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Daniel Biagioni1
Resumo
Utilizando o esquema de classes sociais EGPS, buscou-se na mobilidade estrutural
(vista nas perspectivas de fluidez e impacto do aparecimento de novas oportunidades
de mobilidade) observar o impacto da industrialização brasileira na oferta de
oportunidades no mercado de trabalho por raça (branco, pardo e preto) entre
gerações. A hipótese de marginalidade estrutural por raça, que prevê forte
desvantagem dos negros em relação aos brancos no processo de mobilidade
estrutural, foi aceita.
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Mestre em sociologia pela Universidade Federal de Minas Gerais - Brasil (dbbiag@yahoo.com.br).
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MOBILIDADE ESTRUTURAL POR RAÇA NO BRASIL
1. Introdução
Este texto analisa brevemente o impacto da mobilidade estrutural segundo classes e
raça utilizando taxas relativas de oportunidade no mercado de trabalho no Brasil em
1996. O interesse específico está em quantificar os efeitos desta mobilidade para cada
raça. A hipótese defende que houve maior efeito da mobilidade estrutural para os
brancos, em seguida para os pardos e, em terceiro lugar, os pretos. Esta disposição
confirmaria da hipótese de marginalidade estrutural (Costa-Pinto, 1963) em
decorrência da modernização brasileira que agiu diferentemente nas oportunidades de
mobilidade estrutural por raça como um efeito da segregação ocupacional. O banco de
dados utilizado é a Pesquisa Nacional por amostragem Domiciliar (PNAD) do ano de
1996. A metodologia empregada foi o modelo log-linear SHD multiplicativo.
2. Teoria
Aqui é apresentada a revisão teoria que sustenta a nossa hipótese de trabalho.
Primeiramente fazemos revisão de como o desenvolvimento econômico impulsionou a
mobilidade estrutural no Brasil de 1950 a 1980. Depois relacionamos o forte impulso
dessa mobilidade com os motivos teóricos da diferença de oportunidade por raça.
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atores históricos que determinavam a suposta Revolução Burguesa e consolidavam a
relação de desenvolvimento e dependência capitalista. Tal Revolução, episódio
marcante de ascensão burguesa, teria o sentido de adaptar o aparelho de Estado
então obsoleto às necessidades de expansão burguesa. Ou seja, as elites burguesas
se propuseram a atuar como revolucionais ao nível das estruturas do poder político e
não somente na economia, já parcialmente dominada por estes. O propósito maior era
de realizar a internalização dos centros de decisão político e promover a nativização
dos circuitos dominantes. Dessa discussão Fernandes (1974) é o principal expoente.
Para o autor a revolução burguesa foi realizada dentro da ordem. Ou seja,
houve a preservação das estruturas econômicas e privilégio senhorial. O rompimento
do Brasil com o estatuto colonial por influência do liberalismo esteve calçado na
manutenção de poder político dessas elites (ou sociedade civil) na chamada
“burocracia dominadora”. Ela perpetuou formas de dominação nada compatíveis com
a onda liberal como à dominação patrimonial e a produção escravagista. Isto
demonstra o controle político que essas elites possuíam para manutenção das vias
econômicas. A ideologia revolucionária (“necessidade histórica”) continha práticas
conservadoras (“revolução encapuzada”). A ordem legal estabelecida e a constituição
da sociedade civil deram sentido à revolução na Independência.
A modernização econômica no Brasil se deu por meio da expansão interna do
capitalismo mercantil de produção visando o consumo interno (com o aumento do
número das cidades) e a exportação (pela produção estar liberta da estagnação
agrária que imprimiu dinamismo à produção nacional, motivo de inserção do Brasil no
sistema econômico mundial). Assim, o país foi modernizando suas estruturas
econômicas, mesmo que limitadamente e de forma heterogênea. O processo social de
expansão e universalização da ordem social competitiva é um exemplo dessa
modernização. Dentro deste bojo, dois “tipos humanos” foram centrais nas
transformações econômicas e fortalecimento do capitalismo mercantil. O primeiro foi o
fazendeiro de café que, sofrendo as pressões externas sobre os custos sociais da
produção escravista, passou a renunciar as formas estamentais de acumulação de
capital com a base material (trabalho escravo) e suporte social (dominação
patrimonialista). Esse ator social sacrifica os privilégios da ordem estamental para se
inserir por completo nos mecanismos econômicos de mercado competitivo. O segundo
é o imigrante familiarizado com as técnicas sociais de acumulação de capital de ordem
competitiva, como nas fazendas de plantio de café que utilizou a “racionalidade
adaptativa” para gerar sua própria riqueza.
