Sie sind auf Seite 1von 117

Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

ANAIS DA IV SEMANA DE GEOGRAFIA DE IRATI

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE


CAMPUS DE IRATI

Irati, PR
2008

1
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

ANAIS DA IV SEMANA DE GEOGRAFIA DE IRATI


UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE
CAMPUS DE IRATI
Volume 1 -ANO 2008

Irati, PR
2008

2
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

ANAIS DA IV SEMANA DE GEOGRAFIA DE IRATI

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE

CAMPUS DE IRATI

Volume 1 -ANO 2008

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE

CAMPUS DE IRATI

1º A 06 de setembro de 2008

TIRAGEM

200 Unidades (DVD)

Organizadores

Prof. Msc. Aparecido Ribeiro de Andrade

Prof. Msc. Wilson Flávio Feltrim Roseghini

A exatidão das informações, os conceitos e opiniões emitidos nos resumos são de exclusiva responsabilidade dos
autores. É permitida a reprodução parcial ou total dessa obra, desde que citada à fonte.

Diagramação, Impressão e Reprodução


Copiadora Copycenter,
Rua Carlos Thoms, 59,
Centro, CEP 84500-000, Irati, PR.
Fone 42-3422-2424

3
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE - UNICENTRO


Campus Universitário de Irati – Centro de Ciências Agrárias e Ambientais
Departamento de Geografia - DEGEO - Fone (42) 3421-3017
PR 153 – KM 7 – Bairro Riozinho. CEP 84500-000 – Irati - PR.

4
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ CAMPUS REGIONAL DE UMUARAMA

Reitor: Vitor Hugo Zanette


o
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Prof. Dr . Marco Aurélio Romano

Diretor Campus de Irati: Prof. Dr. Mário Umberto Menon

Coordenação
Prof. Aparecido Ribeiro de Andrade
Prof. Roberto França Silva Jr

Comissão Científica
Prof. Almir Nabozny
Profª. Karla Rosário Brumes
Prof. Wilson Flávio Feltrim Roseghini
Prof. Sergio Gonçalves
Prof. Valdemir Antoneli
Profª Wanda Terezinha Pacheco dos Santos

Comissão Organizadora
Prof. Almir Nabozny
Profª. Karla Rosário Brumes
Prof. Luiz Carlos Basso
Prof. Wilson Flávio Feltrim Roseghini
Marlon Fabio A. Carvalho (acadêmico de Geografia)
Maycon Luiz Tchmolo (estagiário)

Equipe de Apoio
Cassiano Lara de Lima (acadêmico de Geografia)
Dalton Renan Fleischer (acadêmico de Geografia)
Elizeu Eduardo Czekalski (acadêmico de Geografia)
Giovanna de Souza (acadêmica de Geografia)
João Anesio Bednarz (acadêmico de Geografia)
Katya Elise Cicorum (acadêmico de Geografia)
Luciano Almeida de Souza (acadêmico de Geografia)
Miguel Lubaczeuski (acadêmico de Geografia)
Patrick Fernando de Oliveira (acadêmico de Geografia)
Regiane Barteko (acadêmica de Geografia)
Viviane Regina Caliskevstz (acadêmica de Geografia)
Vinicius João Vienc (acadêmico de Geografia)
Zaqueu Luiz Bobato (acadêmico de Geografia)

5
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO DO EVENTO..................................................................................................8
PROGRAMAÇÃO DO EVENTO ..................................................................................................10
MESA REDONDA 1: O Método e a Ideologia na Análise do Espaço Geográfico ...................11
MESA REDONDA 2: A evolução da ciência geográfica a partir de semanas acadêmicas”:
Avaliação das atividades da Semana e debate científico ...........................................................21
MINI-CURSO 1: A Geotecnologia como Ferramenta para Representação do Espaço
Geográfico ......................................................................................................................................23
MINI-CURSO 2: Processos Hidrodinâmmicos em Bacias Hidrográficas: Uso da
Modelagem para Análise do Espaço............................................................................................24
PALESTRA FINAL
PARTE 1: Diversidade e Conflitos Ambientais no Brasil ..............................................35
PARTE 2: Os Geófrafos Frente às Dinâmicas Sócio-ambientais no Brasil ..................42
TRABALHO DE CAMPO: A contribuição da Geografia nas Pesquisas Sócio-Ambientais ...48
RESUMOS EXPANDIDOS - COMUNICAÇÕES ORAIS: ..........................................................50
AQUECIMENTO GLOBAL E POSSIVEIS MUDANÇAS CLIMÁTICAS LOCAIS: O
CASO DE IRATI ............................................................................................................................ 51
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE AQUECIMENTO GLOBAL ...................................... 53
MUDANÇAS NO SISTEMA VIÁRIO DA CIDADE DE IRATI-PR: PROLEGÔMENOS À
CIRCULAÇÃO (URBANA) E À VELOCIDADE......................................................................... 55
ALGUMAS IMPRESSÕES A RESPEITO DA FRONTEIRA E DO TERRITÓRIO A
PARTIR DE TRABALHO DE CAMPO REALIZADO EM FOZ DO IGUAÇU (BRASIL),
PUERTO IGUAZÚ (ARGENTINA) E CIUDAD DEL LESTE (PARAGUAI) ............................ 57
A MUSICIDADE E A GEOGRAFIA: O ESPAÇO GEOGRÁFICO POR MEIO DE SONS &
LETRAS .......................................................................................................................................... 59
REPERCUSSÃO DO AQUECIMENTO GLOBAL EM MEIO À SOCIEDADE, UM
PARALELO ENTRE A VOZ DA MÍDIA E DA CIÊNCIA .......................................................... 61
ENTRE AS PRÁTICAS AGRÍCOLAS AGROECOLÓGICAS E AS CONVENCIONAIS NO
MUNICÍPIO DE SÃO MATEUS DO SUL-PR: DA PRODUÇÃO A PROMOÇÃO DA VIDA.. 63
RECICLANDO MATERIAIS E IDÉIAS: UMA PROXIMAÇÃO POSSÍVEL NO ENSINO
DE GEOGRAFIA............................................................................................................................ 65
O ESTUDO DO CLIMA URBANO NO BRASIL ......................................................................... 67
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CLIMATOLOGIA NO ENSINO FUNDAMENTAL ........... 69
CIDADES MÉDIAS: ANÁLISE DA ESTRUTURA ECONÔMICA E SÓCIO-ESPACIAL
DE MARINGÁ-PR ......................................................................................................................... 71
CAPITALISMO E A DIVISÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO....................................... 73

6
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

SISTEMAS DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS, UM OLHAR PARA O CEMITÉRIO


MUNICIPAL SÃO JOSÉ................................................................................................................ 75
A QUESTÃO DO LIXO E A PRÁXIS EDUCATIVA NO CONTEXTO URBANO: O CASO
DA CIDADE DE IRATI-PR ........................................................................................................... 77
FAZENDO ARTE COM AS MÃOS (ARTESANATO) INOVANDO ATITUDES – NOTAS
SOBRE UMA EXPERIÊNCIA EDUCACIONAL HOLÍSTICA ................................................... 79
AS MULTITERRITORIALIDADES: UMA BREVE DISCUSSÃO SOBRE O TERRITÓRIO .. 81
A GLOBALIZAÇÃO E A COMPETITIVIDADE ENDÓGENA DO SETOR DE MALHAS
DE IMBITUVA-PR......................................................................................................................... 83
CARTOGRAFIA NO ENSINO: TEORIA E PRÁTICA ................................................................ 85
DIVISÕES REGIONAIS DO BRASIL .......................................................................................... 87
RESUMOS EXPANDIDOS - TRABALHOS EM PAINÉIS ......................................................... 89
UMA APROXIMAÇÃO GEOGRÁFICA AS ÁGUAS MINERAIS SULFUROSAS DO
MUNICÍPIO DE MALLET-PR ...................................................................................................... 90
DINÂMICA ECONÔMICA E MOVIMENTOS MIGRATÓRIOS: COMPREENDENDO A
VILA ZEZO EM IMBITUVA-PR .................................................................................................. 92
ARROIO DOS PEREIRAS EM IRATI: O RIO COMO INSTRUMENTO DIDÁTICO AO
ENSINO DE GEOGRAFIA ............................................................................................................ 94
AGRICULTURA FAMILIAR E TRANSFORMAÇÕES SOCIOECONÔMICAS: O CASO
DA FUMICULTURA EM ÁGUA QUENTE DOS LUZ, REBOUÇAS-PR.................................. 96
PROJETO CAVERNA – EDUCAÇÃO TURISTICA E ROTEIROS PEDAGÓGICOS............... 98
OS FLUXOS ADUANEIROS ENTRE BRASIL, ARGENTINA E PARAGUAI NA
TRÍPLICE FRONTEIRA: ORGANIZANDO O PENSAMENTO EM TORNO DA
OBSERVAÇÃO DE CAMPO ........................................................................................................ 100
LUZ, CÂMERA E AÇÃO PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA: A PRÁTICA
CONSERVADORA DO ENSINO REELABORADA POR MEIO DOS FILMES ....................... 102
A IMPORTÂNCIA DAS ÁREAS VERDES URBANAS, UM ESTUDO DE CASO NO
MUNICÍPIO DE REBOUÇAS-PR ................................................................................................. 104
REPRESENTANDO O GEOGRÁFICO EM FOTOGRAFIAS: UMA APROXIMAÇÃO A
EDUCAÇÃO AMBIENTAL .......................................................................................................... 106
CIRCUITO ESPACIAL PRODUTIVO DO LEITE E SEUS CÍRCULOS DE COOPERAÇÃO
NO ESPAÇO A PARTIR DE IRATI-PR........................................................................................ 108
AÇÃO SUSTENTÁVEL................................................................................................................. 110
TRABALHANDO OS TEMAS TRANSVERSAIS NO ENSINO DA GEOGRAFIA: A
ÉTICA NA EDUCAÇÃO ESCOLAR ............................................................................................ 112
O COMPORTAMENTO EROSIVO E SUA RELAÇÃO COM A VEGETAÇÃO RIPÁRIA:
UM ESTUDO DE CASO ................................................................................................................ 114
SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL EM IRATI-PR: A VILA RAQUEL EM QUESTÃO ....... 116

7
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

IV Semana de Geografia de Irati


“OCUPAÇÃO DO ESPAÇO: ISSO É O (UM) MÉTODO DE ANÁLISE
GEOGRÁFICA”

A IV Semana de Geografia, evento de alcance regional para divulgação das


pesquisas e reflexões concernentes a temas atuais de suma relevância, principalmente
para os estudantes, pretendeu propiciar o contato com especialistas de diferentes visões
e de outras instituições de ensino superior do Paraná e do Brasil.
Este evento abordou a discussão da questão do método e da ideologia no
estudo da ciência geográfica. Tal reflexão, que pode parecer simples, não se configura
como tal, pois a discussão da apropriação da metodologia científica para fins pessoais e,
muitas vezes, imorais, remonta ao início das primeiras descobertas científicas da
sociedade.
Os limites ambientais definidos pelo espaço geográfico, enquanto local de
acontecimento das mais diversas experiências da relação do homem com o meio, são
colocados como impedimento ao desenvolvimento social.
Os recursos se escasseiam e a sociedade está em estado de alerta. A mídia
aventa todos os dias os problemas referentes, principalmente ao “aquecimento global”,
e, diante da grande difusão por parte dos meios de comunicação, faz-se necessário cada
vez mais munir estudantes e pesquisadores de substratos teóricos e empíricos para
melhor se posicionarem frente aos discursos, tanto científicos quanto não científicos, ou
seja, com o atual nível de divulgação dos problemas ambientais globais e com as
mudanças sociais profundas advindas da atual fase do capitalismo, se torna premente
uma visão crítica diante dos atuais processos.
Pretendeu-se que os participantes, principalmente os acadêmicos de
Geografia, ampliassem a visão integrada das diferentes áreas da ciência geográfica, sob a
perspectiva da atual questão sociedade-natureza, na sua relação mais estreita com a
pesquisa e com o ensino de Geografia. Tanto acadêmicos quanto professores buscaram
uma integração com a discussão elaborada por professores de outras instituições que
divulgaram as recentes pesquisas de diferentes instituições de ensino e pesquisa. Tais
objetivos, uma vez alcançados, deverão enriquecer o conhecimento dos acadêmicos,
através de conteúdos práticos, realizados através de mini-cursos e teóricos, ministrados
sobretudo nas palestras.
Os quase 150 participantes do evento tiveram a oportunidade de identificar,
discutir e analisar os principais problemas relacionados à Geografia contemporânea.
Estes participantes não se restringiram à comunidade acadêmica da Unicentro, pois

8
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

professores e alunos do ensino fundamental e médio de escolas da região também


participaram, inclusive com apresentação de trabalhos, fato que só fez crescer a
qualidade do evento.
A divulgação foi feita através dos meios de comunicação disponíveis na
instituição (UNICENTRO), tais como: Imprensa Universitária, rádio, internet, bem
como a Assessoria de Comunicação Social. Também foram confeccionados cartazes e
folders. Procedimento que só foi possível graças ao apoio e patrocínio de algumas
instituições públicas e privadas. Dentre as instituições públicas, merece destaque a
Fundação Araucária, que prontamente concedeu apoio financeiro para a realização do
presente evento, mas a contribuição dos outros patrocinadores também foram
importantes, principalmente na parte de divulgação do evento e de aquisição de
materiais como as bolsas para acondicionamento dos materiais a serem distribuídos a
cada um dos participantes.
Enfim, é com grande satisfação que apresentamos os resultados do evento em
forma de anais e convidamos o leitor a testemunhar a divulgação, através desta mídia,
das atividades realizadas no período de 1º a 6 de setembro de 2008 no campus
universitário de Irati. Qualquer dúvida, sugestão ou crítica poderá ser encaminhado aos
coordenadores do evento.
Saudações geográficas....

Prof. Aparecido Ribeiro de Andrade Prof. Roberto França da Silva Júnior


e-mail: apaandrade@gmail.com e-mail: rofranssa@gmail.com
Coordenador Geral Vice-coordenador

9
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

PROGRAMAÇÃO DO EVENTO
Horário
Data Atividade
Início Término
Credenciamento
01/09 18:50h 19:30h
Solenidade de Abertura
Prof. Msc. Vitor Hugo Zanette – Magnífico Reitor
Prof. Msc. Aldo Nelson Bona – Ilmo. Vice-Reitor

01/09 Prof. Dr. Mario Humberto Menon – Ilmo. Diretor do Campus de Irati
19:30h 20h
Prof. Dr. Mario Takao Inoue – Ilmo. Diretor Setor de Ciências Agrárias e Ambientais
Prof. Msc. Luiz Carlos Basso – Chefe do Departamento de Geografia

Palestra de Abertura: “OCUPAÇÃO DO ESPAÇO: ISSO É O (UM) MÉTODO DE


ANÁLISE GEOGRÁFICA?”
01/09 20h 23h Prof. Dr. Douglas Santos (PUC-SP)
Profª. Msc. Karla Rosário Brumes (UNICENTRO/Irati)

Mini-curso 01: “A Geotecnologia como Ferramenta para Representação do


02/09 Espaço Geográfico”
14h – 18h 19h – 23h
Ministrante: Prof. Dr. Luiz Gilberto Bertotti (UNICENTRO – Guarapuava)

Mini-curso 02: “Geomorfologia: métodos e técnicas


02/09 14h – 18h 19h – 23h Ministrante: Prof. Dr. Leonardo José Cordeiro Santos (UFPR - Curitiba)

Mini-Curso 03: “Processos hidrodinâmicos em bacias hidrográficas: uso da


02/09 modelagem para análise do espaço”
14h – 18h 19h – 23h
Ministrante: Prof. Dr. Leandro Redin Vestena (UNICENTRO – Guarapuava)

Mesa Redonda 01 : “O Método e a Ideologia na Análise do Espaço Geográfico”


Prof. Dr. Luis Lopes Diniz Filho (UFPR - Curitiba)
Profª Dr. Sérgio Fajardo (UNICENTRO - Guarapuava)
03/09 19h 23h Prof. Ms. Roberto França da Silva Júnior (UNICENTRO - Irati)

Palestra de Encerramento: “A contribuição da Geografia nas Pesquisas Sócio-


Ambientais”
04/09 19h 23h Prof. Dr. Roberto Verdun (UFRGS – Porto Alegre)
Prof. Ms. Wilson Flávio Feltrim Roseghini (UNICENTRO – Irati)

Mesa Redonda 02: “A evolução da ciência geográfica a partir de semanas


acadêmicas”: Avaliação das atividades da Semana e debate
científico
Prof. Ms. Aparecido Ribeiro de Andrade (UNICENTRO – IRATI)
05/09 19h 23h Prof. Ms. Roberto França da Silva Júnior (UNICENTRO – IRATI)
Profª Ms. Karla Rosário Brumes (UNICENTRO – IRATI)
Confraternização - GEOFESTA

Saída de Campo: “Aspectos Geoambientais dos Municípios de Irati e


06/09 Prudentópolis”
14h 18h
Prof. Ms. Valdemir Antonelli (UNICENTRO - Irati)

A apresentação de trabalhos foi realizada no período da tarde, das 18:00h às 19:00h nos dias 04 e 05/09.

10
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

Mesa Redonda 1: “O Método e a Ideologia na Análise do Espaço Geográfico”


POR UMA CRÍTICA DA GEOGRAFIA CRÍTICA

LUIS LOPES DINIZ FILHO


Professor Adjunto Doutor do Departamento de Geografia da UFPR.

1. Características da teoria social crítica


1.1. A inversão do princípio da neutralidade científica
1.2. As duas vertentes principais da teoria crítica: o marxismo e o pós-modernismo

2. A teoria social crítica na Geografia


2.1. Identidade e unidade da Geografia Crítica: seus pressupostos fundamentais
2.2. A hegemonia da abordagem crítica na Geografia contemporânea

3. A crise da teoria social crítica e sua manifestação na Geografia brasileira


3.1. Do marxismo ao ecletismo pós-modernista: a Geografia Crítica mudou para continuar a mesma

CONSIDERAÇÕES BANAIS SOBRE O MÉTODO E A IDEOLOGIA NA ANÁLISE DO


ESPAÇO GEOGRÁFICO. ASPECTOS FORMATIVOS.

ROBERTO FRANÇA DA SILVA JÚNIOR


Professor Assistente mestre do DEGEO/I da Unicentro. Irati – Paraná.
e-mail: rofranssa@gmail.com

O tema é bastante desafiador.


Discutir um tema dessa envergadura ao lado pessoas competentes, paralelo à discussão que
estamos fazendo em uma tese sobre a relação da circulação e o espaço geográfico, causa certa
preocupação. Diante disso, a proposta aqui é expor algumas angústias com base em questões bastante
pontuais e banais.
Primeiramente, o método é seqüência de fatos e decisões de forma ordenada para alcançar
determinado objetivo. Não somos “contra o método”, por entendermos que o ordenamento das idéias e a
coerência são dois dos pressupostos básicos, para se atingir um conhecimento que contribua efetivamente
para a ciência.
Entendemos método ‘geográfico’ como o desenvolvimento congruente e não apriorístico de uma
pesquisa, com base no confronto de concepções divergentes e convergentes. Esse desenvolvimento
deverá constituir um sistema com base em conceitos e categorias de análise, que permitam a compreensão
de determinada realidade. O tempo e o espaço são as principais dimensões da vida humana.
O espaço geográfico é a categoria central, híbrido de técnicas e normas. Esta categoria viabiliza o
entendimento de outros recortes espaciais como recursos: territoriais (territorialidades), regionais
(regionalidades), redeonais (territórios-redes), área, zona.
Quanto à ideologia, falemos das concepções consagradas. No século XVIII surgiram os
ideólogos, pessoas que elaboravam teorias especulativas, abstratas e metafísicas a respeito do mundo das
idéias e sua repercussão sobre o mundo dito concreto. Como os ideólogos tratavam basicamente do
pensamento hegemônico burguês, isso levou Marx a conceituar ideologia como sendo o pensamento

11
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

dominante transcendido para toda a sociedade. Um tempo depois outros pensadores, inclusive marxistas
como Lênin, passaram a compreender a ideologia como sendo “visão de mundo”, todavia estratificado em
classes. Hoje, por meio de todo o pensamento ocidental que perpassou todo o século XX, vemos uma
gama de ideologias científicas e não-científicas, filosóficas e não-filosóficas.
Apresentadas as concepções centrais do tema proposto, a questão mais intricada é: qual é a
relação do método com a ideologia?
A ciência é própria das classes hegemônicas da civilização, portanto, visto na concepção
marxiana, os métodos que servem (ou serviram) para aperfeiçoar a ciência, contém em si, a ideologia
dominante. Visões de mundo e de ciência, contrárias à dominação de classe, como foi o caso da proposta
do próprio Marx, também surgiram da ideologia. É a contradição, a dialética. Esse é o caso do contexto
do iluminismo, a partir da fé na ciência para “libertar o homem da opressão”, revelou pensadores como
Rousseau que criou a teoria do “bom selvagem”. As próprias obras de Marx também serviram para
“aperfeiçoar o capitalismo”.
Por muito tempo, o marxismo foi a única referência metodológica frente ao mundo do
“desenvolvimento desigual e combinado”, levando mesmo àqueles que nunca leram sequer uma vírgula
na obra de qualquer autor marxista clássico, a se intitularem marxistas. Surgiram partidos, movimentos
sindicais e outras formas de organização, que levantaram (e ainda existem aqueles que levantam) a
bandeira de oposição à “opressão dos trabalhadores”, “das minorias”, “dos estudantes pobres” etc. Nas
ciências humanas, o problema foi ainda mais grave, pois fórmulas de preparação de monografias,
dissertações e teses já estavam prontas diante do ortodoxismo do materialismo dialético, como único
método verdadeiro. Nesse contexto, a ortodoxia marxista levou à construção de um sistema metodológico
mecanicista, beirando ao positivismo lógico, que passou a não contribuir mais para as explicações
geográficas recentes.
No Brasil, essa contradição se colocava primeiramente como uma forma de responder à ideologia
dominante das forças armadas no governo, “representando os interesses estadunidenses”, depois, como
tentativa de demonstrar que o “sonho de uma construção de uma sociedade mais justa”, ainda não tinha
acabado, acentuada pela provocação do ideólogo Francis Fukuyama, com a sua proposta de “Fim da
História”. Para o autor, este momento é o do fim das ideologias. No entanto, a título de crítica,
parafraseando Bobbio “(...) não há nada mais ideológico do que a afirmação de que as ideologias estão
em crise. E depois, esquerda e direita não indicam apenas ideologias” (2001, p.51) 1.
Cabe estabelecer também, uma diferenciação importante, ou seja, entendemos que existe uma
ideologia própria de cada um, por meio da visão de mundo constituída ao longo das existências, pari
passu à produção de ideologia. Cabe também, um esforço de método para não se produzir ideologia, pois,
ideologia não é ciência, embora toda ciência porte uma ideologia. Isto é, não existe neutralidade
científica.
O desenvolvimento das forças produtivas com o “aperfeiçoamento” (permanente) das formas de
reprodução do capital e o fim da União Soviética levaram muitos a pensarem no “fim da história”. A

1
BOBBIO, Norberto. Direita e Esquerda. São Paulo: Unesp, 2001.

12
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

globalização emergiu definitivamente com mais força, tanto no plano “concreto” (formas de produção,
TIC etc.), quanto no plano da ideologia. Como diria Galbraith, “Globalização não é um conceito sério.
Nós, americanos, o inventamos para dissimular nossa política de entrada nos outros países.” 2
Novas teorias e conceitos foram forjados para explicar “a novidade” (A novidade veio dar à praia;
Na qualidade rara de sereia; Metade, o busto de uma deusa maia; Metade, um grande rabo de baleia) 3.
Globalização e Neoliberalismo, nas mais diversas vertentes, foram os mais aventados. Um pela a
“esquerda” e outro pela “direita”. O “desenvolvimento” era explicado pela globalização e os “problemas
sociais” pelo neoliberalismo.
Para a “esquerda”, a culpa pela miséria passou a ser do “neoliberalismo globalizado”. Na
América Latina seus representantes seriam Fujimori, Menem e “FHC”. A “esquerda” entoava os gritos
“Fora já, fora já daqui, o FHC e o FMI”. Antes a culpa era apenas do capitalismo, que passou a ter
“sobrenomes”.
Com o governo Lula, não se fala em Neoliberalismo, embora mantenha a política privatista do
antecessor, com certo “sucateamento novo estilo” do ensino de todos os níveis. A dívida externa foi paga,
permanecendo uma grande política interna, mas foi paga. A professora Benedita4 se espantaria se ainda
estivesse viva. Os partidos que eram de esquerda nos anos 1980, bem como os que se ramificaram destes,
ou se tornaram ainda mais idealistas ou se “endireitaram” 5. Atualmente, alguém que se auto-intitule de
esquerda, é considerado pueril, infelizmente.
Daí o momento em que vivemos ser cada vez mais gadocéfalo. As pessoas cada vez estão se
retirando do embate político, seja ele acadêmico ou não. O individualismo está se exacerbando e a coisa
pública está cada vez mais desvalorizada e/ou privatizada. A sensação é a de que não existem alternativas
ao atual status quo, possibilitando a existência de novas formas de alienação e fetichização. Existe o
predomínio do imediatismo: trabalhar, ganhar bastante dinheiro, se aperfeiçoar “a toque de caixa”,
construir casa, comprar carro, casar, ter filhos (dois), netos, bisnetos, tataranetos e morrer 6. A construção

2
Economista norte-americano, em entrevista a Enio Carreto, no Il Corrieri della Sera. Reproduzido na Folha de S.
Paulo de 2 de novembro de 1997, p.13, Caderno “Dinheiro”.
3
“A novidade era o máximo/ Do paradoxo estendido na areia/ Alguns a desejar seus beijos de deusa/ Outros a
desejar seu rabo pra ceia/ Ó, mundo tão desigual/ Tudo é tão desigual/ Ó, de um lado este carnaval/ Do outro a
fome total/ E a novidade que seria um sonho/ O milagre risonho da sereia/ Virava um pesadelo tão medonho/ Ali
naquela praia, ali na areia/ A novidade era a guerra/ Entre o feliz poeta e o esfomeado/ Estraçalhando uma sereia
bonita/ Despedaçando o sonho pra cada lado/ Ó, mundo tão desigual/ Tudo é tão desigual/ Ó, de um lado este
carnaval/ Do outro a fome total”. “A novidade”, letra de Gilberto Gil e música de Bi Ribeiro, Herbert Vianna, João
Barone (1986). © Gege Edições Musicais ltda (Brasil e América do Sul) / Preta Music (Resto do mundo) / Edições
Musicais Tapajós LTDA.
4
A professora Benedita foi minha professora na quinta série do antigo primeiro grau. Era uma excelente professora,
muito séria e tradicional. Todos os professores de Geografia que vieram depois eu nomeio de Benedita, para
referenciar a visão e o período em questão, a década de 1980, quando os alunos dentro e apesar de um modo
tradicional, aprendiam muito mais a ser cidadãos e compreender o espaço. A culpa não é da Geografia nem dos
geógrafos, mas das políticas educacionais.
5
As denominações “esquerda” e “direita” não explicam mais as ideologias políticas de nosso tempo, todavia, é uma
forma ilustrativa do problema em que se apresenta.
6
Isto lembra a música Panis et Circenses de Os Mutantes, composta por Caetano Veloso e Gilberto Gil. A letra diz o
seguinte: Eu quis cantar/ Minha canção iluminada de sol/ Soltei os panos sobre os mastros no ar/ Soltei os tigres e
os leões nos quintais/ Mas as pessoas na sala de jantar/ São ocupadas em nascer e morrer/ Mandei fazer/ De
puro aço luminoso um punhal/ Para matar o meu amor e matei/ Às cinco horas na avenida central/ Mas as pessoas
na sala de jantar/ São ocupadas em nascer e morrer/ Mandei plantar/ Folhas de sonho no jardim do solar/ As folhas

13
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

da “grande obra” é mais uma reprodução do sistema. Comprar uma bicicleta nem pensar: É coisa de
“gente doida”.
O discurso da esquerda esvaziou-se com o método. Nesse sentido, parte da culpa é a subversão
dos métodos oficiais, principalmente o marxismo. Usaram tão vulgarmente a dialética, que ela se tornou
mais um positivismo, com quase todos os princípios filosóficos.
O discurso da direita se tornou cada vez mais ideológico, mais a cara da revista Veja, mais a
acrítico como o Fantástico, o Jornal Hoje e o Jornal Nacional juntos. O pragmatismo se tornou a meta,
onde não cabe ingenuidade tampouco questionamentos. O pragmatismo também se tornou justificativa
para a corrupção e outros males.
No Brasil, no atual governo, direita e esquerda se fundiram para criar um monstro ainda pior. Um
monstro capaz de solapar a crítica e torná-la lugar comum. Qualquer crítica tem sido em vão diante dos
“resultados” (números) da economia. A esmola institucionalizada se diferiu de um verdadeiro programa
de transferência de renda, tornando-se uma peita de votos “novo estilo”. Os falsos resultados da educação
serviram como um “cala a boca”. Enquanto isso, os bancos ampliam seus lucros e os impostos
extravasam para patamares jamais atingidos no país, mesmo com o fim da CPMF.
No plano social, isso representou o aumento do peleguismo sindical e o arrocho salarial na escala
nacional, mas, como a inflação, por enquanto, está sob controle, a população se cala. As prioridades
mudaram e a própria diversificação da economia contribuiu para a elevação do que chamamos de
“hedonismo às avessas”, aquela falsa busca pelo prazer, diante do cotidiano cada vez mais claustrofóbico
das cidades. O lazer associado ao prazer é cada vez mais mercantilizado e cada vez mais inatingível.
No plano sexual, ocorreram mudanças significativas, porém enganosas. Na realidade o
conservadorismo mudou de cara, pois mercantilizou ainda mais o sexo e o prazer, tornando as pessoas
cada vez mais alienadas. Isso favoreceu novas formas de repressão sexual, mas principalmente
ideológicas, no sentido do discurso único.
Voltando um pouco, até a década anterior, na Geografia, quem não utilizasse o método marxista
era tachado de “direitoso”. Mas ainda existem focos de resistência desse mecanicismo metodológico. Por
outro lado, muitos geógrafos partiram para a Geografia Física para fugir do debate político, como se
estivessem negando a Geografia como ciência social. Isso empobreceu demais o debate em torno do
pensamento geográfico, que virou coisa de “gente maluca, que viaja na maionese”.
Outra pergunta que fazemos é: qual é o propósito da ciência e da geografia?
A ciência tem o propósito “ontológico” de melhorar a vida da humanidade, ou mesmo de
melhorar a humanidade. Contudo, essa ontologia sempre foi subvertida e, em muitos casos, para fins
escusos. Na Geografia não foi diferente, como foi o caso do emblemático “período” do imperialismo.
Outro propósito “ontológico” da ciência é a busca da verdade. Mas o que é verdade? Você fala a verdade
na medida em que esta é a sua verdade.

sabem procurar pelo sol/ E as raízes procurar, procurar/ Mas as pessoas na sala de jantar/ Essas pessoas na
sala de jantar/ São as pessoas da sala de jantar/ Mas as pessoas na sala de jantar/ São ocupadas em nascer
e morrer (grifos nossos).

14
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

Essas “prerrogativas” fazem, no caso da ciência geográfica, uma apropriadora dos dados da
realidade com o intuito de construir um discurso próprio, para adquirir status científico. Isso não é
negativo, mas pode fazer desta ciência, mais uma produtora de ideologia, se as coisas não forem dosadas.
Vejamos o exemplo de Michel Foucault. No livro Microfísica do poder ele reproduziu uma entrevista
intitulada Sobre a Geografia concedida à revista Herodote. Nesta entrevista o entrevistador perguntou por
que o Foucault não tinha tratado da Geografia em sua Arqueologia do Saber. A todo o momento, Foucault
respondia pensando que o entrevistador reivindicava um espaço para a Geografia entre as ciências sociais,
mas com uma argumentação, o entrevistador disse que muito do discurso de Foucault era “geográfico”,
mas ele nem sabia disso. Espantado o autor entrevistado respondeu:
Cada vez mais me parece que a formação dos discursos e a genealogia do saber devem
ser analisadas a partir não dos tipos de consciência, das modalidades de percepção ou
das formas de ideologia, mas das táticas e estratégias de poder. Táticas e estratégias
que se desdobram através das implantações, das distribuições, dos recortes, dos
controles de territórios, das organizações de domínios que poderiam constituir uma
espécie de geopolítica, por onde minhas preocupações encontrariam os métodos de
vocês. Há um tema que gostaria de estudar nos próximos anos: o exército como matriz
de organização e de saber − a necessidade de estudar a fortaleza, a "campanha", o
"movimento", a colônia, o território. A geografia deve estar bem no centro das coisas
de que me ocupo.7
Quando estávamos na graduação, tivemos uma palestra com Dermeval Saviani, um dos principais
“pensadores” da educação brasileira. Em 1999, fazia um ano que a SEESP (Secretaria de Estado da
Educação de São Paulo) tinha diminuído a carga horária da disciplina Geografia nas escolas de ensino
fundamental e médio. Na ocasião questionamos Saviani a respeito com a seguinte pergunta: Qual foi o
objetivo da diminuição das disciplinas de História e Geografia, além da extinção da Sociologia e Filosofia
em função do aumento da carga horária da Matemática, Português e demais ciências? Tinha a finalidade
de esgotar a criticidade dos estudantes? Sua resposta foi lacônica: “A Geografia nunca foi uma disciplina
crítica...”.
Para não concluir, pois o tempo se esgotou, entendemos que uma das grandes dificuldades em
desenvolver o método em ciências humanas reside nas alterações de base política do mundo, que
colocaram a sociedade em uma dimensão vazia de sentido político e ideológico. Daí reside o problema do
método em seu aspecto pedagógico...

IDEOLOGIA, MÉTODO E ESPAÇO GEOGRÁFICO: PONTOS PARA


DISCUSSÃO
Prof. Dr. Sergio Fajardo
Professor Adjunto do Departamento de Geografia – UNICENTRO (Guarapuava-PR)
Doutor em Geografia pela FCT/UNESP
e-mail: sergiofajardo@hotmail.com
Introdução
É fato que a ideologia, em suas várias formas, está presente em todos os campos da sociedade.
Nas ciências humanas e/ou sociais nota-se com freqüência a reprodução de discursos ideológicos nas
teorias e nos métodos. Proponho aqui, brevemente, apresentar algumas reflexões em torno das diversas
possibilidades de manifestações ideológicas quando se analisa ou se conceitua o espaço geográfico.

7
FOUCAULT, Michel. Sobre a Geografia. Em: Microfísica do Poder. pp. 86-95. Graal.

15
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

O significado de ideologia
Em um sentido comum a definição de ideologia aponta para um conjunto ou sistema de idéias de
um indivíduo ou grupo. A partir dessa consideração resta saber como esse conjunto de idéias funcionaria
ao efetivar uma espécie assimilação de princípios que podem ser compreendidos como consciência ou
falsa consciência.
Karl Mannhein (1972) coloca que apesar do marxismo ter contribuído em muito para a discussão do
problema ideologia, o termo surgiu e emergiu muito antes e independente do mesmo. Para o referido
autor a ideologia tem dois significados distintos: 1-particular; 2- total.
No Sentido particular, o termo denotaria o ceticismo relativo às idéias e representações
apresentadas pelo nosso opositor: estas são encaradas como “disfarces mais ou menos conscientes da real
natureza de uma situação, cujo reconhecimento não estaria de acordo com seus interesses”. As distorções
vão desde as mentiras conscientes até disfarces semiconscientes e dissimulados.
Por sua vez, o sentido total é mais inclusivo, abrange ideologia de uma época, de um grupo
histórico-social concreto, por exemplo, de uma classe. Em suma, significa a estrutura total da mente ou
mentalidade de uma época ou de um grupo.
Um elemento comum dos dois sentidos é que ambos se voltam ao sujeito (indivíduo ou grupo) – idéias
expressadas pelo indivíduo ou grupo são encaradas como funções da sua existência;
(FUNCIONALIDADE DAS IDÉIAS). Opiniões, declarações, proposições não são tomados por seu valor
aparente, mas à luz da situação de vida de quem os expressa. (PESSOALIDADE DAS IDÉIAS).
Enquanto a concepção particular designa ideologias apenas uma parte do enunciado do opositor e
referente ao seu conteúdo, a concepção total põe em questão a visão total do opositor e todo seu aparato
conceitual. A concepção particular realiza análises ao nível puramente psicológico e a concepção total
opera ao nível teórico. Por exemplo, se acusamos o outro de mentir, admitimos que há critérios comuns
em relação ao que é a verdade. E por outro lado, se atribuímos o ponto de vista do outro a submissão do
mesmo a períodos históricos ou estratos sociais de um outro “mundo intelectual”, o que descarta a
existência do “caso isolado”, estamos lidando com modos de experiência e interpretação totalmente
distintos, sistemas de pensamento opostos (Mannhein, 1972). Na ciência isso se realizaria
epistemologicamente na formulação de métodos de abordagem que tem como fundamento correntes de
pensamento.

