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Entrevista .......................................................................................................................... 4
ISSN 0100-3364
CONSELHO DE DIFUSÃO DE TECNOLOGIA E PUBLICAÇÕES É proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios, sem
Baldonedo Arthur Napoleão autorização escrita do editor. Todos os direitos são reservados à
Luiz Carlos Gomes Guerra EPAMIG.
Enilson Abrahão
Álvaro Sevarolli Capute
Maria Lélia Rodriguez Simão Os artigos assinados por pesquisadores não pertencentes ao quadro
Artur Fernandes Gonçalves Filho da EPAMIG são de inteira responsabilidade de seus autores.
Juliana Carvalho Simões
Cristina Barbosa Assis Os nomes comerciais apresentados nesta revista são citados apenas
Vânia Lacerda
para conveniência do leitor, não havendo preferências, por parte da
EPAMIG, por este ou aquele produto comercial. A citação de termos
COMITÊ EDITORIAL DA REVISTA INFORME AGROPECUÁRIO
Cristina Barbosa Assis técnicos seguiu a nomenclatura proposta pelos autores de cada artigo.
Departamento de Transferência e Difusão de Tecnologia
Vânia Lacerda O prazo para divulgação de errata expira seis meses após a data de
Divisão de Publicações publicação da edição.
Maria Lélia Rodriguez Simão
Departamento de Pesquisa
Assinatura anual: 6 exemplares
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Programa Agroenergia
Aquisição de exemplares
Antônio Álvaro Corsetti Purcino
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DEPARTAMENTO DE TRANSFERÊNCIA E DIFUSÃO DE TECNOLOGIA
DIVISÃO DE PUBLICAÇÕES
EDITOR-EXECUTIVO
Vânia Lacerda Informe Agropecuário. - v.3, n.25 - (jan. 1977) - . - Belo
COORDENAÇÃO TÉCNICA Horizonte: EPAMIG, 1977 - .
Geraldo Antônio Resende Macêdo v.: il.
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IA - Quais são as perspectivas da cultura da permitindo uma mudança na matriz energé- Luiz Cotta Martins - Os novos investi-
cana-de-açúcar para produção de com- tica, com o incentivo do consumo no mer- mentos têm buscado áreas mais planas, que
bustíveis e alimentos no Brasil? cado internacional. Além do Brasil, o álcool é possibilitam a mecanização da lavoura. Por isso,
Luiz Cotta Martins - As perspectivas são utilizado como aditivo na gasolina nos Esta- a região mais procurada em Minas Gerais, para a
muito boas a médio e a longo prazos. Sem dú- dos Unidos e na Colômbia. O Japão já aprovou expansão do setor, tem sido o Triângulo Minei-
vida nenhuma, os veículos flex, que usam uma legislação para uso da mistura e a China ro, com clima propício à cultura, terra plana e
álcool combustível ou gasolina, lançados há está realizando testes em algumas províncias. boa pluviometria. Vale ressaltar que o Siamig/
cerca de três anos, e a possibilidade de aumen- Na União Européia, há uma forte tendência do Sindaçúcar-MG conta com 35 associados, 25
to nas exportações do produto deram um novo maior consumo de biodiesel, em substituição em produção, espalhados praticamente por
fôlego para o setor. Isto acarretou uma onda ao diesel. todo o Estado, como Zona da Mata, Sul de Mi-
de investimentos, a qual ocasionou uma maior Já o açúcar tem tido um crescimento estável nas, Triângulo e Alto Paranaíba, Região Cen-
oferta de álcool combustível nesta safra, já no consumo em torno de 2% ao ano. Contudo, tral, Oeste, Noroeste e Vale do Mucuri. Além da
que as compras pelo mercado externo ainda existe uma grande expectativa de elevação neste implantação de novas usinas, as já instaladas
são reduzidas e muitos Estados contam com índice, com o aumento da demanda em países também se encontram num processo de expan-
alíquotas altas de ICMS, inviabilizando a uti- como a China e a Índia. No primeiro, o consu- são. O setor tem crescido muito nos últimos
lização do álcool combustível perante a gaso- mo de açúcar, hoje, está em 9 kg/per capita/ano cinco anos, passando de 15,5 milhões de tone-
lina. e algumas cidades mais desenvolvidas já ladas de cana-de-açúcar, em 2002/2003, para a
Acreditamos, porém, que a reforma tri- consomem 25 kg, porém, cada quilo a mais previsão atual de 38 milhões de toneladas, alta
butária dará preferência ao consumo de com- consumido na China demandará um volume em torno de 153%.
bustíveis renováveis aos fósseis, com a redu- de 1,350 milhão de toneladas. Enquanto no
ção e implantação de uma única alíquota para Brasil o consumo está em 53 kg/per capita/ano IA - A colheita mecanizada será a solução para
o álcool combustível, a fim de que possamos e, nos Estados Unidos, 76 kg/ano. a questão da queima da cana nas diferen-
ampliar ainda mais as vendas desse produto tes regiões do País e, em especial, em Minas
no mercado interno. Já no mercado externo, o IA - Quais são as regiões mineiras mais Gerais?
álcool necessita se tornar uma commodity, atrativas para expansão da cana-de- Luiz Cotta Martins - A colheita mecanizada
ampliando a produção em vários países e açúcar? é uma exigência de lei federal, porém, precisa
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de mão-de-obra, para atendimento à expansão produtor de álcool do mundo, com previsão de de forma sustentada é importante a criação
do setor, já prevendo mudanças que ocorrerão 20 bilhões de litros nesta safra. de um centro de excelência em cana?
com a mecanização da lavoura, a fim de re- Luiz Cotta Martins - As usinas mineiras
qualificar o trabalhador. IA - A irrigação pode incrementar a produ- estão também na vanguarda do setor sucro-
tividade da cana de forma econômica e com alcooleiro, com instalações modernas e uma
IA - De que forma poderá ser feita a inclusão isto reduzir o avanço acelerado de plantios gestão administrativa de ponta e emprego das
do pequeno e médio produtor no agro- em novas áreas? tecnologias mais avançadas do setor. Pratica-
negócio da cana voltada para a indústria? Luiz Cotta Martins - A irrigação poderá mente, todas as unidades são associadas ao
A microdestilaria é uma possibilidade? ser usada em regiões como Jaíba, no Norte de Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) e tam-
Luiz Cotta Martins - Atualmente, os pe- Minas, que permite esse tipo de técnica. Sem bém utilizam tecnologias de ponta desenvolvi-
quenos e médios produtores podem-se tornar dúvida, ela aumenta a produtividade, porém, é das pela Universidade Federal de Viçosa (UFV),
fornecedores de cana para o setor, com um necessário fazer um balanço sobre sua econo- com variedades adaptadas às muitas regiões do
ganho bastante significativo em relação às micidade, já que muitas regiões não possibi- Estado. O governador Aécio Neves anunciou o
outras atividades agrícolas. Com relação às litam sua utilização. lançamento, em Minas Gerais, de um Centro
microdestilarias é importante verificar profun- de Referência para o setor, que não seria somente
damente a viabilidade do negócio, já que em IA - Será possível estabelecer um ponto de referência para o Estado, mas para todo o País,
momentos de crise a sobrevivência desses equilíbrio na cultura da cana entre pro- com o desenvolvimento de novas tecnologias
empreendimentos fica em risco. Lembramos dução de bioenergia, produção de ali- na área de celulose e alcoolquímica, que possam
que, à época da desregulamentação do setor, 23 mentos e preservação ambiental? acompanhar a competitividade mundial.
Por Vânia Lacerda
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O estado de Minas Gerais vive um momento favorável no Da mesma forma, o processamento industrial apresenta
contexto da economia nacional. Sucessivos recordes de investimento diversas demandas nas áreas da engenharia de produção, tecno-
apontam para a perspectiva de sermos o Estado brasileiro que logia industrial, máquinas, motores, tratamento de resíduos e
mais crescerá nesta década. Segundo projeções do Governo, serão capacitação de recursos humanos. Por outro lado, o processamento
injetados na economia mineira cerca de R$ 97 bilhões, no período artesanal tem que ser competitivo, para sobreviver num mercado
de 2003 a 2010. cada vez mais exigente.
A maior parte desses recursos será de investimentos privados, Em todos os elos da cadeia produtiva, é imperioso consi-
que irão possibilitar a criação de 219 mil postos de trabalho e derar o fortalecimento da rede metrológica e dos processos de
garantir mais desenvolvimento e qualidade de vida para toda a certificação, indispensáveis à garantia da qualidade, assim como
população mineira. Esses dados demonstram que o Estado, com implementar sistemas produtivos ambientalmente adequados,
gestão eficiente e transparente, vem conquistando a confiança do dentro de um processo de gestão sustentável dos recursos naturais.
investidor. O governador Aécio Neves, sensível a essas demandas, vem
O grande interesse despertado pelos biocombustíveis, em orientando o seu governo no sentido de fortalecer um ambiente
particular o álcool etílico, diante da perspectiva de redução da favorável às inovações e aos investimentos em novos negócios.
oferta de combustíveis fósseis e do cenário dramático das mu- Nessa direção, foi realizado o Zoneamento Agropedoclimático
danças climáticas, não somente se reflete num aumento vertiginoso da cana-de-açúcar sucroalcooleira para o Estado, envolvendo
dos investimentos voltados para o setor em áreas tradicionais, várias instituições parceiras. O documento atenta para a questão
como aponta para a expansão de novas fronteiras agrícolas. ambiental, bem como para os aspectos socioeconômicos, como
Minas Gerais encontra-se no centro desse processo de expan- a geração de emprego e renda e a inclusão social.
são. Recentemente, em Uberlândia, o Governo do Estado assinou Dentro da mesma orientação, os biocombustíveis foram
comunicados conjuntos com empresas do setor, prevendo investi- incluídos como prioridade no Projeto Estruturador Arranjos Pro-
mentos superiores a R$ 2,12 bilhões, no Triângulo Mineiro. dutivos Locais, coordenado pela Secretaria de Estado de Ciência,
Os projetos em foco enquadram-se na proposta do Gover- Tecnologia e Ensino Superior, onde se prevêem diversas ações de
no de consolidar Minas Gerais como o segundo pólo sucro- PD&I, em apoio à produção de biodiesel e de álcool.
alcooleiro do País, num prazo máximo de três anos. Para tanto, o Ainda no âmbito do Sistema Estadual de Ciência e Tecnolo-
Estado terá que equacionar a questão tributária e solucionar os gia, foi lançado um edital da Fundação de Amparo à Pesquisa
gargalos de logística, de modo a potencializar a competitividade do Estado de Minas Gerais (Fapemig), com o objetivo de apoiar
no setor. o desenvolvimento e a transferência de tecnologias para a pro-
Essa esperada expansão do segmento coloca em primeiro dução de biocombustíveis, visando a estruturação de um pólo de
plano os desafios científicos e tecnológicos. Instituições de PD&I excelência setorial. Diversas linhas temáticas estão contempladas
sediadas em Minas Gerais já têm uma sólida contribuição no nesse edital, como sistemas e custos de produção de oleaginosas,
desenvolvimento de variedades de cana-de-açúcar de valor zoneamento agroecológico de culturas específicas, pesquisa de
comercial, tendo em vista a adaptabilidade e a estabilidade da novas cultivares, produção de sementes, aproveitamento de co-
produção em diferentes condições edafoclimáticas, bem como no produtos, capacitação de recursos humanos e produção de
desenvolvimento de um amplo leque de tecnologias em apoio ao material técnico.
sistema produtivo. Também estão sendo finalizados os estudos para a criação
Os novos desafios do setor incluem a dinamização de um de um Centro de Bioenergia, numa parceria entre o Governo do
novo planejamento estratégico de PD&I, que envolve estudos apro- Estado, instituições de PD&I, setor privado e financiamento
fundados sobre manejo do solo, fertilidade, adubação, controle internacional. Caberá ao Centro viabilizar soluções tecnológicas,
de pragas e doenças e necessidades de irrigação e colheita, dentre acelerar o processo de inovação e apoiar investimentos e novos
outros. negócios na geração de energia a partir da biomassa.
Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Minas Gerais, desde o início de 2007. Engenheiro Agrônomo pela Universidade Federal Rural
do Rio de Janeiro (1968) e doutor em Sistemas Agrícolas pela Universidade de Reading, Inglaterra (1982). Foi pesquisador da Epamig; Diretor-executivo da
Embrapa; Secretário-executivo e Ministro interino da Agricultura, do Abastecimento e da Reforma Agrária; Diretor da Agência de Inovação da Unicamp; Secretário-
adjunto de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais e Diretor-executivo do Conselho Nacional do Café, em Brasília.
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INTRODUÇÃO quação do setor à economia de mercado, a safra 2006/2007, numa área de 480 mil
Com a derrocada do Programa Nacio- indústria sucroalcooleira começou a expe- hectares. O setor gera hoje 120 mil empre-
nal do Álcool (Proálcool), no final da dé- rimentar, especialmente, no final da déca- gos diretos e indiretos em Minas Gerais.
cada de 80 e início dos anos 90, o setor da de 90, um período de expansão. Este A produção concentra-se, principalmen-
sucroalcooleiro nacional presenciou um caracteriza-se não apenas pelo crescimen- te, na região do Triângulo Mineiro, que
dos períodos mais críticos de sua história. to do parque industrial, mas pelas moder- responde por 70% da colheita de cana-de-
Em Minas Gerais, cerca de 50% das unida- nizações administrativa e operacional, re- açúcar, seguida do Sul de Minas (11%)
des produtoras, grande parte delas, criada sultando no aumento dos níveis de pro- e, em terceiro lugar, da região Oeste (5%)
após o advento do Programa, encerraram dutividade, qualidade e produção acima (Fig. 1).
suas atividades. Para se ter idéia, em 1986, da média nacional. No caso do álcool, por Nos últimos cinco anos, o setor mineiro
havia 42 unidades produtoras no território exemplo, à época do Proálcool, a produ- apresentou um crescimento acima da média
mineiro espalhadas pelas diversas regiões, ção chegava a 2 mil litros por hectare, hoje, nacional, conquistando a auto-suficiência
das quais 38 produziam álcool e 15 produ- o volume está em 7 mil litros/ha. na produção de açúcar e álcool. A produ-
ziam açúcar. Já na safra 1994/1995, o Estado Atualmente, Minas Gerais possui 29 ção de cana-de-açúcar em Minas Gerais
contava apenas com 27 unidades: sendo usinas de açúcar e álcool em produção apresentou um crescimento de 19,43% ao
23 produtoras de álcool e 12 produtoras de e ocupa o terceiro lugar no ranking na- ano, a de açúcar, de 17,03%, e a de álcool,
açúcar. cional, atrás de São Paulo e Paraná, com de 21,74%. Já no Centro-Sul, principal
Depois de viver um longo período de uma previsão de produção para a safra região produtora do País, o índice de cres-
estagnação e superada a fase crítica da des- de 2007/2008 de 38 milhões de toneladas, cimento foi de 9,28% a.a. para a cana,
regulamentação, caracterizada pela ade- 31% acima dos 29 milhões de toneladas da 8,72% para o açúcar e 9,7% para o álcool.
1
Economista, Assessor Econômico Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Minas Gerais (Siamig/Sindaçúcar-MG), Av. Contorno, 4480/
1308 – Funcionários, CEP 30110-028 Belo Horizonte-MG. Correio eletrônico: mariocampos@siamig.com.br
2
Jornalista, Assessora de Comunicação Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Minas Gerais (Siamig/Sindaçúcar-MG), Av. Contorno,
4480/1308 – Funcionários, CEP 30110-028 Belo Horizonte-MG. Correio eletrônico: monicasantos@siamig.com.br
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Em comparação com o Brasil, o estado de INVESTIMENTO Vultosos investimentos têm sido feitos
Minas Gerais cresceu mais ainda, já que A retomada de Minas Gerais coinci- pelo setor na expansão e na construção de
para a cana, nacionalmente, a alta foi de de com a desregulamentação do setor e a novas usinas no Estado. Esses empreen-
8,5% ao ano, 7,94% para o açúcar e 9,35% ocupação definitiva do Cerrado mineiro, dimentos, que abrangem não só a área
para o álcool (Gráfico 1). em especial a região do Triângulo Mineiro, industrial, mas também imensas extensões
A previsão para 2007 é de uma safra de pelos grandes grupos nordestinos: João de terra, sustentam as altas taxas de cres-
crescimento recorde em cana-de-açúcar, até Lyra, Tércio Wanderley (Coruripe) e Carlos cimento da produção observadas.
então, com um acréscimo de 8 milhões de Lyra, em meados da década de 90, atraídos Desde o início de 2003, o setor já reali-
toneladas, diante dos três milhões de pelas condições topográficas, o clima e a zou investimentos em torno de US$ 1 bi-
acréscimos verificados nos últimos cinco proximidade com São Paulo. A atividade lhão, tanto nas áreas de expansão agríco-
anos. Já a produção de álcool prevista é de industrial, até então concentrada na Zo- la e industrial das unidades já existentes,
1,7 bilhão de litros, alta de 31% diante de na da Mata e Sul do Estado, cedeu lugar a quanto em novas unidades. De 2003 até
1,3 bilhão da safra passada, e a produção esse novo pólo industrial, um processo a safra 2007/2008 foram inauguradas as
de açúcar será de 2,4 milhões de toneladas, ainda em curso nos dias de hoje, atraindo, Usinas Vale do Paranaíba (Grupo João
aumento de 26% em comparação com os também, grandes grupos paulistas, que não Lyra), Limeira do Oeste (Grupo Coruripe),
1,9 milhão de toneladas da safra passada encontram mais espaço para expansão no Santa Juliana (Grupo Tenório), Usina Pla-
(Gráfico 1). seu Estado de origem. nalto (Grupo Carolo), Usina Itapagipe (Gru-
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po Moema), Usina Frutal (Moema) e Ve- produtos. O açúcar é uma das commodities Japão e Estados Unidos, dois dos maio-
redas (Grupo Ferroeste). mais protegidas do mundo, seja por meio res consumidores de petróleo e de seus
A onda de investimentos deverá con- de subsídios seja por barreiras alfandegá- derivados do planeta, já aprovaram a mis-
tinuar, diante das boas perspectivas para o rias. tura de álcool na gasolina. Outros países,
álcool combustível. A previsão é de aporte Essas barreiras, principalmente a impos- entre eles os membros da União Européia e
de US$ 3 bilhões, até 2012/2013, com pre- ta pela União Européia, foram alvo de uma países da América Latina, estão caminhan-
visão da instalação de 26 novas unidades disputa na Organização Mundial do Co- do para a mesma direção e o Brasil, como
nesse período. Isso trará um salto na pro- mércio (OMC), iniciada em 2003. Junto à um dos maiores produtores mundiais, é o
dução mineira de cana para 84 milhões de Austrália e à Tailândia, o Brasil questio- único País em condições de atender a uma
toneladas; cerca de 4,2 bilhões de litros de nou o regime de açúcar imposto pela União demanda dessa magnitude.
álcool e 4,6 milhões de toneladas de açú- Européia. O resultado, favorável ao País, Além disso, a instituição do Protocolo
car, com geração de 60 mil novos empregos foi anunciado em agosto de 2004 e pode- de Kyoto e os problemas de aquecimen-
diretos. rá representar uma maior abertura para o to global previstos no Relatório do Inter-
açúcar brasileiro no mercado europeu, com governmental Panel on Climate Change
MERCADO INTERNO possibilidade de elevação das exportações (IPCC), divulgado recentemente, gerarão
E EXTERNO de açúcar para o bloco em mais de 2 milhões uma maior busca por produtos e técnicas
Açúcar e álcool são produtos estratégi- de toneladas. que poluam menos em detrimento daquelas
cos para a economia brasileira. O Brasil é o Tentando abrir o mercado mundial e que degradam o meio ambiente. Novamen-
maior produtor de cana-de-açúcar e açú- apresentando uma alternativa de energia te, o álcool combustível constitui a melhor
car – perdendo, no álcool, para os EUA – e renovável, limpa e não poluente, o álcool opção para atingir este objetivo.
exportador de açúcar e álcool do mundo. produzido no Brasil obteve uma grande No mercado interno, o álcool vem ga-
A produção com tecnologia avançada e as valorização nos últimos anos. Vários esfor- nhando importância, principalmente com o
características climáticas e de solo ideais ços estão sendo feitos para transformar lançamento, a partir de março de 2003, dos
para o plantio da cana fazem com que o esse combustível em commodity. Vários carros flex-fuel. De acordo com a Asso-
custo brasileiro de produção seja o menor países já mostraram interesse em promo- ciação Nacional dos Fabricantes de Veí-
(cerca de 50%) em relação a seus concor- ver a mistura de álcool à gasolina, como é culos Automotores (Anfavea), as vendas
rentes. feito atualmente no Brasil na proporção desses carros com motores bicombustíveis
Contudo, nossos produtores encontram atual de 23%, mas que pode chegar até a estão acima de 80% do total de veículos
muitas barreiras para a exportação dos seus 25%. leves produzidos no País. A cada mês, no-
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vos modelos são lançados e novas marcas álcool. Segundo a Consultoria Datagro, em a alíquota de 25% para 15%. O consumo de
estão adequando seus veículos à nova 2006 (DATAGRO, 2007), o País exportou álcool em 2006, comparado com 2005, cres-
tecnologia (Gráfico 2). 3,4 bilhões de litros de álcool, alta de 400%, ceu 50% em São Paulo e 58% em Goiás. Em
Os carros flex ou bicombustíveis per- diante dos 656 milhões de litros exportados Minas Gerais, a manutenção da alíquota
mitem ao consumidor escolher com qual em 2003 (Gráfico 3). em 25% e o impacto nos preços diretos ao
combustível ele irá abastecer seu veículo. É notável a tendência de recuperação consumidor provocaram uma queda no
Segundo os fabricantes, o carro movido a do mercado interno de álcool hidratado e consumo de álcool combustível de 7% no
álcool consome cerca de 30% mais que o as perspectivas de exportação do produto. mesmo período.
carro movido a gasolina. Por isso, o preço Contudo, pode-se observar que essa recu-
do álcool deve estar cerca de 30% menor peração está ocorrendo, de maneira mais LOGÍSTICA
que o preço da gasolina na bomba, para acentuada, naqueles Estados brasileiros A reativação do setor sucroalcooleiro
que o consumidor esteja propenso a abas- que apresentam relação de preço com a tem provocado o deslocamento da produ-
tecer o tanque com o álcool. gasolina mais vantajosa para o consumi- ção para outras fronteiras agrícolas mais
Esses novos motores propiciam ao dor e que implantaram alguma medida que distantes dos grandes centros consumi-
consumidor um poder maior de decisão, estimulasse o consumo ou que desesti- dores. Em Minas Gerais, com um maior
podendo escolher aquele combustível que mulasse a venda de álcool ilegal dentro do afluxo no Triângulo Mineiro, em Goiás e
irá trazer-lhe algum ganho econômico, Estado. em Mato Grosso criou-se a necessidade
protegendo-o daqueles períodos nos quais Esse fato pode ser observado pelos nú- de investimentos em infra-estrutura para
os preços do álcool ou da gasolina estejam meros de crescimento apresentados pelos escoamento da produção, tanto para o mer-
elevados. estados de São Paulo, que reduziu o ICMS cado interno, quanto para o mercado exter-
O Brasil apresenta, também, um cres- do álcool hidratado combustível de 25% no, mantendo, assim, a competitividade da
cimento significativo das exportações de para 12%, e o estado de Goiás, que passou indústria.
Market-share
Market-share
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Em Minas Gerais, encontra-se a maior previstos no Programa de Aceleração Eco- É preciso consolidar a produção mi-
malha rodoviária federal do País e, por isso, nômica (PAC), sendo uma obra importante neira, dando-lhe condições de competi-
os maiores problemas. As principais estra- e estratégica para esses dois pólos de pro- tividade tributária e logística em relação a
das de escoamento da produção como a dução sucroalcooleira. outros Estados, além de outras políticas
BR 262, que liga a principal região pro- Outra ação importante foi a iniciativa públicas de habitação, segurança e saúde
dutora do Estado, o Triângulo Mineiro, a da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), que ancorem o desenvolvimento das cida-
Belo Horizonte, freqüentemente apresenta por meio de sua subsidiária, Ferrovia Cen- des onde estão localizadas as unidades
trechos em estado lastimável de conser- tro Atlântica (FCA), e da empresa alemã produtoras.
vação. Outras estradas, como a MG 427 e Oiltanking, de construir, no Porto de Vitória, Sem competitividade e principalmente
sua continuação a BR 364, além da MG 255 um terminal exclusivo para álcool. A impor- sem um forte mercado consumidor, será
e a BR 153 (que liga São Paulo a Goiás, pas- tância desse terminal deve-se à ligação, por muito difícil consolidar os investimentos
sando pelo Triângulo), necessitam de maio- ferrovia, da região do Triângulo Mineiro na expansão e implantação de novas uni-
res cuidados. É preciso, ainda, construir e ao Porto de Vitória. Esse projeto que já está dades no Estado. É preciso que os gover-
reformar as estradas vicinais para trans- sendo implantado viabilizará também a nos fiquem atentos a isso e contribuam pa-
porte da cana-de-açúcar até as usinas e exportação de álcool da região Oeste, Zona ra o crescimento de um dos setores que
escoamento da produção. Um dos grupos da Mata e Mucuri de Minas Gerais. hoje mais geram emprego e renda no País.
alagoanos instalados no Triângulo Mi-
neiro, o Grupo Coruripe, firmou parceria CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS
público-privada com o governo mineiro Pode-se concluir que a produção sucro- CARTA DA ANFAVEA. São Paulo: ANFAVEA,
para a construção de estradas e já pavimen- alcooleira em Minas Gerais está ainda em n.252, 2007. Disponível em: <http://www.
tou mais de 100 km. processo de reestruturação e expansão. So- anfavea.com.br>. Acesso em: 30 abr. 2007.
Recentemente, a Ministra da Casa Civil, mente em área plantada em 2007, o Estado
Dilma Roussef, em visita a Belo Horizonte DATAGRO. BD e projeções. 2007. Disponível
apresentou uma expansão de 30%, o que
no mês de março de 2007, confirmou a em: <http://www.datagro.com.br>. Acesso
implica em mais cana para moagem e, conse-
em: 30 abr. 2007.
construção de um alcoolduto na região do qüentemente, mais açúcar e álcool produ-
Triângulo Mineiro, permitindo que o pro- zidos. É certo que, sem os investimentos MARTINS, L.C.C. O setor sucroalcooleiro no
duto produzido em Minas Gerais chegue necessários em infra-estrutura e equaliza- estado de Minas Gerais. Uberaba: Sindicato
ao porto com maior competitividade. Feliz- ção da tributação, as novas fronteiras agrí- das Indústria da Fabricação do Álcool no Estado
mente, num acordo com a Petrobrás, Goiás colas da cana, dentre elas Minas Gerais, de Minas Gerais, 2007. Power Point apresenta-
e Minas Gerais terão seu alcoolduto, que perderão a chance de ter uma participação do no Congresso Internacional de Tecnolo-
ligará Senador Canedo (GO), passando por maior nesse grande mercado que se apre- gia na Cadeia Produtiva da Cana em 28 mar.
Uberaba (MG) até Paulínia e daí até o Porto senta, principalmente, para o álcool com- 2007. Documento do acervo administrativo do
de São Sebastião (SP). Os recursos já estão bustível. SIAMIG.
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INTRODUÇÃO antrópica, têm sido importantes fontes de tíveis fósseis e a mudanças no manejo da
Há anos que se encontram em discus- debate internacional. Segundo o relatório terra, enquanto o aumento de metano e
são questões relacionadas com as reser- do Intergovernmental Panel on Climate óxido nitroso deve-se primordialmente, à
vas finitas de petróleo, energia renovável Change (IPCC), da Organização das Nações agricultura. Nesse sentido, o Protocolo de
e aquecimento global, uma vez que estes Unidas (ONU), o gás carbônico é o que mais Kyoto já havia dado orientações para que
temas estão inter-relacionados no que diz contribui para o aquecimento (53%), se- os países promovam, até o ano de 2012, a
respeito à sobrevivência do planeta e, pa- guido pelo metano (17%); clorofluorcarbo- redução da emissão de gases causadores
ralelamente, à continuação do desenvolvi- neto (CFCs) (12%) e óxido nitroso (6%), do efeito estufa, antevendo uma situação
mento socioeconômico das nações. entre outros, onde os aumentos globais, ambiental crítica para o planeta.
O aquecimento global e as mudanças na concentração de dióxido de carbono, Quanto ao petróleo, há constantemente
climáticas no planeta, com ênfase na ação devem-se, sobretudo, ao uso de combus- o risco econômico em função da depen-
1
Engo Agrimensor, M.Sc., Pesq. EPAMIG-DPPE, Caixa Postal 515, CEP 31170-000 Belo Horizonte-MG. Correio eletrônico: marley@epamig.br
2
Economista, M.Sc., Analista de Desenvolvimento INDI, R. Rio de Janeiro, 471 – Centro, CEP 30160-910 Belo Horizonte-MG. Correio eletrônico:
rubens.brito@indi.gov.br
3
Matemática, M.Sc., Pesq. EPAMIG-DPPE, Caixa Postal 515, CEP 31170-000 Belo Horizonte-MG. Correio eletrônico: lelia@epamig.br
4
Engo Agro, M.Sc., Pesq. EPAMIG-DPPE, Caixa Postal 515, CEP 31170-000 Belo Horizonte-MG. Correio eletrônico: abilio@epamig.br
5
Geógrafo, M.Sc., Pesq. EPAMIG-DPPE, Caixa Postal 515, CEP 31170-000 Belo Horizonte-MG. Correio eletrônico: ivair@epamig.br
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dência mundial por esta fonte de energia, de emprego (diretos e indiretos), bem como de determinados fenômenos ou no apoio
dado o limite das reservas e também as a inclusão social. a decisões de planejamento, considerando
questões relacionadas com a variação de Sendo o Estado mineiro possuidor de a concepção de que os dados armazena-
mercado, sendo que esta decorre, geral- grande extensão territorial e de uma gran- dos representam um modelo do mundo real
mente, de conflitos mundiais, tais como os de variedade de ambientes agrícolas carac- (BURROUGH, 1986). A capacidade de aná-
já ocorridos no Oriente Médio. Diante deste terizados por diferentes geomorfologias, lise e de modelagem espacial, que inclui a
quadro, as nações têm buscado uma alter- tipos de solos e climas e ainda tendo em sobreposição de mapas, procedimentos de
nativa energética para mitigar este proble- vista o iminente crescimento do setor reclassificação, análise de proximidade,
ma, sendo, portanto, a cada dia, mais pro- sucroalcooleiro, há a necessidade de ba- entre outras técnicas, constitui uma das mais
missor o emprego de biocombustíveis no ses instrumentais para planejar, controlar, importantes características do SIG.
processo de substituição do petróleo. Ho- incentivar e designar o melhor uso das ter- Ao longo de sua história, a Empresa de
je, nos Estados Unidos, há uma grande ras, visando os seus interesses nos aspec- Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais
demanda por etanol e, na Europa, por bio- tos social/econômico, resultando, por fim, (EPAMIG), vinculada à Secretaria de Esta-
diesel. em um maior grau de desenvolvimento. do de Agricultura, Pecuária e Abastecimen-
No Brasil, em outubro de 2002, o go- Assim, o estabelecimento de zoneamentos to de Minas Gerais (Seapa-MG), em parceria
verno federal lançou o Programa Brasilei- de âmbito agroambiental torna possível a com várias instituições públicas e privadas,
ro de Biocombustíveis e, em 13 de janeiro determinação do potencial agrícola de uma vem desenvolvendo um acervo de dados
de 2005, entrou em vigor a Lei no 11.097 região, visto que proporcionará ao agri- e informações sobre várias condições de
(BRASIL, 2005), que dispõe sobre a intro- cultor e ao governo não só a escolha das clima, solo, cultivares, tecnologias, infor-
dução do biodiesel na matriz energética terras mais aptas, mas também a indicação mações, etc., para subsidiar a atuação do
brasileira e autoriza o seu uso comercial, dos possíveis locais de ação de efeitos de governo nas decisões de planejamento
com a adição, após três anos, de 2% deste eventos atmosféricos adversos. Sugere, agrícola para o desenvolvimento e uso do
produto ao diesel de petróleo e com a pre- portanto, uma combinação de vários fato- território do Estado em bases sustentá-
visão de 5%, para 2013. No entanto, desde res, a fim de proporcionar o uso sustentado veis. Como exemplo prático dessa posição,
1975 o País tem apresentado soluções em das terras, evitando o desmatamento e a a EPAMIG realizou, juntamente com a Se-
energias renováveis por meio do Programa abertura de novas frentes agrícolas e a ação cretaria de Estado de Desenvolvimento
Nacional do Álcool (Proálcool), na fabri- de queimadas. De outra forma, pode contri- Econômico (SEDE), na pessoa jurídica do
cação de álcool. E, em decorrência de um buir para a redução das perdas nas lavou- Instituto de Desenvolvimento Integrado
processo evolutivo, o Brasil já domina hoje ras, regular o abastecimento e manter o equi- de Minas Gerais (Indi), o zoneamento agro-
a tecnologia do etanol. líbrio dos preços dos produtos, bem como pedoclimático da cana-de-açúcar sucro-
Neste contexto, o estado de Minas Ge- dar subsídios às agências de fomento para alcooleira, para atender a uma condição
rais apresenta-se como um protagonista a melhor aplicação do crédito agrícola junto iminente do Estado.
no cenário produtor da cana-de-açúcar, se- ao produtor.
gundo dados apresentados pela Agência Dadas as condições fisiográficas do METODOLOGIA
Brasileira de Notícias (2006), sendo o ter- estado de Minas Gerais, o estabelecimento O processo de zoneamento da cana-de-
ceiro produtor de cana e de álcool, atrás de zoneamentos de caráter agroambien- açúcar teve início em levantamentos de
de São Paulo e Paraná, com taxa média de tal torna-se de difícil execução em nível de informações referentes às condicionantes
crescimento da produção de cana de 8,6% escala maior, quando se usam para tal, mé- ambientais para o seu cultivo. Assim, foram
ao ano, contra 4,81% da média nacional. todos tradicionais de mapeamento. O empre- definidas seis variáveis a serem usadas: alti-
A Agência Brasileira de Notícias (2006) go de técnicas computacionais específicas tude, declividade, temperatura média anual,
revela ainda que o Estado deverá receber permite uma maior precisão e maximização classe de solos, deficiência hídrica e áreas
mais de R$ 211 milhões em investimentos no processo. Tais técnicas dizem respeito ao de reservas ambientais. Definidas essas va-
no setor sucroalcooleiro e os protocolos Sistema de Informações Geográficas (SIG). riáveis, foram estabelecidos, por meio de
de intenções estão sendo assinados para Este Sistema é constituído por um conjunto consultas a literaturas específicas, os limi-
implantação e ampliação de usinas produ- de ferramentas especializadas em adquirir, tes máximos e mínimos aceitáveis para cada
toras de açúcar e álcool. Tais fatos pode- armazenar, recuperar e transformar infor- uma delas. O Quadro 1 demonstra os limi-
rão trazer benefícios na área social, já que mações espaciais. O SIG pode ser utilizado tes estabelecidos para cada variável, com
investimentos desta natureza e desta ordem em estudos relativos ao meio ambiente e exceção da altitude que foi usada para o
tendem a promover a geração de renda e recursos naturais, na pesquisa da previsão cálculo de temperatura e de declividade.
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Com o uso do SIG foram feitos os ma- Quartzarênicos (RQ), visto que há, sob o Temperatura
pas para cada variável e para todo o limite ponto de vista econômico-ambiental, a A partir dos dados de altimetria aplicou-
do estado de Minas Gerais, onde foram possibilidade de apresentarem problemas se o modelo matemático desenvolvido por
estratificadas as classes de áreas aptas, inap- de lixiviação de herbicidas e de contami- Sediyama e Melo Junior (1998), para o cál-
tas e restritas, segundo os limites levanta- nação do lençol freático dadas sua macro- culo/mapeamento da temperatura média
dos para a cultura. Os mapas de cada variá- porosidade e sua alta mobilidade no perfil anual. A partir do mapa gerado classificaram-
vel foram cruzados espacialmente, tendo do solo. A lixiviação por meio de solos are- se os intervalos de temperaturas entre 19oC
como resultado a delimitação da aptidão nosos é também favorecida pelos baixos e 21oC, como restrita, e acima de 21oC, como
para a cana-de-açúcar sucroalcooleira. teores de matéria orgânica e de minerais de apta, conforme orientação do Zoneamento
argila, fatores que poderiam reter as molécu- Agroclimático do Estado de Minas Gerais,
Solos las por mais tempo no solo. A retirada dessa no capítulo “Cultura da cana-de-açúcar”
Os mapas de solos utilizados foram ce- classe de solos foi ponderada e conside- (MINAS GERAIS, 1980). O modelo mate-
didos pela Fundação Centro Tecnológico rada pertinente por técnicos da EPAMIG, mático é uma equação linear que leva em
de Minas Gerais (CETEC, 2006), entidade bem como justificada quanto à questão consideração as coordenadas geográficas
geradora e que levantou todo o estado de ambiental no trabalho de Matallo et al. e altitude para cada ponto desejado. O mo-
Minas Gerais em escala 1:500.000. Esses (2003). delo também estabelece algumas constan-
mapas foram revisados e convertidos para tes, que são agregadas à equação linear,
o formato digital em um trabalho conjun- Altimetria e declividade
dado por:
to daquela entidade com o Departamento Dados altimétricos foram obtidos pelo
Yi = a0 + a1x1 + a2x2 + a3x3 + εi
de Solos da Universidade Federal de Viço- satélite Shuttle Radar Topography Mission
sa (UFV). (SRTM), proveniente do Consórcio Natio- em que:
Foram, então, recortados (retirados) do nal Aeronautics and Space Administration Yi = temperaturas médias normais
mapa os solos inaptos para o cultivo da (Nasa)/National Geospatial-Intelligence anuais estimadas;
cana-de-açúcar. Esses solos foram os ra- Agency (NGA), que fez o imageamento alti- x1 = altitude do local em metros;
sos, sujeitos à inundação e hidromórficos. métrico mundial em pixels de 90 m. x2 = latitude do local em graus e dé-
Retiraram-se, portanto, as classes Espodos- A partir do mapa altimétrico foi gerado cimos;
solos Cárbicos (EK), Neossolos Litólicos também o de declividades. Foram retiradas x3 = longitude do local em graus e dé-
(RL), Neossolos Flúvicos (RU) e Gleissolos as declividades acentuadas ao cultivo da cimos;
Melânicos (GM), respectivamente, e, ain- cana-de-açúcar, estas, maiores que 13%, ε i = erro;
da, as áreas com afloramentos rochosos. visando o estabelecimento de áreas meca- a0, a1, a2 e a3 = constantes definidas
Foram retirados, também, os Neossolos nizáveis. para o modelo.
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considerados dados pontuais calculados foi estabelecido com base no trabalho de tentável;
utilizando-se de informações de estações Camargo e Ortolani (1964) e o limite de 400 VII - Reserva Particular do Patrimônio Na-
sediadas no estado de Minas Gerais e de mm, entre as faixas de restrição hídrica por tural.
