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DA PERNA CABELUDA
(Prenúncios da Besta-Fera)
Porém a notícia foi interpretada pela população como uma criatura assombrosa em
forma de perna animada e vários boatos de populares sobre a aparição foram
relatados. Estes relatos geralmente diziam sobre ataques noturnos dentro de
casas, onde a perna se escondia em guarda-roupas e debaixo de camas ou até
mesmo surpreendendo pessoas nas ruas. Os ataques consistiam de chutes,
joelhadas e pisadas, mas a perna fugia rapidamente dos locais em grandes pulos.
Estes ataques foram assuntos de alguns folhetos de cordel como "A Perna
Cabeluda" de Tiúma e São Lourenço de José Soares, "A Véia debaixo da cama e a
Perna Cabeluda" de José Costa Leite e "A terrível história da Perna Cabeluda" de
Guaipuan Vieira.
De tão popular, a Perna figurou em shows de Chico Science & Nação Zumbi, onde
Chico dançava com uma perna de pano estufada que era lançada à plateia[1].
Imaginem um crime brutal no qual três irmãos de uma mesma família são
assassinados, levando a mãe a morrer em estado de choque e o pai a enlouquecer
e também falecer desesperado e vário. Agora, imaginem que essa brutalidade foi
praticada tendo como testemunha o fiel cachorro da família. Imaginem, ainda, que
o crime ficou sem solução por quatro anos, mesmo cumpridas todas as diligências
e tendo sido mobilizadas todas as autoridades do estado da Bahia. Coloquemos o
nome do cachorro de Calar. Pois bem, meus amigos, é esse o argumento de O
Cachorro dos Mortos, clássico entre os clássicos do cordel brasileiro. As
autoridades literárias de plantão não o leram, os professores não o adotaram nos
cursos de Letras do país, os críticos literários de vanguarda sequer sabem do que se
trata, a mídia o ignora, as igrejinhas acadêmicas reunidas em Paraty alheiam-se a
sua importância, mas o romance escrito por Leandro Gomes de Barros surpreende
há aproximados 100 anos, best seller que é. Creio mesmo que a maioria de meus
amigos aqui no Facebook não o conheça, mas não será por falta de aviso. Estive
trabalhando no estabelecimento do seu texto a partir das dezenas de edições
sucedentes. Desde a de Pedro Batista, já anotada e modificada, até à da Editora
Luzeiro (cuja capa reproduzo), passando pelas de João Martins de Ataíde e José
Bernardo. Continuarei estudando esse cordel, exemplo de história na qual a
natureza denuncia o criminoso. Tentarei em breve lançar uma edição definitiva,
com texto estabelecido e suas variantes