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A. W.

Pink
Traduzido do original em Inglês
Divine Covenants
By A. W. Pink

A presente tradução consiste somente na Parte IV, The Abrahamic Covenant, da obra supracitada

Via: PBMinistries.org
(Providence Baptist Ministries)

Tradução por Camila Almeida


Revisão e Capa por William Teixeira

1ª Edição: Junho de 2015

Salvo indicação em contrário, as citações bíblicas usadas nesta tradução são da versão Almeida
Corrigida Fiel | ACF • Copyright © 1994, 1995, 2007, 2011 Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil.

Traduzido e publicado em Português pelo website oEstandarteDeCristo.com, com a devida permissão


do ministério Providence Baptist Ministries, sob a licença Creative Commons Attribution-
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O Pacto de Deus Com Abraão
Por A. W. Pink

[Parte IV, The Abrahamic Covenant, do livro Divine Covenants • Editado]

I
Consideraremos agora um dos mais ilustres personagens estabelecidos diante de nós nas
páginas das Sagradas Escrituras, aquele que é expressamente designado “o amigo de
Deus” (Tiago 2:23), e de quem o próprio Cristo deriva um de Seus títulos, “filho de Abraão”
(Mateus 1:1). Ele não somente foi o único a partir de quem a favorecida nação de Israel
nasceu, mas ele também é “o pai de todos os que creem” (Romanos 4:11). É pouco con-
sonante com nosso propósito rever aqui a vida notável deste homem; no entanto, a história
de Abraão — em suas linhas gerais, pelo menos — está tão intimamente ligada com o pacto
que o Senhor fez com ele, que é quase impossível dar qualquer exposição deste último,
sem prestar alguma atenção à primeira. No entanto, seremos obrigados a passar por muitos
episódios interessantes em sua variada experiência, se quisermos manter a nossa discus-
são sobre o pacto Abraâmico dentro de limites razoáveis.

Um período de mais de 300 anos se passou desde o tempo que o Senhor fez o pacto com
Noé e o aparecimento de Abraão no cenário da história sagrada. Podemos aqui mencionar
brevemente duas coisas que ocorreram nesse período, e fazemo-lo por causa da influência
que elas têm e a luz que lança sobre nosso assunto presente. A primeira delas é a notável
profecia proferida por Noé em Gênesis 9:25-27. Passando pelos tristes incidentes que ime-
diatamente precederam e deram origem à previsão, gostaríamos de observar particular-
mente os seus pronunciamentos, pois ela intimou o futuro desenrolar do propósito da graça
de Deus. Isso é expresso pela primeira vez em: “Bendito seja o Senhor Deus de Sem”, ou
como deveria ser traduzido mais apropriadamente: “Bendito seja [ou “Louvado seja”] Jeová,
o Deus de Sem”. Esta é a primeira vez nas Escrituras que encontramos Deus denominando-
Se o Deus de qualquer pessoa em particular; além disso, foi como Jeová que Ele Se rela-
cionou com Sem.

Jeová é Deus fazendo a Si mesmo conhecido em relação pactual, é Deus em Sua


personalidade manifesta como tomando pessoas em Seu favor livre; é Deus concedendo a
revelação de Suas instituições de redenção. Estes deveriam ser a porção específica de
Sem, em nítido contraste com a maldição pronunciada sobre Cão, não sobre Sem simples-
mente como um indivíduo, mas como o cabeça de uma parte distinta da raça humana. Foi

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com essa parte que Deus deveria estar em relação mais próxima, era uma distinção espi-
ritual a que eles fruiriam, a relação pactual, uma proximidade sacerdotal. Uma participação
especial no favor Divino é o que foi indicado nesta primitiva previsão a respeito de Sem.
Seus descendentes deveriam ser a linhagem através da qual a bênção Divina fluiria, era
entre eles que Jeová seria conhecido, e onde o Seu reino deveria ser estabelecido.

“Alargue Deus a Jafé, e habite nas tendas de Sem”. O significado óbvio da primeira cláusula
é que Deus daria a Jafé uma numerosa posteridade, com territórios muito extensos, o que
foi cumprido no fato de que eles não apenas obtiveram a posse de toda a Europa, as
Américas do Norte e do Sul e a Austrália, mas também uma grande parte da Ásia. A provi-
são de Jafé deveria ser a mais enérgica e ambiciosa dos descendentes de Noé, dando-se
a colonização e operações difusas, avançando em seu caminho e estabelecendo-se em
toda parte. Mas é com a segunda cláusula de Gênesis 9:27 que agora estamos mais preo-
cupados: “e habite nas tendas de Sem”. Ele deveria gozar da comunhão nos altos privilé-
gios espirituais de Sem. Jafé seguiria sob a proteção Divina e seria admitido às bênçãos
que eram a porção peculiar, mas não a porção exclusiva de Sem.

Lançando a luz do Novo Testamento sobre esta antiga profecia, encontramos claramente
anunciado que foi através da linhagem de Sem que os dons da graça e as bênçãos da
salvação fluiriam imediatamente. No entanto, longe de estar limitado a esta parte da família
humana, a maior porção dela (Jafé) também poderia compartilhar o seu bem. Os Semitas
deveriam tê-la em primeira mão, mas os descendentes de Jafé também participariam nas
mesmas. “A exaltação da descendência de Sem ao relacionamento mais próximo a Deus,
não era de forma que eles mantivessem o privilégio somente para si, mas que primeira-
mente o obteriam, eles deveriam admitir os filhos de Jafé, os habitantes das ilhas, no com-
partilhar com eles das bênçãos, e espalhá-la tão vastamente quanto a sua raça difusa pu-
desse se estender” (P. Fairbairn).

Aqui, então, nesta previsão inicial através de Noé, temos o princípio do que é depois mais
plenamente desenvolvido na Escritura. Era apenas por habitar nas tendas de Sem que Jafé
poderia entrar no lugar onde a bênção Divina seria encontrada, o que, na linguagem do
Novo Testamento é apenas outra maneira de dizer que a partir dos judeus, que a salvação
flui para os gentios. Mas antes de desenvolver um pouco mais esse pensamento, mencio-
naremos um ponto muito marcante expressado por E. W. Hengstenberg em sua mui suges-
tiva obra em três volumes sobre a Cristologia do Antigo Testamento. Em meio a suas notas
secas e técnicas sobre o texto Hebraico, ele mostra que, “como a reação contra o pecado
de Cão teria se originado com Sem (Gênesis 9:23), Jafé apenas uniu-se nela; assim, no
futuro, a rica casa da salvação e piedade estaria com Sem, a quem Jafé, em perceptível
necessidade da salvação, se aproximaria”.

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“E [Jafé] habite nas tendas de Sem”. A terra deveria ser possuída e habitada pelos três
filhos de Noé. Deles, Sem foi o escolhido para ser o canal peculiar de dons e comunicações
Divinas; mas estes não seriam seu próprio benefício exclusivo, mas sim a fim de que outros
pudessem compartilhar a bênção. O reino de Deus seria estabelecido em Sem, mas Jafé
seria recebido em sua comunidade. Nisso, foi ordenado não somente que “a salvação vem
dos judeus” (João 4:22), mas também o mistério de Romanos 11:11, e assim por diante.
Embora “a salvação vem dos judeus”, ainda assim, os gentios são co-participantes da sal-
vação. Embora Sem, sozinho, seja a verdadeira raiz e tronco, contudo, em sua árvore os
gentios deveriam ser “enxertados”. Embora ele pareceu falar palavras obscuras, ainda, pelo
Espírito Santo, a Noé foi concedida maravilhosa luz e foi dado um profundo conhecimento
sobre os conselhos secretos do Altíssimo.

A conexão entre o que temos brevemente nos debruçado, com nosso assunto presente é
tão óbvia que poucas palavras são requeridas em relação a eles. A notável profecia de Noé
começou a receber seu desenvolvimento histórico quando o Senhor anunciou ao patriarca:
“em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gênesis 12:3). Abraão era da linhagem de
Sem (Gênesis 11:1, 23, 26), e agora, ele foi feito o depositário das promessas Divinas (Gá-
latas 3:16); ainda assim, a bênção de Deus não deveria ser limitada a ele mesmo, nem aos
seus descendentes diretos, mas “todas as famílias da terra” seriam beneficiadas desse mo-
do. No entanto, era somente através de Abraão que os gentios seriam favorecidos: “em ti
serão benditas todas as famílias da terra” — a promessa central do pacto Abraâmico. O
que foi isso, senão a reafirmação, em detalhe mais específico: “Alargue Deus a Jafé, e
habite nas tendas de Sem”? Quão perfeita é a harmonia da maravilhosa Palavra de Deus!

A segunda coisa a se notar, que aconteceu durante o intervalo entre os pactos de Noé e
Abraâmico, e que claramente teve uma influência sobre este último, é o incidente registrado
em Gênesis 11, ou seja, a construção e a derrubada da torre de Babel. É um grande erro
considerar este evento como uma ocorrência isolada; antes, ele deve ser considerado como
o erguer-se de um mau caminho e movimento. Sobre os eventos que transcorreram desde
o Dilúvio até o chamado de Abraão, envolvendo um intervalo de mais de quatro séculos, a
informação que possuímos é breve e sumária, mas o suficiente é registrado para mostrar
que o caráter do homem se mantém inalterado, o mesmo em princípio e prática como era
antes do dilúvio. Talvez, poderia ser esperado que tão terrível sentença deixaria uma impres-
são profunda e salutar sobre os sobreviventes e seus descendentes por muitas gerações,
o que atuaria como um poderoso freio sobre suas más inclinações. Ai, o que é o homem!

Mesmo na família de Noé, e enquanto a lembrança da terrível visitação da ira de Deus ain-
da estava fresca em suas mentes, havia indícios que testificavam tanto da existência quanto
do exercício de disposições pecaminosas, que o recente juízo não conseguiu erradicar ou

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mesmo frear. A triste falha do próprio Noé, e o mau comportamento de seu filho ao contem-
plar a queda de seu pai, dão provas terríveis que o mal que está no coração do homem caí-
do é tão profundamente enraizada e tão poderoso que nada externo, não importa quão as-
sustador, pode sujeitá-lo; isso forneceu uma distinta previsão do que foi logo manifesto em
maior escala e de forma muito pior. A própria idolatria rapidamente começou a ser praticada
e logo se estabeleceu entre os habitantes da Terra em sua dispersão. Josué 27:2 dá-nos
mais do que uma sugestão disso, enquanto Romanos 1:21-23 lança um raio de luz sobre
essa sombria situação.

Dentro de um curto período depois do dilúvio, a depravação humana retomou seu antigo
curso e manifestou-se em desafio aberto contra o Céu. Enquanto a população da Terra
crescia, esquemas malignos de ambição começaram a ser formados; e logo apareceu
alguém que assumiu a liderança na impiedade. Ele é colocado diante de nós em Gênesis
10:8: “Ninrode; este começou a ser poderoso na terra”. Deve-se notar que ele pertencia à
linhagem de Cão, sobre a qual a maldição Divina havia sido pronunciada, e significativa-
mente suficiente, “Ninrode” significa “o rebelde”, título adequado para a pessoa que liderou
uma grande confederação em revolta aberta contra Deus. Esta confederação é descrita em
Gênesis 11; e que esta foi uma revolta organizada contra o Senhor é clara a partir da
linguagem de Gênesis 10:9: “Como Ninrode, poderoso caçador diante do Senhor”. Se essa
expressão for comparada com “A terra, porém, estava corrompida diante da face de Deus”
(Gênesis 6:11), a impressão transmitida é que este “rebelde” prosseguiu seus projetos
ímpios e ambiciosos em desafio descarado ao Todo-Poderoso.

Mais quatro vezes encontramos a palavra “poderoso” conectada com Ninrode. Primeiro, em
Gênesis 10:8 é dito que “este começou a ser poderoso na terra”, o que sugere que ele se
esforçou por preeminência, e por força de vontade e por capacidade de obtê-lo; o “poderoso
na terra” sugere conquista e submissão, o que o levou a tornar-se um líder e governante
sobre os homens. Isto é confirmado pelo “princípio do seu reino foi Babel” (Gênesis 10:10),
de forma que ele reinou como um rei. No verso anterior nos é dito: “E este foi poderoso
caçador diante da face do Senhor; por isso se diz: Como Ninrode, poderoso caçador diante
do Senhor”, isto provavelmente se refere a ele ser um caçador de homens. Em tão breve
descrição a repetição das palavras “poderoso caçador diante do Senhor” é significativa. A
palavra para “poderoso” é gibbor, e é traduzida no Antigo Testamento como “chefe” e “líder”.
Em 1 Crônicas 1:10 nos é dito: “E Cuxe gerou a Ninrode, que começou a ser poderoso na
terra”. A paráfrase Caldéia deste verso diz: “Cuxe gerou a Ninrode, que começou a prevale-
cer em impiedade, porque ele derramou sangue inocente, e rebelou-se contra o Senhor”.

“E o princípio do seu reino foi Babel” (Gênesis 10:10). Aqui está a chave para os primeiros
nove versos do capítulo 11. Na linguagem da época, “Babel” significava “a porta de Deus”

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(veja a Concordância de Young); mas depois, por causa do julgamento Divino infligido ali,
passou a significar “confusão”. Ao reunir as várias sugestões que o Espírito Santo nos deu
aqui, parece bastante claro que Ninrode organizou não apenas um governo imperial, ao
qual ele presidia como rei, mas que ele também introduziu uma nova e idólatra adoração,
provavelmente exigindo — sob pena de morte — que honras divinas fossem prestadas à
sua própria pessoa. Como tal, ele era um tipo ameaçador e impressionante do Anticristo.
“Desta mesma terra saiu à Assíria e edificou a Nínive, Reobote-Ir, Calá”, e assim por diante
(vv. 11-12). A partir dessas assertivas, nós reunimos a impressão que a ambição de Ninrode
era estabelecer um império mundial.

Embora Ninrode não seja mencionado pelo nome em Gênesis 11, é evidente a partir de
10:10 que ele era o “chefe” e “rei” que organizou e dirigiu o movimento e rebelião ali des-
critos. “E disseram: Eia, edifiquemos nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos cé-
us, e façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra”
[Gênesis 11:4]. Aqui é descoberto um esforço combinado no mais flagrante desafio a Deus.
Ele disse: “Frutificai e multiplicai-vos e enchei a terra” (9:1); mas Ninrode e seus seguidores
deliberadamente se recusaram a obedecer essa ordem Divina, dada por meio de Noé,
dizendo: “façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a
terra”.

É claro a partir de Gênesis 10 que a ambição de Ninrode era estabelecer um império mun-
dial. Para alcançar isto, duas coisas eram necessárias. Em primeiro lugar, um centro de
unidade, uma cidade-sede; e, segundo, um motivo para a inspiração e encorajamento de
seus companheiros. O primeiro foi garantido em “o princípio do seu reino foi Babel” (10:9);
o segundo foi fornecido em “façamo-nos um nome” (11:4), que insinuou um desejo desor-
denado de fama. O objetivo de Ninrode era manter a humanidade reunida sob a sua lideran-
ça, “para que não sejamos espalhados”. A ideia sugerida pela “torre” — considerado à luz
de toda a sua composição — era a de força, uma fortaleza; enquanto que o seu nome “o
portão de Deus”, nos diz que Ninrode estava arrogando para si honras divinas. Em tudo is-
so, podemos discernir a tentativa inicial de Satanás para impedir o propósito de Deus em
relação ao Seu Cristo, através da criação de um governante universal formado por homens
de sua provisão.

A resposta do Céu foi rápida e drástica. “E o Senhor disse: Eis que o povo é um, e todos
têm uma mesma língua; e isto é o que começam a fazer; e agora, não haverá restrição para
tudo o que eles intentarem fazer. Eia, desçamos e confundamos ali a sua língua, para que
não entenda um a língua do outro. Assim o Senhor os espalhou dali sobre a face de toda a
terra; e cessaram de edificar a cidade. Por isso se chamou o seu nome Babel, porquanto
ali confundiu o Senhor a língua de toda a terra, e dali os espalhou o Senhor sobre a face

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de toda a terra” (11:6-9). Mais uma vez a raça humana fora culpada de apostasia aberta.
Por isso, Deus interveio no julgamento, aniquilando o esquema ambicioso de Ninrode,
confundindo a fala de seus súditos, e espalhando-os sobre a face da terra.

O efeito da intervenção de Deus foi a origem das diferentes nações e a formação de “o


mundo”, como continuou até a época de Cristo. Foi então que os homens foram abando-
nados à própria sorte, quando Deus “deixou andar todas as nações em seus próprios
caminhos” (Atos 14:16). Então, foi executado aquele terrível endurecimento judicial, quando
Deus “os entregou... à imundícia”, quando “Deus os abandonou às paixões infames”, quan-
do “Deus os entregou a um sentimento perverso” (Romanos 1:24, 26, 28). Então e assim o
caminho foi liberado para a próxima fase na realização do plano Divino de misericórdia;
pois onde o pecado abundou, a graça agora superabundava. Tendo abandonado (tempora-
riamente) as nações, Deus agora escolheu um homem, Abraão, de quem a nação escolhida
deveria surgir.