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150 mm), solos aptos e declividade CONSIDERAÇÕES FINAIS há, inclusive no Brasil, muitas opções de
menor ou igual a 13%; A metodologia utilizada para o zonea- modelos e que poderiam ser aplicados
e) restrição hídrica (irrigação suple- mento da cana-de-açúcar sucroalcooleira neste trabalho. A opção, então, feita pelo
mentar) / restrição térmica mode- buscou, em um curto espaço de tempo, um modelo de Thornthwaite e Mather (1955),
rada: áreas que apresentam restrição cenário que se aproximasse da realidade deveu-se à facilidade de obtenção dos re-
hídrica com necessidade de irrigação do estado de Minas Gerais. Faz-se, porém, sultados e pela difusão do modelo em nível
suplementar e restrição térmica mo- uma ressalva: para o estabelecimento de um mundial. Por outro lado, este modelo pode
derada. Deficiência hídrica entre 150 zoneamento agropedoclimático e/ou zonea- não refletir a realidade para algumas re-
e 400 mm, temperatura média anual mento agroecológico com maior acurácia, giões, o que não pode ser considerado um
entre 19ºC e 21ºC, solos aptos e decli- é necessária a complementação com um erro de mapeamento, mas sim uma questão
vidade menor ou igual a 13%; levantamento mais detalhado por meio da de critério adotado.
adição de mais parâmetros ambientais, No caso da amplitude das faixas de li-
f) restrição hídrica (irrigação impres-
estudo de cultivares e de procedimentos mites de deficiência hídrica deve-se aten-
cindível) / restrição térmica mode-
feitos em campo. tar para o seguinte: a cidade de Ituiutaba,
rada: áreas de restrição hídrica com
Entretanto, buscou-se uma exigência por exemplo, no Triângulo Mineiro, e a ci-
necessidade de irrigação imprescin-
agronômica mais próxima da realidade, sem dade de Montes Claros, mais ao norte do
dível e também com restrição térmica
o rigor de explicar as situações em sua tota- Estado, foram classificadas como área de
moderada. Deficiência hídrica maior
lidade. Nessas condições, alguns fatores, restrição hídrica (necessário irrigação su-
que 400 mm, temperatura média
tais como, escala, imprecisão dos dados plementar). Porém, Ituiutaba (155 mm) tem
anual entre 19ºC e 21ºC, solos aptos
brutos e amplitude da faixa de limites de- deficiência hídrica próxima ao limite infe-
e declividade menor ou igual a 13%;
vem ser mencionados, para que não haja rior de 150 mm e Montes Claros (310 mm),
g) inapta: áreas que não atendem aos equívocos de interpretação do mapa. próxima ao limite superior de 400 mm. Por-
critérios estabelecidos nos itens Algumas informações podem estar tanto, esta classificação apresentou para
anteriores. omissas em função da escala de desenho. estas cidades condições similares, embora
O Quadro 2 demonstra a quantificação Um caso típico dessa situação é a declivi- estejam próximas aos limites para mudança
das áreas nas suas diversas classificações dade, principalmente na região mais a leste de classe, sendo uma para “mais apta” e
de aptidão. Nota-se que as mais represen- do Estado, onde esta variável é mais efeti- outra para “menos apta”.
tativas são inaptas e de restrição hídrica va, dado o relevo acidentado da região. Outra constatação foi quanto à impre-
(necessário irrigação suplementar), com Quando é dado um zoom maior sobre esta cisão ou à escala de levantamento da base
valores de 51,2% e 20,4%, respectivamen- região, certos pontos tendem a se tornar de dados que, muitas vezes, não permite
te. As áreas inaptas justificam-se, basica- áreas maiores espaçadas por vazios. Estes refletir a realidade exata do que ocorre no
mente, pela presença de regiões de clima vazios seriam as declividades elevadas. campo. O mapa de solos, por exemplo, teve
frio no Sul do Estado, declividade acen- O cálculo de deficiência hídrica é tam- sua construção em escala aproximada de
tuada na região leste e por solos inaptos. bém um fato a ser considerado visto que 1:500.000. Assim, seria impossível abranger
todas as classes de solos existentes em uma
unidade de mapeamento, mas somente a
QUADRO 2 - Quantificação de área por nível de aptidão predominante. Por outro lado, as estações
Área meteorológicas existentes no Brasil são re-
(aproximada) duzidas, o que pode promover imprecisão
Aptidão
no recobrimento do Estado.
km2 %
Portanto, para o aprimoramento do zo-
Inteiramente apta 62.295 10,6 neamento aqui apresentado há necessida-
Restrição hídrica (necessário irrigação suplementar) 119.587 20,4 de de estabelecer outros procedimentos,
visando uma melhor exatidão e uma maior
Restrição hídrica (irrigação imprescindível) 32.771 5,6
abrangência para seu uso. Pode-se, por-
Restrição térmica moderada 61.595 10,5 tanto, agregar outras variáveis ambientais
Restrição hídrica (irrigação suplementar) / restrição térmica moderada 9.658 1,6 tais como trabalhar com as informações
Restrição hídrica (irrigação imprescindível) / restrição térmica moderada 757 0,1
dentro do ciclo vegetativo da cultura, fer-
tilidade do solo, disponibilidade hídrica
Inapta 300.284 51,2
nos rios para irrigação, uso de exposição
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de vertentes, delimitação de regiões homo- VOLTA, E.; SEGALLA, A.L.; GOMES, F.P.; Ribeirão Preto utilizando um sistema de infor-
gêneas, diminuição da amplitude dos limi- BRIEGER, F.O.; PARANHOS, S.B.; RANZANI, mações geográficas. Scientia Agricola, Pira-
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1
Engo Agro, D.Sc., Prof. Adj. UFV - Depto Fitotecnia, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: barbosa@ufv.br
2
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3
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4
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longevidade destas são de suma impor- cana. Para o corte manual da cana, sem Como a maioria das doenças da cana é
tância para as variedades. queima prévia, as variedades devem apre- controlada por meio do mecanismo conhe-
Como se sabe, a produtividade é redu- sentar despalha fácil ou mesmo natural. cido como resistência horizontal, em con-
zida a cada ano de corte. Portanto, é dese- dições de campo, no canavial, ocorrem
jável que as variedades apresentem boa Não florescimento excessivo plantas infectadas pela doença, entretan-
brotação de soca, especialmente aquelas O florescimento pode acarretar per- to sem ocasionar perdas econômicas.
cortadas em meados de safra, no período das na qualidade da matéria-prima, devido
seco. aos efeitos da isoporização dos colmos, ao MANEJO DE VARIEDADES
No caso de colheita mecânica, sem aumento da porcentagem de fibra, à bro-
O manejo de variedades pode ser enten-
queima prévia, torna-se importante também tação das gemas dos colmos em pé, à dimi-
dido como o processo que visa maximizar a
a brotação de soca sob a palha residual. nuição do caldo extraído pelas moendas e
produtividade agroindustrial, empregando
Há variedades que não suportam ou não à paralisação do desenvolvimento vege-
variedades e outras tecnologias disponí-
brotam satisfatoriamente sob a palhada. tativo dos colmos floridos, isso faz com
veis.
que haja perda em produtividade de col-
Perfilhamento e Em monocultura extensiva, como é o
mos.
característica do colmo caso da cana-de-açúcar, há riscos de queda
No caso de variedades precoces, o flo-
É desejável que as variedades apresen- rescimento não é problemático. Portanto, de produtividade, devido a fatores bióticos
tem rápido desenvolvimento inicial (bom pode-se perfeitamente usar uma variedade e abióticos. Essas condições de estresse
perfilhamento) e adequado fechamento de precoce florífera, para corte no início de climático e biológico e suas interações com
entrelinhas, para minimizar a competição safra. Talvez a própria indução ao flores- as variedades denominam-se declínio de
com plantas daninhas. cimento promoverá uma melhoria na matu- produtividade da cana-de-açúcar. Cabe ao
É interessante que não apresentem bro- ração da variedade precoce. homem interferir no processo, para ame-
tações tardias, o que comprometerá a uni- nizar os riscos decorrentes do declínio de
formidade de maturação do canavial. Por- Tolerância às principais produtividade das variedades. Estas, por
tanto, é desejável que as variedades tenham doenças e pragas sua vez, sempre serão substituídas por
ao final do ciclo de produção colmos com Nunca existiu e jamais existirá a varie- outras de melhor produtividade e que aten-
a mesma idade fisiológica de maturação. dade perfeita. Por questões probabilísticas, dam às novas demandas impostas pela
Além disso, que apresentem diâmetro uni- o melhoramento não conseguirá associar mudança nas tecnologias de produção ou
forme e médio de colmos, para que não se em uma única variedade (clone) todas as mesmo por epidemias de novas doenças
quebrem com facilidade. características desejáveis de produtividade introduzidas de outros países.
Há variedades que apresentam exces- e tolerância às doenças. Outra questão é Neste sentido, o próprio setor começou
siva quebra de ponteiros, devido a ventos, que as demandas tecnológicas e mesmo a utilizar algumas recomendações empíricas,
o que também é uma característica inde- os patógenos alteram-se com o passar do como: não ultrapassar o limite de 15% da
sejável. tempo. Portanto, isso funciona como um área total cultivada com uma única varieda-
As variedades devem apresentar per- ciclo, em que a variedade tem vida efê- de. Em linhas gerais, atualmente, recomenda-
filhamento ereto. O padrão ereto é impor- mera. se diversificar o número de variedades
tante tanto para o corte mecânico, quanto Cabe empregar variedades que apre- cultivadas na empresa, talvez com dez va-
para o corte manual, devido ao maior ren- sentem menor risco, quanto à produti- riedades. Sugere-se, ainda, empregar varie-
dimento. vidade esperada. O ideal é que apresen- dades que apresentem menor risco em fun-
Excessivo acamamento ou tombamento tem boa tolerância em campo às principais ção de sua reação às principais doenças e
pode provocar enraizamento de colmos, doenças e pragas. que apresentem menor grau de parentes-
quando em contato com a superfície do so- Algumas doenças são mais importantes co.
lo. Nesses casos há emissão de brotações em determinadas localidades ou situações O Quadro 1 apresenta um esquema pa-
e pode ocorrer arrancamento ou levan- de manejo da lavoura. Há doenças que so- ra manejo das principais variedades que
tamento de socas ou movimentação do mente a tolerância varietal é o principal têm sido utilizadas em Minas Gerais, para
sistema radicular por ação de ventos muito método de controle, como a ferrugem, car- produção de açúcar e álcool.
fortes. vão e escaldadura, enquanto outras podem A alocação das variedades em cada pe-
As variedades devem apresentar des- ser manejadas com tratamento térmico, ríodo de safra leva em conta, não somente
palha fácil, haja vista a necessidade de auxi- como o raquitismo e controle biológico ou a maturação, mas também todas as carac-
liar a colhedora na operação de limpeza da práticas culturais no caso de pragas. terísticas agronômicas das variedades.
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QUADRO 1 - Sugestão de manejo de variedades em Minas Gerais turação, normalmente possuem lon-
go período útil de industrialização
Dias de safra(1)
(PUI);
30 dias 45 dias 75 dias 75 dias
b) variedades médias: apresentam teor
Precoce de sacarose superior a outras varie-
Média Tardia dades no meio da safra (junho, julho,
Precoce 1 Precoce 2
agosto), possuem PUI médio;
RB855156 RB835486 RB867515 RB72454 c) variedades tardias: apresentam
RB855453 SP80-1842 RB855536 RB867515 elevado teor de sacarose de meados
(2)
SP81-3250 SP79-1011 SP83-2847
para o final da safra, possuem PUI
curto (70 a 120 dias).
SP80-1816
Aliado à escolha apropriada de varie-
SP80-3280
dades, é importante observar certas prá-
(1) Considerando-se 225 dias de safra. (2) Com maturador.
ticas agrícolas que poderiam melhorar a
produtividade, tais como:
CLASSIFICAÇÃO DAS desfavoráveis ao crescimento e benéficas a) adubação do solo com base em sua
VARIEDADES QUANTO ao acúmulo de sacarose. análise química;
À MATURAÇÃO A maturação é o processo fisiológico b) uso de calcário;
No planejamento do canavial, além da de transporte e armazenamento da sacarose c) adubação orgânica;
produção de colmos, deve-se levar em con- nas células parenquimatosas dos colmos. d) uso agrícola da vinhaça;
sideração a maturação das variedades. Tal A concentração de açúcares é maior no
e) época de plantio;
como a produtividade de colmos, a matu- sentido da base dos colmos para o ápice e
ração é também influenciada pelas condi- da parte externa dos colmos para a parte f) tratos culturais;
ções edafoclimáticas. De maneira geral, a interna. As variedades podem ser classi- g) formação de viveiros com mudas tra-
cana-de-açúcar requer de seis a oito meses ficadas quanto à maturação da seguinte tadas termicamente, dentre outros
com temperaturas elevadas, radiação solar forma (Gráfico 1): fatores.
intensa e precipitações regulares, para que a) variedades precoces: apresentam
haja pleno crescimento vegetativo, segui- teor de sacarose superior a outras CONSIDERAÇÕES FINAIS
do de quatro a seis meses com estação seca variedades no início da safra (abril e As variedades de cana-de-açúcar cons-
e/ou baixas temperaturas, condições estas maio). Considerando somente a ma- tituem o principal fator de aumento de pro-
Gráfico 1 - Curvas de maturação de variedades precoce (RB855156), média (SP81-3250) e tardia (RB72454), no Centro-Sul do Brasil
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REFERÊNCIAS
CONAB. Cana-de-açúcar: safra 2006/2007 -
terceiro levantamento. Brasília, 2006. Disponí-
vel em: <http://www.conab.gov.br/conabweb/
download/safra/3_levantamento_nov2006.
doc> . Acesso em: 31 mar. 2007.
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1
Engo Agro, Pesq. UFV, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: luiscis@pontenet.com.br
2
Engo Agro, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTTP, Caixa Postal 351, CEP 38001-970 Uberaba-MG. Correio eletrônico: jpaes@epamiguberaba.com.br
3
Engo Agro, D.Sc., Prof. Adj. UFV - Depto Fitotecnia, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: barbosa@ufv.br
4
Engo Agro, M.Sc., Pesq. EPAMIG-CTCO, Caixa Postal 295, CEP 35701-970 Prudente de Morais-MG. Correio eletrônico: geraldomacedo@epamig.br
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Paulo e Paraná, conforme delegação do Mi- gatória nas fases de viveiros, por meio de 60% da produção agrícola, em média, que
nistério da Agricultura. processos eficientes e comprovados, com são mais acentuadas em variedades susce-
freqüência de três a quatro vezes por dia, tíveis, agravando-se ainda mais em regiões
Formação do viveiro ao utilizar lotes de mudas de diferentes va- que apresentam distribuição hídrica irre-
O primeiro passo para a formação do riedades. As formas utilizadas para desin- gular.
viveiro é o planejamento da lavoura, de- fecção dos facões são a flambagem, a solu- Por não apresentar sintomas externos,
finindo sua expansão e sua estabilização. ção biocida (creolina a 20%), com raspa- o controle do RSD torna-se mais problemá-
Realizada esta etapa, seleciona-se o equi- dores para completar a limpeza da lâmina tico, pois o produtor não consegue visua-
pamento para tratamento térmico da cana- de corte. lizar a anomalia e acaba por atribuir à varie-
de-açúcar. Para isso, existem dois modelos A operação de desinfecção de ferra- dade cultivada a queda de produtividade e
básicos no mercado, que serão definidos, mentas utilizadas no corte de mudas, em a redução da vida útil do canavial. Por exis-
conforme o rendimento e a necessidade de algumas unidades produtoras, é norma tirem poucas fontes conhecidas de resis-
formação de viveiros: primário, secundário estabelecida tanto em áreas de viveiros, tência nos bancos de germoplasmas de
e área de plantio comercial. O primeiro como em plantio comercial. cana-de-açúcar, há dificuldades de incor-
permite o tratamento térmico de toletes de poração de genes de resistência, o que faz
três gemas (Unidade de Tratamento Tér- PRÁTICA DE CONTROLE com que ocorram apenas graus variáveis
mico – Planalsucar), já o segundo, permi- FITOSSANITÁRIO EM VIVEIRO de tolerância à doença.
te o tratamento de toletes de uma gema
Ao se produzir muda de cana-de-açúcar Método de controle do
(Unidade de Tratamento Térmico – Siste-
ou de qualquer outra cultura, deve-se saber raquitismo-da-soqueira
ma Copersucar). Na tomada de decisão,
que esta etapa não é uma simples propa-
quanto ao modelo a ser utilizado, deve-se O RSD foi primeiramente diagnosti-
gação de espécie. Nela está inserido tam-
considerar a necessidade de área para a cado em 1944/1945, na Austrália, sendo,
bém o controle de doenças e pragas, com-
implantação do viveiro primário, sendo inicialmente, considerada uma doença cau-
plementado com a utilização de variedades
mais econômico o tratamento de toletes de sada por vírus. Desde o primeiro momento,
resistentes ou tolerantes a diversos pató-
três gemas, quando essa área for superior a termoterapia foi a opção que melhor resul-
genos e pragas que atacam a cultura.
a 10 hectares. tado apresentou e passou a ser a metodo-
Dentre as doenças de importância eco-
logia empregada, sendo utilizada até os
Época de plantio nômica que incidem nos canaviais brasilei-
dias de hoje, com o devido aperfeiçoamen-
ros, apenas a ferrugem depende exclusi-
Na Região Centro-Sul do Brasil, consi- to da técnica.
vamente de resistência varietal. Já com as
derando o plantio de sequeiro, têm-se duas Após vários estudos, ficou comprova-
demais, pode-se ter um bom controle, des-
épocas de plantio de cana-de-açúcar: cana do que a doença era causada por uma bac-
de que a variedade em foco não seja susce-
de ano e meio (fevereiro/março) e cana de téria denominada Clavibacter xyli. O con-
tível à doença. Nesse caso, o controle será
ano (setembro/outubro). No caso específi- trole é realizado por meio da imersão dos
por meio de tratamento térmico e rouguing,
co da formação do viveiro primário, inde- toletes ou minitoletes em água quente, com
práticas implementadas nas áreas de pro-
pendente da época de plantio, há neces- temperatura controlada a 50,5oC, por duas
dução de mudas sadias.
sidade de irrigação. Quando da formação horas. São dois os sistemas de tratamento
do viveiro secundário e posterior plantio Raquitismo-da-soqueira propostos e utilizados atualmente pelos
em talhões comerciais, não há necessidade produtores. Ambos apresentam a mesma
Todo o sistema de produção de mudas
de irrigação, desde que o plantio ocorra no eficiência de controle do RSD. Para aumen-
sadias de cana-de-açúcar baseia-se no con-
período especificado. tar o rendimento de toletes ou minitoletes
trole do raquitismo-da-soqueira (RSD). Esta
tratados, estudou-se a relação tempo/tem-
Prática aplicada no doença é considerada a mais importante
peratura e concluiu-se que poderia ser fei-
plantio de viveiros dos canaviais, em função dos seguintes
ta alteração nesta relação, sem prejuízo na
motivos:
Não há diferenças significativas nas germinação das gemas e no controle do
práticas de manejo de plantio e tratos a) prejuízos causados; agente causador da doença. A relação tem-
culturais, com exceção da implantação do b) ausência de sintomas externos; po/temperatura passou para 52oC, por 30
viveiro primário por haver necessidade de minutos. Essa nova dinâmica possibilitou
c) poucas fontes de resistência varietal.
irrigação. É preciso estar atento ao manu- trabalhar com toletes de uma gema, melho-
seio de ferramentas de cortes (facões), que Os prejuízos causados pelo raquitismo- rando o rendimento da unidade de trata-
necessitam passar por desinfecção obri- da-soqueira apontam para perdas de até mento.
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Efeito do tratamento térmico Nesse caso, deve-se programar a for- CONTROLE FITOSSANITÁRIO
no controle do RSD mação dos viveiros e definir as fases em EM VIVEIRO
Após ter sido realizado o tratamento viveiro primário, secundário, plantio comer- O rouguing consiste em eliminar plan-
térmico, fez-se o seguinte questionamento: cial, mais a utilização da soca do primário tas com sintomas de doenças (carvão, escal-
– Por quantas multiplicações, as mudas que para plantio comercial, conforme apresen- dadura, mosaico), complementando com a
passaram pelo tratamento estariam prote- tado nas Figuras 1 e 2. eliminação de mistura varietal e controle
gidas? A demora no diagnóstico da doença, Para manter um nível alto de controle da de pragas como a broca-da-cana-de-açúcar
principalmente em baixos níveis de infecção doença, os próximos tratamentos deverão e outras. Essa atividade completa os con-
e diferentes graus de tolerância varietal ao receber mudas oriundas do viveiro primá- troles fitossanitário e cultural nos viveiros.
RSD, dificultava a resposta. Trabalhos rea- rio ou, no máximo, do viveiro secundário. Pode-se classificar essa operação como a
lizados por Matsuoka (1984) definiram os Quando do tratamento, as mudas que irão mais importante no controle de qualidade
limites da utilização do tratamento térmico, receber o tratamento térmico deverão estar das mudas, pois diminui o potencial de
constatando que, após cinco multiplica- com 13 a 14 meses de idade, selecionando- inóculos das doenças citadas, bem como
ções sucessivas, os níveis de RSD retor- se o terço médio. Caso seja cana de segun- mantém a pureza varietal nas demais fases
nam à contaminação daqueles colmos não do corte, a idade deverá estar entre 10 e 12 de formação do viveiro até a implantação
tratados. meses. da lavoura comercial.
PLANTIO
Tratamento térmico
VIVEIRO 1
JANEIRO no início do
1,5 ha período chuvoso
6 meses
relação 1/6
Irrigação se necessário
1a REPICAGEM VIVEIRO 2 VIVEIRO 1
Rouguing
SETEMBRO 9 ha soca 1,5 ha
Adubação
relação 1/6
2a REPICAGEM
FEVEREIRO Irrigação se necessário
VIVEIRO 3 VIVEIRO 2
Rouguing
55 ha soca 9 ha
11 meses Adubação
relação 1/8
Irrigação se necessário
VIVEIRO SECUNDÁRIO VIVEIRO 4 VIVEIRO 3
Rouguing
MARÇO 640 ha soca 55 ha
Adubação
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Artigo 4.p65
28
CUIDADOS NECESSÁRIOS DURANTE A TERMOTERAPIA
1 - Programar a termoterapia somente para épocas quentes e úmidas, condições que facilitam a germinação;
2 - preparar a área para receber irrigação;
3 - tratar as mudas, após, o corte o mais rápido possível;
4 - a proporção entre o peso de cana tratada e água quente deve ser sempre ao redor de 1 quilo de muda para 5 a 6 litros de água;
5 - após ou durante, o tratamento, tratar os toletes com fungicidas. Se forem adicionados à água quente, reduzir a dosagem pela metade;
17/08/2007, 09:08
6 - após o tratamento, não resfriar as mudas bruscamente em água fria ou muito lentamente em montes mal-arejados;
7 - manusear o material tratado com muito cuidado, pois as gemas tornam-se tenras e frágeis;
8 - plantar as gemas nas melhores condições possíveis enterrando o mínimo;
9 - a densidade de plantio deve ser dupla ou tripla do usual, para compensar as gemas mortas pelo tratamento;
10 - tempo de tratamento - melhor opção - 50,5 c - por 2 horas, melhor eficiência no tratamento;
11 - segunda opção - 52 c - por 30 minutos.
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Cana-de-açúcar
Cana-de-açúcar 29
Para que haja o sucesso no controle cadas com todo o sistema radicular. Se mis- BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
fitossanitário, as pessoas que forem reali- turadas, deixar na entrelinha para secar. BRASIL. Ministério da Agricultura. Normas
zar o rouguing, deverão ser treinadas para Já no caso de plantas doentes, estas de- para a produção de mudas no estado do Pa-
reconhecer as doenças importantes e as verão ser arrancadas e retiradas do cana- raná. Curitiba: CESM, 1984. 43p.
características morfológicas das varieda- vial. Especificamente no caso do carvão, o
GHELLER, A.C.A. Seleção do equipamento para
des da cana-de-açúcar plantada e, assim, chicote deverá ser envolvido por um saco
tratamento térmico do ponto de vista da eficiên-
fazer o controle de mistura varietal. plástico ou papel, cortado, para depois ser
cia de controle do RSD e ponto de vista eco-
A freqüência com que se realiza o arrancada a touceira e retirada para fora do nômico. In: SEMINÁRIO AGROINDUSTRIAL
rouguing é variável, conforme a cultivar canavial. Os chicotes deverão ser mantidos DA CANA-DE-AÇÚCAR, 1986, Piracicaba.
plantada, seu grau de resistência às doen- em local isolado, dentro de saco plástico, Resumos... Piracicaba: ESALQ, 1986. p.16-20.
ças e o nível de mistura varietal detectado. podendo-se usar sacos de adubo fecha-
MARGARIDO, L.A.C.; GHELLER, A.C.A.
Normalmente, inicia-se o rouguing após o dos, formando uma câmara úmida, o que
Análise de investimento da implantação de um
primeiro mês de plantio, com maior aten- irá propiciar, em poucos dias, a destruição
sistema de produção de mudas sadias para a
ção às doenças. A partir do quarto mês, dos esporos neles contidos. cultura da cana-de-açúcar. Saccharum APC,
além das doenças, há o controle da mistura
São Paulo, n.43, p.41-48, 1986.
varietal. Nesta fase, fica mais fácil iniciar a
diferenciação pela observação das carac- REFERÊNCIA OITICICA, J. Sugarcane Experiment Station:
terísticas morfológicas. Em média, são rea- MATSUOKA, S. Longevidade do efeito do tra- Northeast Brazil. Sugar Journal, v.39, n.12,
lizadas cinco operações de rouguing, po- tamento térmico em canas infectadas pelo p.16-17, 1977.
dendo variar para mais ou para menos, raquitismo-da-soqueira. In: CONGRESSO SILVA, W.M. Termoterapia em gemas isoladas
conforme a necessidade. NACIONAL DA STAB, 3., 1984, São Paulo. assegura o controle do RSD. Boletim Técnico
As plantas eliminadas devem ser arran- Anais... São Paulo: STAB, 1984. p.244-249. Copersucar, São Paulo, n.1, p.12-14, 1976.
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INTRODUÇÃO a) grande produção de forragem por uni- A produtividade média dos canaviais,
A cultura da cana-de-açúcar, no Brasil, dade de área e facilidade de cultivo; incluindo os colmos industrializáveis, as
expandiu-se bastante nos últimos anos, b) quando madura, mantém seu valor nu- folhas secas e os ponteiros, tem oscilado
influenciada pelos bons preços de venda tritivo como forragem, durante o pe- em torno de 100 toneladas de matéria na-
dos seus dois principais produtos: o açú- ríodo da seca, além do baixo custo por tural por hectare e esses colmos correspon-
car e o álcool. Atualmente, a área cultivada unidade de matéria seca (MS) pro- dem a, aproximadamente, 80% dessa mas-
com cana situa-se próximo a 6,5 milhões de duzida; sa. Entretanto, adotando manejo adequa-
hectares. c) apresenta maior flexibilidade quanto do de variedades, de calagem e de adubação
Além da produção de açúcar e álcool, a às épocas de plantio e de corte, em e tratos culturais adequados, podem-se
cana tem sido muito utilizada por pequenos comparação com as culturas anuais, alcançar produtividades superiores a 150
e médios produtores rurais para a fabrica- o que facilita o gerenciamento da ati- toneladas de matéria natural por hectare.
ção de cachaça, rapadura e açúcar-mascavo, vidade; Sob irrigação complementar, a produtivida-
bem como para a alimentação de ruminan- d) pode ser uma das fontes de energia de média da cana pode ultrapassar a 200
tes e monogástricos. Dentre os fatores que de menor custo, tanto para rebanhos toneladas anuais de matéria natural por
contribuem para o interesse da cana na de pequena, quanto de média e alta hectare (OLIVEIRA et al., 2002b), o que a
alimentação animal, podem-se citar: produtividades. torna ainda mais competitiva.
1
Engo Agro, D.Sc., Prof. Adj. UFAL-Centro de Ciências Agrárias-Depto Fitotecnia e Fitossanidade, CEP 57100-000 Rio Largo-AL. Correio eletrônico:
mwagner@ceca.ufal.br
2
Engo Agro, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTCO, Caixa Postal 295, CEP 35701-970 Prudente de Morais-MG. Correio eletrônico: morel@epamig.br
3
Engo Agro, M.Sc., Pesq. EPAMIG-CTCO, Caixa Postal 295, CEP 35701-970 Prudente de Morais-MG. Correio eletrônico: geraldomacedo@epamig.br
4
Engo Agro, Ph.D., Pesq. EPAMIG-CTCO, Caixa Postal 295, CEP 35701-970 Prudente de Morais-MG. Correio eletrônico: jucaferreira@epamig.br
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 2 8 , n . 2 3 9 , p . 3 0 - 4 3 , j u l . / a g o . 2 0 0 7
AVALIAÇÃO DA FERTILIDADE material utilizado para amostragem, deve- disponível, extraídos com Mehlich 1, e os
DO SOLO se tomar o cuidado de retirar sempre o mes- obtidos com o uso da resina de troca iônica.
mo volume de solo em cada amostra sim- Os teores de enxofre e de micronutri-
A cana-de-açúcar, por produzir gran-
ples. Além disso, é necessário percorrer a entes têm variado bastante em função dos
de quantidade de massa, extrai do solo e
área em ziguezague, coletando o material métodos e extratores empregados na aná-
acumula na planta grande quantidade de
ao acaso, em pequenas porções, que de- lise química do solo, havendo ainda grande
nutrientes. Para uma produção de 120 tone-
vem ser colocadas em recipientes limpos e influência da época de coleta, da umidade
ladas de matéria natural por hectare, cerca
identificados, para que sejam misturadas, do solo e do preparo da amostra (PAVAN;
de 100 toneladas de colmos industrializá-
obtendo-se, então, a amostra composta. MIYAZAWA, 1984). Assim, é de grande
veis, o acúmulo de nutrientes na parte aérea
Sacos de fertilizantes ou outros ante- valia o histórico da área, especialmente quan-
da planta é da ordem de 150, 40, 180, 90,
riormente usados com produtos que pos- to aos micronutrientes. Caso haja registro
50 e 40 kg de nitrogênio (N), fósforo (P),
sam interferir no resultado da análise não de deficiência destes micronutrientes em
potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg) e
devem ser utilizados para mistura e acondi- culturas antecessoras, torna-se necessário
enxofre (S), respectivamente. No caso dos
cionamento de amostras. Recomenda-se, incluir na adubação esses elementos.
micronutrientes ferro (Fe), manganês (Mn),
zinco (Zn), cobre (Cu) e boro (B), os acúmu- também, não retirar amostras próximas a
residências, galpões, estradas, estábulos, CALAGEM
los na biomassa da parte aérea, também
para uma produção de 120 toneladas, são depósitos de fertilizantes, corretivos e, ainda, Os solos brasileiros são, em sua gran-
em torno de 8,0; 3,0; 0,6; 0,4; e 0,3 kg, res- em solos encharcados ou sobre sulcos, de maioria, naturalmente ácidos, apresen-
pectivamente (OLIVEIRA et al., 1993; 2002a; onde foram aplicados adubos. Para obten- tando baixa saturação por cátions básicos,
ORLANDO FILHO, 1993). ção de uma amostra composta, devem-se como cálcio, magnésio e potássio. A defi-
Deve-se conhecer, portanto, a capaci- tomar entre 20 e 30 amostras simples, nú- ciência de cátions como o cálcio, associa-
dade de fornecimento de nutrientes pelo meros esses dependentes do tamanho da da aos altos teores de alumínio trocável,
solo, para, se necessário, complementá-la área e de sua homogeneidade. Após a seca- é prejudicial ao crescimento do sistema
com adubações e, se constatada a presen- gem, ao ar, da amostra composta, retiram- radicular e, conseqüentemente, de toda a
ça de elementos em níveis tóxicos, reduzir se cerca de 250 a 500 cm3 (1/4 a 1/2 litro) de cana-de-açúcar. O uso de fertilizantes ni-
seus efeitos pela calagem e gessagem. Nor- terra para, depois de acondicionados em trogenados, principalmente os amoniacais,
malmente, avaliam-se a disponibilidade de recipiente devidamente identificado, serem e a remoção de cátions básicos pelas co-
nutrientes e a presença de elementos em enviados ao laboratório de análise de so- lheitas também podem contribuir para que
níveis tóxicos no solo pela análise química los. os solos se apresentem ácidos, motivo por
da camada arável. É também de grande valia Em relação aos resultados da análise que tem sido prática comum na cultura da
o histórico da área, sobretudo as aduba- química do solo, o potássio (K), o cálcio cana-de-açúcar a correção do solo.
ções realizadas e se houve ou não ocorrên- (Ca), o magnésio (Mg), o sódio (Na) e o Vários materiais podem ser usados co-
cia de sintomas de deficiência ou de toxidez alumínio (Al) são analisados quanto ao teor mo corretivos da acidez de solos, sendo os
nos cultivos anteriores. trocável e, mesmo havendo grande variação mais empregados os calcários calcíticos,
Usualmente, coletam-se amostras de dos extratores químicos utilizados por dife- magnesianos e dolomíticos e os silicatos
solo das camadas de 0 a 20 e de 20 a 40 cm rentes laboratórios, a precisão e a exatidão de cálcio e magnésio, designados escórias
de profundidade. Os resultados da análise dessas análises são muito grandes. de siderurgias. Nessas escórias, o teor de
da camada de 0 a 20 cm serão utilizados O fósforo, entretanto, é um elemento óxido de magnésio (MgO) varia com o
para calcular a adubação e a calagem e os que apresenta maior reatividade com o solo material, com um valor médio oscilando ao
da camada de 20 a 40 cm, para os cálculos e sua dinâmica é também mais complexa. redor de 8%, enquanto os calcários calcí-
da necessidade de gessagem. Assim, há questionamentos quanto aos re- ticos possuem teores de MgO inferiores
Antecedendo-se à coleta das amostras sultados de análises realizadas em labora- a 5%, os magnesianos entre 5% e 12% e
de solo, é necessário dividir a área em uni- tórios que utilizam diferentes métodos e os dolomíticos acima de 12%. A eficiência
dades homogêneas, levando-se em consi- extratores. Contudo, análises realizadas pe- desses produtos na correção da acidez do
deração, dentre outros, o histórico da área, lo primeiro autor, em solos cultivados com solo depende, dentre outros fatores, da sua
os tipos de solo (cor, textura, profundida- cana-de-açúcar na Zona da Mata mineira e granulometria, da distribuição uniforme no
de), a localização e a topografia (várzea, que não foram adubados com fosfato na- campo e da disponibilidade hídrica do solo.
encosta, platô), a cobertura vegetal e as tural, indicaram que não houve diferença Em relação à recomendação do corre-
adubações anteriores. Independente do significativa entre os teores de fósforo tivo, existem alguns métodos para estimar
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a necessidade de calagem (NC), definida solo de textura média, álico, cultivado com Para essas áreas, pode-se, então, recomen-
como a quantidade de calcário com poder cana-de-açúcar. dar a calagem somente quando a satura-
relativo de neutralização total (PRNT) 100%, Diante das observações de Ernani e ção por bases, na camada de 0 a 20 cm, for
a ser aplicada no solo para diminuir sua Almeida (1986), Morelli et al. (1992), Oli- inferior a 40%.
acidez até um nível desejado. Na maioria veira et al. (1997) e Oliveira et al. (2004), A calagem nas áreas de rebrota, por sua
dos Estados brasileiros, ela tem sido esti- recomenda-se, para áreas com saturação vez, deverá ser realizada quando se cons-
mada pelo método da neutralização da aci- por bases abaixo de 30% ou solos mais tatar saturação por bases inferior a 50% na
dez trocável e da elevação dos teores de argilosos, elevar de 1,5 a 2,0 vezes a quanti- camada de 0 a 20 cm. A aplicação do corre-
cálcio e magnésio (SOUZA et al., 1997; dade de calcário a ser aplicada, calculada tivo deverá ser em área total, antecedendo
ALVAREZ V.; RIBEIRO, 1999) e/ou pelo pelo método de saturação por bases (Equa- aos tratos culturais e calculando a quanti-
método de saturação por bases (RAIJ et ção 1). dade necessária, conforme já descrito.
al.,1996; ALVAREZ V.; RIBEIRO, 1999). Há uma conceituação generalizada que
Para a cana-de-açúcar, tem sido reco- a melhor relação Ca+2: Mg+2 no solo é de GESSAGEM
mendado elevar a saturação por bases (V) 4:1. Assim, o tipo de calcário a ser usado
O gesso agrícola (CaSO4.2H2O), sub-
a 60%. Segundo Raij et al. (1996), a quan- deveria ter como base esta relação. Por outro
lado, preconiza-se saturação de cátions produto da indústria de fertilizantes, é ori-
tidade de calcário (QC) a ser usada, quan-
trocáveis, em relação à CTC efetiva do solo ginário da reação entre o ácido sulfúrico e
do se emprega o método de saturação por
(t), de 80% de Ca, 13% de Mg e 6% de K, a rocha fosfatada, realizada para produzir
base, é calculada pela seguinte expressão:
proporcionando relações Ca:Mg, Ca:K e ácido fosfórico. O gesso aplicado no ter-
Equação 1: Mg:K, respectivamente de 6,15:1; 13,3:1 e reno não neutraliza a acidez do solo, mas
2,2:1. Ainda, vários trabalhos têm eviden- diminui a saturação de alumínio e aumenta
QC (t/ha) = [(60 – V) x T] ÷ PRNT a saturação por bases da subsuperfície,
ciado que as concentrações de Ca e Mg
em que: na solução são mais importantes que a rela- proporcionando condições para maior de-
V = saturação por bases atual do solo; ção entre esses cátions (OLIVEIRA, 1993). senvolvimento e aprofundamento do sis-
No caso do milho, trabalhos conduzidos tema radicular da cana.
T = capacidade de troca catiônica (CTC) a
por Oliveira (1993) têm indicado que as Recomenda-se aplicar gesso, quando
pH 7,0;
variações na relação Ca:Mg do solo de 1:1 se verificarem teores de Ca2+ menores que
PRNT = poder relativo de neutralização 0,4 cmolc/dm3 e/ou saturação por alumínio
a 12:1 em solos com teores de Ca e Mg tro-
total do corretivo utilizado. maior que 20%, na camada de 20 a 40 cm.
cáveis acima de 2,32 e 0,40 cmolc/dm3, res-
Estudos conduzidos por Oliveira et al. pectivamente, não afetaram o rendimento A aplicação de gesso levará à melhoria do
(2004), em solos cultivados com cana-de- nem a produção de MS do milho. ambiente radicular das camadas abaixo da
açúcar na Zona da Mata mineira, mostra- As áreas de reforma de canavial e plan- arável, efeito que perdura por vários anos.
ram a necessidade de utilizar o dobro das tio de cana nos sistemas de cultivo mínimo Por esse motivo não é necessária a reapli-
quantidades de corretivo calculadas pelos e de plantio direto têm aumentado, acompa- cação anual do gesso. Em áreas com palha-
dois métodos, neutralização do alumínio nhando a tendência verificada nas lavouras da de cana ou de resíduos orgânicos sobre
trocável e elevação dos teores de cálcio e de milho e soja. Nesses sistemas, não se o solo e, se os teores de Ca2+ não forem mui-
magnésio ou elevação da saturação por incorpora o calcário, como no preparo con- to baixos e/ou a saturação por alumínio não
bases a 60%. Resultados semelhantes fo- vencional. Para explicar a ação do corretivo for muito alta, a resposta ao gesso poderá
ram obtidos por Ernani e Almeida (1986) e aplicado, cabe ser lembrado que a mine- ser menor que a esperada.
Oliveira et al. (1997), ao compararem méto- ralização dos restos culturais e da palhada As doses de gesso a serem aplicadas
dos analíticos para avaliação da necessi- de cana, à semelhança do que ocorre em podem-se basear na necessidade de cala-
dade de calcário dos solos dos estados de áreas de plantio direto com culturas anuais gem, calculada por um dos dois critérios já
Santa Catarina e do Paraná. Também verifi- (CAIRES et al., 2000), libera ânions orgâ- mencionados ou estimadas independen-
caram que o método de saturação por ba- nicos que complexam com Ca, Mg, K e temente desta, como, por exemplo, com base
ses subestimou, demasiadamente, a neces- Al, formando moléculas eletricamente neu- na textura do solo (ALVAREZ V. et al., 1999).
sidade de calcário dos solos estudados, tras, que percolam no solo. Além disso, a Para a cana-de-açúcar, a quantidade de
sobretudo dos mais tamponados. Valores complexação do Al trocável por esses com- gesso a ser aplicada tem variado de 25% a
de saturação por bases inferiores aos pre- postos orgânicos oriundos dos resíduos 30% da necessidade de calagem da camada
ditos analiticamente também foram encon- vegetais propicia por si, segundo Sumner subsuperficial, multiplicado por um fator
trados por Morelli et al. (1992), em Latos- e Pavan (2000), redução da acidez do solo. de correção de profundidade (perfil a ser
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corrigido/20). Por exemplo: deseja-se a me- de-açúcar (Quadro 1), podendo-se verifi- da como taxa de fixação de gás carbônico
lhoria do ambiente radicular da camada de car que a gessagem é uma prática agrícola (µmol de CO2/m2/s), aumentando, portanto,
20 a 60 cm que apresentou necessidade de totalmente compensada pelos acréscimos o acúmulo de MS.
calagem de 3,0 t/ha. Então, a quantidade de produtividade. O acúmulo de N pela cana-de-açúcar
de gesso será igual a 1,5 t/ha [(3,0 x 0,25) x varia de acordo com a cultivar, a idade da
(60-20)/20]. Quando as doses de gesso a ADUBAÇÃO MINERAL cultura e a disponibilidade do N e de outros
serem aplicadas tiverem como base a textu- A adubação mineral da cana baseia-se elementos na solução do solo e também
ra do solo da camada subsuperficial, pode- nos resultados da análise de solo, na ca- depende de fatores edafoclimáticos. Para
se utilizar a seguinte recomendação (RAIJ, mada de 0 a 20 cm e na produtividade que as variedades atualmente mais plantadas,
1997): dose a ser aplicada (kg/ha) = argila se deseja obter. trabalhos conduzidos por Oliveira et al.
