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MINISTÉRIO DA DEFESA

EXÉRCITO BRASILEIRO
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA
INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA
CURSO DE MESTRADO EM ENGENHARIA DE TRANSPORTES

CT(EN) ROBERTO CRUXEN DAEMON D’OLIVEIRA

AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE JET GROUTING PARA


REFORÇO DE ESTRUTURA PORTUÁRIA

Rio de Janeiro
2010
INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA

ROBERTO CRUXEN DAEMON D’OLIVEIRA

AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE JET GROUTING PARA


REFORÇO DE ESTRUTURA PORTUÁRIA

Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de


Mestrado em Engenharia de Transportes do Instituto
Militar de Engenharia, como requisito parcial para a
obtenção do título de Mestre em Ciências em
Engenharia de Transportes.

Orientadores: José Renato Moreira da Silva de


Oliveira, D.Sc.
Maria Esther Soares Marques, D.Sc.

Rio de Janeiro
2010
© 2010

INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA


Praça General Tibúrcio, 80 – Praia Vermelha
Rio de Janeiro – RJ CEP: 22.290-270

Este exemplar é de propriedade do Instituto Militar de Engenharia, que poderá


incluí-lo em base de dados, armazenar em computador, microfilmar ou adotar
qualquer forma de arquivamento.

É permitida a menção, reprodução parcial ou integral e a transmissão entre


bibliotecas deste trabalho, sem modificação de seu texto, em qualquer meio que
esteja ou venha a ser fixado, para pesquisa acadêmica, comentários e citações,
desde que sem finalidade comercial e que seja feita a referência bibliográfica
completa.

Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do autor e dos


orientadores.

O 48a Oliveira, Roberto Cruxen Daemon d’


Avaliação do Desempenho de jet grouting para Reforço de
Estrutura Portuária / Roberto Cruxen Daemon d’ Oliveira. - Rio de
Janeiro: Instituto Militar de Engenharia, 2010

146 p.: il.

Dissertação (mestrado) – Instituto Militar de Engenharia – Rio de


Janeiro, 2010

1. Jet grouting. 2. Estrutura portuária. 3. Modelagem


computacional. I. Título. II. Instituto Militar de Engenharia.

CDD 627.3

2
INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA

ROBERTO CRUXEN DAEMON D’ OLIVEIRA

AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE JET GROUTING PARA


REFORÇO DE ESTRUTURA PORTUÁRIA

Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de Mestrado em Engenharia de


Transportes do Instituto Militar de Engenharia, como requisito parcial para a
obtenção do título de Mestre em Ciências em Engenharia de Transportes.

Orientadores: Prof. José Renato Moreira da Silva de Oliveira – D. Sc.


Profa. Maria Esther Soares Marques – D. Sc.

Aprovada em 20 de Dezembro de 2010 pela seguinte Banca Examinadora:

Prof. José Renato Moreira da Silva de Oliveira – D. Sc. do IME - Presidente

Profa. Maria Esther Soares Marques – D. Sc. do IME

Prof. Luiz Antonio Vieira Carneiro – D.Sc. do IME

Profa. Bernadete Ragoni Danziger – D.Sc. da UERJ

Prof. David Antunes Cabral – M.Sc.

Rio de Janeiro
2010

3
Dedico este trabalho à minha esposa Thais e
meus filhos João Pedro e Gustavo.

4
AGRADECIMENTOS

À minha esposa, Thais, pelo carinho, incentivo, paciência, compreensão e apoio


em todos os momentos.
Aos meus filhos, João Pedro e Gustavo, pela alegria contagiante que me
impulsionou e motivou ao longo desta jornada.
Aos meus pais, por toda dedicação e investimento na minha educação e
formação.
À Marinha do Brasil, por ter me proporcionado a oportunidade de realizar este
curso.
À Diretoria de Obras Civis da Marinha pela orientação técnica e pelo apoio na
definição e no desenvolvimento do tema.
Ao Instituto Militar de Engenharia e seu excelente corpo docente, que muito me
apoiaram na realização desta dissertação.
Em especial, ao Maj José Renato Moreira da Silva de Oliveira e à Professora
Maria Esther Soares Marques, pela orientação, incentivo, sugestões,
esclarecimentos e comentários sempre pertinentes.
Aos membros da banca pela gentileza em aceitar o convite para examinar este
trabalho.

5
“Só sei que nada sei.”
Sócrates

6
SUMÁRIO

LISTA DE ILUSTRAÇÕES.......................................................................11
LISTA DE TABELAS................................................................................14
LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS.............................................16
LISTA DE SIGLAS................................................................................... 19

1INTRODUÇÃO........................................................................................ 22
1.1CONSIDERAÇÕES INICIAIS...............................................................22
1.2OBJETIVO........................................................................................... 23
1.3JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA........................................................23
1.4ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO......................................................24
2O JET GROUTING E AS TÉCNICAS PARA MELHORAMENTO DE
SOLOS POR GRAUTEAMENTO..............................................25
2.1CONSIDERAÇÕES INICIAIS...............................................................25
2.2GRAUTEAMENTO DE SOLOS...........................................................25
2.2.1GRAUTEAMENTO POR COMPACTAÇÃO......................................27
2.2.2GRAUTEAMENTO POR FRATURA.................................................27
2.2.3GRAUTEAMENTO POR PERMEAÇÃO...........................................28
2.2.4GRAUTEAMENTO POR SUBSTITUIÇÃO E MISTURA...................29
2.3A TÉCNICA DE JET GROUTING........................................................30
2.3.1LIMITES PARA UTILIZAÇÃO DO MÉTODO....................................32
2.3.2PROCESSO EXECUTIVO DO JET GROUTING..............................33
2.3.2.1SISTEMA DE JATO SIMPLES.......................................................35
2.3.2.2SISTEMA DE JATO DUPLO..........................................................35
2.3.2.3SISTEMA DE JATO TRIPLO.........................................................36
2.3.3EQUIPAMENTOS.............................................................................37
2.3.4APLICAÇÕES................................................................................... 39
2.3.5VARIÁVEIS DO PROCESSO EXECUTIVO......................................41
2.3.6LIÇÕES DE CASOS REAIS DE APLICAÇÕES DE JET GROUTING
.................................................................................................44
2.4CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE GRAUTEAMENTO DE SOLOS. 46
3DESCRIÇÃO DO PROBLEMA PORTUÁRIO........................................48

7
3.1CONSIDERAÇÕES INICIAIS...............................................................48
49
3.2TIPOS DE PORTOS............................................................................49
3.3CENÁRIO GEOTÉCNICO TÍPICO EM REGIÕES PORTUÁRIAS
BRASILEIRAS..........................................................................50
3.3.1FORMAÇÃO DOS DEPÓSITOS DE SEDIMENTOS........................51
3.3.2CARACTERÍSTICAS GEOTÉCNICAS DAS ARGILAS LITORÂNEAS
BRASILEIRAS..........................................................................52
3.3.3O CENÁRIO GEOTÉCNICO DO PORTO DE NAVEGANTES.........54
3.4TIPOS DE ESTRUTURAS DAS OBRAS DE ACOSTAGEM...............61
3.4.1ESTRUTURAS DE ACOSTAGEM COM PARAMENTO ABERTO.. .63
3.4.2CAIS DE PESO OU DE GRAVIDADE..............................................64
3.4.3CAIS EM CORTINA DE ESTACAS-PRANCHAS.............................65
3.5FATORES CONDICIONANTES...........................................................67
3.5.1TIPO DE CARREGAMENTO............................................................67
3.5.2CARACTERÍSTICAS TOPOBATIMÉTRICAS...................................69
3.5.3CARACTERÍSTICAS DO SOLO.......................................................69
3.5.4DRAGAGENS E DERROCAMENTOS..............................................69
3.5.5CONDIÇÕES AMBIENTAIS..............................................................70
3.5.6ESPECIALIZAÇÃO DO PORTO E EMBARCAÇÃO TIPO................71
3.5.7LICENCIAMENTOS AMBIENTAIS...................................................72
3.6PROBLEMA DE INSTABILIDADE DE RETROÁREAS PORTUÁRIAS
.................................................................................................72
3.7CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE O PROBLEMA PORTUÁRIO.....74
4METODOLOGIA PARA MODELAGEM DO PROBLEMA PORTUÁRIO
................................................................................................... 75
4.1CONSIDERAÇÕES INICIAIS...............................................................75
4.2CORRELAÇÕES DE PARÂMETROS DO SOLO................................75
4.2.1ÂNGULO DE ATRITO DE SOLOS GRANULARES..........................76
4.2.2ÂNGULO DE ATRITO DE SOLOS ARGILOSOS.............................78
4.2.3RESISTÊNCIA NÃO DRENADA (Su) DE SOLOS ARGILOSOS .....79
4.2.4MÓDULO DE YOUNG DE SOLOS GRANULARES.........................82
4.2.5MÓDULO DE YOUNG DE SOLOS ARGILOSOS.............................82
4.2.6MÓDULO DE YOUNG DE SOLOS RESIDUAIS...............................84

8
4.2.7COEFICIENTE DE POISSON DRENADO........................................85
4.2.8COEFICIENTE DE POISSON NÃO DRENADO...............................85
4.3PROPRIEDADES DOS ELEMENTOS TRATADOS............................86
4.3.1DIÂMETRO EFETIVO.......................................................................86
4.3.2RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO....................................................90
4.3.3MÓDULO DE YOUNG......................................................................92
4.3.4COEFICIENTE DE POISSON...........................................................93
4.3.5PESO ESPECÍFICO.........................................................................93
4.3.6CORRELAÇÕES COM PARÂMETROS DE RESISTÊNCIA DO
SOLO ......................................................................................94
4.3.7PERMEABILIDADE...........................................................................96
4.4ANÁLISE PELO MÉTODO DE EQUILÍBRIO LIMITE...........................97
4.5ANÁLISE PELO MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS (MEF).......100
4.5.1O PROGRAMA PLAXIS 2D............................................................101
4.6CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE A METODOLOGIA..................103
5MODELAGEM DE REFORÇO DE UM CAIS COM JET GROUTING. .104
5.1CONSIDERAÇÕES INICIAIS.............................................................104
5.2MODELAGEM DO PROBLEMA........................................................105
5.2.1SITUAÇÃO INICIAL........................................................................105
5.2.2CENÁRIOS ANALISADOS PARA AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO
DA SOLUÇÃO EM JET GROUTING......................................107
5.2.3PARÂMETROS DO SOLO NO MODELO.......................................109
5.3ANÁLISE PELO MÉTODO DO EQUILÍBRIO LIMITE........................111
5.3.1AVALIAÇÃO PELO MÉTODO DE EQUILÍBRIO LIMITE................117
5.4ANÁLISES PELO MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS...............118
5.4.1ANÁLISE DAS DEFORMAÇÕES NA MASSA DE SOLO...............119
5.4.2ANÁLISE DAS TENSÕES NA MASSA DE SOLO..........................121
5.4.3ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DA CORTINA DE ESTACAS. 127
5.4.3.1DESLOCAMENTOS NA CORTINA DE ESTACAS PRANCHAS. 128
5.4.3.2ESFORÇOS NA CORTINA DE ESTACAS PRANCHAS.............132
5.5CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE A MODELAGEM......................137
6CONCLUSÕES E SUGESTÕES..........................................................138
7REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS ......................................................139
8APÊNDICES......................................................................................... 146

9
8.1APÊNDICE 1: ARQUIVOS DIGITAIS DO SLOPE-W E DO PLAXIS 2D
...............................................................................................146
146

10
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIG. 2.1 – Tipos de grauteamento de solos (WARNER, 2004).............26


FIG. 2.2 – Limites de aplicação de grauteamentos (BERGER, 2010). 30
FIG. 2.3 – Resistências de tratamentos com jet grouting (WARNER,
2004).......................................................................................... 30
FIG. 2.4 – Comparação entre diferentes tipos de grauteamento de
solos..........................................................................................31
FIG. 2.5 – Seqüência executiva do jet grouting (BERGER, 2010).......33
FIG. 2.6 – Sistemas de jateamentos do jet grouting (BERGER, 2010).
................................................................................................... 34
FIG. 2.7 – Equipamentos necessários para tratamentos com jet
grouting.....................................................................................37
FIG. 2.8 – Equipamento utilizado na execução de colunas de jet
grouting.....................................................................................38
FIG. 2.9 – Arranjos típicos de aplicações de jet grouting...................39
FIG. 2.10 – Aplicações de jet grouting em obras civis (BERGER,
2010).......................................................................................... 40
FIG. 2.11 – Aplicação de jet grouting para estabilização de obra
portuária....................................................................................41
FIG. 3.1 – Foto do Porto de Navegantes. .............................................50
FIG. 3.2 – Perfil geotécnico típico de uma seção do Porto de
Navegantes (MARQUES E LACERDA, 2002)..........................55
FIG. 3.3 – (a) Granulometria com a profundidade. (b) Diagrama de
plasticidade (MARQUES E LACERDA, 2002).........................57
FIG. 3.4 - Parâmetros geotécnicos das argilas de Navegantes com a
profundidade (MARQUES E LACERDA, 2002).......................57
FIG. 3.5 - Perfis de tensões e de resistência não drenada nas
proximidades da sondagem SP32 (MARQUES E LACERDA,
2002).......................................................................................... 58
FIG. 3.6 - Características geotécnicas de Navegantes-SC nas
proximidades da sondagem SP32 (MARQUES E LACERDA,
2002).......................................................................................... 59
FIG. 3.7 - Variação do Su com a profundidade ....................................60

11
(MARQUES E LACERDA, 2002).............................................................60
FIG. 3.8 - Tipos de estruturas de acostagem (AGERSCHOU et al.,
1983).......................................................................................... 62
FIG. 3.9 - Seção transversal típica de uma obra de acostagem com
paramento aberto (ALFREDINI E ARASAKI, 2009)................63
FIG. 3.10 - Seção transversal típica de cais de gravidade em muralha
de blocos (ALFREDINI E ARASAKI, 2009).............................65
FIG. 3.11 - Cais com cortina de estacas-pranchas com plataforma de
alívio (AGERSCHOU et al., 1983)............................................66
FIG. 3.12 – Cais com cortina de estacas-pranchas com tirantes
ancorados no solo e em cavaletes (AGERSCHOU et al.,
1983).......................................................................................... 66
FIG. 3.13 – Problema típico de instabilização de estrutura portuária
decorrente de aprofundamento de calado.............................73
FIG. 4.1 – Correlação entre o ângulo de atrito, a tensão efetiva
geostática vertical e o NSPT (DE MELLO, 1971)...................77
FIG. 4.2 – Correlação entre ângulo de atrito de areias, resistência de
ponta do cone e tensão efetiva vertical (ROBERTSON E
CAMPANELLA, 1983)...............................................................78
FIG. 4.3 – Correlação entre módulo de Young secante de solos
residuais de gnaisse e NSPT (SANDRONI, 1991)..................84
FIG. 4.4 – Diâmetros efetivos em solos granulares (CARRETO, 2000).
................................................................................................... 87
FIG. 4.5 – Diâmetros efetivos em solos argilosos (CARRETO, 2000).
................................................................................................... 88
FIG. 4.6 – Superfície de ruptura global.................................................98
FIG. 4.7 – Superfície de ruptura local....................................................99
FIG. 5.1 – Cenário inicial do cais em estacas pranchas....................105
FIG. 5.2 – Cenário de ganho de calado e incremento de sobrecarga.
................................................................................................. 108
FIG. 5.3 – Análise global do cenário 6 sem o reforço........................114
FIG. 5.4 – Análise global do cenário 6 com o reforço........................114
FIG. 5.5 – Análise local do cenário 6...................................................115
FIG. 5.6 – Fatores de segurança globais e locais..............................116

12
FIG. 5.7 – Situação inicial deformada (máx= 54mm)........................119
FIG. 5.8 – Deformada do cenário 6 sem tratamento (máx=136mm).
................................................................................................. 120
FIG. 5.9 – Deformada do cenário 6 com tratamento (máx=98mm). 120
FIG. 5.10 – Tensões totais para a situação inicial..............................121
FIG. 5.14 – Tensão cisalhante ( / res) para o cenário 6 sem reforço.
................................................................................................. 124
FIG. 5.15 – Tensão cisalhante ( / res) para o cenário 6 com reforço.
................................................................................................. 124
FIG. 5.16 – Pontos de plastificação da situação inicial.....................125
FIG. 5.17 – Pontos de plastificação do cenário 6 sem tratamento.. .125
FIG. 5.18 – Pontos de plastificação do cenário 6 com tratamento.. .126
FIG. 5.19 – Deslocamentos horizontais para sobrecarga de 20 kPa.
................................................................................................. 128
FIG. 5.20 – Deslocamentos horizontais para sobrecarga de 40 kPa.
................................................................................................. 129
FIG. 5.21 – Deslocamentos horizontais para sobrecarga de 60 kPa.
................................................................................................. 129
FIG. 5.22 – Deslocamentos horizontais para sobrecarga de 80 kPa.
................................................................................................. 130
FIG. 5.23 – Deslocamentos máximos na cortina de estacas.............131
FIG. 5.24 – Momentos fletores para sobrecarga de 20 kPa...............132
FIG. 5.25 – Momentos fletores para sobrecarga de 40 kPa...............133
FIG. 5.26 – Momentos fletores para sobrecarga de 60 kPa...............133
FIG. 5.27 – Momentos fletores para sobrecarga de 80 kPa...............134
FIG. 5.28 – Esforços cortantes para sobrecarga de 20 kPa..............135
FIG. 5.29 – Esforços cortantes para sobrecarga de 40 kPa..............135
FIG. 5.30 – Esforços cortantes para sobrecarga de 60 kPa..............136
FIG. 5.31 – Esforços cortantes para sobrecarga de 80 kPa..............136

13
LISTA DE TABELAS

TAB. 2.1 – Variáveis típicas do método de jet grouting (CARRETO,


2000).......................................................................................... 42
TAB. 3.1 - Características geotécnicas de argilas brasileiras............53
TAB. 3.2 – Valores típicos de CC para as argilas brasileiras..............53
TAB. 3.3 – Valores típicos de cV para as argilas brasileiras...............53
TAB. 3.4 - Características das camadas de solos compressíveis
(MARQUES E LACERDA, 2002)...............................................56
TAB. 4.1 – Ângulo de atrito de solos granulares (TERZAGHI E PECK,
1967).......................................................................................... 76
TAB. 4.2 – Correlação entre ângulo de atrito de solos granulares e
NSPT.......................................................................................... 77
TAB. 4.3 – Correlação entre ângulo de atrito de solos granulares e o
CPT (MEYERHOF, 1956)..........................................................78
TAB. 4.4 – Correlação entre ângulo de atrito e índice de plasticidade
(TAVARES et al., 2006).............................................................79
TAB. 4.5 – Correlação entre Su, NSPT e a consistência de solos
argilosos (TERZAGHI E PECK, 1967).....................................80
TAB. 4.6 – Módulo de Young de solos granulares (POULOS, 1975). .82
TAB. 4.7 – Módulo de Young de argilas (KULHAWY E MAYNE, 1990).
................................................................................................... 83
TAB. 4.8 – Coeficiente de Poisson drenado (KULHAWY E MAYNE,
1990).......................................................................................... 85
TAB. 4.9 – Diâmetros efetivos de tratamentos com jet grouting em
função do tipo de solo, sistema de jateamento e pressão de
injeção....................................................................................... 88
(KUTZNER, 1996).....................................................................................88
TAB. 4.10 – Correlação entre os diâmetros efetivos dos tratamentos
e fatores que os influenciam...................................................89
TAB. 4.11 – Valores típicos de resistência à compressão simples de
solos tratados com jet grouting..............................................91
TAB. 4.12 – Correlações entre Módulo de Young (E) e resistência à
compressão simples (c) (ABRAMENTO et al., 1998)..........92

14
TAB. 4.13 – Valores típicos de coesão após tratamento com jet
grouting.....................................................................................95
TAB. 5.1 – Características das estacas pranchas metálicas............106
TAB. 5.2 – Projeto de análises para avaliação do desempenho da
solução....................................................................................107
TAB. 5.3 – Parâmetros de entrada do modelo para o solo natural...110
TAB. 5.4 – Parâmetros de entrada após tratamento com jet grouting.
................................................................................................. 110
TAB. 5.5 – Situação inicial pela análise por equilíbrio limite............112
TAB. 5.6 – Fatores de segurança globais obtidos nas análises.......112
TAB. 5.7 – Empuxos disponíveis e necessários das análises locais.
................................................................................................. 113
TAB. 5.8 – Relações entre os empuxos disponíveis (Edisp) e
necessários (En) pelas análises locais...............................113

15
LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS

ABREVIATURAS

EQ - Equação
F.S. - Fator de segurança
FIG - Figura
NA - Nível d’água
TAB - Tabela

SÍMBOLOS

A - Área da seção transversal


a - Razão entre a área da base do cone e a área da célula de carga
a/c Fator água / cimento
c - coesão
C - Consumo de cimento
c’ - coesão drenada
CC Índice de compressão
ch - Coeficiente de adensamento horizontal
cjet Coesão do material tratado com jet grouting
CS Índice de recompressão
cV - Coeficiente de adensamento vertical
Def Diâmetro efetivo
E - Módulo de Young
E0 - Empuxo no repouso
e0 - Índice de vazios inicial
Ea - Empuxo ativo
Ed - Módulo de Young drenado
Edisp Empuxo disponível
EI - Energia de injeção
Ejet Módulo de Young do material tratado
En - Empuxo necessário para F.S. = 1,0

16
EP - Empuxo passivo
Es - Módulo de Young secante
Et - Módulo de Young tangente
Eu - Módulo de Young não drenado
G - Densidade real dos grãos
H - Espessura da camada
I - Momento de inércia da seção transversal
ID - Impacto dinâmico do jato
IP - Índice de plasticidade
IR - Índice de rigidez
ISC Incremento de sobrecarga
JET 1 Jato simples
JET 2 Jato duplo
JET 3 Jato triplo
K0 - Coeficiente de empuxo no repouso
Ks - Coeficiente de reação do solo tratado com jet grouting
kx - Permeabilidade na direção x
ky - Permeabilidade na direção y
LL - Limite de liquidez
LP - Limite de plasticidade
M - Momento fletor
Nk - Fator de capacidade do cone
Nkt Fator de capacidade do cone corrigido
NSPT Número de golpes no ensaio Standard Penetration Test
P - Pressão de injeção
pa - Pressão atmosférica
q - Carregamento de sobrecarga
Q - Esforço cortante
qc - Resistência de ponta do ensaio de cone
Qi - Vazão de injeção
qT - Resistência de ponta corrigida
SC Sobrecarga
ST - Sensibilidade das argilas
Su - Resistência não drenada

17
u - poro pressão
u2 - poro pressão medida na base do cone
VR - Velocidade de rotação da haste de injeção
VS - Velocidade de subida da haste de injeção
W - Umidade
wL - Umidade limite de liquidez
wn - Umidade natural inicial
wp - Umidade limite de plasticidade
h - Deslocamento horizontal
máx Deslocamento horizontal máximo
 - Ângulo de atrito do solo
’ - Ângulo de atrito do solo drenado
b - Diâmetro do bico de injeção
calda Peso específico da calda de cimento
d - Peso específico seco
jet Peso específico do material tratado
nat Peso específico natural do solo
sat Peso específico saturado
 - Coeficiente de Poisson
' - Coeficiente de Poisson drenado
jet Coeficiente de Poisson do material tratado
u - Coeficiente de Poisson não drenado
c - Resistência à compressão simples
'v0 Tensão efetiva vertical inicial
'vm Tensão vertical efetiva de sobreadensamento
 - Tensão cisalhante
res Tensão cisalhante resistente

18
LISTA DE SIGLAS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas


AT Argila transicional
CPT Cone penetration test
GC Ganho de calado
MEF Método dos elementos finitos
OCR Over consolidation ratio
RIMA Relatório de Impacto sobre o Meio Ambiente
SEP Secretaria Especial de Portos
SFL Sedimento flúvio lagunar
SPT Standard Penetration Test
UU Unconsolidated undrained

19
RESUMO

Diante de um cenário nacional com portos sem infraestrutura satisfatória, a


técnica de grauteamento de solos conhecida como jet grouting é apresentada
como uma alternativa para o reforço de estruturas portuárias existentes.
Utilizando o cenário geotécnico do porto de Navegantes-SC foi modelado
um cais em estacas pranchas metálicas com duas linhas de tirantes e calado
inicial de 8m. A estrutura portuária simulada e a estratigrafia do solo dessa
região representaram a situação encontrada em diversas áreas portuárias do
país, cuja formação geotécnica normalmente é composta por espessas
camadas de depósitos de argilas flúvio-marinhas muito moles.
Visando a avaliação do desempenho do jet grouting o cais foi submetido a
aprofundamentos de calados de até 6m e incrementos de sobrecarga de até
60kPa. Para simular o comportamento do solo e a estabilidade da estrutura
sem e com o reforço foram feitas análises computacionais pelos métodos dos
elementos finitos e de equilíbrio limite.
Para estimativa dos parâmetros necessários à modelagem do solo natural
e do material tratado com jet grouting foram utilizadas correlações encontradas
na literatura.
Partindo da situação inicial do cais foram modelados doze cenários
diferentes. Para cada cenário foi estipulado um incremento de sobrecarga e um
aumento de calado, que por meio das análises computacionais foram
comparados com e sem o reforço. Entre análises pelo método dos elementos
finitos e pelo método de equilíbrio limite foram rodados 63 modelos
computacionais.
Ao final das modelagens foram feitas avaliações do desempenho do
reforço, onde foi constatada a adequabilidade desta técnica de melhoramento
de solos para o problema em questão, principalmente nos casos de
aprofundamentos de calado.

