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Rio de Janeiro
2007
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Rio de Janeiro
2007
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Aprovado em 27/11/07
BANCA EXAMINADORA
A graça de trabalhar não reside, por isto, nem na eloqüência do que se faz,
nem no aplauso que se colhe pelos sucessos conseguidos, mas na
intensidade espiritual com que fazemos, quem sabe, uma humilde cadeira.
CC - Centro Cirúrgico
IH - Infecção Hospitalar
RE - Resolução
RESUMO
Identificam-se neste estudo as concepções dos enfermeiros das Unidades Consumidoras (UC)
acerca do trabalho dos enfermeiros na Central de Material e Esterilização (CME). Discute-se, a
partir das idéias apresentadas nas falas, a importância desse trabalho enquanto cuidado de
enfermagem. Apresenta caráter descritivo com abordagem qualitativa apoiado em Lüdke &
André (1986) e Polit e Hungler (1995). A entrevista semi-estruturada foi utilizada na coleta dos
dados com 25 enfermeiros de dois hospitais gerais, sendo um da rede pública e outro da rede
privada de saúde, ambos localizados na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Da análise
temática emergiram três categorias: Trabalho que envolve gerência ; Trabalho desconhecido,
mas fundamental ; O invisível que é essencial em sua simplicidade . Percebe-se que o
trabalho dos enfermeiros em CME é considerado basicamente gerencial, envolvendo atividades
de supervisão, coordenação e controle das etapas de reprocessamento dos produtos médicos.
Precisa ser mais valorizado entre as equipes de enfermagem como um todo, pois a alocação
freqüente de funcionários em final de carreira ou com problemas de saúde prejudica a imagem e a
credibilidade conferidas ao setor. As concepções apresentadas revelam diversos aspectos
relacionados ao trabalho do enfermeiro em CME que o caracterizam como cuidado, tais como a
segurança ao cliente e a preocupação com a qualidade do assistir. Evidencia-se a falta de
conteúdos sobre CME na formação dos enfermeiros. Conclui-se que a dicotomia entre cuidado
direto e cuidado indireto no ensino das escolas de enfermagem e a importância existente no fazer
para o cliente precisam ser mais discutidas. É necessário também promover a integração efetiva e
plena entre a CME e as UC. A seleção criteriosa de funcionários para atuarem na CME é uma
necessidade que precisa ser repensada pelos administradores de serviços de enfermagem, em face
aos avanços tecnológicos empregados no reprocessamento de produtos médicos e à exigência
cada vez maior da qualidade na assistência aos clientes.
ABSTRACT
This study sought to identify assisting nurses perceptions of work in Central Supply Unit with
implications for Nursing care. A descriptive qualitative method by Lüdke & André (1986) and
Polit and Hungler (1995) was used to develop a semi-structured interview as instrument to collect
data from 25 nurses at two hospitals, a public and a private health administration, in the
Metropolitan Region of Rio de Janeiro. From the thematic analysis emerged three cathegories:
Trabalho que envolve gerência ; Trabalho desconhecido, mas fundamental ; O invisível que é
essencial em sua simplicidade . Nurses work in Central Supply Unit is considered mainly
managerial, involving supervision, coordination and control of many components of medical
device reprocessing. The responsibilities are unknown among assisting nurses, and are not taught
at many Schools of Nursing. These findings may need to be addressed by nursing teams, because
the frequent over-allocation of nearly retired or inadequate human resources has done serious
damage to the Central Supply Unit's reputation. The conceptions reveal several concepts of
nurses work in the Central Supply Unit that characterizes it as care, including patients security
and the preoccupation of quality in health assistance. The dichotomy between direct and indirect
care and the importance of doing things for the patient need to be further explored. It is also
necessary to promote the Central Supply Unit`s effectiveness to integrate with the Assistance
Units. Careful human resources recruitment in the Central Supply Unit is a necessity that must be
considered by nursing managers to facilitate medical devices reprocessing and improve the
quality of patient assistance.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 08
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ..............................................................................17
2.1 Centrais de Material e Esterilização: breve histórico......................................................17
2.2 O funcionamento da Central de Material e Esterilização ...............................................19
2.3 O enfermeiro no contexto da Central de Material e Esterilização ..................................25
2.4 A inter-relação entre a Central de Material e Esterilização e Unidades Consumidoras:
cuidado visível x cuidado invisível .................................................................................30
3 METODOLOGIA .........................................................................................................34
3.1 Cenário ............................................................................................................................35
3.2 Sujeitos da pesquisa ........................................................................................................37
3.3 Coleta de dados ...............................................................................................................37
3.4 Procedimentos éticos e coleta de dados ..........................................................................38
3.5 Tratamento dos dados .................................................................................................... 39
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS........................................41
4.1 Dados de identificação dos sujeitos da pesquisa .............................................................41
5 CONCLUSÃO .................................................................................................................68
REFERÊNCIAS ..............................................................................................................72
GLOSSÁRIO ...................................................................................................................78
APÊNDICE A TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ....80
APÊNDICE B - INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS ..................................81
APÊNDICE C TRANSCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS ..........................................82
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1 INTRODUÇÃO
Minha trajetória profissional como enfermeira teve início no ano de 2003 e foi marcada
por experiências na área de cuidado ao recém-nato e à criança. Inicialmente, atuei em distintos
turnos, em regime de plantão; e como bolsista de pesquisa em instituições de referência na
assistência infantil e neonatal.
Até o primeiro ano de atuação profissional, tive experiências essencialmente voltadas para
o cuidado direto aos clientes, sempre buscando a construção de conhecimento para os conteúdos
pertinentes àquela área específica de atuação da Enfermagem, o que me permitiu vivenciar
aspectos diversos do saber e do fazer em Enfermagem, porém sempre enfocados no cuidado
direto com os clientes, através dos diversos procedimentos.
Da mesma forma, até nas tarefas gerenciais pertinentes ao dia-a-dia do cuidado, minha
visão acerca do que este significava era ainda restrita ao contato direto profissional-cliente. Era
difícil associar o fazer e o cuidar a toda e qualquer atividade que não fosse exclusivamente
praticada junto aos clientes.
Esta situação pode ser entendida, em parte, pela formação acadêmica recebida, na qual as
tecnologias empregadas na assistência, o estar à beira do leito, o cuidar do ser humano por inteiro
era explicado aos alunos como sendo o cerne da profissão de enfermeiros. O cuidar estava
sempre vinculado a uma intervenção no corpo dos clientes; não sendo explicitado, entretanto, que
cuidar também é executar tarefas que promovam os meios para que se execute a intervenção.
Isto ficou claro quando a história de Florence Nightingale nos foi apresentada e, a partir
dela, toda a sua significativa contribuição para a consolidação da profissão de enfermeiro. O mais
comum era que nas aulas fosse enfocada a dedicação com que a precursora da Enfermagem
Moderna atendia prontamente aos enfermos soldados nos campos de batalha da Guerra da
Criméia (1854), durante a qual ela conseguiu salvar milhares de vidas.
No entanto, curiosamente, mesmo sendo apontados os grandes conhecimentos adquiridos
por Florence e o emprego dos mesmos na diminuição drástica da transmissão de infecções, na
minha formação de enfermeira eram destacadas com menor ênfase as medidas de planejamento e
gerenciamento. Não era explicitado que deveria haver a preocupação com tudo aquilo que
entraria em contato com os clientes para que, assim, o cuidado à beira do leito pudesse ser
prestado e que o enfermeiro tinha papel sine qua non neste processo.
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competência profissional e fazendo o máximo possível para fornecer materiais de qualidade aos
diversos setores do hospital, aquela enfermeira se deparava com dificuldades para conseguir
viabilizar a implementação de programas de capacitação e atualização de seus funcionários, bem
como a aplicação de recursos na reforma e modernização da planta física do setor e de seus
equipamentos.
Esses fatos denotam o desinteresse pela CME naquela instituição, que só era lembrada
quando ocorria algum problema como, por exemplo, com a esterilização dos produtos médicos*
(fato não muito raro, já que as autoclaves eram obsoletas), que inviabilizava a realização de
cirurgias e /ou procedimentos diagnósticos.
Diante desse quadro, e a partir dos incentivos constantes da enfermeira preceptora do
campo de prática, senti-me impelida a buscar conhecimentos acerca da temática CME e entender
como o enfermeiro se insere neste contexto. Para tanto, utilizei-me de participações em eventos
relacionados ao setor e buscas bibliográficas.
Na consulta a diversas publicações, encontrei a abordagem de variados aspectos nos
estudos pertinentes a CME _ os processos de esterilização e limpeza, embalagens, validação dos
processos de esterilização, novos Equipamentos de Proteção Individual (EPI), recursos humanos,
reuso de materiais, informatização do controle dos produtos médicos, dentre outros.
Minhas pesquisas resultaram também na monografia de conclusão do Curso de Pós-
Graduação, a qual se constituiu em um estudo bibliográfico que utilizou como fonte primária o
acervo da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e foi um recorte temporal de 1993 a 2003 que
enfocava a produção científica acerca da esterilização de produtos médicos e sua importância
para a sociedade à luz dos registros noticiosos. O estudo apontou que foi pequena a produção de
Enfermagem sobre a temática CME _que ainda se encontra majoritariamente restrita aos
periódicos dessa especialidade_ e que nas notícias veiculadas nos jornais brasileiros, a
importância do trabalho dos profissionais em uma CME para o controle das infecções
hospitalares é pouco divulgada.
Como contribuição, o estudo ressalta ainda que as preconizações de Florence Nightingale,
reunidas em sua Teoria Ambientalista, serviram de ferramenta para compreender melhor como as
atividades realizadas em uma CME são vitais para que a assistência prestada aos clientes seja
livre de riscos de agravos, considerando-se a preocupação com todos os instrumentos que com
eles entrarão em contato.
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A partir desta pesquisa, ficou mais claro que o processo de trabalho em CME, na prática
de enfermagem, é uma forma de cuidado. Entretanto, esta temática ainda é pouco valorizada não
só no meio acadêmico, como também nas instituições hospitalares, haja vista a escassez de
estudos que abordam o cuidado em CME e, principalmente, as concepções dos trabalhadores de
outros setores em relação a essa prática, ou seja, a interface existente (e indiscutível) entre os
trabalhadores de CME e os das unidades que prestam assistência direta. Entendo que a
compreensão desta interface e dos ruídos nela existentes pode auxiliar a entender tamanha
desvalorização ainda atribuída ao trabalho em CME.
Um fato que serviu de reforço para constatar essa desvalorização foi uma outra
experiência profissional quando, mais tarde, ao prestar um concurso público para contrato de
trabalho temporário, fui lotada em uma CME de um hospital geral de grande porte no município
do Rio de Janeiro.
Aquela nova realidade configurou-se num grande desafio, já que a partir daquele
momento eu não teria mais as orientações de uma preceptora, sendo eu mesma a responsável em
comandar sozinha uma equipe e organizar as atividades no setor. Como agravantes, a ala do
hospital na qual a CME funcionava estava em reforma, e foi transferida temporariamente para um
espaço totalmente improvisado.
Durante aproximadamente nove meses atuei naquela CME improvisada e que não atendia
às exigências relacionadas à planta física, aclimatação e EPI, dentre outras, previstas nas
legislações vigentes. Tal fato sempre foi motivo de grande preocupação, pois sabia-se que era
difícil garantir que os produtos teriam o tratamento adequado.
Além disso, não foi oferecido aos novos funcionários o treinamento específico e adequado
para a execução das tarefas exigidas. Essas tarefas eram transmitidas através dos funcionários
mais antigos que, em raras exceções, demonstravam disponibilidade em fazê-lo e, mesmo porque,
muitos executavam procedimentos obsoletos demonstrando sua desatualização quanto ao
processamento de produtos médicos, comparando-se com os avanços técnico-científicos
propostos que devem estar incluídos na CME.
O treinamento pode minimizar possíveis falhas ocorridas nos processos de trabalho
(Tipple et al, 2005). Para os mesmos autores, o programa de treinamento oferecido numa
instituição em uma área específica facilita a inserção dos indivíduos e desenvolve a prática
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profissional no ambiente de trabalho, para que eles exercitem a reflexão sobre a importância de
seu trabalho no dia-a-dia.
O contingente majoritário de profissionais de enfermagem naquele setor tinha sido
composto por auxiliares de enfermagem e auxiliares de serviços operacionais diversos durante
aproximadamente vinte anos. Os plantões não contavam com enfermeiros, havendo somente uma
enfermeira responsável técnica pelo setor. Portanto, era possível compreender a falta que a
presença de enfermeiros em todos os turnos de trabalho fazia, haja vista a desordem na qual
aquela CME funcionava e a resistência que os antigos funcionários apresentavam em relação à
minha chegada.
A partir destas constatações, passei a compreender claramente a necessidade da presença
do enfermeiro em uma CME, no sentido de realmente enfocar os princípios científicos do fazer e
organizar as atividades. Além disso, sentia-me cada vez mais interessada em buscar
conhecimentos acerca dessa área de atuação dos enfermeiros, tão rica em fontes de pesquisa, e
que se descortina numa forma de cuidar muito importante e peculiar.
E, mesmo depois da reforma concluída e da instalação definitiva na nova unidade, ainda
puderam ser observadas diversas barreiras na tentativa de promover uma reeducação e
atualização dos funcionários. O remanejamento ou manutenção de profissionais com problemas
de saúde ou de relacionamento interpessoal, ou ainda próximos da aposentadoria demonstrava a
desvalorização ainda atribuída à CME. A referida unidade também só parecia ser lembrada
quando, por algum problema técnico ou operacional, o hospital se via obrigado a cancelar
cirurgias porque não havia materiais estéreis disponíveis para pronto uso.
Cruz (2003, p. 25) lembra que a CME:
A CME é definida como uma unidade de apoio técnico que visa fornecer produtos
médico-hospitalares adequadamente processados, proporcionando condições para o atendimento
direto e a assistência à saúde dos indivíduos enfermos e sadios (BRASIL, 2002).
