Sie sind auf Seite 1von 53

 

MATERIAL DIDÁTICO – DIREITO PENAL

DOS CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO


CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL –

Autoria: Professor Guaracy Moreira Filho

Revisão, Atualização e Jurisprudências: Professora Juliana Moreira

PONTOS IMPORTANTES

Peculato

Art. 312. Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer


outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do
cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio:

Pena – reclusão, de dois a doze anos, e multa.

§ 1º Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a


posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja
subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe
proporciona a qualidade de funcionário.

Peculato culposo

§ 2º Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem:

Pena – detenção, de três meses a um ano.

Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 
§ 3º No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à
sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de
metade a pena imposta.

COMENTÁRIOS

1. Classificação doutrinária: crime próprio, material, comissivo (comissivo por


omissão no § 2º), doloso (culposo no § 2º), instantâneo, plurissubsistente, de
dano, unissubjetivo (plurissubjetivo ou de concurso necessário nos §§ 1º e 2º),
de forma livre, não transeunte e admite tentativa.

2. Sujeito ativo: crime próprio em que somente o funcionário público


(intraneus), pode cometê-lo, mas admite a participação de qualquer pessoa.
Aquele que não é funcionário público (extraneus), mas participa do crime,
responde como coautor por se tratar de condição elementar que se comunica
ao particular. Se o extraneus desconhece que o executor é agente público
incide noutro crime. O conceito de funcionário público em direito penal é amplo,
abrangendo inclusive aqueles que exerçam cargo, emprego ou função pública
transitoriamente e sem remuneração.

3. Sujeito passivo: em regra é o Estado, pois o crime é praticado contra a


Administração Pública, mas nada impede que figure no polo passivo o
particular se o objeto material lhe pertencer.

4. Objeto material: a conduta delitiva recai sobre dinheiro, valor ou qualquer


outro bem móvel.

Não se caracteriza o crime de peculato, em face da atipicidade da conduta, se


o agente apenas utiliza mão de obra pública, veículos e equipamentos
pertencentes à Administração Pública, uma vez que o tipo legal previsto no art.
312 do CP e seus parágrafos tem como pressuposto a apropriação ou desvio
de coisa móvel, inexistindo, também, a figura de peculato de uso. (TJSP – HC
– rel. Gentil Leite – RT 749/669).

Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 
5. Objeto jurídico: tutela-se a Administração Pública, a moralidade
administrativa.

Peculato – Art. 312 do CP – Verba pública. Longe fica de configurar crime de


peculato o emprego de verba pública em obra diversa da programada, fazendo-
se ausente quer a apropriação, quer o desvio em proveito próprio ou alheio.
(STF – TP – ApO nº 375-2 – rel. Marco Aurélio – j. 27-10-2004).

6. Tipo objetivo: a conduta típica, punida com pena de reclusão, de dois a doze
anos, e multa consiste em apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor
ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em
razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio. São duas as
hipóteses de peculato previstas no caput do dispositivo. Na primeira, espécie
de apropriação indébita, o agente comporta-se como se dono fosse da coisa.
Apropria-se do objeto material, em razão do cargo, como se lhe pertencesse. É
o caso do carcereiro que se apropria do relógio do preso sob sua guarda ou do
chefe de posto de saúde que se apropria de remédios para uso em consultório
particular. Tal conduta é chamada de peculato-apropriação. A outra hipótese é
o desvio. O agente altera o destino do bem de que tem a posse. Dá ao
dinheiro, valor ou qualquer bem móvel, outro caminho do que aquele que lhe foi
determinado, em proveito próprio ou alheio. É emprestar, o funcionário, o
dinheiro apreendido que está sob sua guarda ou desviar latas de leite em pó da
escola pública para a casa de um amigo em seu proveito, ou ainda de Diretor
de Escola Estadual que desvia, em seu proveito, videocassete adquirido com
numerário público, para uso do estabelecimento. Já se reconheceu o crime na
conduta do funcionário público que recebeu passagens aéreas e diárias pagas
com verba pública, para viagens em finais de semana, para cuidar de interesse
particular. Denominado pela doutrina de peculato-desvio.

Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse


do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em
proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a
qualidade de funcionário (§ 1º). Aqui, o tipo reprime o denominado peculato-
furto, também chamado de peculato impróprio. O funcionário conhece o local,

Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 
sabe onde se encontra o objeto material, ou, mesmo desconhecendo, se
aproveita das facilidades decorrentes do cargo para cometer o delito ou
concorrer para que outro o cometa. O particular que praticou a subtração
responde por peculato e não por furto. A qualidade de funcionário público é
elementar do crime e, portanto, se estende ao particular, conforme regra
constante no art. 30 do CP. Ademais, o peculato (art. 312) é norma especial em
relação ao furto (art. 155 da lei penal). É irrelevante à configuração do delito em
estudo a intenção do funcionário em restituir aquilo que apropriou. O que
importa no crime de peculato não é tanto a lesão patrimonial, mas
principalmente a ofensa aos interesses da Administração Pública de que os
funcionários são guardiões, deles se exigindo lealdade sem fraquezas e
fidelidade sem vacilações. Assim tem decidido reiteradamente nossos tribunais.

O escrivão de cartório não oficializado exerce função pública, por ser


considerado funcionário público, para os efeitos penais. Se se apropria de
dinheiro recolhido a título de emolumentos do Estado, pratica o delito de
peculato. (TJSP – AC – rel. Mendes França – RT 482/314)

Se o carteiro, ao invés de entregar, viola e destrói a correspondência,


apropriando-se dos respectivos valores registrados, comete o delito de
peculato. (TFR – AC – rel. Washington Bolivar de Brito – DJU 5-3-1980, p.
1.076)

7. Tipo subjetivo: o tipo não apenas requer o dolo comum, genérico,


consistente na vontade deliberada de apropriar-se de dinheiro, valor ou
qualquer outro bem móvel, ou de desviá-lo, mas exige também, em todas as
suas modalidades, (peculato-apropriação, desvio ou furto) o dolo específico,
consubstanciado na finalidade do agente em praticar as condutas típicas em
proveito próprio ou alheio. Alguns doutrinadores entendem que o dolo é
genérico no peculato-apropriação e específico no peculato-furto ou por desvio.
O policial que transporta, por exemplo, cinco televisores em um carro da polícia
para a casa de um amigo, aparelhos que faziam parte de um lote e que haviam
sido roubados de uma loja comercial e recuperados pela polícia, deve
responder pelo desvio da carga (peculato-desvio).

Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 
8. Consumação: crime material que exige o resultado para a sua consumação.
Esta ocorre no momento em que o agente efetivamente se apropria (converte a
coisa em sua), desvia (dá um fim diverso na coisa) ou subtrai (quando a coisa
sai da esfera de proteção do funcionário) o objeto material. Consuma-se o
crime de peculato, no caso de desvio, no instante em que o funcionário público
da às coisas destino diverso, empregando-as em fins outros que não o próprio
ou regular.

O crime de peculato se consuma no momento em que o funcionário se apropria


do dinheiro, valor ou bem móvel, de que tem a posse em razão do cargo e
desvia em proveito próprio ou de terceiro. No lugar onde se apropria do
dinheiro público deve ser processado e não lugar onde presta contas do
dinheiro recebido e oculta a apropriação já consumada anteriormente. (STF –
RE – rel. Cordeiro Guerra – JUTACRIM 67/519)

9. Tentativa: a doutrina majoritária admite a possibilidade de fracionamento da


conduta delitiva. Em tema de tentativa muitas vezes os critérios lógicos têm de
ceder aos critérios políticos. Embora o delito seja material e plurissubsistente,
entendemos possível seu reconhecimento apenas no verbo subtrair. Se o
agente for surpreendido no momento em que está saindo do prédio da
repartição pública com uma arma subtraída da gaveta de uma sala qualquer,
configura-se a tentativa. Perfeitamente possível o fracionamento do iter
criminis. Já no apropriar ou desviar a coisa, a tentativa afigura-se-nos
impossível, pois nessas hipóteses está o funcionário público se comportando
como se dono fosse, e assim, o crime já está consumado.

10. Peculato culposo: se o funcionário concorre culposamente para o crime de


outrem a pena será de detenção de três meses a um ano. Concorrer
culposamente é contribuir por imprudência, negligência ou imperícia para a
prática dolosa de peculato-apropriação, desvio, subtração ou concurso. As não
raras subtrações cometidas em repartições públicas por particulares, sem a
participação de agente público, é fato não punível para o funcionário. Noronha
sustenta que também haverá culpa no caso de subtração praticada por
estranho sem a colaboração de funcionário. Mirabete, porém, a nosso sentir,

Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 
acertadamente, leciona que o § 2º deve ser interpretado em conjunto com o
caput e § 1º referentes apenas a espécies de peculato. Pela nossa lei penal
não há participação culposa em crime doloso. Exige-se no concurso de
pessoas (art. 29 da lei penal), a homogeneidade de condutas, a unidade de
desígnios, vale dizer, o agente deve ter ciência de que está colaborando para a
realização de um crime. Assim se a empregada doméstica, por descuido,
deixar a porta da residência aberta, propiciando a entrada de ladrões, não
responde pelo delito. Todavia quando o agente é funcionário público abre-se
uma exceção. Pune-se aquele que tem o dever legal de evitar que isso
aconteça contra a Administração Pública, e não o faz por desídia, por desleixo,
contribuindo, assim, para o crime de outrem. Se o escrivão de polícia deixa o
cofre aberto e, na sua ausência, o investigador subtrai armas ou drogas,
responde este por peculato doloso e aquele pelo delito culposo. Tinha o dever
de impedir o resultado. Sua negligência deu causa a um crime doloso. Nesse
caso a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a
punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta. A reparação
não isenta o funcionário de eventual responsabilidade administrativa.

A prática de peculato culposo pressupõe a prática do delito doloso. Se o


Prefeito foi acusado de concorrer culposamente “para o crime de outrem”, o
crime de outrem seria o de natureza dolosa. (TJSP – AC – rel. Marino Falcão –
RJTJSP 72/326).

11. Peculato de uso: tem-se entendido na doutrina e na jurisprudência que o


peculato de uso, ou seja, a utilização momentânea, e não permanente, pelo
funcionário de coisa infungível, que a seguir é reposta no mesmo lugar em que
foi tirada ou utilizada para o fim a que se destina, não configura o crime de
peculato, mas é suscetível de sanções administrativas. Não se deve confundir
peculato de uso com peculato-desvio. Se um veículo oficial, destinado para uso
público específico, for desviado para proveito próprio ou alheio, haverá o crime.
Por outro lado, caso o agente se utilize de veículo de serviço para levar seus
filhos à escola ou a fazer compras em supermercado pode não configurar o
delito de peculato se tal conduta não for de caráter permanente, mas incorrerá

Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 
em improbidade administrativa. A Lei nº 8.429/1992 tipifica o abuso funcional
ensejando a punição do agente público. Dispõe seu art. 9º:

(...)

IV – utilizar, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas, equipamentos


ou material de qualquer natureza, de propriedade ou à disposição de qualquer
das entidades mencionadas no art. 1º desta lei, bem como o trabalho de
servidores públicos, empregados ou terceiros contratados por essas entidades;

(...)

A improbidade sujeita o agente a sanções políticas (suspensão dos direitos


políticos), administrativas (perda da função pública), civis (indisponibilidade dos
bens e ressarcimento ao erário) e penais (ação penal cabível), na forma da lei.
Destaca-se ainda que o Dec.-lei nº 201/1967 que define os crimes de
responsabilidade dos prefeitos erigiu em crime funcional o mero uso do objeto
material.

Peculato mediante erro de outrem

Art. 313. Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício


do cargo, recebeu por erro de outrem:

Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa.

COMENTÁRIOS

1. Classificação doutrinária: crime próprio, material, comissivo, doloso,


instantâneo, unissubjetivo, de forma livre, plurissubsistente, não transeunte, de
dano e admite tentativa.

2. Sujeito ativo: embora crime próprio em que somente o funcionário público


possa ser o autor, nada impede a participação de terceiro.

Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 
3. Sujeito passivo: o Estado e a pessoa prejudicada pelo crime.

4. Objeto material: a conduta criminosa visa o dinheiro ou qualquer utilidade.

5. Objeto jurídico: tutela-se a Administração Pública.

6. Tipo objetivo: a conduta típica, punida com pena de reclusão, de um a quatro


anos, e multa consiste em apropriar-se (apossar-se, tomar como próprio) de
dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício do cargo, recebeu por erro de
outrem. Na verdade, agente se aproveita do erro de outrem e se apossa do
objeto material. A doutrina costuma denominar o tipo em estudo de peculato-
estelionato, pois a conduta punível do funcionário público é a de se apropriar,
agir de má-fé, diante do erro espontâneo da vítima e não a de receber o
dinheiro.

Se induzir a vítima em erro o crime será de estelionato. Assim, se o auxiliar


judicial depositar importância referente ao valor que deveria ser feito
judicialmente, em nome próprio, incorre no delito. O escrivão do Cartório de
Notas que tendo recebido dinheiro de partes para lavratura de escritura se
apropria do numerário deixando de praticar os referidos atos também
responderá pelo delito. Ensina Damásio que a incidência do erro pode versar
sobre a coisa que é entregue ao funcionário, a pessoa a que se faz a entrega e
a obrigação que dá origem à entrega.

7. Tipo subjetivo: o tipo requer o dolo genérico consistente na vontade livre e


consciente de apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício
do cargo, recebeu por erro de outrem. Não se exige o elemento subjetivo
específico nem se prevê a forma culposa.

8. Consumação: crime material que exige o resultado. A consumação ocorre no


instante em que o funcionário público se apossa do dinheiro ou utilidade e
passa a agir como se dono fosse.

9. Tentativa: não vemos, na prática, como a conduta delitiva possa ser


fracionada. Ou o funcionário público se apropria do dinheiro por erro de outrem
e o crime estará consumado ou não se apropria e devolve a quantia vinda por

Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 
erro e o fato será considerado atípico. A doutrina majoritária, porém, adota
posição contrária. Regis Prado entende ser possível a tentativa na conduta do
funcionário que, ao receber determinada quantia por erro de outrem, não
consegue apropriar-se do valor, em face da oportuna intervenção do seu
superior hierárquico.

Inserção de dados falsos em sistema de informações

Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção de


dados falsos, alterar ou excluir indevidamente dados corretos nos
sistemas informatizados ou bancos de dados da Administração Pública
com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para
causar dano:

Pena – reclusão, de dois a doze anos, e multa.

• Art. 313-A acrescido pela Lei nº 9.983, de 14-7-2000.

COMENTÁRIOS

1. Classificação doutrinária: crime próprio, formal, comissivo, doloso,


instantâneo, unissubjetivo, de forma livre, plurissubsistente, misto alternativo,
de dano e teoricamente admite tentativa.

2. Sujeito ativo: somente o funcionário público.

3. Sujeito passivo: o Estado.

4. Objeto material: a ação criminosa visa dados falsos ou corretos dos sistemas
informatizados ou bancos de dados da Administração Pública.

5. Objeto jurídico: tutela-se a Administração Pública.

6. Tipo objetivo: quatro são os verbos que compõem o tipo penal. Os dois
primeiros, inserir (introduzir) ou facilitar (permitir), referem-se à inserção de

Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 
dados falsos, ou seja, informações de interesse da Administração Pública
armazenadas ou arquivadas de forma mentirosa. Nas outras hipóteses, alterar
(modificar) ou excluir (eliminar), os dados são verdadeiros, mas indevidamente
mudados ou removidos dos sistemas informatizados ou bancos de dados da
Administração Pública. Tem se entendido como banco de dados o lugar onde
uma organização armazena conteúdo, tais como dados, documentos, fotos ou
qualquer coisa que possa ser representada em um computador. O banco de
dados não apenas armazena todo este conteúdo, como também torna possível
recuperá-lo instantaneamente. Sistemas informatizados para Nucci é o
conjunto de elementos materiais ou não, coordenados entre si, que funcionam
como uma estrutura organizada, tendo a finalidade de armazenar e transmitir
dados, por meio de computadores.

7. Tipo subjetivo: o tipo requer não apenas o dolo comum consistente na


vontade deliberada de inserir ou facilitar a inserção de dados falsos, alterar ou
excluir indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos
de dados da Administração Pública. Exige-se, ainda, o dolo específico, vale
dizer, a finalidade do funcionário público de obter vantagem ilícita para si ou
para outrem ou para causar dano.

8. Consumação: crime formal que se consuma independentemente do


resultado danoso. A consumação ocorre no momento da efetiva inserção de
dados falsos ou da real alteração ou exclusão indevida de dados corretos nos
sistemas informatizados ou bancos de dados da Administração Pública.

9. Tentativa: entendemos não ser possível o fracionamento da conduta delitiva,


a não ser por razões de política criminal. Delmanto leciona que embora
teoricamente possível, na prática será de difícil ocorrência. Para Ney Moura
Teles a tentativa é possível se a inserção de dados falsos, iniciada pelo agente
ou por ele facilitada, não se efetivar por circunstâncias alheias à sua vontade
ou se, também por isso, não ocorrer a modificação ou exclusão dos dados.

Modificação ou alteração não autorizada de sistema de informações

Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 
Art. 313-B. Modificar ou alterar, o funcionário, sistema de informações ou
programa de informática sem autorização ou solicitação de autoridade
competente:

Pena – detenção, de três meses a dois anos, e multa.

Parágrafo único. As penas são aumentadas de um terço até a metade se


da modificação ou alteração resulta dano para a Administração Pública
ou para o administrado.

• Art. 313-B acrescido pela Lei nº 9.983, de 14-7-2000.

COMENTÁRIOS

1. Classificação doutrinária: crime próprio, de mera conduta (formal para alguns


doutrinadores), comissivo, doloso, instantâneo, unissubjetivo, de forma livre,
plurissubsistente, de dano e teoricamente admite a tentativa.

2. Sujeito ativo: somente o funcionário público, crime próprio, portanto. Admite-


se a coautoria, pois a circunstância de caráter pessoal é elementar do crime,
estendendo-se a terceiros.

3. Sujeito passivo: o Estado.

4. Objeto material: a conduta recai sobre o sistema de informações ou


programa de informática.

5. Objeto jurídico: tutela-se ao punir com pena de detenção de três meses a


dois anos e multa a Administração Pública. As penas são aumentadas de um
terço até a metade se da modificação ou alteração resulta dano para a
Administração Pública ou para o administrado.

6. Tipo objetivo: a conduta típica consiste em modificar (mudar, transformar) ou


alterar (modificar, adulterar) o funcionário, sistema de informações ou programa
de informática sem autorização ou solicitação de autoridade competente.
Sistema de informação é a expressão utilizada para descrever um sistema

Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 
automatizado (computadorizado) que abrange pessoas, máquinas, e/ou
métodos organizados para coletar, processar, transmitir e disseminar dados
que representam informação qualquer que seja seu uso. Programa de
informática é o software destinado a dar ao computador uma finalidade
qualquer, ou seja, é a utilização de métodos e técnicas no tratamento
automático da informação. A falta de autorização da autoridade competente
constitui o elemento normativo do tipo. Presente esta desaparece o ilícito.

7. Tipo subjetivo: tipo requer o dolo genérico, vontade deliberada de modificar


ou alterar, o funcionário, sistema de informações ou programa de informática.
Não se exige elemento subjetivo específico nem se prevê a modalidade
culposa.

8. Consumação: a consumação emerge com a mera conduta ou a simples


atividade do funcionário público. A consumação ocorre no instante em que o
funcionário efetivamente modifica o sistema de informação ou programa de
informática.

9. Tentativa: entendemos impossível seu reconhecimento, salvo se admitida


por razões de política criminal. Ou o agente pratica a conduta típica e o crime
se completa ou não pratica e o fato é atípico. Parte da doutrina a admite
teoricamente.

Extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento

Art. 314. Extraviar livro oficial ou qualquer documento, de que tem a


guarda em razão do cargo; sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou
parcialmente:

Pena – reclusão, de um a quatro anos, se o fato não constitui crime mais


grave.

COMENTÁRIOS

Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 
1. Classificação doutrinária: crime próprio, formal, misto alternativo, subsidiário,
de ação múltipla ou de conteúdo variado, de forma livre, de dano, instantâneo,
unissubjetivo, comissivo ou omissivo (sonegar), unissubsistente (sonegar) ou
plurissubsistente (extraviar e inutilizar) e não admite tentativa na forma
unissubsistente.

2. Sujeito ativo: crime próprio em que somente o funcionário público poderá


cometê- lo. Admite-se a participação de particulares.

3. Sujeito passivo: o Estado e a pessoa eventualmente prejudicada pelo delito.

4. Objeto material: a conduta delitiva recai sobre livro oficial ou qualquer


documento.

5. Objeto jurídico: tutela-se, ao punir com pena de reclusão, de um a quatro


anos, a Administração Pública.

6. Tipo objetivo: as condutas típicas consistem em extraviar (fazer desaparecer,


não chegar ao seu destino) livro oficial (livro de carga, de tombo, de registros
gerais etc.), ou qualquer documento (processos, inquéritos, relatórios, peças
processuais etc.) sonegá-lo (esconder, ocultar) ou inutilizá-lo (tornar
imprestável), total ou parcialmente. Assim, aquele que inutiliza folha contendo
cota de representante do Ministério Público em autos judiciais comete o crime.
Ensina Feu Rosa que não se considera para o preenchimento do tipo, o local
onde se encontravam os livros ou documentos: tanto faz que seja na
repartição, em casa, no carro para efeito de transporte etc. Se o agente não é
funcionário público o crime será de subtração ou inutilização de livro ou
documento previsto no art. 337 do CP.

7. Tipo subjetivo: é o dolo genérico consistente na vontade livre e consciente


de praticar as condutas descritas no tipo. Não se exige o dolo específico ou
elemento subjetivo especial do tipo, nem se prevê a modalidade culposa.

8. Consumação: o crime se consuma com a prática das condutas mencionadas


no texto legal, ou seja, no instante em que o livro ou documento efetivamente é

Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 
extraviado, sonegado ou inutilizado pelo funcionário público total ou
parcialmente. Crime formal que prescinde de dano à Administração Pública.

9. Tentativa: na hipótese de sonegar, crime unissubsistente e omissivo, não há


que se falar em tentativa. Nas demais modalidades (extraviar e inutilizar),
embora de difícil configuração, admite-se o fracionamento da conduta delitiva.
O iter criminis pode, em tese, ser interrompido por circunstâncias alheias à
vontade do agente.

Emprego irregular de verbas ou rendas públicas

Art. 315. Dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da


estabelecida em lei:

Pena – detenção, de um a três meses, ou multa.

COMENTÁRIOS

1. Classificação doutrinária: crime próprio, material (formal para alguns


doutrinadores), comissivo, doloso, de dano, unissubjetivo, plurissubsistente,
instantâneo, de forma livre, não transeunte e admite tentativa.

2. Sujeito ativo: crime praticado somente por funcionário público.

3. Sujeito passivo: o Estado.

4. Objeto material: a conduta recai sobre as verbas ou rendas públicas.

5. Objeto jurídico: tutela-se a Administração Pública.

6. Tipo objetivo: a conduta incriminada consiste em dar às verbas ou rendas


públicas aplicação diversa da estabelecida em lei. As verbas ou rendas
públicas devem ser aplicadas de acordo com as leis orçamentárias
devidamente tituladas e codificadas. Verbas públicas são dinheiros destinados
por lei orçamentária a determinado serviço de utilidade pública. Rendas

Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 
públicas são dinheiros percebidos pela Fazenda Pública. A doutrina costuma
chamar o delito em estudo de crime de desvio de verbas. O tipo penal,
segundo pacífica jurisprudência, visa impedir o arbítrio administrativo no
tocante à discriminação das verbas, rendas e respectivas aplicações, sem a
qual haveria a anarquia nas finanças públicas, não cogitando do prejuízo
resultante do seu emprego irregular. Cometem, pois, o delito, o presidente da
República, os governadores de Estado, os prefeitos, os ministros, secretários
de Estado e os administradores públicos em geral. Hungria dá o exemplo do
prefeito que lança mão da verba destinada à construção de uma ponte rural,
para aplicá-la na construção de um jardim na praça onde tem sua residência.

