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Primeiro álbum criado com inteligência artificial é

lançado
Ferramenta identifica padrões de artistas e estilos para gerar amostras musicais

19.fev.2018 às 2h00

EDIÇÃO IMPRESSA (//www1.folha.com.br/fsp/fac-simile/2018/02/19/)

Amanda Nogueira

SÃO PAULO "Hello World" (olá, mundo, em português) é um velho conhecido


de programadores. Trata-se de um termo clássico exibido pelo primeiro
programa que um usuário escreve, ao se ambientar com os códigos que irá
utilizar.

É também o nome do primeiro álbum criado com recursos de inteligência


artificial, disponibilizado em plataformas digitais de música desde janeiro.

Ao todo, são 15 faixas compostas com o Flow Machines, um painel com


ferramentas de criação artística para compositores.

Por meio de um modelo de aprendizado de máquina, ou seja, após fornecer


ao computador exemplos musicais --como todas as composições de Tom
Jobim--, o sistema identifica padrões de artistas e de estilos e os reproduz ao
gerar novas amostras, evitando plágios (veja ao lado).

Com as ferramentas, um artista pode, por exemplo, criar múltiplas


harmonias (a estrutura da música feita com os acordes) a partir de uma
melodia ou adaptar uma composição de um estilo, como a bossa nova, a
outro, como o rock.

O projeto foi conduzido como parte das pesquisas dos Laboratórios de


Ciência da Computação da Sony (Sony CSL) e da Universidade Pierre e Marie
Curie, em Paris.
Para o lançamento do álbum, foi criado o Flow Records, selo independente
que servirá de guarda-chuva para novas produções musicais com inteligência
artificial.

"O objetivo era mostrar que inteligência artificial pode gerar novos e
convincentes materiais musicais em todas as dimensões da música
mainstream: melódicas, harmônicas, rítmicas e timbrais", afirma François
Pachet, ex-diretor da Sony CSL e atual diretor de um laboratório de
ferramentas para criadores no Spotify.

O uso de inteligência artificial na música não é uma prática nova. A "Suíte


Illiac", inspirada nos corais de Bach e considerada a primeira partitura
composta com a ajuda de máquinas, data de 1957. Em 2016, o Flow Machines
já havia ajudado a conceber "Daddy's Car", uma faixa aos moldes do que os
Beatles faziam.

PÚBLICO

No entanto, Pachet, que coordenou o projeto, disse querer ir "além do efeito


de uma 'demo'". "Queríamos não somente produzir uma boa prova de
conceito, mas criar música de verdade com músicos reais e atingir seus
respectivos públicos", diz.

O conceito inicial de "Hello World", explica ele, foi inspirado no conto "A
Sombra", do autor dinamarquês Hans Christian Andersen (1805-1875). "O
conto fala sobre a interação entre um homem e sua sombra, e transferimos
essa metáfora para a inteligência artificial, que pode ser vista como uma
companheira do artista."

A metáfora vem à tona também no nome do artista principal do álbum,


Skygge, que, em dinamarquês, significa sombra. Trata-se do pseudônimo
artístico do cantor e compositor Benoit Carré, que trabalhou nas interfaces
do Flow Machines e se tornou diretor artístico de "Hello World".

"I.A. [inteligência artificial] pode ser um ótimo parceiro de composição", diz


Carré. "Músicos geralmente trabalham sozinhos e empacam. I.A. pode
propor boas ideias e aguçar a criatividade, ajudando artistas a escaparem de
seus hábitos."

Para conceber "Hello World", Carré trabalhou em parceria com artistas como
a cantora de jazz e sensação na internet Camille Bertault ("Cake Woman",
orientada pelo funk pop dos anos 1980) e o produtor belga Stromae ("Valise",
inspirada em música de Cabo Verde).
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CINZENTO

Os direitos autorais, campo ainda cinzento no que tange a inteligência


artificial na música, foram concedidos aos artistas por trás de cada faixa.

Ainda que o Flow Machines se utilize de padrões observados na obra de


outros artistas, eles não são contemplados com uma compensação.

"A menos que você faça uma cópia, não deve pagar royalties por se inspirar",
disse Pachet à Folha em uma entrevista publicada em agosto de 2017. "Se eu
acordar de manhã, pegar minha guitarra e compuser uma música, tenho na
cabeça todos as minhas referências e, obviamente, sou inspirado por elas."

Guitarrista amador, Pachet se diz um apreciador da música brasileira


setentista e projeta no país pessoas "abertas a novas tecnologias e maneiras
de criar". "O Brasil tem uma variedade de estilos e gêneros extremamente
rica e muito viva, isso é, constantemente evoluindo."

Seu entusiasmo com a música regional teve desdobramento no Flow


Machines. Uma das bases da tecnologia é o Brazyle, elaborado a partir de
gravações de músicas brasileiras.

Com a base de música regional, chega-se a faixas como "Sensitive",


composição bossa-novista de Skygge em parceria com o músico escocês C
Duncan, incluída em "Hello World". No álbum ainda figura uma versão de
"Samba de uma Nota Só", de Tom Jobim.

A expectativa é a de que o próximo projeto da Flow Records seja de música


brasileira, feito com artistas locais.
 
COMO FUNCIONA

Veja passo a passo como funciona o Flow Machines

1) Ensinando a máquina

Tudo começa com um processo de machine learning (aprendizado de


máquina), isto é, apresentar ao computador o máximo de exemplos de
alguma coisa, como todas as melodias de Tom Jobim.

2) Igual, mas diferente

O sistema irá analisar o conjunto de exemplos e extrair modelos estatísticos,


ou seja, reconhecerá todos os padrões, inclusive os mais complexos que
poderiam passar despercebidos por humanos.

3) Mais do mesmo

A partir dos modelos, o Flow Machines cria amostras com mesmos padrões,


regenerando algo que soe como os exemplos, mas que ao mesmo tempo seja
diferente deles. Esse processo será a base das ferramentas de criação.

4) Mãos à obra

Com elas, um artista pode compor emulando estilos, características de


músicos ou outros padrões detectados. É possível, por exemplo, criar
múltiplas harmonias (a estrutura da música feita com os acordes) a partir de
uma melodia ou adaptar uma composição de bossa nova ao rock.

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