Dentre as vantagens da centralização das atividades de reprocessamento dos produtos em
um único setor estão: a economia, o controle da qualidade e da quantidade necessárias; isto
porque se torna mais fácil sistematizar este reprocessamento e a distribuição dos produtos no
fluxo do atendimento hospitalar. Corroborando com Salzano (1990), isto certamente facilita o
atendimento adequado dos clientes e confere segurança para os mesmos e para as equipes.
É importante destacar também que a necessidade de centralizar as atividades de preparo e
esterilização dos produtos deu-se pelo grande avanço na sofisticação e na complexidade dos
equipamentos necessários para a realização das cirurgias, com técnicas cada vez mais
desenvolvidas e demandando, conseqüentemente, tanto o aprimoramento estrutural quanto de
recursos humanos (SOBECC, 2005).
Tipple et al (2005, p.174) reforçam esta idéia, afirmando que: a complexidade dos
processos de esterilização e alto custo na aquisição de instrumentais cirúrgicos cada vez mais
sofisticados exigem investimentos na qualificação do profissional.
Ademais, na literatura de enfermagem, outro enfoque bastante recorrente é quanto à
questão da desvalorização sofrida pelos profissionais e da CME como um todo (Pivelli et al,
1989; Silva, 1997). Sawada e Galvão (1995), por exemplo, afirmaram que a CME é um setor
hospitalar que historicamente tem sido relegado a segundo plano e que o trabalho dos
profissionais desta área parece desprestigiado.
O que se vê na história recente da alocação de recursos humanos em CME é que muitos
profissionais rejeitam a possibilidade de lá atuarem por não haver atividades junto aos clientes,
sem atentarem para o fato de que o que é feito em CME envolve diversos segmentos da estrutura
hospitalar e que, sem o qual, a mesma não consegue um funcionamento adequado (Silva e
Bianchi, 1988).
Não se pode perder o foco da importância de ter o enfermeiro em qualquer setor onde haja
atividade executada pela enfermagem, pois ele é o gerente que possui o conhecimento científico
que deve embasar o fazer da área da saúde e, em particular, da Enfermagem.
Pensando nisso, foi espantoso me deparar em minha prática com indagações que
questionavam o porquê da presença de enfermeiros numa CME. Segundo Cruz (2003, p. 18): O
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trabalho realizado em CME constitui-se em um dos fatores de segurança para o cliente e toda a
equipe de saúde envolvida, não só na prática assistencial, mas, em especial, no desenvolvimento
das atividades nesse setor e no Centro Cirúrgico .
A partir do contato com outras enfermeiras que também atuam em CME de diversas
instituições em diversos eventos da área e na troca de experiências de trabalho, foi possível
perceber que, majoritariamente nas instituições públicas, mas também em algumas instituições
privadas, os problemas enfrentados no setor são recorrentes. Os mais comuns dentre eles são:
recursos humanos insuficientes e/ ou desqualificados, carga excessiva de trabalho, planta física
inadequada e incompatível com as exigências das legislações, falta de recursos materiais, ruídos
excessivos, fatores que aumentam as chances de distúrbios ósteo-musculares decorrentes do
trabalho, bem como de aumento nas chances de comprometimento da qualidade dos produtos
reprocessados.
Ao longo de minha trajetória profissional, tanto na assistência direta quanto na assistência
indireta, conforma foi citado anteriormente, tive oportunidade de me deparar com situações
curiosas e preocupantes enfrentadas no desenvolvimento das atividades profissionais em CME,
situações essas ocasionadas por declarações descabidas vindas dos enfermeiros que atuavam nas
UC. Entre as declarações, os enfermeiros das UC referiam-se às atividades na CME como algo
fácil, menos importante, questionando constantemente sobre o que se fazia naquele setor que, nas
palavras deles, não tem nada para um enfermeiro fazer , era um local onde se dorme a noite
toda ou só se embala gaze , enfatizando que apenas eles prestavam cuidado, demonstrando que
a imagem do trabalho executado na CME era de pouco valor.
Paradoxalmente, quando algum problema operacional e/ ou técnico acontecia na CME e
dificultava ou interrompia o fornecimento de produtos reprocessados para as unidades nas quais
aqueles enfermeiros trabalhavam, rapidamente todos se lembravam de que havia enfermeiros
atuando ali e, curiosamente, exigiam junto à administração do hospital que fossem cobradas
providências imediatas à CME, alegando que sem ela o hospital poderia parar.
Estas situações foram geradoras de muitas reflexões sobre minha prática profissional
naquele setor, constituindo-se numa motivação para o desenvolvimento de uma pesquisa em que
pudesse detectar o porquê de interpelações tão negativas e que em muito me incomodavam.
Os aspectos subjetivos da prática profissional dos enfermeiros poderiam, em meu
entendimento, desvendar a visão dos que atuam na assistência direta acerca do trabalho em CME
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e permitir entender, de certa forma, como essas concepções repercutem em determinadas atitudes
e informações reproduzidas no cotidiano.
Partindo desse entendimento da pertinência de realizar uma investigação sobre aspectos
subjetivos, optei pela pesquisa de abordagem qualitativa, que teve como objeto de estudo: as
concepções dos enfermeiros das unidades consumidoras acerca do trabalho dos enfermeiros na
CME.
Todas as situações vividas mostraram-me a desvalorização sofrida pelos profissionais que
atuam em CME. Na prática cotidiana, essa opinião ficava evidenciada pelas falas dos enfermeiros
das UC ao se referirem ao trabalho: trabalhar aqui é mole, no ar condicionado , sem
preocupação com o paciente , quero ver ficar lá na enfermaria, aqui é só lavar ferro, embalar
gaze , enfermeiro aqui, eu hein, não vê ninguém , pra fazer isso pra quê enfermeiro? .
Esses comentários pareciam demonstrar a forma como os enfermeiros da assistência direta
supunham ser o trabalho em CME, que em nada tinha a ver com nossa realidade. A nossa
preocupação com os pacientes existia sim, e ela direcionava as ações para atingir as metas, que
eram fornecer produtos seguros para que aqueles indivíduos fossem assistidos com qualidade,
além de garantir que os profissionais manuseassem produtos que não lhes oferecessem riscos.
O incômodo frente a essas situações reforçou meu interesse em pesquisar as idéias que os
enfermeiros das Unidades Consumidoras (UC) faziam sobre a prática dos enfermeiros em CME.
Acredito, assim como Silva (1998), que essa maneira depreciativa desses enfermeiros se
referirem ao trabalho em CME se deva ao desprestígio relacionado às tarefas lá executadas, ou
devido ao desconhecimento do trabalho realizado.
O aparente desconhecimento da importância do trabalho executado pelos enfermeiros na
CME, evidenciado pela falta de investimentos em recursos materiais e humanos em diversas
instituições brasileiras até hoje, talvez possa estar relacionado à falta ou escassez de conteúdos
teóricos sobre CME no ensino das escolas de enfermagem brasileiras. Raramente estes conteúdos
são apresentados enquanto disciplina específica, ficando diluídos nos conteúdos das disciplinas
de centro cirúrgico ou de assistência ao cliente cirúrgico (SILVA, 1998; JOUCLAS, 1994;
GRAZIANO, 2004).
Outra causa possível pode ser o fato de muitas instituições terem CMEs pobres de
recursos tecnológicos e não suscitarem nos trabalhadores melhor qualificação ou interesse em
ampliar seus conhecimentos sobre os novos equipamentos e técnicas de limpeza e processamento
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de produtos, fazendo com que cada vez mais as atividades naquela unidade sejam consideradas
de menos valia dentro da assistência, ignorando a vital importância dos produtos ali processados
e esterilizados na garantia de um cuidado seguro para seus clientes.
Acreditamos que esse desconhecimento exista, talvez, por não haver comunicação e
integração efetivas entre os enfermeiros de CME e os enfermeiros das UC nas instituições, o que
faz com que a CME seja responsabilizada por muitos problemas inerentes à assistência.
Diante do incômodo que essas situações traziam, tentei desvendá-las investigando
questões que nortearam este estudo: Quais são as idéias que os enfermeiros que atuam em
Unidades Consumidoras têm acerca do trabalho dos enfermeiros numa CME e Qual a
importância desse trabalho como cuidado de Enfermagem?
Nesta perspectiva, o estudo teve como objetivos:
1. Identificar as concepções dos enfermeiros das unidades consumidoras acerca do
trabalho dos enfermeiros em CME.
2. Discutir, a partir das concepções apresentadas nas falas dos sujeitos do estudo, o
trabalho dos enfermeiros em CME quanto a sua importância enquanto cuidado de
enfermagem.
A relevância do estudo para a assistência é que, ao abordar a questão da relação dos
profissionais das UC com os da CME nos tempos atuais, mostrando o que se faz numa CME e
quão complexa é sua inserção no processo de cuidar, sejam dados subsídios para que medidas de
valorização dos recursos humanos e do setor sejam adotadas. Para o ensino, espero que este
estudo possa contribuir para mostrar a necessidade de incluir conteúdos teóricos e práticos sobre
CME nos cursos de Graduação em Enfermagem no Brasil, a fim de que o desconhecimento sobre
as atividades desenvolvidas nesse setor não seja motivo de rejeição ao setor pelos enfermeiros.
Do mesmo modo, acredito que os resultados deste estudo possam fortalecer, também, a
realização de investigações, nas instituições assistenciais e de ensino, colocando em evidência o
cuidado indireto. Para a pesquisa, a contribuição é que possa sinalizar que existem ainda vários
aspectos sobre CME que precisam ser investigados cientificamente.
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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Centrais de Material e Esterilização: breve histórico
A preocupação com o tratamento dos produtos médicos1 teve início com o aprimoramento
das técnicas cirúrgicas que, no início do desenvolvimento da Medicina, não faziam parte de seus
focos de estudo. Estes procedimentos eram realizados pelos práticos, também chamados
cirurgiões barbeiros , aqueles que possuíam maior habilidade manual, mas de menor valor
acadêmico, já que os tratamentos eram, em sua maioria, clínicos. Além disso, não havia ainda
estudos mais detalhados sobre as estruturas e o funcionamento do corpo humano (DELGADO,
2000).
As cirurgias, no início do século XIX, eram realizadas de forma meramente arcaica e
empírica, em ambientes de higiene precária e sem nenhuma preocupação com a assepsia. Além
disso, havia pouquíssimos (e grosseiros) instrumentais que se destinavam às intervenções
cirúrgicas, já que se receava explorar o corpo humano em suas estruturas mais profundas. Não
obstante serem grosseiros, os instrumentais eram limpos com qualquer pano ou até mesmo na
sobrecasaca dos cirurgiões (SILVA, 1998).
Porém, com a evolução de novos métodos anestésicos em 1846 e o desenvolvimento das
técnicas cirúrgicas, os cirurgiões viram-se necessitados em criar instrumentais que pudessem
ajudá-los a ter acesso aos diversos órgãos do corpo humano (Cruz, 2003). Dessa forma, foram
sendo criados cada vez mais instrumentais para as mais diversas finalidades e que atendessem aos
diversos tipos de intervenção cirúrgica.
Paralelamente, as descobertas evidenciadas nos estudos de Pasteur e Koch no início do
século XIX, tratavam da ação dos microrganismos sobre o corpo humano na transmissão de
doenças e na demonstração da resistência das bactérias à fervura prolongada das roupas e
materiais, respectivamente. A partir dali, percebeu-se a necessidade de elevar a temperatura
acima de 100° C, dando origem, então, aos primeiros tipos de esterilizadores (COUTO, 2003;
GRAZIANO; SILVA; BIANCHI, 2000).
Outra preocupação existente era garantir que tanto os cirurgiões (adotando medidas como
a lavagem das mãos e o cuidado com a limpeza das roupas e dos campos cirúrgicos) e os
1
Decidiu-se utilizar neste estudo o termo produtos médicos por esta ser a nomenclatura mais atualizada, segundo a
Resolução nº 2.605/ 2006 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), vigente até a presente data.
18
instrumentais estivessem livres de possíveis microrganismos, para que estes não fossem
transmitidos aos pacientes.
Com o surgimento de novos instrumentais cirúrgicos no início do século XIX, surge
também a necessidade de ser criado nos hospitais um local que realizasse a limpeza, conservação,
acondicionamento, esterilização, distribuição e controle desses instrumentais.
É importante ressaltar que a sistematização do processamento de produtos médicos num
setor específico do hospital está atrelada historicamente às descobertas da ciência nos estudos de
Microbiologia, acerca da transmissibilidade das doenças causadas por microrganismos através de
materiais utilizados em procedimentos invasivos, que foram viabilizados pela evolução das
técnicas cirúrgicas.
Sabe-se que, até a década de 1940, os materiais a serem esterilizados eram preparados nas
próprias unidades de internação, apesar da preocupação em ter nos hospitais um lugar que
centralizasse os equipamentos de esterilização dos produtos. Na década de 1950 surgiram as
chamadas CME parcialmente centralizadas, ou seja, parte do material era preparado nas unidades
de internação e parte na CME, mas com esterilização sendo feita em um único local (Salzano,
1990).
Era comum o fato da CME não existir como unidade independente e autônoma nas
instituições hospitalares, mas sim como sendo parte integrante do Centro Cirúrgico.
Porém, devido à crescente demanda de instrumentais cirúrgicos, a partir de 1970 as
instituições hospitalares começaram a centralizar a preparação dos instrumentais cirúrgicos em
um único local _ a CME centralizada _, chefiado por enfermeiros subordinados ao serviço de
enfermagem e totalmente independente do Centro Cirúrgico nas décadas de 1980 e 1990
(DELGADO, 2000; MOURA, 1996).
A implantação desse modelo de CME centralizada tornou-se coerente pelo fato de
viabilizar a padronização do preparo dos materiais, que não se restringiram somente aos
instrumentais cirúrgicos, mas hoje já englobam produtos para assistência ventilatória, exames
diagnósticos e para procedimentos invasivos não-cirúrgicos.
