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MESTRADO EM DIREITO
SÃO PAULO
2017
NATHALIA GONÇALVES DE MACEDO CARVALHO
SÃO PAULO
2017
TERMO DE APROVAÇÃO
Banca Examinadora:
______________________________
Professor Doutor William Santos Ferreira – PUCSP – Orientador
______________________________
Professor Doutor Sérgio Seiji Shimura – PUCSP
______________________________
Professor Doutor Paulo Henrique dos Santos Lucon– USP
À Marcela, pela paciência e
companheirismo ao longo destes 5
anos.
AGRADECIMENTOS
que diz respeito aos limites a produção de provas no processo civil. O estudo
adota a premissa de que o direito a prova deve ser encarado como o próprio
prova seja um direito fundamental, não o é absoluto, uma vez, que são
Vittorio Denti ensina que as normas relativas às provas nos países que
adotam a civil law devem ser analisadas a partir da observação de dois fatores:
matéria é pouco discutida no âmbito teoria geral das provas. Surge então a
1 DENTI, Vittorio. La evolucion del derecho de las pruebas em los processos civiles
contemporâneos. Estudios de derecho probatório. Trad. Santiago Sentis Melendo e Tomás A
Banzhaf. Buenos Aires: Ejea, 1974, p.84.
11
constitucional do processo.
William Santos Ferreira nos traz o conceito de diligência inútil, que é ponto
debate por meio das provas produzidas no processo. Este estudo, embora
forma que não seria possível inadmitir a produção de prova apenas pelo
provar ao longo de todo o trabalho que a prova serve ao processo e não ao juiz
O segundo intitulado “O que provar, para que provar e para quem provar”
central do trabalho.
processo.
14
A Constituição Federal não deve ser encarada como norma distante das
leis infraconstitucionais.6 Para a construção e manutenção do estado
democrático de direito, não basta um controle de constitucionalidade no
processo legislativo ou por via difusa, mas que os órgãos estatais assumam a
responsabilidade de atuar sempre com observância na Constituição Federal.7
5 LUCCA Rodrigo Ramina de. A motivação das decisões judiciais civis em um estado de direito:
necessária proteção da segurança jurídica. Dissertação de mestrado apresentada na faculdade
de Direito da Universidade de São Paulo em 2013, p. 45.
6 “Afigura-se, portanto, necessária uma nova filtragem do direito infraconstitucional para que este
possa se adequar ao direito constitucional e não o contrário. Ocorreu, por muito tempo, que o
Código Civil foi tido como principal fonte do Direito Civil, prevalecendo sobre as normas
constitucionais sendo costumeiramente denominada de Constituição da Burguesia.” (MACEDO.
Lucas Buril; PEIXOTO. Ravi Medeiros. Ônus da prova e sua dinamização. Editora JusPODIVM:
2014, p.23).
7 Assim, nessa perspectiva, surge a indagação sobre o papel do processo civil, como cláusula
pétrea constitucional e garantia fundamental de qualquer pessoa (art. 5º, incisos LIV e LV, da
CF) dentro do Estado Social Democrático de Direito. Portanto, o Processo Civil aparece com
destaque no Estado Social Democrático de Direito brasileiro por ser uma das mais eficazes
formas de fazer valer a Justiça Social. Nessa empreitada, o processo civil deve garantir à
sociedade como um todo, e não somente a determinadas camadas sociais, o acesso aos meios
de tutela de seus direitos eventualmente violados ou ameaçados de serem violados, por
intermédio da intervenção do Estado-Juiz com a aplicação da jurisdição (justiça)” (SHIMURA, S.;
ALVAREZ, A. P.; SILVA, N. F. Curso de Direito Processual Civil. Guanabara Koogan, Forense,
Método Atlas, LTC, Roca e Santos. Disponível
em:https://issuu.com/grupogen/docs/cur._de_dir._processual_civil-shimu. Acesso em: 20 jan.
2017).
17
8 MOREIRA, José Carlos Barbosa. A função social do processo civil moderno e o papel do juiz
e das partes na direção e na instrução do processo. Revista de Processo. vol. 37/1985, São
Paulo: Revista dos Tribunais, Jan-Mar/1985, p. 46
9 “Do ponto de vista paradigmático, nem se poderia optar pela chamada constitucionalização.
Vale dizer: não há uma escolha ao jurista, seja em teoria ou na prática, em trabalhar ou não com
a Constituição. Ela tem plena normatividade. Analisar os institutos jurídicos perante o prisma
constitucional é tarefa obrigatória e não mera opção por paradigma teórico” (ABBOUD, Georges.
Discricionariedade administrativa e judicial. São Paulo: Ed. RT, 2014.p.92)
10 TAVARES, Fernando Horta; CUNHA, Mauricio Ferreira. O direito Fundamental à prova e a
legitimidade dos provimentos sob a perspectiva do direito democrático. Revista de Processo.
vol. 195/2011.p. 111 – 135.
18
Cabe então aos interpretes impedir que o direito processual seja aplicado
de forma a se distanciar da Constituição Federal. Nelson Nery Junior afirma que
o interprete deve buscar a aplicação do direito ao caso concreto, sempre tendo
como pressuposto a Constituição Federal e somente após é que deveria passar
a análise da legislação infraconstituicional.14
Nesse sentido:
11Para Arruda Alvim a interpretação do processo civil à luz da Constituição não é uma novidade
e também não teria surgido com a Constituição de 1988, mas sim na Europa em meados do
século XX. (ALVIM. Arruda. Novo contencioso cível no CPC/2015. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2016.p.45). Para Humberto Theodoro Junior: “A segunda metade do século XX,
depois da apavorante tragédia de duas grandes guerras mundiais, viria exigir da revisão
constitucional dos povos democráticos um empenho, nunca dantes experimentado, de
aprofundar a intimidade das relações entre o direito constitucional e o processo, já que os direitos
fundamentais deixaram de ser objeto de simples declarações e passaram a constituir objeto de
efetiva implementação por parte do Estado Democrático de Direito” (THEODORO JÚNIOR,
Humberto. Constituição e Processo: desafios constitucionais da reforma do processo civil no
Brasil. In: MACHADO, Felipe Daniel Amorim; OLIVEIRA, Marcelo Andrade Cattoni de
(coord.). Constituição e Processo: A contribuição do processo ao constitucionalismo democrático
brasileiro. Belo Horizonte: Del Rey, 2009. P. 234)
12 NERY JR., Nelson; NERY, Rosa Maria Andrade. Código de processo Civil comentado, 14ª
ed. São Paulo: RT, 2014, p. 186.
13 Bueno, Scarpinella Cassio. Modelo Constitucional do direito processual civil: um paradigma
necessário de estudo do direito processual civil e algumas de suas aplicações. Revista dos
Tribunais: 2008.
14 NERY JUNIOR. Nelson. Princípios do processo na Constituição Federal: (processo civil, penal
e administrativo). 11. Ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013. P.45
19
15 LUCCA, Rodrigo Ramina de. A motivação das decisões judiciais civis em um estado de direito:
necessária proteção da segurança jurídica, cit., p. 108.
16 GUERRA FILHO, Willis Santiago. Teoria Processual da Constituição. 3.ed. São Paulo: RCS
Editora, 2007.
17 LUCON, P. H. S. Devido processo legal substancial. Disponível
em:<www.revistadoutrinatrf4.gov. br>. Acesso em 10 de janeiro de 2007.
18 “É correto, portanto, tratar os princípios constitucionais do processo civil como significativos de
um modelo mínimo, mas indispensável, mas vinculante, mas impositivo, para a atuação do
Estado-juiz. BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual: teoria geral
do direito processual civil. São Paulo: Saraiva, 2012.p.131.
20
22 THEDORO JUNIOR, Humberto; NUNES, Dierle; BAHIA; Alexandre Melo Franco; PEDRON,
Flávio Quinaud. 2. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. P. 69
23 Vale lembrar que a processualista Ada Pellegrini Grinover já na década de 80 apresentava a
estrutura cooperativa do processo por meio do diálogo. GRINOVER, Ada Pellegrini. Novas
tendências do direito processual. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1990, p. 3.
24 ISAIA, Cristiano Becker. Processo civil, atuação judicial e hermenêutica filosófica. 2ª edição.
Curitiba: Juruá, 2011.
25 Arruda Alvim destaca que o juiz é apenas um dos sujeitos da relação processual e sua
importância na direção do processo não exclui a participação das partes no desenvolvimento
processual e influência no conteúdo da sentença. (ALVIM. Arruda. Novo contencioso cível no
CPC/2015. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016. P.63)
26 Sobre paridade de armas, v. LOPES, João Batista. Contraditório, paridade de armas e
motivação da sentença (in) MEDINA, José Miguel Garcia et al. Os poderes do juiz e o controle
das decisões judiciais: estudos em homenagem à professora Teresa Arruda Alvim Wambier. São
Paulo: R. dos Tribunais, 2008.p.266; V. ABREU, Rafael Sirangelo de. Igualdade e processo:
posições processuais equilibradas e unidade do direito. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2015. Cf. P. H. S. LUCON, Garantia do tratamento paritário das partes, inGarantias
constitucionais do processo civil, CRUZ E TUCCI, J. R., 1a ed., 2a tir., Revista dos Tribunais,
São Paulo, p. 91.
27 Ao tratar as normas fundamentais previstas no Código de Processo Civil 2015, Cássio
Scarpinella Bueno ensina que: “O objetivo do dispositivo [art. 9º] é viabilizar a prévia participação
dos destinatários da decisão. Participação no sentido de os destinatários terem condições
efetivas de influir ou de influenciar o conteúdo da decisão a ser proferida. A iniciativa redunda,
como se vê do art. 10, na expressa vedação das chamadas “decisões-surpresa” (BUENO, Cassio
Scarpinella. Manual de Direito Processual Civil: inteiramente estruturado à luz do novo CPC –
Lei n. 13.105, de 16-3-2015. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 89).
22
28 “A não ser de maneira ligeiramente utópica, não se pode imaginar que uma parte coopere
com a outra no sentido de colaborar para a satisfação dos interesses do adversário”. ALVIM,
Arruda. Novo contencioso cível no CPC/2015. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016.
P.67).
29 O antigo CPC Português trazia no artigo 266 previsão semelhante. E o atual CPC português
também se preocupou com o modelo cooperativo. Diz o artigo 7 º, 2: “O juiz pode, em qualquer
altura do processo, ouvir as partes, seus representantes ou mandatários judiciais, convidando-
os a fornecer esclarecimentos sobre a matéria de facto ou de direito que se afigurem pertinentes
e dando-se conhecimento à outra parte dos resultados da diligência”.
30
“O CPC de 2015 apresenta inúmeras aplicações concretas do princípio da cooperação
naquelas quatro facetas, permitindo, com segurança, atestar que ele já implementou verdadeiro
modelo de processo cooperativo. Assim, por exemplo, quando o magistrado antes de indeferir a
inicial indica precisamente o que, no seu entender, macula aquele ato processual e deve ser
corrigido sob pena de indeferimento (art. 321) – dever de esclarecimento; quando o juiz
determina a prévia oitiva das partes para só depois decidir (art. 9º), ainda que se trata de matéria
que ele deva apreciar de ofício (art. 10) – dever de consulta; quando o magistrado busca suprir
a ausência de pressupostos processuais e, mais amplamente , de outros vícios que podem
comprometer a prestação da tutela jurisdicional (arts. 139, IX, e 317), inclusive no âmbito recursal
(art. 932, parágrafo único) – dever de prevenção; e no que diz respeito à modificação do ônus
da prova diante dos pressupostos do art. 373, §§ 1º e 2º - dever de auxílio.” (BUENO, Cassio
Scarpinella. Manual de Direito Processual Civil: inteiramente estruturado à luz do novo CPC –
Lei n. 13.105, de 16-3-2015. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 86).
31
BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Temas de direito processual. 3. Série. São Paulo. Saraiva,
1984.p.52.
23
37 “Art. 357. Não ocorrendo nenhuma das hipóteses deste Capítulo, deverá o juiz, em decisão
de saneamento e de organização do processo: § 3o Se a causa apresentar complexidade em
matéria de fato ou de direito, deverá o juiz designar audiência para que o saneamento seja feito
em cooperação com as partes, oportunidade em que o juiz, se for o caso, convidará as partes a
integrar ou esclarecer suas alegações.”
38 Tradução livre. “Provare significa formar ela convinzione del giudice sulla esistenza non
esistenza di fatti relevante nel processo.” CHIOVENDA, Giuseppe. Instituzioni di Dirito
Processuale Civile – vol. II. Napoli: Ed. Casa Editrice, 1936.
39
“Não é suficiente garantir às partes o direito à produção
40 “A demanda de uma parte só basta para dar início ao processo, mas não para fazê-lo atingir
um bom fim. Para isso, é preciso que ‘auditur et altera pars’. Isso é o princípio do contraditório,
que não é outra coisa, no fundo, que igualdade entre as partes; cada parte deve poder fazer
aquilo que a faz a outra para se justificar” (La domanda di una parte sola basta a far muovere il
processo, ma non a farlo giungere a buon fine. Affinché giunga a buon fine, ocorre che audiatur
et altera pars. Questo è il principio del contraddittorio, il quale non è altro, in fondo, che
uguaglianza tra le parti; ciascuna parte deve porter fare quello che fa l’altra per farsi dar ragione.
(CARNELUTTI, Francesco. Diritto e processo, cit., p. 100)
41 NERY JUNIOR. Nelson. Princípios do processo na Constituição Federal: (processo civil, penal
e administrativo). 11. Ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013. P.221. 41 Sobre prova
e Constituição: “Decorre das garantias do devido processo legal (CF, art. 5º, LIV), do amplo
acesso à justiça (CF, art. 5º, XXXV), e do direito ao contraditório e ampla defesa (CF, art. 5º, LV),
um verdadeiro direito constitucional à prova, assim entendido o direito subjetivo de influir no
espírito do julgador, convencendo-lhe dos argumentos apresentados quanto à veracidade das
próprias afirmações. Neste sentido, resultaria inconstitucional qualquer óbice legislativo ou
judicial à instrução probatória.” (TEPEDINO, Gustavo. BARBOZA, Heloísa Helena. MORAES,
Maria Celina Bodin de. Código Civil Interpretado Conforme a Constituição da República – Tomo
I. Rio de Janeiro: Renovar, 2004, pag. 426).
26
SARLET, Ingo W; STRECK, Lenio L. (coords). Comentarios à Constituição do Brasil. São Paulo:
Saraiva/Almedina, 2013. P. 432-433.
46 “O direito à participação na produção da prova é garantia básica inerente ao contraditório.
Não se pode admitir prova produzida secretamente, muito menos se permite a utilização de uma
prova contra quem não participou da sua produção. A regra do art. 474, CPC, que cuida do direito
das partes de terem ciência da data e do local da realização da prova pericial, concretiza essa
27
Para José Carlos Barbosa Moreira, o contraditório deve ser exercido "não
apenas formalmente, mas substancialmente", isto é, sob a perspectiva das
possibilidades que cada parte possui, de exercer efetivamente o contraditório.47
surpresa. In: TAVARES, Fernando Horta (org.). Constituição, direito e processo.Curitiba: Juruá,
2007. p. 146.
49
Para Carlos Alberto Alvaro de Oliveira: “o processo deve ser estruturado de modo a permitir a
efetiva participação dos destinatários dos efeitos do ato final (sentença ou providência executiva)
na fase preparatória de tal pronunciamento (todos os atos do procedimento)” OLIVEIRA, Carlos
Alberto Alvaro de. In:CANOTILHO, J.J. Gomes; MENDES, Gilmar F; SARLET, Ingo W; STRECK,
Lenio L. (coords). Comentarios à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva/Almedina, 2013. P.
433.
50
"Sabe-se que no Estado-de-direito tem-se por indispensável fator legitimante das decisões in
fieri a participação dos seus futuros destinatários, a que se assegura a observância do
28
José Manoel de Arruda Alvim explica que o artigo aplica-se inclusive para
às matérias conhecíveis de ofício, o que não poderia ser diferente. O jurista ainda
afirma que não se trata de revogação do princípio iuria novit cúria (“a corte
conhece o direito”), que possibilita ao juiz decidir com base em fundamentos não
invocados pelas partes.51 Trata-se apenas de oportunizar às partes que
dialoguem com e sobre o fundamento jurídico ou fático não invocado ou debatido
no processo.
É justamente por isso que William Santos Ferreira também afirma que o
contraditório não é exclusivamente uma garantia das partes, é, em verdade, um
instrumento do sistema, concebido para atuar em conjunto à determinação de
que todas as decisões do Poder Judiciário deverão ser fundamentadas.54
52 DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual, 7ª ed., vol. 1. São Paulo:
Malheiros, 2013, p. 220.
53 “De pouco valeria ter o direito à produção de um meio de prova, se o juiz pudesse,
solenemente, ignorá-lo. Se a prova foi produzida, é porque o órgão julgador a considerou
relevante para a causa; essa decisão gera para a parte a expectativa legítima de que a prova
seja valorada. Trata-se de imposição do princípio do contraditório, mais uma vez, e do princípio
da cooperação, pois essa conduta revela respeito do juiz pela atuação processual da parte.”
(DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de Direito
Processual Civil: teoria da prova, direito probatório, ações probatórias, decisão, precedente,
coisa julgada e antecipação dos efeitos da tutela. 10. ed. Salvador: Ed. Jus Podivm, 2015. p. 43)
54 FERREIRA. William Santos. Princípios fundamentais da prova cível. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2014. P. 50.
30
55
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Nulidades do Processo e da Sentença. 7. ed. São Paulo:
RT, 2014. p. 232. Nota 306.
56 Trataremos especificamente desse tema no capítulo 4.
57 NERY JUNIOR. Nelson. Princípios do processo na Constituição Federal: (processo civil, penal
e administrativo). 11. Ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013. P.223
58 “Há de se lhe ensejar oportunidade de rebater as alegações do outro litigante, com
argumentos e provas. De tal forma, se se ouve a parte, mas não se lhe dá oportunidade de
provas as alegações, o contraditório fica vazio de conteúdo”. (THEODORO JUNIOR, Humberto.
Princípios gerais do direito processual civil. RePro 23/182, São Paulo: Ed.RT,1981.)
59 “O que a jurisprudência costuma chamar de “cerceamento de defesa” consiste, no mais das
vezes, na invocação dos princípios do prejuízo à defesa, do contraditório e da comunicação (...)”.
(WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Nulidades do Processo e da Sentença. 7. ed. São Paulo: RT,
2014. p. 232.).
31
O direito de provar deve ser assegurado aos litigantes, não podendo o juiz
indeferir a realização de prova que não seja inútil, protelatória ou dentro das
limitações probatórias.60 Como trataremos em tópico próprio, a utilidade da prova
deverá ser avaliada a partir da perspectiva do processo, de comprovar existência
de fato, de controverte-lo, não assumindo a posição de fundamento valido de
indeferimento da prova a afirmação de que o julgador já se encontra convencido
da existência do fato probando ou do mérito da causa.
“Caso a) não haja nos autos prova da existência do fato, b) for ele
controvertido e, ainda, c) a parte insistir na realização da prova, a parte
tem direito à realização da prova, vedado ao juiz dispensa-la.
60 “E a efetiva relação dos sujeitos do processo na busca da verdade será aferida por meio da
motivação de todas as particulares opções assumidas pelo juiz no curso do procedimento
probatório, o que implica a necessidade de justificação das decisões sobre a admissibilidade,
pertinência ou relevância das provas e, principalmente, aquelas relacionadas ao momento final
de valoração do material probatório reunido no processo” (LIRA, G. A Motivação na Valoração dos
Fatos e na Aplicação do Direito. 191 f. 2005. Dissertação (Mestrado em Direito) - Universidade Federal
do Rio Grande do Sul. Porto Alegre. Disponível
em:http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/7504/000546310.pdf?sequence=1. Acesso em: 19
jan. 2017).
61 Para os fins deste trabalho “direito a prova” e “garantia a prova” são utilizados como sinônimos
apenas para fins didáticos. Contudo sabe-se que direito e garantia se distinguem. Direito tem
caráter declaratório e Garantia assecuratório. Por isso, a prova é uma garantia constitucional.
62 GRINOVER, Ada Pellegrini. Prova Emprestada. Revista Brasileira de Ciências Criminais. vol.
4/1993. vol. 4/1993.
63 CALAMANDREI, Piero. Il processo come giuoco. Rivista di Diritto Processuale. Padova:
Cedam, 1950.p.26-27
64 NERY JUNIOR. Nelson. Princípios do processo na Constituição Federal: (processo civil, penal
e administrativo). 11. Ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013. P.223
32
65
GOMES FILHO, Antonio Magalhães. Direito à prova no processo penal. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 1 997. p. 1 37
66 No direito alemão há o que a doutrina e jurisprudência nomeia como Parteioffentlichkeit. O §
357 da ZPO reconhece o direito da parte participar do processo. Diz a ZPO: “Den Parteien ist
gestattet, der Beweisaufnahme beizuwohnen.” Tradução:
As partes estão autorizados a participar do processo.
67
O que a doutrina italiana denomina como decisões de terza via. O Código de Processo Civil
em seu artigo 16 também estabelece que o juiz, ele mesmo, deve observar o princípio do
contraditório. Como explica Arruda Alvim, isso significa que o juiz não pode utilizar, em sua
decisão, motivos, explicações ou documentos invocados por uma parte se a respeito deles não
houve debate em contraditório. (ALVIM, Arruda. Novo contencioso cível no CPC/2015. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016. P.67)
68
ALVIM. Arruda. Novo contencioso cível no CPC/2015. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2016. P.67
33
prova for colhida sem a observância desta garantia, não haverá eficácia
probatória.69
69“E é importante salientar que o princípio da ineficácia das provas que não sejam colhidas em
contraditório não significa apenas que a parte possa defender-se em relação às provas contra
ela apresentadas: exige-se, isso sim, que seja posta em condições de participar, assistindo à
produção das mesmas enquanto ela se desenvolve." (GRINOVER, Ada Pellegrini. O conteúdo
da garantia do contraditório. Novas tendências do direito processual. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 1990, esp. n. 3.1 e 3.2, p. 24).
70
O diálogo também é uma preocupação do direito português. V. GERALDES, Antonio Santos
Abrantes. Temas da reforma do processo civil. Almedina: Coimbra, v.1, 2006, p.88-89.
71 Art. 369: “As partes têm o direito de empregar todos os meios legais, bem como os
moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, para provar a verdade dos
fatos em que se funda o pedido ou a defesa e influir eficazmente na convicção do juiz”.
72 “Sem embargo do risco da sacralização a que ele está sujeito [contraditório] – o principal deles
73 Sobre o tema, ver RICCI, Gian Franco. Principi di diritto processuale generale. Torino: G.
Giappichelli, 1995.
74 Tradução livre. No original: “Usualmente se lo define como el derecho de toda parte para
producir toda la prueba relevante que esté en su posesión, para obtener la presentación de
prueba relevante que este en su posesión, para obtener la presentación de prueba relevante que
esté en posesión de otras partes o de terceros, y que toda esta prueba sea debidamente
considerada por el tribunal. El derecho a la prueba es un aspecto fundamental del derecho de
acción y a la defensa: em realidad, sería um sinsentido decir que las partes pueden ejercer estos
derechos pero que no se les permite probar por ningún medio disponible las asseveraciones
fácticas que son la base de sus pretensiones y defensas” (TARUFFO, Michele. La prueba –
Artículos y Conferencias. Santiago de Chile: Metropolitana, 2009. p. 79.)
75
Nesse sentido: “O contraditório, nessa medida, é mecanismo (meio) que possibilita essa
melhora qualitativa na decisão judicial (fim), em uma relação cujo respeito vai ser aferido na
motivação, a qual vai funcionar como verdadeiro banco de prova do exercício efetivo da
influência. Isso porque não é possível verificar se foi oportunizada – na prática – a todos os
sujeitos processuais a potencialidade de influir no convencimento do juiz, se não há o dever de
rebate, por parte desse, dos fundamentos articulados pelos litigantes. Nessa medida, a
justificação da decisão deve refletir a atividade de todos os sujeitos processuais ao longo do
procedimento”. (ABREU, Rafael Sirangelo de. Igualdade e processo: posições processuais
equilibradas e unidade do direito. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. P.143-144)
35
76
“O juiz não pode proceder nem julgar sem ter chamado diante de si todas as partes para ouvir
suas razões. É uma exigência elementar de justiça dar a todas as partes a oportunidade e a
possibilidade de defenderem-se antes que o juiz pronuncie sua decisão” Il giudice non può
procedere nè giudicare senza avere chiamato davanti a sè tutte le parti per ascoltare le loro
ragioni. È un’elementare esigenza di giustizia dare a tutte le parti l’occasione e la possibilità di
difendersi prima che il giudice pronunci il suo giudizio. (LIEBMAN, Enrico Tullio. Manuale di diritto
processuale civile. Milano: Giuffrè, 1984, p. 10).