20
ABSTRACT

Due to low quality of the national ports infrastructure, the technique of soil
grouting known as jet grouting is presented as an alternative to the
strengthening and improvement of the existing port facilities.
The studies carried out were based on the geotechnical characteristics of
the area of the port of Navegantes-SC, a pile sheet pier with two cutting boards
was modeled, allowing dredging up to 8m depth. The simulated port structure
and stratigraphy of the soil of this region are found in many ports of the country,
where there are thick layers of very soft fluvial-marine clay deposits.
In order to assess the performance of the jet grouting technique, the pier
was submitted to the dredging up to 6m depth and increments of load up to
60kPa. In order to simulate the soil behavior and stability of the structure with
and without reinforcement, the geotechnical models were analyzed by
computational methods the finite element and limit equilibrium.
In order to estimate the parameters for modeling the natural soil and the
treated material with jet grouting correlations from the literature was used.
Starting from the initial situation of the pier, twelve different cases were
modeled. For each scenario it was stipulated an increase in workload and an
increase in the dredging depths.
The analysis were carried out considering or not the reinforcement with jet
grouting. It was carried out 63 analysis by finite element method and limit
equilibrium method. From these analyses, it was observed that the jet grouting
technique is adequate to the port infrastructure.

21
1 INTRODUÇÃO

1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Segundo dados da Secretaria Especial de Portos (SEP, 2010),


aproximadamente 90% das exportações brasileiras dependem do
funcionamento dos portos do país. Em contrapartida, um estudo contratado
pelo Ministério dos Transportes em 2005 (LEVANTAPORTOS, 2005) revelou
que a expansão do comércio exterior brasileiro, baseada no setor industrial e,
sobretudo no mineral e no agropecuário, exige dos portos, a maioria secular e
localizado junto a centros-urbanos, constantes adaptações.
A obsolescência da infraestrutura dos portos brasileiros se tornou um
limitador à entrada de navios nos portos do país. Os portos que melhor
atendem às necessidades das embarcações, mesmo que de forma não ideal,
apresentam uma elevada taxa de utilização dos berços de atracação, uma vez
que não há berços com infraestrutura suficiente para entrada dos modernos
navios que ora são utilizados no comércio marítimo mundial.
A taxa de ocupação dos berços de alguns portos chega a valores muito
superiores ao valor de 50%, taxa ideal para que não ocorra tempo de espera. O
Terminal de Contêineres do Porto de Paranaguá, por exemplo, responsável por
8% da movimentação de contêineres nos terminais portuários brasileiros,
apresenta uma taxa de ocupação dos berços de atracação superior a 90%,
ocasionando tempo de espera de até 20 horas.
A necessidade de investimentos em infraestrutura portuária se mostra
latente para o desenvolvimento do país e, entre outros diversos aspectos, o
reforço dos berços de atracação existentes são uma excelente alternativa para
o aumento da capacidade de movimentação de cargas dos portos brasileiros.

22
1.2 OBJETIVO

Esta dissertação tem como objetivo avaliar por meio de modelagens


computacionais o comportamento da técnica de melhoramento de solos jet
grouting quando utilizada para reforço de uma estrutura portuária existente,
adotando uma metodologia de análise que seja útil para elaboração de projetos
que utilizem este tipo de reforço.

1.3 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA

Jet grouting é um método de melhoria de solo pelo qual água, ar e calda de


cimento, numa combinação adequada, são injetados a pressões muito
elevadas, proporcionando alterações nas propriedades mecânicas do solo.
Esta é uma técnica relativamente recente, desenvolvida primeiramente no
Japão nos anos 60 e depois aprimorada na Europa nos anos 70. A
versatilidade do jet grouting no que diz respeito aos tipos de solos passíveis de
serem tratados, associada à gama de situações em que esta técnica pode ser
implementada, traduz-se em um aumento progressivo da sua utilização desde
a sua origem até os dias de hoje.
Dentre as diversas formas existentes para reforço de estruturas portuárias,
o jet grouting vem se destacando como uma alternativa rápida, eficiente e
relativamente barata. Entretanto, a crescente utilização desta técnica sem a
realização de estudos suficientes sobre o assunto vem suscitando dúvidas
quanto a sua adequabilidade em determinadas situações.
Este estudo pretende abordar especificamente a utilização de jet grouting
para reforço de estruturas portuárias e deste modo contribuir no
desenvolvimento do setor de infraestrutura portuária do país.

23
1.4 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

Além do Capítulo 1 que aborda os objetivos, a justificativa e relevância


deste trabalho, a presente dissertação está estruturada da seguinte forma:

Capítulo 2 – O jet grouting e as técnicas para melhoramento de solos


por grauteamento: Neste capítulo são apresentadas as principais técnicas de
melhoramento de solos, onde é descrita de forma mais detalhada a técnica de
melhoramento de solos denominada jet grouting.

Capítulo 3 – Descrição do problema portuário: Neste capítulo são


apresentados os tipos de obras portuárias existentes, apresentando as
peculiaridades deste tipo de obra no que diz respeito às ações e aos cenários
comumente encontrados, de modo que permita melhor compreender o
problema de instabilidade que se pretende estudar e em que situações são
passíveis de utilização de reforço com jet grouting.

Capítulo 4 – Metodologia para modelagem do problema: Neste capítulo


é apresentada a metodologia adotada para modelagem de reforços de
estruturas portuárias com jet grouting, sendo descrito como são estimados os
parâmetros utilizados na modelagem do solo tratado e do solo natural, além de
definir o tipo de modelagem adotada para simulação do problema que se
pretende estudar.

Capítulo 5 – Modelagem de reforço de um cais com jet grouting: Neste


capítulo é apresentada a aplicação da metodologia proposta, utilizando como
cenário geotécnico as características do subsolo da área do porto de
Navegantes-SC.

Capítulo 6 – Conclusões e sugestões: Neste último capítulo são


apresentadas as conclusões deste estudo, assim como são propostas algumas
sugestões para a elaboração de futuros estudos que dêem prosseguimento ao
assunto.

24
2 O JET GROUTING E AS TÉCNICAS PARA MELHORAMENTO DE
SOLOS POR GRAUTEAMENTO

2.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O jet grouting, assim como a maioria das técnicas de grauteamento de


solos e rochas, se desenvolveu a partir da prática. A necessidade de
melhoramento das propriedades mecânicas de um substrato, pelos mais
diversos motivos, incentivaram o desenvolvimento destas técnicas, que
conforme foram sendo utilizadas, passaram a ser melhor estudadas e
desenvolvidas.
Neste capítulo é apresentada inicialmente uma breve descrição das
técnicas de grauteamento de solos. Em seguida são apresentadas as
aplicações, a metodologia executiva e os principais parâmetros intervenientes
da técnica de jet grouting. Por fim, são mostrados casos da literatura onde
foram aplicados esta técnica e discutidos os benefícios, as desvantagens e os
cuidados necessários.

2.2 GRAUTEAMENTO DE SOLOS

Grauteamento consiste em forçar a entrada de um material (grout) sob


pressão suficiente para que o mesmo preencha cavidades, fendas, vazios e/ou
outros defeitos em rochas, solos, concretos ou materiais similares (WARNER,
2004).
O primeiro grauteamento de solo data de 1802, no qual o engenheiro
francês Charles Bérigny utilizou água com cimento pozolana para preencher
cavidades da fundação de uma eclusa que sofria problemas de recalque.
Com o desenvolvimento de ligantes hidráulicos e a invenção do cimento
Portland em 1821, a técnica começou a se desenvolver, chegando às

25
aplicações mais relevantes após o desenvolvimento das modernas bombas
hidráulicas com controle de pressão e vazão, ocorrido após a segunda Guerra
Mundial.
Os fundamentos básicos do grauteamento já eram conhecidos desde o
início da Primeira Guerra Mundial. Segundo KUTZNER (1996), a necessidade
de conhecimento e controle da pressão de bombeamento, do excesso de água,
das formas de preenchimento dos vazios, da granulometria do material
empregado e da permeabilidade do meio que se pretende tratar eram e são,
até os dias de hoje, considerados aspectos essenciais na execução de
grauteamentos de solos e rochas.
Segundo WELSH (1986), os métodos de grauteamento de solos, em função
do mecanismo pelo qual o solo é melhorado, podem ser classificados de quatro
formas distintas. São elas: o grauteamento de solos por compactação
(deslocamento), fratura (intrusão), permeação (químico) ou substituição e
mistura (jet grouting). A FIG. 2.1 apresenta os métodos e os respectivos
resultados no solo tratado, indicando de forma comparativa a diminuição da
permeabilidade do solo tratado em função do método de grauteamento.

FIG. 2.1 – Tipos de grauteamento de solos (WARNER, 2004).

26
2.2.1 GRAUTEAMENTO POR COMPACTAÇÃO

O objetivo deste tipo de grauteamento, como o próprio nome já diz, é


promover uma compactação do solo mediante injeções. Em torno do tubo por
onde o material de grauteamento é injetado ocorre um deslocamento devido à
pressão de injeção, promovendo uma densificação do solo no local injetado e
na região circundante ao tubo de injeção. Isto ocorre devido ao aumento das
tensões de confinamento devido à pressão de injeção.
Justamente por ser um grauteamento por compactação, a sua faixa de
aplicabilidade é grande, pois não depende da penetração pelo solo do material
grauteado. Pode ser aplicado para todas as faixas de areia e silte. No caso de
argilas fica restrito à existência de uma permeabilidade suficiente para uma
satisfatória dissipação das poro-pressões geradas.
Trata-se de um método que não exige grande infra-estrutura para
execução, podendo ser utilizado em locais de difícil acesso. Por outro lado, não
pode ser executado em locais próximos a estruturas existentes, uma vez que
provoca deslocamentos sensíveis na massa de solo nas proximidades do
tratamento.
O grauteamento por compactação promove um aumento da capacidade de
carga do solo, entretanto o ganho de coesão é muito pequeno e o aumento da
resistência ao cisalhamento não é significativo. Entretanto, o custo por metro
cúbico de solo tratado no grauteamento por compactação é o menor dentre os
métodos para melhoramento de solos (WARNER, 2004).

2.2.2 GRAUTEAMENTO POR FRATURA

No grauteamento por fratura, o tratamento do solo é realizado com injeções


para preenchimento de cavidades, poros e juntas com considerável mudança
na estrutura do solo. Em adição aos vazios naturais, novos vazios são criados
artificialmente devido à pressão de injeção do material grauteado e

27
subsequentemente as fendas criadas com a ruptura da estrutura do solo
tratado são preenchidas (KUTZNER, 1996).
O fraturamento intencional do solo deve ser realizado de forma controlada,
de modo que a pressão de bombeamento do graute seja suficiente para que
ocorram as fraturas hidráulicas no solo. Entretanto, como a direção e a
configuração das fraturas não podem ser controladas, este tipo de
grauteamento fica limitado a uma localização específica de tratamento. Esta
limitação devido à dificuldade de controle das fraturas faz com que este método
fique mais restrito aos solos em que os demais métodos de grauteamento não
podem ser empregados, tais como as argilas.

2.2.3 GRAUTEAMENTO POR PERMEAÇÃO

O grauteamento por permeação tem como propósito a injeção para


preenchimento de poros, cavidades e aberturas sem que ocorram alterações
consideráveis na estrutura dos vazios do solo (BYLE E BORDEN, 1995).
A idéia de grauteamento de solos remete diretamente a este tipo de
tratamento, no qual as partículas do solo são aglutinadas umas às outras por
meio de permeação do material grauteado. Neste método razoáveis
acréscimos na capacidade de carga e na tensão de cisalhamento do solo
podem ser obtidos, além de uma significativa diminuição da permeabilidade. No
caso de uma aplicação que preencha completamente os vazios do solo pode-
se atingir um bloqueio por completo do fluxo de água (FANG, 1991).
O uso deste método de grauteamento é limitado pela permeabilidade do
solo tratado, uma vez que o mesmo deve ser permeável suficiente para que o
fluido grauteado penetre adequadamente no solo. Sob um ponto de vista
prático pode-se considerar que este tipo de grauteamento se aplica à faixa
granulométrica de areias e pedregulhos, entretanto, dependendo do material
utilizado no grauteamento, alguns solos com presença de partículas de silte
podem ser tratados. O grauteamento químico por exemplo, que normalmente
emprega líquidos que apresentam baixíssimas viscosidades é capaz de
permear solos com permeabilidades mais baixas.

28
Justamente por apresentar um comportamento fluído quando injetado no
terreno, o grauteamento por permeação apresenta um alto risco de falhas no
controle de injeção, podendo inclusive ocorrer fugas de material e fraturas
hidráulicas no solo tratado. O custo por metro cúbico de solo tratado utilizando-
se grauteamento por permeação pode ser considerado relativamente oneroso
quando comparado com os demais (WARNER, 2004).

2.2.4 GRAUTEAMENTO POR SUBSTITUIÇÃO E MISTURA

Esta técnica de grauteamento de solos, mais conhecida como jet grouting,


se diferencia por ser um método relativamente recente que, apesar de ter
surgido como uma evolução das outras técnicas, pouco tem a ver com os
fundamentos básicos dos métodos descritos anteriormente, uma vez que seu
princípio executivo prevê a desagregação e posterior mistura do solo ao
material injetado. Enquanto nas demais técnicas são aplicadas pressões de
injeção da ordem de 4,0 MPa, no método de jet grouting as pressões de
injeção são da ordem de 60 MPa (KUTZNER, 1996).
Segundo WARNER (2004), a mistura do material injetado a alta pressão no
solo promove a criação de uma massa por ele chamada de “solocreto”, que
virtualmente substitui o solo original, sendo por isso denominado um método de
substituição e mistura.
Por se tratar de um método que promove a completa destruição da
estrutura do solo original, pode ser aplicado em princípio em qualquer tipo de
solo. Uma comparação entre as faixas de aplicação deste método com
métodos tradicionais de permeação está apresentada na FIG. 2.2.
Este tipo de tratamento confere ao solo ganho de resistência e diminuição
da permeabilidade. A FIG. 2.3 mostra as faixas de valores de resistência em
função do tipo de solo tratado. A amplitude destas faixas se deve a diversos
outros fatores que serão apresentados ao longo deste capítulo, onde o estudo
deste método será aprofundado.

29
FIG. 2.2 – Limites de aplicação de grauteamentos (BERGER, 2010).

FIG. 2.3 – Resistências de tratamentos com jet grouting (WARNER, 2004).

2.3 A TÉCNICA DE JET GROUTING

O jet grouting é uma técnica para melhoramento de solos que pode ser
executada sem necessidade de escavação prévia. Esta técnica consiste em
bombear a alta pressão jatos horizontais de calda de cimento, água e/ou ar no

30
subsolo, ao longo de uma vertical correspondente ao eixo da haste de injeção.
A elevada energia cinética do jato, que é injetado no subsolo a velocidades da
ordem de 250 m/s, promovem a desagregação da estrutura do solo. O solo
desagregado se mistura com a calda de cimento jateada, formando um material
de melhores características, ou seja, com maior resistência e menores
compressibilidade e permeabilidade.
A FIG. 2.4 ilustra a diferença de resultados obtidos entre o método
convencional de injeção e o jet grouting. A FIG. 2.4a mostra uma coluna de
“solocreto” formada pelo método de jet grouting, comparando-a com o
resultado da FIG. 2.4b, referente a uma aplicação de grauteamento pelo
método convencional, com permeação por injeção a baixa pressão.

(a) (b)
FIG. 2.4 – Comparação entre diferentes tipos de grauteamento de solos.
a) Colunas de “solocreto” formadas pelo método de jet grouting; b)
Massa de solo tratada pelo método convencional de grauteamento por
injeção a baixa pressão (BERGER, 2010).

31
2.3.1 LIMITES PARA UTILIZAÇÃO DO MÉTODO

Embora comumente o método de jet grouting seja mencionado como


aplicável em qualquer tipo de solo, verifica-se que, em função da resistência do
solo, existe uma faixa de aplicação deste tipo de tratamento de solo. Esta faixa
se refere principalmente à viabilidade financeira do método. Ou seja, mesmo
sendo executivamente possível utilizar a solução, ela deixa de ser viável em
virtude de seu baixo rendimento quando executada em determinados tipos de
solos.
Ao contrário dos métodos convencionais de grauteamento, onde as faixas
de aplicações se referem à permeabilidade do solo, o jet grouting tem uma
faixa de aplicabilidade em função da resistência do solo. Para que seja
vantajoso, o sistema de jateamento horizontal deve conseguir de forma eficaz
desagregar e misturar o solo tratado, sem que se torne um processo muito
moroso e/ou dispendioso. Nos métodos de grauteamento por permeação, os
vazios existentes devem ser suficientes para que o material injetado penetre no
solo independente da resistência do mesmo.
Segundo KUTZNER (1996), solos coesivos com resistência não drenada de
40 kPa e limite de liquidez de 40% são vistos como valores limites para
aplicação de jet grouting. O que se observa na prática é que em solos coesivos
a limitação do método é financeira, pois a velocidade de translação da subida
da haste de injeção deve ser tão pequena e/ou a quantidade de material passa
a ser tão grande que o custo para se obter o elemento desejado se torna
inviável.
Em solos não coesivos mais uma vez a viabilidade do método se refere ao
aspecto financeiro. Solos com granulometrias mais grossas são de mais difícil
movimentação, tornando mais vantajosa a utilização de outros métodos de
grauteamento. Isto ocorre pois com o jet grouting não é possível desagregar
suficientemente a estrutura de solos graúdos e a injeção acaba agindo de
forma similar a outros métodos de grauteamento por permeação. Segundo
KUTZNER (1996) um limite superior de granulometria para aplicação do
método em solos não coesivos pode ser dado por pedregulhos de 60mm de
diâmetro.

32
2.3.2 PROCESSO EXECUTIVO DO JET GROUTING

O processo executivo de melhoramento de solos com jet grouting pode ser


basicamente dividido em três fases distintas: corte, mistura e cimentação. Na
fase de corte a estrutura do solo é quebrada por jatos horizontais de calda de
cimento, água e/ou ar, dispersando as partículas de solo. Na fase de mistura,
uma parte das partículas ou fragmentos do solo é substituída e a outra parte é
misturada intimamente com a calda injetada. Por fim, na fase de cimentação as
partículas ou fragmentos de solo são aglutinados entre si promovendo a
cimentação propriamente dita e formando um corpo consolidado.
A seqüência executiva esquemática de uma perfuração com jet grouting é
mostrada na FIG. 2.5. Inicialmente a sonda é posicionada nivelada, com o eixo
da haste de injeção coincidente com o eixo da coluna de jet grouting que se
pretende formar. No caso de se pretender obter um painel, o eixo da haste de
injeção deve ser coincidente com a extremidade do painel. Em seguida, a haste
de injeção é introduzida no terreno através de um movimento rotacional, com a
ajuda de um jato de água vertical, até que os bicos de injeção atinjam a
profundidade inferior desejada. Finalizada a perfuração, a saída de água
inferior (vertical) é fechada através de uma válvula e inicia-se o processo de
injeção com jatos horizontais de calda de cimento, água e /ou ar.

FIG. 2.5 – Seqüência executiva do jet grouting (BERGER, 2010).

33
Durante o processo de injeção, no caso de se pretender obter uma coluna
de jet grouting (geometria cilíndrica) se impõe à haste de injeção um
movimento rotacional. No caso dos painéis de jet grouting não há rotação
durante a subida da haste de injeção.
Iniciado o jateamento horizontal da calda de cimento, procede-se ao mesmo
tempo a subida da haste de injeção no interior do furo, com uma velocidade
constante, de modo que o período de tempo correspondente à ascensão da
haste para um determinado comprimento fixo estipulado, designado por passo
vertical, seja constante. Concluída a execução da coluna ou painel retira-se a
haste do furo, preenchendo por gravidade a área previamente ocupada pela
haste, com calda de cimento até o topo.
Conforme dito anteriormente, neste processo executivo o sistema de
jateamento empregado para corte e mistura do material injetado pode ser feito
com calda de cimento, água e/ou ar. Dependendo da forma como é feito este
jateamento o processo é denominado como jato simples, duplo ou triplo,
conforme mostrado na FIG. 2.6.

FIG. 2.6 – Sistemas de jateamentos do jet grouting (BERGER, 2010).

34
2.3.2.1 SISTEMA DE JATO SIMPLES

No sistema de jato simples são utilizados apenas jatos horizontais de calda


de cimento, que tem a finalidade de simultaneamente realizar a desagregação
e a mistura das partículas de solo com o material injetado. A designação “jato
simples” se deve ao fato do mesmo ser realizado apenas com calda de
cimento, sem a presença de jatos de água ou ar. Entretanto, no jateamento
simples podem ser utilizados um ou mais bicos de injeção de calda de cimento.
Por se tratar de um sistema de jateamento com baixo poder de
desagregação, sua utilização fica mais restrita aos solos que apresentem
menor resistência ao jateamento e demandem um esforço energético menor
para desagregação. Segundo CARRETO (2000), a aplicação deste sistema de
jateamento se torna pouco eficiente e muito dispendioso se aplicado em solos
arenosos com valores de NSPT superiores a 20 golpes ou em solos coesivos
com valores de NSPT superiores a 5 golpes.

2.3.2.2 SISTEMA DE JATO DUPLO

O sistema de jateamento duplo difere do simples apenas pelo fato do


jateamento de calda de cimento ser envolto por uma camada de ar, conferindo
ao mesmo um maior poder de desagregação. Assim como no jateamento
simples, a ação desagregadora e de mistura é feita pelo jateamento de calda
de cimento, servindo a camada envolvente de ar apenas para aumentar o
alcance do jato.
Para se obter a camada de ar envolvente ao jato de calda de cimento são
empregadas duas hastes coaxiais para injeção. Pela haste interna é bombeada
a calda de cimento e pelo espaço anelar entre as hastes passa o ar
comprimido, gerado por um compressor na superfície. O jato de calda de
cimento sai por um bico de injeção único para as duas hastes, de modo que ao
ser injetado contra o solo esta camada envolvente de ar comprimido confere ao
jato um maior poder de desagregação.

35
O único cuidado adicional que deve existir além dos procedimentos
adotados no jateamento simples se refere à fase inicial de perfuração. Além da
injeção de água para perfuração pela haste interna, no espaço anelar entre as
hastes coaxiais deve sempre haver fluxo de ar comprimido em vazão suficiente
para que não ocorram obstruções.
Por se tratar de um sistema de jateamento com maior poder de
desagregação em relação ao jato simples, sua utilização não tem restrições,
podendo ser utilizado em praticamente todos os tipos de solos. Entretanto,
segundo CARRETO (2000), a aplicação deste sistema de jateamento não é
comumente usada em solos coesivos com valores de NSPT superiores a 10
golpes.

2.3.2.3 SISTEMA DE JATO TRIPLO

O sistema de jateamento triplo difere dos demais por separar as ações de


desagregação e mistura. Para tal se faz necessário pelo menos um bico para
injeção de água e ar e outro para injeção de calda de cimento.
O jato de água e ar serve para destruir a estrutura do terreno. Parte da água
injetada sai através do furo, trazendo consigo parte do solo desagregado. O
jato de ar que envolve o jato de água aumenta o poder desagregador e ainda
provoca a emulsão da mistura água-solo desagregado, reduzindo a sua
densidade e facilitando a sua saída para o exterior.
O jato de calda de cimento é lançado no terreno através de um outro bico
de injeção, posicionado abaixo do bico de injeção de água e ar. O solo que
permaneceu na cavidade após a passagem do jato de água e ar se mistura à
calda de cimento injetada, dando origem a um corpo solidificado.
Para se obter a camada de ar envolvente ao jato de água e um outro jato
distinto de calda de cimento, adota-se além dos dois bicos de injeção, um
sistema de três hastes coaxiais, que funciona de forma similar ao sistema de
jato duplo.
O sistema de jato triplo pode ser empregado em qualquer tipo de solo,
entretanto de uma forma geral se observa que este tipo de solução tem sido

36
adotada em solos com valores de NSPT inferiores a 15 golpes (CARRETO,
2000).

2.3.3 EQUIPAMENTOS

Os equipamentos requeridos para tratamentos com jet grouting estão


reunidos na FIG. 2.7 e consistem basicamente de uma máquina para
perfuração e injeção, reservatórios de água e demais materiais, compressor de
ar e bomba de alta pressão. Ressalta-se, entretanto, que o tipo de maquinário
destinado à perfuração poderá sofrer alterações em função do tipo de solo e do
sistema de jateamento empregado. A FIG. 2.7 se refere ao sistema de jato
triplo, que é o que demanda a maior quantidade de equipamentos.

FIG. 2.7 – Equipamentos necessários para tratamentos com jet grouting.


1-) Equipamento para perfuração e injeção com controle de profundidade
e de velocidades de rotação e translação; 2-) Silo com dosador para
armazenamento de cimento; 3-) Tanques para mistura e armazenagem da
calda de cimento; 4-) Reservatório de água; 5-) Bomba de alta pressão
para água; 6-) Compressor de ar; e 7-) Bomba de alta pressão para injeção
da calda de cimento (KUTZNER, 1996).