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Unidades Unidades
Consumidoras CENTRAL DE Fornecedoras
MATERIAL E
ESTERILIZAÇÃO
Preparo e
acondicionamento
Recepção de artigos
sujos
Esterilização
Limpeza e secagem
dos artigos Armazenagem dos artigos
processados
Distribuição de artigos
limpos e esterilizados
FIGURA 1 Fluxograma dos produtos médicos processados na CME. Fonte: Silva, 1996.
O fluxograma nos permite identificar as distintas áreas e as principais atividades nelas
executadas, que são:
21
remoção de sujidades visíveis presentes nos produtos médicos, com conseqüente redução da
carga microbiana (ANVISA, 2006).
Este procedimento tem como finalidades garantir a eficácia do processo de desinfecção e
esterilização, assegurar o reuso de materiais não-críticos que são submetidos apenas à limpeza,
preservar os materiais, remover e reduzir a carga microbiana presente.
Por tudo isso, considera-se que sem a limpeza prévia de um instrumental cirúrgico ou
outro produto, sua esterilidade fica comprometida, já que a carga microbiana presente nele
funciona como uma barreira à penetração de diversos agentes esterilizantes. Desta forma, é
fundamental que, ao chegarem na CME, os produtos sejam submetidos a um rigoroso processo de
limpeza, que possui dois tipos: a limpeza manual e a limpeza mecânica.
A limpeza manual emprega manualmente a remoção da sujidade por meio de ação física,
utilizando-se detergentes, escova e água. Na execução deste procedimento, vários aspectos
precisam ser observados: o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), de escovas,
detergentes, dosadores, cestos para escorrer a água, instalação correta de pias e torneiras,
qualidade da água, escovação interna de materiais com lúmens, desmontagem de produtos com
peças removíveis e secagem adequada. Além disso, é importante atentar para o registro do
procedimento realizado (no qual se identifique o nome do material, do profissional que o
preparou, a data e a hora).
A limpeza mecânica é o procedimento automatizado para remover a sujidade que se
utiliza de lavadoras com ação física e química, que podem ser as lavadoras ultra-sônicas, as
descontaminadoras, as desinfectadoras e as lavadoras esterilizadoras. Estes equipamentos
possuem diferentes mecanismos de ação na remoção da sujidade.
É necessário lembrar que alguns desses equipamentos precisam funcionar sob um projeto
de instalação adequado às normas vigentes. Outro aspecto importante é quanto à escolha
adequada dos insumos que abastecerão as lavadoras (detergentes enzimáticos e lubrificantes) e a
padronização dos parâmetros de temperatura e tempo de exposição dos produtos.
Cunha et al (2000) recomendam que, ao adquirir insumos (detergentes e lubrificantes), é
importante observar as suas especificações, que devem ser apresentadas nos seus respectivos
rótulos; além do número de registro nos órgãos públicos competentes (Conselho Regional de
Farmácia, Conselho Regional de Química e Ministério da Saúde), além do prazo de validade e
dados do fabricante, do distribuidor e / ou importador.
23
Feita a limpeza, os produtos deverão ser encaminhados para outra área, a fim de serem
preparados e embalados para posterior esterilização.
Nesta etapa estão envolvidos quatro estágios: a inspeção, a seleção das embalagens, o
empacotamento propriamente dito e a selagem dos pacotes. Na etapa de inspeção, a qual visa
detectar falhas no processo de limpeza, deve-se estar atento para o uso de toucas nos cabelos,
iluminação adequada e instrumentos (lupas) que facilitem a inspeção e a verificação dos
materiais. A lavagem prévia das mãos ao manuseio dos materiais é um ponto de grande
importância.
Quanto à seleção das embalagens, deve-se compatibiliza-las com o processo de
esterilização e o material a ser preparado, mantendo sua integridade diante de riscos de danos
físicos e que apresente relação custo-benefício de acordo com a realidade da instituição.
Dentre as diversas embalagens disponíveis no mercado, existem os tecidos de algodão, o
papel grau cirúrgico e filme plástico, o papel crepado, o não-tecido e os contêineres rígidos,
dentre outras.
No empacotamento, devem ser aplicadas as técnicas adequadas que permitam proteção,
identificação, manutenção da esterilidade, transporte e manuseio do produto, facilitando a
abertura dos pacotes, a transferência com técnica asséptica que permita a utilização segura.
A selagem de embalagens de papel grau cirúrgico e filme plástico visa promover um
fechamento hermético garantindo sua integridade e mantendo a esterilidade do produto até o
momento do uso. Observar a temperatura das máquinas seladoras e a presença de rugas e canais
após o processo de selagem são aspectos importantes.
É oportuno lembrar que é imprescindível a identificação de cada pacote preparado na
CME, na qual deve constar a que setor pertence, as datas de preparo e de validade, o conteúdo e o
lote.
Por isso, quando se fala da esterilização propriamente dita, existem vários equipamentos
destinados a este processo e que se utilizam de diferentes mecanismos e parâmetros que se
aplicam aos diversos tipos de materiais, por exemplo, os instrumentais cirúrgicos e os produtos
termo-sensíveis. Dentre estes equipamentos estão as autoclaves e os esterilizadores por óxido de
etileno.
24
Estudo de Tipple et al (2005) demonstrou que, tanto os enfermeiros que estão nas UC
quanto os que estão na CME tiveram na graduação noções sobre prevenção e controle de infecção
hospitalar, que devem nortear a política de formação dos profissionais da saúde. Estejam ou não
atuando numa CME, todos os enfermeiros devem ter conhecimentos atualizados acerca dos
processos de assepsia, anti-sepsia, microbiologia, biossegurança e medidas de prevenção e
controle de infecções hospitalares.
Para que tudo isto esteja a contento, a supervisão e o controle em cada área e etapa do
processo são fatores imprescindíveis. O processo de trabalho nessa unidade se assemelha, em
alguns aspectos, ao de uma indústria, pela forma seqüencial de processamento de materiais e a
necessária produtividade (Moura, 1996; Silva, 1998). Além disso, devido à grande demanda de
materiais, exige extrema atenção de quem executa essas atividades.
Os enfermeiros atualmente precisam também lidar com modernas tecnologias e produtos
que demandam além de conhecimentos de novos métodos e equipamentos para reprocessá-los,
qualificação e treinamento a fim de que sejam realizados serviços com qualidade e segurança,
mas também com menor custo e sem o desgaste excessivo desses profissionais.
A prática de enfermagem em CME é bastante complexa e com características bastante
peculiares, exigindo do enfermeiro grande capacidade de coordenação, orientação e supervisão de
todas as etapas do reprocessamento dos produtos (TIPPLE et al 2005 apud MOLINA 2005).
Ainda sobre essa temática, Cruz e Soares (2004) enfatizam que o que confere a
peculiaridade ao gerenciamento de uma CME é a existência da especificidade dos produtos e dos
processos lá existentes, que em muito se diferem das rotinas de unidades de internação.
Hodiernamente, as tecnologias que visam atender aos avanços das técnicas cirúrgicas incluem
equipamentos e anestésicos que exigem o conhecimento de novos métodos de esterilização,
avançados conceitos e novas opções de trabalho. Diante dessa realidade, percebemos que cada
vez mais esses enfermeiros precisam aperfeiçoar seus conhecimentos e buscar atualização.
Portanto, pode-se afirmar que a função dos enfermeiros em CME tem início na fase de
planejamento da unidade, cabendo-lhes a escolha adequada tanto de recursos materiais quanto
humanos, bem como a seleção e o treinamento de pessoal levando-se em conta o perfil do setor.
A questão do gerenciamento de recursos humanos em CME é uma preocupação constante
para os enfermeiros, haja vista a realidade que infelizmente ainda é observada em diversas
instituições hospitalares brasileiras, nas quais os profissionais lotados naquele setor, por vezes,
27
palavras, a avaliação de custos permite viabilizar e otimizar a realização dos procedimentos junto
aos clientes e da assistência como um todo.
Matos (1995) vai além, afirmando que os profissionais que utilizam a avaliação de custos
como ferramenta no gerenciamento são os que desenvolvem uma gestão competente e compatível
com a missão de cuidar da saúde da população.
Os enfermeiros têm, também, grande responsabilidade quanto à integridade da equipe sob
sua supervisão, já que na CME há manipulação de materiais contaminados, fato que se constitui
num risco que se multiplica quando os demais elementos da equipe não têm noções de assepsia,
anti-sepsia, microbiologia e biossegurança.
No tocante aos aspectos materiais, as atividades do enfermeiro numa CME correspondem
aos aspectos que envolvem a gerência, mas não a gerência associada meramente às idéias de
previsão, aquisição, provisão, transporte, recebimento, armazenamento, conservação, distribuição
e controle. A gerência de enfermagem numa CME vai muito além, perpassa o entendimento de
que, segundo Motta (2002), se trata da arte de pensar, julgar, decidir e agir para obter resultados.
O enfermeiro de CME atualmente gerencia informações, a fim de manter as necessidades
de cuidado dos clientes e a utilização eficiente dos recursos de enfermagem, obviamente,
adequando o gerenciamento a sua realidade institucional.
É importante salientar que os enfermeiros que atuam na CME possuem uma grande
autonomia, por conseqüente domínio de uma área de saber bastante específica, que envolve o
conhecimento sobre a diversificação dos produtos e equipamentos e a forma de processá-los.
Compartilho com a idéia de Bartolomei (2003) de que o processo de trabalho do enfermeiro em
CME é diferente do realizado nas UC, mas se constitui também num processo de cuidar, num
processo de trabalho em saúde.
No início deste século XXI, por iniciativa da Association of periOperative Registered
Nurses (AORN), mais uma questão foi incorporada à realidade dos enfermeiros em CME: o
reprocessamento e a reutilização de produtos médicos rotulados para uso único, que tem sido uma
prática largamente encontrada nos serviços de saúde do Brasil e do exterior (ANVISA, 2006).
A evolução tecnológica de materiais e produtos que determinam novos recursos
diagnósticos e terapêuticos desencadeou esta prática, que envolve várias questões, dentre elas a
ética. Portanto, os enfermeiros que trabalham nesse setor precisam não somente conhecer as
legislações vigentes sobre o assunto _ a Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) nº 156, as
29
resoluções nº 2.605 e nº 2.606 (RE) da ANVISA (2006) _ a fim de estarem respaldados para
atender a esta nova realidade, mas também observar aspectos como: a análise da real necessidade/
possibilidade de reutilizar tais artigos e a responsabilidade por essa decisão e o seu controle de
qualidade, segundo apontam Tonelli e Lacerda (2005).
Para tanto, é necessária a implementação, nas instituições hospitalares, de comissões que
sejam responsáveis pela análise desses aspectos, e o enfermeiro da CME se insere nesse contexto,
pelo fato de ser o responsável técnico por este setor.
Outra interface importante existente entre os enfermeiros de CME e os demais membros
da equipe é em relação à saúde ocupacional dos profissionais. Psaltikidis (2004) lembra bem que,
no que se refere principalmente ao risco biológico, esta é mais uma das atribuições do
enfermeiro: estabelecer rotinas bem determinadas de limpeza dos produtos a fim de evitar
acidentes pérfuro-cortantes, respingos de sangue ou fluidos corporais, além de ênfase adequada
ao uso de EPI.
O enfermeiro que atua numa CME precisa se relacionar com diversas áreas do hospital e
de fora dele, a fim de que os insumos sejam fornecidos e tudo funcione de maneira articulada. Já
é uma realidade hoje, dentro das CME de grandes instituições hospitalares, haver enfermeiros
participando efetivamente da administração de materiais, integrando comissões técnicas para
escolha de produtos e equipamentos, tanto nas instituições públicas como nas particulares,
testando seu uso e dando pareceres.
Destaco ainda que estes enfermeiros têm um profundo conhecimento de todas as
atividades realizadas naquele setor, administrando os recursos que serão empregados e
coordenando, agregando e conduzindo seus grupos de trabalho na elaboração de padronizações
que darão qualidade ao produto final, do material que será distribuído. Para Roman (2005), a
qualidade do produto final, por sua vez, está diretamente relacionada com a qualidade da
assistência prestada, intervindo tanto no grau de satisfação das equipes das UC quanto na dos
clientes, que são o foco principal de todas as ações no ambiente hospitalar .
Para se definir qualidade em CME é preciso que levemos em conta fatores como
recursos humanos e materiais, condições dos equipamentos, estrutura física, educação e objetivos
a serem alcançados pelo serviço... (Roman, 2005, p. 33). Com esta afirmação, a autora faz um
resumo das atividades dos enfermeiros numa CME, pois são justamente esses profissionais os
responsáveis em fazer com que tudo isso possa ser executado.
30
Rodrigues et al (1995) destacam que a CME sobressai no contexto hospitalar por ser um
das principais responsáveis pela qualidade dos serviços prestados aos clientes, por contribuir
significativamente no controle das infecções hospitalares.
Brito et al (2002) referem que as infecções hospitalares representam um grave problema
de saúde pública, devido a sua complexidade e às implicações sociais e econômicas que
acarretam. A tentativa de fazer o controle deste tipo de agravo tem gerado esforços e estudos de
diversos segmentos do setor de saúde, tanto no serviço público quanto no privado a fim de propor
medidas para o controle das infecções hospitalares. Uma das mais eficazes conhecidas é o
reprocessamento de produtos médicos.
E, nesse contexto, esses autores reconhecem que os enfermeiros da Central de Material e
Esterilização (CME) são os profissionais responsáveis por gerenciar a elaboração de medidas de
controle que diminuem a possibilidade de ocorrência de casos de infecção hospitalar; tendo como
base o conhecimento dos diferentes métodos de esterilização e desinfecção.
Isto nos leva a dizer que as atividades dos profissionais de Enfermagem, coordenadas pelo
enfermeiro na CME, garantem a segurança não só das equipes que participam diretamente do
reprocessamento dos produtos, mas também das equipes multiprofissionais atuantes na
assistência direta.