77 Artigo 5º, incisos XXXIV, XXXV, XXXVII, LIV, LV, LVI da CF/88. Sobre o tema: FERREIRA,
Carlos Alberto Goulart. Da prova no direito civil – in Teoria Geral do Direito Civil (coords. Renan
Lotufo e Giovanni Ettore Nanni). São Paulo: Atlas, 2008, pag. 829.
78
Sobre o aumento da complexidade das relações sociais, Jorge Peyrano se manifestou: “a) o
triunfo do liberalismo, que significou uma retirada do poder do administrador de muitos setores
que restaram sem controle governamental e somente sujeitos à tutela jurisdicional; b) a
imobilidade do legislador ibero-americano que, via de regra, chega tarde, e às vezes nunca, para
regular problemáticas que devem ser resolvidas à mercê do intelecto pretoriano; c) o habitual
uso de conceitos indeterminados na redação das leis, que, de propósito, outorgam aos
magistrados uma ampla margem de interpretação e argumentação; e d) a aparição de novos
setores tuteláveis (interesses difusos, direitos de terceira geração, etc.) que reclamam uma
intervenção mais acentuada do órgão jurisdicional”. No original: “a) El triunfo del neoliberalismo
que importo una retirada del poder administrador de muchos sectores que han quedado sin
control gubernamental y sólo sujetos a la tutela jurisdiccional; b) el inmovilismo del legislador
ibero-americano que, de ordinario, llega tarde, y a veces nunca, a regular problemáticas que
deben ser resueltas merced al ingenio pretoriano; c) el habitual uso de conceptos indeterminados
en la redacción de las leyes, que, de propósito, otorgan a los magistrados un amplio margen de
interpretación e argumentación; e d) la aparición de nuevos sectores tutelables (intereses
difusos, derechos de la tercera generación, etc.) que reclaman uma intervención más acentuada
del órgano jurisdiccional.” (PEYRANO, Jorge Walter. Nuevas tácticas procesales. Rosario: Nova
Tesis, 2010, p. 15).
79
“A reação à barbárie do nazismo e do fascismo em geral levou, no pós-guerra, à consagração
da dignidade da pessoa humana no plano internacional e interno como valor máximo dos
ordenamentos jurídicos e princípio orientador da atuação estatal e dos organismos
internacionais. Diversos países cuidaram de introduzir em suas Constituições a dignidade da
pessoa humana como fundamento do Estado que se criava ou recriava, podendo-se citar
exemplificativamente, a Constituição italiana de 1947 e a lei Fundamental alemã de 1949.”(
36
Para esta doutrina, o juiz não pode mais ficar à mercê da atuação das
partes e seus advogados, não deveria ser um mero espectador do processo,
seria o ativismo judicial uma forma de completude do ordenamento jurídico. 81
BALERA, Wagner. A dignidade da pessoa e o mínimo existencial. In: IRANDA, Jorge; SILVA, M.
A. Marques da (Coord.). Tratado Luso-Brasileiro da dignidade humana. São Paulo: Quartier
Latin, 2009. p.127.)
80
"com o surgimento da sociedade de massa, que caracteriza a civilização pós-industrial, as
relações jurídicas extrapolaram a esfera puramente individual para afetar grupos de pessoas,
determináveis ou não, exigindo a transformação do direito, material ou processual, e
principalmente a mudança de mentalidade, de postura e de cultura.” (SHIMURA, S. Princípio da
proibição da prova ilícita. In: OLIVEIRA NETO, O. de; CASTRO LOPES, M. E. de (Coord.).
Princípios Processuais Civis na Constituição. São Paulo: Ed. Campos Jurídico, 2008. p. 265.
Disponível
https://books.google.com.br/books?id=k0Xeresv2tgC&pg=PA271&lpg=PA271&dq=%22sérgio+
shimura%22+%22provas%22&source=bl&ots=SBYhPppBJU&sig=ZInCRH_x-
55cJerN_tsu59fBHV0&hl=pt-
BR&sa=X&ved=0ahUKEwiP4vDo88nRAhVIGJAKHSNHADI4ChDoAQgcMAE#v=onepage&q&f
=false. Acesso em: 20 jan. 2017.)
81 “não é admissível um Judiciário que permaneça encastelado, a decidir, comodamente, apenas
conflitos privados sem maior expressão, perante a realidade sociopolítica dos dias presentes.
[...] é preciso um Judiciário que não se abstenha perante esses poderes agigantados, mas que
tenha condições para enfrentá-los em patamar de igualdade” (Dobrowlsky, Silvio. A necessidade
de ativismo judicial no estado contemporâneo, apud Ana de Lourdes Coutinho Silva. Motivação
das decisões judiciais. São Paulo: Atlas, 2012, p. 26).
37
82
“Diante de novas necessidades, onde a lei não se mostra suficiente ou diante de necessidades
que forjam uma determinada interpretação do texto de lei, é o momento em que o esforço do
intérprete faz-se sentir. Tem-se como Ativismo Judicial, portanto, a energia emanada dos
tribunais no processo da criação do direito” (MIARELLI, Mayra Marinho; LIMA, Rogério Montai.
Ativismo Judicial e a Efetivação de direitos no Supremo Tribunal Federal. Porto Alegre:
Sergio Antonio Fabris, 2012. P. 16).
83
“Ironicamente, à medida que o termo se tornou mais lugar-comum, seu significado tornou-se
crescentemente obscuro. Isto ocorre porque ‘ativismo judicial’ é definido de diversas formas
contraditórias; acadêmicos e juízes reconhecem este problema, mas insistem em falar desse
conceito sem defini-lo. Assim, o problema permanence inabalável” (“Ironically, as the term has
become more commonplace, its meaning has become increasingly unclear. This is so because
"judicial activism" is defined in a number of disparate, even contradictory, ways; scholars and
judges recognize this problem, yet persist in speaking about the concept without defining it.
Thus, the problem continues unabated” – Keenan D Kmiec. The Origin and Current Meanings of
Judicial Activism. 92 California Law Review – 1441, 2004. Disponível em:
<http://scholarship.law.berkeley.edu/californialawreview/vol92/iss5/4>, acesso em
19/05/2016).
84
“[...] exercício da função jurisdicional para além dos limites impostos pelo próprio ordenamento
que incumbe, institucionalmente, ao Poder Judiciário fazer atuar, resolvendo litígios de feições
subjetivas (conflitos de interesse) e controvérsias jurídicas de natureza objetiva (conflitos
normativos). Há como visto, uma sinalização claramente negativa no tocante às práticas
ativistas, por importarem na desnaturação da atividade típica do Poder Judiciário, em detrimento
dos demais Poderes. Não se pode deixar de registrar mais uma vez, o qual tanto pode ter o
produto da legiferação irregularmente invalidado por decisão ativista (em sede de controle de
constitucionalidade), quanto o seu espaço de conformação normativa invadido por decisões
excessivamente criativas” (RAMOS, Elival da Silva. Ativismo judicial: parâmetros dogmáticos.
São Paulo: Saraiva, 2010.p.129)
38
direito deve ser interpretado para que se alcance a resposta correta ao caso
concreto e possui a característica de mutabilidade e para isso o autor apresenta
uma nova virtude do direito: a integridade. Para o autor: “o princípio da
integridade instrui que os juízes identifiquem direitos e deveres, na medida do
possível, imaginando que eles foram todos criados por um só autor – a
comunidade personificada – expressando uma concepção coerente de justiça e
equidade”89.
O juiz não pode agir de forma discricionária, a ele não cabe a escolha do
melhor e por isso não deve aplicar além sob a ótica do que é mais justo no seu
íntimo90, o poder do magistrado não é um poder e sim um dever.91 Não cabe a
ele, portanto, julgar com o seu sentir.92
89. No original: “The adjudicative principle of integrity instructs judges to identify legal rights and
duties, so far as possible, on the assumption that they were all created by a single author – the
community personified – expressing a coherent conception of justice and fairness”. (DWORKIN,
Ronald. Law’s empire. Harvard University Press, 1986.p.225).
90 “Destarte, mesmo quando exista a possibilidade de ativismo judicial, que, no nosso sistema,
de cunho preponderantemente dispositivo, depende da atenção a alguns pré-requisitos para não
se degenerar em arbítrio, este deve estar contido pelo contraditório, inclusive pelo contraditório
preventivo sobre a relevância da produção daquela prova.” (ZANETI JÚNIOR, H. A
Constitucionalização do Processo: A Virada do Paradigma Racional e Político no Processo Civil
Brasileiro do Estado Democrático Constitucional. 408 f. 2005. Dissertação (Mestrado em Direito)
- Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre. Disponível
em:http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/4525/000502097.pdf?...1. Acesso em: 19
jan. 2017).
91 “Descabe ao julgador, no exercício de sua função, atuar de forma soberana e imperiosa, não
aplicando a lei e prescrevendo o que crê intimamente ser mais justo, o poder do magistrado não
é um poder é, isto sim, uma obrigação. O seu trabalho é uma contraprestação do estado, um
direito de todo cidadão, constituindo-se dever, não só para com os litigantes que figuram no
processo, mas também para com a sociedade e o poder público”. (ARRONE, Ricardo. O Princípio
do Livre Convencimento do Juiz. 1ed. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris Editor, 1996. p. 45).
92 Em posição contrária: “Diante de novas necessidades, onde a lei não se mostra suficiente ou
diante de necessidades que forjam uma determinada interpretação do texto de lei, é o momento
em que o esforço do intérprete faz-se sentir. Tem-se como Ativismo Judicial, portanto, a energia
emanada dos tribunais no processo da criação do direito”. (MIARELLI, Mayra Marinho; LIMA,
Rogério Montai. Ativismo Judicial e a Efetivação de direitos no Supremo Tribunal Federal. Porto
Alegre: Sergio Antonio Fabris, 2012. P. 16);
40
93DWORKIN, Ronald. O império do direito; tradução Jefferson Luiz Camargo; revisão técnica
Gildo Sá Leitão Rios. 2 ed. 2 tiragem. São Paulo: Martins Fontes, 2010. p. 451-452.
94 Expressão utilizada por Daniel Souza Sarmento para explicar o decisionismo baseado em
uma falsa concepção de “justiça”. (SARMENTO, Daniel Souza. l(Org.) A Constitucionalização do
Direito: Fundamentos Teóricos e Aplicações Específicas. Coordenadores. Rio de Janeiro. Lúmen
Júris. 2007. p.14).
95 SARMENTO, Daniel Souza. l(Org.) A Constitucionalização do Direito: Fundamentos Teóricos
e Aplicações Específicas. Coordenadores. Rio de Janeiro. Lúmen Júris. 2007. p.14
96 COUTINHO, Jacinto Miranda; FRAGALE, Roberto; LOBÃO, Ronaldo (organizadores).
Constituição e ativismo judicial: limites e possibilidades da norma constitucional. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2011. p. 134)
41
verdade real fosse uma finalidade válida como compatibilizar com o ônus da
prova? O interprete então, diante de uma “falta de certeza” sobre a verdade
poderia eternizar a pesquisa da verdade? Parece que a resposta deve ser
negativa, não apenas para proteger contra a eternização dos litígios101 mas
também –e principalmente- para impedir que a busca da verdade seja utilizado
como criptoargumento102 para legitimar uma atuação arbitraria e discricionária.
em que a maior inteligência não pode suprir a falta de ouvido"" (Calamandrei, Piero. Eles os
juízes, vistos por nós um advogado. São Paulo: Martins Fontes, 1995, p. 149).
101
“O processo moderno procura solucionar os litígios à luz da verdade real e é, na prova dos
autos, que o juiz busca localizar essa verdade. Como, todavia, o processo não pode deixar de
prestar a tutela jurisdicional, isto é, não pode deixar de dar solução jurídica à lide, muitas vezes
essa solução, na prática, não corresponde exatamente à verdade real. O juiz não pode eternizar
a pesquisa da verdade, sob pena de inutilizar o processo e de sonegar a justiça postulada pelas
partes.” (THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Teoria geral do
direito processual civil, processo de conhecimento e procedimento comum – vol. I. 56. ed. Rio
de Janeiro: Forense, 2015. p. 856)
102 Friedrich Müller descreve os criptoargumentos como um raciocínio demonstrativamente
legitimo mas que possui reservado outras intenções, distintas do que o argumento aparenta ter.
(Müller, Friedrich. Teoria estruturante do direito. São Paulo: Ed. RT, 2008, p. 84).
43
Eduardo J. Coutoure nos ensina que o juiz deve apoiar-se nas provas que
embasam o seu convencimento e nunca nas suas convicções ou presunções
pessoais.104
103
Tradução livre do original em espanhol: “Las pruebas son los médios para llevar al juez, en el
proceso, ese conocimiento, y, por lo tanto, existe siempre la posibilidad de que a pesar de cumplir
tal función no reproduzcan exactamente la verdad, sino apenas la idea deformada de ésta,
aunque por ello no dejan de cumplir el fin a que están destinadas: permitirle al juez resolver el
litigio o la petición del proceso voluntario, con arreglo a lo que considera que es la verdad, o,
dicho de otra manera, en virtud del convencimiento o la certeza (moral o legal, según el sistema
de apreciación que rija) que adquiera sobre los hechos.” (ECHANDIA, Hernando Devis. Teoria
General de la Prueba Judicial – tomo I. 2 ed. Buenos Aires: Editor Victor P. de Zavalia, 1972. p.
250)
104 COUTURE, Eduardo J. Fundamentos del derecho procesal civil. Buenos Aires: Editorial
Depalma, 1951, p. 177.
105 Para Teresa Arruda Alvim Wambier nem sempre o juiz buscará a verdade dos fatos, uma
vez que ele não a lei à verdade dos fatos, mas sim direito à verdade dos fatos, pois o direito é
mais amplo e por isso a questão a pergunta a ser feita, segundo a autora, é : “ o juiz aplica o
direito à verdade dos fatos? A resposta positiva implicaria na necessidade de repensar a
finalidade do processo. (WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. O juiz aplica a lei à verdade dos fatos?
Vol. 216/2013. São Paulo: Revista de Processo, 2013, p. 425.)
106 SCHMITZ, Leonard Ziesemer. Entre produzir provas e confirmar hipóteses: o risco do
argumento da “busca da verdade real” na instrução e fundamentação das decisões. Revista de
Processo | vol. 250/2015 | p. 91 - 117 | Dez / 2015.
107 BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Poderes instrutórios do Juiz, 7ª ed. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2013, p. 11-12.
44
108 “a aplicação do Direito é realizada por um sujeito solipsista, proprietário dos significados,
que, julgando conforme sua consciência, acredita – de forma alienada – estar decidindo
corretamente (com justiça) as questões que lhe são postas.” (LUIZ, Vieira Fernando. Teoria da
Decisão Judicial – Dos paradigmas de Ricardo Lorenzetti à Resposta Adequada à constituição
de Lenio Streck. Livraria do Advogado, Porto Alegre, 2013,p.35).
109 " A verdade absoluta no processo civil não pode ser jamais atingida. O que se obtém é, no
máximo, um juízo de probabilidade, uma verdade provável. Este juízo de verossimilhança, que
aporta ao final do processo com alto grau de probabilidade de ser verdadeiro, é alçado à certeza
com o trânsito em julgado da decisão, erigindo-se em um patamar de certeza jurídica.” (ZANETI
JR, Hermes. O problema da verdade no processo civil. RePro, vol. 116. São Paulo: Ed. RT, jul-
ago/2004, p. 334-371, p. 337).
110 “Trata-se da ideia, bastante difundida, de que a cognição exauriente, exercida pelo julgador
após a fase instrutória suficiente, conduziria a uma certeza judicialmente aceita. Ou bem, não
certeza no sentido inequívoco, mas a um grau elevadíssimo de proximidade à realidade, graças
justamente à correta análise do conjunto probatório farto.” (SCHMITZ, Leonard Ziesemer. Entre
produzir provas e confirmar hipóteses: o risco do argumento da “busca da verdade real” na
instrução e fundamentação das decisões. Revista de Processo | vol. 250/2015 | p. 91 - 117 | Dez
/ 2015.)
111 É evidente que essa busca da verdade real nem sempre atinge seu desiderato. As mais das
vezes nos processos encontra-se não a verdade real, mas a verdade que as partes conseguem
trazer para os autos. Uma vez estabelecida a coisa julgada, chama-se, a essa certeza que a
Justiça fixa, de verdade legal, isto e, a verdade que o direito quer que seja respeitada como tal,
por razões de necessidade da própria ordem jurídica e social.” (SANTOS, Gildo dos. A Prova no
Processo Civil. São Paulo: Ed. Saraiva, 1975. p. 5-6).
45
do fim (a verdade)”.112
115 “(...) o juiz não é desvinculado da prova e dos elementos existentes nos autos (quod non est
in actis non est in mundo), mas a sua apreciação não depende de critérios legais determinados
a priori. O juiz só decide com base nos elementos existentes no processo, mas os avalia segundo
critérios críticos e racionais.” (CINTRA, Antonio Carlos de Araujo; GRINOVER, Ada Pellegrini;
DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria Geral do Processo. Malheiros: São Paulo, 1997.p.68); “
[...] um sistema de valoração de prova novo, emerge o sistema da convicção racional, nascendo
o Princípio do Livre Convencimento do Juiz. Atualmente há uma tendência mundial pelo sistema
do Livre Convencimento, neste as provas não são escalonadas, não tem valor fixo, nem são
estimadas em lei”. (PORTANOVA, Rui. Princípios do Processo Civil. 3 ed. Porto Alegre. Livraria
do Advogado, 1999. p. 244).
116
O sistema da persuasão racional, também chamado do convencimento racional, nasceu com
os códigos napoleônicos, conquanto Lessona entenda que teria sido conhecido dos romanos,
como reação ao critério da livre convicção, aplicando em seu processo. Conforme esse sistema,
o juiz, não obstante apreciar as provas livremente, não segue as suas impressões pessoais, mas
tira a sua convicção da provas produzidas, ponderando sobre a quantidade e a vis probandi
destas; a convicção está na consciência formada pelas provas, não arbitrárias e sem peias, e
sim condicionada a regras jurídicas, a regras lógicas jurídicas, a regras de experiência, tanto que
o juiz deve mencionar na sentença os motivos que a formaram. (SANTOS, Moacyr Amaral.
Comentários ao Código de Processo Civil. Vol. IV. Ed.Forense.1997.p. 20).
117
Art. 131. O juiz apreciará livremente a prova, atendendo aos fatos e circunstâncias constantes
dos autos, ainda que não alegados pelas partes; mas deverá indicar, na sentença, os motivos
que Ihe formaram o convencimento.
47
ser analisada com cautela, o julgador não é “livre” para valorar prova da forma
que lhe convir, não é livre também para julgar, o ordenamento jurídico vincula o
magistrado a uma série de deveres no momento da admissibilidade e valoração
da prova.
118
“il diritto moderno há respinto in massima il sistema della prova legale, adotando il principio
che la convinzione del giudice debba formarsi liberamente” – CHIOVENDA, Giuseppe. Istituzioni
di diritto processuale civile, vol II. Napoli: Eugenio Jovene, 1936, p. 426
119 SCHMITZ, Leonard Ziesemer. Fundamentação das decisões judiciais. A crise na construção
de respostas no processo civil. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. p.251
120 “A afirmação das partes vincula o juiz para a posição do fato no sentido de que de um lado
ele não pode pôr uma situação de fato que não seja afirmada por uma (pelo menos) das partes,
por outro ele não pode não por (omitir) uma situação de fato que seja afirmada por todas as
partes”. (CARNELUTTI, Francesco. A prova civil: parte geral: o conceito jurídico da prova. 2 ed.
Rev. E ampl. São Paulo: Editora Pillares, 2016.p.41).
48
121 STRECK, Lênio Luiz. O que é isto – a verdade real? – uma crítica ao sincretismo filosófico
de terrae brasilis. In: Revista dos Tribunais, vol. 921, São Paulo: RT, jul/2012. cit., p. 379.
122 “Apesar de o juiz estar limitado às provas dos autos, é livre para estabelecer o valor de cada
uma, no contexto probatório global, pois não há uma predeterminação legal do valor de cada
prova, devendo, contudo, fundamentar, motivar, sua decisão, revelando em que baseou sua
valoração probatória (art. 157 do CPP).Todas as provas têm, portanto, geralmente, o mesmo
valor”. (PACHECO, Denilson Feitoza. Direito Processual Penal: teoria, crítica e práxis. 5. ed., ver.
e atual. Niterói, RJ: Impetus, 2008. p. 629).
123
“Na fundamentação, cabe ao magistrado expor as razões de seu convencimento, de forma
clara, completa e razoável, de modo a que todos aqueles que a leiam possam compreender o
caminho argumentativo que o levou à conclusão a que chegou. Trata-se de norma em que se
manifesta e se concretiza de forma inequívoca o princípio do livre convencimento motivado, tal
como expresso no art. 371”. (WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso avançado de processo civil.
volume 2: cognição jurisdicional: processo comum de conhecimento e tutela provisória / Luiz
Rodrigues Wambier. Eduardo Talamini. - 5. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016.
p. 218).
124
Por isso, não parece adequado afirmar que diante da ausência da prova legal surge uma
liberdade do julgador na apreciação das provas. “Note-se que o sistema do livre convencimento
motivado deixa o juiz parcialmente livre na apreciação da prova. Se o peso probatório deve ser
dado pelo juiz no caso concreto, não pode livremente decidir sobre tal carga probatória, devendo
obrigatoriamente motivar sua decisão. Nesse sentido o disposto no art. 436 do CPC, que afirma
não estar o juiz adstrito ao laudo pericial, podendo formar a sua convicção com outros elementos
ou fatos provados nos autos. Até mesmo a confissão deve receber a carga devida no caso
concreto, podendo perfeitamente ser enfrentada por outras provas produzidas nos autos. Dará,
portanto, a carga probatória que entender cabível, mas deverá motivar sua
decisão exteriorizando as razoes pelas quais deu maior forca probatória a uma prova produzida
em detrimento de outra”. (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil
/ Daniel Amorim Assumpção Neves. - 5. ed. rev., atual, e ampl. - Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: Metodo, 2013. p. 430).
49
Não se quer dizer com isso que o interprete está “livre” para formar a sua
convicção da forma que lhe for mais conveniente. Ao contrário, trata-se de uma
possibilidade da lei de legitimar a decisão judicial, se a conclusão alcançada do
laudo pericial for incrível, inverossímil se comparada com as demais provas
produzidas nos autos o juiz não encontra-se vinculado às conclusões periciais e
deve estar atento as demais provas produzidas no processo.127
125
Com precisão Leonard Ziesemer Schmitz afirma que: “não é dado ao julgador de primeira
instância utilizar apenas sua própria visão sobre a suficiência das provas, já que ele, juiz, não é
o destinatário único da prova. (Fundamentação das decisões judiciais. A crise na construção de
respostas no processo civil. São Paulo. Editora Revista dos Tribunais, 2015.p. 252).
126 Art. 479. O juiz apreciará a prova pericial de acordo com o disposto no art. 371, indicando
na sentença os motivos que o levaram a considerar ou a deixar de considerar as conclusões do
laudo, levando em conta o método utilizado pelo perito.
127 “Nosso código condiciona o juiz à prova constante nos autos acerca dos fatos e
circunstâncias pertinentes à lide, provas estas determinadas pelas partes ou pelo próprio
julgador. Pelo exposto, temos que ao magistrado cabe encontrar na prova dos autos os motivos
de sua convicção, combinando sua observação com seu raciocínio”. (ARRONE, Ricardo. O
Princípio do Livre Convencimento do Juiz. 1ed. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris Editor, 1996.
p. 34).
50
Essa “liberdade” dada pela lei serve apenas para que não haja uma
vinculação prévia do interprete a um ou outro determinado meio de prova,
semelhante ao que acontecia no sistema de prova legal. Essa “liberdade” deve
ser aplicada a fim de incentivar a produção de provas para que a partir de todo
o conjunto probatório se alcance uma probabilidade de validação dos
argumentos das partes.128
128
“Mas não estamos falando de um simples descarte da perícia, pois na fundamentação deverão
ser corretas as opiniões do julgador, a ponto de demonstrar, no plano técnico, a desconsideração
da conclusão pericial e o porquê concluiu em sentido diverso considerando o que existe nos
autos.” (FERREIRA, William Santos. Princípios Fundamentais da Prova Cível. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2014. P.327)
129
V. Capítulo 4.
51
Karl Raimund Popper indica três itens que o sistema teórico deve
satisfazer. O sistema deve ser sintético, devendo representar um mundo não
contraditório, isto é, um mundo atingível, possível. Deve também satisfazer um
critério de demarcação, ou seja, deve ser não metafísico, isto é, deve representar
um mundo de experiência possível. E por último, deve ser diferente de outros
sistemas semelhantes como o único representativo.131
130
DIDIER Jr, Fredie. Teoria geral do processo, essa desconhecida. 3.ed. Salvador: Juspodivm,
2016. P.45
131 POPPER, Karl Raimund. A lógica da pesquisa cientifica. 2. Ed. São Paulo: Cultrix, 2013.p.
37
52
132 DIDIER Jr, Fredie. Teoria geral do processo, essa desconhecida. 3.ed. Salvador: Juspodivm,
2016. P.48
133 DIDIER Jr, Fredie. Teoria geral do processo, essa desconhecida. 3.ed. Salvador: Juspodivm,
2016. P.49
134 DIDIER Jr, Fredie. Teoria geral do processo, essa desconhecida. 3.ed. Salvador: Juspodivm,
2016. P.49
135 DIDIER Jr, Fredie. Teoria geral do processo, essa desconhecida. 3.ed. Salvador: Juspodivm,
2016. P.53
53
Para o processo penal, por exemplo, o tema da prova ganha relevo pois
somente a existência de conjunto probatório consistente é que permite superar
a presunção de inocência do acusado.136
136
GOMES FILHO, Antonio Magalhães. Notas sobre a terminologia da prova (reflexos no
processo penal brasileiro). (in) Estudos em homenagem a Professora Ada Pellegrini Grinover.
