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ISSN 1678-2305

Série Ciência APTA

Boletim do
Instituto de Pesca
volume 34 número 2 2008

Revista Científica de Pesca, Aqüicultura e Limnologia


Scientific Journal of Fisheries, Aquaculture and Limnology

INSTITUTO DE PESCA
São Paulo - SP - Brasil
Governo do Estado de São Paulo
Secretaria de Agricultura e Abastecimento
Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios
Instituto de Pesca

Governador do Estado
José Serra

Secretário de Agricultura e Abastecimento


João de Almeida Sampaio Filho

Secretário Adjunto
Antonio Júlio Junqueira de Queiróz

Chefe de Gabinete
Antonio Vagner Pereira

Coordenador da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios


João Paulo Feijão Teixeira

Diretor do Instituto de Pesca


Edison Kubo
ISSN 1678-2305

Série Ciência APTA

Boletim do
Instituto de Pesca
Revista Científica de Pesca, Aqüicultura e Limnologia
Scientific Journal of Fisheries, Aquaculture and Limnology

INSTITUTO DE PESCA
São Paulo - SP - Brasil

B. Inst. Pesca - SP - v. 34 - n. 2 - p. 181-335 - 2008


BOLETIM DO INSTITUTO DE PESCA – v. 1 (1971) – São Paulo - SP
Instituto de Pesca, 1971
(Série Ciência APTA)

ISSN 0046-9939
Não publicado em 1997.
Periodicidade: irregular
A partir do v. 26, n. 1, 2000, faz parte da
Série Ciência APTA, da SAA/APTA

1. Pesca, Aqüicultura, Limnologia – Periódico. I. São Paulo.
Secretaria de Agricultura e Abastecimento.
Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios.
II. São Paulo. Instituto de Pesca.

CDD 551.48

OS ARTIGOS PUBLICADOS NO BOLETIM DO INSTITUTO DE PESCA


SÃO INDEXADOS OU RESUMIDOS POR:

Aquatic Sciences and Fisheries Abstracts (ASFA)


Zoological Record

Tiragem: 300 exemplares

Solicita-se permuta. / Exchange desired.

Instituto de Pesca
Centro de Comunicação e Transferência do Conhecimento
Av. Francisco Matarazzo, 455
Água Branca – CEP: 05001-900
São Paulo - SP
Fones: (11) 3871-7536; (11) 3871-7530
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Conselho Editorial da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios
César Roberto Leite da Silva (Instituto de Economia Agrícola)
Elaine Fender de Andrade Talmelli (Instituto de Pesca)
Ivani Pozar Otsuk (Instituto de Zootecnia)
Márcia Maria Rebouças (Instituto Biológico)
Nelson José Beraquet (Instituto de Tecnologia de Alimentos)
Oliveiro Guerreiro Filho (Instituto Agronômico)

Comitê Editorial do Instituto de Pesca


Gestão 2002-2007 Gestão 2007-2009
Coordenador: Elaine Fender de Andrade Talmelli Coordenador: Marcus Henrique Carneiro
Membros: Antônio Olinto Ávila da Silva Membros: Claudia Maris Ferreira
Márcia Santos Nunes Galvão Maria Teresa Duarte Giamas
Maria de los Angeles Gasalla Paula Maria Gênova de Castro

Revisores científicos para este número


Instituto de Pesca
Acácio Ribeiro Gomes Tomás
Elizabeth Romagosa
Evandro Severino Rodrigues
Maria José Tavares Ranzani de Paiva
Neuza Sumico Takahashi
Patrícia de Paiva
Rose Meire Vidotti
Outras Instituições
Agnaldo Silva Martins (Universidade Federal do Espírito Santo - Vitória - ES)
Ana Lucia Salaro (Universidade Federal de Viçosa - Viçosa - MG)
Carlos Prentice-Hernández (Fundação Universidade Federal do Rio Grande - Rio Grande – RS)
Colin Robert Beasley (Universidade Federal do Pará - Bragança-PA)
Dalcio Ricardo de Andrade (Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro - Macaé - RJ)
Evanilde Benedito Cecílio (Universidade Estadual de Maringá - Maringá - PR)
Francisco Manoel de Souza Braga (Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquista Filho”- Rio Claro - SP)
Gilmar Baumgartner (Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Toledo - PR)
Gonzalo Velasco Canziani (Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - Rio Claro - SP)
Jaqueline Haddad Machado (Faculdades Adamantinenses Integradas - Adamantina - SP)
João Radünz Neto (Universidade Federal de Santa Maria - Santa Maria - RS)
José Marcelino Oliveira Cavalheiro (Universidade Federal da Paraíba - João Pessoa - PB)
Lídia Miyako Yoshii Oshiro (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro - RJ)
Lincoln P. Ribeiro (Universidade Federal de Minas Gerais - Minas Gerais - MG)
Luis Alejandro Vinatea Arana (Universidade Federal de Santa Catarina - Florianópolis - SC)
Marcos Callisto de Faria Pereira (Universidade Federal de Minas Gerais - Minas Gerais - MG)
Maria do Carmo Figueredo Soares (Universidade Federal Rural de Pernambuco - Recife - PE)
Marilia Oetterer (Universidade de São Paulo - São Paulo - SP)
Milton Luiz Pinho Espírito Santo (Fundação Universidade Federal do Rio Grande - Rio Grande - RS)
Osmar Ângelo Cantelmo (IBAMA - Pirassununga - SP)
Paulo Ricardo Pezzuto (Universidade do Vale do Itajaí - Itajaí - SC)
Regina Celia Della Modesta (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Guaratiba - RJ)
Ricardo M. Takemoto (Universidade Estadual de Maringá - Maringá - PR)
Roberto Goitein (Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquista Filho” - Rio Claro - SP)
Simone Damasceno Gomes (Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Toledo - PR)
Teodoro Vske Jnior (Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquista Filho” - São Vicente - SP)
Wilson Rogério Boscolo (Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Toledo - PR)

Conselho Editorial da Agência Paulista de Gerenciamento de Informática


Tecnologia dos Agronegócios Rodrigo Monteiro Diniz Junqueira
César Roberto Leite da Silva (Instituto de Economia
Agrícola) Editoração Eletrônica
Elaine Fender de Andrade Talmelli (Instituto de Pesca)
Marcelo Ricardo de Souza
Ivani Pozar Otsuk (Instituto de Zootecnia)

Distribuição e Divulgação
Centro de Comunicação e Transferência do Conhecimento
Núcleo de Informação e Documentação
ISSN 1678-2305

BOLETIM DO INSTITUTO DE PESCA


Revista Científica de Pesca, Aqüicultura e Limnologia
Scientific Journal of Fisheries, Aquaculture and Limnology

V. 34 n. (2) 2008

CONTEÚDO / CONTENTS

Biografia
O centenário de um grande ictiologista: Pedro de Azevedo
Hélio Ladislau Stempnievski

Artigos Científicos

Desempenho produtivo do pintado, Pseudoplatystoma corruscans (Spix & Agassiz, 1829), submetidos a diferentes
densidades de estocagem em dois sistemas de criação: intensivo e semi-intensivo
Produtive performance of Pseudoplatystoma corruscans (Spix & Agassiz, 1829) in two rearing systems: intensive and
semi-intensive
João Donato Scorvo Filho; Elizabeth Romagosa; Luiz Marques da Silva Ayroza; Célia Maria Dória Frascá-
Scorvo ..................................................................................................................................................................181-188

Hematological assessment in four brazilian teleost fish with parasitic infections, collected in feefishing from
franca, São Paulo, Brazil
Avaliação da hematologia de quatro peixes teleósteos brasileiros com infecções parasitárias, coletados em pesque-pagues
de Franca, São Paulo, Brasil
Marcos Tavares-Dias; Flávio R. Moraes; Maurício L. Martins .................................................................189-196

Índices de condição corporal em juvenis de Brycon amazonicus (Spix & Agassiz, 1829) e Colossomoma macropomum
(Cuvier, 1818) na Amazônia
Body condition indices for Brycon amazonicus (Spix & Agassiz, 1829) e Colossomoma macropomum (Cuvier, 1818)
in Amazon
Marcos Tavares-Dias; Jaydione L. Marcon; Jefferson R. G. Lemos; Jorge D. I. Fim; Elizabeth G. Affonso;
Eduardo A. Ono .................................................................................................................................................197-204

Influência do fotoperíodo natural na reprodução induzida do tambaqui, Colossoma macropomum (Cuvier,


1818).
Effects of the natural daylight in the induced reprodution of tambaqui Colossoma macropomum (Cuvier, 1818)
José Antônio Salgado de Moura Muniz; Maria Teresa Jansem de Almeida Catanho; Athiê Jorge Guerra
dos Santos ...........................................................................................................................................................205-211

Avaliação de técnicas de defumação para mexilhão Perna perna: análise sensorial e rendimento
Evaluation of smoking techniques for Perna perna mussels: sensorial analysis and yield
Maurício Gustavo Coelho Emerenciano; Maria Luiza de R. de Souza; Nilson do Prado Franco ......213-219

Avaliação das características morfométricas corporais, do rendimento de cortes e composição centesimal da


carne do armado (Pterodoras granulosus)
Evaluation of body morphometric characteristics, cuts yielding and centesimal composition of armado’s meat (Pterodoras
granulosus)
Robie Allan Bombardelli, Eduardo Antônio Sanches ...............................................................................221-229

(Continua.)
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Revista Científica de Pesca, Aqüicultura e Limnologia
Scientific Journal of Fisheries, Aquaculture and Limnology

V. 34 n. (2) 2008

CONTEÚDO / CONTENTS

(continuação)

Canibalismo em larvas de matrinxã, Brycon cephalus, após imersão dos ovos à diferentes concentrações de
triiodotironina (T3)
Cannibalism of matrinxã, Brycon cephalus, larvae after immersion of eggs to different triiodothyronine (T3)
concentration
Antônio Fernando Gervásio Leonardo, Marcio Aquio Hoshiba, José Augusto Senhorini, Elisabeth Criscuolo
Urbinati ...............................................................................................................................................................231-239

Stomach contents of the caribbean pomfret Brama caribbea (Mead, 1972) from stomach contents of great pelagic
predators from southwestern equatorial atlantic
Conteúdo estomacal da palombeta-do-caribe Brama caribbea (Mead, 1972), proveniente do conteúdo estomacal de grandes
predadores pelágicos do atlântico sudoeste equatorial
Teodoro Vaske Júnior, Rosângela Paula Lessa; Taciana Martins Barbosa; Mariana Travassos Tolotti;
Aurelyanna Christine Bezerra Ribeiro .........................................................................................................241-249

Crecimiento compensatorio de juveniles de pacú (Piaractus mesopotamicus Holmberg, 1887) en diferentes


sistemas de alimentación
Compensatory growth of fingerlings of pacú (Piaractus mesopotamicus Holmberg, 1887) in severals systems of
feeding
Julio César Ortiz, Sebastián Sánchez; Juan Pablo Roux; Alfredo Oscar González ..............................251-258

Ecologia populacional de Anomalocardia brasiliana (Gmelin, 1791) (Bivalvia, Veneridae) na Baía de Paranaguá,
Paraná, Brasil
Population ecology of Anomalocardia brasiliana (Gmelin, 1791) (Bivalvia, Veneridae) on Paranaguá bay, Paraná,
Brazil
Guisla Boehs; Theresinha Monteiro Absher; Andrea C. da Cruz-Kaled ...............................................259-270

A pesca de polvos no arquipélago de Fernando de Noronha, Brasil


The octopus fishery in the Fernando de Noronha archipelago, Brazil
Tatiana Silva Leite; Manuel Haimovici; Jorge Eduardo Lins ...................................................................271-280

Digestibilidade aparente de rações contendo levedura íntegra, levedura autolisada e parede celular pela
tilápia do nilo
Apparent digestibility coefficient of diets supplemented with whole yeast, autolyzed yeast and yeast cell wall by nile
tilapia
Hamilton Hisano, Fernanda Garcia Sampaio; Margarida Maria Barros; Luiz Edivaldo Pezzato......281-287

Redução no consumo de efluente gerado em abatedouro de tilápia do nilo através da implantação de conceitos
de produção mais limpa (P+L)
Reduction in the consumption of effluent generated in nile tilapia slaughterhouse through the concepts implantation of
cleaner production (CP)
Milena Alves de Souza; Rose Meire Vidotti; Abílio Lopes de Oliveira Neto “in memorian” .........289-296
(Continua.)
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Revista Científica de Pesca, Aqüicultura e Limnologia
Scientific Journal of Fisheries, Aquaculture and Limnology

V. 34 n. (2) 2008

CONTEÚDO / CONTENTS

(continuação)

Nota Científica
A quantitative approach to subsidize the precautionary management of the small-scale fisheries in Itaipu
Reservoir, Brazil
Aproximação quantitativa para subsidiar o manejo precaucionário das pescarias em pequena escala no Reservatório de
Itaipu, Brasil
Serguei Aily Franco de Camargo; Edson Kiyoshi Okada; Miguel Petrere Jr. .......................................297-302

Produção de ortofosfato, amônia, nitrito e nitrato no cultivo de Litopenaeus vannamei utilizando dietas com
diferentes níveis de proteína vegetal e animal
Production of orthophosphate, ammonia, nitrite and nitrate in the cultivation from Litopenaeus vannamei culture using
diet with different vegetal and animal protein levels
Waleska de Melo Costa; Alfredo Olivera Gálvez; Luis Otavio Brito; Elton Lima Santos...................303-310

Freqüência de alimentação diária para alevinos de carpa-capim (Ctenopharyngodon idella, V.)


Daily feeding frequency for grass carp fingerlings
Nandeyara Ribeiro Marques ; Carmino Hayashi; Eliana Maria Galdioli; Telma Soares; Carlos Eduardo Bento
Fernandes ............................................................................................................................................................311-317

Growth of juvenile fat snook Centropomus parallelus in cages at three stocking densities
Crescimento de juvenis de robalo-peva Centropomus parallelus em tanques-rede em três densidades de estocagem
Mônica Yumi Tsuzuki ; Rafael Ferreira Cardoso; Vinícius Ronzani Cerqueira ...................................319-324

Observações preliminares sobre o desenvolvimento larval do caranguejo aranha Stenorhynchus seticornis


(Herbst, 1788) (Decapoda: Brachyura: Majidae) em laboratório
Preliminary observations on the larval cycle of arrow crab Stenorhynchus seticornis (Herbst, 1788) (Decapoda: Brachyura:
Majidae) in laboratory
George Nilson Mendes e Anita Rademaker Valença ...............................................................................325-329

Relato de Caso

Observações a respeito da pescaria sazonal de dourado (Coryphaena hippurus) com espinhel-de-superfície no


Sul do Brasil
Observations concerning the seasonal dolphin-fish (Coryphaena hippurus) fishery with surface longline in the South
of Brazil
Rodrigo Dallagnolo; Humber Agrelli Andrade ..........................................................................................331-335
O CENTENÁRIO DE UM GRANDE ICTIOLOGISTA:
PEDRO DE AZEVEDO
O ano 2008, mais precisamente o dia 15 de abril de 2008,
marca o centésimo aniversário de nascimento do
médico e ictiologista Pedro de Azevedo.

Pedro de Azevedo nasceu em Amparo, Estado Dando continuidade às pesquisas, a equipe


de São Paulo, no dia 15 de abril de 1908. Realizou publicou, em 1937, o trabalho “A method for
estudos secundários em Campinas e ingressou inducing fish to spawn” em The Prog. Fish Cult.,
na Faculdade de Medicina da Universidade Washington, 34: 15-16. A tecnologia criada pelos
Federal do Rio de Janeiro, pela qual se formou cientistas brasileiros foi intensamente utilizada
em 1933. Iniciou sua carreira, ainda estudante, no na Europa e Estados Unidos, sendo conhecida no
Instituto Oswaldo Cruz, ingressando, em 1933, na Brasil como “Hipofisação de Peixes”. Com a morte
recém-criada Comissão Técnica de Piscicultura do de Ihering, ocorrida em 1939, Azevedo passou a
Nordeste, do antigo Departamento Nacional de dirigir a Comissão Técnica de Piscicultura, com
Obras Contra as Secas, como assistente do grande sede em Fortaleza. Posteriormente, comissionado
cientista Rodolpho von Ihering, considerado o “Pai no Ministério da Agricultura, passou a dirigir a
da Piscicultura Brasileira”. Fazendo parte da equipe Estação Experimental de Biologia e Piscicultura de
de von Ihering, Azevedo passou a estudar a biologia Pirassununga. Em 1942, convidado pelo Governador
e a fisiologia dos peixes brasileiros, com o objetivo Fernando Costa, tornou-se o primeiro diretor da
de conseguir a reprodução em laboratório, com vista recém-criada Divisão de Proteção e Produção de
ao repovoamento dos açudes nordestinos, projeto Peixes e Animais Silvestres, vinculada ao então
considerado de grande importância pelo então Departamento de Produção Animal, transformada,
Governo Brasileiro. em 1969, no atual Instituto de Pesca.
Em 1935, Rodolpho von Ihering, Pedro de Pedro de Azevedo publicou, em revistas nacionais
Azevedo, Dorival Macedo Cardozo e J. Pereira Jr. e estrangeiras de repercussão, dezenas de trabalhos
tornaram-se conhecidos da comunidade científica sobre peixes brasileiros, com vista a sua preservação
mundial após a apresentação, no Congresso e reprodução em cativeiro.
Internacional de Fisiologia realizado em Moscou, No que se refere a peixes exóticos, Azevedo
do trabalho “Hipophysis and fish reproduction”, introduziu no Estado de São Paulo, em 1953, a Tilapia
publicado em The Sechenov 7. Phys of URSS, Moscou, melanopleura, vinda do Congo Belga, objetivando sua
21(5/6): 211-212 (12). adaptação e criação em ambientes lênticos.
Em 1959, Pedro de Azevedo e sua equipe Embora tenha publicado cerca de 60 trabalhos
foram pioneiros na aclimatação da truta arco-íris científicos, Pedro de Azevedo destacou-se como um
(Oncorhynchus mykiss) em rios de montanha do Estado grande divulgador, publicando centenas de artigos
de São Paulo e, posteriormente, seu desenvolvimento em jornais e revistas de todo o País.
em cativeiro, visando à criação industrial. Para isso, Em reconhecimento ao trabalho realizado por
Azevedo idealizou o “Laboratório de Salmoni- Pedro de Azevedo, o Governo do Estado de São
cultura”, localizado no Horto Florestal de Campos do Paulo, através do Decreto no 25.663, de 1986, assinado
Jordão, com vista ao desenvolvimento de pesquisas pelo, então, Governador Franco Montoro, deu o
sobre fecundação artificial, como subsídio à criação nome do cientista ao Laboratório de Biologia de
industrial da espécie. Peixes Fluviais do Instituto de Pesca, localizado em
Azevedo aposentou-se em 1967 como chefe Pirassununga.
da Seção de Fauna Fluvial e Lacustre, passando a Pouco antes de sua morte, o Doutor Hitoshi
colaborar como Assessor Científico da presidência Nomura, Professor de Zoologia da Faculdade de
da Sudepe, permanecendo assim até sua morte, Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São
ocorrida em 23 de junho de 1973, na Cidade do Rio Paulo, de Ribeirão Preto, escreveu excelente trabalho
de Janeiro. sobre a vida científica de Pedro de Azevedo, sob o
Pedro de Azevedo foi um grande incentivador de título “Bio-Bibliografia do Dr. Pedro de Azevedo”.
pesquisas que pudessem gerar informações seguras O trabalho foi publicado no Boletim Técnico do
sobre o comportamento das nossas espécies ictíicas, DNOCS, 30(1), Fortaleza, jan.-jun./1972. Neste
com vista ao estabelecimento de uma exploração trabalho, H. Nomura afirma: “A presença de Pedro de
sustentável racional e alertar sobre os efeitos da pesca Azevedo é constante em todos os grandes e históricos
predatória e sua influência no desaparecimento de acontecimentos que ocorreram na ictiologia, pesca e
espécies de valor comercial. piscicultura do nosso País a partir de 1933.”

por Hélio Ladislau Stempniewski


Pesquisador Científico aposentado
do Instituto de Pesca
DESEMPENHO PRODUTIVO DO PINTADO, Pseudoplatystoma corruscans (Spix &
Agassiz, 1829), submetidos a diferentes densidades de estocagem
em dois sistemas de CRIAÇÃO: intensivo e semi-intensivo

João Donato SCORVO FILHO 1; Elizabeth ROMAGOSA 1; Luiz Marques da Silva AYROZA 2;
Célia Maria Dória FRASCÁ-SCORVO

RESUMO
O objetivo deste estudo foi o de analisar o desempenho zootécnico de juvenis de pintado,
Pseudoplatystoma corruscans, criados em dois sistemas, intensivo (tanques-rede, TR) e semi-intensivo
(viveiros escavados, VE), com três tratamentos e nove repetições, na região do Vale do Ribeira,
SP, durante out./02 a jul./03: Tratamento 1 (T1) = 67 peixes/m3, {total de 450 peixes/VE – 03 TR
dispostos em um VE}; Tratamento 2 (T2) = 133 peixes/m3, {total de 900 peixes/VE – 03TR dispostos
em um VE}; Tratamento 3 (T3) = 0,75 peixes/m2, {total de 450 peixes/VE}. Cada TR, no caso dos
tratamentos T1 e T2, e cada VE, no caso do tratamento T3, foi considerado uma repetição. Os peixes,
com médias de peso e comprimento inicial de 73,82 g e 23,21 cm (T01); 72,96 g e 23,10 cm (T02) e
73,14 g e 22,99 cm (T03), foram alimentados com ração extrusada (40%proteína bruta). Na Fase I
(60 dias) foram dadas 03 porções diárias com 4,0 mm de diâmetro, 5-10% do peso vivo e nas Fases
II (120 dias, 6,0 mm) e III (93 dias, 8,0 mm), 02 porções variando de 5-3% e 3-1%, nas respectivas
fases. As médias finais de peso e comprimento final foram de: 712,49 g e 45,10 cm (T1); 852,13 g e
46,33 cm (T2) e 1.179,17 g e 53,72 cm (T3); GPMD: 2,34 g (T1); 2,85 g (T2) e 4,05 g (T3); BTf: 223,01 g
(T1); 541,10 g (T2) e 384,40 g (T3); CAA: 5,2:1,0 (T1); 5,0:1,0 (T2) e 4,6:1,0 (T3); sobrevivência: 69,55%
(T1); 70,56% (T2) e 72,44% (T3). O T3 demonstrou diferença significativa dos demais (P<0,001). Os
parâmetros físicos e químicos analisados estiveram dentro dos padrões aceitáveis. O resultado
deste estudo, nas condições em que foi conduzido, mostra que o pintado apresentou um melhor
desempenho produtivo, quando criado em viveiros escavados.
Palavras-chave: Pseudoplatystoma corruscans; viveiros escavados; tanques-rede; densidade de
estocagem

PRODUTIVE PERFORMANCE OF Pseudoplatystoma corruscans (Spix & Agassiz, 1829) IN TWO


REARING SYSTEMS: intensive and semi-intensive

ABSTRACT
The objective of this study was to analyze the zootechnical performance of Pseudoplatystoma
corruscans juvenile, reared in intensive (2.25m³ net-cages – NC- with 20mm mesh) and semi-
intensive (600m² earthen ponds - EP) systems with three treatments and nine repetitions, in the
Vale do Ribeira, in the town of Pariquera-Açu, Sao Paulo, Brazil between October 2002 to July
2003: Treatment 1 (T1) = 67 fish/m³, a total of 451 fish/pond –three net-cages placed in a pond
(EP); Treatment 2 (T2) = 133 fish/m³, a total of 900 fish/pond – three net-cages placed in a pond
(EP); Treatment 3 (T3) = 0.75 fish/m², a total of 450 fish/pond. Each net-cage (treatments T1 and
T2), and each pond (treatment T3) was regarded as a repetition. The fish, with initial mean weight

Artigo Científico: Recebido em 04/09/2006; Aprovado em 22/05/2007


1
Instituto de Pesca, APTA, SAA, SP.
2
Pólo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Médio Paranapanema, APTA;
3
Pólo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Leste Paulista, APTA.
Endereço/Address: Avenida Francisco Matarazzo, 455, 05031-000, São Paulo, SP.
E-mail: scorvo@apta.sp.gov.br

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 181 - 188, 2008


182 SCORVO FILHO et al.

and length of 73.82g and 23.21cm for T1; 72.96g and 23.10cm for T2, and 73.14g and 22.99cm for T3
were fed daily extruded feed (40% crude protein). The fishes received three servings of the ration
of 4.0mm of diameter in the Phase I (60 days), 5 to 10% of the live weight and in the Phases II (120
days, 6.0mm) and III (93 days, 8.0mm), the fish were fed in two servings, the quantity ranging
from 5-3% and 3-1% in Phases II and III. At the end of the studied period, the fish presented the
following mean values: final mean weight and length: 712.49g and 45.10cm for T1; 852.13g and
46.33cm for T2; 1,179.17g and 53.72cm for T3. Daily mean weight gain: 2.34g for T1; 2.85g for T2,
and 4.05g for T3. Final total biomass: 223.01g for T1; 541.10g for T2, and 384.40g for T3. Apparent
feed conversion: 5.2:1.0 for T01; 5.0:1.0 for T02; 4.6:1.0 for T03. Survival rate: 69.55% for T1; 70.56%
for T2; 72.44% for T3. Relative condition factor: 1.01 for T1 and T2, and 1.00 for T3. The T3 were
significantly different from the other treatments (P≥0.001). The physical and chemical parameters
analyzed were within the acceptable standards for the species. The results of this study, under
the conditions it has been carried out, indicate that the P. corruscans exhibited higher productivity
when reared in earthen ponds.
Key words: Pseudoplatystoma corruscans; earthen ponds; net-cages; stocking density

INTRODUÇÃO potencial da espécie em que os alevinos de 15,0 g


Durante a década de 90, a criação de peixes carní- estocados em viveiros escavados e alimentados com
voros no Brasil, como o pintado Pseudoplatystoma ração extrusada com teor de 40 % de proteína bruta,
corruscans (ordem dos Siluriformes, família atingiram 2,0 kg, em 12 meses com uma taxa média
Pimelodidae) tem atraído a atenção de técnicos e de crescimento de 5,5 g/dia.
piscicultores (KUBITZA, 1997; MIRANDA e RIBEIRO, Dentro deste contexto, devemos salientar que,
1997; KUBITZA et al., 1998;), por ser uma das espécies nos sistemas de piscicultura em regime intensivo
mais apreciadas como peixe de mesa (CYRINO, (tanques-rede) e semi-intensivo (viveiros escavados),
2000) e muito procurada pelos praticantes da pesca a densidade de peixes por área ou por volume é
esportiva (LOVSHIN e CYRINO, 1998). Entretanto, muito alta exigindo o uso de rações completas, de alto
no atual estágio de desenvolvimento da piscicultura, valor nutricional que devem ser ajustadas as reais
a criação de bagres pimelodídeos é uma realidade necessidades dos peixes estocados (SCHMITTOU
devido aos conhecimentos gerados pela pesquisa et al., 1997). Estas informações permitem minimizar
e aos empreendimentos por parte da iniciativa o impacto ambiental ou poluição causada por estes
privada (CAMPOS, 2003; SCORVO FILHO et al., sistemas (COLT e MONTGOMERY, 1991).
2004; PEZZATO et al., 2004; ANDRADE et al., 2005; Estudos realizados por ROMAGOSA et al.,
LIRANÇO et al., prelo; COELHO e CYRINO, 2006). (2003) e LEONARDO et al., (2004), demonstram
Por outro lado, mesmo técnicos mais experientes que, ainda, existem duas outras espécies do gênero
enfrentam dificuldades na criação de peixes Pseudoplatystoma (P. fasciatum e P. tigrinum), que
carnívoros, tendo como principais fatores limitantes, permitem inferir a necessidade de pesquisas, visando
o acentuado canibalismo (BRAUM, 1978), a utilização a produção de espécies carnívoras autóctones, sob
de técnicas inadequadas de preparo e monitoramento regime intensivo e semi-intensivo.
do alimento a ser administrado (KUBITZA et al., O estudo teve como objetivo comparar o
1998) e a inabilidade destes peixes em aceitar desempenho de juvenis de pintado submetidos a
voluntariamente rações convencionais (CYRINO, três densidades de estocagem em dois sistemas de
2000 e CAMPOS, 2005). criação, tanques-rede e viveiros escavados, na região
Mais recentemente, o surubim ou pintado como é do Vale do Ribeira, SP., e analisar a proporção entre
conhecido na região sudeste, passou a merecer grande os sexos do pintado Pseudoplatystoma corruscans.
atenção dos piscicultores na região Centro-Oeste do
Brasil, despertando o interesse em sua criação em MATERIAL E MÉTODOS
sistema intensivo, impulsionado pelo domínio das O presente estudo foi conduzido no Setor de
técnicas de propagação artificial e condicionamento Piscicultura do Pólo Regional de Desenvolvimento
alimentar destas espécies, principalmente, por Sustentável dos Agronegócios do Vale do Ribeira,
empreendimentos privados (CAMPOS, 2003 e APTA, localizado no município de Pariquera-Açu,
2005). O mesmo autor ainda demonstra o grande SP, durante o período de outubro de 2002 a julho de

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Desempenho produtivo do pintado, Pseudoplatystoma corruscans, submetidos a diferentes densidades... 183

2003, totalizando um ciclo de 273 dias. de 2HP de potência, que funcionou durante o período
Foram utilizados juvenis de pintado, Pseudoplatystoma noturno (das 18h até as 6h).
corruscans, com peso médio e comprimento médio Foi utilizada a benzocaina como anestésico
total de 72,82 ± 1,0g e 23,0 ± 0,9 cm, respectivamente. (2g/150 mL álcool/20L água) para amenizar o
Os peixes já estavam condicionados a ingerir ração estresse dos peixes, provocado pelo manejo de
seca. Os peixes foram estocados em 05 viveiros captura durante as biometrias.
escavados de terra de aproximadamente de 600 m2 de As biometrias ocorreram a cada 28 dias, onde 10%
espelho d’água (12,0 m x 50,0 m), com profundidade dos exemplares de cada TR e VE foram capturados e
média útil de 1,20 m e abastecimento e escoamento seus comprimentos, (CT em cm) e pesos (PT em g),
independentes. Foram instalados, na parte mais foram registrados. A cada 56 dias, em todos os TR
profunda (1,80 m), de 2 viveiros, três tanques-rede e VE, foi realizada contagem total do número de
flutuantes de 2,25 m3, cada (1,5 x 1,5 x 1,0 m), com indivíduos sobreviventes no período.
abertura de malha de 20,0 mm.
Neste experimento não foi fornecida alimentação
Três tratamentos que consistiam de três densi- noturna. Os peixes foram alimentados manualmente,
dades de estocagem em dois sistemas de criação: sendo que na Fase I (durante 60 dias), receberam três
tanques-rede (TR) e viveiros escavados (VE) foram refeições (05h 30min; 11h 30min: 19h 30min. – duas
estabelecidos: refeições em horário de baixa luminosidade), com
• Tratamento 1, sistema intensivo: 67 peixes/m3 ração comercial com teores mínimos de 40 % de
em 3 TR (150 peixes/TR, 450 peixes por viveiro); proteína bruta, diâmetro de 4,0 mm. Nas Fases II
• Tratamento 2, sistema intensivo: 133 peixes/m3 (durante 120 dias) e III (durante 93 dias), os peixes
em 3 TR (300 peixes/TR, 900 peixes por viveiro); receberam a mesma ração, porém variando o diâme-
tro do peletes com 6,0 mm para a Fase II e 8,0 mm
• Tratamento 3, sistema semi-intensivo: 0,75
para a Fase III (Tabela 1), entretanto, os peixes foram
peixes/m2 em 3 VE (450 peixes por viveiro).
habituados à se alimentarem durante o dia em
Cada tanque-rede, no caso dos tratamentos T1 horários de plena luz, onde a freqüência alimentar
e T2, e cada viveiro, no caso do tratamento T3, foi foi reduzida à 2 refeições diárias (7h e 18h). A
considerado uma repetição. quantidade de ração fornecida na Fase I variou de 10 a
Todos os viveiros (VE), 15 dias antes do início do 5 % do peso vivo e, nas Fases II, 5 a 3 % e III, de 3 a 1 %,
experimento, foram esvaziados, limpos e receberam sendo ajustada periodicamente, nas biometrias.
um tratamento com 5 gramas de cloro/m2 (3 kg/ Os viveiros escavados, sem tanques-rede, foram
viveiro) e 133 gramas de calcário dolomítico/m2 cobertos, parcialmente, com tela sombrite 40%
(80 kg/viveiro). (12,0 m X 20,0 m). Os tanques-rede tiveram suas
Em cada viveiro foi instalado um aerador de pás tampas revestidas com a mesma tela.

Tabela 1. Fases, duração e diâmetro dos peletes e quantidade de ração na alimentação de P. corruscans.
Fases (g) Duração (período) Diâmetro dos PELETES Peso vivo (%)
Fase I (70 - 250g) 60 dias (01 out. a 01 dez.) 4,0 mm 10 a 5
Fase II (250 - 900g) 120 dias (02 dez a /01 abr.) 6,0 mm 5a3
Fase III (900g – 2,3kg) 90 dias (02 abr. a 01/jul.) 8,0 mm 3a1

Foram calculados os valores médios iniciais • S (%) = (número final de peixes x 100) ÷ número
e finais de comprimento e de peso total e dos inicial de peixes.
respectivos coeficientes de variação. • GPMD (g.dia-1) = (peso médio final – peso
A taxa de sobrevivência (S%); o ganho de peso médio médio inicial) ÷ ciclo de produção em dias
diário (GPMD), a biomassa total final (BTf), o ganho • BTf (kg) = peso médio final x número final de
de biomassa (GB) e o índice de conversão alimentar peixes.
aparente (CAA), foram estimados, respectivamente, • GB (kg) = biomassa inicial – biomassa final.
pelas seguintes expressões matemáticas: • CAA = ração fornecida(kg) ÷ GB (kg).

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184 SCORVO FILHO et al.

A Curva de Crescimento (CC) para a análise da com três rações comerciais, somente quando foram
relação Pt /Ct foi obtida através de diagramas de registrados valores de temperatura próximos de
dispersão, ajustada a expressão matemática Pt = a. 8,5 ºC, durante o outono-inverno, no município de
Ctb, e os valores de a e b estimados pelo método Inhaúma, MG.
dos mínimos quadrados, após a transformação Em relação ao pH, pôde-se verificar que os valores
logarítmica. médios variaram de 6,0 (manhã) a 8,4 (tarde) nos três
O Fator de Condição (K) foi calculado através tratamentos. Nos valores médios de transparência
da expressão K = a. Ptb x 1000 onde, b = coeficiente da água observou-se um decréscimo significativo,
angular da relação Ct/Pt (PAULY, 1984). A análise de 0,70 m em setembro de 2002 para 0,20 m em
da variação deste fator foi efetuada calculando-se o fevereiro de 2003.
valor médio durante todos os períodos estudados, Os valores para oxigênio dissolvido variaram
considerando-se os três tratamentos separadamente. de 4,6 mg L-1 a 9,0 mg L-1, salientando que havia, no
O delineamento experimental empregado foi período das 18h até as 06h, um aerador ligado o que
inteiramente casualizado com três tratamentos e três incrementava a concentração de oxigênio dissolvido
repetições. Os dados foram submetidos à análise dos na coluna d’água.
contrastes de médias testados através do método de Os parâmetros físicos e químicos analisados esti-
Tukey, ao nível de 5% de probabilidade. E o teste de veram dentro dos padrões aceitáveis para a espécie
qui-quadrado (χ2) para analisar a proporção entre os (CAMPOS, 2005).
sexos (ZAR, 1998). Os peixes neste estudo se apresentaram bastante
Foram registrados, semanalmente, temperatura calmos e tolerantes ao manejo nas despescas e nas
(termômetro de máxima e mínima), pH (peagometro transferências para outros viveiros. Entretanto,
DIGIMED), oxigênio dissolvido (oxímetro YSI) da LIRANÇO et al (prelo) recomenda o cuidado durante
água dos viveiros, estas foram medidas 3 vezes por a manipulação destes animais, pois, os mesmos
semana, às 8h e às 16h 30min. Uma vez por semana, possuem ferrões nas nadadeiras laterais e dorsais
foram obtidos os valores da concentração do teor de podendo causar ferimentos entre os peixes e no
fósforo total, amônia, nitrato, nitrito (APHA, 1989) e manipulador durante os momentos de concentração
a transparência com a imersão do Disco de Secchi, da nas redes de pesca.
água de todos os viveiros e, mensalmente, os valores Os índices de desempenho dos pintados durante
de alcalinidade (método titulométrico). o experimento, correspondentes à média dos três
No final do experimento todos os animais foram tratamentos, estão apresentados na Tabela 2.
sacrificados dos dois sistemas de criação para a Os comprimentos e pesos médios iniciais dos
estimativa da proporção entre os sexos. juvenis mostraram-se uniformes, não apresentando
diferenças entre os tratamentos (P≥ 0,05). Entretanto,
RESULTADOS E DISCUSSÃO observou-se que, ocorreu uma grande variação
A temperatura da água, parâmetro físico que do peso, demonstrado pela amplitude do desvio-
influi diretamente no crescimento dos organismos padrão, sugerindo a necessidade de triagens perió-
aquáticos, mostrou valor médio máximo de 31,4 ºC, dicas e seleção por tamanho, para esta espécie,
e média mínima de 19,5 ºC. Segundo determinada quando mantida em confinamento, esta variação
empresa citada por KUBITZA et al (1998), os pinta- como mostra a Tabela 2, o peso médio final dos peixes
dos toleram bem a queda de temperatura da água, em cada tratamento apresentou um desvio-padrão
durante o inverno, até valores ao redor de 14,0 °C, amplo, principalmente, para aqueles dos tratamentos
sem haver registro de mortalidade. Resultados sob sistema intensivo, tanques-rede, o que sugere
divulgados por ROMAGOSA et al (2003), estudando uma influência deste sistema na heterogeneidade
o P. fasciatum, foram semelhantes aos da empresa, do lote.
uma vez que, foram registrados casos de morte, Segundo OZORIO et al., (2004) e CAMPOS (2005)
somente quando os valores médios de temperatura o segredo de uma terminação bem sucedida dos
da água foram inferiores a 17,0 ºC. Entretanto, bagres está no sistema e eficiência de triagem durante
BURKERT (2002) relata que os maiores índices o crescimento, ou seja, quanto mais homogêneos
de mortalidade (média 92,6%) foram encontrados forem os lotes de peixes, maior a produção final.
com juvenis de pintado criados em tanques-rede, Entretanto, em experimentos de pesquisa torna-se

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Desempenho produtivo do pintado, Pseudoplatystoma corruscans, submetidos a diferentes densidades... 185

impossível selecioná-los por tamanho devido ao conseguidas neste estudo.


número de indivíduos e ao número de repetições O crescimento dos peixes em peso e comprimento,
que devem ser mantidas (“n“ da amostra). foi significativamente diferente quando criados
Neste estudo o índice de sobrevivência durante em viveiros escavados e em tanques-rede (P≤0,05)
o ciclo de 273 dias, para os tratamentos T1, T2 e T3, apresentando peso médio final para os tratamentos
foi de 69,55%; 70,56% e 72,44%, respectivamente, T1, T2 e T3 de 712,49 g, 852,13 g e 1.179,17 g,
mostrando diferença significativa entre o T3 e respectivamente, o comprimento médio final, para
os demais tratamentos em tanques-rede (P≤0,05) os tratamentos foram, na mesma seqüência, 45,10
(Tabela 2). Estes valores foram inferiores àqueles cm, 46,33 cm e 53,72 cm, respectivamente (Tabela 2).
obtidos por COELHO e CYRINO (2006), que Os resultados obtidos neste estudo são diferentes
trabalharam com o híbrido de pintado com cachara, daqueles obtidos por COELHO e CYRINO (2006),
tendo a sobrevivência variado de 88,40% a 91,09%. na criação de surubim em tanques-rede, e aos
BURKERT (2002), trabalhando com surubins em relatados por KUBITZA et al., (1998) e CAMPOS
tanques-rede de 13,5 m3, relatam que a sobrevivência (2003), estes com peixes criados em viveiros
variou de 65,4% a 49,8%, taxas estas menores que as escavados.

Tabela 2. Médias dos Resultados das Análises Biométricas e Estatísticas Aplicadas.

TRATAMENTOS
T1 T2 T3
Densidade Estocagem (peixes/m ) 3
67 133 0,75
Número inicial de peixes 450 900 450
Peso inicial (PTi, g) ± dp 73,82 ± 3,28a 72,96 ± 2,98a 73,14 ± 3,18a
Peso final (PTf, g) ± dp 712,49 ± 24,9a 852,13 ± 21,3a 1.179,17 ± 9,17 b
Comprimento inicial (CTi, cm) ± dp 23,21 ± 3,3a 23,10 ± 3,6a 22,99 ± 3,4a
Comprimento final (CTf, cm) ± dp 45,10 ± 4,8a 46,33 ± 2,6a 53,72 ± 3,9b
Ganho de peso médio diário (GPMD, g dia-1) 2,34a 2,85a 4,05b
Biomassa Total final (kg) 223,01a 541,10a 384,40a
Conversão alimentar aparente (CAA) 5,2:1,0a 5,0:1,0a 4,6:1,0b
Número final de peixes 313 635 326
Sobrevivência (%) 69,55a 70,56a 72,44b
(dp = desvio-padrão da média ) *para cada variável, letras diferentes diferem entre si (P≤0,05).

O ganho de peso médio diário (GPMD) também 5,0:1 e 4,6:1 para os tratamentos T1, T2 e T3, respecti-
apresentou diferença significativa entre os trata- vamente. Estes valores são maiores que os resultados
mentos (P≥ 0,05). Os peixes criados livres nos viveiros divulgados por KUBITZA et al. (1998) que mostram
escavados obtiveram um ganho diário melhor variação dos valores de CAA em relação ao tamanho
que aqueles confinados nos tanques-rede (T1 = dos peixes com médias de 1,3:1 para indivíduos de 5,0
2,34 g dia-1, T2 = 2,85 g dia- 1 e T3 = 4,05 g dia-1). Estes a 50g, 1,5:1 para os de 50,0 a 600g e de 2,0:1 de 600 a
resultados são melhores que aqueles obtidos por 3000g ou seja, índices tão bons ou mesmo superiores
COELHO e CYRINO (2006), na criação de surubim aos registrados para muitas outras espécies de peixes
em tanques-rede, sendo inferiores aos relatados por herbívoros/onívoros se considerado o peso final dos
KUBITZA et al., (1998) e CAMPOS (2005), estes com surubins ao redor 2,5 a 3,0 kg/animal. Entretanto,
peixes criados em viveiros escavados. valores intermediários foram obtidos por BUCKERT
Neste estudo, as médias de CAA dos peixes manti- (2002), em cultivos realizados em nove TR de 13,5
dos em TR foram superiores quando comparada a m3/cada, 230 juvenis de surubim, Pseudoplatystoma
conversão conseguida com os peixes criados nos sp, utilizando-se três rações comerciais, na qual
viveiros escavados (P≥0,05). Os valores foram 5,2:1, obtiveram médias de CAA ao redor de 3,0.

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186 SCORVO FILHO et al.

As piores conversões registradas para os trata- significativamente (Teste de KRUSKAL-WALLIS),


mentos T1 (5,2:1,0) e T2 (5,0:1,0), no decorrer do pois, o K manteve-se relativamente constante, sem
período experimental, em comparação com o grandes variações entre os meses quentes e frios
tratamento T3 (4,6:1,0) pode ser atribuída a fatores refletindo, possivelmente, o bom estado fisiológico
como, adaptação dos peixes ao ambiente mais e condições alimentares do peixe.
confinado (TR), disputa no momento de capturar o Segundo LOVELL (1989), as rações comerciais
alimento. utilizadas em piscicultura podem ocasionar depósitos
A expressão matemática e os valores do coeficiente de gordura indesejáveis no filé. Para verificar se
“r” para a relação foram respectivamente: isto ocorria ou não, neste estudo, posteriormente
• T1. → Pt = 0,0021Lt3,32 e 0,99; FRASCÁ-SCORVO et al., (2004) realizaram análises
quanto à influência dos sistemas de criação no
• T2. → Pt = 0,0018Lt3,37 e 0,99;
rendimento de carcaça, sabor, odor e na composição
• T3. → Pt = 0,0015Lt3,42 e 0,99, mostrando alta
centesimal da carne de pintado, criados em TR e VE.
correlação entre as variáveis.
Os resultados desses autores revelaram que, nas
O teste “t” mostrou existir diferença significativa condições em que foi realizado o experimento, os
entre os valores do coeficiente angular (b) estimado pintados criados em VE, apresentaram um melhor
ao nível de 5% somente para o T3. rendimento de filé, não demonstrando diferença em
Neste estudo a relação P t /C t mostrou que o relação a sabor e odor nos diferentes sistemas de
coeficiente de correlação foi próximo a 1,0 mostrando criação e composição centesimal.
uma estreita correlação entre as variáveis. A constante A estimativa da proporção entre os sexos mostrou
“b” apresentou um valor ligeiramente superior a 3,0, que a freqüência de ocorrência de machos e fêmeas,
sugerindo que a espécie tende a um crescimento observados em P. corruscans, diferiu, significativa-
isométrico (LE CREN, 1951). Biologicamente, o mesmo mente, da esperada (1:1), com predominância de
autor cita que a relação Pt /Ct pode ser analisada, fêmeas (80,95%) em relação aos machos (19,05%).
através da medida de variação do peso esperado pelo Considerando os resultados obtidos neste trabalho,
Ct de um peixe ou grupos de indivíduos, indicando poder-se-iam levantar algumas hipóteses para
sua condição, ou seja, o acúmulo de gordura, o bem- explicar a predominância de um sexo sobre outro,
estar geral, o desenvolvimento gonadal. Em relação como a ocorrência de alterações comportamentais
aos exemplares capturados na natureza, MIRANDA e fisiológicas dos pais decorrentes da aplicação
e RIBEIRO (1997) descreveram que o surubim do hormonal ou de alterações climáticas bruscas,
Rio São Francisco, MG, apresentou coeficientes de sofridas por estes peixes devido à mudança de
correlação mais elevados (3,52) quando comparados habitat da região Centro-Oeste para a Sudeste
a todas linhagens de bagre-do-canal. do Brasil. Este mesmo fenômeno ocorreu com o
Sabe-se ainda, que na prática, o tamanho em que estudo do Brycon cephalus (ROMAGOSA, 1998),
a espécie apresenta seu peso “ótimo” em relação onde exemplares oriundos da bacia Amazônica
ao comprimento, fornece elementos para o manejo foram transferidos para a região do Vale do Ribeira,
em pesca ou piscicultura (REID, 1983). Do ponto de induzidos à reprodução, ocorrendo predominância
vista econômico, estes parâmetros podem auxiliar de fêmeas (90,3%) em relação aos machos (9,7%),
em programas de seleção, tendo como um dos com exemplares de dois anos de idade, mantidos em
componentes principais o estudo da forma do corpo, confinamento. Entretanto, nossos resultados diferem
expressa por medidas ou índices morfométricos e/ou dos encontrados por RESENDE et al., (1995) para
zootécnicos (HUANG e LIAO, 1990 e TAVARES, a mesma espécie na natureza salientando a maior
1997). ocorrência de machos.
Para o cálculo do fator de condição (K), utilizou-
se o valor de b, da relação Pt / Ct, considerando- Conclusões
se os sexos agrupados, pois, não foi possível Os resultados deste trabalho permitem inferir
macroscopicamente identificar o dimorfismo que, nas condições em que foram conduzidos
entre os sexos. Os valores médios de K variaram, os experimentos, os peixes criados em sistema
respectivamente, de 1,007 a 1,172 para os três intensivo (TR) apresentaram, quando comparados
tratamentos. Esta ligeira superioridade não refletiu com aqueles criados em sistema semi-intensivo

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Desempenho produtivo do pintado, Pseudoplatystoma corruscans, submetidos a diferentes densidades... 187

(TE) valores menores de crescimento, tanto em Pseudoplatystoma coruscans (Spix e Agassiz, 1829).
peso como em comprimento, conseqüentemente de In: BERNARDO BALDISSEROTTO e LEVY DE
ganho de peso médio diário e de biomassa total final. CARVALHO GOMES. Espécies nativas para a
Também, o índice de conversão alimentar aparente piscicultura no Brasil. Editora UFSM, Santa Maria,
e a taxa de sobrevivência foram menores para os RS. P.327-344.
peixes em tanques-rede quando comparados com
os de viveiros escavados. No entanto, devem ser COELHO, S.R.C. e CYRINO, J.E.O. 2006 Custos
realizados mais estudos que tratem da alimentação na produção intensiva de surubins em gaiolas.
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ESALQ/USP,
(EMBRAPA) que financiou parte deste projeto. Piracicaba.
Aos técnicos de apoio à pesquisa, Benedito Martins
de Aguiar e Edilberto Rufino de Almeida do Pólo FRASCÁ-SCORVO, C.M.D.; BACARIN LEONARDO,
Regional do Vale do Ribeira, pelo apoio no manejo A.E.; VIDOTTI, R.M.; ROMAGOSA, E.; SCORVO
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coruscans) e cachara (Pseudoplatystoma fasciatum)
na bacia hidrográfica do rio Miranda, Pantanal do

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 181 - 188, 2008


HEMATOLOGICAL ASSESSMENT IN FOUR BRAZILIAN TELEOST FISH WITH
PARASITIC INFECTIONS, COLLECTED IN FEEFISHING FROM FRANCA,
SÃO PAULO, BRAZIL

Marcos TAVARES-DIAS 1, 4; Flávio R. MORAES 2; Maurício L. MARTINS 3


ABSTRACT
The effects of parasitic infections in condition factor, hematocrit, hemoglobin, mean corpuscular
hemoglobin concentration (MCHC), and leucocytes and thrombocytes distribution in Piaractus
mesopotamicus, Leporinus macrocephalus, hybrid tambacu (P. mesopotamicus x Colossoma macropomum
and Brycon amazonicus collected in feefishing from Franca, São Paulo, Brazil were evaluated.
Parasitized tambacu and L. macrocephalus had higher (p<0.05) condition factor than unparasitized
fish. However, the contrary occurred in P. mesopotamicus and B. amazonicus. Changes in the hematocrit,
hemoglobin and MCHC were not related to parasitism. Parasitic infections did not cause effect
on leucocytes and thrombocytes percentage (p>0.05) of tambacu. In P. mesopotamicus parasitized
by Monogenea Anacanthorus penilabiatus and dinoflagellate Piscinoodinium pillulare, increase in
monocytes and decrease in thrombocytes percentage (p<0.05) were found. However, the same
parasitic association in L. macrocephalus caused a decrease in lymphocytes percentage accompanied
by increase in neutrophils percentage (p<0.05). In B. amazonicus, infection by Ichthyophthirius
multifiliis, P. pillulare and monogeneans caused increase in neutrophils percentage.
Key words: blood, condition factor, freshwater fish, leucocytes, hematology, parasites

AVALIAÇÃO DA HEMATOLOGIA DE QUATRO PEIXES TELEÓSTEOS BRASILEIROS


COM INFECÇÕES PARASITÁRIAS, COLETADOS EM PESQUE-PAGUES DE FRANCA,
SÃO PAULO, BRASIL
RESUMO
O presente trabalho avaliou os efeitos de infecções parasitárias no fator de condição, na
hemoglobina, no hematócrito, na concentração da hemoglobina corpuscular média (CHCM) e na
distribuição de leucócitos e trombócitos em Piaractus mesopotamicus, Leporinus macrocephalus, híbrido
tambacu (P. mesopotamicus x C. macropomum) e Brycon amazonicus coletados de pesque-pagues
de Franca, São Paulo, Brasil. O fator de condição em tambacu e L. macrocephalus parasitados foi
significativamente (p<0,05) maior que nos peixes controles. O inverso ocorreu em P. mesopotamicus
e B. amazonicus. Em nenhuma das espécies houve alteração significativa (p>0,05) no hematócrito,
hemoglobina e CHCM que pudesse ser atribuída ao parasitismo. As infecções parasitárias também
não exerceram efeito significativo (p>0,05) sobre o percentual de leucócitos e trombócitos em
tambacus. Entretanto, em P. mesopotamicus a associação de Monogenea Anacanthorus penilabiatus
com o protozoário Piscinoodinium pillulare provocou significativo (p<0,05) aumento no percentual
de monócitos e redu-ção no percentual de trombócitos nos peixes parasitados. Em L. macrocephalus
parasitados ocorreu diminuição no percentual de linfócitos (p<0,05) e quando houve associação
entre monogenea e P. pillulare a redução do percentual de linfócitos foi acompanhada por aumento
do percentual de neutrófilos (p<0,05). Em B. amazonicus parasitados por Ichthyophthirius multifiliis,
P. pillulare e monogenean ocorreu significativo (p<0,05) aumento no percentual de neutrófilos
sangüíneos.
Palavras chave: Fator de condição, Sangue, Parasitas, Peixes de água doce, Hematologia,
Leucócitos

Artigo Científico: Recebido em 06/09/2006; Aprovado em 22/08/2007


1
Instituto de Saúde e Biotecnologia (ISB)-UFAM, Coari, AM, Brasil.
2
Centro de Aqüicultura da UNESP (CAUNESP), Jaboticabal, SP, Brasil.
3
Departamento de Aqüicultura, CCA, UFSC, Florianópolis, SC, Brasil.
4
Endereço/Adress: Universidade Federal do Amazonas, Instituto de Saúde e Biotecnologia. Estrada Coari-Mamiá, 305. Espírito Santo, 69460-000,
Coari, AM. E-mail: tavares-dias @ bol.com.br. ou mtavaresdias@ufam.edu.br

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 189 - 196, 2008


190 TAVARES-DIAS et al.

INTRODUCTION During the studied period (April of 1997 to


Aquaculture in Brazil has attracted the attention March of 1999) the water temperature ranged 17.8
of producers and owners to the activities of rearing, to 29.3 oC measured with a bulb termometer; pH
fry production and sport fishing. Due to development 6.9 to 8.7 measured with an electronic “Corning”
of aquaculture, the infectious and parasitic diseases pHmeter; electric conductivity 27.0 to 119.4 µS/cm
outbreaks have also increased (TAVARES-DIAS et al., measured with a “Corning” conductivimeter and
2001a,b; TAVARES-DIAS et al., 2002;MARTINS et al., dissolved oxygen 5.2 to 7.0 mg/l measured with an
2004; AZEVEDO et al., 2006). Fish serve as hosts to “YSY-Mod.50” oxymeter.
a range of parasites that are taxonomically diverse Body mucous and pieces of gills, kidney, liver,
and that exhibit a wide variety of life cycle strategies spleen and heart were compressed between a glass
(BARBER et al., 2000). Some parasites not change to and a coverslip with a drop of 0.65% saline solution
their host health when under stable existence, but for microscope observation. Intestines were also
if this existence is disturbed, the epizootic events observed in Petri dish containing saline solution. The
can occur. Damages caused on the host depends collection, fixation, quantification and identification
on parasite species, type of injury in the host tissue, of parasites were performed according to methods re-
number of parasite and the health status of the host ported previously (TAVARES-DIAS et al., 2001a,b).
(TAVARES-DIAS et al., 1999a), as well as of the
The blood was withdrawn from the caudal
physiologic disturbances.
vessel into a syringe containing 0.01 mg/mL of
Blood parameters have been important tools EDTA (10%). This blood was utilized to determine
to diagnosis and prognosis of fish diseases. In fish the hematocrit by microhematocrit method and
parasitized, several hematological studies have been hemoglobin by cyanomethaemoglobin technique.
reported anemia (RAUTHAN et al. 1995; TAVARES- From these primary indices resulted the secondary
DIAS et al., 2002;���������������������
HORTON and OKAMURA, Wintrobe indices, mean corpuscular hemoglobin
2003; MARTINS et al., 2004; CHAVES et al., 2006��) concentration (MCHC). For differential count of
and leukocyte counts changes (SOPINSKA, 1985; leukocytes and thrombocytes, blood smears were
RAHKONEN & PASTERNACK, 1998; TAVARES- �������� stained using a combination of May Grünwald-
DIAS et al., 1999b; SILVA-SOUZA et al., 2000; Giemsa-Wrigth (TAVARES-DIAS and MORAES,
HORTON and OKAMURA, 2003; MARTINS et al., 2003) and two hundred cells were then counted for
2004; CHAVES et al., 2006����������������������������
) due to a response of the the establishment of each cell percentage.
CHAVES et al., 2006���
major hematopoietic organs (������� ).
After blood collection, body weight (g) and length
Therefore, the aim of this paper was to evaluate the
(cm) of the fish were measured for the calculation of
effects of parasitic infections on the hematological
allometric condition factor using Ka = W/Lb; where
parameters in Piaractus mesopotamicus, Brycon
W= weight, L= total length and b= angular coefficient
amazonicus (Characidae) (Characidae), Leporinus
of weight/length relation.
macrocephalus (Anostomidae) and hybrid tambacu
(P. mesopotamicus x Colossoma macropomum). For each species of fish, analysis of variance of the
data from body weight and length was made with
MATERIAL AND METHODS the aim of checking whether there was significant
In feefishing from Franca, São Paulo State, Brazil difference between the treatments of both biometric
(20 35’ 27”- 47o 26’ 33” and 20o 34’ 50” - 47o 21’ 29”)
o variables. When there was significant effect of
92 specimens of Piaractus mesopotamicus Holmberg, body weight and/or length, the hematological
1887 (0.08-2.00 Kg and 15.0 to 47.0 cm length), 111 variables and the factor of condition were studied
Leporinus macrocephalus Garavello and Britsky, 1988 for covariance as a function of body weight and/or
(0.011-1.36 Kg and 21.5 to 46.0 cm length), 76 hybrid length (in accordance with the significance as found).
tambacu (0.01-2.27 Kg and 17.0 to 50.0 cm length) and The percentage of thrombocytes and leukocytes were
26 Brycon amazonicus Spix & Agassiz, 1829 (0.61-1.98 transformed in senus arch (square root of % + 0.5) and
Kg and 33.5 to 48.0 cm length) were collected. The the averages were compared the by the Tukey test, at
fish of both feefishing were juveniles and young 5% probability (STEEL and TORREY, 1980).
specimens, and has been acquired from a same fish
farm. For the analyses, the fish were captured with RESULTS
hook as followed. The prevalence and mean intensity of parasites

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 189 - 196, 2008


Hematological assessment in four brazilian teleost fish with parasitic infections... 191

in the fish from two feefishing are demonstrated P. mesopotamicus, while B. amazonicus presented the
in the Table 1. Ichthyophthirius multifiliis Fouquet, smaller prevalence and intensity of parasites.
1876; Piscinoodinium pillulare Schäperclaus, 1954, Parasitized P. mesopotamicus showed significant
Lom, 1981; Trichodina sp.; Myxobolus colossomatis decrease (p<0.05) in the condition factor and
Molnar and Békési, 1993 and Henneguya piaractus thrombocytes percentage compared to unparasitized
Martins and Souza, 1997; copepodids and adults of fish. Parasitized fish with A. penilabiatus and
Lernaea cyprinacea Linnaeus, 1758, Argulus sp. and P. pillulare showed increase (p<0.05) in the monocytes
monogeneansweretheobservedparasites.Monogeneans percentage and decrease (p<0.05) in the thrombocytes
from the gills of P. mesopotamicus were identified percentage (Table 2). Under these conditions, the
as Anacanthorus penilabiatus Boeger, Husack and blood smears revealed the presence of vacuolated
Martins, 1995. The larger prevalence of A. penilabiatus monocytes, generally accumulated and of different
and intensity of Trichodina sp. was observed in sizes (Figure 1).

Table 1. Mean intensity and prevalence (P %) of parasites from 305 examined fish in feefishing from farm Franca,
São Paulo, Brazil during April/1997 to March/1999. *Copepodids of L. cyprinacea
Hosts P. mesopotamicus L. macrocepahlus Hybrid tambacu B. amazonicus
Mean Mean Mean Mean
Parasites intensity
P (%)
intensity
P (%)
intensity
P (%)
intensity
P (%)

8315.4 442100.3 11747.7 222.0


I. multifiliis 9.0 6.0 3.5 6.2
±�������
11287.0 ±��������
856446.5 ±�������
19847.9 ±���
0.0
105519.8 598.4
Trichodina sp 13.0 17.0 248.0�����
±����
0.0 1.2 _ _
±��������
359374.9 ±������
1450.4
4558959.0 5050224.0 6658437.0 360.0
P. pillulare 24.0 42.0 20.0 6.2
±���������
1491097.3 ±���������
1198839.0 ±����������
14062126.0 ±���
0.0
Myxosporean _ 6.0 _ _ _ _ _ _
2287.6 251.5 433.8 1720.0
Monogenean 76.0 58.0 11.7 18.7
±������
6630.4 ±�����
292.4 ±������
6040.0 ±�����
125.4
9.6 8.5 13.4
Copepodids* 7.0 11.0 5.9 _ _
±���
8.6 ±���
7.8 ±����
11.4
2.0 2.6
L. cyprinacea 2.1 _ _ 15.3 _ _
±���
0.0 ±���
2.4
5.0
Argulus sp 1.0 4.0����
±���
3.0 0.9 _ _ _ _
±���
2.0

Table 2. Mean values ± standard deviation of condition factor and hematological parameters of unparasitized (N=15)
and parasitized P. mesopotamicus, independently of the parasite species (General values) (N=42), parasitized by
A. penilabiatus (N=18), by A. penilabiatus and P. pillulare (N=15). In each line, values followed by the same letter are
not significantly different (p>0.05) by Tukey test; ����������������������������������������
PAS-GL= PAS-positive granular leukocytes

Unparasitized Parasitized
Parameters General A. penilabiatus
Control A. penilabiatus
Values and P. pillulare
Condition factor 13.9�������
±������
0.27Aa 10.6������
±�����
0.12B 10.6������
±�����
0.17b 10.5������
±�����
0.10b
Hemoglobin (g/dL) 10.3±3.4A,a 9.7±3.4A 10.5±3.5a 9.3±3.7a
Hematocrit (%) 37.0±10.2A,a 34.1±9.3A 35.8±10.1a 34.5±7.8a
MCHC (g/dL) 28.0±4.6A,a 29.7±11.0A 31.3������
±�����
10.5a 27.7�����
±����
9.3a
Thrombocytes (%) 61.7��������
±�������
12.4A,a 53.5������
±�����
16.2B 56.7������
±�����
10.7b 50.4������
±�����
17.9b
Lymphocytes (%) 17.4±7.6A,a 22.3±11.0A 21.5�����
±����
9.5a 20.7������
±�����
10.6a
Neutrophils (%) 14.7±8.5A,a 13.5±11.5A 13.9±7.1a 17.2±18.0a
Monocytes (%) 8.7±4.4A,b 14.5±15.2A 10.8±7.4b 12.2±9.7a
PAS-LG (%) 3.9±3.3A,a 5.8±2.2A 4.9�����
±����
1.5a 6.0�����
±����
3.4a
Eosinophils (%) 1,4±0.6A,a 0.9±1.1A 1.0�����
±����
1.4a 0.6�����
±����
0.3a

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 189 - 196, 2008


192 TAVARES-DIAS et al.

Figure 1. Blood cells of P. mesopotamicus parasitized with A. penilabiatus and P. pillulare. Note monocytes (arrow) with
agglomeration and vacuoles of different size, after staining with MayGrünwald-Giemsa-Wrigth. Bars= 8 µm

In parasitized L. macrocephalus there was a the parasitism did not provoke significant changes
significant increase (p<0.05) in the condition factor (p>0.05) in the hematological variables and in the
and decrease of the lymphocytes percentage. leukocytes and thrombocytes percentage (Table 4).
Hematocrit, hemoglobin concentration and MCHC No difference (p>0.05) in the hematocrit, hemo-
did not alter when compared to unparasitized globin and MCHC was observed in parasitized
fish. In this specie of fish, the association between B. amazonicus. However, parasitized fish showed
monogenean and P. pillulare infection caused significant decrease (p<0.05) in the condition factor
decrease in lymphocytes percentage accompanied by and increase in neutrophils percentage compared
increase in neutrophils percentage (Table 3). to unparasitized fish. A reduced value in the
In parasitized hybrid tambacu was found high lymphocytes percentage was observed in parasitized
condition factor (p<0.05) than in controls. However, fish but without significant difference (Table 5).