37
Tendo em vista que o raio efetivo da coluna ou painel de jet grouting
depende do tipo de solo tratado e também da forma como se desenvolvem os
trabalhos de perfuração e injeção, é de vital importância que o equipamento de
perfuração e injeção possua um monitoramento e controle automático das
velocidades de rotação e translação da haste de injeção. Na prática não há um
controle independente de pressão e vazão do material injetado, ficando por
conta apenas do controle de velocidade de rotação e translação da haste de
injeção a definição do raio efetivo do elemento tratado.
O equipamento de injeção utilizado neste método é muito versátil, podendo
se deslocar no interior da obra e se posicionar próximo às estruturas
existentes, o que o torna muito vantajoso quando utilizado, por exemplo, para
reforços de fundações de construções existentes. A FIG. 2.8b mostra um
equipamento de injeção posicionado junto a uma construção existente,
enquanto na FIG. 2.8a pode se observar o equipamento realizando um
jateamento horizontal, característico deste método.

INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA


CURSO: MESTRADO EM ENGENHARIA DE TRANSPORTES
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: INFRA-ESTRUTURA DE TRANSPORTES

(a) (b)
FIG. 2.8 – Equipamento utilizado na execução de colunas de jet grouting.
a) Jato horizontal de água a alta pressão; b) Versatilidade para execução
de reforços próximos às estruturas existentes (BERGER, 2010).

38
Um aspecto negativo da técnica é a grande quantidade de resíduos
gerada, o que exige um rigoroso e permanente acompanhamento dos serviços
para que a limpeza e arrumação do canteiro da obra não fiquem prejudicadas.

2.3.4 APLICAÇÕES

As aplicações de jet grouting se referem basicamente às obras de


estabilização e impermeabilização, sendo, portanto, muito utilizado em obras
de escavações, reforços de fundações, cortinas estanques, estabilização de
taludes e túneis. Para que o propósito de estabilizar ou impermeabilizar o solo
seja atingido, é necessário que os elementos (colunas ou painéis) estejam
posicionados adequadamente, ou seja, o sucesso da aplicação depende do
arranjo adotado para a solução. A FIG. 2.9 mostra seis esquemas possíveis de
arranjos de soluções com jet grouting.

FIG. 2.9 – Arranjos típicos de aplicações de jet grouting.


a) Coluna simples; b) Cortina estanque de colunas justapostas; c)
Colunas de sustentação intertravadas; d) Colunas individuais para
melhoramento de solos; e) Painéis intertravados para formação de
paredes diafragma; f) Impermeabilização de lajes de fundo com colunas
intertravadas (KUTZNER, 1996).

39
A versatilidade do método, associada à possibilidade de utilização em
qualquer tipo de solo, acarreta em um leque de aplicações nos mais variados
tipos de obras. A FIG. 2.10 mostra seis exemplos de obras nas quais o método
de jet grouting pode ser aplicado.

FIG. 2.10 – Aplicações de jet grouting em obras civis (BERGER, 2010).

Neste estudo será avaliado o desempenho do jet grouting em uma obra de


reforço de uma estrutura portuária. A FIG. 2.11 ilustra uma típica utilização de
jet grouting neste tipo de obra, na qual é mostrado um reforço para
aprofundamento do calado do cais. Considerando-se que o reforço de obras
normalmente está associado às construções com idade mais avançada, a
construção de cortinas de jet grouting apresenta ainda a vantagem de ser um
elemento vedante, capaz não só de estabilizar a estrutura como interromper
eventuais fugas de material fino.

40
FIG. 2.11 – Aplicação de jet grouting para estabilização de obra portuária.

2.3.5 VARIÁVEIS DO PROCESSO EXECUTIVO

A resistência, a deformabilidade, a permeabilidade, a geometria do corpo


tratado e a eficiência de um tratamento com jet grouting são diretamente
correlacionadas com as variáveis do processo executivo. Estas variáveis são
modificadas de acordo com o sistema de jateamento empregado e são
basicamente as seguintes: vazão e pressão dos fluídos envolvidos no processo
(calda de cimento, água e ar), diâmetros e quantidade de bicos de injeção,
velocidades de subida e de rotação da haste de injeção e fator água / cimento
da calda de cimento.
As especificações das variáveis do processo executivo devem estar em
sintonia com a disponibilidade de equipamentos para execução da obra, uma
vez que normalmente são eles que definem os valores a serem empregados.
Não faz sentido especificar valores de velocidades, vazão e pressão fora da
faixa de atuação dos equipamentos adotados e tão pouco estipular bicos de
injeção em quantidades e/ou diâmetros diferentes do disponível na região.

41
A TAB. 2.1 apresenta valores médios de variáveis do método de jet
grouting. Nesta tabela fica clara a influência do sistema de jateamento na
definição dos mesmos. No sistema de jato simples as variáveis que se referem
à injeção de ar e água não precisam ser definidas. Isto ocorre porque neste
sistema de jateamento o processo de corte e mistura é realizado pelo próprio
jato de calda de cimento. No sistema de jateamento duplo, no qual o jato de
calda de cimento é envolto por uma camada de ar para amplificar o poder de
corte e mistura do jato, é necessário definir também as variáveis que se
referem à injeção de ar. No jateamento triplo todas as variáveis do processo
de injeção, referentes à calda de cimento, ao ar e à água, devem ser definidas,
pois o processo de corte é feito separadamente pelo jato de água e ar,
enquanto o jato de calda de cimento é injetado por meio de outro bico de
injeção.

TAB. 2.1 – Variáveis típicas do método de jet grouting (CARRETO, 2000).

Variáveis Jato Simples Jato Duplo Jato Triplo

Calda de cimento (MPa) 20 a 60 20 a 55 0,5 a 27,6

Pressão Ar (MPa) - 0,7 a 1,7 0,5 a 1,7

Água (MPa) **** **** 20 a 60

Calda de cimento (l/min) 30 a 180 60 a 150 60 a 250

Vazão Ar (m3/min) - 1 a 9,8 0,33 a 6

Água (l/min) **** **** 30 a 150

Diâmetro Calda de cimento (mm) 1,2 a 5 2,4 a 3,4 2a8


dos bicos Água (mm) **** **** 1a3

Número de Calda de cimento 1a6 1a2 1


bicos Água **** **** 1a2

Fator água / cimento 1:0,5 a 1:1,25 1:0,5 a 1:1,25 1:0,5 a 1:1,25

Velocidade de subida da haste de injeção (m/min) 0,1 a 0,8 0,07 a 0,3 0,04 a 0,50

Velocidade de rotação da haste de injeção (rpm) 6 a 30 6 a 30 3 a 20


**** Especificado somente em casos de pré-furação.

Cabe salientar que em situações particulares, em função das características


do solo, o tratamento pode ser precedido de uma pré-furação. Consiste em

42
efetuar um jateamento de água de alta pressão em movimento ascendente e
rotacional antes de se iniciar o processo de jet grouting. Em seguida realiza-se
o tratamento propriamente dito. Nestes casos devem ser definidas também as
variáveis referentes a este jateamento de água da pré-furação.
Conforme se pode observar, os valores apresentados na TAB. 2.1 são
bastante diversos. Estas diferenças são explicadas pela diversidade de
metodologias e equipamentos disponíveis, que podem variar de um país para
outro ou até mesmo de uma empresa para outra, que sempre estão em busca
de uma otimização do método.
As variáveis e as faixas de valores do procedimento são dependentes entre
si. A vazão está diretamente relacionada à pressão de injeção, à quantidade de
bicos e seus respectivos diâmetros. A velocidade de rotação (VR) da haste
depende da velocidade de subida (VS) da mesma e do passo empregado. O
passo corresponde a quanto a haste sobe em um determinado período de
tempo. Em geral, no caso de um só bico de injeção, adotam-se duas rotações
completas da haste por passo. Assim, para se obter a velocidade de rotação
para essas especificações tem-se:

2  rotações  VS
VR  (EQ. 2.1)
passo

O passo deve ser definido em função do tipo de solo. Em solos granulares o


jato apresenta um maior poder de corte do material e permite a adoção de
passos maiores. Em solos argilosos os jatos tendem a ser menos eficientes no
corte e por este motivo devem ser adotados passos menores. Em solos
arenosos é usual adotar passos da ordem de oito centímetros, enquanto em
solos argilosos os valores são da ordem de quatro centímetros (CARRETO,
2000).
A energia de injeção do processo é um bom parâmetro de comparação para
avaliar do esforço desferido para execução de tratamentos com jet grouting e
depende da vazão (Qi), da pressão de injeção (P) e da velocidade de subida da
haste (VS). Esta energia de injeção pode ser obtida da seguinte forma:
P  Qi
EI  (EQ. 2.2)
VS

43
O impacto dinâmico do jato é que definirá um maior ou menor poder de
corte do jato e pode ser obtido a partir do diâmetro do bico de injeção ( b ) e
da pressão de injeção (P), conforme mostrado na fórmula abaixo:

  P  b
2

ID  (EQ. 2.3)
2

O cálculo do consumo de cimento pode ser obtido em função da vazão (Qi),


da velocidade de subida da haste (VS), do fator água / cimento (a/c) e do peso
específico da calda de cimento (calda):

Qi  calda
C  (EQ. 2.4)
VS 1  a / c

As correlações das variáveis do processo executivo com a geometria final e


as características mecânicas do solo tratado são importantes para um projeto
de reforço com jet grouting e devem ser calibradas por meio de colunas pilotos
antes do início das obras.

2.3.6 LIÇÕES DE CASOS REAIS DE APLICAÇÕES DE JET GROUTING

O desenvolvimento da técnica de jet grouting se deu principalmente a partir


da prática. Diante deste fato observa-se que a maior parte das publicações
encontradas estão relacionadas a casos de aplicações práticas. O
conhecimento desses casos de aplicação nos mais variados tipos de obras se
mostrou de grande importância, pois permitiu visualizar as dificuldades e
limitações do método, além de permitir um intercâmbio de experiências na
elaboração de projetos deste tipo.
GUATTERI et al. (2004) apresentaram um caso de aplicação de jet grouting
em terreno turfoso. Tratavam-se de escavações destinadas à implantação de

44
tanques de uma estação de tratamento de esgoto. Nesta experiência foi
relatada a dificuldade de obtenção de resistência em colunas de jet grouting
executadas nos quatro metros iniciais de uma camada de argila marinha do
Guarujá-SP.
Neste tipo de solo se verificou uma espécie de retardo ou redução no ganho
de resistência da mistura de solo-cimento, que em virtude de especificações de
projeto poderia até mesmo inviabilizar a solução. Este fenômeno, segundo
ABRAMENTO et al. (1998), está associado à presença de solos turfosos
orgânicos, de alto teor de umidade, pH ácido e de agressividade elevada.
A solução encontrada para o problema foi a reinjeção de calda de cimento
nas colunas problemáticas. Os resultados obtidos foram considerados
satisfatórios, pois as mesmas apresentaram o ganho de resistência desejado.
Neste trabalho foi sugerido um roteiro de procedimento para uso de jet
grouting em solos problemáticos, no qual são recomendadas ações antes,
durante e depois da execução das colunas, conforme descrito a seguir:
- Na fase de diagnóstico, antes do início das obras, se recomenda uma
investigação adequada do subsolo, que, no caso de solos problemáticos como
os turfosos, deve ser objeto de caracterização física e química, além de
ensaios de dosagem em laboratório;
- Na fase de implantação e controle, durante a execução do jet grouting, é
sugerida a execução de colunas testes, com controle tecnológico do solo-
cimento obtido a partir do material do refluxo, para que posteriormente seja
possível confirmar os valores obtidos com corpos de provas intactos retirados
diretamente das colunas executadas; e
- Na fase final de execução da obra propriamente dita, durante as
escavações, sugere-se uma calibração dos parâmetros de execução das
colunas para uma retroanálise, além da retirada de amostras para
acompanhamento e verificação do atendimento das necessidades de projeto.
Outro trabalho relevante sobre a técnica é o de JARITNGAM (2001), no
qual foi apresentado um caso de aplicação de jet grouting como parede de
contenção temporária em uma escavação profunda para construção de um
edifício residencial de oito pavimentos situado no centro de Bangkok, Tailândia.
Tratava-se de um terreno com uma camada de 15m de argila mole (Su =

45
20kPa), seguida de uma camada de argila média a rija de 25m de espessura e
de uma camada de areia compacta até o impenetrável à percussão.
No dimensionamento da solução foi adotado método dos elementos finitos
e equilíbrio limite para avaliação do desempenho do jet grouting. A definição
dos parâmetros do solo tratado foi apresentada em termos de resistência ao
cisalhamento e módulo de elasticidade. Foram adotados valores constantes de
módulo de Young do material tratado (Ejet=150 MPa) e resistência ao
cisalhamento do material tratado (cjet= 300 kPa) ao longo dos 8,0m de parede
executados na camada de argila mole.
Os resultados obtidos nas análises considerando as soluções com e sem
jet grouting foram apresentados em termos de deslocamento máximo da
parede. Obteve-se nos cálculos por MEF um deslocamento máximo de 203mm
para a situação sem jet grouting, enquanto para a situação com jet grouting se
chegou a um deslocamento de 112mm.
Nas análises de estabilidade se verificou uma melhoria no fator de
segurança. Na situação sem jet grouting o fator de segurança era inferior a 1,2.
Na análise considerando o reforço o fator de segurança passou para valores
sempre maiores.
Nesta obra os deslocamentos da parede foram medidos e o que se
verificou foram valores no campo muito inferiores aos obtidos na modelagem.
Esta diferença foi atribuída a uma elevada resistência à compressão do
material tratado, que não foi adotada nas modelagens.
A avaliação final da experiência relatou como satisfatória a adoção de jet
grouting para este tipo de obra. O método se mostrou eficiente na função de
contenção do solo. Foi ressaltada também a adequabilidade do método para
execução em áreas de difícil acesso, com o mínimo de interferência possível.
Quanto à utilização do método como solução temporária para escavação,
ressaltou-se que o mesmo propicia uma superfície em ótimas condições para
implantação de uma solução definitiva, podendo a mesma inclusive considerar
a contribuição do jet grouting.

2.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE GRAUTEAMENTO DE SOLOS

46
Neste capítulo procurou-se elucidar conceitos básicos das técnicas de
grauteamento de solos. O amplo conhecimento destas técnicas e o domínio de
suas aplicações permitem que as mesmas sejam utilizadas com a maior
eficiência, proporcionando ganhos técnicos e financeiros.
Pode-se observar que, antes de decidir por qualquer solução de
grauteamento de solos, deve-se ter o cuidado de avaliar criteriosamente as
condições locais em que se pretende aplicar o tratamento. O conhecimento das
características geotécnicas do terreno e a escolha adequada do método de
grauteamento são vitais para que não sejam adotadas técnicas impróprias para
o problema que se pretende resolver.

47
3 DESCRIÇÃO DO PROBLEMA PORTUÁRIO

3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Por definição, porto é uma área destinada a receber embarcações, que


deve proporcionar aos seus usuários facilidades na transferência de materiais,
cargas e pessoas de água para terra e vice versa.
A facilidade que um porto proporciona para seus usuários está diretamente
ligada às condições de implantação do mesmo. Toda implantação portuária
deve levar em consideração as condições de abrigo, as acessibilidades ao
local escolhido, a área de retroporto disponível e os impactos ambientais
provocados.
O abrigo às correntes, às ondas e aos ventos se constitui na condição ideal
para escolha da localização geográfica de um porto. Além de necessitarem de
obras portuárias menos custosas, regiões abrigadas proporcionam menores
esforços durante as operações portuárias, uma vez que a reduzida intensidade
dessas ações ambientais garante maior facilidade na atracação, amarração e
estadia da embarcação no berço de atracação.
A acessibilidade às regiões portuárias, por meio aquaviário, rodoviário,
ferroviário, dutoviário e/ou aeroviário se constitui em um importante fator para o
bom desempenho da logística implantada. Uma boa interligação entre os meios
de transporte provê maior facilidade no transbordo de cargas e passageiros no
porto.
Especialmente sob o ponto de vista aquaviário, a profundidade dos canais
de acesso, das bacias de espera e de manobra e dos berços de atracação
devem ser compatíveis com o comprimento, a boca e o calado das
embarcações empregadas.
O retroporto é uma área terrestre preferencialmente localizada próxima às
estruturas de atracação, onde ficam os depósitos de cargas a serem
embarcadas ou desembarcadas, armazéns, silos, frigoríficos, prédios
administrativos, áreas da estiva, oficinas, pátios a céu aberto para caminhões,

48
contenedores, áreas para prestadores de serviços, lojas, depósito de água
potável, instalações de tratamento de esgoto e lixo, subestação de
abaixamento de energia, polícia portuária e edificações administrativas. Deve
estar preferencialmente localizada próxima aos berços de atracação e
normalmente se situam na própria retroárea do cais ou atracadouro, que é a
área terrestre imediatamente à ré da estrutura de acostagem.
Os impactos ambientais provocados por implantações de portos ficaram
mais em evidência nas últimas décadas. A Lei N o 8.630 (Lei dos Portos), por
exemplo, prevê que qualquer implantação portuária deve ser precedida de
aprovação de um Relatório de Impacto sobre o Meio Ambiente (RIMA), uma
vez que a inadequada implantação de um porto pode trazer severas
implicações ao meio físico e biológico adjacente.

3.2 TIPOS DE PORTOS

Segundo ALFREDINI E ARASAKI (2009), os portos podem ser classificados


de acordo com a sua natureza, localização ou utilização.
Os portos que se localizam em áreas naturalmente abrigadas e que não
necessitam de grandes intervenções para abrigo e acessibilidade aquaviária
recebem a denominação, quanto à natureza de formação, de portos naturais.
Em contrapartida, portos que necessitam de grandes obras de abrigo e
acessibilidade, tais como construção de molhes de proteção e abertura de
canais de acesso, são denominados portos artificiais.
A localização de um porto, para efeito de classificação, é definida a partir do
seu posicionamento em relação à costa. Portos encravados ou salientes à
costa são denominados portos exteriores. Quando posicionados além da linha
de arrebentação da costa, recebem a denominação de portos ao largo,
enquanto os portos lagunares, estuarinos ou no interior de deltas de rios são
denominados portos interiores.
Quanto à utilização, existem dois tipos de portos: portos de carga geral e
portos especializados. Como o próprio nome sugere, portos de carga geral
movimentam qualquer tipo de carga, enquanto portos especializados atuam

49
especificamente em um determinado setor: granéis sólidos ou líquidos,
contêineres, pesqueiros, embarcações de lazer (marinas), embarcações de fins
bélicos (bases navais), etc.
A FIG. 3.1 mostra uma foto do porto de Navegantes, exemplo de Porto
interior localizado na margem do Rio Itajaí-açu, naturalmente abrigado em uma
região estuarina e especializado em operações com contêineres.

Rio Itajaí
-Açu

FIG. 3.1 – Foto do Porto de Navegantes.

3.3 CENÁRIO GEOTÉCNICO TÍPICO EM REGIÕES PORTUÁRIAS


BRASILEIRAS

A escolha do local de implantação de um porto leva em consideração


diversos fatores, dentro os quais se destaca a preferência por uma área
naturalmente abrigada, que propicie maior segurança às embarcações. A
execução de grandes obras de melhoramento para criação de abrigos
representa custo e por isso são evitadas na medida do possível. Deste modo,
as características geotécnicas de regiões portuárias apresentam semelhanças,
pois corriqueiramente se encontram em áreas naturalmente abrigadas, que por

50
sua gênese de formação são constituídas de terrenos moles argilosos, com
baixa capacidade de suporte. São áreas de depósitos de sedimentos, com
espessas camadas de solo compressível. Por se tratarem justamente de solos
de menor resistência abundantes nestas áreas portuárias, é este tipo de solo
que concentra a maior parte dos estudos desta dissertação.

3.3.1 FORMAÇÃO DOS DEPÓSITOS DE SEDIMENTOS

A costa brasileira, do Nordeste ao Sul do país, comportou-se de forma


relativamente homogênea no período quaternário (SUGUIO et al., 1985), o que
de certa forma explica as semelhanças geotécnicas nas regiões portuárias do
país. Entretanto, é importante notar que o ciclo de sedimentação que forma os
depósitos observados nestas regiões portuárias não foi contínuo e ininterrupto,
o que confere aos mesmos estratigrafias características. Segundo MASSAD
(2009), as transgressões Cananéia e Santos, respectivamente penúltima e
última transgressão, são as que mais influenciaram o processo de formação
destes depósitos.
Deste modo, o que se observa nas regiões portuárias do país são pacotes
de sedimentos de origem fluvial, lacustre e/ou marinha, do quaternário, muitas
vezes intercalados por camadas de areias, sendo constante a presença de
seixos e cascalhos até grandes profundidades. É comum a ocorrência de
sobreposição dos sedimentos fluviais, flúvio-marinhos e flúvio-lacustres, devido
às variações climáticas e às lentas variações do nível dos mares no
quaternário, conforme relatado por MARQUES E LACERDA (2002). Nestes
depósitos, a ocorrência, mesmo após o impenetrável à percussão no ensaio
SPT, de camadas de argilas muito duras, sobreadensadas, intercaladas por
camadas de areias médias, é atribuída a períodos anteriores à regressão do
nível do mar na última grande glaciação, conforme se observa no litoral da
baixada Santista (MASSAD, 2009).

51
3.3.2 CARACTERÍSTICAS GEOTÉCNICAS DAS ARGILAS LITORÂNEAS
BRASILEIRAS

As principais características geotécnicas das argilas presentes em


depósitos flúvio-marinhos ou flúvio-lacustres de regiões portuárias são dadas
pelos seus parâmetros de compressibilidade e resistência.
Tratam-se invariavelmente de solos compressíveis, com nível d’água
próximo ou superior à superfície, sendo normalmente considerado no
dimensionamento dos projetos os valores de resistência não drenada (Su) em
análises por tensões totais.
O avanço das técnicas de investigação de subsolo, tanto no campo quanto
no laboratório, associado ao intercâmbio de experiências entre o Brasil e outros
países, proporcionou um crescimento significativo do conhecimento das argilas
do nosso país. Em particular, destaca-se o avanço relativo às argilas litorâneas
brasileiras, que vem sendo estudadas em diversas localidades nos últimos
anos, conforme se pode observar nas referências da TAB. 3.1, que apresenta
um resumo das principais características geotécnicas de argilas litorâneas de
diversas localidades do país. O estudo do comportamento de depósitos de
argilas litorâneas, como decorrência da implantação de obras marítimas,
portos, pontes, aeroportos, parques industriais, densificação de centros
urbanos, entre outros, gerou um banco de dados significativo.
Analisando as argilas litorâneas brasileiras é fácil verificar que se tratam de
argilas muito plásticas com teores de umidade próximo ou superior ao limite de
liquidez. Outra característica marcante é a presença de matéria orgânica, que
muito contribui para os baixos valores de resistência não-drenada (Su)
observados nas mais variadas localidades.
Quanto à compressibilidade das argilas litorâneas brasileiras, as TAB. 3.2 e
TAB. 3.3 apresentam valores representativos do índice de compressão das
argilas (CC), e do coeficiente de adensamento (cV) medidos em diversos
trabalhos realizados no país.

52
TAB. 3.1 - Características geotécnicas de argilas brasileiras.
Argilo-
Local / W LL LP Argila Ativi- Minerais Mat. S u
G ST
Referência (%) (%) (%) (%) dade Org. (kPa)
Princ. Sec.
47 80 30 37 0,9 2,54 0,4 10
Porto Alegre - RS
a a a a a C E, I a a a 2a7
SOARES (1997)
140 130 57 70 1,7 2,59 6,3 32
Sarapuí - RJ
110 110 75 55 1,4 2,60 4,0 5
DUARTE (1977),
a a a a a C I, M a a a 2a4
COSTA FILHO et al. (1985),
160 140 110 80 2,0 2,67 6,5 15
SAYÃO (1980)
Santos - SP
100 80 30 30 1,0 2,60 4,0 10
SAMARA et al. (1982)
a a a a a C - a a a 4a5
ARABE (1995)
140 150 90 80 2,2 2,69 6,0 60
MASSAD (1986)

Recife - PE 50 30 15 50 2,50 4,0 2


GUSMÃO FILHO et al. (1986) a a a a - C - a a a -
COUTINHO et al. (1993) 150 110 75 80 2,70 8,0 40

57 58 24 1,0 2,5 8
Aracajú - SE
a a a - a C - 2,69 a a 2a7
RIBEIRO (2001)
72 85 35 1,4 6,5 20
38 41 20 34 0,4 2,48
Rio Grande - RS
a a a a a C - a - - -
DIAS E BASTOS (1994)
64 90 38 96 1,1 2,66

C = Caulinita E= Esmectita I = I lita M = Montmorilonit a

TAB. 3.2 – Valores típicos de CC para as argilas brasileiras.


Local CC
Ceasa, Porto Alegre - RS
0,34 a 2,27
SOARES (1997)
Aeroporto Salgado Filho, Porto Alegre - RS
0,81 a 1,84
SOARES (1997)
Tabaí-Canoas - RS
0,60 a 2,4
DIAS E GEHLING (1986)
Rio de Janeiro - RJ
COSTA FILHO et al. (1985) 0,5 a 1,8
ORTIGÃO (1980) 1,3 a 2,6
Sarapuí - RJ
1,35 a 1,86
COUTINHO E LACERDA (1976)
Recife - PE
0,5 a 2,5
COUTINHO et al. (1998)

TAB. 3.3 – Valores típicos de cV para as argilas brasileiras.