Esses dois agentes sociais, imbuídos de prática econômica liberal,
configuraram ao capitalismo mercantil brasileiro uma formalização ao avesso do
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liberalismo conservador assim proposto no primeiro momento. As amarras
conservadoras perderam muito com o passar do tempo e o liberalismo político,
econômico e social encontrou uma brecha pela qual pode encontrar terreno fértil. No
entanto, isso não quer dizer que a elite conservadora não soube se adaptar as
inovações sociais trazidas com o liberalismo. O coronelismo é um exemplo de
adaptação deste modelo de política local (Leal, 1976). As práticas conservadoras da
ordem legal se mantiveram como os velhos hábitos que perduram.
Fernandes coloca que as práticas de conservação política e econômica nas
mãos das elites para manter a posição social geraram um regime de classes de
crescentes desigualdades como resultado desta manutenção. Costa-Ribeiro (2002:
20) fez referência a Fernandes (1968: 69), segundo Sociedade de classes e
Subdesenvolvimento na seguinte passagem: “O regime de classes vincula-se,
portanto, a um aumento crescente das desigualdades econômicas, sociais e políticas,
preservando distâncias e barreiras sociais antigas, nas relações entre estratos sociais
diferentes, ou engendrando continuamente novas.” A forma como a elite brasileira teve
de assegurar para si o poder político e econômico foi por meio das constantes
criações de barreiras institucionais de acesso à mobilidade ascendente.
Se pensarmos o grande volume de mobilidade estrutural (ascensão social
promovida pelo surgimento de novas vagas no mercado de trabalho), o conceito de
“modernização conservadora” se encaixa aos fenômenos (transformações)
ocasionados pelo processo de industrialização brasileiro. Segundo Domingues (2002:
460), modernização conservadora é a “recusa a mudanças fundamentais na
propriedade da terra. Os grandes proprietários manteriam, destarte, controle também
sobre a força de trabalho rural, e não seria capaz, portanto, de se libertar de relações
de subordinação pessoal e de extração do ‘excedente’ econômico por meios mais
diretos.” O conceito trás a idéia da subordinação do trabalhador mantida com o esforço
da manutenção da antiga ordem rural onde a predominância desse tipo de poder
político era majoritária.
A progressiva passagem do sistema político brasileiro para uma sociedade
mais aberta democraticamente pôde ser vista pelas tentativas de quebra das amarras
que as elites, não apenas rurais, mantiveram sobre o sistema político para a
manutenção do controle econômico. O sindicalismo brasileiro é um exemplo clássico
da dificuldade de obtenção de direitos aos trabalhadores (Vianna, 1978), assim como
a “cidadania regulada”, política adotada pelo Estado pós-30 que privilegiava um
conjunto de ocupações protegidas por lei. Como Santos (1998: 105) coloca: “os
direitos dos cidadãos são decorrentes dos direitos das profissões.” O sistema de
cidadania regulada gerava um sistema de estratificação da cidadania. As classes
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rurais, inseridas neste contexto institucional, estava ainda mais limitada ao acesso às
classes urbanas, ficava ainda mais restrita à possibilidade de ascensão social e,
consequentemente, acesso a melhores condições de vida. Já as ocupações não tidas
como elite (manuais, por exemplo) estavam limitadas em seus direitos como cidadãos,
sejam os benefícios da cidadania regulada dirigida à um nicho específico de
profissionais de alto nível técnico.
