Sie sind auf Seite 1von 19

CIÊNCIA POLÍTICA

Prof. Pedro R. Campanini

SUMÁRIO
Capítulo Página
I - Conceito de Política - Noção de TGE - Política e Direito Constitucional 02
II – A origem do Estado 04
III – Constituição e Poder Constituinte 11
IV – Estado e Direito 15
V – Estado: povo, território e soberania 20
VI – Estado Moderno e democracia 28
VII – A separação de poderes 38
VIII - Formas e sistemas de governo 41
Bibliografia 47
CAPÍTULO I
CONCEITO DE POLÍTICA - NOÇÃO DE TGE - POLÍTICA E DIREITO CONSTITUCIONAL

I - POLÍTICA

- Conceito: Ciência dos fenômenos referentes ao Estado (Dicionário Aurélio).


- Na Antiguidade grega a palavra política significava a ciência de bem governar a
cidade (polis).
- A definição clássica de política encontra-se na obra de Aristóteles, “Política”.
Refere-se à cidade e, consequentemente, a tudo que é urbano, civil, público e social.
Em outras palavras, o conceito de política era habitualmente empregado para indicar
a atividade ou conjunto de atividades inerentes a Polis.
- Modernamente, para Max Weber, a política pode ser vista como a direção do
agrupamento político denominado Estado, assim, a organização e funcionamento do
Estado são regidos por decisões políticas.
- Com a presente globalização, a política deixou de ser assunto estritamente estatal,
passando a ser importante também para outras organizações, como por exemplo, a
ONU, a OEA, que são grupos interestatais, bem como de grupos menores, como
ONGs, associações, etc.
- Para o jurista alemão Herman Heller, o conceito de política é muito mais amplo do
que o do simplesmente estatal. Pode-se afirmar, portanto, que a política atualmente
é, ou ao menos deveria ser, de interesse de todos os grupos sociais, pois cada
cidadão é sujeito passivo das decisões políticas governamentais, e ainda, conta com
inúmeras possibilidades de atuação e participação importante.
- Cabe, nessa introdução, citar o texto de Bertold Brecht, “O analfabeto Político”:
“O pior analfabeto é o analfabeto político, ele não ouve, não fala,
nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo da vida, o
preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem
das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o
peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política
nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o
político vigarista,
pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.”

II - CIÊNCIA POLÍTICA OU TEORIA GERAL DO ESTADO

NOÇÃO:
“É uma disciplina de síntese, que sistematiza conhecimentos jurídicos,
filosóficos, sociológicos, políticos, históricos, antropológicos, econômicos,
psicológicos, valendo-se de tais conhecimentos para buscar o
aperfeiçoamento do Estado, concebendo-o, ao mesmo tempo como um fato
social e uma ordem, que procura atingir os seus fins com eficácia e justiça”.1

OBJETO:
“Estudo do Estado em geral, do Estado como fato social, que se repete
uniformemente, quanto à natureza intrínseca, no tempo e no espaço; é a
ciência que investiga e expõe os princípios fundamentais da sociedade política
denominada Estado, sua origem, estrutura, formas e finalidade.”2

“Estudo do Estado sob todos os aspectos, incluindo a origem, a organização, o


funcionamento e as finalidades, compreendendo-se no seu âmbito tudo o que
se considere existindo no Estado e influindo sobre ele.”3

III - DIFERENCIAÇÃO ENTRE TGE E DIREITO CONSTITUCIONAL

Ciência Política ou TGE Direito Constitucional

1
DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 1979, p. 02.
2
AZAMBUJA, Darcy. Teoria Geral do Estado. 23. ed. Rio de Janeiro: 1984, p. 10.
3
DALLARI, op. cit., p. 04.
2
Estuda o Estado em Geral, seus Estuda a organização de um Estado
elementos permanentes, sua origem e determinado. Ex: Dir. Constitucional
finalidade. Brasileiro.
Descreve a estrutura e funcionamento Descreve a analisa a constituição política
dos órgãos do Estado. de um Estado.
Analisa a formação política dos Estados, Analisa a estrutura, organização das
observando os fatos históricos, sociais e instituições e órgãos de um Estado.
políticos.
Estuda as formas, tipos e características Analisa o modo de aquisição e limitação
gerais dos Estados. dos poderes estatais.
A TGE, por ser geral, é anterior ao Direito Analisa a previsão de direitos e garantias
Constitucional, que acaba por se fundamentais expressos em um texto
fundamentar na TGE. constitucional.

3
CAPÍTULO II
A ORIGEM DO ESTADO

I - A ORIGEM DA SOCIEDADE

– Teorias sobre a origem da sociedade:


1. Sociedade natural
2. Ato de escolha => contratualismo

1. Sociedade natural
 O primeiro a afirmar que a sociedade surge da própria natureza humana foi
Aristóteles, ao dizer que o homem é um animal político, ou seja, precisa viver
em sociedade para desenvolver sua plenitude. Por outro lado, aqueles que
vivem à margem da sociedade são os de natureza vil.
 Posteriormente, no século I a.C., Cícero afirma que o homem para bem viver
procura o apoio comum, pois isto é da sua natureza.
 São Tomás de Aquino compactua da mesma ideia, afirmando ser o homem um
animal naturalmente político, que só vive à margem da sociedade quando
extremamente superior aos demais homens, quando tiver anomalia mental,
ou quando houver um acidente que o distancie (exemplo: náufrago).
 Na atualidade, Ranelleti afirma que o homem, em qualquer época ou estado
de civilização, sempre é encontrado vivendo socialmente, portanto, é da sua
natureza o agrupamento. A associação de humanos é condição essencial da
vida do homem, pois somente assim pode suprir suas necessidades, preservar
melhor a si mesmo e conseguir atingir os fins de sua existência.
 O que diferencia as associações humanas das dos demais animais? Para
Aristóteles, somente o homem sabe discernir o certo do errado, tem conceitos
de justiça e portanto somente o homem é capaz de criar o Estado. Os demais
animais reúnem-se por instinto, o homem porque é de sua natureza
(necessidade) e vontade (raciocínio).