(org) YARSHELL, Flavio Luiz; MORAES, Mauricio Zanoide. São Paulo: Editora DPJ,
137 “(...)é possível dizer que a prova não tem por objeto a reconstrução dos fatos que servirão
de supedâneo para a incidência da regra jurídica abstrata que deverá (em se concretizando na
sentença) reger o caso concreto”. (MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sergio Cruz. Prova
e convicção: de acordo com o CPC de 2015. 3. Ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2015.p.63).
138 GUEDES, Clarissa Diniz. Persuasão racional e limitações probatórias: enfoque comparativo
entre os processos civil e penal. Tese apresentada como requisito parcial para obtenção do título
de doutor perante a Universidade de São Paulo, 2013, p.54
139 “ A prova é entendida como demonstração quando se diz que ela serve para estabelecer a
verdade sobre determinados fatos. Nessa primeira acepção, provar significa apresentar
elementos de informação idôneos para decidir se a afirmação ou negação de um fato é
verdadeira”. )GOMES FILHO, Antonio Magalhães. Notas sobre a terminologia da prova (reflexos
no processo penal brasileiro). (in) Estudos em homenagem a Professora Ada Pellegrini Grinover.
(org) YARSHELL, Flavio Luiz; MORAES, Mauricio Zanoide. São Paulo: Editora DPJ, 2005,p. 305
54
145
“Caracteriza-se, assim, um verdadeiro direito subjetivo à introdução do material probatório no
processo, bem como de participação em todas as fases do procedimento respectivo: direito
subjetivo que possui a mesma natureza constitucional e o mesmo fundamento dos direitos de
ação e de defesa: o direito de ser ouvido em juízo não significa apenas poder apresentar ao
órgão jurisdicional as próprias pretensões, mas também inclui a garantia do exercício de todos
os poderes para influir positivamente sobre o convencimento do juiz.” (GOMES FILHO, Antonio
Magalhães. Direito à prova no processo penal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997, Capítulo
III, item 9, p. 84).
146 "O aplicador e/ou intérprete do direito atua como uma espécie de químico. Se ele toma dois
átomos de hidrogênio e um de oxigênio, tem-se a fórmula química da água: H2O. Caso se tomem
dois átomos de hidrogênio e dois de oxigênio, tem-se a fórmula química da água oxigenada:
H2O2. Este mesmo processo de aglutinação, mutatis mutandis, se dá com as significações e,
por conta dele, deve o aplicador explicar como chegou à combinação final mediante a
fundamentação da decisão (sentença) final" (SILVA, Beclaute Oliveira. A garantia fundamental à
motivação da decisão judicial. Salvador: Juspodivm, 2007, p. 44).
56
147 TARUFFO, Michele. La prueba de los hechos, Madrid: Trotta 2002.., cap. 1, 1, pp. 26-27,
tradução livre. Na versão original: “Se trata de una evidente contradicción que surge entre la
teoría de la prueba y la teoría del proceso en general: en el ámbito de la primera se dice
habitualmente, en efecto, que la función de la prueba consiste en establecer la verdad de los
hechos; en el ámbito de la segunda se dice a menudo, en cambio, que la función del proceso no
consiste en absoluto en determinar la verdad de los hechos. En este caso, queda por explicar
para qué sirven las pruebas en el proceso, dado que éstas conducen a producir resultados en
los que el proceso non estaría interesado.”
148 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; DINAMARCO, Cândido Rangel; GRINOVER, Ada
Pellegrini. Teoria Geral do Processo. 31 ed. São Paulo: Ed. Malheiros, 2015. p. 427.
149 A posição se mantém em literatura mais recente do autor: Em uma primeira acepção, prova
é um conjunto de atividades de verificação e demonstração realizadas com o objetivo de apurar
a verdade quanto às questões de fato relevantes ao julgamento.” (DINAMARCO, Cândido
Rangel; LOPES, Bruno Vasconcelos Carrilho. Teoria Geral do Novo Processo Civil. São Paulo:
Ed. Malheiros, 2016. p. 181).”
150 “(...) diz-se que há prova de um fato que interessa à decisão judicial quando são
apresentados dados de conhecimento idôneos para admitir-se, como verdadeiro, um enunciado
sobre aquele mesmo fato. Ainda que não se trate, como nas ciências exatas, de demonstrar uma
verdade irrefutável, é possível chegar a um conhecimento processualmente verdadeiro a
respeito dos fatos discutidos no processo sempre que, por meio de procedimentos racionais,
sejam obtidos elementos capazes de autorizar um determinado grau de certeza sobre a
ocorrência daqueles mesmos fatos.” (GOMES FILHO, Antonio Magalhães. Notas sobre a
terminologia da prova (reflexos no processo penal brasileiro). In: estudos em homenagem a
Professora Ada Pellegrini Grinover. (org) YARSHELL, Flavio Luiz; MORAES, Mauricio Zanoite.
São Paulo: DPJ, 2005, p.306).
151 “A partir do momento em que se concebe a função demonstrativa (ou confirmatória) da
prova, admite-se a possibilidade de uma fixação dos fatos próxima à verdade fenomênica. E esta
fixação será tanto mais próxima da realidade fenomênica quanto maior for a importância
conferida pelo sistema à busca da verdade. A medida desta importância se aufere a partir do
estudo das limitações probatórias, que podem ser de diversas ordens (tais como o sistema de
preclusões, as regras legais de admissibilidade e valoração probatória, a proibição de provas
ilícitas etc.) (DINIZ, Clarissa Guedes. Persuasão racional e limitações probatórias: enfoque
comparativo entre os processos civil e penal. Tese apresentada como requisito parcial para
obtenção do título de doutor perante a Universidade de São Paulo, 2013, p.56).
57
entre partes e Estado-juiz permite concluir que a prova tem a função de legitimar
a decisão judicial, pois atribui credibilidade as conclusões adotadas pelo
magistrado.152
152 De forma contrária a posição aqui defendida, segue o posicionamento do jurista: “há uma
necessária conexão entre a função da prova e a função do processo. A este cabe não apenas
encontrar uma solução qualquer para o litígio, mas sim aquela que seja justa. E para que seja
justa, deve ser resultado de uma correta aplicação da norma jurídica que constitui a regra de
decisão do caso (...). As provas têm a missão de proporcionar ao juiz o acesso à verdade
possível, ainda que de maneira não plena. Em outras palavras, devem proporcionar “um razoável
conhecimento dos fatos”. (THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil
–Teoria geral do direito processual civil, processo de conhecimento e procedimento comum
–vol. I. 56. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 865,866).
153 WAMBIER, Luiz Rodrigues. A nova audiência preliminar – art. 331 do CPC, Revista de
Processo. Vol.80p.31. São Paulo: Ed. RT, out.-dez. 1995).
154
“Sua história é conhecida. Introduzido no processo português por decreto de 29.05.1907 para
conhecer, no processo sumário, das nulidades, recebeu da doutrina e da jurisprudência o nome
de despacho regulador do processo. Empreendida, em 1926, a reforma do processo civil, sob a
orientação do Prof. Alberto dos Reis, foi ampliada a função do despacho - que passou a chamar-
se saneador, - destinado como foi a "limpar o processo das questões que podem obstar ao
conhecimento do mérito da causa"(LIEBMAN, Enrico Tullio. O Despacho saneador e o
julgamento do mérito. Revista de Processo, vol. 767/1999. São Paulo: Revista dos Tribunais,
Set/1999, p. 737.)
155 TALAMINI, Eduardo. Despacho Saneador. Revista de Processo | vol. 86/1997 | p. 76 - 111 |
156 GALENO, Lacerda. Despacho Saneador. Porto Alegre, Fabris, 1985, XXV, p.6.
157 “o que se objetiva com esta fase é integralizar o contraditório iniciado na fase postulatória –
o que se dá, em grande medida, com as providências preliminares-; verificar as possibilidades
de extinção prematura do processo, com ou sem resolução do mérito – o que ocorres se houver
julgamento conforme o estado do processo – e, ainda, organizar o processo e sanar as
irregularidades existentes, preparando-o para a instrução- saneamento propriamente
dito”(ARRUDA ALVIM. Novo contencioso cível no CPC/2015. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2016.p.231).
59
158 art. 357. Não ocorrendo nenhuma das hipóteses deste Capítulo, deverá o juiz, em decisão
de saneamento e de organização do processo: I - resolver as questões processuais pendentes,
se houver; II - delimitar as questões de fato sobre as quais recairá a atividade probatória,
especificando os meios de prova admitidos;III - definir a distribuição do ônus da prova, observado
o art. 373;IV - delimitar as questões de direito relevantes para a decisão do mérito;V - designar,
se necessário, audiência de instrução e julgamento.§ 1o Realizado o saneamento, as partes têm
o direito de pedir esclarecimentos ou solicitar ajustes, no prazo comum de 5 (cinco) dias, findo o
qual a decisão se torna estável.§ 2o As partes podem apresentar ao juiz, para homologação,
delimitação consensual das questões de fato e de direito a que se referem os incisos II e IV, a
qual, se homologada, vincula as partes e o juiz.§ 3o Se a causa apresentar complexidade em
matéria de fato ou de direito, deverá o juiz designar audiência para que o saneamento seja feito
em cooperação com as partes, oportunidade em que o juiz, se for o caso, convidará as partes a
integrar ou esclarecer suas alegações.§ 4o Caso tenha sido determinada a produção de prova
testemunhal, o juiz fixará prazo comum não superior a 15 (quinze) dias para que as partes
apresentem rol de testemunhas.§ 5o Na hipótese do § 3o, as partes devem levar, para a audiência
prevista, o respectivo rol de testemunhas.§ 6o O número de testemunhas arroladas não pode ser
superior a 10 (dez), sendo 3 (três), no máximo, para a prova de cada fato.§ 7 o O juiz poderá
limitar o número de testemunhas levando em conta a complexidade da causa e dos fatos
individualmente considerados.§ 8o Caso tenha sido determinada a produção de prova pericial, o
juiz deve observar o disposto no art. 465 e, se possível, estabelecer, desde logo, calendário para
sua realização.§ 9o As pautas deverão ser preparadas com intervalo mínimo de 1 (uma) hora
entre as audiências.
160 Cássio Scarpinella Bueno, posicionou-se a respeito do artigo 357: “(...) vai muito além do
tímido art.331 do CPC atual (sic), sabendo conservar o que de importante consta daquele
dispositivo sobre a ordenação do processo, e propondo a prática de diversos atos no sentido de
racionalizar a atividade jurisdicional incentivando a cooperação entre os vários sujeitos
processuais, inclusive a depender da complexidade do caso, em audiência especialmente
designada para tanto. É o mote que justifica a nomenclatura da Seção, “Saneamento e
organização do processo’, nome que em parte – e paradoxalmente- o art. 331 (...)” (BUENO,
Cassio Scarpinella. In Novo código e processo civil anotado. São Paulo: Saraiva, 2015,p.266).
161 MOREIRA, José Carlos Barbosa. Saneamento do processo e audiência preliminar. RePro.
vol. 40/1985, São Paulo: Revista dos Tribunais, Out-Dez /1985, p. 110.
60
162 “Quando se afirma que a dúvida incide sobre a afirmação, em realidade está se asseverando
que a dúvida incide sobre o fundamento da afirmação. Esta é feita em consonância com o
fundamento alegado. Assim, quando alguém formula uma pretensão faz afirmações diversas,
traz os fundamentos dessas afirmações, que podem ser de fato ou de direito, [...] o ponto é o
fundamento de uma afirmação referente ao mérito, ao processo ou a ação. Essa afirmação pode
ser feita por qualquer dos sujeitos da relação processual: juiz, autor e réu” (FERNANDES,
Antônio Scarance. Prejudicialidade. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1988. p. 55-56).
163 “Se o temo ponto representa no processo apenas o fundamento de uma determinada
afirmação, então ele não se confunde com o termo questão, que para existir tem
necessariamente que apresentar uma controvérsia no processo. Em outras palavras, se o ponto
é o fundamento de uma afirmação, a questão é o ponto que foi submetido a uma controvérsia”.
(NETO, Olavo de Oliveira. O objeto da prova no direito processual civil. In: NETO, Elias Marques
de Medeiros; LOPES, Ricardo Augusto de Castro; NETO, Olavo de Oliveira. (Coord). A prova no
direito processual civil: estudos em homenagem ao professor João Batista Lopes. São Paulo:
Editora Verbatim, 2013. p. 518)
164 “A controvérsia gera a questão, definida como dúvida sobre um ponto, ou como ponto
167
“Para atingir com proveito a finalidade de orientar a admissão e a produção das provas, seria
fundamental que fosse decidida em audiência oral, o que o art. 342 do projeto não determina,
para que o diálogo cooperativo permitisse às partes darem a conhecer ao juiz as suas
perspectivas probatórias, bem como a utilidade das provas por elas requeridas e compreender a
perspectiva probatória do juiz e as provas que possam auxiliá-lo.” (OROZCO, G. B. O Controle
da Matéria Fática Exercido pelo Tribunal no Julgamento de Apelação: Possibilidade?. 2013. 70
f. Dissertação (Monografia em Direito) – Centro Universitário de Brasília, Brasília. Disponível em:
http://repositorio.uniceub.br/bitstream/235/5290/1/RA20909813.pdf. Acesso em 19 de jan. 2017).
168 “Ao ajuizar a demanda, pede o autor ao órgão judicial que tome determinada providência:
declare a existência ou a inexistência de uma relação jurídica, anule este ou aquele ato jurídico,
condene o réu a pagar tal ou qual importância, a praticar ou a deixar de praticar certo ato etc.”
(MOREIRA, José Carlos Barbosa. O Novo Processo Civil Brasileiro: exposição sistemática do
procedimento. Rio de Janeiro: Ed. Forense, 2002. p. 10). “Na petição inicial, a causa de pedir
(causa petendi) é elemento identificador da ação, mostrando-se como indispensável delimitador
da atividade jurisdicional que se seguirá. O pedido delimita a parte decisória da sentença. Mas
ele decorre da exposição fática e da argumentação jurídica subsequente. Sua identidade própria
depende da consideração de seus fundamentos. Portanto, tanto o pedido quanto a causa de
pedir são igualmente delineadores da abrangência do provimento jurisdicional. (WAMBIER, Luiz
Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de processo civil: Cognição jurisdicional
(Processo comum de conhecimento e tutela provisória). Volume 2. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2016. p. 26).
169 GUEDES. Clarissa Dinis. Persuasão Racional e Limitações Probatórias: enfoque
comparativo entre os processos civil e penal. Tese apresentada perante a Universidade de São
Paulo como exigência parcial para obtenção do título de doutor. P.103
170 MACHADO, Marcelo Pacheco. A correlação no processo civil. Relações entre demanda e
tutela jurisidicional. Salvador: Editora JusPodivm, 2016. P.198
62
171
“A certeza do pedido não significa, no CPC de 2015, que ele deva ser interpretado necessária
e invariavelmente de maneira restritiva. O § 2º do art. 322 dispõe que a sua interpretação
considerará o “conjunto da postulação” devendo observar também o “princípio da boa-fé” (art.
5º). Trata-se de viabilizar ao magistrado que leve em conta tudo o que é alegado na petição
inicial e, não necessariamente, no local por ela indicado como “pedido”, evitando, com isto,
contudo, introduzir matéria estranha ao que foi pedido pelo autor, máxime quando o réu, também
de boa-fé, não tiver detectado a questão e, por isto, não ter exercitado, em plenitude, sua defesa”.
(BUENO, Cassio Scarpinella. Manual de direito processual civil : inteiramente estruturado à luz
do novo CPC – Lei n. 13.105, de 16-3-2015 / Cassio Scarpinella Bueno. São Paulo : Saraiva,
2015. p. 315).
172 “O exercício amplo do direito de defesa implica necessariamente para o réu um mínimo de
previsibilidade. É preciso que ele saiba, ao ser convocado a juízo, ou possa verificar com os
dados de que dispõe, quais são as suas chances, tanto para o melhor, quanto para o pior. É
preciso que ele possa avaliar desde logo qual a pior coisa que lhe pode acontecer na hipótese
de derrota.” (BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Correlação entre o pedido e a sentença. RePro
83, p. 209.
63
173
MACEDO, Lucas Buril. PEIXOTO, Ravi Medeiros. Ônus da prova e sua dinamização. Salvdor:
Editora jusPODIVM, 2014, p. 95
174 FERREIRA, William Santos. Princípios fundamentais da prova cível. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2014. P. 251.
64
É possível que aquele que não se desincumbiu do ônus que possuía tenha
a seu favor o julgamento, pois o fato de não ter cumprido o ônus previsto no
artigo 373, CPC/2015, não induz um julgamento desfavorável. Há outros tantos
elementos (confissão, argumentos e até mesmo a prova produzida pela parte
contrária) que podem culminar em uma decisão favorável.178
Diz-se então que o ônus da prova é um ônus imperfeito, pois ainda que o
sujeito tenha cumprido a carga legal poderá se deparar com um julgamento
desfavorável.179
175 “A regra quanto ao ônus da prova adquire seu maior relevo no momento em que o juiz deve
julgar: é de fato neste momento que o juiz deve extrair as consequências da prova faltante,
pronunciando em sentido desfavorável à parte que deveria tê-la produzido. De sorte que a regra
quanto ao ônus da prova se resolve, no momento da decisão, numa “regra de julgamento”, que
representa a natural consequência, e portanto “sanção”, da falta de adimplemento do ônus pela
parte à qual ele caiba. Os dois aspectos da regra, vale dizer, o ônus para a parte e a regra de
julgamento para o juiz, não podem todavia ser dissociados e contrapostos, porque são estreita e
logicamente conexos entre si, formando os dois lados e os dois momentos inseparáveis de uma
regra unitária”. (LIEBMAN, Enrico Tullio. Manual de Direito Processual Civil. v. 2. Tocantins:
Intelectos, 2003, p. 101)
176 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Manual do processo de
conhecimento. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. p. 186
177
SANTOS, Moacyr Amaral. A prova no cível e no comercial. 3. ed. São Paulo: Max Limonad,
1953. v. 1. p. 94
178
“O ônus pode ser definido como a liberdade de realização de certos atos ou condutas previstas
em uma norma jurídica, para a satisfação de um interesse próprio, não havendo sujeição ou um
outro sujeito que tenha o direito de exigir a sua observância, visto que o seu não-cumprimento
pode acarretar apenas consequências desfavoráveis para a pessoa beneficiada” (CAMBI,
Eduardo. A prova civil: admissibilidade e relevância. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. p.
315).
179
“Ressalta-se que o ônus da prova é um ônus imperfeito, eis que mesmo tendo o sujeito
cumprido a carga legal poderá não receber o efeito esperado, quando o fato jurídico não autorizar
o pedido, ou, pode ocorrer a produção de contraprova pela parte adversa, gerando, apesar da
iniciativa da parte incumbida do ônus da prova, um resultado a ela desfavorável.” (MACEDO,
65
O sistema processual civil não impõe quem deve fazer a prova mas indica
àquele que assume o risco caso a prova não seja produzida. 180 O julgamento
fundamentado no ônus da prova é um julgamento sem certeza jurídica, se trata
pois, de julgamento formal.181182
Uma vez admitida e produzida nos autos, o seu resultado não beneficia
necessariamente quem a produziu (aquisição probatória e comunhão probatória)
e pode ser aproveitada como fundamento contrário ao seu produtor.
Lucas Buril. PEIXOTO, Ravi Medeiros. Ônus da prova e sua dinamização. Salvdor: Editora
jusPODIVM, 2014, p. 102).
180 NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de processo civil
comentado e legislação extravagante. 11. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, p. 635
181 LEONARDO, RODRIGO XAVIER. Imposição e inversão do ônus da prova. Rio de Janeiro:
Renovar, 2004, p. 190.
182 CARNELUTTI, Francesco. Teoria Geral do direito. Coimbra: Armenio Amado Editor, 1942.
p. 511.
183 VERDE, Giovanni. L´Onere dela Prova nel Processo Civile. Napoli: Jovene, 1974, p.118.
184 RAMOS, Vitor de Paula. Ônus da prova no processo civil: do ônus ao dever de provar. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. P.49.
66
185
“O que se tem, na hipótese, é um poder-dever do juiz. Presentes os requisitos, o juiz é obrigado
a inverter o onus probandi em favor do consumidor. O que acaba de ser dito decorre do disposto
no art. 6º do CDC, segundo o qual a inversão do ônus da prova é um dos direitos básicos do
consumidor”. Assim sendo, não poderá o magistrado deixar de tutelar tal direito, tendo pois o
dever de inverter o ônus da prova.” (CÂMARA, Alexandre Freitas. In A inversão do ônus da Prova
em favor do Consumidor. Artigo inserido no informativo nº.3 da Escola Judicial Desembargador
Edésio Fernandes.).”
186 Cf. BARBOSA MOREIRA, Carlos Roberto. Notas sobre a inversão do ônus da prova em
benefício do consumidor. Revista de Direito do Consumidor. Vol. 22. P.135 e ss. Abril.1997
187
“Alguns doutrinadores argumentam que as regras de distribuição do ônus da prova de cada
litigante trazem consigo uma limitação aos poderes de iniciativa probatória do Juiz. Asseveram
que o art. 130 não se encontra isolado no Código e que o dispositivo deve ser interpretado em
conjunto com o art. 333 (interpretação sistemática), ambos do CPC, de modo a garantir a
observância das regras de ônus da prova e o tratamento igualitário das partes. Confira-se, neste
sentido, manifestação do processualista Giuseppe Chiovenda: A teoria do ônus da prova
relaciona-se estreitamente com a conservação do princípio dispositivo no processo, pelo que
respeita às partes a verificação dos fatos. Num sistema que admitisse a pesquisa de ofício da
veracidade dos fatos, não teria significação a repartição do ônus da prova (Direito Processual
Civil, volume III, Lisboa, Associação Acadêmica da Faculdade de Direito, 1980, p. 192 apud
DUARTE, 1999, p. 66)” (KIM, R. P.; AMENT, T. H. A Efetividade da Justiça e os Poderes Instrutórios
do Magistrado: a fundamentalidade, a dimensão organizatória e procedimental e os princípios norteadores,
p. 62. Disponível em: http://www.dfj.inf.br/Arquivos/PDF_Livre/24_Doutrina_Nacional1_OK.pdf.
Acesso em: 13 de jan. 2017).
67
188 Os artigos 10 e 144 do CPC francês admitem a possibilidade do juiz ordenar de oficio a
produção das provas. Entretanto, cabe ressaltar que há uma desconfiança da sociedade
francesa na ampliação dos poderes judiciais em primeira instância, tanto é que ela é formada
por três magistrados. Essa desconfiança é apontada por MACHADO, Antonio Carlos da Costa.
Justiça no Brasil deve se inspirar na França. Disponível em: http://www.conjur.com.br/2012-abr-
15/judiciario-brasileiro-inspirar-sistema-juridico-frances, acesso: 11/01/2017.
189 A utilização do juiz de seus deveres-poderes instrutórios não é comum no processo civil
Francês, apesar da previsão legal a experiência demonstra que as provas são produzidas a partir
do requerimento da parte. (HERON, Jacques; LE BARS, Thierry. Droit judiciaire
privé.5.ed.Paris:Montchrestien, 2012.p.223-224).
191 MOREIRA, José Carlos Barbosa. A função do processo civil moderno e o papel do juiz e das
partes na direção e na instrução do processo. RePro, vol. 37/1985. São Paulo: Revista dos
Tribunais, Jan-Mar/1985, p.147.
68
192 “A parte pode, até, requerer prova prejudicial aos seus interesses. Já o juiz determina a
produção da prova, nos termos do n.º 3 do artigo 265.º, no exercício de um poder-dever que a
lei, acolhendo um modelo processual inquisitório, lhe outorga para satisfazer um interesse: o de
garantir que toda a prova (possível) que o tribunal entenda ser necessária à formação da sua
convicção possa ser produzida. Enquanto as partes exercem um direito próprio, destinado a
tutelar os seus interesses, o juiz exerce um poder-dever, destinado a tutelar um interesse público
de descoberta da verdade, instrumental em relação à realização da justiça” (JORGE, N. L. Os
Poderes Instrutórios do Juiz: Alguns Problemas. Disponível em: http://julgar.pt/wp-
content/uploads/2016/05/04-Nuno-LJ-poderes-instrut%C3%B3rios-do-juiz.pdf. Acesso em: 17
de jan. 2017).
