescas
Regional
Baixa do rio Urubu

Manejo Florestal Local

Ramal Linha Verde

Produção não madeireira

Regularização fundiária

Poções d’água no lago Anebá

Seca do rio Anebá

Organograma 9. Escalas no SES várzea-Livramento


Fonte: pesquisa de campo, (2008).

a. Escala local:
As principais mudanças que interagem com o sistema social e sistema
ecológico são ações exógenas diretamente no local: num primeiro momento a
extração madeireira das áreas mais próximas a comunidade de Livramento,
ocorreram entre 2001 a 2003, os impactos ambientais, a presença do homem
nesse setor com a ocorrência de movimentações e baralhos dos maquinários
pesado, levaram a dispersão dos animais usados para a caça de subsistência
pela média de dois anos; a construção do ramal Linha Verde, donde o acesso à
comunidade de Livramento permitiu que a maior utilização dos palheiros da
floresta, facilitou o escoamento da produção de farinha de mandioca e tucumã, os
serviços básicos de saúde e educação e a interação com outros projetos

184
alcançassem o sistema social, como as discussões que ocasionariam os estudos
e disposição da regularização fundiária e o projeto proponente da AVIVE voltado
para a educação e capacitação de uso dos produtos florestais não madeireiros
pelos comunitários de Livramento.

b. Escala regional:
O principal fator social que tem influência regional é o acordo de pesca dos
lagos nos municípios de Silves, Itacoatiara e Itapiranga, liderado pela ONG
ASPAC, incluído também, o lago Anebá, que sempre foi sujeito em períodos de
baixas das águas (de julho a novembro), quando se formam praias de água doce,
à visita de banhistas e, principalmente, pescadores comerciais e esportistas,
donde o pirarucu e o tracajá passaram por sobre-pesca no lago Anebá,
interrompendo no principal recurso alimentar da comunidade de Livramento, os
recursos pesqueiros. Onde a partir do Acordo de Pesca, os próprios comunitários
passaram monitorar e intervir diante da pesca predatória praticada no lago Anebá.

c. Escala Multi-regional:
O principal fator social que tem influência multi-regional é o programa Zona
Franca, que delimitada uma área no interior de um país e é beneficiada com
incentivos fiscais e tarifas alfandegárias reduzidas ou ausentes. Seu objetivo é
estimular o comércio e, às vezes, acelerar o desenvolvimento industrial de uma
região. A Zona Franca de Manaus foi criada em 1967 com o objetivo de estimular
a industrialização da cidade e sua área adjacente, bem como ampliar seu
mercado de trabalho.
Com recursos arrecadados com a prestação de serviço das empresas
beneficiadas com os incentivos fiscais do modelo Zona Franca de Manaus, a
Superintendência da Zona Franca de Manaus – Suframa, faz parcerias com
governos estaduais e municipais, instituições de ensino e pesquisa e
cooperativas, financia projetos de apoio à infra-estrutura econômica, produção,
turismo, pesquisa e desenvolvimento e de formação de capital intelectual. O
objetivo é minimizar o custo amazônico, ampliar a produção de bens e serviços
voltados à vocação regional e, ainda, capacitar, treinar e qualificar trabalhadores.

185
O Programa Zona Franca Verde (ZFV), é um programa Governo do Estado
do Amazonas em parceria com a Suframa, tem como missão promover o
desenvolvimento sustentável do Estado do Amazonas, a partir de sistemas de
produção florestal, pesqueira e agropecuária, tudo aliado à proteção ambiental e
ao manejo sustentável de unidades de conservação e terras indígenas. Para isso,
a abordagem empregada é integradora e transdisciplinar, com forte componente
acadêmico.
O objetivo maior da Zona Franca Verde é melhorar a qualidade de vida,
gerar emprego e renda e promover a conservação da natureza. É um programa
voltado para a população, especialmente, para regiões com índice de
desenvolvimento humano baixo. Um dos desafios é desacelerar e se, possível,
reverter o êxodo rural do interior para Manaus. O programa Zona Franca Verde
tem relação direta com o sistema ecológico da várzea e social de Livramento, em
especial, pelas suas ações sociais de patrocínio de incentivo à regularização
fundiária no Amazonas.

b. Visões e cenários do sistema ecológico-social várzea-Livramento.


Na perspectiva da construção de um documento participativo e que tem
como base a visualização de um plano de desenvolvimento, aqui propomos a
construção de visões e cenários para o sistema ecológico social várzea-
Livramento na intenção de verificar as perspectivas e capacidades da resiliência,
ou seja, a capacidade de adaptação ou superação a partir dos ciclos, fazendo
uma análise de conjuntura das situações diagnósticas vistas e discutidas nesse
instrumento. A intenção é fazer um exercício de cruzamento de informações
acerca da conjuntura social e ecológica a nível nacional, regional e local no
percurso de 2004 a 2013, visualizando para dez anos, donde de 2004 a 2008,
foram monitorados nesta tese as visões e para o próximo intervalo, 2009 a 2013,
foram criados os cenários, importantes para o sistema social poder refletir sobre o
futuro, com a análise da resiliência para discutir. Entende-se nesta tese como
critérios um conjunto de definições de diferentes aspectos que devem ser
considerados, de forma complementar e interdependente, na avaliação
participativa no sistema social Livramento, conjugados aos objetivos que se
pretende alcançar para o desenvolvimento socioambiental no sistema ecológico-

186
social. Entende-se por indicadores os parâmetros que possam ser utilizados como
medida do cumprimento destes critérios.
Em uma das etapas finais do diagnóstico participativo do sistema ecológico-
social várzea-Livramento, em 2004, foi realizada a uma oficina social, tendo como
objetivo a socialização do diagnóstico realizado, avaliando os níveis de
vulnerabilidade e, posteriormente, o planejamento de ações que visem alcançar
objetivos da sustentabilidade no tocante da organização local e a atuação política,
como determinantes para a efetiva participação. Então, foi aplicado o
planejamento de uma abordagem de monitoramento participativo baseado em
indicadores com esses três objetivos norteadores: primeiro, dar subsídios para
tomar decisões e para fazer planejamento e re-planejamentos; segundo,
transparência; terceiro, aumentar a capacidade local de registrar e analisar as
mudanças e aprimorar as iniciativas do povoado.
A metodologia utilizada teve um cunho participativo, donde no coletivo após
a discussão dos resultados do diagnóstico social e ecológico foi sistematizado um
conjunto de objetivos, critérios e indicadores das condições de desenvolvimento,
sendo definida uma planilha simples para operacionalizar um sistema de
monitoramento em duas etapas: processo (continuidade) e impacto (avaliação de
mudanças), com duração de dez anos, donde através de outra metodologia
participativa, diagrama gráfico radar, que acompanha as atividades em escalas,
visualizar as ações e propostas no contexto operacional.
A metodologia do monitoramento participativo compreende a dimensão do
Monitoramento de Impacto e do Monitoramento de Processo.
- Monitoramento de Impacto: compreende a avaliação de mudanças ocorridas ao
longo de períodos semestrais desde a aplicação do diagnóstico e do
monitoramento participativo, identificando os efeitos causados pela
implementação, total ou parcial, das metas definidas no planejamento.
- Monitoramento de Processo: diz respeito ao acompanhamento avaliativo da
implementação dos objetivos do planejamento de ação a partir de indicadores de
sucesso de cada ação. É sistematizado de forma continua, acompanhando todo o
processo potencializador da participação transdisciplinar dos atores envolvidos.
A analise do sistema para medir os indicadores descritos, foi uma variação
de 0 a 10, onde 10 significa um estado de aceitação ou uma subjeção de

187
felicidade, de acordo com os envolvidos nessa modelagem para definir de forma
participativa a capacidade de resiliência e sua aproximação com equilíbrio entre
sociedade e meio ambiente, e suas frações, onde a própria comunidade e demais
atores sociais envolvidos no sistema ecológico-social várzea-Livramento
avaliaram participativamente essa medida dos indicadores no monitoramento de
processo. O monitoramento de impacto foi estabelecido em três tempos: 2004,
marco zero, 2006 apresentação do ciclo adaptativo e 2008 reapresentação do
ciclo adaptativo.

- Visões participativas do sistema ecológico-social várzea-Livramento:


A partir do diagnóstico do SES várzea-Livramento foi identificada de forma
participativa os critérios: desenvolvimento da educação local, disposição do
serviço básico de saúde, organização de alternativas de transportes local,
aquisição do título de terra e organização alternativa de práticas agrícolas e,
organizar o sistema de abastecimento de energia elétrica (Quadro 4).

Critérios Objetivos Indicadores


Projeto Pedagógico e
programas do Governo.
Educação Fortalecer a Escola enquanto Reforma da escola,
iniciativa para o desenvolvimento carteiras e disposição de
rural. material didático.
Incentivar programas de saúde para Contrato de um agente
o fortalecimento da unidade de saúde, visitas de
Saúde comunitária. médicos e dentista na
comunidade.
Buscar formas alternativas de Construção de um ramal
Transportes transportes que diminua custos, de acesso a área estrada
tempo e esforço físico, facilitando o da Várzea.
escoamento da produção
Título de terra definitivo,
Terra e Adquirir título de terra e implementar organização do produtor
agricultura inovações nas práticas agrícolas. e da produção
Diminuir os custos com o Taxa de energia reduzida
Abastecimento
abastecimento de energia
Quadro 4. Conjunto de objetivos, critérios e indicadores (construção coletiva) do
sistema ecológico-social várzea-Livramento.
Fonte: Pesquisa de campo, (2004).
O ciclo adaptativo dos critérios definidos participativamente foi medido em
monitoramento de processo, com observações participativas, e o monitoramento

188
de impactos, com oficinas discursivas, onde os atores sociais definiam os níveis
de adaptação ou regressão que os critérios estavam agindo através de
modelagem matemática. Foi evidente que as adaptações dos critérios variaram a
partir do evento de estiagem de chuvas na região do Médio Amazonas, em 2005,
influenciando diretamente no sistema social.

a. A representação marco zero em 2004:


A representação marco zero da realidade da comunidade de Livramento foi
construída em 2004, demonstra que a população local não tem interação
comunidade e floresta, onde no estudo de representação do sistema social não foi
identificado uma interação com o sistema ecológico, essa ausência de
representação está ligada à herança de formação do povoado, migrantes
nordestinos, donde a percepção local é a prática da agricultura de forma
tradicional, nesse sentido, a floresta interfere nos interesses da comunidade de
Livramento.
O indicador educação foi definido pela comunidade como uma prioridade,
onde a medição marco zero partiu de 0 a 10 para o ponto 02 (gráfico 6),
considerando que existe a Escola Municipal Nossa Senhora do Livramento,
contudo a ausência ou insuficiente de recursos básicos para o sucesso escolar,
como material didático, móveis e merenda, além de um fator principal, a
disposição de apenas um professor para realizar as atividades na escola e, ainda,
de forma multi-seriada. Como resultado, as crianças e adolescentes migram para
a cidade de Itacoatiara, residindo de segunda a sexta-feira na busca de escola;
um bairro formado por invasão é a principal moradia de comunitários que
necessitam residir em Itacoatiara, bairro do Multirão, que ainda se concentra os
grandes problemas sociais: violência, prostituição, tráfego de drogas entre outros
e, onde, os moradores da comunidade de Livramento tem a sua segunda
residência.
A discussão sobre saúde também foi um indicador prioritário na
comunidade de Livramento, donde apresentou na medicação marco zero o ponto
2 (gráfico 6), referente ao serviço básico da saúde do governo municipal estar sob
a responsabilidade única de um agente de saúde que não dispõe de formação e
nem recursos mínimos para o trabalho de orientação de saúde na comunidade, e

189
mesmo a cidade Silves não tem um hospital de serviços básicos, donde além das
comunidades a própria cidade depende do Hospital Regional de Itacoatiara. O
maior problema de saúde concentrado em Livramento refere-se aos períodos de
epidemias de malária, concentrados na baixa dos rios, quando com casos de
malária, os moradores de Livramento precisam ser transferidos para Itacoatiara.

Educação
Abastecimento

Terra

Transporte

Agricultura
Saúde
Ciclo adaptativo 2004
Gráfico 6. Representação do ciclo adaptativo do SES várzea-Livramento.
Fonte: Trabalho de campo, (2004)

A discussão sobre transporte na comunidade de Livramento fortalece a


visão inicial de incômodo da concentração florestal, isolando a comunidade dos
acessos viários, principalmente, a estrada da Várzea de ligação entre as cidades
de Itacoatiara e Silves e a Rodovia AM 010 de ligação entre as cidades de
Itacoatiara e Manaus, onde se considerou de forma participativa a medição no
marco zero o ponto 02 (gráfico 6). O isolamento geográfico de Livramento também
derivava o isolamento institucional, tendo em vista que o sistema social tinha

190
básicas ligações com atores sociais externos e sem repercussões na interação
socioecológico.
O sistema ecológico onde se situa a comunidade de Livramento é um
ecossistema de várzea, de um lado uma área de floresta manejada com
certificação e de outro lado o lago Anebá, consideram o isolamento da
comunidade para o desenvolvimento de serviços básicos, como educação e
saúde; a única forma de transporte é via fluvial através de canoa a remo ou
motorizada com rabeta.
As discussões sobre terra e agricultura na comunidade de Livramento estão
ligadas inicialmente aos grandes desafios do sistema ecológico onde se
considerou de forma participativa a medição no marco zero o ponto 03 (gráfico 6).
Em 2004, a população da comunidade de Livramento era composta de 19
famílias, formando 95 pessoas residentes. A relação da área de produção agrícola
e o espaço disponível eram suficientes para atender as práticas de pousios da
media de três anos, em especial para o plantio de mandioca, que inclusive detinha
áreas de produção abandonadas devido à migração de famílias para as cidades.
O ecossistema da várzea, onde se concentra as áreas de produção agrícolas de
Livramento, é formado por terra de campina arenosa, o que dificulta a sua
eficiência de produção.
E ainda, a comunidade de Livramento incluiu na discussão a questão do
abastecimento de energia elétrica, nela existe apenas um Grupo Gerador, uma
herança do programa Avança Brasil do Governo Federal, que fica eminente pela
distribuição de energia elétrica em Livramento, onde se considerou de forma
participativa a medição no marco zero o ponto 02 (gráfico 6), a qual as questões
levantadas estavam relacionadas ao custo da compra de óleo dissel e a
dificuldade de fazer a compra desse recurso.

b. Apresentação do ciclo adaptativo 2006:


A apresentação do ciclo adaptativo de 2006 foi verificada com observações
participativas e com o monitoramento de impacto de junho de 2004 a junho de
2006. Onde foram identificadas mudanças nas estruturas do sistema social que
afetaram diretamente o sistema ecológico e vice-versa, dando novos sentidos à
medição dos indicadores, tanto no sentido ampliação como retrocesso, diante das

191
adversidades. Essas mudanças nas estruturas do sistema social têm
intervenções exógenas, onde atores sociais centrais passaram, inicialmente, a
intervir diretamente no sistema ecológico-social várzea-Livramento, quanto as
mudanças no sistema ecológico se referem à estiagem na Amazônia no verão de
2005, com efeito generalizados no bioma amazônico, e afetando diretamente o
ecossistema da várzea.
A maior mudança na estrutura social da comunidade de Livramento se
refere à construção do ramal Linha Verde, em 2005, são 19 km de acesso via uma
área florestal de manejo certificado, interligando a comunidade ao km 09 da
Estrada da Várzea, de ligação entre as cidades de Silves e Itacoatiara. Contudo,
esse fato social, está ligado diretamente a um evento ecológico e tem seqüências
ampliadoras tanto nas relações institucionais exógenas, como socioecológicos.
Historicamente, a construção do ramal Linha Verde é uma solicitação emergencial
requerida pelas lideranças da comunidade de Livramento (presidente da
associação de moradores, professor, líderes religiosos e anciões), diretamente à
Diretoria da Mil Madeireira, essa empresa nunca tinha cedido a esta solicitação
devido à justificativa que seria um ramal de acesso por uma área florestal com
manejo certificado e que assim, estaria submetendo a maiores riscos ambientais;
contudo, devido à forte estiagem de chuvas na Amazônia, que nesse momento
histórico, junho a novembro de 2005, vários movimentos políticos, ambientais e
científicos discutiam questões do aquecimento global com visões e justificativas
diferenciadas, os apelos das lideranças da comunidade de Livramento foram
cedidos devido a emergência, pois, com a baixa do rio e lago Anebá, a
comunidade de Livramento se isolava totalmente dos contatos com outras áreas
humanas, favorecendo a fome na comunidade de Livramento.
A seca de 2005 afetou boa parte da região Amazônica, especialmente o
setor sudoeste do Amazonas, setor ocidental do Pará e Estado do Acre,
caracterizando o menor índice pluviométrico nos últimos 40 anos, ultrapassando
períodos como os de 1925-1926, 1968-1969 e 1997-1998, até então considerados
os mais intensos. O que justifica que os moradores do rio e lago Anebá nunca
presenciaram uma seca tão intensa, já que ocupam essa área desde 1945.
Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE, (apud HUTYRA et
al., 2005), ao se analisar os dados de precipitação no setor do Médio Amazonas,

192
verificou-se que durante a estação chuvosa de 2005, que na realidade estendeu-
se de dezembro de 2004 a março de 2005, as chuvas apresentaram-se com
valores de até 350 mm menores que a média histórica, climatologicamente, essa
região possui precipitação média anual de aproximadamente 2.200 mm por ano.
Isto contribuiu para que os níveis dos rios desta região, o rio Madeira, o rio Purus
e o rio Urubu, estivessem com valores bem abaixo da média no final da estação
chuvosa de verão e no início do período de estiagem, que ocorre de maio a
setembro. Em 2005, notou-se uma estiagem mais severa durante todos os meses
do ano. Em especial, o rio Anebá secou e o lago Anebá formou grandes porções
de água parada, se isolando da fluência com o rio Urubu.

Ciclo adaptativo 2004 Ciclo adaptativo 2006


Gráfico 7. Representação do ciclo adaptativo do SES várzea-Livramento.
Fonte: Trabalho de campo, (2006).

Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE, (citado por


HUTYRA et al., 2005), há três fatores que poderiam ser os responsáveis por essa
seca muita intensa na Amazônia em 2005: o aquecimento do Oceano Atlântico, a
redução da transpiração das florestas e a fumaça produzida pelas queimadas.

193
A forte estiagem resultou num triste cenário: o rio Anebá deu lugar a um
solo seco e rachado, os barcos e canoas foram encalhados e os animais
procuraram água na lama que se espalha pelo leito do rio. Muitos ficaram
atolados e precisavam ser resgatados pelos moradores da região do Anebá. Os
moradores de Livramento, que com a falta de peixes, tiveram como a única
alternativa caçar jacarés ou se alimentar das galinhas que resistiram à seca.
Com a abertura do ramal Linha Verde, com a urgência de deslocamento da
população da comunidade de Livramento na busca de sobrevivência, o indicador
transporte foi considerado de forma participativa a medição apresentação do ciclo
de adaptação com o ponto 10 (gráfico 7). Contudo, os indicadores terra,
agricultura e saúde tiveram uma redução na sua medição comparados ao do
marco zero de 2004 ao ciclo adaptativo de 2006, devido às conseqüências da
estiagem de chuvas na região do Anebá. A área de produção danificada reduziu a
agricultura em Livramento, forçando a quebra consolidação de três anos do pousio
com a intensificação de queimadas nas áreas de capoeira; acompanhados do
fortalecimento de doenças na comunidade, a saúde local foi danificada ainda mais
com a presença de doenças contagiosas e virais como o Cólera, o Rotavirus,
Doenças Diarréicas Agudas (DDA), Hepatite A e a Febre Tifóide se proliferaram
na comunidade de Livramento, em função da maior concentração desses
patógenos causada pela diminuição drástica do volume de água nos rios e lagos e
pela escassez de água potável.
Quanto ao indicador abastecimento de energia elétrica, não foi levada como
prioridade das discussões na comunidade, permanecendo na mesma medida
desde o marco zero, ponto 02. O item educação teve um pequeno crescimento de
02 para 2.5, devido aos primeiros benefícios direto da abertura do ramal Linha
Verde, permitindo que outros dois professores pudessem oferecer serviços na
Escola Municipal Nossa Senhora do Livramento, através da instalação pela
Prefeitura Municipal de Silves do programa de Educação de Jovens e Adultos -
EJA, como um processo de alfabetização de maiores de idade na comunidade de
Livramento.
Além da função de fuga do isolamento geográfico que convivia a
comunidade de Livramento, a abertura do ramal Linha Verde também se refere ao
início de uma interseção de outros atores sociais, iniciados pela empresa Mil

194
Madeireira, enquanto um fator social de adaptação diante do evento ecológico da
estiagem de chuvas no sudoeste da Amazônia, a própria empresa precisou criar
um Departamento específico com profissionais para atuar nas discussões sociais
da Certificação Florestal, bem como o próprio organismo certificador, Imaflora,
passou a compor o seu quadro de avaliadores com sociólogos e antropólogos. E,
também os institutos não governamentais, com referência regional, AVIVE e
ASPAC iniciaram, então, discussões ambientais junto ao sistema social
Livramento em parceria com a empresa Mil Madeireira. A ASPAC criou o projeto
Forsac, que tinha três metas iniciais: sensibilização em educação ambiental na
comunidade; incluir o lago Anebá nas áreas de acordos de pescas e; apoio ao
ecoturismo comunitário em Livramento. A AVIVE iniciou um desafio fomentador de
alternativas para a prática agrícola tradicional, informando, sensibilizando e
capacitando a comunidade de Livramento para a produção comercial de produtos
florestais não madeireiros da área de manejo florestal certificado.

c. Representação do ciclo adaptativo 2008:


A representação do ciclo adaptativo de 2008 foi verificada com observações
participativas e com o monitoramento de impacto de junho de 2006 a junho de
2008. Quando foram identificadas mudanças significativas nos indicadores,
definindo um gráfico de modelagem das ampliações adaptativas do ciclo (gráfico
8). Essas mudanças têm fatores exógenos a partir dos resultados iniciais dos
projetos socioambientais aplicáveis no SES várzea-Livramento, bem como a
interseção de novos organismos, atuando sobre os indicadores de
desenvolvimento na visão do sistema social local.
Uma verificação clara foi o desenvolvimento da organização do sistema
social Livramento, devido ao ciclo adaptativo da diversidade ecológica de
estiagem na Amazônia, culminando com a abertura do ramal Linha Verde,
configurando assim, a inerência na estrutura do sistema de capital social, dirigindo
a atenção direta a sociabilidade, reciprocidade e confiança que se desdobra
dentro das relações sociais formais e informais na comunidade, sendo uma
realidade situacional e relacional, definido como a habilidade de salvaguardar
benefícios através da participação em redes ou outras estruturas do SES várzea-
Livramento que inicia a sua solidificação com os demais atores sociais que se

195
envolvem na rede social, destacando a empresa Mil Madeireira e as ONG’s AVIVE
e ASPAC. Assim, o capital social na comunidade de Livramento apresenta três
fatores preponderantes: recursos integrados em uma estrutura social;
acessibilidade destes recursos pelos indivíduos e uso (de contatos) ou
mobilização destes pelos indivíduos ligados a ações objetivas.
Contudo, o capital social na comunidade Livramento não se torna
completamente tangível, pois apesar do fortalecimento da organização social,
grupos religiosos cristãos (católicos e evangélicos), se fortalecem com
organização social e buscam as lideranças, gerando conflitos internos de não
reconhecimentos de ambos por suas proatividades no sistema local. O grupo dos
evangélicos, foca primariamente no capital social como recurso facilitador da ação
de um ator principal, recurso que surge na rede social interligando o ator principal,
presidente da comunidade, a outros atores, como a empresa Mil Madeireira e as
ONG’s AVIVE e ASPAC. Esta visão começa com a idéia que as ações de
indivíduos e grupos podem ser facilitadas pela sua adesão em redes sociais,
especificamente pela sua direta ou indireta conexão a outros atores nestas redes.
Sob esta visão o capital social pode auxiliar a explanação do diferencial de
sucesso de indivíduos e organizações em suas rivalidades competitivas. Como
resultado, também, o grupo dos católicos, fortalece sua estrutura de capital social
e busca a liderança da comunidade de Livramento, intervindo diretamente na rede
social de conexões com os outros atores sociais, emergindo assim, um conflito
interno no sistema social Livramento. Como resultado, a comunidade de
Livramento passou a ter duas organizações de moradores, onde uma não
reconhecia a outra como representante, e com isso, foi criada a Associação dos
Moradores de Nossa Senhora do Livramento, de representação católica, com um
presidente, e também a Associação dos Moradores de Livramento, de
representação evangélica com outro presidente, quando se realizava reuniões de
pesquisa e mesmo de trabalhos dos projetos desenvolvidos na comunidade,
esses líderes presidentes não permitiam um encontro único, as reuniões eram
repetidas na mesma comunidade.
Após a abertura do ramal Linha Verde, a comunicação da comunidade
Livramento foi facilitada com vários institutos, fortalecendo seu papel estratégico,
mesmo com os conflitos religiosos internos. A comunidade passou a ser o entre-

196
porto do lago Anebá, onde as comunidades de São Sebastião, Santana,
Conceição e Santo Antonio passaram a utilizar também o ramal Linha Verde,
facilitando o escoamento da produção, principalmente, de farinha de mandioca e
tucumã. Como conseqüência direta, várias famílias dessas outras comunidades
migraram para Livramento, outras famílias que já residiam nos bairros periféricos
de Manaus e Itacoatiara retornaram a comunidade de Livramento, buscando
agregar as suas áreas de produção ou mesmo ocupar novas áreas de produção
no entorno da comunidade de Livramento, no ecossistema da várzea. A
comunidade de Livramento, em 2008 passou a ser maior comunidade do
município de Silves, com 74 famílias moradoras, atingindo 350 pessoas, formando
as famílias com a média de 4,7 pessoas.

Ciclo adaptativo 2004 Ciclo adaptativo 2006 Ciclo adaptativo 2008


Gráfico 8. Representação do ciclo adaptativo do SES várzea-Livramento
Fonte: Pesquisa de campo, (2008).
O aumento populacional da comunidade de Livramento tem como resultado
direto mais conflitos locais entre as religiões e também a pressão da agricultura
sobre a floresta, gerando invasões das famílias chegantes sobre a floresta
manejada com certificação, derrubando-a e queimando-a para prática da
agricultura tradicional, com a intenção de novas áreas de produção. As invasões
atingiram áreas de terras do Estado do Amazonas e áreas de propriedade privada

197
da Mil Madeireira; diante desse fato então, por iniciativa a empresa decidiu doar
as terras para os moradores da comunidade, na intenção de organização fundiária
e término das invasões sobre a floresta, pois havia uma desorganização
generalizada das áreas, a quem pertencia se a empresa ou ao Estado e mesmo,
os conflitos de sobreposição entre os próprios moradores. A intenção da Mil
Madeireira de doar as terras para as famílias tem relação com o sistema comercial
do plano de manejo, pois o interesse da empresa era doar as terras reconhecidas
como não produtivas para o comércio de produção madeireira, o que representa
os ecossistemas de várzea, capinaria e capoeira, que por outro lado, são os
maiores interesses produtivos para a comunidade de Livramento.
Uma nova instituição passou a ter o papel importante na comunidade de
Livramento, Instituto de Terras do Amazonas – ITEAM, que passou a coordenar
os estudos fundiários e mediar os conflitos gerados pelas famílias chegantes e
famílias originais dos grupos católicos e evangélicos, com a intenção de frear o
crescimento desordenado da comunidade e ao mesmo tempo oportunizar para
ocupantes históricos e chegantes áreas de produção reconhecidas legalmente,
onde o ITEAM distribuiu as terras em lotes com o título provisório, que lhes
garante o direito de uso e herança hereditária, mas não lhe garante o direito de
venda. Enquanto a Mil Madeireira já entregou o título definitivo, que lhes dá o
direito total dos lotes, tanto o de uso, como o de venda, desmembrando da área
de manejo florestal certificado, exatamente as áreas não produtivas para a
extração madeireira.
Com isso, a medição do indicador terra atingiu o ponto máximo no ciclo
adaptativo, 10; donde a capacidade do sistema social de lidar com a ilegalidade
de propriedade de terra, foi vinculada com a pressão sobre os sistemas ecológicos
da área, donde as áreas de várzea, capinaria e capoeira não eram mais
suficientes para atender a demanda de produção agrícola tradicional da
comunidade, pressionando assim, o ecossistema de floresta ombrófila densa
(terra firme), que resultou na adaptação de legalidade das propriedades, e
também, organizando as áreas de propriedades, freando a demanda de
crescimento acelerado de famílias chegantes no sistema social Livramento,
favorecendo diretamente, a permanência em pé de área florestal de terra firme
usada como propriedade legal de manejo florestal certificado.

