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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.369.579 - PR (2013/0047333-5)

RECORRENTE : SILVANA DIAS SILVEIRA E OUTRO


ADVOGADO : MARLI CHAVES VIANNA DE OLIVEIRA E OUTRO(S) - PR018521
RECORRIDO : CAIXA ECONÔMICA FEDERAL
ADVOGADOS : LEANDRO DA SILVA SOARES E OUTRO(S) - DF014499
MARCELO AUGUSTO MEZACASA E OUTRO(S) - RS061732

RELATÓRIO

O SENHOR MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO:

1. Silvana Dias Silveira e outros ajuizaram ação de indenização (fls. 1-15)


em face da Caixa Econômica Federal, requerendo o ressarcimento pelo furto de joias que
garantiam contrato de penhor realizado entre as partes, pois, em 27 de outubro de 2006,
ocorreu um assalto na agência da recorrida, e suas joias foram subtraídas por terceiros.
Aduziram que, em decorrência do episódio, a ré se prontificou a indenizar as
autoras multiplicando em 1,5 (um inteiro e cinco décimos) o valor da avaliação das joias,
nos termos do pacto firmado, no entanto, muito inferior ao que pretendiam.
Asseveraram que Caixa Econômica Federal, ao prever ilusória indenização
nos casos de perda ou extravio de joias empenhadas, contraria o princípio da boa-fé,
essencial para a harmonia das relações de consumo.
O Juízo sentenciante (fls. 210-212), considerando o prazo de prescrição de
3 (três) anos, por se tratar de ação de reparação civil, declarou-a extinta, nos termos do
artigo 269, IV, do CPC.
As autoras interpuseram apelação (fl. 218) afirmando, em suma, a não
ocorrência da prescrição, tendo em vista que o prazo a ser considerado é o de 5 (cinco)
anos, nos termos do Código de Defesa do Consumidor, art. 27, contados a partir do
conhecimento do dano e de sua autoria.
Analisado o recurso, o Tribunal de Justiça do Estado do Paraná a ele negou
provimento, confirmando a sentença quanto ao prazo de prescrição adotado para a
espécie, qual seja 3 (três) anos, conforme preceitua o art. 206, § 3º, V, do CC/2002.
Confira-se a ementa do acórdão (fl. 259):
ADMINISTRATIVO. INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS.
REPARAÇÃO CIVIL. CUNHO CONDENATÓRIO. INCIDÊNCIA DA
PREVISÃO CONSTANTE NO ART. 206, § 3º, V, DO CÓDIGO CIVIL.
TERMO INICIAL.
1. Tratando-se, o caso dos autos, de demanda de caráter condenatório,
visando reparação civil, aplica-se para fins de apuração da prescrição o art.
206, § 3º, V, do Código Civil de 2002.
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2. O termo inicial do prazo prescricional, no caso de roubo de jóias objeto de
contrato de penhor, é a data em que notificados os proprietários, pois surgiu
nesse momento a actio nata para fins de ajuizamento da demanda.
3. Reconhecida a ocorrência da prescrição, a sentença é de ser mantida.

Foi interposto recurso especial pelas autoras com fundamento na alínea "c"
do permissivo constitucional, por negativa de vigência ao art. 27 do Código de Defesa do
Consumidor, assim como ao art. 206, § 3º, V, do CC/2002.
Afirmam que, na linha do que decidiu o acórdão paradigma do Tribunal
Regional Federal da 1ª Região, devem ser aplicadas ao caso dos autos as disposições
do Código de Defesa do Consumidor.
Asseveram que, da mesma forma, o Superior Tribunal de Justiça entende
pela aplicação do CDC nas relações de penhor, em posição oposta à apresentada pelo
acórdão recorrido, devendo a responsabilidade do depositário pela guarda do bem ser
definida com base na relação consumerista.
Concluem que descabe entendimento diverso que imponha o afastamento
do CDC à relação pactuada pelas recorrentes com a recorrida, devendo-se optar pelo
prazo prescricional de 5 (cinco) anos estabelecido por aquele Diploma.
Aduzem, por fim, que a incidência do CDC é definida pela relação contratual
entre as partes envolvidas no negócio jurídico e não em virtude da qualidade da
demanda.
Contrarrazões apresentadas às fls. 284-287.
Juízo positivo de admissibilidade na origem, afirmando o preenchimento dos
requisitos de admissibilidade (fls. 291-292).
É o relatório.

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Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.369.579 - PR (2013/0047333-5)

RELATOR : MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO


RECORRENTE : SILVANA DIAS SILVEIRA E OUTRO
ADVOGADO : MARLI CHAVES VIANNA DE OLIVEIRA E OUTRO(S) - PR018521
RECORRIDO : CAIXA ECONÔMICA FEDERAL
ADVOGADOS : LEANDRO DA SILVA SOARES E OUTRO(S) - DF014499
MARCELO AUGUSTO MEZACASA E OUTRO(S) - RS061732
EMENTA

RECURSO ESPECIAL. ART. 535 DO CPC/1973. NÃO VIOLAÇÃO.


DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL DEMONSTRADA.
FLEXIBILIZAÇÃO DOS REQUISITOS FORMAIS. CONTRATO DE
MÚTUO GARANTIDO POR PENHOR DE JOIAS SUBTRAÍDAS NA
CONSTÂNCIA DO CONTRATO. FALHA NO SERVIÇO. AÇÃO DE
INDENIZAÇÃO. PRAZO PRESCRICIONAL. ART. 27 DO CDC. 5
(CINCO) ANOS.
1. Não se viola o art. 535 do CPC/1973, quando a matéria em exame
foi devidamente enfrentada pelo Tribunal de origem, que emitiu
pronunciamento de forma fundamentada, ainda que em sentido
contrário à pretensão da recorrente.
2. A Corte Especial deste Egrégio Tribunal há muito decidiu que, nos
casos em que a ementa do acórdão colacionado como paradigma
espelha o entendimento do aresto impugnado e evidencia a
divergência, os requisitos formais para a demonstração da divergência
podem ser flexibilizados (EREsp 80.602/SP, Rel. Ministro SÁLVIO DE
FIGUEIREDO TEIXEIRA, CORTE ESPECIAL, DJ 1/3/1999) .
3. No contrato de penhor, está embutido o de depósito do bem e, por
conseguinte, o dever do credor pignoratício de devolver esse bem
após o pagamento do mútuo. No entanto, a guarda do bem penhorado
não se configura como prestação contratual stricto sensu . A
contraprestação devida nos contratos de mútuo garantido por penhor é
o pagamento do valor acordado para o empréstimo.
4. O furto das joias, objeto do penhor, constitui falha do serviço
prestado pela instituição financeira e não inadimplemento contratual,
devendo incidir o prazo prescricional de 5 (cinco) anos para as ações
de indenização, previsto no art. 27 do Código de Defesa do
Consumidor.
5. Recurso especial provido.

