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3.1. Introdução
Já vimos que a água subterrânea tem sua origem ligada à água que infiltra no
terreno. Desse total infiltrado, entretanto, parte da água fica retida no solo e parte
escoa verticalmente para alimentar os aquíferos.
Para que a água possa fluir, é necessário que as rochas apresentem vazios. Estes
vazios podem ser originalmente formados com a própria rocha (rochas
sedimentares e algumas rochas vulcânicas), originando o que se denomina como
porosidade primária, ou podem ser formados por processos posteriores (tectônica,
dissolução, intemperismo etc.), originando a denominada porosidade secundária,
vinculada aos aquíferos anisotrópicos, em aquíferos cristalinos (fraturados) ou
cársticos (de dissolução).
3.2.1. Porosidade
A porosidade total pode ser definida com a relação entre o volume de vazios e o
volume total
Em que:
η = porosidade total
VV = volume de vazios
V = volume total
ou
Tipo e descrição Média Max Min Max Min Média Max Min
Rochas maciças
0,0
0,3 4 0,2 9 <0,2 0,5 0,0 A
5
Calcário maciço 8 15 0,5 20 <0,5 1 0,0 B
5 10 2 <0,5 1 0,0 B
Rochas metamórficas 0,5 5 0,2 <0,5 2 0,0 B
Rochas vulcânicas
30 50 10 80 5 <5 20 0,0 C.E
25 80 10 - 20 50 1 C.E
85 90 50 - <5 20 0,0 D
2 5 0,1 - <1 2 0,1 A
12 30 5 - 5 10 1 C
Rochas sedimentares
consolidadas
5 15 2 30 0,5 <2 5 0,0 E
15 25 3 30 0,5 10 20 0,0 F
20 50 10 1 5 0,2 B
10 30 1,5 3 20 0,5 -
Rochas sedimentares
inconsolidadas
Aluviões 25 40 20 45 15 15 35 5 E
35 40 30 - - 20 30 10 -
30 40 25 40 20 25 35 15 -
45 55 40 <5 10 0,1 E
35 45 20 25 35 10 -
25 35 15 - - 15 30 5
40 50 35 10 20 2 E
Argilas sem compactação e
50 60 30 10 20 1 E
solos sup.
Obs.:
A: n e ne aumentam por
D: n diminui e ne pode aumentar com o tempo
alteração
E: n e ne muito variável conforme circunstâncias e
B: n e ne aumentam por
tempo
dissolução
F: n e ne variáveis conforme o grau de cimentação e de
C: n e ne aumentam com o
solubilidade
tempo
Pelo fato de que parte da água é retida no solo ou na rocha, pela ação de forças
moleculares e pela tensão superficial, apenas parte da água armazenada pode ser
liberada (CPRM, 2000). Assim, tem-se o conceito de porosidade efetiva, que é o
volume de poros efetivamente disponível para ser ocupado por fluidos livres
(exclui todos os poros não conectados, inclusive o espaço ocupado pela água
adsorvida nas argilas), dividido pelo volume total, ou seja:
(b)
(c)
Figura 2 - Exemplos de porosidade. Em (a) porosidade macroscópica em
diferentes aquíferos (Teixeira et al, 2000). Em (b) detalhe da porosidade. Em (c)
imagem de MEV de um filito dolomítico (Soares, 2008).
A Figura 3 ilustra o conceito de porosidade efetiva. Em Mecânica de Rochas
utiliza-se o conceito de porosidade aparente, já que apenas os poros/vazios
interconectados podem ser saturados.
Ou,
Q=-kiA (Eq. 10)
E C = ½ M v2 (Eq. 11)
Eg = M g z (Eq. 12)
EP = P V (Eq. 13)
Dividindo-se cada termo pela massa, a energia mecânica total para massa unitária
é:
Como o fluxo em água subterrânea ocorre a velocidades muito baixas (da ordem
de alguns milímetros ou centímetros por dia) o termo referente à energia cinética
(Eq. 11) passou a ser desprezado, já que é muito pequeno. Com efeito, uma
velocidade de 1 cm/s, considerado um escoamento rápido, corresponde a uma altura de
carga de energia cinética da ordem de apenas 0,5 x 10-3 cm. A energia mecânica por
unidade de massa (Em/M) e definida como potencial hidráulico () e eliminando a
parcela cinética na equação 14, tem-se que:
P = P0 + g (h – z) (Eq. 16)
P = g (h – z) (Eq. 17)
ou
h
QK A (Eq. 23)
L
Ou
Há uma velocidade crítica (vc) além da qual o fluxo deixa de ser laminar. O
parâmetro que caracteriza esta mudança de velocidade é o número de Reynolds
(Re), o qual expressa a relação entre as forças de inércia e as forças viscosas (de
atrito), das quais depende o escoamento, e que tem, na prática, um valor máximo
igual a 2.000 para o escoamento laminar. Para tubos circulares, sob fluxo total:
vc D
Re (Eq. 25)
g
Ou
vc D
Re (Eq. 26)
Em que:
g
(Eq. 27)
Para água a 20º C (Fetter, 2001; Freeze & Cherry, 1976; e diversos outros
autores fornecem valores para outras temperaturas):
= 1,01x10-6 m2/s;
= 1,01x10-3 kg /m s;
= 104 kg/m2s2; e
g = 9,81 m/s2.
