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CAPÍTULO 03 – Movimento das Águas Subterrâneas

3.1. Introdução

Já vimos que a água subterrânea tem sua origem ligada à água que infiltra no
terreno. Desse total infiltrado, entretanto, parte da água fica retida no solo e parte
escoa verticalmente para alimentar os aquíferos.

Além desse movimento vertical, descrito no final do capítulo anterior, a água


subterrânea também se movimenta pelas rochas e solo em profundidade, em um
processo denominado circulação.

Para que a água possa fluir, é necessário que as rochas apresentem vazios. Estes
vazios podem ser originalmente formados com a própria rocha (rochas
sedimentares e algumas rochas vulcânicas), originando o que se denomina como
porosidade primária, ou podem ser formados por processos posteriores (tectônica,
dissolução, intemperismo etc.), originando a denominada porosidade secundária,
vinculada aos aquíferos anisotrópicos, em aquíferos cristalinos (fraturados) ou
cársticos (de dissolução).

Além da porosidade, outras propriedades físicas são importantes para o


movimento das águas em subsuperfície.

3.2. Propriedades Físicas dos Aquíferos

O experimento realizado pelo engenheiro hidráulico francês Henry Darcy é


considerado o nascimento da hidrologia subterrânea como uma ciência
quantitativa (Freeze & Cherry, 1978).

A importância desse feito reside no fato de que Darcy conseguiu comprovar a


existência de uma relação entre fluxo e gradiente hidráulico, definindo o que
passou a ser conhecido como condutividade hidráulica, descarga específica ou
permeabilidade. Assim, passou a ser possível aplicar a equação da continuidade
(hidrodinâmica) e estabelecer leis que permitem representar bem o fluxo em
escala macroscópica. O enfoque Darciniano permite, portanto, que se possa
substituir o arranjo real dos grãos em um meio poroso por meio contínuo
representativo para o qual é possível definir propriedades médias bem definidas,
envolvendo três parâmetros macroscópicos fundamentais: porosidade,
condutividade hidráulica e coeficiente de armazenamento.

3.2.1. Porosidade

A porosidade total pode ser definida com a relação entre o volume de vazios e o
volume total

η = VV/V (Eq. 01)

Em que:
η = porosidade total
VV = volume de vazios
V = volume total

A porosidade de diversos fatores (Figura 1). Por exemplo, se o tamanho é variado


a porosidade tende a ser menor, já que os grãos menores irão ocupar os espaços
vazios entre os grãos maiores. A porosidade pode ser um importante controle da
influência da condutividade hidráulica. Em geral, quanto maior a porosidade, maior
a condutividade. Entretanto, solos e rochas argilosas constituem exceção a esse
comportamento, já que apresentam elevada porosidade e baixa condutividade
hidráulica.

Figura 1 - Fatores que influenciam a porosidade.

A porosidade tem relação direta com o índice de vazios, e, bastante utilizado em


Mecânica dos Solos, definido como a razão entre volume de vazios (V V) e Volume
de Sólidos (Vs), dada pela expressão:

e = VV/VS (Eq. 02)

O índice de vazios se relaciona com a porosidade pela expressão:

e = η/(1 – η) (Eq. 03)

ou

η = e/(1 + e) (Eq. 04)

Na Tabela 1 são apresentados os valores de porosidades totais e efetivas para


vários tipos de rochas e sedimentos.
Tabela 1 - Porosidades totais e efetivas de diversos materiais (Fonte: Custódio e
Llamas, 1976; in: ABGE, 1998).
POROSIDADE POROSIDADE
TOTAL(n) EFETIVA (ne)
MATERIAL % % OBS.
Normal Extraordinária

Tipo e descrição Média Max Min Max Min Média Max Min

Rochas maciças
0,0
0,3 4 0,2 9 <0,2 0,5 0,0 A
5
Calcário maciço 8 15 0,5 20 <0,5 1 0,0 B
5 10 2 <0,5 1 0,0 B
Rochas metamórficas 0,5 5 0,2 <0,5 2 0,0 B
Rochas vulcânicas
30 50 10 80 5 <5 20 0,0 C.E
25 80 10 - 20 50 1 C.E
85 90 50 - <5 20 0,0 D
2 5 0,1 - <1 2 0,1 A
12 30 5 - 5 10 1 C

Rochas sedimentares
consolidadas
5 15 2 30 0,5 <2 5 0,0 E
15 25 3 30 0,5 10 20 0,0 F
20 50 10 1 5 0,2 B
10 30 1,5 3 20 0,5 -

Rochas sedimentares
inconsolidadas
Aluviões 25 40 20 45 15 15 35 5 E
35 40 30 - - 20 30 10 -
30 40 25 40 20 25 35 15 -
45 55 40 <5 10 0,1 E
35 45 20 25 35 10 -
25 35 15 - - 15 30 5
40 50 35 10 20 2 E
Argilas sem compactação e
50 60 30 10 20 1 E
solos sup.

Obs.:
A: n e ne aumentam por
D: n diminui e ne pode aumentar com o tempo
alteração
E: n e ne muito variável conforme circunstâncias e
B: n e ne aumentam por
tempo
dissolução
F: n e ne variáveis conforme o grau de cimentação e de
C: n e ne aumentam com o
solubilidade
tempo

Na Figura 2 apresenta-se a relação entre várias texturas de rochas e solos e a


porosidade.

Pelo fato de que parte da água é retida no solo ou na rocha, pela ação de forças
moleculares e pela tensão superficial, apenas parte da água armazenada pode ser
liberada (CPRM, 2000). Assim, tem-se o conceito de porosidade efetiva, que é o
volume de poros efetivamente disponível para ser ocupado por fluidos livres
(exclui todos os poros não conectados, inclusive o espaço ocupado pela água
adsorvida nas argilas), dividido pelo volume total, ou seja:

ηe = VD/V (Eq. 05)


Em que:
ηe = porosidade efetiva
VD = volume de água drenada por gravidade
V = volume total
(a)

(b)

(c)
Figura 2 - Exemplos de porosidade. Em (a) porosidade macroscópica em
diferentes aquíferos (Teixeira et al, 2000). Em (b) detalhe da porosidade. Em (c)
imagem de MEV de um filito dolomítico (Soares, 2008).
A Figura 3 ilustra o conceito de porosidade efetiva. Em Mecânica de Rochas
utiliza-se o conceito de porosidade aparente, já que apenas os poros/vazios
interconectados podem ser saturados.

Outro conceito importante na Hidrogeologia é a retenção específica (Re), também


denominada de capacidade de campo (θCC) pelos profissionais da área agrícola. A
soma da porosidade efetiva com a retenção específica é igual à porosidade total
(CPRM, 2000). Para que um aquífero possa ser considerado bom, deve
apresentar valores elevados tanto de porosidade total quanto de porosidade
efetiva.

Figura 3 - Ilustração do conceito de porosidade efetiva (modificado de Driscoll,


1986, in: CPRM, 2000).

3.3. Lei de Darcy

Considere o aparato mostrado na Figura 4. Um cilindro circular de seção


transversal A é preenchido com areia, fechado em ambas as extremidades, às
quais são conectados tubos para entrada e saída de água e um par de
piezômetros. A água é introduzida no cilindro e deixada circular por tempo
suficiente para que todos os poros estejam preenchidos com água e a vazão de
entrada, Q, seja igual à vazão de saída. Considerando-se uma elevação arbitrária
qualquer (z = 0), as elevações da água nos piezômetros são dadas por z1 e z2 e as
cargas de elevação são dadas por h1 e h2. A distância entre os piezômetros é L.
Figura 4 - Experimento realizado por Darcy,1856 (Fonte: CPRM, 2000).
Em que:
Q→Vazão constante que passa pelo cilindro (L³ T-¹)
Z1→cota do ponto P1 (Piezômetro 1) (L)
Z2→ cota do ponto P2 (Piezômetro 2) (L)
∆h→Variação da carga hidráulica entre os piezômetros 1 e 2 (L)
h1→ Carga hidráulica do piezômetro 1 (L)
h2→ Carga hidráulica do piezômetro 2 (L)
L→ Distâncias entre os piezômetros 1 e 2 (L)

A descarga específica através do cilindro, v, é definida pela equação 06:

v=Q/A (Eq. 06)

Se as dimensões de Q são (L3 T-1) e as de A são (L2), v tem a dimensão da


velocidade (L/T).