A norma do art. 315 do CP não pune irregularidades administrativas, mas o


comportamento do administrador que desvia numerário de meta especificada
em lei – Requisito que não se materializa nos casos em que o orçamento da
pessoa de direito público é aprovado não por lei, mas por decreto do próprio
Executivo. (STF – RHC – rel. Francisco Rezek – RTJ 120/1.123)

7. Tipo subjetivo: o tipo requer o dolo comum, consistente na vontade livre e


consciente de dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da
estabelecida em lei. Não é exigido o dolo específico nem se prevê a forma
culposa.

8. Consumação: a consumação ocorre com a efetiva aplicação indevida das


rendas ou verbas públicas.

9. Tentativa: a conduta pode, em tese, ser fracionada, admitindo-se, assim a


tentativa. É posição majoritária da doutrina.

Concussão

Art. 316. Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que
fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem
indevida:

Pena – reclusão, de dois a oito anos, e multa.


Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 
Excesso de exação

§ 1º Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou


deveria saber indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança meio
vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza:

Pena – reclusão, de três a oito anos, e multa.

• § 1º com a redação dada pela Lei nº 8.137, de 27-12-1990.

§ 2º Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de outrem, o que


recebeu indevidamente para recolher aos cofres públicos:

Pena – reclusão, de dois a doze anos, e multa.

COMENTÁRIOS

1. Classificação doutrinária: crime próprio, formal ou de mera conduta para


alguns penalistas, comissivo, doloso, instantâneo, unissubjetivo,
unissubsistente, transeunte, de forma livre, de dano e não admite tentativa.

Sendo o crime de concussão eminentemente formal, não se enquadra nas


chamadas infrações que deixam vestígios. Daí a irrelevância da falta de corpo
de delito. (TJSP – RHC – rel. Alves Braga – RT 450/350)

2. Sujeito ativo: somente o funcionário público pode cometer o delito. Admite-


se, entretanto, a participação de extraneus, pois a circunstância de caráter
pessoal se estende a terceiros.

3. Sujeito passivo: o Estado e a pessoa diretamente prejudicada pelo crime.

4. Objeto material: a ação criminosa visa a vantagem indevida.

5. Objeto jurídico: tutela-se o regular funcionamento da Administração Pública e


também o patrimônio da pessoa atingida pela conduta típica.

6. Tipo objetivo: a conduta típica, punida com pena de reclusão, de dois a oito
anos, e multa consiste em exigir (ordenar, determinar), para si ou para outrem,
Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 
direta (pelo próprio agente) ou indiretamente (por intermédio de outra pessoa),
ainda que fora da função (férias, licença médica etc.) ou antes de assumi-la
(aguardando a posse), mas em razão dela, vantagem indevida.

Concussão é a extorsão praticada por funcionário público contra o particular


em consequência de suas funções ou prevalecendo-se de sua autoridade. A
vantagem exigida pelo funcionário deve ser de ordem econômica. É a
interpretação que melhor se coaduna com a natureza do crime. Porém, como a
lei fala apenas em vantagem indevida, sem mencionar a expressão econômica,
alguns doutrinadores, seguindo Bento de Faria, entendem que a vantagem
pode ser não somente de dinheiro, mas de qualquer outra utilidade, seja ou
não de ordem patrimonial, proporcionando um lucro ou proveito. Na verdade,
para que o crime se complete, basta que a vítima se atemorize e ceda às
exigências impostas pelo concussionário. Leciona Nélson Hungria que exigir é
impor como obrigação ou reclamar imperiosamente. A exigência pode ser
formulada diretamente, a viso aperto ou facie ad faciem, sob a ameaça
explícita de represálias (imediatas ou futuras), ou indiretamente, servindo-se o
agente de interposta pessoa, ou de velada pressão, ou fazendo supor, com
maliciosas ou falsas interpretações, ou capciosas sugestões, a legitimidade da
exigência. Não se faz mister a promessa de infligir mal determinado: basta o
temor genérico que a autoridade inspira.

Médico do serviço público que exige da paciente pagamento, a título de


complementação de honorários, para realizar cirurgia em segurados; policial
que exige dinheiro para libertar preso; fiscal da Prefeitura que exige dinheiro
que não lhe era devido; delegado que exige dinheiro da vítima para evitar a
instauração de inquérito policial, promotor que exige determinada quantia de
advogado para não denunciar cliente, procurador do Estado que quer alta
soma monetária a fim de emitir parecer declarando o espólio quite com os
tributos estaduais, são alguns exemplos do delito em estudo. Se o agente em
vez de exigir vantagem indevida apenas a solicita, o crime será de corrupção
passiva, previsto no art. 317 da lei penal.

Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 
Pelas mesmas ações são incompossíveis os crimes de corrupção ativa
praticados por particular e de concussão cometido pela autoridade pública.
(STF – RHC – rel. Moreira Alves – RT 529/398 e RTJ 93/1.093)

7. Tipo subjetivo: o tipo exige o elemento subjetivo específico consistente na


finalidade do funcionário em auferir a vantagem indevida para si ou para outra
pessoa. Não há a modalidade culposa.

8. Consumação: a consumação do crime de concussão opera-se com o


simples fato da exigência da vantagem indevida, configurando seu recebimento
o exaurimento do delito. Assim, não se legitima a prisão em flagrante um dia
após a exigência quando o agente vai receber a quantia indevida. A
consumação ocorre, portanto, no momento em que se faz a exigência,
independentemente do recebimento da vantagem. Para o STF o recebimento
posterior é mero exaurimento da infração (RTJ 71/651).

O crime de concussão, segundo a lição unânime dos penalistas, é formal e se


consuma com a simples exigência, independentemente de qualquer outro
resultado, sendo irrelevante, sob esse aspecto, o efetivo recebimento da
vantagem, que, todavia, pode ser considerado na medida da pena. (TJSP –
RHC – rel. Silva Leme – RT 447/321)

9. Tentativa: entendemos que o tipo penal não comporta tentativa, a não ser
por razões de política criminal. Não há como fracionar a conduta delitiva. Ou o
agente exige a vantagem indevida e o crime se consuma ou não o faz e o fato
é atípico. A doutrina segue esse entendimento. Alguns doutrinadores, porém,
admitem a tentativa quando realizada a conduta por intermédio de uma carta e
esta é extraviada ou interceptada antes que chegue ao conhecimento da
vítima. Ora, se a carta extraviou não há qualquer relevância jurídica, trata-se de
um indiferente penal. Se for interceptada e não chegar ao conhecimento do
ofendido, a tentativa é inidônea, vale dizer, o meio foi ineficaz para produzir o
resultado almejado pelo agente. O crime é impossível (art. 17 do CP).

A concussão é delito formal ou de consumação antecipada; consuma-se o


crime no momento em que o agente exige a vantagem indevida, sendo a

Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 
obtenção ou não da vantagem aspecto de somenos importância, que não tem o
condão de descriminar a conduta. (TJMG – AC – rel. Pinheiro Lago – RT
728/623)

10. Excesso de exação: a pena será de reclusão, de três a oito anos, e multa,
se o funcionário exige tributo ou contribuição social (impostos, taxas e
contribuições de melhoria) que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando
devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza
(§ 1º). Crime próprio que admite a participação ou coautoria de particular. Aqui,
diferentemente do caput, o funcionário público não busca proveito próprio ou de
terceiro, mas sim, excede-se na cobrança de tributos. Na primeira parte do
artigo a conduta típica é a de exigir uma contribuição indébita, de coagir o
contribuinte, ou porque o tributo não é determinado por lei, ou porque é
cobrado em excesso, ou ainda por ele nada dever. A expressão sabe ou
deveria saber é indicativa de dolo, direto ou eventual. Já na segunda parte do
dispositivo, os tributos ou contribuições são devidos, mas o agente emprega na
cobrança meios que ferem a dignidade do contribuinte. Não há modalidade
culposa. A consumação ocorre na primeira figura com a efetiva exigência à
vítima, independentemente do recebimento. Na segunda modalidade com o
emprego do meio vexatório ou gravoso. Entendemos não ser possível a
tentativa. Dispõe o § 2º que se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de
outrem, o que recebeu indevidamente para recolher aos cofres públicos, a
pena será de dois a 12 anos de reclusão e multa. Como se vê, a qualificadora
incide apenas no excesso de exação e não na concussão. Exige o dolo
específico (proveito próprio ou de outrem), consumando-se no momento do
desvio do tributo. Para nós, se desvia tem a posse do tributo indevido, logo não
há tentativa. Ensina Delmanto que o desvio precisa ser antes do recolhimento
ao tesouro público, senão poderá caracterizar peculato (art. 312 do CP).

Apelação – Cobrança junto a comerciantes de supostas taxas devidas à


fazenda estadual – Apropriação dos valores arrecadados – Servidor público –
Caracterização do tipo de excesso de exação qualificada – Princípio da
proporcionalidade – Regras de aplicação das penas restritivas de direitos –
Recurso improvido – Decisão unânime.
Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 
I – Confirma-se a condenação, por delito de excesso de exação, do servidor da
Secretaria de Estado da Fazenda, investido no cargo de auxiliar de
administração, que arrecada junto aos comerciantes de Municípios do interior
supostas taxas pelo exercício da atividade, apropriando-se do produto da
arrecadação.

II – As tentativas de minimizar seus atos somente servem para tornar ainda


mais evidente sua consciência de que realizava atos ilegais, o que é
corroborado pelos depoimentos dos comerciantes vitimados pelo golpe e pelo
policial civil que realizou a prisão em flagrante, descrevendo em detalhes toda
a missão, que se originou em informações da própria Fazenda estadual.

III – O tipo de excesso de exação se configura quando o funcionário recebe o


pagamento de tributo indevido porque não instituído por lei; quando o
pagamento é devido, mas o agente realiza a cobrança de forma a constranger
moralmente o contribuinte; e quando o agente recebe o pagamento de um
tributo que é devido, mas ao invés de recolher ao fisco, detém para si o valor.
Nestes autos, o apelante incorreu na primeira modalidade, porque se
aproveitava da ignorância ou da sagacidade das vítimas, neste caso por
acreditarem pagar valores inferiores ao realmente devido.

IV – Ao alterar a redação do art. 316 do CP, a Lei nº 8.137, de 1990, promoveu


uma aberração jurídica, na medida em que a modalidade mais gravosa aquela
na qual o agente se apropria dos valores recebidos indevidamente ficou com
uma pena mínima cominada inferior à da forma simples. Em respeito ao
princípio da proporcionalidade, deve-se assegurar a aplicação benéfica da lei.

V – A sentença incorreu em erro gravíssimo quando, após condenar o apelante


a quatro anos de reclusão, substituiu esta pena por uma única restritiva de
direitos, em violação ao art. 44, § 2º, do CP, recrudescendo o erro ao fixar a
prestação de serviços à comunidade por apenas dois anos, eis que as penas
restritivas de direitos substituem as privativas de liberdade pelo tempo da
condenação.

Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 
VI – Recurso improvido. Decisão unânime. (TJPA – Ap nº 200730078729/PA
(2007300-78729) – rel. João José da Silva Maroja – j. 16-12-2008 – DJ 19-12-
2008)

11. Prisão em flagrante após a exigência de vantagem indevida: discute-se o


método empregado pela polícia contra seus próprios servidores. Não são raros
os casos em que o agente público exige uma vantagem indevida e a polícia
avisada pela vítima, posta-se para realizar a prisão. Haveria abuso na prisão
efetuada por autoridades policiais contra os seus maus servidores? Sendo o
crime de concussão de natureza formal, consumando-se no instante da
conduta criminosa, vale dizer, no momento da exigência da vantagem indevida
e não do seu recebimento, a prisão em flagrante afigura-se-nos desnecessária
e abusiva. O crime já se consumou. O recebimento ou a entrega da vantagem
é apenas o seu exaurimento. Nada impede, porém, que o criminoso seja
encaminhado à repartição policial e ali ser solicitada sua prisão temporária ou
preventiva, se for o caso. Por outro lado, se a prisão for efetuada logo após a
exigência do agente, não há que se falar em flagrante preparado nem de se
aplicar a Súm. nº 145 do STF, que diz não ser crime quando a preparação do
flagrante pela polícia torna-se impossível à sua consumação. Trata-se, aqui, de
flagrante esperado e, portanto, perfeitamente válida a sua realização.

Cuidando-se de concussão, crime de mera conduta, que já se consumara com


a mera exigência de vantagem indevida, a nulidade da prisão do servidor, por
ter sido efetuada em flagrante preparado, dias depois, quando este recebia a
quantia exigida, obviamente não descaracteriza o delito, sendo por conseguinte
inaplicável a Súm. nº 145 do STF. (STF – 1ª T. – HC nº 80.033-5 – rel.
Sepúlveda Pertence – j. 19-5-2000 –´RT 780/540).

Corrupção passiva

Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 
Art. 317. Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou
indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em
razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem:

Pena – reclusão, de dois a doze anos, e multa.

• Pena com a redação dada pela Lei nº 10.763, de 12-11-2003.

§ 1º A pena é aumentada de um terço, se, em consequência da vantagem


ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de
ofício ou o pratica infringindo dever funcional.

§ 2º Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício,


com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de
outrem:

Pena – detenção, de três meses a um ano, ou multa.

COMENTÁRIOS

1. Classificação doutrinária: crime próprio, de mera conduta ou simples


atividade (formal para alguns doutrinadores), comissivo ou omissivo (§ 1º,
primeira parte), doloso, de ação múltipla ou conteúdo variado, de dano, de
forma livre, instantâneo, unissubjetivo, unissubsistente e não admite tentativa.

2. Sujeito ativo: somente o funcionário público pode cometer o delito. Admite-se


a participação de particular (extraneus) mediante auxílio, induzimento ou
instigação.

3. Sujeito passivo: o Estado e secundariamente a pessoa atingida pela conduta


típica.

4. Objeto material: a conduta criminosa visa a vantagem indébita patrimonial ou


moral.

5. Objeto jurídico: tutela-se a Administração Pública, seu regular funcionamento


de acordo com os princípios de transparência, probidade e moralidade.
Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 
6. Tipo objetivo: o crime punido com pena de reclusão, de dois a 12 anos, e
multa consiste em solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou
indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão
dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem.

São três as condutas típicas previstas no tipo penal. Solicitar significa pedir,
para si ou para outrem, direta ou indiretamente uma vantagem indevida.
Receber é aceitar uma vantagem qualquer. Aceitar promessa de tal vantagem
é concordar, anuir em receber a oferta futuramente.

As ações criminosas devem ocorrer em razão da função, ainda que fora dela
ou antes de assumi-la. Como se vê, a lei empregou o termo função, um
conceito mais amplo e não cargo, em que o agente é titular de cargo público,
conceito mais restrito. Assim, quem praticar a conduta exercendo uma função
pública transitória como o jurado, o depositário, o tradutor, o perito, o contador,
entre outros, incorre no delito. Facilitação de fuga de preso pelo carcereiro
mediante recebimento de vantagem indevida; venda de carteira de motorista
por funcionário público; solicitação de quantia em dinheiro feita por fiscais da
Fazenda para regularizar escrita de contribuinte; omissão de investigador na
prática de atos de ofício relativos à repressão de jogos proibidos, são alguns
exemplos que configuram o delito em estudo.

Por outro lado, a expressão “vantagem indevida” dá lugar a diversas


interpretações doutrinárias. Seria ela exclusivamente de ordem patrimonial? Ou
a expressão deve conter um sentido amplo, abrangendo não apenas dinheiro,
recompensas ou presentes, mas também vantagem de cunho moral como
promoção, vingança ou até favores sexuais? Hungria opina que a vantagem
solicitada, recebida ou prometida há de ter caráter patrimonial, dinheiro ou
qualquer utilidade material. Noronha, por sua vez, entende que a vantagem
deve ser entendida em sentido amplo, pois ao contrário do que se passa na
concussão, quando a expressão pode ser tomada em sentido restrito, aqui se
trata do fato de o funcionário corromper-se, isto é, praticar ou não um ato
visando a uma retribuição que pode não ser econômica sem que nem por isso
deixe de traficar com a função. Adotamos esse entendimento, pois vantagem

Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 
indevida é a não autorizada em lei, podendo ser patrimonial, moral, econômica
ou sexual. Se quisesse que a vantagem indevida fosse apenas de natureza
econômica, o legislador teria feito expressamente.

O particular (extraneus) que oferece ou promete vantagem indébita ao


funcionário público comete o crime de corrupção ativa. Trata-se de uma das
poucas exceções da lei penal relativas ao concurso de pessoas. Em vez de
responder, em coautoria, pela corrupção passiva, responde pelo tipo autônomo
do art. 333 do CP. Exceção pluralista diante da regra monista. A doutrina define
a corrupção passiva em própria e imprópria. A primeira diz respeito à prática
pelo funcionário de ato ilícito. Imprópria quando a corrupção passiva decorre da
prática de ato lícito.

No crime de corrupção, podem concorrer as modalidades ativa e passiva ou


apresentar-se somente uma delas, pois o art. 333 do CPC só pune quem
corrompe oferecendo ou prometendo, e não quem apenas se limita a ceder
ante solicitação do funcionário público. (TJSP – Rev. – rel. Mendes França –
RJTJSP 7/545-547)

7. Tipo subjetivo: o tipo requer não apenas o dolo genérico consistente na


vontade livre e consciente de solicitar ou receber, direta ou indiretamente,
ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem
indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem. Exige ainda o dolo específico
dos doutrinadores clássicos, ou seja, a finalidade de praticar a conduta típica
para si ou para outrem.

Não é prevista a modalidade culposa.

8. Consumação: crime de mera conduta que se consuma no momento em que


são praticados efetivamente os comportamentos delitivos. A consumação
assim, ocorre no instante em que o funcionário recebe a vantagem, aceita a
promessa de recebê-la ou a solicita indevidamente de terceiro.

9. Tentativa: não é admitida em nenhuma das condutas descritas no tipo. Ou


solicita ou não solicita. Ou recebe ou não recebe. Ou aceita ou não aceita a
promessa de vantagem. Pouco importa se o meio utilizado pelo funcionário
Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 
seja o escrito ou o verbal. A conduta não pode ser fracionada. A doutrina e a
jurisprudência são majoritárias nesse sentido.

10. Causa de aumento de pena: a pena é aumentada de um terço, se, em


consequência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda (atrasa,
procrastina) ou deixa de praticar (não faz, se omite) qualquer ato de ofício
(corrupção imprópria, pois o ato é lícito) ou o pratica infringindo dever funcional
(corrupção própria, pois o ato é ilícito).

Ato de ofício é aquele que por lei se obriga o funcionário a realizá-lo. Ex.:
delegado que ao receber a vantagem, deixa de instaurar inquérito policial
contra o acusado. Infringir dever funcional é violar dever da função, é abusar do
cargo que ocupa à luz das normas legais. Ex.: policial prende ou solta o
suspeito de praticar um crime sem as formalidades legais. O corrupto que
pratica o ato com infração do dever funcional, constitua ou não esse ato, por si
só, outro delito ou não, terá sua pena agravada de um terço, operando o fato
como qualificador do crime de corrupção passiva. Alguns julgados, entretanto,
a nosso sentir constituindo-se num autêntico bis in idem, afirmam haver
concurso formal ou material entre a corrupção passiva qualificada e o crime
resultante, se o ato praticado pelo funcionário constitui por si só um crime (ex.:
arts. 305, 308, 320 etc.).

Se o funcionário, em virtude de aceitação de promessa de vantagem, omite-se


da prática de atos do seu ofício, no exercício de fiscalização, comete infração
ao dever funcional, figurando o tipo descrito no § 1º do art. 317 do CP. (TFR –
AC – rel. Carlos Madeira – DJU 6-6-1979, p. 4.455).

11. Figura privilegiada: se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato


de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de
outrem, a pena será de três meses a um ano, ou multa (§ 2º). Aqui desaparece
a vantagem indevida e surge a amizade, a influência ou o prestígio de outrem.
O funcionário trai o dever funcional para atender pedidos de amigos ou adular
poderosos que o solicita, em detrimento da moralidade e da probidade que
devem nortear os atos da administração pública.

Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 
12. Princípio da especialidade (Lex specialis derrogat generali): dispõe o art. 3°,
II, da Lei nº 8.137/1990 que constitui crime funcional contra a ordem tributária:

Exigir, solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente,


ainda que fora da função ou antes de iniciar seu exercício, mas em razão dela,
vantagem indevida; ou aceitar promessa de tal vantagem, para deixar de lançar
ou cobrar tributo ou contribuição social, ou cobrá-los parcialmente.

Pena – reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.

Assim, a norma especial (Crime contra a Ordem Tributária) prevalece sobre a


norma geral (Código Penal).

Facilitação de contrabando ou descaminho

Art. 318. Facilitar, com infração de dever funcional, a prática de


contrabando ou descaminho (artigo 334):

Pena – reclusão, de três a oito anos, e multa.

• Pena com a redação dada pela Lei nº 8.137, de 27-12-1990.

COMENTÁRIOS

1. Classificação doutrinária: crime próprio, formal, comissivo ou omissivo,


doloso, de forma livre, unissubjetivo, transeunte, de perigo, unissubsistente,
instantâneo e não admite tentativa.

2. Sujeito ativo: somente o funcionário público.

3. Sujeito passivo: o Estado.

4. Objeto material: a conduta criminosa visa o contrabando ou o descaminho.

5. Objeto jurídico: tutela-se a Administração Pública.

Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 
6. Tipo objetivo: a conduta típica punida com pena de reclusão de três a oito
anos, e multa, consiste em facilitar, com infração de dever funcional, a prática
de contrabando ou descaminho. Facilitar significa tornar mais fácil, agir com
imprevidência, violando o dever de reprimir o contrabando ou descaminho. O
agente exerce funções específicas de prevenção e repressão do contrabando
ou descaminho, como os fiscais da receita federal ou aduaneiros. A conduta
pode ser comissiva ou omissiva. Contrabando é a importação ou exportação de
mercadorias cuja entrada no País, ou saída dele, é proibida.

Descaminho é a fraude empregada para iludir o pagamento de impostos de


importação ou exportação de mercadorias permitidas. Nossa lei refere-se
expressamente ao crime de contrabando ou descaminho, previsto no art. 334
do CP, daí ser o tipo em estudo chamado pela doutrina de tipo remetido.
Assim, o funcionário público que facilita a prática do delito incorre neste tipo,
autônomo, enquanto o contrabandista incorre no dispositivo citado. No tocante
ao concurso de pessoas, nossa lei adotou a teoria unitária ou monista, isto é,
todos que contribuem para a prática do delito incidem nas penas a ele
cominadas, na medida de sua culpabilidade. Aqui, como no artigo anterior,
opera-se uma exceção à regra do art. 29 da lei penal. É a chamada exceção
pluralista. Cada conduta típica encaixa-se num tipo penal específico. Por outro
lado, não havendo por parte do funcionário o dever funcional específico de
reprimir o contrabando ou descaminho, existindo, porém, o liame subjetivo, a
consciência de contribuir para o ato, o crime será o do art. 334 do CP. A
competência para a apuração e julgamento do delito é da Justiça Federal. Tal
fato não impede que as autoridades policiais civis, por dever funcional,
reprimam o ilícito penal, ainda que não seja de sua competência, quando se
deparam com agentes em flagrante delito, ocasião em que os infratores
deverão ser conduzidos a quem de direito.