- Política - O homem é um animal político4, Aristóteles:


“É evidente que a cidade faz parte das coisas naturais, e que o homem é por
natureza um animal político. E aquele que por natureza, e não simplesmente por
acidente, se encontra fora da cidade ou é um ser degradado ou um ser acima dos
homens, segundo Homero (Ilíada IX, 63) denuncia, tratando-se de alguém: sem
linhagem, sem lei, sem lar.
Aquele que é naturalmente um marginal ama a guerra, e pode ser comparado a uma
peça fora do jogo. Daí a evidência de que o homem é um animal político mais ainda
que as abelhas ou que qualquer outro animal gregário. Como dizemos
frequentemente, a natureza não faz nada em vão; ora, o homem é o único entre os
animais a ter linguagem [logos]. O simples som é uma indicação do prazer ou da
dor, estando portanto presente em outros animais, pois a natureza destes consiste
em sentir o prazer e a dor e em expressá-los. Mas a linguagem tem como objetivo a
manifestação do vantajoso e do desvantajoso, e portanto do justo e do injusto. Trata-
se de uma característica do homem ser ele o único que tem o senso do bom e do
mau, do justo e do injusto, bem como de outras noções deste tipo. E a associação
dos que têm em comum essas noções que constitui a família e o estado.”
- Para Aristóteles a cidade é o lugar natural para a realização plena do ser humano e
de suas capacidades, porque é uma comunidade ordenada segundo a justiça e o bem
comum. Assim, a sociedade teria surgido naturalmente, mas evoluído e se
organizado racionalmente, eticamente. É natural ao homem viver em sociedade, pois
ali seus membros encontram um bem comum.

2. Contratutalismo
- A sociedade surge de um contrato hipotético entre os homens.

4
In MARCONDES, Danilo. Textos Básicos de Filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. 2. ed. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2000, p. 55-56.
4
- Muitos autores adotam o contratualismo. Vejamos duas correntes:
1 - Thomas Hobbes (1588/1679), descrita em “O Leviatã”:
 O homem vive inicialmente em estado de natureza: não há repressão às
ações, todos são livres, inclusive para usar a força. No confronto de duas
liberdades pode surgir o conflito.
 Sem uma autoridade para reprimir o uso da força, todos estão ameaçados
pela violência. Esse estado ameaça a existência humana, pois não há ordem.
 Para Hobbes, os homens em estado de natureza são egoístas, luxuriosos e
inclinados à agressão aos outros, para alcançar poder e protegerem-se dos
demais. É a chamada guerra de todos contra todos: o homem é o lobo do
homem.
 Com a interferência da razão humana, celebra-se o contrato social em direção
ao estado civil (autoridade governamental controlando o uso da força). A vida
fica protegida pelo Estado que exerce o poder soberano. O Estado é uma
necessidade para o homem.
 Assim são formuladas duas leis fundamentais: a) cada homem deve esforçar-
se pela paz, se não for possível por bem que seja então pela guerra; b) a
liberdade de todos os homens deve ser cerceada de forma homogênea, para
que haja respeito idêntico entre todos.
 O contrato então é a irrestrita transferência de direitos dos cidadãos que são
conferidos ao Estado. Por uma vontade humana os homens restringem sua
liberdade em benefício da paz. Os cidadãos submetem-se a um terceiro (o
soberano) que está acima das partes para que então alcancem o estado civil.
 Para Hobbes, os poderes conferidos ao governo devem ser absolutos, pois
melhor um governo ruim do que o estado de natureza. Assim, obedecer às leis
do governo deve ser considerado sempre correto por parte do cidadão. O
soberano somente poderá ser desrespeitado caso não esteja oferecendo à
sociedade paz e segurança.
 Hobbes entende que as leis civis servem ao Estado. Por ser o soberano quem
faz as leis, ele não precisa se submeter a elas, pois pode fazê-las e revogá-las
conforme entender melhor.
 Hobbes prefere ainda o Estado monárquico, pois assim não há desagregação
no poder, com disputas entre diferentes dirigentes.

2 – Jean-Jacques Rousseau (1712/1778), descrita na obra “O contrato social”:


 O homem é bom por natureza.
 No entanto, os obstáculos que se impõem à conservação do homem em
estado natural são muito grandes para serem superados pelos homens
individualmente. O maior problema surge quando o homem cria o conceito de
propriedade (o maior dos males humanos) e começa a lutar por ela.
 Assim sendo, o homem precisa de um aumento de força para sobreviver. Este
aumento vem exatamente da união com outros seres humanos.
 Contudo, a união com outros homens promove limitações no maior bem
humano: a liberdade. É necessário assim que haja uma combinação correta
entre força e liberdade, que são os instrumentos fundamentais da
conservação humana.
 O contrato social resolve tal questão: os homens alienam todos seus direitos
em favor da comunidade, produzindo o Estado, que é o executor das vontades
coletivas. O poder do Estado é a síntese das vontades dos associados, mas
acima das vontades individuais, busca proteger o coletivo. Assim o poder
soberano pertence aos associados e é exercido em seu benefício.
 Diante disso tudo, a igualdade natural que antes era falha, pois os mais fortes
dominavam os mais fracos, passa por uma correção: todos são iguais perante
o Estado, criando-se dois princípios fundamentais: liberdade e igualdade.
Estes princípios fundamentam a democracia.
 As leis civis devem pautar-se nas leis naturais, respeitando, por exemplo, o
direito à vida. Contudo, o Estado perdeu-se no seu caminho, preocupando-se
com questões artificiais (como a propriedade). Assim, seria melhor ao homem
voltar ao seu status quo ante (estado anterior de coisas), a volta ao estado de

5
natureza, já que “se o homem nasceu livre, então por que se encontra, e se
submete a encontrar-se sob ferros?”.
 Todavia, se a volta à uma situação sem o Estado é inconcebível, deve então a
lei pautar-se no direito natural (direitos humanos, por exemplo).

Observação: Segundo José Cretella Júnior e José Cretella Neto (in 1.000 Perguntas e
respostas sobre Teoria Geral do Estado. Rio de Janeiro: Forense, 2000), atualmente,
predomina uma corrente de pensamento mista, que reúne elementos do naturalismo
e também do contratualismo; ao mesmo tempo em que se entende existir uma
necessidade natural do homem de associar-se, reconhece-se a importância de sua
consciência e manifestação da vontade para moldar a forma de organização. O ser
humano é considerado, portanto, como um homem social.

II - ELEMENTOS CARACTERÍSTICOS DA SOCIEDADE

- Historicamente, todas as sociedades apresentam as seguintes características:


1. Uma finalidade ou valor social;
2. Manifestações de conjunto ordenadas;
3. O poder social.

1 - Uma finalidade ou valor social

- A finalidade social precisa ser um objetivo estabelecido de forma livre e consciente.


