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Os feminismos através da história1

Ana de Miguel

Pode se afirmar, em vários sentidos, que o feminismo sempre existiu. No sentido mais amplo do termo,
o feminismo existiu sempre que as mulheres, individual ou coletivamente, se queixaram de seu injusto
e amargo destino sob a dominação do patriarcado, reivindicaram uma situação diferente e uma vida
melhor. Sem dúvida, neste livro abordaremos o feminismo de uma forma mais específica: trataremos
dos distintos momentos históricos em que as mulheres conseguiram articular, tanto na teoria como na
prática, um conjunto coerente de reivindicações e se organizaram para consegui-las (1).
Neste percurso histórico pela história do movimento feminista, dividiremos a exposição em três
grandes blocos: o feminismo premodernoo, em que ocorrem as primeiras manifestações das
"polêmicas feministas"; o feminismo moderno, que se inicia com a obra de Poulain de la Barre e os
movimentos de mulheres e feministas da Revolução Francesa, para ressurgir com força nos grandes
movimentos sociais do século XIX, e, por último, o feminismo contemporâneo, em que se analisa o
neofeminismo dos anos sessenta-setenta e as últimas tendências.

1. Feminismo premoderno
O processo de recuperação histórica da memória feminista apenas começou. A cada dia que passa, os
estudos acrescentam novos nomes à genealogia2 do feminismo e aparecem novos dados em torno da
longa luta por igualdade sexual. Em geral, pode se afirmar que tem sido nos períodos de ilustração3 e
nos momentos de transição para formas sociais mais justas e libertadoras que tem surgido com mais
força a polêmica feminista.
É possível rastrear sinais desta polêmica já nos princípios de nosso passado clássico. A ilustração
sofística produziu o pensamento da igualdade entre os sexos, ainda que, como sinaliza Varcárcel,
tenha sobrevivido muito a reação patriarcal que gerou: "Las chanzas bifrontes de Aristófanes, a política
de Aristóteles, a recolhida de Patão" (2). Com tão ilustres precedentes, a história ocidental foi tecendo
minuciosamente – através da religião, da lei e da ciência – o discurso e a prática que afirmava a
inferioridade da mulher em relação ao homem. Discurso que parecia dividir a espécie humana em
duas: dois corpos, duas razões, duas morais, duas leis.
O Renascimento trouxe consigo um novo paradigma humano, o da autonomia, mas que não se
estendeu às mulheres. A ocultação do humano nos homens permite a aparência de universalidade do
"ideal de homem renascentista". Sem dúvida, o culto renascentista à graça, à beleza, à genialidade e à
inteligência teve alguma conseqüência para as mulheres (3). A importância da educação gerou
numerosos tratados pedagógicos e abriu um debate sobre a natureza e deveres dos sexos.
Um importante precedente e um marco na polêmica feminista havia sido a obra de Christine de Pisan,
“A cidade das damas” (1405). Pisan ataca o discurso da inferioridade das mulheres e oferece uma
alternativa à sua situação. No entanto, como acertadamente indica Alicia H. Puleo, não se deve
confundir estas obras reivindicativas com um gênero apologético também cultivado no Renascimento e
destinado a agradar às damas mecenas. Este gênero utiliza um discurso de excelência em que elogia
a superioridade das mulheres – "o vício é masculino, a virtude é feminina" – e confecciona catálogos
de mulheres excepcionais. É assim, por exemplo, o tratado que Agripa de Nettesheim dedica à regente
dos Países Baixos em 1510, “De nobilitate et praecellentia foeminei sexus” (4). A pesar das diferenças
entre os tratados, teve-se que esperar o século XVII para a formulação da [proposta de] igualdade.
A cultura e a educação eram então um bem demasiado escasso e, logicamente, foram de outra
natureza as ações que envolveram um maior número de mulheres e provocaram maior repressão: a
relação das mulheres com numerosas heresias como as milenaristas. Guillermine de Bohemia, ao final
do século XIII, afirmava que a redenção de Cristo não havia alcançado a mulher e que Eva ainda não
havia sido salva. Criou uma igreja de mulheres da qual participavam tanto mulheres do povo como
burguesas e aristocráticas. A seita foi denunciada pela inquisição no começo do século XIV.

1
Este artigo foi retirado de: “10 palabras chaves de feminismo”, Célia Amoros (copiladora). http://www.nodo50.org/mulheresred.
Traduzido livremente por Beth Ferreira para fins didáticos, em formação do Fórum Cearense de Mulheres, 2005.
2
[Estudo da origem e formação].
3
Referente a conhecimento, sabedoria e está referido ao Iluminismo (nota da tradutora).
1
Ainda que as posições das doutrinas heréticas sobre a natureza e posição da mulher fossem muito
confusas, elas lhes conferiam uma dignidade e um escape emocional e intelectual que dificilmente
podiam despontar em outro espaço público (5). O movimento de renovação religiosa que foi a Reforma
protestante significava a possibilidade de uma mudança no estado da polêmica. Ao afirmar a primazia
da consciência-indivíduo e o sacerdócio universal de todos os verdadeiros crentes frente à relação
hierárquica com Deus, a Reforma abria de par em par as portas à interrogação feminina: por que não
nós? Paradoxalmente o protestantismo acabou reforçando a autoridade patriarcal, já que necessitava
de um subistituto para a debilitada autoridade do sacerdote e do rei. Por mais que a Reforma
supusesse uma maior dignificação do papel da mulher-esposa-companheira, o pai se convertia no
novo e inapelável intérprete das Escrituras, deus-rei do lar.
Sem dúvida, e como já acontecera com as heresias medievais e renascentistas, a própria lógica desta
tese levou à formação de grupos mais radicais. Especialmente na Inglaterra, a força do movimento
puritano, em meados do século XVII, deu lugar a algumas seitas que desafiaram claramente a
proibição do apóstolo Paulo.
Estas seitas incluíram as mulheres como pregadoras e admitiam que o espírito pudesse expressar-se
através delas. Algumas mulheres encontraram uma interessante via para despregar sua
individualidade: "O espírito podia induzir uma mulher ao celibato, ou a conferir o direito do seu marido
de governar sua consciência, ou bem indicar-lhe aonde ela devia render culto. Os espíritos tinham
pouca consideração pelo respeito devido ao patriarcado terreno; só reconheciam o poder de Deus" (6).
Então, as acusaram de pactuar com o demônio. As freqüentes acusações de bruxaria contra as
mulheres individualistas ao longo destes séculos, e sua conseguinte queima, foi o justo contrapeso
"divino" a quem desafiava o poder patriarcal.
Na França do século XVII, os salões começavam sua caminhada como espaço público capaz de gerar
novas normas e valores sociais. Nos salões, as mulheres tinham uma notável presença e
protagonizaram o movimento literário e social conhecido como “preciosismo”. As preciosas, que
declaravam preferir a aristocracia do espírito à de sangue, revitalizaram a língua francesa e impuseram
novos estilos amorosos; estabeleceram, pois, suas normas em um terreno em que as mulheres
raramente haviam decidido. Para Oliva Blanco, a especificidade da contribuição dos salões do século
XVII ao feminismo radica em que "graças a eles a 'questão feminista' deixa de ser assunto privado de
teólogos e moralistas e passa a ser um tema de opinião pública" (7). Sem dúvida, tal e como sucedeu
com a Ilustração sofística, seguramente hoje se conhece melhor a reação patriarcal a este fenômeno,
reação bem simbolizada nas obras tão horrivelmente misóginas [repulsa ou ódio à mulher] como “As
mulheres sábias” de Molière e “A culta latiniparla” de Quevedo.