II
“Por isso, o Senhor esperará, para ter misericórdia” (Isaías 30:18) — espera até o momento
mais adequado, espera até que o palco esteja preparado para a ação, espera até que haja
um cenário adequado para Ele agir; espera, muitas vezes, até que a extremidade do ho-
mem tenha sido atingida. “Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho” (Gála-
tas 4:4). A neve do inverno deve fazer o seu trabalho antes que a vegetação esteja pronta
para brotar e florescer. Como acontece na criação material, assim é no reino da providência
Divina. Há uma ordem maravilhosa em todas as obras de Deus, um tempo todo-sábio nas
ações Divinas. Não que o Todo-Poderoso seja dificultado ou impedido por finitas criaturas
de pó, mas que os Seus caminhos maravilhosos podem ser mais admirados por aqueles a
quem é concedido espiritualidade para discerni-los. “Grandes e maravilhosas são as tuas
obras, Senhor Deus Todo-Poderoso! Justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei dos
santos” (Apocalipse 15:3).

Tendo lidado em julgamento com Babel, Deus foi, depois, satisfeito em manifestar Sua gra-
ça. Esse tem sido, e sempre será, verdadeiro quanto a todos os lidares de Deus. De acordo
com Sua infinita sabedoria, o julgamento (o qual é a obra “estranho” de Deus) serve apenas
para preparar o caminho para um maior e mais grandioso derramar de Seu amor redentor.
Tendo abandonado (temporariamente) as nações, Deus agora destacou o homem de quem
a nação escolhida surgiu. Mais tarde, a rejeição de Deus quanto à Israel resultou no enri-
quecimento dos gentios. E podemos acrescentar, que o julgamento do grande trono branco

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será seguido pelo novo céu e nova terra, onde habitará a justiça e sobre o qual o taberna-
culo de Deus estará com os homens. Assim foi em outros tempos: a derrubada da torre de
Babel e a dispersão dos ímpios seguidores de Ninrode foram sucedidos pelo chamado de
Abraão, através de quem, em última análise, a bênção Divina deve fluir para todas as famí-
lias da terra.

A lição a ser aprendida aqui é profundamente importante: a conexão entre Gênesis 11 e 12


é altamente significativa. O Senhor Deus determinou ter um povo Seu próprio pelo chamado
da graça, um povo que seria tomando em privilegiada proximidade conSigo mesmo, e que
mostrasse o Seu louvor; mas isso não ocorreu até que todas as reivindicações do homem
natural fossem repudiadas por sua própria impiedade, e não até que a sua total inutilidade
fosse claramente demonstrada, de modo que a clemência Divina estivesse livre para fluir
em escala magnificada. O pecado foi deixado abundar em toda a sua hediondez, antes que
a graça superabundasse em toda a sua bem-aventurança. Em outras palavras, não foi até
que a depravação total dos homens fosse plenamente demonstrada, pela primeira vez pe-
los ante-diluvianos e depois novamente pela apostasia combinada em Babel, que Deus li-
dou com Abraão em graça soberana e infinita misericórdia.

Que foi graça, graça somente, graça soberana, que chamou Abraão para ser o amigo de
Deus, aparece claramente a partir de seu estado natural e das circunstâncias em que o
Senhor apareceu pela primeira vez a ele. Abraão não pertencia a uma família piedosa, onde
o Senhor era reconhecido e honrado; em vez disso, seus progenitores eram idólatras.
Parece que mais uma vez “toda a carne havia corrompido o seu caminho sobre a terra”
[Gênesis 6:12]. A casa em que Abraão nasceu certamente não era exceção à regra; pois
lemos: “Vossos pais, Terá, pai de Abraão e pai de Naor; e serviram a outros deuses” [Josué
24:2]. Não havia nada, então, no objeto da escolha Divina para recomendá-lo a Deus, nada
em Abraão que merecesse a Sua estima. Não, a causa da eleição deve sempre ser traçada
a partir da vontade distinguidora de Deus; pois, a eleição em si é “da graça” (Romanos 11:5)
e, portanto, não depende de modo algum de qualquer mérito no objeto, presente ou pre-
visto. Se assim fosse, não seria “da graça”.

Que não foi em absoluto uma questão de qualquer bondade ou qualidade em Abraão, que
moveu o Senhor a destacá-lo para ser o objeto especial de Seu elevado favor é bem visto
a partir de Isaías 51:1-2: “Ouvi-me, vós os que seguis a justiça, os que buscais ao SENHOR.
Olhai para a rocha de onde fostes cortados, e para a caverna do poço de onde fostes
cavados. Olhai para Abraão, vosso pai, e para Sara, que vos deu à luz; porque, sendo ele
só, o chamei, e o abençoei e o multipliquei”. Porquanto é verdade que Deus nunca age por
capricho ou por acaso, nem arbitrariamente — ou seja, sem alguma sábia e boa razão para
o que Ele faz — ainda assim, na fonte de todas as Suas ações está a Sua própria vontade

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soberana. No momento em que atribuímos qualquer das ações de Deus a qualquer coisa
fora dEle mesmo, somos culpados não somente de impiedade, mas de afirmar um completo
absurdo. O Todo-Poderoso é infinitamente autossuficiente, e não pode mais ser dirigido
pelas criaturas da Sua própria mão, do que um ser pode ser influenciado por algo que não
existe. Oh, quão imensamente diferente é a Deidade das Sagradas Escrituras do “deus”
sobre o qual a Cristandade sonha atualmente!

“O Deus da glória apareceu a nosso pai Abraão, estando na mesopotâmia, antes de habitar
em Harã, e disse-lhe: Sai da tua terra e dentre a tua parentela, e dirige-te à terra que eu te
mostrar” (Atos 7:2-3). O título Divino aqui empregado é notável, pois nós consideramos isto
como dando a entender que a própria shekiná se manifestou diante do olhar maravilhado
de Abraão. Deus sempre combina a revelação que Ele faz de Si mesmo de acordo com o
efeito que Ele almeja ser produzido. Ali havia um homem no meio de uma cidade pagã, cri-
ado em um lar idólatra. Algo vívido e impressionante, sobrenatural e inconfundível era
necessário a fim de mudar de repente todo o curso da sua vida. “O Deus da glória” — em
bendito e impressionante contraste com os “outros deuses” de seus ancestrais — “apareceu
a nosso pai Abraão”. Esta foi, provavelmente, a primeira das manifestações teofânicas, pois
nunca lemos sobre Deus aparecendo a Abel ou Noé.

Se a nossa conclusão estiver correta, que esta foi a primeira de todas as manifestações
teofânicas (Deus aparecendo em forma humana: Gênesis 32:24; Josué 5:13, 14; etc.) que
lemos no Antigo Testamento, estas manifestações anteciparam a própria encarnação, bem
como marcaram as sucessivas revelações de Deus aos homens; e se esta teofania foi
acompanhada pela glória resplandecente e majestade da shekiná, então, verdadeiramente
grande foi o privilégio agora conferido ao filho de Terá. Nada nele poderia ter merecido uma
exibição incrível da graça Divina. O Senhor foi aqui “encontrado” pelos que não “O busca-
vam” (Isaías 65:1), Como é o caso de cada um de todos aqueles que são feitos os recipien-
tes de Sua bênção eterna; pois “não há ninguém que busque a Deus” (Romanos 3:11). Não
é a ovelha perdida que procura o pastor, mas o pastor que vai atrás dela, e revela-Se a ela
em todo o Seu amor e graça.

Disse Deus a Abraão: “Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a
terra que eu te mostrarei” [Gênesis 12:1]. Estes foram os termos da comunicação Divina
originalmente recebida pelo nosso patriarca. Este comando do Altíssimo veio a Abraão, na
Mesopotâmia, na cidade de Ur dos Caldeus, que estava situada perto do Golfo Pérsico. Foi
um chamado que exigiu absoluta confiança e total obediência à Palavra do Senhor. Foi um
chamado para a separação definitiva do mundo. Porém, foi muito mais do que um mero
comando emitido a partir da autoridade Divina; foi um chamado eficaz que demonstrou a
eficácia da graça Divina. Em outras palavras, foi um chamado acompanhado pelo poder

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Divino, que operou poderosamente no objeto do mesmo. Esta é uma distinção que geral-
mente é perdida de vista hoje: há dois tipos de chamados Divinos mencionados na Bíblia,
aquele que fica apenas na orelha externamente e não produz nenhum efeito definitivo; o
outro que atinge o coração, e move a uma resposta real.

O primeiro desses chamados é encontrado em passagens como: “A vós, ó homens, clamo;


e a minha voz se dirige aos filhos dos homens” (Provérbios 8:4), e “porque muitos são cha-
mados” (Mateus 20:16). Este chamado atinge a todos os que estão sob o som da Palavra
de Deus. É um apelo que pressiona sobre a criatura as reivindicações de Deus, e ao chama-
do do Evangelho, que revela os requisitos do Mediador. Este chamado é universalmente
ignorado, é desagradável para a natureza humana caída, e é rejeitado pelo não-regene-
rado: “porque eu clamei e recusastes; e estendi a minha mão e não houve quem desse
atenção” (Provérbios 1:24). “E todos à uma começaram a escusar-se” (Lucas 14:18). O
segundo destes chamados é encontrado em passagens como “E aos que predestinou a
estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou” (Romanos 8:30); “vos
chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pedro 2:9).

O primeiro chamado é geral; o segundo, particular. O primeiro é para todos aqueles que
estão sob o som da Palavra; o segundo é feito somente aos eleitos, trazendo-os da morte
para a vida. O primeiro manifesta a inimizade da mente carnal contra Deus; o segundo reve-
la a graça de Deus para com aquele que é Seu próprio. É pelo efeito produzido que somos
capazes de distinguir entre eles. “Chama pelo nome às suas ovelhas, e as traz para fora.
E, quando tira para fora as suas ovelhas, vai adiante delas, e as ovelhas o seguem, porque
conhecem a sua voz” (João 10:3-4), seguem o exemplo que Ele deixou para eles (1 Pedro
2:21). Eles seguem o caminho da abnegação, da obediência, do viver para a glória de Deus.
Aqui, então, o grande efeito é operado na alma quando recebe o chamado eficaz de Deus:
o entendimento é iluminado, a consciência é convencida, o coração duro é derretido, a
teimosia é conquistada, as afeições se achegam a Ele, embora, antes fosse desprezado.

Tal efeito, como acabamos de descrever é sobrenatural: é um milagre da graça Divina. O


fariseu orgulhoso é humilhado no pó; o rebelde duro de coração é trazido em sujeição; o
amante do prazer agora é feito um amante de Deus. Aquele, que antes recalcitrou desafia-
doramente contra os aguilhões, curva-se submissamente e clama: “Senhor, que queres que
eu faça?”. Mas, que seja dito enfaticamente, nada, senão o poder imediato de Deus operan-
do no coração pode produzir uma transformação tão bendita. Nenhumas perdas financei-
ras, luto na família, nenhuma doença perigosa pode efetuá-la. Nada externo será suficiente
para mudar o coração depravado do homem caído. Ele pode ouvir os sermões mais fiéis,
os alertas mais solenes, alguns apelos mui cativantes, e ele permanecerá impassível, into-
cável, a menos que o Espírito de Deus agrade-se em primeiro vivificá-lo em novidade de

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vida. Aqueles que estão espiritualmente mortos não podem ouvir, nem ver, nem sentir espi-
ritualmente.

Agora, Abraão foi o sujeito deste chamado eficaz quando o Senhor lhe apareceu de repente
em Ur da Caldéia. Isto é evidente a partir do efeito produzido nele. Ele foi convocado: “Sai
da tua terra e dentre a tua parentela, e dirige-te à terra que eu te mostrar” (Atos 7:3). Pense
no que isso envolveu: abandonar a terra de seu nascimento, romper o mais próximo e
querido de todos os laços naturais, fazer uma ruptura completa com o seu antigo modo de
vida, e sair no que parecia para a razão carnal ser uma aventura incerta. Qual foi a sua
resposta? “Pela fé Abraão, sendo chamado, obedeceu, indo para um lugar que havia de
receber por herança; e saiu, sem saber para onde ia” (Hebreus 11:8). Ah, meu leitor, isso
só pode ser satisfatoriamente considerado de uma maneira: a onipotência operou em seu
interior; a graça invencível conquistou o seu coração.

Antes de prosseguir, paremos e façamos um balanço sobre nossas próprias almas. Temos
experimentado tudo o que em absoluto corresponde a essa mudança radical na vida de
Abraão? Você, eu, fomos feitos os sujeitos de um chamado Divino, que produziu uma revira-
volta em nossas vidas? Temos sido sujeitos de um milagre Divino, de modo que a graça
tem operado eficazmente em nossos corações? Temos ouvido algo mais do que a língua-
gem da Escritura caindo sobre nossas orelhas, externamente? Temos ouvido o próprio
Deus falando no recanto mais secreto de nossas almas, de modo que se pode dizer: “Por-
que o nosso evangelho não foi a vós somente em palavras, mas também em poder, e no
Espírito Santo, e em muita certeza (1 Tessalonicenses 1:5)? Pode ser dito a nosso respeito:
“palavra de Deus, a qual também opera em vós, os que crestes” (2 Tessalonicenses 2:13)?
A Palavra está operando efetivamente em nós, de modo a governar o nosso homem interior
e exterior, de modo a produzir um andar obediente, e frutificação para a glória de Deus?

Embora a resposta produzida por Abraão ao convite que ele havia recebido do Senhor
tenha demonstrado claramente que um milagre da graça Divina fora operado dentro de si,
ainda assim, Deus suportou que a “carne” se manifestasse nele a ponto de evidenciar que
ele ainda era uma criatura pecadora e falha. Enquanto a regeneração é realmente uma
experiência maravilhosa e abençoada, contudo é apenas o começo da “boa obra” de Deus
na alma (Filipenses 1:6), e requer que Suas outras operações de santificação a conduzam
à consumação. Apesar de uma nova natureza ser transmitida quando a alma é trazida da
morte para a vida, a velha natureza não é removida; embora o princípio da santidade seja
comunicado, o princípio do pecado não é aniquilado nem exterminado. Consequentemente,
não há apenas um conflito contínuo produzido por estes princípios contrários, mas a sua
presença e exercício impedem a alma de atingir plenamente os seus desejos e agir como
ela gostaria (Gálatas 5:17).

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A obediência de Abraão à ordem Divina foi tanto parcial quanto tardia. Deus o tinha convo-
cado a deixar o seu próprio país, separar-se de sua parentela, e “ir para a terra” que Ele lhe
mostraria (Atos 7:3). Sua falha é registrada em Gênesis 11:31: “E tomou Terá a Abrão seu
filho, e a Ló, filho de Harã, filho de seu filho, e a Sarai sua nora, mulher de seu filho Abrão,
e saiu com eles de Ur dos caldeus, para ir à terra de Canaã; e vieram até Harã, e habitaram
ali”. Ele deixou a Caldéia; mas em vez de deixar para trás a sua parentela, seu pai e seu
sobrinho, o acompanharam. Isso foi mui inexcusável pois Isaías 51:2 declara expressamen-
te que Deus havia chamado Abraão “sozinho”. É importante notar que a palavra “Terá”
significa “atraso”, e tal a sua presença ocasionou a Abraão, pois em vez de entrar “sozinho”
de uma vez na terra de Canaã, ele parou em Harã, e ali permaneceu por cinco anos, até
que Terá morreu (Gênesis 11:32; 12:4-5).

E por que o Senhor permitiu que a “carne” em Abraão maculasse a sua obediência? Para
indicar aos Seus filhos espirituais que a perfeição absoluta de caráter e conduta não é atin-
gível nesta vida. Nós não chamamos a atenção para esse fato para incentivar a vida liber-
tina ou para baixar o elevado nível a que devemos almejar, mas para animar aqueles que
estão desanimados porque seus esforços honestos e ardentes por piedade com tanta fre-
quência ficam abaixo desse padrão. Mais uma vez; há somente um que andou nesta terra
em perfeita obediência a Deus, em pensamento, palavra e ação, e isso não ocasional-
mente, mas constantemente e sem interrupção; e Ele deve ter a preeminência em todas as
coisas [Colossenses 1:18]. Portanto, Deus não permitiria que glória de Cristo fosse reduzida
ao formar outros que Lhe honrassem como Cristo o fez. Finalmente, a permissão Divina
para que a carne existisse e fosse ativa em Abraão magnificou ainda mais a graça Divina,
tornando-a ainda mais manifesta, pois foi manifesto que não havia nenhuma excelência em
Abraão pela qual havia ele foi chamado.

“Então saiu da terra dos caldeus, e habitou em Harã. E dali, depois que seu pai faleceu,
Deus o trouxe para esta terra em que habitais agora” (Atos 7:4). Embora Deus permitiu que
a carne em Abraão maculasse a sua obediência, ainda assim, Ele não permitiria que a
carne triunfasse completamente. A graça Divina não é apenas magnificada pela indignidade
de seu objeto, mas ela é glorificada ao triunfar sobre a carne e produzir o que é contrário à
mesma. O obstáculo para a obediência de Abraão foi removido, e agora vemos que ele
realmente entrou no lugar para o qual Deus o havia chamado.

III
A primeira coisa registrada sobre Abraão depois que ele havia realmente entrado na terra

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de Canaã é o Senhor aparecendo a ele, e sua construção de um altar: “E passou Abrão por
aquela terra até ao lugar de Siquém, até ao carvalho de Moré; e estavam então os cananeus
na terra. E apareceu o Senhor a Abrão, e disse: À tua descendência darei esta terra. E edifi-
cou ali um altar ao Senhor, que lhe aparecera” (Gênesis 12:6-7). Há vários detalhes aqui
que requerem a nossa atenção.

1. Abraão não se estabeleceu e entrou na possessão da terra, mas “passou por ela”, como
Atos 7:5 nos diz: “E não lhe deu nela herança, nem ainda o espaço de um pé”.

2. A presença ali do “cananeu”, para desafiar e contestar a posse dela. Assim é com o
Cristão: a carne, o Diabo e o mundo se unem em oposição à sua fruição presente da heran-
ça para a qual ele foi gerado; enquanto hostes de espíritos malignos nos lugares celestiais
lutam contra aqueles que são participantes da vocação celestial (Efésios 6:12).

