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Brasília, 10 de outubro de 2007

EXCELENTÍSSIMO DR. ANTONIO FERNANDO SOUSA


MD. PROCURADOR GERAL DA REPÚBLICA.

Neste momento em que o Ministério Público Federal e o


Ministério Público Militar, no exercício de suas elevadas missões constitucionais, submetem
diversos profissionais controladores do tráfego aéreo brasileiro a múltiplas e até redundantes
persecuções penais, na condição de Advogado da Federação Brasileira das Associações de
Controladores de Tráfego Aéreo - FEBRACTA, dirijo-me a Vossa Excelência, para requerer
providências no sentido da apuração de responsabilidade quanto aos graves fatos abaixo
relatados, todos relacionados à segurança de vôo no Brasil.

Enfatizo que tudo que adiante se expõe encontra farta prova


documental, para além daquela que se junta a este documento. Desde já a FEBRACTA coloca-
se à inteira disposição para produzir, indicar e auxiliar na produção dos elementos probatórios
indispensáveis à comprovação do que aduz.

Desde a trágica colisão ocorrida no ano de 2006, entre o


Boeing da Gol, vôo 1907, e o Legacy da empresa norte-americana ExcelAire, prefixo N600XL,
que vitimou 154 passageiros da primeira aeronave, a nação brasileira vem recebendo
informações parcialmente verdadeiras e intencionalmente incompletas quanto ao conjunto de
causas que resultaram no acidente.

E são muitas as dificuldades reais que têm prejudicado o


esclarecimento dos fatos. Dessas, a mais relevante é a falta de isenção dos órgãos oficiais –
CENIPA, Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos e DECEA,
Departamento de Controle de Espaço Aéreo - subordinados a Aeronáutica, encarregados da
apuração dos fatos.

Falta de isenção até compreensível, em face do complexo


quadro de problemas que cercam a atividade de controle de tráfego aéreo e que se tornou
visível a partir daquele fatídico evento de 29 de setembro de 2006.

Em síntese antecipada do que adiante se expõe, encontra-se a


Força Aérea Brasileira responsabilizada por uma atividade essencialmente civil, considerada
em todo o mundo como incompatível com a estrutura organizacional e o modelo de gestão de
um comando militar.

De início registre-se que em todos os países da Europa e da


América do Norte a atividade é exercida por instituições civis, algumas até privatizadas.
Mesmo os Estados Unidos da América, após o atentado de 11 de setembro, mantém a
atividade controlada por civis, embora hoje integrada, sistemicamente, com a defesa aérea
(preservados os códigos desta), modelo que pode ser perfeitamente adotado no Brasil.
Fato é que o controle militarizado de tráfego civil em espaço
aéreo é um anacronismo somente verificado na Eritréia, Gabão, Togo, Coréia do Norte (onde
quase tudo se encontra submetido a controle militar) e outros países de pequeno porte nessa
atividade.

Como resultado verifica-se que a apuração de causas de


acidentes aéreos no Brasil, que em todo o mundo é feita por perícia técnica absolutamente
isenta de qualquer preocupação estranha à busca da verdade real, aqui se vê confundida no
bojo das atividades de segurança militar e de defesa da soberania do país, o que se mostra de
todo irracional .

Assim, qualquer falha é tratada como segredo de Estado, algo


capaz de comprometer a segurança da defesa aérea do país. Merece ênfase a lembrança
repetida de que nenhuma das grandes potência militares do planeta esquivam-se de ver
apuradas por engenheiros e outros especialistas, peritos civis, as causas de acidentes aéreos.

O que todos que se debruçam, responsavelmente, sobre a


atual conjuntura são obrigados a constatar é que o evento da colisão ocorrida em 29 de
setembro de 2006 trouxe à luz o quadro de progressiva perda de eficiência no controle do
tráfego aéreo nacional. A progressiva obsolescência de sistemas de controle – em sua
tridimensionalidade de hardware, software e humanware - é fenômeno que se estabelece
continuamente, o que exige reformulações igualmente permanentes, tal como se dá onde o
sistema é mantido com excelência técnica.

Não há dúvidas de que o modelo concebido para o Brasil, no


tempo em que o foi, representava o estado da arte de então. Porém, incluso em sua
concepção – pela THOMSOM, empresa responsável pelo sistema - havia o projeto de
desmilitarização como solução técnica de gestão do sistema de controle. O que, apenas por
desvio do processo político brasileiro, não se efetivou, em descompasso com todo o mundo
civilizado, como se vê.

Deste quadro resulta que a produção das provas quanto às


falhas do sistema de controle – freqüências de rádio inativas, espaços não cobertos pela
comunicação (zonas de sombra), falha no software que atualiza erroneamente situação de
altitude sem interveniência do controlador – quanto a má formação dos jovens controladores,
quanto a negligente gestão de problemas operacionais, tudo dependerá de colaboração
daqueles que estão diretamente interessados em esconder as suas próprias responsabilidades.