2. Feminismo moderno
a) As raízes iluministas e a Revolução Francesa
Diferentes autoras, como Geneviève Fraisse e Celia Amorós, têm coincidido em assinalar a obra do
filósofo cartesiano Poulain de la Barre e os movimentos de mulheres e feministas que tiveram lugar
durante a Revolução Francesa como dois momentos chave – um teórico, o outro prático – na
articulação do feminismo moderno. Assem, não texto de Poulain de la Barre entitulado “Sobre a
igualdade dos sexos” e publicado em 1673 – em pleno auge do movimento das preciosas – seria a
primeira obra feminista que se centra explicitamente em fundamentar a demanda de igualdade sexual.
Fraisse há sinalado que com esta obra estaríamos assistindo a uma verdadeira mudança no estatuto
epistemológico da controversa "guerra dos sexos": "a comparação entre o homem e a mulher
abandona o centro do debate, e se faz possível uma reflexão sobre a igualdade" (8).
De sua parte, Amorós enquadra a obra de Poulain no contexto mais amplo do Iluminismo. Ainda
reconhecendo o caráter pioneiro e específico da obra, esta formaria parte de um contínuo feminista
que se caracteriza por radicalizar ou universalizar a lógica da razão – racionalista primeiro e iluminista
depois. Assim mesmo, mantém que o feminismo como corpo coerente de reivindicações e como
projeto político capaz de constituir um sujeito revolucionário coletivo, só pode se articular teoricamente
a partir de premissas iluministas: premissas que afirmam que todos os homens nascem livres e iguais
e, portanto, com os mesmos direitos. Ainda quando as mulheres estavam inicialmente fora do projeto
igualitário – tal como ocorreu na França revolucionária e em todas as democracias do século XIX e boa
parte do século XX –, a demanda por universalidade que caracteriza a razão iluminista pôde ser
2
utilizada para irracionalizar seus usos interessados e ilegítimos, neste caso, patriarcais. Neste sentido,
Amorós afirma que o feminismo supõe a efetiva radicalização do projeto igualitário iluminista. A razão
iluminista, razão fundamentalmente crítica, possui a capacidade de voltar-se sobre si mesma e
detectar suas próprias contradições (9). E assim, a utilizaram as mulheres da Revolução Francesa
quando observaram com estupor como o novo Estado revolucionário não encontrava contradição
alguma em pregar aos quatro ventos a igualdade universal e deixar sem direitos civis e políticos todas
as mulheres.
Na Revolução Francesa veremos aparecer não só o forte protagonismo das mulheres nas conquistas
revolucionárias, mas também a aparição das mais contundentes demandas de igualdade sexual. A
convocatória dos Estados Gerais por parte de Luís XVI se constituiu no prólogo da revolução. Os três
estados – nobreza, clero e povo – se reuniram para redigir suas queixas para apresentá-as ao rei. As
mulheres ficaram excluídas e começaram a redigir seus próprios "cahiers de doléance". Com eles, as
mulheres, que se autodenominaram "o terceiro Estado do terceiro Estado", mostraram sua clara
consciência de coletivo oprimido e do caráter "interestamental" de sua opressão (10).
Três meses depois da tomada da Bastilha, as mulheres parisienses protagonizaram a crucial marcha
para Versalhes e se deslocaram até o rei em Paris, onde lhe seria mais difícil fugir dos grandes
problemas do povo. Como comenta Paule-Marie Duhet, em sua obra “As mulheres e a Revolução”,
uma vez que as mulheres haviam iniciado um movimento popular armado, não iriam retroceder em seu
esforço de não serem retiradas da vida política (11). Logo se formaram clubes de mulheres, nos quais
deram forma efetivamente a sua vontade de participação. Um dos [clubes] mais importantes e radicais
foi dirigido por Claire Lecombe e Pauline Léon: A Sociedade Republicana Revolucionária.
Impulsionadas por seu autêntico protagonismo e reconhecimento público, outras mulheres como
Théroigne de Méricourt não tiveram dúvida em defender e exercer o direito de formar parte do exército.
Sem dúvida, logo se comprovou que uma coisa era a República agradecer e condecorar as mulheres
pelos serviços prestados, e outra era que estivesse disposta a reconhecer-lhes outra função que não a
de mães e esposas (dos cidadãos). Em conseqüência, foi desprezada a petição de Condorcet para
que a nova República educasse igualmente a mulheres e homens. O mesmo ocorreu com um dos
melhores documentos feministas da época, seu escrito de 1790 “Sobre a admissão das mulheres ao
direito de cidadania”.
Seguramente um dos momentos mais lúcidos na paulatina tomada de consciência feminista das
mulheres está na “Declaração dos direitos da mulher e da cidadã”, de 1791. Sua autora foi Olympe de
Gouges, uma mulher do povo e de tendências políticas moderadas, que dedicou a declaração à rainha
Maria Antonieta, com quem ao final compartiria o mesmo destino sob a guilhotina.
Este é seu veredicto sobre o homem: "Estranho, cego, inchado de saberes e decadente, neste século
de luzes e de sagacidade, na ignorância mais grossa, quer mandar como um déspota sobre um sexo
que recebeu todas as faculdades intelectuais e que pretende gozar da revolução e reclamar seus
direitos de igualdade, para dizê-lo de uma vez por todas" (12). Em 1792, a inglesa Mary Wollstonecraft
redigirá em poucas semanas a célebre “Reivindicação dos direitos da mulher”. As mulheres haviam
começado expondo suas reivindicações nos cadernos de queixas e terminaram afirmando
orgulhosamente seus direitos.
A transformação em relação aos séculos anteriores, como acertadamente sintetizou Fraisse, significa a
passagem do gesto individual para o movimento coletivo: a questão é levada à praça pública e toma a
forma de um debate democrático: se converte pela primeira vez de forma explícita numa questão
política (13).
Sem dúvida, a Revolução Francesa supôs uma amarga e seguramente inesperada derrota para o
feminismo. Os clubes de mulheres foram fechados pelos jacobinos em 1793, e em 1794 se proibiu
explicitamente a presença de mulheres em qualquer tipo de atividade política. As que haviam se
destacado em sua participação política, fosse qual fosse sua vinculação ideológica, compartiram o
mesmo final: a guilhotina ou o exílio. As mais lúgubres previsões haviam se cumprido amplamente: as
mulheres não podiam subir à tribuna, mas sim ao cadafalso. Qual era seu crime? A imprensa
revolucionária da época o explica muito claramente: haviam transgredido as leis da natureza
renunciando ao seu destino de mães e esposas, querendo ser "homens de Estado". O novo código
civil napoleônico, cuja extraordinária influência tem chegado praticamente aos nossos dias, se
encarregaria de plasmar legalmente tal "lei natural".

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b) Feminismo do século desenove
No século XIX, o século dos grandes movimentos sociais emancipatórios, o feminismo aparece, pela
primeira vez, como um movimento social de caráter internacional, com uma identidade autônoma
teórica e organizativa. Além disso, ocupará um lugar importante no seio de outros grandes movimentos
sociais, os diferentes socialismos e o anarquismo.
Estes movimentos herdaram em boa medida as demandas igualitárias do Iluminismo, porém surgiram
para dar resposta aos graves problemas gerados pela revolução industrial e o capitalismo. O
desenvolvimento das democracias censitárias e o decisivo fato da industrialização suscitaram enormes
expectativas em relação ao progresso da humanidade, e se chegou a pensar que o fim da escassez
material estava perto.
Sem dúvida, estas esperanças chocaram-se frintalmente com a realidade. Por um lado, eram negados
às mulheres os direitos civis e políticos mais básicos, retirando de suas vidas qualquer possibilidade de
autonomia pessoal. Por outro, o proletariado – e logicamente as mulheres proletárias – ficavam
totalmente à margem da riqueza produzida pela indústria, e sua situação de degradação e miséria se
converteu em um dos feitos mais sangrentos da nova ordem social. Estas contradições foram o caldo
de cultivo das teorias emancipadoras e dos movimentos sociais do século XIX.

