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DOI: 10.

1590/S0080-623420130000300032

RELATO DE EXPERIÊNCIA
Sistematização da Assistência de
Enfermagem para acompanhamento
ambulatorial de pacientes com esclerose
múltipla

NURSING CARE SYSTEMATIZATION FOR OUTPATIENT TREATMENT CARE OF


PATIENTS WITH MULTIPLE SCLEROSIS

SISTEMATIZACIÓN DE LA ATENCIÓN DE ENFERMERÍA PARA EL SEGUIMIENTO


AMBULATORIO DE PACIENTES CON ESCLEROSIS MÚLTIPLE

Nair Assunta Antônia Corso1, Ana Paula Soares Gondim2, Patrícia


Chagas Rocha D’Almeida3, Maria Girlene de Freitas Albuquerque4

RESUMO ABSTRACT RESUMEN


Relato da experiência de enfermeiros An experience report of nurses in the Relato de experiencia de enfermeros en la
na implementação da sistemaƟzação da implementaƟon of care systemaƟzaƟon implementación de la sistemaƟzación de la
assistência de enfermagem para acom- in ambulatory care in an interdisciplin- atención de enfermería para seguimiento
panhamento ambulatorial em um centro ary care center for paƟents with mulƟple ambulatorio en centro interdisciplinario de
interdisciplinar de atendimento a pacientes sclerosis of a public hospital in Fortaleza, atención a pacientes con esclerosis múlƟple
com esclerose múltipla de um hospital Ceará, Brazil. This implementation is de un hospital público de Fortaleza-Ceará.
público de Fortaleza, Ceará. Essa implemen- based on the NANDA InternaƟonal, Inc., Dicha implementación estuvo basada en
tação é baseada nas classificações da North Nursing IntervenƟons ClassificaƟon, and las clasificaciones de la North American
American Nursing Diagnosis AssociaƟon In- Nursing Outcomes ClassificaƟons. One of Nursing Diagnosis AssociaƟon, Clasificación
ternaƟonal, Classificação das Intervenções the results concerns systemized nursing de las Intervenciones de Enfermería y Cla-
de Enfermagem e Classificação dos Resul- care, which has enabled the idenƟfica- sificación de los Resultados de Enfermería.
tados de Enfermagem. Um dos resultados Ɵon and understanding of the responses Uno de los resultados se expresa al res-
diz respeito à sistemaƟzação do cuidado de of MS paƟents to potenƟal and current pecto de la sistemaƟzación del cuidado de
enfermagem, parƟndo da idenƟficação e da health problems. SystemaƟzaƟon entails enfermería, parƟendo de la idenƟficación
compreensão das respostas dos pacientes expanding knowledge through a pracƟce y de la comprensión de las respuestas de
com esclerose múlƟpla aos problemas de based on approach and encourage further los pacientes con esclerosis múlƟple a los
saúde reais e potenciais. A sistemaƟzação research scienƟfic evidence, in addiƟon problemas de salud reales y potenciales. La
enseja ampliar os conhecimentos por meio to promoting the role of the nurse in sistemaƟzación intenta ampliar los conoci-
de uma prática pautada em evidências acomprehensive approachand encourage mientos mediante una prácƟca pautada en
cienơficas, além de favorecer a atuação do further research. evidencias cienơficas, además de favorecer
enfermeiro em uma abordagem integral e la actuación del enfermero en un abordaje
fomentar outras invesƟgações. integral y fomentar otras invesƟgaciones.

DESCRITORES DESCRIPTORS DESCRIPTORES


Esclerose múlƟpla MulƟple sclerosis Esclerosis múlƟple
Cuidados de enfermagem Nursing care Atención de enfermería
DiagnósƟco de enfermagem Nursing diagnosis DiagnósƟco de enfermería
Processos de enfermagem Nursing process Procesos de enfermería
Promoção da saúde Health promoƟon Promoción de la salud

