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AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente aos meus pais e avós, que sempre me deram suporte
para eu seguir em frente e não desistir, sempre me ouviram e me apoiaram; eu não
teria chegado até aqui sem eles do meu lado.

A meus irmãos, que embora novos, sempre me ensinam algo diferente sobre a
vida, e principalmente a minha irmã, que é um grande exemplo para mim, que
sempre esteve ao meu lado e me faz ter mais confiança, que me ajudou neste
projeto, mesmo não tendo conhecimento sobre design. Ela que sem dúvidas
estará sempre ao meu lado, assim como eu estarei ao lado dela.

A meus amigos de Cianorte, Patricia, Rhayane, Delany, Andreza, Juliana, Rafaela,


Roberta, Estefânia e Camila, que me deram suporte, me suportaram mesmo nos
piores momentos e fizeram dos meus dias em Cianorte dias melhores. Espero
estar sempre perto de vocês.

A meus amigos de Andradina, Camila, Letícia, Matheus, Iyuith, Gustavo e Quirino,


que mesmo com a distância não se esqueceram de mim e sempre me ajudaram nos
momentos que mais precisei.

Ao João, cuja a participação neste trabalho e neste ano todo da minha vida foram
de extrema importância e me fez crescer e aprender ainda mais.

A Isabela, que de completa desconhecida, foi colega de apartamento, confidente e


irmã mais velha, que me ajudou sempre que precisei, que as vezes se preocupava
mais comigo que eu mesma, mas quem eu jamais pararei de agradecer e apoiar
para o que necessitar.

A minha orientadora Cristina do Carmo Lucio Berrehil el Kattel, que me ajudou ao


longo de todo este ano e me ensinou muitas coisas, que é o motivo deste trabalho
ter chegado onde chegou.

Ao professore Dioclécio Camelo, por ter permitido que eu participasse de seu


projeto e consequentemente me ajudou a ver além dos limites da Universidade.

Ao professor Bruno Razza, que foi sem dúvidas um dos melhores professores que
já tive e o professor que mais sente orgulho de seus alunos. Uma pessoa
maravilhosa que sempre me ouviu quando precisei, e que me ajudou durante todo
este trabalho.

As meninas com deficiência visual que me inspiraram e ajudaram neste trabalho,


principalmente a Amanda, que sempre me respondeu e participou de todas as
etapas da pesquisa com um sorriso no rosto que lhe é característico.

Para concluir agradeço a Deus por ter chegado até aqui e me fazer ser alguém
cada da melhor, e também a todos aqueles que não foram citados aqui, mas que
sabem que estarão sempre em meu coração e pensamentos.

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RESUMO
Este projeto busca a compreensão de estética para indivíduos não videntes
e a aplicação da mesma através da joalheria, envolvendo, assim, estudos sobre a
deficiência visual, joalheria e conceitos de ergonomia, funcionalidade e estética.
Por se tratar de um público específico e um assunto pouco explorado, fez-se
necessário pesquisas de produtos similares, abordagens de campo e metodologia,
a fim de reunir as informações e desenvolver alternativas. Ao longo do processo,
foi de extrema importância o contato com o público e os testes com os protótipos,
bem como um teste final com os mesmos, visando averiguar as possíveis falhas e
melhorias para o produto.
Ao final, foi desenvolvido uma joia com estética e funcionalidade voltada
para não visuais, que seguiu os objetivos iniciais deste projeto e os requisitos
propostos pelo mesmo.

Palavras chaves: Deficiência visual, Estética, Joias, fechos.

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ABSTRACT
This Project intends the knowledge of aesthetics for Non-visual people and
its application through jewelry, involving studies and researches about visual
impairment, jewelry and concepts of ergonomics, functionality and aesthetics.
Keeping in mind it is a specific public and unexplored subject, it was necessary
researches of similar products, field approach and methodology to gather
information as much as the development of new alternatives. Throughout this
process the contact with the public was extremely important for testing the
prototypes, in addition to a final test investigating possible faults and
improvements for the product.
As a result, a jewel with aesthetics for non-visual people was developed
following the initial objectives of this project as much as the proposed
requirements.

Keywords: Visual deficiency, Aesthetics, Jewelry, fasteners.

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Lista de Figuras:
FIGURA 1- Anel e broche em braile // 4
FIGURA 2- Colar de conchas fossilizadas // 12
FIGURA 3- Dorina Nowil // 13
FIGURA 4 - Marie Therese Von Paradis //13
FIGURA 5- : Luis III, O Cego. // 14
FIGURA 6- Diadema em ouro e prata pertencente à rainha Maria-Theresa // 15
FIGURA 7- Amuleto de Chipre // 15
FIGURA 8- Moça Yanomami // 16
FIGURA 9- Aplicação de texturas em obras //36
FIGURA 10- Colar em madeira trabalhada //39
FIGURA 11- Colar de sementes //40
FIGURA 12- Colar em tecido //41
FIGURA 13- Pulseira em borracha //41
FIGURA 14- Colar em metal // 42
FIGURA 15- Gemas //43
FIGURA 16- Colar de seda //44
FIGURA 17- Coco Chanel com seu colar de pérolas //45
FIGURA 18- Colar com tiras de couro // 45
FIGURA 19- Colar de acrílico //46
FIGURA 20- Pingente redondo em braile //47
FIGURA 21- Pingente retangular em braile //47
FIGURA 22- Anel em braile furado //48
FIGURA 23- Pingente em braile furado//48
FIGURA 24- Pingente tromba de Ganesha // 48
FIGURA 25- Pulseira em braile com alto relevo // 49
FIGURA 26- Anel com braile em alto relevo // 49
FIGURA 27- Anel com pedras em braile // 50
FIGURA 28- Anel e broche com inscrição em braile // 50
FIGURA 29- Anel que informa obstáculos //51
FIGURA 30- Fecho com pressão //53
FIGURA 31- Brinco de pino // 53
FIGURA 32- Fecho de encaixe // 53
FIGURA 33- Fecho redondo por encaixe //54
FIGURA 34- Brinco gancho com fecho //54
FIGURA 35- Fecho com encaixe borboleta //54
FIGURA 36- Brinco argola com encaixe // 55
FIGURA 37- Fecho lagosta // 57
FIGURA 38- Fecho boia // 57
FIGURA 39- Fecho com imã // 57
FIGURA 40- Fecho com imã e encaixe // 58
FIGURA 41- Fecho de encaixe quadrado // 58
FIGURA 42- Fecho tipo “T” //58
FIGURA 43- Alternativas de formas 01 // 63
FIGURA 44- Geração de alternativas – formas 02 // 64
FIGURA 45- Fecho de pressão com encaixe // 65

6
FIGURA 46- Fecho desenvolvido modelo 01 // 65
FIGURA 47- Fechos de pulseira // 66
FIGURA 48- Brinco ablicado a pulseira // 66
FIGURA 49- Modelos de brincos // 68
FIGURA 50- Fechos para pulseira // 69
FIGURA 51- Teste em papel paraná // 70
FIGURA 52- Rendering do produto // 79
FIGURA 53- Brinco sendo analisado // 80
FIGURA 54- Pulseira sendo analisada // 81
FIGURA 55- Colcar sendo analisado // 81

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Sumário
INTRODUÇÃO ...................................................................................... 10
ORGANIZAÇÃO DESSE TRABALHO ................................................ 12
JUSTIFICATIVA ..................................................................................... 13
OBJETIVOS ............................................................................................ 15
Objetivos Específicos ........................................................................... 15
1- A DEFICIÊNCIA VISUAL INTERAGINDO COM A
JOALHERIA ........................................................................................... 17
O Não Ver em um Mundo que ‘Muito’ Enxerga ................................ 19
1.1- Uma Breve História Da Joalheria ............................................... 21
1.2- A Joia para Comunicar ............................................................... 23
1.3- A Joia para Pessoas com Deficiência Visual ............................. 26
1.3.1 ESTUDO DE RELEVÂNCIA ................................................................................. 26
1.3.2- ABORDAGEM QUALITATIVA ......................................................................... 28
1.3.3- ABORDAGEM QUANTITATIVA ...................................................................... 34
1.3.4- ANÁLISE DAS ABORDAGENS COM AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
.................................................................................................................................................. 38
2- ERGONOMIA, FUNCIONALIDADE E ESTÉTICA PARA A
JOALHERIA ........................................................................................... 41
2.1- Ergonomia .................................................................................... 41
2.2- Funcionalidade ............................................................................ 42
2.3- Um Olhar Estético Segundo a Filosofia ..................................... 42
2.4- Uma Estética Cega ....................................................................... 44
3- PESQUISA E ANÁLISE DE PRODUTOS ................................. 49
3.1- Análise de materiais utilizados na joalheria................................. 49
3.3.1- Materiais Naturais ....................................................................................................... 49
3.1.2- MATERIAIS SINTÉTICOS .................................................................................... 57
3.2.-Joias Voltadas para Pessoas com Deficência Visual ................... 57
3.2.1- TABELA DE ANÁLISE DE JOIAS VOLTADAS PARA O PÚBLICO COM
DEFICIÊNCIA VISUAL .................................................................................................... 58
3.2.2- TABELA DE ANÁLISE DO USO DE BRINCOS ............................................ 63
3.2.3- TABELA DE ANÁLISE DO USO DE FECHOS ............................................. 66
4- CONCLUSÃO PARCIAL ............................................................. 72
4.1- Requisitos ..................................................................................... 72

8
5- PROJETO...................................................................................... 75
5.1- Conclusão Parcial do Projeto ....................................................... 75
5.2.1- PRIMEIRA GERAÇÃO DE ALTERNATIVAS................................................. 75
5.2.2. SEGUNDA GERAÇÃO DE ALTERNATIVAS ................................................ 77
5.2.3. TERCEIRA GERAÇÃO DE ALTERNATIVAS ................................................ 78
5. 3- Primeiro Teste com Usuário ....................................................... 80
6- COLEÇÃO DE JOIAS T-O-U-C-H ............................................. 85
6.1- Contextualização .......................................................................... 85
6.2- Apresentação da Linha ................................................................. 85
6.3-Projeto Detalhado .......................................................................... 86
.................................................................................................................................................. 89
6.3.2- PROCESSOS DE FABRICAÇÃO ......................................................................... 90
6.3.4- MODELOS FINALIZADOS .................................................................................. 94
7- TESTE FINAL COM USUÁRIOS ............................................... 96
8- CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................... 99
Referência .............................................................................................. 102
Apêndices: .............................................................................................. 108
APÊNDICE A – Abordagem por email. ........................................... 108
Apêndice B – Questionário quantitativo ........................................... 111

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10
INTRODUÇÃO

Não há um conceito real de estética para um indivíduo cego. Embora


algumas pesquisas tenham sido feitas acerca do assunto, nota-se que o sentido
tátil é sempre o componente mais analisado quando se aborda uma estética
“cega”, principalmente pela preferência da pessoa com deficiência visual em tocar
os objetos no ato da compra, o que desperta os outros sentidos. Porém este
acontecimento faz com que o toque seja apenas o ponto de partida para que a
interação multissensorial ganhe destaque.

A introdução da acessibilidade para cegos vem aumentando nos últimos


anos. Cada vez mais museus oferecem descrições táteis, caixas de remédios e
algumas comidas congeladas apresentam inscrições em braile, softwares
modificados, os quais facilitam a interação da pessoa com deficiência visual com o
dispositivo de acesso. Entretanto as pesquisas para a área ainda são pequenas se
levarmos em consideração a quantidade de pessoas com deficiência visual no
mundo, que segundo dados da OMS 2013 (ONUBR,2013), chega a cerca de 285
milhões de pessoas.

Segundo Marques (2013), desde a pré-história é possível encontrar peças


comprovando a importância dada a essas pessoas desde então. A joia sempre foi
cercada de cultura, simbolismo e valores sociais que são levados em consideração
até hoje, tanto por visuais quanto por invisuais. Para essa área, o designer
brasileiro Sérgio Pires desenvolveu uma coleção em 2002 inspirada no universo
das pessoas com essa deficiência, criando um conjunto de anéis e broches com
inscrições em braile (Figura 1).

11
Figura 1: Anel e broche em braile.
Sérgio Pires para a coleção inspirada em
deficientes visais. Foto: Studio Click. Fonte: Portal Joia Br
[2000 – 2016].

Ainda que existam algumas peças de joalheria voltadas para esse


público, nota-se que as mesmas não levam em conta o que pessoas com
deficiência visual consideram como algo esteticamente agradável, mesmo porque
a estética de um cego é pouco explorada e quase desconhecida no mercado atual,
em que os visuais acreditam que para um produto ser agradável ao público com a
deficiência, precisa ser bom somente ao toque, esquecendo-se do valor simbólico,
social e até mesmo visual, quanto ao como o mesmo será visto pelo individuo
vidente, aos quais o deficiente não está alheio.

ORGANIZAÇÃO DESSE TRABALHO

Este trabalho está organizado em capítulos, aonde cada um refere-se a uma


parte da pesquisa, sendo o primeiro, referente à interação da pessoa com
deficiência e a joalheria, evidenciando pontos como a definição de deficiência
visual, a história da joalheria, e a interação dos dois universos.

O segundo capítulo refere-se a conceituação de ergonomia, funcionalidade


estética, definindo assim o que pode ser considerado “estética cega”.

O capítulo 3 analisa alguns materiais de forma generalizada e produtos


existentes no mercado atual, tanto os que são voltados para o público alvo deste

12
trabalho quanto os mais tradicionais, para análise sob uma mesma perspectiva.
O quarto capítulo aborda uma conclusão parcial do projeto, e dá início aos
requisitos do mesmo.

O capítulo 5 explica sobre as etapas do projeto, sendo elas a geração de


alternativas, algumas análises e mais um teste com usuário, onde é possível ter um
vislumbre do resultado final.

A apresentação do produto final, seu contexto e desenho técnico estão


contidos no capítulo 6 deste trabalho.

O teste final com usuário foi alocado no sétimo capítulo e nele é possível
concluir a percepção dos usuários frente ao produto elaborado neste trabalho.

As considerações finais são apresentadas no capítulo 8, no final deste


trabalho.

O trabalho conta com quatro abordagens com usuários, sendo duas


qualitativas e uma quantitativa, cuja descrição de sujeitos, materiais e
procedimentos está alocada no subcapítulo 1.3, com resultados distribuídos ao
longo do texto, de acordo com o local em que foi considerado mais apropriado
para as mesmas.

JUSTIFICATIVA

Segundo dados do IBGE (2010), no Brasil, cerca de 18,8% da população


possui algum grau de deficiência visual, podendo enquadrar-se em cegueira ou
baixa visão, sendo que grande parte dessas pessoas com deficiência visual são
maiores de 65 anos e concentram-se no sul do Brasil.

13
Muito designers projetam ainda hoje apenas para o sentido da visão.
Preocupam-se unicamente em produzir algo belo de se ver e não lhes
interessa que o objeto resulte depois desagradável ao tato, pesado ou
leve demais, se é frio, se tem relações formais com anatomia humana.
(MUNARI, 1998, p. 373)

Atualmente, joias são feitas carregadas de valores estéticos visuais, muitas


vezes não importando o peso, material utilizado, forma ou o possível desconforto
em quem irá utilizá-la. A joia tem grande valor social, simbólico e estético, e o cego
não está alheio a isso. Embora não enxergue o objeto, sente a peça pelo tato,
aferindo assim o peso, a superfície e realizando identificação com o acessório.
Apesar de não poderem vê-lo, gostam de usar a joia por sua estética e pelo que
esperam passar com a mesma, por seu simbolismo e pela autoconfiança que pode
gerar em quem a usa.

Deficientes visuais são prejudicados pela falta de acesso desde quando vão
comprar as joias nas joalherias, onde os produtos ficam acondicionados em
vitrines, impossibilitando que os compradores em potencial, com algum grau de
deficiência visual, possam tocá-los, ou então a falta de uma opção onde eles
possam sentir verdadeiramente o que estão comprando, visto que muitas joias
são lisas e com poucas formas que consigam distinguir apenas com o toque. Assim,
eles se veem dependentes de videntes para adquirir uma peça de seu agrado,
dependência essa que os desanimam e segregam enquanto compradores.

Embora alguns autores, como Hegel (2002 apud KASTRUP, 2015),


acreditem que o tato, paladar e o olfato sejam excluídos do que se é considerado
estético, Giordani (2012) traz uma definição de estética como sendo uma ciência
que estuda a percepção do que pode ser considerado belo ou não, envolvendo
muito mais que a visão e audição, pois conta com a emoção.