c) O movimento sufragista
Como se afirma habitualmente, o capitalismo alterou as relações entre os sexos. O novo sistema
econômico incorporou massivamente as mulheres proletárias ao trabalho industrial – mão de obra
mais barata e mais “submissa” que os homens. Mas na burguesia, a classe social ascendente, se deu
fenômeno contrário. As mulheres foram enclausuradas naquele que era, cada vez mais, símbolo do
status e êxito laboral do homem. As mulheres, majoritariamente as da média burguesia,
experimentavam com crescente indignação sua condição de propriedade legal de seus maridos e sua
marginalização da educação e das profissões liberais, marginalização que, em muitas ocasiões, as
conduzia inevitavelmente, se não se casassem, à pobreza.
Neste contexto, as mulheres começaram a organizarem-se em torno da reivindicação do direito ao
sufrágio, o que explica sua denominação como sufragistas. Isto não significa que deva-se entender
que esta fosse sua única reivindicação. Muito ao contrário, as sufragistas lutaram pela igualdade em
todos os terrenos apoiando a autêntica universalização dos valores democráticos e liberais. Sem
dúvida, e de um ponto de vista estratégico, consideravam que, uma vez conseguido o voto e o acesso
ao parlamento, poderiam começar a mudar o resto das leis e instituições. Ademais, o voto era um meio
de unir as mulheres de opiniões políticas muito diferentes. Seu movimento era de caráter interclassista,
pois consideravam que todas as mulheres sofriam, enquanto mulheres e independentemente de sua
classe social, discriminações semelhantes.
Nos Estados Unidos, o movimento sufragista esteve inicialmente muito relacionado com o movimento
abolicionista. Grande número de mulheres uniram suas forças para combater na luta contra a
escravidão e, como sinala Sheyla Rowbotham, não só aprenderam a se organizar, mas também a
observar as similitudes de sua situação com a escravidão (14). Em 1848, no Estado de Nova York, se
aprovou a Declaração de Seneca Falls, um dos textos fundacionais do sufragismo (15). Os
argumentos que utilizaram para reivindicar a igualdade do sexos são de corte iluminista: apelam à lei
natural como fonte de direitos para toda a espécie humana, e à razão e ao bom senso da humanidade
como armas contra o preconceito e os costumes. Também cabe sinalar de novo a importância do
fundo individualista da religião protestante; como tem apontado Richard Evans: "A crença protestante
no direito de todos os homens e mulheres a trabalhar individualmente por sua própria salvação
proporcionaria uma segurança indispensável e com freqüência realmente uma autêntica inspiração, a
muitas, se não a quase todas as lutadoras das campanhas feministas do século XIX" (16). Elizabeth
Cady Stanton, a autora de “A Bíblia das mulheres”, e Susan B. Anthone foram duas das mais
significativas sufragistas estadunidenses.
Na Europa, o movimento sufragista inglês foi o mais potente e radical. Desde 1866, quando o
deputado John Stuart Mill, autor de “A sujeição da mulher”, apresentou a primeira petição a favor do
voto feminino no Parlamento, não deixaram de se suceder iniciativas políticas. Sem dúvida, os
esforços dirigidos a convencer e persuadir os políticos da legitimidade dos direitos políticos das
mulheres provocaram zombarias e indiferença. Em conseqüência, o movimento sufragista dirigiu sua

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estratégia a ações mais radicais. Ainda que, como bem tem matizado Rowbotham: "as táticas
militantes da União haviam nascido do desespero, depois de anos de paciente constitucionalismo"
(17). As sufragistas foram encarceradas, protagonizaram greves de fome e alguma encontrou a morte
defendendo sua máxima: "votos para as mulheres". Mas só após a Primeira Guerra Mundial, em 1928,
as mulheres inglesas puderam votar em igualdade de condições.

d) O feminismo socialista
O socialismo como corrente de pensamento sempre teve em conta a situação das mulheres na hora
de analisar a sociedade e projetar o futuro. Isto não significa que o socialismo seja necessariamente
feminista, mas que no século XIX começava a se tornar difícil embandeirar projetos igualitários radicais
sem ter em conta metade da humanidade.
Os socialistas utópicos foram os primeiros a abordar o tema da mulher. O nervo de seu pensamento,
como o de todo socialismo, parte da miserável situação econômica e social em que vivia a classe
trabalhadora. Em geral, propõem a volta a pequenas comunidades em que possa existir certa
autogestão – os falansterios de Fourier – e se desenvolva a cooperação humana em um regime de
igualdade que afete também aos sexos. Apesar de reconhecer a necessidade de independência
econômica das mulheres, às vezes não foram o suficientemente críticos com a divisão sexual do
trabalho. Ainda assim, sua recusa à sujeição das mulheres teve grande impacto social, e a tese de
Fourier de que a situação das mulheres era o indicador chave do nível de progresso e civilização de
uma sociedade foi literalmente assumida pelo socialismo posterior (18).
Flora Tristán, na sua obra “União operária” (1843) dedica um capítulo a expor a situação das mulheres.
Tristán sustenta que "todas as desgraças do mundo provém do esquecimento e desprezo que até hoje
se tem feito dos direitos naturais e imprescritíveis do ser mulher" (19). Em seus projetos de reforma, a
educação das mulheres seria crucial para o progresso das classes trabalhadoras, ainda que devido à
influência que como mães, filha, esposas, etc., têm sobre os homens. Para Tristán, as mulheres "são
tudo na vida do operário", o que não deixa de supor uma acrítica abordagem da divisão sexual do
trabalho. De outro ponto de vista, entre os seguidores de Saint-Simon e Owen propagou-se a idéia de
que o poder espiritual dos homens se havia esgotado e a salvação da sociedade só podia proceder do
"feminino". Em alguns grupos, inclusive, se iniciou a busca de um novo messias feminino (20).
Talvez a contribuição mais específica do socialismo utópico resida na grande importância que
concediam a transformação da instituição familiar. Condenavam a dupla moral e consideravam o
celibato e o matrimônio indissolúvel como instituições repressoras e a causa de injustiça e infelicidade.
De fato, como disse John Stuart Mill, a eles [socialistas utópicos] cabe a honra de terem abordado sem
preconceitos temas com os quais não se atreviam outros reformadores sociais da época.

e) Socialismo marxista
Em meados do século XIX começou a impor-se no movimento operário o socialismo de inspiração
marxista ou "científico". O marxismo articulou a chamada "questão feminina" em sua teoria geral da
história e ofereceu uma nova explicação da origem da opressão das mulheres e uma nova estratégia
para sua emancipação. Tal como desenvolveu Friedrich Engels em “A origem da família, da
propriedade privada e do Estado”, obra publicada em 1884, a origem da sujeição das mulheres não
estaria em causas biológicas – a capacidade reprodutora ou constituição física –, mas sociais. Na
verdade, estaria no surgimento da propriedade privada e na exclusão das mulheres da esfera da
produção social. Em conseqüência, desta análise se depreende que a emancipação das mulheres
estará ligada a seu retorno produção e à independência econômica.
Esta análise, através da qual se apoiava a incorporação das mulheres à produção, não deixou de ter
numerosos depreciadores no próprio âmbito socialista. Utilizavam-se diferentes argumentos para opor-
se ao trabalho assalariado das mulheres: a necessidade de proteger as operárias da sobre-exploração
de que eram objeto, ou o elevado índice de abortos e mortalidade infantil, ou o aumento do
desemprego masculino, a diminuição dos salários, etc. Mas como sinalizou Auguste Bebel em sua
célebre obra “A mulher e o socialismo”, também se devia a que, apesar da teoria, nem todos os
socialistas apoiavam a igualdade dos sexos: Não se crê que todos os socialistas sejam emancipadores
da mulher; há aqueles para quem a mulher emancipada é tão antipática como o socialismo para os
capitalistas (21).