53
LOCAL c V (10-8 m2/s) ENSAIOS
Ceasa, Porto Alegre - RS
SOARES et al. (1997) 0,70 a 5,10 Edométrico vertical (NA)
1,20 a 6,60 Edométrico radial (NA)
SCHNAID et al. (1997)
3,20 a 4,27 Piezocone (NA)
Ceasa, Porto Alegre - RS
SOARES et al. (1997) 0,67 a 2,12 Edométrico vertical (NA)
0,84 a 3,27 Piezocone (NA)
SCHNAID et al. (1997)
19,4 a 49,8 Piezocone (SA)
Rio Grande - RS
1,00 a 5,00 Edométrico vertical (NA)
DIAS E BASTOS (1994)
Vale do Rio Quilombo - SP
4,00 a 8,90 Piezocone (NA)
ARABE (1995)
Vale do Rio Mogi / Quilombo - SP
4,00 a 8,90 Edométrico vertical (NA)
MASSAD (1985)
Baixada Santista - SP
0,001 a 0,10 Edométrico vertical (NA)
SOUZA PINTO E MASSAD (1978)
Sarapuí - RJ
DANZIGER (1990) 1,40 a 4,40 Piezocone (NA)
COUTINHO E LACERDA (1976)
1,0 a 10,0 Edométrico vertical (NA)
ROCHA FILHO (1989)
Recife - PE
3,0 a 20,0 Edométrico vertical (NA)
COUTINHO et al. (1993)
Salvador - BA 1,9 a 2,1 Edométrico vertical (NA)
BAPTISTA E SAYÃO (1998) 5,0 a 15,0 Piezocone (SA)

NA - Normalmente adensada SA - Sobreadensada

3.3.3 O CENÁRIO GEOTÉCNICO DO PORTO DE NAVEGANTES

O cenário geotécnico escolhido para o estudo de caso aqui apresentado foi


o do Porto de Navegantes, justamente por se tratar de uma área tipicamente
portuária e por possuir uma quantidade de ensaios e parâmetros geotécnicos
suficientes para uma correta avaliação das aplicações que serão propostas nos
próximos capítulos.
A FIG. 3.2 mostra um perfil geotécnico típico de uma área portuária,
referente ao porto de Navegantes. Nesta caracterização geotécnica elaborada

54
por MARQUES E LACERDA, 2002, o depósito de Navegantes é formado
tipicamente por três camadas distintas de argila, intercaladas por areias finas e
grossas. Uma camada superficial de areia ocorre em poucos locais e pode ser
material de dragagem lançado ou remanescente de mangues. O lençol freático
é superficial ou no topo da camada de argila mole, em quase toda a área.
A camada superficial de argila, camada 1, apresenta NSPT < 1, e espessura
variando até 7m. Subjacente à camada 1 há, em geral, uma camada de areia,
seguida de outra camada de argila muito mole a mole, camada 2, com
espessura até 10m. Há interdigitações de lentes de areia nas camadas de
argila ou lentes de argila nas camadas arenosas, que podem ser originárias de
variações no curso do rio.
A camada de argila mais profunda, camada 3, de consistência média à
dura, apresenta por vezes consistência mole, nos primeiros 2 a 12m. Sua
espessura total varia de 13m a 32m com topo de 16.5m a 38m de
profundidade. No levantamento geológico-geotécnico da área há indicações de
ocorrência de matéria orgânica na camada 3.

S P 7 = 1 .1 5 4 m
N A = 0 .5 0 7 m
S P 2 7 = 1 .2 1 8 m
N A = 0 .5 0 7 m
S P 3 8 = 1 .3 9 4 m
N A = 0 .5 0 7 m SE Ç Ã O 07 S P 5 4 = 1 .3 6 6 m
S P 7 0 = 1 .2 6 3 m
N A = 0 .5 0 7 m
N A = 0 .5 0 7 m
0

A R G I L A O R G Â N IC A
CAM ADA 1
A R E IA S IL T O S A
A R G IL A O R G Â N IC A S IL T O -A R E N O S A CAM ADA 2
-1 0

N SPT

A R E IA S IL T O - A R G IL O S A
-2 0
p r o fu n d id a d e ( m )

-3 0

CAM ADA 3
A R G IL A O R G Â N IC A S IL T O S A
-4 0

-5 0
6 0 .0 m 6 0 .0 m
1 8 .0 m 6 0 .0 m A R E IA S I L T O - A R G I L O S A
0 20 40 60 0 20 40 60 0 20 40 60 0 20 40 60 0 20 40 60
N SPT (S P 0 7 ) N SPT (S P 2 7 ) N SP T (S P 3 8 ) N SP T(S P 5 4 ) N SPT (S P 7 0 )

FIG. 3.2 – Perfil geotécnico típico de uma seção do Porto de Navegantes


(MARQUES E LACERDA, 2002).

55
A TAB. 3.4 apresenta a caracterização geotécnica das 3 camadas de argila
do porto de Navegantes, comparando-a com alguns valores obtidos para
argilas da Baixada Santista e Iguape (MASSAD, 1994).

TAB. 3.4 - Características das camadas de solos compressíveis


(MARQUES E LACERDA, 2002).

CARACTE- CAMADAS Baixada Santista e Iguape (MASSAD, 1994)


RÍSTICAS
CAMADA 1 CAMADA 2 CAMADA 3 Mangue SFL AT

Prof. topo (m) 0-7 6 - 16,5 16,5 - 38 5 50 20  z 45


Espessura (m) 0-7 0 - 10 13 - 32 - - -
NSPT 0-5 0-8 4 - 35 0 0-4 5 - 25
CC 0,18 - 0,93 0,34 - 0,88 0,25 - 0,99 - - -
CC / (1+ e0) 0,09 - 0,26 0,13 - 0,27 0,11 - 0,37 0,35 - 0,39 0,33 - 0,51 0,35 - 0,43
wn (%) 47 - 100 49 - 103 40 - 75 - - -
wL (%) 40 - 98 32 - 110 57 - 84 40 - 150 40 - 150 40 - 150
IP 6 - 53 11 - 57 26 - 46 30 - 90 20 - 90 40 - 90
 n (kN/m )3
14 - 17 13,8 - 16,8 14,8 - 17,7 13 13,5 - 16,3 15 - 16,3
e0 1,26 - 2,70 1,37 - 2,82 1,12 - 2,01 - - -
cV (10-8 m2/s) 2,4 - 81 2 - 49 2,7 - 17 0,4 - 400 0,3 - 10 3-7
'vm (kPa) - - - 30 30 - 200 200 - 700
Su (kPa) 3 - 20 30 - 60 >60 3 10 - 60 >100

As características geotécnicas da argila de Navegantes são muito


semelhantes às dos depósitos do litoral de São Paulo, apresentadas por
MASSAD (1994), como indicado na Tabela 3.4. A argila de Navegantes é
menos compressível que as demais, com CC /(1+e0) inferior a 0,27 nas duas
primeiras camadas e inferior a 0,37 na última camada. A plasticidade também é
menor, pois são argilas arenosas (FIG. 3.3-a). Em termos de diagrama de
plasticidade, o comportamento é bem semelhante ao das argilas santistas, pois
a relação wL x IP está bem próxima da linha A (FIG. 3.3-b).

56
G R A N U L O M E T R IA (% )
0 20 40 60 80 100
0 70
L IN H A A
60 C a s a g ra n d e
C am ada 1
50 C am ada 2
C am ada 3
P r o f u n d id a d e ( m )

10 40
A r g ila

IP ( % )
S ilt e
30
A r e ia
20
20
10
b)
0
20 40 60 80 100
a)
30 w L(% )

FIG. 3.3 – (a) Granulometria com a profundidade. (b) Diagrama de


plasticidade (MARQUES E LACERDA, 2002).

Na FIG. 3.4 estão agrupados alguns parâmetros geotécnicos das argilas de


Navegantes com a profundidade. Os índices de vazios iniciais (e0) e as
umidades naturais iniciais (wn) são bem inferiores aos de argilas marinhas,
como a de Sarapuí, que apresenta e0 elevado diminuindo de 4,9 até 2,5 com a
profundidade (ALMEIDA E MARQUES, 2002). Em nenhum local da área de
estudo a umidade inicial foi superior a 110%.

e0 Cs , Cc C c /(1 + e 0 ) n(k N /m 3 ) w n (% )
1 .0 2 .0 0 .0 0 .5 0 .0 0 .1 0 .2 0 .3 1 4 16 18 0 50 100
0

10
P ro fu n d id a d e (m )

20

30

Cs
40 Cc

50
FIG. 3.4 - Parâmetros geotécnicos das argilas de Navegantes com a
profundidade (MARQUES E LACERDA, 2002).

57
Na FIG. 3.5 são apresentados valores de Su deduzidos a partir dos valores
de OCR (razão de sobreadensamento), segundo a EQ. 3.1, onde o OCR foi
considerado 1, para efeito de projeto.

S u   ' v 0 0,35 OCR 


0 ,9
(EQ. 3.1)

 'v0 (k P a ),  'v m (k P a ) R e s is t ê n c ia a o c is a lh a m e n t o n ã o d r e n a d a ( k P a )
SP32
0 100 200 300 400 500 0 20 40 60 80 100 120
0 0
a r g il a o r g â n i c a
p o u c o s ilt o s a
m u ito m o le

10 a r e ia
10
S ua d o ta d o
p a r a p r o je to
a r g il a m o l e
a m é d ia c o m
a r e i a f in a
P r o f u n d id a d e ( m )

P r o f u n d id a d e ( m )

20 20
a r e ia

a r g ila
o rg â n ic a
pouco
30 s ilt o s a , m o le 30
a r i ja , c in z a
e s c u ra

A r e ia p a lh e ta
40  'v 0 40
a r g il a s i l to s a , S u =  'v0 0 .3 5 O C R 0 .9
c o m a r e i a f in a
 'v m (e d o m é t ri c o ) m é d ia à r i ja S u (e n s a io s tr ia x ia is )
 'v m (p ie z o c o n e ) S u (p ie z o c o n e ) - N k t= 15
50 50
FIG. 3.5 - Perfis de tensões e de resistência não drenada nas
proximidades da sondagem SP32 (MARQUES E LACERDA, 2002).

NA FIG. 3.6 estão apresentados os resultados dos SPT, a classificação das


amostras coletadas com o amostrador Shelby, os resultados dos ensaios de
caracterização com a profundidade, os perfis de tensões efetivas iniciais in situ
('v0 ), e a variação da resistência não drenada obtida nos ensaios de palheta
(Su) e nos ensaios de laboratórios UU com a profundidade. São apresentados
também os perfis de resistência de ponta corrigida (q T) e poro-pressão (u) do
ensaio de piezocone e respectivos valores do coeficiente de adensamento
horizontal (ch) obtidos nos ensaios de dissipação. O resumo dos principais
resultados dos ensaios de adensamento edométricos também está
apresentado na FIG. 3.6.

58
SPT32 w n (% ) S u (k P a ) q , u (k P a ) E N S A IO D E A D E N S A M E N T O
T
1 .7 7 9 m 0 50 100 150 40 80 0 5000 e0
0 .0 m  'vm (k P a ) C c C v (m 2 /s )

0 .8 0 m

1 /4 5
P /5 5 28 D is s i p a ç ã o - 3 .4 0 m
a r g ila o r g â n ic a C h = 2 .4 x 1 0 -6 m 2 /s 1 .5 6 2 2 1 .3 0 .3 9 8 .1 E -7
P /4 8 p o u c o s ilto s a
m u ito m o le
P /7 0 a rg ila s ilto s a
P /6 0
P /5 0 a r e ia fin a
fo fa a r e ia s ilto s a
a r g ila
3
a r e ia f i n a
4 s ilto s a f o fa
a pouco 10m
5 a r e ia s ilto s a
c o m p a c ta
5
a r e ia fin a a g r o s s a , a r e ia
4 fo f a a m e d .
c o m p a c ta
12
a re i a m é d i a a g ro s s a
7 f ra g m e n to s a r e ia s i lt o s a
d e co n ch as
14 a r e ia
10 a r g i l a m o le
a m é d ia D is s ip a ç ã o - 1 7 .2 0 m
6
c o m a r e ia
8 fin a C h = 2 .3 4 x 1 0 -5m 2 /s
5 NP 0 .8 2 5 90 0 .0 8 6 .9 E - 7
20m a r g ila s ilto s a
5
a r e ia fin a
5 a r g ila m é d ia a m o s tra d e
c o m a r e ia fin a a r e ia s ilt o s a , c o r c in z a c l a r o
6 a r e ia fin a
4 f o fa

5
a r g ila c o m
6 a r e ia f in a a r e ia s il t o s a
7
5 37
6 1 .7 6 3 92 0 .6 9 3 .5 E -8

8 a r g ila
6 30m
10 D i s s ip a ç ã o - 3 1 .2 0 m
C h = 6 .1 3 x 1 0 -7 m 2 /s
8 a r g ila
8 o r g â n ic a
pouco
9 s ilto s a , m o le
8 a r ija , c in z a
e s c u ra
11
9
9
10 a r e ia m é d ia

9 40m
a r g ila o r g â n ic a
10 p o u c o s ilt o s a ,
m é d ia
8  'v0
a r g ila s ilto s a ,
10 c o m a r e ia f i n a
11 m é d ia à r ija

8 Nkt = 15
7 a r e ia f in a
14 c o m p a c ta UU P ie z o c o n e

4 0 /1 3 IP P a lh e ta q T
Im p e n e tr á v e l w P w L
S u (p ie z o c o n e )
4 7 .8 2 m w n
u
50m
50 m 0 100 200 300
 'v 0 (k P a )

FIG. 3.6 - Características geotécnicas de Navegantes-SC nas


proximidades da sondagem SP32 (MARQUES E LACERDA, 2002).

59
Na FIG. 3.7 estão apresentados os valores de Su de todos os ensaios
realizados na área. Nos três primeiros metros da camada 1, os valores de Su
obtidos são bem semelhantes aos de mangue, e a seguir há um aumento de Su
com a profundidade e os maiores valores de resistência são das amostras mais
arenosas.

S u (k P a )
0 20 40 60 80 100 120
0

10
P r o f u n d id a d e ( m )

20

30

40

P ie z o c o n e
UU
P a lh e ta
50

FIG. 3.7 - Variação do Su com a profundidade


(MARQUES E LACERDA, 2002).

A própria caracterização geotécnica em Navegantes (MARQUES E


LACERDA, 2002) mostra que, apesar de semelhanças entre determinadas
regiões, sempre existirá uma grande variabilidade natural na estratigrafia.
Entretanto, a adoção deste cenário geotécnico para as aplicações do estudo
ora apresentado representa de forma satisfatória um cenário típico de uma
região portuária. Os valores dos parâmetros geotécnicos utilizados na

60
avaliação do desempenho de jet grouting para reforço de estruturas portuárias
se mostram fiéis à realidade, uma vez que foram obtidos a partir de uma
situação real, em uma área portuária onde foram realizados diversos ensaios
de campo e laboratório.

3.4 TIPOS DE ESTRUTURAS DAS OBRAS DE ACOSTAGEM

A necessidade de execução de obras de melhoramento para implantação


de portos, mesmo no caso de portos naturalmente abrigados, se mostra
sempre presente, em maior ou em menor escala.
As obras de melhoramento podem ser classificadas como obras externas
ou internas. As externas, de maior vulto e necessárias em função das
características locais, tratam da criação de condições de abrigo e acesso,
como por exemplo a construção de molhes, quebra-mares, canais de acessos
e bacias. As obras internas, necessárias em qualquer implantação portuária,
são executadas nas áreas abrigadas para permitir a realização das operações
portuárias em terra e proporcionar a efetiva atracação das embarcações. Este
é o caso das obras executadas nas retroáreas (aterros, urbanizações,
pavimentações, edificações, etc) e das obras de acostagem.
As obras de acostagem, que serão o foco das aplicações deste estudo,
podem ser longitudinais ou transversais, maciças ou sobre estacas e com
paramento aberto ou fechado. A FIG. 3.8 apresenta um resumo dos tipos de
estruturas de acostagem.

61
Tipo de Estrutura Materiais de Construção Observações

- Exige fundações com razoável


Blocos: Concreto simples.
capacidade de suporte.
Fundações: Enrocamentos, pedras
Estruturas de gravidade
- Recomendável a aplicação de pré-carga
jogadas.
uma vez que é sensível a acomodações
Muralha de Blocos Reaterro: Enrocamento.
do terreno.

- Exige fundações com boa capacidade


Caixões: Concreto armado.
de suporte.
Fundações: Enrocamento, pedras
- Requer condições de águas calmas para
jogadas.
execução.
Capeamento: Concreto simples ou
Caixões - Um pouco sensível a recalques (risco de
armado.
rompimento das juntas entre os caixões).

Células: Delimitadas por camadas


Estruturas de paramento fechado

- Sensível a esforços horizontais antes do


de estacas metálicas.
preenchimento das células.
Preenchimento: Areia.
- Resiste bem a recalques durante a fase
Capeamento: Concreto simples ou
Elementos celulares construtiva (antes do capeamento final).
armado.

Cortina: aço, concreto armado. Os recalques são absorvidos pela própria


Paramento frontal com cortina em estacas pranchas

Tirantes: aço. estrutura do cais, o que pode não ser


Ancoragem: concreto armado, aceitável em função da utilização do
aço. mesmo. Trata-se muitas vezes da solução
Tirantes e bulbos de
Preenchimento: areia. de menor custo.
ancoragem

São também estruturas flexíveis de


contenção. O empuxo de terra é
distribuído ao longo da cortina produzindo
Tirantes e estacas
esforços de f lexão nas estacas-
inclinadas
pranchas.

Cortina: aço, concreto armado.


Plataforma: concreto armado. A carga horizontal é absorvida pelas
Estacas: concreto armado, estacas inclinadas fixadas aos tirantes ou
Plataforma de alívio e concreto protendido, aço. à plataforma de alívio e pelo empuxo
estacas inclinadas passivo sobre as estacas-pranchas
devido a ficha enterrada.

A plataforma de alívio pode estar apoiada


apenas sobre as estacas ou sobre as
Plataforma de alívio e estacas e o terreno.
estacas inclinadas
Estruturas de paramento aberto

Superestrutura: concreto armado Os carregamentos verticais são


Estrutura estaqueada
pré-moldado ou moldado "in loco". absorvidos pelas estacas, enquanto os
aberta com tirantes
Estacas: concreto armado, aço. carregamentos horizontais são
Proteção do talude: enrocamento absorvidos por ancoragens ou estacas
(blocos de rocha). inclinadas.

Estrutura estaqueada
aberta com plataforma
de alívio

FIG. 3.8 - Tipos de estruturas de acostagem (AGERSCHOU et al., 1983).

62
3.4.1 ESTRUTURAS DE ACOSTAGEM COM PARAMENTO ABERTO

Estruturas de acostagem com paramento aberto são compostas por uma


plataforma principal apoiada sobre estacas. Os esforços horizontais de
atracação são absorvidos por uma pequena cortina frontal que não atinge o
leito do terreno e que tem a função apenas de transmitir os esforços de
atracação das embarcações às lajes e às estacas inclinadas ou tirantes. Por
outro lado, o empuxo de terra da retroárea é contido normalmente por um muro
de contenção ou talude de enrocamento ou rip-rap, executado com pedras
britadas de granulometria elevada, conforme apresentado na FIG. 3.9. Este
enrocamento tem a função de absorver as ações das ondas e deve ser
corretamente planejado para que não interfira na cravação das estacas do cais.

FIG. 3.9 - Seção transversal típica de uma obra de acostagem com


paramento aberto (ALFREDINI E ARASAKI, 2009).

63
Estruturas de acostagem com paramento aberto são consideradas leves e
tem sido utilizadas em larga escala nos portos do país. A possibilidade de se
obter calados mais profundos nos berços de atracação por meio de avanço da
plataforma principal para água consiste em uma grande vantagem deste tipo de
solução, uma vez que não há o avanço do aterro da retroárea por debaixo do
cais. Isto acaba demandando menor volume de dragagem e aterro e minimiza
os impactos ambientais decorrentes da implantação da obra sobre a água.
Visando a melhor absorção dos esforços horizontais, este tipo de estrutura
pode ser executada com plataforma de alívio. Trata-se do avanço da própria
plataforma principal sobre a retroárea, proporcionando um alívio das cargas
horizontais nas estacas, uma vez que as cargas passam a ser transmitidas
também para o terrapleno.

3.4.2 CAIS DE PESO OU DE GRAVIDADE

Os cais de peso ou de gravidade (FIG. 3.10) se caracterizam por utilizarem


primordialmente o peso próprio da estrutura para estabilização da obra. São
estruturas pesadas com a base do maciço apoiada diretamente sobre o terreno
de fundação. Podem ser construídas por meio de muralhas de blocos de pedra,
de elementos celulares ou de caixões de concreto preenchidos com areia.
Este tipo de solução é de simples execução e foi largamente utilizada até
meados do século passado. Com o passar do tempo vem caindo em desuso
por ser considerada uma solução anti-econômica, principalmente nos casos
onde são necessários berços de atracação com calados mais profundos.
Devido à sua alta durabilidade, existe ainda uma grande quantidade de
portos em funcionamento que dispõem de berços de atracação com este tipo
de solução. Por conta disto, trata-se de uma solução que atualmente demanda
muito mais projetos de reforços do que de novas obras.

64
FIG. 3.10 - Seção transversal típica de cais de gravidade em muralha de
blocos (ALFREDINI E ARASAKI, 2009).

3.4.3 CAIS EM CORTINA DE ESTACAS-PRANCHAS

Trata-se de um tipo de obra de acostagem leve, com paramento fechado,


na qual o fechamento frontal é executado com estacas-pranchas de madeira,
metálicas ou de concreto.
Para obtenção de maiores calados, este tipo de solução é executada
normalmente com uma ou mais linhas de apoio na parte superior, de modo que
a estabilidade não seja somente obtida pela ficha das estacas-pranchas. Estes
apoios superiores podem ser obtidos por meio de plataformas de alívio (FIG.
3.11) ou com tirantes ancorados no solo ou em blocos de estacas inclinadas
(cavaletes), conforme mostrado na FIG.3.12.
Nas estruturas com plataforma de alívio, os carregamentos sobre a
plataforma do cais são absorvidos pelo seu estaqueamento, não gerando
empuxo sobre a cortina de estacas pranchas. Nas soluções sem este tipo de
plataforma, o empuxo do solo que atua sobre a cortina de estacas pranchas
sofre influência direta dos carregamentos acidentais sobre o cais.

65
FIG. 3.11 - Cais com cortina de estacas-pranchas com plataforma de alívio
(AGERSCHOU et al., 1983).

FIG. 3.12 – Cais com cortina de estacas-pranchas com tirantes ancorados


no solo e em cavaletes (AGERSCHOU et al., 1983).

66
3.4.4 ESTRUTURAS TRANSVERSAIS À COSTA OU À MARGEM

Este tipo de solução apresenta uma interface entre a retroárea e a obra de


acostagem apenas no encontro do acesso da estrutura com o terreno, não
sendo objeto direto de aplicações do estudo ora desenvolvido. A utilização de
melhoria de retroáreas com jet grouting para reforço de estruturas portuárias se
aplica principalmente aos cais contínuos paralelos à margem ou à costa e com
interface direta da retroárea com a estrutura de acostagem.
Entretanto, apenas para registro, citam-se os exemplos de píeres
estaqueados em estruturas discretas, píeres flutuantes, píeres com rampas de
acesso sucessivas, terminais roll-on roll-off, estruturas ao largo com dolfins de
atracação e amarração, assim como tantas outras combinações possíveis para
implantação de um terminal portuário.

3.5 FATORES CONDICIONANTES

Na escolha do tipo de estrutura acostável, diversos são os fatores que


influenciam e que devem ser cuidadosamente analisados para o sucesso e a
economicidade da solução. Portanto, além de atender a todos os requisitos de
segurança necessários para a implantação de uma obra de acostagem, deve-
se procurar escolher aquela que melhor se adeque aos fatores que
condicionam o seu projeto.

3.5.1 TIPO DE CARREGAMENTO

A magnitude e a direção das cargas aplicadas em obras de acostagem


podem variar de acordo com as características de outros fatores
condicionantes, entretanto, tipicamente se observa que estruturas portuárias

67
estão sujeitas a cargas horizontais importantes devidas ao empuxo da
retroárea, aos esforços de atracação e aos esforços de amarração.
Por outro lado, as cargas verticais podem ocorrer distribuídas ou
concentradas, sendo comuns valores de cargas concentradas elevados. Isto se
deve aos robustos equipamentos de movimentação de cargas instalados nas
plataformas, como os portêineres.
Em função da representatividade dos carregamentos para o conjunto, a
solução ideal em alguns casos pode não ser a adequada em outros, de modo
que a definição prévia do tipo de carregamento é um importante fator na
definição do partido estrutural a ser adotado para as obras de acostagem.
Os carregamentos atuantes em uma estrutura podem ser estáticos ou
dinâmicos, fixos ou móveis e são classificadas em função de sua variação no
tempo (permanentes, variáveis e excepcionais).
Os carregamentos permanentes são essencialmente os decorrentes da
ação da gravidade (peso próprio) e estão sempre presentes ao longo de toda a
vida da obra. Possuem posição e magnitude constantes ou com variações
teóricas ao longo do tempo que podem ser desprezadas.
Os carregamentos variáveis se referem às cargas externas cujas
magnitudes e posicionamentos são variáveis ao longo do tempo e possuem
uma forma ou freqüência contínua. Podem ser cargas hidráulicas, empuxos de
terra, ações ambientais (correntes, ventos e ondas), esforços de amarração e
atracação e sobrecargas em geral.
Os carregamentos excepcionais são oriundos de cargas de caráter fortuito
ou anormal, resultantes de acidentes, uso indevido ou condições ambientais e
de serviço excepcionais. São ações com baixa probabilidade de ocorrência, ou
com curto período de duração. Entretanto, quando ocorrem podem afetar
significativamente a segurança da estrutura. A execução de dragagens em
profundidades superiores as de projeto é um exemplo de carregamento
excepcional. Em situações onde ações inicialmente imaginadas como
excepcionais se tornam permanentes ou de longa duração devem ser previstas
obras de reforço.
Maiores informações a respeito de ações em estruturas portuárias podem
ser obtidas na NBR 9782 (ABNT, 1984) e em MASON (1982).