193 “Diz-se que a regra do ônus da prova, portanto, incide no momento da sentença, e em nenhum
outro, porque independentemente de quem seja o dever de produzir a prova, poderá (poder-
dever) o juiz, de ofício, ir em busca dela, tornando-se efetivo no processo, e não mero
espectador, à espera das partes.” (BRIÃO, R. F. Os Poderes Instrutórios do Juiz e a Busca da
Verdade Real no Processo Civil Moderno. Disponível em:
http://www.abdpc.org.br/abdpc/artigos/PODERES%20INSTRUTORIOS%20DO%20JUIZ%20E
%20A%20BUSCA%20DA%20VERDADE%20REAL%20-
%20Roberta%20Fussieger%20Bri%E3o.pdf. Acesso em: 12 de jan. 2017).
194
Giuseppe Tarzia pontua: “Existe, em uma palavra, a exigência de recolocar o juiz no centro
do fenômeno processual: não para um exercício solitário de autoridade, nem para uma aplicação
burocrática de esquemas processuais pré-fabricados. Ele deve, isto sim, conduzir o processo no
diálogo e no contraditório com as partes. Esta obrigação do juiz ao contraditório, expressa pelas
legislações mais modernas, continua infelizmente a encontrar resistência no sistema positivo e
ainda mais na praxe do processo civil italiano”.(TARZIA, G. O novo processo civil de cognição
na Itália. Revista de Processo. São Paulo, Revista dos Tribunais, v. 79, p. 51-64, jul/set. 1995.)
195 YARSHELL, Flávio Luiz. Curso de direito processual civil. São Paulo: Marcial Pons, 2014,
vol.1. p.99-100.
69
O ônus da prova não pode ser utilizado como argumento positivo para
inviabilizar os deveres-poderes instrutórios, é, pois, caminho subsidiário, como
vimos no tópico anterior.200
196 BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Direito e processo: influência do direito material sobre
o processo. 3. Ed. São Paulo: Malheiros, 2013.p.138.
197 ECHANDIA, Hernando Devis. Compendio de la prueba judicial. 1.ed.1ª. reimp. Santa Fé:
Rubinzal- Culzoni, 2007, vol.I p. 51
198 RICCI, Gian Franco. Principi di diritto processuale generale. Torino: G. Giappichelli Editore,
2012. P.342-362.
199 FERREIRA, William Santos. Princípios Fundamentais da Prova Cível. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2014,p.246.
200
Cf. CARNELUTTI, F. A prova civil. Traduzido por Lisa Pari Scarpa. 4ª Edição. Campinas,
Bookseller, 2005, p. 257-261.
201
“Dir-se-á que os litigantes hão de conservar o poder de dispor de seus direitos. Ora, ninguém
é forçado a invocar um direito em juízo, nem, por conseguinte, a alegar o fato de que ele se
originaria. Mas aí cessa o poder de disposição. Se a parte alega o fato, é porque quer que dele
se extraia esta ou aquela conseqüência jurídica. Impedir o juiz de fazer o possível – observados
70
sempre os limites do pedido e causa de pedir – para certificar- se de que o fato alegado realmente
ocorreu (ou não ocorreu) será atitude manifestamente contraditória. Caso lhe resulte
inconveniente, por tal ou qual motivo, a averiguação, tem ainda o litigante, no âmbito das relações
jurídicas disponíveis, a opção de renunciar ao direito postulado, e com isso barrar o caminho à
cognição judicial. O que de jeito nenhum se afigura razoável é pretender a tutela jurisdicional e,
ao mesmo tempo, objetar a que o juiz se muna dos elementos necessários para verificar se deve
ou não presta-la nos termos requeridos.” (BARBOSA MOREIRA, José Carlos. O neoprivatismo
no processo civil. Disponível em:
http://www.ablj.org.br/revistas/revista26/revista26%20%20JOS%C3%89%20CARLOS%20BAR
BOSA%20MOREIRA%20%E2%80%93%20O%20Neoprivatismo%20no%20Processo%20civil.
pdf. Acesso em 14 de jan. 2017).
202
FERREIRA, William Santos. Princípios Fundamentais da Prova Cível. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2014,p.247.
203
CAPPELLETTI, Mauro. La oralidad y las pruebas em el processo civil. Trad. Santiago Sentis
Melendo. Buenos Aires: EJEA, p. 122-123
204 ROSEMBERG, Leo. La carga de la prueba. Tradução de Ernesto Krotoschin. 2.ed. Buenos
Aires: Julio César Faira, 2002.p.223.
205
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim et al. Primeiros Comentários ao Novo Código de Processo
Civil. 2. ed. São Paulo: Ed. RT, 2016. p. 714.
206 BUZAID, Alfredo. Do ônus da prova. Estudos de direito. São Paulo, 1972, vol.1, p. 78.
207 “No procedimento “pre-trial discovery”, também conhecido como “fishing expedition”,
caracteriza-se como uma “aventura” em que a parte requisitante “lança a isca”, ou seja, a
requisição à outra parte e não tem certeza do que irá obter, ou “pescar”. (CARVALHO FILHO,
Antônio. Obtenção transnacional de prova em matéria civil e comercial. Disponível em:
<http://www.abdpc.org.br/abdpc/artigos/Obten%C3%A7%C3%A3o%20transnacional%20de%2
0pro va%20em%20mat%C3%A9ria%20civil%20ou%20comercial%20-%20artigo.pdf>. Acesso
em: 13 de agosto de 2016). Cf. YARSHELL, F. L. Antecipação da prova sem o requisito da urgência e
71
direito autônomo à prova. Tese de titularidade. 2008. 468 p. Tese (Professor Titular de Direito Processual
Civil) – Faculdade de Direi- to, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.
208 A doutrina demonstra a preocupação com a (im)parcialidade do juiz ao tomar para si a
atividade instrutória. ““Segundo o princípio dispositivo em sua versão clássica, o juiz deve julgar
a causa com base nos fatos alegados e provados pelas partes, sendo-lhe vedada à busca de
fatos não alegados e cuja prova não tenha sido postulada pelas partes. As partes determinam e
fixam o objeto do processo, não podendo o juiz decidir fora, além ou aquém do pedido. Daí o
que dispõe o artigo 2º do Código de Processo Civil, que “nenhum juiz prestará a tutela
jurisdicional senão quando à parte ou interessado a requerer, nos casos e formas legais”.
Para esta corrente desatualizada, a parte, sendo titular do direito controvertido no processo, é
quem melhor saberá agir para vê-lo reconhecido em juízo. Ao juiz cabe somente julgar. À parte
cabe somente alegar os fatos do seu interesse e prová-los. Dessa regra decorre que as provas
a serem produzidas são tão somente aquelas que as partes indicarem. O princípio dispositivo
clássico, dentre outras limitações impostas ao poder-dever do julgador, impede-o da iniciativa
probatória. […] A proibição da jurisdição de ofício sempre teve como fundamento evitar a
parcialidade do juiz, não no sentido de inércia ou desinteresse, mas no sentido de evitar que o
exercício de um Poder-Dever fique previamente inclinado com o resultado da prestação
jurisdicional. Por isto ao juiz é vedada a disponibilidade material (ingressar ou não com uma
demanda – princípio da demanda). Entretanto, possui ele a disponibilidade processual, que
consiste em se lhe atribuir “poderes autônomos quanto ao modo de exercer a sua própria
função”.” (PEREIRA, R. C. O A Compatibilidade do Princípio Dispositivo e o da Imparcialidade
com a Iniciativa Probatória do Juiz. Disponível em: http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=4467#. Acesso em: 17
de jan. 2017).
“
209 A importância da prova é sintetizada por Nicola Picardi ao afirmar que: “ La prova è, il cuore
del processo. Sitratta, piú precisamente, di uma serie de instrumenti com i quali vengono
verificate le ipotesi di fato formulate nel processo, al fin de consentire al giudice de attingere la
verità probabile (única verità conseguibile, dati i limiti imamanenti dela concoscenza umana) e
pervinire, così, ad uma applicazione “giusta” delle norme giuridiche alia fattispecie controversa”.
(PICARDI, Nicola. Appunti di diritto processuale civile. Processo ordinário di cognizione le
impugnación. Milano: Giuffrè, 2003,p.19).
72
210 A doutrina tradicional, dentre eles Moacyr Amaral Santos afirma que “ a admissão (das provas)
é ato do juiz, exclusivamente seu. Como o é a avaliação ou estimação da prova.” (SANTOS,
Moacyr Amaral. Prova Judiciária no Cível e no Comercial. São Paulo: Max Limonad.v.II,p.255.)
211
Taruffo, Michele. Uma simples verdade. O juiz e a construção dos fatos. São Paulo: Marcial
Pons, 2012. P.22
212 “Essa concepção faz do juiz um soberano absoluto e incontrolável, por mais que a lei lhe
213 NERY JR., Nelson; NERY, Rosa Maria Andrade. Código de processo Civil comentado, 14ª
ed. São Paulo: RT, 2014, p. 615
214 SANTOS. Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil. 2º. Volume. 23º
da avaliação do juiz, dentro do quadro probatório existente, da necessidade dessa prova. Por
isso a possibilidade de indeferimento das diligências inúteis e protelatórias (...)”(STJ, Ag 56995-
0-SP, rel. Min. Assis Toledo, j.5.4.1995, p.9322).
74
216 “A admissão da prova é ato do juiz, exclusivamente seu”. (SANTOS. Moacyr Amaral. Primeiras
Linhas de Direito Processual Civil. 2º. Volume. 23º edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2004.
P.284.)
217 TARUFFO, Micheli. Studi sulla rilevanza dela prova. Padova: Cedam, 1970, p.75.
218 O procedimento correto para tratamento das provas e fatos provados é bem destacado por
Leonard Ziesemer Schmitz ao afirmar que: “os fatos e acontecimentos provados serão reduzidos
a texto e incluídos nos autos, e devem poder ser (re)interpretados não somente pelo julgador,
mas por qualquer interessado. Por conseguinte, decisão que sobrevier em relação a essas
provas deve prestar contas de por que cada fato foi considerado da maneira como o foi, e por
que outros fatos não foram considerados para a construção da solução.” (SCHMITZ, Leonard
Ziesemer. Fundamentação das decisões judiciais. A crise na construção de respostas no
processo civil. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. p.251.)
219 Nicolo Trocker considera imprescindível separar os momentos de admissibilidade e valoração
da prova, diz o autor: “a vedação à valoração antecipada da prova evita que se saia do lugar
natural de sua avaliação que ocorre quando ela já foi produzida.” (TROCKER, Nicolò. Processo
Civile e Constituzione. Milano: Giufrè, 1974, p.522.)
220 Arruda Alvim afirma que “o livre convencimento motivado envolve, imprescindivelmente, a
ideia de sopesamento das provas, e, para isso, todas elas haverão de ser, necessariamente,
75
avaliadas, aceitando-se umas com poder de convicção e outras não, mas necessariamente se
dizendo por que não são aceitas” (ARRUDA ALVIM. Nulidade de acórdão e de sentença. IN:
Direito processual civil. São Paulo: Ed. RT, 2001. Vol.1,p.240). O autor modificou posicionamento
adotado até a 15ª edição de seu Manual de Direito Processual Civil e a partir da 16ª edição
passou a defender o processo como destinatário da prova. Ainda, em obra mais recente, Arruda
Alvim diz que: “(...)podemos concluir que, embora seja o convencimento do juiz que defina a
valoração da prova, não é ele, o juiz, o destinatário da prova, mas sim o próprio processo. A
prova não é feita para o juiz; é produzida para o processo.” (ALVIM, ARRUDA. Novo contencioso
no CPC/2015. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016. P. 247-248)
221 Adauto Suannes, Desembargador de Justiça aposentado, afirma que: ““(...) não basta
assegurar às partes o direito à prova e às atividades instrutórias (lato sensu) em geral; não basta
afirmar a necessidade de que toda atividade instrutória seja produzida em contraditório; não
basta exigir que a autoridade jurisdicional presida à colheita de todas as provas; não basta que
o livre convencimento do juiz se baseie exclusivamente sobre as provas produzidas judicialmente
e em contraditório. É ainda necessário que, em cada processo, o juiz estimule e promova um
contraditório efetivo e equilibrado, cabendo-lhe verificar se a atividade defensiva, no caso
concreto, foi adequadamente desempenhada, pela utilização de todos os meios necessários
para influir sobre o seu convencimento. Sob pena de se considerar o réu indefeso e o processo
irremediavelmente viciado” (SUANNES, Adauto. Assistência Judiciária e Devido Processo Legal.
Revista de Processo, n. 595. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1985, p. 20.)
222 FERREIRA, William Santos. Princípios Fundamentais da Prova Cível. São Paulo: Editora
223 NERY JUNIOR. Nelson. Princípios do processo na Constituição Federal: (processo civil, penal
e administrativo). 11. Ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013. P.45
224 YARSHELL, Flávio Luiz. Produção antecipada de prova sem o requisito de urgência e direito
226
“Retomando a linha geral da comunhão e da aquisição processual, a irrelevância do
responsável pela produção significa que a prova que ingressa no processo é desvinculada do
seu produtor, com isto se um autor arrola uma testemunha e esta esclarece fatos de forma
objetiva e clara, demonstrando a veracidade de seu depoimento, que prejudicam aquele que a
arrolou, este não poderá requerer a sua desconsideração.” (FERREIRA. William Santos.
Princípios Fundamentais da Prova Cível. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2014.p. 129)
227 Michele Taruffo esclarece que no procedimento germânico “a corte não tinha, por
conseguinte, qualquer necessidade de intervir novamente para emanar uma sentença fundada
no êxito do ordálio: a combinação desse com a Beweisurteil era suficiente para fornecer às partes
e à corte (além de prover a público) uma clara solução da controvérsia. Em realidade, a prova
não era nem mesmo dirigida à corte, pelo contrário, dirigida à parte adversa.” (TARUFFO,
Michele. Uma simples verdade. O juiz e a construção dos fatos. São Paulo: Marcial Pons, 2012.
P.24)
78
228
Cf. ABELLÁN, Marina Gascón. Los hechos em el derecho: bases argumentales de la prueba.
3. Ed. Madri: Marcial Pons, 2010.pp.79-82.
229 GRECO, Leonardo. Instituições de processo civil, volume II. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense,
2015.p.261.
230 O Código de Processo Civil não prestigia a presunção e os indícios em capítulo próprio.
Artigos 374, IV e 375, CPC/15
231 CAPPELLETTI, Mauro. La oralidade y las pruebas en el proceso civil. Tradução de Santiago
Sentís Melendo. Buenos Aires: EJEA, 1972, p. 111-124. Cf. FERIANI, L. A. Da Decisão
Discricionária (no âmbito administrativo e judicial). 2014. 182 f. Dissertação (Doutorado em
Direito) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo. Disponível em:
https://sapientia.pucsp.br/bitstream/handle/6510/1/Luis%20Arlindo%20Feriani.pdf. Acesso em
15 de jan. 2017.
232 “Melhor dizendo, é o fato conhecido a partir do qual se conclui (se presume) a existência de
um fato desconhecido, com base na ordem normal das coisas (o que ordinariamente acontece).
Presunção é a dedução, conclusão ou conseqüência que se tira de um fato conhecido, para
admitir como certa, verdadeira e provada a existência de um fato desconhecido ou duvidoso.
Não é meio de prova, mas um raciocínio lógico”. (NEUBERT, A. Q. A prova emprestada e o
Ativismo Judicial.. 2011. 123 f. Dissertação (Mestrado em Direito) – Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte. Disponível em:
http://www.biblioteca.pucminas.br/teses/Direito_NeubertAQ_1.pdf. Acesso em 17 de jan. 2017).
233 BORGES, Ronaldo Souza. A prova pela presunção na formação do convencimento judicial.
Belo Horizonte: Editora D´Placido, 2016. P.197.
79
tomada pelo julgador mas na prova direta o percurso a ser percorrido é menor
do que na prova indireta.
234
BORGES, Ronaldo Souza. A prova pela presunção na formação do convencimento judicial.
Belo Horizonte: Editora D´Placido, 2016. P.197.
235
BORGES, Ronaldo Souza. A prova pela presunção na formação do convencimento judicial.
Belo Horizonte: Editora D´Placido, 2016. P.199.
236 Por raciocínio dedutivo entende-se a compreensão que parte de um conhecimento universal,
geral que possui as mesmas características para todas as situações.
237 GRECO, Leonardo. Instituições de processo civil, volume II. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense,
2015.p.261.
80
238 “O indício pode ser considerado meio de prova (embora geralmente auxiliar "argumento de
prova") atípico (já que não previsto expressamente no código processual pátrio) e indireto (já
que, como o próprio nome aponta, eles indicam, não representam, o fato probando, isto é, neles
se assenta o raciocínio que permite a cognição do factum probandum). "Indício" é assim o fato
(secundário) conhecido - v.g., vestígio, circunstância - que indica o fato (principal) desconhecido.
Mas para tanto, é necessária a participação articulada das "máximas de experiência" a fim de
que possa o julgador estabelecer determinada "presunção" a ser útil no momento da valoração
do conjunto probatório. Nesse cenário, estabelecido está uma forma de silogismo judicial, em
que as "máximas de experiência" configurariam a premissa maior, os "indícios" a premissa
menor, daí resultando a "presunção judicial" (praesumptiones iuris). Em síntese, de maneira
simples tem-se que o indício não se confunde com a presunção, a qual é conseqüência que o
juiz tira do fato conhecido, norteando-se por aquilo que normalmente acontece. Do exposto,
extrai-se que as máximas de experiência são critérios para se interpretar asprovas colhidas, e
não propriamente meios de prova. Da mesma forma, a presunção judicial não é meio probatório,
sendo produto mental do julgador resultante do amálgama de máximas de experiência com os
indícios comprovados – estando tecnicamente incorreto posicionamento contrário, contido no art.
212, IV do Código Civil. De qualquer forma, há de se referir que o campo de aplicação das
presunções, como processo mental importante na valoração das provas, não está adstrito aos
indícios, já que nas provas típicas diretas, com exceção talvez da inspeção judicial, algum nível
de inferência sempre vai se fazer presente, em maior ou menor grau, na atividade de valoração
do meio de prova coletado (v.g., testemunhal ou documental), integrando à atividade do juiz
também aqui ato de (i) percepção e (ii) dedução – o que também comprova a assertiva
repetidamente assentada de inexistência de hierarquia absoluta entre as provas (típicas vs.
atípicas; diretas vs. indiretas).” (RUBIN, F. Provas Atípicas. Jus Navigandi, 2010. Disponível em:
http://www-antigo.mpmg.mp.br/portal/public/interno/arquivo/id/21192 . Acesso em: 17 de jan. 2017).
239
GRECO, Leonardo. Instituições de processo civil, volume II. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense,
2015.p.261.
240 MOVELLÁN, Pedro Alvarez Sánchez de. La prueba por presuncones: particular referencia a
sua aplicación judicial em supuestos de responsabilidade extracontratual. Granada: Comares,
2007.p.12.
81
241
MALATESTA, Nicola Framarino. A lógica das provas em matéria criminal. 3 ed., São
Paulo:Bookseller, 1996, p. 217
242
BORGES, Ronaldo Souza. A prova pela presunção na formação do convencimento judicial.
Belo Horizonte: Editora D´Placido, 2016. P.241.
243
No âmbito penal ““O indício é a circunstância conhecida e provada que, tendo relação com o
fato, autoriza, por indução, concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias (art. 239,
CPP). O indício é elemento de prova situado no passado e que, por si só, é, em regra, débil para
se concluir sobre o fato delituoso. Indício é prova semiplena, parcial ou indireta que possibilita,
por indução, chegar-se a uma conclusão sobre uma infração penal. Para que se chegue à
conclusão geral sobre o fato, o indício deve, em regra, ser cotejado com outros indícios para que
seja inferida aquela interpretação sobre o fato, por intermédio de método precipuamente indutivo.
Daí que os indícios (a prova indiciária) devem ser plurais, haja vista que só muito
excepcionalmente um só indício será suficiente para justificar a atribuição de um fato delituoso a
alguém.” (TÁVORA, F.; ALENCAR, R. R. Indícios e Presunções. Jus Podivm, 2014. Disponível
em: http://blog.editorajuspodivm.com.br/post/96564702319/conceito-ind%C3%ADcios-e-
presun%C3%A7%C3%B5es-o-ind%C3%ADcio-%C3%A9-a. Acesso em: 17 de jan. 2017.)
244 “Entendemos, portanto, que há diferença entre presunções e indícios, muito embora seja
algumas vezes tênue. O indício indica algo, enquanto que a presunção representa o resultado
da avaliação da prova. Pode-se afirmar que a presunção é o resultado de um raciocínio e os
indícios constituem os pressupostos lógicos da presunção”. (PITT, G. F. Prova indiciária e
Convencimento judicial no Processo Civil. 2008. 161 f. Dissertação (Mestrado em Direito) –
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. Disponível em:
http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/15503/000686005.pdf?...1. Acesso em 17 de
jan. 2017).
245 ECHANDÍA, Hernando Devis. Teoría general de la prueba judicial. Tomo II, cit. Pp. 592-
599.
82
246 Artigo 5, CPC Português: “1 — Às partes cabe alegar os factos essenciais que constituem a
causa de pedir e aqueles em que se baseiam as exceções invocadas. 2 — Além dos factos
articulados pelas partes, são ainda considerados pelo juiz: a) Os factos instrumentais que
resultem da instrução da causa; b) Os factos que sejam complemento ou concretização dos que
as partes hajam alegado e resultem da instrução da causa, desde que sobre eles tenham tido a
possibilidade de se pronunciar; c) Os factos notórios e aqueles de que o tribunal tem
conhecimento por virtude do exercício das suas funções. 3 — O juiz não está sujeito às
alegações das partes no tocante à indagação, interpretação e aplicação das regras de direito.”
247 SOUSA, Miguel Teixeira de. Algumas questões sobre o ónus de alegação e de impugnação
em processo civil. Scientia Ivridica. Braga. V.62,n.332, p.397, maio/agosto 2013. 395-400
248 Artigo 117 do Codice di Procedura Civile: Art. 117. (Interrogatorio non formale delle parti). Il
giudice, in qualunque stato e grado del processo, há facoltà di ordinare la comparizione personale
delle parti in contraddittorio tra loro per interrogarle liberamente sui fatti della causa. Le part
possono farsi assistere dai difensori.”
249 A crítica sobre a linguagem utilizada nos artigos 334 e 374 e a admissibilidade de provas
nessas situações está desenvolvida no próximo capítulo deste trabalho.
250 Sobre as distinções entre presunção absoluta e ficção legal, cf. GASCÓN ABELLÁN, Marina.
Los hechos em el derecho: bases argumentativas de la prueba. Madrid: Marcial Pons, 1999.
83
251 “De um modo geral, as leis foram escritas sob essa intuição e os procedimentos com ela
corroboram e para ela tendem. [...] a mentalidade jurídica em nosso país adota, em regra, nas
peças processuais configuradas como ‘sínteses’ do raciocínio jurídico, justamente o mesmo
silogismo que é tão atacado na academia”. (BECKER, L. A. Qual é o jogo do processo?. Porto
Alegre: Fabris, 2012, p. 526-527).
252
GRECO, Leonardo. Instituições de processo civil, volume II. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense,
2015.p.262.
253 FERRER BELTRÁN, JORDI. La valoración de la prueba: verdade de los enunciados
probatórios y justificación de la decisión. In: FERRER BELTRÀN, Jordi. Et aliii (coord). Estudios
sobre la prueba. Ed. Universidad Nacional Autónoma de México, 2006, p.25-26.
254
PISANI, Andrea Proto. Lezioni di diritto processuale civile. 5 ed. Napoli: Jovene editore,
2006,p.467, V.
255 BARBOSA MOREIRA, José Carlos. As presunções e a prova. In: Temas de direito processual.
dos litigantes e este fique impedido de produzir prova para contra-atacar o que
se presumiu. As garantias constitucionais estariam à margem daquele processo.
256
GRECO, Leonardo. Instituições de processo civil, volume II. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense,
2015.p.263.
257 GRECO, Leonardo. Instituições de processo civil, volume II. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense,
2015.p.262.
258 Não são regras de direito processual sobre prova – são experiências da vida, com certo índice
de probabilidade [...]. Os juízes devem abster-se de citá-las como regras jurídicas, perturbando
a elaboração normal do direito e criando confusão na consciência jurídica do povo”. (MIRANDA,
Francisco Cavalcanti Pontes de. Comentários ao código de processo civil, tomo II. Rio de Janeiro:
Forense, 1973, p. 382).
85
259 SANTOS, Moacyr Amaral. Prova judiciária no cível e no comercial, vol. I. São Paulo: Max
Limonad, 1952. p. 164.