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VOTO

O SENHOR MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO (Relator):

2. Primeiramente, importa analisar a alegação apresentada em


contrarrazões, consistente na deficiência da demonstração da divergência jurisprudencial
entre os acórdãos paradigmas eleitos pela recorrente e o acórdão recorrido.
Desde já, saliente-se que não procede a impugnação da recorrida.
É de conhecimento deste Egrégio Colegiado que, em situações especiais,
por exemplo, nos casos de dissídio notório, não se tem exigido a transcrição de trecho
dos acórdãos citados como paradigmas; e nem mesmo se faça o cotejo analítico entre
eles e o aresto hostilizado, mostrando-se suficiente a simples indicação das ementas dos
acórdão divergentes.
Com efeito, a Corte Especial deste Egrégio Tribunal há muito decidiu que,
nos casos em que a ementa do acórdão colacionado como paradigma espelha o
entendimento do aresto impugnado e evidencia a divergência, os requisitos formais para
a demonstração da divergência podem ser flexibilizados, nos seguintes termos:
Embora não tenha a recorrente observado o disposto no art. 255, § 1º, do
Regimento Interno, uma vez que anexou apenas a cópia da ementa do
acórdão paradigma publicada no Diário da Justiça, tenho por viável o
conhecimento do recurso, uma vez que, além de se tratar de caso de dissídio
notório, a referida ementa espelha o entendimento do aresto colacionado e
evidencia a divergência.
(EREsp 80.602/SP, Rel. Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA,
CORTE ESPECIAL,DJ 01/03/1999)

No mesmo sentido, o julgado da Quarta Turma, de relatoria do Ministro


Salvio de Figueiredo:
PROCESSO CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. CARACTERIZAÇÃO
DA DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL. MISSÃO CONSTITUCIONAL DO
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. HERMENÊUTICA. EMBARGOS
REJEITADOS.
I - A TRANSCRIÇÃO DE EMENTAS QUE, POR SI SÓ, SEJAM
SUFICIENTES A EVIDENCIAR A DISSONÂNCIA INTERPRETATIVA,
MORMENTE NOS CASOS DE DISSIDIO NOTÓRIO, PRESTA-SE A
ENSEJAR A ADMISSIBILIDADE DO ESPECIAL PELA ALÍNEA C DO
PERMISSIVO CONSTITUCIONAL, DESDE QUE ATENDIDOS OS DEMAIS
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REQUISITOS LEGAIS E REGIMENTAIS.
II - A MITIGAÇÃO DO RIGOR FORMAL EM PROL DA FINALIDADE E
CRITÉRIO QUE SE IMPÕE POR IMPERATIVO DA MISSÃO
CONSTITUCIONAL DESTA CORTE E OBSERVÂNCIA AOS ME TODOS DE
EXEGESE QUE DEVEM NORTEAR A CONDUTA DO HERMENEUTA.
(EDcl nos EDcl no REsp 9.035/MG, Rel. MIN. SALVIO DE FIGUEIREDO
TEIXEIRA, QUARTA TURMA, DJ 01/02/1993).

Aliás, por ocasião do julgamento do recurso citado acima (REsp n.


9.035/MG), o preclaro Ministro Relator muito bem se posicionou acerca da dispensa do
formalismo exigido para a comprovação do dissídio. Pela clareza e precisão de suas
manifestações, permito-me utilizá-las para fundamentar a possibilidade de afastamento
do rigorismo procedimental:
Tenho expressado, repetidas vezes, que esta Corte tem por missão
constitucional pacificar a jurisprudência nacional na interpretação do
direito federal infraconstitucional, razão pela qual não pode deter-se em
sutilezas de ordem formal, a impedir-lhe o cumprimento do seu objetivo
maior.
A Constituição proclama como um dos pressupostos específicos do recurso
especial a imprescindibilidade de interpretações divergentes envolvendo mais
de um tribunal.
A Lei 8038/90, por seu turno, dispõe (art. 36, parágrafo) que o recorrente fará
a prova da divergência mediante certidão, ou indicação do número e da
página do jornal oficial, ou do repertório autorizado de jurisprudência, que o
houver publicado.
E o Regimento Interno, por sua vez, acrescenta, no §2º do art. 255, que "em
qualquer caso, o recorrente deverá transcrever os trechos dos acórdãos que
configurem o dissídio, mencionando as circunstâncias que identifiquem ou
assemelhem os casos confrontados".
É sabido que o método gramatical (literaI), é apenas o ponto de partida de
qualquer interpretação, ao qual se agregam os demais métodos tradicionais
(Iógico-sistemático, histórico e comparado) e os recomendados pela doutrina
contemporânea, de muito mais reIevo teIeoIógico, axíológico, evolutivo e
fundado na lógica do razoável).
Dentro desses parâmetros, vê-se que o escopo da lei é atribuir ao recorrente
o ônus de demonstrar a ocorrência do dissenso interpretativo, para que o
Superior Tribunal de Justiça possa manifestar-se soberanamente,
dando a exegese que lhe pareça a mais acertada.
(...)
Neste sentido é que se tem posicionado esta 4ª Turma, dispensando a
demonstração analítica nos casos de dissídio manifesto, nos quais a
própria ementa, por si só, se mostra suficiente a tal objetivo.