198
Quanto à agricultura, sua prática foi reprocessada, os conflitos de buscas
de novas áreas levaram à pressão sobre a floresta, derrubando e queimando-a,
mas não na praxi da sua utilização como área de produção agrícola, devido às
pressões internas, dos conflitos religiosos, como das pressões externas lideradas
pela Mil Madeireira e apoiada tanto pelo ITEAM (Estado), como pela AVIVE
(sociedade civil organizada). Assim, o indicador agricultura reprocessou do ponto
04 em 2006 para o ponto 02 em 2008; ao mesmo tempo, a AVIVE passou a
solidificar o projeto florestal de produção não-madeireira na área da Fazenda 2000
– PFNM 2000, onde a empresa Mil Madeireira disponibilizou a área de manejo
florestal, onde já havia ocorrido a extração madeireira, para a gestão da AVIVE
procurar os resquícios ainda existentes de recursos não madeireiros comerciais e
junto à comunidade de Livramento buscar uma alternativa de renda. A AVIVE
conseguiu diagnosticar comercialmente as árvores no contexto das plantas
potenciais produtoras de óleo com potencial de valor econômico, destacando as
espécies: Pau-rosa (Aniba rosaeodora Ducke), Andiroba (Carapa guianensis),
Copaíba (C. bijuga Hayne; C. cuneata Tul; C. guianensis Desf; C. glycycarpa
Ducke; C. longicuspis Ducke; C. longifólia Huber), e Breu Branco (Protium
paniculatum), que foram inventariadas e tratadas como produto comercial, onde o
Plano de Manejo Florestal certificada da Mil Madeireira, com 10 anos de
reconhecimento legal e certificação-FSC, foi reconhecido como Plano de Uso
Múltiplo Certificado pelo IBAMA-Manaus e pelo FSC, como a primeira área de uso
diverso, madeireiro disponível comercial para a empresa Mil Madeireira e não-
madeireiro disponível comercial para as comunidades de Livramento e Aparecida
e administrada pela AVIVE.
A discussão da medição do indicador abastecimento também teve uma
aceleração no ciclo adaptativo, onde se considerou de forma participativa a
medição em 2008 o ponto 04, fato relevado devido a organização local, onde as
lideranças católicas e evangélicas oficializaram uma solicitação para a Companhia
Energética do Amazonas – CEAM, uma empresa estatal responsável pela
distribuição de energia elétrica no interior do Estado do Amazonas, para
receberem o programa Luz Para Todos, do Governo Federal; que chegou a
fortalecer as expectativas de energia elétrica na comunidade, com um estudo de
instalação de uma usina de energia elétrica gerada por combustível diesel, para

199
abastecer todas as comunidades do rio/lago Anebá com a potência prevista de
320 KW, e a aprovação orçamentária desse empreendimento no valor de R$
79.543,98, contudo, até abril de 2009, nada havia sido realizado pela CEAM,
apenas a instalação de placas informativas do valor do investimento do Governo
Federal no programa Luz Para Todos no Anebá e seu prazo de instalação de
junho a dezembro de 2007.
Os indicadores educação e saúde também tiveram uma aceleração no ciclo
adaptativo atingindo o ponto 04, por discussão participativa com os comunitários
de Livramento. A adaptação da educação ainda corresponde à facilidade de
transporte até a comunidade de Livramento via terrestre, onde a partir de 2007, se
tornou o pólo do ensino fundamental, funcionado da 1ª a 8ª série, e ainda, a
ampliação da Educação de Jovens e Adultos para outros moradores das
comunidades de Santana, Conceição e São Sebastião; foi construída a Casa do
Professor em Livramento pela Prefeitura Municipal de Silves, onde 6 professores
podem residir de segunda a sábado na comunidade, dentre esses professores, 2
são formados em Pedagogia, e 3 são estudantes de Licenciatura de Ensino
Normal Superior pela Universidade do Estado do Amazonas – UEA, e apenas um
professor ainda tem apenas o curso técnico em magistério. A adaptação da saúde
tem uma ligação direta com os benefícios dos serviços do sistema ecológico ter
sido restabelecido pelo retorno das chuvas e enchentes de água no lago, rios e
igarapés do entorno da comunidade, diminuindo as incidências de doenças
registradas no período da seca.
Apesar dos conflitos
religiosos locais, as lideranças da
comunidade de Livramento
também exerceram papel
fundamental no mapeamento
ecológico do lago Anebá, para
definir o Acordo de Pesca pelo
IBAMA (mapa 9), através da
Portaria 02-2008 baseado no
Fotografia 9. Lago Anebá, Silves – AM. Decreto nº 6.099, onde se
Fonte: Blandtt, (2006).

200
descreve nos artigos 1ª e 2ª, as bases definidas de forma participativa com as
comunidades envolvidas: Livramento, Cristo Rei, Santana, Conceição e São
Sebastião do Acordo de Pesca especifico para a área do lago Anebá (fotografia
9), com as seguintes considerações:
Art. 1º Estabelecer as seguintes categorias de manejo para os lagos, poços e
igarapés nas regiões do rio Urubu e complexo lacustre do Canaçari e Anebá, nos
municípios de Itacoatiara, Silves e Itapiranga, Amazonas, sendo a definição
dessas áreas: I - Áreas de Manutenção: destinadas à subsistência das famílias,
com a venda do excedente dentro das próprias comunidades; II - Áreas Livres:
destinadas à pesca de subsistência, comercial e esportiva; III - Áreas de
Preservação (procriação ou santuários): destinadas unicamente à reprodução das
espécies, onde a pesca fica proibida por tempo indeterminado; IV - Áreas de
Manejo: lagos conservados, não sendo permitida a pesca comercial e de
subsistência, onde a despesca é autorizada pelo IBAMA após a aprovação do
plano de manejo.

Rio Anebá

● Com. Conceição

● Com. Cristo Rei ●


Com. Livramento

Legenda:
Rio Urubu
Manutenção da comunidade
Manejo
Área Livre
Santuário

Mapa 9. Acordos de Pesca do lago Anebá, Silves, Amazonas


Fonte: Relatório Final do Acordo de Peca, ASPAC, (2008).
Art. 2º Proibir para as áreas de manutenção os seguintes aparelhos (arreios) e
métodos de pesca na área do Alto rio Urubu (região I: lago Anebá):

201
a) malhadeira acima de 70m de comprimento, espinhel, puçá, tarrafa, arrastão,
arpão, lanterna de carbureto, malhadeira para quelônio, batição e bubuia; e,
b) o uso de mais de duas malhadeiras por embarcação.
Apesar do sucesso do Acordo de Pesca, as instituições Mil Madeireira e
ASPAC tiveram problemas relacionadas à prestação de conta, onde a ASPAC não
realizou essa obrigação, e mesmo os objetivos do projeto FORSAC que incluíam
além da coordenação do acordo de pesca, também o incentivo ao ecoturismo
comunitário e a educação ambiental, o que não foi gerenciado.

- Cenários participativos do sistema ecológico-social várzea-Livramento.


Os cenários participativos do SES várzea-Livramento foi elaborado com
discussões e opiniões de diversos atores sociais que regulamentam o sistema
social e dependem do sistema ecológico para suas adaptações internas, bem
como opiniões e pareceres de institutos que tem ligação direta com o SES várzea-
Livramento, como a Mil Madeireira, a ASPAC, a AVIVE, a CEAM e o ITEAM.
Onde, assim, foram criados, a partir das visões monitoradas de 2004 a 2008,
cenários de 2009 a 2018, com interseções diretas com os cenários mundiais,
nacional e regional:

Cenário 01. Crescimento e pressão sobre a floresta.


A comunidade de Livramento, por se situar geograficamente isolada pela
área de manejo da empresa Mil Madeireira não terá benefícios com a
pavimentação da estrada que irá ligar Silves e Itapiranga a Itacoatiara, sua
produção ficará estagnada, sendo comercializado apenas o excedente, pois a
manutenção do ramal Linha Verde, não será realizada pela empresa proprietária,
e como essa instituição não tem bom relacionamento com a Prefeitura de Silves,
esse também não se aplicará à manutenção desse ramal. O baixo nível de
organização do produtor poderá ser um fator negativo e, assim, quanto mais
trabalhando isolados, mais vulneráveis estarão por conta dos agentes mercantis
locais e externos. Por iniciativa por órgãos do Estado de fomento a agricultura, a
cultura do feijão poderá ser introduzida na comunidade para a comercialização, e
até o cultivo em consórcio com a mandioca ocorrerá, porém não alterará
significativa no acúmulo de capital a nível familiar em Livramento.

202
O IBAMA ao incluir o lago Anebá no plano de manejo de lagos, restringindo
a pesca de algumas espécies e em determinados períodos do ano, gerará vários
conflitos de interesses econômicos e ambientais no local; e a continuidade das
atividades de manejo florestal na área, afetarão a presença dos animais nas
proximidades da comunidade, fazendo surgir maiores sinais da escassez de
animais apreciados no extrativismo (caça). A introdução do feijão e aumento da
demanda pela farinha de mandioca acarretará na diminuição da rotatividade da
agricultura itinerante, o que irá gerarar maior pressão sobre a floresta para a
abertura de novas áreas para a prática dessa agricultura tradicional, em conjunto
com a contínua migração de novas famílias para se assentar na comunidade,
novas áreas de invasão ocorrerão tanto na propriedade pública como na
propriedade privada.
A Escola Municipal de Ensino Fundamental Nossa Senhora do Livramento
será expandida até a 8ª série, e continuará funcionando em regime multi seriado,
tendo continuamente dificuldade para receber materiais didáticos, e não
conseguirá construir o seu projeto pedagógico. O posto de saúde de Livramento
não será instalado, apenas um agente de saúde comunitário irá desenvolver suas
atividades regularmente. A ausência de programas de controle de natalidade
contribuirá para a triplicação da população de Livramento, constituindo-se de 750
pessoas no ano de 2018, e dessas pelo menos 1/3 (um terço) será constituindo de
menores de 14 anos.
A seca do lago Anebá ocorrerá com maior freqüência, seguidas de
inundações diretas da área do entorno da comunidade, geradas por desequilíbrios
gerais do meio ambiente, e aos pouco introduzindo a savanização da área do
entorno do lago e rio Anebá.

Cenário 02. Desenvolvimento e Eqüidade Social

A comunidade de Livramento em parceria com as empresas, institutos da


sociedade civil organizada e da Prefeitura Municipal de Silves iniciará um
processo de construção e consolidação de um projeto de desenvolvimento local
sustentável. Na parceria, a manutenção da Linha Verde será mantida pela
empresa Mil Madeireira e a Prefeitura de Silves, o que propiciará, entre outras
coisas, a organização da produção da farinha de mandioca e do tucumã. Cursos

203
de organização da produção irão apoiar os trabalhos da Associação dos
Produtores de Livramento, inclusive iniciativas de práticas de permacultura e
outras formas agroecológicas poderão ser implementadas na comunidade, bem
como da introdução, após estudo de adequação, de outras culturas e formas
diferenciadas de cultivo, diminuindo o uso do solo através do sistema pousio da
agricultura itinerante. Fortalecendo a comunicação com a floresta, a comunidade
irá utilizar um novo recurso comercial, a produção não madeireira, introduzindo
uma nova percepção sobre a importância econômica da floresta se manter em pé.
O IBAMA ao incluir o lago Anebá no plano de manejo de lagos, restringindo
a pesca de algumas espécies e em determinados períodos do ano, fortalecendo a
diversidade de pescado num equilíbrio para alimentação das famílias e o
excedente para a comercialização; a comunidade poderá ser incluída no programa
da ASPAC de Eco-turismo comunitário, gerando mais uma nova fonte alternativa
de renda local. As práticas agroecológicas introduzidas na agricultura, diminuirão
a pressão sobre a floresta e a penosidade do trabalho no uso da terra.
A Escola Municipal de Ensino Fundamental Nossa Senhora do Livramento
funcionará até a 8ª serie, sendo o ensino fundamental menor regular e o ensino
fundamental maior em regime modular, sendo regida pelo seu próprio Projeto
Político Pedagógico. O posto de saúde funcionará em regime central para toda a
área do Anebá, sendo administrado por agente de saúde comunitário residente
em Livramento, que inclusive poderá implementar programas de controle de
natalidade, o que refletirá na queda da curva de crescimento da comunidade, que
resultará na duplicação da população de Livramento no ano de 2018, constituindo
numa media de 500 pessoas, pois a abertura da estrada ainda poderá incentivar a
emigração em Livramento, na busca de novas alternativas de vida e da
continuidade de estudos dos moradores locais.

c. Análise da Resiliência no sistema ecológico-social várzea-Livramento.

A teoria da resiliência é reconhecida nessa tese como uma busca de


compreensão do sistema ecológico-social enquanto sistema complexo adaptativo,
isso ocorre em ciclos de variáveis com diferentes velocidades e com interferências
de escalas cruzadas. O que corresponde a uma aplicação no modelo de ciclos
adaptativos para a evolução integrada, ou melhor, a co-evolução do sistema

204
ecológico-social. A aplicação do ciclo adaptativo abaixo representa o
desenvolvimento co-evolutivo das dinâmicas socioeconômicas e biológicas do
sistema comunidade humana e ecossistema, especificamente do sistema
ecológico-social várzea-Livramento, na região do Médio Amazonas, da Amazônia
brasileira.
Identificamos em diferentes escalas temporais o ciclo socioeconômico e
biológico do SES várzea-Livramento, ambos impulsionados pelo evento de
“choque” de estiagem de chuva na região do Médio Amazonas em 2005, gerando
seca de rios e igarapés, e com isso as intervenções exógenas diretas, inicialmente
para lidar com o desafio, mais posteriormente para solidificar o panarchy do SES
várzea-Livramento, enquanto capacidade de resistir, se adaptar e transformar as
estruturas do sistema a partir das adversidades socioeconômicas e biológicas.
Para a representação de modelagem do sistema, do ciclo adaptativo e suas
intervenções endógenas e exógenas caracterizamos o numero “8” deitado, para
apresentar os fatos socioecológicos e os ciclos adaptativos (organograma 10).
Na fase da exploração e crescimento (r), o sistema social encontra-se em
desenvolvimento com uso simples, pois as técnicas agrícolas utilizadas
correspondiam a uma produção pequena, voltada para a agricultura de
subsistência do plantio da mandioca e preparação artesanal de farinha de
mandioca e a coleta de tucumã, já que não havia comércio entre as comunidades,
onde a economia em que o produtor reservava parte dos bens produzidos na
satisfação das suas próprias necessidades, era para o consumo pessoal e da sua
família; partes dos excedentes eram permutados ou vendidos no mercado ou nas
feiras, diretamente ou por intermédio de mercadores. Nessa fase do SES várzea-
Livramento, o ecossistema sofre baixo impacto da ação humana, comparadas
com as causadas por dinâmicas biológicas no local. A relação da comunidade de
Livramento com o ecossistema da várzea é restrito, devido a falta de interação
com a importância econômica da floresta, contudo, essa área florestal não é mais
intacta, devido a ações da empresa proprietária da área, JCM desde 1970,
restringindo o uso do potencial da floresta pela comunidade, apenas para a caça
de animais específica para a alimentação familiar.

205
REORGANIZAÇÃO CONSERVAÇÃO

Reestruturação social Subsistência complexa


Regularização fundiária

α қ
Acordos de pesca
Incentivo a produção
não-madeireira Floresta manejada
Estiagem de
chuva, 2005
Pressão agrícola
Floresta em pé sobre a floresta

r Ω
Analfabetismo ecológico
Crescimento demográfico
Subsistência simples Conflitos religiosos

CRESCIMENTO LIBERAÇÃO

Organograma 10. SES várzea-Livramento


Fonte: pesquisa de campo, (2009).

Na seguinte fase do ciclo adaptativo, a conservação (k), é iniciada numa


interação de uso entre o sistema social e ecológico, onde a variedade de uso se
atribui quando, em 1997, se aplica um plano de manejo florestal certificado pelo
Forest Stewardship Council - FSC, ocasionado dois fatores diretos: 1. Plano de
manejo florestal cria vários caminhos internos dentro da floresta, favorecendo a
expansão geográfica da comunidade na caça de animais e; 2. No período de
operação de manejo florestal, os animais usados para a caça são evacuados da
área, devido a presença dos funcionários da empresa e dos maquinários pesados,
iniciando assim, uma mudança na economia local, atingindo a subsistência
complexa, pois, a produção agrícola de farinha de mandioca e tucumã passam a
ter importância comercial para a comunidade de Livramento, enquanto busca
alternativa de concílio pela falta de animais para a alimentação familiar.
A intervenção inicial no SES várzea-Livramento se dá com o colapso da
seca no Médio Amazonas, iniciada pelo rio Madeira, quando o nível chegou a 2,92
metros em 2005, e atingiu os vazantes do entorno, entre os quais o rio Urubu e
seus afluentes chegaram a secar, como no caso do rio Anebá, devido à estiagem
de chuvas. Caracterizando um evento ecológico atípico na região, que

206
diretamente afetou o ecossistema local diante de sua dinâmica relação sistêmica
entre os sistemas ecológicos e sistemas sociais dessa região. A estiagem de
chuvas de 2005 iniciou a fase de liberação (Ω) do SES várzea-Livramento. Ciclo
de adaptação de liberação caracteriza as intervenções exógenas, em especial, a
abertura do ramal Linha Verde pela empresa Mil Madeireira, o qual favoreceu a
migração para a área (crescimento demográfico), estimulando a pressão agrícola
sobre a floresta, devido ao fato social de analfabetismo ecológico da população
ocupante e chegante, gerando uma sinergia indesejável diante das dinâmicas
ecológicas e sociais; e ainda, atribuindo à organização social em grupos
religiosos, anunciando valores de coesão, de partilha de identidades comuns,
fortalecendo conflitos religiosos no sistema social Livramento.
Isso leva a configuração sistêmica e seus limites adversos da resiliência no
SES várzea-Livramento, começando a fase de reorganização (a). Onde
inicialmente, a interferência exógena, em especial da sociedade civil organizada
local, representadas pelas ONG’s ambientalistas AVIVE e ASPAC., favorecem
diretamente no sistema social a reestruturação social, enquanto capacidade de se
conviver grupos religiosos diversos e defenderem objetivos comuns, entre estes, a
organização fundiária e participação e desenvolvimento de discussões ecológicas,
como a definição do Acordo de Pesca no lago Anebá e a participação interativa no
projeto de incentivo alternativo da renda local através do fomento educacional e
comercial da produção florestal não-madeireira, desfavorecendo a pressão
agrícola sobre a floresta.
Nessa compreensão, do lado esquerdo do organograma 09, são indicadas
três possíveis trajetórias futuras para novos ciclos e estados do SES várzea-
Livramento, organizados em dois cenários desenvolvidos de forma participativa
como ferramenta transdisciplinar, e mais uma trajetória não descrita, relacionada a
eventos inesperados pelo sistema ecológico-social: cenário 1. Crescimento e
pressão sobre a floresta, reorganizando o SES várzea-Livramento de uma forma
negativa, onde a adaptação local é limitada, e dependente de fatores e instituições
exógenas do sistema; 2. Desenvolvimento e equidade e justiça social,
reorganizando o SES várzea-Livramento de forma adaptativa, buscando se
fortalecer diante das adversidades da dinâmica do sistema, a partir de parcerias
com empresas, institutos da sociedade civil organizada e da Prefeitura Municipal

207
de Silves iniciando um processo de construção e consolidação de um projeto de
desenvolvimento local sustentável.

d. Gestão do sistema ecológico-social várzea-Livramento.

A gestão da resiliência é uma interpretação de configurações sistêmicas


que buscam a compreensão de estados sistêmicos e desejáveis, descrito por
WALKER et al., (2002), como a aprendendo a viver com o sistema em lugar de
controlá-lo ou mantendo a capacidade do sistema de lidar com tudo o que o
futuro traz sem o sistema mudar de forma indesejável. O SES várzea-
Livramento, a partir do evento ecológico de seca do rio e lago Anebá, seguindo
das intervenções exógenas de instituições privadas, públicas e da sociedade
civil organizada solidificou o panarchy, estruturando a co-evolução do sistema
ecológico e sistema social, adaptando-se na capacidade de se manter no
contexto local diante das adversidades socioeconômicas, políticas e
ambientais, fortalecendo sua organização social, favorecendo a solidificação de
capital social, e diante da dinâmica ecológica da seca em 2005, buscou uma
alternativa para o isolamento geográfico que dificultava a sobrevivência do
sistema social.
O SES várzea-Livramento apontou uma definição de autonomia e
constância de uma determinada organização das relações e os elementos
constitutivos desse mesmo sistema, organização essa que caracterizou a
autopoiese, ou seja, um auto-referencial no sentido de que a sua ordem interna é
gerada a partir da interação dos seus próprios elementos de defesa e adaptação,
e auto-reprodutiva no sentido de que tais elementos são produzidos a partir dessa
mesma rede de interação circular e recursiva, embasada nas relações entre o
sistema ecológico e social e as funções exercidas no todo comunicativo dos
sistemas.
O gerenciamento da resiliência no SES várzea-Livramento, configurou
caminhos para esse sistema atingir a sustentabilidade, contudo, essa dinâmica
precisa ser compreendida como um processo de aprendizagem coletiva no
sistema social, ao qual precisará se adaptar ainda a sensibilização ambiental,
conciliando alternativas de sobrevivência sem desestruturar o sistema

208
ecológico, devido a conjunto de pressões exógenas impostas pelas instituições
que se relacionam diretamente com o SES várzea-Livramento.

4.3 O SISTEMA ECOLÓGICO-SOCIAL: ECOSSISTEMA DE FLORESTA DE


TERRA FIRME E A COMUNIDADE DE SÃO MIGUEL ARCANJO DO PACAJÁ
E A GESTÃO DA RESILIÊNCIA

a. Marco conceitual do sistema ecológico-social terra firme-São Miguel:


Para a busca do marco conceitual do sistema ecológico-social em estudo
foi realizado um diagnóstico participativo em 2005, seguido de observações e
participativas até agosto de 2009, donde podemos destacar:

- Localização do sistema ecológico-social:


O ecossistema de terra firme e a comunidade de São Miguel são
localizados no Estado do Pará, município de Portel, na Mesorregião do Marajó,
Microregião de Portel. A extensão territorial do municipio de Portel compreende
área de 27.928Km², definindo limites com os municípios de Melgaço, Oeiras do
Pará, Itupiranga, Porto de Moz e Senador José Porfirio. A comunidade de São
Miguel se localiza mais próximo a cidade de Tucuruí (123 km por ramal) do que da
sede do seu município Portel (287 km, por via fluvial), portanto recebe influências
socioeconômicas diretas também do município de Tucuruí (mapa 10).
O sistema ecológico de terra firme, ênfase deste estudo, se localiza ao sul
do municipio de Portel, percorre as cabeceiras do rio Pacajá e o encontro com o
rio Cururuí, ambos formados por hidrologia de afloramento rochoso que emergem
abruptamente acima das águas, formando corredeiras, impossibilitando a
navegação de embarcações médias nas áreas próximas à comunidade de São
Miguel. Nas margens dos rios Pacajá e Cururuí formam-se áreas de elevados
rochosos, não fertilizando áreas de igapós, caracterizando o ecossistema de terra
firme, conceituada como região do interior da floresta amazônica, distante dos rios
caudalosos, especificamente, nessa área se localizando ao centro das distâncias
entre os rio Tocantins e Xingu, caracterizada por terras não inundáveis. A floresta
de terra firme, aqui estudada, pode ser dividida em florestas densas, as mais
diversas e com maior quantidade de espécies arbóreas, e floresta abertas, mais

209
próximas dos escudos, depressões e hidrologia dos rios Pacajá e Cururuí, que
sustentam maior biomassa animal.

Comunidade de S. Miguel ●

Legenda:
● Comunidade
 Cidades do entorno

Ramal de Madeireiros Rodovias Transamazônica e Transcametá Rios e igarapés

Mapa 10. Município de Portel


Fonte: Ecoflorestal, (2009).