260
CREDIDIO, Georgius Luís Argentini Príncipe. Regras de experiência e motivação das
decisões no processo civil. São Paulo: LTr, 2012. p. 73
261
Luigi Ferrajoli, dividem didaticamente o positivismo em dois momentos: o positivismo
exegético e o positivismo normativista, encabeçado por Hans Kelsen e trabalhado por Hebert
Hart, Alf Ross, dentre outros. (FERRAJOLI, Luigi. Derecho y razón: teoria Del garantismo penal.
Madrid: Trotta, 1988, passim.)
262 “(1) [...] as leis são comandos de seres humanos; (2) [...] não existe uma conexão necessária
entre o direito e a moral, ou entre o direito como é e o direito como deveria ser; (3) [...] a análise
ou o estudo dos significados dos conceitos jurídicos é um estudo importante que deve distinguir-
se das pesquisas históricas, das pesquisas sociológicas e da apreciação crítica do direito em
termos de moral, finalidades sociais, funções, etc.; (4) [...] um sistema jurídico é um ‘sistema
lógico fechado’ em que as decisões corretas só podem deduzir-se das regras jurídicas
predeterminadas através de meios lógicos; [5] os juízos morais não podem determinar-se como
podem as afirmações de fato, através de argumento racional, demonstração ou prova.” HART,
Hebert. L. A. O conceito de direito. Lisboa: Calouste Gubenkian, 1994, pp.287/288.
263
SILVA, Ovídio Araújo Baptista da. Processo e ideologia. Rio de janeiro: Forense, 2004, p. 24
86
264 KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. São Paulo: Martins Fontes, 1985, p.387.
265 Francesco Carnelutti afirma que “ quem examina o documento de uma decisão lê na
realidade um discurso, o queal, em termos atuais, se chama de raciocínio, e em termos científicos
ganha o nome de silogismo, no qual a premissa maior é constituída da norma jurídica, a premissa
menor do fato, e a conclusão da aplicação daquela a este” (CARNELUTTI, Francesco. Diritto e
processo. Napoli: Morano, 1958, p.213).
266 Art. 375. O juiz aplicará as regras de experiência comum subministradas pela observação do
268
“Justamente por serem regras fundadas em conhecimentos comuns, incluem na sua
formulação elementos vagos, heterogêneos, mutáveis e ambíguos, confundindo-se muitas vezes
com generalizações sem qualquer fundamento, preconceitos, julgamentos morais, vulgarizações
pseudocientíficas, que hoje em dia são difundidos com frequência pelos meios de comunicação,
assumindo indevidamente a condição de regras certas e universais, qualidades que em alguns
casos não possuem”. (GOMES FILHO, Antônio Magalhães. A motivação das decisões penais.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. p. 136).
269 PESSOA, Flávia Moreira Guimarães. Máximas de experiência no processo
civil.Acaraju,SE:Evocati, 2006, p.64-71; SILVESTRE, Gilberto Fachetti. As máximas de
experiência no processo civil. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011. P.1-27.
270Do original em italiano: “Si tratta di una nozione amplissima ed indefinita, nella quale rientrano
‘cose’ quanto mai eterogenee che vanno da leggi naturali e logiche a nozioni scientifiche, da
genralizzazioni empiriche a regole del senso comune, da frequenze statistiche a nozioni
volgarizzate e superficiali di psicologia, etica, economia, sociologia, ecc”. (PISANI, Andrea Proto.
Lezioni di diritto processuale civile. Napoli: Jovene, 1999, p. 444).
271 ROSITO, Francisco. Direito probatório: as máximas de experiência em juízo. Porto Alegre:
julgou o caso afirmando que ‘dificilmente uma mãe moveria uma ação contra um
filho se não estivesse plenamente certa de estar com a razão’.272
272 SILVA, Ana de Lourdes Coutinho. Motivação das decisões judiciais. São Paulo: Atlas, 2012.
p. 126
273
TARUFFO, Michele. Uma simples verdade: o juiz e a construção dos fatos. Tradução Vitor
de Paula Ramos. São Paulo: Marcial Pons, 2012, p. 81
274
STEIN, Friedrich. El conocimiento privado del juez. 2. ed. Bogotá: Temis, 1999. p. 27.
89
275 SCHMITZ, Leonard. Quem não chorar no enterro da própria mãe corre o risco de ser
condenado à morte. O (ab)uso de máximas de experiência na valoração e interpretação
probatória. Academia Edu.
https://www.academia.edu/19105573/QUEM_N%C3%83O_CHORAR_NO_ENTERRO_DA_PR
%C3%93PRIA_M%C3%83E_CORRE_O_RISCO_DE_SER_CONDENADO_%C3%80_MORTE
_O_ab_uso_de_m%C3%A1ximas_de_experi%C3%AAncia_na_valora%C3%A7%C3%A3o_e_i
nterpreta%C3%A7%C3%A3o_probat%C3%B3ria , acesso 13 de março de 2016.
90
276 RICCI, Gian Franco. Nuovi rilievi sul problema dela ‘specificita’ dela prova giuridica. In:
Rivista Trimestrale di Diritto e Procedura Civile. Milano: Giuffrè, ano LIV, p. 1148.
277 FERREIRA. William Santos. Princípios Fundamentais da Prova Cível. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2014.p. 304
91
O rol trazido pelo artigo 374, do CPC/2015 apenas enumera os fatos que
independem de prova, ou seja, este determinado fato y não precisa ser provado
por quem o aproveita.278 Nada impede, porém, que a parte não beneficiada
exerça seu direito de provar para afastar hipótese até então considerada
válida.279
É também por isso que importa a distinção entre fato que independe de
prova e fato provado, assim considerado como aquele admitido pelo julgador no
momento do julgamento.280
278 A regra de desnecessidade de prova tem estreita relação com a economia processual. Arruda Alvim,
ao tratar da notoriedade, deixa claro este fundamento: “ (...) já que a atividade que se desenvolveria não
teria sentido, pois o que se quer saber já é sabido, ou sem atividade probatória pode ser verificada
facilmente pelo juiz” ARRUDA ALVIM NETTO. José Manoel. Manual de Direito Processual Civil, 16ª
ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012, Segunda Parte, capítulo XX, nº 195, p. 990
279 MARQUES, José Frederico. Manual de direito processual civil. 10ª ed. São Paulo:
Saraiva,1989, v. 2, Capítulo XV, § 64, item 450, p. 183
280 FERREIRA. William Santos. Princípios Fundamentais da Prova Cível. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2014.p. 305
281 C.f. CARNELLI. Lorenzo. O fato notório. Tradução de Grico Maciel. RJ: José Konfino, 1957.
P. 260.; LUCON. Paulo Henrique dos Santos. In: CRAMER. Ronaldo. CABRAL. Antonio dos
Passos (coord.). Comentários ao novo Código de Processo Civil. p.374.
92
282 “Notorio non è ciò che effetivamente è noto, ma ciò che può esser noto per via scienza
pubblica e comune”. (CHIOVENDA, Giuseppe. Principii di Diritto Processuale Civil. Nápoli:
Jovene Editore, 1965. P. 733/734)
283 ARRUDA ALVIM NETTO. José Manoel. Manual de Direito Processual Civil, 16ª ed., São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2012, Segunda Parte, capítulo XX, nº 195, p. 990
284 “Observe-se que o fato notório não precisa ser do conhecimento de todos aqueles que vivem
no país em que o juiz exerce jurisdição, bastando que seja conhecido por aqueles que estão na
região que o fato teria ocorrido. Dessa forma, ainda que o mérito venha a ser apreciado por
julgador que não vive na região em que o fato notório teria ocorrido, é suficiente que ele seja de
“conhecimento geral” em determinado lugar e espaço do tempo”. (MARINONI. Luiz Guilherme.
93
É possível afirmar, portanto, que fato notório não pode ser aquele de
conhecimento privativo do juiz, ou ainda que parta da sua observação pessoal,
porque presenciou ou presencia aquela situação fática.285
Fato notório não é fato provado286; não é também fato provável ou ainda
fato evidente. O conceito de notoriedade não corresponde, portanto, à
probabilidade ou verossimilhança.287
Neste sentido, por exemplo, se uma cidade é acometida por uma queda
súbita de energia, é provável que este apagão tenha causado danos patrimoniais
MITIDIERO. Daniel. Código de Processo Civil Comentado artigo por artigo, Editora Revista dos
Tribunais, SP, 2008, p. 337-8.)
285 FERREIRA. William Santos. Princípios Fundamentais da Prova Cível. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2014.p. 305.
286 “O juiz não pode considerar como provado, só porque é considerado como certo na opinião
pública, não devendo ser recebida a doutrina.” (FARIA. S. Soares de. Principaes teorias relativas
ao ônus probandi. São Paulo: Empreza Graphica da Revista dos Tribunais. 1936. P.38)
287 “Dizem-se notórios os fatos ‘conhecidos’, sem ser pela prova feita, não porque estejam na
ciência privada do juiz, porém como fato que ele deva conhecer. Não há, pois, exceção ao
princípio de que o juiz não pode julgar, quanto ao tema probatório, pelo que conhece de ciência
própria”. (MIRANDA, Pontes de. Comentários ao código de processo civil; atualização legislativa
de Sérgio Bermudes, tomo IV. 3ª edição. Rio de Janeiro: Forense, 1996. p. 274).
288 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART. Sérgio Cruz. Prova e convicção: de acordo com
o CPC de 2015. 3. Ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015.p. 137.
289 COMOGLIO, Luigi Paolo; FERRI, Corrado; TARUFFO, Michele. Lezioni sul processo civili.
2.ed. Bologna: Il Mulino, 1995,p.510
94
“homem médio” situado no lugar e no momento em que a decisão é proferida, assim como, por
exemplo, eventos da vida social, política e econômica”. (MARINONI, Luiz Guilherme.
95
ARENHART. Sérgio Cruz. Prova e convicção: de acordo com o CPC de 2015. 3. Ed. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2015.p. 136)
293 COMOGLIO, Luigi Paolo; FERRI, Corrado; TARUFFO, Michele. Lezioni sul processo civile. 2.
por Lisa Pary Scarpa. Campinas: Bookseller Editora e Distribuidora, 2003. P.303
96
[...]
296 TJ-RS, Relator: Miguel Ângelo da Silva, Data de Julgamento: 03/04/2013, Vigésima Quinta
Câmara Cível.
297 TJ/RS Apelação nº. 70018550038, j. 23-10-2007
298 Cf. SCHMITZ. Leonard Ziesemer. Fundamentação das decisões judiciais: a crise na
construção de respostas no processo civil. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais.2015
99
299 Leonard Ziesemer Schmitz, ao tratar da questão da fundamentação das decisões judiciais
demonstra sua preocupação com a fundamentação com base em precedente. O voto citado não
trata propriamente de fundamentação com base em precedente, mas atribuição de notoriedade
a um fato “a vista das milhares de demandas propostas contra o Estado”. Porém, da mesma
forma a preocupação do autor, não atendida por aquele Relator, é pertinente: “será possível
perceber que a redução do conteúdo de um “precedente” a um texto curto e resumido obriga o
julgador a reconstruir o sentido daquele “precedente” para o seu caso concreto, sob o risco de
utilizar julgados descontextualizados (e que, portanto, não poderiam ter força normativa no caso)
como auxílio argumentativo”. (Cf. SCHMITZ. Leonard Ziesemer. Fundamentação das decisões
judiciais: a crise na construção de respostas no processo civil. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais.2015, p. 208).
300 “(...) o precedente é uma decisão de um Tribunal com aptidão a ser reproduzida-seguida pelos
tribunais inferiores, entretanto, sua condição de precedente dependerá de ele ser efetivamente
seguido na resolução de casos análogos-similares. (STRECK. Lênio Luiz; ABBOUD. Georges.
O que é isto – o precedente judicial e as súmulas vinculantes? Porto Alegre: Livraria do
Advogado, Editora, 2013.p. 42.).
100
Por tudo que foi dito, o thema probandum , como já vimos, deve ser
composto de fatos duvidosos e incertos. De tal forma, do que se alega ser notório
apenas não caberá prova se: (i) o fato foi aceito como notório pelas partes; (ii)
apesar de negar a carga de notoriedade, a parte adversa aceita o fato como
verdade, tornando-o incontroverso; (iii) o fato em questão, notório ou não, não é
relevante para o julgamento da causa.
Por outro lado, sempre deverá ser admitida a produção de provas sobre
o fato notório, quando as partes, usualmente àquela cuja notoriedade lhe
prejudica, negar o fato ou ainda a sua notoriedade. Nesta situação, o thema
probandum deverá ser o próprio fato e não a sua notoriedade, uma vez que neste
momento, esta será irrelevante.
CPC de 2015. 3. Ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015.p. 136
303 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART. Sérgio Cruz. Prova e convicção: de acordo com o
CPC de 2015. 3. Ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015.p. 136
101
Essa qualidade sobre o fato deixa de ser relevante, pois pouco importa se
o fato é ou não notório, uma vez que para as partes foi oportunizada a dilação
probatória que terá o condão de evidenciar as afirmações trazidas aos autos.
Essa produção probatória rege-se pela fase probatória ordinária304, idêntica
àquela utilizada para confirmação das afirmações de fato feita pelas partes.
Por outro lado, caso a notoriedade seja incontroversa, o réu ainda pode
afirmar a falsidade da convicção daqueles que têm o fato como verdadeiro, ainda
que não negue a existência da notoriedade. Para Luiz Guilherme Marinoni e
Sérgio Cruz Arenhart, nesse caso, o juiz pode entender que o fato, ainda que
notório, deve ser provado, quando então deverá ser provado o próprio fato, uma
vez que a sua notoriedade (conhecimento geral) é incontroversa.305
304
Artigo 369 e seguintes.
305
MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART. Sérgio Cruz. Prova e convicção: de acordo com o
CPC de 2015. 3. Ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015.p. 136
102
306 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 6.ª ed., vol.
3.p.245
307 TORNAGHI, Helio Bastos. Compêndio de Processo Penal, vol. III, p. 842.
308 FERREIRA. William Santos. Princípios fundamentais da prova cível. São Paulo: Editora
atuais da prova civil. Revista de Processo.n. 53. São Paulo, jan./mar.1989; FERREIRA. William
Santos. Princípios fundamentais da prova cível. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2014.
P. 183 e ss.
310 “A confissão (do réu) se refere a fatos e distingue-se do reconhecimento jurídico do pedido,
quando são aceitas consequências jurídicas. Na confissão o processo não se extingue, devendo
ser proferida uma sentença, que muito provavelmente tomará a confissão como uma prova
fundamental. Já no reconhecimento jurídico do pedido, como são aceitos não só os fatos, mas
também as consequências jurídicas, extingue-se o processo, e, por isso, com sentença
necessariamente favorável à parte contrária. A confissão não obriga sempre o magistrado (art.
371 do CPC/2015), ao passo que o reconhecimento do pedido produz efeitos vinculativos no
tocante à declaração das consequências jurídicas afirmadas pelo autor e admitidas pelo réu,
desde que objetivamente disponível o bem jurídico, e, subjetivamente, sendo a parte capaz (de
dispor do seu “direito”). (ALVIM. Arruda. Novo contencioso cível no CPC/2015. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2016. P.265)
311 “(...) a confissão pode apenas torna desnecessária a realização de produção de prova, já no
313 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sergio Cruz. Prova e convicção: de acordo com
o CPC de 2015. 3. Ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015.p.137
314
FERREIRA. William Santos. Princípios fundamentais da prova cível. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2014. P. 307 -308.
315
MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sergio Cruz. Prova e convicção: de acordo com o
CPC de 2015. 3. Ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015.p.139.
316
O Superior Tribunal de Justiça editou súmula a fim de proteger o menor confitente de seus
próprios atos. O enunciado da súmula n. 342 diz: “no procedimento para aplicação de medida
sócio-educativa, é nula a desistência de outras provas em face da confissão do adolescente.” O
enunciado impede que confitente e o Ministério Público desista da produção de outras provas
em razão a confissão do menor.
105
vez que ao depoente contumaz ou que se negasse a depor era aplicada a “pena
de confesso”, inclusive, se o confitente falecesse a pena não era transmitida ao
seus herdeiros.317
317
FERREIRA. William Santos. Princípios fundamentais da prova cível. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2014. P. 308.
318
MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sergio Cruz. Prova e convicção: de acordo com o
CPC de 2015. 3. Ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015.p.138.
319 Artigo 391
320
ALVIM. Arruda. Novo contencioso cível no CPC/2015. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2016. P.264
106
321 Em caso de erro ou coação a confissão pode ser anulada nos termos do artigo 393 do
CPC/2015
322
FERREIRA. William Santos. Princípios fundamentais da prova cível. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2014. P. 309.
323
ALVIM. Arruda. Novo contencioso cível no CPC/2015. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2016. P.265
107
2. Limitações Probatórias
324
FERREIRA. William Santos. Princípios fundamentais da prova cível. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2014. P. 310.
108
325
GRECO, Leonardo. Instituições de processo civil, volume II. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense,
2015.p.135
326
GRECO, Leonardo. Instituições de processo civil, volume II. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense,
2015.p.133.
327 No ano de 2002, há mais de uma década, em artigo intitulado “Civil procedure by contract:
a convoluted confluence of private contract and public procedure in need of congressional
control”, David H. Taylor e Sara M. Cliffe já abordavam, à luz do direito americano, a validade de
cláusulas contratuais ex ante limitando determinados meios de prova (“what evidence may or
may not be presented as proof”). Nos tempos atuais, private resolution e public adjudication
deixaram de ser concebidas como expressões contrapostas. Percebe-se, portanto, o nascer de
uma verdadeira revolução no direito processual brasileiro, a desafiar não apenas antigas
construções teóricas mas também aspectos marcantes da nossa cultura, em especial o
paternalismo estatal. Rememore-se, oportunamente, que, até mesmo no âmbito do processo
penal, são concebidas negociações processuais, como pode ocorrer no seio dos acordos de
109
331 Cf.MAZZEI, Rodrigo. CHAGAS, Barbara Seccato Ruis. Breve diálogo entre os negócios
jurídicos processuais e arbitragem. Revista de Processo, n.237,p.225, nov.2014; MACEDO,
Lucas Buril de; PEIXOTO, Ravi de Medeiros. Negócio processual acerca da distribuição do ônus
da prova. Revista de Processo, n.241,p.463-487
332 “Cabe mencionar que a possibilidade de distribuição diversa do ônus da prova ainda é
possível por convenção das partes, o que já era possível pelo art. 333, parágrafo único do
CPC/73, ampliada pelo CPC/15, com as mesmas exceções já existentes (quando recair sobre
direito indisponível da parte ou quando tornar excessivamente difícil a uma parte o exercício do
direito), como se observa do art. 373 §3º, podendo o acordo ser celebrado antes ou durante a
demanda (§4º). Há, nesses casos, um típico negócio jurídico processual (art. 190 NCPC),
podendo recair sobre qualquer fato, sendo extremamente útil, produzindo efeitos imediatos (art.
200 CPC/15). Ressalta-se que as convenções probatórias não inibem a iniciativa probatória por
parte do magistrado (art. 370 CPC/15). O art. 51, VI do CDC cuida da nulidade de tal convenção
que imponha ao consumidor o ônus de provas suas alegações. Trata-se, a rigor, como se
existisse um terceiro inciso no art. 373 §3º do CPC/15”. (LOURENÇO, H. Direito Probatório no
CPC/15. p. 11. Disponível em: http://www.haroldolourenco.com.br/artigos/direitoprobatorio.pdf.
Acesso em: 12 de jan. 2017).
333 Em sentido contrário a admissibilidade do negócio jurídico processual no CPC/73, cf.
KOMATSU, Roque. Da invalidade no processo civil. São Paulo: Ed.RT,1991, p.140-141.
334
AMARAL, Paulo Osternack. Provas: atipicidade, liberdade e instrumentalidade. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2015, p. 134.
335 O CPC/73 permitia o negócio jurídico processual em casos típicos, ou seja, previstos e pré
determinados pela lei, diferentemente do que acontece no CPC/15, em que as partes podem
convencionar com mais autonomia, como trataremos nesse tópico. O CPC/15 não extirpou os
negócios processuais típicos que se mantem presentes no código, como por exemplo, a escolha
consensual do perito (art.471).
111
339
PASSO CABRAL, A. do. A resolução n. 118 do Conselho Nacional do Ministério Público e as
convenções processuais. In PASSO CABRAL, A. do; NOGUEIRA, P. H. (coord.). Negócios
processuais. Juspodivm, 2015. p. 550.
340 O juiz não é parte dos negócios jurídicos processuais atípicos mas pode ser nos negócios
típicos, como é o caso da fixação do calendário, situação em que o magistrado passa a exercer
papel de relevância pois o acordo das partes impacta diretamente a sua atuação judicante.
341 YARSHELL, Convenção das partes em matéria processual: rumo a uma nova era? Negócio
processuais. CABRAL, Antonio do Passo; DIDIER JR.,Fredie; NOGUEIRA, Pedro Henrique
(coords.). Salvador: JusPodivm, 2015, p.67
342 “A despeito das limitações dos negócios jurídicos processuais, o Enunciado 37 do ENFAM,
estabelece que “são nulas, por ilicitude do objeto, as convenções processuais que violem as
garantias constitucionais do processo, tais como as que: a) autorizem o uso de prova ilícita; b)
limitem a publicidade do processo para além das hipóteses expressamente previstas em lei; c)
modifiquem o regime de competência absoluta; e d) dispensem o dever de motivação” (SANTOS
FERNANDES, F. do. Negócio jurídico pré-processual no Novo Código De Processo Civil.
Disponível em: https://fsfadv.jusbrasil.com.br/artigos/405020760/negocio-juridico-pre-
processual-no-novo-codigo-de-processo-civil?ref=topic_feed. Acesso em: 12 de jan. 2017)
113
343 Enrique Vésovi afirma que dentro dos atos processuais é possível encontrar os atos
unilaterais mas também os atos bilaterais, e bilaterais que importam em um contrato processual.
O autor ensina que no Uruguai a ‘ley de Abreviación de los juicios (núm. 13.355, de1965), assim
como o CPC/15, permite as partes designarem o perito de comum acordo. (VÉSCOVI, Enrique.
Teoría General del Processo. 2.ed. Santa Fé de Bogotá: Temis, 1999, p.217).
344 “A ideia de realização de negócios que tenham por objeto normas processuais – ou o
comportamento das partes no processo – causa forte estranheza ao jurista brasileiro. Nunca
antes a legislação processual civil concebera a possibilidade tão ampla de celebração, até
mesmo de negócios atípicos, que desafiam a criatividade humana. Apenas a título de exemplo,
é possível imaginar a negociação sobre a escolha de peritos, atos de comunicação por meios
atípicos (SMS, WhatsApp, Telegram etc.), limitação a número de testemunhas e possibilidade
de depoimento colhido por escrito, renúncia a recursos, supressão de instâncias por convenção,
repartição atípica de custas, supressão da execução provisória, condicionamentos à execução
etc.” (ASSIS RODRIGUES, G. de (Org.); ANJOS FILHO, R. N. de (Org.). Reflexões sobre o
Código de Processo Civil. ESMPU. Brasília, v. 2, 2016, p. 61. Disponível em:
https://escola.mpu.mp.br/linha-editorial/outras-
publicacoes/PG%20Reflexoes%20sobre%20o%20novo%20final_Volume_2.pdf. Acesso em: 12
de jan. 2017)
114
345
AMARAL, Paulo Osternack. Provas: atipicidade, liberdade e instrumentalidade. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2015, p. 142.
346
TARUFFO, Michele. Verdade negociada? Trad. Pedro Gomes de Queiroz. Revista Eletrônica
de Direito Processual. Rio de Janeiro, 2014, v.XIII,p.634-657
347 “Salta aos olhos que não há uma vedação absoluta aos negócios jurídicos processuais nessas
demandas, posto que podem versar sobre questões que em nada atentariam contra o interesse
público, a exemplo de uma convenção para distribuir o tempo de sustentação oral entre as partes
e os interessados, de forma diversa da prevista no art. 984, II, a e b, do CPC/2015. Mas, e uma
convenção processual que venha a restringir a produção de provas ou a delimitar restritivamente
as questões de fato e de direito relevantes para a decisão do mérito (organização negociada do
115
processo, art. 357, § 2º, do CPC/2015)? A questão se torna mais clara, formulando-se a pergunta
nos seguintes termos: um processo em que, no primeiro grau de jurisdição, fora celebrado
negócio jurídico processual para restringir a produção de provas ou para delimitar restritivamente
as questões de fato e de direito relevantes à decisão do mérito, pode dar origem a um incidente
de resolução de demandas repetitivas? Pode ser afetado para o julgamento sob o rito dos
recursos repetitivos? Pode ser objeto do incidente de assunção de competência? Ao ver deste
articulista, um processo em que o juízo de cognição fora restringido em virtude de negócio
jurídico processual não pode dar origem a um incidente de resolução de demandas repetitivas,
não pode ser afetado para o julgamento sob o rito dos recursos repetitivos, assim como não pode
ser objeto do incidente de assunção de competência.” (ATAÍDE JÚNIOR, J. R. de. Negócios
Jurídicos Materiais e Processuais – Existência, Validade e Eficácia - Campo-invariável e
Campos-dependentes: sobre os limites dos negócios jurídicos processuais. Revista de Processo,
Ano 40, v. 244: Ed. Thomson Reuters – Revista dos Tribunais, Instituto Brasileiro de Direito
Processual - IBDP, Coordenação Geral: Teresa Arruda Alvim Wambier, p. 119-120, jun. 2015.