3. “E apareceu o Senhor a Abrão”. Ele apareceu originalmente como o “Deus da glória”,


quando Ele Se revelou ao patriarca na Caldéia. Não há indício de Abraão recebendo qual-
quer outra revelação de Deus durante a sua demora em Harã; mas agora que o chamado
de Deus foi totalmente obedecido, ele foi favorecido com uma nova manifestação dEle.

E agora, a obediência de Abraão é recompensada. No início, o Senhor disse: “Sai-te da tua


terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei” (Gênesis
12:1); agora, Ele declarou: “À tua descendência darei esta terra” (v. 7). Isso traz diante de
nós um princípio importantíssimo quanto aos caminhos de Deus, que tem sido muitas vezes
perdido de vista por homens que só enfatizam um lado da verdade. Esse princípio é que a
graça Divina nunca põe de lado as exigências da justiça Divina. Deus nunca mostra miseri-
córdia à custa de Sua santidade.

Deus é “luz”, bem como “amor”, e cada uma destas perfeições Divinas é exemplificada em
todo o Seu lidar com o Seu povo. Além disso, no exercício de Sua soberania, Deus nunca
anula a responsabilidade da criatura; e, a menos que mantenhamos estes dois firmemente
em vista, não apenas nos tronamos desequilibrados, mas caímos em erro real. A graça de
Deus não deve ser magnificada de modo a obscurecer a Sua justiça, nem Sua soberania
insta em favor da exclusão da responsabilidade humana. O equilíbrio só pode ser preser-
vado por nosso fiel apego às Escrituras. Se destacamos versos favoritos e ignoramos aque-
les que são intragáveis à carne, somos culpados de lidar com a Palavra de Deus engano-
samente, e caímos sob a seguinte condenação: “não guardastes os meus caminhos, mas
fizestes acepção de pessoas na lei”. Os princípios da Lei e do Evangelho não são contra-
ditórios, mas complementares, e nem podem ser dispensados, a não ser para a nossa
perda irreparável.

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O que tem sido apontado acima fornece as chaves para uma compreensão correta do pacto
Abraâmico; e, a menos que esses princípios duais sejam constantemente mantidos diante
de nós em nossa contemplação do mesmo, seguramente erraremos. Alguns escritores
quando se referem ao pacto de Abraão falam dele como “um pacto de pura graça”, e assim
ele realmente foi; pois, o que havia ali a respeito de Abraão para mover o Deus da glória de
forma a considerá-lo? No entanto, seria igualmente correto designar o pacto de Abraão
como um “um pacto de justiça”, pois ele exemplifica os princípios do governo Divino bem
como realmente manifestou a benignidade do caráter Divino. Outros escritores que se
refere ao pacto de Abraão como um pacto “incondicional”, apenas nisso erraram, pois falar
de “um pacto incondicional” é uma contradição em termos. Permita-nos citar aqui o nosso
primeiro capitulo*:

“Apontaremos a natureza de um pacto; no que isso consiste. ‘Um pacto completo e absoluto
é uma convenção voluntária, pacto ou acordo entre pessoas distintas, sobre a ordenação
e distribuição de coisas em seu poder, para seu interesse e vantagens mútuas’ (J. Owen).
Blackstone, o grande comentarista da lei Inglesa, falando sobre as partes de uma ação, diz:
“Depois de mandados, geralmente seguem pactos ou convenções, que são cláusulas do
acordo contidos em um ato, em que qualquer uma das partes pode estipular a verdade de
certos fatos, ou pode vincular-se à execução, ou dar algo ao outro” (Vol. 2, p. 20). Assim,
ele inclui três coisas: as partes, os termos e o acordo vinculativo. Reduzindo-o ainda a uma
linguagem mais simples, podemos dizer que um pacto é a celebração de um acordo mútuo,
um benefício sendo assegurado sobre o cumprimento de certas condições”.

Nós complementamos com uma citação de H. Witsius: “O pacto, da parte de Deus, com-
preende três coisas em geral. 1. A promessa de felicidade consumada na vida eterna. 2. A
designação ou prescrição da condição, por cujo desempenho, o homem adquire o direito à
promessa. 3. A sanção penal contra aqueles que não atingem a condição prescrita.... O
homem se torna a outra parte quando ele consente ao mesmo: abraçando o bem prometido
por Deus, comprometendo-se a uma exata observância da condição exigida; e sobre a vio-
lação da mesma, voluntariamente acusando a si mesmo como merecedor da maldição
ameaçada”.

__________
* Este primeiro capítulo ao qual Pink se refere corresponde à Introdução do livro Divine Covenants
(Pactos de Deus). Pois, o costume de Arthur Pink era publicar na revista Studies in the Scriptures,
da qual ele era o editor, uma série de artigos individuais (ou partes destes) sobre um determinando
tema, e depois reunir estes artigos e editar um livro. Neste caso o primeiro artigo ou primeiro capítulo
publicado na revista, era a introdução da série sobre os Pactos Divinos que Pink estava iniciando.
Lembramos ao leitor que este é originalmente o capitulo cinco ou a quarta parte do livro citado, The
Abrahamic Covenant — N. do R.

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Que seja salientado que, neste capítulo, nós estamos nos voltando para o outro lado do
assunto a qual nós principalmente temos abordado anteriormente. Naqueles nós amplifica-
mos o que dissemos no quarto e quinto parágrafos do segundo capítulo [ou primeira parte,
The Everlasting Covenant, O Pacto Eterno, do livro Divine Covenants – N do R.]. Tendo
nos demorado tão amplamente sobre os aspectos da soberania e graça Divinas, nós
precisamos avaliar cuidadosamente a justiça Divina e elementos da responsabilidade
humana. Tendo mostrado como os vários pactos que Deus fez com os homens esboçaram
as características centrais do pacto eterno que Ele fez com Cristo, é-nos agora necessário
considerar como que neles Deus manteve as reivindicações de Sua justiça por aquilo que
Ele exigiu dos agentes responsáveis com quem tratou. Foi apenas depois que Noé “fez...
conforme a tudo o que Deus lhe mandou, assim o fez” (Gênesis 6:22), preparando uma
arca “para salvação da sua família” (Hebreus 11:7), que Deus confirmou: “contigo estabe-
lecerei a minha aliança”, “E eu, eis que estabeleço a minha aliança” (Gênesis 6:18, 9:9).
Após Noé ter cumprido as determinações Divinas, Deus estava agora preparado para
cumprir Suas promessas.

A mesma coisa é claramente vista novamente em conexão com Abraão. Não há nenhum
indício nas Escrituras que o Senhor entrou em qualquer aliança com ele enquanto ele
estava em Ur da Caldéia. Em vez disso, a terra de Canaã foi então estabelecida diante dele
provisoriamente: “Ora, o SENHOR disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela e da
casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei” (Gênesis 12:1). A ordem aqui é inequivo-
camente clara. Em primeiro lugar, Deus agiu em graça, soberana graça, por destacar
Abraão dos seus companheiros idólatras, e por chama-lo para algo muito melhor. Em
segundo lugar, Deus deu a conhecer os requisitos da Sua justiça e fez cumprir a responsa-
bilidade de Abraão pela demanda ali feita sobre ele. Em terceiro lugar, a recompensa
prometida era pela resposta de Abraão seguir ao chamado de Deus. Estas três coisas são
unidas em Hebreus 11:8: “Pela fé Abraão, sendo chamado [pela graça Divina], obedeceu
[o cumprimento da sua responsabilidade], indo para um lugar que havia de receber por
herança [a recompensa]; e saiu, sem saber para onde ia” (Hebreus 11:8).

O que acaba de ser dito de maneira alguma contradiz o que foi apontado nos capítulos an-
teriores. Os elementos acima referidos, verdadeiramente prefiguraram outro aspecto funda-
mental do Pacto Eterno, bem como as diferentes características apontadas a partir do pacto
Adâmico e o de Noé. No Pacto Eterno, Deus prometeu uma certa recompensa a Cristo ba-
seado em Seu cumprimento de determinadas condições — a execução da obra designada.
Os princípios inseparáveis da Lei e Evangelho, graça e recompensa, fé e obras, foram mui
expressamente reunidos nesse acordo que Deus celebrou com o Mediador, antes da
fundação do mundo. É nisso nós podemos contemplar a “multiforme sabedoria de Deus”
em combinar esses aparentes opostos. E em vez de criticar os seus aparentes opostos,

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devemos admirar a onisciência que fez de um servo do outro. Somente, então, somos
preparados para discernir e reconhecer o exercício desse princípio duplo em cada um dos
pactos subordinados.

Não foram poucos os escritores que supunham magnificar a graça de Deus e honrar o
Mediador ao afirmar que o próprio Cristo assim cumpriu as condições do Pacto e tanto
atendeu a todas as exigências da justiça de Deus, de modo que o Seu povo estava total-
mente livre de todas as obrigações legais e que absolutamente nada resta para eles façam,
senão expressar a sua gratidão por viver vida agradável a Ele. É muito mais fácil cometer
este erro do que é expô-lo. É verdade, bendita verdade, gloriosamente verdade, que Cristo
cumpriu perfeitamente Seus compromissos pactuais, engrandeceu a Lei e a fez honrosa,
que Deus recebeu dEle a plena satisfação por todos os pecados de Seu povo. No entanto,
isso não significa que a Lei foi revogada, que Deus rescinde as Suas justas reivindicações
sobre a criatura, ou que os crentes são colocados em uma posição de privilégio na qual a
obrigação é excluída; nem isso envolve a ideia de que os santos estão livres dos deveres
da aliança. A graça reina, mas reina “pela justiça” (Romanos 5:21) e não às custas dela.

A obediência de Cristo não tornou a nossa desnecessária; antes, tornou a nossa obediência
aceitável. Nesta última frase está a solução para a dificuldade. A Lei de Deus não aceitará
nada menos do que a obediência perfeita e perpétua; e tal obediência o Fiador do povo de
Deus prestou, de modo que Ele operou uma justiça eterna, que é imputada a eles. Mas isso
é apenas metade da verdade sobre este assunto. A outra metade não é que a expiação de
Cristo inaugurou um regime de ilegalidade ou de licenciosidade, mas antes, colocou seus
beneficiários sob obrigações adicionais. Todavia, mais: a expiação de Cristo obteve a graça
necessária para permitir que esses beneficiários cumpram as suas obrigações — não per-
feitamente, mas, no entanto, de modo aceitável a Deus. E como? Ao garantir que o Espírito
Santo deve trazê-los da morte para a vida, dar-lhes uma natureza que se deleita na lei, e
opera neles tanto o querer como o efetuar, segundo a boa vontade de Deus. E o que é do
agrado de Deus para o Seu povo? O mesmo que foi para o Seu Filho encarnado: que sejam
perfeitamente conformes à lei em pensamento, palavra e ação.

Deus tem um e o mesmo padrão para a cabeça e os membros de Sua igreja; e, portanto,
é-nos dito: “Qualquer que permanece nele não peca; qualquer que peca não o viu nem o
conheceu” (1 João 2:6). Em 1 Pedro 2:21 lemos: “Cristo padeceu por nós”, com que
finalidade? Para que nós nos desobrigássemos de toda obrigação para com Deus? Para
que nós pudéssemos seguir um curso de ilegalidade sob a pretensão de magnificar a “gra-
ça”? Não, de fato; mas antes, “deixando-nos o exemplo, para que sigais as suas pisadas”.
E, qual é a natureza desse exemplo que Cristo nos deixou? O que, senão “cumprir a lei”
(Mateus 5:17), amando o Senhor, seu Deus, com todo o seu coração, mente e força, e ao

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próximo como a si mesmo? Mas, para fazer isso, deve haver uma natureza em harmonia
com a Lei e não em inimizade contra ela. Cristo poderia declarar: “Deleito-me em fazer a
tua vontade, ó Deus meu; sim, a tua lei está dentro do meu coração” (Salmos 40:8), de for-
ma que cada um de Seu povo redimido e regenerado diga: “Porque, segundo o homem in-
terior, tenho prazer na lei de Deus” (Romanos 7:22). E neles é formado um novo homem
que gostaria de prestar perfeita obediência à Lei. Tal é o seu desejo honesto, mas a
presença do velho homem frustra-os.

O Pacto Eterno, em sua natureza e conteúdo é um pacto misto, pois princípios da Lei e da
Graça operaram nele. Foi a pura e simples graça que ordenou que qualquer um da caída
raça de Adão fosse salvo, como foi maravilhosa e infinita graça que proveu que o Filho de
Deus encarnasse e servisse como Fiador deles. Mas foi por pura e simples lei que o Fiador
deveria obter e comprar a salvação deles por Sua rendição a Deus de uma satisfação
perfeita em nome deles. Cristo foi “nascido sob a lei” (Gálatas 4:4). Toda a Sua vida foi
perfeitamente conformada aos preceitos da lei, e a Sua morte foi um suportar da penalidade
da Lei; e tudo isso foi em cumprimento de Seus compromissos pactuais. Da mesma forma,
estes dois princípios da Graça e Lei são operativos em conexão com a administração do
Pacto Eterno — ou seja, na aplicação de seus benefícios para aqueles em cujo nome Cristo
pactuou. “Anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma, antes estabelecemos a lei”
(Romanos 3:31).

A obra de Cristo libertou o crente da Lei como a causa de aquisição de sua justificação,
mas isso de modo algum aboliu a Lei como sua regra de vida. A graça Divina não anula a
responsabilidade do seu destinatário, nem a obediência do crente torna a graça em algo
menos necessária. Deus exige obediência (conformidade com a Sua lei) do Cristão tão
verdadeiramente como Ele o requer do não-Cristão. É verdade, que nós não somos salvos
por (causa de) nossa obediência; mas é igualmente verdade que não podemos ser salvos
se formos desobedientes. A menos que Noé houvesse atendido a Deus e construído a arca,
pereceria no dilúvio; ainda assim, foi pela bondade e poder de Deus que a arca foi preser-
vada. É através de Cristo, e somente de Cristo, que a obediência do crente é aceitável a
Deus. Mas pode-se perguntar, será que Deus aceitará de nós uma obediência imperfeita?
A resposta é sim, se for sincera; assim como Ele tem o prazer de responder às nossas
pobres orações quando apresentadas no nome todo-meritório de Seu Filho.

Mais uma vez, gostaria de ressaltar que qualquer pacto significa necessariamente um acor-
do mútuo, com termos a serem cumpridos por ambas as partes. Um exemplo claro, porém
mui solene disto é encontrado no caso de Judas e os principais sacerdotes dos judeus, a
respeito de quem lemos: “pesaram trinta moedas de prata” (Mateus 26:15). Isso quer dizer,
em troca de seu cumprimento do contrato de trair o seu Mestre, entregando-O nas mãos

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deles, eles lhe pagariam essa soma de dinheiro, que, em Atos 1:18, é denominada de “o
galardão da iniquidade”. É somente prestando muita atenção a todas as expressões utiliza-
das nas Escrituras sobre o pacto de Deus e de nossa relação com o mesmo, que podemos
obter uma correta e plena concepção dele. Lemos sobre os que “abraçam a minha aliança”
(Isaías 56:4). “Para entrardes na aliança do Senhor teu Deus” (Deuteronômio 29:12); “aque-
les que fizeram comigo uma aliança com sacrifícios” (Salmos 50:5); “Todas as veredas do
Senhor são misericórdia e verdade para aqueles que guardam a sua aliança e os seus
testemunhos” (Salmos 25:10); “Lembrai-vos perpetuamente da sua aliança e da palavra
que prescreveu para mil gerações” (1 Crônicas 16:15); “para invalidar a minha aliança”
(Levítico 26:15); “aos que tiverem abandonado a santa aliança” (Daniel 11:30).

Contra o que foi dito acima, pode-se objetar que isso reduz o Pacto da Graça a um e ao
mesmo nível que o Pacto de Obras. Não é assim, nós respondemos; pois esses pactos têm
algo em comum, mas há uma diferença real e radical entre eles. Cada um deles mantém
as reivindicações de justiça de Deus por fazer cumprir as exigências da Lei, mas a Aliança
das Obras não tinha mediador, nem qualquer provisão feita para aqueles que falharam sob
ela; ao passo que a Aliança da Graça supre a ambos. Além disso, de acordo com o Pacto
das obras, a obediência era prestada a um Deus absoluto, o que, nos termos do Pacto da
Graça é prestado a Deus em Cristo, e há um mundo de diferença entre essas duas coisas.
A aplicação destes princípios ao caso de Abraão, consideraremos a seguir.

IV
Na aplicação a Abraão daqueles princípios Divinos considerados no capítulo anterior, deve-
ria ser bastante óbvio que a lei de sua obediência contou tanto com promessas e ameaças,
recompensas e punições, conformes à bondade e santidade de Deus, e apropriados para
o cumprimento de sua responsabilidade moral. Pode-se perguntar: Onde há qualquer
indício na Bíblia de quaisquer ressalvas e termos ligados ao pacto Abraâmico, ou qualquer
declaração clara de que Deus estipulou quaisquer condições a ele? Tal questão é suscep-
tível de várias respostas. Em primeiro lugar, a menos que houvesse tais ressalvas e termos,
nenhum pacto teria sido feito. Em segundo lugar, a extrema brevidade do relato de Gênesis
deve ser trazido à mente; e em vez de esperar uma afirmação categórica completa, seus
detalhes fragmentários precisam ser cuidadosamente reunidos. Em terceiro lugar, Gênesis
12:1 mostra claramente que Canaã foi estabelecida diante dele provisoriamente.

