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CARTOGRAFIA, ARTE E VISÕES DE MUNDO
NA REPRODUÇÃO DO “MAPA INVERTIDO
DA AMÉRICA DO SUL”

CARLA MONTEIRO SALES*

Resumo: O “Mapa Invertido da América do Sul” é um reconhecido exemplo do que chamamos de mapa artísticos.
Primeiro, por ser um mapa que não foi feito pelos cânones da ciência cartográfica, mas pelas mãos de um artista
uruguaio, chamado Torres-García, em 1943. Segundo, porque sua apropriação cartográfica compõem o famoso
redirecionamento da ponta da América do Sul para o topo da imagem. Terceiro, por ser bastante reproduzido em
diversos contextos até os dias atuais. Instigado por essas características da obra, o presente texto tem por objetivo
compreender os diversos contextos que reproduzem esse mapa e contribuem com a permanência de sua
expressividade artística e discursiva. Para tanto, é necessário discutir as diversas visões de mundo que podem ser
expressas em um mapa artístico que inverte a orientação convencional da América do Sul, o que será feito através
das relações entre cartografia, arte e geografia.
Palavras-chave: mapa, arte, visões de mundo, América do Sul.

Introdução ________________________ entendimentos. Pelo contrário, possibilita


um enriquecimento de temas, enfoques e
As relações entre mapas e críticas que contribuem para sua
geografia são longínquas, o que não renovação e relevância. Os vínculos entre
significa o esgotamento de suas análises e cartografia e arte são uns dos desafios

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recentes para a abordagem da geografia Este não é um mapa como os
frente aos mapas, pois expandem as convencionais, que costumam ser
características, as linguagens e as validados na ciência geográfica pelo
definições do mapa. emprego de escala, legenda, título ou
Tais desafios podem ser expressos dados georreferenciados. Também não é
pelos seguintes questionamentos: de quais uma obra de arte usual, pois visualizamos
modos a geografia pode utilizar mapas claramente uma estética ou um contorno
com qualidades mais artísticas do que que reconhecemos como cartográfico. Por
científicas? Quais as contribuições de um ser tanto um mapa, como uma obra de
mapa artístico para as análises arte, enquadra-se no que é chamado de
geográficas? Quais metodologias se mapa artístico. Essa ambiguidade torna
adequam a essas análises? O presente problemática a definição desses mapas,
texto tem a pretensão de discutir tais mas para fins práticos da presente análise,
questões através da análise de um dos adotaremos a definição mais simplificada
mais recorrentes exemplos de mapas de apropriações de elementos da
artísticos, o Mapa Invertido da América do cartografia por artistas em suas obras.
Sul (figura 1). Torres-García foi um desses
artistas a utilizar mapas, publicando seu
Mapa Invertido da América do Sul para
inaugurar as atividades da Escola del Sur:
El Taller Torres-García (TTG), em 1943.
Nesse período, faziam alguns anos que o
artista havia retornado à sua cidade natal
Montevidéu, após crescer com o pai em
Barcelona. Já adulto, mudou-se para Paris,
e depois Nova Iorque, tendo alcançado
relativo reconhecimento com suas obras.
Em seu retorno, declarava o objetivo de
desenvolver uma série de atividades que
Figura 1 – Mapa Invertido da América do Sul. Fonte: fomentassem a criação de um movimento
INTENDENCIA DE MONTEVIDEO, 2015.
Disponível em: artístico inovador e original, em
<http://www.montevideo.gub.uy/jtg/por_escuela
.html>. Acesso em: 20 jan. 2015. Montevidéu, que acreditava poder igualar
a arte de Paris (TORRES, 1992).
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Entretanto, esses objetivos que não era só de Torres-García, como
encontram dificuldades pelo que o próprio também de outros artistas modernistas da
artista descreveu como um gosto América Latina, incomodados com as
predominante nas artes uruguaias de principais capitais latinas que não se
copiar cânones estéticos do fin-de-siècle apresentavam como sedes de sua
importados da Europa (TORRES, 1992). sociedade.
Assim, uma de suas primeiras atitudes, já
em Montevidéu, foi escrever seu manifesto Ao contrário, eram enclaves europeus,
Estructura (1936), cuja capa era composta a conspirar traiçoeiramente ou a

de uma primeira versão de seu mapa colaborar submissamente na


exploração de matérias-primas
invertido e, através dele declara que:
naturais, ou como Lima, Rio de
Janeiro e Buenos Aires, com as costas
É por isso que nós agora viramos o
voltadas para o interior e mirando
mapa de cabeça para baixo, e agora
sonhadoramente o oceano, que
nós sabemos qual é nossa real posição,
reconduzia à Europa. Decerto, alguns
e não é como o resto do mundo
escritores sempre alegaram que o
gostaria que estivéssemos. De agora
cosmopolismo é uma aproximação
em diante, o alongamento da ponta da
inevitável, e ainda por cima desejável,
América do Sul irá apontar
do mundo, um desejo de inserir a
insistentemente para o Sul, nosso
América Latina na ordem universal
Norte. Nossa bússola também, ela vai
das coisas, de fazê-la tomar seu lugar
inclinar irremediavelmente e para
entre as culturas, reconhecendo e
sempre na direção do Sul, da direção
sendo reconhecida. Eis uma discussão
do nosso polo (TORRES-GARCÍA,
cujo fim está longe (MARTIN, 2011,
1992, p.53, tradução nossa)1.
p. 356).