O experimento de Darcy mostrou que v é diretamente proporcional à diferença de


carga (h1 – h2) quando L é mantido constante, e inversamente proporcional a L
quando (h1 – h2) é mantido constante. Considerando-se a diferença de cargas
hidráulicas (h1 – h2) como sendo Δh, a lei de Darcy pode ser escrita como:

v = - k(Δh/L) (Eq. 07)

ou, na sua forma diferencial,

v = - k(dh/dL) (Eq. 08)

Em que dh/dL é o gradiente hidráulico e k é uma constante de proporcionalidade,


relacionada às características do material utilizado no interior do cilindro, é
conhecida como condutividade hidráulica e tem as dimensões da velocidade (L/T).

Uma forma alternativa de se escrever a lei de Darcy é:

Q = - k (dh/dl) A (Eq. 09)

Ou,
Q=-kiA (Eq. 10)

Em que i é o gradiente hidráulico.

A lei de Darcy é válida para fluxo subterrâneo em qualquer direção do espaço. Um


importante conceito relacionado ao fluxo está relacionado à carga hidráulica.

A análise de um processo físico que envolva fluxo requer o reconhecimento do


gradiente potencial. Por exemplo, sabe-se que fluxos de calor através de sólidos
ocorrem das porções de maior temperatura para as de menor temperatura, assim
como correntes elétricas fluem através de circuitos elétricos dos locais da maior
voltagem para os de menor voltagem. A temperatura e a voltagem nos exemplos
acima são quantidades potenciais, e as taxas de fluxo de calor e eletricidade são
proporcionais a esses gradientes potenciais.

Hubbert (1940) definiu potencial como:


“uma grandeza física, capaz de ser medida em qualquer
ponto de um sistema de fluxo, cujas propriedades são
tais que o fluxo sempre ocorre de regiões nas quais
essa grandeza tem maiores valores para aquelas em
que tem menores valores, independentemente da
direção no espaço.”

Assim, se o experimento de Darcy fosse colocado na vertical o fluxo certamente


iria ocorrer, em decorrência da gravidade. Da mesma forma, se o experimento
fosse colocado na horizontal, de tal forma que a gravidade não tivesse nenhuma
influência, o fluxo seria presumivelmente induzido por um aumento de carga de
pressão em um lado e diminuição no outro.

Portanto, a energia mecânica de um líquido em movimento é composta


basicamente por três componentes: a energia cinética, a energia potencial
gravitacional e a energia de pressão, definidas pelas seguintes expressões
matemáticas:

E C = ½ M v2 (Eq. 11)

Eg = M g z (Eq. 12)

EP = P V (Eq. 13)

Dividindo-se cada termo pela massa, a energia mecânica total para massa unitária
é:

Em/M = ½ v2 + g z + P/  (Eq. 14)


Em que ρ é a massa específica ( = M/V)

Como o fluxo em água subterrânea ocorre a velocidades muito baixas (da ordem
de alguns milímetros ou centímetros por dia) o termo referente à energia cinética
(Eq. 11) passou a ser desprezado, já que é muito pequeno. Com efeito, uma
velocidade de 1 cm/s, considerado um escoamento rápido, corresponde a uma altura de
carga de energia cinética da ordem de apenas 0,5 x 10-3 cm. A energia mecânica por
unidade de massa (Em/M) e definida como potencial hidráulico () e eliminando a
parcela cinética na equação 14, tem-se que:

 = g z + P/ρ (Eq. 15)

A pressão P é dada por:

P = P0 +  g (h – z) (Eq. 16)

Como em hidrogeologia a pressão atmosférica (P0) é considerada como nula, a


equação 16 reduz-se a:

P =  g (h – z) (Eq. 17)

 = g z + ρ g (h – z)/  (Eq. 18)

=gh (Eq. 19)

Ou seja, o potencial hidráulico em um ponto qualquer de um meio poroso é dado


pela carga hidráulica do ponto (h) multiplicada pela aceleração da gravidade (g).
Como o valor de g é praticamente constante nas proximidades da superfície
terrestre,  e h são quase perfeitamente correlacionáveis e a carga hidráulica pode
ser considerada como um potencial do ponto de vista físico, de acordo com a
definição de Hubbert (1940) (Freeze & Chery, 1978).

Combinando-se as equações 15 e 19 e dividindo-se tudo por g, obtém-se a


expressão do cálculo da carga hidráulica:

h = z + P/( g) (Eq. 20)

ou

h = z + P/ (Eq. 21)

h=z+ψ (Eq. 22)

Ou seja, a carga hidráulica é a soma de duas parcelas: a carga de elevação no


ponto de medida, ou carga de elevação, z; e a carga de pressão, ψ.
Na prática, no caso de aquíferos não-confinados, a carga na superfície livre (na
qual a pressão P é nula, por igualar a pressão atmosférica de referência)
corresponde ao próprio nível da água (h = z) e no caso de aquíferos confinados, a
carga no topo (tomado como referência) é dada pela carga de pressão (P/ ), que
corresponde à altura até onde o nível de água se elevará, acima do topo de
aquífero, quando perfurado um poço no local (CPRM, 2000).

A Figura 5 ilustra as variáveis das equações 21 e 22.

Figura 5 - Carga hidráulica em um ponto de um aquífero (fundo do poço),


expressa pelo nível potenciométrico (CPRM, 2000).

Em cada ponto de um meio saturado, portanto, estando o fluido em equilíbrio,


existe pressão na água, de modo que um piezômetro, em qualquer ponto do meio,
exibirá uma carga de pressão igual a P/a (Figura 6).

Figura 6 - Sistema hidráulico em meio poroso saturado em equilíbrio (ABGE,


1998).

Na Figura 7, apresentam-se algumas combinações possíveis de carga de


elevação e carga de pressão. Observa-se que nem a carga de elevação e nem a
carga de pressão, sozinhas, controlam o movimento, que depende da carga total.
Figura 7 - Movimento da água subterrânea, para diferentes potenciais hidráulicos
(Fonte: ABGE, 1998).

Na Figura 8 é possível observar que em locais em que ocorrem aquíferos


superpostos o nível piezométrico ou potenciométrico de cada aquífero é
independente um do outro e que é possível determinar-se a direção de fluxo
vertical a partir do conhecimento das suas posições.

Figura 8 - Níveis potenciométricos de aquíferos superpostos. Notar que os níveis


piezométricos de aquíferos confinados são independentes (CPRM, 2000).
A lei de Darcy é válida apenas para escoamentos laminares, em que as
velocidades são relativamente pequenas e a água percola suave e lentamente
pelos vazios do aquífero. Nessas condições, o escoamento é dominado pelas
forças viscosas do líquido e a perda de carga varia linearmente com a velocidade.

Com o aumento dos gradientes, há elevação da velocidade e o escoamento passa


a apresentar mistura interna do fluido e oscilações na velocidade e nas pressões.
Ocorrem, assim, movimentos rotacionais e transversais, que caracterizam um
regime denominado fluxo turbulento. Nestes, os gradientes hidráulicos
correlacionam-se com o quadrado das velocidades e a vazão é determinada por:

h
QK A (Eq. 23)
L
Ou

QK A i (Eq. 24)

Que exprime uma relação distinta da lei de Darcy.