Além do que já foi dito, gostaríamos de salientar que o Senhor declarou em conexão com
o sinal e selo desta aliança: “E o homem incircunciso, cuja carne do prepúcio não estiver

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circuncidada, aquela alma será extirpada do seu povo; quebrou a minha aliança” (Gênesis
17:14). Aqui, então, é claro que a condição foi estipulada, cujo não cumprimento quebrava
o pacto. Mais uma vez, em Gênesis 18:19, encontramos Deus dizendo: “Porque eu o tenho
conhecido, e sei que ele há de ordenar a seus filhos e à sua casa depois dele, para que
guardem o caminho do Senhor, para agir com justiça e juízo; para que o Senhor faça vir
sobre Abraão o que acerca dele tem falado”. Abraão tinha que “guardar o caminho do
Senhor”, que é definido como “agir com justiça e juízo”; ou seja, caminhar obedientemente,
em sujeição à vontade revelada de Deus, para que ele viesse a receber o cumprimento das
promessas Divinas. Mais uma vez, nós lemos: “Porquanto Abraão obedeceu à minha voz,
e guardou o meu mandado, os meus preceitos, os meus estatutos, e as minhas leis”
(Gênesis 26:5). Assim, enquanto Deus lidou com Abraão em pura graça, é claro que ele
também foi colocado sob a lei.

Alguns leitores são susceptíveis a objetar: Isso é uma subversão miserável do glorioso
Pacto da Graça: por suas “condições”, “termos” e “ressalvas” você o reduz a uma contin-
gência e incerteza, em vez de seu ser “em tudo bem ordenado e guardado”. Nossa primeira
réplica é que nós não introduzimos as condições e ressalvas à aliança; em vez disso, elas
são bem declaradas nas Escrituras. Deus não fez uma concessão absoluta de Canaã a
Abraão quando Ele se revelou a ele na Caldéia. Em vez disso, ele foi obrigado a trilhar o
caminho da obediência pela terra “que havia de receber por herança”. Nem Deus faz uma
concessão absoluta (ou incondicional) do Céu quando o pecador crê primeiramente em
Cristo. Em vez disso, Ele exige que ele ande no caminho estreito, o qual somente conduz
à vida, e fielmente avisa sobre o iminente perigo dele se desviar dali.

Isso pode ser respondido: Mas isso conduz tudo a uma incerteza. Tudo depende do ângulo
a partir do qual você o vê. Considerado como o objeto do amor eterno de Deus, o eleito em
Cristo, como redimido por Ele, como habitado e selado pelo Espírito, o alcançar do Céu de
forma segura por parte do crente é colocado além de toda incerteza. Mas consi-dere o
crente como um agente responsável, como continuando a ter a “carne” habitando nele,
vivendo em um mundo onde ele é atormentado pela tentação de todos os lados, chamado
a “combater o bom combate da fé” e “lançar mão da vida eterna”, e o assunto aparece em
outra perspectiva completamente diferente; e um ponto de vista é tão real e verdadeiro
quanto é o outro! A dificuldade aqui quanto à possibilidade do crente “guardar” ou “quebrar”
o pacto e tornar tudo inseguro, é precisamente a mesma como demonstrar a consistência
entre a preservação Divina e perseverança Cristã. Embora os “ses” de João 8:31 e
Colossenses 1:23 não anulem a promessa de Filipenses 1:6, ainda assim, eles estão lá, e
devem ser considerados por nós.

Do lado Divino, o Pacto da Graça é “em tudo bem ordenado e guardado”. Não há a menor
possibilidade de qualquer coisa nele falhar. Cristo “verá o fruto do trabalho da sua alma, e

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ficará satisfeito”, e nenhum daqueles dados a Ele pelo Pai, antes da fundação do mundo,
será perdido. Mas isso não altera o fato de que, enquanto os eleitos são deixados aqui
neste mundo são convidados a “fazer firme a sua vocação e eleição” (2 Pedro 1:10), não
que já a tenham alcançado... mas prosseguem para alcançar [se apossarem] aquilo para o
que foram também presos por Cristo Jesus (Filipenses 3:12). O pacto prevê a comunicação
da graça eficaz para garantir a obediência e a perseverança dos santos; ainda assim, isso
não altera o fato de que Deus ainda impõe Suas justas reivindicações sobre eles e trata-os
como agentes morais que são obrigados a acatar as Suas advertências, obedecer os Seus
preceitos, e utilizar os meios que Ele designou para a sua preservação.

Alguns experimentam dificuldade em encaixar essas Escrituras que apresentam a vida


eterna como a possessão presente e inalienável do crente com outras passagens que a
colocam no futuro e como apenas podendo ser alcançada por seguir um curso de
autonegação. Tais versos como João 5:24 e Romanos 6:23 são bastante simples para eles;
mas em versos como Romanos 6:22, 8:13; Gálatas 6:8 e Judas 21 eles se embaraçam em
saber o que fazer com eles. Mas não há nada de inconsistente entre um crente agindo a
partir de um princípio de graça e de vida que já lhe é comunicada pelo Espírito Santo, e seu
agir assim para que ele possa viver. Um homem deve estar vivo antes que ele possa comer;
no entanto, ele deve comer, a fim de que ele possa viver. Se ele cessasse inteiramente de
alimentar-se, haveria qualquer vida nele no período de um mês? Nem o Cristão poderia
entrar no Céu se ele totalmente negligenciasse os meios da graça, nomeados para a sua
preservação espiritual.

No passado, Moisés disse a Israel: “E o Senhor teu Deus circuncidará o teu coração, e o
coração de tua descendência, para amares ao Senhor teu Deus com todo o coração, e com
toda a tua alma, para que vivas” (Deuteronômio 30:6). Ele foi, então, inconsistente quando,
no fim do mesmo discurso ele declarou: “Os céus e a terra tomo hoje por testemunhas
contra vós, de que te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe pois
a vida, para que vivas, tu e a tua descendência, amando ao Senhor teu Deus, dando
ouvidos à sua voz, e achegando-te a ele; pois ele é a tua vida, e o prolongamento dos teus
dias; para que fiques na terra que o Senhor jurou a teus pais, a Abraão, a Isaque, e a Jacó,
que lhes havia de dar” (Deuteronômio 30:19-20)? Moisés estava colocando ali perante eles
um “evangelho sim e não”? Enfaticamente, não; pois ele era o porta-voz do próprio Jeová.
E aquele não foi um apelo “legal”, mas um apelo estritamente “evangélico”. Infelizmente,
muitos hoje erram “não conhecendo as Escrituras”. Saberás, pois, que o Senhor teu Deus,
Ele é Deus, o Deus fiel, que guarda a aliança e a misericórdia até mil gerações aos que o
amam e guardam os seus mandamentos — não meramente de Moisés até Cristo (Deute-
ronômio 7:9) — sim, e com nenhuns outros. Este verso é tanto uma parte da santa e
inspirada Palavra de Deus como é Efésios 2:8-9; e uma é necessária para nós, tanto quanto
a outra.

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Pode-se argumentar: isto é trazer um incentivo legalista e incutir um espírito mercenário ao
colocar o crente no uso de meios a fim de obter a sua preservação, e colocar diante dele o
Céu ou a vida eterna como uma recompensa por sua fidelidade. Em resposta, citaremos o
renomado e evangélico teólogo holandês: “A baixeza mercenária é certamente indigna dos
filhos de Deus, nascidos do alto, mas o Pai celestial não os isenta de ter qualquer benefício
com o seu próprio proveito no exercício da santidade. O próprio Davi confessa que ‘os
juízos do Senhor são verdadeiros e justos juntamente’. ‘Também por eles é admoestado o
teu servo; e em os guardar há grande recompensa’ (Salmos 19:9, 11). E a fé de Moisés é
elogiada porque ‘tinha em vista a recompensa’ (Hebreus 11:26). Sim, esta fé é exigida de
todos os que vêm a Deus, de forma que eles creiam ‘que ele existe, e que é galardoador
dos que o buscam’ (Hebreus 11:6)” (extraído de Irenicon, por H. Witsius, 1696).

Para antecipar mais uma objeção — não com qualquer expectativa de convencer o crítico
capcioso, mas, antes, na esperança de ajudar alguns que estão em um estado de
perplexidade a partir do ensino unilateral dos nossos tristes dias: Mas, o todo acima não
inculca o princípio do mérito humano? Não, pois é devido somente à graça Divina que o
crente tem comunicado a ele um princípio de obediência — um coração ou natureza que
deseja agradar a Deus. Além disso, é unicamente por amor de Cristo que Deus tão liberal-
mente recompensa os esforços sinceros do Seu povo, à parte do Mediador e Seus méritos,
eles não poderiam ser aceitos por Ele. Finalmente, não há proporção alguma entre a obe-
diência do Cristão e a recompensa que ele recebe — a herança infinitamente excede os
seus miseráveis esforços — algo mais do que havia em Deus dar Canaã a Abraão e à sua
descendência, fez com que ele deixasse a Caldéia.

Aproximando-se agora de nosso tema imediato, deve-se salientar que o pacto de Abraão
não deve ser considerado como algo à parte, não tendo nenhuma ligação direta com o que
se passou antes ou o que o seguiu; mas sim ele deve ser visto como uma parte e um passo
a mais no desenrolar dos conselhos eternos de Deus em relação ao Seu povo. O chamado
de Abraão foi um passo mui importante na realização do propósito de Deus. Essa foi uma
daquelas épocas marcantes na história da Igreja que produziu uma nova ordem de coisas,
em perfeita harmonia com, ainda que grandemente antecipado, o que fora comunicado
anteriormente. A obra de preparação para o aparecimento do Messias agora assumiu uma
forma mais tangível e entrou em uma fase mais visível quanto à obtenção do resultado final.
A linhagem a partir da qual a Semente prometida deveria surgir, estava agora mais defini-
tivamente estabelecida, enquanto o alcance da graça Divina foi mais claramente revelado.

A declaração feita pelo Senhor Deus no Éden após a transgressão de Adão, que a semente
da mulher triunfaria sobre e destruiria a serpente, era o fundamento da fé dos santos e o
objeto de sua esperança durante os primeiros dois mil anos da história do mundo. Até a
época de Abraão, nada mais foi revelado sobre a Pessoa do libertador vindouro (tanto

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quanto registra a Escritura) de que Ele deveria ser da raça humana; mas de que família
particular, ou mesmo de que nação, ninguém foi informado. Os homens ainda não sabiam
de que país Ele iria surgir, seja do Egito, da Babilônia, ou de algum outro país. Mas na
aliança que Deus fez com Abraão, não somente a promessa de um Salvador foi renovada,
mas sua família e local foram agora anunciados. Para esta grande honra o “amigo de Deus”
foi escolhido: a ele foi revelado que o Messias deveria ser fruto de sua descendência, e que
a terra de Canaã seria o cenário de Sua gloriosa missão.

O pacto de Abraão não deve ser apenas considerado como parte de um todo maior, em
vez de uma operação isolada, mas a atenção não deve ser restrita a qualquer episódio
único na vida do patriarca ou relacionamento de Deus com ele. Concordamos plenamente
com John Kelly, quando ele disse: “Se queremos formar uma estimativa precisa daquele
pacto, e da verdade para a qual ele foi o meio de revelação, não devemos limitar-nos a
qualquer transação particular, na qual é feita alusão a ele, embora a transação possa ter
sido importante. O nosso exame deve abranger todos os incidentes registrados. Devemos
ter em mente que tudo o que aconteceu com Abraão, desde o seu chamado até o fim de
sua vida, tinha a intenção de explicar e ilustrar a natureza do Pacto”.

Não foi por uma comunicação específica que a mente de Deus foi completamente revelada
a Abraão. Várias comunicações foram feitas em momentos diferentes, todas relacionadas
com o mesmo assunto e desvelando o significado do pacto; enquanto o caráter do próprio
Abraão — moldado por várias provações pelas quais ele foi chamado a passar e modelado
pela graça mediante a fé — lança importante luz sobre as concepções que ele entretinha
do que havia sido revelado a ele. Tudo isso forma um todo homogêneo; e a partir deles,
assim considerados, devemos formar os nossos pontos de vista sobre o pacto. Quando
Abraão foi chamado pela primeira vez pelo Senhor, uma clara pista foi-lhe dada sobre o
propósito Divino, o que, sob a bênção do Espírito Santo, foi o meio de vivificar a sua fé e
produzir nele a decisão que ele tomou. No entanto, apenas um vislumbre foi, então, dado
a ele sobre o que Deus planejara: este não foi o estabelecimento formal do pacto. Esse
evento ocorreu posteriormente, após um intervalo de alguns anos.

O que acaba de ser dito parece receber a confirmação de Gálatas 3:16-17: “Ora, as promes-
sas foram feitas a Abraão e à sua descendência. Não diz: E às descendências, como
falando de muitas, mas como de uma só: E à tua descendência, que é Cristo. Mas digo isto:
Que tendo sido a aliança anteriormente confirmada por Deus em Cristo, a lei, que veio qua-
trocentos e trinta anos depois, não a invalida, de forma a abolir a promessa”. Quatrocentos
e trinta anos antes da promulgação da Lei no Sinai nos levam de volta ao início dos lidares
de Deus com Abraão, registrados em Gênesis 12, embora o real termo pacto não seja
encontrado nesse capítulo. Este termo não aparece até chegarmos a Gênesis 15:18, onde
encontramos a transação em si: “Naquele mesmo dia fez o Senhor uma aliança com Abrão,

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dizendo: tua descendência tenho dado esta terra...”. Depois, em Gênesis 17, encontramos
o sinal e selo do pacto — a circuncisão — dado. Quanto ao pacto há outras referências nos
capítulos seguintes: em Gênesis 22 o pacto é confirmado. Assim, de fato, o pacto recebeu
ampliações importantes e sucessivas durante a relação que Deus, em infinita condes-
cendência, continuou a ter com o Seu servo. Hebreus 6:13-18 une a grande promessa de
Gênesis 12:3 e o juramento de Gênesis 22:15-18.

Em nosso esforço, então, para obter uma visão correta e abrangente da operação Divina
no pacto de Abraão, somos obrigados a examinar cuidadosamente todas as informações
que a narrativa de Gênesis fornece: os principais acontecimentos na vida de Abraão (que
são concebidos como uma contribuição para transmitir uma explicação), e a luz que o Novo
Testamento lança sobre ambos, e tudo o que diz respeito a toda a sua unidade como
ilustrativa do pacto. Nos limitarmos a uma passagem, por mais importante que possa pare-
cer, seria fazer injustiça ao assunto. É a falha neste ponto que tem resultado em tantas dis-
cussões superficiais, insuficientes, e parciais do mesmo por vários escritores. Aqueles que
se aproximam do exame e consideração da aliança abraâmica (ou de qualquer outro tema
bíblico) com uma única teoria de estimação ou ideia em suas mentes, a qual eles estão
determinados a estabelecer a todo custo, não podem esperar obter uma visão correra e
plena do pacto como um todo.

Consideremos, então, o pacto de Abraão como um avanço notável no desenvolvimento do


propósito da graça de Deus para com os homens, e ainda assim, como apenas uma parte
de um todo maior e mais grandioso. Ao fazê-lo, o que exigirá a nossa atenção especial é:
Qual era a natureza particular e qual era o conjunto da verdade, a qual ele foi o meio de
revelar? Sobre estes pontos uma grande diversidade de opiniões é emitida, tanto entre os
escritores mais antigos quanto entre os mais recentes. Exatamente o quê, o pacto de
Abraão torna manifesto para as mentes e os corações do povo Deus, no passado? E até
que ponto o mesmo se aplica a nós, hoje? As respostas adequadas para estas questões
devem ser elaboradas a partir da própria Escritura Sagrada, corretamente interpretada.
Talvez o nosso melhor caminho é o de destacar os elementos particulares e, posterior-
mente, as suas observações a respeitos destes, conforme surja a necessidade.

V
“Ora, o SENHOR disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai,
para a terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engran-
decerei o teu nome; e tu serás uma bênção. E abençoarei os que te abençoarem, e amaldi-
çoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gênesis

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12:1-3). Nesta narrativa simples, temos a promessa original feita a Abraão, a saber, que o
Messias deveria vir de sua família. Esta promessa Divina foi feita para o patriarca quando
ele tinha apenas um pouco menos do que 75 anos. Ela foi dada em um ponto no meio do
caminho da história humana entre a criação do primeiro Adão e a encarnação do último
Adão, ou seja, dois mil anos depois da entrada do pecado no mundo e dois mil anos antes
do advento do Salvador.

O primeiro grande objetivo do pacto de Abraão foi tornar conhecida a fonte de onde viria o
Messias. Este foi o aspecto mais importante da verdade revelada nele: o aparecimento da
Semente prometida na própria linhagem de Abraão. A comunicação principal nisto foi dada
ao patriarca quando Deus apareceu pela primeira vez a ele: “Em ti serão benditas todas as
famílias da terra”. Duas coisas devem ser notadas na linguagem aqui utilizada. Primeiro,
“serão benditas todas as famílias da terra”, obviamente, olha para trás, para Gênesis 3:17,
“todas as famílias” era suficientemente claro para anunciar o alcance internacional da
bênção. É realmente muito impressionante observar que em Gênesis 12:3 Deus não usou
a palavra eretz (como em Gênesis 1:1; 14:19; 18:25, etc.), mas adamah (como em Gênesis
3:17). O vínculo manifesto entre “Maldita é a terra [adamah]” (Gênesis 3:17) teria sido feito
mais evidente se Gênesis 12:3 fosse proferido “em ti serão benditas todas as famílias da
terra [adamah]” — a maldição deveria ser removida por Cristo!