Exatamente no rumo dos fundamentos utilizados para dizer sobre a


prescindibilidade do formalismo com o escopo de comprovar a divergência alegada,
naqueles casos excepcionais, é que penso devam ser igualmente afastados nas
hipóteses em que a matéria controvertida for de indiscutível relevância, cuja solução
recomenda seja o quanto antes entregue por esta Corte, e sempre que, por qualquer

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modo, a divergência se evidenciar, como no caso dos autos.
Em outras palavras, sempre que se aventar a possibilidade de a legislação
federal estar sendo afrontada, por aplicação equivocada do direito por um dos tribunais
pátrios, mister o abrandamento da forma pela qual deva ser demonstrada a divergência
jurisprudencial, para que seja permitido o acertamento oportuno do direito.
É que sendo o Superior Tribunal de Justiça a Corte responsável por
uniformizar a interpretação da lei federal em todo o Brasil, seguindo os princípios
constitucionais e a garantia e defesa do Estado de Direito, sempre que se estiver diante
de hipótese de exercício dessa função institucional, acredito que as exigências formais
devam ceder ao cumprimento tal mister.
No caso que se apresenta, a recorrente pretende seja definido qual o prazo
prescricional que socorre à espécie, a partir da verificação do fundamento apresentado
pela instância de origem, qual seja a configuração ou não de falha no serviço prestado
pela recorrida.
Por esse motivo, é possível afirmar que os julgados apresentados como
paradigmas estão aptos ao cumprimento deste papel, porque, de fato, analisaram
hipóteses semelhantes ao caso ora investigado e, em todos eles a conclusão foi pela
configuração da falha no serviço e, consequentemente, pela aplicação do Código de
Defesa do Consumidor, contrariamente ao decidido pelo Tribunal Paranaense.
Com efeito, os paradigmas apresentados pela recorrente, um deles julgado
pela Terceira Turma deste Sodalício (REsp n. 1.133.111/PR), afirmaram tanto a
ocorrência de vício no fornecimento do serviço (contrato de penhor), como reconheceram
a natureza consumerista da relação, a atrair a incidência do diploma especial e,
consequentemente, o prazo prescricional nele previsto, enquanto que o acórdão recorrido
afirma tratar-se "o caso dos autos, de demanda de caráter condenatório, visando
reparação civil", para, ato contínuo, impor a incidência do dispositivo do Código Civil de
2002.
Foi diante desse quadro que argumentou a recorrente, na empreitada de
demonstrar as interpretações divergentes dadas pelos acórdãos confrontados (fl. 272):
Balisa-se, pois, equivocadamente, no caráter condenatório da demanda para
afastar a incidência do Código Consumerista e aplicar a prescrição de 03
(três) anos.
A vingar essa tese, todas as demandas de caráter condenatório oriundas das
relações de consumo terão afastadas a aplicabilidade do estatuto especial do
consumidor, pelo entendimento do C. Tribunal a quo, fato que por si só
representaria tolhimento injusto do direito do consumidor.
A incidência do CDC é definida pela relação contratual entre as partes
envolvidas no negócio jurídico e não em virtude da qualidade da demanda.

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Assim, face à divergência de interpretação, dada pelo Tribunal a quo,
daquela atribuída por outros tribunais, inclusive este E. Superior Tribunal de
Justiça, é perfeitamente cabível o recurso especial.
(...)
Portanto, para a relação contratual, cujo objeto foi o penhor das joias das
autoras junto à instituição financeira, representada pela ré, cabe aplicar o
CDC, lei especial protetora das relações de consumo e da prestação de
serviços, que determina o prazo prescricional de 05 (cinco) anos, devendo-se
afastar, por completo, o CC/2002, inaplicável ao caso em tela.

Ressalte-se, ademais, casos em que o STJ relevou o cumprimento das


formalidades da interposição do especial pela alínea "c", quando a divergência se
mostrou perfeitamente compreensível, como no julgamento do REsp n. 1.456.140/SP,
de relatoria do ilustre Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, que, na ocasião, afirmou que,
além da mitigação dos rigores do formalismo nos casos em que o dissídio jurisprudencial
é por demais notório, merecem ser mitigadas as exigências de forma, nos casos em que
a "divergência está bem demonstrada, com a indicação dos paradigmas que
examinaram situação assemelhada à dos autos e com fundamentos também de
natureza infraconstitucional". Confira-se:
AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. DISSÍDIO
JURISPRUDENCIAL NOTÓRIO. REQUISITOS FORMAIS.
FLEXIBILIZAÇÃO. INAPLICABILIDADE DO ENUNCIADO N.º 284/STF.
MULTA DO ART. 475-J DO CPC. DEVIDA.
1. Possível o conhecimento do recurso especial interposto com arrimo na
alínea "c" do permissivo constitucional, quando, além de notório, é
perfeitamente inteligível o dissídio jurisprudencial suscitado.
2. O depósito judicial da quantia devida para efeito de garantia do juízo não
impede a incidência da multa prevista no art. 475-J, do CPC/73.
3. Não apresentação pela parte agravante de argumentos novos capazes de
infirmar os fundamentos que alicerçaram a decisão agravada.
4. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO.
(AgInt no REsp 1456140/SP, Rel. Ministro PAULO DE TARSO
SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, DJe 23/08/2016)

Anote-se, por fim, que, de acordo com a jurisprudência desta Corte, mesmo
nos casos em que o recurso especial é interposto apenas pela alínea "c" do artigo 105 da
Constituição Federal, imprescindível se mostra a indicação do artigo legal tido como
violado ou que tivera sua vigência negada, pois o dissídio jurisprudencial se baseia na
interpretação divergente da lei federal, providência regularmente atendida pela ora
recorrente.
Merece, pois, ser conhecido o recurso especial.
3. A controvérsia dos autos consiste na definição do prazo prescricional a
ser adotado para o ajuizamento de ação de indenização por furto de joias utilizadas como
garantia de mútuo em contrato de penhor subscrito com a Caixa Econômica Federal.