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 189 - 196, 2008


Hematological assessment in four brazilian teleost fish with parasitic infections... 193

Table 3 – Mean values ± standard deviation of condition factor and haematological parameters of unparasitized
(N=17) and parasitized L. macrocephalus, independently of parasite species (General values) (N=38), parasitized by
monogenean (N=21), by monogenean and P. pillulare (N=18). In each line, values followed by the same letter are not
significantly different (p>0.05) by Tukey test

Parasitized
Unparasitized
Parameters Monogenean
Control General values Monogenean
and P. pillulare
Condition factor 10.2��������
±�������
0.20B,b 20.8±0.43A 20.6±0.50a 20.1± 0.24a
Hemoglobin (g/dL) 9.5±2.6A,a 8.9±2.0A 10.1±1.4a 8.9±3.1a
Hematocrit (%) 34.6±6.6A,a 35.6±7.9A 35.6±1.1a 33.5±5.8a
MCHC (g/dL) 27.7±6.6A,a 25.6±5.6A 27.5±4.8a 26.9±6.3a
Thrombocytes (%) 51.3±16.6A,a 53.0±15.6A 55.6±12.0a 50.2������
±�����
18.9a
Lymphocytes (%) 30.7��������
±�������
14.5A,a 19.5������
±�����
11.9B 25.1������
±�����
12.3a 13.9������
±�����
10.0b
Neutrophils (%) 14.6±5.3A,b 19.8±15.3A 17.0±7.5b 24.9±20.6a
Monocytes (%) 8.7±3.8A,a 12.6±11.8A 9.0±4.3a 14.8������
±�����
13.5a
Basophils (%) 4.2�������
±������
1.6A,a 5.4±2.4A 3.6±2.3a 6.3±2.8a

Table 4 – Mean values ± standard deviation of condition factor and haematological parameters in unparasitized
(N=14) and parasitized hybrid tambacu, independently of the parasite species (general values) (N=18), parasitized by
monogenean (N=09), by L. cyprinacea (N=08), by monogenean and P. pillulare (N=10). In each line, values followed by
the same letter are not significantly different (p>0.05) by Tukey test;�����������������������������������������
PAS-GL= PAS-positive granular leukocytes
Parasitized
Unparasitized
Parameters Monogenean
Control General values Monogenean L. cyprinacea
and P. pillulare
Condition factor 10.1��������
±�������
0.16B,b 13.4±1.30A 13.1±1.33a 13.4±2.16a 13.2±0.86a
Hemoglobin (g/dL) 13.1±2.9A,a 14.1±3.8A 16.9±1.3a 13.1±3.8a 14.9±3.0a
Hematocrit (%) 38.8±10.0A,a 39.9±9.5A 41.5±2.6a 39.8±11.9a 37.4±6.9a
MCHC (g/dL) 35.4±11.1A,a 35.5±7.5A 33.0±6.9a 33.2±2.9a 40.4±7.2a
Thrombocytes (%) 52.8±17.5A,a 56.3±10.4A 62.4±12.2a 52.7±7.8a 57.1±9.7a
Lymphocytes (%) 26.0±19.1A,a 23.5±8.6A 22.1±7.6a 23.3±13.7a 22.8±6.8a
Neutrophils (%) 15.1�������
±������
6.0A,a 15.5±7.9A 9.7±3.0a 17.1±13.9a 16.6±4.8a
Monocytes (%) 11.1±6.8A,a 10.6±3.1A 7.8±2.5a 11.8±4.3a 12.0±2.5a
PAS-LG (%) 4.3±1.7A,a 4.7±1.4A 4.3±1.3a 4.6±1.6a 2.4±0.5a
Eosinophils (%) 0.8�������
±������
0.4A,a 0.7±0.5A 0.9±0.4a 0.9±0.4a 0.7�����
±����
0.6a

Table 5 – Mean values ± standard deviation of condition factor and hematological parameters in unparasitized (N=21)
and parasitized B. amazonicus by monogenean, I. multifiliis and P. pillulare. In each line, values followed by the same
letter are not significantly different (p>0.05) by t test

Parameters Unparasitized Parasitized


Condition factor 11.7������
±�����
0.02A 9.8�����
±����
0.4B
Hemoglobin (g/dL) 11.4±1.4A 10.1±3.6A
Hematocrit (%) 42.7±8.0A 43.5±4.9A
MCHC (g/dL) 27.7�����
±����
7.7A 25.2�����
±����
9.9A
Thrombocytes (%) 48.0������
±�����
18.4A 47.1������
±�����
14.8A
Lymphocytes (%) 19.4������
±�����
14.4A 9.8�����
±����
9.6A
Neutrophils (%) 20.5±5.1B 31.3±5.2A
Monocytes (%) 12.1±3.3A 11.8±6.2A

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 189 - 196, 2008


194 TAVARES-DIAS et al.

DISCUSSION Trachinotus marginatus parasitized by Bicotylophora


Parasites have been responsible for delay in fish trachinoti (CHAVES et al., 2006).
growth and gain of weight by affecting the food It is difficult to comment on changes in number
ingestion (BARBER et al., 2000; BARKER et al., 2005). of blood immune cells in parasitized fish, because
The relationship between weight and length has been the exact function of each cell is still little known.
used as a tool to estimate body conditions of healthy Moreover, these cells can confound the interpretation
fish (TAVARES-DIAS et al., 2000a) and parasitized of results when attempting to make conclusions
fish (LAIDLEY et al., 1988; TAVARES-DIAS et al., about the degree of stress experienced by parasitized
1999a; RANZANI-PAIVA et al., 1997; TAVARES- fish. Nevertheless, when fish were parasitized by
DIAS et al., 2002; LIZAMA et al., 2006). different parasites in unlike intensity levels, has
In the present work, parasitized P. mesopotamicus been reported lymphocytosis accompanied by
and B. amazonicus had low condition factor. Similar neutrophilia and monocytosis (TAVARES-DIAS
finding has been reported for Onchorhynchus keta et al., 2002), lymphocytopenia accompanied by
(URAWA, 1996) and for Heterrobranchus longifilis monocytosis and neutrophilia (SOPINSKA, 1985;
(EKANEM and OBIKEZIE, 1996). On the other SILVA-SOUZA et al., 2000) and lymphocytopenia
hand, parasitized tambacu and L. macrocephalus accompanied by neutrophilia and basophilia
had higher condition factor than unparasitized (Martins et al., 2004), as well as lymphocytosis and
fish, corroborating the results described in trout neutrophilia (RAHKONEN and PASTERNACK,
experimentally infected with Cryptobia salmositica 1998).�������������������������������������������
Blood leukocytes, especially granulocytes
(LAIDLEY et al., 1988) and in Prochilodus lineatus and monocytes, could destroy pathogenic organism.�
parasitized by Monogenea, Digenea, Cestoda, In parasitized fish, increase in levels circulating of
Nematoda, Copepoda and Branchiura (LIZAMA monocytes has been attributed to an improvement of
et al, 2006). This increase in condition factor of cell defense system (SOPINSKA, 1985). Neutrophils
tambacu and L. macrocephalus can be a consequence possessing phagocytic capability are often the first
of liquid in the visceral cavity, which has also been leukocytes to migrate to the site of infecting parasite
reported in parasitized trout (LAIDLEY et al., 1988). (RAHKONEN and PASTERNACK, 1998; SILVA-
However, in Prochilodus lineatus has been reported SOUZA et al., 2000), therefore increase or decrease of
that largest fish with highest condition factor can these granulocytes may be found, on the dependence
tolerate higher levels of parasitic infection (LIZAMA of the infection stage.
et al., 2006). In present study, L. macrocepalus and P. pillulare
In present study, a great number of parasites in parasitized with monogenean, had decrease in
hosts did vary; hence there was no change in the lymphocytes percentage and increase in neutrophils
hematocrit, hemoglobin concentration and MCHC in percentage, while B. amazonicus parasitized with
parasitized P. mesopotamicus, tambacu, B. amazonicus monogenean, I. multifiliis and P. pillulare had decrease
and L. macrocephalus. Similar finding have been neutrophils percentage. On the other hand, tambacu
in Mugil platanus with parasites monogenean or parasitized with monogenean, L. cyprinacea or
copepod (RANZANI-PAIVA et al. 1997), in P. P. pillulare did not showed alteration in the leukocytes
mesopotamicus with Argulus sp (TAVARES-DIAS et al., percentage. Similarly, has been reported no changes
1999b) and Oreochromis niloticus with monogenean, in leukocytes distribution in M. platanus parasitized
Trichodina sp. and Lamproglena sp. (AZEVEDO et al., by monogenean, copepods, trypanosomes and
2006). Therefore, these results suggest that the parasite Trichodina sp. (RANZANI-PAIVA et al., 1997) and in
and host are adapted to survival in these conditions, O. niloticus parasitized by monogenean, Trichodina sp.
without significant losses to the host health. On and Lamproglena sp. (AZEVEDO et al., 2006).
the other hand, decrease in primary red blood cell Mechanisms of specific immunity in fish are
indices has been reported in O. niloticus parasitized significantly less developed and play marked less
by Ichthyophthirius multifiliis and Saprolegnia sp. important role than in birds or mammals (STOSIK
(TAVARES-DIAS et al., 2002), in Dicentrarchus labrax et al., 2001). In contrast, fish have non-specific
parasitized by Ceratothoa oestroides (HORTON and resistance system, which plays the basic role in
OKAMURA, 2003), in L. macrocephalus parasitized defense of the organism against pathogenic (STOSIK
by Goezia leporini (MARTINS et al., 2004) and in et al., 2001; PASSANTINO et al., 2005). Then, piscine

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 189 - 196, 2008


Hematological assessment in four brazilian teleost fish with parasitic infections... 195

thrombocytes represent a link between innate and Immune adaptive response induced by Bicotylophora
adaptive immunity (PASSANTINO et al., 2005). In trachinoti (Monogena: Diclidophoridae) infestation
P. mesopotamicus, independently of parasite species, in pompano Trachinotus marginatus (Perciformes:
was found decrease in thrombocytes percentage. Carangidae). Fish & Shellfish Immunology, New
Similar change has been reported for P. mesopotamicus York, 21: 242-250.
with Argulus sp. (TAVARES-DIAS et al., 1999b), for
B. bendelisis with trypanossomiasis (RAUTHAN EKANEM, D.A. and OBIKEZIE, A.I. 1996 Growth
et al., 1995), Salmo trutta with Diphyllobotrium reduction in African catfish fry infected
dentriticum (RAHKONEN and PASTERNACK, with Trichodina martinkae Basson & Van As,
1998) and for O. niloticus with I. multifiliis and 1991(Ciliophora, Peritrichida). Journal Aquaculture
Saprolegnia sp. (TAVARES-DIAS et al., 2002). in the Tropics, 11:91-96.
Possibly, the thrombocytes were being mobilized
HORTON, T. and OKAMURA, B. 2003 Post-
to contribute in the organic defense mechanisms,
hemorrhagic anaemia in sea bass, Dicentrachus
because these cells together with the leukocytes seem
labrax (L.), caused by blood feeding of Ceratothoa
to represent an important defense line in these hosts.
oestroides (Isopoda: Cymothoidae). Journal of Fish
However, other factors should be also considered.
Diseases, Stirling, 26: 401-406.
RAHKONEN and PASTERNACK (1998) suggested
that this thrombocytopenic response might serve LAIDLEY, C.W., WOO, P.T.K.; LEATHERLAND,
to release clotting factors in preparation for tissue J.F. 1988 The stress-response of rainbow trout
damage. to experimental infection with the blood parasite
To summary, the results demonstrated different Cryptobia salmositica Katz, 1951. Journal of Fish
leukocytes responses to the parasites, which may be Biology, 32: 253-261.
due to different degree of susceptibility of each host.
Fish were captured with hook and line, and had food LIZAMA, M. DE LOS A.P.; TAKEMOTO, R.M.;
in their stomach, then probably were not captured PAVANELLI, G.C. 2006 Parasitism influence on
sick fish, because fish in an advanced disease stage the hepato, splenenosomatic and weight/length
have not appetite. Therefore, this fact was responsible and relative condition factor of Prochilodus lineatus
for non-change in the hemoglobin concentration, (Valenciennes, 1836) (Prochilodontidae) of the
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ÍNDICES DE CONDIÇÃO CORPORAL EM JUVENIS DE Brycon amazonicus (SPIX &
AGASSIZ, 1829) E Colossomoma macropomum (CUVIER, 1818) NA AMAZÔNIA

Marcos TAVARES-DIAS 1; 4; Jaydione L. MARCON 2; Jefferson R. G. LEMOS 2; Jorge D. I. FIM 3;


Elizabeth G. AFFONSO 3; Eduardo A. ONO 3

RESUMO
O fator de condição relativo (Kn), relação esplenosomática (RES) e relação hepatosomática (RHS)
foram comparados em juvenis de Brycon amazonicus (matrinxã) e Colossomoma macropomum
(tambaqui). Espécimes de B. amazonicus e C. macropomum pesando entre 18,0 e 38,0g e 14,0 e 79,0g,
respectivamente, foram coletados de viveiros da Coordenação de Pesquisa em Aqüicultura,
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Manaus, Brazil). O Kn em B. amazonicus variou de
0,90 a 1,10 e em C. macropomum de 0,79 a 1,25. Os valores médios da RES em C. macropomum foram
significativamente maiores (P<0,05) que em B. amazonicus, enquanto os valores médios da RHS
não apresentaram diferenças significativas (P>0,05) entre as duas espécies. Em C. macropomum o
peso esplênico e o peso hepático estiveram positivamente correlacionados com a massa corporal.
Porém, em B. amazonicus essa relação não ocorreu entre o peso esplênico e a massa corporal,
indicando um padrão espécie-específico. A observância do Kn, RES e RHS em B. amazonicus e C.
macropomum sugere que os indivíduos dessas espécies apresentaram boas condições de higidez.
Portanto, recomenda-se a ampliação desses índices como indicadores de higidez para outras
espécies ícticas de importância econômica ainda não estudadas neste contexto.
Palavras-chave: Brycon amazonicus, Colossoma macropomum, fator de condição, relação
esplenosomática, relação hepatosomática

BODY CONDITION INDICES FOR Brycon amazonicus (SPIX & AGASSIZ, 1829) E
Colossomoma macropomum (CUVIER, 1818) IN AMAZON
ABSTRACT
A study comparing the relative condition factor (Kn), splenosomatic index (SSI) and hepatosomatic
index (HSI) was carried out in juveniles of Brycon amazonicus (matrinxã) and Colossomoma
macropomum (tambaqui). ���������������������
Individuals of both, B. amazonicus e C. macropomum, ranging from 18.0
to 38.0g and 14.0 to 79.0g respectively, were provided by the Department of Aquaculture, National
Research Institute of the Amazon (INPA, Manaus, Brazil). The Kn was very similar and varied
from 0.90 to 1.10 for B. amazonicus and from 0.79 to 1.25 for C. macropomum. The splenosomatic
index was higher (p<0.05) in C. macropomum than in B. amazonicus, while for the HSI no significant
difference (p>0.05) was found between the two fish species. Positive relationship regarding spleen
and liver weight to body mass was observed for C. macropomum. However, this relationship was
not found for spleen weight to body mass of B. amazonicus, indicating a species-specific pattern.
The Kn, SSI and HSI of C. macropomum and B. amazonicus suggest that both species presented
good health condition. Therefore, we recommend using these indices as indicators of the health
condition for other fish species that have not been studied.
Key words: Brycon amazonicus, Colossoma macropomum, condition factor, hepatosomatic index,
splenosomatic index

Artigo Científico: Recebido em 06/09/2006; Aprovação em 26/06/2007


1
Instituto de Saúde e Biotecnologia (ISB), UFAM, Coari, AM
2
Instituto de Ciências Biológicas (ICB), UFAM, Manaus, AM
3
Coordenação de Pesquisa em Aqüicultura (CPAQ), INPA. Manaus, AM
4
Endereço/Address: Universidade Federal do Amazonas, Instituto de Saúde e Biotecnologia. Estrada Coari-Mamiá, 305,
69460-000 - Coari, AM, Brasil. E-mails: tavares-dias@bol.com.br ou mtavaresdias@ufam.edu.br

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 197 - 204, 2008


198 TAVARES-DIAS et al.

INTRODUÇÃO (RES) e hepatosomática (RHS), respectivamente. A


O fator de condição é um indicador quantitativo determinação dos valores padrão da RHS e RES é de
do grau de higidez ou do bem estar do peixe grande importância para compreensão dos distúrbios
(LE CREN, 1951; TAVARES-DIAS et al., 2000a; que podem ocorrer durante condições ambientais
LIZAMA e AMBRÓSIO, 2002; FROESE, 2006). Esse adversas (RANZANI-PAIVA e TAVARES-DIAS,
indicador pode ser usado para avaliar as diferentes 2002; TAVARES-DIAS et al., 2000a, b; TAVARES-
condições de alimentação em espécies distintas e as DIAS, 2004; TAVARES-DIAS e MATAQUEIRO, 2004).
interferências da densidade populacional, do clima Redução na RES em peixes pode ser interpretada
e de outras condições ambientais (LE CREN, 1951; como evidência de contração esplênica, pois os
LIZAMA e AMBRÓSIO, 2002; GOMIERO e BRAGA, peixes tendem a deprimir os estoques esplênicos
2003; FROESE, 2006). Alterações nos valores do de eritrócitos quando em situação de estresse
fator de condição têm sido relatadas em função das hipóxico ambiental (GALLAUGHER e FARREL,
variações e características intrínsecas das espécies, 1998). Por outro lado, o aumento da RES pode
além de diferenças nas condições ambientais e/ou ser atribuído a ajustes bioquímicos e fisiológicos
relacionadas ao período reprodutivo dos peixes necessários para manter a homeostasia em resposta
(ANDRADE-TALMELLI et al., 1998/1999; LIZAMA a agressores ambientais, como aquelas envolvidas
e AMBRÓSIO, 2002; FROESE, 2006). ANDRADE- nas repostas leucocitárias às infecções ou produção
TALMELLI et al.(1998/1999) utilizaram o fator de de eritrócitos para reposição sangüínea em processos
condição para selecionar fêmeas de Brycon insignis anemiantes (RANZANI-PAIVA e TAVARES-DIAS,
mais aptas a responderem à reprodução induzida. Em 2002; TAVARES-DIAS e MATAQUEIRO, 2004).
espécimes de Colossoma macropomum provenientes da Reduções na RHS também podem estar associadas
região amazônica, foram demonstradas variações à utilização de reservas energéticas, necessários para
no fator de condição ao longo do ano, em função a manutenção da homeostasia (TAVARES-DIAS
da oferta ou escassez de alimentos (VILLACORTA- et al., 2000a; RANZANI-PAIVA e TAVARES-DIAS,
CORREA e SAINT-PAUL, 1999). Portanto, todos 2002).
estes estudos indicam que o fator de condição pode O presente estudo teve como objetivo comparar
ser considerado um índice corporal que reflete o fator de condição, RES e RHS em juvenis de
as interações entre o peixe e os fatores bióticos e B. amazonicus e C. macropomum, teleósteos amazônicos
abióticos que o cercam. de importância econômica não apenas para esta
Os peixes teleósteos são desprovidos de região, mas também para outras regiões do Brasil.
linfonodos e medula óssea e apresentam tecido
hematopoiético localizado, principalmente nos MATERIAL E MÉTODOS
rins e baço, importantes órgãos eritropoiéticos, Juvenis de matrinxã Brycon amazonicus e de
trombopoiéticos e leucopoiéticos nesses vertebrados tambaqui Colossoma macropomum estavam sendo
(DALMO et al., 1997; TAVARES-DIAS e MORAES, criados em dois viveiros (216 m 3) distintos na
2004). Além disso, o baço participa do sistema Coordenação de Pesquisa em Aqüicultura (CPAQ)
imunológico específico e inespecífico (DALMO et al., do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
1997). Já o fígado pode ser considerado um tecido (INPA, Manaus, Brasil) e foram alimentados na
hematopoiético (TAVARES-DIAS e MORAES, 2004) alevinagem com ração farelada contendo 34%
com menor papel no sistema de defesa, embora de proteína bruta e, posteriormente, com ração
haja evidências de sua participação na eliminação peletizada contendo 28% de proteína bruta. Quando
de antígenos (DALMO et al., 1997), além da sua os peixes tinham aproximadamente três meses de
capacidade de armazenar grandes quantidades idade, 25 B. amazonicus e 40 C. macropomum foram
de lipídios e glicogênio como reserva energética coletados e submetidos aos exames biométrico e
(GERMAM e KOZLOVSKAYA, 2001). parasitológico. No momento da coleta dos espécimes
O tamanho do baço e do fígado varia entre as de B. amazonicus, a temperatura da água do viveiro foi
diferentes espécies de peixes (TAVARES-DIAS de 28 ºC, pH 6,2 e com uma concentração de oxigênio
et al., 2000a; RANZANI-PAIVA e TAVARES-DIAS, dissolvido de 4,7 mg/L, enquanto que no viveiro de
2002; TAVARES-DIAS, 2004) e a melhor medida C. macropomum a temperatura da água foi de 27,8 ºC,
relativa estabelecida para avaliar o tamanho desses o pH em torno de 5,7 e a concentração de oxigênio
órgãos pode ser obtida pela relação esplenosomática dissolvido equivalente a 4,9 mg/L.

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 197 - 204, 2008


Índices de condição corporal em juvenis de Brycon amazonicus e Colossomoma macropomum... 199

Os peixes foram sacrificados com a utilização de RESULTADOS E DISCUSSÃO


benzocaína (1 g/L de água), imediatamente medidos Brycon amazonicus e C. macropomum são espécies
e pesados para a obtenção do comprimento total distintas quanto às características do tipo de cresci-
(Lt) e massa corpórea total (Wt). Em seguida, cada mento. Assim, para compará-las, torna-se pertinente a
exemplar foi dissecado para a obtenção do baço e do utilização do Kn, um índice que permite comparações
fígado, que foram pesados em balança de precisão interespecíficas sem levar em conta uma possível
analítica. De posse desses dados biométricos, foi interferência da forma corporal dos peixes (GOMIERO
determinado o fator de condição relativo/Kn (LE e BRAGA, 2003; FROESE, 2006). Os resultados aqui
CREN, 1951), a RES e a RHS (TAVARES-DIAS et al., obtidos demonstram que, apesar de não haver
2000a) para os indivíduos de cada espécie. diferença significativa do Kn entre as duas espécies
A avaliação parasitológica também foi realizada, (teste t de Student, p=0,576), os exemplares de
por meio da coleta de muco da superfície corporal, C. macropomum exibiram maior amplitude de variação
de fragmentos de brânquias, rins, fígado, baço e deste parâmetro, quando comparado aos exemplares
coração do peixe. Essas peças, banhadas em uma de B. amazonicus (Tabela 1). Isso possivelmente se
gota de solução salina, foram comprimidas entre deve ao fato de alguns indivíduos de C. macropomum
lâmina e lamínula e a preparação examinada sob terem apresentado menor peso, quando comparados
microscopia de luz comum. O intestino de cada a outros de mesmo comprimento, indicando
peixe foi também examinado, com o auxílio de um possivelmente uma alteração na atividade alimentar
estereomicroscópio. Somente os peixes isentos de destes peixes, no viveiro. GOMIERO e BRAGA (2003)
parasitos ou de alterações estruturais macroscópicas descreveram que o Kn também variou em duas
foram incluídos no presente estudo. espécies de tucunarés do gênero Cichla provenientes
A análise estatística dos dados incluiu a compara- do Reservatório de Volta Grande, principalmente, em
ção das variáveis obtidas entre as duas espécies decorrência de alterações na atividade de alimentação.
estudadas pelo emprego do teste t de Student. Em C. macropomum mantido experimentalmente com
Além disso, para cada espécie, testou-se a presença restrição alimentar por 28 dias, o Kn não foi alterado
de correlações entre o peso e o comprimento total significativamente (ITUASSÚ et al., 2004). Por outro
dos peixes, bem como entre o peso dos órgãos lado, exemplares de C. macropomum coletados em rios
estudados e a massa corpórea total dos mesmos, da Amazônia central apresentaram variações no fator
utilizou-se a regressão linear simples com números de condição ao longo do ano, em função da maior
não logaritmizados. Em todas as análises realizadas, oferta de alimento no período de cheia ou escassez do
assumiu-se um intervalo de confiança de 95% mesmo no período da seca (VILLACORTA-CORREA
(p< 0,05). e SAINT-PAUL, 1999).

Tabela 1. Valores médios ± desvio padrão do peso total (Wt), comprimento total (Lt), fator de condição relativo (Kn),
relação hepatosomática (RHS%) e relação esplenosomática (RES%) em B. amazonicus e C. macropomum. Os valores
entre parênteses representam amplitudes de variação. Letras diferentes, em uma mesma linha, indicam diferenças
significativas (p< 0,05) entre as duas espécies

Parâmetros B. amazonicus (n=25) C. macropomum (n=40)


28, 1 ± 6,5a 42,6 ± 13,8b
Wt (g)
(18,0-38,0) (14,0-79,0)
13, 1 ± 1,4a
13,7 ± 1,5a
Lt (cm)
(11,0-15,3) (10,0-17,0)
1,00 ± 0,04 a
1,00 ± 0,87a
Kn
(0,90-1,10) (0,79-1,25)
0,031 ± 0,017 a
0,045 ± 0,017b
RES (%)
(0,008-0,076) (0,018-0,113)
1,31 ± 0,51 a
1,19 ± 0,25a
RHS (%)
(0,44-2,57) (0,65-1,75)

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 197 - 204, 2008


200 TAVARES-DIAS et al.

O tamanho do baço pode variar entre as espécies (TAVARES-DIAS et al., 2000a). Porém, os valores
(TAVARES-DIAS et al., 2000a; TAVARES-DIAS, médios da RHS em C. macropomum foram menores
2004; RANZANI-PAIVA e TAVARES-DIAS, que o de C. macropomum mantidos experimentalmente
2002). No presente estudo, o tamanho do baço em em restrição alimentar ou não, durante 28 dias
C. macropomum foi maior que em B. amazonicus (ITUASSÚ et al., 2004).
(Tabela 1). Porém, o baço de C. macropomum foi Variáveis como a idade, condição fisiológica
maior que de Piaractus mesopotamicus provenientes do peixe e o próprio ambiente, podem contribuir
de tanques do CAUNESP, Jaboticabal (SP), espécie para a ocorrência de variações no tamanho do
ecologicamente próxima da primeira espécie fígado desses animais (TAVARES-DIAS et al.,
(TAVARES-DIAS e MATAQUEIRO, 2004). Por 2000a; TAVARES-DIAS e MATAQUEIRO, 2004).
outro lado, o tamanho deste órgão foi menor que Esse órgão estoca grande quantidade de gordura
o de P. mesopotamicus e híbrido tambacu coletados e glicogênio (GERMAM e KOZLOVSKAYA,
em pesque-pagues de Franca, SP (TAVARES-DIAS 2001), ingredientes energéticos estratégicos para
et al., 2000a). Todavia, o tamanho do baço além a manutenção da homeostasia (TAVARES-DIAS
desta especificidade pode variar com a idade e sexo et al., 2000a; RANZANI-PAIVA e TAVARES-DIAS,
(VAINIKKA et al., 2005), estado fisiológico do animal, 2002), principalmente durante condições adversas.
ou ainda em resposta ao ambiente (TAVARES- VILLACORTA-CORREA e SAINT-PAUL (1999)
DIAS et al., 2000a; RANZANI-PAIVA e TAVARES- demonstraram para tambaquis coletados em seu
DIAS, 2002; TAVARES-DIAS e MATAQUEIRO, ambiente natural, que a RHS variou em função da
2004). Interessantemente, os valores médios da taxa de utilização dessas reservas, necessárias para
RES registrados aqui para juvenis de B. amazonicus suprir suas demandas energéticas durante o período
foram similares aos relatados para indivíduos de escassez de alimentos, bem como para a produção
maiores (jovens) dessa espécie e de B. orbignyanus, de gametas na reprodução. Nos sistemas de cultivo,
provenientes do nordeste de São Paulo (TAVARES- a oferta de alimento é contínua, independente da
DIAS, 2004), indicando que a idade e o ambiente não época do ano. Contudo, se essa oferta consistir em
tiveram influencia nessas espécies de briconíneos. uma alimentação desbalanceada e inadequada para
o peixe, aumentos (inclusive por acúmulo excessivo
A correlação positiva observada entre o peso cor-
de gorduras) ou diminuições no tamanho do órgão
poral e o peso esplênico nos juvenis de C. macropomum
podem ser também observados e, essa análise, pode
(Figura 1A) sugere que o baço cresce proporcionalmente
ser importante para uma avaliação mais ampla e
ao aumento corporal, nessa espécie. Resultados
conclusiva sobre o grau de higidez e bem estar dos
similares foram demonstrados em outras espécies,
peixes em ambientes de cultivo.
como Oreochromis niloticus (YAMAMOTO e SHIMA,
Embora o fígado possa variar no formato e
1990) e Leporinus macrocephalus (TAVARES-DIAS
tamanho entre as espécies de peixes (TAVARES-
et al., 2000a). Por outro lado, esse padrão não se
DIAS et al., 2000a; TAVARES-DIAS, 2004; RANZANI-
aplica às outras espécies de peixes, como Mugil
PAIVA e TAVARES-DIAS, 2002), nos juvenis de
platanus (RANZANI-PAIVA e TAVARES-DIAS,
C. macropomum e B. amazonicus, o tamanho deste
2002), P. mesopotamicus e seu híbrido, o tambacu
órgão foi proporcional ao peso corporal do animal
(TAVARES-DIAS et al., 2000a), bem como para os
(Figura 2A-B), corroborando o que foi anteriormente
juvenis de B. amazonicus analisados no presente
demonstrado para O. niloticus, P. mesopotamicus,
estudo (Figura 1B). Portanto, além do tamanho do
L. macrocephalus e o híbrido tambacu (TAVARES-DIAS
baço variar entre as espécies de peixes, o seu peso
et al., 2000a). Por outro lado, essa proporcionalidade
pode ser proporcional à massa corporal somente em
não foi observada para M. plantanus (RANZANI-
alguns peixes.
PAIVA e TAVARES-DIAS, 2002), sugerindo que
Os valores médios da RHS em juvenis de essa relação pode ter comportamento espécie-
B. amazonicus da Amazônia foram similares aos específica e, que generalizações baseadas em um
de juvenis de C. macropomum (Tabela 1) e também número reduzido de espécies devem ser tomadas
em relação aos valores descritos para jovens de com cautela, principalmente quando consideramos
B. amazonicus e B. orbignyanus oriundos do nordeste a ampla variedade de espécies de importância
de São Paulo (TAVARES-DIAS, 2004), bem como econômica pertencentes à ictiofauna amazônica
para jovens de P. mesopotamicus e híbrido tambacu ainda não investigadas nesse contexto.

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 197 - 204, 2008


Índices de condição corporal em juvenis de Brycon amazonicus e Colossomoma macropomum... 201

Figura 1. Relações entre o peso esplênico e o peso corporal em (A) C. macropomum (n=40) e (B) B. amazonicus (n=25).
Em C. macropomum essa vinculação é significativa (R2= 0,501; p<0,001) e pode ser explicada pela equação y = -0,00463
+ (0,000571 x peso corpóreo). Na segunda espécie essa relação não foi observada (p>0,05)

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 197 - 204, 2008


202 TAVARES-DIAS et al.

Figura 2. Relação entre o peso hepático e o peso corporal em (A) B. amazonicus (n=25, R2= 0,292; p=0,005) e (B)
C. macropomum (n=40, R2 = 769; p<0,001). As equações y= -0,0143 + (0,000571 x peso corpóreo) e y= -0,0817 + (0,0141
x peso corpóreo) explicam essas relações para a primeira e segunda espécie, respectivamente

CONCLUSÕES As variações inter e intra-específicas observadas na


De posse dos valores do Kn para juvenis de B. RHS e RES de B. amazonicus e C. macropomum podem
amazonicus e C. macropomum, foi possível inferir ser consideradas normais, uma vez que ambas
que ambas as espécies apresentaram bom grau as espécies apresentavam idade similar, estavam
de bem estar, na medida em que vinham sendo isentas de parasitos e de lesões estruturais internas
cultivadas em seus respectivos viveiros de criação. e externas, além de serem mantidas em ambiente

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 197 - 204, 2008


Índices de condição corporal em juvenis de Brycon amazonicus e Colossomoma macropomum... 203

com condições similares. Apesar dos tamanhos do ITUASSÚ, D.R.; SANTOS, G.R.S; ROUBACH, R.;
baço e fígado variarem entre as diferentes espécies de PEREIRA-FILHO, M. 2004 Desenvolvimento
peixes, é possível obter estimativas relativas precisas de tambaqui submetido a períodos de privação
do tamanho desses órgãos, com a utilização das alimentar. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília,
relações espleno e hepatosomática, especialmente 39: 1199-1203.
nas espécies em que o peso de seus órgãos tem
vinculação direta com o peso corpóreo do animal. LE CREN, E.D. 1951 The length-weight relationship
Assim, recomenda-se a ampliação desses índices de and seasonal cycle in gonadal weight and condition
condição corporal como indicadores de higidez para in the perch (Perca fluviatilis). Journal of Animal
outras espécies ícticas de importância econômica, Ecology, New York, 20: 201-219.
ainda não investigadas.
LIZAMA, M.A.P. e AMBRÓSIO, A.M. 2002 Condition
factor in nine species of fish of the Characidae
AGRADECIMENTOS
Family in the upper Paraná River floodplain,
À Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas Brazil. Brazilian Journal of Biology, São Carlos,
(FAPEAM, Proc.: 2203/05 e 2204/05) e ao CNPq 62: 113-124.
(Proc.: 35.0117/2005-5), pelo apoio financeiro.
RANZANI-PAIVA, M.J.T. e TAVARES-DIAS, M.
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INFLUÊNCIA DO FOTOPERÍODO NATURAL NA REPRODUÇÃO INDUZIDA DO
TAMBAQUI, Colossoma macropomum (CUVIER, 1818)

José Antônio Salgado de Moura MUNIZ 1; Maria Teresa Jansem de Almeida CATANHO ²;
Athiê Jorge Guerra dos SANTOS ¹

RESUMO
Devido a características importantes como sabor, rusticidade, rápido crescimento entre outras
qualidades, fazem do tambaqui, Colosoma macropomum, um dos peixes mais importantes da
piscicultura brasileira. Por ser um peixe reofílico, não desova naturalmente em cativeiro, o que se
faz necessária que a sua ovulação seja induzida artificialmente. No presente trabalho investigaram-
se os efeitos do fotoperíodo natural na ovulação do referida espécie, quando induzida com o LHRH,
decapeptídeo de uso veterinário. Níveis plasmáticos do hormônio 17α OH-P foram analisados
antes e após as injeções hormonais. Utilizaram-se 17 fêmeas e 16 machos em maturação final, os
quais foram induzidos com hormônio o LHRH (gonadorrelina) em dois protocolos fotoperiódicos
naturais: no protocolo A, indução hormonal iniciou-se entre as 19-20 horas, enquanto no protocolo
B a indução hormonal iniciou-se entre às 8-9 horas. Em ambos os grupos, as dosagens hormonais
decisivas foram aplicadas entre 12-13 horas após a primeira injeção. As concentrações totais nas
fêmeas variaram entre 500-1200 μgLHRH/peixe. Os machos receberam dosagem única de 50-
100μgLHRH/peixe. Não houve ocorrência da ovulação no protocolo A, enquanto todas as fêmeas
do protocolo B, ovularam. Os níveis do hormônio 17α OH-P plasmático foram estatisticamente
diferentes entre os dois grupos durante o considerado período de latência do hormônio indutor.
Os resultados apontam para a existência de um ‘gatilho fotoperiódico’ que favorece a ocorrência
da ovulação em fêmeas de tambaqui, quando são induzidas com o LHRH (gonadorrelina) de uso
veterinário.
Palavras chave: LHRH, fotoperíodo, ovulação

EFFECTS OF THE NATURAL DAYLIGHT IN THE INDUCED REPRODUTION OF TAMBAQUI


Colossoma macropomum (CUVIER, 1818)
ABSTRACT
Tambaqui Colossoma macropomum is one of the most important fishes in the Brazilian fish culture,
due to its good flavor, rusticity and rapid growth. Since it is an amazonic migrating fish, its
ovulation and spawning do not occur in captivity; therefore the induced reproduction in this fish is
always needed. The present work investigated the effects of the natural daylight on the ovulation
of tambaqui, when was induced with the common LHRH of veterinary use. Plasmatic levels of the
hormone 17α
�������������������������������������������������������������������������������������
OH-P�����������������������������������������������������������������������������
was measured before and after hormonal injections. Seventeen mature females
and sixteen males were used in the investigation. Females were induced to ovulate with the LHRH
(gonadorrelin), under two different photoperiodic protocols: In protocol A, the first hormonal
injection started in early evening, while in the protocol B it started at early morning time. In each
group, the second hormonal injection was done 12-13 after first injection. The total concentration
of the LHRH applied in the female fish varied from 500-1200 �������������������������������������
�����������������������������������
g/fish. All male received a single
dose of 50-100 ����������������������������������������������������������������������������������
��������������������������������������������������������������������������������
gLHRH/fish. No ovulation occurred in the females of the photoperiod A, while all
females in the photoperiod B, ovulated. There was statistic difference in the levels of the 17�������
�����
OH-P
hormone between the two groups, during the considered period of latency of the inducer hormone.
The results appoint to an existence of a photoperiodic cue, which can favor the occurrence of the
ovulation in tambaqui, when is induced with the common LHRH of veterinary use.
Key words: LHRH, photoperiod, ovulation

Artigo Científico: Recebido em: 11/09/2006; Aprovado em: 06/08/2007


1
Departamento de Pesca, Av. Dom Manoel de Medeiros S/N , Dois Irmãos, CEP 52171-900, Recife, PE
2
Departamento de Biofísica, Av. Prof. Moraes Rego, nº 1235, Cidade Universitária, CEP 50670-901, Recife, PE
E-mail. joanmuniz@ bol.com.br

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 205 - 211, 2008


206 MUNIZ et al.

INTRODUÇÃO reprodução induzida por meio liberadores da


O tambaqui, Colossoma macropomum (Cuvier, 1818) gonadatropina e/ou de extratos gonadotrópicos
é um dos peixes mais importantes da piscicultura exógenos para que ocorra a maturação final. Grande
brasileira, em especial nas regiões Norte e Nordeste. É parte das larviculturas brasileiras, porém, utiliza-
nativo da bacia Amazônica e considerado o segundo se de duas metodologias de indução à ovulação
maior peixe de escamas do rio Solimões e do no tambaqui: na primeira, a injeção hormonal é
Amazonas (GOULDING e CARVALHO, 1982). No normalmente aplicada entre 8-9 horas, enquanto
ambiente natural, a sua ovulação e desova ocorrem na outra, a primeira injeção hormonal é aplicada
no período das chuvas e tais eventos devem ser regu- entre 19-20 horas. Em ambos os casos, uma segunda
lados por inputs fisiológicos, mediados por fatores injeção hormonal nas fêmeas é administrada entre
externos, assim como acontece na maioria dos peixes 12-14 horas, após a primeira injeção. Isso sugere
teleósteos (VENTUERI e BERNARDINO, 1999). que uma dessas metodologias pode estar indo de
encontro ao ciclo hormonal diário normal da espécie,
No cativeiro, supressões fisiológicas no processo
prejudicando assim o processo da ovulação e a
reprodutivo podem ocorrer, devido às restrições
qualidade dos gametas. O presente trabalho, portanto,
de fatores ambientais (áreas para deslocamento,
visou estudar a influência do fotoperíodo natural
fotoperíodo e temperatura) suprimindo, de alguma
na ovulação do tambaqui Colossoma macropomum,
forma, a ação dos hormônios indutores da desova,
quando induzido com o LHRH decapeptídeo
pois, embora haja o desenvolvimento gonadal, o
(gonadorrelina) de uso veterinário. Investigou-se,
processo da maturação final (migração do núcleo
também, a variação plasmática do hormônio 17α-
e quebra da vesícula nuclear) não acontece, por
hidroxiprogesterona.
causa dessas restrições (ZOAR e MYLONAS, 2001).
Para superar tal problema, hormônios exógenos
MATERIAL E MÉTODOS
são comumente aplicados. Os mais utilizados são:
extrato bruto de hipófise de carpas (EBHC), o A investigação foi realizada na Estação de
LHRHa (análogo do LHRH, superativo, liberador Aqüicultura Continental Prof. Johei Koike, do
do hormônio luteinizante, nonapeptídeo) e o Departamento de Pesca e Aqüicultura/UFRPE, no
LHRH comum (cópia sintética do LHRH natural, período de setembro de 2004 a janeiro de 2005.
decapeptídeo). Um total de 17 fêmeas e 16 machos em maturação
Reporta-se que o fotoperíodo e a temperatura final de tambaqui, Colossoma macropomum, foram
regulam as atividades fisiológicas, entre elas, a repro- utilizados no presente trabalho. Os peixes foram
dução. Em peixes teleósteos, a ovulação e a desova selecionados, no viveiro estoque (50 x 20x 1,5 m2),
tendem a ocorrer em determinadas horas do dia, de acordo com suas características morfológicas
por causa da influência fotoperiódica (SHERWOOD, externas; para as fêmeas, ventre distendido e flácido
1983). Assim, pode-se considerar essa variável e papila genital avermelhada e dilatada.
ambiental, como um dos mais importantes no Nos machos observou-se a existência do sêmen
controle da reprodução induzida. Por outro lado, sob uma ligeira pressão abdominal (YARON, 1995).
os picos da gonadatropina maturacional plasmática Os tambaquis foram alimentados duas vezes ao
(GtHm) entre espécies de peixes variam de acordo dia (3% da biomassa total) com ração extrusada,
com a hora do dia (ZANUY e CARRILLO, 1987). contendo 28% de proteína bruta. A idade dos peixes
Sabe-se, também, que o GtH influencia a secreção e variam entre 3-4 e 4-5 anos para machos e fêmeas,
liberação dos hormônios esteróides sexuais gonadais, respectivamente.
tais como a testosterona, o 17α hidroxiprogesterona Os peixes selecionados foram utilizados em
(17α OH-P) e o 17α,20β-dihidroxiprogesterona (17α seis testes de indução à reprodução, conforme os
20β diOH-P) (YOUNG et al, 1986), sendo este último protocolos A e B:
um dos mais importantes hormônios na maturação Protocolo A: 10 fêmeas e 10 machos. Oito
final dos oócitos (MATSUYAMA et al, 1990). fêmeas foram induzidas à ovulação com o LHRH
Na maioria das piscigranjas e larviculturas (gonadarrelina). A concentração total do hormônio
do Brasil, o tambaqui é criado em regime de cati- para as fêmeas variou entre 700-1150 μgLHRH/
veiro, o que leva a algumas restrições fisiológicas peixe, divididas em duas aplicações num intervalo
reprodutivas. Daí faz-se necessária a prática da entre 12-13 horas, exceto para as duas fêmeas

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 205 - 211, 2008


Influência do fotoperíodo natural na reprodução induzida do tambaqui... 207

controle, que receberam apenas soro fisiológico. O peixe, divididas em duas aplicações entre de 12-14
peso das fêmeas variou entre 9,5-14,0 kg (Tabela 1). horas, ou em dose única, exceto as duas fêmeas
As concentrações hormonais na primeira e segunda controle que receberam apenas soro fisiológico
injeção variaram de acordo com a evolução gonadal (Tabela 2). O peso das fêmeas variou entre 10,6-15,5
de cada fêmea. Nesse protocolo, a primeira injeção kg. Diferentes do protocolo A, as primeiras injeções
hormonal foi aplicada entre as 19-20 horas (Figura 1). hormonais nesses últimos testes começaram entre
Cada macho recebeu dosagem hormonal única, 08-09 horas (Figura 1). Os machos também receberam
variando entre 50-100 μgLHRH/peixe, de acordo dosagens única, variando entre 50-100 μgLHRH/
com o estádio gonadal (i.e grau de fluidez de esperma peixe, de acordo com o seu estádio gonadal
sob ligeira pressão abdominal), no momento da As concentrações totais do LHRH (gonadorrelina),
segunda aplicação hormonal das fêmeas. empregadas nas fêmeas e machos de ambos os
Protocolo B: 7 fêmeas e 6 machos. Cinco fêmeas protocolos fotoperiódicos, são consideradas eficazes
foram induzidas à ovulação com o mesmo hormônio; à indução da ovulação e espermeação do tambaqui.
as dosagens totais variaram entre 500-1200 μgLHRH/ (PEREZ, 2003 ; SANTOS et al, 1991).

Tabela 1. Dados de fêmeas obtido durante a ação do protocolo fotoperiódico A: peso (kg); dosagens hormonais e
ocorrência de ovulação.
Protocolo fotoperiódico A
Peso Dosagem (μgLHRH/peixe) (μgLHRH/peixe)
Testes Fêmeas Ovulação
(kg) total (μgLHRH/peixe) 1o dose 2o dose
1 12,5 250 450 -
A 700 (56)* 700 (43)
2 16,3 250 450 -
1 12,7 750 (59) 250 500 -
B
2 9,5 750 (79) 250 500 -
1 10,8 1150 (106) 450 700 -
C
2 11,5 1050 (91) 400 650 -
1 12,5 950 (76) 350 600 -
D
2 13,5 850 (63) 350 500 -
Controle 14,0 --- --- --- -
Controle 15,5 --- --- --- -
**O número em parênteses significa μgLHRH/kg.

Figura 1. Calendário das injeções hormonais nos tambaquis e estimativas dos momentos de ovulação nos protocolos
A (início da indução hormonal entre19-20h) e B (início da indução hormonal entre19-20h). (*) significa momento
do acasalamento

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 205 - 211, 2008


208 MUNIZ et al.

Tabela 2. Dados de fêmeas obtido durante a ação do protocolo fotoperiódico B: peso (kg); dosagens hormonais
e ocorrência de ovulação.
Protocolo fotoperiódico B
Peso Dosagem (μgLHRH/peixe) (μgLHRH/peixe)
Testes Fêmeas Ovulação
(kg) total (μgLHRH/peixe) 1o dose 2o dose
1** 14,7 500 - (34)* 500 --- -
2** 12,5 500 - (40) --- 500 +
E
3 10,6 850 - (80) 320 330 +
1 12,7 1000 - (80) 400 600 +
F
2 15,0 1200 - (80) 450 750 +
Controle 13,0 --- --- --- -
Controle 15,5 --- --- --- -
* Número em parênteses significa μgLHRH/kg.
**Dosagem única.

Grupos de fêmeas, pertencentes aos protocolos protocolo B, ovularam.


A e B, foram selecionadas para coleta de sangue e Quanto à variação plasmática do 17α-hidroxi-
análise do 17α-hidroxiprogesterona e obedeceu o progestetrona nas fêmeas pertencentes ao protocolo
seguinte calendário amostral: ‘tempo 0’ (amostras A, o valor médio antes da primeira indução do LHRH
coletadas antes da primeira dosagem hormonal), que foi de 0,05 ng/mL do plasma, aumentou para
tempo 12’ (amostras coletadas 12 horas após a 45,57 ng/mL após 12 horas e diminuiu para 20,75
primeira indução) e ‘tempo 24’ ( amostras coletadas ng/mL após 24 horas, dentro do considerado período
24 horas após a primeira injeção) de latência do hormônio indutor (Tabela 3).
Na coleta foram utilizadas seringas heparinizadas No protocolo B, porém, o valor médio inicial foi
e agulhas (20G) de tamanho. Do pedúnculo caudal de 0,31 ng/mL do plasma, aumentou para 38,66
foram retirados 1mL de sangue, que logo em seguida ng/mL após 12 horas e continuou aumentando
foi centrifugado a 3.000 rpm por quinze minutos. até o nível médio de 56,84 ng/mL, após 24 horas
Após a centrifugação, foram congelados o plasma (Tabela 4). Houve diferença significativa entre os
sanguíneo à –15 oC, até a análise hormonal. níveis hormonais antes e depois da primeira injeção
Os níveis do hormônio 17α -hidroxiprogesterona hormonal nos protocolos A e B, assim como entre as
(17α OH-P) plasmático foram determinados por meio fêmeas de ambos os protocolos, no tempo 24.
do método de radioimunoensaio (RIE) em fase sólida, No sistema reprodutivo de peixes teleósteos,
com hormônio marcados com 125 I, utilizando-se kits a hormônio liberador da gonadatropina
comerciais Coat-A-Count, da Diagnostic Products estimula a liberação do GTH armazenado na
Corporation (DPC). hipófise, que por sua vez induz a síntese e a
Os dados obtidos foram analisados através liberação dos esteróides sexuais, dentre esses a
dos métodos estatísticos descritivos e analíticos. testosterona, o 17α-hidroxiprogestetrona (17α-
Nas análises comparativas utilizou-se o Teste de OH-p), sintetizado nas células espaciais da teca do
Tukey (α=0,05). folículo ovariano. Esse hormônio é transformado
no 17α , 20β-dihidroprogesterona (17α, 20β
RESULTADOS E DISCUSSÃO diOH-p) nas granulosas sob a ação da enzima
Os pesos dos peixes, as dosagens hormonais 20β-dihidroxiesteroideshidrogenase. Esse último
utilizadas e os efeitos do LHRH (gonadorrelina) hormônio constituiu-se em um dos MIS (maturational
sobre a ovulação do tambaqui nos protocolos A e B, induced steroids) mais importantes no processo da
estão indicados nas tabelas 1 e 2, respectivamente. ovulação em peixes teleósteos, pois também é co-
Conforme mostram os resultados, nenhuma responsável pela ocorrência de fase ‘GVBD’ (quebra
ocorrência de ovulação foi observada nas fêmeas do da vesícula germinativa), que logo precede ação
protocolo A, enquanto todas as fêmeas induzidas do ovulatória.

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 205 - 211, 2008


Influência do fotoperíodo natural na reprodução induzida do tambaqui... 209

Tabela 3. Variação da progesterona (17α OH-P em ng/ sexuais antes da primeira indução hormonal tenham
mL) de fêmeas pertencentes ao protocolo A, nos tempos contribuído para esse resultado. Nota-se que no
0, 12 e 24 horas após a primeira indução do LHRH. tempo ‘0’, os níveis do 17α OH-progesterona nas
Peixe 0 hs 12 hs 24 hs fêmeas do protocolo fotoperiódico A estavam mais
♀ 0,08 33,69 25,49 baixos do que aqueles das fêmeas pertencentes ao
protocolo B, no qual ocorreu a ovulação (Tabelas 3
♀ 0,06 55,11 23,61 e 4). Em carpa comum, Cyprinus carpio, existe um
♀ 0,05 51,06 21,19 gatilho fotoperiódico que determinada o momento
♀ 0,03 45,57 12,72 da ovulação (Santos et al, 1986) e assim como
acontece em outros peixes teleósteos, a elevação
Média 0,05 a
45,57 b
20,75c
dos níveis de GTH durante a ovulação parecer ser
Dp 0,02 8,06 4,88 dependente dos níveis plasmáticos dos esteróides
Obs. Nos dois peixes controles, não foi possível analisar a sexuais (Ainda et al, 1986). No tambaqui, pesquisas
quantidade do hormônio ao longo do experimento, exceto mais ampla são necessárias a fim de elucidar se a
no ‘tempo 0’, que foram 0,07a e 0,05a ng/mL. As letras influência fotoperiódica está condicionada aos níveis
mostram se existem diferenças estatísticas (α = 0,05).
plasmáticos de esteróides sexuais ou outro de fatores
fisiológicos.
Tabela 4. Variação da progesterona (17α OH-P em
ng/mL) de fêmeas pertencentes ao protocolo B, nos
tempos 0, 12 e 24 horas após a primeira indução do
LHRH.
Peixe 0 13 24
♀ 0,71 30,01 62,02
♀ 0,09 42,41 51,65
♀ 0,12 43,56 -------
Média 0,31 a
38,66 b
56,84c
dp 0,28 6,13 5,18
Do experimento, exceto no ‘tempo 0’, que foram 0,05a e Figura 2. Valores médios do 17α OH-progesterona
0,07a ng/mL. As letras mostram se existem diferenças plasmático nas fêmeas de tambaqui do protocolo
estatísticas (α = 0,05). A, antes e após a indução à ovulação com o LHRH
(gonadorrelina).
As Figuras 2 e 3 mostram a variação do hormônio
17α-hidroxiprogesterona plasmático nas fêmeas
pertencentes aos protocolos A e B, linhas de
tendência e os coeficientes de determinação (r 2).
Diferente do protocolo A, a variação do hormônio
nas fêmeas do protocolo B foi sempre ascendente, o
que provavelmente favoreceu o desencadeamento
do processo ovulatório, após a inversão do
fotoperíodo no momento da primeira injeção
hormonal. Os resultados apontam para a existência
de um “gatilho fotoperiódico” quando a ovulação
o tambaqui é induzida com o decapeptídeo LHRH Figura 3. Valores médios do 17α OH-progesterona
(gonadorrelina). plasmático nas fêmeas de tambaqui do protocolo
B, antes e após a indução à ovulação com o LHRH
Nenhuma ovulação, portanto, foi observada nas
(gonadorrelina).
fêmeas do protocolo fotoperiódico A. Como os testes
nesse protocolo foram realizados logo no início do Variações de sGnRH (hormônio liberador da
considerado período normal de desova do tambaqui gonadatropina de salmão) foram temporariamente
na região, presume-se que, além do fotoperíodo, correlacionados com os níveis de GTH I (gonadatropina
outros fatores, tais como, níveis basais de esteróides vitelogênica) e GTH II (gonadatropina maturacional)

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 205 - 211, 2008


210 MUNIZ et al.

da pituitária e plasmática, seguidas por alterações male masu salmon, Oncorhynchus masu. General
fotoperiódicas da maturação gonadal (AMANO, Comparative Endocrinology, 95(3) : 368-37.
1994 e DAVIES et al, 1999). Estudos apontam para a
BROMAGE, N.; PORTER, M.; RANDALL. C. 2001. The
influência da melatonina no processo da maturação
environmental regulation in farmed finfish with
gonadal de peixes teleósteos (BROMAGE, 2001).
special reference to the role of photoperiod and
Similar às aves, a melatonina plasmática de peixes
melatonin. Aquaculture, Amsterdam, v. 197(1-4)
apresenta uma variação circadiana, pois é alta
: 63-98.
durante o dia e baixa durante a noite. Embora os
recentes estudos apontem para uma influência DAVIES, B. ; BROMAGE, N. ; SWANSON, P. 1999.
da melatonina na maturação gonadal de peixes, a The brain-pituitary-gonadal axis of female
importante pergunta que ainda permanece é como rainbow trout Oncorhymchus mykiss. Effects of
os sistemas endógenos circadianos e circanual photoperiod manipulation. General Comparative
interagem com a função reprodutiva dos peixes, Endocrinology, 115(1) : 155-166.
inclusive o tambaqui.
GOULDING, M. and CARVALHO, M.L. 1982.
Vários relógios-biológicos genéticos têm sido
Life history and management of the tambaqui
identificados em muitos mamíferos. Contudo, o
(Colossoma macropomum, characidae): An
envolvimento desses genes no controle da função
important Amazonian foodfish. Revista Brasileira
circadiana e circanual da melatonina ainda não é
de Zoologia, Viçosa,1(1) : 107-138.
conhecido (Brierley, et al. 1999 apud BROMAGE
2001). MATSUYAMA, M.; YOSHIHIDE, H.; MATSUURA,
S. 1990. Effects
����������������������������������������
of steroids on germinal vesicle
CONCLUSÃO breakdown in vitro of intact follicules in the
Os resultados obtidos apontam para uma japonese whiting, Sillago japonica, a marine teleost.
influência fotoperiódica no processo ovulatório Comparative Biochemistry and Physiology,
do tambaqui, Colossoma macropomum quando Elmsford, v. 96(2) : 257- 261.
induzido com o LHRH (gonadorrelina) e que o
PEREZ, C.J.B. 2003. �������������������������������
Novas metodologias de ovulação
grau dessa influência pode estar condicionado a
induzida no tambaqui, Colossoma macropomum,
níveis plasmáticos de esteróides sexuais no inicio da
com o LHRH comum (gonadorrelina) Rel. Tecn.
indução hormonal.
Est. Aqüicultura/UFRPE,Recife, 8p.
AGRADECIMENTOS SANTOS, A.J.G.; CARMO, J.L.; WALSLEY, S.M.
À Estação de Aqüicultura Continental, 1991. Efeitos do LHRH na ovulação induzida do
do Departamento de Pesca e Aqüicultura da tambaqui Colossoma macropomum e do curimatá
Universidade Federal Rural de Pernambuco pelo pacu Prochilodus marggravii. Anais XII Congresso
apoio à realização do presente experimento e ao Brasileiro de Engenharia de Pesca. Santos, São
Departamento de Biofísica da Universidade Federal Paulo, p.103-110.
de Pernambuco, pelas análises hormonais.
SANTOS, A.J.G.; FURUKAWA, K.; BANDO, K.; AIDA,
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS K.; HANYU I. 1986 Photoperiodic determination
of preovultory gonadotropin surge onset time in
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AMANO, M.; OKUMOTO, N.; KITAMURA, S.;
2794-2748.
IKUTA, K.; SUZUKI Y.; AIDA, K. 1994 Salmon
�������
gonadotropin-releasing hormone and gonadotropin VENTUERI, R. e BERNARDINO, G. 1999. Hormônios
are involved in precocius maturation induced na reprodução artificial de peixes. Panorama da
by fotoperíod manipulation in underyearling Aqüicultura, Rio de Janeiro, n.55(9) : p. 39-49.

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 205 - 211, 2008


Influência do fotoperíodo natural na reprodução induzida do tambaqui... 211

YARON, Z. 1995. Endocrine


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control of gametogenesis
and spawning induction in the carp. Aquaculture,
n. 129(1-4) : 49-73.

YOUNG, G.; ADASHI, S.; NAGAHAMA, Y. 1986.


Role of ovarian thecal and granulose layers in
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de los teleosteos y su aplicación en acuicultura.
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hormones to genes. In: WORKSHOP HOSTED,
1999, Amsterdam. Procedings…Amsterdam:
Elsevier, p. 99-136.