Sua intenção com tal manifesto era


Com seu manifesto e seu atelier,
expor o processo histórico da arte através
Torres-García intencionava chamar
de suas experiências, com grandes doses
atenção de novos artistas uruguaios para
de opiniões pessoais. Também exaltava a
conformação de um movimento que fosse
cultura e os motivos do Uruguai e da
procedente da América do Sul, centrando
América do Sul, combatendo o
em temas e problemas que não se religam
comportamento que ele chamou de
à Europa. Por conta dessas aspirações, o
“exilados da Europa”. Uma consciência
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artista foi inspirado a inverter o mapa da Essa pretensão de elaborar um
América do Sul e propor uma visão de estilo artístico baseado no entendimento
mundo onde o Sul não seja mais para o mundo, e não apenas na estética,
dependente ou “inferiorizado”, assumindo era compartilhado por vários artistas do
uma posição, que segundo o artista, lhe foi período, pois condizia com os princípios
negada ao longo da história. gerais modernistas. A singularidade de
Somado à inversão do mapa da Torres-García não está, portanto, nos
América do Sul, outros princípios de princípios básicos do construtivismo cuja
Torres-García também são perceptíveis na origem era europeia, mas na incorporação
imagem, como o da arte construtivista. de elementos e entendimentos indígenas,
Esta corrente guiava-se na busca de um como a simbologia do sol e do peixe a
entendimento universal das artes e esses princípios (TORRES, 1992). Em
adotava os signos como algo natural, com suma, Torres-García “praticou sua arte
isso, ele pode apreender a essência daquele com a mão tipicamente trêmula – com
ponto de incidência entre o existente e o „sentimento‟, segundo jargão de estúdios –
abstrato (ADES, 1997). Artisticamente, emprestando às suas obras um estranho
Torres-García é reconhecido por essa simbolismo. Nunca se viu nada igual no
estética quase rústica. Seus quadros, mundo” (BAYÓN, 2011, p. 609).
desenhos, murais e até esculturas são Portanto, são essas as convicções
concebidos pela forma retangular onde as que guiaram a configuração do Mapa
diferentes cores e os diferentes símbolos Invertido da América do Sul. Para expressá-
são associados. Assim, la, o artista compõe uma reunião de
elementos simbólicos de desenho
Ele abstraia símbolos em linhas simplificado e rústico, que intencionam
básicas de desenhos, acreditando que despertar a ideia de atemporalidade e de
tais formas simplificadas seriam entendimento universal. O que parece ter
primordiais e, assim entendidas
obtido sucesso, visto sua frequente
universalmente, e, em seguida, ele as
reprodução atual. O propósito era
construía em suas redes, criando um
incorporar um elemento figurativo ou o
sistema de relações simbólicas
sujeito na estrutura, o artista penetra em
formalmente estruturadas (JOLLY,
2011, p. 200, tradução nossa.)2. sua ordem geométrica e estrutural, para
sintetizá-lo, torná-lo uma ideia, a essência
de si mesmo.
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A América do Sul é reduzida ao seu mundo e que, portanto, necessitava de um
contorno, cujo único referencial novo mapa.
cartográfico é a Linha do Equador que,
convencionalmente, indica a divisão global Cartografia e Arte __________________
entre hemisférios Norte e Sul. A precisão
está na localização de Montevidéu Ao reaproximar cartografia e arte,
destacada pelas coordenadas, que auxiliam os mapas artísticos levantam uma série de
a chegada do barco. Nem mesmo a questões sobre as relações históricas e
designação da região é necessária, pois intercâmbios representativos que esses
esta já é reconhecida pelo seu geo-corpo dois campos apresentam. No passado,
(NOVAES, 2014), previamente moldado e separar arte e mapeamento não era uma
fixado pelos mapas tradicionais. Esse tarefa simples, visto que mapear e pintar
enquadramento do mundo via mapas paisagens eram atividades feitas pelas
padronizados tende a atender o objetivo mesmas mãos (REES, 1980). Mapas
geopolítico de classificar o que pertence e tinham qualidades estéticas, elementos
o que não pertence a tal localidade, e a simbólicos e visões de mundo subjetivas
estabelecer seu posicionamento “correto”. tal qual as pinturas. Não é à toa que as
Assim, o artista usa de uma das principais capitais da arte renascentista, como
funções geopolíticas da cartografia: servir Veneza e Antuérpia, eram também centros
de ferramenta para modelar os formatos proeminentes de confecção de mapas.
de países, regiões e continentes. Essa íntima relação foi sendo
Com isso, Torres-Garcia foi um gradativamente enfraquecida desde, pelo
dos primeiros artistas do século XX a menos, a instituição da cartografia
trabalhar com mapas, e dividiu com outros enquanto uma disciplina acadêmica, do
artistas a ideia de usar a América do Sul campo das ciências exatas, ao longo do
para evocar o pan-americanismo (JOLLY, século XV. Para isso, o mapeamento
2011). Com tal proposta, ele construiu a estabeleceu uma série de critérios,
ideia de inverter a orientação do mapa, de cálculos, instrumentos e técnicas que
relativizar uma imagem padronizada de instituíram o período moderno dos mapas.
mundo para o entendimento de sua Seu conjunto de elementos obrigatórios,
mensagem: valorizar as coisas locais da escalas numéricas, formas padronizadas,
América na construção de um novo passam a compor a estética geral que
identificamos como mapa e, por
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conseguinte, o torna diferente das demais princípios e características, a cartografia
formas de representação. moderna também menosprezou e
Assim, durante muito tempo, a invalidou as demais formas de
história da cartografia foi contada a partir mapeamento, como o pré-moderno ou de
de uma perspectiva evolutiva culturas orientais, com o objetivo de
