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1.1 - Introdução
Uma grandeza que fica plenamente caracterizada por um número seguido de uma unidade
apropriada é denominada grandeza escalar. Temperatura e massa constituem exemplos de
grandezas escalares. Quando se diz que a temperatura média do corpo humano é de 36,50C ou que a
massa de um corpo é de 3 kg, estas quantidades ficam bem determinadas. Comprimento, área,
volume e tempo são outros exemplos de grandezas escalares.
Na física, contudo, há muitas grandezas para as quais a simples quantificação não é suficiente
para sua completa especificação. Além do valor numérico devem, necessariamente, se fazer
presentes duas outras informações igualmente relevantes: direção e sentido. Grandezas físicas com
esse perfil são chamadas grandezas vetoriais. Força é um exemplo. Ao dizer-se que um caixote foi
empurrado com uma força de 50 newtons (admita que newton é uma unidade de força), não se
estará sendo de todo claro. Afinal, para onde foi empurrado o caixote (isto é, em que direção?)? Se
ao longo de um plano inclinado, para cima ou para baixo (em que sentido?)? Como se observa,
juntamente com o número e a respectiva unidade é necessário explicitar a direção e o sentido da
força aplicada para que esta fique bem definida. Deslocamento, velocidade, aceleração e quantidade
de movimento são, também, grandezas vetoriais.
Este capítulo apresenta conceitos básicos da álgebra vetorial, cuja compreensão, pelo aluno, é
fundamental para o estudo da mecânica.
Fig. 1 Fig. 2
Um vetor fica especificado por suas três características: módulo, direção e sentido.
O módulo de um vetor, dado por um número seguido de uma unidade, especifica a
intensidade da grandeza por ele representada (50 newtons, 20 m/s etc.). Simbolicamente, o módulo
de um vetor v é escrito como v ou, simplesmente, v .
+
Texto elaborado pelos professores Luiz O. Q. Peduzzi e Sônia S. Peduzzi (Depto de Física UFSC).
1
A direção de um vetor é a da sua reta suporte. Já o seu sentido coincide com o da orientação
do segmento de reta orientado.
Os vetores a , b e c , da Fig. 3, têm como característica comum o mesmo módulo (admitindo
como unidade de medida o comprimento ).
Os vetores d e f , da Fig. 4, têm as três características iguais: mesmo módulo, mesma
direção (as retas suportes são paralelas) e mesmo sentido. Neste caso, diz-se que os vetores são
iguais, isto é, d f . Já o vetor e tem o mesmo módulo e a mesma direção que d e f , porém
sentido contrário a eles. Pode-se relacioná-los escrevendo que f d e (onde o sinal negativo
significa que o vetor e tem o sentido contrário ao dos outros dois.
a = b = c = 3 unidades f = d = e
a b c f = d = e
Fig. 3 Fig. 4
2
Fig. 8
Fig. 9 Fig. 10
L - M + N - P = L + (- M ) + N + (- P )
3
1.4 - Adição e subtração de vetores de mesma direção pelo método analítico
É conveniente, antes de se efetuar a soma e subtração analítica de vetores de mesma direção,
definir o que se entende por vetor unitário.
Um vetor é dito unitário quando o seu módulo é igual à unidade. O vetor unitário que tem a
direção do eixo x e o sentido de x' para x (Fig. 14) é o vetor i .
Fig. 14
Considere a soma geométrica de dois vetores unitários i (Fig. 15). Vê-se, por esta figura, que
o vetor resultante i + i tem mesma direção e sentido que o vetor i e módulo duas vezes maior.
Este vetor é o vetor 2i .
Fig. 15
O resultado acima permite interpretar uma igualdade como, por exemplo, A = 7i da seguinte
maneira: A é um vetor que tem mesma direção e sentido que o vetor i e módulo sete vezes maior.
Já o vetor B = -4i tem a mesma direção do vetor i , sentido oposto e módulo quatro vezes maior.