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 205 - 211, 2008


AVALIAÇÃO DE TÉCNICAS DE DEFUMAÇÃO PARA MEXILHÃO Perna perna:
ANÁLISE SENSORIAL E RENDIMENTO

Maurício Gustavo Coelho EMERENCIANO 1, 2; Maria Luiza de Rodrigues de SOUZA 2;


Nilson do Prado FRANCO 3

RESUMO
O objetivo do presente trabalho foi avaliar duas técnicas de defumação, a tradicional a quente e a
que utiliza aroma natural de fumaça ou “fumaça líquida”, tendo como testemunha o cozimento a
vapor de mexilhão Perna perna. Foram avaliadas as características sensoriais (aparência, cor, aroma,
textura, sabor e teor de sal) e o rendimento do processamento. O delineamento experimental foi
inteiramente casualizado com três tratamentos (T1= defumado por fumaça líquida; T2 = defumação
tradicional e T3 = controle, apenas cozido), com nove repetições. Para a análise sensorial foram
utilizados 30 consumidores, onde cada um foi considerado um bloco. Houve diferença significativa
para o rendimento do processamento entre os tratamentos (P<0,05), entretanto não houve diferença
significativa independente da técnica de defumação aplicada. Contudo, a técnica de defumação
utilizando aroma natural de fumaça se mostrou mais atrativa, apresentando melhores resultados
quanto às características sensoriais e do produto final embalado para comercialização.
Palavras-chave: mexilhões, defumação, fumaça líquida, rendimento, Perna perna, características
sensoriais

EVALUATION OF SMOKING TECHNIQUES FOR Perna perna MUSSELS: SENSORIAL


ANALYSIS AND YIELD

ABSTRACT
The objective of the present work was evaluate two techniques of smoking, the hot traditional
and with use of smoke natural aroma or “liquid smoke”, having as control Perna perna mussels
vapor cooked. Sensorial characteristics were appraised (appearance, color, aroma, texture, flavor
and salt tenor) and yield processing. The experimental design was completely randomized with
three treatments (T1 = smoked with liquid smoke; T2 = traditional smoked and T3 = just cooked,
control), with nine repetitions. For sensorial analysis 30 people were used, where each one was
considered a block. There was significant difference for processing performance among treatments
(P<0.05), however there was not significant difference independent of smoked technique applied.
Nevertheless, smoking technique using smoke natural aroma was more attractive, presenting
better results with relationship to sensorial characteristics and final product packaged for
commercialization.
Key-words: mussels, smoking, liquid smoke, yield, Perna perna, sensorial characteristics

Artigo Científico: Recebido em: 11/09/2006; Aprovado em: 31/05/2007


1
Programa de Pós-graduação em Aqüicultura, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Centro de Aqüicultura - Via de Acesso
Prof. Paulo D. Castellane, s/n, CEP: 14884-900, Jaboticabal, SP, Brasil (Endereço atual)
E-mail: mauricioemerenciano@hotmail.com
2
Departamento de Zootecnia, Universidade Estadual de Maringá, Av. Colombo,
��������� ������������������������������������������
5790, CEP: 87020-900, Maringá, PR, Brasil
3
Zootecnista

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 213 - 219, 2008


214 EMERENCIANO et al.

INTRODUÇÃO pescado, além de proporcionar uma nova alternativa


A mitilicultura ou cultivo de mexilhões foi inicial- de sabor, cor, aroma e textura agradável ao pescado
mente proposta como uma opção complementar da (MÖHLER, 1980; WARD, 1995; WEINACKER e
renda das comunidades de pescadores artesanais. BITTNER, 1990). Para espécies de alto valor nutritivo
Hoje, tornou-se a principal fonte para a maioria ou comercial a importância seria principalmente
desses produtores, os quais gradativamente passa- quanto a agregar valor ao produto, sendo uma forma
ram de pescadores a pequenos empresários, haja a mais de incrementar um sabor, aroma, cor e textura
vista, a pesca extrativa artesanal, estar com sua diferenciada em relação ao produto original, bem
produção estagnada há vários anos. como o valor econômico.
A capacidade de armazenagem e estocagem dos Sendo assim, o objetivo do presente trabalho foi
produtos da maricultura ainda é muito limitada, pois avaliar duas técnicas de apresentação de um produto
apenas uma parcela muito pequena da produção tem defumado: a tradicional, a quente, e a que utiliza
sido beneficiada. A tendência é de crescimento com aroma natural de fumaça (denominada de “fumaça
o desenvolvimento de processos de beneficiamento líquida”), tendo como testemunha o cozimento a
eficientes que garantam a qualidade que o mercado vapor de mexilhões Perna perna.
exige.
MATERIAL E MÉTODOS
Os pescados em geral, são produtos altamente
perecíveis devido à elevada atividade de água, Animais experimentais
composição química, teores de gorduras instauradas O experimento foi realizado na Estação Experi-
facilmente oxidáveis e, principalmente ao pH mental de Piscicultura, do Departamento de
próximo da neutralidade. Devido às características Zootecnia da Universidade Estadual de Maringá.
intrínsecas, os processos de conservação do pescado
Foram utilizados exemplares de mexilhões
in natura e de transformações tecnológicas ganham
Perna perna com tamanho médio de concha de 9 cm,
importância especial (SOUZA, 2003).
oriundos de uma fazenda marinha da cidade de
No Brasil, a exploração e o uso dos recursos Palhoça – SC.
pesqueiros não alcançam os benefícios nutricionais
e econômicos que deles se espera. Uma alternativa Procedimento experimental
para melhorar os níveis nutricionais da população Os moluscos foram submetidos a uma lavagem
é propiciar o consumo de produtos curados, prévia para retirar impurezas, assegurando a
principalmente devido ao baixo custo de produção qualidade dos mesmos. Os mexilhões foram pesados,
(GONÇALVES e PRENTICE-HERNÁNDEZ, 1998). embalados em sacos de tule (cinco exemplares por
Segundo SOUZA (2003), a defumação do pescado embalagem) e identificados com placas metálicas de
é um método tradicional e têm como finalidade inox, para posterior cozimento a vapor. O cozimento
proporcionar ao produto características sensoriais foi por 20 minutos (panelas e fogão industrial,
desejáveis, como textura, aroma, entre outros. Com aproximadamente 150º C) para os mesmos serem
o processo ocorre a redução da atividade de água desconchados e pesados. A seguir os exemplares
através da desidratação e alteração do pH, pela ação foram embalados novamente em sacos de tule,
dos compostos da fumaça, evitando assim, a ação salmourados a 20% por 10 minutos e distribuídos
microbiológica com conseqüente aumento da vida aleatoriamente entre os tratamentos. Os mexilhões
útil do produto para consumo. Segundo este mesmo que foram testemunhas foram retirados dos sacos de
autor, quando realizada de maneira convencional, tule, pesados e acondicionados com óleo de girassol
a defumação tem como finalidade estender a vida em frascos de vidro (Figura 1).
útil do produto, devido aos efeitos combinados da O combustível utilizado para produzir a fumaça
salga, cocção, secagem e deposição de substâncias na defumação tradicional foi serragem de eucalipto
químicas bactericidas presentes na fumaça, como rosa (Eucalyptus globulus Labill.) e, para manutenção
fenóis, aldeídos e ácidos orgânicos. da temperatura, o gás de cozinha comum (gás
Desta forma, a defumação aplicada a espécies liquefeito de petróleo – GLP). Já o aroma natural
de menor valor pode aumentar sua qualidade, de fumaça foi proveniente da empresa Duas Rodas
contribuindo na dieta o consumidor, dando-lhe Industrial S/A, Jaraguá do Sul – SC, adquirida na
proteína de baixo custo e incentivando o consumo do forma concentrada. Os moluscos foram defumados

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 213 - 219, 2008


Avaliação de técnicas de defumação para mexilhão Perna perna... 215

em defumador artesanal de inox com geração de da câmara de defumação, para uma prévia drenagem
fumaça fora da câmara de defumação. e secagem por um período de 75 minutos a 60 ºC.
Para a defumação tradicional a quente, os mexi- Transcorridos esse período foram defumados com
lhões embalados em sacos de tule, após a salmouragem, fumaça densa por 90 minutos com uma variação de
foram dispostos nas bandejas de tela metálica dentro temperatura de 60 a 80ºC (Figura 1).

Figura 1. Fluxograma do processo de defumação utilizado para processamento dos mexilhões

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 213 - 219, 2008


216 EMERENCIANO et al.

O produto defumado foi submetido a limpeza a sensoriais das amostras foram transformados de
seco, para remover fuligens aderidas à superfície, acordo com a fórmula : √ (x + 0,5), para tabulação no
nova pesagem e acondicionados em vidros contendo programa estatístico e normalização dos dados.
óleo comestível de boa qualidade (girassol). O delineamento experimental foi inteiramente
As amostras para análise sensorial foram casualizado em três tratamentos (T1 = defumação
estocadas sob refrigeração (5 ºC) até o momento com fumaça líquida; T2 = defumação tradicional a
da análise, realizada 24 horas após o término do quente; T3 = controle, cozido no vapor), com nove
processo de defumação. repetições. A unidade experimental foi considerada
Para a técnica de defumação com fumaça líquida a embalagem de tule contendo os cinco exemplares
os mexilhões após a salmouragem foram imersos de mexilhões.
em fumaça líquida (diluição 4:1, ou seja, para cada Para a análise sensorial foram utilizados 30
quatro partes de água, uma de fumaça líquida), por repetições, no delineamento em blocos casualizados,
aproximadamente 10 segundos. Após, os moluscos onde cada consumidor foi considerado um bloco.
foram dispostos em bandejas de tela metálica dentro Os dados foram submetidos à análise de variância
do defumador de inox (sem uso de fumaça natural), (ANOVA – uma via), levando em consideração as
para desidratação por um período de 75 minutos a premissas e, se detectadas diferenças significativas
60ºC. Decorrido o período foram novamente pesados (P<0,05), foi aplicado o teste de Tukey (BANZATTO
para avaliação de rendimento e acondicionados em e KRONKA, 1995).
óleo de girassol em frascos de vidro (200ml), para
análise da forma de apresentação do produto para RESULTADOS E DISCUSSÃO
comercialização. No presente trabalho não foram observado efeitos
O rendimento foi calculado em relação ao peso (P>0,05) nos pesos das amostras depois de cozidas,
inicial total da amostra in natura, pós-cozimento e depois de processadas, bem como nos rendimentos
pós-defumação e a partir deste, foram analisados as cozidos e entre as técnicas de defumação T1 e T2
variáveis de rendimento através das perdas ocorridas (líquida e tradicional, respectivamente). No entanto,
no processo. quando analisado o rendimento processado, as
Amostras de mexilhões Perna perna foram amostras que foram somente cozidas (T3), foram
avaliadas sensorialmente por uma equipe de 30 observadas diferenças significativas (P<0,05)
consumidores (não treinados), cerca de 24 horas conforme a Tabela 1, com rendimento bem maior
após a defumação. As amostras pesando em média que as demais.
5 gramas foram embaladas em papel alumínio e Em relação ao peso das amostras in natura
oferecidas aos consumidores. (incrustações + concha + parte comestível), as
Os consumidores receberam de maneira aleatória mesmas apresentaram diferenças entre si, sendo que
as amostras, já drenadas do óleo e recém retiradas do T3 apresentou o menor peso. Apesar das amostras
refrigerador (mantidas em caixas de isopor e gelo), em terem sido selecionadas aleatoriamente, esse fato
pratos codificados com números também aleatórios ocorreu possivelmente devido às diferenças de
e uma ficha para análise sensorial. Os consumidores peso, nível de incrustação das conchas (SEED,
receberam o mínimo necessário de informações, a fim 1969), tamanho de conchas (PILAR, 1979), entre as
de evitar respostas induzidas no formulário. Além amostras. No entanto, quando foram analisados os
da degustação dos mexilhões, também foi realizada pesos das amostras cozidas e processadas, as mesmas
uma análise visual, em relação à apresentação na não diferiram entre si.
embalagem de vidro. Os mexilhões foram mantidos A variação sazonal da taxa de crescimento de
em frascos de vidro transparente. Foram avaliadas moluscos cultivados em países de clima temperado
as características sensoriais (aparência, cor, aroma, e sub-tropical têm sido observados por DARE e
textura, sabor e teor de sal, além da aceitação geral DAVIES (1975), PILAR (1979), HICKMAN (1979),
do produto. Para tanto, foi utilizada uma ficha entre outros. Segundo PEREZ e ROMAN (1979) e
com escala hedônica de 9 pontos com os extremos PILAR (1979), a influência da temperatura é um fator
1 (desgostei muitíssimo) e 9 (gostei muitíssimo) determinante e bem conhecido no crescimento desses
(MORAES, 1993; STONE e SIDEL, 1993; DUTCOSKY, animais, sendo esta influência um possível indício na
1996). Os dados dos resultados das características variação dos pesos in natura.

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 213 - 219, 2008


Avaliação de técnicas de defumação para mexilhão Perna perna... 217

Tabela 1. Valores médios para peso e rendimento dos mariscos Perna perna nos diferentes parâmetros analisados
T1 T2 T3
Parâmetros Defumação Defumação Cozimento Teste F CV (%)1
Líquida Tradicional Controle
Peso in natura 285,05A (2) 257,60A 214,35B 9,71* 14,33
Peso Cozido e desconchado 56,95A 53,85A 46,40A 1,74NS 24,83
Peso Processado 39,10A 34,80A 46,40A 3,09NS 26,32
Rendimento Cozido 19,99 A
20,78 A
21,34 A
0,47NS
15,11
Rendimento do Processamento 13,72 B
13,40 B
21,34 A
32,35* 15,46
Rendimento do Defumado 13,72 A
13,40 A
- 0,09NS
17,76
(1)
Coeficiente de Variação
(2)
Médias na mesma linha, com a mesma letra não diferem significativamente pelo teste de Tukey (P>0,05).
NS
– não significativo (P>0,05) * - significativo (P<0,05)

No Brasil, MAGALHÃES (1983) observou os de exposição às mesmas. Portanto, se for analisar o


parâmetros de crescimento, entretanto, os experi- aspecto de rendimento do mexilhão processado pela
mentos não representaram com fidelidade às técnica de defumação, independe a técnica aplicada.
condições efetivas de cultivos, pois as mesmas Portanto, torna-se importante, verificar a aceitação
foram realizadas em estruturas alternativas. Assim, dos produtos quanto a defumar ou consumir pelo
problemas na ordem da variação da taxa de cresci- método mais convencional que é o cozimento ao
mento persistem em países de clima tropical vapor, ou qual o mais aceito dentre os defumados.
(MARQUES et al., 1998). Por outro lado, o rendimento Em relação à análise sensorial, foi observada
desses moluscos desconchados é um parâmetro diferença significativa (P<0,05) entre os tratamentos
extremamente interessante para avaliar a viabilidade para todos os aspectos visuais do produto envasado
econômica em sistemas de cultivos (DARE e DAVIES, em frascos de vidro (aparência, cor e aceitação
1975). geral), bem como, o aspecto sensorial das amostras
Apesar do foco principal desse trabalho estar embaladas em papel alumínio fornecido aos
relacionado ao produto final que chegará ao consumidores (aroma, textura, sabor, teor de sal e
consumidor e aos rendimentos das técnicas de aceitação geral) (Figuras 2 e 3).
defumação, torna-se difícil uma padronização da Quanto ao produto embalado em vidro, que mostra
parte comestível, devido aos fatores citados acima. uma forma em que poderiam ser comercializado
Com o processo de defumação independente do esses mexilhões, houve diferença significativa para
método aplicado, observa-se na Tabela 1 que houve a aparência, cor e aceitação geral do produto. Os
uma redução do peso dos mexilhões de 56,95g para mexilhões defumados pela técnica T1 (defumação
39,10g e 53,85g para 34,80g, respectivamente para por fumaça líquida) apresentaram maiores notas para
os mexilhões submetidos à defumação líquida (T1) a aparência e cor. Entretanto, em relação à aceitação
e tradicional (T2). geral, os consumidores preferiram o mexilhão
Houve diferença significativa para o rendimento defumado independente da técnica de defumação
do processamento dos três tipos de produtos (T1= aplicada, em relação ao controle onde os mexilhões
defumado por fumaça líquida; T2 = Defumado foram somente cozidos (Figura 2).
por método tradicional e T3 = testemunha, apenas Quando avaliadas as características sensoriais do
cozido). Não houve diferença significativa entre produto relacionados ao aroma, textura, sabor, teor
os mexilhões defumados independente da técnica de sal e aceitação geral do produto, os mexilhões
aplicada (T1 = 13,72% e T2 = 13,40%), todavia, estes cozidos receberam as menores notas para todas as
diferiram da testemunha (T3 = 21,34%), ou seja, dos características analisadas. Dessa forma, observa-se na
submetidos ao cozimento. Os mexilhões defumados Figura 3 que os mexilhões defumados foram melhor
pelo método T1 e T2 perderam peso durante o aceitos em relação ao cozido. Todavia, comparando
processo de defumação, devido à desidratação as duas técnicas de defumação, a que apresentou
ocorrida com a elevação da temperatura e tempo maiores notas para as características sensoriais foi
à defumação líquida, exceto para a cor do produto,
onde não B. seInst.
apresentou diferença
Pesca, São Paulo, 34(2): significativa
213 - 219, 2008
218 EMERENCIANO et al.

entre as duas técnicas aplicadas. Observando este rendimento, aroma, textura, sabor, e teor de sal.
resultado, pensa-se que se os mexilhões fossem Não houve diferença (P>0,05) para o teor de sal
submetidos à defumação, por um período superior, entre o T2 (defumação tradicional) e T3 (cozidos,
melhorasse a coloração do produto. No entanto, testemunha). Todavia, estes diferiram do T1
outros aspectos poderiam ser alterados como peso, (defumação líquida).

Figura 2. Valores médios das notas atribuídas pelos consumidores às características sensoriais visuais dos mexilhões
Perna perna processados. Em cada coluna, médias seguidas de mesma letra não diferem entre si, pelo teste de Tukey
(P> 0,05), sendo T1 = defumação com fumaça líquida; T2 = defumação tradicional a quente; T3 = testemunha, cozido
no vapor.

Figura 3. Valores médios das notas atribuídas pelos consumidores às características sensoriais dos mexilhões Perna
perna processados. Em cada coluna, médias seguidas de mesma letra não diferem entre si, pelo teste de Tukey (P>
0,05), sendo T1 = defumação com fumaça líquida; T2 = defumação tradicional a quente; T3 = testemunha, cozido no
vapor.

CONCLUSÕES incrementar as suas qualidades sensoriais como


De acordo com a metodologia aplicada, os mexi- apresentadas neste estudo.
lhões aromatizados com fumaça líquida são produtos
mais interessantes para a comercialização quando AGRADECIMENTOS
comparados à técnica de defumação tradicional a Os autores agradecem ao Departamento de
quente, não diferindo entre si no rendimento do Zootecnia da Universidade Estadual de Maringá
processo, mas apresentando melhor aceitação no e a Nonô Maricultura - Palhoça-SC, pelo forne-
aspecto sensorial. Assim, através da defumação é cimento dos animais e pelo apoio indiscutível à
possível agregar maior valor ao produto, além de pesquisa.

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 213 - 219, 2008


Avaliação de técnicas de defumação para mexilhão Perna perna... 219

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AVALIAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS MORFOMÉTRICAS CORPORAIS, DO
RENDIMENTO DE CORTES E COMPOSIÇÃO CENTESIMAL DA CARNE DO
ARMADO (Pterodoras granulosus)

Robie Allan BOMBARDELLI`1 e Eduardo Antônio SANCHES 2

RESUMO
Foram avaliadas as características morfométricas corporais, o rendimento de cortes e a composição
centesimal da carne do armado (Pterodoras granulosus), capturados no reservatório de Itaipú.
Utilizou-se 81 exemplares, distribuídos em um delineamento experimental inteiramente
casualizado, composto por três tratamentos e 27 repetições. Considerou-se como unidade
experimental o peixe inteiro. Os tratamentos foram constituídos pelos animais apresentando-se
dentro das classes de peso: menores que 550g, entre 551 e 1000g e acima de 1001g. Avaliaram-se as
relações morfométricas de comprimento da cabeça/comprimento padrão (CC/CP), comprimento
da cabeça/altura da cabeça (CC/AC), comprimento padrão/comprimento total (CP/CT), largura
do tronco/comprimento do tronco (LTR/CTR), largura do tronco/altura do tronco (LTR/ATR) e
altura do tronco/comprimento do tronco (ATR/CTR); e em seguida os rendimentos dos cortes da
carne de tronco limpo (TL), filé (FL), musculatura abdominal (MA) e, dos resíduos como cabeça
(CAB), vísceras (VISC), gordura visceral (GVISC) pele e nadadeiras (PENAD). Para a realização
das analises da composição centesimal utilizaram-se 15 exemplares distribuídos de forma idêntica
à anterior, contudo apresentando apenas cinco repetições. Foram avaliados os parâmetros de
umidade (UM), resíduo mineral fixo (MM), proteína bruta (PB) e extrato etéreo (EE), dos cortes
FL e MA. Os dados foram avaliados por análise de variância e teste de comparação de médias de
Duncan. Verificou-se efeito (P<0,05) para as variáveis CP/CT, MA, VISC e PB do FL, com maiores
resultados para a classe de peso acima de 1001g. Conclui-se que exemplares acima de 1001g
apresentam maior rendimento relacionado com a parte comestível.
Palavras-chave: Pterodoras granulosus, processamento do pescado, rendimento de carcaça,
composição centesimal

EVALUATION OF BODY MORPHOMETRIC CHARACTERISTICS, CUTS YIELDING AND


CENTESIMAL COMPOSITION OF ARMADO’S MEAT (Pterodoras granulosus)

ABSTRACT
Were evaluate the body morphometric characteristics, the meat cuts yielding and centesimal
composition of armado’s meat (Pterodoras granulosus), catching in the Itaipú reservoir. One used
81 animals, distributed in a random experimental desing, composed for three treatments and
27 replication. One fish was considered itself as an experimental unit. The treatments had been
constituted by the animals inside of tree body size classrooms: below of 550g, between 551 and
1000g and above of 1001g. Initially the morphometrics relationship of head length/standard
length (HL/SL), head length/head height (HL/HH), standard length/total length (SL/TL), body
width/body length (BW/BL), body width/body height (BW/BH) and body height/body length
(BH/BL) were evaluated; and after that the meat cuts yielding of body clean (BC), fillet (FL),

Artigo Científico: Recebido em: 11/10/2006; Aprovado em: 16/08/2007


1
Engenheiro de Pesca. Professor Assistente do Curso de Engenharia de Pesca da Universidade Estadual do Oeste do Paraná.
E-mail: rabombardelli@gmail.com - Rua da Faculdade, 645, Jardim La Salle, CEP 85903-000, Toledo – PR.
2
Acadêmico do Curso de Engenharia de Pesca da Universidade Estadual do Oeste do Paraná.
E-mail: eduanches@hotmail.com - Linha São Valentin, s/n, CEP 85900-000, Toledo-PR.

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222 BOMBARDELLI e SANCHES

abdominal muscle (AM) and the by-products as head (H), viscera (VISC), visceral fat (GVISC) and
skin and fins (SKF). To the meat centesimal composition analyzes were used 15 animals distributed
as the previous one, however presenting only five replications. The parameters analyzed were the
humidity (UM), ash (MM), crude protein (CB) and fat (EE), from meat cuts FL and AM. The gotten
data had been submitted to the ANOVA, and applied the Duncan’s mean test. Were verified effects
(P<0,05) to CP/CT, AM, VISC and CB from FL, with greater result to animals with body size above
1001 g. One concludes that animal above 1001g presented greater portion of the edible part.
Key words: Pterodoras granulosus, fish processing, carcass yielding, centesimal composition

INTRODUÇÃO facilmente são desenvolvidas estratégias de


O processamento do pescado é um procedimento “marketing”, onde inquestionavelmente a procura
de fundamental importância para o setor produtivo por um alimento de qualidade e de fácil preparo
quando se trata de uma espécie de significativa torna-se uma das maiores estratégias para as
importância econômica, onde seu produto pode ser indústrias de alimentos (SOUZA, 2002).
comercializado nas formas in natura ou industrializado A pesca no Reservatório de Itaipú apresenta uma
(OGAWA e MAIA, 1999). Segundo estes autores, significativa importância para aproximadamente 1.850
entende-se no primeiro caso, que o pescado seja pessoas da região que sobrevivem dela (SANTOS,
recém capturado e adquirido pelo consumidor ainda 2005) e também para o setor extrativista, pois atua
em seu estado cru. No segundo caso, entende-se sobre 60 espécies de peixes desta região (MIRANDA
que o pescado sofre um processo mais elaborado de et al., 2000). Dentre as espécies capturadas, o armado
manuseio e preservação, tais como: (a) preparação de (Pterodoras granulosus) apresenta-se como uma das
filé de peixe com ou sem pele, peixe em postas, peixe espécies com maior incidência de captura neste
eviscerado, e outros, seguidos pelo congelamento reservatório (GOMES et al., 2002). É uma espécie
à -18 oC e estocagem por longos períodos até a onívora com tendência a herbivoría, sendo, portanto,
comercialização; (b) salga, defumação, embutido, na maioria das vezes, capturada por espinhéis,
enlatados, fermentados e farinhas. utilizando como iscas vegetais e pequenos peixes
A comercialização de peixes processados fica (HAHN et al., 1992).
limitada às formas mais simples e menos elaboradas Apesar de seu potencial produtivo e econômico
de transformação (OSTRENSKY et al., 2000) como no Reservatório de Itaipu, o Pterodoras granulosus
peixes inteiros e/ou apenas eviscerados, quando se é comercializado unicamente na forma de cortes
trata de espécie nativas (CARACIOLO et al., 2001), chamados de tronco limpo (animal eviscerado,
ou então na forma de filés frescos ou congelados, descabeçado, sem pele e nadadeiras), o que limita a
especialmente no caso da tilápia (KUBITZA, 2000). sua aceitação pelo mercado consumidor.
A forma de apresentação dos peixes nativos O desenvolvimento de métodos ou técnicas de
brasileiros para a comercialização limita o consumo processamento da carne de peixes dependem de
principalmente devido à falta de praticidade e fatores espécie-específicos tais como o tamanho e
de padronização do produto (BOMBARDELLI peso coporal, idade, sexo, a forma anatômica do
et al., 2005). Além disso, problemas sanitários e corpo, tamanho da cabeça e peso das vísceras, pele
tecnológicos (GAGLEAZZI et al., 2002), podem e nadadeiras (CONTRERAS-GUZMÁN, 1994). O
justificar o cenário de reduzido consumo de pescado conhecimento das relações morfométricas do corpo
em nível nacional. do peixe podem sugerir as formas de obtenção
O setor produtivo pesqueiro poderá competir dos cortes da carne, quando estes apresentarem
com outros segmentos industriais produtores correlação (GOMIERO et al., 2003).
de carne, a partir do momento em que sejam A composição química da carne do pescado
solucionados os diversos problemas relacionados também é um fator de importância no processamento,
com o processamento, comercialização (MARCHI, no que se refere à padronização dos produtos, pois
1997) e gestão de qualidade de produtos de valor tais informações fornecerão subsídios para tomadas
agregado (BORGHETTI et al., 2003). de decisões de caráter dietário, e acompanhamento
Além disso, se o produto tiver boa apresentação dos processos industriais e escolha de equipamentos
(cortes adequados) e embalagem de qualidade, (CONTRERAS-GUZMÁN, 1994).

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Avaliação das características morfométricas corporais, do rendimento de cortes... 223

Assim, o estabelecimento de categorias ideais de Em seguida os peixes foram pesados e eviscerados


abate, os rendimentos e a composição centesimal em função dos tratamentos. Este procedimento foi
da carne do pescado, sob suas diferentes formas de utilizado para a avaliação dos rendimentos percen-
apresentação, são de grande importância para as tuais de tronco limpo (TL – animal sem cabeça, pele,
unidades de beneficiamento do pescado (MACEDO- musculatura abdominal, vísceras e nadadeiras), de
VIEGAS et al., 2002) e para os pescadores. Isto pode filé (FL), da musculatura abdominal (MA) e percen-
ser aplicado ao armado, visto que, a exemplo da tual de resíduos (BEUX et al., 2001; BOSCOLO et al.,
tilápia, as classes de tamanho podem influenciar 2001; OLIVEIRA et al., 2001), os quais foram com-
nos rendimentos e conformação dos cortes da carne, postos pela cabeça (CAB), vísceras (VISC), gordura
como comprimento, largura e área dos filés (SOUZA visceral (GVISC) e pele e nadadeiras (PNAD).
et al., 2005). Na determinação da composição centesimal,
Este trabalho foi realizado com o objetivo de foram utilizados os cortes da carne filé e musculatura
avaliar as características morfométricas corporais, abdominal de 15 peixes, distribuídos em um
o rendimento de diferentes cortes e a composição delineamento idêntico ao anterior, contudo, composto
centesimal da carne do armado (Pterodoras granulosus) por cinco repetições. Neste caso, foi considerado como
capturado no Reservatório de Itaipu. uma unidade experimental músculos provenientes
de cada corte específico.
MATERIAL E MÉTODOS Para estas análises, os dois filés de cada peixe e
O trabalho foi realizado inicialmente com a a musculatura abdominal foram triturados e homo-
captura de 81 exemplares de armado (Pterodoras geneizados separadamente por corte e, congelados
granulosus) provenientes do Reservatório de Itaipu, para a posterior realização das análises de umidade
no município de Pato Bragado-PR, os quais foram (UM), resíduo mineral fixo (MM), proteína bruta (PB)
submetidos às análises das características morfo- e extrato etéreo (EE) segundo SILVA e QUEIROZ (
métricas, de rendimento de carcaça e de cortes de sua 2002).
carne, sem distinção de sexo. Em seguida realizou- Os dados obtidos foram submetidos à análise de
se a determinação da composição centesimal dos variância a um nível de significância de 5 % e, em caso
cortes da carne destes peixes. As análises foram de evidência de diferença significativa, foi aplicado o
realizadas no laboratório de Tecnologia do Pescado teste de comparação múltipla de médias de Duncan.
da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, O Software utilizado para as análises estatísticas foi o
Campus de Toledo - Paraná. SAEG (Sistemas de Análises Estatísticas e Genéticas)
Após a coleta, os 81 animais foram insensibiliza- (UFV, 1997).
dos a partir de choque térmico e mantidos imersos
em gelo, durante o transporte até o local do processa- RESULTADOS E DISCUSSÃO
mento. Foi utilizado um delineamento experimental, Os resultados das relações morfométricas não
inteiramente casualizado, com três tratamentos e 27 apresentaram diferença (P>0,05) significativa entre
repetições cada, sendo considerado como uma uni- os tratamentos (Tabela 1), exceto para a relação
dade experimental um peixe inteiro. Os tratamentos CP/CT (P<0,05), onde os maiores resultados foram
foram constituídos pelos peixes apresentando-se verificados para os tratamentos correspondentes
dentro das classes de peso: inferiores ou equivalentes às classes de peso acima de 1001g. Estes resultados
a 550g, entre 551 e 1000g e acima de 1001g. mostram que os tratamentos influenciaram apenas na
Utilizando um ictiômetro, foram mensurados proporção da parte comestível dos peixes, indicando
os parâmetros morfométricos para a determinação uma menor proporção de nadadeira caudal para
das relações: comprimento da cabeça/comprimento animais maiores.
padrão (CC/CP), comprimento da cabeça/altura da Importante ainda é ressaltar a inexistência de
cabeça (CC/AC), comprimento padrão/comprimento efeito (P>0,05) das classes de peso da espécie em
total (CP/CT), largura do tronco/comprimento do estudo sobre as demais relações morfométricas
tronco (LTR/CTR), largura do tronco/altura do (Tabela 1), em especial as relações LTR/CTR,
tronco (LTR/ATR) e altura do tronco/comprimento LTR/ATR e ATR/CTR. Isto porque estas razões
do tronco (ATR/CTR) segundo HURLBLT e CLAY apresentam relação direta com a conformação dos
(1998). cortes que utilizam a musculatura dorso lateral dos

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224 BOMBARDELLI e SANCHES

peixes, como o filé nas tilápias (BOSCOLO et al., perdas de rendimento (OLIVEIRA et al., 2001; FARIA
2001) ou no jundiá (CARNEIRO et al., 2003). Outra et al., 2003).
relação importante é CC/AC, a qual relaciona o Os resultados de rendimento de TL e FL não
tamanho da cabeça do peixe e, considerando que a apresentaram diferença entre os tratamentos (P>0,05),
cabeça não é aproveitada como porção comestível, e os valores médios variaram de 32,01 a 33,51 % e
elevadas proporções desta parte podem levar às 28,48 a 29,30% (Tabela 2), respectivamente.

Tabela 1. Relações morfométricas do armado (Pterodoras granulosus), capturado no Reservatório de Itaipu, em


diferentes classes de peso
Classes de peso (g)
Variáveis P C.V. (%)
<550 551-1000 >1001
CC/CP 0,37 0,36 0,35 0,06 ns 12,14
CC/AC 1,93 1,89 1,80 0,07 ns
17,27
CP/CT 0,82b 0,85ab 0,87a 0,02* 5,00
LTR/CTR 0,35 0,35 0,33 0,07 ns
16,24
LTR/ATR 0,90 0,89 0,88 0,06 ns
12,16
ATR/CTR 0,39 0,40 0,37 0,07 ns
16,99
ns
*Dados apresentando diferença significativa (P<0,05). Dados não significativos (P>0,05). Letras
diferentes na mesma linha indicam diferença significativa entre os tratamentos pelo teste de Duncan.
CC/CP (comprimento da cabeça/comprimento padrão), CC/AC (comprimento da cabeça/altura da
cabeça), CP/CT (comprimento padrão/comprimento total), LTR/CTR (largura do tronco/comprimento
do tronco), LTR/ATR (largura do tronco/altura do tronco), ATR/CTR (altura do tronco/comprimento
do tronco)

Tabela 2. Rendimento (%) dos cortes da carne e de resíduos do processamento do armado (Pterodoras granulosus)
capturado no Reservatório de Itaipu, em diferentes classes de peso
Classes de peso (g)
Variáveis (%) P C.V. (%)
<550 551-1000 >1001
Cortes da carne
Tronco limpo 33,51 33,16 32,01 0,08 11,84ns
Filé de peixe 29,30 28,64 28,48 0,08 8,98ns
Musculatura Abdominal 7,97b 8,53ab 9,29a 0,05 22,39*
Resíduos
Cabeça 29,60 28,58 32,91 0,12 83,17ns
Vísceras 16,12b 17,74ab 19,03a 0,05 22,01*
Gordura Visceral 1,71 2,24 2,39 0,23 92,65ns
Pele e Nadadeiras 10,68 9,83 9,95 0,09 15,56ns
*Dados apresentando diferença significativa (P<0,05). nsDados não significativos (P>0,05). Letras diferentes na
mesma linha indicam diferença significativa entre os tratamentos pelo teste de Duncan

O rendimento de TL apresenta variações entre espécies de peixes apresentam menores rendimentos


as espécies, principalmente devido à morfologia (<42%) (CONTRARES-GUSMÁN, 1994).
corporal dos animais. Isto pode ser verificado Isto pode ser confirmado quando são comparados
pelos rendimentos de TL em peixes fusiformes, os resultados de rendimento de TL obtidos no
que apresentam altos rendimentos (>54%) devido presente trabalho com outros autores. OLIVEIRA
à massa muscular cilíndrica, enquanto que outras et al. (2001) ao estudarem os rendimentos do piavuçú

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Avaliação das características morfométricas corporais, do rendimento de cortes... 225

(Leporinus macrocephalus) e do curimbatá (Prochilodus O corte MA apresentou efeito (P<0,05) entre


lineatus) verificaram rendimentos de TL de 58,69 e as classes de peso quanto ao rendimento e seus
61,07%, respectivamente. Da mesma forma MATTOS resultados variaram de 7,97 a 9,29%, com melhor
et al. (2004) observaram rendimentos de TL entre resultado para a classe de peso acima de 1001g
52,24 e 58,73% para o pacu (Piaractus mesopotamicus). (Tabela 2). Resultados de rendimento da musculatura
Por outro lado, outros autores ao estudarem espécies abdominal semelhantes aos do presente trabalho
de peixes como o jundiá (Rhamdia quelen) verificaram foram determinados por CARNEIRO et al. (2003)
rendimentos de TL entre 45,61 a 50% (CARNEIRO em Jundiá (Rhamdia quelen). Os resultados destes
et al., 2003). autores apresentaram uma variação de 9,34 a
O conhecimento do rendimento TL apresenta 11,22%, contudo não sofreram influencia da classe
grande importância para o processamento do de tamanho do animal.
pescado, visto que este parâmetro permite comparar A musculatura, também chamada de
as espécies, avaliar fatores críticos e visualizar o seu “barriguinha”, vem sendo desperdiçada pela maioria
potencial para a industrialização (CONTRERAS- das unidades de processamento de peixes. Apesar
GUZMÁN, 1994). Além disso, segundo o mesmo de seu reduzido valor comercial, em relação ao filé
autor, o elevado rendimento da parte comestivel (CARNEIRO et al., 2003), o seu aproveitamento
do pescado (TL) como do pacu, piavuçú, curimbatá pode representar um aumento no rendimento total
e outros peixes, é devido à reduzida proporção das porções comestíveis. Na tilápia, por exemplo, o
de cabeça. Esta afirmação justifica os reduzidos rendimento desta porção pode variar de 1,23 a 2,02%
rendimentos de TL do armado em comparação com (SOUZA, 2002) a até 3,51% (SOUZA e MARANHÃO,
outras espécies, pois apresenta como característica 2001), dependendo do método de filetagem.
a presença de grandes proporções de cabeça (28,58 O armado, por ser um peixe de couro, apresenta
a 32,91%) (Tabela 2) em comparação com outras rendimentos superiores de MA que outros peixes
espécies como a tilápia (13,13 a 14,29%) (SOUZA como as tilápias. Isto pode justificar os reduzidos
e MARANHÃO, 2001). Esta afirmação pode ser rendimentos de FL, uma vez que a proporção de MA
corroborada pelos resultados de FARIA et al. (2003), no rendimento de carcaça do peixe pode influenciar
onde estudaram os rendimentos da tilápia do Nilo de forma inversamente proporcional ao rendimento
e do pacú e verificaram que o pacú, por apresentar de FL (CARNEIRO et al., 2003).
menor cabeça, apresentou maior rendimento de As médias dos rendimentos das diferentes
carcaça e especialmente de filé. porções de resíduo estão expressas na Tabela 2. Os
O rendimento FL verificado no presente percentuais de resíduos não apresentaram efeito
experimento está abaixo dos valores determinados (P>0,05) entre os tratamentos, exceto para VISC
para o pacú (Piaractus mesopotamicus) que variam de (P<0,05), onde seus resultados variaram de 16,12
51,60% para o filé com pele a 46,73% para o filé sem a 19,03%, com maiores resultados para a classe de
pele (FARIA et al., 2003), dependendo do método de peso acima de 1001g. O efeito dos tratamentos sobre
filetagem. Isto também é verificado para os resultados VISC pode ser atribuído à presença das gônadas, em
normalmente determinados em outras espécies como diferentes estágios de maturação (CARNEIRO et al.,
a tilápia do Nilo (Oreohromis niloticus), que variam 2003) e o grau de repleção alimentar.
de 31, 98 a 37,34% (SOUZA et al., 1999) ou de 33,66 Os resultados de composição centesimal apre-
a 36,58% (SOUZA, 2002), dependendo do método sentaram efeito (P<0,05) entre os tratamentos
de filetagem. Para os bagres como o bagre africano apenas para a PB do FL, não sendo evidenciado
(Clarias gariepinus), os surubins (Pseudoplatistoma efeito (P>0,05) para as demais variáveis estudadas
corruscans e Pseudoplatistoma fasciatus) e o jundiá (Tabela 3).
cinza (Rhamdia quelen), estes valores podem variar Os resultados de proteína bruta do filé de
de 38,90 a 46,70% (HOFFMAN et al., 1993), de 47,00 armado variaram de 13,75 a 15,50%, com maior
a 50,00% (KUBITZA et al., 1998) e de 29,22 a 34,74% percentual em peixes acima de 1001g. Valores de PB
(CARNEIRO et al., 2003), respectivamente. Esta do FL semelhantes aos do presente trabalho foram
variação interespecífica quanto ao rendimento de filé determinados por DIETERICH (2003), ao analisar a
é comum e pode chegar a índices de variação entre polpa obtida da carne desta mesma espécie de peixe,
20,00 e 40,00% (CONTRERAS-GUZMÁN, 1994). apresentando 14,51%.

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Tabela 3 – Composição centesimal de diferentes cortes da carne do armado (Pterodoras granulosus),


capturado no Reservatório de Itaipu, em diferentes classes de peso

Classes de peso (g)


Variáveis (%) P C.V.(%)
< 550 551 - 1000 > 1001
FL
Umidade 77,65 75,82 77,02 0,07 8,21ns
Resíduo mineral fixo 1,03 1,29 0,93 0,09 44,83ns
Proteína bruta 13,75b 14,23ab 15,50a 0,04 7,79*
Extrato etéreo 3,57 3,52 2,97 0,18 70,84ns
MA
Umidade 66,86 65,68 65,58 0,14 13,88ns
Resíduo mineral fixo 0,72 0,93 0,77 0,10 55,22ns
Proteína bruta 11,83 12,51 11,98 0,09 14,42ns
Extrato etéreo 15,13 14,90 16,49 0,23 66,65ns
*Dados apresentando diferença significativa (P<0,05). nsDados não significativos (P>0,05). Letras diferentes
na mesma linha indicam diferença significativa entre os tratamentos pelo teste de Duncan

Valores médios de PB superiores aos do presente assimilação pelos tecidos dos organismos (MARCHI,
trabalho, foram encontrados em filés de outras 1997). Por outro lado, a presença de gordura pode
espécies de peixes, como para a matrinxã (Brycon se tornar prejudicial, visto que ela é um dos fatores
cephalus) (MACEDO-VIEGAS et al., 2000), a traíra influentes na vida útil do produto e na sua aceitação
(Hoplias malabaricus) (SALES e SALES, 1990), a tilápia pelo consumidor, devido às reações de lipólise e
nilótica (Oreochoromis niloticus) (VISENTAINER et al., autoxidação sofridas pelos lipídeos (PEREIRA e
2003), o jundiá (Rhamdia quelen) (LAZZARI et al., 2006) CAMPOS, 2000).
e a truta arco-íris (Oncorhynchus mykiss) (MACEDO- O processamento da musculatura abdominal é
VIEGAS et al., 2002), com valores percentuais de uma das formas de melhorar o aproveitamento deste
18,70%; 21,50%; 18,40%; 17,40% e 19,05% de PB peixe, pois é uma parte normalmente descartada
respectivamente. Considerando-se o teor de PB do pelos pescadores. Assim, o seu aproveitamento total
filé, em comparação com outras espécies de peixe, o ou parcial na elaboração de produtos processados
filé do armado apresenta-se com qualidade inferior, pode permitir uma maior agregação do valor ao
contudo, com valor nutricional adequado para pescado (BOMBARDELLI et al., 2005), seja através
alimentos protéicos de origem animal (PEREIRA, do seu processamento, como a defumação (NUNES,
2003), comparável aos níveis do ovo, de outras carnes 1999), ou a prática de embutidos (DIETERICH, 2003)
e leite (GONÇALVEZ e PASSOS, 2003). ou outras formas de beneficiamento (OGAWA, 1999;
As demais variáveis da composição centesimal BOMBARDELLI et al., 2005).
analisadas do FL, não apresentaram efeito (P>0,05)
entre os tratamentos (Tabela 3), contudo, seus valores CONCLUSÃO
estão dentro dos recomendados por OGAWA e O armado (Pterodoras granulosus) capturado no
MAIA (1999). Reservatório de Itaipu, não sofre influencia do peso
Os resultados de composição centesimal da MA corporal sobre o rendimento de filé. No entanto, pei-
não foram influenciados (P>0,05) pelos tratamentos xes acima de 1001 g, possuem uma maior proporção
(Tabela 3). Apesar de a MA apresentar elevados da parte comestível, por apresentarem maiores
valores de EE, em comparação ao FL desta espécie resultados de rendimento do corte da carne “muscu-
de peixe, do ponto de vista nutricional a gordura latura abdominal”. Além disso, os peixes dentro
pode apresentar-se benéfica, pois altos teores de desta classe de peso corporal possuem uma melhor
ácidos graxos poliinsaturados presente na carne qualidade nutricional da carne por apresentarem
dos peixes asseguram melhor digestão e rápida maiores percentuais de proteína bruta no filé.

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 221 - 229, 2008


Avaliação das características morfométricas corporais, do rendimento de cortes... 227

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CANIBALISMO EM LARVAS DE MATRINXÃ, Brycon cephalus, APÓS IMERSÃO
DOS OVOS À DIFERENTES CONCENTRAÇÕES DE TRIIODOTIRONINA (T3)

Antônio Fernando Gervásio LEONARDO 1; Marcio Aquio HOSHIBA 2;


José Augusto SENHORINI 3; Elisabeth Criscuolo URBINATI 4

RESUMO
O trabalho observou o canibalismo em larvas de matrinxã, Brycon cephalus, oriundas de ovos expostos
a triiodotironina (T3), das 36 às 72 horas pós-eclosão. Foram avaliados: o peso e comprimento das
larvas, conteúdo estomacal, ocorrência de canibalismo e tipos de ataques. O estudo foi realizado no
Centro de Pesquisa e Gestão de Recursos Pesqueiros Continentais (CEPTA/IBAMA), Pirassununga
- SP, em novembro de 2004. Três fêmeas foram induzidas hormonalmente à reprodução os ovócitos
extrusados foram misturados, fertilizados e divididos em quatro alíquotas que constituíram os
tratamentos: L1 (controle - água); L2 (0,01 ppm T3); L3 (0,05 ppm T3) e L4 (0,1 ppm T3). Os ovos
foram hidratados por 15 minutos em água e nas soluções com diferentes concentrações de T3. Em
seguida, foram distribuídos em 12 incubadoras cônicas de 60 L (três repetições por tratamento)
(500 mL de ovos por incubadora) e as larvas foram contadas no momento da eclosão. Foram
realizadas quatro coletas durante a ocorrência de canibalismo (36, 48, 60 e 72 horas pós-eclosão)
sendo coletadas 30 larvas por tratamento, em cada coleta. O peso das larvas predadoras (com
restos de larvas no estômago) foi 50% maior que o das não predadoras (sem restos de larvas
no estômago) e o comprimento 9%, independente do tratamento hormonal. Os coeficientes de
variação do peso e comprimento não diferiram entre tratamentos, indicando homogeneidade de
tamanho. A análise do conteúdo estomacal revelou que o canibalismo ocorreu em cerca de 50-60 %
das larvas, independente da exposição dos ovos à triiodotironina, e os ataques se caracterizaram
por confrontos cabeça-cauda e cauda-cabeça.
Palavras chave: Larvicultura, Brycon cephalus, hormônio tireoidiano, predação

CANNIBALISM OF MATRINXÃ, Brycon cephalus, LARVAE AFTER IMMERSION OF EGGS TO


DIFFERENT TRIIODOTHYRONINE (T3) CONCENTRATION

ABSTRACT
The present work evaluated larvae cannibalism of matrinxã, Brycon cephalus, originated from eggs
exposed to triiodothyronine, in the period of 36 to 72 hours after hatching. Observed parameters
were: weight and length of larvae, stomach content, presence of cannibalism and type of attacks.
This study was carried out at Centro de Pesquisa e Gestão de Recursos Pesqueiros Continentais
(CEPTA/IBAMA), Pirassununga - SP, in November 2004. Three females were hormonally induced
to spawn and pooled oocytes were fertilized and separated into four batches that constituted the
treatments: L1 (control - water); L2 (0.01 ppm T3); L3 (0.05 ppm T3) and L4 (0.1 ppm T3). Eggs were
exposed during 15 minutes to water or to solutions containing the different concentrations of T3.
Eggs were distributed in 12 conic incubators (60 L), with three replicates per treatment. There was

Artigo Científico: Recebido em: 12/12/2006; Aprovado em: 02/10/2007


1
Pesquisador Cientifico do Pólo Regional do Vale do Ribeira – APTA/SAA, Rod. Régis Bittencourt, km 460 Cx.P. 122, Registro,
São Paulo, Brasil CEP: 11900-970; e-mail: afleonardo@aptaregional.sp.gov.br
2
Mestrando da Produção Animal (Zootecnia) da FCAV - UNESP, Via de Acesso Paulo Donato Castellane, s/n., Jaboticabal,
São Paulo, Brasil CEP: 14884-900; e-mail: tokudazoo@yahoo.com.br
3
Centro de Pesquisa e Gestão de Recursos Pesqueiros Continentais - CEPTA Rodovia Euberto Pereira de Godoy, km 6,5, C.P.
64, CEP: 13630-000, Pirassununga, São Paulo; e-mail: jose.senhorini@ibama.gov.br
4
CAUNESP/UNESP, Via de Acesso Paulo Donato Castellane, s/n., Jaboticabal, São Paulo, Brasil CEP: 14884-900;
e-mail: bethurb@caunesp.unesp.br

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 231 - 239, 2008


232 LEONARDO et al.

stocked 500 mL of eggs per incubator and hatched larvae were counted. Samples of 30 larvae per
treatment were colleted during occurrence of cannibalism (36, 48, 60 and 72 hours post hatching).
Predator larvae (with rests of larvae in the stomach) were 50% of the total number of larvae and
they presented weight 50% higher compared to that of non predator larvae (without rests of larvae
in the stomach) and 9% higher regarding length. Coefficient of variation of weight and length
did not differ among treatments, showing similarity in relation to the size. The stomach content
revealed that cannibalism occurred in around 50-60 % of larvae, regardless the exposure to the
triiodothyronine, and attacks were characterized as head-tail and tail-head attacks.
Key words: Larviculture, Brycon cephalus, thyroid hormones, attacks

INTRODUÇÃO após a imersão dos ovos a diferentes concentrações


Peixes do gênero Brycon apresentam altas taxas triiodotironina (T3), avaliando o peso e compri-
de canibalismo o que dificulta sua criação, sendo um mento corporal das larvas, o coeficiente de variação
fator limitante da produção pelo prejuízo econômico do peso e comprimento, o conteúdo estomacal, a
que causa à aqüicultura. WOYNAROVICH e SATO ocorrência de canibalismo e os tipos de ataques e
(1990), que realizaram reprodução induzida de predação.
Brycon lundii, alertaram para elevado canibalismo
da espécie, chegando até 80% na fase inicial de MATERIAL E MÉTODOS
crescimento. O Brycon cephalus, em que a eclosão O estudo foi realizado no Centro de Pesquisa
das larvas ocorre 17 horas após a fertilização dos e Gestão de Recursos Pesqueiros Continentais
ovos, o canibalismo tem início a partir de 36 horas de (CEPTA/IBAMA), Pirassununga-SP, em novembro
vida livre, fase em que a bexiga natatória encontra- de 2004. As larvas foram produzidas por reprodução
se com apenas 50% da capacidade de insuflação induzida (BERNARDINO et al., 1993). No momento
(BERNARDINO et al., 1993). ����������
SENHORINI et al. (1998)
������� da extrusão, os ovócitos de três fêmeas foram
também descreveram ocorrência de canibalismo em misturados, fertilizados e divididos em 4 alíquotas
matrinxã 36 horas pós-eclosão, quando as larvas que constituíram os tratamentos: L1 (controle - água);
apresentavam natação horizontal, e consideraram L2 (0,01 ppm T3); L3 (0,05 ppm T3) e L4 (0,1 ppm T3). Os
essa fase como período crítico. ovos foram hidratados por 15 minutos, passando por
Em teleósteos, os hormônios tireoidianos, T4 e seis trocas de água (controle) e seis trocas de soluções
T3 (tiroxina e triiodotironina), estão envolvidos no de T3, nas concentrações de cada tratamento, sendo
controle da reprodução (DICKHOFF et al., 1989; as trocas a cada 2’50’’, com volume de 500 mL.
MYLONAS et al., 1994) e no desenvolvimento inicial Em seguida, os ovos foram distribuídos em 12
das espécies (LAM, 1994) e foram considerados incubadoras cônicas de 60 L (3 repetições), sendo
fator de redução de canibalismo em Morone saxatilis 500 mL de ovos por incubadora. O número de larvas
(BROWN et al., 1988), embora tenha aumentado foi calculado de acordo com LEONARDO et al. (2004).
esse comportamento em Stizostedion vitreum (HEY O peso e comprimento corporal foram determinados
et al., 1996). no momento da eclosão.
Em espécies tropicais, há evidências de redução Baseando-se nas informações de SENHORINI
de canibalismo por ação da triiodotironina no et al., (1998) sobre a ocorrência de um período crítico
matrinxã (URBINATI et al., 2003; VASQUES, 2003) para instalação de canibalismo, as coletas foram
e no Brycon orbigyanus (LANDINES, 2003). Nesses realizadas 36, 48, 60 e 72 horas pós-eclosão (hpe),
estudos, variaram a forma de administração do para se observar esse comportamento. Trinta larvas
hormônio, por injeção da triiodotironina na fêmea de cada tratamento (10 por repetição), em cada coleta,
durante a indução à desova (URBINATI et al., 2003) foram fixadas em solução de formalina a 4%. Foram
ou pela imersão dos ovos em soluções de hormônio avaliados o peso corporal (mg), com balança analítica,
(VASQUES, 2003; LANDINES, 2003). e o comprimento total (mm), com paquímetro digital
Mediante os resultados encontrados na literatura e estereomicroscópio. O coeficiente de variação,
este trabalho teve como objetivo descrever a fase multiplicado por 100, corresponde à porcentagem
de canibalismo que ocorre de 36 a 72 horas pós- da variação da população, de acordo com a seguinte
eclosão, em larvas de matrinxã, Brycon cephalus, fórmula: CV= S/X x 100 onde: Cv - coeficiente de

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 231 - 239, 2008


Canibalismo em larvas de matrinxã, Brycon cephalus, após imersão dos ovos... 233

variação do comprimento ou peso; S - desvio padrão; entre aquelas não imersas a triiodotironina (grupo
X - média do comprimento ou peso (JOBLING, controle), seguido por aquelas expostas à concentração
1994). média de T3 (0,05 ppm). Os resultados diferem dos
Para determinação do conteúdo estomacal, os encontrados em Brycon orbignyanus submetido aos
tubos digestórios das 30 larvas de cada tratamento mesmos tratamentos hormonais (LEONARDO,
foram abertos examinando o conteúdo por 2005). No estudo citado, observou-se o maior número
microcirurgia em lupa (aumento de 4,5 vezes), com de larvas eclodidas quando os ovos foram expostos a
0,01 e 0,05 ppm T3 e o valor mais baixo foi encontrado
auxílio de agulhas. As larvas foram fotografadas em
com o uso de 0,1 ppm T3.
estereomicroscópio Olympus SZ51 para registro das
formas dos ataques. Quando analisados o peso e comprimento no
momento da eclosão, os valores mais altos foram
Os resultados foram submetidos ao teste F para
encontrados no tratamento hormonal L4 (0,1 ppm
análise de variância (ANOVA) e teste de Tukey para
T3) e esse perfil se mantém na última coleta (72hpe)
comparação de médias ao nível de 5%.
nas larvas não predadoras (sem restos de larvas no
estômago) (Tabela 2), mas não nas larvas predadoras
RESULTADOS E DISCUSSÃO
(com restos de larvas no estômago), que, entretanto se
O número, peso e comprimento das larvas de destacaram por apresentar, às 72 hpe, peso 50% maior
matrinxã, eclodidas são apresentados na Tabela 1. que das não predadoras embora o comprimento fosse
O maior número de larvas eclodidas foi encontrado numericamente semelhante (Tabela 3).

Tabela 1. Valores médios (± desvio padrão) do número, peso e comprimento das larvas eclodidas de matrinxã, Brycon
cephalus, provenientes de ovos imersos à triiodotironina (T3).
Número Peso (mg) Comprimento (mm)
L1 (Controle) 290.600 ± 36,1 a
0,70 ± 0,05b
3,32 ± 0,06b
L2 (0,01 ppm T3) 193.600 ± 23,5b 0,83 ± 0,07b 3,33 ± 0,04b
L3 (0,05 ppm T3) 257.000 ± 32,32ab 0,98 ± 0,06ab 3,53 ± 0,23b
L4 (0,1 ppm T3) 190.000 ± 17,32b 1,04 ± 0,01a 3,93 ± 0,15a
* Médias seguidas de mesma letra minúscula nas colunas não diferem entre si pelo teste de Tukey (p>0,05).

Tabela 2. Valores médios (± desvio padrão) do peso e o comprimento corporal de larvas de Brycon cephalus, não
predadoras, provenientes de ovos imerso a triiodotironina (T3) em diferentes tempos de cultivo (horas pós-eclosão
- hpe).
Peso (mg) Comprimento (mm)
Tratamento
36 hpe 72 hpe 36 hpe 72 hpe
L1 (controle) 1,68 ± 0,12a*
2,00 ± 0,15b 6,25 ± 0,22a
6,53 ������
±�����
0,26ab
L2 (0,01 ppm T3) 1,86 ± 0,08a 2,05 ± 0,06b 6,29 ± 0,08a 6,20 ������
±�����
0,05b
L3 (0,05 ppm T3) 1,88 ± 0,08a 2,22 ± 0,05b 6,45 ± 0,05a 6,45 ������
±�����
0,05ab
L4 (0,1 ppm T3) 1,88 ± 0,05a 2,56 ± 0,11a 6,51 ± 0,10a 6,57 ± 0,08a
*Médias seguidas de mesma letra minúscula nas colunas não diferem entre si pelo teste de Tukey
(p>0,05)

Tabela 3. Valores médios (± desvio padrão) do peso e comprimento corporal de larvas predadoras de matrinxã,
Brycon cephalus, provenientes de ovos imerso a triiodotironina (T3), 72 horas pós-eclosão (hpe).
Tratamentos Peso (mg) Comprimento (mm)
L1 (controle) 4,67 ± 0,37 a*
6,99 ± 0,07a
L2 (0,01 ppm T3) 4,11 ± 0,51a 6,98 ± 0,08a
L3 (0,05 ppm T3) 4,44 ± 0,20a 7,04 ± 0,06a
L4 (0,1 ppm T3) 4,45 ± 1,07a 7,02 ± 0,05a
* Médias seguidas de mesma letra minúscula nas colunas não diferem entre si pelo teste
de Tukey (p>0,05)

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 231 - 239, 2008


234 LEONARDO et al.

Isso ocorreu em todos os tratamentos, de modo Alguns autores relatam que o crescimento
que o crescimento elevado das larvas predadoras heterogêneo inicial é a chave para o canibalismo
mascarou a resposta da triiodotironina verificada onde indivíduos maiores predam os menores (De
nas larvas não predadoras, às 72 hpe. O crescimento ANGELIS et al., 1979; De ANGELIS et al., 1980;
maior das larvas predadoras reflete a maior ingestão LOADMAN et al., 1986; HECHT e APPELBAUM,
de proteína animal em comparação com as larvas 1988; KATAVIC et al., 1989; BARAS, 1998; BARAS,
que se alimentaram apenas da reserva vitelínica. 2000; KESTEMONT et al., 2003). Segundo HECHT
Descarta-se a possibilidade desse crescimento e PIENNAR (1993), a forma de se controlar o
ter sido favorecido por mais disponibilidade de canibalismo seria a classificação dos indivíduos por
espaço, pois as larvas predadoras e não predadoras tamanho. Entretanto essa classificação só poderia ser
encontravam-se na mesma incubadora. feita durante a fase de juvenil, pois separar as larvas
Em teleósteos, a ocorrência do canibalismo foi por tamanho é inviável, uma vez que, para isso, seria
descrita em 36 famílias (SMITH e REAY, 1991). preciso pesá-las e medi-las.
Entre algumas condições que podem levar ao Na Tabela 4, estão expressos os valores dos
canibalismo, HECHT e APPELBAUM (1988) e coeficientes de variação do peso e comprimento das
KATAVIC et al. (1989) destacaram a alimentação larvas. O coeficiente de variação de peso e compri-
inadequada, freqüência de alimentação e a densidade mento é utilizado para expressar a variação de peso e
de estocagem. Neste experimento, as condições de comprimento nos grupos de larvas (JOBLING, 1994).
alimentação foram semelhantes para larvas de todos Entretanto, neste experimento não houve diferença
os grupos, mas com relação à densidade o grupo significativa entre os coeficientes de variação indican-
controle foi o que tinha maior número de larvas do homogeneidade no tamanho das larvas em todos os
seguido do grupo exposto a 0,05 ppm de T3. tratamentos, tanto em peso como em comprimento.

Tabela 4. Valores médios (± desvio padrão) do coeficiente de variação de peso e comprimento de larvas de Brycon
cephalus, proveniente de ovos imerso a triiodotironina (T3), em diferentes tempos pós-eclosão (hpe).
Coeficiente de variação Coeficiente de variação
Tratamento Peso (mg) Comprimento (mm)
36 hpe 72 hpe 36 hpe 72 hpe
L1 (controle) 12,0 ± 6,39a* 7,83 ± 2,66a 5,78 ± 0,88a 3,77 ± 0,60a
L2 (0,01 ppm T3) 10,4 ± 3,26a 6,61 ± 3,40a 5,69 ± 2,42a 2,74 ± 0,90a
L3 (0,05 ppm T3) 13,7 ± 3,22a 7,38 ± 1,50a 4,46 ± 0,56a 4,46 ± 0,60a
L4 (0,1 ppm T3) 10,5 ± 2,19a 3,89 ± 1,50a 3,45 ± 1,41a 6,57 ± 2,20a
*Médias seguidas de mesma letra minúscula nas colunas não diferem entre si, pelo teste de Tukey (p>0,05).

Neste trabalho no momento da eclosão das larvas as menores conseguindo engolir a presa, mas isso não
o tratamento L1 (controle) tinha em média 29.600,00 é regra, pois indivíduos do mesmo tamanho corporal
± 3666 larvas seguido do tratamento L3 (0,05 ppm também apresentam predação entre si (Figuras 1 A, B
T3) com 26.000,00 ± 3412 os resultados mais baixos e C). A diferença é que acabam morrendo com a presa
foram as concentrações com as maiores e menores na boca não conseguindo engoli-las, enquanto larvas
doses de hormônio L4 (0,1 ppm T3) 19.000,00 ± 1732 menores se aproveitam para predar larvas maiores
e L2 (0,01 ppm T3) 19.600,00 ± 2771. que estão debilitadas, apresentando natação com
Entretanto, a diferença de densidade nas incuba- dificuldade ou mesmo quando duas larvas do mesmo
doras não foi associada a incidência de canibalismo, tamanho ficam presas umas às outras levando-as a
como mostra a Tabela 5. Esse comportamento morte (Figuras 2 E e F).
ocorreu na mesma proporção em todos os grupos BARAS (2000) descreveu dois tipos de canibalismo
de larvas. durante a fase larval de Brycon moorei, ou seja, do tipo
Com relação aos tipos de ataque não houve dife- I, presente em torno de 26 hpe, quando as larvas ainda
renças entre larvas provenientes de ovos tratados com apresentavam saco vitelínico e pesavam 1,2 mg, e do
T3, ou não tratadas. Verificou-se independentemente tipo II, presente às 46 hpe, quando a reserva vitelínica
do tratamento hormonal que larvas maiores predam tinha sido absorvida e as larvas pesavam 2,8 mg. A

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 231 - 239, 2008


Canibalismo em larvas de matrinxã, Brycon cephalus, após imersão dos ovos... 235

digestão completa das larvas ingeridas ocorreu às de desenvolvimento. Observa-se na Figura 2 D que
96 hpe, quando as larvas pesavam 10mg. as larvas de matrinxã apresentam a reserva vitelínica
Por meio das Figuras 1 e 2, pode-se identificar bem visível e já estão a predar.
algumas formas de ataques, sendo o frontal o que Na criação de peixes, a ocorrência de canibalismo
ocorre quando uma larva de maior comprimento na fase larval é de 15% a 90%, segundo HECHT
corporal ataca uma larva de menor comprimento, BERNARDINO et al. ���������
e PIENNAR (1993). ����������� (1993) e
ingerindo-a no sentido cabeça-cauda (Figuras 1 ROMAGOSA et al. (2001) relatam que o sucesso na
A e B). Segundo a classificação de BARAS (2000), obtenção inicial de larvas não garante a criação do
esse tipo de canibalismo seria do tipo II, pois na gênero Brycon em cativeiro, pois a partir de 32 a 35
Figura 1 C, observa-se a larva na cavidade celomática horas após a eclosão tornam-se canibais, resultando
da predadora. A diferença é que, em B. moorei, a em até 99% de perda. Os valores de canibalismo
digestão ocorreu às 96 hpe e a larva pesava em torno obtidos neste estudo, por meio da análise do conteúdo
de 10 mg, enquanto no matrinxã a digestão ocorreu estomacal das larvas de matrinxã, mostraram
às 72 hpe e a larva pesava em torno de 4,5 mg. Os ocorrência de predação na fase de desenvolvimento
ataques ocorreram no sentido caudal (Figuras 1 D, E e inicial de 50-60 % (Tabela 5).
F) e as Figuras 2 A e B mostram as larvas no estômago A análise do conteúdo estomacal mostrou
sendo digeridas 72 hpe. Observa-se nas Figuras 2 C e predação semelhante nas larvas dos diferentes trata-
D que a região estomacal apresenta uma massa mais mentos hormonais, indicando que a triiodotironina
escura, provavelmente uma larva digerida, e a seta não afetou o comportamento de canibalismo nas
fina na Figura 2 D indica que a larva ainda tem parte larvas de matrinxã no presente experimento.
da reserva vitelínica. Esses resultados diferem tanto dos encontrados
Observa-se que os ataques bem sucedidos por HEY et al. (1996) em Stizostedion vitreum, que
partem de larvas maiores para as menores, mas relataram aumento de canibalismo nas larvas
isso não significa que larvas menores não possam tratadas com T 3, quanto dos encontrados por
predar. Esses ataques geralmente levam à morte de URBINATI et al. (2003) que encontraram maior
duas ou mais larvas envolvidas, pois as larvas que sobrevivência e redução de canibalismo em larvas
apresentam o mesmo comprimento corporal, e as de matrinxã, sob o efeito de T3 de origem materna.
menores, acabam morrendo com a outra na boca Entretanto neste último estudo, a forma de adminis-
(Figuras 2 E e F). Esse comportamento foi descrito tração do hormônio diferiu, tendo sido injetado nas
por BARAS (2000) como canibalismo tipo I, no qual fêmeas antes da desova e não nos ovos durante a
os predadores atacam as presas debilitando-as e fertilização.
dificultando a natação, ou mesmo chegam a engolir Diariamente, às 8:00 e 18:00 horas, registrou-se a
a cauda e depois regurgitam. Isso faz com que a larva temperatura da água (26,6 ± 1,3 ºC), a concentração de
que foi atacada fique mais fraca. oxigênio dissolvido (6,6 ± 0,7 mg/L) e valores de pH
Segundo LIAO et al. ����������������������������
(2001), o canibalismo é uma (7,0 ± 0,2) e determinou-se a concentração de amônia
estratégia de alimentação que ocorre mais prova- total (0,01 ± 0,1 mg/L). Os valores encontrados estão
velmente em períodos de recursos alimentares dentro da faixa recomendada para cultivo de espécies
limitados, sendo comum em larvas e juvenis na fase tropicais (BOYD, 1990).