(em g/kg) x 6,0. Nesse caso, o resultado de- (2002b) indicaram que a extração de N osci-
ve também ser multiplicado pelo fator de Nitrogênio em cana-planta la em torno de 1,2 kg/t de matéria natural da
correção de profundidade (perfil a ser O nitrogênio é importante na nutrição e parte aérea. Considerando que as raízes e
corrigido/20). fisiologia da cana-de-açúcar, pois, dentre os rizomas correspondem, em média, a 30%
O gesso é aplicado em área total e po- outras funções, é constituinte das proteí- da massa de toda a planta, pode-se estimar
derá ser ou não incorporado ao solo. Quan- nas e dos ácidos nucléicos (MALAVOLTA que para cada tonelada de matéria natural
do não for possível o seu uso, principal- et al., 1989), sendo esse elemento, junta- acumulada pela parte aérea ocorre absor-
mente por dificuldade em adquiri-lo em mente com o potássio, absorvido em maio- ção de 1,5 kg de N pela planta. Portanto,
pequenas quantidades, o que normalmente res quantidades pela cultura (OLIVEIRA et para sistemas com produtividade superior
ocorre com pequenos produtores rurais, al., 2002b). O N absorvido aumenta a ativi- a 120 t/ha de matéria natural, a quantida-
deve-se optar pela aplicação do superfos- dade meristemática da parte aérea, resul- de de N absorvida pela cultura ultrapassa,
fato simples como fonte de fósforo, uma tando em maior perfilhamento e índice de então, 180 kg/ha.
vez que esse fertilizante contém sulfato de área foliar (IAF) da cana-de-açúcar. Além A absorção e o metabolismo do nitro-
cálcio. Demattê (1986) relatou o efeito da disso, o N aumenta a longevidade das gênio são muito influenciados pela dis-
aplicação de gesso na melhoria da sub- folhas. Esse incremento no IAF eleva a ponibilidade de fósforo. Em plantas com
superfície de um solo cultivado com cana- eficiência do uso da radiação solar, medi- suprimento inadequado de P há redução
na absorção do nitrato da solução do solo;
a translocação de nitrato das raízes para a
QUADRO 1 - Elevação da saturação por bases (V) de camadas da subsuperfície de um solo cultivado
parte aérea diminui, aumentando o acúmulo
com cana-de-açúcar, avaliada três anos depois da aplicação de gesso
de aminoácidos em folhas e raízes. Maga-
Produção de colmos industrializáveis lhães (1996) observou enorme influência
Dose de
Camada V (t/ha)
gesso da disponibilidade de P, tanto da solução
(cm) (%)
(t/ha) 2o corte 3o corte 4o corte Média nutritiva quanto da endógena, na absorção
e metabolismo do N pelo milho (Gráfico 1).
Testemunha 0 a 20 60 97 106 59 87 Plantas bem supridas de fósforo antes e
20 a 40 25 durante o estudo de cinética (+P; +P) apre-
40 a 60 15 sentaram absorção de nitrato praticamente
constante durante o experimento. No entan-
0,50 0 a 20 60 99 114 60 91 to, plantas que foram privadas antes e du-
20 a 40 58 rante a fase experimental (-P; -P) não con-
40 a 60 18 seguiram absorver o nitrato da solução.
Acredita-se que a cana-planta, por ter
1,0 0 a 20 60 96 113 65 97
maior suprimento de P, quando comparada
20 a 40 48 com as rebrotas, apresente comportamento
40 a 60 25 semelhante ao verificado nas plantas de
milho bem supridas de fósforo (+P; +P).
2,0 0 a 20 64 105 125 71 101
Em pesquisas conduzidas pelo primeiro
20 a 40 45 autor, na região de Passos, Sul de Minas
40 a 60 23 Gerais, verificou-se que o aumento da dose
FONTE: Dados básicos: Demattê (1986). de P, aplicada no sulco de plantio, reper-
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Gráfico 1 - Absorção de nitrato por plantas de milho com diferentes suprimentos de fósforo
FONTE: Dados básicos: Magalhães (1996).
NOTA: Adequado antes e durante o estudo (+P; +P), adequado antes e ausente durante o estudo (+P; -P), ausente antes e adequado
durante o estudo (-P; +P) e ausente antes e durante o estudo (-P; -P).
MS – Matéria seca.
cutiu em maiores acúmulos de N na bio- dessa baixa resposta não estão suficien- do N derivado do fertilizante (Gráfico 2).
massa da parte aérea da cana-planta, ou temente esclarecidas. Vários autores atri- Foi pequeno o movimento do 15N-adubo,
seja, para cada quilograma de P aplicado buíram-na à variabilidade experimental, à sendo que mais de 70% do fertilizante re-
houve aumento de cerca de um quilograma mineralização da matéria orgânica (MO) e cuperado no solo encontrava-se na camada
de N nessa biomassa. Esses resultados dos restos culturais, às épocas de aplicação de 0 a 30 cm. Ocorreu perda mensurável
certamente são os efeitos das alterações do fertilizante e às perdas por lixiviação e somente do N nativo do solo ou dos restos
causadas na absorção e metabolismo do desnitrificação (CANTARELLA; RAIJ, culturais, o que foi equivalente a 4,5 kg/ha.
N, conforme observado por Magalhães 1986; DEMATTÊ, 1997). Entretanto, em Assim, caso se opte pela adubação nitroge-
(1996). experimento conduzido por Oliveira et al. nada da cana-planta, o fertilizante nitroge-
Deve-se ressaltar, entretanto, que tem (2002c) com cana-planta cultivada em solo nado, em doses que variam de 60 a 100 kg/ha
sido verificado baixa resposta da cana- arenoso e adubada com uréia marcada (15N) de N, deverá ser aplicado no fundo do sulco
planta à adubação nitrogenada e as causas não foram observadas perdas por lixiviação de plantio, juntamente com o P e o K.
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Nitrogênio em rebrotas QUADRO 2 - Doses de fósforo sugeridas para a adubação da cana, com base na disponibilidade do
As respostas nas rebrotas de cana à fósforo extraído com Mehlich 1 e na expectativa de produção de matéria natural
adubação nitrogenada são mais freqüentes Expectativa Classe de fertilidade do solo
que na cana-planta, com percentual acima de produção
de 90%. Como recomendação geral, sugere- Baixa Média Alta
no ciclo
se aplicar 1,0 kg de N por tonelada de maté- de cana-planta (1)
Dose de P
ria natural acumulada na parte aérea. Uma (t/ha) (kg/ha)
vez que os colmos industrializáveis repre- Menos de 100 70 _ _
sentam em média 80% da matéria natural
100 a 150 80 60 40
da parte aérea, produtividades de 100 t de
colmos corresponderiam a 125 t de matéria 150 a 180 90 70 50
natural. Nesse caso, a recomendação de Maior que 180 100 80 60
adubação seria de 125 kg/ha de N, devendo (1) Para transformar P em P2O5, multiplica-se o valor desejado por 2,29.
o adubo nitrogenado ser aplicado, em dose
única, juntamente com o K.
A uréia tem sido o fertilizante nitro-
QUADRO 3 - Doses de fósforo sugeridas para a adubação da cana, com base na disponibilidade do
genado mais usado na adubação da cana
fósforo extraído com resina de troca iônica e na expectativa de produção de matéria
em razão, principalmente, do menor custo
natural
por unidade de N, em comparação com
Fósforo extraído
outras fontes. A aplicação de uréia sobre Expectativa
(mg/dm3)
o solo ou sobre a palhada poderá levar a de produção
grandes perdas de N por volatilização de no ciclo 0-6 7-17 16-40 > 40
amônia, da ordem de 40% (OLIVEIRA et de cana-planta (1)
Dose de P
al., 1999a). Por isso, recomenda-se enterrá- (t/ha)
(kg/ha)
la no solo, à profundidade de, aproxima-
Menos de 100 80 44 30 20
damente, 7,0 cm. Quando não for possí-
vel enterrar a uréia, deve-se irrigar para 100 a 150 90 55 40 26
incorporá-la ao solo ou adubar antes de Mais de 150 100 66 45 35
uma chuva, o que é possível somente em
FONTE: Dados básicos: Raij (1997).
pequenas áreas. Na impossibilidade des-
(1) Para transformar P em P2O5, multiplica-se o valor desejado por 2,29.
sas ações, deve-se optar pelo uso de fon-
tes amoniacais, como o sulfato de amônio
ou nítricas.
Não é provável obter produtividade P na adubação das rebrotas posteriores.
Fósforo acima de 150 toneladas, quando o P extraído Antecedendo à adubação fosfatada, deve-
A maior dose de fósforo deve ser aplica- com resina for menor que 6,0 mg/dm3. se analisar o solo na camada de 0 a 20 cm e,
da no fundo do sulco de plantio. Essa apli- Entretanto, em pesquisas conduzidas por caso a saturação por bases (V) seja inferior
cação a uma profundidade maior aumenta Oliveira et al. (2002b), em áreas de Cerrado a 60%, recomenda-se, primeiramente, rea-
a absorção do nutriente pela cana, pois a recém-desbravadas no Noroeste de Minas lizar uma calagem para elevá-la para esse
disponibilidade hídrica da subsuperfície Gerais, com teor de P inferior a 6,0 mg/dm3, valor. O adubo fosfatado deverá ser apli-
varia menos que na superfície. Mesmo apli- obteve-se produtividade superior a 200 cado juntamente com o N e o K.
cando dose maior de P no plantio, há neces- toneladas de colmos por hectare, em cana- Nas grandes lavouras, a adubação
sidade de adubações fosfatadas nas rebro- planta com ciclo de 14 meses, adubada com N-P-K das rebrotas é realizada simultanea-
tas. Nos Quadros 2 e 3, são apresentadas 100 kg/ha de P e que recebeu irrigação com- mente com as operações de subsolagem e
as recomendações para adubação fosfa- plementar de apenas 120 mm. cultivo da entrelinha. Em pequenas e mé-
tada de cana-planta no fundo do sulco de O fósforo aplicado por ocasião do plan- dias propriedades, especialmente naque-
plantio, considerando-se o extrator utiliza- tio da cana assegura, na maioria das vezes, las onde se colhe a cana queimada ou para
do na análise química do solo: Mehlich 1 suprimento adequado do elemento para a alimentação animal, a sulcagem da entre-
ou resina de troca iônica, bem como a classe a cana-planta e para a primeira rebrota, linha da cana com arado de tração animal
de fertilidade do solo. devendo-se utilizar formulações contendo para posterior adubação tem apresentado
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bons resultados. O adubo N-P-K é aplica- QUADRO 4 - Sugestão de doses de potássio para a adubação da cana, com base na disponibili-
do no sulco aberto na entrelinha da cana e, dade do potássio extraído com Mehlich 1 e na expectativa de produção de matéria
posteriormente, coberto com terra, usando- natural
se novamente implemento de tração ani- Expectativa Classe de fertilidade do solo
mal. de produção
Baixa Média Alta
Nas rebrotas posteriores à primeira, a no ciclo
dose de P utilizada pode-se basear na resti- de cana-planta (1)
Dose de K
tuição do P removido pela colheita. Nesse (t/ha) (kg/ha)
caso, para cada tonelada de matéria natu- Menos de 90 80 _ _
ral devem-se aplicar de 200 a 300 g de P. Por
90 a 120 100 80 60
exemplo, para uma produção de matéria
natural da rebrota de 120 t/ha, cerca de 100 120 a 150 120 100 80
Potássio (1) Para transformar K em K2O, multiplica-se o valor desejado por 1,20. Quando a cana for colhida
para a alimentação animal, sugere-se elevar em 25% a dose de K recomendada.
A adubação potássica da cana é reali-
zada no plantio e após cada corte, em con-
seqüência de a cana-planta e as rebrotas
responderem bem a essa adubação, que se QUADRO 5 - Sugestão de doses de potássio para a adubação da cana, com base na disponibilidade
baseia nos resultados da análise de solo do potássio extraído com resina de troca iônica e na produtividade esperada
da camada de 0 a 20 cm, na produtivida- K extraído com resina
Expectativa
de que se deseja obter e na utilização da (mmolc/dm3)
de produção
cana.
no ciclo 0-0,7 0,8-1,5 1,6-3,0 3,1-6,0 > 6,0
Quando a cana se destina à alimentação
da cana-planta
do gado, deve-se elevar a dose de K a ser (1)
Dose de K
(t/ha)
aplicada, pois a remoção desse nutriente (kg/ha)
será maior, uma vez que se colhe a cana
Menos de 100 100 80 40 40 0
com os ponteiros e as folhas secas. A mas-
sa de K, contida nos ponteiros e folhas 100 a 150 150 120 80 60 0
secas da cana, oscila em torno de 70 kg/ha Mais de 150 200 160 120 80 0
(OLIVEIRA et al., 1999b), podendo, na cana- FONTE: Dados básicos: Raij (1997).
planta, alcançar 140 kg/ha (OLIVEIRA et (1) Para transformar K em K2O, multiplica-se o valor desejado por 1,20.
al.,2002a). Não há necessidade de parce-
lar o K, pois as perdas por lixiviação são
pequenas (OLIVEIRA et al., 2002c) e não QUADRO 6 - Sugestões de doses de potássio para a adubação das rebrotas, com base na disponibi-
compensam os custos de uma nova adu- lidade do potássio extraído com resina de troca iônica e na produtividade esperada
bação. K extraído com resina
Nos Quadros 4, 5 e 6 são apresentadas Expectativa (mmolc/dm3)
as recomendações para adubação potás- de produção
0-1,5 1,6-3,0 > 3,0
sica da cana-planta e das rebrotas, consi- da rebrota
(1)
derando as expectativas de produção e a (t/ha) Dose de K
disponibilidade de K, tendo como extrator (kg/ha)
o Mehlich 1 ou a resina de troca iônica. Menos de 60 90 60 30
A dose de K a ser aplicada nas rebrotas 60 a 80 110 80 50
pode-se também basear na restituição do
80 a 100 130 100 70
K removido pela colheita, à semelhança do
sugerido para as adubações nitrogenada e Mais de 100 150 120 90
fosfatada. Embora a absorção e a remoção FONTE: Dados básicos: Raij (1997).
de K variem entre as cultivares de cana-de- (1) Para transformar K em K2O, multiplica-se o valor desejado por 1,20.
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açúcar, pode-se considerar que, para cada Enxofre riedade, porque os resultados analíticos
tonelada de matéria natural colhida por Pode-se dispensar o uso de enxofre em são influenciados pelo extrator utilizado,
hectare, há, em média, uma remoção de áreas que receberam aplicação de vinhaça pelas características do solo e da variedade
1,5 kg de K. ou gesso agrícola. Em áreas carentes desse e, também, pela época de coleta da amostra,
Não há necessidade de parcelar o po- nutriente, aplicar pelo menos 30 kg/ha de S havendo, inclusive, relatos de efeitos mar-
tássio utilizado nas adubações das rebro- (KORNDÖRFER et al., 1999). O sulfato de cantes da temperatura ambiente e da umi-
tas, em conseqüência das possíveis perdas amônio (22 a 24% de S) e o superfosfato dade do terreno sobre os teores de micro-
por lixiviação. Nos estudos conduzidos por simples (10% a 12% de S) são boas fontes nutrientes (PAVAN; MYASAWA,1984;
Oliveira et al. (2002c) não foram verificadas de enxofre. PEREIRA et al., 2001).
perdas de K por lixiviação. Esses resultados Estudos realizados por Cantarella et al.
foram confirmados por Sampaio e Salcedo Micronutrientes (1998) apontaram que as melhores corre-
(1991) que também observaram que as per- Em grande parte das áreas cultivadas lações entre os teores de Zn ou de Cu nos
das de K, por percolação abaixo de 100 cm com cana-de-açúcar no Brasil tem ocorrido solos e as concentrações desses micro-
de profundidade, foram de 9,0 kg/ha, total- suprimento adequado de micronutrientes nutrientes nas plantas foram obtidas pelo
mente compensados pelo aporte de K pro- pelo solo, dispensando, portanto, o seu método que utiliza a solução de ácido die-
vindos da água da chuva, 18 kg/ha. uso nas adubações químicas. Entretanto, tiltriaminopentacético (DTPA), como extra-
O cloreto de potássio tem sido a fonte a implantação de canaviais em áreas me- tora, comparativamente àqueles dos extra-
de K mais utilizada nas adubações. Entre- nos férteis ou marginais, associada à adu- tores Mehlich 1 e HCl. Segundo Cantarella
tanto, outros resíduos contendo K devem bação com fertilizantes concentrados e ao et al. (1998), existe uma tendência de o DTPA
também ser considerados, como, por exem- plantio de variedades de alta produtivida- ser mais eficiente que o Mehlich 1 e o HCl
plo, a vinhaça, subproduto da fabricação de, que cada vez mais aumentam a absorção naquelas situações em que a disponibili-
do álcool. A vinhaça pode substituir a adu- e exportação de nutrientes, tem causado dade de Zn e de Cu é alterada pela calagem.
bação potássica, devendo a quantidade de deficiência de micronutrientes em diversas Quanto ao Mn, as soluções ácidas e quela-
K fornecida por ela ser, assim, integralmen- lavouras de cana-de-açúcar, havendo, nes- tantes têm mostrado coeficientes de cor-
te deduzida da adubação mineral. O volu- ses casos, a necessidade de fornecer os relação entre Mn no solo e na planta muito
me de vinhaça aplicado tem variado de 60 a micronutrientes pela adubação. elevados. Contudo, analisando solos que
300 m3/ha, dependendo da concentração A análise de solo e o histórico da área receberam adubação com óxidos de Mn,
de K. A concentração de K na vinhaça ori- e da variedade têm sido utilizados como observou-se a tendência de o DTPA ser o
ginária do mosto misto é, em média, duas métodos preditivos de avaliação, quanto à melhor extrator.
vezes maior que na vinhaça originária do possibilidade de ocorrência de deficiência No Quadro 7, são citados os teores mí-
caldo, com valores oscilando em torno de de micronutrientes. A análise de solo deve nimos de disponibilidade de micronutrien-
2,5 e 1,2 kg/m3, respectivamente. ser associada ao histórico da área e da va- tes no solo, extraídos com solução de DTPA
QUADRO 7 - Valores mínimos de disponibilidade de micronutrientes no solo, extraídos com solução de DTPA e Mehlich 1
Extrator
DTPA Mehlich 1
Disponibilidade Elementos
Cu Zn Mn Fe Cu Zn Mn Fe
mg/dm3
Alta > 0,8 >1,2 > 5,0 > 12 > 1,2 > 1,5 >8 > 30
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e Mehlich 1, abaixo dos quais esses micro- As amostras do terço mediano devem e) crescimento rápido para controlar
nutrientes devem ser fornecidos às plantas ser primeiramente lavadas em água corrente plantas daninhas;
pela adubação. As doses de Cu, Zn, Mn, e limpa e, posteriormente, em água destilada.
f) possuir mecanismos ou sintetizar
Fe a serem aplicadas, no caso de deficiên- A seguir, o material deve ser seco a 65ºC
compostos, que auxiliem no controle
cia, são respectivamente: 2,5 a 6,0; 5,0 a até o peso constante. Caso não seja pos-
de pragas, nematóides por exemplo,
7,0; 3,0 a 6,0 e 6,0 a 10,0 kg/ha, utilizando- sível esta secagem, devem-se enviar, rapi-
e doenças.
se óxidos, cloretos e sulfatos. damente, as amostras para o laboratório,
onde serão analisadas. No Quadro 8, estão Diversas leguminosas possuem estas
AVALIAÇÃO DO citadas as faixas de concentrações de nu- características, mas de modo geral há pre-
ESTADO NUTRICIONAL trientes, consideradas adequadas. ferência pela Crotalaria juncea, na região
DA CANA-DE-AÇÚCAR Centro-Sul do Brasil, e pela Crotalaria
A análise química das folhas da cana- ADUBAÇÃO VERDE spectabilis, em Alagoas e Pernambuco.
de-açúcar é mais uma forma de avaliar o A Crotalaria juncea é de crescimento ini-
Adubação verde é o cultivo de plantas
estado nutricional das lavouras. A prefe- com o propósito de incorporá-las ao solo. cial muito rápido, o que lhe confere grande
rência pelas folhas deve-se ao fato de se- Dentre as características desejáveis de uma competitividade com plantas daninhas, mas
rem a parte da planta que, de modo geral, planta a ser utilizada como adubo verde muito sensível ao período de escuro, flores-
reflete melhor as variações no suprimento podem-se citar: cendo precocemente sob noites crescen-
de nutrientes, tanto do solo, quanto das tes e, conseqüentemente, interrompendo
a) possibilidade de mecanização, da
adubações. Em cana-de-açúcar tem sido o crescimento. Por isso, quando seu culti-
semeadura à colheita de sementes;
recomendado coletar as folhas +2 ou +3. vo for para adubação verde, deve-se fazer
b) ausência de sementes dormentes; o semeio no começo de outubro ou tão lo-
A folha +1 é, no sentido descente do colmo,
a primeira que apresenta a lígula (região de c) sistema radicular vigoroso e profun- go seja possível. Para a produção de semen-
inserção da bainha foliar no colmo) total- do; tes, estas devem ser semeadas em março.
mente visível. Para a análise química, utiliza- d) capacidade de associar-se a bacté- Em pesquisas conduzidas pelo primei-
se o terço mediano da folha +2 ou +3, excluí- rias fixadoras do nitrogênio do ar ro autor em duas regiões de Minas Gerais,
da a nervura central. atmosférico; Alto Paranaíba e Zona da Mata, verificou-
QUADRO 8 - Faixas de concentração de nutrientes no terço médio da folha +2 ou +3, consideradas adequadas
Macronutrientes
Fonte N P K Ca Mg S
g/kg
(1)
Malavolta et al. (1989) 19-21 2,0-2,4 11-13 8,0-10 2,0-3,0 2,5-3,0
(2)
Malavolta et al. (1989) 20-22 1,8-2,0 13-15 5,0-7,0 2,0-2,5 2,5-3,0
Micronutrientes
B Cu Fe Mn Mo Zn
mg/kg
(1)
Malavolta et al. (1989) 15-50 8-10 200-500 100-250 0,15-0,30 25-50
(2)
Malavolta et al. (1989) – 8-10 80-150 50-125 – 25-30
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QUADRO 9 - Massa de matéria seca (MS), quantidade de nutrientes e carboidratos estruturais nas amostras de palhada da cana recém-colhida, sem
queima (ano de 1996) e na remanescente um ano após (ano de 1997)
Nutrientes
MS (kg/ha)
Ano
(t/ha)
N P K Ca Mg S C
primeiro autor em solos com grande hete- nutrientes, mas também mineralizados mais tivares, amostrando-se seis parcelas com
rogeneidade física e alta capacidade de rapidamente. área de 2,8 m2 cada, dentro de cada talhão.
adsorção de fósforo. Testaram-se diferen- Em outubro, realizou-se a adubação da
tes misturas percentuais de bagaço de cana ANÁLISE TÉCNICA E ECONÔMICA cana de primeira rebrota, repondo-se 90%
e esterco de cama de frango, desde 100 kg DE UM SISTEMA DE PRODUÇÃO da massa de N e K exportada pela colheita:
de bagaço até 80 kg de bagaço + 20 kg de DE CANA DESTINADA 180 kg/ha de N e 225 kg/ha de K, usando-
À ALIMENTAÇÃO ANIMAL
cama de frango, acrescidas de 5,0 kg de se a uréia e o cloreto de potássio. Em julho
sulfato de amônio. Findo o processo de Foram avaliados, pelo primeiro autor, do ano subseqüente ao do corte da cana-
compostagem aplicaram-se 15 toneladas os custos de um sistema de produção de planta, avaliaram-se novamente a produ-
do material por hectare, no fundo do sul- cana-de-açúcar utilizada para a alimentação ção de material natural, MS e de nutrien-
co de plantio da cana. Sobre o composto de vacas leiteiras e sua relação com o preço tes na cana de primeira rebrota. Os índices
foi distribuído o adubo 06-30-24, na do- do leite em propriedade rural, localizada no técnicos e os insumos utilizados para a
se de 500 kg/ha. Os resultados mostraram município de Mercês, Zona da Mata mi- produção da cana estão descritos no Qua-
que o composto que propiciou maior pro- neira. O plantio da cana ocorreu no final dro 10. A partir desses números obteve-
dutividade da cana foi a mistura de 100 kg de setembro, início do período chuvoso. se para cada biênio a receita da venda da
de bagaço + 5,0 kg de sulfato de amônio, Os resultados das análises de solo revela- cana necessária para pagar as despesas,
obtendo-se incremento de 55 toneladas de ram teores de P inferiores a 10 mg/kg e mé- valor este designado de ponto de equilí-
colmos por hectare, em comparação ao tra- dios de K, Ca e Mg, apresentando satura- brio, uma vez que foram considerados os
tamento que recebeu somente adubação ção por bases próxima a 60% da CTC a pH custos de produção da cana-planta e da
química. O custo de produção e aplicação 7,0. O solo foi arado e gradeado, sulcando- primeira rebrota. Definido o ponto de equi-
do composto equivaleu a 23,5 toneladas se, a seguir, com espaçamento de 1,40 m. líbrio e tendo-se o valor médio do preço do
de colmos e o uso desse composto permitiu O adubo, mistura de uréia, superfosfato tri- litro de leite, calculou-se a quantidade de
ganho líquido de 31,5 toneladas de colmos plo e cloreto de potássio, correspondendo litros necessária para pagar as despesas
por hectare. Os resultados obtidos neste às quantidades de 100; 87 e 167 kg/ha de correspondentes a 30 kg de cana. Assim
estudo mostram que mesmo sendo o baga- N, P e K, respectivamente, foi aplicado no procedeu-se porque, na maioria das pro-
ço de cana um resíduo pobre em nutrien- fundo do sulco, tendo-se plantado as varie- priedades produtoras de leite o consumo
tes, seu efeito sobre as propriedades físicas dades RB72-454, RB83-5486, RB85-5536, de cana tem sido da ordem de 30 kg por
do solo, principalmente a aeração e a capa- RB86-7515 e SP80-1816. Em junho do ano vaca, por dia.
cidade de retenção de água, causou maior subseqüente ao plantio avaliaram-se a pro- O acúmulo de biomassa na parte aérea
aumento de produtividade do que aquele dução de matéria natural e o acúmulo de da cana foi de 150 toneladas no ciclo de
verificado para compostos mais ricos em MS e de nutrientes na parte aérea das cul- cana-planta e 160 toneladas na cana de pri-
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QUADRO 10 - Índices técnicos e insumos utilizados para a produção de um hectare de cana-de- mos de produtividade da cana-planta para
açúcar a cana de primeira rebrota variam em torno
Cana de de 25%.
Cana-planta primeira O incremento na adubação do presen-
Discriminação do índice técnico, do insumo ou da despesa
(ha) rebrota te estudo, em relação às recomendações
(ha) de Raij (1997), foi de, aproximadamente,
Aluguel da terra 100 kg/ha de uréia e 190 kg/ha de cloreto
Valor equivalente em toneladas de cana industrializável 14 t 14 t de potássio. Com base nos preços dos fer-
tilizantes no ano de 2005, verifica-se que
Preparo do solo e sulcagem do terreno 6,5 h/m –
esse incremento na adubação aumentou as
Mudas de cana despesas em R$336,15, mas elevou a pro-
O preço da tonelada de mudas de cana é duas vezes maior que
dutividade em 30 toneladas, gerando um
o da tonelada de cana vendida para a industrialização 12 t –
aumento de renda de R$1.050,00, pois o
Fertilizantes preço da tonelada de cana naquele ano foi
Uréia 220 kg 360 kg de R$35,00. Assim, para cada real investido
Superfosfato triplo 450 kg – na adubação adicional houve um retorno
Cloreto de potássio 320 kg 390 kg
de R$3,12.
Mão-de-obra para plantio e tratos culturais O Gráfico 3, mostra a variação do preço
Considerou-se que o valor de um dia homem (d/H) é 1/15 do do litro de leite no período de 1995 a 2005 e
salário mínimo em razão dos encargos sociais 13 d/H 06 d/H do volume de leite, em litros, necessários
Herbicidas e formicida para 30 kg de cana. Na média dos 10 anos,
Ametrina 4,0 L 4,0 L foi necessário 0,89 litro de leite para pagar
2,4 D 1,5 L 1,5 L o custo de produção de 30 kg de cana, e
MSMA 4,0 L – os menores volumes foram verificados
Gramoxone – 1,5 L no período 1995 a 2000: 0,77 litro de leite.
Mão-de-obra para o corte da cana A partir do ano 2001, a quantidade ultra-
À semelhança do item Mão-de-obra, considerou-se que o valor passou a um litro de leite e esse aumento
de um dia homem (d/H) é 1/15 do salário mínimo 30 d/H 30 d/H deveu-se principalmente à elevação rela-
NOTA: MSMA – Metano arseniato ácido monossódico; h/m – Hora/máquina. tiva do preço dos fertilizantes, cujos va-
lores percentuais ultrapassaram a 20%,
alcançando, no caso da uréia, a média de
42%.
meira rebrota (Fig. 2). Cerca de 80% dessa A quantidade de fertilizante utilizada no A tecnologia de produção e os resul-
biomassa foi constituída de colmos indus- presente estudo, com base no critério de tados obtidos, no presente estudo, vêm
trializáveis, percentual semelhante ao veri- restituição de elementos exportados pela sendo difundidos por meio de palestras
ficado em diferentes regiões canavieiras do colheita, é maior que a rotineiramente uti- técnicas, visitas in loco e assessoramento
Brasil e do mundo. lizada nas adubações de rebrota da cana técnico. Visando diminuir os gastos com
A fertilidade do solo, onde se instalou (RAIJ, 1997). Contudo, no presente estudo fertilizantes químicos e também reciclar
o experimento, é de mediana a baixa, mas a verificou-se aumento de produtividade no nutrientes, tem-se recomendado aos pecua-
produtividade alcançada iguala-se às obti- ciclo de primeira rebrota de, aproximada- ristas e produtores, que utilizam esse siste-
das por Dias et al. (1999) em solo de alta mente, 10%, enquanto na grande maioria ma de produção de cana, a incluir a aduba-
fertilidade natural, na região de Ribeirão das lavouras canavieiras observa-se de- ção verde, especialmente com Crotalaria
Preto, SP. créscimo de produtividade do primeiro pa- juncea, antecedendo ao cultivo da cana,
No ciclo de cana-planta, os itens que ra o segundo corte, oscilando em torno de bem como a utilização de composto orgâ-
mais oneraram a produção foram as mudas 15%. Citando resultados de diversos estu- nico, constituído de esterco dos próprios
de cana, a adubação, o aluguel da terra e o dos conduzidos pelo Programa de Melho- bovinos e de outros resíduos orgânicos
corte da cana, enquanto que para a cana ramento de Cana da Cooperativa dos Pro- existentes na propriedade. Estas práticas
de primeira rebrota, somente a adubação dutores de Cana-de-açúcar, Açúcar e Álcool agrícolas têm repercutido em aumento da
representou cerca de 40% dos gastos (Qua- do Estado de São Paulo (Copersucar), eficiência dos adubos químicos e redução
dro 10). Fernandes (2000) afirma que os decrésci- de custos com a fertilização.
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Gráfico 3 - Preço do litro de leite no período 1995-2005 e volume de leite necessário para pagar o custo de produção de 30 kg de cana
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INTRODUÇÃO dutividade na cana-planta (primeiro corte) anos, são utilizadas planilhas eletrônicas
A cana-de-açúcar é uma cultura semipe- e nas soqueiras (cortes subseqüentes). de simulação de produção – um recurso
rene. Sua implantação e condução revestem- Este artigo traz uma contribuição acer- computacional relativamente simples – que
se de grande importância, pois constituem ca de recomendações técnicas para uma depende sobremaneira das estimativas de
fatores que podem elevar a vida útil do boa implantação e condução da cultura da produção de cada variedade, ao longo de
canavial pelo aumento do número de cor- cana-de-açúcar. seu ciclo. Dessa forma, é preciso estimar
tes econômicos, proporcionando maiores a produtividade em cada estádio de cor-
retornos financeiros ao produtor. Um bom PLANEJAMENTO E ESCOLHA te, dentro de cada ambiente de produção,
preparo do solo, com o plantio realizado na DA ÁREA PARA CULTIVO assim como sua evolução ao longo dos
DA CANA-DE-AÇÚCAR anos, e qual o número de cortes economica-
época recomendada, o uso de mudas sadias
oriundas de viveiros, os tratos culturais da A elaboração de estimativas de produ- mente viável, em cada caso (BEAUCLAIR,
cana-planta e da cana-soca no momento tividade para fins de planejamento não é 2004).
adequado, com destaque para o controle simples. Para projeções das áreas de lavou- Na escolha da área para cultivo de cana-
de plantas daninhas, constituem práticas ra, visando à quantificação da produção de-açúcar, pelo menos dois fatores básicos
importantes para se conseguir boa pro- ao longo de um horizonte de cinco a dez devem ser considerados: o clima e o solo.
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Engo Agro, D.Sc., Prof. Tit. UFLA - Depto Agricultura, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000, Lavras-MG. Correio eletrônico: laba@ufla.br
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Graduanda em Agronomia, UFLA - Depto Agricultura, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: dag@ufla.br
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Em termos de exigência climática, a cana ainda ser atingida pela geada, quando esti- (jan./fev./mar.); permanece em repouso,
apresenta uma particularidade importante: ver adulta e madura. Se for uma geada for- praticamente sem desenvolver, de abril a
na fase de brotação, perfilhamento e cres- te, que atinja folhas e gemas, a cana sofrerá agosto; em seguida, durante sete meses,
cimento vegetativo, primeira fase do ciclo um processo de deterioração que se ini- de setembro a março, vegeta com grande
da cultura, exige temperatura média do ar cia no ápice e caminha em direção à base. intensidade, para, então, entrar no proces-
maior que 20oC, sendo a ideal na faixa de O problema será potencializado se, após so de maturação. A cana de ano brota em
25oC a 30oC, e umidade disponível no solo. uma geada, houver ocorrência de chuvas. outubro/novembro e desenvolve-se vege-
Já na fase de maturação, segunda fase do Assim, a cana que foi atingida pela geada tativamente até março/abril, entrando, a
ciclo da cultura, a cana exige temperaturas deverá ser cortada primeiro, em relação partir daí, em processo de maturação. Tanto
baixas, abaixo de 20oC e/ou déficit hídri- àquela que não foi atingida. O desponte a cana de ano e meio, quanto a cana de
co, para que entre em repouso fisiológico e deve ser feito mais baixo que o normal, para ano, após o corte, têm o ciclo das socas de
haja um maior acúmulo de sacarose nos eliminar a parte que apodrece primeiro, ou 12 meses.
colmos (ANDRADE, 2006). De acordo com seja, a ponta. Deve-se evitar o plantio de A cana de ano e meio é mais utilizada
Camargo et al. (1977), quanto ao clima, a cana em locais mais baixos, sujeitos à gea- do que a cana de ano, principalmente por-
cana-de-açúcar pode ser cultivada em todo da (ANDRADE, 2006). que, dentre outras vantagens, proporciona
o estado de Minas Gerais. No Norte, parte Por causa da rusticidade natural da escalonamento da colheita e possibilita o
do polígono da seca, onde existem restri- planta e do trabalho de melhoramento ge- corte em maio/junho (variedades de ma-
ções hídricas, é recomendável o emprego nético, a cana-de-açúcar tem-se adaptado turação precoce), julho/agosto/setembro
de irrigações suplementares. a diferentes tipos de solos, desde solos (variedades de maturação média) e outu-
Por outro lado, no Sul do Estado, pode mais pobres, como, por exemplo, os de bro/novembro/dezembro (variedades de
haver ocorrência de geadas em algumas Cerrado, até os mais férteis, como Latos- maturação tardia). Assim, se uma usina,
áreas, envolvendo principalmente a cana solos Roxo e terra roxa estruturada. Para destilaria ou alambique forem trabalhar no
de ano e meio (plantada em janeiro/feve- cada condição de solo, entretanto, sempre período de maio a dezembro, época de sa-
reiro/março), com idade média de quatro a haverá uma variedade de cana-de-açúcar fra, sempre terão cana madura, proporcio-
cinco meses. Nesse caso, de acordo com mais adequada para plantio. As maiores nando maiores rendimentos (ANDRADE,
Andrade (2006), se for uma geada fraca, limitações são de natureza física, tais co- 2006).
aquela que só atinge as folhas e não afeta mo: solos com profundidade efetiva menor Já o plantio de cana de ano, mesmo com
a gema apical, a cana retomará seu desen- que 1,0 m limitam o crescimento das raízes o uso de variedades de maturação precoce,
volvimento normal, quando as condições de cordões, que se aprofundam bastante não possibilitará colheita no início da safra,
climáticas forem favoráveis, emitindo novas no solo e absorvem a umidade em períodos como demonstrado por Carvalho (1992),
folhas. Se for uma geada forte, quando a de seca; solos com lençol freático alto, mal que, ao plantar em outubro, obteve cana
gema apical e as folhas são atingidas, toda drenados proporcionam menor aeração às madura, a partir do mês de agosto do ano
a parte aérea da cana será afetada. Entre- raízes; solos excessivamente arenosos com seguinte, na região Sul do estado de Minas
tanto, as gemas que existem nos rizomas lixiviação de nutrientes e baixa retenção de Gerais.
não são normalmente atingidas pela gea- umidade; solos com declives superiores a Outras vantagens da cana de ano e meio
da e emitem novas brotações, que terão 15% são limitantes para tratores de pneus, sobre a cana de ano seriam: maior número
desenvolvimento normal, quando as con- carregadoras de cana e colheita mecani- de meses para o desenvolvimento vege-
dições climáticas forem favoráveis. Nesse zada (ANDRADE, 2006). tativo, garantindo maior produção; melhor
caso, após a ocorrência de geada, se for distribuição da mão-de-obra (plantio e
área pequena, pode-se utilizar a prática de colheita não coincidem); melhor controle
ÉPOCA DE PLANTIO
roçar, o que vai acelerar a nova rebrota do de plantas daninhas; menores problemas
canavial. Porém, se a área for grande, não No estado de Minas Gerais, as épocas fitossanitários, principalmente no início do
há necessidade de roçar, pois a cana rebro- de plantio de cana-de-açúcar recomenda- ciclo; possibilidade de rotação com cultu-
tará, sem haver perda total do canavial. Em das sem o uso de irrigação são aquelas ras de ciclo curto por ocasião da reforma
ambos os casos, roçando ou não, é acon- também indicadas para a região Centro-Sul: do canavial, caso seja usada a mesma área
selhável uma adubação nitrogenada em janeiro a março, para a cana de ano e meio para um novo plantio. Já as principais van-
cobertura com 60 kg de N por ha, quando a e outubro a novembro, para a cana de ano. tagens da cana de ano sobre a de ano e
umidade do solo for suficiente para favo- De acordo com Coleti (1987), a cana de meio são: produção mais rápida de plan-
recer o novo desenvolvimento vegetativo ano e meio brota e seu desenvolvimento tio ao primeiro corte e melhor brotação
da cultura. A cana de ano e meio poderá inicia-se durante os três meses favoráveis das socas, já que o corte é realizado próximo
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de condições climáticas mais favoráveis será realizado o controle de plantas dani- nível crítico da compactação. Caso con-
(ANDRADE, 2006). nhas de difícil erradicação (grama-seda, por trário, pode-se chegar a resultados irreais.
exemplo) e poderá ser feito com associação Outra maneira mais segura de avaliar a
CONSERVAÇÃO E PREPARO mecânica (grades no período seco). Poste- compactação é a abertura de pequenas trin-
DO SOLO riormente, faz-se o manejo químico com cheiras (faixa de 60 a 70 cm de profundi-
glifosato, no período úmido. Nesse perío- dade), avaliando-se a presença de camadas
A conservação do solo na cultura da
do, é feita a instalação do sistema viário e adensadas de subsuperfície. Isto definirá
cana-de-açúcar envolve diversos fatores,
conservacionista, confecção dos talhões, a necessidade ou não da subsolagem da
que devem ser devidamente analisados,
assim como a aplicação de corretivos, tais área e a que profundidade deverá ocorrer
antes de sua implantação. Dentre estes
como calcário e gesso. Na segunda fase, (DEMATTÊ, 2004).
estão: o tipo de solo, o tipo de corte, se me-
quando iniciam as chuvas, é feita a ope- Em terrenos arenosos, sem problemas
cânico ou manual; a época de plantio e de
ração profunda, ou seja, subsolagem ou de compactação de subsuperfície e de ocor-
colheita; o sistema de preparo; o tipo de
aração. Na terceira fase, é feita a fosfata- rência de pragas de solo, como Migdolus,
traçado, se em nível ou reto; a cobertura gem, caso seja necessária, e gradeação de por exemplo, podem-se eliminar as soquei-
do solo com outras culturas ou com palha; pré-plantio e plantio. Após a segunda fase, ras remanescentes quimicamente, utilizando-
tamanho dos talhões. A sulcação em nível, não é recomendável o uso de gradeações se o glifosato. Nesse caso, após o último
associada ou não a terraços, tem sido o pesadas, pois o solo poderá ficar compac- corte econômico do canavial, espera-se a
sistema conservacionista mais comum tado (DEMATTÊ, 2004). rebrota da cana atingir de 0,60 a 1,00 m de
usado pela maioria das usinas, além da No segundo caso, para a renovação de altura, fazendo-se uma aplicação dirigida
associação com culturas secundárias, co- canaviais, utilizam-se de arado e de grade do produto com pulverizador de barra aco-
mo soja, amendoim, crotalária, etc., em áreas comum. Uma vez colhida a cana e antes de plado a trator e bicos posicionados acima
de reforma de canaviais, que mantêm o so- esta rebrotar, pode-se fazer uma aração, para da rebrota ou lateralmente, molhando-se
lo coberto no período de maior precipi- cortar raízes e rizomas, trazendo este ma- bem as plantas. Na época do plantio, faz-se
tação, o que reduz os perigos da erosão terial para a superfície do solo, onde ficará a sulcação direta da entrelinha e realiza-se
e atenua os custos de implantação dessa exposto ao sol pelo menos por uma sema- o novo plantio, sem preparo prévio do solo.
cultura (DEMATTÊ, 2004). na, para que sofra desidratação. Depois
O preparo do solo para a cultura da O calcário, se necessário, deverá ser apli-
disso, é feita uma gradagem leve para picar
cana-de-açúcar deve ser bem executado, cado nos sulcos de plantio (ANDRADE,
o material e incorporá-lo ao solo, facilitan-
uma vez que um canavial vai proporcionar 2006).
do sua decomposição. A destruição das
vários cortes econômicos e o solo vai ser soqueiras poderá ser feita com uma única
submetido, no período, apenas a tratos cul- passagem da grade pesada, que substitui PLANTIO
turais de ação superficial. a aração e a gradagem leve do sistema de
Plantio convencional
Cada região, em função do tipo de solo, preparo anterior, que corta raízes e rizomas,
da situação em que se encontra o terreno e incorporando-os a grandes profundidades, Para produção da cana-de-açúcar no
da disponibilidade de equipamento, apre- quando não há possibilidade de rebrota da Brasil e em Minas Gerais, ainda predomina
senta um tipo de preparo diferente de outras cana-de-açúcar. Antes da gradagem pe- o sistema de plantio convencional, semi-
regiões (ANDRADE, 2006). sada, devem-se aplicar o calcário e o gesso, mecanizado, com uma grande demanda de
Devem-se considerar dois casos dis- esparramados em área total. Na véspera mão-de-obra.
tintos de preparo do solo: o de um terreno do plantio, faz-se uma gradagem leve para A primeira etapa, após o preparo do solo,
que será plantado pela primeira vez com nivelamento (ANDRADE, 2006). consiste na sulcação. Normalmente, são
cana e o de um terreno já cultivado com ca- Por ocasião da renovação do canavial, utilizados sulcadores-adubadores apro-
na (renovação de canavial). a avaliação do estado de compactação do priados para cana-de-açúcar, com duas ou
No primeiro caso, inicialmente faz-se solo faz-se necessária, para otimizar as três linhas, que, ao mesmo tempo que abrem
a limpeza do terreno, eliminando-se o tipo operações agrícolas de preparo ou cultivo. o sulco, promovem a adubação de fundo.
de cobertura vegetal existente ou os restos Em relação aos penetrômetros de impacto De acordo com Andrade (2006), na falta de
culturais de colheitas anteriores que se ou aos penetrógrafos, a vantagem refere- sulcadores, os pequenos produtores po-
encontram sobre o solo (ANDRADE, 2006). se à rapidez de obtenção dos resultados. dem realizar a sulcação, utilizando arado
Num sistema convencional de preparo A principal desvantagem refere-se à ne- de aiveca ou disco, deixando-se um disco
inicial, o manejo envolve três fases: na pri- cessidade de obter curvas de calibração apenas. Posteriormente, faz-se a adubação
meira, que coincide com o período seco, entre o teor de umidade do solo, além do de forma manual.