(COSGROVE, 2005), onde os mapas apagar os vestígios do fazer artístico dos
teriam sido gradativamente aprimorados mapas (HARLEY, 1989). Por muito
por meio de novas técnicas científicas e de tempo, esse modelo prevaleceu na história
precisão. Como resultado, configurou-se da cartografia fomentando estudos que
uma oposição entre mapas pré-modernos e mostrassem a influência das artes apenas
modernos: os primeiros seriam carregados nos mapas pré-modernos, evitando o
de subjetividade e imprecisão, por serem exame crítico da ciência cartográfica no
influenciados pela arte; já os segundos século XX, e deixando intacta a impressão
seriam acurados e objetivos em suas de que arte e cartografia seguiram
representações, influenciados pela razão caminhos diferentes no período moderno
científica. (COSGROVE, 2005).
Nesse processo, a fantasia do Essa história começa a adquirir
incógnito vai sendo substituída pela novas versões através de uma corrente de
informação do conhecimento, e as imagens pensamento que ficou conhecida como
pictóricas pelos signos convencionados. cartografia crítica, que se desenvolve no
Uma mudança que corresponde as início da década de 1980 e propõe que os
necessidades dos séculos XIV/XV, mapas não apenas representam, mas
quando a expansão marítima, a divisão de também fazem a realidade (CRAMPTON
terras, a exploração colonial e as rotas de E KRYNGIER, 2006). Nesse sentido, os
comércio foram se expandindo, e passaram mapas são vistos como ativos, com
a requerer o uso de mapas mais capacidade de construir ativamente no
padronizados e matematicamente conhecimento espacial, de exercer poder e
fundados. de promover mudanças sociais. O
É claro que existia uma importante mapeamento seria parte integrante da
demanda para tais transformações no produção do espaço, da geografia e das
mapeamento e uma indiscutível relevância identidades políticas das pessoas que
e funcionalidade da cartografia científica. habitam e consomem um lugar.
Entretanto, além de estimular seus
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Enquanto as regras da cartografia esses dois tipos de imagens pictóricas ou
científica tendem a padronizar os mapas, a cartográficas. Em Wood (2006), o
cartografia crítica tende a ampliar suas argumento é que ambos são artefatos
formas, colocando sua representação como gráficos, seguem lógica de escolhas e
algo relativo e influenciável. Porém com omissões como qualquer representação, e
um adendo importante, sem menosprezar são primordialmente comunicacionais.
essa manipulação, visto que os mapas Isso quer dizer que ambos são construções
expressam uma forma possível de ver o pelas quais uma pessoa (ou grupo de
mundo, dentre várias existentes. A pessoas) sensibilizam outras, afetam seu
superação dessa dicotomia é o que estado ou seu comportamento, em uma
favorece à cartografia crítica a expandir as situação comunicativa.
análises e reconhecimentos dos mapas Complementarmente, em Cosgrove (2005)
para suas mais variadas linguagens: o destaque é para as questões técnicas
artística, jornalística, propagandista ou compartilhadas entre essas duas práticas,
dos períodos pré-modernos, por exemplo. como ênfases, meios, linhas, cores e
Diante dessa perspectiva crítica, simbolizações. Também compartilham de
historiadores da cartografia da década de decisões parecidas sobre forma,
1980 “(...) procuraram trazer um novo composição, enquadramento e perspectiva.
pensamento crítico sobre a interpretação Essa paridade entre cartografia e
de mapas e tentaram ampliar nossa arte é exposta e provocada pelos mapas
compreensão das práticas de mapeamento, artísticos, reconfigurando suas relações.
não obstante a historiografia convencional De fato, quando artistas misturam
de evolução cartográfica da arte à ciência” elementos característicos da estética
(COSGROVE, 2005, p. 35, tradução cartográfica às suas técnicas artísticas,
nossa)3. No lugar dessa visão evolutiva e tem-se uma linguagem pouco usual, que
binária, a proposta é compreender as expõe relações espaciais que são evitadas,
interseções entre as práticas artística e ou pouco exploradas, pelos mapas
cartográfica, bem como perceber o mapa convencionais da ciência cartográfica. Os
como um produto cultural e social que mapas artísticos ampliam as formas de
precisa ser entendido em seu contexto representar o mundo de modo mais
histórico. espontâneo e compassivo, traçam uma
Ao aproximar artes e mapas, associação entre forma estética e
encontramos paralelos imediatos entre contextos políticos, que questionam as
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relações de poder da cartografia em no contexto científico existem regras que
afirmar um mundo padronizado. guiam e limitam essa representação,
Nas análises sobre mapas artísticos colocando-as como precisas e corretas
não cabe verificar suas conformidades expressões de um mundo que é único.
técnicas ou precisão de proporções, o que Enquanto, no contexto artístico, essas
está em tela são as funções sociais, tanto expressões são guiadas por anseios
as que influenciam como as que são culturais e ideológicos, que são
influenciadas por eles. As propostas assumidamente colocados, configurando-
artísticas de mapa têm essa capacidade de as como uma imagem possível e
sensibilizar e causar reflexão sobre nossas contextualizada de mundo.
relações com os espaços, reais ou É nesse sentido que os mapas
imaginados. As possibilidades não findam. artísticos se tornam um importante meio
de compreensão das visões de mundo,
O que está em questão é a natureza do compondo um tipo particular de
mundo em que queremos viver. Ao representação que associa forma estética
apontar para a existência de outros
às relações de poder sobre o espaço,
mundos – reais ou imaginados-
ressaltando críticas e expressividades que
artistas de mapa estão reivindicando o