Tabela 5. Conteúdo estomacal das larvas de matrinxã, Brycon cephalus, provenientes de ovos imersos a triiodotironina
(T3), em diferentes tempos pós-eclosão (hpe).
Tratamentos Ausência de Conteúdo Presença de Conteúdo Canibalismo (%)
L1 (controle) 15* 15 50
L2 (0,01 ppm T3) 15* 15 50
36 hpe
L3 (0,05 ppm T3) 12* 18 60
L4 (0,1 ppm T3) 15* 15 50
L1 (controle) 12* 18 60
L2 (0,01 ppm T3) 12* 18 60
72 hpe
L3 (0,05 ppm T3) 12* 18 60
L4 (0,1 ppm T3) 12* 18 60
(*) ausência de larvas no estomago.
B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 231 - 239, 2008
236 LEONARDO et al.

Figura 1. Fotomicrografia de larva de matrinxã, Brycon cephalus. A) Canibalismo no sentido cabeça – cauda. B) Detalhe
mostrando a ingestão e evidenciando a pigmentação dos olhos. C) Larva já ingerida a posição dos olhos indicando o
sentido da predação. D) Canibalismo no sentido cauda – cabeça, com predação lateral. E) Larva sendo parcialmente
engolida. F) Presa sendo engolida pelo predador evidenciando o canibalismo.

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 231 - 239, 2008


Canibalismo em larvas de matrinxã, Brycon cephalus, após imersão dos ovos... 237

Figura 2. Fotomicrografia de larva de matrinxã, Brycon cephalus. A) Larva ingerida indicando a direção da predação
pela posição dos olhos no estomago. B) Detalhe mostrando a região da cabeça e estomago do predador. C) Larva já
digerida. D) Seta indicando resquícios do saco vitelínico. E) Predador sendo predado. F) Aumento da fotomicrografia
E.

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 231 - 239, 2008


238 LEONARDO et al.

CONCLUSÃO SULLIVAN, C.V.; SWANSON, P.; HARA, A.;


Nas condições utilizadas neste experimento, a BERNARD, M.G. 1989 Relationship between
triiodotironina não reduziu a fase de canibalismo metabolic and reproductive hormones in salmonid
intenso durante o desenvolvimento inicial das larvas fish. Fish Physiology and Biochemistry, Amsterdam,
de Brycon cephalus. 7: 147-155.

HECHT, T. and APPELBAUM, S. 1988 Observations


AGRADECIMENTOS
on intraespecific aggression and coeval sibling
Ao Pesquisador Dr. Marcelo Borges Tesser pela cannibalism by larva and juvenile Clarias gariepinus
contribuição nas fotos e interpretação das mesmas. (Clariidae: Pisces) under controlled conditions.
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Canibalismo em larvas de matrinxã, Brycon cephalus, após imersão dos ovos... 239

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B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 231 - 239, 2008


STOMACH CONTENTS OF THE CARIBBEAN POMFRET Brama caribbea (MEAD,
1972) FROM STOMACH CONTENTS OF GREAT PELAGIC PREDATORS
FROM SOUTHWESTERN EQUATORIAL ATLANTIC

Teodoro VASKE JÚNIOR 1; Rosângela Paula LESSA 1; Taciana Martins BARBOSA 1;


Mariana Travassos TOLOTTI 2; Aurelyanna Christine Bezerra RIBEIRO 1

ABSTRACT
The Caribbean pomfret, Brama caribbea, is a common food item of pelagic predators in the
Southwestern equatorial Atlantic. Stomach contents of 185 B. caribbea, obtained from stomach
contents of great pelagic predators were analysed to know the food spectra, and determine
which portion of the micronekton takes place in his feeding habits. The main food items were
Euphausiacea, the hiperiids Brachyscelus crusculum and Phrosina semilunata, the fishes Myctophidae
and Acanthurus sp., the cephalopods Enoploteuthidae, Cranchiidae and Ommastrephidae, and
the heteropods. The diet composition of B. caribbea was 86.8% similar to the composition of the
organisms found in the regional micronekton collected by midwater trawl.
Key words: Caribbean pomfret, Brama caribbea, feeding

CONTEÚDO ESTOMACAL DA PALOMBETA-DO-CARIBE Brama caribbea (MEAD, 1972),


PROVENIENTE DO CONTEÚDO ESTOMACAL DE GRANDES PREDADORES PELÁGICOS
DO ATLÂNTICO SUDOESTE EQUATORIAL

RESUMO
A palombeta-do-Caribe Brama caribbea, é um item alimentar comum de grandes predadores no
Atlântico sudoeste equatorial. Conteúdos estomacais de 185 B. caribbea obtidos de conteúdos
estomacais de grandes predadores foram analisados para se conhecer o espectro alimentar e para
determinar qual porção do micronécton é parte dos seus hábitos alimentares. Os principais itens
alimentares foram Euphausiacea, os hiperídeos Brachyscelus crusculum e Phrosina semilunata, os peixes
Myctophidae e Acanthurus sp., os cefalópodes Enoploteuthidae, Cranchiidae e Ommastrephidae, e
os heterópodes. A composição da dieta de B. caribbea foi 86,8% similar à composição de organismos
encontrados no micronécton da região coletado por rede de meia água.
Palavras-chave: Palombeta-do-Caribe, Brama caribbea, alimentação

Artigo Científico: Recebido em: 12/12/2006; Aprovado em: 08/10/2007


1
Laboratório de Dinâmica de Populações Marinhas - DIMAR/DEPAq/UFRPE, Recife – PE. Brasil CEP: 52.171-900. E-mail:
vaske@ig.com.br; rlessa@ufrpe.br; taciana.martins@hotmail.com; aurelyanna@hotmail.com
2
Laboratório de Ecologia Marinha, LEMAR/DEPAq/UFRPE Recife, PE CEP: 52.171-900. E-mail: mari.trrr@gmail.com

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 241 - 249, 2008


242 VASKE JÚNIOR et al.

INTRODUCTION and LESSA, 2004; VASKE JÚNIOR et al. 1998, 2004).


Bramids are oceanic pelagic fishes from Atlantic, Due to the importance of the bramids in the feeding
Indian and Pacific oceans (NELSON, 1996). Six species habits of pelagic predators, and the lack of biological
(Brama brama, B. dussumieri, B. caribbea, Taractichthys informations for these fishes, B. caribbea was chosen
longipinnis, Pterycombus petersii and Pteraclis aesticola) to study his feedings habits, and also to investigate
are reported to Southeastern and Southern Brazil the fraction of the micronekton that is used as prey
(TOMÁS et al. 1988). These same species are also by this species. For the first time, a length-weight
reported to occur in the Northeastern Brazil with the relationship for the species was also provided
exception of B. dussumieri and P. aesticola (VASKE
JÚNIOR, 2000). Despite the commercial importance MATERIAL AND METHODS
of B. brama in some locations of the North Atlantic The study area is located between 30oW and
(MEAD and HAEDRICH, 1965; ERZINI and LOBO, 40 W and 5oN and 20oS, where samples were carried
o

2001), there is no commercial fishery targeting out between October 2004 and November 2005
adults of B. brama in Brazil, where they are caught (Figure 1). The specimens of B. caribbea, in very good
occasionally by pelagic longline in the Southeastern conditions, were obtained from frozen stomach
and Southern regions (ZAVALA-CAMIN, 1981; contents of the blue marlin (Makaira nigricans),
TOMÁS et al., 1988), and deep bottom longline white marlin (Tetrapturus albidus), and bigeye tuna
(HAIMOVICI et al., 2004). B. brama is also reported (Thunnus obesus) that are commonly caught by
to Argentinian waters (CASTELLO and VERA, 1973). longliners in this region. The stomachs of B. caribbea
Among adult bramids in the Southwestern equatorial were removed by opening the abdominal cavity
Atlantic only T. longipinnis are reported in longline and by severing them from the intestine and the
catches. Other bramid species were recorded as esophagus, and than preserved in formalin at 5%.
larvae or juveniles in the same area (ANDRADE, Food items in the stomach contents were identified
2000; BEZERRA JÚNIOR, 1999; FIGUEIREDO et al., to the lowest possible taxon. For each stomach data
2002; LESSA et al., 1999; MADUREIRA et al., 2005; such as the number of individuals of each food
VASKE JÚNIOR et al., 2005a). The pomfrets, B. brama item, total length for all organisms, and wet weight
and B. caribbea, are two of the most abundant prey of each individual were recorded. Total length was
of pelagic predators in the Southwestern equatorial registered in milimeters and weight in grams. The
Atlantic, most of them found as juveniles in stomach stomach fullness was recorded according to a five-
contents of great pelagic predators (MATTHEWS point scale of estimated percentages of total fullness:
et al., 1977; VASKE JÚNIOR, 2000; VASKE JÚNIOR empty, 25% full, 50 % full, 75% full, and full.

Figure 1. Sample area in the Southwestern equatorial Atlantic. RA- Rocas Atoll; FNA – Fernando de Noronha
Archipelago; SPSPA – Saint Peter and Saint Paul Archipelago. Black squares are the hauls of the midwater trawl

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 241 - 249, 2008


Stomach contents of the caribbean pomfret Brama caribbea (Mead, 1972) from stomach contents... 243

The importance of each food item in the diet of


B. caribbea was obtained by the Index of Relative
Importance (IRI) (PINKAS et al. 1971), modified to
weight in the pooled samples of the species:
IRIi = %FOi x (%Ni + %Wi)
where %FOi - relative frequency of occurrence of
each item; %Ni - proportion in prey number of each
item in the total food; and %Wi - proportion in weight
of each item in the total food content.
The proportions in number of the main groups of Figure 2. Length distribution of Brama caribbea
organisms found in the stomachs were compared to
the proportions of organisms captured by midwater The stabilization of the food items richness
trawl (VASKE JÚNIOR et al. 2005b; MADUREIRA was obtained at 42 food items and 150 stomachs
et al. 2005) to determine the similarity of the approximately, which means that the number of
micronekton of the epipelagial, and the food spectra sampled individuals was enough to obtain the
of B. caribbea. The niche overlap was calculated by feeding spectra of food items (Figure 3). A total
the MacArthur and Levins’s measure with Pianka’s of 185 stomachs was analyzed, where 45 items
simetric modification (KREBS, 1989): were identified, being 17 fishes, 11 cephalopods,
10 crustaceans, 2 pteropod, 1 insect, 1 heteropod,
Ojk = Σ pij pik / √ (Σ pij Σ pik)
1 polychaet, 1 ostracod, and 1 tunicate (Table 1).
Where: According to the IRI ranking, with the exception
Ojk = MacArthur-Levin’s measure to the resources of unidentified Teleostei, the main ten items in the
j and k; diet were Euphausiacea, the hiperiids Brachyscelus
pij = Proportions resource i is of the total resources crusculum and Phrosina semilunata, the fishes
used by species j (B. caribbea); Myctophidae and Acanthurus sp., the cephalopods
pik = Proportions resource i is of the total resources Enoploteuthidae, Cranchiidae and Ommastrephidae,
used by k (midwater trawl catch). and the heteropods. All organisms were represented
by larvae or juveniles, with the exception of Phronima
Data from the composition of the micronekton sedentaria, Calanoida, Cavolinia sp., Clio sp., and
of epipelagic oceanic waters and adjacencies of the Halobates sp. Canibalism was observed in two
islands, were considered equivalent to the local stomachs.
where B. caribbea lives, and were obtained from
midwater trawl samples from the research vessel
“Atlântico Sul” during acoustic surveys in the
Brazilian Northeastern Exclusive Economic Zone
(MADUREIRA et al., 2005; VASKE JÚNIOR et al.,
2005b). A SIMRAD EK500 echo-sounder operating
at 38 kHz was used, with a SIMRAD FS 903 Sonar
trawl operating inside a 268 m circumference
midwater trawl (MADUREIRA et al., 2005). Twelve
hauls were made between surface and 200 m depth
in the adjacencies of islands and oceanic stations
(Figure 1).
Figure 3. Food items diversity curve of Brama caribbea in
the Southwestern equatorial Atlantic. Arrow indicates
RESULTS the stabilization
Fork length of 196 B. caribbea ranged between
10 and 320 mm (Figure 2). Most individuals were Prey length ranged between 1 and 85 mm of body
between 40 and 120 mm, and the maximum observed length, although most prey were situated between
length of 320 mm far exceed the maximum total 1 and 20 mm (Figure 4). All prey larger than 60 mm
length of 218 mm considered by MEAD (1972). were represented by juveniles of the mesopelagic

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 241 - 249, 2008


244 VASKE JÚNIOR et al.

fish Alepisaurus ferox and Gempylus serpens. Baits of full stomachs, which means that B. caribbea have
were present in 17.7% of the stomachs. The degrees a constant amount of food in the stomachs, chiefly
of stomach fullness were 6.9% empty, 17.2% of 25% between 25% and 75%.
full, 30.1 % of 50% full, 23.6% of 75% full, and 22.0 %

Table 1. Prey species composition of Brama caribbea in number (N), weight (W), frequency of occurrence (FO), IRI
ranking, and organisms composition of midwater trawl in the Southwestern equatorial Atlantic

Brama caribbea Mid. trawl


Organisms
N %N W %W FO %FO IRI Ranking N %N
Acanthurus sp. 50 5,91 5,29 3,12 10 5,81 47,40 8 73 0,94
Alepisaurus ferox 1 0,12 0,35 0,21 1 0,58 0,18
Aluterus monocerus 8 0,10
Antigonia combatia 1 0,12 0,09 0,05 1 0,58 0,09 1 0,01
Astronesthidae 17 0,22
Auxis sp. 6 0,08
Balistes sp. 4 0,47 0,58 0,34 4 2,33 1,73 73 0,94
Bothus sp. 477 6,13
Brama brama 3 0,35 0,73 0,10 5 0,58 0,23 25 0,32
Brama caribbea 11 1,30 4,90 2,89 2 1,16 3,61 28 0,36
Carangidae 49 0,63
Cauliodus sloani 11 0,14
Centropyge aurantonotum 23 0,30
Chiasmodontidae 12 0,15
Cubiceps sp. 1 0,12 2,50 1,48 1 0,58 0,92 183 2,35
Dactylopterus volitans 5 0,59 1,64 0,96 4 2,33 3,43
Decapterus tabl 397 5,10
Diondontidae 1 0,12 0,04 0,02 1 0,58 0,07 1 0,01
Diretmus argenteus 1 0,12 0,20 0,12 1 0,58 0,13
Gempylus serpens 6 0,71 2,36 1,39 5 2,91 5,81 1 0,01
Gephyroberix darwinii 1 0,01
Gonostomatidae 6 0,08
Holocentridae 3 0,35 3,00 1,78 2 1,16 2,42 12 0,15
Leptocephalus 643 8,27
Lestidiops jayakari 1 0,12 0,72 0,43 1 0,58 0,31 14 0,18
Lestidium atlanticus 6 0,08
Lestrolepsis intermedia 8 0,10
Malacanthidae 5 0,06
Monacathidae 3 0,04
Myctophidae 29 3,43 10,13 6,00 17 9,88 88,07 6 2107 27,09
Neolatus tripes 5 0,06
Nomeidae 3 0,35 0,90 0,53 1 0,58 0,49 5 0,06
Oxyporhamphus micropterus 3 0,35 1,40 0,83 1 0,58 0,66 10 0,13
Continue

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 241 - 249, 2008


Stomach contents of the caribbean pomfret Brama caribbea (Mead, 1972) from stomach contents... 245

Table 1. Continuation

Brama caribbea Mid. trawl


Organisms
N %N W %W FO %FO IRI Ranking N %N
Priacanthidae 2 0,03
Pristipomoides freemaini 1 0,01
Scombridae 6 0,71 17,00 10,07 1 0,58 6,20
Selar crumenophtalmus 4 0,05
Stemonosudis intermedia 1 0,01
Sternoptyx pseudobscura 9 1,06 3,08 1,82 4 2,33 6,34 27 0,35
Teleostei 102 12,06 27,24 16,13 43 25,00 659,34 1 17 0,22
Vinciguerria nimbaria 1 0,12 0,80 0,47 1 0,58 0,33 33 0,42
FISHES 241 28,49 82,95 48,76 4295 55,22
Chiroteuthidae 2 0,24 0,12 0,07 2 1,16 0,32 22 0,28
Cranchiidae 24 2,84 3,67 2,17 17 9,88 45,30 9 48 0,62
Enoploteuthidae 43 5,08 20,08 11,89 30 17,44 282,72 4 113 1,45
Enoploteuthis anapsis 152 1,95
Enoploteuthis leptura 363 4,67
Histioteuthidae 10 1,18 0,49 0,29 7 4,07 5,27
Illex coindetti 1 0,01
Leachia sp. 2 0,03
Liocranchia reinhardti 6 0,71 2,88 1,71 4 2,33 5,37 3 0,04
Octopodidae 1 0,12 0,30 0,18 1 0,58 0,16
Ommastrephes bartramii 3 0,35 2,50 1,48 2 1,16 2,07 18 0,23
Ommastrephidae 28 3,31 1,09 0,65 13 7,56 26,13 10 84 1,08
Onychoteuthidae 3 0,35 6,20 3,67 2 1,16 4,62 1 0,01
Onykia sp. 1 0,12 1,20 0,71 1 0,58 0,47
Ornithoteuthis antillarum 4 0,47 10,62 6,29 3 1,74 11,67 7 0,09
CEPHALOPODS 125 14,78 49,15 29,11 814 10,47
Brachyscelus crusculum 145 17,14 6,29 3,73 32 18,60 340,16 3
Brachyura Megalopae 12 1,42 1,32 0,78 9 5,23 10,39 58 0,75
Calanoida 6 0,71 0,04 0,02 1 0,58 0,36
Caridea 21 0,27
Cranocephalus sp. 7 0,83 0,54 0,32 5 2,91 2,97
Decapoda 1 0,12 0,01 0,01 1 0,58 0,06 29 0,37
Euphausiacea 162 19,15 10,22 6,04 31 18,02 402,24 2 1088 13,99
Penaeidae 4 0,05
Phronima sedentaria 19 2,25 2,63 1,55 10 5,81 20,15 21 0,27
Phrosina semilunata 28 3,31 4,15 2,45 17 9,88 51,09 7 12 0,15
Scylariidae Phylossome 34 0,44
Platyscelidae 10 1,18 0,61 0,36 9 5,23 7,14 2 0,03
Sergestidae 16 1,89 3,89 2,29 5 2,91 11,37 799 10,27
Stenopodidea 1 0,01
Continue

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 241 - 249, 2008


246 VASKE JÚNIOR et al.

Table 1. Continuation

Brama caribbea Mid. trawl


Organisms
N %N W %W FO %FO IRI Ranking N %N
Stomatopoda 493 6,34
CRUSTACEANS 406 47,99 29,70 17,56 2562 32,94
Clio sp. 8 0,95 0,18 0,11 1 0,58 0,53
Cavolinia uncinata 7 0,83 0,17 0,10 5 2,91 2,34 24 0,31
Cavolinia gigas 3 0,04
PTEROPODS 15 1,77 0,35 0,21 27 0,35
Halobates sp. 17 2,01 0,85 0,49 15 8,72 19,28
INSECTS 17 2,01 0,85 0,49
HETEROPODS 39 4,61 5,67 3,36 21 12,21 88,81 5 3 0,04
POLYCHAETS 1 0,12 0,01 0,01 1 0,58 0,06
OSTRACODS 1 0,12 0,01 0,01 1 0,58 0,06
TUNICATES 1 0,12 0,02 0,01 1 0,58 0,07 52 0,67
SIPHONOFORES 7 0,09
TOTAL 846 100,00 169,56 100,00 7778 100,00

for midwater trawl, and one taxa of Heteropod and


Tunicate occurred for both. A total of 86 taxa were
recorded, where 16 taxa were preyed only by B.
caribbea, 33 taxa occurred only in the midwater trawl,
and 32 taxa occurred for both. All organisms caught
in the midwater trawl were represented by young
and larval stages, with the exceptions of some fishes
and cephalopods.

Table 2 - Proportions of the main groups of organisms


found in the stomach s of Brama caribbea, and proportions
of main groups of organims collected by midwater trawl
Figure 4. Lengths of all organisms found in the stomach in the Southwestern equatorial Atlantic
contents of Brama caribbea
% Brama % Midwater
Organisms
The proportions of the numeric micronekton caribbea trawl
composition, and the numeric food spectra of B. Fishes 0,2849 0,5588
caribbea were 86.8% similar (Oij = 86.8) (Table 2). For Crustaceans 0,4799 0,3182
fishes, 41 taxa occurred in total, being 4 taxa only
Cephalopods 0,1478 0,1114
for B. caribbea, 22 only for midwater trawl, and 15
Pteropods 0,0177 0,0036
for both. For cephalopods, 15 taxa occurred, being 3
only for B. caribbea, 4 only for midwater trawl, and 8 Tunicates 0,0012 0,0067
for both. For crustaceans, 15 taxa occurred, being 3 Heteropods 0,0461 0,0004
only for B. caribbea, 5 only for midwater trawl, and Siphonophores 0,0009
7 for both. Three taxa of pteropods occurred, being
Insects 0,0201
two only for B. caribbea, one only for midwater trawl,
Polychaets 0,0012
and one for both. The insect Halobates sp., and the
taxa Polychaet and Ostracod occurred only for B. Ostracods 0,0012
caribbea. One taxa of Siphonophore occurred only TOTAL 1 1

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 241 - 249, 2008


Stomach contents of the caribbean pomfret Brama caribbea (Mead, 1972) from stomach contents... 247

DISCUSSION to avoid the net haul. On the other side, B. caribbea


According to ROGER and GRANDPERRIN can not avoid the efficiency of predation of the tunas
(1976), trophic webs in the tropical Pacific are mainly and other pelagic predators.
composed by phytoplankton, small zooplankton, LEGAND et al., (1972), also analyzed the
euphausids, micronekton, tunas, and tuna like fishes. composition of stomach contents of tunas, and the
Of these, the micronekton is the most important, micronekton obtained by Isaacs-Kidd Midwater
whereas it transfers energy to cephalopods and small Trawl (IKMT) in the tropical Pacific. They concluded
pelagic fishes who will take place as food supply of that stomach contents of tunas are different of the
great pelagic predators. If we consider that B. caribbea micronekton catches of IKMT due to the different
is an active eater of micronekton, and is frequently migrant species, and the day-night feeding habits of
preyed by great pelagic fishes in the Southwestern predators. The bramids Taractes sp. and Pteraclis sp.
equatorial Atlantic (VASKE JÚNIOR, 2001; VASKE were not captured in the IKMT, probably due to their
JÚNIOR, et al., 2003), then, we can consider that the capacity to avoid the net. As in the present study,
species is an important link between the micronekton euphausids and cephalopods were the main prey
and the pelagic predators, functioning as an energy items of the bramids. WATANABE et al. (2003), also
transference step. For this reason, we can consider the found a high diversity of prey species in the diet of
stomach contents of B. caribbea as a good sampler of Brama japonica in the central North Pacific, pointing
the local micronekton, once B. caribbea is considered out the importance of cephalopods, hiperiids, and
a species that lives in the epi and mesopelagial the fishes Paralepididae in the diet of this species.
(MEAD and HAEDRICH, 1965; MEAD, 1972). When In this study, it was observed a remarkable presence
the bramid species were described by MEAD (1972), of the sea skater Halobates sp. in the stomachs of
most of them were recorded from stomach contents B. caribbea. These insects are abundant in the pleuston
of tunas, and midwater trawls, between 0 and 660 m and epineuston of tropical oceans (ANDERSEN,
layers in the tropical Pacific. He considered B. caribbea 1991; CHENG, 1989), thus, they could not be
as a pseudopelagic fish, once it is also found close to expected to appear in the diet of an epimesopelagic
land masses and islands. fish like B. caribbea. Halobates sp. was not found in
Most prey ranged between 1 and 40 mm, which the stomachs of B. japonica in the Pacific, probably
means that this is the capacity of prey ingestion because the fishes have been captured between 37oN
for B. caribbea until 320 mm FL. For this reason, and 40oN, although Halobates sp. were also found in
larger organisms collected by midwater trawl were the stomachs of yellowfin tuna (Thunnus albacares)
not present in the diet of B. caribbea, e.g. the fishes in Southern Brazil (30 oS) (VASKE JÚNIOR and
Aluterus monocerus (340 to 410 mm TL), Auxis sp. CASTELLO, 1998). If B. caribbea feeds on Halobates
(185 to 205 mm TL), Cubiceps sp. (104 to 168 mm TL), sp. with some frequency, it means that B. caribbea
Leptocephalus (50 to 295 mm TL), Decapterus tabl feeds very close the sea surface more frequently than
(135 to 195 mm TL), Paralepididae (Lestidiops jayakari, expected, despite his epi and mesopelagic habit.
Lestrolepsis intermedia, Stemonosudis intermedia, Some taxa that occurred in high number in the
Lestidium atlanticum) (20 to 200 mm TL), and Selar midwater trawl like Bothus sp. (477), Leptocephalus
crumenophtalmus (150 to 200 mm TL), except for (643), Sergestidae (799), and Stomatopoda (493), were
rare larval fish stages. Likewise, large squids like not present in stomachs of B. caribbea, probably due
Enoploteuthis leptura (40 to 120 mm TL), Enoploteuthis to the transparence of the larval stages that can avoid
anapsis (110 to 320 TL), Illex coindetti (140 mm TL), the predation by B. caribbea, but are easily caught by
and Leachia sp. (180 mm TL), were not preyed by the midwater trawl. On the other hand, Euphausiacea
B. caribbea. (1088) and Myctophidae (2107) were the most
The frequency of B. caribbea in the stomachs numerous organisms captured by midwater trawl,
of pelagic predators in the South equatorial Atlantic being the second and the sixth food items in the diet
is high, being the main food item of bigeye tuna of B. caribbea. Thus, these two taxa, Euphausiacea and
(Thunnus obesus) representing 50.85 % of total prey Myctophidae, can be considered the most important
in frequency of occurrence (not published data), but organisms that are eaten by B. caribbea in the link of
represented only 0.36 % in number of the total catches micronekton and pelagic predators in the food web
of the midwater trawl, probably due to the capacity of the Southwestern equatorial Atlantic.

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 241 - 249, 2008


248 VASKE JÚNIOR et al.

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crecimiento compensatorio de juveniles de pacú
(Piaractus mesopotamicus Holmberg, 1887) en diferentes
sistemas de alimentación

Julio César ORTIZ1, Sebastián SÁNCHEZ1, Juan Pablo ROUX1, Alfredo Oscar GONZÁLEZ1

Resumen
Se evaluó el crecimiento compensatorio de juveniles de pacú (Piaractus mesopotamicus) de
pequeña talla a través de cuatro ciclos de “no alimentación/re-alimentación” (NA/RA). El
ensayo experimental se realizó con tres lotes de peces que presentaron pesos medios iniciales de
0,19, 0,54 y 2,11 g, los que fueron considerados como bloques. Se compararon dos tratamientos
experimentales contra un control con ciclos de: 2 días NA/3 días RA (tratamiento A), 3 días NA/2
días RA (tratamiento B) y alimentación continua (control). No se observaron diferencias para el
peso medio a lo largo de todo el experimento. La Tasa de Crecimiento Específico general mostró
diferencias significativas, donde el tratamiento B presentó un crecimiento menor que el control.
El análisis por ciclos permitió detectar que el control presentó mayor crecimiento que ambos
tratamientos experimentales en el segundo ciclo y respecto del tratamiento B en el cuarto ciclo;
las diferencias entre bloques fueron evidentes solo en los dos primeros ciclos a favor de los peces
de mayor tamaño. La Razón de Eficiencia Proteica no evidenció diferencias cuando se analizó
en forma general; sin embargo, pudo observarse que en el segundo período el tratamiento B fue
menor que el control. El efecto de bloques presentó un resultado similar al encontrado para la
Tasa de Crecimiento Específico. Los resultados sugieren que existe respuesta compensatoria en
juveniles de pacú de pequeña talla y que el tamaño de los peces afecta el desempeño de los mismos
durante la etapa de compensación.
Palabras clave: Piaractus mesopotamicus - restricción alimentaria/realimentación - crecimiento
compensatorio

COMPENSATORY GROWTH OF FINGERLINGS OF PACÚ (Piaractus mesopotamicus


HOLMBERG, 1887) IN severals systems of feeding
Summary
Compensatory growth of young fishes of pacú (Piaractus mesopotamicus) was evaluated through four
cycles of “nonfeeding/refeeding” (NA/RA). The experimental test was made with three groups
of fishes having initial average weights of 0.19, 0.54 and 2.11 g, which were considered as blocks.
Two experimental treatments versus a control were compared with cycles of: 2 days NA/3 days
RA (treatment A), 3 days NA/2 days RA (treatment B) and Continuous feed (control). Differences
for the average weight throughout all the experiment were not observed. The General Specific
Growth Rate showed significant differences, where treatment B produced a growth smaller than
the control. The analysis by cycles allowed detecting that the control presented greater growth
than both experimental treatments in the second cycle and respect to treatment B in the fourth
cycle; differences between blocks were evident only in both first cycles in favour of the fish of
greater size. The Protein Efficiency Rate did not show differences when it was analyzed in general
form; nevertheless, it could be observed that in the second period treatment B was minor respect to
the control. The effect of blocks showed a similar result to those obtained for the Specific Growth
Rate. The results suggest the existence of compensatory response in young fishes of pacú and that
the size of these fishes affect the performance during the compensation stage.
Key words: Piaractus mesopotamicus - food restriction/refeeding - Compensatory growth

Artigo Científico: Recebido em: 15/12/2006; Aprovado em: 17/01/2008


1
Instituto de ictiología del Nordeste-Facultad de Ciencias Veterinarias-UNNE. Sargento Cabral 2139. (3400) Corrientes,
Argentina. E-mail: jcortiz@vet.unne.edu.ar

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 251 - 258, 2008


252 ORTIZ et al.

crescimento compensatório DE JUVENIS dE pacu (Piaractus mesopotamicus


Holmberg, 1887) EM diferentes sistemas de alimentação
Resumo
Foi avaliado o crescimento compensatório de juvenis de pacú (Piaractus mesopotamicus) de
tamanho pequeno através de quatro ciclos de “restrição alimentar/realimentação” (NA/RA).
O teste experimental foi feito com três lotes de animais que apresentaram pesos médios iniciais
de 0,19, 0,54 e 2,11 g, os que foram considerados como blocos. Compararam-se dois tratamentos
experimentais versus um controle com ciclos de: 2 dias de NA/3 dias RA (tratamento A), 3
dias de NA/2 dias RA (tratamento B) e alimentação contínua (controle). Não foram observadas
diferenças para o peso médio durante toda a experiência. A taxa de crescimento específico geral
mostrou diferenças significativas, onde o tratamento B apresentou um crescimento menor do que
o controle. A análise por ciclos permitiu detectar que o controle apresentou maior crescimento
do que ambos tratamentos experimentais no segundo ciclo e respeito ao tratamento B no quarto
ciclo; as diferenças entre blocos foram evidentes nos dois primeiros ciclos, favorecendo os peixes
de maior tamanho. A razão da eficiência protéica não demonstrou diferenças quando foi analisada
em forma geral; não obstante, observou-se que no segundo período o tratamento B foi menor
que o controle. O efeito dos blocos apresentou um resultado similar ao encontrado para a taxa de
crescimento específico. Os resultados sugerem que existe resposta compensatória em juvenis de
pacú de tamanho pequeno e que o peso dos peixes afeta seu desempenho durante o estágio da
compensação.
Palavras-chave: Piaractus mesopotamicus - restrição alimentar/realimentação -crescimento
compensatório

Introducción período de compensación a sujetos en condiciones de


Cuando se hace referencia a los costos de alimentación rutinarias (QUINTON y BLAKE, 1990;
producción en piscicultura, se observa como el más SEALEY et al., 1998; HAYWARD y WANG, 2001).
importante a la alimentación, que en la mayoría de los En la región nordeste de Argentina, se está
casos representa más del 50% de los egresos durante desarrollando con especial interés la piscicultura
el ciclo productivo (HEPHER, 1993); considerando en sistemas de producción semi-intensivos en
esta situación se han realizado, y se siguen realizando, estanques excavados en tierra, destacándose
numerosos estudios con la finalidad de optimizar el fundamentalmente el cultivo de pacú (Piaractus
uso de alimentos en piscicultura e intentar disminuir mesopotamicus) (LUCHINI, 2004). En esta región,
el impacto que estos implican en el balance económico se dan condiciones invernales desfavorables para
de las producciones. el crecimiento de la especie, debido a que durante
Uno de los fenómenos más relevantes en el muchos días entre los meses de junio y agosto las
comportamiento de distintas especies de peces temperaturas están por debajo del límite inferior en
en producción es que por diversas circunstancias, el que esta especie se alimenta (ROUX y BECHARA,
fundamentalmente de índole ambiental y de manejo, 1998). Esto requiere que se observe el momento en
pueden dejar de alimentarse durante importantes que los peces recuperan el apetito y desencadenan
períodos de tiempo dentro del ciclo productivo, el crecimiento compensatorio a expensas de un
que de no ser considerados y aprovechados pueden mayor consumo de alimento y mejor conversión
acarrear importantes pérdidas de rentabilidad en la alimentaria, fenómeno que se sucede hasta alcanzar
producción. Esta situación puede ser utilizada en las condiciones fisiológicas previas a la situación de
favor de mejores rindes (SOUZA et al., 2003) si se estrés alimentario (JOBLING y JOHANSEN, 1999).
considera que luego de períodos con escasa o nula El crecimiento compensatorio puede estar
alimentación los peces desarrollan el fenómeno de influenciado por diversos factores como la severidad
crecimiento compensatorio, mediante el cual los de la restricción alimentaria, el estado de maduración
animales tienden a recuperar rápidamente el peso de los peces, composición de la dieta, etc. (JOBLING,
no ganado, e incluso perdido, en los momentos 1994). Este fenómeno, está siendo ampliamente
de restricción de la oferta alimentaria, llegando a estudiado en muchas especies de agua fría, pero son
igualar o incluso a superar en peso hacia el final del menos los trabajos realizados en especies de agua

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 251 - 258, 2008


Crecimiento compensatorio de juveniles de pacú (Piaractus mesopotamicus Holmberg, 1887)... 253

cálida (QIAN et al., 2000) y en particular en pacú, Agropecuaria “Las Breñas” del Instituto Nacional
especie con la cual se realizaron experiencias en etapa de Tecnología Agropecuaria (INTA) con 28% de
de engorde (SOUZA et al., 2003), no así con animales proteína cruda en su composición.
de pequeña talla o en período de alevinaje. En la experiencia se utilizaron dos tratamientos
La capacidad individual de acceso al alimento, experimentales consistentes en distintas estrategias
cuando este escasea, probablemente favorezca de alimentación y un tratamiento control, los que
la formación de rangos sociales, determinando consistieron en:
la aparición de jerarquías en la alimentación, las • Tratamiento Control, se alimentaron los
cuales a lo largo del tiempo determinan diferencias peces diariamente con el alimento mencionado a lo
de talla (SÆTHER y JOBLING, 1999). Bajo estas largo de toda la experiencia,
circunstancias los individuos dominantes, por talla o
• Tratamiento A, se realizaron cuatro ciclos
agresividad, se ven favorecidos en cuanto al control
de “no alimentación/re-alimentación” cada uno de
de los recursos (GRANT, 1997).
los cuales consistió en privar de todo alimento a los
El objetivo del presente trabajo fue analizar el individuos durante 2 días y posterior reanudación
crecimiento compensatorio en juveniles de pacú de de la alimentación los siguientes 3 días ( 2NA/3RA);
pequeña talla, a través de tres indicadores zootécnicos, y
a lo largo de cuatro ciclos de “no alimentación/re-
• Tratamiento B, en el cual los ciclos de “no
alimentación” en comparación con un grupo
alimentación/re-alimentación” consistieron en la
alimentado en forma continua, considerando tres
privación del alimento durante 3 días y posterior
tamaños distintos de individuos.
alimentación los siguientes 2 días (3NA/2RA).
Materiales y métodos Repitiéndose así cuatro ciclos de cinco días en los
tratamientos experimentales. En todos los casos los
El ensayo experimental se realizó durante el mes
peces fueron alimentados con una ración del 4% de
de mayo de 2005 en las instalaciones del Instituto de
la biomasa de cada acuario, las cuales se ofrecieron
Ictiología del Nordeste de la Facultad de Ciencias
manualmente divididas en dos comidas diarias.
Veterinarias, Universidad Nacional del Nordeste
Las raciones fueron corregidas al comienzo de cada
(INICNE-FCV-UNNE) (Corrientes, Argentina),
ciclo.
donde se utilizaron como unidades experimentales
9 acuarios de vidrio de aproximadamente 25 litros Para evaluar la evolución de los peces a lo largo
de capacidad y aireación forzada, en cada uno de los de cada ciclo los mismos fueron pesados al final de
cuales se introdujeron 5 juveniles de pacú (Piaractus estos con una balanza electrónica con capacidad de
mesopotamicus) de pequeña talla (peso promedio 400 g, precisión de 0,01 g.
inicial: 0,98 g). La temperatura ambiente del laboratorio se reguló
Los peces fueron adaptados a las condiciones con estufa eléctrica para su mantenimiento entre
experimentales durante un período previo de una 22º y 24º C. La temperatura del agua y la saturación
semana; la asignación de los grupos experimentales y concentración de oxígeno fueron medidas
se realizó según un diseño en bloques completamente diariamente, el pH y la conductividad eléctrica
aleatorizados, donde los individuos fueron agrupados medidos al momento de realizarse el control de
en tres tamaños distintos cuyos pesos medios peso. Los promedios de las variables físico-químicas
iniciales fueron: 0,19g (± 0,01), 0,54 g (± 0,02) y estimados para los diferentes tratamientos se
2,11 g (± 0,11) para los peces pequeños, medianos compararon utilizando el test de Tuckey (p> 0,05).
y grandes, respectivamente, y luego distribuidos Los restos de alimentos y detritos se eliminaron
al azar en cada uno de tres acuarios, respetando el de las unidades experimentales diariamente,
tamaño para completar las unidades experimentales; aproximadamente una hora después de la
quedando de esta forma, un acuario de cada tamaño segunda comida, mediante sifonaje, renovándose
para cada uno de los tres grupos con tratamientos diariamente el 25% del volumen de cada acuario.
alimentarios diferentes. Adicionalmente, se realizó el recambio completo de
La única oferta alimentaria durante el ensayo agua simultáneamente con el pesaje al final de cada
experimental fue una dieta balanceada pelletizada ciclo experimental.
para engorde elaborada en la Estación Experimental Los resultados obtenidos al final de cada ciclo,

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 251 - 258, 2008


254 ORTIZ et al.

se analizaron mediante ANOVA a dos vías para un por ciclos permitió detectar diferencias significativas
diseño experimental en Bloques Completos al Azar, entre el control y ambos tratamientos experimentales
utilizándose como bloques el tamaño de los peces, en el segundo ciclo (p<0,05) , mientras que en el
con 3 réplicas por tratamiento. Recurriéndose al cuarto ciclo solo el tratamiento B resultó inferior al
mismo diseño se analizaron los promedios generales control (p<0,05), siendo que en los otros períodos
para todo el ensayo, donde solo se consideraron los experimentales no pudieron observarse diferencias
guarismos obtenidos al inicio y al final del mismo. (Figura 3); el efecto de bloques difirió a lo largo del
Observadas diferencias significativas entre trata- ensayo, mostrando diferencias significativas entre los
mientos, las medias se compararon utilizando el test tamaños (p<0,05) únicamente en los dos primeros ci-
de Dunnet. clos, no así en la segunda mitad del ensayo (Figura 3).
Los indicadores zootécnicos utilizados como
variables dependientes fueron: Figura 1. Evolución del peso medio de los tratamientos
durante el ensayo de evaluación de crecimiento
• peso medio, compensatorio de pacú. ns: diferencias no significativas
• Tasa de Crecimiento Específico (TCE) respecto del control (p>0,05). Efecto de bloque
(Hepher, 1993): significativo en todos los períodos

100 x (h (peso b) - h (peso a))/(b - a) Alimentados diariamente 2NA/3RA 3NA/2RA

donde (b - a) es el período (en días) transcurrido


entre dos pesajes
• Razón de Eficiencia Proteica (REP) (Hepher,
1993):
alimento consumido (g)/ganancia de peso (g)

Resultados
La calidad del agua se mantuvo en valores adecua-
dos para la cría de pacú (Tabla 1), presentando muy
pocas oscilaciones en las variables físico-químicas.

Tabla 1. Valores medios de las variables físico-químicas


del agua durante el ensayo de evaluación de crecimiento
compensatorio de pacú
Tratamiento
Variables
Control A B Figura 2. Promedios estimados para la Tasa de
Temperatura (ºC) 23 23 23 Crecimiento Específico general en evaluación de
crecimiento compensatorio de pacú. ns: diferencias no
O2 (%) 94,70 93,87 89,70 significativas respecto del control (p>0,05).*: diferencias
O2 (mg l-1) 8,12 8,06 7,66 significativas (p<0,05). Efecto de bloque significativo
pH 6,62 6,62 6,62
Conductividad (μS s ) -1
97 97 97
Control: Alimentados diariamente; A: 2NA/3RA; B: 3NA/2RA. No
se observaron diferencias significativas entre los promedios estimados
para las variables físico-químicas (p> 0,05, test de Tuckey).

En los indicadores zootécnicos no fueron obser-


vadas diferencias significativas (p>0,05) para el peso
medio (Figura 1) durante todo el ensayo.
La Tasa de Crecimiento Específico general mostró
diferencias significativas (p<0,05), observándose que
el tratamiento B produjo un crecimiento significativa-
mente menor (Figura 2, Tabla 2) al control, el que no
se diferenció del tratamiento A (p>0,05). El análisis

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Crecimiento compensatorio de juveniles de pacú (Piaractus mesopotamicus Holmberg, 1887)... 255

Tabla 2. Promedios de Tasa de Crecimiento Específico e Intervalos de Confianza (95%) en evaluación de crecimiento
compensatorio de pacú. ns: diferencias no significativas (p>0,05) respecto del control. *: diferencias significativas
(p<0,05)
Tratamiento Promedio Límite Inferior del IC Límite Superior del IC
Control 1,501769 0,891764 2,111775
A 0,892445 ns 0,282440 1,502451
B -0,031634 * -0,641639 0,578371
Control: Alimentados diariamente; A: 2NA/3RA; B: 3NA/2RA

Figura 3. Promedios estimados para la Tasa de ciclos experimentales (Figura 5) pudo observarse
Crecimiento Específico por período en evaluación de que en el segundo período el tratamiento B es
crecimiento compensatorio de pacú. ns: diferencias no significativamente distinto al control (p<0,05), sin
significativas respecto del control (p>0,05). *: diferencias
observarse diferencias en los restantes períodos; el
significativas (p<0,05). Efecto de bloque significativo
(p<0,05) en los dos primeros períodos de crecimiento efecto de bloques para esta variable se comportó
de manera similar al encontrado para la Tasa de
Alimentados diariamente 2NA/3RA 3NA/2RA Crecimiento Específico, mostrando diferencias
significativas entre los tamaños (p<0,05) en los dos
primeros ciclos, pero no en la segunda mitad de la
experiencia.

Figura 4. Razón de Eficiencia Proteica General en


evaluación de crecimiento compensatorio de pacú.
ns: diferencias no significativas respecto del control
(p>0,05). Efecto de bloque significativo (p<0,05)

La Razón de Eficiencia Proteica no evidenció


diferencias entre los tratamientos (p>0,05) cuando
se analizó en forma general (Figura 4, Tabla 3),
con un efecto del tamaño de los peces significativo
(p<0,05). Cuando se consideró cada uno de los

Tabla 3. Promedios de Razón de Eficiencia Proteica e Intervalos de Confianza (95%) en evaluación de crecimiento
compensatorio de pacú. ns: diferencias no significativas respecto del control (>0,05)
Tratamiento Promedio Límite Inferior del IC Límite Superior de IC
Control 1,392148 0,34847 2,435825
A 1,236217 ns 0,19254 2,279894
B -0,013421 ns -1,05710 1,030256
Control: Alimentados diariamente; A: 2NA/3RA; B: 3NA/2RA

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 251 - 258, 2008


256 ORTIZ et al.

Figura 5. Razón de Eficiencia Proteica por período en representar una restricción excesiva para los peces
evaluación de crecimiento compensatorio de pacú. de pequeña talla, indicando que quizás la respuesta
Las barras indican el Intervalo de Confianza de 95%. fisiológica no es suficiente para contrarrestar
ns: diferencias no significativas respecto del control
(p>0,05). *: diferencias significativas (p<0,05). Efecto
la escasa alimentación a través del crecimiento
de bloque significativo (p<0,05) en los dos primeros compensatorio (JOBLING, 1994). En cuanto al
períodos de crecimiento tratamiento A, los valores registrados en la Tasa de
Crecimiento Específico a lo largo de la experiencia
Alimentados diariamente 2NA/3RA 3NA/2RA
concuerdan con los resultados hallados por EGEA
NICOLÁS et al. (2002) en Diplodus puntazzo tras
un período de diecisiete días de ayuno; asimismo,
HAYWARD y WANG (2001) encontraron tasas de
crecimiento específico similares al control en lotes
de Perca flavescens sometidas a distintos períodos de
restricción alimentaria previa a la oferta ad libitum
del alimento.
La Razón de Eficiencia Proteica se utilizó como
indicador zootécnico sobre la base de lo expuesto
por RUEDA et al. (1998), quienes encontraron
que cuando se desata la respuesta compensatoria
pueden distinguirse dos fases: una temprana con
movilización mayormente de proteínas y una
tardía con gran movilidad de lípidos. Por lo tanto,
la Razón de Eficiencia Proteica representaría una
herramienta válida para evaluar la utilización de
Discusión
ese nutriente por los peces en respuesta a cortos
Las condiciones ambientales se mantuvieron en períodos de privación de alimentos. Sin embargo,
parámetros adecuados para la cría del pacú, con muy los bajos valores registrados para esta variable en
escasa variabilidad de los parámetros considerados, los tratamientos experimentales pueden deberse a
por lo que puede descartarse la influencia del que no se permite el desarrollo pleno de la respuesta
ambiente en los rendimientos zootécnicos observados hiperfágica debido a la limitación impuesta en la
en los tratamientos. ración en las etapas de re-alimentación, la cual no
El hecho de no haberse encontrado diferencias en permitiría una completa recomposición del tracto
la evolución de los pesos medios demuestra que los digestivo necesaria para lograr un más eficiente
individuos sometidos a los tratamientos experimen- aprovechamiento de la proteína ofrecida, como fuera
tales presentaron crecimiento compensatorio, observado por QIAN et al. (2000) en Carassius auratus
considerando que consumieron 40% y 60% menos gibelio. Además, un deterioro del estado nutricional
alimento que el control para los tratamientos A y B, inducido por sucesivos ciclos de escasa alimentación
respectivamente. pudo haber afectado la respuesta compensatoria
Sin embargo, estos resultados no son favorables como fuera observado en híbridos de Lepomis
a los tratamientos experimentales cuando nos refe- cyanellus x L. niacrochirus (HAYWARD et al., 1997).
rimos a la Tasa de Crecimiento Específico y a la Si bien las diferencias entre el tratamiento
Razón de Eficiencia Proteica, las cuales en función control y los tratamientos experimentales resultan
al crecimiento compensatorio mostrado, se supone, apreciables, especialmente con el tratamiento B, estas
podrían implicar mejores resultados tanto en el no son estadísticamente significativas en varios ciclos
tratamiento A como en el B. Por el contrario, este experimentales debido, en parte, probablemente
último presenta una Tasa de Crecimiento Específico al aumento de la variabilidad, situación que fuera
negativa, demostrando que, si bien gana mucho peso observada en varias especies cuando son sometidas
en el primer período, esta ganancia es prácticamente a situaciones de disminución de oferta alimentaria
nula en el tercer ciclo, resultando negativa en los dos (MC CARTHY et al., 1992; JOBLING y KOSKELA,
restantes. Esta situación demuestra que la estrategia 1996; JOBLING y BAARDVIK, 1994; CARTER et al.,
alimentaria propuesta en el tratamiento B puede 1996; SÆTHER y JOBLING, 1999). Este aumento en

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 251 - 258, 2008


Crecimiento compensatorio de juveniles de pacú (Piaractus mesopotamicus Holmberg, 1887)... 257

flounder (Rhombosolea tapirina: Teleostei). Journal


la variabilidad se acentúa fuertemente hacia el final
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del ensayo, inclusive en el tratamiento control, lo
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que puede deberse a las jerarquías creadas dentro
de las unidades experimentales, donde, debido EGEA NICOLÁS, M.A.; RUEDA GONZÁLEZ, F.;
a las limitadas dimensiones de éstas, pequeñas MARTÍNEZ LÓPEZ, F.J. y GARCÍA GARCÍA, B.
diferencias de talla de los individuos representan 2002 Efecto de la realimentación tras un periodo
grandes diferencias en la efectividad para la captura de ayuno sobre el crecimiento en el sargo picudo
del alimento, situación que puede exaltarse si la Diplodus puntazzo (Cetti, 1777). Boletín del Instituto
disposición de los recursos disminuye fuertemente Español de Oceanografía, v.18, n. 1-4, p.357-362.
(BOTERO, 2004).
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mostró cambios a lo largo del ensayo, tanto para la
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Tasa de Crecimiento Específico como para la Razón
de Eficiencia Proteica, observándose una merma HAYWARD, R.S.; NOLTIE, D.B. and WANG, N. 1997
en el rendimiento de todos los grupos hacia el final Use of compensatory growth to double hybrid
de la experiencia, aunque con una mejor respuesta sunfish growth rates. Transactions of the American
de los individuos de talla pequeña en comparación Fisheries Society, v. 126, p. 316-322.
a los demás. El aumento de la variabilidad de
los indicadores a medida que avanzó el ensayo HAYWARD, R.S. and WANG, N. 2001 Failure to
también se refleja cuando se consideró el efecto de induce over-compensation of growth in maturing
tallas, demostrando una vez más que algunos peces yellow perch. Journal of Fish Biology, v.59, p
podrían tener ventajas en la alimentación a pesar 126-140.
de la pequeña diferencia corporal existente, lo que HEPHER, B. 1993 Nutrición de peces comerciales en
podría relacionarse con que, cuando el alimento estanques. Limusa, México. 406 p.
es escaso, la competencia jerárquica se aumenta
y el individuo dominante consume una cantidad JOBLING, M. 1994 Fish Bioenergetics. Fish and Fisheries
exagerada de alimento y crece más rápido (BOTERO, Series 13. Champan & Hall, London, 309 p.
2004); probablemente esta situación se exalta debido
JOBLING, M & BAARDVIK, B.M. 1994 The influence
al reducido número de ejemplares en las unidades
of enviromental manipulations on inter- and
experimentales, siendo el tamaño del grupo un
intra- individual variation in food acquisition and
factor determinante al momento de analizar el
growth performance of Arctic charr, Salvelinus
comportamiento agonístico de los peces, como fuera
alpinus. Journal of Fish Biology, v.49, p. 658-667.
señalado en estudios previos (GRANT, 1997).
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B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 251 - 258, 2008


ECOLOGIA POPULACIONAL DE Anomalocardia brasiliana (GMELIN, 1791)
(BIVALVIA, VENERIDAE) NA BAÍA DE PARANAGUÁ, PARANÁ, BRASIL

Guisla BOEHS 1; Theresinha Monteiro ABSHER 2; Andrea C. da CRUZ-KALED 2

RESUMO
O estudo analisou, entre abril de 1996 e dezembro de 1997, a distribuição espaço-temporal e alguns
aspectos da estrutura populacional do berbigão, Anomalocardia brasiliana (Gmelin, 1791) em dois
baixios entremarés da Baía de Paranaguá (PR, Brasil). A. brasiliana foi observada desde a entrada
do estuário, com salinidade média superior a 30, até setores a montante com salinidade mínima
de 17. Áreas preferenciais de assentamento das larvas foram observadas na faixa superior dos
baixios, onde as densidades populacionais foram significativamente mais baixas. A redução na
densidade das populações no verão deve-se, provavelmente, a incrementos nas taxas de predação
e precipitação pluviométrica, e a fatores populacionais intrínsecos, que podem favorecer os
assentamentos de A. brasiliana durante o outono.
Palavras-chave: Anomalocardia brasiliana; ecologia populacional; planícies de maré; Baía de
Paranaguá

POPULATION ECOLOGY OF Anomalocardia brasiliana (GMELIN, 1791)


(BIVALVIA, VENERIDAE) ON PARANAGUÁ BAY, PARANÁ, BRAZIL

ABSTRACT
From April 1996 to December 1997, the spatial and temporal distribution and some aspects of the
population structure of the pointed venus, Anomalocardia brasiliana (Gmelin, 1791), was studied
on two tidal flats of the Paranaguá Bay (PR, Brazil). A. brasiliana was observed from the entrance
of the estuary, with mean salinity higher than 30, to the inner sectors with a minimum salinity
17. Larval settlement was observed to occur preferentially on the higher level of the tidal flats,
where population densities were significantly lower. Summer reductions in population density,
were probably due to an increase in predation and pluviosity during this period, and to intrinsic
population factors, that may favour the settlement of A. brasiliana during autumn.
Key words: Anomalocardia brasiliana; population ecology; tidal flats; Paranaguá Bay

Artigo Científico: Recebido em: 15/01/2007; Aprovado em: 29/10/2007


1
Universidade Estadual de Santa Cruz-UESC; Rodovia Ilhéus-Itabuna, km 16, 45.650-000, Ilhéus, Bahia, Brasil; E-mail: gboehs@uesc.br
2
Universidade Federal do Paraná/Centro de Estudos do Mar, C.P. 50002 , 83.255-000, Pontal do Sul, Pontal do Paraná, Paraná, Brasil

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260 BOEHS et al.

INTRODUÇÃO localiza-se no litoral norte do Estado do Paraná


Anomalocardia brasiliana (Gmelin, 1791) é um (25º 30’ S; 48º 30’ W), no sul do Brasil, compreendendo
molusco bivalve amplamente distribuído ao longo várias baías e enseadas, incluindo a Baía de
da costa brasileira, principalmente em enseadas, Paranaguá propriamente dita. O clima da região é
baías e estuários. Sua faixa de ocorrência abrange as do tipo Cfa, isto é, subtropical úmido mesotérmico,
Índias Ocidentais (nas Antilhas), o Brasil e o Uruguai com verão quente (BIGARELLA et al., 1978).
(RIOS, 1994). No litoral brasileiro, é conhecida Manguezais, formados por Rhizophora mangle L.
por vários nomes populares, dentre os quais por (mangue vermelho), Laguncularia racemosa (L.)
“berbigão”, “vôngole”, “maçunim” e “chumbinho”. Gaertn. f. (mangue branco) e Avicennia schaueriana
É uma espécie dióica e sem dimorfismo macroscópico Stap. and Lechman (mangue amarelo ou siriúba)
das gônadas. A fertilização dos gametas ocorre (MARTIN, 1993), marismas monoespecíficas de
na água e as larvas, após um estágio planctônico, Spartina alterniflora Loisel., e baixios entremarés não
assentam-se sobre substratos inconsolidados, onde vegetados ocupam a maior extensão das planícies
sofrem metamorfose. Conforme MOUËZA et al. de maré deste estuário.
(1999), esse processo ocorre quando os indivíduos O estudo foi conduzido em dois baixios entremarés
atingem, aproximadamente, 300 micrômetros de da Baía de Paranaguá propriamente dita, um na
comprimento. entrada (na Ilha Rasa da Cotinga) e outro no setor
mediano do sistema (na desembocadura do Rio
Dentre os estudos já efetuados sobre a biologia e a
Emboguaçu, proximidades da Cidade de Paranaguá)
ecologia dessa espécie, estão os realizados no litoral
que foram denominados de Estação (Est.) I e de Est.
do Estado de São Paulo (NARCHI, 1966, 1972, 1974
II, respectivamente. Em cada local, foi estabelecida
e 1976; HIROKI, 1977; SCHAEFFER-NOVELLI, 1980;
uma transecção de 400 m entre o término da faixa de
ARRUDA-SOARES et al., 1982; LEONEL et al., 1983),
S. alterniflora e o início do infralitoral, sobre a qual
em Santa Catarina (PEZZUTO e ECHTERNACHT,
foram escolhidos três pontos (níveis) amostrais: o N1-
1999; BOEHS e MAGALHÃES, 2004), na Paraíba
superior, localizado próximo à faixa de S. alterniflora,
(GROTTA e LUNETTA, 1980), no Ceará (ARAÚJO e
o N2-intermediário, a 200 m deste, e o N3-inferior, a
ROCHA-BARREIRA, 2004; BARREIRA e ARAÚJO,
200 m do N2 e localizado no limite do baixio com o
2005) e nas Índias Ocidentais Francesas, Antilhas
infralitoral durante as baixamares. As coletas foram
(MONTI et al., 1991; MOUËZA et al., 1999).
efetuadas com periodicidade mensal, entre abril de
A. brasiliana tem importância sócio-econômica, 1996 e dezembro de 1997, durante períodos de maré
sendo comercializada em diferentes escalas ao baixa de sizígia.
longo da costa brasileira, principalmente pelas
Os locais foram avaliados quanto a temperatura,
comunidades litorâneas, que a utilizam também
salinidade, pH, oxigênio dissolvido, granulometria,
na alimentação familiar. Na Baía de Paranaguá, a
matéria orgânica, umidade e carbonato. A temperatura
espécie forma bancos em vários locais. BOEHS et
foi medida com um termômetro de mercúrio padrão,
al. (2004) registraram, em assembléias de moluscos a salinidade com um refratômetro óptico manual
desta região, composição proporcional deste bivalve e o pH com um medidor digital de bancada. O
de até 62%. A sua conspicuidade em locais protegidos oxigênio dissolvido foi determinado segundo o
(e.g., enseadas, baías, estuários) está relatada método de Winkler, descrito em STRICKLAND and
também para outros locais (SCHAEFFER-NOVELLI, PARSONS (1972). Os teores de matéria orgânica
1980; ARRUDA-SOARES et al., 1982; PEZZUTO e e de carbonato biodetrítico do sedimento foram
ECHTERNACHT, 1999; BOEHS e MAGALHÃES, estimados, respectivamente, pelo método de ignição
2004). Até o presente, a espécie não é cultivada. e tratamento com HCl (0,1 N) (DEAN, 1974). O
Neste estudo analisaram-se alguns atributos teor de umidade do sedimento foi calculado pela
populacionais, como: distribuição espaço-temporal, diferença entre os pesos úmido e seco das amostras,
abundância, proporção de sexos, índices de condição após a manutenção das mesmas em estufa (24 h,
e estrutura de tamanhos de populações naturais de 70oC). As análises granulométricas foram feitas
A. brasiliana da Baía de Paranaguá (Paraná, Brasil). pelo método de peneiramento, e a porcentagem
de finos (siltes e argilas) pelo processo de elutria-
MATERIAL E MÉTODOS ção (SUGUIO, 1973). A classificação textural foi
O complexo estuarino da Baía de Paranaguá baseada em SHEPARD (1954) e os resultados foram

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 259 - 270, 2008


Ecologia populacional de Anomalocardia brasiliana na baía de paranaguá... 261

expressos em escala φ (fi), logaritmo negativo de base MANN, 1992): IC = (Wb/Wsh) x 100, onde: Wb =
2 da granulometria em milímetro, cujos números peso seco da carne (g) e Wsh = peso seco da concha
inteiros são coincidentes com a escala de Wentworth (g). Diferenças significativas entre o número de
(SUGUIO, 1973). As análises de sedimento foram machos e fêmeas foram verificadas através do
realizadas no Laboratório de Oceanografia Geológica teste Qui-Quadrado. ANOVAs unifatoriais (α =
do Centro de Estudos do Mar/UFPR. Análises de 0,05) foram utilizadas para comparar a variação
variância unifatoriais (α = 0,05) foram utilizadas para espacial e temporal dos índices de condição
comparar variações nos fatores físico-químicos entre (lote A), assim como as densidades populacionais
locais, níveis amostrais e no período. (lote B).
Para o estudo dos atributos populacionais de
Anomalocardia brasiliana, foram utilizados dois lotes RESULTADOS
de animais. O lote A foi obtido por coleta manual, Fatores físico-químicos
constou de 30 animais/mês com tamanho mínimo de Ambos os baixios apresentaram sedimento areno-
20 mm de comprimento, e destinou-se à verificação da lodoso, com aproximadamente 90% de areia, 5% de
proporção sexual e índices de condição. Este lote de finos (siltes e argilas) e 3% de cascalho. De acordo
animais foi coletado entre julho de 1996 e dezembro com a classificação textural de SHEPARD (1954),
de 1997. O lote B foi coletado com o auxílio de um houve o predomínio de areias muito finas (AMF; φ
amostrador cilíndrico de PVC com 25 cm de diâmetro médio = 3,1) na Est. I e de areias finas (AF; φ médio =
(área: 0,049 m2), enterrado a 10 cm no sedimento, com 2,8) na Est. II. Uma diminuição gradual no tamanho
a tomada de cinco repetições aleatorizadas em cada médio dos grãos ocorreu do nível entremarés mais
nível amostral, e destinou-se à avaliação de atributos baixo (N3) ao mais alto (N1), em ambos os locais.
populacionais como: abundância, distribuição O teor de matéria orgânica no sedimento foi de
espaço-temporal e estrutura de tamanho. O período aproximadamente 2%, a umidade esteve em torno
de coletas deste lote de animais compreendeu abril de 25%, e ambos tiveram pequena variação entre
de 1996 a outubro de 1997. locais (p>0,05). O carbonato biodetrítico foi mais
As amostras foram acondicionadas em sacos alto (p<0,05) na entrada do estuário (Tabela 1) e mais
plásticos etiquetados e transportadas ao Centro de baixo no N1.
Estudos do Mar/UFPR (Pontal do Sul, PR), onde A temperatura da água e do sedimento variou
foram processadas. Os animais do lote B foram de 14,8°C a 30°C, com pouca variação entre locais
triados sobre peneira com 1 mm de abertura de (Tabela 1) e níveis, mas com diferença acentuada
malha, fixados em formaldeído a 4% e após 48 horas (p<0,05) entre o inverno (junho-agosto) e o verão
transferidos para álcool 70%. Foi tomada a medida (dezembro-fevereiro) (Figuras 1 e 2). A salinidade
de comprimento de concha (eixo ântero-posterior) de foi mais baixa durante o verão, período de chuvas
cada exemplar, com a utilização de um paquímetro na região, o que ficou mais evidente na Est. II, onde
com precisão de 0,01 mm. Os animais do lote A há um aporte próximo de água fluvial (Figuras 3 e
também foram medidos quanto ao comprimento e 4). Na Est. I, localizada na entrada do estuário, as
posteriormente, ainda frescos, foram abertos. Com o salinidades foram mais altas (p<0,05) do que na
auxílio de um bisturi, uma pequena porção do tecido Est. II (Tabela 1; Figuras 3 e 4). Não houve diferença
gonádico de cada exemplar foi retirada por punção, significativa deste fator entre níveis amostrais. O
posta sobre lâmina e examinada ao microscópio potencial hidrogeniônico (pH) foi mais baixo na
óptico para a identificação dos sexos. Carne e concha Est. II (Tabela 1) e no nível superior (N1) de ambos
deste lote foram pesadas sobre balança com precisão os locais. Os valores de oxigênio dissolvido (OD) da
de 0,001 g, para a obtenção do peso úmido. Depois, água intersticial foram, em geral, expressivamente
ambas foram mantidas em estufa durante 24 horas mais baixos do que os da água adjacente aos baixios
a 80°C, e posteriormente pesadas para a obtenção (Tabela 1). Condições de hipoxia e de anoxia foram
do peso seco. freqüentes na água intersticial, especialmente no
Os índices de condição incluíram o cálculo do N1. Não houve diferença acentuada desse fator
Rendimento (R) = (Wb/Wt) x 100, onde Wb = peso entre locais, entretanto, a água intersticial da Est.
úmido da carne (g) e Wt = peso úmido total (g), e I apresentou valores mais altos (p<0,05) durante o
o Índice de Condição (IC) (Ci-shell; RAINER and verão (dezembro-fevereiro).