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Por outro lado, o socialismo insistia nas diferenças que separavam as mulheres das distintas classes
sociais. Assim, ainda que as socialistas apoiassem taticamente as demandas sufragistas, também as
consideravam inimigas de classe e as acusavam de esquecer a situação das proletárias, o que
provocava a desunião dos movimentos. Além disso, a relativamente poderosa infra-estrutura com que
contavam as feministas burguesas e a força de sua mensagem influenciava as operárias levando-as
para o seu lado. Logicamente, uma das tarefas das socialistas foi a de romper esta aliança. Alexandra
Kollontai, bolchevique e feminista, relata em suas “Memórias” algumas de suas estratégias quando na
clandestinidade. Em dezembro de 1908 teve lugar em San Petersburgo, e convocado pelas feministas
"burguesas", o Primeiro Congresso Feminino de todas as Rússias. Kollontai não pôde assistir porque
pesava uma ordem de prisão sobre ela, mas pôde preparar a intervenção de um grupo de operárias.
Estas tomaram a palavra para demonstrar a especificidade da problemática das mulheres
trabalhadoras, e quando se propôs a criação de um centro feminino interclassista, abandonaram
ostentosamente o congresso (22).
Sem dúvida, e apesar de seus lógicos enfrentamentos com as sufragistas, existem numerosos
testemunhos do dilema que se apresentava às mulheres socialistas. Ainda que subscrevessem a tese
de que a emancipação das mulheres era impossível no capitalismo – exploração trabalhista,
desemprego crônico, dupla jornada, etc. – eram conscientes de que para seus camaradas e para a
direção do partido a "questão feminina" não era prioritária. Na verdade a consideravam uma mera
questão de superestrutura, que se solucionaria automaticamente com a socialização dos meios de
produção, e, no pior dos casos, "um desvio perigoso para o feminismo".
Isto não impediu que as mulheres socialistas se organizassem dentro de seus próprios partidos; se
reuniam para discutir seus problemas específicos e criaram, apesar da lei lhes proibir afiliar-se a
partidos, organizações femininas. Os alicerces de um movimento socialista feminino realmente foram
postos pela alemã Clara Zetkin (1854-1933), que dirigiu a revista feminina “Die Gliechhteit” (Igualdade)
e chegou a organizar uma Conferência Internacional de Mulheres em 1907.
O socialismo marxista também prestou atenção a crítica da família e a dupla moral, e relacionou a
exploração econômica com a exploração sexual da mulher. Neste sentido, é imprescindível remeter-se
a obra que Kollontai escreveu em princípios do século XX. Kollontai colocou em um primeiro plano
teórico a igualdade sexual e mostrou sua interrelação com o triunfo da revolução socialista. Mas
também foi ela mesma, ministra durante apenas seis meses no primeiro governo de Lenin, quem deu a
voz de alarme sobre o rumo preocupante que ia tomando a revolução feminista na União Soviética. A
igualdade dos sexos havia sido estabelecida por decreto, mas não se tomavam medidas específicas,
tal como ela postulava, contra o que hoje chamaríamos a ideologia patriarcal.

f) Movimento anarquista
O anarquismo não articulou com tanta precisão teórica como o socialismo a problemática da igualdade
entre os sexos. Inclusive, cabe destacar que um anarquista do porte de Pierre J. Proudhom (1809-
1865) manteve tranqüilamente posturas anti-igualitárias extremas. São suas palavras: “De minha parte,
posso dizer que, quanto mais penso, menos se explica para mim o destino da mulher fora da família e
do lar. Cortesã ou dona-de-casa (dona-de-casa, digo, e não criada); eu não vejo termo médio (23).
Sem dúvida, o anarquismo como movimento social contou com numerosas mulheres que contribuíram
na luta por a igualdade. Uma das idéias mais recorrentes entre as anarquistas – em consonância com
seu individualismo – era a de que as mulheres se liberariam graças a sua "própria força" e esforço
individual. Assim o expressou, na entrado o século XX, Emma Goldman (1869-1940), para quem
pouco vale o acesso ao trabalho assalariado se as mulheres não são capazes de vencer todo o peso
da ideologia tradicional em seu interior. Assim, a ênfase em viver de acordo com as próprias
convicções propiciou autênticas revoluções na vida cotidiana de mulheres que, orgulhosas, se
autodesignavam "mulheres livres". Consideravam que a liberdade era o princípio reto de tudo e que as
relações entre os sexos têm de ser absolutamente livres.
Sua rebelião contra a hierarquização, a autoridade e o Estado, as levava, por um lado a se oporem às
sufragistas, a minimizar a importância do voto e as reformas institucionais; por outro, viam como um
perigo enorme o que, a seu juízo, propunham os comunistas: a regulação por parte do Estado da
procriação, da educação e do cuidado das crianças.

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3. Neofeminismo: os anos sessenta e setenta
A conquista do voto e todas as reformas que esta trouxe consigo deixaram relativamente tranqüilas as
mulheres; suas demandas haviam sido satisfeitas, viviam em uma sociedade legalmente quase-
igualitária e a calma parecia reinar na maioria dos lares. Sem dúvida, devia ser uma chama um tanto
rarefeita, pois se aproximava um novo despertar deste movimento social.
A obra de Simone de Beauvoir é a referência fundamental da mudança que se avizinhava. Tanto sua
vida como sua obra são paradigmáticas das razões de um novo ressurgir do movimento. Tal como
contou a própria Simone, até ter empreendido a redação de “O segundo sexo”, apenas havia sido
consciente de [não] sofrer discriminação alguma pelo fato de ser uma mulher. A jovem filósofa, igual a
seu companheiro Jean Paul Sartre, havia realizado uma brilhante carreira acadêmica, e imediatamente
depois ingressou por oposição – também como ele – à carreira docente. Onde estava, pois, a
desigualdade, a opressão? Iniciar a contundente resposta do feminismo contemporâneo a esta
interrogação é o impressionante trabalho levado a cabo nos dois tomos de “O segundo sexo” (1949).
Ao mesmo tempo que pioneira, Simone de Beauvoir constitui um brilhante exemplo de como a teoria
feminista supõe uma transformação revolucionária da nossa compreensão da realidade. E não tem
que se subvalorizar as dificuldades que experimentaram as mulheres para descobrir e expressar os
termos de sua opressão na época da "igualdade legal". Esta dificuldade foi retratada com infinita
precisão pela estadunidense Betty Friedan: o problema das mulheres era o "problema que não tem
nome", e o objeto da teoria e prática feministas foi, justamente, o de nomeá-lo. Friedan, em sua
também volumosa obra, “A mística da feminilidade” (1963), analisou a profunda insatisfação das
mulheres estadunidenses consigo mesmas e sua vida, e sua tradução em problemas pessoais e
diversas patologias autodestrutivas: ansiedade, depressão, alcoolismo (24). Sem dúvida, o problema é
para ela é um problema político: "a mística da feminilidade" – reação patriarcal contra o sufragismo e a
incorporação das mulheres à esfera pública durante a Segunda Guerra Mundial –, identifica mulher
com mãe e esposa, através do que cerceia toda possibilidade de realização pessoal e culpabiliza a
todas aquelas que não são felizes vivendo somente para os demais.

Feminismo liberal
Betty Friedan contribuiu na fundação, em 1966, daquela que chegou a ser uma das organizações mais
feministas e mais poderosas dos Estados Unidos, e sem dúvida a maior representante do feminismo
liberal, a Organização Nacional para as Mulheres (NOW). O feminismo liberal se caracteriza por definir
a situação das mulheres como uma desigualdade – e não de opressão e exploração – e por postular a
reforma do sistema até atingir a igualdade entre os sexos. As liberais começaram definindo o problema
principal das mulheres como sua exclusão da esfera pública, e propõem reformas relacionadas com a
inclusão das mesmas no mercado de trabalho.
Desde o início tiveram uma seção destinada a formar ou promover as mulheres para ocupar postos
públicos. Porém, logo a influência do feminismo radical empurrou as mais jovens para esquerda.
Diante do mal estar e medo dos setores mais conservadores, Betty Friedan declara que: "No futuro, a
gente que pensa que NOW é demasiada ativista terá menos peso que a juventude" (25). Assim,
terminaram abraçando a tese de que o pessoal é político – apesar de Friedan haver queixado-se de
que as radicais convertiam a luta política em uma "guerra de dormitório" – e a organização de grupos
de autoconsciência, dois estandartes básicos do feminismo radical e que inicialmente as liberais
recusavam. Mais tarde, com o declínio do feminismo radical nos Estados Unidos, o reciclado
"feminismo liberal" cumpriu um importante protagonismo até converter-se, na opinião de Echols, "na
voz do feminismo como movimento político" (26). Sem dúvida, foi ao feminismo radical, caracterizado
por sua aversão ao liberalismo, a quem correspondeu o verdadeiro protagonismo nas décadas
sessenta e setenta.