Oliveira (2003: 128-9) afirma que o desenvolvimento industrial veio como apoio
financeiro indispensável da produção agrícola. A necessidade de manter o prestígio da
antiga ordem se torna evidente e necessária neste contexto de proteção à ordem
institucional vigente. O processo de industrialização se alimentava do atraso da
economia de subsistência por financiar a agricultura moderna e a industrialização. As
culturas de subsistência baixavam os custos de reprodução da força de trabalho nas
cidades e facilitava a acumulação de capital industrial, facilitando consideravelmente o
desenvolvimento das cidades e suas regiões. A modernização tinha como base o
atraso rural. A estrutura social estava configurada para esta organização social. A raça
foi fator importante na explicação da composição ocupacional deste período. Ser
negro, deste ponto de vista, estava para o trabalho tradicional, assim como ser branco
estava para o trabalho moderno. A discriminação ocupacional por raça tinha as suas
bases na produção agrícola e no desenvolvimento seletivo, aqui como o processo de
modernização. A raça, portanto, é um fator importante para desvendarmos a dinâmica
da estratificação social no Brasil via mobilidade estrutural.
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declínio e o novo, emergente e moderno, em expansão. A essa situação é que
propusemos chamar de “marginalidade estrutural”, que basicamente resulta do fato de
as diferentes partes da sociedade tradicional não se transformam no mesmo ritmo,
desde que cada uma delas oferece diferentes graus de resistência à própria mudança.
Dessa diferença de ritmos com que resulta este característico básico das sociedades
em transição: a sua estrutura social é marginal, no sentido de que nela coexistem dois
padrões, ou estilos, de organização social, o arcaico ou tradicional, que embora
remanescente já não é mais suficiente forte para dominar, e o novo, o emergente, que
embora já presente, ainda não ganhou força bastante para predominar. (Costa-Pinto,
1963: 293, citado por Liedke Filho, 1999: 96).
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organização social e seu funcionamento (estratificação), as características individuais
são reais impedidores de acesso a melhores posições ocupacionais, como vemos nas
desvantagens por raça. Esta sim fóssil do passado escravagista ainda presente no
imaginário coletivo brasileiro que opera na especificidade dos indivíduos (Florestan,
1964). O sistema de classes possui a sua própria fluidez social, assim como as
características individuais ligadas à raça possuem as suas, peculiares a todas as
outras por se tratar de um mecanismo de herança da ordem estamental escravagista.
Dado as características de hábitos estamentais ainda vigentes, haveria uma
barreira que opera em várias dimensões sociais que impede a passagem dos negros
de ascender às posições de classes superiores a sua atual, principalmente na
mobilidade estrutural. O negro estaria ligado culturalmente (visão da demanda de força
de trabalho como em Bowles e Gintis (2000) ou Bourdieu (2002)) às ocupações rurais
e manuais, que implicaria num menor prestígio social e condição de vida. Este
mecanismo de sociedade rural e arcaica perduraria mesmo após o Brasil se tornar
uma nação majoritariamente urbana e industrial. O desenvolvimento industrial tardio e
rápido foi mais um fator que contribuiu para diferenciar o impacto da mobilidade
estrutural e consolidar diferenças por raça nos padrões nada igualitários de agregados
de oportunidade no mercado de trabalho herdados dos hábitos legais do passado.
Assim, a passagem dos “dois Brasis” (Lambert, 1959) seria fortemente
marcada pela desigualdade racial, suplantando a noção de setores (ocupação rural/
urbano; ocupação manual/ não manual), com e sem a capacidade de
desenvolvimento. E a desigualdade racial se mantém forte ainda hoje seja pela
discriminação persistente e pelas desvantagens acumuladas (Schwartzman, 2001).
Sustentado em nossa breve revisão teórica apresentamos a hipótese deste
trabalho: a mobilidade estrutural observada neste contexto de desenvolvimento
econômico contribuiu para ascender a classes dos brancos mais que os pardos, e
estes, mais do que os pretos. Isto é, devido ao “ciclo acumulativo de desvantagens”
(Hasenbalg e Valle Silva, 1992) os negros possuem ponto de partida desvantajoso
para competir no mercado de trabalho pelos melhores postos, sem mencionar mais
detidamente nos impedimentos devido à discriminação pura (Valle Silva, 1981).