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262 BOEHS et al.

Tabela 1. Caracterização físico-química do sedimento, água intersticial e água adjacente, de dois baixios entremarés
da Baía de Paranaguá (Paraná, Brasil) (Est. I, entrada do estuário e Est. II, setor mediano), entre abril de 1996 e
outubro de 1997.

Est. I Est. II
Média Valores Média Valores
N N
(± DP) mín. - máx. (± DP) mín. - máx.
Sedimento:
Temperatura (°C) 22,6 (± 3,7) 15 - 30 54 22,4 (± 3,8) 14,8 - 29 54
Diâmetro dos grãos (φ) 3,1 (± 0,1) 9 - -1
1 1
6 2,8 (± 0,2) 9 - -1
1 1
6
Umidade (%) 25,8 (± 2,5) 19,2 - 30,9 54 25,1 (± 2,2) 21,1 - 34,4 54
Matéria orgânica (%) 2,3 (± 0,8) 0,8 - 6 54 2,1 (± 0,5) 0,9 - 3,9 54
Carbonato biodetrítico (%) 5,9 (± 2,6) 1,6 - 11,3 54 4,6 (± 2,2) 1,4 - 13,1 54
Água intersticial:
Salinidade 31,6 (± 1,7) 28 - 35 54 26,9 (± 3,7) 17 - 33 54
Oxigênio dissolvido (%) 7,7 (± 7,3) 0 - 28,1 48 6,6 (± 6,2) 0 - 25,4 42
Potencial hidrogeniônico 7,9 (± 0,3) 7,2 - 8,8 54 7,7 (± 0,3) 6,8 - 8,5 54
Água adjacente:
Temperatura (ºC) 21,4 (± 2,9) 16,5 - 27 18 21,4 (± 3,3) 14,8 - 27,4 18
Salinidade 31,1 (± 1,9) 28,5 - 35 18 25,1 (± 4,1) 14 - 30 18
Oxigênio dissolvido (%) 18,5 (± 2,7) 12,7 - 24,1 16 17 (± 5,1) 9,6 - 28,9 16
Potencial hidrogeniônico 8,1 (± 0,3) 7,1 - 8,5 18 7,6 (± 0,3) 6,7 - 8,1 18
1
Intervalo de φ

Est. I Est. II
30
AA 30 AA
27 N1 N1
27
N2 N2
24 N3 24 N3
C

21 21
o

o
C0

C0

18 18

15 15

12 12
Abr Jun Ago Out Dez Fev Abr Jun Set Mai Jul Set Nov Jan Mar Mai Jul Set
Mai Jul Set Nov Jan Mar Mai Jul Out Jun Ago Out Dez Fev Abr Jun Ago Out
Meses 1 Meses 2

Est. I Est. II
36 35
35
34 30

33
25
32
S

31
20 AA
S
S

30 AA
N1
N1
29 15 N2
N2
28 N3
N3
27 10
Abr Jun Ago Out Dez Fev Abr Jun Set Mai Jul Set Nov Jan Mar Mai Jul Set
Mai Jul Set Nov Jan Mar Mai Jul Out Jun Ago Out Dez Fev Abr Jun Ago Out
Meses 3 Meses 4

Figuras 1-4. Variação da temperatura ( C) e da salinidade (S) na água e no sedimento da Baía de Paranaguá, entre
o

abril de 1996 e outubro de 1997. AA = água adjacente aos locais; N1 = nível amostral-superior; N2 = nível amostral-
intermediário; N3 = nível amostral-inferior

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 259 - 270, 2008


Ecologia populacional de Anomalocardia brasiliana na baía de paranaguá... 263

Atributos populacionais de Anomalocardia brasiliana Condição (IC) apresentou valor médio de 3,1% (DP ±
Machos (M) representaram 53,5% do total de 0,4) e de 4,7% (DP ± 0,6), respectivamente (Figura 5b),
indivíduos (n = 480) na Est. I e 61,7% (n = 510) na e ambos os índices diferiram significativamente entre
Est. II. A razão sexual F: M foi de 1: 1,15 e de 1: 1,61, locais. Não houve variação temporal significativa dos
respectivamente, com diferença significativa (p<0,05) índices em ambas as populações.
na Est. II. Nas gônadas de berbigões de ambos os As densidades de A. brasiliana apresentaram
sexos foi observada a presença freqüente de larvas variações significativas nos locais, entre os locais e
de trematódeos digenéticos da família Bucephalidae, no período. As mais baixas densidades ocorreram
porém, não foi realizada a quantificação da infestação. na faixa superior dos baixios (N1), onde, entretanto,
O Rendimento (R) médio dos berbigões foi de 15,5% os animais de pequeno tamanho (menores a 5 mm)
(DP ± 2,2) na Est. I e de 21,1% (DP ± 2,2) na Est. foram mais expressivos do que os demais, principal-
II (p<0,05 entre locais) (Figura 5a). O Índice de mente em relação ao N3 (inferior) (Figuras 6 e 7).

(a) (b)
26 5,6

5,2
24 Índice de Condição (%)
4,8
22
Rendimento (%)

4,4
20
4,0
18
3,6
16
Rendimento (%)

3,2
Índice de condição (%)

14
± Desvio padrão 2,8
± Desvio padrão
± Erro padrão
12 ± Erro padrão
Est. I Est. II Média 2,4
Est. I Est. II Média
Local
Local

Figura 5. Comparação gráfica do Rendimento (R) (a) e do Índice de Condição (IC) (b) em berbigões Anomalocardia
brasiliana maiores a 20 mm obtidos mensalmente em dois locais da Baía de Paranaguá (PR) entre julho de 1996 e
dezembro de 1997. Total de indivíduos analisados: 1.050 (Est. I: 510; Est. II: 540). Nível de significância: 95%

Figuras 6-7. Densidades das diferentes classes de comprimento de Anomalocardia brasiliana nos níveis entremarés
(N1-superior; N2-intermediário e N3-inferior) de dois baixios entremarés da Baía de Paranaguá (Paraná, Brasil) no
período entre abril de 1996 e outubro de 1997 (Est. I: 1.950 animais; Est. II: 6.724)

Os valores médios de densidade foram de 95 de indivíduos recém assentados no local, isto é, com
inds.m-2 na Est. I e de 489 inds.m-2 na Est. II. Os comprimento inferior a 3 mm (Figura 8). Na Est. II
valores máximos foram de 885 e 1.804 inds.m-2, houve diminuição de abundância do primeiro ao
respectivamente. Na Est. I, as densidades mais segundo ano de amostragem e o recrutamento do
altas ocorreram durante o outono (março-maio), inverno/97 (junho-agosto) pouca influência teve
particularmente no segundo ano de amostragem, sobre o tamanho da população (Figura 9).
fato que foi fortemente influenciado pela presença

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264 BOEHS et al.

Figura 8. Histogramas mostrando as freqüências relativa e absoluta das classes de comprimento (mm) de Anomalocardia
brasiliana na população da Est. I (N = 1.950), entre abril de 1996 e outubro de 1997

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 259 - 270, 2008


Ecologia populacional de Anomalocardia brasiliana na baía de paranaguá... 265

Figura 9. Histogramas mostrando as freqüências relativa e absoluta das classes de comprimento (mm) de Anomalocardia
brasiliana na população da Est. II (N = 6.724), entre maio de 1996 e outubro de 1997

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 259 - 270, 2008


266 BOEHS et al.

O comprimento máximo de A. brasiliana registrado de hipoxia e até de anoxia foram registradas com
para a região foi de 33 mm. Na Est. I, os animais com certa freqüência em ambos os baixios deste estudo,
tamanho entre 23 e 28 mm, seguramente adultos, principalmente no N1, uma faixa com granulação
predominaram na primeira fase de coletas (abril- mais fina (o que dificulta a difusão do oxigênio do
dezembro/96). No restante do período, de forma ar para dentro do sedimento) e maior quantidade de
geral, os indivíduos recrutas e juvenis foram mais siltes e argilas, onde, embora em densidades mais
freqüentes em relação aos adultos. Nesse local, baixas, A. brasiliana esteve presente. O aumento
observou-se recrutamento praticamente contínuo, significativo do oxigênio dissolvido na água
porém com maior expressividade no outono (março- intersticial da Est. I durante o verão (dezembro-
maio), e no segundo ano de coletas, também no fevereiro) observado neste estudo, é provavelmente
inverno e na primavera (junho-outubro) (Figura o resultado de aumentos nas taxas de produção
8). Na Est. II, o recrutamento foi mais restrito em microfitobêntica durante essa época do ano no
relação à Est. I e inexpressivo no primeiro ano de setor do estuário em que se localiza este baixio, fato
amostragem. Nesse local, apesar de ter ocorrido uma anteriormente observado por FONSECA (1998).
diminuição gradativa na proporção de animais nas Mecanismos fisiológicos e comportamentais
classes maiores, os adultos foram predominantes provavelmente auxiliam A. brasiliana na redução de
durante todo o período. E, similarmente ao ocorrido estresses ambientais possíveis de ocorrerem, tanto
na Est. I, uma expressiva fase de recrutamento foi durante as baixamares (e.g., resultantes de choque
observada no outono-inverno (março-setembro) do térmico e/ou dessecação) quanto nas preamares
segundo ano de amostragens (Figura 9). (e.g., em função de choque osmótico). Com relação
à salinidade, LEONEL et al. (1983) classificaram essa
DISCUSSÃO espécie como eurihalina, com grande tolerância aos
Conforme observado neste e em estudos anteriores meios hiperosmóticos, o que provavelmente favorece
(GOFFERJÉ, 1950; NARCHI, 1974; SCHAEFFER- a sua sobrevivência durante períodos de entrada da
NOVELLI, 1980; MONTI et al., 1991), A. brasiliana água oceânica durante as marés altas. Com relação
habita locais com águas calmas, com sedimento aos períodos de exposição ao ar, NARCHI (1972)
arenoso e, principalmente, areno-lodoso, onde observou que estes animais enterram-se muito
enterra-se superficialmente no sedimento, tanto rapidamente no sedimento durante as marés baixas,
no infralitoral raso quanto nas regiões entremarés, o que diminui riscos de choque térmico e dessecação.
incluindo as marismas e os baixios não vegetados, Esse autor também relatou a retenção da capacidade
sendo pouco freqüente nos manguezais. Nesses de mobilidade horizontal nesta e em outras espécies
locais, pode ser numericamente dominante sobre de Veneracea, fato que potencialmente permite
outras espécies bênticas (SCHAEFFER-NOVELLI, migrações nas faixas entremarés para áreas com
1980; BOEHS et al., 2004) formando, muitas vezes, os menor adversidade ambiental.
bancos de A. brasiliana. Nas assembléias de moluscos Ao sucesso do estabelecimento de A. brasiliana no
correspondentes às estações I e II do presente setor mediano da Baía de Paranaguá, isto é, na Est. II,
estudo, BOEHS et al. (2004) observaram proporções BOEHS et al. (2004) levantaram a hipótese de menor
de A. brasiliana de 30% e de 62%, respectivamente. competição interespecífica em relação à Est. I, local
PEZZUTO e ECHTERNACHT (1999) observaram com maior riqueza de espécies. O setor mediano da
densidade média de até 2.135 inds./m 2 desse Baía de Paranaguá sofre eutrofização em algumas
molusco na Ilha de Santa Catarina (SC) em época de épocas do ano e a principal causa seria a descarga
recrutamento, valor que supera os valores máximos doméstica da Cidade de Paranaguá (MACHADO
encontrados no presente estudo. et al., 1997). O esgoto resulta em matéria orgânica e
A rusticidade de A. brasiliana provavelmente a decomposição desta pelas bactérias do sedimento
favorece o seu estabelecimento nas regiões entremarés, pode reduzir o teor de oxigênio dissolvido no
faixas de reconhecida variabilidade ambiental. substrato. Por possuir boa adaptação a condições
HIROKI (1977) verificou, através de um estudo de hipoxia, esse fato pode, supostamente, favorecer
experimental, que essa espécie é bastante resistente, a presença de A. brasiliana em locais com essa
tanto à deficiência do oxigênio dissolvido quanto condição, em relação a outras espécies. BORGES
à presença do sulfeto de hidrogênio, condições (1989) considerou também a importância dos
freqüentemente observadas nesses locais. Condições detritos orgânicos em suspensão para os bivalves,

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Ecologia populacional de Anomalocardia brasiliana na baía de paranaguá... 267

como alimentos por si só e no favorecimento da decorrência de asfixia causada pela elevação da


proliferação do fitoplâncton, um dos principais itens turbidez do local.
alimentares desses moluscos. Ainda nesse contexto, No que se refere a grande flutuação temporal
SCHAEFFER-NOVELLI (1980) observou altas das populações de A. brasiliana, observada neste
densidades de A. brasiliana em um local próximo ao e em estudos anteriores (MONTI et al., 1991;
despejo de uma pequena indústria de pescado, em PEZZUTO e ECHTERNACHT, 1999), MONTI et al.
Ubatuba (SP), levando em conta esse fato. Na Est. II, (1991) concluíram que o tamanho das populações
também o Rendimento e o Índice de Condição dos nessa espécie é regulado, em grande parte, pelas
berbigões foram significativamente mais altos em altas densidades populacionais e por uma forte
relação à Est. I, o que reforça a hipótese de ser este um competição intraespecífica. Uma auto-limitação
local particularmente propício ao desenvolvimento natural seria imposta, principalmente pelas classes
de A. brasiliana. mais velhas da população, que, estando presentes
Características abióticas devem ser também em altas densidades, causariam diminuição de
consideradas no bom desenvolvimento de A. espaço e de alimento para os animais pequenos.
brasiliana no setor mediano da baía. LEONEL
������� et al. Conseqüentemente, o sucesso dos recrutamentos
(1983) demonstraram, experimentalmente, que esse estaria condicionado à redução dos estoques adultos.
molusco suporta variações salinas entre 17 e 42, Os resultados do estudo em pauta convergem com
com ótimo em torno de 22, valor próximo às médias as interpretações desses autores, já que a maior
encontradas na Est. II. Por outro lado, salinidades expressividade de recrutas e juvenis foi observada
muito baixas parecem restringir a ocorrência dessa tanto em locais quanto em épocas com menor
espécie, o que foi também observado na Baía de freqüência de adultos. O assentamento preferencial
Paranaguá. A espécie esteve ausente em áreas com dos recrutas nos níveis superiores dos baixios
salinidades abaixo de 17. Os resultados do presente pode estar relacionado às baixas freqüências de
estudo também corroboram as observações feitas por adultos nessas faixas entremarés, o que foi também
MONTI et al. (1991), em Guadalupe, que verificaram observado nos mesmos locais para outras espécies
a ocorrência de A. brasiliana em áreas com salinidade de bivalves, como Lucina pectinata (Gmelin), Tagelus
entre 17 e 38. plebeius (Lightfoot) e T. divisus (Spengler) (BOEHS
A ausência de A. brasiliana nas áreas mais internas et al., 2004). Os resultados aqui obtidos também
da Baía de Paranaguá está, provavelmente, também são coincidentes com as observações feitas por
relacionada a hidrodinâmica e a características PEZZUTO e ECHTERNACHT (1999) na Ilha de
texturais. Nesses setores, juntamente com materiais Santa Catarina, no que se refere a intensas variações
de aportes fluviais e detritos de manguezais, ocorrem interanuais nos recrutamentos de A. brasiliana. Essas
altas proporções de siltes e argilas, presentes tanto variações foram interpretadas por esses autores como
no sedimento quanto em suspensão (BIGARELLA ocasionadas por flutuações naturais na intensidade
et al., 1978). NARCHI (1974) relatou que essa espécie do recrutamento ou mesmo relacionadas a processos
habita locais com pouco material em suspensão, com de regulação intrapopulacional, conforme já havia
sedimentos formados por areias finas e com teores de sido sugerido por MONTI et al. (1991).
finos em torno de 2%, condições também verificadas Na Baía de Paranaguá, a redução das densidades
nos baixios analisados. Conforme esse mesmo autor, de A. brasiliana durante o verão (dezembro-fevereiro)
a presença de sifões curtos e fundidos, com tentáculos está provavelmente também relacionada a aumentos
simples, impede o estabelecimento dos berbigões em nas taxas de precipitação pluviométrica nessa época
áreas com ressuspensão freqüente de sedimentos. do ano na região. Em Guadalupe, MONTI et al. (1991)
Por esse motivo, A. brasiliana estaria também ausente observaram alta mortalidade de berbigões após
em regiões de turbulência e alta energia ambiental, períodos de chuvas intensas. Além de ocasionarem
como em praias expostas e em áreas estuarinas com reduções bruscas na salinidade (causando choques
fortes correntes. PEZZUTO e ECHTERNACHT osmóticos), as chuvas podem causar ressuspensão
(1999) relataram mortalidade alta desses animais de material do fundo, com conseqüente aumento
em um local que sofreu um forte impacto antrópico da carga de sedimentos em suspensão, condição
na Ilha de Santa Catarina, em função da deposição que parece ser inadequada para esses moluscos.
de lamas provenientes de um aterro. Segundo os Por sua vez, LANA and GUISS (1991) preconizaram
autores, aparentemente os animais morreram em uma diminuição nas densidades de invertebrados

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 259 - 270, 2008


268 BOEHS et al.

bênticos nas faixas entremarés da Baía de Paranaguá aparentemente não sofreram impactos significativos
durante o verão em função de aumentos nas taxas de nos dez anos que transcorreram entre a coleta dos
predação. Não obstante, considerando-se a influência dados e a divulgação dos resultados, entretanto,
conjunta de fatores intrínsecos e extrínsecos na sugere-se a realização de novos estudos nos locais,
regulação das populações de A. brasiliana, na Baía de que possam corroborar ou não esse pressuposto.
Paranaguá, a diminuição dos estoques de berbigões
adultos durante o verão, potencialmente favorece o AGRADECIMENTOS
estabelecimento dos juvenis no período subseqüente, À CAPES, pela concessão de bolsa de estudos
isto é, a partir do outono. Nesse contexto, além de ao primeiro autor. Ao Centro de Estudos do Mar
ocorrer a liberação de espaço para o assentamento da UFPR (CEM), pelo apoio logístico. À Márcia S.
dos recrutas, o crescimento das coortes recrutadas no Bernini e Sirlei Ghisi, do Laboratório de Oceanografia
final do verão e no início do outono, pode ainda ser Geológica do CEM, pelas análises granulométricas.
favorecido, na região, tanto pela redução das chuvas
quanto pela diminuição das taxas de predação REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
durante o inverno.
ARAÚJO, M.L.R. and ROCHA-BARREIRA, C.A.
Conforme também evidenciado por outras 2004 Occurrence of Bucephalus sp. ������������
(Trematoda:
técnicas (BOEHS, 2000), A. brasiliana parece apresentar Bucephalidae) in Anomalocardia brasiliana (Gmelin,
reprodução contínua no litoral paranaense, com dois 1791) (Mollusca: Veneridae) at Canto da Barra
picos reprodutivos, um na primavera (setembro- Beach, Fortim, Ceará State, Brazil. Arq. Ciênc. Mar,
outubro) e outro no outono (março-maio). NARCHI Fortaleza, 37: 35-37.
(1976) verificou um resultado idêntico no litoral
norte do Estado de São Paulo. O presente estudo ARRUDA-SOARES, H.; SCHAEFFER-NOVELLI, Y. e
mostrou que na Baía de Paranaguá, os assentamentos MANDELLI JR., J. 1982 “Berbigão” Anomalocardia
provenientes da eliminação de gametas na brasiliana (Gmelin, 1791), bivalve comestível da
primavera, parecem se caracterizar pela baixa taxa de região da Ilha do Cardoso, Estado de São Paulo,
sobrevivência dos recrutas nos meses subseqüentes, Brasil: aspectos biológicos de interesse para a pesca
isto é, durante o verão, fato talvez relacionado comercial. B. Inst. Pesca, São Paulo, 9: 21-38.
a choques osmóticos e à predação. ARRUDA-
SOARES et al. (1982) observaram, no litoral sul do BARREIRA, C.A.R. e ARAÚJO, M.L.R. 2005 Ciclo
Estado de São Paulo, juvenis presentes em todas reprodutivo de Anomalocardia brasiliana (Gmelin,
as estações do ano, com incrementos na primavera, 1791) (Mollusca, Bivalvia, Veneridae) na Praia do
o que talvez seja o reflexo dos assentamentos bem Canto da Barra, Fortim, Ceará, Brasil. B. Inst. Pesca,
sucedidos do outono, naquela região. Também São Paulo, 31(1): 9-20.
PEZZUTO e ECHTERNACHT (1999) observaram,
BIGARELLA, J.J.; KLEIN, R.M.; LANGE, R.B.; LOYOLA
em Santa Catarina, maior expressividade de juvenis
na primavera, atribuída a uma emissão de gametas E SILVA, J.; LARACH, J.O.I. e RAUEN, M.J. 1978
no outono. A Serra do Mar e a Porção Oriental do Estado do Paraná.
Curitiba: Secretaria do Planejamento, Governo do
A leve predominância de machos em A. brasiliana
Estado do Paraná. 249p.
foi verificada também em outras regiões da costa
brasileira (GROTTA e LUNETTA, 1980; ARRUDA- BOEHS, G. 2000 Ecologia populacional, reprodução
SOARES et al., 1982; BARREIRA e ARAÚJO, 2005). A e contribuição em biomassa de Anomalocardia
presença de trematódeos digenéticos em A. brasiliana brasiliana (Gmelin, 1791) (Bivalvia: Veneridae) na
foi anteriormente observada por NARCHI (1966) Baía de Paranaguá, Paraná, Brasil. Curitiba. 201p.
(São Paulo), BOEHS e MAGALHÃES (2004) (Santa (Tese de Doutoramento. Universidade Federal do
Catarina), e ARAÚJO e ROCHA-BARREIRA (2004) Paraná).
(Ceará).
Principalmente por se tratar de uma espécie de BOEHS, G.; ABSHER, T.M. and CRUZ-KALED, A.C.
interesse comercial e com potencial para o cultivo, 2004 Composition and distribution of benthic
os dados sobre densidade e recrutamento são molluscs on intertidal flats of Paranaguá Bay
importantes para o manejo dos estoques e tentativas (Paraná, Brazil). Scientia Marina, Barcelona, 68
de cultivar A. brasiliana. Os bancos analisados (4): 537-543.

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 259 - 270, 2008


Ecologia populacional de Anomalocardia brasiliana na baía de paranaguá... 269

BOEHS, G. e MAGALHÃES, A.R.M. 2004 Simbiontes matter in Paranaguá Bay, Pr, Brazil. Nerítica, Pontal
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�����

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 259 - 270, 2008


A PESCA DE POLVOS NO ARQUIPÉLAGO DE
FERNANDO DE NORONHA, BRASIL*

Tatiana Silva LEITE 1; Manuel HAIMOVICI 2; Jorge Eduardo LINS 3

RESUMO
Uma pescaria de polvo em pequena escala se desenvolve nas águas rasas da plataforma da Área
de Preservação do Arquipélago de Fernando de Noronha, localizado a 350 km da costa nordeste
do Brasil. A população local de 3000 habitantes, além de um máximo de 500 turistas, inclui 45
pescadores de polvo, sendo que a maior parte pesca apenas esporadicamente. Como parte
de um estudo mais abrangente sobre polvos de águas rasas do Nordeste brasileiro, a pescaria
do Arquipélago foi estudada entre os anos de 2003 e 2005. Pescadores e comerciantes foram
entrevistados periodicamente para obtenção de informações a respeito de locais de pesca, esforço,
capturas e quantificar o consumo. Os pescadores, a maioria nativos entre 18 e 42 anos, coletaram
polvos através de mergulhos livres, em média duas vezes por semana, com uma captura média de
8 kg. Uma estimativa aproximada da captura total anual de polvo no arquipélago foi de 3 toneladas
das quais uma é comercializada. Entrevistas em restaurantes e hotéis sugerem um consumo de em
torno de 8,2 toneladas anuais, dos quais apenas 11% foram supridos pela pesca local. Considera-se
que, devidamente regulamentada e mantida no nível atual, esta pescaria é sustentável.
Palavras chaves: polvo, Octopus, pescaria, Arquipélago de Fernando de Noronha

THE OCTOPUS FISHERY IN THE FERNANDO DE NORONHA ARCHIPELAGO, BRAZIL

ABSTRACT
The Fernando de Noronha Archipelago, 350 km offshore northeastern Brazil, has a small scale
fishery aiming octopus in the shallow waters of the Environmental Preservation Area. The resident
population of 3000 habitants, besides up to a maximum of 500 tourists, includes 45 octopus
fishers, most of them part-time. As part of a wider scope study of the shallow water octopods in
northeastern Brazil, the octopus fishery was studied between 2003 and 2005. Fishers and buyers
were interviewed periodically for information requests about the fishery sites, effort, catch and
consumption. The fisherman, most native between 18 and 42 years old, collected octopus by
diving (snorkeling), in mean two times a week, with a mean catch of 8 kg. A rough estimate of
the total yearly catch is at least 3 tons, from which around 1 ton was commercialized. Interviewed
restaurants and hotels suggest consumption around 8.2 tons annually, where the local fishery
provide less than 11% of this demand. This small scale fishery can be sustainable if kept at its
present level and adequately controlled.
Key words: octopus, Octopus, fishery, Fernando de Noronha Archipelago

Artigo Científico: Recebido em: 17/01/2007; Aprovada em: 25/09/2007


1
Pós-Graduação de Oceanografia Biológica, Fundação Universidade Federal do Rio Grande, Av. Itália, no8, carreiros - Rio Grande. CEP
96201900, RS – Brasil. Bolsista Doutorado - CNPq. E-mail: leite_ts@yahoo.com.br
2
Fundação Universidade Federal do Rio Grande, Departamento de Oceanografia. Bolsista de produtividade - CNPq. E-mail: docmhm@furg.br
3
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Departamento de Oceanografia e Limnologia, Via Costeira s/n, Praia de Mãe Luiza. E-mail:
jorgelins@ufrnet.br
*Financiamento da Fundação Boticário para Conservação da Natureza, processo: 0577/2003.1

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272 LEITE et al.

Introdução e HAIMOVICI (2006). Atualmente está sendo descrita


O Arquipélago de Fernando de Noronha, como uma nova espécie por LEITE et al. (submetido),
localizado a 360 Km do Estado do Rio Grande do entretanto ainda não recebeu um nome definitivo
Norte (Figura 1), vem sofrendo alterações na sua até o momento. Ela difere morfologicamente e
porção terrestre desde sua ocupação em 1737, como geneticamente de Octopus vulgaris (LEITE, 2002) e
a derrubada da mata nativa, introdução de espécies é a espécie dominante em todas as ilhas oceânicas
exóticas, depósitos de lixo, entre outros (FERREIRA, e nas águas rasas do NE brasileiro. O ciclo de vida
et al. 1990 e IBAMA, 2005). Até recentemente, o dessa espécie é comum as espécies do gênero, a
ambiente marinho havia sido poupado de maiores longevidade é inferior a dois anos, o crescimento
impactos causados pelo homem, entretanto, rápidas é rápido, seguido da maturação sexual, cópula,
mudanças sócio-econômicas provocadas pelo desova, cuidado dos embriões por parte da mãe,
desenvolvimento turístico nos últimos anos estão e morte após a eclosão dos ovos e (BOYLE, 1987).
alterando este quadro. A população residente no No Arquipélago, os machos atingiram a maturação
Arquipélago quase dobrou, passando de 1.342 em sexual a partir de 80 mm de comprimento do manto
1990 (FERREIRA et al., 1990) para 2.520 em 2003 e as fêmeas a partir de 95 mm (LEITE, 2002). A
(IBGE, 2003), e o número de pousadas aumentou de fecundidade desta espécie é elevada. No ovário de
3 em 1988, para 108 em 2005 (IBAMA, 2005). Este uma fêmea madura foram contados 213 mil ovócitos
aumento de população e da carga turística levou com menos de 1,5 mm próximos a serem desovados.
a uma intensificação da exploração comercial de Nenhuma fêmea madura foi encontrada até 30 m de
atividades relacionadas com o ambiente marinho profundidades durante os 3 anos de pesquisa, o que
como o mergulho recreativo (ALMEIDA, 2004) e os leva a hipótese de que as desovas ocorrem em tocas
passeios de barco, além de uma elevação significativa localizadas a maior profundidade (LEITE, 2005).
da demanda interna de espécies marinhas de interesse Outras espécies encontradas no Arquipélago são:
gastronômico (LESSA et al., 1998), entre elas o polvo. Octopus hummelincki e Octopus macropus (LEITE, 2002;
A espécie de polvo alvo da pescaria no Arquipélago LEITE e HAIMOVICI, 2006), porém seus habitats
de Fernando de Noronha pertence ao gênero Octopus, ou comportamentos tornam raros sua à pesca em
sendo brevemente descrita por LEITE (2002) e LEITE Fernando de Noronha.

Figura 1. Área de estudo: Arquipélago de Fernando de Noronha. Linha pontilhada delimitando os limites
do Parque Nacional Marinho e da Área de Preservação Ambiental. Os polígonos delimitados correspondem
às áreas onde são realizadas as pescarias de polvo com suas respectivas áreas

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 271 - 280, 2008


A pesca de polvos no arquipélago de Fernando de Noronha, Brasil... 273

O Arquipélago de Fernando de Noronha, nas relacionadas à utilização desse recurso nas ilhas.
últimas duas décadas, esta numa fase de consolidar Entre os resultados alcançados apresentados neste
uma política pesqueira/ambiental adequada para trabalho estão: a determinação da espécie que
garantir a conservação do seu ambiente, fauna e comporta a totalidade das capturas, a identificação
recursos pesqueiros. Neste sentido, em 1988 foram das áreas de pesca e suas importâncias relativas,
criadas duas áreas de preservação, o Parque Nacional a quantificação do numero de pescadores ativos,
Marinho e a Área de Preservação Ambiental, e a descrição da cadeia produtiva, as estimativas do
posteriormente elaboradas medidas de conservação consumo de polvo pela indústria turística, e da
para diversas espécies marinhas e terrestres locais contribuição da pesca local ao total e uma avaliação
(FERREIRA, et al. 1990). Apesar do polvo se enqua- da importância econômica e social desta pescaria.
drar dentro desta política, até o ano de 2005 não
existia nenhuma regulamentação específica para este Material e Metodos
animal. A carência de conhecimento sobre a biologia, Características oceanográficas da área de estudo
a importância ecológica, bem como da atividade O clima do Arquipélago de Fernando de Noronha
pesqueira recreacional e comercial foram, até é tropical oceânico com duas estações bem definidas:
recentemente, empecilhos para a o estabelecimento uma estação chuvosa de janeiro a junho e uma seca no
de normas visando à conservação desse recurso. restante do ano. Localizado na região denominada de
Segundo relatos dos descendentes dos primeiros Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), Fernando
habitantes do Arquipélago de Fernando de Noronha, de Noronha é caracterizado por baixa pressão
a pesca de polvos realizada para subsistência, ou atmosférica e constantes ventos alísios (TCHERNIA,
de forma recreacional, ocorre desde a ocupação das 1980). Entre abril e outubro predominam ventos
ilhas. Apesar dessa pescaria nunca ter tido um papel dos quadrantes leste a sudeste que atingem o lado
de destaque na atividade econômica local (LESSA sudeste do arquipélago conhecido como Mar de Fora,
et al, 1998), sua atual intensificação para atender a gerando ondas com forte arrebentação e condições
demanda gerada pelo turismo, pode vir a acarretar de mar agitadas e, na fase nordeste do arquipélago
efeitos negativos tanto para o meio ambiente chamada de Mar de Dentro, as condições do mar
marinho, como para o eco-turismo, visto que os permanecem calmas. Entre novembro e março
polvos constituem parte da chamada megafauna passam a predominar ventos dos quadrantes oeste a
carismática cujo valor simbólico e essencial para o sudoeste que provocam fortes ondulações no Mar de
ecoturismo (PRIMACK e RODRIGUES, 2001), como Dentro e de calmaria no Mar de Fora. A temperatura
também desempenha um papel importante como média da água é de 270 C e a salinidade de 35.5%0
predadores ativos da fauna bentônica (AMBROSE, (TCHERNIA, 1980; LINSKER, 2003).
1986), e como presa de animais marinhos topos da
cadeia alimentar (CLARKE, 1962). Coleta de dados
Em ambientes frágeis como as ilhas oceânicas, o O estudo de diversos aspectos da pescaria de
manejo da fauna marinha requer o estabelecimento polvo foi realizado a partir de amostragens das
de normas específicas para espécies chave, como o capturas e entrevista realizadas entre 2003 e 2005,
polvo, levando em consideração suas características além de um levantamento bibliográfico (FERREIRA
biológicas, sua importância ecológica e seu valor et al., 1990; ADEFN, 2004; IBAMA, 2005). Nas
econômico e cultural para a comunidade local amostragens da captura dos pescadores, de cada
(SALM, et al. 2000). Neste sentido, estudos sobre exemplar foi registrado o comprimento dorsal do
a biologia e ecologia da principal espécie de polvo manto (CM) até a linha que passa pelos olhos, o sexo
presente nas ilhas oceânicas do NE brasileiro vêm e o peso dos exemplares. As áreas dos locais de pesca
sendo desenvolvidos desde 1999 (LEITE, 2002; LEITE indicadas pelos pescadores foram calculadas a partir
e HAIMOVICI, 2006). Com o objetivo de suprir a falta da determinação das posições dos pontos extremos
de conhecimento sobre a única pescaria de polvo em com um G.P.S. de mão (Garmin Etrex).
ilha oceânica do Brasil, a pescaria do Arquipélago de A produção foi definida como o total de polvo
Fernando de Noronha foi estudada a partir de dados capturado. A captura por unidade de esforço (CPUE)
obtidos em entrevistas e amostragens realizadas ao foi definida como a captura de cada pescador
longo de dois anos entre 2003 e 2005, assim como por hora de pesca. A produtividade foi calculada
os aspectos socioeconômicos e cadeias produtivas dividindo a CPUE pelas áreas dos diferentes locais.

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 271 - 280, 2008


274 LEITE et al.

Para análise de produtividade das áreas de pesca número corresponde aos que aceitaram se cadastrar
algumas áreas foram consideradas conjuntamente no IBAMA de março a agosto de 2005 para o
(ex. Porto esquerdo + Biboca), visto que o pescador recebimento da carteira do Plano de Manejo dos
abrange toda a área em apenas uma pescaria. polvos de Fernando de Noronha. Apesar do baixo
As informações solicitadas aos diferentes número de pescadores, o número total de pessoas
participantes do “sistema pesqueiro” foram envolvidas na pesca recreativa de polvo é elevado,
organizadas em questionários referentes à: (1) visto que nas entrevistas realizadas com residentes
atividade de pesca nas quais foram registradas que se dizem não-pescadores (n=46), 41,3 % já pescou
informações como áreas de pesca, número de polvo alguma vez na vida, sendo a proporção mais
pescarias por semana, duração das pescarias, elevada entre os homens 68% (n=25) que entre as
quantidade de polvo capturado por hora e por mulheres 9,5%. (n=21).
semana, quantidade de polvo vendido e quantidade O polvo é capturado com ganchos chamados
consumida por semana; (2) características sócio- de “bicheiros” em percursos das áreas descobertas
econômicas dos pescadores; e (3) consumo e de arrecife ou através de mergulhos livres. Sobre
comercialização do produto da pesca com perguntas os arrecifes descobertos e em profundidades
sobre as quantidades, em peso e valor, dos polvos inferiores a 1,5 m de profundidade, em geral, são
comprados, consumidos e vendidos, provenientes capturados exemplares jovens. Os exemplares
do arquipélago e do continente. maiores são capturados através do mergulho livre
em profundidades superiores a 2 m.
RESULTADOS A pesca nas partes rasas dos arrecifes é uma
No total foram realizadas 163 entrevistas: 31 atividade o do Molhes Porto Santo Antônio, até o
entrevistas sobre a atividade pesqueira com 16 Morro da Viuvinha, Biboca, Praia do Cachorro, Praia
pescadores ativos, definidos como aqueles que da Conceição, Laje do Boldró, Vinte Patacas e Laje da
tinham pescado pelo menos uma vez nos quinze dias Cacimba (Figura 1). A pesca ocorre principalmente
anteriores a entrevista. Estes mesmos 16 pescadores sob platôs e rochas, desde as áreas expostas durante a
responderam o questionário socioeconômico. Foram maré seca, até as profundidades atingidas em apnéia
realizadas 99 entrevistas junto aos responsáveis por pelos pescadores.
restaurantes e pousadas que oferecem polvo em seus Nos períodos de setembro e outubro de 2003,
cardápios. Adicionalmente 46 pessoas nativas ou junho e julho de 2004 e abril de 2005 foram
moradoras a mais de 10 anos do Arquipélago foram aplicados questionários a 30 pescadores que
entrevistadas para avaliar sua relação com a pesca efetivamente estiveram pescando na semana anterior
recreativa de polvo. as entrevistas. Os pescadores realizaram entre uma
Estima-se que no mínimo 45 pescadores, a quatro pescarias por semana totalizando de uma
correspondendo a 1.8% da população residente de a cinco horas de pesca, capturando de 4,4 até 26 kg
Fernando de Noronha, atuaram com freqüência semanais. A captura média por hora de pesca foi de
ou esporadicamente na pesca de polvo. Este 3,14 kg (Tabela 1).

Tabela 1. Dados referentes às atividades de pesca de polvos obtidos através de questionários semanais aplicados
aos 16 pescadores mais ativos no Arquipélago de Fernando de Noronha (N=30) entre 2003 e 2005freqüentemente
realizada por crianças, mulheres e homens que ocasionalmente saem à procura de polvo para consumo próprio ou
isca. Já a pesca através do mergulho realizado em apnéia por pescadores experientes que, sozinhos ou em dupla,
mergulham entre profundidades de 1 até 25 m. A pesca ocorre sempre durante o dia, uma vez que é totalmente visual.
A visibilidade da água de Fernando de Noronha pode chegar a 50 m favorece este tipo de pescaria.

Dados Mínimo Médias Máximo D. P.


Pescarias por semana 1 1,71 3,5 0,87
Tempo de cada pescaria (min) 60 138 300 63,92
Polvos capturados na semana (kg) 4,4 7,45 26 4,79
Número de polvos capturados na semana 3 8,77 30 5,76
Tempo total de pescaria na semana (min) 60 211,33 900 168,53
CPUE (kg/hora) 0,87 3,14 5,17 2,61
Quantidade vendida na semana (kg) 0 6,55 26 7,43
Quantidade consumida na semana (Kg) 0 1,35 5 2,25

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 271 - 280, 2008


A pesca de polvos no arquipélago de Fernando de Noronha, Brasil... 275

Segundo pescadores e autoridades, até recente- dezembro quando ocorrem longos períodos de mar
mente era freqüente o uso água sanitária borrifada calmo ao sudeste e sul da ilha. As áreas em que
nas tocas para expulsar o animal. Esta prática impede foram registradas pescarias de polvo foram: o lado
que outros polvos ocupem as tocas afetadas pelo esquerdo e direito
cloro por longo tempo, dificultando a pescaria e vem As maiores capturas por pescador foram
sendo abandonada. Um outro efeito do uso de água registradas em junho de 2004 com uma média de
sanitária é a destruição dos recifes. 10,4 kg de polvo pescados por semana, porém um
As mudanças sazonais do regime de ventos em teste de X2 não evidenciou uma diferença significativa
torno do Arquipélago influenciam diretamente em relação aos outros períodos de pesca (X2 = 4,88,
a pescaria de polvo na APA, única parte da ilha gl = 4, p >0,05). Os rendimentos por hora de pesca
em que é permitida. A pesca de polvo no Mar de variaram de 2 a 4,2 kg, também sem diferença
Dentro, onde se localiza a APA é possível a partir significativa entre os pescadores (X2 = 13,00, gl = 12,
do mês de abril e estende-se até o início do mês de p >0.05) (Tabela 2).

Tabela 2. Rendimentos semanais dos pescadores de polvo de Fernando de Noronha entrevistados entre 2003 e 2005
(N= no de entrevistas, D. P. Desvio Padrão)

Média no
Média de CPUE
Período de de polvos
N captura D.P. D.P. média D.P.
amostragem capturados na
semanal (kg) (kg/hora)
semana
Outubro/03 6 6,0 1,67 6,67 1,97 2,4 1,40
Novembro/03 1 6,0 - 4 - 2 -
Junho/04 10 10,4 6,11 9,8 8,62 4,2 3,70
Julho/04 11 7,3 4,86 7,82 4,92 2,79 2,2
Abril/05 2 6,0 1,41 7 1,41 2,4 0,11
Total 30 7,95 4,87 8,07 5,85 2,76 2,66

Não existem estatísticas de desembarque de Estudos preliminares sobre o habitat e distribuição


polvo e a produção pesqueira no AFN só pode desta espécie sugerem que a maior parte dos indi-
ser estimada de forma aproximada, a partir das víduos se encontra a profundidades inferiores a 20 m,
entrevistas realizadas, em 3 toneladas anuais. Este entretanto, os mergulhos mais profundos realizados
cálculo foi baseado na produção média semanal de com este objetivo foram até 45 m, e mesmo assim com
8 kg dos 12 pescadores mais ativos em 32 semanas pouco tempo de fundo. Uma estimativa grosseira da
anuais. No outro extremo, podemos contabilizar área até 20 m de profundidade em torno das ilhas é
os 45 pescadores que se registraram no IBAMA, de pelo menos 20 km2, ou mais de 30 vezes a soma
incluindo os que pescam para consumo próprio e das áreas de pesca. Considerando uma distribuição
comercialização eventual, com uma captura mínima uniforme até essa isóbata, o impacto da pesca sobre
de 4 kg por semana. Neste caso, a produção total a população seria muito pequeno e não colocaria
de polvo atingiria 5,7 toneladas por ano. Existem em risco a abundância do estoque. No entanto, se a
também capturas ilegais dentro do Parque Nacional, distribuição for agregada, com maiores densidades
as quais foram consideradas pouco expressivas. nas áreas procuradas pelos pescadores, o impacto da
Portanto, estima-se que as capturas anuais de polvo pesca sobre o estoque seria maior. Estudos adicionais
no Arquipélago de Fernando de Noronha se situam sobre a distribuição e deslocamento reprodutivo do
entre 3 e 6 toneladas, para uma área de pesca em Octopus sp. são necessários para avaliar a abundância
torno de 0,6 km2 (Figura 1). do polvo em torno das ilhas.
O impacto da pesca sobre o estoque de polvo O lado direito do Porto foi apontado como área de
em torno das ilhas é difícil de avaliar. Este depende pesca mais freqüentada pela maioria dos pescadores,
da área de distribuição da espécie alvo, e também seguida pela Laje do Boldró, Porto lado esquerdo
da variação da densidade com a profundidade, - Biboca, Praia da Conceição e Laje da Cacimba
informações que são desconhecidas até o momento. (Tabela 3). O maior rendimento médio (CPUE) foi

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 271 - 280, 2008


276 LEITE et al.

registrado na Praia da Conceição, 5,58 kg/hora, a Praia da Cacimba do Padre (0,006 kg/hora/Km2)
qual também foi a área mais produtiva, com 0,415 kg/ (Tabela 2). Apesar das diferenças entre as médias,
hora/km2. A área com menor produção, e também estas não apresentaram variação estatisticamente
a menos produtiva, foi a Laje dos Dois Irmãos, na significante (x2 = 3,757, df = 4, p >0,05).

Tabela 3. Principais áreas de pescaria, número de pescadores atuantes, área (km2), produção média por hora (CPUE)
e produtividade (CPUE/área). (D.P. Desvio padrão)
No de CPUE Produtividade
Área (kg/hora)
Área de pesca pescadores D.P. média
(m2)
atuantes Min. Méd. Máx. (kg/hora/km2)
Laje do Boldró 5 136,16 0,8 2,6 6,7 2,88 0,019
Porto lado direito 12 267,02 0,9 3,6 10 2,88 0,013
Praia da Conceição 4 13,45 2,2 5,6 9 4,83 0,415
Porto lado esquerdo 5 171,16 1,25 2,89 10 2,47 0,017
Laje da Cacimba 2 79,02 - 0,50 - - 0,006

Capturas e destino do pescado sendo que 23,8% eram juvenis, 50% de sub-adultos
Foram amostrados 49 espécimes provenientes e 26,2% adultos. A distribuição de freqüência de
das capturadas da pesca. Os CM variaram de 54 comprimento do manto e pesos dos espécimes
a 140 mm, com uma média de 92,3 mm. Os pesos medidos mostrou que mais de 30 % dos indivíduos
variaram de 71 gramas a 1,5 kg, e média de 460 pertenciam à classe de CM de 80 a 90 mm e 35 %
gramas. Todos foram identificados como Octopus sp, pesaram entre 200 e 400 gramas (Figura 2).

Figura 2. Freqüência de comprimento (a) e de peso dos polvos (b) provenientes das capturas da pesca comercial de
Fernando de Noronha

Comercialização de polvo (cadeias produtivas) (setembro e outubro de 2003, janeiro de 2004, maio e
Os polvos capturados são utilizados tanto na junho de 2004, julho e agosto de 2004, março e abril
alimentação familiar como para a comercialização. de 2005). O consumo médio semanal foi estimado
Dos 16 pescadores entrevistados, 7 pescavam em 10,7 kg por estabelecimento. O maior consumo
exclusivamente para a comercialização, 6 para por estabelecimento ocorreu em setembro de 2003,
consumo próprio e 2 afirmaram consumir e vender. média de 20,6 kg/semana, e o maior consumo médio
As capturas comercializadas foram vendidas pelo total de estabelecimentos ocorreu em março de
a pousadas, restaurantes ou moradores locais. 2005, média de 256,6 kg/semana (Figura 3).
Em média os pescadores consumiram 1,35 Kg. e O total anual comercializado foi de 8,2 toneladas,
venderam 6,55 Kg de polvo por semana. O consumo com um intervalo de 90% de confiança entre 7 e 9,3
das pousadas e restaurantes de Fernando de Noronha toneladas. O consumo anual de polvos pescados no
foi estimado através de 99 entrevistas em cinco Arquipélago foi estimado 931 kg ou 11,4% do total
períodos representando as diferentes épocas do ano consumido. O polvo comercializado anualmente

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 271 - 280, 2008


A pesca de polvos no arquipélago de Fernando de Noronha, Brasil... 277

pelos 9 pescadores mais ativos foi em torno de Nesta pescaria não existe a figura do atacadista
2,3 t, entretanto, parte dessa captura é adquirida por ou atravessador, o pescador vende a captura
moradores, como sugerem as entrevistas informais diretamente ao restaurante, pousada ou pessoas
realizados com moradores e pescadores. da comunidade. O preço do polvo vendido pelos
pescadores aos restaurantes na ilha variou entre
R$12,00 e R$20,00 reais o quilo, com vísceras. O
300
Média por es tabelec im ento polvo vindo do continente chega à ilha ao custo de
250
Polvo consumido (kg/semana)

Total todos os es tabelec im entos R$ 9,00 a R$15,00 por quilo, fora o preço do frete do
200 barco ou do avião. Nos cardápios dos restaurantes
150 ou pousadas os diversos pratos feitos à base de
polvo tinham preços que variaram de R$35,00 a
100
R$45,00. Considerando um consumo anual médio
50
de 8.167 kg e que cada porção a base de polvo leva
0 em torno de 400 g cru, o polvo das ilhas contribui
jul-04

para uma movimentação econômica da ordem dos


jan-04

jun-04
out-03

ago-04
set-03

mai-04

mar-05

R$ 816.700,00.
Mes es am os trados
Caracterização socioeconômica dos pescadores
Figura 3. Consumo médio de polvos por semana (kg)
por restaurantes e/ou pousadas do Arquipélago de Baseado no total de 45 questionários aplicados aos
Fernando de Noronha, e consumo total por semana pescadores que foram se cadastrar para recebimento
em todos os estabelecimentos durante os meses da carteira foi verificado que a �������������������
maior parte nasceu
estudados
ou se criou em Fernando de Noronha. O pescador de
polvo do Arquipélago de Fernando de Noronha tem
No período estudado, outubro de 2003 e agosto
em média 32 anos, variando de 18 a 42 anos a exceção
de 2004 foram os meses de maior aquisição de polvo
de um pescador de 55 anos e, em média, pescavam
local, com uma média de 5,4 e 5,0 kg/semana por
polvo há 14 anos. Mais de 80% aprenderam a pescar
estabelecimento nos respectivos meses. O mês com
com os pais e têm envolvimento com a pesca de
maior aquisição de polvo do continente foi setembro
polvo desde a infância ou adolescência. A���������
maioria
de 2003, com uma média de 24,5 kg/semana por
possui algum tipo de curso profissionalizante, sendo
estabelecimento. No mês de junho de 2004 houve
os mais freqüentes marinheiros e guia turístico. Dos
����
a maior aquisição de polvo do arquipélago, média
16 pescadores entrevistados um pescador completou
4,1 kg/semana por estabelecimento, em relação ao
a alfabetização, três o ensino fundamental, sete o
polvo do continente, 3,9 kg/semana (Figura 4). Isto
ensino médio incompleto e cinco o ensino médio
indica que apenas em época de baixo consumo, os
completo.
restaurantes adquirem este recurso do próprio local
em quantidade suficiente. Com base em questionários detalhados aplicados
a 16 pescadores verificou-se que a���������������
maioria pesca
duas vezes por semana, variando entre duas vezes
30 P roveniente do A F N por mês e seis vezes por semana. A renda mensal
P roveniente do c ontinente
da pesca de polvo pode variar de R$ 100,00 a R$
estabelecimento (kg/semana)
Polvos adquiridos por

20 800,00 dependendo da freqüência com que se pesca.


O lucro com a pesca é em geral utilizado como
10 complementação da renda, visto que a maior parte
dos pescadores tem outra fonte de renda: como
0 mergulhador, marinheiro, funcionário de pousada,
jul-04
jan-04

jun-04
out-03

ago-04
set-03

mai-04

mar/05

etc. Apenas dois pescadores afirmaram viver


Mes es am os trados
exclusivamente da pesca de polvo durante a época
em que ocorre pescaria.
Figura 4. Quantidade média dos polvos (kg/semana),
adquiridos por cada estabelecimento (restaurantes e Discussão
pousadas) do Arquipélago de Fernando de Noronha nos
meses estudados, de acordo com o local de proveniência Ilhas oceânicas como o Arquipélago de Fernando
(Arquipélago ou continente) de Noronha são pequenas massas de terras de

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 271 - 280, 2008


278 LEITE et al.

origem vulcânica isoladas do continente por oceanos maior captura de animais menores e imaturos
profundos, nunca tendo estado conectadas por terra (Figura 2), visto que os animais maiores foram
com outros continentes. O isolamento e o tamanho encontrados na maior parte do ano entre 5 e 30 m de
reduzido dessas ilhas são responsáveis pela formação profundidade. Apenas durante o período de maior
de um ambiente diferente daqueles encontrados atividade reprodutiva, de junho a agosto, foram
no continente, limitando assim a variedade de encontrados animais maiores em comportamento
espécies de plantas e animais nativos, aumentando de formação de casais e cópulas em áreas rasas do
a possibilidade de endemismo e acarretando uma Arquipélago (LEITE, 2005). Segundo GUERRA (1981)
maior vulnerabilidade em relação às atividades a ocorrência de polvos de tamanhos relativamente
humanas, como a pesca e o turismo intenso. Em grandes nas regiões mais profundas pode estar
função da fragilidade de seu ecossistema muitas ilhas relacionada ao fenômeno de migração dos recifes, de
oceânicas do mundo são consideradas atualmente onde os animais se deslocam, para se desenvolver em
áreas de preservação ambiental de algum nível águas mais profundas, retornando ao recife apenas
(SALM, et al. 2000). para fins reprodutivos.
O Arquipélago de Fernando de Noronha apesar A produção de polvo no AFN é comparável
de possuir duas áreas de preservação ambiental é a uma área recifal de 4,5 km2 na costa da Bahia,
um exemplo de ilha oceânica que vem aumentando onde foi registrada uma captura anual de 4 t entre
significativamente sua população residente, bem 2000 e 2001 (JAMBEIRO, 2002), como também com
como a exploração turística e pesqueira, sendo a outros ambientes insulares oceânicos como as Ilhas
única ilha oceânica do Brasil a suportar pescarias de Canárias no Atlântico Norte subtropical, onde
polvo com caráter comercial e de subsistência. foram capturadas anualmente de 7 a 25 t de polvo
entre 1989 e 1994 (HERNÁNDEZ-GARCIA, et al,
A pescaria de polvo realizada caminhando sobre
1998), e o Havaí, cuja pesca artesanal atingiu uma
o recife descoberto ou durante o mergulho livre,
produção anual em torno de 10 toneladas (DAR,
utilizando o bicheiro como petrecho de captura é
2002). Por outro lado, os rendimentos dos pescadores
classificada como uma forma de pesca ativa, visto
entrevistados no AFN, de 3,14 kg/hora/pescador,
que envolve uma varredura de uma área por parte
foram superiores aos registrados na Bahia, de 1,54
do pescador. Este tipo de pesca é também o mais kg/pescador/hora (JAMBEIRO, 2002). Esta diferença
utilizado em pescarias na costa nordeste do Brasil pode ser atribuída à presença de uma área de
(JAMBEIRO, 2002; MENDES, 2002; CEPENE/ exclusão de pesca, o Parque Nacional Marinho do
IBAMA, 2002). O uso do bicheiro (gancho) como Arquipélago de Fernando de Noronha, localizado
artefato principal de captura faz com que a pescaria próximo às áreas de pesca, o que não ocorre no
em Fernando de Noronha tenha uma grande litoral baiano.
capacidade de seletividade, tanto de tamanho como
Os rendimentos sem diferença significativa entre
de espécie, visto que o pescador pode escolher qual
os meses de pescaria, e entre as áreas de pesca,
animal quer capturar. Este tipo de arte permite
indicam uma captura regular durante o período
delimitar o tamanho mínimo de captura, visto que
estudado, com um pequeno pico nos meses de junho
o pescador pode facilmente visualizar o tamanho do
e julho e na área de Praia da Conceição. As capturas
polvo a ser capturado.
regulares condizem com a situação de uma área tropi-
Foi verificado que as áreas de pesca de polvo em cal sem grandes mudanças climáticas sazonais.
Fernando de Noronha são restritas a regiões rasas
O valor de comercialização dos polvos em AFN é
dentro da Área de Preservação Ambiental, em função
compatível com o preço por kg na Europa (U$S 7.00
da proibição de pesca na área do Parque Nacional a U$S 11.00) ou Japão (U$S 12.00) (www.globefish.
Marinho. Uma vez que estas áreas se encontram org, junho/2006), porém é muito superior aos preços
todas no “Mar de Dentro” da ilha, as mudanças cobrados nas praias da costa do NE do Brasil que
oceanográficas que ocorrem no Arquipélago de variam de R$ 6,00 a R$ 10,00 reais. O preço mais
Fernando de Noronha impedem a pescaria na APA elevado do polvo no AFN é comum à maioria dos
entre os meses de dezembro a março, possibilitando produtos comercializados na ilha, seja de origem
assim o repovoamento dessa área. local ou proveniente do continente. O caráter insular
A pesca nas águas mais rasas do arquipélago, adiciona o custo do transporte, e a oferta reduzida
entre 0 e 2 metros de profundidade, acarreta numa aliada ao grande fluxo turístico de consumidores

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A pesca de polvos no arquipélago de Fernando de Noronha, Brasil... 279

com forte poder de compra (ADEFN, 2004) tende a divertimento. Esta importância cultural na pesca
manter os preços mais elevados que no continente. O de polvo pode ser verificada em ilhas oceânicas
alto valor de venda dos polvos em Noronha, aliado como o Havaí (CASCORBI, 2004), onde a pesca
a ausência de intermediários permite que mesmo recreacional de polvo tem profundas implicações
com capturas reduzidas os pecadores consigam uma para o manejo.
renda que justifica a atividade pesqueira.
Apesar de não ser uma atividade econômica CONCLUSÃO
muito rentável para os pescadores, a venda de Embora os dados disponíveis sejam limitados,
polvos em pousadas e restaurantes gera uma a partir dos resultados apresentados parece que a
movimentação econômica expressiva e deve ser pesca de polvo apesar de fazer parte dos costumes
levada em consideração. Como comprovado neste locais, a mesma não exerce pressão importante
estudo, mesmo com o aumento da captura de polvo sobre o recurso polvo no Arquipélago nos limites
no Arquipélago nos últimos anos (comunicação em que se encontra. Considera-se que devidamente
pessoal, Marcos Aurélio, Chefe do Parque Nacional regulamentada e mantida no nível atual, esta pescaria
Marinho do Arquipélago de Fernando de Noronha), pode ser sustentável.
a quantidade de polvos capturados não é suficiente
para suprir a alta demanda. A maior parte dos polvos AGRADECIMENTOS
consumidos pelos estabelecimentos foi proveniente Agradecemos a Fundação Boticário e ao CNPq
de cidades da costa nordestina, especialmente pelo apoio financeiro, à administração de Fernando
Recife e Natal, onde também não existe nenhuma de Noronha e ao IBAMA pelo suporte logístico, aos
forma de manejo da pesca de polvo até o momento. pescadores de polvo de Fernando de Noronha pelas
Esta diferença entre produção e demanda mostra informações e amostras doadas, e aos estabelecimentos
a constante necessidade dos estabelecimentos que colaboraram com informações de consumo.
comerciais do Arquipélago em adquirir esse recurso Agradecemos também aos voluntários e estagiários
para suprir seus estoques, incentivando cada vez da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e
mais a exploração comercial do polvo na área de Fundação Universidade Federal do Rio Grande pela
preservação ambiental, além do aumento do preço ajuda nas coletas e análises do material.
deste recurso.
REFERÊNCIAS BIBILOGRÁFICAS
Caracterização socioeconômica dos pescadores
ADMINISTRAÇÃO DE FERNANDO DE NORONHA
No litoral de vários Estados do Nordeste a (ADEFN). 2004 Perfil do turista de Fernando de
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dos pescadores envolvidos na mesma, como por
exemplo, na Bahia (JAMBEIRO, 2002; MENDES, ALMEIDA, L. 2004 Monitoramento Marinho do
2002). Já em Fernando de Noronha a pesca de polvo Parque Nacional de Fernando de Noronha (março a
constitui uma complementação de renda, que pode dezembro de 2003). Relatório Técnico Final/IBAMA
chegar até R$ 800,0 reais mensais. A diferença Brasília. 28 p.
deve-se as maiores oportunidades de renda em
AMBROSE, R.F. 1986 Effects of octopus predation on
função do alto fluxo turístico e da falta de mão de
motile invertebrates in a rocky subtidal community.
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2005). A pesca de polvo em Fernando de Noronha
também esta intimamente ligada com questões BOYLE, P.R. 1987 Cephalopod Life Cycles, Vol. II.
culturais. Ser um bom pescador de polvo reflete Academic Press, London. 441p.
acima de tudo a condição de ser bom mergulhador,
atividade bastante respeitada entre os ilhéus. A maior CASCORBI, A. 2004 Seafood Watch. Seafood Report:
parte dos pescadores cadastrados afirmou que pesca Hawaiian Octopus Octopus cyanea. �������������
Monterey Bay
apenas para comer, dar para os amigos, ou apenas Aquarium.
para se divertir e testar suas habilidades como
CEPENE/IBAMA. 2002 Boletim Pesqueiro do Litoral
mergulhador. Normalmente quando um pescador
Nordeste. Pernambuco: Tamandaré.
cozinha polvo em sua casa, isto indica uma ocasião
social importante, ou motivo de comemoração e CLARKE, M.R. 1962 The identification of cephalopods

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 271 - 280, 2008


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B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 271 - 280, 2008


DIGESTIBILIDADE APARENTE DE RAÇÕES CONTENDO LEVEDURA ÍNTEGRA,
LEVEDURA AUTOLISADA E PAREDE CELULAR PELA TILÁPIA DO NILO

Hamilton HISANO 1; Fernanda Garcia SAMPAIO 2; Margarida Maria BARROS 3;


Luiz Edivaldo PEZZATO 3

RESUMO
Os coeficientes de digestibilidade aparente para matéria seca, proteína bruta, extrato etéreo, energia
bruta de rações suplementadas com levedura íntegra (1,0; 2,0 e 3,0%), levedura autolisada (1,0; 2,0
e 3,0%) e parede celular (0,1; 0,2 e 0,3%), desidratadas por spray dried, além de um controle (isenta
dos ingredientes teste) foram avaliadas para tilápia do Nilo. Foram utilizados um total de 80 peixes
(83,0±8,5g), alojados em dez aquários de 250 L para alimentação e quatro de mesmo volume para
a coleta de fezes, ambos dotados de sistema de recirculação contínua de água, com filtro físico-
biológico e temperatura controlada. As rações que receberam levedura íntegra, levedura autolisada
e parede celular apresentaram, em média, coeficientes de digestibilidade aparente superiores ao
controle. Conclui-se que a suplementação da levedura e derivados proporcionam melhora no
coeficiente de digestibilidade aparente das rações experimentais, e que os níveis estimados de
suplementação com 2,13 a 2,36% de levedura autolisada apresenta resultado de digestibilidade
superior.
Palavras-chave: Saccharomyces cerevisiae, Oreochromis niloticus, glucanos, mananos

APPARENT DIGESTIBILITY COEFFICIENT OF DIETS SUPPLEMENTED WITH WHOLE YEAST,


AUTOLYZED YEAST AND YEAST CELL WALL BY NILE TILAPIA

ABSTRACT
Apparent digestibility coefficient of dry matter, crude protein, ether extract, gross energy, of diets
supplemented with spray dried whole yeast (1.0; 2.0 e 3.0%), autolyzed (1.0; 2.0 e 3.0%), yeast cell
wall (0.1; 0.2 e 0.3%) plus a additional diet with no yeast and yeast derivatives were evaluated to
Nile tilapia. Eighty juveniles (83.0±8.5g) were placed in eight 250L aquaria for feeding and four
aquaria of the same volume for collecting faecal samples. Both sets were equipped with flow-
trough recirculation system provided with mechanical and biological filter. Diets supplemented
with whole yeast, autolyzed yeast, and yeast cell wall presented, as mean, superior apparent
coefficient digestibility than control. It can be concluded that supplementation of yeast and yeast
derivatives improve apparent coefficient digestibility of experimental diets and diets supplemented
with estimated level of 2.13-2.36% autolyzed yeast shows better digestibility.
Key words: Saccharomyces cerevisiae, Oreochromis niloticus, glucans, mannans

Artigo Científico: Recebido em: 09/02/2007; Aprovado em: 26/10/2007


1
Pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste, BR 163, km 253,6, CEP 79804-970, Caixa Postal 661, Dourados, MS.
E-mail:hhisano@cpao.embrapa.br.
2
Aluna do Programa de Pós-Graduação em Ciências Fisiológicas, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, SP, Brasil.
3
Professores do Departamento de Melhoramento e Nutrição Animal, UNESP-FMVZ, Botucatu, SP, Brasil.