Surgimento do feminismo radical: "feministas políticas" e "feministas"


Os sessenta foram anos de intensa agitação política. As contradições de um sistema que tem sua
legitimação na universalidade de seus princípios, mas que na realidade é sexista, racista, classista e
imperialista, motivaram a formação da chamada Nova Esquerda e diversos movimentos sociais
radicais como o movimento anti-racista, o estudantil, o pacifista e, claro, o feminista. A característica
distintiva de todos eles foi seu marcado caráter contracultural: não estavam interessados na política
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reformista dos grandes partidos, mas em forjar novas formas de vida – que prefigurassem a utopia
comunitária de um futuro que se vislumbrava na esquina – e, como não, ao homem novo. E tal como
vimos observando até agora, ao longo da história, muitas mulheres fizeram parte deste movimento de
emancipação.
Em boa medida, a gênese do Movimento de Liberação da Mulher deve ser buscada em seu crescente
descontentamento com o papel que julgavam ter naquele movimento. Assim descreve Robin Morgan o
que foi uma experiência generalizada de mulheres: "Como acreditávamos estar metidas na luta para
construir uma nova sociedade, foi para nós um lento despertar e uma deprimente constatação
descobrir que realizávamos no movimento o mesmo trabalho que fazíamos fora dele: escrevendo à
máquina os discursos dos homens, fazendo café mas não política, sendo auxiliares do homens, cuja
política, supostamente, substituiria a velha ordem" (27).
De novo, foi através do ativismo político junto aos homens, como as sufragistas na luta pelo
abolicionismo, que as mulheres tomaram consciência da peculiaridade de sua opressão. Uma vez que
o homem novo demorava a surgir, a mulher nova – de que tanto falara Kollontai no início do século –
decidiu começar a reunir-se por sua conta. A primeira decisão política do feminismo foi a de organizar-
se de forma autônoma, separar-se dos homens, decisão com a qual se constituiu o Movimento de
Liberação da Mulher. Como demonstra Echols, apesar de todas corcodarem com a necessidade de
separar-se dos homens, discordavam a respeito da natureza e finalidade da separação. Assim se
produziu a primeira grande cisão dentro do feminismo radical: a que dividiu as feministas em "políticas"
e "feministas". Todas fizeram inicialmente parte do feminismo radical por sua posição anti-sistema e
por sua determinação de distanciar-se do feminismo liberal, mas suas diferenças são uma referência
fundamental para entender o feminismo da época.
No início, as "políticas" eram maioria, mas a partir de 1968 muitas foram tornando-se mais feministas
para, finalmente, terminarem em minoria. Para as "políticas", a opressão das mulheres deriva do
capitalismo ou do Sistema (com maiúsculas), motivo pelo qual os grupos de liberação deviam
permanecer conectados e comprometidos com o Movimento; na realidade, consideravam o feminismo
um ala mais à esquerda. Vale considerar que à elas, à sua experiência e suas conexões se deveram
muito dos êxitos organizativos do feminismo, mas logicamente também traziam consigo sua servidão
ideológica.
As "feministas" se manifestavam contra a subordinação à esquerda, já que identificavam os homens
como os beneficiários de sua dominação. Não eram anti-esquerda, mas sim muito críticas ao seu
obstinado sexismo e tópica interpretação do feminismo num leque de possibilidades que ia de sua
mera consideração como questão periférica até a mais perigosa qualificação de contra-revolucionário.
As intermináveis e acaloradas discussões sobre qual era a contradição ou o inimigo principal
caracterizaram o desenvolvimento do neofeminismo não só nos Estados Unidos, mas também na
Europa e Espanha.
A lógica do debate sempre foi semelhante: enquanto as mais feministas se esforçavam para convencer
as políticas que a opressão das mulheres não é somente uma simples conseqüência do Sistema, mas
um sistema específico de dominação em que a mulher é definida em termo do homem, as “políticas”
não conseguiam deixar de ver os homens como vítimas do sistema e de enfatizar o não enfrentamento
com eles. Além disso, voltando ao caso concreto dos Estados Unidos, as políticas escondiam um
medo que tem pesado sempre sobre as mulheres da esquerda: o de que os companheiros homens,
depositários do poder simbólico de dar ou retirar denominações de origem "progressista",
interpretassem um movimento só de mulheres como reacionário ou liberal.
De fato, é muito elucidativo reparar que, na hora buscar uma "denominação", o termo "feminista" foi
inicialmente repudiado por algumas radicais. O problema estava no fato de que o associavam com
aquela que consideravam a primeira onda do feminismo, o movimento sufragista, o qual depreciavam
como burguês e reformista. Sulamith Firestone, indiscutível teórica e discutida líder de vários grupos
radicais, foi a primeira em atrever-se a reivindicar o sufragismo afirmando que este era um movimento
radical e que "sua história tinha sido enterrada por razões políticas" (28). Finalmente chegou a
separação, e o nome de feminismo radical passou a designar unicamente aos grupos e as posições
teóricas das "feministas".

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Feminismo radical
O feminismo radical norteamericano se desenvolver entre os anos 1967 e 1975, e apesar da rica
heterogeneidade teórica e prática dos grupos em que se organizou, parte de alguns delineamentos
comuns. Em relação aos fundamentos teóricos, há que se citar duas obras fundamentais: “Política
sexual” de Kate Millet e “A dialética da sexualidade” de Sulamith Firestone, publicadas em 1970.
Armadas das ferramentas teóricas do marxismo, da psicanálise e do anticolonialismo, estas obras
cunharam conceitos fundamentais para a análise feminista, como o conceito de patriarcado, gênero e
casta sexual. O patriarcado se define como um sistema de dominação sexual que se concebe como o
sistema básico de dominação sobre o qual se ergue o resto das dominações, como a de classe e raça.
O gênero expressa a construção social da feminilidade e a casta sexual se refere à experiência comum
de opressão vivida por todas as mulheres (29).
As radicais identificaram como centros da dominação patriarcal as esferas da vida que até então se
consideravam "privadas". A elas deve-se o mérito de ter revolucionado a teoria política ao analisar as
relações de poder que estruturam a família e a sexualidade e o sintetizaram em um slogan: “o pessoal
é político”. Consideravam que os homens, todos os homens e não só uma elite, recebem benefícios
econômicos, sexuais e psicológicos do sistema patriarcal, mas em geral acentuavam a dimensão
psicológica da opressão. Assim o reflete o manifesto fundacional da New York Radical Feminist (1969),
“Politics of the Ego”, onde se afirma: “Pensamos que a finalidade da dominação masculina é obter
satisfação psicológica para seu ego, e que só secundariamente isto se manifesta nas relações
econômicas” (30).
Uma das contribuições mais significativas do movimento feminista radical foi a organização em grupos
de autoconsciência. Esta prática começou na New York Radical Womem (1967), e foi Sarachild quem
lhe deu o nome de "consciousness-raiseng" [despertar da consciência]. Consistia em que cada mulher
do grupo explicasse as formas em que experimentava e sentia sua opressão. O propósito destos
grupos era "despertar a conciência latente que... todas as mulheres tem sobre nossa opressão", para
propiciar "a reinterpretação política da própria vida" e estabelecer as bases para sua transformação.
Com a autoconsciência também se pretendia que as mulheres dos grupos se convertessem em
autênticas expecialistas da sua opressão: estavam construindo a teoria a partir da experiência pessoal
e não a partir do filtro de ideologias prévias.
Outra função importante destos grupos foi a de contribuir para a revalorização da palavra [da fala] e as
experiências de um coletivo sistematicamemte inferiorizado e humilhado ao longo da história. Assim o
demonstrou Válcarcel comentando algumas das obras clássicas do feminismo: “o movimento feminista
deve tanto a estas obras escritas como a uma singular organização: os grupos de encontro, em que
mulheres desfiavam, alterada e moderadamente, semana a semana, a série de suas humilações, que
tentavam comprender como parte de uma estrutura teorizável" (31). Sem dúvida, os diferentes grupos
de radicais variavan em sua apreciação desta estratégia. Segundo a duríssima apreciação de Mehrhof,
membro das Redstockings (1969): "a autoconsciência tem a habilidade de organizar grande número de
mulheres, mas de organizá-las para nada" (32). Houve acalorados debates internos, e finalmente
autoconsciência e ativismo se configuraram como opcões opostas.
O ativismo dos grupos radicais foi, em mais de um sentido, espetacular. Espetaculares, pela multidão
que arregimentavam, foram as manifestações e marchas de mulheres. E ainda mais espetaculares
eram os lúcidos atos de protesto e sabotagem que punham em evidência o caráter de objeto e
mercadoria da mulher no patriarcado. Com atos como a queima pública de sutiãs e corpetes, a
sabotagem de comissões de expercialistas sobre o aborto formada por catorze homens e uma mulher
(monja)!, ou a simbólica negativa da carismática Ti-Grace Atkinson ao deixar-se fotografar em público
ao lado de um homem, as radicais conseguiram que a voz do feminismo entrasse em todos e cada um
dos lares estadunidenses.
Outras atividades não tão espetaculares, mas de consequências enormemente beneficiosas para as
mulheres, foram a criação de centros alternativos de ajuda e autoajuda. As feministas não só criaram
espaços próprios para estudar e organizar-se, mas desenvolveram uma saúde e uma ginecologia não
patriarcais, animando as mulheres a conhecer seu próprio corpo. Também fundaram abrigos, centros
para mulheres maltratadas, centros de defesa pessoal e um sem número de ações semelhantes.
Tal como se desprende dos grupos de autoconsciência, outra característica comum dos grupos
radicais foi o exigente impulso igualitarista e anti-hierárquico: nenhuma mulher está acima de outra. Na
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realidade, as líderes estavam mal vistas, e uma preocupação constante era por regras que evitassem
o predomínio das mais dotadas ou preparadas. Assim, é frequente escutar as líderes do movimento,
que sem dúvida existiam, ou aquelas que atuavam como portavozes, "pedir perdão a nossas irmãs por
falar por elas".
Esta forma de entender a igualdade trouxe muitos problemas aos grupos: um do mais importantes foi o
problema de admissão de novas militantes. As novas tinham que aceitar a linha ideológica e
estratégica do grupo, mas uma vez dentro, elas podiam, e de fato assim o faziam frequentemente,
começar a questionar o manifesto fundacional. O resultado era um estado de permanente debate
interno, enriquecedor para as novas, mas tremendamente cansativo para as veteranas.
O igualitarismo se traduzia no fato de que mulheres sem mínima experiência política e recém
chegadas ao feminismo se encontravan em situação de poder criticar duramente por "elitista" uma líder
com a experiência militante e a potência teórica de Sulamith Firestone. Inclusive, se chegou a
desconfiar das teóricas suspeitando que instrumentalizavam o movimento para fazerem-se famosas. O
caso é que a maior parte das líderes foram expulsas dos grupos que haviam fundado. Jo Freeman
refletiu esta experiência pessoal em sua obra “A tirania da falta de estruturas” (33).
Echols tem apontado esta negação da diversidade das mulheres como uma das causas do declínio do
feminismo radical. A tese da irmandade ou sororidade de todas as mulheres unidas por uma
experiência comum também se viu ameaçada pela polêmica aparição dentro dos grupos da questão
de classe e do lesbianismo. Mas, em última instância, foram as agônicas discordâncias internas, mais
o lógico desgaste de um movimento destas características, o que trouxe a meados dos anos setenta o
fim do ativismo do feminismo radical.

Feminismo e socialismo: a nova aliança


Como já observamos, o feminismo ia definindo-se como a luta contra o patriarcado, um sistema de
dominação sexual, e o socialismo como a luta contra o sistema capitalista ou de classes. Sem dúvida,
numerosas obras da década de setenta declaram ter a intenção de conciliar teoricamente feminismo e
socialismo e defendem a complementariedade de suas análises. Assim o fizeram, entre muitas, Sheyla
Rowbotham, Roberta Hamilton, Zilah Eisemstein e Juliet Michell. As feministas socialistas chegaram a
reconhecer que as categorias analíticas do marxismo são "cegas ao sexo" e que a "questão feminina"
nunca foi a "questão feminista" (34), mas também consideravam que o feminismo é cego para a
história e para as experiências das mulheres trabalhadoras, emigrantes ou "não bancas" (N. de transc.:
no original diziam "de cor"). Daí que seguiam buscando uma aliança mais progressiva entre as
análises de classe, gênero e raça. Mas nesta renovada aliança, o gênero e o patriarcado são as
categorias que vertebram suas análises da totalidade social.

Feminismos da diferença
Segundo a exaustiva e influente análise de Echols, o feminismo radical estadunidense havia evoluído
para a um novo tipo de feminismo para o qual utiliza o nome de feminismo cultural. A evolução tem raiz
na passagem de uma concepção construtivista do gênero, para uma concepção essencialista. Mas a
diferença fundamental está em que enquanto o feminismo radical – e também o feminismo socialista e
o liberal – luta pela superação dos gêneros, o feminismo cultural parece afiançar-se na diferença. Na
Europa, especialmente na França e Itália, também surgiram no rastro de diferentes divisões ou
discordâncias dentro do movimento feminista dos setenta, feminismos que se autoproclamam
defensores da diferença sexual. Daí sua designação como feminismo da diferença frente aos
igualitários.

Feminismo cultural
O feminismo cultural estadunidense engloba, segundo a tipologia de Echols, distintas correntes que
igualam a liberação das mulheres com o desenvolvimento e a preservação de uma contracultura
feminina: viver em um mundo de mulheres para mulheres (36). Esta contracultura exalta o "princípio
feminino" e seus valores e denigre o "masculino". Raquel Osborne tem sintetizado algumas das
características que se atribuem a um princípio e outro. Os homens representam a cultura, as mulheres
a natureza. Ser natureza e possuir a capacidade de ser mãe comporta a posse de qualidades

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positivas, que definem como exclusiva das mulheres salvação do planeta, já que são moralmente
superiores aos homens. A sexualidade masculina seria agressiva e potencialmente letal, a feminina
difusa, terna e orientada para as relações interpessoais. Por último, se originaria a opressão da mulher
da supressão da essência feminina. De todo isto se conclui que na política de acentuar as diferenças
entre os sexos, se condena a heterossexualidade por sua conivência com o mundo masculino e se
acode ao lesbianismo como única alternativa de não contaminação (37). Esta visão notadamente
dicotômica das naturezas humanas tem ecoado em outros movimentos como o ecofeminismo de Mary
Daly e o surgimento de uma polêmica frente a antipornografia e antiprostituição.

Feminismo francês da diferença


O feminismo francês da diferença parte da constatação da mulher como o “absolutamente outro”.
Instalado em dita outridade, mas tomando emprestada a ferramenta da psicanálise, utiliza a
exploração do inconsciente como meio privilegiado de reconstrução de uma identidade própria,
exclusivamente feminina. Entre suas representantes destacam-se Annie Leclerc, Hélène Cixous e,
sobre todo, Luce Irigaray. Seu estilo, realmente crítico se não se possui determinada formação
filosófica, ou inclusive determinadas chaves culturais especificamente francesas, não deve fazer-nos
pensar em um movimento sem incidência alguma na prática.
O grupo "Psychanalyse et Politique" surgiu nos setenta e é uma referência iniludível do feminismo
francês. A partir dele se criticava duramente o feminismo igualitário por considerar que é reformista,
assemelhar as mulheres aos homens e, em última instância, não consegue sair do paradigma de
dominação masculina. Suas partidárias protagonizaram duros enfrentamentos com o "feminismo",
alguns tão chamativos como assistir a manifestações com cartazes de "Fora o feminismo", e inclusive
recorreram aos tribunais reivindicando seu caráter de legítimas representantes do movimento de
liberação da mulher. Tal como relata Rosa Maria Magdá: “As batalhas pessoais, a defesa radical ou
não da homossexualidade e as diversas posturas com os partidos políticos têm sido também pontos de
litígio para um movimento excessivamente fechado sobre si mesmo, que infesta seus textos de
referências ocultas e que, longe da acolhedora solidariedade, parece muitas vezes converter-se em
um campo minado (38).