Acreditamos, portanto, que a mobilidade estrutural aqui analisada apresentará
resultados desvantajosos mais para pretos que para os pardos. Sendo a gradação
fenotípica um componente determinante da discriminação racial (Telles, 2003), os
pardos apresentarão maiores chances de ascender de classe que os pretos.
3. Metodologia
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Aqui é apresentada a metodologia de construção do esquema de classes EGPS
utilizada nesse estudo. Nos segundo momento é apresentada rapidamente a técnica
estatística empregada para análise da mobilidade estrutural (modelo log-linear SHD).
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A correlação entre os dois métodos é de 0,95.
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Ver disposição das classes no quadro 1 (em Anexo).
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proprietários é um indicador de mais estabilidade no mercado de trabalho (Graziano,
1982). Assim, possivelmente os pequenos proprietários rurais sem empregados
apresentaram mais migração rural–urbano por estarem mais vulneráveis à mobilidade
estrutural que os pequenos proprietários com empregados. Os pequenos empregados
(urbano) sem empregados também estariam em posição mais vulnerável às
oscilações da economia e do mercado de trabalho em relação aos pequenos
empregadores com empregados (Neves, 1997).
Os técnicos e supervisores do trabalho manual [V] é uma classe composta por
ocupações que estão acima das ocupações manuais. Os técnicos e supervisores do
trabalho manual garantem o cumprimento das tarefas desempenhadas pelos
trabalhadores manuais. Já os trabalhadores manuais estão divididos entre os
trabalhadores qualificados e os trabalhadores não-qualificados. Os trabalhadores
qualificados são compostos por trabalhadores da indústria moderna [VIa], indústria
tradicional [VIb] e de serviços [VIc]. Essas ocupações exigem qualificação técnica e
são melhores remuneradas que as ocupações não-qualificadas. A divisão entre
indústria moderna e tradicional é uma adaptação desse esquema de classes para a
complexidade da indústria nacional. Esta divisão já estava prevista na escala de Valle
Silva e também foi considerada por Figueiredo Santos (2002).
Entre os trabalhadores manuais não-qualificados há a divisão entre rural e
urbano. Os trabalhadores urbanos estão divididos em trabalhadores não-qualificados
da indústria [VIIa1], serviços [VIIa2], serviço doméstico [VIIa3] e ambulantes [VIIa4].
Essas divisões buscam atender a complexidade do mercado de trabalho,
especialmente no Brasil onde essas ocupações são via para a entrada dos indivíduos
de origem rural, com baixa qualificação e baixas condições de vida. Na área rural
estão os trabalhadores manuais [VIIb]. Está é a posição mais baixa no esquema de
classes proposto. Ela reúne todas as dificuldades possíveis para a mobilidade
ascendente por se tratar de estar na área rural e não ser empregador, mas sim
trabalhador, manual e não-qualificado.
A hierarquia de classes é imprescindível no estudo da mobilidade social por
organizar verticalmente as classes segundo a quantidade de poder neles encontradas,
uma em relação às outras, e as dificuldades objetivas de melhora das condições de
vida (Hout, 1983). A ordem das classes foi obtida mediante a distribuição padronizada
da média entre renda e educação, além da homogeneização entre classes rurais,
manual urbano e não-manual urbano. Quanto maior a distribuição entre as variáveis,
maior a seu nível na hierarquia, com é possível observar no gráfico 1 (em Anexo)
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As taxas relativas de mobilidade são calculadas mediante chances relativas de
mobilidade social visando observar a fluidez da estrutura de classes, comparando as
chances de movimentação entre as classes e uma em relação à outra e entre
gerações. O grau de fluidez social da estrutura de classes e a mobilidade estrutural
são analisados a partir das taxas relativas de mobilidade social que são razões de
chances obtidas através de modelos log-lineares e regressões logísticas que
descrevem o grau de associação estatística entre classes de origem e de destino.
Vejamos pontualmente os modelos que seguem a nossa análise.