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 281 - 287, 2008


282 hisano et al.

INTRODUÇÃO melhora do aproveitamento dos nutrientes em rações


A utilização constante de antibióticos e quimiote- para peixes suplementadas com estes produtos.
rapicos em rações para organismos aquáticos Com base nestas informações, o presente estudo
têm provocado diversos problemas de resistência teve por objetivo determinar o coeficiente de
em determinadas cepas patogênicas. Alguns digestibilidade aparente de rações suplementadas
ingredientes, principalmente os de comprovada com levedura íntegra, levedura autolisada e parede
biossegurança se apresentam como potenciais celular para as frações matéria seca, proteína bruta,
substitutos ao uso destes compostos, dentre os quais extrato etéreo, energia bruta e, aminoácidos essenciais
se destacam a levedura íntegra e alguns derivados do e não essenciais, pela tilápia do Nilo.
seu processamento, tais como levedura autolisada,
polissacarídeos da parede celular e nucleotídeos. A MATERIAL E MÉTODOS
levedura e derivados do seu processamento estão Esta pesquisa foi realizada no Laboratório de
sendo suplementados em rações para algumas Nutrição de Organismos Aquáticos (AquaNutri),
espécies de peixes com respostas positivas sobre da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia,
parâmetros de desempenho produtivo, sistema Universidade Estadual Paulista, Campus de
imunológico e aumento de resistência contra Botucatu. Botucatu.
infecções bacterianas (SAKAI et al., 2001; ORTUÑO
As rações experimentais foram formuladas de
et al., 2002; LI e GATLIN, 2003, 2004). Além disso,
acordo com a exigência nutricional para a espécie
a inclusão da levedura íntegra e principalmente a
apresentada no National Research Council (1993),
levedura autolisada, melhoram a taxa de eficiência
sendo isoprotéicas (32,0% de PD), isocalóricas (3200
alimentar e a digestibilidade das rações (HISANO et
kcal ED/kg ração) e suplementadas com levedura
al. 2004; WATANABE, 2006).
íntegra, levedura autolisada e parede celular
O Brasil é um dos maiores produtores de
(Saccharomyces cerevisiae) originários de usinas de
levedura de cana do mundo e segundo MORENO
álcool de cana de açúcar, posteriormente processados
(2002), a produção na safra de 2001/2002 foi de 45
e desidratadas (spray dried). Estes produtos foram
mil toneladas, sendo aproximadamente metade da
incluídos nos seguintes níveis: 1,0; 2,0 e 3,0% para as
produção destinada ao mercado interno (alimentação
leveduras íntegra (LI) ou levedura autolisada (LA)
de aves e suínos) e a outra metade destinada ao
e 0,1; 0,2 e 0,3% para a parede celular (PC). A ração
mercado externo, cujos principais compradores
controle foi caracterizada pela não utilização dos
foram países do sudeste asiático, como Indonésia e
ingredientes em estudo. Dessa forma, foram obtidas
Tailândia, que utilizam a levedura na alimentação de
dez rações (tratamentos) com quatro repetições.
camarões e peixes. Segundo informações de BUTOLO
Todas as rações foram acrescidas de 0,1% de óxido de
(2002), para cada 1000L de álcool etílico produzidos,
crômio III (Cr2O3), utilizado como marcador externo
são gerados de 20 a 30kg de levedura seca, o que pode
inerte (Tabela 1).
proporcionar um potencial de produção de 400-600
mil toneladas de levedura originária da fermentação Todos os ingredientes utilizados nas rações
da cana, de acordo com a estimativa da produção da experimentais foram moídos em moinho de facas,
safra de 2006/2007 de 20 bilhões de litros de álcool com diâmetro menor que 0,5mm. Os ingredientes
apresentando no AGRIANUAL (2006). foram homogeneizados em misturador automático
A levedura autolisada é obtida por indução de (Ação Científica) e, posteriormente peletizadas,
autodigestão ou rompimento mecânico (ASSIS, 1996) empregando-se matrizes para obtenção de grânulos
e consiste no conteúdo total da célula lisada, incluindo com os diâmetros de 2,0 e 3,5 mm, os quais foram
os componentes hidrossolúveis, as proteínas solúveis destinados às fases inicial e final do experimento,
e a parede celular. Para obtenção do extrato de respectivamente.
levedura é necessária a separação da parede celular Utilizou-se para determinar os CDA das rações,
por meio de centrifugação (SGARBIERI et al. 1999). a metodologia proposta por PEZZATO et al. (2002).
Nas indústrias de alimentos destinados ao consumo Assim, dez aquários circulares com volume de
humano, derivados do processamento da levedura, 250 L, de fibra de vidro, foram utilizados para
tais como a levedura autolisada e o extrato de alimentação dos peixes e cinco aquários de coleta de
levedura são amplamente utilizados, no entanto, são fezes com o mesmo volume, confeccionado em fibra
poucas as informações sobre os níveis de inclusão e a de vidro de formato cilíndrico e fundo cônico para

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 281 - 287, 2008


Igestibilidade aparente de rações contendo levedura íntegra, levedura autolisada e parede celular pela tilápia... 283

favorecer decantação das fezes. Tanto os aquários de água, composto por filtro físico e biológico e,
de alimentação, como os aquários de coleta de fezes sistema digital para manter constante a temperatura
eram dotados de sistema de recirculação contínua da água (27,0°C).

Tabela 1. Composição percentual e químico bromatológica das rações experimentais (matéria original)

Tratamento
Levedura íntegra Levedura autolisada Parede celular
Ingrediente (%) Controle 1,0% 2,0% 3,0% 1,0% 2,0% 3,0% 0,1% 0,2% 0,3%
Farelo de soja 66,00 66,00 65,50 65,00 66,00 65,50 65,00 66,00 66,00 66,00
Fubá de milho 17,00 16,00 15,50 15,00 16,00 15,50 15,00 16,90 16,80 16,70
Farelo de trigo 8,40 8,40 8,40 8,40 8,40 8,40 8,40 8,40 8,40 8,40
Levedura íntegra - 1,00 2,00 3,00 - - - - - -
Levedura
- - - - 1,00 2,00 3,00 - - -
autolisada
Parede celular - - - - - - - 0,10 0,20 0,30
DL–metionina 0,36 0,36 0,36 0,36 0,36 0,36 0,36 0,36 0,36 0,36
Fosfato bicálcico 3,90 3,90 3,90 3,90 3,90 3,90 3,90 3,90 3,90 3,90
Óleo de soja 3,59 3,59 3,59 3,59 3,59 3,59 3,59 3,59 3,59 3,59
Suplem. vit/min1 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50
Vitamina C 0,03 0,03 0,03 0,03 0,03 0,03 0,03 0,03 0,03 0,03
NaCl 0,10 0,10 0,10 0,10 0,10 0,10 0,10 0,10 0,10 0,10
BHT 2 0,02 0,02 0,02 0,02 0,02 0,02 0,02 0,02 0,02 0,02
Cr2O3 0,10 0,10 0,10 0,10 0,10 0,10 0,10 0,10 0,10 0,10
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Composição (%)
PD (%) (3) 32,43 32,89 33,08 33,05 32,75 32,89 33,01 31,60 31,74 31,77
ED (kcal/kg) (4) 3212 3273 3360 3342 3393 3382 3391 3292 3362 3353
FB (%) 5,00 5,00 5,00 5,00 5,00 5,00 5,00 5,00 5,00 5,00
EED (%) (5) 3,89 3,90 4,01 3,71 3,88 3,76 3,77 3,96 4,12 3,90
Cálcio (%) 1,20 1,20 1,20 1,20 1,20 1,20 1,20 1,20 1,20 1,20
Pdisp. (%) (6) 0,70 0,70 0,70 0,70 0,70 0,70 0,70 0,70 0,70 0,70
Metionina (%) 0,60 0,60 0,60 0,60 0,60 0,60 0,60 0,60 0,60 0,60
Treonina (%) 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00
Lisina (%) 1,70 1,70 1,70 1,70 1,70 1,70 1,70 1,70 1,70 1,70
1
Suplemento vitamínico e mineral (Supre Mais): nível de garantia por kg do produto: Vit. ��
A ��
= ����������������������
1.200.000 UI; vit. D3 ��
= ��������
200.000
UI; Vit. E = 12.000mg; Vit. K3 = 2.400mg; Vit. B1 = 4.800mg; vit, B2 = 4,800mg; Vit. B6 = 4.000mg; biotina = 48mg; colina =
65.000mg; niacina = 24.000mg; Fe= 10.000mg; Cu = 600mg; Mn = 4.000mg; Zn = 6.000mg; I =20mg; Co = 2mg e Se = 20mg;
8 Vitamina C : sal cálcica 2-monofosfato de ácido ascórbico - 42% de princípio ativo.
2
BHT = (antioxidante) = Butil hidroxi tolueno.
3
PD= Proteína digestível, Valores determinados, por meio do coeficiente de d������������������������������������������
igestibilidade aparente para proteína das
rações experimentais.
4
ED= energia digestível, Valores determinados, por meio do coeficiente de digestibilidade aparente para energia das rações
experimentais.
5
EED= extrato etéreo digestível. Valores determinados, por meio do coeficiente de digestibilidade aparente para extrato
etéreo das rações experimentais.
6
Pdisp.= Fósforo disponível. Cálculos realizados com base nos valores apresentados por Gonçalves (2003).

Os peixes foram alojados em dez gaiolas plásticas, uma semana. Durante o período da manhã, os peixes
uma para cada tratamento experimental. O período foram alimentados a cada duas horas e, no período
de adaptação prévio das rações experimentais foi de da tarde, a alimentação foi intensificada a cada hora.

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284 hisano et al.

Este manejo foi aplicado ao grupo (cinco aquários valores que compreendem a faixa de 6,5 a 9,0 de pH
de alimentação) do qual seriam coletadas as fezes, são as mais adequadas para a produção de peixes.
diferindo do outro grupo por não se intensificar a Na Tabela 2 encontram-se apresentados os
alimentação. Foram efetuadas quarenta coletas, coeficientes de digestibilidade aparente (CDA) para
caracterizando quatro repetições por tratamento, matéria seca (MS), proteína bruta (PB), energia bruta
durante período de 2 semanas. (EB) e extrato etéreo (EE) das rações experimentais
As análises químico-bromatológicas das rações contendo os diferentes níveis de suplementação de
e das fezes foram realizadas pelo Laboratório da levedura íntegra (LI), levedura autolisada (LA) e
Mogiana Alimentos (Labtec-Alta Tecnologia), parede celular (PC) para juvenis de tilápia do Nilo.
segundo padrões da Association of Official Analytical Os valores médios dos CDA da MS e EB
Chemists (1990). A concentração de cromo foi quando submetidos à análise de variância revelaram
determinada no Laboratório de Química Analítica diferenças significativas (P<0,01) para tratamentos
do Departamento de Química do Instituto de (Tabela 2). Pode-se observar que o desdobramento
Biociências da UNESP – Campus de Botucatu, dos graus de liberdade de tratamentos, constituído
segundo metodologia proposta por BREMER NETO pelos contrastes ortogonais entre totais de tratamentos
et al. (2003). O coeficiente de digestibilidade aparente revelou que o CDA da MS e EB das rações contendo
foi calculado com base na seguinte fórmula: LA diferiram (P<0,01) daquelas rações contendo LI e
PC. Por meio desse tipo de comparação, foi possível
detectar que a suplementação de LA melhorou o
CDA destas variáveis. Os valores digestíveis da
MS e EB refletem quantitativamente a qualidade
da ração, uma vez que seu CDA representa a
Onde: soma da digestibilidade dos nutrientes que a
Da(n) = Digestibilidade aparente; constituiu. Em função do rompimento da parede
Cr2O3r = % de óxido de crômio na ração; celular durante o processo de autólise, alguns
componentes intracelulares podem estar mais
Cr2O3f = % de óxido de crômio nas fezes;
disponíveis, melhorando o aproveitamento de alguns
N r = Nutrientes na ração; nutrientes.
N f = Nutrientes nas fezes. Os valores médios do CDA da PB foram
significativos (P<0,01) para os totais de tratamentos.
O estudo estatístico das variáveis de desempenho Por meio dos contrastes ortogonais foi possível
produtivo, coeficiente de digestibilidade aparente verificar que o CDA da PB dos grupos contendo LI
foram realizados a partir da técnica de análise de e LA diferiram (P<0,01) do grupo PC, no entanto,
variância (STELL e TORRIE, 1984). A análise incluiu quando se comparou LI e LA, não foram detectadas
os contrastes ortogonais entre totais de tratamentos diferenças significativas. Para o CDA do EE, não se
(levedura íntegra, levedura autolisada e parede observou diferença entre os totais dos grupos LI,
celular), bem como a análise de polinômio ortogonal LA e PC.
para estimativa do nível ótimo de suplementação. A suplementação dos diferentes níveis de LI
Todas as análises foram realizadas utilizando-se o revelou diferença significativa no CDA da MS, sendo
procedimento GLM do programa computacional encontrado efeito polinomial quadrático (P<0,01), o
SAS Institute (1985). qual pode ser expresso pela equação Y = 70,38+3,73x-
0,97x2, com o melhor CDA apresentado pela inclusão
RESULTADOS E DISCUSSÃO de 1,91% de LI na ração.
Durante o período experimental a temperatura Para a suplementação de LA, também houve
da água variou de 25,2 a 26,5ºC. Os níveis médios diferença significativa entre os diferentes níveis
de oxigênio dissolvido oscilaram entre 7,4 a estudados para CDA da MS, revelando efeito
8,2 mg/L, valores considerados satisfatórios para polinomial quadrático (P<0,01) expresso pela
o desenvolvimento dos peixes (BOYD, 1990). Os equação Y = 69,99+4,78x–1,01x 2, com o melhor
valores de pH obtidos no presente estudo variaram CDA apresentado pela inclusão de 2,36% de LA na
de 6,5 a 7,3. Segundo ARANA (1997) as águas com ração.

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 281 - 287, 2008


Igestibilidade aparente de rações contendo levedura íntegra, levedura autolisada e parede celular pela tilápia... 285

Tabela 2. Média dos coeficientes de digestibilidade aparente (CDA) para matéria seca (MS), proteína bruta (PB),
energia bruta (EB), extrato etéreo (EE) das rações contendo levedura íntegra e seus derivados para tilápia do Nilo

Variável
MS (%) PB (%) EE (%) EB (%)
Tratamento (p<0,01) (p<0,01) ns (p<0,01)
LI (1) x LA (2) (p<0,01) ns ns (p<0,01)
LI x PC (3) ns (p<0,01) ns ns
LA x PC (p<0,01) (p<0,01) ns (p<0,01)
Levedura Íntegra MS (%) PB (%) EE (%) EB (%)
ANOVA Tratamento (p<0,01) ns ns (p<0,01)
Coeficiente de variação (%) 0,76 0,22 1,80 0,99
Modelo quadrático (p<0,01) ns ns (p<0,01)
Ponto de máxima 1,91 - - 2,19
Coeficiente de correlação (%) 89,00 - - 86,00
Controle 70,35 90,54 95,08 71,54
LI 1,0% 73,24 90,08 94,91 74,95
LI 2,0% 73,84 90,82 95,39 75,46
LI 3,0% 72,83 90,77 95,41 75,21
Levedura Autolisada MS (%) PB (%) EE (%) EB (%)
ANOVA Tratamento (p<0,01) ns ns (p<0,01)
Coeficiente de variação (%) 0,82 0,57 2,00 1,33
Modelo quadrático (p<0,01) - - (p<0,01)
Ponto de máxima 2,36 - - 2,13
Coeficiente de correlação (%) 85,00 - - 87,00
Controle 70,35 90,54 95,08 71,54
LA 1,0% 72,69 90,37 95,36 75,41
LA 2,0% 76,58 91,38 95,81 78,84
LA 3,0% 74,86 90,52 94,83 76,74
Parede Celular MS (%) PB (%) EE (%) EB (%)
ANOVA Tratamento (p<0,01) ns ns (p<0,01)
Coeficiente de variação (%) 0,87 0,90 2,66 1,36
Modelo quadrático (p<0,01) ns ns (p<0,01)
Ponto de máxima 0,30 - - 0,29
Coeficiente de correlação (%) 70,00 - - 71,00
Controle 70,35 90,54 95,08 71,54
PC 0,1% 70,99 88,84 93,57 72,80
PC 0,2% 75,31 89,14 93,97 76,01
PC 0,3% 73,99 89,63 94,71 75,27
1
LI = levedura íntegra; 2 LA = levedura autolisada;3 PC = parede celular;
Coeficientes dos contrastes ortogonais: LAxLI (Co=0, LI 1%=1, LI 2%=1, LI 3%=1, LA 1%=-1, LA 2%=-1, LA 3%=-1, PC
0,1%=0, PC 0,2%=0, PC 0,3%=0); LIxPC (Co=0, LI 1%=1, LI 2%=1, LI 3%=1, LA 1%=0, LA 2%=0, LA 3%=0, PC 0,1%=-
1, PC 0,2%=-2, PC 0,3%=-3); LAxPC (Co=0, LI 1%=0, LI 2%=0, LI 3%=0, LA 1%=1, LA 2%=1, LA 3%=1, PC 0,1%=-1,
PC 0,2%=-1, PC 0,3%=-1);
ns = não significativo.

O acréscimo de PC em rações para tilápia do expresso pela equação Y=69,88+29,83x–48,91x2, com


Nilo melhorou o CDA da MS, demonstrando o melhor CDA apresentado pela inclusão de 0,3% de
efeito polinomial quadrático (P<0,01), que pode ser PC na ração.

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286 hisano et al.

A ação positiva da levedura sobre a digestibilidade do conteúdo celular. Segundo MACHADO (1997),
da MS confirmou os resultados obtidos por HISANO entre o grupo de nutrientes presentes na levedura,
et al. (2004), quando avaliaram o CDA de diferentes existe várias vitaminas do complexo B, enzimas
dietas contendo levedura e zinco. Estes autores que melhoram a eficiência alimentar, como fitase
observaram melhora e interação positiva entre os e enzimas digestivas, ácidos graxos voláteis como
níveis de LI e do Zn sobre os a digestibilidade da ácido lático e isoácidos, minerais quelatados como
MS, quando da utilização de 1,0% de LI e 300 mg de o zinco e o magnésio, fatores de crescimento como
Zn/kg de ração. estimulantes bacterianos e antiobióticos naturais,
Os diferentes níveis de suplementação não aminoácidos como glutamatos, nucleotídeos como
resultaram em efeito significativo em relação aos isoniatos e guanilatos e peptídeos como hidrolisados
CDA da PB das rações do grupo LI, LA e PC. O de proteína, que proporcionam maior palatabilidade
ao alimento, melhor desempenho, maior resistência e
mesmo foi encontrado para os CDA do EE das rações,
menor estresse ao animal alimentado com levedura.
demonstrando que os níveis de inclusão destes
De acordo com essas informações, pode-se inferir
produtos (LI, LA e PC) não resultaram em diferenças
que os melhores resultados apresentados pelas
dentro de cada grupo para a digestibilidade do EE
rações suplementadas com LA, possa ter ocorrido
das rações.
pela maior disponibilidade desses elementos acima
Assim como observado nesta pesquisa (Tabela 2), citados, que proporcionaram melhor aproveitamento
a melhora no CDA da PB foi constatada por MARTIN dos nutrientes.
et al. (1993), quando trabalharam com a truta arco-íris
Os resultados deste estudo permitem concluir
e concluíram que a digestibilidade da fração protéica
que a suplementação da levedura e derivados
elevou-se com o acréscimo da biomassa de levedura
proporcionam melhora no coeficiente de
de petróleo nas dietas. Confirmam, ainda, SOUZA
digestibilidade aparente das rações experimentais,
e MATTOS (1989) que em pesquisa com o tambacu,
e que a levedura autolisada apresenta resultado
destacaram o efeito interativo entre nutrientes e o
de digestibilidade superior, quando nos níveis
elevado valor nutritivo da LI na dieta. SOUZA e
estimados entre 2,13 a 2,36%.
MATTOS (1989) concluíram que a presença da LI
melhorou significativamente a digestibilidade das REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
dietas, possibilitando um índice médio de 82,86%
AGRIANUAL. 2006 Anuário da agricultura
de digestibilidade para a PB e DABROWSKI et al.
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aumentando desta forma o tempo disponível para a água em Aqüicultura. Florianópolis: Ed. UFSC,.
digestão e a absorção de proteínas e minerais.
ASSIS E.M. 1996 Componentes da parede celular de
O CDA da EB da ração contendo LI revelou
leveduras: Proteínas e polissacarídeos de interesse
efeito polinomial quadrático (P<0,01) expresso pela
das indústrias farmacêuticas e de alimentos. In:
equação Y = 71,65+3,89x-0,91x2, com o melhor CDA
“Workshop” Produção de biomassa de levedura:
apresentado pela inclusão de 2,0% de LI na ração.
Utilização em alimentação humana e animal.
Para a LA, pode-se observar efeito polinomial
Anais...Campinas, Brazil: ITAL, pp 41-51.
quadrático (P<0,05) com a equação Y = 71,29+6,37x–
1,49x2, sendo o nível ótimo estimado em 2,13% de ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL
LA. O mesmo efeito polinomial quadrático (P<0,01) CHEMISTS -AOAC. 1990 Official methods of
foi observado para PC, representado pela equação Y analysis of the Association of Official Analytical
= 71,25+29,37x–50,0x2, com o melhor CDA estimado Chemists. �������������������������
15th ed. ����������������
Arlington: AOAC.
de 0,29% de PC na ração.
BOYD, C.E. 1990 Water quality management in ponds
Todas as rações que receberam LI, LA e PC
for fish culture. New York: Elsevier Scientific
apresentaram, em média, CDAs superiores ao Publishing Company.
controle, especialmente as rações que continham
LA. Durante o processo de autólise, o rompimento BREMER NETO, H., GRANER, C.A.F., PEZZATO,
da espessa parede celular melhora a disponibilidade L.E., PADOVANI C.R. 2003 Diminuição do teor

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 281 - 287, 2008


Igestibilidade aparente de rações contendo levedura íntegra, levedura autolisada e parede celular pela tilápia... 287

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B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 281 - 287, 2008


REDUÇÃO NO CONSUMO DE EFLUENTE GERADO EM ABATEDOURO
DE TILÁPIA DO NILO ATRAVÉS DA IMPLANTAÇÃO DE CONCEITOS DE
PRODUÇÃO MAIS LIMPA (P+L)
Milena Alves de Souza 1; Rose Meire Vidotti 2;
Abílio Lopes de Oliveira Neto 3 “in memorian”

RESUMO
A indústria alimentícia é um segmento que dispõe de alto consumo de água devido à necessidade
da higienização dos estabelecimentos e a manutenção da boa qualidade do alimento. Entre as
indústrias alimentícias com maior consumo de água temos a indústria de pescado, a qual gera
efluente em torno de 5,4 m3. t-1 de peixe processado. Este trabalho teve como objetivo a redução
no consumo de água do processamento de tilápia do Nilo através da implantação de técnicas de
P+L, para tanto foram realizadas alterações hidráulicas nas mesas filetadoras visando o mínimo
consumo possível de água para dois métodos de filetagem, eviscerado e não eviscerado, assim como
a observação das alterações na qualidade do efluente gerado. No presente estudo, a redução no
consumo de água na filetagem correspondeu a 98,16% para o método EV considerando um tempo
médio de processamento de 3 horas para 32,99 kg de peixe, e para o método NEV a redução foi de
97,97% com tempo médio de processamento de 2,1 horas para 34,96 kg de peixe, demonstrando
assim que as técnicas de P+L são eficazes para a redução do consumo de água.
Palavras-chave: P+L, Produção Mais Limpa, Processamento, Tilápia do Nilo, Qualidade de Água

REDUCTION IN THE CONSUMPTION OF EFFLUENT GENERATED IN NILE TILAPIA


SLAUGHTERHOUSE THROUGH THE CONCEPTS IMPLANTATION OF CLEANER
PRODUCTION (CP)
ABSTRACT
The nourishing industry is a segment that makes use of high water consumption due to necessity
of the hygienic cleaning of the establishments and the maintenance of the good quality of the food.
It enters the nourishing industries with bigger water consumption we have the fishery industry
which generates effluent around 5.4 m3. t-1 of processed fish. This work had as objective the
reduction in the water consumption of the processing of Nile Tilapia through the implantation of
P+L techniques, for had been in such a way carried through hydraulical alterations in the filleting
tables aiming at the minimum possible water consumption for two methods of filleting, eviscerated
and not eviscerated, as well as the comment of the alterations in the generated quality of the
effluent one. In the present study, the reduction in the water consumption in the filleting process
corresponded 98.16% for method EV considering an average time of processing of 3 hours for 32.99
kg of fish, and for method NEV the reduction was of 97.97% with average time of processing of 2.1
hours for 34.96 kg of fish, thus demonstrating that the P+L techniques are efficient for the reduction
of the water consumption.
Key words: P+L, Cleaner Production, Processing, Nile Tilapia, Water Quality

Artigo Científico: Recebido em: 22/02/2007 - Aprovado em: 19/03/2008


1
Doutoranda do Centro de Aqüicultura CAUNESP, Universidade Estadual Paulista UNESP/Jaboticabal.
E-mail: milenaasm@hotmail.com
2
Pesquisador Científico I Instituto de Pesca, Divisão de Pesca do Interior, Seção de Aqüicultura e Controle.
3
Professor Adjunto Universidade de Santo Amaro, UNISA; Professor Pleno Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP.

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290 SOUZA et al.

INTRODUÇÃO Ao contrário dos outros métodos descritos, a


A água está envolvida em muitas etapas de ultrafiltragem e nanofiltragem permitem a obtenção
processamento da indústria alimentícia e em suas de um subproduto de alta qualidade, porém com
unidades operacionais, sendo caracterizada pelo seu baixa lucratividade quando comparada com o custo
alto consumo por tonelada de alimento processado da implantação da tecnologia a ser adotada, sendo
(CASANI et al., 2004), como é o caso da indústria de assim esta técnica passa a ser de difícil aceitabili-dade
pescado a qual gera efluente em torno de 5,4 m3. t-1 de (ALMAS, 1985; AFONSO e BÓRQUEZ, 2002a; 2002b;
peixe processado (GUERRERO et al., 1998). Segundo AFONSO et al., 2004 BELLEVILLE e QUÉMÉNEUR,
Aspé et al. (1997) para processamento de peixe 1984; GUERRERO et al., 1998; JAOUEN e
marinho utiliza-se uma quantidade de 5 a 10 m3 t-1, QUÉMÉNEUR, 1992; PAULSON et al., 1984;).
para uma planta com capacidade de processamento Frente a estes fatores, uma alternativa viável para
diário de 100 a 1.200 toneladas de peixe. a redução de efluentes e a melhoria da qualidade
Os despejos resultantes do processamento do do mesmo, encontra-se na adoção de tecnologias
peixe são comumente lançados nos cursos d’água e procedimentos que reduzam a quantidade de
adjacentes sem nenhum tratamento. Isto era água utilizada assim como o aumento no reuso da
também freqüentemente verificado nos EUA, mas mesma no processo. Para tanto tais tecnologias já
à medida que a legislação antipoluição entrou em vem sendo adotadas, substituindo o conceito do
vigor, essas indústrias tomaram providências para tratamento de fim de tubo (“end of pipe treatment”)
que seus despejos fossem recebidos nas Estações pelo conceito de Produção Mais Limpa (P+L), o qual
de Tratamento de Esgotos (ETEs) mais próximas. baseia-se na redução da geração de resíduos visando
As dificuldades encontradas no tratamento dos a recuperação dos mesmos, a partir de tecnologias
despejos do pescado são atribuídas, em grande denominadas Tecnologias Limpas.
parte, às características dos mesmos: volume A P+L é atualmente considerada como uma
relativamente elevado Demanda Bioquímica de ferramenta pró-ativa para a adequação ambiental em
Oxigênio (DBO) e Sólidos em Suspensão (SS) em processos produtivos, através da mudança de foco,
alta concentração, e altos níveis de gorduras e
dos resíduos para a produção ou produto, visando
proteínas. Outras dificuldades aparecem devido à
a não geração ou redução de resíduos e ou efluentes,
variação das vazões em função das estações do ano,
emissões, e também perdas. Seu conceito consiste na
maior ou menor facilidade de se obter o pescado, e
prevenção da geração de resíduos e todos os seus
a rápida degradabilidade dos despejos (BRAILE e
desdobramentos quanto ao processo produtivo,
CAVALCANTI, 1995).
produto, embalagens, descarte, destinação, manejo
Civit et al. (2003) estudaram a recuperação de do lixo industrial, relacionamento com clientes e
proteína e óleo do resíduo da água de armazenamento a política ambiental da empresa (FURTADO, 2000).
de pescado e verificaram que o aquecimento ideal
As práticas de P+L, ao contrário daquelas
para a recuperação destes componentes está acima
utilizadas normalmente pelas indústrias nacionais,
de 65°C e abaixo de 75°-80°C, com um pH ótimo
não contemplam o tratamento e disposição de
entre 5,6 a 5,9, tendo, nestas condições, a máxima
resíduos (tratamento fim de tubo – “end of pipe
redução na Demanda Química de Oxigênio (DQO),
treatment”), mas sim a minimização dos mesmos,
demonstrando assim que a recuperação de óleo e
através do aumento de eficiência de uso dos insumos
proteínas é uma alternativa viável para a redução da
de produção (matérias-primas, água e energia).
carga orgânica no efluente a ser tratado. No entanto,
estudos demonstram que esta metodologia ocasiona A não geração, minimização ou reciclagem dos
uma alta desnaturação da proteína recuperada, resíduos gerados resulta em benefícios ambientais e
inviabilizando esta tecnologia, ou seja, a obtenção de econômicos para os processos produtivos.
um subproduto de baixa qualidade impossibilita e No entanto, as políticas ambientais hoje vigentes,
desestimula a adoção desta técnica. Em contrapartida, principalmente em países em desenvolvimento não
as características do despejo de indústrias de pescado contemplam uma visão preventiva do processo
permitem a recuperação de resíduos a partir da gerando assim discordâncias a respeito do conceito
adoção de técnicas de ultrafiltragem e nanofiltragem, de P+L, sendo esta confundida com as Tecnologias
prevenindo assim impactos negativos causados por Ambientalmente Sustentáveis (TAS), as quais são
estas indústrias (AFONSO e BÓRQUEZ, 2002b). contempladas nestas políticas.

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Redução no consumo de efluente gerado em abatedouro de tilápia do nilo... 291

Como descrito na Agenda 21 a TAS protege simples tempo de retorno de 5 anos em eficiência
o meio ambiente, reduzindo a poluição, através energética. Um exemplo disso é a negociação feita
do uso de recursos de forma mais sustentável, em 1999, entre o governo da Holanda e um número
reciclando resíduos e o manejo dos mesmos de de indústrias para restringir a emissão de gases
forma mais aceitável daquelas tecnologias que foram causadores do efeito estufa através da eficiência
substituídas. Em resposta a Agenda 21, muitas energética. As indústrias têm se dedicado à este
instituições estabeleceram programas para promover acordo ambiental para atingir a taxa de 10%. Distante
o uso de TAS e a adoção de conceitos e práticas de disso a prevenção de resíduos sólidos tem sido pouco
P+L em países em desenvolvimento dentre estas exigida nas licenças consideradas (REIJNDERS,
instituições cita-se UNIDO/UNEP National Cleaner 2003).
Production, a qual tem como principal objetivo o Outro fator importante para a implantação da
aumento da capacidade nacional de promover e P+L é a percepção de que a adoção da mesma não
ajustar-se aos conceitos de P+L nas condições locais confere custos ao empreendedor, ao contrário,
(LUKEN et al., 2004a). fornece redução de custos (diretos e indiretos) no
A P+L e as TASs são distintas devido ao fato processo através do gerenciamento do consumo de
da TAS incluir a manipulação de matéria residual energia e matéria prima utilizada, aumentando a
(tecnologias fim de tubo) assim como a reciclagem eficiência e a competitividade. Porém o baixo custo
pós processo e não incluem algum gerenciamento e dos recursos utilizados, principalmente água e
mudanças no processo produtivo, como a modificação energia, desfavorecem a adoção da P+L mantendo
do produto através da substituição de componentes o alto consumo e não havendo conscientização
que possam ser potencialmente prejudiciais ao meio ambiental. Uma ferramenta eficaz para evitar tal
ambiente (LUKEN et al., 2004a). postura seria a redução dos subsídios para tais
Conforme CICOZZI et al. (2003)
����������������������
a disseminação recursos, aumentando o valor para o consumo
do conceito da prevenção da poluição, culminando dos mesmos, incentivando a racionalização do uso
em atitudes pró-ativas, depende da conscientização (REIJNDERS, 2003).
ambiental nos países e da efetividade das agências Porém com o aumento da pressão econômica, da
reguladoras, as quais nos países em desenvolvimento competição global e as preocupações ambientais, a
nem sempre agem de forma ativa. indústria deve constantemente inovar e melhorar seu
As regulamentações são um importante fator para processo de produção para torná-la mais sustentável.
a difusão da P+L, assim como foi para as tecnologias Esforços são necessários para que a adoção de
de fim de tubo especialmente no período de 1970 tecnologias limpas mantenha o nível de produção
e início de 1980. O problema atualmente é que atual da indústria, melhorando o gerenciamento dos
estas regulamentações permanecem como foram recursos naturais e minimizando o lançamento de
concebidas, os que dificulta a difusão do conceito de poluentes (UTTAMANGKABOVORN et al., 2005).
P+L (REIJNDERS, 2003). Com relação à indústria alimentícia esta apresenta
Para que a excelência ambiental seja garantida, alto custo no que diz respeito à utilização de água,
faz-se necessária a inclusão de conceitos de P+L sendo este representado pelo fornecimento de água
nas políticas ambientais, principalmente no que diz e sua disposição, adicionado às perdas no processo
respeito aos instrumentos de gestão ambiental, para a qual é descartada como efluente da indústria e
isso o conceito de P+L deve ainda ser plenamente perdas com energia para a descarga e tratamento
compreendido, para que este possa funcionar destes efluentes (HEBBLETHWAITE, 1980). Frente
principalmente em países populosos (LUKEN et al., a estes fatores a indústria de processamento de
2004a). alimentos deve considerar algumas estratégias
Uma das formas de incentivo da P+L é através para a redução do consumo de água e de geração
da adoção desta como critério para concessão de de resíduos. Uma das estratégias a se considerar
licença de operação, como já utilizada com sucesso é a adoção de unidades de processo que visem à
pela União Européia. A concessão de operação redução no consumo de água, otimizando o sistema
é basicamente fundamentada em exigências hidráulico da indústria, reduzindo processos onde
consideradas razoáveis e se baseiam em uma taxa não há o controle hidráulico para a minimização da
de retorno financeiro esperada de 15% ou em um utilização de água, assim como a adoção de sistemas

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 289 - 296, 2008


292 SOUZA et al.

e tecnologias as quais permitam o reuso da água prejuízos ao processo e qualidade do produto.


na indústria para setores com menor exigência de
qualidade hídrica (CASANI et al., 2004). MATERIAIS E MÉTODOS
Drivsholm e Nielsen (1993) desenvolveram O estudo foi realizado no Abatedouro Escola da
estudos juntamente com Autoridade Ambiental Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos
Dinamarquesa e a Associação de Fabricantes de da Universidade de São Paulo (USP) e no Laboratório
Farinha de peixe e Óleo de peixe da Dinamarca, de Piscicultura desta mesma instituição ambos
visando determinar a melhor tecnologia disponível localizados no município de Pirassununga/SP, a uma
para a redução de poluição. Os estudos concluíram altitude de 634 m, a 21° 59’ de latitude Sul e 47° 26’
que há uma relação linear entre a qualidade do de longitude Oeste.
pescado e o conteúdo de compostos nitrogenados Foram feitas alterações hidráulicas nas mesas
e matéria orgânica no efluente gerado, podendo filetadoras, incluindo registros independentes
assim haver a minimização da poluição gerada proporcionando o controle de vazão de água
por estas indústrias a partir da combinação de utilizada nos chuveiros para limpeza e filetagem
tecnologias limpas com tecnologia de tratamento do peixe e da vazão de água utilizada para limpeza
de efluentes (tecnologia fim de tubo). Com a adoção interna das mesmas, passando esta a ser realizada
destas tecnologias, foi obtida melhoria na produção somente após o término do processamento do peixe
e redução da geração de resíduos, havendo assim o que anteriormente era feito constantemente, ou
redução de 30 e 10-20% de descarga e compostos seja, devido aos registros não serem independentes
nitrogenados, respectivamente, acarretando assim a abertura dos chuveiros mantinham uma vazão de
em uma redução de 80% de nitrogênio a partir água constante na base da mesa, ocasionando assim
da adoção de tratamento biológico do efluente um alto consumo da mesma.
gerado.
Estas alterações foram realizadas após análise
Roeckel et al., (1994) estudaram os efeitos prévia das instalações onde foi detectada a ausência
ambientais de indústrias de processamento de pescado de instrumentos de controle de consumo de água,
no Chile, objetivando a adoção de tecnologias limpas havendo a necessidade da adequação das mesas
após a caracterização do processo. Como resultado filetadoras objetivando a redução no consumo de
da pesquisa, os autores indicam a introdução de água para a implantação de instrumentos de P+L.
uma nova etapa na produção, na qual envolve a
Pelo fato da ausência de hidrômetro no Abatedouro
recirculação de água utilizada na descarga dos
Escola da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de
peixes, para o reaproveitamento da matéria orgânica
Alimentos, não foi possível quantificar o consumo de
disponível (proteínas e óleos). Com a adoção desta
água no processamento de pescado previamente à
nova etapa no processo foi possível obter a redução
na concentração de DQO (cerca de 91,6%) por implantação dos registros. Sendo assim, realizou-se
tonelada de peixe processado e aumento de 7% na uma medição da vazão de água por minuto o que
produtividade da indústria. Para a matéria orgânica possibilitou a obtenção aproximada do consumo
remanescente, os autores sugeriram o tratamento do de água em função do tempo de processamento,
resíduo por processo anaeróbico seguido de processo permitindo, desse modo, a possibilidade de mensurar
aeróbico, obtendo assim uma redução adicional nos a redução de água utilizada no processo após a
valores de DQO em torno de 5,6%, demonstrando implantação dos registros anteriormente citados.
que do custo em tecnologias limpas, 52,89% são Foram abatidos, em média 33,98 kg de tilápias/
ressarcidos após um período de 5 anos. dia por choque térmico em água e gelo fundiste. Para
A partir do conhecimento da necessidade da a determinação da quantidade de efluentes gerados
caracterização de resíduos gerados na indústria e nesta etapa o gelo foi pesado e a água utilizada foi
em vista aos fatores ambientais o presente trabalho medida em balde graduado de 20 litros.
teve como objetivos a avaliação das características do Após o abate os peixes foram armazenados em
efluente gerado no processamento de tilápias do Nilo caixa térmica em camadas alternadas de peixe e
(Oreochromis niloticus) em função da adoção de dois gelo e foram mantidos dessa forma até o final do
métodos de filetagem, eviscerado e não eviscerado, processamento. O gelo utilizado nesta etapa do
e a quantificação do efluente gerado, adotando-se processo foi pesado para a determinação do consumo
técnicas de P+L para a redução do mesmo sem de água.

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Redução no consumo de efluente gerado em abatedouro de tilápia do nilo... 293

Foram avaliados dois métodos de filetagem: Prasertsan e Hittikun (2005) e Afonso e Bórquez
eviscerado, filetagem com peixe inteiro eviscerado, (2002a) estudaram metodologias de redução de
e não eviscerado, filetagem com o peixe inteiro sem consumo de água em indústria de pescado, e
eviscerar, ambos os métodos foram realizados em observaram que após a redução do consumo no
água corrente durante dez dias cada. processo a carga orgânica do efluente gerado,
A coleta do efluente foi realizada em cada etapa medida em DQO, é maior do que a carga orgânica
do processamento: abate, armazenagem, filetagem em processos com alto consumo de água. Afonso
e efluente final. e Bórquez (2002a) relatam ainda que a geração
de efluente durante o processamento de pescado
No abate a coleta foi realizada após a transferência
em indústrias chilenas apresenta uma baixa vazão
dos peixes para a caixa de armazenagem com gelo.
(20 – 40 m3 h-1) para uma planta com capacidade de
Na armazenagem realizou-se a coleta após o término
100 toneladas de peixe por hora, em contrapartida
do processamento. Na filetagem, foi colocada uma
este efluente apresenta altas concentrações de carga
caixa de aço inoxidável no escoamento da mesa
orgânica, havendo assim a necessidade de diluição
filetadora para captação do efluente, este foi coletado
deste efluente com a água de caldeira antes da
após a homogeneização. A amostra de efluente
descarga, obtendo-se assim uma vazão total de 1.000-
final foi obtida a partir da mistura proporcional da
1.200 m3 h-1 e DQO de 3-9 g O2 L-1.
geração de efluente determinada em cada etapa, esse
procedimento foi necessário devido a ausência de
uma caixa de captação do efluente final gerado no Tabela 1. Valores de F, com os respectivos níveis
abatedouro de peixes. Dessa forma, cada coleta de mínimos de significância, e as médias obtidas na análise
estatística das variáveis de Demanda Bioquímica de
cada etapa compreendeu 3 amostras de 250 ml.
Oxigênio (DBO), Demanda Química de Oxigênio
A concentração de matéria orgânica do (DQO), Nitrogênio Total Kjeldahl (NTK) e Número de
efluente gerado no processamento foi determinada peixes processados.
para cada etapa do processo (abate, armazenagem, Valores de F
filetagem e efluente final). Esta determinação ocorreu
através da análise de DQO pelo método colorimétrico Nº peixes
Estatística DQO(mg L-1)
(peixes dia-1)
HACH, utilizando-se colorímetro HACH DR 890, por
meio da nacionalização do reagente. PR 6,76(0,0114) 5,97(0,0171)
O delineamento estatístico utilizado foi TR 14,44(<0,0001) 0,00(1,000)
inteiramente casualizado esquema fatorial 2 x 4 PR x TR 0,76(0,5178) 0,00(1,000)
sendo dois métodos de filetagem (eviscerado e CV (%) 40,62 10,44
não eviscerado) e quatro etapas de processamento Médias para PR
(abate, armazenagem, filetagem e efluente final), NEV 600,46a 34,94a
perfazendo oito tratamentos com 10 repetições, EV 472,77b 32,99b
sendo as repetições correspondentes aos dias de Médias para TR
processamento. Abate 379,25b 33,98a
Armazenagem 451,63 b
33,98a
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Filetagem 801,41a 33,98a
Os resultados obtidos para DQO e número de
Final 509,61 b
33,88a
peixes abatidos para cada método de filetagem e
Médias seguidas de mesma letra nas colunas não diferem entre
etapas do processamento estão apresentados na si pelo teste de Tukey (P>0,05).
Tabela 1.
Para a DQO e número de peixes abatidos, Para a etapa de filetagem, foi observada a maior
observa-se que os métodos diferem entre si (P<0,05), concentração de matéria orgânica medida em DQO
tendo para o método não eviscerado maiores (média de 801,41 mg L-1), diferindo das demais etapas
valores de DQO, sendo estes valores elevados do processamento.
quando comparados com outros trabalhos, isso U t t amangkab o v o rn e t a l . , ( 2 0 0 5 )
devido à redução do consumo de água no processo, observaram que as concentrações de DQO em
acarretando em maiores concentrações de matéria diferentes etapas do processo, tendo valores de 4.364
orgânica no efluente final. Uttamangkabovorn; mg L-1 de DQO na armazenagem pré-processamento

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 289 - 296, 2008


294 SOUZA et al.

e 16 mg L-1 na armazenagem pós-processamento Com relação ao consumo de água total para


(peixe limpo) apresentando uma carga final de 3.248 cada etapa do processo, esta diferiu estatisticamente
mg L-1, para um processamento diário de 18,094 (P<0,01) para o método NEV tendo os maiores
toneladas dia-1, com geração de 6,948 toneladas de consumos para a etapa de filetagem e efluente final.
resíduos, diferindo assim dos resultados obtidos no No caso do método EV este não apresentou diferença
presente estudo, onde a concentração de DQO foi significativa entre as etapas de abate e armazenagem,
menor na armazenagem do que no efluente final, sendo (P<0,05) entre as etapas de filetagem e efluente
porém tais valores não diferem estatisticamente final. Analisando-se o consumo de água entre as
entre si. etapas do processamento, observou-se significância
Para as variáveis consumo de água total e consu- estatística (P<0,05) entre os métodos exceto para a
mo de água por quilo de peixe processado os resul- etapa de armazenagem, obtendo-se para o método
tados podem ser observados na Tabela 2, havendo EV os maiores valores de consumo de água quando
interação significativa entre os fatores (P<0,01). comparado com o NEV.

Tabela 2. Desdobramento da interação entre método de filetagem e etapas do processamento para consumo de água
por quilo de peixe (Ca Kg-1), consumo de água total (CAT).
Etapa do processamento (TR)
Método de
Variável Efluente Média
filetagem Abate Armazenagem Filetagem final
NEV 55,61Cb 39,95Da 149,91Bb 243,62Ab 119,16
CAT
EV 58,52Ca 39,59Ca 193,17Ba 294,91Aa 142,74
MÉDIA 57,07 39,77 171,54 269,26
NEV 1,60Cb 1,15Ca 4,33Bb 7,05Ab 3,44
CA Kg-1
EV 1,80Ca 1,21Ca 5,77Ba 8,81Aa 4,28
MÉDIA 1,70 1,18 5,05 7,93
Médias seguidas de diferentes letras maiúsculas nas linhas e letras minúsculas nas colunas diferem estatisticamente pelo teste de Tukey
(P<0,05). CAT: Consumo de água total (L); CA Kg-1: Consumo de água Kg-1 (L Kg-1); NEV: não eviscerado; EV: eviscerado.

O mesmo comportamento é observado para o ressaltar que o valor descrito pelo autor diz respeito
consumo de água por quilo de peixe processado, somente ao consumo de água para armazenagem do
tendo para todas as etapas maior volume utilizado peixe após este ter sido processado.
para o método EV, sendo (P>0,05) entre os métodos Uttamangkabovorn et al., (2005) quantifi-
para etapa de armazenagem, assim como observado caram o montante de água utilizada na armazenagem
para o consumo total de água. Para o método NEV de atum e determinaram um consumo de 0,09 L kg-1
não houve diferença significativa (P>0,05) entre as antes da implantação de instrumentos de P+L, tendo
etapas de abate e armazenagem, entretanto para após a implantação destes, um consumo de 0,07
filetagem e efluente final obteve-se P<0,05, o mesmo L kg-1, correspondendo a uma redução de 22,22%
foi observado para o método EV. nesta etapa.
Avaliando-se o consumo de água em todo o Para o trabalho desenvolvido foi obtido um
processo para cada método e por quilo de peixe consumo médio de 1,18 L kg-1 de peixe processado
processado, observa-se que o método NEV confere estando acima da quantidade obtida por estes
menor consumo de água, sendo mais adequado autores, no entanto o trabalho desenvolvido por estes
para a indústria de filetagem de pescado, visando a autores foi em escala industrial, conferindo assim,
redução de consumo e menor custo de processo. um rápido processamento da matéria-prima tendo a
Vale salientar que dos poucos trabalhos armazenagem em gelo somente quando ocorre algum
encontrados sobre a caracterização do consumo atraso no processo.
de água utilizado em processamento de peixes, A relação de peixe e gelo encontrada pelos
Nair (1990) relatou para armazenagem do peixe autores citados acima foi de 3:2 de peixe e gelo
processado um consumo de 0,36 L kg-1 , valor este na armazenagem pré-cozimento e uma relação de
menor ao obtido no presente trabalho, no entanto vale 2:1 para a armazenagem da matéria prima pós-

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 289 - 296, 2008


Redução no consumo de efluente gerado em abatedouro de tilápia do nilo... 295

cozimento, para o presente trabalho manteve-se uma fish meal effluents by ultrafiltration. Trends in food
relação de 1:1,18 para peixe (kg) e gelo, para ambos science & Technology, Cambridge, 15: 506-512.
os métodos, havendo maior consumo de água, no
entanto todos os peixes a serem processados eram ALMAS, K.A. 1985 Aplications of crossflow membrane
armazenados, o que provavelmente confere maior technology in the fishing industry. Desalination,
consumo de água no processamento avaliado, Amsterdam, 53: 167-180.
quando comparado com os descritos pelos autores ASPÉ, E.; MARTI, M.C.; ROECKEL, M. 1997 Anaerobic
citados. treatment of fishery wastwater using a marine
No presente estudo, a redução no consumo sediment inoculum. Water Research, New York,
de água na filetagem correspondeu a 98,16% para 31(9):2147-2167.
o método EV considerando um tempo médio de
processamento de 3 horas para 32,99 kg de peixe, BELLEVILLE, P.; QUÉMÉNEUR, F. 1984 Possibilites
e para o método NEV a redução foi de 97,97% com d’utilisation des procedes à membrane pour
tempo médio de processamento de 2,1 horas para la valorisation des produits de la mer et dans
34,96 kg de peixe. l’aquaculture. Le latí, [S.l.], 64: 286-297.
Segundo Mittal (2005), após a implantação BRAILE, P.M.; CAVALCANTI, J.E.W.A. 1995 Manual
de programas de redução e reuso de água pode de águas residuárias. ������������������
São Paulo: CETESB.
ocorrer a geração de efluentes mais concentrados em
substâncias recuperáveis, ou seja, em abatedouros CASANI, S., ROUHANY M.,KNOCHEL. 2004 A
a redução no consumo de água além de conferir discussion paper and limitations to water reuse
menor custo a produção, gera efluente com altas and hygiene in the food industry. Water Research,
concentrações de proteínas configurando alto New York, 2004. No prelo.
potencial de recuperação da mesma através de
tecnologias de filtração por membrana. CICCOZZI, E.; CHECKENYA, R. RODRIGUEZ,
A.V. 2003 Recent expencices and challenges
CONCLUSÃO
in promoting cleaner production investiments
in development countries. Journal of Cleaner
Com base nos resultados obtidos conclui- Production, Amsterdam, 11: 629-638.
se que a implantação de conceitos de P+L confere
uma redução significativa no consumo de água para CIVIT, E.M.; PARIN, M.A.; LUPIN. ����������������
2003 Recovery
ambos os métodos de filetagem, sendo esta redução protein and oil from fishery bloodwater waste.
maior para o método eviscerado, em contrapartida a Water Research, New York, 16(6): 809-814.
redução no consumo de água proporciona o aumento
DRIVSSHOLM, T.; NIELSEN, E.W. 1998 Fish meal
nas concentrações de matéria orgânica efluente
industry improvements in water and air quality
medida em DQO havendo assim a necessidade de
using cleaner technology. Journal of Cleaner
tratamento do resíduo e/ou reaproveitamento do
Production, Amsterdam, 1(1):.221-229.
mesmo.
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A quantitative approach to subsidize the precautionary
management of the small-scale fisheries in
Itaipu reservoir, Brazil

Serguei Aily Franco de CAMARGO 1; Edson Kiyoshi OKADA 2; Miguel PETRERE Jr 3

Abstract
Professional inland fisheries are an important economic activity in the region of Itaipu reservoir.
The dam was closed in 1982, and in 1998, 619 professional fishermen landed 1192t of fish, composing
10 commercial species. In the 1990s there were 509 fishermen month-1 on average working in the
reservoir. This number falls to approximately 365 fishermen month-1 between 2000 and 2002 as a
consequence of the fishing ban. The reservoir consists of 12 fishing areas, distributed in 3 zones:
fluvial (influenced by Paraná River), transition (influenced by the tributaries) and lacustrine (near
the dam). There were differences in fishermen densities in these zones: 42% work in the lacustrine,
41% in the fluvial and 17% in the transition. The main fishing gears employed is nets and hooks. The
Itaipu royalties’ payment to the municipalities in the region may possibly incentive the reduction
of the level of professional fisheries. Between 1991 and 2001, it has been observed that there is a
strong negative relation between the amount of royalties paid and the level of fishing effort. In this
context, it was proposed a preliminary bio-mathematical model to subsidize the formulation of
guidelines, based on the statements of precautionary management, as the predominant orientation
in the literature. It was elaborated a model via the software Vensim PLE to describe and predicting
small-scale fisheries consequences upon the reservoir fish stock, and it was tested the relation
between the decrease of fishing effort and Itaipu royalties’ payment to the municipalities via a
regression model.

Aproximação quantitativa para subsidiar o manejo precaucionário das


pescarias em pequena escala no reservatório de ItaipU, Brasil

RESUMO
A pesca profissional é uma importante atividade econômica na região do reservatório de Itaipu. A
barragem foi fechada em 1982, e em 1998, 619 pescadores profissionais desembarcaram 1192t de
pescado, composto por 10 espécies. Em 1990 havia 509 pescadores mês-1 em média trabalhando no
reservatório. Este número caiu para aproximadamente 365 pescadores mês-1 entre 2000 e 2002 como
conseqüência da proibição da pesca. O reservatório é composto por 12 áreas de pesca, distribuídas
em 3 zonas: fluvial (influenciada pelo rio Paraná), transição (influenciada pelos tributários) e
lacustrina (próxima da barragem). Há diferenças nas densidades de pescadores no reservatório,
com 42% operando na zona lacustrina, 41% na zona fluvial e 17% na zona de transição. Os principais
aparelhos utilizados são redes e anzóis. O pagamento dos royalties de Itaipu para os municípios da
região do reservatório possivelmente incentiva a redução das pescarias profissionais. Entre 1991 e
2001, foi observado que há uma forte e negativa relação entre o montante de royalties repassados
para as Prefeituras e o nível de esforço pesqueiro. Assim, foi proposto um modelo bio-matemático
preliminar para subsidiar a formulação de orientações setoriais, baseadas nos princípios do manejo
precaucionário, conforme a orientação predominante na literatura. Elaborou-se também um modelo

Nota Científica: Recebida em: 14/08/2006; Aprovada em: 09/10/2007


1
Professor e pesquisador da Universidade do Estado do Amazonas - Programa de PG em Direito Ambiental
Rua Leonardo Malcher, 1.728, 5º. Andar, Praça 14 – 69020-070 – Manaus (AM) - e-mail: safc@uea.edu.br
2
Pesquisador da UEM – NUPELIA - e-mail: edsonoko@nupelia.uem.br
3
Professor e pesquisador da UNESP – Departamento de Ecologia - e-mail: mpetrere@rc.unesp.br

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 297 - 302, 2008


298 CAMARGO et al.

através do software Vensim PLE para descrever e prever as conseqüências da pesca profissional
sobre o estoque, e testou-se a relação entre o decréscimo do esforço pesqueiro e o pagamento de
royalties de Itaipu para as Prefeituras da região através de um modelo de regressão.
Palavras-Chave: Manejo Precaucionário; Pesca Interior; Reservatório de Itaipu

Introduction consists of 12 fishing areas, distributed in 3 zones:


Professional inland fisheries are an important fluvial (influenced by Paraná River), transition
economic activity in the region of Itaipu reservoir (influenced by the tributaries) and lacustrine (near
(135000 ha of inundated area, 12600 MW of nominal the dam). The main fishing gears employed is
generation power), located on the Paraná River at the nets and hooks. It is important to stress that the
Brazil/Paraguay border (Paraná River is 4695 km Paraguayan side was not considered in the model,
long; Paraná/La Plata basin has a drainage area due to the lack of information. An annual fishing ban
of 2800000 km2). The dam was closed in 1982, and during the reproduction period was started in 2000
before this landing data were scarce. In 1985 it an continuing annually from November to February.
agreement was set between the UEM (Universidade In the 1990 there were 509 fishermen month-1 on
Estadual de Maringá) and ITAIPUBINACIONAL average working in the reservoir. This number fell
(the Brazilian/Paraguayan Agency that operates the to approximately 365 fishermen month-1 between
dam) to collect landing data (FUEM, 2002). In 1998, 2000 and 2002, as a consequence of the fishing ban.
619 professional fishermen landed 1192t of fish, of There were also differences in fishermen densities
10 commercial species, captured by nets and hooks in the zones of the reservoir. The lacustrine zone
(Petrere et al. 2002). concentrates 42% of the fishermen, the fluvial zone
Due to legal exigencies, after the dam closure, 41% and the transition zone, 17% (FUEM, 2002). It is
Itaipu was obligated to the royalties’ payment to important to point out that the density of fishermen
the municipalities in the region of the reservoir. In in the reservoir declined in the subsequent years,
practice, between 1991 and 2001, it was observed possibly due to the low fishery economic income
a strong negative relation between the amounts (Agostinho et al., 1999).
of royalties transferred to the municipalities 2. The models
and the fishing effort (of professional fisheries). 2.1. Fishery model
Hypothetically, a fall in the fishing effort can
Figure 1 presents the flowchart of the proposed
occurred due to the increase of employment level of
model to describe the fisheries in Itaipu reservoir. The
the population of these municipalities in other sectors
baseline conditions of the model were established
of economy affected by the royalties (for example:
according FUEM (2002) for description of the
agriculture and commerce).
scenario (Table 1).
In this context, the aim of this paper is to
propose a preliminary bio-mathematical model to 2.2. Regression model: royalties and fishery landings
subsidize the formulation of guidelines, based on Aiming to test the influence of the royalties
the statements of precautionary management, as the over the fishing effort (of professional fisheries),
predominant orientation in the juridical literature. it was elaborated a regression model between the
Specifically, it is intended to elaborate a model via reservoir landings and the royalties transference to
the software Vensim PLE (VENSIM, 2005) to describe the municipalities. Equation 1 presents the model:
and predicting small-scale fisheries consequences
upon the reservoir fish stock, and to test the relation PAT = RAT + e
between the decrease of fishing effort and Itaipu Equation 1, where:
royalties’ payment to the municipalities in the region PAT = Total annual production (landings) of the
of the reservoir via a regression model. reservoir;
Methods RAT = Amounts of annual transference of
royalties.
1. Scenario
According to Okada et al. (2005) the reservoir The data used to test this model is in Table 2.

