Sie sind auf Seite 1von 3

INDICAÇÕES LITERÁRIAS

O ESTADO ATUAL DO BIODIREITO


Por Martha Balby Gandra*

DINIZ, Maria Helena. O estado atual do biodireito. São Paulo: Saraiva, 2001.

Escrever um livro sobre o estado atual do biodireito, sem fazer qualquer restrição no
subtítulo, é uma grande ousadia, dada a vasta abrangência do tema em áreas as
mais variadas da ciência. A despeito disso, Maria Helena Diniz faz um esforço
hercúleo e tenta destrinchar todos os aspectos do tópico bioética.
A obra é bastante didática, situa o leitor conceitualmente, coloca-o a par do estágio
da discussão mundial, citando desde tratados e convenções internacionais,
incontáveis obras sobre a temática até encíclicas papais. Contém inúmeras
formulações hipotéticas de situações embaraçosas ou mesmo trágicas para cada
assunto da bioética. Toda essa problemática é examinada à luz da Constituição
brasileira, do Código Civil e do Código Penal, apontando muitas perplexidades em
face do nosso ordenamento e denunciando a falta de embasamento legal do
Judiciário para decidir as lides que se apresentarão futuramente.
Não satisfeita em descrever os problemas ocasionados pelo progresso da ciência,
ainda propõe uma série de soluções de lege ferenda, as quais podem até ser
questionáveis do ponto de vista lógico-jurídico, porém convocam ao debate e
dinamizam o processo legislativo que precisa regular as situações que já se
apresentam em concreto.
A respeito da orientação ética, pode-se dizer que a autora defende a vida em
qualquer estágio, acima de tudo. Nos primeiros capítulos da sua obra, já se pode
concluir que não transige em seus valores. Não importa onde a ciência quer chegar,
ainda que o fim seja o bem da humanidade, isso não pode ser conseguido à custa
do sacrifício de outras vidas.
A premissa eleita é a de que, uma vez fecundado o óvulo, já há uma nova vida e
toda vida merece toda a proteção do ordenamento jurídico, não havendo qualquer
flexibilização possível. De início, expressamente a autora rechaça o estabelecido
pela Comissão Warnock de que a vida começaria com o surgimento da linha
primitiva, socorrendo-se de uma coleção de argumentos de autoridade,
mencionando, entre outros, a opinião do Professor Jérôme Lejeune, o pesquisador
francês que identificou a origem genética da Síndrome de Down.
Partindo dessa proposição, as conclusões não poderiam ser outras: o livro contém
uma forte mensagem contra o aborto, contra a destruição de embriões criados no
processo de fertilização in vitro e, é claro, contra a clonagem reprodutiva e a
terapêutica feita a partir de células-tronco embrionárias. Contrapõe a essas práticas
os direitos fundamentais inscritos na Constituição Federal e na Declaração dos
Direitos da Criança, além do Código Civil brasileiro, que estabelece que a vida
começa a partir da concepção.
Não se pode deixar de reconhecer a imensa coragem da autora em assumir, sem
reservas, suas convicções cristãs, as quais permeiam todo o livro. Quando se trata
de bioética, por causa da aura de cientificidade que paira sobre o assunto, invocar
questões teológicas é um tabu. Quem o faz arrisca-se a ouvir o solene silêncio
reprovador e a ser ignorado por completo.
Mas a quem escolheu a ética da convicção pouco importa a vaidade do
reconhecimento alheio. Essa vaidade não pode ser sobreposta àquilo que pode
representar um verdadeiro massacre. Quem pode censurar as posições adotadas
pela autora, apegada à crença de que o valor da vida humana não permite que ela
seja reduzida à condição de coisa?
Na verdade, deixando de lado aqueles que se ajoelharam aos pés da “Deusa da
Ciência” por vaidade ou por ganância, trata-se de fé. Uns acreditam que a vida já se
inicia na fecundação e outros não. Mas quem é que pode provar? Não se pode
negar, no entanto, o apelo real do que disse o filósofo Olavo de Carvalho, no artigo
Desejo de Matar, publicado no Jornal da Tarde, em 20 de janeiro de 1997: se há
cinqüenta por cento de probabilidades de que o feto seja humano e cinqüenta por
cento de probabilidades de que não o seja, apostar nesta última hipótese é,
literalmente, optar por um ato que tem cinqüenta por cento de probabilidades de ser
um homicídio.
Esta é a hora daquele cuja opção ética foi a da responsabilidade (aquele que se
sente responsável por seus atos) dizer que não prosseguirá simplesmente porque
não tem como.
Se o livro não consegue persuadir o meio científico com os argumentos éticos
fundados na teologia, pelo menos levanta velhas questões ainda não respondidas e
chama à reflexão. Seu apelo é à humildade, ao senso do real que acusa uma
verdade insofismável: a de que ainda não sabemos nada.

* Martha Balby Gandra é analista judiciário e chefe da Seção de Pesquisa


Sóciojurídica da Divisão de Estudos e Pesquisas do Centro de Estudos Judiciários
do Conselho da Justiça Federal.

Das könnte Ihnen auch gefallen