Para a análise relativa da mobilidade se utiliza o modelo de mobilidade perfeita
(que pressupõe associação zero entre origem e destino) como referência de ajuste
aos demais modelos empregados em análise, pois não se encontra sociedade
perfeitamente igualitária. O modelo log-linear aditivo segue genericamente a seguinte
expressão, onde R representa a linha, C representa a coluna e Fij representa a
freqüência observada de i em linha e j em coluna. F é a freqüência esperada da célula
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Em que Fij é a freqüência esperada na célula (i, j), i é a classe de origem e j é
classe de destino O termo j é o parâmetro marginal assimétrico, representando a
termo ijOD. Ou seja, se o modelo melhor se ajustar aos dados indicará que há
associação entre origem e destino e esta associação não se altera por raça. O modelo
pode ser expresso da seguinte forma aditiva:
log Fijk = + iO + jD + kR + ikOR + jkDR + ijOD
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4. Análise da Mobilidade Estrutural
No quadro abaixo estão os ajustes dos modelos testados para mobilidade estrutural
para três raças para o Brasil segundo a metodologia proposta por Sobel, Hout e
Duncan, (1985). O modelo 1 trás a mobilidade perfeita. Este modelo é uma referência
de ajuste para os demais por se tratar da situação hipotética de não associação entre
origem e destino. Vemos que o ajuste BIC é elevado em relação aos outros dois
modelos. Os ajustes dos modelos se fazem pelo critério BIC segundo a teoria
Bayesiana (Raftery, 1986). Este critério é importante, pois ele pondera o número de
caso da amostra pelos graus de liberdade em busca do modelo mais parcimonioso.
Quanto menor o valor do teste, melhor o modelo se ajusta aos dados, validando as
suas informações perante os outros modelos testados.
Em seguida temos dois outros modelos. O Modelo de Associação Homogêneo
e o Modelo Log-multiplicativo. O primeiro indica que existe associação entre origem e
destino e que está associação não se altera por raça. O segundo modelo indica a
associação entre origem e destino em função da raça, discriminando a força de
associação por raça. Segundo o critério BIC temos o modelo log-multiplicativo o mais
bem ajustado aos dados (BIC = -7354,2). Isto indica que há diferença na mobilidade
estrutural por raça e que ela interfere na associação entre origem e destino. Esta
primeira informação já os leva a crer na aceitação da hipótese que aponta a diferença
de mobilidade estrutural por raça (brancos, pardos e pretos) no Brasil. Seguimos com
os outros resultados decorrentes do ajuste do modelo.
Quadro 2
Ajustes dos modelos para mobilidade estrutural (matriz quadrada de 19 classes) para
três raças. 1996. Brasil
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entre origem e destino foi controlada pela força da diagonal principal (modelo de
quase-simetria).
Segundo os demais parâmetros, a força de associação entre origem e destino
é diferente por raça. Os brancos apresentaram associação de 10% acima dos pardos
e 7% acima dos pretos. Os pretos apresentaram associação 3% acima dos pardos. A
associação entre origem e destino está mais relacionada aos brancos, depois os
pretos e, em último, os pardos. Ou seja, a origem social pesa menos para os pardos
em relação às demais raças na definição do destino social. O efeito mais elevado da
origem social foi para os brancos. O parâmetro da força de associação apresenta os
seguintes valores: 0,61 para os brancos, 0,55 para os pardos e 0,58 para os pretos.
O efeito da mobilidade estrutural (índice global de mobilidade estrutural), por
outro lado, apresentou valor intermediário para os pardos. Os brancos apresentaram
mobilidade estrutural 18% acima dos pardos e 22% acima dos pretos. Os pardos
apresentaram mobilidade estrutural 4% acima dos pretos. Ou seja, os brancos, além
de apresentaram maior associação entre origem e destino, também apresentaram
maior efeito da mobilidade estrutural. Os pardos apresentaram maior efeito da
mobilidade estrutural que os pretos. A associação entre origem e destino nestas duas
raças não é necessariamente positivo para o processo de mobilidade, pois os pretos,
segundo a literatura (Pastore e Valle Silva, 2000, cap. V; Biagioni, 2006), estão
concentrados nas classes base da estrutura social. Os pardos também, mas a
associação entre origem e destino é mais faca em relação aos pretos. Portanto, os
pardos, em relação aos pretos, aproveitaram duplamente do processo de mobilidade
estrutural com menor associação entre origem e destino e maior impacto da
mobilidade estrutural.