- História do Sistema Social:


No local onde está localizado o município de Portel, existia primitivamente,
uma aldeia de índios, que em 1653, foi reorganizada pelo padre Antonio Vieira, ao
introduzir os índios Nheengaíbas, trazidos da ilha de Marajó, ficando sob a direção
dos padres da Companhia de Jesus, com a denominação de Aricuru (ou Arucurá),
até a expulsão dos jesuítas, época em que já era freguesia, sob a invocação de
Nossa Senhora da Luz (SANTOS, 1979).
Em 1758, o governador e capitão-geral Francisco Xavier de Mendonça
Furtado elevou-a a categoria de Vila, mudou-lhe o nome para Portel, denominação
portuguesa que significa “Porto Pequeno”, e instalado pessoalmente o Município,
em 24 de janeiro do mesmo ano. No ano de 1833, o município de Portel perdeu o
título de Vila, ficando seu território anexado ao município de Melgaço até 1843,
quando a Lei Provincial nº 110, de 25 de setembro, restaurou-lhe a categoria de

210
Vila, sendo reinstalado o Município, em 7 de janeiro de 1845 (SANTOS, 1979).
Nessa ocasião, o território de Melgaço também era formado por áreas hoje
pertencentes ao município de Breves. A Câmara composta de quatro vereadores,
legislou até 1848. Estes, muito fizeram pelo atual patrimônio territorial, que o
requereram em 1870 e foi concedida, a sua expansão, pelo governo Imperial em
1880 (SOUBLIN, 2003).
Segundo Reis (1972), o Decreto nº 6, de 4 de novembro de 1930, omitiu
Portel da relação dos municípios, entretanto, citou-o em um dos seus artigos como
tendo sido acrescido do território do então extinto município de Bagre. Já no
Decreto nº 72, de 27 de dezembro de 1930, de acordo com Reis (1972), foi
confirmada a existência do Município, sendo incluído seu nome na relação dos
Municípios e incorporado ao seu território o então extinto município de Melgaço.
Com o Decreto nº 399, de 26 de junho de 1931, Portel sofreu outra alteração, pois
foi anexado ao município de Breves. Restabelecido posteriormente como território
desmembrado do município de Breves, figura no quadro de divisão administrativa
relativo a 1933, constituído apenas do distrito-sede.
Segundo Reis (1972), a lei nº 8, de 31 de outubro de 1935, enumerou todos
os Municípios do Pará, entre eles o de Portel e pela mesma Lei Bagre voltou a
pertencer a Portel, apresentando-se como um de seus distritos. Pela divisão
territorial de 31 de dezembro de 1936, do Instituto Nacional de Estatística, Portel é
citado na relação dos Municípios, constituído de seis distritos: Portel, Bom
Sucesso, Santa Helena, Bagre, Oeiras e Jacundá. Já em 31 de março de 1938,
com o Decreto-Lei nº 2.972, o município de Portel compunha-se apenas de três
distritos: Portel, Bagre e Oeiras.
Em 31 de outubro de 1938, através do Decreto-Lei nº 3.131, que fixou a
divisão territorial do Estado, Portel perdeu para o município de Oeiras o distrito de
Bagre. Oeiras passara a ser Município autônomo. Portanto, nessa divisão, deveria
compor-se somente do distrito-sede, apresentando-se, no entanto, com 2 distritos:
Portel e Melgaço. Várias condições foram feitas com Portel, até que, conforme o
Decreto-Lei nº 4.505, de 30 dezembro de 1943, que estabeleceu a divisão
territorial do Estado, para o período de 1944 a 1948, o município de Portel
permaneceu composto do distrito-sede e do distrito de Melgaço. Este restabeleceu
sua autonomia através de Lei nº 2.460, de 29 de dezembro de 1961. Em 10 de

211
maio de 1988, com a Lei nº 5.447, Portel teve sua área desmembrada, para ser
criado o município de Pacajá. Atualmente, o Município é composto somente do
distrito-sede (SANTOS, 1979; REIS, 1972)
A comunidade de São
Miguel é localizada no sul do
município de Portel
(fotografia 10), contudo
geograficamente mais
próxima da cidade de
Tucuruí, no encontro dos
rios Pacajá e Cururuí, uma
região de Terras Públicas de
propriedade da União.
Fotografia 10. Vista da comunidade de São Miguel.
Inicialmente, os primeiros
Fonte: Blandtt, (2006).
ocupantes dessa área das
cabeceiras do rio Pacajá foram uma tribo indígena, conhecidos como os Asuriní
do Tocantins, que aparecem nos registros históricos, no contexto do avanço da
frente pioneira do início do século XX, ocupando na região acima da cachoeira
Itaboca no Tocantins (hoje coberta pelo reservatório da UHE Tucuruí), até as
margens de cabeceiras do rio Pacajá (ANDRADE, 1984).
De acordo com Andrade (1992), a região de Marabá até Tucuruí tornou-se,
a partir dos anos 20, uma importante área de exploração de castanha-do-pará e
látex de borracha. Com o objetivo de garantir o escoamento da produção de
Marabá a Belém, determinou-se a construção da Estrada de Ferro Tocantins, que
contornaria os doze quilômetros de corredeiras do Rio Tocantins, unindo as
localidades de Tucuruí (conhecida na época por Alcobaça) e Jatobal. Esta ferrovia
atravessou o território dos índios Asuriní e Parakanã, que reagiram veementes à
invasão. Segundo Magalhães (1982), a Estrada de Ferro Tocantins foi iniciada em
1895 e parcialmente finalizada somente em 1945. Em 1935, haviam sido
construídos apenas cerca de 67 quilômetros dos 117 planejados.
Da década de 20 à década de 70 foram configuradas por intensos conflitos
entre os índios Asuriní, os índios Parakanã e o ocupantes da Estrada de Ferro
Tocantins com resultados de morte intensas de ambas as partes (MAGALHÃES,

212
1982). Os índios Asuriní se localizam nas margens cabeceiras do rio Pacajá, mais
não admitiam o percurso da Estrada de Ferro Tocantins, e constantemente
invadiam e massacravam populações de produtores de castanha-do-pará e
borracha dessa área, especialmente, os localizados na Agrovila Joana Peres
(município de Portel), inclusive, em 1953, chegaram a ter conflito intenso com os
índios Parakanã, que levou a intervenção do órgão público da época que atendia
os interesses dos índios, Serviço de Proteção dos Índios – SPI, levando-os a se
fixarem num outro local conhecido por "sítio Apinajé", entre os igarapés Piranheira
e Trocará. Contudo, no mesmo ano do início do contato com o SPI, mais de
cinqüenta índios morreram de gripe e disenteria (FAUSTO, 1997). Segundo Laraia
(1972), este período é descrito pelos Asuriní como uma época onde não havia
nem mesmo tempo para enterrar todos os seus mortos. A maior parte dos
sobreviventes à catástrofe do contato com o SPI retornou às matas ainda em
1953. Apenas um pequeno grupo permaneceu junto ao SPI até 1956. Neste ano,
porém, decidiram deixar o posto devido a desentendimentos com os funcionários
do SPI, regressando em 1958. Já em 1962, o segundo grupo Asuriní, que havia
permanecido na mata, ressurge no posto do SPI. Novamente, a gripe provoca
uma série de mortes e os sobreviventes decidem voltar, mais uma vez, à região
das cabeceiras do rio Pacajá (FAUSTO, 1995).
Segundo Andrade (1984), quando o antropólogo Roque Laraia esteve entre
os Asuriní, em 1962, encontrou uma população de apenas 35 índios. Laraia
(1972) observou que os Asuriní viviam uma situação de extrema dependência dos
funcionários do posto SPI Trocará atravessando, por outro lado, uma fase de
profunda desorganização social em decorrência da drástica redução de sua
população.
Já o grupo que havia retornado à região do rio Pacajá encontrava-se sem
qualquer assistência do órgão indigenista, vivendo da caça, pesca, agricultura e
de um pequeno comércio que mantinham com os regionais (ANDRADE, 1984). O
grupo permaneceu na região do curso das cabeceiras daquele rio até 1974
quando se mudou para o Trocará. Ao que tudo indica, os dois grupos locais do
Trocará e do Pacajá mantiveram contatos intermitentes até a época de sua
junção.

213
Segundo Andrade (1984), em 1973, as pesquisadoras do Summer Institute
of Linguistics, Nicholson e Aberdour, estiveram visitando os Asuriní do Pacajá e
levaram uma fita gravada pelo grupo dos índios Asuruni do Trocará, convidando-
os para uma visita. O convite, somado às dificuldades advindas da falta de uma
assistência do Governo Federal, levou os Asuriní do Pacajá a transferirem-se para
o Trocará. Segundo seus relatos, a Fundação Nacional do Índio – FUNAI, teria
mandado um barco buscá-los no ano 1974. Desde então, os Asuriní nunca mais
retornaram ao rio Pacajá.
Nas pesquisas de memória foi averiguado que a recente ocupação por
populações tradicionais da área das cabeceiras do rio Pacajá remonta de quatro
décadas atrás depois da migração definitiva dos índios Asuriní, quando os
primeiros moradores iniciaram a fixação nessa área, em especial, formado por
migrantes de outras comunidades locais, como da comunidade de Canaã, distante
cerca de 40km pelos caminhos do rio Pacajá.
De acordo com o estudo de memória, o nome São Miguel é uma
homenagem a uma árvore que se localizava as margens do rio Pacajá, na altura
da penúltima (das quatro), corredeiras do rio, onde um galho tinha uma
formatação simbólica de um anjo, que os chegantes da área passaram a chamar
de anjo Miguel, reconhecido pela Bíblia como o líder dos anjos da divindade cristã,
daí, com o tempo o nome da comunidade passou a ser chamado de São Miguel
Arcanjo das Cachoeiras do Pacajá.
De acordo com os relatos dos mais antigos, no final da década de setenta,
chegou na região das cabeceiras do rio Pacajá o senhor Domingos Martins de
Sousa, um nordestino sobrevivente da safra da Borracha e se adaptando a
produção de castanha-do-pará, que até hoje forma a linhagem presente nos
ribeirinhos, seria o primeiro morador da região, mas a ocupação humana efetiva
na área de São Miguel foi iniciada no início da década de 80. Apesar do rio
Pacajá, fazer parte direto da bacia do rio Amazonas, emergindo seu volume de
água direto no rio Pará, que forma a calha oriental da foz do rio Amazonas, a área
onde hoje se localiza a comunidade de São Miguel sofreu impactos sociais diretos
com a construção da hidrelétrica de Tucuruí, localizada no rio Tocantins, que foi
bloqueado em 1974, inundando inicialmente 2.430 km², onde essa região passou
intensamente por uma mobilidade humana, recebendo migrantes de outras

214
regiões e da região que sofreu a inundação da hidrelétrica, movimentando as
populações locais, reestruturando vários sistemas sociais.
Concomitante com a mobilização humana nas cabeceiras do rio Pacajá,
vários empresários madeireiros também passaram a se instalar na região das
margens do rio, a partir da década de 80, iniciando o processo de exploração
madeireira da região através da ocupação ilegal de terras com a criação de
documentos forjados, conhecidos como grilagem de terras da Amazônia, que
contam com a cumplicidade de cartórios de registro de bens para se apoderar de
áreas públicas e usam de violência para expulsar os posseiros. Em 2005, quando
foi aplicado o diagnóstico na comunidade de São Miguel, não existia organização
social, apenas um grupo religioso católico formava reuniões de orações, mas a
institucionalização da comunidade não existia, apesar da área ser ocupada por
vinte e três famílias.
Ainda no mesmo ano, 2005 (mês de dezembro), a área florestal onde se
situa a comunidade de São Miguel iniciou um novo evento socioecológico, a
invasão da área florestal por grupos humanos patrocinados por empresas
madeireiras ilegais da região e apoiado por órgão públicos, iniciando a pressão
humana sobre a floresta tendo como produto conflitos de terra gerando violência,
morte e uma intensa discussão de impactos ambientais se contrapondo à justiça
social na Amazônia entre instituições ambientalistas, empresas madeireiras ilegais
e certificadas pelo FSC, órgãos públicos ambientais e órgãos públicos políticos
fundiários, e instituições de representação dos trabalhadores rurais, movimentos
políticos religiosos de defesa da terra etc. Onde a comunidade de São Miguel
precisou se organizar, fortalecer o seu capital social e se atrever direto nas
discussões, em defesa de sua ocupação tradicional.
Com isso, uma alternativa de intervenção surgiu com uma empresa
madeireira, Precious Woods Belém – PWB, que negociou com o Serviço Florestal
Brasileiro e o Ministério Publico Federal em 2007 um contrato de transição
florestal da área de conflito por 24 meses, por se tratar de Terra Publica da União,
garantindo o direito de uso florestal, que inclui onde se situa a comunidade de
São Miguel, em compensação essa empresa teria de executar um plano de
desenvolvimento social na comunidade, conhecido como Plano de
Desenvolvimento Comunitário do rio Pacajá – PDC Pacajá, no qual cinco metas

215
de proatividades deveriam ser desenvolvidas na comunidade: a. incentivo a
educação no campo; b. Qualificação de mão-de-obra dos moradores locais; c.
assistência à saúde das famílias; d. implantação da Economia Solidária na
comunidade; e. Disponibilização de um transporte no percurso
comunidades/Tucuruí. Essa negociação não reduziu os conflitos socioambientais
locais e as intrigas entre os órgãos públicos da União, contudo, fortaleceu ainda
mais o capital social da comunidade de São Miguel, na intenção de se manter na
ocupação da área as margens dos rios Pacajá e Cururuí.

- A população do sistema social:


Segundo o IBGE (2007), a população do munícipio de Portel é de 34.103
habitantes, dos quais 17.134 são homens e 16.369 são mulheres. 58,67% da
população vive em área rural. A densidade demográfica conta com 1,22 hab/km².
A comunidade de São Miguel é constituída de 23 famílias, desde o diagnóstico até
2009, formada pela média de 138 pessoas, onde idosos, os chefes de família e as
crianças até 10 anos de idade são os moradores fixos do local, os jovens (de 11 a
25 anos) se comportam constantemente no fluxo de migração entre as cidades,
principalmente Portel e Tucuruí, as crianças e os adolescentes deixam a região
em busca de continuar os seus estudos, principalmente, as meninas. Em 2006, do
período de alta dos rios, de janeiro a julho, ocorreu uma epidemia de malária na
região maior que o padrão local, influenciando a fuga de famílias completas para
as cidades, contudo, retornaram aos seus lares quando este episódio diminuiu.

- A estrutura do sistema social


A religião predominante em São Miguel é a católica, que forma a base da
organização comunitária. Até 2006 representava apenas um movimento religioso
de um grupo de famílias, muito menos que uma expressão de um movimento
social com características sociológicas realmente da institucionalização da
comunidade. A organização social da comunidade de São Miguel com ênfase
político-administrativa somente se estrutura a partir das pressões humanas de
invasão na área florestal, a partir de 2006, liderados por um movimento de
pessoas sem terra, influenciando a intromissão direta de várias outras instituições
privadas, públicas e da sociedade civil organizada.

216
A comunidade de São Miguel tem um anexo de uma escola urbana da
cidade de Portel, fundada em 1999, e, historicamente, não aplicando o calendário
escolar até o ano de 2006. A partir desse ano, o fortalecimento da organização
social local, iniciou um conjunto de reivindicações com a Prefeitura de Portel para
a construção do prédio da escola, que passou a se chamar, Escola Municipal de
Ensino Fundamental Estefânia Monteiro.
No ano de 2004 existia a tentativa de funcionamento de três salas de aula
na área da comunidade, uma próxima à terra indígena dos Assorini e duas outras
subindo as cachoeiras do rio Pacajá. A primeira sala de aula funcionava
improvisada num barracão, e a professora vinha duas vezes por mês e ficava
apenas cinco dias dando aula, até desistir de vez da escola, deixando os alunos
sem o ano letivo. As duas salas de aula que funcionavam subindo as cachoeiras
do Pacajá tinham um conflito entre os moradores, pela localização da sala e a
escolha do professor, por fim, as duas salas de aula não funcionaram nesse ano
letivo.
Um problema geográfico da região dificulta a chegada dos alunos na
escola, pois no verão, quando as águas do Pacajá baixam, os alunos, que
navegam em canoas sem motor não conseguem subir a cachoeira para chegarem
na Escola, abandonado os estudos, além do que, no ano de 2005, a própria
professora foi quem, mais uma vez abandonou a escola, fazendo com que todos
perdessem o ano letivo.
O índice de analfabetismo da comunidade de São Miguel ultrapassa a
realidade do Norte (que já se compõe como a segunda região do Brasil com os
números de analfabetismo, 18,9%, segundo IBGE, 2007), atingem 58% da
população analfabeta em 2005, no diagnóstico da comunidade. Compõem, ainda
de nove possíveis alunos especiais com deficiência física, baixa surdez e baixa
visão. A escola municipal é multiseriada, com 29 alunos distribuídos da 1ª a 4ª
serie, com a ausência de recursos didáticos e merenda escolar. Na história de seu
funcionamento, o único ano em que foi concluído o calendário letivo foi em 2007.
Em 2008, foi criada a Casa Familiar Rural São Miguel, através do PDC rio
Pacajá, voltado para a Educação de Jovens e Adultos de 45 alunos, baseada na
metodologia de ensino da Pedagogia da Alternância, funcionando como um centro
educativo anexo em parceria com a Casa Familiar Rural de Tucuruí, e

217
reconhecido pela Associação Regional das Casas Familiares Rurais – ARCAFAR,
e Conselho Estadual de Educação, bem como parceria com a Secretaria de
Educação do Município de Portel.
Um dos maiores problemas enfrentados pelos comunitários é com relação a
saúde são as doenças: ataques de animais peçonhentos e ferimentos diversos,
mas a maior incidência é da Malária que atinge cerca de 90% das famílias da
região (gráfico 09). Não existe nenhum tipo de assistência à saúde por parte das
agências governamentais, nos casos de primeiros socorros são geralmente
atendidos no ambulatório da empresa Precious Woods Belém - PWB, que mantém
um enfermeiro de plantão. A alternativa dos ribeirinhos é o uso de plantas
medicinais para curar de doenças diversas através dos conhecimentos
tradicionais.
Atendimento dos ribeirinhos com malaria,
comparando 2005 e 2006.

120

104

100
88 90
84

80

60
51

40

22 22 20
20 16 15
10
8

0
Fev Mar Abr Mai Jun Jul

2006 2005

Gráfico 9. Atendimento dos ribeirinhos com malária entre 2005 e 2006


Fonte: Pesquisa de campo, (2005/2006).

O gráfico 9, acima mostra o atendimento dos ribeirinhos em diversos tipos


de doenças no ambulatório da empresa Precious Woods Belém, destacando-se os
ataques de animais peçonhentos (cobras e arraia principalmente), viroses
tropicais (febre, dor de cabeça, diarréia, vômitos), acidentes com arma de fogo,

218
acidentes com arma branca (principalmente facão e faca), dores no corpo
proveniente do esforço físico (dores na coluna, pernas e braços), dores gástricas.
No gráfico 9 é possível perceber o significativo aumento nos casos de
malária dos comunitários atendidos no ambulatório da Precious Woods Belém
comparando o primeiro semestre de 2005 com o mesmo período do ano de 2006,
com exceção do mês de abril, onde o posto ambulatorial fica parado devido às
ferias dos funcionários da empresa, outros meses em 2006 registram um aumento
alarmante nos casos de malária, que possivelmente tenha ligação com o
desequilíbrio ecológico provocado pelas invasões da área florestal causando o
desmatamento sem controle, interferindo nos nichos e habitats do ciclo do
mosquito Anopheles, transmissor da malária, e na relação flora e fauna
(principalmente sapos e rãs), da área afetada, e se fortalece sem a atuação da
Fundação Nacional de Saúde e da Secretaria de Estado de Saúde.
A empresa PWB tem muita dificuldade para poder conseguir os remédios
para malária, a retirada desse material é feita no posto da Fundação Nacional de
Saúde em Tucuruí, que sempre alega que esse procedimento é irregular, pois a
jurisdição da área da comunidade é Portel. Outro agravante para toda a
problemática da saúde na área da comunidade de São Miguel é a ausência do
agente comunitário, resultado da inoperância da Secretaria Municipal de Saúde de
Portel.

- A infra-estrutura de conexão do sistema ecológico-social


Um dos maiores problemas enfrentados pelos comunitários é o transporte
deficiente, pois se dá de duas formas: fluvial na rede hidrográfica do rio Pacajá
com acesso principal a cidade de Portel; ou estrada de madeireiro, com 121 km de
distância entre a comunidade e a cidade de Tucuruí. Até o início do PDC Pacajá,
em 2007, o único meio de transporte pela estrada de madeireiro era através de
caronas com os madeireiros, inclusive nos ônibus de transportes dos funcionários
da empresa PWB. Mas que muitas vezes por questão de segurança e peso, os
motoristas da empresa eram obrigados a dizerem não aos comunitários. Desde a
ocupação inicial da comunidade de São Miguel até 2007, não existia linha de
ônibus e nem animais de cargas, a vezes os comunitários faziam o percurso
pelas estradas de madeireiro a pé até Tucuruí. Contudo, com o PDC Pacajá, foi

219
firmado um compromisso da empresa PWB, disponibilizando um ônibus de
transporte mensal exclusivo para os comunitários no percurso São Miguel até
Tucuruí.
Os comunitários não possuem energia elétrica e nem abastecimento de
água potável. A iluminação noturna é feita por velas e lamparinas. Mas o maior
problema é o consumo de água imprópria, a água consumida é retirada
diretamente de igarapés, de cacimbas ou dos próprios rios Cururuí ou Pacajá.
As famílias não estão inseridas em programas sociais do governo como
Bolsa Família e Luz Para Todos. Assim como não existe nenhum tipo de crediário
aos agricultores familiares da região, por conta de não terem uma base de
organização associativa voltada para a produção e também por não terem a
titulação das terras onde moram e trabalham.
Algumas famílias da região possuem o cadastro de terras junto ao Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA, mas não a posse e nem
titulação das terras em que vivem e trabalham. Geralmente as terras são
responsabilizadas por empresas madeireiras, que confirmam a propriedade das
terras, a exemplo da Vera Cruz e Precious Woods Belém, que tem um acordo
verbal com os moradores locais, no qual permitem que as famílias se assentem na
área, construam casas e pratiquem a agricultura em lotes de cem metros a partir
da margem dos rios Cururuí e Pacajá. No caso da empresa Vera Cruz, em troca,
as famílias devem doar parte da produção agrícola, pesqueira e quintal (frutas e
animais principalmente) como pagamento do uso das terras.
As famílias que vivem acima da última cachoeira do Pacajá, estão dentro
da área indígena dos Asuriní, que vivem em constantes conflitos, inclusive já
foram notificados pela Fundação Nacional do Índio para se retirarem da área. E
outra parte, na porção direita do rio Pacajá, as famílias ficam dentro de uma área
reclamada pela empresa Selva Plac, que não tem conflitos com os comunitários,
mas lutam pelo direito de posse da área, oferecendo a venda. Contudo, toda essa
área, na verdade é de propriedade da União, e todos esses documentos
apresentados pelas empresas madeireiras são grilados em cartórios de bens.

- Condições ambientais e potencialidades do sistema ecológico social:

220
A relação entre natureza e homem foi sendo formulada, representada e
problematizada no decorrer dos tempos. Porém, o que antes era uma relação
teórica, numa compreensão kantiana, passou a ser prática, construída no e pelo
trabalho (visão marxista). Sendo assim, temos uma nova concepção entre as
relações do homem com a natureza. Decorrente disso, o que obtemos é uma
dialética entre sujeito e objeto, numa relação intensa a qual corresponde a uma
objetivação e modificação das forças naturais, tanto as que o homem encontra em
si mesmo quanto as que ele vê ao seu redor. Na comunidade de São Miguel é
possível identificar um conjunto ambiental propício para a relevância do
desenvolvimento socioeconômico local: florestas e rios representam para os
ribeirinhos um bem natural donde se pesca, planta e extrai recursos para a
sobrevivência humana. O estado de preservação ambiental desses ecossistemas
contribui para a significativa abundância dos recursos neles disponíveis.
No SES terra firme-São Miguel o cenário formado pelo encontro dos rios
Cururuí e Pacajá (fotografia 11), em especial com as quatro escorredeiras desses
formam bolsões de água ideal para os cardumes, em concomitância com a
floresta forma um cenário ambiental encantador, representativo da beleza natural
amazônica. Além do que, as quatro escorredeiras são uma defesa natural da
floresta por conta das invasões e extração de madeira ilegal, impossibilitando a
navegação de embarcações que transportam a madeira naquela região.

Fotografia 11. localização do encontro dos rios Pacajá e Cururuí e ocupação da


comunidade de São Miguel, antes das invasões.
Fonte: Google Maps, Navteq North America LLC, (2009).

221
Os tipos de solos encontrados no SES terra firme-São Miguel tem o
predomínio do barro argiloso e negro, seguidos do barro vermelho e em menor
proporção as áreas arenosas, próximas de rios, igarapés e nascentes, o que limita
o potencial agrícola local por condições do solo.
O sistema pousio é comum no sistema social de São Miguel, que remota
desde a ocupação na década de 80. Consiste num sistema de produção
associado a roças e cultivo pela enxada, ateando-se fogo à vegetação: florestas
(fase inicial); após a utilização produtiva são abandonadas para adquirir fertilidade
por certo período de tempo, ou seja regeneração natural. Então outras áreas são
preparadas para o cultivo, utilizando-se do mesmo processo. Esse período de
pousio não ultrapassa dois anos, sendo reocupada posteriormente, devido às
reduzidas parcelas de terra dos agricultores.
O rendimento do solo nos primeiros anos de pousio é satisfatório, cresce
sobre essas áreas uma vegetação de aspecto florestal (capoeira), com função
semelhante da mata original, que novamente é cortada e ateada fogo, sobre suas
cinzas emergiram roças durante uma seqüência de dois anos.
Existe o cultivo de culturas perenes, destacando a pimenta-do-reino e o
coco. Além da prática comum de produtividade de quintais, que representam
importantes suportes à sobrevivência familiar, através do cultivo de árvores
frutíferas e horticultura. A criação de animais, como porcos, em especial de aves
(galinhas e patos) nos quintais, representam um importante mecanismo para a
alimentação familiar.
O SES terra firme-São Miguel está localizado em área de planície
amazônica de topografia suave-ondulada, com sobressaltos nos rios, não
caracterizando exatamente quedas d’água, mais escorredeiras, formalizando
quatro acidentes na área social de ocupação da comunidade, especificamente, os
acidentes ocorrem na confluência dos rios e igarapés, no percurso e encontro dos
rios Pacajá e Cururuí, que continua rio Pacajá e desaguando no rio Pará,
seguindo a foz do rio Amazonas, na calha oriental.
Nos períodos de estiagem na Amazônia, o rio Pacajá diminui o seu
volume de água, impossibilitando a sua navegação sobre as escorredeiras,
mesmo usando as canoas a remo, devido o aparecimento de pedras que
desviam e aumentam a velocidade do curso de água. Também é importante

222
salientar que a rede hidrográfica do rio Pacajá, por está próximo do mar, na
interseção da ilha do Marajó com a foz do rio Amazonas, sofre influência da
maré, com sazonalidades diárias, que variam no período chuvoso entre 4 e 3
metros e no período menos chuvoso com 3 e 2 metros, na área de ocupação da
comunidade de São Miguel.
De acordo com o naturalista alemão Alexander von Humboldt, a
Amazônia é uma floresta tropical definida como hiléia (TORRES, 2005), que
define a floresta de terra firme localizada em planaltos pouco elevados (30-
200m) e apresenta um solo extremamente pobre em nutrientes. Isto forçou
uma adaptação das raízes das plantas que, através de uma associação
simbiótica com alguns tipos de fungos, passaram a decompor rapidamente a
matéria orgânica depositada no solo, a fim de absorver os nutrientes antes
deles serem lixiviados. O SES terra firme-São Miguel está situada numa
região ecológica de floresta ombrófila densa, com a presença predominante
de floresta densa ou mata de terra, e ocasionalmente, no período das
chuvas e cheias do rio Amazonas e sua vazante para os rios e igarapés da
rede hidrográfica, com a presença de floresta ciliar ou mata de igapó em
pequenos tamanhos, devido a topografia suave-ondulosa e a presença na
superfície de pedras, e em reduzida escala a presença de capoeira.
A floresta representa importante mecanismo para sobrevivência humana,
no que se refere ao extrativismo de plantas medicinais e extração de proteínas
animal como recursos alimentícios e comercializáveis como a Castanha-do-pará
(Bertholletia excelsa Humb. e Bonpl.) e nas matas ciliares o extrativismo do açaí
(Euterpe oleracea), o veado-mateiro (Mazama americana), etc.

- Sistemas de Produção (Comercialização e Sobrevivência)


O extrativismo representa para a comunidade de São Miguel um relevante
subsídio para a sobrevivência familiar e para a formação do excedente para a
comercialização. Pode ser encontrado de duas formas específicas: o extrativismo
animal, todo voltado para geração de alimentos junto a unidade familiar, ou seja,
sobrevivência, destacando-se a caça de cutias e veados, na maioria dos casos
uma fonte de proteínas de carne vermelha dos comunitários de São Miguel. O
consumo intermediário no subsistema extrativismo animal é representado pelas

223
despesas com pólvora, chumbo, espoleta como bens de uso secundário e a
espingarda como bem de consumo permanente, para um tempo de vida de cinco
anos, o que totaliza 100 reais consumo/anual, sendo uma atividade regular
durante todo o ano.
A outra forma, o extrativismo vegetal, é mais diversificada quanto da
utilidade pelos comunitários de São Miguel, destacando a sua coleta tanto para
formação do excedente para uso comercial, como para unidade básica familiar, a
sobrevivência. Produtos como a castanha-do-pará, a bacaba e, principalmente, o
açaí são importantes tanto para a comercialização como para a alimentação
doméstica. No que se refere à comercialização também se inclui a produção do
breu, e para o uso doméstico destaca-se também a madeira, na produção de
esteios, e as plantas medicinais, nela se emprega o consumo intermediário de
facão, machado e sacos como bens de consumo permanentes, para um tempo de
vida de cinco anos, resultando em 31 reais consumo/anual.