Devido ao fato de ser um assunto diferenciado, foi necessária uma análise


quanto a relevância do projeto, onde seria possível verificar a real necessidade do
mesmo. Desta forma, uma voluntária com deficiência visual, encontrada pela rede
social Facebook, foi contatada. Houve então uma troca de e-mails contendo

14
algumas perguntas sobre a experiência da voluntária com a joalheria. O resultado
obtido demonstrou a necessidade de pesquisas para o desenvolvimento de
produtos condizentes com as necessidades dos deficientes visuais. As
informações referentes à metodologia de abordagem e resultados discutidos
estão dispostos no item 1.3.1 deste trabalho.

OBJETIVOS

Desenvolver joia de uso eventual para mulheres com deficiência visual,


utilizando o conceito específico de estética para o indivíduo com deficiência
visual, aspectos ergonômicos e funcionais.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

● Definir conceito de estética para a pessoa com deficiência visual


● Apresentar as necessidades do cego quanto a joalheria
● Gerar produtos que possam ser feitos na área de joalheria
inclusiva

15
16
1- A DEFICIÊNCIA VISUAL INTERAGINDO
COM A JOALHERIA

Segundo dados do IBGE de 2010, no Brasil, cerca de 18,8% da população


possui algum grau de deficiência visual, podendo enquadrar-se em cegueira ou
baixa visão. Esse número corresponde a maior porcentagem quando posto ao lado
das demais deficiências analisadas.

Gráfico 1: Representação do percentual da população brasileira com deficiência.

Baseado em dados do IBGE Censo demográfico 2010. Fonte Própria (2016)

Entretanto, apesar deste número expressivo, a deficiência visual é pouco


compreendida e comentada; como prova disso nota-se a carência de referências
existente sobre a mesma, quanto a relação de portadores de deficiência visual e
sua interação com produtos no geral

Para compreender melhor a definição de deficiência visual, Nunes e Lomônaco


(2010) a colocam como uma limitação das formas de apresentação de
informações do mundo externo. Desta forma, a deficiência visual abrange duas
categorias, a cegueira e a baixa visão. Outra interpretação de deficiência visual
pode ser encontrada nas concepções da fundação Dorina Nowill (Fundação

17
Dorina 2006 - 2016), para quem a deficiência visual pode ser definida como a
perda total ou parcial, congênita ou adquirida, da visão. Assim sendo, o nível de
acuidade visual pode variar, determinando assim os dois grupos de deficiência.

Segundo Amiralian (1997), as primeiras pesquisas sobre a deficiência visual


provêm da medicina, em que se tinha a intenção de minimizar esta limitação e,
assim, tornar o indivíduo vidente novamente. Os médicos interessavam-se sobre
o quanto o deficiente visual podia enxergar. Ao longo de inúmeros estudos,
chegaram a uma medida para avaliar a capacidade visual do indivíduo, pautadas
em duas funções oculares, a acuidade visual (diferenciação de formas), e Campo
Visual (percepção da amplitude dos estímulos), utilizando todas as correções
ópticas possíveis. No entanto, a partir da década de 70, o diagnóstico deixou de
considerar apenas acuidade visual para avaliar as formas de percepção do
indivíduo com deficiência, e a partir de então, caso a compreensão do mundo seja
feita pelo indivíduo por meio do tato, cinestesia, olfato, audição, etc, o mesmo é
considerado cego; se o indivíduo, mesmo com visão limitada, conseguir utilizar
resíduos visuais de forma satisfatória, passa a ser diagnosticado com baixa visão.

A deficiência visual, segundo Nunes e Lomônaco (2010), é complexa, e esta


complexidade tem a ver com a diversidade de fatores que podem levar o indivíduo
a ser cego ou ter baixa visão. Assim, grandes são as chances de que uma pessoa
com deficiência visual venha a apresentar um caso diferente de outro indivíduo
que também apresente deficiência. Conclui-se então que, mesmo que seja levada
em consideração a forma que o indivíduo observa o mundo, ainda assim, o
desenvolvimento de cada um é peculiar e está mais próximo à outras pessoas com
características semelhantes como idade, sexo, classe social, do que ao de outra
pessoa com deficiência visual.

Como uma definição geral de deficiência visual, tem-se então, que seja toda e
qualquer deficiência que impossibilite os indivíduos de enxergarem plenamente,
formas, cores, distancias, mesmo que sem precisão, com o auxílio de qualquer tipo
de corretor visual, como óculos, lentes, lupas.

18
Para Scholl (1967 apud SALZEDAS; BRUNS,1999), a perda de visão causa
alguns déficits como a restrição quanto à variedade e profundidade de certas
experiências cognitivas, devido ao fato de só terem fácil contato com objetos
pequenos e de simples obtenção, e alguma limitação de experiência devido ao fato
de sua mobilidade ser restrita. Entretanto, o fotógrafo cego Bavcar (1994)
acredita que o toque seja o sentido tido como o da verdade, visto que ele não pode
negar a materialidade das coisas. A partir desta compreensão, pensar no que o
cego não vê não seria algo prejudicial, visto que o que é verdadeiro é o que se
pode tocar.

Muito se fala do tato para a percepção de mundo pelo cego. Entretanto, ele
utiliza outros meios além do toque, como a audição (estima-se que 75% dos
estímulos captados pelo não vidente é tido pela audição (OLIVEIRA, 2002), olfato
e paladar. Outro sistema bastante explorado, principalmente pelos indivíduos
cegos, é o cinestésico, que oferece informações espaciais, de movimento e
equilíbrio, que possibilita a percepção da direção, da velocidade do movimento,
etc. (NUNES; LOMÔNACO, 2010).

Nunes e Lomônaco (2010) concluem que o indivíduo com deficiência visual


adquire informações através do conjunto formado pelas sensações táteis,
cinestésicas e auditivas, combinadas às experiências passadas já adquiridas pelo
sujeito.

O NÃO VER EM UM MUNDO QUE ‘MUITO’ ENXERGA

Muito se discute sobre como o deficiente visual encara o mundo, suas


vivências diárias em um lugar onde o sentido mais prezado e supervalorizado é a
visão. A dificuldade de pessoas videntes para com os não videntes está, muitas
vezes, ligada à falta de compreensão de como é não enxergar, pois indivíduos
visuais têm todas suas experiências de mundo baseadas no que enxergam dele;
são guiados pelos olhos e muitas vezes têm medo da escuridão.

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Salzedas e Bruns (1999) realizaram uma pesquisa tendo como
participantes pessoas com deficiência visual e sua relação com pessoas videntes.
Em suas entrevistas é possível notar que a maior dificuldade que um indivíduo
com deficiência visual enfrenta é o preconceito. Muitas pessoas ao se
relacionarem com o portador da deficiência, atribuem a ele também,
erroneamente, outras deficiências, o que faz com que passem a falar mais alto
com o indivíduo por creditarem também a surdez, ou até mesmo criem o
pensamento de que possam apresentar alguma deficiência mental.

Salzedas e Bruns (1999) evidenciam a busca do indivíduo com deficiência


visual em ser visto como uma pessoa normal que, seja no ambiente familiar, na
escola ou trabalho, não quer se sentir diminuído pela sociedade por não possuir a
visão, mas busca o auxílio do vidente para lidar com aquilo que não enxerga, da
forma mais natural possível. Ainda segundo os autores, é possível notar que
algumas das pessoas com deficiência visual têm certas dificuldades de
convivência com seus familiares, devido ao fato destes últimos não estarem muito
bem preparados para lidar com o diferente. Esta situação pode ter, como uma de
suas razões, certa falta de informações, que podem ou não se relacionar com o
nível socioeconômico da família.

Para Nunes e Lomônaco (2010), a pessoa portadora da deficiência visual as


vezes é vista como portadora de características diferenciadas, o que as diminuem,
na condição de seres humanos, perante aos videntes. Além disso, ocorre por vezes
a supervalorização de algumas ações tidas como normais que são realizadas por
não videntes, ou apresentam um grande sentimento de dó (pensando aqui em seu
significado mais próximo de pena, com conotação “negativa”) vendo-o como um
ser frágil e que precisa de ser tratado como tal.

Para Vygotsky (1997), a cegueira, embora seja uma limitação, em nada


limita o seu portador em termos sociais, visto que o mesmo pode se comunicar e
aprender significados sociais por meio das palavras, da fala. O autor ainda

20
contempla o fato de que a inter-relação do cego com o ambiente é, de certa forma,
turbulenta. Entretanto, esta fonte de dificuldade gera no indivíduo um estímulo
para que possa superar as adversidades e superar-se.

1.1- UMA BREVE HISTÓRIA DA JOALHERIA

Os primeiros adornos encontrados datam do paleolítico, idade da pedra


lascada, onde os homens caçavam os animais e usavam seus dentes como enfeites
junto ao corpo, muitas vezes simbolizando uma conquista, uma espécie de “troféu
de caça”, que acabava por ser o testemunho de sua valentia, sendo notadamente
um elemento de respeito e destaque social em uma espécie de hierarquia na
organização de seu povo (STAGGEMEIER et al., 2011).

Além dos dentes, é possível encontrar crustáceos, pedras pequenas,


insetos, vértebras de peixes e fósseis que algumas vezes eram perfurados para
colocar corda de fibra ou tendões (Figura 2). Desde então, os adornos foram
sendo aperfeiçoados e cada vez mais relacionando-se com o homem, mostrando
sua cultura e status na sociedade.

Figura 2: Colar de conchas fossilizadas. Datado


de 28.000 A.C. Fonte: Marques (2012).

Com a descoberta de novos materiais, a joalheria foi se tornando cada vez


mais requintada e elitista. Podemos tomar como exemplo, a proibição que certos

21
reis imprimiam ao uso, pela população, de adornos compostos por certos tipos de
metais ou materiais. Desse modo, a joalheria foi crescendo em complexidade e
adquirindo ligação com materiais cada vez mais nobres, sendo então carregada de
valores de diferenciação social por meio da riqueza de quem as possuía.

Como símbolo de poder e vaidade, a joia foi ganhando certo significado na


sociedade, sendo assim considerada somente o objeto que fosse elaborado com
metais preciosos. Entretanto, autores como Peter Hinks (1969 apud MARQUES,
2012) parecem discordar desta filiação. Hinks considera que, para ser joia, o
objeto precisa primeiramente ser belo, e em sua decorrência, ter um alto valor
para aqueles que o usam.

Na história do mundo não é difícil notar algumas mulheres que, mesmo não
podendo enxergar o que usam, não abrem mão da vaidade. Assim, existem muitas
mulheres de grande valor histórico e social que são retratadas com joias, como é o
caso de Dorina Nowill, fundadora de uma das maiores instituições para pessoas
com deficiência visual (Figura 3), e Marie Therese Von Paradis, pianista e
compositora austríaca (Figura 4). Podemos citar também a figura masculina do rei
Luis III, ou O Rei Cego, da Itália, como um exemplo de como a joia podia
demonstrar poder, pois mesmo tendo sido cegado, ainda usava adornos (Figura 5).

Figura 3: Dorina Nowil. Dorina Figura 4: Marie Therese Von Paradis.


utilizando colar de pérolas Marie utilizando pulseira e anel.
Fonte: Soares (2011) Fonte: Soares (2011)

22
Figura 5: Luis III, O Cego.
Rei utilizando coroa, acessórios religiosos
E colar .
Fonte: Lima(2016).

1.2- A JOIA PARA COMUNICAR

Desde o paleolítico, quando há indícios dos primeiros pingentes, é fácil


notar que o adorno era utilizado para comunicar algo a quem o via, além de
significar um “troféu” para aqueles que o usavam. Com o passar dos anos e a
descoberta de materiais considerados mais nobres na Idade do Metal, os adornos
começaram a adquirir um novo caráter, o monetário e simbólico, que era marcado
pela utilização de metais combinados a pedrarias, principalmente no Egito
(ESPINOZA, 2013).

A joalheria esteve sempre muito presente na história e teve funções


variadas, servindo de moeda universal, vestimenta, objeto demonstrativo de
cultura. Alguns povos ao alocarem suas joias em alguns objetos as tornavam um
veículo que auxiliava na difusão da cultura de um povo, o que demonstrava sinais
do relacionamento de um indivíduo com determinado grupo. Desde a realeza,
como portadora de valores, as joias, como coroas (Figura 6), tiaras e cetros eram
símbolos de poder e, seus portadores eram considerados como superiores aos
demais, devido a suas riquezas de bens materiais (ESPINOZA, 2013).

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Figura 6. Diadema em ouro e prata pertencente à rainha Maria-Theresa

O magnífico diadema apresenta 1.031 diamantes e quarenta esmeraldas que o então rei Luis XVIII
encomendou aos ourives reais para presentear sua esposa Maria-Theresa. Foto: Museu do
Louvre. Fonte: Pedroza (2009).

Na história da joia podemos encontrá-la como sendo um adereço


importante em diferentes situações, como quando foram utilizadas como
amuletos (Figura 7), fortalecendo crenças e culturas, tornando-a um artefato que
agregava o valor estético da época em que foi produzida.

Figura 7: Amuleto de Chipre.

Amuleto de 1500 anos traz inscrição de 59 letras na forma de palíndromo. Foi descoberto na
antiga cidade de Nea Paphos, no sudoeste de Chipre. A mensagem diz o seguinte: "Iahweh [um
deus] é o portador do nome secreto, o leão de Re seguro em seu santuário". Fonte: UOL (2015)

24
Segundo Albuquerque (2016), a joia, sendo utilizada junto ao corpo e,
devido a mobilidade do mesmo, é compreendida de formas diferentes que
dependem do contexto social em que se encontra, assim, depende da
interpretação de outrem sobre ela.

A joia, ainda segundo Albuquerque(2016) é um grande comunicador social.


Por ser levada junto ao corpo para todos os lugares, ela pode demonstrar
sentimentos, crenças e gera uma ampla e inovadora reflexão, sendo esse uma das
diferentes maneiras de identificação cultural e pessoal.

Evidentemente, a joia, ainda hoje, está acompanhada de simbolismo, e


muito vinculada ao desejo do homem, que busca sua diferenciação com um
interesse de construir novas linguagens e identidades, sua autoafirmação e seu
destaque entre os semelhantes (Figura 8). Desta forma, o adorno está
inteiramente ligado a estruturação da personalidade do indivíduo e da construção
e reprodução das sociedades (ESPINOZA, 2013).

Figura 8: Moça Yanomami. Foto representando a


diferenciação dos povos indígenas por meio de adornos
faciais. Fonte: Allen (2013).

A joalheria, hoje, é usada por muitas pessoas como uma forma de


exteriorizar o que se tem por dentro, de colocar as emoções, relações e
sentimentos para fora, sendo utilizadas como uma extensão do corpo, tornando-
se também uma maneira de auto compreensão e libertação social. Desse modo, o

25
significado da joia é único e sempre será associado a quem a utiliza, o momento e
o local.

Uma joia, independentemente do tempo, valor monetário, ou estético, vem


carregada de um valor simbólico, que pode ser estudado na semiótica por meio
das interpretações de símbolos, entendido pelos livros antigos, ou simplesmente,
este significado pode estar intimamente atrelado a seu usuário. As joias são
carregadas de uma linguagem e identidade simbólica, que garante uma
identificação com o usuário.

1.3- A JOIA PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL

Foram realizadas quatro abordagens com deficientes visuais, três


qualitativas e uma quantitativa. A primeira tratou-se de uma entrevista com
questões abertas e teve por finalidade estudar a relevância do tema. A segunda e
a terceira abordagens, qualitativas não estruturadas, tiveram por finalidade o
contato mais íntimo com deficientes visuais para que fosse possível esclarecer
dúvidas primordiais sobre o universo dessas pessoas em sua interface com a
joalheria. Quanto à quarta abordagem, quantitativa, buscou-se entender
características, preferências e dados gerais sobre o público. As três abordagens
seguem organizadas na sequência supracitada.

1.3.1 ESTUDO DE RELEVÂNCIA

Voluntário e Procedimentos da Abordagem

Com a ideia de fazer uma joia para pessoas com deficiência visual, houve
um questionamento quanto à necessidade da mesma. Desta forma, uma busca por
pessoas portadoras desta deficiência foi feita, encontrando-se um grupo, na rede
social Facebook, direcionado para discussões desse público. Escolheu-se, então,
aleatoriamente uma participante, a quem foi enviado um recado pela mesma rede
social, e estabeleceu-se assim um contato, que resultou em trocas de e-mails, em

26
que foram questionados alguns pontos sobre sua interação com o acessório
(Apêndice A).

Sobre a participante que foi contatada, a mesma é professora de Braile e


Recursos Tecnológicos para Deficientes Visuais, residente do estado de São
Paulo, tem 30 anos, e nasceu com baixa visão, perdendo-a completamente com
cerca de 13 anos de idade.

