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RESUMO
Este artigo objetiva mostrar o potencial dos projetos socioculturais como alternativa de inclusão
de adolescentes e jovens que vivem em comunidades vulneráveis no município de São Gonçalo
no Estado do Rio de Janeiro. Busca-se também apontar as atividades culturais com maior
aceitação por parte deste público, além de identificar como esses projetos envolvem suas
famílias, oportunizando outras ações com vistas à ampliação da capacidade laboral e a
preparação para o trabalho, que contribuiria para o aumento da renda familiar. Um trabalho que
surgiu da observação atenta às reações de adolescente, jovens e famílias participantes das
atividades realizadas aos sábados no Programa Escola Aberta durante o ano de 2015 no Ciep
Brizolão 309 no bairro Arsenal em São Gonçalo/RJ, que tomou forma durante a participação no
Curso de Formação de Gestores Públicos e Agente Culturais, ampliando a compreensão do
potencial dos projetos socioculturais e das possibilidades de implantação de ações efetivas no
combate à exclusão e à promoção e aproveitamento dos saberes e práticas culturais existentes
nessas comunidades.
Palavras-Chave: Projetos socioculturais. Exclusão e inclusão social. Comunidades vulneráveis.
Saberes e práticas culturais das periferias. Adolescentes e jovens em risco.
ABSTRACT
This article aims to demonstrate the potential of cultural projects as an alternative to inclusion of
young people living in vulnerable communities in the municipality of São Gonçalo in the State
of Rio de Janeiro. The aim is to also point out cultural activities with greater acceptance by this
public, and identify how these projects involve their families, providing opportunities for other
actions in order to expand the work capacity and preparation for work, would contribute to the
increase in income family. A job that came from careful observation to adolescent reactions,
youth and families participating in the activities held on Saturdays at the Open School
Programme during the year 2015 in Ciep Brizolão 309 Arsenal neighborhood in São
Gonçalo/RJ, which took shape during participation in Training course for Public Managers and
cultural Agent, expanding the understanding of the potential of cultural projects and the
implementation of possibilities for effective action to combat exclusion and the promotion and
exploitation of knowledge and cultural practices existing in these communities.
Keywords: Socio-cultural projects. Social exclusion and inclusion. Vulnerable communities.
Knowledge and cultural practices of the peripheries. Adolescents and young people at risk.
1 Especialização em Docência no Ensino Superior, em Educação Ambiental e em Supervisão e Orientação Educacional, pela UNICID -
Universidade Cidade de São Paulo, concluídas em 2012 e 2013. Graduada em Gestão de Recursos Humanos, pela UCB – Universidade Castelo
Branco, concluída em 2011. Inspetora de Alunos na Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro, concursada e aprovada em 2013,
atuando na UE – Ciep Brizolão 309 – Zuzu Angel, Bairro Arsenal, São Gonçalo – RJ. Atuou como “voluntária” no Programa Escola Aberta no
ano de 2015. Email: pompeiamarottadias@gmail.com
2 Cursando a 4ª. série do Curso de Tecnologia em Gestão de Recursos Humanos, Recenseadora do IBGE em 1992, Agente de Pessoal em 2004 -
2005, concursada e aprovada em 2000 atuando atualmente como Inspetora de alunos da rede FAETEC na Escola Estadual de Ensino
Fundamental Henrique Lage, e Secretária Escolar na Associação Educacional Miraflores. Atu ou em 2015 como voluntária no Projeto
Valorizando a escola, na Sala de Leitura Ferreira Gullar que pertence à Escola Estadual de Ensino Fundamental Henrique Lage. Email:
annacruzs3@hotmail.com
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1 INTRODUÇÃO
Diante dos dados coletados e apresentados no referido relatório, percebemos que no Rio
de Janeiro ocorreu uma situação diferente em relação aos outros estados brasileiros no tocante à
Violência e Desigualdade Social, apresentando uma queda de 0,545 em 2007 para 0,309 em
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2012, que demonstra exatamente o quanto nas comunidades periféricas do Rio, todos, negros e
brancos, enfrentam o mesmo problema, sendo jovens de todas as raças objeto de vulnerabilidade
e portanto necessitando de atenção mais eficiente no combate às formas de exposição e riscos.
Principalmente a partir de 2008, quando teve início a implantação das Unidades de
Polícia Pacificadora (UPPs) nas favelas do Rio de Janeiro, o município de São Gonçalo passou a
viver uma mudança no sentido de ampliação da violência em seu território, consequência da
migração de facções do crime organizado para comunidades periféricas e morros existentes na
localidade, aumentando a vulnerabilidade juvenil diante do envolvimento de adolescentes e
jovens em ações infracionais.
O presente trabalho buscou através de levantamento bibliográfico e da observação da
oferta do Programa Escola Aberta no bairro Arsenal em São Gonçalo, subsidiar a afirmação da
necessidade de intensificação de políticas públicas para a juventude capazes de combater esta
vulnerabilidade, principalmente no sentido de prevenção, disponibilizando projetos
socioculturais para ocupar o tempo ocioso desse público juvenil, propiciando atividades de lazer
e promovendo a cultura, compreendida aqui como os saberes existentes nas comunidades para
gerarem o sentimento de pertencimento e com sua valorização o empoderamento das mesmas no
combate aos riscos crescentes.
A resposta positiva e o envolvimento de alunos e suas famílias em atividades de esporte,
lazer, jogos, apresentações culturais (dança, teatro, capoeira) e até em oficinas de iniciação à
informática e ao trabalho, durante o ano de 2015, quando foi ofertado pela Unidade Escolar –
UE: Ciep Brizolão 309 – Zuzu Angel, no bairro Arsenal em São Gonçalo o Programa Escola
Aberta, que recebia durante os sábados, os alunos (adolescentes e jovens) e suas famílias e até
amigos, estudantes de outras localidades, para atividades como oficinas de capoeira, de zumba,
de futebol, de vôlei, de dança de salão, de teatro, assim como de iniciação à informática e oficina
de telemarketing. O Programa acontece na escola há três anos e a duração em consonância com a
verba liberada para o ano em exercício, sendo o número de meses calculado em virtude do
número de oficinas que são disponibilizadas.
Realizamos registros fotográficos que demonstram a adesão e frequência cada vez
maior, tanto de alunos como também de familiares, que encontravam na UE a oportunidade de
realizar atividades culturais e participar de oficinas de iniciação ao trabalho bem perto de suas
residências, desta maneira economizando o tempo gasto em deslocamento e o custo deste para a
renda familiar. (Apêndice – algumas fotografias no final do artigo)
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Uma política pública para a juventude, que garanta um espaço adequado para a
realização de ações de cunho educacional, cultural e de convivência prazerosa e sociabilizante, é
sem dúvida uma política que necessita ser continuada e ampliada de forma que sejam possíveis
convênios diversos entre os órgãos governamentais e entidades da sociedade civil. Ela deve
somar e aumentar a oferta de atividades em forma de oficinas, através de projetos socioculturais,
objetivando assim a redução da vulnerabilidade juvenil local e sobretudo gerando o
pertencimento e o empoderamento dessas comunidades.
A implantação do Sistema Estadual de Cultura, através da Lei 7.035 de 7 de julho de
2015, publicada no Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro em 8 de julho de 2015, página 21,
que em seu artigo 3º, tratando dos objetivos, no item XII postula estimular a presença da arte e
da cultura no ambiente educacional, e logo depois, no item XIV fala de estimular os saberes e
fazeres das culturas tradicionais de transmissão oral como parte fundamental da formação
cultural fluminense, bem como de seus processos de transmissão na educação formal, garante os
direitos das comunidades periféricas de perpetuarem seus saberes culturais e promove sua
valorização. Um mecanismo importante no combate à vulnerabilidade aqui evidenciada,
principalmente porque reconhece a presença de uma cultura das periferias, capaz de fornecer
extraordinários artistas e possíveis atores para mudanças efetivas na realidade apresentada.
porque gosto muito dos funcionários da escola e de todos que participam como
professores. (Iuri Rodrigues Lucas – 6ª série/2015)
“Eu acho que o projeto Escola Aberta deveria voltar porque era muito divertido e
ocupava a mente das pessoas. A capoeira me faz sentir importante”. (Kelly Cardoso –
8ª série/2015)
“O Escola Aberta era bom para a saúde e ocupava o tempo da gente nos fins de
semana, o futebol, o vôlei, as mesas de totó, eu gostava de tudo”. (Mateus Lucas – 8ª
série/2015)
“Achei muito bom, pena que acabou. Tive oportunidade de treinar usar um
computador”. (Eurídice Plouvier – mãe de aluna do Ensino Médio/2015)
“Trabalhar nesse projeto foi uma ótima experiência, aprendi muito como profissional e
como ser humano, pois pude lidar com pessoas de várias idades e classes sociais,
trabalhando em um projeto que prioriza e incentiva a educação de qualidade”. (Fábio
de Jesus Mesquita – Oficineiro de Informática)
Pudemos constatar que uma política pública cultural pode operar mudanças
significativas, como já aconteceu quando Marilena Chauí, filósofa paulista e professora da USP
foi Secretária Municipal de Cultura de São Paulo no governo de Luiza Erundina de 1989 a 1993,
evidenciando em seu artigo “Cultura política e política cultural” algumas ações capazes de
efetivar o que está garantido na Constituição Brasileira:
O projeto cultural colocou-se, portanto, na perspectiva da democratização da cultura
como direito à fruição, à experimentação, à informação, à memória e à participação.