- Como são vários os cidadãos, a escolha da finalidade deve ser um bem comum
aceito por todos. Tal bem comum foi bem definido pelo Papa João XXIII (apud Dallari,
p. 24): “conjunto de todas as condições de vida social que consintam e favoreçam o
desenvolvimento integral da personalidade humana”.
- Contudo a finalidade social precisa estar adequada às leis naturais e à fatores
históricos do povo que se organiza.

Obs: o posicionamento finalista é contraditado pelo determinista. Por esta posição, o


homem está submetido a uma série de leis naturais, sujeitas ao princípio da
causalidade. Nesse sentido, ele se une em sociedade forçado por alguns fatores, tais
como o econômico ou o geográfico, que também acabam por determinar a finalidade
que a sociedade deve buscar (assim não há escolha humana para a finalidade
social).

2 - Manifestações de conjunto ordenadas

- O simples agrupamento de pessoas, mesmo com uma finalidade estabelecida, não


seria suficiente para a consecução desse fim. É preciso então que os membros da
sociedade passem a se manifestar em conjunto e busquem o cumprimento da
finalidade.
- Com as reiteradas manifestações sociais num mesmo sentido, torna-se possível
concluir o bem comum buscado. Contudo, isso não passará de costume ou uso social,
que estará apenas disperso na moral da sociedade.
- No entanto, como os desejos humanos são muito variados, pois cada um tem seus
valores e ambições, para que o bem comum possa ser estabelecido, as
manifestações devem ter uma ordem que a sustente.
- Assim, além da ordem social (moral e objetivo social buscado) é necessária a
presença da ordem jurídica (tipificações legais e sanções).

3 – O poder social

- O poder social é decorrência da sociedade, pois para que haja a consecução de


suas finalidades é necessária uma ordem que necessita de sanção (o ser humano
6
não é totalmente ético, então precisa ser limitado e obrigado a seguir a ordem
social).
- Esse poder é ainda bilateral: advém das relações entre Estado e povo. O Estado
deve respeitar as aspirações do povo que, por sua vez, precisa respeitar as regras.
Ambos podem exigir do outro direitos e deveres.
- O poder somente será legítimo quando harmônico com a vontade do povo.
- Os anarquistas entendem ser possível a ordem social sem que haja a figura do
poder, principalmente porque este somente serve às classes dominantes.

III – A SOCIEDADE POLÍTICA

- É uma sociedade de fins gerais: objetivo indefinido e genérico de criar condições


necessárias para que os indivíduos e as sociedades que nela se integram (famílias e
igrejas, por exemplo) consigam atingir seus fins particulares.
- O Estado organiza-se então não como um fim em si mesmo, mas para propiciar aos
seus cidadãos condições adequadas de vida e, na atual sociedade capitalista, o
progresso econômico.
- Fica clara essa questão no artigo 3º da CF/88:
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e
regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação.

IV - O ESTADO

1. Primeiras noções:
 “Todas as sociedades políticas que, com autoridade superior, fixaram as
regras de convivência de seus membros” (Dallari, p. 46).
 “Sociedade política dotada de certas características bem definidas.” (Dallari,
p. 45)

2. Quando aparece o Estado:


1ª Corrente: o Estado sempre existiu, porque o homem sempre esteve
integrado numa organização social dotada de poder e autoridade para dirigir o
comportamento do grupo.
2ª Corrente: os Estados surgiram para atender às necessidades humanas,
assim, não existiram sempre e foram surgindo em cada região em épocas diferentes,
ou seja, dependendo das condições concretas de cada lugar.
3ª Corrente: parte-se do pressuposto que o Estado só existe quando há
características muito bem definidas. Para Karl Schmidt, o Estado não existiu sempre,
é sim um conceito histórico, que surge quando nasce a ideia e a prática de soberania
no século XVII. Segundo Balladore Pallieri, o Estado surge no ano de 1648, com a
assinatura da Paz de Westfália, pela qual os reinos europeus determinaram os limites
territoriais resultantes das guerras religiosas, e a soberania do poder interno de cada
Estado. Esta terceira corrente observa o Estado como o conhecemos hoje (uma
organização política, com poder e território próprios, dotada de soberania
internacionalmente reconhecida).

3. Causas do aparecimento dos Estados – Teorias:

a) Origem familial ou patriarcal


- Cada família primitiva se ampliou e deu origem a um Estado

b) Origem em atos de força, violência ou de conquista


- A superioridade de força de um grupo social permitiu-lhe submeter um grupo mais
fraco, nascendo o Estado dessa conjunção de dominantes e dominados. O Estado
surge para regular a exploração dos mais fortes sobre os mais fracos.
7
c) Origem em causas econômicas ou patrimoniais
- Motivo econômico: o Estado surge da necessidade de divisão do trabalho, para que
a produção a todos beneficie.
- Para Karl Marx e Friedrich Engels, conforme expuseram na obra “A origem da
família, da propriedade privada e do Estado”, o Estado somente surge depois de
alcançado certo grau de desenvolvimento. Para eles, o homem em princípio é
comunista, ou seja, divide igualmente toda a produção, no entanto, para que as
novas riquezas individuais fossem asseguradas, foi necessário o estabelecimento da
propriedade privada. Surgem então as classes sociais, uma exploradora e outra
explorada, uma detentora dos meios de produção, outra apenas da força de trabalho.
O Estado então vem para organizar a exploração da burguesia sobre o proletariado.

d) Origem no desenvolvimento interno da sociedade


- O Estado é inerente às sociedades, assim, quando a sociedade alcança um nível
complexo de evolução, o Estado surge como necessidade natural.

e) Origem por formação derivada


- Atualmente é o processo mais comum.
- Processos:
1) Fracionamento de Estados
 Uma parte de um território de um Estado se desmembra, criando um novo
ente. Assim, há uma diminuição no território original e o novo Estado passa a
atuar com total independência.
 Exemplo: antiga URSS.
2) União de Estados
 Dois ou mais Estados unem-se, adotando uma mesma constituição (poderes,
leis, organização social e política única).
 Exemplo: Alemanha Ocidental e Oriental que se uniram após a queda do Muro
de Berlim em 09 de novembro de 1989.
3) Formas atípicas
 Formas não previsíveis, que podem originar novos Estados.
 Exemplo: com o término da Segunda Grande Guerra, os países vencedores
decidiram dividir a Alemanha em dois Estados, para assim diminuir o seu
poder e evitar uma futura guerra. Dividiu-se o Estado então em Alemanha
Ocidental e Alemanha Oriental.
 Exemplo: o Vaticano, que mesmo estando dentro do território italiano, tornou-
se um Estado independente por questões religiosas.

4. Evolução histórica do Estado

a) Estado Antigo
 Também conhecido como Estado Oriental ou Teocrático.
 Questões de família, religião, organização econômica, moral e filosofia se
confundiam na organização do Estado.
 Natureza unitária: o Estado não comportava subdivisões, o poder único era do
monarca.
 Religiosidade: o elemento teocrático do Estado. O monarca tinha legitimidade
divina para exercer o poder, bem como criava as normas como fruto da
vontade divina.

b) Estado Grego
 Cada cidade (polis) tinha autonomia, independência e características próprias.
 Por causa disto, e pela busca da autossuficiência, as polis formavam as
cidades-Estados.
 Mesmo com conquistas militares de uma polis sobre outra região, a
característica de autossuficiência permanecia, ou seja, a nova região não era
incorporada ao Estado dominador.

8
 Na decisões políticas, a Grécia se destaca pela participação popular, havendo
o surgimento da democracia.

c) Estado Romano
 Em princípio Roma teve características básicas de cidade-Estado. No entanto,
com a expansão das conquistas territoriais, superou-se a cidade-Estado e
tornou-se um império, com poder centralizado na Cidade de Roma, e com
unidades de poder espalhadas pelos territórios conquistados.
 Roma surgiu da união de famílias, portanto as famílias mais importantes
dispunham de privilégios diversos.

d) Estado Medieval
- O cristianismo
 Pretende-se a afirmação da igualdade entre os cristãos. Contudo, os não
cristãos são preteridos.
 Ocorre a unificação da igreja católica. Com isso, surge a ideia de que todos
devem ser cristãos e submetidos à mesma ordem política. Daí advém o Estado
Universal, ou seja, o Império da Cristandade, capacitador de uma ordem
estatal única.
 Com este intuito a Igreja confere à Carlos Magno o título de imperador, no ano
de 800. Entretanto, pelo fato da Igreja querer mandar demais e por causa da
desobediência dos reinos espalhados pela Europa, o império nunca se
constituiu com supremacia.
 A briga entre o Papa e os Imperadores que se seguiram marcou os últimos
séculos da Idade Média, terminando apenas com o surgimento do Estado
Moderno, que confere supremacia de poderes ao monarca na ordem temporal
(não religiosa).
- As invasões bárbaras (século III ao VI)
 Com as conquistas dos germanos, eslavos, godos, etc, no território europeu,
novos costumes se difundiram, bem como houve estímulo para que tais
regiões conquistassem autonomia, surgindo novos Estados. Isto abalou
profundamente o Império.
- O feudalismo
 Com as constantes guerras e invasões, o comércio foi profundamente
prejudicado. Assim, a terra passa a ser o principal meio de subsistência, de
onde ricos e pobres tirarão a sobrevivência.
 Surgem dois institutos que pulverizam ainda mais a concentração de poder,
ou seja, os senhores feudais aumentam seu poder próprio:
o A vassalagem: o proprietário menos poderoso de terras servia ao
senhor feudal, dando-lhe ainda uma contribuição pecuniária em troca
de proteção.
o O benefício: um pai de família, sem terras, recebia uma faixa de solo
para plantar, dividindo a produção com o senhor feudal. O senhor
feudal tinha total poder sobre o servo e sua família, podendo
determinar até mesmo a morte destes.

e) O Estado Moderno
 Com a pulverização do poder, determinada pelos caracteres do Estado
Medieval, a busca pela unificação do controle político se intensificou.
 Com a Paz de Westfália, surgem as principais características do Estado
Moderno:
1. soberania
2. território
3. povo
4. finalidade

f) O Estado Contemporâneo
 Principalmente após o fim da II Guerra Mundial, a ordem política e econômica
mundial passa por alterações profundas.

9
 Atualmente o conceito de soberania sofre alterações, podendo ser
compartilhada.
 Com a criação das comunidades de Estados, a noção de povo tem
acrescentada a ideia de cidadania da comunidade.
 Surgem os blocos políticos, militares, comerciais e econômicos entre nações.
 Surge a união entre países, com caráter econômico, social e político.
 Há união entre Estados para preservação da paz e de interesses econômicos,
através da criação de organizações (ONU, OTAN, G7, etc).

10
CAPÍTULO III
CONSTITUIÇÃO E PODER CONSTITUINTE

I - DIREITO CONSTITUCIONAL

- Conceito: “é um ramo do Direito Público, destacado por ser fundamental à


organização e funcionamento do Estado, à articulação dos elementos primários do
mesmo e ao estabelecimento das bases da estrutura política.”

- Objeto: a constituição política do Estado, analisando sua estrutura, organização de


suas instituições e órgãos, o modo de aquisição e limitação do poder e os direitos e
garantias fundamentais.

II - CONSTITUIÇÃO

- Conceito: lei fundamental e suprema de um Estado, que contém normas referentes


à estruturação do Estado, à formação dos poderes públicos, forma de governo e
aquisição do poder de governar, distribuição de competências, direitos, garantias e
deveres do cidadão.

III - PODER CONSTITUINTE

- Conceito: é a manifestação soberana da suprema vontade política de um povo,


social e juridicamente organizado.

- Distinção: é importante distinguir o poder constituinte dos poderes constituídos. Ele


é o poder que elabora a Constituição, não devendo ser confundido com aqueles, que
são o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Estes são instituídos, pela Constituição,
obra do poder constituinte, que poderia optar por outros, como já ocorreu no Brasil-
Império, com a previsão de um quarto poder, o Moderador. O poder constituinte está
acima dos poderes constituídos, não devendo ser confundido com nenhum deles.

- Noções gerais:
 A teoria do poder constituinte foi desenvolvida no século XVIII, período em que as
ideias do racionalismo prevaleciam. Tais ideias eram decorrentes de uma
profunda mudança de mentalidade dos séculos anteriores. O final da Idade Média
e a passagem para a Idade Moderna é marcada pelo fim do teocentrismo, assim,
todas as teorias políticas adotaram um posicionamento
racionalista/antropocentrista.
 Com o Iluminismo e o próprio constitucionalismo, surge a ideia de origem popular
do poder. Nessa época o abade Emanuel Sieyès desenvolve a teoria do poder
constituinte, publicada no livro “O que é o Terceiro Estado”, às vésperas da
Revolução Francesa. O 3º Estado era o Povo (clero, nobreza e povo). Sieyès
questionava o que era o povo e o que tem sido o povo. Ele sustentava que
existiria um poder de origem popular, o poder constituinte, que teria a força de
elaborar a Constituição, que teria então uma característica de superioridade.
Seria superior até mesmo sobre os poderes constituídos, que seriam fruto do
poder constituinte.
 A ideia de poder constituinte materializa-se com as primeiras constituições
escritas (EUA em 1787 e França em 1791). Não se tratam das primeiras
constituições, mas iniciam o constitucionalismo moderno. A Magna Carta na
Inglaterra, que no ano de 1215 limita os poderes do rei João Sem Terra, também
não é a primeira Constituição, mas nela encontramos, pela primeira vez, os
elementos essenciais do constitucionalismo moderno: limitação do poder do
Estado e declaração de direitos da pessoa.

1 - Titularidade

11
- O titular do poder constituinte é o povo, pois a existência do Estado decorre da
soberania popular.
- A vontade da constituinte é a vontade do povo, que é expressa por meio de seus
representantes.
- Distingue-se titularidade (povo) de exercício (representantes do povo).
- Segundo o Prof. Dalmo Dallari, da própria noção de Constituição resulta que o
titular do poder constituinte é sempre o povo. Porém, como aponta o Prof. Celso
Bastos, titular também do poder constituinte pode ser uma minoria, quando o Estado
terá então a forma de aristocracia ou oligarquia. Por essa razão, alguns autores
fazem uma distinção entre titularidade e exercício do poder constituinte. Segundo
essa concepção, o titular seria sempre o povo, mas o seu exercício poderia ser
atribuído somente a uma parcela dele.
Dentro de uma concepção democrática, o titular do poder constituinte deveria ser
sempre o povo, que elaboraria uma nova Constituição por intermédio de
representantes legitimamente eleitos. Infelizmente, dentro de uma visão mais
realista, titulares são as forças que em um determinado momento histórico detêm os
fatores reais de poder.

2 – Espécies de poder constituinte

2.1 – Poder constituinte originário ou de primeiro grau


- Estabelece a constituição de um novo Estado, organizando-o e criando os poderes
destinados a reger os interesses de uma comunidade.
- Há poder constituinte originário tanto na confecção da primeira constituição de um
Estado, como naquelas que a substituem.
- O poder constituinte é quem constitui os poderes que serão utilizados pelo Estado:
executivo, legislativo e judiciário (se for adotada a divisão tripartida de poderes).
Assim, o poder constituinte é a fonte da autoridade dos poderes constituídos.

2.1.2 – Formas de expressão do poder constituinte originário


- Pelo fato do poder originário ser ilimitado e incondicionado, não há forma prefixada
para sua manifestação.
- No entanto, historicamente, é possível visualizar duas formas mais comuns de
expressão:
a) Assembleia Nacional Constituinte
 Nasce da deliberação ou convenção da representação popular
(parlamentares).
 Para tanto, há convocação dos parlamentares para estabelecer novo texto
organizatório e limitativo do poder.
 Exemplos no Brasil: Constituições de 1891 (proclamação da República), 1934,
1946 e 1988.
b) Movimento Revolucionário ou outorga
 É o estabelecimento da Constituição por declaração unilateral do agente
revolucionário, que autolimita seu poder.
 Exemplos no Brasil: Constituições de 1824 (independência do Brasil), 1937
(imposição do Estado Novo por Getúlio Vargas) e 1967 (fruto do golpe militar,
que vinha sendo mantido pelo AI n. 1 de 1964).

2.1.3 – Características do Poder originário


- Inicial: porque a Constituição que será produzida é a nova base da ordem jurídica.
Não há um direito ou fato anterior que o oriente.
- Ilimitado e autônomo: pois não está de modo algum limitado a direito anterior, não
tendo que respeitar ou seguir o direito positivo anterior.
- Incondicionado: não está sujeito a qualquer forma prefixada para manifestar sua
vontade; não precisa seguir procedimentos pré-determinados. Não há submissão a
poderes anteriores.

2.2 – Poder Constituinte Derivado


- Conceito: o poder derivado está inserido na própria Constituição, decorrendo de
uma regra jurídica constitucional.

12
- Por causa disso, possui limitações constitucionais expressas e implícitas. Assim, é
passível de controle de constitucionalidade.

2.2.1 – Características do Poder Constituinte Derivado:


- Derivado: retira sua legitimidade do Poder Constituinte originário.
- Subordinado: se encontra limitado pelas normas expressas e implícitas do texto
constitucional, às quais não poderá contrariar, sob pena de inconstitucionalidade.
- Condicionado: seu exercício deve seguir as regras previamente estabelecidas no
texto da Constituição que o autoriza. Está sujeito à regras formais/procedimentais.

2.2.2 – Espécies de Poder Constituinte Derivado


a) Poder Constituinte Reformador
 Também conhecido como competência reformadora.
 Consiste na possibilidade de alterar-se o texto constitucional, respeitando-se a
regulamentação especial prevista na própria Carta.
 Deve ser exercido pelos órgãos expressamente determinados. No Brasil, por
exemplo, pelo Congresso Nacional (Câmara dos Deputados + Senado Federal)
por meio da edição de emendas constitucionais.

b) Poder Constituinte Decorrente


 Consiste na possibilidade que os Estados-membros de uma federação, têm em
virtude de sua autonomia político-administrativa, de se auto organizarem por
meio de suas respectivas constituições estaduais.
 A criação de constituições estaduais deve sempre respeitar as regras da
Constituição Federal (CF).

c) Poder Constituinte Revisor


 Alguns autores, entre eles Pedro Lenza, mencionam a existência de um Poder
Constituinte Derivado Revisor. Este poder teria sido previsto pelo art. 3º do
ADCT, que dava ampla margem de alteração material, mas previa limitações
formais (procedimento específico).

d) Poder Constituinte Difuso


 Tema recente na doutrina, que o define como o poder que os agentes políticos
possuem para promover a chamada "mutação constitucional", ou seja, atribuir
novas interpretações à Constituição para que ela consiga se adequar à
realidade da sociedade sem que seja necessário alterar o texto formal da
norma. A mutação constitucional não é irrestrita, devendo respeitar certos
limites como os princípios estruturantes do Estado e a impossibilidade de se
subverter a literalidade de norma que não dê margem a interpretações
diversas.
 Decorre principalmente das novas interpretações dadas pelas decisões
emanadas pelo Poder Judiciário, em especial o STF.
 Há autores que ainda consideram como mutação as interpretações firmadas
por agentes políticos como os parlamentares, ou pelo Presidente na aplicação
da norma. E ainda, os que consideram até mesmo os costumes do povo como
mutação constitucional.

3. Limites do Poder Constituinte


- Sempre que for feita referência a limites do poder constituinte, ela o será ao poder
constituinte derivado. O originário, como já vimos, é um poder absoluto, de fato, que
não encontra qualquer limitação de ordem jurídica. Os limites do poder constituinte
derivado são estabelecidos pelo poder constituinte originário. Podemos classificar
esses limites dentro dos critérios a seguir expostos:
 Limites explícitos: circunstanciais e materiais.
 Limites Implícitos: temporais ou formais e procedimentais.

3.1 - Limites circunstanciais


- Certas Constituições não podem ser alteradas em determinadas situações de
instabilidade política. Pretende-se que qualquer alteração do Texto Constitucional

13
ocorra em plena normalidade democrática, sem qualquer restrição a direitos
individuais ou à liberdade de informação, para que as consequências de eventuais
modificações do Texto Fundamental sejam amplamente discutidas antes de qualquer
deliberação. Exemplos: a) a Constituição brasileira de 1988 não admite emendas na
vigência de intervenção federal, estado de defesa ou estado de sítio: b) a
Constituição francesa não permite modificações com a presença de forças
estrangeiras de ocupação em território francês.

3.2 - Limites materiais


- Determinadas matérias não podem ser objeto de modificação. São as denominadas
cláusulas pétreas, o cerne fixo da Constituição, a parte imutável do Texto
Constitucional. Exemplo: todas as Constituições brasileiras, desde 189l, passaram a
proibir qualquer emenda visando a alteração tanto da forma republicana como da
Federação.
- A atual CF tem como cláusulas pétreas a forma federativa de Estado, o voto direto,
secreto, universal e periódico, a separação dos Poderes e os direitos e garantias
individuais (CF, art. 60, § 4º).
- As limitações materiais além de explícitas, podem ser também implícitas. As
primeiras são as que já vêm enunciadas na própria Constituição, as já mencionadas
cláusulas pétreas. Implícitas são as que decorrem do sistema constitucional, como as
que estabelecem o processo de alteração de normas constitucionais, as que fixam as
competências das entidades federativas etc.
- O Poder derivado decorrente, ao ser exercitado na confecção de uma constituição
estadual, deve respeitar o texto da Constituição Federal, devendo ainda, em boa
parte das regras a serem produzidas, respeitar o princípio da simetria. Luiz Alberto
David Araujo e Vidal Serrano Nunes Júnior lecionam: “O princípio da simetria,
segundo consolidada formulação jurisprudencial, determina que os princípios magnos
e os padrões estruturantes do Estado, segundo a disciplina da Constituição Federal,
sejam tanto quanto possível objeto de reprodução nos textos das constituições
estaduais". (Ex: se na CF há tripartição de poderes, deverá haver também na CE).

3.3 - Limites temporais


- Certas Constituições contêm normas que impossibilitam qualquer modificação
durante certo período após a sua promulgação ou só admitem a aprovação de
alterações de tempos em tempos, de forma espaçada. Exemplo: a Constituição
brasileira do Império, que admitia qualquer alteração somente quatro anos após a
sua promulgação.

3.4 - Limites procedimentais


- A própria Constituição estabelece o rito a ser seguido para sua alteração. Esse
procedimento deve ser rigorosamente obedecido, sob pena de inconstitucionalidade
formal da norma aprovada.

14
CAPÍTULO IV
ESTADO E DIREITO

I – PERSONALIDADE JURÍDICA DO ESTADO

- A origem da concepção de Estado como pessoa jurídica pode ser atribuída aos
contratualistas, através da ideia de coletividade ou povo como unidade, dotada de
interesses diversos dos de cada um de seus componentes, bem como de uma
vontade própria, também diversa da vontade dos membros isoladamente
considerados.
- É certo que uma pessoa, física ou jurídica, deve ser dotada de vontade própria. No
caso da pessoa jurídica, a sua vontade deve ser diferenciada da vontade de seus
membros. Numa sociedade empresarial, por exemplo, deve prevalecer a vontade da
maioria dos sócios ou acionistas, ou seja, da coletividade.
- No entanto, no que tange aos Estados, a supremacia do interesse coletivo sobre os
interesses particulares da nobreza e classes no poder, demorou a acontecer. Durante
muitos séculos existiram governos autoritários e totalitários, que utilizavam o Estado
para realizar interesses particulares.

1. Teorias Ficcionistas da Personalidade do Estado

- Para Savigny, fundador da escola histórica de Direito, no século XIX, o Estado já


aparece como dotado de personalidade jurídica. Contudo, na sua teoria, a
personalidade jurídica do Estado aparece apenas como ficção, ou em outras
palavras: os sujeitos de direito são apenas os indivíduos (cidadãos) dotados de
consciência e de vontade. Assim, por necessidade prática para o funcionamento do
Estado, capacitando-o para ser sujeito de direitos e obrigações, cria-se
artificialmente, por meio de uma lei, a personalidade jurídica para o Estado.
- Por sua vez, Hans Kelsen, já no século XX, relata que o Estado é a personificação da
ordem jurídica. Desse modo, para Kelsen também é o Estado uma ficção, pois, pela
carência prática na criação de uma personalidade jurídica, faz-se com que o Estado
seja representado pela figura de uma pessoa jurídica. Tudo isso, fruto de uma
convenção justificável por motivos de conveniência e apoiado na legislação.

2. Teorias Realistas da Personalidade do Estado

- Para tais teóricos a personalidade do Estado não está desligada da realidade, pois o
Estado torna-se uma pessoa de grande porte, precisando de tratamento próprio.
- Para Gierke, o Estado tem vontade própria, sendo um organismo, que por meio de
órgãos próprios atua sua vontade.
- Laband acentua que o Estado é uma unidade organizada com vontade própria,
sendo sujeito de direitos próprios. Assim, as relações jurídicas do Estado são
diferentes das relações jurídicas individuais de seus cidadãos.
- Por fim, Georg Jellinek explica que sujeito, em sentido jurídico, não é uma essência,
uma substância, algo material, e sim uma capacidade criada mediante a vontade da
ordem jurídica. Desse modo, a qualidade de sujeito pode ser conferida não apenas
aos indivíduos, mas também ao Estado. Para Jellinek, o Estado é uma unidade
coletiva, advinda da necessidade e da consciência de indivíduos, que formam as
instituições.

3. Necessidade de reconhecimento da personalidade jurídica do Estado:

- Estabelecida a personalidade jurídica do Estado, resta claro que as pessoas físicas,


quando representam o Estado, devem nortear sua atuação pela vontade do Estado e
não pelos seus próprios interesses.
- Somente pessoas são sujeitos de direitos e deveres. Nesse sentido, para que
possamos cobrar do Estado atuação (saúde, moradia, segurança, etc), é necessário
que ele seja sujeito de direitos e obrigações, tornando-se essencial o reconhecimento
de sua personalidade jurídica.
15
- Os limites da atuação do Estado somente podem ser cobrados se ele tiver
personalidade própria, evitando-se, portanto, autoritarismos.
- Somente possuindo personalidade jurídica própria é que o Estado pode realizar
acordos e tratados internacionais, pois somente assim pode assumir obrigações.
- Também é através de sua personalidade jurídica que o Estado pode exigir
comportamentos do cidadão, através da edição de leis ou, em caso de
comportamento ilegal, aplicando sanções.

II – ESTADO, DIREITO E POLÍTICA

- O Estado se estabelece sobre bases jurídicas, no entanto, para que ele seja
realizável é imprescindível observarmos que ele tem também conteúdo político. Sua
atividade é dinâmica e está ligada a objetivos e justificativas, que acabam por
estabelecer os meios para atingir-se suas finalidades. Para melhor gerir os interesses
dos governados, o Estado precisa definir seus modos de atuação, esta definição
então é política (sistema de regras respeitantes à direção dos negócios públicos –
arte de bem governar o povo).
- Assim, a ordem jurídica estabelece para o Estado as regras para sua atuação. Por
sua vez, a ordem política auxilia na definição dos meios para realização da finalidade
do Estado, ou seja, seus fins políticos.
- A ordem política então depende do estabelecido na ordem jurídica, pois de outra
forma será ilegítima e ilegal. Para definição da organização política mais eficaz na
busca da realização dos interesses coletivos, deve a ordem política sempre respeitar
o regramento jurídico. Apesar de tal preocupação, a ordem não deixa de ser
substancialmente política.

1. O Poder Político

- A principal preocupação do poder político é com a eficácia. Quem detém o poder


político, preocupa-se em conseguir aceitação de seus planos e métodos, ou seja,
seus comandos devem ser respeitados, mesmo que algumas vezes seja necessário
recorrer à violência para conseguir obediência.
- Contudo, a eficácia deve ser buscada sempre no interesse do coletivo e com
respeito à ordem jurídica.
- Diante disso, temos duas noções importantes de política, uma neutra, outra
positiva.
1. Para Cassirer, política é a arte de unificar e organizar as ações humanas e
dirigi-las para um fim comum.
2. Para Max Weber, após conceituar o Estado como uma comunidade humana
que, dentro dos limites de determinado território, reivindica o monopólio do
uso legítimo da violência física, a noção de política aparece como: o conjunto
de esforços feitos com vistas a participar do poder ou a influenciar a divisão
do poder, seja entre Estados, seja no interior de um único Estado.
- O caráter político do Estado lhe dá a função de coordenação dos grupos e dos
indivíduos, em vista de fins a serem atingidos, por meio da imposição de meios
adequados. Conseguir esse objetivo depende de três dualismos fundamentais:
1. Necessidade e possibilidade
a. É preciso, antes de qualquer coisa, analisar as necessidades do povo
(sobrevivência e progresso);
b. Antes da tomada de qualquer ação, faz-se necessária a análise dos
meios disponíveis para consecução dos objetivos, ou seja, as
possibilidades determinarão a organização e etapas a serem colocadas
em prática para o atendimento das necessidades.
2. Indivíduos e coletividade
a. Necessidade de conciliar os interesses dos indivíduos e da coletividade.
b. Proteger o indivíduo é importante, no entanto, é necessário ter em
conta que ele não existe isoladamente, sendo a coletividade a soma de
vários indivíduos.
c. Devem então ser pesados os interesses coletivos e individuais, para
que nenhum dos dois sofra males excessivos.
16
3. Liberdade e autoridade
a. Na escolha dos meios de atuação para satisfação das necessidades do
povo, é preciso determinar limitações à liberdade individual, com o fim
de aumentar-se a eficácia do projeto de governo.
b. Para que a ordem seja respeitada, a coação faz-se necessária. Já
afirmou Kelsen: não existe ordem jurídica sem coação.
c. Acertar o limite, o equilíbrio entre liberdade e autoridade é um
problema difícil. Liberdade individual ilimitada gera descontrole e
desordem social, por outro lado, liberdade excessivamente controlada
gera desconforto dos indivíduos e autoritarismo do Estado.

III – Principais apresentações dos Estados Ocidentais

1 – Estado absolutista
- O Estado absolutista, existente principalmente após o término da Idade Média,
início da Idade Moderna, tem como principal ponto a concentração de poderes nas
mãos do monarca. Dessa forma, o rei pode legislar, julgar e administrar.
- Essa espécie de sistema é capaz de gerar governos autoritário e ditatoriais, exato
que não há como cobrar o governante por seus mandos e desmandos.

2 – Estado liberal
- O liberalismo inicia-se nos séculos XVI e XVII, época em que os Estados Nacionais
estavam em formação. A princípio, enquadrava-se como uma luta pela liberdade
religiosa, que deveria ser uma opção do cidadão e não uma imposição do Estado.
Tornou-se uma doutrina política, quando começou a pregar uma limitação do poder
do Estado e a defender as liberdades individuais na sociedade. Como teoria
econômica começa a perder forças com as mudanças políticas e sociais acontecidas
após a Primeira Guerra Mundial.
- O Estado liberal contrapõe-se diretamente ao absolutismo, de modo a aumentar as
liberdades civis, através da diminuição dos poderes do Estado. Traz como
características o declínio das monarquias, as declarações de Direitos, a separação de
Poderes e o Estado de Direito. De forma resumida, a ideia principal é de que o
governante também deve estar submetido às leis, pois assim são garantidos aos
indivíduos os seus direitos fundamentais.
- Já o neoliberalismo é uma doutrina político-econômica que faz a adaptação dos
princípios do liberalismo à economia. Baseada na retirada das normas que regulam o
mercado de trabalho, os bens e serviços, a teoria neoliberal agride propositalmente o
Estado, questionando suas intervenções na economia, buscando privatizações,
abrindo os mercados à concorrência internacional e ao capital estrangeiro. Os
primeiros impactos da teoria neoliberal na organização dos Estados começam a ser
sentidos na década de 1970, quando surgem os primeiros Estados organizados como
neoliberais.

3 – Estado social
- Na linha cronológica, é o modelo que sucede o Estado liberal.
- O Estado social, ou de bem-estar social (Welfare State), tem como principal
característica monopolizar todas as atividades que sejam de interesse da população,
deixando assim de agir apenas como ente político, passando a acumular funções
econômicas e privadas.
- O Estado social atua diretamente na prestação de serviços públicos de caráter
universal (saúde, educação, habitação, previdência social, etc.) e na regulação da
economia.

4 – Estado totalitário
- No regime político totalitário, existe uma corrente ideológica única, imposta certas
vezes por partido de massa (ex: Partido Comunista soviético), também único, de
forma que o poder político é exercido de forma concentrada e centralizada, por um
grupo dominante, que se perpetua no governo, somente podendo ser dele afastado
por meio de processos de ruptura, frequentemente com emprego de violência, como
revolução, golpe de estado, guerra civil, ou guerrilha.

17
- O Estado e seus governantes encontram-se submetidos às leis, todavia, tais regras
são mudadas conforme a vontade dos dirigentes.

IV – NAÇÃO

- O Estado, quando distante dos interesses do povo, se sujeita à revoluções


engendradas pela insatisfação dos cidadãos.
- Por outro lado, para agradar e estimular o povo a seguir e legitimar o poder do
Estado, faz-se necessário o incentivo da adesão emocional de todos.
- Para tanto, criou-se artificialmente o conceito de Nação.
- No século XVIII, na França e EUA, explorou-se demasiadamente a noção de nação,
incentivando a burguesia à conquista do poder político diante das monarquias
absolutas existentes.
- O conceito de nação é mais simples de ser assimilado e entendido pelo povo do que
a noção de Estado. Assim, foi mais facilmente explorado. Assim, envolver o povo no
processo de derrubada e manutenção de novos poderes, passou a ser tarefa mais
simples, caso todos se envolvessem com os interesses da nação.
- Diante disto, percebe-se que a ideia de nação serviu para levar o povo a travar uma
luta que era de outros, acreditando lutarem por si mesmos. Até hoje, a palavra nação
é utilizada em sentido ideológico5, fortalecendo a união do povo pelo bem do Estado.

- Para entendermos o conceito de Nação, precisamos entender e distinguir:


 Sociedade: grupo social que se forma por um ato de vontade, não se exigindo
que seus membros tenham afinidades espirituais, psicológicas ou culturais.
Pode por exemplo, um grupo de pessoas absolutamente diferentes (língua,
religião, costumes, etc), unir-se em uma sociedade para alcançar um objetivo
que a todos interessa. Cria-se assim, por meio de vínculos jurídicos, uma
sociedade.
o Há ato de vontade e de inteligência humana para a união.
o Há manifestação de um conjunto juridicamente ordenado. Seus
membros se ligam por relação jurídica.
o Há poder social reconhecido pela ordem jurídica.
 Comunidade: a união de homens numa comunidade não depende de atos de
vontade, surgindo de forma espontânea. Para a criação de uma comunidade o
primeiro passo é que exista simpatia entre os membros do grupo. A evolução
da simpatia leva a uma relação de confiança, gerando vínculos sentimentais
de união.
o Não depende de ato artificial de vontade, ocorre porque os membros
buscam a preservação da própria comunidade.
o Não existe qualquer relação jurídica entre os membros, há apenas
sentimentos comuns.
o Por não haver ordem jurídica, não há poder definido, existindo apenas
pessoas com influência adquirida pelo respeito da comunidade.
o Todavia, pode uma comunidade tornar-se uma sociedade também.
Contudo, a comunidade continua a existir, mesmo havendo a nova
sociedade. O contrário, uma sociedade tornar-se uma comunidade, é
muito mais difícil, pois envolve questões culturais, mas não é
impossível.

5
Alguns caracteres da ideologia:
- Universalização: é a criação de uma justificativa coerente de imagens e de representações que
explicam a realidade vivida. Os valores da classe dominante são aceitos como universais e verdadeiros.
- Lacuna ou ocultação: A ideologia é ilusória, pois oculta como a realidade é de fato. Seu conteúdo é
convincente, parece estar correto, mas possui partes silenciadas, ocultadas dos olhos da população.
- Abstração: A ideologia apresenta uma realidade sem contradições. Analisa a realidade pela aparência
social, sem levar em conta a organização cultural e social. As diferenças reais das condições de vida são
tratadas como pequenas diversidades. Assim, por exemplo, o pobre é pobre por culpa dele, não do
sistema.
18
- Conceito de nação: Agrupamento humano, mais ou menos numeroso, cujos
membros, fixados num território, são ligados por laços históricos, culturais,
econômicos e/ou linguísticos.

- ESTADO E NAÇÃO

- Um Estado que coincida com a ideia de nação, na forma pura é praticamente


impossível.
- Dessa forma, o sonho de um Estado-nação, ou Estado-nacional, é de difícil
consecução. O que se tem, via de regra, são Estados plurinacionais.
- Plurinacionalismo: significa a existência, dentro de um mesmo Estado, de grupos
sociais claramente distintos por sua cultura e por seus costumes. Cabe ao Estado,
por meio da unidade jurídica, respeitar os valores fundamentais do homem,
conciliando igualdade jurídica e diversidade cultural.
- Assim, as regras jurídicas devem parecer justas para todos os grupos,
indistintamente. No mesmo sentido, não pode um grupo predominar sobre outros e
ter essa atuação acobertada ou legitimada pelo sistema jurídico.
- O Estado Federal, que respeita a existência e localização dos grupos culturais
dentro de seu território, dando a cada unidade autonomia e autodeterminação sobre
muitos assuntos, segue o caminho correto.
- Por outro lado, em lugares em que não se respeita os diferentes grupos culturais, é
mais evidente a injustiça e desorganização social. Exemplo: o continente africano,
que ao ser colonizado pelos europeus foi dividido sem que houvesse respeito pelas
tribos e grupos até então existentes.
- Pode-se concluir que o Estado é uma sociedade e a Nação aproxima-se mais do
conceito de comunidade.
- Diante disso, é importante aos Estados criar uma imagem nacional, que seja capaz
de superar as diferenças culturais enraizadas em seu território.
- O Estado perfeito é aquele que consegue realizar o Estado Nacional, unificado pela
consciência social, pela identidade de interesses, pela comunhão de ideias de uma só
nação.

19

Das könnte Ihnen auch gefallen