A origem histórica da ideologia


Pode-se dizer que a discordância, que é própria da natureza humana e sua
diversidade/complexidade, e a desconfiança que se tem em relação aos adversários são precursoras da
noção de ideologia. Quando essas divergências tornam-se explícitas e materializadas em conceitos
sistematizados e reconhecidos metodicamente é que se começa a falar sobre uma “coloração ideológica”
nos argumentos e afirmações dos outros (MANNHEIN, 1972, p. 87).
Curiosamente a ideologia é evocada, pejorativamente, ao se referir ao adversário, ou ao pensamento
contrário. A ideologia ficaria entre os dois pólos: de um lado o erro, de outro a mentira, esse “meio
termo” seria ideológico. Se o engano não advém de mentira explícita ou da insegurança, esse pode ser
ideológico.
Portanto, haveria uma estreita relação entre ideologia, ceticismo e hipocrisia. Mannhein (1972),
nesse sentido, cita Maquiavel e Hume. Para Maquiavel as variações das opiniões humanas ocorrem de
acordo com os interesses envolvidos (elementos ideológicos nos pronunciamentos). Já Maquiavel sugere
que naturalmente os homens sejam dados a mentir.
Se é possível imaginar que exista um ser humano falso diante de interesses relativos ou pontuais,
o que dizer de uma força muito maior, que absorve e sustenta muitas ideologias como o dinheiro é
apresentado por Marx:
O que eu sou e o que eu posso não são determinados de modo algum por minha
individualidade. Sou feio, mas posso comprar a mais bela mulher. Portanto, não sou
feio, pois o efeito da feiúra, sua força afugentadora, é aniquilado pelo dinheiro. Segundo
minha individualidade sou inválido, mas o dinheiro me proporciona vinte e quatro pés,
portanto não sou inválido; sou um homem mau, sem honra, sem caráter e sem espírito,
mas o dinheiro é honrado e, portanto, também o seu possuidor. O dinheiro é o bem
supremo, logo, é bom o seu possuidor; o dinheiro poupa-me além disso o trabalho de ser
desonesto, logo, presume-se que sou honesto; sou estúpido, mas o dinheiro é o espírito
real de todas as coisas, como poderia seu possuidor ser estúpido? Além disso, seu
possuidor pode comprar as pessoas inteligentes e quem tem o poder sobre os
inteligentes não é mais inteligente do que o inteligente? Eu, que mediante o dinheiro

16
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

posso tudo a que o coração humano aspira, não possuo todas as capacidades humanas?
Não transforma meu dinheiro, então, todas as minhas incapacidades em seu contrário?
(MARX, 1987, p. 196)

Jon Elster (2007) chama de “força civilizadora da hipocrisia” a suposta “boa vontade” em
comportamentos ou atitudes políticas mediante o constrangimento da exposição pública. Nesse sentido,
um determinado indivíduo, que poderia ser um político ou empresário (ou qualquer outra pessoa pública
que não traga reais preocupações coletivistas, públicas e éticas), a fim de atender seus interesses pessoais,
que são ideológicos, empregam iniciativas positivas. Podemos imaginar o caso hipotético, por exemplo,
de um empresário que demonstre publicamente uma preocupação ambiental sem realmente se preocupar
com isso, mas essa atitude traz benefícios a sua imagem, do mesmo modo um político que também não
tenha a verdadeira preocupação com alguma causa social, mas por ter sua imagem em jogo toma
iniciativas positivas. Esta seria a hipocrisia civilizadora apontada por Elster. “Mesmo se as pessoas estão
motivadas apenas pelos seus interesses individuais, as regras e mecanismos do debate público vão forçá-
las a justificar suas posições em termos de interesse público. Isso limita o interesse particular, em alguma
medida” (ELSTER, 2008). Aqui a visão de Maquiavel parece nítida. Esse conteúdo ideológico, porém,
está mais relacionado ainda a uma ideologia de caráter particular. Por essa razão, obviamente, a hipocrisia
ideológica não deve ser tomada, de modo algum, como regra, por constituir situações isoladas, exceções.
A passagem dessa concepção particular para a concepção total de ideologia se realiza quando a
consciência em si é substituída por uma consciência de classe. Enquanto na ideologia particular um
adversário pode ser acusado de falsificação, tanto consciente como inconsciente, numa concepção mais
geral toda sua estrutura de sua consciência está comprometida, ela não pode mais “pensar corretamente”.
No passado a base da ideologia poderia ser definida por critérios religiosos (como por meio das doutrinas
e dogmas), Mas o próprio pensamento evolui com o aprimoramento do conhecimento humano, evolui
também a ideologia. As escalas de valores que definem o que é verdade ou falsidade, real ou irreal.
A ciência como busca de aproximação da realidade, faz uso de métodos. Os métodos não podem
caracterizar uma ciência, pois são comuns a várias ciências (FERREIRA; SIMÕES, 1992). Esses
métodos, por sua vez podem estar carregados de elementos ideológicos derivados da corrente de
pensamento que orientam os mesmos.
A ideologia pode ser tida como “falsa consciência”. Essa falsa consciência antes era derivada da
constatação de fatos (das observações mais corriqueiras, do senso comum, dos preconceitos), depois
passou a trabalhar com métodos analíticos claramente definidos (procedimentos metódicos baseados em
demonstração científica).
A palavra ideologia tem uso histórico segundo Mannhein (1972, p. 97-98), ideólogos eram “[...]
os membros de um grupo filosófico na França que, seguindo a tradição de Condillac, rejeitavam a
metafísica e buscavam basear as Ciências Culturais em fundamentos antropológicos e psicológicos. [...] A
concepção moderna de ideologia nasceu quando Napoleão achando que este grupo de filósofos se opunha
a suas ambições imperialistas, os rotulou desdenhosamente de ‘ideólogos’. A partir daí a palavra tomou
um sentido pejorativo, que assim como a palavra ‘doutrinário’ reteve até o dia de hoje”. Esse sentido do
termo, passa a ser aceito a partir do século XIX).
Na ideologia, o que se deprecia é a validade do pensamento do adversário, considerado irreal.
Mas o que seria verdadeiramente real? Eis um problema implícito da ideologia. Não é possível taxar o
pensamento de alguém de ser ideológico sem sofrer a mesma acusação.
O primeiro problema para se conceituar ideologia é que a própria conceituação/definição de
Ideologia pode estar impregnada de ideologia. É possível se abster de uma literatura ideológica ao definir
ideologia? Muitos pensadores definiram Ideologia orientando-se em ideologias diversas, desde
filosóficas, jurídicas, históricas, econômicas, políticas...
Guhur (1993) usa o exemplo de Marx e Engels que empreenderam uma luta ideológica contra a
ideologia dominante.). No prefácio do livro “A ideologia alemã”, que constitui uma crítica aos
hegelianos, e ao idealismo alemão de modo geral, a ingenuidade nas representações humanas, os sonhos
inocentes e pueris, típicos dos “jovens hegelianos” são desmascarados, assim como as “ovelhas que se
julgam lobos”, expressão utilizada pelos autores (MARX; ENGELS, 2001).
A teoria marxista fundiu as duas noções de ideologia (particular e total) enfatizando o papel da
posição e dos interesses de classe no pensamento (MANNHEIN, 1970). Considerando que “Ideologia é
um sistema teórico-prático de justificação política das posições sociais” (DEMO, 1987, p.67), poderia se
cogitar que a ideologia advém do poder (?). Entretanto, como o fenômeno do poder é estrutural na

17
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

sociedade: se sempre haverá poder como traço invariante na sociedade, sempre haverá ideologia
dominante.
Seria a ideologia é justificadora ou argumentativa? Simpson (1993) aponta para a linguagem
como principal elemento da ideologia. Mas ideologia seria apenas representação (literária) de um ponto
de vista?
Pedro Demo (1987, p. 68-69) apresenta a ideologia como tendo várias faces, segundo os vários pontos de
vista:
• Ponto de vista do conhecimento objetivado:
Ideologia seria deturpação da realidade em nível excessivo. No conhecimento ideológico
predomina a parte justificadora sobre a argumentativa. No caso extremo pode-se chegar à mentira
e à falsificação consciente e premeditada da realidade.
• Ponto de vista da prática:
Ideologia seria uma falsa consciência no sentido de escamotear os reais conflitos, o caráter
impositivo do grupo dominante e sua exploração dos dominados, as mudanças históricas
necessárias, etc.
• Ponto de vista dos movimentos sociais:
Ideologia constitui um instrumento de coesão dos grupos e das classes, à medida que elabora
idéias-força” que fundamentem uma crença comum, um compromisso mútuo e o entusiasmo do
movimento.
• Ponto de vista dos desiguais:
Ideologia vista em duas direções: vinda de cima aparece como convencimento da legitimidade
das atuais estruturas do poder. Vinda de baixo pode ser a formulação teórica e prática da contra-
ideologia, com vistas a subverter as relações de poder.
Ainda segundo Demo (1985; 1987), os objetivos da ideologia justificadora seriam: -Institucionalizar
posições sociais vantajosas (esse um pressuposto para as afirmações ideológicas que buscam atender
interesses do indivíduo ou grupo). - Justificação busca caracterizar a legitimidade da situação vigente
recorrendo a disfarces de supostas imposições, evitando contestações. Um exemplo desse fato seria o
apelo a pretensa ordem natural com raças superiores.

Ciência, método, geografia e ideologia


Atualmente poderíamos pensar como as ciências lidam com temas como questões ambientais e
recursos naturais. Ou ainda em relação a idéias que aparentemente prometem liberdade, mas somente
realiza àqueles que possuem condições econômicas para tal. Podemos pensar em muitas outras questões
(presentes quando se analisa o espaço geográfico) como democracia, desenvolvimento sustentável, ética,
globalização...
Na Geografia, os pensamentos dominantes, os paradigmas, foram construídos sobre ideologias. O
exemplo da Geografia Tradicional – Determinismo versus Possibilismo é um dos mais conhecidos. Se a
ideologia estava presente desde o nascimento da ciência moderna com o advento do pensamento
racionalista há alguns séculos (na nossa versão ocidental de ciência), a sistematização da Geografia nos
moldes positivistas como as demais ciências é tida como essencialmente ideológica pela maioria dos
teóricos da Geografia.
O discurso ideológico é predominantemente partidário e significa sempre um posicionamento
político em favor de uma visão de mundo, corrente filosófica, interesses de classe... (DEMO, 1985).
Como a Geografia científica surge para atender propósitos políticos claros, explicitamente definidos,
como a unificação alemã (também o imperialismo), é óbvio que os contrapontos políticos (nacionalizados
ou não) também impõem as suas ideologias à prática acadêmico-científica (MORAES, 1996).
O caráter justificador da ideologia busca a convicção, a adesão, a defesa do problema com sua
arma: envolvimento com a ciência (DEMO, 1982). Assim: é mais convincente se souber se vender como
ciência objetiva. Foram o que realizaram Ratzel, La Blache, neo-positivistas, marxistas, humanistas, etc
(CHRISTOFOLETTI, 1980).
A justificação do posicionamento de um método, que tem necessariamente alicerces ideológicos
como o materialismo histórico ou a fenomenologia, por exemplo, acaba por reproduzir os sistemas de
pensamento teórico nas práticas analíticas dos métodos. Muitas vezes se toma o método como única
forma possível de se enxergar a realidade. Eeis o perigo dessa forma “ideologizada” de pensar.
Outro aspecto da ideologia que preocupa a atividade de pesquisa e o ambiente acadêmico é o uso
da ideologia enquanto pessoalidade. Ao tentar justificar sua própria condição, o cientista corre o risco de
ser um ideólogo extremamente individualista. A respeito disso, Demo (1985, p. 15) afirma: “A maior

18
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

virtude do intelectual não é a de fazer ciência, mas de se justificar, na perspectiva de defesa de seus
interesses sócio-econômicos (prestígio, salário, poder etc).” Esse seria o equívoco ou erro da separação
entre teoria e prática.
Pode ser muito útil ao cientista social apresentar uma imagem de revolucionário, de
contestador, de avançado, porquanto isto lhe dá aplausos, lhe confere o atestado de
atualização, lhe oferece maior mercado de venda de livros etc., desde que não lhe seja
exigida a prática correspondente. Se isso for feito, a maioria desiste da teoria, porque
não se dispõe a arriscar seus privilégios (DEMO, 1987, p. 84).

Seria o caso de se pensar: a ideologia é necessária? Segundo Demo (1987) a ideologia é


necessária por ser “transpiração do fenômeno do poder”: se o poder é inevitável a ideologia é inevitável.
Desejar acabar com a ideologia é ideologia (barata). Mas existiriam ideologias atraentes? Sim, se forem
menos deturpadoras e voltadas a projetos humanitários. Demo lembra que os ideólogos em geral não
provém das classes humildes (como os intelectuais em gera l) mas podem assumir as dores dos oprimidos.
(ex.:.Marx e Engels). – esse o charme da ideologia marxista.
Outra questão que se coloca: a ideologia é falsa consciência ou visão de mundo?
Não há ciência sem ideologia, as Ciências Humanas e Sociais são inevitavelmente ideológicas. Se
posicionamento político é ideologia o cientista é um ideólogo.
Ideologia é dogmatismo? Se não é, se aproxima muito disso, pois como o dogma é um sistema fechado
(de idéias). Como então se pode imaginar que na prática científica, um método se imponha como dogma?
Os embates entre as diversas correntes teóricas da Geografia forjam uma espécie de “disputa ideológica”
na qual, ao nível das idéias, epistemologicamente os conceitos são definidos, redefinidos e questionados.
Os chamados critérios de cientificidade (coerência, consistência, originalidade, objetivação,
comparação crítica, reconhecimento generalizado) podem abstrair ideologia? Obvio que não totalmente.
Sempre haverá um resquício ideológico em algum conceito utilizado, forma de raciocínio, técnica
utilizada.
A sugestão de Demo, é que a Ciência deve conviver com a ideologia reduzindo seus níveis ao
mínimo – consciência crítica da sua presença e constante cuidado com ela. (papel da metodologia: fazer
com que o científico predomine sobre o ideológico).Mas por que? Ideologia pode induzir ao juízo de
valor, ao pré-conceito, assim como o senso comum? Ideologia atrapalha o intento científico?
Método acompanharia ideologia? Em muitos casos sim, como exemplo do método dialético.
Qualquer método subsiste como tal se possuir um esquema formal baseado em definições,
classificações, distinções, comparações. Ideologia se comportaria como dentro de um método? Os
métodos são ideológicos? Contrapondo Estruturalismo e Dialética: será que a dialética também não
sistematiza a realidade? (ex. concepção do econômico como determinante, supõe uma invariante
explicativa: realidade complexa, mas no fundo ordenada.
Sistemismo/Funcionalismo: não respondem conflitos “não-solucionáveis”: posição ideológica?
Seria o próprio método “ideológico” ou o uso do mesmo? (interesses, ligações com o poder...).
“A ciência e, sobretudo, seu uso técnico-industrial pode tanto estar a serviço da melhoria das condições
ambientais e conseqüentemente sociais, como ser utilizada para fins não tão nobres.” (SILVA;
SCHRAMM, 1997, p.359 ).

Ideologia e espaço geográfico

Na Geografia, Método e Ideologia podem se comportar de modo diverso, de acordo com a área, o
campo e especialidade. Para Spósito (2004) o método serve como “porta de entrada” para a leitura da
realidade. Mas essa leitura, justamente devido ao fundamento de cada método, que se constitui também
um olhar específico, é carregada de doutrina e ideologia, segundo a corrente adotada.
O espaço geográfico como produto social, teria uma visão ideologizada? Se afirmarmos que o
espaço equivale à sociedade, expomos uma controvérsia em relação ao objeto principal da Geografia.
Controvérsia essa presente na dicotomia Geografia Física x Humana (MENDONÇA, 1998). A Geografia
Crítica assumiu a postura política militante, contestadora, com base, sobretudo, marxista, as noções de
espaço geográfico atribuídas a essa corrente resultaram ideológicas.
Como a orientação dos geógrafos físicos não adota, em geral, o materialismo histórico como
método explicativo o entendimento do que seria espaço geográfico por estes, vai ser direcionado segundo
a acepção de seus respectivos métodos. Essa observação é interessante quando considerados os métodos
mais utilizados na Geografia (SPOSITO, 2004).

19
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

Resta pensar se é inevitável no fazer científico em geral, e em especial nas análises geográficas,
haverá sempre um uso ideológico. A ideologia existirá como componente consciente das fundamentações,
argumentações, posicionamentos dentro do pensamento geográfico? Não temos a resposta, mas podemos
sinalizar a partir da produção geográfica brasileira recente (CARLOS, 2002), que a ideologização da
Geografia parece distante de terminar. A principal dúvida que se apresenta é que, apesar de inegável que
o conteúdo geográfico (social, político, econômico, cultural e ambiental) possua uma carga ideológica,
será que as análises científicas também, necessariamente, devem possuir ideologia?

Referências:
CARLOS, Ana Fani Alessandri. A geografia brasileira: algumas reflexões. Terra Livre. São Paulo, ano
18, v. 1, nº 18, jan./jun. 2002.

CHRISTOFOLETTI, Antonio. Perspectivas da geografia. São Paulo: Difel, 1980.

DEMO, Pedro. Ciência e ideologia. In: ______. Introdução à metodologia da ciência. São Paulo: Atlas,
1987, p. 66-76.

______. Demarcação científica. In: _____. Metodologia científica em ciências sociais. São Paulo: Atlas,
1985, p. 13-28.

ELSTER, Jon. Alternância no poder define democracia (entrevistado por Cláudia Antunes). Folha de São
Paulo. São Paulo, 17 jun. 2007 (Caderno Mundo).

FERREIRA, Conceição Coelho; SIMÕES, Natércia Neves. A evolução do pensamento geográfico. 7ª


ed. Lisboa: Gradiva, 1992.

GUHUR, Jean Vincent Marie. Ciência e ideologia. Apontamentos. Maringá, mar. 1993, p.1-57.

MANNHEIN, Karl. Ideologia e utopia. 2ª ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1972.

MARX, Karl. ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã. Ed. Martins Fontes, São Paulo, 2001.

MARX, Karl. Manuscritos econômico-filosóficos (terceiro manuscrito). São Paulo: Martins Fontes,
1987.

MORAES, Antonio C. R. Ideologias geográficas. São Paulo: Hucitec, 1996.

SILVA, Elmo Rodrigues da; SCHRAMM, Fermin Roland. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro,
v. 13, n. 3, p. 355-382, jul-set, 1997.

SIMPSON, Paul. Language, Ideology and Point of View. Londres: Routledge, 1993.

SPOSITO, Eliseu Savério. Geografia e filosofia: contribuição para o ensino do pensamento geográfico.
São Paulo: Editora UNESP, 2004.

20
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

Mesa Redonda 2: “A evolução da ciência geográfica a partir de semanas


acadêmicas”: Avaliação das atividades da Semana e debate
científico”

Em 2007 foi realizada a III Semana de Geografia de Irati, onde vários palestrantes e ministrantes
de mini-cursos foram convidados pelo corpo docente do Degeo/i para colaborarem com as atividades do
evento. Naquela oportunidade, os organizadores do evento fizeram uma avaliação bastante positiva e
ressaltaram que a contribuição dos convidados e o empenho da equipe organizadora, principalmente a
equipe de apoio composta por vários discentes, propiciou um salto qualitativo sem precedentes no curso
de Geografia de Irati.

Em 2008 praticamente a mesma equipe organizadora, com a adesão de novos voluntários, tanto
discentes como docentes, se propôs a realizar um evento da mesma magnitude, senão mais relevante
ainda. Neste sentido, vários professores de outras instituições foram convidados a participar como
palestrantes e ministrantes de mini-cursos, e aceitaram o convite. A semana de estudos se realizou com
enorme êxito e no último dia de debates e palestras foi realizada uma mesa redonda, onde os
coordenadores do evento e mais a Profª Ms. Karla Rosário Brumes (docente do Degeo/i), fizeram uma
avaliação de eventos dessa magnitude em suas experiências.

Os três professores da mesa ressaltaram experiências pessoais na participação e organização de


eventos acadêmicos e concluíram que são momentos importantes na consolidação de conteúdos teóricos
vislumbrados em sala de aula, além de ser a ocasião única na vida acadêmica para se debater os aspectos
mais relevantes do ensino, da pesquisa e da extensão universitária. Para isso, normalmente se conta com
visões ampliadas, que não aquelas dos mestres de salas de aula.

A plenária final da IV Semana de Geografia de Irati contou com uma expressiva participação dos
discentes, os quais fizeram elogios e teceram críticas ao evento, que foram plenamente aceitas pela
organização do evento. Deve se ressaltar que algumas justificativas de encaminhamentos foram feitas,
pois alguns participantes questionaram a forma com que foram distribuídas as atividades da semana.

De forma geral, a grande contribuição do debate realizado foi o reconhecimento da importância


de eventos deste porte, na qualificação e melhoria dos conhecimentos geográficos, mas a iniciativa do
corpo discente em participar mais ativamente da organização do evento, se configurou no grande salto
qualitativo pretendido pela comissão organizadora.

Após algumas discussões da importância de semanas de estudos na formação acadêmica, vários


alunos se prontificaram a organizar a próxima semana de estudos, a ser realizada em 2009. Esta iniciativa
foi totalmente aceita pela plenária e os professores sugeriram que seja formada uma comissão
organizadora que deverá procurar os docentes responsáveis pela realização da V Semana de Geografia de
Irati, com o objetivo de começar a discutir temas e nomes para o evento.

21
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

O curso de Geografia de Irati é relativamente novo (8 anos), mas se encontra em plena condições
de se igualar a cursos mais antigos, tanto quantitativamente quanto qualitativamente, e a organização de
eventos deste porte com a participação conjunta de alunos e professores, só vem a contribuir para o
sucesso e crescimento do conhecimento geográfico universitário, buscando aprimorar as técnicas,
conhecer teorias e formar profissionais competentes para atuarem no mercado de trabalho.

Prof. Ms. Aparecido Ribeiro de Andrade


Prof. Assistente Mestre do Degeo/I da Unicentro – Irati – Paraná

Durante a última semana da Geografia realizada pelo DEGEO/I, tivemos a oportunidade de no


último dia fazer uma plenária final. A mesma teve como objetivo discorrer a cerca de alguns assuntos
como: levantamento dos pontos positivos e negativos do evento; avaliação das apresentações orais bem
como dos posters, avaliação das mesas redondas e mini cursos, participação discente; expectativas futuras
quanto a próxima semana da Geografia.

As falas dos membros componentes da banca da plenária, professores Aparecido Ribeiro de


Andrade; Karla Rosário Brumes e Roberto França da Silva Jr. foram feitas num sentido de qualificar e
pontuar elementos que podem ser considerados na realização da semana seguinte. Por este motivo, foi
possível entender que a participação discente se deu a contemplar as expectativas esperadas pelos
organizadores.

Também foi debatida a importância em se qualificar cada vez mais o evento, fazendo
investimentos tanto nas palestras e mesas redondas compostas por estudiosos da Geografia, que tragam
contribuições significativas, para os debates que se pretendem realizar durante a semana científica.

Com relação a participação discente, está foi destacada, pois auxiliou em várias etapas do evento.
Os discentes na oportunidade foram cobrados a participar cada vez mais tanto como participantes, como
organizadores, que nos parece que será atendido de forma bastante própria.

Por fim, a plenária serviu para que tanto docentes como discentes pudessem expor seus anseios
quando a organizações de semanas científicas que tenham como elemento principal a inserção a temas
relevantes que possam trazer à tona a discussão em alto nível da ciência geográfica.

Profª Ms. Karla Rosário Brumes


Prof. Assistente Mestre do Degeo/I da Unicentro – Irati – Paraná

22
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

Mini-curso 1: A GEOTECNOLOGIA COMO FERRAMENTA PARA REPRESENTAÇÃO DO


ESPAÇO GEOGRÁFICO
Luiz Gilberto Bertotti 8

Resumo: O presente nini-curso pautou-se na proposta de apresentar de forma sucinta, por meio do
emprego da geotecnologia como ferramenta para espacialização de todo e qualquer tipo de informação
geográfica. Dessa forma, a utilização de microcomputadores tem sido um fator modificador da forma de
condução dos trabalhos científicos, principalmente na área de Geografia, aonde o uso intensivo dessas
ferramentas que, pelo seu potencial de integração, facilidade de manuseio e velocidade de operação, vem
revolucionado métodos e técnicas de abordagem de problemas específicos, proporcionando, na maioria
das vezes, avanços significativos na qualidade e precisão dos resultados para representação espacial. Na
contemporaneidade constata-se um avanço expressivo no que se refere ao desenvolvimento de softwares
específicos para o tratamento de informação, baseado no uso de microcomputadores. Tais sistemas,
denominados de “informação geográfica” ou mais simplesmente SIG’s que vêm se aprimorando cada vez
mais procurando incorporar conceitos clássicos e contemporâneos, nomeadamente na relação sociedade
natureza, ganhando cada vez mais espaço no meio científico, principalmente por focalizar o
relacionamento de determinado fenômeno da realidade com a sua localização espacial. Assim, a
geotecnologia como ferramenta na elaboração de mapas temáticos tem ocorrido de forma gradual e
crescente nos últimos anos, destacando-se os Sistemas de Informação Geográfica que procuram
automatizar os procedimentos e rotinas de coleta, armazenamento, tratamento e recuperação de dados,
agilizando e aprimorando os estudos referentes à representação do espaço geográfico. É nesses sistemas
de interações complexas que compreendem os diversos recortes espaciais, analisados isoladamente ou em
conjunto, de forma integrada, fornecem informações valiosas, no poder de decisão nos diversos estudos
de pesquisa científica. Outro ponto importante que mereceu ser mencionado foi quanto aos aspectos da
geotecnologia na Web, interatividade e visualização científica e suas aplicações face aos processos e
métodos da comunicação. Nesse contexto tem-se como objetivo principal analisar como se configura essa
representação espacial buscando suas especificidades em relação ao seu processo de estruturação.

Palavras-chave: Sistema de Informação Geográfica, representação espacial, mapas temáticos.

8
Professor Adjunto do Departamento de Geografia/UNICENTRO. Pesquisador do Núcleo de
Pesquisas Ambientais. E-Mail: bertotti@unicentro.br

23
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

Mini-curso 2: PROCESSOS HIDRODINÂMICOS EM BACIAS HIDROGRÁFICAS: USO


DA MODELAGEM PARA ANÁLISE DO ESPAÇO

LEANDRO REDIN VESTENA


Docente do Departamento de Geografia da UNICENTRO
Mestre em Análise e Gestão Ambiental pela UFPR
Doutorando em Hidrologia e Hidráulica Aplicada pela UFSC
E-mail: lvestena@unicentro.br

Introdução
A água é um dos principais elementos do sistema ambiental, essencial à existência humana e
grande modeladora das paisagens tropicais e subtropicais. Os processos de desagregação das rochas e o
transporte de materiais pela água são influenciados por atividades bióticas e antrópicas, que podem
aumentar ou diminuir a quantidade desses processos e os materiais na água, bem como o regime do fluxo
de água que afeta diversos habitats. A água pode ser considerada o elemento mais dinâmico da paisagem
e que permeia os demais elementos do meio natural, de modo que regula o ritmo dos processos no sistema
ambiental.
A intervenção humana, através da agricultura em áreas com grande declividade e o
desmatamento de encostas e margens de rios, propicia a redução da infiltração de água no solo e, por
conseguinte, o aumento do fluxo superficial, desencadeando fluxo torrencial sob fortes chuvas. Esses
fatores acabam favorecendo a instalação de processos de erosão do solo, que desestabilizam encostas e
confere uma maior carga sedimentar ao fluxo de água no canal.
A água escoada acaba tornando-se um dos principais agentes responsáveis pelos processos de
erosão do solo (erosão hídrica); de transporte, por trazer consigo substâncias e organismos de onde
passou; e de deposição dos materiais transportados.
O homem a partir da complexidade dos sistemas ambientais acaba por abstraír um quadro
simplificado e inteligível dos mesmos. As afirmações simplificadas desta interdependência estrutural
foram denominadas ‘modelos’. Um modelo é, assim, uma estruturação simplificada da realidade, uma
aproximação, que apresenta supostamente características ou relações sob forma generalizada. Um modelo
pode ser uma teoria, uma lei, uma hipótese ou uma idéia estruturada. Pode ser uma função, uma relação
ou uma equação. Pode ser uma síntese de dados (SKILLING, 1964). Modelo é uma combinação de
expressões lógicas, procedimentos analíticos e critérios que são aplicados a um conjunto de dados, com o
propósito de simular um processo, predizir um evento ou caracterizar um fenômeno.
Os modelos, ao passo que se constituem em ponte entre os níveis de observação e os conceitos
teóricos, possibilitam precisamente o processo de se usar a experiência anterior como base para a previsão
e compreensão do sistema ambiental. Apesar de todos os modelos necessitarem de alguma forma de
ajuste nos parâmetros, mesmo medidos no campo, a modelagem torna-se uma ferramenta fundamental e
de extrema importância. Ela permite avaliar de forma mais precisa os efeitos das alterações antrópicas nos

24
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

processos e, conseqüentemente, seus reflexos nos demais elementos físicos e nos bióticos, além de
possibilitar a predição de impactos diante de possíveis ações no ambiente.
A partir do exposto, o presente trabalho destaca de forma resumida os principais processos
hidrológicos e apresenta os conceitos básicos da modelagem, modelos e suas características, assim como
mostra estudos aplicados do uso da modelagem na análise do espaço.

Processos hidrológicos
Os processos hidrológicos referem-se ao movimento da água sobre a superfície da Terra e
abaixo dela. Eles são mantidos pela energia radiante de origem solar e pela atração da força da gravidade.
O ciclo hidrológico pode ser definido como a seqüência fechada de fenômeno global pelos qual a água
circula entre a superfície terrestre e a atmosfera, impulsionada essencialmente pela energia solar
associada à gravidade e à rotação terrestre.
A bacia hidrográfica, além de ser a unidade territorial básica para o planejamento e o
gerenciamento dos recursos hídricos, definida pela Lei Federal N.º 9.433, de 8 de janeiro de 1997, que
instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos (BRASIL, 1997), é uma unidade
hidrossedimentológica. Isto é, um sistema aberto onde ocorrem os processos hidrodinâmicos, tornando-se
o recorte espacial ideal para estudos ambientais, evidenciam entre outros, Silveira (2000), e Coelho Netto
(1995).
A bacia hidrográfica é definida como uma região sobre a Terra na qual o escoamento superficial
converge para um único ponto fixo chamado exutória. O fluxo de matéria (nutrientes e poluentes) e
energia, na unidade bacia hidrográfica, são coordenados principalmente pela dinâmica da água. Esta
dinâmica depende da combinação, no tempo e no espaço, de vários fatores que interagem no sistema
bacia hidrográfica, como rochas, solos, relevo, clima, flora, fauna, uso do solo, entre outros.
Os principais processos hidrológicos em uma bacia hidrográfica são: precipitação,
evapotranspiração (evaporação + transpiração), interceptação, infiltração, deflúvio, percolação e o
armazenamento de água no solo e subsolo (Figura 1).

25
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

Precipitação total P Escoamento hortoniano (superficial) qh


Precipitação no curso d’água Pc Escoamento superficial por saturação qs
Intensidade da chuva i Escoamento de retorno qr
Evapotranspiração et Pipe flow t
Evaporação d’água interceptada pelas Pipe storage T
ec
copas
Armazenamento de água nas copas I Escoamento sub-superficial não saturado mu
Escoamento pelo tronco e gotejamento s Escoamento sub-superficial saturado ms
Escoamento pelo litter l Armazenamento de água no solo M
Evaporação d’água interceptada pelo litter el Percolação para a camada rochosa sb
Armazenamento d’água no litter L Fluxo na camada rochosa a
Evaporação e Zona de aeração A
Armazenamento nas depressões Rp Percolação profunda d
Armazenamento temporário Rt Escoamento de base b
Infiltração f Armazenamento subterrâneo B

Figura 1 – Componentes do ciclo hidrológico (CHORLEY, 1978)

A evapotranspiração é um dos principais processos hidrológicos. A transferência de água para a


atmosfera, no estado de vapor, seja pela evaporação de superfícies líquidas, pela evaporação da água do
solo, pela transpiração vegetal ou pela respiração animal, constitui importante elo do ciclo hidrológico.
Esta mudança de fase da água na forma líquida para vapor ou vice-versa consome ou libera energia,
constituindo-se em um mecanismo de redistribuição de energia em todo mundo.
A evapotranspiração é controlada pela disponibilidade de energia, pela demanda atmosférica, e
pelo suprimento de água do solo e das plantas. A quantidade de energia depende da latitude (ângulo de
incidência dos raios solares) e da topografia (altitude e orientação da vertente) (PEREIRA et al., 1997).
A evapotranspiração pode ser classificada em dois tipos: a evapotranspiração real (ETR) e a
evapotranspiração potencial (ETP). A primeira é a quantidade de água transferida para a atmosfera por
evaporação, nas condições reais de fatores atmosféricos e umidade do solo (TUCCI e BELTRAME,
2000). Enquanto, a segunda é a quantidade de água transferida à atmosfera por evaporação e transpiração,
na unidade de tempo de uma superfície extensa e completamente coberta por vegetação de porte baixo e
bem suprida de água, ou seja, considerando condições idéias para a mesma (PENMAN, 1956).
Porém informações confiáveis sobre a ETR são escassas e de difícil obtenção, expõem dentre
vários autores, como Pereira et al. (1997) e Tucci e Beltrame (2000), pois a medida direta desta é
extremamente onerosa e exige um longo tempo de observação. Enquanto, a ETP pode ser obtida por
modelos fundamentados em leis físicas e relações empíricas de forma rápida e suficientemente precisas.
Dentre os métodos indiretos para estimar a ETP, o método de Penman (1948) foi o primeiro que
combinou os efeitos do balanço de energia com o poder evaporante do ar e, é considerado, por muitos,
como modelo padrão, ou seja, é a melhor opção para estimar a ETP (TUCCI e BELTRAME, 2000).
O vapor de água é transportado pela circulação atmosférica e condensa-se. A água condensada
dá lugar à formação de nevoeiros e nuvens e à precipitação (SILVEIRA, 2000). A precipitação pode
ocorrer na fase líquida (chuva ou chuvisco) ou na fase sólida (neve, granizo ou saraiva), assim como a

26
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

água que passa da atmosfera para o globo terrestre por condensação do vapor de água (orvalho) ou por
congelação daquele vapor (geada) e por intercepção das gotas de água dos nevoeiros (nuvens que tocam
no solo ou mar) (AYOADE, 1991).
De acordo com Bertoni e Tucci (2000) a precipitação na hidrologia é entendida como toda a
água proveniente do meio atmosférico que atinge a superfície terrestre, sendo a mais comum a chuva. Ela
varia localmente e temporalmente e suas características são: quantidade, intensidade, duração, e
distribuição espacial e temporal.
Ward e Trimble (1995) destacam que existem três principais tipos de chuvas: 1) convectivas
(ascensão vertical do ar); 2) ciclônicas ou frontais (encontro de uma massa de ar frio com uma de ar
quente); e 3) orográficas ou de relevo (deslocamento horizontal do ar, que, ao entrar em contato com
regiões elevadas, serras e montanhas, sofre condensação e conseqüente precipitação).
A cobertura vegetal intercepta parte da precipitação pelo armazenamento de água nas copas
arbóreas e/ou arbustivas, de onde é perdida para a atmosfera por evaporação durante e após as chuvas.
Excedendo a capacidade de armazenar água na superfície dos vegetais, ou por ação dos ventos, a água
interceptada pode precipitar sobre o solo (SILVEIRA, 2000; COELHO NETTO, 1995).
“A natureza da cobertura vegetal (tipo, forma, densidade e declividade da superfície), assim
como as características físicas das chuvas, constitui importante variável-controle do processo de
intercepção” salienta Coelho Netto (1995).
A infiltração “é a passagem de água da superfície para o interior do solo. Portanto, é um
processo que depende fundamentalmente da água disponível para infiltrar, da natureza do solo, do estado
da sua superfície e das quantidades de água e ar, inicialmente presentes no seu interior” (SILVEIRA,
2000).
Segundo Hornberger et al. (1998), o escoamento de uma bacia hidrográfica pode resultar de
quatro caminhos de fluxos diferentes: 1) precipitação direta sobre canais de escoamento; 2) escoamento
superficial; 3) escoamento subsuperficial; e 4) escoamento subterrâneo.
O escoamento superficial definido como a água excedente do processo de infiltração, foi
introduzido por Horton (1933). Este mecanismo de geração de escoamento superficial ocorre em todas as
partes da bacia hidrográfica e é atualmente denominado de escoamento hortoniano. Porém, novos estudos
observaram que em regiões florestadas e de clima úmido, principalmente, o escoamento superficial está
relacionado ao acumulo de água, pela saturação do solo até a superfície. O escoamento por saturação do
solo é designado também de escoamento dunniano (HEWLETT e HIBBERT, 1967; DUNNE, 1978;
1983).
Hornberger et al. (1998) afirmam que o escoamento hortoniano predomina em sistemas onde o
perfil do solo ou a superfície da terra foram radicalmente alterados. Este é o caso de regiões áridas ou
semi-áridas, onde a densidade de vegetação é baixa, e em áreas urbanas onde a superfície do solo é pouco
permeável. Enquanto, o escoamento por saturação é mais significativo em áreas úmidas com vegetação
densa, em determinadas condições topográficas que favorecem o posicionamento do lençol freático
relativamente próximo da superfície.

27
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

O escoamento por saturação do solo, de acordo Hewlett e Hibbert (1967), não é produzido ao
longo de toda a superfície da bacia hidrográfica, mas sim sob a influência de uma área de origem
dinâmica, uma vez que sofre expansões e contrações de saturação.
Nas vertentes os processos de escoamento são diversos e dependem da natureza multivariada
dos fenômenos físicos, químicos, biológicos e antrópicos. De acordo com Mendiondo e Tucci (1997), os
processos de escoamento numa bacia vertente são: 1) Escoamento superficial excedente da infiltração; 2)
escoamentos internos; 3) escoamento superficial por saturação do solo; e 4) escoamento pela integração
de processos.
Kobiyama et al. (1998) referenciam aprofundamentos na localização das áreas saturadas e nos
mecanismos ‘internos’ das vertentes, evidenciando os seguintes mecanismos internos: 1) fluxo através de
macroporos; 2) macroporos longitudinais interligados ou ‘piping’; 3) escoamento de retorno ou ‘efeito
pistão’; e 4) intumescência da camada saturada. Um esquema geral desses fluxos é esboçado por
Atkinson (1978).
O movimento vertical da água sob a superfície terrestre, após a mesma se infiltrar está
condicionada à condutividade hidráulica e ao gradiente de potencial formado pela gravidade e pela tensão
de umidade, e este movimento é denominado de percolação.
De acordo com Heath (1983) toda a água sob a superfície da terra é referida como água do
subsolo (ou água subsuperficial) e ocorre em duas zonas diferentes: a zona insaturada ou de aeração e a
saturada. zona insaturada ocorre na maioria das áreas imediatamente sob a superfície terrestre e contém
água e ar (ou vapor de água). Esta zona é dividida em três partes: a zona do solo, a zona intermediária e a
parte superior da franja capilar. Na zona saturada todos os espaços vazios encontram-se completamente
ocupados pela água. As fontes, os poços e as correntes efluentes têm origem na zona saturada. A água
presente na zona saturada é designada de água subterrânea. A recarga da zona saturada ocorre por
percolação da água de superfície através da zona insaturada.
Desta forma, o ciclo hidrológico "embora possa parecer um mecanismo contínuo, com a água se
movendo de uma forma permanente e com uma taxa constante, é na realidade bastante diferente, pois o
movimento da água em cada uma das fases do ciclo é feito de um modo bastante aleatório, variando tanto
no espaço como no tempo" (VILLELA e MATTOS, 1975). É um agente modelador da crosta terrestre,
condiciona a cobertura vegetal e, de modo mais genérico, a vida na Terra por meio da erosão, transporte e
deposição de sedimentos por via hidráulica.
Os aspectos evidenciados restringiram-se aos principais processos hidrológicos. Destaca-se que
os mesmos são dinâmicos e complexos e que maiores detalhes podem ser obtidos principalmente nos
trabalhos de Chorley (1978), Hewlett (1982), Ward e Trimble (1995), Mendiondo e Tucci (1997), Silveira
(2000), e Anderson e Burt (1990).
Modelos e a modelagem hidrodinâmica
Um modelo pode ser definido como “uma estruturação simplificada da realidade que
supostamente apresenta, de forma generalizada, características ou relações importantes” (HAGGETT e
CHORLEY, 1975).