Resultado e Discussão

Ao ser questionada, por e-mail , sobre a existência de um costume de


adquirir joias e, em caso de resposta positiva, qual a maneira utilizada pela
voluntária para a escolha destas peças, a mesma respondeu que sim, e evidenciou
a dificuldade que tem ao escolher o produto, visto que os mesmos encontram-se
acondicionados em redomas de vidro, impossibilitando o toque, e que muitas
vezes as vendedoras não estão dispostas a desmontar o layout de uma vitrine com
suficiente habilidade de descrição detalhada dos produtos contidos nela para o
consumidor deficiente visual. Sendo assim, a entrevistada tende a ir até a loja com
uma ideia prévia do que procura, visto que, em caso contrário, perde muito tempo
para encontrar algo que goste entre todos os itens apresentados pelo vendedor. A
participante também discorreu sobre algumas de suas preferências quanto ao
assunto, dizendo preferir joias que sejam douradas, colares ou gargantilhas com
pingentes delicados, braceletes leves e finos. Gosta de brincos não muito
pequenos, tendo preferência para o formato de argola, borboleta, laço ou com
pedrinhas penduradas, sempre contendo algum detalhe, ou de formato ou de
pedraria. Também gosta de anéis pequenos e delicados, com algum detalhe em
pedraria em cores neutras, evitando marrom e cores acobreadas. Escolhe o
acessório sempre levando em conta algum detalhe que a agrade, mas
principalmente preza o conforto do mesmo.

A segunda pergunta feita à voluntária baseou-se no interesse da


participante em adquirir uma joia tendo como pressuposto o fato de ser agradável
ao toque e, se a essa escolha pelo toque seria um diferencial para o produto ou o
27
tornaria mais interessante. Para essa questão a participante disse que ser
agradável ao toque seria sim um dos diferenciais da joia, e comentou já ter
desistido de uma compra pela aspereza exagerada da peça, e que já adquiriu um
produto por ter textura e simetria agradáveis, evidenciando que este ponto de
simetria conta muito para sua decisão de compra. A entrevistada também
ressaltou que já comprou algo agradável ao tato, mas com forma pouco funcional,
o que acabava por provocar enrosco nas roupas ou machucava outras pessoas em
contato com ela. A voluntária comentou também acerca de uma correntinha que
possui e a agrada muito; o destaque da joia se dá por possuir o nome da
participante escrito em braile. Disse também que geralmente esse tipo de
produto desperta bastante curiosidade nas pessoas.

A última pergunta feita foi referente a qual parte do corpo gostaria de usar
uma joia agradável ao tato, para a qual a resposta obtida foi a de que a
entrevistada acharia interessante uma pulseira com escrita em braile.

Ao findar essa abordagem, notou-se a necessidade existente de uma joia


que atenda o público escolhido, visto que os mesmos são consumidores de
acessórios, porém têm dificuldades em sentir-se como compradores,
principalmente em relação ao ato da escolha do produto, com os adornos
disponíveis hoje no mercado tradicional.

1.3.2- ABORDAGEM QUALITATIVA

A fim de analisar o contato do portador com deficiência visual com a


joalheria, foram realizadas duas análises qualitativas, onde foi possível conversar
com quatro mulheres com deficiência visual diretamente e entender um pouco
melhor seu contato com os objetos de adorno, o que os mesmos significam para
elas, quais peças mais utilizam e o que mais gostam em termos de joalheria. Para a
coleta de dados, envolvendo as duas abordagens qualitativas, não foram
desenvolvidos questionários, pois a intensão era a realização de uma entrevista
não estruturada, em que a participante pudesse contar um pouco mais sobre a sua
28
relação com a joalheria.

As abordagens aconteceram separadamente devido a diferença de cidade


das participantes. No entanto, foi utilizado o mesmo método de abordagem, pois a
finalidade era a mesma, sendo possível ter diferentes visões de uma mesma
questão.

Primeira Abordagem Qualitativa

Voluntárias da Primeira abordagem

Duas mulheres com deficiência visual, uma de nascença e outra adquirida.


A coordenadora do projeto, Professora Dra. Tânia dos Santos Alvarez da Silva,
responsável pelo acompanhamento da coleta de dados ocorridos na Universidade
Estadual de Maringá, informou sobre o grau de deficiência das mesmas. A
entrevistada 1, cega desde nascença, é capaz de perceber certa porcentagem de
luz, sabendo distinguir entre noite e dia. A segunda participante nasceu com baixa
visão no olho esquerdo e sem visão pelo direito. Entretanto, devido a uma doença,
acabou por perder completamente a visão.

Métodos e Procedimentos da Primeira Abordagem

A coleta de dados aconteceu na sala do PROPAE da Universidade Estadual


de Maringá, na presença da Professora Dra. Tânia dos Santos Alvarez da Silva,
coordenadora do projeto com os deficientes.

Foi marcado um horário para que fosse possível que as 2 voluntárias ali se
encontrassem, podendo assim realizar a coleta de dados de forma presencial,
entretanto as participantes não puderam participar presencialmente, a primeira
por motivos pessoais e a segunda por problemas de saúde. A professora Dra.
Tânia fez contato telefônico com a primeira voluntária mencionada, e então
houve uma conversa informal por telefone, que não foi gravada.

29
A segunda conversa com as 2 participantes ocorreu novamente na sala do
PROPAE da Universidade Estadual de Maringá, sendo uma abordagem qualitativa
não estruturada. Assim, a segunda participante, ausente na primeira entrevista
marcada e com a qual não fora feito contato em diálogo, foi a primeira a ser
abordada, e a voluntária que já havia falado por telefone, foi a segunda.

Resultados e Discussão

Conversando por telefone com a voluntária 2, foi possível descobrir


algumas informações sobre a relação da mesma com a joalheria, como:
 Preferência por texturas lisas
 Preferência por pulseiras e anéis
 Não gostar de usar brincos pois desprendem-se muito facilmente das
orelhas e a participante os perde com frequência.

Conversando pessoalmente com a participante 1, a mesma deixou claro


sua vaidade quando comentou o como se sente bem se produzindo e utilizando
salto, mesmo não podendo se olhar no espelho. A voluntária também comentou
um pouco de sua relação com a joalheria, onde pode expor alguns aspectos de sua
opinião, como:
 Preferência por joias maiores
 Preferência por detalhes na joalheria, como pequenas pedras, ou rebaixos,
que ela possa sentir com o tato, assim podendo ter uma percepção melhor
da joia que irá comprar.
 Preferência por pulseiras.
 Possui joias diferentes para cada ocasião, como faculdade, trabalho, happy
hour, formaturas, casamentos.
 Escolhe brincos pela tarraxa, muitas vezes preferindo as feitas de silicone,
que são mais aderentes e têm menos chances de cair.

Ao conversar com a voluntária 2 pessoalmente, a mesma pode acrescentar


algumas informações ao que havia dito anteriormente por telefone, como:

30
 Não ter conhecimento das joias feitas para deficientes visuais como as que
contem inscrições em baile, pelas quais diz ter se interessado muito.
 Gostaria de uma joia que a auxiliasse em sua locomoção, pois alegou que,
mesmo se valendo de uma bengala para seu deslocamento, esbarra por
vezes em alguns obstáculos ou depara-se com buracos não percebidos pelo
objeto.

Embora a abordagem tenha sido não estruturada, uma pergunta foi feita
para ambas participantes, a respeito de como lidam com a opinião de videntes, se
por ventura deixariam de comprar alguma joia se uma pessoa dotada do sentido
da visão dissesse a elas que a mesma é feia. Entretanto, ambas foram muito
enfáticas ao dizerem que não ligariam, que para elas o mais importante é se
sentirem confortáveis, e que por não verem as pessoas olhando para elas, não
ligam para isso.

Ao concluir a abordagem, foi possível notar uma grande diferença entre as


duas entrevistadas. Apesar disso, ambas mostraram sua grande ligação com o
adorno como um todo, sendo possível notar que o adorno, embora seja, por vezes,
imperceptível, discreto ou chamativo, é muito presente na vida das mulheres e
está ligado a sua vaidade, mesmo que elas não a percebam.

Segunda Abordagem Qualitativa

Voluntárias

Duas mulheres deficientes visuais, sendo a voluntária 3 deficiente de nascença,


possuindo baixa visão e a voluntária número 4 adquirindo a deficiência atrás de
glaucoma, que a tornou cega total com 16 anos.

31
Métodos e Procedimentos

A abordagem das voluntárias aconteceu no Centro de Atendimento Especializado


(CAE) Cianorte- PR, onde foi conversado com a coordenadora do centro e
agendado um melhor horário para encontrar e conversar com as voluntárias. Mais
uma vez a abordagem foi qualitativa e não estruturada, onde as participantes
puderam conversar e contar livremente um pouco de suas relações com os
acessórios e vaidade.

Resultados e Discussão

Ao conversar com as voluntárias, foi possível notar certas preferências por alguns
modelos de acessórios, como lidam com a vaidade e o que mais gostam no geral,
assim, foi possível evidenciar esses pontos de cada participante da seguinte
forma:

Voluntária 3 –
 Prefere acessórios da cor prata por dizer ser mais fácil de combinar com as
roupas
 Acredita que para o acessório ser bonito, o mesmo tem que ter pedraria de
colorida, sendo preferível pedras e detalhes da cor preta em estruturas
pratas
 Prefere brincos grandes, considerando “quanto maior, melhor”
 Gosta de formatos padrão utilizados de maneiras além da convencional
 Jamais compraria brincos de plástico, madeira ou pena
 Acha muito bonito ear cuff com corrente, embora não consiga mais acha-
los
 Acredita que o fato de que os acessórios são guardados em plásticos e
algumas vendedoras se recusam a abri-los a diminui quanto compradora
 Gosta muito de pulseiras com pingentes ou argolas, pois gosta do barulho
que elas fazem quando são balançadas
 Costuma ter problemas com fechos de pulseiras

32
 Não se considera muito vaidosa
 Não gosta de depender dos outros
 Acredita que moda cada um faz a sua
 Não liga muito para a opinião dos outros
 Não gosta de relógio que usa o braile por não ter paciência para ver a hora
nele
 Não gosta quando o strass puxa fio de roupa ou cabelo

Voluntária 4 –
 Escolhe brincos pelos detalhes, preferindo pedrarias
 Gosta de brincos das cores prata e dourado, pois acredita serem os mais
fáceis de combinar
 Costuma usar acessórios diferentes em diferentes ocasiões, utilizando os
mais simples para ir à escola e os mais detalhados e com brilho para
casamentos, aniversários.
 Tem preferência por brincos menores e delicados, embora gostasse muito
de brincos com repetições de estrelas e corações pendentes
 Gosta de peças com strass
 Prefere usar brincos e anéis
 Nunca utilizaria brincos de plástico pois considera “cafona”
 Tem problemas com fechos de colares pois os menos costumam enroscar
no cabelo
 Se considera muito vaidosa e gosta muito de se maquiar
 Utiliza correntes com medalhas
 Costuma perguntar como está antes de sair de casa

33
1.3.3- ABORDAGEM QUANTITATIVA

Sujeitos, Materiais e Procedimentos

Após a abordagem qualitativa, com a finalidade de conhecer de forma


exploratória o contato de deficientes visuais com a joalheria, foi também aplicado
um questionário online (Apêndice B) divulgado pelo Facebook, em grupos
específicos de pessoas com deficiências visuais, do dia 16 de junho de 2016 a 03
de julho de 2016, conseguindo-se recolher apenas respostas de 8 pessoas, tendo
essas uma média de idade de 27,5 anos.

O número restrito de respostas deve-se ao fato da difícil abordagem com o


público alvo; nota-se que embora muito presentes em redes sociais na internet,
ainda existe a dificuldade de contata-los e conseguir que os mesmos respondam
ao questionário proposto. Algumas das respostas surgiram por meio de um pedido
para que a abordagem fosse feita através de WhatsApp ou e-mail, para permitir
melhor compreensão.

Das pessoas abordadas, 5 eram do gênero feminino e 3 do masculino,


metade possuem baixa visão, um quarto nasceram cegos, um respondeu pelo filho
que era cego e outro participante perdeu a visão aos 10 anos.

Resultados e Discussões

Sobre a pergunta relacionada à frequência com que o indivíduo costumava


utilizar acessórios, metade respondeu que utilizava regularmente, um quarto
sempre e um quarto nunca utilizava; esse grupo em questão finalizou o
questionário neste momento e então as respostas seguintes foram analisadas
levando em conta apenas 6 voluntários.

Quando questionados sobre quais peças mais utilizam e quais mais os


agradam, o brinco foi o acessório mais votado, seguido por corrente, pulseira,
34
colar e relógio. Todos os voluntários responderam que costumam trocar os
acessórios conforme a ocasião, onde uma das participantes disse utilizar
acessórios com brilhos e pedrarias para casamentos e formaturas, e acessórios
considerados mais simples, com menos detalhes, para o dia a dia. Nas conversas
com as voluntárias, foi possível notar que essa diferenciação ocorre pelo tato,
assim, peças com mais pedras e brilho são utilizadas para noite e peças com
menos brilho e detalhes, para o dia-a-dia.

Notou-se com o questionário que quatro de seis dos entrevistados


escolhem os acessórios por meio do toque e que suas maiores dificuldades estão
relacionadas ao tamanho das peças, que são muito pequenas, ao jeito que são
dispostas nas lojas, alocados em ganchos na parede e em sacos que dificultam o
manuseio por parte dos deficientes, e diferenciar as cores das pedras e acessórios
como um todo.

Os participantes da pesquisa mostraram escolher acessórios pelo o


formato e peso, sendo o tamanho e textura um item ainda que analisado, possui
pouca relevância na hora da compra (gráfico 2). Também afirmaram escolher o
acessório por sua estética tátil, cor, e detalhes, majoritariamente, sendo apenas 2
participantes que os escolhem pelo seu significado. Os voluntários também
mostraram que o conforto ao vestir o acessório é muito importante, seguido do
conforto ao usar, preço, qualidade, segurança em usar o acessório, durabilidade e
peso.

Gráfico 2: Preferência quanto à estrutura da peça

Fonte: Própria (2016)

35
Todos os entrevistados consideram-se pessoas vaidosas, logo, 83,3% tem a
preocupação de combinar o adorno com a roupa que estão vestindo e 66,7%
questiona o parceiro, familiar ou amigos como está sua aparência, o que pode ser
entendido que mesmo não possuindo a visão, os portadores da deficiência se
preocupam com o como vão parecer perante pessoas videntes, preocupando-se
assim com seus julgamentos.

Quando questionados sobre a existência de alguma preferência quanto ao


material dos acessórios, 50% disse não ter preferência, 50% disseram preferir aço
inoxidável e prata e 33,3% mostraram preferência por ouro amarelo ou metais
quaisquer, o que mostra que não costumam gastar muito com acessórios, fato que
fica evidente quando 66,7% diz gastar de zero à cinquenta reais ao comprar os
acessórios. Ainda sobre o material do acessório, mesmo se tratando de indivíduos
com baixa visão ou cegos, notou-se certa preocupação com as cores do acessório,
sendo assim, mostraram preferência por dourado, preto ou prata, tendo ambas
agradado 50% dos entrevistados (gráfico 3).

Gráfico 3: Preferência por cores de acessórios

Fonte: Própria (2016).

Com relação a pedrarias no geral, a maior parte dos participantes disseram


preferir acessórios trabalhados de forma geral, sendo que apenas dois
participantes mostraram ter interesse para pedrarias de forma geral, tendo as
demais respostas pouca relevância para os mesmos.

36
Todos os participantes foram questionados quanto a como adquirem seus
acessórios. Sendo assim, muitos disseram adquirir em joalherias ou lojas físicas,
sendo poucos que ganham de presente, compram através de revendedora ou
solicitam que alguém os compre, entretanto das pessoas abordadas, nenhuma
adquire suas peças da internet. Quando questionados sobre qual a maior
dificuldade ao comprar o acessório em lojas físicas, 83,3% responderam que
acessórios dispostos em lugares fechados e/ou inacessíveis ao toque é a maior
dificuldade, seguida de despreparo dos atendentes (66,7%) e confiar na atendente
(50%).

Ao serem questionados sobre o que consideravam esteticamente


agradável ao tato, 83,3% dos participantes responderam ser formatos
diferenciados, seguido por superfícies trabalhadas com detalhes assimétricos
(50%), superfícies lisas com formatos padrão como círculos, triângulos e
quadrados (33,3%) e superfícies lisas com detalhes em relevo simétrico (33,%).

Ao final da pesquisa foi aberto um campo para comentários e sugestões,


onde alguns participantes puderam expressar brevemente o que esperavam do
projeto como todo, assim, notou-se que mais participantes gostariam que fosse
pensado uma maneira de melhorar tarraxas de brincos, e que gostariam que as
peças tivessem mais “personalidade”, sendo aplicado alguns detalhes em formas
já conhecidas e tradicionais na joalheria.