Pode-se estender o procedimento utilizado na Fig. 15 para se somar e subtrair analiticamente
vetores na direção x .
a) Soma de vetores de mesma direção e sentido:
Seja C = 2 i , D = 6 i e R o vetor resultante da soma dos vetores C e D .
Soma analítica: Soma geométrica:
R = C + D,
R = 2i +6i,
R= (2+6)i ,
R = 8i.
4
Soma analítica: Soma geométrica:
R = E + F,
R = 3i -5i ,
R = (3-5) i ,
R = -2i.
Fig. 16
Assim, o vetor resultante da subtração dos vetores A = 12 j e B = 5 j , R = A - B , tem
mesma direção e sentido que o vetor j e módulo sete vezes maior ( R = 7 j ).
Fig. 17 Fig. 18
a = ax + a y . (1)
5
ax = ax i (2)
e
ay = ay j . (3)
a = ax i + a y j . (4)
Fig. 19
Substituindo-se na eq. (4) os valores encontrados para ax e a y, respectivamente, nas eq. (5) e
(6), obtém-se:
Exemplo 1: O vetor a , mostrado na Fig. 20, tem módulo igual a 5 cm e faz um ângulo de 1200 com
o semi-eixo positivo OX . Determine as suas componentes nas direções x e y .
6
Fig. 20
Solução:
Projetando-se o vetor a nos eixos x e y , pode-se obervar (Fig. 21) que a x i é um vetor com
sentido oposto ao do vetor i ; portanto, a componente a x é negativa. Já o vetor a y j tem sentido
igual ao do vetor j e a y é positivo. Usando-se a eq. (7), tem-se que:
A partir do triângulo retângulo com lados 5 cm, a x e a y (Fig. 22) e observando o sentido dos
vetores a x e a y , pode-se igualmente obter as componentes de a :
Fig. 21 Fig. 22
c = a + b,
7
c = ax i + a y j + bx i + by j ,
c = ( ax + bx ) i + ( a y + by ) j .
Solução:
R = A + B,
R = 3 i + 5 j.
S = A - B,
S = 3 i - 5 j.
V = A + C,
V = 3 i + 4 i + 6 j,
V 7 i + 6 j.
Fig. 23
8
Solução:
a) O vetor d é o vetor soma dos vetores d1 e d 2 ,
d = d1 + d 2 .
d1 = - 1,5 i + 2,6 j .
Analogamente para d 2 :
d 2 = 6,1i + 3,5 j .
Somando-se d1 e d2 , resulta:
d = 4,6 i + 6,1 j .
b) A direção de d é obtida calculando-se o ângulo que o vetor faz com o semi-eixo OX, por
exemplo.
tg = 6,1/4,6 1,33
9
Fig. 24
a = ax + a y + az . (8)
Fig. 25
ay = ay j ( 10 )
az = az k . ( 11 )
a = a x i + a y j + az k . ( 12 )
10
Exemplo 4: Represente, num diagrama xyz , os seguintes vetores:
E = 3i + 2 j + 5k e F = 2 i + 4 j - 5k.
Solução:
A Fig. 26 mostra o vetor E construído como a soma dos seus vetores componentes. Já o vetor
F foi desenhado utilizando-se um paralelepípedo para melhor visualizá-lo no espaço.
Fig. 26
Solução:
R = 2 A + B,
R = 2( 2i + j -5k ) + 4i + 2k ,
R = 4 i + 2 j - 10 k + 4 i + 2 k ,
R = ( 4 + 4 ) i + 2 j + ( - 10 + 2 )k ,
R = 8 i + 2 j -8 k.
S = A- B
S = 2 i + j - 5 k - ( 4 i + 2 k ),
S = 2 i + j -5k - 4 i - 2 k,
S = ( 2 - 4 ) i + j + ( -5- 2 ) k,
S = - 2 i + j - 7k .