68
3.5.2 CARACTERÍSTICAS TOPOBATIMÉTRICAS

O levantamento topobatimétrico tem por objetivo o estudo da continuidade


da topografia do leito marinho, fluvial ou lacustre e a definição das cotas do
terreno sob as águas.
O calado disponível após a implantação de uma obra de acostagem, bem
como a tendência para assoreamentos, dependem das características
topobatimétricas locais, de modo que o conhecimento preciso destas
características é de vital importância para escolha de uma solução eficiente,
que não apresente elevados custos de implantação e manutenção dos canais
de acesso e dos calados dos berços de atracação.

3.5.3 CARACTERÍSTICAS DO SOLO

O conhecimento do solo local de uma área destinada à implantação de uma


obra de acostagem é determinante para o sucesso da empreitada, pois além
de ser o responsável pela fundação das obras é também um importante
carregamento atuante nos casos dos empuxos.
Na determinação de qual estrutura de acostagem implantar deve-se optar
pela aquela que melhor se adapte aos recalques que ocorrerão, de modo que a
mesma seja capaz de absorver da forma mais eficiente possível os empuxos
de terra atuantes, sem que sejam comprometidas a estabilidade do conjunto e
a capacidade de carga do leito de fundação.

3.5.4 DRAGAGENS E DERROCAMENTOS

A necessidade de dragagens e derrocamentos para implantação de obras


de acostagem pode inviabilizar tecnicamente ou economicamente a utilização
de determinadas alternativas.

69
Dependendo do custo e da metodologia disponíveis para dragagem em um
determinado porto, a opção por soluções de acostagem menos sujeitas a
assoreamentos e implantações mais salientes à costa podem se mostrar mais
vantajosas. Muitas vezes os serviços de dragagens se tornam muito relevantes
na escolha, não somente pelo aspecto financeiro, mas também pelo aspecto
ambiental devido à necessidade de disposição do material dragado.

3.5.5 CONDIÇÕES AMBIENTAIS

A ocorrência de variações de maré e temperatura, bem como a incidência


de ondas, ventos e correntes são as condições ambientais que podem afetar
diretamente na escolha da obra de acostagem.
Em regiões com variações de maré de grande amplitude é comum a adoção
de estruturas flutuantes para atracação das embarcações, uma vez que para
atender às necessidades de atracação em qualquer condição de maré, o vulto
de obras sem utilização de estruturas flutuantes se torna inviável
economicamente.
Em locais de clima frio, a estrutura de acostagem deve ser capaz não
somente de suportar aos esforços decorrentes da variação de temperatura,
mas também de se adaptar a esta condição da melhor forma possível,
resistindo inclusive às épocas de gelo e degelo.
Em áreas onde se observa a incidência de ondas os portos devem ser
providos de estruturas de acostagem mais robustas, onde muitas vezes
também desempenham o papel de obra para proteção e abrigo. Este é o caso
dos molhes / píer, solução na qual em uma das faces se executa enrocamento
para proteção e criação de região abrigada e na outra face há o funcionamento
de uma estrutura de acostagem propriamente dita.
O vento age nas partes acima d’água das obras de acostagem, navios e
equipamentos, enquanto as correntes atuam nas partes submersas. Ambas as
ações dependem fundamentalmente de suas direções de propagação em
relação ao posicionamento do cais. As ações dos ventos e das correntes são
preponderantes na determinação da magnitude dos esforços de atracação e

70
amarração. Deste modo, o tipo de solução escolhida e seu posicionamento
deve ser tal que minimize ao máximo estes esforços.
A implantação de obras de acostagem em meios agressivos deve ser
cuidadosamente avaliada, uma vez que a possibilidade de corrosividade pelo
solo, água do mar e/ou ataque ácido de micro-organismos sobre os materiais
de construção deve ser descartada ou pelo menos minimizada por ocasião da
escolha da solução. Uma alternativa comum para minimizar tais efeitos é
prever manutenções periódicas planejadas.

3.5.6 ESPECIALIZAÇÃO DO PORTO E EMBARCAÇÃO TIPO

As estruturas das obras de acostagem podem ser contínuas ou discretas.


Esta denominação se refere à incorporação ou não à plataforma principal de
elementos componentes da estrutura, tais como acessos, bases de
equipamentos e acessórios de amarração e atracação.
Quanto mais bem definida for a embarcação tipo e a especialização do
porto, maior será a possibilidade de se projetar uma obra de acostagem
otimizada. Deste modo, um porto que visa atender especificamente a um
determinado tipo de carga e embarcação possibilita que a obra seja executada
em estruturas discretas, onde cada elemento desempenha uma função
específica.
Nestes casos de obras em estruturas discretas observa-se que há uma
maior segurança, pois eventuais acidentes ficam restritos a determinadas
estruturas. Entretanto, o principal benefício é a redução da envergadura das
obras, uma vez que neste tipo de obra há uma redução das dimensões dos
elementos estruturais, o que ocasiona uma sensível redução do consumo de
material de construção.

71
3.5.7 LICENCIAMENTOS AMBIENTAIS

O licenciamento ambiental de obras de acostagem pode se tornar


determinante na escolha do tipo de obra a implantar. Obras sobre a água
sempre são passíveis de licenciamento ambiental, sendo muito mais rígida a
legislação quando se trata da execução de obras que interferem no fluxo das
mesmas.
Sob o ponto de vista ambiental, a utilização de estruturas estaqueadas,
onde o fluxo d’água é permitido por baixo das mesmas, leva vantagem sobre
soluções onde são executados aterros e enrocamentos sobre a água.

3.6 PROBLEMA DE INSTABILIDADE DE RETROÁREAS PORTUÁRIAS

Analisando de forma global uma obra portuária de acostagem contínua


observa-se que as mesmas invariavelmente são compostas por duas partes
que interagem entre si: a estrutura propriamente dita e a sua retroárea. Esta
estrutura portuária, estaqueada ou não, destinada a absorver os esforços de
amarração, atracação, cargas de instalações portuárias, sobrecargas e
empuxos, fica posicionada à frente da retroárea. A retroárea, por sua vez, é
uma área à retaguarda do ancoradouro onde normalmente é executado um
aterro, mesmo que apenas para nivelamento e que possui um papel muito
importante na estabilidade da obra, pois atua como carregamento de empuxo e
como terreno de fundação para as obras de acostagem. Destina-se ao
armazenamento de cargas, à construção de edificações ou à outras obras de
implantação portuária tais como trilhos, arruamentos e calçadas.
O foco do estudo ora apresentado está justamente na retroárea das obras
portuárias, que mediante ações de melhoramento podem permitir que as obras
de acostagem recebam incrementos de calado e de carga. A FIG. 3.13 ilustra
um problema típico que se pretende abordar, no qual o melhoramento da
retroárea com jet grouting pode ser empregado como alternativa para solução
do problema de incremento de carga e calado em estruturas portuárias.

72
Plataforma do cais danificada

Estrutura existente

Calado inicial disponível


Novo calado disponível
GC
Solo existente Instabilização devido
às dragagens GC – Ganho de calado

FIG. 3.13 – Problema típico de instabilização de estrutura portuária


decorrente de aprofundamento de calado.

A execução de intervenções para melhoramento de solo com jet grouting


em estruturas portuárias não se restringe apenas à situação apresentada na
FIG. 3.13, podendo esta técnica ser utilizada em quaisquer situações nas quais
existam deslocamentos ou incrementos de cargas incompatíveis com a
estrutura projetada ou com os valores desejados. Nesta dissertação o estudo
de caso tratará de uma estrutura portuária em estacas pranchas metálicas na
qual o desempenho da técnica de jet grouting será avaliado quando utilizada
com a finalidade de promover, com segurança e deformações compatíveis,
aprofundamentos de calados e incrementos de sobrecarga na referida
estrutura.

73
3.7 CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE O PROBLEMA PORTUÁRIO

Neste capítulo procurou-se mostrar as peculiaridades do problema


portuário. O conhecimento mais aprofundado sobre as características
geotécnicas típicas de regiões portuárias e dos tipos de obras de acostagem
existentes são os pontos mais importantes para que a técnica de jet grouting
seja enquadrada de forma pertinente ao problema que se pretende abordar.
As aplicações de jet grouting são realizadas em solos de retroáreas de
obras de acostagem, com o objetivo de minimizar e combater ações oriundas
principalmente dos empuxos do terreno. Conhecer os cenários geotécnicos
típicos e os tipos de obras de acostagem é importante, pois permite que se
visualize as condições e as dificuldades esperadas para a execução dos
tratamentos.

74
4 METODOLOGIA PARA MODELAGEM DO PROBLEMA PORTUÁRIO

4.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Neste capítulo será apresentada uma metodologia para modelagem


computacional de reforços com jet grouting. Nesta metodologia serão
propostos procedimentos que serão adotados nas modelagens computacionais
do próximo capítulo. Essas modelagens terão como objetivo permitir uma
avaliação do desempenho do jet grouting para reforço de um cais em estacas
pranchas metálicas.
O primeiro passo consiste em identificar de forma adequada os dados de
entrada do problema, encontrando por meio de correlações e experiências
anteriores os parâmetros para o projeto.
A identificação dos parâmetros de entrada em qualquer modelo deve ser
cuidadosamente realizada, pois uma premissa equivocada em um modelo pode
invalidar completamente qualquer análise realizada.
Em seguida, deve-se escolher quais tipos de modelagens realizar, de modo
que a simulação computacional corresponda da melhor forma possível ao
problema real encontrado no campo.

4.2 CORRELAÇÕES DE PARÂMETROS DO SOLO

Os parâmetros de resistência e deformabilidade do solo, necessários para


realização de modelagens computacionais, muitas vezes são obtidos de
investigações de campo. Estas investigações às vezes necessitam de
correlações para determinação desses parâmetros. A seguir são apresentados
valores típicos e correlações importantes e usuais que foram consultadas e
utilizadas na metodologia adotada para as modelagens computacionais deste

75
trabalho. Estas correlações foram retiradas principalmente dos trabalhos de
VELLOSO E LOPES (2004) e DO VALE (2002).

4.2.1 ÂNGULO DE ATRITO DE SOLOS GRANULARES

O ângulo de atrito de solos granulares está diretamente correlacionado com


a forma dos grãos, sua compacidade e distribuição granulométrica. A TAB. 4.1
apresenta valores característicos de ângulo de atrito de solos granulares
obtidos a partir de ensaios triaxiais.

TAB. 4.1 – Ângulo de atrito de solos granulares (TERZAGHI E PECK, 1967)


Ângulo de atrito em função da compacidade
obtido de ensaios triaxiais ( o )
Solo

Fofo Compacto

Areia, grãos arredondados, uniformes 27.5 34

Areia, grãos angulares, bem graduada 33 45

Pedregulho-areia 35 50

Areia siltosa 27 a 33 30 a 34

Silte arenoso 27 a 30 30 a 35

O ensaio de campo mais difundido no Brasil é o SPT. A TAB. 4.2 e a FIG.


4.1 apresentam correlações sugeridas para este tipo de ensaio. Ao utilizar as
correlações é importante atentar para possíveis diferenças de energias
empregadas nos ensaios. Em função da localidade, os valores de Nspt devem
ser corrigidos.

76
TAB. 4.2 – Correlação entre ângulo de atrito de solos granulares e NSPT.
Ângulo de atrito ( o )
N SPT Compacidade
PECK et al. (1974) MEYERHOF (1956)

0a4 Muito fofa < 28 < 30

4 a 10 Fofa 28 a 30 30 a 35

10 a 30 Medianamente compacta 30 a 36 35 a 40

30 a 50 Compacta 36 a 41 40 a 45

> 50 Muito compacta > 41 > 45

NSPT

 ’v0 (kPa)

FIG. 4.1 – Correlação entre o ângulo de atrito, a tensão efetiva geostática


vertical e o NSPT (DE MELLO, 1971).

O ensaio de cone (CPT) também é considerado, juntamente com o SPT,


como um dos mais indicados para correlações com o ângulo de atrito de solos
granulares. A TAB. 4.3 e a FIG. 4.2 apresentam as correlações sugeridas para
este tipo de ensaio.

77
TAB. 4.3 – Correlação entre ângulo de atrito de solos granulares e o CPT
(MEYERHOF, 1956).

Resistência de ponta normalizada (qc/pa) Compacidade Ângulo de atrito em graus

< 20 Muito fofa < 30

20 a 40 Fofa 30 a 35

40 a 120 Medianamente compacta 35 a 40

120 a 200 Compacta 40 a 45

> 200 Muito compacta > 45

FIG. 4.2 – Correlação entre ângulo de atrito de areias, resistência de ponta


do cone e tensão efetiva vertical (ROBERTSON E CAMPANELLA, 1983).

4.2.2 ÂNGULO DE ATRITO DE SOLOS ARGILOSOS

Não existem correlações satisfatórias para a determinação do ângulo de


atrito de solos argilosos a partir de ensaios de campo. Podem se referir ao
ângulo de atrito residual ou de pico, no caso de argilas sobreadensadas.

78
No caso de argilas normalmente adensadas o ângulo de atrito efetivo é
muito variável, não existindo boas correlações, mas verifica-se que o ângulo de
atrito tende a ser menor quanto mais plástico é o solo. A TAB. 4.4 apresenta
valores do ângulo de atrito em função do índice de plasticidade.

TAB. 4.4 – Correlação entre ângulo de atrito e índice de plasticidade


(TAVARES et al., 2006).
Ângulo de atrito ( o )
IP (%)
Ensaios na cidade de
KENNEY (1959)
São Paulo - SP

10 30 a 38 30 a 35

20 26 a 34 27 a 32

40 20 a 29 20 a 25

60 18 a 25 15 a 17

4.2.3 RESISTÊNCIA NÃO DRENADA (Su) DE SOLOS ARGILOSOS

A resistência não drenada de argilas é muito utilizada em análises


geotécnicas onde se deseja simular um comportamento não drenado do solo
diante de um carregamento, ou seja, para análises em termos de tensões
totais. A adoção deste parâmetro significa considerar que não haverá variação
de volume até a ruptura. O ensaio de laboratório utilizado para determinação
de Su é o triaxial do tipo UU (unconsolidated undrained), enquanto no campo o
ensaio específico para determinação de Su é o ensaio de palheta, embora seja
também possível estimar um perfil de Su a partir de ensaios de piezocone.
JAMIOLKOWSKI et al. (1985) propõem a seguinte relação de Su com OCR:

Su
 (0,23  0,04)  OCR 0,8 (EQ. 4.1)
 vo
'

79
Considerando a equação acima apresentada, tem-se que para solos
normalmente adensados:

S u  0,25   vo' (EQ. 4.2)

As correlações existentes deste parâmetro com ensaios de SPT são


consideradas imprecisas, entretanto podem ser utilizadas para nortear o pré-
dimensionamento de obras em determinadas situações. A TAB. 4.5 apresenta
correlações entre NSPT e Su, enquanto HARA et al. (1974) apresentaram a
seguinte equação para correlação com NSPT :

0, 72
S u  290  N SPT (kPa) (EQ. 4.3)

TAB. 4.5 – Correlação entre Su, NSPT e a consistência de solos argilosos


(TERZAGHI E PECK, 1967).

N Consistência S u (kPa)

0a2 muito mole < 12,5

2a4 mole 12,5 a 25

4a8 média 25 a 50

8 a 15 rija 50 a 100

15 a 30 muito rija 100 a 200

> 30 dura > 200

Para o caso de investigações de campo do tipo CPT, o Su pode ser


correlacionado com qc através da equação de KULHAWY E MAYNE (1990):

qc = Nk . Su + vo (EQ. 4.4)

80
O fator de capacidade de carga do cone (Nk) deve ser idealmente estimado
a partir de um valor de resistência não drenada (Su) obtido em um ensaio de
referência. Usualmente adota-se como referência os valores obtidos nos
ensaios de palheta ou nos ensaios triaxiais UU.
No caso de não existirem valores de referência, podem ser adotadas
algumas correlações para obtenção de Nk. Considerando-se a teoria de
expansão de cavidade, Nk apresentará valores até 18, sendo a maior parte dos
valores concentrados na faixa de 7 a 13 para valores crescentes do índice de
rigidez (IR). VESIC (1977) propõe a seguinte correlação:

Nk = 2,57 + 1,33 (ln IR + 1) (EQ. 4.5)

O índice de rigidez (IR) corresponde à razão entre o módulo de elasticidade


transversal (G) e a resistência não drenada (Su), para solos argilosos na
condição não drenada.
BOWLES (1988) sugere ainda que Nk seja obtido a partir do índice de
plasticidade (IP) pela seguinte equação:

5,5
N k  13   IP  2 (EQ. 4.6)
50

A experiência brasileira com argilas moles costuma utilizar o fator de


capacidade do cone corrigido (Nkt). Este valor se refere ao valor da resistência
de ponta corrigida (qT) em substituição à resistência de ponta (qc) medida no
CPT, e varia de 10 a 16 (DANZIGER E SCHNAID, 2000).
Nos ensaios de piezocone (CPTU) o valor da resistência de ponta corrigida
pode ser obtido a partir da seguinte equação:

qt = qc + u2 (1 – a) (EQ. 4.7)

onde a é a razão entre a área da base do cone e a área da seção da célula de


carga após o anel de vedação e u2 é a poro-pressão medida na base do cone.

81
O mais usual entretanto no caso de ensaios de piezocone é utilizar a EQ.
4.8 em termos de Nkt, dada por:

Su = (qT – vo) / Nkt (EQ. 4.8)

4.2.4 MÓDULO DE YOUNG DE SOLOS GRANULARES

O módulo de Young (E) de solos granulares se refere usualmente à


condição drenada, uma vez que este tipo de solo, quando submetido a
carregamentos, apresenta uma rápida dissipação das poro-pressões geradas.
Valores típicos de módulo de Young secante drenado (Ed) para solos
granulares são apresentados na TAB. 4.6.

TAB. 4.6 – Módulo de Young de solos granulares (POULOS, 1975)


Módulo de Young drenado (E d )
Compacidade
Típico (MPa) Obtido de estacas (MPa)

Fofa 10 a 20 27,5 a 55

Média 20 a 50 55 a 70

Compacta 50 a 100 70 a 110

4.2.5 MÓDULO DE YOUNG DE SOLOS ARGILOSOS

O módulo de Young de solos argilosos pode se referir à situação drenada


ou não drenada. No caso de se estar estudando o adensamento das camadas
de solo, o módulo utilizado deve corresponder à situação de comportamento do
solo a longo prazo. Neste caso deve-se utilizar as curvas típicas dos ensaios
de adensamento para determinação do módulo de Young da argila nesta
situação drenada.

82
Entretanto, em análises de estabilidades como a estudada neste trabalho, o
módulo de Young da argila deve corresponder à situação não drenada, pois a
condição real de ruptura no campo ocorrerá sem que haja tempo para
dissipação das poro-pressões.
A TAB. 4.7 apresenta alguns valores típicos de módulo de Young secante
não drenado (Eu) para argilas.

TAB. 4.7 – Módulo de Young de argilas (KULHAWY E MAYNE, 1990).

Módulo de Young não drenado (E u )


Consistência
(kPa)

Mole 1500 a 4000

Média 4000 a 8000

Rija 8000 a 20000

Nas situações em que não forem realizados ensaios específicos para


determinação de Eu, pode ser adotada a correlação utilizada por DO VALE
(2002):

Eu = 500 Su (EQ. 4.9)

As análises que utilizam modelos hiperbólicos, tanto no caso de solos


granulares quanto no caso de solos argilosos, devem ser alimentadas com
valores do Módulo de Young tangencial. Neste trabalho as modelagens
realizadas utilizaram o modelo de comportamento de solo de Mohr-Coulomb.
Tratam-se de análises convencionais com modelos de solos com
comportamento elástico – perfeitamente plástico, bastando portanto apenas a
definição do módulo de Young secante para modelagem. Expressões para
determinação do módulo de Young tangencial para solos granulares e argilosos
podem ser encontradas nos trabalhos publicados por DUNCAN E CHANG
(1970) e KULHAWY et al. (1969), respectivamente.

83
4.2.6 MÓDULO DE YOUNG DE SOLOS RESIDUAIS

Para o caso específico de solos residuais, que apresentam capacidade de


carga mais elevadas, o módulo de Young pode ser estimado a partir do NSPT
por meio da correlação sugerida por VELLOSO E LOPES (2004):

Es = 2,5. NSPT (MPa) (EQ. 4.10)

Em solos residuais de gnaisse, SANDRONI (1991) apresentou correlações


com NSPT conforme a FIG. 4.3.

E
(MPa)

NSPT

FIG. 4.3 – Correlação entre módulo de Young secante de solos residuais


de gnaisse e NSPT (SANDRONI, 1991).

84
4.2.7 COEFICIENTE DE POISSON DRENADO

O coeficiente de Poisson de solos na condição drenada (’) varia entre 0,1 e


0,4. A equação de KULHAWY E MAYNE (1990) é a seguinte:

  '25 o 
 '  0,1  0,3    (EQ. 4.11)
 45  25
o o

onde ’ é o ângulo de atrito, para valores de 25º a 45º.

A TAB. 4.8 apresenta faixas de valores típicos de coeficiente de Poisson


para areias e argilas.

TAB. 4.8 – Coeficiente de Poisson drenado (KULHAWY E MAYNE, 1990).

Solo Coeficiente de Poisson drenado ( ')

Areia compacta 0,3 a 0,4

Areia fofa 0,1 a 0,3

Argila 0,2 a 0,4

4.2.8 COEFICIENTE DE POISSON NÃO DRENADO

O coeficiente de Poisson na condição não drenada é u = 0,5, que satisfaz à


condição de comportamento do solo sem variação de volume. Em programas
de análise computacional muitas vezes esta condição ideal leva a matrizes de
rigidez singulares, uma vez que a rigor a água não é incompressível. Por este
motivo é comum utilizar em modelagens computacionais u = 0,495,
considerando assim o solo levemente compressível.

85
4.3 PROPRIEDADES DOS ELEMENTOS TRATADOS

Na metodologia proposta, o jet grouting é modelado como um solo de


características melhoradas, ou seja, para cada camada o solo apresenta novas
propriedades após o tratamento. Deste modo uma coluna de jet grouting não
possui características iguais do topo à base, pois as propriedades do elemento
tratado dependem do solo de origem. Isto torna o método mais otimizado, uma
vez que baixos valores de resistência obtidos em camadas onde o jet grouting
se mostra menos eficiente ficam restritos a estas camadas.
Deste modo, para modelagem da solução, torna-se necessário conhecer a
geometria e as novas propriedades do solo após o tratamento. A condição ideal
para tal é a execução de colunas testes com extração de corpos de provas do
refluxo do material tratado, obtido durante a execução das colunas, e de corpos
de provas retirados diretamente da coluna após a conclusão do tratamento, em
diversas profundidades e idades diferentes.
Entretanto, a elaboração de projetos geotécnicos ocorre sem que tais
procedimentos possam ser adotados à priori. A prática comum nos remete às
situações onde os parâmetros de geometria e resistência são previamente
estipulados no projeto, para que posteriormente, por ocasião da execução das
obras, sejam perseguidos por meio dos mecanismos de execução do método e
assim validados. Sendo assim, é de vital importância que os parâmetros do
solo e as variáveis estipuladas para o tratamento estejam de acordo com a
realidade do solo, dos procedimentos adotados e dos equipamentos
disponíveis para execução dos serviços. A seguir são apresentadas
correlações para definição dos parâmetros de geometria e resistência do
material tratado.

4.3.1 DIÂMETRO EFETIVO

Segundo ABRAMENTO et al. (1998), a escolha do diâmetro a ser adotado


em uma análise é conseqüência do tipo de solo, da natureza do problema e

86
das interferências existentes, da quantificação do serviço e da definição dos
parâmetros de execução das colunas, condicionado ao tempo de execução e
ao consumo de cimento.
Os diâmetros efetivos dos tratamentos são de difícil previsão teórica, uma
vez que são diversos os fatores que os influenciam. O resultado final, além de
depender das características do solo original, dependem do tipo de jateamento
empregado (simples, duplo ou triplo) e de todos os seus parâmetros
intervenientes. Dentre estes parâmetros o que mais influencia o diâmetro é a
pressão de injeção (KUTZNER, 1996), seguido da velocidade de subida da
haste e da vazão de injeção.
CARRETO (2000) consolidou nos gráficos das FIG. 4.4 e FIG. 4.5
resultados de diâmetros efetivos obtidos na literatura em diversas obras.
Nestes gráficos, os diâmetros são apresentados apenas em função do sistema
de jateamento empregado e NSPT, para solos granulares e argilosos.

Jato simples
Jato duplo
Jato triplo
Diâmetro (m)

NNSPT
SPT

FIG. 4.4 – Diâmetros efetivos em solos granulares (CARRETO, 2000).