Contra a violência visível e invisível dissimuladas pela mitologia da não-violência,
demos prioridade a programas de compreensão crítica da sociedade e da história
brasileiras. Conta o universo da mass midia, demos ênfase ao caráter expressivo,
experimental e diversificado da criação cultural como trabalho. Contra o populismo,
procuramos expandir a rede de serviços culturais que garantisse às camadas populares
o acesso à informação e às formas mais avançadas da produção cultural. Contra o
elitismo oligárquico, procuramos desenvolver não só projetos de memória social, mas
sobretudo tornar visível que somos todos sujeitos culturais, mesmo que não sejamos
todos criadores de obras de arte e de pensamento. Os programas visavam à formação
(escolas e oficinas, seminários e cursos), à informação (bibliotecas, discotecas,
arquivos históricos, videotecas, acesso a teatros, museus e cinemas), à reflexão crítica
(memória oral, memória social e política), ao lazer e à solidariedade social (grandes
eventos de música e dança ao ar livre), à garantia de acesso aos bens culturais e à
criação cultural (ampliação e extensão para a periferia mais pobre da cidade da rede de
bibliotecas, videotecas, discotecas, escolas de arte, teatros, centros culturais e casas de
cultura, museus e casas históricas). (CHAUÍ, 1995, p. 84)
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
É justamente este o ponto principal que norteou nossos estudos. Não é bom para
nenhum município, estado ou país, que seus adolescentes e jovens se tornem infratores e
coloquem em risco suas próprias vidas e dos demais em suas comunidades. Daí, também não é
interessante para nenhum gestor público, que a vulnerabilidade detectada alcance níveis cada vez
maiores. O combate eficiente, através de políticas públicas culturais e a adoção de projetos
socioculturais, acabaria por promover uma maior aceitação desse gestor em eleições, para
quaisquer ocupações públicas a que se candidatasse, o que o levaria a abraçar e defender a ideia
desses projetos.
As diversas organizações da sociedade civil, as associações e os agentes culturais diante
do que expomos, devem encontrar a abertura necessária para utilizar o espaço físico das escolas,
de forma que possam executar seus projetos e atividades culturais que estejam em consonância
com os objetivos do Programa Escola Aberta, desta forma ampliando a possibilidade de sucesso
e de inclusão desse público, assim como a continuidade do PEA através da entrada de subsídios
trazidos por esses projetos.
A adoção de uma política pública para a juventude que não esteja restrita apenas ao
repasse de verbas governamentais, mesmo que pareça a princípio algo difícil, não é impossível.
Existem empresas que se interessam pela ocupação do tempo ocioso dos jovens do entorno, até
mesmo na preparação e desenvolvimento de mão de obra mais qualificada. E o governo
municipal abraçará a causa, tendo em vista serem ações de prevenção à vulnerabilidade e
também uma contribuição positiva à imagem do gestor comprometido e responsável.
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REFERÊNCIAS
CANCLINI, Nestor Garcia. Políticas culturais para o desenvolvimento: uma base de dados
para a cultura. Brasília: UNESCO Brasil, 2003. 236p
CHAUÍ, Marilena. Cultura política e política cultural. Revistas USP – Estudos Avançados
[online]. São Paulo: n. 23, p. 71-84, 1995. 342p
LOPES, Roseli Esquerdo; SILVA, Carla Regina; MALFITANO, Ana Paula Serrata.
Adolescência e juventude de grupos populares urbanos no Brasil e as Políticas Públicas:
apontamentos históricos. Revista HISTEDBR [online]. Campinas: n. 23, p. 114-130,
setembro/2006. 17p
NOLETO, Marlova Jovchelovitch. Abrindo espaços: educação e cultura para a paz. 2. ed.
Brasília: UNESCO, 2003. 88p
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VILUTIS, Luana. Cultura e Juventude: A formação dos jovens nos Pontos de Cultura. 2009.
(Dissertação de mestrado) – Universidade de São Paulo, São Paulo: FE-USP, 2009. 205p
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APÊNDICE