Entre esses dois regimes de fluxo há um terceiro, denominado regime de


transição, que representa a passagem de um regime para o outro (Figura 9).

Figura 9 - Regimes de fluxo – variação de acordo com a velocidade, (v), e com o


gradiente hidráulico, (i) (Fonte: Quadros, 1982, in: ABGE, 1998).

Há uma velocidade crítica (vc) além da qual o fluxo deixa de ser laminar. O
parâmetro que caracteriza esta mudança de velocidade é o número de Reynolds
(Re), o qual expressa a relação entre as forças de inércia e as forças viscosas (de
atrito), das quais depende o escoamento, e que tem, na prática, um valor máximo
igual a 2.000 para o escoamento laminar. Para tubos circulares, sob fluxo total:
vc D 
Re  (Eq. 25)
g

Ou

vc D
Re  (Eq. 26)

Em que:
g 
  (Eq. 27)
 

vc - velocidade crítica de escoamento (L/T);


D - diâmetro hidráulico de escoamento (L);
 - coeficiente de viscosidade absoluta (dinâmica) do fluido (MT/L2);
 - coeficiente de viscosidade cinemática do fluido (L2/T);
 - peso específico do fluido (M/L2T2);
 - massa específica do fluido (M/L3); e
g - aceleração da gravidade (L/T2).

Para água a 20º C (Fetter, 2001; Freeze & Cherry, 1976; e diversos outros
autores fornecem valores para outras temperaturas):
 = 1,01x10-6 m2/s;
 = 1,01x10-3 kg /m s;
 = 104 kg/m2s2; e
g = 9,81 m/s2.

No regime turbulento, as perdas de carga são muito maiores que aquelas que
ocorrem no regime laminar, sendo também de naturezas diferentes. Enquanto no
fluxo turbulento predominam as perdas de carga por mistura e transferência de
energia, no fluxo laminar as perdas são, quase que exclusivamente, por atrito
viscoso entre as camadas do fluido.

Em geral, as velocidades da água subterrânea são baixas, com exceção do fluxo


em fraturas muito abertas ou em vazios de dissolução em rochas carbonáticas ou
nas proximidades de filtros de poços de grandes dimensões.

3.4. Condutividade Hidráulica

A condutividade hidráulica, definida como a constante de proporcionalidade da lei


de Darcy é uma função tanto das características do meio pelo qual o líquido flui,
como de características do próprio fluido. Considerando o experimento mostrado
na Figura 4, não é difícil visualizar que se o fluido percolante é água, a descarga
específica será uma, enquanto se utilizarmos óleo diesel, a descarga específica
será outra. Assim, é interessante tentar definir um parâmetro que possa descrever
as propriedades de condutividade hidráulica de um meio poroso
independentemente do fluido que por ele percole.

Diversos experimentos foram realizados nesse sentido, utilizando-se de um meio


poroso ideal constituído por esferas de vidro uniformes de diâmetro d. Quando
vários fluidos de densidade ρ e viscosidade dinâmica μ percolam pelo aparato da
Figura 4 sob uma carga hidráulica constante dh/dl, as seguintes relações de
proporcionalidade são observadas (Freeze & Cherry, 1978):

v  d2

vg

v  1/

Em conjunto com a observação original de Darcy de que v  - dh/dl, essas três


levam a uma nova versão da lei de Darcy, dada pela seguinte equação:

v = - Cd2 g dh (Eq. 28)


 dl

O parâmetro C é também uma constante de proporcionalidade. Para solos reais


ele deve incluir a influência de outras propriedades do meio que afetam o fluxo,
além do diâmetro médio dos grãos, tais como distribuição de tamanhos dos grãos,
esfericidade e arredondamento dos grãos e natureza do empacotamento.

A comparação da equação 28 com a equação original da lei de Darcy (equação 08


– V= -K dh/dl) mostra que

k = Cd2 g (Eq. 29)


Nessa equação,  e  são funções do fluido e Cd2 é uma função do meio.


Definindo-se

k = Cd2 (Eq. 30)

Então

K=kg (Eq. 31)


O parâmetro k é conhecido como permeabilidade intrínseca ou específica. Se


K é sempre denominado condutividade hidráulica, é seguro retirar os adjetivos e
referir-se a k como simplesmente permeabilidade. Essa é a convenção que
comumente se segue em hidrogeologia.
A permeabilidade, k, é uma função apenas do meio e tem dimensões (L 2), já que o
parâmetro C, na forma como foi considerado por Hubbert (1940), é adimensional.
O termo permeabilidade é amplamente utilizado na indústria do petróleo, na qual a
existência de gás, óleo e água em sistemas de fluxo multifásicos torna o seu uso
atrativo.

Para se ter uma idéia do valor da permeabilidade em um maciço rochoso, são


apresentados na Tabela 2 alguns valores e a correspondente classificação.

Tabela 2 - Permeabilidade de maciços rochosos (Fonte: Loczy, 1980).


Permeabilidade k (cm/s)
Impermeável < 10-7
Baixa 10-7 a 10-5
Moderada 10-5 a 10-2
Alta 10-2 a 1
Muito alta >1

Na Tabela 3 são apresentados alguns valores típicos de permeabilidade de rochas


intactas.

Tabela 3 – Condutividade hidráulica (à água) de rochas intactas (Fonte:Locsy,


1980).
Rocha intacta K (cm/s) – Laboratório
Ardósia 10-10
Arenito 10-7 a 10-5
Arenito (29% porosidade) 2 x 10-3
Arenito siltoso 2 x 10-6
Arenito de grão fino 2 x 10-7
Argilito duro 6 x 10-7 a 2 x 10-6
Calcário (2% porosidade) 8,5 x 10-8
Calcário (16% porosidade) 10-4
Dolomito 1,6 x 10-9 a 1,2 x 10-8
Folhelho 7 x 10-11 a 1,6 x 10-10
Granito 5 x 10-11 a 2 x 10-10
Granito alterado 0,6 a 1,5 x 10-5
Siltito 10-8 a 10-7

Para efeito de comparação, na


Tabela 4 são apresentados os valores típicos da permeabilidade in situ de
algumas rochas. Estão incluídos também alguns solos.
Tabela 4 - Coeficiente de permeabilidade (à água) de solos e rochas in situ
(Fonte:Locsy, 1980).
SOLOS/ROCHAS K (cm/s) in situ
Cascalho 1 a 10-2
Areia limpa 10-3 a 1
Areia argilosa 10-6 a 10-3
Argila 10-9 a 10-6
Gnaisse 1,2 a 1,9 x 10-3
Arenito 10-2
Argilito 10-4
Calcário 10-4 a 10-2
Maciço com fraturas abertas de 0,1 mm
8,0 x 10-4
e espaçadas de 1 m
Maciço com fraturas preenchidas por
10-5
argilas
Maciço moderadamente diaclasado 10-4 a 10-2
Maciço muito diaclasado 10-2 a 10
Maciço extremamente diaclasado 10 a 102

3.5. Velocidade de Darcy

A velocidade de Darcy, também chamada de descarga específica ou velocidade


aparente é definida pela equação 06 (V = Q/A). Entretanto, esse parâmetro não
representa a velocidade real (daí o adjetivo aparente, acima), já que a área (A)
considerada na sua definição corresponde à área total da seção transversal ao
fluxo (área dos vazios + área da parte sólida) (CPRM, 2000).

De fato, a área da seção transversal do escoamento é muito menor que a área da


seção do aquífero e é obtida pela equação 32, a seguir.

APOROS = ef ATOTAL (Eq. 32)

Em que ef é a porosidade efetiva.