Tucuruí
Marreteiro

S. Miguel Consumidor
Produtor Inicial Final

Portel/Breves
“Regatão”
Organograma 11. Circuito de Comercialização do Açaí.
Fonte: pesquisa de campo, (2007).
.
A comercialização do açaí (organograma 11), representa o segundo
produto mais importante para a formação da renda familiar em São Miguel,
ficando atrás apenas da farinha da mandioca, principalmente, pelo fato da
demanda gastronômica do paraense, muito apreciado, pois em Tucuruí e Portel, o
circuito simples de comercialização apresenta dois potenciais compradores:
Um primeiro, o marreteiro local de Tucuruí, onde os produtores têm que
levar o produto até a cidade para a venda, que negocia a lata a oito reais (R$ 08)
do produtor inicial em São Miguel e vende para as casas especializadas em
Tucuruí no valor entre quinze e trinta reais a mesma lata (R$ 15-30);
Uma segunda alternativa é a venda ou troca direta do produtor inicial para
os comerciantes que chegam até a comunidade em embarcações, conhecida na

224
Amazônia como regatão, um comerciante ambulante que viaja entre centros
regionais e comunidades amazônicas, comercializando mercadorias para
pequenos produtores caboclos e comerciantes do interior em troca de produtos
regionais agrícolas e extrativistas, caracterizando a instituição aviamento
(BLANDTT, 1999).
A instituição aviamento na Amazônia, historicamente está ligada a extração
da borracha, na área de estudo, possivelmente houve uma adaptação para a
prática da agricultura familiar com os ribeirinhos. A comercialização ou escambo
do açaí com o regatão ocorre com a visita mensal dos marreteiros que compram a
lata do produto a cinco reais (R$ 10,00), ou com a troca desse produto naquela
quantidade com bens de consumo necessários e não produzidos pelos ribeirinhos,
como café, açúcar e outros produtos como medicamentos antibióticos e
analgésicos, roupas e material didático para uso dos filhos na escola etc.
Os quintais representam a maior diversidade produtiva para os
comunitários de São Miguel, sendo a produção voltada para o consumo familiar e
parte voltada para o pagamento do aluguel das terras de moradia para a empresa
Vera Cruz, destacam-se o cultivo: frutas, legumes e aves. A produção da
fruticultura de quintal em São Miguel engloba a produção de manga, graviola,
banana, mamão, abacate, ingá, caju, abacaxi, coco, jambo, limão, goiaba, buriti,
pupunha e café, em determinadas épocas do ano as frutas são os alimentos
básicos da sobrevivência familiar, principalmente a manga
A produtividade de legumes em quintais é pequena, não sendo uma prática
comum para os ribeirinhos de São Miguel, destaca-se a produção do tomate,
macaxeira, cebola palha, cuminho e batata doce, há casos de uso comum dos
sítios de plantação dos legumes, onde as mulheres administram em regime
comum as etapas de preparo do local, plantio, irrigação diária e colheita
compartilhada nos quintais.
Merecem destaque também as criações de aves no espaço quintal, como
galinhas e patos, que são criados em espaço comum na comunidade. A
importância dos quintais para a sobrevivência familiar em São Miguel é inegável,
porém, um diagnóstico quantitativo da produtividade dos quintais requer uma
maior atenção para as pormenoridades da dinâmica de uso de pequenos mais
significativos espaços de terras na comunidade.

225
A pesca doméstica é uma das principais atividades realizadas pela
comunidades de São Miguel, é praticada por todos os membros da família,
incluindo crianças, que praticam a pesca de rede e de anzol próximo às suas
residências. O peixe é a principal fonte de proteína para essas comunidades e a
terceira fonte de calorias, atrás apenas da mandioca (Manihot esculenta) e o açaí
(Euterpe oleracea). Devido à grande importância conferida a pesca para essa
comunidade é de se supor que estes pescadores apresentem um conhecimento
peculiar em relação a fauna íctica que exploram. Este conhecimento deve
contemplar a ecologia, comportamento e classificação em grupos das espécies
que estes ribeirinhos capturam. Implica também na forma como o ambiente será
manejado por estes grupos humanos e se eles sabem reconhecer detalhes a
respeito da ecologia destes organismos e fazem uso deste conhecimento para
obter êxito em suas pescarias. Além disso, implica na capacidade de mencionar
semelhanças entre espécies baseando-se no conhecimento adquirido sobre elas
em suas pescarias.
Os instrumentos de trabalhos não são sofisticados, destacando os
apetrechos anzol, isca, linha, flecha, canoas a remo ou movidos pelo motor rabeta
e malhadeira, necessários para o desenvolvimento das atividades, por isso,
alcançam uma baixa produtividade. Alguns desses apetrechos de pesca são
produzidos artesanalmente, como a flecha e a canoa à remo e outros são
extraídos da própria ambiência, como é o caso das iscas de minhoca, o que faz
com que o consumo intermediário do subsistema pesca seja pequeno,
equivalendo, na soma geral um resultado de quinze reais (R$ 12) consumo/anual.
O subsistema de produção da pesca também está inserido na instituição
do aviamento, os pescados de primeira qualidade e quantidade são inseridos no
sistema de compras e trocas do aviamento, que cobiça os peixes, como tucunaré,
pescados e filhote.
Agricultura itinerante é um tipo de sistema agrícola primitivo, adotado
historicamente nos ecossistemas de florestas tropicais, em que o ser humano
derruba um trecho da floresta, queimando-o como preparo da terra para cultivo de
subsistência, obtendo durante poucos anos (2 a 4) alimento e, posteriormente,
abandonando essa área que se tornou improdutiva, se regulando um sistema de
capoeira, passa então a ocupar novos trechos da floresta e assim por diante. A

226
área inicial abandonada, onde se estabeleceu vegetação secundária, após cerca
de vinte anos, poderá ser novamente utilizada para o cultivo.
Na comunidade de São Miguel, esse processo aplica-se no cultivo da
monocultura de mandioca como a base produtiva da agricultura familiar. O destino
final é o beneficiamento da farinha, através das casas de farinha, na comunidade
existem doze instituições dessa natureza. A farinha de mandioca é principal
produto comercial da agricultura itinerante em São Miguel. A produção é destinada
para o auto-consumo, e o excedente, representado por uma parcela pequena, é
utilizado para o escambo ou é vendido para agentes mercantis locais (marreteiros)
na instituição aviamento.
Marreteiro Local
Tucuruí

Consumidor
Produtor Inicial Tucuruí
São Miguel
Marreteiro Externo
Regatão

Consumidor
Consumidor Local Portel/Breves
São Miguel

Organograma 12. Circuito de Comercialização da Farinha de Mandioca


Fonte: Pesquisa de campo, (2007).

O consumo intermediário da produção da farinha de mandioca não é


relevante, utilizando de recursos comuns a outras atividades como a enxada, a
prensa, os sacos (de 50 kg), o tesado e o machado, usado para a derrubada das
áreas da floresta que será utilizada para a queima a posterior, resultando na soma
de trinta e cinco reais (R$ 35) consumo/anual.
A comercialização da farinha de mandioca (organograma 12), representa o
produto mais importante para formação e acúmulo de recurso financeiro em São
Miguel. O circuito compreende três destinos finais, um diretamente na
comunidade, outro para o consumidor de Tucuruí e outro para os consumidores
de Portel e Breves. Existem dois agentes intermediários, um local em Tucuruí,
onde o produtor tem que se arriscar em levar o produto até a cidade com o preço
da lata da farinha a 25 reais (R$ 25), e revende para o consumidor em Tucuruí, ou
revende para o agente mercantil externo em Belém do Pará, pelo preço de

227
variação a lata entre trinta e trinta e cinco reais (R$ 30-35), este leva o produto
para venda diretamente para o consumidor em Belém.
A farinha de mandioca também está inserida na instituição aviamento, onde
é vendida ao preço de dez reais (R$ 10,00) a lata ou é escambiada por produtos
não produzidos e necessários na comunidade como o óleo de soja, bebidas
alcoólicas etc. O aviamento torna o agricultor familiar dependente das condições e
critérios financeiros do regatão, que em casos excepcionais além da farinha,
absorve a caça de animais silvestres e o pescado. O que há de danoso no
aviamento, do ponto de vista social, é que faz parte de um ciclo retroalimentador
da pobreza. Cada vez mais o produtor torna-se dependente dos agentes
mercantil.

- A história e contexto das instituições exógenas que interagem no sistema


ecológico-social terra firme-São Miguel:

a. Precious Woods Belém


O grupo Precious Woods, é uma multinacional madeireira da Suíça, em seu
projeto de expansão, adquiriu no ano de 2000 a empresa Lisboa Madeira Ltda.,
localizada no Distrito Industrial de Icoaraci, em Belém do Pará, e passou a ser
chamada de Precious Woods Belém - PWB. No mesmo ano, foi realizada a
compra de uma área florestal situada no sul do município de Portel, nas áreas de
abrangências dos rios Pacajá e Cururuí, onde se localiza a comunidade de São
Miguel (mapa 12), foi realizado um projeto de manejo florestal reconhecido pelo
Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais - IBAMA, que adquiriu a
certificação pelo Forest Stewardship Council – FSC, no ano de 2002. De acordo
com relatos do Diretor Geral da empresa, Leandro Guerra, somente em 2004, a
empresa detectou que a área florestal comprada pertencia a União, e a efetiva
compra teria sido de apenas um documento de posse, forjado no cartório de bens
do município de Portel, caracterizando grilagem de terra pública. Nesse contexto,
o IBAMA já tinha reconhecido o plano de manejo florestal e, a certificadora
credenciada no Smart Wood já tinha aprovado a Certificação do FSC, que foi
mantido por cinco anos, de 2002 a 2007.

228
Focos de Invasão na área de manejo pelos sem terra
Mapa 11. Área de manejo florestal da PWB e a comunidade de São Miguel.
Fonte: Pesquisa de campo, (2007).

No fim de 2005, foram iniciadas as invasões na área de manejo florestal de


posse da PWB (mapa 11), pela área sul, por dois atores diretos: madeireiros
ilegais das cidades do entorno (Tucuruí, Breu Branco e Pacajá), e uma associação
de sem terra migrantes das periferias de Tucuruí, Marabá, Breu Branco, e outras
organizados pela Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras da Agricultura
Familiar – FETRAF, através do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras da
Agricultura Familiar – STTAF, em Tucuruí. O que gerou várias discussões políticas
entre o papel de uma empresa certificada pelo FSC e os conflitos fundiários na
Amazônia, onde em especial essas invasões eram apoiadas pela
Superintendência de Marabá do Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária – INCRA, chegando a criar um Projeto de Assentamento batizado de
Cururuí com a intenção de assentar 681 famílias.

229
Em 2007, a PWB se desligou da certificação do FSC e negociou com o
Serviço Florestal Brasileiro - SFB, e o Ministério Público Federal um Termo de
Ajuste de Conduta - TAC, num contrato de transição florestal da área de conflito
por 24 meses, por se tratar
de Terra Pública da União,
garantindo o direito de uso
florestal, que inclui onde se
situa a comunidade de São
Miguel, em compensação
essa empresa teria de
executar um plano de
desenvolvimento social na
comunidade, conhecido

Fotografia 12. Casa Familiar Rural em S. Miguel. como Plano de


Fonte: Blandtt, (2009). Desenvolvimento
Comunitário do rio Pacajá – PDC Pacajá, no qual cinco metas de proatividades
deveriam ser desenvolvidas na comunidade: a. incentivo a educação no campo
(fotografia 12); b. Qualificação de mão-de-obra dos moradores locais; c.
assistência à saúde das famílias; d. implantação da Economia Solidária na
comunidade; e. Disponibilização de um transporte no percurso
comunidades/Tucuruí. O Ministério Público Federal não reconheceu o
assentamento PA Cururuí, criado pelo INCRA, anulando a sua legalidade.
Em agosto de 2009, a PWB se retirou da área de contrato de transição
florestal, cumprindo o acordo com o Ministério Público Federal, o SFB e o INCRA,
e este, legalmente não poderia mais renovar esse acordo devido a Norma de
Concessão Florestal não ser aplicável em área de conflito social.

b. Comissão Pastoral da Terra:


A Comissão Pastoral da Terra – CPT, nasceu em junho de 1975, durante o
Encontro de Pastoral da Amazônia, convocado pela Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil - CNBB, inicialmente, a CPT desenvolveu junto aos trabalhadores
e trabalhadoras da terra um serviço pastoral. Mas já nos primeiros anos, a
entidade adquiriu um caráter ecumênico, tanto no sentido dos trabalhadores que

230
eram apoiados, quanto na incorporação de agentes de outras igrejas cristãs,
destacadamente da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil – IECLB.
Os posseiros da Amazônia foram os primeiros a receber atenção da CPT.
Rapidamente, porém, a entidade estendeu sua ação para todo o Brasil, pois os
lavradores, onde quer que estivessem, enfrentavam sérios problemas. Assim, a
CPT se envolveu com os atingidos pelos grandes projetos de barragens e, mais
tarde, com os sem-terra.
A criação da CPT está ligada diretamente a construção da hidrelétrica de
Tucuruí, suas histórias são concomitante. A organização social da comunidade de
São Miguel é potencializada diretamente pela CPT, na luta pela defesa do direito à
terra diante dos constantes episódios de invasão da área florestal do entorno
desta comunidade. A partir de 2006 a CPT passou a mediar discussões com
órgãos públicos, empresas madeireiras e, principalmente, os diferentes interesses
entre a Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras da Agricultura Familiar -
FETRAF e a Federação dos Trabalhadores na Agricultura – FETAGRI, tendo
como objetivo maior o direito de permanecer na terra da comunidade de São
Miguel.

c. Associação Regional das Casas Familiares Rurais:


Associação Regional das Casas Familiares Rurais do Pará - ARCAFAR/PA,
foi fundada em 2003, numa Assembléia Geral realizada na cidade de Gurupá. Sua
constituição foi fruto de uma ampla discussão entre as Casas Familiares Rurais do
Estado do Pará, que sentiam a necessidade de uma organização estadual para
defender e representar seus interesses, promover o intercâmbio, garantir os
princípios filosóficos e metodológicos, evitar o isolamento e acompanhar o
processo de expansão das mesmas no Estado do Pará. Desde sua existência, a
ARCAFAR/PA tem desempenhado importante papel na união e fortalecimento das
Casas Familiares Rurais do Estado do Pará, possibilitando a expansão e a boa
aplicação dos princípios que norteiam a Pedagogia da Alternância nas diferentes
realidades do Estado do Pará.
A ARCAFAR/PA passou a ter importante papel na comunidade de São
Miguel, quando em 2007, foi iniciado o PDC Pacajá, que tinha como meta primeira
fomentar a educação rural, assim, foi criada a Casa Familiar Rural de São Miguel,

231
funcionado como anexo escolar da Casa Familiar Rural de Tucuruí, atendo 45
alunos na modalidade de Educação de Jovens e Adultos.

d. Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária:


O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA, é uma
autarquia federal criada pelo Decreto nº 1.110, de 9 de julho de 1970 com a
missão prioritária de realizar a reforma agrária, manter o cadastro nacional de
imóveis rurais e administrar as terras públicas da União. Está implantado em todo
o território nacional por meio de 30 Superintendências Regionais, três destas
localizadas no Pará, Belém, Marabá e Santarém.
As Superintendências de Marabá e Santarém do INCRA intervieram
diretamente no SES terra firme-São Miguel, inicialmente pela discussão de
responsabilidade de jurisdição do município de Portel. Onde, inicialmente o INCRA
Marabá criou o assentamento PA Cururuí, transferindo 641 famílias para essa
área, o qual não foi reconhecido pelo INCRA Santarém. Contudo em 2007, após
discussões internas mediadas pelo Ministério Público Federal e o INCRA Belém, o
PA Cururuí foi anulado legalmente, e essa área ficou definida como área de
responsabilidade jurídica do INCRA Santarém, onde essas famílias foram
retiradas da área e dispostas na cidade de Tucuruí, e logo, por incentivo da
FETRAF retornam a área. Em 2008, o INCRA Santarém criou dois
assentamentos; PA Liberdade I e PA Liberdade II, localizados na área de manejo
florestal de posse da Precious Woods Belém. Contudo, o Ministério Público
Federal em discussão com o Serviço Florestal Brasileiro – SFB, anularam o
assentamento PA Liberdade I, justificando que essa área é potencial ambiental,
não podendo ser transformado em área de ocupação.

e. Prefeitura Municipal de Portel.


A Prefeitura de Portel, até 2007 foi uma instituição ociosa nas fortes
discussões de abrangência do município, que envolvia diretamente uma
comunidade, São Miguel. Contudo, a partir das negociações entre o SFB, o
Ministério Público Federal e a empresa Precious Woods Belém, a Prefeitura
passou a atuar diretamente em parceria com esta empresa, na intenção de
participar da meta de fomento de educação rural, após a construção do prédio da

232
Casa Familiar Rural e da administração do Posto de Saúde, também construído
pela empresa Precious Woods Belém, para atender diretamente o
desenvolvimento da comunidade de São Miguel.

f. Serviço Florestal Brasileiro:


O Serviço Florestal Brasileiro – SBF, foi instituído pela Lei nº 11.284/06, e
aprovado na estrutura regimental do Ministério do Meio Ambiente pelo Decreto nº
5.776/06. O SFB tem autonomia administrativa e financeira assegurada pelo
Contrato de Gestão nº 1, de 1º de outubro de 2007.
A relação direta do SFB com o SES terra firme-São Miguel responde pela
ocupação social se localizar na área de gestão florestal de responsabilidade do
SFB. A primeira demanda administrativa dessa instituição em discussão com o
INCRA Santarém e acordado com o Ministério Público Federal foi a negociação de
um contrato de transição florestal e a celebração de um Termo de Ajuste de
Conduta – TAC, constituindo um documento suficiente para permitir, sob o ponto
de vista fundiário, a continuidade do plano de manejo florestal da empresa
Precious Woods Belém aprovado pelo IBAMA.

g. Secretaria Executiva de Saúde do Estado do Pará (Departamento de Vigilância


à Saúde – Programa de Controle de Malária)
O Departamento de Vigilância Epidemiológica – DVE, órgão central
responsável pela Epidemiologia do Sistema Único de Saúde no Pará, sob a
gerência da Secretaria Executiva de Saúde Pública - SESPA, possui o
pressupostos de contribuição com o controle social mediante à acessibilidade às
informações e tratamentos epidemiológicos à população, distribuído por município
no Estado. Seria o responsável pelo contato e intervenção de apoio ao maior
problema social na comunidade de São Miguel, a prevalência constante da
malária. Contudo, por impasses jurídicos, o posto de atendimento mais próximo da
comunidade, o Centro de Vigilância de Saúde de Tucuruí se negava a atuar na
comunidade devido essa se localizar em outro município, Portel, e o Centro de
Vigilância de Saúde de Portel não atender, pois não tinha nem registrado a
existência da comunidade de São Miguel.

233
Em 2007, os moradores da comunidade de São Miguel, intervieram
diretamente na Fundação Nacional de Saúde – FUNASA, no Centro de Apoio em
Tucuruí, a qual informou que a responsabilidade era realmente de Portel, devido a
municipalização do sistema de saúde do Pará, e que a FUNASA só poderia atuar
em áreas reconhecidas legalmente da União (indígenas, quilombolas e
assentamentos). A comunidade de São Miguel até os dias atuais não tem
atendimento de casos de malária pela SESPA, dependem exclusivamente do
Posto Ambulatorial da empresa Precious Woods Belém, que recebe do Centro de
Vigilância de Saúde de Tucuruí os medicamentos para o tratamento da malária.

h. Ministério Público Federal - Procuradoria da República no Município de Altamira


O Ministério Público é uma instituição essencial à função jurisdicional do
Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos
interesses sociais e individuais indisponíveis (art.127, Constituição Federal 1988).
As atribuições e os instrumentos de atuação do Ministério Público estão previstos
no artigo 129 da Constituição Federal, dentro do capítulo "Das funções essenciais
à Justiça", e na Lei Complementar nº 75/93.
O Ministério Público
não faz parte de nenhum dos
três Poderes – Executivo,
Legislativo e Judiciário, possui
autonomia na estrutura do
Estado, não pode ser extinto
ou ter as atribuições
repassadas a outra
instituição. Os procuradores e
promotores têm a
Fotografia 13. Polícia Ambiental se organizando para
independência funcional
a desapropriação da área invadida por Sem-terra.
Fonte: Blandtt, (2008). assegurada pela Constituição.
Assim, estão subordinados a um chefe apenas em termos administrativos, mas
cada membro é livre para atuar segundo sua consciência e suas convicções,
baseado na lei. Os procuradores e promotores podem tanto defender os cidadãos

234
contra eventuais abusos e omissões do Poder Público quanto defender o
patrimônio público contra ataques de particulares de má-fé.
Com essa descrição, o Ministerio Publico Federal representante da
Procuradoria da República no Município de Altamira e sua área de jurisdição tem
ações diretas no SES terra firme-São Miguel, onde em 2007 efetuaram visitas
diretas na área de manejo florestal, na comunidade de São Miguel, nas ocupações
do movimento dos sem terra e nas áreas de destruição florestal através da
empresas madeireiras ilegais, que por decisão jurídica, foi o principal mediador
entre os órgãos federais IBAMA, INCRA e SFB, tomando decisões e definido
Termos de Ajustes de Conduta dos envolvidos no contexto. Especificamente
favorecendo diretamente a empresa Precious Woods Belém e indiretamente a
comunidade de São Miguel, com a desapropriação de posse de terra dos sem
terra, a ordem de vigilância pelo Exército Brasileiro e Força Nacional e a
destituição dos projetos de assentamentos criados pelo INCRA na área florestal
em questão (fotografia 13). A defesa do Ministério Público Federal, teve vasta
repercussão nacional, recebendo várias críticas nos meios de comunicação,
movimentos ambientais, sindicais e religiosos, especificamente, pela decisão de
atendimento dos interesses de uma empresa multinacional.

i. Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras da Agricultura Familiar –


FETRAF.
A Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras da Agricultura Familiar, foi
criada em 2004 por influência direta da Central Única dos Trabalhadores – CUT.
Atualmente são milhares de associações, cooperativas de produção e de crédito,
redes de comercialização, agroindústrias familiares, que integram a FETRAF,
todos buscando cada vez mais fortalecer as propriedades familiares,
assentamentos da reforma agrária e empreendimentos sustentáveis e solidários
em 22 Estados do Brasil. No Pará, a sede da FETRAF é localizada em Marabá.
Em Tucuruí, o Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras da Agricultura Familiar
– SITTAF, criado em 2006 é associado à FETRAF-Marabá e foi responsável para
credenciar e organizar os grupos familiares das áreas periféricas de Tucuruí,
Marabá e Breu Branco para iniciar as invasões na área florestal no entorno da
comunidade de São Miguel, iniciando as invasões pelo rio Cururuí, com acordos

235
diretos com empresas madeireiras ilegais de Tucuruí e Pacajá, donde primeiro as
empresas entravam com maquinário pesado, abrindo ramais e extraindo
desordenadamente a maior quantidade possível de madeira em seguida os
grupos humanos entrariam ocupando a área, ateando fogo e processando práticas
agrícolas, em especial o plantio de mandioca. Um acordo também firmado com a
sede do INCRA em Tucuruí sobre jurisdição da Superintendência em Marabá e
FETRAF, descrevia o apoio do INCRA-Tucuruí em transporte das famílias e
distribuição semanal de cestas básicas de alimentação no início da ocupação.

j. Federação dos Trabalhadores na Agricultura – FETAGRI.


A Federação dos Trabalhadores na Agricultura – FETAGRI, é associada à
Confederação dos Trabalhadores da Agricultura – CONTAG, a maior entidade
sindical de trabalhadores rurais da atualidade, fundada em 22 de dezembro de
1963, no Rio de Janeiro. Na época existiam 14 federações e 475 Sindicatos de
Trabalhadores Rurais. Hoje, são 27 federações que reúnem cerca de 4 mil
sindicatos rurais e 20 milhões de trabalhadores e trabalhadoras do campo. Entre
essas Federações, a Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Pará -
FETAGRI, com sede em Belém e a regional do Sudeste do Tocantins com sede
em Marabá, a onde responde a FETAGRI –Tucuruí está subordinada.
A FETAGRI -Tucuruí tem ações diretas no SES terra firme-São Miguel,
participando junto a CPT regional de Tucuruí no fortalecimento e defesa da
organização social da comunidade de São Miguel e, diretamente, interferindo junto
ao Ministério Público Federal na desestruturação dos projetos de assentamentos
criados pelo INCRA. E ainda, mediando os contatos e incentivos entre a
Associação Regional das Casas Familiares do Pará – ARCAFAR, a Casa Familiar
Rural de Tucuruí e as lideranças da comunidade de São Miguel.

- Escalas de Mudanças Exógenas no SES terra firme-São Miguel.


O exame cauteloso das representações do contexto histórico revela a
dinâmica do atual sistema e como pode responder a futuros choques externos,
com isso é possível descrever três escalas: local, regional e multi-regionais; e,
em seguida, procura transpor as escala e seus efeitos. A escala local é
focalizada nas mudanças socioecológicos até ao nível da propriedade. O

236
escala regional é definida pela área de estudo a ser considerada, uma definição
geográfica e as intervenções e possíveis mudanças e ou adaptações. E a
escala multi-regional a interação entre áreas geográficas e seu efeito direto nas
escalas a dentro. Todos os tipos de alterações (ecológico, tecnológicos,
econômicos, sociais) são considerados em todas as três escalas.

a. Escala local:
As principais mudanças que interagem com o sistema social e sistema
ecológico são ações exógenas diretamente no local, especificamente, no caso do
Termo de Ajuste de Conduta da empresa Precious Woods Belém que precisa
implementar o Plano de Desenvolvimento Comunitário rio Pacajá, donde a própria
comunidade, para sua resistência diante dos desafios precisa se organizar,
desenvolver inicialmente o seu capital social, fazer parcerias com institutos da
sociedade civil organizada e do poder público que respeitam as populações
tradicionais, para então reivindicar o desenvolvimento local e o direito de
permanecer ocupando a área florestal, esse evento está ligado diretamente à
criação do Serviço Florestal Brasileiro e às ações diretas do INCRA em favorecer
as invasões e criação de projetos de assentamentos.
Escalas:

Multi-regional
Serviço Florestal Brasileiro
Lei nº 11.284/06

Criação de projetos de
Assentamentos Regional

Invasão dos sem terra

Devastação da floresta

Plano de Local
Desenvolvimento
Comunitário do rio
Pacajá

Organograma 13. Escalas no SES terra firme-São Miguel


Fonte: pesquisa de campo, (2009).

237
b. Escala regional:
Os principais fatores que tem influência em escala regional no SES terra
firme-São Miguel foram às invasões da área florestal onde se localiza a
comunidade, inicialmente, por madeireiros ilegais que extraíram sem
planejamento no estremo a quantidade de madeira possível, e abriram vários
ramais internos da floresta, seguindo por movimentos dos sem terra que
passaram a ocupar a área, ateando fogo e iniciando o plantio de mandioca na
área; e ainda, o INCRA insistiu na criação de projetos de assentamentos com o
fim de organizar e garantir o direito de ocupação pela população chegante

c. Escala Multi-regional
Na escala multi-regional, a interferência direta no sistema ecológico-social
está relacionado com a criação da Lei nº 11.284/06 que dispõe sobre a gestão de
florestas públicas para a produção sustentável; institui, na estrutura do Ministério
do Meio Ambiente, o Serviço Florestal Brasileiro - SFB; cria o Fundo Nacional de
Desenvolvimento Florestal - FNDF; e altera a Lei no 10.683, de 28 de maio de
2003.

b. Visões e cenários do sistema ecológico-social terra firme-São Miguel:


Na perspectiva da construção de um documento participativo e que tem
como base a visualização de um plano de desenvolvimento, aqui propomos a
construção de visões e cenários para o SES terra firme-São Miguel, fazendo uma
análise de conjuntura das situações diagnósticas vistas e discutidas nesse
instrumento. A intenção é fazer um exercício de cruzamento de informações
acerca da conjuntura social e ecológica a nível nacional, regional e local no
percurso de 2005 a 2014, visualizando para dez anos, donde de 2005 a 2009,
foram monitorados nesta tese as visões e para o próximo intervalo, 2010 a 2014,
foram criados os cenários. Entende-se nesta tese como critérios um conjunto de
definições de diferentes aspectos que devem ser considerados, de forma
complementar e interdependente, na avaliação participativa no sistema social
Livramento, conjugados aos objetivos que se pretende alcançar para o
desenvolvimento socioambiental no sistema ecológico-social. Entende-se por

238
indicadores os parâmetros que possam ser utilizados como medida do
cumprimento destes critérios.
O diagnóstico do SES terra firme-São Miguel foi desenvolvido em 2005,
onde o exercício participativo foi desenvolvido com base da organização religiosa,
pois o grupo humano local ainda não tinha uma infra-estrutura social de
comunidade, os encontros e discussões eram apenas ligados a organização dos
encontros religiosos. Então, a oficina social de planejamento de ações foi uma
intervenção inicial para a organização social da comunidade, diante das
adversidades que viria a conviver no futuro.
Então, foi aplicado o planejamento de uma abordagem de monitoramento
participativo baseado em indicadores com três objetivos norteadores: primeiro dar
subsídios para tomar decisões e para fazer planejamento e re-planejamentos;
segundo transparência; terceiro aumentar a capacidade local de registrar e
analisar as mudanças e aprimorar as iniciativas do povoado.
A metodologia de monitoramento utilizada teve um cunho participativo,
donde no coletivo após a discussão dos resultados do diagnóstico social e
ecológico foi sistematizado um conjunto de objetivos, critérios e indicadores das
condições de desenvolvimento, sendo definida uma planilha simples para
operacionalizar um sistema de monitoramento em duas etapas: processo
(continuidade) e impacto (avaliação de mudanças), com duração de dez anos,
donde através de outra metodologia participativa, diagrama gráfico radar, que
acompanha as atividades em escalas, visualizar as ações e propostas no contexto
operacional.
A metodologia do monitoramento participativo compreende a dimensão do
Monitoramento de Impacto e do Monitoramento de Processo.
- Monitoramento de Impacto: compreende a avaliação de mudanças ocorridas ao
longo de períodos semestrais desde a aplicação do diagnostico e do
monitoramento participativo, identificando os efeitos causados pela
implementação, total ou parcial, das metas definidas no planejamento.
- Monitoramento de Processo: diz respeito ao acompanhamento avaliativo da
implementação dos objetivos do planejamento de ação a partir de indicadores de
sucesso de cada ação. É sistematizado de forma continua, acompanhando todo o
processo potencializador da participação transdisciplinar dos atores envolvidos.