E, diante do exposto, entende-se que as atividades que fazem parte do trabalho de um
enfermeiro numa CME têm um caráter desafiador.
contribuem muito para aumentar a vida útil dos mesmos, evitando gastos elevados com
manutenção ou com freqüentes aquisições. E, mais do que isto, o olhar atento aos materiais e a
colaboração dos enfermeiros das UC na detecção de possíveis falhas pode auxiliar muito na
redução de riscos.
Considerando que a Enfermagem é uma arte e, como tal, se define como uma atividade
voltada a uma meta que requer aplicação de conhecimentos e habilidades, na busca da satisfação
de uma necessidade de auxílio, vivenciada por um cliente-paciente (Torres, 1993); é possível
inferir que tanto o cuidado de enfermagem prestado pelo enfermeiro de CME quanto o dos
enfermeiros das UC têm o mesmo foco: os clientes.
Sobre esta temática, Waldow (2006, p. 88) refere que nas escolas de enfermagem, após o
conhecimento de uma patologia, segue-se uma lista de ações, denominadas, normalmente, de
cuidados de enfermagem . Na concepção da autora, a questão da intervenção no corpo biológico
acometido de uma doença é o que caracteriza o conceito de cuidado transmitido nas escolas que
formam os enfermeiros. Ela declara ainda que os cuidados de enfermagem têm sido usados
prioritariamente em referência à execução de técnicas e de procedimentos nos pacientes, e não
para os pacientes.
Em sua tese de Doutorado, Bartolomei (2003, p.110) esclarece que a consideração do
trabalho em CME como um cuidado ao paciente depende do referencial conceitual do cuidado.
Em uma busca bibliográfica, a autora apurou que existem duas vertentes referenciais do cuidado
genérico: uma que admite que o cuidado ocorre apenas na inter-relação pessoal, e outra que vai
além dessa inter-relação, considerando também todos os atos que configurem conforto e
segurança física e material.
Daí poder-se entender que os referenciais de cuidado que os enfermeiros possuem são
distintos, mas não excludentes e servem de base na formação de suas concepções sobre o trabalho
dos enfermeiros em CME (TONELLI e LACERDA, 2005). Muitos profissionais podem não
demonstrar interesse ou julgá-lo uma atividade desinteressante, dependendo do referencial de
cuidado que possuam.
Erdmann et al (2005) lembram que o fenômeno do cuidado é historicamente construído,
sendo que circunstâncias particulares, ideologias e relações de poder criam condições sob as
quais o mesmo pode ocorrer, as formas que assumirá. As relações de poder na área das ciências
da saúde foram sendo focadas nas tecnologias utilizadas à beira do leito, nas diferentes técnicas
32
fornecimento de produtos estéreis um dos poucos momentos em que a interação que mantêm com
a CME é questionada.
34
3 METODOLOGIA
Buscando obter mais informações acerca das concepções dos enfermeiros que atuam nas
UC sobre o trabalho dos enfermeiros na CME, a fim de que as mesmas pudessem ajudar a
identificar alguns aspectos que justifiquem a desvalorização ainda conferida a esse trabalho, foi
elaborado um estudo de caráter descritivo que, segundo Leopardi (2002), é indicado quando se
tem a necessidade de explorar uma situação desconhecida, da qual se necessita ter mais
informações.
A natureza descritiva favorece a obtenção de dados necessários para o desenvolvimento
da pesquisa, pois é através das descrições que se pode delinear acontecimentos, situações e
citações que favorecerão a interpretação e análise das informações (LÜDKE & ANDRÉ, 1986, p.
11).
Como expresso anteriormente, o objeto de estudo define-se como as concepções dos
enfermeiros das Unidades Consumidoras acerca do trabalho dos enfermeiros em CME. Para
identificar a complexidade dos aspectos da construção destas concepções e as relações com o
contexto na qual se produzem, utilizei a abordagem qualitativa, que está em consonância com o
estudo. Para Polit e Hungler (1995, p. 18) sua característica é que: não tenta controlar o contexto
da pesquisa, mas captar o contexto em sua totalidade . Minayo (1994, p. 21) descreve a pesquisa
qualitativa como a que "trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças,
valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e
dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis".
A identificação das idéias que os enfermeiros têm acerca de sua categoria profissional
atuante na CME ajuda a discutir aspectos de como o processo de trabalho se insere no processo
de cuidar da Enfermagem e, mais ainda, discutir o quê para esses profissionais faz parte do
cuidar.
As concepções que os indivíduos possuem acerca de determinado assunto influenciam em
muito suas atitudes. Então, o que mais interessou neste estudo, foi exatamente obter informações
que servissem de subsídio para desvendar a tensão entre o saber-fazer na Enfermagem, entre o
cuidado direto e o cuidado indireto. Esta, de certa forma, pode fazer com que alguns enfermeiros
que atuam na assistência direta aos clientes, ainda hoje, desconheçam o trabalho dos enfermeiros
em CME, e se refiram de forma tão inaceitável a esse tipo de trabalho.
35
3.1 Cenário
2
Funcionário treinado no processo de conduzir os clientes em macas ou cadeiras de rodas para os diversos setores do
hospital (Centro cirúrgico, raio X, ambulatórios, unidades de internação, dentre outros).
37
Os sujeitos deste estudo foram os enfermeiros que atuam nas unidades de internação
clínica e cirúrgica. Foram adotados como critérios de inclusão: aceitar participar da pesquisa e
estar trabalhando no setor há pelo menos um ano, tempo considerado necessário à vivência da
dinâmica de trabalho e da interação com a CME.
Foram excluídos do estudo os enfermeiros plantonistas com atividades em mais de um
setor, ou no mesmo setor, em caráter de substituição, pois isso acarretaria uma repetição de
depoentes.
Participaram da pesquisa 25 enfermeiros que atuam em unidades de internação clínica e
cirúrgica, sendo 09 da instituição pública e 16 da instituição privada.
Inicialmente, após a aprovação dos Comitês de Ética em Pesquisa (CEP) das instituições,
fiz contato com as chefias de Enfermagem das UC nas quais realizei as entrevistas, a fim de que
pudesse agendá-las junto com os enfermeiros nas datas e horários de sua preferência.
A receptividade dos profissionais para a realização das entrevistas é um aspecto muito
importante para o desenvolvimento de uma relação adequada entre o pesquisador e os
entrevistados, permitindo criar um espaço de comunicação apropriado para discorrer o mais
tranqüilamente possível sobre o tema tratado (ANGULO-TUESTA, 1997).
Após receber a autorização dos CEP, pude ter acesso aos cenários da pesquisa e falar
diretamente com os sujeitos em potencial, cuidando de comunicar as suas chefias imediatas a
minha presença no setor. A partir daí, comecei a interagir com os enfermeiros acerca do porquê
de minha presença no setor e fazendo esclarecimentos sobre a pesquisa.
O desenvolvimento das entrevistas, na maioria dos casos, deu-se num ambiente reservado,
permitindo abordar com tranqüilidade as questões do roteiro. Os horários das entrevistas foram
determinados pelos participantes do estudo, pois era o de menos atividades.
As entrevistas aconteceram nas próprias unidades de trabalho dos enfermeiros, nos meses
de novembro e dezembro de 2006 e junho e julho de 2007. A média de duração de cada entrevista
foi de 20 minutos, variando entre 15 e 40 minutos. A coleta de dados foi encerrada quando
ocorreu a saturação das respostas.
A fim de cumprir os preceitos ético-legais impostos pela Resolução 196/96 (CNS),
forneci todas as informações sobre a pesquisa aos sujeitos antes das entrevistas, e entreguei o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice A) e o Termo de Autorização (Apêndice
A), confirmando o aceite da participação e seu direito em desistir em qualquer fase da mesma.
Desta forma, os entrevistados tiveram sua autonomia respeitada, contando com o
comprometimento em lhes garantir seu anonimato, a confidencialidade dos dados fornecidos e a
privacidade nos procedimentos de investigação científica, conforme as exigências da referida
Resolução 196/96.
39
Para análise do material coletado foi utilizada a técnica de Análise Temática, proposta por
Minayo (2000), segundo a qual pude descobrir os núcleos de sentidos que compõem uma
comunicação cuja presença ou freqüência signifiquem algo para o objeto analítico visado.
Creio que esta técnica foi adequada à proposta da pesquisa porque, qualitativamente, a
presença de determinados temas denota os valores de referência e os modelos de comportamento
40
presentes no discurso. Minayo (2000) propõe realizar a análise temática em três etapas: pré-
análise, exploração do material e tratamento dos dados obtidos.
A pré-análise inclui a escolha dos documentos a serem analisados: a retomada dos
objetivos iniciais da pesquisa e a elaboração de indicadores que orientem a interpretação final.
Nessa fase pré-analítica determinam-se a unidade de registro (palavra-chave ou frase), a unidade
de contexto (a delimitação do contexto de compreensão da unidade de registro), os recortes, a
forma de categorização, a modalidade de codificação e os conceitos teóricos mais gerais que
orientarão a análise.
A exploração do material consiste essencialmente na transformação dos dados brutos
visando alcançar o núcleo de compreensão do texto. Nesta fase, faz-se o recorte (escolha das
unidades de significação) do texto em unidades de registro, tal como foi estabelecido na pré-
análise; depois, escolhem-se as regras de contagem e posteriormente realiza-se a classificação e a
agregação dos dados (categorização), escolhendo as categorias teóricas que comandarão a
especificação dos temas.
Numa análise temática, o tema é a unidade de significação, que se libera naturalmente de
um texto analisado. Logo, fazer uma análise temática consiste em descobrir os temas, que são as
unidades de registro nesse tipo de análise e que corresponde a uma regra para o recorte. Após o
recorte, as unidades de significação foram classificadas.
Na fase de tratamento dos resultados obtidos, na inferência e na interpretação, optou-se
por trabalhar na linha qualitativa, por meio de significados (ao invés de inferências estatísticas).
Ou seja, para apresentar os resultados, foram feitas inferências e interpretações previstas no
quadro teórico.
As falas foram transcritas, organizadas e, em seguida, submetidas à análise, na qual os
dados coletados foram devidamente interpretados e classificados em três categorias denominadas:
Trabalho que envolve gerência ; Trabalho desconhecido, mas fundamental e O invisível que
é essencial em sua simplicidade , que serão apresentadas na seção seguinte.
41
Na busca de atender aos objetivos do estudo por meio das entrevistas com os enfermeiros
das UC, foi possível evidenciar temáticas emergentes que respondem aos questionamentos da
pesquisa. A partir das leituras das respostas, os textos foram reunidos conforme os núcleos de
sentido que apresentavam, os quais foram aproximados à temática, compondo as categorias de
análise.
Considerando-se que os significados surgem no processo de interação dos seres humanos,
na maneira como eles agem um com o outro em relação a uma determinada coisa ou evento
(TEIXEIRA et al, 2006), os significados trazidos pelos enfermeiros das UC acerca do trabalho
dos enfermeiros em CME deram suporte à discussão das categorias.
Esta categoria, em que se incluiu a qualidade na assistência aos clientes, surgiu a partir
das frases retiradas das falas dos entrevistados, as quais revelam que uma das concepções acerca
do trabalho dos enfermeiros que atuam na CME é de que o mesmo consiste no cuidado à
execução do reprocessamento dos produtos médicos. Neste contexto, significa garantir os meios,
as condições adequadas para que o cuidado direto aos clientes possa ser realizado.
Para grande parte dos entrevistados, significa essencialmente o desenvolvimento de
gerência de Enfermagem, a partir das ações de supervisão, controle, fiscalização e coordenação
do trabalho dos outros membros da equipe:
42
... então ele tem que estar gerenciando, observando como estão sendo
feitos os procedimentos, como é que estão sendo feitos os processamentos
de material. E6A
... ele tem que supervisionar o trabalho dos outros membros da equipe,
ele supervisiona o trabalho, vê se aquele pacote está sendo bem feito;...
E1A
... Não estou dizendo que auxiliar e técnico não sabe fazer esse
trabalho, mas eu digo assim, o enfermeiro ele tem o conhecimento
científico para poder planejar, coordenar, organizar, etc. E3A
Se não tiver fiscalização não tem uma boa qualidade. Ele busca uma
boa produção e uma grande qualidade no serviço dele. E4A
A qualidade da assistência prestada aparece como ponto de convergência nas idéias dos
enfermeiros das UC em torno daquilo que imaginam ser a finalidade das ações dos enfermeiros
na CME.
O discurso consensual é de que existe a vinculação da qualidade dos produtos
reprocessados na CME com a qualidade de assistência direta, ou seja, a todo o momento os
enfermeiros entrevistados associavam a importância do trabalho do enfermeiro de CME atuando
no controle de qualidade do preparo dos materiais.
Definir um conceito de qualidade é algo difícil, pois abrange parâmetros muito relativos;
mas como bem esclarece Costa (2003, p. 67): Traz consigo o sentido de perfeição, do melhor
assistir possível, do assistir ideal, a busca do bem viver; assumindo, portanto, nesta concepção, a
sua dimensão ética.
Os enfermeiros das UC explicitaram em suas falas a influência do trabalho do enfermeiro
da CME no trabalho dos enfermeiros nas demais atividades realizadas em outros setores do
hospital, ou seja, eles reconheceram que se o primeiro não for executado de forma eficiente, a
qualidade da assistência nos demais setores ficará seriamente comprometida:
46
... nas cirurgias o paciente vai ter contato direto com aquele material,
então é muito importante o trabalho do enfermeiro, o enfermeiro que
atua ali, e vendo as falhas, o que está faltando... E1A
Estas falas reforçam a relação de interdependência que as UC têm com a CME, cujas
atividades convergem para o mesmo ponto, que é o cliente. A finalidade do trabalho nesses
setores é assistir o cliente da melhor forma possível.