Disponível em: http://www.bvr.com.br/abdpro/wp-content/uploads/2016/03/Artigo-Negocios-
Juridicos-Processuais.pdf. Acesso em: 12 de jan. 2017)
116
e não negociem a fim de limitar o direito ou dever-poder (in casu) daqueles que
não são parte na negociação.
processuais por meio de seu patrono, é o que diz o artigo 346, parágrafo único,
do CPC/2015.
350 ALVIM, ARRUDA. Novo contencioso no CPC/2015. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2016. P. 225.; A palavra “fundamento” que se lê do dispositivo não deve ser entendida
como sinônimo de “causa de pedir”. O art. 10 não está a autorizar que a causa de pedir seja
alterada pelo magistrado desde que as partes sejam previamente ouvidas. À hipótese,prevalece
o regime e os limites temporais do art. 329, de forma mais ampla, do princípio da vinculação do
juiz ao pedido, extraível desde o art. 2º e estampado no art. 141 do CPC de 2015. Por isso
mesmo, importa compreender “fundamento” como sinônimo de “argumento”, de “razões” ou de
“motivos” que se mostrem, respeitados os limites objetivos do processo (pedido e causa de pedir)
aptos para justificar a decisão a ser tomada pelo magistrado, em um e em outro sentido. É sobre
esse argumento (ou sobre essas razões) que as partes devem ser ouvidas. Após sua discussão
específica, segue-se a decisão”. (BUENO, Cassio Scarpinella. Manual de direito processual civil
: inteiramente estruturado à luz do novo CPC – Lei n. 13.105, de 16-3-2015 / Cassio Scarpinella
Bueno. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 105).
351 “O princípio do contraditório é uma exigência política do processo. Todo poder exercido
sobre alguém tem, como importantíssimo fator de legitimação, a participação da pessoa sujeita
a ele, dos destinatários do ato em que resultará o processo. Deve participar na preparação, na
gestação desse ato.”(DINAMARCO, Cândido Rangel. O ônus de contestar do réu revel. Revista
de Processo | vol. 41/1986 | p. 185 - 197 | Jan - Mar / 1986 Doutrinas Essenciais de Processo
Civil | vol. 3 | p. 943 - 959 | Out / 2011)
352 art. 485, §4 º, do CPC/2015
118
353 Enunciado 231 da Súmula do STF: “O revel, em processo civil, pode produzir provas, desde
que compareça em tempo oportuno”. É também o que dispõe o artigo 349 do CPC/2015: “Art.
349. Ao réu revel será lícita a produção de provas, contrapostas às alegações do autor, desde
que se faça representar nos autos a tempo de praticar os atos processuais indispensáveis a essa
produção.”
354 BRESOLIN, Umberto Bara. Revelia e seus efeitos. São Paulo: Atlas, 2006, p. 175-176
355 Apesar de serem dois os efeitos da revelia (não intimação dos atos subsequentes e
presunção de veracidade) a lei utiliza a palavra no singular. V. artigo 345 do CPC/2015. E quando
assim o faz (uso no singular) remete-se ao efeito da presunção. DINAMARCO, Cândido Rangel.
O ônus de contestar do réu revel. Revista de Processo | vol. 41/1986 | p. 185 - 197 | Jan - Mar /
1986 Doutrinas Essenciais de Processo Civil | vol. 3 | p. 943 - 959 | Out / 2011
356 “Eu digo chamada presunção de veracidade, para ressalvar que não concordo inteiramente
com esta idéia. Acredito que dentro de um extremo rigor técnico, não se trata de presunção.
DINAMARCO, Cândido Rangel. O ônus de contestar do réu revel. Revista de Processo | vol.
41/1986 | p. 185 - 197 | Jan - Mar / 1986 Doutrinas Essenciais de Processo Civil | vol. 3 | p. 943
- 959 | Out / 2011
357 Sobre esse tema, Teresa Arruda Alvim Wambier, diz que as partes por meio da
argumentação, deduzem pontos; estes pontos, quando controvertidos transformam-se em
questões. WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. A influência do contraditório na convicção do juiz:
119
fundamentação de sentença e de acórdão. Revista de Processo, vol. 168. São Paulo: RT,
fev/2009, p. 55.
358 DINAMARCO, Cândido Rangel. O ônus de contestar do réu revel. Revista de Processo | vol.
41/1986 | p. 185 - 197 | Jan - Mar / 1986 Doutrinas Essenciais de Processo Civil | vol. 3 | p. 943
- 959 | Out / 2011
359 Cabe a ressalva quanto a possibilidade de prova para afastar a notoriedade do fato,
conforme trataremos no Capítulo 3.
360 FERREIRA, William Santos. Princípios Fundamentais da Prova Cível. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2014. P.312. Posição idêntica de GOES, Gisele Santos Fernandes. A
confissão ficta como presunção relativa: a postura do magistrado e o direito à prova, in Direito
Civil e Processo, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2014,p.928 Em sentido contrário:
AMARAL SANTOS, Moacyr. Comentários ao Código de Processo Civil, vol.4, p.20.
361 BARBOSA MOREIRA, José Carlos. As presunções e a prova. Temas de direito processual.
São Paulo: Saraiva, 1977, p.57.
362 FERREIRA, William Santos. Princípios Fundamentais da Prova Cível. São Paulo: Editora
William Santos. Princípios Fundamentais da Prova Cível. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2014. P.266.
364 “Isso soa como uma negação do próprio sistema, pois a lei diz que se presumem verdadeiros
os fatos, sendo o réu revel. Se considerar a presunção relativa, que vantagem o autor tem? É
muito comum esta indagação e eu a respondo com uma pergunta: E por que o autor precisa ter
alguma vantagem? Na verdade, o que a lei quer é fazer com que o processo cumpra rapidamente
suas funções sociais e, portanto, não está disposta a se sujeitar a esperas indeterminadas
sancionando por isso a omissão, embora não chegue ao ponto de querer distorcer o sentido de
justiça e o sentido de instrumentalidade do processo.” DINAMARCO, Cândido Rangel. O ônus
de contestar do réu revel. Revista de Processo | vol. 41/1986 | p. 185 - 197 | Jan - Mar / 1986
Doutrinas Essenciais de Processo Civil | vol. 3 | p. 943 - 959 | Out / 2011
365 Sobre a limitação probatória do réu, diz Eduardo J. Couture: “a limitação da prova do revel
significa retirar um dos atributos do sistema probatório: a reciproca oposição no debate das
provas.” Tradução livre, do original em espanhol: “La privación de prueba al rebelde significa
desnaturalizar uno de los atributos del sistema probatorio: el de la recíproca oposición, en el
debate y en las pruebas, de ambas partes” (COUTURE, Eduardo J. Fundamentos del derecho
procesal civil. 4. ed. Montevideo: BDEF, 2005, p. 185)
366 AMARAL, Paulo Osternack. Provas: atipicidade, liberdade e instrumentalidade. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2015. P.64
367
BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Provas Atípicas. RePRo, 1994, p.114
121
368
ALEXANDRE, Isabel. Provas ilícitas em processo civil. Coimbra: Almedina, 1998. p. 34-35
369 Mauro Cappelletti empregou a expressão “prova atípica” pela primeira vez em 1955.
CAPPELLETTI, Mauro. Il giuramento dela parte nel processo litisconsortile. Rivista trimestrale di
diritto e procedura civile. Milão, anno IX, p. 1.176,1955
370 (FERREIRA, William Santos. Princípios Fundamentais da Prova Cível. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2014.P. 60)
371 “Vale dizer, a tipicidade probatória no processo civil será aferida sob duas perspectivas:
previsão do meio de prova no processo civil e previsão do respectivo procedimento para a
colheita da prova no processo”. (AMARAL, Paulo Osternack. Provas: atipicidade, liberdade e
instrumentalidade. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. P.65)
372 MEDINA, José Miguel Garcia. Código de processo civil comentado. São Paulo: Ed. RT,
2011,p. 328; AMARAL, Paulo Osternack. Provas: atipicidade, liberdade e instrumentalidade. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. P.65. Já tivemos oportunidade de comentar a posição
contrária, alinhada a posição do Barbosa Moreira, William Santos Ferreira defende o “princípio
da atipicidade” sob a perspectiva do procedimento. FERREIRA, William Santos. Princípios
Fundamentais da Prova Cível. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2014.P. 60
122
373 BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Provas Atípicas. RePRo, 1994, p.115.
374 CAVALLONE, Bruno. Critica della teoria delle prove atipiche. Rivista di diritto processuale,
Padova, n.4 (anno XXXIII), p. 679-740, out.-dez.1978
375 BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Provas Atípicas. RePRo, 1994, p.114
376 FERREIRA, William Santos. Princípios Fundamentais da Prova Cível. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2014.P. 65
377 A exigência de prejuízo para decretação da nulidade deve ser privilegiada, isso porque, não
deve haver espaço no processo civil moderno para manobras das partes, estrategias maliciosas
de silêncio para alegação futura de nulidade. Se não houver prejuízo à parte, a proteção
conferida pela norma não se desviou do seu destino; e se não houve efetiva comprovação do
123
prejuízo o processo não precisa ter seu curso interrompido pela decretação da nulidade. Sobre
a necessidade de comprovação do prejuízo, Antonio do Passo Cabral já se manifestou a respeito:
“cabe salientar que, para haver decretação da nulidade, o prejuízo não deve ser apenas alegado,
mas efetivamente provado. Impõe-se a sua demonstração no caso concreto pela parte a quem
interesse a invalidação”. (CABRAL, Antonio do Passo. Nulidades no Processo Moderno:
Contraditório, Proteção da Confiança e Validade Prima Facie dos Atos Processuais. Rio do
Janeiro: Forense, 2009, p.58).
378 In un ordinamento, infatti, nel quale sia configurato un sistema probatorio "chiuso" - numerus
clausus di (tipici) mezzi di prova -, la norma che assume valore fondamentale e determinante è
quella che pone, appunto, quella chiusura,escludendo a priori ogni effeto probatorio di quegli atti,
fatti, cose o argomenti, che pur non essendo specificamente configurati come prove della legge,
potrebbero tuttavia, nel caso concreto, essere in grado di esplicare un più o meno penetrante
influsso sul convincimento del giudice laddove vigesse effettivamente il principio del libero
convincimento giudiciale". Tradução livre: “Em uma espécie, de fato, em que está configurado
um sistema de estágio "fechado" - o limite quantitativo (típico) provas -, a regra é de valor
fundamental e decisiva é a que surge, é claro, que estreita, excluindo a priori qualquer provas
effeto desses actos, eventos, coisas ou temas, que, embora não especificamente configuradas
como evidência da lei, pode, no entanto, neste caso, ser capaz de exercer uma influência mais
ou menos generalizada na convicção do juiz se de fato o princípio vigesse o princípio do livre
convencimento.” (CAPPELLETTI, Mauro. "La testemonianza della palte nel sistema dell'oralità".
Milão: Giuffre, Primeira Parte, 1962, p.270).
379 FERRARI, Francesca. La “prova migliore”. Milão: Giuffrè, 2004.p.347
380 “A prova atípica é então colocada em stand-by e só será utilizada se for relevante em relação
ao fato probando e ao contexto probatório já existente no processo (não existir uma prova típica
melhor). Tal método assemelha-se ao best evidence principle, examinando concretamente a
legitimidade e relevância da prova atípica.” (AMARAL, Paulo Osternack. Provas: atipicidade,
liberdade e instrumentalidade. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. P.69)
381 Sobre o tema MARZADURI, Enrico (coord). Le prove. Tomo Primo. Le regole generali sulla
prova. Torino: UTET, 1999, p. 18
382 Il problema dell'ammissibilità della prova atipica va pure risolto in senso affermativo, poiché
una delle conseguenze della mancanza, nel vigente ordinamento, di un principio di tassatività,
124
consiste nella non preclusività delle forme espressamente regolate di acquisizione al giuduzio del
materiale probatorio utilizzabile dal giudice" (TARUFFO, Michele. Prove atipiche e convincimento
del giudice. In Rivista di diritto processuale, parte, 2, vol. 28, 1973. p. 389/434).
383 “Por outro lado, não se pode admitir como provas atípicas as provas que são típicas, mas
que são, ao mesmo tempo, nulas ou inadmissíveis, porque viciadas na sua formação ou
excluídas por normas legais especificas. Não se pode admitir, por exemplo, como prova atípica,
a declaração escrita de ciência produzida por pessoa considerada impedida ou incapaz para
oferecer depoimento testemunhal, bem como o laudo técnico produzido unilateralmente não
pode ser considerado uma prova pericial, na sistemática da lei processual, nem pode ser
valorado como tal”. (CAMBI, Eduardo. Direito constitucional á prova no processo civil. São Paulo:
Revista dos Tribunais. 2001. Vol. 3. p. 150).
384 “(...) a enumeração dos meios de prova, introduzida (de maneira infeliz) pelo art. 212 do CC
(...) não traz um rol exaustivo, mas apenas trata de uma enumeração de meios que o juiz não
pode desconhecer, sendo um rol exemplificativo, além do que a regra do Código Civil apenas
apresenta o que “seriam” os “meios de prova” e não o modo como a prova ingressa no processo,
que é a seara das provas atípicas.” (FERREIRA, William Santos. Princípios Fundamentais da
Prova Cível. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2014.P. 64)
385 NERY JR. Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Comentários ao Código de Processo
Civil. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 2015. P. 983
386 BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Provas Atípicas. RePRo, 1994, p.114
387 William Santos Ferreira trata da atipicidade das provas como princípio. Princípio da
atipicidade da prova, da não taxatividade ou da liberdade da prova são as nomenclaturas
utilizadas pelo autor. (FERREIRA, William Santos. Princípios Fundamentais da Prova Cível. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2014.P. 59)
125
388
GUEDES, Clarissa Diniz. Persuasão racional e limitações probatórias: enfoque comparativo
entre os processos civil e penal. Tese apresentada como requisito parcial para obtenção do título
de doutor perante a Universidade de São Paulo, 2013, p.189.
389 FERREIRA, William Santos. Princípios Fundamentais da Prova Cível. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2014.P. 61.
390 São exemplos de prova atípica a fotografia digital, que apesar de ser prova documental, seu
modo de produção não possui previsão legal. O modo de produção do documento eletrônico que
até a vigência do CPC/2015 não possuía regulamentação e agora encontra-se regulamentado
nos artigos 439 a 441, agora traz a carga de prova típica.
391 GRINOVER, Ada Pellegrini. Prova Emprestada. Revista Brasileira de Ciências Criminais.
vol. 4/1993.
392 “Não será por ter sido o legislador omisso a respeito, ou então porque à época em que foi
feita a lei se desconhecia, cientificamente, um meio de prova, que este não deve ser admitido. O
126
que interessa é que o meio seja jurídico – isto é, não repelido pelo sistema, mas harmônico com
este – como também moralmente lícito” (Manual de direito processual civil, 8. ed., São Paulo:
Ed. RT, 2012, p. 460). Para Sergio Sahione Fadel, para quem “o legislador, ciente disso, não pôs
qualquer limitação à liberdade probatória: exige-se tão somente que os meios sejam legítimos
moralmente, ou então que sejam os legais, isto é, previstos nas leis civis, comerciais,
processuais, penais etc.” (FADEL, Sergio Sahione. Código de Processo Civil comentado, 7. ed.,
Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 411).
393 FERREIRA. William Santos. Princípios fundamentais da prova cível. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2014. p.142
394 NERY JR., Nelson; NERY, Rosa Maria Andrade. Código de processo Civil comentado, 14ª
ed. São Paulo: RT, 2015.p.993.
395 TALAMINI, Eduardo. Prova Emprestada no Processo Civil e Penal. Revista de Informação
Legislativa, n.140, Brasília, out./dez. 2008. P.152
396
“Assim, não integra a noção de prova emprestada a prova produzida no juízo deprecado,
porque este juízo é um prolongamento do primeiro (v.g. a testemunha, não residente no juízo em
que se processa a demanda, por não estar obrigada a sair da sua residência, presta depoimento
no foro onde mora e seu depoimento é considerado como se fosse prestado perante o juiz da
causa.”(CAMBI, Eduardo. A prova civil: a admissibilidade e relevância. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2006,p.53).
397 AURELLI, Arlete Inês. DA admissibilidade da prova emprestada no CPC de 2015. In: Direito
Probatório. (coord.) JOBIM, Marco Félix. FERREIRA, William Santos. Salvador:
Juspodvm,2015.p.394.
127
398 FERREIRA. William Santos. Princípios fundamentais da prova cível. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2014. p.143
399 ARANHA, Adalberto Jose Q. T. de Camargo. Da prova no processo penal. 3ª ed., São Paulo:
Saraiva, 1994, p. 196
400
SILVA, João Carlos Pestana de Aguiar. As Provas no Cível. Rio de Janeiro: Forense, 2003. p.
364.
401
“De qualquer forma, é claro que a prova emprestada poderá não receber a mesma valoração
da obtida no processo em que foi originariamente produzida. As circunstâncias do segundo
processo, as particularidades do empréstimo e mesmo a variação na efetivação do contraditório
podem impor valoração diferente à prova, caso comparada com a força que lhe foi atribuída no
primeiro processo. Tudo isso, logicamente, deverá ser adequadamente examinado e motivado
128
Revista dos Tribunais, 2014. p.144; “Se o fato é o mesmo, ali e aqui, e foi judicialmente
reconhecido como provado no primeiro processo, por que motivo não se atribuir à prova
emprestada ao segundo certa eficácia? A verdade é que todo o elemento probatório, trazido a
um processo, deverá ser estimado e avaliado. Cumpre ao juiz pesá-lo não só isoladamente, nas
suas condições objetivas e subjetivas, como no conjunto, com as demais provas, atendendo ao
fato probando, às alegações das partes, ao direito violado, à norma jurídica invocada, enfim às
circunstâncias que influem na formação do convencimento”. (SANTOS, Moacyr Amaral. Prova
Judiciária no Cível e Comercial. 2 ed. São Paulo: Max Limonad, 1952. p. 298); Ainda em posição
semelhante: “Conquanto admissível a utilização de prova emprestada, caberá ao juiz avaliá-la
segundo o critério da persuasão racional, como, de resto, deve proceder em relação às demais
provas”. (LOPES, João Batista. A Prova no direito processual civil. São Paulo: RT, 2002. p. 65).
403 “(...) deve se diferenciar provas pré-constituídas de provas simples ou casuais. As primeiras
não surgem no processo, existem independentemente deste (pré), não sendo prova emprestada.
Por exemplo, se um documento é juntado em determinado processo, aquele que é parte em
outro poderá obter uma cópia reprográfica e promover a sua juntada, tendo o mesmo valor em
ambos os processos.” (FERREIRA. William Santos. Princípios fundamentais da prova cível. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2014. p.144). Ainda sobre o tema: “Consideram-se
emprestadas apenas as provas casuais e não as pré-constituídas porventura já utilizadas em
129
deve ter sido produzida licitamente, inseridas no devido processo legal, dessa
forma, é essencial a existência do juiz natural.
Ada Pellegrini Grinover afirma que: “não são provas, que o juiz possa
utilizar para a formação de seu convencimento, as que forem produzidas em
procedimentos administrativos prévios ou mesmo em outros processos
jurisdicionais"404. A prova originaria em que figurou juiz constitucionalmente
incompetente não deve ser admitida como prova emprestada, pois o processo
sequer existiu e para haja a prova emprestada é imprescindível a existência de
legitimo processo anterior.405
processo anterior. Quanto a estas últimas, seu valor probatório será sempre o mesmo, qualquer
que seja a natureza do processo em que ela se produza, independentemente do número de
vezes em que isto aconteça. Uma escritura pública, ou mesmo um documento particular, ainda
que já empregado como prova em processo anterior, não serão considerados prova emprestada
quando novamente forem produzidas em processo subseqüente; apenas aquelas formadas no
curso do processo anterior serão consideradas tais, quando utilizadas novamente num segundo
processo”. (SILVA, Ovídio A. Baptista da Silva. Curso de Processo Civil. Vol. I. Porto Alegre: S.A.
Fabris, 1987. p. 296)
404 GRINOVER, Ada Pellegrini. Prova Emprestada. Revista Brasileira de Ciências Criminais.
vol. 4/1993.
405 GRIONOVER, Ada Pellegrini; MAGALHÃES, Antonio; SCARANCE, Antonio. As nulidades
no processo penal. 12 edição, São Paulo: Malheiros, 2012. P. 38-42.
406AURELLI, Arlete Inês. DA admissibilidade da prova emprestada no CPC de 2015. In: Direito
408 Deve-se discordar da posição de Daniel Amorim Assumpção Neves: “No caso de a prova
ser de impossível produção no momento do processo, ou ainda ser muito onerosa a produção
probatória o juiz, sempre a luz do princípio do livre convencimento motivado, poderá utilizar as
provas produzidas no inquérito civil para formar o seu convencimento”. (NEVES, Daniel Amorim
Assumpção. Manual de direito processual civil / Daniel Amorim Assumpção Neves. - 5. ed. rev.,
atual, e ampl. - Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Metodo, 2013. p. 431).
409 CAMBI, Eduardo. A Prova Civil: Admissibilidade e relevância. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2006. p. 54-55.
410 “também não se vê respaldo para emprestar do processo penal, para o processo civil, prova
oriunda de interceptação telefônica, porque a exceção à quebra do sigilo das comunicações,
disposta no art. 5°, XII, da Lei Suprema, é clara. Há somente para fins de investigação criminal
ou instrução processual penal, e na forma que a lei estabelecer”. (AZENHA, Nívea Aparecida de
Souza. Prova Ilícita no Processo Civil. 1 ed. Curitiba: Juruá, 2003. p. 171).
411 Expressão precisamente utilizada por William Santos Ferreira: “(...) se a prova emprestada
não for substitutiva, mas crítica, em confronto à prova diretamente produzida onde também
ingressou a prova emprestada, é possível seu aproveitamento. (FERREIRA. William Santos.
Princípios fundamentais da prova cível. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2014. p.144).
131
412 EREsp 617.428;SP, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Corte Especial, DJE 17/06/2014
413 TALAMINI, Eduardo. A prova emprestada no processo civil e penal. RePro 91/94
414 “Prova emprestada. Não é prudente alicerçar-se a condenação por roubo sem o apoio da
416 SANTOS, Moacyr Amaral. Prova Judiciária no Cível e Comercial. 2 ed. São Paulo: Max
Limonad, 1952. p. 296-297.
417
AURELLI, Arlete Inês. DA admissibilidade da prova emprestada no CPC de 2015. In: Direito
Probatório. (coord.) JOBIM, Marco Félix. FERREIRA, William Santos. Salvador:
Juspodvm,2015.p.397; Em posição semelhante, Fredie Didier Jr., Paula Sarno Braga e Rafael
Oliveira: “Porque ambas as partes estariam em na mesma situação e o contraditório seria
implementado no processo em que a prova emprestada fosse utilizada”. (DIDIER, Fredie Jr.,
BRAGA, Paula Sarno, OLIVEIRA, Rafael. Curso de Direito Processual Civil. Bahia: Podivm,
2009. p. 51)
418
“(...)no Estado Constitucional, a lei deve ser conforme a Constituição. Desse modo, por
exemplo, quando a lei que regulamenta a distribuição da aplicação da prova não estiver de
acordo com a Constituição, por desrespeito a qualquer direito fundamental ou a algum princípio
de justiça, obviamente que isso deverá ser analisado no momento da sua aplicação, com o
133
Para que a prova seja considerada licita, não precisa estar prevista na lei;
basta que não viole a lei ou a Constituição Federal.421 Essa liberdade, portanto,
não é absoluta e pode apresentar restrições, inclusive fundamentadas em outras
garantias constitucionais, como o direito à privacidade, intimidade, inviolabilidade
de domicílio e correspondência, por exemplo.422
421 “De uma forma geral, todas as teorias em torno da admissibilidade da prova ilícita colocam-
se substancialmente na mesma posição. Inadmissíveis seriam apenas as provas que
encontrassem uma vedação expressa de ordem processual. No que se refere às provas ilícitas,
segundo a terminologia de Nuvolone, como a vedação se encontrava apenas na lei material, não
haveria impedimento à sua valoração pelo juiz, sem prejuízo de eventuais sanções contra quem
tivesse se utilizado de meios ilícitos para obter tal prova.” (ROQUE, A. V. As Provas Ilícitas no
Projeto do Novo Código de Processo Civil: Primeiras Reflexões. Revista Eletrônica de Direito Processual.