não cabem na normatização da cartografia
poder do mapa de alcançar outros fins
científica. Assim é com o Mapa Invertido
além da reprodução social de um
status quo. Mapas artísticos não da América do Sul, queremos compreender
rejeitam os mapas. Eles rejeitam a a expressividade de sua visão de mundo
autoridade clamada pelos mapas tanto em seu passado contexto de
normativos exclusivamente para elaboração, como em seus atuais contextos
tratar a realidade como ela é, ou seja, de reprodução e apropriação.
com imparcialidade e objetividade
(WOOD, 2006, p. 10, tradução nossa, Visões de mundo na reprodução do
grifo no original)4.
“Mapa Invertido da América do
Sul”_______________________________
Com efeito, o ato de mapear, seja
artístico ou científico, é um ato de
Torres-García virou a América de
criatividade, pois formam a expressão de
cabeça para baixo, invertendo a posição do
um conhecimento sobre o mundo
Sul em sua obra artística e provocando
(CRAMPTON, 2010). A diferença é que
tanto estranhamento quanto admiração.
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Mas virar o mapa “ao contrário” é mais do tornando-se um exemplo notório e
que um efeito curioso, é contrariar uma didático para idealização do que é um
representação canônica, estabelecida e mapa artístico.
hegemônica de mundo que, por sua vez, Assim, torna-se interessante
tem ampla influência das relações de poder compreender quais contextos contribuem
nas formas do conhecimento. para a manutenção de sua fama na
Como já vimos anteriormente, os atualidade, passados mais de setenta anos.
ideais do artista e o contexto histórico de Esses contextos mantém a expressividade
elaboração do Mapa Invertido da América artística e discursiva do mapa
do Sul dizem muito sobre os significados e construtivista de Torres-García? Ou lhe
objetivos então pretendido por essa obra: dá novas significações e utilidades? Se
romper a dependência política e cultural retomarmos a ideia dos mapas artísticos
com a Europa, exaltar os motivos próprios como construções que visam contrapor,
da América do Sul através de um questionar ou contrariar as formas
movimento artístico original e valorizar a hegemônicas e padronizadas de mapa,
própria região através de uma nova então a contínua reprodução do Mapa
posição no mundo. Entretanto, a Invertido da América do Sul deve supor a
expressividade desse mapa artístico não continuidade dos mesmos
ficou restrita ao seu contexto de criação. questionamentos de sua elaboração?
Ela foi estendida por sua reprodução nos Primeiramente, temos claro que a
mais diversos meios que vão desde livros reprodução de uma obra não
didáticos a tatuagens. necessariamente carrega consigo toda a
Da mesma forma, essa obra história da obra, ou mesmo conserva todas
ultrapassou também as limitações as formatações originais. Não é por ver, ou
temporais, visto que, mesmo sendo mesmo utilizar de alguma forma esse
divulgada em 1943, é possível achar mapa artístico que se passa a dominar
exemplos de sua reprodução até os dias todos seus discursos ou propósitos que
atuais. Logo, não é difícil encontrarmos inspiraram o artista a fazê-lo. Na verdade,
pessoas familiarizadas com tal imagem, o Benjamin (2012) vai além, afirmando ser
que é, provavelmente, explicado pela sua impossível total conservação: “Mesmo na
ampla circulação. Caiu no gosto popular, reprodução mais perfeita falta algo: o aqui-
ganhou fama e passou a emprestar seu e-agora da obra de arte – sua existência
ideário a diferentes tipos de conjunturas, única no lugar em que está. Mas é nessa
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existência única, e somente nela, que mostram o Mapa Invertido da América do
transcorre sua história” (p. 12). Sul em alguma de suas muitas
Em outras palavras, para o autor, a reproduções. Para destacar as
reprodutibilidade técnica extingue a semelhanças, complementariedades e
autenticidade daquilo que foi reproduzido, diversidades dessas reproduções,
colocando tal cópia em situações compomos uma separação por grupos
totalmente improváveis ao próprio temáticos e faremos uma breve descrição
original. Se por um lado podem ocorrer das informações de cada um desses temas.
perdas de essências ou de elementos Ao final, a percepção acumulada de
técnicos nesse processo de reprodução, similaridades nos encaminha para
por outro lado também podem ocorrer compreender a continuidade e difusão da
acréscimos de situações, públicos e visão de mundo questionadora desse mapa
leituras com capacidade de potencializar artístico.
ou pluralizar os discursos associados à O primeiro grupo temático é
obra. composto de souvenires do Uruguai, país
Dentre os diversos fatores que de origem da obra (Figura 2). Nesse
podem levar a reprodução de uma imagem contexto, a obra de Torres-García é
em contextos tão diversos, adquire reproduzida em diferentes objetos:
destaque a identificação com sua camisas, cartões-postais, canecas e
mensagem. As formas artísticas admitem cadernos que podem ou não ser somados a
interpretações amplas sobre os discursos outras referências locais. Assim, o Mapa
que expressam, tornando um desafio Invertido da América do Sul empresta sua
delimitar um sentido único ou original da expressividade para ser vendido e
obra. Mas tão importante quanto esse consumido como um referencial do seu
sentido primordial, é compreender os país de origem e, logo, da localidade que
outros discursos que também passam a ser ele inverte.
entendidos e vinculados por essa
construção artística através de sua
apropriação.
Então, para possibilitar a análise
dos contextos e dos discursos que se
apropriam dessa obra, compomos um
levantamento eventual de imagens que
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a pensar no significado que dessa inversão
de orientação no contexto de
questionamento das visões eurocêntricas
de mundo.