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Ao examinar a questão, a sentença de piso se manifestou nos seguintes
termos (fls. 211-212):
Prescrição
A prescrição pode ser pronunciada de ofício pelo juiz, consoante autorização
do artigo 219, § 5º, do CPC. Diante de tal permissivo, passo a analisá-la no
presente caso.
(...)
No presente caso, entendo que somente há falar em início do prazo
prescricional a partir da comunicação às autoras do furto ocorrido.
Antes desta ciência, não é possível entender que se iniciou o curso do
prazo prescricional, na medida em que não se pode caracterizar a
inércia da parte.
Consoante 'comunicado de sinistro ao cliente', anexados ao evento 35
(RECIBO4 e RECIBO5), as autoras tiveram conhecimento da ocorrência
do furto em outubro de 2006. Destarte, este é o termo a quo da
contagem do prazo prescricional.
Tratando-se de ação de reparação civil, o prazo de prescrição é de 03
(três) anos, na forma do art. 206, §3º, V, do Código Civil:
Art. 206. Prescreve:
(...) §3º Em três anos:
(...) V - a pretensão de reparação civil;
Assim, o termo final do prazo de prescrição foi novembro de 2009.
Considerando que a presente ação foi ajuizada em 30/04/2010,
operou-se a prescrição.
III. DISPOSITIVO
Diante do exposto, declaro extinta a presente ação em razão da prescrição,
com resolução de mérito, nos termos do artigo 269, IV, do CPC.

O Tribunal de Justiça Paranaense, analisando o recurso da autora, decidiu


nos moldes da sentença (fls. 122-126):
Como bem consignou a Magistrada de primeiro grau, a pretensão das
apelantes está fulminada pela prescrição.
Na forma do art. 206, § 3º, V, do Código Civil Brasileiro de 2002, é de 03
(três) anos o prazo prescricional da pretensão à reparação civil,
segundo se pode ver a seguir:
Art. 206. Prescreve:
(...)
§ 3º Em três anos:
(...)
V - a pretensão de reparação civil;
In casu , a prescrição é trienal por tratar-se de pretensão que visa a
reparação de natureza civil, decorrente de alegado prejuízo causado às
autoras em razão de assalto na agência da ré em que foram roubadas
jóias que eram objeto de contrato de penhor, ou seja, a presente ação
possui cunho condenatório, pois o que as autoras esperam, ao final, é
receber a indenização, de modo que a hipótese dos autos enquadra-se
como pretensão de reparação civil, sujeita à regra prescricional do art.
206, § 3º, V, do Código Civil de 2002, não se cogitando da aplicação da
regra de transição prevista no art. 2.028 do Código Civil, pois os
contratos foram firmados quando já vigente a nova regra civil.
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E não se fale na incidência, na hipótese, da previsão constante no art. 27 do
Código de Defesa do Consumidor, pois não se trata de um dano ocasionado
pelo produto ou pela prestação do serviço, mas sim de reparação civil em
decorrência do assalto sofrido pela ré e que resultou na subtração do
patrimônio das autoras.
A previsão constante no dispositivo da Lei Consumerista é de 'reparação
pelos danos causados por fato do produto ou do serviço', ressaltado o início
da contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria, o
que se diferencia da situação em exame, pois o dano resultou de fato
produzido por terceiro, de forma que a reparação é a civil por força da
responsabilidade atribuída à demandada por força do contrato firmado com
as autoras.
Por isso a incidência da norma contida no art. 206, § 3º, V, do Código
Civil e a inegável ocorrência da prescrição, pois desde a data em que as
recorrentes foram notificadas do assalto, e de que suas jóias haviam
sido roubadas, em 2006, até o ajuizamento da presente demanda, em
30/04/2010, transcorreram mais de três anos.
De se notar, o termo inicial do prazo prescricional no caso em exame, foi a
data em que notificadas as autoras, pois surgiu nesse momento a actio nata
para fins de ajuizamento da demanda.
(...)
Portanto, a teor da fundamentação, somados os precedentes colacionados,
pertinentes à matéria, não é de se dar guarida à pretensão das apelantes,
devendo ser mantida a sentença.

4. De início, parece imprescindível a definição da natureza da relação


existente entre as partes e, ainda e principalmente, a análise do fato que fundamenta a
ação.
Com efeito, alega a recorrente a necessidade de aplicar-se à hipótese o
prazo prescricional previsto no art. 27 do CDC, uma vez que o furto das joias, objeto do
penhor, constitui falha do serviço prestado pela ora recorrida, Caixa Econômica.
Nesse ponto, anoto que não é novidade que a relação existente entre as
instituições financeiras e seus clientes configura relação de consumo, questão já há muito
definido por esta Corte de Justiça.
Com efeito, no que diz respeito à natureza da relação existente entre os
pactuantes do contrato objeto deste recurso, a orientação pacífica do Superior Tribunal
de Justiça reconhece a submissão das instituições financeiras aos princípios e às regras
do Código de Defesa do Consumidor. Nessa esteira, inclusive, o enunciado da Súmula
297/STJ: "O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras”.
De fato, no contrato de penhor celebrado com a Caixa, é notória a
hipossuficiência do consumidor, pois este, necessitando de empréstimo, apenas adere a
contrato cujas cláusulas são inegociáveis, submetendo-se, inclusive, à avaliação
unilateral realizada pela instituição financeira. Nessa avença, a avaliação, além de
unilateral, é focada precipuamente nos interesses da recorrida, culminando num valor de
Documento: 77015465 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 9 de 18
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avaliação sempre inferior ao preço do mercado varejista de joias.
E foi com base nessa assertiva que esta egrégia Turma deliberou,
especificamente no caso do contrato de penhor celebrado com a Caixa Econômica, no
tocante à indenização por danos materiais, que a cláusula que limita a indenização pelo
furto, roubo ou extravio da joia empenhada é abusiva e, por consequência, nula.
Nesse sentido, julgado da relatoria do eminente Ministro Raul Araújo:
CIVIL E CONSUMIDOR. RECURSO ESPECIAL. CONTRATO DE PENHOR.
JOIAS. FURTO. FORTUITO INTERNO. RECONHECIMENTO DE ABUSO
DE CLÁUSULA CONTRATUAL QUE LIMITA O VALOR DA INDENIZAÇÃO
EM FACE DE EXTRAVIO DOS BENS EMPENHADOS. VIOLAÇÃO AO ART.
51, I, DO CDC. OCORRÊNCIA DE DANOS MATERIAIS E MORAIS.
RECURSO ESPECIAL PROVIDO.
1. No contrato de penhor é notória a hipossuficiência do consumidor, pois
este, necessitando de empréstimo, apenas adere a um contrato cujas
cláusulas são inegociáveis, submetendo-se à avaliação unilateral realizada
pela instituição financeira. Nesse contexto, deve-se reconhecer a violação ao
art. 51, I, do CDC, pois mostra-se abusiva a cláusula contratual que limita, em
uma vez e meia o valor da avaliação, a indenização devida no caso de
extravio, furto ou roubo das joias que deveriam estar sob a segura guarda da
recorrida.
2. O consumidor que opta pelo penhor assim o faz pretendendo receber
o bem de volta, e, para tanto, confia que o mutuante o guardará pelo
prazo ajustado. Se a joia empenhada fosse para o proprietário um bem
qualquer, sem valor sentimental, provavelmente o consumidor optaria
pela venda da joia, pois, certamente, obteria um valor maior.
3. Anulada a cláusula que limita o valor da indenização, o quantum a
título de danos materiais e morais deve ser estabelecido conforme as
peculiaridades do caso, sempre com observância dos princípios da
razoabilidade e da proporcionalidade.
4. Recurso especial provido.
(REsp 1155395/PR, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, DJe
29/10/2013)

