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FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA

Correcção do exame final de Direitos Reais (3º ANO/NOITE)


4 de Junho de 2012
Professor Doutor José Luís Bonifácio Ramos
(grelha em termos esquemáticos, não exclui outros elementos de valoração)

I (14 valores)

Em 1980, António falece e deixa a Bento, seu único filho, uma moradia em Benavente, a
qual se encontrava arrendada a Carlos. Bento registou a aquisição, comunicou-a a Carlos,
tendo-lhe ainda exigido o pagamento pontual das rendas. Contudo, nunca realizou
quaisquer obras de conservação da moradia, nem se deslocou sequer ao local para não ser
confrontado com o inquilino.
Carlos foi forçado a deixar a moradia em Janeiro de 1992, em virtude de esta se encontrar
em avançado estado de degradação, e informou Bento desse facto.
Bento deslocou-se à moradia em Fevereiro de 1992 para conhecer o imóvel, tendo-lhe sido
apresentado, por um empreiteiro, um orçamento de 20 milhões de escudos para a sua
reabilitação. Nessa altura, Bento disse ao seu amigo Daniel: “Não tenho dinheiro para as
obras. Se aquilo ruir, paciência!”.
Em Março de 1992, Edgar, convicto activista na ocupação de imóveis devolutos, resolveu
entrar na decrépita moradia e passar a utilizá-la para reuniões, conferências e festas nas
quais difundia a sua ideologia. Para o efeito, Edgar pintou grafitti alusivos aos seus ideais na
fachada na moradia, pintou as paredes interiores e instalou portas e janelas novas.
Em Maio de 2000, Edgar entendeu por bem que tinha chegado a altura de passar o seu
testemunho a outra pessoa e decidiu transmitir a todos os seus amigos que a moradia
continuaria a ser utilizada por Francisco com o objetivo de difundir os “ideais para um
mundo melhor”.
A situação financeira de Bento agravou-se ao longo dos anos. Em Agosto de 2007,
sabendo que estava iminente a penhora da moradia pelo Banco Garibaldi, resolveu vender
a Herculano a referida moradia por um preço 40% inferior ao valor de mercado. Herculano
celebrou o contrato de compra, recebeu as chaves do imóvel e promoveu o registo apenas
em Novembro de 2008.
Sucede que em Outubro de 2008, o Banco Garibaldi conseguiu finalmente registar a
penhora sobre o referido imóvel.
Em 2009, Herculano intentou uma acção de reinvindicação da propriedade contra
Francisco. Francisco pretende contestar a acção intentada por Herculano e promover o
cancelamento do registo da penhora.
Quid iuris?

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A- B:
Transmissão do direito de propriedade de A para B por sucessão 1316.º, 1317.º/b e
2050.º/1 e /2.
Sucessão na posse 1255.º e 2050.º/1 e /2.
O facto que determina a transmissão do direito de propriedade está sujeito a registo
2.º/1/a CRPr.
Posse de B:
Titulada 1259.º/1, de boa fé 1260.º/1, pacífica 1261.º/1, pública 1262.º, causal.
C:
Arrendatário 1022.º e ss. Em particular o 1023.º (sobre coisa imóvel) e o 1064.º, por se
tratar de prédio urbano, nos termos do 204.º/2.
Discussão sobre a natureza jurídica da posição do arrendatário: a maioria da doutrina
considera o arrendatário (ou locatário) um mero detentor do bem locado, ou seja, um
possuidor em nome alheio (1253º al. c) CC). Alusão ao 1057.º e à possibilidade de recurso
aos meios possessórios (1037º).
Pagamento da renda como obrigação do arrendatário 1038.º/a e 1075.º.
Realização de obras de conservação a cargo do senhorio 1031.º/b e 1074.º/1.
Arrendatário pode realizar obras urgentes, sendo compensado pelo valor investido nas
mesmas 1074.º/3, /4 e /5 e 1036.º/1.
E:
Caracterização da sua posição jurídica como posse, nos termos do 1251.º Afastamento do
1253.º.
Modo de aquisição por E: apossamento 1263/a (posse originária). Com intensidade e
duração bastantes (Menezes Cordeiro), um ou mais actos de exercício possessório efectivo
sobre o imóvel, controlo duradouro da coisa.
Perda por B: abandono 1267.º/1/a. Poderia ser considerada ainda a perda pela posse de
outrem (1267.º/1/d e /2), caso B não tivesse cessado voluntariamente o seu controlo
possessório sobre a coisa.
Posse não titulada 1259.º/1 e /2, de má fé 1260.º/1 e /2, pacífica 1261.º/1, pública
1262.º, formal.
Benfeitorias: janelas e portas são benfeitorias necessárias 1273.º/1, tendo E o direito a ser
indemnizado pelas mesmas, ainda que estando de má fé. Os grafittis podem ser
considerados benfeitorias voluptuárias, pelo que E, estando de má fé, não as pode levantar
nem ser indemnizado pela sua realização (1275.º/2).
E – F:
Transmissão da posse para F por tradição 1263/b (aquisição derivada). Perda da posse
por E pela cedência 1267.º/1/c.
Posse de F: não titulada 1259.º/1 e /2, de má fé 1260.º/1 e /2, pacífica 1261.º/1, pública
1262.º, formal.
Venda a H e subsequente penhora por BG:
H adquire o imóvel através de contrato de compra e venda 874.º, 875.º, 1316.º e 1317.º/a.
Transmissão da propriedade no momento da celebração do contrato, nos termos do
408.º/1. Facto sujeito a registo 2.º/1/a CRPr.
BG regista primeiro a penhora (2.º/1/n CRPr), embora esta seja posterior à compra e
venda. Caso de dupla disposição, nos termos do 5.º/1 e /4 CRPr? Concepção restrita de
terceiro para efeitos de registo. Discussão sobre se a previsão normativa inclui terceiros
(BG) cuja posição jurídica não tenha resultado de um acto de disposição praticado pelo
titular do direito transmitido inscrito no registo.
H – F:
A acção de reivindicação pode ser intentada contra F, enquanto possuidor (1311.º/1,
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legitimidade passiva).
Contestação por parte de F: aquisição do imóvel por usucapião? Tem posse boa para
usucapir (pública e pacífica 1297.º e 1300.º/1, respectivamente). Está de má fé, não
havendo título de aquisição nem registo da mera posse, pelo que só adquire o imóvel por
usucapião ao fim de 20 anos, à luz do 1296.º.
F podia juntar a sua posse à posse de E (acessão na posse 1256.º/1), mas mesmo assim
não se verificava o prazo para usucapir (1992-2009).