Penal – Facilitação de contrabando ou descaminho – Atipicidade pela ausência


de provas quanto à prática de um dos delitos previstos no art. 334 do CP.

1. A figura típica da facilitação de contrabando ou descaminho, prevista no art.


318 do Estatuto Repressivo, apesar de apresentar uma natureza formal, não

Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 
dispensa a prova da prática, consumada ou tentada, dos ilícitos a que está
vinculado (contrabando ou descaminho).

2. A materialidade dos delitos insculpidos no art. 334 do Caderno Criminal, não


obstante prescindir da apreensão física dos bens comercializados, requer, no
mínimo, a determinação precisa da legalidade das mercadorias exteriorizadas
ou internalizadas e do valor do tributo devido em virtude da negociação.

3. Apelação provida. (TRF-4ª Reg. – ApCrim. nº 59096/PR


(2001.04.01.059096-5) – rel. Luiz Fernando Wowk Penteado)

7. Tipo subjetivo: o tipo requer o dolo comum, genérico, consistente na vontade


deliberada de facilitar, infringindo dever funcional, o contrabando ou
descaminho. Não se exige o elemento subjetivo específico nem se prevê a
modalidade culposa.

8. Consumação: crime formal que se consuma independentemente do


resultado. A consumação emerge no instante em que efetivamente o agente
facilita, infringindo o dever funcional, a prática dos delitos, ainda que estes não
ocorram.

O tipo penal descrito no art. 318 do CP é formal e se consuma com a simples


ação de facilitar, com infringência de dever funcional, independentemente da
solicitação de qualquer vantagem em favor do agente ou de terceiro ou de se
efetivar o contrabando ou o descaminho. (TRF-4ª Reg. – 8ª T. – ApCrim. nº
39550/RS (2004.04.01.039550-1) – rel. Paulo Afonso Brum Vaz – j. 4-5-2005 –
DJ 18-5-2005, p. 902)

9. Tentativa: entendemos não ser possível o fracionamento da conduta delitiva,


a não ser por razões de política criminal. Ou o funcionário facilita o contrabando
ou descaminho e o crime se consuma, ou não facilita e o fato é atípico. Para a
doutrina prevalente a tentativa é inadmissível somente se a facilitação realizar-
se mediante omissão.

Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 
Prevaricação

Art. 319. Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou


praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou
sentimento pessoal:

Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa.

• Pena com a redação dada pela Lei nº 8.137, de 27-12-1990.

COMENTÁRIOS

1. Classificação doutrinária: crime próprio, formal, de ação múltipla ou de


conteúdo variado, comissivo (praticar) ou omissivo (retardar ou deixar de
praticar), doloso, de forma livre, de dano, instantâneo, transeunte,
unissubsistente, unissubjetivo e não admite tentativa na conduta omissiva.

2. Sujeito ativo: o crime só pode ser cometido por funcionário público, nada
impede, porém, a participação de particular (extraneus).

3. Sujeito passivo: o Estado e a pessoa afetada pela conduta típica.

4. Objeto material: a conduta criminosa recai sobre o ato de ofício.

Às vezes, o delegado de polícia, consciente da irrelevância da notitia criminis


ou da inocuidade do procedimento inquisitorial, fecha os olhos à interpretação
ortodoxa da lei, para imprimir uma solução prática em cada caso. Tal conduta
não deixa de ser reprovável. Contudo, não pode erigir-se em prevaricação, que
importa a vontade livre e consciente de se opor ao dever funcional. (TJSP –
Rec. – rel. Fernando Prado – RT 543/342)

5. Objeto jurídico: tutela-se a Administração Pública pelo dano causado ao seu


regular desenvolvimento.

6. Tipo objetivo: são três as condutas delitivas descritas no tipo penal. Retardar
é protrair, postergar, protelar, indevidamente, ato de ofício. Deixar de praticar é
se omitir, é não realizar, indevidamente, ato de ofício. Praticá-lo contra
Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 
disposição expressa de lei é executá-lo, contrariamente, às normas legais.
Indevidamente é o elemento normativo do tipo e deve ser entendido como
ilegalmente ou injustificadamente. Ato de ofício é aquele que diz respeito às
atribuições legais do funcionário. É o praticado em razão de sua atividade e
competência, encontrando-se no exercício de suas funções. Daí ser chamada a
prevaricação de infidelidade à função exercida. Os dois primeiros verbos são
omissivos e o terceiro de natureza comissiva. Interesse pessoal é a busca de
uma vantagem pelo funcionário, seja ela patrimonial, material ou moral.
Sentimento pessoal é o amor, a simpatia, a piedade, o ódio, o desejo de
vingança, a subserviência etc. Para a configuração do delito, portanto, é
necessário que o agente tenha agido com o propósito de satisfazer interesse
ou sentimento pessoal, sem o que a conduta será atípica. Assim, se a omissão
decorreu de erro do funcionário, por simples negligência, por dúvida quanto à
interpretação de lei ou de ordem de serviço, por excesso de serviço, não se
pode falar em prevaricação, para cuja prática se exige a satisfação de interesse
ou sentimento pessoal. Tem-se reconhecido nos tribunais o crime de
prevaricação na conduta de prefeito que ordena a construção de obra pública
sem a prévia concorrência, favorecendo a firma à qual está ligado por relações
de amizade; de fiscal que permite que amigos pesquem em local proibido; de
vereador, membro de comissão permanente da Câmara Municipal, que deixa
de devolver processos recebidos para emissão de pareceres, após substituído
naquele órgão técnico, retendo-os ilegitimamente; de policial militar que deixa
de tomar providências para beneficiar superior hierárquico; de oficial de Justiça,
que emite certidões de citação e intimação não condizentes com a verdade, por
comodismo, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal, deixando, pois,
de praticar diligências ordenadas pelo juízo; de prefeito que vende a preços
baixos terrenos urbanos para filhos e parentes próximos, satisfazendo
interesse e sentimentos pessoais, em desacordo com a Lei Orgânica do
Município, entre outros. Entende Feu Rosa que prevarica o promotor quando
requer a abertura de um processo, embora sabendo da inexistência de crime.

Compete privativamente ao delegado de polícia discernir, dentre todas as


versões que lhe sejam oferecidas por testemunhas, ou envolvidos em

Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 
ocorrências de conflito, qual a mais verossímil e, então, decidir contra quem
adotar as providências de instauração de inquérito ou autuação em flagrante.
Somente pode ser acusado de se deixar levar por sentimentos pessoais
quando a verdade transparecer cristalina em favor do autuado ou indiciado e,
ao mesmo tempo, em desfavor daquele que possa ter razões para ser
beneficiado pelos sentimentos pessoais da autoridade. (TACrim-SP – Rec. –
rel. Carvalho Neto – JUTACRIM 91/192).

7. Tipo subjetivo: o tipo requer o dolo genérico e o específico. O primeiro


consiste na vontade deliberada de retardar, omitir ou praticar indevidamente
ato de ofício. Deve ter ciência que realiza a conduta contra disposição expressa
de lei. O segundo elemento subjetivo refere-se à finalidade do funcionário em
satisfazer interesse ou sentimento pessoal. Em outras palavras, é necessário
que se constate que o ato criminoso decorreu de simpatia, amizade, ódio,
inveja, ou para atender interesse pessoal, como expressamente alude o Código
Penal.

Penal – Crime de prevaricação – Tipicidade. Na tipificação do crime de


prevaricação (art. 319 do CP), exige-se que o ato de ofício do funcionário seja
descrito na denúncia, com perfeição. Exige-se ainda a indicação do fim, do
motivo que levou o autor à ação ou inação ilegal, não bastando afirmar que o
acusado agiu para satisfazer interesse ou sentimento pessoal. É inepta a
denúncia que não descreve com perfeição os fatos capazes de identificar os
elementos do tipo. Denúncia rejeitada por inépcia. (STJ – Ap nº 505/CE
(2005/0189626-4) – rel. Min. Eliana Calmon)

No crime de prevaricação (art. 319 do CP) é inepta a denúncia que não


especifica qual o interesse ou sentimento pessoal que o acusado pretendia
satisfazer com sua conduta. (STJ – REsp. nº 293621/MA (2000/0135032-3) –
rel. Min. Fernando Gonçalves).

8. Consumação: crime formal que se consuma independentemente da


superveniência do resultado (interesse ou sentimento pessoal). A consumação
ocorre no momento em que o funcionário retarda, se omite ou pratica o ato
contra a lei. Para Hungria, na modalidade retardar a consumação se dá com o
Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 
fim do prazo estabelecido para a prática do ato ou com a perda da
oportunidade para a prática útil do ato. Na modalidade deixar de praticar a
consumação ocorre com o fim do prazo estabelecido, e, no praticar, com a
finalização do ato.

9. Tentativa: entendemos não ser possível o fracionamento das condutas


delitivas. Na prática, não vemos como o iter criminis possa ser interrompido. A
doutrina prevalente não admite a tentativa na omissão e no retardamento, pois
são crimes omissivos, aceitando-a somente na modalidade comissiva, vale
dizer, no praticar o ato.

Art. 319-A. Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de


cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de
rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o
ambiente externo:

Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.

• Art. 319-A acrescido pela Lei nº 11.466, de 28-3-2007.

COMENTÁRIOS

1. Classificação doutrinária: crime próprio, formal, omissivo, de perigo, de forma


livre, instantâneo, unissubjetivo, unissubsistente, doloso e não admite tentativa.

2. Sujeito ativo: somente o funcionário público (diretor de penitenciaria ou


agente público).

3. Sujeito passivo: o Estado.

4. Objeto material: a conduta criminosa recai sobre aparelho telefônico, de


rádio ou similar.

5. Objeto jurídico: tutela-se a Administração Pública.

Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 
6. Tipo objetivo: a conduta típica, punida com pena de detenção de três meses
a um ano, consiste em deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de
cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio
ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente
externo. A Lei nº 11.466/2007 acrescentou não apenas o tipo ora em estudo,
mas também acrescentou ao art. 50 da Lei nº 7.210/1984 (Lei de Execução
Penal) o inc. VII, passando a considerar como falta grave o condenado à pena
privativa de liberdade que “tiver em sua posse, utilizar ou fornecer aparelho
telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos
ou com o ambiente externo”. Em 1997, com a abertura de mercado de telefonia
móvel no Brasil, os líderes de organizações criminosas que se encontravam
presos começaram a utilizar os aparelhos, recebidos, geralmente, em dias de
visita, para comunicar-se com os seus membros em liberdade. A partir daí, as
penitenciárias pareciam filiais de empresas de telefonia devido ao imenso
número de condenados que se valiam desse expediente para planejar fugas,
rebeliões, roubos, mortes, ataques às instituições etc. Inúmeros inquéritos
policiais instaurados apontavam também para as facilidades proporcionadas
por maus funcionários na entrada de aparelhos telefônicos que permitiam a
comunicação com outros presos e com o ambiente externo. Assim, o tipo penal
visa reprimir a conduta do agente público que voluntariamente deixa de praticar
ato de ofício.

7. Tipo subjetivo: o tipo requer o dolo genérico consistente na vontade livre e


consciente de deixar o diretor de penitenciária e/ou agente público, de cumprir
seu dever de impedir o acesso do preso ao objeto material que permita a sua
comunicação com outros presos ou com o ambiente externo. Não se exige o
dolo específico nem se pune a modalidade culposa. Com efeito, se a entrada
do aparelho ocorrer por desídia do funcionário responsável pela fiscalização, o
fato será atípico.

8. Consumação: crime formal que se consuma independentemente do


resultado (acesso do preso ao objeto material). Tratando-se de crime omissivo,
a consumação ocorre no momento em que o agente público com sua conduta
proporciona o acesso do preso ao aparelho de comunicação. Não se faz
Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 
necessária a posse efetiva do objeto, basta a real possibilidade de isso
acontecer. Assim, se o telefone celular, por exemplo, for encontrado dentro da
cadeia, devido à omissão dolosa do agente, o crime estará consumado.

