Vôo entre Brasília e Rio de Janeiro que duraria apenas cerca de 2 (duas) horas e foi sucessivamente desviado. Passageiros que permaneceram mais de 8 (oito) horas dentro do avião. Ofício da INFRAERO que informa ter ocorrido problema de visibilidade no aeroporto do Galeão, a partir das 16:16 horas, dificultando as decolagens que, a partir das 17:20 foram retomadas, de 5 em 5 minutos. Inexistência de justificativa para a chegada às 23:30. Ausência de informações associada a confinamento em área reduzida sem alimentação ou água. Atendimento negligente e desrespeitoso. Descabimento. Situação que, por sua extravagância, mereceu até divulgação em conhecida coluna de jornal. Danos morais caracterizados pela submissão a situação degradante e extremamente desconfortável. Montante insuficientemente arbitrado em R$ 3.000,00 (três mil reais) que ora se majora para R$ 6.000,00 (seis mil reais), valor mais adequado à hipótese, segundo os critérios de satisfação/ punição e razoabilidade/proporcionalidade. Honorários advocatícios fixados em 10%. Inexistência de maiores dificuldades no feito a justificar mudança para o percentual máximo previsto em lei. Provimento parcial do segundo recurso, somente para majorar o montante indenizatório, mantida, no mais, a sentença, prejudicado o primeiro.
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação
Cível nº 0138290-12.2008.8.19.0001, em que são apelantes TAM Linhas Aéreas S/A e Antônio Pacífico Vaz Pereira Pinto, e apelados os mesmos. 2 DÉCIMA CÂMARA CÍVEL Apelação Cível nº 0138290-12.2008.8.19.0001 Desembargador GILBERTO DUTRA MOREIRA
ACORDAM os Desembargadores da 10ª Câmara Cível do
Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por unanimidade de votos, em dar provimento parcial ao segundo recurso, somente para majorar o montante indenizatório, mantida, no mais, a sentença, prejudicado o primeiro.
Trata-se de ação indenizatória, pelo rito sumário,
ajuizada por Antônio Pacífico Vaz Pereira Pinto em face de TAM Linhas Aéreas S/A, alegando que, sem qualquer explicação, a ré sucessivamente desviou o vôo que saíra de Brasília às 14:27 do dia 26/03/2008 com destino ao Rio de Janeiro, deixando os passageiros dentro da aeronave por cerca de 9 horas sem informações e sem atendimento; que perdeu os compromissos profissionais que havia marcado para aquele dia.
Pretende receber indenização por danos morais no
correspondente a 60 (sessenta) salários mínimos.
Contestando o feito (fls. 55/65), a ré aduziu que a
alteração no trajeto ocorreu por determinação das autoridades que controlam o espaço aéreo, por problemas meteorológicos, inexistindo ato ilícito ou danos morais. Resposta da INFRAERO a ofício do Juízo às fls. 96/97.
Na sentença de fls. 106/109, a douta Juíza a quo julgou
procedente o pedido, condenando a ré a pagar R$ 3.000,00 (três mil reais) pelos danos morais, além dos ônus sucumbenciais. A ré apelou, às fls. 112/121, pela improcedência do pedido. Também apelou o autor, às fls. 123/154, pela majoração da verba indenizatória e dos honorários advocatícios.
Em contra-razões, as partes prestigiaram a sentença no
que lhes era favorável (fls. 159/172 e 173/182).
É o relatório.
Com efeito, não se discute que os prazos previstos para
saída e chegada de aeronaves não são exatos, posto que dependem de inúmeros fatores climáticos e de segurança envolvendo os aeroportos de saída e chegada, bem como os que eventualmente tenham sido utilizados para conexão durante o trajeto. 3 DÉCIMA CÂMARA CÍVEL Apelação Cível nº 0138290-12.2008.8.19.0001 Desembargador GILBERTO DUTRA MOREIRA
Ocorre que as companhias de aviação, bem como demais
empresas vinculadas ao transporte de passageiros, devem estar preparadas para tais eventualidades de forma a minimizar os efeitos que tais problemas exerçam sobre os usuários dos serviços.
Esta falha na prestação do serviço é, na realidade, o
maior fator a configurar os danos morais, suplantando o problema em si.