Figura 2 – Reprodução em souvenires. Esquerda


superior - Fonte: O autor, fotografado em 30 dez.
2014, no Parque Sarah Kubitschek, em Brasília.
Direita superior - Fonte: O autor, fotografado em
27 abr. 2016. Esquerda inferior – Fonte:
http://www.torresgarcia.org.uy/ , acesso em 10
jan. 2015. Direita inferior - Fonte: O autor,
fotografado em 10 jan. 2015

Além da sua utilidade turística, o


Figura 3 – Reprodução em ferramentas escolares.
Mapa Invertido da América do Sul também Superior - Fonte: “Geografia nos dias de hoje”,
Editora leYa, 2015. Esquerda inferior – Fonte:
é aproveitado na temática escolar (figura “Por dentro da Geografia”, Editora Saraiva, 2016.
Direita inferior - Fonte: Ministério da Educação,
3) para fins educativos do Ensino 2012.
Fundamental e Médio. Nesse tema,
encontramos dois exemplos em livros Também no âmbito do
didáticos do Ensino Fundamental, onde conhecimento, o terceiro tema é composto
esse mapa artístico serve para refletir pelo contexto acadêmico (figura 4), mas
sobre as visões de mundo da América do não consideramos livros, capítulos e
Sul e questionar a padronização de uma artigos destinados ao estudo da obra de
orientação cartográfica ao Norte. E mais Torres-García. Encontramos o Mapa
um exemplo na questão de um simulado Invertido da América do Sul ilustrando
feito pelo Ministério da Educação, em livros e cartazes de divulgação de eventos
2012, para o Exame Nacional do Ensino acadêmicos cujo tema poderia ser
Médio (ENEM), onde o aluno é convidado representado por essa obra. A primeira
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imagem é um cartaz de divulgação do García que, ao apontar o Sul para o topo,
evento “I seminário de Geografia e giro revoga qualquer dependência ou
descolonial: experiências, ideias e subalternização dos conhecimentos
horizontes de renovação do pensamento originados do Sul global.
crítico”, realizado em 2014 na
Universidade Federal Fluminense (UFF),
onde o mapa de Torres-García parece
dialogar com o tema do evento em criticar
a dependência dos países do Sul e desejo
por novas perspectivas a serem traçadas
também no debate acadêmico. A segunda
imagem é a capa do livro que traduz a
obra “O que é a Geografia?”, do geógrafo
Ruy Moreira, para o espanhol e, nesse
sentido, o mapa artístico ilustra uma ideia
do interesse dessa ciência. A terceira
imagem também é um cartaz de
divulgação, dessa vez do evento
“Universidades e movimentos sociais na
América Latina: pesquisa militante,
construção de conhecimento e bens
Figura 4 – Reprodução em contextos acadêmicos.
comuns”, realizado em 2014, na Esquerda superior – Fonte: Evento I Seminário de
Geografia e giro descolonial, nov. 2014. Direita
Universidade Federal do Rio de Janeiro superior - Fonte: Fotografado por André Novaes,
abr. 2017. Esquerda inferior – Fonte: Evento
(UFRJ). Nessa imagem, o mapa artístico Universidades e Movimentos Sociais na América
representa o engajamento de diferentes Latina, maio 2014. Direita inferior - Fonte:
“Conocer desde El Sur”, 2006.
campos, como a arte e a ciência, nas lutas
pelos anseios e demandas da América Por fim, o último grupo temático é
Latina. Por fim, a última imagem é capa bastante difundido, com inúmeros
do livro “Conocer desde El Sur: para uma exemplos, mas com maior dificuldade de
política emancipatória” do sociólogo obtenção de imagens por fazer parte do
português Boaventura de Souza Santos. O corpo das pessoas, em tatuagens (Figura
título da obra acadêmica adquire ampla 5). As situações em que conseguimos
relação com o mapa invertido de Torres- fotografar tais tatuagens indicam certa
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ideologia dessas pessoas, e como esta pode Figura 5 – Reproduções em tatuagens. Esquerda
superior – Fonte: Fotografada na Jornada de luta
estar relacionada a esse mapa artístico. pelo direito à moradia do MLNM,em 15/04/2015.
Arquivo de Mariana Moraes. Esquerda inferior -
Claramente, existem outros inúmeros Fonte: Fotografada na III Conferência Nacional de
Cultura, 2013, em Brasília. Disponível em:
outros contextos e lugares que essas <http://edgarb.blogspot.com.br/2013/12/em-
pessoas, tatuadas com o mapa de Torres- brasilia-iii-conferencia-nacional-de.html>. Acesso
em: 17 mar. 2015. Direita - Fonte: O autor,
García, circulam. Não é nossa intenção fotografada no carnaval de rua do Rio de Janeiro,
na Praça Tiradentes, Centro, no dia 14 fev. 2015.
traçar um perfil social e psicológico de
cada uma delas, mas apenas a situação Destarte, esse conjunto de imagens
específica em que foram fotografas. que reunimos e descrevemos brevemente
Destarte, a primeira imagem traz um buscou ressaltar a notoriedade e
militante do Movimento Nacional de Luta expressividade com que o mapa artístico