No depoimento de um dos enfermeiros que demonstrou ter algum conhecimento técnico
sobre os equipamentos utilizados no reprocessamento dos produtos, ficou explicitada sua
preocupação com a qualidade não só na finalidade do trabalho, mas a qualidade em cada etapa
dele, em seus diferentes aspectos como, dentre outros, a limpeza e a esterilização propriamente
dita:
Essa visão vem ao encontro do estudo de Silva (1995), segundo o qual numa CME é
preciso definir e garantir padrões de qualidade para funcionamento. A autora ressalta também que
é exatamente o produto do trabalho da CME que a articula com as outras unidades do hospital e
que por isso, suas falhas técnicas assumem maior abrangência, afetando toda a clientela atendida.
A noção de qualidade sempre esteve intimamente ligada à prática de enfermagem, sendo
Florence Nightingale considerada a pioneira neste sentido, por ter implantado o primeiro modelo
de melhoria contínua da qualidade em saúde (Nogueira, 1996, p. 2).
Um enfermeiro demonstrou ter conhecimento sobre este aspecto histórico, como revela
seu depoimento:
... é importante porque uma vez que a história da Enfermagem já
começa pela... toda estrutura de provisão, prevendo o material hospitalar
e hoje em dia, com a diversificação do sistema de hotelaria, de...
organização dos hospitais, é necessário sempre ter um enfermeiro em
determinadas áreas do hospital. Sendo assim, tem que ter enfermeiro
responsável pela parte de rouparia, responsável pela parte do material
que vai ser usado diretamente no paciente e, no caso, a Central de
Material. E11B
Nessa área, Cruz e Soares (2004) referem que a qualidade é entendida como o resultado
positivo esperado na saúde do cliente, influenciado pela atenção dada, a partir dos recursos
utilizados.
A partir dessa visão, que os depoimentos dos sujeitos vêm corroborar, infere-se que as
atividades gerenciais dos enfermeiros na CME só contribuem para que TODOS os elementos da
equipe de saúde possam prestar assistência de qualidade aos clientes, através dos produtos
médicos corretamente reprocessados.
48
Esta categoria foi elaborada a partir da concepção de que o trabalho dos enfermeiros em
CME é, em sua essência, desconhecido entre os enfermeiros que atuam nas UC. Para a quase
totalidade dos entrevistados, significa algo que é muito importante para o funcionamento
hospitalar. É um trabalho que confere segurança aos procedimentos realizados junto aos clientes
através do controle das infecções hospitalares. Porém, os materiais e os meios para que esse
trabalho seja executado ainda não são, entre os enfermeiros das UC, algo familiar, ou seja, não se
tratam de atividades de conhecimento geral desses profissionais. Algumas falas evidenciam esta
afirmativa:
... agora, assim, o funcionamento dentro do Centro de Material ... eu
conheço pouca coisa, ... E1A
... olha, eu não tenho, é... Eu não sei como expressar isso mas eu não
consigo, é, por estar muito ligada à prática, em atendimento nas
enfermarias, ou até em unidades mais fechadas, ... eu não consigo
entender muito bem o serviço do enfermeiro na Central de Material,...
E6A
... o que a gente percebe é que... a gente não conhece o serviço dele,...
E6A
Entretanto, compreende-se que ainda pode parecer confuso para os enfermeiros que
prestam assistência direta aos clientes associarem o que os enfermeiros fazem numa CME com o
cuidado genuíno. Em nenhum momento aparece nos depoimentos o uso da palavra cuidado para
fazer referência a esse trabalho mas, ao o relacionarem a aspectos de segurança aos clientes e
49
Agora, como é realmente no setor eu não tenho uma idéia bem formada
não, nunca passei por lá, não... E9A
É que eu não tive nenhum tipo de contato, foi só na graduação, então foi
uma coisa muito básica, muito superficial... E15B
O meu estágio foi muito rápido, não era diariamente, e como a turma
era grande e a Central tem essa coisa de não poder ficar entrando e
saindo, era semanal, então o que deu pra ver foi muito pouco... bem
rápido. E12B
Retomando o que foi descrito na Introdução deste estudo, verificamos que este aspecto já
havia sido contemplado por vários autores, tais como Silva, A. (1998), Jouclas et al. (1994) e
Graziano et al. (2004), que atribuem o desconhecimento à falta ou escassez de conteúdos teóricos
sobre CME no ensino das escolas de enfermagem brasileiras, nas quais raramente estes conteúdos
são apresentados enquanto disciplina específica, ficando diluídos em outras disciplinas. As
afirmativas dessas autoras aproximam-se muito dos resultados encontrados.
A exposição desses dados nos leva a uma reflexão de que, se estes conteúdos não são de
conhecimento dos alunos, é porque os professores nem sequer os apresentam, ou o fazem de
forma maçante. Sendo assim, recai sobre os enfermeiros docentes a responsabilidade em tornar o
ensino sobre CME mais interessante.
O que se pode verificar é que somente os profissionais que já tiveram a oportunidade de
atuar em CC (setor que possui íntima ligação com a CME) têm a exata idéia de como funciona o
trabalho. Apesar de não se ter encontrado entre os entrevistados alguém com alguma experiência
prévia em CME enquanto funcionário, alguns já haviam atuado em CC ou feito visitas ou
estágios de curta duração durante a formação profissional e, por isso, tiveram condições de se
aproximar fidedignamente da realidade de trabalho de um enfermeiro numa CME, como mostram
as falas apresentadas a seguir:
51
... eles ficam tão isolados que os próprios colegas não sabem que... qual
o trabalho que eles desenvolvem lá. Não sabem, não sabem o quê que ele
coordena, o que ele supervisiona, não sabem. Eu acho que isso deveria
ser, sei lá, divulgado, deveria ser mostrado pro hospital. Mostrar pros
outros colegas como funciona isso... mas quem fica nesses setores mais
fechados, como, Centro Cirúrgico e a Central de Material pior ainda,
porque não tem paciente lá. Então fica um pouco... por isso que eu acho
que fica até difícil para as pessoas identificarem qual o trabalho do
enfermeiro na Central de Material. E8A
52
... acho que é uma área até por estar não tão próxima às clínicas entre
outros setores também acho que não é muito divulgado; eu acho que tem
que ser mais divulgado o trabalho do enfermeiro dentro de uma
Central. E10B
Esta concepção nos leva a pensar sobre algumas questões. Uma delas é que nos hospitais
há outros setores fechados, mas o papel técnico de um enfermeiro naquelas unidades é mais
facilmente descrito, inclusive devido à presença dos clientes. Portanto, deve partir do próprio
enfermeiro de CME o hábito de interagir com as UC, por meio de ações presenciais naquelas
unidades como, por exemplo, a orientação de como os produtos reprocessados devem ser
acondicionados para a manutenção das condições de esterilidade.
Outra questão é que a responsabilidade pela divulgação do trabalho do enfermeiro na
CME deve ser feito por ele mesmo, quem mais sabe sobre o seu ofício. Poucas áreas de
conhecimento evoluíram tanto quanto a esterilização e o reprocessamento de materiais/ produtos.
Sendo assim, é preciso que o enfermeiro manifeste a vontade de promover eventos voltados para
CME na instituição onde atua, a fim de que os demais enfermeiros conheçam essas evoluções.
Uma visão interessante sinalizada em uma das falas é que o nível de conhecimento sobre a
CME influencia na valorização recebida pelo setor entre os enfermeiros das UC:
é desenvolvido com base em conhecimentos científicos. As falas são marcadas por expressões,
por exemplo: o enfermeiro é aquele que tem o conhecimento científico ; o enfermeiro tem uma
formação maior , o que enfatiza a concepção de que, na CME, a presença do enfermeiro é
imprescindível.
Sabe-se da obrigatoriedade de se ter um enfermeiro responsável pelas atividades de
planejamento, organização, coordenação, execução e avaliação dos serviços de assistência de
enfermagem (Ministério da Saúde, 1986), mas a visão dos depoentes do estudo não quer apenas
assinalar este fato como uma exigência legal do exercício da profissão, mas também, acima de
tudo, apontá-lo como uma justificativa para se designar enfermeiros para gerenciar os serviços de
CME, ou seja, o trabalho executado por estes enfermeiros possui, na concepção dos sujeitos do
estudo, um caráter de pertinência e insubstituível.
Na visão dos sujeitos do estudo, este conhecimento científico é o que credencia o
enfermeiro a ocupar uma posição privilegiada em relação à dos profissionais de enfermagem de
nível médio que, apesar de participarem da rotina de execução do preparo dos materiais, o fazem
de maneira considerada repetitiva e que não envolve atividades de supervisão e coordenação
apresentadas na categoria anterior e que necessitam do conhecimento científico que o enfermeiro
detém.
... a responsabilidade de planejar, coordenar,... é do enfermeiro e no
Centro de Material você não pode ter somente pessoal de nível médio e
auxiliar, porque o enfermeiro é que vai ter conhecimento científico sobre
os produtos que serão utilizados, os produtos químicos, é... o grau de
necessidade da, digamos assim, o grau de necessidade da utilização do
material, o enfermeiro é aquele que tem o conhecimento científico... .o
enfermeiro ele tem o conhecimento científico para poder planejar,
coordenar, organizar, etc. E3A
... a gente entende que o enfermeiro tem uma formação maior do que a
equipe de nível médio, então ele tem que estar gerenciando, observando
como estão sendo feitos os procedimentos, como é que estão sendo feitos
os processamentos de material, ... E às vezes o profissional de nível
médio não vai ter a complexidade da visão do enfermeiro... Ver as
54
O conteúdo das falas revela ainda que a presença de um enfermeiro numa CME é
considerado um diferencial positivo para o reprocessamento dos produtos/ materiais, pelo
conhecimento que esse profissional detém, dando-lhe condições para verificar erros e acertos e
ajustar os pontos críticos nesse processo de cuidar:
o enfermeiro sabe melhor o que é preciso, o que tem que ser feito E16B
Neste sentido, uma enfermeira aponta um viés importante e que assinala o oposto, ou seja,
ela traz a discussão de que a falta de preparo do enfermeiro na CME ou a má execução do seu
trabalho na supervisão e coordenação do reprocessamento pode significar uma conseqüência
negativa na assistência direta:
... estar vendo aquele material, estar vendo a forma como ele está sendo
esterilizado, estar buscando novos empreendimentos, novos materiais,
sempre ele está em busca de alguma coisa nova... Isso pra proteger o
cliente, ele está sempre em busca da proteção... E4A
Então, são muitos detalhes pra pessoa ver e ter uma pessoa bem
informada, especializada para estar verificando se tudo está sendo
esterilizado mesmo, para não originar infecção hospitalar e sem
danificar o material, senão vai ter prejuízo também para o hospital.
E5B
...eu acho que é o centro de tudo, você tem que estar ligado em tudo,
porque um material mal esterilizado reflete em sérias conseqüências para
tudo: para o curativo, para o centro cirúrgico... E7B
saúde como medidas de tratamento dos produtos que são manuseados e até do ambiente. O
conceito de cuidar deixado por Florence perpassa o reprocessamento desses produtos.
Vários depoimentos destacaram a importância do trabalho em CME em vários aspectos e
a influência que os produtos médicos fornecidos por este setor tem não só no funcionamento das
UC, mas do hospital em geral:
... mas eu acredito que seja muito importante, sim. Eu acho que a gente
tinha que compartilhar experiências. O que a gente percebe é que o
profissional de enfermagem que está na Central de Material ele não
conhece o serviço da assistência, e a gente não conhece o serviço dele,
58
apesar dos dois serem importantes. Então eu acho que a gente tem que
compartilhar as experiências. E6A
O que esta visão explicita é que, apesar do vínculo operacional existente entre CME e CC,
que se configura no fornecimento de produtos/ materiais de uma a outra, o mesmo não se estende
até uma dimensão macro, na qual exista realmente uma relação dialógica, um interesse em
conhecer e saber do outro para uma finalidade comum, que é prestar uma assistência com
segurança aos clientes.
Um dos depoimentos mostra claramente como, ainda hoje, pensa-se que CC e CME
fazem parte de um mesmo setor, de uma mesma estrutura. A idéia de uma CME com chefia,
organização e espaço físico próprios ainda é algo que não parece completamente claro entre
alguns enfermeiros das UC:
...então você tem muitas cirurgias, então deve ter uma movimentação
enorme naquele centro cirúrgico, apesar de ter uma idéia de quem está
no centro cirúrgico não faz nada,... pessoal normalmente deve achar que
centro cirúrgico é uma moleza, que o pessoal vai lá para dormir, mas a
gente sabe que a realidade não é essa. E9A
Com efeito, a história mostra que a CME só assumiu esta condição no Brasil a partir da
década de 1950, quando então passaram a ser gerenciadas pelos serviços de enfermagem e
adquiriram autonomia na estrutura organizacional hospitalar. Hodiernamente, em muitas
59
instituições ainda é uma prática comum se ter a CME compartilhando o mesmo espaço físico do
CC e sendo gerenciadas pelo enfermeiro que responde pela chefia de ambos os setores.
Entendo que isto é uma prática equivocada que precisa ser revista e modificada, pois é
importante que se tenham nos hospitais CME autônomas e centralizadas, cujas vantagens já
foram apresentadas anteriormente neste estudo.
Diante do que foi exposto nesta categoria, o que se pode inferir é que o trabalho do
enfermeiro na CME é fundamental para a segurança e a confiabilidade atribuídas ao cuidado
prestado aos clientes assistidos nas UC, concepção que ratifica a sua posição de responsável
técnico pela CME. Contudo, as características técnicas de seu trabalho naquela unidade não são
ainda conhecidas.
60
funcionário idoso. Eu acho que não tem que ser assim; eu acho que você
tem que distribuir; claro, lá dentro você vai colocar as pessoas que têm
certas limitações pela idade, que têm que trabalhar, mas eu acho que tem
que acabar um pouco com isso de Central de Material ser depósito de
funcionário problema ... E7A
... a imagem que as pessoas mais ou menos têm é que só vai velho pra
lá,; vai velho, debilitado,... E9A
Assim, deve haver entre os enfermeiros que atuam na CME a preocupação com a
capacitação dos funcionários, e a reivindicação junto à administração dos serviços de
Enfermagem sobre a necessidade de se fazer a seleção de pessoal sob critérios rigorosos, para que
a aquisição de hábitos de reflexão e ação possa ampliar a qualificação dos profissionais de
enfermagem, no sentido de contribuir para o controle das infecções hospitalares através do
fornecimento de materiais confiáveis às UC.