Na presente hipótese, entretanto, a demora foi
realmente excessiva, posto que um vôo entre Brasília e Rio de Janeiro que, normalmente, duraria apenas cerca de 2 (duas) horas, após os sucessivos desvios, levou mais de 8 (oito) horas para chegar a seu destino.
Os problemas climáticos e de força maior invocados pela
ré não foram comprovados, vez que a resposta da INFRAERO ao ofício do Juízo informa ter ocorrido problema de visibilidade no aeroporto do Galeão, a partir das 16:16 horas, o que teria, sem dúvida, dificultado as decolagens mas que, a partir das 17:20 estas foram retomadas, de 5 em 5 minutos.
Em primeiro lugar, o ofício faz referência, apenas às
decolagens mas, ainda que se conclua que tais problemas tenham afetado toda a movimentação no aeroporto, não se justifica que o vôo que deveria chegar em torno das 17:00 horas somente alcançasse seu objetivo às 23:30, posto que o funcionamento se restabeleceu às 17:20.
A jurisprudência pátria está repleta de decisões tratando
de atraso de vôos, quando passageiros são obrigados a aguardar nos aeroportos ou, até, em hotéis, a efetiva saída, o que, ressalte-se, já é suficientemente desagradável.
No entanto, o autor e demais passageiros deste vôo, que
contavam passar menos de 2 horas no avião, não somente esperaram muito para chegar a seu destino, mas ainda, foram obrigados a permanecer dentro da aeronave por mais de 8 horas, submetidos a confinamento em área reduzida sem alimentação ou água, o que, associado à ausência de informações, configura o atendimento negligente e desrespeitoso, situação absurda que, por sua extravagância, mereceu até divulgação em conhecida coluna de jornal, conforme cópia acostada à inicial. 4 DÉCIMA CÂMARA CÍVEL Apelação Cível nº 0138290-12.2008.8.19.0001 Desembargador GILBERTO DUTRA MOREIRA
Conseqüentemente, os danos morais estão caracterizados
pela submissão a situação degradante e extremamente desconfortável, tendo sido o montante insuficientemente fixado em R$ 3.000,00 (três mil reais) que ora se majora para R$ 6.000,00 (seis mil reais), valor mais adequado à hipótese, segundo os critérios de satisfação/punição e razoabilidade/proporcionalidade.
Neste sentido já decidiu este Egrégio Tribunal de Justiça:
0346654-52.2009.8.19.0001 - APELACAO
DES. JACQUELINE MONTENEGRO - Julgamento:
07/02/2012 - VIGESIMA CAMARA CIVEL APELAÇÃO CÍVEL. ATRASO DE VOO. DANOS MORAIS E MATERIAS CONFIGURADOS. QUANTUM INDENIZATÓRIO A TÍTULO DE DANO MORAL FIXADO EM DESPROPORÇÃO AO ABALO PSÍQUICO SUPORTADO PELOS RECORRENTES. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS ESTABELECIDOS EM PERCENTUAL CONDIZENTE COM A NORMA CONTIDA NO PARÁGRAFO 3º DO ARTIGO 20 DO CPC. RECURSO A QUE SE DÁ PARCIAL PROVIMENTO PARA CONDENAR A APELADA, TAM LINHAS AÉREAS S/A, AO PAGAMENTO DE VERBA COMPENSATÓRIA POR DANO MORAL NO MONTANTE DE R$8.000,00 (OITO MIL REAIS) PARA CADA APELANTE.1. Apelantes que comprovam prejuízos de ordem material e moral por conta de defeito na prestação de serviço da empresa aérea.2. Empresa que descuida do atendimento adequado para o caso, deixando seus passageiros sem qualquer assistência e menosprezando o seu sofrimento, deixando de tratá-los com a cortesia que se deve dispensar a qualquer consumidor.3. Indenização fixada em desacerto, sem observar a intensidade do sofrimento dos apelantes. 4. Honorários de advogado fixados em percentual razoável e adequado ao caso concreto.5.Parcial provimento do recurso. 0004988-91.2007.8.19.0203 (2009.001.45140) - APELACAO
DES. SIDNEY HARTUNG - Julgamento: 24/11/2009 -
QUARTA CAMARA CIVEL APELAÇÃO CÍVEL - INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - ATRASO DE VOO - TAM - RELAÇÃO DE 5 DÉCIMA CÂMARA CÍVEL Apelação Cível nº 0138290-12.2008.8.19.0001 Desembargador GILBERTO DUTRA MOREIRA