1
Mestre em Saúde Coletiva pela Universidade de Fortaleza. Enfermeira do Centro de Atendimento a Portadores de Esclerose Múltipla do Hospital Geral de
Fortaleza. Fortaleza, CE, Brasil. naircorso@hotmail.com 2 Pós-Doutorado em Saúde Coletiva. Professora do Mestrado em Saúde Coletiva da Universidade
de Fortaleza. Fortaleza, CE, Brasil. anapaulasgondim@unifor.br 3 Especialista em Terapia Intensiva. Enfermeira do Centro de Atendimento a Portadores
de Esclerose Múltipla do Hospital Geral de Fortaleza. Fortaleza, CE, Brasil. patriciarocha3480@gmail.com 4 Especialista em Enfermagem em Emergência.
Enfermeira da Unidade de AVC do Hospital Geral de Fortaleza. Fortaleza. CE, Brasil. mariagirlenefa@yahoo.com.br

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Rev Esc Enferm USP Recebido: 10/07/2012 Português / Inglês
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NTRODUÇÃO proteção especial e de promoção da saúde, além de ofere-
cer serviços assistenciais em todos os níveis de atenção(6).
A esclerose múlƟpla (EM) é uma doença inflamatória O profissional de enfermagem pode atuar nessa equipe,
crônica do sistema nervoso central, caracterizada pela por experiência em idenƟficar e avaliar as necessidades do
destruição da mielina, que ocasiona um defeito na condu-
indivíduo, podendo intervir nos aspectos biopsicossocial e
ção dos impulsos nervosos e condiciona o aparecimento
espiritual da pessoa com EM, a fim de que aƟnja equilíbrio
de sintomas. Sua eƟologia ainda não é bem conhecida,
e bem-estar dentro dos limites impostos pela doença(7).
mas três fatores podem estar envolvidos: predisposição
genéƟca, desenvolvimento de resposta autoimune anormal A Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986, que dispõe sobre
dirigida contra os componentes do sistema nervoso central a regulamentação da consulta de enfermagem, aƟvidade
e fatores ambientais(1). privaƟva do enfermeiro como modalidade de prestação
de assistência direta ao cliente(8). A assistência de enfer-
A EM consƟtui importante problema de saúde pública,
magem possibilita a práƟca de ações que contribuem para
pois é uma doença progressiva e incapacitante, com ocor-
promoção, recuperação e reabilitação do indivíduo com
rência em adultos jovens, entre 20 e 50 anos de idade, de
EM, contemplando assim o princípio da integralidade(7-9).
grande impacto laboral, familiar, social e econômico, em
razão da perda da força de trabalho, e com elevado custo A Resolução no 358 do Conselho Federal de Enfermagem
de tratamento(2). (COFEN), de 2009, preconiza a SistemaƟzação da Assistência
de Enfermagem (SAE), que deve ser realizada em todas as
Acomete cerca de 2,5 milhões de pessoas no mundo,
insƟtuições de saúde em que ocorre o cuidado profissional
com maior prevalência nos países localizados em laƟtudes
de enfermagem. É organizada em cinco etapas: histórico de
mais ao norte e ao sul, esƟmando-se uma
enfermagem, diagnósƟco de enfermagem,
prevalência de 50 a 200 casos/100.000
A assistência de planejamento de enfermagem, implementa-
habitantes nesses países(1). No Brasil, em-
ção e avaliação de enfermagem(8). Portanto,