Em segundo lugar, os termos desta intimação Messiânica foram bastante gerais em seu
caráter. Posteriormente, essa promessa original foi repetida de forma mais específica: “Em
ti serão benditas todas as famílias da terra”, sendo definido como “em tua descendência
serão benditas todas as famílias da terra”. Isso ilustra um importante princípio que deve ser
discernido em toda a revelação Divina, a saber, o desdobramento progressivo: “primeiro a
erva, depois a espiga, por último o grão cheio na espiga” (Marcos 4:28). Isto é evidente aqui
por uma comparação entre as promessas de longo alcance feitas a Abraão com as profe-
cias de Noé acerca de seus três filhos. Jeová era o Deus de Sem, no entanto, Jafé deveria
habitar em suas tendas (Gênesis 9:26-27); Ele agora passa a ser conhecido como “o Deus
de Abraão”, mas todas as famílias da terra seriam abençoadas nele e em sua semente.
Que impressionante progresso foi feito aqui no plano Divino, ao revelar a amplitude do seu
significado e a explicitação de sua finalidade!

Por seu chamado Abraão foi elevado a uma proeminência mui singular e constituído em
forma de raiz e centro da história futura do mundo, relacionado ao cumprimento da bênção
real. Ainda assim, mesmo nesse aspecto, não exclusivamente. A bênção viria principalmen-
te a Abraão, e por meio dele; mas, como já indicado na profecia em Sem, outros perma-
neceriam, embora em uma posição subordinada, na mesma linhagem — uma vez que estes
também seriam abençoados, os que o abençoassem; ou seja, aqueles que sustentassem

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substancialmente a mesma fé, e ocupassem a mesma relação amigável com Deus. Os ca-
sos de tais pessoas nos próprios dias do patriarca, como seu parente Ló, que não foi formal-
mente admitido no pacto de Abraão, e ainda mais de Melquisedeque, que nem sequer era
da linhagem de Abraão e ainda permaneceu individualmente em algum sentido maior do
que o próprio Abraão, mostram claramente, e existiram, sem dúvida, em parte, para er-
guerem-se para a finalidade de mostrar, que não havia nada de arbitrário na posição de
Abraão, e que o fundamento que ocupava era até certo ponto comum aos crentes, em geral.

A honra peculiar concedida a ele foi que o grande tronco da bênção deveria ser dele,
enquanto apenas alguns galhos isolados ou ramos espalhados poderiam ser encon-
trados em outros lugares; e mesmo estes só poderiam ser encontrados por pessoas
que, de uma forma, tivessem algo em comum com ele. Em relação a si mesmo, no
entanto, o grande dote do bem transmitida a ele na promessa Divina poderia manifes-
tamente não ser percebido por ele pessoalmente. Poderia, no máximo, ser apenas um
começo feito em sua própria experiência e história, e o alargamento do círculo de
bênção para outras famílias e regiões, até que chegasse às famílias mais distantes
da terra, devia, necessariamente, ser afetado por meio daqueles que surgiriam a partir
dele. Daí a palavra original da promessa ‘em ti serão benditas todas as famílias da
terra’, depois foi alterada para “em tua descendência serão benditas todas as famílias
da terra (P. Fairbairn).

É necessário recordar, porém, que cada uma dessas expressões tinha seu próprio significa-
do e importância específica, e que elas devem ser conjugadas de modo a expressar o pleno
propósito de Deus no chamado de Abraão. A bênção prometida deveria ser operada em
seu sentido mais amplo e não por Abraão individual e imediatamente, mas através dele me-
diatamente, por meio da descendência que seria dada a ele. Isto implicava claramente que
essa descendência deveria possuir qualidades muito maiores do que qualquer daquelas
que eram encontradas no próprio Abraão, uma vez que a bênção dele fluiria tão amplamen-
te; sim, isso apenas levemente velou a verdade que haveria uma combinação maravilhosa
do Divino com o humano. Cristo, então, como a substância essencial da promessa e da
descendência de Abraão, em vez do próprio Abraão, deveria ter a honra de abençoar todas
as nações.

Todavia, para o que acabamos de chamar a atenção de modo algum retira a força do
original “em ti serão benditas todas as famílias da terra”; pois, por assim definitivamente
conectar o bem com o próprio Abraão e com a sua descendência, a ligação orgânica foi
marcada entre uma e outra. “A bênção a ser transmitida ao mundo através de sua linhagem
teve, ainda em seu tempo, uma presente, embora pequena, realização — justamente como
o reino de Cristo teve o seu início naquele de Davi, e em última análise, um incorporou o

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outro. E assim, em Abraão, como a raiz viva de tudo o que seguiria, o todo e cada parte po-
de ser dito tomar o seu lugar” (P. Fairbairn). Não somente Cristo foi segundo a carne “filho
de Abraão” (Mateus 1:1), mas todos os crentes em Cristo são da semente de Abraão (Gá-
latas 3:29); e toda a companhia dos redimidos terão o seu lugar e porção “com Abraão”, no
reino de Deus (Mateus 8:11).

Outras promessas se seguiram, como: “À tua descendência darei esta terra” (Gênesis
12:7), “para te ser a ti por Deus, e à tua descendência depois de ti” (Gênesis 17:7), e assim
por diante, o que consideraremos posteriormente. O que nos interessa é o significado do
termo “descendência” nestas passagens. A Escritura que lança mais luz a este é Gálatas
3:16-17: “Ora, as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência. Não diz: E às
descendências, como falando de muitas, mas como de uma só: E à tua descendência, que
é Cristo. Mas digo isto: Que tendo sido a aliança anteriormente confirmada por Deus em
Cristo, a lei, que veio quatrocentos e trinta anos depois, não a invalida, de forma a abolir a
promessa”. No entanto, por estranho que pareça, esta passagem ocasionou muita dificulda-
de aos comentaristas, nem dois deles concordam em sua interpretação. Esta é comumente
considerada como uma das passagens mais obscuras em todas as Epístolas Paulinas.

Matthew Henry diz: “A aliança é feita com Abraão e sua Descendência. E ele (o apóstolo)
nos dá uma exposição mui surpreendente dela”, mas ele não tenta absolutamente nenhuma
interpretação detalhada. J. N. Darby procura cortar o nó mudando as “promessas” do
apóstolo para “a promessa”, restringindo a referência a Gênesis 22. No entanto, não apenas
o grego está no plural, mas essa ideia é claramente refutada por “quatrocentos e trinta anos
depois”, o que necessariamente nos leva de volta a Gênesis 12. Albert Barnes discute
longamente o que ele chama de “as perplexidades desta mui difícil passagem da Escritura”,
mas como de costume, os comentaristas têm criado suas próprias dificuldades: em parte
por não terem em devida conta o contexto imediato, e em parte através de uma adesão
servil à “letra”, perdendo assim o “espírito” do verso.

“Ora, as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência”. Abraão foi o “pai” de uma
dupla “descendência”, uma natural e uma espiritual; e se nós atentarmos para o contexto
aqui, não há a menor dificuldade em determinar qual delas o Espírito Santo tem em vista.
No verso 6, Ele disse: “Assim como Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado como
justiça”; a partir do que se conclui: “Sabei, pois, que os que são da fé são filhos de Abraão”
(v. 7). O que poderia ser mais claro do que isso? Aqueles são “da fé”, os crentes genuínos,
são “filhos de Abraão”, ou seja, os seus filhos espirituais — sendo ele o “pai” deles, como
o padrão ao qual eles estão conformados. Em outras palavras, os pecadores hoje são
justificados por Deus exatamente da mesma forma que foi Abraão: pela fé.

“Ora, tendo a Escritura previsto que Deus havia de justificar pela fé os gentios, anunciou

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primeiro o evangelho a Abraão, dizendo: Todas as nações serão benditas em ti. De sorte
que os que são da fé são benditos com o crente Abraão” (Gálatas 3:8-9). A mesma verdade
é aqui reafirmada. Tendo em vista o propósito de Deus de justificar os gentios pela fé, Ele
proclamou o Evangelho para o próprio Abraão, dizendo: “Em ti todas as nações serão aben-
çoadas”. Que seja cuidadosamente observado que o Espírito Santo aqui cita Gênesis 12,
e não Gênesis 22. A mesma conclusão é extraída novamente: os crentes recebem a bênção
espiritual idêntica à que Abraão recebeu, a saber, a justiça de Cristo imputada em sua con-
ta, de modo que eles agora correspondem a todos os requisitos da lei. E isso, porque “Cristo
nos resgatou da maldição da lei” (v. 13); isso abriu o caminho “para que a bênção de Abraão
chegasse aos gentios por Jesus Cristo, e para que pela fé nós recebamos a promessa do
Espírito” (v. 14).

“Irmãos, como homem falo; se a aliança de um homem for confirmada, ninguém a anula
nem a acrescenta” (Gálatas 3:15). Mas, no caso diante de nós, temos muito mais do que
“a aliança de um homem” — nós temos uma aliança Divina, pois Deus solenemente ratificou
as Suas promessas a Abraão por pacto. “Ora, as promessas foram feitas a Abraão e à sua
descendência” (v. 16). Agora, à luz de “filhos de Abraão” (v. 7), “os que são da fé são
benditos com o crente Abraão” (v. 9), e “para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios
por Jesus Cristo” (v. 14), “a Abraão e à sua descendência” deve significar “à Abraão e à
sua descendência espiritual, as promessas foram feitas”. A prova colateral disso é fornecida
por Romanos 4:16: “Portanto, é pela fé, para que seja segundo a graça, a fim de que a pro-
messa seja firme a toda a posteridade, não somente à que é da lei, mas também à que é
da fé que teve Abraão, o qual é pai de todos nós”, pois é somente toda a sua descendência
espiritual que tem a certeza de receber as bênçãos prometidas.

“Não diz: E às descendências, como falando de muitas, mas como de uma só: E à tua
descendência, que é Cristo” (Gálatas 3:16). Esta é a cláusula que muitos têm encontrado
tão desconcertante. Eles têm apontado que, tanto no Antigo Testamento e no Novo, o termo
“descendência”, muitas vezes refere-se aos descendentes, sem limitação, assim como é
para nós a palavra posteridade. Além disso, é um fato que o uso de uma concordância
amplamente confirmará que o termo “descendência” nunca é usado no plural em absoluto
para denotar uma posteridade, sendo a forma singular constantemente utilizada para esse
fim; na verdade, a forma plural da palavra nunca ocorre, exceto aqui em Gálatas 3:16. Isso
representa um problema para o qual nenhum literalista pode fornecer uma solução satis-
fatória, o que dá a entender claramente que não era com o significado superficial do termo
que o apóstolo estava tratando aqui.

“A força de seu raciocínio aqui não depende da mera palavra dicionarizada ‘descendência’,
mas da grande ideia bíblica que, cada vez mais claramente na revelação do Antigo
Testamento, se manifesta através dessa palavra — a noção de uma pessoa individual, que

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deve resumir em si mesmo o povo da aliança, bem como (para eles) as bênçãos da aliança,
ou seja, o Messias prometido, Cristo” (James MacGregor, em Gálatas, 1879). Este é o único
escritor que conhecemos que indicou a direção em que devemos olhar em busca da
verdadeira explicação dos termos do Apóstolo, ou seja, não em seu significado meramente
literal, mas no conceito espiritual que assume — assim como o termo “Cristo” literalmente
significa “ungido”, mas é empregado como o título especial do Salvador, e é dado a Ele não
como uma Pessoa privada, mas pública, incluindo tanto a cabeça quanto os membros da
igreja (1 Coríntios 12:12).

“Não diz: E às descendências, como falando de muitas, mas como de uma só: E à tua
descendência, que é Cristo”. Para resumir. As promessas de Deus nunca foram por pro-
criação humana, mas por regeneração Divina. Todavia, as promessas não foram feitas para
ambas as suas descendências, mas a uma delas apenas, ou seja, a descendência espiri-
tual, o místico “Cristo” — o Redentor e todos os que estão legal e vitalmente unidos a Ele.
Assim, a antítese elaborada pelo apóstolo é entre a unidade da “descendência” em con-
traste com a diversidade das “descendências”. Isso foi surpreendentemente prefigurado no
plano terrestre. Abraão teve dois filhos; mas um deles, Ismael, foi excluído dos privilégios
mais elevados: “em Isaque será chamada a tua descendência” (Gênesis 21:12). Mas essas
palavras não significam que todos os descendentes de Isaque são destinados à bem-aven-
turança celestial; antes, elas afirmam que foi a partir de Isaque que o Messias prometido,
segundo a carne, descenderia.

Posteriormente, a linhagem de descendência do Messias foi mais definitivamente restrita;


pois, dos dois filhos de Isaque, Esaú foi rejeitado e Jacó foi escolhido como o progenitor de
Cristo. Dentre os doze filhos de Jacó, Judá foi escolhida como a tribo a partir da qual surgiria
a descendência prometida. A partir de todos os milhares de Judá, da família de Jessé foi
honrada ao ser designada para dar à luz ao Salvador (Isaías 11:1). Dos oito filhos de Jessé
(1 Samuel 16:10-11), Davi foi nomeado para ser o pai do Messias. Assim, podemos ver no
decorrer do tempo, o canal através do qual a Descendência de Abraão surgiria foi mais
definitivamente limitada e especificada, e desse modo Deus gradualmente tornou conhe-
cido como as Suas promessas originais a Abraão deveriam receber o seu cumprimento. A
limitação dessas promessas foi evidenciada pela rejeição de Ismael, e depois de Esaú, o
que demonstrou claramente que nem todos os descendentes de Abraão estavam incluídos
nas promessas; até que, em última análise, verificou-se que o seu cumprimento foi tido em
Cristo e naqueles unidos a Ele.

Caso as promessas de Deus a Abraão envolvessem ambos os ramos de sua família, inclu-
indo Ismael, assim como Isaque, então algum outro termo ao invés de “descendência” teria
sido utilizado. Mas Deus assim ordenou que tão diferentes fossem as circunstâncias de
seus nascimentos e vidas futuras, assim como diversas foram as profecias relacionadas a

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eles, e tão completamente diferente foram as duas raças que surgiram a partir deles, que
nas Escrituras os descendentes de Ismael deixaram de ser citados como a posteridade de
Abraão. E nisso Deus prefigurou o grande abismo que separava os descendentes naturais
de Abraão (os judeus) de seus filhos espirituais (Cristãos), e assim torna indesculpável que
venhamos a confundir um com o outro quando se olha para o cumprimento das promessas.
As promessas foram restritas originalmente, e esta limitação foi evidenciada mais clara-
mente por revelações sucessivas, até que foi mostrado que ninguém senão Cristo (e aque-
les unidos a Ele) estavam incluídos: “E à tua descendência, que é Cristo” (místico)!

“Não diz: E às descendências, como falando de muitas, mas como de uma só: E à tua des-
cendência, que é Cristo”. Para resumir. As promessas de Deus nunca foram feitas a todos
os descendentes de Abraão, como muitos tipos diferentes de “descendência”, mas foram
limitadas à linhagem espiritual, ou seja, ao “Cristo” místico. Assim, os descendentes incré-
dulos de Jacó estavam tão excluídos dessas promessas como estavam os descendentes
de Ismael e Esaú. Pelo contrário, os crentes gentios, um com Cristo na Aliança Eterna, são
tão verdadeiramente participantes das promessas como Isaque, Jacó e todos os israelitas
piedosos.

VI
O que esteve diante de nós no último capítulo é de importância fundamental: não apenas
para uma compreensão correta do próprio pacto de Abraão, mas também para a sã inter-
pretação de grande parte do Antigo Testamento. Uma vez que é claramente reconhecido
que o tipo se funde com o protótipo, que os crentes em Cristo são os “filhos” de Abraão
(Romanos 4:16; Gálatas 3:7), os cidadãos da livre e celestial Jerusalém (Gálatas 4:16;
Efésios 2:19, Apocalipse 21:2, 14), a “circuncisão” (Filipenses 3:3), o “Israel de Deus” (Gála-
tas 6:16; Efésios 2:12-13), os que “chegaram ao monte Sião” (Hebreus 12:22), será encon-
trado que temos um guia confiável para conduzir-nos através dos labirintos da profecia,
sem a qual temos a certeza de nos perdermos e entramos em uma confusão inextricável e
incerteza. Isso foi de conhecimento comum entre os santos em tempos passados, mas
infelizmente uma geração que os sucedeu gaba-se de ter uma nova luz, apenas para
mergulhar a si mesma e seus seguidores em trevas.

As promessas de Deus a Abraão e à sua descendência nunca foram feitas para seus des-
cendentes naturais, mas pertenciam àqueles que tinham fé assim como ele. Não poderia
ser de outra forma: “Porque todas quantas promessas há de Deus, são nele sim, e por ele
o Amém, para glória de Deus por nós” (2 Coríntios 1:20). Todas as “promessas” (e não

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“profecias”) de Deus são feitas em Cristo; ou seja, todas as bênçãos prometidas são colo-
cadas nas mãos do Mediador, e ninguém que está fora de Cristo pode reivindicar uma única
delas. Todos os que estão fora de Cristo estão fora do favor de Deus; e, portanto, as ame-
aças Divinas, e não as promessas, são a sua porção. Aqui, então, está a nossa resposta
àqueles que se queixam: “Você aplica à igreja todas as coisas boas do Antigo Testamento,
mas as más você relega aos judeus”. Claro que sim; as bênçãos de Deus dizem respeito a
todos os que estão em Cristo; as maldições de Deus a todos — judeus ou gentios — que
estão fora de Cristo.