Acredito que uma forma de alcançar esse objetivo está na ação conjunta dos gerentes de
enfermagem de CME e dos serviços de Educação Continuada, a fim de que sejam implementadas
medidas de formação permanente dos profissionais do setor, sempre pautada na atualização dos
conhecimentos sobre as novas tecnologias empregadas no reprocessamento dos materiais.
Para Deluiz (1997, p. 13) o papel da educação precisa ser rediscutido pois, segundo este
autor o mercado passa a exigir do profissional capacidade de diagnosticar e solucionar
problemas, de tomar decisões, de intervir nas atividades, de atuar em equipe, de auto organizar-se
e de enfrentar situações em constante mudança .
Além disso, é preciso que haja uma sensibilização no tocante à necessidade da seleção e
treinamento de pessoal para atuar na CME, o que precisa ser feito de forma criteriosa, buscando
os profissionais capazes de refletir sobre a importância do trabalho para a assistência e que
estejam aptos _ física, técnica e interpessoalmente _ a acompanhar o funcionamento do setor,
visando sempre atingir a segurança na assistência aos clientes.
Também é muito importante incentivar o comportamento criativo e crítico dos
enfermeiros, de forma que estes sintam-se sempre mais motivados e valorizados no trabalho que
executam.
A este respeito, Silva (2003) ressalta que a coordenação de recursos, humanos e materiais,
é uma das categorias de ações de enfermagem, que faz parte do cuidado indireto, caracterizado
pelas atividades técnicas e administrativas realizadas para facilitar a realização de um cuidado de
qualidade.
As falas revelam, porém, que os entrevistados sabem da importância desta ação de
enfermagem executada pelos enfermeiros na CME no cuidado, mas admitem que esta não é uma
visão compartilhada por muitos profissionais que atuam nas UC. Abordam a questão da rejeição
que muitos profissionais têm ao trabalho indireto, não desenvolvido junto aos clientes:
64
as pessoas podem até pensar que é um trabalho sem valor porque não
está direto ligado ao paciente, que não está na beira do leito... Porque
ainda tem aquela... a pessoa ainda tem aquela idéia de achar que o que
mais vale é aquele que está na beira do leito, CTI, que entende de muita
coisa. Não, eu acho importante o trabalho da enfermeira na Central de
Material por ela coordenar isso tudo, ela tem que... E8A
... é o enfermeiro que está lá dentro mesmo, tendo que coordenar aquilo
tudo, porque, erroneamente, todo o resto do hospital acha que como lá
não é assistencial, que aquilo lá é tudo muito fácil, e na verdade, não: é
muito difícil, é muita pressão que a pessoa sofre lá dentro, porque ela é
responsável por fornecer material pra todo o hospital, e todo tipo de
material pra todo tipo de paciente. E5B
Uma outra questão que emerge das falas dos sujeitos é a que trata do preparo dos
produtos/ materiais que, mesmo que seja aparentemente algo simples e se pode denominar
atividade micro, pode acarretar conseqüências significativas nos procedimentos ou intervenções
realizados junto aos clientes, que são atividades macro. O depoimento abaixo, que se refere ao
preparo de pacotes com gaze, exemplifica isto:
... cada um tem que fazer a sua etapa, como por exemplo dobrar as
gazesinhas, empacotar, separar determinados materiais, pinças,... vem
assim dentro do pacote de curativo, do pacote de gaze, do pacote estéril...
se tem uma série de erros em cadeia, aí eu acabo ferindo essa coisa aqui
do meu processo de assistência, por exemplo, o curativo,... E5A
Esta fala nos remete à reflexão feita por Delgado (2000, p. 138), que coincidentemente
comparou o micro e o macro exemplificando-os com o gesto de se preparar um pacote com gaze
para ser usado num curativo:
[...]na CME convive-se com o micro em quase todas as tarefas ali realizadas. O
micro é suposição, não é visível, não denota comprometimento no fazer, mas
65
[...] a essência que há por trás do processo de dobrar é uma essência do processo
científico. Quando se dobra corretamente, evita-se... a penetração dos
microrganismos. O técnico, o científico e o prático são igualmente fundamentais
num aparentemente simples dobrar. (DELGADO, 2000, p. 139)
Porque, por você ter muitas mãos trabalhando você tem que ter um
fiscal, é produção. Se não tiver fiscalização não tem uma boa qualidade.
Ele busca uma boa produção... E4A
enfermagem começar a assumir totalmente seu papel assistencial no cuidado indireto, por meio
do gerenciamento com mais autonomia e segurança, fazendo uso da liderança e do pensamento
crítico, ela alcançará o seu reconhecimento profissional.
Nesse contexto, tanto nas instituições de saúde públicas quanto privadas, é premente a
necessidade da implantação de programas de gerenciamento da qualidade, que incluam medidas
tais como a seleção criteriosa de profissionais privilegiando o conhecimento.
Júnior (2007) reforça esta idéia ao lembrar:
Hospital é de fato uma empresa como outra qualquer e tem todos os seus
aspectos e dificuldades relacionadas a questões administrativas, que passam
pelas áreas financeira, de logística, de insumos, de desenvolvimento de recursos
humanos, além dos processos técnico-assistenciais. Tudo isso requer
conhecimento muito específico.
Os depoimentos dos enfermeiros das UC, quando destacam como algo recorrente a visão
negativa que a CME ainda possui entre muitos profissionais das instituições hospitalares,
reforçam a necessidade de se investir na capacitação dos profissionais. Mas, felizmente, este
quadro vem se transformando aos poucos nas instituições de assistência à saúde que já
implementam uma administração de serviços comprometida com a valorização desse tipo de
atividade que, não pretende minimizar a importância dos fatores subjetivos da assistência, mas
que encara o serviço de saúde como qualquer outro prestado a cidadãos que, como tais, merecem
respeito e segurança.
68
5 CONCLUSÃO
Ao iniciar este estudo, havia muitas indagações que me impeliam cada vez mais a
mergulhar nos significados que o trabalho que os enfermeiros executam na Central de Material e
Esterilização poderia ter para aqueles enfermeiros que estão fora dela.
No momento em que comecei a ter contato com os sujeitos do estudo, deparei-me com
depoimentos que revelam uma visão bastante crítica sobre o trabalho do enfermeiro em CME e
sobre o setor em si. E esta não se mostrou imprópria, diferente do que eu havia vivenciado em
meu dia-a-dia na prática, conforme exposto em seções anteriores desta pesquisa.
Entretanto, os entrevistados admitem que a opinião deles não parece ser aquela
compartilhada por muitos profissionais das instituições hospitalares, que ainda atribuem uma
desvalorização ao trabalho em CME como um todo, não só o do enfermeiro.
Este estudo mostrou-me que o trabalho do enfermeiro na CME é percebido pelos
enfermeiros das UC como um trabalho de gerenciamento das atividades executadas pelos
membros da equipe de enfermagem. As palavras como supervisão, controle e fiscalização,
definidoras desse trabalho, em nenhum momento tiveram enfoque negativo. Ao contrário,
revelaram que a concepção trazida pelos enfermeiros da assistência direta é de que o enfermeiro
executa na CME um trabalho complexo e essencial na segurança dos clientes e no funcionamento
do hospital.
Revelou-me também a necessidade de se pôr em prática novas maneiras de formação dos
futuros enfermeiros e do pensar o cuidado em enfermagem, pois se desconhece no que realmente
consiste o trabalho do enfermeiro em uma CME.
Isto ficou explícito quando na análise dos dados foi descrito que no ensino de Graduação
em Enfermagem os conteúdos acerca da CME são escassos, freqüentemente reduzidos a algumas
visitas ao setor ou agregados aos tópicos de Centro Cirúrgico, como se fossem a mesma unidade.
Isto significa que esses conteúdos não recebem o devido aprofundamento de que necessitam para
capacitar os enfermeiros na execução dos aspectos gerenciais peculiares que o setor demanda.
O que se percebe é que nas escolas de enfermagem a questão do cuidado envolve a
assistência direta ao cliente, mas pouco se discute a assistência para o cliente, que é o tipo de
assistência prestada pelo enfermeiro que atua na CME. A discussão sobre o significado de
cuidado para a profissão, abordado nas diversas disciplinas dos cursos de graduação perpassa o
69
REFERÊNCIAS
COSTA, R. M. A. Das linhas às entrelinhas: uma análise das práticas de educação continuada
em Enfermagem. 2000. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) Escola de Enfermagem,
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2000.
HABERMAS, J. Técnica e ciência como ideologia . São Paulo: Edições 70 LTDA, 1997.
MOTTA, P. R. Gestão contemporânea: a ciência e a arte de ser dirigente. 5. ed. Rio de Janeiro:
Record. 2002.
NIGHTINGALE, F. Notas Sobre Enfermagem: o que é e o que não é. Ribeirão Preto (SP):
Cortez, ABEn-CEPEn, 1989.
____________. The central service department. In: _________. Principles and methods of
sterilization in health sciences. 2. ed. Springfield: Charles C. Thomas, 1982.
PAULO, 3., 1989, Ribeiräo Preto. Anais... Ribeiräo Preto: 1989. p. 472-89.
_________. Organização do trabalho na Unidade Centro de Material. Rev. Esc. Enf. USP, São
Paulo, v. 32, n. 2, p. 169-78, ago. 1998.
TORRES, G. A posição dos conceitos e teorias na enfermagem. In: GEORGE, J.B. et al. Teorias
de Enfermagem Os Fundamentos para a prática profissional. Porto Alegre: Artes Médicas,
1993. p. 13-23, 38-48.
GLOSSÁRIO
ESTERILIZAÇÃO - Processo físico ou químico que elimina todas as formas de vida microbiana,
incluindo os esporos bacterianos.
LIMPEZA - Consiste na remoção de sujidades visíveis e detritos dos artigos, realizada com água
adicionada de sabão ou detergente, de forma manual ou automatizada, por ação mecânica, com
conseqüente redução da carga microbiana. Deve preceder os processos de desinfecção ou
esterilização.
PRODUTO MÉDICO - produto para a saúde, tal como equipamento, aparelho, material, artigo
ou sistema de uso ou aplicação médica, odontológica ou laboratorial, destinado à prevenção,
diagnóstico, tratamento, reabilitação ou anticoncepção e que não utiliza meio farmacológico,
imunológico ou metabólico para realizar sua principal função em seres humanos, podendo
entretanto ser auxiliado em suas funções por tais meios.
AUTORIZAÇÃO
Eu, ___________________________________ concordo voluntariamente, a participar da
pesquisa acima descrita, na condição de sujeito investigado por meio de entrevista gravada tendo
garantido meu anonimato. Autorizo, ainda, a mestranda de enfermagem Aline Costa da Silva
(autora) a utilizar as informações por mim fornecidas, somente para atender aos fins da pesquisa
e para divulgação de seus respectivos resultados no meio acadêmico (eventos e/ ou publicações).
Data: / / Assinatura da entrevistadora : _______________________________
Assinatura do entrevistado:__________________________________
81
Iniciais:
Sexo: ( ) F ()M
Tempo de formado (a): ( ) até 05 anos ( ) 05-10 anos ( ) 10-15 anos ( ) 15 anos ou mais
ROTEIRO DE ENTREVISTA:
INSTITUIÇÃO A
E1A:
E2A:
agora eu já vejo que é importante o enfermeiro estar lá porque e enfermeiro tem o conhecimento
e está à frente de observar se foi feita a limpeza adequada do material, se foi feito o
procedimento da esterilização corretamente, se o tempo... tudo... se validou a esterilização...
tudo isso é de controle do enfermeiro. Então eu comecei a ver a importância dele ali dentro. É
aquela rotina do fluxo, o enfermeiro tem essa visão. Eu só fui começar a valorizar a partir do
momento em que eu fui adquirindo conhecimento e eu comecei a valorizar mais, porque antes eu
achava que não, que Central de Material não tinha... A gente acha que o enfermeiro na
assistência direta é mais a sua área, mas não; hoje eu já vejo a importância dele... Antes de eu
iniciar esse curso, eu tinha uma visão diferenciada, e agora como eu estou vendo a importância,
estudando mais a fundo toda essa questão de infecção, de controlar...; aí eu estou tendo a
oportunidade de ver a colocação direta deles lá em cima, como é importante para nós, mesmo
que seja no procedimento mínimo. É importante que tudo seja bem feitinho para que no final a
gente tenha um resultado adequado ao paciente, porque às vezes uma falha que você tenha no
processo vai ter um resultado, pro paciente, negativo. Aí eu comecei a ver que realmente o
enfermeiro lá em cima é importante. Ele ter essa visão dos passos corretos, ele saber se foi feito
tudo certinho, se não foi; se não foi não pode ser utilizado, tem que refazer. Aí eu comecei a
valorizar mais. Eu comecei a pós-graduação tem seis meses, mas antes eu já tinha assistido
algumas palestras aqui no hospital ou fora e a gente já começa a abrir pra essas coisas novas,
porque eu fiquei algum tempo que parada. E quando a gente tem o estímulo de buscar coisas
novas, buscar o conhecimento. A gente começa a valorizar o trabalho dos nossos colegas mais.
Porque a gente às vezes tende a achar que importante é só o trabalho do enfermeiro na
enfermaria, não: é importante em todos os setores.
E3A:
Eu penso que é um trabalho de suma importância porque o material que não estiver bem
esterilizado vai causar danos para o paciente, vai ter um gasto de material; cirurgia, por
exemplo, que você vai fazer vai gastar material, pessoal, horário, tempo, vai ser tudo
desperdiçado em conseqüência de uma infecção que poderá causar no paciente; então eu acho e
suma importância o trabalho do enfermeiro numa Central de Material, tanto que eu sou contra
colocar pessoas, assim, que já estão reabilitadas em CME; eu acho que tem que ser profissional
de ponta. Tem a responsabilidade de planejar, coordenar, etc é do enfermeiro e no Centro de
Material você não pode ter somente pessoal de nível médio e auxiliar, porque o enfermeiro é que
vai ter conhecimento científico sobre os produtos que serão utilizados, os produtos químicos, o
grau de necessidade da... digamos assim, o grau de necessidade... da utilização do material, o
enfermeiro é aquele que tem o conhecimento científico. Não estou dizendo que auxiliar e técnico
não sabem fazer esse trabalho, mas eu digo assim, o enfermeiro ele tem o conhecimento
científico para poder planejar, coordenar, organizar, etc.