pela Moradia (MNLM); a segunda uma de Torres-García permanece na
participante da Conferência Nacional de atualidade. Nosso intuito foi compor
Cultura; e a terceira, um adepto do diferentes universos que demonstrassem a
carnaval de rua não-oficial do Rio de diversidade de situações para a qual tal
Janeiro (Bloco “Boi Tolo” não compõe a obra tem serventia e identificação,
agenda oficial da prefeitura). Os lugares indicando também, a amplitude de sua
em que tais tatuagens foram encontradas circulação. Nesse sentido, é crucial
sugerem manifestações sociais que associar tal sucesso às características
questionam ou tentam mudar uma fundamentais da obra. O Mapa Invertido da
realidade estabelecida, seja na forma de América do Sul é, resumidamente, um
uma conferência, de um ato político, ou mapa artístico de estética construtivista,
mesmo do carnaval de rua em um bloco com a orientação invertida, e por tal viés,
não gerenciado pela prefeitura. fornece uma visão de mundo distinta e
insubordinada.
Entretanto, tais características só
adquirem relevância e significado se
reconhecemos o poder dos mapas em
representar visões de mundo.
Especificamente falando, mapas não são
ferramentas neutras e transparentes de
mensuração e descrição de um espaço. A
institucionalização cientifica da cartografia
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não é capaz de eliminar as imaginações, passam, então, a ser guiadas por essa
seleções e omissões do mapa, por esse representação de mundo dominante.
ainda ser uma forma de representação, É diante desses
como tantas outras. Apesar de conseguir entendimentos que os mapas passam a
disfarça-las por meio de suas despertar, cada vez mais o interesse de
padronizações. artistas em apropriar seus elementos, sua
Assim, como o mundo não é tátil, estética e, logo, sua autoridade em
sendo impossível experimentar representar e formar o mundo como
fisicamente toda superfície terrestre, essa conhecemos. Até porque a prática
experiência passa a ser guiada pelas artística também se interessa por conflitos
formas de representação do mundo. O e reconfigurações do espaço. Em termos
mundo passa a ser conhecido através de históricos, esse interesse pode ser
sua representação e estas que dão forma vislumbrado no papel da arte em
aos entendimentos e ações sobre o mundo, questionar ou contribuir na formação dos
moldando grande parte das comunicações Estados, no nacionalismo e no
e relações entre as pessoas (COSGROVE, imperialismo (INGRAM, 2013).
2001). Nesse sentido, o mapa exerce um Já o interesse desses artísticas
importante papel na visualização e pelos mapas, para Cramptom (2010),
afirmação do conhecimento geográfico, sustenta que os mapas são políticos
seu poder de influência chega às formas de mesmo sem afirmarem ser. Para ele, os
pensar, teorizar, agir e relacionar os mapas artísticos têm, em definição,
espaços globais. princípios políticos, pois mesmo que não
Destarte, o domínio sobre as seja seu foco, os mapas artísticos
formas de representação do mundo se readéquam elementos ligados à autoridade
tornaram muito mais importantes e e ao poder científico da cartografia. E,
influentes do que um simples esquema portanto, expõem (e, muitas vezes
gráfico. Em princípio, o mapa constitui revertem) a contribuição política das
uma visão de mundo, porém quando são representações cartográficas.
institucionalizados e padronizados passam De fato, as representações
a formas pelas quais o mundo pode ser artísticas de mapa podem apresentar
formado (WOOD, 2010). O modo como diversas propostas, mas é notória a
conhecemos o mundo, interligamos seus recorrência das questões políticas do
espaços e relacionamos suas distâncias espaço. Quando artistas fazem mapas, eles
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são motivados pela sua relação com o artísticos são alternativos quase que por
espaço, percebendo mudanças, definição. Tais construções tendem a
intervenções, desigualdades e exercícios mostrar mundos reformulados,
de poder. Esse tipo de mapa relaciona imaginados ou compassivos, expressos
representações de mundo com as relações pela adaptação da estética cartográfica.
de poder e motivações ideológicas de São comprometidos com a sensibilidade,
forma autêntica e assumida. criatividade e liberdade de expressar o
A inversão da América do Sul no mundo ao seu redor e, portanto, alternos à
mapa de Torres-García demonstra a representação padronizada e
capacidade de reformular o que foi cientificamente guiada.
previamente estabelecido. E o que está
estabelecido através dos mapas é mais do No último século, e especialmente nos
que meros atributos de uma determinada últimos 30 anos, artistas fizeram