Com efeito, a aplicação dos instrumentos normativos de proteção previstos


no diploma consumerista e, em especial, o diferenciado sistema de invalidades, de que é
exemplo o art. 51 da Lei 8.078/90, não estão ancorados na mesma racionalidade
contratual liberal que inspirou o Código Civil.
Destarte, a Lei 8.078/90 inaugurou um sistema normativo regido, entre
outros princípios, pelos da vulnerabilidade do consumidor (artigo 4º, I), de sua defesa
pelo Estado (inciso II) e da harmonização e da proteção contra as práticas e cláusulas
abusivas (inciso III e IV) e, nessa linha, os princípios da autonomia da vontade e do pacta
sunt servanda , que serviram de base ao Código Napoleônico e ainda têm espaço
considerável no atual Código Civil, não são capazes de afastar a incidência da
normatividade do Código do Consumidor, lastreado em valores específicos.

Documento: 77015465 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 1 0 de 18


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O contrato de penhor traz embutido o de depósito do bem e, por
conseguinte, o dever do credor pignoratício de devolver esse bem após o pagamento do
mútuo.
Foi nesse rumo de ideias que a jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça assentou que, quando o credor é banco e o bem dado em garantia fica
depositado em cofre, não é possível admitir o furto ou o roubo como causas excludentes
do dever de indenizar, devendo-se considerar esse tipo de evento como um fortuito
interno, inerente à própria atividade, incapaz de afastar, enfim, a responsabilidade do
depositário.
Nessa mesma linha, inclusive, andou a Segunda Seção, ao analisar o REsp
n. 1.199.782/PR, de minha Relatoria, julgado sob o rito do art. 543-C do CPC, concluindo
que as instituições bancárias respondem objetivamente pelos danos causados por
fraudes ou delitos praticados por terceiros, porquanto tal responsabilidade decorre do
risco do empreendimento, caracterizando-se como fortuito interno.
Confira-se a ementa do acórdão:
RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA.
JULGAMENTO PELA SISTEMÁTICA DO ART. 543-C DO CPC.
RESPONSABILIDADE CIVIL. INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS. DANOS
CAUSADOS POR FRAUDES E DELITOS PRATICADOS POR TERCEIROS.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA. FORTUITO INTERNO. RISCO DO
EMPREENDIMENTO.
1. Para efeitos do art. 543-C do CPC: As instituições bancárias respondem
objetivamente pelos danos causados por fraudes ou delitos praticados por
terceiros - como, por exemplo, abertura de conta-corrente ou recebimento de
empréstimos mediante fraude ou utilização de documentos falsos -,
porquanto tal responsabilidade decorre do risco do empreendimento,
caracterizando-se como fortuito interno.
2. Recurso especial provido.
(REsp 1199782/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA
SEÇÃO, DJe 12/09/2011)

Na jurisprudência da Seção, em tema bastante correlato com o que ora se


aprecia, acórdão relatado pelo douto Ministro Marco Buzzi:
RECURSO ESPECIAL (ART. 105, III, "A" E "C" DA CFRB) - AÇÃO DE
INDENIZAÇÃO DE DANOS MORAIS E MATERIAIS - FURTO A COFRE DE
BANCO - INOCORRÊNCIA DE CASO FORTUITO - ARESTO ESTADUAL
RECONHECENDO A RESPONSABILIDADE CIVIL DA INSTITUIÇÃO
FINANCEIRA.
(...)
4. Suposta violação ao art. 1058 do CC/1916, correspondente ao art. 393 do
CC/2002, que elenca a força maior e o caso fortuito como causas de
exclusão da responsabilidade civil. Inocorrência.
5. Súmula 479/STJ - "As instituições financeiras respondem objetivamente
pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados
Documento: 77015465 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 1 1 de 18
Superior Tribunal de Justiça
por terceiros no âmbito de operações bancárias".
6. A disponibilização de cofre em banco a clientes evidencia nítida relação
contratual com multiplicidade de causas, defluentes da concorrência de
elementos comuns aos ajustes de locação, de depósito e de cessão de uso,
sem que qualquer dessas modalidades prepondere sobre as demais,
decorrendo dessa natureza heterogênea um plexo de deveres aos quais se
aderem naturalmente uma infinidade de riscos.
7. Por isso, mais do que mera cessão de espaço ou a simples guarda, a
efetiva segurança e vigilância dos objetos depositados nos cofres pelos
clientes são características essenciais a negócio jurídico desta natureza,
razão pela qual o desafio de frustrar ações criminosas contra o patrimônio a
que se presta a resguardar constitui ônus da instituição financeira, em virtude
de o exercício profissional deste empreendimento torná-la mais suscetível
aos crimes patrimoniais, haja vista a presunção de que custodia capitais
elevados e de que mantém em seus cofres, sob vigilância, bens de clientes.
8. Daí porque é inarredável a conclusão de que o roubo ou furto
perpetrado contra a instituição financeira, com repercussão negativa ao
cofre locado ao consumidor, constitui risco assumido pelo fornecedor
do serviço, haja vista compreender-se na própria atividade empresarial,
configurando, assim, hipótese de fortuito interno.
(...)
11. Recurso especial desprovido.
(REsp 1250997/SP, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado
em 05/02/2013, DJe 14/02/2013)