239
A analise do sistema para medir os indicadores descritos, foi uma variação
de 0 a 10, e suas frações, onde 10 significa um estado de aceitação ou uma
subjeção de felicidade, de acordo com os envolvidos nessa modelagem para
definir de forma participativa a capacidade de resiliência e sua aproximação com
equilíbrio entre sociedade e meio ambiente, onde a própria comunidade e demais
atores sociais envolvidos no SES terra firme-São Miguel avaliaram
participativamente essa medida dos indicadores no monitoramento de processo, o
que pode definir a ciclo adaptativo do sistema ecológico-social e, assim, a
possibilidade de analisar a resiliência, ou seja a capacidade de adaptação ou
superação a partir dos ciclos. O monitoramento de impacto foi estabelecido em
três tempos: 2005, marco zero, 2007 apresentação do ciclo adaptativo e 2009
reapresentação do ciclo adaptativo.

- Visões participativas do sistema ecológico-social várzea-Livramento:


A partir do diagnóstico do SES terra firme-São Miguel foi identificada de
forma participativa os critérios: crescimento da educação local, atendimento de
serviço básico de saúde, organização de transportes local, organização de
praticas agrícola e sua comercialização (Quadro 5).

Critérios Objetivos Indicadores


Disposição de merenda escolar.
Fortalecer o crescimento da Construção da escola, e
Educação educação local disposição de carteiras e
material didático.
Atendimento prioritário para os
Saúde Construção de um Posto de
casos de malária na
Saúde na comunidade.
comunidade.
Organização do transporte Construção de um ramal de
Transportes interno e de ligação da acesso à estrada principal da
comunidade com a cidade de área de manejo da empresa.
Tucuruí.
Disponibilizar alternativas de
Organização de práticas práticas agrícolas,
Agricultura agrícolas e comercialização. comercialização e créditos de
produção.
Quadro 5. Conjunto de objetivos, critérios e indicadores (construção coletiva) do
sistema ecológico-social terra firme-São Miguel.
Fonte: Pesquisa de campo, (2005).

240
O ciclo adaptativo dos critérios definidos participativamente foi medido em
monitoramento de processo, com observações participativas, e o monitoramento
de impactos, com oficinas discursivas, onde os atores sociais definiam os níveis
de adaptação ou regressão que os critérios estavam agindo através de
modelagem matemática. Foi evidente que as adaptações dos critérios variaram a
partir do evento de invasões de madeireiros ilegais e sem terra à área florestal que
ocupam em 2006, influenciando diretamente no sistema social.

a. A representação marco zero em 2005:


Segundo Charon (2002), costuma-se definir comunidade por meio de
quatro características principais: nitide, são os limites territoriais da comunidade,
ou seja, onde ela começa e onde termina do ponto de vista espacial (geográfico);
pequenez, a comunidade é uma unidade de pequenas dimensões, limitando-se
quase sempre a uma aldeia ou conjunto de aldeias; homogeneidade, as atividades
desenvolvidas por pessoas de mesmo sexo e faixa de idade, assim como seu
estado de espírito são muito parecidos entre si; o modo de vida de uma geração é
semelhante ao da precedente; relações pessoais, em uma comunidade, as
pessoas se relacionam por meio de vínculos pessoais, direitos e geralmente de
caráter afetivo ou emocional. Ao mesmo tempo, para Chauí (2003), a comunidade
cultiva uma forma de vida que acompanha seus membros do berço ao túmulo. A
proximidade física entre as pessoas, que a vida em pequenas comunidades
proporciona, permite vínculos mais significativos entre elas e, portanto, um maior
sentimento de solidariedade. Essas definições são importantíssimas para a busca
de definir o sistema social São Miguel, em 2005, para se considerada pela ciência
social, como uma comunidade tradicional, devido, especificamente a ausência do
processo social de organização das famílias daquela área ainda estarem apenas
restritas à relação religiosa.
A palavra processo designa a contínua mudança de alguma coisa numa
direção definida. Segundo Oliveira (2004), processo social indica interação social,
movimento, mudança. Os processos sociais são as diversas maneiras pelas quais
os indivíduos e os grupos atuam uns com os outros, a forma pela qual os
indivíduos se relacionam e estabelecem relações sociais. Qualquer mudança
proveniente dos contatos sociais entre os membros de uma sociedade constitui,

241
portanto, um processo social. Os processos sociais podem ser associativos e
dissociativos, ou seja, padrões de organização social, que são fundamentais para
a definição sociológica de uma comunidade.
Segundo Dimenstein (1999), um dos padrões da organização social
denomina-se estrutura social; Consiste no fato de que os indivíduos, em suas
ações recíprocas, obedecem a um padrão no que concerne a sua posição na
interação. Todo mundo têm um lugar na interação, e as pessoas acabam por atuar
umas em relação às outras conforme esse lugar. É o conjunto de status de um
grupo social, ou seja o conjunto de posições, direitos e deveres estabelecidos pela
sociedade. Portanto, uma estrutura social consiste em um conjunto inter-
relacionado de posições dentro da organização social. As posições formam uma
rede - são todas posições em relação a outras posições - e não podem ser
descritas como entidades isoladas (DIMENSTEIN, 1999). A partir dessa
compreensão, a organização social da comunidade de São Miguel era fragilizada
em 2005, mesmo assim, foi estudado o sistema social, iniciando de um
diagnóstico participativo, que pode ser considerado um propulsor da organização
social da comunidade, devido às reflexões de presente e futuro elucidados na
tempestade de idéias definidas.
A representação marco zero da realidade do sistema social de São Miguel
foi construída em 2005 (fotografia 14), demonstra que a população local não tem
interação com a floresta, onde
no estudo de representação
do sistema social não foi
identificado uma interação
com o sistema ecológico,
relacionado a dois motivos: a
herança de formação do
povoado, migrantes
nordestinos, para os quais a
percepção local é a prática da
Fotografia 14. Reunião na comunidade de S Miguel.
Fonte: Blandtt, (2005). agricultura de forma
tradicional, nesse sentido, a floresta interfere nos interesses das famílias de São
Miguel; e a ocupação da floresta ser preponente por empresas madeireiras, que

242
permitem apenas que as famílias se apropriem em no máximo 40 metros a partir
das margens dos rios Pacajá e Cururuí.
O critério educação foi definido no sistema social como uma prioridade,
onde a medição marco zero partiu de 0 a 10 para o ponto 01 (gráfico 10),
considerando que não existia uma escola, apenas o funcionamento de três salas
de aula desde 1999, e não terminava o ano letivo, pois sempre os professores
abandonavam as turmas, sempre relacionado por doenças, principalmente, a
malária, ou ausência de apoio da Prefeitura Municipal de Portel. Como resultado,
as crianças e adolescentes migravam para as cidades de Tucuruí ou Portel, com a
justificativa de buscar a educação ausente nas cabeceiras do rio Pacajá.
A discussão sobre saúde também foi um critério prioritário no sistema social
São Miguel, nele se considerou na medicação marco zero o ponto 2 (gráfico 10),
referente ao serviço básico da saúde do governo municipal não existir naquela
área, e nem mesmo os serviços da Fundação Nacional de Saúde e da Secretaria
de Estado de Saúde não abrangerem também aquela área, sendo considerados
inconstitutivos de ocupação. Contudo, as famílias dependiam diretamente de um
posto ambulatorial da empresa Precious Woods Belém, que atendia às famílias
ribeirinhas em diversas atenções da saúde básica, como ataques de animais
peçonhentos, dores musculares, no estomago e na cabeça etc., mais
principalmente pelo atendimento de malária, que os ribeirinhos sofrem durante
todo o ano, distribuídos em infecções de espécies de esquizontes e gametocitos
de Malariae vivax ou por esquizontes de Malariae falciparum, o posto ambulatorial
da empresa é cadastrado no Instituto Evandro Chagas, o qual oferece o exame e
o registro das infecções, mas não disponibiliza os remédios; que é o maior desafio
dos ribeirinhos e da empresa, devido à ausência do poder público em desenvolver
os trabalhos naquela área e ainda mais se fortaleciam devido o não
reconhecimento de que existem famílias ocupando as cabeceiras dos rios Pacajá
e Cururuí, dificultando a liberação de remédios públicos para esse atendimento.
A discussão sobre transporte no sistema social São Miguel é um dos
grandes desafios dos ribeirinhos dessa área, não existia um carro público e nem
comercial de transporte entre as cabeceiras do Pacajá e a cidade mais próxima,
Tucuruí, pelo acesso de uma estrada de madeireiros em precárias condições de
transporte até o km 50 da rodovia estadual Transcametá, de ligação das cidades

243
de Tucuruí e Cametá. E o transporte de barco motorizado no percurso das
cabeceiras do rio Pacajá a cidade de Portel dura média de 72 horas (três dias e
três noites) e de barco a remo dura a media de 120 horas (cinco dias e cinco
noites). Com isso, se considerou de forma participativa a medição no marco zero o
ponto 0,5 (gráfico 10). O isolamento geográfico de São Miguel também derivava o
isolamento institucional, donde o sistema social tinha básicas ligações com atores
sociais externos e sem repercussões na interação socioecológico.

Ciclo adaptativo 2005

Gráfico 10. Representação do ciclo adaptativo do SES terra firme-São Miguel.


Fonte: Pesquisa de campo, (2005).

As discussões sobre agricultura no SES terra firme-São Miguel estão


ligadas, inicialmente, para aos grandes desafios do sistema ecológico onde se
considerou de forma participativa a medição no marco zero o ponto 03 (gráfico
10). Em 2005, foi verificado que a prática da agrícola era a principal fonte de renda
e de trocas com os barcos de regatão do sistema de aviamento da área, que uma
vez por mês representava a única fonte comercial, haja vista que não era possível
organizar uma forma de transporte para escoar a produção agrícola.

244
b. Apresentação do ciclo adaptativo 2007:
A apresentação do ciclo adaptativo de 2007 foi verificada com observações
participativas e com o monitoramento de impacto de junho de 2005 a junho de
2007. Onde foram identificadas mudanças nas estruturas do sistema social que
afetaram diretamente o sistema ecológico e vice-versa, dando novos sentidos à
medição dos indicadores, tanto no sentido ampliação como retrocesso, diante das
adversidades. Essas mudanças nas estruturas do sistema social têm intervenções
exógenas, onde atores sociais centrais passaram, inicialmente, a intervir
diretamente no sistema ecológico-social terra firme-São Miguel, quanto às
mudanças no sistema ecológico se referem as invasões da floresta de terra firme
a partir do fim do verão de 2005, com efeito generalizados no bioma amazônico,
afetando diretamente o ecossistema do entorno da área de ocupação do sistema
social e, principalmente gerando duvidas quanto a permanência de grupo humano
na área em questão.
A maior mudança na estrutura social de São Miguel se refere à
necessidade dos grupos humanos discutirem outros assuntos, além da pauta
religiosa, ligadas em especial ao direito de continuarem ocupando a área, a partir
das invasões e exercícios de violência no entorno da área de ocupação, onde
empresários madeireiros iniciaram invasões da floresta explorando de forma
desordenada a área de manejo florestal de responsabilidade da empresa Precious
Woods Belém, quando os grupos de madeireiro invasor constataram que a área
de manejo florestal da Precious Woods Belém, mesmo que certificada pelo FSC
também era uma área de terras florestais griladas, ou seja, sem documentação
comprobatória do direito legítimo da área, e ainda, por representar uma área
florestal de alto potencial comercial.
O consórcio entre madeireiros ilegais e a associação de sem terra (não
credenciados ou nem mesmo articulados pelo reconhecido Movimento dos Sem
Terra – MST), mas sim, ligados a Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras
da Agricultura Familiar - FETRAF e, também ao Instituto Nacional de Colonização
e Reforma Agrária - INCRA, sub-sede Tucuruí (que responde a Superintendência
do INCRA Marabá), essa articulação era de interesse múltiplo, onde no acordo
verbal os madeireiros entravam e extraiam a quantidade de madeira possível, com
o compromisso de abrir ramais de acesso a área florestal, seguindo da invasão de

245
associação de famílias nessa área, facilitando a ocupação por famílias de
chegantes articulados pela FETRAF e INCRA, sub-sede Tucuruí, a qual chegou
ao ápice das discussões criando um projeto de assentamento para as famílias
invasoras, conhecido como PA Cururuí.
A articulação da FETRAF argumentou que a Federação dos Trabalhadores
da Agricultura – FETAGRI, junto com a Comissão Pastoral – CPT, iniciarem uma
derivada intervenção na realidade das famílias ribeirinhas das cabeceiras do rio
Pacajá, fomentando a organização social e fortalecimento de capital social do
sistema social São Miguel, na intenção dos mesmos iniciarem a defesa de
permanecerem ocupando essa área devido aos avanços de invasão de
madeireiros seguidos de associação de sem terra e da criação do PA Cururuí. O
que gerou então, altas intrigas políticas entre a FETAGRI e CPT contra a
FETRAF, e também, a articulação com novos stakeholders (parte interessada ou
interveniente), entre os quais o Serviço Florestal Brasileiro – SFB, e o Instituto
Nacional de Meio Ambiente e Recursos Renovaveis – IBAMA, contra a
Superitendencia do INCRA em Marabá, os quais em defesa direta do manejo
florestal da empresa Precious Woods Belém, e por intervenção do Ministerio
Público Federal, Procuradoria da República de Altamira, desarticularam ações
diretas do INCRA Marabá, representando que a responsabilidade jurídica de
intervenção pertencia a Superintendência do INCRA em Santarém, assim, o
Ministerio Público Federal, justificou o cancelamento do PA Cururuí.
Todas essas intervenções dos stakeholders acima descritos se deram em
escritório, mas diretamente no SES terra firme-São Miguel, foi praticada violência
diante das indecições administrativas, o que gerou conflitos armados resultando
em assassinatos de representantes do PA Cururuí, trabalhadores dos madeireiros
e também dos ribeirinhos das cabeceiras do rio Pacajá. A CPT passou incentivar
constatimente os moradores para se organizarem e formarem uma comunidade,
na intenção de acreditar serem os legítimos moradores da área das cabeceiras do
rio Pacajá devida a sua histórica ocupação. A partir de então, em dezembro de
2009, em assembléia, as 23 famílias ocupantes da área das cabeceiras do rio
Pacajá e confluencia do rio Cururuí, fundaram e legalizaram num cartório na
cidade de Portel a Associação Comunitária São Miguel Arcanjo das Cachoeiras
dos rios Pacajá e Cururuí.

246
A partir da legalização da comunidade de São Miguel o Ministério Público
Federal iniciou atenção especial para as famílias, que antes não tinham
representatividade social. O que gerou, junto com acordo entre o INCRA
Santarém, o IBAMA e o SFB um Termo de Ajuste de Conduta – TAC, onde a
empresa Precious Woods Belém obteve um contrato de transição florestal da área
de conflito por 24 meses, em compensação social deveria implantar um plano de
desenvolvimento na comunidade de São Miguel, conhecido como Plano de
Desenvolvimento Comunitário do rio Pacajá – PDC Pacajá, no qual cinco metas
de proatividades deveriam ser desenvolvidas na comunidade: a. incentivo a
educação no campo; b. Qualificação de mão-de-obra dos moradores locais; c.
assistência à saúde das famílias; d. implantação da Economia Solidária na
comunidade; e. Disponibilização de um transporte no percurso
comunidades/Tucuruí.
Uma verificação clara foi o desenvolvimento da organização do sistema
social São Miguel, devido ao ciclo adaptativo da diversidade ecológica da
acelerada devastação da floresta amazônica, culminando com a criação de
assentamentos numa área ocupada pelos ribeirinhos de São Miguel, configurando
assim, a inerência na estrutura do sistema de capital social, dirigindo a atenção
direta a sociabilidade, reciprocidade e confiança que se tornou necessário se
desdobrar dentro das relações sociais formais e informais na comunidade, sendo
uma realidade situacional e relacional, definido como a habilidade de defender o
direito legal e o reconhecimento por órgãos públicos da União da existência de
uma população tradicional numa área de intenso conflito, justificado pela
exploração madeireira e ocupação por um outro grupo humano, que inicia a sua
solidificação com os demais atores sociais que se envolvem na rede social,
destacando de um lado a empresa Precious Woods Belém e os movimentos
sociais CPT e FETAGRI e órgãos públicos IBAMA e SFB, contra a visão e
contexto dessa região pelo INCRA e FETRAF. Assim, o desenvolvimento de
capital social na comunidade de São Miguel apresenta dois fatores
preponderantes: recursos integrados em uma estrutura social recém solidificada
geram a emancipação política de intervenções exógenas; acessibilidade destes
recursos pelos indivíduos e uso (de contatos) ou mobilização destes pelos
indivíduos ligados a ações objetivas, nesse sentido, construído a estrutura social e

247
territorialmente, é delimitado pela permanência de um campo estável de interação
entre atores sociais, ambientais, econômicos e políticos no SES terra firme-São
Miguel.

Ciclo adaptativo 2005 Ciclo adaptativo 2007


Gráfico 11. Representação do ciclo adaptativo do SES terra firme-São Miguel.
Fonte: Pesquisa de campo, (2007).

Quanto ao critério educação, de acordo com a discussão participativa na


comunidade São Miguel, este teve um crescimento de 01 para 2.5, devido à
construção de um prédio de escola e uma casa para professor na comunidade
São Miguel pela Prefeitura Municipal de Portel, funcionando no regime multi-
seriado de 1ª a 4ª série do ensino fundamental e passou a cumprir o calendário
letivo desde 2006. O critério transporte não teve mudanças, devido à contínua
dificuldade de transporte entre as cidades de Portel e Tucuruí.
No entanto, diante da intensa discussão sobre os invasores madeireiros e a
ocupação por uma associação de sem terra, gerando conflitos violentos com
morte, o critério saúde diminuiu de 02 para 1,5, quanto o maior risco de transporte
até a cidade de Tucuruí, devido às violências ocorridas nesse caminho, na
intenção de recolher remédios no Posto de Saúde, o que dificultou mais ainda o
tratamento da malária, pois houve tempo que o exame era feito, mas os remédios

248
só eram transportados uma vez por mês entre o Posto Ambulatorial da empresa
Precious Woods Belém e a cidade de Tucuruí.
A violência na área também diminuiu a presença do regatão, barco que se
locomovia da cidade de Portel até a comunidade de São Miguel fazendo o sistema
de trocas da produção agrícola com recursos disponíveis (café, açúcar, remédios,
roupas etc.), levando o indicador agricultura recuar do ponto 03 para o ponto 02;
assim restringindo a produção agrícola da comunidade de São Miguel apenas
para a subsistência.

c. Representação do ciclo adaptativo 2009:


A representação do ciclo adaptativo de 2009 foi verificada com observações
participativas e com o monitoramento de impacto de junho de 2007 a julho de
2009. Quando foram identificadas mudanças significativas nos indicadores,
definindo um gráfico de modelagem das ampliações adaptativas do ciclo (gráfico
12). Essas mudanças têm fatores exógenos a partir dos resultados iniciais do
Plano de Desenvolvimento da Comunidade de São Miguel do rio Pacajá - PDC, e
com isso, a interação de novos institutos no SES terra firme-São Miguel.
No PDC rio Pacajá, a empresa Precious Woods Belém construiu uma Casa
Familiar Rural – CFR, e em comunicação com a Associação Regional das Casas
Familiares Rurais do Pará – ARCAFAR anexou esse empreendimento a Casa
Familiar Rural de Tucuruí, inaugurada em maio de 2008, funcionando para 43
alunos, jovens de 14 a 31 anos, moradores da comunidade de São Miguel,
baseado na metodologia da Pedagogia da Alternância, o que levou o indicador
educação do 2,5 para o ponto 7,0. Onde na comunidade iniciou-se uma grande
interação entre a família e a escola, os alunos levam para casa novas tecnologias,
e os pais repassam à CFR seus conhecimentos tradicionais, buscando resgatar a
produção cultural local.
O PDC Pacajá disponibilizou um transporte entre a comunidade de São
Miguel e a cidade de Tucuruí uma vez por mês, onde um ônibus exclusivo faz o
percurso, voltado específico para escoar a produção agrícola e de quintal da
comunidade e também acesso aos meios de saúde disponível na cidade de
Tucuruí, o que levou o critério transporte do ponto 0,5 ao ponto 08, de acordo com
as observações dos comunitários; e o critério agricultura elevou do ponto 02 para

249
o ponto 03, apesar de se dispor de um meio de transporte para a escoar a
produção da comunidade, a qualidade e a quantidade são insuficientes para
agregar valores substanciais na sobrevivência dos ribeirinhos de São Miguel para
concorrer no comércio da cidade de Tucuruí, o que os deixou ainda subordinados
ao sistema de trocas com o regatão, fortalecendo o aviamento novamente nessa
área do rio Pacajá, como melhor alternativa para a economia local.

Ciclo adaptativo 2005 Ciclo adaptativo 2007 Ciclo adaptativo 2009


Gráfico 12. Representação do ciclo adaptativo do SES terra firme-São Miguel.
Fonte: Pesquisa de campo, (2009).

O contexto da saúde na comunidade de São Miguel não sofreu mudanças


significativas apenas expectativas, pois o PDC Pacajá construiu um Posto de
Saúde na comunidade de São Miguel, mas ainda não estava funcionando, pois a
empresa Precious Woods Belém entregou essa infra-estrutura para a Prefeitura
de Portel, mais com isso, pela observação dos comunitários, o critério saúde
elevou de 1,5 para 5,0, pois o Posto Ambulatorial da empresa Precious Woods
Belém passou a receber uma carga mensal de medicamentos para tratamento de
malária, devido à comunicação da comunidade de São Miguel e a CPT direta com
o Departamento de Vigilância a Saúde da Secretaria de Estado de Saúde
denunciar formalmente a negligencia do Programa de Controle de Malária sub-

250
sede Tucuruí de não apoiar o Posto Ambulatorial registrado e cadastrado no
Instituto Evandro Chagas com a disposição de remédios para o tratamento de
malária já examinados e confirmados.
A área de localização do PDS Liberdade I se sobreponha a área de manejo
florestal da empresa Precious Woods Belém e de ocupação da comunidade de
São Miguel (mapa 12), o que fez ressurgir todas as discussões sobre o direito de
ocupação da área entre o INCRA, IBAMA e SFB, agora com o status organizado
da comunidade de São Miguel, junto com a CPT e FETAGRI o direito de
permanecerem ocupando a área florestal. Concomitante, a FETRAF reorganizou a
entrada de famílias na área florestal, ocupando as localização dos PDS Liberdade
I e II. O período de 2008 aos dias atuais é cerrado de violência rural entre os
envolvidos direto na disputa de terra e destruição desordenada do ecossistema de
terra firme, caracterizando pelos madeireiros com alto potencial comercial.
O Ministério Público Federal interpostou a criação do PDS Liberdade I,
enquanto o contrato de transição florestal e o Termo de Ajuste de Conduta – TAC,
estivem sendo cumprido. Contudo, a desocupação das famílias da área do PSD
Liberdade I não foi prorrogada pelo INCRA, devido às avaliações do INCRA
confirmarem que o TAC não estava sendo executado em sua totalidade, apenas
as construções da Casa Familiar Rural, de um Posto de Saúde e o transporte dos
comunitários até a cidade de Tucuruí estavam sendo realizados, porém os
incentivos à economia solidária e qualificação da mão-de-obra da comunidade não
tinham sido executados no TAC, o que justifica não prorrogação do PDS
Liberdade I, ou seja, as famílias passaram a ocupar a área de forma ilegal, que
serviu para facilitar o acesso de madeireiros para a extração florestal de forma
desorganizada e acelerada, assim, caracterizando uma área de profundo impacto
ambiental ocorrente da devastação da floresta amazônica.
A comunidade de São Miguel passou a ocupar uma área isolada do
restante intacto da floresta de terra firme justificada pela dificuldade de locomoção
dos madeireiros e sem-terra pelos rios Pacajá e Cururuí devido às quatro
cachoeiras de proteção natural, e ao seu entorno, existir vasta devastação
desordenada e acelerada da floresta.

251
50°31'30" 50°22'00" 50°12'30"

W E

3°18'00"
3°18'00"

AMF 1

AMF 2

3°28'30"
3°28'30"

4 0 4 8 Km

50°31'30" 50°22'00" 50°12'30"

Legenda
AMF da PWB Área de ocupação da comunidade São Miguel

PDS Liberdade I PDS Liberdade II (antigo PA Cururuí)

Mapa 12. Área de manejo florestal, as sobreposições com os PDS’s Liberdade I e II e a


área de ocupação da comunidade de São Miguel.
Fonte: Banco de dados do IBAMA e do INCRA Santarém, (2009).

Segundo o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia – IMAZON


(citado por CASA CIVIL, 2005), a Amazônia brasileira perdeu mais de 700 mil
quilômetros quadrados de sua cobertura florestal nas últimas quatro décadas. Isso
corresponde a uma área maior do que a da França. O desmatamento da maior
floresta tropical do planeta e as queimadas a ele associadas são a principal
contribuição brasileira ao aquecimento global (idem). Por causa do
desmatamento, o Brasil é o quarto maior emissor mundial de gases que provocam
o efeito estufa.
O desmatamento da Amazônia tem várias causas, mas o ponto de partida é
quase sempre a exploração predatória e ilegal de madeira, os empresários
madeireiros abrem a floresta virgem em busca das árvores de valor comercial.
Quando saem, deixam atrás de si um rastro de destruição, representado por uma
floresta ressecada e incendiável e uma rede de estradas ilegais que será utilizada
por posseiros e fazendeiros à curto prazo. A devastação da floresta amazônica
nas cabeceiras do rio Pacajá é claramente um evento do avanço do arco do
desmatamento da floresta para uma área central da Amazônia brasileira,

252
desconfigurando a existência de apenas um arco de devastação, evidenciando
que outros pontos estratégicos avançam na derrubada irregular da floresta
amazônica.
A concentração fundiária na região amazônica e o enfrentamento entre o
desenvolvimento econômico do agronegócio e a preservação da floresta nativa
entram em conflito com o conceito e a função social da reforma agrária, que
deveria combater o latifúndio, a grilagem e a exploração ilegal de madeira, bem
como, promover a redução do desmatamento e a valorização da floresta. Como
acontecia durante a ditadura militar, a Amazônia continua sendo vista como
válvula de escape para esvaziar a inquietação social causada pela concentração
fundiária em todo o país. Esta política mantém intocada a instituição do latifúndio
em vez de vislumbrar a redistribuição da terra improdutiva.

- Cenários participativos do sistema ecológico-social terra firme-São Miguel.