Assim, os descendentes incrédulos de Jacó, estavam tão excluídos das promessas Abra-
âmicas quanto estavam os descendentes de Ismael e Esaú; ao passo que estas promessas
pertenciam tanto real e verdadeiramente aos crentes gentios quanto a Isaque, Jacó e José.
Mas, infelizmente esta verdade básica, tão claramente revelada nas Escrituras, é repudiada
pelos “dispensacionalistas”, que estão perpetuando o erro daqueles que se opuseram a
Cristo, nos dias de Sua carne. Quando Ele falou da liberdade espiritual que Ele poderia dar,
Seus ouvintes não-regenerados, exclamaram: “Somos descendência de Abraão, e nunca
servimos a ninguém; como dizes tu: Sereis livres? (João 8:33). Quando Ele fez menção de
Seu Pai, os judeus carnais responderam: “Nosso pai é Abraão”; ao que o Salvador respon-
deu: “Se fôsseis filhos de Abraão, faríeis as obras de Abraão (João 8:39). Ai, infelizmente,
que muitos de nossos contemporâneos não sabem quem são os “filhos de Abraão”.

A importância vital do que buscamos apresentar no último capítulo parecerá ainda mais
evidente quando for pontuado que os crentes em Cristo têm uma herança comum com
Abraão, bem como uma posição comum perante Deus. Porém, muitos, de uma só vez, se
oporão a isto, alegando que: não pode ser assim; ora, a herança de Abraão e sua descen-
dência era terrena — era a terra de Canaã, que Deus lhes prometeu! Nossa primeira res-
posta é: tal foi a firme convicção daqueles que crucificaram o Senhor da glória; como ainda
é a convicção de todos os judeus “ortodoxos” na Terra atualmente — judeus que despre-
zam e rejeitam o Cristo de Deus. Eles são guias seguros a serem seguidos? Para dizer o
mínimo, Cristãos professos que compartilham deste ponto de vista não estão em muito boa
companhia! O próprio fato de que essa ideia é tão amplamente entretida entre os judeus
que não têm o Espírito de Deus, deve levantar uma forte suspeita naqueles que alegam ter
discernimento espiritual.

Nossa segunda resposta é que se a herança de Abraão foi uma herança terrena, ou seja,
a terra de Canaã, logo, certamente a herança dos Cristãos é terrena também, pois todos
somos coerdeiros de Abraão. Você, meu leitor (não importa o que você pode ter recebido
de “profundos estudantes da profecia”), está preparado para resolver esta questão pelo
claro ensino das Escrituras Sagradas? Se você estiver, pode rapidamente ser levado a uma

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questão simples: “E, se sois de Cristo, então sois descendência de Abraão, e herdeiros
conforme a promessa” (Gálatas 3:29). O que poderia ser mais claro do que isso: “E, se nós
somos filhos, somos logo herdeiros também” (Romanos 8:17) — se filhos de Deus, também
herdeiros de Deus; e da mesma maneira, se filhos de Abraão, também herdeiros de e com
Abraão. Não há escape legítimo desta conclusão óbvia.

No último verso de Gálatas 3, o apóstolo extraiu a inferência inevitável das premissas que
ele havia estabelecido no contexto. Voltemos por um momento para Gálatas 3:16, e em
seguida, observemos o que se segue. Aqui, a clara declaração é feita: “Ora, a Abraão e à
sua descendência, as promessas foram feitas”; e, como nós plenamente provamos em
nosso último capítulo, a referência é à sua semente espiritual. Mas, para remover toda a
incerteza possível, o Espírito Santo, acrescentou: “e à tua descendência, que é Cristo” —
Cristo de forma mística como aparece em 1 Coríntios 12:12 e Colossenses 1:24; ou seja, o
próprio Cristo e todos os que estão unidos a Ele. Assim, não há espaço para uma sombra
de dúvida sobre a quem as promessas Abraâmicas pertenciam — sua descendência carnal
sendo expressamente excluída pelo que está escrito: “Não diz: E às descendências, como
falando de muitas”.

“Mas digo isto: Que tendo sido a aliança anteriormente confirmada por Deus em Cristo, a
lei, que veio quatrocentos e trinta anos depois, não a invalida, de forma a abolir a promessa”
(Gálatas 3:17). A única dificuldade reside nas palavras. “Em Cristo”. Na medida em que “a
aliança” aqui mencionada foi confirmada apenas 430 anos antes da lei (no Sinai), a
referência não pode ser à Aliança Eterna — que foi “confirmada” por Deus em Cristo antes
da fundação do mundo (Tito 1:2, etc). Por isso somos obrigados a adotar a interpretação
de estudiosos espirituais e hábeis: “a aliança anteriormente confirmada por Deus em Cristo”
— apenas como eis Christon é traduzido como “a respeito de Cristo” em Efésios 5:32 e eis
auton é traduzido como “Porque dele” em Atos 2:25. Aqui, então, há uma adicional palavra
de Deus que Sua aliança com Abraão se relacionava a Cristo, ou seja, Cristo místico —
“Descendência” de Abraão.

Agora, o ponto especial que o apóstolo estava tratando em Gálatas 3 foi que as promessas
feitas por Deus a Abraão (que foram solenemente “confirmadas” por Seu juramento de
aliança) foram dadas séculos antes que a economia do Sinai fosse estabelecida; e isso na
medida em que Deus é fiel, de forma que a Sua palavra não poderia ser anulada (v. 15),
então, não poderia haver nada em conexão com a promulgação da lei que poderia em
menor grau invalidar o que Ele estava se comprometendo a conceder: “a lei, que veio
quatrocentos e trinta anos depois, não a invalida, de forma a abolir a promessa”. Que seja
observado aqui que “a promessa” está no singular, a razão para isso é que o apóstolo
estava prestes a limitar-se a uma promessa particular, ou seja, a que diz respeito à herança
(v. 18).

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“Porque, se a herança provém da lei, já não provém da promessa; mas Deus pela promessa
a deu gratuitamente a Abraão” (v. 18). A herança foi dada por Deus a Abraão muito antes
da lei. A questão agora diante de nós é: Qual herança Deus deu a Abraão? Isso é facilmente
respondido, replica alguém: Gênesis 12:7 e 13:15, e assim por diante nos dizem que era a
“terra de Canaã”; e quando Deus disse: “esta terra” Ele intenciona dizer isso, e nada mais.
Não tão rápido, caro amigo. Quando um jovem crente lê Êxodo 12, com seus detalhes varia-
dos sobre a morte do cordeiro, e a promessa de abrigo sob o seu sangue, e se pergunta
qual é o significado espiritual do mesmo, de longe o seu melhor caminho é voltar-se para o
Novo Testamento, e em oração procurar a resposta. Eventualmente, ele encontrará essa
resposta em 1 Coríntios 5:7: “Cristo, nossa Páscoa, foi sacrificado por nós”.

Quando o jovem crente lê Levítico 16, descrevendo o ritual elaborado que o sumo sacerdote
de Israel era obrigado a observar no dia anual de expiação, e preocupa-se em descobrir o
significado espiritual do mesmo, o nono capítulo de Hebreus vai oferecer-lhe muita luz
quanto a isso. Semelhantemente, aqueles que leem o relato histórico em Gênesis 14 sobre
Melquisedeque, rei de Salém e sacerdote do Deus Altíssimo, trazendo pão e do vinho e
sobre a bênção de Abraão, a quem o patriarca pagou dízimos, podem aprender a partir de
Hebreus 7 que Melquisedeque forneceu uma prefiguração marcante do Senhor Jesus em
Seu caráter oficial. Agora, destacaremos duas coisas que são comuns a todos esses três
exemplos. Primeiro, o ensinamento do Novo Testamento nestes, de modo algum reduz os
acontecimentos importantes do Antigo Testamento a meras alegorias, e nem repudia a sua
historicidade nem remove a sua literalidade. Em segundo lugar, apenas o Novo Testamento
revela que esses acontecimentos do Antigo Testamento possuíam um significado maior do
que o seu significado literal, que o histórico era apenas uma sombra na terra daquilo que
tem a sua realidade ou protótipo no céu.

Por que não, então, aplicar esse mesmo princípio à promessa de Deus de dar a terra de
Canaã a Abraão e à sua descendência? Desde que os crentes em Cristo são filhos de
Abraão “e herdeiros segundo a promessa”, segue-se claramente que eles são participantes
em tudo o que foi dito ou prometido a ele. É um grande erro considerar algumas das pro-
messas Abraâmicas como sendo simplesmente de um tipo temporal e restrito aos seus
descendentes naturais, e que outras eram de um caráter celestial e pertenciam à sua
descendência espiritual. O fato é que o exterior e o temporal nunca existiram por si mesmos,
nem para si mesmo, mas foram designados como um prenúncio do espiritual e eterno, e
como um meio para a obtenção dos mesmos. O exterior e o temporal devem sempre ser
vistos, do começo ao fim, como a casca e sombra do espiritual e eterno.

O estabelecimento deste importante princípio não é deixado em dúvida, uma vez que se
aplica ao tema da herança de Abraão e sua posteridade. No capítulo 11 de Hebreus

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encontramos os próprios patriarcas identificando as suas perspectivas de uma herança
futura com a nossa. “Pela fé habitou na terra da promessa, como em terra alheia, morando
em cabanas com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da mesma promessa. Porque esperava
a cidade que tem fundamentos, da qual o artífice e construtor é Deus. Pela fé também a
mesma Sara recebeu a virtude de conceber, e deu à luz já fora da idade; porquanto teve
por fiel aquele que lho tinha prometido. Por isso também de um, e esse já amortecido,
descenderam tantos, em multidão, como as estrelas do céu, e como a areia inumerável que
está na praia do mar. Todos estes morreram na fé, sem terem recebido as promessas; mas
vendo-as de longe, e crendo-as e abraçando-as, confessaram que eram estrangeiros e
peregrinos na terra. Porque, os que isto dizem, claramente mostram que buscam uma pá-
tria. E se, na verdade, se lembrassem daquela de onde haviam saído, teriam oportunidade
de tornar. Mas agora desejam uma melhor, isto é, a celestial. Por isso também Deus não
se envergonha deles, de se chamar seu Deus, porque já lhes preparou uma cidade” (vv. 9-
16). Quão evidente é, a partir destes versos, que eles olharam para além do significado
literal das promessas, para uma herança celestial e eterna, ou seja, para a mesma descrita
em 1 Pedro 1:4.

Agora, nós não estamos preocupados com a consideração dos fins imediatos que foram
servidos pelos descendentes naturais de Abraão ocupando a Canaã terrestre — uma
consideração paralela com as vantagens temporais apreciadas por aqueles que viviam sob
o exercício literal do sacerdócio Aarônico. Qualquer que seja ou não seja o futuro da
Palestina em relação aos judeus, embora novamente a ocupem por mil anos, é certo que a
promessa de Deus que Abraão e sua posteridade devem ter “a terra de Canaã, em
possessão perpétua” (Gênesis 17:8) não foi, não será e não pode ser cumprida em sua
posteridade natural; pois aquela terra, juntamente com toda a terra, deve ser destruída!
Não, antes nós agora estamos interessados no significado espiritual e antitípico da mesma.

Nossa terceira resposta, então, para a afirmação frequentemente feita de que a herança de
Abraão e sua descendência era uma herança terrena, é que ela é repudiada pela própria
Escritura. A herança de Moisés era uma herança terrena? Não, por certo; pois, de fato,
sobre ele lemos: “Tendo por maiores riquezas o vitupério de Cristo do que os tesouros do
Egito; porque tinha em vista a recompensa” (Hebreus 11:26). A herança de Davi era terre-
na? Não, de fato; pois depois de seu reino ter sido estabelecido, ele declarou: “Não te cales
perante as minhas lágrimas, porque sou um estrangeiro contigo e peregrino, como todos
os meus pais” (Salmos 39:12), e mais uma vez: “Sou peregrino na terra” (Salmos 119:19).
A “terra de Canaã” não mais deve ser entendida de uma maneira carnal do que a “descen-
dência” de Abraão deve ser considerada como a sua posteridade natural. A terra de Canaã
não foi mais dada aos judeus segundo a carne do que a “bênção de Abraão” (ou seja, o
Espírito Santo — Gálatas 3:14) veio sobre eles.

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“Porque a promessa de que havia de ser herdeiro do mundo não foi feita pela lei a Abraão,
ou à sua posteridade, mas pela justiça da fé” (Romanos 4:13). Observe duas coisas: em
primeiro lugar, foi prometido que Abraão deveria ser não apenas “o herdeiro da Palestina”,
mas “do mundo”; e, em segundo lugar, esta promessa foi feita a Abraão e “a sua posteri-
dade”, cuja “posteridade” é definido em Romanos 4:12 como aqueles “que também andam
nas pisadas daquela fé”, que o “pai Abraão”, deles, teve. Em perfeita harmonia com isso o
nosso Senhor declarou: “Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão [possuirão,
terão domínio, fruirão] a terra” (Mateus 5:5). Se literalistas tem lançado uma tal sombra
sobre este verso que a ponto de alguns leitores terem dificuldade de entender, então
sugerimos que eles as considerem à luz de 1 Coríntios 3:21-23 e 1 João 5:4! Ao concluir
este importante capítulo nós sentimos que não podemos fazer melhor do que oferecer os
espirituais comentários de Calvino em Romanos 4:13, que são um contraste revigorante
em relação às carnalizações dos “dispensacionalistas”:

Visto que o assunto agora é a salvação eterna, o apóstolo parece ter guiado seus
leitores ao conceito de mundo um tanto inoportunamente. Por este termo, mundo,
porém, ele inclui geralmente a restauração que era esperada de Cristo. Enquanto que
a restauração da vida dos crentes era de fato o objetivo primordial, contudo era neces-
sário que o estado corrompido de todo o mundo fosse reparado. Em Hebreus 1:2, o
apóstolo chama Cristo de herdeiro de todas as bênçãos Divinas, visto que a adoção
que temos procurado por Sua graça nos restaurou a posse da herança da qual perde-
mos em Adão. Porém, visto que sob o tipo da terra de Canaã não só era a esperança
da vida celestial mostrada a Abraão, mas também a plena e perfeita bênção de Deus,
o apóstolo corretamente nos ensina que o domínio do mundo lhe fora prometido. Os
fiéis têm uma demonstração disso nesta vida, quando às vezes se encontram oprimi-
dos por necessidade e pobreza. Todavia, visto que, com a consciência tranquila, com-
partilham daquelas coisas criadas por Deus para seu uso, e desfrutam das bênçãos
terrenas oriundas do favor e beneplácito do Pai como penhores e prelibações da vida
eterna, sua pobreza não os impede de reconhecerem a terra, o mar e o céu como
sendo seus por direito.

Embora os ímpios abocanhem as riquezas do mundo, todavia não podem reivindicar


nada como sendo propriamente seu, senão que, ao contrário, arrebatam secretamen-
te o que possuem, porquanto o usurpam sob a maldição Divina. É um grande conforto
para os fiéis em sua pobreza saber que, embora vivam frugalmente, todavia não vivem
a esbulhar nada do que pertence a outrem, senão que recebem licitamente sua subsis-
tência das mãos de seu Pai celestial, até que se vejam em plena posse de sua heran-
ça, quando então todas as criaturas lhes servirão em sua glória. Tanto o céu como a
terra serão renovados para o cumprimento deste propósito, para que possam, em sua
própria medida, contribuir para tornar o reino de Deus muito mais glorioso.

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Contribuirá ao leitor reler o que está acima e meditar nisso como um útil desvelamento de
Romanos 4:13, com suas aplicações a nós.

VII
Nos últimos dois capítulos sobre este assunto mui interessante nós procuramos estabelecer
o fato básico de que as promessas de Deus a Abraão nunca foram feitas para seus descen-
dentes naturais, mas sim à sua descendência espiritual — ou seja, para aqueles que
possuem uma fé semelhante à dele. Por conseguinte, a posteridade descrente de Jacó foi
tanto excluída das bênçãos espirituais da aliança quanto foram os descendentes de Ismael
e Esaú. Em seguida, buscou-se mostrar, por um apelo à Romanos 4:13-16; Gálatas 3:16-
18, 29 e Hebreus 11:9-16 que todos os que pertencem a Cristo têm uma herança comum
com Abraão. No final do capítulo anterior nós nos esforçamos para eliminar a objeção de
que a herança prometida a Abraão era apenas uma herança terrena. Antes de prosseguir,
fazemos uma citação sugestiva a partir dos escritos de Robert Haldane:

A terra de Canaã era um tipo do país celestial. Ela era a herança dada pela promessa
feita a Abraão e sua posteridade: como seus descendentes segundo a carne
herdaram uma, assim, a sua descendência espiritual herdará a outra. Canaã era a
terra de descanso, após as fadigas e perigos da vida no deserto. Para torná-la uma
herança apropriada, e um emblema daquela herança que é imaculada, e na qual não
entrará de forma alguma qualquer coisa impura, nem o que pratica abominação, ela
foi eximida de habitantes ímpios. Assim como a introdução do povo de Israel naquela
terra não foi feita por seu próprio poder ou esforços (Josué 24:12; Salmos 44:4), mas
pela bondade imerecida e poder de Deus; deste modo os filhos de Deus não obtêm a
posse da herança celeste por seu próprio poder ou esforços, mas pela livre graça e
poder de Deus (Romanos 9:16). Como aqueles que não creram foram excluídos de
Canaã, assim todos os incrédulos serão excluídos do Céu. Como Moisés não poderia
conduzir o povo de Israel à Canaã, sendo esta honra reservada a Josué, assim, não
é pela Lei que o povo de Deus deve entrar no Céu, mas pelo Evangelho de Jesus
Cristo, o verdadeiro Josué. Nenhum outro país do mundo poderia ter sido selecio-
nado como um emblema mais apropriado do Céu, Canaã é chamada nas Escrituras
de “a terra aprazível”, “a glória de todas as terras”, “uma terra que mana leite e mel”.