Feminismo italiano da diferença


Suas primeiras manifestações surgem em 1965, ligadas ao grupo DEMAU. Outro feito importante será
a publicação em 1970 do manifesto de Rivolta femminile [Revolta feminina] e o escrito de Carla Lonzi,
“Escupamos sobre Hegel” (39). As italianas, muita influenciada pela tese das francesas sobre a
necessidade de criar uma identidade própria e a experiência dos grupos de autoconsciência das
estadunidenses, sempre mostraram sua dissidência em relação às posições majoritárias do feminismo
italiano. Assim o fizeram no debate em torno da lei do aborto, em que defendiam a despenalização
frente à legalização, finalmente aprovada em 1977, e posteriormente na proposta de lei sobre a
violência sexual. Esta proposta, iniciada por o MLD, a UDI e outros grupos do movimento de liberação,
reivindicava, entre outras coisas, que a violação pudesse ser perseguida oficialmente, ainda contra a
vontade da vítima, para evitar as freqüentes situações em que as pressões sobre esta terminassem
com a retirada da queixa. Neste caso, como no do aborto, se considera "inaceitável" que as mulheres
"submetessem este sofrimento concreto à intervenção e à tutela do Estado, dizendo atuar em nome de
todas as mulheres" (40). Mantinham a posição de que a lei do homem nunca é neutra, e a idéia de
resolver através de leis e reformas gerais a situação das mulheres é descabida.
Criticam o feminismo reivindicativo de vitimista e de não respeitar a diversidade da experiência das
mulheres. Além disso, afirmam que de nada serve que as leis dêem valor às mulheres se estas de fato
não o tem. Em troca, parecem propor desloca-se ao plano simbólico e que seja nesse plano onde se
produza a efetiva liberação da mulher, do "desejo feminino". Ligada a esta liberação, muita focada na
auto-estima feminina, estão diversas práticas entre mulheres, como o “affidamento”, conceito de difícil
tradução, em que o reconhecimento da autoridade feminina tem um papel determinante. O que sim, se
afirma com claridade é que para a mulher não há liberdade nem pensamento sem o pensamento da
diferença sexual. Esta é a determinação ontológica fundamental.

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4. Últimas tendências
Após as manifestações de força e vitalidade do feminismo e outros movimentos sociais e políticos nos
anos setenta, a década de oitenta parece que passará na história como uma década especialmente
conservadora. De fato, o triunfo de carismáticos líderes ultraconservadores em países como Inglaterra
e Estados Unidos, um certo esgotamento das ideologias que surgiram no século XIX, mais a
surpreendente derrubada dos Estados socialistas, deram passagem aos eternos profetas do fim dos
conflitos sociais e da história. Neste contexto, nossa pergunta é a seguinte: pode então falasse de um
declínio do feminismo contemporâneo? E a resposta é um rotundo não. Só uma análise insuficiente
das diferentes frentes e níveis sociais em que se desenvolve a luta feminista pode questionar sua
vigência e vitalidade.
Yasmine Ergas sintetizou bem a realidade dos anos oitenta: se bem a era dos gestos grandiloqüentes
e as manifestações massivas que tanto haviam chamado a atenção dos meios de comunicação
pareciam chegar a seu fim, geralmente deixavam detrás de si novas formas de organização política
feminina, uma maior visibilidade das mulheres e de seus problemas na esfera pública e animados
debates entre as próprias feministas, assim como entre estas e interlocutores externos. Em outras
palavras, a morte, ao menos aparente, do feminismo como movimento social organizado não implicava
nem a desaparição das feministas como agentes políticos, nem do feminismo como um conjunto de
práticas discursivas contestadas, mas sempre em desenvolvimento" (41).
Efetivamente, o feminismo não desapareceu, mas sim tem conhecido profundas transformações.
Nestas transformações têm influído tanto os enormes êxitos alcançados – se considerarmos o que foi
o passado e o que é presente das mulheres – como a profunda consciência do que há por fazer, se
compararmos a situação de homens e mulheres na atualidade. Os êxitos alcançados têm provocado
uma aparente, talvez real, diminuição na capacidade de mobilização das mulheres em torno das
reivindicações feministas, por mais que, paradoxalmente, estas tenham mais apoio que nunca na
população feminina.
Por exemplo, o consenso entre as mulheres sobre as demandas de igual salário, medidas frente à
violência ou uma política de abrigos públicos é, praticamente total. Mas resulta difícil, para não dizer
impossível, congregar sob estas reivindicações manifestações similares àquelas que se produziram
em torno da defesa do aborto nos anos setenta (de fato, só a possível colocação em questão do direito
ao próprio corpo nos Estados Unidos de Bush foi capaz de incitar de novo marchas de centenas de
milhares de pessoas). Sem dúvida, como dizíamos, isto não implica uma retirada na constante luta por
conseguir as reivindicações feministas.
À parte do imprescindível trabalho dos grupos feministas de base, que seguem sua continuada tarefa
de conscientização, reflexão e ativismo, tem tomado progressivamente força o que já se denomina
feminismo institucional. Este feminismo reveste diferentes formas nos distintos países ocidentais:
desde pactos interclassistas de mulheres nos países nórdicos (42) – onde se pode chegar a falar de
feminismo de Estado – à formação de lobbies ou grupos de pressão, até a criação de ministérios ou
instituições interministeriais da mulher, como é o caso do nosso país, onde em 1983 se criou como
organismo autônomo o Instituto da Mulher.
Apesar destas diferenças, os feminismos institucionais têm algo em comum: o decidido abandono da
aposta em situar-se fora do sistema e por não aceitar somente mudanças radicais. Um resultado
notável destas políticas tem sido o fato, realmente impensável há apenas duas décadas, de que
mulheres declaradamente feministas cheguem a ocupar importantes postos nos partidos políticos e no
Estado. Agora bem, não pode pensar-se que este abandono da "demonização" do poder não receba
duras críticas de outros setores do feminismo, e que não tenha suposto inclusive uma mudança lenta e
difícil para todo um coletivo que, a parte de sua vocação radical, tem sido "socializado no não poder".
Neste contexto institucional também cabe destacar a proliferação nas universidades de centros de
estudos feministas. Na década de oitenta, a teoria feminista não só tem mostrado uma vitalidade
impressionante, mas também que tem conseguido dar a sua interpretação da realidade um status
acadêmico.
Em definitivo, os grupos de base, o feminismo institucional e a pujança da teoria feminista, mais a
paulatina incorporação das mulheres a postos de poder não estritamente políticos – a administração,
juizados, cátedras... – e a tarefas emblematicamente masculinas – exército e polícia –, tem criado uma
consolidação feminista que simbolicamente fecharemos com a Declaração de Atenas de 1992. Nesta
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Declaração, as mulheres mostram seu claro desejo de firmar um novo contrato social e estabelecer de
uma vez por todas uma democracia paritária. Ainda que esta firme vontade de avançar e a recontagem
de tudo que se conseguiu, não significa que a igualdade sexual esteja ali na esquina. Tal e como tem
refletido Susan Faludi em sua obra “Reação”.
A guerra não declarada contra a mulher moderna, o patriarcado, como todo sistema de dominação
firmemente assentado, conta com numerosos recursos para perpetuar-se. A mensagem reativa de "a
igualdade já foi alcançada" e "o feminismo é um anacronismo que empobrece a vida da mulher" parece
ter ecoado nas novas gerações. Como conseqüência, as mulheres jovens, incapazes de traduzir de
forma política a opressão, parecem voltar a reproduzir em forma de doenças pessoais antes
desconhecidas – anorexia, bulimia – o problema que se empenha "em não ter nome".
Terminaremos esta exposição com uma referência ao problema do sujeito da luta feminista. Em alguns
textos se tem cunhado já o termo "feminismo de terceira onda" para referir-se ao feminismo dos anos
oitenta, que se centra no tema da diversidade das mulheres (43). Este feminismo se caracteriza por
criticar o uso monolítico da categoria mulher e se centra nas implicações práticas e teóricas da
diversidade de situações das mulheres. Esta diversidade afeta a variáveis que interagem com a de
gênero, como são o país, a raça, a etnicidade e a preferência sexual e, em concreto, tem sido
especialmente notável a contribuição realizada por mulheres negras.
Sem dúvida, ainda que reconhecendo a simultaneidade de opressões e que estes desenvolvimentos
enriquecem enormemente o feminismo, cabe fazer-se a seguinte pergunta: "Onde devemos nos deter
em boa lógica? Como podemos justificar generalizações sobre as mulheres afroamericanas, sobre as
mulheres do Terceiro Mundo, ou as mulheres lésbicas?" (44). Efetivamente, levando esta lógica a seu
extremo, teríamos que concluir que é impossível generalizar a experiência de cada mulher. Talvez seja
pertinente concluir com umas palavras de Célia Amorós a propósito de outro debate. Coloca esta
autora que tão importante como a desmitificação e dissolução analítica de totalidades ontológicas é
não perder, ao menos como idéia reguladora, a coerência totalizadora que deve ter todo projeto
emancipatório com capacidade de mobilização. E, na prática, postula: “A capacidade de cada sujeito
individual de constituir-se em núcleo de síntese de suas diversas "posições de sujeito", orientando-as
para a mudança do sistema” (45).