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Os sulcos devem ser abertos o mais São necessárias de 8 a 10 toneladas de rendimento das operações de plantio, em
próximo possível do plantio, para conser- mudas com idade de 12 meses, oriundas de que um trabalhador planta, em média, 0,27
var melhor a umidade, no caso de sol, e viveiros, para plantio de um hectare, sendo ha/dia (DIAS NETO et al., 2001), justifica o
para que não haja riscos de entupimento, transportadas para o local de plantio com a uso do plantio mecanizado. Além disso,
no caso de chuvas fortes. manutenção das folhas, porém despon- proporciona vantagens, tais como quali-
Nos canaviais industriais, o espaça- tadas. As folhas (palhas) têm a finalidade dade do serviço, possibilidade de plantar
mento tem variado, normalmente, de 1,30 a de proteger as gemas durante o transporte em período integral e redução dos custos
1,50 m, sendo o mais usual o de 1,40 m, que e o manuseio. Não há necessidade de fazer de formação do canavial.
se adapta melhor ao tráfego de tratores, a despalha da muda antes do plantio, pois, A Usina São Martinho, com sede em
carregadoras e caminhões que transitarão com o manuseio, a maior parte das folhas Pradópolis, SP, é pioneira no plantio meca-
na área. No caso de colheita mecanizada, o solta-se dos colmos e as que porventura nizado de cana-de-açúcar no País e, atual-
espaçamento mais utilizado tem sido o de ficam não constituem impedimento à bro- mente, adota essa técnica em cerca de 30%
1,50 m. Para produtores que cultivam áreas tação das gemas (ANDRADE, 2006). Pre- de sua área de plantio anual. Entretanto,
menores, onde a capina será feita de forma ferencialmente, as mudas devem ser colhi- foi a Cooperativa dos Produtores de Cana-
manual ou com cultivador de tração animal, das e plantadas no mesmo dia, podendo, de-açúcar, Açúcar e Álcool do Estado de
sem tráfego de tratores e veículos, o espa- entretanto, ser mantidas cortadas no cam- São Paulo (Copersucar) que importou, em
çamento entrelinhas pode ser de até 1,0 m. po por até uma semana, antes do plantio, 1989 e 1993, os primeiros dois modelos de
Nesse caso, os caminhões que farão o trans- sem perdas significativas na brotação plantadoras da Austrália, para testes no
porte da cana-de-açúcar colhida, para pro- (MOURÃO, 1991). Brasil, mas por causa da danificação de ge-
dução de cachaça ou forragem, não entram As mudas, distribuídas inteiras nos mas, falhas na brotação, outras inadequa-
no meio do canavial, ficando nos carrea- sulcos, devem ser cortadas com podões ções técnicas e topográficas, não propor-
dores. Normalmente, nos menores espaça- em toletes de duas a três gemas. Quintela cionaram bons resultados. Em seguida, o
mentos, têm-se uma maior produtividade (1996), trabalhando com as variedades Centro de Tecnologia Canavieira (CTC)
de cana-de-açúcar e uma menor incidência RB72-454 e RB76-5418, em Lavras, MG, ve- desenvolveu protótipos adaptados às con-
de plantas daninhas (ANDRADE, 2006). rificou que a brotação e o índice de velo- dições brasileiras, que foram testados na
Coleti (1987) sugere que a densida- cidade de emergência foram maiores no Usina São Martinho com resultados satis-
de de plantio seja de 12 a 15 gemas/m, plantio com toletes de três gemas do que fatórios (RIPOLI, 2006).
podendo-se usar uma cana e meia ou duas no plantio de cana inteira, além de ter obti- Já existem, atualmente, fabricantes des-
canas no fundo do sulco, dependendo da do um menor levantamento de pontas. ses equipamentos de plantio no Brasil, co-
distância dos entrenós e da qualidade ge- Após o seccionamento, os toletes são reco- mo, por exemplo, Santal, DMB, Brastoft,
ral da muda. Uma maneira prática de adotar bertos com terra por meio de implementos com vários modelos disponíveis no mer-
uma ou outra opção seria, inicialmente, apropriados, cobridores de cana, acopla- cado. Entretanto, basicamente, têm-se dois
marcar 10 m lineares de sulco. Em seguida, dos ao trator, que também faz a aplicação tipos de plantadoras de cana-de-açúcar:
distribuir as mudas no sistema de uma cana de inseticida contra as pragas de solo. Nor- plantadora de cana inteira (PCI) e planta-
e meia, de maneira que a metade apical de malmente, faz-se um repasse manual com dora de cana picada (PCP).
um colmo fique traspassada com a metade enxada, onde a cobrição mecânica não te- O primeiro tipo, PCI, é um equipamento
basal do outro, colocados lateralmente. nha ficado adequada. Os toletes podem ser que utiliza cana inteira e, normalmente, faz
Conta-se o número de gemas total em 10 m recobertos também com enxada, no caso o plantio de uma linha de cada vez. Possui
e caso seja maior ou igual a 120, adota-se de pequenos produtores, colocando-se de um sulcador com regulagem de profundi-
essa distribuição. Caso o número seja me- 5 a 10 cm de terra sobre os toletes, para dade e uma adubadora de rosca sem fim
nor que 120, deve-se adotar o sistema de promover melhor enraizamento e facilitar (capacidade de 300 kg), que distribui o adu-
duas canas, colocando-se sempre pé com a brotação (ANDRADE, 2006). bo no fundo do sulco. A alimentação das
ponta, para prevenir eventuais falhas de mudas é feita manualmente por duas pes-
germinação, que, normalmente, ocorre na Plantio mecanizado soas que abastecem a plantadora com cana
parte basal dos colmos. O plantio mecanizado da cana-de- inteira, armazenada em uma carreta acopla-
A distribuição das mudas é feita por açúcar, muito mais que uma tendência, é da atrás da plantadora (capacidade de 3 t
meio de caminhões, quando grandes pro- uma necessidade do setor, impulsionado de mudas); possui um conjunto de facas
dutores, e por carretas de tração animal ou pela expansão da produção para atender acionado pela roda da plantadora, que pica
tratores, quando pequenos produtores. à demanda nos próximos anos. O baixo a cana em toletes (pedaços de 30 a 40 cm)
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e são uniformemente distribuídos no sul- plantas daninhas. Existem diferentes tipos feche e abafe o mato. A capina mecânica,
co. A plantadora é equipada também com de controle, mas seja qual for, apenas vai por meio de cultivadores de tração animal
cobridor, composto por dois discos côn- diminuir a incidência da comunidade infes- ou trator, pode ser realizada, mas uma só
cavos e uma roda compactadora. Assim, tante durante certo período. operação não é suficiente, havendo neces-
numa única operação, fazem-se o sulca- Os métodos de controle que podem ser sidade de até três. As limitações desse mé-
mento, a adubação, a distribuição dos to- utilizados são: preventivo, cultural, ma- todo são o controle do mato somente na
letes e a cobertura, com um rendimento nual, mecânico e químico. O ideal seria a entrelinha (na linha, às vezes, é preciso ca-
médio de 3 ha/dia. Já existem modelos de combinação entre dois ou mais métodos, pinar manualmente ou aplicar herbicida) e
plantadora de duas linhas, com espaçamen- adotando-se o chamado manejo integra- a eficiência apenas na fase inicial de desen-
to regulável de 1,00 a 1,60 m, que, por serem do. volvimento da planta daninha.
mais pesadas, exigem maior potência tra- De acordo com Victória Filho e Chris- A capina química, usando herbicidas,
tória e podem contribuir para uma maior toffoleti (2004), medidas preventivas são com pulverizadores de barra acoplados a
compactação do solo. usadas para evitar a introdução, na área de trator, é o método de controle mais utili-
O segundo tipo, PCP, é um equipamento plantio, principalmente de plantas dani- zado atualmente. Os herbicidas utilizados
que utiliza toletes e planta duas linhas de nhas como a tiririca, grama-seda, capim- na cultura da cana são, de modo geral,
cada vez. Os toletes são obtidos dos vivei- colonião, capim-massambará e capim- aplicados na pré-emergência ou na pós-
ros de mudas, por meio de colhedoras de camalote, dentre elas destacam-se: utilizar emergência da planta. Em pré-emergência,
cana crua, que são as mesmas usadas na mudas livres de dissemínulas das plantas são aplicados na superfície do solo, após
colheita de canaviais industriais. Os toletes daninhas; manter canais de vinhaça ou de o plantio e na pré-emergência das plan-
colhidos são descarregados em carretas irrigação livres de plantas daninhas; limpar tas daninhas. Aqueles aplicados em pós-
dotadas de transbordo e repassados para equipamentos agrícolas; utilizar torta de emergência são utilizados após a emer-
o depósito da plantadora com capacidade filtro ou composto orgânico livre de plantas gência da cultura e das plantas daninhas.
de 4 t, que tem duas esteiras transporta- daninhas; limpar áreas adjacentes, inclu- Em algumas situações, há necessidade de
doras de toletes para os sulcos. A planta- sive carreadores que separam os talhões adicionar um adjuvante à calda. A seletivi-
dora possui dois sulcadores com regula- que podem produzir sementes. dade ocorre devido a aspectos de absorção
gem de profundidade, duas adubadoras Medidas culturais são aquelas que foliar e à degradação do herbicida absorvi-
com capacidade de 450 kg cada, um tanque favorecem a cultura da cana-de-açúcar, no do pela planta cultivada (VICTÓRIA FILHO
com capacidade de 450 L, com duas saídas aspecto competitivo como por exemplo, e CHRISTOFFOLETI, 2004). Como existem
para aplicação de inseticida sobre os toletes escolha de variedades adaptadas às con- vários herbicidas disponíveis no mercado
distribuídos nos dois sulcos. Possui ainda dições locais, as quais proporcionam rá- para ser empregados na cultura da cana-
dois cobridores (um para cada linha) do- pido crescimento e ocupação de espaço; de-açúcar, cada um deles com diferentes
tados de discos côncavos e roda compacta- espaçamento mais adensado; rotação, su- particularidades, torna-se necessário con-
dora. Numa única operação, fazem-se a cessão e culturas intercalares (consórcio) sultar um engenheiro agrônomo, para pres-
abertura dos sulcos, adubação de fundo, que, de modo geral, evitam a predominância crição e orientação adequada (ANDRADE,
distribuição dos toletes, aplicação de inse- de determinadas plantas daninhas, facili- 2006).
ticida e cobertura dos toletes, com rendi- tando o controle. Os principais herbicidas registrados
mento médio de um hectare por hora. De acordo com Andrade (2006), o mato para uso na cultura da cana-de-açúcar no
Embora essas plantadoras atuais não deve ser muito bem controlado nos primei- Brasil são apresentados no Quadro 1.
causem grandes danificações às gemas, é ros 100 dias pós-plantio, período conside- Além do controle de plantas daninhas,
sempre prudente, nesse caso, aumentar a rado crítico de competição do mato na cana- outro trato cultural é aquele que deve ser
densidade de plantio, utilizando-se uma planta. Dependendo da área plantada, grau realizado próximo aos 60 dias após o plan-
média de 18 a 20 gemas por metro linear de de mecanização e mão-de-obra disponível, tio e antes do fechamento do canavial, ou
sulco. o controle pode ser feito de forma manual, seja, passa-se um cultivador mecânico,
mecânica ou química. objetivando incorporar o adubo aplicado
TRATO CULTURAL A capina manual com enxadas, só é em cobertura (nitrogênio e/ou potássio)
viável para pequenas áreas. Em média são e rebaixar os camalhões formados pelo
Cana-planta necessários 15 homens/dia/ha para uma sulcamento da área. Na fase inicial de de-
O principal trato cultural a ser realizado capina. Dependendo do grau de infestação, senvolvimento, outro trato cultural impor-
na cana-planta diz respeito ao controle de três capinas são necessárias até que a cana tante é o combate às formigas, que deve
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QUADRO l - Principais herbicidas registrados para uso na cultura da cana-de-açúcar no Brasil Área de colheita manual
com cana queimada
Herbicida Época de aplicação Marca comercial
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lho de tríplice operação em soqueira exige para não haver perdas significativas na ção do cultivo e adubação das soqueiras
tratores com 90 a 120 HP, que variam com o produção (ANDRADE, 2006). em profundidade no solo.
tipo de solo e número de hastes subsola-
doras. O rendimento operacional oscila Controle de formigas Aplicação da vinhaça
entre 0,75 e 1,00 hectare/hora (CORBINI, Principalmente na fase inicial da rebro- ou da adubação química
1987). ta do canavial o controle de formigas deve sobre a palha
ser eficiente e executado por pessoas trei- Quando se usa a vinhaça, esta é aplica-
Aplicação de vinhaça nadas para esse fim, as quais identificam da sobre o palhiço, na dose de até 150 m3/
Após a tríplice operação, em algumas os olheiros e fazem o combate com formi- hectare. Quando se faz a adubação quími-
áreas onde é viável economicamente, a adu- cidas em pó, grânulos ou líquido, que são ca da soca, esta poderá ser aplicada so-
bação química da soqueira pode ser subs- transformados em gases, por meio da ter- bre a palha que se encontra no solo. Tanto
tituída ou complementada com a aplicação monebulização, processo atualmente mais os nutrientes contidos na vinhaça, como
da vinhaça, subproduto da fabricação do utilizado nas áreas canavieiras. os contidos no adubo químico atingem
álcool ou aguardente. o solo e serão absorvidos pela cana-de-
A vinhaça é um adubo orgânico líqui- Área de colheita açúcar.
do, rico em potássio, matéria orgânica e mecanizada ou manual sem
nitrogênio, porém pobre em fósforo e queima prévia do canavial Controle de plantas daninhas
outros nutrientes, sendo mais compatível Como o palhiço exerce um bom contro-
Palhiço
com as exigências nutricionais das so- le de plantas daninhas, a aplicação do her-
queiras, daí sua utilização após cada cor- Como não se faz a queima prévia do
bicida é feita de forma dirigida, apenas nos
te que é dado no canavial, até a dose de canavial antes da colheita, a quantidade locais onde o mato aparece, utilizando-se
150 m3/hectare (no caso de vinhaça prove- de palhiço que fica esparramado sobre o pulverizadores costais motorizados ou ma-
niente da fermentação do caldo da cana- solo é muito grande, 12 a 15 toneladas de nuais. O controle do mato também poderá
de-açúcar) (ANDRADE, 2006). matéria-seca por hectare, não sendo pos- ser feito por meio de enxadas, no caso de
A vinhaça é depositada em lagoas de sível o seu enleiramento. pequenas áreas.
decantação e, a partir daí, pode ser levada Ressalta-se que a presença do palhi-
até a lavoura por meio de sulcos de infiltra- ço, mesmo sobre as linhas remanescentes Controle de formigas
ção, aspersão ou caminhão-tanque. de cana, não afeta o desenvolvimento e a Embora a identificação de olheiros fique
produção das soqueiras, podendo ocorrer mais difícil, devido à presença da palha so-
Controle de plantas daninhas tão-somente um pequeno atraso na rebrota bre o solo, também nesse caso o controle
do canavial, já que a palha proporciona uma de formigas deve ser muito bem executado,
Após a aplicação da vinhaça nas so-
temperatura do solo um pouco mais baixa para não afetar o desenvolvimento inicial
queiras, usam-se herbicidas aplicados com
do que quando este solo está completa- da rebrota da cana-de-açúcar.
pulverizadores de barra, acoplados a trator,
mente exposto (CAMPOS; MARCONATO,
sendo recomendados para cana-planta.
1994). Além disso, o palhiço sobre a área PRINCIPAIS DOENÇAS
Dá-se preferência àqueles que não neces-
conserva melhor a umidade do solo e exer- DA CANA-DE-AÇÚCAR
sitam tanto de umidade no solo para uma
ce um controle muito bom sobre a maio- E FORMAS DE CONTROLE
ação eficiente, já que no período de maio a
ria das plantas daninhas (QUINTELA,
agosto, início e meio de safra, normalmente No Brasil, várias doenças são comu-
2001).
há condições inadequadas de umidade no mente encontradas na cultura da cana-de-
solo (ANDRADE, 2006). Dependendo do açúcar. Algumas são consideradas de gran-
tamanho da área, o cultivo mecânico e mes- Tríplice operação
de importância, mas de difícil quantificação
mo o uso de enxadas para controle de plan- Cultivadores de soqueiras comuns não de prejuízos pela diversidade de cultivares
tas daninhas poderão também ser utili- são capazes de realizar o trabalho, devido e pelas condições ambientais, em que são
zados. à presença da grande quantidade de pa- cultivadas. Dentre as principais doenças,
Ressalta-se que o período crítico de lhiço sobre a área. Entretanto, já existem, Tokeshi (1980) e Sanguino (1987) destacam
competição do mato na cana-soca corres- disponíveis no mercado, cultivadores adap- as seguintes.
ponde aos primeiros 60 dias após cada tados com mecanismos (discos) que reali-
corte no canavial. Nesse período, o controle zam o corte prévio da palha, o que facilita a Mosaico
de plantas daninhas deve ser bem-feito, penetração dos subsoladores para realiza- a) agente causal: vírus;
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Além das formigas que requerem um dos o equivalente a cinco canas por lação aumenta na segunda geração,
controle contínuo, como mencionado nos carga, tomadas casualmente nos que ocorre no Centro-Sul do Brasil,
itens referentes à cana-planta e à cana- veículos de transporte, que chegam nos meses de novembro a fevereiro
soca, de acordo com Macedo e Macedo ao pátio da indústria. Quando feitos (época de maior precipitação). Em
(2004), as pragas de maior incidência e nas áreas de campo, amostram-se geral, são observadas de três a qua-
prejuízos causados à cana-de-açúcar nos cinco pontos casualizados de 25 tro gerações por ano (MACEDO;
canaviais brasileiros, atualmente, são a canas, totalizando 125 canas, que MACEDO, 2004).
broca-comum, a cigarrinha-das-raízes e representam até 50 ha (MACEDO; As formas jovens de cigarrinha-
os cupins subterrâneos. Também merecem MACEDO, 2004). Em ambos os mé- da-raiz, conhecidas por ninfas, ata-
destaque o Migdolus e o gorgulho-da-cana todos, as canas são abertas longi- cam as raízes superficiais da cana,
(DINARDO-MIRANDA, 2005). tudinalmente, contando-se o total de liberando uma espuma branca, se-
entrenós e aqueles atacados pelo melhante à de sabão, que se acumu-
Broca-comum complexo broca/podridão-vermelha, la no pé da cana, no nível do solo.
a) espécie e descrição: a espécie de anotando-se os dados. De posse As ninfas, ao sugarem as raízes,
broca que predomina nos canaviais destes, calcula-se o índice de infes- ocasionam distúrbios fisiológicos
do Brasil é a Diatrae saccharalis. tação (I.I.), pela relação número de na planta, impedindo ou dificultan-
O adulto é uma mariposa de cor entrenós brocados/número de entre- do o fluxo de água e de nutrientes.
amarelo-palha, cuja fêmea faz a pos- nós total x 100. Consideram-se 3% Há morte de raízes, chochamento e
tura nas folhas. Após a eclosão dos de I.I., como nível de dano econô- afinamento dos colmos e seca das
ovos, as larvas de cor amarelo-palha mico, a partir do qual medidas de folhas;
e cabeça marrom, caminham em di- controle devem ser adotadas;
b) tipo de dano: os danos diretos di-
reção aos colmos, perfurando-os e d) controle: o método de controle mais zem respeito à redução da produ-
abrindo galerias no sentido ascen- usado, por ser de grande eficiência, tividade do canavial. Os indiretos
dente. Quando o ataque se dá em é o biológico. Para isso utiliza-se um referem-se à perda de qualidade da
cana nova, pode ocorrer morte da inimigo natural específico – Cothesia cana, com aumento no teor de fibras,
gema apical, com seca da última fo- flavipes, que é multiplicado em labo- de impurezas e de contaminantes no
lha, aparecendo o sintoma conhecido ratórios das usinas e liberado nos caldo e redução nos teores de açú-
como coração morto. Quando a larva canaviais, onde parasitam as larvas car;
vai-se transformar em pupa, abre da broca. A fêmea da C. flavipes caça
outro orifício para garantir sua saí- c) necessidade de controle: deve ser
a larva da broca, inclusive entram
da. As pupas transformam-se em feita uma amostragem no campo,
pelas galerias construídas nos col-
adultos que, após o acasalamento, identificando-se a presença de espu-
mos pela larva. Ao encontrar a bro-
vão reiniciar o ciclo. O ciclo evolu- ca, a fêmea da C. flavipes introduz o mas brancas junto ao pé da cana, no
tivo completo da broca é de, aproxi- ovipositor, fazendo a postura, e daí nível do solo. Há indicações de que
madamente, 70 dias; eclodem larvas que se alimentarão o nível de controle está próximo de
b) tipo de dano: podem ser diretos, da parte interna da broca, provocan- três a cinco ninfas (espumas), por
proporcionando perda de peso da do sua morte. metro linear de cana, ou seja, valores
cana, pelas galerias construídas, superiores a este justificam a adoção
morte da gema apical, coração morto, Cigarrinha-das-raízes de medidas de controle;
e quebra da cana, pela ação de ven- a) espécie e descrição: cigarrinha-das- d) controle: pode-se usar o controle
tos e menor resistência; ou indiretos, raízes, Mahanarva fimbriolata – o biológico, com o emprego do fun-
pois através dos orifícios abertos ataque desta praga vem aumentando go Metarhizium anisopliae
nos colmos, ocorre a penetração de nos canaviais colhidos sem a queima (MENDONÇA, 1996). Entretanto,
fungos, Fusarium ou Colletotrichum, prévia, principalmente nas épocas produtos comerciais disponíveis no
que causam a podridão-vermelha e das chuvas. Sob a palha e com umi- mercado têm apresentado baixa efi-
invertem a sacarose armazenada nos dade, o inseto encontra condições ciência de controle em nível de cam-
colmos; ideais para se multiplicar. A primeira po. O controle químico tem-se mos-
c) necessidade de controle: nos levan- geração dá-se, geralmente, de forma trado, até o momento, a alternativa
tamentos no pátio, devem ser retira- discreta e desapercebida. A popu- mais eficiente, destacando-se o pro-
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duto comercial Actara, na dose de b) tipo de dano: em conseqüência do como: Furadan, Regent e Evidence
800 g/hectare, com pulverizações ataque de Migdolus à parte subter- (DINARDO-MIRANDA, 2005).
dirigidas à parte basal da cana, no rânea da cana, raízes e rizomas,
Outras pragas de ocorrência nos cana-
nível do solo. O afastamento da ocorrem falhas na rebrota, morte de
viais, mas de importância localizada, seriam
palha do pé da cana, quando pos- colmos, com reduções significati-
a broca-gigante, pão-de-galinha, lagarta-
sível, tem aumentado a ação do pro- vas da produtividade e longevidade
elasmo, lagarta-militar, lagarta-mede-
duto. do canavial;
palmos, pulgões, cochonilhas e gafanho-
c) controle: é de difícil controle, tendo tos (MENDONÇA, 1996).
Cupim subterrâneo
sido utilizados métodos integrados
a) espécies e descrição: as principais de controle cultural, arações mais CUSTOS DE PRODUÇÃO
espécies de cupins subterrâneos são profundas, armadilhas com fero-
Em um mundo globalizado, onde as
Heterotermes tenuis e Heterotermes mônios, para captura dos machos
margens de lucro no setor primário são cada
longiceps. Atacam toletes planta- durante a revoada, e químico, com
vez menores, a profissionalização e a busca
dos, raízes, rizomas e até mesmo par- aplicação de inseticidas do solo, co-
de novos padrões de qualidade, por parte
te aérea de canas adultas; mo Regent, Evidence, Endossulfan
do produtor, são necessidades prementes.
b) tipo de dano: na cultura da cana- ou Thiodan (DINARDO-MIRANDA,
Portanto, a preocupação do produtor deve
de-açúcar, os danos são reconhe- 2005).
estar voltada não somente para os pro-
cidos por falhas na brotação por cessos produtivos, mas também para as
Gorgulho-da-cana
ocasião do plantio, morte de toucei- ações gerenciais e administrativas de sua
ras que não rebrotam mais, pois os a) espécie e descrição: é um besou- propriedade.
cupins atacam raízes e rizomas, parte ro (coleóptero), identificado como
Alguns dos quesitos mais importantes
subterrânea, provocando a morte de Sphenophorus levis. Tem hábitos
para o produtor são o conhecimento e o
touceiras. Os prejuízos médios são subterrâneos e, após o acasala-
acompanhamento dos custos de produção
na ordem de 10 t/ha/ano (MACEDO; mento, as fêmeas perfuram os rizo-
dentro da propriedade. Ao ignorar o que
MACEDO, 2004); mas, parte subterrânea dos colmos,
está acontecendo com os custos, o pro-
inserindo os ovos. Destes eclodem
c) controle: a principal medida de con- dutor não saberá se está efetivando ou não
larvas branco-leitosas, castanho-
trole dos cupins subterrâneos, em os lucros e tampouco terá subsídios para
avermelhadas, que escavam galerias
áreas onde ocorrem, tem sido o uso tomar decisões acertadas para atingir os
no interior dos rizomas. Estas galerias
do inseticida Regent, aplicado via melhores resultados (RICHETTI, 2006).
permanecem cheias de serragem fina,
pulverização sobre os toletes nos O momento atual vivido pelo agronegó-
característica do ataque da praga
sulcos de cana, por ocasião do plan- cio cana-de-açúcar é de euforia e de expan-
(DINARDO-MIRANDA, 2005);
tio, antes do recobrimento com o são. Novas áreas vêm sendo incorporadas
solo. b) tipo de dano: em conseqüência das no processo produtivo e a grande van-
galerias abertas na base dos colmos, tagem do Brasil está no fato de que pode
Migdolus ocorre amarelecimento das folhas, competir com os demais países produtores
seguido pelo secamento e morte de em situação vantajosa. Mas o produtor de
a) espécie e descrição: a espécie mais
perfilhos, que podem ser facilmente cana-de-açúcar não se deve deixar levar
comum é o Migdolus fryans. Este
destacados da touceira. Sob infesta- pelo momento e descuidar do gerencia-
inseto é de hábito subterrâneo. Os ma-
ções severas, as touceiras morrem e mento efetivo dos custos de produção da
chos ativos voam, enquanto que as
são observadas muitas falhas na cana-de-açúcar. Este custo é extremamente
fêmeas possuem asas atrofiadas e,
rebrota, favorecendo altas infesta- variável de região para região, dependendo
portanto, não voam. Após o acasa-
ções de plantas daninhas; de uma série de fatores, tais como, preço
lamento, as fêmeas entram no solo
e colocam os ovos em diferentes c) método de controle: embora seja da terra, grau de mecanização, preparo,
profundidades. As larvas, eclodi- uma praga importante, há poucos plantio, tratos culturais e colheita, nível
das dos ovos, alimentam-se das raí- estudos sobre medidas de contro- tecnológico, necessidade e preço de insu-
zes e rizomas das plantas em qual- le. O controle químico parece o mais mos, custo do homem/dia, número de cortes
quer idade (DINARDO-MIRANDA, viável, com aplicação de insetici- econômicos, produtividade do canavial,
2005); das por ocasião do plantio, tais etc.
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Apenas para se ter uma idéia, segun- zação agropecuária. São Paulo: USP; Belo Hori- Maceió: Insetos e Cia, 1996. 239p.
do o Agrianual (2007), em São Paulo, no zonte: Itatiaia, 1977. p.89-120.
MOURÃO, M.G. Influência do período de
ano de 2006, considerando-se cinco cortes
CAMPOS, M.S.; MARCONATO, A. Sistema armazenamento das mudas e do número de
econômicos no canavial, com uma média
cana crua x sistema cana queimada. STAB: gemas por tolete na produção de cana-de-
de produtividade de 77 toneladas de col-
açúcar, álcool e sub-produtos, Piracicaba, v.12, açúcar (Saccharum spp.) – primeiro corte.
mos/ha, o custo de produção foi de R$ 29,78
n.3, p.10-16, maio/jun. 1994. 1991. 48p. Dissertação (Mestrado) - Escola
por tonelada de colmos, com uma lucra-
Superior de Agricultura de Lavras, Lavras.
tividade média de R$ 1.220,00/ha/ano, sen- CARVALHO, G.J. Avaliação do potencial for-
do apresentada uma planilha discriminada rageiro e industrial de variedades de cana- QUINTELA, A.C.R. Avaliação do plantio con-
com os diferentes itens que compõem os de-açúcar (ciclo de ano) em diferentes épocas vencional e de cana inteira, com e sem des-
custos, as receitas obtidas e a lucrativida- de corte. 1992. 63p. Dissertação (Mestrado) – ponte, e da compactação pós-cobertura, em
de que envolve cada corte. Escola Superior de Agricultura de Lavras, La- duas variedades de cana-de-açúcar. 1996.
Um detalhe que deve ser destacado, é vras. 38p. Dissertação (Mestrado) – Universidade
que a procura por novas áreas para plan- Federal de Lavras, Lavras.
tio de cana-de-açúcar tem feito o preço do COLETI, J.T. Técnica cultural de plantio. In:
hectare de terra aumentar consideravel- PARANHOS, S.B. (Coord.). Cana-de-açúcar: _______. Controle de plantas daninhas e ren-
mente. Se, há cerca de dois anos, pagava- cultivo e utilização. Campinas: Fundação dimentos de cana crua no sistema integrado
se de 10 a 15 toneladas de cana por hec- Cargill, 1987. cap. 3, p.284-332. palhiço, herbicida e vinhaça. 2001. 75p. Tese
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Irrigação da cana-de-açúcar
Édio Luiz da Costa 1
Geraldo Antônio Resende Macêdo 2
Fúlvio Rodriguez Simão 3
Rodrigo Silva Diniz 4
1
Engo Agrícola, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTNM, Caixa Postal 12, CEP 39525-000 Nova Porteirinha-MG. Correio eletrônico: edio.costa@epamig.br
2
Engo Agro, M.Sc., Pesq. EPAMIG-CTCO, Caixa Postal 295, CEP 35701-970 Prudente de Morais-MG. Correio eletrônico: geraldomacedo@
epamig.br
3
Engo Agro, M.Sc., Pesq. EPAMIG-CTNM, Caixa Postal 12, CEP 39525-000 Nova Porteirinha-MG. Correio eletrônico: fulvio@epamig.br
4
Graduando Agronomia, Bolsista FAPEMIG/EPAMIG-CTNM, Caixa Postal 12, CEP 39525-000 Nova Porteirinha-MG. Correio eletrônico:
agrorodrigo@hotmail.com
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importância do manejo da irrigação, a fim existe excesso de água no solo, a ponta da da, a porcentagem de raízes até 40 cm foi
de alcançar elevada eficiência de irrigação cana toma uma coloração amarelo-verdosa, de 72%, no primeiro ano, e de 68%, no
com maximização econômica do negócio e com manchas claras, apresentando, tam- segundo ano.
sustentabilidade ambiental. bém, sintomas de murchamento (PRATA, Praticamente inexistem trabalhos especí-
Assim, ações que levem ao agricultor e 1983). ficos sobre o efeito dos períodos de déficit
ao futuro irrigante o conhecimento sobre a O crescimento do colmo é lento no iní- hídrico sobre a produtividade e/ou mesmo
importância socioeconômica da atividade, cio e aumenta gradualmente até que seja a qualidade da cana-de-açúcar. De acordo
bem como formas para melhor irrigar a alcançada a taxa máxima de crescimento, com Doorenbos e Kassam (1994), os pe-
cultura, a determinação do momento ideal diminuindo em seguida, à medida que a cana ríodos críticos de déficit hídrico ocorrem
de irrigação e da lâmina a ser aplicada, começa a sazonar e a amadurecer. A flora- na germinação e emergência.
aliados a um gerenciamento de toda uma ção da cana-de-açúcar é controlada pela Os períodos em que os déficits hídri-
cadeia produtiva, garantirão o sucesso do duração do dia, sendo ainda influenciada cos são mais prejudiciais à cultura são
produtor. pelo suprimento de água e nitrogênio, com descritos a seguir:
efeito prejudicial progressivo sobre o teor
ASPECTOS AGRONÔMICOS a) período de estabelecimento e ve-
de sacarose. Assim, normalmente, evita-se
DE IMPORTÂNCIA PARA getativo inicial (perfilhamento): re-
a floração ou utilizam-se variedades que
IRRIGAÇÃO tarda a germinação e o perfilhamen-
não florescem.
to. É uma fase crítica;
A cana-de-açúcar pode ser cultivada O sistema radicular é um parâmetro
em diferentes condições de clima e de solo. importante a ser considerado na irrigação b) vegetativo (alongamento do caule)
Há variedades que não apresentam restri- das culturas. Em cana-de-açúcar, as raízes e início da formação da colheita:
ções quanto à fertilidade do solo, isto é, desenvolvem-se logo após o plantio, uti- ocorre redução na taxa de alonga-
produzem tanto em solos de baixa quanto lizando para isso as reservas contidas no mento da cana;
de alta fertilidade. No entanto, quanto me- tolete, formando, primeiramente, as raízes c) déficit hídrico severo durante a
lhores forem as condições oferecidas me- de fixação que suprirão os rebentos que última parte de formação da co-
lhor será o resultado alcançado. brotarão das gemas. É desejável que as va- lheita: força o amadurecimento;
Os dois fatores mais importantes para riedades apresentem rápido desenvolvi-
d) maturação: nesta fase é necessário
o seu desenvolvimento são calor e umida- mento inicial (bom perfilhamento) e ade-
um teor baixo de água no solo. Entre-
de. Na brotação da muda, a umidade do quado fechamento de entrelinhas para
tanto, se o déficit for severo, a perda
solo deve estar entre 15% e 25%. Em dois minimizar a competição com plantas dani-
do teor de açúcar pode ser maior que
terços do seu período vegetativo, a cana nhas. Para tanto, o sistema radicular pre-
a própria formação, trazendo pre-
necessita de chuvas freqüentes e calor, cisa desenvolver-se rapidamente, a fim de
juízos à qualidade do produto.
a fim de favorecer a perfilhação e o desen- evitar acamamento. As raízes da cana-de-
volvimento, sendo que o terço restante açúcar são fasciculadas e relativamente A freqüência de irrigação também pode
deve ser de baixa pluviosidade, para faci- superficiais. A metade do sistema radicular ser trabalhada de forma que favoreça o
litar a maturação e a colheita. distribui-se nos primeiros 30 cm de profun- desenvolvimento e a qualidade da cana-
A cana-de-açúcar perde muita água pe- didade. de-açúcar, nos diferentes estádios de de-
las folhas, por exsudação e transpiração, Segundo Sampaio et al. (1987), deve-se senvolvimento, como a seguir:
dependendo do grau higrométrico do ar. dar importância ao sistema radicular, porque a) estabelecimento: irrigações leves e
Um colmo juntamente com as folhas per- é ele que serve de reserva de nutrientes freqüentes;
de, diariamente, de 200 a 1.000 mL de água para a rebrota das socas. Esses mesmos
(MALAVOLTA, 1964). autores identificaram que 75% da massa b) vegetativo inicial: o perfilhamento é
De maneira prática, para saber se a cul- radicular localiza-se nos primeiros 20 cm diretamente proporcional à freqüên-
tura carece de irrigação, é necessário obser- superficiais e 55%, a menos de 30 cm do cia de irrigação. As irrigações devem
centro da touceira. ser mais freqüentes;
var o aspecto da folhagem, que se torna
escura, diferenciando-se do verde normal. De acordo com o trabalho de Alvarez c) alongamento do caule e início de
As folhas ficam enroladas e pendentes. (2000), as raízes de cana crua distribuem- formação da colheita: o intervalo
Em caso de restrição hídrica prolongada, a se mais superficialmente no primeiro ano, pode ser ampliado. Porém, o consu-
planta paralisa o crescimento e a folhagem com 75% nos primeiros 40 cm, do que no mo de água nesse período é maior
se torna amarelada. Ao contrário, quando segundo ano, com 70%. Em cana queima- que o anterior, em razão da maior área
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foliar e, por isso, a lâmina deve ser aplicar é um dos objetivos do manejo ra- mo ocorrerá com solos que possuem baixa
aumentada; cional da irrigação. Nos dias atuais, tem-se capacidade de armazenamento de água
d) maturação: nessa fase os intervalos verificado não somente uma elevação dos (solos de textura arenosa). De forma geral,
de irrigação devem ser ampliados ou custos da energia, mas também a escassez em regiões com demanda atmosférica de
a irrigação deve ser suspensa, para do recurso água, o que obriga o irrigante a 7 mm/dia, a freqüência das irrigações varia
que a cultura atinja a maturação com assumir posturas diferenciadas acerca des- de três a cinco dias, em solos arenosos, e
a máxima concentração de sacarose. se assunto. Portanto, o manejo racional de seis a dez dias em solos argilosos com
da irrigação passa necessariamente pelos alta capacidade de armazenamento de água.