87
Jato simples

Jato duplo

Jato triplo

Experiência brasileira
(Jato simples)
Diâmetro (m)

NSPT
FIG. 4.5 – Diâmetros efetivos em solos argilosos (CARRETO, 2000).

A TAB. 4.9 apresenta valores de diâmetro efetivo em função do tipo de solo,


sistema de jateamento e pressão de injeção.

TAB. 4.9 – Diâmetros efetivos de tratamentos com jet grouting em função


do tipo de solo, sistema de jateamento e pressão de injeção
(KUTZNER, 1996).

Tipo Pressão de injeção (MPa) Diâmetro efetivo (m)


de
Calda de Argila Areia Silte Areia Pedregulho
tratamento Ar Água
cimento média média argiloso siltosa arenoso

25 a 40 0,4 a 0,5 0,8 a 0,9 0,9 a 1,0


Jato simples - -
40 a 60 0,85

25 a 40 0,6 a 0,8 1,1 a 1,3 1,3 a 1,5


Jato duplo 0,5 a 0,6 -
40 a 60 1,7

30 a 40 0,8 a 1,0 1,4 a 1,6 2,0 a 2,4


Jato triplo 1,5 a 4,0 0,5 a 0,6
40 a 60 1,4 1,5 a 1,7 2,0 a 2,3 2,5 a 2,8

88
Os valores apresentados não são absolutos e podem sofrer consideráveis
variações. Atualmente a estimativa dos diâmetros efetivos é realizada a partir
da experiência da empresa executora do serviço. Esta estimativa inicial pode
ser imprecisa e deve ser validada em fase mais adiantada do projeto, ou no
início da obra, por meio de colunas-teste ou campo de prova experimental.
Entretanto essas estimativas devem sempre ser coerentes com determinadas
correlações. A TAB. 4.10 apresenta de forma sucinta como os diâmetros
efetivos dos tratamentos se correlacionam com os principais fatores que os
influenciam.

TAB. 4.10 – Correlação entre os diâmetros efetivos dos tratamentos e


fatores que os influenciam.

Fator Diâmetro efetivo do tratamento (Def)

- Crescente com o sistema de jateamento.


Sistema de jateamento
Def,JET 1 < Def,JET 2 < Def,JET 3

- Crescente com a vazão e a pressão de injeção.


Parâmetros do sistema de
- Decrescente com a velocidade de subida da haste de
jateamento
injeção.

Tipo de solo - Maior em solos granulares.


(Considerando mesmo NSPT) - Menor em solos argilosos.

- Decrescente com a energia por unidade de volume.


Quanto menor o diâmetro maior a energia por unidade de
volume despendida no processo.
Energia despendida no processo - Para um mesmo diâmetro a energia por unidade de volume
é crescente com o sistema de jateamento.
EI,JET 1 < EI,JET 2 < EI,JET 3

JET 1 – jato simples JET 2 – jato duplo JET 3 – jato triplo

89
4.3.2 RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO

A resistência à compressão do material tratado também dependerá das


características mecânicas originais do solo e do sistema de jateamento
empregado. Entretanto, no caso da resistência à compressão, além da pressão
de injeção, da velocidade de subida da haste e da vazão de injeção, a
velocidade de rotação da haste de injeção e o fator água / cimento da calda
interferem diretamente no seu valor final. Isso se deve ao fato de que, quanto
maior o consumo de cimento do tratamento, maior a sua resistência à
compressão. Ou seja, em um processo de tratamento, sem alterar o diâmetro,
pode-se aumentar o valor de resistência do material tratado modificando
apenas a velocidade de rotação e o fator água / cimento.
O fator água / cimento empregado nos tratamentos varia entre 0,8 e 1,5. O
tipo de solo tratado e o fator água / cimento da composição utilizada são os
fatores que mais influenciam a resistência à compressão final (KUTZNER,
1996).
Considerando um mesmo tipo de solo, os valores de resistência à
compressão simples obtidos em areias são maiores quando utilizado o sistema
de jato simples, enquanto no caso das argilas os maiores valores de resistência
são obtidos quando adotado o sistema de jato triplo. O sistema de jato duplo é
o que apresenta menor valor de resistência comparado com os demais
(CARRETO, 2000).
Os elevados valores de umidades observados em solos argilosos levam a
valores de resistência em argilas inferiores a tratamentos em solos arenosos,
mesmo considerando solos com mesmo NSPT. É sabido que, quanto maior o
fator água / cimento, menor é a resistência à compressão. O aumento da
presença de água na mistura solo cimento, assim como em concretos (ABNT,
2007), diminui o valor final da resistência.
Os valores típicos de resistência à compressão apresentam diferenças
substanciais de autor para autor, entretanto são de grande importância. É a
partir deles que usualmente são estimados os valores de resistência à tração,
adesão, coesão e módulo de Young utilizados nos projetos. A TAB. 4.11
apresenta, em função do tipo de solo, valores típicos de resistência à

90
compressão simples, sem levar em consideração o sistema de jateamento
empregado.

TAB. 4.11 – Valores típicos de resistência à compressão simples de solos


tratados com jet grouting.

Resistência à compressão simples (MPa)


Fator
Referência Argila
a/c Argila Silte Areia Pedregulho
Orgânica

WELSH E BURKE
- - 1a5 1a5 5 a 11 5 a 11
(1991)
BAUMANN et al. 0,67 6 a 10 10 a 14 12 a 18
- -
(1984) 1,00 3a5 5a7 6 a 10

PAVIANI (1989) - 1a5 1a5 8 a 10 20 a 40

0,80 a 1,00 0,5 a 2,5


TEIXEIRA et al. (1987) 0,80 a 1,20 1,5 a 3,5 2 a 4,5 -
0,80 a 1,50 2,5 a 6

JJGA (1995) 0,96 a 1,08 0,3 1 - 1a3 -

GUATTERI et al.
- - 0,5 a 4 1,5 a 5 3a8 -
(1994)
GUATTERI et al.
0,14 - - - -
(2004)

KUTZNER (1996) 0,67 a 1,00 <3 < 12 < 12 < 15 < 20

O jet grouting é normalmente adotado em situações onde a coluna de


tratamento trabalhará preferencialmente à compressão. Entretanto nada
impede que o mesmo seja utilizado para resistir a esforços de tração. A
resistência à tração de materiais tratados com jet grouting é da ordem de 10%
a 30% do valor da resistência à compressão simples do material tratado.
ABRAMENTO et al. (1998) sugere 19% para areias, 25% para siltes e 30%
para argilas. A Japan Jet Grouting Association (JJGA, 1995) sugere a adoção
de um valor de resistência à tração equivalente a 2/3 do valor estimado para
coesão. Para adesão é sugerido para areias o valor de 8% da resistência à
compressão, 11% para siltes e 14% para argilas (ABRAMENTO et al., 1998) ou

91
1/3 do valor da coesão independente do tipo de solo (JJGA, 1995). Todos
valores são sugeridos sem distinguir o sistema de jateamento empregado. As
estimativas de valores de coesão de solos tratados com jet grouting são
mostradas no item 4.3.6.

4.3.3 MÓDULO DE YOUNG

O módulo de Young do material tratado pode ser obtido por correlação


direta com a resistência à compressão simples. As correlações encontradas na
literatura apresentam uma dispersão muito grande de valores, conforme pode
ser observado na TAB. 4.12. Analisando os valores apresentados é
interessante observar que não é possível visualizar uma relação direta entre a
granulometria do material original e os valores da correlação E / c, uma vez
que tanto o módulo de Young quanto a resistência à compressão simples
sofrem influência da granulometria do solo, sendo ambos maiores em solos
arenosos e menores em solos argilosos. É justamente por este motivo que a
JJGA (1995) recomenda uma relação única para qualquer tipo de solo.

TAB. 4.12 – Correlações entre Módulo de Young (E) e resistência à


compressão simples ( c) (ABRAMENTO et al., 1998).

Referência Tipo de solo E / c

JJGA (1995) Todos 100

LUNARDI et al. (1986) Areia fina a média 360

PAOLI et al. (1989) Solo turfoso 600

Argila siltosa
NOVATECNA (1994) 700
(massapê)

LUNARDI et al. (1986) Cascalho com areia 900

NOVATECNA (1994) Argila siltosa


2000
(Considerando 40% da carga limite) (massapê)

92
Segundo ABRAMENTO et al. (1998), a correlação proposta pela JJGA
(1995) é muito conservadora se comparada com os valores obtidos na prática e
deve ser encarada como um limite inferior. Considerando a experiência
brasileira, sugere-se um valor de correlação ainda conservador, entretanto um
pouco superior, conforme apresentado abaixo:

E = 200 . c (EQ. 4.12)

O coeficiente de reação do solo tratado com jet grouting pode ser obtido
diretamente do Módulo de Young. A JJGA (1995) sugere a seguinte correlação:

Ks = 0,064 . E (MN / m³) (EQ. 4.13)

4.3.4 COEFICIENTE DE POISSON

O coeficiente de Poisson de tratamentos com jet grouting é  = 0,2, que é


igual ao valor usualmente empregado para elementos estruturais de concreto.
Trata-se de um coeficiente muito pouco ensaiado, mas que entretanto não
apresenta grande variabilidade.

4.3.5 PESO ESPECÍFICO

A JJGA (1995) sugere que seja adotado para o peso específico do material
tratado o mesmo valor do peso específico natural do solo original.
KUTZNER (1996) salienta que o fator água / cimento utilizado na calda
injetada e o índice de vazios do solo original influem diretamente o valor final,
sendo comum a obtenção de valores na faixa de 18 kN/m³ a 21 kN/m³.
JARITINGAM (2001) utilizou em suas modelagens o valor de 22 kN/m³, o
mesmo valor admitido neste trabalho. A adoção deste valor leva em

93
consideração que de alguma forma haverá um preenchimento dos vazios do
solo original, resultando necessariamente em um material de maior peso
específico, assim como ocorre no concreto. Na prática este valor de 22 kN/m 3 é
muito elevado e acaba sendo usualmente empregado nas análises por se tratar
justamente do peso específico que se acostumou utilizar em modelagens com
concreto convencional. Isto se deve ao fato de que em muitas situações este
peso específico reflete uma ação de carregamento de peso próprio, sendo mais
conservador a adoção de valores maiores. Em modelagens computacionais
como as realizadas nesta dissertação, considerando uma faixa de variação
possível para o peso específico do solo tratado, pode-se afirmar que este
parâmetro pouco influencia os resultados finais.

4.3.6 CORRELAÇÕES COM PARÂMETROS DE RESISTÊNCIA DO SOLO

Em modelagens computacionais consideram-se duas formas para simular


os parâmetros de resistência do solo tratado. A primeira é utilizar diretamente
um valor de resistência ao cisalhamento esperado para o material tratado, ou
seja, ao realizar a modelagem considerar  = 0 e inserir no valor da coesão a
resistência ao cisalhamento estimada a partir dos valores de referência dos
ensaios de resistência à compressão simples. A outra alternativa é tentar
estimar a partir desses valores de resistência à compressão simples os valores
de c e .
Segundo KUTZNER (1996), em solos granulares o ângulo de atrito original
do solo se mantém após o tratamento, havendo apenas um ganho de coesão,
que pode ser calculado a partir do valor da resistência à compressão obtida em
um ensaio do tipo creep test, em que se admite apenas uma deformação de
0,2% para uma idade de 7 dias. Cabe ressaltar que este valor de resistência à
compressão é inferior ao valor obtido no ensaio de resistência à compressão
simples e é proposto pois é possível que este tipo de ensaio represente melhor
a situação que será encontrada no campo.

94
A JJGA (1995) sugere de forma bastante conservadora que a resistência do
concreto com idade de 7 dias é da ordem de 30% a 40% do valor obtido com
28 dias.
A partir do Círculo de Mohr, que representa o estado de tensões de um
ensaio de resistência à compressão, e adotando 1 = c e 3 = 0, o valor da
coesão é dado pela seguinte equação:

c  1  sen 
c    (EQ. 4.14)
2  cos  

A JJGA (1995), independente do tipo de solo, sugere que o valor do ângulo


de atrito dos materiais tratados com jet grouting seja mantido igual ao do solo
original, enquanto ABRAMENTO et al. (1998) afirmam que, de acordo com a
experiência brasileira, o valor do ângulo de atrito varia muito pouco,
independente do tipo de solo, e é da ordem de 32º em materiais tratados com
jet grouting.
A TAB. 4.13 apresenta valores de coesão típicos correlacionados
diretamente com a resistência à compressão simples, sem distinguir o sistema
de jateamento empregado.

TAB. 4.13 – Valores típicos de coesão após tratamento com jet grouting.
c / c
Fator
Referência Argila
a/c Argila Silte Areia
Orgânica

TEIXEIRA E 0,80 a 1,20 0,30 0,25


-
GUATTERI (1987) 0,80 a 1,50 0,19

JJGA (1995) 0,96 a 1,08 0,33 0,30 - 0,16 a 0,20

Na metodologia adotada neste trabalho considerou-se para o tratamento de


solos granulares o valor do ângulo de atrito original do solo e uma coesão
adicional estimada a partir da resistência à compressão, por meio da EQ. 4.14.

95
Para os solos argilosos, a modelagem computacional foi realizada diretamente
com o valor estimado para a resistência ao cisalhamento do material tratado,
ou seja, considerou-se ângulo de atrito nulo e o valor da coesão como metade
da resistência à compressão.
Cabe salientar que todos os parâmetros estimados para o solo tratado
devem ser encarados como especificações de projeto. Ou seja, ao realizar o
tratamento, o sistema escolhido e todos seus parâmetros específicos deverão
procurar atender a estas especificações. A obrigação do projetista em um
primeiro momento, onde ainda não foram realizados ensaios no material
tratado, é elaborar um projeto estimando parâmetros compatíveis com a
realidade local, de modo que seja possível atingí-los por meio de ajustes nos
parâmetros do sistema de tratamento. Entretanto, o projeto deverá ser validado
com os resultados dos ensaios no solo tratado. Isto é diferente do que ocorre
com o solo natural, onde os parâmetros são estimados anteriormente à
elaboração do projeto e são premissas que não tem como ser manipuladas no
campo.

4.3.7 PERMEABILIDADE

A permeabilidade do material tratado com jet grouting é muito baixa, da


ordem de 10-8 a 10 -9 m/s (JJGA, 1995). Segundo KUTZNER (1996) os valores
de permeabilidade de solos tratados com jet grouting dificilmente são
superiores a 10 -8 m/s e podem chegar a valores da ordem de 10 -11 m/s em
solos argilosos.
Por apresentar valores de permeabilidade baixos, o jet grouting é muito
utilizado para solução de problemas de estanqueidade. Na prática, muito mais
importante do que o valor da permeabilidade do jet grouting, é o alinhamento
das colunas executadas com função de parede de vedação. A percolação de
água em paredes de vedação executadas com jet grouting se deve
principalmente a espaçamentos indesejados entre colunas, oriundos de falhas
na verticalidade das mesmas (CARRETO, 2000).

96
KUTZNER (1996) constata ainda que, além da baixa permeabilidade, o jet
grouting se apresenta como um material pouco erodível, uma vez que em
testes com gradientes elevados, mesmo após um período de 75 dias, o
material tratado não apresentou aumento no valor da permeabilidade.
Para efeito das modelagens realizadas neste trabalho, o jet grouting pode
ser considerado como um material não poroso, ou seja, impermeável. A
consideração do jet grouting como um material não poroso significa que o
mesmo não apresentará poro-pressões e consequentemente não fará sentido
falar em tensões efetivas e tensões totais, pois ambas serão sempre iguais. É
importante ressaltar que a validade desta consideração está condicionada à
efetiva pega no tratamento com jet grouting, pois não haverá poro pressão nos
elementos tratados com jet grouting somente após os mesmos atingirem o
estado sólido. Em solos orgânicos é comum o retardo na pega do tratamento,
entretanto, para efeito de análise, considera-se somente a hipótese após o
tratamento bem sucedido.

4.4 ANÁLISE PELO MÉTODO DE EQUILÍBRIO LIMITE

Análises pelo método de equilíbrio limite consistem em arbitrar um


mecanismo de colapso genérico, que pode ser simples ou composto por
diversas formas geométricas, tais como superfícies de ruptura planares,
circulares, espirais logarítmicas, entre outras. Garantindo-se o atendimento ao
critério de escoamento estabelecido para todos os pontos da superfície de
ruptura, analisa-se o equilíbrio estático dos blocos.
Este método de análise se resume a pesquisar o mecanismo de colapso,
obtendo-se o fator de segurança associado. Trata-se de um método de cálculo
aproximado, mas que tem conduzido a soluções que estão condizentes com os
casos reais observados em obras.
Neste trabalho utilizou-se o programa comercial de análise de estabilidade
de taludes SLOPE-W para obtenção de fatores de segurança associados aos
cenários estudados.

97
Para o caso de análise de estabilidade de cortinas de estacas pranchas
utilizando o SLOPE-W, um informe técnico do GEO-SLOPE (2010) propõe que
sejam analisadas duas superfícies de ruptura. A primeira se refere à
estabilidade global e a segunda superfície se refere a um possível
arrancamento dos tirantes, denominada superfície de ruptura local. As FIG. 4.6
e FIG. 4.7 mostram as superfícies de ruptura que devem ser estudadas em
análises de estabilidade de cortinas de estacas pranchas atirantadas. As
superfícies críticas com menores fatores de segurança são obtidas pelo
programa, a partir da definição de uma região de entrada e saída para as
mesmas, indicadas nas figuras por uma linha vermelha.
A superfície de ruptura da FIG. 4.6 é uma superfície circular que
obrigatoriamente deve passar abaixo da cortina de estacas pranchas. A
superfície de ruptura da FIG. 4.7 é propositalmente indicada a passar pelo pé
do talude. No caso desta superfície de ruptura local, para simular a contribuição
do empuxo passivo decorrente da ficha da cortina de estacas pranchas, deve-
se inserir manualmente uma linha de carregamento correspondente à
estimativa do valor de empuxo passivo. A proposta de GEO-SLOPE (2010)
prevê que a estimativa do empuxo passivo (EP) neste caso seja feita pelas
equações de Mohr-Coulomb para cálculo de empuxos de terra, considerando
todo comprimento da ficha enterrada para cálculo do empuxo passivo.

FIG. 4.6 – Superfície de ruptura global.

98
FIG. 4.7 – Superfície de ruptura local.

A análise de estabilidade da solução de reforço com jet grouting pode ser


realizada utilizando a metodologia apresentada, simulando-se o jet grouting
como uma faixa de solo junto à cortina. Entretanto, no caso da ruptura local,
deve-se considerar também a possibilidade desta faixa de reforço trabalhar de
forma rígida juntamente com a cortina. Ou seja, deve-se simular a mesma
superfície de ruptura para a situação sem jet grouting, entretanto com uma
linha de carregamento no pé do talude referente ao empuxo passivo da ficha
da coluna de jet grouting e não mais somente referente à ficha da cortina de
estacas pranchas.
A análise por equilíbrio limite permite que seja avaliado o desempenho do
jet grouting, uma vez que o aumento do fator de segurança proporcionado pela
solução, quando comparado com a situação sem reforço, pode ser um
indicador de melhor desempenho.
A análise da superfície de ruptura global nos fornece um fator de
segurança muito próximo da situação real. Entretanto, na análise da ruptura
local, não é possível precisar de forma confiável o valor do EP que deve ser
considerado, uma vez que, principalmente em situações onde o tamanho da
ficha se torna muito grande, como no caso da solução com jet grouting, o

99
cálculo deste valor de EP pelas equações de Mohr-Coulomb pode levar a
valores de empuxo muito altos, que na prática não podem ocorrer pois
obrigariam a deformações extremamente elevadas.
O método de equilíbrio limite se mostra útil para uma simulação inicial,
entretanto, a análise mais indicada para este tipo de obra é através de método
numérico como o MEF, conforme discutido a seguir.

4.5 ANÁLISE PELO MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS (MEF)

O MEF é um método numérico de cálculo desenvolvido a partir do cálculo


matricial de estruturas e que hoje é aplicado em inúmeras áreas da engenharia
para resolver diversos tipos de problemas, inclusive não lineares e
dependentes do tempo. Assim como em qualquer método discreto de cálculo,
onde a solução do problema é apresentada apenas em alguns pontos do
domínio, modelagens computacionais pelo MEF apresentam, para um
determinado conjunto de hipóteses consideradas verdadeiras (parâmetros de
entrada), soluções tão mais próximas da exata quanto maior for o número de
pontos utilizados na solução numérica, ou seja, quanto mais refinada for a
malha adotada.
A técnica do MEF consiste em dividir o domínio do problema em elementos
conectados através de pontos. O comportamento desses elementos dependerá
da geometria e das propriedades atribuídas aos mesmos. A possibilidade dos
elementos se moldarem a qualquer geometria e ainda de possuírem
propriedades distintas faz do MEF uma técnica bastante eficiente e capaz de
solucionar problemas complexos, mesmo com geometrias não regulares e
meios heterogêneos.
Segundo VELLOSO et al. (1998), o MEF pode ser descrito como uma
técnica para se resolver um problema governado por uma equação diferencial
através de um sistema de equações algébricas que relacionam a variável
procurada em um número finito de pontos. De forma resumida, a elaboração do
MEF pode ser descrita por sete etapas:

100
- Divisão do domínio do problema em elementos finitos conectados por
pontos nodais;
- Distribuição da variável procurada no elemento por meio de uma função
de interpolação;
- Montagem da matriz de comportamento dos elementos;
- Montagem do sistema global de equações para o problema;
- Introdução das condições de contorno;
- Solução do sistema de equações, obtendo-se os valores das variáveis do
problema nos pontos nodais; e
- Obtenção das variáveis secundárias por correlações a partir das variáveis
do problema.

Neste trabalho foi utilizado o programa comercial para análise de


problemas geotécnicos PLAXIS 2D, que fornece resultados em termos de
tensões e deformações. Para modelagem do problema utilizando este
programa faz-se necessária uma correta compreensão do MEF e do
funcionamento do programa propriamente dito, de modo que os dados de
entrada sejam inseridos de forma adequada e o modelo possa fornecer
resultados representativos para a avaliação que se pretende realizar.

4.5.1 O PROGRAMA PLAXIS 2D

O programa PLAXIS 2D apresenta uma interface gráfica na qual a


geometria do problema pode ser facilmente inserida por meio de ferramentas
de desenho. Nesta etapa são inseridas diversas informações do problema, tais
como níveis d’água, sobrecargas, profundidades e posicionamentos das
camadas de solo, condições de contorno, posição de estacas e tirantes, entre
outras. Esta geometria deve ser compatível com o tipo de problema que se
deseja estudar, que pode ser axissimétrico ou plano de deformação. Somente
com a geometria completamente definida é que se deve criar a malha de
elementos finitos. Esta malha é automaticamente criada pelo programa com

101
elementos de 6 ou 15 nós, podendo ser refinada globalmente ou em locais
específicos.
As características de todos os materiais que serão utilizados para
representar o cenário real modelado na geometria devem ser definidas. Ou
seja, cada camada de solo, tirante ou estaca da geometria deverá estar
associada a algum tipo de material. É nesta fase que devem ser
criteriosamente escolhidas as definições do modelo constitutivo do solo, o tipo
de material que o compõe (drenado ou não drenado) e a análise que se deseja
realizar. Os elementos estruturais, assim como o solo, também devem ter seu
modelo de comportamento definido. Somente com todas essas definições é
que devem ser preenchidas efetivamente as propriedades dos materiais (solos,
estacas e tirantes).
O programa PLAXIS 2D possui 6 modelos constitutivos que governam o
comportamento dos materiais que podem ser associados às camadas de solo
– Mohr-Coulomb, Jointed Rock, Hardening Soil, Soft Soil Creep, Soft Soil e
Linear-Elástico. Os modelos constitutivos necessitam de diferentes parâmetros
e dados de entrada e devem ser definidos em função do problema estudado e
do tipo de solo. Neste trabalho, onde se pretende avaliar o desempenho do jet
grouting para reforço de um cais em estaca prancha, optou-se pelo modelo
constitutivo de solo Mohr-Coulomb.
O modelo constitutivo Mohr-Coulomb é um modelo de comportamento
elástico perfeitamente plástico, empregado para representar a ruptura por
cisalhamento de solos e rochas. O modelo Mohr-Coulomb é assim classificado
devido à hipótese de que o material comporta-se como linear elástico até
atingir a ruptura, não havendo endurecimento devido ao fluxo plástico, ou seja,
a superfície de plastificação é fixa. Portanto, o material apresenta um
comportamento linear elástico até atingir uma determinada tensão de
escoamento, que se mantém constante com o acréscimo de deformações
plásticas.
Os principais parâmetros geotécnicos necessários como dados de entrada
para este modelo são: ´, c´, E, , sat, d, K0, kx e ky.
Este modelo constitutivo de solo permitirá avaliar de forma satisfatória o
desempenho da solução com jet grouting. Cabe salientar que neste trabalho

102
será estudada a resposta para uma condição rápida de carregamento, ou seja,
não serão estudados os problemas de adensamento das camadas de solo,
uma vez que o foco do estudo é avaliar o desempenho do jet grouting para
reforço da estrutura portuária e não no combate aos recalques por
adensamento.
As camadas de areia serão classificadas como materiais drenados e as
camadas de argila como não drenadas. Este é um ponto importante da
modelagem, pois ao ser considerado o comportamento não drenado das
argilas, as definições dos parâmetros devem ser coerentes com este tipo de
comportamento. Tendo em vista que se está estudando a estabilidade da
estrutura portuária, é um equívoco, por exemplo, retirar parâmetros de
deformabilidade do solo a partir de curvas de ensaios de adensamento, que se
referem a um comportamento drenado e a longo prazo.
As colunas de jet grouting não serão modeladas como elementos
estruturais e sim como uma faixa de solo de material não poroso, com modelo
constitutivo de solo de Mohr-Coulomb. Ou seja, para efeito de análise, o jet
grouting será considerado como semelhante a camadas de solo.
A descrição do programa PLAXIS 2D ora apresentada foi retirada de LIMA
(2007). Maiores informações quanto aos modelos constitutivos podem ser
obtidos em BRINKGREVE (2002).