11
1.8 - Produto de vetores
Além de somar e subtrair vetores pode-se, também, multiplicá-los, efetuando o produto
escalar e o produto vetorial entre dois vetores. Estas operações serão estudadas a seguir, já que
muitas grandezas físicas são expressas em termos destes dois produtos.
a . b = a b cos , ( 13 )
Fig. 27
Pode-se também dizer que o produto escalar de dois vetores a e b é igual ao produto do
módulo do vetor a pela componente do vetor b na direção de a (Fig. 28).
a . b = ( a ) ( b cos )
componente
de b na
direção de a
Fig. 28
A eq. (13) indica que o produto escalar de dois vetores dá como resultado uma grandeza
escalar. Para melhor compreensão desta equação, considere as seguintes situações:
a) O produto escalar de dois vetores perpendiculares é zero, porque 900 e cos 900 = 0 .
a . b = a b cos 900 ,
++ 0
a . b = 0.
Da mesma forma,
12
i . j = 0, j . k = 0 , k . i = 0, etc. ( 14 )
b) O produto escalar de dois vetores que formam entre si um ângulo tal que 0 900 , é
positivo.
a . b = a b cos ,
++ +
a . b 0.
c) O produto escalar de dois vetores que formam entre si um ângulo tal que
0
90 1800 , é negativo.
a . b = a b cos ,
++
a .b 0.
d) O produto escalar de um vetor por ele mesmo é igual ao módulo do vetor ao quadrado, pois
o ângulo entre vetores de mesma direção e sentido é 00 e cos 00 1.
a . a = a a cos 00 ,
a . a = a2. ( 15 )
De forma análoga,
i . i = 1, j . j = 1, k . k = 1. ( 16 )
A definição do produto escalar de dois vetores envolve o módulo dos vetores e o ângulo entre
eles. Uma outra maneira de expressar o produto escalar de dois vetores é através das componentes
destes vetores.
a . b = ( a x i + a y j + a z k ) . ( bx i + by j + bz k )
a . b = a x i . bx i + a x i . b y j + a x i . bz k +
+ a y j . bx i + a y j . b y j + a y j . bz k +
+ a z k . bx i + a z k . by j + a z k . bz k ,
13
a . b = a x bx i . i + a x b y i . j + a x bz i . k +
+ a y bx j . i + a y b y j . j + a y bz j . k +
+ a z bx k . i + a z b y k . j + a z bz k . k ,
a . b = a x bx + a y by + a z bz . ( 17 )
Solução:
O produto escalar de dois vetores perpendiculares é nulo, logo, v1 . v2 = 0 . Assim, usando a
eq. (17), resulta:
3 x + ( 4 ) ( - 6 ) + ( - 3 ) ( - 1 ) = 0,
3 x = 21,
x = 7.
As relações (15) e (17) permitem calcular o módulo de um vetor. Fazendo o produto escalar
de um vetor a , qualquer, por ele próprio, primeiro usando a relação (15) e depois a (17), obtém-se:
a . a = a2
e
a . a = ax a x + a y a y + a z a z ,
a . a = a x 2 + a y 2 + az 2 .
Da igualdade destas duas equações, resulta:
a 2 = a x 2 + a y 2 + az 2 ,
a = ax 2 + a y 2 + a z 2 . ( 18 )
Solução:
C A + B,
C = 3 i + 10 j + k - 7 i + j - 2 k ,
C - 4 i + 11 j - k .
14
Utilizando-se a eq. (18), calcula-se o módulo do vetor C .
C = ( - 4 ) 2 + ( 11 ) 2 + ( - 1 ) 2 = 11,75 unidades
Solução:
Da relação (13), obtém-se:
cos =
a .b = (3) (8)+( -4) ( -6)
,
ab ( 3 )2 + ( - 4 )2 ( 8 )2 + ( - 6 )2
cos = 0,96,
= 16,260.
O produto escalar pode também ser utilizado para a obtenção do módulo do vetor resultante
da soma de dois vetores.
Sejam a e b dois vetores, de módulos respectivamente iguais a a e b , que formam entre si
um ângulo . Seja r o vetor resultante da soma destes dois vetores (Fig. 29).