Ao tabular o questionário, notou-se que o número referente a deficientes


visuais no brasil é muito grande em vista do número de voluntários que
responderam ao questionário. Isso se deve, possivelmente, à dificuldade de entrar
em contato com os mesmos, por mais que estejam inseridos em redes sociais e
internet como um todo, ainda há certa resistência para o contato, resistência essa
que está ligada desde o ato da abordagem, onde não se sabe ao certo qual a forma
mais correta e que não seja ofensiva ou, a dificuldade em saber se todos
conseguem um acesso satisfatório à plataforma de questionário pelo Doogle
Docs, pois mesmo que uma voluntária tenha garantido que o acesso ao mesmo

37
era tranquilamente realizado pelo deficiente visual, ainda houve algumas
resistências em o acessar que os levaram a responderem por email.

Houve também algumas dúvidas ao que seria considerado joia, adorno,


bijuteria ou acessório, visto que algumas pessoas findaram o questionário por não
interpretarem que aliança, relógio e escapulário fizessem parte dos conceitos
analisados. Outras possíveis interpretações que surgiram, pelas respostas que
foram coletadas, são referentes ao fato de que alguns participantes alegaram não
se importarem com cores ou tipos de materiais que serão utilizados no acessório,
entretanto, ao ouvirem as alternativas, acabam por marcar, também, uma delas, o
que leva a crer que eles não se importem com a cor ou material, entretanto,
tenham suas preferências.

1.3.4- ANÁLISE DAS ABORDAGENS COM AS PESSOAS COM


DEFICIÊNCIA

Ao terminar todas as abordagens feitas com o público, tanto pessoalmente,


quanto virtualmente, evidenciou-se a dificuldade existente de pessoas com
deficiência adquirirem seus assessórios de maneira satisfatória, visto que
geralmente sentem-se diminuídos em lojas diante a tantas opções que não
conseguem tocar com facilidade. Outro ponto que entrou em evidência com a
pesquisa, é a preocupação do deficiente visual em se sentir bonito perante a
sociedade vidente, mesmo que eles não assumam. Isso fica evidente quando
questionados sobre a preocupação em combinarem cores e se perguntam a
amigos, parceiros ou familiares sobre como estão antes de sair de casa, o que é
uma característica humana e que se potencializa em indivíduos inseridos na
sociedade atual, onde todos querem ser notados de uma maneira adequada,
perante aqueles que os rodeia.

Embora o número de indivíduos que responderam ao questionário


quantitativo tenha sido pequeno, há um indicativo de que pessoas com deficiência
procuram acessórios com detalhes em sua forma, seja com pedras, formatos ou

38
texturas, para que possam senti-las melhor e até mesmo as diferenciar das demais
existentes, entretanto, não gostam de uma “poluição tátil” que seria definida
como muitos detalhes juntos, onde os indivíduos não conseguiriam apreciar as
formas cada uma a seu tempo.

Um fato analisado a respeito de todas abordagens é a preferência pelos


participantes em usar brincos. Entretanto, a participante 2 evidencia que isso é
um problema quando o mesmo cai de sua orelha, o que acontece com facilidade,
logo, percebe-se que o brinco é um acessório que merece um olhar mais atento
para propor melhorias em sua estrutura.

Embora o pequeno número de participantes, foi possível obter


informações muitos importantes e pertinentes a fim de identificar as dificuldades
de uso de joias e acessórios, assim, foi possível estabelecer diretrizes para o
desenvolvimento do projeto.

39
40
2- ERGONOMIA, FUNCIONALIDADE E
ESTÉTICA PARA A JOALHERIA

Para Löbach (2001) a satisfação humana frente aos produtos relaciona-se


com as qualidades funcionais e estéticas propostas pelo design. Assim, ao pensar
em qualquer produto, é importante ter esses conceitos muito claros, unidos a
ergonomia, a fim de conquistar a satisfação plena dos usuários. Tendo isso em
vista, faz-se necessário compreender esses três pontos para um melhor
embasamento de conceitos e, consequentemente, para a elaboração de um novo
produto direcionado para o público com deficiência visual.

2.1- ERGONOMIA

Para Valim (2006), a ergonomia pode ser entendida como uma associação
de conhecimentos sobre habilidades, limitações e outras características humanas
que são importantes para o design. Assim, o design tem caráter diferenciador,
onde, quando bem desenhados, os objetos necessariamente incluem princípios de
ergonomia. Valim ainda evidencia o fato de que antigamente, por conta dos
produtos serem produzidos por seus próprios usuários, os mesmos
apresentavam-se mais agradáveis e confortáveis, realidade diferente do que se
verifica hoje, em que a produção está cada vez mais distante dos usuários finais.
Conclui-se que um produto bem projetado necessita de ergonomia com o foco no
usuário, sendo necessário analisar as necessidades do usuário primeiramente,
colocando-o como o diferenciador e analisado a relação do objeto com o mesmo.

Desta forma, as dificuldades do indivíduo com deficiência visual para com a


joalheria devem se constituir na primeira preocupação a ser analisada quando se
fala de joalheria voltada para deficientes visuais, visto que, para se obter um
projeto com um bom design, a ergonomia, sendo usada adequadamente, é
fundamental para o mesmo. Para tanto, é necessário utilizar-se não apenas da
ergonomia cognitiva, que está mais presente na relação do deficiente visual, mas

41
também da ergonomia física, a fim de que o projeto envolva algo satisfatório para
a anatomia humana.

2.2- FUNCIONALIDADE

A discussão sobre funcionalidade de um produto é extensa. No entanto,


pode-se indagar: o que ela significa? Este conceito pode ser entendido como
“aquilo que o produto se propõe a fazer”, isto é, a completude das tarefas para que
foi estruturado. Desta forma, provar a funcionalidade de um produto é assegurar
que o mesmo funcionará perfeitamente (ROGÉRIO, 2008). Assim, pode-se
entender que uma joia com boa funcionalidade é aquela em que o fecho não abra
espontaneamente, ou suas garras não se enrosquem em fios de roupas e/ou
cabelo, por exemplo.

Para o público com deficiência visual os métodos de avaliação de


funcionalidade tendem a ser ainda mais rigorosos, visto que, por exemplo, podem
ter um fecho que venha a se abrir espontaneamente, fazendo com que o
deficiente visual perca o acessório por não perceber que o mesmo aconteceu, ou
mesmo ter um fio enroscado em um anel, causando mais distúrbios devido ao fato
da pessoa com deficiência demorar mais tempo para conseguir solucionar a
situação de como desenrolar fios das garras do anel sem que algum deles seja
danificado.

2.3- UM OLHAR ESTÉTICO SEGUNDO A FILOSOFIA

Muito se ouve que gosto não se discute, e isso é uma afirmativa verdadeira,
visto que a compreensão e a consideração de que algo seja belo pode ser
diferente de indivíduo para indivíduo. Ainda assim, há quem deseje encontrar
valores que possam relacionar-se a uma “pureza”, a uma unanimidade em torno
do ideal de beleza – vemos, por exemplo, que Aristóteles, na Grécia Antiga
estipulou as características de ordem, harmonia e equilíbrio como condições ao
42
belo, que chegaram até os nossos dias (SUSSANA, 1972). Fazê-lo, no entanto, é
como definirmos que todos tenhamos as mesmas experiências de vida, vivamos
no mesmo meio e pensemos igual, de todas as maneiras, o que é no mínimo,
assustador.

Alguns filósofos discutiram e ainda discutem sobre o conceito de estética, e


não se chegou a um consenso, visto que todos têm ideias que divergem em alguns
pontos, se assemelham em outros e ,muitas vezes, não chegam a uma conclusão
clara (SUASSUNA, 1972). Percebe-se que poderia passar-se meses discutindo
acerca de qual seria a definição mais apropriada da palavra estética, entretanto, o
resultado seria muito parecido com os resultados apresentados ao longo dos anos
e eras. A estética é algo pessoal, e de infinita dimensão que não é possível, por
meio de uma discussão, chegar a uma conclusão unanime.

Segundo definição encontrada no dicionário Aurélio (2010), estética é uma


ciência que trata do belo em geral e do sentimento que ele desperta em nós;
beleza. O termo carrega um significado filosófico, que considera a estética uma
área que estuda amplamente o belo, tomando-a em um sentido mais abrangente e
em constante transformação.

Segundo Suassuna (1972), há uma grande discussão sobre a estética ser


objetiva ou subjetiva, entretanto, o autor leva a uma outra reflexão, onde chega a
definição de beleza, que o mesmo aponta para o fato de ela ser algo não
encontrado no objeto, mas sim uma construção do espírito do contemplador em
contato com o objeto. O que seria a definição mais plausível do que seria a beleza
para a estética.

A estética, conceito que não pode ser estipulado sem que levemos em
conta o lugar, época, as pessoas e os valores no qual está inserido é um conceito
fortemente ligado à visão. Ao pensarmos em algo estético, nós, seres visuais,
imaginamos obras de arte antigas, roupas da moda ou até mesmo pessoas. Porém,
poucos de nós descreveriamos algo relacionado a uma estética sonora ou tátil,

43
mesmo que ela exista e seja mais comum do que possamos imaginar. Pelo fato de
a estética apresentar variações de pessoa para pessoa há a tendência de
acreditarmos que somente o que para nós é belo que está correto, no entanto,
pessoas cegas não estão privadas do senso estético. Sendo elas indivíduos
olfativos, sonoros e táteis, as definições de estética para os mesmos se dão por
meio desses sentidos. Quando levamos isto em conta, percebemos a escassez de
estudos que entendam essa situação de modo mais amplo, o que é, em certa
forma, algo que distancia certa parte da população que não enxerga de
desenvolverem-se artisticamente, pois poucos sabem apreciar ou estudam uma
estética diferente do visual, embora as outras definições sejam tão importantes
quanto.

2.4- UMA ESTÉTICA CEGA

Ao pensar sobre a estética em um indivíduo não vidente ou com baixa


visão, espera-se que seja algo inexistente ou praticamente impossível de existir.
Isso se dá devido a orientação conceitual ou de senso comum de que o belo seja
extremamente ligado ao campo visual. Segundo Oliveira (2002), para um vidente,
80% dos estímulos são captados pelo sentido da visão (número altamente
expressivo), enquanto para os indivíduos não videntes, um valor próximo (75%)
dos estímulos fazem-se captados pelo sentido auditivo. A estética, como dito
anteriormente, configura-se como um conceito de difícil definição. Apesar disso,
Oliveira (2002) explora em sua obra o fato de que a percepção do belo se vincula a
algo multissensorial, isto é, que se dá não apenas pelo sentido visual, mas
majoritariamente pela visão e aspecto sonoro, e em menor escala pelos demais
sentidos.

A estética sonora é muito presente na vida do não vidente visto que o


mesmo é guiado pelos sons que o rodeiam, assim, é mais fácil entender como um
som pode ser agradável a ele ou não, com mais facilidade do que para um ser
vidente. Como exemplo tem-se o poder da voz de um parceiro da pessoa com
deficiência visual, que tende a ser a mais agradável o possível, pois ela que carrega

44
a beleza que não se é vista pelo não vidente, logo, sons agradáveis tendem a
carregar uma beleza para o deficiente visual, o que é pouco explorado por pessoas
videntes (OLIVEIRA, 2002).

Oliveira (2002) afirma que o tato corresponde ao único sentido que, em


termos de precisão, é superior quando comparamos o homem aos outros animais.
Decorre dessa afirmação uma dedução lógica da importância desse sentido, que
deveria ser explorado não apenas pelo deficiente visual, mas sim, por todos.
Segundo Razza e Paschoarelli (2015), embora, ao analisar um objeto, o vidente
utilize muito da visão, ainda assim, é necessário ter-se o objeto em mãos antes de
comprá-lo, para que assim possa certificar-se quanto a textura do mesmo, seu
peso, tendo a condição de analisar se a sensação do objeto em suas mãos é tão
boa quanto sua aparência visual havia mostrado; caso não seja, o objeto é
descartado, ainda que sua beleza seja notável. Assim, pode-se notar o quanto o
tato está intrinsecamente ligado à estética.

Kastrup (2015) evidencia a deficiência da sociedade como um todo, em que


negligencia o tato e prefere se ater ao mundo distanciado das telas de televisão,
ao contato direto com as coisas que os rodeiam. Contudo, é possível notar que
muito do que não se conhece da estética tátil advém de uma recusa dos videntes
de procurar algo que vá além do que pode ser observado.

Mesmo no campo da visualidade o portador de deficiência visual é capaz


de perceber a beleza utilizando-se do tato, como é o caso das artes plásticas, onde
pessoas não orientadas pela visão podem perceber a beleza e detalhes da obra
pelo toque (OLIVEIRA, 2002).

Oliveira (2002) traz ainda a discussão do que poderíamos chamar de uma


“estética tátil”, visto que a mesma é a menos compreendida (compreende-se
muito do que se trata a estética visual e sonora), e evidencia que o agrado estético
está ligado essencialmente à esfera cognitiva, que provém da capacidade de
estabelecer diferenças. Embora o tato não consiga diferenciar cores, é capaz de

45
diferenciar texturas (Figura 9), temperaturas, relevos e contornos definidos,
dando assim forma, volume e detalhes aos objetos. Contornos que sejam
complexos, irregulares ou interrompidos podem apresentar em dificuldades para
que o deficiente visual faça uma construção cinética da figura, o que acaba por
frustrá-lo (OLIVEIRA, 2002).

Figura 9: Aplicação de texturas em obras.

Museu de Belas Artes de Bilbão permite acesso de pessoas com deficiência visual ao
mundo das artes acrescentado texturas nas mesmas. Fonte: Feitas (2013).

Juntamente a estes pontos, há outras características que devem ser


levadas em consideração ao analisar uma estética tátil. Segundo Oliveira (2002) o
tamanho constitui uma categoria de suma importância na identificação com o
gosto estético dos não videntes. Isso se dá devido ao fato de que grandes
proporções podem ser impeditivas para o cego, bem como um volume
extremamente pequeno, visto que este último impossibilita que o não vidente
consiga analisar detalhes existentes no objeto, deixando sua forma relativamente
imprecisa, o que acaba por frustrá-los. Assim, é fácil compreender a preferência
do portador de deficiência visual por formas mais simples, simétricas, contornos
evidentes, texturas, temperatura e outras relações formais menos complexas.

46
O belo, quando analisado por sob o viés tátil, merece certas ressalvas. Em
algumas situações, como por exemplo a análise de uma estrutura arquitetônica,
têm-se que o indivíduo vidente a observa por meio do olhar, conseguindo captar
uma visão do todo, ao passo que ao deficiente visual esta mesma captação é
minimizada a pequenas porções da estrutura por meio do toque, o que faz com o
que mesmo não tenha uma visão estética completa da estrutura. Apesar deste
aspecto, considerando que o objetivo deste trabalho seja a produção de uma joia
voltada para o público com deficiência visual, pode-se adotar a estética tátil e
levá-la em consideração, visto que o objeto tem tamanho suficiente para que o
indivíduo consiga analisá-lo através do tato.

47
48
3- PESQUISA E ANÁLISE DE PRODUTOS

3.1- ANÁLISE DE MATERIAIS UTILIZADOS NA JOALHERIA

3.3.1- Materiais Naturais

Materiais naturais são aqueles obtidos da natureza, de forma planejada ou


não, sendo utilizado em produção artesanal e industrial, sem modificações
profundas em sua constituição. Esses materiais podem se dividir em 3 grupos,
sendo eles vegetais, animais e minerais ( EXPLICATORIUM, [2008-2016]).

Esses três grandes grupos têm diversos componentes, que são utilizados
em meio joalheiro. Entretanto, neste trabalho, serão tratados de uma forma mais
geral cada grupo, apenas focando em um ou mais que serão utilizados na
produção do produto final.

Os reinos animal, vegetal e mineral formam quase tudo que existe hoje, e
são de extrema importância para o estudo e desenvolvimento de qualquer
projeto, não havendo uma escolha única de material. Serão assim apresentados
todos de forma ampla e com o objetivo de evidenciar as qualidades dos mesmos
perante as necessidades do público alvo, que será trabalhar com o tato, audição e
até mesmo olfato quando for possível, para tanto, os produtos a serem analisados
também serão os que mais se encaixam para a produção de joalheria para pessoas
com deficiência visual.

Materiais Naturais – Vegetal

Madeiras

Vantagens – A madeira (figura 10) é a mais utilizada pelo homem devido à


sua fácil obtenção e facilidade para o trabalho, embora sua interação na joalheria

49
ainda seja mais baixa que a dos metais. Tem grande diversidade, principalmente
no Brasil, é bom isolante térmico e possui diferentes tipos de cores desenhos, e
texturas. As madeiras maciças possuem superfícies mutáveis, podendo sofrer
texturização, assim como sua forma. Possui veios que se apresentam como
desenhos.