bora a distribuição de casos da EM ainda enfermagem possibilita
o Centro de Referência para acompanha-
não seja bem conhecida, estudos sobre a prática de ações
mento de pacientes com EM é um espaço
sua manifestação nos municípios de São que contribuem dodesenvolvimento das aƟvidades de en-
Paulo e de Santos revelaram taxas de 15 para promoção,
(3-4) fermagem, como a consulta de enfermagem
casos/100.000 habitantes . recuperação e sistemaƟzada.
O tratamento indicado é um programa reabilitação do
terapêuƟco individualizado com uso de imu- Este arƟgo tem como objeƟvo descrever
indivíduo com
nomoduladores, que reduzem a velocidade a experiência vivenciada por enfermeiros
esclerose múltipla, na implementação da SAE em um centro
de progressão doença mediante a diminuição contemplando
do desenvolvimento de novas lesões no sis- interdisciplinar de atendimento a pessoas
assim o princípio da portadoras de EM.
tema nervoso central, número de surtos e
incapacidades İsicas e cogniƟvas(5). integralidade.
MÉTODO
No Brasil, os imunomoduladores são
dispensados gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde Trata-se de um relato de experiência dos enfermeiros
(SUS) aos pacientes com EM e integram o elenco de me- na estruturação e implementação da SAE para acom-
dicamentos do componente especializado da assistência panhamento ambulatorial de enfermagem a pacientes
farmacêuƟca do Ministério da Saúde. A Portaria nº 493, com EM, no Centro Interdisciplinar de Atendimento aos
de 23 de setembro de 2010, estabelece que o tratamento Portadores de Esclerose MúlƟpla de um hospital público
deve seguir um protocolo clínico e diretrizes terapêuƟcas(5). que integra a rede SUS do Município de Fortaleza, Ceará.
Recomenda que o diagnósƟco e o acompanhamento do O hospital é referência no atendimento aos portadores
paciente devem ser realizados em Centros de Referência, com EM para todo o Estado. Possui uma equipe mulƟpro-
exigindo exames complexos e uma equipe mulƟprofissional fissional composta por dois médicos, duas enfermeiras,
que atue na promoção da saúde para controlar a evolução um farmacêuƟco, um fisioterapeuta e um nutricionista,
da doença e melhorar a qualidade de vida do paciente(2). que oferece atendimento semanal, visando à assistência
integral ao paciente com EM.
A equipe mulƟdisciplinar deve cuidar do paciente de
forma integral, indo além do cuidado İsico, considerando Atualmente são acompanhados 100 pacientes com EM
suas queixas psicossociais e elegendo a qualidade de vida em atendimento ambulatorial de enfermagem a pacien-
como um construtor que engloba a saƟsfação das pessoas tes com EM do Centro Interdisciplinar de Atendimento
em sua vida diária(6), respeitando assim um dos princípios aos Portadores de Esclerose MúlƟpla. A implementação
fundamentais da políƟca de saúde do SUS, qual seja, a do SAE teve início em janeiro de 2009 e o processo da
integralidade da atenção à saúde. O atendimento integral sistemaƟzação do cuidado de enfermagem prosseguiu,
ao usuário deve dar prioridade às ações prevenƟvas, de diante da necessidade da integralidade do cuidado desses