porção da superfície terrestre, é também o mapas, subverteram mapas,


realizaram itinerários, contestaram
domínio sobre as formas pelas quais
fronteiras, traçaram o invisível, e
passamos a compreender esse mundo.
invadiram espaços físicos, virtuais e
Tendo isso em vista, a reprodução
híbridos em nome de cartografia
do Mapa Invertido da América do Sul em
(D‟IGNAZIO, 2009, p.190, tradução
contextos atuais não está relacionada nossa)5.
apenas às suas qualidades artísticas, mas
principalmente aos discursos políticos Assim, o Mapa Invertido da América
associados a ele. Destacadamente, a do Sul é tanto uma obra de arte de
possibilidade de formulação de novas qualidades estéticas como uma
perspectivas de mundo e novas representação de mundo. Sua notoriedade
possibilidades de entende-lo, condizentes se deve aos discursos que foram expressos
com as demandas desses contextos que através desse meio de representação, tal
são expressas através da inversão da qual apontaram nossos exemplos
orientação com o Sul no topo do mapa. anteriores. Ao inverter a posição do Sul
em seu mapa, Torres-García abarca
Considerações finais ________________ também a inversão dos sentidos e
caracterizações que as divisões
Por sua proposta de apropriação de geopolíticas do globo ajudaram a associar
elementos cartográficos, os mapas
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a essa região. Nesse sentido, realocar o Sul NOTAS ________________________________

em uma posição superior do mapa, era


*
uma forma de mudar, simbolicamente, as Doutoranda do Programa de Pós-graduação em
Geografia da Universidade Federal Fluminense
diferentes condições de dependência.
(PosGeo – UFF). Mestre em Geografia pelo
Destarte, o que Torres-García fez Programa de Pós-Graduação em Geografia da
foi questionar uma imagem canônica que, Universidade do Estado do Rio de Janeiro
ao longo da história, serviu à diversas (PPGEO – UERJ) e bacharelada e licenciada em

significações e relações de poder. Sendo Geografia pela mesma instituição. É professora


contratada do Departamento de Geografia
assim, a inversão de sua orientação passa a
Humana, no Instituto de Geografia da
conotar uma série de valores simbólicos. O Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Mapa Invertido da América do Sul “(...) (IGEOG – UERJ). E-mail:
definiu um rumo para inúmeras outros carla.msales@gmail.com

artistas, geógrafos, educadores e outras


1 That is why we now turn the map uspside down,
and now we know what our true position is, and it
pessoas a questionar a orientação padrão e
is not the way the rest of the world would like to
projeção do mapa do mundo” have it. From now on, the elongated tip of South
(D‟IGNAZIO, 2009, p. 195, tradução America will point insistently at the South, our
nossa)6. North. Our compass as well; it will incline

Os mapas artísticos e suas irremediadiably and forever toward the South,


toward our pole.
apropriações tendem a provocar 2 He abstracted symbols into basic line drawings,
perguntas, são imponentes ferramentas believing that such simplified forms would be
para relembrar que nossa relação com o primal and thus universally understood, and then
espaço são construções sociais (JOLLY, he built them into his grids, creating a system of