Desvantagens - Em alguns casos possui geometria limitada, é um material


combustível e sem tratamento, pode ser sensível a umidade, fungos e bactérias.
Algumas madeiras podem ser muito leves, (LIMA, 2006).

Figura 10: Colar em madeira trabalhada

Fonte: Machado (2014)

Sementes

Vantagens – As sementes (figura 11), assim como a madeira, são muito


utilizadas devido a sua fácil obtenção, grande variedade de cores, formas,
tamanhos, cheiros e texturas. Sua dimensão e peso são dependentes do tipo de
semente que se trata.

50
Desvantagens - Embora muito utilizadas na joalheria contemporânea, tem
forma pouco mutável devido a seu pouco tamanho, também, por vezes, pode ser
muito frágil.

Figura 11: Colar de sementes

Foto: Alberto César Araújo/Amreal. Fonte: Brasil (2015)

Fibras de algodão

Vantagens - Tem grande participação na indústria têxtil, é agradável ao


toque e muito leve, é branco e pode ser tingido com facilidade, assim como pode
adquirir cheiros devido aos produtos químicos com que é associado.

Desvantagens – A fibra de algodão (figura 12) por ter uma alta capacidade
de absorção o que pode manchar com facilidade, pode desfiar dependendo de
como foi entrelaçada (FASHION BUBBLE, 2008)

51
Figura 12: Colar em tecido

Fonte: Busko (2015)

Látex

Vantagens - conhecido como borracha natural, o látex (figura 13), é obtido


através de seringueiras e muito moldável.
Desvantagens - Precisa de outros materiais mais baratos para que sua
resistência seja maior (LORENA [2006 – 2016]).

Figura 13: Pulseira em Borracha

Fonte: Redação infojoia (2012)

52
Materiais Naturais – Minerais

São recursos encontrados no subsolo, que servem como matéria prima


para muitos bens de consumo. Esses recursos são divididos em 3 grandes grupos,
os de minerais metálicos, minerais não metálicos e recursos energéticos fósseis.

Minerais metálicos

Possui em sua composição elementos físicos e químicos de metal (figura


14), o que possibilita uma razoável condução de calor, como exemplo, o ferro,
alumínio e cobre. Esse grupo se subdivide entre metais nobres e não nobres para a
joalheria, sendo nobres aqueles que não oxidam (FREITAS, 2016).

Vantagens - Todos os metais têm elevada dureza, grande resistência a


tração e compensação, elevada plasticidade, podem sofrer texturização e são
bons condutores térmicos.

Desvantagens - nobres tendem a ter um preço elevado e os não nobres


tendem a ser muito alérgicos e perderem seu brilho e cor pela oxidação.

Figura 14: colar em metal


Fonte: Passos (2015)

53
Minerais não Metálicos

Vantagens –Minerais não metálicos (figura 15) não possui metais em sua
composição, como exemplo tem-se as gemas, areia e calcário. As gemas são os
minerais não metálicos mais utilizados na joalheria devido ao sua grande beleza e
dureza, possuem brilho característico e as vezes têm aspecto áspero e irregular,
entretanto, após lapida-las tornam-se muito atrativas.

Desvantagens - As gemas adquiriram um grande valor financeiro, e, por


sua dureza, requerem técnicas específicas para que sejam moldadas
adequadamente (GÜTTLER, 2002).

Figura 15: Gemas

Fonte: Passos (2012)

54
Materiais Naturais – Animal

Seda

Vantagens - Produzida pelo bicho da seda, o material (figura 16) tem um


brilho e toque próprio e exclusivos. Seus filamentos são um dos mais finos que se
têm na natureza, possuindo fibras bem resistentes e de alta absorção de umidade.

Desvantagens- Tem uma produção mais “baixa” e delicada, o que acaba


por encarecer o produto (FASHION BUBBLES, 2008).

Figura 16: Colar de seda


Fonte: Mariana (2009)

Pérola

Vantagens – Cada pérola (Figura 17) tamanho único, formas ovais não
regulares, cores variantes, possui muito brilho e pode ser mais resistente do que
aparenta.

Desvantagens – Preço elevado, escassez do material, precisam de cuidado


especial por ser um material orgânico.

55
Figura 17: Coco Chanel com seu colar de pérolas

Fonte: Etiqueta única (2016)

Couro

Vantagens – O couro (Figura 18) possui grande maleabilidade, é elástico e


flexível, resistente à tração e atrito, logo, possui uma grande maleabilidade na
forma. Possui variações tão boas quanto ao couro original, mantendo muitas de
suas características, como é o caso do couro sintético e couro de fibra de abacaxi
ou coco (COBRASIL [1986-2016]).

Desvantagens- O couro animal pode apresentar pequenos sinais que são


característicos como cicatrizes, rugas, porosidade, diferença de cores, porém seu
consumo é proibido e pode ser substituído por variações.

Figura 18: Colar com tiras de


couro
Fonte:Silva (2011)

56
3.1.2- MATERIAIS SINTÉTICOS

Os materiais sintético (Figura 19) não são encontrados na natureza, são


produzidos pelo homem para suprir alguma necessidade, como exemplo tem-se os
polímeros (SOUZA, 2016)

Vantagens – Peso consideravelmente baixo, fácil manuseio, não possui


limitação de tamanho, alta maleabilidade e resistência, passível de ser moldado,
suporta corte a laser e texturização e grande variedade de cores. Desvantagens –
Demoram muito tempo para se degradarem no meio ambiente. Há a dificuldade
de serem consertados quando quebrados (e se quebram ou danificam com
relativa facilidade).

Figura 19: Colar de acrílico

Foto: Bernardo Peconick Fonte: Zandanna (2013)

3.2.-JOIAS VOLTADAS PARA PESSOAS COM DEFICÊNCIA VISUAL

Foi realizada uma análise com produtos disponíveis na internet que se auto
intitulam voltados para o público deficiente visual. Esses acessórios foram
encontrados em sites diversificados e contam com certa variedade de produtos,
onde foram analisados aspectos ergonômicos, funcionais e estéticos, que foram
dispostos em forma de tabela.
57
3.2.1- TABELA DE ANÁLISE DE JOIAS VOLTADAS PARA O
PÚBLICO COM DEFICIÊNCIA VISUAL

Figura 20: pingente redondo em braile Figura 21: Pingente retangular em braile

Pontos Positivos Pontos Negativos


Ergonomia: Braille com semiesferas. Ergonomia: Por não possuir o objeto, não
foi possível uma análise coerente desse
Funcionalidade: Boa leitura da escrita, termo.
semi esferas, peças lisas
Funcionalidade: Gancho pequeno,
Estética: Peças lisas e aplicação de braille. facilidade de enroscar fios, podem
entortar com facilidade.

Estética: Peças sem finalização.

Fonte: Flores (2012) Fonte: Swan; Swan (2016)

58
Figura 22: Anél em braile furado Figura 23: pingente em braile furado

Pontos Positivos Pontos Negativos


Ergonomia: Cantos arredondados Ergonomia: Por não possuir o objeto, não
foi possível uma análise coerente desse
Funcionalidade: Boa leitura da escrita, termo.
semi esferas, peças lisas
Funcionalidade: Acúmulo de sujeiras no
Estética: Peças lisas e inscrição em braille baixo relevo, dificuldade para a leitura

Estética: Braille em baixo relevo,


dificuldade para senti-lo
Fonte: Qandle (2016) Fonte: Leigh (2012)

Figura 24: Pingente tromba de ganesha

Pontos Positivos Pontos Negativos


Ergonomia: Bordas arredondadas, Braille Ergonomia: Por não possuir o objeto, não
com semiesferas. foi possível uma análise coerente desse
termo.
Funcionalidade: Boa leitura da escrita,
semi esferas, peças lisas Funcionalidade: Dificil acesso ao gancho,
ponta que possibilita a roupa enroscar.
Estética: Peça com diferentes texturas e
inscrição em braille. Estética:

Fonte: Orra (2015)

59
Figura 25: Pulseira em braile com alto relevo

Pontos Positivos Pontos Negativos


Ergonomia: Braille com semiesferas. Ergonomia: Bordas vivas, não flexível.

Funcionalidade: Boa leitura da escrita, Funcionalidade: Não flexibilidade da


semiesferas, peça lisa. forma.

Estética: Peça lisa e inscrição em braille. Estética: Falta de texturas distintas.


Fonte: Mlung

Figura 26: Anel com braile em alto relevo

Pontos Positivos Pontos Negativos


Ergonomia: Esferas soldadas, incômodo
Ergonomia: com as esferas em contato com outro
dedo. esferas desagradável ao toque.
Funcionalidade: Boa leitura da escrita.
Funcionalidade: Pode enroscar em fios,

Estética: Inscrição em braille. Estética: falta de acabamento


Acabamento nas bordas

Fonte: Gadaleta [2010-2016].

60
Figura 27: Anel com pedras em braile

Pontos Positivos Pontos Negativos


Ergonomia: Bordas arredondadas, pedras Ergonomia: Por não possuir o objeto, não
cravadas no metal. foi possível uma análise coerente desse
termo. Dificuldade para a leitura.
Funcionalidade: Não enrosca fios.
Funcionalidade: :
Estética: Inscrição em braille, texturas
distintas. Estética:
Fonte:
Figura 28: Anel e broche com inscrição em braile

Pontos Positivos Pontos Negativos


Ergonomia: Peça muito grande para as
Ergonomia: cantos ligeiramente mãos
arredondados
Funcionalidade: A joia pode limitar o
Funcionalidade: Boa leitura da escrita. movimento dos outros dedos

Estética: peça muito grande para as mãos


Estética: braille legível, bom acabamento

Fonte: Portal joia Br (2009)

61
Figura 29: Anel que informa obstáculos.

Pontos Positivos Pontos Negativos


Ergonomia: Peso da peça Ergonomia: Por não possuir o objeto, não
foi possível uma análise coerente desse
Funcionalidade: Avisar o deficiente sobre termo.
possíveis obstáculos
Funcionalidade: Pode haver ruidos na
Estética: transmissão do audio

Estética:
Fonte: Leite (2016)

Resultados e Discussão da Análise

É possível notar, por meio dos acessórios acima analisados, que os


produtos voltados para o público portador de deficiência visual têm pouca
diferença quanto a estética, sendo esses adornos que contêm inscrições em braile
e poucos outros detalhes que o deficiente visual possa perceber por meio do tato.

Outros produtos que também estão disponíveis no mercado são voltados


apenas para o lado funcional, deixando o estético completamente de lado, como
se o mesmo não fosse apreciado pelo consumidor com deficiência visual.

O braile foi um código criado para que deficientes visuais tivessem acesso
à leitura e alfabetização, porém, hoje, ao colocá-lo em acessórios, o mesmo pode
ser uma forma de identificar as pessoas com deficiência visual das demais. Logo,
percebe-se que o código pode não ser a única forma de inserir no mercado
produtos para não videntes, pois, esses possuem outras maneiras de sentirem-se
inclusos por meio de produtos, além do braile.
62
3.2.2- TABELA DE ANÁLISE DO USO DE BRINCOS

Sujeitos e Materiais

As analises ocorreram na cidade de Cianorte-PR com três voluntárias


videntes, que receberam o mesmo nível de informação sobre os brincos
analisados a os quesitos a serem completados. Todas as participantes ficaram
livres para colocarem os brincos da maneira que achassem mais adequada e
pontuassem os itens de acordo com suas percepções ao utilizar os adornos.

Para a análise foram utilizados 7 pares de brinco, 1 espelho e 1 notebook


onde as participantes puderam colocar as pontuações.

Procedimento e Resultados

Existem muitos tipos de brincos no mercado atual e para saber o melhor


tipo quanto a segurança, conforto e tamanho (Tabela x). Para isso foram
efetuados testes com pessoas videntes, visto o número extenso de peças, para
que pudessem afunilar o leque de peças para as melhores no ponto de vista acima
mencionado. Assim, cada quesito recebeu uma nota distinta, dependendo de sua
importância para o projeto e as voluntárias dariam a nota para cada problema
sendo que as notas mais próximas de 0 eram aquelas que não apresentavam
problemas no preceito, segundo as participantes, assim, ao final da pesquisa, foi
possível fazer uma média de valores e assim selecionar os brincos que se
mostraram mais eficientes para análise e teste com o público alvo. Para a análise
foram selecionados apenas os brincos considerados de mais fácil acesso no
mercado, pelo caráter mais abrangente.

Os quesitos analisados referem-se a algo de muita importância no ponto


de vista ergonômico e funcional para o trabalho com pessoas com deficiência
visual, assim tem-se os termos “abrir sem ser solicitados”, que refere-se ao fato do
brinco ter certa facilidade para abrir sozinho e acaba por cair da orelha da usuária;

63
“Enroscar” diz respeito a parte do fecho do brinco enroscar em roupas e ou cabelo
de quem está o utilizando; “Vestibilidade” refere-se ao quão fácil é o ato de
colocar o brinco, se a voluntária considerou difícil o ato de colocá-lo nas orelhas;
“Conforto”, trata-se do quão confortável é o tipo de fecho de brinco e “Tamanho”
diz respeito ao tamanho do fecho do brinco, se é grande demais para o conforto.

Figura 30

Fecho com pressão Abrir sem ser solicitado (0 a -10) -4 / -1/-1= -2

Enroscar (0 a -8) -3/ -2/-2= 2,3

Vestibilidade (0 a -6) -4/ -3/-3 = -3,3

Conforto (0 a -10) -5 / -6/-2= -4,3

Tamanho (0 a -8) -4 / -2/-3 = -3

Total -14,9
Fonte própria 2016
Figura 31 Abrir sem ser solicitado (0 a -10) -4/ 0 /-10 =
Brinco de pino -4,6
Enroscar (0 a -8) -3/ 0 /-3= -2
Vestibilidade (0 a -6) -2 / -2/-1= -1,6

Conforto (0 a -10) -4/ -7/-5= -4,6

Tamanho (0 a -8) -3/ -5/-4 =-4

Total= -16,8

Fonte própria 2016

Figura 32 Abrir sem ser solicitado (0 a -10) -7/ -6/-7= -


Fecho de encaixe 6,6
Enroscar (0 a -8) -3 / -4/0= -2,3

Vestibilidade (0 a -6) -2 /-6/-2= -3,3

Conforto (0 a -10) – 7/ 0/-2= -3

Tamanho (0 a -8) -3/ -1/-1 = -1,6

Total = -16,8
Fonte própria 2016

64
Figura 33
Fecho redondo por encaixe Abrir sem ser solicitado (0 a -10) -4/ -5/ -10=
-6,5
Enroscar (0 a -8) -3/-4/-1= -2,6

Vestibilidade (0 a -6) -6/-3/-1= -3,3


Conforto (0 a -10) -9/ -1/-1= -3,6
Tamanho (0 a -8) -8/ 0/0 =-2,6
Total = -18,6

Fonte própria 2016

Figura 34 Abrir sem ser solicitado (0 a -10) -8 / -9/0 = -


5,6
Brinco gancho com fecho
Enroscar (0 a -8) -3/ -6/ -7= -5,3

Vestibilidade (0 a -6) -2 / -5/-3 = -3,3

Conforto (0 a -10) -2/ -1/-2 = -1,6


Tamanho (0 a -8) -3 / 0/-8 = -3,6

Total = -19,4

Fonte própria 2016

Figura 35 Abrir sem ser solicitado (0 a -10) -5/ -7/-8 = -


Fecho encaixe borboleta 6,7

Enroscar (0 a -8) -6/ -5/ -7 = -6

Vestibilidade (0 a -6) -3/ -4/ -1 = -2,7

Conforto (0 a -10) -5/ -2/ -5 = -4

Tamanho (0 a -8) -4/ -1/ -1 =-2


Total = -21,4
Fonte própria 2016

65
Figura 36 Abrir sem ser solicitado (0 a -10) -5/ -4/0 = -3

Brinco argola com encaixe


Enroscar (0 a -8) -3 / -7/-8 = -6

Vestibilidade (0 a -6) -2 /-6/-5 = -4,3

Conforto (0 a -10) -3 / -4/-9 =-5,3

Tamanho (0 a -8) -3/ -5/-7= -5

Total= -23,6

Fonte própria 2016

Resultados e Discussão da Análise

Ao findar a análise, foi possível perceber quais modelos eram melhores


para o uso contínuo e quais eram considerados mais desagradáveis, assim, os
melhores modelos foram selecionados para serem apresentados aos usuários e os
mesmos pudessem fazer mais uma seleção e chegar a uma conclusão do melhor
modelo. As notas dadas para cada quesito, partiram de 3 voluntárias diferentes,
por conta disso, há certo conflito na pontuação, entretanto, foram passadas as
mesmas informações para todas, e as mesmas ficaram livres para pontuar
segundo sua experiência com o modelo.