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pacientes, sendo o primeiro ambulatório da insƟtuição a monitorar e avaliar as intervenções propostas nas consultas
implementar a SAE. anteriores, nas quais são contemplados o exame İsico e a
evolução de enfermagem.
UƟlizou-se como referencial a Teoria das Necessidades
Humanas Básicas de Wanda Horta(10) e, na elaboração do Durante a uƟlização desses dois instrumentos percebeu-se
diagnósƟco de enfermagem, uƟlizou-se a taxonomia da a necessidade de aperfeiçoá-los, para os adaptar às neces-
North American Nursing Diagnosis AssociaƟon InternaƟo- sidades específicas de pacientes com EM, abordando os
nal – NANDA-I, que usa uma linguagem internacional para problemas reais e potenciais associados à doença e incluindo
classificação dos diagnósƟcos de enfermagem. Define diag- os problemas neurológicos, as complicações secundárias,
nósƟco de enfermagem como o julgamento clínico sobre bem como o impacto da doença sobre o paciente e a família.
as respostas do indivíduo, da família e da comunidade aos
problemas de saúde reais ou potenciais(11). O terceiro instrumento contempla os diagnósƟcos e
as intervenções de enfermagem, tendo sido elaborado
Para a intervenção dos cuidados de enfermagem, uƟli- após a aplicação sucessiva do primeiro formulário durante
zou-se a Nursing IntervenƟon ClassificaƟon (NIC), que define um mês, quando se detectaram os problemas objeƟvos e
a intervenção de enfermagem como qualquer tratamento subjeƟvos mais frequentes nos pacientes. Esse formulário
prevenƟvo ou curaƟvo realizado por um enfermeiro, base- contempla os 10 diagnósƟcos de enfermagem mais fre-
ado em julgamento e conhecimento clínico, para melhorar quentes em pacientes com EM, bem como suas respecƟvas
os resultados do paciente(12). intervenções. Além disso, para cada intervenção associou-
-se um resultado específico a ser alcançado. Salientamos
Na avaliação da qualidade dos cuidados de enfermagem,
que nos pacientes acompanhados nesse serviço os 10 diag-
foi uƟlizada a Nursing Outcomes ClassificaƟon (NOC), a que
nósƟcos de enfermagem mais frequentes são: mobilidade
compreende os resultados de enfermagem que descrevem
İsica prejudicada (00085); distúrbios no padrão do sono
o estado, os comportamentos, as reações e os senƟmentos
(00198); déficit no autocuidado; intolerância à aƟvidade
do paciente em resposta aos cuidados prestados. É uma
(00092); eliminação urinária prejudicada (00016); risco
linguagem comum de resultados específicos para a enfer-
para enfrentamento pessoal ineficaz (00069); consƟpação
magem, que contribui de forma objeƟva para mensuração
(00011); memória prejudicada (00131); disfunção sexual
dos resultados, ajudando na escolha das intervenções(13).
(00059); controle ineficaz do regime terapêuƟco (00080)
Para implementação do acompanhamento ambulatorial e dor aguda (00132).
de enfermagem a pacientes com EM elaboraram-se os for-
Depois de estabelecidos os diagnósƟcos de enferma-
mulários com base nas classificações NANDA-I, NIC e NOC.
gem, são planejadas as ações a serem executadas uƟlizan-
Para o histórico de enfermagem, foram preparados dois
do-se a NIC, que descreve as intervenções padronizadas
instrumentos, sendo o primeiro mais complexo e uƟlizado
que os enfermeiros executam, desde os tratamentos mais
na primeira avaliação do paciente com EM, e o segundo,
básicos até os mais complexos e especializados(13). Nesse
mais simplificado e desƟnado às consultas de seguimento
instrumento, para cada diagnósƟco são sugeridas interven-
para monitorar a evolução do paciente e avaliação das
ções específicas, direcionadas de forma a solucionar, manter
intervenções propostas nas consultas anteriores. Também
sob controle e/ou amenizar os diagnósƟcos. Na avaliação
foi elaborado um formulário para os diagnósƟcos de enfer-
das intervenções de enfermagem, uƟlizou-se a classifica-
magem e suas respecƟvas intervenções.
ção dos resultados de enfermagem que são registrados no
RESULTADOS instrumento para a consulta de seguimento.
As consultas de enfermagem são realizadas semanal-
Os passos adotados para aplicação da SAE aos pacientes mente, às quartas-feiras, no turno da manhã, por dois en-
com EM no ambulatório de enfermagem foi a elaboração fermeiros que integram a equipe interdisciplinar do centro
de três instrumentos. O primeiro instrumento foi formula- de EM. O paciente inicia seu acompanhamento junto ao
do com base no histórico de enfermagem direcionado às Centro de Referência com a consulta médica e, em seguida,
categorias das necessidades humanas básicas. Os dados passa para a consulta de enfermagem.
do instrumento compreendem desde a idenƟficação do
paciente, aspectos socioeconômicos e culturais, promoção A primeira consulta de enfermagem, por ser mais com-
da saúde, nutrição, eliminação e troca, aƟvidade e repouso, plexa, requer mais tempo e varia entre uma e duas horas.
cognição e autopercepção, sexualidade, conhecimento No primeiro contato, o enfermeiro realiza a entrevista e o
sobre a EM, até o enfrentamento de reações diante do exame İsico, registrando as necessidades manifestadas pelo
diagnósƟco, tolerância ao estresse, segurança, conforto paciente, tais como: dúvidas relacionadas com a patologia,
e exame İsico. Esse instrumento é uƟlizado na primeira grau de ansiedade diante do diagnósƟco, as dificuldades
vinda do paciente ao ambulatório para a consulta de na autoaplicação do medicamento injetável e na condução
enfermagem. O segundo instrumento foi elaborado para do tratamento, dificuldades para locomoção, bem como
acompanhamento do paciente nas consultas subsequen- qualquer limitação imposta pela doença. Com base nesses
tes. Trata-se de instrumento específico que contribui para registros, são estabelecidos os diagnósƟcos de enfermagem