Valiosa também é a doutrina de Sergio Cavalieri acerca da diferenciação do


fortuito interno do externo, sendo que somente o último é apto a afastar a
responsabilidade por acidente de consumo:
Cremos que a distinção entre fortuito interno e externo é totalmente
pertinente no que respeita aos acidentes de consumo. O fortuito interno,
assim entendido o fato imprevisível e, por isso, inevitável ocorrido no
momento da fabricação do produto ou da realização do serviço, não exclui a
responsabilidade do fornecedor porque faz parte de sua atividade, liga-se aos
riscos do empreendimento, submetendo-se a noção geral de defeito de
concepção do produto ou de formulação do serviço. Vale dizer, se o defeito
ocorreu antes da introdução do produto no mercado de consumo ou durante
a prestação do serviço, não importa saber o motivo que determinou o defeito;
o fornecedor é sempre responsável pela suas conseqüências, ainda que
decorrente de fato imprevisível e inevitável.
O mesmo já não ocorre com o fortuito externo, assim entendido aquele fato
que não guarda nenhuma relação com a atividade do fornecedor,
absolutamente estranho ao produto ou serviço, via de regra ocorrido em
momento posterior ao da sua fabricação ou formulação. Em caso tal, nem se
pode falar em defeito do produto ou do serviço, o que, a rigor, já estaria
abrangido pela primeira excludente examinada - inexistência de defeito (art.
14, § 3º, I).
(Programa de direito do consumidor . São Paulo: Atlas, 2008, p. 256-257)

Assim, diante deste quadro, penso que o prazo de 5 (cinco) anos previsto
no CDC é o aplicável à hipótese em análise.

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Superior Tribunal de Justiça
Há, a meu ver, nos casos de roubo de joias objeto de contrato de penhor
ligado ao mútuo, falha no serviço prestado pela instituição financeira, a impor a incidência
da norma especial.
Destarte, conforme previsto no art. 14 do Diploma Consumerista, o
fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos
serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e
riscos.
E o código define serviço defeituoso no § 1º daquele artigo:
§ 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o
consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as
circunstâncias relevantes, entre as quais:
I - o modo de seu fornecimento;
II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi fornecido.
§ 2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas.
§ 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:
I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;
II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
§ 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada
mediante a verificação de culpa.

Zelmo Denari esclarece o conceito de serviço defeituoso previsto no


dispositivo acima mencionado:
O § 1º do art. 14 oferece critérios de aferição do vício de qualidade do serviço
prestado, e o item mais importante, neste particular, é a segurança do
usuário, que deve levar em conta: o modo do fornecimento do serviço; os
riscos da fruição; e a época em que foi prestado o serviço.
O dispositivo enfocado é mera adaptação da norma que conceitua o 'produto
defeituoso', prevista no art. 6º da Diretiva n. 374/85 da CEE e no § 1º do art.
12 do nosso Código de Defesa do Consumidor.
O serviço presume-se defeituoso quando é mal apresentado ao público
consumidor (inc. I), quando sua fruição é capaz de suscitar riscos acima do
nível de razoável expectativa (inc. II), bem como quando, em razão do
decurso de tempo, desde a sua prestação, é de se supor que não ostente
sinais de envelhecimento (inc. III)."
(GRINOVER, Ada pellegrini...[et al.]. Rio de Janeiro: Forense Universitária,
2007, p. 203)

5. Importa ainda reconhecer que diferente é a situação em que o


consumidor toma em aluguel um cofre de banco, quando o negócio jurídico é exatamente
a locação do espaço. Aqui, a subtração do bem custodiado, deixado no espaço locado da
instituição financeira, a meu ver, constituiria inadimplemento contratual, uma vez que a
obrigação a cargo do banco é especificamente a guarda do bem.

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Superior Tribunal de Justiça
De fato, o furto de bens custodiados em cofre de instituição financeira,
contratada para tanto, insere-se no espectro dos riscos inerentes à atividade
desenvolvida pela casa bancária, a qual tem responsabilidade objetiva ante a aplicação
da teoria do risco empresarial e a incidência do Código de Defesa do Consumidor, não
configurando, portanto, força maior ou caso fortuito, de sorte a manter-se íntegro o nexo
de causalidade.
Nessa trilha de ideias, é inarredável a conclusão de que "o roubo ou furto
perpetrado contra a instituição financeira, com repercussão negativa ao cofre locado ao
consumidor, constitui risco assumido pelo fornecedor do serviço, haja vista
compreender-se na própria atividade empresarial, configurando, assim, hipótese de
fortuito interno”. (PELUSO. Cezar. Coord. Código Civil Comentado. Doutrina e
Jurisprudência . 4. ed. Barueri, SP: Manole, 2010, p. 393).
Essa a lição encontrada no magistério de Carlos Roberto Gonçalves:
Não resta nenhuma dúvida de que o banqueiro responde
contratualmente perante os clientes pelas deficiências, inclusive em
casos de subtração ilícita de objetos e valores depositados pelos
clientes nos cofres que lhe são postos à disposição, tenha ou não
havido violência.
(...)
Quem toma em locação um cofre de banco objetiva colocar em segurança os
objetos que pretende ali depositar. O banco, ao oferecer esse serviço de
segurança, assume um dever de vigilância e, portanto, uma obrigação de
resultado e não simples obrigação de meio. Ao fazê-lo, passa a responder,
portanto, pelo conteúdo do cofre. Entender de outra forma seria
desconfigurar o contrato na sua finalidade específica. Identificada como de
resultado, a obrigação da instituição bancária somente pode ser excluída
diante do caso fortuito ou da força maior.
Mesmo assim, a natureza dos serviços de segurança oferecidos e da
obrigação assumida exigem que faça a prova da absoluta inevitabilidade ou
irresistibilidade do desfalque do patrimônio colocado sob sua custódia,
devendo-se considerar, por exemplo, que o furto ou o roubo, como fatos
previsíveis, não podem conduzir à aceitação do caso fortuito, mas sim, ao
reconhecimento de que terá falhado o esquema de segurança e vigilância
prestado pelo banco.
(Responsabilidade civil. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 409-411)