28
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

Um modelo hidrológico é uma representação matemática ou física, simplificada de um sistema


físico, geralmente bastante simplificado que permite previsões. O sistema é uma parte de uma realidade
física complexa representando fundamentalmente relações de causa-efeito entre o conjunto de elementos
e seus atributos, diante de entradas (causa ou estímulo) e saídas (efeito ou resposta).
O sistema compõe uma dada região no espaço, por exemplo, uma bacia hidrográfica, que
quando acionado por entradas, de água da precipitação e outros constituintes variáveis no tempo e no
espaço, os transformam e devolvem ao meio externo na forma de saídas, vazão, transpiração, evaporação
e outros, distribuídas temporalmente e espacialmente. A estrutura do sistema depende de características
tais como: solo, vegetação, topografia, entre outros.
Os modelos visam analisar o comportamento do sistema ambiental em determinadas situações
específicas, com a finalidade de se fazer simulações e previsões que orientem a tomada de decisão,
destacam Teixeira e Christofoletti (1997).
Os modelos hidrológicos são de dois tipos: (1) modelo físico – representa o sistema por meio de
um protótipo que utiliza materiais físicos em pequena escala. Por exemplo, o escoamento simulado em
laboratório pode ser realizado como sendo redução escalar de 1:10 em relação a natureza; (2) modelo
matemático – baseiam-se em enunciados matemáticos para representar o sistema.
De acordo com More (1975, p. 107) “os modelos são usados em Hidrologia com três objetivos:
(1) simplificar e generalizar uma realidade complexa; (2) prever a ocorrência de eventos hidrológicos; e
(3) planejar o uso futuro dos recursos d’água.”
A modelagem possui várias vantagens, como: facilidade de execução, baixo custo, rápida
obtenção dos resultados. Ele permite realizar a simulação de experimentos praticamente inviáveis na
prática, entre outros destacam Kobiyama e Manfroi (1999).
A simulação é a execução do modelo. Nesta execução, a calibração do modelo é indispensável.
A calibração do modelo é sempre feita com dados obtidos pelo monitoramento. Então fica claro que o
sucesso do modelo, da modelagem e da simulação depende da qualidade do monitoramento e que não há
nenhum bom modelo sem o uso de dados obtidos do fenômeno monitorado. Assim, a modelagem e o
monitoramento não se confrontam, passando a serem métodos científicos mutuamente complementares,
efetuados sempre paralelamente (KOBIYAMA e MANFROI, 1999).
Tucci (1998, p. 14) afirma que as “limitações básicas dos modelos hidrológicos são a qualidade
e a quantidade dos dados hidrológicos, além da dificuldade de formular matematicamente alguns
processos e a simplificação do comportamento espacial de variáveis e fenômenos”.
A utilização de modelos hidrológicos envolve a escolha do modelo, a seleção e análise dos
dados necessários, ajuste e verificação dos parâmetros, definição de cenários de aplicação, prognóstico e a
estimativa das incertezas dos resultados. A escolha de um modelo deve levar em conta os objetivos do
estudo, as características da bacia e do rio, a disponibilidade de dados, e a familiaridade com o modelo
(TUCCI, 1998).
Na Tabela 1 apresentam-se alguns modelos hidrológicos disponíveis e suas características
básicas.

29
Tabela 1 – Classificação de alguns modelos hidrológicos
Exigência dos
Modelo Escala Principais dados de saída Referência(s)
dados de entrada
ANSWERS Distribuído – pequenas bacias Alto Escoamento, sedimentos e nutrientes. BEASLEY et al. (1980)
Semi-distribuído – pequenas
TOPMODEL Médio Escoamento e áreas saturadas BEVEN & KIRKBY (1979)
bacias
SUGAWARA (1961);
MODELO DE TANQUE Concentrado Baixo Escoamento
SUGAWARA et al. (1983)
HIDROGRAMA
Concentrado Baixo Vazão total do rio SHERMAN (1932)
UNITÁRIO
FUKUSHIMA & SUZUKI (1986);
HYCYMODEL Concentrado – pequenas bacias Baixo Escoamento
FUKUSHIMA (1988)
MÉTODO RACIONAL Concentrado - pequenas bacias Baixo Vazão máxima de uma bacia VILLELA & MATTOS (1975)
Erosão, escoamento, vazão de pico, concentrações
Distribuído – bacias de até 20 mil
AGNPS Alta de sólidos suspensos, fósforo, nitrogênio, demanda YOUNG et al. (1987)
hectares
química de oxigênio.
JAKEMAN et al. (1990) (1994a)
IHACRES Bacia Baixa Escoamento, sedimento e nutrientes.
(1994b)
Distribuído – parcela Escoamento, transporte de sedimentos e
CHDM Alta LOPES (1995)
experimental a bacia contaminastes.
USLE Distribuído – encosta Baixa Erosão hídrica WISCHMEIER & SNITH (1978)
FLANAGAN & NEARING
Distribuído – encosta (vertente), Erosão, escoamento e as características dos (1995);
WEPP Alta
malha (célula) ou bacia sedimentos. SRINIVASAN & GALVÃO
(1995)
CREAMS Bacias entre 40 e 400 hectares Alta Erosão e deposição. KNISEL (1991)
Distribuído - bacias entre 10 e
LISEN Alta Escoamento, produção de sedimentos. JETTEN & DE ROO (2001)
300 hectares
EUROSEM Distribuído – ‘plots’ de solo Alta Erosão hídrica e transporte de sedimentos MORGAN et al. (1998a) (1998b)
ARNOLD et al. (1993)
Distribuído – bacias médias e Escoamento, produção de sedimentos e qualidade
SWAT Alta SRINIVASAN & ARNOLD
grandes da água.
(1994)
FONTE: VESTENA (2008a).
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

Para explicitar apresentam-se resultados que pode ser obtido a partir da modelagem dos processos
hidrológicos. A Figura 2 mostra a dinâmica (expansão e retração), em intervalos horários das áreas saturadas
num ciclo do deflúvio na bacia hidrográfica do Caeté, região serrana de Santa Catarina, estimada utilizando-
se do modelo TOPMODEL (TOPography-based hydrological MODEL).

Área Saturada – Mínima – 4,25 % Área Saturada – Máxima – 13,63

Figura 2 – Áreas saturadas mínina e máxima na bacia do Rio Caeté, estimadas pelo TOPMODEL durante o
período de 14/10/2007 – 20:00 horas a 21/10/2007 – 13:00 horas (VESTENA, 2008b)

A Figura 3 apresenta a pluviosidade, a vazão observada e a vazão calculada com o modelo Tank
Model para a bacia hidrográfica do Rio do Peixe, localizada no meio-oeste catarinense. Nesta verifica-se o
elevado grau de ajuste entre a vazão observada em campo e a calculada/simulada pelo modelo, ou seja, o
modelo calibrado apresentou bom índice de eficiência.
40 0

35 10

30 20
Qobs, Qcal (mm.d-1)

25 30
P (mm.d-1)

20 P Qobs Qcal 40

15 50

10 60

5 70

0 80
1/1/87 1/2/87 1/3/87 1/4/87 1/5/87 1/6/87 1/7/87 1/8/87 1/9/87 1/10/87 1/11/87 1/12/87

Figura 3 – Hidrograma e hietograma, ano de 1987, bacia Rio do Peixe (LINDNER, 2007)

31
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

O uso da modelagem hidrodinâmica subsidia ações de gestão, nos casos apresentados destaca-se: 1)
a delimitação espacial da área máxima de saturação fundamenta ações de manejo que busquem a preservação
destas áreas de qualquer tipo de ocupação e/ou uso. As áreas saturadas em determinadas áreas da bacia
hidrográfica extrapolam as Áreas de Preservação Permanente prescritas na legislação ambiental brasileira, e
2) a estimativa da vazão que permite inferir a cota de inundação, e consequentemente as áreas inundáveis,
diante de um determinado volume pluviométrico. A previsão das áreas possíveis de inundações pode compor
sistemas de alertas a população ribeirinha ou possivelmente afetada, que podem reduzir os danos e/ou
prevenir dos riscos.

Considerações finais
No Brasil o entendimento da dinâmica dos processos hidrológico em seus diferentes sistemas
ambientais está longe de ser satisfatório, apesar de sua importância, devido à extensão e heterogeneidade dos
ambientes.
Apesar da diversidade de modelos hidrológicos, estes apresentam especificidades, que devem ser
levadas em conta na hora da escolha do modelo a ser empregado.
A modelagem hidrológica assume vital importância no planejamento ambiental, à medida que
fornece subsídios à tomada de decisão, para um manejo mais racional dos recursos naturais.

Referências Bibliográficas

ANDERSON, M. G.; BURT, T. P. Subsurface Runoff. In: ANDERSON, M. G.; BURT, T. P. Process
Studies in Hillslope Hydrology. New York: Anderson & Burt (Eds). John Willey & Sons, 1990. p. 365-400.

ATKINSON, C. Techniques for Measuring Subsurface Flow in Hillslopes. In: Kirkby, M. (Ed.). Hillslope
Hydrology, New York: John Wiley & Sons, 1978. p. 73-120.

AYOADE. J. O. Introdução à Climatologia para os Trópicos. 3ª. ed. Rio de Janeiro: Editora Bertrand
Brasil S.A., 1991. 332 p.

BERTONI, J. C.; TUCCI, C. E. M. Precipitação. In: TUCCI, C. E. M. (Org.) Hidrologia: Ciência e


Aplicação. 2ª ed. Porto Alegre: Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (ABRH), 2000. p.
177-241.

BRASIL. Lei Federal N.º 9.433, de 8 de Janeiro de 1997. Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos,
cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Diário Oficial [República Federativa do
Brasil], Brasília, 9 jan. 1997.

CHORLEY, R. J. The hillslope hydrological cycle. In: Hillslope Hydrology. KIRBY, M. J. (Ed). John
Wiley and sons. 1978. p. 1-42.

COELHO NETTO, A. L. Hidrologia de encosta na interface com a Geomorfologia. In: GUERRA, A. J. T.;
CUNHA, S. B. da (Orgs.): Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 1995. p. 93-148.

DUNNE, T. Fields Study of hillslope flow processes. In: Hillslope Hydrology KIRKBY ed. John Willey &
Sons, 1978. p 227-293.

32
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

DUNNE, T. Relation of fried studies and modeling in the prection of storm runoff. J. Hydrol., Amsterdam,
v. 65, p. 25-48, 1983.

HAGGETT, P.; CHORLEY, R. J. Modelos, paradigmas e a nova geografia. In: CHORLEY, R. J.;
HAGGETT, P. Modelos físicos e de informação geográfica. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos;
São Paulo: Ed. Universidade de São Paulo, 1975. p. 1-19.

HEATH, R. C. Hidrologia básica de água subterrânea. Geological United States Geological Survey Water
Supply Paper 2220. 1983. 84 p.

HEWLETT, J. D. Principles of forest hydrology. The University of Georgia Press. 1982. 183 p.

HEWLETT, J. D.; HIBBERT, A. R. Factors affecting the response of small watersheds to precipitation in
humid areas. In: International Symosium on Forest Hydrology (1965: Pennsylvania). Proceedings.
Pennsylvania State Univ. 1967. p. 275-290.

HORNBERGER, G. M.; RAFFENSPERGER, J. P.; WIBERG, P. L.; ESHLEMAN, K. N. Elements of


Physical Hydrology. J. Hopkins, 1998. 302 p.

HORTON, R. E. The role of infiltration in the hydrologic cycle. Trans. Amer. Geoph. Union, n. 14, p. 446-
460, 1933.

KOBIYAMA, M.; GENZ, F.; MENDIONDO, E. M. Geobiohidrologia. I Fórum de Geo-bio-hidrologia:


Estudo em Vertentes e Microbacias Hidrográficas, UFPR, Curitiba, 1998. p. 1- 25.

KOBIYAMA, M.; MANFROI, O. J. Importância da modelagem e monitoramento em bacias hidrográficas.


In: Curso “Manejo de bacias hidrográficas sob a perspectiva florestal”, Apostila, Curitiba: FUPEF, 1999. p.
81-88.

LINDNER, E. A. Estudo de eventos hidrológicos extremos na bacia Rio do Peixe – SC com aplicação de
Índice de umidade desenvolvido a partir do Tank Model. Florianópolis, 2007. 193 f. Tese (Doutorado em
Engenharia Ambiental) Universidade Federal de Santa Catarina.

MENDIONDO, E. M.; TUCCI, C. E. M. Escalas Hidrológicas II: Diversidade de Processos na Bacia


Vertente. Revista Brasileira de Recursos Hídricos, ABRH, v. 2, nº. 1, p. 59-122, 1997.

MORE, R. Os Modelos Hidrológicos e a Geografia. In: CHORLEY, R. J.; HAGGETT, P. Modelos físicos e
de informação geográfica. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos; São Paulo: Ed. Universidade de
São Paulo, 1975. p. 104-138.

PENMAN, H. L. Evaporation : an Introductory Survey. Neth. J. Agric. Sci, n. 4, p. 9-29, 1956.

PEREIRA, A. R.; NOVA, N. A. V.; SEDIYANA, G. C. Evapo(transpi)ração. Piracicaba: FEALQ, 1997.


183 p.

SILVEIRA. A. L. L. da. Ciclo Hidrológico e Bacia Hidrográfica. In: TUCCI, C. E. M. Hidrologia Ciência
e Aplicação. Porto Alegre: Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (ABRH), 2000, p. 35-51.

SKILLING, H. An Operational View. American Scientist. v.52, 1964. p. 388-396.

TEIXEIRA, A. L. de A.; CHRISTOFOLETTI, A. Sistemas de Informações Geográficas: Dicionário


Ilustrado. São Paulo: HUCITEC. 1997. 320 p.

TUCCI, C. E. M. Modelos hidrológicos. Porto Alegre: Editora Universidade Federal do Rio Grande do
Sul/UFRGS/Associação Brasileira de Recursos Hídricos, 1998. 669 p.

33
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

TUCCI, C. E. M.; BELTRAME, L. F. S. Evaporação e Evapotranspiração. In: TUCCI, C. E. M. Hidrologia


Ciência e Aplicação. Porto Alegre: Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (ABRH), 2000.
p. 253-287.

VESTENA, L. R. Modelos hidrológicos e hidrossedimentológicos. In: Edivaldo Lopes Thomaz; Márcia da


Silva. (Org.). Experiências de Pesquisas-Grupos de Geografia. Guarapuava: Editora Unicentro, 2008a (no
prelo).

VESTENA, L. R. Análise da dinâmica de expansão e retração das áreas saturadas e o transporte de


sedimento em bacia hidrográfica por meio de monitoramento e modelagem. Florianópolis, 2008b. Tese
(Doutorado em Engenharia Ambiental) Universidade Federal de Santa Catarina (no prelo).

VARELLA, R. F.; CAMPANA, N. A. Simulação matemática do processo de transformação de chuva em


vazão: estudo do modelo TOPMODEL. Revista Brasileira de Recursos Hídricos, Porto Alegre, v. 5 n. 4, p.
121-139, out./dez., 2000.

WARD, A. D.; TRIMBLE, S. W. Environmental hydrology. 2nd ed. New York: Lewis Publishers, 1995.
475 p.

34
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

Palestra Final: Parte 1


DIVERSIDADE E CONFLITOS AMBIENTAIS NO BRASIL

Roberto Verdum9

Introdução
A localização do território do Brasil, que tem uma superfície de 8.511.965 km2 e onde 93% desta
superfície está em zona tropical, pode ser considerada como fundamental para caracterizar o papel do
tropicalismo na formação sócio-territorial do país. No entanto, no que se refere a essa formação deve-se levar
em consideração as características da expansão do capitalismo colonial europeu do século XVI, com o
enquadramento desse território de dominação portuguesa num modelo capitalista mercantil.
Assim, para referenciar a questão ambiental no Brasil é necessário resgatar as grandes estratégias
econômicas adotadas historicamente, desde o período colonial de dominação portuguesa, entre os séculos
XVI e XIX, até os dias de hoje. Inicialmente, deve-se referenciar a extração do pau-brasil na face leste da
antiga colônia, especificamente na floresta Atlântica. Neste mesmo ecossistema florestal, na sua porção
nordeste, desenvolvem-se as plantations de cana-de-açúcar, no século XVI, e que estão presentes até hoje,
como a segunda área produtiva do país. As plantations de café caracterizariam o próximo ciclo de produção
agrícola que atenderiam as demandas do mercado mundial. Foram, desenvolvidas, essencialmente, nos
ecossistemas da floresta Atlântica e das Araucárias, assim como nos ecossistemas dos campos meridionais,
na porção sudeste da antiga colônia.
Já não pertencendo mais, do ponto de vista administrativo, ao domínio de Portugal, é a partir dos
anos de 1930 que se vislumbra no país um modelo de desenvolvimento que buscará romper esses ciclos
econômicos baseados na exportação de produtos agrícolas, conforme as demandas dos impérios coloniais. As
elites brasileiras adotam a política de industrialização e da abertura aos investimentos internacionais, como
sendo a possibilidade do país ingressar num modelo desenvolvimentista. A concentração dos recursos
financeiros no Estado caracteriza-o como o grande empreendedor, sobretudo no que se refere à construção de
infra-estrutura para impulsionar o processo produtivo industrial, assim como reforçar o papel agro-
exportador, reconhecido desde o período colonial português. Identifica-se a construção das rodovias que
ligam as regiões sul, sudeste e nordeste, assim como, o sistema de produção de energia por hidroelétricas.
Dinâmica sócio-espacial no Brasil e a questão ambiental brasileira
Salienta-se, freqüentemente, que é a partir dos anos de 1970 que emerge no país a discussão sobre a
problemática ambiental, sendo esta o resultado da mobilização social, especificamente, do movimento
ambientalista brasileiro, que elabora os primeiros paradigmas frente às degradações ambientais que afetam a
sociedade e os ecossistemas do país. No entanto, pode-se considerar que a questão ambiental brasileira tem
suas raízes profundas, a partir dos anos de 1930. Neste período estabelece-se uma abertura crescente aos

9
Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Brasil, Professor Doutor do Departamento de Geografia – Instituto de
Geociências, verdum@ufrgs.br

35
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

investimentos internacionais que buscam consolidar uma política para tornar o país num grande exportador
de produtos agrícolas de interesse ao mercado consumidor externo. Associado a esta perspectiva aplica-se
uma política de investimentos industriais que incorpora o ideal da modernidade, este forjado nos referenciais
dos denominados “países desenvolvidos”.
Como estratégica para desenvolver este modelo de desenvolvimento no país, nota-se a concentração
dos recursos financeiros na estrutura de Estado, principalmente na esfera do governo federal, em detrimento
dos estados e municípios. Neste sentido, o grande empreendedor e financiador para o estabelecimento das
obras de infra-estrutura é o governo federal. Como exemplo desta estratégia de elaboração de um modelo de
desenvolvimento para o país, cita-se a política de ampliação da rede rodoviária, essencialmente, a construção
das rodovias Rio-Bahia e as redes sudoeste e sul; ampliação da matriz energética, a partir da construção de
usinas hidroelétricas nestas mesmas regiões do país.

Concomitante, ao aumento de recursos financeiros disponíveis, da ampliação do modelo de


concentração de terras para a produção agro-exportadora e do crescimento da matriz produtiva industrial,
nota-se o enorme fluxo migratório, sobretudo para a região sudeste (Estados do Espírito Santo, Minas Gerais,
São Paulo e Rio de Janeiro). Reconhece-se hoje, pelos números do censo demográfico do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE) que, entre os anos de 1960 e 1980, ocorreu um fluxo migratório para esta
região em torno de 30 milhões de pessoas, grande parte delas oriundas do nordeste do país. Reforçando esta
dinâmica iniciada nos anos de 1930, os dados atuais de concentração industrial no Brasil mostram a seguinte
distribuição: 73% na região sudeste, 16% na região sul e 8% na região nordeste.

Esse modelo de desenvolvimento, elaborado na perspectiva da concentração industrial e da


reestruturação das atividades agro-pecuárias em direção ao atendimento das demandas do mercado mundial,
produzem entre os anos de 1970–1980 o que se reconhece hoje como sendo o período do “milagre
brasileiro”. Esse modelo encontra sua justificativa ao se verificar que nesse período a economia brasileira
encontra-se como sendo a oitava do mundo, mesmo que se desconsidere qualquer tipo de preocupação
ambiental, assim como em relação à exclusão social crescente. Nos ideais das elites brasileiras, em
consonância com os interesses das empresas multinacionais elabora-se o argumento de que a “pior das
poluições é a miséria”, afirmando que a proteção ambiental seria contrária ao progresso econômico que
estava sendo proposto ao país.
Na busca de ampliação da base material para atender esse modelo de desenvolvimento, identifica-se
a necessidade de se concretizar a lógica da “integração nacional”, que incorpora as regiões norte (floresta
amazônica) e centro-oeste (cerrado e o Pantanal) do país.

Ecossistemas brasileiros e seus conflitos ambientais


Inicialmente, para se avaliar os conflitos ambientais no território brasileiro procura-se dividi-los em
dois recortes espaciais: meio rural e urbano. Quando se trata de identificar esses conflitos no meio rural é
fundamental associá-los a dois aspectos: a diversidade dos ecossistemas e a sucessão de modelos baseados
no extrativismo e na monocultura desenvolvidos historicamente no país.

36
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

No que se refere à produção agrícola e os principais conflitos ambientais no país, pode-se propor
uma associação entre os diferentes ecossistemas e os sistemas extrativos e agro-industriais desenvolvidos.
Essencialmente, existem os seguintes sistemas produtivos:
• Extrativo Amazônico (látex, mineral e da madeira);
• Pastoril do Nordeste, Sudeste, Sul, e Centro-oeste;
• Agro-industrial da Zona da Mata no Nordeste (cana-de-açúcar, algodão e cacau);
• Agro-industrial do Sudeste (café e cana-de-açúcar);
• Agro-industrial do Sul, Centro-oeste e Norte (arroz e soja);
• Florestal do Nordeste, Sudeste e Sul (madeira exótica: pinos, eucalipto e acácia).

Na Amazônia, que representa 47% do território nacional, em torno de quatro milhões de km², o
processo de degradação da floresta já vem sendo identificado desde a década de 1970, com os estudos de
geógrafos como: Aziz Ab’Saber e Orlando Valverde. Estes identificam, já naquele período, o processo de
savanização, que significa a substituição da floresta por pastagens que, posteriormente, podem ou não ser
abandonadas pela inviabilidade de sustentação de um sistema de exploração pastoril em solo florestal.
Atualmente, o desmatamento da área coberta por florestas representa uma superfície em torno de 400.000
km², Becker & outros, (2002). Identificam-se como os principais problemas ambientais no ecossistema
amazônico, a exposição das terras aos processos erosivos devido aos desmatamentos contínuos e, como
conseqüência o assoreamento dos cursos de água; o processo de formação de áreas arenosas (arenização)
improdutivas e propícias à ação dos agentes erosivos; a degradação da fauna e da flora e as mudanças nas
relações sociais, principalmente em relação às comunidades indígenas da região.
O Nordeste que representa 1,5 milhões de km², em torno de 18% do território nacional, é onde se
localizam essencialmente os ecossistemas da Caatinga, do Agreste e da Zona da Mata, identifica-se com a
presença histórica das plantations, como já salientado anteriormente. Dá-se destaque ao cultivo da cana-de-
açúcar, historicamente desenvolvido, sendo atualmente produzido numa área de aproximadamente de
4.000.000 ha. de solos que, anteriormente, sustentavam a Floresta Tropical Atlântica. Em termos geográficos
esse cultivo se distribui na proporção de 25% na região Nordeste e 60% na região Sudeste (sendo 49%
produzido no Estado de São Paulo), com rendimento médio em torno de 63 ton/ha. Mesmo com a presença
de uma quantidade expressiva de grandes e pequenas propriedades rurais improdutivas, ocorre uma pressão
agrícola, tanto pela criação extensiva de ovinos e de caprinos como pela intensificação do agrobusiness,
sendo uma alternativa de competitividade no mercado externo com a implantação de sistemas de irrigação
para a produção da soja e frutas. Esta região apresenta como sérios problemas ambientais o processo de
desertificação, caracterizado pelos períodos de seca na porção do semi-árido nordestino, degradação das
terras e desestruturação social que provoca, ainda, um fluxo migratório histórico pelo êxodo rural. Identifica-
se, também nesta região do país uma constante degradação da fauna e flora locais.
A região Sul, que representa 580.000 km², 6,8% do território brasileiro, é essencialmente
caracterizada pela presença de ecossistemas florestais subtropicais e campos, onde o agrobusiness está
consolidado desde os anos de 1960, com os cultivos de arroz, trigo, soja, milho e aveia, assim como pela

37
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

criação de bovinos, ovinos e eqüinos. Identifica-se um desmatamento histórico dessas florestas subtropicais,
restando atualmente 4% da floresta original, o que induz a uma pressão social na preservação desses
remanescentes florestais. Por ser uma região caracterizada pela intensificação dos sistemas agrícolas,
identifica-se além dos problemas relativos à degradação das terras, ao assoreamento dos cursos d’água e a
contaminação pelos produtos agro-químicos, um processo de desestruturação das pequenas (abaixo de 25
ha.) e médias (entre 100 e 300 ha.) propriedades familiares. Especificamente, em relação à porção campestre,
no Pampa, identifica-se o processo de formação de manchas arenosas (areais), oriundas da intensificação de
processos naturais de ravinamento e voçorocamento em solos arenosos, pela introdução de sistemas agrícolas
intensivos em áreas de pastoreio, essencialmente, os cultivos de trigo, soja e milho.
A região Centro-oeste, com uma superfície em torno de 1,6 milhões de km², que representa 19% do
território nacional, contém como principal ecossistema o Cerrado. Este é considerado como sendo o segundo
bioma brasileiro em termos de diversidade depois da Amazônia, tendo sido catalogados em torno de 700
espécies vegetais, 935 pássaros, 298 mamíferos e 268 répteis. Após a integração dessa região o processo
produtivo agro-industrial, vários são os cultivos que se expandem e se intensificam: soja (36% da produção
nacional), arroz (21% da produção nacional), milho, feijão, café e mandioca. Dentre os problemas ambientais
que são identificados nessa região destacam-se a degradação da fauna e da flora, inclusive com algumas
espécies ameaçadas de extinção; a degradação dos solos e da água, tanto por ravinamento, voçorocamento e
conseqüente assoreamento dos cursos d’água como, também, no que se refere a contaminação por pesticidas.
Nessa região, receptora de grande fluxo migratório, desde os anos de 1970, caracteriza-se, também, como
outras regiões brasileiras, por mudanças das relações sociais entre os produtores e a apropriação da natureza,
no que se refere e concentração das terras, das técnicas adotadas e dos modos de vida.
A região Sudeste, com uma superfície em torno de 927. 000 km², que representa 11% do território
nacional possuía como principal ecossistema a floresta tropical Atlântica, sendo que hoje apenas 8% desta
floresta existe como remanescente. A introdução da cana-de-açúcar, ainda no período colonial, no século
XVI, e o café, no século XIX representam, ainda hoje, os principais cultivos desenvolvidos nessa região.
Atualmente, a região sudeste produz 60% da cana-de-açúcar da produção brasileira, ultrapassando assim, a
produção histórica da região nordeste, que representa em torno de 25%. Para este cultivo foram ocupados,
aproximadamente 4.000.000 ha. de solos da floresta tropical, com um rendimento atual de 63 ton/ha.
Para a produção do café, foram ocupados, aproximadamente, 3.000.000 ha. de solos de florestas
tropicais, sendo a região sudeste responsável por 79% da produção brasileira, com um rendimento médio de
1,2 ton/ha.
Como problemas ambientais relacionados ao desenvolvimento histórico destes dois sistemas de
cultivos, destacam-se principalmente a fragmentação dos ecossistemas florestais. Neste sentido, são
identificadas a redução da complexidade florestal, a redução do número de espécies, a erosão da diversidade
genética, a penetração de espécies oportunistas e o aumento do acesso à exploração humana, sobretudo em
função da proximidade, também, dos grandes centros urbanos nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro.

38
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

Ruptura de um país rural à urbanização: geração de desequilíbrios sócio-ambientais


Ao se resgatar as mudanças históricas que ocorreram em relação à população rural e urbana no
Brasil, nota-se a ruptura de um país essencialmente rural, para um país que se insere no modelo de produção
industrial. Inicialmente, com capital industrial concentrado na região sudeste, estados de São Paulo e Rio de
Janeiro, gerou-se um rápido processo de crescimento populacional e de urbanização. Nos anos de 1960
(IBGE), segundo dados do censo demográfico, a população total no país era de 60 milhões de habitantes,
sendo que 28 milhões destes, 46%, viviam nas áreas urbanas. No censo demográfico do ano 2000 (IBGE) a
população brasileira era de 170 milhões de habitantes, sendo que 137 milhões de pessoas viviam nas cidades,
o que representa 81% da população do país. Atualmente, em termos de concentração urbana e de capital
industrial, além daqueles dois estados da federação que caracterizam a maior região metropolitana do país,
pode-se citar as regiões de Belém, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Recife e Salvador.
Com este rápido crescimento populacional, concentração do capital industrial e acelerada
urbanização alguns desequilíbrios graves são característicos destes processos. Em 2003 (IBGE) o número de
domicílios era de 49.195.925, sendo que 85,7% urbanos e 14,3 rurais. No que se refere ao déficit
habitacional no Brasil estima-se que, atualmente, este chega a 10 milhões de habitações. Associados a esta
precarização das condições de habitação pode-se associar as seguintes carências de infra-estrutura: nos
transportes coletivos, nos sistemas de tratamento de esgotos e na disposição dos resíduos sólidos. Além
disso, nas áreas urbanas, se intensificam os conflitos entre a localização das atividades diversas, entre elas a
industrial, residencial, comercial e artesanal.
Em relação à água, mesmo que o Brasil detenha 13,8% da água doce disponível no mundo, que 73%
desta água está na Amazônia, onde vive 4% da população brasileira e que a disponibilidade de água por
habitante é de 35 milhões de litros, em torno de 40 milhões de brasileiros ainda têm problemas quanto ao
acesso de água tratada. Em 2003 (IBGE), 82,5% dos domicílios brasileiros possuíam abastecimento de água.
Como principais efeitos dessas características do processo de urbanização e da precarização da infra-
estrutura destacam-se: a poluição industrial e doméstica por matérias orgânicas e inorgânicas. Mesmo que os
dados de 2003 (IBGE) mostrem que 69% dos domicílios possuíam esgotamento sanitário, ainda é grave a
situação quanto à degradação da água, já que somente 20% dos esgotos nas áreas urbanas são tratados.
Em relação à qualidade do ar destacam-se: a poluição por emissões gasosas de monóxido de carbono
e dióxido de enxofre, associados às atividades industriais e às emissões dos veículos de transporte.
Finalmente, ainda considerado como um dos sérios problemas que geram a contaminação dos solos e
das águas salienta-se à disposição dos resíduos sólidos industriais e domésticos em meios não apropriados.
No meio urbano, os dados oficiais de coleta apontam para um atendimento de 85,6% da população no ano de
2003 (IBGE), no entanto ainda há sérios problemas relativos à coleta informal desses resíduos que se amplia
nas cidades brasileiras. Destaca-se ainda que, no meio rural as condições de coleta ainda são muito precárias,
sobretudo em relação aos vasilhames de produtos químicos utilizados nas propriedades e aos resíduos da
produção agrícola.

39
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

Considerações finais
Analisando-se a formação do território brasileiro e os conflitos ambientais, conclui-se que são
fundamentais nesta relação as dinâmicas de uma natureza tropical e a incorporação do país à expansão do
capitalismo, desde o período colonial europeu do século XVI até os dias de hoje. O resgate histórico-
geográfico desta incorporação revela que os conflitos ambientais não se limitam ao que se observa
atualmente. Esses conflitos são o produto da seqüência de modelos exploratórios adotados nos diversos
ecossistemas brasileiros, das demandas do mercado interno e mundial, dos planos de desenvolvimento
elaborados na perspectiva da concentração industrial e da reestruturação das atividades agro-pecuárias na
primeira metade do século XX.
Mesmo com a mobilização social, que questiona e se opõe às degradações ambientais identificadas
em todo o território brasileiro a partir dos anos de 1970, e da implantação da Política Nacional do Meio
Ambiente a partir dos anos de 1980, essas degradações ainda se revelam graves. Esta gravidade é acrescida
pela precariedade do poder civil e do estado em interferir no seu controle e na aplicação das políticas
ambientais. Cada vez mais, revela-se concretamente a relação existente entre as disparidades
socioeconômicas dos brasileiros e as diferenciações espaciais do país em termos de degradações ambientais.
Além do crescimento dos conflitos sociais no país, verifica-se uma tendência que aponta para um acréscimo
deste acirramento frente às diferenciações espaciais no território, entre aquelas já degradadas e outras
reservadas à conservação.
Assim, associados a esta precarização das condições ambientais esta a precarização de uma parcela
importante de população brasileira, tanto no meio urbano como rural. Entre os grupos de brasileiros que
possuem maior e menor renda, avalia-se preliminarmente que, na relação entre a distribuição da renda e a
degradação ambiental, os 10% de maior renda têm uma tendência, no seu conjunto, de degradar mais em
relação aos 50% de menor renda. No que se refere ao consumo em geral, este é fracamente controlado,
principalmente daqueles com maior poder aquisitivo, no entanto os brasileiros de menor renda estão mais
submetidos aos impactos das degradações ambientais.

REFERÊNCIAS
BECKER, B. K. & outros (org.) Geografia e meio ambiente no Brasil. São Paulo: Editora Hucitec, 2002.
CASSETI, W. Ambiente e apropriação do relevo. São Paulo: Contexto, 1991.
CONGRESSO BRASILEIRO DE GEÓGRAFOS, 6, 2004, Goiânia. Anais... Goiânia: Associação dos
Geógrafos Brasileiros (AGB), 2004.
GONÇALVES, C. W. P. Geo-grafías. Mexico: Syglo veintiuno editors, 2001.
HEIDRICH, A. L. & outros. Diagnóstico socioeconômico e ambiental da Unidade de Conservação do
Parque Estadual de Itapeva. Relatório Técnico. Porto Alegre: Departamento de Geografia/IG/UFRGS,
2005.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE) Censo demográfico. Rio de
Janeiro. 2000

40
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE) Pesquisa Nacional por Amostra


de Domicílios. Rio de Janeiro. 2003.
MENDONÇA, F. de A. Geografia e meio ambiente. São Paulo: Contexto, 2001.
PROGRAMA NACIONAL DE MEIO AMBIENTE (PNMA) Os ecossistemas brasileiros e os principais
macro vetores de desenvolvimento. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da
Amazônia Legal, 1996.
SANTOS, Milton. A natureza do Espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Edusp, 2002.
SANTOS, M. Técnica Espaço Tempo – globalização e meio técnico-científico informacional. São Paulo:
Editora Hucitec, 1998.
SIMPÓSIO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA FÍSICA APLICADA, 10, 2003, Rio de Janeiro. Anais... Rio
de Janeiro: Universidade Estadual do Rio de Janeiro, 2003.
SIMPOSIO NACIONAL DE GEOMORFOLOGIA, 4, 2002, São Luis. Anais... São Luis: Departamento de
Geociências/NEPA/UFM e UGB, 2004.
SIMPOSIO NACIONAL DE GEOMORFOLOGIA, 5, 2004, Santa Maria. Anais... Santa Maria:
Departamento de Geociências/UFSM e UGB, 2004.
SUERTEGARAY, D. M. A.; GUASSELLI, L. & VERDUM, R. Atlas da arenização – sudoeste do Rio
Grande do Sul. Porto Alegre: Centro Estadual de Sensoriamento e Meteorologia do Estado do Rio Grande
do Sul, Secretaria da Coordenação e Planejamento do Estado do Rio Grande do Sul e Secretaria da Ciência e
Tecnologia do Estado do Rio Grande do Sul. 2001.
VERDUM, R. & MEDEIROS, R. M. V. RIMA – Relatório de Impacto Ambiental: legislação,
elaboração e resultados. Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS, 2002.

41
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

PALESTRA FINAL: PARTE 2

OS GEÓGRAFOS FRENTE ÀS DINÂMICAS SÓCIO-AMBIENTAIS NO BRASIL

ROBERTO VERDUM10

RESUMO

Para identificar o olhar dos geógrafos frente às transformações no país e suas relações no que se
refere às implicações ambientais, inicialmente tratar-se-á da base conceitual utilizada por esses para abordar
a relação sociedade-natureza. Em seguida, expor como os geógrafos abordam esta relação e, finalmente, dos
destaques dados por eles na pesquisa frente às degradações ambientais, que são o resultado concreto das
opções adotadas no que se refere ao modelo de desenvolvimento no país.

Palavras-chaves: Brasil, geografia, questão ambiental, degradação ambiental e paisagem.

RESUMÉ

Pour identifier le regard des géographes vis-à-vis les transformations dans le pays et ses rapports
avec les dégradations environnementaux, on propose récupérer la base conceptuelle élaborée pour analyser le
rapport société-nature. Ensuite, on expose comment les géographes développent des méthodes pour travailler
ce rapport et, finalement, les remarques de la dégradation environnementale faites pour les géographes
comme étant le résultat concret des options adoptées dans le modèle de développement du pays.

Mots-clefs : Brésil, géographie, question environnementale, dégradation environnementale et paysage.

CONSTRUÇÃO DOS GEÓGRAFOS FRENTE À NATUREZA E A SOCIEDADE


A base conceitual que os geógrafos operam para tratar da relação sociedade-natureza tem se alterado
no transcorrer da produção científica. Inicialmente, pode-se considerar que a preocupação dos geógrafos era
a de tratar a relação homem- natureza. Esta perspectiva de análise diferenciava a Geografia de outras áreas
do conhecimento, de um lado aquelas que analisavam as dinâmicas da natureza e, de outro lado as que se
preocupavam com as dinâmicas sociais.

No entanto, nesta abordagem da Geografia, baseada nos pressupostos de Descartes, era fundamental
diferenciar o homem da natureza. A natureza era considerada como externa ao homem, analisada como
sendo o conjunto dos elementos formadores da Terra (água, solo, ar, ...). Por outro lado, o homem era visto
como um ser biológico na relação com a natureza, podendo-se considerar como sendo uma forma de

10
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Professor Doutor do Departamento de Geografia-Instituto de
Geociências, verdum@ufrgs.br

42
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

naturalização do homem, GONÇALVES, 2001. Assim, os geógrafos tinham dificuldades em construir um


método que propunha analisar a unidade sociedade-natureza.