Os cenários participativos do SES terra firme-São Miguel foi elaborado com
discussões e opiniões de diversos atores sociais que regulamentam o sistema
social e dependem do sistema ecológico para suas adaptações, bem como
opiniões e pareceres de institutos que tem ligação direta com o SES terra firme-
São Miguel, como a Precious Woods Belém, a CPT, a FETRAF, a FETAGRI, o
INCRA, o IBAMA e o SFB. Onde, assim, foram criados, a partir das visões
monitoradas de 2005 a 2009, cenários de 2010 a 2015, com interseções diretas
com os cenários mundiais, nacional e regional:
Cenário 01. Criação de assentamentos, desflorestamento gradual e
formação de áreas produtivas agropecuárias:
A comunidade de São Miguel não participará da organização fundiária
procedida pelo INCRA Santarém, onde as famílias permaneceram ocupando a
área sem reconhecimento legal e serão consideradas invasoras do projeto de
assentamento Liberdade I, o qual ampliaram os conflitos sociais com as famílias
desse assentamento. Gerando uma nova aptidão na economia local: expansão
das práticas agropecuária, diminuindo a relação da comunidade com o
ecossistema de terra firme, devido ao recuo da floresta diante de intensas
atividades do setor madeireiro na área.

253
O posto de saúde não funcionará de imediato, e quando iniciar será restrito
apenas aos serviços básicos de saúde, não ocorrendo os exames de lâmina para
diagnosticar as infecções de malária nas áreas da comunidade, gerando altos
índices de infecção em moradores ribeirinhos de São Miguel, o que irá possibilitar
a migração ou abandono das áreas onde ocupam, devido à vulnerabilidade dos
serviços de saúde.
A precariedade de funcionamento da Casa Familiar Rural levará ao
cancelamento das suas atividades na comunidade de São Miguel, devido à
ausência de recursos humanos, materiais didáticos e de alimentação e suportes
pedagógicos que favoreçam o desenvolvimento da metodologia da pedagogia da
alternância; assim, voltando a funcionar na comunidade apenas a escola
municipal em regime multi-seriado de 1ª a 4 ª serie do ensino fundamental.
A presença dos moradores da comunidade na cidade de Tucuruí será
restrito, devido à falta de um meio de transporte público ou comercial que esteja
disposta a organizar esse trajeto, levando a comunidade de São Miguel a se
relacionar mais intensamente com a cidade de Portel, se locomovendo a maioria
dos ribeirinhos através de barcos motorizados.
A produção da agricultura local terá uma ampliação maior, devido às áreas
exploradas pelas madeireiras se tornarem ociosas, incentivando assim, o uso
dessas áreas para a cultivo de monocultura de mandioca através do corte,
queima, plantio e repouso das áreas. Essa maior intenção da produção agrícola
em São Miguel favorecerá o comércio diversificado para atuar tanto nos barcos
regatão, aplicando o sistema de trocas como, no excedente de produção de
farinha direcionado para o comércio na cidade de Portel, e em pouca quantidade,
destinado ao comércio da cidade de Tucuruí.

 Cenário 02. A concessão da gestão florestal comunitária.


A comunidade de São Miguel será beneficiada direta pelo INCRA Santarém
na consolidação de um projeto de assentamento florestal - PAF, compreendido
como um plano de manejo florestal de uso múltiplo e de recomposição florestal de
áreas já convertidas para outros usos, ocupando a área geográfica do entorno das
cabeceiras dos rios Cururuí e Pacajá, onde já se localizam desde a década de 80.
Garantindo com isso os créditos rurais e demais serviços para consolidar o

254
desenvolvimento local e a justificativa de lidar com ecossistema amazônico sem
precisar desflorestá-lo.
A Casa Familiar Rural será submetida ao apoio direto do Programa
Nacional de Educação na Reforma Agrária - Pronera, promovendo o
desenvolvimento das ações com base na diversidade cultural e sócio-territorial, os
processos de interação e transformação do campo, a gestão democrática e o
avanço científico e tecnológico. Já as práticas educacionais terão como princípios
o diálogo, a práxis e a transdisciplinaridade. O Pronera é uma parceria do INCRA
com movimentos sociais e sindicais de trabalhadores e trabalhadoras rurais,
instituições públicas de ensino, instituições comunitárias de ensino sem fins
lucrativos e governos estaduais e municipais, fortalecendo assim, a Casa Familiar
Rural com investimento de funcionamento e ampliação para mais uma turma de
alunos moradores na comunidade de São Miguel.
A comunidade de São Miguel através dos créditos do Fundo Constitucional
do Norte – FNO, através do Banco da Amazônia e/ou outros, poderão credenciar
o financiamento de uma embarcação de médio porte, que terá como missão
primeira escoar a produção agrícola e produção não madeireira da comunidade de
forma organizada na base da economia solidária diretamente para a cidade de
Portel, fortalecendo a economia local, e extinguindo, pelo menos nessa área, o
sistema de trocas formalizado pelos barcos regatão, finalizando, o aviamento
nessa área da Amazônia; e também as missões de apoio de transporte para os
ribeirinhos necessitando de algum serviço de saúde que não disponibilizado no
Posto de Saúde Familiar em São Miguel.
Diante das pressões diretas da comunidade com a Prefeitura de Portel, o
prédio do posto de saúde será utilizado para funcionar um Posto de Saúde
Familiar, credenciado no Ministério da Saúde e, assim, recebendo todo o suporte
de recursos humanos e materiais para a sua funcionalidade, atendendo não só os
moradores da comunidade de São Miguel, mas também de outras comunidades
próximas e também dos outros assentamentos criados pelo INCRA na área;
funcionando ainda como um credenciado Posto Ambulatorial reconhecido pelo
Instituto Evandro Chagas, assim, propriamente recebendo uma demanda de
remédios de malárias para usar nos infectados da comunidade e outras próximas
da região.

255
c. Análise da resiliência no sistema ecológico-social terra firme-São Miguel:
As abordagens de um gerenciamento sistêmico sustentável têm de
entender não somente o sistema ecológico, mas também o funcionamento
integrado do sistema ecológico-social, suas formas de intervenções exógenas,
descritas pela teoria panarchy, e seu elemento comunicativo entre os sistemas,
descrito pela teoria autopoiese. As mais recentes raízes intelectuais dessa
abordagem estão no conceito da co-evolução, que trata como a simbiose ou a
capacidade de organismos se associarem e desenvolverem estreitos vínculos
de colaboração e adaptação (NORGAARD, 1994). A intenção da teoria de
sistema ecológico-social é entender a fonte e a função de mudanças
sistêmicas, particularmente de mudanças transformativas em sistemas
adaptáveis. Mudanças econômicas, ecológicas e sociais que acontecem em
diferentes velocidades e escalas espaciais é o alvo da análise de mudanças
adaptativas, o que registra a gestão resiliente do sistema ecológico-social
(HOLLING, et al., 2002).
A resiliência é uma compreensão da gestão do sistema ecológico-social
enquanto sistema complexo adaptativo, correspondendo a ciclos para a evolução
integrada, ou sensata, a co-evolução do sistema ecológico-social. A aplicação do
ciclo adaptativo abaixo representa o desenvolvimento co-evolutivo das dinâmicas
socioeconômicas e biológicas do sistema comunidade humana e ecossistema,
descrito no sistema ecológico-social terra firme-São Miguel, na região do Noroeste
do Pará, da Amazônia brasileira.
Nessa compreensão, foram observadas de forma participativas diferentes
escalas temporais do ciclo socioeconômico e biológico do SES terra firme-São
Miguel, impulsionados a partir do evento de “embate” das invasões na área
florestal em consórcio entre madeireiros ilegais e associação de grupos familiares
sem terra na região do Noroeste do Pará, a partir de junho de 2006, procriando
conflitos intensos na área administrativa-burocrática pelos stakeholders, por se
tratar de uma região de propriedade da União, bem como conflitos violentos pela
disputa de ocupação da área entre os atores sociais locais, ocorrendo diligência
direta de atores sociais externos, caracterizando o panarchy do SES terra firme-
São Miguel; começando o desafio do sistema social para atuar na junção da
própria proteção do direito de permanecer no local, bem como lidar com

256
intervenções que diminuam os impactos ambientais gerados pelo embate das
invasões, resultando na capacidade do sistema social de se adaptar a essa
adversidade se organizando sócio-politicamente em defesa do espaço de
ocupação, solidificando o SES terra firme-São Miguel, enquanto capacidade de
resistir, se adaptar e transformar as estruturas do sistema a partir das
adversidades socioeconômicas e biológicas. Para a representação de modelagem
do sistema e do ciclo adaptativo e suas intervenções endógenas e exógenas
caracterizamos o numero “8” deitado, para apresentar os fatos socioecológicos e
os ciclos adaptativos (organograma 14).

REORGANIZAÇÃO CONSERVAÇÃO

Estruturação social Subsistência complexa


Plano de desenvolvimento Aviamento
Re-controle da malária Controle da malária

α қ
Redução do
desflorestamento
Floresta manejada
Invasões,
2005
Floresta intacta Desmatamento

r Ω
Desorganização social
Violência e morte
Subsistência simples Desorganização no
Descontrole da malária controle da malária

CRESCIMENTO LIBERAÇÃO

Organograma 14. SES terra firme-São Miguel.


Fonte: pesquisa de campo, (2009).
.
Na fase da exploração e crescimento (r), o sistema social encontra-se em
prática da subsistência simples, caracterizando as técnicas agrícolas utilizadas,
que correspondiam a uma produção pequena, voltada para a agricultura
tradicional de plantio da mandioca através da derruba, corte e queima, e
preparação artesanal de farinha de mandioca e o extrativismo do açaí, um dos
principais fundamentos alimentares das famílias; não havia comércio entre as

257
comunidades, onde a economia em que o produtor reservava parte dos bens
produzidos na satisfação das suas próprias necessidades, era para o consumo
pessoal e da sua família; partes dos excedentes eram permutados no sistema
aviamento representados pelos barcos de trocas conhecidos na região como
regatão, e também a troca de alimentos produzidos e coletados com a empresas
madeireiras da região, para garantir as suas permanências na área.
O sistema social enfrentava como maior desafio de sobrevivência na área
florestal de terra firme o intenso descontrole da epidemia da malária, onde os
serviços públicos que atendem esse desafio social não reconheciam a existência
de famílias ocupantes das margens cabeceiras dos rios Pacajá e Cururuí,
respaldando, também, o baixo capital social no sistema e a ausência da
organização social.
Na fase da exploração e crescimento (r), no SES terra firme-São Miguel o
ecossistema sofre baixo impacto direto da ação humana, comparadas com as
causadas por dinâmicas biológicas no local, devido a sua localização ser entre as
escorredeiras dos rios Pacajá e Cururuí, o que dificultava a expansão comercial,
caracterizando a floresta de terra firme como um ecossistema intacto, evidenciado
pela observação que não apresentam traços visíveis de impactos decorrentes de
atividades humanas significativas, como desflorestamento, desmatamento e
queimadas, apenas o uso de extrativismo animal e açaí para subsistência familiar.
Na seguinte fase do ciclo adaptativo, a conservação (k), é iniciada numa
interação de uso entre o sistema social e ecológico, onde a variedade da relação
se atribui quando, em 2002, se aplica um plano de manejo florestal com
certificação do Forest Stewardship Council - FSC, ocasionado três fatores diretos:
1. Plano de manejo, através do desflorestamento, cria vários caminhos dentro da
floresta, favorecendo a expansão da caça de animais pelas famílias; 2. A criação
de um Posto Ambulatorial, registrado pelo Instituto Evandro Chagas, favorece o
tratamento do controle da malária, e é um serviço também praticado junto às
famílias ribeirinhas dos rios Pacajá e Cururuí; 3. A presença de uma empresa
madeireira cria a freqüência regular de visita de duas embarcações regatão,
executando o sistema de trocas entre os ribeirinhos e funcionários da empresa,
caracterizando a expansão do aviamento no SES terra firme-São Miguel,
interagindo na economia local para subsistência complexa, onde o sistema

258
aviamento passa a articular a dependência da produção agrícola e extrativista das
famílias locais.
A intervenção inicial no SES terra firme-São Miguel se dá com o choque ou
surpresa das invasões em 2006 na área florestal manejada, consorciada entre
madeireiros ilegais e associação de famílias sem terra, que são articulados com o
INCRA sub-sede Tucuruí, que justificava essa área de terra ser devoluta.
Ocasionando uma intensa devastação da floresta, pois não existia planejamento
de uso, a intenção era se apropriar de produção comercial de forma generalizada,
caracterizando a não produtividade florestal da área, favorecendo assim, a
ocupação das associações de famílias migrantes das periferias das cidades de
Tucuruí, Breu Branco e Marabá para criar projetos de assentamentos.
Evidenciando um choque ecológico na região, que diretamente afetou o
ecossistema local diante de sua dinâmica relação sistêmica entre o sistema
ecológico e sistema social dessa região.
As invasões da área florestal iniciada no fim de 2005 deram princípio à fase
de liberação (Ω) do SES terra firme-São Miguel. O ciclo de adaptação de liberação
caracteriza as intervenções exógenas, em especial, as invasões que levaram
bruscas agressões de desmatamento no ecossistema de terra firme
desestruturando o equilíbrio ecológico e a interação social com a comunidade de
São Miguel; também, caracteriza intervenções exógenas de defesa da
comunidade as instituições que diretamente e indiretamente influenciaram na
organização social da comunidade na defesa de permanecerem ocupando e
defendendo a floresta. Com isso, vários conflitos armados foram praticados na
área, gerando o assassinato de uma liderança da comunidade, o que
fundamentou ainda mais o capital social, voltado para a defesa do SES terra
firme-São Miguel.
Na fase da liberação, ainda como conseqüência da agressão ambiental, o
desequilíbrio pode ter gerado a formação de águas paradas em áreas abertas da
floresta formando a umidade e criadouros de mosquitos, associada ao calor,
poderá ter sido o facilitador da propagação desses vetores e sua multiplicação a
partir de 2006, avançando a epidemia da malária na comunidade de São Miguel, e
ainda devido ao conflito pela disputa de terras, o acesso para obter os remédios

259
eram restritos, devido ao risco de violência de se locomover no trânsito da
comunidade à cidade de Tucuruí.
Isso leva a conformação sistêmica e seus limites adversos da resiliência no
SES terra firme-São Miguel, propiciando a fase de reorganização (a), onde
inicialmente, as interferências exógenas, em especial dos movimentos sociais
local, representados pelas CTP e FETAGRI, favorecem diretamente no sistema
social a estruturação social, enquanto capacidade de defender a sua ocupação da
área e proteger a área florestal do seu entorno; culminando com intervenção do
Ministério Público Federal através da negociação de um Termo de Ajuste de
Conduta com a empresa Precious Woods Belém, um contrato de transição
florestal da área de conflito por 24 meses deveria ter o direito de aplicar o plano de
manejo aprovado pelo IBAMA e apresentar e executar um plano de
desenvolvimento para a comunidade de São Miguel.
O contrato de transição florestal interrompeu diretamente as invasões dos
madeireiros ilegais, diminuindo o avanço da pressão sobre a floresta, mas as
áreas que já estavam impactadas e continuaram a serem ocupadas por
associações de sem-terra, sendo organizado em plano de desenvolvimento
sustentável – PDS, na intenção de reconhecer o seu direito de permanecerem
ocupando essas áreas devastadas.
Com essa percepção, do lado esquerdo do organograma 14, são indicadas
três possíveis trajetórias futuras para novos ciclos e estados do SES terra firme-
São Miguel, organizados em dois cenários desenvolvidos de forma participativa
como ferramenta transdisciplinar, e mais uma trajetória não descrita, relacionada a
eventos inesperados pelo sistema ecológico-social, que podem afeta-lo para uma
estrutura não modelada: cenário 1. Criação de assentamentos, desflorestamento
gradual e formação de áreas produtivas agropecuárias, reorganizando o SES terra
firme-São Miguel de uma forma negativa, devido às pressões políticas
administrativas não reconhecerem o direito da comunidade São Miguel
permanecer ocupando a área florestal, gerando uma expansão da economia
agropecuária, desestruturando o sistema ecológica de terra firme; 2. A concessão
da gestão florestal comunitária, reorganizando o SES várzea-Livramento de forma
adaptativa, buscando se fortalecer diante das adversidades da dinâmica do
sistema, enquanto um dos administradores da gestão florestal, consolidando um

260
projeto de assentamento florestal - PAF, compreendido como um plano de manejo
florestal de uso múltiplo e de recomposição florestal de áreas já convertidas para
outros usos, ocupando a área geográfica do entorno das cabeceiras dos rios
Cururuí e Pacajá.

d. Gestão do sistema ecológico-social terra firme-São Miguel.


A gestão da resiliência é a compreensão de um processo de
desenvolvimento dinâmico que reflete a evidência da adaptação positiva,
apesar de significativas condições adversas, pode ser também compreendida
como um processo de aprendizagem sistêmico, onde os derivados
interlocutores exerçam a autopoiese como mecanismo de comunicação social e
interação com o ambiente do entorno, adaptando-se as adversidades sem a
conter por seus interesses, mas mediar os fatores de interferências de forma
desejável. O SES terra firme-São Miguel, a partir do choque ou surpresas das
invasões e suas proatividades de devastação da floresta, seguindo das
intervenções exógenas de instituições privadas, públicas e da sociedade civil
organizada estruturou o panarchy, enquanto a necessidade conciliada da co-
evolução do sistema ecológico e sistema social, adaptando-se na capacidade
de fortalecer o capital social através da organização comunitária de defesa da
ocupação e da retenção do equilíbrio ecológico diante das adversidades
socioeconômicas, políticas e ambientais, e da dinâmica sócio-ecológica das
invasões produzindo e acelerando desflorestamento no sistema ecológico a
partir de 2005, buscando uma alternativa para o isolamento geográfico que
dificultavam a sobrevivência do sistema social.
A gestão da resiliência no SES terra firme-São Miguel produz um sistema
autopoiético, autônomo, precisando ser dependente do ambiente, devido à
justiça de defesa e ocupação equilibrada da Amazônia, isso pode ser paradoxal
uma vez que trata ao mesmo tempo de autonomia e dependência, o que
representa uma das principais características do SES terra firme-São Miguel, a
não linearidade, tendo uma identidade de elemento variante, que marca um
fundamento intrínseco do sistema organizacional, fortalecido diante das
adversidades introspectadas por fatores ecológicos e geridos por instituições
sociais exógenas e seus interesses sobre a floresta Amazônica.

261
O gerenciamento da resiliência no SES terra firme-São Miguel,
representou caminhos para esse sistema atingir a sustentabilidade, no entanto,
é claro que o contexto e realidade desse sistema ainda estarão submetidos a
muitas incertezas, podendo sofrer novos choques e surpresas, o que identifica
que o sistema resiliente ainda precisará ser observado diante dessas dinâmicas
de processos de aprendizagem para poder ter uma configuração consistente do
gerenciamento resiliente no SES terra firme-São Miguel.

262
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A utilização das expressões desenvolvimento e sustentabilidade tem


sentido concreto quando historicizadas, isto é, referidas a uma formação
econômica e social concreta. Entretanto, as características do desenvolvimento
sustentável, expressas no Relatório da Comissão Mundial de Meio Ambiente e
Desenvolvimento (1988), são muito genéricas, em especial com relação à
compreensão operacional (formulação de políticas públicas e privadas) da
sustentabilidade. A máxima a fim de atender às necessidades e aspirações das
gerações atuais e futuras é um convite à reflexão, mas com pouca diretividade
para a operacionalização. Portanto, a questão central reside na compreensão do
que é e como medir sustentabilidade. E, historicamente contextualizada. Ainda
assim, não é possível se falar de sustentabilidade apenas, pois essa expressão
exige complemento. Portanto, a questão que segue é: sustentabilidade do quê,
quando, onde e por quê.
Para sociedades sustentáveis, Viederman (1992), sugere a seguinte
definição: "uma sociedade sustentável é aquela que assegure a saúde e a
vitalidade da vida e cultura humana e do capital natural, para o presente e futuras
gerações. Tais sociedades devem parar as atividades que servem para destruir a
vida e cultura humanas e o capital natural, e encorajar aquelas atividades que
servem para conservar o que existe, recuperar o que foi destruído, e prevenir
futuros danos".
Sustentabilidade é definida por Constanza (1991), como "a relação entre os
sistemas econômicos humanos dinâmicos e os sistemas ecológicos mais
abrangentes, dinâmicos, mas normalmente com mudanças mais vagarosas, na
qual: a) vida humana possa continuar indefinidamente, b) individualidades
humanas possam florescer, c) cultura humana possa desenvolver-se, d) efeitos
das atividades humanas permaneçam dentro de limites a fim de que não destruam
a diversidade, complexidade e funções do sistema ecológico de suporte da vida".
São inúmeros os motivos que movem as pessoas e as instituições para
exigirem, cada vez mais a presença de critérios de sustentabilidade nos projetos
humanos. O motivo mais abrangente tem sido a constatação da crescente

263
insustentabilidade do desenvolvimento em todo o mundo. Todavia, do ponto de
vista do comportamento econômico dos grandes grupos econômicos
internacionais, há razões outras nem sempre expressas.
Uma delas, e crê-se a fundamental do ponto de vista da economia
ecológica, está relacionada com a complementariedade entre o capital
manufaturado e o capital natural. Daly (1991), levanta a seguinte hipótese: "A
produtividade do capital manufaturado é mais e mais limitada pela oferta
decrescente do capital natural complementar". Isto porque, explica o referido
autor, "[...] a crescente acumulação de capital manufaturado exerce pressão sobre
o estoque de capital natural para suprir o incremento do fluxo de recursos
naturais. Quando este fluxo alcança um volume que não pode ser mantido por
muito tempo existe uma grande tentação de suprir insustentavelmente o fluxo
anual pela liquidação dos estoques de capital natural, assim adiando o colapso no
valor do complemento do capital manufaturado. Deveras, na era do mundo-vazio,
recursos naturais e capital natural eram considerados economicamente bens livres
(exceto custo de extração de colheita). Conseqüentemente, a valorização do
capital manufaturado não pressupunha ameaça de escassez do fator
complementar. Na era da economia do mundo-cheio esta ameaça é real, e é vista
pela liquidação do estoque de capital natural para temporariamente manter o fluxo
de recursos naturais que suportam o valor do capital manufaturado. Daí o
problema de sustentabilidade".
Então, quando Constanza (1991), propõe, como condição mínima
necessária de sustentabilidade, a manutenção do estoque total de capital natural
igual ou acima do nível corrente, entra em contradição direta com os interesses de
frações do grande capital nacional e internacional que têm nos recursos naturais
uma das fontes de insumos.
Outra hipótese que permite compreender a motivação do grande capital
internacional em se colocar como um dos parceiros na defesa do capital natural
reside nos avanços obtidos com a engenharia genética. Assim, o estoque de
capital natural preservado é, antes de tudo, estoque de diversidade de
germoplasma, portanto, base de uma nova relação de complementariedade entre
capital natural e capital manufaturado. Nesta nova relação de
complementariedade, a obtenção e o fornecimento do fluxo de insumos, agora

264
germoplasma, não provocam perturbações relevantes nos ecossistemas, nem no
tamanho e qualidade dos estoques de capital natural.
A mudança, ainda que incipiente, na complementariedade entre o capital
manufaturado e o capital natural induz os grandes grupos econômicos
internacionais e nacionais a pressionarem os governos e a própria iniciativa
privada a mudarem suas políticas em relação à natureza.
Apesar das contradições e dificuldades dos interesses econômicos há um
crescente movimento de opinião (e ação) objetivando tornar real as aspirações de
sustentabilidade em todas as dimensões da vida humana. Assim, sob outro
prisma, o Informe 92 de Desenvolvimento Humano, segundo Becker, (1992),
afirma: "Os Informes de Desenvolvimento Humano anteriores definiram
desenvolvimentos humano como o processo de ampliar a gama de opções das
pessoas, oferecendo maiores oportunidades de educação, atenção médica, renda
e emprego, e englobando o espectro total de opções humanas, desde um entorno
físico em boas condições até liberdades econômicas e políticas"[...], e acrescenta
"[...] O Informe deste ano segue avançando na exploração do conceito de
desenvolvimento humano, pois considera a interação entre as pessoas e o meio
ambiente. Se o objetivo do desenvolvimento é melhorar as oportunidades das
pessoas, deve fazê-lo não somente para a geração atual, senão também
pensando nas gerações futuras. Em outras palavras, o desenvolvimento deve ser
sustentável".
Para implementar a sustentabilidade, Constanza (1991) propõe que "[...]
todos os projetos deveriam se submeter aos seguintes critérios: para recursos
renováveis, a taxa de colheita não pode exceder à taxa de regeneração
(capacidade de campo) e a taxa de degradação provocada por cada projeto não
pode exceder à capacidade de assimilação do meio ambiente (disposição de
sustentação para a degradação). Para recursos não renováveis a taxa de
degradação de cada projeto não poderá exceder à capacidade de assimilação do
meio ambiente, e a exploração dos recursos não renováveis requererá
desenvolvimento comparável de substitutos renováveis para cada recurso. Isto
garantirá um padrão de sustentabilidade mínima; e uma vez obtido, poderão ser
selecionados projetos que apresentem taxas mais altas de retorno baseadas em
outros critérios econômicos mais tradicionais".