Pior: é possível apontar conexão entre as irresponsáveis


decisões subseqüentes e o acidente superveniente da TAM no aeroporto de Congonhas,
confirmando-se na maior tragédia aeronáutica do país aquilo que os verdadeiros profissionais
do controle de tráfego já prenunciavam. E precisamente neste ponto reside o fundamento do
interesse de oficiar este requerimento ao Procurador Geral da República, máxima expressão
de custus legis - guardião da lei - para que se digne requisitar perícia internacional apta a trazer
à lume a verdade real dos fatos que envolveram esses trágicos acidentes.

Reconhecido o caráter unitário da ação do Parquet na esfera


criminal, embora dúplice nos exercícios de Jus Persequendi e Custus legis, tem-se como
inafastável o poder-dever do Ministério Público Federal de produzir provas idôneas ao
exercício dos seus misteres. E para o fato que se pretende apurar, onde o Estado
responsabiliza como únicos incriminados os controladores e pilotos, essas provas não virão,
porque dificilmente poderiam vir com isenção se a perícia for conduzida pela Aeronáutica.
Argüir o princípio da presunção de verdade em documento
emanado dos poderes públicos, neste caso, seria uma leviandade. As instituições são feitas por
seres humanos submetidas às mais variadas pressões políticas, sociais e psicológicas. E neste
caso específico, todas as pressões são agigantadas em face dos simbólicos valores esgrimidos
pelo estamento militar, que, no Brasil, ainda apresenta dificuldades setorizadas no
reconhecimento de uma liderança civil em ministério militar.

E aqui, na exposição do segundo objeto do presente


requerimento, trazida no próximo parágrafo, fica bem claro a necessidade de intervenção da
Justiça Brasileira para assegurar a manutenção do Estado de Direito, contra o qual buscam
insurgir-se ultrapassados belicistas, deslocados da Ordem Democrática constitucionalmente
institucionalizada.

Está a exigir apuração pelo mais elevado Órgão Guardião da Lei


no Brasil as gravíssimas ocorrências de que foram protagonistas todos os componentes do Alto
Comando da Força Aérea Brasileira dos dias 30 de março a 02 de abril de 2007. Naquela noite
de trinta de março os oficiais responsáveis pelo controle de tráfego aéreo deixaram os seus
postos e entregaram todo o comando da atividade diretamente aos sargentos e suboficiais dos
centros de controle.

Tal inusitado gesto se deu em represália à interveniência da


Presidência da República, que despachou para o local em que se encontravam reunidos os
controladores, em uma reunião dentro do Centro de Controle de Brasília, o Ministro Paulo
Bernardo. Ressalte-se que o alto comando da Aeronáutica tomou conhecimento, com muita
antecedência, da concentração daqueles profissionais marcada para aquela noite e nada fez
para impedir. Antes esperaram que a situação se configurasse para tratar como crime de
motim, com o que esperavam desestabilizar o Ministro da Defesa por quem publicamente
demonstravam desrespeito e desapreço. Isso porque aquele Ministro considerava plausível a
hipótese de desmilitarização do setor.

Fato é que, desde o preciso momento em que o Ministro do


Planejamento, Paulo Bernardo. entrou no Centro de Controle de Brasília, naquela noite de 30
de março, até o meio dia de 02 de abril, o Comando da Força Aérea, em represália às sensatas
ações mediadoras da Presidência da República - sem que ali se pretendesse qualquer apoio à
propalada insubordinação dos controladores, em verdade ali reunidos em legítima defesa da
segurança do tráfego aéreo nacional - e em lugar de atuar com a autoridade que qualquer
comandante militar tomaria em tal situação, limitou-se a coordenar o Abandono de Posto,
dando início a um Descumprimento de Missão, em clara Omissão de Eficiência da Força, tudo
em completo Desrespeito a Superior. As expressões negritadas correspondem aos delitos
capitulados nos artigos 195, 196, 198, e 160, respectivamente, do Código de Penal Militar
Brasileiro.

Comprovam o que acima se aponta o BOLIMPE – Boletim


Periódico nº 01, de 31 de março de 2007, assinado pelo Comandante da Aeronáutica e pelos
oito oficiais-brigadeiros mais graduados, que juntos compõem o Alto Comando da Força, e
cópia de documentos do Destacamento de Controle de Tráfego Aéreo de Salvador, mero
exemplo do gênero de ordens escritas no sentido do abandono que se seguiu.

Lamentavelmente, no que concerne à ocultação de provas das


causas dos acidentes, o Ministério Público, sem dúvida, conseguirá apurar os seguintes crimes,
em tese: Falsidade ideológica; Supressão de documento; Prevaricação; Extravio, sonegação ou
inutilização de livro ou documento; Condescendência criminosa; Falso testemunho ou falsa
perícia, e, principalmente, Inutilização, sonegação ou descaminho de material probante. Todos
previstos no Código Penal Militar.