Posteriormente, os geógrafos ao se aproximarem das abordagens desenvolvidas pelas ciências sociais


(Antropologia, Ciência Política, Economia e a Sociologia) começam a elaborar noções que enfatizam as
relações sociais que se estabelecem entre os homens, tais como, a categoria comunidade. Nesta, associa-se a
identidade social de um determinado grupo com os conceitos de lugar, território e região. A Geografia passa
a ser aquela ciência que não necessariamente estudaria a relação entre os homens, mas sim, os lugares, como
referenciaria Vidal de la Blache.

Essa aproximação com os referenciais construídos pelas ciências sociais criam a possibilidade dos
geógrafos alterarem suas bases metodológicas para compreender a relação entre os homens e a natureza. O
conceito de espaço geográfico é elaborado como sendo o resultado das formas de como os homens
organizam sua vida e suas formas de produção. Nesta perspectiva, a natureza passa a ser vista como recurso
à produção, o que aponta para uma limitação quanto a possibilidade analítica em relação às dinâmicas da
natureza.

Assim, analisando os referenciais teóricos-metodológicos e as práticas de pesquisa dos geógrafos,


desse momento da produção científica, frente a relação sociedade-natureza, observa-se duas abordagens
diferentes, uma que considera a natureza como recurso e outra que, considera a dinâmica da natureza como
suporte da vida humana, com suas dinâmicas próprias, SANTOS, 1998. É na busca da ruptura desta
dicotomia que os geógrafos experimentam criar novos suportes para estudar a relação sociedade-natureza,
CASSETI, 1991.

Neste sentido, algumas rupturas epistemológicas podem ser destacadas como referências para o
desenvolvimento das práticas científicas dos geógrafos:

- romper com a compreensão que considera o homem, exclusivamente, como um ser natural;
- reconhecer que a cultura humana é cada vez mais vasta e diversificada, sendo carregada de
elementos técnicos que permitem a esse homem modificar e, até mesmo (re)criar a natureza.
A partir dessas rupturas pode-se reconhecer novas práticas do fazer geográfico que abordam as
intervenções humanas na natureza como referenciadas nas diversas formas de organização social, ROSS,
1990 e MENDONÇA, 2001. Aos geógrafos não seria mais suficiente abordar, por exemplo, os impactos
ambientais meramente como impactos antrópicos, situados numa esfera genérica de análise em relação aos
detentores do poder e dos modos de produção na(s) sociedade(s) humana(s). Para desenvolver seus estudos
na busca dessa relação sociedade-natureza são diversas as categorias de análise utilizadas pelos geógrafos,
entre elas pode-se citar: meio ambiente, paisagem, ecossistema e recurso natural.

Atualmente, na perspectiva de estudar as dinâmicas que se estabelecem na relação sociedade-


natureza os geógrafos são confrontados a certos desafios, tais como:

- reconhecer que a degradação ambiental no meio rural e urbano traz a marca de nossas opções no
passado, tanto do desconhecimento que se tinha das dinâmicas da natureza e dos desdobramentos

43
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

das intervenções sociais nessas dinâmicas, como no que se refere ao cinismo e a ganância
produtiva;
- reconhecer o grau de estabilidade e o potencial geo-ecológico dos ambientes, isto é, os limites
de tolerância que, quando ultrapassados alteram sua dinâmica, tornando a degradação gerada
irreversível, isto é, nos próximos 25 anos, considerando-se o período de surgimento de uma nova
geração;
- planejar o espaço de tal forma que, os ecossistemas artificiais produzidos pelas diversas formas
de modernizações da agricultura e, que fornecem os recursos para a sociedade, sejam capazes de
funcionar sem degradações ambientais e, assim, permitam a continuidade do desenvolvimento
dos processos produtivos.

A TRAJETÓRIA DOS GEÓGRAFOS NO RECONHECIMENTO DAS DEGRADAÇÕES


AMBIENTAIS
Pode-se afirmar que, o reconhecimento pelos geógrafos dos desastres ambientais ocorre no pós-
guerra, na intensificação do processo de colonização européia na África, quando foram adotadas práticas
agrícolas de matrizes culturais produtivas dos países colonizadores. Já na década de 1940, por exemplo, a
desertificação era reconhecida como um processo de degradação das terras pelas práticas agrícolas que
guardavam na sua essência, as práticas realizadas em terras européias com características completamente
distintas daquelas ocupadas no continente africano, SUERTEGARAY, GUASSELLI, & VERDUM, 2001.

Posteriormente a este período, geógrafos franceses como George Bertrand, Jean Tricart, André
Cailleux, Jean Dresch e Pierre Gourou passaram a reconhecer, a partir de uma abordagem sistêmica, as mais
variadas degradações, pela continuidade da adoção de modelos de produção agrícola incompatíveis com as
dinâmicas da natureza local. Dinâmicas estas em grande parte desconhecidas pelos planejadores, que
desconsideravam, tanto o grau de estabilidade e o potencial geo-ecológico dos ecossistemas como o limite de
resiliência (resistência à mudança) de um determinado ecossistema para suportar determinadas alterações,
TRICART, 1994.

No Brasil, geógrafos como Léo Waibel, Emanuel de Martonne, Orlando Valverde, Aziz Ab’Saber e
Manoel Correa de Andrade podem ser considerados os precursores em relação as transformações do espaço
geográfico pelas diferentes modernizações por que passou a agricultura. Através da abordagem considerada
como sendo a da paisagem cultural esses geógrafos são, na sua maioria, testemunhas vivas das opções de
desenvolvimento rural brasileiro e das degradações ambientais, do Rio Grande do Sul à Amazônia. Apontam,
até hoje, os malefícios das políticas agrícolas adotadas por nós brasileiros e as degradações que
marginalizam as áreas de potencial produtivo, assim como, aquelas que se caracterizam como de identidade
única no universo dos ecossistemas tropicais, PNMA, 1996 e BECKER & outros, 2002.

Além disso, apontam a ignorância/desconhecimento de nós brasileiros, em relação ao potencial geo-


ecológico desses ecossistemas e dos seus limites. Desta forma, há a necessidade de intensificar o debate
sobre modelos produtivos e a preservação/conservação ambiental, VERDUM, R. & MEDEIROS, 2002.

44
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

Estas devem considerar a natureza e o patrimônio cultural, assim como na criação/adaptação de modelos de
produção agrícola no mundo tropical. Sendo que o patrimônio cultural se insere numa história de ocupação
e conformação do território brasileiro.

A PAISAGEM COMO CATEGORIA DE ANÁLISE DAS TRANSFORMAÇÕES SÓCIO-


AMBIENTAIS

A proposta de caracterizar as transformações sócio-ambientais a partir da categoria de análise


espacial – paisagem, pressupõe definir as diferenciações entre as unidades de paisagem (UP’s),
essencialmente, referenciadas em quadro critérios: a forma, a função, a estrutura e a dinâmica,
ROUGERIE & BEROUTCHACHILI, 1991 e ROGER, 1995.
A forma é o aspecto visível de uma determinada paisagem, sendo que esta se compõem por
elementos que podem ser facilmente reconhecidos em campo, assim como, pelo uso dos produtos do
sensoriamento remoto (fotos aéreas e imagens de satélite): o morfológico, a presença d’água, a cobertura
vegetal e a ocupação das terras. Cada forma possui diferenças, tanto do ponto de vista de suas dinâmicas
como, também, da possibilidade de apropriação e uso social, isto é a sua função, SILVEIRA, 2005.
Sendo assim, a função pode ser compreendida pelas atividades que, de certa maneira, foram ou estão
sendo desenvolvidas e que estão materializadas nas formas criadas socialmente (espaço construído,
atividades agrícolas, atividades mineradoras...) e, que também, são reconhecidas em campo e pelos produtos
do sensoriamento remoto pelas diferenciações que apresentam em relação aos aspectos das unidades da
paisagem, onde não ocorrem as diversas formas criadas socialmente, WINTER, 2004.
A estrutura é outro critério que não pode ser dissociado da forma e da função, sendo esta
reconhecida como a que revela os valores e as funções dos diversos objetos que foram concebidos em
determinado momento histórico. Sendo assim, a estrutura revela a natureza social e econômica dos espaços
construídos e, que de certa maneira, interfere nas dinâmicas da paisagem anteriores a essas intervenções
sociais.
A dinâmica é a ação contínua que se desenvolve gerando diferenças entre as UP’s no que se refere
aos resultados dessa dinâmicas, no tempo, na sua continuidade e na sua mudança. O tempo (geológico e
histórico) revela o movimento do passado ao presente, e este em direção ao futuro. Neste caso, as dinâmicas
de cada UP’s revelam para a sociedade significados que podem ser reconhecidos pelas formas e podem ser
pensados em termos de intervenções que já foram realizadas, assim como aquelas que serão propostas: o
zoneamento, a efetivação e os usos, SANCHIS, 2005. Neste sentido, é fundamental o reconhecimento das
diversas dinâmicas em cada uma das UP’s, assim como, de que estas estão diretamente conectadas.
Sendo estabelecidos esses critérios para diferenciar as UP’s, cabe destacar que é fundamental
reconhecer que a utilização da categoria paisagem na perspectiva conservacionista/preservacionista gera e
gerará uma marca que altera as relações que se estabelecem na ocupação das terras no seu entorno, VIEIRA,
2004. Sendo assim, há a necessidade de que este seja reconhecido socialmente pelas suas formas, funções,

45
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

estruturas e dinâmicas, atribuindo-o uma multiplicidade de funções e usos, englobando-o como importante
na dimensão histórica e cultural do lugar e da área de entorno, HEIDRICH e outros, 2005.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como propostas para o presente e o futuro é fundamental reafirmar o debate sobre o combate a fome
e as doenças associadas, a partir de um projeto de desenvolvimento que considere como essencial as
potencialidades produtivas e a preservação/conservação ambiental. É importante afirmar a necessidade de
sistematizar, na escala do território nacional e regional, o conhecimento do potencial produtivo e de seus
limites para, inclusive definir políticas públicas e privadas relativas ao desenvolvimento rural. Considera-se
relevante também, definir esses potenciais e os limites da produção referenciados na análise das capacidades
tecnológicas, técnicas e de métodos atuais, que se modificam ao longo do tempo.

Analisando a produção geográfica atual, percebe-se a elaboração de estudos que consideram


diferentes abordagens construídas pelos próprios geógrafos, no que se refere a relação natureza-sociedade,
tais como: paisagem, domínios morfoclimáticos, os geossistemas, a ecodinâmica, etc. O fundamental nestes
estudos é que contribuem gradativamente para se reconhecer, a partir dos elementos herdados e das relíquias,
as diferentes formas de propor medidas de proteção ambiental, quando reconhecidamente úteis, a fim de
prolongar suas existências.

Acredita-se que essa parcela de contribuição gerada pelos geógrafos deva servir como referencial nos
questionamentos e nas decisões em relação a adoção de modelos de modernização, tanto em relação ao meio
rural como urbano, principalmente aquelas que levam exclusivamente em consideração os mecanismos
econômicos e políticos, em detrimento das dinâmicas ambientais. Neste sentido, deve-se levar em conta que
ao desconhecer a importância dessas dinâmicas, não só estaremos gerando fontes de degradação da natureza,
mas certamente, dos fatores socioeconômicos que sustentam as relações humanas.

REFERÊNCIAS
BECKER, B. K. & outros (org.) Geografia e meio ambiente no Brasil. São Paulo: Editora Hucitec, 2002.
CASSETI, W. Ambiente e apropriação do relevo. São Paulo: Contexto, 1991.
GONÇALVES, C. W. P. Geo-grafías. Mexico: Syglo veintiuno editors, 2001.
HEIDRICH, A. L. & outros Diagnóstico socioeconômico e ambiental da Unidade de Conservação do
Parque Estadual de Itapeva. Relatório Técnico. Porto Alegre: Departamento de Geografia/IG/UFRGS,
2005.
MENDONÇA, F. de A. Geografia e meio ambiente. São Paulo: Contexto, 2001.
ROGER, Alain (org.). La théorie du paysage en France. Seyssel: Éditions Champ Vallon, 1995.
PROGRAMA NACIONAL DE MEIO AMBIENTE (PNMA) Os ecossistemas brasileiros e os principais
macrovetores de desenvolvimento. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da
Amazônia Legal, 1996.
ROSS, J. Geomorfologia – ambiente e planejamento. São Paulo: Contexto, 1990.

46
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

ROUGERIE, Gabriel & BEROUTCHACHILI, Nicolas. Géosystèmes et paysages: bilan et méthodes.


Paris: Armand Colin Éditeur, 1991.
SANCHIS, M. A. Z. A instalação do bosques de pinus e suas conseqüencias nas dunas do Pontal de Tapes –
RS. Dissertação de Mestrado. Porto Alegre: Programa de Pós-graduação em Geografia/IG/UFRGS, 2005.
SANTOS , M. Técnica Espaço Tempo – globalização e meio técnico-científico informacional. São
Paulo : Editora Hucitec, 1998.
SILVEIRA, C. T. da Paisagem do Vale Três Forquilhas. Trabalho de Graduação. Porto Alegre:
Departamento de Geografia/IG/UFRGS, 2005.
SUERTEGARAY, D. M. A. ; GUASSELLI, L. & VERDUM, R. Atlas da arenização – sudoeste do Rio
Grande do Sul. Porto Alegre: Centro Estadual de Sensoriamento e Meteorologia do Estado do Rio Grande
do Sul, Secretaria da Coordenação e Planejamento do Estado do Rio Grande do Sul e Secretaria da Ciência e
Tecnologia do Estado do Rio Grande do Sul. 2001.
VERDUM, R. & MEDEIROS, R. M. V. RIMA – Relatório de Impacto Ambiental: legislação,
elaboração e resultados. Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS, 2002.
VIEIRA, L. M. dos S. Paisagem da Reserva Biológica Estadual Mata Paludosa como um recurso de
educação ambiental. Trabalho de Graduação. Porto Alegre: Departamento de Geografia/IG/UFRGS, 2004.
WINTER, J. E. Caracterização da mineralização de ametista da região do Alto Uruguai: impactos ambientais
e avaliação dos rejeitos. Trabalho de Graduação. Porto Alegre: Curso de Geologia/IG/UFRGS, 2004.
TRICART, J. Écogeographie des espaces ruraux. Paris : Editions Nathan, 1994.

47
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

TRABALHO DE CAMPO: A contribuição da Geografia nas Pesquisas Sócio-Ambientais.

(Responsável: Prof. Ms. Valdemir Antoneli)

Dentre as diversas atividades propostas para a IV Semana de Geografia, elaborada pelo


departamento de Geografia da Universidade Estadual do Centro Oeste - Campus de Irati- DEGEO/i, foi
realizada uma atividade de campo enfocando os aspectos geoambientais entre os municípios de Irati e
Prudentópolis, ambos localizados na Região Centro Sul do estado do Paraná, atividade coordenada pelo
Professor Ms. Valdemir Antonelli.

O trabalho de campo constitui-se como instrumento fundamental para uma "leitura", por meio da
qual se desvenda o entorno e se estabelece a mediação entre o registro, o conhecimento já sistematizado e
informado e o seu significado, auferido através de um processo dinâmico e dialético para o entendimento da
realidade. Daí decorre a necessidade de discernir-se sobre o real papel que o trabalho de campo desempenha
nos processos de construção do conhecimento e de aquisição de atitudes de comprometimento. Neste sentido
a proposta da atividade de campo acabou instigando os participantes do evento para interpretação das
variáveis que compõem uma unidade de paisagem, bem como sua inter relação.

Partindo deste principio, o trabalho de campo entre as cidades de Irati e Prudentópolis propiciou uma
investigação das características sociais e ambientais, bem como suas inter relações. Dentre as características
físicas, a área em estudo apresenta formação geológica, de depósitos sedimentares paleozóicos,
correspondentes à grande feição de sedimentação marinha e litorânea, conhecida como Bacia Sedimentar do
Paraná.

Nas áreas de estudo há uma predominância da Formação Terezina, a qual é composta por siltitos
acinzentados oriunda de planície de maré e plataforma epinerítica, além de afloramentos da Formação Serra
Alta, Formação Palermo e formação Rio do Rastro, sendo estes componentes do grupo Passa Dois. Em áreas
de topo, é possível encontrar camadas residuais de diabásio, oriundos de “diques ou sills” Juro-Cretácio da
Formação Serra Geral. Estas características, associadas aos processos de intemperismo, permitem o
surgimento de vertentes côncavas/convexas. Devido às características morfopedológicas, o uso do solo desta
região é predominantemente de agricultura familiar e em alguns casos pratica-se ainda sistema de roça que já
vinha sendo desenvolvida desde a colonização. A tração animal e o trabalho familiar são as bases para o
desenvolvimento desta atividade onde se cultiva milho, feijão, arroz e trigo. Entre as diversas
particularidades, do uso do solo, há de se levar em consideração o sistema de Faxinais, ou criadouro comum,
uma forma de organização camponesa que combina policultura com criatório animal e extrativismo vegetal.

Ao longo do itinerário, foram realizadas algumas paradas nas margens da BR 376. A primeira delas
foi realizada no limite entre os municípios de Irati e Prudentópolis, neste ponto as características físicas
apresentam algumas particularidades como um relevo com vertentes alongadas e suaves, e um solo bem
drenado devido a rica drenagem que compõe a região. A morfologia do relevo propicia a mecanização da

48
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

agricultura desta área, ocorrendo um predomínio de solos podzólicos influenciados pela estrutura geológica
sedimentar da formação Serra Alta.

O segundo ponto, para a avaliação dos condicionantes da paisagem, ocorreu próximo a Escarpa da
Serra da Esperança (Serra Geral), neste local foi possível enfocar algumas particularidades. Como por
exemplo, a ocorrência de alguns diques de diabásio oriundos da formação Serra Geral. Estes diques
contribuem para a predominância de um relevo dissecado, com declividades >45%, impróprio, portanto para
a prática agrícola. Mas o que se observou, foi um grande número de áreas onde foi efetuada a prática da
queimada para fazer a limpeza do terreno e efetuar a agricultura de subsistência. Com relação aos tipos de
solos, há um predomínio de cambissolos e litossolos, sendo na maioria rasos e pouco desenvolvidos,
influenciados pela estrutura geológica cristalina e pelo predomínio de um regime climático subtropical,
fatores que propiciam um lento processo de intemperização e formação de solos.

O terceiro ponto para a investigação foi a Escarpa da Serra da Esperança, sendo possível evidenciar
algumas características peculiares da área, principalmente por esta marcar o limite entre o Segundo Planalto
e o Terceiro Planalto Paranaense. Ao longo da Escarpa foram identificadas as deposições da formação
Botucatu sobreposta à formação Pirambóia, sendo estas recobertas pelos derrames basálticos da Formação
Serra Geral. Ocorrem também algumas formações isoladas, constituídas por mesetas e morros testemunhos
das camadas Gondwanicas, como o Morro do Chapéu.

Foram colocados em pauta para discussão in loco alguns aspectos da APA (Área de Proteção
Ambiental) da Serra da Esperança que foi criada através da Lei Estadual nº 9.905, de 27 de janeiro de 1992.
Esta área abrange os municípios de Guarapuava, Prudentópolis. Inácio Martins, Cruz Machado. União da
Vitória, Mallet, Rio Azul, Paula Freitas, Paulo Frontin e Irati, possuindo uma área total de 206.555,82 ha.

Neste ponto também foram discutidas questões referentes à rede de drenagem que por apresentar um
declive acentuado seguem em direção a Noroeste, para desaguar na Bacia do Ivaí, formando vales que
cortam a paisagem com escarpas e cuestas em formas de “boqueirão” resultantes dos processos exógenos que
se verificam ao longo dos anos. Nesta região são encontradas inúmeras cachoeiras, o que propicia o turismo
de aventura.

As explanações também enfocaram alguns condicionantes do uso e ocupação do solo deste local,
como por exemplo, as atividades agrícolas são condicionadas pelas características morfopedológicas, o que
significa uma agricultura de subsistência com emprego de grande quantidade de mão-de-obra, justificando
assim um certo atraso econômico da região.

Para encerrar as atividades de campo, fez-se uma visita ao Salto Barão do Rio Branco no Rio dos
Patos, sendo discutido o potencial turístico e a beleza cênica do local.

Neste sentido, a atividade de campo se tornou compensatória e produtiva devido às diversidades


paisagísticas desta região, sendo possível constatar que as características físicas são condicionantes para o
uso e ocupação do solo.

49
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

COMUNICAÇÕES ORAIS

50
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

AQUECIMENTO GLOBAL E POSSIVEIS MUDANÇAS CLIMÁTICAS


LOCAIS: O CASO DE IRATI

Andréia Tisato11

Aparecido Ribeiro de Andrade12

Resumo: O fenômeno aquecimento global é comentado desde 1850, mas somente em


1950 foi que cientistas iniciaram um monitoramento constante dos níveis de carbono na
atmosfera, e desde então os estudos sobre esse fenômeno climático têm se intensificado.
O aquecimento global é um problema ambiental que preocupa cientistas do mundo inteiro,
pois esse aquecimento é provocado pelo aumento dos gases estufa como: o metano, o
vapor d’água e principalmente o dióxido de carbono, o qual vem se intensificando desde a
revolução industrial, de forma que a sociedade é considerada como principal agente
modificador neste processo. Com o aumento da camada de gases na atmosfera, a
quantidade de calor aprisionado na Terra é maior do que o necessário, sendo assim o
efeito estufa deixa de ser natural e benéfico, para tornar-se uma preocupação ambiental.
As indústrias e a queima de combustíveis fósseis são consideradas as principais formas
de produção de gás carbônico, além da pecuária que produz o metano em grandes
quantidades, retendo 20 vezes mais calor na atmosfera que o gás carbônico, embora sua
concentração seja menor. O crescimento demográfico e das cidades, também são fatores
contribuintes para o aquecimento, pois para a construção das cidades é necessária a
retirada da vegetação de forma rápida e agressiva, causando fortes impactos ambientais,
principalmente pela modificação da estrutura do terreno, como a pavimentação, que além
de deixar o solo impermeável, retém mais energia e calor. É nas cidades que se
concentra a maioria das atividades humanas, como a grande circulação de automóveis.
Desta forma as cidades podem ser consideradas grandes modificadoras do clima, sendo
que o processo de urbanização se intensificou no século XX. Atualmente as cidades são
mais atrativas, assim a maioria da população deixa a vida rural para habitar os grandes
centros urbanos, provocando uma ocupação acelerada e desenfreada, a qual ultrapassa a
capacidade administrativa e de planejamento, ocupando os solos urbanos de forma
inconseqüente, danificando o espaço ecológico da cidade. As áreas verdes estão cada
vez menores no ambiente urbano, o que não é benéfico, pois além de colaborar na
estética das cidades, essas áreas contribuem para o conforto térmico e ajudam no
escoamento das águas das chuvas. O aumento da temperatura terrestre trás consigo
conseqüências ambientais, onde alguns países mais vulneráveis a essas variabilidades
climáticas já estão sofrendo com as graves conseqüências, como variações das chuvas,
derretimento das geleiras, aumento do nível do mar, extinção de espécies animais e
vegetais, furacões, etc., além da grande preocupação com as reservas de água potável.
Embora atualmente existam órgãos como o IPCC (Intergovernmental Panel on Climate
Change), responsável em fornecer relatórios e informações sobre impactos ambientais
causados por ações humanas, convenções como a ECO-92 onde se discutiu o meio
ambiente e desenvolvimento, além de conferências como a de Kyoto, a qual visava e
propunha a redução dos níveis de carbono, os progressos na mitigação do aquecimento
global ainda são incipientes. Sabe-se que apesar de toda essa política ambientalista,
ainda está longe a solução do problema, já que para o desenvolvimento econômico é
necessário a produção de dióxido de carbono (alegam alguns países) e sabe-se que os
países desenvolvidos são os principais poluidores, pois indústrias lançam diariamente
11
Acadêmica do Curso de Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO, Campus
de IRATI-PR. E-mail: andreia_tisato@hotmail.com
12
Professor Assistente do Departamento de Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste –
UNICENTRO, Campus de IRATI-PR. E-mail: arandrade@irati.unicentro.br

51
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

grandes quantidades de gás carbônico na atmosfera. Alguns autores criticam o modo de


produção capitalista, o qual induz a população ao consumismo, de forma que os recursos
naturais são devastados, buscando suprir o consumo humano excessivo da sociedade
moderna. Contudo, o principal enfoque desta pesquisa é descobrir através da concepção
da população urbana de Irati, se nessa cidade também ocorre uma possível alteração na
temperatura nos últimos anos, já que a cidade teve um crescimento considerável, mesmo
sendo uma cidade de pequeno porte. Atualmente Irati conta com aproximadamente
54.151 habitantes, sendo que cerca de 75% dessa população residem na área urbana.
Tal realidade tende a contribuir para o aumento do efeito estufa. Entretanto, em virtude de
falta de dados meteorológicos sistematizados, que propiciem uma avaliação mais
concreta sobre um possível aquecimento ocorrido em Irati, se tentará descobrir através de
entrevistas com alguns moradores mais antigos da cidade, se os mesmos detectaram
alguma alteração climática nos últimos anos, e é através da concepção da população que
se buscará uma explicação sobre tal questionamento. A pesquisa ainda se encontra em
fase de coleta de dados de campo, mas os primeiros resultados obtidos apontam, que
apesar do tema ser muito comentado na mídia, o morador possui um conhecimento
mínimo sobre o assunto, e algumas pessoas não tem idéia do que se trata.

Palavras-chave: clima urbano, aquecimento global, percepção ambiental

BIBLIOGRAFIA
IBGE; Instituto Brasileiro de Geografia Estatística; (2007) disponível em:
http://www.ibge.gov.br/cidadesat/default.php; acessado dia 27/07/2008;
MONTEIRO; Carlos Augusto de Figueiredo. MENDONÇA; FRANCISCO; Clima urbano.
Ed. Contexto São paulo, 2003.
DOW, Kirstin; DOWNING, Thomas E.; O Atlas da Mudança Climática; O Mapeamento
Completo do maior Desafio do Planeta; ed Publifolha, São paulo, 2007.
SEGRÉ, Gino; Uma Questão de Graus: o que a temperatura revela sobre o passado e o
futuro de nossa espécie, nosso planeta e nosso universo, tradução de Vera Ribeiro – ed;
Rocco LTDA; Rio de Janeiro, 2005.

52
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE AQUECIMENTO GLOBAL


Bruno Gonçalves da Silva13

Emerson Rigoni14

Resumo: Esse trabalho faz parte de um projeto da disciplina de Geografia onde se busca
trazer à tona uma breve discussão sobre o aquecimento global e suas conseqüências
para a humanidade, esse desenvolvimento pretende colaborar com a formação dos
alunos, pois esse debate é recente e de interesse universal. “O fenômeno que hoje tanto
desperta preocupação da sociedade é a intensificação do aquecimento da baixa
atmosfera, particularmente da troposfera, a camada sobre a qual se voltam os estudos da
climatologia” (MENDONÇA, 2003, P. 207). O aquecimento global é um fenômeno real e
danoso para o desenvolvimento da vida no planeta. Os inúmeros indícios colaboram com
o que diz os cientistas, apesar disso, mesmo com várias informações a respeito ainda
existe muito a ser comentado e analisado. Mas, quando se estuda as mudanças
climáticas e suas conseqüências, nossa percepção se aprofunda sobre as causas e
efeitos pelos quais nós humanos somos responsáveis. Dessa forma cabe explorar
também qual é a parcela de culpa do homem para o avanço do aquecimento global e por
isso especula-se que uma das causas desse evento é a poluição descontrolada, ou seja,
devido à expansão industrial, dos transportes modernos que usam combustíveis fósseis,
da devastação das florestas pela grande exploração madeireira, do uso inadequado dos
solos agricultáveis que leva à erosão ou a esterilização de extensas áreas, do aumento
populacional em proporções gigantescas, das montanhas de lixo, (resultado em grande
parte do desperdício imposto por nossa cultura consumista) poluindo os rios e mares do
planeta, o lençol freático e o próprio solo e do crescimento exagerado e desordenado das
áreas urbanas (explosão demográfica), principalmente nas grandes cidades dos países
em desenvolvimento, é que o meio natural vem se modificando gradativamente. Um
exemplo que colabora com essas afirmações é “o desmatamento de grandes áreas
florestadas que também é um dos grandes problemas que afetam enormemente o
aquecimento global” (ANTONIO FILHO, 2007, p. 11). Só no Brasil, entre 2002 e 2003,
cerca de 20 mil quilômetros quadrados de florestas foram queimados. A elevação das
temperaturas do planeta Terra nos traz muitas questões quanto às suas causas e
conseqüências. Dessa forma, o aquecimento global constitui-se numa das principais
problemas da sociedade atual tanto pelo desafio de se entender melhor esse
desenvolvimento quanto pelo de conhecer quais serão as suas causas. Pelo fato de
tratar-se de uma problemática que envolve ao mesmo tempo a estrutura natural do
planeta e a sociedade humana, a abordagem do aquecimento global demanda uma busca
para sua melhor compreensão. Assim sendo, é que a ciência geográfica revela amplas
possibilidades para um tratamento abrangente desta questão, pois permite aproximar a
dinâmica natural da dinâmica social nessa problemática. Dessa forma o objetivo desse
estudo é buscar algumas reflexões sobre algumas repercussões que as mudanças
climáticas globais podem desencadear sobre o meio natural e a sociedade. Esta e várias
outras questões colocam-se como desafios aos cientistas do clima e da sociedade atual.
Por se tratar de uma análise sobre uma situação futura, a busca aqui desenvolvida
avança para uma discussão acerca dos possíveis problemas de um aquecimento global,
ou seja, aquela segundo a qual o clima, enquanto elemento do meio exerce considerável
influência sobre a sociedade, dessa forma, a questão das mudanças climáticas precisa,

13
Aluno da 8ª série do Colégio João Negrão Júnior. E-mail: brunogoncalves-16@hotmail.com
14
Professor orientador . E-mail: emerigoni@gmail.com

53
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

portanto, passar por uma apreciação mais refinada a fim de que se possa determinar,
com maior consistência, o papel da natureza e o da ação humana no processo, mesmo
porque as duas esferas podem atuar de forma solidária e simbiótica. Os cenários de
catástrofes, freqüentemente apresentados na mídia de forma simplista, sem o necessário
questionamento, devem ser descartados, pois, seguramente, o planeta não está
caminhando para o colapso, em curto prazo, mas sim em longo prazo e ainda não
dispomos de informações seguras para previsões futuras.

Palavras-chave: aquecimento global, ação humana, catástrofes.

Referências Bibliográficas

ANTONIO FILHO, Fadel David. O aquecimento global e a teoria de Gaia: subsídios para
um debate sobre as causas e conseqüências. In Climatologia e Estudos da Paisagem. Rio
Claro - Vol.2 - n.1 - janeiro/junho/2007. Disponível em
<http://cecemca.rc.unesp.br/ojs/index.php/climatologia/article/viewFile/720/633>.
Acesso em 20/07/2008

CONTI, José Bueno. Considerações sobre as mudanças climáticas globais. In Revista do


Departamento de Geografia, 2005. P. 70-75. Disponível em: <
http://www.geografia.fflch.usp.br/publicacoes/RDG/RDG_16/Jos%C3%A9_Bueno_C
onti.pdf>. Acesso em 20/07/2008.

MENDONÇA, Francisco. Aquecimento global e saúde: uma perspectiva geográfica –


notas introdutórias. Artigo. Ano 19, vol. 1, n. 20. São Paulo: Terra Livre p. 205 – 221.
Jan/jul. 2003. Disponível em
<http://www.unit.br/mestrado/saudeambiente/leitura/Aquecimento%20global%20e%
20saude%20.......pdf>. Acesso em: 20/07/2008.

54
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

MUDANÇAS NO SISTEMA VIÁRIO DA CIDADE DE IRATI-PR:


PROLEGÔMENOS À CIRCULAÇÃO (URBANA) E À VELOCIDADE

Roberto França da Silva Júnior15


rofranssa@gmail.com

Fábio César Ferreira16


piadegeo@gmail.com

Resumo: Um dos principais “fenômenos” das grandes cidades é o trânsito


congestionado, principalmente relacionado ao aumento no número de veículos. Se por um
lado o automóvel foi um dos motores do desenvolvimento capitalista, permitindo o
encurtamento das distâncias-tempo, por outro, se constitui como um “problema”, em
função do crescimento exponencial do número de veículos e a baixa capacidade das
cidades de serem “planejadas” para acompanhar esse ritmo ou mesmo de organizar
melhor o sistema de circulação. No período atual, a globalização, a velocidade
comparece não somente como objetivo do ato de circular, mas também como uma
ideologia, que se corporifica no trabalho morto e na proposição de fluidez. A velocidade é
uma veleidade do homem e é um desígnio constituído historicamente a partir de dois
elementos imbricados e indissociáveis: as técnicas e as normas. Lewis Mumford compara
as metrópoles a um “recipiente superlotado”. Para Mumford (2004) entre os limites está o
custo dos transportes “tanto em tempo quanto em dinheiro”. O autor afirma ainda que os
custos provenientes dos congestionamentos obstruem as atividades econômicas da
metrópole e os métodos “puramente mecânicos” para vencer esse problema elevam ainda
mais esses custos. Essa situação demarca a crise de um modelo, pois, a metrópole de
hoje, sobretudo em países periféricos como o Brasil, é uma aglomeração ainda muito
voltada para o automóvel. Nesse cenário, vivem-se o paradigma da engenharia civil e
obras, como soluções técnicas para os congestionamentos de veículos automotores,
através da construção de vias elevadas e de vias expressas que talvez minimizem um
pouco o problema dos congestionamentos, mas que não são suficientes. A velocidade é
paradigmática por se tratar do elemento perseguido pelo capital no sentido de uma
reprodução maior. A busca é por instantaneidade e simultaneidade (já alcançada por
grandes corporações). Sempre se buscou com os transportes velocidade e mobilidade.
Estes “pressupostos” foram personificados, primeiramente, nas ferrovias e navios,
posteriormente nos automóveis, caminhões e aviões. Seguidas inovações tecnológicas
ocorreram nos meios de transportes, que os tornaram cada vez mais velozes,
proporcionando profundas alterações nas cidades e na cultura, por traduzirem em
velocidade os anseios por mobilidade. Nesse sentido, os automóveis alteram o uso do
território, sendo um elemento do desejo que serve a estratégias hegemônicas para
multiplicar capital e o domínio sobre o território. É uma questão também geopolítica, já
que a mobilidade e sua velocidade são elementos essenciais no controle de determinadas
situações. Fica implícita a questão das desigualdades no uso dos automóveis e do
território. A velocidade obtida desde a motorização dos transportes do século XIX é
resultado, portanto, da técnica, sendo assim um elemento sociotécnico. Sendo um dado
da técnica, isto é, da produção, a velocidade também é um produto, uma mercadoria, um
bem. Não obstante, Milton Santos (2000) salienta que a velocidade “não é um bem que
permita uma distribuição generalizada, e as disparidades no seu uso garantem a
exacerbação das desigualdades”. Assim, a aceleração contemporânea, marcada pelo
culto à velocidade, se revela em crise. Uma crise do período atual, mas não do capital,

15
Professor Assistente Mestre do Departamento de Geografia de Irati - Unicentro
16
Acadêmico do 4º ano do curso de Geografia de Irati - Unicentro

55
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

que por sua vez, cria novos estratagemas. Na aceleração mais contundente da história
não há mobilidade em todos. A “socialização” da mobilidade fica no plano da ideologia. Já
a cidade de Irati é uma cidade relativamente pequena, cerca de 40 mil habitantes e não
possui congestionamentos. Todavia, nos últimos dois anos a atual gestão municipal
(Sérgio Stocklos) fez mudanças consideráveis nas vias da cidade, sobretudo na área
central, onde foram construídas rotatórias, postos novos semáforos, pavimentando ruas e
avenidas (as esburacadas e as com paralelepípedos), alterando o sentido de vias
(tornando-as de mão única, para obtenção de “mais espaço”), enfim, mudanças
estruturais. É público e é notório, que entre as prioridades do poder executivo, é a
importância dispensada ao sistema viário da cidade. Tendo em vista esta situação, o
objetivo deste trabalho é fazer uma discussão teórica, face às mudanças realizadas no
sistema viário de Irati, com o intuito de entender o porquê das mudanças do ponto de
vista apontado na problematização supra. A título de informação, também realizamos uma
entrevista junto ao responsável pelas mudanças ocorridas no período, que explica a
necessidade de um planejamento (a longo prazo).

