Sobre o exílio
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Sobre o exílio - Joseph Brodsky
A condição chamada exílio
¹
Enquanto estamos aqui reunidos, neste belo salão iluminado, nesta noite fria de dezembro, para debater o problema do escritor no exílio, paremos por um minuto para pensar naqueles que, muito naturalmente, não conseguiram estar aqui presentes. Imaginemos, por exemplo, os Gastarbeiters [trabalhadores convidados] turcos vagueando pelas ruas da Alemanha Ocidental, sem entender ou invejando a realidade a seu redor. Ou imaginemos os refugiados vietnamitas nos botes enfrentando o alto-mar ou já assentados em algum lugar do interior australiano. Imaginemos os imigrantes mexicanos se arrastando pelas ravinas do sul da Califórnia, passando pela polícia de fronteira e entrando no território dos Estados Unidos. Ou imaginemos os carregamentos de paquistaneses desembarcando em algum ponto do Kuwait ou da Arábia Saudita, ansiosos para trabalhar em serviços braçais que os locais, com a riqueza do petróleo, não aceitam fazer. Imaginemos as multidões de etíopes andando a pé pelo deserto até a Somália – ou é o contrário? – para fugir da fome. Bom, podemos parar por aqui, porque já transcorreu o minuto que pedi à imaginação, embora essa lista ainda pudesse aumentar muito. Nunca ninguém contou essas pessoas e ninguém, inclusive as organizações de assistência da onu, jamais as contará: são milhões, escapam à contagem e constituem o que é chamado – por falta de termo melhor ou de um maior grau de compaixão – de migração.
Seja qual for o nome mais adequado para tais pessoas, sejam quais forem seus motivos, suas origens e destinações, seja qual for o impacto sobre as sociedades que estão abandonando e sobre as sociedades a que se dirigem, uma coisa é absolutamente clara: eles tornam muito difícil falar com honestidade sobre as dificuldades do escritor no exílio.
Mesmo assim, precisamos falar; e não só por ser fato sabido que a literatura, tal como a pobreza, cuida dos seus, mas ainda mais por causa da velha crença, talvez infundada, de que o desgoverno e o sofrimento que levam milhões ao êxodo poderiam diminuir caso houvesse uma melhor leitura dos grandes mestres deste mundo. Como não há muita coisa que possa servir de base para nossas esperanças de um mundo melhor, como tudo o mais parece falhar de um modo ou de outro, precisamos sustentar de alguma maneira que a literatura é a única forma de segurança moral de uma sociedade, que ela é o antídoto permanente ao princípio do «homem como lobo do homem», que ela oferece o melhor argumento contra qualquer tipo de solução coletiva que opere feito um trator – quando menos porque a diversidade humana é o que compõe a literatura e é sua raison d’être.
Precisamos falar porque precisamos insistir que a literatura é a grande mestra – certamente maior do que qualquer religião – da sutileza humana, e que uma sociedade, ao interferir na existência natural da literatura e na capacidade humana de aprender com a literatura, reduz seu potencial, diminui o ritmo de sua evolução e em última análise põe em risco, talvez,