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entre adolescentes em Minas Gerais, Brasil
Abstract This study is a descriptive epidemiological Resumo Trata-se de estudo descritivo, com objetivo
analysis of morbidity and mortality from suicide in de realizar análise epidemiológica da morbimortali-
people aged 10 to 19 years living in the state of Minas dade por suicídio na faixa etária de 10-19 anos de
Gerais. The source of the mortality data were the residentes em Minas Gerais. Para os dados de morta-
data available in the Mortality Information System, lidade, utilizou-se o Sistema de Informação sobre
DATASUS of the Ministry of Health, over the period Mortalidade - DATASUS/MS, entre 1980 e 2002, e de
1980-2002. The morbidity data were collected from morbidade, o Sistema de Informação Hospitalar, en-
the Hospital Information System, over the period tre 1998 e 2003. Analisaram-se freqüências simples
1998-2003. Absolute and relative simple frequencies absoluta e relativa de 2.338 internações e 1.212 óbi-
of 2.338 hospitalizations and 1.212 deaths from at- tos, estratificadas por sexo, faixa etária e meios usa-
1
tempted suicide and suicide over the chosen period dos para perpetrar a auto-agressão. Utilizou-se para
Coordenadoria de
Doenças e Agravos Não were analyzed according to sex, age and method used. o cálculo das taxas a população extraída do censo e
Transmissíveis, The population data used for calculating rates was projeções intercensitárias do Instituto Brasileiro de
Superintendência de
extracted from the census conducted by the Brazil- Geografia e Estatística. Adotou-se a Classificação In-
Epidemiologia, Secretaria
de Estado de Saúde de ian Institute of Geography and Statistics. The Inter- ternacional de Doenças 9ª revisão (1980 e 1995) e a
Minas Gerais. Av. Afonso national Classification of Diseases – ICD 9, from the 10ª revisão a partir de 1996, códigos E950 a E959 e
Pena 2300/9º andar,
years 1980 to 1995 and the 10th review since 1996, X60 a X84, respectivamente. Os resultados mostra-
Funcionários. 30130-007
Belo Horizonte MG. codes E950 to E959 and X60 to X84, were adopted ram maior freqüência de internações entre mulhe-
cdnt@saude.mg.gov.br respectively. The highest hospitalization rates were res. A auto-intoxicação foi o meio mais comum nas
2
Coordenação-Geral de
found among women. Self-poisoning was the most tentativas de suicídio para ambos os sexos. No en-
Doenças e Agravos Não
Transmissíveis, common method for attempting suicide in both sex- tanto, foi observada maior mortalidade entre os ho-
Departamento de Análise es. However, adolescent males had the highest mor- mens, cujos principais meios escolhidos foram enfor-
de Situação de Saúde,
tality rates and the most common methods of suicide camento e arma de fogo, formas mais letais do que as
Secretaria de Vigilância em
Saúde, Ministério da Saúde. (hanging and use of firearms) were more lethal than utilizadas pelas mulheres (intoxicação). Diante de
3
Centro Latino-Americano the method commonly chosen by females (self-poi- tais achados, os autores destacam a necessidade de
de Estudos de Violência e
soning). Based on these findings, the authors em- prevenção desse agravo junto à população de adoles-
Saúde Jorge Careli,
Departamento de phasize the need for preventing these events among centes.
Epidemiologia e Métodos young people. Palavras-chave Mortalidade, Hospitalização, Sui-
Quantitativos em Saúde,
Key words Mortality, Hospitalization, Suicide, Ad- cídio, Adolescentes
Escola Nacional de Saúde
Pública Sérgio Arouca, olescents
Fundação Oswaldo Cruz.