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 297 - 302, 2008


A quantitative approach to subsidize the precautionary management of the small-scale fisheries... 299

Mortality Rate

Birth Rate Natural pr1


q1
Losses

pr3 Exploitable Lacustrine


Birth fish stock Zone
CZLh1 Nets Lacustrine
Fluvial Zone CZFh3 Zone
Nets Fluvial Hooks Lacustrine
Zone q3
Zone pa1
q2 CZIh2
pa3 Hooks
Fluvial Zone

Transition Zone
Nets Transition
Zone

Hooks pr2
Transition Zone

pa2
Where: pri (proportion of net fisheries at the zone i); pai (proportion of hook fisheries at the zone i); qi (proportion of landings at the zone i); czi
(total landings at the zone i).
Figure 1. Flowchart of the considered model to describe the fisheries in Itaipu Reservoir

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 297 - 302, 2008


Table 1. Baseline conditions for the simulation of the model presented in Figure 1. 300
# Equation Units Observations
(01) Birth=(Exploitable fish stock*Birth Rate)+1560 Tons/YEAR
(02) Birth Rate=0.0025 %
(03) CZFh3=q3*Exploitable fish stock Tons/YEAR Landings in fluvial zone.
(04) CZIh2=Exploitable fish stock*q2 Tons/YEAR Landings in transition zone.
(05) CZLh1=Exploitable fish stock*q1 Tons/YEAR Landings lacustrine zone.
(06) Exploitable fish stock=INTEG (Birth-CZLh1-CZIh2-CZFh3-Natural Losses, Exploitable fish stock was considered as the
Tons/YEAR
1560) same level of MSY (1560t).
(07) FINAL TIME = 10 YEAR The final time for the simulation.
(08) Fluvial Zone=INTEG (+CZFh3-Hooks Fluvial Zone-Nets Fluvial Zone, 0) Tons/YEAR Total landings of fluvial zone.
(09) Hooks Fluvial Zone=Fluvial Zone*pa3 %

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 297 - 302, 2008


(10) Hooks Lacustrine Zone=Lacustrine Zone*pa1 %
(11) Hooks Transition Zone=Transition Zone*pa2 %
(12) INITIAL TIME = 0 YEAR The initial time for the simulation.
(13) Lacustrine Zone= INTEG (+CZLh1-Hooks Lacustrine Zone-Nets Tons/YEAR
Lacustrine Zone, 0)
(14) Mortality Rate=0.001 %
(15) Natural Losses=Exploitable fish stock*Mortality Rate Tons/YEAR
%
CAMARGO et al.

(16) Nets Fluvial Zone=Fluvial Zone*pr3


(17) Nets Lacustrine Zone=Lacustrine Zone*pr1 %
(18) Nets Transition Zone=Transition Zone*pr2 %
(19) pa1=0.3 %
(20) pa2=0.3 %
(21) pa3=0.3 %
(22) pr1=0.7 %
(23) pr2=0.7 %
(24) pr3=0.7 %
(25) q1=0.4512 %
(26)��
� q2=0.3504 %
(27)��
� q3=0.3984 %
(28) SAVEPER = TIME STEP YEAR The frequency with which output is stored.
(29) TIME STEP = 1 YEAR The time step for the simulation.
(30) Transition Zone=INTEG (+CZIh2-Hooks Transition Zone-Nets Transition Tons/YEAR
Zone, 0)
A quantitative approach to subsidize the precautionary management of the small-scale fisheries... 301

Table 2. Landings and royalties data. short period. This behavior enforces the necessity to
Royalties adopt precautionary actions, as stated in the Code of
Production of transference to Conduct for Responsible Fisheries (FAO), which was
Year the reservoir (t) municipalities of validated in Brazil by the Decree 5.382/2005, aiming
- PAT State of Paraná to promote social and environmental sustainability
– RAT (US$) of the professional fisheries.
1991 1589 7740
1992 1663 11215
Figure 2. Result of the simulation for exploitable fish
1993 1542 7842 stock=1560t year-1 with 20% of increment in the fishing
1994 1297 42602 effort
1995 1373 42635 Current
1996 1411 57571
Exploitable fish stock
1997 1192 71518 2,000
1998 . 71906
1999 1182 73493 1,500
2000 1253 75562
2001 1051 74169 1,000
2002 . 80568 Birth
1,564
2003 . 61840
2004 . 31020 1,563

1,563
Results AND DISCUSSION CZFh3
The result of the simulation is presented in 800
Figure 2, considering the peculiarities of the three
zones of the reservoir. The exploitable fish stock 600
was considered at the same level of the maximum
sustainable yield, estimated by Okada et al. (1996) 400
and FUEM (2002) as 1560t year-1. It was set as an initial CZIh2
value and simulated an increase of the fishing effort 600
of 20% year, during 10 years. The results indicated
that the disruption of the exploitable fish stock is 500
immediate. The mathematical routines, allowed
the insertion of economic sub-routines as shadow 400
variables in the reservoir zones. It is important to CZLh1
point out that this scenario was simulated with an 800
opposite tendency, in fact, FUEM (2002) mentions
600
that fishing effort has been reduced from 1997 to
2001. During 2004 the total production was 632.4t,
400
with, in average, 332 fishermen month-1 working
Natural Losses
in the reservoir (unpublished data). This scenario
2
was developed according to the precautionary
management statements (Camargo and Petrere, 1.5
2004), allowing the fisheries officers to estimate
different levels of fish stocks exploitation and its 1
consequences. 0 2.5 5 7.5 10
Time (Year)
According to figure 2 it is possible to conclude that
the model, under the conditions described above, is
stable. On the other hand, any increment on fishing On the other hand, it was observed that the
effort ( ≥ 20%) will disrupt the exploitable fish stock in increment of fishing effort is closely related to Itaipu

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 297 - 302, 2008


302 CAMARGO et al.

royalties’ payment to the municipalities in the region da UHE-Tucuruí (Pará, Brasil). Acta Amazonica
of the reservoir. This relation was tested in a linear 34(3): 473-485.
regression model. The total annual production
FUEM. NUPÉLIA/ITAIPU BINACIONAL 2002
of the reservoir from 1991 to 2001 was set as the
Reservatório de Itaipu: Estatística do Rendimento e
dependent variable and the total annual amount of
Sócioeconomia da Pesca. Maringá. 344p. (Relatório
royalties paid to 11 municipalities of the Brazilian
Anual: 2002 – apoio Itaipu Binacional).
side (the Paraguayan margin is poorly inhabited
and with three conservation units), during the same Okada, E. K.; Agostinho, A. A.; Petrere, M.
period, was set as the independent variable. The 1996 Catch and effort data and the management
total annual production (landings) of the reservoir of the commercial fisheries of Itaipu reservoir in
(Y), in average, from 1991 to 2001 was 1355.3t the upper Paraná river, Brazil. In: I. G. Cowx (ed.)
(n=10; minimum=1051t; maximum=1663t), and Stock Assessment in Inland Fisheries. Oxford: Fishing
the total annual royalties payment (X), during the News Books. p. 155-161.
same period, was in average US$4 8750.3, (n=11;
minimum=US$7740.0; maximum=US$75562.0). This Okada, E.K.; Agostinho, A.A.; Gomes, L.C.
regression analysis presented a negative relationship 2005 Spatial and temporal gradients in artisanal
(Y=1648.8-0.006*X; r2=0.838**; s2 YX = 7092.9; n = 10). It fisheries: a case study of the Itaipu Reservoir,
means that the local population prefers to work in Brazil. Canadian Journal of Fisheries and Aquatic
other activities. In this case, small-scale fisheries are Sciences 62: 714-724
an alternative to unemployment in the urban zone.
Petrere, M.; Agostinho, A. A.; Okada, E. K.;
This fact indicates the importance of the royalties
Júlio Jr., H. F. 2002 ���������������������������
Review of the fisheries in
to these cities, enhancing the employment level
the Brazilian portion of the Paraná/Pantanal basin.
of the population, contributing indirectly to the
In: I. G. Cowx (ed) Management and Ecology of
maintenance of the present levels of fishing effort.
Lake and Reservoir Fisheries. Oxford: Fishing News
Conclusions Books. p. 123-143.

In this moment, it is possible to present two main VensiM 2005 Software developed by Ventana
conclusions: i) the model supports the inclusion of Systems, Inc. Available from: http://www.
complementary routines, permiting the avaliation of vensum.com. Accessed in: July 29, 2005.
the effects of the fishery effort over the stocks and; ii)
the royalties payment to the municipalities influences
the employment level in the commerce, indirectly
affecting the fishery effort in the reservoir.

ACKNOWLEDGMENTS
We thank UEA, FAPEAM for a PGCT Grant for
SAFC, ITAIPUBINACIONAL, UEM/NUPELIA for
the fisheries data and field support, UNESP and
CNPq, for partially supporting this research.

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B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 297 - 302, 2008


Produção de ortofosfato, amôniA, nitrito E nitrato no cultivo
de Litopenaeus vannamei utilizando dietas com diferentes níveis de
proteína vegetal e animal

Waleska de Melo COSTA 1, 5; Alfredo Olivera GÁLVEZ 2;


Luis Otavio Brito 3; Elton Lima SANTOS 4

RESUMO
O presente estudo avalia a influência da fonte protéica vegetal sobre a qualidade de água. Em 24
tanques foram distribuídos 432 juvenis de camarões Litopenaeus vannamei com peso médio de 2,86
± 0,09g, onde foram submetidos ao arraçoamento quatro vezes ao dia, com quatro dietas em quatro
repetições cada, com diferentes níveis de proteína animal e vegetal na ração, respectivamente: A)
75 e 25%; B) 50 e 50%; C) 25 e 75% e D) ração comercial, durante 60 dias. A quantidade de ração
e a freqüência de alimentação, não diminuíram as concentrações de ortofosfato, amônia, nitrito e
nitrato quando comparadas a ração controle (p<0,05).
Palavras-chave: nutrição, qualidade de água, camarão, Litopenaeus vannamei, dieta,
sustentabilidade

Production of orthophosphate, ammonia, nitrite and nitrate in the


cultivation from Litopenaeus vannamei culture using diet with different
vegetal and animal protein levels

ABSTRACT
This study evaluates the influence of vegetal protein sources in the water quality. 432 juveniles of
L. vannamei shrimp average weight 2.86 ± 0.09g were stocked in 24 tanks, fed 4 times a day, with 4
different diets and 4 repetitions each. These diets had different animal and vegetal protein levels,
respectively: A) 75 and 25%; B) 50 and 50%; C) 25 and 75% and D) commercial feed, during 60 days.
The quantity of feed and feeding frequency, didn’t decrease orthophosphate, ammonia, nitrite and
nitrate concentrations compared to the control treatment (p< 0.05).
Key words: nutrition, quality water, shrimp, Litopenaeus vannamei, diet, sustainability

Nota Científica: Recebida em: 13/10/2006; Aprovada em: 13/08/2007


1
M.Sc. em Recursos Pesqueiros e Aqüicultura, R. Dom Manoel de Medeiros, s/n. Dois Irmãos, Departamento de Zootecnia
– PPGZ, UFRPE, Recife-PE. CEP: 52171900. e-mail: waleskawin@gmail.com
2
Dr. em Aqüicultura, R. Dom Manoel de Medeiros, s/n. Dois Irmãos, UFRPE, Departamento de Pesca. Recife-PE.
CEP: 52171900
3
IPA-Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária, engpescalo@hotmail.com
4
M.Sc. em Nutrição Animal – PPGZ/ UFRPE
5
Parte da Dissertação de Mestrado da primeira autora

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 303 - 310, 2008


304 COSTA et al.

IntroduçÃo O objetivo do presente trabalho foi avaliar os


A rápida expansão da carcinicultura propor- níveis dos compostos nitrogenados e do ortofosfato
cionou a geração de divisas substanciais para muitos nos efluentes do cultivo de L. vannamei alimentados
países em desenvolvimento, assim como para países com rações com diferentes níveis de proteína vegetal
desenvolvidos, entretanto, essa expansão tem sido e animal, na tentativa de diminuir a quantidade
acompanhada por crescentes preocupações sobre desses compostos nos efluentes de cultivo.
impactos ambientais e sociais relacionados ao seu
desenvolvimento. A sustentabilidade da carcinicul- MATERIAL E MÉTODOS
tura é questionada por alguns em vista de sua auto- O experimento foi conduzido no Laboratório de
poluição em áreas de cultivo de camarão, combinada Nutrição e Alimentação em Aqüicultura – Campo de
com a introdução de patógenos, resultando em Produção e Comercialização de Ipojuca, pertencente
grandes surtos de doenças, e por perdas econômicas à Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária
significativas nos países produtores (FAO/NACA/ – IPA, localizada em Porto de Galinhas – Ipojuca
UNEP/WB/WWF, 2006). - PE.
A Amônia entra em um sistema aquático por Distribuiu-se aleatoriamente 432 juvenis de
excreção, decomposição e mineralizalizção de Litopenaeus vannamei (2,86 ± 0,09g) provenientes de
produtos metabólicos de animais cultivados e da duas fazendas de camarão marinho localizadas no
alimentação não consumida. Amônia que é um Estado de Pernambuco, Nordeste do Brasil, em uma
toxicante comum em sistemas de cultivos intensivos, densidade de 27 juvenis/m2 em 16 tanques com área
deteriora qualidade de água e ameaça o crescimento de 0,88m2 e volume de 500L, em um delineamento
dos camarões (Chen e Lin, 1992). inteiramente casualizado com 4 tratamentos (níveis
A amônia é convertida a nitrato através do de proteína vegetal e animal mais o controle) e
processo de nitrificação, nitrito é formado como um 4 repetições. A taxa de renovação diária de água
produto intermediário. Se a conversão para nitrato nos 16 tanques era de aproximadamente 10%, e
é impedida, concentrações significantes de nitrito reabastecidos individualmente. A temperatura da
podem acumular no ambiente (Thurston, et al, água, o pH e o oxigênio dissolvido foram aferidos
1978). diariamente, e semanalmente amostras de água eram
A composição da dieta é um importante aspecto coletadas e congeladas até o final do ciclo de cultivo
não só para o sucesso da prática da aqüicultura, em garrafas plásticas, para determinação dos níveis
para assegurar altas taxas de peso e crescimento, de nitrito, nitrato, amônia e ortofosfato, totalizando
mas também alimentar os animais, deixando-os 144 amostras.
preparados para enfrentar o stress dos níveis Avaliaram-se 3 níveis de proteína vegetal (75%;
de amônia no ambiente de cultivo (Schmitt e 50% e 25%) respectivamente nas rações A, B e C e
Santos, 1998). O camarão marinho Litopeneaus um controle (D – ausente de proteína vegetal). As
vannamei, é uma importante espécie cultivada no rações foram formuladas de acordo com a exigência
Nordeste do Brasil, e novas técnicas de manejo estão nutricional da espécie com base nas tabelas da
evoluindo para um cultivo mais sustentável. EMBRAPA (1989) e NRC (1993) (Tabela 1).

Tabela 1. Composição calculada das rações utilizadas pelos camarões

Nutrientes Rações
A B C D*
Proteína bruta (%) 34,99 34,97 34,95 (mín) 35,00
Fibra bruta (%) 2,56 3,46 4,92 (máx) 6,00
Cinzas (%) 13,83 10,98 8,90 (máx) 13,00
Extrato Etéreo (%) 10,44 8,01 7,46 (mín) 8,00
Cálcio (%) 3,50 2,44 1,52 (máx) 3,00
Fósforo (%) 1,85 1,45 1,21 (mín) 0,70
Umidade (%) 10,72 11,52 11,78 (máx) 13,00
Energia bruta (kcal/kg) 4.169 4.148 4.236 -
Energia digestível (kcal/kg) 3.190 3.127 3.135 -
*Níveis de garantia do fabricante.

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 303 - 310, 2008


Produção de ortofosfato, amônia, nitrito e nitrato no cultivo de Litopenaeus vannamei... 305

Os ingredientes utilizados nas rações foram em geral, a qualidade de água não se apresentava
moídos em moinho de facas, com peneira para se adequada para o cultivo de camarão na região
apresentarem com diâmetro máximo de 0,5mm. meridional do Vietnã, nas 12 fazendas monitoradas.
A farinha de peixe, farelo de soja, farelo de trigo, Em oito delas, o oxigênio dissolvido apresentava
milho, óleo de soja, fosfato bicálcico, premix e sal níveis letais de 1-2 mg/L.
comum foram homogenizados e peletizados e, Os valores da concentração oxigênio dissolvido
posteriormente, secos em estufa. recomendado pela Global Alliance Aquaculture são
Os juvenis foram alimentados quatro vezes ao de uma concentração inicial mínima de oxigênio
dia, 08h; 12h; 16h e 22h, com ração contendo 35% de de 3 mg/L, podendo chegar até 4 mg/L (BOYD,
proteína, em uma proporção de 4% da biomassa nas 2002).
3 primeiras semanas, e 3% nas 4 semanas seguintes A temperatura da água nos tanques quase não
e finalmente 2% nas 3 últimas semanas, totalizando apresentou variação durante o cultivo, tendo como
60 dias de cultivo. Diariamente foi realizada limpeza menor média final 27,27 ± 0,78ºC no tratamento B e
dos aquários, por sifonagem, para retirada dos maior 27,65 ± 0,72ºC no C. Segundo BOYD (2001b),
eventuais resíduos e fezes. as espécies cultivadas em águas tropicais crescem
Todos os dados abióticos obtidos foram analisados melhor em temperaturas de 25 a 32ºC. Os dados
no Laboratório de Física e Química do Solo e Água do de temperatura deste experimento estão, portanto,
Departamento de Energia Nuclear da Universidade dentro da faixa sugerida.
Federal de Pernambuco. Não houve diferença estatística (p>0,05) para as
Os procedimentos das análises das amostras de rações testadas. Os valores semanais da qualidade
nitrito, nitrato, ortofosfato e amônia seguiram os de água para as rações A, B, C e D, estão nas figuras
métodos estabelecidos no Standard Methods for the 1, 2, 3 e 4.
Examination of Wastewater (APHA, 1995). A quantidade de ração e a freqüência de alimenta-
A análise estatística de qualidade de água foi ção 4 vezes/dia, não aumentou as concentrações
realizada a partir da técnica de análise de variância de ortofosfato, amônia e nitrato ao final do cultivo,
(ANOVA) no nível de 5% de significância. O teste que se encontram de acordo com as normas iniciais
de Tukey foi utilizado na comparação múltipla das da GAA que para o fósforo total nos efluentes da
médias. carcinicultura é que seja de no máximo 500µg/L.
Estudos realizados no México por Páez-Osuna
RESULTADOS E DISCUSSÃO
et al. (1997, 1998, 1999) acompanharam em dois
Durante o período experimental, a temperatura ciclos de cultivo, fazendas que utilizavam densidade
da água variou de 26,0 ºC a 28,0 ºC, os níveis médios médias de 17 camarões/m2, taxas de renovação de
de oxigênio dissolvido e a salinidade permaneceram 3 a 20% e uso de alimento artificial. Nestes estudos
constantes com valores acima de 5,6 mg/L e 35,80‰± foi demonstrado que os sistemas de produção
1,00, respectivamente e, os valores de pH variaram semi-intensivos são responsáveis por incrementos
de 7,2 a 7,80, com média de 7,7. Os resultados estão consideráveis de sólidos totais suspensos, fósforo
condizentes com as concentrações indicadas por disponível, nitrito, nitrato, nitrogênio amoniacal,
KUBITZA (2003), que sugere valores acima de 4 entre outros. Apresentaram ainda que no caso
mg/L para o oxigênio nos cultivos. do fósforo, 83,4% são provenientes dos alimentos
VINATEA (2002) relata que as concentrações artificiais, onde apenas 6,1% são incorporados à
médias padrões observadas em aqüicultura, para biomassa de camarão e 30,3% são perdidos para o
pH e o oxigênio dissolvido, são 6,5-8,0 e 100% de ambiente através dos efluentes.
saturação, respectivamente, para águas com 35‰. A taxa de renovação de água, em geral, não
As águas dos viveiros de camarão devem ter, como ocasionou uma retenção nos níveis de fósforo do
padrão, um pH entre 7,5 a 8,5 (BOYD, 2001a), presente experimento (Figura 1). Os valores permane-
sendo assim, os valores encontrados no presente ceram abaixo do nível recomendado, apenas na 2ª
experimento são considerados satisfatórios. e 6ª semanas do tratamento A chegou a alcançar
JOHNSTON et al. (2002) obtiveram resultados de 71,17µg/L e 59,31µg/L e na 4ª semana do tratamento
pH ácido (6,5) e baixo oxigênio dissolvido (3,7 mg/L) C ultrapassou 70 µg/L onde os níveis se mostraram
em seu experimento. Esses autores observaram que um pouco elevados em relação às outras semanas.

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 303 - 310, 2008


306 COSTA et al.

Velasco et al., (1999), trabalhando com o L. de ação da amônia do seguinte modo: a presença
vannamei, verificaram que o acúmulo de fósforo excessiva de NH3 altera o metabolismo celular devido
total é prejudicial ao crescimento do camarão. ao aumento da alcalinidade; o excesso de amônia nas
Lawrence et al. (2003) relatam que as rações têm mitocôndrias causa reversão da enzima glutamato
sido identificadas como o poluente mais importante desidrogenase alterando o metabolismo oxidativo
na composição dos efluentes. É importante ressaltar do ácido tricarboxílico, resultando na diminuição
que o manejo alimentar é o maior fator causador das concentrações celulares de ATP e a amônia
de poluição dos efluentes e, conseqüentemente do inibe o transporte ativo dos íons sódio, podendo
meio ambiente. afetar o transporte dos íons cloreto, bicarbonato e a
Ostrensky (1991) sumarizou os mecanismos reabsorção de água em epitélios transportadores.

Figura 1. Teores de ortofosfato na água dos tanques dos camarões alimentados com as rações A, B, C e ração D, ao
longo das semanas

Do início do experimento até a 5ª semana de influência da concentração de amônia no cultivo do


cultivo, os níveis de amônia permaneceram eleva- L. vannamei, encontraram maior consumo de oxigênio
dos para todos os tratamentos (Figura 2), onde com o aumento da concentração de amônia na água,
só a partir da 6ª semana esses níveis decresceram discordando com os resultados encontrados nesse
e permaneceram abaixo do nível observado experimento, onde não ocorreu maior consumo de
para a espécie, que segundo VINATEA (2002) as oxigênio, mesmo durante as semanas com maior teor
concentrações padrões observadas em aqüicultura de amônia na água.
para a amônia é de valores inferiores a 20 µg/L. Para As altas porcentagens (4% biomassa) de forneci-
a GAA a norma inicial é de no máximo 0,5mg/L mento da ração, para todas as rações testadas, nas 3as
de nitrogênio de amônia na água dos efluentes de semanas iniciais do cultivo, talvez tenham ocasionado
cultivo, estando os resultados do trabalho, dentro essas altas concentrações de amônia, onde só começa-
dos níveis recomendados pela GAA. ram a cair a partir da diminuição do fornecimento de
Racotta e Herrera (2000) estudando a ração (2% biomassa total dos camarões).

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 303 - 310, 2008


Produção de ortofosfato, amônia, nitrito e nitrato no cultivo de Litopenaeus vannamei... 307

A B

Figura 2. Teores de amônia na água dos tanques dos camarões alimentados com as respectivas rações A, B,
C e D, ao longo das semanas

As rações contendo as proteínas de origem vege- sua qualidade, reduzir o crescimento, aumentar o
tal, não influenciaram na diminuição dos níveis de consumo de oxigênio e excreção da amônia, e até
amônia na água, em relação à ração controle (p<0,05), mesmo causar alta mortalidade dos camarões (Lin
reforçando os estudos realizados por Páez-Osuna e Chen, 2003).
(1997, 1998, 1999), onde encontraram que 76% da Os valores encontrados no experimento de nitrato
origem do nitrogênio são provenientes dos alimentos e amônia nem sempre estiveram na faixa de tolerân-
artificiais e cerca de 37% de nitrogênio são perdidos cia. Kubitza (2003) relata que nem sempre todas
para o ambiente de através dos efluentes. A estima- as variáveis estão dentro dos limites adequados ao
tiva é que para cada tonelada de camarão produzida, bem estar dos animais e ao suporte da produtividade
perdem-se para o ambiente 28,6 kg de nitrogênio e desejada nos sistemas intensivos de produção.
4,6 kg de fósforo.
Estudando o efeito de quatro freqüências de
O nitrito é considerado um produto intermediário alimentação (3, 4, 5 e 6 alimentações/dia), como o
da amônia dentro do processo de nitrificação bacteri- P. monodon, Smith et al. (2001) encontraram que
ana da amônia ou da desnitrificação do nitrato (Lin e os níveis de amônia, nitrito/nitrato, fósforo total,
Chen, 2003). Nunes, et. al, (2005) recomenda níveis oxigênio, pH, temperatura e salinidade, não apresen-
inferiores a 1 mg/L e para Boyd (2000), a concen- taram diferença significativa entre os tratamentos.
tração máxima de nitrito aceitável é de 0,3 mg/L,
Durante o experimento, ocorreram pequenas
estando os resultados do experimento abaixo dos
variações nos níveis de nitrato e apenas durante a
níveis aceitáveis.
6ª semana de cultivo que os valores ultrapassaram
Os valores de nitrito e nitrato deste experimento os 98,52 µg/L de nitrato com o fornecimento da
são apresentados nas Figuras 3 e 4 respectivamente. ração C (Figura 4), provavelmente ocasionado pela
Para todas as rações testadas, após a 5ª semana houve biomassa fornecida, bem superior as outras semanas,
um aumento dos níveis, com tendência a estabilizar mas sempre abaixo dos níveis indicados para a
após a 7ª semana quando o nível de fornecimento carcinicultura. Nunes et. al, (2005) recomenda níveis
de ração foi menor em relação à biomassa. Entre a inferiores ou iguais a 60mg/L e Boyd (2000) relata
7ª e a 10ª semanas, os valores permaneceram entre que a concentração máxima aceitável de nitrato
97,0 µg/L e 118,0 µg/L, o que talvez tenha indicado pode variar de 0,2 a 10 mg/L, estando portanto,
melhor aproveitamento da ração pelos animais. os valores do experimento inferiores aos níveis
O acúmulo do nitrito na água pode deteriorar a recomendados.

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 303 - 310, 2008


308 COSTA et al.

A B

Figura 3. Teores de nitrito na água dos tanques dos camarões alimentados com as respectivas rações A, B, C e D, ao
longo das semanas de cultivo

Figura 4. Teores de nitrato na água dos tanques dos camarões alimentados com as respectivas rações A, B, C e D, ao
longo das semanas de cultivo

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 303 - 310, 2008


Produção de ortofosfato, amônia, nitrito e nitrato no cultivo de Litopenaeus vannamei... 309

Muir et al. (1991), demonstraram que as BOYD, C. E. 2001b Parâmetros de qualidade da água:
concentrações de 1,0 mg/L é letal para o protozoea fósforo total. Revista da ABCC, Recife, v. 3, n. 3,
Penaeus monodon, constituindo o mais baixo relato p. 34-36.
da toxidade aguda do nitrato para organismos
BOYD, C. E. 2002
����������������������������������������
Parâmetros da qualidade de água:
marinhos.
oxigênio dissolvido. Revista ABCC, Recife, ano 4,
Cavalli et al. (1996), encontraram uma
n. 1, p. 66-69.
tolerância alta para nitrato nos reprodutores de P.
paulensis. O nível seguro calculado foi de 217.2 mg/L, CAVALLI, R. O.; WASIELESKY Jr., W.; FRANCO, C.
um valor não habitual em sistema de maturação para S.; MIRANDA FILHO, K. 1996 ������������������
Evaluation of the
camarão, até mesmo quando água é recirculada. short-term toxicity of ammonia, nitrite and nitrate
Pelo fato de não ser um composto muito to Penaeus paulensis (CRUSTACEA, DECAPODA)
importante em matéria de toxidez, poucos trabalhos broodstock. Arq. Biol. Tecnol. 39 (3): 567-575, set.
tem sido realizados para medir os efeitos do nitrato.
CHEN, J. C.; LIN, C. Y. 1992 Lethal effects of ammonia
Porém este composto pode tornar-se potencialmente
on P. chinensis Osbeck juveniles at different salinity
tóxico em sistemas de recirculação de água, em que
levels. J. Exp. Mar. Biol. Ecol., 156:138-148.
altos níveis podem ser alcançados como resultado da
nitrificação da amônia (Vinatea, 1996). EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de suínos e
Os compostos nitrogenados nos tanques de Aves- CNPSA. 1989 Tabela de composição química
cultivo podem ser diminuídos através de várias e valores energéticos de alimentos para suínos e aves.
medidas básicas, como, evitar sobras de alimentos Concórdia. Não paginada.
resultantes de uma alimentação superestimada, evitar
FAO/NACA/UNEP/WB/WWF. 2006 International
altas densidades de estocagem, diminuindo assim o
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volume excretado e utilizar renovações periódicas
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de água. Diante disso, no presente experimento, as
(NACA). Bangkok,
�������������������������
Thailand. 20 pp.
substituições dos diferentes níveis de proteína vegetal
na ração para camarão não diminuíram a carga de Johnston , D.; M Lourey, M.; Van Tien, d.;
nitrito, nitrato, amônia e ortofosfato do cultivo, sendo Luu, T.T.; Xuan, t.t. 2002 Water quality and
necessário buscar outros meios para que os valores plankton densities in mixed shrimp-mangrove
da qualidade de água permaneçam abaixo dos níveis forestry farming systems in Vietnam. Aquaculture,
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À Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecu- e camarões. 1ª ed., Jundiaí: São Paulo, 229 p.
ária (IPA), pela disponibilidade de suas instalações em
LAWRENCE, A.; CASTILLE, F.; VELASCO, M.; BRAY,
Porto de Galinhas para execução do experimento e aos
W. 2003 �������������������
Programa de rações ��������������������
“favoráveis ao meio
seus funcionários pelo apoio. À CAPES e ao CNPq, pela
ambiente” ou “menos poluentes” para fazendas
bolsa concedida aos alunos do Mestrado Waleska de
de camarão marinho. Revista da ABCC, Recife, ano
Melo Costa e Luis Otavio Brito, respectivamente.
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Am. Fish. Soc. Vol. 107, n. 2.

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 303 - 310, 2008


FREQÜÊNCIA DE ALIMENTAÇÃO DIÁRIA PARA ALEVINOS DE CARPA-CAPIM
(Ctenopharyngodon idella, V.)

Nandeyara Ribeiro MARQUES 1, 4; Carmino HAYASHI2, Eliana Maria GALDIOLI 1;


Telma SOARES 3; Carlos Eduardo Bento FERNANDES 1

RESUMO
O objetivo deste trabalho foi avaliar o desempenho e a sobrevivência dos alevinos de carpa-capim
submetidos a diferentes freqüências de alimentação. Foi realizado um experimento no Laboratório
de Aqüicultura da Universidade Estadual de Maringá, utilizando-se oitenta alevinos com peso
médio inicial de 0,76 ± 0,12 g e comprimento médio inicial de 4,32 ± 0,19 cm distribuídos em 16
tanques-rede (40x40x30 cm), com cinco peixes cada, nas freqüências de 2, 3, 4 e 5 alimentações/dia,
em um delineamento inteiramente casualizado com quatro tratamentos e quatro repetições. Foi
utilizada uma ração contendo 30% de proteína digestível e 3000 Kcal/Kg. As variáveis avaliadas
foram peso final médio (PF), comprimento final médio (CF), ganho de peso (GP), fator de condição
(FC), conversão alimentar aparente (CA), uniformidade do lote (UNI) e. sobrevivência (S). Os
valores de PF e CA foram superiores com o fornecimento de quatro alimentações/dia (p<0,05) e os
de GP e CF com o fornecimento de 4 a 5 alimentações (p<0,05). A UNI, o FC e a S não apresentaram
diferenças significativas (p>0,05). Os parâmetros físico-químicos permaneceram dentro da faixa
recomendada para a piscicultura. Concluiu-se que a freqüência de alimentação a ser utilizada para
os alevinos de carpa-capim para um melhor desempenho e sobrevivência em uma temperatura
média de 24ºC é a de quatro vezes ao dia.
Palavras-chave: alimentação, Ctenopharyngodon idella, desempenho, nutrição

DAILY FEEDING FREQUENCY FOR GRASS CARP FINGERLINGS

Abstract
The objective of this paper was evaluating the grass carp fingerlings performance and survival
submitted to different feeding frequency. Was carried out an experiment in the Aquaculture’s
Laboratory of the Maringá State University eighth fingerlings were used with initial medium
weight of 0.76 ± 0.12 g and initial medium length of 4.32 ± 0.19 cm divided in 16 net cages (40x40x30
cm) with five fishes each at frequencies of two, three, four and five feedings/day in a completely
randomized design with four treatments and four replications. Was use diet with 30% of digestible
protein and 3000 Kcal/Kg. The evaluated variables were final mean length (FL), final mean weight
(FW), weight gain (WG), condition factor (CF), feed conversion (FC), size variation weight (SW),
survival (S). The FW and FC were higher in treatment with four feeding. FL and WG were higher
in treatment with four and five feeding (p<0.05). The CF, SW and S didn’t present significative
differences (p>0.05). Physical and chemical parameters remained within appropriate limits.
Concluded that the feeding frequency to be used for grass carp fingerlings to better development,
survival in temperature average 24ºC at four times during a day.
Key words: Ctenopharyngodon idella, feeding, performance, nutrition

Nota Científica: Recebida em 16/10/2006; Aprovada em: 11/03/2008


1
Universidade Estadual de Maringá, Departamento de Biologia, Laboratório de Aqüicultura. Av. Colombo, 5790,Bloco H-78,
sala 03, Maringá-Paraná, Brasil, 87020-900;
2
Pesquisador Científico, Instituto de Pesca - APTA - Secretaria da Agricultura / SP, Via Washington Luiz, Km 445 - São José
do Rio Preto/SP;
3
Bióloga.
4
E-mail: nandi.bio@bol.com.br

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312 marques et al.

INTRODUÇÃO charr” Salvelinus alpinus, observou que um aumento


A piscicultura é um dos setores da produção na freqüência alimentar resultou em um melhor
animal que mais cresce atualmente no Brasil, com consumo, crescimento mais rápido e uma diminuição
índice entre 10 e 30% (CASTAGNOLLI, 1997; no coeficiente de variação entre os indivíduos.
OSTRENSKY e BOEGER, 1998). As carpas chinesas No caso de juvenis de esturjão branco Actpenser
estão entre as espécies exóticas amplamente utilizadas transmontanus, o melhor desempenho foi conseguido
pela piscicultura no Brasil, sendo que estas se alimentando-os continuamente 24 horas/dia. No
caracterizam por sua extrema rusticidade e excelente entanto, bons resultados foram também conseguidos
desempenho (HAJRA, 1987). A carpa-capim por ter com uma freqüência de seis alimentações ao dia (CUI
um hábito alimentar herbívoro (CASTAGNOLLI, et al.,1997).
1992) tem sido também utilizada no controle de Para a truta arco-íris, a alimentação contínua
macrófitas nos corpos d’água (CHAPMAN et al., também resultou em melhores resultados
1987). (KINDISCHI, 1988). Na criação de enguia Anguilla
Segundo HAYASHI et al.(2004), o manejo anguilla, SEYMOUR (1989), observou que não houve
alimentar animal é de grande importância para o um maior consumo que justifique a alimentação mais
êxito da piscicultura, pois influencia o desempenho do que quatro vezes ao dia. Na larvicultura da tilápia,
do animal, uma vez que está diretamente relacionada PHELPS et al. (1995) recomendam quatro vezes ao dia
ao fornecimento da ração e à utilização da mesma e LIM (1997) o mínimo de oito alimentações diárias.
pelos peixes. Soma-se a isto a necessidade do custo da Trabalhando com alevinos de tambaqui Colossoma
mão-de-obra, ambos itens responsáveis por grande macropomum, MEER et al. (1997), estudaram os
parcela do custo fixo da atividade estando, portanto, vários aspectos fisiológicos implicados na freqüência
diretamente ligada à viabilidade econômica. alimentar desta espécie e concluíram que à medida
que se aumenta a freqüência de alimentações
TABATA et al. ����������������������������
(1998) e CASTAGNOLLI (1979)
diminui-se a quantidade de ração ingerida por
afirmam que um manejo alimentar correto é
refeição, mas ocorre um aumento da quantidade
indispensável para melhorar o crescimento dos
ingerida por dia.
peixes sem o comprometimento sanitário, pois o
excesso de alimento além de provocar alterações Outro efeito da freqüência de alimentação foi
metabólico-digestivas, implica na deterioração da estudado por BORGHETTI et al. (1990) em larvas
qualidade da água, e uma alimentação deficiente de dourado Salminus maxilosus, e foi observado
resulta em um menor índice de crescimento e que durante a noite quando não foi fornecida a
acentuada variação entre os indivíduos. alimentação às larvas por 12 horas, houve uma
tendência ao canibalismo e altas taxas de mortalidade
A freqüência de alimentação fornecida pode
foram observadas no período das 12 horas sem
influenciar no aproveitamento desta alimentação,
o fornecimento de alimentação. O objetivo deste
visto que a ração é aplicada diretamente na água e
trabalho foi avaliar o desempenho e a sobrevivência
se não consumida se diluirá e lixiviará, causando um
de alevinos de carpa-capim, submetidos a diferentes
aumento nas taxas de conversão alimentar, além de
freqüências de arraçoamento.
poluir o ambiente (SANCHES e HAYASHI, 2001).
A freqüência de alimentação diária (número de MATERIAL E MÉTODOS
alimentações) necessária para o bom desenvolvimento O experimento foi conduzido nas instalações
dos peixes varia principalmente conforme a espécie, do Laboratório de Aqüicultura, do Departamento
idade e temperatura. Espécies carnívoras podem de Biologia da Universidade Estadual de Maringá
ter menos arraçoamentos diários em relação às por um período de 30 dias, durante os meses julho
onívoras e conforme aumenta a idade do peixe o e agosto de 2002. Foram utilizados oitenta alevinos
maior número de arraçoamentos não traz benefícios de carpa-capim com peso inicial médio de 0,76 ±
significativos ao seu crescimento (KUBITZA, 1997). 0,12 g e comprimento inicial médio de 4,32 ± 0,19
Uma adequada freqüência de arraçoamento poderá cm. O delineamento experimental utilizado foi o
levar à menor variação no tamanho entre os peixes inteiramente casualizado com quatro tratamentos
(WANG et al., 1998; THOMASSEN & FJAERA, 1996), (2, 3, 4 e 5 alimentações diárias) e quatro repetições.
o que facilitará o manejo e a comercialização. Foram utilizados 16 tanques-rede, distribuídos
JOBLING (1983), trabalhando com o “Artic em quatro caixas de fibrocimento com capacidade

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Freqüência de alimentação diária para alevinos de carpa-capim (Ctenopharyngodon idella, V.)... 313

para 1000 litros. Cada tanque-rede (40x40x30 cm faca com peneira 0,5 mm e, posteriormente pesados,
= 4,8 litros) com cinco alevinos (aproximadamente misturados e umedecidos em água à 50ºC de acordo
1 alevino por litro) foi considerado como unidade com HAYASHI et al. (1999). A ração foi peletizada
experimental. Cada tanque possuía uma torneira em moinho de carne, seca em estufa de ventilação
para entrada de água e um sifão a 5 cm do fundo forçada a 55ºC, desintegrada e peneirada para que
para a saída, de modo que houve uma troca diária fosse fornecida no tamanho adequado à boca dos
de 10% do volume total. peixes (MEURER et al., 2000).

Para a alimentação dos alevinos foi utilizado o O arraçoamento foi à base de 10% da biomassa por
tanque dos alevinos, sendo esta quantidade aferida a
manejo alimentar com o uso de uma ração contendo
cada 7 dias, com a pesagem de todos os indivíduos de
30% de proteína digestível e 3000 Kcal.kg -1 de
cada unidade experimental. A quantidade de ração
energia digestível (Tabela 1), formulada de acordo
foi acrescida em 5% diariamente, para adequação
com as exigências nutricionais da tilápia do Nilo da quantidade de ração ao crescimento dos alevinos
pelo NRC (1993), calculado com base em valores de (BOSCOLO et al., 2002b).
digestibilidade dos alimentos para a tilápia do Nilo
Os parâmetros físico-químicos da água: pH,
(Oreochromis niloticus), determinados por BOSCOLO
condutividade elétrica e oxigênio dissolvido foram
et al. (2002a) e MEURER (2002). monitorados semanalmente, enquanto a temperatura
Os ingredientes utilizados na confecção da ração da água duas vezes ao dia (manhã e tarde) durante
foram moídos individualmente em moinho tipo o período experimental.

Tabela 1 - Composição em ingredientes e bromatológicas da ração fornecida aos alevinos de carpa-capim


Ingredientes (%) Composição
Farelo de soja a 49,92 Proteína digestível (%) 30,00
Milho moídoa 35,96 Energia digestível (kcal/kg) 3000
Proteinoso milhob 9,06 Amido (%) 29,03
Óleo de sojaa 0,63 Gordura (%) 4,00
Fosfato bicálcicoc 2,41 Fibra bruta (%) 3,22
Calcáreoc 0,89 Lisina (%) 1,60
Sal 0,50 Metionina + Cistina (%) 0,90
Premix vit-minerald 0,50 Fósforo Total (%) 0,80
DL-metionina 99 0,10 Cálcio (%) 1,00
BHT 0,02 Linoléico (%) 1,51
a
De acordo com os dados de análise bromatológica e digestibilidade de acordo com BOSCOLO et al. (2002), b De
acordo com os dados de análise bromatológica e digestibilidade de acordo com MEURER et al. (2000), c De acordo
com os dados de ROSTAGNO et al. (1994). d Níveis de garantia por kg do produto: Vit. A - 2.000.000 UI; Vit.
D3: 30.000; Vit. E: 5.000 mg; Vit. ���������
K 300,56 ����������
mg; Vit. B1: 1.199.52 mg; Vit B2: 2.000 mg; Vit B6: 1.000,316 mg;
Vit. B12: 5 mg; Vit. C:
��������������
15.999,48; Ácido
������ fólico:
���������������������
199,9984 mg; Ácido
����������������������������������������������������
nicotínico: 10.000 mg; Pantetonato de cálcio:
6.550,2 mg; Biotina: 50 mg; Cloreto de colina: 339.996 mg; Ferro: 4.000,2 mg; Cobre: 500 mg; Manganês: 4.998.8
mg; Cobalto: 101,1012 mg; Zinco: 3.599,36 mg; Iodo: 199,64 mg; Antioxidante: 20.000 mg.

Os parâmetros avaliados foram peso final médio, de uma equação proposta por FURUYA et al. (1998),
ganho de peso, fator de condição, conversão alimentar para determinar a uniformidade em peso de peixes.
aparente, comprimento final médio, uniformidade do Utilizando-se as medidas de peso total dos peixes,
lote e sobrevivência. O fator de condição foi calculado com base nos dados de cada unidade experimental
com base na equação: calculou-se a média, sendo então, quantificados o
FC = (Peso x (Comp3) -1) x 100 número de indivíduos que se apresentavam com
peso dentro do intervalo correspondente a 20% acima
e a conversão alimentar: CA = Ração consumida
e abaixo da média.
x Ganho de peso total-1.
Para avaliar a uniformidade dos lotes de peixe em
cada unidade experimental, realizou-se a adaptação

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314 marques et al.

em que: significativas estes foram submetidos ao teste de


U = Uniformidade do lote: variação no peso total Tukey, através do programa SAEG – Sistema de
(%); Análises Estatísticas e Genéticas (UFV, 1997).
Nt = número total de peixes em cada unidade
RESULTADOS E DISCUSSÃO
experimental;
A temperatura média durante o período experi-
N±20 = nº de animais com peso total ± 20% em torno
da média da unidade experimental mental foi de 23,0 ± 2,22 ºC pela manhã e de 25,0
± 2,09 ºC à tarde, permanecendo dentro da faixa
Ao início e término do experimento, os peixes
recomendada para a piscicultura (KUBITZA, 1997).
de cada unidade experimental foram pesados em
Os valores de pH, condutividade elétrica e oxigênio
balança analítica e medidos para avaliação das
dissolvido, foram de 7,55 ± 0,66; a 0,17 ± 0,016 µS.cm-1;
variáveis de ganho de peso, conversão alimentar,
6,57 ± 0,46 mg.L-1, respectivamente. Estes também
comprimento final, uniformidade do lote, fator de
condição e sobrevivência. Para as análises estatísticas permaneceram dentro da faixa recomendada,
os dados referentes aos parâmetros físicos e químicos segundo EGNA e BOYD (1997).
e aos parâmetros de desempenho produtivo foram A Tabela 2 apresenta os valores médios de
submetidos a análise de variância (ANOVA) a nível desempenho produtivo e sobrevivência dos alevinos
de 5,00% de probabilidade, e em caso de diferenças de carpa-capim ao final do período experimental.

Tabela 2–Valores médios de desempenho dos alevinos de carpa-capim submetidos a diferentes freqüências de
arraçoamento diários

Variáveis Freqüência de Alimentação (vezes/dia) C.V.


2 3 4 5
Peso inicial médio 0,74a 0,72a 0,73a 0,74a 4,79
Peso final médio 1,49b 1,51b 1,71a 1,68a 4,82
Ganho de peso médio 0,75 b
0,79 b
0,98 a
0,94a 8,80
Conversão alimentar 2,48 c
2,38 c
2,04 a
2,15b 8,21
Comprimento final médio 5,02 b
5,04 b
5,25 a
5,22a 2,23
Fator de condição 1,14a 1,15a 1,16a 1,16a 4,54
Uniformidade do lote(%) 90,00 a
85,00 a
90,00 a
100,00a 13,79
Sobrevivência (%) 100,00 a
100,00 a
100,00 a
100,00a 0,00
Valores seguidos de mesma letra não diferem significativamente (Teste de Tukey, p>0,05)

Foram observadas diferenças estatísticas para os que o aumento da freqüência de alimentação de


valores de peso e comprimento médio finais, ganho uma para duas vezes ao dia ocasionou melhora no
de peso e conversão alimentar (p<0,05) em função crescimento, entretanto níveis maiores não foram
das diferentes freqüências alimentares ao longo do testados. Por outro lado, SANCHES e HAYASHI
período experimental. (2001) não observaram diferenças significativas para
Os valores de peso médio final foram superiores esta variável em função do aumento das freqüências
nos tratamentos em que foram utilizadas quatro e alimentares (p>0,05).
cinco freqüências alimentares diárias (p<0,05). TUNG Os valores de conversão alimentar aparente foram
e SHIAU (1991) encontraram melhores valores de superiores no tratamento onde eram fornecidas quatro
peso final para alevinos de tilápia do Nilo quando alimentações diárias. Em trabalho realizado com
estes eram alimentados seis vezes ao dia. Colossoma macropomum, MEER et al. (1997) testaram
Com relação ao ganho de peso e comprimento de uma a cinco alimentações diárias e observaram
final médio, os valores foram superiores utilizando- melhor conversão alimentar nas freqüências de três
se de quatro a cinco alimentações diárias (p<0,05). a cinco vezes ao dia. Diferindo destes resultados,
TUNG e SHIAU (1991) com juvenis de tilápia nilótica WANG et al. ���������������������������������
(1998), SANCHES e HAYASHI (2001)
encontraram um melhor ganho de peso realizando e HAYASHI et al. �������������������������������
(2004) observaram que os dados
seis alimentações diárias. JOBLING (1983) relatou de conversão alimentar não revelaram diferenças
em seu trabalho com Artic charr Salvelinus alpinus, significativas (p>0,05) em função dos diferentes

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Freqüência de alimentação diária para alevinos de carpa-capim (Ctenopharyngodon idella, V.)... 315

tratamentos. JOBLING (1983) concluiu que para o CONCLUSÃO


“Artic charr”, a conversão alimentar não foi eficiente Considerando os valores de desempenho e
nas maiores freqüências. sobrevivência, concluiu-se que se deve realizar o
O fator de condição, a uniformidade do lote arraçoamento quatro vezes ao dia para os alevinos
e a sobrevivência não apresentaram diferenças de carpa-capim.
estatísticas significativas (p>0,05). Os valores do
fator de condição demonstraram que não houve um REFERÊNCIAS BIBLIOGRÀFICAS
crescimento em peso diferenciado em detrimento do BORGHETTI, J.R. ; CANZI, C.; FERNANDEZ, D.R.;
comprimento ou vice–versa, concordando com o que NOGUEIRA, S.V.G. 1990 Efeito da alimentação
foi obtido por SANCHES e HAYASHI (2001) para a artificial com incorporação de andrógeno natural
tilápia do Nilo. Com relação à uniformidade, esta (testosterona) no desenvolvimento de larvas de
reflete a variação entre os indivíduos e uma maior Salminus maxillosus. Arq. Biol. Tec., Curitiba, 33(4):
freqüência alimentar deve reduzir a concorrência, 939-948.
acarretando uma menor variação entre eles e,
conseqüentemente uma maior uniformidade. No BOSCOLO, W.R.; HAYASHI, C.; MEURER, F. 2002a
entanto, nas freqüências utilizadas este efeito não foi Digestibilidade aparente da energia e proteína
significativo (p>0,05), concordando com SANCHES bruta de alimentos convencionais e alternativos
e HAYASHI (2001) na larvicultura de tilápia do Nilo para a tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus L.).
em fase de reversão sexual. Rev. Bras. de Zootecnia, Viçosa, 2(1): 539-545.

O efeito da freqüência de alimentação na sobrevi- BOSCOLO, W.R.; HAYASHI, C.; MEURER, F. 2002b
vência não foi avaliado para o “Artic charr”(JOBLING, Farinha de varredura de mandioca (Manihot
1983) e nem para o esturjão branco (CUI et al., 1997). esculenta) na alimentação de alevinos de tilápia
De acordo com MACINTOSHI e DE SILVA (1984), do Nilo (Oreochromis niloticus, L.). Rev. Bras. de
este parâmetro é mais afetado por outros fatores de Zootecnia, Viçosa, 31(2):546-551.
manejo ou ainda por problemas genéticos. Relatos
dos efeitos da freqüência alimentar nas taxas de CASTAGNOLLI, N. 1979 Tecnologia da alimentação de
sobrevivência foram realizados por SANCHES e peixes. In: FUNDAMENTOS DE NUTRIÇÃO DE
HAYASHI (2001) e observaram resultado similar ao PEIXES. São Paulo: Livroceres,.p. 278-289.
obtido neste experimento, diferindo apenas quanto
CASTAGNOLLI, N. 1992 Piscicultura de água doce.
à porcentagem de sobrevivência. ����������������
Por ������������
outro�������
lado,
Jaboticabal: FUNEP. 108p.
HAYASHI et al. (2004)
��������������������������������
trabalhando o lambari do
rabo amarelo (Astyanax bimaculatus), observaram CASTAGNOLLI, N. 1997 Piscicultura intensiva e
que esta variável foi significativamente afetada pela sustentável de espécies nativas brasileiras. In:
freqüência de arraçoamento, apresentando redução SIMPÓSIO SOBRE MANEJO E NUTRIÇÃO DE
em função do número de alimentações diárias. PEIXES, Piracicaba, 1997. Anais... Piracicaba:
A carpa-capim obteve um melhor desempenho Colégio Brasileiro de Nutrição Animal, p.117-
com o fornecimento de quatro alimentações diárias, 130.
assim como o lambari do rabo amarelo (HAYASHI
CUI, Y.; HUNG, S.S.O.; DENG, D.F.; YANG, Y. 1997
et al., 2004) enquanto que WANG et al. ������������
(1998), LEE
Growth performance of juvenile White Sturgeron
et al. �������������������������������������������
(2000) e LAMBERT e DUTIL (2001) observaram
as affected by feeding regimen. The Prog. Fish Cult.,
resultados diferentes.
Bethesda, 59(1): 31-35.
O melhor resultado obtido no tratamento onde
foram fornecidas quatro alimentações diárias pode EGNA, H.S. and BOYD, C.E. 1997 Dynamics of pond
ser explicado pela melhor distribuição dos nutrientes aquaculture. Boca Raton: CRC Press, 342p.
essenciais ao metabolismo do animal. O arraçoamento
realizado em um número menor de vezes pode FURUYA, W.M. HAYASHI, C.; FURUYA, W.M.
restringir o consumo de toda a ração fornecida em 1998 Dietas
������������������������������������������
peletizada e extrusada para machos
função da capacidade do trato digestório do peixe e revertidos de tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus)
assim o alimento perderá os nutrientes para a água, na fase de terminação. Ciência Rural, Santa Maria,
afetando a qualidade desta. 28(3): p. 483-487.

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GROWTH OF JUVENILE FAT SNOOK Centropomus parallelus IN CAGES
AT THREE STOCKING DENSITIES

Mônica Yumi TSUZUKI 1, 2; Rafael Ferreira CARDOSO 1; Vinícius Ronzani CERQUEIRA 1

ABSTRACT
Survival and growth parameters were evaluated in juvenile fat snook Centropomus parallelus held
at different stocking densities in floating cages. Juveniles of 156 Days After Hatching (DAH) (5.7±
1.27 g wet weight; 8.5 ± 0.69 cm total length: mean ± SD) stocked at 50, 100 and 200 fish/m3,
in 1m3 cages, presented no difference in survival and growth as wet weight, total and standard
length, specific growth rate, and coefficient of variation for weight and total length, after 59 days
of experiment (P> 0.05). Specific growth rate and food conversion ratio were near 0.9 %/day, and
1.6, respectively, at the densities tested (P>0.05). Feeding behavior of fat snook was directly related
to light condition as higher feed consumption occurred at hours of lower sunlight exposure on the
fish cages. From the results obtained in the present study, the use of stocking densities up to 200
fish/m3 did not affect survival, growth performance and food conversion ratio of juveniles of fat
snook. However, final biomass and production per area were significantly different, being higher
at 200 fish/m3, density considered among the stocking densities tested, more adequate for growing
fat snook at the juvenile phase in cages.
Key words: fat snook, Centropomus parallelus, growth, stocking density, cages

CRESCIMENTO DE JUVENIS DE ROBALO-PEVA CENTROPOMUS PARALLELUS EM


TANQUES-REDE EM TRÊS DENSIDADES DE ESTOCAGEM

RESUMO
Sobrevivência e parâmetros do crescimento foram avaliados em juvenis de robalo-peva Centropomus
parallelus cultivados em diferentes densidades de estocagem em tanques-rede. Juvenis de 156 Dias
Após a Eclosão (DAE) (5,7± 1,27 g peso úmido; 8,5 ± 0,69 cm comprimento total: média ± DP)
estocados em 50, 100 e 200 peixes/m3, em tanques-rede de 1m3, não apresentaram diferenças na
sobrevivência e crescimento como peso úmido, comprimento total e padrão, taxa de crescimento
específico, e coeficiente de variação para peso e comprimento total após 59 dias de cultivo
(P>0,05). Taxas de crescimento específico e conversão alimentar foram próximas a 0,9 %/dia, e
1,6, respectivamente, nas densidades testadas (P>0,05). O comportamento alimentar do robalo-
peva foi diretamente relacionado à condição luminosa uma vez que o maior consumo de alimento
ocorreu em horas de mais baixa exposição da luz solar nos tanques-rede. A partir dos resultados
obtidos no presente estudo, o uso de densidades de estocagem ate 200 peixes/m3, não afetou a
sobrevivência, o crescimento e a conversão alimentar de robalo-peva. Entretanto, a biomassa final
e a produção por área foram significativamente diferentes, sendo maiores em 200 peixes/m3,
densidade considerada mais adequada entre as densidades de estocagem testadas para a engorda
de robalo-peva na fase de juvenil em tanques-rede.
Palavras-chave: robalo-peva, Centropomus parallelus, crescimento, densidade de estocagem,
tanques-rede

Nota Científica: Recebido em: 30/10/2006; Aprovado em: 29/10/2007


1
Universidade Federal de Santa Catarina, Departamento de Aqüicultura.
2
Endereço/Address: Laboratório de Piscicultura Marinha, Departamento de Aqüicultura, Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal
de Santa Catarina (Federal University of Santa Catarina), C.P. 476, Cep: 88040-970, Florianópolis, SC, Brazil. Tel/Fax: +55 48 3232-7532;
E-mail: mtsuzuki@cca.ufsc.br

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 319 - 324, 2008


320 TSUZUKI et al.

INTRODUCTION identify optimum stocking densities for juvenile fat


The fat snook Centropomus parallelus is a snook survival and growth in cages.
commercially important fish species naturally
distributed from Florida, USA, to Florianópolis, MATERIALS AND METHODS
South Brazil (FRASER, 1978). Fat snook has been The experiment was held at the Marine Fish
recognized as a candidate species for aquaculture Culture Laboratory (LAPMAR), Universidade
(TEMPLE et al., 2004) due to the quality of its flesh Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brazil,
and high market price, being resistant to husbandry from March to May, 2005.
procedures and variations in water quality, and Juveniles of the fat snook Centropomus parallelus,
tolerant to a wide range of salinities (MACIEL, 2006; obtained by natural spawn of hormonally induced
TSUZUKI et al. , 2007). animals (FERRAZ et al., 2002), were kept until the
Several works have dealt with aspects of repro- start of the experiments at 25 oC, salinity of 35 g/L,
duction and larviculture of fat snook (CERQUEIRA natural photoperiod, fed a commercial diet with 40
et al., 1995; ALVAREZ-LAJONCHÈRE et al., 2002a, % of Crude Protein (CP), 10 % fat.
b; FERRAZ et al., 2002; TEMPLE et al., 2004), and Juveniles of 156 Days After Hatching (DAH)
nowadays a massive production of juveniles is (5.75± 1.27 g wet weight; 8.5 ± 0.69 cm total length
already obtained under laboratory conditions and 7.0 ± 0.57 cm standard length: mean ± SD) were
(ALVAREZ-LAJONCHÈRE et al., 2002b). So far, fat stocked at 50, 100 and 200 fish/m3, in floating cages
snook growth is done at a discontinuous and non for 59 days.
quantified approach by small producers in earthen Nine square shaped cages with submerged
ponds, tanks and floating cages, in different regions volume of 1m3 (1m x 1m x 1m), 2 mm mesh size, were
of the country (CERQUEIRA and TSUZUKI, 2003). uniformly distributed in one outdoor rectangular
In this context, there is an increasing interest concrete tank (40,000 L) covered with a black shade
in growing fat snook in cages in Brazil, using high cloth (Sombrite, 50% shade factor). Aeration was
quality water bodies available in coastal, estuarine continuously provided by two perforated PVC tubes
and freshwater areas. As cages tend to utilize higher running parallel to the tanks, connected to a central
stocking densities to maximize productivity, and as air compressor. Every day, 70 % of the water was
stocking density is an important factor affecting fish replaced (flow rate of approximately 20 L/s), and the
welfare, a balance between the optimization��������
��������������������
of the bottom of the concrete tank was siphoned.
use of cages and animal needs is essential. Water temperature and dissolved oxygen were
Several authors have shown that stocking density daily measured with a YSI Model 51 oxygen meter
may affect behavioral or social interactions, and (Yellow Springs Instrument Company, Yellow
intraspecific competition for food (BROWN et al., Springs, Ohio, USA). Total ammonia (TAN) and
1992; KAISER et al., 1995; PAPOUTSOGLOU et al., salinity were weekly monitored with a Tetratest®
1998; IRWIN et al., 1999; KRISTIANSEN et al., 2004), Kit (Tetra Werke, Melle, Germany), and a Bernauer
in some cases developing dominance hierarchies Model F3000 optical refractometer (Bernauer
(BRETT, 1979; SCHRECK, 1981) and cannibalism Aquacultura, Blumenau, Brazil), respectively. Water
(KATAVIC et al., 1989; MOORE and PRANGE, temperature and salinity during the experimental
1994; HATZIATHANASIOU et al., 2002), resulting period were 24.8 ± 1.15 oC (mean ± SD), and 35.0 ±
in differential survival and growth rates of fish. 1.20 g/L, respectively. Dissolved oxygen was kept
As fat snook is a carnivorous fish with gregarious at 6.0 ± 1.50 mg/L, and total ammonia at 0.08 ±
habit, the development of hierarchical classes may 0.14 mg/L. There was no variation in water quality
appear at inappropriate stocking densities, possibly parameters among the cages (P > 0.05), and water
affecting growth performance and animal health. quality parameters were within acceptable ranges
Nevertheless, the effect of different stocking densities for fish cage culture (BEVERIDGE, 1996).
on fat snook growth and survival has never been As previous work demonstrated that at this age,
evaluated. Furthermore, growout studies are still feeding fat snook one or two times per day did not
necessary in order to determine the viability of its affect fish growth parameters (P>0.05) (BERESTINAS,
production at a commercial level. 2006), fish in the present study were fed to satiation
Therefore, the aim of the present work was to once a day (between 15:00 and 18:00 h) (See Results

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 319 - 324, 2008


Growth of juvenile fat snook Centropomus parallelus in cages at three stocking densities... 321

and Discussion Section) with a commercial extruded maximus (IRWIN et al., 1999), European sea bass
diet (40 % CP, 10 % fat; 2-2.5 mm diameter). Fish Dicentrarchus labrax (HATZIATHANASIOU et al.,
behavior was monitored at feeding. Every week, the 2002; SAILLANT et al., 2003) and jundiá Rhamdia
amount of food consumed in each cage was recorded quelen (BARCELLOS et al., 2004), possibly due
for food conversion ratio calculation (FCR = weight to social interactions leading to intraspecific size
of feed in g/biomass gain in g). variation and feeding dominance (YAMAGISHI
Thirty fish were sampled at the beginning of the et al., 1974; JOBLING, 1985), competition (IRWIN
experiment, and all fish were measured and weighed et al., 1999), space limitation (EWING et al., 1998),
at the end of the growth period. Animals were rapidly insufficient food (ANDREW et al., 2004) and low
anesthetized with benzocaine (84 g of benzocaine dissolved oxygen (YI et al., 1996). On the other hand,
per 1L alcohol 96 %), weighed to the nearest 0.1 g higher growth occurred at higher densities in the
Arctic charr Salvelinus alpinus (BROWN et al., 1992),
and measured (total and standard length) to the
and in the European sea bass (PAPOUTSOGLOU
nearest 1 mm. Feeding was discontinued 24 h prior
et al., 1998), result generally attributed to a decreased
to measurements.
social interactions or lack of aggressive actions at the
The following rates were determined: Specific- increased densities.
growth rate (SGR, %/day) = 100 X (ln final weight
Juvenile fat snook, within the stocking densities
- ln initial weight)/ number of days; coefficient of
tested in this study (50 to 200 fish/m3), does not
individual body weight and total length variations
belong to the fish category which is characterized by
as (CV weight, %) = 100 X (standard deviation/ mean
an inverse or positive correlation between stocking
body weight) and (CV length, %) = 100 X (standard
density and growth rate as previously cited, as no
deviation/ mean total length), respectively. Final
difference in survival and growth as wet weight,
biomass (kg) and production per area (fish/m3) were
total and standard length, specific growth rate, and
also calculated.
CV for weight and total length was observed after
All treatments were run in triplicate. Differences 59-days of cultivation in cages (P> 0.05) (Table 1).
between replicates and treatments were analyzed PASPATIS et al. (2003) found that a stocking density
by one-way analysis of variance (ANOVA) with of up to 1,000 fish/m3 does not affect European sea
subsequent Tukey test. Statistical significance was bass juveniles (5.3 g) kept in tanks. ROWLAND et
assumed at P < 0.05. al. (2004) found that growth and condition were not
affected by stocking density in silver perch Bidyanus
RESULTS AND DISCUSSION bidyanus fry reared at 50, 100 or 200 fish/m3 in cages
In several species, growth rate is characterized for 140 days. CAVERO (2003) showed that growth
by an inverse correlation with stocking densities of pirarucu Arapaima gigas juveniles in floating
as observed in rainbow trout Onchorhynchus mykiss cages was not affected by stocking densities or by
(PAPOUTSOGLOU et al., 1987), turbot Scophthalmus intraspecific interactions.
Table 1 – Growth of fat snook Centropomus parallelus held at different densities in floating cages during 59 days.
Data shown as mean ± SD. Minimum and maximum values are presented in brackets. Different letters at the same
column are statistically different (P<0.05).
Density Weight (g) Total length Standard length CV2 CV Final
(cm) (cm) SGR1 Weight Length FCR3 Biomass
(fish/m3) Initial Final Initial Final Initial Final (%) (%) (kg)
5.8 10.1 8.6 9.9 7.0 8.2
0.9 27.4 9.9 1.7 0,50
50 ±1.18 ±0.47 ±0.66 ±0.97 ±0.56 ±0.99
±0.05 ±3.93 ±1.87 ±0.09 ±0,31a
(3.3-8.7) (4.2-16.9) (7.1-9.9) (7.4-12.1) (5.7-8.1) (6.0-10.0)

5.7 9.8 8.6 9.9 7.0 8.1


0.9 24.8 8.08 1.5 0,97
100 ±1.14 ±0.59 ±0.66 ±0.87 ±0.55 ±1.49
±0.04 ±0.42 ±0.48 ±0.06 ±0,50b
(2.6-8.5) (4.1-15.8) (6.6-10.1) (7.6-11.8) (5.2-8.0) (6.0-10.0)

5.8 9.8 8.5 9.9 6.9 8.3


0.9 27.6 12.1 1.5 1,68
200 ±1.50 ±0.72 ±0.76 ±1.25 ±0.61 ±1.81
±0.14 ±3.80 ±2.41 ±0.12 ±0,93c
(2.4-12.7) (3.6-20.9) (5.7-11.0) (4.8-13.3) (5.1-9.0) (5.9-11.0)
1
SGR: Specific-Growth Rate; 2 CV: Coefficient of Variation; 3 FCR: Food Conversion Ratio

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 319 - 324, 2008


322 TSUZUKI et al.

In the present study, survival rates were excellent peaks per day, one approximately 2 hours before
(100% for 50 fish/m3; 99% for 100 and 200 fish/m3) sunrise, and the second 2-3 hours following sunset
at the end of the growth period in all treatments. (ECKELBARGER et al., 1980).
Mean specific growth rate was 0.9 %/day, and food From the results obtained in the present study,
conversion ratio was around 1.6 at the densities the use of stocking densities up to 200 fish/m3 did
tested. Similar growth and food conversion rates not affect survival, growth performance and food
have been obtained for younger fat snook juveniles consumption of juveniles of fat snook Centropomus
fed with different commercial diets, non-specific for parallelus. However, final biomass and production
marine fish (BERESTINAS, 2006). The determination per area were significantly different, being higher at
of the nutritional requirements and the development the highest stocking density (200 fish/m3).
of a more appropriate diet may improve growth
performance of fat snook. ACKNOWLEDGEMENTS
When compared to a similar species, the common We would like to thank Davi Poluzzi Mezel for
snook Centropomus undecimalis, fat snook presented technical support, and Alexander Camara Berestinas
lower growth and less efficient feed utilization. for helping in the statistical analysis.
TUCKER (2000) reported for common snook a food
conversion ratio of 0.7 and around 80 g weight gains REREFERENCES
at 5- month age. Although fat snook grows slower ALVAREZ-LAJONCHÈRE, L.S. 2001 Fat snook
than common snook, it has been already produced at breakthrough in Brazil. World Aquaculture, Baton
constant and stable levels in laboratory (ALVAREZ- Rouge, 31: 23-25.
LAJONCHÈRE et al., 2001, 2002b), and therefore,
technology for massive production of juveniles has ALVAREZ-LAJONCHÈRE, L.S. 2004 Cultivo de
been already established. On the other hand, there is robalos: potencialidades e resultados. Panorama
a need to increasing knowledge on common snook da Aqüicultura, Botafogo, 14: 15-21.
larvae and juvenile production (SANCHEZ et al.,
ALVAREZ-LAJONCHÈRE, L.S.; CERQUEIRA, V.R.;
2002, ALVAREZ-LAJONCHÈRE, 2004). Additionally,
REIS, M.A. 2002a Desarrollo embrionario
due to its sporting and culinary attributes, and a high
y primeros estadios larvales del robalo gordo,
market price, fat snook can be commercialized as a
Centropomus parallelus Poey (Pisces, Centropomidae)
“plate size fish” (around 300 g, whole fish) and used
con interés para su cultivo. Hidrobiológica, México,
for recreational fisheries purposes.
12: 89-99.
Although no difference in survival and growth
performance was detected, final biomass was ALVAREZ-LAJONCHÈRE, L.S.; CERQUEIRA, V.R.;
significantly higher at the highest stocking density SILVA, I.D.; ARAÚJO, J.; REIS, M.A. 2002b
(Table 1). As mortality rates were close to 100 %, Mass production of juveniles of the fat snook
production per area also showed a positive relation Centropomus parallelus in Brazil. J.World Aquac.
with stocking density (50.0 ± 0.0; 99.0 ± 1.3; 198.0 ± Soc., Baton Rouge, 33: 506-516.
3.4 fish/m3 at 50, 100 and 200 fish/m3, respectively)
ANDREW, J.E.; HOLM, J.; KADRI, S.; HUNTINGFORD,
(P<0.05).
F.A. 2004 The effect of competition on the
Feeding behavior of fat snook was directly feeding efficiency and feed handling behaviour in
related to light condition as higher feed consumption gilthead sea bream (Sparus aurata L.) held in tanks.
occurred at hours of lower sunlight exposure on Aquaculture, Amsterdam, 232: 317–331
the fish cages. Initially, fish were fed 2-times a day
(morning and afternoon). However, in the cages with BARCELLOS, L.J.G.; KREUTZ, L.C.; QUEVEDO,
higher sunlight incidence in the morning period, fish R.M.; FIOREZE, I.; CERICATO, L.; SOSO, A.B.;
tended not to eat. In the afternoon, as all the cages FAGUNDES, M.; CONRAD, J.; BALDISSERA,
were in the shade, feed consumption increased and R.K.; BRUSCHI, A.; RITTER, F. 2004 Nursery
was uniform. Apparently, early morning and late rearing of jundia´, Rhamdia quelen (Quoy &
afternoon are the best hours for fat snook feeding, Gaimard) in cages: cage type, stocking density
suggesting that they are low-light feeders as reported and stress response to confinement. Aquaculture,
for the common snook, that presents two feeding Amsterdam, 232: 383–394.