A velocidade de escoamento pelos poros (velocidade linear média), v, é dada por:

v= __Q__ (Eq. 33)


ef A
A relação entre a velocidade real e a velocidade aparente depende da porosidade
efetiva:

v = _q_ (Eq. 34)


ef
Na prática, em geral, o cálculo da vazão de um aquífero é feito utilizando-se a
velocidade aparente e a área total. Para cálculos de transporte advectivo (devido
ao processo de fluxo de água) de poluentes deve ser utilizada a velocidade real.

3.6. Fluxo Tridimensional

A despeito da lei de Darcy ter sido desenvolvida para escoamentos


unidimensionais ela pode ser aplicada à escoamentos tridimensionais, como
ocorre em aquíferos (CPRM, 2000). Assim, a lei de Darcy
𝑄 ∆ℎ
𝑞= =𝐾 (Eq. 35)
𝐴 𝐿

Pode ser generalizada para:

q = -K grad h (Eq. 36)

Em q e o vetor velocidade aparente formado por componentes nas três direções


principais de anisotropia (X, Y,Z). K é o tensor de condutividade hidráulica e grad h
é o gradiente de carga hidráulica ao longo de cada uma das três direções. O sinal
negativo da equação 36 indica que o fluxo de água ocorre no sentido dos
potenciais decrescentes, ou seja, no sentido contrário ao do gradiente de h
(CPRM, 2000).

Gradiente é um operador que indica a taxa de variação de uma grandeza escalar


ao longo de cada um dos eixos.

𝜕ℎ 𝜕ℎ 𝜕ℎ
grad h = 𝜕𝑥
𝑖+ 𝜕𝑦
𝑗+ 𝜕𝑧
𝑘 (Eq. 37)

O vetor gradiente caracteriza a variação de uma função no espaço, indicando


sempre tanto o módulo quanto a direção e o sentido da sua máxima variação
direcional (CPRM, 2000).

Nos casos em que é possível alinhar o sistema cartesiano de eixos com as


direções principais da condutividade hidráulica, a lei de Darcy para o escoamento
tridimensional pode ser representada através das seguintes equações (CPRM,
2000):

𝜕ℎ
𝑞𝑥 = − 𝐾𝑥𝑥 𝜕𝑥 (Eq. 38)

𝜕ℎ
𝑞𝑦 = − 𝐾𝑦𝑦 𝜕𝑦 (Eq. 39)

𝜕ℎ
𝑞𝑧 = − 𝐾𝑧𝑧 𝜕𝑧 (Eq. 40)
Para um meio anisotrópico K passaria a ser um tensor de nove componentes para
um escoamento tridimensional e de quatro componentes para um escoamento
bidimensional.

𝜕ℎ⁄
𝑞𝑥 𝐾𝑥𝑥 𝐾𝑥𝑦 𝐾𝑥𝑧 𝜕𝑥
(𝑞𝑦 ) = (𝐾𝑦𝑥 𝐾𝑦𝑦 𝐾𝑦𝑧 ) 𝜕ℎ⁄ (Eq. 41)
𝜕𝑦
𝑞𝑧 𝐾𝑧𝑥 𝐾𝑧𝑦 𝐾𝑧𝑧 𝜕ℎ⁄
( 𝜕𝑧 )

Entretanto, em função da dificuldade em se calcular alguns componentes, na


prática se usa um escalar.

3.7. Compressibilidade e Tensão Efetiva

Em um dado plano de um aquífero saturado, uma tensão atua sobre o esqueleto,


em função do peso das camadas sobrejacentes de solo/rocha e água. Esta tensão
é denominada tensão total. Existe uma tensão para cima atuante nesse mesmo
plano causada pela pressão do fluido. Essa pressão para cima vai, em parte,
contrabalançar a tensão total, de tal forma que a tensão que é realmente
suportada pelo esqueleto do aquífero, denominada tensão efetiva, é inferior à
total, e é dada pela equação:

𝝈𝑻 = 𝝈 𝒆 + 𝑷 (Eq. 42)

Em que:
σT = é a tensão total;
P = é a pressão;
σe = é a tensão efetiva.

Se a tensão mudar, a tensão efetiva também irá ser modificada.

Em aquíferos confinados, podem ocorrer mudanças significativas na pressão com


muito pouca mudança na espessura real da camada saturada. Nessas condições,
as tensões totais mantêm-se essencialmente constantes, e qualquer mudança na
pressão irá resultar em uma mudança na tensão efetiva que é igual em magnitude,
mas de sinal oposto.

𝑑𝑃 = −𝑑𝜎𝑒 (Eq.43)

Se o bombeamento reduzir a carga de pressão em um aquífero confinado, a


tensão efetiva que atua no esqueleto irá aumentar. O esqueleto pode consolidar
ou compactar devido a esse aumento de tensão. A consolidação ocorre devido à
compressão dos grãos minerais.

A compressibilidade de um aquífero é definida como


− 𝑑𝑏⁄
𝑏
𝛼= (Eq. 44)
𝑑𝜎𝑒

Em que:

 é a compressibilidade do aquífero (1/(M/L2); m2/N)


db é a modificação na espessura do aquífero (L; m)
b é a espessura original do aquífero (L; m)
dσe é a modificação na tensão efetiva (M/LT2; N/m2)

O sinal negativo indica que o aquífero diminui com o aumento da tensão efetiva.
Como dP = - dσe, a Equação 44 pode ser reescrita como

𝒅𝒃⁄
𝒃
+𝜶 = (Eq. 45)
𝒅𝑷

3.8. Heterogeneidade e Anisotropia da Condutividade Hidráulica

Os valores de condutividade hidráulica usualmente mostram variações espaciais


em formações geológicas e também podem mostrar variações para diferentes
direções de medida em um ponto qualquer dessas formações. A primeira
propriedade denomina-se heterogeneidade, enquanto a segunda denomina-se
anisotropia. A importância da consideração dessas propriedades reside no fato de
que as mesmas podem ser observadas comumente em ensaios de campo. A
razão da existência de ambas está ligada aos próprios processos que originam os
diversos ambientes geológicos.

3.8.1. Homogeneidade e Heterogeneidade

Se a condutividade hidráulica K é independente da posição em uma formação


geológica, essa é considerada homogênea. Se, por outro lado, K é dependente de
sua posição na formação geológica, essa é considerada heterogênea. Se um
sistema de coordenadas xyz é definido em uma formação homogênea. K(x,y,z) =
C, com C constante, enquanto em uma formação heterogênea, K(x,y,c) ≠ C.

As configurações de heterogeneidade são tão comuns quanto os ambientes


geológicos, mas três merecem destaque especial: acamamento heterogêneo
(heterogeneidade em camadas); heterogeneidade de descontinuidade e
heterogeneidade gradativa (trending heterogeneity). Na Figura 10(a) apresenta-se
uma seção vertical em que se mostra um exemplo de heterogeneidade em
camadas, comum em rochas sedimentares e metamórficas e em depósitos
marinhos ou lacustrinos não consolidados. As camadas individuais que compõem
a formação geológica tem, cada uma, um valor de homogêneo de condutividade –
K1, K2,..., mas o sistema inteiro pode ser compreendido como sendo heterogêneo.
A presença de falhas, fraturas ou estruturas estratigráficas de grande escala
origina também origina heterogeneidades. Um exemplo de heterogeneidade
gradativa é mostrado na Figura 10(b). Este tipo de heterogeneidade pode ser
encontrado em qualquer tipo de formação geológica. Na maioria das formações
geológicas os valores de K apresentam variações internas de heterogeneidade de
1 a 2 ordem de magnitudes.

(a) (b)
Figura 10 - Relação entre heterogeneidade e anisotropia (Freeze & Cherry, 1978).

3.8.2. Isotropia e Anisotropia

Se a condutividade hidráulica K é independente da direção em que a mesma é


determinada em um ponto qualquer de uma formação geológica, diz-se que
formação é isotrópica nesse ponto. Se a condutividade hidráulica K varia com a
direção em que é medida em um ponto qualquer de uma formação geológica, diz-
se, então, que essa é anisotrópica nesse ponto.