No regime turbulento, as perdas de carga são muito maiores que aquelas que
ocorrem no regime laminar, sendo também de naturezas diferentes. Enquanto no
fluxo turbulento predominam as perdas de carga por mistura e transferência de
energia, no fluxo laminar as perdas são, quase que exclusivamente, por atrito
viscoso entre as camadas do fluido.
v d2
vg
v 1/
Então
𝜕ℎ 𝜕ℎ 𝜕ℎ
grad h = 𝜕𝑥
𝑖+ 𝜕𝑦
𝑗+ 𝜕𝑧
𝑘 (Eq. 37)
𝜕ℎ
𝑞𝑥 = − 𝐾𝑥𝑥 𝜕𝑥 (Eq. 38)
𝜕ℎ
𝑞𝑦 = − 𝐾𝑦𝑦 𝜕𝑦 (Eq. 39)
𝜕ℎ
𝑞𝑧 = − 𝐾𝑧𝑧 𝜕𝑧 (Eq. 40)
Para um meio anisotrópico K passaria a ser um tensor de nove componentes para
um escoamento tridimensional e de quatro componentes para um escoamento
bidimensional.
𝜕ℎ⁄
𝑞𝑥 𝐾𝑥𝑥 𝐾𝑥𝑦 𝐾𝑥𝑧 𝜕𝑥
(𝑞𝑦 ) = (𝐾𝑦𝑥 𝐾𝑦𝑦 𝐾𝑦𝑧 ) 𝜕ℎ⁄ (Eq. 41)
𝜕𝑦
𝑞𝑧 𝐾𝑧𝑥 𝐾𝑧𝑦 𝐾𝑧𝑧 𝜕ℎ⁄
( 𝜕𝑧 )
𝝈𝑻 = 𝝈 𝒆 + 𝑷 (Eq. 42)
Em que:
σT = é a tensão total;
P = é a pressão;
σe = é a tensão efetiva.
𝑑𝑃 = −𝑑𝜎𝑒 (Eq.43)
Em que:
O sinal negativo indica que o aquífero diminui com o aumento da tensão efetiva.
Como dP = - dσe, a Equação 44 pode ser reescrita como
𝒅𝒃⁄
𝒃
+𝜶 = (Eq. 45)
𝒅𝑷
(a) (b)
Figura 10 - Relação entre heterogeneidade e anisotropia (Freeze & Cherry, 1978).
Em grandes escalas pode ser comprovado que existe uma relação entre
heterogeneidade em camadas e anisotropia. Na formação geológica com
camadas mostrada na Figura 10, cada camada é homogênea e isotrópica com
condutividade hidráulica K1, K2,...., Kn. A seguir será possível comprovar que esse
sistema como um todo funciona como uma única camada anisotrópica e
homogênea. Inicialmente considere um fluxo perpendicular ao acamamento. A
descarga específica v tem de ser igual, tanto na saída quanto na entrada do
sistema; de fato tem de ser constante através de todo o sistema. Seja h1 a perda
de carga ao longo da primeira camada, h2 a perda ao longo da segunda e assim
sucessivamente. A perda total de carga é, então h = h1 + h2 + ... + hn e, da lei
de Darcy tem-se:
Que leva a
𝑑
𝐾𝑧 = 𝑑𝑖 (Eq. 48)
∑𝑛
𝑖=1 ⁄𝐾 𝑖
𝐾𝑖 𝑑𝑖 ∆ℎ ∆ℎ
v = ∑𝑛𝑖=1 = 𝐾𝑥 (Eq. 49)
𝑑 𝑙 𝑙
3.9.1. Armazenamento
Ou
S = SS b (Eq. 57)
Ou
𝑺𝒚 ≫ 𝒃𝑺𝒔 , logo 𝑺 = 𝑺𝒚
Como o valor de Sy é muitas ordens de grandeza maior do que bS S para um
aquífero não confinado, o armazenamento é usualmente tomado como sendo
igual ao rendimento específico, que varia entre 0,01 e 0,30.