9. Tentativa: não há tentativa em crime omissivo. Ou o agente se omite


deixando de cumprir seu dever legal e o crime se consuma, ou não se omite e
o fato é um indiferente penal.

Condescendência criminosa

Art. 320. Deixar o funcionário, por indulgência, de responsabilizar


subordinado que cometeu infração no exercício do cargo ou, quando lhe
falte competência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade
competente:

Pena – detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.

COMENTÁRIOS

1. Classificação doutrinária: crime próprio, formal, instantâneo, omissivo,


unissubjetivo, unissubsistente, doloso, de forma livre, transeunte, de perigo e
não admite tentativa.

2. Sujeito ativo: crime próprio, pois somente o funcionário público pode cometê-
lo, mas admite-se a participação de particular (extraneus) por induzimento ou
por instigação.

3. Sujeito passivo: o Estado.

4. Objeto material: a conduta criminosa recai sobre a infração penal não punida
nem comunicada.

5. Objeto jurídico: tutela-se a Administração Pública.

Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 
6. Tipo objetivo: a conduta típica, punida com pena de detenção de 15 dias a
um mês, ou multa, consiste em deixar o funcionário, por indulgência, de
responsabilizar subordinado que cometeu infração no exercício do cargo ou,
quando lhe falte competência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade
competente. O tipo penal nada mais é do que uma modalidade de prevaricação
de menor potencial ofensivo. Na atividade pública não são raros os casos em
que superiores hierárquicos por simpatia, amizade ou camaradagem, deixam
de punir o subordinado por infrações penais ou administrativas cometidas no
exercício de suas funções. Indulgente é o tolerante, o benevolente que faz
vistas grossas, que perdoa, que “deixa pra lá” a conduta ilícita do subordinado.
Deixar de responsabilizar significa não apurar o fato ou, quando lhe faltar
competência, não comunicar à autoridade que a possuir. Faz-se necessário
para a configuração do delito que a falta do subordinado ocorra no exercício de
suas funções. Se o superior hierárquico tiver conhecimento de que o servidor é
viciado em jogo ou em bebida alcoólica, ou ainda que leva uma vida
desregrada, e não toma qualquer providência saneável, não incide no crime de
condescendência criminosa.

Para a configuração do delito previsto no art. 320 do CP deve-se ter como


pressuposto o cometimento de infração administrativa ou penal no exercício do
cargo. Logo, necessária decisão transitada em julgado dando conta do
cometimento de uma infração ou crime – in casu, a prática de peculato e
advocacia administrativa pelo oficial reservante. (TJRS – HC nº 71000903161 –
rel. Martinha Terra Salomon – j. 21-2-2006).

7. Tipo subjetivo: o tipo requer não apenas o dolo comum consistente na


vontade deliberada de deixar de responsabilizar o subordinado, ou quando lhe
faltar competência, de não levar o fato ao conhecimento da autoridade que a
possua. Exige ainda o dolo específico ou elemento subjetivo específico
consubstanciado no objetivo de omitir-se por indulgência, ou seja, deixar de
atuar por condescendência ou clemência. Não existe a modalidade culposa.

8. Consumação: crime omissivo que se consuma com a simples omissão do


superior hierárquico. A consumação ocorre no momento em que o sujeito ativo

Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 
ao tomar conhecimento da infração cometida pelo subordinado, se omite.
Tratando-se de crime formal, a consumação emerge independentemente do
resultado (aplicação da punição).

9. Tentativa: não se admite tentativa em crimes omissivos.

Advocacia administrativa

Art. 321. Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a


administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário:

Pena – detenção, de um a três meses, ou multa.

Parágrafo único. Se o interesse é ilegítimo:

Pena – detenção, de três meses a um ano, além da multa.

COMENTÁRIOS

1. Classificação doutrinária: crime próprio, formal, comissivo, doloso,


instantâneo, de perigo, de forma livre, unissubjetivo, transeunte,
plurissubsistente e não admite tentativa.

2. Sujeito ativo: somente o funcionário público pode cometer o delito. Admite-se


a coautoria ou a participação de particular (extraneus). Não se comunicam as
circunstâncias de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime, e a
condição de funcionário público se estende a terceiros, pois é elementar do
crime. É a regra constante no art. 30 do CP.

3. Sujeito passivo: o Estado e a pessoa eventualmente afetada pela conduta


típica.

4. Objeto material: a conduta típica recai sobre o interesse privado.

5. Objeto jurídico: tutela-se a Administração Pública, notadamente seus


princípios de legalidade, moralidade e de probidade.
Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 
6. Tipo objetivo: a conduta típica, punida com pena de detenção, de um a três
meses, ou multa, consiste em patrocinar, direta ou indiretamente, interesse
privado perante a Administração Pública, valendo-se da qualidade de
funcionário. Patrocinar significa defender, facilitar ou patronear interesses
particulares perante a Administração Pública. O tipo reprime a deslealdade do
agente público ao buscar favorecer uma das partes envolvidas na contenda. A
defesa de interesse alheio se verifica não apenas na repartição em que o
funcionário trabalha, mas em qualquer repartição pública, valendo-se da
facilidade decorrente de sua função. Não são fatos isolados agentes públicos
acompanharem amigos ou conhecidos de amigos ou até se valerem de
intermediários (patrocínio indireto) para, em seu nome, interceder junto a
determinados órgãos públicos. Acompanhar processos ou inquéritos, pedir
diligências, obter informações sigilosas, solicitar perícias etc. são alguns dos
exemplos que configuram o delito. Devem ser entidades que integrem a
Administração Pública. Como se vê no caput do dispositivo, mesmo que o
patrocínio seja de interesse legítimo, o crime não desaparece. Se o interesse
defendido é ilegítimo, a pena será de detenção de três meses a um ano, além
da multa.

Advocacia administrativa – Intervenção de funcionário público ocupante de


cargo em comissão em favor de terceiros – Autoria e materialidade
comprovadas – Decisão mantida – Recurso improvido. (TJPR – 1ª Câm. Crim.
(extinto TA) – ApCrim. nº 1865889/PR – rel. Waldomiro Namur – j. 21-3-2002 –
DJ 6100 12-4-2002)

7. Tipo subjetivo: o tipo requer o dolo comum, genérico, consistente na vontade


deliberada de patrocinar, o funcionário público, interesse privado perante a
Administração Pública. Não se exige o dolo específico, nem se prevê a
modalidade culposa.

Penal – Habeas corpus – Crime de advocacia administrativa – Tipificação legal


– Contatos administrativos – Princípio da razoabilidade.

1. Dá-se a prática do crime de advocacia administrativa quando o servidor


público, valendo-se dessa qualidade, patrocina interesses privados perante a
Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 
Administração Pública, com a prática de atos próprios ou privativos de
advogado, com a vontade livre e consciente de patrocinar o interesse.

2. Não tem tal configuração o fato de uma autoridade pública, na condição de


superior hierárquico de funcionário investigado em inquérito policial, dirigir
ofício à autoridade policial pedindo o adiamento de audiência de inquirição do
subordinado, em razão das tarefas funcionais (perícias médicas) anteriormente
agendadas, com a designação de outra data para a prática do ato.

3. A autoridade administrativa deve agir com maturidade e segurança funcional


para compreender os limites institucionais do seu trabalho, e por eles se
conduzir, não confundindo um razoável contato de outra instância
administrativa com o crime de advocacia administrativa, num exagero que não
pretendido pelo legislador penal.

4. Concessão da ordem de habeas corpus. (TRF-1ª Reg. – 3ª T. – HC nº


34092/MA (2005.01.00.034092-9) – rel. Des. Federal Tourinho Neto – j. 21-6-
2005 – DJ 8-7-2005, p. 27).

8. Consumação: crime formal ou de consumação antecipada que se consuma


independentemente do resultado. A consumação ocorre no momento em que o
funcionário efetivamente pratica a conduta descrita no tipo, prescindindo de
êxito em sua conduta. Em outras palavras, basta que o agente solicite a favor
de interesse privado para se ver o crime consumado.

9. Tentativa: diverge a doutrina a respeito do tema. A nosso juízo, não há como


fracionar a conduta delitiva. Ou patrocina interesses particulares solicitando
algumas providências legítimas ou não, e o crime se consuma, ou não
patrocina e o fato é atípico. Para Delmanto a tentativa é teoricamente
admissível, mas de difícil ocorrência na prática.

10. Aumento de pena: a pena será aumentada da terça parte quando os


autores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em
comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da
administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou
fundação instituída pelo Poder Público (art. 327, § 2º, do CP).
Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 

Violência arbitrária

Art. 322. Praticar violência, no exercício de função ou a pretexto de


exercê-la:

Pena – detenção, de seis meses a três anos, além da pena


correspondente à violência.

COMENTÁRIOS

1. Classificação doutrinária: crime próprio, material, de dano, doloso, comissivo,


de forma livre, instantâneo, unissubjetivo, plurissubsistente e admite tentativa.

2. Sujeito ativo: somente pode ser praticado por funcionário público, admitindo-
se, porém, a participação de particular por induzimento, instigação ou auxílio.

3. Sujeito passivo: o Estado e a pessoa que sofre a violência.

4. Objeto material: a conduta recai sobre a pessoa humana que sofre a


violência arbitrária.

5. Objeto jurídico: tutela-se a Administração Pública, a moralidade e probidade


administrativa.

6. Tipo objetivo: a conduta típica, punida com pena de detenção de seis meses
a três anos, além da pena correspondente à violência, consiste em praticar
violência, no exercício de função ou a pretexto de exercê-la. O dispositivo
reclama para sua configuração o emprego de violência física (vis corporalis),
como vias de fato, lesão corporal e homicídio. Haverá concurso material deste
delito com os previstos nos arts. 129 e 121 do CP. A violência deve ser
arbitrária, pois do contrário, se legítima, não caracteriza o delito. Assim, se o
preso reagir à sua autuação em flagrante, poderá ocorrer uma pronta e
necessária ação vigorosa da polícia, no sentido de levar a efeito o ato legal.

Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 
7. Tipo subjetivo: o tipo requer o dolo genérico consistente na vontade livre e
consciente do funcionário público de praticar violência arbitrária. Não se exige
uma finalidade específica, nem se prevê a modalidade culposa.

8. Consumação: crime material que exige o resultado para a sua consumação.


Esta ocorre no momento em que o agente pratica a violência física.

9. Tentativa: a conduta pode ser fracionada. A doutrina majoritária admite a


tentativa.

10. Revogação do art. 322: discute-se na doutrina e na jurisprudência se o


delito em estudo encontra-se ou não revogado pelo art. 3.º, i, da Lei nº
4.898/1965, que pune como abuso de autoridade qualquer atentado à
incolumidade física do indivíduo. Há uma decisão no STF (RT 449/504)
entendendo que o art. 322 não foi absorvido pelo crime de exercício arbitrário
ou abuso de poder. Também é a posição do STJ (HC nº 48083/MG). Na
prática, porém, tal orientação não é absoluta. Inúmeros penalistas e diversos
julgados ora entendem pela absorção, ora pela não revogação do delito. A
nosso juízo, a conduta típica, de há muito, compõe a lei especial que regulou
integralmente a matéria. Na hipótese de tortura, aplica-se, pelo princípio da
especialidade, a Lei nº 9.455/1997.

Abandono de função

Art. 323. Abandonar cargo público, fora dos casos permitidos em lei:

Pena – detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.

§ 1º Se do fato resulta prejuízo público:

Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa.

§ 2º Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa de fronteira:

Pena – detenção, de um a três anos, e multa.

Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 
COMENTÁRIOS

1. Classificação doutrinária: crime próprio, doloso, de mão própria (somente o


funcionário em pessoa pode cometer o delito, admitindo-se apenas
participação de terceiros, não coautoria), formal, de forma livre, omissivo,
instantâneo, unissubjetivo, unissubsistente, de perigo ou de dano (§ 1º) e não
admite tentativa.