CONSUMO - Vôo atrasado por mais de 10 horas,
obrigando os demandantes a adquirirem passagem de outra empresa aérea, a fim de que pudessem chegar a seu destino a tempo para as comemorações de final de ano, sendo certo que, na ocasião, a primeira autora encontrava-se grávida de seis meses, não tendo contado com nenhuma assistência da companhia aérea demandada. - Sentença de procedência do pleito indenizatório, condenando a ré a pagar aos autores a quantia de R$ 15.000,00 (quinze mil reais) pelo prejuízo por eles suportado. - Apelo da suplicada. - A chamada "operação padrão", realizada pelos controladores no final do ano de 2006, não constitui excludente de responsabilidade, pois, assim como a manutenção não programada de 06 (seis) aeronaves, afirmado pela recorrente, constituem risco inerente ao empreendimento, sendo, portanto, considerados fortuito interno, o qual, consoante a legislação consumerista, não possui o condão de excluir a responsabilidade. - Precedentes jurisprudenciais. - Danos morais que devem ser reduzidos, de R$15.000,00 (quinze mil reais), para R$10.000,00 (dez mil reais), à luz dos princípios da razoabilidade e proporcionalidade, considerando-se, ainda, o postulado da vedação ao enriquecimento sem causa. - Honorários advocatícios, corretamente fixados em R$ 1.500,00 (hum mil e quinhentos reais), não merecendo redução, eis que se situa dentro dos parâmetros do art. 20§3º do CPC. - PARCIAL PROVIMENTO DO RECURSO. 0001818-60.2011.8.19.0207 - APELACAO
DES. ANTONIO ILOIZIO B. BASTOS - Julgamento:
24/01/2012 - DECIMA SEGUNDA CAMARA CIVEL APELAÇÃO CÍVEL. RITO SUMÁRIO. AÇÃO INDENIZATÓRIA. CONTRATO DE TRANSPORTE AÉREO. ATRASO DE VÔO. ALEGAÇÃO DE ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS. FORÇA MAIOR NÃO COMPROVADA. DANO CONFIGURADO.1. Controvérsia entre passageiro e transportadora aérea, tendo por objeto atraso de cinco horas no voo, acarretando a perda de alegado compromisso profissional pelo autor. 2. Ainda que se considere o atraso por condições climáticas, fato que não restou devidamente comprovado, tal é inerente à atividade da companhia aérea, caracterizando-se como fortuito interno.3. Inconformismo da ré em relação à verba 6 DÉCIMA CÂMARA CÍVEL Apelação Cível nº 0138290-12.2008.8.19.0001 Desembargador GILBERTO DUTRA MOREIRA
indenizatória e com o termo inicial dos juros moratórios.
Inconformismo do autor, que em recurso adesivo pleiteia a majoração do quantum indenizatório, fixado na sentença em R$ 3.000,00.4. Quantia arbitrada a título de danos morais que se mostra adequada, bem como correta a incidência de juros a contar da citação, tendo em vista relação contratual entre as partes. Sentença mantida.5. Recursos desprovidos.
Finalmente, merece nota o infeliz argumento
apresentado na inicial, de que o dano causado a um empresário é diverso do causado a um turista, vez que a atividade exercida pelo passageiro fora do avião não altera sua relação com a companhia, sendo que esta, pelo contrato de transporte, está obrigada a levar todos os seus passageiros com conforto e segurança até o destino programado, tratando a todos com igual respeito, até mesmo pela sua condição de ignorância quanto à vida particular de cada um.
Por tais fundamentos, dá-se provimento parcial ao
segundo recurso, somente para majorar o montante indenizatório, mantida, no mais, a sentença, prejudicado o primeiro apelo.
Rio de Janeiro, 07 de março de 2012.
GILBERTO DUTRA MOREIRA
Desembargador Relator
Certificado por DES. GILBERTO DUTRA MOREIRA
A cópia impressa deste documento poderá ser conferida com o original eletrônico no endereço www.tjrj.jus.br. Data: 08/03/2012 18:47:18Local: Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro - Processo: 0138290-12.2008.8.19.0001 - Tot. Pag.: 6