3.2.3- TABELA DE ANÁLISE DO USO DE FECHOS

Sujeitos e Materiais

As análises ocorreram na cidade de Cianorte-PR com três voluntárias


videntes, que receberam o mesmo nível de informação sobre os fechos analisados
a os quesitos a serem completados. Todas as participantes ficaram livres para
colocarem as pulseiras da maneira que achassem mais adequada e pontuassem os
itens de acordo com suas percepções ao utilizar os adornos.

66
Para a análise foram utilizados 6 tipos de fechos distintos, 1 espelho e 1
notebook onde as participantes puderam colocar as pontuações.

Procedimento e Resultados

Para as análises do uso de fechos (Tabela x), foram selecionados os fechos de


mais fácil acesso no mercado, por seu caráter abrangente, e foram analisados
segundo sua segurança ao vestir, conforto e tamanho. Cada quesito da análise
recebeu uma nota distinta, dependendo de sua importância para o projeto e as
voluntárias dariam a nota para cada quesito sendo: as notas mais próximas de 0
eram aquelas que não apresentavam problemas no quesito segundo as
participantes, assim, ao final da pesquisa, foi possível fazer uma média de valores
e assim selecionar os fechos que se mostraram mais eficientes para análise e teste
com o público alvo.

Os quesitos analisados referem-se a algo de muita importância no ponto


de vista ergonômico e funcional para o trabalho com pessoas com deficiência
visual, assim tem-se os termos “abrir sem ser solicitados”, que refere-se ao fato do
fecho ter certa facilidade para abrir sozinho e acaba por cair; “Enroscar” diz
respeito ao fecho enroscar em roupas, cabelo e utensílios em geral de quem está o
utilizando; “Vestibilidade” refere-se ao quão fácil é o ato de colocar o fecho, se a
voluntária considerou difícil o ato de colocá-lo; “Conforto”, trata-se do quão
confortável é o tipo de fecho de brinco e “Tamanho” diz respeito ao tamanho do
fecho, se é grande demais para o conforto e estética.

67
Figura 37

Fecho lagosta Abrir sem ser solicitado (0 a -10) 0 / -1/-2 = -


1
Enroscar (0 a -8) -2 / 0/-6 = -2,6
Vestibilidade (0 a -6) 0/ -2/-4 = -2

Conforto (0 a -10) -1 / 0/-2 = -1

Tamanho (0 a -8) -3/ -4/-2 = -3

Total = -9,6

Fonte própria 2016


Figura 38
Abrir sem ser solicitado (0 a -10) 0/ -7/0 = -
Fecho Bóia 2,3
Enroscar (0 a -8) -3 / -5/-6 = -4,6

Vestibilidade (0 a -6) -1 / -3/-4 = -2,6


Conforto (0 a -10) 0/ -1/-2 = -1
Tamanho (0 a -8) -2/ - 4/-2 = -2,6
Total = -13,1

Fonte própria 2016

Figura 39 Abrir sem ser solicitado (0 a -10) -7/ -5/-7 = -


Fecho com Imã 6,3
Enroscar (0 a -8) -3/ -2/0 = -1,6

Vestibilidade (0 a -6) -3/ - 1/0 = -1,3

Conforto (0 a -10) -3/-1/0 = -1,6

Tamanho (0 a -8) -5/ -1/-2 = -2,6

Total =-13,4

Fonte própria 2016

68
Figura 40 Abrir sem ser solicitado (0 a -10) -5 / -1/-2 =
Fecho com imã e encaixe -2,6
Enroscar (0 a -8) -3/ 0/-2 = -1,6

Vestibilidade (0 a -6) -3/ -2/-1 = -2

Conforto (0 a -10) -4/ -2/-3 = -3

Tamanho (0 a -8) -3/ -5/8 = -5,3

Total = -14,5

Fonte própria 2016

Figura 41 Abrir sem ser solicitado (0 a -10) -3 / -4 /-1 =


Fecho de encaixe quadrado -2,6
Enroscar (0 a -8) -1 / -5 /-6 = -4

Vestibilidade (0 a -6) -2 / -5 /-5 = -4

Conforto (0 a -10) -3 / -6 / -2 = -3,6

Tamanho (0 a -8) -2 /-3/-2 = -2,3

Total = -16,5

Fonte própria 2016

Figura 42 Abrir sem ser solicitado (0 a -10) -5/ - 6/-5 = -


Fecho tipo “T” 5,3
Enroscar (0 a -8) -3/ -5/-6 = -4,6

Vestibilidade (0 a -6) -2/ -2/-6 = -3,3

Conforto (0 a -10) -4/ -2/-2 = -2,6

Tamanho (0 a -8) -3/ -4/-2 = -3

Total = -18,8

Fonte própria 2016

69
RESULTADOS E DISCUSSÃO DA ANÁLISE

Com o fim da análise, foi possível notar quais modelos eram mais eficazes,
analisá-los melhor para a produção de alternativas e separá-los para o teste com o
público alvo. Mais uma vez notou-se certa diferença nas notas atribuídas a cada
quesito, entretanto isso ocorreu por tratar-se de 3 voluntarias distintas, que
mesmo tendo recebido as mesmas informações, lideram de diferentes formas com
os fechos apresentados.

70
71
4- CONCLUSÃO PARCIAL

Ao finalizar a pesquisa a respeito da interação da pessoa com deficiência


visual e a joalheria, é possível notar que há a necessidade de um produto que
envolva uma estética que priorize o tato, assim como mais estudos acerca do
mesmo. Há alguns produtos voltados para o público, entretanto, têm como
solução simples, o acréscimo de braile, o que por si só não é o suficiente para
instigar a análise pelo tato do indivíduo.

Embora a deficiência visual atinja quase 20% da população brasileira, essa


grande porção de pessoas ainda é excluída e rotulada como incapaz para a
resolução de muitas atividades tidas como comum para os videntes, pela simples
falta de empatia de projetistas e empresas com o público com deficiência visual.
Assim, a joalheria mostra-se um bom campo para o começo da explorar, pois a joia
é um objeto de grande importância pessoal, e que é carregada junto ao corpo,
mostrando, muitas vezes, quem o indivíduo realmente é, além de carregar
lembranças e valores simbólicos adquiridos pelo tempo, logo, necessita que seja
algo que a pessoa escolha por si só, algo que mais a complete e agrade como um
todo.

4.1- REQUISITOS

Ao concluir a pesquisa teórica e de campo, surgiram alguns requisitos


projetais para a elaboração de uma joia que atenda pessoas com deficiência visual
e seus “termos” de estética.
 Readaptação de tipos de fecho a fim de eliminar ou diminuir a possibilidade de
abertura não solicitada e incômodo.
 Readaptação de tipos de brincos a fim de eliminar ou diminuir a possibilidade
de abertura não solicitada e incômodo.
 Oferecer texturas perceptíveis ao toque como diferenças de relevo e vincos
 Utilizar cores “tradicionais” como prata e dourado

72
 Atentar às tarraxas dos brincos, pois nelas estão muitos dos problemas com
esse acessório.

73
74
5- PROJETO

5.1- CONCLUSÃO PARCIAL DO PROJETO

A partir da realização de análises dos itens citados anteriormente, foi


possível estabelecer um ponto de partida para a criação do produto. Desse modo,
constatou-se a necessidade de melhoria de fechos e brincos, quanto ao sistema de
funcionalidade, visto que os mesmos eram pouco eficazes quanto a vestibilidade,
mais precisamente referente a probabilidade de cair e não transmitir segurança
aos usuários. Também foi possível notar a necessidade de formas acessíveis, as
quais o público possa sentir e diferenciar. Esta obrigatoriedade tornou-se clara
quando, no teste com a usuária, foi apresentado, para teste, um brinco que
continha um pingente de coruja cravejado. Devido à ausência de formas que
pudessem ser diferentes umas das outras, a usuária não conseguiu identificar seu
formato, o que, de certa maneira, foi frustrante, pois ao comentar com a mesma
sobre qual forma teria o brinco, ela se mostrou entusiasmada, acrescentando ser
uma admiradora do referido formato.

5.2.1- PRIMEIRA GERAÇÃO DE ALTERNATIVAS

Seguindo os requisitos e o que foi analisado nas pesquisas com usuários,


foram geradas as primeiras alternativas, feitas através do Brainstorming, sendo
que, a primeira solução que desejava obter era a forma dos pingentes. Assim,
temos a figura 43 que mostra esse Brainstorming de formas.

75
Figura 43. Alternativas de formas 01.

Fonte: Própria (2016).

Após as análises dessas formas, foram escolhidas as mais pertinentes e


reproduzidas em EVA, visto parecer a maneira mais fácil de demonstrar vincos e
relevos. Após essa reprodução, as formas foram analisadas pelo grupo de
pesquisa e pode-se notar que os relevos eram mais agradáveis ao toque do que
vincos. Com mais esta informação coletada, foi feita mais uma rodada de
Brainstorming de formas com relevos, onde os seguintes resultados foram
obtidos (Figura 44):

76
Figura 44. Geração de alternativas –
forma 02. Fonte: Própria (2016).

5.2.2. SEGUNDA GERAÇÃO DE ALTERNATIVAS

Com as formas parcialmente resolvidas, deu-se continuidade ao projeto,


sendo então focado para fechos e brincos, e a resolução do problema funcional.

Com a análise de fechos e brincos pronta, foi possível perceber quais


“formas” mais agradavam e quais eram as piores. Deste modo, pensando na
funcionalidade dos modelos que poderiam ser mais pertinentes aos
pesquisadores, verificou-se a necessidade de uma forma que pudesse reunir dois
modelos de brincos, visto que, ao “uni-los”, haveria compensação de itens que
faltassem reciprocamente. Assim chegou-se a forma da figura 45.

77
Figura 45. Fecho de preção com encaixe
Fonte: Própria (2016).

Foi levado em consideração o modelo proposto e, então, realizado um


estudo volumétrico do mesmo, de modo que o teste de sua funcionalidade
pudesse ser testado (figura 46).

Figura 46. Fecho desenvolvido


modelo 01. Fonte:Própria
(2016).

5.2.3. TERCEIRA GERAÇÃO DE ALTERNATIVAS

A terceira geração de alternativas ocorreu para que os fechos pudessem


ser resolvidos. Assim, foi analisado um estudo acerca dos mesmos e foi possível

78
notar que o melhor avaliado foi o mais comum no mercado. Logo, acredita-se que
esse resultado seja por conta do costume de utilizá-lo e não por que ele seja
efetivamente bom, pois ainda ouve-se reclamações sobre o mesmo, assim, foi
pensado em alternativas que unissem os fechos melhores avaliados afim de uma
solução para os problemas dos itens existentes (figura 47).

Figura 47. Fechos de pulseira.


Fonte: Própria (2016).

Ao analisar melhor as formas propostas, pode-se perceber que o modelo 2


seria um dos mais eficazes, por possuir um gancho e trava. Logo, foi possível notar
a semelhança do mesmo com o modelo proposto de brinco, assim, por meio de
uma experiência o brinco foi colocado em uma pulseira para ver a eficácia (figura
48).

Figura 48. Brinco aplicado a pulseira. Fonte:


Própria (2016).

O modelo de brinco aplicado à corrente foi testado pela pesquisadora e


notou-se certa satisfação. Desse modo, o mesmo foi colocado para teste do
público alvo.
79
5. 3- PRIMEIRO TESTE COM USUÁRIO

Voluntário e Procedimentos

Após a elaboração de modelos volumétricos de formas, fechos e brincos, os


mesmos foram testados com usuários videntes, averiguando assim sua eficácia.
Estes usuários confirmaram serem realmente melhores as peças produzidas,
agradando-os. Entretanto, verificou-se que os protótipos poderiam apresentar
mudanças em sua constituição. Assim, foram separados os melhores modelos (na
opinião dos usuários videntes), para que o teste com o não vidente fosse menos
extenso e pudesse ser mais revelador sobre os modelos propostos pelos
pesquisadores. Novamente realizou-se uma abordagem não estruturada com a
voluntária 1, onde ela pode ter em mãos todos os modelos propostos e os modelos
existentes no mercado que foram melhores avaliados pelos videntes.

A abordagem aconteceu no dia 12/12/2016, na Universidade Estadual de


Maringá, local onde a voluntária estuda, e foi gravada por meio de áudio
autorizado pela mesma. Foram apresentados a participante os brincos que foram
considerados os melhores do ponto de vista de segurança (para não cair),
conforto e vestibilidade. Desse modo, a participante pode manuseá-los e relatar o
que achava dos acessórios, sem interferência da pesquisadora, que apenas
solicitou a voluntária que descrevesse quais brincos e fechos mais a agradaram, e
o porquê.

Resultado e Discussão do Teste com Brincos

Durante o teste foi possível perceber que a participante não sentiu


dificuldades para colocar os brincos (Figura 49), mesmo aqueles que nunca tinha
manuseado. Entretanto, demonstrou receio de puxá-los para abrir e quebrá-los,
mas ao saber que eram resistentes o suficiente, a mesma conseguiu coloca-los
sem maiores dificuldades. Os modelos 01 e 02 foram os que a participante menos

80
gostou, por dizer que faltava certa segurança para abrir e fechar, e acreditar que
os mesmos ficariam “frouxos” com o uso. Os modelos 03 e 04 foram os que mais a
agradaram pois, segundo a mesma, eles passavam segurança ao fechar. Ela sentia,
através do tato, que os mesmos estavam bem fechados, e possibilitavam-lhe um
feedback sonoro.

Figura 49. Modelos


de brincos. Fonte:
Própria (2016).

O modelo 04 foi criado pela própria pesquisadora e apresentou bons


resultados com os usuários. No entanto, a voluntária fez uma ressalva sobre a
pressão existente no brinco quando fechado, que o tornava difícil de abrir. Esta
ressalva, pode ser facilmente corrigida.

Ainda sobre brincos, quando questionada sobre a preferência da


participante sobre algum tipo de brinco em específico, a mesma deixou claro que
não se importa com a maneira de colocá-lo, visto que a escolha que faz dos brincos
é baseada na estética que ele proporciona para ela. A usuária, no entanto,
mostrou descontentamento com relação a brincos de pinos e o fato de perder a
tarraxa com frequência, fato de grande importância e chateação.

81
Resultados e Discussão da Análise de Fechos

Na abordagem com a voluntária foram apresentados a ela, também, dois


modelos de fechos para pulseira (figura 50). Esses modelos consistiam no fecho
melhor avaliado pelas usuárias videntes e o modelo proposto pelos
pesquisadores. Assim, a usuária não vidente pode utilizar os dois modelos e dizer
qual mais a agradava. Enquanto a voluntária testava os modelos, o de número 01
mostrou-se melhor para vestir, por ser de ímã. Contudo, ele abriu com muita
facilidade pelo mesmo motivo, fato que levou a participante a evidência de que o
mesmo era pouco seguro. Quanto ao modelo 02 a participante disse ser melhor
tanto com relação ao que foi anteriormente testado quanto os existentes no
mercado atual, por ser em gancho.

Figura 50. Fechos para pulseira.


Fonte: Própria, (2016).

Resultado e Discussão da Aálise de Forma

Ao final da abordagem, foram entregues à voluntária os modelos de


formas, representados em papel Paraná (Figura 51), para que a participante
pudesse identificar a eficácia do mesmo quanto a compreensão de forma e o

82
prazer do toque destas formas. A voluntária conseguiu perceber todas as nuances
das formas entregues a ela. Quando questionada sobre ter gostado das formas
e/ou ter preferência por alguma, a mesma disse ter gostado mais das formas 01 e
02, e disse que a diferença de texturas e relevo são um diferencial para o produto,
que permitem que ela consiga identificar a forma com maior facilidade, e isso a
faria comprar uma joia com mais facilidade e certeza.

Figura 51. Teste em Papel


Paraná. Fonte: Própria
(2016).

Ao final da entrevista com a usuária não vidente, foi possível realmente notar
a eficácia dos produtos desenvolvidos e acrescentar algumas pequenas
modificações estruturais nos brincos e fecho, visando o maior conforto dos
usuários, para a produção do modelo final.

Os testes de formas foram relevantes para entender a importância que as


usuárias dão a sentir a forma do produto. Desta maneira, vê-se que as formas
criadas são formas “conceituais”, que podem ser modificadas seguindo o padrão
do projeto, sem prejudicar sua eficácia. Logo, pode-se ter uma forma mais
figurativa seguindo os padrões de relevo e textura, sem que isso gere problemas
na compreensão, assim como é possível diminuir ou aumentar o tamanho das
mesmas.