Ressalte-se que o referido Comando não tem se furtado ao


propalar ofensas diretas às autoridades constituídas, mediante a divulgação em todas as
unidades da Aeronáutica de publicações veiculadoras de matérias atentatórias ao Estado
Democrático de Direito. É o que claramente se vê no artigo, igualmente aqui anexado,
assinado pelo Cel. Aviador Renato Paiva Lamounier, na Revista Aeronáutica, nº 261.

Causa espanto, que após o longo sofrimento da reconquista


democrática, um militar, em face da inevitável modernização da gestão do controle de tráfego
aéreo, profira impunemente frases do seguinte teor, contra o Ministro da Defesa, seu Superior
Hierárquico:

“...seres estranhos ao meio militar e arrolados nesta idiotice,


precipitada e sem fundamento, pregada sem conhecimento de causa pelo
Ministro da Defesa quanto à desmilitarização do Controle do Espaço Aéreo no
Brasil...”.

Mais adiante:

...“Com tudo isto retrocedeu ao tempo de sua atuação como pelego


nas revoltas dos marinheiros no Automóvel Clube e de outros militares na
Central do Brasil e soube revelar-se irresponsável e leviano ao desprezar a
verdade histórica do quanto este fato contribuiu para a eclosão de Revolução
de 1964.”

Ora, Excelentíssimo Procurador Geral da República,


que a democracia constitua regime onde a liberdade de expressão seja a tônica, não há o que
reparar. Mas, dar publicidade em meio oficial, e militar, a expressões de desapreço às
autoridades civis constituídas, o que pode ser fartamente comprovado por documentação que
será mais adiante fornecida, é forte indício dos crimes capitulados nos artigos 17, 23 e 26 da
Lei 7.170 de 1983, onde se expressam os crimes contra a Segurança Nacional e ao Ordem
Política e Social.

Estes são aqueles que estão a perseguir de modo


sistemático os sargentos e suboficiais que, ao contrário dos seus comandantes, mantiveram
postura compatível com a honra militar, na medida em que:

1) Não tiveram medo de aquartelarem-se (em lugar de fugir dos


quartéis) nas salas de controle para apontarem as falhas do
sistema e manifestarem apoio aos colegas, injusta e covardemente
apontados como responsáveis pelo acidente que matou mais de
154 brasileiros;
2) Mantiveram o controle do tráfego por todos aqueles dias em que
seus superiores desertaram.E o fizeram com absoluta dedicação,
espírito de superação, criando condições de segurança para as
milhares de pessoas que voaram nos céus do Brasil naquele
período;
3) Buscaram respostas jurídicas, civilizadas, para apresentar ao país
como proposta, a exemplo do douto parecer em favor da
desmilitarização da atividade, construído com o exame do Direito
Comparado, parecer este assinado por um dos maiores juristas do
mundo moderno, o professor de universidades na Alemanha,
Suíça, Inglaterra, Itália, Estados Unidos e Brasil, o Dr. Marcelo
Neves (documento anexado).
4) Têm suportado as agressões cotidianas de que têm sido vítimas -
perseguidos criminal e disciplinarmente, sofrendo assédio moral
de toda espécie – e ainda assim prosseguem sustentando o
cotidiano trabalho do tráfego aéreo, na espera de que suas
democráticas e responsáveis iniciativas tenham a oportunidade de
encontrar na JUSTIÇA, a resposta adequada.

Registre-se,por absolutamente necessário, que muitas


das medidas que, embora imperfeitamente, estão sendo adotadas no sentido da melhoria da
segurança foram justamente aquelas preconizadas pelos controladores e que resultaram na
acusação de “motim” e “operação padrão”.

Registro que nenhuma satisfação pode ter um


brasileiro em ver a Força Aérea de seu país confundida com um equívoco institucional, qual
seja o da administração de uma complexa atividade civil, sob códigos de hierarquia e
disciplina, insuficientes de responder às linguagens de eficiência e eficácia administrativas.

Assim como resistiram à criação da EMBRAER como


instituição econômica autônoma, hoje alguns resistem à inevitável desmilitarização do setor.
Fato que se tem como resolvido no Congresso Nacional. Todavia, tudo passará, e melhor será
se em lugar de persecuções criminais e administrativas, todos sejam chamados à
racionalidade, sem retaliações ou espírito de vingança, quem sabe entendendo em todos os
comportamentos tidos como indevidos uma “inexigiblidade de conduta diversa, em sentido
amplo”, CERTO DE QUE TODOS ESTIVERAM APOIADOS EM RAZÕES INCAPAZES DE SUPERAR A
IRRACIONALIDADE SISTÊMICA A QUE FORAM, CONDUZIDOS, COM A OBSOLESCÊNCIA
PROGRESSIVA DO MODELO OPERACIONJAL VIGENTE.

Neste sentido, por tudo exposto, e por tudo que se


espera ter a oportunidade de trazer ao conhecimento da mais elevada instituição de proteção
à lei do Brasil, requer a FEBRACTA, por seu procurador, e em nome de todos os seus
associados, sejam adotadas as indispensáveis providências capazes de restituir o Brasil a
serenidade de um tráfego aéreo seguro.

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