Notas da autora
1. Como ponen de relieve las recientes historias de las mujeres, éstas han tenido casi siempre un
importante protagonismo en las revueltas y movimientos sociales. Sin embargo, si la participación de las
mujeres no es consciente de la discriminación sexual, no puede considerarse feminista.
2. A, Valcárcel, "¿Es el feminismo una teoría política?, Desde el feminismo, n 1, 1986.
3. Cf. J. Kelly, "¿Tuvieron las mujeres Renacimiento?", en J. S. Amelang y M. Nash (eds.) Historia y
género: Las mujeres en la Europa moderna y contemporánea, Alfons el Maganànim, Valencia 1990, pp.
93-126; y A. H. Puleo, "El paradigma renacentista de autonomía", en C. Amorós (coord.), Actas del
Seminario Permanente Feminismo e Ilustración. Instituto de Investigaciones Feministas, Universidad
Complutense de Madrid, Madrid 1992, pp. 39-46.
4. Cf. A. H. Puleo, a. c., 43-44.
5. S. Robotham, Feminismo y revolución, Debate, Madrid 1978, pp. 15-26.
6. S. Robotham, La mujer ignorada por la historia, Debate, Madrid 1980, p. 19.
7. O. Blanco, "La 'querelle feministe' en el siglo XVII", en C. Amorós (coord.), Actas del Seminario
Permanente Feminismo e Ilustración, p. 77.
8. G. Fraisse, Musa de la razón, Cátedra, Madrid 1991, p. 194.
9. De Celia Amorós sobre Poulain de la Barre: "El feminismo como exis emancipatoria" y "Cartesianismo y
feminismo. Olvidos de la razón, razones de los olvidos", en Actas del Seminario..., pp. 85-104. Sus tesis
sobre la relación entre feminismo e Ilustraciónestán sintetizadas en "El feminismo: senda no transitada
de la Ilustración", Isegoría, n. 1 1990.
10. Algunos de estos cuadernos están traducidos en la antología La Ilustración olvidada, realizada por A. H.
Puleo, Anthropos, Barcelona 1993. También de esta misma autora, "Una cristalización político-social de
los ideales ilustrados: los 'Cahiers de doléance" de 1789", en C. Amorós (coord.), Actas del Seminario...,
pp. 147-153.
11. P. M. Duhet, Las mujeres y la Revolución (1789-1794), Península, Barcelona 1974, p. 44.

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12. O. De Gouges, "Los derechos de la mujer", en A. H. Puleo (ed.), La Ilustración olvidada, p. 155.
13. G. Fraisse, o. c., p. 191.
14. S. Robotham, La mujer ignorada por la historia, p. 68.
15. El texto de la Declaración está recogido en la Antología del feminismo de Amalia Martín-Gamero,
Alianza Editorial, Madrid 1975.
16. R. J. Evans, Las feministas, Siglo XXI, Madrid 1980, p. 15.
17. S. Robotham, o. c., p. 115.
18. C. Fourier, Teoría de los cuatro movimientos, Barral, Barcelona 1974, p. 167.
19. F. Tristán, Unión obrera, Fontamara, Barcelona 1977, p. 125.
20. Cf. N. Campillo. "Las sansimonianas: un grupo feminista paradigmático", en C. Amorós (coord.), Actas
del Seminario..., pp. 313-324.
21. A. Bebel, La mujer y el socialismo, Júcar, Madrid 1980, p. 117.
22. Cf. A. Kollontai, Memorias, Debate, Madrid 1979.
23. P. J. Proudhon, Sistema de las contradicciones económicas o filosofía de la miseria, vol. 2, Júcar,
Madrid 1974, p. 175.
24. Cf. A. J. Perona, "El feminismo americano de post-guerra": B. Friedan", en C. Amorós (coord.), Actas del
seminario Historia de la teoría feminista, Instituto de Investigaciones Feministas, Universidad
Complutense de Madrid, Madrid 1994.
25. A. Echols, Daring to Be Bad. Radical Feminism in America (1967-1975), University of Minnesota Press,
Minneapolis 1989, p. 4.
26. A. Echols, o. c., p. 11.
27. O. c., p. 23 (la traducción es nuestra).
28. O. c., p. 54.
29. Cf. Es esta misma obra "Género y Patriarcado".
30. A. Echols,o. c., p. 140.
31. A. Valcárcel, Sexo y filosofía, Anthropos, Barcelona 1991, p. 45.
32. A. Echols, o. c., p. 140.
33. J. Freeman, La tiranía de la falta de estructuras, Forum de Política Feminista, Madrid.
34. Cf. H. Hartmann, "Un matrimonio mal avenido: hacia una unión más progresiva entre marxismo y
feminismo", Zona Abierta, 198o, pp. 85-113.
35. G. M. Scanlon, "El movimiento feminista en España", en J. Astelarra (coord.), Participación política de
las mujeres, Siglo XXI, Madrid 1990, pp. 95-96.
36. Sin embargo, es preciso señalar que algunas de las feministas consideradas culturales, como es el caso
de Kathleen Barry, no se sienten en absoluto identificadas con la etiqueta de feminismo cultural y se
consideran feministas radicales.
37. R. Osborne, La construcción sexual de la realidad, Cátedra, Madrid 1993, p. 41.38. Cf. R. M. Rodríguez,
"El feminismo francés de la diferencia", en C. Amorós (cood.), Actas del seminario Historia de la teoría
feminista, Instituto de Investigaciones Feministas, Universidad Complutense de Madrid, 1994.
38. La historia de este feminismo está contada detalladamente en el libro No creas tener derechos, del
colectivo Librería de Mujeres de Milán, horas y Horas, Madrid 1991. 40. O. c., p. 81.
39. Y. Ergas, "El sujeto mujer: el feminismo de los años sesenta-ochenta", en Duby y Perrot (dirs.), Historia
de las mujeres, Taurus, Madrid 1993, vol. 5, p. 560.
40. Cf. En este mismo libro "Pactos entre mujeres".
41. Esta designación proviene del feminismo estadounidense y no habla de diversidad sino de diferencias
entre las mujeres. Hemos optado por usar la palabra diversidad para evitar equívocos con el feminismo
de la diferencia, que en Estados Unidos se denomina feminismo cultural.
42. P. Madoo y J. Niebrugge-Brantley, "Teoría feminista contemporánea", en G. Ritzer, Teoría sociológica
contemporánea, MacGraw Hill, Madrid 1992, p. 392.
43. C. Amorós, Crítica de la razón patriarcal, Anthropos, Barcelona 1985, p. 322.

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