2. Sujeito ativo: somente o funcionário público pode cometer o delito.

3. Sujeito passivo: o Estado.

4. Objeto material: a conduta recai sobre o cargo público.

5. Objeto jurídico: tutela-se a Administração Pública.

6. Tipo objetivo: a conduta típica, punida com pena de detenção de 15 dias a


um mês, ou multa, consiste em abandonar cargo público, fora dos casos
permitidos em lei. Abandonar significa deixar, renunciar, largar o cargo público
que exerce. Cargo público é o conjunto de atribuições e responsabilidades
previstas na estrutura organizacional que devem ser cometidas a um servidor.
Os cargos públicos, acessíveis a todos os brasileiros, são criados por lei, com
denominação própria e vencimento pago pelos cofres públicos, para
provimento em caráter efetivo ou em comissão (art. 3º e parágrafo único da Lei
nº 8.112/1990). O delito não deve ser confundido com o abandono de função
da esfera administrativa. Aqui, o abandono deve ser por um período relevante e
resultar, com a conduta omissiva, na probabilidade de dano à Administração
Pública. Pedir demissão não é motivo legítimo para deixar o cargo ao
desamparo. Tem-se entendido na doutrina e jurisprudência, seguindo Hungria,
que o crime de abandono de função pressupõe, necessariamente, a
consequente acefalia do cargo, isto é, a inexistência ou ocasional ausência do
substituto legal do desertor. Se do fato resulta prejuízo público, dano aos
serviços públicos, conforme estabelece o § 1º, a pena será de detenção, de
três meses a um ano, e multa. Por outro lado, estando presente funcionário a
quem caiba a substituição do ausente, não há que se falar em crime. Também

Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 
não incorrerá no delito o agente que abandonar a função em decorrência de
greve, estado de necessidade ou força maior.

Abandono de função pública – Desrespeito às disposições regulamentares –


Interesse do Estado em garantir o normal funcionamento do serviço público. O
art. 323 do CP pune o desrespeito do funcionário às disposições
regulamentares que organizam o serviço público, eis que o Estado tem
interesse em garantir o normal funcionamento de seus serviços. (TACrim-SP –
AC – rel. Hoeppner Dutra – JUTACRIM 5/33-34)

7. Tipo subjetivo: o tipo requer o dolo genérico, isto é, a vontade deliberada do


funcionário de abandonar o cargo público, ciente de que tal conduta poderá
produzir dano à Administração Pública. Não se exige o dolo específico, nem se
prevê a modalidade culposa.

8. Consumação: crime formal ou de consumação antecipada que se consuma


independentemente de dano à Administração Pública. A consumação ocorre no
momento em que o funcionário abandona o cargo público por um tempo
juridicamente relevante, suficiente para possibilitar um risco público. No § 1º a
consumação ocorre com o dano efetivo ao serviço público. No instante em que
o abandono da função produziu dano à Administração pública.

Consuma-se o delito quando a ausência injustificada perdura por tempo


suficiente para criar perigo de dano. (TJSP – RT 522/358)

9. Tentativa: não se admite tentativa em crimes omissivos próprios.

10. Forma qualificada: se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa de


fronteira a pena será de detenção, de um a três anos, e multa (§ 2º). Justifica-
se o agravamento da pena quando o abandono ocorre na faixa da fronteira,
pois a conduta poderá acarretar sérios danos à Administração Pública, como,
por exemplo, aumentar o tráfico ilícito de drogas, o contrabando, o furto de
veículos, a entrada ou saída de foragidos da justiça etc. A faixa de fronteira,
considerada área indispensável à segurança nacional compreende a faixa
interna de 150 km de largura, paralela à linha divisória terrestre do território
nacional que será designado como tal (art. 1º da Lei nº 6.634/1979).
Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 

Exercício funcional ilegalmente antecipado ou prolongado

Art. 324. Entrar no exercício de função pública antes de satisfeitas as


exigências legais, ou continuar a exercê-la, sem autorização, depois de
saber oficialmente que foi exonerado, removido, substituído ou
suspenso:

Pena – detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.

COMENTÁRIOS

1. Classificação doutrinária: crime próprio (aquele que exige uma qualidade


pessoal ou condição individual do sujeito ativo), de mão própria (somente o
agente em pessoa pode praticar a conduta delitiva, não admitindo coautoria,
apenas participação), formal ou de consumação antecipada (consuma-se
independentemente do resultado), comissivo (a conduta somente poderá
ocorrer por ação), instantâneo (a consumação ocorre no instante em que é
cometido, não se estendendo no tempo), unissubjetivo (crime que pode ser
praticado por apenas uma pessoa), de perigo (consuma-se com a simples
probabilidade de dano), plurissubsistente (consuma-se por meio de vários
atos), de forma livre (pode ser cometido por qualquer meio escolhido pelo
agente) e admite tentativa.

2. Sujeito ativo: crime próprio, pois somente o funcionário público poderá


cometê-lo. Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem,
embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou
função pública.

3. Sujeito passivo: o Estado.

4. Objeto material: a conduta típica recai sobre a função pública.

5. Objeto jurídico: tutela-se a Administração Pública.

Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 
6. Tipo objetivo: as duas condutas típicas, punidas com pena de detenção, de
15 dias a um mês, ou multa, consistem em entrar no exercício de função
pública antes de satisfeitas as exigências legais, ou continuar a exercê-la, sem
autorização, depois de saber oficialmente que foi exonerado, removido,
substituído ou suspenso. Função pública é a atribuição ou conjunto de
atribuições inerentes à execução de serviços públicos. Todo cargo tem função,
mas nem toda função corresponde a um cargo. Entrar no exercício de função
pública, antes de satisfeitas as exigências legais, primeira modalidade do
delito, significa iniciar a atividade pública de forma antecipada, irregular. Trata-
se de norma penal em branco que para ser complementada, ou seja, para se
saber quais são as exigências legais contidas no tipo, necessita de outra
norma. Estas estão definidas nos Estatutos dos Servidores Públicos Civis da
União e dos Estados. Continuar a exercer a função pública, sem autorização,
depois de saber oficialmente que foi exonerado, removido, substituído ou
suspenso compõe a segunda modalidade típica. Aqui, diversamente do que
ocorre com o abandono de função, o funcionário permanece indevidamente no
cargo sem autorização de quem de direito. Essa autorização só poderá ser
dada em caso de absoluta necessidade, excluindo-se, assim, a ilicitude da
conduta. Ensina Hungria que não basta a simples notoriedade do ato de
exoneração, remoção, etc.: é indispensável a cientificação oficial. A boa-fé
exclui o dolo.

7. Tipo subjetivo: as condutas descritas no tipo requerem o dolo comum,


genérico, consistente na vontade deliberada de entrar no exercício de função
pública antes de satisfeitas as exigências legais, ou continuar a exercê-la, sem
autorização. Não se exige o dolo específico, nem se prevê a modalidade
culposa. Guilherme Nucci afirma que na segunda figura, em face da expressão
“depois de saber”, haverá apenas dolo direto. Não teria sentido o funcionário
saber que está fora da função e continuar a exercê-la atuando com dolo
eventual.

8. Consumação: crime formal que se consuma independentemente do


resultado (dano à Administração Pública com a conduta ilícita). A consumação
ocorre no instante em que o agente realiza um único ato de ofício antes de
Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 
satisfeitas as exigências legais ou depois de saber que foi exonerado,
removido, substituído ou suspenso. Antecipar ou postergar ilegalmente o
exercício da função pública é a conduta que configura o delito. Assim, a
consumação emergirá no instante de sua realização.

9. Tentativa: tratando-se de crime de perigo que se consuma com a simples


possibilidade de dano, não vemos como possa a conduta ser fracionada. A
doutrina prevalente, porém, entende ser possível a tentativa quando iniciada a
execução (a prática do primeiro ato de ofício ilícito), o crime não se consuma
por circunstâncias alheias ao agente.

Violação de sigilo funcional

Art. 325. Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva
permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a revelação:

Pena – detenção, de seis meses a dois anos, ou multa, se o fato não


constitui crime mais grave.

§ 1º Nas mesmas penas deste artigo incorre quem:

I – permite ou facilita, mediante atribuição, fornecimento e empréstimo de


senha ou qualquer outra forma, o acesso de pessoas não autorizadas a
sistemas de informações ou banco de dados da Administração Pública;

II – se utiliza, indevidamente, do acesso restrito.

§ 2º Se da ação ou omissão resulta dano à Administração Pública ou a


outrem:

Pena – reclusão, de dois a seis anos, e multa.

• §§1º e 2º acrescidos pela Lei nº 9.983, de 14-7-2000.

COMENTÁRIOS

Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 
1. Classificação doutrinária: crime próprio, formal, comissivo, doloso,
instantâneo, de forma livre, transeunte, unissubjetivo, de perigo ou de dano (§
2º), unissubsistente, subsidiário e teoricamente admite tentativa.

2. Sujeito ativo: somente o funcionário público pode cometer o delito. Admite-


se, porém, a coautoria e a participação de particular (extraneus). Assim, o
terceiro que induziu ou instigou o funcionário a revelar-lhe o fato sigiloso é
partícipe do delito. A doutrina majoritária entende que o tipo penal alcança
também o funcionário aposentado ou posto em disponibilidade, pois mesmo
longe das funções frui as vantagens do cargo. Não, porém, o demitido ou
exonerado, pois perdeu-se o vínculo jurídico com o Estado.

3. Sujeito passivo: o Estado e a pessoa atingida pela revelação do segredo


funcional.

4. Objeto material: a conduta típica recai sobre o fato que deva permanecer em
segredo. A ação criminosa visa a revelação sigilosa.

5. Objeto jurídico: tutela-se a Administração Pública.

6. Tipo objetivo: são duas as condutas típicas previstas no caput do dispositivo.


A primeira consiste em revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e
que deva permanecer em segredo. É declarar, divulgar ou comunicar em razão
do cargo o fato sigiloso a terceiro. A conduta é realizada por ação e chamada
de revelação direta. A segunda modalidade prevista é a de facilitar a revelação.
É tornar mais fácil o conhecimento de terceiro. A conduta pode ser realizada
por ação ou por omissão e é denominada de revelação indireta. O funcionário
deve ter ciência do segredo em razão do cargo. Como se vê, o segredo que
deve ser mantido e que não pode ser tornado público é aquele regido pelos
critérios de interesse do Estado. Não se exige uma norma específica que
determine ao funcionário o que deva ou não ser considerado segredo. Feu
Rosa ensina que o funcionário, pela própria atividade que desenvolve e por sua
capacidade de discernimento, deve compreender e saber perfeitamente o que
pode e o que não pode ser levado à publicidade ou ao conhecimento de
terceiros. Não se desconhece que as atividades do Estado, manifestada por

Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 
seus três poderes, devem ser norteadas pelos princípios da transparência e da
moralidade, mas, por outro lado, não se desconhece, também, que muitos atos
perdem a eficácia e a oportunidade se efetivamente revelados. A lei procura
impedir a revelação de fato que deva permanecer em segredo, porque sua
divulgação pode prejudicar ou pôr em perigo os fins que o Estado persegue. A
pena aplicada é a de detenção, de seis meses a dois anos, ou multa se o fato
não constitui crime mais grave. Trata-se de crime subsidiário. Se o funcionário
revelar segredo mediante solicitação de dinheiro, por exemplo, o crime será de
corrupção passiva, ficando o delito absorvido pela subsidiariedade explícita. Já
se decidiu que incidem no delito o professor, integrante de banca examinadora
de universidade federal, que, antecipadamente, fornece a alguns dos alunos
cópias das questões que iam ser formuladas nas provas; o assessor de
Comissão Especial de Investigações de Câmara Municipal que, como
jornalista, publica fatos atinentes a processo que corria em segredo, e ainda, o
serventuário de justiça que divulga aspectos relacionados com ação de
investigação de paternidade, para a qual a lei exige segredo de justiça.