É bem verdade que, recentemente, esta Turma decidiu afastar a incidência


do prazo prescricional previsto no art. 27 do Diploma Especial, fazendo incidir a norma do
Código Civil, por entender que, no caso concreto, o fato que subsidiava a ação de
indenização não constituíra falha no serviço, mas sim inadimplemento contratual.
Na ocasião, o contrato em exame era de seguro, em que se discutia o
direito à indenização do autor em face de pagamento a menor da indenização securitária.
Confira-se a ementa do julgado a que se faz referência:
Documento: 77015465 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 1 4 de 18
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL, DO CONSUMIDOR E
PROCESSUAL CIVIL. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. NECESSIDADE
DE QUE AS ALEGAÇÕES SEJAM VEROSSÍMEIS, OU O CONSUMIDOR
HIPOSSUFICIENTE. AFIRMAÇÃO DE FATO POSITIVO. ÔNUS DA PROVA
DE QUEM AFIRMA. PRAZO PRESCRICIONAL DO ART. 27 DO CDC.
RESTRITO AOS CASOS EM QUE SE CONFIGURA FATO DO PRODUTO
OU DO SERVIÇO. INDENIZAÇÃO SECURITÁRIA. REGRA ESPECIAL,
PREVISTA NO CC, ESTABELECENDO PRESCRIÇÃO ÂNUA.
DESCUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÃO CONTRATUAL. PERDAS E DANOS.
OBRIGAÇÃO ACESSÓRIA, QUE SEGUINDO A SORTE DA PRINCIPAL,
PRESCREVE CONJUNTAMENTE.
1. Por um lado, a Corte local não vislumbrou indícios de veracidade na tese
acerca do afirmado requerimento administrativo e superveniente negativa de
pagamento da diferença da indenização securitária, e a inversão do ônus da
prova não ocorre em todas as situações em que a relação jurídica é de
consumo, pois é preciso que as alegações sejam verossímeis, ou a parte
seja hipossuficiente. Por outro lado, em linha de princípio, quem afirma um
fato positivo tem de prová-lo com preferência a quem sustenta um fato
negativo.
2. O pagamento a menor de indenização securitária nada tem a ver com
reparação de danos causados por fato do produto ou serviço, requisito
essencial para a aplicação do prazo prescricional descrito no art. 27 do
CDC. Com efeito, e em vista também do critério de hermenêutica da
especialidade, em matéria de indenização de seguro, a prescrição é
ânua, tratada no art. 206, § 1º, II, do CC/2002.
3. Consoante se extrai do art. 92 do CC, obrigação principal é aquela cuja
existência independe de qualquer outra. A obrigação acessória vindicada
depende da existência da obrigação principal, pois a ela se encontra
vinculada, já que possui, por finalidade, o cumprimento subsidiário da
obrigação principal, que alegadamente não foi cumprida.
4. Os danos emergentes e/ou lucros cessantes, ocasionados pelo pagamento
a menor do seguro, decorrem da própria lei, que estabelece que, em caso de
inexecução contratual, cabem perdas e danos, incluídos os eventuais
prejuízos efetivos e lucros cessantes por efeito dela direto e imediato. Por
isso, em vista da clara relação de dependência, deve seguir a sorte da
obrigação principal, não se submetendo a prazo prescricional diverso da
pretensão de cobrança de indenização securitária.
5. Recurso especial não provido.
(REsp 1277250/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA
TURMA, DJe 06/06/2017)

Cumpre observar que a questão analisada já havia sido dirimida pela


Segunda Seção, por ocasião do julgamento do REsp 574.947/BA, relatora Ministra Nancy
Andrighi, em que ficou definido incidir o prazo prescricional ânuo previsto do Código Civil.
Nesse precedente, Sua Excelência dispôs:
Discute-se a regra aplicável, se do art. 178, § 6º, II, do CC/1916,
correspondente ao art. 206, § 1º, inc. II, do CC/02, ou do art. 27, caput , do
CDC.
A matéria encontra-se perfeitamente prequestionada.
Prefacialmente, urge definir a natureza jurídica da atividade securitária, a
qual, por ter sido expressamente incluída no conceito de serviço, consoante
Documento: 77015465 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 1 5 de 18
Superior Tribunal de Justiça
disposto no art 3º, § 2º, do CDC, insere-se no Direito do Consumidor.
Assim, o art. 27, caput , do CDC, dispõe ser qüinqüenal o prazo de prescrição
concernente à reparação de danos causados por "fato do produto ou do
serviço ", extraindo-se o seguinte entendimento da (...)
No processo em análise, foi pactuado contrato de seguro contra roubo
e/ou incêndio.
Com a concretização do sinistro, o serviço a ser fornecido pela
seguradora-recorrente consistirá tão-somente no pagamento do valor
segurado na apólice.
A ausência de pagamento, ou, como ocorre na espécie, o pagamento
efetuado a menor, caracteriza induvidosamente inadimplemento no
cumprimento das prestações avençadas (= inexecução contratual), e
não defeito na prestação do serviço oferecido pela seguradora.

O acórdão ficou assim ementado:


Direito civil e do consumidor. Ação de cobrança de valor complementar.
Indenização securitária. Inadimplemento. Pagamento a menor. Prazo
prescricional.
- O não cumprimento das obrigações por parte do segurador consistentes no
ressarcimento dos danos sofridos pelo segurado constitui inadimplemento
contratual, e não fato do serviço.
- Caracterizada a inexecução contratual, é ânuo o prazo prescricional para
ação de cobrança de valor complementar de indenização securitária.
Recurso especial parcialmente provido.
(REsp 574.947/BA, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, SEGUNDA SEÇÃO, DJ
28/06/2004)