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e planejadas as intervenções tendo em vista as metas a Nas consultas subsequentes, é realizada avaliação das
serem alcançadas. intervenções de enfermagem propostas anteriormente,
efetuando-se o exame İsico, assim como a reavaliação
Durante a consulta de enfermagem, o paciente recebe dos diagnósƟcos.
orientações sobre seu problema de saúde, tais como: o que
é EM, como idenƟficar um surto e como proceder diante Quando necessário, o enfermeiro faz o encaminha-
dele, os beneİcios do tratamento medicamentoso e a im- mento para outros profissionais que integram a equipe
portância da ajuda do paciente para retardar a evolução da mulƟdisciplinar. O agendamento de retorno é planejado a
doença. São também informados os efeitos adversos dos cada três meses, conforme protocolo do Centro de EM ou
medicamentos e seu manejo, a importância da adesão aos de acordo com a condição de saúde e de tratamento de
tratamentos medicamentosos e não medicamentosos, além cada cliente. O acesso ao ambulatório de enfermagem pelo
da importância de manter hábitos saudáveis que poderão paciente de EM ocorre sempre que este Ɵver dúvidas ou
impedir a progressão da doença e melhorar a qualidade senƟr necessidade, independentemente do agendamento.
de vida. A enfermeira ouve o paciente para que ele possa
DISCUSSÃO
expressar suas angúsƟas, falar e discuƟr suas dúvidas em
relação à doença e ao tratamento.
A aplicação efeƟva do processo de enfermagem aos
No exame İsico do paciente, são avaliados os movi- pacientes ambulatoriais de EM permite diagnosƟcar as ne-
mentos, a marcha, o equilíbrio e a postura para avaliar a cessidades do paciente, planejar e executar as intervenções
existência de risco de queda ou úlceras por pressão. Avalia- de enfermagem adequadas a cada diagnósƟco, bem como
-se ainda o paciente quanto à alteração da força muscular e avaliar os resultados, melhorando a qualidade dos cuidados
da sensibilidade, espasƟcidade, incômodo gastrointesƟnal, de Enfermagem e favorecendo um cuidado humanizado e
compromeƟmento visual, distúrbios da degluƟção, função individualizado. Oferece aos enfermeiros a oportunidade de
cogniƟva, inspeção no local da aplicação parenteral do avaliar e reavaliar suas intervenções e decidir qual a melhor
medicamento e função vesical. maneira de as desempenhar(7-14). O cuidado sistemaƟzado,
no entanto, visa melhorar a qualidade da assistência, dimi-
Para o paciente que apresenta eliminação urinária
nuir os fatores que podem acelerar a evolução da doença
prejudicada são estabelecidas intervenções para o manejo
e promover a saúde(13).
adequado dos sintomas, tais como: reeducação vesical,
treinamento para o autocateterismo intermitente e outras Nesse contexto, a consulta de enfermagem sistemaƟza-
estratégias que permitem minimizar o problema. da possibilita avaliar individualmente o paciente e oferecer
uma assistência integral com base em ações que contribuem
Quando o paciente está iniciando o tratamento me-
para a promoção, prevenção e reabilitação da pessoa, tendo
dicamentoso, é agendado um retorno unicamente para
como eixo norteador o princípio da integralidade previsto
orientação sobre os cuidados gerais, com o procedimento
pelo Sistema Único de Saúde(9-15).Diante dessa doença com-
de preparo e aplicação parenteral do medicamento. Tais
plexa, cuja evolução resulta em limitações funcionais que
orientações incluem os cuidados com transporte, arma-
podem levar a múlƟplas incapacidades,variando enorme-
zenamento e manutenção do manuseio adequado do
mente de uma pessoa para outra(2), é fundamental oferecer
material necessário à aplicação, antecedida pelos cuidados
um cuidado holísƟco e individualizado que contribua para
de higienização das mãos; a escolha do local da aplicação, a promoção da saúde e melhora da qualidade de vida.
bem como a alternância, observando as recomendações Segundo Teixeira, as necessidades individuais do paciente
perƟnentes para prevenir complicações, e a técnica da au- devem ser consideradas na assistência de enfermagem(15 ).
toaplicação parenteral do imunomodulador, que é explicada
claramente passo a passo. Vale ressaltar que os pacientes, Para humanizar a integralidade do cuidado, o enfermeiro
ao receberem o medicamento na farmácia, são orientados precisa desenvolver ações diferenciadas superando o mo-
pelo farmacêuƟco sobre os cuidados com o transporte e delo tecnicista e mecanicista. É necessário que os pacientes
oarmazenamento do imunomodulador. tenham um espaço para falar e refleƟr sobre suas dúvidas,
mulƟplicando os conhecimentos sobre sua doença(16). O
As dúvidas do paciente são respondidas durante a expli- enfermeiro precisa adquirir a capacidade de compreender
cação da técnica de aplicação parenteral do medicamento e, o paciente com EM ante à complexidade de sua condição,
na sequência, o paciente realiza a autoaplicação parenteral sabendo ouvir, e as intervenções devem ter um caráter
do imunomodulador no ambulatório. As facilidades e difi- compreensivo e humanizado, respeitando a realidade e os
culdades são observadas e discuƟdas em seguida. Quando senƟmentos do paciente.
ele apresenta dificuldades na aplicação parenteral ou relata
insegurança, retornos adicionais são agendados para repeƟr No decorrer da consulta de enfermagem, os pacientes
a técnica supervisionada pela enfermeira do ambulatório. têm a oportunidade de revelar suas angúsƟas e incertezas,
Se o paciente exibir limitações İsicas ou cogniƟvas que o bem como sua vivência com relação ao processo saúde-
incapacitem para a autoaplicação, é solicitada a presença -doença e tratamento, o que oportuniza intervenções edu-
de um cuidador familiar. caƟvas direcionadas à aquisição de conhecimentos e hábitos