408
Abalsse MLF et al.
tória familiar de comportamento suicida, doença car ajuda quando surgem problemas; adoção de
física grave e/ou crônica, eventos estressores, orien- valores e tradições culturais; integração social. Tor-
tação sexual17-21. na-se importante o reconhecimento desses fatores
A baixa auto-estima, os conflitos familiares, o pelos profissionais de saúde, viabilizando o acesso
fracasso escolar, as perdas afetivas são sintomas às várias intervenções clínicas e apoio para a busca
que, associados às condições de estresse emocio- de ajuda, principalmente, aos grupos de risco mais
nal, podem colocar os jovens em grupo de risco vulneráveis, como portadores de transtornos men-
para o suicídio22. A autora ainda assinala que mais tais e/ou usuários de drogas lícitas e lícitas1.
importante do que procurar a causa do problema é Ao considerar os fatores de risco e de proteção
identificar como seus efeitos são vividos no contexto para o suicídio, não se pode perder de vista que
sócio-familiar, qual a função do significado que o toda tentativa de suicídio, em especial de um ado-
sintoma adquire no contexto das interações onde ele lescente, é dirigida a alguém e expressa uma neces-
se produz e se mantém. sidade de afeto, de amor, de ser ouvido e reconhe-
Em relação à idade, é importante ressaltar que cido como pessoa. Deve ser interpretada como uma
o suicídio entre os jovens vem crescendo em nú- pergunta que requer resposta28.
meros alarmantes. Os estudos realizados por Cas-
sorla et al.23 revelaram que estamos assistindo a
um aumento concomitante da violência por ho- Metodologia
micídio e por suicídio na faixa etária entre 15 e 39
anos. Quanto ao sexo, vemos que os homens apre- Este estudo realizou uma análise epidemiológica
sentam uma freqüência de suicídio três vezes mai- descritiva dos dados referentes à mortalidade por
or do que as mulheres. Essa relação é constante suicídio e às internações hospitalares por tentati-
nas diferentes faixas etárias; contudo, para o sexo vas de suicídio de residentes em Minas Gerais, na
feminino, a chance de cometer tentativas de suicí- faixa etária de 10 a 19 anos, de ambos os sexos.
dio é de três a quatro vezes maior1. Para estudar a mortalidade, a fonte de dados ado-
De acordo com Lippi24, a violência psicológica tada foi o Sistema de Informação sobre Mortali-
e/ou sexual sofrida na infância/ adolescência cons- dade (SIM), Ministério da Saúde/Departamento
titui outro importante fator de risco, assim como de Análise e Tabulação de Dados do Sistema Único
a depressão, a desesperança e a ideação suicida. de Saúde (DATASUS) no período de 1980 a 2002.
É importante salientar que são freqüentes os Para as internações, utilizou-se o Sistema de Infor-
indícios sobre a intenção suicida. mações Hospitalares – SIH/SUS/DATASUS, no pe-
Segundo Silva25, o suicídio deve ser visto mais ríodo de 1998 a 2003. Considera-se que os dados
como um ato de comunicação do que como um desse sistema representem 80% das internações
gesto único. O autor afirma que esse ato represen- realizadas no país29.
ta uma comunicação para uma sociedade que o Os dados foram analisados em termos de fre-
impediu de comunicar-se de outras formas. Mui- qüências simples absoluta (números absolutos) e
tos adolescentes se expressam direta ou indireta- relativa (proporções, razão e taxas). Para o cálculo
mente com bilhetes, falas, isolamento e intolerân- das taxas de mortalidade e de internação, foram
cia à dor. Entretanto, esses indícios nem sempre considerados como numerador o número de mor-
são percebidos, sendo, às vezes, negados por fami- tes e internações e como denominador a popula-
liares, amigos ou pessoas próximas26. ção dos censos de 1980, 1991 e 2000 e a contagem
À medida que avança o conhecimento sobre os populacional de 1996. Para os demais anos, foram
fatores de risco, também se tornam cada vez mais utilizadas as estimativas populacionais intercensi-
necessárias a pesquisa, a identificação e a confir- tárias de 1º de julho (IBGE) do referido ano.
mação dos fatores protetores para este comporta- Adotou-se a 9ª revisão da Classificação Inter-
mento, tanto no nível individual como coletivo. nacional de Doenças para o período de 1980 a 1995
Diversos países, como Finlândia, Noruega, Suécia, e a 10ª revisão a partir do ano de 1996. Em ambas,
Austrália, Nova Zelândia, França e Brasil têm como o suicídio e as tentativas de suicídio encontram-se
preocupação o desenvolvimento de estratégias de no agrupamento de Causas Externas, capítulo XX.