A Palestina não era somente um tipo admirável e belo dos Céus, mas a promessa da Canaã
celestial foi concebida sob a promessa da Canaã terrestre. Os próprios patriarcas, assim o
entendiam, como é bastante evidente a partir de Hebreus 11: “Pela fé Abraão, sendo cha-
mado, obedeceu, indo para um lugar que havia de receber por herança; e saiu, sem saber

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para onde ia” (v. 8). Aquele lugar que posteriormente receberia por herança não poderia
ser a Canaã terrestre, pois somos claramente informados de que Deus “não lhe deu nela
herança, nem ainda o espaço de um pé” (Atos 7:5), e na ausência de qualquer declaração
bíblica para este efeito, pareceria mui incongruente supor que, depois de passar quatro mil
anos no Céu, o patriarca, depois da ressurreição, voltará a residir na Terra. Não, a sua
esperança relacionava-se à “pátria celestial” (Hebreus 11:14, 16); ainda assim, nenhuma
promessa sobre isso é encontrada em qualquer lugar do Antigo Testamento, a menos que
seja a real essência contida na promessa da Canaã terrestre. Que a nossa “esperança” é
a mesma que Abraão fica claro em Hebreus 6:17-19.

Além das duas grandes promessas que o nosso patriarca recebeu, que nele todas as
famílias da terra serão benditas e a herança será assegurada a eles — era uma ainda maior
e ainda mais abrangente segurança: “ser a ti por Deus, e à tua descendência depois de ti...
ser-lhes-ei o seu Deus” (Gênesis 17:7-8). Essa declaração Divina foi projetada para revelar
a relação infinitamente condescendente que o Senhor quis sustentar para com o Seu povo
crente, e incentivá-los e exercerem uma forte confiança nEle. Essa foi uma nova revelação
a Abraão da relação graciosa que Deus manteria com eles; pois tanto quanto a Escritura
registra, nenhuma palavra semelhante havia sido dada a qualquer dos santos que o prece-
deram. Aqui, então, ocorreu mais um e mais completo desdobramento das comunicações
Divinas sob o pacto de Abraão, um claro progresso sobre o que havia sido revelado
anteriormente.

Quando o Altíssimo promete ser o Deus de alguém, isso está efetivamente declarando que
Ele os conduz em seu favor e sob a Sua proteção; que Ele será a sua porção, e que não há
nada de bom — com relação ao seu bem-estar — que Ele retenha deles. Tudo o que há de
mau que precisa ser evitado, tudo o que há de bem real que pode ser adequadamente con-
ferido, está incluído nesta grande garantia. Nossas mentes finitas são incapazes de definir
a capacidade de Deus para abençoar, ou para compreender adequadamente tudo o que
tal declaração inclui. A sua aplicação não se limita apenas a esta vida, mas também aguar-
da com expectativa as eras sem fim da eternidade. O grande Jeová solenemente prometeu
guiar, guardar e glorificar Seu povo da aliança: “O meu Deus, segundo as suas riquezas,
suprirá todas as vossas necessidades em glória, por Cristo Jesus” (Filipenses 4:19).

Agora, cada uma das promessas feitas a Abraão recebe um duplo cumprimento: um na
“letra” e um no “espírito” ou, como preferimos designá-los, um carnal e um espiritual. “Serás
o pai de muitas nações... e reis sairão de ti” (Gênesis 17:4, 6). Além dos israelitas, Abraão
foi o pai dos ismaelitas e os vários filhos de Quetura (Gênesis 25:1-2). Mas estes nasceram
segundo a carne (Gálatas 4:23), e eram apenas uma figura da semente real, a espiritual.

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Isto é evidente a partir de: “Portanto, é pela fé, para que seja segundo a graça, a fim de que
a promessa seja firme a toda a posteridade, não somente à que é da lei, mas também à
que é da fé que teve Abraão, o qual é pai de todos nós, (Como está escrito: Por pai de
muitas nações te constituí) perante aquele no qual creu, a saber, Deus, o qual vivifica os
mortos, e chama as coisas que não são como se já fossem” (Romanos 4:16-17). Assim, no
maior e mais verdadeiro sentido, Abraão foi o pai dos crentes, quer judeus, quer gentios, e
deles somente. Em João 8:39 e 44, Cristo negou enfaticamente que Abraão era o pai dos
judeus incrédulos dos Seus dias.

“E estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua descendência depois de ti em suas


gerações, por aliança perpétua” (Gênesis 17:7). O bom cumprimento disso foi esboçado
quando Israel segundo a carne entrou em aliança com Jeová no Sinai, pelo que Ele Se
tornou formalmente o seu Deus e os reconheceu como Seu povo (Êxodo 19:5-6; Levítico
26:12, etc.). Mas o cumprimento real e final de Gênesis 17:7 está em conexão com o Israel
espiritual, os filhos de Abraão pela fé, e isto por meio de uma “melhor aliança”, pois, com a
verdadeira casa de Israel, Ele diz: “Porque esta é a aliança que depois daqueles dias farei
com a casa de Israel, diz o Senhor; porei as minhas leis no seu entendimento, e em seu
coração as escreverei; e eu lhes serei por Deus, e eles me serão por povo... Porque serei
misericordioso para com suas iniquidades, e de seus pecados e de suas prevaricações não
me lembrarei mais” (Hebreus 8:10-12).

“E te darei a ti e à tua descendência depois de ti, a terra de tuas peregrinações, toda a terra
de Canaã em perpétua possessão” (Gênesis 17:8). A conquista e ocupação de Israel da
Canaã terrena nos dias de Josué foi o cumprimento figurativo e inferior desta promessa.
Como já demonstramos, o seu cumprimento espiritual está na possessão da “pátria me-
lhor”, a qual os que são da fé de Abraão herdarão eternamente. Assim os próprios patriarcas
entenderam essa promessa, como é inequivocamente evidente a partir de Hebreus 11:9,
16; a fé deles foi mais especialmente dirigida à “pátria celestial”, da qual a terrena era
apenas um emblema.

A mesma verdade foi apresentada claramente no raciocínio de nosso Senhor com os


saduceus, que negavam tudo o que era espiritual. “E que os mortos hão de ressuscitar
também o mostrou Moisés junto da sarça, quando chama ao Senhor Deus de Abraão, e
Deus de Isaque, e Deus de Jacó” (Lucas 20:37). As promessas da aliança ensinavam aos
patriarcas que a sua ressurreição e glorificação eram necessárias para o cumprimento das
mesmas. Que a “Canaã” onde eles deveriam morar após a ressurreição seria não na terra,
mas no Céu, é igualmente claro a partir da parte anterior do mesmo discurso de Cristo: “Os
filhos deste mundo [a Canaã terrena de onde eram os saduceus] casam-se, e dão-se em
casamento; mas os que forem havidos por dignos de alcançar o mundo [a Canaã celestial]

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vindouro, e a ressurreição dentre os mortos, para prepará-los para isso] nem hão de casar,
nem ser dados em casamento; porque já não podem mais morrer; pois são iguais aos anjos,
e são filhos de Deus, sendo filhos da ressurreição” (vv. 34-36).

O apóstolo Paulo fez uma exposição sobre as promessas da aliança em perfeito acordo
com o que acabamos de considerar a partir dos lábios do Senhor Jesus. Em sua defesa
diante do rei Agripa, ele não hesitou em dizer, e isso na presença dos líderes judeus (Atos
25:7): “E agora pela esperança da promessa que por Deus foi feita a nossos pais estou aqui
e sou julgado. À qual as nossas doze tribos esperam chegar, servindo a Deus continua-
mente, noite e dia. Por esta esperança, ó rei Agripa, eu sou acusado pelos judeus” (Atos
26:6-7). E, qual era essa promessa? A sua fruição desimpedida e feliz da Palestina? Não,
de fato; mas: “Pois quê? julga-se coisa incrível entre vós que Deus ressuscite os mortos?”
(v. 8). Assim também, quando diante de Félix, ele declarou: “Mas confesso-te isto que, con-
forme aquele caminho que chamam seita, assim sirvo ao Deus de nossos pais, crendo tudo
quanto está escrito na lei e nos profetas. Tendo esperança em Deus, como estes mesmos
também esperam, de que há de haver ressurreição de mortos, assim dos justos como dos
injustos” (Atos 24:14-15).

Mas, onde está “escrita na lei” a promessa feita aos pais sobre a ressurreição dentre os
mortos? A resposta é: em parte alguma, a não ser nas promessas da aliança feitas a Abraão
e repetidas para Isaque e Jacó; nem está lá, exceto no sentido em que já foram explicados.
Deus ressuscitará dentre os mortos toda a descendência espiritual de Abraão, e lhes dará
“em perpétua possessão” aquela Canaã de acima, da qual a Canaã terrena era o indicado
emblema e sombra. James Haldane corretamente apontou que “um grande meio pelo qual
Satanás tem conseguido corromper o Evangelho, tem sido a mistura [podemos acrescentar
“a confusão”] do cumprimento literal e espiritual dessas promessas — confundindo, assim,
a Antiga e a Nova Aliança. Isto é visto nas tentativas de aplicar à ‘semente’ carnal dos cren-
tes (Cristãos) as promessas feitas à espiritual ‘descendência de Abraão’”.

Nós não nos esquecemos de que alguns de nossos leitores são susceptíveis a se oporem
fortemente ao que poderiam chamar este método “espiritualização” de interpretar as Escri-
turas. Mas permita que seja salientado que atribuir tanto um significado literal quanto um
espiritual às promessas da aliança não é uma teoria criada para servir a um propósito: isso
está de acordo com e demandado por todas as partes da dispensação do Antigo Testa-
mento, em que as coisas terrenas eram utilizadas como sombra das realidades celestes, ti-
pos que apontavam para antítipos. Tomemos, por exemplo, o templo: era “a casa de Deus”,
na letra, mas Cristo e a Sua igreja o são no espírito. Hoje chamarmos qualquer edifício
terreno de “casa de Deus” está tão abaixo do sentido que essa expressão carrega quando
é aplicada à Igreja de Cristo, quanto chamar a nação de Israel de o “povo de Deus” esteve
muito abaixo do significado deste termo quando aplicado ao Israel espiritual (Gálatas 6:16).

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Coisas são ditas sobre a casa de Deus, na letra, que são plenamente adequadas somente
ao espírito. Salomão declarou: “Certamente te edifiquei uma casa para morada, assento
para a tua eterna habitação” (1 Reis 8:13). Agora, a incongruência de supor que Aquele a
Quem “o céu dos céus não podem conter” deve habitar em qualquer habitação terrena e
material para sempre, como “casa para morada” somente é removida referindo-a ao espí-
rito. O corpo de Cristo (pessoal e místico) é o único “templo” (João 2:19, 21; Efésios 2:18-
22) sobre o qual isso é completamente verdade. Isso não está fora de argumentação, pois
Deus não “habita para sempre” no templo construído por Salomão, pois ele foi destruído há
milhares de anos; mas no Seu templo espiritual isso é cumprido em sua extensão máxima.
De acordo com o mesmo princípio as promessas da aliança devem ser interpretadas: as
coisas temporais prometidas nela são apenas as figuras daquelas “coisas melhores” que
Deus prometeu conceder aos filhos crentes de Abraão.

Revendo o fundamento agora coberto, ressaltemos que o primeiro grande objetivo da alian-
ça era dar a conhecer a raiz de onde viria o Messias. Em segundo lugar, esta aliança reve-
lou que o desígnio final de Deus era a difusão mundial dos benefícios anunciados. Antes
de Ninrode, toda a raça falava uma língua e tinha uma relacionava-se facilmente uns com
os outros. Mas na confusão das línguas, eles foram divididos e dispersos, e foram todos
igualmente rápidos em cair em um estado de confirmada deserção de Deus. Quando Abra-
ão foi chamado, e sua família escolhida como um povo a quem Deus comunicaria o conhe-
cimento de Sua vontade e chamaria (pela soberana graça) ao Seu serviço, seria natural
inferir que o restante das nações estava total e finalmente abandonado aos seus próprios
maus intentos, e que somente uma nação favorecida participaria dos triunfos do futuro
libertador. É instrutivo observar como esta conclusão lógica, porém errônea, foi antecipada
por Deus desde o princípio, e refutada pelos próprios termos do pacto que Ele fez com
Abraão.

O patriarca e seus descendentes foram, de fato, separados de todos os outros; privilégios


peculiares e bênçãos de mais alto valor foram conferido a eles; mas na própria concessão
deles, o Senhor deu uma intimação expressa de que esses privilégios eram limitados a eles
em confiança, e que a teocracia israelita era apenas um arranjo temporário, pois em Abraão
“todas as famílias da terra serão abençoadas”. Assim, o claro anúncio foi feito que viria o
temo em que o muro de separação seria desfeito e todas as restrições seriam removidas,
e as bênçãos de Abraão seriam estendidas a um círculo muito mais amplo. Os arranjos
exteriores do pacto eram simplesmente uma necessidade para um tempo, com o objetivo
de garantir resultados mais grandiosos e mais abrangentes. “E em tua descendência serão
benditas todas as nações da terra” (Gênesis 22:18) foi um anúncio definitivo do escopo
internacional da misericórdia Divina.

Assim, o pacto de Abraão, considerado como um todo, não apenas definiu a linhagem

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especial da qual o Messias deveria surgir, anunciou os arranjos necessários (temporais)
em preparação para a Sua vinda, e à medida que a Sua gloriosa obra estava destinada a
alcançar; todavia, colocando isso numa luz mais clara, a relação que (em consequência
disso) Deus condescendeu em sustentar o Seu povo redimido; e isso fornecia um indício e
tipificação notável da natureza das bênçãos que, em virtude dessa relação, Ele designou
conferir-lhes. Isso foi uma maravilhosa ampliação da revelação; era o Evangelho em figura,
e é assim considerado no Novo Testamento (João 8:56; Gálatas 3:8). O apóstolo Paulo
refere-se ao pacto de Abraão uma e outra vez como prenúncio e ilustração dos privilégios
concedidos aos Cristãos, e o princípio sobre o qual os privilégios são conferidos, a saber,
uma fé que é evidenciada pela obediência.

VIII
As grandes promessas do pacto de Abraão, apresentadas originalmente ao patriarca, estão
registradas em Gênesis 12:2-3, 7. A aliança em si foi solenemente ratificada pelo sacrifício,
tornando-a inviolável, em Gênesis 15:9-21. O selo e sinal da aliança, a circuncisão, é anun-
ciada a nós em Gênesis 17:9-14. A aliança foi confirmada por juramento Divino em Gênesis
22:15-18, o que proporcionou um fundamento de “firme consolação” (Hebreus 6:17-19).
Não havia dois pactos distintos e diversos feitos com Abraão (como os Batistas mais antigos
argumentaram), um tendo relação com as bênçãos espirituais e outro relativo aos benefí-
cios temporais. O pacto foi um, tendo um especial objeto espiritual, a que os arranjos tempo-
rais e privilégios inferiores fruídos pela nação de Israel foram estritamente subordinados, e
necessários somente como um meio de garantir os mais elevados resultados contem-
plados.

É verdade que o conteúdo do pacto era de um tipo misto, envolvendo tanto os descendentes
naturais e a semente espiritual de Abraão, suas promessas recebendo um cumprimento
menor e maior. Deveria haver um cumprimento temporário das promessas à sua descen-
dência natural aqui na terra, e deveria haver um cumprimento eterno delas para seus filhos
espirituais no Céu. A menos que essa dualidade do conteúdo do pacto seja constantemente
tido em mente, é impossível obter uma visão correta e clara delas. No entanto, é altamente
essencial distinguir claramente entre os dois, para que não caiamos no erro de outros, que
insistem que as bênçãos espirituais pertenciam não somente à semente natural de Abraão,
mas aos filhos dos Cristãos também. Bênçãos espirituais não podem ser comunicadas por
propagação carnal.

Nada poderia estabelecer mais claramente o que acaba de ser declarado do que: “...porque
nem todos os que são de Israel são israelitas; nem por serem descendência de Abraão são

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todos filhos; mas: Em Isaque será chamada a tua descendência. Isto é, não são os filhos
da carne que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa são contados como descen-
dência” (Romanos 9:6-8). Nem todos os descendentes de Abraão participaram das bênçãos
espirituais prometidas a ele, pois para alguns deles, Cristo disse: “morrereis em vossos
pecados” (João 8:24), o que foi prefigurado no fato de que Ismael e Esaú eram excluídos
mesmo dos privilégios temporais que gozaram os filhos de Isaque e de Jacó. Nem todos
os filhos de Cristãos fruem dos privilégios espirituais prometidos a Abraão, mas somente
aqueles que foram eternamente escolhidos para a salvação; e se eles o são não pode ser
conhecido até que creiam: “Sabei, pois, que os que são da fé, esses são filhos de Abraão”
(Gálatas 3:7).

Apontemos a seguir que o pacto de Abraão era estritamente peculiar a ele mesmo; pois
nem no Antigo nem no Novo Testamento é alguma vez dito que o pacto de Abraão foi feito
em nome de todos os crentes, ou que é dado a eles. A grande coisa que a aliança garantiu
a Abraão foi que ele teria uma descendência, e que Deus seria o Deus desta descendência;
mas os Cristãos não têm nenhuma garantia Divina de que Ele seja o Deus de sua descen-
dência, nem mesmo que eles terão quaisquer filhos em absoluto. Como uma questão de
fato, muitos deles não têm posteridade; e, portanto, eles não podem ter o pacto de Abraão.
O pacto de Abraão era tão peculiar a ele mesmo como o que Deus fez com Finéias: “E ele,
e a sua descendência depois dele, terá a aliança do sacerdócio perpétuo” (Números 25:13),
e como a pacto da realeza que Deus fez com Davi e sua descendência (2 Samuel 7:12-16).
Em cada caso, uma promessa Divina foi dada assegurando uma posteridade; e se nenhuns
filhos tivessem nascido daqueles homens, então, Deus teria quebrado o Seu pacto.