A hipótese deste trabalho foi confirmada. Houve desvantagem na mobilidade
estrutural experimentada pelos negros (pardos e pretos) em relação aos brancos
ocasionada pela modernização. A raça parda apresentou comportamento intermediário
aos extremos branco e preto, respectivamente superior e inferior na oportunidade de
mobilidade social.
Como sabemos que essa associação entre origem e destino é forte e distinta
por raça, faz-se importante apresentar o grau de subestimação da mobilidade
estrutural utilizando a metodologia de cálculo de multiplicadores estruturais
enviesados para os modelos de quase-simetria, uma correção que incorpora a
associação entre origem e destino e pode ser apresentada em gráfico (Hout, 1989;
Costa-Ribeiro, prelo). Quando o parâmetro ln(αj) é maior que zero indica que a
mobilidade estrutural expandiu a classe. Quando é menor que zero indica redução da
classe. A relação entre os valores positivos e negativos é igual à zero (Sobel, 1983).
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No gráfico 2 (em Anexo) temos as medidas enviesadas dos multiplicadores estruturais
para cada classe e raça.
A mobilidade estrutural segundo parâmetros enviesados favoreceu o aumento
das classes das classes não-manuais e manuais em detrimento da redução das
classes rurais. As exceções, que não alteram o cenário de modernização da estrutura
de classes, foram: (ai) no setor não-manual, os pequenos proprietários empregadores
[IVa] apresentaram parâmetro negativo para os pardos; (aii) a classe de técnicos e
supervisores do trabalho manual [V] também apresentou parâmetro negativo para
pardos e pretos; (aiii) a classe de pequenos proprietários sem empregados [IVb] para
brancos e pardos; (bi) no setor manual houve parâmetro negativo nas classes de
trabalhadores manuais qualificados, serviços [VIc] para todas as raças; (bii) assim
como para todas as raças na classe de trabalhadores manuais qualificados da
indústria tradicional [VIb]; (ci) no setor rural todas as classes tiveram efeito negativo da
mobilidade estrutural. Estes dados gerais nos mostram que a industrialização e a
urbanização modernizaram a estrutura social brasileira com redução das classes
tradicionais (base da estrutura social) e aumento das classes identificadas com a
economia moderna (topo da estrutura).
Segundo a tabela 1 (em Anexo), a redução das classes rurais foi forte para
todas as raças, próximo a 3,5. No entanto, esta distribuição modernizadora da
estrutura de classes não foi semelhante entre as raças. O resultado que mais chama
atenção é a quase total força da mobilidade estrutural negativa das classes rurais dos
pretos em direção as classes não-manuais (99,4%). Força está mais elevada que
observada nas demais raças (3,39 para os pretos, 2,23 para os pardos e 2,85 para os
brancos). As classes manuais pouco se beneficiaram da mobilidade estrutural para
esta raça. Os pardos apresentaram distribuição da força da mobilidade estrutural mais
homogênea em relação às demais raças. Da redução das classes rurais (a mais forte,
3,52), 63,4% foi para a expansão das classes não-manuais e 36,6% para as classes
manuais. Quanto aos brancos, a redução rural da mobilidade estrutural favoreceu a
expansão não-manual em 81,9% a manual em 18,1%.
Com o cálculo de multiplicadores estruturais enviesados nos foi possível
observar os efeitos da mobilidade estrutural em relação à associação entre origem e
destino. Foi-nos possível observar que houve grande redução do setor rural para o
urbano e que esta passagem se apresentou para todas as raças. Para os pretos a
mobilidade estrutural teve efeito concentrado apenas nos extremos da estrutura social,
pois os valores dos multiplicadores estruturais estiveram concentrados nas classes
não manuais de rotina (não-manual rotina, nível alto de supervisão [IIIa2] e não-
manual rotina, nível baixo de serviços [IIIb2]). Para os pardos, assim como para os
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brancos, o efeito da redução do setor rural teve impacto majoritário no setor não-
manual e, em menor quantidade, no setor manual.