A cana-de-açúcar é moderadamente aspectos econômicos envolvidos no pro- Considerando a água disponível total
sensível à salinidade. A diminuição de ren- cesso. Outro componente importante é que do perfil do solo (AD – mm), a determina-
dimento da cultura em relação à conduti- tanto o excesso, quanto a falta de água po- ção do consumo máximo de água permitido
vidade elétrica do extrato de saturação do dem ter reflexos expressivos na produti- para a cultura (FAD – mm) entre dois ciclos
solo (CEes), para valores de 1,7; 3,3; 6,0; vidade da cultura. Daí surge a necessidade de irrigação, sem que ela sofra com déficit
10,4 e 18,6 dS/m é, respectivamente, de 0%, de conhecer a fisiologia da cultura e saber hídrico e produza potencialmente, é deter-
10%, 25%, 50% e 100%. quais os períodos críticos de consumo de minada com a curva de retenção de água
água e seus reflexos na produtividade. Por- do solo representativa da área ou gleba
MANEJO DA IRRIGAÇÃO tanto, o manejo da irrigação requer a inte- plantada. Essa curva é o parâmetro básico
Nas mais variadas condições de cultivo ração de diversos conhecimentos. para qualquer projeto de irrigação e deve
da cana-de-açúcar (variedade, clima, solo, A quantidade de água do solo que pode ser obtida de amostras de solo retiradas na
etc.), o consumo diário de água está entre ser consumida, sem prejuízo ao desenvol- zona de exploração radicular (até 0,40 m),
2 e 6 mm/dia. Na região Norte de Minas Ge- vimento da cultura, está ligada à demanda nas condições preparadas para cultivo.
rais, nos anos de 2005/2006, a lâmina total climática da atmosfera, e ao estádio de de- As amostras de solo deverão ser enca-
nesse período foi de 1.213 mm (chuva + senvolvimento da cultura (idade da plan- minhadas para o laboratório de física do
irrigação), sendo a evapotranspiração total ta). Como referência têm-se, no Quadro 1, solo, onde se determina a relação entre
da cultura de 587 mm e uma lâmina aplicada os valores do fator (f) de disponibilidade umidade do solo (θ – cm3/cm3 ou g/g) e po-
de 701 mm, correspondendo a uma média de água do solo. Este fator representa a tencial matricial (Ψm – kPa). A partir das
de 3,6 mm/dia, com produtividade média fração da água disponível no solo que pode informações do teor de água na capaci-
da cana-planta acima de 100 t/ha. ser consumida sem prejuízo à produção. dade de campo (θCC) e do teor de água no
Basicamente, os métodos de manejo de Como a cultura da cana-de-açúcar pos- ponto de murcha permanente (θPMP) obtêm-
irrigação consistem em manter a planta sui pequena profundidade de sistema ra- se o teor de água crítico (θct) e o valor
exposta a uma determinada quantidade de dicular, o que resulta em baixa disponibi- correspondente de potencial matricial
água no solo necessária para suas ativida- lidade de água para planta, considerando crítico (Ψmc – kPa), considerando o valor
des fisiológicas. O controle dessa quan- todo perfil de solo explorado, a redução da de f recomendado para a cultura (Gráfi-
tidade pode ser feito com base no balanço água permitida não poderá ser muito gran- co 1). Sendo FAD = f (θCC – θPMP).
de água no solo, pelo monitoramento da de, sendo de até 70%, quando a deman- O manejo da irrigação com base na ten-
umidade do solo na zona explorada pelas da atmosférica for pequena (< 4 mm). Em são da água retida no solo também utiliza a
raízes das plantas, usando, por exemplo, o regiões com elevada demanda atmosférica curva apresentada no Gráfico 1. O teor de
tensiômetro; pelo método do turno de re- (ETo > 6 mm/dia), há necessidade de traba- água no solo é estimado a partir da tensão
ga fixo; pelo balanço hídrico climatológico. lhar com valores inferiores de f, o que leva com que a água está retida no solo, medida
A escolha do critério a ser seguido vai de- a adotar irrigações mais freqüentes. O mes- por equipamentos como o tensiômetro,
pender principalmente da disponibilidade
de informações relacionadas com o sistema
QUADRO 1 - Porcentagem de água do solo que pode ser consumida pela cultura em função da
solo-água-planta-clima, de equipamentos
evapotranspiração de referência máxima da região
para medições, e também do grau de conhe-
cimento do irrigante. EToMax
2 3 4 5 6 7 8
As preocupações da maioria dos irri- (mm/dia)
gantes são os questionamentos de quan-
F 0,85 0,80 0,70 0,60 0,55 0,50 0,45
do e quanto irrigar. Saber o momento certo
de iniciar as irrigações e quanto de água FONTE: Doorenbos e Kassam (1994).
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blocos de gesso e outros. A partir do va- tanque classe A; o de Penman-Monteith e o de Hargreaves e Samani), geram melhor
lor da tensão medida, utiliza-se o Gráfico 1 o de Priestley-Taylor. estimativa para climas iguais ou próximos
para obter o teor de água no solo. A quan- A escolha do método de estimativa de- àqueles em que foram obtidos, como o de
tidade de água a ser reposta será a dife- verá ser com base na disponibilidade de Thornthwaite e o de Camargo, que apresen-
rença entre o teor de água na capacidade elementos meteorológicos disponíveis tam melhores estimativas em climas úmi-
de campo e o teor de água atual. (estação meteorológica automática, tanque dos. Já o de Hargreaves e Samani apresenta
De acordo com o Programa Nacional classe A, termômetros de máxima e de mí- desempenho melhor em clima Semi-Árido
de Melhoramento da Cana-de-açúcar (Pla- nima); escala requerida; melhor método de (PEREIRA et al., 2006).
nalsucar) (INSTITUTO DO AÇÚCAR E estimativa para região trabalhada, conside- Nesse caso, uma vez determinada a ETo,
DO ÁLCOOL, 1986), os valores de tensão rando as características climáticas. calcula-se a evapotranspiração da cultura
de água no solo devem estar entre 100 e O método de Priestley-Taylor exige (ETc), multiplicando-se ETo pelo coeficien-
250 kPa, sendo que valores de potenciais duas variáveis meteorológicas (radiação te de cultivo (Kc) (Quadro 2). A ETc cor-
de -50 kPa promovem redução na produção. líquida e temperatura do ar). O método do responde à reposição real de água a ser
Outra forma de realizar o manejo da irri- tanque classe A exige três (incluindo a pró- usada pelas plantas. Para isso, é necessário
gação é com base em informações climá- pria evaporação do tanque). Dois outros aplicar uma quantidade de água, que deixe
ticas, a fim de determinar a evapotranspira- aspectos devem ser considerados: méto- no meio poroso do solo água disponível
ção da cultura. Assim, a evapotranspiração dos que usam somente uma variável, co- às raízes, equivalente à ETc. A lâmina bruta
de referência (ETo) é parâmetro básico para mo os de Thornthwaite, de Camargo e de (Lb) de água a ser aplicada será então:
estimativa da evapotranspiração da cultura Hargreaves e Samani, apresentam melho-
ETc
(ETc). Este parâmetro deve ser determina- res estimativas para períodos mais longos Lb =
Ea
do diariamente pelo irrigante, que poderá (semanas, mês), enquanto que um método
em que Ea é a eficiência de aplicação de
estimar a demanda de água diária pela cul- analítico como o de Peman-Monteith po-
água pelo sistema (avaliação a ser feita no
tura (mm). de ser empregado em escala diária ou, com
campo).
A determinação da ETo pode ser reali- os cuidados recomendados, até em escala
Para os diferentes períodos de desen-
zada por muitos métodos climatológicos de horária. Finalmente, métodos empíricos,
volvimento da cana-de-açúcar, são suge-
estimativa como o de Thornthwaite; o de como os que se baseiam na temperatura
ridos, no Quadro 2, coeficientes de cultivo
Camargo; o de Hargreaves e Samani; o de do ar (o de Thornthwaite; o de Camargo;
(Kc), utilizados para estimativa do consu-
mo de água pela cultura. Como a neces-
sidade hídrica da cultura é afetada pelo
desenvolvimento da planta, que varia em
diferentes condições edafoclimáticas, é re-
comendado que os valores sugeridos, nos
diferentes estádios de desenvolvimento,
sejam verificados em ensaios regionais.
MÉTODOS DE IRRIGAÇÃO
A cana-de-açúcar pode ser irrigada por
qualquer sistema de irrigação: superfície,
aspersão ou localizada. Não existe um sis-
tema mais indicado e sim vantagens e des-
vantagens, as quais precisam ser supera-
das. Para cada situação deverá existir um
sistema adequado.
Em virtude da preocupação, em nível
mundial, com a questão do gerenciamen-
to, conservação e economia dos recursos
hídricos, tem sido recomendado, para a
Gráfico 1 - Curva de retenção de água do solo, água disponível do solo (AD), teor de grande maioria das culturas, o uso de sis-
água crítico (θct) e potencial matricial crítico (Ψmc) temas de irrigação pressurizada. Dentre
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QUADRO 2 - Valores do coeficiente de cultivo (Kc) em função dos estádios de desenvolvimento No sistema de irrigação por aspersão
da cana-de-açúcar os métodos mais utilizados são o pivô
central (Fig. 2), a aspersão convencional e
Período de desenvolvimento Dia Kc
o autopropelido (Fig. 3). Esses métodos
Do plantio até 25% de cobertura do solo 30-60 0,40-0,60 caracterizam-se por aplicar água sobre a
De 25% a 50% de cobertura 30-40 0,75-0,85 copa da cultura simulando uma chuva.
A irrigação localizada destaca-se como
De 50% a 75% de cobertura 15-25 0,90-1,00
um dos sistemas de maior sintonia com a
De 75% à cobertura completa do solo 45-55 1,00-1,20 nova lei de Recursos Hídricos, pois utiliza
Utilização máxima 180-330 1,05-1,30 a água com maior eficiência, permitindo um
melhor controle da lâmina aplicada. Sua
Início da senescência 30-150 0,80-1,05
economia caracteriza-se pela significativa
Maturação 30-60 0,60-0,75 redução das perdas por evaporação, per-
FONTE: Doorenbos e Kassam (1994). colação e escoamento superficial. A água
aplicada diretamente sob a copa das plantas
reduz as perdas e propicia eficiência de,
estes, destaca-se o sistema localizado, tan- O sistema de irrigação superficial mais aproximadamente, 90%, representando um
to para novas áreas, quanto para a substi- adotado é o de sulcos (Fig. 1), onde, depen- uso mais racional (COSTA et al., 1994).
tuição dos de superfície e de aspersão, por dendo da distribuição radial da água, o Outras vantagens são a possibilidade de
ser mais eficiente na aplicação de água e espaçamento entre os sulcos permite irri- aplicar nutrientes via água de irrigação
de fertilizantes (fertirrigação), nas mais di- gar duas linhas de plantas por vez. De modo junto à planta, onde há maior concentração
versas condições ambientais (NOGUEIRA geral, esse sistema de irrigação é adotado das raízes; o baixo consumo de energia
et al., 1998). em solos de textura areno-argilosa, argilosa (relação cv/ha menor) e não provocar umi-
A escolha do sistema de irrigação deve e muito argilosa, como os Argilossolos, dade excessiva na parte aérea, o que reduz
ter como base a análise de fatores como Cambissolos e Vertissolos. Esse sistema, a incidência de doenças. Como desvanta-
tipo de solo, clima, topografia, custo do por conduzir a água sobre a superfície do gens, apresentam-se a necessidade de um
sistema, uso de mão-de-obra e energia, solo, tem maior consumo que os sistemas bom sistema de filtragem, o custo inicial
incidência de pragas e doenças, quantida- pressurizados, nos quais a água é condu- alto por tratar-se de um sistema fixo e a ne-
de e qualidade de água disponível. zida em tubos. cessidade de mão-de-obra especializada.
Dentre os métodos da irrigação locali-
zada, tem-se utilizado o gotejamento sub-
superficial (enterrado), que tem como carac-
terísticas importantes a aplicação de água
abaixo da superfície do solo, reduzindo
perdas de água por evaporação, na região
de maior concentração das raízes (0,40 m),
além de proporcionar economia de água e
de energia (Fig. 4).
Quando se usa o método de irrigação
por gotejamento subsuperficial, pode-se
utilizar uma linha lateral para cada linha de
plantio com gotejadores espaçados de
modo que haja uma sobreposição do bulbo
úmido na linha, formando uma faixa úmida
ao longo da linha de plantio. Quando se
Édio Luiz da Costa
Figura 3 - Método de irrigação por autopropelido Figura 4 - Método de irrigação por gotejamento
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A prática da irrigação deve ser enten-
dida não somente como um seguro contra
QUADRO 3 - Custo dos sistemas de irrigação considerando custo de implantação, produtividade e COSTA, E.F. da; VIEIRA, R.F.; VIANA, P.A.
eficiência de uso de água Quimigação: aplicação de produtos químicos
Sulco com Sulco com Pivô e biológicos via irrigação. Brasília: EMBRAPA-
Item Gotejamento
canal tubo janelado central SPI; Sete Lagoas: EMBRAPA-CNPMS, 1994.
(1) 315p.
Custo de implantação (R$/ha) 450,00 1.513,00 5.870,00 6.243,00
Produtividade (t/ha) 98 98 130 116 DOORENBOS, J.; KASSAM, A.H. Efeito da
Eficiência de uso de água (kg/m3) 4,9 4,9 7,15 7,13 água no rendimento das culturas. Campina
FONTE: Soares et al. (2003). Grande: UFPB, 1994. 306p. (FAO. Estudos. Irri-
(1) US$ = R$ 2,90. gação e Drenagem, 33).
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INSTITUTO DO AÇÚCAR E DO ÁLCOOL. PEREIRA, F.A.C.; ANGELOCCI, L.R.; COELHO SAMPAIO, E.V.S.B.; SALCEDO, I.H.;
PLANALSUCAR. Cultura da cana-de-açúcar: FILHO, M.A.; COELHO, E.F. Técnicas e mé- CAVALCANTI, F.J.A. Dinâmica de nutrientes
manual de orientação. Piracicaba, 1986. 56p. todos de estimativa da evapotranspiração. em cana-de-açúcar – III: conteúdo de nutrientes
Cruz das Almas: Embrapa Mandioca e Fruti- e distribuição radicular no solo. Pesquisa Agro-
MALAVOLTA, E. Cultura e adubação da cana-
cultura, 2006. (Embrapa Mandioca e Fruticul- pecuária Brasileira, Brasília, v.22, n.4, p.425-
de-açúcar. São Paulo: Instituto Brasileiro de
tura. Documentos, 20). 431, abr. 1987.
Potassa, 1964. 368p.
PIZARRO CABELLO, F. Riegos localizados de SOARES, J.M.; VIEIRA, V.J. de S.; GOMES
NOGUEIRA, L.C.; NOGUEIRA, L.R.Q.; MI-
alta frecuencia (RLAF): goteo, microasper sión, JUNIOR, W.F.; ARAÚJO FILHO, A.A. de. Agro-
RANDA, F.R. de. Irrigação do coqueiro. In: FER-
exudación. Madrid: Mundi-Prensa, 1986. 461p. vale, uma experiência de 25 anos em irrigação
REIRA, J.M.S.; WARWICK, D.R.N.; SIQUEIRA,
L. A. (Ed.). A cultura do coqueiro no Brasil. PRATA, F. da C. Principais culturas do Nor- da cana-de-açúcar na região do Submédio São
2.ed. rev. e amp. Brasília: EMBRAPA-SPI; Ara- deste. Mossoró: ESAM, 1983. 215p. (ESAM. Francisco. ITEM: irrigação & tecnologia mo-
caju: EMBRAPA-CPATC, 1998. cap.7, p.159-187. Coleção Mossoroense, 220). derna, Brasília, n.60, p.55-64, 2003.
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Colheita da cana-de-açúcar
Gilson Gonçalves Xavier 1
INTRODUÇÃO Pode-se lançar mão de artifícios capa- dação, tempo limitado para corte/moagem,
O planejamento da colheita é uma ati- zes de ajudar na maturação da cana-de- perdas de matéria orgânica e umidade no
vidade determinante, para obter bons re- açúcar, tais como inibidores de floresci- solo e maior presença de plantas daninhas.
sultados no processo industrial, uma vez mento e maturadores. O corte manual de cana crua para moa-
que a qualidade da matéria-prima é a chave O gerenciamento da maturação é reali- gem é inviável em conseqüência do baixo
para que isto aconteça. zado por meio de pré-análises, feitas nos rendimento obtido, do alto custo operacio-
O momento ideal para iniciar a colhei- laboratórios das próprias indústrias, as quais nal e dos problemas industriais causados
ta da cana-de-açúcar é quando a planta determinam valores que indicam o momen- pelo excesso de palha durante o preparo
encontra-se com a maior concentração de to ideal para a realização da colheita (Qua- da matéria-prima.
açúcares (sacarose, glicose e frutose). Este dro 1). A prática da queima é realizada com
momento depende de diversos fatores, tais autorização e licença do órgão ambiental,
COLHEITA
como: região de cultivo, condições climá- que, no caso de Minas Gerais, é o Instituto
ticas, idade da cultura, variedade, tipo de Colheita manual Estadual de Florestas (IEF). Esta licença é
solo, pragas e doenças. Para a colheita manual, realiza-se a quei- concedida mediante situação de regulari-
A colheita pode ser manual ou mecâ- mada do canavial, a fim de promover a eli- dade com as normas estabelecidas para a
nica, de cana crua ou queimada, porém, minação das palhas, conseqüentemente cultura e controlada com equipes treinadas
todos os procedimentos adotados durante aumentar o rendimento de corte, e elimina- e equipadas para tal finalidade.
a operação devem proporcionar condições ção de palhiços na matéria-prima. O rendimento do corte manual muda em
de obter a melhor qualidade da matéria- As desvantagens da queima devem-se função da variedade, idade de corte, cana
prima. a poluição, perdas de açúcares pela exsu- em pé ou deitada, topografia do terreno,
1
Zootecnista, Especialista Gestão Agrícola no Setor Sucroalcooleiro, Gerente Agrícola da Usina WD Ltda., CEP 38770-000 João Pinheiro-MG.
Correio eletrônico: gilson@grupodetoni.com.br
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QUADRO 1 - Indicadores da qualidade da cana-de-açúcar e valores recomendados pela Fermentec(1) dade do operador, sincronismo com o ca-
minhão, programação de abastecimento e
Indicador Valor recomendado
manutenção, fatores estes que também de-
POL > 14 terminam a qualidade da matéria-prima e
Pureza (POL/Brix) > 85% perdas no carregamento. O rendimento mé-
ART (sacarose, glicose, frutose) > 15% ( maior possível )
dio de uma carregadora gira em torno de 30
a 40 t/h.
AR (glicose, frutose) < 0,8%
Após a operação de carregamento, faz-
Fibra 11 a 13% se a catação de bitucas, ou seja, canas intei-
Tempo de queima/corte < 35 horas para cana com corte manual ras e/ou pedaços que caem durante o carre-
Terra na cana (minerais) < 5 kg/t cana gamento que, após serem amontoadas, são
enviadas à indústria. Esta operação deve
Contaminação da cana < 5,0 x 105 bastonetes/mL no caldo
ser realizada dentro do menor tempo pos-
Teor de álcool no caldo da cana < 0,06% ou 0,4%Brix sível para evitar deterioração na qualidade.
Acidez sulfúrica < 0,80 Todo esse trabalho é denominado Cor-
Dextrana < 500 ppm/Brix te, Carregamento e Transporte (CCT) e,
quanto menor seu valor, mais rentabilidade
Amido na cana < 500 ppm/Brix
proporciona ao produtor.
Broca na cana < 1,0%
Índice de Honig-Bogstra > 0,25 Colheita mecânica
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Como vantagens destacam-se: maior do estande, e a conseqüente queda de pro- paralelas espaçadas de 40 a 50 cm e dis-
teor de matéria orgânica, menor compac- dutividade nas safras seguintes. tantes 1,3 m uma da outra, totalizando 1,7 a
tação do solo, maior retenção de umidade, De modo geral, os principais espaça- 1,8 m entrelinhas (Fig. 2).
menor aparecimento de plantas daninhas, mentos utilizados são sulcos simples, de Atualmente, existem no mercado várias
condições de desenvolvimento de inimigos 1,4 e 1,5 m entrelinhas, ou o espaçamento marcas de colhedoras modernas (Cameco,
naturais, etc. duplo ou combinado (“W” ou abacaxi), que Santal, Case ) e com desempenho cada vez
Dentre vários itens observados duran- consiste no plantio de duas linhas duplas mais satisfatório com relação à altura e
te os trabalhos de seleção varietal está o
comportamento da variedade em relação à
colheita mecânica (brota de soqueira e lon-
gevidade).
O rendimento operacional está em fun-
ção de um planejamento prévio de espaça-
mento, dimensionamento de talhões, siste-
matização de solo, variedades apropriadas,
velocidade adequada de trabalho e mano-
bras corretas e precisas, sincronismo com
o caminhão e/ou transbordo, além da boa
manutenção das colhedoras.
Quanto ao espaçamento de plantio para
a colheita mecânica, existem varias opções
que são defendidas pelos usuários, porém
a finalidade é sempre evitar o pisoteio, que
é o grande responsável pela diminuição Figura 2 - Principais espaçamentos de plantio para colheita mecânica
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qualidade do corte, desponte e limpeza de operação, os toletes (mudas) são transpor- correto, pois seu peso é elevado e, após o
impurezas vegetais e minerais e rendimento tados por transbordos direto para as plan- carregamento, o caminhão sempre terá que
operacional. tadoras mecânicas. passar sobre a soqueira até o próximo
De acordo com a necessidade, pode-se Com a busca de longevidade e produ- carreador. Apesar disso, com o transbordo
optar por máquina de pneu ou esteira, sen- tividade dos canaviais, a colheita mecânica (trator/carreta) a compactação é bem me-
do que esta última promove menos com- tem que ser trabalhada com sabedoria e nor, pois o trator possui pneus grandes e
pactação do solo e possibilita a colheita interação de todos os fatores que contri- largos e o transbordo, pneu de alta flutua-
em terrenos mais acidentados, porém sua buem positivamente para a meta proposta. ção, dimensionados para carga de 4 a 12
locomoção a distâncias maiores necessita Algumas variedades, que são ricas e toneladas.
de transporte em pranchas. produtivas, porém apresentam dificuldade Na verdade, para adotar a colheita me-
Em cana queimada, o rendimento de de brotação na soqueira com corte mecâ- cânica com sucesso, tem que haver bom
colheita é de 12% a 15% superior à cana nico, têm que ser manejadas apenas nas planejamento de implantação da lavou-
crua, devido ao melhor processamento cor- condições propícias, ou seja, com o uso de ra e principalmente associar colhedoras
te/limpeza e melhor visualização do opera- irrigação pós-corte, cortadas manualmente com transbordos. Isto é fato já em diversas
dor para execução de manobras. ou até substituídas na reforma. unidades produtoras, cujos resultados
O rendimento efetivo de colheita va- Outra medida favorável é adotar o corte mostram os benefícios dos investimentos
ria de 700 a 800 t/cana/dia por colhedora, mecanizado a partir do segundo corte, pois
(Fig. 3 e 4).
dependendo das condições mencionadas as touceiras estarão mais estabilizadas e o
anteriormente, em período de vinte e quatro solo mais nivelado.
MATURADORES
horas. O conhecimento do comportamento
Algumas colhedoras estão sendo uti- varietal em relação à colheitabilidade é Os maturadores são substâncias quí-
lizadas para corte de mudas, mas para isso importante para o planejamento, princi- micas que interferem nos processos fisio-
é necessário fazer certas modificações que palmente, quando a meta é colher 100% lógicos e bioquímicos da planta, alterando
têm a finalidade de minimizar os impactos com máquina. seu ciclo normal e promovendo a matu-
das gemas nas paredes da máquina duran- O uso de caminhões acompanhando as ração, quando aplicado na época correta
te o processo de colheita. Neste tipo de colhedoras é comum, no entanto não é o para esta finalidade.
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A ação destas substâncias promove ga- sacarose e também de peso, em conseqüên- CONSIDERAÇÕES FINAIS
nhos variáveis de acordo com as varieda- cia da sua isoporização. Independente do sistema de colheita a
des e época de aplicação, num período A característica de florescimento é tra- ser utilizado, todos têm a mesma finalidade,
compreendido em média de 30 a 60 dias balhada no melhoramento varietal, porém ou seja, procuram atender à indústria com
após a aplicação, dependendo também do não é fator determinante de exclusão, desde a matéria-prima de melhor qualidade.
produto utilizado. que a variedade seja rica e produtiva, pois As melhores técnicas, máquinas e pro-
O uso de maturadores tem a finalidade pode ser trabalhada com o uso de inibido- dutos disponíveis para este objetivo exis-
de antecipar ou proporcionar mais rique- res de florescimento. tem e estão sendo cada vez mais pesquisa-
za no início de safra e também de manter o Em geral a indução floral ocorre no pe- dos, visando cada dia o aperfeiçoamento
teor de sacarose no seu final. ríodo compreendido entre o início de feve- para a complementação da mão-de-obra da
Os produtos mais comumente utilizados reiro e meados de março, em função das colheita da cana-de-açúcar.
são o Ethrel (0,67 L/ha), Moddus (0,8 L/ha) variedades e condições climáticas (tempe- Vale lembrar que a remuneração da cana
e Curavial (20 g/ha). ratura e umidade), as quais variam de acor- é em função do açúcar total recuperado
A aplicação é aérea, utilizando-se de do com a região e de ano a ano. (ATR), que está diretamente relacionado
30 a 40 L/ha obedecendo a critérios técni- Os inibidores de florescimento são subs- com a qualidade da matéria-prima, a qual
cos de uso, recomendados para cada pro- tâncias químicas que, quando aplicadas no deve ser fresca, livre de impurezas minerais
duto, principalmente com relação ao pH da período propício à indução floral, promo- e vegetais, pragas e doenças e colhida no
água. vem sua inibição. pico de riqueza de sacarose.
É importante deixar as testemunhas pa- A expansão de canaviais em diferentes
ra verificar a eficiência da aplicação e real- BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
regiões antes não utilizadas com a cultura
mente poder quantificar os ganhos. tem mostrado variedades com intenso flo- FERNANDES, A.C. Cálculos na agroindústria
rescimento, o que está sendo motivo de da cana-de-açúcar. Piracicaba: STAB, 2000. 193p.
INIBIDORES DE FLORESCIMENTO
pesquisas para melhor conhecer e poder RIPOLI, T.C.C.; RIPOLI, M.L.C. Biomassa de
O florescimento de determinadas varie- trabalhar com os inibidores com maior se- cana-de-açúcar: colheita, energia e ambiente.
dades de cana-de-açúcar significa perda de gurança e eficácia. 2.ed. Piracicaba, 2005. 302p.
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Industrialização da cana-de-açúcar
Mário Barreto Júnior 1
Resumo - No início da colheita, define-se qual o canavial está com maior índice de ma-
turação e faz-se o corte. Em seguida, a cana é transportada para a unidade industrial,
onde é feita a pesagem e a identificação. O descarregamento é realizado direto na mesa
alimentadora que, por sua vez, alimenta a esteira de cana. A cana é picada, desfibrada e
conduzida ao sistema de extração que pode ser por esmagamento (moendas) ou difusor.
Nesta fase, obtém-se o caldo que pode ser processado tanto para produção de açúcar,
quanto para álcool. O bagaço servirá como combustível para as caldeiras na produção
de vapor, que acionará equipamentos diversos, como: gerador de energia, moendas.
Na produção de açúcar, o caldo passa por várias etapas, como sulfitação, calagem,
aquecimento, decantação, filtração, evaporação, flotação, cozimento, centrifugação,
secagem e armazenamento e, na produção de álcool, segue as etapas de preparo de
mosto, fermentação, centrifugação, pré-fermentação, destilação e armazenamento.
Palavras-chave: Processo industrial. Produção de açúcar. Produção de álcool.
INTRODUÇÃO QUADRO 1 - Composição química da cana-de- de forma que representem o talhão, ou seja,
Este trabalho visa dar uma noção do açúcar a coleta é feita em vários pontos, tendo
processo de industrialização da cana-de- Variação que, obrigatoriamente, cobrir as extremida-
Componente des e a área central do talhão. As amostras
açúcar para produção de açúcar e álcool. (%)
são levadas ao laboratório, onde são pro-
As etapas desse processo basearam-se em Água 65 a 75
cessadas as análises. De acordo com o con-
procedimentos de uso geral, lembrando que
Fibra 8 a 18 trole varietal, é possível fazer uma prévia
algumas unidades industriais possuem
Açúcares ( ART ) 12 a 20 avaliação dos talhões a serem amostrados,
tecnologias diferenciadas para obtenção
para evitar um número muito grande de
inclusive de outros produtos como leve- Sacarose 10 a 18
amostras no laboratório. Tal procedimento
dura seca, bagaço hidrolisado, álcool fino, Glicose 0,20 a 1,30
se dá, uma vez que as variedades são clas-
neutro e outros.
Frutose 0,00 a 0,70 sificadas como precoce, média e tardia.
MATÉRIA-PRIMA ATR 110 a 160 kg/t
Colheita
NOTA: ART - Açúcares redutores totais;
Cana-de-açúcar Uma vez definido o talhão, processa-
ATR - Açúcar teórico recuperável.
Originária do sudeste da Ásia, a cana- se o corte. Este poderá ser feito de duas
de-açúcar ao longo de sua existência pas- maneiras: manual ou mecanizado. Manual-
sou por profundos trabalhos de melhora- Maturação mente faz-se por meio do trabalho braçal e
mentos, que persistem até os dias atuais. Antes que ocorra o corte de cana, são tem como prática normal a queima da ca-
Segue no Quadro 1, a composição quími- realizadas análises de avaliação, para ave- na, a qual será extinta num futuro próximo.
ca média encontrada nas canas processa- riguar seu índice de maturação satisfatório E mecanizada, por meio de máquinas colhe-
das. para a colheita. As amostras são coletadas doras (Fig. 1), que, em uma única operação,
1
Engo Químico, Consultor Técnico, JB Consultoria Açúcar e Álcool Ltda., R. Dona Luiza, 521 - Centro, CEP 38700-164 Patos de Minas-MG.
Correio eletrônico: mario.mbj@terra.com.br
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Esteira de cana
Também chamada de esteirão de cana,
tem como finalidade conduzir a cana pelo
picador e desfibrador até a esteira rápida.
O controle desta é feito com a variação da
velocidade de acordo com a necessidade
de alimentação das moendas e do sistema
de proteção de sobrecarga no acionamen-
to. Atua sobre este comando um controla-
dor automático tipo – controlador lógico
programável (PLC) – que, por meio de sen-
sores adaptados no chute Donely (caixa
metálica instalada sobre a entrada de cana
na moenda), determina a velocidade da ali-
Picador de cana
Composto de um eixo apoiado sobre
Figura 1 - Colhedora de cana-de-açúcar mancais de rolamento e suporte para fixação
das facas, é normalmente acionado por
turbina a vapor ou motor elétrico. Tem como
faz o corte e o carregamento dos cami- fazer com que passe por um processo de
finalidade iniciar o preparo, picando a cana.
nhões, com a vantagem de não necessitar lavagem para remoção de impurezas mi-
promover a queima, o que traz inúmeras nerais. Isso ocorre com a cana inteira, oriun- Desfibrador de cana
vantagens ao meio ambiente e ao próprio da do corte manual. O equipamento é do- Também composto por um eixo apoia-
canavial. tado de correntes, tracionadas por um eixo do sobre mancais de rolamento e suporte
com engrenagens e acionado por motor e para fixação dos martelos oscilantes, rolo
RECEPÇÃO DA CANA
redutor com sistema de variação de veloci- alimentador e placa desfibradora (Fig. 2).
Pesagem dade, a fim de permitir dosar a quantidade A cana já picada alimenta o desfibrador por
A pesagem é feita em balança rodoviá- de cana a ser moída. meio do rolo alimentador, que, por sua vez,
ria, geralmente com capacidade de 120 t e
plataforma com 36 m de comprimento por
3,20 m de largura. Nesta etapa, além da
pesagem, os caminhões são identificados
com informações vindas do campo, como:
identificação do talhão, a variedade, o car-
regamento, o transportador, as horas de
queima, as colhedoras e outras.
Descarregamento
No geral, descarrega-se com guincho
Hyllo, tombador lateral ou ponte rolante.
Nesta fase, a cana é depositada direto na
mesa alimentadora ou no depósito de cana.
Mário Barreto Júnior
PREPARO E ALIMENTAÇÃO
DE CANA
Mesa alimentadora
Este equipamento possibilita dosar
a alimentação de cana na esteira, além de Figura 2 - Desfibrador de cana-de-açúcar
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Espalhador de cana
Tem a forma de um eixo, com palhetas
em movimento giratório com o propósito
de uniformizar a alimentação de cana des-
fibrada para esteira rápida.
Esteira rápida
Eletroímã
É um equipamento magnetizado de
formato quadrado, que se localiza sobre a
esteira rápida em, aproximadamente, 40 cm
da superfície da esteira, com a finalidade
de reter materiais ferrosos para que não
cheguem às moendas, o que causaria que-
bras.
Chute Donelly
É uma espécie de caixa de passagem
que guia a cana desfibrada para alimentar
a moenda. Nele fixam-se os sensores que
PROCESSO DE EXTRAÇÃO
DO AÇÚCAR
Atualmente, têm-se duas opções para Figura 4 - Rolos de moenda
extração do açúcar da cana, a moenda e o
difusor.
Difusor PRODUTOS OBTIDOS
Moenda O processo por difusão consiste em Da cana, após o processo de moagem
A moagem consiste em um processo extrair o açúcar por meio de uma reação de ou difusão, obtêm-se dois produtos: o cal-
de esmagamento, por meio de rolos com as percolação. Sobre a camada de cana pre- do de cana e o bagaço.
perfeitas regulagens de aberturas, onde a parada, aplica-se uma embebição com água
cana desfibrada sofre uma pressão para se e o próprio caldo da cana (quente). Após a Bagaço
extrair o caldo. Um conjunto de moendas passagem pelo difusor, o bagaço sai muito Resíduo composto de fibra, água e
(Fig. 3) é geralmente composto por seis úmido, havendo necessidade de secagem, açúcares. É conduzido por meio de estei-
ternos e cada terno é constituído de um para a queima na caldeira. Nesta operação, ras até a caldeira, onde é utilizado como
rolo superior, um rolo de pressão (Fig. 4), usa-se um rolo desaguador e um terno de combustível no processo de obtenção de
um rolo de entrada e um rolo de saída. moenda. vapor.
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O bagaço sai do processo de extração re uma troca térmica, que gera como con- álcool. O vapor que entra na turbina é cha-
com, aproximadamente, 50% de umidade, o seqüência a transformação da água em mado de vapor direto ou vivo e, quando
que possibilita sua utilização imediata nas vapor. As caldeiras mais utilizadas atual- passa pelo rotor desta, é chamado de va-
caldeiras. O excedente de bagaço é estoca- mente são as do tipo aquatubular, com pres- por de escape. Este vapor perde a pres-
do em pátio próprio, a fim de ser reaprovei- sões de trabalho entre 21 e 42 kg/cm2, exis- são, quando passa pelo rotor, chegando a
tado nas partidas da usina e eventuais tindo ainda caldeiras instaladas em usinas, pressão para 1,5 kg/cm2, que é o utilizado
paradas para manutenção. Em média, 1 kg que chegam até a 90 kg/cm2 de pressão. no processo. Esse tipo de equipamento
de bagaço produz 2,1 kg de vapor, valor este O vapor produzido pelas caldeiras pode chama-se turbina de contrapressão. Exis-
somente para referência, uma vez que o ren- ser do tipo saturado, com temperatura de tem outros tipos de turbinas mais efici-
dimento depende da eficiência da caldeira. 216oC ou superaquecido com temperatura entes no mercado, como os de extração e
de até 440oC. Quanto maior for a pressão e condensação, porém, têm-se restrições de
Caldeira a temperatura, maior será a eficiência das seus usos, em função do processo de pro-
Equipamento composto basicamente turbinas a vapor e, conseqüentemente, me- dução de açúcar e álcool.
de tubos interligados entre o balão de va- nor será o consumo. É importante ressaltar
por (tubulão de vapor), balão de água/lama a qualidade da água utilizada neste pro- Geração de energia
e fornalha para queima de bagaço. O bagaço cesso, levando em conta a necessidade de É importante ressaltar que as usinas
oriundo do processo de extração é con- seu tratamento. e destilarias geram sua própria energia e
duzido por esteiras até as bicas de acesso Esse vapor é conduzido por tubulações com potencial para comercializar a energia
à fornalha, possibilitando dessa forma a isoladas termicamente até as turbinas de excedente. Como foi dito anteriormente, o
dosagem da quantidade de bagaço a ser acionamento de equipamentos como: gera- vapor produzido pelas caldeiras impul-
queimado na caldeira. A água introduzida dor de energia, moendas, picador, desfibra- siona as turbinas que, por sua vez, geram
na caldeira por meio de bombeamento cir- dor, que, após sua utilização, é conduzi- energia elétrica por meio dos geradores
cula pelas tubulações internas, aonde ocor- do ao processo de produção de açúcar e (Fig. 5).
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sidade de secá-lo. Para isso, usa-se um cialmente a multiplicação celular. Como foi sendo então distribuída a sua periferia
secador, que conduz o açúcar no seu dito anteriormente, na reação de transfor- pelos pratos de distribuição. A força cen-
interior por movimento giratório, aonde se mação de açúcar em álcool ocorre uma libe- trífuga conduz o vinho a se separar em duas
introduz ar quente e, em seguida, ar frio, de ração de calor, daí a necessidade de refri- frações: uma menos densa, composta pe-
forma que reduza sua umidade, para gerar o processo. O tempo de fermentação las células de levedura denominada creme
posterior armazenamento. gira em torno de 4 a 12 horas. de levedura e outra, que se chama de vinho
delevedurado. O rotor encontra-se dentro
Ensaque Centrifugação de invólucro metálico que atua como cole-
O açúcar já seco passa por um sistema A centrífuga de vinho utilizada correta- tor de creme. Este creme, ou seja, a levedura
de peneiramento e uma grade magnética mente nas destilarias consiste num rotor é conduzida ao pré-fermentador para trata-
para remoção de partículas metálicas, em com boquilhas (Fig. 7). O vinho é alimen- mento e o vinho delevedurado é conduzi-
seguida fica depositado em silos, onde, de tado continuamente pelo centro do rotor, do à dorna volante.
acordo com a comercialização, pode ser
empacotado em embalagens plásticas de
1 a 5 kg, saco de 50 kg, a granel, etc.
PROCESSO DE FABRICAÇÃO
DE ÁLCOOL
Preparo de mosto
Toda solução açucarada está sujeita à
fermentação por meio da ação da levedu-
ra. Nesta fase, ajusta-se o Brix em torno de
14 a 16 graus para melhor desempenho da
fermentação. O mel ou melaço contém um
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Pré-fermentação tipos de álcool: o hidratado e o anidro, para por uma coluna de retificação “B” e daí
A levedura recuperada pela centrífu- fins carburantes. O álcool hidratado sai da obtém-se o álcool hidratado. Para fabri-
ga é conduzida aos pré-fermentadores tam- destilaria pronto para ser consumido pelos car o álcool anidro, utiliza-se um processo
bém chamados pé-de-cuba, passa por um veículos a álcool ou flex, enquanto o álcool físico-químico que consiste em adicionar
tratamento e, em seguida, retorna à fermen- anidro é utilizado somente para ser adicio- um desidratante no meio (ciclo-hexano ou
tação. O tratamento consiste em diluição nado à gasolina. Esta operação de mistura MEG – monoetilenoglicol), para seqüestrar
com água, adição de ácido sulfúrico para só é feita nas distribuidoras de combus- água existente no álcool hidratado. Para isso,
controle de pH em torno de 2,5 e, após esses tíveis. Um aparelho de destilação geralmen- usa-se uma coluna “C” (desidratação) e uma
procedimentos, a mistura fica em agitação te é composto de colunas (torres), conden- “P” para recuperação do agente seqües-
por, aproximadamente, 2,5 a 3 horas, para sadores e resfriadeiras, além de acessórios trante (processo que utiliza o ciclo-hexano).
depois retornar à fermentação. como bombas, válvulas, tubulações e ins-
trumentos (Fig. 8). O vinho delevedurado Controle de qualidade
Destilação entra na coluna “A”, na sua parte superior, O álcool produzido é conduzido a um
O álcool produzido na fermentação e inicia-se o processo de destilação nas tanque medidor, onde é feito o controle de
encontra-se com concentração em média bandejas. Nesta fase, o etanol (álcool) é qualidade por um laboratório para com-
de 6% a 9%, além de outros produtos que separado do vinho, que arrasta um volume provar os parâmetros de especificação.
também se formam na fermentação. A des- considerável de água em sua forma gaso-
tilação é um processo de separação de mis- sa. O vinho separado pela coluna “A” do Tancagem
turas líquido-líquido homogêneas por pos- álcool (flegma) sai na parte inferior e rece- O álcool fica em depósitos apropriados
suir ponto de ebulição diferente. Na grande be o nome de vinhaça ou vinhoto, que é (Fig. 9), obedecendo às normas de legis-
maioria das destilarias produzem-se dois um subproduto da fabricação do álcool, lação específica, até o momento do carrega-
e que é utilizado na la- mento para a comercialização.
voura como fértil irri-
gação. Na sua compo- Carregamento
sição contém nutrien- Para todo e qualquer carregamento efe-
tes importantes para a tuado pela destilaria, é emitido um certifi-
cana. O flegma, que é cado de qualidade do produto, com um
um álcool com aproxi- documento fiscal para comprovação dessa
madamente 45% de qualidade, em atendimento às especifica-
concentração, passa ções em vigor.