56
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

ALGUMAS IMPRESSÕES A RESPEITO DA FRONTEIRA E DO


TERRITÓRIO A PARTIR DE TRABALHO DE CAMPO REALIZADO EM FOZ
DO IGUAÇU (BRASIL), PUERTO IGUAZÚ (ARGENTINA) E CIUDAD DEL
LESTE (PARAGUAI)
Rosiléia Alves dos Santos 17

Silnea Van Der Waal 18

Roberto França da Silva Júnior 19

Resumo: No mês de maio de 2008 foi realizado um trabalho de campo na tríplice


fronteira Brasil –Argentina – Paraguai, sob a orientação do professor Roberto França da
Silva Junior e da professora Marisa Emmer, com base na disciplina de Organização do
Espaço Mundial (3º ano) e Geografia Política (2º ano). O trabalho de campo foi realizado
a partir de quatro eixos centrais: 1) A fronteira (aspecto teórico); 2) O comércio, o câmbio
e a questão aduaneira; 3) A paisagem urbana; 4) A presença muçulmana em Foz de
Iguaçu. Para este trabalho verticalizamos sobre o primeiro aspecto para compreender
melhor a fronteira a partir da observação de campo. Um dos sentidos da discussão se deu
em função das seguintes questões: As fronteiras acabaram diante a grande mobilidade
dos fluxos de capitais e de informação? Seria o fim da geografia? Tentaremos responder
a essas questões com base no entendimento da globalização, enquanto período histórico
ou o estágio supremo do processo de internacionalização do capital. A globalização, por
meio da unicidade técnica e da convergência dos momentos, bem como por possibilitar
uma consciência planetária (SANTOS, 2001), faz com que sejam “evocadas” uma série
de ideologias, como as que estão sendo questionadas. Existe toda uma discussão
epistemológica acerca da noção de fronteira, mas, para discutirmos este trabalho,
adotamos a noção de que “as fronteiras políticas são formas assumidas pelos limites que,
cristalizadas no território, são a expressão da relação que o homem mantém com os
outros homens por meio do território. A fronteira política é um dos tipos de limites
impostos às atividades humanas” (CATAIA, 2007). Foz do Iguaçu, Puerto Iguazu e Ciudad
del Este são cidades que circunscrevem-se como uma zona fronteiriça que expõe
profundas diferenças do ponto de vista da “paisagem econômica”. Entendemos que esta,
é “a manifestação das formas de produção, como agricultura, pecuária, extração,
indústria, serviços. Por isso, a paisagem econômica é uma estrutura de relações de
posições econômicas” (SILVA, 1986). Essa paisagem tem, portanto, um valor que
concretiza o trabalho morto, onde se dará o movimento das coisas (como mercadorias e
como não-mercadorias) pelo espaço. Os movimentos cada vez mais rápidos expressam
uma forma de racionalidade econômica e política. A paisagem também se constitui como
uma “materialidade, formada por objetos materiais e não-materiais”, sendo fonte de
relações sociais, mas também é constatável pelos sentidos humanos (SANTOS, 1991).
Existe nos Estados em questão, um conflito histórico que não se evidencia mais através
de guerras, como as que estiveram envolvidos no passado, mas, através de negociações
tensas com base nos recursos territoriais. Essas negociações, atualmente, são realizadas
sob a “sombra” do Mercosul, que se manifesta mais como um “espaço político” do que

17
Aluna do 3º ano do curso de Geografia. Iniciação científica voluntária sob a orientação do Prof. Ms.
Roberto França da Silva Junior. Bolsista extensão. E-mail: rosileia19@yahoo.com.br
18
Aluna do 3º ano do curso de Geografia. E-mail: silneawaal@yahoo.com.br
19
Professor do Departamento de Geografia campus de Irati. Doutorando em Geografia pela Unesp campus
de Presidente Prudente. E-mail: rofranssa@gmail.com

57
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

propriamente como um mercado comum integrado. Na prática, a construção de uma


experiência política de matriz estratégica, muitas vezes ofusca as “questões econômicas
propriamente ditas”. Desse modo, observamos que as fronteiras, se por um lado não são
militarizadas, por outro são “policiadas”, no sentido de que existem “concertos” de
interesses em função de uma pseudo-fiscalização aduaneira, mas que expressa um dos
sentidos do poder, próprio da existência de fronteiras políticas, para fins político-
econômicos. A tensão também é relativa à desigualdade existente entre os três Estados,
pois, nunca houve o objetivo de equalização das condições econômicas entre os países
do Mercosul. Isso fica apenas no discurso. Nesse contexto, empiricamente, visualizamos
que a cidade brasileira reserva uma infra-estrutura mais bem dotada, em termos de
serviços e equipamentos, já a cidade paraguaia evidencia um movimento
“aparentemente” caótico em função de seu comércio pujante. O espaço existente é
disputado por carros, moto táxis, barracas de camelôs, esgoto, lixo, além da enorme
aglomeração de pessoas circulando pelas ruas. O poder reservado à zona fronteiriça
expõe permanentemente os conflitos entre os que vão e os que vêm. Conflitos visíveis
pela ação de diversos agentes: transportadores, sacoleiros, policiais, fiscais, traficantes
de drogas etc. Apesar de tudo isso, não notamos policiamento nas ruas, ao contrário da
cidade argentina que é policiada, porém com um comércio pífio, baseado em produtos
artesanais e alimentícios. No caminho da cidade argentina, antes da alfândega, existe um
Duty Free onde se comercializa produtos importados isentos de impostos ou com redução
destes. Por sinal, as alfândegas são um dos exemplos de in formação que demonstra que
as fronteiras permanecem fortes no período da globalização. A informação é a de que as
passagens de um lado a outro, não são tão livres como expõe os ideólogos. Portanto,
entendemos a partir de alguns elementos apresentados e com base em leitura teórica
dessa realidade, que as fronteiras estão entre os principais fundamentos da existência
dos Estados, inclusive no período histórico atual.

Palavras-chaves: Fronteira; Território; Globalização

58
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

A MUSICIDADE E A GEOGRAFIA: O ESPAÇO GEOGRÁFICO POR MEIO


DE SONS & LETRAS

Emerson Vieira dos Santos20

Karla Rosário Brumes21

Resumo: A música se torna fruto do saber e fazer humano para o ensino ao trazer em
seu contexto mensagens, específicas como, por exemplo, aquelas que envolvem o saber
geográfico, por isto, ela pode fazer de um artista assim, testemunha da realidade social ao
fazê-lo relatar em suas poesias musicais o espaço que se pressente. Logo a música na
sala de aula invoca outros aspectos que fogem às práticas pedagógicas tradicionais,
como a ludicidade, a alegria e o prazer, verificando, por fim, que o uso da música em
aulas de Geografia pode fazer com que o aluno seja remetido a uma postura crítica, que
culmina com a formação plena do cidadão. Porém, para que isto alcance os melhores
desempenhos se faz necessário trabalhar o conhecimento de vários modelos, onde o
educador deve estar munido de muita clareza, com relação ao método, objetivo, temas e
seus conteúdos, aonde para cada conteúdo abordado, os recursos e métodos a serem
utilizados devem ser diferenciados. Acreditamos que os recursos que permitem melhores
níveis de conhecimentos, são aqueles que despertam maior interesse e curiosidade dos
alunos, sem sombra de dúvidas estes são os melhores. Diante desta explanação o
presente trabalho tem por objetivo fazer uma análise sobre o ensino da Geografia por
meio do uso da música, caracterizando-a como um recurso metodológico eficaz no
processo de ensino/aprendizagem, uma vez que é um meio disponível e acessível a
todos, independendo de lugar que se possa estar e uma vez que também podemos crer
que adolescentes e jovens, sejam as pessoas que mais ouvem músicas nos dias atuais,
pois não é raro encontrarmos vários em posses dos chamados MP3 e demais aparelhos
portáteis de som, mesmo em sala de aula, portanto, nada mais sábio que nos
apoderarmos do gosto que os estudantes têm pela música e trabalharmos com seus
diversos gêneros nas aulas de Geografia. De início busca-se fazer um resgate histórico
do ensino de Geografia como disciplina escolar no Brasil para se entender ao que se
propunha este ensino no início, ou seja, busca-se, entender se de fato eram dadas
ênfases no real sentido de sua relação com o mundo e de que maneira os mesmos eram
repassados aos alunos a fim de que apreendessem os conceitos geográficos, ou se
somente se ensinava àquilo que os governantes da época queriam que fossem
repassados para os alunos, por exemplo. Posteriormente busca-se também abordar quais
as inovações tecnológicas de comunicação podem ser usadas como auxílio metodológico,
no caso em especial, a música. A idéia é mostrar que ao explorar um recurso como a
música que apresenta texto, som e contexto, pode-se fazer a articulação com os
conceitos de lugar, região, território e uma enormidade de conteúdos geográficos.
Juntamente a isto, a pesquisa pretende fazer uma abordagem sobre o ensino de
Geografia na atualidade, buscando para tanto entender seus objetivos, lembrando que a
Geografia escolar de hoje, não pode repetir o seu passado, aonde se preocupava apenas
com um estudo regional, em que suas respostas sempre eram objetivas, somente se
pretendia que os alunos aprendessem a decorar as cidades, capitais, rios, afluentes,
clima e relevo, mas na atualidade a visão geográfica esta diferente, pois se ensina, ou
pretende-se ensinar uma Geografia Crítica que leve os alunos a questionarem o que

20
Discente da Universidade Estadual do Centro-Oeste - Unicentro - emersantos1@yahoo.com.br
21
Docente da Universidade Estadual do Centro-Oeste - Unicentro - kbrumes@hotmail.com

59
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

acontece nos espaços geográficos e na política mundial. E também nos propomos a


trabalhar a responsabilidade e o papel do professor na sala de aula, partindo da idéia, de
que é ele o maior responsável pelo dinamismo nas aulas, através da busca de
alternativas para um melhor desenvolvimento das temáticas de ensino, sendo que, um
professor para fazer a diferença entre os demais profissionais em Geografia, o mesmo
deve se qualificar, ou seja, estar mais atualizado através de fontes seguras de
informações e demais conhecimentos, que surgem no âmbito da educação. Algumas
letras de músicas estão sendo usadas para relacionar uma letra ao um contexto
geográfico, a saber, as usadas como formas de protesto contra a Ditadura Militar; as que
abordam o meio ambiente; a música no território das migrações etc.. Para dar mais
visibilidade e praticidade à relação entre música e Geografia, faz-se exposição de três
experiências realizadas no estágio, onde também nos detemos a descrever todos os
acontecimentos, os prós e os contras. Esperamos com isto acima de tudo referir-nos a
uma arte na educação e como deve ser usada com a finalidade de demonstrar o quanto é
útil o uso deste recurso no ensino de Geografia e seus contextos geográficos.

Palavras chave: ensino de Geografia; música; recurso auxiliar.

60
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

REPERCUSSÃO DO AQUECIMENTO GLOBAL EM MEIO À SOCIEDADE,


UM PARALELO ENTRE A VOZ DA MÍDIA E DA CIÊNCIA

Patrick Fernando de Oliveira 22

Wilson Flávio Feltrim Roseghini 23

Resumo: Ao longo de sua existência, o planeta Terra enfrentou vários períodos de


mudanças climáticas, mas recentemente o tema Aquecimento Global conduz a um dos
maiores paradigmas científicos da atualidade. Mudanças no clima, quase sempre de
ordem natural, têm recebido contemporaneamente a influência antrópica, por meio da
emissão excessiva de gases de efeito estufa, ganhando um novo sentido nas discussões
de ordem científica e também por parte da mídia. Tais discussões procuram apontar não
apenas as conseqüências trazidas pelas mudanças no clima, como também as causas
que o alteram, bem como a necessidade de encontrar soluções para combater tal
fenômeno. Grande parte da mídia apresenta o ser humano como responsável por dois
terços da culpa pelo aumento da temperatura, e faz grandes alertas a humanidade ao
falar das prováveis conseqüências. Já os relatórios do IPCC (Painel Intergovernamental
sobre Mudança Climática), são mais modestos, porém não tiram a parte da culpa que
cabe ao homem e, ao mesmo tempo alertam para as conseqüências futuras. Assim, o
presente estudo tem como objetivo relatar a repercussão do tema em meio à sociedade,
tratando de apresentar um paralelo entre a força exercida pela voz da mídia e da ciência
na formação da consciência das pessoas. Para isso, o estudo foi realizado por meio de
embasamento teórico e pesquisas realizadas através de questionários, com intenção de
evidenciar as diferenças existentes entre diferentes esferas da população. Foram
formuladas 10 perguntas e aplicadas de forma aleatória a 30 pessoas na Rua Dr. Munhoz
da Rocha, centro, na cidade de Irati. O mesmo questionário foi aplicado a 30 alunos da 3ª
série do ensino médio e a 30 acadêmicos do 3º e 4º anos de curso universitário que já
havia trabalhado esse conteúdo na disciplina, totalizando 90 entrevistados. Os resultados
obtidos pelas entrevistas são debatidos no crivo do embasamento teórico-científico, com
intenção de mostrar por que meios a informação chegou à percepção da sociedade e a
base referencial de tal informação. Constatou-se, com base nos dados obtidos, que a
mídia, principalmente através da TV e do rádio, os quais são meios de comunicação de
massa, foi a que mais repercutiu o tema em meio à sociedade, atingindo 91% dos
entrevistados, já os livros de ordem científica, ficaram com 36% do total de entrevistados.
Entre os opinantes, 17% na rua e 23% no ensino médio, buscam embasamento nos
livros, números que aumentam apenas na universidade chegando a 67%, ou seja, a mídia
é muito superior na divulgação do tema. Para os entrevistados na rua e na escola, o ser
humano é o responsável direto pelas mudanças climáticas, resultado que muda apenas
na universidade, onde 63% dos entrevistados direcionam a responsabilidade para o
homem, em conjunto com os ciclos naturais. Ao perguntar sobre itens relacionados à
temática ambiental, comprovou-se que além da mídia, também os leitores dão maior
atenção às notícias catastróficas, onde a maior parte destes, cerca de 71%, saberia falar
sobre o derretimento das geleiras ou conseqüências do efeito estufa. Já ao falar do
Protocolo de Quioto o número caiu para 26% e, apenas 5% saberiam expor o que
significam os relatórios divulgados pelo IPCC, sendo que esses dois últimos alcançariam
média ainda menor se não contassem com as respostas dos universitários entrevistados.

22
Acadêmico do curso de Geografia – Unicentro/Irati – patrickfoliveira@hotmail.com
23
Mestre em Geografia, Professor Colaborador DEGEO – Unicentro/Irati – feltrim@hotmail.com

61
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

Outra resposta surpreendente foi a respeito do maior emissor de gás carbônico no Brasil,
ou seja, desmatamento, queimadas e mudanças no uso do solo, seguido da queima de
combustíveis fósseis, produção industrial e extração de carvão, petróleo e gás natural.
Nessa questão, os 30 entrevistados nas ruas - dentre eles nenhum com 3º grau completo
- superaram com 47% de acerto os universitários e os alunos do ensino médio,
respectivamente com 30% e 27%. Dos mesmos entrevistados 56% vêem a mídia como
sensacionalista, 37% como realista e 7% não tem opinião formada a respeito. A
sociedade vê a mídia como um meio que usa de sensacionalismo ao apresentar os fatos,
mas que isso se faz necessário para conscientização humana. O número de 33% dos
entrevistados afirma estar fazendo algo para desacelerar o Aquecimento Global, enquanto
o restante nada faz ou não sabe o que fazer. Por fim, conclui-se que se a mídia usasse
uma apresentação mais próxima daquilo que a ciência coloca, e ambas investissem com
maior empenho no combate as causas do Aquecimento Global, provocariam grandes
mudanças de conscientização e hábitos em meio à sociedade.

REFERÊNCIAS:
SANT’ANNA NETO, J. L; ZAVATINI, J. A. Variabilidade e Mudanças Climáticas:
Implicações Ambientais e Sócio Econômicas. Ed. EDUEM, Maringá, 2000.
PEARCE, F. O Aquecimento Global: Causas e efeitos de um mundo mais quente. 2ª
ed. São Paulo: Publifolha, 2002.
BERNA, V. Como fazer Educação Ambiental. São Paulo: Paulus, 2001.
FRANCO, E., "Aquecimento Global", Galileu, Ed. 179, pg. 30-41, 2006.
ARINI, Juliana. "Como o Aquecimento Global vai afetar o Brasil", Época, Nº 463, pg. 62-
69, 2007.
BLANC, Cláudio. "Aquecimento Global", Aquecimento Global, Nº 1, pg. 50-55, 2007.
http://educar.sc.usp.br/licenciatura/2003/ee/Aquecimentol1.html, acessado no dia 21 de
julho de 2008, às 19,55 horas.
http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/meio_ambiente_brasil/clima/mudancas_climatic
as/index.cfm, acessado no dia 21 de julho de 2008, às 19,57 horas.
http://www.ecolatina.com.br/pdf/relatorio-IPCC-3.pdf, acessado no dia 21 de julho de
2008, às 19,45 horas.
http://www.redesergipe.se.gov.br/reserv/noticias.php?cd_noticias=0e654kTM705,
acessado no dia 21 de julho de 2008, às 19,40 horas.
http://www.conpet.gov.br/quioto/noticia.php?segmento=corporativo&id_noticia=244,
acessado no dia 21 de julho de 2008, às 19,37 horas.
http://www.unb.br/temas/desenvolvimento_sust/eco_92.php , acessado no dia 19 de julho
de 2008, às 21,39 horas.

62
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

ENTRE AS PRÁTICAS AGRÍCOLAS AGROECOLÓGICAS E AS


CONVENCIONAIS NO MUNICÍPIO DE SÃO MATEUS DO SUL-PR: DA
PRODUÇÃO A PROMOÇÃO DA VIDA

Thales Ravel Hetka Okonoski24

Almir Nabozny25

Resumo: Esse trabalho tem por objetivo comparar as vantagens e desvantagens da


Agricultura Convencional com a prática Agroecológica de produtores rurais do município
da São Mateus do Sul-PR, considerando como indicadores comparativos à perspectiva
econômica, social e ambiental. Tendo como referencial a proposta teórica de Santos
(1996) em que a relação entre sociedade e natureza figurou no avanço de um meio
natural ao um meio técnico e, posteriormente ao meio técnico cientifico e informacional.
Para esse trabalho um referencial temporal importante constitui-se nos anos 70
intensificado após a chamada “Revolução Verde”, quando se iniciou a inserção de uma
nova perspectiva de cultivo agrícola, baseado no uso de agrotóxicos e fertilizantes
químicos que, apesar de aumentarem a produção, são muito nocivos ao ambiente e a
saúde humana, configurando a base técnica da Agricultura Convencional. Atualmente, a
busca de formas sustentáveis de produção em todas as áreas, inclusive na agricultura
torna-se imprescindível, bem como a divulgação e a conscientização da sociedade frente
às viabilidades das chamadas práticas sustentáveis. Neste contexto, surge a
Agroecologia, que aparece como uma proposta de mudança nas práticas agrícolas, que
desde os anos 1980 tem se difundindo rapidamente por todo o mundo. Baseado em
trabalhos de autores como Gliessman (2001), Sevilla Guzmán e Gonzáles de Molina
(1996) e pesquisas realizadas pelo INCRA/FAO (2000) Projeto de Cooperação Técnica e
Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER), nos propomos a
desenvolver este projeto. Dentro do processo operacional realizamos entrevistas
qualitativas com agricultores agroecológicos e convencionais, trabalhos de campo com
observação sistemática e análise de documentos oficiais a respeito da temática proposta.
Desde o estudo bibliográfico foi possível observar que os dois processos agrícolas
possuem diversos aspectos diferenciadores. Se por um lado a Agricultura Convencional
se apresenta baseada nos padrões de produção e venda estipulados pelo mercado
agrícola atual, cultivando grãos como o soja e o milho no processo de “monoculturas”
destinadas ao mercado externo, utilizando agrotóxicos, fertilizantes químicos, sementes
industrializadas e trabalho mecanizado, por outro, os agricultores agroecológicos buscam
inúmeras alternativas de produção que venham a se adaptar aos ambientes
característicos das propriedades onde se instalam, buscando reciclar nutrientes do
mesmo local sem a inserção de adubos externos, cultivando o feijão, milho e o soja que
são espécies tradicionais de cultivo em nossa região de forma orgânica, juntamente com
uma grande diversidade de hortaliças, espécies medicinais e frutas que ajudam a
aumentar a renda da propriedade e fornecem a maioria dos alimentos necessários para o
consumo da famíli. O trabalho da família é mais dinâmico devido à diversidade de
produções e o desenvolvimento de técnicas alternativas devido à liberdade de
experimentar diferentes formas de cultivo sem necessariamente estar obrigado a seguir o
padrão de produção requisitado pelo mercado. A venda da produção é destinada ao
mercado interno principalmente através de feiras populares, onde os produtos são

24
Discente da Universidade Estadual do Centro-Oeste – Unicentro. geo_ravel@yahoo.com.br
25
Docente da Universidade Estadual do Centro-Oeste – Unicentro. almirnabozny@yahoo.com.br

63
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

vendidos diretamente ao consumidor, evitando atravessadores. Todo o processo de


transição de agricultores familiares de um sistema convencional para o agroecológico é
acompanhado por vários órgãos de assistência, tal como Sindicato Rural de São Mateus
do Sul e a Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa – AS-PTA que
fornecem o suporte técnico permanente a essas famílias, bem como organizando
encontros, congressos e palestras fornecendo a oportunidade aos agricultores de
trocarem experiências de cultivo. Assim, mesmo sem a análise dos dados econômicos
estar concluída podemos perceber que a Agroecológica pode vir a oferecer inúmeras
vantagens para os agricultores familiares frente à agricultura convencional, entre elas o
uso racional dos recursos naturais e a elevação da qualidade de vida das famílias
envolvidas na produção agroecológica.

Palavras-chave: sociedade, natureza, agricultura, agroecologia.

64
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

RECICLANDO MATERIAIS E IDÉIAS: UMA PROXIMAÇÃO POSSÍVEL NO


ENSINO DE GEOGRAFIA

Valter Klosowski26

Almir Nabozny27

Resumo: Esse trabalho tem por objetivo refletir sobre a educação sócio-ambiental
referendado na coleta seletiva de resíduos sólidos e reciclagem de materiais.
Evidenciando-o como uma possibilidade para a práxis do docente de Geografia na escola.
O interesse pela temática em tela esta pautado no entendimento da ciência geográfica
como um campo do saber que operacionaliza-se numa interface entre sociedade e
natureza, compondo a produção do espaço geográfico em sua totalidade. Nessa conexão
sócio-ambiental aludimos que um dos graves problemas atuais tem sido a questão da
gestão dos resíduos sólidos, em especial no espaço urbano das cidades, em que a
produção desses materiais cada vez mais se intensifica e se diversifica no advento da
chamada “sociedade de consumo”. Onde as interações sociedade-natureza
ultrapassaram a questão da simples sobrevivência, neste contexto o homem explora e
destrói mais do que necessita para a sua sobrevivência, produzindo com isto uma grande
quantidade de resíduos. Vale ressaltar que, embora a elevação da produção desses
resíduos de maneira geral seja um fenômeno da sociedade pós-revolução industrial, a
quantidade de geração desses resíduos não pode ser generalizada assimetricamente ao
contingente populacional de uma determinada espacialidade social. Já que muitas vezes
a produção desses resíduos inscreve-se numa composição geográfica que envolve
padrões econômicos, sociais, legislação, hábitos alimentares, cultura e questões
educacionais, além de outros fatores. Buscamos trabalhar com questões relativas à
Educação Ambiental e a reciclagem na escola, pois é neste espaço que o ensino se
operacionaliza em uma interface com o ensino de Geografia. Pensando nisso que
escolhemos trabalhar com a educação sócio-ambiental na escola, com enfoque voltado a
fomentação da coleta seletiva de lixo e a reciclagem de materiais. A pesquisa-ação se
desenvolve no Colégio Estadual Trajano Grácia ensino fundamental e médio, situado no
bairro de Engenheiro Gutierrez, localizado no espaço urbano de IRATI-PR. Primeiramente
analisados o Projeto Político Pedagógico da escola (PPP), afim e desenvolvermos a
prática arraigada na escala e na problemática da comunidade envolvida, além disso,
observamos como o livro didático vem trabalhando a questão dos resíduos sólidos e a
coleta seletiva na escola. Em um segundo momento, realizamos intervenções, em duas
turmas distintas, buscando partir do conhecimento dos alunos, referendando a realidade
dos mesmos. Também realizamos intervenções com filmes, “TV Pen-drive”, saída de
campo à Cooperativa de Coleta de Recicláveis, além do desenvolvimento de materiais
didáticos com a utilização de lixo reciclável. Dos resultados que temos aferido
destacamos uma maior sensibilização dos alunos com relação às questões sócio-
ambientais de suas comunidades, e promoção de uma aprendizagem significativa.
Ressaltamos que há um grande interesse dos alunos quando se trata da questão de se
confeccionar artesanatos com materiais recicláveis, materiais estes provindos da própria
realidade dos alunos. Podemos citar como exemplo, a confecção de um painel solar,
confeccionado a partir de materiais recicláveis como garrafas de refrigerante, caixas de
leite longa vida, e restos de cano de PVC. Aferimos que o trabalho prático na escola
propicia aos alunos uma melhor assimilação dos conteúdos abordados. Ainda

26
Acadêmico de Geografia – Unicentro campus Irati. valeterirati@hotmail.com
27
Prof. Msc. do DEGEO - Unicentro campus Irati. almirnabozny@yahoo.com

65
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

observamos o comprometimento dos alunos em relação as suas atividades realizadas


tanto no âmbito escolar quanto em suas casas, já que a questão da coleta seletiva de
resíduos sólidos, não esta somente inserida em escala de município, ou dependente de
políticas publicas do mesmo, mas na sua própria casa já que o mesmo pode se utilizar do
seu próprio lixo para produzir algo útil para a sua vida. As políticas voltadas à reciclagem
de materiais, podem e devem ocorrer a partir da educação e da formação dos alunos no
âmbito de reivindicarem uma melhora nestas políticas a fim de implantá-las futuramente
com mais eficácia. Destacamos que os alunos são os próprios agentes de transformação
da sociedade, da realidade sócio-espacial e do ensino-aprendizagem de Geografia.

Palavras-chave. Geografia, Ensino, Reciclagem de Resíduos Sólidos.

66
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

O ESTUDO DO CLIMA URBANO NO BRASIL

Fernando Fernandes 28

Thales Ravel Hetka Okonoski 29

Patrick Fernando de Oliveira 30

Wilson Flávio Feltrim Roseghini 31

Resumo: O inicio dos estudos de Clima Urbano no Brasil se dá principalmente pela


presença de Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro, pois com a sua ajuda foi criado o
primeiro curso de Climatologia Urbana na Pós-Graduação no Departamento de Geografia
da USP em 1971. Mesmo naquele momento já era evidente que a qualidade ambiental
das cidades estava ligada aos componentes climáticos e de que a ação do homem estava
presente nesse processo, porém, não havia estudos que mensurassem e de certa forma
provassem esse fato. A partir do trabalho realizado por MONTEIRO (1976) apresentado
no livro TEORIA E CLIMA URBANO, começou a surgir métodos, formas, fornecendo toda
a base teórica para pesquisas sobre o tema Clima Urbano. Assim, esse trabalho tem
como objetivos comentar o histórico da evolução do estudo do Clima Urbano no Brasil e
compreender a forma de análise climática urbana através de fatores de apoio, tendo como
base o referencial teórico dos primeiros estudos de Carlos Augusto de Figueiredo
Monteiro. O Brasil, desde a metade do século XX, apresentou uma rápida urbanização.
Esse processo, caracterizado especialmente pela formação de metrópoles, deu-se de
forma intensa e descontrolada resultando em modificações na natureza, constatando-se
que o ambiente urbano dessas cidades foi alterado pelos elevados índices de ocupação
do espaço, dentre outras modificações. Devido a esse fato, observando todos esses
fatores modificados e comparando com os próprios efeitos naturais existentes dentro de
um meio urbano MONTEIRO (1976) criou métodos para se analisar espaços em uma
ótica climática local, compreendendo que o Clima Urbano deve ser analisado por
geógrafos e não por meteorologistas, pois estes não possuem a percepção de todo os
aspectos que constituem o clima diferenciado das cidades. No sentido das análises, na
prática alguns fatores citados pelo autor são importantes tais como: criar um roteiro
estratégico para os experimentos de coleta de dados, onde deve conter no mínimo dois
eventos de analises opostos, e as medidas encontradas no experimento devem ser
referenciadas á observação meteorológica padrão da cidade. De fato o ponto mais crucial
do experimento é definir os pontos dentro da cidade a ser analisada que apresentem
fatores que tornem possível a sua extrapolação para todo aquele espaço, fatores que
tornem esses pontos expressivos frentes a todo o ambiente analisado, através disso
afirma-se que cada ponto de observação deve estar inserido no nível micro-climático onde
a capacidade de alteração do homem está em seu auge e surgindo assim alguns métodos
de amostragem seguindo esse conceito. Outro fato que MONTEIRO (1976) cita que para
uma analise do Clima Urbano é necessário conhecer os aspectos físicos do local
estudado, como a topografia, o clima em um sentido macro, entre outros fatores. Esse
conhecimento faz-se necessário para que se possam realizar comparações entre esses
ambientes para daí sim encontrar em quais pontos a influência do homem no clima
ocorrem e com qual intensidade, essas comparações podem ocorrer até mesmo entre
28
Acadêmico do curso de Geografia – Unicentro/Irati – fernand_is@hotmail.com
29
Acadêmico do curso de Geografia – Unicentro/Irati – geo_ravel@yahoo.com.br
30
Acadêmico do curso de Geografia – Unicentro/Irati – patrickfoliveira@hotmail.com
31
Mestre em Geografia, Professor Colaborador DEGEO – Unicentro/Irati – feltrim@hotmail.com

67
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

cidades diferentes, porém estas devem apresentar aspectos físicos muito parecidos para
que a análise tenha confiabilidade. Atualmente, devido a evolução tecnológica e também
do aperfeiçoamento das técnicas é possível realizar análises mais detalhadas do Clima
Urbano, observando a atmosfera urbana de forma mais completa e comparando alguns
fenômenos ocorrentes na cidade com os que já acontecem na natureza dentro do aspecto
climático, como por exemplo, os chamados Canyons Urbanos, que são formados por
corredores edificados apresentando um micro-clima, com correntes de ar, efeitos de
incidência de luz parecidos com os canyons naturais. Atualmente o estudo de Clima
Urbano já possui várias outras ferramentas como a tecnologia, a troca de informações
sobre o tema, uma base teórica bem estruturada e até mesmo o interesse maior de
órgãos governamentais nesses estudos, sendo que estes, estão diretamente relacionados
com o planejamento urbano das cidades, o que motiva cada vez mais o crescimento
desse campo de estudo. Portanto foi através dos estudos realizados por MONTEIRO que
se forneceu a primeira base para a análise climática urbana brasileira, além de outros
autores que se destacam também com suas pesquisas como Magda Lombardo,
Francisco Mendonça, Margarete Amorim, que além das análises dos métodos adotados e
das pesquisas realizadas, já transpõem e inter-relacionam os estudos de Clima Urbano
com vários outros fatores importantes, como os problemas ambientais, qualidade de vida,
crescimento urbano, o que tornam as análises mais amplas e complexas, porém em
espaços cada vez mais restritos, pois abordam muitos temas que estão inter-relacionados
e que funcionam em um dinamismo espantoso. Palavras-chave: clima urbano, Geografia,
Brasil.

REFERÊNCIAS:
Monteiro, C. A. F., Por UM Suporte Teórico e Prático para Estimular Estudos Geográficos
do Clima Urbano do Brasil, Geosul, Revista do Departamento de Geociências-cch, n° 9,
ano V, Primeiro Semestre de 1990.
Monteiro, C. A. F., Adentrar a Cidade Para Tomar-lhe a Temperatura, Geosul, Revista do
Departamento de Geociências-cch, n° 9, ano V, Primeiro Semestre de 1990.
Monteiro, C. A. F., A Cidade Como Processo Derivador ambiental e Estrutura Geradora
de um “Clima Urbano”, Geosul, Revista do Departamento de Geociências-cch, n° 9, ano
V, Primeiro Semestre de 1990.

68
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CLIMATOLOGIA NO ENSINO


FUNDAMENTAL

Fernando Fernandes32

Thales Ravel Hetka Okonoski33

Patrick Fernando de Oliveira34

Wilson Flávio Feltrim Roseghini35

Resumo: Nos dias 20 e 21 de setembro de 2007 foi desenvolvido um projeto intitulado


“Esclarecimentos Sobre Clima, Microclima e Meteorologia” na Escola Estadual Gil Stein
Ferreira, no Município de Ivaí-PR. A escolha dessa Escola se deu devido à
facilidade de acesso entre as dependências da mesma e a estação meteorológica, que
seria visitada para cumprir os objetivos propostos no projeto. O tema trabalhado é pouco
debatido, apesar de ser veiculado cotidianamente na mídia, muitos conceitos são tratados
de forma distorcida, dificultando o entendimento dos alunos. Assim, a explanação de
como funciona o processo de uma análise climatológica no Ensino Fundamental se torna
importante para uma melhor formação educacional dos mesmos. Objetiva-se com este
trabalho fornecer aos alunos uma primeira idéia sobre o que é Climatologia dando ênfase
nas explicações microclimáticas. Foram elaboradas aulas teóricas expositivas para o
entendimento de alguns conceitos básicos utilizados na climatologia, tais como, dados
meteorológicos, microclimas, entre outros. Após essa explanação básica realizamos duas
saídas de campo com os alunos, uma com destino à estação meteorológica para que
estes observassem como são coletados os dados meteorológicos e outra com destino a
uma propriedade rural onde havia sido instalado um termômetro para que os alunos
pudessem observar a diferença do clima na cidade e no campo dentro da perspectiva de
microclima, visto que outro termômetro foi colocado ao mesmo tempo no pátio do colégio
em que foi realizado o projeto. No primeiro momento, após as devidas apresentações
(dos estagiários e do tema) através de conversa com os alunos foi possível perceber que
eles já haviam ouvido falar sobre clima, tempo, meteorologia, entre outros termos
utilizados na climatologia, porém sem entender o significado correto dos conceitos. Assim
foi necessário definir os conceitos que seriam utilizados durante o projeto, para que fosse
possível dar continuidade com melhor aproveitamento. Explicamos que a Estação
Meteorológica é um local cercado onde ficam vários equipamentos que medem as
variações da atmosfera, como a umidade do ar, a temperatura, a velocidade e a direção
dos ventos, etc. Essas variações estabelecem como o tempo está hoje, lembrando que o
ponto em que a Estação Meteorológica fica instalada deve ser seguro (por isso cercado),
e sofrer o mínimo possível de interferência pela ação humana para que os dados
registrados sejam os mais confiáveis. Em relação ao clima de uma região, faz-se
necessária a medição do comportamento do tempo por um período de pelo menos 30
anos. Essa é uma regra geral adotada pelos cientistas. Ao término das explicações
teóricas iniciamos a parte prática do projeto, sendo a primeira saída de campo com
destino à Estação Meteorológica Convencional localizada na cidade onde fomos
recebidos pela funcionária responsável, explicando como são coletados os dados
meteorológicos. Para melhor aproveitamento da visita os alunos foram divididos em
32
Graduando em Geografia Da Unicentro, Irati – fernand_is@hotmail.com
33
Graduando em Geografia Da Unicentro,Irati – geo_ravel@yahoo,com.br
34
Graduando em Geografia Da Unicentro,Irati – patrickoliveira@hotmail.com
35
Mestre em Geografia, Prof. Colaborador do DEGEO – Unicentro/Irati – feltrim@hotmail.com

69
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

quatro grupos. No outro dia, antes do início da aula foi instalado um termômetro em uma
propriedade rural localizada a cerca de 5 Km de distância da Escola. O termômetro foi
colocado há mais ou menos 2 metros de altura, fixado numa Araucaria angustifolia
(pinheiro do Paraná). A sua volta havia poucas árvores de grande porte, porém o chão era
recoberto com grama. O segundo termômetro foi colocado num espaço não coberto,
dentro do pátio da Escola. Este ficou há mais ou menos 2,5 metros do chão, preso com
um barbante. Ao iniciarmos a aula, desligamos os ventiladores do teto e fechamos a porta
propositalmente e logo os alunos perceberam a diferença no conforto térmico no local,
utilizamos esse fator de exemplo para iniciarmos as explicações sobre microclimas. Em
seguida, saímos a campo e com a turma reunida na área rural, diante do termômetro
visualizamos a temperatura de 210 C. Nossas explanações foram no sentido de justificar
aquela situação, considerando todos os fatores que imaginamos presentes, como a
sombra das árvores que dava uma sensação agradável, a umidade do ar era aumentada
pela evaporação da água do tanque de água próximo ao local e do orvalho que ainda
havia na grama. Próximo às 10h quando chegamos de volta na Escola e observamos a
temperatura do segundo termômetro (que estava na escola), que marcava 230 C. Em
seguida, encerramos o projeto enfatizando os motivos dessas diferenças microclimáticas
e pedimos aos alunos a elaboração de um relatório, com a proposta de avaliar o
entendimento deles sobre todos os assuntos trabalhados. Ao analisarmos os relatórios e
a participação dos alunos durante o projeto, foi possível perceber que os objetivos foram
alcançados, pois eles obtiveram uma breve noção de como ocorre uma análise
climatológica, seguindo de análise de dados meteorológicos, percepção ambiental e a
associação desses fatores com a influência da sociedade.

Palavras chaves: Climatologia, ensino, geografia.

REFERÊNCIAS:
MONTEIRO, C. A. F. Por um suporte teórico e prático para estimular estudos geográficos
do clima urbano do Brasil. Geosul - Revista do Departamento de Geociências-CCH.
UFSC, Florianópolis. n. 9. ano V. 1990

MONTEIRO, C. A. F., Adentrar a Cidade Para Tomar-lhe a Temperatura, Geosul, Revista


do Departamento de Geociências- CCH. UFSC, Florianópolis. n. 9. ano V. 1990.

70
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

CIDADES MÉDIAS: ANÁLISE DA ESTRUTURA ECONÔMICA E SÓCIO-


ESPACIAL DE MARINGÁ-PR

Marisa Emmer36

Karla Rosário Brumes37

Resumo: A existência de base físico-territorial mais ou menos abrangente, dotada de


articulações econômicas e sociais notáveis, é uma situação disponível em poucos países
na atualidade como o Brasil. Cidades, vias, indústrias e complexos produtivos em geral
podem constituir-se em alternativas bastante caras aos formuladores de políticas públicas
de corte regional. A compreensão dos papéis das cidades médias, por meio do estudo
das redes urbanas/sociais, se coloca em virtude de que suas extensões e fisicalidades
podem constituir um recurso estratégico para um planejamento territorial dirigido a
ampliação da equidade e redução das desigualdades. Da abertura a percepção das
diferentes formas de poder e do princípio de diferenciação inerente ao conceito de espaço
social, Haesbaert (2004) constrói o conceito de território ressaltando que diferentes
formas de apropriação do espaço são responsáveis pela construção de territórios de
diferentes características e dimensões. Distingue inicialmente “três dimensões do
território: cultural, econômica e política” (p. 91-92), ressaltando que diferentes abordagens
podem privilegiar a análise de uma ou outra destas dimensões. Nos entremeios de sua
explicação concluímos que não se trata de construir uma visão hierarquizada destas
diferentes dimensões de apropriação, mas destacar a coexistência destas no
“contemporâneo de forma articulada/conectada (p. 113-114)”. A partir dos anos 1970 no
Brasil, um processo de desconcentração do território começa a ganhar espaço orientado
pela busca de maior equidade regional, quando da elaboração de políticas e programas
que visavam à difusão do processo de desenvolvimento, com base nos nós da rede
urbana, com destaque para cidades médias. Desde então multiplicaram-se os centros
urbanos intermediários, que cooperam na redução da polarização das grandes
metrópoles. A necessidade de compreender o papel das cidades médias e o nivel de
atração que elas exercem na em suas região se coloca para compreensão da própria
reorganização territorial e as mudanças que vem sofrendo ao longo do tempo no país. A
definição em si de cidades médias não tem sido ao longo do tempo muito fácil. No
entanto, é preciso estabelecer alguns fatores para o estudo das mesmas. Neste sentido, a
capacidade de estrutração em redes, a especialização econômica ou estruturação de
serviços, a complementariedade com grandes aglomerações e a estratégia de
implantação de centros universitários são fatores importantes para considerar não apenas
na caracterização, mas na estruturação das cidades médias. Desta forma, o objetivo
desta pesquisa é analisar a estruturação econômica e sócio-espacial de Maringá
destacando sua importância regional e a atração com relação ao fenômeno migratório,
colaborarando com a análise e a formulação de políticas para o desenvolvimento. No
caso de Maringá, é possivel observar o interesse de diversos grupos sociais que se
esforçam para tornar a região e, particularmente, a cidade modelo de desenvolvimento e
“qualidade de vida”. Assim, ao longo do tempo percebe-se um alinhamento entre
crescimento populacional e forte processo de urbanização, sendo importante destacar
que, da mesma forma que outras cidades do interior do país que se tornaram importantes
centros urbanos, a sua formação e o seu dinamismo econômico tem sido vinculado às

36
Docente da Universidade Estadual do Centro-Oeste – Unicentro - marisageo@gmail.com
37
Docente da Universidade Estadual do Centro-Oeste – Unicentro - kbrumes@hotmail.com

71
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

atividades agropecuárias. No presente caso observa-se que desde a década de 1950


Maringá alia crescimento populacional e intenso ritmo de urbanização, acontecendo um
aumento significativo da população urbana. Ainda que neste período não houvesse uma
inversão desta situação, é preciso destacar o forte crescimento da população urbana em
detrimento da rural. Como foi criada pela Companhia Melhoramentos do Norte do Paraná,
Maringá foi um dos principais núcleos de povoamento da região, ou seja, era exatamente
este o plano da companhia colonizadora. Quando a cafeicultura deixa de ser a principal
função econômica, toda estrutura fundiária da região começa a mudar, pois a falta de
incentivo faz com que muitos pequenos agricultores sejam forçados a deixar suas terras,
vendê-las para outros produtores e migrar para as cidades. É desta forma que se
completa a inversão, havendo maioria de população nas áreas urbanas. Ainda assim,
este fator é parte de uma reestruturação das atividades econômicas e de trabalho. É
possivel ver que a agropecuária e agroindustria (regional) estão estreitamente ligadas ao
comércio e serviços (local). Sendo assim, o foco da análise está no crescimento destas
atividades, considerando a situação dos empregos e a atração exercida por Maringá na
região, bem como as formas espaciais resultantes deste processo. Neste sentido serão
utilizados dados do CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados),
considerando a microregião de Maringá em que aparecem ainda Marialva, Mandaguari,
Paiçandú e Sarandi. Como há uma lista grande de atividades, foram utilizadas as dez
principais categorias de trabalho que geraram desligamentos e contratações em cada
uma das cidades que compoem a microrregião. Com isso acredita-se compreender a
realidade da região e do papel exercido por Maringá, sendo necessário este entendimento
para a construção de politicas de desenvolvimento local e regional.