Em que
Vw = é o volume de água drenada (L3; m3)
S é o armazenamento (sem dimensão)
A é a área da superfície que recobre o aquífero (L2; m2)
h é a redução média na carga (L; m)
3.9.2. Transmissividade
T = Kb (Eq. 61)
De modo geral, nos granitos e nas rochas de alto grau de metamorfismo, como
gnaisses, migmatitos, granulitos, etc., a permeabilidade tende à zero em
profundidade, devido ao confinamento. Em superfície, por alívio de tensões, as
fraturas encontram-se mais abertas, resultando não só em aumento da
permeabilidade do maciço, como também no desenvolvimento de juntas de tração.
Estas são descontinuidades de andamento subparalelo à topografia, que mostram
condutividades hidráulicas elevadíssimas (Figura 12a).
Para o fluxo entre duas placas paralelas, a equação teórica proposta por Poiseuille
é:
Q g e3 1
v i (Eq. 62)
A 12 Ra
1/ 5
1 C
DH
Em que:
v - vazão específica (Q/A);
g - aceleração da gravidade;
e - abertura hidráulica da fratura;
Ra - rugosidade absoluta;
Ra/DH - rugosidade relativa;
DH - diâmetro hidráulico (DH=2e);
C - constante empírica (associada às perdas de carga que ocorrem no
escoamento e dependente do material);
- coeficiente de viscosidade cinemática do fluido; e
i - gradiente hidráulico.
Na equação de Poiseuille, o fator de correção para regime não laminar depende
de três variáveis: constante (C), rugosidade absoluta (Ra) e diâmetro hidráulico
(DH) da fratura, que equivale a 2e.
K f C e (Eq. 63)
Em que:
C - constante empírica (depende do material); e
- índice que é função do regime de fluxo e da rugosidade (varia entre 1,0
e 3,0).
As constantes (C) e () prevalecem para determinado regime de fluxo e para cada
tipo de fratura (ABGE, 1998).
x
e/2
e/2
Figura 14 - Fratura idealizada como placas planas paralelas (Fonte: Azevedo &
Marques, 2002).
g e2
v i (Eq. 64)
12
g e2
Kf (Eq. 65)
12
A vazão específica (q) ou taxa de fluxo em uma única fratura, conhecida como lei
cúbica, é dada por:
g e3
q i (Eq. 66)
12
Supõe-se que o fluxo se dá entre placas paralelas, cujas paredes são lisas e não
estão em contato;
Resultados experimentais indicaram a inadequação da lei cúbica quando aplicada
às juntas irregulares;
A lei cúbica é válida somente para juntas muito abertas ou para juntas cujas
superfícies sejam lisas;
Não é possível, portanto, tratar de forma individual cada uma das fraturas
presentes no maciço aplicando-se, de imediato, as equações e os conceitos
apresentados anteriormente. Para determinação dos parâmetros hidráulicos de
maciços rochosos, são utilizados basicamente dois métodos: amostragem de
fraturas e ensaios hidráulicos de campo.
Caso não sejam atendidas essas condições, o meio não poderá ser assemelhado
a um meio homogêneo equivalente, não sendo válidos, portanto, os preceitos
estabelecidos pela lei de Darcy.
e
KM K f Kr (Eq. 67)
s
Em que:
KM - permeabilidade do maciço rochoso;
e - abertura das fraturas;
s - espaçamento entre fraturas;
Kf - permeabilidade das fraturas; e
Kr - permeabilidade da matriz rochosa.
g e3
KM (Eq. 68)
12 s
𝜌𝑔 𝑁𝑏 3
𝐾 = ( 𝜇 ) ( 12 ) (Eq. 69)
Ou
𝑵𝒃𝟑
𝒌=
𝟏𝟐
Louis (1976, in: Azevedo & Marques, 2002) dividiu os maciços rochosos de acordo
com seus defeitos de fábrica nos seguintes grupos (Figura 16):
Os maciços rochosos são divididos, nesses grupos, de acordo com os tipos mais
comuns de fluxo. Entretanto, a escolha da modelagem do maciço rochoso como
um meio contínuo ou descontínuo depende da escala relativa do problema e das
características das famílias de descontinuidades, como espaçamento e
persistência.
h1 h2
L
L
s
x
meio poroso equivalente
n juntas
(a) (b)
Figura 18 - (a) maciço rochoso fraturado e (b) meio contínuo equivalente (Azevedo
& Marques, 2002).
(Eq. 70)
h1 h 2
i
x
q n qf n K f e i (Eq. 71)
E, portanto,
n K f e i K eq L i (Eq. 74)
n
K eq K f e (Eq. 75)
L
L
s (Eq. 76)
n
Então,
e
K eq K f (Eq. 77)
s