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saudáveis, respeitando o entendimento e o esƟlo de vida İsicas, seja por déficit de memória. Nessa etapa da consul-
do paciente. Tal conduta de promoção de saúde está funda- ta, sempre que possível, é feita a inclusão da família para
mentada na reflexão baseada na realidade do educando(17). capacitá-la ao convívio diário no auxílio ao tratamento. As
intervenções de enfermagem pactuadas consƟtuem uma
Viver com esclerose múlƟpla é viver num estado de estratégia de desenvolvimento da autonomia do paciente,
incerteza constante. O desafio do ajustamento a EM é mais podendo favorecer o autocuidado(23). Nesse aspecto, a
do que uma adaptação bioİsica ao processo de doença; inclusão da família no cuidado contribui para a promoção
é uma experiência vivida que requer múlƟplas mudanças e a reabilitação da saúde do paciente(24-25).
para se ajustar às condições impostas pela doença(7). Nessas
circunstâncias, é necessário propor uma mudança do esƟlo Na implementação da SAE encontraram-se algumas
de vida numa abordagem compensatória e moƟvacional. dificuldades pela falta de conhecimento dos enfermeiros
Essas intervenções são realizadas sistemaƟcamente nas em relação à EM e pela escassez da literatura abordando
consultas de enfermagem, com o intuito de capacitar os a atuação do enfermeiro na EM na realidade brasileira
pacientes a enfrentar suas dificuldades coƟdianas e seguir Embora as insƟtuições reconheçam a importância da SAE,
o tratamento numa perspecƟva posiƟva. inclusive para a acreditação hospitalar, pouco investem
em tecnologia e recursos humanos, inclusive no espaço
Entre os pacientes com EM 65% evoluem com dis- İsico necessário para a consulta de enfermagem, o que por
função vesical, que representa um grande impacto no sua vez limita a assistência de enfermagem aos pacientes
convívio social, profissional, sexual, familiar, ou seja, na com EM. A complexidade da doença exige um tempo de
qualidade de vida desses pacientes. Muitas vezes o pa- enfermagem maior, além de espaço İsico adequado para
ciente não busca ajuda por constrangimento ou por falta aconsulta de enfermagem.
de conhecimento(18). Nesse senƟdo é importante o papel
do enfermeiro no diagnósƟco deenfermagem por meio CONCLUSÃO
das queixas clinicas para planejar o treinamento para o
autocateterismo vesical e reeducação vesical(19), assim
A implementação da consulta de enfermagem pro-
como outras intervenções, para prevenir complicações, porciona a idenƟficação e o entendimento das respostas
proporcionar maior autonomia, permiƟr o convívio social dos pacientes com EM aos problemas de saúde reais e
e afeƟvo e melhorar a autoesƟma. potenciais, facilitando a escolha das intervenções. Essas
O tratamento medicamentoso para EM é administrado intervenções auxiliam nos tratamentos medicamentoso
por via parenteral, parƟcularmente os agentes imunomo- e não medicamentoso, favorecendo a adesão e visando
duladores que modificam favoravelmente a progressão da à melhoria da qualidade de vida do paciente com EM por
doença. O paciente pode fazer a autoaplicação domiciliário meio de estratégias de educação para a saúde.