2011). E, por fim, podem trilhar novas formally structured symbolic relationships.
3 (...) sought to bring new critical thinking to bear
perspectivas que favoreçam o
on the interpretation of maps and tried to broaden
reconhecimento da pluralidade nas formas our understanding of mapping practices, not least
de representar ou resumir o mundo, cujo the conventional historiography of cartography´s
alcance não precisa ficar restrito a esses evolution from art to science

mapas, podendo alcançar outras formas


4 What is at stake is the nature of the world we
want to live in. In pointing towards the existence
artísticas, teorizações acadêmicas, práticas
of other worlds – real or imagined –map artists are
políticas, ou mesmo a cartografia claiming the power of the map to achieve ends
científica. other than the social reproduction of the status
quo. Map artists do not reject maps. They reject
the authority claimed by normative maps uniquely
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to portray reality as it is, that is, which dispassion CRAMPTON, Jeremy. Mapping: A Critical
Introduction to Cartography and GIS. Oxford:
and objectivity.
Blackwell Publishing, 2010.
5 In the last century, and especially in the last 30
D´IGNAZIO, Catherine. Art and Cartography. In:
years artists have made maps, subverted maps,
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CARTOGRAPHY, ART AND WORLD VISIONS ON THE REPRODUCTION OF THE "INVERTED
MAP OF SOUTH AMERICA"
ABSTRACT: THE "INVERTED MAP OF SOUTH AMERICA" IS A RECOGNIZED EXAMPLE OF WHAT CAN BE CALLED ARTISTIC MAP.
FIRST, BECAUSE THIS MAP WAS NOT MADE BY THE CANONS OF CARTOGRAPHIC SCIENCE, BUT BY THE HANDS OF A
URUGUAYAN ARTIST, CALLED TORRES-GARCÍA, IN 1943. SECOND, BECAUSE THE CARTOGRAPHIC APPROPRIATION OF THIS
WORK OF ARE COMPOSE THE FAMOUS REDIRECTION OF THE TIP OF SOUTH AMERICA TO THE TOP OF THE IMAGE. THIRD,
BECAUSE IT IS WIDELY REPRODUCED IN DIFFERENT CONTEXTS UNTIL THE PRESENT DAY. INSPIRED BY THESE
CHARACTERISTICS OF THE WORK, THE PRESENT PAPER AIMS TO UNDERSTAND THE VARIOUS CONTEXTS THAT REPRODUCE
THIS MAP AND CONTRIBUTE TO THE PERMANENCE OF ITS ARTISTIC AND DISCURSIVE EXPRESSIVENESS. THEREFORE, IT IS
NECESSARY TO DISCUSS THE VARIOUS WORLDVIEWS THAT CAN BE EXPRESSED IN AN ARTISTIC MAP THAT REVERSES THE
CONVENTIONAL ORIENTATION OF SOUTH AMERICA, WHICH WILL BE DONE THROUGH THE RELATIONS BETWEEN
CARTOGRAPHY, ART AND GEOGRAPHY.
KEY-WORDS: MAP, ART, WORLDVIEWS, SOUTH AMERICA.

CARTOGRAFÍA, ARTE Y VISIONES DE MUNDO EN LA REPRODUCCIÓN DEL "MAPA


INVERTIDO DE LA AMÉRICA DEL SUR"
RESUMEN: EL "MAPA INVERTIDO DE LA AMÉRICA DEL SUR" ES UN RECONOCIDO EJEMPLO DE LO QUE LLAMAMOS MAPA
ARTÍSTICO. EN PRIMER LUGAR, POR SER UN MAPA QUE NO FUE HECHO POR LOS CÁNONES DE LA CIENCIA CARTOGRÁFICA,
SINO POR LAS MANOS DE UN ARTISTA URUGUAYO, LLAMADO TORRES-GARCÍA, EN 1943. SEGUNDO, PORQUE EXPONE UNA
APROPIACIÓN CARTOGRÁFICA QUE COMPONEN EL FAMOSO REDIRECCIONAMIENTO DE LA PUNTA DE AMÉRICA DEL SUR PARA
LA PARTE SUPERIOR DE LA IMAGEN. TERCERO, POR SER BASTANTE REPRODUCIDO EN DIVERSOS CONTEXTOS HASTA LOS DÍAS
ACTUALES. INSTIGADO POR ESAS CARACTERÍSTICAS DE LA OBRA, EL PRESENTE TEXTO TIENE POR OBJETIVO COMPRENDER LOS
DIVERSOS CONTEXTOS QUE REPRODUCEN ESE MAPA Y CONTRIBUYEN CON LA PERMANENCIA DE SU EXPRESIVIDAD ARTÍSTICA
Y DISCURSIVA. PARA ELLO, ES NECESARIO DISCUTIR LAS DIVERSAS VISIONES DE MUNDO QUE SE PUEDEN EXPRESAR EN UN
MAPA ARTÍSTICO QUE INVIERTE LA ORIENTACIÓN CONVENCIONAL DE AMÉRICA DEL SUR, LO QUE SE HARÁ A TRAVÉS DE LAS
RELACIONES ENTRE CARTOGRAFÍA, ARTE Y GEOGRAFÍA.
PALABRAS CLAVE: MAPA, ARTE, SUR, VISIONES DE MUNDO, AMÉRICA DEL SUR.

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