Palavras-chave: Desenvolvimento regional, cidades médias, estrutura econômica.

72
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

CAPITALISMO E A DIVISÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO


Naudiele Costa38

Claudinei de Souza39

Resumo: O presente trabalho tem o intuito de demonstrar a evolução do sistema


capitalista, analisando suas fases, sua história e sua aplicação no mundo globalizado.
Dentre os vários modelos econômicos já implantados, o capitalismo é o que obteve maior
destaque no cenário econômico mundial. Tendo sua origem na Europa, nos séculos XV e
XVI, expandiu-se rapidamente para os demais continentes. Sua evolução se deu
lentamente, acompanhando o crescimento tecnológico e os fatos históricos de cada
época. O capitalismo é um sistema econômico, político e social no qual os agentes
econômicos, os proprietários dos meios de produção permitem que ela seja
comercializada em um mercado, onde as transações são de natureza monetária. O
Capitalismo, segundo seus defensores, é o meio mais eficiente e eficaz de prosperidade,
desenvolvimento e eliminação de pobreza nas sociedades, devido ao seguinte argumento
central: cada indivíduo, por depender basicamente do seu próprio esforço, por ter direito a
acumular e desfrutar dos produtos gerados por este esforço, por ter de assumir e colocar
em risco seu próprio patrimônio é altamente motivado a utilizar seus recursos (materiais e
intelectuais) da melhor forma possível. Para efeito de estudo, o capitalismo é dividido em
três fases principais, entre elas: A primeira fase ou capitalismo comercial, é caracterizado
pela primeira Divisão Internacional do Trabalho que impôs a relação de exclusivismo
comercial entre metrópoles e colônias. A segunda fase, denominada capitalismo
industrial, foi marcada pela Primeira e Segunda Revolução Industrial. Foi na transição da
Primeira para a Segunda fase que o fordismo, conjunto de princípios desenvolvidos pelo
empresário Henry Ford, foi introduzido na indústria. A Divisão Internacional do Trabalho
dessa fase, pôs fim ao pacto colonial imposto na primeira fase capitalista. Por fim a
Terceira fase, também chamada de capitalismo financeiro, à qual foram implantadas
várias teorias econômicas, entre elas o liberalismo, o keynesianismo e o neoliberalismo.
Após a Segunda Guerra Mundial, o fato mais marcante do capitalismo financeiro foi a
expansão das empresas multinacionais, hoje chamadas de transnacionais. Essas
empresas mantiveram sua sede em seu país de origem e abriram filiais em países
subdesenvolvidos, em busca de incentivos fiscais e mão-de-obra barata. O neoliberalismo
tem grande aceitação em todo o mundo, pois sem a direta intervenção do Estado as
empresas tem uma maior autonomia para dirigirem seus negócios. Foi pensando em
redução de custos e aumentar a produção que a empresa Yazaki Autoparts do Brasil
Ltda, do Japão, abriu uma filial na cidade de Irati, Paraná. Especializada em chicotes
elétricos (sistema de distribuição de energia veicular), utilizados na fabricação de
automóveis. Porém a empresa não produz o produto final, apenas um de seus
componentes. Esse novo conceito de fabricação é chamada fábrica global e já é muito
difundido mundialmente, sendo de extrema importância para a industrialização dos
países subdesenvolvidos. A Yasaki buscou no Brasil a isenção de impostos, mão-de-obra
barata e um intenso mercado consumidor. O capitalismo em sua essência busca o
acúmulo de capital, de riqueza. Ao contrário do socialismo não promove a igualdade
entre as classes. Contudo, o sistema capitalista, assim como todos os sistemas
econômicos, também tem suas falhas. Pois ao mesmo tempo que visa o lucro, gera
intensas desigualdades sociais, deixando boa parte do capital na mão de uma pequena

38
Aluna do Ensino Médio do Colégio Estadual João Negrão Júnior
39
Professor orientador, Claudinei de Souza. crodi@bol.com.br

73
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

parcela da população. A mais rigorosa crítica ao capitalismo foi feita por Karl Marx,
ideólogo alemão que propôs a alternativa socialista para substituir o Capitalismo.
Segundo o marxismo, o capitalismo encerra uma contradição fundamental entre o caráter
social da produção e o caráter privado da apropriação, que conduz a um antagonismo
irredutível entre as duas classes principais da sociedade capitalista: a burguesia e o
proletariado. Portanto, as desigualdades oriundas do capitalismo afetam diretamente a
vida econômica da população, prejudicando os menos favorecidos e gerando a divisão de
classes sociais. Diante do que prega o socialismo de Marx, vemos que quanto maior é o
acumulo de capital, maior é a distinção entre as classes sociais.

Palavras chaves: capitalismo, fases, desigualdade.

Referências
ADAS,Melhem.Geografia. O subdesenvolvimento e o desenvolvimento mundial e o
estudo da América.3. ed. São Paulo: Moderna,1994. p. 38-42.
http://mundoeducacao.uol.com.br/historiageral/capitalismo.htm

74
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

SISTEMAS DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS, UM OLHAR PARA O


CEMITÉRIO MUNICIPAL SÃO JOSÉ

Maristela Carneiro 40
41
Prof. Dr. Edson Armando Silva

Resumo: A utilização dos mortos em nossa sociedade, destacando o caráter homólogo


ao outro mundo, permite a conciliação da rede de relações pessoais em torno dos
mesmos e de sua memória. Com a finitude, os mortos imediatamente passam a ser
concebidos como exemplos e orientadores de posições e relações sociais, servindo,
portanto, como foco para os sobreviventes, vivificando e dando forma concreta aos elos
identitários que ligam as pessoas de um grupo. E o espaço cemiterial, por conseguinte, é
privilegiado para a concretização e demonstração das conexões entre a memória, as
práticas identitárias e as representações sociais, dialeticamente construtoras de relações
sociais, bem como construídas pelas mesmas.
Entendemos que o culto dos mortos passa por um filtro de percepção, permitindo que
somente os valores considerados essenciais pelos vivos, para a recomposição do sentido
da vida, sejam expressos no espaço cemiterial, no qual este trabalho encontra-se
circunscrito. Assim, a individualização das sepulturas demonstram o desejo de preservar
a identidade e a memória dos mortos, servem à expressão e/ou transmissão dos valores
culturais e à própria reconstituição do sentido existencial para os que ficam.
Portanto, considerando-se tais filtros, buscou-se perceber de que maneira as relações
sociais, religiosas e culturais, de um modo geral, são expressas na distribuição espacial e
na simbologia presente nos túmulos do Cemitério Municipal São José, desde a sua
instituição na cidade de Ponta Grossa, no ano de 1881, até os nossos dias.
Para o desenvolvimento desta pesquisa foi realizado, túmulo a túmulo, um levantamento
fotográfico e quantitativo dos dados cemiteriais, organizados em fichas catalográficas
elaboradas com este fim. Tais dados foram em seguida processados em Sistemas de
Informações Geográficas (SIGs SPRING 4.3 e KOSMOS 0.8.3), para a geração de
cartogramas e gráficos a fim de instruir a análise qualitativa, contando com o apoio de
outros programas específicos (Microsoft Office Excel 2003 e Inkscape).
Este trabalho de campo foi essencial para o enriquecimento do trabalho, tendo em vista
que o contato direto com as fontes propiciou a análise contínua das mesmas, ficando
evidente a dinâmica presente neste espaço e as próprias representações sociais. De fato,
nossa problemática não se restringe ao objeto concreto, aos muros do cemitério, mas
também se estende à subjetividade dos vivos e suas relações com a sociedade,
materializadas no espaço urbano. Muito embora constituído sob a lógica da pretensa
civilidade, ressalta-se que o espaço do cemitério público é um campo de convívio e
embates de múltiplas tradições e possibilidades culturais. No bojo das manifestações
estéticas populares há também o universalismo das artes, a coincidência dos movimentos
estéticos sofisticados da avant-garde com atributos e características já sedimentadas na
amplitude da cultura de base. Ao olharmos para as representações edificadas, além dos
muros e do concreto do Cemitério Municipal São José, abre-se a possibilidade de
observarmos as formas através das quais diferentes informações transitam e se
influenciam neste espaço.

40
Especialização em História Cultural pela Universidade do Centro-Oeste, Campus de Irati (em curso).
Email: grifinoria15@hotmail.com .
41
Docente vinculado ao Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa (orientador).
Email: edasilva@uepg.br .

75
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

Ressaltamos que os SIGs são uma tecnologia do mundo contemporâneo, cuja


característica principal é a capacidade de integração e transformação de dados espaciais,
entendidos como a descrição quantitativa e qualitativa dos fenômenos ocorridos no
“mundo real” e que têm como premissa a reprodutibilidade, no caso, das simbologias e da
distribuição espacial observada no espaço cemiterial; desde que satisfeitas as mesmas
condições de coleta. Com efeito, ao agregarmos valores intelectuais e subjetivos, os
dados transformam-se em informações que, além de refletir o grau de reflexão do autor,
constituem a base fundamental dos SIGs para a intervenção no meio social.
Ao mesmo tempo em que a utilização dos SIGs revoluciona a análise das informações,
também depende de forma umbilical da racionalidade da construção de um banco de
dados, somente possibilitada com o auxilio de técnicas computacionais sofisticadas e de
profissional especializado, pois a utilização dos mesmos não garante a segurança de que
o produto final corresponda a alternativas corretas, em especial quando não há um
controle de qualidade do banco de dados. Entretanto, ao partirmos da premissa de
inerência entre técnica e teoria, este trabalho se propõe a demonstrar a utilização dos
Sistemas de Informações Geográficas, ferramentas para a investigação científica, para a
análise do espaço cemiterial e, indo além, como contribuição reflexiva para a análise e/ou
ampliação do próprio campo do historiador, na era do gerenciamento disciplinado de
informações.

REFERÊNCIAS:

ARAÚJO, T. N. de. Túmulos celebrativos de Porto Alegre: múltiplos olhares sobre o


espaço cemiterial (1889-1930). Porto Alegre: PUCRS, dissertação de mestrado, 2006.
CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. Rio de Janeiro:
Bertrand, 1990.
CORRÊA, R. L. A dimensão cultural do espaço: alguns temas. Revista Espaço e
Cultura. Rio de Janeiro: UERJ, vol.1, n°1, 1995.
FERNANDES, S. M. C. Representações Sociais e Educação Especial: sentidos,
identidade, silenciamentos. Revista Benjamim Constant. Rio de Janeiro, vol. 09, n°24,
2003.
MATOS, M. I. S. de. Cotidiano e Cidade. In: Cotidiano e Cultura: história, cidade e
trabalho. Bauru: Edusc, 2002.
MENDES, J. M. de O. O desafio das identidades. In: A globalização em ciências
sociais. São Paulo: Cortez, 2002.
SILVA, A. de B. Sistemas de Informações Geo-Referenciadas: Conceitos e
Fundamentos. Campinas: Unicamp, 2003.
SILVA, E. A. Bancos de dados e pesquisa qualitativa em história: reflexões acerca de
uma experiência. Revista de História Regional. Ponta Grossa: UEPG, vol. 3, n°2, 1998.

76
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

A QUESTÃO DO LIXO E A PRÁXIS EDUCATIVA NO CONTEXTO


URBANO: O CASO DA CIDADE DE IRATI-PR

Aldann Jonas Felix Cararo42

Roberto França da Silva Júnior43

Resumo: Podemos notar, nos dias atuais, um aumento considerável nas discussões
sobre os problemas ambientais e o rápido esgotamento dos recursos energéticos. Muito
se fala em aquecimento global e suas conseqüências, mas soluções concretas e
possíveis no sentido de evitar, ou pelo menos minimizar o agravamento dos problemas
ambientais, pouco se tem alcançado. Quando falamos sobre esses assuntos, temos uma
tendência a pensar em grandes empresas com suas enormes chaminés lançando
grandes quantidades de gases poluentes no ar, ou então, nos rios sendo sufocados pelo
esgoto nas grandes cidades. Dificilmente pensamos nos impactos que causam nos
indivíduos, a não ser quando chamados a isso através da leitura de textos de autores
especializados nessas questões. A mídia bombardeia-nos diariamente com imagens,
mensagens, apelos de todas as espécies, tentando convencer-nos da necessidade
urgente de adotarmos hábitos “ambientalmente corretos”. Entendemos que o sistema
educacional tem uma parcela significativa de responsabilidade na promoção da
“educação ambiental”. Apesar disso, vemos ainda muitos problemas de degradação e
poluição do meio ambiente. Isso nos levou a questionar se realmente o trabalho que vem
sendo realizado pela mídia tem apresentado resultados relevantes, e mais ainda, se a
escola vem realizando a obra que tem por responsabilidade. O trabalho foi dividido em
quatro capítulos, sendo que o primeiro trata da relação sociedade-natureza, elaborando
um breve histórico da produção de lixo, desde épocas pretéritas quando o homem ainda
era nômade, passando pela idade média quando surgiram os primeiros problemas com a
destinação dos resíduos, analisando o aumento do volume de lixo produzido com o
advento do modo de produção capitalista e aumento do consumo. Neste capítulo
apresentamos alguns dados sobre a produção de lixo em Irati e o destino dado a esse
lixo. No segundo capítulo, discutimos as questões urbanas relacionadas ao acesso
desigual aos bens e serviços coletivos. No caso específico deste trabalho, uma coleta de
lixo de qualidade. Lançamos mão do uso dos conceitos de segregação socioespacial e
exclusão social, estabelecendo relações com problemas encontrados em Irati. Fizemos a
análise com base nos seguintes autores Manuel Castells, Flavio Villaça, Eliseu Saverio
Sposito, Luciane de Oliveira Marisco entre outros. Juntamente a essa discussão
procuramos enfatizar o papel do Estado que estabelece normas e contribui bastante na
organização do espaço urbano, de modo que o aparato de leis tem contribuído e por que
não, provocado “mais” segregação e fragmentação. Observamos que Irati, apesar de não
ser grande, também sofre problemas semelhantes como a diferenciação social e a
dominação exercida pelas classes hegemônicas. Pelo fato de ser uma cidade
relativamente pequena se comparada a grandes centros como Curitiba, São Paulo entre
outras, os processos relativos à segregação socioespacial são menos evidenciados. No
terceiro capítulo, apresentamos os resultados obtidos através de um questionário com
perguntas fechadas, aplicado durante a pesquisa de campo realizada nos bairros Rio
Bonito, Fósforo, Canisianas, Alto da Glória, Jardim Califórnia e Centro, buscando
compreender o nível de satisfação da população iratiense com relação à coleta de lixo.
Apresentamos imagens de áreas utilizadas indevidamente para descarte de toda sorte de

42
Acadêmico do 4º ano do curso de Geografia da UNICENTRO/Irati. aldannjonas@gmail.com
43
Prof. Msc. do curso de Geografia. Unicentro/Irati. rofranssa@gmail.com

77
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

resíduos, mostrando as contradições entre os dados obtidos e a atitude de alguns


concidadãos. Apresentamos, também nesse mesmo capitulo do trabalho, as experiências
vividas nas escolas onde estagiamos, apresentando uma entrevista realizada com a
professora de Geografia, que fala das dificuldades em prender a atenção dos alunos e
também das barreiras encontradas nos momentos em que pretendia inovar, trazendo algo
novo para promover a “educação ambiental”. Barreiras que muitas vezes foram criadas
pela própria direção do estabelecimento educacional. Tratamos também da visita que
fizemos à cooperativa de catadores, realizada juntamente com os alunos, e onde tivemos
acesso a informações sobre a coleta seletiva e outras etapas da reciclagem. As
experiências na escola, durante os estágios também permitiram chegar a algumas
conclusões importantes. Constatamos que a “educação ambiental” vem sendo
“trabalhada” nas escolas, mas não de forma contínua, ou seja, privilegiam-se datas
importantes, como o dia da árvore por exemplo, o que tona mais difícil a ligação entre os
conhecimentos científicos e o cotidiano dos alunos. Essa ligação é importante porque dá
um sentido, um significado para as teorias propostas nas aulas, e isso aproxima os alunos
da realidade.

78
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

FAZENDO ARTE COM AS MÃOS (ARTESANATO) INOVANDO ATITUDES


– NOTAS SOBRE UMA EXPERIÊNCIA EDUCACIONAL HOLÍSTICA.

Viviane Regina Caliskevstz44

Almir Nabozny45

Resumo: Esse trabalho é fruto de uma pesquisa-ação que teve como fio condutor
caracterizar, juntamente com alunos do 1° ano do ensino médio, quais os principais
problemas causados pelo lixo doméstico no município de Fernandes Pinheiro - PR,
problematizando as deficiências e as possibilidades de mudanças positivas no cotidiano
dos educandos, com o intuito de promover uma educação significativa em que o aluno
posiciona-se enquanto um agente ativo em seu contexto sócio-espacial. As questões que
envolvem os problemas sócio-ambientais começaram a ter espaço na mídia e no meio
acadêmico na Primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano,
no ano de 1972, em Estocolmo, com a criação da chamada Agenda 21, na qual
constavam inúmeras leis e regras aos países participantes, os quais deveriam
comprometer-se em criar políticas nacionais para diminuir seus impactos contra a
natureza. Entretanto, pouco se avançou em termos de mudanças políticas nos países
membros, pois as transformações diziam respeito não só as questões comportamentais
da sociedade, mas principalmente da política, que implicava em diminuir a poluição do ar
por gases produzidos pelas grandes indústrias, as quais geravam imensa riqueza para
esses países, substituir o consumismo exacerbado da sociedade capitalista, por ações
sustentáveis, retirando da natureza somente o necessário para a sobrevivência,
conservando os recursos naturais para as gerações futuras. Todavia,a concepção da
relação da sociedade com a natureza enquanto externalidade remete-se a própria
expansão do cristianismo pelo mundo, em que o homem cristão branco rompe suas
ligações com tudo que lhe parecia sobrenatural e ameaçador, o que incluía a natureza e a
mulher. Já que para tradições antigas como a grega, Gaia era uma deusa em forma de
natureza. Assim, os homens religiosos levam para todos os campos a lei do
patriarcalismo, onde o masculino deve dominar. Infelizmente, essas ideologias invadiram
as ciências, perdurando até meados da década de 1960 do século XX, as quais viam o
homem como ser independente do meio que o envolvia. Esse pensamento advém do
racionalismo Cartesiano de Descartes, onde só os que pensam racionalmente, é que
existiam de fato. Essa concepção cartesiana da natureza foi, além disso, estendida aos
organismos vivos, considerados máquinas constituídas de peças separadas”. Portanto,
para a visão racionalista, o homem e a natureza são seres opostos, que travam uma luta
onde o mais forte, deve dominar, e a natureza deve servi-lo como mero recurso ou
instrumento de seu progresso. Inevitavelmente, a influência cartesiana e racionalista
invadiu as disciplinas das escolas, tornando o conhecimento fragmentado, pouco crítico, e
sem conexão com a realidade. É, portanto nesse modelo educacional tradicional e linear,
que a educação ambiental tenta caminhar e atingir resultados, embora restrita a dias
comemorativos e atividades utópicas, que além de trazerem poucos resultados, tornam a
visão dos alunos parcial, pois, os fazem acreditar, numa espécie de adestramento que,
fazendo desenhos de animais ou de árvores, geralmente excluindo o homem dessa

44
Acadêmica do Curso de Geografia – UNICENTRO/Campus de Irati. vcaliskevstz@hotmail.com
45
Professor Msc. do DEGEO/I - UNICENTRO – Campus de Irati. almirnabozny@yahoo.com.br

79
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

paisagem, o seu papel de educador ambiental estará cumprido. No entanto, a falta de


diálogo e questionamentos sobre a realidade vivida pelos alunos, como também seu
papel nos problemas e soluções dessa realidade, são ações mais catastróficas do que a
simples negação da existência dos problemas e a falta de ação, como professor. Dessa
forma utilizamos a Filosofia Holística como forma de despertar o aluno para a realidade
que o envolve em sua totalidade. A visão holística vê o universo e tudo que o compõem,
não mais como uma grande máquina, imagem inspirada pelo paradigma Newtoniano-
cartesiano, superado e mecanicista, mas sim como um grande sistema complexo
integrado e em permanente evolução. Sabendo-se que a prática da educação ambiental
não é uma disciplina e que, portanto não necessita de certo período para serem
trabalhadas, realizamos nossa pesquisa-ação na turma de 1° ano do ensino Médio do
Colégio Estadual Getúlio Vargas, durante os períodos de estágio de docência juntamente
com o professor responsável pelo estágio, o qual expôs o conteúdo sobre a Formação
das Rochas, assunto esse que é a base para a explicação da evolução e progresso da
sociedade, feito esse, conseguido com o uso e exploração predatória desse recurso
natural; além disso, foram trabalhadas atividades visuais como a exibição do
documentário experimental Ilha das Flores, dirigido por Jorge Furtado (1989) como forma
de mostrar aos alunos que sua existência, assim como suas ações cotidianas estão
conectadas com inúmeros outros fatores e que depende de cada indivíduo a consciência
e a tarefa de realizar mudanças no seu espaço de existência. Pensando na realidade,
mais especificamente na produção de resíduos diárias de cada aluno, a atividade base
para essa investigação, foi a realização de atividades artesanais com a re-utilização de
filtros de papel usados para coar café, embalagens de produtos, como caixa de papelão,
garrafas de vidros, latas, capas de cadernos, materiais esses presente em todas as casas
dos alunos, realizando a reutilização do lixo, que nada mais é do que matérias-primas
desorganizadas, como proposta para uma possível diminuição do aterro controlado do
município, conscientizando os alunos sobre as vantagens da diminuição de consumo, da
reutilização desses produtos, e de possíveis ações políticas que venham a amenizar os
problemas causados pelo lixo da cidade de Fernandes Pinheiro. Buscou-se, portanto,
despertar nos alunos um senso crítico sobre sua realidade, o papel desempenhado por
eles nessa sociedade, como também um modo de desenvolver a criatividade com o
artesanato, diminuindo o volume de lixo depositado no aterro.

Palavras-chave: Reutilização de resíduos sólidos, educação ambiental, perspectiva


holística.

80
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

AS MULTITERRITORIALIDADES: UMA BREVE DISCUSSÃO SOBRE O


TERRITÓRIO

Graziele Margarida Braz46

Emerson Rigoni47

Resumo: Estas reflexões sobre as diversas abordagens do conceito de território fazem


parte de um trabalho na disciplina de Geografia. O estudo das diferentes acepções do
território é fundamental para melhor se compreender a Geografia, pois o espaço, o
território, a região e a paisagem são os conceitos-chave da ciência e foram adquirindo
concepções variadas no decorrer da história do pensamento geográfico, sendo
trabalhados de diferentes maneiras pelos principais autores que contribuíram para um
enriquecimento maior dos principais conceitos da Geografia. A questão territorial não é
uma discussão recente, o homem já debatia a importância de se compreender o território
há muito anos. Um exemplo dessa colocação é na arte da guerra, ou seja, a perfeita
leitura do terreno a ser percorrido é um fator determinante para obter êxito num conflito.
(SUN TZU apud SOUZA, 2006, p. 77) Essa relevância é determinada pelo território ser
fundamentalmente um espaço definido e delimitado por e a partir de relações de poder. O
poder não é propriedade de um indivíduo, pois pertence ele a um grupo e o mesmo existe
enquanto o grupo se mantiver unido. O ato de dizer que uma pessoa “está no poder”, faz
referência ao fato de que um grupo de pessoas a escolheu para atuar em seu nome, “sem
um povo ou um grupo não há poder” (ARENDT apud SOUZA, 2006, p. 80). Os territórios
são relações sociais projetadas no espaço, sendo construídos e modificados dentro de
escalas temporais, séculos, décadas, anos, meses ou dias, podendo ter um caráter
permanente ou apenas periódico, pois são vistos como uma área pertence a alguém, a
um grupo, um estado, um país, uma união de países, podendo ser visto também como
uma rede de relações sociais que define ao mesmo tempo um limite, uma alteridade. A
diferença entre as pessoas (o grupo e os estranhos), como unidade e diversidade, é uma
questão central da história humana e de cada país. As grandes cidades, indiferente da
escala global que elas se encontram, apresentam vários exemplos de territorialidades
flexíveis, como as áreas de obsolescência, onde sua função é variavelmente determinada
pela temporalidade. Outro exemplo é a territorialidade do tráfico de drogas que contrasta
com a estrutura territorial característica de organizações mafiosas, a territorialidade de
cada organização do tráfico de drogas é uma rede complexa que disputa a área de
influência econômica, formando um espaço significativo podendo ser chamada de
territorialidade de baixa definição e de alta definição que só ocorre quando uma das
organizações elimina as rivais dentro da área de influência, ou se houver um pacto
territorial entre as facções. Dessa forma se constituiu um conceito entre território
(contigüidade espacial) e rede (não há contigüidade espacial), sendo chamado de
território-rede ou territórios descontínuos que são articulados a dois ou mais territórios
contínuos. As territorialidades significam os tipos gerais em que podem ser classificados
os territórios, conforme suas propriedades, dinâmicas. A ocupação do território deriva de
raízes e identidade, ou seja, um grupo é mais compreendido em seu território. Rogério
Haesbaert (2006) analisa o território com diferentes enfoques, elaborando uma
classificação em que se verificam três vertentes básicas: jurídica-política, segundo a qual
o território é visto como um espaço delimitado e controlado sobre o qual se exerce um
determinado poder, especialmente o de caráter estatal, cultural(ista), que prioriza
dimensões simbólicas e mais subjetivas, o território visto fundamentalmente como produto

46
Aluna do 3º ano A do ensino médio - Colégio João Negrão Júnior. E-mail: emerigoni@gmail.com
47
Professor Orientador. E-mail: emerigoni@gmail.com

81
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

da apropriação feita através do imaginário e/ou identidade social sobre o espaço e


econômica, que destaca a desterritorialização em sua perspectiva material, como produto
espacial do embate entre classes sociais e da relação capital-trabalho Outro bom exemplo
são as comunidades homossexuais ou de prostitutas onde o indivíduo pertencente a
qualquer classe social encontra certo apoio identificando-se com os demais. Outra forma
evidenciada de territórios diversificados se apresenta quando a sociedade se submete ao
capitalismo, mesmo sabendo que as diferenças econômicas estão cada vez mais
presentes, dessa forma, uma mesma cidade se divide em diversos territórios, onde em
alguns o luxo e a riqueza são demonstrados, enquanto em outros se formam espaços
informais onde a pobreza e as misérias se encontram, segregando uma significativa
parcela citadina.

Palavras-chave: Obsolescência, poder, território.

Referências:
SOUZA, Marcelo Lopes de. O território: sobre espaço e poder, autonomia e
desenvolvimento. In CASTRO, Iná. Elias de, GOMES, Paulo Cesar da Costa, CORRÊA,
Roberto Lobato (org). Geografia: conceitos e temas. 8ª Ed. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 2006.

HAESBAERT, Rogério. O mito da desterritorialização: do “fim dos territórios” à


multiterritorialidade. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.

SANTOS, Milton. SILVEIRA, Maria Laura. O Brasil: território e sociedade no início do


século XXI. 11ª Ed. Rio de Janeiro: Record, 2008.

82
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

A GLOBALIZAÇÃO E A COMPETITIVIDADE ENDÓGENA DO SETOR DE


MALHAS DE IMBITUVA-PR

Zaqueu Luiz Bobato48

Roberto França da Silva Júnior49

Resumo: O capitalismo passou da concorrência à competitividade. Pode-se dizer que a


concorrência é própria do modo capitalista de produção, mas que a competitividade é
característica da globalização. Com base em Milton Santos (2001) podemos dizer que
entre os fatores que demarcam a globalização é a crescente inovação tecnológica, devido
aos avanços da ciência e das tecnologias da informação (meio técnico-científico-
informacional). Além disso, a globalização, que também comparece como “fábula”, auxilia
na disseminação da ideologia em que ser competitivo é necessário e benéfico, “onde os
mais fortes sobrevivem” (darwinismo social). “A competitividade tem a guerra como
norma. Há, a todo custo, que vencer o outro, esmagando-o, para tomar seu lugar”
(SANTOS, 2001), e essa competitividade acaba impulsionando, ou melhor, aprofundando
individualismos. É nesse contexto de competitividade e individualismo, propiciados pelo
modo de produção capitalista e verticalizados no atual período histórico, que lançamos
nosso olhar sobre um ponto de vista eminentemente geográfico, para podermos
compreender as dinâmicas que perpassam o segmento de malhas de Imbituva. Segundo
o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), o circuito de
malharias da cidade se configura como um Arranjo Produtivo Local (APL) que “pode ser
definido como um aglomerado de agentes econômicos, políticos e sociais que operam em
atividades correlatas, estão localizados em um mesmo território e apresentam vínculos de
articulação, interação, cooperação e aprendizagem”. Imbituva em resposta a atual Divisão
Territorial e Regional do Trabalho, vem se especializando na confecção de roupas em
malhas. O surgimento das malharias na cidade remonta à década de 1980. Com o passar
dos anos chegou a um número considerável de empresas, cerca de 50. Porém, nos
últimos cinco anos, passa a portar uma paulatina queda desse número total, várias
empresas fecharam, por conta de uma série de fatores. Dentre eles, achamos necessário
elucidar no que concerne à cooperação (ou a falta de cooperação), pois, o setor abarca
uma grande competição endógena e acirramento das diferenças entre as empresas, que
não tem vínculos de cooperação e aprendizagem entre as mesmas. Isto está gerando
problemas para o setor como num todo. Em pesquisa de campo, constatamos que a
maioria das empresas do segmento não dispõe de condições para poderem aderir a
novas tecnologias, e a inovação da produção. Um exemplo da falta de cooperação no
setor é com relação a revistas que tratam das tendências da moda no Brasil e no mundo.
Estas são muito caras, porém necessárias para que se possa produzir de maneira
inovadora. No entanto, um pequeno número de empresas, aquelas dotadas de poder
econômico, adquire estas revistas, porém, se recusam a passar modelos de peças em
malhas contidas na revista para as demais que não possuem condições. Os empresários
que compram essas revistas não acham justo pagarem caro, e depois repassarem para
os demais. No entanto, entendemos que isto não é bom para o ramo, pois a
comercialização das peças de roupas em malhas produzidas no setor se dá na própria
cidade. Os lojistas de outras cidades e até de outros Estados visitam as malharias durante
a Feira de Malhas de Imbituva (Femai), que é realizada anualmente. Todavia, como

48
Aluno do 3º ano de Geografia. ICV (Iniciação Científica Voluntária). E-mail: zaqueudegeo@yahoo.com.br.
49
Professor do Departamento de Geografia da Unicentro campus de Irati, orientador de IC, doutorando em Geografia
pela Unesp (Universidade Estadual Paulista) campus de Presidente Prudente. E-mail: rofranssa@gmail.com. Líder do
Gester (Grupo de estudos e pesquisas para a gestão territorial).

83
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

muitas empresas estão fechando o setor acaba sendo prejudicado. Isso porque, se o
número de empresas diminui, diminui a oferta. Diminuindo a oferta, os lojistas ficam sem
ter muita opção, pois as poucas empresas que restarem, ditarão os preços pela pouca
concorrência. A hipótese é que os lojistas de outros lugares poderão deixar de visitar a
cidade para adquirem malhas. Sintetizamos nossa discussão enfatizando a importância
de se trabalhar no sentido de estabelecer uma rede cooperativa no setor em questão,
pois, consideramos que existem formas de cooperação embrionárias. Nesse contexto de
cooperação, Matushima (2005), em uma perspectiva propositiva, considera que o papel
das instituições compreendidas como “organizações que coordenam as transformações” e
que mediam “relações sociais, econômicas e culturais” no desenvolvimento de um melhor
ambiente empresarial, explicaria o desenvolvimento econômico de “algumas regiões do
mundo”, enquanto outras “não conseguem se articular” e melhorar sua estrutura
produtiva. Nesse sentido enfatizamos o caso do ramo de confecções de Ibitinga-SP, que
apesar de possuir suas especificidades históricas, geográficas e culturais diferentes de
Imbituva, conseguiu conquistar escalas de comercialização além da local e um grande
desenvolvimento, devido ao trabalho cooperativo que desempenharam. Portanto, para
finalizar enfatizamos novamente que o ramo de malhas de Imbituva precisa trabalhar
nesse sentido.

Palavras chave: globalização, competitividade, cooperação.

Referências Bibliográficas
IPARDES. Identificação, caracterização, construção de tipologia e apoio na
formulação de políticas para arranjos produtivos locais (APLS) do Estado do
Paraná: Diretrizes para políticas de apoio aos arranjos produtivos locais / Instituto
Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social, Secretaria de Estado do
Planejamento e Coordenação Geral. - Curitiba: IPARDES, 2006.

SANTOS, Milton. Por Uma Outra Globalização: do pensamento único à consciência


universal. Rio de Janeiro. Record, 2001.

MATUSHIMA, Marcos Kazuo. Especialização produtiva e aglomeração industrial:


Uma análise da indústria de confecções de Ibitinga-SP. 2005. 183f. Tese (Doutorado em
Geografia) - Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista,
Rio Claro.

84
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

CARTOGRAFIA NO ENSINO: TEORIA E PRÁTICA

Valdney Carlos de Andrade50

Aparecido Ribeiro de Andrade51

Resumo: A Cartografia tem suas origens antes da escrita, desde o período pré-histórico,
onde era utilizada através de sinais, demarcando territórios de caça e pesca, ou caminhos
utilizados. Foi a principal ferramenta usada pela humanidade para ampliar os espaços
territoriais e organizar sua ocupação. Portanto, hoje ela está presente no cotidiano da
sociedade, levando soluções para problemas urbanos, de segurança, saúde pública,
turismo e auxiliando as navegações. A cartografia é uma atividade que dá suporte a
diversas ciências e tecnologias e é através dela que se constroem os mapas, instrumento
capaz de representar em escala, com o grau de exatidão requerido, as informações
necessárias ao planejamento. Quando a temática estudada é voltada à Educação
Cartográfica é importante se atentar para a construção e interpretação de mapas usando
da linguagem visual, como cores e símbolos, sempre buscando a transmissão de
informações coerentes e precisas. É no ensino fundamental, desde as séries iniciais, que
esses conhecimentos devem ser desenvolvidos e aprofundados. A utilização dos recursos
cartográficos deve despertar os alunos para a compreensão da realidade geográfica, pois
a Cartografia busca essa interação com a Geografia como forma de aprimorar a
percepção visual através dos símbolos cartográficos. Educação Cartográfica é um
processo de construção de conhecimentos que favorecem a leitura e a interpretação de
mapas, sendo que na maioria das vezes, o que ocorre nas escolas é o simples repasse
de conteúdos desenvolvidos para serem trabalhados com adultos, e que são trabalhados
da mesma forma para crianças, sem adequação e transposição à etapa do
desenvolvimento infantil nas diversas faixas etárias, decorrendo essa dificuldade quanto à
concepção didática, e simplificação desses conceitos científicos, ensinadas geralmente
por meio de práticas repetitivas e pouco explicativas, não existindo uma preocupação em
habilitar seus alunos no processo de educação cartográfica. Observa-se que todo esse
processo pode gerar o analfabetismo cartográfico. Sabe-se então, que este entendimento
é transmitido erroneamente ou na maioria das vezes deixados sem importância (de lado),
pelos estabelecimentos de ensino, principalmente nas séries iniciais, onde a maioria dos
professores não tem uma formação específica e ainda colocam como prioridade o “ler e
escrever”, acaba se ensinando cartografia sem o uso de mapas, ficando mais por conta
do imaginário que do real. Outro ponto a ser destacado também são as turmas com
grande quantidade de alunos, o que dificulta um atendimento mais individualizado. Com
esse conjunto de fatores o resultado é um aprendizado deficitário e que vem se repetindo
nas séries posteriores. A linguagem gráfica é um fator indispensável no ensino dos
conteúdos cartográficos, sendo que o professor deve estar atento para trabalhar de forma
eficiente, métodos e momentos de utilização do mapa em sala de aula. Aprender a utilizar
mapas é um processo lento, que ao ser desenvolvido nas escolas, deve seguir várias
etapas do ensino. Esse trabalho pode ser feito pelo aluno, mesmo que de forma
rudimentar, através da representação dos espaços vividos por ele, até a interpretação de

50
Discente da Universidade Estadual do Centro-Oeste - Unicentro
E-mail: neinacio@hotmail.com

51
Docente da Universidade Estadual do Centro-Oeste - Unicentro
E-mail: arandrade@irati.unicentro.br

85
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

mapas que representem espaços e realidades não vivenciadas pelo aluno, o que
demanda uma maior complexidade no processo, exigindo assim um maior esforço e
concentração. Seguindo esse referencial conceitual, pretende-se desenvolver um trabalho
de pesquisa no Colégio Estadual Parigot de Souza, na Cidade de Inácio Martins-PR,
tendo como primeira abordagem a verificação de como está sendo trabalhado o ensino de
cartografia, bem como, os recursos utilizados para o desenvolvimento do assunto,
especialmente com os alunos de 5ª série, já que estes provém de várias escolas
municipais, realidades diferentes e tendo estudado com várias professoras das séries
iniciais. A partir da escolha do objeto de pesquisa, no caso os alunos e a escola
mencionados, pretende-se levantar onde estão as principais deficiências e apontar
algumas metodologias utilizadas que possam contribuir para o desenvolvimento no ensino
da cartografia. A meta final do projeto é destacar que a Cartografia não deve ser ensinada
de forma isolada e é através da interdisciplinaridade que se obtém um resultado mais
gratificante, tanto para os alunos quanto para os professores. O que se espera deste
trabalho desenvolvido é que ao levantar os pontos em que estão as deficiências no ensino
da Cartografia, possamos desenvolver atividades através do uso de outros métodos e
metodologias, utilizadas por professores de outras escolas, conseguindo assim despertar
o interesse desses alunos pela cartografia, bem como a importância do uso dos recursos
cartográficos para o nosso dia a dia. Dessa forma, pretende-se estimular o estudo da
cartografia de forma mais atrativa e de fácil entendimento, contribuindo para que os
alunos sejam alfabetizados cartograficamente e tenham um melhor desempenho nas
aulas de geografia. Apesar da pesquisa ainda não estar concluídas, as observações
preliminares nos leva a acreditar que tal intervenção é necessária e que os resultados
provavelmente serão positivos para a melhoria na qualidade do ensino.