Em três dimensões, se um plano é tomado perpendicular a uma das direções


principais, as outras duas direções principais são direções de valores máximo e
mínimo de K nesse plano.

Se um sistema xyz de coordenadas é definido de tal forma que as direções de


coordenadas coincidem com as direções principais de anisotropia, os valores de
condutividade hidráulica nas direções principais podem ser especificados com Kx,
Ky e Kz. Em qualquer ponto (x, y, z), uma formação isotrópica vai ter Kx = Ky = Kz,
enquanto uma formação anisotrópica vai ter Kx ≠ Ky ≠ Kz. Se Kx = Ky ≠ Kz, como é
comum em rochas sedimentares acamadas ou metamórficas bem foliadas, a
mesma é denominada como transversalmente isotrópica.

Em grandes escalas pode ser comprovado que existe uma relação entre
heterogeneidade em camadas e anisotropia. Na formação geológica com
camadas mostrada na Figura 10, cada camada é homogênea e isotrópica com
condutividade hidráulica K1, K2,...., Kn. A seguir será possível comprovar que esse
sistema como um todo funciona como uma única camada anisotrópica e
homogênea. Inicialmente considere um fluxo perpendicular ao acamamento. A
descarga específica v tem de ser igual, tanto na saída quanto na entrada do
sistema; de fato tem de ser constante através de todo o sistema. Seja h1 a perda
de carga ao longo da primeira camada, h2 a perda ao longo da segunda e assim
sucessivamente. A perda total de carga é, então h = h1 + h2 + ... + hn e, da lei
de Darcy tem-se:

v = K1 h1 = K2 h2 = ... Kn hn = Ks h (Eq. 46)


d1 d2 dn d

Em que Ks é a condutividade hidráulica vertical equivalente para o sistema de


camadas. Resolvendo a equação 46 para Kz e utilizando-se a relação para h1,
h2, ..., obtém-se

Kz = v d = __________vd_________ = __________vd__________(Eq. 47)


h h1 + h2 + ... + hn vd1/K1 + vd2/K2 + ... + vdn/Kn

Que leva a
𝑑
𝐾𝑧 = 𝑑𝑖 (Eq. 48)
∑𝑛
𝑖=1 ⁄𝐾 𝑖

Considere-se, agora, o fluxo paralelo ao acamamento. Seja h a perda de carga


ao longo da distância horizontal l. A descarga Q através de uma espessura
unitária do sistema é a soma das descargas através das camadas. A descarga
específica v = Q/d é, portanto, dada por

𝐾𝑖 𝑑𝑖 ∆ℎ ∆ℎ
v = ∑𝑛𝑖=1 = 𝐾𝑥 (Eq. 49)
𝑑 𝑙 𝑙

Em que Kx é a condutividade hidráulica equivalente horizontal. Simplificando, tem-


se
𝐾𝑖 𝑑𝑖
𝐾𝑥 = ∑𝑛𝑖=1 (Eq. 50)
𝑑

As equações 48 e 50 fornecem valores de Kx e Kz para uma única formação


homogênea e anisotrópica que é o equivalente hidráulico para o sistema de
camadas geológicas isotrópicas e homogêneas da Figura 10. Através de
operações algébricas dessas duas equações é possível mostrar que Kx  Kz para
todos os possíveis conjunto de valores de K1, K2 ..., Kn. De fato, se se considerar
um conjunto de pares de valores de K1, K2 , com K1 = 10000 e K2 = 100, então
Kx/Kz = 25. Para K1 = 10000 e K2 = 1, Kx/Kz = 2500. Em campo, não é raro a
heterogeneidade em camadas originar valores de anisotropia regional da ordem
de 100:1 ou até mesmo maiores.

3.9. Transmissividade e Capacidade de Armazenamento

A capacidade de um aquífero armazenar e transmitir água depende de seis


propriedades básicas da água (densidade, viscosidade e compressibilidade) e do
meio poroso (porosidade, permeabilidade intrínseca e compressibilidade), que são
responsáveis por todo o comportamento do aquífero (CPRM, 2000).

3.9.1. Armazenamento

O armazenamento, S, de um aquífero saturado é definido como o volume de água


que um volume unitário do aquífero libera quando sob uma redução unitária da
carga hidráulica.

A água que é liberada é originária de dois mecanismos: (1) compactação do


aquífero causada pelo aumento da tensão efetiva (e), e (2) a expansão da água
causada pela diminuição da pressão de fluido, p. Ressalta-se que esses
mecanismos não ocorrem em aquíferos livres, em que a água é liberada para os
poços ou fontes principalmente em função da drenagem dos poros. Os vazios
inicialmente saturados passam a ser ocupados pelo ar e o nível freático fica mais
baixo (CPRM, 2000).

Inicialmente, considere a água produzida pela compactação de um aquífero. O


volume de água liberado de um volume unitário durante a compactação vai ser
igual à redução de volume do volume unitário do aquífero. A redução volumétrica
dVT vai ser negativa, mas a quantidade de água produzida dVW vai ser positiva.
Assim tem-se a eq. 51:

dVW = - dVT =  VTde (Eq. 51)

Para um volume unitário, VT = 1, e sabendo-se que de = -  g dh, em que  é


densidade da água. Para uma redução unitária da carga hidráulica, dh = -1, e tem-
se:

dVW =   g (Eq. 52)

Agora considere o volume de água produzido pela expansão da água:

dVW = -  VW dp (Eq. 53)


Em que  é compressibilidade da água

O volume de água VW no volume total unitário VT é dado por nVT, em que n é a


porosidade. Com VT = 1 e dp = gd = gd(h – z) = gdh, e a Eq. 53 se torna,
para dh = -1:

dVW =  n  g (Eq. 54)

O armazenamento específico, SS, é a soma dos dois termos dados pelas


equações 52 e 54:

SS =  g ( + n) (Eq. 55)

Ou

SS = Vliberado (Eq. 56)


VT h

Em que  significa uma pequena variação.

Para um aquífero confinado, o coeficiente de armazenamento é um parâmetro


adimensional definido pela expressão (CPRM, 2000):

S = SS b (Eq. 57)

Ou

S =  g b( + n ) (CONFINADO) (Eq. 58)

Em que b é a espessura do aquífero.

Toda a água liberada deve-se à compressibilidade do esqueleto mineral e da água


nos poros. A água provém de toda a espessura saturada do aquífero. O valor do
armazenamento de aquíferos confinados é da ordem de 0,005 ou menor.

Para aquíferos não confinados o nível de saturação diminui ou aumenta com


mudanças na quantidade de água armazenada. À medida em que o N.A.
aprofunda-se, a água drena dos poros. Esse armazenamento ou liberação de
água deve-se ao rendimento específico (Sy) do aquífero. A água é também
armazenada ou liberada dependendo da capacidade de armazenamento do
aquífero. Para um aquífero não confinado, o armazenamento é calculado com
base na equação:

𝑺 = 𝑺𝒚 + 𝒃𝑺𝒔 (Eq. 59)

𝑺𝒚 ≫ 𝒃𝑺𝒔 , logo 𝑺 = 𝑺𝒚
Como o valor de Sy é muitas ordens de grandeza maior do que bS S para um
aquífero não confinado, o armazenamento é usualmente tomado como sendo
igual ao rendimento específico, que varia entre 0,01 e 0,30.

O volume de água drenado de um aquífero em função de redução na carga pode


ser calculado pela equação

𝑽𝒘 = 𝑺 𝑨 ∆𝒉 (NÃO CONFINADO) (Eq. 60)

Em que
Vw = é o volume de água drenada (L3; m3)
S é o armazenamento (sem dimensão)
A é a área da superfície que recobre o aquífero (L2; m2)
h é a redução média na carga (L; m)

Resumindo, O coeficiente de armazenamento para aquíferos confinados é


conhecido como rendimento específico ou produtividade específica, Sy, e é
definido como o volume de água que um aquífero não confinado libera por
unidade superficial de área do aquífero por redução na altura do N.A. A Figura 11
ilustra o conceito.