265
Referente aos recursos naturais renováveis a relação entre taxas de
colheita e de regeneração apresentam limitações. De maneira geral essa se refere
a um único recurso (ex. madeira), o qual é tratado como variável independente. E,
nos ecossistemas complexos, como a floresta, por exemplo, essa abordagem é
insuficiente. Castro (1993) observa que "[...] A sustentabilidade da produção de
um único recurso é baseada no conceito de equilíbrio, isto é, o balanço entre
crescimento e colheita pode ser sustentado indefinidamente, desde que sua
extração periódica seja menor ou igual ao seu crescimento neste intervalo de
tempo. Este princípio primário da economia de recursos é adequado, com
limitações, quando se considera a floresta como fonte de um único recurso de
forma genérica como a madeira, água ou proteína. É uma análise mecânica
simples, que considera o recurso explorado como uma variável independente das
mudanças que ocorrem no meio devido a sua exploração". Outras limitações a
esses critérios de sustentabilidade podem ser aventadas.
Como exemplo, está o questionamento provocado por Castro (1993) com
relação ao conceito de recurso, quando assevera "[...] o que é recurso para um
grupo social não é para outro. Para quem vive na floresta, ela é fonte de múltiplos
recursos. Para outros, é apenas um estoque de madeira. Para o pecuarista, a
floresta não é recurso, é apenas um empecilho para a utilização do recurso que
lhe interessa, o solo. Há, portanto, diferentes percepções da utilidade da floresta
no espaço, o que leva inevitavelmente a um conflito de interesses".
Os caminhos para o equacionamento dessas questões são vários: desde
um processo permanente de participação da população até mudanças conceituais
sobre florestas, por exemplo, conforme indicado por Castro (1993): "[...] É
necessário um novo paradigma que objetive, a produção simultânea, e ao menor
custo, de várias substâncias e serviços interdependentes, tendo como restrição a
manutenção do sistema florestal como um sistema florestal..."
Em virtude de tudo que foi mencionado, discutir desenvolvimento
sustentável teoricamente não é um avanço significativo para a sua compreensão,
as ciências agora propõem-se a discutir teorias metodológicas, que busquem
sinalizar caminhos para se atingir o desenvolvimento sustentável ou ao menos a
sustentabilidade. Por isso tudo, essa tese se propôs a analisar sistemas
ecológicos sociais distribuídos na Amazônia brasileira, com a intenção de

266
compreender os caminhos da sustentabilidade através da teoria metodológica da
resiliência, a partir de uma análise da Teoria Geral dos Sistemas e os sistemas
complexos abertos.
A resiliência se manifesta em sistema social do contexto de comunidades
amazônicas com intrigas de relacionamento entre os atores envolvidos no sistema
ecológico-social, em ambos os casos estudos no SES manguezal-Tamatateua,
SES várzea-Livramento e SES terra firme-São Miguel, que até atingiu níveis de
violência pela luta dos direitos de terra, lide que resulta em atrasos nos processos,
desfavorecendo ambos os atores etc.; no sistema ecológico a resiliência se aplica
por fatores conjuntos do ecossistema e de forma natural, como o período de
estiagem de chuvas no SES várzea-Livramento gerando seca nos rios e lagos, ou
por interferência humana como as criações de estradas nos SES manguezal-
Tamatateua e SES terra firme-São Miguel, que aceleraram as práticas de
agricultura baseada no corte e queima, incentivando a presença de outros atores
sociais para intervir nesse sistema.
As propriedades do sistema ecológico-social podem ser compreendidas no
sistema social de menor resiliência como o baixo capital social, o analfabetismos
dos comunitários, vulnerabilidade a endemias tropicais etc., e também no sistema
social com maior resistência aos contatos e apoio de organizações civis externas
do sistema etc.; No sistema ecológico a menor resiliência das propriedades se
manifesta na devastação do ecossistema para a produção madeireira, relação
homem-natureza insignificante etc.; e, maior resiliência com a biodiversidade do
sistema ecológico, condições geológicas , climáticas e de restrição geográfica.
A medição da resiliência nos contextos das comunidades amazônicas foi
realizada de forma participativa, identificando as propriedades positivas e
negativas do sistema ecológico-social, e assim, aplicando a modelagem sistêmica
particular dessas propriedades, construindo uma visão sistêmica em ciclos
adaptativos de contexto e tempo.
Considerando que a avaliação do conceito de resiliência no sistema
ecologia-social é uma metodologia transdisciplinar, que se manifesta enquanto
facilitadora da capacidade das mudanças na relação e co-existência no sistema
ecológico-social, explicando dessa forma, o nível fragilizado de sustentabilidade
nas comunidades rurais amazônicas. A resiliência é um caminho para a

267
sustentabilidade revelando que a resiliência é um processo de aprendizagem da
comunidade, focado na pedagogia social como um sistema, não tem a ênfase de
controlar e/ou interferir mudanças de forma indesejável no sistema ecológico-
social, é uma tarefa de aprendizagem no sistema social de forma cognitiva. A
resiliência se manifesta na coletividade e participação dos envolvidos do sistema
ecológico-social dos três sistemas estudados.
Os estudos apresentados por este trabalho servem para demonstrar que não
haverá um desenvolvimento efetivamente local, nem tão pouco sustentável, enquanto as
práticas sociais continuarem sendo pensadas unilateralmente, respondendo apenas, às
representações de fora para dentro ou de cima para baixo. É necessário que as instituições
públicas, privadas, sociedade civil organizada e também as comunidades rurais
reconheçam, inicialmente, que a realidade e o contexto ao qual são autógamos é um
sistema complexo aberto, que tem relação e dependência direta do sistema ecológico, e
que juntos formam um sistema autopoiético, onde se comunicam em defesa dos seus
direitos fundamentais, onde o desenvolvimento é elevado pelo sistema social e seus
interventores exógenos, que diretamente se articulam para tal fim.
Pensar em desenvolvimento de comunidades rurais na Amazônia brasileira é um
desafio nada inovador, de uma maneira geral; contudo, quando se propõe a discutir esse
mesmo pensamento pela visão sistêmica e partir de uma metodologia de observação social
(autopoiese), descrevendo em modelagem matemática concebida de forma transdisciplinar
(participação), os ciclos adaptativos dos sistemas em seu contexto e tempo (panarchy), é
possível definir as resistências positivas (resiliência), diante dos choques, surpresas e
criação que interferem no sistema, de forma intensificadora da relação e fortalecer a
dependência no âmbito de ecossistema e da sociedade, possibilitando a auto-organização
sistêmica. Podemos considerar esse desenvolvimento como um processo de
aprendizagem social, onde o sistema social (sociedade), passa a se comunicar e depender
do sistema ecológico (ecossistema), e vice-versa, gerando uma análise do possível
caminho da sustentabilidade.
A aprendizagem social é um processo, no qual um sistema social precisa lidar
consigo, com o outro e com as perguntas de tal forma que o seu agir possa
contribuir para o desenvolvimento das condições sociais positivas, o que pode ser
compreendido como passo prioritário para se atingir a sustentabilidade, pois a
comunicação com os sistemas social e ambiental, depende inicialmente da

268
capacidade do sistema social se auto-reconhecer, conhecer o outro e agir sobre si
e o outro na auto-organização e dependência recíproca.
Levando em conta o que foi observado, a resiliência do sistema ecológico-
social é um processo de aprendizagem social, que pode ser considerado um
produto de resistências ou adaptações diante de um choque, surpresa ou criação
indesejada, que interfere no sistema social, no sistema ecológico ou no sistema
ecológico-social, que leva inicialmente o sistema social a aprender com
adversidade e se fortalecer a partir dela. Essa compreensão pode ser melhor
descrita pela Pedagogia Social, a reflexão, ordenação, a sistematização e a crítica
do processo de aprendizagem do sistema social, que adquirem novos
conhecimentos, desenvolvem competências e mudam o comportamento. Contudo,
a complexidade desse processo dificilmente pode ser explicada apenas através de
recortes do todo. Por outro lado, qualquer definição está, invariavelmente,
impregnada de pressupostos político-ideológicos, relacionados com a visão de
homem, da sociedade, do saber e do meio ambiente em que vivem.
O sistema ecológico-social é dinâmico, representa um sistema aberto, e com isso
está sempre disponível para sofrer ou participar de adversidades naturais ou por
interferência humana, por isso precisa sempre aprender a se adaptar ou resistir, o que
revela a sua capacidade de resistência, ou seja, a resiliência é um processo contínuo de
aprendizagem do sistema social.
Dado o exposto, essa tese também pode ser considerada uma capacidade
resiliente de aprendizagem social, com a idéia que esse exercício no Brasil é para ser
considerado um passo inicial da aprendizagem, que necessitará de vários outros esforços
para se constituir um novo paradigma científico, criado de forma transdisciplinar mas sem
nenhuma previsão de estação de seus pressupostos teóricos.
Consideramos, a final, a resiliência um caminho possível para a sustentabilidade
nos sistemas ecológicos sociais da Amazônia brasileira.

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295
GLOSSÁRIO

Aliança da Resiliência
Fundada em 1999, a Aliança da Resiliência AR (Resilience Alliance - RA), é
uma associação de institutos científicos internacional de mais de 20 membros
que inclui universidades, governo e organismos não-governamentais referencia
nos estudos da resiliência no sistema ecológico-social. Um grupo de pesquisa
multidisciplinar que explora a complexa dinâmica de sistema ecológico-social
(SES), a fim de descobrir alicerces para a sustentabilidade.

Amazônia
A Amazônia é uma região natural da América do Sul, definida pela bacia do rio
Amazonas e coberta em grande parte por floresta tropical - a Floresta Amazônica
(também chamada de Floresta Equatorial da Amazônia ou Hiléia Amazônica). O
rio Amazonas nasce na cordilheira dos Andes no Peru e estende-se por nove
países: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru,
Suriname e Venezuela. É considerado o rio mais volumoso e extenso do mundo.

Amazônia brasileira
No Brasil, para efeitos de governo e economia, a Amazônia é delimitada por uma
área chamada "Amazônia Legal" definida a partir da criação da SUDAM
(Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia), em 1966. É chamado
também de Amazônia o bioma que, no Brasil, ocupa 49,29% do território, sendo o
maior bioma terrestre do país.

Autopoiese
Autocriação, a partir da junção dos termos auto, que significa “si mesmo” e se
refere à autonomia dos sistemas auto-organizadores, e poiese, que compartilha
a mesma raiz grega com a palavra “poesia” e significa “criação”, “construção”
(Segundo Maturana e Varela, na década de 70).

Autopoiese Luhmaniana
Ênfase no caráter não somente auto-organizador, mas principalmente auto-
reprodutivo e auto-referente, isto é, na capacidade do sistema de produzir seus
elementos, bem como as suas próprias condições originárias de produção,
tornando-se desse modo independente do respectivo meio envolvente.

Cibernética
Do grego Κυβερνήτης significando condutor, governador, piloto; é uma tentativa
de compreender a comunicação e o controle de máquinas, seres vivos e
grupos sociais através de analogias com as máquinas cibernéticas
(homeostatos, servomecanismos, etc.). Estas analogias tornam-se possíveis,
na cibernética, por esta estudar o tratamento da informação no interior destes
processos como codificação e descodificação, retroação ou realimentação
(feedback), aprendizagem, etc.

Ciclos Adaptativos
Fonte e função de mudanças sistêmicas, particularmente mudanças
transformativas em sistemas adaptáveis. Esses ciclos adaptativos passam

296
para uma repetição de fases distintas de um sistema ecológico-social:
primeira fase com crescimento rápido e exploratório (r) (exploração); a
segunda fase é a mais prolongada de acumulação, monopolização e
conservação de estrutura (k), (conservação); terceira fase, define-se como a
desestruturação rápida (Ω), (liberação); e a quarta fase de reorganização,
eventualmente renovação (a), (realimentação).

Co-evolução
É um sistema que se caracteriza pelo elevado número de elementos que o
constituem, pela natureza das interações entre os mesmos, e pelo número e
variedade de ligações que os unem entre si formando conjuntos de sistemas
biológicos, técnicos ou sociais, associados entre si e influenciando-se
mutuamente.

Comunicação autopoiética
O principal fator em comum entre os sistemas sociais é o fato de que a sua
operação básica é a comunicação. A comunicação é a (única) operação
genuinamente social, e ela é autopoiética porque pode "ser criada somente no
contexto recursivo das outras comunicações, dentro de uma rede, cuja
reprodução precisa da colaboração de cada comunicação isolada”.

Comunidades
É um conjunto de pessoas que se organizam sob o mesmo conjunto de normas,
geralmente vivem no mesmo local, sob o mesmo governo ou compartilham do
mesmo legado cultural e histórico, e que essa compreensão é necessária para
guiar a intervenção de mobilização enquanto fator de mudança social.

Comunidades Tradicionais
As populações tradicionais são aquelas que apresentam um modelo de ocupação
do espaço e uso dos recursos naturais voltado principalmente para a subsistência,
com fraca articulação com o mercado, baseado em uso intensivo de mão de obra
familiar, tecnologias de baixo impacto derivado de conhecimentos patrimoniais e,
normalmente, de base sustentável.

Comunidades Tradicionais da Amazônia


A constituição das comunidades tradicionais da Amazônia está relacionada
em três momentos históricos: da invasão européia (1530), ao genocídio da
Cabanagem (1840); do período da borracha na Amazônia (1879 a 1945); e
do período da ditadura militar (1964 a 1988), aos dias atuais. A presença
destas três frentes forja a cultura e a história regional como receptoras destas
experiências históricas passadas dos povos de origem das comunidades
tradicionais amazônicas: povos indígenas, povos africanos escravizados e
chegantes nordestinos.

Desenvolvimento Sustentável
É o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem
comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações. É o
desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro.

297
Ecologia do Desenvolvimento Humano
Representa um modelo de fenômenos que são acessíveis pela simplificação de
elementos e relações e de interações, com o fundamento na teoria dos
sistemas para o desenvolvimento humano e social (ver Inserção bioecológica).

Ecossistema
Do grego oykos, casa + σύστηµα, sistema onde se vive; designa o conjunto
formado por todas as comunidades que vivem e interagem em determinada região
e pelos fatores abióticos que atuam sobre essas comunidades.

Inserçao bioecológica
Representa um modelo de fenômenos que são acessíveis pela simplificação de
elementos e relações e de interações, com o fundamento na teoria dos
sistemas para o desenvolvimento humano e social (ver Ecologia do
Desenvolvimento Humano).

Manguezal
É considerado um ecossistema costeiro de transição entre os ambientes terrestres
e marinhos. Característico de regiões tropicais e subtropicais, está sujeito ao
regime das marés, dominado por espécies vegetais típicas, às quais se associam
a outros componentes vegetais e animais

Metodologias participativas
É um espaço de articulação de instituições e pessoas, com base em relações
horizontais, visando o aprofundamento conceitual, a qualificação de agentes, o
resgate, a sistematização e o desenvolvimento de metodologias com abordagem
participativa. Está baseada nos princípios da ética, interdisciplinaridade,
participação, transversalidade, coerência, universalização, compromisso,
interinstitucionalidade e no respeito às diversidades étnicas, culturais e
ideológicas.

Modelagem do Sistema
É a forma de conceber uma idéia e depois representá-la o mais próximo
possível da realidade. Toda modelagem começa pela percepção que o
observador tem do sistema observado e estuda a simulação de sistemas reais a
fim de prever o comportamento dos mesmos.

NAEA
O Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA) é uma instituição de Pós-
Graduação vinculada à Universidade Federal do Pará, fundada em 1973, baseado
no princípio da interdisciplinaridade, realiza cursos de especialização, mestrado e
doutorado de acordo com uma metodologia que abrange a observação dos
processos sociais, numa perspectiva voltada à sustentabilidade e ao
desenvolvimento regional.

Organização não-governamental
Também conhecidas pelo acrônimo ONG, são associações do terceiro setor, da
sociedade civil, que se declaram com finalidades públicas e sem fins lucrativos,
que desenvolvem ações em diferentes áreas e que, geralmente, mobilizam a

298
opinião pública e o apoio da população para modificar determinados aspectos da
sociedade.

Panarchy
É um termo usado em primeira mão pelo botânico e economista Paul Emile de
Puydt em 1860, referindo-se a uma forma específica de governança, archy, que
abrangeriam todos os outros, pan. No século XX, o termo foi re-introduzido por
estudiosos das relações internacionais para descrever o conceito de governança
global.

Panarchy sistêmico
Descrição da organização não-hierárquica das teorias cientifica. Segundo
Gunderson; Holling, (2002), é um termo antítese à palavra hierarquia; contudo
eleva esse termo a compreensão da evolução adaptativa e/ou co-evolução dos
ciclos adaptativos.

Pedagogia Social
É um processo de aprendizagem social, donde pode ser considerado um produto
de resistências ou adaptações diante de um choque, surpresa ou criação
indesejada, que interfere no sistema social, no sistema ecológico ou no sistema
ecológico-social, que leva inicialmente o sistema social a aprender com
adversidade e se fortalecer a partir daí, levando a reflexão, ordenação, a
sistematização e a crítica do processo de aprendizagem do sistema social, que
adquirem novos conhecimentos, desenvolve competências e mudam o
comportamento.

Pobreza
Em sua definição mais restrita tem sido levada a associação com severas
privações impostas aos indivíduos na escolha e acesso a bens e serviços.

Resiliência
A etimologia da palavra resiliência vem do latim, resílio ou resilié, que significa
“saltar novamente”, "voltar ao estado natural", “retornar ao estado anterior”. Numa
compreensão geral é processo de desenvolvimento dinâmico que reflete a
evidencia de adaptação positiva, apesar de significativas condições adversas.

Resiliência na Administração
A resiliência não deve ser apenas um atributo individual, mas pode também estar
presente nas instituições/organizações, gerando uma sociedade mais resiliente.
Uma organização resiliente é uma organização inteligente, reflexiva, onde as
pessoas são livres, responsáveis, competentes, que funcionam numa relação de
confiança, empatia, solidariedade. É o encarar da realidade, confrontando a
adversidade e a dinâmica do problema, que faz com que o pensador chegue a
uma solução criativa para ele. A atividade criadora é precedida pela angústia pode
ser entendida como uma resposta criativa no confronto com a crise.

299
Resiliência Ecológica (na Biologia)
A capacidade do ecossistema em manter ou retornar às suas condições originais
após um distúrbio provocado por forças naturais ou pela ação humana, ou seja, os
impactos antropogênicos.

Resiliência na Educação (na Pedagogia Social)


Apropria-se de amplas discussões e focalizam um dos fundamentos do
processo de aprendizagem diante de adversidades e riscos, exógenos e
endógenos, da eficiência da educação; é a explicação singular do universo de
pessoas extremamente pobres e que até bem pouco tempo viam-se
marginalizadas de qualquer processo educativo.

Resiliência na Física (e nas Engenharias)


Refere-se à capacidade de um material absorver energia sem sofrer
deformação plástica ou permanente.

Resiliência na Medicina
No ramo da osteologia é a capacidade dos ossos crescerem corretamente após
sofrerem grave fratura; atualmente também tratam da capacidade genética ou
orgânica de impactos e congênitos nas células e a re-estabilização dessas
capacidades.

Resiliência na Odontologia
É usada para compreender os tecidos do sistema bucal, em especial a gengiva
inserida, que é resiliente e firmimente ligada ao periósteo do osso alveolar
subjacente.

Resiliência Positiva (na Psicologia)


É uma superação (ou adaptação) do individuo diante de uma dificuldade
considerada como um risco, e a possibilidade de construção de novos
caminhos de vida e de um processo de subjetivação a partir do enfrentamento
de situações estressantes e/ou traumáticas.

Resiliência Social (na Sociologia)


Uma relação de unidades sociais superar adversidades que estejam atribuídos
à pressão na saúde, especificamente o caso de epidemias de doenças tropicais
(ver salutogênese).

Resiliência Sistêmica
A capacidade que um sistema tem para poder absorver processos de auto-
desenvolvimento, tendo condições não só de resistir à adversidade, mas de
utilizá-la em seu processo de desenvolvimento social inter-relacionado ao
ecossistema. Descrito como “aprendendo a viver com o sistema em lugar de
controlá-lo” ou “mantendo a capacidade do sistema para lidar com tudo o que o
futuro traz sem o sistema mudar de forma indesejável”.

Salutogênese
Designação das forças que geram saúde, e se opõem à patogênese, ou seja,
às influências que causam a doença, compreendido como 'senso de coerência',

300
que significa um estado de harmonia e bem-estar com o meio social, familiar e
consigo mesmo. Uma sensação de orientação global, sentimento dinâmico de
autoconfiança, gerado no meio interno e externo, que forma um ambiente
saudável, de alta probabilidade de êxito na vida.

Sistema Ecológico
São sistemas adaptativos complexos, formado pelo conjunto dos relacionamentos
que a fauna, flora, microorganismos e o ambiente, composto pelos elementos
solo, água e atmosfera mantém entre si.

Sistema Ecológico-Social
Uma capacidade que um sistema social tem para poder absorver processos de
auto-desenvolvimento, tendo condições não só de resistir à adversidade, mas
de utilizá-la em seu processo de desenvolvimento social inter-relacionado ao
ecossistema.

Sistema Social Luhmaniano


A compreensão da sociedade moderna em toda sua complexidade, a partir de
uma abordagem cognitiva e reflexiva que identifica seus processos sociais
como processos de comunicação que a diferenciam de maneira auto-
referencial. Nesse sentido, os sistemas sociais usam a comunicação como seu
modo particular de reprodução autopoiética. Seus elementos são
comunicações que são produzidas e reproduzidas por uma rede de
comunicações que fora dela não podem existir.

Sustentabilidade
É um conceito sistêmico, relacionado com a continuidade dos aspectos
econômicos, sociais, culturais e ambientais da sociedade humana. Propõe-se a
ser um meio de configurar a civilização e atividade humanas, de tal forma que a
sociedade, os seus membros e as suas economias possam preencher as suas
necessidades e expressar o seu maior potencial no presente, e ao mesmo tempo
preservar a biodiversidade e os ecossistemas naturais, planejando e agindo de
forma a atingir pró-eficiência na manutenção indefinida desses ideais.

Teoria Geral de Sistema


Compreendida como um conjunto de partes interagentes que, conjuntamente
forma um todo unitário com determinado objetivo e efetuam determinada
função, definindo um sistema, cujo resultado é maior que os resultados que as
partes alcançariam se funcionassem interdependentes, assim, quaisquer
conjuntos de partes em si pode ser considerado um sistema, desde que as
relações entre as partes e o comportamento de todos sejam o foco da atenção.

Teoria de Gaia
Teoria de Gaia, também conhecida como Hipótese de Gaia, é uma tese que
afirma que o planeta Terra é um ser vivo. De acordo com esta teoria, nosso
planeta possui a capacidade de auto-sustentação, ou seja é capaz de gerar,
manter e alterar suas condições ambientais. Os sistemas complexos que forma
um todo orgânico, vivo, possui características próprias, homeostáticas e dinâmicas
enquanto conjunto, apresentando características próprias que escapam às

301
qualidades e atributos de cada uma de suas partes constituintes, linearmente
conectadas... Ou seja, um organismo, como um todo é algo mais diferenciado e
com atributos próprios bem acima da soma de suas partes componentes
fundamentais.

Terra firme
Ocupam terras não inundáveis. São recentes, originadas da sedimentação da
bacia hidrográfica no período terciário. Caracterizam-se pelo grande porte das
árvores e formação de dossel, isto é, uma compacta e permanente cobertura
formada pelas copas das árvores. No geral possuem de 140 a 280 espécies
arbóreas por hectare, número impressionante se compararmos com a diversidade
das florestas temperadas e boreais. As florestas de terra firme dividem-se em
florestas densas, as mais diversas e com maior quantidade de madeira, e floresta
abertas, mais próximas dos escudos e depressões e que sustentam maior
biomassa animal

Várzea
É um dos ecossistemas mais ricos da bacia Amazônica em termos de
produtividade biológica, biodiversidade e recursos naturais. Várzea é uma
vegetação alagada durante o período das enchentes, devido a sua localização nas
bordas dos principais rios da Amazônia.

Vulnerabilidade
É um conjunto de fatores que pode aumentar ou diminuir o risco a que estamos
expostos em todas as situações de nossa vida.

Vulnerabilidade social
É a exposição de grupos de pessoas ou indivíduos para acentuado resultado
dos impactos de mudança ambiental, acentuado, na percepção social, a cerca
de rescisão de grupos ou indivíduos por adaptação forçada (endógena e
exógena) do ambiente físico variável.

302
ANEXO A: ESTUDOS DE CASOS DA ALIANÇA DA RESILIÊNCIA

Uma associação de institutos científicos referência aos estudos da


resiliência no sistema ecológico-social é a Aliança da Resiliência - AR
(Resilience Alliance - RA), um grupo de pesquisa multidisciplinar que explora a
complexa dinâmica de sistemas sócio-ecológicos (SES), a fim de descobrir
alicerces para a sustentabilidade. Fundada em 1999, o AR é apoiada por uma
rede internacional de mais de 20 instituições que inclui universidades, governo
e organismos não-governamentais dos Estados Unidos, França, Austrália,
Canadá, Reino Unido, Suécia, África do Sul, Alemanha e Holanda.
A AR tem duas atividades principais: um programa científico e um
programa de comunicações e divulgações:
1. A AR científico é um programa que integra a teoria do desenvolvimento com
um conjunto de estudos de caso, juntos apóiam os avanços na compreensão
da dinâmica dos sistemas de pessoas e da natureza. Atualmente, desenvolve
quinze estudos de casos, distribuídos em todo o mundo e representam uma
grande variedade de ecossistemas, os regimes de gestão e a questões de
adaptações e transformações com a resiliência no sistema ecológico social. Os
estudos de caso são: Causse Méjan (França), Coral reefs of the Caribbean
(ilhas Caribenhas), Dry Spiny Forests (Madagascar), Everglades, Florida
(Estados Unidos), Gorongosa National Park (Mozambique), Goulburn-Broken
Catchment (Australia), Kristianstads Vattenrike (Suécia), Mae Ping River Basin
(Tailandia), Maine Fisheries (Estados Unidos), Malinau Region (Borneo),
Northern Highland Lakes District, Wisconsin (Estados Unidos), Phoenix,
Arizona (Estados Unidos), Rangelands of New South Wales (Australia), South-
East Lowveld (Zimbábue), Western Australian Wheatbelt (Australia).
Alguns dos estudos de caso do programa científico da Aliança da
Resiliência, têm sido estudados há muitos anos e têm uma riqueza de
informações detalhadas (WALKER, B., C. S. HOLLING, S. R. CARPENTER,
AND A. KINZIG, 2004). Outros estudos só foram iniciados nos últimos três
anos. Todos eles, no entanto, consideram os sistemas ecológico-sociais com a
preocupação em múltiplas escalas e análise dos feedbacks dentro e entre os
domínios sociais e dos ecossistemas. Os estudos de caso variam abertamente,

303
desde o pequeno gramado do sistema Causse Méjan na França para o
expansivo Rangelands de Nova Gales, no Sul da Austrália, e os lagos do norte
de Wisconsin e no sul da Suécia para os recifes de coral Caribenhos. A gama
de sistemas sociais e de recursos do tipo de uso são correspondentemente
amplos. As diferentes formas nas quais diferem, ou são os mesmos, em termos
de seus padrões de dinâmica são apresentados no sistema de adaptações
abertas. A intenção da Aliança da Resiliência é construir um documento final
com o titulo: "Quinze Casamentos e um Funeral", para apresentar os principais
resultados que esses estudos de caso tenham solidificado.
2. O programa de comunicação e divulgação da AR visa construir uma
capacidade entre comunidade global de pesquisadores, profissionais,
interessados e decisórios políticos, através de uma partilha de conhecimentos
para uma rede de iniciativas de desenvolvimento. O objetivo do programa de
comunicação da Aliança da Resiliência é divulgar os conhecimentos e catalisar
aprendizagens através da discussão e debates no âmbito da comunidade
global de pesquisadores e profissionais ao lado de quatro proatividades: a.
Portal Aliança da Resiliência, voltado para divulgação e comunicação no
decurso das informações digitais da informática avançada; b. Educação, com o
desenvolvimento de bibliotecas abertas para analise de ferramentas
pedagógicas, além de pequenos cursos de capacitação e da disposição de
material didáticos; c. Compor e dirigir livros nas temáticas da Aliança da
Resiliência, um projeto financiado pelas Foundation Packard e Foundation
Christiansen; d. Revista Ecologia e Sociedade (Ecology and Society magazine),
no formato escrito e eletrônico, inclusa no Portal AR, lançado em 1997.
A AR é uma câmara fortemente multidisciplinar, com força no núcleo das
ciências ecológicas, mas crescente capacidade na área das ciências sociais, o
programa tem evoluído ao centrar-se em sócio-ecológicas ligadas aos sistemas
(SES). O fundamento para a abordagem da AR é o entendimento de que
complexos sistemas ambientais devem ser tratadas de uma forma integrada,
combinando fatores sociais, econômicos e ecológicos.
A Aliança da Resiliência é um grupo de intelectuais que a cada tempo se
expande, donde podemos destacar atualmente, Dr. Lance Gunderson,
Department of Environmental Studies Emory University (Atlanta, Estados

304
Unidos), Dr. Phil Taylor Biology Department Acadia University Wolfville
(Canadá), Dr. Nick Abel, CSIRO Sustainable Ecosystems (Austrália), Dr.
Francois Bousquet CIRAD-TERA Montpellier (França), Dr. Neil Adger, The
Tyndall Centre University of East Anglia, Norwich (Reino Unido), Dr. Carl Folke,
The Beijer International Institute for Ecological Economics & Stockholm
Resilience Center Stockholm (Suécia), Dr. Hector Magome, South African
Nation Parks (África do Sul), Dr. M. Scheffer Aquatic Ecology and Water Quality
Management Group Dept of Environmental Sciences Wageningen (Países
Baixo), Dr. Craig Allen University of Nebraska Linco ln Lincoln, Nebraska
(Estados Unidos), entre outros.
Foi verificado na revista Ecologia e Sociedade da Aliança da Resiliência,
artigos de discussão especial em conhecimentos tradicionais no Sistema
Ecológico-Social constituído de contribuições, abrangendo questões de
conservação, a gestão dos ecossistemas, e governação nas áreas árticas,
temperadas e tropicais. Estes artigos refletem sobre as dificuldades, mas também
o potencial de serem encontrados, na conjugação do conhecimento, institucionais,
culturais e tradicionais das fundações e sociedades locais com a sociedade
contemporânea. Vários dos artigos descrevem co-gestão e co-gestão adaptativa
da biodiversidade e dos ecossistemas na dinâmica social e sistemas ecológicos
(OLSSON et al. 2004), bem como o papel que o conhecimento tradicional pode
desempenhar neste contexto. Fornecem introspecções do ecossistema, como
avaliação e gestão de pessoas locais, podem informar a sociedade
contemporânea, e também pode ser influenciada e apoiada pela ciência
contemporânea e instituições. Estes objetivos incluem: a promoção de processos
participativos; criação de novas informações para compartilhar todas as escalas;
fazer uma melhor utilização dos conhecimentos existentes; desenvolvimento de
indicadores de mudança e de resistência para acompanhar ecossistema dinâmico;
transformar as instituições existentes para a gestão dos ecossistemas; e
desenvolver respostas sociais para lidar com a incerteza e mudança (PETERSON
et al. 2003). A avaliação do ecossistema local e sua gestão podem criar alianças
entre os proprietários de conhecimentos formais e informais. É possível
estabelecer ligações entre os governos, os utilizadores locais e os cientistas. E
podem-se criar novas informações sobre as condições dos ecossistemas locais, a