quando capacitado por um profissional de saúde(2). Nesse
A consulta de enfermagem ao paciente com EM possi-
senƟdo, as orientações do enfermeiro a pacientes com EM
bilita visão ampliada do processo saúde-doença e facilita
vinculadas a um processo educaƟvo repassam conheci-
a atuação do enfermeiro na abordagem integral daquele.
mentos sobre o tratamento e o procedimento de preparo
Percebe-se, no entanto, que a proposta concede a oportu-
e aplicação dos imunomoduladores, para que esta possa
nidade de expandir o conhecimento mediante uma práƟca
ser realizada no domicílio, pelo próprio paciente(20). Ao se
pautada em evidências cienơficas. Além disso, os dados
apropriar do conhecimento, o paciente tem envolvimento
gerados na SAE podem fomentar novas invesƟgações para
no autocuidado e maior autonomia na decisão de adesão
ambulatórios de neurologia.
a seu tratamento(21). Santos corrobora essa ideia ao acen-
tuar que, ao adquirir conhecimentos produzidos nas ações Essa consulta traz benefícios aos pacientes e seus
educaƟvas, o paciente busca o autocuidado, o que lhe familiares e à comunidade, pois oferece atendimento de
proporciona a conquista conơnua de qualidade de vida(22). qualidade e humanizado, que respeita a individualidade do
paciente, na idenƟficação de diagnósƟcos e na escolha das
Na orientação para autoaplicação do medicamento inje-
intervenções, possibilitando a avaliação dos resultados de
tável, é seguido um protocolo fundamentado nas condutas
enfermagem, como estratégia para o desenvolvimento da
de enfermagem para orientações do paciente com EM na
autonomia do paciente, podendo favorecer o autocuidado.
aplicação do imunomodulador, padronizadas, necessárias
para garanƟr a segurança de um tratamento eficaz(20). Essa experiência de consulta de enfermagem junto aos
pacientes com EM foi importante em razão da possibilida-
Na consulta ambulatorial aos pacientes com EM, as
de de divulgar uma intervenção de grande relevância para
intervenções são pactuadas com o ele, enfocando-o como
consƟtuir o saber e o fazer da enfermagem na assistência
responsável pelo autocuidado. Para isso, são discuƟdas
ambulatorial a pessoas com EM.
com ele as suas limitações, tais como as dificuldades para a
autoaplicação parenteral do imunomodulador, dificuldades O princípio da integralidade previsto no SUS é favorecido
para realizar o autocateterismo vesical, bem como de outras pela consulta de enfermagem e pelas ações interdisciplina-
aƟvidades relacionadas ao autocuidado, seja por limitações res aos pacientes com EM.

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2013; 47(3):750-5 acompanhamento ambulatorial de pacientes com esclerose múltipla
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Sistematização da Assistência
Correspondência: Nair Corsode Enfermagem para Rev Esc Enferm USP
acompanhamento ambulatorial
Rua Carolina Sucupira, 770 -de pacientes
Apto. 1501 -com esclerose múltipla
Aldeota 2013; 47(3):750-5
Corso
CEP NAA, Gondim APS,
60140-120 Rocha PC, Albuquerque
- Fortaleza, CE, Brasil MGF www.ee.usp.br/reeusp/

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