II (6 valores)
Isabel é proprietária de um edifício de traça antiga com 5 andares, situado em Beja, e
pretende rentabilizar o seu património através da constituição da propriedade horizontal.
Em 2010, Isabel vende o r/c, o 1.º andar e o 2.º andar a José, Luís e Maria,
respectivamente, entrega o 3.º andar a Noémia para se servir dele na medida das suas
necessidades, em contrapartida do pagamento de € 5.000,00, e vende o direito de usufruto
do 4.º andar a seu pai Orlando.
Em 2011, Orlando decide mudar-se para Tavira e cede temporariamente, a título gratuito, o
4.º andar a Patrícia, a qual decide fechar a varanda em alumínio lacado branco. Isabel fica
furiosa e pretende reaver a fracção autónoma.
Em 2012, José decide instalar um grelhador no logradouro do edifício, contíguo à sua
fracção, e começa a receber os amigos para umas festas. Luís e Maria não gostam desta
decisão, visto que deixam de ter sossego aos sábados e o fumo dos grelhados é “muito
incomodativo”. Por outro lado, José decide ainda remodelar a cozinha e a casa-de-banho,
aproveitando para aumentar a largura da janela da cozinha.
Ao tomar conhecimento destes factos, Isabel, José, Luís e Maria decidem convocar uma
reunião de condóminos para 5 de Abril de 2012 com o objetivo de aprovar um
regulamento de condomínio que proíba a utilização do logradouro por “estranhos ao
prédio” e a realização de obras nas fracções aos sábados e domingos.
Quid iuris?

Constituição da propriedade horizontal (arts. 1414.º a 1417.º)


Contratos de compra e venda entre I, J, L e M (arts. 408.º, n.º1, 874.º e 875.º)
Constituição de um direito de habitação a favor de N por contrato de compra e venda
(arts. 1484.º, 1485.º, 1440.º e 1486.º)
Constituição de um direito de usufruto a favor de O por contrato de compra e venda
(arts. 1439.º e 1440.º)
Trespasse temporário do direito de usufruto de O a favor de P ou mero comodato (art.
1444.º, n.º1)? No caso, trata-se de um comodato (art. 1129.º e 1444.º, n.º1, 2.ª parte)
Comodatário é equiparado, quanto a benfeitorias, ao possuidor de má fé (art. 1138.º, n.º1)

Fecho da varanda pode constituir uma alteração da forma da coisa e, consequentemente, a


violação do tipo injuntivo (arts. 1446.º, 1450.º, 1482.º)?
Qualificação do logradouro como parte integrante da fracção, parte de uso exclusivo da

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fracção ou parte comum?
Caso se considere parte comum, a instalação deve ser apreciada à luz do art. 1425.º, n.º1;
Caso se considere parte integrante da fracção ou de uso exclusivo desta, a instalação deve
ser apreciada à luz do art. 1422.º, n.º 2, al. a), e n.º 3.
Relativamente ao fumo do grelhador, podia ser considerada a aplicabilidade do art. 1347.º
As obras feitas por José na cozinha e casa de banho devem ser apreciadas à luz do art.
1422.º, n.º 2, al. a) (eventualmente no que toca à segurança do edifício). No que toca ao
aumento da largura da janela, art. 1422.º, n.º 2, al. a), e n.º 3.
Apreciação da validade do regulamento de condomínio. Deve considerar-se inexistente,
na medida em que disponha sobre a utilização das fracções autónomas. Assim, caso não
tivesse sido qualificado como parte comum, a regulação da sua utilização através do
regulamento de condomínio não produziria quaisquer efeitos.

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