305
ser um compartilhador na vertical do local ao regional e nacional, e
horizontalmente entre os grupos de povos tradicionais (GADGIL et al. 2003).
Por exemplo, Watson et al. (2003) argumentam que o conhecimento
ecológico tradicional serve com uma função importante nas relações entre povos
tradicionais e os ecossistemas no grande Circumpolar Norte, e pode contribuir
para a compreensão dos efeitos das decisões de gestão e de uso humano e os
impactos ecológicos de longo prazo com suas composições, estrutura e função.
Existem muitas questões relacionadas com a única gestão dos recursos naturais
no extremo norte, como resultado o histórico das legislações diretas, padrões de
povoamento e ocupação, tradições culturais do norte, ecoturismo, depressão
econômica, as pressões para o desenvolvimento da energia, e da globalização e o
efeito da modernização. A grande imensidão do Circumpolar designado no
Canadá, nos E.U.A. e Finlândia visa preservar e restaurar muitos valores
humanos e ecológicos, assim como o estabelecido, rigorosamente aplicado, em
reservas naturais na Rússia. No Alasca (E.U.A) e na Finlândia, e em algumas
províncias do Canadá, existe uma variedade de valores relacionados com a
proteção relativamente intacta às relações entre povos tradicionais e relativamente
vastos ecossistemas naturais. Estes valores são muitas vezes descritos como
"meios de subsistência tradicionais", "os meios tradicionais de acesso",
"tradicionais relações com a natureza", ou "de vida tradicional." O conhecimento
ecológico tradicional faz parte dessas relações e foi reconhecida como uma
contribuição para a compreensão dos efeitos das decisões de gestão e de uso
humano e os impactos ecológicos de longo prazo com suas composições,
estrutura e função. A grande imensidão de proteção no Circumpolar Norte pode
ajudar a manter as oportunidades para continuar tradicionais relações com a
natureza. Como culturas continuam a evoluir em costumes, atitudes,
conhecimentos e utilizações tecnológicas, valores associados tanto ao
conhecimento ecológico tradicional relativamente intacto e de relações com os
ecossistemas também irá evoluir. A compreensão dessas relações e como os
considerar na deserta proteção e restauro de tomada de decisão é potencialmente
um dos mais polêmicos, difundida a gestão de recursos naturais nas questões no
Circumpolar Norte.
Manter a teia de relações de pessoas e lugares parece ser crucial para as

306
aprendizagens adaptativas entre as pessoas Anishinaabe do Iskatewizaagegan no
noroeste do Ontário, Canadá, analisados por Davidson-Hunt e Berkes (2003), os
quais documentam a memória social da paisagem dinâmica biogeofísico como
uma combinação de estruturas e processos, juntamente com notícias sobre a
forma como as pessoas de Anishinaabe escreveram suas histórias sobre a terra.
Idosos têm um papel essencial no processo de aprendizagem adaptativo. Este
trabalho explora a relação entre a resiliência ecológico-social e adaptação da
aprendizagem. Referimo-nos a aprendizagem adaptativa como um método para
capturar a relação biunívoca entre as pessoas e o seu ambiente social e
ecológico. Estes trabalhos se concentraram em conhecimento ecológico
tradicional. A pesquisa foi realizada durante duas temporadas: pesquisa de campo
e oficinas em cada temporada de pesquisa de campo. A metodologia baseou-se
em visitas aos locais e transeções determinada pelos anciãos como adequado
para responder a perguntas específicas, encontrar plantas específicas, ou localizar
as comunidades vegetais. Durante as visitas e passeios transeção, temas como
nomenclatura das plantas, utilização de plantas, descrições dos habitat, paisagem
biogeofísico e cultura foram discutidos. Trabalhar com os idosos permitiu registrar
um rico conjunto de vocabulário para descrever as características espaciais da
paisagem biogeofísico. No entanto, os anciãos também dirigiram a atenção para
lugares que conheciam através de experiências pessoais e de viagens e
lembravam de histórias pessoais e histórias coletivas. Foram documentados
anciãos a partir da percepção da dinâmica temporal da paisagem através de
debates e eventos de ciclos de perturbação. Novamente, os anciãos chamaram a
atenção para as formas em que o tempo foi marcado por referências culturais para
estações e luas. A memória social da paisagem dinâmica foi documentada como
uma combinação de estruturas e processos biogeofísico, juntamente com as
histórias por pessoas Iskatewizaagegan que escreveram suas histórias sobre a
terra. A aprendizagem adaptativa para resiliência sócio-ecológica, tal como
sugerido por esta investigação, requer a manutenção local de relacionamentos de
pessoas e lugares. Tais relações permitem memória social para enquadrar
criatividade, conhecimento, permitindo simultaneamente a evoluir em face da
mudança. Memória social não é efetivamente evoluir diretamente para fora do
ecossistema. Pelo contrário, a memória social resulta em uma dinâmica sócio-

307
ecológica no ambiente.
Long et al. (2003) demonstram que mitos, metáforas, normas sociais e
transferência de conhecimentos entre as gerações da tribo Apache Montanha
Branca facilitam a ação coletiva e a compreensão da dinâmica dos ecossistemas,
bem como fornecem uma fundamentação cultural para orientar a restauração
ecológica e renovar as técnicas modernas. Argumentam que as tradições culturais
sofreram um sistema de gestão adaptativa durante todo o século 20 e, agora,
esperam restaurar ecossistemas produtivos através de esforços individuais e
coletivos. Esses saberes tradicionais servem como bases para a restauração
ecológica. A experiência da Apache Montanha Branca demonstra como essas
fundações culturais podem permear e motivar a esforços para a restauração
ecológica. Através de entrevistas com os conselheiros culturais das tribos e
restauração profissionais, Long et al. (2003), analisaram o modo como várias
tradições informam seus entendimentos de processos de restauração. Criações
históricas revelaram a importância do tempo-honrado e funções dos corpos (leitos)
d'água dentro da paisagem, enquanto a produção local identificou nomes de
introspecções, seus históricos e condições atuais. A tradicional cicatrização de
princípios e tradições agrícolas para orientar técnicas modernas de restauração
adaptativas ao sistema ecológico social. Uma metáfora ilustra a restauração das
estabilidades praticantes verem ligações entre os fatores ecológicos, sociais,
pessoais e dimensionais da saúde. Estas opiniões inspiram recíprocas relações
incidentes sobre a vigilância dos locais, aprendendo com os anciãos e passando o
conhecimento sobre a juventude. Tecidos em conjunto, essas tradições culturais
defendem um sistema de gestão adaptativa, que resistiram à imposição de
sistemas de gestão não tradicionais no século 20, e, agora, oferecem esperança
para o restabelecimento da saúde e da produtividade dos ecossistemas através
de esforços individuais e coletivos. Embora essas tradições sejam adaptadas aos
ecossistemas especial das Tribos, demonstram o valor do conhecimento e
promovem a diversidade cultural das fundações de resiliência.
O papel da diversidade cultural na conservação da biodiversidade e da
restauração dos ecossistemas é dirigido por Garibaldi e Turner (2004), eles
sublinham que culturas humanas são componentes cruciais da conservação e
restauração e centram-se no conceito de "cultura de espécies chave", neste

308
contexto, dando exemplos das primeiras nações culturas de Columbia Britânica.
Para os ecologistas há muito reconhecido que algumas espécies, em virtude dos
principais papéis que desempenham na estrutura global e funcionamento de um
ecossistema, são essenciais para a sua integridade, conhecido como pedra
angular das espécies ou espécie chave. Do mesmo modo, nas culturas humanas,
em todos os lugares, há plantas e animais que formam contextos subjacentes de
uma cultura e se refletem no seu papel fundamental na ingestão habitual, como
matérias-primas ou na medicina. Além disso, essas espécies freqüentemente
caracterizam proeminente na linguagem, cerimônias e narrativas dos povos
tradicionais e podem ser considerados ícones culturais. Sem estas “culturas de
espécie chave," as sociedades seriam completamente diferentes. Um exemplo
óbvio é o ocidental cedro-vermelho (Thuja sulcada) para culturas costeiras do
noroeste da América do Norte. Muitas vezes, elementos proeminentes dos
ecossistemas locais, culturais de espécies chave podem ser utilizados e colhidos
em grandes quantidades e de forma intensiva gerido pela qualidade e
produtividade. Dado que a conservação biológica e restauração ecológica
corporizam culturas humanas como componentes cruciais, uma abordagem que
pode melhorar no sucesso global de conservação ou restauração é reconhecer os
esforços e concentrar-se na pedra angular das espécies na cultura local. Nesse
trabalho Garibaldi e Turner (2004), exploram o conceito de cultura de espécie
chave, para descrever semelhanças e diferenças entre espécies ecológicas
chaves, apresentam exemplos das primeiras nações culturas de Columbia
Britânica, e discutem a aplicação deste conceito na restauração ecológica e
conservação inicial.
Alguns artigos da revista Ecologia e Sociedade da Aliança da Resiliência
propõem que ao usar uma combinação de conhecimento ecológico tradicional e
da ciência para monitorar recursos podem ajudar na co-gestão para o uso
sustentável. Em um estudo de caso de extração de produtos florestais não-
madeireiros, Donovan e Puri (2004), mostram como o conhecimento tradicional
entre os grupos locais pode contribuir para a ciência desvendar complexas
interações ecológicas e desenvolver uma gestão sustentável dos recursos
florestais. Conhecimentos tradicionais, promovidos para fazer conservação e
desenvolvimento mais relevante e socialmente aceitável, são considerados

309
relevantes na identificação das necessidades de investigação fundamentais em
ecologia tropical. Botânicos, engenheiros florestais, e fotoquímicos, entre outros,
de muitos países têm procurado durante décadas compreenderem o processo de
resina na formação do gênero Aquilaria, uma árvore da floresta tropical do sul e
sudeste da Ásia. Nem toda a árvore desenvolve a resina e, apesar da extensa
investigação científica, esse processo continua pouco compreendido. Tentativas
de cultivar a valiosa resina aromática gaharu, tem sido desigual na melhor das
hipóteses. Assim, continua a ser largamente o gaharu um produto natural da
floresta, cada vez mais sob a ameaça como as árvores são assaz exploradas e a
floresta devastada. Nesse trabalho Donovan e Puri (2004), comparam os
conhecimentos científicos e conhecimentos tradicionais dos Penan Benalui
(população tradicional local de Bornéu Indonésio) e outros produtos florestais
coletados. Embora limitado na gestão em floresta nativa não conseguiu trazer a
espécies produtoras de resinas de cultivo, verificou-se que a população Penan
reconhece a complexa formação ecológica de resina envolvendo dois, ou talvez
três, organismos vivos, a árvore, um ou mais fungos e, possivelmente, um inseto
intermediário. Desenvolver um sistema de produção sustentável para este recurso
irá exigir uma clara compreensão de como esses diferentes elementos naturais e
suas funções separadamente e sinergeticamente se adaptam. Os conhecimentos
tradicionais podem ajudar a preencher lacunas em nossa base de dados e
identificar áreas promissoras para pesquisas futuras. Tanto a correspondência e
as lacunas no conhecimento apóiam a chamada para um papel mais importante
para a investigação de etnobiológicos e cooperação interdisciplinar, especialmente
entre etnobiologistas e silvicultores, para o desenvolvimento sustentável dos
sistemas de gestão para estes recursos tradicionais e seu habitat natural.
Moller et al. (2004), em seus estudos de caso provenientes do Canadá e
Nova Zelândia, tornam o argumento de que, apesar dos métodos tradicionais de
vigilância ser em muitas vezes imprecisos e qualitativos, ainda são valiosos para a
ciência, já que complementam abordagens, porque se baseiam nas observações
ao longo de grandes períodos de tempo, incorporam grandes amostras, tem um
custo baixo, permitem que os pesquisadores participem como coletadores e, por
vezes, incorporam sutil e multivariado controles cruzados dos recursos e das
mudanças nos ecossistemas. Usando uma combinação de conhecimento

310
ecológico tradicional e os conhecimentos científicos para incentivar as populações
tradicionais para a co-gestão sustentável habitual das colheitas de fauna. Algumas
regras simples sugeridas pelo conhecimento tradicional podem produzir bons
resultados de gestão coerente com a lógica imprecisa do pensamento. A Ciência
pode, por vezes, oferecer melhores testes de causas potenciais da população
através de investigação sobre alterações maiores nas escalas espaciais, precisam
da quantificação e avaliação da evolução demográfica em que não ocorre a
colheita. No entanto, a Ciência tem um alto custo e nem sempre pode ser
confiável ou saudada pelos utilizadores habituais da vida selvagem. Os curtos
estudos científicos em que os métodos de avaliação tradicionais são calibrados
contra a população, poderiam tornar abundante possível à malha com o
conhecimento ecológico tradicional e a inferência científica de rapina dinâmica
populacional.
O trabalho de Moller et al. (2004), analisa as tradicionais técnicas de
controle das capturas por unidade de esforço e condição corporal. Combinando
métodos científicos e tradicionais de controle não só para construir parceria de
consenso com a comunidade, mas também, e sobretudo, para permitir que os
utilizadores da vida selvagem tradicionais avaliem criticamente previsões
científicas sobre seus próprios termos e ensaio de sustentabilidade utilizando os
seus próprios formulários de gestão adaptativa.
Práticas de gestão do ecossistema e a mudança na dinâmica das
paisagens agrícolas são o foco do trabalho de Tengo e Belfrage (2004), onde
comparam pequenos agricultores no nordeste da Tanzânia e de centro-leste da
Suécia. Quase metades das práticas identificadas foram encontradas para ser
semelhante em ambos os casos, com abordagens semelhantes de adaptação às
necessidades locais e lidar com a variabilidade e perturbação. Também
identificaram mecanismos sociais para a proteção das espécies que serviu
importantes funções no agroecossistema e encontrou uma memória social de
práticas que serviu como uma fonte de adaptações para lidar com as novas
condições e para modelagem dinâmica dos ecossistemas. Foram aplicados
métodos de pesquisa qualitativa para mapear os agricultores e as práticas
relacionadas com a gestão do agroecossistema. As práticas estão agrupadas de
acordo com um quadro de serviços relevantes para a produção agrícola e

311
discutidos usando um modelo teórico da dinâmica dos ecossistemas. Quase
metade das práticas identificadas foram encontradas para ser semelhante em
ambos os casos, com abordagens semelhantes de adaptação às necessidades
locais e lidar com a variabilidade e perturbação. Práticas que abraçou os papéis
ecológicos de espécies domesticadas, bem como da flora e da fauna e da
utilização de indicadores biológicos qualitativos, identificados como instrumentos
que construiu seguros de capital para a mudança e reforçou a capacidade de
responder às novas dinâmicas do agroecossistema. A diversificação no tempo e
no espaço, bem como as práticas mais específicas para atenuar surtos de pragas
temporários e secas, podem limitar os efeitos da perturbação. Em ambos os locais
de estudo, Suécia e Tanzânia, foram identificamos mecanismos sociais para a
proteção das espécies que serviu como importantes funções no agroecossistema.
Ainda foram encontrados também exemplos de como velhas práticas servidas
como uma fonte de adaptações para lidar com as novas condições e que os novos
conhecimentos foram ajustados às condições locais. O estudo mostra que a
comparação das práticas de gestão em todas as escalas e em diferentes
configurações culturais pode revelar idéias sobre a capacidade dos agricultores
para se adaptarem e para responder de forma dinâmica aos ecossistemas. Tengo
e Belfrage (2004), enfatizaram a importância do aprendizado contínuo para
desenvolver o manejo sustentável dos agroecossistemas complexos e garantir a
produção agrícola para o futuro.
Ghimire et al. (2004), avaliam as variação nos conhecimentos relativos à
diversidade de espécies de plantas medicinais, a sua distribuição, usos
medicinais, as características biológicas, a ecologia e gestão dentro e entre dois
grupos sociais de culturas diferentes que vivem em aldeias do Parque Nacional
Shey-Phoksundo e da sua zona tampão no noroeste do Nepal. Sublinham que o
reconhecimento da heterogeneidade e escala multa dos conhecimentos e práticas
de gestão associadas dentro de uma determinada área é crucial para a concepção
das práticas de gestão em construir intricadas relações entre os conhecimentos,
práticas e contexto institucional. A importância conferida à etnoecologia
conhecimentos para sugerir novos caminhos na investigação científica, a
compreensão de processos ecológicos e a concepção de uma gestão sustentável
dos recursos naturais, que tem crescido nos últimos anos. No entanto, a variação

312
no conhecimento e práticas, tanto dentro e entre as culturas, não tem sido dada
muita atenção na gestão dos recursos, nem para desenvolver a compreensão
científica do estado ecológico dos principais recursos. Ghimire et al. (2004),
discutem a heterogeneidade e complexidade do conhecimento ecológico local em
relação à sua prática e contexto institucional no que diz respeito à gestão das
plantas medicinais dos Himalaia. Mostram os fatores que afetam esta variação, e
discutem o modo como o conhecimento é posto em ação. Ghimire et al. (2004),
sustentam que a compreensão da heterogeneidade dos saberes e práticas dentro
de uma determinada área são cruciais para a concepção de que as práticas de
gestão em construir intricadas relações entre os conhecimentos, práticas e
contexto institucional e que igualmente importante desenvolver estudos ecológicos
que irão informar melhor gestão.
Roth (2004), no seu documento sobre a gestão florestal no norte da
Tailândia, mostra como uma melhor compreensão da expressão do conhecimento
espacial que operam em diferentes escalas pode ajudar a conduzir a uma
integração mais profícua prática de conhecimentos locais e regionais com o
conhecimento e a prática. Em seu trabalho Roth (2004), identifica momentos de
convergência, compatibilidade e conflitos entre instituições locais e regionais de
gestão de informação mais eficaz com ligações cruzadas em escala na gestão
ambiental. Gerenciamento de florestas para a sua prestação satisfatória de
múltiplos bens e serviços, tanto ao nível global e local com provisões cruzada na
escala eficaz exige cooperação entre instituições de gestão local e regional de
gestão institucional. Integrar a conjuntos distintos de conhecimentos produzidos e
utilizados nas duas escalas de gestão tem-se revelado muito desafiador.
Um bom exemplo dessa integração é fornecido por Becker e Ghimire
(2003) no seu artigo sobre a criação de uma comunidade em uma propriedade de
reserva florestal no oeste do Equador. Mostram a importância do papel das
organizações, tais como ONG, na ponte de conhecimentos tradicionais e
conhecimentos científicos, na prestação de espaço social para mobilizar uma
sinergia entre o conhecimento tradicional e conhecimentos ocidental para
sustentar serviços de ecossistema e da biodiversidade em uma floresta de uso
comum. O encontro dos anseios dos indivíduos enquanto sustentação ecológica
de "bens públicos" é um desafio central na conservação dos recursos naturais.

313
Comunidades tradicionais rotineiramente tornam propriedade comum decisões
para equilibrar os benefícios para os indivíduos, com benefícios para suas
comunidades. Esse conhecimento tradicional oferece idéia para a conservação.
Usando sondagens e campo de observações, o estudo de caso de Becker e
Ghimire (2003), examina aspectos de instituições indígenas e conhecimento
ecológico utilizado pelos equatorianos rurais para a gestão de uma floresta antes
e após o uso comum interagindo com duas ONGs norte-americana voltada para a
conservação: Instituto Earthwatch e Aliado Popular para a Natureza. A criação da
comunidade rural de Loma Alta tem direito jurídico de propriedade de 6.842-ha na
parte ocidental da bacia Equador. A comunidade Loma Alta auto-regula a extração
de suas florestas úmidas de uso comum, mas não sem a influência dos modernos
conhecimentos científicos ecológicos. Quando os cientistas do Instituto
Earthwatch apresentaram provas de que floresta reduziria o abastecimento de
água para a comunidade, os aldeões rapidamente modificaram os padrões e
definiram novas regras de utilização da terra como atribuição da floresta, que
estabelece a propriedade da reserva florestal â comunidade no oeste do Equador.
Este caso demonstra que a sinergia entre o conhecimento tradicional e o
conhecimento ocidental pode resultar na manutenção da biodiversidade e dos
serviços ecossistêmicos de ambos em uma floresta de uso comum.
Milestad e Hadatsch (2003), analisam o potencial para a agricultura
biológica nos Alpes austríacos, desenvolvido no âmbito da Política Agrícola
Comum da União Européia em relação aos agricultores e as perspectivas sobre a
agricultura sustentável, e se a agricultura biológica e as práticas tradicionais sejam
capazes ou não da construção de resistência sócio-ecológicos para a exploração
na área local. A agricultura nos Alpes austríacos ocorre em pequena escala e
envolve um elevado grau de trabalho manual. Em face das mudanças estruturais
na agricultura, fazendas alpinas estão considerando cada vez mais difícil manter-
se economicamente viável. A agricultura biológica representa uma alternativa
promissora para os agricultores alpinos porque recebe um apoio financeiro
considerável no âmbito da Política Agrícola Comum da União Européia. Nos
últimos anos foi visto um aumento do número de explorações agrícolas biológicas
na Áustria, em geral, e em zonas alpinas, em particular. Usando dados de um
estudo empírico realizado na área de Sölktäler alpino, Áustria. O trabalho de

314
Milestad e Hadatsch (2003), foi realizado através de entrevistas qualitativas e uma
série de oficinas de trabalho que foram utilizadas para aprender sobre os
agricultores "o desejo do estado do sistema" no que respeitam à sua região,
perturbações a este sistema, e as suas perspectivas sobre a agricultura biológica.
O sistema em Sölktäler desejado, tal como formulada pelos agricultores
representa uma experiente comunidade agrícola que gere uma paisagem
diversificada de práticas agrícola tradicional e executa uma série de serviços
ecológicos. O sistema desejado, bem como os princípios da agricultura biológica,
tem vários aspectos em comum, e muitas práticas de gestão e as características
do sistema social se apóiam na resiliência sócio-ecológica. A vulnerabilidade das
explorações aumentam quando os agricultores têm de lidar com mudanças
estruturais na agricultura, a erosão do conhecimento ecológico tradicional e a
transformação social. Em conclusão, a agricultura biológica é uma ferramenta que
pode ser usada para construir resiliência sócio-ecológica para as fazendas
Sölktäler, porque asseguram financiamentos para a área econômica e tornam
possível sustentar práticas ambientalmente benignas. O que resta é a questão de
saber se a comunidade agrícola é capaz de reorganizar o sistema social sob as
pressões da modernização, para que o desejado estado do sistema possa pode
ser alcançado.
Os trabalhos de discussões especiais da Aliança da Resiliência verificados
na revista Ecologia e Sociedade sobre conhecimentos tradicionais no sistema
ecológico-social demonstram o valor de compreensão e promoção de diversas
fundações culturais de gestão dos recursos, restauração do ecossistema, da boa
governação e do potencial para ser encontrado em complementação e
combinando a diversos sistemas de conhecimento na gestão adaptativa de
complexos sistemas ecológico-social. Destacam a relevância da contabilidade
para a dimensão social, participação e interação cruzada na escala na gestão dos
ecossistemas.
O trabalho da Aliança da Resiliência fortalece uma mudança
paradigmática na gestão dos recursos naturais, buscando a otimização de
resistência e de auto-organização numa visão sistêmica.

315
Organograma 01. Estrutura inicial do sistema ecológico-social

Modelo
Institucional:
Leis e
Governo e costumes
Burocracias

Pressão formal Pressão formal


e informal Políticas e informal

Tendências Funções dos


Recursos

Interesses de Interesses de
produção Modelos Conservação Conservação
de produção de produção
mental mental

Uso Uso

Vantagem Vantagem

ECOSSISTEMA

Fonte: http://www.resalliance.org/563.php. Acessado 13 de fevereiro de 2009.

A AR é uma vanguarda da exploração do complexo dos sistemas sócio-


ecológicos e mantém um foco de investigação sobre a forma de influenciar/gerir
resiliência, adaptabilidade e transformação em sistemas ecológicos-sociais. As
questões norteadoras da Aliança da Resiliência são: Como a resistência se
manifesta em diferentes sistemas? Quais são as propriedades dos sistemas
que os tornam mais ou menos resistentes? Quais são os atributos do sistema
ecológico-social que podem causar-lhes o ganho ou perda da resiliência e sua
capacidade adaptativa? Como podemos medir resiliência? Como vamos

316
recuperar resiliência e capacidade de adaptação em sistemas onde eles estão
sendo erodidos, e aumentar-lhes em sistemas submetidos a mudança? Quais
são as relações entre flexibilidade, adaptabilidade e transformabilidade?
Para orientar a reflexão e investigação, a Aliança da Resiliência usa um
modelo de evolução de um sistema sócio-ecológico. Uma primeira versão deste
modelo conceitual (organograma 01), foi desenvolvida para ajudar à estrutura a
discussão e inovar idéias para o aperfeiçoado e adaptação de diferentes fins.
Contudo, a mais recente conceitualização (ANDERIES et al, 2004), tem o
objetivo de analisar a dinâmica de tais sistemas com um enfoque sobre o papel
das instituições (organograma 02). Estes "modelos" são evidentemente apenas
abstrações para ajudar a organizar pensamento e formas de análise.
Implicações deste modelo conceitual, segundo a Aliança da Resiliência:
1. Os componentes mínimos de um sistema ecológico-social são: a base de
recursos (ecossistema), um conjunto de usuários dos recursos, uma estrutura
administrativa (fornecedores de infra-estruturas públicas, organograma 02), um
conjunto de instituições (regras, redes sociais), a infra-estrutura pública, e um
regime de perturbação socioambiental, social ou ambiental.
2. A dinâmica de um sistema ecológico-social são caracteristicamente não-
linear e probabilidades de apresentar regimes de perturbações em períodos e
de vínculos exógenos.
3. A capacidade de um sistema ecológico-social para se re-organizar, sem uma
mudança fundamental na estrutura ou função é limitada - uma medida da
resiliência do sistema. O objetivo da análise da resiliência é compreender que
esses limites são: como manter o sistema afastado de regimes de
perturbações, bem como para influenciar as posições dos limites (como
aumentar o tamanho dos domínios de desejado das configurações de sistema).
4. O padrão temporal da dinâmica é que tais sistemas apresentam
invariavelmente algumas versões de quatro fases, ciclos adaptativos, como
descrito no Gunderson e Holling (2002). Esses ciclos ocorrem nas hierarquias
aninhadas em uma série de tabelas, característica do sistema em analise, e as
interações entre esses ciclos aninhados constitui uma "panarchy"
(GUNDERSON and HOLLING, 2002).

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Organograma 02. Análise e dinâmica do sistema ecológico-social

Fonte: http://www.resalliance.org/563.php. Acessado 13 de fevereiro de 2009.

5. As tentativas de desenvolvimento sustentável de um sistema ecológico-social


que estejam baseadas na análise de apenas uma parte deste sistema
fornecerá apenas soluções parciais, e é quase certo falhar nos seus objetivos
de atingir a sustentabilidade.
O objetivo da Aliança da Resiliência é o desenvolvimento de diretrizes e
princípios que irão permitir que os agentes envolvidos vislumbrem a resiliência
do sistema, e para identificar pontos de intervenção adequado para a
governabilidade, a gestão e os investimentos.

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