Patrono José Carlos Barbosa Moreira, Rio de Janeiro, v. 6, ano 4, 2010. Disponível em:
http://www.arcos.org.br/download.php?codigoArquivo=234. Acesso em: 17 jan. 2017).
422
FERREIRA, William Santos. Princípios fundamentais da prova cível. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2014, p. 95.
423
GRINOVER, Ada Pellegrini. As provas ilícitas na Constituição. Provas ilícitas, interceptações
e escutas. Brasília: Gazeta Jurídica, 2013,p. 414.
424 NERY JR. Nelson. Princípios do processo na Constituição Federal: (processo civil, penal e
administrativo). 11. Ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013, p. 276.
425 NUVOLONE, Pietro. Le prove vietate nel processo penale nei paesi di diritto latino. Rivista
di Diritto Processuale, Padova, n.21 (II serie), p. 448 e ss.1966
135
426 Nelson Nery Junior ensina que a moderna doutrina alemã do direito processual civil tem
defendido que não mais vige o princípio da busca da verdade real, devendo, portanto, ser
impostas algumas restrições à obtenção da prova (limitação probatória), a fim de sejam
respeitados direitos fundamentais.( NERY JR. Nelson. Princípios do processo na Constituição
Federal: (processo civil, penal e administrativo). 11. Ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2013, p. 277).
427
AMARAL, Paulo Osternack. Provas: atipicidade, liberdade e instrumentalidade. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2015, p.191
428
GOMES, Luiz Flávio. Prova ilícita: direito à exclusão dos autos do processo (exclusionary rule).
Revista dos Tribunais, vol. 809/2003 ,p. 474,2003
429 Cf. Ricardo Melchior de Barros Rangel, A prova ilícita e a interceptação telefônica no direito
processual penal brasileiro, Rio de Janeiro, Forense, 2000, p. 81.
430 RTJ 84/609, Min. Xavier de Albuquerque.
431 Em 1986 o STF reconheceu a inadmissibilidade da prova ilícita no processo penal. Segundo
o então precedente: “ os meios de prova ilícitos não podem servir de sustentação ao inquérito ou
à ação penal”. RTJ 122/47.
136
Assim, se prova ilícita tiver sido juntada aos autos e a sua ilicitude
constada já no juízo de admissibilidade, a prova deve ser desentranhada dos
autos e a convicção judicial deverá ignorar a existência dessa prova: quod non
est in actis, non est in mundo (o que não está nos autos, não está no mundo).
432 Igualmente, no direito italiano não há punição expressa ao infrator que traz aos autos prova
ilícita. Já na Espanha a Lei Organiza do Poder Judiciário traz regra expressa afirmando a
ineficácia das provas obtidas direta ou indiretamente, com ofensa aos direitos fundamentais (art.
11, I, da Ley Orgánica 6/1985, del Poder Judicial).
433 Processo justo, devido processo legal.
434
AMARAL, Paulo Osternack. Provas: atipicidade, liberdade e instrumentalidade. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2015, p.193.
435 "Exclusionary Rule. This rule comande that where evidence hás been obtained in violation
of the privilege guaranteed by the U.S. Constitution, the evidence must be excluded at the trial.
Evidence which is obtained by an unreasonable search and seizure is excluded from evidence
under the Fourth Amendment, U.S. Constitution and this rule is applicable to the States (Mapp.
V. Ohio, 367 U.S. 643, 81 S. Ct. 1684, 6 L. Ed. 2d. 1081) (BlackŽs Law Dictionary , St. Paul
Minn., West Publishing Co., 1979, p. 506 e 914)".
137
LOPES, M. E. de (Coord.). Princípios Processuais Civis na Constituição. São Paulo: Ed. Campos
Jurídico, 2008. p. 264
138
443 “Em conclusão, as provas ilícitas, bem como todas aquelas delas derivadas, são
constitucionalmente inadmissíveis, mesmo quando reconduzidas aos autos de forma indireta,
devendo, pois, serem desentranhadas do processo, não tendo, porém, o condão de anulá-lo,
permanecendo válidas as demais provas lícitas e autônomas delas não decorrentes, ou ainda,
que também decorreram de outras fontes, além da própria prova ilícita, garantindo-se, pois, a
licitude da prova derivada da ilícita, quando, conforme salientado pelo Ministro Eros Grau,
“arrimada em elementos probatórios coligados antes de sua juntada aos autos”.” (MORAES, A.
de. Direito Constitucional. 31 ed. – São Paulo: Atlas, 2015, p. 120).
NIX V. WILLIAMS (1984). Disponível em: http://www.oyez.org/cases/1980-
444
446 “É polêmica a questão da natureza das leis relativas à Prova. Em nosso sistema jurídico, a
prova é disciplinada tanto por leis de direito material quanto por leis de direito processual. O
direito material ocupa-se precipuamente com a essência das Provas, indicando seu valor sua
admissibilidade, suas consequências etc. Já o direito processual procura disciplinar a forma de
colheita das Provas, o momento e o lugar de sua produção, as regras sobre o ônus da Prova, os
poderes do Juiz na produção da Prova etc”. (LOPES, João Batista. A prova no direito processual
civil. 2. ed. São Paulo: RT, 2002. p. 3).
447 “Assim se explica que a instituição das provas se apresente como pertencente ao direito
material e ao direito processual, porque algumas, e até as mais importantes, das normas
referentes a provas estão contidas no Código Civil (art. 1.312 e segs.) e no Código de Comércio
(art. 44 e segs.) em lugar de estar no Código de Procedimento Civil. A verdade é que tais normas
têm caráter processual enquanto determinam o valor ou a eficácia de certas provas no processo;
(...) exatamente por que uma prova tem ou não tem uma eficácia processual, a mesma é idônea
a para determinar mesmo fora do processo a atitude das partes, e por isso tal eficácia é
difundida, de uma maneira reflexa, no campo do direito material”. (CARNELUTTI, Francesco.
Sistema de direito processual civil. Vol. II. Traduzido por Hiltomar Martins Oliveira. 1ª. ed. São
Paulo: Classic Book, 2000. p. 496-497).
448 “(...) a matéria das provas pertence por inteiro ao direito processual. Especialmente não a
localização das normas sobre as provas nos códigos de direito substancial induzir a acreditar-se
que elas tenham caráter dispositivo”. (CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de direito processual
civil. Tradução do original italiano “Instituzioni di Diritto Processuale Civile” por Paolo Capitanio.
Anotações do Prof. Enrico Tullio Liebman. 4ª ed. Campinas: Bookseller, 2009. p. 118-119).
449 SANTOS, Moacyr Amaral. Prova judiciária no cível e comercial. São Paulo: Max Limonad,
1952, pag. 47.
142
450 BEVILÁQUA, Clóvis. Comentários ao Código Civil. 4 ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves,
1972.v.1, p.260; “Prova é o meio de que o interessado se vale para demonstrar legalmente a
existência de um negócio jurídico. A matéria encontra-se na zona fronteiriça entre o direito
material e o direito processual, razão pela qual o Código Civil traça contornos principais,
enquanto o Código de Processo Civil tece maiores minúcias sobre o tema. (VENOSA, Sílvio de
Salvo. Direito Civil, Ed. Atlas, 5. Ed, 2005. pág.636).
451 GRECCO. Leonardo. O conceito de prova, Estudos de direito processual, p. 423-424.
452 MOREIRA ALVES, José Carlos. A parte geral do projeto do Código Civil brasileiro. São
Paulo: Saraiva, 1986, pag. 159.
453
CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido
Rangel. Teoria Geral do Processo, 17. ed. São Paulo: Ed.Saraiva, 2001. p. 348; “Compreende-
se que direito processual, que se dedica à aplicação da lei, através da justiça, tenha regular a
atividade probativa, porém com isso não se apode esquecer o que o direito material
preestabelece para que faça prova de algum fato, ato-fato jurídico, ato jurídico ou negócio
jurídico. Daí temos escrito no Tratado de Direito Privado, Tomo III, 404: ‘Dizer-se que a prova é
o ato judicial ou processual, pelo qual o juiz se faz certo a respeito do fato controverso ou do
assento duvidoso que os litigantes trazem a juízo (...) é processualizar-se, gritantemente, a prova.
(...) Pensar-se em prova judicial quando se fala em prova é apenas devido à importância
espetacular do litígio, nas relações jurídicas entre os homens’”. (MIRANDA, Pontes de. Tratado
143
O artigo 227 do Código Civil dizia que: “Salvo os casos expressos, a prova
exclusivamente testemunhal só se admite nos negócios jurídicos cujo valor não
ultrapasse o décuplo do maior salário mínimo vigente do País ao tempo em que
foram celebrados”. Esse dispositivo, limitador da admissibilidade de provas até
a vigência do CPC/73, é considerado pela doutrina como norma de natureza
material,455 mesmo diante da repetição do texto trazido pelo CPC/73, em seu
artigo 401.
de direito privado; atualizado por Vilson Rodrigues Alves, parte geral, tomo III, 1. ed. Campinas:
Bookeseller, 2000. p. 404).
454
“O Código Civil é criticável por diversas razões, entre as quais não distinguir entre a prova e
a forma dos atos jurídicos (sendo certo que o Código Civil de 1916 fazia expressamente a
distinção). Há, porém, no Código Civil de 2002 disposições que, não obstante postas no Título
‘Da Prova’, tratam da forma do ato jurídico, como, por exemplo, os parágrafos do art. 215 , que
tratam dos requisitos formais da escritura pública. Mais criticável do que isso, todavia, é a própria
inclusão de regras sobre prova no Código Civil. Ainda que se admita a ideia de que a prova é
instituto de natureza mista, com aspectos processuais e substanciais, é o Código de Processo
Civil a sede adequada de sua regulamentação. Isso se dá porque o direito probatório é o mesmo,
qualquer que seja a natureza da matéria de fundo. (...). Além disso, não se pode deixar de dizer
que muitas das disposições do Código Civil de 2002 sobre prova são incompatíveis com o
modelo processual brasileiro.” (CAMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil.
9. Ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris,2004.v. II, p. 397).
455 NERY, Nelson Jr. NERY, Rosa Maria B. A. Código de Processo Civil Comentado. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, pag. 768 e REGO, Hermenegildo de Souza. Natureza das
normas sobre prova. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1985.
144
prova testemunhal em relação aos demais meios de prova 456, trataremos mais
sobre o tema nos tópicos que sucedem.
456 “Com a revogação deste dispositivo, a prova testemunhal passa a ser admissível
exclusivamente como complemento dos demais meios de provas utilizados, ao mesmo tempo
em que pode ser utilizada como prova de qualquer fato, respeitado esse caráter subsidiário”.
NERY, Nelson Jr. NERY, Rosa Maria B. A. Código de Processo Civil Comentado. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2013, pag. 2257.
457 Art. 448. A testemunha não é obrigada a depor sobre fatos: I - que lhe acarretem grave
dano, bem como ao seu cônjuge ou companheiro e aos seus parentes consanguíneos ou afins,
em linha reta ou colateral, até o terceiro grau;II - a cujo respeito, por estado ou profissão, deva
guardar sigilo.
145
458 DWORKIN, Ronald. O império do direito; tradução Jefferson Luiz Camargo; revisão técnica
Gildo Sá Leitão Rios. 2 ed. 2 tiragem. São Paulo: Martins Fontes, 2010. P.301 e 302.
459
“Sempre que se faz alusão a documento ou, em direito processual, a prova documental,
imagina-se que estas categorias de direito probatório equivalham ao conceito de prova literal,
elaborada e produzida por meio da escrita (littera, a letra, aquilo que está escrito). O conceito de
documento, todavia, é bem mais amplo, abrangendo outras formas de representação além das
formas gráficas ou simplesmente literais”. (SILVA, Ovídio Araújo Baptista da. Curso de processo
civil. 7. ed. São Paulo: Forense, 2006. Vol. 1. p. 358).
146
460
“A prova documental ocupa lugar de realce nos sistemas processuais em razão da
complexidade da vida moderna, a exigir maior preocupação com a segurança das relações
jurídicas”. (LOPES, João Batista. A prova no direito processual civil. 2. ed. SãoPaulo: revista dos
Tribunais, 2002. p. 111)
461
“A prova documental tem seus momentos de produção fixados para a petição inicial e
contestação, abrindo o Código de Processo Civil chance para juntada de Documento novo no
curso da lide, [...]”. (BARROSO, Carlos Eduardo Ferraz de Mattos. Teoria geral do processo civil:
processo de conhecimento. 3.ed. São Paulo: Saraiva, 2000. p. 167).
462
A jurisprudência, porém, tem sido liberal quanto à possibilidade de, a qualquer tempo, serem
juntados Documentos novos, entendendo-se como novo não só o Documento que antes não
existia, mas também o Documento obtido posteriormente ou todo aquele que não foi juntado
anteriormente”. (GRECO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro. 13. ed. São Paulo:
Saraiva, 1999. p. 214).
463
“Se a palavra documento é, fundamentalmente, utilizada como sinônimo de prova
literal, nem por isso deixa de ser o documento uma coisa; e é, também, usada em
sentido diverso. Alude, assim, o Código (art. 383) à reprodução mecânica, à fonográfica
ou de outra espécie etc., salientando-se que tais provas não se ajustam, com rigor, ao
conceito de prova literal”. (ALVIM, Arruda. Manual de Direito Processual Civil. vol. II. 11
ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 478).
147
O documento público prova por presunção absoluta (até que haja prova
em contrário), os fatos verificados e documentados na presença de seu autor
464 CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de direito processual civil. 4 ed. Campinas: Bookseller,
2009. p.1091.
465 Francesco Carnelutti diz que ““Por enquanto, é suficiente advertir que evitar a confusão entre
os dois termos é uma verdadeira necessidade lógica, porque a declaração (negócio) é um ato, o
documento é um objeto; não é possível pense em um ato como um objeto ou vice-versa! Com o
que, se o leitor reflete um pouco sobre isso, é colocado em luz que o requisito formal da
declaração não é de forma nenhum o documento, mas a formação do documento; em outras
palavras, o que interessa para a forma é escrever (ato), o que interessa para a prova é o escrito
(objeto: isto é, que fique escrito; ou ainda, o que decide para a formação ou existência do negócio
não é a existência do documento no momento do processo, mas a existência do documento no
momento da formação do mesmo negócio, ao passo que o que decide para a prova não é a
existência do documento no momento da formação do negócio, mas no momento do processo”.
(CARNELUTTI, Francesco. A prova civil: parte geral - O conceito jurídico da prova. São Paulo:
Leud, 2016. p. 141).
148
466 “Quanto aos documentos públicos, desde que mantida sua integridade, estabelece o Código
uma presunção absoluta não só de sua formação, mas também dos fatos que o escrivão, o
tabelião ou o funcionário declarar que ocorreram em sua presença. Isto quer dizer que Juiz não
pode formar sua convicção contra o teor de Documento público louvando-se em outra Prova.
Seu convencimento está limitado por força de lei. [...] Para que o juiz possa negar o fato constante
do Documento público, como já se disse, somente declarando que não é ele verdadeiro
Documento, porque falso”. (GRECO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro. 13. ed.
São Paulo: Saraiva, 1999. p. 209).
467 “o instrumento através do qual objetiva-se provar a existência de algum fato. O elemento de
469
Ao comentar o projeto do Código de Processo Civil, Rodrigo Barioni esclareceu que: ““O
próprio projeto do Novo Código de Processo Civil inclui de maneira expressa a ata notarial como
meio de prova típico: “Art. 370 ...”. Apesar dos termos bastante genéricos, sem duvida representa
um avanço e auxilia na disseminação do conhecimento acerca desse meio de prova. Se é certo
que a ata notarial constitui inegável meio de provar fatos, de igual maneira se pode afirmar que
não é qualquer fato que está sujeito a ser demonstrado por esse meio. É preciso identificar, de
maneira mais clara, os fatos que podem ser validamente provados por meio da ata notarial”.
(BARIONI, Rodrigo. Os limites da ata notarial como meio de prova em juízo. In: NETO, Elias
Marques de Medeiros; LOPES, Ricardo Augusto de Castro; NETO, Olavo de Oliveira. (Coord). A
prova no direito processual civil: estudos em homenagem ao professor João Batista Lopes. São
Paulo: Editora Verbatim, 2013. p. 558).
470 “(...) uma das espécies do gênero instrumento público notarial, por cujo meio o tabelião de
notas acolhe e relata, na forma legal adequada, fato ou fatos jurídicos que ele vê e ouve com
seus próprios sentidos, quer sejam fatos naturais quer sejam fatos humanos, esses últimos
desde que não constituam negócio jurídico" (SILVA, João Teodoro da. Ata Notarial Sua utilidade
no cenário atual Distinção das Escrituras Declaratórias. In: SOUZA, Eduardo Pacheco Ribeiro
de (coord.), Ideal Direito Notarial e Redistral. São Paulo: Quinta Editorial, 2010, p. 33). “Ata
notarial é o testemunho oficial de fatos narrados pelos notários no exercício de sua competência
em razão de seu ofício”. (REZENDE, Afonso Celso F.; CAHAVES, Carlos Fernando Brasil.
Tabelionato de notas e o notário perfeito. 5. ed. Campinas: Millennium, 2010. p. 172).
150
maior credibilidade perante o juízo471, pois os relatos que ali estão foram colhidos
e relatados por um tabelião a quem a lei confere fé pública.472
471 Estão cobertas pela fé pública de que goza oficial público no exercício de suas funções, e,
assim, o documento público por si só faz prova dos fatos por aquele afirmados”. (SANTOS,
Moacyr Amaral. Comentários ao código de processo civil. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1994.
p. 152), “Se reveste de especial importância apara obter-se uma produção antecipada de provas
de boa qualidade e credibilidade, com presteza, sem ficar na dependência de movimentar o
aparato judiciário, que deve ser preservado para a solução de contendas de maior complexidade
e não solucionáveis com mecanismos simples”. (SILVA, João Teodoro. Da ata notarial. In:
BRANDELLI, Leonardo. (Coord.). Ata Notarial. Porto Alegre: Instituto de Registro Imobiliário do
Brasil, 2004. p. 33).
472
“a fé pública não é um fato social de que um ato ou uma circunstância sejam aceitos por bons
pela comunidade. Pública, nessa expressão clássica, não se refere a conjunto expressivo de
pessoas. Reporta-se ao direito público, cujos preceitos qualificam e justificam a fé, em
documento, tendo-o por autêntico, seguro e apto a produzir efeitos de direito. Para que estes
efeitos sejam acolhidos é imprescindível que a lei assim os reconheça: a união jurídica e
exegética entre o substantivo (fé) e o adjetivo (pública) depende de que o Poder Público, através
de processo legislativo apropriado, assim o declare. Desse modo, é possível afirmar que a fé
pública, na consideração aqui dada, corresponde apenas à conseqüência jurídica da presunção
da verdade que faz do documento a prova do fato ao qual se referia. A prova do oposto incumbe
a quem o alegue”. (CENEVIVA, Walter. A ata notarial e os cuidados que exige. In: BRANDELLI,
Leonardo. (Coord.). Ata Notarial. Porto Alegre: Instituto de Registro Imobiliário do Brasil, 2004.
p. 110). “[...] Uma vez assinado pelas partes e testemunhas o tabelião encerra o instrumento,
portanto por fé que tudo ali relatado apresenta a verdade. Como goza de fé pública, presume-se
que o conteúdo do instrumento seja verdadeiro, até prova em contrário. [...]”. (RODRIGUES,
Sílvio. Direito civil: parte geral. 34. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 268).
473
“A ata notarial representa um avanço para quem deseja, com rapidez e de maneira
desburocratizada, fazer o registro de determinado fato. A partir da análise das diversas situações,
pode-se concluir que a ata notarial pode ser utilizada quando o fato puder ser constatado
diretamente pelo tabelião, isto é, haverá registro do fato que o tabelião presenciou, com a
restrição de não fazer avaliações técnicas”. (BARIONI, Rodrigo. Os limites da ata notarial como
meio de prova em juízo. In: NETO, Elias Marques de Medeiros; LOPES, Ricardo Augusto de
Castro; NETO, Olavo de Oliveira. (Coord). A prova no direito processual civil: estudos em
homenagem ao professor João Batista Lopes. São Paulo: Editora Verbatim, 2013. p. 568). “(…)
a adoção da chamada “ata notarial” em que, solicita-se a um Tabelião (Cartório de Notas) a
lavratura de uma ata em que, pelo computador do notário, são acessados endereços eletrônicos
indicados pelo requerente do serviço notarial, e há o relato do dia, horário, conteúdo, imagens e
até filmes, tudo descrito pelo Tabelião, cujas declarações do que ocorreu diante dele, por terem
fé pública, agregam fortíssima carga de convencimento à prova exibida em juízo, transferindo o
ônus da prova à outra parte, o que particularmente em nossa atividade profissional (a advocacia),
vem sendo muito útil, eis que admitido judicialmente e raras vezes questionado o fato pela parte
contrária”. (FERREIRA, William Santos. Princípios fundamentais da prova cível. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2014, p. 84).
151
Para que seja admitida então a ata notarial como meio de prova é
necessário primeiramente que o interessado faça a sua requisição, desta feita,
não é permitido ao Tabelião lavrar ata notarial sem o requerimento do
interessado, agindo de oficio.
474 Art. 384, do CPC/2015: “A existência e o modo de existir de algum fato podem ser atestados
ou documentados, a requerimento do interessado, mediante ata lavrada por tabelião.
Parágrafo único. Dados representados por imagem ou som gravados em arquivos eletrônicos
poderão constar da ata notarial.”
475 “A ação do registrador deve ser solicitada pela parte ou pela autoridade. É o que no Direito
Alemão se costuma chamar de princípio de instância, expressão adequada também no Direito
Brasileiro, por traduzir bem a necessidade de postulação do registro”. (CARVALHO, Afrânio.
Registro de imóveis . 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1982. p. 326).
476 Com ressalvas a expressão “livre” cabe mencionar o entendimento de Walter Ceneviva: “É
livre ao tabelião de notas recusara lavratura da ata notarial quando lhe pareça inócua em face
do direito”. (CENEVIVA, Walter. A ata notarial e os cuidados que exige. In: BRANDELLI,
Leonardo. (Coord.). Ata Notarial. Porto Alegre: Instituto de Registro Imobiliário do Brasil, 2004.
p. 98).
152
Diz o artigo:
(...)
477
PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Comentários ao código de processo civil.
Tomo IV. Rio de Janeiro: Forense, 1974. p. 338-339.
153
478 CPC/2015, Art. 434. Incumbe à parte instruir a petição inicial ou a contestação com os
documentos destinados a provar suas alegações.
479
Com precisão Leonard Ziesemer Schmitz afirma que: “não é dado ao julgador de primeira
instância utilizar apenas sua própria visão sobre a suficiência das provas, já que ele, juiz, não é
o destinatário único da prova. (Fundamentação das decisões judiciais. A crise na construção de
respostas no processo civil. São Paulo. Editora Revista dos Tribunais, 2015.p. 252).
154
Para que a prova pericial seja deferida a lei exige que o fato controverso
dependa de conhecimento técnico ou especial, que prova seja necessária
mesmo diante das demais provas já produzidas e, claro, que seja praticável.
Estes são os requisitos de admissibilidade da prova pericial.483
480 “A perícia consiste no meio pelo qual, no processo, pessoas entendidas verificam fatos
interessantes à causa, transmitindo ao juiz o respectivo parecer”. (SANTOS, Moacyr Amaral.
Primeiras Linhas de Direito Processual Civil, Vol. 2. São Paulo: Saraiva, 2000. p. 472).
481
“Perícia é um meio de prova técnica ou cientifica, que tem por objetivo a obtenção de certo
conhecimento relevante para o acertamento do fato (elemento prova), a partir de um
procedimento técnico realizado sobre pessoa ou coisa (fonte de prova). A conclusão do técnico
ou profissional (conclusão probatória) é expressa num laudo (elemento de prova), que tem por
finalidade (finalidade da prova) influir na formação da persuasão racional do juiz, em seu
processo cognitivo de valoração (valoração da prova)”. (MANZANO, Luís Fernando de Moraes.
Prova pericial: admissibilidade e assunção da prova científica e técnica no processo brasileiro.
São Paulo: Atlas, 2011. p. 8).
482 Sobre a matéria de probatória é indispensável a leitura dos ensinamentos do Professor
William Santos Ferreira na obra: “Princípios fundamentais da prova cível. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2014.”
483 CPC/15, Art. 464. A prova pericial consiste em exame, vistoria ou avaliação. § 1o O juiz
indeferirá a perícia quando:I - a prova do fato não depender de conhecimento especial de técnico;
II - for desnecessária em vista de outras provas produzidas; III - a verificação for impraticável.