83
84
6- COLEÇÃO DE JOIAS T-O-U-C-H

6.1- CONTEXTUALIZAÇÃO

A coleção de joias T-O-U-C-H apresenta-se como uma oportunidade de


explorar um mercado pouco conhecido e que recebe pouca atenção dos
designers, visto a falta de produtos para pessoas com deficiência visual. Visando
esse público, que representa quase 20% da sociedade brasileira, foi desenvolvida
uma pesquisa acerca da necessidade real do público, seu contato com joias e
estética. Assim foi possível desenvolver uma linha completa totalmente pensada
em pessoas com deficiência visual e o contato delas com os produtos, visando sair
do óbvio e trazer representatividade ao público.

6.2- APRESENTAÇÃO DA LINHA

A linha de joias T-O-U-C-H surge para levar representatividade e mais


autonomia ao público com deficiência visual. Como o nome diz, a linha valoriza o
tocar, o contato com o produto antes mesmo de vê-lo, e acredita que o sentir seja
mais importante que o ver.

A coleção T-O-U-C-H é composta por brincos, colar e pulseira, possuindo


um fecho especialmente desenvolvido para maior segurança do usuário, que
muitas vezes sofre com perda de brincos, pois os mesmos abriram e caíram, ou
com a dificuldade de se colocar uma pulseira de fecho convencional.

A forma do produto foi desenvolvida visando a compreensão da mesma


através do toque e levando em consideração os quesitos apontados pelas usuárias
para o desenvolvimento. Desse modo chegou-se ao padrão de alto-baixo relevo e
aço liso e escovado, todos em metal, podendo apenas variar as cores do mesmo.
As formas consistem em baixo relevo  Liso; Alto relevo  Escovado. Assim, a
pessoa com deficiência visual tem maior autonomia no ato de escolha da joia e

85
consegue senti-la com maior precisão devido a sua diferença de relevos e texturas
que ainda são agradáveis ao toque.

O Brinco e fechos desenvolvidos para a coleção contam com uma trava que
possibilita ao indivíduo não vidente perceber quando o mesmo foi totalmente
fechado e está seguro. A trava possui um feed back sonoro, que traz mais
segurança a seus usuários.

6.3-PROJETO DETALHADO

Para o desenvolvimento do produto final, fez-se necessário o desenho técnico


dos pingentes e fechos, assim, segue o projeto executivo detalhado da
coleção.

86
87
88
89
6.3.2- PROCESSOS DE FABRICAÇÃO

Com o produto final decidido, deu-se início a fase de produção dos


modelos, que aconteceu de formas separadas, sendo os produtos divididos em
dois processos de fabricação, um para os pingentes, que foram feitos na
fábrica de Limeira-SP através de fotocorrosão, e outro para os brincos e
fechos, que foram fabricados em uma joalheria de Maringá-PR, por processo
manual.

Para a produção dos pingentes escolheu-se uma fábrica de foto corrosão,


pelo material no qual o mesmo seria feito, bem como sua espessura e formas.
Assim, foi analisada a tabela de metais (tabela 1) e chegou-se à conclusão que
o latão seria o metal com melhor custo benefício para as peças em questão,
além de sua cor ser muito parecida com do ouro.

A produção de fechos e brincos deu-se por processo manual, por conta da


pequena quantidade que foi produzida e seu nível de detalhamento. O
material escolhido foi o ouro, por ser um dos metais mais hipoalérgicos e de
mais fácil produção.

90
DESGASTE:
Assim como o ouro, a prata é macia quando pura podendo
desgastar e amassar facilmente. Por esta razão geralmente são
feitas ligas com cobre que garantem maior durabilidade¹.
OXIDAÇÃO:
Oxida formando manchas de sulfureto de prata (Ag2S) quando
exposta ao ar contendo enxofre¹.
P
TOXIDADE:
R
Baixa toxicidade³.
A
T POTENCIAL DE PERDER O BRILHO:
A Muito brilhante a princípio, possui facilidade para corrosão, o que
forma uma camada sobre o metal que o faz perder o brilho e
manchar¹.
POTENCIAL ALERGÊNICO:
A prata não causa alergias, sendo que as ligas mais ricas em cobre
podem ser alergênica².
VALOR:
Mais acessível do que Ouro ou Platina¹.

DESGASTE:
Não é tão durável quanto outros metais5
OXIDAÇÃO:
Resistente à corrosão4
A
L TOXIDADE:
U Atóxico³.
M POTENCIAL DE PERDER O BRILHO:
Í Não mancha, mas escurece com o tempo5.
N
I POTENCIAL ALERGÊNICO:
O Pouco alergênico, uma vez que dificilmente é absorvido pela pele².
VALOR:
Mais barato que o aço inox5

¹ CLARK, Donald. Jewelry Metals 101: Most Commonly Used Jewelry Metals, [1998-2016].
² WOUDENBERD, Cara. Metals Safety Information, [1999-2017].
³ GOYER, R. A. Toxic Effects of Metals. In: KLAASSEN, C.D. (Ed.). Casarett & Doull’s toxicology:
The basic science of poisons, New York: McGraw Hill, 1996. p. 691-736.
4
_____. Metals in Jelewry Making.
5
BLAY, Pearl. Can Aluminum Be Used for Wire Wrapped Jewelry?, 2012.

91
DESGASTE:
Quando puro, amassa e desgasta facilmente. No entanto, as ligas
com outros metais como cobre ou prata garantem maior
durabilidade¹.
O OXIDAÇÃO:
U Não oxida nem reduz¹.
R TOXIDADE:
O Atóxico³.
POTENCIAL DE PERDER O BRILHO:
Não Mancha¹.
POTENCIAL ALERGÊNICO:
O ouro não causa alergia, mas suas ligas podem ser alergênicas por
conta do metal ao qual o ouro é misturado¹.
VALOR:
Metal caro¹

DESGASTE:
É o mais durável dos metais6
OXIDAÇÃO:
T Não oxida4
I TOXIDADE:
T Baixa toxicidade³.
 POTENCIAL DE PERDER O BRILHO:
N Parecido com a platina em sua resistência a manchas4
I POTENCIAL ALERGÊNICO:
O Usado até mesmo em implantes por não ser alergênico².
VALOR:
É um metal caro, porém mais barato que ouro ou platina7

DESGASTE:
Altamente durável¹.
OXIDAÇÃO:
P Nunca oxida, sendo até mesmo usado como padrão de peso¹.
L TOXIDADE:
A Usada até mesmo em implantes, por isso tem baixa toxicidade
T POTENCIAL DE PERDER O BRILHO:
I Não mancha, e não perde seu brilho¹.
N POTENCIAL ALERGÊNICO:
A Pouco alergênico, porem há relatos de causar dermatites².
VALOR:
Mais raro e caro dos metais nobres¹.

¹ CLARK, Donald. Jewelry Metals 101: Most Commonly Used Jewelry Metals, [1998-2016].
² WOUDENBERD, Cara. Metals Safety Information, [1999-2017].
³ GOYER, R. A. Toxic Effects of Metals. In: KLAASSEN, C.D. (Ed.). Casarett & Doull’s toxicology:
The basic science of poisons, New York: McGraw Hill, 1996. p. 691-736.
4
_____. Metals in Jelewry Making.
7
MILLER-WILSON, Kate. Metals Used in Jewelry, [2009-2012]

92
DESGASTE:
Altamente durável¹.
A OXIDAÇÃO:
Ç Enferruja com menor facilidade que o ouro e prata6
O TOXIDADE:
Atóxico³
I POTENCIAL DE PERDER O BRILHO:
N Não mancha6
O POTENCIAL ALERGÊNICO:
X Pode ser feito sem adição de níquel, sendo não alergênico6.
VALOR:
É mais barato que a prata, mas dependendo do trabalho para
conformar a peça, pode ser mais caro que a mesma6.

DESGASTE:
Durável7
OXIDAÇÃO:
O latão oxida se não for revestido com verniz4
TOXIDADE:
L O latão atual, sem adição de chumbo, é atóxico7
A POTENCIAL DE PERDER O BRILHO:
T A cor do latão muda com o tempo, embora manchas possam
à ser prevenidas com a passagem de óleo4
O POTENCIAL ALERGÊNICO:
Por usar níquel em sua formulação, pode ser alergênico a
alguns consumidores4
VALOR:
Baixo custo4

¹ CLARK, Donald. Jewelry Metals 101: Most Commonly Used Jewelry Metals, [1998-2016].
³ GOYER, R. A. Toxic Effects of Metals. In: KLAASSEN, C.D. (Ed.). Casarett & Doull’s toxicology:
The basic science of poisons, New York: McGraw Hill, 1996. p. 691-736.
4
_____. Metals in Jelewry Making.
6 ___.A guide to metals used in Jelewry.
7
MILLER-WILSON, Kate. Metals Used in Jewelry, [2009-2012].

93
6.3.4- MODELOS FINALIZADOS

Para uma melhor compreensão da utilidade e proporção dos produtos, foi feito
um esboço de como os mesmos ficariam no corpo de seu usuário (Figura 52).
Essa figura foi feita a partir de modelos em Rhinoceros, que foram
renderizados por Keyshot.

Figura 52. Rendering


do produto. Fonte:
Própria (2016).

94
95
7- TESTE FINAL COM USUÁRIOS

Voluntária, Materiais e Procedimentos

O teste final, com a coleção já desenvolvida, ocorreu na Universidade Estadual de


Maringá, em Maringá-PR, com a voluntária 1 deste trabalho. Esta voluntária,
tendo acompanhado as demais etapas do projeto, foi mais uma vez participante
dos testes com o produto, avaliando, neste último processo, a estética do produto,
seguindo o ponto de vista de uma pessoa não visual, e sua eficácia, quando
comparado a produtos comuns no mercado atual.

Resultado e discussão

Ao analisar o brinco segundo a estética do mesmo, a voluntária disse ter


gostado do fato de ser geométrico e simétrico, além de conseguir sentir
perfeitamente sua forma e textura por conta do alto/baixo relevo (Figura 53); a
voluntária ainda disse ter ficado satisfeita com o fecho do brinco, dizendo que
ficou realmente mais seguro que os convencionais e que o mesmo era facilmente
colocado na orelha.

Figura 53. Brinco sendo analisado. Fonte:


Própria (2017).

O segundo utensílio analisado pela participante foi a pulseira (Figura 54),


com relação a esta peça a voluntária disse mais uma vez ter gostado da forma.
Entretanto não a agradou inteiramente o fecho utilizado, devido ao fato de ser

96
diferente do convencional e algo a se colocar com apenas uma das mãos. Ainda
evidenciou que se não tiver ajuda de outrem para avisá-la quando o mesmo
estiver encaixado na pulseira, ela perderia ainda mais tempo para colocá-lo. Desta
forma, os fechos convencionais seriam melhores por já estar habituada e colocá-
los quase que automaticamente. Notou-se que uma possível solução para que a
maior dificuldade da usuária, ao utilizar a pulseira, fosse sanada, seria a
diminuição do tamanho do fecho.

Figura 54. Pulseira sendo


analisada. Fonte: própria(2017).

O último item analisado pela usuária foi o colar (Figura 55), o qual foi
considerado com uma estética agradável e boa funcionalidade; ao contrário da
pulseira, mesmo possuindo o mesmo fecho, a voluntária considerou o fecho do
colar mais satisfatório do que os que estão no mercado atualmente, por ser mais
fácil de prendê-lo.

Figura 55. Colar sendo analisado. Fonte: Própria (2016).

97
98
8- CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento do projeto se deu a partir da percepção de que os


produtos existentes no mercado atual são pouco voltados para pessoas com
deficiência visual, mesmo essa parcela de mercado atingindo 18,8% da população.
Assim, é possível notar a pouca importância que os designers dão a este público;
Dentre muitos motivos, destacando-se primordialmente o fato de não possuírem
visão, muitos desenvolvedores de produtos acreditam que esse público não tem
conceitos e percepções de estética próprios, apresentando como única forma de
acessibilidade e interesse desta parcela de mercado elementos que utilizem o
braile, considerando que apenas isso irá suprir a carência de produtos para os
mesmos.

Para entender melhor a deficiência visual, suas limitações e diversidades, fez-


se necessária uma pesquisa teórica e de campo, na qual se pode constatar a real
importância deste projeto: mais do que uma joia para pessoas com essa
deficiência, pode se considerar que a execução deste trabalho surge como uma
possibilidade de conferir autonomia e de exibir ainda mais esses consumidores
que querem ser vistos além de suas limitações.

A escolhe de joalheria neste projeto se deu devido ao seu contato com o


usuário, por ser algo que sempre carrega um significado a quem usa. Desta forma,
para o desenvolvimento deste trabalho foram feitas pesquisas acerca do que é
considerado uma joia e seu valor estético e simbólico para quem as usa.

Como todo produto com um bom design, foi necessária a realização de


uma pesquisa ergonômica, funcional e estética da joalheria, sendo a última uma
pesquisa mais profunda sobre o que é considerado estética para uma pessoa não
vidente, visto que o conceito de estética como é compreendido no senso comum ,
diz respeito a uma beleza que é vista. Assim, fez-se necessário, através deste
projeto, mostrar que a estética pode ir além disso, e confirmar este fato, trazendo
a “estética cega” que permanecia ofuscada aos olhos daqueles que enxergam.

99
Pautando-se na necessidade do público alvo quanto a joalheria e no que foi
pesquisado ao longo do trabalho, surge a coleção de joias T-O-U-C-H, que visa
atender as demandas do público e trazer à tona um pouco da realidade e
sensibilidade deles. A coleção é solidificada principalmente pela funcionalidade e
estética “cega”, tendo sido desenvolvido brinco e fechos que se adequassem
melhor as dificuldades apresentadas pelo público e uma estética que prioriza o
toque.
A coleção de joias desenvolvida neste trabalho visa atender uma parcela
do mercado pouco explorada e que necessita ser colocada em evidencia, visto a
luta contra o preconceito tão em voga nos dias de hoje. Esta parcela da população,
que há muito é deixada de lado por ser considerada de difícil acesso, têm se
mostrado grandes consumidores e apreciadores do novo, da moda, e beleza.

A linha de joias desenvolvida teve sua estética totalmente pensada na


compreensão da forma por parte dos usuários. Desse modo, surgiu o padrão Auto
relevo  Escovado, Baixo relevo Liso, podendo ainda agregar cores a eles, mas
sempre com a ideia de manter um padrão para a melhor compreensão da peça.

Acredita-se que a coleção, assim como outras joias, tenha um valor


emocional para quem as usa. Entretanto, diferente dos produtos existentes no
mercado, esta coleção pode mostrar-se como um ato de empoderamento das
pessoas com deficiência visual, as quais, por meio destas joias, podem começar a
ter seu “jeito de ver” o mundo apreciado e conhecido por todos.

Conclui-se, portanto, que todo o planejamento de design desenvolvido


neste projeto levou a construção de uma linha de joias satisfatória,
principalmente do ponto de vista estético. Suas funcionalidades ainda contem
certas lacunas a serem repensadas, principalmente se tratando do fecho para
pulseira, que ainda se mostrou complexo no ato de utiliza-lo e foi o modelo menos
satisfatório dentre os modelos propostos por este trabalho. No entanto,
aproxima-se um pouco mais de um produto ideal do ponto de vista funcional, e
pode ser um ponto de partida para novas pesquisas no campo.

100
101
REFERÊNCIA

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http://www.abergo.org.br/internas.php?pg=o_que_e_ergonomia > Acesso em 19
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107
APÊNDICES:

APÊNDICE A – ABORDAGEM POR EMAIL.

TCC de joias para deficientes visuais- duvidas


Luciane Maria Molina Barbosa <braillu@uol.com.br>
Para: Amanda Roque <roque.amandas@gmail.com>

Amanda,

Em primeiro lugar quero parabeniza-la pela escolha e relevância do tema de


pesquisa. Tente demonstrar que o "estético" e o "belo" não dependem
exclusivamente da visão. Temos outros canais de referência, nos quais as
percepções nos auxiliam atribuir significados aos objetos, pessoas,
sentimentos. São os nossos sentidos revestidos de simbolismo, sinestesia,
tudo isso em interação com o outro. A pessoa com deficiência visual, aos olhos
de quem está de fora dessa realidade, acaba sendo julgada mais por um
estereótipo: ou uma dependência exagerada ou o heroísmo exacerbado. Isso é
evidente, pois a capacidade de enxergar permite, ao ser humano ter acesso há
80% dos estímulos ao redor. A soberania da visão traz a falsa sensação de que
sem ela o mundo acontece no escuro.