4.6 CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE A METODOLOGIA

Neste capitulo procurou-se mostrar de forma organizada e coerente os


passos seguidos para a modelagem do problema.
Além da importância de se escolher adequadamente os métodos de
análise, procurou-se enfatizar a importância dos dados de entrada das
modelagens, que são normalmente obtidos por meio de correlações. A
definição desses parâmetros de entrada, tanto para o solo quanto para o
material tratado, e a escolha de um modelo de comportamento adequado são
de suma importância para que as análises representem de forma satisfatória o
cenário real do problema.

103
5 MODELAGEM DE REFORÇO DE UM CAIS COM JET GROUTING

5.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Neste capítulo serão realizadas modelagens computacionais focando a


aplicação da técnica de jet grouting para solução de um problema de
estabilidade de uma estrutura portuária. Serão simulados computacionalmente
os problemas decorrentes do aumento de calado e/ou de sobrecarga em um
cais.
Para avaliar o desempenho da solução serão modeladas diversas situações
de incremento de calado e sobrecarga para um cenário previamente
estabelecido. Este cenário escolhido foi um hipotético cais em estacas
pranchas metálicas com duas linhas de tirantes no porto de Navegantes-SC. A
caracterização geotécnica adotada como típica para esta região portuária foi
baseado em MARQUES E LACERDA (2002) e descrita no Capítulo 3.
Foram utilizados nas modelagens dois programas comerciais, conforme
mostrado no Capítulo 4. Seguindo procedimento semelhante ao adotado por
JARITNGAM (2001), foi utilizado um programa para estudo de estabilidade
pelo método de equilíbrio limite e outro programa para análise tensão -
deformação pelo método dos elementos finitos.
Os parâmetros de resistência e deformabilidade para simulação do solo
original e do material tratado com jet grouting, como um solo de melhores
características, foram obtidos a partir das correlações apresentadas no
Capítulo 4.
Neste capítulo serão realizadas as modelagens propostas. Posteriormente,
a partir dos resultados obtidos, será estudada a relação entre o tratamento
empregado e os fatores de segurança, as deformações, as tensões e os
esforços no solo e na cortina de estacas pranchas, de modo que seja possível
efetuar uma avaliação do desempenho da solução com jet grouting.

104
5.2 MODELAGEM DO PROBLEMA

5.2.1 SITUAÇÃO INICIAL

A situação inicial que servirá como cenário para o estudo foi um cais de
paramento fechado com cortina de estacas pranchas metálicas, conforme
mostrado na FIG. 5.1. Foi considerada a existência de duas linhas de tirantes
com carga de 250 kN/m cada, que equivale, por exemplo, a tirantes de 750kN a
cada 3m. Tendo em vista que o foco do estudo é a utilização de jet grouting, os
carregamentos simulados foram basicamente a sobrecarga e o empuxo de
terra da retroárea, que ocorre naturalmente devido às diferenças de níveis.

FIG. 5.1 – Cenário inicial do cais em estacas pranchas.

105
Outros esforços tais como os esforços de atracação e amarração não
entram nas modelagens, pois o estudo do desempenho da solução em jet
grouting é realizado sob o ponto de vista geotécnico. A cortina de estacas
pranchas e eventual reforço destinam-se à contenção do empuxo de terra e
conseqüente garantia de calado e capacidade de carga da retroárea. Neste tipo
de cais, os esforços de amarração são transmitidos a cabeços chumbados em
blocos de estacas desvinculados da cortina de estacas pranchas do cais. Já os
esforços de atracação, se fossem transmitidos para o cais, seriam favoráveis
sob o ponto de vista geotécnico, uma vez que aliviariam as cargas de empuxo
da retroárea.
Para efeito de modelagem, o tipo de estaca prancha de aço escolhido foi o
modelo AU-20 da ARCELOR MITAL, cujas características estão apresentadas
na TAB. 5.1. O comprimento total das estacas é de 24m, com ficha de 14m
totalmente embutida em solo. Esta configuração inicial do cais garante
segurança para um calado de 8m e uma sobrecarga de 20kN/m2.
Os tirantes na modelagem foram considerados materiais elastoplásticos,
com carga de plastificação igual à carga de protensão de 250 kN/m. O produto
do módulo de Young pela área do tirante adotado foi de EA = 125000 kN. O
bulbo de ancoragem do tirante também foi modelado como um material
elastoplástico com limite de 250 kN/m e EA = 170000 kN. O comprimento do
tirante foi de 44m e do bulbo de ancoragem de 4,6m. Tendo em vista que foi
considerada uma carga de protensão equivalente ao limite de plastificação
estabelecido, a simulação dos tirantes equivaleu à aplicação de uma linha de
carregamento de 250 kN/m.

TAB. 5.1 – Características das estacas pranchas metálicas.

PESO LINEAR
TIPO E (MPa) A (m2/m) I (m4/m)
(kN/m/m)

AU-20 ARCELOR
2.10E+05 0.0165 0.0004444 1.29
MITAL

106
5.2.2 CENÁRIOS ANALISADOS PARA AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DA
SOLUÇÃO EM JET GROUTING

O procedimento natural para a verificação do reforço de uma estrutura


portuária como a apresentada é modelar para cada seção geotécnica a solução
em jet grouting proposta e verificar se a mesma atende aos limites
estabelecidos para que a obra funcione de forma satisfatória e com segurança.
Estas modelagens devem ser feitas em função da nova condição de calado e
carregamento definidos para o cais. Diante desta nova situação, todas as
seções devem ser modeladas computacionalmente, verificadas e
dimensionadas.
Para tornar possível uma melhor análise do desempenho da solução,
optou-se por inverter os procedimentos. Baseado em um cenário fixado, foi
avaliado o desempenho da solução em jet grouting para diversas situações de
aprofundamento de calado e incremento de sobrecarga, conforme o projeto de
análise apresentado na TAB. 5.2 e ilustrado na FIG. 5.2.

TAB. 5.2 – Projeto de análises para avaliação do desempenho da solução.


SOBRECARGA
CENÁRIO GANHO DE CALADO (GC)
Incremento de sobrecarga (ISC) TOTAL (20kPa + ISC)

1 2,0m 0 kPa 20 kPa

2 2,0m 20 kPa 40 kPa

3 2,0m 40 kPa 60 kPa

4 2,0m 60 kPa 80 kPa

5 4,0m 0 kPa 20 kPa

6 4,0m 20 kPa 40 kPa

7 4,0m 40 kPa 60 kPa

8 4,0m 60 kPa 80 kPa

9 6,0m 0 kPa 20 kPa

10 6,0m 20 kPa 40 kPa

11 6,0m 40 kPa 60 kPa

12 6,0m 60 kPa 80 kPa

107
Os incrementos de sobrecargas sugeridos correspondem à necessidade de
aumento da capacidade de armazenamento de um pátio de contêineres. Um
contêiner padrão de 20 pés, por exemplo, transmite uma pressão de cerca de
15kPa, sendo comum o empilhamento de até seis fileiras de contêineres.

q = 20kPa + ISC
q = 20kPa +  q

ARGILA ORGÂNICA POUCO


SILTOSA MUITO MOLE
8m

AREIA GC

ARGILA MOLE À MÉDIA


COM AREIA FINA
AREIA

ARGILA ORGÂNICA POUCO


SILTOSA, MOLE À RIJA
REFORÇO COM JET GROUTING

AREIA
ARGILA SILTOSA COM AREIA
FINA MÉDIA À RIJA

FIG. 5.2 – Cenário de ganho de calado e incremento de sobrecarga.

O reforço projetado consistiu de uma cortina de colunas de jet grouting


justapostas posicionadas imediatamente à ré da cortina de estacas pranchas.
O posicionamento do reforço poderia ser à frente ou à ré da cortina de estacas
pranchas. Posicionando à frente não há o problema de interferências com
tirantes, que apesar de poderem ser contornados graças à flexibilidade do
método, podem causar transtornos executivos. Entretanto o posicionamento à
frente da cortina atravessa uma espessura menor de camadas de solo e não
tem o mesmo efeito do tratamento à ré. Posicionando-se à ré há um maior

108
ganho de rigidez e conseqüente redução de deformações. Neste trabalho
optou-se pela configuração à ré por se tratar de uma avaliação do desempenho
do método propriamente dito, sendo interessante que as colunas atravessem o
maior número de camadas de solo possível.
A profundidade final das colunas foi de 35m e o diâmetro das mesmas foi
considerado constante através das camadas de solo. O diâmetro está
representado na modelagem por uma faixa contínua de 1,50m de espessura de
solo tratado, que corresponde à área por metro linear de coluna. Este diâmetro
foi estimado com base nas faixas de valores das FIG. 4.4 e FIG. 4.5,
apresentadas no Capítulo 4. Este diâmetro, assim como as tensões de
compressão do material tratado, são especificações mínimas de projeto e, no
caso de um projeto real, devem ser confirmadas no campo no início das obras.

5.2.3 PARÂMETROS DO SOLO NO MODELO

Os parâmetros do solo natural e do material tratado com jet grouting são de


grande importância para o sucesso das análises. Estes parâmetros devem
representar a realidade para que os resultados tenham significado prático. Por
mais sofisticados que sejam os modelos, o mais importante em modelagem
computacional de solos é a correta definição dos parâmetros geotécnicos.
A caracterização geotécnica de MARQUES E LACERDA (2002)
apresentada no Capítulo 3 mostra que há uma considerável variabilidade de
valores dos parâmetros geotécnicos na região do porto de Navegantes-SC.
Esta variabilidade foi observada pois foram realizados diversos tipos de
ensaios em diferentes pontos investigados. Partindo da caracterização
geotécnica correspondente ao furo SP-32 (FIG. 3.6) e utilizando a metodologia
proposta no Capítulo 4, foram atribuídos os parâmetros de entrada do modelo
computacional, conforme mostrado nas TAB. 5.3 e TAB. 5.4. Na TAB. 5.3 os
parâmetros que dizem respeito aos solos granulares são efetivos e no caso dos
solos argilosos se referem ao comportamento não drenado. Na TAB. 5.4,
quando são apresentados os parâmetros do solo tratado, essa distinção não se
faz necessária, pois o solo tratado é modelado como material não poroso.

109
TAB. 5.3 – Parâmetros de entrada do modelo para o solo natural.

Parâmetros do solo natural


H
CAMADA
nat  c' Su Ed Eu
' u
(m) (kN/m³) (graus) (kPa)

1 Aterro arenoso 1 18 30 0 - 25000 - 0,3 -

Argila Orgânica pouco


2 6 15,5 0 - 10 - 5000 - 0,49
siltosa muito mole

3 Areia 7,5 17 32 0 - 25000 - 0,3 -

Argila mole a média com


4 5,5 15,3 0 - 45 - 22500 - 0,49
areia fina

5 Areia 3 17,2 32 0 - 35000 - 0,3 -

Argila orgânica pouco


6 15 15,8 0 - 60 - 30000 - 0,49
siltosa, mole à rija

7 Areia 1 17,5 35 0 - 45000 - 0,3 -

Argila siltosa com areia fina


8 8 16,8 0 - 80 - 40000 - 0,49
média à rija

TAB. 5.4 – Parâmetros de entrada após tratamento com jet grouting.

Parâmetros após tratamento com jet grouting


H
CAMADA
(m) c  jet cjet Ejet
  jet
(kPa) (kN/m³) (kPa) (kPa)

1 Aterro arenoso 1 2500 22 30 722 500000 0,2

Argila Orgânica pouco siltosa


2 6 500 22 - 250 100000 0,2
muito mole

3 Areia 7,5 2500 22 32 693 500000 0,2

Argila mole a média com


4 5,5 1500 22 - 750 300000 0,2
areia fina

5 Areia 3 2500 22 32 693 500000 0,2

Argila orgânica pouco siltosa,


6 15 3000 22 - 1500 600000 0,2
mole à rija

7 Areia 1 3000 22 35 781 600000 0,2

Argila siltosa com areia fina


8 8 3000 22 - 1500 600000 0,2
média à rija
* Para os solos argilosos cjet corresponde diretamente ao valor da tensão cisalhante resistente.

110
O coeficiente de empuxo de repouso (K 0) foi estimado para as camadas de
areia e argila pela equação EQ. 5.1. Para efeito de cálculo de K 0 considerou-se
para as argilas um ângulo de atrito efetivo de 25º (K 0 = 0,577).

K0 = 1 – sen () (EQ. 5.1)

A permeabilidade atribuída para as camadas de areia foi de 10 -3 m/s e para


as camadas de argila de 10 -6 m/s. O material tratado com jet grouting foi
considerado impermeável (não poroso). Cabe ressaltar que para efeito das
análises realizadas os valores de permeabilidade não interferem nos resultados
finais.

5.3 ANÁLISE PELO MÉTODO DO EQUILÍBRIO LIMITE

Conforme descrito no Capítulo 4, a modelagem do problema pelo método


do equilíbrio limite utilizou o programa SLOPE-W, simulando dois possíveis
casos de ruptura (global e local). A TAB. 5.5 apresenta os fatores de segurança
para a situação inicial do cais, antes de qualquer aumento de calado ou
incremento de sobrecarga (FIG. 5.1).
A análise denominada local se refere a uma superfície de ruptura passando
pelo pé do talude, imaginando-se que o giro da cortina de estacas ocorra em
torno deste ponto. Esta aproximação pode levar a resultados equivocados, pois
além de se saber que o giro pode ocorrer em uma posição muito distante desse
ponto, a consideração de que o empuxo passivo será totalmente mobilizado é
contra a segurança. Por este motivo, no caso da análise local, para ilustrar a
faixa de valores que se encontra a mobilização do empuxo, foram calculados
os empuxos necessários (En) para se obter um F.S. = 1,0. Em seguida
calculou-se a relação entre o empuxo teoricamente disponível (Edisp) devido à
ficha e o empuxo necessário (En). No caso do empuxo disponível se considerou
os limites superiores e inferiores, ou seja, o empuxo passivo e o empuxo no
repouso.

111
TAB. 5.5 – Situação inicial pela análise por equilíbrio limite
Situação inicial
(Calado de 8,0m e sobrecarga de 20 kPa)

Análise global Análise local

Empuxo disponível (Edisp)


Empuxo E disp / En
(kN)
necessário (E n)
F.S. global
para F.S. = 1,0
Passivo Repouso (kN) Passivo Repouso

1.686 1881.85 334.94 352.5 5.339 0.950

Os doze cenários de ganho de calado (GC) e incremento de sobrecarga


(ISC) tem seus resultados apresentados nas TAB. 5.6, TAB. 5.7 e TAB. 5.8,
para as superfícies de ruptura global e local, conforme descrito nas FIG. 4.6 e
FIG. 4.7.

TAB. 5.6 – Fatores de segurança globais obtidos nas análises.


SOBRECARGA F.S. global
GC
CENÁRIO ISC TOTAL Sem Com
(m)
(kPa) (kPa) reforço reforço
1 0 20 1.303 2.292

2 20 40 1.228 2.129
2
3 40 60 1.165 1.981
4 60 80 1.103 1.853

5 0 20 1.089 1.983
6 20 40 1.043 1.866
4
7 40 60 1.004 1.76
8 60 80 0.97 1.659
9 0 20 0.637 1.495

10 20 40 0.595 1.414
6
11 40 60 0.549 1.331
12 60 80 0.48 1.257

As FIG. 5.3, FIG. 5.4 e FIG. 5.5 ilustram as superfícies de ruptura


analisadas para um dos doze cenários (cenário 6), no qual se simulou um
ganho de calado de 4,0m e um incremento de sobrecarga de 20 kPa. Todos os

112
demais cenários estão disponíveis nos arquivos digitais de entrada do
programa, anexos a este trabalho (APÊNDICE 1).

TAB. 5.7 – Empuxos disponíveis e necessários das análises locais.


Empuxo disponível (kN)
SOBRECARGA Empuxo
GC Sem reforço Com reforço necessário (En)
CENÁRIO
(m) para F.S. = 1,0
ISC TOTAL (kN)
Passivo Repouso Passivo Repouso
(kPa) (kPa)
1 0 20 526.2

2 20 40 601.6
2 1495 238 3980 930
3 40 60 677
4 60 80 752.5
5 0 20 757.3
6 20 40 833.8
4 1199 155 3530 755
7 40 60 910

8 60 80 986.5
9 0 20 957.5

10 20 40 1056
6 881 97 3086 623
11 40 60 1154.5
12 60 80 1256.2

TAB. 5.8 – Relações entre os empuxos disponíveis (Edisp) e necessários


(En) pelas análises locais.
E disp / En
GC SOBRECARGA
CENÁRIO (m Sem reforço Com reforço
) ISC
Passivo Repouso Passivo Repouso
(kPa)
1 0 2.841 0.453 7.564 1.767
2 20 2.485 0.396 6.616 1.545
2
3 40 2.208 0.352 5.879 1.373

4 60 1.986 0.317 5.289 1.235


5 0 1.583 0.204 4.661 0.996
6 20 1.438 0.185 4.234 0.905
4
7 40 1.317 0.170 3.879 0.829
8 60 1.215 0.157 3.578 0.765

9 0 0.920 0.102 3.223 0.650


10 20 0.834 0.092 2.922 0.590
6
11 40 0.763 0.084 2.673 0.539

12 60 0.701 0.078 2.457 0.496

113
ATERRO ARENOSO
q = 20 + 20 = 40kN/m
1.043

T = 250 kN/m
ARGILA ORGÂNICA POUCO
T = 250 kN/m
SILTOSA MUITO MOLE
8m

AREIA
GC = 4m

ARGILA MOLE À MÉDIA


COM AREIA FINA
AREIA

ARGILA ORGÂNICA POUCO


SILTOSA, MOLE À RIJA

AREIA
ARGILA SILTOSA COM AREIA
FINA MÉDIA À RIJA

FIG. 5.3 – Análise global do cenário 6 sem o reforço.

ATERRO ARENOSO
q = 20 + 20 = 40 kN/m
1.866

T = 250 kN/m
ARGILA ORGÂNICA POUCO
T = 250 kN/m
SILTOSA MUITO MOLE
8m

AREIA
GC = 4m

ARGILA MOLE À MÉDIA


COM AREIA FINA
AREIA

ARGILA ORGÂNICA POUCO


SILTOSA, MOLE À RIJA Coluna de jet grouting.

AREIA
ARGILA SILTOSA COM AREIA
FINA MÉDIA À RIJA

FIG. 5.4 – Análise global do cenário 6 com o reforço.

114
ATERRO ARENOSO
q = 20 + 20 = 40 kN/m
1.000

T = 250 kN/m

ARGILA ORGÂNICA POUCO


T = 250 kN/m
SILTOSA MUITO MOLE
8m

AREIA
E833,8
n = 833,8
kN/mkN/m GC = 4m

ARGILA MOLE À MÉDIA


COM AREIA FINA
AREIA

ARGILA ORGÂNICA POUCO


SILTOSA, MOLE À RIJA

AREIA
ARGILA SILTOSA COM AREIA
FINA MÉDIA À RIJA

FIG. 5.5 – Análise local do cenário 6.

A FIG. 5.6a mostra a evolução do fator de segurança global com o


aprofundamento de calado, enquanto a FIG. 5.6b apresenta a evolução da
relação entre empuxo disponível e o empuxo necessário, no caso da análise
local de estabilidade, considerando o empuxo no repouso e o empuxo passivo.
Analisando a FIG. 5.6b é possível verificar a variação que pode ocorrer em
função de qual empuxo é utilizado na análise.
Cabe salientar que além da questão dos empuxos na análise local, a
análise por equilíbrio limite, da forma que foi realizada, fixa o ponto de rotação
da estrutura no pé do talude, o que pode mascarar os resultados, uma vez que
a situação de ruptura estudada pode não ser a mais desfavorável. Esta
limitação da metodologia será discutida após a apresentação dos resultados
pela análise com elementos finitos. A realização de análises por equilíbrio limite
para o problema em questão teve a finalidade de, além de nortear inicialmente
a geometria do problema, levantar a questão quanto à limitação deste método
de análise para este tipo de problema.

115
2.5 (a)

1.5
FS inicial = 1,69
FSglobal

0.5

0
0 2 4 6

GC (m)
ISC = 0 kPa sem ref orço ISC = 20kPa sem reforço
ISC = 40 kPa sem reforço ISC = 60kPa sem reforço
ISC = 0kPa com reforço ISC = 20kPa com reforço
ISC = 40kPa com reforço ISC = 60kPa com reforço
8.000
(b)

7.000

6.000

5.000 2.5
FSlocal, Eo, Ep

Empuxo passivo
4.000 FS inicial = 5,34
2

3.000 FS inicial = 1,69


1.5
FSglobal

2.000
1
Empuxo repouso
1.000
FSinicial = 0,96
0.5

0.000
0 2 GC (m) 4 6
0
0 2 4 6
LEGENDA: GC (m)
ISC = 0 kPa sem ref orço ISC = 20kPa sem reforço
ISC = 40 kPa sem ref orço ISC = 60kPa sem reforço
ISC = 0kPa com ref orço ISC = 20kPa com reforço
ISC = 40kPa com reforço ISC = 60kPa com reforço

FIG. 5.6 – Fatores de segurança globais e locais.

116
5.3.1 AVALIAÇÃO PELO MÉTODO DE EQUILÍBRIO LIMITE

No caso da análise de estabilidade global, o jet grouting propiciou um ganho


direto no fator de segurança. Propositalmente a profundidade total do
tratamento foi escolhida de forma que pudessem ser analisadas superfícies
críticas de ruptura que cortassem o tratamento, pois assim era possível melhor
comparar o desempenho da solução. Deste modo, o pequeno trecho da
superfície crítica que corta o tratamento proporciona um incremento na tensão
cisalhante resistente. Este incremento foi suficiente para que o problema de
estabilidade global se tornasse o menos relevante, tendo sido obtido em todas
as situações um fator de segurança global com reforço maior do que 1,25. É
importante observar que para este tipo de análise global o jet grouting funciona
apenas no local onde a superfície crítica o corta. Sendo assim, o material
tratado exatamente nesta faixa de solo onde passa a superfície crítica tem
enorme responsabilidade, sendo portanto muito importante as confirmações
dos parâmetros de resistência do solo tratado nesta região que fica
imediatamente abaixo da cortina de estacas pranchas.
Já no caso da análise local, a consideração sugerida por GEO-SLOPE
(2010) deve ser utilizada com cuidado. O primeiro ponto a se questionar é a
escolha do ponto de rotação da cortina. Dada a limitação do programa SLOPE-
W, que obriga que as superfícies de ruptura estudadas se iniciem e terminem
em faces livres, não é possível considerar um ponto de rotação da cortina mais
abaixo do que o pé do talude. Deste modo, o que se verificou nas análises é
que quanto maior a ficha existente, mais errônea está a consideração de giro
por este ponto. Mais adiante, quando forem interpretados os resultados das
análises pelo MEF, será mais bem definido este provável ponto de giro.
O segundo ponto importante desta análise local pelo método do equilíbrio
limite está em determinar qual valor de empuxo resistente deve ser utilizado.
Considerando a situação limite de ruptura da massa de solo, chega-se à
conclusão que o empuxo a ser considerado deveria ser o passivo. Entretanto, o
que se verifica é que esta consideração pode levar a deslocamentos muito
superiores aos valores admissíveis pela boa prática de engenharia. Deste
modo, a recomendação é que se utilize um valor de empuxo resistente situado

117
entre o empuxo no repouso e o empuxo passivo. Analisando-se os
deslocamentos obtidos pelo MEF esta questão será melhor esclarecida.
Dado o exposto, verifica-se que da análise local de estabilidade por
equilíbrio limite são retiradas tendências importantes de ruptura, na qual,
independente de considerações possivelmente equivocadas na análise, se
verifica que o jet grouting proporciona um ganho de segurança diretamente
proporcional ao comprimento adicional de ficha que se obtém pela execução do
tratamento, uma vez que quanto mais profundo o tratamento maior o empuxo
resistente.