prevenção do suicídio em diferentes populações27. Na primeira, com a denominação de “lesões auto-
Os principais fatores que desempenham essa fun- inflingidas” sob os códigos E950-E959 e, na segun-
ção são: boa relação e apoio familiar; bons relaci- da, como “lesões autoprovocadas voluntariamen-
onamentos sociais; senso de propósito para a pró- te”, com os códigos X60 a X84.
pria vida; capacidade para receber conselho e bus-
411
Em relação a mortalidade, ocorreram, em Mi- sendo 4,8% destes decorrentes de suicídio. De acor-
nas Gerais, 25.060 óbitos por causas externas de do com a Figura 3, o sexo masculino, na faixa de
adolescentes, entre 10 e 19 anos, no período de 15 a 19 anos, apresentou riscos mais elevados de
1980 a 2002 (uma mulher para cada três homens), morte ao longo dos anos, com uma taxa de mor-
14
12
Masculino
10 Feminino
Internações/100.000 hab.
Total
8
0
to
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go s te to o/ do
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a fo f o a t an te b j e te a ç ã de
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Figura 2. Taxa de internação por lesões autoprovocadas, segundo meio utilizado e sexo. Minas Gerais, 1998-2003.
5
óbitos/100 mil hab.
3
10 a 14 anos Masc
10 a 14 anos Fem
2 15 a 19 anos Masc
15 a 19 anos Fem
0
80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02
19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 20 20 20
Anos
Figura 3. Taxa de mortalidade por lesões autoprovocadas, segundo faixa etária e sexo. Minas Gerais, 1990-2002.
413
1,2
0,8
Masculino
Feminino
obitos/100.000 hab.
0,6 Total
0,4
0,2
0
o / go / r os
çã to fo go ga ad
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ox am en to de a m o ifi
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Figura 4. Taxa de mortalidade por lesões autoprovocadas, segundo meio utilizado e sexo. Minas Gerais, 1996-2002.
414
Abalsse MLF et al.
cipalmente no caso das medicações. Isso nos re- do ato consumado, expressa uma dor emocional
mete a uma característica importante da sociedade que o sujeito considera ser interminável, intolerável
atual, que é a busca da solução imediata para os e com a qual acredita não ter capacidade de lidar.
conflitos emocionais. Acredita-se que haja remé- Esse fenômeno desafia a todos: pais, educadores,
dio para tudo. Assim, observam-se a banalização profissionais de saúde, como também o campo das
e o uso indiscriminado de medicamentos, entre eles, ciências humanas e sociais. Não bastam médicos,
os antidepressivos e ansiolíticos. enfermeiras, auxiliares de enfermagem e psicólogos
Os nossos resultados mostram que os adoles- melhorarem a qualidade de seus atendimentos. Faz-
centes masculinos apresentaram riscos mais ele- se necessário que profissionais da saúde e da edu-
vados de morte ao longo dos anos, com uma taxa cação empreendam um trabalho multidisciplinar.
de mortalidade média aproximadamente duas ve- Torna-se essencial ir além de aspectos curativos, é
zes maior que o sexo feminino. O principal meio imprescindível que se consiga atingir a dimensão
utilizado para a conclusão do ato suicida, tanto da prevenção. Pois, só assim, será possível estrutu-
por homens quanto por mulheres, foi o enforca- rar uma atenção que abranja não só os adolescen-
mento, seguido pelo estrangulamento ou sufoca- tes que tentaram suicídio e/ou apresentaram com-
mento, lesões por arma de fogo em homens e auto- portamentos de risco. Buscar estratégias que pos-
intoxicação em mulheres. sam minimizar as situações ou vivências estresso-
Esses resultados nos mostram que é necessário ras, em especial as que se relacionam à família e a
aprofundar os estudos sobre o problema, de for- escola, é fundamental, pois esses espaços podem
ma a ampliar o conhecimento acerca desse tema, funcionar como fatores de risco, mas também po-
as manifestações suicidas na adolescência. dem atuar como fatores de proteção.
A morte dos jovens por causas violentas, entre A sensibilização e a capacitação de profissio-
elas, o suicídio, é um dos problemas atuais no mun- nais para assistir a este grupo etário e a organiza-
do e também no Brasil. O suicídio é um fenômeno ção de uma rede de assistência efetiva são primor-
que sofre a interferência de fatores individuais, diais para o alcance de tal objetivo.
ambientais, sociais. Seja na forma de tentativa ou
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