Palavras-chaves: cartografia, ensino, metodologia

Referências:
PASSINI, Elza Yasuko Alfabetização Cartográfica e o Livro Didático: uma análise crítica.
Minas Gerais: ed. Lê, 1994.
ALMEIDA, Rosângela Doin de,(Organizadora), Cartografia Escolar, São Paulo: Contexto
2004.
FRANCISCHETT, M. N., A Cartografia no Ensino da Geografia Construindo os Caminhos
do Cotidiano Rio de Janeiro: Litteris, ed. Kro Art, 2002.
FRANCISCHETT, M. N., A Cartografia no Ensino da Geografia Aprendizagem Mediada –
Edunioeste – Cascavel – 2004.

86
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

DIVISÕES REGIONAIS DO BRASIL

Juliane Andressa de Arruda52

Claudinei de Souza53

Resumo: Este artigo tem como finalidade tratar sobre as divisões regionais ocorridas no
Brasil, assim como a definição mais apropriada, neste caso, para o termo regionalização,
suas finalidades e critérios utilizados para serem realizadas as divisões. Antigamente o
Brasil não era composto por 26 estados e um Distrito Federal, eram poucos estados e
mais territórios do Brasil, porém surgiu a necessidade da divisão do país em porções
menores, visando facilitar a administração e melhorar o planejamento governamental. Não
há como definir o tamanho de uma região, pois ele varia de acordo com a área que seus
elementos ocupam na superfície terrestre, por isso não existe extensão mínima ou
máxima de uma região. No início da década de 1940,o IBGE(Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística), propôs a primeira divisão territorial nacional. A proposta era
comparar dados estatísticos relacionados a agrupamentos estáveis,que seriam as
regiões. Na época esta proposta foi criticada por estudiosos do assunto,pois, segundo
eles, considerava mais os critérios de localização do que as características econômicas,
físicas e sociais das áreas que agrupava. Onde este agrupamento, dividiu o território
brasileiro em 05 regiões: Norte, Centro, Este, Nordeste e Sul. Em 1945, o IBGE fez uma
nova proposta de divisão regional do Brasil, desta vez com base no quadro físico do
território .Na época, foram denominadas regiões naturais. Esta data é marcada pela
criação do território federal de Fernando de Noronha. Esta nova divisão,dividiu o Brasil em
07 regiões naturais:Norte, Nordeste Ocidental, Nordeste Oriental, Leste Setentrional,
Leste Meridional,Centro Oeste e Sul. Em 1968 uma nova divisão foi feita com base na
organização da produção , resultado do processo de transformação do espaço nacional
em fundação do desenvolvimento industrial nova regionalização baseou-se não apenas
nas semelhanças físicas das paisagens mas também nas características econômicas da
região. Nessa divisão, a região leste deixou de existir, os estados da Bahia e do Sergipe
foram agregados a região Nordeste,São Paulo passou a fazer parte da região Sudeste
juntamente com Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Esta data é marcada pela
elevação do território federal do Acre para a categoria de estado e a Mudança de
denominação do território federal do Rio Branco para o território federal de Roraima. Esta
divisão dividiu o Brasil em 05 regiões: Norte, Nordeste, Centro Oeste, Sudeste e Sul. A
última divisão regional do Brasil foi estabelecida pelo IBGE em 1988 com a criação do
estado de Tocantins, originalmente pertencente ao Norte do estado de Goiás. Os critérios
adotados nessa divisão baseiam-se nos limites dos estados brasileiros, fatores
econômicos, e histórico, que divide o país em cinco grandes regiões: Norte, Sudeste,
Centro-Oeste, Nordeste, e Sul. Atualmente temos uma outra regionalização, elaborada
pelo geógrafo Pedro Pinhais em 1960. Nesta divisão regional, ao contrário da proposta
oficial do IBGE, os limites das regiões não coincidem exatamente com o limite dos
estados, pois os aspectos econômicos e os naturais, nem sempre coincidem exatamente
com os limites político-administrativo. . Essa divisão regional expressa de maneira mais
adequada as disparidades socioeconômicas existentes no território,entre as áreas mais
industrializadas e modernizadas do Brasil,as áreas menos desenvolvidas econômica e
tecnológicamente. Dividindo o território em 03 regiões: Nordeste, Norte ou Amazônia.
Este artigo tem como conclusão, que as divisões ocorridas ao longo dos anos, foram de

52
Aluna do Colégio Estadual João Negrão Júnior
53
Professor Orientador.Col. Est. João Negrão Júnior crodi@bol.com.br

87
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

fundamental importância para o melhor conhecimento dos estados brasileiros,


melhorando o planejamento e facilitando a administração.
Palavras chaves: divisão, região, planejamento.

Referências
MOREIRA, Igor Antonio Gomes. Construindo Espaço. São Paulo: Ática, 2005. pg. 67 -
69.
PIRES, Valquiria.BELLUCCI, Beluce. Construindo Consciencia: Geografia,1.ed. - São
Paulo: Scipione, 2006.

88
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

TRABALHOS EM PAINÉIS

89
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

UMA APROXIMAÇÃO GEOGRÁFICA AS ÁGUAS MINERAIS


SULFUROSAS DO MUNICÍPIO DE MALLET-PR
Edicléia Trojan54

Almir Nabozny55

Resumo: Esse trabalho tem por objetivo compreender como águas minerais sulfurosas
do município de Mallet-PR podem ser veiculadas nos processos de desenvolvimento
sócio-espacial. Apresentando um enfoque sobre as Fontes Hidrominerais Sulfurosas
localizadas no referido município. Grandes quantidades de água subterrânea podem
emergir a superfície terrestre extraída artificialmente mediante poços ou naturalmente, por
descarga natural sob a forma de mananciais. As características físico-químicas de
quaisquer águas subterrâneas estão associadas com a composição química das rochas,
ou sedimentos, ou solo pelos quais flui. A água subterrânea, ao percolar zonas profundas
na crosta, atingirá, inevitavelmente, zonas de temperaturas mais elevadas. Este tipo de
ambiente costuma envolver ciclos convectivos onde as águas subsuperficiais per colam
até determinadas profundidades, de temperaturas mais elevadas e voltam a ascender à
superfície. A água doce tem se tornado um bem mineral cada vez mais escasso em nosso
Planeta Consciente de sua importância para a sobrevivência das espécies e tendo em
vista que se torna cada vez mais comum o uso para o consumo humano. A utilização
crescente das águas subterrâneas é, sem dúvida, resultado dos esforços que tem sido
empreendido para o conhecimento de suas condições de ocorrência e o desenvolvimento
tecnológico em sua captação por meio de poços profundos. Essa crescente recorrência
esta ancorada substancialmente a poluição de mananciais de superfície. Todavia, faz
necessário proceder a um amplo estudo das águas subterrâneas, a fim de não
recorrermos a velhos erros que tangem a exploração das águas superficiais. Assim, é
interessante procurar conhecer, o trabalho das águas subterrâneas, embora imperceptível
na maioria dos casos, em que é exercido pelo seu movimento e ao longo de seu percurso
vai interagindo com as rochas que atravessa, dissolvendo determinadas substancia e
precipitando outras, são especialmente enriquecidas em sais retirados das rochas e
sedimentos por onde per colaram vagarosamente. As fontes hidrominerais de Mallet, são
classificadas como sulfurosas alcalinas, possuem em sua composição principalmente o
enxofre, o que dá à água sua característica principal que é o odor e sabor constituindo-se
em características que afetam a qualidade das águas, sejam elas superficiais ou
subterrâneas e influenciam na aceitabilidade e uso por seres humanos. Suas causas
podem ser de origem natural ou artificial. São quatro fontes artesianas conhecidas no
município: Dorizon, Iracema, Rio Claro, Lopacinski, destas quatro, apenas uma é
explorada de modo mais abrangente no processo de desenvolvimento sócio-espacial - a
de Dorizon, junto a qual está localizada a Estância Hidromineral Dorizon. Na
operacionalização do trabalho juntamente com o estudo bibliográfico realizamos pesquisa
de campo pautada no uso de GPS (Global Positioning System) para referendarmos as
posicionalidades de nossos objetos de estudo, os quais são explorados por meio de
fotografias e outros artifícios iconográficos, assim como análises laboratoriais das
propriedades físico-químicas das águas. Já a exploração qualitativa se desenvolve por
meio de entrevistas semi-estruturas dirigidas aos agentes envolvidos com as fontes
hidrominerais (proprietários, visitantes, vizinhos, “consumidores” etc). Dentro dos
resultados verificou-se que somente nas fontes Lopacinski e Dorizon são realizados

54
(Pq – UNICENTRO Campus de Irati). edicleiatrojan@yahoo.com.br
55
(Or – UNICENTRO Campus de Irati). almirnabozny@yahoo.com.br

90
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

análises laboratoriais de controle de qualidade de água no reservatório, porém os


consumidores das fontes Iracema e de Rio Claro provavelmente estão sujeitos a
contaminações por agentes externos pondo em risco a saúde (análise desenvolvida).
Essa obscuridade com relação às efetivas composições das águas em evidência são
fatores que retardam uma inserção maior das fontes hidrominerais enquanto mecanismos
propulsores de um possível desenvolvimento sócio-espacial com benefícios a sociedade
local (projecção potencial). Cabe ainda análises da composição de agentes
contaminadores, componentes contaminantes e potabilidade da água, bem como uma
provável indicação terapêutica (ação medicinal). Que caracteriza esse trabalho como uma
primeira aproximação geográfica a um objeto (análise projetada), todavia essencial no
geografar de uma dada espacialidade do real.

PALAVRAS CHAVE: águas subterrâneas, fontes hidrominerais sulfurosas,


desenvolvimento sócio-espacial.

REFERÊNCIAS
GÓIS, José Roberto de; STASIAK, Luciano. Águas minerais Dorizon LTDA:
Levantamento geológico-hidrogeológico para delimitação da área de proteção da
fonte, Curitiba. 2000.
LOPES, Renato Souza. Águas minerais do Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro, 1956.
SIEKLICKI, Mario Aleixo; GRENTESKI, Franciele Alessandra. Inventário Turístico de
Mallet. 2002.
VAITSMAN, Delmo Santiago; VAITSMAN Mauro Santiago. Água Mineral. Rio de
Janeiro: Interciência, 2005.

91
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

DINÂMICA ECONÔMICA E MOVIMENTOS MIGRATÓRIOS:


COMPREENDENDO A VILA ZEZO EM IMBITUVA-PR

Elcimara Regina Raiman Stradler56

Karla Rosário Brumes57

Resumo: Durante o desenvolvimento do estágio no Colégio Estadual Alcides Munhoz,


localizado em Imbituva-PR, foi observada uma realidade relacionada ao fato da
necessidade de construção de mais salas de aula, oriunda no aumento do número de
alunos nos últimos dez anos ocasionado, segundo a Pedagoga da escola, pela chegada
de novos moradores e conseqüentemente novos alunos no município. Estes novos
moradores ao fixarem nos bairros “têm escolhido” com mais contundência a Vila Zezo,
bairro afastado, como local de moradia. Pesquisas realizadas na escola dão conta que
houve neste intervalo de tempo um acréscimo de aproximadamente 50% no aumento da
demanda de alunos no bairro. Partindo desta perspectiva, o estágio nos proporcionou
observar que há relação entre a chegada dos novos moradores ao município e o aumento
do número de alunos que buscam vagas no colégio. A cidade de Imbituva-PR tem origem
num processo de colonização relacionado à chegada de migrantes alemães, italianos e
poloneses, diante do papel exercido pelas Companhias de Imigração, responsáveis pela
distribuição dos imigrantes europeus por determinadas colônias e regiões do Brasil, como
a região Sul. Após desembarcarem no porto de Paranaguá-PR, alguns grupos de
imigrantes alemães e italianos, respectivamente evangélicos e católicos, fundaram
colônias entre os anos de 1870 e 1896 em Imbituva-PR. Já os poloneses, chegaram em
grupo de famílias no porto do Rio de Janeiro e, posteriormente foram direcionados pelo
governo do país, para trabalharem e viverem no Paraná. Através da Companhia de
Imigração de Curitiba, parte foi para as cidades de Mallet e Irati para trabalhar na estrada
de ferro, e parte, esta em menor número, para as cidades de Guarapuava e Imbituva, os
quais muitos ao se estabelecerem, prosperaram, pois adquiriram terras e contribuíram
com o desenvolvimento deste último município. Sendo assim foram responsáveis pelas
primeiras atividades econômicas, derivadas da erva-mate e da madeira, vale ressaltar que
hoje os descendentes continuam ligados a estse setores. Apesar da produção de erva-
mate não ter mais o prestígio econômico que outrora tinha, no município ela continua
agregando elementos como o da geração de empregos, todavia, este papel vem se
reduzindo. Com relação a indústria madeireira tem-se a primeira serraria se instalando, no
povoado chamado Bela Vista (interior de Imbituva-PR), relacionada aos migrantes
italianos, no ano de 1952. A partir deste momento, tem-se sua expansão o que deu
origem às grandes indústrias madeireiras do município, as quais boa parte destas ainda
são administradas pelos descendentes dos italianos. Atualmente a dinâmica econômica
de Imbituva-PR está relacionada à estas indústrias madeireiras (78 indústrias), aliada ao
setor têxtil (54 empresas), ou seja, é a confirmação do papel da indústria madeireira e
têxtil, principais setores responsáveis pela geração de empregos. Diante desta realidade
de destaque de setores que geram empregos, é normal nestes últimos dez anos o
expressivo surgimento de novos bairros no município, com especial destaque para o
crescimento populacional da Vila Zezo. Com este contexto, se faz necessária uma análise
mais detalhada e minuciosa, da dinâmica migratória que envolve toda esta realidade. Por

56
Discente da Universidade Estadual do Centro-Oeste – Unicentro. elcimara_regina@yahoo.com.br
57
Docente da Universidade Estadual do Centro-Oeste – Unicentro. kbrumes@hotmail.com

92
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

estes contextos o trabalho objetiva entender como a dinâmica econômica da cidade de


Imbituva-PR, vem influenciando no processo migratório local, ou seja, buscar-se-á a
compreensão tanto dos processos que contribuem para a formação da Vila Zezo, como
também quais os motivos que fazem com que as pessoas “escolham” esta vila como local
de moradia. Também buscar-se-á oportunizar aos alunos do Ensino Fundamental e Médio
um maior conhecimento de alguns fatores ligados à migração. Os recursos metodológicos
que proporcionaram um melhor desenvolvimento da pesquisa envolvem a pesquisa
bibliográfica, que me fornecerá embasamento teórico; questionário misto para 5% dos
moradores da Vila Zezo, que fornecerão informações a respeito de seu perfil
socioeconômico e origem. O levantamento destas informações será usado na elaboração
de material gráfico para posterior análise. Vale salientar que este estudo está sendo
estruturado de maneira a priorizar os dados coletados em entrevistas realizadas com
alguns moradores escolhidos aleatoriamente, diante da importância de informações
coletadas ante a estes sujeitos da pesquisa. Também serão usadas as pesquisas em
dados secundários da Prefeitura Municipal, do IBGE e do IPARDES. Por último pretende-
se demonstrar cartograficamente como estão espacialisadas as indústrias, os moradores,
etc. Espera-se como resultado compreender a relação do econômico com a migração e
bem como um município a partir destas relações, tem suas dinâmicas internas
influenciadas como no caso da Vila Zezo.

Palavras chaves: dinâmica urbana, migração, dinâmica econômica.

93
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

ARROIO DOS PEREIRAS EM IRATI: O RIO COMO INSTRUMENTO


DIDÁTICO AO ENSINO DE GEOGRAFIA

Silmar Siona 58
59
Wilson Flavio Feltrim Roseghini

Resumo: Nos últimos anos, a educação ambiental e a criação de uma consciência


voltada para a preservação do meio ambiente vêm fazendo parte da vida da população.
Sabe-se que o compromisso é de todos na luta para transformar esta realidade, pois faz-
se necessário revermos nossas estratégias e agir aos interesses alheios à plenitude,
propondo soluções e unindo-se para construir um futuro melhor para todos. A Educação
Ambiental é um processo de aprendizagem que está voltado para todas as idades, no
entanto, esta deve ser adequado às diferentes faixas etárias, e deve-se começar na
escola, pois é um lugar onde há possibilidades de construção de cidadãos participantes
do processo de cidadania, de indivíduos que reconheçam seus direitos e deveres e que
saibam valorizar a si mesmos, lutando com autonomia pelos princípios e valores nos
quais acreditam, sendo que é no âmbito escolar que se inicia a verdadeira socialização
dos indivíduos, onde também se defende o valor da formação ambiental e ética, porém
toda a sociedade deve estar unida com o mesmo objetivo da escola. Este trabalho teve
por finalidade obtermos dados, informações e materiais didáticos que nos fornecessem
uma visão relacionada aos problemas ambientais que estão ocorrendo no Arroio dos
Pereiras, onde foi construído uma proposta de ensino de Geografia voltada à uma
Educação Ambiental, contextualizada do Arroio, propondo ainda estratégias que
estimulem a participação ativa dos alunos na valorização e preservação do meio
ambiente, além de sensibilizá-los para a importância do ecossistema que nos envolve.
Durante o levantamento de dados foram feitas entrevistas com moradores ribeirinhos os
quais relataram como o Arroio dos Pereiras era no passado e o estado em que se
encontra atualmente. Também foi feito um levantamento fotográfico de toda extensão do
Arroio, principalmente dos pontos mais críticos, abordando o processo evolutivo da
degradação do rio ao longo de seu curso, onde encontramos vários agentes que
contribuíram para tal degradação, dentre esses agentes temos o poder publico, que se
quer se preocupou com a vasta destruição do arroio, pois a urbanização desordenada
próximo ao leito prejudicou profundamente a vida do arroio, pois a especulação imobiliária
e as construções irregulares, destruíram a vegetação nas margens do arroio deixando o
solo desnudo, acabando com a mata ciliar e ocasionando com isto a erosão no arroio.
Após o levantamento dos dados foram produzidas informações e materiais didáticos onde
foi desenvolvida a proposta de Educação Ambiental no ensino de Geografia, junto aos
alunos do ensino fundamental e médio da Escola Trajano Grácia, localizado no bairro
Engenheiro Gutierrez em Irati, para que houvesse a sensibilização por parte dos mesmos
quanto aos problemas ambientais existentes. Nessa intervenção, inicialmente foram
trabalhadas aulas expositivas, abordando temas como mata ciliar, resíduos sólidos, a
importância da qualidade da água e da recuperação e preservação de um rio, bem como
da ação do homem no meio. Posteriormente foi apresentada a problemática do Arroio dos
Pereiras, mostrando em forma de slides as fotos de vários pontos do mesmo, explicitando
ao alunos problemas como o despejo de esgoto diretamente no rio, lixo, ocupações
irregulares, assoreamento e a falta da mata ciliar. Notou-se que os alunos ficaram
sensibilizados com a importância da Educação Ambiental, promovendo discussões e

58
Acadêmico do curso de Geografia – UNICENTRO/Irati. E-mail: silmarsiona@yahoo.com.br
59
Prof. Msc. orientador do Departamento de Geografia – UNICENTRO/Irati. E-mail: feltrim@hotmail.com

94
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

debatendo sobre a importância do tema. Houve grande preocupação dos mesmos com a
relação sociedade-natureza, relacionando o meio ambiente com o local onde vivem.
Observamos na intervenção uma preocupação dos alunos com a preservação ambiental
não só para o hoje, mas também para as gerações futuras. A Educação Ambiental é um
elemento estratégico na ampliação da consciência crítica e cria possibilidades de
atualização das potencialidades dos jovens em diferentes contextos sociais. Nessa
perspectiva, os pressupostos da Educação Ambiental, conhecimento, habilidade, atitudes,
sensibilização e ação vão de encontro a uma prática social construída e construtora que
poderá dar sentido à vivência do dos alunos.

REFERÊNCIAS:
CUNHA, Sandra Batista da. Geomorfologia Fluvial. 2ª Edição. Ed. Bertrand, Rio de
Janeiro – 2002.

DIAS, Genebaldo Freire. Educação Ambiental: Princípios e Práticas. 2ª Edição, São


Paulo, 1993.
MAGOSSI, Luis Roberto B. A poluição das Águas. Ed. Moderna, São Paulo – 1990.

95
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

AGRICULTURA FAMILIAR E TRANSFORMAÇÕES SOCIOECONÔMICAS:


O CASO DA FUMICULTURA EM ÁGUA QUENTE DOS LUZ, REBOUÇAS-
PR
Eli José Cabral da Silva60

Roberto França Silva Júnior61

Resumo: As transformações ocorridas na estrutura agrária e agrícola brasileira, desde a


década de 1960, com a chamada “Revolução Verde” (“modernização da agricultura”),
proporcionaram transformações profundas, principalmente no que tange à pauperização
de milhares de famílias camponesas. Isso também se deu em função do processo de
concentração fundiária e pela tecnificação da agricultura praticada pelas classes
hegemônicas. O campo se urbanizou e se industrializou em um ritmo bastante grande,
acompanhando as fases subseqüentes do desenvolvimento capitalista brasileiro. Esse
processo contribuiu para a mudança de um país eminentemente rural para um país
evidentemente urbano. Também contribuiu para aumentar o fosso entre uma agricultura
exportadora, com grande poder político e econômico, de um lado, e uma débil agricultura
familiar, com menor capacidade de decisão, apesar da existência de importantes
movimentos sociais, de outro. Do ponto de vista espacial, isso se evidenciou na
especialização dos lugares, pondo a competitividade em primeiro lugar. A agricultura
familiar, muitas vezes “à margem” desse processo, não teve força política para garantir
investimentos suficientes para garantir uma maior qualidade de vida. Em muitos casos,
agricultores familiares tiveram que “competir” com a agricultura modernizada,
conservando relações de trabalho do tipo familiar. Muitas famílias, para se manterem no
campo, tiveram que alterar a forma de organização da produção, deixando de praticar a
agricultura de subsistência e desenvolvendo atividades agrícolas especializadas, na
maioria dos casos, sob a tutela de agentes econômicos agroindustriais com interesses na
máxima exploração da mão-de-obra familiar. O principal destino dessa produção é o
mercado externo. A forma de organização da produção e do trabalho é o “sistema de
integração” (termo extremamente ideológico, tendo em vista a forma absurda de sujeição
do trabalho ao capital). O município de Rebouças faz parte desse contexto tratado até
aqui, onde sua base econômica está sustentada, majoritariamente, na agricultura
composta por pequenas unidades de produção familiar, produzindo fumo enquanto
matéria-prima. Para compreender melhor as relações de produção e as transformações
socioeconômicas, delimitamos, como recorte territorial, a localidade de Água Quente dos
Luz, comunidade que possui 73 famílias, das quais 64 trabalham no cultivo do fumo. Na
pesquisa, estamos estudando 13 famílias (20% do universo de 64). Também foram
coletados dados sobre a produção de fumo e sobre a estrutura fundiária da localidade de
Água Quente dos Luz, junto à Emater e junto à Secretaria Municipal de Agricultura de
Rebouças. Com esse levantamento pretendemos demonstrar as principais
transformações socioeconômicas que ocorreram na comunidade de Água Quente dos
Luz, a partir da produção do fumo. O tempo empiricizado remonta os contextos familiares
à década de 1980 e à esteira dessa delimitação, verificaremos como as transformações
nas relações de produção e trabalho entre os camponeses as empresas fumageiras.
Foram observados e levantados os seguintes aspectos da realidade: tempo de plantio do
fumo, tamanho das propriedades, escolaridade dos membros das famílias, outras
atividades desenvolvidas e se fazem parte de organizações. A análise da localidade será

60
Discente da Universidade Estadual do Centro-Oeste – Unicentro. E-mail: elijcs@gmail.com
61
Docente da Universidade Estadual do Centro-Oeste – Unicentro. e-mail: rofranssa@gmail.com

96
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

feita tendo como referência a articulação com as escalas nacional e estadual. A indústria
do tabaco mesmo com todas as campanhas em que se pese “contra” ela e mesmo com
os altos impostos incidentes sobre a cadeia produtiva, se mantém lucrativa. Até mesmo
por esses fatores, que vemos um aprofundamento da exploração da mão-de-obra familiar.
A contradição é ter que tratar da “importância econômica” da produção do fumo enquanto
matéria-prima. A renda pífia, ainda assim é renda, mas mal distribuída entre os agentes
envolvidos (indústria, atravessadores, transportadores, distribuidores, contrabandistas,
quadrilhas, famílias e Estado, que por sua vez, se apropria da renda do trabalho, na forma
de altos tributos). Essa forma de exploração e apropriação do trabalho, por parte dos
agentes corporativos, ligados em laços de cooperação produtiva e espacial,
contraditoriamente é o que permite a reprodução familiar. Os resultados da pesquisa
estão em fase de análise, mas acreditamos que além de contribuirmos para o
levantamento do perfil socioeconômico dos fumicultores dessa localidade, também servirá
para que, em consonância com futuros pesquisadores, sejam elaboradas políticas
públicas que venham ao encontro dos interesses de fumicultores de Água Quente dos
Luz, que vem sendo explorados pelas indústrias por falta de alternativas a curto e médio
prazos e por falta de apoio do Estado e do município.

Palavras-chave: Agricultura, Modernização, Integração, Fumicultura, Rebouças-Pr

97
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

PROJETO CAVERNA – EDUCAÇÃO TURISTICA E ROTEIROS


PEDAGÓGICOS

Edvanerson Ramalho dos Santos62

Márcia Alves Soares da Silva63

Orientador: João Paulo Camargo

Resumo: Este trabalho visa divulgar ao ambiente acadêmico o projeto Caverna,


desenvolvido na cidade de Ponta Grossa, pelo professor responsável João Paulo
Camargo e grande equipe de alunos envolvidas no mesmo, projeto esse que se encontra
em continuo andamento e procura dar alternativas a dura realidade a qual a sociedade
passa atualmente, tentando trilhar um rumo alternativo e utópico rumo a uma sociedade
com novos valores éticos e morais. O projeto que trata das relações entre Educação e
Geografia mediadas pela pesquisa e pelo turismo como princípios educativos. Para a
aplicação prática das bases conceituais, delimitamos um sítio natural conhecido como
Caverna Olhos d’Água, localizada a 50 km de Ponta Grossa, Pr, no Distrito do Abapan,
município de Castro, Pr. Tal local é intensamente visitado por estabelecimentos de ensino
de toda a região e Estados vizinhos como São Paulo e Santa Catarina. Neste contexto os
impactos socioambientais negativos são significativos à comunidade do entorno, pois, a
área é desprovida de qualquer infra-estrutura e monitoramento para a visitação. A partir
de saídas técnicas realizadas no mês de Março de 2006, com alunos do Ensino Médio e
dos Cursos Técnicos em Agroindústria e Mecânica da Universidade Tecnológica Federal
do Paraná- Campus Ponta Grossa, iniciou-se o desenvolvimento do Projeto Caverna –
Educação Turística e Roteiros Pedagógicos que contempla ainda outros dois ambientes
naturais, conhecidos como “Furnas Gêmeas” e “Buraco do Padre”, localizados no
município de Ponta Grossa. A primeira atividade foi à formação da equipe interessada em
desenvolver o projeto que atualmente totaliza em 20 alunos(as). Estabeleceu-se então
data fixa para as reuniões onde são realizadas as capacitações dos participantes em
relação aos conceitos de espeleologia (estudo das cavernas), turismo, meio ambiente,
ecologia e primeiros socorros. Outra etapa é a realização das saídas técnicas de estudo
do local desenvolvendo uma proposta de manejo para a área. Também são realizados
monitoramentos de grupos para as visitações aos referidos ambientes. Durante as
reuniões foi estabelecido como objetivo geral, conhecer os aspectos biogeográficos, o
potencial turístico e educacional da Caverna Olhos D’água, Furnas Gêmeas e Buraco do
Padre com o intuito de estabelecer um roteiro pedagógico para desenvolver os conceitos
de Educação Turística, Ambiental e de Desenvolvimento Sustentável a fim de monitorar e
adequar às visitações. Entre os objetivos específicos estão: pesquisa bibliográfica e
referências sobre atividades educacionais e turísticas em ambientes cavernícolas; coleta
e análise da água que percorre o interior da caverna; identificação da fauna existente na
caverna; desenvolvimento de técnicas e metodologia para visitação de grupos para fins
de educação ambiental; elaboração de material audiovisual sobre a Caverna Olhos
d’água; desenvolver atividades interdisciplinares; aprimoramento da modalidade de
espeleoturismo; levantamento socioeconômico da comunidade local; produzir material
didático pedagógico para utilização em eventos científicos, palestras, apresentações e
cursos; desenvolver o conceito de Educação Turística; aplicar o conceito de
62
Graduando do curso de Licenciatura em Geografia da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Email:
eddieuepg@hotmail.com,
63
Graduanda do curso de Licenciatura em Geografia da Universidade Estadual de Ponta Grossa.
Email:muitolokinha@hotmail.com

98
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

Desenvolvimento Sustentável; A avaliação é permanente e contínua e quantificada pela


participação dos(as) alunos(as) nas reuniões semanais, participação nas saídas técnicas,
nas atividades de monitoramento de visitantes, na elaboração de material didático
pedagógico e nas palestras realizadas em outros estabelecimentos de ensino. O
Projeto Caverna – Educação Turística e Roteiros Pedagógicos tem como planejamento
estratégico, a continuidade para os próximos anos de 2008/2009, na Universidade
Tecnológica Federal do Paraná – Campus Ponta Grossa, Pr. Inclusive os(as) alunos(as)
que estão concluindo o Ensino Médio, neste ano, já demonstraram interesse em continuar
participando do projeto. Como objetivos a médio e longo prazo estabelecemos a meta de
arrecadar fundos para a aquisição da área onde está a caverna e transforma-la numa
RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural), caso o poder público não desaproprie e
implante uma Unidade de Conservação. Outra meta para o início do ano de 2008 é
envolver diretamente a comunidade local na atividade de conservação e utilização
adequada da área para o desenvolvimento do ecoturismo, fomentando a geração de
renda e melhoria da qualidade de vida. As atividades direcionadas as outras instituições
de ensino e aos(as) professores(as) continuarão sendo realizados pelas palestras,
oficinas, planejamento e monitoramento para as saídas técnicas e com a apresentação da
“Caverna Móvel”. Ainda, pretendemos elaborar material didático impresso (panfletos,
folders, cartilhas, apostilas) para subsidiar o trabalho dos(as) professores(as) em sala de
aula, relacionando as disciplinas curriculares com o roteiro pedagógico.

Palavras Chaves: Educação Turística, Caverna, roteiros pedagógicos

Referências
BRASIL. Ministério do Turismo. Programa de Regionalização do Turismo – Roteiros
do Brasil – diretrizes operacionais. Brasília: Ministério do Turismo, 2004. 61 p.
CAMARGO, J.P. Turismo Rural e suas Aplicações no Ensino Médio e Fundamental.
In: O Turismo no Ensino Fundamental e Médio: Uma visão Multidisciplinar do Fenômeno
Turístico. Ponta Grossa: Ed.UEPG, 2002. p.86.
CASTROGIOVANNI, A. C. Por que geografia no turismo? In: Turismo: 9 propostas para
um saber-fazer. 3. ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002. 150 p.
FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia – Saberes necessários à prática educativa. São
Paulo: Ed. Paz e Terra S/A, 2000. 165 p.

99
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

OS FLUXOS ADUANEIROS ENTRE BRASIL, ARGENTINA E PARAGUAI


NA TRÍPLICE FRONTEIRA: ORGANIZANDO O PENSAMENTO EM TORNO
DA OBSERVAÇÃO DE CAMPO
Elaine Przybysz 64

Nathasha Michalak 65

Rafaela da Silva Ramos 66

Rarafale Tchmola 67

Roberto França da Silva Junior 68

Resumo: Realizamos em maio de 2008, um trabalho de campo em três cidades


fronteiriças (Foz de Iguaçu, Puerto Iguazú e Ciudad del Este), sob a supervisão dos
professores Roberto França e Marisa Emmer, com base nas disciplinas de Organização
do Espaço Mundial (3º ano) e Geografia Política (2º ano). Foram quatro, os eixos de
análise: 1) A fronteira; 2) O comércio, o câmbio e a questão aduaneira; 3) A paisagem
urbana; 4) A presença muçulmana em Foz de Iguaçu. Nossa pretensão aqui é organizar o
pensamente mediante a observação do comércio entre os três países, em especial, a
questão aduaneira. Como pressuposto para a análise, tomamos o espaço geográfico
como sendo um conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ações
(SANTOS, 2004), sob os quais orbitam fluxos materiais e imateriais. Com o
desenvolvimento do capitalismo, os fluxos se tornam cada vez mais espessos e mais
concentrados em alguns pontos do planeta. A aduana ou alfândega é uma “repartição
governamental que fiscaliza a entrada e saída de mercadorias em cada país, para
assegurar o pagamento das tarifas correspondentes e o cumprimento das normas locais
de comércio internacional. Cumpre também à alfândega impedir a prática do contrabando
e a entrada no país de mercadorias consideradas contrárias aos interesses da produção
nacional” (SANDRONI, 2005). Esse caráter protecionista não existe na prática, ou existe
conforme satisfação de grupos de interesse. Anualmente o Brasil deixa de arrecadar
bilhões de reais por ano, com o contrabando realizado na fronteira com o Paraguai. A
ONU estima em cerca de 60% a evasão fiscal no Paraguai, devido ao diminuto controle
alfandegário e da ineficiente arrecadação de impostos. Todavia, a aduana tende a moldar-
se à dinâmica imposta pelo ambiente, no qual se coloca um território da oferta de
mercadorias realizadas em transações muitas vezes escusas. Apesar do Mercosul ter
sido criado para favorecer o comércio, no sentido de uma circulação “mais livre” e tornar
mais salutar as transações entre os países criando um “mercado comum”, as aduanas
representam uma forma um pouco mais “amena” de protecionismo principalmente do
Brasil frente ao Paraguai e da Argentina frente ao Brasil. Com a objetivo maior de
regulação de fluxos, o sistema aduaneiro também se coloca como norma, elemento
próprio do espaço, híbrido de técnicas e normas que o produzem. No caso paraguaio,
onde as normas são “menos rígidas”, as firmas locais especializadas na produção, se
encarregam de engrossar o circuito inferior da economia, agregando-se ao mercado

64
Aluna do 3º ano de Geografia. E-mail: ela.nani@yahoo.com.br
65
Aluna do 3º ano de Geografia. E-mail: nathasha_m@hotmail.com
66
Aluna do 3º ano de Geografia. E-mail: rafaelaramos83@ibest.com.br
67
Aluna do 3º ano de Geografia. E-mail: rafaelatchmola@yahoo.com.br
68
Professor do Departamento de Geografia campus de Irati. Doutorando em Geografia pela Unesp campus
de Presidente Prudente. E-mail: rofranssa@gmail.com

100
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

informal. Produzir mercadorias com os níveis de sofisticação das mercadorias importadas


é algo custoso, já que os impostos são baixos à importação de produtos, com isso o
Paraguai perde em competitividade e reduz o potencial exportador do país. Por outro
lado, a cidade argentina que foi visitada, fica em uma região periférica do país e, embora
faça parte dessa zona fronteiriça de alta movimentação, fica em estado de “quase
isolamento” e de letargia econômica, vivendo quase que exclusivamente do artesanato e
de produtos alimentícios de baixo valor agregado. Em parte influenciado pelo movimento
comercial existente na fronteira, partindo do Brasil em direção à cidade argentina, existe
um Duty Free, uma espécie de shopping center no qual são comercializadas mercadorias
importadas isentas de tarifas ou com redução destas. Mesmo assim, isso não viabiliza a
intensificação dos fluxos comerciais naquele lugar, pois, a sofisticação dos produtos
impõe preços incompatíveis com a realidade de quem busca preços baixos no Paraguai.
Observando as “práticas” aduaneiras entre os três países, notamos que na ponte da
Amizade, ponto de passagem na fronteira entre o Brasil e Paraguai, há uma fraca
proteção e controle de mercadorias que vem do Paraguai. O alto fluxo de pessoas e a
déficit de fiscais na ponte da Amizade, é um dos principais motivos para a facilidade do
contrabando, bem como a especialização de trabalhadores informais na fronteira que
auxiliam na ilegalidade. Os assaltos e roubos são freqüentes devido a falta de
policiamento na fronteira, especialmente na Ponte da Amizade, onde estes ocorrem com
maior freqüência. A proteção da fronteira entre o Brasil e Argentina é considerada mais
tranqüila se comparado entre o Brasil e Paraguai, a fiscalização de mercadorias é quase
inexistente devido o comércio Argentino não ter tanta relevância. A proteção fica somente
na fiscalização de entrada de pessoas, onde a barreira fito-sanitária é considerada mais
importante, pois qualquer cidadão brasileiro que deseja entrar na Argentina deve estar
devidamente vacinado e deve apresentar identidade (recente). Entretanto, este fato gera
alguns questionamentos, pois os argentinos não passam por ficalização para entrar no
Brasil, podendo usufruir dos bens e serviços sem serem barrados. Enfim, essas são
algumas das situações observadas, mas que foram fundamentais para a compreensão do
funcionamento alfandegário e das normas da globalização.

