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Resenha Crítica
Campina Grande - PB
Outubro – 2017
LETIER, R.; BONDAROVSKY, L.; BERLINER, R. Nise: o coração da
loucura. [Filme-vídeo] Produção de Rodrigo Letier e Lorena Bondarovsky, direção
de Roberto Berliner. Brasil, 2016. 108min color. Son.
O filme “Nise: o coração da loucura”, ambientado na década de 40, narra um
trecho da história da loucura no Brasil a partir da vivencia de Nise da Silveira, uma
psiquiatra do hospital psiquiátrico de Engenho de Dentro e que transformou a psiquiatria
no país.
Na antiguidade o louco era visto como alguém que possuía conexão com o divino,
já na idade média ele passa a ser visto como pessoas tomadas pelo demônio e por isso
deveriam ser excluídos da sociedade tal qual os leprosos nos tempos bíblicos. Focault
denuncia em seu livro história da loucura que tudo que era diferente era levado ao
hospício, pois tudo que era desejável excluir era levado aos manicômios, uma vez que o
considerado louco não se submetia as normas. O louco estava nesse sentido associado ao
que se entendia por doença, por fuga da normalidade. Assim o conceito de doença para
Focault muda de acordo com o conjunto de valores que prevalecem na sociedade naquele
momento.
Franco Basaglia irá contrapor-se a essa forma de tratamento moral e físico que
excluem o considerado louco e que busca normatiza-lo. Influenciado por Marxewll Jones,
Focault e Ervin Goffman, proporá o que é conhecido como reforma psiquiátrica,
baseando-se no pensamento fenomenológico-existencial que surge como resposta a
desumanização do homem durante o período de guerras. O louco agora passa a ser
humanizado e loucura é vista como fruto uma forma diferente de existir.
Com o paciente entendido pela ótica da exclusão social, propõe-se a partir disso a
psicoterapia que visa reconstruir os laços sociais do “louco” e nesse sentido possibilitar o
que Kyrillos Neto (2003) chama de cidadania do louco.
No Brasil, nos anos 60 das representantes da reforma foi a médica Nise da Silveira,
retratada no filme. Foi a partir dessa reforma que surgiram a LEI 10.216, o modelo
substitutivo ao hospital psiquiátrico: os centros de atenção psicossocial (CAPS). Os
Centros de Apoio Psicossocial (CAPS) que são serviços abertos e comunitários do SUS
de acordo com a Portaria nº 336/2002 do Ministério da Saúde, tem a função de substituir
os leitos manicomiais para uma reabilitação através do acompanhamento clínico e a
reinserção social dos usuários, através de atividades intra e extra instituição, buscando
sempre fortalecer o vínculo do usuário com a família e a comunidade.A reforma
psiquiátrica fundamentada nas diretrizes do Sistema Único de Saúde e baseado no modelo
de atenção comunitária desde que se constituiu vem buscando a integração e inclusão do
indivíduo com sofrimento psíquico com a comunidade, ao invés de excluir e colocar esse
indivíduo privado de qualquer contato com o meio social.
Nesse sentido pode-se perceber no filme vários traços que demarcam a trajetória da
loucura e da reforma psiquiátrica no Brasil e no mundo. Os casos de Carlos Pertius,
Emygdio, Adelina, Lúcio e Fernando retratam que é possível uma nova perspectiva da
loucura, entendendo a subjetividade que o sujeito com transtorno mental possui, além das
mudanças nas práticas dos profissionais, como o caso do personagem Lima.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS