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Fundamentos Biológicos

do Desenvolvimento Infantil
Marisa Laporta Chudo

2009
© 2008 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização
por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.

C559 Chudo, Marisa Laporta. / Fundamentos Biológicos do Desenvol-


vimento Infantil. / Marisa Laporta Chudo. — Curitiba:
IESDE Brasil S.A. , 2009.
144 p.

ISBN: 978-85-387-0665-6

1. Educação – Saúde. 2. Educação Infantil. 3. Pedagogia.


4. Saúde Escolar. 5. Biologia Educacional. I. Título.

CDD 613.0432

Capa: IESDE Brasil S.A.


Imagem da capa: Istock Photo

Todos os direitos reservados.

IESDE Brasil S.A.


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Batel – Curitiba – PR
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Marisa Laporta Chudo

Mestre em Educação em Ciências da Saúde pela Escola Paulista de Medicina


da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Especialista em Análises Clínicas
pela Universidade São Judas Tadeu (SP). Graduada em Biomedicina pela Universi-
dade de Mogi das Cruzes (SP). Atualmente ministra aulas no Ensino Superior.
Sumário
O desenvolvimento da criança
nos primeiros anos de vida.................................................... 13
Desenvolvimento da fecundação ao nascimento.......................................................... 14
Desenvolvimento após o nascimento................................................................................ 15
Desenvolvimento nos primeiros meses............................................................................. 16
Desenvolvimento nos primeiros anos................................................................................ 19
Desenvolvimento postural..................................................................................................... 23
Desenvolvimento da criança na escola:
importância do teste visual e auditivo............................................................................... 25

Alimentação da criança........................................................... 33
Alimentação na escola............................................................................................................. 42
Alergias alimentares.................................................................................................................. 45

A influência da relação
materno-infantil sobre a alimentação............................... 51
Relação materno-infantil e a nutrição................................................................................ 52
Leite e alimentos sólidos......................................................................................................... 54

Anemia ferropriva..................................................................... 65
Sinais de anemia......................................................................................................................... 70
Controle do esfíncter............................................................... 81
Resíduos orgânicos.................................................................................................................... 81

O sono e a criança..................................................................... 93
Os padrões de sono dos bebês............................................................................................. 95
Distúrbios do sono..................................................................................................................... 98

A importância da higiene.....................................................107
Higiene física..............................................................................................................................108
Higiene mental..........................................................................................................................109
Higiene do meio.......................................................................................................................111
Projeto político-pedagógico: temáticas e ações sobre saúde.................................115

Gabarito......................................................................................129

Referências.................................................................................139

Anotações..................................................................................143
Apresentação

Educação e saúde têm formado um elo inseparável para a sociedade devido


à sua importância no desenvolvimento de uma vida saudável. Atualmente, existe
um consenso sobre a necessidade de os professores possuírem conhecimentos
e habilidades profissionais abrangentes, e entre os vários temas que o educador
precisa conhecer estão as relações existentes entre educação e saúde.

Sem uma boa saúde o indivíduo não tem suas capacidades e seu potencial
plenamente desenvolvidos. As ações políticas em toda a sua história contemplam
essa integração no âmbito dos cursos formadores de professores, tendo em vista
ações dentro do contexto escolar. Em suma, é preciso ensinar saúde. Sabe-se
que crianças escolarizadas tendem a apresentar menos problemas de saúde, do
mesmo modo que crianças saudáveis apresentam melhores rendimentos escola-
res. Ou seja, crianças que crescem com saúde e educação têm maior possibilidade
de tornarem-se adultos com melhor qualidade de vida.

Este livro está organizado em sete aulas, iniciando com uma abordagem
das principais características do desenvolvimento biológico da criança nos pri-
meiros anos de vida. Em seguida apresenta-se a importância da alimentação da
criança destacando os nutrientes essenciais para o seu bom desenvolvimento e
crescimento. O terceiro capítulo apresenta a influência materna sobre a alimen-
tação da criança, ganhando destaque o contato e atenção sobre o ato de alimen-
tar. Na sequência aborda-se sobre a anemia ferropriva, e como devemos prevenir
essa doença que é cada vez mais comum em crianças. A quinta aula apresenta
como ocorre o controle do esfíncter, destacando esse ponto como um dos indi-
cadores de maturação orgânica. Em seguida, explica-se a importância do sono, os
padrões normais de sono do bebê, bem como os distúrbios do sono. Finalizando,
o livro traz uma abordagem sobre a importância da higiene física, mental e do
meio ambiente em que a criança brinca, bem como os cuidados para evitar a con-
taminação por verminoses. Lembrando que todos os assuntos estão relacionados
com os processos de desenvolvimento e aprendizagem das crianças.

Por essa razão, é fundamental que os futuros educadores estejam cons-


cientes de seu papel como cidadãos e como educadores e procurem conhecer os
aspectos vitais relacionados ao desenvolvimento da criança: seu crescimento, sua
alimentação, prevenção de doenças, interação saúde-indivíduo-ambiente, fato-
res da saúde comunitária e pública do país.

Dados levantados pela Secretaria Municipal de Educação de São Paulo re-


velam que existem, entre as crianças de unidades educacionais da capital, vários
problemas de saúde: 28% delas apresentam anemia; 72,9%, lesões e cáries dentá-
rias; 10,4%, problemas visuais; 20%, verminoses; 8%, desnutrição; 9,7%, obesida-
de; e 4,3%, baixa estatura.
Ações públicas foram desenvolvidas: “São Paulo é uma Escola”, concomi-
tantemente do projeto “Escola Promotora de Saúde”. Este segundo projeto pre-
tende incluir ações educativas em saúde no projeto pedagógico, com o objetivo
de contribuir para que a comunidade escolar se sinta motivada a refletir sobre
o significado da saúde e da qualidade de vida, e a discutir sobre as causas e
possíveis soluções para os problemas existentes na escola e nas comunidades.

A escola é o lugar ideal para a aplicação de programas de promoção de


saúde de amplo alcance e repercussão, já que exerce uma grande influência sobre
as crianças e adolescentes em cada etapa de seu desenvolvimento.

Marisa Laporta Chudo


O desenvolvimento da criança
nos primeiros anos de vida
Sim ao direito à vida
Sim à saúde e educação
Sim à cultura, lazer e esporte
Sim à igualdade, justiça e paz
Sim à plena cidadania

Albertina Duarte Takiut – CMDCA

O ciclo biológico do ser humano é considerado como sendo o desen-


volvimento embrionário-fetal, o nascimento, o crescimento, a reprodução,
o envelhecimento e a morte. O desenvolvimento e o crescimento se dão
pelos seguintes aspectos: desenvolvimento biológico, hereditário, adqui-
rido (como doenças), psicológico e socioambiental. Um ser humano ne-
cessita que seu crescimento e desenvolvimento sejam saudáveis desde o
início para que tenha condições favoráveis a uma vida plenamente satis-
fatória e exerça suas atividades por toda vida. Os estímulos adequados e
acompanhamento diário do ser que acaba de nascer farão com que qual-
quer problema detectado, nessa fase, seja monitorado por profissionais
capacitados, possibilitando plenas condições de tratamento e cura.

Segundo o Ministério da Saúde, considera-se crescimento o aumento do


tamanho corporal. É um processo dinâmico e contínuo que ocorre desde a
fecundação até a morte dos sistemas orgânicos, considerando os processos
de substituição e regeneração de tecidos e órgãos. Assim, o crescimento é
considerado como um dos melhores indicadores de saúde da criança.

Desenvolvimento é a transformação, complexa, contínua, dinâmica e


progressiva, que inclui, além do crescimento, a maturação, a aprendiza-
gem e os aspectos psíquicos e sociais.

Desenvolvimento psicossocial é o processo de humanização que inter-


-relaciona aspectos biológicos, psíquicos, cognitivos, ambientais, socio-
econômicos e culturais, mediante o qual a criança vai adquirindo maior
capacidade para mover-se, coordenar, sentir, pensar e interagir com os
outros e o meio que a rodeia; em síntese, é o que lhe permitirá incorporar-
-se, de forma ativa e transformadora, à sociedade em que vive.
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

Desenvolvimento
da fecundação ao nascimento
O crescimento e desenvolvimento humano se iniciam logo após a fecunda-
ção, dentro do útero. Durante os meses em que o feto está intrauterino, ele de-
senvolve mês a mês todos os seus órgãos (cérebro, fígado, rins etc.), sistemas
(nervoso, digestório, respiratório etc.), até que esteja completamente pronto
para nascer. Durante a vida intrauterina, o feto necessita retirar de sua mãe (pelo
cordão umbilical) todos os nutrientes (água, carboidratos, oxigênio etc.) para
seu completo desenvolvimento, interagindo com o meio em que vive: o útero
materno (o feto recebe os estímulos da mãe e manifesta reações para esses es-
tímulos, o chute, por exemplo). Portanto, o desenvolvimento humano saudável
requer que a relação mãe e filho, durante a gravidez e nos primeiros meses de
vida, seja prazerosa (afetiva e emocional) e responsável, o que será determinan-
te para o bem-estar de ambos, sobretudo para o crescimento da criança: físico,
emocional e social.

Embrião é o nome do ser em desenvolvimento desde o momento em que a


célula-ovo (que carrega toda herança genética) começa a se dividir até a oitava
semana, quando começa a ter forma humana. É chamado de feto após a oitava
semana até o nascimento. A placenta é o órgão por meio do qual o embrião, e
depois o feto, recebe alimento e oxigênio e elimina os excretos (por meio do
cordão umbilical). Observe abaixo:

Idade Característica

(SANTOS, 2002. Adaptado.)


4 semanas Com menos de 1cm de comprimento, o embrião já apresenta o cora-
ção batendo e os olhos parcialmente formados.
5 semanas Começam a se desenvolver os braços e as pernas, e o embrião já con-
trai seus músculos ao ser estimulado.
8 semanas Com aproximadamente 2,5cm de comprimento, o embrião já está
com forma humana.
12 semanas O feto está com os dedos bem formados e movimenta-se por conta
própria.
22 semanas O feto está com 20cm de comprimento e 500g de peso. Desenvolve-
-se rapidamente o aparelho respiratório.
32 semanas O feto já pode sobreviver fora do corpo da mãe.
38-40 semanas O feto já está pronto para nascer, com aproximadamente 50cm de
comprimento e peso de 3 a 3,5kg em média.

O bem-estar físico, emocional e social da mãe é importantíssimo para que ela


possa contribuir no desenvolvimento do bebê. Uma gravidez indesejada, doen-

14
O desenvolvimento da criança nos primeiros anos de vida

ças adquiridas, má alimentação, violência, estresse podem ser fatores determi-


nantes para patologias encontradas posteriormente na criança.

Desenvolvimento após o nascimento


Logo após o nascimento, observamos na criança características genotípicas
e fenotípicas e passa-se a acompanhar mensalmente seu desenvolvimento em
todos os aspectos durante os primeiros anos de vida.
As características fenotípicas (resultantes da interação entre o genótipo e o
meio) dividem-se em três:
 Hereditárias – são as características genéticas (cor dos olhos, altura, cor
do cabelo etc.).
 Congênitas – características adquiridas durante a gestação; por exemplo,
se a mãe adquire rubéola, o vírus pode atingir o embrião e a criança pode-
rá nascer com anomalias, como surdez.
 Adquiridas – de causas principalmente ambientais, como a paralisia in-
fantil.
O desenvolvimento biológico do corpo se dá a partir do desenvolvimento:
 Céfalo-caudal – o cérebro se liga aos demais órgãos do corpo. Primeiro a
criança sustenta a cabeça, depois senta, fica em pé e por último anda.
 Próximo distal – a maturação ocorre do centro do corpo para a periferia,
de dentro para fora; ocorre o controle dos órgãos dentro do tronco e pos-
teriormente desenvolvem-se braços e dedos.
O acompanhamento do crescimento e desenvolvimento da criança pode ser
analisado e observado levando-se em consideração:
 Desenvolvimento corporal
 Motor – controle dos movimentos.
 Curvas de crescimento – peso, altura, crescimento da circunferência da
cabeça e dos braços.
 Perceptivo – visão, audição, olfato, tato e paladar.
 Desenvolvimento cognitivo – linguagem e memória.

 Desenvolvimento psicossocial – social, emocional e adaptativo.

15
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

Para haver um desenvolvimento completo e saudável da criança, são neces-


sários: boa alimentação, hábitos de higiene, imunização contra doenças e cuida-
dos com o meio ambiente. Esses fatores influenciam diretamente a vida da crian-
ça, positivamente (quando a criança está bem alimentada, por exemplo, terá seu
sistema imunológico mais preparado para combater doenças, e terá um melhor
rendimento escolar) ou negativamente (criança sem hábitos de higiene e sem uma
boa alimentação terá comprometida a saúde, pois essa criança pode adquirir do-
enças, dificultando a aprendizagem e rendimento escolar). Pediatras afirmam que
bebês que têm uma alimentação saudável, um bom sistema imunológico e fisiolo-
gia normal em pleno desenvolvimento podem dobrar o seu peso com 180 dias.

Desenvolvimento nos primeiros meses

(GUTMAN, 2005. Adaptado.)


Mês Motor Cognitivo Social
1.º Coordenação motora grosseira (diversas ações refle- Percebe e reco- Comunica-se com
xas): estremecimento no queixo, tremor nas mãos nhece os bati- os olhos, que se
e sobressaltos; movimentos espasmódicos suaves. mentos cardíacos fixam em rostos
Assim que o sistema nervoso amadurece melhora da mãe. em resposta a um
o controle muscular. Dorme muito, precisa ser ama- Linguagem: vo- sorriso.
mentado, em média, de 3 em 3 horas. caliza, imita sons
além de chorar,
reage a vozes e
sons familiares.
2.º Coordenação motora grosseira: movimentos reflexos Linguagem: res- Percebe quem
começam a desaparecer e ações intencionais tornam- munga e emite lhe proporciona
se mais frequentes; o apoio do pescoço desenvolve- sons de vogais, bem-estar e
se, consegue erguer a 45 graus quando se deita de como “ah-ah”. carinho. Mostra
bruços; as pernas endireitam-se e podem dar um Ouve mais do sinais autênticos
impulso (apoio) para baixo quando apoiadas numa que enxerga. de felicidade e
superfície; com o desenvolvimento da flexibilidade cordialidade.
das articulações dos quadris e joelhos, os chutes fi-
cam mais fortes.
Coordenação motora fina: junta as mãozinhas, aperta
os objetos colocados na mão.
3.º Praticamente permanece inalterado. Linguagem: a Sorri frequen-
emissão de sons temente; troca
é estimulada ao sorrisos com os
ouvir a conversa pais e começa a
dos outros. mostrar preferên-
cia por eles.
4.º Coordenação motora grosseira: ergue a cabeça a 90 Pode reconhecer Vocaliza ou sorri
graus quando está deitado de bruços; mantém a ca- a mãe em um para começar
beça firme quando colocado em pé; quando deitado grupo de pessoas. ou responder a
sobre o estômago, o bebê consegue manter a parte Linguagem: ri socialização. Na
superior do corpo com os braços; consegue virar-se alto e pode dar medida em que
de lado. gritinhos de sa- aumenta sua mo-
Coordenação motora fina: alcança objetos, aperta um tisfação; balbucia bilidade, torna-se
chocalho e leva-o à boca. para si mesmo ou mais assertivo e
para os outros. curioso.

16
O desenvolvimento da criança nos primeiros anos de vida

Mês Motor Cognitivo Social


5.º Coordenação motora grosseira: mantém a cabeça fir- Antecipa o Gosta de
me quando é colocado em pé; consegue virar para objeto completo brincadeiras
um lado; flexiona os braços e arqueia as costas para mesmo somente socializantes.
erguer o peito; “balança-se” sobre o estômago, dá após ver parte Interessa-se por
chutes com as pernas e nada com os braços; agarra dele. Ri espon- outras crianças.
os pés e leva-os até a boca quando deitado de cos- taneamente, Demonstra expec-
tas. balbucia rotinei- tativas. Ergue os
Coordenação motora fina: agarra e faz força para al- ramente e pode braços para que
cançar objetos. combinar vogais o peguem; agarra
e consoantes. quando alguém o
segura.
6.º Coordenação motora grosseira: mantém a cabeça ni- Observa as bocas Prefere brincar
velada quando colocado para se sentar; com ajuda, atentamente e com pessoas,
senta-se direito. Inicia-se a dentição. procura imitar especialmente
Coordenação motora fina: alimenta-se de comidas sons e inflexões; os jogos de par-
simples; transfere objetos de uma mão para a outra, faz sons de esta- ticipação, como
vira-os de um lado para outro, gira-os de cabeça para lar a língua. esconde-
baixo. -esconde.

7.º Coordenação motora grosseira: senta-se sem apoio; Usa brincadeira Começa a
vira-se em ambas as direções. como esconde- mostrar humor.
Coordenação motora fina: consegue comer com -esconde para Quer ser incluído
maior firmeza; quando sentado consegue fazer mo- aprimorar-se. nas interações
vimentos de agarrar; move-se de bruços para frente Pode fazer vários sociais. Quer
para pegar um objeto fora do alcance; suporta algum sons em um fôle- explorar e mani-
peso nas pernas, começa a engatinhar. go só; reconhece pular tudo.
tons e inflexões
diferentes. Pode
fazer objeção de
alguém tentar tirar
seu brinquedo.
8.º Coordenação motora grosseira: suporta todo seu peso Começa a imitar Mostra autocons-
nas pernas; gosta de pular; quando sentado, dá um uma ampla va- ciência. Olha-se
giro para procurar objetos caídos; fica na posição sen- riedade de sons. no espelho e tem
tada usando os braços. Solidificação do quadril. Volta a cabeça consciência de
Coordenação motora fina: transfere objetos de uma em direção a sua imagem.
mão para a outra; junta pequenos objetos e pega-os sons e vozes
com a mão fechada; pega pequenos objetos fazendo familiares.
uma “pinça” com o polegar e o indicador.
9.º Coordenação motora grosseira: esforça-se para pegar Percebe quando Demonstra
objetos fora do alcance; faz progressos quando, sen- um dos pais ansiedade com
tado, tenta se levantar; mantém-se em pé agarrando deixa o ambiente estranhos e fica
em alguma coisa. e espera pela sua ansioso diante de
Coordenação motora fina: aprende a abrir os dedos e volta. Pode dizer, situações não ha-
a deixar cair objetos; brinca de esconde-esconde. aleatoriamen- bituais. Demonstra
te, “mamã” ou ansiedade de
“papá”. separação e torna-
se excessivamente
apegado.
10.º Coordenação motora grosseira: move-se agarrando Pode reagir ao Procura obter
nos móveis; por instantes fica em pé sem ajuda. seu nome ou a aprovação dos
Coordenação motora fina: interessa-se por coisas pe- palavras como pais e evita a
quenas; gosta de brinquedos que tenham manivelas “não”. reprovação. Com-
ou rodas que girem. preende o “não”.

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Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

Mês Motor Cognitivo Social


11.º Coordenação motora grosseira: consegue sentar-se e Diz “mamã” ou Fica com receio
virar na posição de bruços. “papá” intencional- de situações, ob-
Coordenação motora fina: institui a “pinça” feita com mente. A maioria jetos e barulhos
os dedos para pegar coisas; segura um lápis e ten- diz ao menos uma altos (medo de
ta rabiscar; consegue bater palmas e acenar com a dessas palavras escuro, aspirador
mão. por volta dos 14 de pó etc.).
meses.
12.º Coordenação motora grosseira: com auxílio, anda Diz alguma outra Desenvolve o
mais firme; começa a andar sem apoio. palavra além de senso de humor.
Coordenação motora fina: apanha pequenos objetos “mamã” ou “papá”. Demonstra afeto
do chão com habilidade; empilha blocos e forma tor- Muitos não dizem por pessoas e
res. nenhuma outra objetos, como
palavra além de dar abraços.
“mamã” ou “papá”
até os 14 meses
ou mais.

Desenvolvimento perceptivo: bebês nascem com os sentidos funcionando,


alguns mais desenvolvidos do que outros. O paladar, o tato e o olfato do recém-
-nascido são mais desenvolvidos, enquanto a visão é menos desenvolvida.

 Audição: ainda no útero, o feto de 28 semanas ouve e responde aos sons.


Após o nascimento, e durante o primeiro mês, é sensível a sons muito al-
tos. Reconhece sons e vozes familiares; acalma-se com vozes e música su-
ave. Reconhece a voz da mãe e volta a cabeça na direção do som. Por volta
do sétimo mês, localiza sons com precisão.

 Olfato, tato e paladar: recém-nascidos que mamam no peito reconhecem


a mãe pelo cheiro, preferem suavidade ao serem acariciados, abraçados e
embalados.

 Visão: enevoada ao nascer, embora tenha visão periférica; prefere con-


templar os objetos a uma distância de 20 a 40 centímetros de seu rosto.
Durante o primeiro mês, aprende a seguir objetos que se movem; prefere
branco e preto ou formas e rostos contrastados. Por volta do terceiro mês
acompanha objetos familiares; reconhece objetos e pessoas a distância.
Entre o quarto e o sétimo mês, diferencia as cores; prefere vermelhos e
azuis. No sétimo mês, a visão está totalmente desenvolvida.

Devemos sempre levar em consideração que todo o processo depende e


varia muito de criança para criança.

Uma criança que frequenta a escola desde bebê deve ser observada e estimu-
lada pela(s) pessoa(s) que diariamente cuida(m) dela. O papel da escola, nesse
momento, é o de incentivar a mãe a amamentar seu filho, registrar e informar
sobre o acompanhamento e evolução do crescimento da criança para que a
18
O desenvolvimento da criança nos primeiros anos de vida

mãe também possa observar, acompanhar e informar o pediatra a fim de que


o mesmo possa fazer sua avaliação. Também devemos considerar que a criança
percorre um processo de mudança psicossocial adaptativo, pois ela começa a
conviver mais cedo com o meio social e ambiental, diferente das crianças que
até o primeiro ano ficam sob os cuidados exclusivos da mãe.

IESDE Brasil S.A.


Desenvolvimento motor da criança
(primeiro ano de vida)

Recém-nascido reflexos subcortiais


1 mês segue a luz
2 meses
sorri, balbucia
3 meses sustenta a cabeça

4 meses
agarra objetos
5 meses gira sobre o abdômen
6 meses
mantém-se sentado
7 meses preensão palmar
8 meses pinça digital
9 meses põe-se sentado
10 meses engatinha

11 meses
de pé, dá passos com apoio
12 a 14 meses caminha só

Desenvolvimento nos primeiros anos


A partir do primeiro ano de vida, o processo de aprendizagem da criança é
uma constante e uma transformação crescente e rápida. A criança aprenderá a:
andar; subir e descer escadas; correr; falar; vestir-se; expressar suas vontades;
necessidades e desejos; exprimir suas emoções; aprender regras de convívio
social; controlar o corpo, como saber a hora de ir ao banheiro; pintar; escrever;
ler; pular; criar; enfim, colocar em prática todos os potenciais que o ser humano
tem e precisa desenvolver. Mas para isso acontecer é preciso ter boa saúde, ou
seja, bem-estar para ter um rendimento compatível ao aprendizado necessário.

19
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

Curvas de crescimento
As curvas de crescimento nos ajudam a quantificar o crescimento corporal da
criança. Estão relacionados às suas necessidades fisiológicas para o bom desen-
volvimento, tais como: possuir um bom sistema imunológico para não contrair
doenças, ter alimentação saudável e seu sistema corporal em perfeito funciona-
mento, como no que se refere à produção de hormônios que ajudam a crescer.
As curvas de crescimento medem peso, altura e circunferência da cabeça e do
braço em relação à idade da criança.

Crianças de baixo peso e altura podem indicar desnutrição (no entanto, outros
fatores como o genético podem estar presentes); a desnutrição faz com que a
criança apresente sinais como sonolência, desânimo, e possa contrair doenças
mais facilmente, deixando o rendimento escolar comprometido.

Atualmente, sabemos que temos um alto índice de crianças obesas. Crianças


que não fazem atividade física, pois ficam muito tempo paradas na frente de
computadores e videogames e ainda possuem uma alimentação desequilibrada,
rica em carboidratos e gorduras (fast food), são levadas à obesidade.

Os professores podem contribuir fazendo uma pesquisa com seus alunos,


medindo peso e altura dos mesmos e comparando os resultados com a tabela-
-padrão, não esquecendo que cada criança é uma e pode apresentar variações,
sem que sua saúde esteja comprometida. Com os dados em mãos, a professora
poderá desenvolver ações que auxiliem o desenvolvimento das crianças: ativida-
de física, aulas sobre boa alimentação, entre outras. Observe o crescimento e de-
senvolvimento de crianças acima de um ano na tabela e nos gráficos a seguir:
IESDE Brasil S.A.

Ótimo
Seu filho está com o peso ideal. Observe a linha
Atenção de seu filho
Seu filho está um pouco abaixo do peso ideal.
Bom
Cuidado
Perigo
Seu filho está acima do peso ideal.
Grande
Cuidado perigo
Seu filho está muito abaixo do peso ideal.

20
O desenvolvimento da criança nos primeiros anos de vida

Gráfico de peso X idade – de 2 a 5 anos

2 3 4 5

(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002)


anos 2 4 6 8 10 anos 2 4 6 8 10 anos 2 4 6 8 10 anos

25 25

24 24

23 23

22 22

21 21
P P
E 20 20 E
S 19 19 S
O O
18 18
Kg Kg
17 17

16 16

15 15

14 14

13 13

12 12

11 11

10 10

9 9
8 8
2 2 4 6 8 10 3 2 4 6 8 10 4 2 4 6 8 10 5
anos anos anos anos

Gráfico de altura X idade – de 2 a 5 anos

2 3 4 5

(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002)


anos 2 4 6 8 10 anos 2 4 6 8 10 anos 2 4 6 8 10 anos
120 120

115 115

110 110

A A
L L
T 105 105 T
U U
R R
A A

100 100

cm cm

95 95

90 90

85 85

80 80

75 75
2 2 4 6 8 10 3 2 4 6 8 10 4 2 4 6 8 10 5
anos anos anos anos

21
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

Gráfico de altura e peso X idade – de 5 a 10 anos

(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002)


5 8 6 7 2 8 2 9 2 10
anos 2 4 6 10 anos 2 4 6 8 10 anos 4 6 8 10 anos 4 6 8 10 anos 4 6 8 10 anos

A
150 150 L
T
145 145 U
R
140 140 A
A
L 135 135
T
U 130 130
R
A cm
125 125
120

115
cm 55
110 50

105 45
P
100 E
40 S
95 O
90 35
kg
30

P 25 25
E
S
O 20 20

15 15
kg
10 10
5 2 4 6 8 10 6 2 4 6 8 10 7 2 4 6 8 10 8 2 4 6 8 10 9 2 4 6 8 10 10
anos anos anos anos anos anos

O Ministério da Saúde aponta que entre

 10 a 12 meses: o bebê está crescido, gosta de imitar os pais, dá adeus, bate


palmas. Fala pelo menos uma palavra com sentido e aponta para as coi-
sas que ele quer. Come comidas sólidas, porém, precisa comer mais vezes,
(em pequenas porções) que um adulto. Gosta de ficar em pé apoiando-se
nos móveis ou nas pessoas. Engatinha ou anda com apoio.

 13 a 18 meses: a criança está cada vez mais independente: quer comer sozinha
e já se reconhece no espelho. Anda alguns passos, mas sempre busca o olhar
dos pais ou familiares. Fala algumas palavras e, às vezes, frases de duas ou três
palavras. Brinca com brinquedos e pode ter um predileto. Anda sozinho.

 19 meses a 2 anos: a criança já anda com segurança, dá pequenas corridas,


sobe e desce escadas. Brinca com vários brinquedos. Aceita a companhia
de outras crianças, mas brinca sozinha. Já tem vontade própria, fala muito
a palavra “não”. Sobe e mexe em tudo: deve-se ter cuidado com o fogo e
cabos de panelas. Corre e/ou sobe degraus baixos.

 2 a 3 anos: a criança gosta de ajudar a se vestir. Dá nomes aos objetos, diz


seu próprio nome e fala “meu”. A mãe deve começar, aos poucos, a tirar

22
O desenvolvimento da criança nos primeiros anos de vida

a fralda e ensinar, com paciência, o seu filho a usar o peniquinho. Ela já


demonstra suas alegrias, tristezas e raivas. Gosta de ouvir histórias e está
cheia de perguntas. Diz seu nome e nomeia objetos como sendo seus.

 3 a 4 anos: gosta de brincar com outras crianças. Tem interesse em apren-


der sobre tudo o que a cerca, inclusive contar e reconhecer as cores. A
criança ajuda a vestir-se e a calçar os sapatos. Brinca imitando as situações
do seu cotidiano e os seus pais.

 4 a 6 anos: a criança gosta de ouvir histórias, aprender canções, ver livros e


revistas. Veste-se e toma banho sozinha. Escolhe suas roupas, sua comida e
seus amigos. Corre e pula alternando os pés. Gosta de expressar as suas ideias,
comentar o seu cotidiano e, às vezes, conta ou inventa pequenas histórias.

Toda criança, além de crescer, ou seja, ganhar peso e altura, necessita adquirir
habilidades físicas e motoras. É muito importante observar permanentemente o
desenvolvimento físico e a postura da criança.

A finalidade de acompanhar o crescimento e desenvolvimento da criança é


detectar problemas orgânicos para um adequado encaminhamento aos profis-
sionais; estimular o indivíduo para que seu desenvolvimento melhore a qualidade
de vida e o aprendizado.

Desenvolvimento postural IESDE Brasil S.A.

Além do desenvolvimento físico e motor, é muito importante observar o de-


senvolvimento postural da criança. Crianças obesas, desnutridas, com proble-
mas físicos podem comprometer o desenvolvimento postural e levar a sérios
problemas na adolescência e/ou na fase adulta. Mães e professoras devem estar

23
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

atentas às crianças no caminhar, na postura dos ombros, quando estas estão


fazendo atividades físicas, na hora de se alimentar e também na hora de estudar.
Crianças que estudam deitadas e relaxadas comprometem a postura e a con-
centração, causando sonolência. Durante a alimentação, crianças que ficam na
frente da televisão relaxadas comprometem a digestão; esse hábito também
contribuirá para torná-las crianças obesas.

Observe:

 Toda criança de um ano de idade já deve começar a ficar de pé e dar os


primeiros passos.

 Aos dois anos já deve andar sozinha, usar as mãos para levar até a boca os
alimentos e falar muitas palavras.

 Aos três anos já deve saber comer sozinha e correr. A partir daí a criança
deve adquirir cada vez mais liberdade e segurança para realizar movimen-
tos e controlar seu corpo.

Uma criança “quieta” e que não dá trabalho pode ser sinal de que alguma coisa
não vai bem com o seu desenvolvimento físico. Observe o seu jeito de andar,
comer e sentar. Crianças que caem com frequência, que reclamam de dores nas
pernas, nas costas e cansaço precisam ser avaliadas e orientadas. Na adolescên-
cia, quando o corpo cresce e se modifica rapidamente, os vícios de postura são
muito comuns (ombros caídos, coluna torta, pés planos) e precisam ser avaliados
para que não se transformem em problemas sérios de saúde na idade adulta.

Portanto, além da vigilância, é necessário oferecer à criança e ao adolescente


estímulos e condições apropriadas para um bom desenvolvimento físico e uma
boa postura. É importante brincar, praticar esportes e ter contato com a nature-
za. Tudo isso é essencial para ter corpo e mente saudáveis. Pense nisso, qualquer
dúvida encaminhe a criança a um serviço de saúde.
Giselle Saporito.

Giselle Saporito.

Maneira incorreta de se sentar. Maneira correta de se sentar.

24
O desenvolvimento da criança nos primeiros anos de vida

Desenvolvimento da criança na escola:


importância do teste visual e auditivo
Segundo Granzoto (2008),
[...] a visão, essencial para o aprendizado, é responsável pela maior parte da informação sensorial
que recebemos do meio externo. A integridade desse meio de percepção é indispensável para
o ensino da criança. Com o ingresso na escola, passamos a desenvolver mais intensamente as
atividades intelectuais e sociais, diretamente associadas às capacidades psicomotoras e visuais.

Granzoto (2008) aponta que dados do Ministério da Educação indicam que o


número de alunos na primeira série do Ensino Público Fundamental é de quase
6 milhões. Entretanto, somente parte inexpressiva dessa população se submete
a algum tipo de avaliação oftalmológica antes de ingressar na escola.

A capacidade visual desenvolvida nos primeiros anos de vida pode apresen-


tar alterações reversíveis, como quadros de estrabismo, astigmatismo e miopia,
que aparecem geralmente durante os primeiros anos escolares. A observação e
o reconhecimento da baixa visão durante a infância são da maior importância,
pois na maior parte das vezes podem ser corrigidos com tratamentos simples e
adequados.

Professoras devem estar atentas às crianças que reclamam muito de dores de


cabeça, que coçam ou esfregam muito os olhos, e aquelas que franzem a testa
quando fazem leituras de perto ou de longe. Nesses casos convém avisar os pais
para encaminhar a criança para exames.

A escola deve motivar e incentivar o uso de óculos ou tampões pelas crianças


que, segundo diagnóstico seguido de prescrição, necessitarem. Deve também
coibir brincadeiras e comentários mal-intencionados de outras crianças. A escola
precisa ter cuidado na hora das brincadeiras pedagógicas, na hora do lanche
e nas atividades físicas para evitar que a criança sofra um acidente como uma
queda, por exemplo.
Considerando a importância da visão na educação e socialização da criança, as ações de
promoção da saúde e de educação em saúde assumem importância decisiva. A prevenção e
a detecção precoce de deficiências oculares são os melhores recursos para combate à visão
subnormal e devem ser feitas, preferencialmente, na infância. Para atingir o objetivo comum
da saúde da criança em idade escolar, é necessária a ação integrada lar-escola-comunidade.
(GRANZOTO, 2008)

Os testes devem ser feitos preferencialmente por pessoas da área da saúde,


que estão preparadas e treinadas para fazer o diagnóstico da criança, ou em clí-
nicas especializadas.

25
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

Segundo a fonoaudióloga Letícia Cintra (2008),


[...] tanto as perdas auditivas como as desordens no processamento auditivo podem trazer
sérias consequências para o desenvolvimento da linguagem, como também podem dificultar
as relações sociais, comprometer o comportamento escolar, fragilizando as emoções da
criança. Por esses motivos, o diagnóstico e o tratamento devem ser realizados o quanto antes,
de preferência logo que detectada qualquer dúvida a respeito da audição, da linguagem
e da aprendizagem escolar da criança. [...] As desordens do processamento auditivo são
diagnosticadas a partir de exames específicos (avaliação do processamento auditivo) e da
observação de manifestações comportamentais da linguagem compreensiva e expressiva
(oral e escrita), comportamento social e desempenho escolar realizados no ambiente familiar
e da escola. Esses exames e avaliações são realizados por fonoaudiólogos. O tratamento dessas
alterações acontece, progressivamente, em sessões de fonoterapia.

Texto complementar

A escola promotora de saúde


(MOREIRA; QUEIROZ, 2008)

“A escola pública, exercendo uma função articuladora no meio social,


pode ser um poderoso instrumento nas mãos da população para o enfrenta-
mento dos seus problemas” (GADOTTI, 2000).

A promoção da saúde, definida na Carta de Ottawa (1986) como “o pro-


cesso de capacitação da comunidade para atuar na melhoria da qualidade
de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle do processo”
preconiza que “para atingir um estado de completo bem-estar físico, mental e
social os indivíduos devem saber identificar aspirações, satisfazer necessida-
des e modificar favoravelmente o meio ambiente.” Partindo desse contexto, a
prática da promoção da saúde poderá ser exercida em ambientes diversifica-
dos, como centros de saúde, empresas, escolas, residências e outros espaços.

No contexto escolar, a promoção da saúde poderá estar incluída na pro-


posta político-pedagógica das escolas, envolvendo a estrutura escolar e as
parcerias comprometidas com a proposta de trabalho elaborada. A promo-
ção da saúde no âmbito escolar requer o desenvolvimento de ações integra-
das com os diversos assuntos que envolvem educação, saúde, meio ambien-
te, trabalho, cultura, música, educação física, alimentação saudável, moradia
e outros, considerando que “a saúde se cria e se vive na vida cotidiana, nos
centros de ensino, de trabalho e de lazer [...]” (MINISTÉRIO da Saúde Promo-

26
O desenvolvimento da criança nos primeiros anos de vida

ção da Saúde, 1999) e, ainda, que a “escola tem um papel relevante em re-
lação à educação da personalidade e, como consequência, no estilo de vida
das pessoas para que tenham saúde” (MARTÍNEZ, 1996).

Uma escola engajada com a saúde e a vida do cidadão aborda conteúdos


que visem ao desenvolvimento integral da pessoa e à diminuição de sua vul-
nerabilidade frente às doenças, o que contribuirá para a adoção de estilos de
vida mais saudáveis.

A saúde e a educação são áreas estratégicas da sociedade que, trabalha-


das a partir da escola, permitem pensar no cidadão que assume a sua parcela
de responsabilidade por sua saúde e condições de vida.

A comunidade, a família e a escola são segmentos que interagem em


íntima relação com o contexto social em que estão situados e, portanto, não
podem estar dissociados de um processo educativo mais integral. Mediante
os temas transversais estabelecidos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCN) – entre os quais se inclui saúde – o professor pode explorar os assuntos
da área de saúde com mais propriedade, aproveitando todas as oportunida-
des e situações vividas no cotidiano escolar.

Componentes essenciais para a implantação


de uma escola que trabalha a promoção da saúde
A promoção da saúde implica, entre outras coisas, a construção de uma
política que agrega as áreas de saúde, educação, meio ambiente, assistência
social, esporte, cultura, trabalho, organizações governamentais e não-gover-
namentais que atuam na área social.

O trabalho na escola que se propõe a promover a saúde é realizado de


forma intersetorial, com a mobilização e participação direta da comunidade,
desde as decisões sobre o projeto de trabalho e o envolvimento de toda a
escola e unidade de saúde, comunidade de pais, voluntários, empresas, par-
ceiros diversos, até a sua execução e avaliação.

Como componentes essenciais que identificam uma escola que busca


promover a saúde, estão o desenvolvimento de habilidades e práticas sau-
dáveis visando melhorar os padrões de saúde e projetos que envolvem as
crianças, adolescentes e adultos em um processo de reflexão sobre o cotidia-
no, sobre a adequação e conservação dos espaços físicos, entorno da escola

27
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

e comunidade e outros fatores fundamentais para que, na prática, sejam de-


senvolvidas habilidades pessoais que contribuam para uma vivência mais
comprometida com a qualidade de vida.

Desafios da prática docente


Partindo do ambiente escolar, no qual alunos, professores, funcionários e
direção necessitam buscar, criar e manter espaços para projetos que levem
essas pessoas a viver melhor e resolver as questões que envolvem especial-
mente os alunos, não apenas na escola, mas também em seu ambiente fami-
liar e comunitário, é necessária uma prática docente diferenciada, na qual o
professor será convidado a:

 participar ativamente da elaboração, execução e avaliação do projeto


político-pedagógico da escola, juntamente com os atores da comu-
nidade local envolvidos no processo (pais, parceiros, Poder Público,
ONGs e outras instituições locais/regionais);

 conhecer e trabalhar temas de saúde reconhecidos como de urgên-


cia social e indispensáveis, tais como sexualidade, DST/aids, gravidez
precoce, drogas, alimentação saudável, saúde bucal, estilos de vida
saudável, nas quais esteja presente a atividade física; entre esses te-
mas deve se dar ênfase à prevenção e ao tratamento da obesidade, do
tabagismo e do alcoolismo e suas consequências, como a violência;

 estimular, em todo o ambiente escolar, a consciência de direitos e


deveres e o exercício da cidadania, pela prática diária de uma escola
aberta à comunidade e preocupada com a melhoria dos seus padrões
de vida e pelo desenvolvimento de programas e projetos sociocomu-
nitários que apoiem a ação da escola para trabalhar essas questões;

 explorar continuamente o potencial das tecnologias de comunicação;

 contribuir para que o ambiente escolar e seu entorno seja saudável, en-
volvendo, nesse processo, os alunos, funcionários, pais e comunidade;

 estimular a participação da comunidade, estabelecendo parcerias


com empresas e comércio local, associação de moradores, associações
beneficentes, entidades de classe, ONGs, estados e municípios;

 partilhar o espaço físico da escola com a comunidade.

28
O desenvolvimento da criança nos primeiros anos de vida

Atividades
1. Uma professora reuniu 10 alunos, todos com 4 anos, mediu peso e altura e
chegou aos resultados da tabela a seguir. Observe nos gráficos da apostila e
veja se essas crianças estão com peso e altura compatíveis com a idade.

Aluno Peso Altura Resposta


1 16kg 96cm
2 20kg 103cm
3 13kg 95cm
4 22kg 98cm
5 14kg 100cm
6 19kg 105cm
7 11kg 92cm
8 23kg 96cm
9 13,5kg 94cm
10 17kg 106cm

2. O desenvolvimento infantil deve ser acompanhado e estimulado levando-se


em consideração todos os fatores que possam interferir antes e/ou depois
do nascimento. Quais são esses fatores?

29
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

3. Como o(a) educador(a) pode contribuir para o desenvolvimento postural do


aluno?

30
O desenvolvimento da criança nos primeiros anos de vida

Dicas de estudo
O CORPO Humano: a incrível jornada do homem do nascimento à morte.
Apresentado por Robert Winston. v. 2. Coleção Super Interessante. 1 DVD, color.

O Volume 2 dessa coleção aborda o desenvolvimento infantil de uma maneira


global do ser biológico, psicológico e social. Mostra-nos várias etapas e situações
de desenvolvimento da criança e sua relação com o meio em que vive. Observe
durante o filme as diferenças e como é possível estimular o desenvolvimento
motor, cognitivo e psicossocial.

CARTILHA. Síndrome de Down: estimulação precoce 2 a 5 anos. Disponível em:


<www.projetodown.org.br>. Acesso em: 20 fev. 2008.

A cartilha destaca que a síndrome de Down (SD) é essencialmente um atraso


no desenvolvimento, tanto das funções motoras do corpo como das funções
mentais. Faz uma abordagem sobre o trabalho de estimulação que procura dar
à criança condições para desenvolver-se desde o nascimento, explorando ao
máximo suas capacidades, ajudando a alcançar as fases seguintes do desenvol-
vimento. A importância dessa pesquisa refere-se à atuação dos profissionais da
educação que devem conhecer e estar preparados para a inclusão de crianças
portadoras de necessidades especiais nas salas de aula regular.

REVISTA CRESCER. Infância. Disponível em: <http://revistacrescer.globo.com/


Crescer/0,191 25,EFC429774-2335,00.htm>. Acesso em: 20 fev. 2008.

Esse site aborda o tema crescimento e relata situações em que crianças em


fase de crescimento podem apresentar dores nas pernas. Essa dor é chamada de
dor do crescimento. De dia a criança está brincando normalmente e se queixa
de dor nas pernas durante a noite. Conhecer esse assunto torna-se relevante
para saber como diagnosticar e proceder com as crianças que possuem dores
do crescimento.

31
Alimentação da criança

Quando se trata de alimentação, muitas pessoas logo pensam no leite


materno como o primeiro alimento da criança. Mas deve-se considerar a
nutrição do feto e não somente após o nascimento.

Para desenvolver-se, o feto necessita de nutrientes que são obtidos da


mãe através do cordão umbilical. Por isso é necessário que todas as ges-
tantes se alimentem de forma saudável, para passar ao feto todos os nu-
trientes necessários ao fortalecimento do seu organismo.

Após o nascimento, o bebê necessita receber alimento, que nessa fase deve
ser exclusivamente o leite materno, pois ele possui nutrientes essenciais para
a criança, como água, proteínas, lipídios, carboidratos, vitaminas, cálcio,
fósforo, ferro, sódio, potássio e os anticorpos. Os anticorpos são nossas
células de defesa contra doenças e os bebês nascem sem essa defesa, por
isso devem ser vacinados na maternidade e nos primeiros anos de vida.
Veja a tabela de vacinação a seguir:
Calendário de vacinação infantil

(Disponível em: <www.cedipi.com.br/calendario_crianca.htm>.)


Idade Vacina Dose
BCG Única dose
Ao nascer
Hepatite B 1.ª dose
1 mês Hepatite B 2.ª dose
6 semanas Rotavírus 1.ª dose
Tríplice acelular
Haemophilus influenzae tipo b
2 meses 1.ª dose
Poliomielite (Salk/Sabin)
Pneumococo 7-V conjugada
3 meses Meningococo C conjugada 1.ª dose
14 semanas Rotavírus 1.ª dose
Pneumococo 7-V conjugada
Tríplice acelular
4 meses 2.ª dose
Haemophilus influenzae tipo b
Poliomielite (Salk/Sabin)
5 meses Meningococo C conjugada 2.ª dose
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

Pneumococo 7-V conjugada


Tríplice acelular
Haemophilus influenzae tipo b
6 meses 3.ª dose
Poliomielite (Salk/Sabin)
Hepatite B
Influenza
A partir de
Febre amarela
9 meses
Tríplice viral (sarampo, caxumba, rubéola)
A partir de Varicela
1.ª dose
1 ano Hepatite A
Meningococo C conjugada (reforço)
Pneumococo 7-V conjugada
Tríplice acelular
15 meses 4.ª dose
Haemophilus influenzae tipo b
Poliomielite (Salk/Sabin)
18 meses Hepatite A 2.ª dose
Tríplice viral 2.ª dose
4 a 6 anos Tríplice acelular 5.ª dose
Poliomielite (Salk/Sabin) 5.ª dose

Dupla adulto (difteria + tétano) ou Reforço a


14 a 16
cada 10
anos dTpa (difteria + tétano + pertússis acelular) anos
Adaptado das recomendações publicadas pela Sociedade Brasileira de Imuniza-
ções (SBIM, 2005), Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP, 2005) e Programa Nacio-
nal de Imunizações (Ministério da Saúde do Brasil, 2004).

Além das primeiras vacinas, a criança precisa receber anticorpos de sua mãe,
pois as vacinas são insuficientes para a completa proteção do bebê, e elas prote-
gem somente contra as doenças específicas. Para a proteção de todas as outras
doenças, o bebê precisa dos anticorpos da mãe que são transferidos pelo leite
materno. A criança só passará a produzir seus próprios anticorpos mais ou menos
a partir dos 5-6 anos.

Crianças que não foram amamentadas com o leite materno de maneira su-
ficiente e passaram a frequentar as escolas (creches e berçários) são mais sus-
cetíveis a doenças, por isso ouvimos algumas pessoas dizer: “Foi só entrar na
escola e meu filho(a) ficou doente”. Evidentemente, a criança, sem as defesas
necessárias ao organismo e passando a conviver com outras crianças, adoecerá
mais facilmente.

Em países e regiões onde há muita pobreza, ocorre o agravante de que a


alimentação pode ser escassa e muitas mães podem ter uma alimentação de-

34
Alimentação da criança

ficiente; mas, mesmo que a mãe não se alimente adequadamente, seu leite é
fundamental para o bebê e ela deve ser incentivada a amamentar.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a amamentação exclusiva é


recomendada nos primeiros seis meses de vida. Com a introdução de alimentos,
que variam de acordo com fatores sociais, econômicos e culturais da população,
a amamentação deve ser de no mínimo um ano. Damos o nome de desmame
quando ocorre a retirada do leite humano da criança. Advertimos que essa inter-
rupção do leite materno precisa ser gradual para que o organismo da criança se
adapte a novos tipos de alimentos. Vale lembrar a importância da higienização
dos alimentos para o preparo das refeições e dos utensílios que o bebê utiliza.

A função da escola nesse momento é o de incentivar as mães a ir à escola


amamentar seus filhos, e na impossibilidade orientar a coleta de seu leite duran-
te o dia para que seja oferecido para a criança no dia seguinte (desde que con-
servado em geladeira). Deve ser incentivada a amamentação durante a noite.

A amamentação é muito importante para a mãe e para o bebê. É o momento


em que, além do alimento, a criança recebe o afeto, o carinho e a proteção que ele
sentia durante o seu desenvolvimento intrauterino. A falta desse momento entre
eles poderá ter consequências no desenvolvimento da personalidade da criança,
afetando também a saúde mental do bebê e de sua mãe (BRÊTAS, 2006).

Quando é iniciada a introdução de alimentos e do leite não-humano, são ne-


cessários alguns cuidados, como estimular a criança a aprender a deglutir, toman-
do cuidado para que ela não engasgue com pedaços grandes de alimentos, ofe-
recendo uma variedade de alimentos que contenham nutrientes diferentes, além
de incentivar que a criança coma lentamente para fazê-la sentir que a alimentação
é prazerosa. Não se deve obrigar a criança a comer, devemos respeitar cada uma
delas, mas estimular a alimentação é fundamental. Lembre-se de que na alimen-
tação devemos incluir todos os tipos de alimentos para que a criança receba uma
variedade de nutrientes capazes de suprir as necessidades do corpo. Quando há
a falta de nutrientes, dizemos que a criança tem carências nutricionais.

Para incentivar uma alimentação equilibrada, precisamos conhecer as princi-


pais funções dos nutrientes para nosso organismo:

Água – é fundamental para todos os processos metabólicos do corpo. Res-


saltamos a importância de manter as crianças hidratadas, pois elas estão sempre em
movimento e por isso necessitam de maior quantidade. Crianças que apresentam
quadro de desidratação por diarreias e vômitos devem receber cuidados médicos.

35
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

Carboidratos – são os energéticos: açúcares e amidos que nos dão energia


rápida. Isso quer dizer que, quando necessitamos correr, por exemplo, essa ener-
gia é captada ou transformada por meio dos carboidratos. As crianças precisam
de maior ingestão de carboidratos (pães, massas, arroz, se possível todos integrais,
pois contêm fibras que ajudam no funcionamento do intestino) já que elas estão
em constante movimento e a tendência é gastar maior quantidade de energia.

Entretanto, chamamos a atenção para um problema mundial que atinge in-


clusive crianças: obesidade e diabetes. Grande parte desses problemas decorre
da ingestão exagerada de carboidratos por crianças que não brincam, não pra-
ticam esportes e permanecem longo tempo diante de televisões, videogames e
computadores. Quando estão paradas, seus corpos não consomem os carboi-
dratos que são ingeridos e o excesso de carboidratos vai sendo armazenado na
forma de gordura, causando obesidade e/ou diabete infantil.

Gorduras – também são energéticos e servem para fornecer energia quando


a dos carboidratos for insuficiente, principalmente para manter nosso corpo
aquecido, pois as gorduras ajudam a evitar a perda de calor, controlando assim
a temperatura do corpo. Gorduras em excesso ficam armazenadas e vão se acu-
mulando, causando sérias consequências ao organismo. Conseguimos diferen-
ciar de uma maneira simples as gorduras boas das gorduras prejudiciais à saúde.
Temos as gorduras “boas” que são as de origem vegetal (azeite, óleo), e as “más”,
que são as de origem animal (banhas, carnes gordurosas). A ingestão excessiva
de gorduras ruins pode causar colesterol alto, hipertensão, obstrução dos vasos
sanguíneos e obesidade.

Há vários tipos de gorduras contidas nos alimentos que são apresentadas nos
rótulos das embalagens e que merecem atenção especial. São elas:
 gorduras insaturadas, que podem ser divididas em: monoinsaturada (boa),
poli-insaturada (boa);
 gordura saturada (ruim);
 gordura trans (ruim);
 gordura ômega (boa);
 colesterol (ruim, dependendo da quantidade).
Vamos entender cada uma delas:
Gorduras insaturadas são provenientes de vegetais e produzem efeito posi-
tivo, pois elas ajudam a elevar o HDL (bom colesterol) no nosso sangue. E o que
o HDL faz? Ele é como um “exército” que coloca a gordura que ingerimos para
dentro das células; isso quer dizer que a gordura fica armazenada e somente
36
Alimentação da criança

será retirada quando precisarmos para energia. Logo, quanto mais gordura “boa”
ingerimos, mais teremos armazenada, porém ela fica dentro das células.
As gorduras saturadas são oriundas das gorduras animais; elas têm um efeito
negativo porque aumentam o LDL (mau colesterol) no nosso sangue. E o que ele
faz? Ele retira toda a gordura armazenada dentro das células e joga no sangue, e
isso em quantidades grandes poderá se acumular nas paredes dos vasos sanguí-
neos e obstruí-los, levando o indivíduo à morte.
Gorduras trans são originárias do processo de industrialização, muito en-
contradas em margarinas. As margarinas são gorduras vegetais, logo deveriam
ser boas. Em alguns casos, o processo de industrialização, para deixá-las duras,
transforma essa gordura na pior gordura que possamos ingerir, pois ela aumen-
ta muito a quantidade de LDL no sangue.
Gorduras ômega são muito encontradas no salmão e adicionadas em alguns
óleos vegetais. São boas porque quebram grandes moléculas de gordura ruim
em pedaços menores (por isso é chamada ômega 3: quer dizer que ela quebra a
molécula em três; se for ômega 6, em seis partes), fazendo com que moléculas
grandes, com maior risco de obstruírem vasos sanguíneos, fiquem em tamanhos
menores, diminuindo os riscos de obstrução dos vasos.
Colesterol é gordura de origem animal importante para nosso organismo,
pois necessitamos dela para a produção de hormônios. Contudo, necessitamos
de pouca quantidade e não em excesso.
Proteínas – são elas que constroem nosso corpo e nos dão sustentação,
chamamos de “tijolos”. São fundamentais para o desenvolvimento da criança.
Nossas células necessitam de proteínas para a construção de pelos, unhas, cabe-
los e tecidos de todos os órgãos. Agem até na cicatrização dos ferimentos.
Corel Image Bank.

Comstock Complete.

IESDE Brasil S. A.

Proteínas de origem animal estão presentes nos ovos, lácteos em geral, carnes e peixes.
37
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

Istock Photo.
IESDE Brasil S. A.
Istock Photo.
Proteínas de origem vegetal podem ser encontradas em abundância nos frutos secos, na soja, nos
legumes, nos cogumelos e nos cereais completos (com gérmen).

Vitaminas – antes eram chamadas de “vital amina ou amina vital”, depois


passaram a chamar-se vitaminas. São reguladoras e controlam nosso organismo
em vários processos.

(Disponível em: <www.horti.com.br/home/dicas/saude/tabela_vitaminas.htm>.)


Vitaminas: suas funções e fontes de origem

Vita- Nome Estados caren- Fontes de origem 


Observações Funções
mina  químico ciais Animal Vegetal
1. Favorece o
crescimento
normal. Geralmente,
2. Protege a visão 1. Distúrbios em forma
e participa da oculares: xerof- de precurso-
formação da púr- talmia (secura res: cenoura,
pura retiniana. da conjuntiva), pimentão,
3. Protege os hemerolepia (ce- alface,
epitélios. gueira noturna), agrião,
Óleo de
querotomálacia abóbora,
4. Participa do fígado de
(ulceração da cór- beterraba,
Retinol metabolismo bacalhau,
Lipossolúvel nea), dificuldade tomate,
(vitamina dos corticoides, fígado,
A (em excesso de adaptação espinafre,
antixerof- colesterol e hor- rins, leite,
prejudica). visual e fotofobia. couve, man-
tálmica). mônios sexuais. manteiga,
2. Distúrbios ga, mamão,
queijo, nata,
5. Aumenta a cutâneos e das banana e
gema.
resistência às mucosas. vegetais
infecções – efeito 3. Diminuição de cores
indireto devido à da resistência às vermelha,
proteção da pele infecções. laranja,
e mucosas. 4. Atraso no amarela e
6. Estimula a crescimento. verde-
formação da -escuro.
dentina e do
esmalte.
Levedura,
arroz inte-
Hidrossolúvel 1. Favorece o 1. Beribéri. gral, trigo
(destrói-se com crescimento e o 2. Falta de apetite, integral,
o calor. Tem metabolismo dos cansaço. aveia, bata-
Tiamina Carnes,
suas necessida- tecidos. ta, ervilha,
(Vitamina 3. Constipação aves, gema,
B1 des aumenta- 2. Aumenta o legumino-
antiberi- atônica. leite, fígado,
das quando se apetite. sas, maçã,
bérica). 4. Debilidade rins.
ingere álcool 3. Estabelece pêra, amei-
ou açúcar o equilíbrio muscular. xa, pêssego,
refinado). nervoso. 5. Irritabilidade. banana, no-
zes, folhas
verdes.

38
Alimentação da criança

Vitaminas: suas funções e fontes de origem

Vita- Nome Estados caren- Fontes de origem 


Observações Funções
mina  químico ciais Animal Vegetal
1. Protege a pele.
2. Protege os 1. Queilose (fissu- Levedu-
olhos. ra nos lábios). Carnes, ra, trigo
Ribo-
3. Dá vitalidade 2. Estomatite e aves, integral,
flavina Hidrossolúvel
às células ner- glossite peixes, leite, soja, vagem,
B2 (vitamina (destruída pela
vosas. 3. Prurido (derma- manteiga, legumino-
do cresci- luz).
4. Favorece o tite). queijo, sas, ameixa,
mento).
crescimento e o 4. Antibioticotera- fígado, ovos. pera, folhas
metabolismo dos pia prolongada. verdes.
tecidos.
Levedu-
1. Atua na
1. Dermatite. ra, trigo,
síntese de várias
2. Distúrbio Carnes, aveia, arroz
substâncias de
Ácido pan- degenerativo do gema, leite, integral,
B5   importância
totênico. sistema nervoso. rins, fígado, batata, ervi-
biológica.
3. Transtornos geleia real. lha, couve,
2. Auxilia o meta-
gastrintestinais. couve-flor,
bolismo em geral.
tomate.
1. Degeneração e
atrofia de vários
1. Atua em certas órgãos.
funções do siste- Batata,
Carnes,
ma nervoso. 2. Disfunção do legumes,
B6 Piridoxina. Hidrossolúvel. fígado, rins,
sistema nervoso melado, tri-
2. Ativa o meta- ovos.
central. go integral.
bolismo proteico.
3. Alterações
cutâneas.
Cianoco- 1. Regula o ana- Carnes,
balamina bolismo proteico. fígado, rins,
Anemia perni-
B12 (vitamina bacalhau, Levedura.
2. Influi na hema- ciosa.
antianêmi- leite, queijo,
ca). topoiese. ovos.
Trigo inte-
gral, batata,
espinafre,
1. Importante Carnes,
Ácido Anemia nacrocí- ervilha, fei-
Ácido para muitas peixes, ovos,
pteroil tica da gravidez e jão, cenou-
fólico reações metabó- leite, queijo,
glutâmico. da lactação. ra, laranja,
licas. fígado, rins.
levedura,
vegetais
folhosos.
1. Favorece o
crescimento.
2. Fortalece os Pimentão
1. Escorbuto.
ossos. verde,
2. Gengivites.
3. Dá vitalidade tomate,
3. Diátese he-
Ácido Hidrossolúvel às gengivas. espinafre,
morrágica (vasos
ascórbico (destrói-se 4. Dá vitalidade ervilha, ce-
frágeis). Fígado e
C (vitamina com a fervura a aos vasos. noura, bró-
4. Diminuição rins.
antiescor- armazenagem 5. Aumenta colis, limão,
da resistência às
bútica). larga). a resistência laranja, cajá,
infecções.
orgânica. goiaba,
5. Perda do apeti-
6. Reforça a atua- mamão,
te, cansaço.
ção do ferro. abacaxi.
7. Efeito anties-
tresse.

39
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

Vitaminas: suas funções e fontes de origem

Vita- Nome Estados caren- Fontes de origem 


Observações Funções
mina  químico ciais Animal Vegetal
1. Influencia o
Lipossolúvel Óleo de
Calciferol equilíbrio do
(o organismo fígado de
(vitamina cálcio e fósforo.
sintetiza esta bacalhau,
anti-raquí- 2. Favorece a ab-
vitamina devi- peixes, ova,
tica) D2 sorção intestinal 1. Raquitismo.
D do à presença fígado, leite, Cacau.
– Ergocal- do cálcio. 2. Osteomalácia.
do ergosterol manteiga,
ciferol D3 3. Favorece a re-
na pele e é queijos inte-
– Calcife- tenção de cálcio
prejudicial em grais, gema
rol. e fósforo nos
excesso). de ovo.
ossos e dentes.
Germes de
1. Influencia a cereais, óle-
função reprodu- os vegetais,
tora. Óleo de sementes,
Tocoferol 2. Favorece o 1. Esterelidade fígado de nozes,
(vitamina metabolismo carencial. bacalhau, castanha,
E
da fertili- muscular. 2. Distrofia mus- fígado, ovos, banana,
dade). 3. Antioxidan- cular. manteiga, repolho,
te, protege as leite. espinafre,
células de danos folhas
e degeneração. verde-
-escuras.
1. Furunculose
1. Protege a pele. Levedura,
carencial.
arroz inte-
2. Favorece o 2. Seborreia do Leite, queijo,
gral, ervilha,
H Biotina. metabolismo couro cabeludo carne, ovos,
banana, la-
das proteínas e (caspa). fígado, rins.
ranja, maçã,
glicídios. 3. Eczema caren-
nozes.
cial.
Lipossolúvel (o
organismo bem Repolho,
1. Atua na coagu-
nutrido que espinafre,
lação do sangue
recebe quotas folhas
(indispensável
adequadas em geral,
Naftoqui- ao fígado para 1. Hemorragias
K de vegetais Fígado. vagem,
na. a formação da espontâneas.
sintetiza essa ervilha, ce-
vitamina nos protrombina).
noura, óleos
intestinos, em 2. Protege os va-
vegetais,
presença de sos sanguíneos.
alfafa.
bile).
Levedura,
nozes, trigo,
aveia, arroz
integral, cen-
teio integral,
Ácido amendoim,
nicotínico 1. Pelagra. café, chá
1. Indispensá- Carnes,
ou niacina 2. Lesões na pele mate, couve,
vel para que peixes,
Nicoti- e mucosas. cenoura,
PP Hidrossolúvel. a energia dos leite, queijo,
namida 3. Parestesias. cebola,
alimentos seja fígado, rins,
(Vitamina 4. Perda de espinafre,
aproveitada. ovos.
antipela- energia. tomate,
grosa). pimentão,
vagem, soja,
pêra, maçã,
ameixa, pês-
sego, limão,
leguminosas.
40
Alimentação da criança

Vitaminas: suas funções e fontes de origem

Vita- Nome Estados caren- Fontes de origem 


Observações Funções
mina  químico ciais Animal Vegetal
Limão,
1. Favorece a
Quase identi- espinafre,
Rutina ou vitalidade dos
P ficada com a páprica, fo-
Citrina. vasos sanguíne-
Vitamina C. lhas verdes
os e da pele.
(algumas).

Sais minerais – os sais minerais existem em grande variedade, e cada um


faz um trabalho diferente. Temos o cálcio, que mantém firme nossos ossos; o
ferro, importante para a respiração celular (ele é um componente fundamental
do sangue, pois faz a troca de gás carbônico pelo oxigênio); o cobre, que influi na
formação dos tecidos da pele; o zinco, que ajuda o sistema imunológico; o fósfo-
ro, importante para o funcionamento dos músculos; o sódio, que regula a quan-
tidade de água no corpo; o potássio, que ajuda no metabolismo das proteínas
e na contração dos músculos; o iodo, que regula o funcionamento da tireoide,
uma glândula responsável pelo crescimento.

O sal que usamos para cozinhar chama-se cloreto de sódio. Ele é obtido pela
evaporação da água do mar, em lugares chamados salinas. O cloreto de sódio
pode ser retirado de minas, lugares que eram recobertos pelo mar há milhões
de anos.

Fibras – as fibras alimentares não fornecem nutrientes para o organismo, en-


tretanto elas são um elemento essencial na dieta.

As fibras são um paradoxo porque não alimentam, mas são essenciais à saúde.
Elas previnem doenças graves e até podem ajudar no emagrecimento. Dietas
com quantidades suficientes de fibras regularizam o funcionamento do intesti-
no e evitam prisão de ventre. São encontradas nas verduras e cascas de frutas.

Todos esses nutrientes são encontrados nos alimentos que a natureza nos
fornece. Qualquer tipo de alimentação pronta (sopinhas infantis, enlatados,
macarrão semipronto), congelada (frutas, pedaços de frangos empanados, bo-
linhos) ou em pó (sucos) não fornece as quantidades de nutrientes necessários
para nosso corpo e não deve ser usada como substituta da alimentação natural.

Vamos conhecer e decifrar as siglas que são trazidas nos rótulos das
embalagens:

41
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

Valor calórico kcal


Carboidratos gramas (g) quantidade de calorias ou energia
Proteínas gramas (g)
Gorduras totais gramas (g) somatória de todas as gorduras
Gorduras saturadas gramas (g)
Colesterol miligramas (mg)
Fibra alimentar gramas (g)
Cálcio miligramas (mg)
Ferro miligramas (mg)
Sódio miligramas (mg)

Importante: faça da observação uma prática sempre que for comprar algum
produto. Seguem algumas dicas:

 não compre alimentos que contêm gorduras trans: margarinas, bolachas,


salgadinhos etc.;

 observe a quantidade de gorduras saturadas e de colesterol;

 o termo light, segundo portaria 41/95 do Ministério da Saúde, refere-


-se ao produto que apresenta uma redução de, no mínimo, 25% do valor ca-
lórico total em relação ao alimento convencional, por exemplo: sucos ado-
çados e sucos com pouco açúcar. Segundo a mesma portaria, o produto diet
é o que deve atender a restrição de certos ingredientes, sendo o mais co-
mum o açúcar, pois estes geralmente são produtos de uso para diabéticos;

 observe as quantidades de minerais: ferro, cálcio, sódio, entre outros, pois


são importantes para nosso organismo;

 dê preferência para alimentos que contenham fibras;

 quase todos os alimentos informam se há ou não glúten, pois existem pes-


soas alérgicas a essa substância;

� produtos que contêm sódio (bebidas líquidas) são importantes e podem


ser bastante consumidos nos estados de desidratação e diarreia, como a
água de coco.

Alimentação na escola
Nas escolas há várias situações que podem ou não contribuir na alimentação
das crianças. Se as crianças levam lanches de casa para escola, as mães preci-
42
Alimentação da criança

sam inserir lanches mais saudáveis, sucos em vez de refrigerantes. As escolas


que possuem cantinas devem oferecer alimentos mais saudáveis e não apenas
salgadinhos, alimentos gordurosos e refrigerantes. Nas escolas que oferecem
merenda, esta deve ser responsabilidade de nutricionistas e as cozinheiras (ou
merendeiras) devem passar por cursos de aperfeiçoamento de preparo de refei-
ções para melhor utilização dos nutrientes.

Vale ressaltar que o papel do professor(a) durante as refeições dos alunos tem
importância fundamental no incentivo e no processo de aprendizado das crian-
ças em relação a escolher e a gostar de uma alimentação variada e equilibrada.

Antes das refeições não é aconselhável que as crianças brinquem durante


muito tempo nem fiquem cansadas, pois isso atrapalha sua alimentação.

Segundo a nutricionista Martha (2008), para obter uma lancheira saudável é


necessário conhecer algumas dicas importantes:
� Os alimentos, de modo geral, estão sujeitos a sofrer alterações, deteriorando-se, se
não forem tomadas precauções visando a sua preservação. Por isso, as lancheiras e
os recipientes utilizados para acondicionar os alimentos devem estar sempre limpos.
Para isso, deve-se lavar em água corrente com detergente neutro usando escovas ou
esponjas que devem ser separadas exclusivamente para essa finalidade. Enxaguar
abundantemente em água corrente, até a retirada de todo o resíduo de detergente.

� No caso das garrafas térmicas, recomenda-se na lavagem o uso de escovas próprias


semelhantes às utilizadas na higienização de mamadeiras, para auxiliar na retirada
completa dos resíduos.

� Alimentos mais indicados para o lanche da escola são frutas, frutas secas, suco de
frutas, barra de cereais, pães simples e integrais, bolos e biscoitos simples, água de
coco, queijos e margarina [sem gordura trans].

� Utilizar frutas inteiras e devidamente higienizadas, para evitar que a criança se suje
muito e dependa de um adulto. Não cortar ou descascar a fruta para evitar o processo
de oxidação e as perdas de nutrientes.

Vale ressaltar o bom senso nesse item: caso a criança seja muito pequena e não consiga comer
sozinha a fruta inteira, a escola precisa orientar as professoras para acompanhar e estimular o
consumo, e não para inibi-lo só porque é mais difícil e complicado do que um chocolate ou
uma bolacha. Compre aqueles aparelhos simples e com preço acessível que são destinados
para cortar a fruta (maçã, pêra, goiaba etc.) em gomos. Essa dica também vale para as crianças
que estão na fase de trocar sua dentição e para as que usam aparelho ortodôntico.

Os sucos de fruta naturais acondicionados em embalagens longa vida são práticos, nutritivos e
higiênicos. Os in natura (frescos, feitos em casa) podem ser utilizados se forem acondicionados
em garrafas térmicas e por um curto período de tempo, para evitar perdas nutricionais
importantes ou alteração de sabor.

43
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

Utilizar bolos e biscoitos simples. Os bolos recheados ou com cobertura têm maior risco de
contaminação, principalmente em dias mais quentes. Os biscoitos recheados são menos
saudáveis por conter, em geral, mais gordura. Devem-se evitar salgadinhos, refrigerantes, sucos
artificiais e guloseimas (balas, pirulitos, chicletes etc.), por não apresentarem valor nutricional
significativo, não serem saudáveis e, além disso, prejudicarem o apetite para o consumo dos
alimentos realmente importantes.

Portaria Interministerial 1.010,


de 8 de maio de 2006
Institui as diretrizes para a Promoção da Alimentação Saudável nas Es-
colas de Educação Infantil, Fundamental e Nível Médio das redes públicas e
privadas, em âmbito nacional.
[...]
Art. 5.º Para alcançar uma alimentação saudável no ambiente escolar, de-
vem-se implementar as seguintes ações:

I - definir estratégias, em conjunto com a comunidade escolar para fa-


vorecer escolhas saudáveis;

II - sensibilizar e capacitar os profissionais envolvidos com alimentação


na escola para produzir e oferecer alimentos mais saudáveis;

III - desenvolver estratégias de informação às famílias, enfatizando sua


corresponsabilidade e a importância de sua participação neste processo;

IV - conhecer, fomentar e criar condições para a adequação dos locais


de produção e fornecimento de refeições às boas práticas para serviços
de alimentação, considerando a importância do uso da água potável para
consumo;

V - restringir a oferta e a venda de alimentos com alto teor de gordura,


gordura saturada, gordura trans, açúcar livre e sal e desenvolver opções de
alimentos e refeições saudáveis na escola;

VI - aumentar a oferta e promover o consumo de frutas, legumes e


verduras;

VII - estimular e auxiliar os serviços de alimentação da escola na divulga-


ção de opções saudáveis e no desenvolvimento de estratégias que possibili-
tem essas escolhas;

44
Alimentação da criança

VIII - divulgar a experiência da alimentação saudável para outras escolas,


trocando informações e vivências;

IX - desenvolver um programa contínuo de promoção de hábitos ali-


mentares saudáveis, considerando o monitoramento do estado nutricional
das crianças, com ênfase no desenvolvimento de ações de prevenção e con-
trole dos distúrbios nutricionais e educação nutricional; e

X - incorporar o tema “alimentação saudável” no projeto político peda-


gógico da escola, perpassando todas as áreas de estudo e propiciando expe-
riências no cotidiano das atividades escolares.

[...]

(Disponível em:<www.ftp://ftp.fnde.gov.br/web/resolucoes_2006/por1010_08052006.pdf>.)

Alergias alimentares
Outro fator importante para observar na alimentação da criança são as aler-
gias por determinados alimentos ou por substâncias (naturais ou não) presentes
em alimentos prontos; é o caso dos corantes artificiais contidos em alimentos
(salsichas), sucos ou refrigerantes. Nem sempre a criança apresenta alergia no
primeiro contato com o alimento ou a substância, às vezes pode ser até no ter-
ceiro contato, por isso é importante estar atento aos sinais de alergia alimen-
tar, tais como: pele irritada, problemas gastrintestinais e respiratórios, cefaleias,
dores nas articulações, fadiga e mal-estar geral. Os alimentos mais comuns que
causam alergia são: maçã, nozes, tomate, leite, ovos, espinafre, uva, banana,
amendoim, cacau, frutos do mar, soja, frango, chocolate e especiarias.

Uma alergia pouco conhecida é a alergia ao glúten, substância que encon-


tramos na maioria das farinhas. Ele causa uma alergia que não conseguimos
observar, pois inicialmente acarreta irritação nas paredes do intestino. Suas ma-
nifestações ocorrem no intestino delgado, onde são absorvidos os nutrientes.
O glúten impede a absorção desses nutrientes, logo a criança pode iniciar um
quadro de anemia ou desnutrição mesmo alimentando-se bem. Em um quadro
mais severo, pode causar irritação no intestino, aparecendo sangue nas fezes,
fato que pode ser confundido com verminoses.

Em qualquer situação, é importante recorrer à assistência médica, pois é


sempre o médico que deve diagnosticar e tratar o problema.
45
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

Texto complementar

Estudo liga boa nutrição


de bebês a salários mais altos na fase adulta
(BBC Brasil, 2008)

Um estudo realizado por cientistas norte-americanos liga a boa nutrição


até os 3 anos de idade a uma renda mais alta na fase adulta.

A pesquisa, publicada na revista científica The Lancet, comparou a situa-


ção financeira e profissional de 1,5 mil pessoas entre 25 e 42 anos na Guate-
mala com dados colhidos quando estas eram bebês.

Esses dados vieram de uma pesquisa realizada durante 1969 e 1977,


quando o Instituto de Nutrição da América Central e Panamá (Incap, na sigla
em inglês) analisou o efeito do consumo de proteínas no desenvolvimento
mental e físico de crianças de quatro vilas do país.

Nesse estudo, o Incap dividiu as cidades em dois grupos: um recebeu um


suplemento nutritivo líquido e outro um placebo.

Os cientistas americanos da Universidade de Emory, em Atlanta, nos Esta-


dos Unidos, obtiveram dados econômicos recentes de 60% das pessoas que
participaram, quando criança, da pesquisa do Incap.

O estudo divulgado nesta sexta-feira indica que os homens que consumi-


ram o suplemento nutritivo até os 3 anos de idade tinham um salário 46%
maior do que os que haviam consumido o placebo.

Os cientistas também observaram que os homens que haviam consu-


mido o suplemento nutritivo entre 0 e 2 anos trabalhavam menos horas e
tinham renda maior.

Para obter uma estatística mais precisa, os cientistas consideraram fato-


res como a qualidade das escolas e a localização das cidades, que poderiam
influenciar no resultado.

46
Alimentação da criança

Sexo
O aumento nos salários, no entanto, não foi observado nas mulheres que
participaram da pesquisa.

Segundo John Hoddinott, que liderou o estudo, as razões para a diferen-


ça de aumento salarial entre os sexos pode ser a natureza do trabalho das
mulheres, que normalmente trabalhavam na colheita agrícola e em outras
atividades de renda baixa.

De acordo com ele, a equipe pretende desenvolver mais pesquisas para


esclarecer a diferença do resultado entre homens e mulheres.

Efeitos
Hoddinott ressalta que a principal influência da boa nutrição sobre os
salários na fase adulta não estaria relacionada com um crescimento físico,
mas com uma melhoria na atividade cerebral.

“A idade entre 0 e 3 anos é considerada como uma janela de ouro para


os nutricionistas”, afirma Hoddinott. “Nas crianças novas, a subnutrição tem
efeitos sérios, pois pode retardar o crescimento e afetar o desenvolvimento
do cérebro”, esclarece.

Segundo ele, os cientistas suspeitam que a diferença na capacidade cog-


nitiva das crianças bem nutridas foi crucial para os resultados da pesquisa.

Economia
Os pesquisadores sugerem que investimentos em nutrição na infância po-
deriam se tornar fatores importantes no crescimento econômico de um país.

De acordo com Hoddinott, o estudo publicado nesta sexta-feira é o pri-


meiro a estabelecer “uma relação direta entre a boa nutrição na infância e a
produtividade econômica na vida adulta”, afirma.

“Os governos que estão interessados em reduzir a pobreza deveriam in-


vestir mais em nutrição antes do período escolar”, aconselha o pesquisador.

47
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

Atividades
1. Para fazer esta atividade, pesquise no site do Fundo Nacional de Desen-
volvimento da Educação (<www.fnde.gov.br/home/index.jsp?arquivo=
alimentacao_escolar.html>.) no link Encontros Nacionais – oficinas de cardá-
pios. Em seguida, monte um cardápio escolar para uma semana.

2. Faça uma pesquisa a respeito de como o professor pode acompanhar os alu-


nos acometidos pelo diabetes e elabore um resumo.

48
Alimentação da criança

3. Organizar trios para selecionar embalagens de produtos alimentícios. Cada


participante deve escolher um grupo diferente de alimentos. Por exemplo:
um escolhe três embalagens de salgadinhos, outro seleciona embalagens
de bebidas e outro escolhe as de doces. Compare as tabelas nutricionais e
descreva o que encontrou e se aquele alimento é considerado bom ou ruim
para sua saúde

Dicas de estudo
SAÚDE com Prazer, Saúde e Alimentação: o melhor do Globo Repórter. Edito-
ra Globo. DVD color.

Esse DVD é completíssimo: fala sobre alimentos, nutrição, projetos para me-
renda escolar e obesidade infantil. Esses conhecimentos são relevantes para
que os alunos avaliem como acontece a alimentação de algumas escolas de sua
região e o que é possível fazer para melhorar essa prática, comparando com as
ações que aparecem no filme.

49
A influência da relação
materno-infantil sobre a alimentação
O desenvolvimento físico se inicia a partir do cérebro, chamado neu-
rogênese e esse processo começa no 16.º dia após a fecundação. O cére-
bro do feto cresce muito rápido, podendo ser formados cerca de 250 mil
neurônios (células nervosas) durante a gestação, chegando a aproximada-
mente 100 bilhões de neurônios ao nascer. Muitos fatores podem alterar
o desenvolvimento do cérebro; as chamadas “lesões cerebrais” que após o
nascimento do bebê serão percebidas no desenvolvimento dos primeiros
anos de vida.

Os principais fatores bioetiológicos são: genéticos (malformações), ir-


regularidades bioquímicas (processos orgânicos), incompatibilidade de
Rh (tipo sanguíneo), lesões cerebrais (traumas ou associados às drogas),
doenças infecciosas, anemias, má nutrição, entre outros.

As doenças infecciosas adquiridas durante a gestação trazem sérias


complicações para o feto em desenvolvimento. São elas: rubéola, toxo-
plasmose, citomegalovirose, sífilis, varicela, herpes, que podem levar a
quadros de deficiência auditiva, retardo motor, doença cerebral degene-
rativa e deficiência mental.

O uso de drogas também pode causar sérios problemas para a for-


mação do feto. O consumo de tabaco, por exemplo, está associado
ao sofrimento fetal e ocasiona problemas como a redução de peso
ao nascer e alterações neurocomportamentais do recém-nascido.
Entre as gestantes consumidoras de álcool, também pode-se obser-
var uma maior incidência de sofrimento e desnutrição fetal. O álcool
tem um efeito teratogênico e mal formativo, durante a formação dos
órgãos e desenvolvimento do sistema nervoso central.

Antidepressivos em gestantes podem acarretar o nascimento de bebês


com peso abaixo da média considerada normal, podendo ser hiperativos
e irritados, apresentando também distúrbios alimentares e do sono, além
de choro excessivo. Atualmente, sabe-se que o feto percebe as emoções,
a angústia ou ansiedade muito intensa da mãe, que tem como consequ-
ências problemas orgânicos e psíquicos.
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

Portanto, as etapas do desenvolvimento do bebê devem ser acompanhadas


até seu nascimento, levando-se em consideração todos os fatores que possam
ou não contribuir.

Relação materno-infantil e a nutrição


A alimentação é fundamental para a promoção da saúde, pois propiciará ao
organismo condições para seu completo desenvolvimento e amadurecimento.
Uma boa alimentação requer cuidados e hábitos saudáveis por toda a vida.

Alguns estudos apontam que a relação materno-infantil tem grande influên-


cia na vida da criança. Alimentar é muito mais que fornecer o alimento. Nesse ato
existe uma relação de afetividade, cuidado, atenção e carinho. Os hábitos e as
práticas alimentares são decorrentes de todo um aprendizado que a mãe passa
para a criança. Papalia (2006, p. 129) diz: “como o ambiente pré-natal é o corpo
da mãe, praticamente tudo que afeta o bem-estar dela, desde sua dieta a seu
humor, pode alterar o ambiente da criança e afetar seu crescimento”.

A alimentação do ser humano inicia-se durante a vida intrauterina, assim o


feto capta da mãe os nutrientes essenciais para seu desenvolvimento biológico.

O período de gestação é o primeiro momento de relacionamento entre mãe


e filho, por isso a gestante precisa ter hábitos saudáveis para fornecer ao feto
todo o alimento necessário. Uma gestante infeliz, que utiliza drogas ou álcool,
não se alimenta corretamente. Assim, uma gravidez indesejada comprometerá
tanto o desenvolvimento físico/biológico da criança quanto seu desenvolvimen-
to psicológico.

Logo após o nascimento vem o período de amamentação; o leite materno é


quase sempre o melhor alimento para o recém-nascido, pois é mais bem digeri-
do e é mais nutritivo, diz Papalia (2006, p. 165). Completa:
[...] as vantagens do leite materno para a saúde durante os dois primeiros anos de vida e até
posteriormente, entre as doenças prevenidas ou minimizadas pela amamentação estão a
diarreia, as infecções respiratórias (como pneumonia e bronquite), otite média (infecção no
ouvido) e infecções bacterianas e do trato urinário. O leite materno também parece trazer
benefícios para a acuidade visual, no desenvolvimento neurológico e no desenvolvimento
cognitivo. A amamentação é desaconselhável se a mãe estiver infectada com o vírus da aids,
pois pode ser transmitido pelo leite materno se, estiver com outras doenças infecciosas ou
tomando remédios que não sejam seguros para o bebê.

O período da amamentação inicialmente pode ser crítico para a mãe, pois as


dificuldades de amamentar podem levar ao desmame precoce e consequente-

52
A influência da relação materno-infantil sobre a alimentação

mente a dificuldades na relação entre mãe e filho. Alguns fatores como sentir
dor, insegurança e o próprio choro da criança são obstáculos que fazem com que
mães desistam de amamentar seus filhos. Ter o primeiro filho é difícil pela inex-
periência da mãe, devido ao fato de o bebê não saber sugar o seio materno para
obter seu alimento e de a mãe não saber amamentar. Em outros casos, o desma-
me pode provir de sofrimentos psicológicos que a mãe pode passar, tais como
depressão pós-parto, perdas familiares, separações ou divórcios, entre outros.

Crianças que foram amamentadas quando bebês reagem melhor em situa-


ções de estresse, como o divórcio dos pais, de acordo com o Dr. Scott Montgo-
mery (2008), líder do estudo do Instituto Karolinska, na Suécia, que afirma que a
amamentação influencia positivamente a criança ao passar por estresse provo-
cado por problemas matrimoniais de seus pais.

Montgomery disse que a ansiedade foi bem menor em crianças que foram
amamentadas. Pesquisadores não sabem ao certo por que os bebês que são
amamentados são menos ansiosos, mas eles sugerem que pode ser o contato
físico entre a mãe e o bebê que determina essa redução da ansiedade. Papalia
(2006) diz que a amamentação é um ato tanto emocional quanto físico. O con-
tato caloroso com o corpo materno fortalece o vínculo emocional entre mãe e
bebê, conferindo-lhes maior segurança.

Existe ainda a influência sociocultural que permeia e interfere fortemente o


ato de amamentar. Muitas mulheres têm a crença de que seu leite é fraco ou até
mesmo chegam a afirmar que não possuem leite suficiente para a amamenta-
ção; outras têm a preocupação com o comprometimento estético, pois as ges-
tantes podem sofrer deformações do corpo ao amamentar, e assim optam pelo
desmame precoce.

Mas sabe-se que mesmo desnutridas as mães possuem capacidade de ama-


mentar seus filhos; todas as mulheres possuem vários hormônios, sendo que um
deles é dedicado exclusivamente para a produção de leite, a prolactina. A partir
do momento da fecundação, esse hormônio passa a ser produzido em grande
quantidade para o momento do nascimento e para a primeira amamentação.

Somente o diagnóstico de um médico pode comprovar que determinadas


mulheres possuem insuficiência ou não produzem esse hormônio, impossibili-
tando a amamentação, mas caso contrário toda mulher é capaz de amamentar.
Só precisa querer e aprender.

A mãe é a primeira pessoa responsável pela alimentação do bebê, assim ela


não pode descuidar da amamentação justamente no momento em que há uma

53
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

relação de troca de amor (troca de olhares, carícias) e de proteção (abraço, calor).


Nesse momento de amamentação, a qualidade da relação entre mãe e filho in-
fluencia o desenvolvimento da personalidade da criança e isso pode ou não
gerar problemas futuros.

Levando em consideração que atualmente muitas mães trabalham e ficam


impossibilitadas de amamentar o filho durante o dia, é necessário incentivar que
ela o faça ao menos no período da noite para que a criança sinta o mínimo dessa
relação e desse momento. Orientar as mães informando que a amamentação
também pode reduzir o risco de câncer de mama, além de ser mais um fator de
incentivo e aprendizado.

Leite e alimentos sólidos


Outro momento difícil para a mãe é o desmame, pois algumas acham que é
uma separação definitiva entre ela e a criança, no entanto as mães devem conti-
nuar a alimentar-se de forma saudável, já que elas têm a responsabilidade sobre
a alimentação e os gostos que os filhos vão adquirir durante seu desenvolvimen-
to. Assim, é preciso ficar atento para a escolha do tipo de alimento, a maneira de
prepará-lo, o estabelecimento de horários para as refeições, os estímulos que
serão dados às crianças e seu aprendizado.
No cuidado da saúde da criança a alimentação é um aspecto fundamental para a promoção de
sua saúde [sic]. Porém, entendemos que a nutrição e as práticas alimentares são práticas sociais,
não podendo ser abordadas por uma única perspectiva disciplinar, pois o significado do ato de
nutrir, de comer, ultrapassa o mero ato biológico. Nessa perspectiva, compreendemos como
práticas alimentares a seleção, o consumo, a produção da refeição, o modo de preparação,
de distribuição, de ingestão, isto é, o que se planta, o que se compra, o que se come, como
se come, onde se come, com quem se come, em que frequência, em que horário, em que
combinação, tudo isso conjugado como parte integrante das práticas sociais. (ROTENBERG;
VARGAS, 2008)

Mães que não trabalham e cuidam exclusivamente de seu filho devem pre-
parar, oferecer e ensiná-lo sobre quais são os melhores alimentos e justificar a
importância de comê-los. É preciso ter paciência, não ter pressa para alimentá-
-lo e nem ficar ansiosa com a quantidade de comida que a criança quer. Esses
fatores podem interferir diretamente na vida da criança; assim, uma criança que
aprendeu a comer rapidamente poderá ter esse hábito por toda vida.

A escolha adequada dos alimentos que são oferecidos à criança é fundamen-


tal desde o início da inserção de alimentos sólidos. Se a mãe oferece desde cedo
frutas, legumes e verduras, a criança aprende a saborear esses alimentos, mas se

54
A influência da relação materno-infantil sobre a alimentação

ela apenas oferece carboidratos e gorduras, a criança aprende a comer somente


esses alimentos e não se interessará por outros.

A criança come o que é oferecido a ela. Nenhuma criança faz compras sozi-
nha. Guloseimas poderão ser oferecidas com moderação e após a criança ter se
alimentado de forma correta.

Outro fator é evitar que a criança seja alimentada assistindo à televisão, pois
ela não saboreia o alimento, apenas mastiga e engole. Esse hábito faz com que
ela não adquira prazer ao alimentar-se, e possa não perceber que nesse momen-
to a mãe e a família estão destinando a ela atenção e aconchego.

As refeições em família devem ser praticadas mesmo que seja nos finais de
semana. Esses hábitos são construídos por ações que a mãe planeja: uma ali-
mentação diferenciada e gostosa no final de semana é aconchegante, além de
ser um lazer longe dos fast foods existentes na vida urbana.

Atualmente, existe um grande índice mundial de obesidade e diabete infan-


til; tal fato decorre da grande oferta de produtos prontos, como salgadinhos,
doces, bebidas isotônicas, todas com altas porcentagens de calorias. Esse índice
pode aumentar quando a criança não pratica atividades físicas. Muitas mães,
pelo sentimento de culpa por ficar a maior parte do tempo trabalhando, e com
isso passam longos períodos longe do(s) filho(s), acabam exagerando na compra
de produtos que as crianças escolhem e, por terem disponibilidade econômica,
fazem as vontades dos pequenos.

Um exemplo de uma situação muito corriqueira: atualmente, nas habitações


encontra-se uma geladeira farta de produtos industrializados, um armário cheio
de doces, chocolates e salgadinhos, um freezer cheio de congelados, crianças em
frente ao computador ou videogame durante longos períodos, comendo doces
e bebendo refrigerantes. O que podemos esperar do organismo dessa criança?
Como ela vai gastar todas as calorias que come durante todos os dias? E como
seu corpo resiste a tantos processos de digestão diários?

Crianças obesas não são crianças saudáveis, elas podem apresentar proble-
mas de desnutrição, pois a excessiva oferta de alguns nutrientes (carboidratos
e gorduras) não substitui a ingestão de outros nutrientes de maior importância
para nosso organismo e que não estão sendo consumidos, como as vitaminas,
as proteínas, entre outros.

Quando a criança é alimentada fora de casa, é necessário que a mãe fique


atenta ao que está sendo oferecido ao seu filho, tanto na escola, na casa dos

55
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

avós (onde geralmente são disponibilizadas muitas guloseimas) ou mesmo na


própria casa, quando a alimentação é preparada por outras pessoas. Nas esco-
las, as mães devem conhecer o modo como são preparados os alimentos, como
são oferecidos aos alunos e se seu filho está se alimentando bem. É importan-
te saber se a escola possui cantina e se a mesma oferece alimentos saudáveis,
pois muitas cantinas vendem alimentos muito calóricos, frituras e até produtos
com grande quantidade de corantes, tais como balas e chicletes que “pintam” a
língua e, assim, têm melhor aceitabilidade das crianças.

É importante que os pais tenham o hábito de observar as embalagens, veri-


ficando seus componentes nutritivos, o estado de conservação do alimento e o
que contém esse produto. Não podemos nos deixar levar apenas pela praticida-
de e comprar produtos prontos industrializados (lasanhas, risotos, lanches, pizzas
etc.) que podem facilitar a vida; é necessário pensar na saúde e, principalmente,
orientar as crianças a adquirir bons hábitos alimentares. Caso contrário, hábitos
alimentares deficientes podem ocasionar grande prejuízo para a vida da criança.
Muitas vezes, a criança não percebe quando os alimentos estão deteriorados
e podem ingeri-los. Essa ingestão pode causar doenças como a salmonelose,
cujos principais sintomas são vômitos e diarreias. Assim, as mães precisam ficar
atentas com conservação dos alimentos que servem de lanche para as crianças.

Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA, 2008),


[...] problemas com alimentos podem provocar doenças como verminoses, hepatites e o
botulismo alimentar. Essa última é uma forma bastante perigosa de intoxicação alimentar,
causada por uma toxina produzida pela bactéria Clostridium botulinum, presente no solo e
em alimentos contaminados e mal conservados. Essa intoxicação se caracteriza por um
comprometimento severo do sistema nervoso e, se não tratada a tempo, é capaz de provocar
a morte.

Produtos como leite e seus derivados requerem maior cuidado de arma-


zenamento e refrigeração, pois é muito comum encontrarmos esses itens
estragados.

Crianças que estejam apresentando problemas como excesso de peso, sono-


lência, dificuldade para respirar enquanto dorme, por exemplo, devem ser leva-
das para diagnósticos e tratamentos, acompanhando a evolução do tratamento
e, principalmente, ajudando seu filho a ter alimentação e vida saudáveis.

Nesse contexto, a escola, sobretudo os(as) professores(as), devem dar atenção


especial aos seus alunos e informar as mães sobre alterações comportamentais
ou físicas que eles podem apresentar, mesmo porque existem casos em que a
mãe não dispõe de tempo para seu filho, passando despercebidos os problemas
da criança. Ou quando percebem, as mães podem não aceitar que seus filhos

56
A influência da relação materno-infantil sobre a alimentação

necessitam de ajuda e assim a escola pode dar sugestões de como elas podem
proceder com seus filhos e encaminhá-los para profissionais especializados.

Texto complementar

Obesidade infantil
(SBRISSA, 2008)

A grande ocorrência de obesidade na infância vem preocupando profis-


sionais da área de saúde, por esse motivo estão sendo feitas pesquisas a res-
peito da prevenção, causas e tratamentos.

A preocupação da mãe deve se dar já na fase intrauterina. Para que o


bebê nasça com quantidade suficiente e adequada de células gordurosas, a
mãe deve ter uma alimentação correta, balanceada durante toda a gestação
e não engordar demais (de 9 a 12 quilos é o ideal).

O primeiro ano de vida é outro estágio importante para o futuro da crian-


ça na balança. Os pais precisam acabar com o conceito de que o bebê deve
ser gordo para ser saudável. O ideal é alimentá-lo corretamente com nutrien-
tes indispensáveis em quantidade suficiente, a criança deve ser saudável e
não gorda.

Do ponto de vista psicológico, a criança deve receber mais do que fluídos,


as proteínas, as calorias, as vitaminas, ainda que seja a própria mãe que as
forneça. A alimentação é um conjunto harmônico entre aquilo que a mãe
é capaz de fornecer, aquilo que a criança é capaz de receber e, finalmente,
aquilo que a criança é capaz de retribuir.

Estudos mostram que uma criança amamentada no seio está menos su-
jeita a engordar excessivamente em comparação com a criança tratada com
mamadeira. Mamar no seio continua sendo o melhor método, especialmen-
te no sentido psicológico, pois dessa maneira a interação entre mãe e filho é
espontânea e natural. Para acertar na alimentação das crianças nos primeiros
meses de vida: dar o alimento em horas fixas, já que o fornecimento é sim-
ples, permitindo à mãe o planejamento de sua própria vida e da vida familiar.
Quando a mãe é ansiosa o conceito de autorregulação do bebê pode levar

57
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

a uma adaptação de horário fixo. A outra vantagem é fundamentalmente


psicológica, de não criar para a mãe uma ansiedade ligada à falta de horário
ou por necessidade de afastamento da criança. A obesidade é a causa mais
comum de crescimento anormal na infância. Pode causar também complica-
ções em vários sistemas orgânicos, por exemplo, problemas ortopédicos.

O excesso de peso na infância acontece geralmente por uma combinação


de fatores, incluindo hábitos alimentares errôneos, propensão genética, estilo
de vida familiar, condição socioeconômica, fatores psicológicos e etnia.

Crianças obesas não são necessariamente as que se superalimentam,


depende da qualidade dos alimentos que ingerem, pois muitas vezes são
muito calóricos e com grande quantidade de gordura, portanto, mesmo co-
mendo sem exagero e não praticando atividade física suficientemente para
gastar, engordam. O consumo excessivo de refrigerantes e sucos industria-
lizados ricos em calorias pode agravar o problema. Atualmente, as crianças
em idade escolar ingerem mais do que o dobro da quantidade de refrigeran-
te de duas décadas atrás. Além disso, crianças comem geralmente em fast
foods, cujos alimentos são riquíssimos em gorduras.

Os hábitos nutricionais familiares inadequados são a grande causa da


obesidade infantil. A vida sedentária da criança também. Hoje, com a grande
incidência de violência nas cidades, muitos pais têm medo de que seus filhos
saiam de casa, estes, então, ficam muitas horas do dia em frente de uma TV,
videogame ou computadores. As facilidades dos avanços tecnológicos como
controle remoto, vidro elétrico, escadas rolantes etc. diminuem o esforço
físico e o gasto de calorias diárias. O controle de peso envolve o equilíbrio
entre a ingestão alimentar e a energia gasta nas atividades diárias.

Na obesidade infantil a baixa frequência de atividade física tem maior re-


lação com a obesidade do que o consumo alimentar.

Fatores genéticos também são importantes. Quando apenas um dos pais


é obeso, a criança tem 40% de chances de se tornar obesa. Quando os dois
pais são obesos, essa chance sobe para 80%.

Outro ato de grande importância é a verificação do ambiente familiar


frente à alimentação. Uma mãe que come pratos fartos e gordurosos acaba
transmitindo suas preferências alimentares ao filho. Para a criança é muito
importante ter um modelo. Se os pais não comem verduras, legumes, frutas
etc., ela não vai adquirir o hábito de comer esses alimentos.

58
A influência da relação materno-infantil sobre a alimentação

Quanto aos fatores psíquicos, as crianças obesas normalmente sentem-se


envergonhadas por causa de sua aparência física e da visão comum de que
a obesidade ocorre por preguiça ou falta de força de vontade. Para muitas
crianças e adolescentes, a comida funciona como uma “válvula de escape”,
e quanto mais ansiosos, mais comem. Podem ocorrer também problemas
hormonais, porém, na prática, cerca de 90% dos obesos em idade infantil
correspondem aos do tipo simples, com antecedentes de uma ingestão ca-
lórica aumentada e diminuição da atividade física. O alimento excessivo ou
inadequado é prejudicial tanto do ponto de vista fisiológico, no que se refere
a distúrbios digestivos, quanto do psicológico ou problemas emocionais no
que se refere à conduta alimentar. Em estudos feitos, apareceram causas psi-
cológicas da superalimentação em crianças.

A maioria das crianças obesas tem mães dominadoras e pais pouco agres-
sivos, com pouca ambição e muitas das crianças se sentem rejeitadas (acima
de 50%).

As observações reconheceram também que havia sempre um envol-


vimento emocional intenso, num caso, ou noutro, dos pais. Comumente
a mãe, com a criança obesa, se revestia de preocupação exagerada com o
bem-estar físico da criança, através de empanturramento alimentar e super-
proteção contra perigos físicos. Isso resultava em uma inatividade forçada
da criança.

Esses estudos também mostraram que as crianças não-amadas seriam le-


vadas à superalimentação.

Crianças internadas em instituições, quando transferidas para um lar, se


tornaram obesas, com as características psicológicas da obesidade.

No sexo feminino, cerca de 80% dos casos de obesidade iniciada na infân-


cia persiste na vida adulta.

É muito comum nos dias de hoje os pais, em especial a mãe, tentarem


compensar o pouco tempo que dispõe para o filho, por trabalharem fora de
casa, com guloseimas.

A mãe que trabalha fora também costuma não dispor de tempo para co-
zinhar, o que faz com que a alimentação da criança, em especial à noite, se dê
através de sanduíches, pizzas, fast foods e alimentos supercalóricos.

59
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

Dicas para o tratamento da obesidade infantil

 Para evitar que a criança se sinta excluída, prepare as refeições de


modo que toda a família possa saborear.

 Sirva as refeições em porções controladas, para evitar o consumo de


grandes quantidades e a repetição dos pratos (colocar o prato já feito
para toda a família e não as travessas na mesa).

 Não faça comidas ricas em gorduras e não coloque à mesa: maionese,


ketchup, geleias, óleos etc.

 Deixe sempre a geladeira provida de frutas, leite, iogurtes desnatados,


gelatinas, legumes e verduras.

 Dê maior ênfase ao que a criança pode comer, e não ao que ela não
pode.

 Elogie sempre qualquer progresso que a criança venha a ter.

 Estimule-a para praticar alguma atividade física como: natação, cami-


nhada, futebol, judô etc.

 Nunca use a comida como recompensa.

 Não brigue ou critique a criança durante as refeições, para que ela não
desconte sentimentos na comida. Se ela se acostumar a comer muito por
outras razões que não a fome provavelmente fará isso pelo resto da vida.

 Ofereça sempre e somente opções alimentares saudáveis (exemplo:


deixe que a criança escolha entre uma fruta e um iogurte, e não entre
a fruta e um chocolate).

 Explique sempre o porquê de comer determinado alimento ou não.

Atividades
1. Pesquise e resuma os principais transtornos alimentares que podem apare-
cer nas crianças e jovens.

60
A influência da relação materno-infantil sobre a alimentação

2. Quais são os benefícios da atividade física para a criança?

61
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

3. Escreva um breve texto sobre os benefícios da relação materno-infantil du-


rante a amamentação e discuta com seu grupo de estudo.

62
A influência da relação materno-infantil sobre a alimentação

Dicas de estudo
Pesquise no site a seguir sobre a conservação dos alimentos <www.anvisa.
gov.br/ALIMENTOS/consumidor/roteiro.htm>.

Nesse site, a ANVISA esclarece quais são os cuidados a serem observados para
prevenir doenças de origem alimentar e também explica sobre a comercializa-
ção dos alimentos. Esse conhecimento é importante para proceder da maneira
mais apropriada na aquisição de alimentos, para evitar o consumo inadequado,
fato que pode provocar danos à saúde.

63
Anemia ferropriva

Para que possamos viver, necessitamos de oxigênio, que é o alimento-


-combustível para nossas células. Nosso sistema circulatório, que distribui
o oxigênio para todo nosso corpo, é composto pelo coração e pelos vasos
sanguíneos (artérias e veias). Para que esse sistema possa irrigar nossas
células, contamos também com a ajuda do sistema respiratório, que ab-
sorve o oxigênio do meio externo e leva-o até aos alvéolos nos pulmões
e, assim, o oxigênio será enviado a todo o corpo pelo sistema circulatório.
Nos alvéolos ocorre a troca gasosa, ou seja, deixa-se o oxigênio e retira-se
o gás carbônico. Chamamos assim de sistema cardiorrespiratório.

O sistema circulatório transporta o sangue, sendo que no mesmo exis-


tem diversas células que são responsáveis por diferentes funções: as cé-
lulas brancas ou leucócitos são responsáveis pela defesa do corpo. Com
outra função, as células chamadas de plaquetas são responsáveis pela co-
agulação; e, por fim, as células vermelhas, denominadas de hemácias, são
responsáveis pela oxigenação das demais células do corpo.

Portanto, são as hemácias que conduzem o oxigênio na corrente sanguí-


nea até outras células para que esse oxigênio seja armazenado e converti-
do em energia sempre que o corpo necessitar. Dentro das hemácias existe
uma proteína chamada hemoglobina, que, juntamente com o ferro, car-
rega o oxigênio, e a essa formação damos o nome de oxihemoglobina.

Heme (molécula que


IESDE Brasil S.A.

Molécula de hemoglobina contém o ferro, onde o


oxigênio se fixará)

O2
Glóbulo
vermelho ou
hemácia

Os glóbulos vermelhos
contêm moléculas de he-
O2
moglobina que transportam O oxigênio se fixa ao heme na
oxigênio. molécula de hemoglobina.
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

A diminuição das hemácias ou da hemoglobina no sangue é o que chama-


mos de anemia, doença muito comum em crianças, principalmente desnutri-
das, causada pela falta de consumo de ferro na alimentação. Dá-se o nome de
anemia ferropriva devido à privação ou carência de ferro na corrente sanguínea,
lembrando que esse elemento é muito importante para a formação e o desen-
volvimento do sistema nervoso.

As anemias podem ser de outros fatores, como o genético. Um exemplo é a


anemia falciforme, em que podemos observar que as hemácias possuem seu ta-
manho pela metade, na forma de foice ou em meia-lua, portanto se elas possuem
metade do tamanho elas carregam metade do oxigênio e metade do ferro.

Domínio público.

Paulo Margotto.
Hemácias. Hemácias em forma de foice.

Esse problema traz sérias consequências nas crianças, e a falta de oxigênio


faz com que elas sintam fraqueza, sono, ficando desatentas. A intensa falta de
oxigenação pode acarretar problemas graves principalmente com a escassez
de oxigenação cerebral (paralisia cerebral). A falta de ferro também pode trazer
sérios problemas, principalmente em crianças 0 a 10 anos, que estão em fase
de desenvolvimento, pois não havendo a oxigenação cerebral poderá ocasionar
alteração nas faculdades mentais, nos sistemas visual, auditivo, na aquisição da
linguagem e na manifestação comportamental.

A anemia carencial ou nutricional – falta de ferro – pode começar na gestação


se a mãe não tiver uma boa alimentação rica em ferro. A criança poderá ter pro-
blemas no seu desenvolvimento inicial, prejudicando a constituição do sistema
nervoso enquanto feto. Após o nascimento, a fonte de ferro para a criança será
através do leite materno que é importante para o amadurecimento do sistema
nervoso.
66
Anemia ferropriva

Crianças que possuem alergia ao leite de vaca, isto é, alergia à proteína ou ao


açúcar do leite (lactose), devem ter um desmame gradual para que não sofram
de carência do ferro, bem como acompanhamento médico.

Os principais sintomas perceptíveis da anemia são: fraqueza, desânimo, alte-


ração na capacidade de manter a temperatura corporal em ambientes frios, che-
gando alterar o desenvolvimento psicomotor e o rendimento intelectual. Crian-
ças com anemia falciforme devem ter cuidados redobrados: observar dores e ter
muito cuidado com febre, pois ela necessitará de cuidados médicos rápidos.

O ferro encontrado em nosso organismo precisa ser fixado nas células e para
essa fixação necessitamos de ácido ascórbico/vitamina C. Toda vez que ingeri-
mos alimentos que contenham grande quantidade de ferro (vegetais de folhas
verde-escuras como espinafre e couve, carnes, tais como o fígado, leguminosas
como o feijão) sugere-se ingerir concomitantemente com esses alimentos, suco
de frutas que contenham vitamina C (laranja, acerola, goiaba), para facilitar a
fixação do ferro e combater a anemia, disponibilizando energia, principalmente
para as crianças. Assim como o ácido ascórbico (vitamina C) ajuda na fixação do
ferro, o tanino (encontrado no chá preto, chá mate, café e alguns refrigerantes)
e os fitatos (presentes nos cereais: aveias, farelos e trigo de arroz) são inibidores
da absorção de ferro.

Encontramos a vitamina C em todas as frutas e sumos de fruta, mas em espe-


cial nas frutas cítricas (laranja e limão). E também na goiaba, acerola e morango,
tomate, salsa, brócolis (que também contém ferro). Os sintomas de quem tem
carência de vitamina C são fadiga e falta de apetite, gengivas doloridas e que
sangram facilmente, grande propensão para infecções e cicatrização mais lenta.

Alimentos ricos em ferro e/ou vitamina C


Frutas
Abacate: betacaroteno, vitaminas A, B, C, D, E, proteínas, cálcio, magné-
sio, fósforo, ferro, potássio. Tem alto teor de gordura.

Abacaxi: betacaroteno, vitaminas A, B, C, potássio, magnésio, fósforo,


cálcio, ferro. Rico em fibras.

67
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

Ameixa: uma boa fonte de vitamina C, assim como o potássio, riboflavina


e outras vitaminas do complexo B.

Banana: vitaminas A, B, C, ferro, cálcio, magnésio, fósforo, potássio, zinco,


cobre, iodo, enxofre, manganês, carboidratos.

Goiaba: vitamina C, cálcio, potássio, magnésio, fósforo.

Laranja: vitaminas A, B, C, cálcio, ferro, magnésio, fósforo, potássio,


sódio.

Maçã: betacaroteno, vitaminas A, B, C, proteínas, sódio, enxofre, ferro,


sílico, cálcio, magnésio, fósforo, potássio, cloro. Rica em fibras.

Mamão: betacaroteno, vitaminas A, B, C, cálcio, magnésio, fósforo, potás-


sio. Rico em fibras.

Manga: betacaroteno, vitaminas A, B, C, magnésio, fósforo, potássio,


sódio, cálcio, ferro, manganês, selênio, zinco.

Morango: betacaroteno, vitaminas A, B, C, magnésio, fósforo, ferro, po-


tássio, sódio.

Pêra: vitaminas A, B, C, E, proteínas, cálcio, magnésio, fósforo, potássio,


ferro, carboidratos, fibras.

Tangerina: também chamada de mexerica, bergamota, mandarina e


laranja-cravo, a tangerina é uma boa fonte de vitamina C, betacaroteno e
potássio. Contém também pectina, uma fibra solúvel.

Legumes, verduras, grãos


Abobrinha: composta de aproximadamente 94% de água. É um dos ve-
getais com menores taxas calóricas, uma xícara dela crua e fatiada possui
menos de 20 calorias. É, ainda, uma boa fonte de vitaminas A, C e folato.

Agrião: é uma boa fonte de betacaroteno e vitamina C, além de uma boa


fonte de cálcio, ferro e potássio. Rico em antioxidantes.

Batata: boa fonte de vitaminas C e B6, potássio e outros minerais e


amido.

Beterraba: boa fonte de folato e vitamina C, além de possuir poucas ca-


lorias. Suas folhas, partes mais nutritivas do vegetal, são ricas em potássio,

68
Anemia ferropriva

cálcio, ferro, betacaroteno e vitamina C e podem ser cozidas e servidas como


o espinafre. Não serve como única fonte de ferro.

Brócolis: excelente fonte de vitamina C e boa fonte de vitamina A e folato,


além de ter quantidades significativas de proteínas, cálcio e outros sais mine-
rais. Rico em bioflavonoides e com alto teor de fibras.

Chuchu: embora considerado por muitos como legume, o chuchu é uma


fruta. Apesar do gosto pouco marcante, apresenta importantes proprieda-
des: além do alto teor de fibras, é uma importante fonte de minerais como
ferro, magnésio, potássio, fósforo e cálcio.

Couve-flor: excelente fonte de vitamina C, a couve-flor é também boa


fonte de potássio e folato. Recomendada para dietas alimentares, possui
poucas calorias e muitas fibras.

Couve-manteiga: excelente fonte de betacaroteno e vitaminas C e E,


ácido fólico, cálcio, ferro e potássio. Contém bioflavonoides.

Ervilha: além do alto teor de proteínas, as ervilhas frescas são uma boa
fonte de pectina e outras fibras solúveis, que ajudam a controlar os níveis do
colesterol no sangue.

Feijão: os feijões contêm mais proteína que qualquer outro alimento de


origem vegetal, são boas fontes de amido, vitaminas do complexo B, ferro,
potássio, zinco e outros minerais essenciais. São ricos em fibra solúvel.

Inhame: rico em amido, betacaroteno, vitaminas C e do complexo B.


Contém ainda cálcio, fósforo e ferro.

Mandioca: excelente fonte de carboidratos, cálcio e fósforo. Possui


também boa quantidade de vitamina C.

Pepino: tem baixo teor de calorias, pois é constituído de aproximada-


mente 95% de água. Boa fonte de fibras, possui pequenas quantidades de
vitamina C e folato.

Pimentão: excelente fonte, pouco calórica, de vitaminas A e C. Aqueles de


cores fortes possuem alto teor de bioflavonoides (pigmentos vegetais que
ajudam a prevenir contra o câncer), de ácidos fenólicos (inibem a formação
de nitrosaminas cancerígenas) e de esterol vegetal (precursor da vitamina D
que parece proteger contra o câncer).

69
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

Tomate: consumido cru ou cozido, contém poucas calorias. Boa fonte de


vitamina A e C, folato e potássio. Também contém licopeno.

Soja: a soja é uma das plantas mais nutritivas e versáteis. É uma boa
fonte vegetal de proteína e ferro, vitamina B, cálcio, potássio, zinco e outros
minerais.
(Disponível em: <www.clinicalen.com.br/html/geral_noticias.htm>.)

Sinais de anemia
Os tipos de anemias mais comuns são a hemolítica (excesso de destruição de
hemácias), a espoliativa (causada por perdas de sangue, por exemplo, úlcera), a ca-
rencial (como a falta de vitamina B12), a falciforme (quando há substituição de um
aminoácido da hemoglobina causando deformação da estrutura da hemácia) e a
aplástica (leucemia, intoxicação por metal pesado em geral dano na medula óssea
vermelha). O diagnóstico se dá através de exames de sangue específicos.
Os principais tipos de anemia são:
 Anemia da carência de ferro (anemia ferropriva).
 Anemia das carências de vitamina B12 (anemia perniciosa) e de ácido fólico.
 Anemia das doenças crônicas.
 Anemias por defeitos genéticos:
 anemia falciforme;
 talassemias;
 esferocitose;
 deficiência de glicose-6-fosfato-desidrogênase.
 Anemias por destruição periférica aos eritrócitos:
 malária;
 anemias hemolíticas autoimunes;
 anemia por fragmentação dos eritrócitos;
 Anemias decorrentes de doenças da medula óssea:
 anemia aplástica;
 leucemias e tumores na medula.

70
Anemia ferropriva

O quadro de anemia ferropriva na criança se desenvolve de três maneiras


principais:
1. deficiência de aporte de ferro – por exemplo, temos nos recém-nascidos
uma deficiente transmissão materna (hemorragias ou transfusão feto-ma-
terna), nas crianças durante a amamentação e posteriormente em carên-
cias alimentares.
2. deficiência de absorção de ferro – em quadros diarreicos graves.
3. por perdas anormais de ferro – hemorragias digestivas causadas por ver-
mes ou outro quadro etiológico.

Existe outro tipo de anemia causada por uma deficiência de ácido fólico, se-
gundo Guimarães, (1983). Essa anemia ocorre quando há um acentuado declínio
nas reservas de ácido fólico, podendo aparecer, por exemplo, nas desnutrições
graves e nas diarreias prolongadas, o que pode ocorrer por utilização inadequa-
da de fórmulas lácteas, tais como o leite de cabra, que apresenta baixíssimas
concentrações de ácido fólico.

A fortificação, que é a adição de ferro na alimentação da criança, vem sendo


a ação principal do governo no combate à anemia. Segundo o Ministério da
Saúde (2008), “em decorrência das altas prevalências de anemia, em 1999, o go-
verno brasileiro, a sociedade civil e científica, os organismos internacionais e as
indústrias brasileiras firmaram o Compromisso Social para a Redução da Anemia
Ferropriva no Brasil”.

As seguintes estratégias de intervenção em nível nacional foram tomadas


pelo governo: fortificação das farinhas de trigo e de milho com ferro, suplemen-
tação medicamentosa de ferro para grupos vulneráveis e orientação alimentar
e nutricional.

No ano de 2001, o Ministério da Saúde determinou obrigatória a adição de


ferro (30% IDR ou 4,2mg/100g) e ácido fólico (70% IDR ou 150µg) nas farinhas de
milho e trigo. A fortificação deixa de ser facultativa e passa a ser obrigatória. Essa
medida tem o objetivo de aumentar a disponibilidade de alimentos ricos em
ferro e ácido fólico para a população brasileira e assim contribuir para a redução
da anemia no Brasil.
Para o combate da anemia, as escolas devem promover ações como:
 incentivo na comunidade para que as mães deem o aleitamento exclusivo
até os seis meses;

71
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

 uso de alimentos fortificados no preparo da merenda escolar ou nos ali-


mentos oferecidos nas cantinas escolares. Um exemplo são os alimentos
feitos industrialmente e que são encontrados prontos, como os kibes, que
são preparados com farinha fortificada. Outros exemplos são os sucos e
bolos que também são fortificados e que podem ser comprados em su-
permercados; mas preste atenção, pois existem diferenças entre alimentos
“fortificados” e “alimentos enriquecidos”. Estes últimos não servem para o
mesmo propósito, apenas são complementos para uma pessoa em condi-
ções normais e não-anêmicas;

 promover palestras para a comunidade no intuito de ensinar sobre a di-


versificação dos alimentos importantes para esse propósito;

 promover oficinas com preparo de alimentos que demonstre como pode


ser feita a fortificação com adição de ferro nos alimentos em casa e até nos
lanches que as crianças levam;

 educação da comunidade quanto à prevenção de doenças em geral e o


controle das parasitoses intestinais, que também podem causar a anemia;

 desenvolver um projeto de “horta na escola” com a participação dos alu-


nos. As verduras e legumes plantados e colhidos devem fazer parte da
merenda em saladas bem coloridas. Esse tipo de projeto proporciona
participação em grupo e incentivo sobre alimentação saudável. Pode-se
trabalhar também sobre o plantio, o lixo orgânico, o meio ambiente, in-
centivando a participação da comunidade local.

Tais medidas devem ser monitoradas permanentemente para que se consiga


êxito na prevenção e no controle da anemia. Observe a seguir outro exemplo de
sucesso desenvolvido em uma creche.

Programa fortifica água com ferro e vitamina C


para prevenir e tratar anemia em crianças
(CAPANEMA; LAMOUNIER, 2008)

O Programa Água de Ferro teve como objetivo avaliar o impacto da forti-


ficação da água potável com ferro e vitamina C em crianças de 24 creches da
Regional Leste de Belo Horizonte. “Escolhemos essa região porque ela reflete

72
Anemia ferropriva

as características do município, pois tem uma diversidade socioeconômica e


cultural”, explica um dos coordenadores do Programa, Dr. Flávio Diniz Capa-
nema. A primeira etapa do trabalho foi a realização, em 2000, de um levanta-
mento da incidência da anemia nessas instituições de ensino. O estudo veri-
ficou que 47,8% das crianças com até seis anos de idade tinham a doença.

Diante desse cenário, a equipe do Programa distribuiu para as creches,


durante cinco meses do ano de 2005, galões de 20 litros de água com a do-
sagem ideal de ferro e vitamina C para ingestão e preparação dos alimentos.
Capanema conta que, nesse período, foram eliminadas todas as outras fontes
de água. A percentagem de anemia nas creches passou de 37,1% para 11,5%.
O índice de crianças anêmicas com até dois anos caiu de 75% para 28%.

Flávio Diniz Capanema explica que a prevalência da doença na popula-


ção pode ser usada como indicador de saúde pública, porque está associada
a vários fatores de vida, tendo a ver com distribuição de renda, idade, ali-
mentação, habitação. “Ao contrário do que é observado no Brasil – onde se
verifica decréscimo da mortalidade infantil e mudança do perfil nutricional
do brasileiro de desnutrido para obeso – a taxa de crianças com anemia au-
menta no decorrer dos anos”, conclui Capanema.
(Disponível em: <www.fundep.ufmg.br/homepage/cases/635.asp>. Adaptado.
Acesso em: 10 jan. 2008.)

Texto complementar

Brasileiros comem muito e mal


(MATEOS, 2008)

A anemia reduz a oxigenação de todas as células do organismo, prejudi-


cando o desempenho físico e mental. Também reduz as defesas imunológi-
cas, favorecendo as infecções. É mais grave em crianças e gestantes, aumen-
tando o risco de mortalidade materna e neonatal, prematuridade e baixo
peso ao nascer. Mas o problema é especialmente sério por atingir principal-
mente crianças menores de dois anos.

73
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

Nessa faixa etária, segundo os estudos mais recentes, uma anemia acen-
tuada pode comprometer irreversivelmente o desenvolvimento cerebral.
“As pesquisas mostram que crianças que tiveram anemia séria nessa idade
apresentam desempenho escolar inferior ao das outras, mesmo quando a
deficiência de ferro já foi superada”, alerta a pediatra e nutróloga Roseli Sac-
cardo Sarni, do Hospital Pérola Byington. Quando profunda, a anemia pode
provocar problemas respiratórios que podem ser letais.

Aleitamento – uma das principais causas do aumento da anemia entre


menores de dois anos é a redução do aleitamento materno. Embora todo
leite seja pobre em ferro, o ferro do leite humano, ao contrário do que se en-
contra no de vaca, é de alta biodisponibilidade, ou seja, de fácil absorção.

Além disso, antes dos seis meses, o leite de vaca, mesmo aquele especial-
mente modificado, costuma provocar pequenas hemorragias no intestino.
Isso se dá porque o intestino é excepcionalmente permeável para poder ab-
sorver os anticorpos do leite materno.

O problema é agravado pela adoção de uma alimentação inadequada


quando a criança começa a comer. “Quando a criança é desmamada, é es-
sencial introduzir carne, feijão e verduras de folhas verde-escuras. Tem de ser
carne mesmo e os grãos de feijão, não só o caldinho”, destaca Rita Goulart,
nutricionista e professora da Universidade de São Paulo (USP).

Fisberg lembra ainda a importância de combinar bem os alimentos em


cada refeição, uma vez que alguns favorecem (frutas cítricas) a absorção do
ferro, enquanto outros (cálcio, café, cereais que contêm fitatos e todos os
chás) a dificultam.

País é omisso no combate a deficiências nutricionais


Programas destinados a enriquecer alimentos em creches
e escolas não têm continuidade

Quem faz o alerta é o especialista em nutrição Mauro Fisberg, da Univer-


sidade Federal de São Paulo.

Os Estados Unidos e o Chile enriquecem leite e farinha de trigo com ferro e


vitaminas do complexo B há mais de 40 anos. Mesmo na Guatemala, o açúcar
é enriquecido com vitamina A. “Alguns nutricionistas defendem que seja
obrigatório enriquecer o açúcar, mas já tramita no Congresso um projeto de

74
Anemia ferropriva

lei para que se fortaleça com ferro toda a farinha de trigo”, diz Rita Goulard,
nutricionista da Universidade de São Paulo. Mesmo os programas voltados a
enriquecer apenas alimentos consumidos pela população de risco (crianças
de creches e escolas), no Brasil, são realizados quase sempre de forma des-
contínua. Em Barueri, no interior de São Paulo, entre 1995 e 1996, houve um
projeto piloto que enriqueceu com ferro pão e biscoito usados na alimen-
tação de crianças de um a seis anos em creches e pré-escolas. Em apenas
45 dias, a prevalência de anemia caiu de 32% para 11% dos escolares. “Clas-
ses antes apáticas estavam impossíveis de controlar”, conta a nutricionista
Eliana Veloso, que coordenou o programa. Apesar disso, com a mudança da
administração, o projeto, que havia beneficiado cerca de 3 mil crianças, foi
abandonado.

Em 1994, pesquisa feita em 16 creches da Grande São Paulo revelou 68%


de crianças anêmicas, embora o cardápio parecesse adequado. Com a in-
trodução de leite fortificado com ferro e vitaminas C e A, em seis meses, a
prevalência de anemia caiu para 18%.

Embora as últimas pesquisas (1996/1997) tenham revelado que 35% das


crianças das creches públicas da capital são anêmicas – 10% com anemia
severa –, atualmente apenas o cereal matinal servido nessas instituições é
enriquecido com ferro. Suzana conta que, desde 1995, a prefeitura decidiu
enriquecer o leite. Houve o empenho para isso, mas a empresa contratada
entregou um produto de má qualidade e o acordo foi cancelado. “Desde
então, não se fez outra licitação”, lamenta. O leite distribuído pelo Ministério
da Saúde não é fortificado.

Independente da fortificação, alguns nutricionistas acreditam que o car-


dápio usado em creches e escolas poderia ter composição nutricional mais
adequada. “A merenda escolar do Estado propõe-se a suprir entre 15% e
30% das necessidades calóricas e proteicas, mas, em termos de ferro, jamais
chegou a 15%”, diz Maria Lucia Estefani, do Instituto de Pesquisa da Secreta-
ria de Estado da Saúde.

Pesquisa feita por alunos da Universidade de Mogi das Cruzes, sob super-
visão de Rita Goulart, analisou o cardápio de várias creches municipais de
Itaquera, em São Paulo, e concluiu que a alimentação oferecida não chegava
a atender a 40% das necessidades diárias de ferro. A conclusão é contestada
por Ana Maria Ferreira, supervisora de creches da prefeitura.

75
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

Segundo ela, o cardápio atende a 100% das necessidades de micronu-


trientes e 70% das necessidades calóricas e proteicas. O problema, segundo
ela, é que as crianças não conseguem ingerir tudo o que é oferecido. “A difi-
culdade é maior com os bebês, é preciso preparar melhor os alimentos e trei-
nar o pessoal dos refeitórios”, diz ela, lembrando que, quando isso foi feito,
a situação melhorou muito. Adequada ou não, a alimentação das creches
parece melhor do que aquela que as crianças recebem em casa. As pesquisas
mostram que os níveis de anemia são maiores depois das férias.

Há dois anos, houve parceria do governo com o Unicef para a distribui-


ção de vitamina A nas áreas críticas do Nordeste. Uma única dose semestral
mostrou-se eficiente. “O programa foi suspenso porque o Brasil não relatou
os resultados e o Unicef considerou que já tínhamos condições de arcar com
esse programa”, diz a nutricionista Maria Cecília Vergara, da Roche, que doava
as vitaminas para o Unicef.

Angatuba, interior de São Paulo, é um raro exemplo de programa de en-


riquecimento de alimentos com continuidade. Os resultados falam por si.
Há quatro anos, 72% das crianças das creches municipais entre 6 e 24 meses
eram anêmicas; hoje, são apenas 7,4%.

Atividades
1. Por que o ferro é tão importante no desenvolvimento da criança?

76
Anemia ferropriva

2. O que é anemia?

3. Quais são as consequências da anemia por deficiência de ferro?

77
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

4. Quais alimentos são ricos em ferro?

Dicas de estudo
GLOBO vídeo: As causas e tratamentos da anemia. Disponível em: <http://video.
globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM791887-7823-AS+CAUSAS+E+OS+TR
ATAMENTOS+PARA+A+ANEMIA,00.html>.

Dra. Andrea Wandalsen, hematologista, dá dicas de como cuidar da saúde


para evitar a anemia. Assista ao vídeo e faça um resumo das principais dicas.
Essas informações são importantes, pois elas podem ser repassadas para as pes-
soas do seu convívio.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Programa Nacional de Suplementação de Ferro. Dispo-


nível em: <http://dtr2004.saude.gov.br/nutricao/ferro_info_publico.php?exibe_
pagina=ferro_programa_info_geral&>.

O site traz um questionário do Programa Nacional de Suplementação de Ferro.


Esse questionário é um informativo a respeito de conceitos sobre a anemia, defi-
ciência de ferro e destaca as fontes de alimentos ricos nesse nutriente.

78
Anemia ferropriva

79
Controle do esfíncter

Resíduos orgânicos
Nosso corpo necessita de alimentos que cumprem suas funções de nu-
trição das células, e os produtos do metabolismo que não servem mais
para o corpo transformam-se em resíduos e devem ser eliminados. São os
produtos de excreção.

Esses resíduos são eliminados de várias formas, através do sistema uri-


nário (resíduos do metabolismo celular), sistema respiratório (emite CO2),
suor e do sistema digestório por meio da evacuação.

É importante sabermos diferenciar urina, suor e expiração da evacua-


ção, pois enquanto aqueles possuem resíduos de produtos do metabo-
lismo celular, as fezes contêm resíduos de alimentos não digeridos nem
absorvidos, por exemplo, restos de verduras (celulose).

Para o perfeito funcionamento de todos os sistemas do nosso corpo, é


necessário, durante toda nossa vida, beber muita água. A água ajuda para
que as fezes não fiquem duras ou ressecadas e faz com que nossos rins,
que fazem a filtragem do nosso sangue, funcionem melhor para expelir os
resíduos que filtraram. Na falta de água, esses resíduos ficam retidos nos
rins e também levam às cólicas renais, muito comuns em adultos.

Fibras encontradas nas verduras e frutas com cascas também são muito
importantes para o funcionamento do intestino.

O ato reflexo de ter vontade de ir ao banheiro e urinar chama-se micção.


O ato de ir ao banheiro para expelir fezes chamamos de defecação ou eva-
cuação. Quando transpiramos chamamos de sudorese.

A micção é controlada pelo sistema nervoso, que possui vários pontos


envolvidos na coordenação dos órgãos do sistema urinário. Esses dife-
rentes núcleos localizam-se no cérebro e medula espinhal e estão co-
nectados entre si e com os diferentes órgãos do sistema urinário.
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

IESDE Brasil S.A.


Córtex
Ponte

Medula

T -L
S -S
Nervos
Bexiga

O ciclo normal da micção pode ser dividido em duas fases: a primeira de


enchimento vesical, quando a bexiga acomoda quantidades crescentes de
urina sem aumentar a pressão no seu interior. Isso permite a livre drenagem
de urina proveniente dos rins através dos ureteres. Durante essa fase, o es-
fíncter uretral se mantém contraído para evitar vazamento da urina confor-
me demonstra a figura a seguir. Quando a bexiga está cheia, receptores trans-
mitem essa informação para o cérebro e, desde que possamos ir ao banheiro,
o cérebro desencadeia o processo de micção com contração da bexiga e re-
laxamento do esfíncter, resultando no ato de urinar com bom jato, pequena
elevação da pressão dentro da bexiga e esvaziamento completo da mesma
conforme demonstra a figura seguinte.
IESDE Brasil S.A.

Colo vesical

Esfíncter

Uretra

Essa segunda fase é denominada fase miccional e ao seu final reiniciamos


todo o ciclo da micção. O esfíncter urinário, além desse mecanismo automáti-

82
Controle do esfíncter

co, também possui controle voluntário. Por essa razão podemos interromper
o fluxo urinário durante a micção sempre que desejarmos. Além disso, a con-
tração persistente do esfíncter inibe a contração da bexiga. Como podemos
notar, todo o controle das duas fases da micção é realizado pelo sistema ner-
voso a partir do cérebro através da medula espinhal e posteriormente atra-
vés dos nervos que vão para a bexiga. Assim, as doenças neurológicas geral-
mente afetam a micção. Os recém-nascidos ainda não têm o sistema nervoso
completamente desenvolvido e por isso não têm ainda o controle voluntário
da micção. Por isso urinam de forma reflexa, ou seja, cada vez que a bexiga
se enche ela se contrai, o esfíncter relaxa e ela se esvazia. Esse controle só é
adquirido por volta de 2 a 4 anos de idade.
(Disponível em: <www.continencecenter.com.br/ml_3_miccao_normal.htm>.)

A partir da primeira amamentação, o bebê pode evacuar e geralmente isso


ocorre nas primeiras 36 horas. O bebê urina durante o dia todo desde o seu nas-
cimento, pois o leite materno contém uma grande quantidade de água.

O bebê nessa fase não tem controle sobre seu corpo, logo ele faz suas neces-
sidades fisiológicas a qualquer momento. É muito comum também o bebê ter
cólicas intestinais, porque seu intestino é prematuro e tem de funcionar sozi-
nho. Até aproximadamente dois anos, o bebê não tem controle, mas desenvol-
ve a percepção da vontade de fazer xixi ou evacuar, principalmente quando a
bexiga está cheia, demonstrando vontade ou a sensação de estar fazendo algo.
Quando suas fraldas estão sujas, a criança demonstra seu incômodo geralmente
por meio do choro.

Sempre que for observada fralda suja, é imprescindível a troca, pois a urina (que
é ácida) e as fezes machucam a pele do bebê, podendo aparecer assaduras.

Quando a criança começa a perceber os controles que tem sobre seu corpo,
inicia-se o processo de retirada das fraldas (por volta de um ano e meio a dois
anos). Nessa fase tanto a mãe como outras pessoas que cuidam da criança pre-
cisam ajudá-la. Assim, sempre que a criança sentir vontade de evacuar, é preciso
conduzi-la ao vaso sanitário infantil ou de adulto (com adaptador), mas nunca
deixar a criança sozinha.

No início, é preciso limpar a criança ensinando-a como ela fará sozinha, com o
tempo deve-se incentivar a criança a fazer a higiene sem o auxílio, acompanhan-
do-a e ensinando-a a dar descarga e lavar as mãos. É importante vestir a criança
com roupas flexíveis para que ela possa tirar facilmente na hora de ir ao banheiro.

83
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

Durante a noite, os pediatras recomendam o uso da fralda. Sua utilização


deve persistir pelo tempo necessário até o dia em que ela estiver seca na manhã
seguinte; isso demonstra que a criança adquiriu o controle de sua micção. É im-
portante lembrar a criança para ir ao banheiro antes de dormir e assim que acor-
dar; essa medida ajuda no processo de retirada da fralda noturna.

Vale lembrar que cada criança é um ser diferente, cada uma tem seu tempo
e devemos respeitá-lo, isso quer dizer que mesmo após a retirada da fralda a
criança ainda poderá urinar à noite; chamamos isso de enurese noturna. A enure-
se representa a perda involuntária de urina durante a noite e geralmente ocorre
duas vezes ao mês. Esse fato é considerado normal quando a criança possui até
cinco anos, mas se o problema persistir, a criança deve ser levada ao médico para
diagnosticar possíveis problemas.

As mães e a escola precisam ter comunicação direta para que ambas ajudem
nesse processo até a criança se sentir segura e não necessitar mais de ajuda para
evacuar. É importante que a mãe sempre envie para a escola pelo menos uma
peça de roupa caso seja necessário trocar.

Sempre que possível, devemos oferecer água para as crianças beberem, e


jamais proibi-las. Ingerir água em grande quantidade beneficia o perfeito fun-
cionamento dos órgãos e lubrifica as cordas vocais esse conselho é importante
para os professores.

Não podemos coibir a criança de ir ao banheiro, pois, se a criança bebeu água,


consequentemente necessitará sanar sua vontade de micção. Caso ocorra que a
criança faça, involuntariamente, suas necessidades na sala de aula, o professor
não pode reprimi-la e nem deixar que os colegas façam com que o aluno fique
numa situação constrangedora. A criança precisa aprender a controlar seu es-
fíncter conforme seu desenvolvimento maturacional, assim, se toda vez ela for
repreendida ao pedir para ir ao banheiro, isso acarretará uma confusão mental e
esse controle poderá ser adquirido por volta dos 10 anos de idade.

É preciso estar atento à cor da urina, exceto a primeira da manhã, as demais


devem ter cor clara, pois significa que ela está saudável. Quanto mais amarela-
-escura, significa que a pessoa toma pouca água e está retendo a urina muito
tempo, o que poderá ocasionar problemas. A mesma observação deve ser feita com
as fezes, pois se estiverem líquidas significa diarreia, lembramos que nesses casos a
criança perde o controle sobre a evacuação. Caso as fezes estejam duras ou resseca-
das, indica falta de água ou de alimentos com fibras ou frutas com cascas, nesse caso
chamamos de constipação intestinal e é necessário procurar orientação médica.

84
Controle do esfíncter

Os músculos localizados na base da bexiga (colo vesical) e na parede da uretra


controlam a micção. Na maior parte do tempo, esses músculos atuam fechando
o colo vesical e a uretra para impedir a saída de urina. Também podem ser con-
traídos voluntariamente para impedir a saída de urina.

IESDE Brasil S.A.


Músculos que controlam a micção (bexiga e esfíncter).

O controle do esfíncter é o primeiro sinal de maturação biológica da crian-


ça. Primeiro ela faz sem percepção, depois ela começa a perceber, em segui-
da pede para a mãe e, por último, já consegue utilizar o banheiro de maneira
independente.

Atenção: nosso corpo consegue funcionar vários dias sem alimento, porém,
não consegue sobreviver muitos dias sem água. Ofereça às crianças e beba
muita água e sucos de frutas naturais – estes além de cumprirem a função de
hidratação, fornecem vitaminas ao corpo.

Texto complementar

Educação infantil: controle de esfíncteres


O controle dos esfíncteres depende de um sistema anatomofisiológico
que poderá funcionar após um período de maturação. Há uma estreita re-

85
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

lação entre amadurecimento do sistema nervoso e o êxito no controle. Este


depende também de normas culturais que variam de sociedade para socie-
dade. O controle esfincteriano depende, portanto, de amadurecimento e de
aprendizagem.

A época da maturação dos esfíncteres é discutível. No entanto, em diver-


sas pesquisas feitas, a média de opinião situa o amadurecimento entre 18 e
24 meses de idade. Além do aspecto anatomofisiológico, situações pessoais
e a forma com que os adultos envolvidos lidam com o processo de aprendi-
zagem desse controle serão determinantes.

O processo depende, como já assinalado, mais da atitude dos adultos


do que propriamente das técnicas empregadas. A ansiedade dos adultos, a
comparação com outras crianças, o ensinamento insistente, a reprovação ou
castigo quando a criança vacila ou se recusa a ser treinada podem fazer com
que esse processo estenda-se ou se complique.

As atitudes frente ao controle variam de sociedade para sociedade. Numa


delas (Ilha de Alor), as mães não se interessam por esse problema. Não fazem
o menor esforço para ensinar seus filhos a andar, falar e controlar seus es-
fíncteres. Normalmente, as crianças dessa ilha controlam-se por volta de três
anos e não costumam brincar com suas fezes. Já entre os índios Navajos,
as regras de limpeza vão sendo colocadas gradativamente e as mães espe-
ram que a criança não tenha a impressão de estar submetida a uma vontade
alheia. Já nas tribos Manus o controle é imposto, pois as funções eliminató-
rias são consideradas vergonhosas. Em estudo abrangendo sociedades oci-
dentais foi observado que, por exemplo, as mães norte-americanas e ingle-
sas têm, de modo geral, atitudes mais severas e tentam fazer com que seus
filhos controlem seus esfíncteres precocemente.

Do ponto de vista da criança [sic] o ideal é que comece esse aprendizado,


por volta de dois anos, quando seu organismo, em princípio, estaria maduro
e o aprendizado se daria de maneira mais tranquila, embora não possamos
deixar de considerar as diferenças individuais quanto a essa maturação.
Acrescente-se a isso um maior desenvolvimento do vocabulário e da com-
preensão da criança o que lhe possibilitará uma participação mais efetiva
nesse processo. Ao se levar em conta esses aspectos, estaremos evitando fu-
turas dificuldades decorrentes de um treinamento realizado ocasionalmente
e de forma inadequada.

86
Controle do esfíncter

A criança, em geral, costuma controlar primeiro as fezes e depois a urina


e adquire primeiro o controle diurno para depois conseguir ter o controle
noturno dos seus esfíncteres. As evacuações são mais regulares e menos fre-
quentes, por isso são mais fáceis de serem controladas primeiro. Entre um ano
e um ano e meio, a criança pode dar alguns sinais relacionados à evacuação,
mas nem sempre é capaz de pedir ou avisar antes de evacuar. A criança nesta
idade está, geralmente, às voltas também com o controle de sua postura.
Pode acontecer, se for forçada a ficar sentada, que fique tensa e retenha as
suas fezes. É comum a criança liberar as fezes tão logo consiga ficar de pé.

É por volta de um ano e oito meses que as manifestações de oposição co-


meçam a ficar mais intensas. A criança pode usar suas fezes para demonstrar
o controle que tenta ter sobre si mesma e sobre os outros, por isso evacua
quando e onde quer. É comum que demonstre curiosidade por suas fezes
como a primeira “obra” pessoal. Vale novamente frisar a importância de uma
atitude natural por parte dos pais, visto que pode acontecer de a criança
utilizar seus excrementos como forma de agressão.

A fase entre um ano e oito meses e dois anos é a melhor época para o
início dessa aprendizagem. Por volta dessa idade, a criança já deve ter pas-
sado pelas seguintes fases:

1.º – eliminar por ato reflexo;

2.º – ter noção de que está evacuando;

3.º – avisar logo depois de ter terminado de evacuar;

4.º – antecipar que vai evacuar, sinal de maturação.

O processo de aprendizagem pode ser lento, não sendo possível medi-lo


por dias ou semanas. A criança vai aos poucos aprendendo o que lhe está
sendo transmitido; passa a associar as fezes com o local de fazê-las e passará
a pedir logo que sinta vontade de evacuar.

Outro aspecto a ser considerado é que, nessa idade (um ano e oito meses,
mais ou menos), a criança tem grande interesse em imitar as pessoas princi-
palmente os pais em suas atividades, o que também facilita o aprendizado.

Até por volta de três anos, mais ou menos, devido a diarreias, roupas aper-
tadas ou acidentes podem ocorrer regressões. Estas acontecem também se a
criança está passando por dificuldades emocionais.

87
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

O controle da urina, em geral, acontece depois do controle das fezes. A


micção também pode ser automática ou voluntária. Nas crianças até um ano,
a bexiga se esvazia automaticamente com muita frequência.

Alguns autores distinguem algumas etapas da maturação do controle da


micção:

 consciência de estar molhado;

 consciência de estar com a bexiga cheia;

 possibilidade de urinar quando a bexiga está cheia;

 possibilidade de urinar quando a bexiga ainda não está cheia.

Os esfíncteres funcionarão mediante um treinamento que permitirá a re-


tenção diurna e, em seguida, noturna. Inicialmente, a criança demonstra que
está molhada; é mais fácil sentir o contato na pele do que perceber que a
bexiga está cheia.

Durante o processo de aprendizagem de controle dos esfíncteres, pode


haver interferência de outros fatores. Um brinquedo interessante, por exem-
plo, pode atrair a criança e quando ela perceber já não dá mais tempo de
avisar que quer urinar. Por longo tempo, esses descuidos são tão comuns
que são considerados característicos nesse processo, mesmo se ocorrerem
depois de dois anos e meio, época provável de a criança ser capaz de con-
trolar seus esfíncteres. Mesmo a criança que conseguiu com facilidade ter
esse controle pode reagir diante de situações mais mobilizadoras como nas-
cimento de irmãos, entrada em creches, mudanças de casa ou babá, assim
como em situações de dificuldades emocionais.

Enquanto o controle diurno ocorre por volta de dois anos e meio, o no-
turno se dá por volta de três anos e meio, mais ou menos. Depende muito do
grau de sono. Somente a partir de três anos, a curva de ação vesical infantil
(capacidade de contração da bexiga) se assemelha à do adulto, possibilitan-
do o controle noturno. É quando a criança passa a acordar sistematicamente
com as fraldas secas.

Alguns pais, buscando acelerar o processo, acordam os filhos para urinar.


Uns aceitam esse método e outros recusam violentamente serem inter-
rompidas no seu sono. Nesse caso não se deve insistir, mas esperar o desen-
volvimento da criança.

88
Controle do esfíncter

Ao retirar as fraldas da criança é importante:

 associar as fezes e a urina com o local de fazê-las. Deve-se evitar que a


criança urine e ou evacue em plantas, ralos e areia não só por questões
de higiene, como também para incentivar hábitos que posteriormen-
te deverão ser deixados, são passíveis de críticas e motivo de apelidos
e brincadeiras pejorativas;

 deve-se convidar as crianças mais ou menos de duas em duas horas a


ir ao banheiro para urinar ou evacuar e deixar que ela vá ou não;

 uma atitude facilitadora é deixar que a criança veja outra criança usan-
do normalmente a privada;

 nunca punir, premiar, prometer recompensas para a criança aprender


mais depressa. De­ve-se evitar também usar expressões como “é sujo”, “é
feio”, “fulano já é grande e sabe” ou “criança bonita faz xixi no penico”.

Dizer que a criança está suja ou mostrar repugnância pode levá-la a sentir
vergonha de um ato, para ela, natural e fonte de prazer.

Considerar problema uma criança que, aos dois anos, não tenha controle
dos esfíncteres é o mesmo que considerar um bebê que engatinha ou balbu-
cia imaturo por ainda não falar nem andar.

As meninas devem ser ensinadas a se secar sempre após urinar, e todos


devem ser ensinados a se limpar depois de evacuar, por volta de quatro anos,
mesmo que no início o façam sem muita eficiência e precisem de ajuda e/ou
averiguação do adulto.

(Disponível em: <www.escolaparque.g12.br/portal/conteudo/circulares/1799.doc>.


Acesso em: 14 fev. 2008.)

Atividades
1. Faça uma pesquisa a respeito do sistema urinário em homens e mulheres.
Em seguida, desenhe e compare ambos, respondendo se existem diferenças
nos sistemas urinários dos homens e das mulheres.

89
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

90
Controle do esfíncter

2. Escreva sobre a importância da água para a saúde.

3. Como os pais e os educadores podem contribuir na fase de controle do es-


fíncter pela criança? Descreva como deve ser seu aprendizado.

Dicas de estudo
<http://crisete.bebeblog.com.br/7735/PUERICULTURA/>.

O site acima oferece algumas dicas de puericultura (cuidados com o bebê),


destacando como se dá o banho no bebê e o documento sobre “A Declaração
dos Direitos da Criança”, entre outras dicas. É importante conhecer os cuidados e
direitos da criança e debater em sala de aula.

<www.clicfilhos.com.br/site/display_materia.jsp?titulo=Manual+de+primeiros
+socorros>.

Esse site oferece dicas a respeito dos primeiros socorros. É relevante conhecer
esse tema para saber como proceder em caso de algum incidente.
91
O sono e a criança

IESDE Brasil S.A.


recém-nascido

1 ano de idade

4 anos de idade

10 anos de idade

adulto

18h. 0h. 6h. 12h. 18h.

Esta figura está relacionada com as fases (ciclo) do sono em relação à idade das pessoas e
nosso “relógio biológico”.

O sono é um fator importante para regular nosso organismo. Enquan-


to dormimos, nosso corpo trabalha e os hormônios são produzidos ou li-
berados. Muitas vezes ouvimos falar que “enquanto a criança dorme, ela
cresce”, isso é uma verdade se considerarmos o hormônio do crescimento
(GH) sendo produzido e liberado.

Durante a vida intrauterina, a criança também dorme e acorda, se a


mãe está muito ansiosa, preocupada ou agitada, ela faz com que a criança
também fique assim. Após o nascimento, a criança acorda muito durante
seu sono, isso porque o leite materno possui uma digestão muito rápida e
isso faz com que o bebê necessite se alimentar com muita frequência. As
mamadas costumam ser de três em três horas, o que muitas vezes faz com
que as mães sintam-se cansadas, ansiosas e até nervosas.

Esses fatores podem atrapalhar a amamentação da criança levando,


muitas vezes, ao desmame precoce. Diversas causas levam ao desmame
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

precoce: quando o bebê ainda não sabe sugar e nem a mãe sabe oferecer o
seio de maneira correta, este acaba sendo machucado, causando dores e feri-
mentos; mães que trabalham e não conseguem amamentar seu filho durante
o dia; se é oferecido leite artificial com açúcar, o fato de ser doce leva o bebê a
não querer mais o outro (natural); quando a criança fica algum tempo internada
(bebês prematuros) e quando não é estimulada a retirada de leite materno este
acaba petrificando.

Quando o bebê cresce e entra na fase de desmame, os alimentos serão sufi-


cientes e ele não acordará mais à noite.

A alimentação é um fator muito importante para o sono. Alimentos que de-


moram muito tempo para serem digeridos ou a ingestão pela criança de uma
grande quantidade de alimentos farão com que ela tenha sono, pois seu corpo
necessita de toda a energia para a digestão e, devido esta ser mais demorada, a
criança dorme agitada ou desconfortada.

O mesmo ocorre quando a criança come de maneira insuficiente e fica com


fome durante a noite. Se observarmos crianças que foram a uma festa, veremos
que elas querem brincar o tempo todo e não querem parar a brincadeira para
comer; quando chegam em casa estão agitadas, com sono e com fome. Elas
comem e em seguida vão dormir. O sono dessas crianças também será agitado.
A forma correta é a criança alimentar-se sem excessos, com algumas horas de
antecedência do horário em que irá dormir.

Toda criança precisa de atenção, calma e tranquilidade para dormir. Mesmo


estando em seu quarto e dormindo, se houver pessoas conversando, televisão
ligada ou outras crianças brincando ou chorando (caso das escolas), ela terá um
sono agitado. Luz forte e utensílios decorativos piscantes, com músicas e objetos
coloridos despertam a curiosidade da criança, fazendo com que ela perca o sono.

Se a criança está na fase de tirar as fraldas e faz xixi na cama – diurese notur-
na – ou se quer ir ao banheiro porque tomou muito líquido antes de dormir, a
criança tem sono agitado, acorda no meio da noite e perde o sono.

Lembramos que, quando a criança for maior, é importante levá-la ao banhei-


ro antes de dormir para evitar que ela acorde durante a noite.

Não devemos manter as crianças pequenas sempre ocupadas e brincando


o tempo todo, elas necessitam de momentos de descanso, de tranquilidade e
de sono. Colocá-las no berço ou na cama antes de dormir acalma e induz ao
sono, porém devemos respeitar cada criança, pois nem todas gostam de ficar

94
O sono e a criança

sozinhas, algumas preferem a companhia de alguém que as façam sentirem-se


seguras. Sentar-se ao lado delas pode fazer com que durmam mais rápido.

O berço muitas vezes é o lugar preferido para crianças que gostam de ficar
brincando sentadas ou deitadas sozinhas antes de dormir. É preciso tomar alguns
cuidados básicos com as normas de segurança do berço, tais como: não deixar
brinquedos pequenos que possam ser levados à boca e tomar cuidado para que
as crianças não tenham quedas e fiquem machucadas. Os berços necessitam
oferecer condições de segurança para que a criança não sofra acidentes.

Segundo a Dra. Shirley de Campos (2008), crianças menores ou bebês ne-


cessitam dormir várias vezes ao dia, enquanto que crianças maiores necessitam
dormir menos tempo. Ela aponta que essa variação do sono entre as crianças
decorre das diferentes fases do desenvolvimento e sua relação com o sono:
[...] o neonato dorme mais tempo do que as crianças maiores, com períodos fragmentados
de sono distribuídos ao longo do dia, que vão gradualmente se consolidando num período
único, à noite. O recém-nascido e o lactente dormem 16 a 18 horas por dia. [...] Eles alternam
sono e vigília a cada três a quatro horas, uniformemente distribuídas entre o dia e a noite.
Em torno de 6 meses, o lactente dorme até 6 horas ininterruptas, à noite, sendo comum dois
longos períodos de sono, intercalados por um breve despertar. Por volta de 6 meses, o sono
já é estadiado, como no adulto, em sono quieto [...], com quatro estágios [...]. Os estágios um
e dois do sono são superficiais e o três e o quatro são profundos. Ao final do primeiro ano,
o lactente dorme em torno de 12 horas, mas o sono já se restringe a dois momentos: uma
sesta à tarde e um longo período de sono à noite. Ao longo dos anos do período pré-escolar,
ocorre uma diminuição progressiva das horas de sono de 15 para 12 horas. A sesta é abolida
gradativamente até os cinco anos. No escolar, o período de sono dura em torno de 8 a 10
horas. A arquitetura do sono vai se estruturando e amadurecendo com o passar dos meses e
anos. A boa qualidade do sono depende da integridade estrutural e funcional das estruturas
neurais, do estado global de saúde da criança e da capacidade desta e dos pais em disciplinar
satisfatoriamente o processo de adormecer. O comportamento da criança em relação ao
sono deve ser entendido no contexto do desenvolvimento e de suas etapas, ao longo das
quais o bebê vai amadurecendo. Esse processo é determinado por mudanças nos padrões
neuropsicológicos da criança e modelado por práticas interpessoais, sociais e culturais da
família. (CAMPOS, 2008)

Os padrões de sono dos bebês


Quantas horas os bebês precisam dormir?

Idade Número aproximado de horas de sono


Recém-nascido 16 a 20 horas por dia.
3 semanas 16 a 18 horas por dia.
6 semanas 15 a 16 horas por dia.
4 meses 9 a 12 horas mais duas sonecas (2 a 3 horas cada).
6 meses 11 horas mais duas sonecas (duas horas cada).

95
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

Idade Número aproximado de horas de sono


9 meses 11 a 12 horas mais duas sonecas (uma a duas horas cada).
1 ano 10 a 11 horas mais duas sonecas (uma a duas horas cada).
18 meses 13 horas mais uma ou duas sonecas (uma a duas horas cada).
2 anos 11 a 12 horas mais uma soneca (duas horas).
3 anos 10 a 11 horas mais uma soneca (duas horas).
(Disponível em: <www.virtual.epm.br/material/tis/curr-bio/trab2003/g3/infancia.html>.)

Uma boa dica é levar os bebês para o banho de sol, a criança se acalma e
muitas vezes dorme tranquilamente. Além disso, o sol é fundamental para a for-
mação dos ossos e do sistema nervoso devido à vitamina D (os bebês precisam
do cálcio que está presente no leite, mas para que ele se fixe nas células é ne-
cessária a presença da vitamina D), muito importantes para o desenvolvimento
e crescimento das crianças. A exposição ao sol requer alguns cuidados básicos,
como o tempo de exposição e o horário mais adequado.

A hora do sono na escola, que na maioria das vezes é após o almoço, implica
conduzir as crianças para o banheiro para que façam suas necessidades básicas
e escovem os dentes, enquanto isso o professor ou outra pessoa pode arrumar
o local para dormir, seja o berço, a caminha ou o colchonete. É importante que
cada criança tenha seu próprio lugar e seus pertences como lençol, fronha e
travesseiro (sempre limpos, evitando a transmissão de doenças de pele, piolho
etc.). Para crianças que não querem dormir e ficam resistindo a esse hábito,
convide-as para manusear livros ou fazer pinturas, isto ajudará para que fiquem
tranquilas, gerando o sono.

A organização da escola para promover a “hora do soninho” é fundamental


para criar este hábito nas crianças. “Não há segredos para promover a hora do
repouso”, explica a diretora Luciana Fiel apud Maragon (2008). Em primeiro lugar,
é preciso organizar os horários de trabalho dos funcionários da escola de acordo
com a rotina dos pequenos – e não o contrário – para que eles não sejam acor-
dados pelo entra-e-sai. “Um pessoal começa às 7 horas e vai até as 11, enquanto
outro vai das 11 às 17 horas. [...] Dessa maneira, evitamos tumultos no momento
de descanso, após a refeição.”

Algumas dicas importantes para a “hora do soninho”:

 Local deve ser arejado, janelas de vidro que possibilitem sua abertura para
entrada de ar e quando as janelas estiverem totalmente abertas, devido ao
intenso calor, deve haver a tela de proteção para que não entrem insetos
e servindo de proteção para que a luz não atrapalhe o sono das crianças.

96
O sono e a criança

O clima também pode interferir no sono da criança, dias muito quentes


fazem a criança suar e ficar agitada, durante o sono é necessário que a
criança esteja com roupas leves.

 Local silencioso e disponível para crianças descansarem. TVs e brinquedos


devem ser evitados para não distraírem a criança na hora de dormir.

 Berços devem estar separados por uma distância de 60cm e obedecer às


normas de fabricação que visam à segurança do bebê.

 A utilização de colchonetes diretamente no chão requer cuidados: higie­


nização do chão, colocar tapete emborrachado embaixo para que não fi-
que diretamente no piso frio; não deixar as crianças subirem nos colchões
com calçados; observar o local em que ficam os colchonetes para que a
criança não receba corrente de vento ou ar frio, principalmente no inver-
no; higienizar periodicamente os colchonetes com água e sabão neutro.

 Dormir com seus pertences, como “paninhos”, bichinhos, chupetas, pode


trazer mais segurança e conforto para as crianças. Devemos sempre lem-
brar que elas não estão em suas casas e nem com sua mãe, logo precisa-
mos proporcionar-lhes atenção e conforto.

 É necessário sempre ter uma pessoa responsável observando as crianças


enquanto dormem, pois elas podem acordar assustadas, caso tenham so-
nhos ou ouçam algum barulho muito forte (motor de motocicletas), ou ao
se levantar, podem tropeçar por cima de outro colega, como pode acon-
tecer de uma criança morder a outra etc.

Uma boa soneca na escola ajuda no bem-estar da criança, no crescimento, no


autocontrole emocional, no humor, na memória e no desenvolvimento geral.

Assim, temos de respeitar cada criança como única e, portanto, devemos


estar preparados para crianças que não querem dormir. Fatores como o livre
acesso a brinquedos, crianças gritando, dentes nascendo, doenças incubadas,
ou simplesmente pela falta de vontade de dormir, dificultam que a criança tenha
sono e durma. Nesses casos deve-se ter outra sala para que ela descanse sem
necessariamente dormir: salas de leitura, pintura, para assistir desenhos etc. são
boas programações para esse momento.

Crianças com idades diferentes e temperamentos diferentes dormem de ma-


neira diferente, pois quanto menor a criança mais ela dorme. Os hábitos familia-
res também influenciam no sono, tais como: crianças que são acordadas muito

97
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

cedo para que suas mães as deixem nas escolas e possam trabalhar, famílias que
dormem muito cedo ou muito tarde fazem com que a criança adquira esses
mesmos hábitos.

Devemos lembrar que crianças obesas têm maior dificuldade de dormir. Se-
gundo Ana Gerschenfeld (2008),
[...] 25% das crianças obesas e inativas sofrem de perturbações da respiração durante o sono,
incluindo o ressonar e as apneias do sono. Atividade física ajuda a controlar o problema.
Após cerca de três meses de atividade física intensiva a seguir às aulas – saltar de corda, jogar
basquetebol ou brincar de apanhada –, o número de crianças com esse tipo de problemas no
grupo com 20 minutos de atividade física diária tinha diminuído para metade. E, nas crianças
que praticavam 40 minutos de atividade física por dia, essa redução atingia os 80%.

Distúrbios do sono
Os distúrbios do sono são alterações orgânicas relacionadas ao começo do
sono, durante todo o sono ou a comportamentos anormais associados ao sono,
como o terror noturno ou o sonambulismo. Vejamos abaixo algumas dessas
alterações:

Bruxismo – movimento repetitivo da mandíbula que provoca ranger dos


dentes durante o sono.

Terror noturno – despertar súbito e parcial seguido de um grito ou choro,


muito comum entre crianças. Normalmente, a pessoa não sabe que está acorda-
da e no dia seguinte não se lembra do ocorrido.

Pesadelo – é considerado distúrbio quando provoca o despertar súbito. Nor-


malmente, a criança (ou adulto) acorda assustada e desorientada.

Síndrome das pernas inquietas – distúrbio caracterizado por um descon-


forto que provoca uma irresistível vontade de mexer as pernas. Pode ocorrer em
outros grupos musculares e atrapalha o início e a retomada do sono.

Distúrbio comportamental do sono – acordar vivenciando de forma inten-


sa o que estava acontecendo no sonho. A pessoa leva alguns segundos para
perceber o que está acontecendo.

Apneia – frequentes paradas respiratórias durante o sono. Em alguns casos,


chegam a ocorrer dezenas de vezes por minuto e, se não tratadas, podem causar
pressão alta, problemas cardíacos e até mesmo levar à morte.

Sonambulismo – estado em que a pessoa, ainda dormindo, realiza movi-


mentos como sentar na cama ou andar pela casa.
98
O sono e a criança

Insônia – é o que atinge a maior parcela da população mundial. Existem di-


versos tipos de insônia, mas todas têm em comum a dificuldade em iniciar ou
manter o sono.

Narcolepsia – doença do sistema nervoso central que causa sonolência ex-


cessiva durante o dia e pode provocar repentinos cochilos curtos. Outro sintoma
é a perda súbita de força muscular, em geral relacionada à emoção ou estresse.

Fibromialgia – distúrbio caracterizado por diversos pontos de dor muscular


espalhados pelo corpo.

Salientamos que, em situações de alterações constantes no sono, é preciso


um diagnóstico e acompanhamento médico, pois falsos prognósticos por parte
dos pais podem levar a outros tipos de problemas. Às vezes, os pais consideram
que são birras da criança determinados comportamentos por elas apresentados
e por isso não a encaminham para diagnóstico, ficando desconhecida a causa
principal dos distúrbios.

Texto complementar

Sono e aprendizagem
(HAUBOLD, 2008. Adaptado.)
Quando dormimos, será que estamos apenas passivamente a nos recuperar de
um dia cansativo, ou será mais do que isso? Angelika Börsch-Haubold pondera
as implicações de alguma investigação intrigante – será que a sua avó tinha
razão? Teste você mesmo as conclusões dos cientistas!

A minha avó costumava dizer que uma boa noite de sono era essencial
para a aprendizagem. Ela insistia mesmo que o sono antes da meia-noite
era o melhor. Normalmente, as crianças não se importam de ir para a cama
quando têm sono, mas os adolescentes recusam-no como parte da sua
emancipação sobre a influência parental. E a nossa sociedade parece con-
tribuir para isso: hoje em dia, dormimos menos 20% do que os nossos ante-
passados, porque trabalhamos mais horas e procuramos atividades sociais
noturnas (HARGREAVES, 2000).

Todos sabemos que uma noite de sono tardia ou a perda regular de pe-
quenos períodos de sono dificultam a atividade cognitiva. Estima-se que o

99
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

cansaço seja um fator importante em um terço dos acidentes de viação e que


seja a primeira causa de acidentes fatais na faixa etária dos 18 aos 25 anos
de idade. Mas dormir pouco não coloca apenas a própria vida em risco. Um
inquérito anônimo em São Francisco revelou que mais de 40% de funcioná-
rios hospitalares admitiram que, por decisões erradas associadas ao cansaço,
causaram a morte de pelo menos um paciente.

Um indicador simples de privação de sono é a tendência para adorme-


cer durante o dia. Isso acontece aos alunos durante as aulas, aos estudantes
sobre os livros de estudo, às pessoas que viajam ou pessoas idosas em frente
a TV. A privação de sono é um fenômeno comum e, para além das suas con-
sequências potencialmente fatais, afeta-nos na nossa capacidade de memo-
rizar e, consequentemente, na capacidade de aprender.

A consolidação da memória e a apreensão súbita


Nos últimos anos, os cientistas descobriram que o sono é mais do que uma
simples regeneração do nosso sistema nervoso. Durante o sono, dá-se a ati-
vação do processo de aprendizagem (HUBER et al., 2004), essencial para a for-
mação da memória a longo prazo. A memória inicial, que se forma assim que
aprendemos uma nova tarefa, é susceptível a interferências. Ao fim de um
tempo específico, inicia-se um processo automático designado de consoli-
dação da memória, que estabiliza essa memória. A consolidação da memória
prossegue durante o sono, mas levando ao efeito adicional de aumento da
memória. Como consequência, o nosso cérebro funciona melhor após uma
sesta e, ainda melhor, após uma noite de sono (STICKGOLD, 2005). Além disso,
se nos encontramos empenhados na procura de uma solução para um pro-
blema complicado, enquanto dormimos o nosso cérebro continua a trabalhar
na procura dessa solução. Como resultado, podemos sentir uma súbita com-
preensão de um fenômeno, uma apreensão súbita, às vezes induzida por um
sonho. Mais adiante, serão descritas duas experiências que avaliam o efeito
do sono sobre a consolidação da memória e sobre a apreensão súbita.

O que acontece ao nosso


cérebro enquanto dormimos?
O hipotálamo, como órgão regulador central do sistema nervoso autô-
nomo, controla os ritmos circadianos (o relógio biológico) da nossa tempe-

100
O sono e a criança

ratura corporal, da liberação de hormônios, do apetite e do sono. Contém


um interruptor neuronal que regula os “nervos do despertar” e os “nervos do
sono”. Uma transição súbita para o modo de sono (adormecer) significa que
o sistema nervoso induz uma inibição dos nervos do despertar. O interrup-
tor é estabilizado por um terceiro grupo de neurônios, caso contrário acor-
daríamos frequentemente durante a noite (SAPER et al., 2005). Uma forma
pictórica de compreender o mecanismo neuronal do sono é imaginar três
crianças num balanço. Duas delas sentam-se cada uma num dos lados da
trave, balançando para cima e para baixo – o interruptor. A terceira criança
senta-se em cima do eixo. Quando muda o seu peso para um dos lados da
trave, pára o movimento – o estabilizador.

Esse sistema dinâmico gera as diferentes fases de sono, já conhecidas: o


sono de movimento rápido dos olhos, sono REM (rapid eye-movement) du-
rante o qual ocorrem os sonhos, e o sono não-REM, com as fases de sono leve
I e II e de sono profundo III e IV. Uma noite de sono é caracterizada por ciclos
de 90 minutos das fases de sono profundo e de sono leve. Um período inicial
longo das fases de sono III e IV é seguido por um período curto de sono REM
e pelas fases I e II. Ao longo da noite, as fases de sono profundo tornam-se
mais curtas e as fases de sonho tornam-se mais longas.

Parece haver dois lados na função fisiológica do sono. Primeiro, o sono


não-REM é um período pouco exigente em termos metabólicos, pelo que os
níveis energéticos de adenosina trifosfato (ATP), gastos enquanto estamos
despertos, são repostos. O produto da degradação do ATP, adenosina, atua
como agente fisiológico do sono, ao ativar diretamente os neurônios promo-
tores do sono. Segundo, o sono é fundamental para a flexibilidade neuronal.
Durante o sono, enquanto algumas ligações acidentais entre neurônios são
eliminadas, outras ligações significativas são reforçadas. Todas as diferentes
fases do sono possuem implicações na aprendizagem dependente do sono.

A consolidação da memória dependente do sono


O efeito do sono na aprendizagem é mais facilmente quantificado se es-
tudarmos a aprendizagem não-consciente. Isso pode ser feito por intermé-
dio de experiências que testam as capacidades motoras, tais como usar um
teclado ou traçar uma linha exibida num monitor de computador, ou testan-
do capacidades perceptivas, tais como diferenciar entre barras diagonais e
horizontais, em planos diferentes.

101
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

Na experiência de digitar, os sujeitos digitam repetidamente num tecla-


do de computador uma sequência numérica, por exemplo, 4-1-3-2-4, o mais
rapidamente possível. A capacidade de digitar aumenta nos primeiros cinco
minutos de prática, após os quais os sujeitos atingem uma assímptota de
cerca de 60% de capacidade de melhoramento, durante 12 tentativas de 30
segundos cada (STICKGOLD, 2005). Repetir a experiência 4 a 12 horas mais
tarde e no mesmo dia, não acrescenta qualquer melhoria à capacidade dos
sujeitos. Após uma noite de sono, a velocidade e a precisão de digitar são
aumentadas de cerca de 20% em média. Após duas noites, regista-se um me-
lhoramento de mais 26%. Esses resultados indicam claramente um processo
de consolidação da memória, por intermédio do sono.

Curiosamente, o sono só ajuda se não aprendermos demasiado de uma


só vez e usando o mesmo tipo de memória. Se, durante a experiência de digi-
tar, introduzirmos uma segunda sequência de aprendizagem, imediatamen-
te após a primeira sessão de treino, o sono induz melhoramentos apenas na
capacidade de digitar a segunda sequência (WALKER et al., 2003). Diferentes
tempos de treino demonstram que a consolidação da memória atinge uma
primeira fase de estabilização no período de 10 minutos a 6 horas após a
aprendizagem, e só após esse período é que se torna resistente a interferên-
cias por parte de outras memórias. Contudo, pequenos períodos de treino
(como na situação de repetição da experiência) retornam a memória a um
estado lábil, novamente vulnerável a interferência por parte de um padrão
motor competidor, em busca de consolidação.

Não há forte evidência científica de que exista uma consolidação da me-


mória, dependente do sono, para eventos (o que ocorreu ontem) e fatos (o
nome de um colega de trabalho). Contudo, nos sujeitos a que se pede que
memorizem sílabas desprovidas de sentido, ou para encontrarem associa-
ções de palavras, o “deitar cedo” (rico em sono profundo) favorece a estabili-
zação desta “memória declarativa” (STICKGOLD, 2005).

Conclusão
A mais recente investigação sobre sono e aprendizagem conferiu rigor
científico aos conselhos da minha avó. Essa informação combinada com
os indicadores óbvios de que a privação de sono é uma realidade na nossa
sociedade, leva-nos a repensar os nossos hábitos de sono. O conhecimen-
to sobre as necessidades de sono do nosso cérebro ajudar-nos-á a apren-

102
O sono e a criança

der, trabalhar e viver em harmonia com o nosso sistema neurofisiológico,


de forma a aproveitarmos uma vida inteira de aprendizagem eficaz. Sendo
assim, durmam sobre o assunto.

Atividades
1. Para ampliar nosso tema, pesquise as diferenças entre sono e cansaço, bus-
cando quais as relações entre esses dois conceitos.

103
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

2. Pesquise quanto tempo uma criança deve dormir diariamente.

3. Qual a relação entre o sono e a memória?

104
O sono e a criança

Dicas de estudo
Acesse o site: <http://guiadobebe.uol.com.br/carinho/shantalla.htm>.

Esse site mostra a técnica de massagem shantal que tem sido muito utilizada
em bebês, e mostra os benefícios, que também ajudam nos problemas de insô-
nia. É importante a troca de informações e experiência entre os alunos, para que
eles próprios tentem praticar para aprender a técnica.

105
A importância da higiene

A partir do seu nascimento o ser humano irá passar, durante sua exis-
tência, por várias fases: ele nasce, cresce, se reproduz e morre. A essas
fases damos o nome de ciclo da vida e cada um de nós possui seu ciclo
biológico (mecanismos internos de funcionamento e regulação de todos
os sistemas e órgãos do corpo) no qual consideramos fases em que nosso
organismo vai se alterando para mantê-lo em perfeito estado nos aspec-
tos físico, mental e intelectual.

Para que o indivíduo possa passar por todo esse ciclo, ele precisará
manter seu corpo em perfeito funcionamento durante todas as fases, isso
chama-se homeostasia, que quer dizer processos ou mecanismos que
nosso corpo ou nosso organismo possui para regular e manter em equilí-
brio para que o indivíduo possa ter uma vida saudável. Para que ele tenha
seu corpo em perfeito funcionamento, ou melhor, ter boa saúde, precisará
de boa alimentação, atividade física, sono adequado, lazer e higiene.

A Organização Mundial da Saúde (OMS), organismo sanitário interna-


cional integrante da Organização das Nações Unidas, fundado em 1948,
define saúde como “estado de completo bem-estar físico, mental e social,
e não somente a ausência de enfermidade ou invalidez”.

Na realidade a saúde é um problema de natureza social que depende


de como as pessoas se alimentam, como moram, como se vestem, em que
condições trabalham e como se divertem. Pessoas com nível econômico
melhor possuem moradias melhores, planos de saúde, podem alimentar-
-se bem; já as pessoas de classe social baixa dependem de atendimento
médico em hospitais públicos, remédios fornecidos pelo governo, vagas
em escolas, muitas vezes moram em favelas, perto de córregos e rios etc.
Em resumo, a saúde é uma decorrência do nível social.

Nesse contexto, a higiene e o saneamento básico são fundamentais


para evitar as doenças e preservar a saúde. Uma criança ao nascer depen-
de primeiramente das pessoas que cuidam dela (mãe, avó, professora,
babá etc.), na fase escolar (tanto na escola como em casa) dependerá do
aprendizado de como tratar do seu corpo e o respeito com o meio am-
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

biente em que vive; e, independente de suas ações, todos nós (crianças e adul-
tos) dependemos das políticas públicas, como saneamento básico, limpeza das
ruas, rios, córregos etc. Sem isso o ambiente em que moramos torna-se sujo e
propício à contaminação e proliferação de doenças.

Um bairro que sofre com

Tiago Queiroz. ABr.


as enchentes e possui lixo
nas ruas, consequentemente,
atrairá animais causadores de
doenças como ratos (leptos-
pirose), pombas urbanas, in-
setos como baratas e piolhos,
mosquitos (dengue); se possui
águas sujas e poluídas, conta-
minará animais (os frangos)
O alto risco de contaminação durante as enchentes ex-
e plantas (verduras) e os ali- põe a população a inúmeras doenças e ao aumento na
mentos contaminados serão incidência de acidentes como afogamentos.
servidos como refeições. Crianças brincam descalças nessas águas e qualquer
ferimento nos pés será uma porta de entrada para micro-organismos e doenças.
Higiene física ou corporal, higiene mental e higiene do meio ou social são os três
aspectos que dizem respeito à saúde que serão abordados a seguir.

Higiene física
A higiene do corpo previne muitas infecções como a do intestino, a da pele, a
dos olhos, a dos pulmões etc. Muitas doenças são transmitidas das fezes para a
boca, como as verminoses, diarreias e disenterias, hepatites, entre outras. Crian-
ças pequenas (zero a um ano e meio) passam por uma fase na qual se deu o nome
de “fase oral” (ROWELL, 2008), pois nessa fase a língua possui nervos sensoriais em
que ela percebe as formas, as densidades, os sabores de tudo o que for levado até
a boca. Essa fase requer cuidados redobrados com a higiene do meio, das mãos, e
dos objetos como brinquedos, utensílios como chupetas, mamadeiras etc.

Portanto, a higiene do corpo é fundamental tanto para quem cuida da criança


como da própria criança. Tomar banho ao levantar-se, depois de ter praticado es-
portes, lavar as mãos depois de ter evacuado ou ter urinado, antes de comer, não
andar descalço, escovar os dentes após as refeições, não tomar banho nem brincar
em águas sujas, entre outros. Devemos sempre olhar a cabeça das crianças e evitar
a transmissão do piolho, cuidar bem das unhas e mantê-las limpas e cortadas.

108
A importância da higiene

Cuidados corporais com bebês também exigem atenção: não deixá-los com
fraldas sujas e dar banhos sempre que necessário, após as evacuações e princi-
palmente no verão, quando as crianças suam muito. Durante o banho, é impres-
cindível tomar cuidados com a segurança do bebê. Quedas em chão escorregadio,
queimaduras com água muito quente ou afogamentos. Nunca devemos deixar a
criança sozinha nem que seja por apenas uns instantes.

Foram observados nas escolas altos índices de crianças com cáries, pois não
fazem a higiene bucal. Na escola ou em casa, faz-se necessário acompanhar e
observar o processo de escovação dos dentes feito pelas crianças. Esse acom-
panhamento deve permanecer o tempo necessário até que elas possam fazer
sozinhas e da maneira correta. As escolas devem promover a visita de profissionais
(dentistas) para que possam aplicar flúor, ensinar e incentivar as crianças ao
hábito de escovar os dentes.

Crianças em estados gripais também exigem cuidados com as secreções do


nariz, espirros e tosse, que são as formas de contágio e transmissão de doenças.
Os professores devem deixar o ambiente arejado, fazendo com que as crian-
ças gripadas permaneçam perto de janelas para que possam respirar melhor,
e orientando para que quando espirrarem deverão virar a cabeça para o lado
oposto ao dos demais alunos. Crianças que apresentam diarreias precisam estar
limpas, e as pessoas que cuidam das crianças necessitam de cuidados redobra-
dos com as mãos, após a troca de fraldas. Lavar bem as mãos antes e depois da
troca de fraldas, destinando atenção especial para as unhas, que devem estar
curtas e sempre limpas. Uma boa dica: depois de lavar as mãos, utilizar álcool
em gel ou deixar preparada uma solução de álcool a 10% (900ml de álcool +
100ml de água); essa solução é muito eficaz para desinfecção, inclusive de cubas
e banheiras para banho.

Higiene mental
Somos seres humanos e necessitamos estar bem. Nossa saúde física e mental
são interdependentes, pois tudo depende das condições em que nosso corpo
encontra-se; temos necessidades fisiológicas como alimentar-se, bem como
temos necessidades psicológicas como ter amor, segurança etc. Se estamos an-
siosos, perturbados, inseguros, nossa mente não fica bem e consequentemente
nosso corpo também adoece. São as doenças psicossomáticas.

As crianças sofrem diretamente com esses aspectos enquanto estão com sua
família e também na escola. Apontamos alguns fatores em que o ambiente fa-
109
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

miliar interfere no aprendizado das crianças, tais como: alcoolismo, ausências


prolongadas, violência doméstica, separação dos pais, doenças, falecimentos,
relação entre irmãos com agressividade e/ou competitividade. Para haver êxito
no desenvolvimento cognitivo da criança, é necessário o estudo em casa: os pais
devem proporcionar ambiente claro, arejado e silencioso; ter preferencialmente
um horário diário para os estudos, checar o material escolar; postura corporal
adequada é muito importante; sempre incentivar e elogiar a criança depois que
ela terminar suas atividades.

Fatores emocionais do professor também interferem na aprendizagem dos


alunos, pois quando há indisciplina em sala de aula, salário baixo, desgaste
físico e falta de reconhecimento, gerando estresse, ansiedade e depressão. Há
também as condições de trabalho, excesso de trabalho e carga horária, falta de
apoio institucional e de docentes em número necessário, principalmente nas
salas de ensino infantil.

Tanto a família quanto o professor têm a responsabilidade de fazer com que


essas crianças fiquem bem enquanto estão sob os seus cuidados. O papel do
professor é de suma importância, pois tudo que ele faz pode refletir de forma
positiva ou negativa na criança. Citam-se os fatores da prática docente: relacio-
namento interpessoal, disciplina, atenção, diferenças individuais, avaliações,
trabalhos em equipe, motivação para dar aula, diálogo e capacidade de ouvir
e tomar ações quando necessárias. Aspectos que atuam de forma negativa: proi-
bições, restrições a tudo que for espontâneo, censuras verbais, castigos, traba-
lhos por competição e não por cooperação. Tudo isso pode gerar frustrações e
fracassos. Um professor nervoso, ansioso, inseguro e instável emocionalmente
poderá desenvolver os mesmos sintomas nas crianças.

O professor deve permitir que seus alunos tenham oportunidades de de-


senvolver atividades que lhe interessem, tais como trabalhos comunitários que
exijam desenvolver responsabilidades, clima e atmosfera agradáveis de com-
preensão e amizade. Um currículo que possa propiciar entusiasmo, que possa
permitir a criança estabelecer seu próprio ritmo de aprendizado e ter o profes-
sor como seu aliado para suas dificuldades farão com que o aluno perceba suas
necessidades e certamente com que ele tenha mais entusiasmo para aprender.

É de grande importância que o professor observe o comportamento dos seus


alunos para que possa mediar a indisciplina, pois esta pode gerar brigas ou brin-
cadeiras violentas e machucar as crianças. Durante a observação do comporta-
mento da criança, é possível verificar se elas passam por violência doméstica e

110
A importância da higiene

escondem esse fato por medo ou vergonha. É essencial perceber se há sinais de


violência na criança para que se possa intervir e eliminar esse ato.

IESDE Brasil S.A.

IESDE Brasil S.A.


Proibir a violência escolar. Situações de violência interferem no aprendizado.

Higiene do meio
Na escola encontramos um grande número de pessoas que utilizam áreas em
comum cuja conservação e limpeza são de responsabilidade de todos: alunos,
professores, direção, funcionários e comunidade.

A direção escolar exerce um papel importante em manter certos cuidados e


tomar determinadas decisões a respeito da higiene do meio, pois cabe a ela as-
segurar que algumas medidas garantam que os ambientes sejam bem cuidados
e permaneçam sempre limpos; citam-se:

 zelar pela limpeza dos banheiros, disponibilizando papel e sabonete;

 manter as lixeiras bem tampadas, as que possuem pedais são as mais


adequadas;

 manter as áreas de alimentação bem limpas, evitar que os animais se


aproximem;

 cuidados com o manuseio de alimentos tanto em relação aos locais em


que são armazenados como ao preparo e à higienização de quem prepara
(mãos e cabelo);

 desinfecção de locais de banhos ou troca de fraldas;

 caixa d’água limpa periodicamente;

111
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

 água filtrada;

 tanques de areia devem ser cobertos para evitar que durante a noite ani-
mais possam defecar na areia;

 não dar alimentos ou líquidos com o mesmo utensílio (copos e talheres)


ao mesmo tempo para crianças diferentes;

 cuidar do lactário e das mamadeiras;

 brinquedos e piscinas de bolinhas também devem ser limpos periodi-


camente, pois as crianças os colocam na boca, deixando-os com saliva e
expostos ao pó, criando ambientes para micro-organismos se fixarem e
proliferarem.

Istock Photo.
Cuidado no preparo dos alimentos.

Divulgação Câmara Municipal de Póvoa de Varzim.


Divulgação Colmagno.

Cuidados com lactário e utensílios.

Higiene do meio, limpeza.

112
A importância da higiene

Os ambientes externos em torno da escola também necessitam de atenção.


Por exemplo, a água parada que pode servir como fonte de desenvolvimento
das larvas de mosquitos que causam a dengue. Mesmo que as políticas públicas
deixem a desejar no que se refere a conservação e limpeza dos ambientes da
cidade como um todo, a comunidade deve fazer parte de um mutirão para a
conservação do meio ambiente no qual vivem.

No quadro de doenças infantis, temos de chamar atenção às doenças parasi-


tárias e/ou verminoses, pois elas têm uma grande incidência nas crianças e pro-
vocam consequências orgânicas desastrosas.

As enterites (inflamação do intestino), que estão entre as principais causas


de mortalidade infantil, causadas por vários tipos de parasitas, são transmiti-
das principalmente pela água e alimentos contaminados. Causam diarreias
(eliminação de fezes líquidas) e disenterias (presença de fezes e sangue) além
de desidratação. Esse quadro, acompanhado de febre e vômitos, é considerado
muito grave e pode levar a criança ao óbito, portanto necessita de cuidados
especiais e rápidos.

Cólicas, diarreia, dor de barriga, palidez, coceiras no ânus, vômitos são alguns
sintomas de verminoses. São elas:

 Ascaridíase – verme cilíndrico Ascaris lumbricoides conhecido popularmen-


te como lombriga, encontrado em frutas e verduras, caminha por todo o
corpo do indivíduo infectado saindo pelas fezes e até pelos olhos ou pelo
nariz. A ascaridíase causa no indivíduo muita sonolência e desgaste físico.

Ingestão IESDE Brasil S.A.

Ovos

Irrigação de
hortaliças

113
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

 Oxiuríase – causada pelo Enterobios vermicularis, que se fixa na região


perianal causando muita coceira, sendo que crianças, após se coçarem,
podem levar as mãos à boca e se reinfectar, o que chamamos de autocon-
taminação.

 Teníase – causada pela tênia, que pode ser de dois tipos: Taenia solium
(transmitida pela carne de porco) ou Taenia saginata (transmitida pela
carne de boi), conhecida popularmente como solitária. Cresce dentro do
indivíduo contaminado e pode chegar a ter 14 metros de comprimento;
nutre-se do alimento do hospedeiro (homem), podendo levar a quadros
de desnutrição.

IESDE Brasil S.A.


O homem
ingere carne
infectada Taenia solium

Verme no
organismo
humano

Cisticerco aloja-se no tecido muscular

Contaminação

Ovos férteis no excremento

 Giardíase – causada pela Giardia lambia, acomete o fígado ou vesícula bi-


liar causando cólicas, ocorrem ondas peristálticas no intestino e o indi-
víduo defeca fezes esverdeadas. A Giardia não é transmitida através do
sangue. Pode ser transmitida por meio do contato de algum objeto que
é levado até a boca e que anteriormente havia entrado em contato com
fezes contaminadas; transmite-se na ingestão de água contaminada por
Giardia; tais como água de piscinas, lagos, rios, fontes, banheiras, reser-
vatórios de água que possam estar contaminados por fezes de animais
e/ou seres humanos infectados ou através da ingestão de alimentos mal
cozidos e contaminados.

114
A importância da higiene

 Amebíase – causada pela Entamoeba histolitica, provoca diarreias sangui-


nolentas. Esses parasitas são eliminados com as fezes. Quando uma pes-
soa evacua em lugares impróprios ou os esgotos são despejados em rios,
as fezes permanecem nas proximidades de córregos, valas de irrigação ou
lagoas e contaminam suas águas. Moscas e baratas, ao se alimentarem
de fezes de pessoas infectadas, também transmitem a parasitose a outras
pessoas, ao defecar sobre os alimentos ou utensílios. Pode-se ainda con-
trair a ameba comendo frutas e verduras cruas, que foram regadas com
água contaminada ou adubadas com terra misturada a fezes humanas in-
fectadas. Muito frequente é a contaminação pelas mãos sujas de pessoas
que trabalham com os alimentos.

Outras doenças estão associadas ao aparelho digestório (boca, faringe, esô-


fago, estômago e anexos – fígado, vesícula biliar, pâncreas, intestinos delgado e
grosso e ânus). A bactéria Helicobacter pylory, encontrada na água e em alimentos
mal lavados, causa problemas estomacais, entre outras doenças de causa virológi-
ca, como é o caso das hepatites, que são apontadas hoje como uma das infecções
de maior índice mundial, as quais acometem o fígado e podem levar à morte.

Portanto, a higiene do meio é muito importante e as escolas devem tomar


cuidados com o espaço ao seu redor e com os ambientes internos que as crian-
ças frequentam, pois isso é fundamental para uma vida saudável e para o bom
rendimento escolar.

Projeto político-pedagógico:
temáticas e ações sobre saúde
Faz-se necessário discutir e incluir nos projetos político-pedagógico das ins-
tituições de ensino ações voltadas à atenção à saúde infantil, bem como nas
temáticas sobre saúde-doença junto às comunidades locais, em conformidade
com os Parâmetros Curriculares Nacionais, orientados pelo MEC, e assim garantir
uma significativa contribuição para o bem-estar dos indivíduos e uma melhora
do rendimento no processo ensino-aprendizagem.

Legislação
Segundo a Resolução CEB 1, de 7 de abril de 1999, institui as Diretrizes Curri-
culares Nacionais para a Educação Infantil que são:
115
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

[...]

Art. 3.º São as seguintes as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil:

[...]

III - As Instituições de Educação Infantil devem promover em suas Propostas Pedagógicas,


práticas de educação e cuidados, que possibilitem a integração entre os aspectos físicos,
emocionais, afetivos, cognitivo/linguísticos e sociais da criança, entendendo que ela é um ser
completo, total e indivisível.

[...]

Os Parâmetros Curriculares Nacionais apontam que, segundo a Organização


Mundial da Saúde, as escolas que fazem diferença e contribuem para a promo-
ção da saúde são aquelas que conseguem assegurar as seguintes condições:

 têm uma visão ampla de todos os aspectos da escola, provendo um am-


biente saudável que favorece a aprendizagem, não só nas salas de aula,
mas também nas áreas destinadas ao recreio, nos banheiros, nos espaços
em que se prepara e é servida a merenda, enfim, em todo o prédio escolar;

 concedem importância à estética do entorno físico da escola, assim como


ao efeito psicológico direto que ele tem sobre professores e alunos;

 estão fundamentadas em um modelo de saúde que inclui a interação dos


aspectos físicos, psíquicos, socioculturais e ambientais;

 promovem a participação ativa de alunos e alunas;

 reconhecem que os conteúdos de saúde devem ser necessariamente in-


cluídos nas diferentes áreas curriculares;

 entendem que o desenvolvimento da autoestima e da autonomia pessoal


são fundamentais para a promoção da saúde;

 valorizam a promoção da saúde na escola para todos os que nela estudam


e trabalham;

 têm uma visão ampla dos serviços de saúde voltados para o escolar;

 reforçam o desenvolvimento de estilos saudáveis de vida e oferecem op-


ções viáveis e atraentes para a prática de ações que promovem a saúde;

 favorecem a participação ativa dos educadores na elaboração do projeto


pedagógico da educação para a saúde;

 buscam estabelecer inter-relações na elaboração do projeto escolar.


116
A importância da higiene

Também os PCN (BRASIL, 2008, p. 260) dizem


[...] que para muitos essa perspectiva pode parecer ambiciosa e levantar a polêmica já
conhecida dos educadores: é responsabilidade da escola também trabalhar com a educação
para a saúde?

A resposta é simples: queira ou não assumir a tarefa da educação para a saúde, a escola
está continuadamente submetendo os alunos a situações que lhes permitem valorizar
conhecimentos, princípios, práticas ou comportamentos saudáveis ou não.

Quando não inclui, nas várias áreas do currículo, os diferentes conteúdos relativos ao fenômeno
saúde/doença, ou lida com eles como se não tivessem relação direta com as situações da vida
cotidiana, ou ainda, quando os alunos convivem com salas de aula, banheiros, quadras de
esporte, espaços de recreio, entorno escolar que lhes oferecem referências que nada têm a ver
com o que é saudável, a escola está optando por um tipo de educação que afasta as crianças
e os adolescentes de uma tarefa de cidadania. Ou seja, afasta-os da discussão e da prática de
ações individuais e coletivas de cuidados em saúde.

Naturalmente, a educação para a saúde não cumpre o papel de substituir as mudanças


estruturais da sociedade, necessárias para a garantia da qualidade de vida e saúde, mas
pode contribuir decisivamente para sua efetivação. Educação e saúde estão intimamente
relacionadas e, em especial, a educação para a saúde é resultante da confluência desses dois
fenômenos. A despeito de que educar para a saúde seja responsabilidade de muitas outras
instâncias, em especial dos próprios serviços de saúde, a escola ainda é a instituição que,
privilegiadamente, pode se transformar num espaço genuíno de promoção da saúde.

Texto complementar

O processo saúde-doença e os cuidados com a


saúde na perspectiva dos educadores infantis
(MARANHÃO, 2008. Adaptado.)

Introdução
O objetivo deste artigo é apresentar os resultados de uma pesquisa sobre as
concepções dos educadores que embasam os cuidados cotidianos que pres-
tam às crianças. Em sua íntegra, constitui dissertação de mestrado em Enferma-
gem apresentada à Universidade Federal de São Paulo (MARANHÃO, 1998).

A creche atendia 180 crianças de segunda a sexta-feira, das 7 às 17 horas,


cujas famílias tinham renda de até três salários mínimos. A equipe era com-
posta por diretor, pedagogo, auxiliar de enfermagem, 16 educadores, quatro
cozinheiras, um zelador e três auxiliares de limpeza. Embora a exigência

117
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

quanto à formação para contratação dos educadores leigos fosse de ensino


fundamental completo, oito estavam concluindo o ensino médio e quatro
tinham formação em magistério. Todas as educadoras eram mulheres, com
idades que variavam entre 20 e 40 anos de idade.

A opção por creche pública filantrópica foi feita em razão de ter-se tomado
em conta que o maior número de creches é desse tipo, bem como pela ten-
dência do atual governo de repasse dos serviços públicos para cooperativas,
entidades e iniciativa privada. Foram consideradas as condições básicas de
operacionalização – prédio conforme as normas técnicas e equipe de acordo
com recomendações do convênio municipal. O berçário – composto por
duas salas, lactário, sala de banho e troca, copa para refeições e solário – foi
planejado para atender 30 crianças de 0 a 18 meses, mas havia 39 crianças
matriculadas, seguindo recomendações do convênio que prevê otimização
das vagas em razão da variação na frequência diária.

Resultados e discussão
A doença como resultado de determinantes exteriores – o estigma
da doença reforçando preconceitos em relação aos usuários da creche

Os educadores desta creche atribuem o adoecimento das crianças a de-


terminantes exteriores à instituição: variações climáticas, condições de vida
e, principalmente, aos cuidados prestados pelos familiares. Essa forma sim-
plista de analisar os problemas de saúde das crianças impede que se apro-
funde na busca de indicadores de avaliação da qualidade dos cuidados nas
creches, assim como reforça preconceitos em relação aos usuários do servi-
ço, dificultando a construção de uma parceria entre pais e educadores em
benefício da criança.
[...] que nem estas crianças que têm problemas de saúde, eu acho que isso precisa mais de
um acompanhamento psicológico e não assim... falta de carinho dos pais, falta de amor
dos pais, por parte dos pais (auxiliar de enfermagem).

Ao perceberem que as crianças adoecem mais quando entram na creche,


atribuem tal fato ao ambiente que as crianças estranham, mas não associam
com os cuidados no processo de adaptação que poderia contribuir para re-
duzir estes agravos.

118
A importância da higiene

No começo eu achava que as crianças, que elas tinham... eu não sei se um problema de
saúde, mas elas (as outras educadoras) falavam que criança de creche era daquele jeito
mesmo, né, e eu pensava que isso era a alimentação... que eles não estavam acostumados...
(educadora).

As doenças infecciosas e parasitoses encontram no ambiente coletivo


condições para serem disseminadas, mas são associadas diretamente à falta
de higiene e à pobreza da família, em contraposição as mães afirmam que os
filhos adoecem mais depois que estão na creche.
Nossa, era horrível demais, diarreia direto, eu não sei se era contagiosa... às vezes quando
você via, ‘tavam’ todas as crianças com diarreia. Catapora, todas as crianças do berçário
começaram a pegar catapora, uma por uma, né, assim, uma ia embora, a outra já voltava...
e pneumonia, eu achei que muitas crianças pegaram pneumonia. Sempre teve casos,
sempre, crianças sempre gripadas, mas tinha criança que eu achava que nunca teve gripe
(educadora).

Reiterando o que apontamos, admitir que a doença tenha sido transmiti-


da na creche é mais difícil que imputar a responsabilidade à família da crian-
ça. O estigma da doença reforça os preconceitos em relação aos familiares.

Cuidados com a promoção da saúde na creche – a quem compete?

A avaliação da saúde feita pelos educadores é baseada em suas percep-


ções derivadas do dia-a-dia com as crianças. Sendo responsável pelo cuida-
do e educação de um grupo infantil, eles identificam empiricamente os pri-
meiros sinais de mal-estar e os problemas de saúde mais frequentes.
Ah, no caso de saúde, é tá sempre olhando, sabe é... tipo assim, a gente tá sempre
prestando atenção, vendo se a criança está bem... pois como a gente já conhece a criança,
a gente sabe assim... quando ela está meio quietinha assim, se... você já percebe se ela está
legal ou não, porque... se você vê todo dia ela, o jeito dela, de repente ela tá meio caidinha
assim... você já pensa... será que ela está com febre, será que está assim, aí já vai ver se
ela está com febre, se tiver febre, já pede pra T. (auxiliar de enfermagem), indicar alguma
coisa, ou até dá um banho, essas coisas (educadora).

Percebem que a creche pode contribuir para a promoção da saúde, mas


atribuem tais ações aos profissionais e serviços de saúde, não relacionando
com as condições e práticas de cuidado cotidiano que são da competência
dos educadores.
Assim que a criança tava com diarreia, a gente conversava com auxiliar de enfermagem,
ela dava um encaminhamento para a mãe, que levava a criança no médico, essas coisas
assim...e acabou...não sei porque diminuiu...mas sei que melhorou bastante (educadora).

119
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

Nessa perspectiva, os cuidados com a saúde são compreendidos como


ações especiais que visam ao controle e ao tratamento das doenças restritos
à dimensão biológica; por exemplo, aos nutrientes que compõem o cardápio
e não à forma como as refeições são organizadas e oferecidas às crianças. O
modo como o cuidado é oferecido, o cuidado em si, em sua dimensão afeti-
va e cultural, raramente é associado com a qualidade de vida no interior da
instituição que repercute no bem-estar e saúde infantil.
No caso da diarreia, se é uma criança... mas às vezes são duas, três, quatro, tudo ao mesmo
tempo... o que é isto? De repente descobriram que era a caixa, principalmente do berçário,
aquela torneira não passa água filtrada. Descobrimos quando houve um problema na
caixa e quando ligaram saiu aquele caldo todo enferrujado. Se tivesse passado pelo filtro,
não saía daquele jeito. Olha aí onde estavam os problemas das infecções intestinais!
Depois que nós descobrimos isto, melhorou, acho que era a água mesmo. Acho não, era
a água! (educadora).

Os agravos coletivos são atribuídos às causas exteriores dos procedimen-


tos de cuidado com a criança, como a qualidade da água. Não se associa com
a falta de higiene adequada das mãos dos educadores que tanto servem as
refeições e oferecem mamadeiras, como trocam e pré-lavam fraldas, o que,
quando se investiga, é o principal motivo que favorece a alta frequência de
diarreias e hepatite infecciosas nas creches (MS, 1987; BARROS, 1996; SOLO-
MON & CORDELL, 1996).

Os cuidados com a saúde e as regras de higiene: reinterpretando as


informações

Embora os cuidados com a saúde sejam, muitas vezes, compreendidos


como cuidados com o corpo, há uma ordem de significações culturais mais
abrangentes que recorta o olhar sobre o corpo e sua relação com a higiene
e com a saúde, correspondendo às contradições de determinada visão de
mundo e de uma organização social (MINAYO, 1996).

As informações para os educadores acerca dos cuidados com a saúde são


adquiridas em breves treinamentos iniciais, sendo que na prática aprendem
de forma artesanal, observando outros educadores trabalhando. Essas infor-
mações são assimiladas de forma parcial, ou são reinterpretadas segundo os
conhecimentos prévios dos educadores e o recorte que fazem sobre o corpo
e sua relação com a higiene e saúde.
Nós fomos visitar uma creche, naquele mês de treinamento, e lá eu vi um jeito que a
educadora dava banho, após esterilizar a banheira com cloro. Aqui a gente não tá usando.
No início, a gente usava muito cloro, cada banho, passar cloro na banheira... eu uso a

120
A importância da higiene

esponja sabe, a cada banho eu uso a esponja... no meu berçário não tem esses problemas
de pele. Eu não sei, porque também, se não lavar a banheira fica aquele sebinho, ali,
grudado na banheira, porque eles (as crianças) têm uma gordurinha, né, o suor deles, né,
fica tudo ali (educadora).

Os cuidados com a higiene são diretamente associados à promoção da


saúde, podendo ou não ser valorizados segundo as concepções dos edu-
cadores e a forma como o trabalho com a criança está organizado. Nem
sempre os educadores cumprem as normas prescritas, tanto por não esta-
rem convencidos da importância das mesmas quanto pelo que consideram
sujo e limpo. A atribuição do significado ao que é sujo – portanto, impuro ou
maléfico – ou ao que é limpo, ou puro – portanto, benéfico – é socialmen-
te construído, revelando muito mais do que a microbiologia fundamenta as
regras de assepsia (DOUGLAS, 1966).
A educadora me perguntou: Você acha certo que uma mãe chegue e dê de mamar pra
outra criança? Eu falei – não, não é certo, e nem pode, como que isso aconteceu? Daí ela
me explicou, que a criança tava chorando muito... quando esta criança entrou aqui ela
mamava no peito, eu não me lembro direito, e daí a educadora X deu o peito pra essa
criança (uma educadora que amamentava o filho) eu falei, não pode, primeiro porque ela
não tem autorização da mãe da criança que possa dar ou não, e segundo por causa da aids
e outras doenças. Daí ela falou assim: mas a educadora X é sã, e eu falei como você pode
provar? Daí ela falou: Ah, você está sendo muito radical... Outra educadora achou normal,
porque ela é do interior e lá as pessoas davam de mamar pra outras crianças... (auxiliar de
enfermagem).

A auxiliar de enfermagem da creche procura orientar as educadoras e fazer


cumprir as normas de higiene. Mas a qualidade dos cuidados com a saúde
não passa simplesmente pela normatização de regras, e sim pela interpreta-
ção que o educador faz destas regras e pelas condições reais que encontra
para operacionalizá-las. No momento em que a situação cotidiana exige uma
tomada de decisão, a escolha sofre influências do senso comum e das práticas
tradicionais que nossa cultura tem em relação ao cuidado com as crianças.
“Uma educadora informou que a sua parceira de trabalho havia usado a mesma
mamadeira para dar suco pra mais de uma criança. Daí eu fui conversar com a educadora
e ela me explicou que tava muito corrido, e ela estava sozinha, as crianças todas chorando,
e ela pegou e... encheu a mamadeira pra um, a criança tomou só um pouquinho do suco
e deixou, ela deu pro outro... Perguntei se ela não sabia que isto era errado. Ela falou:
Sei, fiz consciente, e tô falando a verdade. Ó, eu sei que é errado, mas também sei que
não ia prejudicar... eu acho que as crianças do berçário são todas sadias” (auxiliar de
enfermagem).

Por um lado, é possível que a educadora tenha “transgredido” a norma


não apenas pelas condições de trabalho, mas por ter reinterpretado os pro-
cedimentos prescritos com base no discurso ambíguo daqueles que de-

121
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

fendem que na creche não há necessidade de cuidados com a saúde, pois


“afinal todas as crianças são sadias”. Por outro lado, na concepção da colega,
ela infringiu a ordem, cometeu um erro pelo qual foi punida com a transfe-
rência do setor. No entanto, se compararmos com a outra regra que também
foi transgredida, ou seja, o fato de uma educadora ter amamentado um bebê
do berçário, tanto do ponto de vista do risco à saúde quanto do ponto de
vista ético, a reação daqueles que julgaram o acontecido permitiu obser-
var que algumas normas de higiene podem parecer mais importantes que
outras, dependendo de quem as interpreta e do contexto sociocultural.

Criança saudável é criança “limpa”?

O cuidado com as crianças na esfera da família ou da creche é perpassado


pelos sentidos que os atores sociais atribuem às práticas de cuidado e, por
sua vez, expressam os sentidos que dão para a saúde e para a higiene.
Como se sabe, a sujeira é, essencialmente desordem. Não há sujeira absoluta: ela existe aos
olhos de quem a vê. Se evitarmos a sujeira não é por covardia, medo, nem receio ou temor
divino. Tampouco nossas ideias sobre doença explicam a gama de nosso comportamento
no limpar e no evitar a sujeira. A sujeira ofende a ordem. Eliminá-la não é um movimento
negativo, mas um esforço positivo para organizar o ambiente. (DOUGLAS, 1966, p. 12)

Em nossa sociedade, a própria noção de criança “saudável” é associada


à criança “limpa”. Criança saudável é criança “bem cuidada” e vice-versa. E
criança “bem cuidada” é criança “limpa”. O inverso também é verdadeiro, pois
deixar que as crianças permaneçam no chão, à vontade, pode ser interpreta-
do como sinônimo de criança mal cuidada, de descuido.
Ah, bem cuidada... eu acho... a gente vê se a criança está bem de saúde, se está limpinha...
a roupa limpinha, a unha bem cortadinha... sem piolho, tá sempre de olho, vê se ela está
bem de saúde, levar ao médico assim, acho que são esses os cuidados (educadora).

Do ponto de vista da promoção do desenvolvimento, colocar os bebês


no chão do berçário é prática que proporciona a oportunidade para que
eles se movimentem, explorem o ambiente, interajam com outras crianças,
ainda que possa entrar em contradição com as concepções a respeito de
cuidado e sobre cuidar da saúde, mesmo entre aqueles que têm formação
universitária.
Então isso me preocupa, vai pôr a criança no chão? Além de que tem aquela questão,
parece que está largada, não sei o que, não é nem isto. Eu fui criada no chão, minha mãe
colocava a gente desde cedo no chão, mas a casa era de madeira, é alta do chão, então
não era fria (diretora da creche).

122
A importância da higiene

Associar o colocar no chão com “descuido” pode resultar em restringir o


tempo e a idade em que as crianças são deixadas livres fora do berço para ex-
plorar o ambiente, o que traz a possibilidade de atrasar seu desenvolvimento
motor. A equipe considera a creche “fria”, embora o prédio seja de constru-
ção sólida e não haja presença de sinais de umidade, além de o piso ser re-
vestido com material isolante. O frio é associado com a causa principal das
infecções respiratórias que são frequentes entre as crianças; assim, “estar no
chão frio” seria descuido. Com base nessa concepção, os membros da equipe
protegem as crianças menores nos berços (embora possam protegê-los com
agasalhos) e forram o centro da sala com um tapete felpudo, ainda que este
não impeça o contato com o chão, pois as crianças, ao se locomoverem, não
respeitam limites. Paradoxalmente, o tapete pode aumentar o risco de infec-
ções respiratórias por acumular poeira e ácaros. Em nossa análise, o uso do
tapete teria a função de aconchego, portanto de “aquecer” o ambiente tanto
no sentido literal como metaforicamente, já que a maioria dos educadores
referem uma ambiguidade em relação ao seu trabalho, pois acreditam que
os bebês deveriam estar sendo cuidados por suas mães e, não o sendo, são
rotulados como “carentes” de afeto e a creche “fria”.

Esses fatos nos levam a cogitar que os cuidados muitas vezes são plane-
jados com base na necessidade dos adultos, não se considerando as reais
necessidades infantis. Ou seja, a escolha de determinado cuidado em de-
trimento de outro pode ter o sentido de aplacar a insegurança dos adultos,
tranquilizando a equipe e expressando suas intenções de cuidar bem.

Neste estudo, procuramos refletir sobre o caráter relativo das concepções


dos educadores e, a partir daí, pôr em discussão, abrir caminhos para que a
organização do cuidar/educar nas creches possa contemplar a promoção do
crescimento e desenvolvimento saudável.

Atividades
1. Ao visitar uma escola, observamos os diversos ambientes em seu estado de
conservação e limpeza. Em duplas, escreva uma lista contendo atitudes er-
radas que podem ser encontradas e, para cada atitude errada, sugira medidas
corretas para as seguintes áreas: cozinha, refeitório, lixeiras, banheiros, pátio
interno, externo, limpeza das salas, laboratórios, cantinas, bebedouros etc.

123
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

2. Como podemos conscientizar todos os alunos da escola sobre a limpeza e


manutenção dela e envolvê-los nisso? Sugira cinco atividades que podem
ser desenvolvidas com os alunos.

124
A importância da higiene

3. Após ter lido o texto complementar, faça um breve resumo sobre o que
aprendeu e argumente sobre sua importância.

125
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

Dicas de estudo
Assista ao filme Osmose Jones, dirigido por Bobby Farrely.

Sinopse: Frank (interpretado por Bill Murray) é um pai viúvo com sérios pro-
blemas de higiene e auto-estima. Por acidente ingere Thrax, um vírus letal que
pode matá-lo em poucas horas. Enquanto Frank desenvolve a doença, dentro do
seu organismo (mostrado como uma cidade em animações, com seus habitan-
tes) um policial (um leucócito) chamado Osmose Jones e seu parceiro Drix (uma
cápsula antigripal) procuram combatê-lo.

De modo lúdico, esse filme ensina alguns conceitos de higiene e de fisiologia


humana. Ele é indicado como exemplo para que os educadores possam traba-
lhar com seus alunos conceitos de higiene.

Pesquise no site <http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/guiaescolar/


guiaescolar_p120_123.pdf> sobre o tema violência infantil.

Nesse site está disponível um guia escolar que explica como descobrir sinais
de violência nas crianças. Essa leitura é importante para discutir com os colegas,
para socializar conhecimentos e combater a violência contra crianças.

Pesquise no site: <www.usp.br/espacoaberto/arquivo/2002/espaco24out/


vaipara.php?materia=0 comportamento> sobre o tema violência e exploração
sexual infantil.

Assunto muito importante, pois o Ministério da Educação (MEC) criou um


projeto para treinar professores a identificar crianças e adolescentes vítimas de
violência e exploração sexual. É relevante conhecer o assunto para promover a
conscientização e criar formas de combater essa prática.

O site <www.sabesp.com.br/CalandraWeb/CalandraRedirect/?temp=2&tem
p2=3&proj=sabesp&pub=T&nome=Uso_Racional_Agua_Generico&docid=E50
615CE526E0D26832571AE0062ED78&db> traz informações sobre quais os pro-
cedimentos necessários que a escola deve adotar para manter a caixa d’água
limpa. Com essa pesquisa, você poderá aprender a maneira correta de como se
faz a limpeza da caixa d’água.

126
A importância da higiene

127
Gabarito

O desenvolvimento da criança
nos primeiros anos de vida
1.

Aluno Peso Altura Resposta


1 16kg 96cm Altura e peso compatíveis com a idade.
2 20kg 103cm Altura e peso compatíveis com a idade.
Criança que exige atenção pode estar entrando em quadro
3 13kg 95cm
de desnutrição.
Criança que exige atenção pode estar entrando em quadro
4 22kg 98cm
de obesidade.
5 14kg 100cm Criança alta e magra compatível com a idade.
6 19kg 105cm Altura e peso compatíveis com a idade.
7 11kg 92cm Quadro severo de desnutrição.
8 23kg 96cm Quadro de obesidade.
Característica de uma criança magra e baixa pode ser nor-
9 13,5kg 94cm
mal, mas exige atenção.
10 17kg 106cm Criança alta e magra, compatíveis com a idade.

2.

 Desenvolvimento corporal:

 Motor – controle dos movimentos.

 Curvas de crescimento – peso, altura, crescimento da circunfe-


rência da cabeça e dos braços.

 Perceptivo – visão, audição, olfato, tato e paladar.

 Desenvolvimento cognitivo: linguagem e memória.

 Desenvolvimento psicossocial: social, emocional e adaptativo.

3. Os professores devem estar atentos às crianças no caminhar, na pos-


tura dos ombros, quando estão fazendo atividade física, na hora de
alimentar-se e também na hora de fazer seus estudos.
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

A criança deve ser ensinada que, ao sentar-se na carteira ou na frente do


computador, deve ter os pés apoiados em uma superfície sólida, coxas para-
lelas ao solo e ajustar a cadeira de modo que fique bem encostada na parte
de trás, com os joelhos dobrados 90º.

Outro problema sério e que merece atenção são as mochilas que as crianças
levam para a escola. Ao carregarem muitos materiais, o peso das mochilas
excede o ideal para a criança. É necessário que os professores e principal-
mente os pais observem se os materiais que a criança irá levar para cada
dia de aula são apenas os necessários ou se a criança está levando materiais
excedentes. O excesso de peso pode prejudicar a saúde da criança.

Alimentação da criança
1.

Semana Ingredientes Per capita g/ml


Macarrão 40
Sardinha em óleo 35
Extrato de tomate 5
Segunda-feira:
macarrão com sardinha e Óleo 3
suco de acerola
Tempero 1
Sal 1
Suco de acerola 250
Banana nanica 50
Terça-feira: Leite em pó 20
biscoito cream-craker
e vitamina de banana Açúcar 15
Biscoito cream-cracker 30
Arroz 40
Coxa e sobrecoxa de frango 50
Milho em conserva 20
Quarta-feira:
Açafrão 1
arroz com frango e milho
Óleo 3
Tempero 1
Sal 1
Cereal de milho 40
Quinta-feira:
Leite em pó 20
cereal de milho com leite
Açúcar 15

130
Gabarito

Semana Ingredientes Per capita g/ml


Arroz 40
Patinho (carne) 40
Batata 20
Sexta-feira: Cenoura 20
arroz com carne resfriada
e legumes e suco de acerola Óleo 3
Tempero 1
Sal 1
Suco de acerola 250
Energia – 355,4Kcal Cálcio – 177,4mg
Quantidade média Proteína – 11,6g Magnésio – 51,8mg
dos cinco dias Vit. A – 89,4μg Ferro – 2,3mg
Vit. C – 19,3mg Zinco – 1,4mg

2. O aluno com diabetes não precisa ser submetido a rígidas restrições alimen-
tares, como pães, cereais e outras fontes de carboidratos, pois eles fornecem
energia, especialmente durante a infância.

Já as preparações dentro da merenda com adição de açúcar (doces) devem


ser substituídas por uma versão sem açúcar ou por frutas.

Mesmo com o diabetes controlado, podem ocorrer hiperglicemias (alta taxa


de açúcar no sangue) e hipoglicemias (baixa taxa de açúcar no sangue). A
hiperglicemia pode ser percebida por meio de sintomas como: visão turva,
náuseas, vômitos, urina excessiva, sede intensa e hálito com cheiro similar
ao de uma maçã. Já na hipoglicemia o aluno pode apresentar sonolência,
irritabilidade, fome, suor frio, taquicardia e até perda de consciência.

Na hipoglicemia deve-se oferecer um alimento fonte de carboidratos sim-


ples como um copo de água com uma colher de sopa de açúcar refinado, ou
um copo de suco de laranja, ou um copo de refrigerante que não seja diet ou
light; caso em 15 minutos os sintomas ainda persistirem, o ideal é repetir o
processo.

Na hiperglicemia deve-se permitir o maior consumo de água para a hidrata-


ção e em consequência o uso mais frequente do banheiro.

O educador é fundamental no apoio a esse aluno. Ele tem como objetivo


orientar e facilitar a criação de atitudes positivas em relação a doença e cola-
borar na integração social do aluno.

131
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

3. Qualquer produto cuja embalagem não contenha gorduras trans, gorduras


saturadas, colesterol e excesso de carboidratos pode ser considerado bom.

A influência da relação
materno-infantil sobre a alimentação
1. Anorexia: a rejeição à comida (anorexia, com incidência de 1%) é classificada
como um transtorno alimentar e suas vítimas são quase sempre (95% dos
casos) mulheres jovens, de 15 a 20 anos, excessivamente preocupadas com
a aparência e mais sensíveis às influências dos padrões de beleza em vigor
para firmar sua personalidade. A doença também ataca mulheres na faixa
dos 30 e raramente as acima dos 40. Um dos primeiros sintomas são a perda
da noção que a pessoa tem da sua imagem corporal, mesmo magra ela se
vê gorda, acredita que precisa emagrecer ainda mais e que o melhor jeito é
parar de comer.

Bulimia: pessoas com bulimia nervosa ingerem grandes quantidades de ali-


mentos e depois eliminam o excesso de calorias através de jejuns prolonga-
dos, vômitos auto-induzidos, laxantes, diuréticos ou na prática exagerada e
obsessiva de exercícios físicos. Sintomas comuns da bulimia são: interrupção
da menstruação, interesse exagerado por alimentos e desenvolvimento de
estranhos rituais alimentares, comer em segredo, obsessão por exercício fí-
sico, depressão, ingestão compulsiva e exagerada de alimentos, vômitos ou
uso de drogas para indução ao vômito, evacuação ou diurese, alimentação
excessiva sem nítido ganho de peso; longos períodos de tempo no banheiro
para induzir o vômito; uso de drogas e álcool.

Comer compulsivo: pessoas com esse transtorno sentem que perdem o


controle quando comem. Ingerem grandes quantidades de alimentos e não
param enquanto não se sentem “empanturradas”. Geralmente apresentam
dificuldades em emagrecer ou manter o peso. Quase todas as pessoas com
esse transtorno são obesas e apresentam história de variação de peso. São
propensas a vários problemas médicos graves associados à obesidade, como
o aumento do colesterol, hipertensão arterial e diabetes.

2. Com atividade física podemos obter:

 corpo mais firme com músculos mais fortes: exercícios de força com pesos
ou em aparelhos que fortalecem e desenvolvem os músculos;

132
Gabarito

 um corpo mais magro, pois a prática de atividades físicas diminui a por-


centagem de gordura corporal; com isso pode-se emagrecer e conquistar
um corpo harmonioso;

 facilidade para manter o peso: a atividade física aumenta o gasto de ener-


gia diário, sendo assim, fica mais fácil se manter no mesmo peso;

 melhora da resistência: o exercício deixa o indivíduo mais disposto e com


isso o cansaço é menor, tanto em atividades do dia-a-dia como em situa-
ções de extremo esforço físico;

 melhora do humor: a atividade física libera substâncias que nos trazem a


sensação de bem-estar;

 diminuição do estresse;

 o sono é mais tranquilo e relaxante;

 diminuição da possibilidade de lesões;

 melhora da coordenação motora;

 diminuição do risco de doenças, principalmente doenças cardiovasculares.

Para as crianças, além de todos os benefícios acima descritos:

 melhora a flexibilidade e elasticidade corporal;

 facilita o crescimento;

 estabelece regras e confere limites.

3. A amamentação não é somente uma questão de satisfação da fome. Nes-


se momento, a proximidade entre mãe e filho proporciona uma experiência
importante no alívio da angústia que o bebê sente. Na atividade de sucção
que faz surgir o leite na mãe, ocorre o alívio da tensão provocada pela fome
e a consequente experiência do prazer, bem como a estimulação do vínculo
afetivo. Assim, a mãe recebe em troca o relaxamento do filho, e tem seu olhar
capturado e fixado pelos olhos do bebê. Durante essa experiência de satis-
fação, a mãe sente-se segura de poder prover o filho daquilo que necessita e
consegue obter prazer nessa experiência, libertando-se das próprias tensões
e ansiedades. Há assim uma troca em que um estimula o outro a manter essa
intimidade, na qual acontece uma doação mútua, um investimento de aten-
ção, carinho e afeto.

133
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

Anemia ferropriva
1. Reduz o índice de nascimento de bebês prematuros e com peso abaixo da
média; reduz o risco de morte materna no parto e no pós-parto imediato;
melhora a capacidade de aprendizagem da criança;  melhora a resistência
imunológica na aquisição de infecções; é fundamental para o crescimento
saudável e melhor oxigenação das células do corpo.

2. A anemia pode ser definida como um estado em que a concentração de hemo-


globina no sangue está anormalmente baixa, em consequência da carência de
um ou mais nutrientes essenciais, qualquer que seja a origem dessa carência.
A anemia por deficiência de ferro é atualmente um dos mais graves problemas
mundiais relativos à nutrição em termos de prevalência, sendo determinada
quase sempre pela carência na ingestão de alimentos ricos em ferro ou quan-
do o organismo não consegue absorver o ferro através das células.

3. Em crianças, a anemia está associada ao retardo do crescimento, comprome-


timento da capacidade de aprendizagem (desenvolvimento cognitivo), da
coordenação motora e da linguagem, efeitos comportamentais como a falta
de atenção, fadiga, redução da atividade física e da afetividade, assim como
uma baixa resistência a infecções. Nos adultos, a anemia produz fadiga e di-
minui a capacidade produtiva. Nas grávidas, a anemia é associada ao baixo
peso da criança ao nascer e a um aumento na mortalidade perinatal.

4. Ressalta-se que o leite materno é considerado fator protetor contra anemia


por deficiência de ferro devido à alta biodisponibilidade do ferro existente
em sua composição. Estudos evidenciam associação de anemia em crianças
que tiveram pouco tempo de aleitamento materno exclusivo, alimentação
prolongada com leite de vaca e com a introdução da alimentação comple-
mentar precoce.

O ferro pode ser fornecido ao organismo por alimentos de origem animal e


vegetal. O ferro de origem animal é mais bem aproveitado pelo organismo.
São melhores fontes de ferro as carnes vermelhas, principalmente fígado de
qualquer animal e outras vísceras (miúdos), como rim e coração; carnes de
aves e de peixe; e mariscos crus. Ao contrário do que muitas pessoas pensam,
o leite e o ovo não são fontes importantes de ferro. Contudo, no mercado já
existem os leites enriquecidos com ferro.

Dentre os alimentos de origem vegetal, destacam-se como fonte de ferro os


folhosos verde-escuros tais como agrião, couve, cheiro-verde, taioba (exce-

134
Gabarito

to espinafre); as leguminosas (feijões, fava, grão-de-bico, ervilha, lentilha);


grãos integrais ou enriquecidos; nozes e castanhas, melado de cana-de-açú-
car, rapadura e açúcar mascavo. Também existem disponíveis no mercado
alimentos fortificados com ferro como farinhas de trigo e milho, cereais ma-
tinais, entre outros.

Controle do esfíncter
1. Não são diferentes.

IESDE Brasil S.A.


Mulher Homem

Rins

Ureteres

Bexiga

Próstata
Uretra
Uretra
Pênis

2.
 O nosso corpo é, em grande parte, constituído de água.

 Todas as partes do nosso corpo têm água, até mesmo os nossos ossos.

 Nosso corpo perde muita água quando elimina urina, fezes, suor e lágrimas.
Por isso temos de beber água e outros líquidos para repor essa perda.

 A água ajuda no bom funcionamento de todo o organismo. Por exemplo:


no trabalho dos rins e dos intestinos, na circulação sanguínea e na hidra-
tação da pele.

 Todos os seres vivos necessitam de água, por isso é muito importante


preservá-la.

3. Para a retirada das fraldas, é necessário esperar que a criança seja capaz
de controlar os esfíncteres. O controle do esfíncter constitui um proces-
so complexo, trazendo à tona funções de socialização, de maior indepen-
135
Fundamentos Biológicos do Desenvolvimento Infantil

dência do adulto em relação aos cuidados com o corpo da criança e de


obtenção de um controle maior sobre si própria. É importante salientar
que a forma como o educador e os pais reagem frente ao controle esfinc-
teriano desencadeará marcas na qualidade do desenvolvimento global
da criança. O educador e os pais terão de criar situações para que a crian-
ça possa vivenciar este treino, devendo aceitar os momentos de retro-
cesso na aquisição dessa nova conquista como sendo parte do processo
de construção do controle sobre o seu corpo e sobre sua independência.
O educador deve procurar entender que a criança precisa descobrir quem
ela é, o que pode e o que não pode fazer. Para construir sua identidade, ela
passa por conflitos emocionais. Cabe ao educador dar espaços para que a
criança procure fazer colocações verbais sobre seus sentimentos. Também
é fundamental deixar clara a existência de regras e limites e a necessidade
do cumprimento dos combinados, para que seja possível o estabelecimento
dos trabalhos e das relações sociais (CAMARGO; HOLZHEIM, 2008).

O sono e a criança
1. Sono é uma necessidade fisiológica do corpo, e cansaço é um estado do cor-
po que mostra a necessidade de parar, que muitas vezes se dá pela privação
do sono. Ambos interferem diretamente na vida e no aprendizado da crian-
ça. Uma criança que não dorme direito fica cansada e, portanto, não conse-
guirá fazer as atividades diárias e, consequentemente, não aprenderá.

2. Depende da idade da criança. Um recém-nascido: entre 16 e 17 horas; uma


criança de 1 mês a 6 meses: entre 14 e 15 horas; de 7 meses a 1 ano: entre 13
e 14 horas; e de 2 a 5 anos: entre 11 e 13 horas, mas deve-se respeitar cada
criança, pois elas possuem tempos e horários diferentes (total de horas apro-
ximadas).

3. Estudos comprovam que, de maneira geral, quem dorme bem possui órgãos
funcionando bem, consequentemente o cérebro e a memória funcionam
melhor, bem como as capacidades motoras, perceptivas e cognitivas.

136
Gabarito

A importância da higiene
1.
 Cozinha: foram encontrados alimentos em cima da mesa aguardando para
ser preparados; as merendeiras não estavam utilizando luvas.

 Nos banheiros foi encontrado tudo limpo, havia sabonete e papel para
utilização dos alunos. Porém, as paredes continham bolores.

 Nos refeitórios havia presença de pombas e as crianças alimentavam as


mesmas.

 No fraldário, as fraldas estavam em lixeiras sem tampa, causando mau


cheiro.

Sugestões de melhorias: solicitaria luvas descartáveis para as merendeiras,


lixeiras com tampas e pedais, lavagem dos banheiros duas vezes ao dia na
troca de alunos; não deixar pombas perto do refeitório. Colocar telas nas ja-
nelas para não entrar insetos nos quartos de dormir.

2. Após utilizar o banheiro e lavar as mãos, jogar o papel na lixeira e não no


chão; não desperdiçar e nem jogar copos descartáveis no chão; não deixar
restos de alimentos em cima da mesa; não jogar pontas de lápis nem balas
no chão da sala de aula e sim nas lixeiras; não escrever nas paredes e nem nas
carteiras. Se derrubar sucos, seque o local ou peça para alguém limpar.

3. A importância do assunto na formação de educadores infantis, além de


prepará-los para o desenvolvimento do projeto pedagógico, demanda a in-
clusão de conteúdos relativos à promoção da saúde, tendo como finalidade
aprimorar a qualidade dos serviços prestados às crianças, reduzindo o risco
de adoecimento, que é maior nas crianças que frequentam creches em rela-
ção àquelas que são cuidadas no contexto familiar.

137
Referências

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141
Anotações

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