Figura 11 - Representação esquemática do coeficiente de armazenamento em (a)


aquífero confinado e (b) aquífero não-confinado (Ferris et al, 1962; in: Freeze &
Cherry, 1978).

O rendimento específico de aquíferos não confinados é muito mais alto que a


capacidade de armazenamento de aquíferos confinados. A faixa usual é entre
0,01 – 0,30. Os maiores valores refletem o fato que liberações de água em
aquíferos não-confinados representam retirada de água dos poros. Quando
comparados aos aquíferos confinados a mesma produção pode ser obtida com
modificações de carga inferiores para áreas de menores dimensões.

3.9.2. Transmissividade

Para um aquífero confinado de espessura b, a transmissividade ou


transmissibilidade, T, é definida como

T = Kb (Eq. 61)

A unidade da transmissividade é, no sistema internacional, m 2/s.

Tanto o conceito de transmissividade, T, quanto o de coeficiente de


armazenamento, S, foram inicialmente desenvolvidos para a análise de hidráulica
de poços em aquíferos confinados. Para fluxo bidimensional e horizontal os
termos são bem definidos, mas deixam de ter sentido em muitas aplicações de
água subterrânea. Em problemas tridimensionais é melhor utilizar o conceito de
condutividade hidráulica, K, e armazenamento específico, SS; ou, melhor ainda,
aos parâmetros permeabilidade, k, porosidade, n, e compressibilidade,  (Freeze
& Cherry, 1978).

Assim, em aquíferos não confinados a transmissividade não é tão bem definida


como em um aquífero confinado, mas pode ser utilizada através da mesma
equação 61, mas nesse caso, b é a espessura saturada do aquífero ou a altura do
nível de água acima da camada impermeável que limita o aquífero (Freeze &
Cherry, 1978).

3.10. Fluxo em Meios Fraturados

Nos meios fraturados, com porosidade essencialmente de fraturas, o escoamento


é determinado pela permeabilidade da matriz rochosa e pela condutividade
hidráulica das descontinuidades (Azevedo & Marques, 2002).

Em rochas cristalinas, com baixo grau de porosidade, o escoamento pela matriz é


praticamente nulo e as descontinuidades desempenham papel fundamental no
escoamento. A comparação de medidas de permeabilidade efetuada em matrizes
rochosas indica que esta é desprezível, em relação ao valor da condutividade
hidráulica das descontinuidades.

Sendo a permeabilidade matricial geralmente inferior a 10 -8 cm/s, a matriz pode


ser considerada impermeável, em comparação com as descontinuidades, que,
mesmo com aberturas muito pequenas, apresentam valores de condutividade
hidráulica significativamente maiores, sendo estas que efetivamente controlam o
fluxo nos maciços rochosos fraturados.

Interessam ao fluxo, portanto, todas as descontinuidades presentes nas rochas;


descontinuidades aqui entendidas como toda e qualquer estrutura que corta o
maciço, englobando as diaclases, juntas, fraturas e falhas, tornando-o
essencialmente descontínuo, heterogêneo e anisotrópico. Acamamentos,
xistosidades, estratificações, etc., embora sejam estruturas do maciço, podem não
se constituir em descontinuidades em relação ao fluxo de água, uma vez que são
feições intrínsecas à matriz rochosa.

Assim, é de importância considerar os diferentes tipos litológicos, pois as


descontinuidades presentes estão intimamente ligadas à sua gênese e aos
esforços a que estas estiverem submetidas durante a sua evolução.

Na Figura 12 são apresentados, de forma esquemática, modelos teóricos da


distribuição da permeabilidade em diferentes tipos de maciços, em razão da
profundidade.

De modo geral, nos granitos e nas rochas de alto grau de metamorfismo, como
gnaisses, migmatitos, granulitos, etc., a permeabilidade tende à zero em
profundidade, devido ao confinamento. Em superfície, por alívio de tensões, as
fraturas encontram-se mais abertas, resultando não só em aumento da
permeabilidade do maciço, como também no desenvolvimento de juntas de tração.
Estas são descontinuidades de andamento subparalelo à topografia, que mostram
condutividades hidráulicas elevadíssimas (Figura 12a).

Nos maciços magmáticos extrusivos, como os basaltos, gerados por emissões


sucessivas de lavas, a qualquer profundidade são esperadas descontinuidades
sub-horizontais de alta condutividade hidráulica (contato entre diferentes
derrames), separadas por corpos tabulares praticamente estanques. Estes podem
apresentar no seu interior descontinuidades também sub-horizontais subparalelas
aos contatos, também de elevada condutividade hidráulica (Figura 12b).

Esse comportamento é análogo àquele dos maciços de rochas sedimentares,


ressaltando-se, porém, que as descontinuidades, neste caso, podem não ser tão
expressivas e, as condutividades hidráulicas, tão elevadas. Em cada estrato, a
permeabilidade vai depender da granulometria, do imbricamento, tipo e da
quantidade de matriz e de cimento etc. (Figura 12c).

As rochas de médio a baixo grau metamórfico (xistos, filitos, etc.) apresentam


padrão de permeabilidade influenciado por diversos fatores. Verifica-se, em geral,
um horizonte de rocha alterada bem desenvolvido; embora a permeabilidade
diminua com a profundidade, esta diminuição não é tão pronunciada quanto
aquela verificada nas rochas magmáticas intrusivas ou de alto grau metamórfico.
Normalmente, a passagem da zona de rocha alterada para a rocha sã é
relativamente brusca, havendo, concomitantemente, diminuição significativa na
permeabilidade do maciço. Freqüentemente, esses maciços são entrecortados por
veios de quartzo ou de outros materiais, remobilizados ou não, que conferem,
localmente, permeabilidades elevadas ao maciço, favorecendo a penetração da
alteração e a ocorrência de elevadas permeabilidades, mesmo em níveis
profundos. Horizontes mais argilosos podem resultar em trechos menos
permeáveis na zona alterada (Figura 12d).
Figura 12 - Comportamento esperado da permeabilidade em diferentes litologias
(Fonte: ABGE, 1998, in: Azevedo & Marques, 2002).

Depreende-se que conhecer as características dos maciços, e particularmente das


descontinuidades, é de extrema importância para o estudo da permeabilidade em
meios fraturados. Nestes, os principais parâmetros que influenciam o escoamento
são (Figura 13):
 Orientação espacial das famílias de descontinuidades (atitude);
 Abertura das descontinuidades (e);
 Espaçamento entre as descontinuidades (s); e
 Rugosidade absoluta das paredes (Ra).

a Granitos e rochas metamórficas de b Rocha efusivas básicas


alto grau (gnaisses, migmatitos, (basaltos)
granulitos)

c Rochas sedimentares d Rochas metamórficas de médio e


baixo grau (xistos, ardósias, filitos)
Figura 13 - Maciço rochoso fraturado, evidenciando os parâmetros de interesse ao
fluxo (Fonte: Quadros, 1982; in: ABGE, 1998).

Dentre estes, a abertura e a rugosidade constituem os parâmetros mais


importantes para o estudo do escoamento em meios fraturados, e a sua
determinação pode ser efetuada mediante as leis que governam o fluxo de água
nas fraturas.

3.10.1. Leis de escoamento em fraturas

Os estudos para determinação das leis de escoamento em fraturas basearam-se


nos estudos da Mecânica dos Fluidos, para fluxo em condutos de seção circular
constante. Aplicando-se essas teorias a placas planas paralelas, foram obtidas leis
de escoamento, válidas para condutos retangulares, cuja largura é muito maior
que a altura. Em princípio, é possível representar fraturas por placas paralelas,
com paredes mostrando certa rugosidade, com uma abertura média que as
caracteriza.