484
ECHANDÍA, Hernando Devis. Compendio de La Prueba Judicial, Tomo II. Santa Fé: Rubinzal-
Culzoni, 2007, p.107
155
A prova pericial somente deve ser deferida quando for o único caminho
possível para se desvendar a controvérsia trazida pelas partes485486, isso porque
a perícia é uma prova onerosa, complexa e demorada e por isso só deve ser
admitida quando não houver outro meio de prova capaz de elucidar os fatos. 487
485
“Isso demonstra, às escâncaras, que a prova pericial, se deferida, deve reunir meios
eficientes para o esclarecimento de tudo que se objetivou quando de sua designação, do
contrário, estaria atendendo apenas a um oco requisito formal de realização, sem que
efetivamente seja um meio na busca de dados e informações relevantes para o momento do
julgamento, lembrando que o “perito cumprirá escrupulosamente o encargo que lhe foi
cometido, independentemente de termo de compromisso” (FERREIRA, William Santos.
Princípios fundamentais da prova cível. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014. p. 217).
486 “A perícia é o meio de prova destinado ao exame ou á avaliação de determinados fatos da
causa, que somente podem ser apercebidos por quem possua conhecimentos técnicos ou
científicos”. (TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Cadernos de processo civil: prova pericia. São
Paulo: LTr, 1999. p. 7).
487 DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Curso de Direito Processual
Civil. Vol. 2. Salvador: Juspodivm, 2007. p. 186
488
“[...] o julgador deve avaliar se é admissível, se é necessário conhecimento técnico especial,
se a prova produzida é plausível ou se foi manipulada, se o laudo está fundamentado, bem como
se houve ou não impugnação das partes ou assistentes técnicos”. (ARRONE, Ricardo. O
Princípio do Livre Convencimento do Juiz. 1ed. Porto Alegre: Sergio Antônio Fabris Editor, 1996.
p. 36).
489
“A perícia é feita para o processo, e não para o juiz. Mesmo que este possua conhecimentos
técnicos, tem o magistrado o dever de nomear perito toda vez que tais conhecimentos escapem
à cultura média dos juízes. A possibilidade de o magistrado se valer do seu próprio conhecimento
técnico, não nomeando peritos, representaria violação à garantia constitucional do contraditório
gerando a nulidade absoluta da decisão. Os conhecimentos técnicos dos peritos são dados
relevantes para o julgamento da causa e, por isso, devem estar documentados nos autos,
permitindo o seu controle pelas partes (e seus respectivos assistentes técnicos), além de
servirem para o exame da correta ou incorreta valoração da prova pelos demais órgãos
julgadores, na eventualidade de haver a interposição de recursos”. (CAMBI, Eduardo. A Prova
Civil: admissibilidade e relevância. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. p. 235)
156
490 A prova testemunhal, em regra, deve ser produzida após a realização da prova pericial.
(TJSP 34, Cam. Dir. Priv. Ag. 868305-0/5-SP, rel. Des. Nestor Duarte, j. 15.2.2005, v.u).
491 STJ, 3ª Turma, REsp 798.079/MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 7.10.2008, DJe 23.10.2008,
492 A prova testemunhal para atestar caráter de uma das partes pode ser substituída por
declarações das testemunhas, sendo necessária a oitiva somente em casos de dúvidas quanto
a credibilidade ou diante da necessidade de outros esclarecimentos.
158
493 Cabe lembrar que o Código de Processo Civil 2015 revogou o artigo 227 do Código Civil que
limita a produção de prova exclusivamente testemunhal em negócios jurídicos que não
ultrapassassem dez vezes o valor do salário mínimo.
494 CAPPELLETTI, Mauro. La oralidad y pruebas en el processo civil, Buenos Aires: Ediciones
Por isso, defende-se que a não credibilidade da prova somente pode ser
verificada após a sua produção e não antecipadamente, no momento da
admissibilidade. Assim, todas as demais limitações prévias, por idade, grau de
parentesco ou saúde mental são arcaicas e preconceituosas, pois como afirma
Frederick Schauer, todas as generalizações são preconceituosas.496
496 SCHAUER, Frederick. Profiles, Probabilities and Stereotypes. London: The Belknap Press
of Harvard University Press, 2003.op. cit., pp. 83 e ss.
160
requerido de forma cruzada, ou seja, o autor pede o do réu e o réu do autor (art.
385 do CPC/2015).
502
GRECO, Leonardo. Instituições de processo civil, volume II. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense,
2015.p.105
503 Tradução livre, do original em inglês: “"But there are fixed bounds to the power of the
legislature over this subject, which must not be exceeded. As to what shall be evidence, and who
shall assume the burden of proof, its power is unrestricted, so long as its rules are impartial and
uniform; but it has no power to establish rules which, under pretence of regulating evidence,
altogether preclude a party from exhibiting his rights. Except in those cases which fall within the
familiar doctrine of estoppels at the common law, or other cases resting upon similar reasons, it
would not be in the power of the legislature to declare that a particular item of evidence should
preclude a party from establishing his rights in opposition to it. In judicial investigations, the law
of the land requires a trial; and there is no trial if only one party is suffered to produce his
evidence." (COOLEY, Thomas McIntyre. Constitutional limitations. Boston: Little, Brown & Co.,
1968, p. 368-369).”
163
504
“(...) é o meio de prova que efetiva a técnica da oralidade na colheita das provas, colocando
as partes em contato imediato com o juiz que muito possivelmente julgará a causa.” (DIDIER JR.
Fredie. Curso de direito processual civil: teoria da prova, direito probatório, ações probatórias,
decisão, precedente, coisa julgada e antecipação dos efeitos da tutela. 10. Ed. Salvador: Ed. Jus
Podivm, 2015.v.2 p. 149.)
505 Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery, no Comentários ao Código de Processo
Civil – Novo CPC – Lei 13.105/2015, manteve o conceito que vinha sendo por eles apresentado
também durante a égide do CPC/1973: é meio de prova que tem como principal finalidade fazer
com que a parte que o requereu obtenha a confissão, espontânea ou provocada, da parte
contrária sobre fatos relevantes à solução da causa. (NERY JR,Nelson; NERY, Rosa Maria de
Andrade. Comentários ao Código de Processo Civil. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais.
2015. P. 1017). Também é a posição de Francesco Carnelutti: “(...) a parte é convidada a fazer
a sua declaração de ciência sobre determinados fatos contrários ao seu interesse afirmados
especificamente pelo adversário e é gravada do ônus de comparecer e de responder, já que,
quando não compareça ou recuse de responder, ter-se-ão como admitidos os fatos deduzidos,
salvo se justificar um legítimo impedimento” (CARNELUTTI, Francesco. Instituições de Processo
Civil. Imprenta: São Paulo. 2000, p. 102).
506 FERREIRA, William Santos. Princípios Fundamentais da Prova Cível. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2014.P. 209.
507“(...) devemos admitir que o escopo do legislador ao admitir o depoimento pessoal como meio
de prova, é o de lograr obter, mercê de tal depoimento, a verdade respeitante aos fatos
controvertidos objeto deste meio de prova, e não necessariamente apenas a confissão.” (ALVIM.
Arruda. Novo contencioso cível no CPC/2015. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016.
P.261)
164
508 “A estranheza em tal postura somente se justifica pela visão, já criticada, de relacionar
depoimento e confissão.” FERREIRA, William Santos. Princípios Fundamentais da Prova Cível.
São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2014.P. 214
509 “Se o depoimento pessoal é prova produzida por pessoa suspeita e, portanto, de reduzida
credibilidade, não se pode desprezar a importância que possa ter para a reconstituição dos fatos,
independentemente do sujeito que venha a beneficiar-se dessa reconstituição, assim como para
o diálogo participativo, instrumento da mais ampla defesa do depoente.” (GRECO, Leonardo.
Instituições de processo civil, volume II. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.p.177).
510
Apesar de não existir estatistas sobre o requerimento e indeferimento de depoimento pessoal,
cabe destacar a absurda decisão proferida nos autos de ação indenizatória por acidente de
trânsito. Na oportunidade, o juiz de primeira instância indeferiu a realização de depoimento
pessoal fundamentando que: “as versões das partes são contrapostas e já constam das peças
processuais que apresentaram nos autos”. O absurdo indeferimento leva-nos a concluir que para
este magistrado o depoimento pessoal só seria deferido para ratificar a confissão, uma vez que
se há controversa, também para ele, a prova se torna inútil. Processo: 1004613-03.2016.8.26.0223,
3ª Vara Cível da Comarca de Guarujá, Tribunal de Justiça de São Paulo
511 Artigo 361 do CPC/2015
165
512 NERY JR. Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Comentários ao Código de Processo Civil.
São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 2015. P. 1018
513 GRECO, Leonardo. Instituições de processo civil, volume II. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense,
2015.p.178
166
William Santos Ferreira é uma das fortes vozes que bradam pela
inconstitucionalidade da norma, antes mesmo da entrada em vigor do CPC/2015.
Para o autor, seria inconstitucional o artigo 344 do Código de 1973
(correspondente ao § 2º do artigo 385 do CPC/2015), uma vez que a
possibilidade do réu permanecer na sala de audiência após o seu depoimento e
acompanhar o depoimento do autor viola o contraditório e a ampla defesa. Com
a permanência o réu teria a possibilidade de munir o seu advogado com
informações para subsidiar o interrogatório do autor-depoente. Nas palavras do
autor “diversamente, se passa com o autor, porque, como já terá prestado
depoimento, quando o réu for depor, poderá presenciar as respostas deste e
municiar o seu advogado com informações relevantes para a formulação de
perguntas”.515
514 ABREU, Rafael Sirangelo de. Igualdade e processo: posições processuais equilibradas e
unidade do direito. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. P.72
515 FERREIRA, William Santos. Princípios Fundamentais da Prova Cível. São Paulo: Editora
517
No sistema anglo-saxão é permitido aos advogados realizar perguntas ao seu próprio cliente.
518 GRECO, Leonardo. Instituições de processo civil, volume II. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense,
2015.p.178
519
CAPPELLETTI, Mauro. La testimonianza dela parte nel sistema dell´oralità.2ª parte. Milano:
Giuffrè, 1974.p.449 e 453.
168
a presença do advogado dos acusados. Para assegurar a igualdade processual, também esteve
ausente o Ministério Público. A gravidade dos fatos - tráfico de entorpecentes - e a circunstância
excepcional, envolvendo segurança de vida da menor, justificam a medida imposta." Ordem
denegada. STJ - HABEAS CORPUS HC 19102 SP 2001/0148640-8 (STJ). DJU, 25.03.2002
171
Leonardo Grecco ao tratar do tema afirma que o direito à recusa não pode
se sobrepor ao dever de colaboração das partes, vez que violaria a paridade de
armas se uma das partes, a pretexto de proteção da sua intimidade, privasse a
outra da possibilidade concreta de provar os fatos dos quais pode resultar o seu
direito. Sustenta ainda o jurista que a escusa em depor ou de exibir somente
poderia ser admitida se fundada em motivo do primeiro grau de privacidade,
àquele que compreende as relações do sujeito consigo mesmo.527
526 NERY JR. Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Comentários ao Código de Processo Civil.
São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 2015. P. 1021
527 GRECO, Leonardo. Instituições de processo civil, volume II. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense,
2015.p.178
172
Não há aqui discricionariedade, não aqui espaço para que o juiz “escolha
livremente” se a prova será ou não admitida. Sabe-se que esse meio de prova é
custoso para o magistrado, que é retirado do seu gabinete para ir ao encontro
de pessoas, visitar locais e etc.528
528
GRECO, Leonardo. Instituições de processo civil, volume II. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense,
2015.p.275.
529
GRECO, Leonardo. Instituições de processo civil, volume II. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense,
2015.p.275.
173
530 A Rule 401 das Federal Rules of Evidence trata sobre a relevância da prova, considerando
relevante a prova cujo fato tenha consequência na ação.
174
531 Inclui-se aqui os fatos ‘provados por presunção’, como a confissão, fato notório e demais
presunções legais.
532
FERRER, Beltrán, Jordi. “Legal Proof and Fact-Finders” Beliefs”. In: Legal Theory, v.12, n.04.
Cambridge University Press, 2006, p.298
175
533 CHIOVENDA, Giuseppe. Principii di Diritto Processuale Civile. Napoli: Jovene, 1965, p.79.
534 RAMOS, Vitor de Paula. O procedimento probatório no Novo CPC. Em busca de interpretação
do sistema à luz de um modelo objetivo de corroboração das hipóteses fáticas. In: Direito
Probatório. (coord.) JOBIM, Marco Felix; FERREIRA, William Santos. Editora JusPODIVM, 2015.
P.117.
535 RAMOS, Vitor de Paula. O procedimento probatório no Novo CPC. Em busca de interpretação
do sistema à luz de um modelo objetivo de corroboração das hipóteses fáticas. In: Direito
Probatório. (coord.) JOBIM, Marco Felix; FERREIRA, William Santos. Editora JusPODIVM, 2015.
P.119.
536 RAMOS, Vitor de Paula. O procedimento probatório no Novo CPC. Em busca de interpretação
do sistema à luz de um modelo objetivo de corroboração das hipóteses fáticas. In: Direito
Probatório. (coord.) JOBIM, Marco Felix; FERREIRA, William Santos. Editora JusPODIVM, 2015.
P.119
176
Antonio Gomes Filho aduz que a expressão prova “indica uma atividade
ou procedimento destinado a verificar a correção de uma hipótese ou afirmação”.
Para o autor, “trata-se de realizar um teste, ao fim do qual é possível admitir
como verdadeira, fundada, provável etc., a proposição inicial”.538
processo penal brasileiro). (in) Estudos em homenagem a Professora Ada Pellegrini Grinover.
(org) YARSHELL, Flavio Luiz; MORAES, Mauricio Zanoide. São Paulo: Editora DPJ, 2005, p.
306)
177
540 CUNHA, Leonardo Carneiro; DIDIER Jr. Fredie. Agravo de instrumento contra decisão que
versa sobre competência e a decisão que nega eficácia a negócio jurídico na fase de
conhecimento. Uma interpretação sobre o agravo de instrumento previsto no CPC/2015.Revista
de Processo | vol. 242/2015 | p. 275 - 284 | Abr / 2015 DTR\2015\3682, p. 275.
179
É a partir daí que a fase instrutória tem o seu início. Se a decisão deferir
a produção de prova testemunhal, o juiz fixará o prazo comum não superior a 15
(quinze) dias para que as partes apresentem o rol (art.357, §4°, do CPC/2015);
Se for determinada a produção de prova pericial, o juiz deverá, na mesma
decisão, nomear o perito especializado no objeto da perícia, estabelecendo o
calendário para sua realização (art.357, §8°, do CPC/2015).
541 “No sistema brasileiro, não é possível que as partes criem recurso não previsto em lei, nem
ampliem as hipóteses recursais. Não há, enfim, recurso por mera deliberação das partes, de
modo que é tido como ineficaz, devendo ser desconsiderado, eventual negócio jurídico ou
cláusula contratual que crie recurso não previsto em lei para impugnar determinado
pronunciamento judicial.” CUNHA, Leonardo Carneiro; DIDIER Jr. Fredie. Agravo de instrumento
contra decisão que versa sobre competência e a decisão que nega eficácia a negócio jurídico na
fase de conhecimento. Uma interpretação sobre o agravo de instrumento previsto no
CPC/2015.Revista de Processo | vol. 242/2015 | p. 275 - 284 | Abr / 2015 DTR\2015\3682, p.
277.
180
542
ALVIM. Arruda. Novo contencioso cível no CPC/2015. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2016. P.238
543 Sobre a estabilidade e o alcance ao juiz: “ De toda forma, o que nos parece é que não poderão
ser modificados os pontos controvertidos, mas as questões de direito não podem restar
modificados os pontos mesmo da formação do convencimento judicial a respeito do caso.
Respeitada a exigência do contraditório efetivo do art. 10 do CPC/2015, deve ser permitido ao
juiz deduzir consequências jurídicas aos fatos provados, diversas daquelas imaginadas quando
da prolação da decisão de saneamento”
544 Em sentido contrário: “Mandado de segurança. Impetração em face de decisão interlocutória
insuscetível de questionamento através de agravo de instrumento. Rol taxativo do art. 1.015 do
NCPC. Limitação recursal que não implica em falta de acesso ao Judiciário, mas em nova
sistemática recursal. Utilização do mandado de segurança admissível apenas em casos
absolutamente excepcionais de legalidade patente ou flagrante do ato judicial e efetivo risco de
perecimento do direito. Hipótese dos autos que não retrata tal situação. Inexistência de direito
líquido e certo. Petição inicial indeferida, nos termos do art. 10 da Lei nº 12.016/09 e arts. 330,
III e 485, I do NCPC. Extinção da ação.” (TJSP, 2099473-66.2016.8.26.0000, Relator(a): Carlos
Violante; Comarca: São Paulo; Órgão julgador: 2ª Câmara de Direito Público; Data do
julgamento:01/07/2016; Data de registro: 01/07/2016)
545 CUNHA, Leonardo Carneiro; DIDIER Jr. Fredie. Agravo de instrumento contra decisão que
versa sobre competência e a decisão que nega eficácia a negócio jurídico na fase de
conhecimento. Uma interpretação sobre o agravo de instrumento previsto no CPC/2015.Revista
de Processo | vol. 242/2015 | p. 275 - 284 | Abr / 2015 DTR\2015\3682, p. 277.
181
546 Essa interpretação já foi recentemente aceita no Tribunal de Justiça de São Paulo.
“AGRAVO DE INSTRUMENTO – INTERPOSIÇÃO CONTRA DECISÃO QUE DECLINOU DA
COMPETÊNCIA – Decisão interlocutória não prevista expressamente no rol do art. 1015 do
novo CPC – Possibilidade de interpretação extensiva para enquadrar o caso no inciso III, do art.
1015 do CPC/2015, que dispõe sobre rejeição de convenção de arbitragem, na medida em que
tal inciso trata de competência, pois o juiz quando rejeita a arbitragem, na verdade declara a sua
competência para julgar o feito - Cabimento do agravo de instrumento. [...] (TJSP, AG nº
2079616-34.2016.8.26.0000, Relator(a): Carlos Nunes; Comarca: São José do Rio Preto; Órgão
julgador: 31ª Câmara de Direito Privado; Data do julgamento: 14/06/2016; Data de registro:
14/06/2016)”
547
“É verdade que interpretar o texto normativo com a finalidade de evitar o uso anômalo e
excessivo do mandado de segurança pode consistir num consequencialismo. Como se sabe, o
consequencialismo constitui método de interpretação em que, diante de várias interpretações
possíveis, o intérprete deve optar por aquela que conduza a resultados econômicos, sociais ou
políticos mais aceitáveis, mais adequados e menos problemáticos. ” CUNHA, Leonardo Carneiro;
DIDIER Jr. Fredie. Agravo de instrumento contra decisão que versa sobre competência e a
decisão que nega eficácia a negócio jurídico na fase de conhecimento. Uma interpretação sobre
o agravo de instrumento previsto no CPC/2015.Revista de Processo | vol. 242/2015 | p. 275 -
284 | Abr / 2015 DTR\2015\3682, p. 282.
182
Por tudo que vimos até aqui, e principalmente pelo que se compreende
sobre o Estado democrático de direito, podemos afirmar que o magistrado deve
fundamentar todas as decisões no processo. Na perspectiva probatória, o juiz
deve fundamentar as decisões que deferem e indeferem a produção de
determinada prova.
548MCRANEY, David. You are not so smart. Penguin USA, 2012; “Uma mudança legislative,
qualquer que seja, de pouco adianta se as bases culturais da legislação anterior são mantidas.
A uma, pelo fato (um tanto óbvio hoje em dia) de que o direito (e o direito processual, por
consequência é produtor da cultura. A duas porque, texto e norma são coisas distintas, não
havendo “correspondência biunívoca entre texto e norma – isto é, onde houver um não terá
obrigatoriamente de haver outro”.(RAMOS, Vitor de Paula. O procedimento probatório no Novo
CPC. Em busca de interpretação do Sistema à luz de um modelo objetivo de corroboração das
hipoteses fáticas. In: Direito Probatório. (coord.) JOBIM, Marco Félix. FERREIRA, William
Santos. Salvador: Juspodvm, p.115)
183
549 CAMBI, Eduardo. A prova civil. São Paulo: RT, 2006, p. 442.
550 “Somente quando a não pertinência for indubitável ou evidente, porque é impossível que o
fato a provar possa se relacionar direta ou indiretamente com os fatos da causa, deve o juiz
rechaçar ou declarar inadmissível a prova; mas se existe alguma possibilidade, por remota que
pareça, de que esse fato tenha alguma relação e resulte de algum interesse para a decisão o
litígio, é melhor decretar e praticar a prova “Solo cuando la no pertinencia sea indudable o
evidente, porque es imposible que el hecho por probar pueda relacionarse directa o
indirectamente con los de la causa, debe el juez rechazar o declarar inadmisible la prueba; pero
si existe alguna posibilidad, por remota que parezca, de que ese hecho tenga alguna relación y
resulte de algún interés para la decisión del litigio o del asunto voluntario, es mejor decretar y
practicar la prueba” (ECHANDÍA, Hernando Devis. Teoría general de la prueba judicial. Bogotá:
Temis, 1972, p. 328).
184
A decisão que inadmite, portanto, deve ser livre de subjetividade, deve ser
racional e a motivação judicial tem que possibilitar o exercício do controle pelas
partes.554 Não há espaço para decisões enraizadas de subjetivismo, não há
legitimidade na decisão judicial que indefere a produção de provas
fundamentando-se que magistrado “já se encontra convencido” diante das
provas produzidas até então.
551 PEREIRA, Hugo Filardi. Motivação das decisões judiciais e o Estado Constitucional. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2012.p.106.
552
“A motivação é mais importante para o perdedor do que para o vencedor. A motivação importa
mais para o perdedor não apenas porque é ele que pode recorrer, mas especialmente porque é
o perdedor que pode não se conformar com a decisão, e assim ter a necessidade de buscar
conforto e explicação na justificação judicial.” (MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio
Cruz. Processo de conhecimento. São Paulo: RT, 2008, p. 476).
553
BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Temas de Direito Processual – 8ª série. São Paulo:
Saraiva, 2004. p. 121.
554 Para Piero Calandrei, a motivação das decisões judiciais é o “signo mais importante e mais
típico da racionalização da função jurisdicional”. (CALANDREI, Piero. Processo e democracia. In
Opere giuridiche. Napoli: Morano, 1965, p.664).
185
555 PASSOS, José Joaquim Calmon de. Comentários ao Código de Processo Civil. 8a ed. Rio de
Janeiro: Forense, 1998, v. 3. p. 40.
556 TUCCI, José Rogério Cruz e. A motivação da sentença no processo civil. São Paulo: Saraiva,
1987. P.22.
557 LUCCA, Rodrigo Ramina de. A motivação das decisões judiciais civis em um estado de direito:
Por tudo o que foi tratado até aqui é possível distinguir a existência de
dois momentos importantes para o direito probatório: o da admissão e o da
valoração da prova. O cerne deste trabalho é a análise e investigação do
momento da admissibilidade probatória, por isso não será abordado com avidez
a valoração ou ainda os standards probatórios.
559
TARUFFO, Michele. Studi sulla rilivanza della prova.Padova: CEDAM, 1970.
560 REsp nº. 102203/PE, Rel. Min. Ari Vicente Leal, DJ de 17/05/99.
187
561
TARUFFO, Michele. La motivazione della sentenza, cit., p. 167-168
562 “A decisão judicial precisa ser uma resposta àquilo que foi apresentado pelas partes, e essa
resposta sequer chega a existir se o conteúdo do que é decidido for meramente uma exaltação
dos motivos pelos quais a decisão foi tomada, sem menção àqueles pelos quais não foi outra a
conclusão do julgador” (SCHMITZ, Leonard Ziesemer. Fundamentação das decisões judiciais. A
crise na construção de respostas no processo civil. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2015. p. 320).
563 “A isso se pode chamar de accountability: o Estado Democrático de Direito, como vimos, é o
Se, por exemplo, a prova testemunhal produzida no caso concreto não foi
suficiente para participar do conjunto probatório dos fatos provados, deverá o
juiz evidenciar o porquê a prova testemunhal ficou marginalizada em relação as
demais provas produzidas no processo. A análise de todas as provas produzidas
no processo é decorrente do direito fundamental à prova.565
565 PICÓ i JUNIOI, Joan. El derecho a la prueba em el processo civil. Barcelona: Jose Maria
Boch, 1996.
189
CONCLUSÃO
566
GRECO, Leonardo. Instituições de processo civil, volume II. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense,
2015.p.134.
190
ilícita (CF, art. 5º, inc. LVI), as provas em que a lei determina o modo de sua
produção e as preclusões temporais previstas no próprio Código de Processo
Civil.
Por fim, neste capítulo, foi realizado o estudo das presunções, que como
vimos, podem ser utilizados na formação do convencimento judicial.
567FERRER BELTRÁN, Jordi. Prueba y Verdad en el Derecho. 2ª. Ed. Madrid: Marcial Pons,
2005, p.56. E KNIJINIK, Danilo. A prova nos juízos Cível, Penal e Tributário. Rio de Janeiro:
Forense, 2007, p. 15.
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