6. A hipótese em análise, contudo, é diferente, devendo, portanto, incidir o


prazo previsto no art. 27 do Código de Defesa do Consumidor para a ação de
indenização por danos materiais e morais, como pretende o recorrente.
Isso porque, uma vez mais afirme-se, no caso dos autos, a indenização
requerida não se fundamenta no inadimplemento contratual, nada obstante a base da
natureza jurídica entre as partes seja o contrato regido pelo CDC.
A guarda do bem penhorado é, sim, obrigação da instituição financeira, isso
não se discute, mas não é prestação contratual stricto sensu . De fato, a contraprestação
devida nos contratos de mútuo garantido por penhor é o pagamento do valor acordado
para o empréstimo.
Noutro ponto, ainda que no caso deste recurso também tenha havido
pagamento a menor ou a Caixa não tenha concordado em pagar o valor de mercado das
joias, esse não era o objeto do contrato estipulado com o consumidor (mútuo). Essa
obrigação apenas surgiu pela falha ocorrida no serviço do Banco, com o furto da joia.
No ponto, em situação assemelhada, confira-se outro julgado do STJ que
reconheceu a falha de serviço prestado, no âmbito de relação de consumo, em

Documento: 77015465 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 1 6 de 18


Superior Tribunal de Justiça
detrimento do inadimplemento contratual:
ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR
DANOS MATERIAIS E MORAIS. MÁ PRESTAÇÃO DE SERVIÇO.
APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. REVISÃO DAS
PREMISSAS DO ACÓRDÃO RECORRIDO. ÓBICE NA SÚMULA N. 7/STJ.
1. Cuida-se de ação indenizatória por vício na prestação de serviço da
empresa recorrente, contratada pela CEAM - Companhia Energética do
Amazonas, para implementar a substituição de postes na Rodovia AM-240, e,
no desempenho de sua função, ao promover a derrubada de árvores, ocorreu
a danificação da cerca de propriedade da Recorrida, que resultou na fuga de
animais de seu rebanho.
2. O Tribunal de origem, soberano na análise do material fático
probatório dos autos, deixou consignado que houve falha na prestação
do serviço de instalação de postes, o que atrairia a incidência do prazo
prescricional do artigo 27 do Código de Defesa do Consumidor para o
ajuizamento da presente ação de indenização.
3. A revisão das premissas do acórdão recorrido demanda incursão no
contexto fático-probatório dos autos, defeso em recurso especial, nos termos
da Súmula n. 7 desta Corte de Justiça.
Agravo regimental improvido.
(AgRg no REsp 1527271/AM, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS,
SEGUNDA TURMA, DJe 30/06/2015 )

No recurso destacado, assim como no especial em exame, reconheceu-se,


em ação indenizatória, tratar-se de falha na prestação de serviço da empresa
recorrente, contratada para implementar a substituição de postes em Rodovia, ao
promover a derrubada de árvores, causando danos à cerca de propriedade da recorrida,
que resultou na fuga de animais de seu rebanho.
Cite-se, ainda, julgado de relatoria do preclaro Ministro Paulo de Tarso
Sanseverino:
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CIVIL E PROCESSUAL
CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. ASSALTO A BANCO. SUBMISSÃO A
TORTURA, VIOLÊNCIA FÍSICA, MORAL E SEXUAL NO CURSO DE
CÁRCERE PRIVADO DA FAMÍLIA DE GERENTE DA INSTITUIÇÃO
ASSALTADA.
(...)
3. Evidente o nexo de causalidade entre a conduta patentemente
negligente da instituição financeira, a representar falha na atividade fim
por ela prestada, consubstanciada na ausência de condições básicas de
segurança no estabelecimento bancário, conforme reconhecido pelas
instâncias de origem.
4. Ausência de segurança e condenável prática da condução de valores pelo
gerente entre municípios e em carro próprio a despertar o interesse dos
criminosos, garantiu-lhes ambiente propício para o cometimento dos abjetos
crimes à família do seu funcionário, enquanto este era conduzido ao
estabelecimento para concretizar o roubo.
5. Em que pese se possa vislumbrar a incidência de normas do CDC a
estender a caracterização de consumidor a todas as vítimas de um acidente
de consumo (art. 17), com a falha na prestação dos serviços bancários da
Documento: 77015465 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 1 7 de 18
Superior Tribunal de Justiça
qual adveio danos a terceiros, a Corte de origem analisou, no caso, a culpa
da instituição financeira, mostrando-se irrelevante examinar a questão na
perspectiva da responsabilidade objetiva.
6. Insindicável o valor arbitrado pela instância de origem a título de
indenização pelos danos morais quando não se revele exagerado, à luz dos
graves fatos considerados no acórdão (estupro, violência física, moral,
tortura, a que submetidos os indenizados), tendo-se por atraído o enunciado
7/STJ.
7. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
(AgRg no REsp 1337920/MG, Rel. Ministro PAULO DE TARSO
SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, DJe 08/10/2015)

Por fim, transcreve-se julgado de relatoria da ilustre Ministra Nancy Andrighi,


que além de reconhecer como falha na prestação de serviço a publicação incorreta de
nome e número de assinante em listas telefônicas, geradora de dano ao consumidor,
aplicou, para a ação de indenização intentada, o prazo prescricional de 5 (cinco) anos,
conforme proposto neste voto:
Consumidor. Recurso especial. Danos decorrentes de falha na prestação do
serviço. Publicação incorreta de nome e número de assinante em listas
telefônicas. Ação de indenização. Prazo.
Prescrição. Incidência do art. 27 do CDC e não do art. 26 do mesmo código.
- O prazo prescricional para o consumidor pleitear o recebimento de
indenização por danos decorrentes de falha na prestação do serviço é de 5
(cinco) anos, conforme prevê o art. 27 do CDC, não sendo aplicável, por
conseqüência, os prazos de decadência, previstos no art. 26 do CDC.
- A ação de indenização movida pelo consumidor contra a prestadora de
serviço, por danos decorrentes de publicação incorreta de seu nome e/ou
número de telefone em lista telefônica, prescreve em cinco anos, conforme o
art. 27, do CDC.
Recurso especial não conhecido.
(REsp 722.510/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, DJ
01/02/2006)

7. Diante do exposto, dou provimento ao recurso especial, a fim de cassar a


sentença e o acordão, estabelecendo o prazo de cinco anos (art. 27 do CDC) para a
prescrição da ação de indenização, determinando o retorno dos autos ao juízo de piso
para o prosseguimento da demanda.
É como voto.

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