5. Conclusão
Este artigo analisou a mobilidade estrutural por raça por meio do modelo de
mobilidade estrutural de Sobel, Hout e Duncan (1985). O resultado proeminente foi a
confirmação da hipótese de que os brancos se favoreceram mais com a mobilidade
estrutural, em seguida os pardos e, por fim, os pretos. O método de Hout (1989) para
multiplicadores estruturais enviesados permitiu corrigir a visão da distribuição dos
efeitos da mobilidade estrutural. Vimos que pretos tiveram maior alcance nas classes
não-manuais de rotina dada a força da mobilidade estrutural, os brancos e pardos
também estiveram concentrados nas classes não-manuais, mas também estiveram
distribuídos ao longo da estrutura social.
A mobilidade estrutural analisada aqui apresenta apenas um período (ano de
1996) entre duas gerações. Sabe-se que a mobilidade estrutural perdeu força na
década de 80 e nos anos 90 este declínio se acentuou. Por outro lado, a fluidez social
brasileira, também analisada por meio do esquema de classes EGPS, mostra-se em
elevação ao longo das décadas de 70, 80 e 90. Isto nos dá um cenário de menor
mobilidade ascendente, menos mobilidade estrutural e mais fluidez social (Costa-
Ribeiro, prelo). Certamente, esse padrão de mobilidade, tendo em vista as
distribuições da estrutura social por raça, são mais favoráveis para os brancos que,
além de possuírem origem social concentrada nas classes do topo da estrutura,
também se beneficiam da herança (fluidez social mais acentuada) e da mobilidade
social que impulsionou estes para as classes que apresentam melhores condições de
vida. Nesta relação de fluidez social e mobilidade estrutural, os pardos estão como
categoria intermediária entre brancos e pretos. Estes, por sua vez, possuem elevada
associação entre origem e destino, estando eles concentrados na base da estrutura
social e que também foram os que menos se beneficiaram com a mobilidade estrutural
(índice global de mobilidade estrutural). Em outras palavras, a modernização brasileira
aumentou a desigualdade racial por classes no Brasil. Os pretos são os menos
beneficiados pelo processo de expansão industrial e migração rural/ urbana (quadro 2
em Anexo). Em seguida os pardos e, por fim, os brancos.
A estrutura de classes organizadas pelas condições de vida apresenta
distribuição de origem do topo para os brancos, nas classes intermediárias para os
pardos e na base para os pretos. Os indicadores de mobilidade estrutural e de fluidez
social confirmam a manutenção desta distribuição de classes de destino por raça em
1996. Seguindo a tendência dos números alcançados, a desigualdade de agregados
de oportunidade se acirrará com o passar do tempo.
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6. Bibliografia
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Rio de Janeiro. Rio Fundo.
16
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In: MAIO, M. e Bôas, G. (org.) Ideais de modernidade e sociologia no Brasil. Porto Alegre.
Editiora UFRGS.
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Occupational Mobility: A Conceptual Mismatch” American Sociological Review, 48: 721-27.
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ANEXO
Quadro 1
Esquema de classes original e hierarquizada segundo renda e educação padronizada
Gráfico 1
Classes em ordem hierárquica pela distribuição padronizada de renda e escolaridade
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Gráfico 2
Multiplicadores Estruturais Enviesados em forma Logarítmica estimados pelo Modelo
Log-multiplicativo de Quase-simetria segundo setores. 1996. Brasil
Tabela 1
Multiplicadores Estruturais Enviesados por raça e setor. 1996. Brasil
Quadro 2
Efeitos da mobilidade estrutural segundo raça
Raças Fluidez social Mobilidade estrutural líquida
brancos/ pardos e pretos + +
pardos/ pretos - +
pretos/ pardos + -
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