É importante lembrar que quando falamos em deficiência visual, englobamos


dois grupos distintos, muito embora apresentem dificuldades comuns. São as
pessoas com cegueira, àquelas que enxergam desde projeção de luz até visão
totalmente nula; e as pessoas com baixa visão: àquelas que, mesmo com
correção, uso de óculos ou lentes, apresentam grande dificuldade de enxergar.

Sua pesquisa é relevante para os dois grupos, pois mesmo pessoas com baixa
visão podem ter uma percepção da estética e do belo diferente de quem
enxerga. E as pessoas cegas, por outro lado, acostumam a criar imagens
mentais daquilo que elas já possuem como referência simbólica, atribuindo
significados bem particulares.

Um exemplo básico do que estou tentando demonstrar:

Eu falo para você que comprei uma maçã. quando você lê essa frase,
automaticamente vem em sua mente a imagem de uma maçã. Isso é
simbolismo. Você já conhece uma maçã, já teve contato com várias maçãs e
foi buscar em seu repertório a imagem da fruta, mesmo que essa imagem não
seja idêntica a fruta que eu comprei. Você pode trazer o significado para a
maçã através da imagem de uma maçã já mordida, descascada, verde, madura
ou bem vermelhinha. Pode, inclusive, buscar em seu repertório de sensações,
108
o gosto da maçã, o aroma e a textura. Isso tudo em poucos segundos.

Repito: você só conseguirá essa façanha porque já teve contato com uma
maçã e seu cérebro guardou essa informação, atribuindo significado a ela. Ela
faz parte de um repertório imagético.

Agora pense: e para uma pessoa que nasceu cega e nunca viu uma maçã? Ela
não vai conseguir atribuir sentido nem significado imagético.
Mas se por acaso ela já tenha saboreado uma maçã, ela buscará as
referências gustativas. Se ela já tocou numa maçã, ela buscará as referências
táteis e assim por diante.

Tudo isso para demonstrar o quão importante é estimular e ampliar o repertório


da pessoa cega, sem privá-las das referências sensoriais.

Não é pelo fato que não posso me olhar no espelho, que vou abolir do meu
figurino os acessórios. A "estética" está no sentir-se bem e completa.

Você costuma comprar joias/ bijuterias/ semi joias? Se sim, como você as
escolhe?
R: Tenho o costume de comprar e usar esses produtos no dia-a-dia. A grande
dificuldade é que, em lojas, esses artigos são acondicionados em vitrines
fechadas, restringindo muito o poder de escolha do consumidor cego, que não
sabe quais as variedades disponíveis. Então, ou se perde muito tempo para
encontrar algo dentre tantos outros apresentados pelo vendedor, ou nos
dirigimos com uma ideia básica daquilo que estamos procurando. O
consumidor cego raramente é levado ao consumo pela estética de uma vitrine.
E sabemos que nem todos os vendedores estão dispostos a desmontar o leialt
de uma vitrine com suficiente habilidade de descrição detalhada dos produtos
contidos nela. Eu tenho algumas preferências. gosto de joias douradas, colares
ou gargantilhas com pingentes delicados, braceletes leves e finos. Prefiro
brincos não muito pequenos, dos tipo "grudadinhos na orelha", mas nem tão
grandes, nos formato de argola, borboleta, laço ou com pedrinhas penduradas,
sempre com algum detalhe ou de formato ou de pedraria. Também gosto de
anéis pequenos e delicados, com algum detalhe em pedraria de cores neutras.
Evito marrom e cores acobreadas. Escolho o acessório sempre levando em
conta algum detalhe que me agrade, mas principalmente percebo se ele é um
acessório confortável. estética também é conforto.

Acharia interessante escolher uma joia/bijuteria por serem agradáveis ao tato?


Isso seria um diferencial do produto, o tornaria mais interessante a você?
R: seria um dos diferenciais. Já descartei uma joia por ser áspera demais e já
adquiri outra por ter uma textura e simetria agradáveis. Aliás, simetria conta
muito para a minha decisão. Entretanto, além de ser agradável ao tato, o
acessório precisa ser confortável. Também já deixei de usar uma joia porque
seu desenho, mesmo que agradável ao tato, não era funcional, enroscava em
roupas e machucava as pessoas. Tenho uma joia que me agrada bastante e
desperta grande curiosidade nas pessoas. Trata-se de uma plaquinha, estilo
pingente de gargantilha com o meu nome escrito em Braile, com o relevo dos
109
pontinhos.

Onde você gostaria de usar esse produto agradável ao tato (me referindo a
parte do corpo) ?
R: Se o objetivo será criar uma joia com estética tátil, conforto e simetria para
pessoas com deficiência visual, sugiro um bracelete com inscrição em Braille.

Acho que são essas dúvidas que gostaria da sua ajuda para resolver, pois isso
dirá muito sobre como poderia fazer uma joia/bijuteria/ semi joia para deficiente
visual.

From: Amanda Roque


Sent: Tuesday, March 8, 2016 7:48 PM
To: braillu@uol.com.br
Subject: TCC de joias para deficientes visuais- duvidas

110
APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO QUANTITATIVO

111
24/07/2016 Questionário sobre a interação de pessoas com deficiência visual e a joalheria

Questionário sobre a interação de pessoas com
deficiência visual e a joalheria
O objetivo desta pesquisa é desenvolver joalheria voltada para pessoas com deficiência visual, que 
atenda suas principais necessidades. Sua participação é fundamental, por isso pedimos que seja sincero 
e responda a este simples questionário, onde serão abordadas perguntas sobre preferências pessoais 
quanto a joalheria. Sua participação é totalmente voluntária, podendo recusar­se a participar, ou mesmo 
desistir a qualquer momento sem que isto acarrete qualquer ônus ou prejuízo à sua pessoa. As 
informações cedidas são confidenciais, e, portanto, somente serão divulgadas no meio científico e 
acadêmico de forma anônima e global, com a sua identidade totalmente preservada. Caso você tenha 
mais dúvidas ou necessite maiores esclarecimentos, pode entrar em contato comigo, Amanda de Sousa 
Roque, pelo email: roque.amandas@gmail.com. 
Caso sintam dificuldades para responder o questionário, solicitem o mesmo pelos meios: facebook: 
https://www.facebook.com/amandinharoque
Email: roque.amandas@gmail.com
Telefone: (44) 9711­4241
Entrando em contato, tentarei repassar esse questionário da maneira mais adequada o possível. 

*Obrigatório

1. Declaro que fui devidamente esclarecido e concordo em participar voluntariamente da pesquisa
orientada pela Professora Doutora Cristina do Carmo Lucio Berrehil el Kattel, da Universidade
Estadual de Maringá. *
Marcar apenas uma oval.

 Sim, eu aceito participar
 Não, não aceito participar  Pare de preencher este formulário.

Questionário sobre a interação de pessoas com deficiência visual
e a joalheria
O objetivo desta pesquisa é desenvolver joalheria voltada para pessoas com deficiência visual, que atenda 
suas principais necessidades. Sua participação é fundamental, por isso pedimos que seja sincero e 
responda a este simples questionário, onde serão abordadas perguntas sobre preferências pessoais 
quanto a joalheria. Sua participação é totalmente voluntária, podendo recusar­se a participar, ou mesmo 
desistir a qualquer momento sem que isto acarrete qualquer ônus ou prejuízo à sua pessoa. As 
informações cedidas são confidenciais, e, portanto, somente serão divulgadas no meio científico e 
acadêmico de forma anônima e global, com a sua identidade totalmente preservada. Caso você tenha 
mais dúvidas ou necessite maiores esclarecimentos, pode entrar em contato comigo, Amanda de Sousa 

https://docs.google.com/forms/d/1ymVrKRQSM82MhPg4c7CGxeNV_3Sr­bIhhAqPuEtVkKk/edit?c=0&w=1 1/10
24/07/2016 Questionário sobre a interação de pessoas com deficiência visual e a joalheria

Roque, pelo email: roque.amandas@gmail.com. 
Caso sintam dificuldades para responder o questionário, solicitem o mesmo pelos meios: facebook: 
https://www.facebook.com/amandinharoque
Email: roque.amandas@gmail.com
Telefone: (44) 9711­4241
Entrando em contato, tentarei repassar esse questionário da maneira mais adequada o possível. 

2. Questão 1 ­ Idade ­ Resposta dissertativa *

3. Questão 2 ­ Gênero ­ Escolha uma alternativa *
Marcar apenas uma oval.

 Feminino
 Masculino
 Não binário

4. Questão 3 ­ Sobre sua deficiência visual: ­ Escolha uma alternativa *
Marcar apenas uma oval.

 Nasci cego
 Tenho baixa visão
 Enxergo somente luzes
 Nenhuma das alternativas

5. Questão 4 ­ Caso sua resposta para a pergunta
3 tenha sido nenhuma das alternativas, com
quantos anos se tornou cego? ­ Resposta
dissertativa

https://docs.google.com/forms/d/1ymVrKRQSM82MhPg4c7CGxeNV_3Sr­bIhhAqPuEtVkKk/edit?c=0&w=1 2/10
24/07/2016 Questionário sobre a interação de pessoas com deficiência visual e a joalheria

6. Questão 5 ­ Com que frequência utiliza jóias, ou adornos ou bijuterias? Incluindo Aliança,
escapulário e relógio. ­ Escolha uma alternativa *
Marcar apenas uma oval.

 Sempre
 Regularmente
 Pouco
 Não utilizo jóias, adornos ou bijuterias  Pare de preencher este formulário.

7. Questão 6 ­ Qual peça de adorno mais utiliza? ­ Escolha uma ou mais alternativas *
Marque todas que se aplicam.

 Aliança
 Anél
 Anél de falange
 Bracelete
 Brinco
 Colar
 Corrente
 Escapulário
 Gargantilha
 Maxi brinco
 Maxi colar
 Pulseira
 Relógio

 Outro: 

8. Questão 7 ­ Costuma utilizar peças diferentes para diferentes ocasiões, como: festas de
formatura, casamento, ir para a escola, faculdade, trabalho ou outros? ­ Escolha apenas uma
alternativa *
Marcar apenas uma oval.

 Sim
 Não

https://docs.google.com/forms/d/1ymVrKRQSM82MhPg4c7CGxeNV_3Sr­bIhhAqPuEtVkKk/edit?c=0&w=1 3/10
24/07/2016 Questionário sobre a interação de pessoas com deficiência visual e a joalheria

9. Questão 8 ­ Quais peças mais te agradam? ­ Escolha uma ou mais alternativas *
Muito interesse Interesse regular Pouco interesse Nenhum interesse
Marque todas que se aplicam.

 Aliança
 Anél
 Bracelete
 Brinco
 Colar
 Corrente
 Escapulário
 Gargantilha
 Maxi colar
 Maxi brinco
 Pulseira
 Relógio

 Outro: 

10. Questão 9 ­ Costuma escolher jóias, ou acessórios pelo tato? ­ Escolha apenas uma alternativa
*
Marcar apenas uma oval.

 Sim
 Não

11. Questão 10 ­ Qual seu nível de preferência por? ­ Escolha a alternativa referente ao seu nível de
interesse, cada linha tendo quatro alternativas *
Marcar apenas uma oval por linha.

Muito interesse Interesse regular Pouco interesse Nenhum interesse


formato do acessório
Peso do acessório
Tamanho do acessório
Textura do acessório

https://docs.google.com/forms/d/1ymVrKRQSM82MhPg4c7CGxeNV_3Sr­bIhhAqPuEtVkKk/edit?c=0&w=1 4/10
24/07/2016 Questionário sobre a interação de pessoas com deficiência visual e a joalheria

12. Questão 11 ­ Qual sua dificuldade para escolher os acessórios? ­ Resposta dissertativa não
Muito Interesse Pouco Nenhum
obrigatória
interesse regular interesse interesse
 

13. Questão 12 ­ O acessório para você é ? ­ Escolha uma ou mais alternativas
Marque todas que se aplicam.

 Estético: quando você compra o acessório sem gerar um vínculo emocional com o mesmo,
somente por sua aparência.
 Simbólico: onde você adquire um sentimento pelo acessório no momento da compra ou ao
ganha­lo.

14. Questão 13 ­ Qual seu nível de interesse com relação ao acessório: ­ Escolha a alternativa
referente ao seu nível de interesse, cada linha tendo quatro alternativas *
Marcar apenas uma oval por linha.

Muito Interesse Pouco Nenhum


interesse regular interesse interesse
Aspecto
Conforto ( ao vestir o
acessório)
Qualidade
Conforto ( em usar o
acessório)
Durabilidade
Peso
Preço
Segurança ( quanto a perder o
objeto)
Significado

https://docs.google.com/forms/d/1ymVrKRQSM82MhPg4c7CGxeNV_3Sr­bIhhAqPuEtVkKk/edit?c=0&w=1 5/10
24/07/2016 Questionário sobre a interação de pessoas com deficiência visual e a joalheria

15. Questão 14 ­ Tem a preocupação de combinar seu acessório com suas roupas? ­ Escolha
apenas uma alternativa
Marcar apenas uma oval.

 Sim
 Não

16. Questão 15 ­ Tem preferência quanto aos materiais do acessório? Quais materiais prefere? ­
Escolha uma ou mais alternativas
Marque todas que se aplicam.

 Não tenho preferência quanto aos materiais.
 Aço inoxidável
 Materiais Naturais (madeira, fibras, couro)
 Metais quaisquer
 Ouro Amarelo
 Ouro Branco (ródio)
 Plásticos e materiais alternativos gerais
 Prata
 Ródio Negro

 Outro: 

https://docs.google.com/forms/d/1ymVrKRQSM82MhPg4c7CGxeNV_3Sr­bIhhAqPuEtVkKk/edit?c=0&w=1 6/10
24/07/2016 Questionário sobre a interação de pessoas com deficiência visual e a joalheria

17. Questão 16 ­ Com relação a pedrarias, qual o nível de importância: ­ Escolha a alternativa
Muita Importância Pouca Nenhuma
referente ao seu nível de interesse, cada linha tendo quatro alternativas *
importância regular importância importância
Marcar apenas uma oval por linha.

Muita Importância Pouca Nenhuma


importância regular importância importância
Acessórios lisos
Acessórios
trabalhados
Pedras preciosas
Pedrarias no geral
Uma única pedra
pequena
Uma única pedra
grande
Várias pedras
pequenas
Várias pedras
pequenas

18. Questão 17 ­ Qual cor de material mais lhe agrada? ­ Escolha uma ou mais alternativas *
Marque todas que se aplicam.

 Não tenho preferência por cores
 Coloridos
 Dourado
 Negro
 Prateado

19. Questão 18 ­ Você se considera uma pessoa vaidosa? ­ Escolha apenas uma alternativa *
Marcar apenas uma oval.

 Sim
 Não

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24/07/2016 Questionário sobre a interação de pessoas com deficiência visual e a joalheria

20. Questão 19 ­ Costuma perguntar aos amigos, parentes ou companheiros a opinião deles sobre
suas escolhas de vestimentas e acessórios? ­ Escolha apenas uma alternativa *
Marcar apenas uma oval.

 Sim
 Não

21. Questão 20 ­ Como você costuma adquirir suas joias, bijuterias ou acessórios? ­ Escolha uma
ou mais alternativas *
Marque todas que se aplicam.

 Ganho de presente
 Internet
 Joalherias ou lojas físicas
 Por revendedora ( em casa)
 Peço para alguém comprar para mim

 Outro: 

22. Questão 21 ­ Qual o valor aproximado costuma gastar ao comprar um acessório? ­ Escolha
apenas uma alternativa *
Marcar apenas uma oval.

 De zero a cinquenta reais
 De cinquenta reais a cem reais
 De cem reais a trezentos reais
 Mais de trezentos reais
 Não costumo comprar

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24/07/2016 Questionário sobre a interação de pessoas com deficiência visual e a joalheria

23. Questão 22 ­ Aponte as principais dificuldades no momento da compra em joalherias e lojas
física ­ Escolha uma ou mais alternativas *
Marque todas que se aplicam.

 Confiar no atendente
 Despreparo das atendentes
 Joias e acessórios dispostos em locais fechados, inacessíveis ao toque
 Muitas opções parecidas
 Não costumo ter dificuldades
 Quando resolvo comprar uma peça e não tenho uma ideia prévia

 Outro: 

24. Questão 23 ­ O que você considera esteticamente agradável ao tato? ­ escolha uma ou mais
alternativas ­ Não obrigatório
Marque todas que se aplicam.

 Formatos diferenciados
 Formatos padrão como círculo, quadrado, triangulo.
 Superfícies trabalhadas com detalhes assimétrico
 Superfícies lisas e com detalhes em relevo e simétrico
 Superfícies lisas e sem detalhes

25. Comentários e sugestões ­ Resposta dissertativa não obrigatória
 

26. email

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