84
E4A:
Olha, é muita responsabilidade, acho que até mais que a minha, que lido direto com o cliente,
porque está ali por conta dele que ele não vai transferir várias infecções para outros pacientes,
ele vai... estar vendo aquele material, estar vendo a forma como ele está sendo esterilizado, está
buscando novos empreendimentos, novos materiais, sempre ele está em busca de alguma coisa
nova. Isso para proteger o cliente, ele está sempre em busca da proteção... Eu acho que é muito
importante porque ele também tem papel de fiscalizador. Porque, por você ter muitas mãos
trabalhando você tem que ter um fiscal, é produção. Se não tiver fiscalização não tem uma boa
qualidade. Ele busca uma boa produção e uma grande qualidade no serviço dele. Se ele não
fiscalizar, quem vai fazer? Quem sabe se aquele fulano que vai empacotar a gaze não lavou a
mão? Se ele vai empacotar a gaze do jeito que tem que ser feito? Se vai colocar todas as pinças
adequadas naquela bandeja? Tudo bem que o pessoal trabalha com a relação de material,; eu
trabalho em Centro Cirúrgico (em outra instituição), então eu tenho uma visão muito próxima da
Central de Material, entendeu? Ele tem a importância de fiscalizador de uma produção; é um
setor produtivo, ele trabalha muito com produção porque o hospital em peso depende da CME...
Em outra instituição eu trabalho muito junto com a enfermeira da Central de Material; então e
tenho uma visão um pouquinho ampla, de unidades diferentes.
E5A:
nunca vi isso, na minha época de acadêmica: a gaze vem assim, dobrada dentro do pacote.
Entendeu? Como é que a gente... Quer dizer, cadê a enfermagem?Eu fico assim: o enfermeiro lá,
o que está acontecendo pra essa questão (da gaze erradamente embalada) estar chegando assim
aqui comigo? Eu estou com esse problema aqui, eu estou com problema, porque nós que somos
enfermeiros, que somos detentores do conhecimento científico, a gente sabe que aquilo ali é um
erro brutal, grave, a gaze assim, ó, vem assim dentro do pacote de curativo, do pacote de gaze,
do pacote estéril... Eu nuca vi isso... E aí, o quê que acontece? Tem uma série de erros em
cadeia, aí eu acabo ferindo essa coisa aqui do meu processo de assistência, por exemplo, o
curativo, em função daquele mau processamento, daquela falta de orientação, daquela má
orientação do enfermeiro da CME. Falta de orientação por talvez, estou aqui conjecturando, não
sei, falta de conhecimento científico ou a falta de compromisso mesmo, falta de educação em
saúde, falta de visão holística, porque a gente sempre fala isso, já virou frase feita... mas é,
porque se você olha de forma global, você evita alguns erros, porque você sabe que isso vai
repercutir sério numa punção profunda, de uma veia profunda, por exemplo.
E6A:
Olha, eu não tenho, é... Eu não sei como expressar isso mas eu não consigo, por estar muito
ligada à prática, em atendimento nas enfermarias, ou até em unidades mais fechadas, eu não
consigo entender muito bem o serviço do enfermeiro na Central de Material. O que eu já tive de
contato com auxiliares de Enfermagem que me falaram, aí eles me perguntavam o que eu fazia,
aí eu expliquei o que eu fazia; e aí eles me diziam que era completamente diferente do que as
enfermeiras da Central de Material faziam. Elas checavam material, equipamentos, ... Não tinha,
enfim, ...Essa é a informação que eu tenho do que os enfermeiros da Central de Material fazem.
É, mesmo não conhecendo, eu dou importância, porque a gente entende que o enfermeiro tem
uma formação maior do que a equipe de nível médio, então ele tem que estar gerenciando,
observando como estão sendo feitos os procedimentos, como é que estão sendo feitos os
processamentos de material. E às vezes o profissional de nível médio não vai ter a complexidade
da visão do enfermeiro: ver as contas, a necessidade de algumas coisas acontecerem dentro das
normas. O profissional de nível médio ele não vai ter porque ele não tem muito compromisso, já
o enfermeiro ele é fundamental estar lá, apesar de eu não conhecer o serviço dele. Mas eu
acredito que seja muito importante, sim. Eu acho que a gente tinha que compartilhar
experiências. O que a gente percebe é que o profissional de enfermagem que está na Central de
Material ele não conhece o serviço da assistência, e a gente não conhece o serviço dele, apesar
dos dois serem importantes. Então eu acho que a gente tem que compartilhar as experiências. E
uma coisa que eu acho um pouco ruim, _ não sei se você está abordando isso em algum momento
da sua pesquisa_ é que a gente acaba...é, por hábito, sabendo que o profissional que está na
Central de Material é um profissional que já teve problema em vários setores, é aquele que está
no final da carreira e aí, o que acontece? Você acaba atribuindo menos valor à Central de
Material. Porque, se esses profissionais é que vão pra lá, é porque lá pode receber um
profissional que não é cem por cento, vamos dizer assim. E eu acho isso complicado, porque ali
é a nossa segurança de trabalho, é saber que ali os materiais estão sendo bem processados, que
a gente vai ter ruma troca de material com a freqüência e a demanda que a gente necessitar.
Então eu acho que esses profissionais não deviam ser encaminhados para esse setor, vista a
importância do setor.
86
E7A:
E8A:
Olha, eu nunca havia pensado sobre isso, mas eu acho que o trabalho do enfermeiro na Central
de Material, não sei se eu estou errada, acho que é importante e... será que eu estou errada? Ele
deve coordenar as esterilizações, a parte dele que em todo... o trabalho de um hospital, as
bandejas, Centro Cirúrgico... Eu acho importante. Eu acho que a Central de Material é um
setor importante dentro do hospital porque cuida da esterilização de vários materiais, que vão
para o hospital todo: Centro Cirúrgico, clínica cirúrgica, clínica médica e, sendo um setor
importante, a enfermeira também tem um papel importante. Eu acredito que o papel da
enfermeira seja coordenar as autoclaves, todo esse material que tem que ser esterilizado que vá
servir pro hospital todo. Ainda mais um hospital desse grande, que tem maternidade, que tem
emergência, eu acho que é mais ou menos isso... A única vez que eu passei na Central de
87
Material foi na faculdade, no estágio. Então do que eu me lembro mais ou menos é a enfermeira
tem que organizar todas aquelas bandejas do Centro Cirúrgico, ver se realmente estão
completas, que cirurgias iriam acontecer naquele dia _ isso em contato com a enfermeira do
Centro Cirúrgico_ , que ela ia providenciar as bandejas, os kits cirúrgicos, os lençóis, capote...
Eu lembro mais ou menos isso. E, assim, se levar em consideração os outros setores, as pessoas
podem até pensar que é um trabalho sem valor porque não está direto ligado ao paciente, que
não está na beira do leito... Porque a pessoa ainda tem aquela idéia de achar que o que mais
vale é aquele que está na beira do leito, no CTI, que entende de muita coisa. Não, eu acho
importante o trabalho da enfermeira na Central de Material por ela coordenar isso tudo, tudo
influencia. Dependendo do trabalho da Central de Material, como os instrumentos, as coisas
feitas lá vão influenciar em todo o trabalho aqui. No caso, no meu trabalho na clínica cirúrgica
que... eu pego no caso do hospital que está sem gaze, a gente pega gaze lá em cima, eles têm que
esterilizar gaze... Eu acho que cada um tem o seu valor, e se você pensar, no final todos chegam
a um denominador comum, porque eu preciso desse trabalho que ela faz lá em cima na Central
de Material, para poder funcionar, para eu poder desenvolver o meu trabalho aqui na clínica
cirúrgica, eu preciso do trabalho dela. Ainda mais paciente cirúrgico, ele vai precisar, ele veio
do Centro Cirúrgico então é tudo... é como se fosse... é como se ela estivesse no topo. Então eu
preciso do trabalho dela. No final, vai todo mundo chegar num denominador comum. Eu acho
que importância todos têm. Ela não está em contato com paciente, mas tem importância, sim. No
começo eu até tinha falado que eu não sabia muito bem qual era o trabalho do enfermeiro,
porque eu acho que esse tipo de trabalho do enfermeiro na Central de Material às vezes não é
reconhecido pelos próprios colegas. Eles ficam tão isolados que os próprios colegas não sabem
que... qual o trabalho que eles desenvolvem lá. Não sabem, não sabem o quê que ele coordena, o
que ele supervisiona, não sabem. Eu acho que isso deveria ser divulgado, deveria ser mostrado
para o hospital. Mostrar para os outros colegas como funciona isso. Porque todo mundo sabe a
enfermeira do CTI o que desenvolve, a enfermeira que trabalha numa clínica cirúrgica, numa
clínica médica, mas quem fica nesses setores mais fechados, como Centro Cirúrgico e a Central
de Material pior ainda, porque não tem paciente lá. Então, fica pensando: enfermeiro, ué,
enfermeiro lá trabalha com o quê? Não tem paciente lá! Então fica um pouco... por isso que eu
acho que fica até difícil para as pessoas identificarem qual o trabalho do enfermeiro na Central
de Material.
E9A:
Eu acredito que é um trabalho complexo, principalmente num hospital como esse, em que você
tem um aporte de cirurgia muito grande, é muito complexo. Quer dizer, eu nunca entrei, nunca vi
as dependências, mas eu creio que deve ser bem grande, parece até que fizeram uma reforma
recentemente; e eu acho que é um local muito importante dentro da nossa estrutura, não tenho
maiores informações de como funciona lá dentro, eu sei o básico que todo mundo aprende:
lavou, esterilizou, colocou, ... Agora, como é realmente no setor eu não tenho uma idéia bem
formada não, nunca passei por lá, não... Eu acredito que um enfermeiro dentro de uma Central
de Material ele deve trabalhar principalmente na manutenção dos padrões adequados pra
esterilização, ele tem que controlar os parâmetros da autoclave, controlar os parâmetros dos
materiais... Eu não sei que tipo de esterilizador eles têm por aqui mas deve ser estufa, autoclave,
óxido de etileno não sei se tem, ou só tem na BIOXXI, tem aquela termo... termo-desinfectadora
tem aí em cima, compraram recentemente também. Então, você observar se esses parâmetros
88
estão sendo cumpridos você tem que garantir o padrão de qualidade da esterilização dentro
desse local, você tem que coordenar mesmo, saber se a linha de produção está sendo
adequada... Se a linha de produção está adequada. E está sempre... Eu acho que é o local que se
eu não me engano você tem que estar sempre se especializando, eu acho que eles devem oferecer
bastante, é, cursos pra você se especializar, olhar em outras centrais de material o que está
dando certo, tem que trabalhar assim e... É um local muito importante. Eu acho até que tinha
que ser mais valorizado. A imagem que as pessoas mais ou menos têm é que só vai velho pra lá;
vai velho, debilitado, e quando chega lá a realidade é diferente porque é uma coisa que você vai
fazer movimentos repetitivos muito mais. Então se você pega uma pessoa que tem, sei lá, uma
síndrome do túnel do Carpo e manda pra lá, a pessoa vai ficar dobrando, dobrando, dobrando,
vai piorar... hoje em dia eu acho que não é assim, pelo menos aqui muita gente nova entrou no
último concurso agora e foi muita gente nova pra lá, bastante funcionário; isso eu acho que eles
não podem reclamar, tem bastante gente lá. A presença do enfermeiro lá é fundamental. Não só
lá, como em qualquer lugar, mas lá, devido à complexidade é muito importante, é um ambiente
fechado. Ele é muito importante tanto pro hospital, porque se der uma coisinha errada, não for
bem esterilizado um material daquele imagina como é que vão ficar essas cirurgias aqui? O
índice de infecção aqui já é relativamente alto com o trabalho sendo bem feito, imagine se não
fosse,... e a demanda aqui é enorme. Você observa que aqui a gente tem... aqui é uma unidade de
cirurgia, quem entra aqui é pra fazer cirurgia, e a gente tem uma rotatividade muito grande...
então você observa como aquele centro cirúrgico deve ser atarefado e como a central de
material deve ser também um fluxo, uma entrada e saída de material... O fluxo de cirurgias é
muito grande. Aqui é um hospital que tem muitas áreas cirúrgicas, então você tem muitas
cirurgias, então deve ter uma movimentação enorme naquele centro cirúrgico, apesar de ter uma
idéia de quem está no centro cirúrgico não faz nada. O pessoal normalmente deve achar que
centro cirúrgico é uma moleza, que o pessoal vai lá pra dormir, mas a gente sabe que a
realidade não é essa.
INSTITUIÇÃO B
E1B:
mas a gente trabalha aqui, a gente que lida no dia-a-dia, a Central de Esterilização vem
desempenhando um papel importante, e eu acho que o enfermeiro ele é responsável por tudo
isso,... é a pessoa que está lidando diretamente no dia-a-dia, então o material tem que estar
muito bem trabalhado, até pra evitar algum risco de contaminação... eu acho que é o principal.