Palavras-chaves: Fluxos; Mercosul; Normas

101
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

LUZ, CÂMERA E AÇÃO PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA:


A PRÁTICA CONSERVADORA DO ENSINO
REELABORADA POR MEIO DOS FILMES
Luciano Muzinoski69

Karla Rosário Brumes70

Resumo: Há algum tempo tem sido presente o uso do filme por parte de muitos
professores de Geografia, como uma possível ferramenta de ensino em suas aulas,
todavia, a forma como isto tem se apresentado é “errônea” uma vez que o filme é usado
como recurso de distração ou como forma de ocupação do tempo de aulas, tornando-se
recurso de distração e não de informação. Assim, é interessante procurar conhecer in
loco, os por quês destes usos e também propor como um filme pode ser mais bem
explorado, visto sua variabilidade de formas e formatos que em muito podem acrescentar
ao ensino da Geografia. O estudo da utilização da produção fílmica como recurso didático
importante para o processo de ensino-aprendizagem da disciplina de Geografia, tem
como objetivo o inovar, o entusiasmar e o auxiliar todo o panorama que envolve a prática
pedagógica do professor que leciona essa disciplina. Contudo, seu uso deve ser
acompanhado por uma boa preparação e a motivação do professor para trabalhar com
esse recurso, que aliado à teoria escrita contribuirá para analisar, comparar e observar
diferentes cenários, permitindo-se fazer uma relação entre a sociedade e a natureza
(espaço físico e ações). Muitas vezes tem-se a impressão de que o ensino, sobretudo, o
de Geografia, diante das transformações tecnológicas, tem se tornado defasado em
virtude de teorias de ensino “cansativas” não despertarem a atenção devida dos alunos.
Cremos ser necessário diante desta situação que profissionais de ensino renovem suas
metodologias de ensino buscando assim, meios auxiliares que tornem as aulas além de
atrativas, mais eficientes. Entendemos que o professor precisa do uso de uma linguagem-
código, que o auxilie na busca da atenção do aluno para um determinado assunto
proposto. Uma das alternativas assim, seria o de levar até o núcleo dos estudantes outros
elementos como o uso de produções fílmicas que inovam, entusiasma e auxiliar,
sobretudo, no ensino de Geografia. O principal enfoque que essa pesquisa pretende dar
está relacionado à utilização de um recurso didático que garanta uma eficácia
metodológica ao ensino de geografia; mais precisamente a utilização do filme para auxiliar
o ensino/aprendizagem da geografia. E se essa utilização ocorre de maneira adequada.
Este uso de filmes além de aumentar a atenção dos estudantes, despertando-nos
mesmos, senso crítico que podem ainda amenizar os obstáculos durante trabalhos e
avaliações, pois, ao relembrarem as cenas observadas, seguida dos debates a cerca dos
assuntos vistos em filmes, os alunos poderão associar quase que de imediato os
conteúdos propostos. A pesquisa configura-se por um levantamento bibliográfico para a
obtenção da base teórica em relação tanto ao uso do filme como umas das linguagens
que auxilia no ensino de Geografia, como também de como tem se caracterizado e
configurado o ensino de Geografia no Brasil, situando-se alguns momentos históricos
pontuais que pode vir a possibilitar observação importante com relação a uma
evidenciação do caráter tradicional do sistema educacional. Também tem - se trabalhado
com aplicação de um questionário, qualitativo e quantitativo, junto aos docentes do
Colégio Estadual Trajano Grácia em Irati-PR, e que atuam na disciplina de Geografia, que
visam coletar dados sobre as suas experiências com a utilização de filmes nas suas
aulas. Da mesma forma será feita com os alunos do ensino médio deste colégio, para

69
Discente da Universidade Estadual do Centro-Oeste – Unicentro e-mail lu.muki@bol.com.br
70
Docente da Universidade Estadual do Centro-Oeste – Unicentro e- mail kbrumes@hotmail.com

102
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

saber suas opiniões e experiências com relação a esse ao uso deste recurso didático
durante sua vivência como estudante e ator principal no processo de ensino.
Posteriormente, será feito levantamento das condições técnicas, relacionados à
existência, acessibilidade e a qualidade dos equipamentos de audiovisuais no Colégio
Estadual Trajano Grácia. Por fim, esperasse-se mostrar com tudo isso a viabilidade em se
utilizar o filme como um importante recurso didático que possa auxiliar o professor da
disciplina de Geografia em suas aulas, fornecendo subsídios através de uma linguagem-
código, por meio da análise da realidade de uma escola de Irati-PR.

Palavras-chave: ensino; linguagem-código; Geografia; recurso auxiliar.

103
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

A IMPORTÂNCIA DAS ÁREAS VERDES URBANAS,


UM ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO DE REBOUÇAS-PR

Márcio Muller Martini71

Wilson Flavio Feltrim Roseghini72

Resumo: Considera-se área verde urbana qualquer área, de propriedade pública ou


privada que apresente algum tipo de vegetação (não somente árvores) com objetivos
sociais, ecológicos, científicos ou culturais. No contexto das grandes cidades, as áreas
verdes urbanas entram como um elemento essencial para o bem estar da população,
oferecendo áreas de recreação, de paisagismo, de preservação tanto da fauna como da
flora. Alguns efeitos causados pela vegetação no meio urbano estão relacionados com a
melhoria da qualidade do ar e do conforto térmico, além de efeitos estéticos e
psicológicos. Outro benefício proporcionado pela presença planejada das árvores na
paisagem urbana está relacionado à proteção contra os ventos e a redução da poluição
sonora. A percepção ambiental, tida como uma tomada de consciência do ambiente pelo
homem, junto à sua conscientização em relação à valorização das áreas verdes no meio
urbano, leva-o a uma reflexão crítica de interação entre o homem e o ambiente em que
vive de forma a perceber melhor esse ambiente, aprendendo a proteger e cuidar dele da
melhor forma possível. Desta forma a conscientização da população é o fator mais
importante para que estas áreas possam ser criadas e utilizadas de maneira efetiva e
integrada, podendo assim desenvolver suas funções. A arborização urbana caracterizada
como área verde também, tem representado grande importância no meio urbano,
considerando a árvore um elemento estruturador de espaços, responsável por qualidades
estético-visuais e de bem-estar das pessoas. A arborização exerce um papel importante
na vida do homem que vive nos centros urbanos, porém a questão do planejamento
torna-se fundamental e indispensável para o desenvolvimento urbano, como forma de
prevenir prejuízos para o meio ambiente. Considerando que a arborização é fator
determinante da salubridade ambiental, por ter influência direta sobre o bem estar do
homem, em virtude dos múltiplos benefícios que proporciona ao meio, em que além de
contribuir à estabilização climática, embeleza pelo variado colorido que exibe, fornece
abrigo e alimento à fauna e proporciona sombra e lazer nas praças, parques e jardins,
ruas e avenidas das cidades. O uso correto das plantas é essencial, uma vez que o uso
indevido de espécies acarretará em uma série de prejuízos tanto para o usuário,
empresas prestadora de serviço de rede elétrica, telefonia e esgoto. Diante disso, os
elementos naturais das cidades são representados em formas de áreas verdes urbanas,
fazendo com que a sociedade tenha na sua percepção a valorização dessas áreas e seu
papel no funcionamento e transformação da cidade. É preciso definir o quanto deve ser
preservado, conservado, transformado ou reconstruído para se conseguir ambientes
agradáveis e sadios que propiciem uma rica vida de interações sociais e gestão ambiental
equilibrada. Dada a necessidade de se conhecer melhor as áreas verdes que compõe o
município, o presente estudo se dará tendo como referência as praças públicas existentes
na área urbana. Pretende-se com esse trabalho analisar e descrever a atual situação das
mesmas dentro do espaço urbano de Rebouças-PR, bem como, avaliar a influência das
áreas verdes e da arborização na percepção da população local, sua conscientização a
respeito da preservação, utilização e a função destas áreas. Através da análise dos dados
coletados em pesquisa de campo através de questionários respondidos por uma

71
Acadêmico do DEGEO/Irati – marciomullermartini@hotmail.com
72
Professor Colaborador e Mestre em Geografia do DEGEO/Irati – feltrim@hotmail.com

104
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

amostragem aleatória da população urbana do município; uma entrevista direcionada a


um cidadão que fez de parte de sua propriedade um espaço público transformando-o
numa área destinada ao lazer; e estágio desenvolvido na escola Estadual Profª Maria
Ignácia abordando o tema para se avaliar a percepção de alunos do ensino fundamental
em relação a importância das áreas verdes urbanas do município. Após concluir o
levantamento dos dados, espera-se que o resultado alcançado indique o grau de
consciência da população local em relação a preservação, conservação e utilização das
áreas verdes urbanas, contribuindo para uma visão crítica e atuação responsável por
parte dos habitantes locais.

REFERÊNCIAS:
ROMANIW, ROZENILDA: Análise, importância e distribuição das áreas verdes no quadro
urbano urbano de Irati-PR – Monografia de Pós-Graduação, UNICENTRO. Irati, 1999

PAIVA, Haroldo Nogueira de: Florestas urbanas: planejamento para melhoria da


qualidade de vida / Haroldo Nogueira de Paiva, Wantuelfer Gonçalves – Viçosa-MG:
Aprenda Fácil, 2002

105
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

REPRESENTANDO O GEOGRÁFICO EM FOTOGRAFIAS: UMA


APROXIMAÇÃO A EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Carla Regina Rodacki Klossowski73.

Almir Nabozny74

Resumo: Hoje em dia, com o avanço da tecnologia e com o surgimento de inúmeras


transformações científicas, o homem acabou por modificar o seu ambiente natural,
visando à satisfação dos seus interesses, não levando em consideração os problemas
resultantes de seus atos para as futuras gerações. Por isso, é necessário um trabalho
contínuo com as crianças desde a pré-escola para que percebam a realidade do nosso
planeta e vejam que as suas ações podem alterar para melhor ou pior a vida no ambiente
que vivem. Então, é no ambiente escolar que o educador tem o papel de trabalhar
valores, hábitos com as crianças através da Educação Ambiental, de maneira divertida e
atraente, para que sintam vontade de debater as questões ambientais de maneira
desafiadora e interdisciplinar. A Educação Ambiental é um ramo do conhecimento que
visa problematizar com o educando atitudes e hábitos cotidianos no intuito
conscientização da ação do indivíduo em sociedade. Sendo que este ramo do saber,
muitas vezes, não é trabalhado de forma interdisciplinar com outras disciplinas. Já a
Geografia é uma disciplina voltada ao ambiente, ao espaço geográfico, aos aspectos
físicos e humanos do meio ambiente, e necessita da integração com outras ferramentas
de trabalho, para promoção do conhecimento geográfico de maneira atrativa, clara e
prática, para que os alunos deixem de lado, aquela visão da disciplina como
desinteressante, não-atrativa e descontextualizada de seu espaço cotidiano. Para se
inovar no ensino de Geografia, é interessante utilizar diferentes metodologias e trabalhar
de forma interdisciplinar com outros ramos do conhecimento, como a Educação
Ambiental, que faz parte dos Temas Transversais, denominada pelos Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN's) de “Meio Ambiente”. Para trabalhar a interdisciplinaridade
da Educação Ambiental e a Geografia, foi realizado uma pesquisa-ação com os alunos da
8ª série do Ensino Fundamental da Escola Estadual Pio XII da cidade de Irati-PR, tendo
como objetivos trabalhar a Educação Ambiental e a Geografia através da análise de
fotografias, identificar se os alunos percebem as questões ambientais inseridas na
paisagem, ver se eles sabem alguns conceitos geográficos e propor alternativa diferente
para o trabalho da Geografia com a Educação Ambiental. Este trabalho tem como
metodologia o uso de fotografias que permitam a análise dos problemas ambientais
inseridas no contexto da paisagem, trabalhando assim o conceito de paisagem e meio
ambiente. A utilização de fotografias possibilita o professor de Geografia trabalhar o
conceito de paisagem, meio ambiente, através de uma maneira prática, possibilitando
uma melhor apreensão construtiva e contextualizada da teoria estudada pelos educandos.
Desta forma, também tem o estudo das questões ambientais inseridas na paisagem,
possibilitando os educandos refletirem acerca destes problemas e os mesmos
repensarem a sua prática de vida como cidadãos conscientes e críticos no meio
ambiente. Com isso, eles analisaram as questões ambientais inseridas no contexto das
paisagens das fotografias, permitindo a discussão de aspectos relevantes e que estes

73
Acadêmica do curso de Geografia. UNICENTRO – Campus de Irati.
74
Prof. Msc. de Geografia. UNICENTRO – Campus de Irati). almirnabozny@yahoo.com.br

106
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

discutiram principalmente a questão do próprio ser humano enquanto um componente e


(composto) pela dinâmica da paisagem, enquanto um membro atuante na produção do
espaço geográfico. Nos primeiros resultados deste trabalho já evidenciamos que a
maioria dos educandos falam do Meio Ambiente enquanto árvores, florestas, rios, rochas,
tendo a idéia voltada ao aspecto natural, como se o homem não fosse parte e não
estivesse inserido dentro deste meio. Os educandos desenharam o “Meio Ambiente” e
dos vinte e quatro alunos, somente quatro desenharam o homem neste meio. Já no
conceito de paisagem vêem como tudo o que está em nosso redor, é a natureza e
referiram ao aspecto natural ao paisagismo, assim percebeu-se que possuem dificuldade
em conceituar temas geográficos e perceber os problemas ambientais inseridos no
contexto da fotografia. Diante disso, verifica-se que é necessário um trabalho contínuo e
interdisciplinar das questões ambientais com a Geografia, para que o aluno problematize
as relações existentes entre esta disciplina, o Meio Ambiente e a Educação Ambiental.

Palavras-chave: Educação Ambiental, Geografia, Meio Ambiente, Paisagem, Fotografias.

107
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

CIRCUITO ESPACIAL PRODUTIVO DO LEITE E SEUS CÍRCULOS DE


COOPERAÇÃO NO ESPAÇO A PARTIR DE IRATI-PR

Leila Homiak75

Roberto França Silva Júnior76

Resumo: Este trabalho versa sobre a territorialização da atividade leiteira em Irati,


buscando compreender como esse processo se expressou nas duas últimas décadas,
sobretudo a partir do desenvolvimento dos círculos de cooperação no espaço e dos
circuitos espaciais produtivos. Os dois funcionam em consonância, todavia, os círculos de
cooperação dizem respeito à noção de ligação de diversas unidades produtivas dispersas
no espaço. Os circuitos espaciais, por sua vez, dão conta de explicar que a produção já
não se realiza somente na unidade de produção stricto sensu, mas em uma
territorialidade bem mais ampliada. Essas possibilidades foram aumentadas no período
da globalização, dando maior complexidade às realidades, exigindo explicações mais
coesas. No período da globalização, as regiões atendem a uma nova divisão do trabalho
com um aprofundamento das especializações produtivas, fazendo com que os produtores
organizem novas formas de produção e de circulação. A atividade leiteira do município de
Irati, desde a década de 1990, vem mantendo um expressivo crescimento. A análise foi
feita com base em dados e informações dos institutos de pesquisa, além de trabalho de
campo (entrevista junto a representantes dos seis laticínios atuantes no município, junto a
produtores – 10% desses - e junto a Emater/Irati). O círculo de cooperação se manifesta
na relação produção-circulação entre os laticínios (como captadora do leite e como
processadora do produto) e os produtores (em sua maior parte, agricultores familiares). A
realização da reprodução do capital ficará por conta da comercialização (troca entre
laticínio e distribuidores). Além do produtor e do laticínio, a atividade leiteira “atinge
indiretamente” o comércio (varejista e atacadista), tanto à montante (compra de vacinas,
medicamentos, alimentação para o gado, equipamentos agrícolas) quanto à jusante
(supermercados, restaurantes, padarias e confeitarias, além de outras empresas do
comércio varejista). Para a produção do leite enquanto matéria-prima, o produtor precisa
estabelecer relações com fornecedores de alimentos e medicamento. O laticínio, por sua
vez, precisa fazer a coleta, beneficiamento do produto e o encaminhá-lo para a
comercialização, estabelecendo novas relações. Essa relação forma, em realidade, uma
rede, muito mais do que um complexo agroindustrial, dado o tamanho das empresas
envolvidas que, não se caracterizam como empresas multinacionais. Ademais, o ramo
demonstra uma grande capilaridade pelo alto número de produtores envolvidos e uma
grande concorrência entre os laticínios. A título de comparação, a região de Castro, a
maior bacia leiteira do Paraná, tem um número relativamente menor de produtores
envolvidos e um número ainda menor de empresas, pois duas dessas empresas são
altamente concentradas. A rede é um conjunto indissociável de fixos e fluxos que dá
suporte a determinada atividade, seja ela produtiva ou não. No caso da produção do leite,
enquanto matéria-prima, para fins de comercialização e agregação de valor, é notória a
relação de “dependência” entre produtor e os interesses agroindustrial, que se expressam
territorial e espacialmente, constituindo vínculos de cooperação, para fins de
circulação/distribuição, porém com aproveitamento desigual da renda do leite. Contudo,
esses vínculos entre os agentes envolvidos, crescem permanentemente, fortalecendo a
atividade e fazendo desta, uma atividade cada vez mais lucrativa para as empresas, que,

75
Discente da Universidade Estadual do Centro-Oeste – Unicentro. e-mail: leylahk@gmail.com
76
Docente da Universidade Estadual do Centro-Oeste – Unicentro. e-mail: rofranssa@gmail.com

108
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

a reboque e desigualmente, trazem os produtores familiares. Embora as empresas


atuantes no município sejam de pequeno e médio porte, quando comparada a empresas
como Danone, Batavo, Nestlé, Unilever, Parmalat e Castrolanda, as relações
estabelecidas entre agroindústria e produtores rurais são bem parecidas às empresas
citadas. O que é profundamente diferente é o nível de sofisticação tecnológica, inovação
produtiva e, principalmente amplitude da rede de produção-circulação-distribuição, que se
expressa em um território-rede bem mais amplo, praticamente na escala nacional, quiçá,
internacional. O estudo realizado levou em consideração a produção leiteira no Brasil e no
Estado do Paraná, sempre procurando estabelecer comparações, com base na produção,
produtividade, rebanho, raças e sistemas de produção. A partir dessa comparação,
procuramos compreender a relação entre esses elementos levantados com o município
de Irati, com base no aprofundamento e análise de dois laticínios: São Miguel e LactoIrati,
a fim de entender melhor o funcionamento do circuito espacial produtivo. A partir da
instalação do laticínio São Miguel, a atividade leiteira progressivamente apresentou maior
crescimento, atraindo novos produtores interessados em investir na atividade,
fortalecendo o setor no município. Atualmente são distribuídos cerca de 30 mil litros de
leite, o que demonstra um dinamismo nada desprezível, decorrente principalmente da
produção-circulação-distribuição mais organizadas, com base em inovações, maior uso
da tecnologia e uso mais racional do território.

Palavras-chave: PECUARIA LEITEIRA, CIRCUITO ESPACIAL PRODUTIVO,


LATICINIOS.

109
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

AÇÃO SUSTENTÁVEL

Beibi Bogo Grochovski77

Claudinei de Souza78

Resumo: O presente trabalho tem por objetivo demonstrar o projeto Açaí Marajoara
desenvolvido pela empresa Muaná Alimentos, localizada no município de Muaná, na ilha
de Marajó, região amazônica. A pequena cidade de seis mil habitantes é um lugarejo
isolado no meio da floresta, que ficou famoso por ser sede de um projeto de extração de
açai e palmito. Ambos produtos utilizados na alimentação humana, um por ser, matéria-
prima para um famoso e suculento suco, o suco de açaí, e outro por ser um vegetal
bastante saudável, conservado em salmoura e consumido frio acompanhando saladas e
cozidos em diversas receitas. O palmito mais procurado, é o extraído da palmeira juçara,
(Enterpe endulis),devido a sua qualidade superior, mas, como para fazer a extração
desse alimento é necessário retirar as touceiras, que são partes do tronco dessas
árvores, de onde é retirado o seu miolo, que é nada mais nada menos, que o tão
conhecido palmito, isso acaba com o decorrer do tempo, provocando a morte da planta,
uma vez que seu meristema apical é eliminado o que ocasiona a entrada em extinção
dessa espécie vegetativa. Dessa forma, a extração desse produto dos açaizeiros, ganhou
força pois essa espécie ainda existia em abundância, mas na ânsia de aumentar a
produtividade, os coletores fizeram com que a planta também começasse a sofrer
ameaças de extinção. Em Muaná essa prática foi feita em grande quantidade, mas, sem
instrução era praticada de maneira incorreta. Ao perceber que os camponeses que faziam
esse trabalho estavam executando suas tarefas de modo errado, por se basearem em
ensinamentos de seus ancestrais, e por não terem oportunidades de estudos,
permaneciam sem instrução e apenas sua simplicidade, nada mais que isso, fazia com
que agissem dessa forma e suas atitudes, provocavam grandes transtornos ao meio
ambiente. Como o açaí cresce mais em locais ensolarados, os palmiteiros costumavam
derrubar sem nenhum critério qualquer árvore que fizesse sombra sobre a planta e
atrapalhasse seu desenvolvimento e sua produtividade, o resultado era o desmatamento
de quase toda a vegetação nativa das várzeas, (pois é um vegetal que precisa de solo
úmido para desenvolver-se melhor) além de contribuírem diretamente com a falta de
alimento para os animais que desses frutos alimentavam-se. A empresa de Muaná
implantou esse projeto ensinando a maneira correta de trabalhar, o que ajudou-os e
incentivou-os cada vez mais, nele consiste principalmente, que parte dessas matas que
são ao todo mais de 4000 hectares não devem ser tocadas pelo homem, é restrita à
alimentação dos animais silvestres. Na área onde a exploração é permitida deve-se
preservar pelo menos 10% das demais espécies de vegetação, além disso as coletores
aprenderam fazer a extração correta do palmito, retirando apenas as touçeiras adultas,
deixando as mais jovens para que produzam mais e em períodos alternados, gerando
renda e trabalho por todo o ano. O projeto teve tanto sucesso que essa empresa foi a
primeira do Brasil e a segunda do mundo a obter o selo FSC na sigla em inglês (Forest
Stewardship Council) que garante que o produto de origem florestal foi retirado de
maneira legal e não predatória, além de receber o Prêmio Super Ecologia 2002.O
compromisso ambiental garantiu à empresa uma injeção de 1,5 milhão de dólares do
fundo internacional Terra Capital, o primeiro no mundo destinado a capitalizar projetos

77
Aluna do Colégio João Negrão Júnior de Teixeira Soares-PR
78
Professor do ensino fundamental e médio de Teixeira Soares-PR

110
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

empresariais para preservar a biodiversidade.``Como o açaí precisa da floresta, nosso


futuro depende da preservação´´ diz o presidente da empresa Georges Schnyder. Sendo
assim, esse é um exemplo nítido de que é possível fazer a exploração sustentável da
Amazônia sem devastá-la e destruí-la, portanto, não faz sentido alegar que o corte de
madeira ilegal, feito intensamente nessas matas é feito por ser a única forma de
sobrevivência, isso é, em ato de vandalismo, ganância e egoísmo. Esse é um exemplo a
ser seguido, no estado do Paraná, como a população ribeirinha sobrevive apenas da
pesca, seria interessante observar as possibilidades que a floresta paranaense oferece e
implantar um projeto desse porte aqui, oferecendo melhores estruturas e condições de
vida às famílias desses pescadores. Cabe a nós parabenizarmos a empresa Muaná
Alimentos e torcer para que seu exemplo seja seguido e acreditar que dessa forma todos
juntos conseguiremos proteger nossas florestas e conseqüentemente o nosso planeta.

Palavras chaves: sustentável, preservação e extração.

Referências

PIRES, Valquíria; BELLUCCI, Beluce. Construindo consciência: Geografia. 1.ed.-São


Paulo: Scipione, 2006.pg. 186 – 187.
http://www.superinteressante.com.br/superaquivo/2002/conteudo_241449.shtml
http://www.geocities.com/rainforest/andes/1185/palmito

111
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

TRABALHANDO OS TEMAS TRANSVERSAIS NO ENSINO DA


GEOGRAFIA: A ÉTICA NA EDUCAÇÃO ESCOLAR

Paulo Gil79

Karla Rosário Brumes80

Resumo: A escola é uma instituição que está organizada dentro de determinadas normas
que acabam dando forma específica às suas ações. Ela possui um cotidiano mesmo
diante das normativas em muitos casos bastante agitado e, às vezes até tumultuado, o
que traz dificuldade para que a “educação” das crianças seja plenamente desenvolvida.
Para se ter uma idéia do papel educador da escola, em tempos passados, a escola tinha
como principais objetivos apenas o repasse de conteúdo pedagógico e o cuidado das
crianças para que mães pudessem trabalhar fora. Nos dias atuais a escola já tem
assumido o papel de desenvolver plenamente o potencial das crianças e não mais
simplesmente guardá-las, conforme é colocado no Referencial Curricular Nacional para a
Educação Infantil (1998, p. 28). Na escola os atributos como elementos constituintes de
várias ciências, são muitas vezes apresentados como verdade absoluta, uma vez que ao
apresentar uma série de resultados definitivos focados em determinados assuntos, acaba
por desconsiderar outras nuances que compõem a formação de uma sociedade e seus
constituintes. O conhecimento científico mesmo que possua grande importância social ao
possibilitar que por meio dele aconteça transformação da vida do homem, além de fazer
com ele possa melhor entender e desfrutar daquilo que tanto a natureza como a
sociedade podem lhe oferecer, não deve ser encarado como o ponto crucial do
desenvolvimento da estrutura do homem. Assim, ao se trabalhar, por exemplo, com
aspectos como os dos valores morais que servem para orientar as pessoas no momento
de escolhas adequadas, tem-se que este aspecto deve perpassar pelo papel que um
professor teria na ajuda da construção de melhores “cidadãos”, ao fazer da prática das
aulas um momento de reflexão e da construção da sociedade que se almeja. Por isso
como não pensar no repasse dos valores justamente neste momento? Os PCNs (1998)
vêm definindo que temas como os da ética sejam trabalhados como transversais, ou seja,
devem ser trabalhados em vários conteúdos. Todavia, na escola tem sido questionável
tanto a forma como este aspecto tem sido trabalhado e mesmo se este tem sido até
trabalhado. Diante disso somos instigados a questionar? Como prerrogativa do PCN, será
que professores de Geografia têm desenvolvido os temas transversais em suas aulas em
especial os que envolvem a ética e valores morais? Como têm sido tratados estes temas?
Isto é importante uma vez que a ética é um elemento vital na produção da realidade
social. Todo homem possui um senso ético, que pode ser chamado de “consciência
moral” que constantemente avalia e julga suas ações. Também pode ser colocado que a
ética está relacionada à opção, ao desejo de manter relações de convívio, por exemplo,
de formas mais justas e aceitáveis. A ética na educação é um tema que busca refletir os
benefícios que envolvem a sua utilização no processo de aprendizagem. Quando a
criança ingressa na escola é cercada por situações que envolvem estímulos e motivações
e os incentivos dos professores atuam como um grande auxiliar nesses processos. O
ensino de Geografia pode realizar diante disto, um trabalho que proporcione aos alunos
uma maior reflexão sobre ética e valores morais com idéias de bem e virtude.

79
Discente da Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO paulogil51@yahoo.com.br

80
Docente da Universidade Estadual do Centro-Oeste - UNICENTRO kbrumes@hotmail.com
112
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

Entendemos que, através do ensino de Geografia, pode-se realizar um trabalho que


proporcione aos alunos reflexão sobre a ética e os valores morais. O presente trabalho
busca focalizar o emprego da ética nos ensinos disciplinares, a saber, a Geografia, como
base no processo ensino-aprendizagem. Diante disso, o trabalho tem como objetivo
analisar de que forma o tema “ética” está sendo aplicado na escola, com o propósito de
verificar se os professores de Geografia trabalham este tema em sala de aula, uma vez
que se trata de um tema transversal dos PCN’s. Por meio de pesquisa bibliográfica, que
fornecerá um embasamento teórico; pesquisas nas escolas, com observações em sala de
aula; aplicação de questionário direcionado aos professores de Geografia, com perguntas
abertas e fechadas e construção de gráficos e tabelas, pretende-se caminhar na busca de
se atingir os objetivos desta pesquisa. O trabalho espera contribuir de forma significativa
no processo de formação dos alunos, ajudando na formação de cidadãos e que possa
contribuir no dia a dia dos professores, além de buscar trazer à tona um tema tão
discutido e pouco aplicado na prática.

Palavras-chave: ética, educação, ensino de Geografia.

113
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

O COMPORTAMENTO EROSIVO E SUA RELAÇÃO COM A VEGETAÇÃO


RIPÁRIA: UM ESTUDO DE CASO

Fernando Fernandes81

Wilson Flavio Feltrim Roseghini82

Resumo: Geograficamente, a diferenciação e caracterização de áreas são resultantes


das particularidades e evento próprio de cada espaço, dessa forma fatores modeladores
e transformadores do ambiente geográfico atuam de maneira distinta em cada área. Por
seguinte, para se compreender a dinâmica evolutiva de um espaço é necessária a
delimitação de alguns fatores que podem interferir no ambiente (ROSS 2001). Sendo
assim, no caso das formações ciliares, dentre outras, sabe-se evidentemente que a
dinâmica erosiva esta relacionada basicamente com a precipitação atmosférica e a
intensidade vegetativa da área de ocorrência do fenômeno. SILVA (2003) aborda que a
tipologia pedológica também é outro fator significante na forma e magnitude de ocorrência
da atividade erosiva, destacando ainda o clima e a cobertura vegetal. Baseado nessa
premissa objetiva-se com esse trabalho analisar alguns mecanismos ocorrentes nas
formações ciliares, através da relação da precipitação com a erosão para se compreender
a interferência da variável meteorológica chuva dentro do processo geomorfológico,
colocado por GUERRA (2007) como sendo o princípio da dinâmica erosiva.
Conseqüentemente sabe-se que o principio erosivo é oriundo do processo de saltitação
de partículas do solo devido ao choque das gotas de chuva, onde esse processo como
descrito por GUERRA (2005) favorece para a formação de crostas que acabam por
interferir na intensidade de infiltração, diminuindo assim a aeração e causando desta
forma um escoamento superficial ao solo. TUCCI (1993) cita que a água fica retida na
vegetação e em muitos casos retorna a atmosfera, não influenciando no princípio da
dinâmica erosiva. Portanto a vegetação e a sua densidade além da tipologia, umidade e
massa específica age interceptando a precipitação e dinamizando a erosão. Dessa forma
para se comprovar o processo climático - geomorfológico faz-se na localidade Rural de
Papanduva de Cima no Município de Prudentópolis PR um acompanhamento da atividade
erosiva em uma área experimental de solo tipo Cambissolo, com inclinação em torno de
35º e relevo tipo ondulado. Esta área foi dividida em duas parcelas onde cada uma possui
300m², diferenciando-se uma da outra pela intensidade de vegetação e pela sua tipologia,
destaca-se também que a parcela 1 caracteriza-se pela presença de vegetação rasteira e
baixa densidade vegetacional, sendo ribeira a um córrego da região, enquanto que a
parcela 2 faz divisa com a 1 e também é ciliar ao córrego.Em ambas como instrumento de
pesquisa, introduziu-se no solo vergalhões de ferro tendo 0,8cm de diâmetro e 50 cm de
comprimento em um total de 24 estacas, onde foram distribuídos de forma aleatória 12
desses em cada parcela. Estes por sua vez tiveram 50% de seu comprimento inserido no
solo. Dessa forma para se medir o deslocamento de sedimentos confeccionou-se uma
régua graduada de formato cilíndrico com interior vazio possuindo escala milimétrica, de
tamanho 50 cm e 4 cm de diâmetro. Sendo assim os pinos foram freqüentemente
medidos cerca de 15 dias de intervalo, onde foi através da postura da régua sobre as
estacas que possuíam inicialmente metade de seu comprimento, 25 cm, acima da
superfície, que se obteve os resultados requeridos. No entanto faz-se também a
mensurações das precipitações que ocorrem e ocorrerão até o fim da pesquisa, onde será
feita a correlação dos eventos chuvosos com a variação erosiva das parcelas,

81
Graduando em Geografia da UNICENTRO, IRATI – fernand_is@hotmail.com
82
Mestre em Geografia, Prof. Colaborador do Degeo – Unicentro/Irati – feltrim@hotmail.com

114
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

comparando ainda com dados da estação meteorológica de Ivaí, a mais próxima da área
de estudo. As áreas amostrais estão localizadas próximas uma da outra cerca de 50m,
dessa forma ambas possuem o mesmo tipo de topografia solo e formação geológica
diferenciando-se apenas na tipologia vegetal. Por vez, o índice pluviométrico precipitado é
considerado equivalente para as duas áreas. Entretanto o total precipitado varia devido a
diferenciação da vegetação, assim a quantidade de água que acaba por atingir o solo é
diferente nas parcelas, pois uma destas possuem vegetação exuberante e dossel bem
fechado enquanto na outra observa-se a presença de herbáceas, gramíneas esparsas
sobre o espaço analisado. Através de algumas analises e comparações de gráficos da
evolução erosiva e do histórico pluviométrico do local pode-se afirmar que o processo
erosivo ocorre nas duas parcelas tendo fases de deposição e erosão, entretanto na área
de pouca vegetação há um grande desvio padrão da média erosiva, apresentando
grandes extremos que coincidem com os eventos chuvosos; já na parcela vegetada o
desvio padrão da média erosiva foi baixo, tendo valores mais estáveis com menor
amplitude. Portanto, nota-se que a variável predominante na relação de erosão com a
precipitação ficou caracterizada como sendo a vegetação, onde sua intensidade e
tipologia fizeram surgir em cada parcela um índice erosivo único. Assim, nessa pesquisa a
topografia e o tipo de solo não foram variáveis significantes para caracterizar ainda mais
cada parcela.

REFERÊNCIAS:

GUERRA, A. J. T.; SILVA, A. S. da; BOTELHO, Rosangela G. M. (organizadores). Erosão


e Conservação dos Solos: Conceitos, temas e aplicações. – 3ª edição – Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2007. 340P.

SILVA, A. M. da; SCHULZ, H. E; CAMARGO, Plínio B. de. Erosão e Hidrossedimentologia


em Bacias Hidrográficas. São Carlos: RIMA, 2003. 140 P.
TUCCI; C.E.M (org) Hidrologia: Ciência e Aplicação - Porto Alegre: Ed. Da Universidade:
ABRH. Edusp, 1993. 943P.

ROSS, Jurandyr Luciano Sanches. Geomorfologia:ambiente e planejamento. 6ª ed-São


Paulo: contexto, 2001- (Repensando a Geografia).

115
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL EM IRATI-PR:


A VILA RAQUEL EM QUESTÃO

Giseli Andréa dos Santos83

Karla Rosário Brumes 84

Resumo: A palavra mais simples para definir segregação é separação. A segregação é


um processo antigo que teve seu início, com o aparecimento das cidades, e que nos dias
atuais tem ganhado diversas modalidades. Sobre a segregação Vasconcelos (2004) nos
fornece uma importante contribuição. De acordo com este autor, o estudo da segregação
surge inicialmente pelas formulações da Escola de Chicago (1910-1939) sendo
relacionado à separação espacial de etnias, línguas e culturas. Só entre as décadas de
1940 e 1960 é que a concepção de segregação vai ser relacionada como produto de
invasão, sucessão e diferenciação residencial nos quais o fator econômico se apresenta
como um elemento relevante nesse processo. Nesta perspectiva, a contribuição de
Vasconcelos (2004) se apresenta como um importante referencial para os estudiosos dos
fenômenos de estruturação/reestruturação do espaço urbano. Foi, contudo com a análise
das lutas de classe e seu reflexo na (re) produção do espaço urbano que a segregação
adquire uma importância mais relevante. Neste contexto, as contribuições de Castells
(2000), na explicação do fenômeno durante a década de 1970-1980, e de Villaça (2001),
na explicação desse fenômeno na atualidade, se apresentam como importantes
referenciais ao analisarem a segregação espacial como um reflexo da estruturação do
espaço urbano. Em linhas gerais, estes autores associam o processo de segregação
espacial como conseqüência da sobreposição dos fatores de ordem econômica –
especialmente no que se refere ao acesso à moradia; político – no que se refere às
decisões acerca da ocupação espacial; e ideológico – reflexo da dinâmica social. Nessa
perspectiva, a segregação corresponderia a “um processo dialético, em que a segregação
de uns provoca, ao mesmo tempo pelo mesmo processo, a segregação de outros”
(Villaça, iden., p. 148). Este processo se apresenta como reflexo da luta de classes
quanto à localização no espaço, ou seja, sua posição dentro da cidade o que faz com que
se torne o principal elemento de dominação social, política e econômica por meio do
espaço (Villaça, 2001, p. 150). Desta forma, se torna mais oportuno o uso do termo
socioespacial como adjetivação do processo de segregação. Diante do quadro de
referências apresentado, a segregação socioespacial reproduz a relação entre
dominantes e dominados – relação fundamental para a estruturação/reestruturação do
espaço urbano. Diante do apresentado, este trabalho tem como objetivos compreender as
dinâmicas sócio-espaciais na Vila Raquel bairro de Irati-PR; caracterizar quais processos
que contribuíram para a sua formação enquanto possível espaço segregado; além de
propiciar aos alunos do ensino fundamental e médio conhecimentos referentes ao
conceito de segregação sócio-espacial, como, onde, e por que ela acontece. Para isso
estamos realizando pesquisa bibliográfica (que visa fazer um resgate histórico do
processo de urbanização no Brasil, realizada a partir da década 1950, e que deixou o
processo de segregação mais evidente); aplicação de questionários e entrevistas com
moradores do bairro. Também analisar um estudo de caso, para se tentar entender
melhor as dinâmicas de um bairro em uma cidade com aproximadamente 55.000 mil
habitantes, onde, nos parece que a questão da segregação se faz presente diante da sua
localização afastada, com componentes reais de moradores de classe baixa, com falta de
infra-estrutura básica (como esgoto, o transporte urbano, a falta de pavimentação, e

83
Discente da Universidade Estadual do Centro-Oeste – Unicentro, ggiisseellii@yahoo.com.br
84
Docente da Universidade Estadual do Centro-Oeste – Unicentro, kbrumes@hotmail.com

116
Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667

saúde inadequadas). O trabalho já demonstra por meio dos questionários aplicados a


10% da população que mora no bairro que os mesmos se sentem abandonados por parte
do poder público devido à falta de assistência básica. Buscamos por meio da análise do
conceito de segregação, compreender que mesmo em uma cidade pequena como Irati-
PR, podem ser encontradas dinâmicas com características de cidades maiores, ou seja, a
segregação socioespacial é um fenômeno que também é recorrente às classes de menor
poder aquisitivo, todavia, uma segregação não realizada por vontade própria.

Palavras chave: segregação urbana, espaços urbanos, ensino de Geografia.

117

Das könnte Ihnen auch gefallen