Para o fluxo entre duas placas paralelas, a equação teórica proposta por Poiseuille
é:
Q g e3 1
 v i (Eq. 62)
A 12   Ra  
1/ 5

1 C   
  DH  
Em que:
v - vazão específica (Q/A);
g - aceleração da gravidade;
e - abertura hidráulica da fratura;
Ra - rugosidade absoluta;
Ra/DH - rugosidade relativa;
DH - diâmetro hidráulico (DH=2e);
C - constante empírica (associada às perdas de carga que ocorrem no
escoamento e dependente do material);
 - coeficiente de viscosidade cinemática do fluido; e
i - gradiente hidráulico.
Na equação de Poiseuille, o fator de correção para regime não laminar depende
de três variáveis: constante (C), rugosidade absoluta (Ra) e diâmetro hidráulico
(DH) da fratura, que equivale a 2e.

A constante (C) é uma constante empírica e depende da natureza do material.


Estudos desenvolvidos em laboratório resultaram em valores de (C) iguais a 8,8
para concreto, 17,0 para vidro e 20,5 para granito, demonstrando que, para cada
tipo de material, as relações entre (Ra) e (e) são diferentes.

O parâmetro (Ra), rugosidade absoluta, mede a aspereza da superfície da fratura,


sendo extremamente variável, atingindo valores da ordem de milímetros nas
fraturas muito rugosas.

A relação (Ra/DH), rugosidade relativa, relaciona a rugosidade absoluta e o


diâmetro hidráulico da fratura, e pode variar entre 0 (fratura ideal, perfeitamente
polida, Ra=0) e 0,5, quando as duas paredes da fratura estão em contato.

A aplicação dessas teorias ao fluxo de água em uma fratura de rocha confirmou,


para regime laminar, a proporcionalidade entre a vazão específica e o gradiente
hidráulico (i), assim como a proporcionalidade da vazão específica com o cubo da
abertura. Da mesma forma, é possível correlacionar a condutividade hidráulica (Kf)
com a abertura da fratura através de uma equação do tipo (Quadros, 1982):

K f C e (Eq. 63)

Em que:
C - constante empírica (depende do material); e
 - índice que é função do regime de fluxo e da rugosidade (varia entre 1,0
e 3,0).

As constantes (C) e () prevalecem para determinado regime de fluxo e para cada
tipo de fratura (ABGE, 1998).

3.10.1.1. Condutividade hidráulica de uma fratura

A condutividade hidráulica de uma fratura é determinada por meio de sua


idealização como placas planas, paralelas, sem rugosidade (rugosidade absoluta,
Ra=0) e sem material de preenchimento, conforme mostrado na Figura 14. O fluxo
é considerado laminar, viscoso e incompressível. Não há variação da viscosidade
do fluido por efeitos de temperatura.
y

x
e/2

e/2

Figura 14 - Fratura idealizada como placas planas paralelas (Fonte: Azevedo &
Marques, 2002).

A velocidade média de escoamento através das placas é dada pela equação:

g e2
v  i (Eq. 64)
12

A condutividade hidráulica Kf de uma fratura é:

g e2
Kf  (Eq. 65)
12

A vazão específica (q) ou taxa de fluxo em uma única fratura, conhecida como lei
cúbica, é dada por:

g e3
q i (Eq. 66)
12

3.10.1.2. Observações sobre a lei cúbica

 Supõe-se que o fluxo se dá entre placas paralelas, cujas paredes são lisas e não
estão em contato;
 Resultados experimentais indicaram a inadequação da lei cúbica quando aplicada
às juntas irregulares;
 A lei cúbica é válida somente para juntas muito abertas ou para juntas cujas
superfícies sejam lisas;

Em maciços rochosos descontínuos, o comportamento do fluxo é anisotrópico e


governado pelas características das juntas, como espaçamento, orientação,
abertura, número de famílias e rugosidade.

É praticamente impossível definir o comportamento do fluxo estimando-se apenas


as características de uma descontinuidade e, a partir daí, construir um modelo de
fluxo para o meio fraturado capaz de fornecer uma resposta para o problema de
fluxo como um todo. Imprecisões na obtenção das características de uma única
junta têm efeito cumulativo no modelo como um todo. Ensaios in situ são capazes
de permitir a determinação do comportamento geral da família de juntas, tanto
para definir o comportamento como um todo quanto para a calibração de uma
única descontinuidade.

A abertura é, em particular, o parâmetro da descontinuidade que mais afeta a


definição de sua condutividade hidráulica. Esse parâmetro, assim como a
persistência, é muito difícil de ser estimado, mesmo por meio de imagens de TV
em furos de sondagem.

Embora sejam desenvolvidos estudos em laboratório para o estabelecimento de


leis para fluxo em regime turbulento e para fraturas com paredes não paralelas,
nos meios naturais os fluxos subterrâneos ocorrem quase sempre em regime
laminar. Regimes turbulentos são observados somente em situações específicas,
como algumas condições de ensaios de campo, drenagem artificial muito severa,
proximidade de poços de bombeamento com rebaixamento muito pronunciado
etc., quando são estabelecidos gradientes hidráulicos bastante elevados.

3.10.2. Fluxo em Maciços Rochosos

Os maciços rochosos são entrecortados por diversas famílias de


descontinuidades, cada qual com sua atitude e distribuição do espaçamento e
abertura de fraturas que lhes são particulares. Em geral, as fraturas nos maciços
são de dimensões finitas quando comparadas à escala do problema, porém o
fluxo em uma fratura não é independente das demais, ou seja, para percolar
através das fraturas em certa direção, o fluido terá que percolar através de fraturas
em outras direções que se interconectam às primeiras.

Não é possível, portanto, tratar de forma individual cada uma das fraturas
presentes no maciço aplicando-se, de imediato, as equações e os conceitos
apresentados anteriormente. Para determinação dos parâmetros hidráulicos de
maciços rochosos, são utilizados basicamente dois métodos: amostragem de
fraturas e ensaios hidráulicos de campo.

O primeiro método baseia-se na obtenção de informações acerca do sistema de


fraturas do maciço (número de famílias, orientação, abertura, espaçamento,
preenchimento, etc.), a partir das quais é obtido, por determinação analítica, um
tensor de permeabilidade, ou seja, a determinação no espaço, dos módulos e das
direções principais (triortogonais) de permeabilidade, como já visto no item 3.6. A
maior dificuldade associada a este método é a obtenção de informações
representativas do sistema de fraturamento. No método estão implícitas, ainda,
hipóteses de uniformidade das variáveis dos sistemas de fraturas, além da sua
extensão infinita, quando, na realidade, estas grandezas são estatisticamente
distribuídas de diferentes formas, por exemplo, o espaçamento, que apresenta nos
maciços uma distribuição exponencial; a abertura, uma distribuição log normal; a
orientação, uma distribuição normal hemisférica etc.

Os métodos de ensaios hidráulicos de campo, porém, são baseados em ensaios


de bombeamento ou injeção d’água, nos quais a influência individual dos vários
parâmetros do sistema de fraturas se integra nos próprios resultados dos ensaios.
Nestes métodos, a principal dificuldade que se interpõe é a determinação de um
volume de ensaio que seja representativo do maciço rochoso, volume este
denominado volume elementar representativo (VER), cujo conceito é apresentado
na Figura 15.

Figura 15 - Conceito de volume elementar representativo (Bear, 1972; in: ABGE,


1988).

Com o aumento do volume do maciço, sua permeabilidade média varia


bruscamente, em virtude da inclusão de novas fraturas ou de novas porções de
matriz rochosa. A partir de certo volume, estas novas inclusões não mais
interferem significativamente na média, sendo, então, definido o volume elementar
representativo. O VER deve ainda ser pequeno o bastante para que o gradiente
hidráulico seja constante no seu interior e grande o suficiente para que todas as
feições condicionantes, na escala do problema, sejam englobadas.