Fig. 29
r . r = ( a + b ) . ( a + b ),
r . r = a . a + a . b + b . a + b . b,
r 2 = a 2 + a b cos + b a cos + b2 ,
r = a 2 + b2 + 2 a b cos . ( 19 )
15
a ) Quando os vetores são perpendiculares ( = 900 ) , o módulo do vetor r é igual à raiz
quadrada da soma dos quadrados dos módulos dos vetores a e b ,
r = a 2 + b 2 + 2 a b cos 900 ,
r = a 2 + b2 .
b) Se os vetores tiverem a mesma direção e o mesmo sentido ( ( = 00 ) , o módulo do vetor
soma é a soma dos módulos dos vetores,
r = a 2 + b 2 + 2 a b cos 00 ,
r = a 2 + b2 + 2 a b ,
r= (a + b )2 =a + b.
r = a 2 + b 2 + 2 a b cos 1800 ,
r = a 2 + b2 - 2 a b ,
r= ( a - b )2 ,
r = a - b, a b
ou
r = b - a, b a.
c = a x b = a . b .sen . ( 20 )
16
Direção: O vetor c é perpendicular ao plano determinado pelos vetores a e b , ou seja, c é
perpendicular, simultaneamente, a a e a b .
Sentido: O sentido do vetor c é dado pela regra da mão direita.
Para determinar o sentido do vetor c , considere os dedos polegar, indicador e médio da mão
direita, como está indicado na Fig. 30.
Fig. 30
Se o polegar apontar no sentido do vetor a e o indicador no sentido do vetor b , o dedo médio
indicará o sentido do vetor c (Fig. 31).
Fig. 31
Fig. 32
17
A x B = B x A. ( 21 )
i x j = k. ( 22 )
j x i = - k. ( 23 )
Do mesmo modo,
j xk =i, k x j =-i, ( 24 )
k x i = j, i x k = - j. ( 25 )
i x i = 1 .1 . sen 00.
i x i = 0. ( 26 )
Analogamente,
j x j = 0; ( 27 )
k x k = 0. ( 28 )
Solução:
E x F =3i x 2 j = 6 k;
E x G = 3 i x 2 k = - 6 j;
18
F xG = 2 j x 2k =4i.
O produto vetorial de dois vetores pode ser expresso em função das componentes destes
vetores. Assim, seja a = ax i + a y j + az k e b = bx i + by j + bz k . Efetuando-se o produto
vetorial entre a e b , a x b , segue que:
a x b = ( a x i + a y j + a z k ) x ( bx i + by j + bz k ),
a x b = a x i x bx i + a x i x b y j + a x i x bz k +
+ a y j x bx i + a y j x by j + a y j x bz k +
+ a z k x bx i + a z k x by j + a z k x bz k ,
a x b = a x bx 0 + a x b y k + a x bz ( j ) +
+ a y bx ( k ) + a y b y 0 + a y bz (i ) +
+ a z bx ( j ) + a z b y ( i ) + a z bz 0,
a x b = ( a y bz a z b y ) i + ( a z bx a x bz ) j +
( 29 )
+ ( ax by a y bx ) k .
A eq. (29) pode ser obtida de forma mais simples, utilizando-se um determinante. Esse
determinante é construído da seguinte maneira: na sua primeira linha são colocados os vetores
unitários i , j e k ; na segunda linha aparecem as componentes do primeiro vetor ( a ) , nas direções
x , y e z ; a última linha do determinante é formada pelas componentes do segundo vetor (b ) nas
direções x, y e z.
i j k
axb = ax ay az ( 30 )
bx by bz
Solução:
i j k
A x B= 3 0 1
0 5 7
19
A x B = - 5 i - 21 j - 15 k .
Solução:
Calcula-se, primeiro, o determinante da eq. (30) para obter o vetor L = r x p. Depois disso,
obtém-se o módulo do vetor L usando a eq. (19).
i j k
L=r x p= 4 -1 3
6 2 0
L = 8 k + 18 j + 6 k - 6 i ,
L = - 6 i + 18 j + 14 k ,
20