5.4 ANÁLISES PELO MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS

As análises realizadas pelo método do equilíbrio limite, justamente por


apresentarem as limitações já mencionadas, fornecem apenas uma noção
inicial sobre o comportamento da estrutura e podem ser encaradas como um
primeiro passo a ser dado antes de análises mais elaboradas. Com o intuito de
compreender melhor o comportamento do solo antes e após receber o
tratamento, foram modelados os doze cenários pelo MEF, por meio do
programa Plaxis 2D.
Todas as análises realizadas com o Plaxis 2D para os doze cenários
encontram-se disponíveis nos arquivos digitais em anexo a este trabalho
(APÊNDICE 1). Entretanto, como forma de ilustração de quais resultados são
obtidos das análises e como os mesmos são apresentados pelo programa,
serão aqui mostradas apenas as saídas do programa que se referem ao
cenário 6. Posteriormente, para melhor análise do desempenho da solução,
os resultados mais relevantes para a avaliação que se deseja realizar serão
compilados em gráficos. Nestes gráficos todos os cenários serão
contemplados, permitindo uma visão evolutiva do desempenho da solução.
A FIG. 5.7 mostra a malha utilizada para a modelagem da situação inicial já
na condição deformada. Para melhor visualização, todas as saídas gráficas de
condições deformadas apresentadas neste trabalho foram configuradas para
uma amplificação de vinte e cinco vezes nos valores das deformações. A partir

118
deste cenário inicial é que todos os demais casos foram modelados. O
contorno da coluna de jet grouting à ré da cortina de estacas pranchas se
refere a uma região previamente demarcada, já visando a modelagem da
substituição do material inicial pelo material tratado. As subdivisões das regiões
dentro da mesma camada de solo demarcadas à frente da cortina se referem
às camadas de solo que serão suprimidas, simulando um aprofundamento de
calado. O programa Plaxis 2D permite que seja simulada uma condição
evolutiva de uma obra a partir de um cenário inicial, sendo possível suprimir
e/ou alterar as propriedades das regiões previamente estabelecidas para as
camadas de solo ou de tratamento, além de poder alterar os valores de
sobrecarga.

FIG. 5.7 – Situação inicial deformada ( máx= 54mm).

5.4.1 ANÁLISE DAS DEFORMAÇÕES NA MASSA DE SOLO

A FIG. 5.8 mostra a situação deformada da condição de aumento de calado


e incremento de sobrecarga referente ao cenário 6, sem considerar a execução
de tratamento com jet grouting. A FIG. 5.9 se refere à condição deformada do
cenário 6 com tratamento.

119
FIG. 5.8 – Deformada do cenário 6 sem tratamento ( máx=136mm).

FIG. 5.9 – Deformada do cenário 6 com tratamento ( máx=98mm).

As deformações calculadas para os diversos cenários estudados mostram


claramente a eficiência do tratamento com jet grouting. As deformações
máximas obtidas foram sempre significativamente inferiores nas condições com
tratamento, em torno de 30% menores para o cenário 6, conforme se pode
observar comparando as FIG. 5.8 e FIG. 5.9.
Ao analisar as deformações é importante salientar que o estudo realizado
visou avaliar o desempenho do reforço da estrutura de contenção, ou seja, a
ocorrência de adensamento das camadas compressíveis devido ao incremento
de sobrecarga não foi considerada na avaliação ora realizada. Eventualmente,
em um caso real de obra, dever-se-iam realizar intervenções em paralelo ao
reforço da estrutura, para evitar recalques acima dos desejáveis.

120
5.4.2 ANÁLISE DAS TENSÕES NA MASSA DE SOLO

As FIG. 5.10 a FIG. 5.18 mostram os resultados referentes às análises de


tensões na massa de solo para a situação inicial e para as condições do
cenário 6 com e sem o reforço.
A distribuição das tensões totais são apresentadas nas FIG. 5.10, FIG. 5.11
e FIG.5.12, onde se pode observar que a variação destas tensões corresponde
principalmente ao acréscimo de sobrecarga e ao aprofundamento do calado
impostos à situação inicial. O tratamento do solo propriamente dito altera de
forma discreta as tensões totais, uma vez que o mesmo provoca apenas uma
pequena mudança do peso específico do solo na região tratada, conforme se
pode observar comparando as FIG. 5.11 e FIG.12.

FIG. 5.10 – Tensões totais para a situação inicial.

121
FIG. 5.11 – Tensões totais para o cenário 6 sem tratamento.

FIG. 5.12 – Tensões totais para o cenário 6 com tratamento.

122
As FIG. 5.13, FIG.5.14 e FIG.5.15 apresentam as distribuições das razões
entre as tensões cisalhantes calculadas e as resistentes, para a situação inicial
e para o cenário 6 com e sem o reforço. Analisando as figuras de forma
comparativa verifica-se que a implantação do reforço altera muito pouco a
distribuição das tensões cisalhantes na massa de solo, proporcionando uma
considerável redução nas razões de tensões apenas na região tratada com jet
grouting.

FIG. 5.13 – Tensão cisalhante ( /  res)para a situação inicial.

Outra forma de visualizar a influência do tratamento nas tensões do solo é


analisar especificamente os pontos da malha de elementos finitos que
apresentaram plastificação, ou seja, cujos valores de tensão cisalhante
calculados foram superiores aos resistentes. A FIG. 5.16 apresenta os pontos
de plastificação existentes na situação inicial da obra, enquanto as FIG. 5.17 e
FIG. 5.18 apresentam os pontos de plastificação referentes ao cenário 6 sem e
com o reforço, respectivamente.

123
FIG. 5.14 – Tensão cisalhante ( /  res) para o cenário 6 sem reforço.

FIG. 5.15 – Tensão cisalhante ( /  res) para o cenário 6 com reforço.

124
FIG. 5.16 – Pontos de plastificação da situação inicial.

Comparando a distribuição de tensões de plastificação inicial na massa de


solo apresentada na FIG. 5.16 com as situações após a implantação do
aumento de calado e sobrecarga verifica-se que, tanto para a situação com
reforço (FIG. 5.17) quanto para a situação sem reforço (FIG. 5.18) há um
considerável acréscimo de pontos de plastificação. Entretanto, na situação com
reforço de jet grouting este acréscimo de pontos de plastificação na massa de
solo ocorre de forma um pouco diferente, dispersando os pontos de
plastificação para fora da região tratada, conforme se pode observar
comparando as FIG. 5.17 e FIG. 5.18. Esta redistribuição dos pontos de
plastificação resulta em menores deslocamentos na cortina para o cenário com
tratamento.

FIG. 5.17 – Pontos de plastificação do cenário 6 sem tratamento.

125
FIG. 5.18 – Pontos de plastificação do cenário 6 com tratamento.

É curioso observar que na faixa de solo tratado com jet grouting da FIG.
5.18 não ocorre em nenhuma situação a plastificação do material. Deste modo,
a simulação da resistência do jet grouting perde em importância, passando a
sua rigidez a ser o principal dado para a análise. Isto equivale a dizer que uma
nova cortina de estacas foi inserida. Ao se simular a cortina de estacas
pranchas informa-se ao programa que a mesma apresenta comportamento
elástico e fornecem-se apenas parâmetros para cálculo da rigidez da mesma.
No caso do jet grouting, como dificilmente ocorrerá plastificação do material
tratado, o mesmo poderia teoricamente ser feito. Entretanto, a simulação do
material tratado como camadas de solo permite uma variação de parâmetros
que não seria possível simulando-se o reforço como uma cortina de estacas
pranchas de rigidez equivalente.
Em solos de baixa resistência, o material tratado também apresentará
menor resistência e o colapso do sistema de contenção também tende a
ocorrer sempre com plastificação no solo original, uma vez que o tratamento
apresenta sempre uma resistência comparativa muito superior. Deste modo, a
preocupação de se obter tratamentos com um elevado valor de resistência se
mostra menos relevante. Este é um fator importante para o caso de regiões
portuárias que normalmente apresentam solos de baixa resistência e que a
solução com jet grouting é colocada em dúvida por este motivo. É sabido que a
rigidez está diretamente relacionada com a resistência, entretanto o fator

126
preponderante passa a ser principalmente a rigidez do material tratado e não
diretamente a sua resistência.
Dada a importância dos parâmetros de rigidez do material tratado, percebe-
se que em obras deste tipo é mais importante se preocupar com investigações
de campo e ensaios para determinação de parâmetros de deformabilidade do
material tratado, tais como E e , do que com ensaios de resistência à
compressão simples nos solos que receberam tratamento, como se observa
usualmente.
As análises das tensões na massa de solo são de grande importância para
elaboração de um projeto de contenção, entretanto, o desempenho da solução
com jet grouting pode ser melhor avaliado estudando-se primordialmente os
deslocamentos e os esforços ao longo da cortina de estacas, conforme
realizado a seguir para todos os 12 cenários modelados.

5.4.3 ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DA CORTINA DE ESTACAS

As FIG. 5.19 a FIG. 5.31 apresentam todos os resultados de


deslocamentos, momentos fletores e esforços cortantes na cortina de estacas
pranchas. Para melhor visualização os gráficos foram agrupados para cada
valor de sobrecarga. Cada figura apresenta três gráficos correspondentes aos
aprofundamentos de calado (2m, 4m e 6m). Em todos os gráficos é
apresentada em linha tracejada a situação inicial do cais, ou seja, sem que
ainda tivesse ocorrido o incremento de sobrecarga e o aprofundamento de
calado.
Para os cenários estudados, o programa Plaxis 2D acusou colapso da
massa de solo em quatro situações. Nas situações sem reforço ocorreu
colapso para os cenários 8, 11 e 12. O cenário 12 mesmo com reforço também
apresentou colapso da massa de solo. As quatro situações de colapso estão
indicadas nas figuras através de linhas descontínuas. Estes resultados tem
apenas caráter ilustrativo, uma vez que representam uma interrupção no
processo de cálculo por não convergência dos cálculos, ou seja, os valores
mostrados correspondem até o ponto em que houve o erro no processamento.

127
Alguns cenários, apesar de terem o processamento finalizado, resultaram em
deslocamentos finais excessivos, que na prática podem ser considerados como
colapso. Este é o caso para todos cenários com sobrecarga de 80kPa, mesmo
com reforço, e para os cenários com sobrecarga de 60kPa, que apresentaram
deslocamentos excessivos apenas nos casos sem reforço. A escolha de
cenários até a ruptura foi feita estrategicamente para que fosse possível uma
melhor avaliação do desempenho da solução.

5.4.3.1 DESLOCAMENTOS NA CORTINA DE ESTACAS PRANCHAS

As FIG. 5.19 a FIG. 5.22 apresentam os deslocamentos horizontais da


cortina de estacas pranchas. Observa-se por esses gráficos que o movimento
ao qual a estrutura vai ao colapso corresponde ao que foi chamado de análise
local no método de equilíbrio limite. Verifica-se que a protensão dos tirantes, a
partir de um determinado momento, é superada pelos esforços de empuxo e a
cortina chega ao colapso com as maiores deformações ocorrendo no topo da
cortina.

Cenário 1 Cenário 5 Cenário 9


GC=2m ; SC=20kPa GC=4m ; SC=20kPa GC=6m ; SC=20kPa
h (mm) h (mm) h (mm)
-50 0 50 100 -50 0 50 100 -50 0 50 100
0 0 0

-5 -5 -5

-10 -10 -10


z (m)

z (m)

z (m)

-15 -15 -15

-20 -20 -20

-25 -25 -25

__________ __________
- - - - - - - - - situação inicial sem reforço com reforço

FIG. 5.19 – Deslocamentos horizontais para sobrecarga de 20 kPa.

128
Cenário 2 Cenário 6 Cenário 10
GC=2m ; SC=40kPa GC=4m ; SC=40kPa GC=6m ; SC=40kPa
h (mm) h (mm) h (mm)
-50 50 150 250 -50 50 150 250 -50 50 150 250
0 0 0

-5 -5 -5

-10 -10 -10


z (m)

z (m)

z (m)
-15 -15 -15

-20 -20 -20

-25 -25 -25

__________ __________
- - - - - - - - - situação inicial sem reforço com reforço

FIG. 5.20 – Deslocamentos horizontais para sobrecarga de 40 kPa.

Cenário 3 Cenário 7 Cenário 11


GC=2m ; SC=60kPa GC=4m ; SC=60kPa GC=6m ; SC=60kPa

h (mm) h (mm) h (mm)

-50 50 150 250 -50 50 150 250 -50 50 150 250


0 0 0

-5 -5 -5

-10 -10 -10


z (m)

z (m)
z (m)

-15 -15 -15

-20 -20 -20

-25 -25 -25

__________ __________
- - - - - - - - - situação inicial sem reforço com reforço

FIG. 5.21 – Deslocamentos horizontais para sobrecarga de 60 kPa.

129
Cenário 4 Cenário 8 Cenário 12
GC=2m ; SC=80kPa GC=4m ; SC=80kPa GC=6m ; SC=80kPa

h (mm) h (mm) h (mm)

-50 450 950 -50 450 950 -50 450 950


0 0 0

-5 -5 -5

-10 -10 -10

z (m)

z (m)
z (m)

-15 -15 -15

-20 -20 -20

-25 -25 -25

__________ __________
- - - - - - - - - situação inicial sem reforço com reforço

FIG. 5.22 – Deslocamentos horizontais para sobrecarga de 80 kPa.

As deformações com e sem reforço, no caso do cenário 3 (FIG. 5.21) por


exemplo, evidenciam o bom desempenho do reforço com jet grouting. Neste
caso é possível se chegar a aprofundamentos de calado de 4m e incrementos
de sobrecarga de 40 kPa com deslocamentos compatíveis com o uso da
estrutura. Por outro lado, uma situação sem reforço evidencia deslocamentos
muito acima dos toleráveis, mostrando na prática a ocorrência de ruptura do
sistema de contenção.
Tendo em vista que a ruptura ocorre de forma local, evidencia-se que o
reforço com jet grouting se mostra mais eficaz para aprofundamentos de
calados do que para incrementos de sobrecarga. Isto ocorre porque ao se
realizar um aprofundamento de calado a distribuição do empuxo é alterada. O
mesmo empuxo ativo é mantido e o empuxo passivo é reduzido. Uma vez que
a distribuição do empuxo na cortina é aproximadamente triangular, tem-se as
resultantes dos empuxos atuantes aumentadas principalmente na parte inferior
da contenção. Ao se incrementar a sobrecarga tem-se um aumento do empuxo
ativo por igual em toda a cortina e consequentemente tem-se,
comparativamente à situação de aprofundamento de calado, um maior

130
aumento do empuxo ativo na parte superior da cortina, enquanto o empuxo
passivo resistente só é aumentado pelo reforço com jet grouting na parte
abaixo do leito marinho.
Caso o mecanismo de ruptura mais crítico fosse o global, verificar-se-ia o
inverso. Como na ruptura global os deslocamentos finais máximos ocorrem na
parte de baixo da cortina, o reforço se mostraria mais eficiente nos casos de
incremento de sobrecarga do que nos aprofundamentos de calado. Analisando
a variação de fator de segurança global e local em função dos
aprofundamentos de calado e incrementos de sobrecarga também é possível
perceber esta diferença de desempenho.
A FIG. 5.23 compila em um único gráfico os deslocamentos máximos (máx)
observados na cortina de estacas pranchas, mostrando a evolução dos
mesmos com os aprofundamentos do calado (GC), em função dos incrementos
de sobrecarga (ISC) atribuídos. Nesta figura fica clara a diferença entre a
evolução dos cenários com deslocamentos excessivos e os que não
apresentaram colapso.

350

300
Cenários com
deslocamentos
250
excessivos
máx (mm)

200

150

100

50

0
0 2 4 6

GC (m)
ISC = 0 kPa sem reforço ISC = 20kPa sem reforço
ISC = 40 kPa sem reforço ISC = 60kPa sem reforço
ISC = 0kPa com reforço ISC = 20kPa com reforço
ISC = 40kPa com ref orço ISC = 60kPa com reforço

FIG. 5.23 – Deslocamentos máximos na cortina de estacas.

131
5.4.3.2 ESFORÇOS NA CORTINA DE ESTACAS PRANCHAS

Os momentos fletores e os esforços cortantes ao longo da cortina de


estacas pranchas são excelentes referenciais para comparação de resultados
entre o método do equilíbrio limite e os encontrados pelo MEF. As FIG. 5.24 a
FIG. 5.27 apresentam os momentos fletores ao longo da cortina de estacas
pranchas.
Analisando a magnitude dos momentos fletores verifica-se que há um
aumento, em relação à situação inicial, no valor do momento máximo na cortina
de estacas pranchas metálicas. Este aumento é menos acentuado nos casos
com reforço. Entretanto, sob o ponto de vista estrutural das estacas pranchas
metálicas, os aumentos que se observam na flexão das mesmas não são o
foco principal das preocupações, uma vez que, mesmo para as condições sem
reforço, esses aumentos podem ser absorvidos sem maiores problemas pelos
perfis metálicos existentes. Em obras deste tipo, onde normalmente os
elementos estruturais são robustos, o foco das análises se concentra
principalmente na análise da estabilidade geotécnica da contenção.

Cenário 1 Cenário 5 Cenário 9


GC=2m ; SC=20kPa GC=4m ; SC=20kPa GC=6m ; SC=20kPa
M (kN.m / m) M (kN.m / m) M (kN.m / m)
-250 -50 150 -250 -50 150 -250 -50 150
0 0 0

-5 -5 -5

-10 -10 -10


z (m)

z (m)

z (m)

-15 -15 -15

-20 -20 -20

-25 -25 -25

__________ __________
- - - - - - - - - situação inicial sem reforço com reforço

FIG. 5.24 – Momentos fletores para sobrecarga de 20 kPa.

132
Cenário 2 Cenário 6 Cenário 10
GC=2m ; SC=40kPa GC=4m ; SC=40kPa GC=6m ; SC=40kPa
M (kN.m / m) M (kN.m / m) M (kN.m / m)

-200 0 200 400 -200 0 200 400 -500 0 500


0 0 0

-5 -5 -5

-10 -10 -10

z (m)

z (m)
z (m)

-15 -15 -15

-20 -20 -20

-25 -25 -25

__________ __________
- - - - - - - - - situação inicial sem reforço com reforço

FIG. 5.25 – Momentos fletores para sobrecarga de 40 kPa.

Cenário 3 Cenário 7 Cenário 11


GC=2m ; SC=60kPa GC=4m ; SC=60kPa GC=6m ; SC=60kPa
M (kN.m / m) M (kN.m / m) M (kN.m / m)

-700 -200 300 800 -1100 -100 900 -2000 -1000 0 1000
0 0 0

-5 -5 -5

-10 -10 -10


z (m)
z (m)
z (m)

-15 -15 -15

-20 -20 -20

-25 -25 -25

__________ __________
- - - - - - - - - situação inicial sem reforço com reforço

FIG. 5.26 – Momentos fletores para sobrecarga de 60 kPa.

133
Cenário 4 Cenário 8 Cenário 12
GC=2m ; SC=80kPa GC=4m ; SC=80kPa GC=6m ; SC=80kPa
M (kN.m / m) M (kN.m / m) M (kN.m / m)

-4000 -2000 0 2000 -3000 -2000 -1000 0 1000 -2000 -1000 0 1000
0 0 0

-5 -5 -5

-10 -10 -10

z (m)

z (m)
z (m)

-15 -15 -15

-20 -20 -20

-25 -25 -25

__________ __________
- - - - - - - - - situação inicial sem reforço com reforço

FIG. 5.27 – Momentos fletores para sobrecarga de 80 kPa.

Analisando os diagramas de momentos verifica-se que os pontos de


inflexão dos momentos fletores (momentos máximos) correspondem
naturalmente aos valores de esforços cortantes (resultantes dos empuxos)
nulos. Os esforços cortantes são apresentados nas FIG. 5.28 a FIG. 5.31.
Esses diagramas permitem identificar a atuação do empuxo como passivo ou
ativo e assim comparar com as considerações realizadas nas análises por
equilíbrio limite. Para realizar esta comparação é preciso concentrar as
análises apenas nos casos próximos da ruptura, que correspondem à hipótese
do método de equilíbrio limite.
O cenário 3, por exemplo, mostra que o ponto de giro da cortina de estacas
se encontra aproximadamente na profundidade de 15,5m. Neste cenário
simulou-se um aprofundamento de calado de 2m e um incremento de
sobrecarga de 40 kPa. O ponto de giro considerado no método do equilíbrio
limite ficou a 12m de profundidade, o que leva a uma consideração contra a
segurança quanto à contribuição pelo empuxo passivo. É interessante observar
que este ponto de giro fica ainda mais profundo se considerado um mesmo
ganho de calado com um incremento de sobrecarga de 60 kPa (cenário 4).

134
Cenário 1 Cenário 5 Cenário 9
GC=2m ; SC=20kPa GC=4m ; SC=20kPa GC=6m ; SC=20kPa
Q (kN / m) Q (kN / m) Q (kN / m)

-250 -50 150 -250 -50 150 -250 -50 150


0 0 0

-5 -5 -5

-10 -10 -10


z (m)

z (m)

z (m)
-15 -15 -15

-20 -20 -20

-25 -25 -25

__________ __________
- - - - - - - - - situação inicial sem reforço com reforço

FIG. 5.28 – Esforços cortantes para sobrecarga de 20 kPa.

Cenário 2 Cenário 6 Cenário 10


GC=2m ; SC=40kPa GC=4m ; SC=40kPa GC=6m ; SC=40kPa
Q (kN / m) Q (kN / m) Q (kN / m)
-200 0 200 -200 0 200 -200 0 200 400
0 0 0

-5 -5 -5

-10 -10 -10


z (m)

z (m)

z (m)

-15 -15 -15

-20 -20 -20

-25 -25 -25

__________ __________
- - - - - - - - - situação inicial sem reforço com reforço

FIG. 5.29 – Esforços cortantes para sobrecarga de 40 kPa.

135
Cenário 3 Cenário 7 Cenário 11
GC=2m ; SC=60kPa GC=4m ; SC=60kPa GC=6m ; SC=60kPa
Q (kN / m) Q (kN / m) Q (kN / m)

-700 -200 300 -1100 -600 -100 400 -500 0 500


0 0 0

-5 -5 -5

-10 -10 -10

z (m)

z (m)
z (m)

-15 -15 -15

-20 -20 -20

-25 -25 -25

__________ __________
- - - - - - - - - situação inicial sem reforço com reforço

FIG. 5.30 – Esforços cortantes para sobrecarga de 60 kPa.

Cenário 4 Cenário 8 Cenário 12


GC=2m ; SC=80kPa GC=4m ; SC=80kPa GC=6m ; SC=80kPa
Q (kN / m) Q (kN / m) Q (kN / m)

-500 0 500 1000 -500 0 500 1000 -500 0 500 1000


0 0 0

-5 -5 -5

-10 -10 -10


z (m)

z (m)
z (m)

-15 -15 -15

-20 -20 -20

-25 -25 -25

__________ __________
- - - - - - - - - situação inicial sem reforço com reforço

FIG. 5.31 – Esforços cortantes para sobrecarga de 80 kPa.

136
Analisando o diagrama de esforço cortante do cenário 4 na FIG. 5.31
verifica-se que o ponto de giro neste caso situa-se a 17,5m, tornando ainda
mais desfavorável a consideração utilizada no método de equilíbrio limite. Esta
constatação deixa claro, por exemplo, o porque da análise por equilíbrio limite
não acusar a ruptura no caso do cenário 12 com reforço, no qual a análise do
programa Plaxis 2D foi interrompida por colapso da massa de solo ao ser
simulado um aprofundamento de calado de 6m e um incremento de sobrecarga
de 60kPa.
Analisando todos os resultados verifica-se que a consideração utilizada na
análise por equilíbrio limite se aproxima da realidade em situações sem
sobrecarga, em solo homogêneo e com ficha da cortina de estacas da ordem
de 1/3 do comprimento total. Diante de cenários tão variados como os
estudados neste trabalho, a consideração de cálculo sugerida por GEO-SLOPE
(2010) não se mostrou confiável, sendo portanto recomendável nessas
situações que os projetos se baseiem em análises numéricas pelo MEF.

5.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE A MODELAGEM

O comportamento do jet grouting foi avaliado sob o ponto de vista técnico,


ou seja, procurou-se estabelecer uma relação entre a execução do reforço e os
ganhos de calado e de sobrecarga proporcionados. Entretanto é sempre
importante frisar que o que determinará na prática a sua utilização será muitas
vezes o aspecto prático e financeiro. Comparada com outras soluções
equivalentes verifica-se que o avanço do uso desta técnica se deve
principalmente ao baixo custo que apresenta para um mesmo benefício obtido.
O que se procurou nas avaliações foi mostrar que é possível proporcionar
os melhoramentos pretendidos por meio da técnica de jet grouting, apesar da
mesma ser uma solução relativamente recente, ainda pouco estudada e muitas
vezes questionada quando utilizada para reforço de estruturas portuárias.

137
6 CONCLUSÕES E SUGESTÕES

O método de jet grouting para tratamentos de solos se mostrou bastante


adequado ao problema portuário estudado. O fato de regiões portuárias
apresentarem comumente solos de baixa resistência não se mostra um
limitador à adoção deste tipo de solução, que demonstra ser bastante eficiente
principalmente em situações de aprofundamento de calado.
A modelagem de tratamento de solos com jet grouting por meio de solos
com características melhoradas se mostrou eficaz, levando a resultados
coerentes e satisfatórios.
O MEF para análise do problema se mostrou o mais indicado, por ser capaz
de simular com fidelidade cenários geotécnicos variados. A análise por
equilíbrio limite não se mostrou tão eficiente por se tratar de um método que
contempla uma situação limite para ruptura e não permite avaliar por exemplo
as deformações da estrutura, que são para o problema estudado uma das
principais condições de adequabilidade da solução.
Como sugestão para futuras pesquisas recomenda-se o aprofundamento de
diversas questões levantadas ao longo deste trabalho, tais como:
- Investigações mais aprofundadas quanto ao valor do módulo de
elasticidade do material tratado com jet grouting e sua correspondência com a
resistência à compressão simples; e
- Monitoramento de obras de jet grouting com medição de deformações
para comparação entre resultados reais e obtidos a partir de modelagens
computacionais pelo MEF.

138
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8 APÊNDICES

8.1 APÊNDICE 1: ARQUIVOS DIGITAIS DO SLOPE-W E DO PLAXIS 2D

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