Olhe para as promessas originais feitas a Abraão: “E far-te-ei uma grande nação, e aben-
çoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção. E abençoarei os que te
abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as
famílias da terra” (Gênesis 12:2-3). Será que Deus prometeu a cada Cristão que Ele fará
dele uma “grande nação”? ou que Ele “engrandecerá o seu nome” — celebrado como o do
patriarca foi e é? ou que nele “todas as famílias da terra serão benditas”? Certamente, não
há espaço para discussão aqui, estas perguntas são obviamente respondidas. Nada pode-
ria ser mais extravagante e absurdo do que supor que todas as promessas como estas fo-
ram feitas para nós.

Se Deus cumpre o pacto com Abraão e a sua descendência a todo o crente e sua descen-
dência, então Ele faz isso de acordo com os termos do próprio pacto. Mas, se nos voltarmos
e examinarmos cuidadosamente o seu conteúdo, logo veremos que eles não seriam cum-
pridos no caso de todos os crentes, para além do próprio Abraão. Nesse pacto, Deus pro-
mete a Abraão que ele deve ser “pai de muitas nações”, que “reis sairão de ti”, que “te darei
a ti e à tua descendência depois de ti, a terra de tuas peregrinações, toda a terra de Canaã

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em perpétua possessão e ser-lhes-ei o seu Deus” (Gênesis 17:5-8). Mas os Cristãos não
são feitos os pais de muitas nações; reis não saem deles; nem os seus descendentes ocu-
pam a terra de Canaã, literal ou espiritualmente. Quantas vezes um crente piedoso clamou
juntamente com Davi: “Ainda que a minha casa não seja tal para com Deus, contudo estabe-
leceu comigo uma aliança eterna, que em tudo será bem ordenado e guardado, [pois toda
a minha salvação e todo o meu prazer está nele]” (2 Samuel 23:5).

O pacto não estabeleceu nenhuma relação espiritual entre Abraão e à sua descendência;
menos ainda ele estabelece uma relação espiritual entre todos os crentes e seus bebês.
Abraão não era o pai espiritual de sua própria descendência natural, pois qualidades espiri-
tuais não podem ser propagadas por geração carnal. Ele era o pai espiritual de Ismael? Ele
era o pai espiritual de Esaú? Não, de fato; em vez disso, Abraão foi “o pai de todos os que
creem” (Romanos 4:11). Tanto quanto seus descendentes naturais estavam em causa, a
Bíblia declara que Abraão era “pai da circuncisão, daqueles que não somente são da
circuncisão, mas que também andam nas pisadas daquela fé que teve nosso pai Abraão,
que tivera na incircuncisão” (Romanos 4:12). O que poderia ser mais claro? Guardemo-nos
de acrescentar à Palavra de Deus. Nenhuma teoria ou prática, não importa o quão vene-
rável seja ou quão amplamente difundida, é sustentável, se nenhuma clara Escritura possa
ser encontrada para justificá-la e estabelecê-la.

Uma pergunta pode ser feita: mas os Cristãos não estão sob o pacto de Abraão? Por toda
a ausência de qualquer palavra na Escritura afirmando que eles estão, nós respondemos:
Não. A bênção de Abraão, de fato, chegou aos “gentios por Jesus Cristo, e para que pela
fé nós recebamos a promessa do Espírito” (Gálatas 3:14), e qual é esta benção, o mesmo
verso nos diz, a saber: “para que pela fé nós recebamos a promessa do Espírito”. Essa
bênção não consiste na criação de relações espirituais entre os crentes e sua descendência
infantil, mas é para eles mesmos, em resposta ao exercício de sua fé. Gálatas 3:9 é ainda
mais evidente em definir-nos o que é a “bênção de Abraão” que há de vir sobre os gentios:
“De sorte que os que são da fé são benditos com o crente Abraão”, e, novamente: “Sabei,
pois, que os que são da fé são filhos de Abraão” (v. 7). Os únicos filhos espirituais de Abraão
são os que têm fé.

Devemos agora voltar-nos para e considerar o selo da aliança. “Disse mais Deus a Abraão:
Tu, porém, guardarás a minha aliança, tu, e a tua descendência depois de ti, nas suas gera-
ções. Esta é a minha aliança, que guardareis entre mim e vós, e a tua descendência depois
de ti: Que todo o homem entre vós será circuncidado. E circuncidareis a carne do vosso
prepúcio; e isto será por sinal da aliança entre mim e vós. O filho de oito dias, pois, será
circuncidado, todo o homem nas vossas gerações; o nascido na casa, e o comprado por
dinheiro a qualquer estrangeiro, que não for da tua descendência. Com efeito será circunci-

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dado o nascido em tua casa, e o comprado por teu dinheiro; e estará a minha aliança na
vossa carne por aliança perpétua. E o homem incircunciso, cuja carne do prepúcio não esti-
ver circuncidada, aquela alma será extirpada do seu povo; quebrou a minha aliança” (Gê-
nesis 17:9-14).

Na tentativa de determinar o significado da passagem acima, não podemos fazer melhor


do que lançar sobre ela a luz do Novo Testamento. Ali nos é dito: “E [Abraão] recebeu o
sinal da circuncisão, selo da justiça da fé quando estava na incircuncisão, para que fosse
pai de todos os que creem, estando eles também na incircuncisão; a fim de que também a
justiça lhes seja imputada” (Romanos 4:11). A primeira observação que queremos fazer
sobre este verso é que ele definitivamente estabelece a unidade da aliança Abraâmica, pois
em Romanos 4:3, o apóstolo havia citado Gênesis 15 — onde a palavra aliança ocorre pela
primeira vez em conexão com Abraão; e agora ele nos remete a Gênesis 17, sugerindo,
assim, que é uma e a mesma aliança em ambos os capítulos. A principal diferença entre
os dois capítulos é que um nos concede mais do lado Divino (ratificação da aliança), o outro
do lado humano (a guarda da aliança, ou a obediência à ordem Divina).

A próxima coisa que queremos observar é que a circuncisão era “um selo da justiça da fé
que ele tinha”. Mais uma vez gostaríamos de dizer: estejamos em guarda contra que seja
feita qualquer adição à Palavra de Deus, pois em nenhum lugar as Escrituras dizem que a
circuncisão era um selo para ninguém, senão para o próprio Abraão; e até mesmo no seu
caso, estava longe de comunicar qualquer bênção espiritual, ela simplesmente confirmou
o que já fora prometido a ele. Como um selo de Deus, a circuncisão era uma promessa ou
garantia Divina de que dele surgiria aquela descendência que traria bênção a todas as
nações, e isso nos mesmos termos em que se justifica a justiça se tornou a sua — pela fé.
A circuncisão não era um selo de sua fé, mas da justiça, que, no devido tempo, seria opera-
da pelo Messias e Mediador. A circuncisão não era um memorial de tudo o que já havia
sido realizado, mas um penhor daquilo que ainda era futuro — ou seja, daquela justiça justi-
ficadora que seria operada por Cristo.

Mas Deus não recomendou que todos os homens da casa de Abraão, e nas de seus des-
cendentes, também deveriam ser circuncidados? Ele o fez, e nesse próprio fato encontra-
mos a confirmação definitiva do que foi dito acima. O que a circuncisão selou para os em-
pregados e escravos de Abraão? Nada. A circuncisão não assinalou nem selou as bênçãos
do pacto de Abraão para os indivíduos a quem foi administrado por determinação Divina.
Ela não implica que os que foram circuncidados foram contados como os herdeiros das
promessas, sejam materiais ou espirituais. A circuncisão não foi aplicada para marcá-los
individualmente como herdeiros das promessas. Ela não implicou isso nem mesmo a
Isaque e Jacó, que são, por nome designados herdeiros de Abraão. Seu interesse nas pro-

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messas foi garantido a eles por Deus conceder-lhes expressamente a aliança, mas não foi
representado em sua circuncisão. A circuncisão não assinalou nem caracterizou, e não teve
uma aplicação pessoal a nenhum homem, senão ao próprio Abraão. Ela foi o sinal desta
aliança; e como um símbolo ou sinal, sem dúvida, aplicada a cada promessa da aliança,
mas não designou o indivíduo circuncidado como tendo uma participação pessoal em tais
promessas. A aliança prometeu uma numerosa descendência a Abraão; a circuncisão, co-
mo sinal daquela aliança, foi um sinal disso; mas não assinalou isso a qualquer outro. Qual-
quer outro indivíduo circuncidado, exceto Isaque e Jacó, a quem o pacto foi dado nominal-
mente, poderia não ter tido filhos.

A circuncisão não implicou a qualquer indivíduo que toda a porção da numerosa des-
cendência de Abraão devia descender dele. A aliança prometeu que todas as nações
seriam benditas em Abraão — que o Messias deveria ser seu descendente. Mas a
circuncisão não era nenhum sinal a qualquer outro que o Messias descenderia dele
— até mesmo para Isaque e Jacó, esta promessa foi peculiarmente dada, e não
implicou em sua circuncisão. De alguns da raça de Abraão, o Messias, de acordo com
o pacto, deveria descender, e a circuncisão foi um sinal disso: mas isso não foi
sinalizado pela circuncisão para qualquer um de toda a sua raça. Menos ainda a
circuncisão poderia “sinalizar” isso aos estrangeiros e escravos que não eram da
descendência de Abraão. Para os tais, até mesmo as promessas temporais não foram
‘sinalizadas’ ou seladas pela circuncisão. O pacto prometeu Canaã aos descendentes
de Abraão, mas a circuncisão não poderia ser nenhum sinal disso para os estrangeiros
e escravos que não fruíram de nenhuma herança nela (Alexander Carson, 1860).

Que a circuncisão não sela nada a ninguém, senão a próprio Abraão está estabelecido
além de sombra de dúvida pelo fato de que a circuncisão foi aplicada àqueles que não
tinham participação pessoal no pacto ao qual esta foi vinculada. Não somente a circuncisão
foi administrada por Abraão aos servos e aos escravos de sua casa, mas em Gênesis 17:23
lemos que ele circuncidou Ismael, que foi expressamente excluído daquela aliança! Não há
escape da força disso, e é impossível conciliá-lo com os pontos de vista tão amplamente
permeados sobre a aliança Abraâmica. Além disso, as pessoas não eram voluntariamente
submetidas à circuncisão, nem ela era praticada com referência à fé, ela era obrigatória, e
isto em todos os casos: “Com efeito será circuncidado o nascido em tua casa, e o comprado
por teu dinheiro” (Gênesis 17:13) — aqueles que se recusassem, seriam “extirpados do seu
povo” (v. 14). Quão diferente isso era do Batismo Cristão!

Pode ser questionado, se, então, a circuncisão não selou nada para aqueles que a recebe-
ram, exceto no caso único do próprio Abraão, então, por que Deus ordenou que ela deveria
ser administrada a todos os seus descendentes do sexo masculino? Em primeiro lugar,
porque essa era a marca que Ele escolheu para distinguir de todas as outras nações o povo

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de quem o Messias surgiria. Em segundo lugar, porque isso serviu como um lembrete
constante de que a partir da raiz de Abraão viria a Semente prometida — daí, logo depois
que Ele surgiu, a circuncisão foi abolida por Deus. Em terceiro lugar, por causa do que ela
tipicamente prenunciava. Ser nascido naturalmente da linhagem de Abraão dava direito à
circuncisão e à herança terrena, o que era uma figura do direito à herança celestial dos
nascidos do Espírito. Os servos e escravos na casa de Abraão “comprados com dinheiro”
lindamente esboçavam a verdade que aqueles que entram no reino de Cristo são “com-
prados” pelo Seu sangue.

É um erro supor que o Batismo veio no lugar da circuncisão. Como o que suplantou os
sacrifícios do Antigo Testamento foi o sacrifício único do Salvador, como o que substituiu o
sacerdócio de Arão foi o sumo sacerdócio de Cristo, deste modo, aquilo que sucedeu a
circuncisão é a circuncisão espiritual que os crentes têm em e por meio de Cristo: “No qual
também estais circuncidados com a circuncisão não feita por mão no despojo do corpo dos
pecados da carne, pela circuncisão de Cristo” (Colossenses 2:11) — quão simples! quão
satisfatório! “Sepultados com ele no batismo, nele também ressuscitastes” (v. 12) é acres-
centar ao que está escrito, é unicamente perverter a Escritura, dizer que estes dois versos
significam: “Sepultados com ele no batismo, fostes circuncidados”. Não, não; o verso 11
declara que a circuncisão Cristã é “não feita por mãos”, e o Batismo é administrado por
mãos! A circuncisão “não feita por mão no despojo [judicialmente, diante de Deus] do corpo
dos pecados da carne, pela circuncisão de Cristo” tomou o lugar da circuncisão feita por
mãos. A circuncisão de Cristo veio no lugar da circuncisão da lei. Nunca alguma vez no
Novo Testamento o Batismo é citado como o selo da Nova Aliança; antes, o Espírito Santo
é o selo: veja Efésios 1:13, 4:30.

Em resumo. O grande propósito do pacto de Deus com Abraão foi tornar conhecido que,
através dele viria Aquele que traria bênção para todas as famílias da terra. As promessas
feitas a ele deveriam receber um cumprimento menor e um mais elevado, como ele deveria
ter filhos naturais e espirituais — pois “reis sairão de ti” (Gênesis 17:6), compare com
Apocalipse 1:6; pois “a tua descendência possuirá a porta dos seus inimigos” (Gênesis
22:17), compare com Colossenses 2:15; Romanos 8:37 e 1 João 5:4. Abraão é chamado
de “pai”, não em um sentido federal, nem em um sentido espiritual, mas porque ele é o ca-
beça do clã da fé, o protótipo a que todos os crentes são conformados. Os Cristãos não es-
tão sob o pacto de Abraão, embora eles sejam “bem-aventurados com ele” por terem a sua
fé contada como justiça. Embora os crentes do Novo Testamento não estejam sob o pacto de
Abraão, eles são, por causa de sua união com Cristo, herdeiros da herança espiritual dele.

Resta-nos agora apontar em que o pacto Abraâmico esboçou a Aliança Eterna. Primeiro,
ele proclamou o alcance internacional da misericórdia Divina: alguns dentre todas as na-

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ções foram incluídos na eleição da graça. Em segundo lugar, ele deu a conhecer a raiz
ordenada a partir da qual o Messias e Mediador surgiria. Em terceiro lugar, ele anunciou
que a fé somente garantia um interesse em todo o bem que Deus havia prometido. Em
quarto lugar, Abraão ser o pai de todos os crentes prefigurou a verdade que Cristo é o pai
de Sua própria semente espiritual (Isaías 53:10-11). Em quinto lugar, o chamado de Abraão
por Deus para deixar seu país e tornar-se um peregrino em terra estranha, tipificou Cristo
deixando o Céu e tabernaculando-Se na terra. Sexto, como o “herdeiro do mundo” (Roma-
nos 4:13), Abraão prenunciou Cristo como “o herdeiro de todas as coisas” (Hebreus 1:2).
Em sétimo lugar, na promessa de Canaã à sua descendência, temos uma figura da herança
celestial que Cristo adquiriu para o Seu povo.

(Parece uma triste tragédia que o povo de Deus esteja tão dividido sobre o assunto do
Batismo. Embora tenhamos fortes convicções sobre o assunto, nós nos abstivemos de
pressioná-las — ou mesmo apresentá-las — neste estudo. Mas parecia impossível lidar
fielmente com o pacto de Abraão sem fazer uma sutil referência. Buscamos escrever tem-
peradamente no capítulo acima, evitando expressões duras e reflexões desnecessárias.
Confiamos que o leitor o receberá gentilmente no espírito em que está escrito).

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2 Coríntios 4
1
Por isso, tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos;
2
Antes, rejeitamos as coisas que por vergonha se ocultam, não andando com astúcia nem
falsificando a palavra de Deus; e assim nos recomendamos à consciência de todo o homem,
3
na presença de Deus, pela manifestação da verdade. Mas, se ainda o nosso evangelho está
4
encoberto, para os que se perdem está encoberto. Nos quais o deus deste século cegou os
entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória
5
de Cristo, que é a imagem de Deus. Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo
6
Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos por amor de Jesus. Porque Deus,
que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações,
7
para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo. Temos, porém,
este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós.
8
Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados.
9 10
Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos; Trazendo sempre
por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus
11
se manifeste também nos nossos corpos; E assim nós, que vivemos, estamos sempre
entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também na
12 13
nossa carne mortal. De maneira que em nós opera a morte, mas em vós a vida. E temos
portanto o mesmo espírito de fé, como está escrito: Cri, por isso falei; nós cremos também,
14
por isso também falamos. Sabendo que o que ressuscitou o Senhor Jesus nos ressuscitará
15
também por Jesus, e nos apresentará convosco. Porque tudo isto é por amor de vós, para
que a graça, multiplicada por meio de muitos, faça abundar a ação de graças para glória de
16
Deus. Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o
17
interior, contudo, se renova de dia em dia. Porque a nossa leve e momentânea tribulação
18
produz para nós um peso eterno de glória mui excelente; Não atentando nós nas coisas
que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se
não veem são eternas. Issuu.com/oEstandarteDeCristo

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