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 319 - 324, 2008


Growth of juvenile fat snook Centropomus parallelus in cages at three stocking densities... 323

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B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 319 - 324, 2008


OBSERVAÇÕES PRELIMINARES SOBRE O DESENVOLVIMENTO LARVAL DO
CARANGUEJO ARANHA Stenorhynchus seticornis (HERBST, 1788)
(DECAPODA: BRACHYURA: MAJIDAE) EM LABORATÓRIO

George Nilson MENDES 1 e Anita Rademaker VALENÇA

RESUMO
O objetivo deste trabalho foi fechar o ciclo larval de Stenorhynchus seticornis através de adaptação
da tecnologia utilizada para o camarão Macrobrachium rosenbergii. As larvas foram provenientes da
desova de uma fêmea em um dos aquários do Laboratório de Aqüicultura da Universidade Federal
de Pernambuco. Cinqüenta larvas foram colocadas em um béquer com dois litros de água nas mesmas
condições da desova. A média diária da temperatura foi 28,7 oC, oxigênio 6,7 mg/L, salinidade 35,1
‰ , pH 8,4 e amônia 0,01 ml/L. A alimentação foi fornecida ad libitum três vezes ao dia e consistiu de
peixe triturado e náuplios de Artemia sp. A primeira megalopa ocorreu após dez dias de cultivo e 50%
dos sobreviventes passaram a este estágio após doze dias de cultivo. A sobrevivência final foi 30%.
Os resultados demonstraram a possibilidade do cultivo de Stenorynchus seticornis para a aqüicultura
ornamental utilizando a tecnologia de Macrobrachium rosenbergii.
Palavras-chave: Stenorynchus seticornis, Majidae, cultivo larval, ornamentais marinhos

PRELIMINARY OBSERVATIONS ON THE LARVAL CYCLE OF ARROW CRAB


Stenorhynchus seticornis (HERBST, 1788) (DECAPODA: BRACHYURA: MAJIDAE)
IN LABORATORY

ABSTRACT
The aim of this work was close the larval cycle of Stenorhyncus seticornis using techniques developed
for commercial prawn Macrobrachium rosenbergii. The Stenorhyncus seticornis larvae came from a spawn
in aquarium in Aquaculture Laboratory of the Federal University of Pernambuco. Fifty larvae were
transferred to a circular vessel with two liters of water in the same conditions of spawn. Means value
for water quality parameters were: 28.7oC for temperature, 6.7 ml/L oxygen, 35.1 ‰ salinity, 8.4 pH
and 0.01ml/L ammonium. The larvae were fed ad libitum with chopped fish and nauplius of Artemia
sp. three times a day. The first megalopa occurred after ten days and 50% of survivors passed to
megalopa stage after twelve days. The final survival was 30%. The present findings demonstrate that
this crab may be cultured using standard techniques developed for commercial prawn Macrobrachium
rosenbergii industry and this species potential to ornamental aquaculture.
Key words: Sternorynchus seticornis, Majidae, larvae culture, marine ornamental, aquarium

Nota Científica: Recebida em: 01/03/2007; Aprovada em: 26/10/2007


1
Professor adjunto do Departamento de Zoologia, Laboratório de Aqüicultura, Departamento de Zoologia – CCB – UFPE, Recife, PE.
E-mail: gmendes55@yahoo.com.br

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 325 - 329, 2008


326 MENDES e VALENÇA

INTRODUÇÃO fechou o ciclo de vida de S. seticornis em laboratório


O Stenorhynchus seticornis (HERBST, 1788), cultivando as larvas desde a eclosão dos ovos até um
conhecido como caranguejo aranha ou caranguejo jovem adulto, que denominou de “first crab”.
flecha, ocorre no Atlântico Ocidental na costa dos Segundo PINHEIRO et al. (1994) a família Majidae
Estados Unidos, Golfo do México, Antilhas, Colômbia, constitui-se num grupo peculiar, tanto pela diversidade
Venezuela, Guianas, Brasil (do Amapá ao Rio Grande que apresenta, quando comparada com as demais
do Sul), Uruguai e Argentina (MELO, 1996). No famílias de braquiúros, quanto pela presença de um
Atlântico Oriental, desde Madeira até Ilhas Canárias e número reduzido e fixo de estágios de zoea (dois).
Angola (RODRIGUES, 1980). Segundo VÉLEZ (1977) A coleta extensiva e destrutiva de organismos
o S. seticornis é muito abundante na Baía de Pescador marinhos para aquariofilia tem levado a uma preo-
no sul de Curaçao, Colômbia. cupação cada vez maior dos conservacionistas e
Esta espécie pode ser encontrada em fundos duros, pesquisadores (ZHANG et al., 1997; BROWN et al.,
coralígenos ou de cascalho, e arenosos (SCHRIEVER, 2003). Uma das saídas apontadas é o cultivo artificial
1977). Em regiões de águas temperadas rasas, em destes organismos para atender a demanda do
profundidades entre 2 a 14 metros, ou regiões mercado e diminuir a pressão sobre os ambientes
oceânicas em profundidades em torno de 200 metros naturais (CALADO and NARCISO, 2003; RHYNE
(OLIVEIRA, 1987). Seus principais predadores são o et al., 2003).
asteróide da espécie Diplasterias brandtti e garoupas da RHYNE et al. (2003) e CALADO et al. (2003)
espécie Epinephelus morio (HULINGS and HEMLAY, cultivaram o caranguejo Mithraculus sculptus, também
1963). pertencente à família Majidae, no intuito de estabelecer
COBO e OLIVEIRA (2002) estudaram a maturidade apropriados métodos de cultivo devido à importância
fisiológica do S. seticornis e observaram que o tamanho desta espécie para a aquariofilia. Estes autores
médio em que pelo menos 50% da população confirmaram que, como todos da família Majidae, o
apresentou gônadas maduras foi de 7,2 mm de largura M. sculptus possui três estágios larvais: duas zoea e
de carapaça (LC) para machos e 7,9 mm de LC para uma megalopa, e concluem que devido à curta duração
fêmeas, concluíram que 50% de seus indivíduos do seu estágio larval este caranguejo é um candidato
encontravam-se maduros dentro de um mesmo promissor para a aqüicultura ornamental.
intervalo de tamanho, sugerindo a maturação gonadal O caranguejo aranha é capturado no seu habitat
sincrônica entre machos e fêmeas. Já ASSIS e COBO natural e comercializado nas lojas de aquariofilia
(2002) estudaram o crescimento relativo de S. seticornis como ornamento para aquários marinhos no país
e concluíram que as fêmeas obtiveram a maturação e exterior. Em Recife está espécie é encontrada nas
morfológica em um intervalo maior que os machos (5,5 lojas especializadas em aquariofilia marinha, porém a
mm a 10 mm para as fêmeas e 7 mm a 8,5 mm para os maior parte capturada no litoral nordestino se destina
machos), ambos os trabalhos utilizaram caranguejos às lojas do Rio de Janeiro e São Paulo.
adultos capturados na região da ilha das Couves O objetivo deste trabalho foi fechar o ciclo
– Ubatuba – SP (23º25`25``S 44º52`03``W). larval de Stenorhynchus seticornis em laboratório
YANG (1976) cultivou larvas de S. seticornis através de tecnologia de cultivo utilizada para o
em laboratório, originadas de adultos capturados cultivo larval do camarão Macrobrachium rosenbergii,
em profunidades diferentes, com a finalidade de visando fornecer subsídios para sua produção para o
solucionar problemas de sistemática desta espécie. comércio ornamental ou mesmo para um programa
As larvas obtidas de adultos capturados em águas de repovoamento de ambientes naturais, pois devido
rasas (2 metros) possuíam características bem ao seu valor no mercado aquarístico este crustáceo é
distintas das larvas obtidas de adultos capturados em coletado indiscriminadamente, o que pode levar a sua
águas profundas (216-234 metros). Tal constatação escassez em um futuro próximo.
levou YANG (1976) a sugerir que há duas espécies
descritas sob o nome Stenorynchus seticornis, e propõe MATERIAL E MÉTODOS
a manutenção da nomenclatura S. seticornis para a Esta pesquisa foi realizada no Laboratório de
espécie de águas rasas e Stenorynchus sp. para a espécie Aqüicultura do Departamento de Zoologia da
de águas profundas. Universidade Federal de Pernambuco - UFPE.
Além de estudar a sistemática, YANG (1976) A desova ocorreu em um dos aquários marinhos

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 325 - 329, 2008


Observações preliminares sobre o desenvolvimento larval do caranguejo aranha Stenorhynchus seticornis... 327

do laboratório, proveniente de uma fêmea ovada (8,20 de 30%, quando todas as larvas passaram ao estágio
mm LC) capturada a 2 metros de profundidade na de megalopa após 15 dias de cultivo.
praia de Porto de Galinhas, PE. Foram retiradas 50 YANG (1976) cultivando S. seticornis obteve
larvas e transferidas para um becker de capacidade 41% de sobrevivência, das 54 larvas eclodidas no
para 3 Litros (L). laboratório. A duração média dos estágios larvais
A metodologia utilizada foi semelhante a do cultivo foi de 12 dias de zoea até megalopa. RHYNE
larval para Macrobrachium rosenbergii (MENDES, et al. (2003) e CALADO et al. (2003) levaram 6 dias
1986). O béquer utilizado como ambiente de cultivo para o desenvolvimento de zoea até megalopa de
foi preenchido com 2L de água do aquário de eclosão Mithraculus sculptus, um caranguejo também da
das larvas (S =35 ‰, pH = 8,4, T = 28oC) e mantido família Majidae, com uma duração de três dias para
com aeração moderada para não prejudicar as larvas cada estágio de zoea, porém a sobrevivência final foi
tanto na captura do alimento quanto na muda dos de apenas 22%.
estágios larvais. Os parâmetros hidrológicos médios neste estudo
Diariamente, no final da tarde, era renovado 50% do foram: temperatura com um mínimo de 27,50 C e um
volume do béquer de cultivo com água proveniente de máximo de 29,20C, o pH 8,4, oxigênio dissolvido
um aquário de 120 L, o qual era dotado de um sistema ficou entre 6,5 e 6,8 ml/L. O nitrito variou entre
de filtro biológico composto por placas perfuradas 0,00 e 0,03 ppm, e a amônia entre 0,00 e 0,02 ppm.
cobertas por cascalho, ligadas a uma tubulação que A salinidade manteve-se em 35‰. No cultivo larval
acionava o filtro com fluxo contínuo de ar através de de S. seticornis feito por YANG (1976) a temperatura
um soprador de 3 HP. variou de 17 a 29oC e a salinidade entre 32 a 36‰,
A alimentação, fornecida três vezes por dia, era o autor não menciona os valores de pH, oxigênio,
composta de duas refeições (8 h e 14 h) de alimento amônia e nitrito da água, apenas diz que a água do
cultivo era trocada diariamente.
inerte e uma (17 h) de náuplios de Artemia sp. recém
eclodida. O alimento inerte utilizado foi filé de peixe A temperatura é um dos principais fatores
passado através de uma peneira de 325 µm de abertura ambientais que afetam o desenvolvimento e
de malha. Os náuplios de Artemia sp. eram fornecidos crescimentos dos crustáceos.
após a troca d’água (50%). Isto se fazia necessário YANG (1976) obteve sucesso no cultivo das larvas
para que houvesse disponibilidade de alimento provenientes dos adultos coletados em águas rasas (2
vivo durante o período noturno, além desse tipo de m) da Flórida em temperaturas de 17 a 29oC, porém
alimento não causar aumento nas taxas de compostos dos ovos provenientes de adultos coletados em
nitrogenados tóxicos na água do cultivo. águas profundas (200 m) apenas cinco eclodiram em
Todos os dias às 8 horas eram mensurados o prezoea em temperaturas de cultivo de 25oC.
oxigênio dissolvido e a temperatura, através de ZHANG and LIN (1998) observaram diferenças
oxímetro digital YSI model 55; o pH e amônia através no tempo de desenvolvimento larval de Lysmata
de métodos colorimétricos Fuga Mortal (1993) e a wurdemanni em experimento onde variaram a
salinidade através de um refratômetro. temperatura do cultivo. Segundo estes autores a
A sobrevivência foi observada no décimo segundo temperatura tem um importante papel no tempo
dia e no final do cultivo (décimo quinto dia), quando de desenvolvimento larval e pode ser usada para
ocorreu a metamorfose em todas as larvas. encurtar a duração da larvicultura de crustáceos.
Nesta pesquisa, a temperatura não deve ter
RESULTADOS E DISCUSSÃO influenciado negativamente, visto que ficou entre
As larvas cultivadas neste trabalho eclodiram em 27,5 e 29,2oC, valores considerados adequados para
zoea e a primeira megalopa ocorreu com dez dias de espécies tropicais.
cultivo. Estes resultados confirmam que Stenorynchus A nutrição é outro fator importante no desenvol-
seticornis passa por três estágios larvais: dois zoea e vimento larval e sobrevivência, o valor nutricional
um megalopa (PINHEIRO et al., 1994; RHYNE et al., do alimento parece afetar a eficiência da assimilação
2003). A sobrevivência no décimo segundo dia de em crustáceos (ZHANG et al., 1997). A alimentação
cultivo foi de 40% (20 sobreviventes dos 50 iniciais), inerte utilizada neste trabalho consistiu apenas de
quando 10 caranguejos (50% dos sobreviventes) filé de peixe (Scianidae), o qual não deve ter atendido
passaram para megalopa. A sobrevivência final foi todos os requerimentos nutricionais das larvas, em

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 325 - 329, 2008


328 MENDES e VALENÇA

um futuro trabalho esta alimentação inerte poderia REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


ser melhorada com o acréscimo de premix vitamínico ASSIS, C. S. e COBO,V. J. 2002 Crescimento relativo
e mineral, ou até mesmo serem testadas rações de Stenorhynchus seticornis (Herbst, 1788) (Majidae,
comerciais existentes para larvas de crustáceos. Inachinae) na região da Ilha das Couves, Ubatuba,
Segundo PINHEIRO et al. (1994) devido a dificul- SP. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOLOGIA
dades surgidas durante o cultivo larval causadas 24, Itajaí, 2002. Resumos, Itajaí: Editora e Gráfica
por inadequações nas técnicas de manuseio, manejo Berger,p. 115.
alimentar e contaminações poucos estudos abordam o
desenvolvimento larval de forma completa. Portanto BROWN, C. L.; CATO, J. C.; CORBIN, J. S. 2003
o estudo de tecnologias de cultivo adequadas para o International efforts to culture and conserve marine
cultivo larval é de suma importância para o desenvol- ornamental fish and ivertebrates – an overview.
vimento tanto do estudo larval de crustáceos quanto In: WORLD AQUACULTURE 2003 – Book of
da aqüicultura destes. Abstracts, Salvador, 2003. Abstract, p. 125.

Os resultados alcançados nesta pesquisa são CALADO, R.; NARCISO, L.; MORAIS, S.; RHYNE,
bastante promissores, visto que teve apenas a finali- A. L.; LIN, J. 2003 A rering system for the
dade de estudar a possibilidade de fechar o ciclo culture of ornamental decapod crust��������������
acean larvae.
larval em ambiente controlado. Aquaculture, Amsterdam, v. 218, p. 329-339.
SILVA et al. (2002) realizaram trabalho sobre
CALADO, R. e NARCISO, L. 2003 �������������������
Can all ornamental
ocorrência de Majidae na costa norte brasileira e
decapods be raised in captivity? The pros and
constataram que dentre os 155 indivíduos dessa
cons of profitability in conservation. In: WORLD
família, o Stenorhynchus seticornis foi o menos
AQUACULTURE 2003 – Book of Abstracts,
representativo com apenas três exemplares. Este
Salvador, 2003. Abstract, p. 145.
resultado já pode ser um alerta. SCHRIEVER (1977)
já alertava sobre a necessidade de informações sobre COBO, V.J. e OLIVEIRA, D. F. 2002 Maturidade
a reprodução e ciclo larval deste crustáceo. fisiológica do caranguejo aranha Stenorhynchus
Atualmente, pesquisadores, comerciantes, seticornis (Crustacea, Majidae) na Ilha das
coletores e aquariofilistas estão unindo-se em Couves, litoral norte paulista. In: CONGRESSO
um esforço mundial para minimizar a crescente BRASILEIRO DE ZOOLOGIA 24, Itajaí, 2002.
pressão sobre as populações de espécies marinhas Resumos, Itajaí: Editora e Gráfica Berger, p. 65.
ornamentais e para promover a sustentabilidade
CORBIN, J. S. 2001 Marine Ornamentals`99, conference
destes recursos (CORBIN, 2001). No entanto, este
highlights and priority recommendations. In:
objetivo só estará perto de ser alcançado quando a
BURGESS, P. (Ed.), Marine Ornamental Conference,
coleta de organismos selvagens for significativamente
Hawaii. Aquarium Sciences and Conservation, v.3,
substituída pelo cultivo destas espécies.
p. 3-11.
Por apresentar um ciclo larval de curta duração
o caranguejo aranha S. seticornis é um candidato HULINGS, N. C. e HEMLAY, D. W. 1963 Investigation
promissor para a aqüicultura ornamental. Um cultivo of the feeding habits of two species of sea stars.
comercial desta espécie irá reduzir a demanda por Bull. of Mar. Sci. of the Gulf and Carib., v. 13, n. 2,
espécimes selvagens e, conseqüentemente, a pressão p. 250-254.
sobre os ecossistemas marinhos costeiros onde
habitam. Porém mais estudos sobre a nutrição e MELO, G. A S. de. 1996 Manual de Identificação dos
manejo larval são necessários visando aumentar a Brachyura (caranguejos e siris) do litoral brasileiro. São
sobrevivência. Paulo: FAPESP. 604 p.

MENDES, G. N. 1986 Manual básico sobre biologia e


CONCLUSÃO
cultivo do camarão gigante da Malásia Macrobrachium
A metodologia de cultivo utilizada para a rosenbergii. Olinda: Fundação Casa das Crianças.
larvicultura do camarão Macrobrachium rosenbegii 57 p.
mostrou-se adequada para o cultivo larval de
Stenorynchus seticornis. OLIVEIRA, A. M. S. 1987 Aranha do mar. In:
ALZUGARAY, D. e ALZUGARAY, C. (Editores).

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 325 - 329, 2008


Observações preliminares sobre o desenvolvimento larval do caranguejo aranha Stenorhynchus seticornis... 329

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B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 325 - 329, 2008


OBSERVAÇÕES A RESPEITO DA PESCARIA SAZONAL DE DOURADO
(Coryphaena hippurus) COM ESPINHEL-DE-SUPERFÍCIE NO SUL DO BRASIL

Rodrigo DALLAGNOLO 1, 3; Humber Agrelli ANDRADE 2

RESUMO
No sul do Brasil a partir do ano de 2001 ocorreu um incremento significativo do volume de capturas
de dourado durante os meses de verão motivado por uma demanda das empresas exportadoras de
pescado sediadas em Itajaí, no estado de Santa Catarina. A maioria das capturas foram realizadas
por barcos semi-industriais da frota de Itaipava (estado do Espírito Santo) que operam com anzóis e
linhas. Este trabalho apresenta descrições das capturas, esforços de pesca e CPUEs e uma discussão
sobre a estratégia adotada pelos pescadores. O pico de produção aconteceu em 2003 quando 711 t
foram desembarcadas. A CPUE decaiu de 585 kg em 2001 para 184 kg a cada mil anzóis em 2005. A
estratégia de pesca adotada pelos pescadores sugere um alto grau de especialização da frota.
Palavras-chave: captura, esforço pesqueiro, espinhel de superfície

OBSERVATIONS CONCERNING THE SEASONAL DOLPHIN-FISH (Coryphaena hippurus)


FISHERY WITH SURFACE LONGLINE IN THE SOUTH OF BRAZIL

ABSTRACT
The amount of dolphin-fish caught in south of Brazil during summer increased since 2001 due to
demand of exportation companies based in Itajaí, in the state of Santa Catarina. Most of catches
was landed by semi-industrial boats of Itaipava (Espírito Santo state) that fishes with hooks and
lines. This work there are descriptions of catches, fishing effort and CPUEs and a discussion about
the strategy adopted by the fishermen. Production peaked in 2003 when 711 t were landed. CPUE
declined from 585 kg/1000 hooks in 2001 to 184 kg/1000 hooks in 2005. Fishing strategy adopted
by fishermen suggests a high degree of specialization of the fleet.
Key words: catch, fishing effort, surface longline

Relato de caso: Recebido em: 18/01/2007; Aprovado em: 04/12/2007


1
Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências Tecnológicas, da Terra e do Mar
2
Universidade Federal de Santa Catarina, Departamento de Informática e Estatística
3
Endereço/Address: UNIVALI/CTTMar – C.P.: 360 – Itajaí, SC – CEP: 88302-202
e-mail: rdallagnolo@univali.br

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 331 - 335, 2008


332 DALLAGNOLO e ANDRADE

INTRODUÇÃO espinhel, número de anzóis utilizados por lance, dias


O dourado (Coryphaena hippurus) é uma espécie de pesca e número de lances por dia.
epipelágica e cosmopolita que sustenta importantes
pescarias comerciais, artesanais e recreacionais em Tabela 1. Número de desembarques, de entrevistas
todo o mundo e é capturado, na maioria dos casos, e de fichas de produção recolhidas nas empresas de
com o uso de atratores flutuantes e petrechos como pesca, referentes a desembarques na frota de Itaipava
redes de espera, cerco e espinhéis de superfície. realizados no porto de Itajaí entre 2001 e 2005.
Essa espécie realiza grandes migrações alimentares Ano Entrevista Fichas Total
e reprodutivas e picos de captura são comumente 2001 6 11 17
observados durante o verão (KRAUL, 1999; MAHON, 2002 6 15 21
1999; ZAOUALI and MISSAOUI, 1999). Na costa 2003 22 87 109
central do Brasil, entre os estados da Bahia e Rio de 2004 17 24 41
Janeiro, a pesca do dourado está associada à atuação 2005 41 28 69
de uma frota semi-industrial, especializada no uso Total 92 165 257
de anzóis e linhas, sediada em Itaipava no estado do
Espírito Santo. A frota de Itaipava, estimada em cerca Para cada viagem de pesca descrita nas entrevistas
de 500 embarcações, sofreu no final dos anos 80 uma foi calculado um esforço de pesca padronizado pelo
mudança em termos de áreas de pesca e recursos- tempo de imersão dos anzóis, pois este diferiu de
alvo quando trocou a pescaria de grandes peixes acordo com o número de lances efetuados por dia
demersais no talude pela de alto-mar direcionada a de pesca.
atuns e afins (MARTINS et al., 2005). mi
A partir do ano de 2001 a indústria de pescado f i = zi × d i × (1)
mp
para exportação, sediada em Itajaí no estado de Santa
Catarina, passou a comprar capturas de dourado para onde fi é o esforço de pesca, zi é o número de
suprir a demanda do mercado externo. Observou-se anzóis, di é o número de dias de pesca e mi é o tempo
a partir daí um incremento significativo no volume médio de imersão na viagem i. mp é um tempo médio
desembarcado da espécie no porto pesqueiro de Itajaí de imersão (9,4 horas) tomado como referência para
e o estabelecimento de uma pescaria concentrada a padronização do esforço (ver comentários mais
no sul do Brasil durante o verão, realizada por adiante).
embarcações pertencentes à frota de Itaipava. O A captura por unidade de esforço (CPUE) em
desenvolvimento inicial dessa pescaria é apresentado um ano s qualquer (Us), foi estabelecida em kg/1000
nesse trabalho de maneira descritiva com enfoque na anzóis a partir da proporção entre o somatório das
estratégia de atuação das embarcações, na variação capturas e o somatório do esforço de pesca registrado
anual das capturas, na estimativa do esforço total e nas entrevistas. O esforço de pesca total aplicado
captura por unidade de esforço. em cada ano foi estimado a partir das estimativas de
CPUE baseadas nas entrevistas e na captura anual
MATERIAL E MÉTODOS da espécie (Ct):
Informações sobre a frota de Itaipava que desem- Ct
barcou entre 2001 e 2005 no porto pesqueiro de Itajaí, ft = (3)
em Santa Catarina foram coletadas a partir de (i) Us
entrevistas realizadas com os mestres dos barcos
durante os desembarques e (ii) fichas de produção RESULTADOS E DISCUSSÃO
das empresas (Tabela 1). As fichas de produção Entre 2001 e 2005 foram registrados desembarques
contêm o total capturado em cada viagem enquanto de sessenta e nove diferentes embarcações de
que as entrevistas contêm informações detalhadas das Itaipava nos portos de Itajaí. Para doze delas (17,4%)
viagens descritas pelos mestres, a saber: comprimento há informações sobre as características físicas. Os
do barco, potência do motor, capacidade de carga dos barcos construídos em madeira têm em média 14 m
porões, número de tripulantes, hora de lançamento e de comprimento, 19 t de arqueação bruta, potência
recolhimento do petrecho, a profundidade dos anzóis do motor de 200 HP e operaram com uma tripulação
na coluna d’água, tamanho e tipo dos anzóis, as iscas média de 7 pescadores. Essas características vão de
utilizadas, comprimento e material de construção do encontro àquelas reportadas para a frota de linheiros

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Observações a respeito da pescaria sazonal de dourado (Coryphaena hippurus)... 333

que opera na costa central do Brasil (COSTA et al., a pequena profundidade a que o anzol é lançado
2005; MARTINS et al., 2005; OLAVO et al., 2005). na coluna d’água, indica o direcionamento para a
O espinhel é composto por uma linha principal de captura de uma espécie epipelágica que se distribui
nylon monofilamento de 3,6 mm de diâmetro, com preferencialmente muito próxima da superfície
comprimento médio de 5,2 milhas náuticas (10 km). durante o dia, como é o caso do dourado (CAMPOS
As linhas secundárias possuem em média 3,2 m de et al., 1993).
comprimento e, segundo os mestres, são armadas
para operarem a cerca de 2,5 m de profundidade.
Tabela 2. Composição das capturas da frota de Itaipava
São utilizados dois anzóis em cada seção, delimitada
durante as temporadas de pesca de dourado (Coryphaena
por duas bóias. Normalmente há cerca de 500 bóias hippurus) em águas catarinenses
ou seções e são utilizados, em média, 955 anzóis
por lance de pesca. Os anzóis têm forma de “J” com Espécie Captura (%)
hastes de 5 cm de comprimento, curvatura de 5 cm, Coryphaena hippurus 94,71
ponta com 1,5 cm, distância entre a ponta e a haste de Xiphias gladius 0,78
2,2 cm e garganta de 2,5 cm (para maiores detalhes Thunnus spp. 0,61
sobre as partes básicas de um anzol recomenda-se Carcharhinus spp. 0,49
BJORDAL and LOKKEBORG, 1996). Sphyrna spp. 0,47
As iscas utilizadas foram pedaços de bonito- Prionace glauca 0,38
listrado (Katsuwonus pelamis) e sardinha-verdadeira Trichiurus lepturus 0,29
(Sardinella brasiliensis). Em muitos casos mais de um Isurus oxyrinchus 0,26
Outros 2,01
tipo de isca é utilizado na mesma viagem. As capturas
foram compostas por 31 espécies sendo o dourado a
mais importante com 95% do total capturado em peso A frota de Itaipava atuou sobre a plataforma
ao longo dos anos analisados (Tabela 2). continental em profundidades que variaram entre
As estratégias de pesca empregadas por esses 100 e 200 m desde o norte de Paranaguá até o sul da
barcos durante a safra de verão revelam um elevado ilha de Florianópolis, entre 26ºS e 28ºS (Figura 1). As
grau de especialização da frota que resulta em uma viagens duram em torno de onze dias, dos quais, oito
pescaria praticamente monoespecífica. Por exemplo, são efetivamente empregados na pesca.

Figura 1. Área de pesca utilizada pela frota de Itaipava para a captura do dourado (Coryphaena hippurus) nos períodos
de verão entre os anos de 2001 e 2005. As linhas representam as isóbatas de 100 e 200 m

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334 DALLAGNOLO e ANDRADE

Nas operações de pesca podem ser utilizadas duas Aproximadamente 96% destas capturas acontecem
estratégias quanto ao tempo de imersão dos anzóis em um curto período de cerca de três meses (outubro,
na água e número de lances por dia. A mais utilizada novembro e dezembro), que caracteriza a “safra” da
consiste no lançamento do espinhel duas vezes ao pescaria (Figura 2). A sazonalidade nas capturas de
dia, a primeira em torno das cinco horas da manhã. dourado observada no presente trabalho é similar
O tempo médio de imersão dos anzóis, do final do àquela registrada por KLIPPEL et al. (2005) para os
lançamento até o começo do recolhimento é de 9,4 desembarques realizados na costa central do Brasil.
horas (ou 9 h 25 min). O lançamento é uma tarefa As estimativas do esforço de pesca total mostram
relativamente rápida, no entanto o recolhimento é que 4.223.286 anzóis foram utilizados pela frota de
mais demorado e pode durar cinco horas ou mais, Itaipava em Itajaí entre 2001 e 2005. No ano de 2003,
dependendo do sucesso na captura. O recolhimento cerca de 1.670.988 anzóis foram lançados na água, o
do primeiro lance começa em torno do meio-dia e que corresponde a 39,5% de todo o esforço aplicado
quase que simultaneamente o espinhel é novamente no período analisado (Figura 2).
lançado ao mar. Após mais nove horas de imersão, o
A CPUE sofreu uma queda contínua passando
espinhel é recolhido novamente ao final do dia. Na
de 585 kg, em 2001, para 184 kg a cada mil anzóis
segunda estratégia utilizada, o espinhel é lançado
em 2005, uma redução de 30% em apenas cinco
uma única vez ao dia e nesses casos o período de
temporadas de pesca (Figura 2).
imersão dura em média 13 horas. O tempo de imersão
nos casos em que a estratégia é lançar o espinhel
duas vezes ao dia foi tomado como referência para a
padronização do esforço de pesca por viagem, como
indicado na equação 1 (Tabela 3).

Tabela 3. Período de imersão quando realizado um ou


dois lances de pesca por dia

Número Período de
Número de Desvio
de imersão
observações padrão
lances médio
1 20 13h00min 1h54min
2 72 9h25min 2h13min

A produção total de dourado descarregada no


porto pesqueiro de Itajaí, capturada na costa sul do
Brasil, atingiu um máximo de 711 t no ano de 2003,
cerca de 10% da produção nacional, que nesse mesmo
Figura 2: Captura (C) (toneladas), esforço de pesca (f)
ano também atingiu o pico (IBAMA, 2004). Em 2004
(milhares de anzóis) e CPUE (U) (kg/ 1000 anzóis) de
as capturas retornaram a patamares comparáveis aos dourado (Coryphaena hippurus) obtidos pela frota de
de 2001 e 2002 (< 400 t). Em nível nacional, entre 2001 Itaipava entre 2001 e 2005 em águas catarinenses
e 2005, o estado do Espírito Santo liderou a produção
dessa espécie com capturas, em torno de 2.000 t/ano, Na região Norte e Nordeste a pescaria do
seguido pelo Rio de Janeiro (1.500 t/ano) e Bahia dourado é realizada pela frota artesanal e foi
(1.000 t/ano). A produção de São Paulo e de Santa avaliada por LESSA et al. (2004) que apontou um
Catarina aparecem na seqüência, oscilando entre 200 estado de sobrepesca do estoque. Para a região
e 700 t/ano (IBAMA, 2002; 2003; 2004; 2005 e 2007). Sudeste e Sul, apesar dos volumes de captura muito
Na região nordeste o Ceará e Rio Grande do Norte mais expressivos e da atuação direcionada de uma
produzem juntos menos de 1.000t/ano a partir de numerosa frota especializada, nenhum estudo
capturas de uma frota artesanal de linha de mão. conclusivo sobre o estado do estoque foi realizado
Cerca de 70% da produção desembarcada em Itajaí até o momento. Para que isso possa ser feito de
proveio das capturas realizadas pela frota de Itaipava. maneira eficiente, esforços devem ser dirigidos à

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Observações a respeito da pescaria sazonal de dourado (Coryphaena hippurus)... 335

integração de dados de captura e esforço de pesca do Brasil (estados do Espírito Santo e Bahia) para
direcionado ao dourado nos diferentes estados na um ano padrão (1997-2000). In: COSTA, P.A.S.;
região sudeste e sul. As informações apresentadas MARTINS, A.S.; OLAVO, G. Pesca e potenciais
por este relato de caso retratam a dinâmica de uma de exploração de recursos vivos na região central
pescaria muito concentrada no espaço e no tempo e da Zona Econômica Exclusiva brasileira. Rio de
direcionada a uma importante parcela do estoque Janeiro: Museu Nacional. p. 71-82.
de dourado explorada no sudeste e sul do Brasil. Os
KRAUL, S. 1999 Seasonal abundance of the
autores sugerem a consideração dessas informações
dolphinfish, Coryphaena hippurus, in Hawaii and the
para uma avaliação mais completa desse importante
tropical Pacific Ocean. Scientia Marina, Barcelona,
recurso pesqueiro.
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CAMPOS, J. A.; SEGURA, A.; LIZANO, O.; MADRIGAL,
recursos pesqueiros da região Nordeste. �������
Volume
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2. REVIZEE – Score NE. p. 27-38.
(Pisces: Coryphaenidae) y abundancia de otros
grandes pelágicos en el Pacífico de Costa Rica. MAHON, R. 1999 Dolphinfish fisheries in the
Revista de Biología Tropical, San José, 41(3): 783- Caribbean region. Scientia Marina, Barcelona,
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Áreas de pesca e rendimentos da frota linheira na pesca de linha de alto mar realizada por frotas
região central da costa brasileira entre Salvador- sediadas no Espírito Santo, Brasil. In: COSTA,
BA e o Cabo de São Tomé-RJ. In: COSTA, P.A.S.; P.A.S.; MARTINS, A.S.; OLAVO, G. Pesca e
MARTINS, A.S.; OLAVO, G. Pesca e potenciais potenciais de exploração de recursos vivos na
de exploração de recursos vivos na região central região central da Zona Econômica Exclusiva
da Zona Econômica Exclusiva brasileira. Rio de brasileira. Rio de Janeiro: Museu Nacional. p.
Janeiro: Museu Nacional. p. 57-70. 35-55.

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de exploração de recursos vivos na região central
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IBAMA. 2007 Estatística da pesca 2005: grandes regiões


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www.ibama.gov.br/ > Acesso em: 18 out. 2007.

KLIPPEL, S.; MARTINS, A. S.; OLAVO, G.; COSTA,


P. A. S.; PERES, M. B. 2005 Estimativas de
desembarque da pesca de linha na costa central

B. Inst. Pesca, São Paulo, 34(2): 331 - 335, 2008


INSTRUÇÕES AOS AUTORES
O BOLETIM DO INSTITUTO DE PESCA tem por objetivo a divulgação de trabalhos científicos inéditos, relacionados
a Pesca, Aqüicultura e Limnologia. É publicado 01 volume por ano, com o necessário número de tomos.
Os trabalhos publicados no Boletim do Instituto de Pesca são: Artigo Científico, Nota Científica, Artigo de Revisão ou
Relato de Caso. Podem ser redigidos em português, inglês ou espanhol e devem conter os seguintes itens:
TÍTULO: Deve ser claro e conciso, redigido em português e inglês e, se for o caso, também em espanhol. Havendo
necessidade de título longo, recorrer a subtítulo. Deve ser apresentado em letras maiúsculas, alinhamento
centralizado. No caso de recebimento de auxílio para a execução do trabalho, informar como nota de rodapé, na primeira
página, por meio de asterisco, também aposto ao final do título.
NOME(s) DO(s) AUTOR(es): Deve(m) ser apresentado(s) por extenso, na ordem direta (prenome e sobrenome) e em
letras maiúsculas apenas o sobrenome pelo qual o(s) autor(es) deve(m) ser identificado(s). A filiação do(s) autor(es), bem
como o endereço completo para correspondência e o e-mail, deverão ser colocados como nota de rodapé na primeira
página, sendo identificados por números arábicos separados por vírgula quando necessário.
RESUMO + Palavras-chave: É obrigatório em qualquer tipo de trabalho. O Resumo deve conter concisamente o que foi
feito, os resultados obtidos e a conclusão. Número máximo de palavras: no resumo - para Artigo Científico e Artigo de
Revisão, 250 (duzentas e cinqüenta); para Nota Científica e Relato de Caso, 150 (cento e cinqüenta); em palavras-chave,
no máximo de 6 (seis) palavras, incluindo nomes científicos, se necessário. Resumo + Palavras-chave em português e
inglês (Abstract + Key words) são obrigatórios, independente do idioma em que o trabalho esteja redigido.
INTRODUÇÃO: Contém revisão da literatura relativa ao tema do trabalho e objetivo do mesmo.
MATERIAL E MÉTODOS : Descrição dos mesmos
RESULTADOS: Podem ser apresentados sob a forma de tabelas e/ou figuras, quando necessário. Tabelas devem ser
numeradas com algarismos arábicos e encabeçadas pela respectiva legenda; os dados apresentados nesta não devem ser
repetidos em gráfico, a não ser quando absolutamente necessário. Gráficos, desenhos, mapas, fotografias etc., nunca
ultrapassando as medidas 16x21 cm, devem ser encaixados no texto, citados como figura e numerados, consecutivamente,
com algarismos arábicos, com título autoexplicativo abaixo. Desenhos, mapas e fotografias devem ser apresentados no
original e em arquivos distintos, preferencialmente em formato digital “tiff”. Ex.: nome do arquivo.tif. Figuras coloridas
poderão ser incluídas somente em casos estritamente necessários.
DISCUSSÃO: Resultados e Discussão podem constituir um capítulo único.
CONCLUSÃO(ões): Discussão e Conclusão também podem constituir capítulo único.
AGRADECIMENTOS: É opcional.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
1 - NO TEXTO
- Usar o sistema Autor/Data, ou seja, o sobrenome do(s) autor(s) (em letras maiúsculas) seguido(s) do ano em que a obra
foi publicada. Assim: Para um autor: MIGHELL (1975) observou...; Segundo AZEVEDO (1965), a piracema...; Estas
afirmações foram confirmadas em trabalhos posteriores (WAKAMATSU, 1973).
- Para dois autores: ROSA JÚNIOR e SCHUBART (1980), pesquisando... (Se o artigo do autor (s) que está submetendo o
trabalho estiver redigido em português usar “e” ligando os sobrenomes dos autores. Se estiver redigido em inglês ou
espanhol usar “and” ou “y”, respectivamente).
- Para três ou mais autores: O sobrenome do primeiro autor deve ser seguido da expressão “et al.”. Assim: SOARES et al.
(1978) constataram... ou Tal fato foi constatado na África (SOARES et al., 1978).
- Para o mesmo autor em anos diferentes respeitar a ordem cronológica, separada por vírgula.Ex : SILVA (1980, 1985).
-Para citação de vários autores seqüencialmente, respeitar a ordem cronológica do ano de publicação e separá-los por “;”.
Assim: ...........nos viveiros comerciais (SILVA, 1980; FERREIRA, 1999; GIAMAS e BARBIERI, 2002).
- Ainda, quando for absolutamente necessário referenciar um autor citado em trabalho consultado, o nome desse autor será
referido apenas no texto (em letras minúsculas), indicando-se, entre vírgulas e precedido da palavra latina apud, o nome
do autor do trabalho consultado, o qual irá figurar na lista de referências. Ex.: “Segundo Gulland, apud SANTOS (1978),
os coeficientes...”.
2 - NA LISTAGEM BIBLIOGRÁFICA
2.1. Documentos impressos – Para dois autores, relacionar os artigos referidos no texto, com os nomes de todos os autores
do trabalho separados por “e”, “and” ou “y”, se o texto for redigido em português, inglês ou espanhol, respectivamente.
Se mais de dois autores, separá-los por ponto e vírgula. As referências devem ser ordenadas alfabeticamente pelo último
sobrenome do autor. Havendo mais de uma obra com a mesma entrada, considera-se a ordem cronológica e, em seguida, a
alfabética do terceiro elemento da referência.
Exemplos:
a) Artigo de periódico
BARBIERI, G. e SANTOS, E.P. dos 1980 Dinâmica da nutrição de Geophagus brasiliensis (Quoy e Gaimard, 1824), na
represa do Lobo, Estado de São Paulo, Brasil. Ciência e Cultura, São Paulo, 32(1): 87-89.
WOHLFARTH, G.W.; MOAY, R.; HULATA, G. 1983 A genotype-environment interaction for growth rate in the
common carp, growing in intensively manured ponds. Aquaculture, Amsterdam, 33: 187-195.
b) Dissertação, tese, trabalho apresentado para obtenção de Bacharelado, etc.
GODINHO, H.M. 1972 Contribuições ao estudo do ciclo reprodutivo de Pimelodus maculatus Lacépède, 1803 (Pisces,
Siluroidei)associado a variações morfológicas do ovário e a fatores abióticos. São Paulo. 94p. (Tese de Doutoramento.
Instituto de Ciências Biomédicas, USP).
EIRAS, A.C. 1991 Células sanguíneas e contagem diferencial de leucócitos de 13 espécies de teleósteos do rio Paraná -
PR. São Paulo. 95p. (Trabalho para obtenção do título de Bacharel em Ciências Biológicas. Organização Santamarense de
Educação e Cultura).
c) Livro, folheto, etc.
GOMES, F.P. 1978 Curso de estatística experimental. 8a ed. Piracicaba: Escola Superior de Agricultura “Luiz de
Queiroz”. 430p. ENGLE, R.F. e GRANGER, C.W.J. 1991 Long-run economic relationship: readings in cointegration.
New York: Oxford University Press. 301p.
d) Capítulo de livro, publicação em obras coletivas, anais de congresso, reunião, seminário, etc.
MACKINNON, J.G. 1991 Critical values for cointegration tests. In: ENGLE, R.F. e GRANGER, C.W.J. Long-run
economic relationship: readings in cointegration. New York: Oxford University Press. p.267-276.
AMORIM, A.F. e ARFELLI, C.A. 1977 Contribuição ao conhecimento da biologia e pesca do espadarte e agulhões no
litoral sulsudeste do Brasil. In: CONGRESSO PAULISTA DE AGRONOMIA, 1., São Paulo, 5-9/set./1977. Anais... São
Paulo: Associação de Engenheiros Agrônomos. p.197-199.
ÁVILA-DA-SILVA, A.O.; CARNEIRO, M.H.; FAGUNDES, L. 1999 Gerenciador de banco de dados de controle
estatístico de produção pesqueira marítima - ProPesq.. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA DE PESCA,
11.; CONGRESSO LATINO AMERICANO DE ENGENHARIA DE PESCA, 1., Recife, 17-21/out./1999. Anais... v.2,
p.824-832.
2.2. Informações eletrônicas (Documentos consultados online, em CD-ROM, etc.)
- Utilizar as normas de referência de documentos impressos, acrescentando o endereço eletrônico em que o documento foi
consultado.
Exemplos:
FLORES, S.A. y HIRT, L.M. 2002 Ciclo reproductivo y fecundidad de Pachyurus bonariensis (Steindachner, 1879),
Pisces, Scianidae. B. Inst. Pesca, São Paulo, 28(1): 25-31. Disponível em: http://www.pesca.sp.gov.br/publicações.html.
Acesso em: 26 ago. 2004.
CASTRO, P.M.G. (sem data) A pesca de recursos demersais e suas transformações temporais. Disponível em: http://
www.pesca.sp.gov.br/textos.php. Acesso em: 3 set. 2004.
SILVA, R.N. e OLIVEIRA, R. 1996 Os limites pedagógicos do paradigma da qualidade total na educação. In:
CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UFPE, 4., Recife, 1996. Anais eletrônicos...
Disponível em: http://www.propesq.ufpe.br/anais/anais.htm Acesso em: 21 jan. 1997.
TOLEDO PIZA, A.R.; LOBÃO, V.L.; FAHL, W.O. 2003 Crescimento de Achatina fulica (gigante africano) (Mollusca:
Gastropoda) em função da densidade de estocagem. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O
PROGRESSO DA CIÊNCIA, 55., Recife, 14-18 jul./2003. Anais... Recife: Sociedade Brasileira para o Progresso da
Ciência. 1 CD-ROM.
OBSERVAÇÕES:
1. Os manuscritos de trabalhos devem ser digitados em Word/Windows, fonte Book Antiqua, tamanho 11, espaçamento
1,5 entre linhas. Importante as linhas devem ser numeradas seqüencialmente da primeira a última página, e não
ultrapassar 20 páginas em tamanho A4, incluindo figura(s) e/ou tabela(s).
2. O trabalho deve ser enviado em uma via impressa, e o(s) arquivo(s) do mesmo em CD-ROM com identificação.
3. O trabalho será analisado pelo Comitê Editorial do Instituto de Pesca (CEIP), segundo a ordem cronológica de
recebimento, e por revisores científicos da área. Em seguida, caso necessário, retornará ao(s) autor(es) para modificações.
O prazo de retorno do trabalho do(s) autor(es) ao CEIP será de 30 (trinta) dias, após o qual o trabalho será
automaticamente cancelado.
4. Os originais de trabalho não aceito para publicação serão devolvidos ao(s) autor(es).
5. Os autores receberão, ao todo, 20 (vinte) separatas. Havendo interesse por maior número, as despesas correrão por
conta do autor.
6. Os trabalhos não originários do Instituto de Pesca deverão ser encaminhados ao Comitê Editorial do Instituto de Pesca:
Av. Francisco Matarazzo, 455 - CEP: 05001-900 - São Paulo-SP-Brasil / Fax: (0xx11) 3871-7568 ou 3871-7525.
e-mail: ceip@pesca.sp.gov.br / página: www.pesca.sp.gov.br
7. Trabalho, cuja apresentação não seguir estritamente estas normas, será devolvido ao(s) autor(es).
INSTRUCTIONS TO AUTHORS
The BOLETIM DO INSTITUTO DE PESCA is a scientific journal that aims to publish original papers related to Fisheries,
Aquaculture and Limnology. It is a yearly publication, with the necessary number of tomes.
The articles issued by the Boletim do Instituto de Pesca may be categorized as follows: Research Article, Short
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TITLE: Concise and informative, written in Portuguese and English (also in Spanish, if the article is written in that
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accomplishment of the work should be informed as a footprint note in the first page, by using an asterisk at the end of the
title.
NAME OF THE AUTHOR(S): Full names should be presented in direct order (first name and surname). Only the
surname under which the author(s) may be identified should be typed in capital letters. The author(s)’s affiliation,
complete mailing address and e-mail should be placed at the bottom of the first page, identified by Arabic numbers
separated by commas when necessary.
ABSTRACT + KEY WORDS: Mandatory in any kind of paper. The abstract should state, concisely, the study’s
purposes, basic procedures, results and conclusion. Is must be limited to 250 (two hundred and fifty) words for Research
and Review Articles; 150 (one hundred and fifty) words for Short Communication and Case Report. The key words must
be limited to 6 (six), including scientific names if necessary. Abstract + Key words in Portuguese and English are
mandatory, independently of the language in which the paper is written.
INTRODUCTION: Should explain the theme and objective of the study based on references from the literature.
MATERIAL AND METHODS: Description
RESULTS: May be presented as tables and/or figures when necessary. Tables should be numbered with Arabic numerals,
and the respective title should be put at the top. Data should not be duplicated in graphs and tables, unless when absolutely
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Charts, drawings, maps, photographs, etc., no larger than 16X21 cm, should fit in the text, be mentioned as a figure and
numbered consecutively in Arabic numerals, with a self-explanatory title below. Drawings, maps and photographs should
be sent in their original forms and in separate file(s), preferably in “tiff” digital format. E.g.: name of the file.tif. The
publication of colored figures is restricted to situations where the colors are essential.
DISCUSSION: Results and Discussion may constitute a single chapter.
CONCLUSIONS: Discussion and Conclusions may also constitute a single chapter.
ACKNOWLEDGEMENTS: The acknowledgements are optional.
REFERENCES:
1- IN THE TEXT
- Use the system Author/Date: the author(s)’ last name in capital letters and the year in which the article was published.
For example:
One author: MIGHELL (1975) observed...; According to AZEVEDO (1965), the “piracema”...; These statements were
confirmed by later studies (WAKAMATSU, 1973).
Two authors: ROSA JÚNIOR and SCHUBART (1980), researching... (If the cited article has been written in Portuguese,
use “e” linking the authors’ surnames; if it has been written in English, use “and”; if in Spanish, use “y”).
Three or more authors: The first author’s surname should be followed by “et al”. Thus, SOARES et al. (1978) verified...
or Such fact was verified in Africa (SOARES et al., 1978).
- For the same author published in different years, the chronological order should be followed, separated by comma. Ex :
SILVA (1980, 1985)
To quote several authors sequentially, respect the chronological order of the year of publication and separate them by ";"
Example: ..... in commercial nurseries (SILVA, 1980; FERREIRA, 1999; GIAMAS and BARBIERI, 2002).
When it is absolutely necessary to refer an author cited in a consulted paper, the name of that author should be inserted
only in the text (lower case). The name of the consulted paper’s author, which will be included in the reference list, should
be written between commas, and preceded by the latin word apud. Example: “According to Gulland, apud SANTOS
(1978), the coefficients...”.
2- ON THE REFERENCE LIST
2.1. Printed documents
- For two authors, list the papers referred in the text with last names and initials of all authors separated by e, and or y,
when the text is written in Portuguese, English or Spanish, respectively. If more than two authors, they should be
separated by a semicolon.
In case of more than one article with the same entry, the chronological order should be considered. After that, use the
alphabetical order of the third element of the reference.
Examples:
a) Periodical article
BARBIERI, G. e SANTOS, E.P. dos 1980 Dinâmica da nutrição de Geophagus brasiliensis (Quoy e Gaimard, 1824), na
represa do Lobo, Estado de São Paulo, Brasil. Ciência e Cultura, São Paulo, 32(1): 87-89.
WOHLFARTH, G.W.; MOAY, R.; HULATA, G. 1983 A genotype-environment interaction for growth rate in the
common carp, growing in intensively manured ponds. Aquaculture, Amsterdam, 33: 187-195.
b) Dissertation, thesis, paper presented in order to take Bachelor’s degree, etc.
GODINHO, H.M. 1972 Contribuições ao estudo do ciclo reprodutivo de Pimelodus maculatus Lacépède, 1803 (Pisces,
Siluroidei) associado a variações morfológicas do ovário e a fatores abióticos. São Paulo. 94p. (Tese de Doutoramento.
Instituto de Ciências Biomédicas, USP).
EIRAS, A.C. 1991 Células sanguíneas e contagem diferencial de leucócitos de 13 espécies de teleósteos do rio Paraná -
PR. São Paulo. 95p. (Trabalho para obtenção do título de Bacharel em Ciências Biológicas. Organização Santamarense de
Educação e Cultura).
c) Book, leaflet, etc.
GOMES, F.P. 1978 Curso de estatística experimental. 8ªed. Piracicaba: Escola Superior de Agricultura “Luiz de
Queiroz”. 430p.
ENGLE, R.F. and GRANGER, C.W.J. 1991 Long-run economic relationship: readings in cointegration. New York:
Oxford University Press. 301p.
d) Book chapter, publication in collective work, congress, meeting or seminar annals, etc.
MACKINNON, J.G. 1991 Critical values for cointegration tests. In: ENGLE, R.F. and GRANGER, C.W.J. Long-run
economic relationship: readings in cointegration. New York: Oxford University Press. p.267-276.
AMORIM, A.F. e ARFELLI, C.A. 1977 Contribuição ao conhecimento da biologia e pesca do espadarte e agulhões no
litoral sul sudeste do Brasil. In: CONGRESSO PAULISTA DE AGRONOMIA, 1., São Paulo, 5-9/set./1977. Anais... São
Paulo:
Associação de Engenheiros Agrônomos. p.197-199.
ÁVILA-DA-SILVA, A.O.; CARNEIRO, M.H.; FAGUNDES, L. 1999 Gerenciador de banco de dados de controle
estatístico de produção pesqueira marítima - ProPesq. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA DE PESCA,
11.; CONGRESSO LATINO AMERICANO DE ENGENHARIA DE PESCA, 1., Recife, 17-21/out./1999. Anais... v.2,
p.824-832.
2.2. Electronic references (documents consulted online, CD-ROM, etc.)
- The rules for printed documents should be followed, adding the electronic address at which the document has been
consulted.
Examples:
FLORES, S.A. y HIRT, L.M. 2002 Ciclo reproductivo y fecundidad de Pachyurus bonariensis (Steindachner, 1879),
Pisces, Scianidae. B. Inst Pesca, São Paulo, 28(1): 25-31. Available at: http://www.pesca.sp.gov.br/publicações.shtml.
Access on: 26 August 2004.
CASTRO, P.M.G. (no date) A pesca de recursos demersais e suas transformações temporais. Available at: http://
www.pesca.sp.gov.br/textos.php. Access on: 3 September 2004.
SILVA, R.N. e OLIVEIRA, R. 1996 Os limites pedagógicos do paradigma da qualidade total na educação. In:
CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UFPE, 4., Recife, 1996. Anais eletrônicos... Available at:
http://www.propesq.ufpe.br/anais/ anais.htm. Access on: 21 January 1997.
TOLEDO PIZA, A.R.; LOBÃO, V.L.; FAHL, W.O. 2003 Crescimento de Achatina fulica (gigante africano) (Mollusca:
Gastropoda) em função da densidade de estocagem. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O
PROGRESSO DA
CIÊNCIA, 55., Recife, 14-18/jul./2003. Anais... Recife: Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. 1 CD-ROM.
OBSERVATIONS:
1. The manuscripts should be typed in Word for Windows, font Book Antiqua, size 11, 1.5 spacing between the lines.
Important: the lines should be numbered sequentially from first to last page and not more than 20 pages in A4 paper size,
including figure(s) and/or table(s).
2. The paper should be submitted in one printed copy and identified CD-ROM with the file(s).
3. The papers will be analysed by the Comitê Editorial do Instituto de Pesca-CEIP (Fishery Institute Editorial Board-
FIEB) and by scientific referees following chronological order. They may be sent back to the author(s) for modifications.
The authors have a deadline of 30 (thirty) days to return the paper to the CEIP (FIEB), after which it will be automatically
cancelled.
4. The papers not accepted for publication will be sent back to the author(s).
5. The author(s) will receive, in total, 20 (twenty) offprints of the paper. In case there is need of a larger number of
offprints,
they may be sent at the author(s)’ expense.
6. The papers not originated from the Instituto de Pesca will be sent to the Comitê Editorial do Instituto de Pesca-CEIP at:
Av. Francisco Matarazzo, 455 – CEP: 05001-900 - São Paulo - SP - Brazil Fax number: (0xx11) 3871-7568 or 3871-7525
e-mail: ceip@pesca.sp.gov.br / home page: www.pesca.sp.gov.br
7. Only the papers prepared in strict accordance with these rules will be analysed by the Comitê Editorial do Instituto de
Pesca-CEIP (FIEB). Otherwise, they will be sent back to the author(s).

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