E2B:
Eu não tive ainda na Central de Material e Esterilização, nem trabalhando, nem visitando,
então eu penso, que deve ser importante porque ali ele está separando todo o material que vai
ser usado. Dali tudo que vai passar vai passar por ele, no caso o enfermeiro, e ele tem que estar
tomando conta de tudo. Tudo que vier é pra ele. Aqui funciona da seguinte maneira: a gente não
tem contato direto com o pessoal da Central de Esterilização, porque tem o rapaz que é
responsável pelo material de arsenal. Então o que a gente faz? Por exemplo, se a gente está
precisando de uma punção profunda, um procedimento todo estéril, ligo pra ele e ele pega pra
mim e é ele que leva pra mim quando eu termino. Quando ele não está, tem uma escala de um
técnico que vai e que volta com esse material. A gente não tem contato direto com eles lá em
baixo, então fica mais complicado porque, se você tem um contato direto, é diferente: você entra,
você vê, você sai com material. Aqui não. Por vezes falta esse contato, mas por vezes também é
bom ter esse funcionário (o funcionário do arsenal), porque às vezes o plantão está agitado, a
gente não tem tempo.
E3B:
Penso em autoclave, eu acredito que ele deve estar todo paramentado para poder manusear os
materiais esterilizados, tem alguns que são autoclavados, não tem necessidade, mas tem alguns,
principalmente esterilizados, com certeza, eles são preparados para isso... Acho que Central de
Material é o coração... tirando o Centro Cirúrgico e o CTI, é o coração do hospital, porque ela é
que fornece tudo para as outras pessoas, para o hospital inteiro. E com certeza, o papel do
enfermeiro é importante em qualquer setor hospitalar, porque se o enfermeiro tem que
supervisionar, administrar e fiscalizar, então ele é importante também na Central de Material,
porque ele também não está ali só para supervisionar, está ali também para atuar, então é
importante o papel do enfermeiro ali, porque em conjunto com a equipe vai conseguir
desempenhar um bom papel e dar um adiantamento no serviço.
E4B:
do momento que nós, ... é um pouco vago falar por conta de rotina, até porque cada instituição é
uma rotina diferente dentro do setor. Então, é complicado falar, eu não estou dentro, estou
falando como uma pessoa de fora... Bom, o meu ponto de vista é o seguinte: a pessoa que está
atuando ali no setor e tem experiência, é claro, sabe discorrer sobre tudo ali, porque está
vivenciando aquilo. É bem diferente quando é um setor em que você não atua, que você passou
somente na faculdade; é totalmente diferente até porque, se eu fosse falar do meu setor, eu ia
falar a noite inteira sobre isso... Se eu fosse falar de outra unidade de assistência seria mais fácil
porque na CME é tudo questão de você saber como funciona uma autoclave, as datas de
validade de tudo, o controle de tudo, quanto dura é... de quanto em quanto tempo você faz aquela
pesquisa na autoclave, na estufa, ... isso depende também de cada instituição... Na CME são
esses detalhes, até porque você não pode ter erro, claro, qualquer lugar não pode ter erro,
porque causa dano ao cliente, mas na CME é um pouco diferente por causa disso.
E5B:
E6B:
Eu vejo mais assim como uma supervisão dos técnicos, porque eu acho a Central uma parte
importantíssima da Enfermagem, porque qualquer coisa de errado ali tem toda contaminação
para o paciente e várias complicações. Eu acho que seja só supervisão, até porque o estágio que
91
eu fiz, a gente fez um estágio de supervisão. A gente ficava observando, e aí via se o pessoal
estava mexendo na autoclave direito, se a lavagem dos instrumentos antes de ir para
esterilização estava sendo feita direitinho, eu vejo mesmo essa questão mais de supervisão,
organização, preparar as bandejas... Se não acontecer exatamente como deve ser, o paciente é
totalmente prejudicado, principalmente em relação à parte cirúrgica, as bandejas todas
realmente esterilizadas, a limpeza do material antes de ir para autoclave, isso é importante, eu
acho que é importante que tenha uma enfermeira para ser coordenadora de tudo isso.
E 7B:
Eu acho que é importante... as pessoas têm aquela concepção de que em Central de Material
tem que trabalhar aquelas pessoas que não têm mais condições de assistência direta, aquelas
pessoas que são aposentadas, e na verdade não é isso, eu acho que é o centro de tudo, você tem
que estar ligado em tudo, porque um material mal esterilizado reflete em sérias conseqüências
pra tudo: para o curativo, para o centro cirúrgico... Então, é fundamental, é essencial esse
trabalho. O enfermeiro tem uma percepção melhor das coisas, de tudo, do material, com certeza
é de suma importância. Aqui você até passa a conhecer porque eles te dão oportunidade. Se você
quiser visitar a Central de Material, você visita a hora que você quiser.
E 8B:
E 9B:
Eu acho que é muito importante o trabalho do enfermeiro porque, além dele estar prevendo e
provendo também os materiais necessários para aquela cirurgia, ali tem que ter um controle
máximo de todo aquele material utilizado. Se não tiver aquela cautela, aquele rigor, o que vai
acontecer? A gente vai utilizar aquilo numa cirurgia e vai contaminar aquele paciente, vai
contaminar aquela cirurgia, então todo aquele trabalho no pré-operatório, o intra-operatório em
si e o pós-operatório vão ser por água abaixo , porque você já infectou aquilo tudo... Então eu
acho que o enfermeiro tem um papel essencial dentro da Central de Material por isso, porque ele
é a pessoa X, a pessoa chave que vai controlar tudo isso. Não é só um trabalho de fiscalização,
ele também está ali com a equipe, ele vai trabalhar junto com a equipe. Eu vejo muito isso... não
adianta também você só chegar numa Central de Material e você ficar ali só fiscalizando: você
não fez isso, você não fez aquilo... ; para ele ser um bom enfermeiro ele tem que estar integrado
com a equipe, junto com a equipe mesmo. Hoje em dia o que muito acontece é que infelizmente
muitos enfermeiros não trabalham junto com a equipe, não reconhecem o técnico como sua
92
equipe, reconhecem o técnico como uma pessoa que vai fazer as funções, fica mandando, e não é
isso. Pra gente ter uma equipe em que o trabalho dê certo mesmo, tem que trabalhar em
conjunto, eu penso assim. Eu acho que a Enfermagem é um trabalho muito difícil. Ser enfermeiro
hoje em dia tem que gostar mesmo, não é fácil, infelizmente o nosso trabalho ele depende de todo
mundo. Não só o nosso trabalho, mas a Enfermagem ainda não tem a autonomia, ela deveria ter.
Na faculdade a gente tem uma autonomia que quando a gente cai no campo de trabalho não é
bem assim... depois a gente enfrenta a realidade ... Só uma mensagem pros enfermeiros: eu acho
que a gente tem que continuar lutando, e eu acho que pra gente mudar esse quadro, conquistar a
nossa autonomia e o reconhecimento, a gente tem que estudar bastante,... Ser enfermeiro é você
estudar bastante e ter a visão da equipe, porque você tendo a equipe do seu lado você vai ter em
quem se apoiar, sabe, vai estar todo mundo lutando pelo direito da Enfermagem...
E 10B:
E 11B:
É importante porque uma vez que a história da Enfermagem já começa por toda estrutura de
provisão, prevendo o material hospitalar e hoje em dia, com a diversificação do sistema de
hotelaria, de... organização dos hospitais, é necessário sempre ter um enfermeiro em
determinadas áreas do hospital. Sendo assim, tem que ter enfermeiro responsável pela parte de
rouparia, responsável pela parte do material que vai ser usado diretamente no paciente e, no
caso, a Central de Material que é a esterilização, uma vez que hospitais grandes como esse, uma
grande instituição, demanda uma grande quantidade de material durante as 24 horas para ser
usada, então é de extrema importância essa parte do enfermeiro, uma vez que ele está
acostumado, durante sua formação, todo o processo de... internação do paciente, o que demanda
utilização dos materiais; então é muito importante. Numa instituição em que existir um setor sem
o enfermeiro vai ser um trabalho mais demorado, vai ter uma certa dificuldade, uma vez que o
profissional que vai estar lá não vai ter uma noção do hospital como um todo, como o enfermeiro
é formado para ver o hospital como um todo. Então, pode até existir, mas seria um pouco mais
complicado.
93
E12B:
O papel do enfermeiro é controlar a entrada e saída dos materiais, tanto em rede pública como
em rede privada, para controlar o material que está sendo esterilizado, e é importante realmente
para manter o material esterilizado, limpo, livre de qualquer bactéria, qualquer microrganismo,
de qualquer material desse tipo que possa ser transmitido ao paciente. O problema é que a gente
não tem a convivência para falar qual seria a importância do enfermeiro trabalhando nessa
área, mas é realmente é uma área interessante pra gente estar mais por dentro do assunto. O
meu estágio foi muito rápido, não era diariamente, e como a turma era grande e a Central tem
essa coisa de não poder ficar entrando e saindo, era semanal, então o que deu pra ver foi muito
pouco... bem rápido.
E13B:
E14B:
Eu acho que é uma grande responsabilidade, porque a gente sabe que a partir dali são
utilizados insumos, materiais e vai acarretar diretamente na assistência dos pacientes nos outros
setores, então eu vejo que é algo que tem... é um serviço de grande responsabilidade que exige
uma especificidade devido ao setor, e que diretamente está ligado à qualidade do serviço que vai
ser prestado ao cliente. É importante porque a gente tem que gerenciar diretamente o serviço,
existem rotinas a serem cumpridas, é lógico que existem algumas coisas que podem ser
executadas por profissional de nível técnico, mas como é um serviço que... como qualquer
serviço tem que ter a presença do enfermeiro, se é executado pela Enfermagem, tem que a
94
supervisão do enfermeiro. Eu acho que o pouquinho que eu sei não é nem devido à graduação, a
gente passou muito rápido realmente ... o que eu sei um pouquinho é porque antes eu tive um
contato com centro cirúrgico, como instrumentadora, então foi o primeiro contato que eu tive
com CME e conheci mais detalhadamente isso, porque a gente trabalhava com material
cirúrgico e tal...depois, na graduação, eu achei que foi um pouco deficiente sim, é, foi passado
muito rápido; a gente via, acho que se não me engano, foi um dia de visita e teve a disciplina
teórica, onde a gente estudou direitinho como fazia a esterilização de cada material, preparo e
tal, mas eu acho que ficou muito a desejar; hoje o que eu sei é bem básico, acho que muito
pouco. Eu acho até que eu sei mais do que algumas colegas que passaram na graduação por
conta dessa experiência, porque quem passou mais em centro cirúrgico, eu acho que ficou mais
próximo dos procedimentos da CME; agora, quem não passou é difícil mesmo.
E 15B:
Eu tinha uma visão que era... como eu posso dizer? Uma visão que eu tinha... eu entrei nesse
setor apenas no estágio curricular na época da faculdade,... Então, depois que eu me formei, fui
trabalhar em outros setores, eu via a correria que era nos outros setores e eu tinha a idéia de
que na Central de Material era tranqüilo de trabalhar, trabalhava muito menos que na unidade
de internação, por exemplo. Então, eu pensava desse jeito; hoje aqui no hospital que eu trabalho,
como a gente vai muito na Central de Material pegar bandeja pra realizar um procedimento,...
Eu não entrei lá para ver a rotina do setor, não conheço, mas a gente percebe, quando vê as
pessoas trabalhando, o quantitativo de material. Também não sei pelo número de cirurgias,
porque aqui é um hospital grande, a gente vê que lá também é uma correria, só que lá não estão
trabalhando diretamente com pessoas como nós das unidades de internação, mas é isso. Eu
pensava, até já pensei em trabalhar em Central de Material, até vendo anúncio de vagas de
empregos, eu queria ter uma experiência em Central de Material por pensar que era um trabalho
muito mais tranqüilo, que eu não ia me cansar tanto no meu dia-a-dia, que ia ser mais fácil. É
que eu não tive nenhum tipo de contato, foi só na graduação, então foi uma coisa muito básica,
muito superficial,... eu não entrei no setor e vi a rotina do dia-a-dia, eu passei lá alguns dias só,
e mesmo assim a gente sabe que não é esquema de plantão, a gente fica só algumas horas ali,
então a enfermeira que estava lá mostrava o básico pra gente, o ela podia mostrar. Não tinha
muitas cirurgias, muitos procedimentos por ser um hospital de interior, então eu atribuía que era
um serviço tranqüilo porque era aquilo que eu via no meu dia-a-dia. Eu vim pro Rio de Janeiro e
trabalho num hospital de grande porte... Eu não entrei lá (na CME da instituição onde trabalha
atualmente), mas a gente está vendo que a coisa não é tão simples assim, não é fechar bandeja,
como eu falei, tem muito mais por trás... Em qualquer serviço na área da saúde envolvendo
pessoas o enfermeiro é importante. E ali, apesar de não estar diretamente no cuidado com o
paciente, está pensando, sim, no paciente, está envolvendo realmente o cuidado, porque se você
não esterilizar da forma correta, não ficar o tempo correto que tem que ficar vai influenciar no
cuidado, então... Eu gostaria de saber o resultado da sua pesquisa e também se tiver uma
oportunidade da gente realmente conhecer o trabalho do enfermeiro (na CME), também acho
que é interessante, através de palestras, da educação continuada... A educação continuada não
fala nada sobre a Central de Material, aborda todos os outros aspectos, mas a CME fica jogada
meio que de lado. Então de repente até mesmo o desconhecimento, tanto meu quanto de outros,
também que possam também não conhecer.
95
E16B:
Eu acho que é um papel fundamental, acho que ali é a parte em que a gente pode evitar muitos
problemas, uma infecção... e outros problemas,... o enfermeiro ele sabe melhor o que é preciso, o
que tem que ser feito e às vezes não é bem descrito por qualquer outro setor. Eu acho que o
enfermeiro se dividir entre a assistência e qualquer outro papel e estar na esterilização ele não
vai fazer um trabalho bem feito, ele não vai estar ali cem por cento; ou seja, um minuto que ele
não esteja ou, assim, se distraia, pode haver um erro porque o ser humano é falho mesmo, pode
errar, ele estando cem por cento pode errar, ainda mais não estando... Infelizmente, o que
acontece é que ele acaba respondendo, até pela ausência dele... Eu acho que todos os lugares,
por menor que fosse a Central, teria que ter uma pessoa exclusiva ali pra evitar maiores
complicações, infecções em cirurgias e outras coisas mais.
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