Mário Barreto Júnior
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1
Economista Doméstica, Especialista em Controle de Qualidade de Alimentos, Coord. Téc. Estadual EMATER-MG, Av. Raja Gablaglia, 1.626,
o
4 andar - Luxemburgo, CEP 30350-540 Belo Horizonte-MG. Correio eletrônico: bes@emater.mg.gov.br
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O momento de enformar ou moldar a e agitação, a massa esfarela e seca, quando ácido, cuja cana foi moída no dia anterior.
rapadura é reconhecido pelo aspecto da então será peneirada para separar os tor- Nesse caso, substitui-se 20% a 25% do
massa que fica espessa, mais brilhante e rões. caldo do dia, pela “quira”, antes de ser le-
mais clara. A rapadura permanece nas fôr- A qualidade do açúcar mascavo é de- vado para o aquecimento.
mas o tempo necessário para seu endure- terminada também pelo grau de umidade, O passo seguinte é a purificação, ou
cimento, variando entre 20 e 60 minutos, ou seja, quanto mais seco melhor a quali- seja, a limpeza do caldo com a retirada das
conforme a firmeza do ponto. dade e maior será o tempo de armazena- impurezas na forma de espuma, feita com
Após a retirada da fôrma recomenda- mento. o caldo quente, antes do início da con-
se deixar a rapadura em local limpo, seco e Após a peneiragem, o açúcar é emba- centração. Na concentração acontece a
arejado por algumas horas para comple- lado em sacos de plástico polipropileno evaporação da água e, conseqüentemente,
tar o resfriamento. Após este, a rapadura para a comercialização, pesado e rotulado. a redução do volume do líquido. Ao apro-
é embalada individualmente, em filme de O armazenamento deve ser feito sobre ximar do “ponto”, é necessário diminuir o
policloreto de vinila (PVC), termo encolhí- estrados ou grades, em local seco e venti- fogo para evitar o escurecimento do pro-
vel. Esse cuidado evita que o produto lado, com as caixas empilhadas com um duto.
absorva umidade, o que provocaria a me- espaço entre elas. O ponto do melado é atingido, quando
la; reduz a possibilidade de contaminação, o caldo torna-se denso, transformando-se
Melado
em conseqüência do manuseio; melhora a em xarope de espessura média, com a tem-
aparência; facilita a estocagem e prolonga O melado pode ser uma alternativa inte- peratura entre 110ºC e 112ºC.
a vida de prateleira. ressante de diversificar a produção para O melado deve ser resfriado à tempe-
O produto, já embalado, é pesado, ro- aqueles que já fabricam a rapadura e/ou o ratura próxima de 90ºC e envasado em
tulado e colocado em caixas para facilitar o açúcar mascavo, uma vez que os equipa- frascos de vidro ou de plástico resistentes
armazenamento e o transporte. O armaze- mentos utilizados são os mesmos. É um à alta temperatura, com fechamento her-
namento deve ser feito sobre estrados ou alimento muito nutritivo e, pelo seu alto mético. A armazenagem deve ser em local
grades, em local seco e ventilado, com as teor em sais minerais, assim como a rapa- seco e ventilado, sobre estrados ou grades.
caixas empilhadas, deixando um espaço dura e o açúcar mascavo, é recomendado Um melado de boa qualidade deve ser
entre elas. na alimentação diária das famílias e na me- denso e não apresentar cristais nem fer-
renda escolar, em substituição ao açúcar mentação.
Açúcar mascavo industrializado.
Para a identificação do ponto de açúcar Os cuidados para a fabricação de mela- BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
mascavo, os cuidados são os mesmos da do de boa qualidade são os mesmos obser- BRAGANÇA, M. da G.L.; SOUZA, C.M. de. Pro-
rapadura: reduzir o fogo e agitar o xarope vados para a rapadura e o açúcar mascavo, cessamento artesanal de cana-de-açúcar:
continuamente. O ponto é um pouco mais e o fluxo é semelhante aos dos demais fabricação de açúcar mascavo. Belo Horizonte:
forte do que o da rapadura e pode ser iden- produtos até a decantação e filtragem do EMATER-MG, 2006.
tificado colocando-se uma pequena porção caldo, quando deve acontecer a acidifica-
_______; _______. Processamento artesanal
do xarope numa vasilha com água fria, ção.
de cana-de-açúcar: fabricação de melado. Belo
moldando-a com os dedos até que se for- A acidificação do caldo é importante
Horizonte: EMATER-MG, 2006.
me uma rede com a massa fria. Essa rede, para permitir uma boa concentração do
ao ser lançada contra a parede da tacha, melado, sem que ocorra a cristalização du- _______; _______. Processamento artesanal
estilhaça como se fosse um vidro. Outra rante o armazenamento. A acidificação pro- de cana-de-açúcar: fabricação de rapadura. Belo
forma de identificação do ponto é colocar voca a inversão da sacarose, ou seja, a sua Horizonte: EMATER-MG, 2006.
uma porção de xarope em forma de fio numa transformação em glicose e frutose, o que CHAVES, J.B.P. Como produzir rapadura,
vasilha com água fria e a massa se torna impede a cristalização. Para acidificação melado e açúcar mascavo. Viçosa: CPT, 1998.
vítrea e quebradiça. Nesse ponto, a tempe- do caldo podem-se usar dois processos 36p.
ratura do xarope atinge de 123ºC a 125ºC. artesanais: moer a cana e deixar o caldo em
PINTO, G.L. Fabricação de rapadura e açúcar
Ao atingir o ponto de açúcar mascavo, repouso em reservatório de aço inoxidá-
batido. Viçosa: UFV, 1990. 9p.
o xarope é transferido para a masseira ou vel ou de plástico branco por um perío-
gamelão, onde é agitado constantemente do aproximado de 12 horas, até que atinja PROJETO de qualidade e produtividade de ra-
até acontecer a total cristalização. Após um pH entre 4,5 e 4,0. Outro processo, con- padura e açúcar mascavo: pró-rapadura e açúcar
esta cristalização, por meio do resfriamento siste na utilização da “quira”, que é o caldo mascavo. Belo Horizonte, 1998. Apostila.
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1
Engo Agro, Especialista em Tecnologia da Cachaça, Coord. Téc. Estadual de Culturas EMATER-MG, Av. Raja Gabaglia, 1626 – Luxemburgo,
CEP 30350-540 Belo Horizonte-MG. Correio eletrônico: wpascoal@emater.mg.gov.br
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Cana-de-açúcar Adubação
Adubo orgânico Produção Fertirrigação
Caldo de cana
Filtração
Produção de Decantação
energia (queima)
Alimentação
de bovinos
Padronização
do Brix
Fermentação
Destilação
Álcool combustível
Engarrafamento
Comercialização
O produtor deve escolher as varieda- nas Gerais é plantada em todas as regiões, car) atingirem 18º Brix, determinado por meio
des que melhor se adaptem ao solo, período entretanto é necessário orientação técnica de refratômetro de campo ou sacarímetro
de safra e clima de sua região, levando-se especializada (RIBEIRO, 2002), na seleção (aerômetro) de Brix.
em consideração as características, prin- da variedade, escolha, preparo, correção e A cana-de-açúcar nunca deve ser quei-
cipalmente de produtividade, riqueza de adubação do solo, plantio, tratos culturais mada para a colheita. Após o corte, deve
açúcar e facilidade de manejo (RIBEIRO, e colheita. ser processada imediatamente, não ultra-
2002). A cana-de-açúcar deve ser colhida ao passando de 24 horas o intervalo entre o
A cana-de-açúcar adapta-se a uma completar seu ciclo vegetativo, quando os corte e a moagem (RODRIGUES FILHO;
ampla faixa de clima, solo e altitude. Em Mi- índices de sólidos solúveis (teores de açú- OLIVEIRA, 1999).
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Considerando-se uma dorna com capacidade para 500 litros de mosto, usar:
1 a etapa:
Diluir o caldo de cana-de-açúcar para 6o Brix e medir 50 L desse caldo. Colocar na dorna, 15 kg de fubá e 2,5 kg de
farelo de arroz (metade do recomendado). Aquecer os 50 L de caldo a 30oC e misturar ao fubá e ao farelo de arroz. Fazer
o arejamento desse mosto agitando com uma escumadeira ou mesmo com cuias furadas, por 10 minutos. Cobrir a dorna
com uma tela e esperar que o teor de açúcar se reduza para 3o Brix.
2 a etapa:
Adicionar ao mosto com teor de açúcar 3o Brix, 50 L de caldo de cana-de-açúcar a 8o Brix. Em seguida, proceder à
aeração desse mosto, conforme descrito na 1a etapa. Cobrir com a tela e aguardar até que o teor de açúcar abaixe para 4o
Brix.
3 a etapa:
Adicionar o restante do fubá e do farelo de arroz ao mosto com 4o Brix, mais 50 L de caldo de cana-de-açúcar a 10o
Brix, procedendo à aeração desse mosto, conforme descrito na 1a etapa. Cobrir com a tela e deixar até que o teor de
açúcar se reduza a 5o Brix.
4 a etapa:
No mosto com teor de açúcar de 5o Brix, adicionar 50 L de caldo de cana-de-açúcar a 12o Brix. Proceder à aeração,
como na 1a etapa. Cobrir com a tela e aguardar até que o teor de açúcar se reduza a 6o Brix.
5 a etapa:
No mosto com teor de açúcar a 6o Brix, adicionar 50 L de caldo de cana a 14o Brix. Proceder à aeração, conforme
descrito na 1a etapa. Cobrir a dorna e aguardar a redução do teor de açúcar a 7o Brix.
6 a etapa:
Ao mosto com 7o Brix e já com 50% do volume útil da dorna atingido, adicionar 50 L de caldo de cana a 15o Brix.
Agora, com a graduação de açúcar de trabalho, proceder à aeração como na 1a etapa. Cobrir com a tela e aguardar até que
o teor de açúcar se reduza a 7o Brix. Quando este for atingido, completar o volume da dorna com 200 L de caldo de cana
a 15o Brix.
Nesse caso, esperar que o teor de açúcar se reduza a zero e destilar o vinho (RODRIGUES FILHO; OLIVEIRA, 1999).
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DESTILAÇÃO vinho é colocado todo de uma só vez na prezada, pois contém altos teores de
A destilação é um processo físico que panela e destilado. Logo após, esgota-se o compostos secundários indesejá-
permite separações químicas. Consiste na vinho e lava-se o alambique para, então, veis, dependendo do quantitativo;
passagem da fase líquida de uma substân- enchê-lo novamente.
b) destilado de coração: corresponde
cia ou mistura, sob aquecimento, ao estado O sistema contínuo não será admitido
ao destilado desejado, representa
gasoso (ebulição), que em seguida, retorna para a produção da cachaça de alambique.
16% do volume total do vinho, de-
ao estado líquido por meio de resfriamento Esse sistema é característico da cachaça
pendendo da graduação alcoólica
(condensação) (Fig. 4), (DIAS, 2004). industrial (RODRIGUES FILHO; OLIVEIRA,
que se deseja obter para o produto
1999).
ou 80% do volume do destilado,
Conversão do vinho caso todo o álcool contido no vinho
em cachaça tenha sido convertido em cachaça;
O vinho proveniente da fermentação c) destilado de cauda ou água fraca:
alcoólica do mosto de cana-de-açúcar, que corresponde a 3% do volume total do
contém de 7% a 12% em volume de etanol, vinho ou 15% do volume do destila-
ao ser destilado, transforma-se em cacha- do. Esta fração, que contém ácidos
ça – graduação alcóolica de 38% a 48% v/v, voláteis e parte de álcoois superio-
a uma temperatura de ebulição entre 92,6ºC res, também não deve ser aproveita-
e 96,0ºC. A separação das frações do des- da para consumo, devendo, portan-
tilado em cabeça, coração (aguardente) e to, ser desprezada.
cauda, durante a destilação, é de funda-
A precisão com que são efetuados os
mental importância na produção de bebidas
cortes tem influência na qualidade final
destiladas em alambiques de pequeno por-
da cachaça (CARDOSO, 2006). As frações
te, uma vez que são as responsáveis pelo
cabeça e cauda poderão ser armazenadas
sabor, odor e aroma característicos do pro-
Waldyr Pascoal Fiho
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mônio nacional, fruto da perseverança e b) quantidade e qualidade dos com- junho de 2005 (BRASIL, 2005), do Minis-
dedicação de produtores que sempre acre- ponentes próprios da sua natureza tério da Agricultura, Pecuária e Abaste-
ditaram e lutaram pela caracterização do (padrões de identidade e qualida- cimento (MAPA), ressalvando os limites
produto (BOTELHO, 2004). de); para graduação alcoólica, conforme dis-
c) ausência de elementos estranhos, de posto no Quadro 1.
REQUISITOS DE QUALIDADE
indícios de alterações e de micro-
A cachaça deve atender aos seguintes organismos patogênicos; ARMAZENAMENTO
requisitos (BOTELHO, 2004) de qualidade:
d) ausência de substâncias nocivas. O acondicionamento da cachaça pode
a) normalidade dos caracteres organo- ser em tonéis de madeira ou de material
lépticos próprios da sua natureza: Padrão de identidade e inerte, que não influencie no aroma e no
- cor, qualidade da cachaça paladar da bebida, nesse caso a dorna de
- sabor, Os padrões de identidade e qualidade aço inox é a mais recomendada. Recomenda-
- odor, vigentes para a cachaça estão estabeleci- se também o controle da temperatura entre
- limpidez; dos na Instrução Normativa no 13, de 29 de 15o e 20oC e umidade entre 70% e 90% no
Soma dos coeficientes de congêneres: Acidez volátil, aldeídos totais, ésteres totais, álcoois
superiores e furfural + hidroximetilfurfural (mg/100mL de álcool anidro) 650 200
Ingredientes opcionais Açúcar/Sacarose, que pode ser substituída total ou parcialmente por açúcar invertido,
glicose ou seus derivados reduzidos ou oxidados
Cachaça não adoçada 6 –
Cachaça adoçada 30 6
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ambiente de armazenamento, para evitar Destino dos efluentes Na alimentação animal, o bagaço é for-
perdas de volume e de etanol por evapo- necido triturado, diretamente ao rebanho,
Ponta de cana
ração (OLIVEIRA, 2005). podendo ser enriquecido com uréia, até 1%
É de conhecimento geral que na cria-
do total fornecido, ou misturado ao vinhoto
ção de bovinos, no período da seca (maio/
ENVELHECIMENTO e com fornecimento à vontade.
setembro), a pastagem fica escassa e de
Pode ser utilizado também na produção
A cachaça recém-destilada, incolor, qualidade ruim. Nesse período, é comum
de composto orgânico ou na utilização
apresenta um paladar agressivo e levemen- confinar animais ou suplementá-los a pas-
como cobertura morta em áreas de lavoura.
te amargo, identificador de bebida nova to, o que pode ser feito com a utilização da
(RIBEIRO, 2002). ponta de cana (EVANGELISTA, 2006), for- Água servida
Para que a cachaça adquira boas pro- necida fresca ou ensilada. A água de resfriamento do vapor de
priedades sensoriais, deve passar por um cachaça, no alambique, poderá ser resfriada
processo de envelhecimento, que, além de Vinhoto ou vinhaça
e novamente utilizada. Se esse processo
melhorar o aroma e o paladar, modifica sua O vinhoto quente é coletado em rede
não for de interesse, a água poderá ser
coloração tornando-a macia e aveludada de cerâmica, com diâmetro de 100 mm até o
esgotada diretamente nos mananciais.
(RIBEIRO, 2002). tanque ou represa de efluentes. Esse local
A água de limpeza dos equipamentos,
O envelhecimento natural é feito em to- deve ser impermeabilizado e ter capacidade
das seções de moagem, fermentação, da
néis de madeira, que possuem uma influên- suficiente para armazenar o vinhoto por
destilação e dos pisos das instalações da
cia significativa no aspecto sensorial da cinco dias consecutivos. Posteriormente,
unidade de produção de cachaça deverá
cachaça. Algumas madeiras já utilizadas em à temperatura ambiente, o vinhoto será
ter o mesmo destino do vinhoto.
grande proporção para o armazenamento bombeado para áreas de lavouras ou pas-
A água oriunda do esgotamento de
são: carvalho, umburana, bálsamo, jequiti- tagens, como fertilizante, em quantidade
sanitários deverá ser direcionada para uma
bá e a castanheira. de até 100 m3/ha/ano e diluído em água na
fossa séptica.
Para ser considerada envelhecida, a proporção de 1:1.
O consumo de água na agroindústria,
cachaça deve permanecer por um perío- É utilizado também na alimentação ani-
com a lavagem da matéria-prima, é de,
do mínimo de um ano em tonéis de madei- mal na quantidade de 18 a 20 L/Unidade
aproximadamente, 1 mil litros/tonelada de
ra, com capacidade máxima de 700 litros, Animal/dia, misturado com água na propor-
cana. O consumo total de água em uma
que deverão ser lacrados pelo Serviço ção 1:1 e distribuído diretamente aos ani-
fábrica de cachaça é em torno de 40 litros
de Inspeção de Produto Agropecuário do mais. Poderá ser utilizado também na elabo-
de água/litro de cachaça produzida.
MAPA. ração de composto orgânico misturando-o
A Instrução Normativa no 13 do MAPA ao bagaço triturado.
INSTALAÇÕES E EQUIPAMENTOS
(BRASIL, 2005) classifica a cachaça enve- Cada litro de cachaça produzido dá ori-
gem de 5 a 6 litros de vinhoto. O estabelecimento de bebidas é o espa-
lhecida, conforme o Quadro 2.
ço delimitado que compreende o local e a
Bagaço área que o circunda, onde se efetiva um
EFLUENTES
O bagaço da cana pode ser utilizado conjunto de operações e processos, que
A indústria de cachaça é uma atividade como combustível no alambique. É for- tem como finalidade a obtenção de bebi-
que gera abundante oferta de subprodutos, necido seco, diretamente na fornalha do da, seguindo um fluxograma, que abrange
sendo os principais: ponta de cana, também alambique ou na caldeira. O consumo é de, desde o transporte e acondicionamento e
chamada olhadura, bagaço, vinhoto ou aproximadamente, 40% do total de bagaço moagem da matéria-prima, limpeza e ajuste
vinhaça e água servida. produzido. do caldo de cana, fermentação, destilação,
Classe Descrição
Cachaça Envelhecida Deve conter, no mínimo, 50% de cachaça envelhecida, por um período não inferior a 1 ano
Cachaça Premium Deve conter 100% de cachaça envelhecida, por um período não inferior a 1 ano
Cachaça Extra Premium Deve conter 100% de cachaça envelhecida, por um período não inferior a 3 anos
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bem como o armazenamento, envelheci- i) escritório administrativo, conforme zação do MAPA, sob pena de infra-
mento e envase. a necessidade; ção.
As exigências básicas para construção j) as instalações, os equipamentos, os
e funcionamento de estabelecimentos de utensílios e o pessoal devem obser- Instalações e
bebidas são as seguintes: equipamentos mínimos
var as normas higiênico-sanitárias
exigidos para o produtor e
a) localização em áreas longe de odo- estabelecidas; acondicionador de cachaça
res indesejáveis e que não estejam k) as pessoas que trabalham nas áreas
sujeitas a inundações; Seção de moagem
de manipulação dos produtos devem
Destinada às operações de recebimen-
b) as instalações devem impedir a entra- dispor de vestimentas apropriadas;
to, limpeza e moagem da cana-de-açúcar
da ou alojamento de pragas (insetos l) dispor de local apropriado para a (Fig. 5). As instalações e equipamentos
e roedores), aves e animais domés- deposição dos resíduos industriais, devem atender às seguintes recomenda-
ticos; de forma que o meio ambiente seja ções:
c) a área, onde se localiza o prédio, deve preservado e insetos, roedores, pás-
saros, etc. não sejam atraídos; a) instalações:
ser cercada, com os arredores urba-
nizados. Evitar o acúmulo de poeiras - ser cobertas,
m) estar em área própria e isolada, aten-
ou lamas; dendo às condições de segurança, - ter piso resistente ao trânsito e ser
d) as vias de trânsito dentro e nas áreas quando o estabelecimento trabalhar impermeável - não se deve usar
próximas devem ter uma superfície com caldeiras a vapor; ardósia ou material similar,
compacta e/ou pavimentada, apta ao n) dispor de laboratório próprio para - possuir área compatível com o flu-
tráfego de veículos; devem possuir controle de qualidade do produto ou xo de produção,
escoamento adequado, assim como contratar serviços de terceiros para - dispor de proteções laterais de alve-
meios que permitam sua limpeza; esta finalidade; naria,
e) o material empregado na construção o) dispor de um responsável técnico - possuir pé-direito de no mínimo
deve ser próprio para a finalidade; com competência profissional para 3 metros;
f) as instalações devem ser projetadas a função; b) equipamentos:
de forma que permitam a separação p) o estabelecimento registrado só po- - engenho ou moenda,
por dependência, com divisórias, o derá modificar sua instalação ou equi- - decantador para caldo,
que evita operações suscetíveis de pamentos mediante prévia autori- - peneiras.
causarem contaminação;
g) todos os equipamentos e utensílios
das áreas de manipulação, que pos-
sam entrar em contato com a matéria-
prima e o produto, deverão ser cons-
tituídos de materiais que não trans-
mitam substâncias tóxicas, odores
ou sabores e sejam impermeabiliza-
dos, bem como resistentes à corrosão
e a repetidas operações de limpeza e
desinfecção. Deve ser evitado o uso
de madeira e outros materiais que
não possam ser limpos e desinfeta-
dos adequadamente, a menos que
Waldyr Pascoal Fiho
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b) equipamentos:
- dornas e barris (Fig. 8 e 9),
- tonel de mistura e padronização.
c) alcoômetro;
d) termômetro;
e) balança;
f) kit para análise de cobre e acidez. Figura 8 - Dornas de armazenamento
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a) procurar assistência técnica; UFLA-FAEPE, 2004. 37p. (Textos Acadêmicos). aguardente de cana envelhecida. 1997. 109f.
Curso de Pós-graduação “Lato Sensu” (Espe- Monografia (Mestrado em Ciência de Alimen-
b) fazer projetos e registrar no MAPA;
cialização) a Distância: Tecnologia da Cachaça. tos) – Faculdade de Farmácia, Universida-
c) ser organizados; de Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte,
DIAS, S.M.B.C. Destilação. Lavras: UFLA-
d) planejar suas ações; 1997.
FAEPE, 2004. 43p. (Textos Acadêmicos). Curso
e) ter controle do processo de produ- de Pós-graduação “Lato Sensu” (Especialização) INFORME AGROPECUÁRIO. Cachaça arte-
ção; a Distância: Tecnologia da cachaça. sanal de Minas. Belo Horizonte: EPAMIG, v.23,
n.217, 2002. 88p.
f) avaliar o custo do produto, para que EVANGELISTA, A.R. Aproveitamento de resí-
tenha competitividade no merca- duos da fabricação da aguardente. In: CARDO- RIBEIRO, J.C.G.M.; RIBEIRO, A.A.; PINTO,
do; SO, M. das G. (Ed.). Produção de aguardente. D.M.; SILVEIRA, L.C.I. Curso de produção
g) fazer promoção nos pontos de venda 2.ed. rev. amp. Lavras: UFLA, 2006. cap.9, de cachaça de qualidade. Belo Horizonte:
da bebida; p.289-307. AMPAQ, 2003. 41p.
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Resumo - É abordada a questão ambiental inerente aos resíduos gerados nas indústrias
sucroalcooleiras do estado de Minas Gerais. Abrange a quantidade média gerada de
cada resíduo e a metodologia adotada para o seu gerenciamento. Os procedimentos de
manejo, controle, tratamento e disposição final são amplamente utilizados pelas unida-
des mineiras, visando à minimização dos impactos ambientais advindos da geração
de resíduos sólidos e efluentes líquidos, oriundos do processo de produção de açúcar
e álcool. Os dados apresentados foram obtidos de 17 unidades produtoras de açúcar e
álcool em operação no estado de Minas Gerais, com diferentes capacidades de processa-
mento de cana-de-açúcar, e informações técnicas colhidas de projetos industriais de 23
novas unidades sucroalcooleiras, atualmente em fase de projeto e/ou implantação.
Palavras-chave: Cana-de-açúcar. Destilaria. Álcool. Setor sucroalcooleiro. Efluente
líquido. Resíduo sólido. Gestão ambiental. Usina. Açúcar.
INTRODUÇÃO tão de resíduos, utilizando-se, para isto, a lidos encontra-se entre as questões mais
A questão dos resíduos gerados pe- educação ambiental e a mobilização so- importantes para a manutenção da qua-
las atividades industriais de uma empresa cial. lidade do meio ambiente da Terra.
pressupõe muito mais do que a adoção de Estas medidas vêm sendo desenvol- Seguindo esta premissa, o setor su-
técnicas avançadas de tratamento. Uma vidas e adotadas há alguns anos em vá- croalcooleiro, por se apresentar como ge-
concepção moderna e sustentável de ge- rias empresas sucroalcooleiras do estado rador de grandes quantidades de resíduos
renciamento de resíduos implica na for- de Minas Gerais (BARRETO et al. (1994) de diferentes características e tipologias,
mação de uma nova cultura e no estabe- De acordo com a Agenda 21 da Con- apresentou, nas últimas décadas, diver-
lecimento de uma relação entre diretoria ferência das Nações Unidas sobre Meio sas soluções para o tratamento e dispo-
e funcionários, promovendo a participa- Ambiente e Desenvolvimento, em 1992, em sição final dos seus efluentes líquidos e
ção efetiva das partes, para alcançarem seu Capítulo 21 (NOVAES, 2000), o manejo resíduos sólidos, abordados neste traba-
resultados satisfatórios em relação à ges- ambientalmente saudável dos resíduos só- lho.
1
Biólogo, Especialista em Gestão Ambiental de Resíduos Sólidos, Auditor Ambiental/Consultor da Gaia Consultoria Ambiental, Rua General
Dionísio Cerqueira, 445, CEP 30430-140 Belo Horizonte-MG. Correio eletrônico: barreto.gaia@uol.com.br
2
Biólogo, M.Sc., Diretor/Consultor da Gaia Consultoria Ambiental, Rua General Dionísio Cerqueira, 445, CEP 30430-140 Belo Horizonte-MG.
Correio eletrônico: gaia.bh@uol.com.br
3
Engo Civil, Especialista em Saneamento e Meio Ambiente, Diretor da Ottawa Engenharia Ltda., Rua Nilton Baldo, 744, CEP 31330-660 Belo
Horizonte-MG. Correio eletrônico: ottawaeng@terra.com.br
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RESÍDUOS SÓLIDOS Dessa forma, toda a energia elétrica uti- A torta de filtro é utilizada como adubo,
lizada na indústria durante a safra, é gerada sendo sua aplicação realizada com cami-
Segundo a definição de Mazzini (2004)
pela própria empresa. Em alguns casos, nhão provido de caçamba, o qual distribui
para resíduos sólidos:
ocorre ainda a comercialização do exceden- em cobertura na soqueira ou em área total
Diz-se de todo e qualquer tipo de resíduo,
te da energia elétrica (co-geração). nos canaviais em renovação, podendo tam-
no estado sólido e semi-sólido, produzido
Outra utilização do bagaço é a reali- bém, na maioria das vezes, ser aplicada com
e descartado pela atividade humana de ori-
zação de hidrólise, transformando-o em carreta sulcadora/distribuidora.
gem doméstica, hospitalar, comercial, agrí-
ração animal. Há outros usos para o baga- Dependendo da necessidade do cana-
cola, industrial, de serviços e de varrição.
ço, porém em menor escala, tais como com- vial, aplica-se de 15 a 30 toneladas de torta
A atividade de produção de açúcar e plementação de compostos orgânicos uti- de filtro por hectare.
álcool, assim como qualquer outra atividade lizados na agricultura (incorporação ao
Cinza de caldeira
industrial, gera diversos resíduos sólidos, solo), forragem de cama para currais, fa-
alguns deles em grandes quantidades, o bricação de artesanatos ou produção de Resíduo gerado a partir da queima de
que exige, por parte dos empreendimentos, bagaço nas caldeiras no processo de ge-
isopor, plásticos e autopeças biodegradá-
a adoção de medidas mitigadoras que visam ração de vapor e, conseqüentemente, de
veis (MARQUES et al., 2001).
evitar e/ou minimizar os impactos ambien- energia elétrica.
O excedente do bagaço gerado é co-
tais passíveis de ocorrer, caso não recebam Suas características e taxa de geração
locado em um pátio de armazenamento,
um gerenciamento adequado. variam de acordo com as fibras do bagaço
normalmente locado ao lado da caldeira, e
de cana utilizado como combustível e na
Segundo Freire e Cortez (2000): utilizado para alimentar esta no caso de a
eficiência operacional da caldeira.
[...] 99,6% dos resíduos sólidos gera- fábrica parar e, ainda, dar partida à safra
De acordo com os dados obtidos em
dos nas usinas, ou seja, 681,7 kg/t.cana seguinte.
diversas unidades sucroalcooleiras e em
(COPERSUCAR, 1994), são resíduos não Considerando a variação de fibra das
balanços de massa elaborados por empre-
perigosos, reutilizados racionalmente na variedades de cana-de-açúcar existentes,
sas especializadas no setor, estima-se que
lavoura ou para outros fins [...]. tem-se uma geração média de 200 a 300 kg
este resíduo represente, em peso, cerca de
A seguir, encontram-se relacionados os de bagaço para cada tonelada de matéria-
5% do bagaço queimado na caldeira.
principais resíduos sólidos gerados pelas prima processada. Dependendo da varie-
Dependendo do tipo de equipamento
indústrias sucroalcooleiras, suas carac- dade utilizada, podem-se obter valores
utilizado na geração de vapor, pode ser
terísticas, estimativa da taxa de geração, maiores.
retirado por meio de grelhas basculantes,
tratamento e disposição final adotados pa- por via úmida (lavagem dos cinzeiros da
Torta de filtro
ra cada um. caldeira) ou retirado manualmente no seu
A torta de filtro, resíduo proveniente
Bagaço de cana-de-açúcar estado normal (seco).
do tratamento do caldo pelo processo de
A exemplo da torta de filtro, as cinzas
Considerado também como subpro- filtragem, é rica em fósforo, chegando a ter
de caldeira são utilizadas como adubo em
duto, o bagaço é gerado no processo de de 1% a 2% do elemento disponível. Possui
áreas de canaviais em renovação.
extração do caldo da cana-de-açúcar, obti- elevada umidade, concentração de matéria
A taxa de aplicação varia de acordo
do por meio de difusor ou moenda. É cons- orgânica da ordem de 50% a 60% e uma
com as condições físico-químicas do solo,
tituído por material fibroso composto prin- relação C/N de 1:20, com altos teores de
devendo-se realizar previamente sua aná-
cipalmente de água (48% a 52%) e sacarose Ca e P e baixos teores de K. Sua produção
lise, para posterior utilização.
(MARQUES et al., 2001). varia de 20-40 kg por tonelada de cana pro-
Devido ao seu alto poder calorífico, é cessada. A taxa de geração está relacionada Sedimento (material terroso)
de suma importância para o funcionamento diretamente com a eficiência do tratamen- Resíduo resultante do processo de de-
da indústria sucroalcooleira, sendo princi- to do caldo e com a qualidade da matéria- cantação das águas utilizadas na lavagem
palmente utilizado como combustível na prima, que, por sua vez, depende dos pro- da cana-de-açúcar na mesa alimentadora e
caldeira, que, por sua vez, gera vapor, que cedimentos de corte, colheita e lavagem da no lavador de gases da caldeira. É retira-
conduz a energia térmica necessária para cana-de-açúcar. do durante a limpeza das células de sedi-
evaporar a água contida no caldo da cana Nota-se que, quando realizada a colhei- mentação, sistema utilizado no tratamento
na obtenção do açúcar ou para evaporar e ta mecanizada, tem-se uma quantidade dessas águas. É composto basicamente por
separar o álcool nas colunas de destilação, menor de torta de filtro, se comparada com material particulado (fuligem contida nos
além de movimentar as turbinas a vapor a matéria-prima colhida por meio do corte gases), terra e impurezas carreadas do cam-
para a geração da energia elétrica. manual. po juntamente com a matéria-prima.
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Considerando uma taxa de umidade de adequadamente e dar destinação ambien- larias, principalmente por suprir parcial-
70%, estima-se uma geração média de 25 a talmente correta aos resíduos sólidos. mente o déficit hídrico e de nutrientes da
50 kg desse resíduo, para cada tonelada de cultura, substituindo total ou parcialmente
cana processada. A taxa de geração está EFLUENTE LÍQUIDO a adubação química.
relacionada diretamente com a eficiência As unidades sucroalcooleiras geram Após analisarem a composição química
do sistema de lavagem dos gases e com a basicamente três tipos de efluentes líqui- de diferentes tipos de vinhaça produzi-
qualidade da matéria-prima vinda do cam- dos industriais: águas residuárias, efluen- da em diferentes regiões do Brasil, Freire e
po que, por sua vez, depende dos proce- tes sanitários e vinhaça, este último exclu- Cortez (2000) constataram que a compo-
dimentos de corte, colheita e lavagem da sivo da atividade de produção de álcool. sição da vinhaça apresenta-se muito he-
cana-de-açúcar. Esses efluentes, se destinados de forma terogênea, em função do tipo de matéria-
Esse resíduo é utilizado como adubo incorreta, podem provocar a contaminação prima empregada no preparo do mosto, da
em áreas de reforma de canavial, seguindo de solos e coleções hídricas (superficiais e procedência ou localização da destilaria, da
os mesmos preceitos de aplicação das cin- subterrâneas). época de amostragem e do tipo de proces-
zas de caldeira e torta de filtro. so industrial utilizado.
Vinhaça
A análise físico-química, realizada em
Resíduo sólido comum A vinhaça, conhecida também como uma indústria sucroalcooleira do Triângulo
ou domiciliar vinhoto, é oriunda do vinho fermentado Mineiro, apresentou o seguinte resultado:
Os resíduos sólidos comuns são aque- nas dornas. O vinho, após ser centrifugado
les gerados na atividade industrial, porém para retirada do fermento, é encaminhado pH ....................................... 4,5
com características de resíduo domiciliar. às colunas de destilação, onde ocorre a se- Sólidos totais ....................... 6,58%
Esses resíduos originam-se das atividades paração do álcool hidratado e vinhaça.
Matéria orgânica .................. 4,89%
de limpeza, varrição, restos de alimentos, Este efluente possui cor marrom-escuro,
lixo sanitário, plásticos, papéis e papelões Matéria mineral ................... 1,73%
sendo de natureza ácida, que sai das colu-
descartados dos escritórios. nas de destilação a temperaturas próximas Nitrogênio total ................... 0,37%
Com características bastante diversi- a 100ºC. Cálcio ................................... 0,06%
ficadas, a taxa de geração usualmente é A geração de vinhaça varia em função Magnésio ............................. 0,02%
estimada em função do número de funcio- das diversas variedades de cana-de-açúcar Potássio ............................... 0,33%
nários do pátio industrial, podendo variar e de particularidades adotadas em cada des-
Temperatura ........................ 88ºC
entre 0,5 e 0,8 kg por pessoa/dia. tilaria.
A parte reciclável dos resíduos sólidos Demanda bioquímica
Tendo como base as indústrias mineiras
de características domiciliares, em algumas de oxigênio (DBO) ............... 28.600 mg/L
do setor, observa-se uma geração média
unidades, é submetida à segregação para entre 12 e 15 m³ de vinhaça por m³ de álcool
posterior comercialização com agentes re- produzido. Estudos apontam que canaviais irriga-
cicladores. Com relação à parte não reciclá-
Segundo Freire e Cortez (2000): dos com vinhaça apresentam produtivi-
vel/reaproveitável, observa-se uma grande
a vinhaça in natura possui um teor de só- dade superior àqueles irrigados somente
tendência para sua disposição em aterros
lidos muito baixo, mas que varia de 2 a com água, no que se refere à concentra-
sanitários construídos nos empreendi-
10%, conforme a matéria-prima utilizada. ção de açúcar e produtividade por hectare
mentos em consonância com a NBR 8419/
(FREIRE; CORTEZ, 2000).
1992 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE Se comparada com o bagaço e a torta
A legislação ambiental estadual que
NORMAS TÉCNICAS, 1992) e com a legis- de filtro, a vinhaça é o resíduo orgânico
trata da taxa de aplicação da vinhaça no
lação ambiental vigente. mais rico em nutrientes, principalmente em
solo é a Deliberação Normativa no 12/86 do
O projeto do aterro industrial abrange potássio, possuindo também cálcio, mag-
Conselho Estadual de Política Ambiental
todos os sistemas de controle ambiental, nésio, fósforo, manganês e nitrogênio
(COPAM, 1987b), a qual proíbe a aplicação
tais como dreno de gases, impermeabili- orgânico. Sua relação C/N é igual a 15, o
de vinhaça em taxas superiores a:
zação da célula, dreno do chorume e seu que a caracteriza como um material rico em
tratamento. proteínas. A matéria orgânica e o potássio a) 450 m³/ha/ano para vinhoto prove-
Outra medida observada é o desenvolvi- destacam-se entre os demais elementos. Por niente da fermentação de caldo di-
mento de campanhas educativas internas, esse motivo, a aplicação da vinhaça sobre reto;
tais como programas de coleta seletiva, com a lavoura de cana-de-açúcar tornou-se prá- b) 300 m³/ha/ano para vinhoto prove-
o intuito de reduzir, segregar, acondicionar tica corriqueira e indispensável nas desti- niente da fermentação de caldo misto;
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c) 150 m³/ha/ano para vinhoto prove- As águas residuárias são encaminha- Geralmente, o esgoto gerado nas insta-
niente da fermentação do melaço. das às lavouras de cana-de-açúcar, com a lações sanitárias é recolhido e transporta-
A referida Deliberação Normativa no 12/ principal finalidade de suprir a demanda do por meio de rede subterrânea e encami-
86 (COPAM, 1987b) destaca ainda que a hídrica da cultura. nhado ao sistema de tratamento do efluente
aplicação de vinhoto em taxas iguais ou O sistema de irrigação das lavouras de sanitário.
inferiores às definidas anteriormente, de- cana-de-açúcar, no qual utilizam-se a vi- Atualmente, para tratamento desse
vem ser precedidas de estudos referentes nhaça e as águas residuárias, é denomina- efluente líquido, verifica-se uma preferên-
à sua caracterização, às necessidades nu- do fertirrigação. Para a operação desse sis- cia pela implantação de uma estação de
tricionais da cultura e aos seus efeitos so- tema, os empreendimentos contam com tratamento de esgotos (ETE), composta por
bre as características físicas, químicas e canais de irrigação, tubos de engate rápido, lagoa fotossintética facultativa.
biológicas do solo, à luz de preceitos agro- rolões autopropelidos e conjuntos moto- A utilização desse sistema de tratamen-
nômicos. Ainda de acordo com a Delibe- bomba, que têm a finalidade de conduzir o to em unidades sucroalcooleiras no estado
ração Normativa no 12/86 (COPAM, 1987b), efluente líquido às áreas que serão fertirri- de Minas Gerais apresenta-se bastante
fica proibida a aplicação de vinhaça: gadas, promovendo, assim, sua disposição difundido e com comprovada eficiência,
final no solo. aliado à disponibilidade de área, baixo custo
a) em áreas situadas a menos de 200
Diferentemente dos demais resíduos operacional e viabilidade de disposição
metros de cursos d’água;
e efluentes, a taxa de geração das águas final do efluente tratado, o qual pode ser
b) em áreas alagadas ou sujeitas a inun- infiltrado no solo por escoamento superfi-
residuárias apresenta uma maior variação
dações; cial ou encaminhado ao canal de irrigação,
entre as unidades produtoras, estando
c) em áreas cujo lençol freático situa- relacionada com a eficiência dos diversos para se misturar ao montante de vinhaça e
se a uma profundidade inferior a sistemas de tratamento e recirculação (cir- águas residuárias destinadas à fertirrigação.
2 metros. cuito fechado), às perdas por evaporação A montante da lagoa facultativa, é implan-
Ressalta-se que, atualmente, a Delibe- e à capacidade nominal de produção. tado um tratamento preliminar composto por:
ração Normativa 12/86 (COPAM, 1987b) a) gradeamento: objetivando a reten-
encontra-se em fase de revisão pela Secre- Esgoto sanitário ção de sólidos grosseiros carreados
taria de Estado de Meio Ambiente e Desen- Este efluente é gerado a partir da utili- pelo fluxo hidráulico;
volvimento Sustentável (SEMAD), com zação das instalações sanitárias na indús-
b) caixa de areia: para a retenção de
vistas à sua adequação às mudanças ocor- tria, nos laboratórios, nos refeitórios e nos
sólidos finos sedimentáveis (mate-
ridas no setor sucroalcooleiro, de forma a escritórios administrativos.
rial terroso);
abranger a atual realidade das usinas e Conforme a NBR 7229 (ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, c) medidor de vazão: dispositivo para
destilarias.
1993), para o caso de ocupantes temporá- controle operacional da ETE.
Água residuária rios de fábricas em geral, considera-se uma O funcionamento da estação de trata-
Estes efluentes são provenientes do taxa de geração de esgotos sanitários da mento consiste basicamente no seguinte
descarte de água de diversas operações ordem de 70 litros/pessoa/dia. processo: os efluentes sanitários ingres-
industriais e sistemas de tratamento, tais Segundo Sperling (2005), as caracterís- sam na ETE pelo tratamento preliminar,
como lavagem de pisos e equipamentos, ticas físico-químicas do efluente sanitário onde são gradeados e recebem tratamento
purga da caldeira, sistemas de lavagem da são: físico por meio de sedimentação e flotação
cana-de-açúcar, descarte de torres de res-
friamento e purga da estação de tratamen-
pH .............................................................................................................. entre 6-7
to de água (ETA), dentre outros.
Temperatura ............................................................................................... 21ºC
Tais descartes são necessários para
a manutenção da qualidade da água man- Sólidos suspensos ...................................................................................... 400 mg/L
tida usualmente em circuito fechado na Demanda bioquímica de oxigênio (DBO) ................................................... 350 mg/L
indústria. Demanda química de oxigênio (DQO) ........................................................ 700 mg/L
Após descartado, o efluente líquido,
N-amoniacal ............................................................................................... 30 mg/L
denominado águas residuárias, é geral-
mente encaminhado a uma caixa específica N-orgânico .................................................................................................. 20 mg/L
para este efluente, podendo ser misturado Fosfato total ............................................................................................... 14 mg/L
à vinhaça.