Administrativo – Mandado de segurança – Delegado de polícia civil – Processo


administrativo disciplinar – Demissão – Quebra de sigilo funcional – Prova ilícita
– Invalidade. O direito constitucional penal inscrito na Carta Política de 1988 e
concebido num período de reconquista das franquias democráticas consagra
os princípios do amplo direito de defesa, do devido processo legal, do
contraditório e da inadmissibilidade da prova ilícita (CF, art. 5º, LIV, LV e LVI).
O processo administrativo disciplinar que impôs a Delegado de Polícia Civil a
pena de demissão com fundamento em informações obtidas com quebra de
sigilo funcional, sem a prévia autorização judicial, é desprovido de vitalidade
jurídica, porquanto baseado em prova ilícita. Sendo a prova ilícita realizada
sem a autorização da autoridade judiciária competente, é desprovida de
qualquer eficácia, eivada de nulidade absoluta e insusceptível de ser sanada
por força da preclusão. Recurso ordinário provido. Segurança concedida. (STJ
– 6ª T. – RMS nº 8327/MG (1997/0016298-2) – rel. Min. Vicente Leal – j. 23-6-
1999 – DJ 23-8-1999, p. 148; JSTJ vol. 10, p. 407; LEX STJ vol. 125, p. 93).

Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 
7. Tipo subjetivo: o tipo requer o dolo genérico consistente na vontade
deliberada e consciente do funcionário de revelar ou facilitar a revelação de
segredo indevido. Não se exige o elemento subjetivo específico, nem se prevê
a modalidade culposa.

8. Consumação: crime formal que se consuma independentemente de dano à


Administração ou a pessoa afetada com a violação do sigilo funcional. A
consumação na primeira conduta típica ocorre no instante em que o segredo é
revelado a terceiro. Na segunda conduta a consumação emerge no momento
em que a facilitação da divulgação do segredo, proporcionada pelo funcionário,
chegou ao conhecimento de terceiro.

9. Tentativa: são dois os núcleos que compõem o tipo penal: revelar segredo
ou facilitar a revelação. Em nosso entendimento, nenhum deles permite o
fracionamento da conduta criminosa. Ou revela o fato de que tem ciência e o
crime se consuma, ou não o faz, e o fato é atípico. Ou facilita a revelação, ou
não facilita. No facilitar, podemos imaginar, a gosto dos partidários da tentativa,
a hipótese em que o funcionário deixa, dolosamente, documentos sigilosos
expostos a terceiro, de fácil verificação, e este não consegue tomar
conhecimento do conteúdo, por circunstâncias alheias à vontade do agente
público. Para nós o fato é um indiferente penal. A doutrina é unânime em não
admitir a tentativa quando a revelação de segredo se manifestar de forma oral.
Para Hungria somente no último caso, com o ato de facilitação ao efetivo
conhecimento do fato, é possível a tentativa, pois só então haverá um iter
criminis. Noronha, por seu turno, afirma que se é exato não se poder falar em
tentativa de revelação oral, já o mesmo não acontece com a escrita: se o chefe
de repartição intercepta carta reveladora de segredo, não se dirá que o
funcionário-missivista não tentou revelar segredo; o ato de enviar a carta é
execução; sua leitura pelo destinatário é consumação. Paulo José da Costa
assegura que a segunda espécie delitiva se assumir aspecto omissivo não
admite tentativa.

10. Figura equiparada: nas mesmas penas deste artigo incorre quem:

Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 
I – permite ou facilita, mediante atribuição, fornecimento e empréstimo de
senha ou qualquer outra forma, o acesso de pessoas não autorizadas a
sistemas de informações ou banco de dados da Administração Pública. Aqui, o
funcionário público admite, tolera, consente ou torna mais fácil o ingresso de
pessoas a sistemas de informações ou banco de dados da Administração
Pública. Ney Moura Teles leciona que pode o agente facilitar o acesso, diante
das dificuldades, quando, por exemplo, deixa o sistema aberto para o acesso
de terceiro que, então, não necessita de utilização de senha para nele
ingressar. Assim, a conduta pode ser realizada por ação ou por omissão. A
consumação ocorre no momento em que o servidor permite ou facilita o acesso
indevido de pessoas não autorizadas a sistemas de informações ou banco de
dados da Administração Pública. Entendemos, na prática, ser impossível o
fracionamento da conduta criminosa. A doutrina majoritária, porém, manifesta-
se em sentido contrário;

II – se utiliza, indevidamente, do acesso restrito. Nesta hipótese, o funcionário


quebra a confiança que lhe foi depositada e faz uso do sistema. Indevidamente
é o elemento normativo do tipo. Ele pode usar o sistema, mas o faz de maneira
indevida, segundo a doutrina. Assegura Maximiliano e Maximilianus Führer que
o tipo não alcança a pessoa que apenas teve acesso à informação sigilosa, em
razão da conduta criminosa, e a divulga sem estar ajustado com o agente. O
crime é formal e se consuma com o simples acesso, pelo funcionário público e
sem justa causa, a banco de dados restrito. Não vemos como possa a conduta
ser fracionada, embora parte acentuada da doutrina admita a tentativa.

11. Figura qualificada: a pena será de reclusão de dois a seis anos e multa, se
da ação ou omissão resultar dano à Administração Pública ou a outrem. É o
denominado crime qualificado pelo resultado. Ocorrendo o resultado
naturalístico, com prejuízo moral ou material à Administração Pública ou a
terceiro, a pena será agravada.

Violação do sigilo de proposta de concorrência

Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 
Art. 326. Devassar o sigilo de proposta de concorrência pública, ou
proporcionar a terceiro o ensejo de devassá-lo:

Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa.

COMENTÁRIOS

1. Revogação do art. 326 do CP: o dispositivo foi revogado e substituído pelo


art. 94 da Lei nº 8.666/1993:

Violação de sigilo de proposta em processo de licitação

Art. 94. Devassar o sigilo de proposta apresentada em procedimento licitatório,


ou proporcionar a terceiro o ensejo de devassá-lo:

Pena – detenção, de 2 (dois) a 3 (três) anos, e multa.

2. Crime praticado por funcionário público de acordo com a Lei nº 8.666/1993:

Art. 84. Considera-se servidor público, para os fins desta Lei, aquele que
exerce, mesmo que transitoriamente ou sem remuneração, cargo, função ou
emprego público.

§ 1º Equipara-se a servidor público, para os fins desta Lei, quem exerce cargo,
emprego ou função em entidade paraestatal, assim consideradas, além das
fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista, as demais
entidades sob controle, direto ou indireto, do Poder Público.

Funcionário público

Art. 327. Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem,


embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou
função pública.

§ 1º Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou


função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora

Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 
de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica
da Administração Pública.

• § 1º com a redação dada pela Lei nº 9.983, de 14-7-2000.

§ 2º A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes


previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de
função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta,
sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída
pelo poder público.

• § 2º acrescido pela Lei nº 6.799, de 23-6-1980.

COMENTÁRIOS

1. Introdução: o conceito de funcionário público é muito mais abrangente do


que aquele estabelecido no direito administrativo. Não se exige o serviço
permanente da função pública. Assim, para os efeitos penais, funcionário
público é quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo,
emprego ou função pública. Equipara-se a funcionário público quem trabalha
para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para execução
de atividade típica da Administração Pública. A doutrina administrativa ensina
que cargo público é aquele criado por lei, com atribuições próprias, para ser
provido por servidor com vínculo estatutário, em número determinado e pago
pelos cofres da entidade estatal a que pertence. Ex.: juiz, promotor, oficial de
justiça, entre outros. Cargo, assim, é lugar e conjunto de atribuições confiadas
pela Administração a uma pessoa física, que atua em nome do Estado.
Emprego é vínculo de alguém com o Estado, regido pelas leis trabalhistas. Ex.:
escrevente judiciário, auxiliar administrativo, mecânico etc. O emprego público
se difere do cargo pelo regime de contratação, que no cargo é por meio do
Estatuto dos Funcionários Públicos, possuindo vínculo estatutário. Função
Pública, por sua vez, é atividade de órgão público que realiza fim de interesse
do Estado. É a atribuição ou conjunto de atribuições que a Administração
confere a cada categoria profissional, ou comete individualmente a
Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 
determinados servidores para a execução de serviços eventuais. A função
pública pode ser exercida de duas formas: a) por servidores contratados
temporariamente com base no art. 37, IX, da CF, para as quais não se realiza
concurso público, porque, não raro, a própria urgência da contratação é
incompatível com a demora do procedimento (contratados, mensalistas,
diaristas ou contratados a título precário); e b) por intermédio de atividades de
natureza permanente, correspondentes a chefia, direção ou assessoramento
para a qual o legislador não criou o cargo respectivo. Em geral, são funções de
confiança, de livre provimento e exoneração.

2. São considerados funcionários públicos pela doutrina e jurisprudência:

a) presidente da República, deputados, senadores, prefeitos, vereadores;

b) funcionários de cartórios, peritos judiciais, leiloeiros oficiais, escreventes


auxiliares de cartórios;

c) advogado do município, contador de prefeitura, estudante de direito


estagiário na Defensoria Pública ou no Ministério Público;

d) funcionário do Banco do Brasil, da Caixa Econômica e da Empresa Brasileira


de Correios e Telégrafos, funcionário de autarquia;

e) militar, guarda municipal, inspetor de quarteirão, entre outros.

Nos termos do art. 327 do CP, para fins de direito penal, entende-se por
funcionário público não somente quem desempenha cargo criado por lei,
regularmente investido e nomeado, remunerado pelos cofres públicos, mas
qualquer pessoa que, de alguma forma, exerça função pública. Assim, ofender
empregado de empresa prestadora de serviços que exerce função em órgão
público torna-o sujeito passivo de crime de desacato. (STJ – 6ª T. – HC nº
9.602 – Rel. Hamilton Carvalhido – j. 23-5-2000 – RT 788/540)

3. Não são considerados funcionários públicos pela doutrina e jurisprudência:


advogado, defensor dativo, tutores e curadores, inventariantes judiciais, entre
outros. Quanto a pintor ou pedreiro de empresa contratada para reforma de
edifício público, ensina Damásio de Jesus que os executores de obra para a
Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 
 
Administração Pública não são equiparados aos funcionários de empresa
concessionária ou permissionária de serviços públicos, como as que exploram
as rodovias, telefonia, energia elétrica etc. A distinção fundamental está no
interesse em disputa: se a atividade é usufruída pela comunidade (o serviço é
da Administração, ainda que realizado indiretamente por particulares), são
equiparados a funcionários públicos os seus prestadores; se a atividade,
porém, é destinada a atender a demanda da própria Administração (o serviço é
para a Administração), não são equiparados os funcionários da empresa
privada contratada.

O preso que executa trabalho interno em estabelecimento prisional não pode


ser equiparado, para efeitos penais, a funcionário público, nos termos do art.
327, § 1º, do CP, eis que o trabalho do preso é corolário da privação de
liberdade e destina-se à sua reinserção social, conforme arts. 28 e 31 da Lei nº
7.210/1984, não caracterizando função pública. (TJSP – RSE nº 314.754-3/6 –
rel. Cerqueira Leite – j. 7-11-2001 – RT 797/570).

4. Causa de aumento de pena: a pena será aumentada da terça parte quando


os autores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em
comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da
administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou
fundação instituída pelo Poder Público. A norma se aplica não somente aos
crimes funcionais, mas também nas hipóteses em que os ocupantes de cargos
em comissão, de função ou direção ou assessoramento de entidades
paraestatais sejam autores daqueles crimes.

5. Concurso de pessoas: nos crimes próprios, a condição de funcionário


público se estende ao particular admitindo-se o concurso de pessoas. É
elementar do tipo. Comunica-se, portanto, ao particular, a qualidade de
funcionário público. É pacífico o entendimento jurisprudencial no sentido de se
imputar ao particular que, em concurso com funcionário público, tenha
concorrido para a prática de crime contra a Administração Pública.

Material exclusivo. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo.
Vedada a distribuição, ainda que gratuita.  
 

Das könnte Ihnen auch gefallen