Caso não sejam atendidas essas condições, o meio não poderá ser assemelhado
a um meio homogêneo equivalente, não sendo válidos, portanto, os preceitos
estabelecidos pela lei de Darcy.

Diversos autores têm demonstrado, com base em estudos, que, a partir de


determinada escala, certa densidade de fraturas e valores relativos de
condutividade hidráulica, é possível adotar a aproximação de maciço homogêneo
equivalente.

Embora diversos métodos para determinação dos parâmetros hidráulicos de


maciços rochosos tenham sido desenvolvidos, quase todos apresentam
limitações, resultantes da própria dificuldade em se reproduzir a complexidade
estrutural dos maciços, o que implica, muitas vezes, simplificações necessárias ao
equacionamento dos problemas, mas que, nem sempre, correspondem à
realidade.

Atualmente, o método mais promissor e que apresenta melhores resultados


consiste na injeção ou no bombeamento de água em um trecho de um furo e
observação em trechos de furos circunvizinhos. O método baseia-se na solução
geral do problema da variação de carga hidráulica com o tempo, em um ponto
qualquer de um meio anisotrópico, causada pela injeção ou pelo bombeamento de
uma vazão constante em outro ponto do mesmo meio. Para execução deste
ensaio, não se requer conhecimento prévio das direções principais do
fraturamento. Os furos de ensaio podem ser executados em quaisquer direções, e
os volumes ensaiados podem ser controlados pela escolha do espaçamento entre
os furos de injeção e os de observação. Não é necessária a elaboração de
nenhuma hipótese, a priori, sobre qualquer propriedade das fraturas. O método é
capaz, ainda, de detectar a presença, nas proximidades da região ensaiada, de
uma feição muito permeável, ou muito impermeável, não interceptada pelos furos
de ensaio (Quadros, 1992, in: Azevedo & Marques, 2002).

Nos casos mais simples, e para avaliações mais grosseiras da permeabilidade de


maciços rochosos, pode-se utilizar a seguinte equação:

e
KM  K f  Kr (Eq. 67)
s

Em que:
KM - permeabilidade do maciço rochoso;
e - abertura das fraturas;
s - espaçamento entre fraturas;
Kf - permeabilidade das fraturas; e
Kr - permeabilidade da matriz rochosa.

A permeabilidade da matriz rochosa é, via de regra, muito baixa, podendo ser


desprezada. Dessa forma, e considerando a equação 64, a equação 67 pode ser
reescrita do seguinte modo:

g e3
KM  (Eq. 68)
12 s

Para um maciço com um arranjo planar de N juntas por unidade de distância ao


longo da face de rocha todas com abertura b, Snow (1966) percebeu que a
porosidade da fratura, nf, era igual a Nb, e

𝜌𝑔 𝑁𝑏 3
𝐾 = ( 𝜇 ) ( 12 ) (Eq. 69)

Ou

𝑵𝒃𝟑
𝒌=
𝟏𝟐

Em que k é a permeabilidade da rocha e tem dimensão L2.

Um sistema cúbico de fraturas semelhantes cria um sistema isotrópico com uma


porosidade nf = 3Nb e a permeabilidade duas vezes maior que a permeabilidade
individual de qualquer uma das famílias de fraturas que formam o sistema (Snow,
1968), ou seja, k = Nb3/6.

Na prática, a determinação da abertura das fraturas de maciços rochosos é


extremamente difícil.
Em inúmeros casos práticos, a permeabilidade dos maciços é estimada a partir de
ensaios pontuais de permeabilidade (perda d’água sob pressão, infiltração, etc.),
obtendo-se valores de condutividade hidráulica equivalente.

3.9.2.1. Modelos de fluxo em maciços rochosos

A escolha do modelo de fluxo é de importância fundamental no caso de fluxo de


água através de um maciço rochoso.

Louis (1976, in: Azevedo & Marques, 2002) dividiu os maciços rochosos de acordo
com seus defeitos de fábrica nos seguintes grupos (Figura 16):

(a) Meio poroso, principalmente homogêneo, contendo somente pequenos poros.


(b) Meio poroso fraturado, no qual as fissuras determinam o comportamento hidráulico do maciço
rochoso.
(c) Meio poroso contendo barreiras impermeáveis, no qual as descontinuidades são preenchidas
com material composto de partículas impermeáveis e onde somente as pontes de rocha
fornecem conexões hidráulicas.
(d) Meio poroso com pequenos canais, nos quais descontinuidades maiores, preenchidas com
material impermeável, contêm canais através dos quais a água pode percolar.
(e) Meio cárstico contendo passagens largas e cavernas de formas geométricas diversas,
originadas da solução e remoção da rocha pelo fluxo de água subterrânea.
Figura 16 - Tipos de meios de maciços rochosos (Louis, 1976): (a) meio poroso,
(b) meio poroso fraturado, (c) Meio poroso com barreiras impermeáveis – (1. ponte
de rocha), (d) meio poroso contendo canais (2. canais) e (e) meio cárstico.

Os maciços rochosos são divididos, nesses grupos, de acordo com os tipos mais
comuns de fluxo. Entretanto, a escolha da modelagem do maciço rochoso como
um meio contínuo ou descontínuo depende da escala relativa do problema e das
características das famílias de descontinuidades, como espaçamento e
persistência.

Exemplos da importância da escala relativa do problema na escolha do


comportamento do fluxo estão mostrados na Figura 17, em que um caso típico de
fluxo de água subterrânea através da fundação de uma barragem é apresentado,
considerando-se quatro diferentes tipos de maciço rochoso.
Figura 17 - Meios contínuos e descontínuos para problemas de fluxo. (1) e (2) –
meios contínuos e (3) e (4) – meios descontínuos (Giani, 1991, in: Azevedo &
Marques, 2002)

Um meio fraturado estará corretamente esquematizado como um meio contínuo


equivalente quando o tamanho dos blocos for desprezível com referência à escala
do problema analisado (Caso 2 da Figura 17). Nesta situação, métodos de análise
de fluxo em meios porosos podem ser adotados na solução do problema
hidráulico. Quando os blocos têm tamanho apreciável em relação à escala do
problema e de descontinuidades não preenchidas, devem ser empregados os
métodos de análise de fluxo de água através das descontinuidades. As
propriedades hidráulicas de um maciço rochoso fraturado dependem da
condutividade hidráulica das famílias individuais de juntas ou de uma única junta.

3.9.2.2. Modelagem do maciço rochoso como um meio contínuo equivalente

O tratamento do meio descontínuo como um meio contínuo equivalente impõe a


definição de uma condutividade equivalente para cada família de juntas (Figura
18):

Macico Rochoso Continuo Equivalente

h1 h2
L
L
s
x
meio poroso equivalente
n juntas
(a) (b)
Figura 18 - (a) maciço rochoso fraturado e (b) meio contínuo equivalente (Azevedo
& Marques, 2002).

A vazão em uma fratura (junta) e o gradiente hidráulico são dados por:


q f  K f e1 i
area

(Eq. 70)
h1  h 2
i
x

A vazão total no maciço fraturado é calculada a partir da vazão em cada fratura,


de modo que:

q  n qf  n K f e i (Eq. 71)

A vazão total no meio contínuo equivalente é:

qce keq Li (Eq. 72)

Como as vazões totais devem ser iguais, então:

q = qce (Eq. 73)

E, portanto,

n K f e i  K eq L i (Eq. 74)

n
K eq  K f e (Eq. 75)
L

Como o espaçamento da família de juntas é igual a:

L
s (Eq. 76)
n

Então,
e
K eq  K f (Eq. 77)
s

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