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dos sólidos mais densos e menos densos Se por um lado, os impactos ambientais de aterros sanitários de resíduos sólidos urba-
que a água, respectivamente. Em seguida, advindos da operação de uma fábrica de nos. Rio de Janeiro, 1992.
esses efluentes são submetidos ao trata- açúcar e destilaria de álcool anexa são consi- BARRETO, G.F.; MELLO, H.; GARZON, B.
mento secundário ou biológico, em lagoa derados como de grande potencial polui- Environmental adaptation programme applied
facultativa, onde a demanda bioquímica de dor, pela Deliberação Normativa no 98/06 to an alcohol and sugar plant - Minas Gerais,
oxigênio (DBO) solúvel e finamente parti- (COPAM, 2006), por outro lado as medidas Brazil. Industry and Environment Review,
culada é estabilizada por processos aeró- de controle ambiental, usualmente adotadas v.18, n.1, p.16-18, 1995.
bios por bactérias dispersas no meio lí- nas unidades sucroalcooleiras do setor,
COPAM. Deliberação Normativa no 10, de 16
quido, ao passo que a DBO suspensa, com com base na legislação ambiental vigente,
de dezembro de 1986. Estabelece normas e pa-
tendência à sedimentação, é estabilizada propiciam condições aceitáveis de dispo-
drões para a qualidade das águas, lançamento
via anaeróbia por bactérias anaeróbias e sição dos resíduos e efluentes, de forma
de efluentes nas coleções de águas, e dá outras
facultativas no fundo da lagoa. O oxigênio que minimizem os impactos ambientais pro-
providências. Minas Gerais, Belo Horizonte,
requerido pelas bactérias aeróbias é supri- vocados por essa atividade industrial, com
10 jan. 1987a. Diário do Executivo.
do pelas algas, por meio da fotossíntese. a adoção de tratamentos específicos de
comprovada eficiência e consagrados pela _______. Deliberação Normativa no 12, de 16
A eficiência mínima desse sistema é
bibliografia especializada. de dezembro de 1986. Estabelece normas com-
de 84% na remoção de DBO, adequando
Considerando a implantação de novos plementares para armazenamento de efluentes
o efluente final aos padrões de qualidade
projetos em Minas Gerais e, conseqüente- das usinas de açúcar e destilarias de álcool e
para lançamento em coleções hídricas esta-
aguardente e para disposição de vinhoto no solo.
belecido nas Deliberações Normativas mente, o desenvolvimento de novas tecno-
Minas Gerais, Belo Horizonte, 10 jan. 1987b.
no 10/86 e 32/98 (COPAM, 1987a, 1998). logias, as unidades produtoras de açúcar e
Diário do Executivo.
Outro sistema de tratamento também álcool inserem-se num contexto valoriza-
utilizado nas indústrias sucroalcooleiras do do e promissor, utilizando-se de fonte de _______. Deliberação Normativa no 32, de 18
Estado, porém mais tradicional que o ante- energia limpa (bagaço) e produzindo com- de dezembro de 1998. Altera a alínea “h” do
rior, principalmente em unidades industriais bustível renovável (álcool), alimento (açú- artigo 15 da Deliberação Normativa COPAM
mais antigas, é o tanque séptico com sumi- car) e energia elétrica, além de adotarem no 10, de 16 de dezembro de 1986. Minas Ge-
douro, o qual apresenta eficiência satisfa- tecnologia nacional industrial eficiente e rais, Belo Horizonte, 24 dez. 1998. Diário do
investir no avanço de biotecnologia, para Executivo.
tória no tratamento dos esgotos sanitários,
quando projetado de forma adequada e aumento da eficiência produtiva e otimi- _______. Deliberação Normativa no 98, de 4 de
dentro das prescrições técnicas estabeleci- zação do processo. maio de 2006. Altera dispositivos da Delibera-
das na NBR 7229 (ASSOCIAÇÃO BRA- Diante desse quadro e considerando o ção Normativa COPAM no 74, de 9 de setembro
SILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1993). desenvolvimento de técnicas modernas, de 2004 e dá outras providências. Minas Ge-
Entretanto, tal sistema não é recomendado novos equipamentos e procedimentos de rais, Belo Horizonte, 5 maio 2006. Diário do
para locais onde o lençol freático apresenta- comprovada eficiência no tratamento e Executivo.
se pouco profundo, evitando-se, assim, sua disposição final dos resíduos sólidos e
FREIRE, W.; CORTEZ, L. Vinhaça de cana-de-
possível contaminação. efluentes líquidos gerados pelo processo
açúcar. Guaíba: Agropecuária, 2000. 203p.
de produção de açúcar e álcool, pode-se
(Série Engenharia Agrícola).
CONSIDERAÇÕES FINAIS considerar que a evolução do setor sucro-
MARQUES, M.O.; MARQUES, T.A.; TASSO
alcooleiro segue ao encontro de pressu-
As atividades industriais encontram-se JUNIOR, L.C. Tecnologia do açúcar: produção
postos do desenvolvimento sustentável,
diretamente relacionadas com as questões e industrialização de cana-de-açúcar. Jaboticabal:
desde que consideradas e adotadas as me-
ambientais, devendo-se, portanto, con- FUNEP, 2001. 166p.
didas de controle ambiental necessárias à
siderar os pontos negativos e positivos
minimização dos impactos advindos da MAZZINI, A. Dicionário educativo de termos
com relação ao meio ambiente e à popu-
operação desses empreendimentos. ambientais. 2.ed. Belo Horizonte, 2004. 384p.
lação circunvizinha. A interação desses ele-
mentos compõe a base do desenvolvimen- NOVAES, W. (Coord.). Agenda 21 brasileira:
REFERÊNCIAS
to sustentável. bases para discussão. Brasília: MMA/PNUD,
Seguindo essa premissa, todas as for- ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS 2000. 192p.
mas de exploração de recursos naturais de- TÉCNICAS. NBR 7229: projeto, construção e SPERLING, M. von. Introdução à qualidade
vem priorizar a minimização dos impactos operação de sistemas de tanques sépticos. Rio das águas e ao tratamento de esgotos. 3.ed.
ambientais e maximizar os benefícios sociais de Janeiro, 1993. Belo Horizonte: UFMG-Departamento de Enge-
e econômicos. _______. NBR 8419: apresentação de projetos nharia Sanitária e Ambiental, 2005. 452p.
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INTRODUÇÃO As pastagens, no período da seca, mais de 200 toneladas de massa verde por
A cana-de-açúcar (Saccharum spp.) é apresentam-se escassas e deficientes em hectare e sua renovação torna-se neces-
um dos volumosos mais utilizados pelos energia, proteína e minerais, ao passo que sária somente a partir do quarto ou quinto
pecuaristas por apresentar facilidade de a cana madura, nessa mesma época do ano, ano. Apresenta boa aceitabilidade pelos
estabelecimento, produção por vários anos, contém mais de 31% de sacarose na maté- animais, além de ter custo de produção
alta produtividade de matéria seca e valor ria seca (MS), o que a torna, uma alterna- relativamente baixo (THIAGO; VIEIRA,
nutritivo praticamente inalterado durante tiva viável para a alimentação de bovinos, 2002). À medida que a cana amadurece, os
a seca. nos países tropicais. A cana pode produzir teores de fibra em detergente neutro (FDN)
1
Zootecnista, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTTP, Bolsista Fapemig, Caixa Postal 351, CEP 38001-970 Uberaba-MG. Correio eletrônico: edilane@epamig
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2
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5
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e fibra em detergente ácido (FDA) reduzem- ganismos ruminais sobre esses carboidra- O valor nutritivo da cana-de-açúcar
se, contrariamente ao observado para as tos. Segundo Soest (1994), em ruminantes, está diretamente correlacionado com o seu
demais forrageiras. Esse declínio pode ser a fibra é responsável pela grande variação alto teor de açúcar (40%-50% de açúcares
explicado pela redução do percentual dos na digestibilidade dos alimentos volumo- na MS), já que o teor de proteína é extre-
constituintes da parede celular em decor- sos, pois na maioria das vezes seu teor mamente baixo, além de apresentar baixa
rência do acúmulo de carboidratos solú- apresenta relação negativa com a digesti- degradabilidade da fibra.
veis na fase que precede a sua maturação bilidade. A cana-de-açúcar pode apresentar va-
(FREITAS et al., 2006c). A lignina pode ser considerada o fator lores de MS de 23,66% a 32,54%; de FDN
primário a limitar o potencial de digestão de 37,03% a 56,25% (aos 12 meses) e de
CARACTERIZAÇÃO E UTILIZAÇÃO dos carboidratos fibrosos, onde está qui- 44,06% a 65,73% (aos 18 meses) e de carboi-
DA CANA-DE-AÇÚCAR micamente ligada, pois apresenta baixa ou dratos não estruturais de 26,59% a 65,12%
Atualmente, muitas das lavouras de nula digestibilidade. A função física da lig- (aos 12 meses) e de 25,56% a 53,85% (aos
cana-de-açúcar destinadas ao uso forra- nina é favorecer a rigidez da parede celular, 18 meses). Pode-se inferir que o aumento
geiro apresentam baixa produtividade, da mesma forma que as características de do conteúdo celular, proporcionado pelo
devido a não aplicação das tecnologias suas ligações químicas com os polissacarí- acúmulo de sacarose em relação aos cons-
disponíveis, usadas na cultura da cana-de- deos estruturais, conhecidas como fração tituintes da parede celular, resulta em maior
açúcar destinada à agroindústria, o que lignocelulósica, inibem a atividade enzi- teor de açúcar e, conseqüentemente, em
onera o seu custo de produção. Destaca- mática, limitando a digestão dos carboidra- maior digestibilidade da planta, à medi-
se também o baixo investimento que se faz tos. da que ela amadurece (ANDRADE et al.,
em desenvolvimento de tecnologias ade- Como principal componente químico 2004).
quadas ao cultivo da cana-de-açúcar, para que afeta a digestibilidade da matéria seca, A variedade mais adequada para a ali-
fins forrageiros (LANDELL et al., 2002). apresentam-se várias hipóteses que expli- mentação de ruminantes deveria apresen-
É preconizado que a melhor variedade cam o seu efeito na digestibilidade. Entre tar FDN abaixo de 52% na MS, relação
de cana-de-açúcar para a indústria de açú- estas, estão seu efeito tóxico aos microrga- FDN/Brix inferior ou igual a 2,7 e propor-
car é também a mesma para alimentação dos nismos fibrolíticos, a limitação da ação das ção de colmos superior a 80% na MS da
bovinos, visto que o açúcar contido na ca- enzimas fibrolíticas criada pela hidrofobici- planta, com alto teor de açúcar.
na é a principal fonte de energia para esses dade, resultante da deposição dos políme- No entanto, a FDN da cana-de-açúcar
animais. Contudo, a escolha da variedade ros de lignina com a maturidade da planta, tem digestibilidade em torno de 20%, en-
correta deve ser feita considerando as se- e a do impedimento causado pela ligação quanto outras gramíneas tropicais, como o
guintes características: produção de MS polissacarídeo-lignina, o que limita o aces- milho e o capim-elefante, apresentam valo-
(cana-planta e soca), facilidade de colhei- so das enzimas, sendo esta a hipótese mais res em torno de 40% (PEREIRA, 2006). O va-
ta e qualidade nutritiva, observando-se não aceita (JUNG; DEETZ, 1993). lor médio de FDN relatado por Valadares
somente seu teor de açúcar, como a quali- O valor nutritivo das plantas para os Filho et al. (2002) foi de 55,90 ± 8,2, na base
dade da fibra e a relação entre teor de fibra animais está relacionado à qualidade da da MS obtida de 39 observações. Estes va-
e o teor de sacarose. Na seleção de varie- forragem, à digestibilidade e ao consumo lores mostram que, entre os volumosos mais
dades para a indústria, não se observa a de alimentos, que determinam o suprimen- utilizados na alimentação de ruminantes, a
qualidade da fibra da planta, o que afeta de to de nutrientes para os diferentes proces- cana-de-açúcar é uma das opções que apre-
maneira acentuada o valor nutritivo da sos fisiológicos do animal. A qualidade de senta menor teor de FDN, em comparação
cana-de-açúcar para bovinos (FREITAS uma forrageira varia dentro de uma mes- aos valores médios encontrados para sila-
et al., 2006b). ma espécie de acordo com a idade e parte gem de milho, silagem de sorgo e capim-
O principal fator que reduz o consumo da planta, fertilidade do solo, entre outros elefante de 55,46%; 57,85% e 73,25% na
voluntário da cana-de-açúcar é a baixa de- (SOEST, 1994). base da MS, respectivamente.
gradabilidade de sua fibra no rúmen, o que A cana-de-açúcar é classificada como Apesar de o teor de fibra ser baixo na
provoca acúmulo de fibra não degradada, um volumoso de média qualidade. Apre- cana-de-açúcar, a fração fibrosa apresenta
limitando o consumo por repleção rumi- senta cerca de 58% a 62% de nutrientes baixa taxa e extensão de degradação, ou
nal. A baixa digestibilidade da FDN da digestíveis totais (NDT), mas com baixos seja, sua digestibilidade é baixa, provo-
cana-de-açúcar está relacionada à alta con- teores de proteína bruta (PB), de 1,5% a cando acúmulo de fibra no rúmen, limitando
centração de lignina e à sua ligação com 4,0%, e fósforo de 0,06% a 0,08%, além de o consumo de alimentos e o desempenho
carboidratos estruturais (hemicelulose e apresentar baixos teores de precursores dos bovinos.
celulose), o que dificulta a ação de micror- gliconeogênicos. Os açúcares presentes na cana-de-
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açúcar são os responsáveis principais pe- específica para avaliar o teor de sacarose conseqüentemente, o consumo de energia.
lo fornecimento de energia e, conseqüen- presente na cana-de-açúcar, porque o Brix Rodrigues et al. (2002) encontraram na
temente, pelo desempenho animal (RO- inclui, além da sacarose (Pol), açúcares re- avaliação de 18 variedades de cana-de-
DRIGUES et al., 2002). Hoje, já existem no dutores e não-açúcares. À medida que a açúcar, valores para relação FDN/Brix que
mercado variedades de cana-de-açúcar planta amadurece, ocorre aumento nos variaram de 2,9 a 4,1. O valor de 3,02 foi
para alimentação animal que apresentam valores de Brix e da Pol (AZEVÊDO et al., sugerido como o de referência para relação
alta produtividade de massa verde, adequa- 2003). Os valores médios de Brix devem FDN/Brix. Esses autores observaram que,
do teor de açúcares e fibras, além de porte variar de 17% a 23%. A relação entre o teor quanto menor a relação FDN/Brix, maior
ereto de touceiras, uniformidade biométrica de fibra e Brix é importante na avaliação e será a digestibilidade in vitro de matéria
dos colmos, período de utilização mais escolha da variedade a ser utilizada na ali- seca (DIVMS).
longo, resistência às doenças e às pragas mentação animal. Dentre os fatores que afetam a quali-
de importância econômica (LANDELL et A relação FDN/Brix pode servir para dade da cana-de-açúcar como alimento para
al., 2002). indicar as variedades para alimentação de bovinos podem-se citar: variedade, idade
O Brix é uma das medidas para avaliar o ruminantes. Esta relação deve ser baixa, ou da planta e a precipitação.
teor de carboidratos não fibrosos, sendo a seja, quanto menor o teor de FDN e maior o Existem variações consideráveis entre
variável mais utilizada como indicativo do teor de açúcar, melhor a variedade para a variedades, na composição química, de
teor de açúcar da cana-de-açúcar. A deter- alimentação. A variedade que apresenta cana-de-açúcar (Quadro 1), principalmen-
minação da Pol (porcentagem de sacaro- elevado teor de FDN limitará em determi- te para o teor de MS, FDN, lignina e teores
se aparente contida no caldo) seria mais nado grau a ingestão de cana-de-açúcar e, de açúcares totais. O ideal seria utilizar va-
QUADRO 1 - Características produtivas e teores percentuais médios de MS, PB, EE, FDN, FDA, CT, lignina, hemicelulose, PIDN, PIDA, NDT, DIVMS
e relação FDN/CS, para variedades de cana-de-açúcar
Hemice-
MS PB EE FDN FDA CT Lignina PIDN PIDA NDT DIVMS
Variedade lulose FDN/CS Fonte
(%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%)
(%)
IAC86-2480 20,14 – – 57,06 34,34 – 11,11 22,52 – – – – 1,41 Freitas et al. (2006b)
SP80-1842 27,40 2,80 0,70 43,80 25,20 95,20 17,10 18,60 27,00 10,80 55,80 – – Azevêdo et al. (2003)
30,97 2,26 1,23 46,99 27,96 94,09 5,02 – – – – – – Magalhães et al. (2006)
SP79-1011 26,38 – – 53,45 31,84 – 11,69 21,61 – – – – 1,21 Freitas et al. (2006b)
30,20 2,40 0,70 47,60 27,20 95,80 12,20 20,40 30,90 10,90 51,50 – – Azevêdo et al. (2003)
SP80-1816 26,19 – – 53,45 32,03 – 12,64 21,42 – – – – 1,26 Freitas et al. (2006b)
SP91-1049 25,44 _ _ 54,74 33,00 _ 13,09 21,74 – – – – 1,37 Freitas et al. (2006b)
SP78-4764 24,86 2,77 0,80 57,02 31,94 93,81 5,93 _ _ _ 62,05 _ – Vilela et al. (2003)
RB84-257 30,20 2,40 0,80 47,60 27,80 95,90 14,70 19,80 30,90 11,40 52,50 _ – Azevêdo et al. (2003)
RB72-454 23,42 – – 55,46 32,24 – 11,68 23,22 – – – – 1,37 Freitas et al. (2006b)
RB83-5486 20,80 – – 53,53 30,18 – 10,63 23,35 – – – – 1,19 Freitas et al. (2006b)
RB86-7515 25,40 – – 55,64 33,47 – 9,97 22,17 – – – – 1,32 Freitas et al. (2006b)
RB93-5566 20,80 – – 57,82 35,39 – 12,48 22,43 – – – _ 1,72 Freitas et al. (2006b)
RB78-5841 31,91 3,37 – 47,21 35,95 – 6,90 – – – – 55,31 – Pedroso et al. (2006)
(1)
RB85-5536 26,00 2,90 – 53,00 30,50 – 10,70 22,50 – – – 69,40 – Freitas et al. (2006c)
(2)
RB85-5536 28,60 2,60 – 36,20 23,60 – 15,20 12,60 – – – 77,50 – Freitas et al. (2006a)
NOTA: MS – Matéria seca; PB – Proteína bruta; EE – Extrato etéreo; FDN – Fibra em detergente neutro; FDA – Fibra em detergente ácido; CT – Carboidratos
totais; PIDN – Proteína insolúvel em detergente neutro; PIDA – Proteína insolúvel em detergente ácido; NDT – Nutrientes digestíveis totais; DIVMS – Di-
gestibilidade in vitro de matéria seca; CS – Carboidratos solúveis.
(1) Corte realizado aos 11 meses. (2) Corte realizado aos 16 meses.
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riedades com menor relação fibra:açúcar entre os teores de FDN e de FDA dos ali- indigestível, estando geralmente associado
(LANDELL et al., 2002). Andrade et al. mentos e seu valor nutricional (AZEVÊDO à lignina e a outros compostos de difícil
(2004), ao avaliarem 60 genótipos de cana- et al., 2003; FERNANDES et al., 2003). degradação (SOEST, 1994).
de-açúcar em duas épocas de corte, encon- Portanto, quanto mais madura for a cana- É importante ressaltar a eficiência da
traram maiores teores de MS para os genó- de-açúcar, menor será o conteúdo de FDN, cana-de-açúcar na utilização do nitrogênio
tipos colhidos aos 12 meses em relação aos maior será o teor de açúcar e melhor o seu aplicado na cultura, em termos de produ-
18 meses, 30,60% e 25,88%, respectivamen- valor para a alimentação animal. ção de matéria seca. Segundo Nussio et al.
te. O teor de PB dos genótipos cortados Com o início da estação chuvosa, o teor (2002), a cana-de-açúcar apresenta o maior
aos 12 meses (2,59%) foi maior que aque- de carboidratos solúveis na planta diminui. potencial de produção de MS, por quilo-
le dos genótipos cortados aos 18 meses Nessa época o valor nutritivo da cana-de- grama de N aplicado, e extrai menor quan-
(2,34%) e os teores de carboidratos totais açúcar é menor, assim, sua melhor utiliza- tidade de N por tonelada produzida, em
não estruturais foram menores nos genó- ção será no período seco (LANDELL et al., relação a outras forrageiras (Quadro 2).
tipos colhidos aos 18 meses. 2002). Além disso, a cana-de-açúcar destaca-se
Variedades de cana-de-açúcar de ciclo Segundo Freitas et al. (2006b), as variá- ainda por apresentar menor custo de pro-
médio apresentam valores de NDT maiores veis FDN, fração indegradável da FDN, dução frente às silagens de milho e sorgo.
do que os das variedades precoces. Isto hemicelulose, taxa de degradação dos car- A presença de carboidratos solúveis em
pode ser atribuído à sua menor concen- boidratos totais e taxa de degradação da grande quantidade pode ocasionar maior
tração em FDA, uma vez que a lignina FDN são parâmetros que podem ser uti- produção de metano (CH4) no rúmen. O me-
concentra-se na fração desta. Esta variável lizados para avaliação nutricional da cana- tano é um importante gás que contribui para
tem sido altamente correlacionada com a de-açúcar. o efeito estufa. A suplementação da dieta
digestibilidade do alimento, além do mais, Além dos baixos teores de PB regis- com base em cana-de-açúcar com alimen-
variedades de ciclo médio apresentam me- trados para a cana-de-açúcar, boa parte dos tos concentrados garante melhor eficiên-
nores valores de FDN do que as precoces, compostos nitrogenados desse volumoso cia energética das dietas (PEDREIRA et al.,
o que acarreta menor efeito negativo sobre encontra-se ligada à parede celular, na for- 2003).
o consumo (FERNANDES et al., 2003). ma de nitrogênio insolúvel em detergente Pedreira et al. (2003) quantificaram a
As variedades precoces atingem a ma- neutro e de nitrogênio insolúvel em deter- produção de metano em novilhas mestiças
turidade mais cedo e culminam com o mais gente ácido (CARDOSO et al., 2004). O ni- leiteiras alimentadas com a variedade de
rápido desenvolvimento de estruturas de trogênio insolúvel em detergente neutro cana-de-açúcar IAC86-2480, suplementada
sustentação, que são constituídas pelos (NIDN), mas solúvel em detergente ácido, com uréia ou concentrado. Observaram que
polissacarídeos da parede celular. Esse fa- é digestível, sendo, porém, de lenta degra- os animais que consumiram cana-de-açúcar
to torna as variedades de maturação inter- dação no rúmen, enquanto o nitrogênio (N) IAC86-2480, mais concentrado, produzi-
mediárias mais apropriadas ao consumo retido na forma de nitrogênio insolúvel em ram maiores quantidades de metano (2,18
pelos animais, devido à correlação negativa detergente ácido (NIDA) é praticamente Mcal/dia), que aqueles que consumiram as
QUADRO 2 - Parâmetros relacionando teores de nitrogênio e produção de MS de forrageiras utilizadas na suplementação animal, como forragens
conservadas
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dietas com a cana-de-açúcar IAC86-2480, quando chega ao rúmen, libera amônia, que, bém o são para os microrganismos do rú-
mais uréia, (1,48 Mcal/dia). combinada com os produtos da digestão men.
Aliada às suas características favorá- dos carboidratos, formará a proteína micro- Por outro lado, sabe-se que o forneci-
veis, pode-se inferir que a cana, após a co- biana. mento de sal mineral em cochos, à vontade,
lheita, pode ficar armazenada em até 4,5 dias A mistura recomendada é de 90% de apresenta restrição de que a quantidade
pós-corte, porém, após o 3o dia, ocorre dimi- uréia e 10% de sulfato de amônio, sendo consumida por animal é variável e não está
nuição no seu teor energético (OLIVEIRA aplicada na base de 1 kg para cada 100 kg relacionada aos respectivos requerimentos
et al., 1999). O tempo de 4,5 dias indicou de cana-de-açúcar fresca picada. Na fase nutricionais (MCDOWELL,1996).
uma queda acentuada no teor de sacarose de adaptação, durante uma semana, usar Com base nesse fato e nos baixos teo-
em relação aos sólidos solúveis totais e, apenas 0,5 kg da mistura para os mesmos res de minerais da cana, foi proposta a inclu-
a partir dos três dias de armazenamento, 100 kg de cana-de-açúcar picada. Para apli- são de minerais na mistura cana, uréia e
houve maior teor de açúcares redutores, o car a mistura, distribuir a cana-de-açúcar sulfato de amônio. A vantagem dessa re-
que demonstrou a ocorrência da transfor- no cocho e com regador, aplicar de maneira comendação é proporcionar uma inges-
mação de sacarose em glicose e frutose. uniforme a mistura uréia + sulfato de amô- tão balanceada de minerais ao bovino, em
Esta informação permite administrar a mão- nio, diluída na base de um quilo para 3 a quantidade desejada pelo produtor. Isto
de-obra no corte da cana. É importante res- 4 litros de água. Os animais que estiverem não seria possível, se a mistura balanceada
saltar que a cana pode ficar cortada para consumindo cana-de-açúcar mais uréia/ para cana fosse colocada à vontade no
uso até por três dias, porém sem ser pica- sulfato de amônio devem ter sempre livre cocho, pois, além do consumo variável por
da, o que é feito somente no momento da acesso à mistura mineral e à água. A mis- animal, haveria a limitação da palatabili-
alimentação dos bovinos. tura uréia + sulfato de amônio pode ser dade da mistura.
armazenada nos próprios sacos de uréia, A fórmula dessa mistura elaborada
BALANCEAMENTO logo após a mistura, desde que a boca do na EPAMIG e denominada Nitromineral
NUTRICIONAL DE DIETAS saco permaneça bem amarrada, pois a uréia Epamig Cana é: uréia – 55%; sulfato de
COM CANA-DE-AÇÚCAR absorve muita umidade e pode endure- amônio – 6%; fosfato bicálcico – 14%; sal
PARA BOVINOS
cer. mineral – 20% e sal comum – 5%. Esta
As deficiências de proteína e minerais, A utilização da mistura uréia + sulfa- fórmula é fornecida, misturada à cana fresca,
em relação às exigências dos bovinos, to de amônio pode resultar em ganhos de na base de 14 g/kg de volumoso.
observadas na cana-de-açúcar, podem ser até 300 g/cab./dia. Quando se almejam ga- A substituição de parte do nitrogênio
corrigidas de maneira adequada, desde que nhos superiores, na faixa de 500 g/cab./dia, da uréia por nitrogênio de fontes de proteí-
fontes de nitrogênio protéico ou não pro- devem-se acrescentar concentrados pro- na natural resulta em significativo aumento
téico sejam fornecidas, acrescidas de suple- téicos, que irão atender às exigências nutri- no desempenho dos bovinos, recebendo
mentação mineral. cionais do animal. Para animais em confina- cana como volumoso (FERREIRA, et al.,
mento, com ganhos entre 600 e 700 g/cab./ no prelo).
Cana/uréia/sulfato de amônio dia, torna-se necessário o uso de misturas Outra fórmula denominada Nitropro-
A cana-de-açúcar deve ser fornecida protéicas/energéticas, fornecidas na base téico Epamig Cana é: farelo de soja – 83%;
para bovinos juntamente com uma fonte de até 2,5 kg por animal/dia. Entretanto, uréia – 5,2%; sulfato de amônio – 0,6%;
de nitrogênio, sendo a uréia a mais utili- nessa situação, o retorno econômico tem calcário – 1,2%; fosfato bicálcico – 2%; sal
zada. A uréia possui 45% de nitrogênio e que ser previamente estudado, pois a cana- mineral – 6,4% e sal comum – 1,6%. Esta
apresenta equivalente protéico superior a de-açúcar apresenta uma baixa conversão fórmula é misturada à cana fresca na base
280% de PB, sendo quase sempre uma fonte alimentar, não se tornando uma estratégia de 50 g/kg.
de nitrogênio de menor custo. A utilização ideal para determinadas situações. Os resultados do experimento condu-
do sulfato de amônio se faz necessária co- zido com bezerros 3/4 Zebu x Holandês,
mo fonte de enxofre, para síntese micro- Concentrados EPAMIG que comparou a cana acrescida de uréia e
biana de aminoácidos sulfurados no rúmen. Outra forma de fornecer a cana-de- sulfato de amônio e minerais fornecidos no
As bactérias ruminais que degradam a fra- açúcar para bovinos é recomendada por cocho, com Nitromineral Epamig Cana e
ção fibrosa utilizam o nitrogênio amoniacal Ferreira et al. (no prelo). Além dos baixos Nitroprotéico Epamig Cana, são apresenta-
como principal fonte de nitrogênio para seu teores de proteína e enxofre, a cana tam- dos no Quadro 3.
crescimento, sendo a uréia a forma mais bém é pobre em fósforo, magnésio, zinco e No Quadro 3, observa-se que o forne-
simples e barata de corrigir a deficiência de cobre. Estes minerais, além de serem impor- cimento dos minerais, concomitantes com
nitrogênio da cana-de-açúcar. A uréia, tantes para a nutrição dos bovinos, tam- a uréia e o sulfato de amônia, resultou em
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QUADRO 3 - Ganho de peso, consumo de matéria seca (MS), proteína bruta (PB) e minerais por riências que comprovam que a cana-de-
bezerros, que receberam cana-de-açúcar suplementada com uréia + sulfato de amô- açúcar é viável também para animais de alta
nio e sal mineral no cocho – Nitromineral Epamig e Nitroprotéico Epamig produção.
Sal mineral Segundo Pereira (2006), a utilização da
Nitromineral Nitroprotéico
Item no cana-de-açúcar na alimentação de bovinos
Epamig Epamig
cocho leiteiros especializados é viável, apesar da
Bezerros (no) 11 12 12 possibilidade de depressão do consumo e
Dias (no) 140 140 140
da produção de leite de animais com alta
demanda nutricional. Estrategicamente, a
Idade (meses) 11,9 11,5 11,8
cana-de-açúcar deve ser utilizada na recria,
Peso vivo inicial (kg) 203,2 203,7 203,2
em vacas não lactantes, em vacas em lac-
Peso vivo final (kg) 229,5 239,8 278,5
tação com menor demanda nutricional e,
(1)
Ganho médio diário (kg) (G) 0,188a 0,258b 0,538c
em baixas inclusões na dieta de vacas de
Consumo (kg/cab./dia) maior produção.
MS (M) 3,29 3,33 4,81 Rodrigues et al. (2002), ao avaliarem qua-
(2)
PB (P) 0,42 0,37 0,52
tro variedades de cana-de-açúcar, durante
118 dias, em novilhas da raça Canchim, com
(3)
Conversão (kg) média de peso vivo inicial de 219,1 kg e
M/G 17,5 12,9 8,94 12,3 meses de idade, confinadas em baias
P/G 2,23 1,43 0,97 coletivas, observaram que as variedades
com relação FDN/açúcares menores e maio-
Consumo de minerais (g/cab./dia)
res valores de DIVMS permitiram maiores
Sal mineral
ganhos de peso das novilhas em cresci-
Via cocho 80 – –
mento (Quadro 4).
Via concentrado – 34 41
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QUADRO 4 - Teores de matéria seca (MS) de quatro variedades de cana-de-açúcar, peso vivo Corrêa et al. (2003), ao compararem a
inicial, média diária de consumo de matéria seca (CDMS), média diária de ganho de cana-de-açúcar com silagem de milho em
peso vivo (GDPV) e conversão alimentar (CA) de novilhas alimentadas com dietas dietas para vacas leiteiras holandesas de
que continham quatro variedades de cana-de-açúcar alta produção, observaram produção de lei-
Variedade
te de 34,3 kg/dia contra 31,9 kg/dia. Apesar
Parâmetro disso, a produção obtida com a cana-de-
IAC86-2480 IAC87-3184 RB72-454 RB83-5486 açúcar foi considerada promissora. Esses
Teor de MS (%) 28,13 31,36 30,69 31,01
autores ressaltaram que a cana-de-açúcar
parece ser uma boa opção para alimentar
Peso vivo, inicial (kg) 215,50 216,30 221,80 222,80
animais de alta produção de leite, desde
CDMS (kg) 6,84 6,60 7,08 7,18 que a fase de lactação, na qual os animais
CDMS (% PV) 2,70 2,71 2,79 2,79 se encontram, não exija demanda nutricio-
GDPV (kg/animal/dia) 0,89a 0,65c 0,76b 0,82ab
nal máxima.
Ao avaliarem proporções de cana-de-
CA (kg MS/kg de ganho) 7,68 10,15 9,32 8,75
açúcar na ração (50% e 60%) em combi-
FONTE: Rodrigues et al. (2002). nação com teores de uréia (0,35% e 1% na
matéria natural da cana-de-açúcar), compa-
radas com silagem de milho com relação vo-
ção, com potencial de produção de 5 mil a leite (20,81 e 19,78 kg/dia), consumo de MS lumoso: concentrado de 60:40, Mendonça
7 mil kg de leite, observaram que o efeito da maior parte dos nutrientes, digestibili- et al. (2004) observaram que não houve
redutor no consumo da cana-de-açúcar não dade aparente da maioria dos nutrientes e efeito dos teores de uréia sobre o desem-
está diretamente relacionado com o teor de variação de peso, entre a dieta com 60% de penho e a composição do leite das vacas
FDN das dietas. Este componente diminui silagem em relação à dieta com 40% de cana- lactantes. As produções de leite das vacas
com o aumento da proporção de cana-de- de-açúcar. Para composição do leite, não alimentadas com cana-de-açúcar foram
açúcar. Segundo esses autores, o maior foram observadas diferenças entre os trata- similares, independente do nível de uréia
conteúdo de lignina na cana-de-açúcar po- mentos (Quadro 5). Segundo esses autores, ou da relação volumoso: concentrado, no
de ter afetado a proporção de FDN indi- a elevada participação de concentrado na entanto, foram menores que a produção de
gestível, além da taxa e da extensão da di- dieta com 40% de cana-de-açúcar não deve leite das vacas alimentadas com silagem
gestão da FDN, potencialmente digestível ser vista como obstáculo ao seu uso, sendo de milho (22 contra 20 kg/dia).
das dietas. que a decisão sobre sua utilização passa a Comparando diferentes suplementos
Magalhães et al. (2004), ao avaliarem a ser de ordens agronômica e/ou econômica. (farelo de algodão, milho e farelo de trigo),
substituição de silagem de milho por cana-
de-açúcar, em dietas completas para vacas
em lactação as quais produziam, em média, QUADRO 5 - Produção de leite sem (PL) e com (PLC) correção para 3,5% de gordura e composição
24 kg de leite por dia, concluíram que a média do leite para proteína bruta (PBL), gordura (GL), lactose (LA) e extrato seco
inclusão de 33,3% de cana-de-açúcar no total (EST)
volumoso foi técnica e economicamente
Cana-de-açúcar + 1% uréia/SA
viável. Já níveis maiores foram inviáveis, Silagem de
Item CV
pois a substituição destes níveis de cana- milho 60% 50% 40%
de-açúcar por silagem de milho influenciou
PL (kg/dia) 20,81a 16,90c 18,82b 19,78ab 8,55
negativamente a produção de leite e a va-
riação de peso corporal dos animais. PLC (kg/dia) 21,22a 16,76b 17,52b 19,79ab 14,74
Ao analisarem o desempenho produ- PBL (%) 3,65a 3,63a 3,70ª 3,73a 5,88
tivo de vacas leiteiras com potencial para GL (%) 3,61a 3,45a 3,25ª 3,47a 16,04
produção média de 6 mil kg de leite por
LA (%) 4,07a 4,12a 4,22ª 4,16 7,28
lactação, alimentadas com diferentes pro-
porções de cana-de-açúcar (60%; 50% e EST (%) 12,51a 12,14a 12,22 12,69a 5,95
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para vacas mestiças em lactação (produção ou não com amônia anidra, observaram que interfere no rendimento da carcaça.
média diária de 8,5 kg de leite) alimentadas ganhos de pesos para os animais tratados A porcentagem de quebra no resfriamen-
com cana-de-açúcar, Vilela et al. (2003) com palhada de arroz + uréia, silagem de to, conformação e comprimento da carcaça,
encontraram que o farelo de trigo foi o suple- sorgo e cana-de-açúcar + uréia de 1,25; 1,42 espessura de gordura subcutânea, área de
mento que apresentou os melhores resul- e 1,11 kg/dia, respectivamente, os quais não Longissimus dorsi, cor e marmoreio tam-
tados para produção e composição do leite, diferiram entre si. bém foram similares entre os tratamentos.
consumo de MS, digestibilidade dos nu- Vaz e Restle (2005), ao avaliarem as Porém, nesse experimento as carcaças dos
trientes e eficiência alimentar. De acordo características de carcaça e da carne de no- animais alimentados com silagem de milho
com esses autores, as rações que conti- vilhos Hereford terminados em confina- apresentaram maior porcentagem de mús-
nham maiores quantidades de uréia, cana- mento por 112 dias, alimentados com dietas culo e menor de gordura, quando compa-
de-açúcar mais uréia e cana-de-açúcar mais com 67% de cana-de-açúcar ou silagem de radas com a dieta contendo cana-de-açúcar.
uréia e milho apresentaram menores con- milho, observaram maior peso de abate nos Segundo esses autores, carcaças com maior
sumos, devido à baixa palatabilidade da animais alimentados com silagem de milho quantidade de músculo e menor de gordura
uréia. em relação aos alimentados com cana-de- são ideais, pois a toalete feita nesta é me-
Ao analisarem o impacto bioeconômico açúcar (446 contra 421 kg). nos acentuada, diminuindo o desperdício
da substituição da silagem de milho pela No entanto, Vaz e Restle (2005) não obser- e aumentando o rendimento de carcaça.
cana-de-açúcar, durante o período seco, em varam diferenças entre cana-de-açúcar e Além do mais, o mercado consumidor pre-
dietas de vacas em lactação, com produ- silagem de milho para rendimento de carca- fere carnes com menos gordura, devido à
ção média de 6 mil kg de leite, Oliveira et al. ça fria (50,10% contra 51,50%), quebra du- relação entre a gordura consumida pelas
(2004) observaram que a utilização da cana- rante o resfriamento (1,45% contra 1,31%) pessoas e problemas cardiovasculares.
de-açúcar como único volumoso propor- e porcentagem dos cortes comerciais da
cionou ganhos de escala de produção e de carcaça. O comprimento de carcaça foi maior UTILIZAÇÃO DE ADITIVOS
margem bruta anual. nos novilhos alimentados com silagem de NA CANA-DE-AÇÚCAR
Contudo, ressalvas devem ser feitas milho (122 contra 125 cm), mas a fonte de Existem substâncias químicas utiliza-
com relação ao excesso de concentrado na volumoso não afetou a conformação de das para o tratamento de forragens, com
dieta, quando se utiliza a cana-de-açúcar carcaça (9,33 contra 9,67 pontos), espes- alto teor de FDN, o que ocorre principalmen-
como volumoso, apesar de o aumento de sura de gordura de cobertura (5,17 contra te quando estas se encontram em idades
concentrado na dieta proporcionar maior 4,91 mm), área de Longissimus dorsi (56,4 avançadas ou apresentam baixa digestibi-
aporte de matéria orgânica digestível, o que contra 59,7 cm2), assim como as porcenta- lidade, como é o caso da cana-de-açúcar.
aumenta o consumo de MS e, por conse- gens de músculo (64,2% contra 63,3%) e Estas substâncias melhoram a digestibili-
guinte, atende às exigências energéticas osso (16,0% contra 14,7%) na carcaça. Ani- dade e a disponibilidade de nutrientes do
do animal. Seu excesso pode causar diver- mais alimentados com silagem de milho alimento para os animais. As substâncias
sos distúrbios metabólicos, como conse- apresentaram maior porcentagem de gor- mais utilizadas para o tratamento de ma-
qüência do rápido abaixamento do poten- dura na carcaça (23,2% contra 20,6%). Não teriais fibrosos são o hidróxido de sódio
cial hidrogeniônico (pH) ruminal, que pode houve diferença nas características cor, (NaOH), hidróxido de cálcio (CaOH2), hi-
causar desde acidoses subclínicas até ca- textura, marmoreio, força de cisalhamento, dróxido de potássio, amônia anidra (NH3)
sos mais severos, levando o animal à mor- maciez e quebra na cocção da carne para e óxido de cálcio (CaO).
te. Além do mais, o custo do concentrado os diferentes volumosos. Os álcalis promovem ataque hidrolítico
normalmente é alto, sendo economicamen- Brondani et al. (2006), ao avaliarem o nas ligações covalentes do tipo éster entre
te inviável, quando utilizado em elevadas efeito da cana-de-açúcar ou da silagem de a lignina e a parede celular das gramíneas,
proporções (COSTA et al., 2005). milho sobre as características das carcaças que são particularmente suscetíveis a este
de novilhos confinados observaram maior ataque (SOEST, 1994). Os produtos alca-
CANA-DE-AÇÚCAR E URÉIA PARA
rendimento de carcaça fria para a dieta com linos solubilizam a hemicelulose e aumen-
ANIMAIS EM CONFINAMENTO
silagem de milho em relação à cana-de- tam a digestibilidade da celulose e da hemi-
Cardoso et al. (2004), ao avaliarem o açúcar (52,24% contra 50,38%), atribuindo celulose, pela expansão da fração fibrosa.
desempenho de novilhas Simental com pe- o fato à maior digestibilidade da silagem O NaOH apresenta superioridade, em
so vivo médio de 400 kg, confinadas du- de milho em relação à cana-de-açúcar, que relação ao hidróxido de amônio (NH4OH),
rante 88 dias, utilizando silagem de sorgo, ocasionou maior volume ruminal, devido a ao deslignificar o volumoso. Provavelmen-
cana-de-açúcar e palhada de arroz tratada sua maior permanência no trato digestivo, te isto ocorre, porque o NaOH é mais forte
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que o NH4OH (MANZANO et al., 2000). celular, baixa densidade energética e pobre vivo inicial de 257 kg e 9 meses de idade,
O NaOH é uma das substâncias mais efi- em proteína e minerais. Constitui um vo- confinados e alimentados com bagaço de
cientes no tratamento de volumosos que lumoso de baixo valor nutritivo e de baixo cana-de-açúcar in natura, como único
apresentam baixa qualidade, no entanto, potencial de utilização na alimentação ani- volumoso em três níveis 9%, 15% e 21% da
essas dietas apresentam alto teor de sódio mal, contudo, seu uso será eficiente, se o MS, observaram que animais alimentados
e podem contaminar o ambiente, uma vez valor nutritivo for melhorado pelo trata- com 15% de bagaço apresentaram maior
que aparece em alta concentração na urina mento físico ou químico. consumo de MS e ganho de peso vivo (7,93
e fezes dos animais que receberam esse ali- O desenvolvimento de métodos de tra- e 1,36 kg/dia), do que animais alimentados
mento. tamento que permitam o rompimento da com 9% de MS (6,85 e 1,20 kg/dia).
O tratamento da cana-de-açúcar com estrutura fibrosa, permitindo maior ataque Ao avaliarem dietas de alto concentra-
aspersão de NaOH, a partir de dispositivo microbiano, torna esses alimentos mais di- do com 15%, 21% ou 27% da MS em baga-
dosador acoplado à picadeira, apresenta- gestíveis, viabilizando sua utilização. ço de cana-de-açúcar, no desempenho de
se como uma alternativa, pois o tratamento O bagaço de cana-de-açúcar pode ser novilhos Nelore, Leme et al. (2003) não
com NaOH proporciona melhoria na diges- uma alternativa viável, pois além de ser um observaram efeitos para as características
tibilidade, incrementando a ingestão volun- resíduo da agroindústria, apresenta baixo de ganho médio diário (1,46 kg) e eficiência
tária, aumentando o consumo de água e pre- custo e é produzido na época de confina- alimentar entre os tratamentos. Para as
venção de acidose (EZEQUIEL et al., 2005). mento e escassez de alimento (LEME et al., características peso de carcaça quente, gor-
Andrade et al. (2001b) avaliaram o valor 2003). Contudo, seu uso está restrito às dura renal e pélvica, área de olho de lombo
nutritivo da cana-de-açúcar tratada com proximidades das usinas e destilarias. e espessura de gordura subcutânea não
1,0% de NaOH, acrescida de 0; 40; 80 e Bulle et al. (2002), ao avaliarem o desem- houve diferença entre os tratamentos (Qua-
120 kg de rolão de milho. Observaram que penho de tourinhos cruzados com peso dro 6). O maior consumo de MS ingerida
o tratamento da cana-de-açúcar com NaOH
melhorou a degradação da fibra e aumentou
a digestibilidade da MS. QUADRO 6 - Médias, coeficiente de variação (CV), equações de regressão (EqR) e coeficiente de
Ezequiel et al. (2005), ao avaliarem o determinação (R2) para as características de desempenho dos animais submetidos
efeito do tratamento alcalino da cana-de- aos diferentes tratamentos
açúcar com NaOH, sobre a digestibilidade
Nível de bagaço
total, e o consumo de MS, utilizando os
tratamentos cana-de-açúcar in natura, hi- Característica (%) CV EqR R2
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foi obtido nos tratamentos com menor por- o substrato, em razão do aumento do teor volumosos tratados, normalmente aumen-
centagem de bagaço. Os autores confirmam de proteína bruta sintetizada, a partir da tam o consumo e o desempenho animal
a viabilidade do uso de 15% ou 21% de adição de N não protéico. Além do mais, a (CARVALHO et al., 2006).
bagaço de cana-de-açúcar como única fon- amonização por meio da amônia provoca A utilização da uréia na amonização
te de volumoso para novilhos Nelore em alterações benéficas na fração fibrosa do também diminui a relação do NIDA e NIDN
confinamento, alimentados com dietas com volumoso, sendo, geralmente, mais expres- por N total. A importância do conhecimento
elevada proporção de concentrado, con- sivo sobre a fração FDN, em conseqüên- da modificação no teor de NIDA é justifi-
tendo milho, polpa de citrus e farelo de soja. cia da solubilização parcial da hemicelu- cada pelo fato de o N, presente nessa forma,
Vários trabalhos como os de Carvalho lose do material amonizado (CARVALHO permanecer indisponível para o animal. A
et al. (2006) e Pires et al. (2004) têm sido et al., 2006). redução do teor de NIDN é um indicativo
conduzidos com o objetivo de melhorar o No entanto, o aumento no teor de N, de melhor valor nutritivo e de maior
valor nutritivo do bagaço de cana-de- vai variar em função das doses de amônia disponibilidade de N para a flora microbiana
açúcar, para ser utilizado na alimentação aplicada, temperatura ambiente, teor de (CARVALHO et al., 2006; SOEST, 1994).
de ruminantes. O tratamento químico por umidade, período de amonização e quali- Carvalho et al. (2006), ao utilizarem
meio de álcalis, ou seja, a amonização, é dade do material ensilado (CARVALHO et quatro doses de adição de uréia (0%, 2,5%;
uma alternativa viável na melhoria da qua- al., 2006). 5,0% e 7,5%), para o tratamento do bagaço
lidade desses alimentos. A uréia tem sido utilizada como prin- de cana-de-açúcar, encontraram aumento
O tratamento químico eleva os conteú- cipal fonte de amônia na amonização, devi- linear no teor de PB com a inclusão de doses
dos de N (Quadro 7), aumentando, assim, a do ao seu menor custo e maior disponi- de uréia ao bagaço de cana-de-açúcar,
disponibilidade para os microrganismos bilidade. O tratamento de materiais com porém, esses autores ressaltaram que,
ruminais. Como o material a ser amonizado, produtos alcalinos provoca a solubilização embora as doses de uréia tenham causado
normalmente, possui teor baixo de N, limi- parcial da hemicelulose e a expansão da efeito positivo sobre os conteúdos de PB,
tando o desenvolvimento dos microrga- celulose, o que facilita o ataque dos micror- não significa que seja pertinente adicionar
nismos, o aumento no teor desse elemento, ganismos à parede celular, com conseqüen- altas doses de uréia, pois isto excede a
depois da amonização, permite a atuação te aumento na digestibilidade do material necessidade dos ruminantes. A adição de
mais eficiente das bactérias ruminais sobre tratado. Os incrementos na DIVMS de 2,62% de uréia foi suficiente para favorecer
QUADRO 7 - Teores percentuais médios de MS, PB, FDN, FDA, hemicelulose, celulose, lignina, NIDN, NIDA, DIVMS, NA, perda de MS, pH do ba-
gaço de cana-de-açúcar submetido a diferentes tratamentos
Hemice- (1) (1) (2)
MS PB FDN FDA Celulose Lignina NIDN NIDA DIVMS NA
Tratamento lulose pH Fonte
(%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%)
(%)
Bagaço de cana 40,11 2,32 59,02 38,34 20,68 30,30 7,34 0,07 0,08 _ _ _ Carvalho et al. (2006)
Bagaço de cana amonizado com 0% uréia – 3,78 78,07 49,04 29,03 39,27 9,67 22,18 17,13 32,97 6,73 3,66 Carvalho et al. (2006)
Bagaço de cana amonizado com 2,5% uréia – 6,85 71,25 44,37 26,92 35,97 8,32 19,22 14,03 38,24 52,28 5,48 Carvalho et al. (2006)
Bagaço de cana amonizado com 5,0% uréia – 9,91 64,62 39,61 24,81 32,67 6,98 16,26 10,93 43,51 71,97 7,31 Carvalho et al. (2006)
Bagaço de cana amonizado com 7,5% uréia – 12,98 57,61 34,90 22,70 29,37 5,63 13,31 7,83 48,79 65,81 9,14 Carvalho et al. (2006)
Bagaço de cana in natura – 0,80 88,30 54,40 34,00 41,70 – – – 32,40 – – Manzano et al. (2000)
Bagaço auto-hidrolisado, pressão de – 0,80 61,30 51,80 9,40 41,20 – – – 36,90 – – Manzano et al. (2000)
2
17 kgf/cm por 5 min
Bagaço tratado com 4% Na2S + 6% NaOH, – 0,40 60,40 51,00 9,40 44,20 – – – 62,40 – – Manzano et al. (2000)
2
pressão de 12 kgf/cm por 8 min
Bagaço tratado com 2% Na2S + 3% NaOH, – 0,40 72,10 56,70 15,40 44,70 – – – 48,70 – – Manzano et al. (2000)
2
pressão de 12 kgf/cm por 8 min
Bagaço tratado com 9% H2O2 + 7% NaOH, – 0,50 66,10 54,20 11,90 44,90 – – – 59,70 – – Manzano et al. (2000)
a 70°C por 8 min
NOTA: MS – Matéria seca; PB – Proteína bruta; FDN – Fibra em detergente neutro; FDA – Fibra em detergente ácido; NIDN – Nitrogênio insolúvel em
detergente neutro; NIDA – Nitrogênio insolúvel em detergente ácido; DIVMS – Digestibilidade in vitro de matéria seca; NA – Nitrogênio amoniacal;
pH – Potencial hidrogeniônico.
(1) Nitrogênio em porcentagem do N total. (2) Nitrogênio amoniacal em porcentagem do N total.
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o nível mínimo de PB (7,0%) para o bom pressões relativamente altas. A amônia atacando as unidades fenilpropano da lig-
funcionamento do rúmen, sendo que essa anidra diferencia-se da uréia (NH2CONH2), nina em locais eletron deficientes. Manzano
uréia seria suficiente para manter uma por esta apresentar, em média, 44% de N e et al. (2000) observaram que o emprego de
atividade microbiana ativa. ser encontrada na forma sólida, além de reagentes químicos e o uso de tratamento
Entretanto, níveis mais elevados de precisar de umidade e presença da enzima físico aumentaram a digestibilidade do
uréia podem contribuir para o aumento da urease para que possa produzir 2NH3 + CO2 bagaço de cana-de-açúcar, particularmente
população de microrganismos no rúmen, para cada molécula de uréia (PIRES et al., das frações fibrosas, o que resultou em
aumentando a síntese de proteína micro- 2004). maior valor de NDT, permitindo, dessa
biana com conseqüente aumento da efi- O tratamento com pressão e vapor é maneira, menor participação de alimento
ciência de aproveitamento dos alimentos. um dos métodos mais utilizados para elevar concentrado no arroçoamento animal, infe-
Reduções nos teores de FDN do ba- o valor nutritivo do bagaço de cana-de- rindo que o bagaço tem um excelente po-
gaço de cana-de-açúcar foram observadas açúcar, melhorando seu valor nutritivo. tencial de aproveitamento para fins de ali-
por Carvalho et al. (2006). Ao utilizarem A alta pressão e, conseqüentemente, a ele- mentação de ruminantes.
níveis crescentes de uréia de 0%; 2,5%; vada temperatura são usualmente utilizadas Existe ainda, o bagaço proveniente da
5,0% e 7,5%, os valores de FDN foram de para melhorar o emprego dos materiais produção de cachaça que também é utili-
78,10%; 71,30%; 64,40% e 57,60%, res- lignocelulolíticos. Contudo, tais condições zado na alimentação animal. Este bagaço
pectivamente, o que correspondeu à re- de tratamento podem levar à produção de tem um teor de açúcar residual mais alto e,
dução no conteúdo de FDN, de cerca de furfurais e compostos fenólicos no material portanto, apresenta maior valor energético
5,49%; 18,85% e 24,87% respectivamente. tratado, que são substâncias tóxicas para para ruminantes (BARCELOS; REZENDE,
Esses autores observaram também redução os microrganismos ruminais. Mas a pro- 2002).
nos teores de hemicelulose e lignina. dução de furfurais e compostos fenólicos Segundo Barcelos e Rezende (2002), o
A diminuição da FDN em materiais sub- podem ser reduzidos, quando se faz a com- bagaço de alambique deve ser usado fres-
metidos à amonização é atribuída à solu- binação de tratamento químico e físico, pois co, sendo utilizado para alimentação de
bilização da hemicelulose. A redução nos ocorrerá redução do nível de pressão e de vacas de dupla aptidão ou engorda de
teores de lignina ocorre, devido à disso- temperatura. novilhos em confinamento. O bagaço de
lução de parte desta e ao rompimento das O processo de auto-hidrólise aumen- alambique pode ser usado misturado com
ligações intermoleculares do tipo éster, ta o potencial de degradação do bagaço. cana-de-açúcar como volumoso para no-
entre o ácido urônico da hemicelulose e No entanto, a eficácia com que a fibra do vilhos em confinamento até a proporção
da celulose, durante amonização (SOEST, bagaço é utilizada é baixa, devido princi- de 75%, sendo ainda, necessária a utilização
1994). palmente às condições ruminais desfa- da suplementação protéica, tornando-se
A amonização do bagaço de cana-de- voráveis à atividade das bactérias celulo- uma atividade complementar rentável à
açúcar pode elevar o pH do material. Isto é líticas. produção de cachaça (BARCELOS, 2006).
atribuído ao fato de a amônia ser uma base Manzano et al. (2000) avaliaram a di- Vale ressaltar, ainda, que o armazena-
com alta capacidade tamponante, evitan- gestibilidade do bagaço de cana-de-açúcar mento do bagaço de cana-de-açúcar é críti-
do, portanto, que a produção de ácido pro- tratado com reagentes químicos e pressão co e o crescimento de fungos pode reduzir
voque queda acentuada do pH. Apesar de de vapor, em função dos seguintes trata- o seu consumo pelos animais (BULLE et
o pH ser um indicativo de qualidade, sua mentos: BIN = bagaço in natura; BAH = al., 2002).
elevação em matérias amonizadas não impli- bagaço auto-hidrolisado, pressão de 17 O uso mais importante de bagaços é
ca em pior qualidade, pois a amônia liberada kgf/cm2 por 5 minutos (min); bagaço sulfa- no caso do excesso de oferta, situação que
durante o processo de amonização inibe a to 1 = bagaço tratado com 4% Na2S + 6% pode compensar a deficiência nutricional
proliferação de microrganismos indese- NaOH, pressão de 12 kgf/cm2 por 8 min; da dieta, no caso de situação extrema de
jáveis, como fungos e leveduras, e promo- bagaço sulfato 2 = bagaço tratado com 2% seca.
ve a conservação do material (CARVALHO Na2S + 3% NaOH, pressão de 12 kgf/cm2
et al., 2006). por 8 min, bagaço peróxido = bagaço tra- Silagem de cana-de-açúcar
A amonização pode ser feita também tado com 9% H2O2 + 7% NaOH, a 70°C por A silagem de cana-de-açúcar é uma
utilizando amônia anidra, que é um com- 8 min. Segundo esses autores, os compos- alternativa de alimento para ruminantes,
posto que apresenta um átomo de N e três tos sulfurados agem formando o íon sul- principalmente devido à facilidade de ope-
de hidrogênio (NH3), possui elevado teor feto, que, em meio alcalino, desestabiliza a racionalidade que o produto oferece. Con-
de N (82%) e, normalmente, é obtida no molécula de lignina e o peróxido de hidro- centra a mão-de-obra em determinado pe-
estado líquido sob baixas temperaturas ou gênio formado, quando este dissocia-se, ríodo, evita a utilização de mão-de-obra
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diária para cortes, despalhamento, desin- Juntamente com o valor do pH, o con- de cana-de-açúcar isolada, resultando em
tegração e transporte, reduzindo o trabalho teúdo de N amoniacal fornece uma indica- perdas de até 31,10% de matéria da silagem
e os deslocamentos diários de máquinas ção da forma que se processou a silagem, (ANDRADE et al., 2001a; FREITAS et al.,
na propriedade e as dificuldades de colheita valores abaixo de 8% do nitrogênio to- 2006ac).
em dias de chuva. Quando preparada no tal indicam uma silagem de boa qualidade. Pelo fato de o alto teor de álcool etílico
período seco apresenta maiores conteúdos De acordo com Soest (1994), valores de N na silagem de cana-de-açúcar diminuir o
de açúcar e MS em relação ao período das amoniacal acima de 10% indicam que o consumo de MS pelos bovinos, seria con-
chuvas. É oportuna a ensilagem em situa- processo de fermentação resultou em que- veniente a utilização de aditivos para redu-
ções de incêndio no canavial, para asse- bra excessiva de proteína em amônia. Va- zir a produção de álcool.
gurar volumoso suficiente para alimentação lores de N amoniacal, próximos de 15%, Valvasori et al. (1998), ao avaliarem o
dos animais no período da seca. podem ser mais um fator para diminuir a desempenho de bezerros da raça Holan-
Outro aspecto a ser considerado é a li- aceitação da silagem de cana-de-açúcar pe- desa, ao receberem silagens de sorgo ou
beração da área para a rebrotação homo- los animais, resultando em baixo consu- de cana-de-açúcar como único volumoso,
gênea das plantas, o que proporciona me- mo. encontraram que a silagem de sorgo graní-
lhor cobertura de solo e maior índice de A silagem da cana-de-açúcar, ao pro- fero foi superior (P < 0,01) à silagem de cana-
área foliar para o período das águas e, duzir álcool etílico, ocasiona redução no de-açúcar em termos de ganhos diários de
conseqüentemente, menores gastos com seu valor nutritivo, devido à rápida fermen- peso (0,601 contra 0,378 kg), conversão ali-
o controle de plantas invasoras (FREITAS tação pelas leveduras dos açúcares solú- mentar (7,76 contra 12,83 kg de MS/kg
et al., 2006c). veis, o que torna o processo de fermenta- ganho de peso), apesar de as ingestões to-
A cana-de-açúcar possui as principais ção ineficiente. Quanto mais alto o teor de tais de MS terem sido semelhantes entre
características necessárias para a produção açúcares, mais favorável o ambiente para a os tratamentos. No entanto, os custos de
de silagem, tais como, teor de MS, em torno proliferação de leveduras durante o pro- produção de leite com rações que contêm
de 30%, teor de carboidratos solúveis acima cesso de ensilagem. O etanol residual na cana-de-açúcar apresentam-se mais compe-
de 10% da matéria natural e poder tam- silagem provoca redução do consumo pelo titivos em comparação com outras alter-
pão que permite a queda do pH para valo- animal, entretanto, se ingerido, apresenta nativas de forragem suplementar durante
res próximos a 3,5 (Quadro 8). No entanto, significativa contribuição energética ao o período seco, mesmo sendo necessária a
apresenta o inconveniente de alto conteú- animal, pois pode ser aproveitado, devido suplementação com maiores quantidades
do de carboidratos solúveis, os quais pro- a sua conversão no rúmen a ácidos graxos de alimentos concentrados, em compara-
movem rápida proliferação de leveduras voláteis, principalmente em ácido acético ção com a silagem de milho ou de sorgo.
com produção de etanol e gás carbônico (ANDRADE et al., 2001a; FREITAS et al., Segundo Paulenas (2006), o custo diário
(FREITAS et al., 2006c; VALVASORI et al., 2006a). Por outro lado, o etanol absorvido da silagem de milho em comparação ao
1995). As leveduras, em condições aeróbi- no rúmen interfere de forma negativa na de cana-de-açúcar colhida mecanicamen-
cas, são capazes de sobreviver com diver- gliconeogênese, devido à competição no te é 21% maior para vacas de 15 L/dia e
sos ácidos orgânicos por tempo maior que fígado do ruminante. 11% para as vacas com produção de 30
a maioria dos microrganismos, em condi- A maior dificuldade para ensilagem de litros.
ções anaeróbicas, contudo, as leveduras cana-de-açúcar é a produção de etanol que Um aditivo eficaz (químico ou biológi-
precisam obter sua energia da fermentação reduz o valor nutritivo da silagem. A prin- co) seria aquele que inibisse o desenvol-
de açúcares (MCDONALD et al., 1991). cipal causa de perda de MS na silagem de vimento de leveduras e/ou bloqueasse a
Com relação ao pH, é necessário que cana-de-açúcar é a reação bioquímica da via fermentativa de produção de álcool.
este abaixe rapidamente, caso contrário, se produção do etanol, em que a MS é cata- Os aditivos químicos utilizados são uréia
isto ocorrer somente no final não irá garan- lisada via fermentação da sacarose pelas (ANDRADE et al., 2001a; PEDROSO et al.,
tir que a atividade dos microrganismos leveduras, de modo que cada molécula de 2006; SILVESTRE et al., 1976; SIQUEIRA,
indesejáveis, em especial enterobactérias glicose fermentada produz duas moléculas 2005), hidróxido de sódio (FREITAS et al.,
e clostrídeos, seja prevenida durante o pro- de etanol, duas de dióxido de carbono e 2006c; SIQUEIRA, 2005), benzoato de
cesso de fermentação. No caso de forra- duas moléculas de água. O etanol produ- sódio (PEDROSO et al., 2006; SIQUEIRA,
gens com altos teores de açúcares e baixos zido nas silagens pode acarretar perdas 2005). No entanto, os dois últimos são uti-
de proteína, a estabilidade do pH ocorre, de até 48% de MS (MCDONALD et al., lizados com maiores ressalvas, devido ao
normalmente, antes do décimo dia de ensi- 1991). Teores de etanol de 12,86 a 19,50% problema do excesso de sódio na dieta ani-
lagem (MCDONALD et al., 1991). da MS têm sido encontrados em silagens mal e ao custo elevado. Os aditivos micro-
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Artigo 13 maior.p65
(1) Perda Ácido Ácido Ácido
MS PB FDN FDA Lignina CS DIVMS NA ETA
Tratamento de MS pH lático acético propiônico Fonte
(%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%)
(%) (%) (%) (%)
Silagem de cana 30,06 2,89 51,76 36,93 7,23 – 52,34 – – 3,82 – – – – Pedroso et al. (2006)
114
Silagem de cana + uréia 31,30 6,37 54,90 38,37 7,20 – 51,81 – – 3,89 – – – – Pedroso et al. (2006)
Silagem de cana + benzoato 35,36 2,62 52,53 37,26 7,19 – 52,15 – – 3,81 – – – – Pedroso et al. (2006)
Silagem de cana + 34,11 1,96 49,14 34,82 6,40 – 55,22 – – 3,83 – – – – Pedroso et al. (2006)
Lactobacillus buchneri
Silagem de cana 21,40b 3,40b 60,30b 38,70b – 6,40b 60,00b 13,30a 31,10a 3,50c 17,80a 4,30b 3,50ab 1,60a Freitas et al. (2006a)
Silagem de cana + 20,00b 3,40b 64,50a 42,70a – 5,60b 57,50b 14,30a 35,30a 3,50c 21,80a 5,30ab 4,50a 1,90a Freitas et al. (2006a)
Lactobacillus plantarum
Silagem de cana + 20,70b 3,30b 64,70a 43,30a – 4,80b 70,80a 5,20b 22,30b 3,80b 10,10b 5,70a 2,60b 0,70b Freitas et al. (2006a)
Lactobacillus plantarum +
resíduo de colheita de soja
Silagem de cana + 28,20a 10,70a 50,40c 32,20c – 7,00b 58,50b 11,60a 33,20a 3,50c 19,30a 4,30b 4,50a 1,60a Freitas et al. (2006a)
Lactobacillus buchneri
Silagem de cana + 28,10a 11,90a 54,50c 34,80c – 6,00a 70,20a 4,20b 21,70b 3,80b 8,40b 4,30b 3,00b 0,70b Freitas et al. (2006a)
Lactobacillus buchneri +
resíduo de colheita de soja
Silagem de cana + 28,00a 12,10a 52,50c 34,40c – 9,80a 69,80a 4,80b 22,40b 3,90a 7,60b 4,80ab 3,10b 0,70b Freitas et al. (2006a)
resíduo de colheita de soja
(2)
–
17/08/2007, 09:19
Silagem de cana 22,40 3,70 66,30 38,70 8,00 9,10 53,60 6,80 21,70 3,16 9,9 3,10 1,20 Freitas et al. (2006c)
(2)
Silagem de cana + 20,50 4,20 69,70 40,50 7,80 7,50 53,20 7,00 27,50 3,16 15,60 – 2,60 1,10 Freitas et al. (2006c)
Lactobacillus plantarum
(1,0 x 106ufc/g)
(2)
Silagem de cana + 21,10 4,30 67,20 39,60 8,10 9,20 53,60 6,30 29,90 3,16 13,90 – 2,90 1,10 Freitas et al. (2006c)
Lactobacillus plantarum
(1,2 x 106 ufc/g)
(2)
Silagem de cana + 21,20 3,90 67,20 39,60 8,10 8,90 56,10 7,40 28,00 3,12 14,20 – 2,90 1,20 Freitas et al. (2006c)
Lactobacillus plantarum
(1,4 x 106 ufc/g)
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Cana-de-açúcar
(conclusão)
Artigo 13 maior.p65
MS PB FDN FDA Lignina CS DIVMS NA ETA
Tratamento de MS pH lático acético propiônico Fonte
(%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%)
(%) (%) (%) (%)
(2)
Resíduo de colheita de soja 29,20 10,20 54,40 33,00 5,30 10,90 67,00 5,30 16,40 3,55 3,70 – 2,10 0,70 Freitas et al. (2006c)
Cana-de-açúcar
(2)
NaOH 20,20 4,10 66,30 40,40 8,10 9,30 60,40 7,40 29,90 3,72 8,40 – 4,50 1,20 Freitas et al. (2006c)
(2)
Resíduo de colheita de soja + 27,70 12,40 52,90 31,70 4,90 7,20 71,40 4,10 19,00 3,83 6,00 – 2,10 19,00 Freitas et al. (2006c)
NaOH
115
(2)
Resíduo de colheita de soja + 28,20 11,10 54,00 31,20 4,80 10,90 70,30 5,10 16,70 3,50 6,00 – 1,80 0,70 Freitas et al. (2006c)
Lactobacillus plantarum
(1,0 x 106 ufc/g)
(3)
Silagem de cana 20,70 3,90 61,20 39,30 9,00 17,60 59,10 9,60 28,70 3,59 15,90 – 3,80 1,00 Freitas et al. (2006c)
(3)
Silagem de cana + 20,40 3,90 59,10 38,20 9,20 18,30 60,30 9,20 30,60 3,58 18,20 – 5,50 1,40 Freitas et al. (2006c)
Lactobacillus plantarum
(1,0 x106 ufc/g)
(3)
Silagem de cana + 21,60 4,00 57,00 35,50 8,00 20,20 63,60 11,50 25,50 3,52 14,10 – 3,30 1,00 Freitas et al. (2006c)
Lactobacillus plantarum
(1,2 x106 ufc)/g
(3)
Silagem de cana + 21,80 3,50 55,40 36,60 9,70 22,50 63,90 8,80 25,90 3,45 14,40 – 3,40 1,10 Freitas et al. (2006c)
Lactobacillus plantarum
(1,4 x106 ufc/g)
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 8 , n . 2 3 9 , p . 1 0 2 - 11 9 , j u l . / a g o . 2 0 0 7
(3)
Resíduo de colheita de soja 30,30 10,80 44,50 28,80 7,80 19,50 74,90 4,50 12,10 3,82 3,50 – 2,00 0,50 Freitas et al. (2006c)
(3)
NaOH 22,10 3,40 50,40 32,50 8,70 24,90 68,00 13,10 22,10 3,83 10,30 – 4,20 0,90 Freitas et al. (2006c)
(3)
Resíduo de colheita de soja + 30,20 11,40 43,30 27,80 7,80 21,00 74,50 3,90 11,90 3,96 3,70 – 2,30 0,40 Freitas et al. (2006c)
NaOH
(3)
Resíduo de colheita de soja + 29,50 9,90 45,40 28,20 8,30 20,00 72,90 5,20 14,20 3,82 4,60 – 2,70 0,70 Freitas et al. (2006c)
Lactobacillus plantarum
17/08/2007, 09:19
(1,0 x 106 ufc/g)
Silagem de cana + uréia 20,93 9,43 68,70 – – – – 14,82 – 3,49 12,86 4,14 0,91 – Andrade et al. (2001a)
Silagem de cana + uréia + 23,18 9,03 66,20 – – – – 14,82 – 3,43 8,59 4,62 1,32 – Andrade et al. (2001a)
40 kg rolão de milho
Silagem de cana + uréia + 25,44 9,18 63,71 – – – – 13,62 – 3,41 4,33 4,78 1,66 – Andrade et al. (2001a)
80 kg rolão de milho
Silagem de cana + uréia + 27,69 9,86 61,21 – – – – 14,54 – 3,46 0,07 3,67 2,21 – Andrade et al. (2001a)
120 kg rolão de milho
NOTA: Médias seguidas de letras diferentes nas colunas diferem (P<0,05) pelo teste Tukey, em tratamentos referentes à mesma fonte.
MS – Matéria seca; PB - Proteína bruta; FDN – Fibra em detergente neutro; FDA – Fibra em detergente ácido; CS – Carboidratos solúveis; DIVMS – Disgestibilidade in vitro de matéria seca; NA – Nitrogênio amoniacal; pH – Poten-
cial hidrogeniônico; ETA – Etanol; Ufc/g – Unidade formadora de colônia por grama de materia natural.
115
(1) Nitrogênio amoniacal em porcentagem do nitrogênio total. (2) Corte realizado aos 11 meses. (3) Corte realizado aos 13 meses.
116 Cana-de-açúcar
bianos são divididos em dois grupos, as silagens de cana-de-açúcar tratadas com vo NaOH e a bactéria L. buchneri foram
bactérias homolácteas e as heterolácteas. os aditivos uréia (0,5%), benzoato de só- os mais eficientes no controle das perdas
As bactérias homolácteas são caracteri- dio (0,1%) ou L. buchneri (3,64x105 ufc/g), durante o processo fermentativo da cana-
zadas por produzirem exclusivamente ácido encontraram que a inoculação com L. de-açúcar crua ou queimada em relação à
láctico, sendo formadas pelas bactérias buchneri melhorou o ganho diário de pe- uréia, benzoato de sódio, L. plantarum e
Lactobacillus plantarum, Lactobacillus so (1,24 contra 0,94 kg/dia) e a adição de Propionibacterium acidipropionici. O mi-
sp., Streptococcus faecium, Pediococcus benzoato melhorou a conversão alimentar crorganismo L. buchneri e o benzoato de
sp. As bactérias heterolácteas produzem (7,6 contra 9,4 kg de matéria por quilo de sódio foram mais efetivos no controle das
além do ácido láctico, quantidades signi- peso vivo), relativamente ao controle (sila- alterações durante a exposição aeróbia da
ficativas de ácido acético e propiônico, sen- gem não tratada). Os tratamentos não afe- silagem de cana-de-açúcar.
do representadas principalmente pela bac- taram o consumo de MS (2,91% do peso Cumpre ressaltar que, a ensilagem não
téria Lactobacillus buchneri. vivo). As rações com silagens tratadas com melhora a qualidade de nenhum alimento,
A inoculação com bactérias produtoras benzoato ou L. buchneri mostraram menor ao contrário, perdas na qualidade são re-
de ácido láctico na forragem ensilada ace- custo por quilo de ganho de peso. Entre- levantes durante o processo de ensilagem,
lera a queda do pH e reduz o pH final a tanto, o tratamento com uréia não melhorou que somente conserva o alimento. Mas, em
valores menores, com o aumento da con- o desempenho animal, mas o custo por qui- algumas situações, a utilização dessa prá-
centração de ácido láctico, reduzindo a lo de ganho de peso foi menor do que na tica é viável, como no caso de sobra no fim
produção de efluentes e perdas de MS no dieta controle. da safra, no caso de incêndios e locais de
silo (FREITAS et al., 2006c). Contudo, o Ao avaliarem as características fermen- problemas com mão-de-obra diária. Além
crescimento de leveduras não é inibido pe- tativas e a qualidade nutricional da silagem disso, o uso de aditivos inadequados reduz
los baixos níveis de pH durante o processo de cana-de-açúcar ensilada com aditivos a qualidade da silagem, o que pode ocasionar
de ensilagem, mas o aumento da população microbianos e enriquecida com 10% de elevação de custos de produção. Portanto,
inicial de bactérias ácido-láticas aumenta resíduo da colheita de soja, Freitas et al. a ensilagem deve ser considerada como
a competição por substrato entre os mi- (2006a) observaram que a adição dos ino- uma solução simplesmente operacional.
crorganismos, inibindo o desenvolvimento culantes L. plantarum e L. buchneri não
das leveduras em condições anaeróbicas melhorou a composição química, a DIVMS Utilização de aditivos
(MCDONALD et al., 1991). e o perfil de fermentação das silagens. seqüestrantes de umidade
Segundo Freitas et al. (2006c), em sila- Freitas et al. (2006c), ao avaliarem as na silagem de cana-de-açúcar
gens de cana-de-açúcar madura, a perda características fermentativas e a qualidade A adição de um produto com alto teor
de efluente é muito pequena ou até inexis- nutricional da silagem de cana-de-açúcar de MS e bom valor nutritivo funciona como
tente, com isso a água metabólica, resul- tratada com inoculante L. plantarum nas um aditivo absorvente ou seqüestrante de
tante dos processos de fermentação, fica doses 1,0; 1,2 e 1,4 x 106 ufc/g na matéria umidade, elevando o teor de MS do material
retida no material ensilado e contribui, con- natural e hidróxido de sódio e enriqueci- ensilado, tornando o ambiente menos fa-
seqüentemente, para a redução no teor de da com 10% de resíduo da colheita de soja, vorável para o desenvolvimento das leve-
MS da forragem. observaram que o inoculante microbiano duras, reduzindo a produção de efluente,
Silvestre et al. (1976) alimentaram bo- não melhorou a qualidade nutritiva da sila- além de aumentar o valor nutritivo das
vinos de corte com cana-de-açúcar fresca gem e não reduziu as perdas de MS e a pro- silagens. Geralmente, são utilizados como
ou silagem de cana com uréia ou silagem dução de etanol. Encontraram também, que aditivos fontes de carboidratos, cereais e
de cana com amônia, suplementadas com o tratamento das silagens com hidróxido farelos (ANDRADE et al., 2001a; FREITAS
0,6 kg de farelo de algodão. Esses auto- de sódio reduziu a produção de etanol, mas et al., 2006ac; MCDONALD et al., 1991).
res observaram ganhos médios diários de aumentou as perdas de MS das silagens, Andrade et al. (2001a), ao avaliarem o
0,48; 0,32; 0,35 kg por dia, para os trata- devido ao fato de estas silagens terem apre- valor nutritivo da silagem de cana-de-
mentos cana-de-açúcar fresca, silagem de sentado maior concentração de ácido acéti- açúcar tratada com uréia, e acrescida com
cana com uréia, silagem de cana com amô- co, que em sua via de fermentação promove rolão de milho, observaram redução de
nia, respectivamente, e concluíram que a produção de uma molécula de dióxido de etanol, à medida que níveis mais altos de
cana-de-açúcar fresca (P < 0,01) foi supe- carbono, para cada molécula de acetado rolão de milho foram aplicados na ensila-
rior em relação às silagens. produzido, aumentando, conseqüentemen- gem da cana-de-açúcar, demostrando que
Pedroso et al. (2006), ao avaliarem o de- te, a perda de MS. o aumento do teor de MS inibiu a produ-
sempenho de novilhas alimentadas com Siqueira (2005) observou que o aditi- ção de etanol. Houve redução de 99,46%
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na produção de etanol com a elevação do os teores de MS antes da ensilagem e das Composição química de genótipos de cana-de-
teor de MS de 20,93% para 27,69%. Esses silagens de cana-de-açúcar crua ou quei- açúcar em duas idades, para fins de nutrição
autores não encontraram nas amostras de mada, os autores observaram redução de animal. Bragantia, Campinas, v.63, n.3, p.341-
silagens a presença de ácido butírico e os 21,4% e 26,0%, respectivamente, quando 349, dez. 2004.
teores de ácido propiônico em todas as comparados ao da forragem, possivel-
AZEVÊDO, J.A.G.; PEREIRA, J.C.; QUEIROZ,
silagens foram inferiores a 0,04% na MS, mente, os elevados teores de etanol e CO2
A.C. de; CARNEIRO, P.C.S.; LANA, R. de P.;
os quais inferiram que as silagens eram de produzidos durante a fermentação provo-
BARBOSA, M.H.P.; FERNANDES, A.M.;
boa qualidade. caram essa perda. Esses autores ainda RENNÓ, F.P. Composição químico-bromatológica,
Ao avaliarem as características fermen- observaram que a inclusão de milho desin- fracionamento de carboidratos e cinética da de-
tativas e a qualidade nutricional da silagem tegrado com palha e sabugo (MDPS) ele- gradação in vitro da fibra de três variedades de
de cana-de-açúcar tratada, enriquecida com vou os teores de MS e reduziu discreta- cana-de-açúcar (Saccharum spp.). Revista Bra-
10% de resíduo da colheita de soja, Freitas mente os teores de N amoniacal e etanol sileira de Zootecnia, Viçosa, MG, v.32, n.6,
et al. (2006a) encontraram que a associação das silagens, não ocasionando efeito nos p.1443-1453, nov./dez. 2003.
do resíduo da colheita de soja à cana-de- valores de pH e na população de leveduras.
açúcar para ensilagem proporcionou me- BARCELOS, A.F. Utilização de subprodutos da
lhor qualidade nutritiva da silagem. Isto foi cana-de-açúcar oriundos da produção de ca-
CONSIDERAÇÕES FINAIS
evidenciado pelas menores perdas de MS chaça de alambique na alimentação de bovinos.
Várias são as vantagens da utilização V & Z em Minas, Belo Horizonte, n.90, p.20-
e carboidratos solúveis, principalmente na
da cana de açúcar, principalmente no que 23, jul./set. 2006.
forma de gases, com conseqüente redu-
se refere à quantidade de produção e à qua-
ção no acúmulo de componentes da parede _______; REZENDE, A.V. Aproveitamento dos
lidade na época de escassez de forragem.
celular, além do aumento nos valores de resíduos de destilarias de cachaça de alambique.
Entretanto, deve-se estar atento a alguns
DIVMS da forragem. Esses autores con- Informe Agropecuário. Cachaça artesanal de
problemas de ordem não técnica que podem
cluíram que o resíduo da colheita de soja, Minas, Belo Horizonte, v.23, n.217, p.74-77,
acontecer, quando do uso deste volumo-
foi capaz de melhorar a qualidade nutritiva 2002.
so, como: mão-de-obra para o corte e distri-
e reduzir as perdas de MS e conseqüente-
buição; ventos com tombamento, fato que BERNARDES, T.F.; REIS, R.A.; SIQUEIRA,
mente aumentar o rendimento de silagem
dificulta o corte; incêndios; desempenho G.R.; BERCHIELLI, T.T.; COAN, R.M. Avaliação
de boa qualidade.
produtivo, principalmente custo/benefício; da queima e da adição de milho desintegrado
Freitas et al. (2006a) encontraram que a
mecanização da operação de corte e distri- com palha e sabugo na ensilagem de cana-de-
aplicação dos inoculantes L. plantarum e
buição; custo dos equipamentos; ataques açúcar. Revista Brasileira de Zootecnia, Viço-
L. buchneri em combinação com resíduo
de abelhas, sendo sempre bom utilizar tam- sa, MG, v.36, n.2, p.269-275, mar./abr. 2007.
da colheita de soja resultou em perda de
carboidratos solúveis, indicando que o bém outros artifícios para alimentar os ani-
BRONDANI, I.L.; RESTLE, J.; ARBOITTE,
estímulo à fermentação pode ser prejudi- mais no período seco do ano, tais como, o
M.Z.; MENEZES, L.F.G. de; ALVES FILHO,
cial no processo de ensilagem da cana-de- pasto diferido.
D.C.; AMARAL, G.A. do; PAZDIORA, R.D.
açúcar, uma vez que aumenta o consumo Efeito de dietas que contêm cana-de-açúcar ou
de carboidratos solúveis e que o desenvol- REFERÊNCIAS silagem de milho sobre as características das
vimento das leveduras não é inibido apenas ANDRADE, J.B. de; FERRARI JÚNIOR, E.; carcaças de novilhos confinados. Ciência Ru-
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varam que a silagem de cana-de-açúcar
Agropecuária Brasileira, Brasília, v.36, n.10, Zootecnia, Viçosa, MG, v.31, n.1, p.444-450,
queimada apresentou declínio na concen-
p.1265-1268, out. 2001b. jan./fev. 2002. Suplemento.
tração de MS, o que pode estar relacionado
à queima de palha, pois esse componente _______; _______; POSSENTI, R.A.; OTSUK, CARDOSO, G.C.; GARCIA, R.; SOUZA, A.L.
possui elevado teor de MS. Comparando I.P.; ZIMBACK, L.; LANDELL, M.G. de A. de; PEREIRA, O.G.; ANDRADE, C.M.S. de;
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(Mestrado em Zootecnia) – Faculdade de Ciên-
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